Gestão de Resíduos Sólidos Na Indústria de Beneficiamento de Arroz

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SAIDELLES et al., v(5), n°5, p. 904 - 916, 2012. 904

Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental


REGET/UFSM (e-ISSN: 2236-1170).
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE ARROZ

Ana Paula Fleig Saidelles, Ana Júlia Teixeira Senna, Rosane Kirchner, Gabriele Bitencourt

Resumo: Atualmente, a dimensão ambiental está adquirindo, cada vez mais, importância nas
ações das organizações e da sociedade. Hoje, os produtos são freqüentemente idealizados,
produzidos, comercializados e consumidos levando em conta os impactos gerados em cada
processo da cadeia produtiva orizícola. Uma grande preocupação deste setor é com os resíduos
sólidos gerados na indústria de beneficiamento do arroz. Por isso, este trabalho tem como
objetivo identificar os resíduos sólidos oriundos de uma agroindústria beneficiadora de arroz e
propor melhorias para a sua destinação. Essa pesquisa foi realizada em uma agroindústria
beneficiadora de arroz, localizada no município de São Sepé/RS, no período entre os meses de
abril a junho de 2010. O mapeamento adotado segue uma observação estruturada. Foram
identificados no mapeamento vinte e um tipos de resíduos resultantes do processo, sendo os que
foram observados em maior quantidade a cinza e a casca de arroz. O diagnóstico realizado
permite a empresa conhecer melhor o seu funcionamento, propor melhorias e fazer uma revisão
periódica dos resíduos sólidos gerados no processo produtivo. Por fim, se propôs estratégias para
o redirecionamento dos resíduos minimizando problemas ambientais.

Palavras-chave: agroindústria, gestão ambiental, sustentabilidade

Solid waste management in rice processing industries


Abstract: Nowadays, the environmental dimension is increasingly receiving more and more
importance in organizations and society actions. Today, products are frequently designed,
produced, marketed and consumed, taking into account the impact produced by each process in
the rice crop production chain. A major concern in this sector is with the solid waste produced by
the rice processing industry. Thus, this work aims at identifying the solid waste produced at rice
processing agroindustry and, to come up with improvement possibilities for the destination of this
solid waste. This research was carried out at a rice processing agroindustry located at the city of
São Sepé/RS from April to June 2010. The mapping process adopted follows a structured
observation. Through this mapping it was possible to identify twenty and one different types of
wastes resulting from the rice processing, with ash and rice husk being the ones observed in
greater quantity. The diagnose we performed allows the industry to better know its own operation
and then, propose improvements and, to perform a periodic review of the solid wastes produced
during the production process. Finally, we suggested some strategies for the waste for redirecting
the waste minimizing the environmental problems.

Key words: agroindustry, environmental management, sustainability

1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, as organizações estão buscando minimizar os impactos ambientais
causados pelo homem utilizando estratégias ambientais sustentáveis como forma de
diferenciação e agregação de valor (Dias, 2009; Senna & Lhamby, 2010). Com a escassez das
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matérias primas não renováveis e o volume de resíduos sólidos gerados nos processos produtivos,
a alternativa mais adequada é o aproveitamento dos rejeitos industriais (Menezes et al., 2002).

Os resíduos são produzidos e, quando não são bem destinados, podem levar a destruição de
paisagem, fauna e flora. Uma das formas de minimizar os impactos é a preservação dos recursos
naturais ou a reutilização de resíduos.

Na indústria, a quantidade de resíduos gerados é considerada elevada. As atividades industriais


são responsabilizadas, muitas vezes, por contaminações e acidentes ambientais, principalmente,
pelo acúmulo de matérias primas, insumos, transporte, disposição inadequada e ineficiência da
geração de resíduos (Freire et al., 2000).

O resíduo industrial, depois de gerado, necessita de destino adequado, pois, além de criar
potenciais problemas ambientais, os resíduos representam perdas de matérias primas e energia,
exigindo investimentos significativos em tratamentos para controlar a poluição. A indústria de
alimentos produz vários resíduos de alto valor de (re)utilização (Pelizer et al., 2007).

