Aspectos Quanticos de Buracos Negros Radiação Hawking (TCC)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE FÍSICA
GRADUAÇÃO EM FÍSICA

DÉBORA AGUIAR GOMES

ASPECTOS QUÂNTICOS DE BURACOS NEGROS: RADIAÇÃO


HAWKING

FORTALEZA
2016
DÉBORA AGUIAR GOMES

ASPECTOS QUÂNTICOS DE BURACOS NEGROS: RADIAÇÃO HAWKING

Monografia de Bacharelado apresentada à Co-


ordenação da Graduação do Curso de Fı́sica,
da Universidade Federal do Ceará, como re-
quisito parcial para a obtenção do Tı́tulo de
Bacharel em Fı́sica.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Santos


de Almeida.
Coorientador: Dr. Victor do Nascimento San-
tos.

FORTALEZA
2016
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

G613a Gomes, Débora Aguiar.


Aspectos Quânticos de Buracos Negros: Radiação Hawking / Débora Aguiar Gomes. – 2016.
74 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências,


Curso de Física, Fortaleza, 2016.
Orientação: Prof. Dr. Carlos Alberto Santos de Almeida.
Coorientação: Prof. Dr. Victor do Nascimento Santos.

1. Buracos Negros. 2. Entropia de Buracos Negros. 3. Radiação Hawking. I. Título.


CDD 530
”A imaginação
muitas vezes
conduz-nos a mundos
a que nunca fomos,
mas sem ela não
iremos a lugar
nenhum” - Carl
Segan
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, quero agradecer aos familiares e amigos pelo apoio e com-
preensão oferecidos, que foram de fundamental importância. Agradeço especialmente
à minha mãe, pelo exemplo de dedicação, e aos amigos Sarah Rosas, Beatriz Santiago,
Deborah Nogueira, Paulo Henrique Pessoa e Anderson Lemos, que me acompanharam de
perto durante a minha graduaçao.

Quero agradecer ao professor Carlos Alberto Santos de Almeida, por sua ori-
entação e ensinamentos durante o perı́odo em que fui sua aluna de iniciação cientı́fica e por
ter confiado na minha capacidade. Gostaria de agradecer também aos professores Vitor
Santos, Euclides Gomes e Roberto Maluf que contribuiram muito para o meu desenvolvi-
mento durante a iniciação cientı́fica e compartilharam seu conhecimento e experiência.

Aos colegas do Departamento de Fı́sica da UFC, Levi Félix, Matheus Pinheiro,


Ewerton Avlis, Cleiton Estevão, Michelângelo Frost, Bruno Duarte, Misael Moura, Lemuel
Ferreira, Nathanaell Sousa, Rafael Farias, Sofia Cunha, Michel Andrade, Nicolas com
quem dividi as angústias e aprendizados e pelo companheirismo durante o perı́odo da
graduação.

Por fim, gostaria de agradecer, ao Departamento de Fı́sica da Universidade


Federal do Ceará, por proporcionar uma sólida formação acadêmica aos seus alunos, e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientı́fico e Tecnológico (CNPq), pelo financiamento
à pesquisa cientı́fica.
RESUMO

Desde a publicação da solução de Schwarzschild para as equações de campo de Einstein,


muitos trabalhos vem sendo desenvolvidos em teoria de buracos negros. Classicamente,
um buraco negro é definido como um objeto fı́sico que não pode ejetar matéria ou radiação,
mas somente absorvê-las. Porém, devido a efeitos quânticos, um buraco negro pode emitir
radiação com espectro de corpo negro. Esse efeito, apresentado por Stephen Hawking
em 1975, recebe o nome de radiação Hawking. A existência dessa radiação aponta uma
conexão entre a mecânica de buracos negros e a termodinâmica. O mais importante
exemplo disso é dado pela semelhança existente entre as propriedades da área de um
buraco negro e a entropia associada a ele. Neste trabalho, apresentamos os principais
resultados clássicos da teoria de buracos negros, a analogia entre a mecânica de buracos
negros e a termodinâmica e descrevemos quanticamente a radiação Hawking.

Palavras-chave: Buracos Negros. Entropia de Buracos Negros. Radiação Hawking.


ABSTRACT

Many works have been developed in black hole theory since the publication of Schwarzs-
child’s solution for Einstein’s field equations. Classically, a black hole is defined as a
physical object that can not eject matter or radiation, but only absorb them. However,
due to quantum effects, a black hole can emit radiation with a blackbody spectrum. This
effect, presented by Stephen Hawking in 1975, is called Hawking radiation. This effect
points to a connection between the mechanics of black holes and thermodynamics. The
most important example of this is given by the similarity between the properties of the
area of a black hole and the entropy associated with it. In this work, we present the
main classical results of black hole theory, the analogy between black hole mechanics and
thermodynamics, and describe Hawking radiation quantically.

Keywords: Black Holes. Black Hole Entropy. Hawking Radiation.


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Comparativo entre as principais métricas e seus parâmetros . . . . . . . . 43

Tabela 2 – Comparativo entre a termodinâmica clássica e a mecânica de buracos


negros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fonte: [1]. Espaço-tempo na Relatividade Restrita . . . . . . . . . . . . . 17


Figura 2 – Fonte: [1]. Espaço-tempo na mecânica Newtoniana. . . . . . . . . . . . . 18
Figura 3 – Fonte: [1]. Diagrama de espaço-tempo para dois eventos distintos. . . . . 18
Figura 4 – Fonte: [1]. Triângulo esférico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 5 – Fonte: [1]. Transporte paralelo num espaço plano. . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 6 – Fonte: [1]. Transporte paralelo numa superfı́cie esférica. . . . . . . . . . . 27

Figura 7 – Fonte: [2]. Coordenadas de Eddington-Finkelstein incidentes e emergentes.


As setas indicam a direção da coordenada temporal da métrica de original
Schwarzschild. A figura da esquerda representa um buraco negro: os fótons
que chegam atravessam o horizonte de eventos e alcançam a singularidade;
A segunda figura representa um buraco branco no qual o contrário acontece:
os fótons emergem da singularidade, atravessam o horizonte de eventos e
se propagam no infinito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 8 – Fonte: [3]. Coordenadas de Kruskal-Szekeres. . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Figura 9 – Fonte: [4]. (a)Criação e aniquilação de partı́culas. (b) Criação e ani-


