Tarefa 1 - Fichamento Analítico Texto Fundamentos e Origem Da AF - Prof Jeane

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Prof. MSc.

Jeane Torres

FICHAMENTO ANALÍTICO

Acadêmico(a): Francisco de Assis da Conceição de Brito

Ficha de citação de ideias a respeito do conceito e origem da antropologia filosófica, bem como
as principais dimensões do ser humano.

Referência:
SILVA, Jeane Torres. Antropologia e fundamentos da antropologia filosófica [capítulo 1]. In:
Antropologia Filosófica [apostila eletrônica]. Boa Vista-RR: FACETEN, 2019.

Pág. Citação (proposições e/ou argumentos) Explicação / comentário


6 1.1 – O que é e como surgiu a Antropologia?

O conceito de ser humano na antropologia A antropologia surge como ciência no final


científica emerge do seu objeto de observação do século XVIII, motivada essencialmente
9 por fatores históricos, que instigam
que são os indivíduos que pertencem a uma
época e uma cultura, cujo sujeito (pesquisador)questionamentos sobre o próprio ser
que observa também pertence a uma época e humano e sua condição no mundo.
uma cultura, sendo necessário, na medida do Inicialmente a antropologia era apenas um
possível, preservar a imparcialidade do projeto para fundamentar a ciência do ser
observador. O trabalho do antropólogo é humano. Apesar da grande variedade dos
investigar formas de desenvolvimento da seus campos de interesse, a antropologia se
natureza humana com o propósito de descrever constituiu como um campo científico
seus fenômenos socioculturais. específico, que se articula teórica e
metodologicamente com outras áreas do
saber (como a história, filosofia, sociologia,
psicologia, biologia e direito), mas conserva
sua unidade, uma vez desenvolveu métodos
particulares para investigar o ser humano e
suas diversas formas culturais,
comportamento e vida social.
10 1.2 – Como surgiu e o que se estuda em antropologia filosófica?

O surgimento da antropologia filosófica, no A antropologia filosófica é antropologia onde


século XX, foi gestado ou instigado pelas se investiga a estrutura essencial do ser
11-
mudanças significavas de pensamento provindas humano. É o ser humano que ocupa o lugar
do movimento Iluminista ocorrido no século mais preponderante na especulação
12 XVIII. O projeto Iluminista valorizava: a filosófica, pois é a partir dele que tudo é
confiança na razão humana como meio de deduzido. Essa forma de antropologia não se
desenvolvimento e progresso da humanidade; o preocupa com as características humanas,
uso crítico da razão para promover a libertação mas sim com a essência do humano,
dos dogmas metafísicos, preconceitos morais, fornecendo uma interpretação ontológica
superstições religiosas, relações desumanas e dele, se diferenciando, portanto, de outras
tiranias políticas; o desenvolvimento do formas de antropologia, como a mítica,
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conhecimento científico e técnico; e defendia os teológica, poética, científico natural, etc.


direitos naturais do ser humano e do cidadão,
como liberdade e igualdade.

O surgimento da antropologia filosófica está A pergunta pelo ser humano, pela sua
ligado a um processo de naturalização do pensar, essência e tentativa de unificar os dados da
ocorrido nos séculos XIX e XX, momento no qual as sua natureza em uma teoria abrangente
12
experiências negativas de fracasso, solidão e caracteriza uma autorreferência, uma
insegurança levaram à recolocação da filosofia transcendência, um lançar-se para fora de si
diante da pergunta sobre o homem. Max Scheler é mesmo. Para Gerhard Arlt, o ser humano que
considerado o fundador dessa disciplina filosófica, pergunta por si, e nisso busca uma
que em essência busca estabelecer uma visão orientação, não é dado como invariável,
abrangente do homem a partir de um diálogo como fato inamovível. Ele é, antes, uma
entre filosofia e ciência. O ser humano, na autorrelação que se documentou
perspectiva scheleriana, perpassa diferentes graus diversamente através dos tempos e das
orgânicos, mas tem sua singularidade assegurada épocas. O ser humano modifica-se por meio
pelo espírito (LOPES, 2015, p. 142). da auto interpretação. Nesse sentido, se faz
importante para uma concreta configuração
da vida se o ser humano se crê dependente
de forças naturais, míticas ou algum deus, ou
se ele concebe o mundo sem nenhum deus,
desmistificado e dependendo apenas de suas
ações. Essa autorrelação pode ser
desmistificadora ou ocultadora.
Para o filósofo Scheler (apud LOPES, 2015, p. Scheler, à procura do conceito de ser
143) era necessário construir uma nova imagem humano, observa uma peculiar
do essencial humano, e “estabelecer uma ambiguidade: o conceito de humano indica,
13
por um lado, as características morfológicas
compreensão do homem como ser natural”,
enquanto, o humano é um subconjunto dos
procurando entender “a essência humana a
mamíferos vertebrados, assemelhando-se
partir da base concreta, real, natural e existente, aos demais animais da natureza que
de um saber que se concentra no sentido do que possuem necessidades naturais, corpos
faz do homem aquilo que ele é”. Partindo dessa orgânicos, etc. Essa primeira concepção
reflexão antropológica, Scheler considera que é naturalista/científica do conceito foi
possível “reconhecer uma unidade de cunhada principalmente na
interpretação do homem, sem deixar de lado a contemporaneidade, com destaque para
Charles Darwin em sua obra “A Origem das
multiplicidade de resultados parciais das
Espécies”. Por outro lado, esse mesmo
ciências”. Nessa perspectiva, as perguntas
conceito remete àquilo que mais se distancia
antropológicas: “que é o Homem? ” e “qual a sua da natureza, como aquele ser que está na
posição no interior do ser?”, devem assumir a natureza não como mais uma parte
base de questionamento da antropologia integrante, mas sim como aquele para qual a
filosófica. natureza foi feita. Essa segunda concepção
aponta um antropocentrismo característico
da tradição judaico-cristã, embasada na
história bíblica do livro de Gênese.
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A antropologia filosófica estuda o ser humano A Antropologia Filosófica se interessa pelo