No processo produtivo das indústrias existe uma grande diversidade de resíduos formados que
podem poluir o solo, a água e o ar. Sendo assim, é importante observar o tipo de resíduo gerado
pela indústria e qual seu poder impactante ao meio ambiente (Ferreira, 2010).

Muitas indústrias associaram as questões ambientais aos seus processos produtivos, através
dos denominados Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) (Silva & Amaral, 2004). O sucesso do SGA
de uma indústria depende da relação entre os aspectos ambientais ligados aos processos de
produção, aos produtos e aos serviços (Nicolella et al., 2004).

O SGA deve ser implantado de forma integrada ao gerenciamento global de uma organização
pública ou privada. A ação do SGA não deve ocorrer de forma isolada do gerenciamento da
empresa. O meio ambiente não deve ficar restrito a uma sala, departamento ou conjunto de
pessoas que atuam de forma isolada na empresa, mas permear toda a organização. Isto evidencia
a importância estratégica que a dimensão ambiental está assumindo nas organizações
(Albuquerque, 2010).

Nas empresas, a gestão dos resíduos, é considerada uma atividade complexa que contempla
desde o mapeamento dos resíduos gerados até a verificação da viabilidade técnica e econômica
de prevenir e minimizar a geração de cada resíduo, segregá-lo, classificá-lo, identificá-lo e
armazená-lo de forma adequada até o transporte e a destinação final (Andrade & Chiuvite, 2004).

Uma das primeiras etapas é o mapeamento da geração de resíduos, que deve ser realizado no
formato de tabelas, identificando e caracterizando os resíduos gerados em cada setor e sua
destinação de forma generalizada (Andrade & Chiuvite, 2004).

Em particular, a indústria de alimentos produz uma série de resíduos com potencial valor de
reutilização. O setor orizícola destaca-se entre os setores que tem demonstrado preocupação com
o meio ambiente e têm adotado medidas visando a redução dos impactos ambientais decorrentes
das externalidades do sistema produtivo.
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O arroz é um dos cereais mais cultivados no mundo e é responsável pela base alimentar de
grandes contingentes humanos. Segundo Silva et al. (2003), inúmeros esforços são realizados
visando à manutenção da qualidade dos grãos desta cultura nas diversas operações de pós-
colheita.

No Brasil, segundo Vieira & Carvalho (1999), o arroz é consumido, principalmente, na forma de
grãos inteiros, como produto de mesa, sendo mais conhecidos três tipos de produtos: o arroz
integral (descascado), o arroz branco (polido) e o arroz parboilizado, os quais são oriundos do
arroz em casca e obtidos por diferentes processos de pós-colheita que geram mudanças físicas,
químicas e estruturais nos grãos.

O objetivo deste trabalho é identificar os resíduos sólidos oriundos de uma agroindústria


beneficiadora de arroz e propor melhorias para a redução desses resíduos contaminantes no meio
ambiente. O instrumental descritivo do beneficiamento agroindustrial do arroz e a abordagem de
gestão de resíduos sólidos permitem identificar com mais clareza as principais etapas do processo
agroindustrial e os resíduos eliminados em cada etapa que deverão ser minimizados. Ademais,
poucos trabalhos têm sido publicados, no meio acadêmico, analisando a gestão de resíduos na
cadeia agroindustrial do arroz.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada em uma agroindústria beneficiadora de arroz, localizada no município


de São Sepé, no estado do Rio Grande do Sul. A cidade de São Sepé possui uma área territorial de
2.200,702 Km2 ocupados por uma população de 23.798 habitantes (IBGE, 2010). Segundo dados
do IBGE de 2009 são cultivados cerca de 20.000 ha de arroz em São Sepé, sendo esta uma das
principais culturas do município.

Os procedimentos utilizados para a realização da coleta de dados primários foram a observação


e a entrevista em profundidade.

A observação consiste em um registro, de forma sistemática, dos padrões de comportamento


das pessoas, objetos e eventos, para obter informações sobre o fenômeno de interesse. O
observador não interroga as pessoas que estão sendo observadas, nem se comunica com elas
(Malhotra, 2001).