quilação de partı́culas nas proximidades de um buraco negro. . . . . . . . 45
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2 TEORIA DA RELATIVIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.1 Relatividade Especial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.1.1 Introdução e Princı́pios de Relatividade Especial . . . . . . . 14
2.1.2 Transformações de Lorentz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.1.3 Intervalo de Espaço-Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.1.4 Tempo Próprio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1.5 Dilatação do Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.1.6 Mecânica Relativı́stica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Relatividade Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2.1 Princı́pio da Equivalência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2.2 Transporte Paralelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2.3 Curvatura e Tensor de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2.4 Tensor Energia-Momento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.3 Equação de Einstein . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3 BURACOS NEGROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.2 Buracos Negros de Schwarzschild . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.2.1 Coordenadas de Eddington-Finkelstein . . . . . . . . . . . . . 36
3.2.2 Coordenadas de Kruskal-Szekeres . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.3 Buracos Negros de Kerr . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3.1 Horizonte de Kerr . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3.2 Outras Métricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4 RADIAÇÃO HAWKING . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.1 Analogia Termodinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.2 Transformações de Bogoliubov . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.3 Evidências Experimentais da Radiação Hawking . . . . . . . . 53
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
APÊNDICE A -- RELATIVIDADE . . . . . . . . . . . . . . . 56
A.1 Transformações de Galileu x Transformações de Lorentz . . . 56
A.2 Tensores e Álgebra de Tensores . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
A.2.1 Tensor Métrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
A.2.2 Conexão Afim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
A.2.3 Derivada Covariante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
A.2.4 Propriedades Algébricas do Tensor de Riemann . . . . . . . . 66
APÊNDICE B -- CÁLCULO DOS COEFICIENTES DE BO-
GOLIUBOV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
12

1 INTRODUÇÃO

A Relatividade Especial (RE) [5], proposta por Albert Einstein em 1905, foi
responsável por uma revolução cientı́fica e até mesmo filosófica, ao substituir os conceitos
de tempo e espaço, que eram independentes entre si, pelo conceito de espaço-tempo.
A necessidade da reformulação desses conceitos surgiu quando se provou que
as leis da eletrodinâmica, ao contrário das leis da mecânicas de Newton, não se conservam
na passagem de um referencial inercial para outro por meio de uma transformação de
Galileu. Neste caso, a noção de relatividade proposta por Galileu não podia ser válida.
Para reconciliar as leis da eletrodinâmica com as leis mecânicas, sugeriu-se que o universo
seria permeado por um fluido, o éter, meio material no qual as ondas eletromagnéticas se
propagariam.
Apesar dos muitos experimentos feitos, dentre eles o interferômetro de Michelson-
Morley, o éter não foi detectado. A existência do éter foi então bastante questionada
ao final do século XIX. Nesse contexto, Einstein considerou o conceito do éter como
desnecessário e partiu do pressuposto de que não existe um referencial absoluto mas sim
que cada referencial está em movimento em relação a outro [6].
A teoria da Relatividade Geral [7], publicada por Einstein em 1915, conduziu a
um entendimento sobre a geometria do espaço-tempo e de como ela é alterada pela matéria.
Além disso, a RG tornou possı́vel a compreensão de como a gravidade afeta a luz. Logo
após, em 1916, Karl Schwarzschild publicou uma solução da equação de Einstein para o
caso de simetria esférica [8]. Tal solução está relacionada a buracos negros perfeitamente
simétricos e sem rotação.
Apesar do termo Buraco Negro ser de origem recente, tendo sido cunhado
por John Wheeler em 1969 [9], a ideia do que seria esse objeto remete ao fim do século
XVIII, quando John Michell, baseando-se na mecânica newtoniana, sugeriu a existência
de estrelas tão massivas e compactas que nem mesmo a luz poderia escapar de seu campo
gravitacional. À época, ele as batizou de estrelas escuras. Esses foram os objetos que mais
tarde receberiam o sugestivo nome de buracos negros, pois não seria possı́vel vê-los, já que
sua luz não poderia nos atingir e, uma vez dentro de um buraco negro, não seria possı́vel
vencer seu campo gravitacional [10].
Após Schwarzschild, outras soluções de buracos negros surgiram, como por
exemplo, a solução de Kerr para buracos negros com rotação [11]. Juntamente com os
buracos negros de Schwarzschild, os buracos negros de Kerr constituem as duas soluções
de maior interesse cientı́fico. A primeira por ser o caso mais simples e a segunda por
13

representar a maioria dos objetos astrofı́sicos conhecidos. Além delas, outras soluções como
as métricas de Reissner-Nordström [12] para objetos simetricamente esféricos eletricamente
carregados e a métrica de Kerr-Newman [13] para objetos eletricamente carregados e em
rotação foram publicadas. Esta última, tem como parâmetros somente a massa do buraco
negro, sua carga e seu momento angular. Com base nisso, o teorema “no-hair” foi proposto.
Este teorema afirma que um buraco negro estacionário pode ser caracterizado somente
por esses parâmetros, enquanto todas as demais informações sobre o objeto colapsado que
gerou o buraco negro estariam inevitavelmente perdidas [9].
Na década de 1970, Stephen Hawking trouxe uma perspectiva quântica ao
estudo de buracos negros, ao descobrir que eles emitem radiação [14]. A radiação Hawking,
como ficou conhecida, possui um espectro tal como o espectro de corpo negro. Na mesma
década, Bekenstein publicou a analogia entre as leis mecânicas de buracos negros e as leis
da termodinâmica, calculando inclusive a entropia e a temperatura de um buraco negro
[15].
Muitos trabalhos cientı́ficos vem sendo desenvolvidos tanto na tentativa de
unificar a relatividade geral com a mecânica quântica, quanto na tentativa de provar
experimentalmente a existência da radiação Hawking. Um importante passo nesse sentido,
foi dado por Unruh [16], que percebeu que ondas sonoras se propagando em um fluido
supersônico apresentam comportamento semelhante ao da luz sob a influência de um
campo gravitacional. Desde então, surgiram muitos modelos teóricos de análogos acústicos
de buracos negros e experimentos tem sido realizados no sentido de comprovar a existência
dessa radiação.
Esta monografia tem como objetivo, abordar os conceitos básicos relacionados
à teoria de buracos negros e à radiação Hawking e se divide da seguinte forma: O capı́tulo
2 se destina a uma introdução da teoria da relatividade especial e geral. No capı́tulo 3,
apresentaremos alguns dos resultados mais importantes relacionados às principais soluções
de buracos negros. O capı́tulo 4, aborda a radiação Hawking e está divido em duas seções
principais: a primeira se destina à apresentação das leis mecânicas de buracos negros,
em analogia às leis termodinâmicas; a segunda se destina a estudar a radiação Hawking
utilizando a mecânica quântica. No capı́tulo 5, apresentamos as considerações finais e as
perspectivas de trabalho.
14

2 TEORIA DA RELATIVIDADE

A Teoria da Relatividade inclui duas teorias: a Relatividade Restrita ou


Especial (1905) [5] e a Relatividade Geral (1915) [7]. Enquanto a Relatividade Especial
se refere aos fenômenos fı́sicos em referenciais inerciais, a Relatividade Geral os trata
do ponto de vista não-inercial. Neste capı́tulo, faremos uma breve introdução da Teoria
da Relatividade. Introduziremos o princı́pio da relatividade, a partir do qual, decorrem
os principais conceitos de relatividade restrita. Após isso, utilizaremos o princı́pio da
equivalência para estender esses conceitos à observadores não-inerciais.