como um todo (corpo e alma), não interpreta o homem como um todo, corpo e alma. O

14 ser humano apenas a partir da natureza, vida, homem não é interpretado apenas como
natureza, vida, vontade ou espírito, mas
liberdade, vontade ou espírito, mas interpreta o
como homem, ou seja, ele nos interessa pela
ser humano em sua complexidade de relação
complexidade da relação entre os elementos
com outros elementos que o constituem, como que o constituem (corpo/alma;
por exemplo: corpo e alma; vida e espírito; vida/espírito) e o seu modo de existência
vontade e razão; amor e ódio. Enquanto ciência, específico, que o distingue em geral de
a antropologia filosófica procura fundamentar a outros animais. Trata-se de uma
essência do ser humano e sua estrutura eidética investigação preocupada fundamentalmente
(essência das coisas e não sua existência ou com a essência e a estrutura eidética
(relativo à essência das coisas e não à sua
função).
existência ou função) do homem, ou seja,
estão em questão o lugar que o homem
ocupa na natureza e as relações que ele
estabelece com o universo das coisas.
15 1.3 – As dimensões fundamentais do ser humano

15 As dimensões do ser humano dizem respeito a Por meio da relação com a realidade, de seu
relação corpo-espírito e seus aspectos empenho e domínio sobre o real, o homem
metafísicos ou transcendentais, caracterizados certamente busca alcançar objetivos
pela condição humana de “projeto aberto”, ou preestabelecidos e, sobretudo atingir o que
seja, o ser humano é um ser dimensional e é chamado de autorrealização ou, até
extensivo a possibilidades distintas. Em outras mesmo, alcançar aquilo que é a
palavras, o ser humano não é um projeto autotranscedência. Neste percurso de
acabado, mas um ser de possibilidades a serem descoberta de finalidades, o homem
definidas e realizadas ao longo de sua existência, também atribui significados para as coisas e
de acordo com os estudos das dimensões para sua experiência cotidiana.
humanas.

Corporeidade (homo somaticus):


15 – tradicionalmente, da antiguidade até a É inegável que essa referência ao corpo, na
17 modernidade, o ser humano era compreendido qual enaltece a intenção do homem sobre o
como um ser composto de dois elementos: alma mundo, é que se torna a contribuição mais
(psíquico) e corpo (somático). [...]. Se fundamental para a Antropologia Filosófica.
considerarmos que o corpo é realidade física Basicamente, poderíamos sintetizar a
(material), o método que se tornou mais abordagem sobre a corporalidade humana
apropriado para conhecer o corpo humano foi o em dois modos: o primeiro trataria de uma
método experimental, que foi utilizado a partir investigação do corpo através de uma visão
de Descartes até Pavlov e Watson. Porém esse
científica e, certamente puramente
método acabou reduzindo o corpo a uma coisa,
biológica. Não há dúvida de que a ciência é
uma máquina que funciona de acordo com leis
capaz de fornecer inúmeras explicações
mecânicas calculáveis. Hoje sabemos que não
para o corpo, contudo esse conhecimento
podemos reduzir o corpo humano a uma coisa.
objetivo restringe-se a conceitos e leis de
[...]. Conforme explica Mondin (1998),
atualmente os estudos da corporeidade são um universo epistemológico.
compreendidos pela: realidade física do corpo,
que investiga sua estrutura objetiva; e o corpo
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vivido imediato da consciência, que investiga a