Neste trabalho adotou-se a observação estruturada que, segundo Malhotra (2001), é uma
técnica de observação em que o pesquisador define claramente os comportamentos a serem
observados e os métodos pelos quais serão avaliados. No caso desta pesquisa, realizaram-se as
observações no período compreendido entre os meses de abril a junho de 2010. Neste período,
procedeu-se a identificação dos resíduos gerados na indústria de processamento de arroz.

Foi realizada uma entrevista em profundidade com a gerente de produção da agroindústria


beneficiadora de arroz, que seguiu um protocolo de entrevistas semi-estruturado, diretamente
relacionado com o referencial teórico sobre gestão ambiental e gestão de resíduos sólidos.
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Nas questões abertas foi realizada a análise descritiva dos dados coletados. O processo iniciou-
se com a identificação das respostas que se igualassem ou se assemelhassem. Posteriormente, as
informações coletadas foram agrupadas em tabelas.

Para elaboração deste trabalho foi realizado o mapeamento e a identificação da geração de


resíduos, conforme Andrade & Chiuvite (2004), na indústria de processamento de arroz.
Posteriormente, foi realizada a classificação de resíduos de acordo com a NBR 10.004/2004, a
descrição do sistema de produção do beneficiamento do arroz, a estimativa da quantidade gerada,
tipo/formas de armazenamento e o destino final mais adequado para cada resíduo da empresa em
questão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Primeiramente, foi realizado o mapeamento do processo de beneficiamento de arroz,


conforme a metodologia proposta por Andrade & Chiuvite (2004), fazendo-se o levantamento dos
resíduos gerados em toda a indústria. Realizou-se a identificação dos pontos de geração de
resíduos e a observação das características de cada material residual (ver Tabela 1).

Tabela 1. Mapeamento de Resíduos de uma Indústria de Beneficiamento de Arroz

Resíduo Fonte geradora Quantidade Freqüência de Estado Composição Aprox.


gerada geração físico
(estimativa
aprox.)
Proteína, gordura, lignina;
Setor de
Casca de arroz 800 toneladas Diário Sólido fibras, composto de nitrogênio;
beneficiamento
lipídeo; carboidratos, sílica
Sílica; SiO2. Al2O3; Fe2O3; CaO;
Secador e
Cinza 54 m³ Diário Sólido MgO; K2O; P2O5; SO3; TiO2;
fornalha
MnO; Cl; Rb2O; Co3O4;
Gás toxin= 1
Embalagens de pastilha para cada Época de PEAD MONO (polietileno),
produtos Setor de 20 sacos plantio do COEX (poliamida polietileno),
Sólido
químicos beneficiamento arroz (set à PET (Tereftalato de Etileno) e
Formigram= 3L mar) Embalagem Metálica (aço).
para 600L de água
Setor de
Estopa com óleo 5 tonéis de 200 Algodão, poliéster, ácido
elétrica e Diário Sólido
lubrificante litros ao mês orgânico, cetona
consumo
Setor de
5 tonéis de 200 Óleo mineral ou sintético,
Graxa elétrica e Diário Pastoso
litros ao mês agente espessante
consumo
compostos oxigenados (ácidos
Setor de orgânicos e cetonas),
5 tonéis de 200
Óleo lubrificante elétrica e Diário Pastoso compostos aromáticos
litros ao mês
consumo polinucleares de viscosidade
elevada, resinas e lacas.
5 tonéis de 200
Filtro de óleo Oficina Carcaça, papel especial, óleo
litros ao mês Diário Sólido
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Setor de Uma caixa grande


Fios elétricos Plástico, cobre
elétrica de papelão ao ano Diário Sólido
Grão de arroz quebrado e/ou
1 saco plástico de danificado, manchados,
Impurezas Laboratório
5 litros ao dia Diário Sólido gessados, materiais estranhos,
etc.