2.1 Relatividade Especial

2.1.1 Introdução e Princı́pios de Relatividade Especial

Na Relatividade Especial, os eventos são descritos num espaço quadrimensional:


o espaço de Minkowski. Podemos interpretar um evento como um ponto contido nesse
espaço cujas coordenadas são dadas pelo quadrivetor xµ = (x0 , x1 , x2 , x3 ) = (x0 , xi ), onde
xi as coordenadas espaciais e x0 denota a coordenada temporal, ou seja, a localização
espacial de um evento e o instante de tempo no qual ele ocorreu. Ao conjunto de todos os
eventos denominaremos espaço-tempo. Dessa forma, uma linha contı́nua no espaço-tempo
descreve uma sucessão de eventos e será denominada de linha mundo [17].
Para descrever um evento, precisamos de um sistema de referência. Dentre
os possı́veis sistemas que podem ser utilizados, nos interessa um conjunto especı́fico: os
sistemas de coordenadas inerciais ou referenciais inerciais 1 . Um referencial inercial é aquele
no qual a 1a lei de Newton é válida. Em outras palavras, uma partı́cula nesse referencial,
se move com velocidade uniforme se desconsiderarmos as influências externas. Deste modo,
se um referencial está em movimento retilı́neo uniforme relativo a um referencial inercial
então este referencial também será inercial. Logo, cada referencial inercial se move com
velocidade constante em relação a outro [18].
A partir desses conceitos, podemos introduzir os dois postulados a partir dos
quais Einstein desenvolveu a RE:
1 - Princı́pio da Relatividade (proposto por Galileu): As leis da fı́sica permanecem
inalteradas em qualquer referencial inercial.
2 - Universalidade da velocidade da luz: As interações entre partı́culas não ocorrem
instantaneamente. Existe uma velocidade máxima c (a velocidade da luz) na qual essas
1
Muitas vezes, utilizamos também o termo: observador inercial, para se referir a um referencial inercial.
15

interações podem se propagar.


Com isso, podemos concluir que a velocidade da luz deve ser a mesma para qualquer
observador inercial [1].Essa foi a pedra fundamental no desenvolvimento da RE.

2.1.2 Transformações de Lorentz

Como já mencionado, as leis da eletrodinâmica não são invariantes sob trans-
formações de Galileu. Entretanto, resultados experimentais indicam que o eletromag-
netismo está correto, portanto não é necessário corrigı́-lo. Para resolver isso, Einstein
propôs a substituição das transformações de Galileu pelas transformações de Lorentz.
Tais transformações, foram obtidas empiricamente por Lorentz, afim de sustentar a teoria
do éter.[6]. As transformações de Lorentz constituem um importante grupo de simetria
chamado grupo de Lorentz. Sob estas transformações, tanto as leis de Maxwell quanto a
velocidade da luz permanecem invariantes, mas as leis mecânicas de Newton não. Então,
Einstein reformulou as leis de movimento de maneira que elas fossem invariantes sob
transformações de lorentz. Deste modo, surge o novo princı́pio da relatividade que diz que
as leis fı́sicas devem ser Lorentz invariantes [19].
Uma transformação de Lorentz transforma um sistema de coordenadas inercial
xα em outro sistema de coordenadas x0α da seguinte forma [19]:

x0α = Λαβ xβ + aα , (2.1)

onde aα e Λαβ são constantes e valem:

Λαµ Λβν ηαβ = ηµν ; (2.2)

com 
−1, se α = β = 0;





ηαβ = +1, se α = β = 1, 2, 3; (2.3)



 0, se α =6 β.

Desejamos determinar as constantes Λαβ . Então, vamos supor que temos dois
referenciais inerciais, e um deles se move com velocidade constante v em relação ao outro.
Se, para o primeiro referencial, O, temos uma partı́cula em repouso, então de acordo com
o referencial O’, essa mesma partı́cula estará em movimento com velocidade v . Podemos
relacionar os deslocamentos da partı́cula para ambos os referenciais da seguinte forma:

dx0α = Λαβ dxβ . (2.4)


16

Como dxi = 0, i = 1, 2, 3, obtemos

dx0α = Λα0 dx0 ; (2.5)


dx0i = Λi dt, (i = 1, 2, 3);
0
⇒ (2.6)
dt0 = Λ0 dt.
0

Se dividirmos dxi por dt, obteremos v i .

dxi Λi
= 0 0 = v i = vi , (2.7)
dt Λ0

⇒ Λi 0 = vi Λ0 0 . (2.8)

Fazendo µ = ν = 0 em (2.2) obtemos

−1 = η00 = Λα0 Λβ0 ηαβ = (Λi 0 )(Λi 0 ) − (Λ0 0 )2 . (2.9)

Substituindo (2.8) na última equação, ficamos com

(Λ0 0 )2 − (vi Λ0 0 )(vi Λ0 0 ) = 1; (2.10)

1
⇒ Λ0 0 = √ = γ,
1 − v2
⇒ Λi 0 = vi Λ00 = γvi . (2.11)

Não podemos determinar os termos Λαβ (α, β 6= 0) univocamente, mas podemos


fazer uma escolha conveniente e que satisfaça a condição (2.2) [19]:
γ−1
Λi j = δji + vi vj ,
v2
Λ0 j = γvj . (2.12)

2.1.3 Intervalo de Espaço-Tempo

Para provar a validade da relação (2.2), vamos definir o intervalo de espaço-


tempo entre dois eventos P e Q como [1]

ds2 = −dt2 + dx2 + dy 2 + dz 2 = ηαβ dxα dxβ . (2.13)

Note que, para obtermos a coordenada temporal com dimensão de espaço, devemos ter
dx0 = cdt, mas aqui estamos usando as coordenadas naturais, nas quais c = 1.
17

Como o intervalo entre dois eventos deve ser o mesmo para qualquer referencial
inercial, devemos ter ds02 = ds2 . A partir da equação (2.4) obtemos [19],

ds02 = ηµν dx0µ dx0ν = ηµν Λµα dxα Λν β dxβ = (ηµν Λµα Λνβ )dxα dxβ = ds2 = ηαβ dxα dxβ . (2.14)

Portanto, obtemos a equação (2.2).


Se ds2 = 0, a separação entre os eventos será do tipo luz e, portanto, o evento
Q está contido na superfı́cie do cone de luz de P. Se ds2 > 0 (ou seja, os deslocamentos
espaciais dominam o deslocamento temporal), a separação entre os eventos será tipo espaço
e o evento Q estará fora do cone de luz do evento P; se ds2 < 0, a separação entre os
eventos será tipo tempo e o evento Q estará contido no cone de luz do evento P. Como a
velocidade da luz é a velocidade máxima de interação, nenhum evento fora do cone de luz
de P possui alguma correlação com esse evento. Enquanto isso, os eventos dentro do cone
de luz de P são fisicamente conectáveis com esse evento. Deste modo, eventos que fazem
parte do futuro do evento P são chamados de futuro absoluto e eventos que fazer parte do
passado de P são chamados de passado absoluto [1].

