Dilemas e Controvérsias No Campo Do Currículo
Dilemas e Controvérsias No Campo Do Currículo
Dilemas e Controvérsias No Campo Do Currículo
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Psicanálise e, mais recentemente, pelos estudos culturais e teorias pós-
estruturalistas, levantaram algumas questões e desenvolveram análises que
redirecionaram as preocupações e interesses nessa área. Alguns desses
teóricos são bastante conhecidos no Brasil e muito citados na literatura sobre
currículo, como, por exemplo, Basil BERNSTEIN e Michael YOUNG (ingleses)
e Henry GIROUX e Michael APPLE (americanos).
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diferentes formas de saberes e de saber fazer. Por que, nesse conjunto de
possibilidades, a escola privilegia determinados tipos de conhecimentos em
detrimento de outros? Reconhecendo que o conhecimento escolar é resultado
de um processo de seleção, é necessário, então, entender-se os critérios que
orientam essas escolhas.
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centrado nas disciplinas hierarquicamente organizadas, está associado à
educação das crianças consideradas mais hábeis, e caracteriza-se pela ênfase
na comunicação escrita em oposição à oral, no individualismo, na abstração e
no afastamento da vida diária ou da experiência comum. Opostamente, o que é
denominado de currículo não acadêmico são aquelas propostas curriculares
que rompem com a estrutura disciplinar e com a organização seqüencial dos
conteúdos, trabalhando com temas que interagem diferentes áreas do
conhecimento, voltando-se para os processos de aquisição, e não para os
processos de transmissão de saberes. É valorizada, nessa abordagem, a
experiência de alunos e professores, suas vivências e inserção cultural.
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segundo diz, estão fundamentados na reestruturação ocorrida na definição das
formas de transmissão de conhecimento, na necessidade de eliminação de
noções datadas e na importância da introdução, na escola, de novos
conhecimentos, provenientes tanto da pesquisa como das mudanças
econômicas, sociais e técnicas. Esses princípios podem ser resumidos pelas
seguintes proposições:
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conhecimento, deixando-os em condições de desvantagens perante aqueles
que pertencem às elites, cujos pais, principalmente no que se refere ao ensino
médio. Optam por escolas de currículo mais acadêmico.
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Estudos no campo da história social das disciplinas escolares buscam analisar
as condições de emergência e desenvolvimento das diferentes disciplinas que
integram os currículos do ensino básico. Trabalhando nessa área, Ivor
GOODSON demonstra que as disciplinas escolares são colocadas no currículo
de acordo com interesses práticos. Diante de certas necessidades sociais,
diferentes conteúdos passam a integrar os currículos escolares, como, por
exemplo, a educação sexual, que esta sendo incluída no currículo de muitas
escolas devido ao aumento das doenças sexualmente transmissíveis.
GOODSON mostra que, no seu processo de evolução, visando a alcançar
maior prestígio, as disciplinas escolares tornam-se mais acadêmicas, incluindo
conteúdos mais abstratos, de natureza conceitual. Exemplo disso ocorreu com
a chamada “ciência das coisas comuns” ensinada, no início do século XIX, às
classes operárias na Inglaterra. Essa disciplina trabalhava com o conhecimento
científico de forma contextualizada, partindo da cultura e da experiência das
crianças do povo, estimulando o pensamento, o raciocínio e a compreensão
dos fenômenos estudados. Com o passar dos anos, essa forma de ensinar
ciências foi relegada, e a disciplina “ciência” ensinada na escola passou a
constituir um bloco de conhecimentos abstratos, mais próximo das ciências
desenvolvidas nos laboratórios.
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começo do século, estão sendo elaboradas propostas curriculares, como o
método de projetos e o ensino por solução de problemas, que compartilham
dessa visão. Nessas propostas, o ensino parte de uma situação ou problema
prático no quais os alunos trabalham, integrando conhecimentos de deferentes
áreas, para solucioná-los.
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aprendizagens, renovando seu interesse pelo trabalho, deixando de constituir
uma sucessão de tarefas repetitivas, monótonas e cansativas.
4- Universalismo X Multiculturalismo
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da cultura. Nesse processo, a cultura dos diversos grupos sociais é
marginalizada no processo de escolarização e, mais do que isso, essa cultura é
vista como algo a ser eliminado pela escola, devendo ser substituída pela
versão autorizada da cultura, a qual tem estado presente, geralmente, em
todas as tarefas do sistema de ensino.
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desvalorização da cultura do aluno tem-se mostrado uma das causas centrais
do fracasso escolar.
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da sociedade e da realidade nas quais os homens estão inseridos. O autor
mostra que o ensino secundário, naquele período, não oferecia uma formação
profissional, posição que ele ratifica. Considera, contudo, que, nesse nível de
ensino, os alunos devam desenvolver habilidades e competências intelectuais,
a partir das quais possam ser introduzidos no ensino das diferentes profissões.