Lâmpadas Todos os 1.040 unidades Vapor de Hg(20mg), Ch, Cr, Mg,


fluorescentes setores ao ano Sólido Ni, Cd, Ba, Sb
Diário

Setor de
Latas de tinta ½ tonel ao mês Alumínio
pintura Diário Sólido

Setor de Resina, pigmento, aditivo,


Lodo de tinta 200 litros ao mês
pintura Diário Pastoso solventes

Madeira Marcenaria 3 m³ ao mês C, H, O, N, celulose, lignina


Diário Sólido
Processo de
5 cargas caminhão
Poeira pré-limpeza do
ao mês Diário Sólido
arroz
Setor de Borracha, aço, tecido de náilon
Pneu
lavagem 1 caminhão ao ano Diário Sólido ou poliéster
Setor de 1/2 garrafa pet ao
Pilhas Hg, Pb, Cd, In
consumo mês Semanal Sólido
Setor de
Plástico beneficiamento 1.200 Kg ao mês Polímeros
Diário Sólido
e escritórios
Setor de
Papelão Fibras
consumo Diário Sólido

Papel Escritórios Fibras


Diário Sólido

Todos os
Resíduo orgânico 40 m³ Compostos orgânicos
setores Diário Sólido
Plástico, metal não ferroso
(chumbo, cádmio, berílio,
Todos os
2 m³ mercúrio), vidro, borracha,
setores
Tecnológico placas eletrônicas (ouro,
Anual Sólido
platina, prata, paládio
Fonte: Dados coletados, 2010.

3.1 Etapas dos processos produtivos na indústria de beneficiamento de arroz

A seguir, será descrita a seqüência das etapas compreendidas desde a recepção da carga (do
arroz úmido com casca) na indústria até a expedição do produto final beneficiado (Figura 1).

10 Etapa. Chegada do caminhão na indústria (recepção): Ao chegar à indústria, o motorista do


caminhão recebe na portaria um “cartão senha”, que corresponde a definição da carga (arroz,
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soja) e a fila do descarregamento desta. Os resíduos identificados nesta parte do processo foram
as impurezas (material estranho, arroz sujo, arroz úmido, etc.), resultantes do processo da análise
de pureza e umidade dos grãos.

20 Etapa. Pesagem e amostragem: Após a pesagem do caminhão são coletadas amostras


representativas da carga e realiza-se a análise dos grãos em laboratório. Os principais parâmetros
analisados no laboratório são pureza e umidade. Também é realizado o teste de rendimento em
mini-engenho de provas; a classificação do produto e a verificação da porcentagem de grãos
existentes. As amostras “verdes”, como são chamadas, devem ser transportadas para secadoras
no laboratório e, após resfriamento por 48 horas, novamente será realizada a análise do grão.
Neste caso, o produto será enviado para a “caixa de depósito verde” que segue para os secadores
na produção.

30 Etapa. Recepção na moega: Após a pesagem e a análise dos grãos, a carga será descarregada
em “moegas de recepção”. Através de ”elevadores de caneca” o produto será transportado para
as caixas reguladoras de fluxo, para a pré-limpeza e silo pulmão (local de armazenamento
temporário dos grãos).

40 Etapa. Pré-limpeza: Após os grãos passam para pré-limpeza que tem como objetivo retirar as
impurezas através de equipamentos como peneiras e ventiladores e preparar os grãos para a
secagem. Após a pré-limpeza os grãos são depositados nos “silos pulmão”. O principal resíduo
identificado nesta parte do processo foi poeira.

50 Etapa. Secagem: Na secagem, o aquecimento do ar tem a finalidade de diminuir a umidade e


a capacidade evaporativa. Esta etapa é importante e necessita de cuidado permanente e rigoroso
para o controle do aquecimento. Para o sistema de aquecimento, as fornalhas, utilizam como
combustível a própria casca resultante do beneficiamento do arroz. Ao final da secagem,
recomenda-se armazenar o grão antes da operação de beneficiamento, por um período de 48 a 72
horas em silos metálicos a granel. Nesta parte do processo os resíduos principais foram: cinza e
casca de arroz.