subjetividade humana no mundo. Essa
perspectiva fenomenológica da percepção do
corpo vivido pela consciência, se insere no
estudo antropológico da dimensão corpórea do
ser humano.
Objetividade: consiste na relação do ser A característica da relação de objetividade é
18 humano com o mundo. “É a experiência da fundamentada na não reciprocidade, porque
situação na sua finitude constitutiva que leva o o mundo não está para o homem numa
homem a interrogar-se sobre si mesmo” (SILVA, relação de igualdade, no sentido que ele não
2016, p.531). [...]a categoria da objetividade se representa, mas é representado “E o
possibilita o construto do ser-em-si ao ser-no- próprio mundo é o que é porque está
mundo, efetivada pela existência concreta, que presente no homem, encontra nele o seu
se abre como possibilidades, para a realização do centro e seu sentido. Nesta pré-
ser humano. Essa abertura é sempre um agir compreensão, o sujeito já aparece como
livre, que o ser humano realiza como um desafio
mediador na sua totalidade (corpo próprio,
e uma tarefa nunca acabada, conduzindo-se ao
psiquismo e espírito) e, como tal, ele
construto da própria existência (VAZ, 1992).
mediatiza a passagem da exterioridade dada
à exterioridade significada.
Intersubjetividade: é uma relação de Essa relação é marcada pela reciprocidade
20 - reciprocidade, onde dois seres humanos ou duas que se constitui por dois “infinitos” que se
21 infinitas possibilidades se relacionam de forma relacionam, ou dialeticamente se opõem.
dialética, contrapondo suas potencialidades. Essa reciprocidade da relação entre as duas
Nessa dimensão, o ser humano rompe a infinitudes irá estabelecer o paradoxo
objetividade e se empenha em estabelecer próprio desta relação, que se apresenta
relação dialógica e recíproca. O movimento primeiramente na finitude da linguagem,
dialético da reciprocidade instaura uma relação que é portadora de um universo infinito de
caracterizada pelo ir-e-vir, cuja relação objetiva significação.
é suprassumida na relação intersubjetiva. “A O discurso da Antropologia de Lima Vaz
suprassunção significa aqui que a forma do ser- segue o esquema dialético de
no-mundo como autoexpressão do sujeito inteligibilidade que, a cada categoria,
implica necessariamente a forma do ser-com- suprassume o momento anterior e avança
outro que é, justamente, a forma da relação na compreensão do objeto. Por isso, a
intersubjetiva” (VAZ, 1992, p. 55). Na relação instância do “Eu” só se compreende como
intersubjetiva, o sujeito tem diante de si outro tal pela relação com o outro, mas sem
sujeito com infinidade intencional, prescindir da objetividade. Um discurso que
caracterizando um paradoxo do encontro não levasse em conta esses aspectos seria,
humano, que fundamentalmente sempre será segundo o filósofo, incorreto e incorreria em
um encontro espiritual. irremediáveis extrinsecismos, não
propiciando um discurso unitário sobre o
homem.
22 Transcendência: resulta da sobreposição do
sujeito no mundo e na história, avançando para A Transcendência é a categoria do espírito
além do ser-no-mundo e do ser-com-o-outro, que marca a condição transcendental do
buscando um fundamento último para o Eu Sou homem. Certamente o autor está se referindo
primordial (VAZ, 1992). A dimensão humana da a uma noção de transcendência, isto é, de
transcendência, igualmente a relação de autotranscendência em que o homem se
objetividade, também se manifesta em três coloca em relação a si mesmo, haja vista o
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categorias: homem também transcende as condições


- Pré-compreensão: diz respeito a tudo que impostas pela materialidade da vida
transcende o mundo sensível [...] cotidiana, transformando em condição
- Compreensão explicativa: consiste na consciente de sociabilidade. Esse mesmo
experiência da transcendência, que aprofunda o autor ressalta que essa noção de espírito não
ser humano em sua realidade, possibilitando é uma noção estritamente antropológica e,
fluir as interrogações fundamentais em torno do por vezes, tem uma ligação com a metafísica,
sentido existencial da vida (VAZ, 1992, p.112- podendo ser apropriada por outras áreas do
113). Essas experiências levam o ser humano a conhecimento que trate do espírito, como é o
fazer novas experiências de transcendência caso da Religião.
ético-social.
- Compreensão filosófica: a reflexão sobre o
transcendente foi duramente criticada por
filósofos materialistas, mas dada sua
importância histórica para a filosofia antiga e
para metafísica, os estudos antropológicos da
transcendência humana mantiveram seu valor
na contemplação das ideias como expressão da
relação transcendental entre o Ser-Uno e o Ser-
Absoluto.

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