Figura 1: Fonte: [1]. Espaço-tempo na Relatividade Restrita

É interessante notar que na mecânica relativı́stica, os eventos que estão contidos


na superfı́cie do cone de luz formam a fronteira que delimita o passado e o futuro desse
evento, enquanto na mecânica Newtoniana, a fronteira que delimita o passado e o futuro é
a linha que representa o “agora”; o passado está compreendido em tudo que ocorreu antes
do “agora”e o futuro é tudo que ainda vai acontecer.
Além disso, como os intervalos entre eventos são invariantes, podemos considerar
que o futuro e o passado de um evento são também entes invariantes. Logo, o passado e o
futuro de um evento é o mesmo para qualquer observador inercial. Porém, o mesmo não
ocorre entre eventos distintos, pois seus cones de luz não coincidem e, portanto, possuem
passado e futuro distintos [1].
18

Figura 2: Fonte: [1]. Espaço-tempo na mecânica Newtoniana.

Figura 3: Fonte: [1]. Diagrama de espaço-tempo para dois eventos distintos.

2.1.4 Tempo Próprio

Assim como o conceito de posição da mecânica newtoniana é substituı́do pelo


conceito de quadriposição na RE, o conceito de tempo global dá lugar ao tempo próprio
dτ , definido como [19]

dτ 2 = −dt2 + dx2 + dy 2 + dz 2 = −ηαβ dxα dxβ . (2.15)

Uma propriedade interessante do tempo próprio é que ele é invariante sob uma
transformação de Lorentz, como desejado. Com efeito, usando a (2.4) e a condição (2.2),
obtemos

dτ 02 = −ηµν dx0µ dx0ν = −ηµν Λµα dxα Λν β dxβ = −ηαβ dxα dxβ = dτ 2 (2.16)

Portanto, dτ 02 = dτ 2 . Note que, para a propagação da luz, temos dτ = 0. Como


já provamos que o tempo próprio é um invariante de Lorentz, segue que dτ 0 = 0, ou seja,
0
x = dx
dx x
dt dt = c = 1 (2.17)

Com isso, provamos que a velocidade da luz é a mesma em qualquer referencial


19

inercial, como havia sido postulado inicialmente.

2.1.5 Dilatação do Tempo

Vamos supor que para um dado observador inercial O, temos um relógio A que
x=0
está em repouso. O intervalo de espaço-tempo medido por esse relógio será tal que dx
e dt = ∆t. Onde ∆t é o perı́odo de tempo decorrido entre as duas medidas. Deste modo,
seu tempo próprio será [19]

dτ = dt2 − dx
x2 = ∆t. (2.18)

Vamos supor agora que um observador inercial O’, que se move com velocidade v em
relação a O, possui um relógio A’ que esteja em repouso de acordo com esse observador.
O relógio A não estará em repouso em relação a O’, mas sim movendo-se com velocidade
v . Para esse observador, se o intervalo de tempo medido para relógio A de acordo com o
relógio A’ for dt0 = ∆t0 , então o intervalo espacial será dx
x0 = vdt0 e seu tempo próprio será
dado por:
p √
dτ 0 = x0 2 = 1 − v 2 ∆t0 .
dt02 − dx (2.19)

Como o tempo próprio é um invariante, temos


∆t
dτ 0 = dτ ⇒ dt0 = √ . (2.20)
1 − v2
Aparentemente, o relógio A anda mais depressa para o observador O’ do que
para o observador O. Paradoxalmente, em relação ao relógio A’, temos o inverso: O relógio
A’ anda mais depressa para o observador O do que para O’. Ou seja, para o observador O
o relógio A está adiantado em relação ao relógio A’, enquanto para O’ observa justamente
o contrário. Mas isso parece contradizer o princı́pio da relatividade. Isso ocorre porque os
relógios de O e O’ não estão sincronizados. Realmente, cada observador mede o tempo
do relógio de outro observador e chega a conclusão de que este anda mais devagar. O
relógio do observador O está sincronizado com os seus próprios relógios, mas não com
os relógios de O’, e vice-versa. Na verdade, o engano está em considerar que a taxa de
variação do tempo é invariante, o que não é verdade, já que a informação não pode viajar
instantaneamente de um referencial a outro [1]. Decorre disso que observadores inerciais
não podem concordar com a simultaneidade de eventos. Se, por exemplo, dois eventos
P e Q são simultâneos de acordo com o observador O, eles não o serão para O’. Logo, o
conceito de simultaneidade em RE não é invariante, mas sim dependente do referencial a
ser considerado [17].
20

2.1.6 Mecânica Relativı́stica

Na mecânica não-relativı́stica, o tempo é absoluto para todos os referenciais,


mas como vimos, isso não acontece na Relatividade. Deste modo, não podemos usar
dxµ
vµ = dt
para definir a velocidade pois esse objeto não se transforma como um vetor.
Logo, a definição de velocidade também deve ser modificada. Para tanto, faremos uso do
tempo próprio para definir a quadrivelocidade [17]
dxµ
Uµ = . (2.21)

Segue da definição anterior e da equação (2.4) a relação da velocidade de um referencial O
para um referencial O’ (lembrando que o tempo próprio dτ é um invariante):

dx0µ µ dx
ν
U 0µ = = Λ ν = Λµν U µ . (2.22)
dτ 0 dτ
Vamos considerar que uma partı́cula de massa m cuja trajetória seja descrita
por xµ (dτ ). Deste modo, podemos definir a força relativı́stica que atua sobre esta partı́cula
como: [19]
d2 xµ
fµ = m . (2.23)
dτ 2
Podemos facilmente obter a força relativı́stica para qualquer outro referencial
inercial através da relação f 0µ = Λµν f ν . Com efeito,

d2 x0µ 2 ν
µd x
f 0µ = m = mΛ ν = Λµν f ν . (2.24)
dτ 2 dτ 2
Assim, vemos que a velocidade e a força relativı́sticas são quadri-vetores.
A partir da definição de velocidade (2.21), podemos definir o quadri-vetor
momento [1]
dxµ
pµ = mU µ = m , (2.25)

onde p0 = E é a energia da partı́cula no referencial O e pi , i = 1, 2, 3, são as componentes
espaciais do momento. Assim, a segunda lei de Newton pode ser reescrita como:
dpµ
fµ = . (2.26)

Naturalmente, vamos postular que a energia e o momento devem se conservar e, portanto,
o quadri-vetor momento deve se conservar.
Como exemplo, vamos considerar que uma partı́cula de massa m se move em
relação a O com velocidade v na direção x. Então, neste caso a quadri-velocidade uµ e o
21

quadri-momento pµ da partı́cula serão dados por

u0 = γ ⇔ p0 = mγ,
u1 = γv ⇔ p1 = mγv,
u2 = u3 = 0 ⇔ p2 = p3 = 0. (2.27)

Para pequenas velocidades, temos = √ 1 ∼


= 1 + 12 v 2 , portanto,
1−v 2

1
E ≡ p0 ∼
= m + mv 2 , (2.28)
2
ou seja, a energia da partı́cula será equivalente a sua massa de repouso m mais o termo de
energia cinética.