60 Etapa. Limpeza: Para complementar a retirada de poeira e outros produtos leves o grão
passa por um “flutuador” (equipamento que completa a retirada de poeira). Na seqüência passa
pela máquina de “trieur” para separação dos grãos quebrados.

70 Etapa. Descascamento: O processo de descascamento tem o objetivo de descascar os grãos.


Realiza-se o rompimento da casca dos grãos, produzindo casca e grãos esbramados. A casca será
separada do grão integral por sucção. Os grãos esbramados ou integrais resultantes serão
novamente selecionados com a finalidade de separar os grãos que continuam com casca,
conhecidos como "marinheiros".

A separação dos “marinheiros”, que retornam para o descascador quantas vezes forem
necessárias até a perda da casca, será realizada em equipamentos baseados na diferença de
densidade, já que a densidade dos grãos aumentam após ser descascado. Encerrando o processo
de descascamento, obtêm-se o grão esbramado que pode ser comercializado na forma de arroz
integral ou ser submetido ao processo de brunimento e polimento. Os resíduos considerados
nesta parte do processo foram às cascas.
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80 Etapa. Brunimento: O processo de brunimento consiste em remover o germe e a película
que envolve a cariopse no grão, utilizando as pedras dos brunidores. A parte que resta deste
processo será o grão brunido e o farelo (germe e película removidos da periferia do grão). Para
melhorar o brilho do grão, este passa para o polidor à água complementando o polimento. O
resíduo avaliado nesta parte do processo foi o farelo.

90 Etapa. Seleção: Após o brunimento, o arroz passa pelo processo de seleção, que consiste na
separação de fragmentos e de grãos com defeitos melhorando a qualidade do produto e,
conseqüentemente, elevando o preço na comercialização. Nesse processo serão removidos as
matérias estranhas ou fragmentos que não foram retirados na limpeza, através de peneiras e
“trieurs”. Nesta seleção será classificado o arroz de acordo com o grupo, subgrupos, classes e
tipos.

Brunidores Farelo
Recepção Fornalha Cinza

Polimento
Pesagem Armazenamento em
silos metálicos

Amostragem Seleção
Beneficiamento

Selecionadora
Análise Impurezas eletrônica
Máquina de limpeza
convencional de ar a
Descarregamento peneiras
Classificação em
em moegas grupo, subgrupo,
classe e tipos
Flutuadores
Caixa reguladora
do fluxo
Embalagem
Trieur
Pré-limpeza Poeira
Empacotamento Plástico/
Peneira e enfardamento arroz
cilíndrica
Máquinas de ar e
peneiras planas
Empilhamento
Separador de de fardos
pedra e metal
Casca/
Secagem primária grãos de
Expedição
arroz
Descascadores Casca
Secador
intermitente
Máquina
densimétrica

Beneficiamento do arroz Resíduos sólidos


Figura 1. Fluxograma do Beneficiamento do Arroz e Identificação dos Resíduos Sólidos Gerados em
cada Processo
Fonte: Dados coletados, 2010.
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100 Etapa. Embalagem: O processo de empacotamento é totalmente automatizado e segue a


normatização da Legislação Brasileira. Nesta etapa, os resíduos considerados foram às embalagens
que estouram.

3.2 Identificação e destinação de resíduos gerados na agroindústria de beneficiamento de arroz

A seguir, será apresentada a destinação dos resíduos gerados pela agroindústria de arroz
estudada:

a) Casca de arroz: é armazenada em local aberto e reutilizada nas caldeiras/fornalhas da


própria empresa. A parte destinada a produtores e empresas de avicultura são
armazenadas em sacos para após serem transportadas.

b) Cinza: é armazenada no pátio da empresa ao ar livre. Os produtores a utilizam como


"adubo" em suas lavouras.

c) Embalagens de produtos químicos: são armazenadas no pátio da empresa ao ar livre. A


empresa contrata uma prestadora de serviços que faz a destinação final do resíduo
corretamente.

d) Estopas com óleo lubrificante: são armazenadas em lixeiras. A empresa contrata uma
prestadora de serviços que dá a destinação final do resíduo corretamente.