O valor social dos conteúdos curriculares tem variado ao longo da História, ora
dando ênfase às disciplinas do campo das Humanidades, ora enfatizando
aquelas disciplinas que integram o campo das Ciências Físicas, Biológicas e da
Matemática. Essas oscilações estão relacionadas com interesses econômicos,
sociais e culturais. Muitos devem lembrar-se de como o lançamento do Sputnik
desencadeou reformas curriculares voltadas, sobretudo, para o ensino das
Ciências Físicas e Biológicas e da Matemática. Essas reformas foram iniciadas
nos Estados Unidos, e dali se irradiou, chegando até o Brasil. O que a nação
americana propunha era a melhoria do ensino, como uma estratégia para a
formação de cientistas capazes de vencer a antiga União Soviética na corrida
espacial.
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aluno, de habilidades tais como a criatividade, a autonomia, o desenvolvimento,
do pensamento divergente e a capacidade de comunicação, competências
consideradas fundamentais para o trabalhador.
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Segundo lembra PERRENOUD (2000), competência pode ser considerada
como a “capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação,
apoiando-se em conhecimentos, mais sem limitar-se a eles.” A competência,
afirma esse autor, não consiste na aplicação pura e simples de conhecimentos,
modelos de ação ou procedimentos; inclui conhecimentos teóricos ou
metodológicos, formas de atuar e atitudes. Para defini-las, é preciso relacioná-
las a um conjunto de problemas ou tarefas e identificar a natureza dos
esquemas de pensamentos ou de recursos cognitivos que serão mobilizados
nessas situações.
Uma competência mais geral ou mais abrangente inclui uma série de outras
competências mais específicas que podem ser consideradas como
componentes da primeira. Para o desenvolvimento de competências,
PERRENOUD, recomenda um ensino baseado na solução de problemas, no
desenvolvimento de projetos e a adoção de um contrato didático em que o
professor valorize a cooperação entre os alunos, aceite os erros como parte do
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processo de aprendizagem e incentive a experimentação, para trabalhar nessa
perspectiva o professor deve adotar um planejamento flexível, uma vez que
para desenvolver competências, o mais importante é trabalhar com um
pequeno número de situações fecundas, do que abordar de forma superficial,
um grande número de assuntos, com a preocupação de vencer os programas
escolares.
Como pode ser visto o ensino por competências, está bem próximo ao ensino
por objetivos, preconizado nas décadas de 60 e 70, como uma maneira de
tornar o ensino mais eficiente. A diferença está em que os objetivos
educacionais estavam mais voltados para a aquisição de conhecimentos e de
habilidades cognitivas e, por isso, estavam mais relacionados a um
desenvolvimento mais rígido e sistemático do currículo escolar. De forma
diferente, as competências se voltam mais para ações, que envolvam
conhecimentos teóricos e práticos, habilidades e atitudes relacionadas à
atuação em situações definidas. Por exemplo, hoje se fala muito em
competência em saber utilizar novas tecnologias em determinadas tarefas ou
atividades.
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Alguns críticos do ensino por competências relacionam a emergência desse
movimento, que, aliás, vem ocorrendo em vários países do mundo, ao
crescimento do controle sobre o ensino, realizado por meio dos grandes testes
nacionais, como ocorre no chamado “provão”, realizado nos cursos superiores,
ou sistema de Avaliação de Educação Básica (SAEB), que buscam aferir os
resultados do ensino, em um determinado nível ou curso. A preocupação dos
educadores, que se posicionam contra esse tipo de avaliação, é que se
organize e desenvolva o ensino, em função desses instrumentos passando a
predominar a preocupação com o produto, e não com o processo de
aprendizagem. Além disso, tais testes exigem que o currículo tenha um
determinado percurso, dificultando o atendimento às diferenças regionais e
locais, bem como as particularidades de cada estabelecimento de ensino, de
cada sala de aula e dos diferentes alunos.
7- Conclusões
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trabalharem com determinados vieses, privilegiados certos tipos de
conhecimentos e formas de ensinar, acabam por reproduzir as estruturas da
vida social, com suas assimetrias, e desigualdades. Nesse contexto. Ao invés
de programas abarrotados de conteúdos, a escola precisa selecionar temas
relevantes, articulados com as experiências das crianças e dos adolescentes,
contendo-o com a vida e com a realidade social. Assim, no currículo escolar,
não deve ser apenas valorizando o domínio de conhecimentos, mas, acima de
tudo, é importante que ele esteja voltado para formação de habilidades
intelectuais, valores e atitudes que garantam a formação dos estudantes como
pessoas bem equipadas para resolverem seus problemas pessoais e os da
comunidade em que vivem.
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dos saberes práticos, da produção científica, dos produtos da mídia e da
informática, dos filmes, das peças de teatro, das obras literárias, bem como dos
diferentes artefatos e da produção artística das mais diferentes culturas.
Abrange, ainda, a formação de valores éticos, de pensamentos críticos e de
senso prático, da capacidade de resolver problemas, participar da vida social e
política, encontrar formas de realização pessoal no mundo do trabalho e no
lazer, além da consciência do próprio corpo. Um currículo não poderá estar
organizado, exclusivamente, ao redor das disciplinas tradicionais, mas deverá
incluir outras experiências da cultura humana, desenvolvidas mediante
atividades bem planejadas, que privilegiem a produção e a criatividade do
estudante.
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