2.2 Relatividade Geral

A partir de agora, trabalharemos não mais com referenciais inerciais, mas sim
com referenciais gerais. Logo, as transformações de Lorentz darão lugar à transformações
gerais de coordenadas e o sistema de coordenadas cartesianos dará lugar à sistemas de
coordenadas gerais. Mas antes disso, vamos enunciar o princı́pio da equivalência de
Einstein:

2.2.1 Princı́pio da Equivalência

O Princı́pio da Equivalência diz que: “Um referencial que tenha aceleração


uniforme em relação à um referencial inercial é equivalente a um campo gravitacional.”
Para entender melhor este princı́pio, vamos descrever um experimento mental proposto
por Einstein. Imagine que tenhamos dois observadores, digamos O e O’, e que o primeiro
esteja em um elevador em repouso sob o efeito do campo gravitacional como o da Terra,
por exemplo, enquanto o outro esteja dentro de uma nave espacial que sobe com aceleração
g mas que não sofre a influência de campos gravitacionais. Se o observador O soltar um
objeto, este responderá ao campo gravitacional atuando sobre ele e cairá. Da mesma forma
se o observador O’ soltar um objeto na nave, este permanecerá em repouso enquanto a
nave avança, mas do ponto de vista do observador dentro da nave o objeto na verdade
está caindo com aceleração −gg . Portanto, ambos os observadores obtiveram resultados
equivalentes a seus experimentos. Em outras palavras, o Princı́pio da Equivalência afirma
que leis de movimento observadas sob a influência de um campo gravitacional ou em
um referencial com aceleração constante serão equivalentes, de modo que não há como
distinguı́-los [20].
Na verdade, a afirmação feita anteriormente costuma ser chamada de Princı́pio
22

da Equivalência Fraco enquanto na forma forte do Princı́pio da Equivalência todas as


leis da fı́sica são equivalentes. Para tanto, postularemos que, pelo menos localmente, as
equações fı́sicas terão a mesma forma tanto em referenciais inerciais quanto em campos
gravitacionais. Ou seja, para cada ponto do espaço-tempo que esteja sob a influência de
um campo gravitacional podemos escolher um sistema de coordenadas inerciais local de
modo que numa região suficientemente próxima desse ponto as leis da fı́sica terão a mesma
forma que teriam em um sistema de coordenadas não acelerado na ausencia de campo
gravitacional [19].
Dessa forma, podemos usar as equações já conhecidas nos referenciais inerciais
e encontrar sua forma sob a influência de um campo gravitacional. Digamos que temos um
referencial inercial S com coordenadas y α e um referencial não inercial com coordenadas xµ .
Tais sistemas de coordenadas se relacionam por meio de tranformações gerais, de modo
∂y α
que temos dy α = ∂xµ
dxµ . Lembrando que o intervalo de espaço-tempo é um invariante,
temos [19]

∂y α µ ∂y β ν
ds2S = ηαβ dy α dy β = ηαβ dx dx = gµν dxµ dxν = ds2S 0 . (2.29)
∂xµ ∂xν

Onde definimos a métrica g µν como

∂y α ∂y β
gµν ≡ ηαβ . (2.30)
∂xµ ∂xν
Mostraremos, no Apêndice A, que a métrica é um tensor covariante. Em particular, ηαβ é
a métrica do espaço de Minkowski, também conhecida como tensor de Minkowski. Vemos
através dessa definição que a métrica está relacionada com a medida de comprimento
de curva num determinado espaço, ou seja, através dela podemos definir como medir o
comprimento de uma curva num espaço qualquer [21] [22]. Veremos adiante como a escolha
da métrica para um determinado espaço define sua curvatura.
Agora, vamos ver qual é a forma da força relativı́stica no referencial S’. Primeiro,
devemos escrever a força relativı́stica no referencial inercial S, que já conhecemos e depois
utilizar as relações entre os dois sistemas de coordenadas [19]. Assim

d2 y µ d dy µ
 
µ
FS = m 2 = m , (2.31)
dτ dτ dτ
23

ν
onde temos agora dτ = −gµν dxµ dxν . Mas dτd = dx d
dτ dxν
, então

d dy µ dxν
 µ 2 ν
dxν d ∂y µ
   
µ dy d x
FS = m =m +
dτ dxν dτ dxν dτ 2 dτ dτ ∂xν
 µ 2 ν
∂ 2 y µ dxν dxσ

dy d x
=m + . (2.32)
dxν dτ 2 ∂xν ∂xσ dτ dτ
dxλ dy µ dxλ
Sabendo que dy µ dxν
= δνλ , podemos multiplicar a última expressão por dy µ
e
obter

dxλ µ
 2 λ
dxλ ∂ 2 y µ dxν dxσ

dx
FSλ = µ FS = m + µ ν σ , (2.33)
dy dτ 2 dy ∂x ∂x dτ dτ

FSλ d 2 xλ ν
λ dx dx
σ
⇒ = + Γ νσ , (2.34)
m dτ 2 dτ dτ

onde definimos a conexão afim, também chamada de sı́mbolo de Christoffel, como

dxλ ∂ 2 y µ
Γλνσ = µ ν σ. (2.35)
dy ∂x ∂x

Note que, Γ pode ser nulo no referencial S e não nulo no referencial S’, portanto não se
transforma como um tensor. Demonstraremos isso formalmente no Apêndice A.
De acordo com o Princı́pio da Relatividade, todos os observadores inerciais são
equivalentes. Baseado nisso, Einstein propôs o Princı́pio da Covariância Geral no qual
afirma que todos os observadores são equivalentes, sejam eles inerciais ou não-inerciais.
É natural, portanto, assumir que todas as equações que descrevem leis fı́sicas devem ser
invariantes e para isso, devem ser equações tensoriais [20]. Para tanto, uma equação
escrita para um referencial sob influência de um campo gravitacional deve atender a duas
condições [19]

1 - As equações encontradas devem concordar com a relatividade restrita, onde gµν → ηµν
e Γλνσ → 0;
2 - As equações devem ser covariantes sob uma transformação geral de coordenadas.