e) Graxas: são armazenadas em tonel. A empresa contrata uma prestadora de serviços que
dá a destinação final do resíduo corretamente.

f) Óleo lubrificante: é armazenado em tonel. A empresa contrata uma prestadora de serviços


que realiza a destinação final do resíduo corretamente.

g) Filtros de óleo: são armazenados em tambores. A empresa contrata uma prestadora de


serviços que realiza a destinação final do resíduo corretamente.

h) Fios elétricos: são armazenados em caixas de papelão. A empresa contrata uma prestadora
de serviços para a destinação final do resíduo corretamente.

i) Impurezas: são armazenadas em caixa de papelão. As impurezas retornam para o processo


de beneficiamento.

j) Lâmpadas fluorescentes: são empacotadas e colocadas em caixas de papelão em depósito


para posteriormente serem encaminhadas para uma prestadora de serviços que realizará a
destinação final do resíduo corretamente.

k) Latas de tinta: não possuem um acondicionamento propriamente dito, são amassadas e


depositadas no pátio da empresa. Posteriormente, são encaminhadas a uma prestadora de
serviços responsável pela destinação final do resíduo corretamente.
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l) Lodo de tinta: é armazenado em tonel. A empresa contrata uma prestadora de serviços
que realiza a destinação final do resíduo corretamente.

m) Madeira: o que pode ser reaproveitado a empresa utiliza no setor de marcenaria, já o que
não pode mais ser reutilizado é depositado no pátio da empresa para posteriormente ser
encaminhado a uma empresa prestadora de serviços que será responsável pela destinação
final do resíduo corretamente.

n) Poeira: é armazenada em tonéis e sacos no pátio da empresa, em área coberta.

o) Pneus: não possui um armazenamento especifico, ficam depositados no setor de lavagem


da empresa e, posteriormente, são encaminhados para uma empresa de reciclagem.

p) Pilhas: são armazenadas em garrafas pet. A empresa contrata uma prestadora de serviços
que realiza a destinação final do resíduo corretamente.

q) Plásticos: são armazenados em lixeiras e encaminhados para o setor de lã onde são


separados e acondicionados em fardos. Posteriormente, são vendidos para empresas
recicladoras.

r) Papelão: é armazenado em lixeiras e encaminhado para o setor de lã onde é separado e


acondicionado em fardos. Posteriormente, são vendidos para empresas recicladoras.

s) Papel: é armazenado em lixeiras e encaminhado para o setor de lã onde é separado e


acondicionado em fardos. Posteriormente, é vendido para empresas recicladoras.

t) Resíduos orgânicos: são armazenados em lixeiras e temporariamente armazenados no


pátio da empresa onde serão recolhidos pela coleta municipal.

u) Tecnológico: é armazenado no setor de lã da empresa e encaminhado a uma prestadora de


serviços que dá a destinação final do resíduo corretamente.

3.3 Proposição de melhorias para destinação de resíduos contaminantes

O resíduo agroindustrial depois de produzido necessita de destinação adequada evitando


potenciais problemas ambientais (Pelizer et al., 2007). Essa preocupação com o destino final dos
resíduos produzidos visa minimizar os perigos das emissões quando o produto se encontra em
fase de eliminação ou descarte final (Manzini & Vezzoli, 2008).

Uma agroindústria que beneficia alimentos produz uma série de resíduos, alguns altamente
impactantes, com alto valor de reutilização, que podem ser utilizados na manufatura de outros
produtos e, também, como insumo no processo produtivo, possibilitando a logística reversa. Isto
possibilita uma minimização dos impactos ambientais causados no ambiente e, também, uma
maior eficiência econômica da empresa.
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Segundo Manzini e Vezzoli (2008) os materiais residuais da indústria podem ser reprocessados
e transformados em matéria prima secundária ou incinerados potencializando o seu valor
energético.

Dos resíduos gerados na agroindústria de beneficiamento de arroz, os principais que podem


reduzir os impactos socioambientais e produzidos em grande escala são a casca de arroz e a cinza
(Quadro 1).

Segundo Della et al. (2005), para cada tonelada de arroz em casca, 23% correspondem a casca,
e 4% correspondem a cinzas. Isso evidencia o problema ambiental causado pelo excesso da casca
de arroz que precisa ser destinada.

As cascas de arroz produzidas são reutilizadas na agroindústria como combustível através da


queima na caldeira. Considerada uma solução para os impactos ao meio ambiente, causados pelo
problema do resíduo de casca de arroz, é a geração de energia elétrica (Dias, 2011). Além disso, os
produtores rurais também recolhem parte da casca para utilização em suas propriedades. De
acordo com Dias (2011) a compostagem é um dos destinos mais utilizado para este resíduo.

Alguns autores reutilizam esse resíduo obtendo filme polimérico (Ferreira, 2005) que são
utilizados em aparelhos ópticos e semicondutores como componentes ativos na proteção de
cobertura e na produção de bioinseticida a base de Bacillus thuringiensis (Pelizer, 1997).

Com a combustão da casca do arroz nas fornalhas para geração de energia tem-se a cinza como
principal resíduo. A maior parte deste resíduo gerado pela agroindústria é reutilizado nas lavouras
como adubo. Segundo Dias (2011) este resíduo não deve ser descartado diretamente no meio am-
biente.

Para alguns autores, a cinza pode ser utilizada na indústria cerâmica principalmente como
matéria prima na fabricação de vidros, refratários, tubos cerâmicos, isolantes térmicos, abrasivos
e na construção civil como componente em cimentos, concretos e argamassas (Della et al., 2006) e
também como fonte de nutrientes para a produção de aveia em solos arenosos (Silva, 2005).

Quadro 1. Síntese dos resíduos sólidos gerados na indústria debeneficiamento de arroz, destino e
proposição de alternativa de destinação sugerida pela literatura
Resíduo Destino dado pela indústria de Proposição de alternativa de
beneficiamento de arroz estudada destinação sugerida pela
literatura
Casca de arroz fornalha; produtores e empresas de energia elétrica; compostagem
avicultura
Cinza adubo Indústria cerâmica; Construção
civil;
Embalagem de produtos prestadora de serviços
químicos
Estopa com óleo lubrificante prestadora de serviços
Graxa prestadora de serviços
Filtro de óleo prestadora de serviços
Fios elétricos prestadora de serviços
Impurezas Retornam ao beneficiamento
Lâmpadas fluorescentes prestadora de serviços
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Latas de tinta prestadora de serviços
Lodo de tinta prestadora de serviços
Madeira prestadora de serviços Fornalha;
Poeira armazenados
Pneu reciclagem Matéria prima para a manufatura
de outros produtos.
Pilhas prestadora de serviços
Plástico reciclagem Matéria prima para a manufatura
de outros produtos.
Papelão reciclagem Matéria prima para a manufatura
de outros produtos.
Papel reciclagem Matéria prima para a manufatura
de outros produtos.
Resíduo orgânico coleta municipal
Tecnológico prestadora de serviços
Fonte: Autores (2010).

4. CONCLUSÕES

O mapeamento de resíduos sólidos gerados no processo de beneficiamento de uma


agroindústria de arroz é o processo inicial para a introdução de um sistema de gestão ambiental. O
próximo passo seria o reaproveitamento dos resíduos gerados na fabricação de outros produtos e
na utilização destes resíduos novamente no processo como matéria prima (insumos) através do
processo de logística reversa.

A reutilização dos resíduos possibilita uma redução do impacto ambiental causado e também
uma economia decorrente da redução dos custos de produção.

O diagnóstico realizado permite a empresa conhecer melhor o seu funcionamento e assumir


um compromisso com a melhoria contínua fazendo uma revisão periódica dos resíduos sólidos
gerados no processo produtivo. Além disso, a empresa tem a possibilidade de investir em pesquisa
e desenvolvimento de novos produtos produzidos com o reaproveitamento dos resíduos dessa
mesma atividade. Esta é uma opção estratégica ambientalmente correta que tem sido adotada
por algumas organizações públicas e privadas.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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