Se consideramos uma equação que satisfaça as condições acima, vemos, pela


condição 2, que ela deverá ser verdadeira para todos os referenciais se for verdadeira
para um referencial qualquer. A condição 1, nos diz que podemos escolher um sistema
inercial local no qual não há influência de um campo gravitacional, onde as equações
24

obtidas devem ser verdadeiras e, portanto, serão verdadeiras em todos os outros sistemas
inerciais. Desta forma, o Princı́pio da Covariância Geral resulta diretamente do Princı́pio da
Equivalência. Logo, para tornar uma equação covariante, basta escrevê-la para um sistema
de coordenadas e verificar como ela se transforma sob uma mudança de coordenadas.
Porém, o Princı́pio da Covariância Geral só pode ser aplicado numa escala pequena o
suficiente para que possamos construir um sistema de coordenadas local, para o qual não
há influência gravitacional.
Para uma partı́cula livre, a equação de movimento será dada por [19]

d2 xλ ν
λ dx dx
σ
+ Γ νσ = 0. (2.36)
dτ 2 dτ dτ
Note que, na ausência da gravidade retornamos aos resultados já conhecidos da relatividade
restrita
d2 xλ
= 0, dτ 2 = −ηµν dxµ dxν . (2.37)
dτ 2

A equação (2.36) é invariante sob transformações gerais de coordenadas, pois,


para um novo referencial x0µ ela será

d2 x0λ 0ν
0λ dx dx

+ Γ νσ = 0. (2.38)
dτ 2 dτ dτ
d2 x0λ
Mas dτ 2
se transforma como

d2 x0λ ∂x0λ dxρ ∂x0λ d2 xρ dxρ dxα ∂ 2 x0λ


 
d
2
= = + , (2.39)
dτ dτ ∂xρ dτ ∂xρ dτ 2 dτ dτ ∂xα ∂xρ

enquanto o simbolo de Christoffel se transforma como (ver Apêndice A)

∂x0λ ∂xκ ∂xρ α ∂xρ ∂xα ∂ 2 x0λ


Γ0λ
νσ = Γ − . (2.40)
∂xα ∂x0ν ∂x0σ κρ ∂x0ν ∂x0σ ∂xρ ∂xα
dx0ν dx0σ
Multiplicando ambos os lados por dτ dτ
obtemos

dx0ν dx0σ ∂x0λ dxκ dxρ α dxρ dxα ∂ 2 x0λ


Γ0λ
νσ = Γ − . (2.41)
dτ dτ ∂xα dτ dτ κρ dτ dτ ∂xρ ∂xα
Com isso, a equação (2.38) se torna

d2 x0λ 0ν 0σ
∂x0λ d2 xρ ∂x0λ dxκ dxρ α ∂x0λ d2 xα κ ρ
 
0λ dx dx α dx dx
+ Γνσ = + Γ = + Γκρ .
dτ 2 dτ dτ ∂xρ dτ 2 ∂xα dτ dτ κρ ∂xα dτ 2 dτ dτ
(2.42)

Portanto, a equação (2.36) é invariante sob qualquer transformação de coordenadas. Logo,


25

pelo princı́pio da covariância geral, a equação deve ser verdadeira para qualquer sistema
de referência [20].
Desejamos agora, encontrar uma relação entre a conexão afim Γ e a métrica g
[19]. Para isso, derivaremos gµν em relação à xλ , gλµ em relação a xν e gλν em relação a
xµ :

∂gµν ∂y α ∂ 2 y β ∂ 2 y α ∂y β
= η αβ + ηαβ ; (2.43)
∂xλ ∂xµ ∂xλ ∂xν ∂xλ ∂xµ ∂xν

∂gλµ ∂y α ∂ 2 y β ∂ 2 y β ∂y α
= η αβ + ηαβ ; (2.44)
∂xν ∂xµ ∂xλ ∂xν ∂xµ ∂xν ∂xλ

∂gλν ∂y α ∂ 2 y β ∂ 2 y α ∂y β
= η αβ + ηαβ . (2.45)
∂xµ ∂xλ ∂xµ ∂xν ∂xλ ∂xν ∂xν

Se somarmos as duas primeiras e então subtraı́rmos a última, obteremos

∂gµν ∂gλµ ∂gλν ∂y α ∂ 2 y β


+ − = 2η αβ . (2.46)
∂xλ ∂xν ∂xµ ∂xµ ∂xλ ∂xν

∂y γ λ ∂ 2 yγ
Como Γ
∂xλ µσ
= ∂xµ ∂xσ
, então

gµν gλµ gλν ∂y α ∂y β σ


+ − = 2η αβ Γ = 2gµσ Γσλν . (2.47)
∂xλ ∂xν ∂xµ ∂xµ ∂xσ λν

A inversa de gµσ é definida de modo que g µν gµσ = δσν . Logo, multiplicando ambos os lados
da última equação por g µσ obtemos
 
1 µσ gµν gλµ gλν
Γσλν = g + − µ . (2.48)
2 ∂xλ ∂xν ∂x

A equação (2.48) pode ser reescrita como


 
σ 1 gµν gλµ gλν
gµσ Γλν = Γσλν = + − µ , (2.49)
2 ∂xλ ∂xν ∂x

onde Γσλν é o que chamamos que de sı́mbolo de Christoffel de primeiro tipo e Γσλν é
o sı́mbolo de Christoffel de segundo tipo. A partir da equação (2.48) obtemos duas
propriedades básicas do sı́mbolo de Christoffel [21]
1) Γσλν = Γσνλ (simetria nos ı́ndices inferiores);
2) Γσλν é nulo se todos os gµν são constantes.
26

2.2.2 Transporte Paralelo

Queremos investigar a curvatura do espaço e como ela influencia as leis fı́sicas


e para isso é preciso desenvolver nossa noção de curvatura. Para começar, devemos
definir dois tipos de curvatura: intrı́nseca e extrı́nseca. Podemos pensar ,inicialmente,
num cilindro, que é uma superfı́cie curva, do ponto de vista tridimensional. Esta é sua
curvatura extrı́nseca. Por outro lado, podemos pensar num cilindro como uma folha de
papel enrolada, logo, sua curvatura extrı́nseca é aquela do papel, ou seja, do ponto de vista
da superfı́cie bidimensional da folha de papel, o cilindro é plano. Esta é sua curvatura
extrı́nseca. De fato, os axiomas de Euclides continuam valendo na superfı́cie do cilindro.
A distância entre dois pontos continua sendo medida como num espaço euclidiano e linhas
paralelas continuam paralelas quando estendidas indefinidamente [1]. Com este exemplo,
podemos definir a curvatura extrı́nseca como a curvatura da superfı́cie em relação a um
espaço de dimensão superior no qual ela está contida e a curvatura intrı́nseca como a
curvatura da própria superfı́cie. Porém, nos limitaremos agora em diante a nos referir
somente a curvatura intrı́nseca, pois é a única que interessa em RG [22].
Ao contrário do cilindro, que é intrinsecamente plano, a superfı́cie de uma esfera
é intrinsecamente curva. Podemos ver isso traçando linhas paralelas a partir do equador.
As linhas que partem dos pontos A e B são paralelas nas proximidades desses pontos,
porém, quando estendemos essas linhas na direção do “Pólo Norte”elas se encontram no
ponto P. Portanto, na superfı́cie de uma esfera, linhas parelelas não permanecem paralelas
quando estendidas indefinidamente, logo a superfı́cie não é plana [1].

Figura 4: Fonte: [1]. Triângulo esférico.

Uma outra forma de ver isso, é por meio do transporte paralelo. Por exemplo,
desenhamos uma curva fechada num espaço plano e um vetor no ponto A. Se, partindo
do ponto A, desenharmos, em cada ponto da curva, um vetor paralelo ao vetor no ponto
anterior, obteremos ao final de uma volta completa, um vetor no ponto A que será paralelo
ao vetor original.
O mesmo não acontece na superfı́cie de uma esfera, por exemplo. Agora desenhamos um
27

Figura 5: Fonte: [1]. Transporte paralelo num espaço plano.

triângulo na superfı́cie da esfera com os pontos A e C no equador e o ponto B no Pólo


Norte. Vamos repetir o mesmo procedimento, começando com um vetor tangente ao ponto
A e paralelo ao Equador. Os vetores transportados paralelamente do ponto A ao ponto B
serão portanto todos perpendiculares ao arco AB. Porém, no ponto B o vetor tangente
será paralelo ao arco BC e portanto todos os vetores paralelamente transportados de B a
C será paralelos ao arco BC até que no ponto C o vetor tangente será perpendicular ao
Equador e o mesmo acontecerá a todos os vetores paralelamente transportados no arco CA.
Por fim, o vetor tangente no ponto A não será paralelo ao vetor tangente inicial, mas sim
perpedicular. Isso ocorreu devido à curvatura intrı́nseca da esfera [1]. Portanto, podemos
concluir com esses exemplos que um espaço curvo é aquele no qual não se pode definir o
transporte paralelo globalmente [22].

Figura 6: Fonte: [1]. Transporte paralelo numa superfı́cie esférica.

2.2.3 Curvatura e Tensor de Riemann

Agora que já definimos a curvatura de um espaço, devemos ver qual o efeito
de um campo gravitacional na curvatura do espaço. Para isso, vamos construir o tensor
curvatura a partir do tensor métrico e de suas derivadas segundas. O tensor de curvatura
surge quando respondemos a seguinte pergunta: A ordem com que as derivadas covariantes
28

são tomadas altera o resultado final? Para responder, calcularemos Aµ;νσ − Aµ;σν , onde
usamos estamos usando Vν;µ = ∇µ Vν como notação da derivada covariante [21].

∂Aµ;ν
(Aµ;ν );σ = σ
− Γρσµ (Aρ;ν ) − Γρσν (Aµ;ρ )
∂x      
∂ ∂Aµ λ ρ ∂Aρ λ ρ ∂Aµ λ
= − Γµν Aλ − Γσµ − Γρν Aλ − Γσν − Γµρ Aλ
∂xσ ∂xν ∂xν ∂xρ
∂ 2 Aµ ∂Γλµν ∂Aλ ∂Aρ ∂Aµ
= σ ν
− σ
Aλ − Γλµν σ − Γρσµ ν − Γρσν ρ + Γρσµ Γλρν Aλ + Γρσν Γλµρ Aλ .
∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x
(2.50)

Agora, subtraindo da equação anterior a mesma equação com ı́ndices σ e ν trocados,


ficamos com
∂Γλµσ ∂Γλµν
 
ρ λ ρ λ λ
Aµ;νσ − Aµ;σν = − + Γσµ Γρν − Γνµ Γρσ Aλ = Rµνσ Aλ , (2.51)
∂xν ∂xσ
δ
Onde definimos o tensor curvatura ou tensor de Riemann Rµνρ como sendo

λ
∂Γλµσ ∂Γλµν
Rµνσ = ν
− σ
+ Γρσµ Γλρν − Γρνµ Γλρσ . (2.52)
∂x ∂x
δ
No Apêndice A, mostramos que Rµνρ é um tensor e algumas de suas propriedades. Com
isso, vemos que para a derivada covariante de segunda ordem, o resultado depende da
ordem em que as derivadas são tomadas. Mas, para espaços onde a métrica é constante, o
sı́mbolo de Christoffel é nulo e, consequentemente, obtemos o resultado de que derivadas
parciais de segunda ordem são independentes da ordem com que as derivadas são tomadas.
Vemos, também, que o tensor de Riemann está relacionado com a curvatura do espaço, pois
este será não-nulo somente em espaços onde a métrica não é constante, ou seja, espaços
curvos [19].
δ
A partir do tensor de Riemann Rµνρ podemos obter outros tensores, como:

δ
Rλµνσ = gδλ Rµνσ , (2.53)

onde Rλµνρ é o tensor de Riemann de primeiro tipo [1]. Se contrairmos dois dos ı́ndices do
tensor de Riemann, obteremos o tensor de Ricci [19]

λ
Rµλσ = Rµσ , (2.54)

a partir do qual podemos obter o escalar de curvatura ou escalar de Ricci:

R = g µσ Rµσ . (2.55)
29

No apêndice A, obtivemos a seguinte relação entre o tensor de Riemann e o


tensor métrico:
1
Rλµνρ = (gνλ,µρ − gµν,λρ − gρλ,µν + gρµ,λν ) + gσδ [Γσνλ Γδµρ − Γσρλ Γδµν ]. (2.56)
2
Se escolhermos um sistema de coordenadas inercial local tal que as conexões afim Γσρλ se
anulam num ponto x, podemos derivar Rλµνρ nesse ponto e obter [19]

1 ∂
Rλµνρ;η = (gνλ,µρ − gµν,λρ − gρλ,µν + gρµ,λν ). (2.57)
2 ∂xη
Se permutarmos ciclicamente νρ e η, obteremos a identidade de Bianchi:

Rλµνρ;η + Rλµην;ρ + Rλµρη;ν = 0. (2.58)

Se contrairmos a última equação com g λν , obteremos

ν ν ν ν
Rµνρ;η − Rµην;ρ + Rµρη;ν = Rµρ;η − Rµη;ρ + Rµρη;ν = 0. (2.59)

Contraindo novamente, ficamos com

ρ ν ν
R;η − Rη;ρ − Rη;ν = R;η − 2Rη;ν =0 (2.60)

Deste modo, podemos escrever


1
(Rην − δην R);ν , (2.61)
2
ou, numa forma equivalente
1
(Rµν − g µν R);ν = 0. (2.62)
2

2.2.4 Tensor Energia-Momento

O tensor momento-energia é uma importante quantidade tensorial, em Relati-


vidade, que descreve o fluxo de momento e energia. Deste modo, o fluxo da componente
pµ do quadri-momento através de uma superfı́cie xν é descrita por um tensor do tipo T µν
[1]. Assim,
1 - T 00 é o fluxo de energia;
2 - T i0 é o fluxo de momento linear pi ;
3 - T ii é a tensão normal na direção i, ou seja, a pressão;
4 - T ij é a tensão de cisalhamento.
Para um fluido perfeito, com densidade ρ e pressão p e cuja quadri-velocidade é dada por
U µ = (1, 0, 0, 0) para um sistema de coordenadas comóveis x0µ , teremos [19]

T 000 = ρ, (2.63)
30

T 0i0 = T 0i = 0, (2.64)

T 0ij = pδij . (2.65)

Como T µν deve ser um tensor, sua relação com o sistema referencial do laboratório xµ é
dada por
T µν = λmu nu αβ
α λβ T . (2.66)

Portanto,
ρ + pv 2
T 00 = , (2.67)
1 − v2

vi
T 0i0 = (p + ρ) , (2.68)
1 − v2

vi vj
T 0ij = pδij + (p + ρ) . (2.69)
1 − v2
Podemos escrever as últimas relações obtidas numa única equação

T µν = pη µν + (p + ρ)U µ U ν , (2.70)

onde U µ é a quadri-velocidade do fluido. Note que podemos generalizar a equação anterior


U
∂U
para um sistema não-inercial apenas fazendo a troca η µν → g µν . Sabendo que U · ∂xα
=0
e g µν ;β = 0, obtemos a lei de conservação para o tensor momento-energia [1]

T µν ;ν = 0. (2.71)

2.3 Equação de Einstein

De acordo com a mecânica newtoniana temos [1]

∇2 φ = 4πGρ, (2.72)

onde G é a constante gravitacional universal e ρ é a densidade de massa. A solução dessa


equação de Poisson para uma partı́cula de massa m é dada por:
Gm
φ=− , (2.73)
r
onde fizemos a velocidade da luz c = 1. Com isso, vemos que a fonte do campo gravitacional
na mecânica newtoniana é a densidade de massa. Para fazer a analogia entre a Relatividade
Geral e a Mecânica Clássica, vamos considerar o caso de uma partı́cula movendo-se a
31

baixas velocidades sob a influência de um campo gravitacional fraco. Se considerarmos


que a velocidade da partı́cula é suficientemente pequena, podemos desconsiderar os termos
dxi /dτ, i = 1, 2, 3 e obter da equação (2.36) [19]
 2
d 2 xλ λ dt
2
+ Γ00 = 0. (2.74)
dτ dτ

Como o campo é estacionário, gµν não depende explicitamente do tempo, portanto,


 
λ 1 λσ ∂gσ0 ∂g0σ ∂g00 1 ∂g00
Γ00 = g 0
+ 0
− σ
= − g λσ σ . (2.75)
2 ∂x ∂x ∂x 2 ∂x

Como o campo é fraco, podemos dizer que a métrica é aproximadamente a métrica do


espaço de Minkowski mais um termo de perturbação, ou seja,

gµν = ηµν + hµν , |hµν |  1. (2.76)

Deste modo, ficamos com


 
1 λσ ∂η00 ∂h00 1 ∂h00
Γλ00 λσ
= − (η + h ) σ
+ σ
= − η λσ σ , (2.77)
2 ∂x ∂x 2 ∂x

onde desprezamos os termos de segunda ordem em h. Substituindo na equação de


movimento, obtemos
 2
d2 xλ 1 λσ ∂h00 dt
= η ; (2.78)
dτ 2 2 ∂xσ dτ
 2
d2x 1 2 dt
⇒ 2 = ∇ h00 ,
dτ 2 dτ
 2
d2 t 1 00 ∂h00 dt
⇒ 2 = η = 0. (2.79)
dτ 2 ∂x0 dτ

Na última equação utilizamos o fato de que h é estacionário. A solução


 da equação para t
2
dt 2
nos dá dτ = constante, então, se dividirmos a equação de ddτx2 por dτ dt
obteremos

d2x 1 2
= ∇ h00 . (2.80)
dt2 2
Comparando a última equação com o caso newtoniano (equação (2.72)) vemos
que [1]
h00 = −2φ + constante. (2.81)

Devemos notar que quanto mais distante o observador, mais o espaço se aproximará do
espaço de Minkowski. Então, no limite r → ∞, h00 deverá se anular. Mas, de acordo com
a equação (2.73), φ → 0 no infinito, portanto a constante será nula. Com isso, vemos que
32

a métrica será dada por


g00 = −(1 + 2φ). (2.82)

Como temos T00 ' ρ no caso de matéria não-relativı́tica, então, a partir da equações (2.72)
e (2.82), obtemos
∇2 g00 = −8πGT00 . (2.83)

Devemos lembrar, que a última equação é válida para o caso de campos fracos
e estacionários gerados por matéria não-relativı́stica [19]. Podemos supor que, para uma
distribuição de momento e energia arbitrária Tαβ , as equações de campo fraco possuem a
mesma forma da equação anterior. Ou seja,

Gαβ = −8πGTαβ . (2.84)

onde Gαβ é uma combinação linear das derivadas de primeira e segunda ordem da métrica.
De acordo com princı́pio da equivalência, podemos estender esse resultado para o caso
mais geral, no qual estão atuando campos gravitacionais quaisquer

Gµν = −8πGTµν . (2.85)

Como Tµν é um tensor simétrico, segue por definição que Gµν também deve ser
um tensor simétrico. No limite para campos fracos produzidos por matéria não-relativı́stica,
a componente G00 deve se reduzir a ∇2 g00 . Além disso, sabemos que Gµν é combinação
linear das derivadas de primeira e segunda ordem da métrica, então, deve ser combinação
linear do tensor e do escalar de Ricci [19]. Portanto,

Gµν = aRµν + bgµν R. (2.86)

Pela lei de conservação do tensor momento-energia, devemos ter Gµν;µ = 0. Então,


 
a
Gµν;µ = µ
aRν;µ + bδνµ R;µ = + b R;ν = 0, (2.87)
2

onde na penúltima igualdade ultilizamos a equação (2.61). Devemos ter a/2 + b = 0, pois
R;ν = 0 em todo espaço não ocorre em geral. Se fixarmos a = 1 obtemos
1
Gµν = Rµν − gµν R = −8πGTµν . (2.88)
2
Vemos, pela equação acima, que a curvatura do espaço, representada pelo
tensor de Curvatura, está relacionada com a matéria presente nesse espaço que, por sua
vez, é representada pelo tensor energia-momento. Tal relação pode ser sintetizada pela
seguinte frase de John Wheeler:
33

“Spacetime tells matter how to move and matter tells spacetime how to curve”.
Isto é, a matéria é responsável pela curvatura do espaço-tempo e a curvatura do espaço-
tempo é responsável pelo movimento dos corpos. Uma solução interessante é para o caso
do vácuo, onde Tµν = 0 e recaimos na solução de Schwarzschild [23].
34

3 BURACOS NEGROS

Neste capı́tulo, apresentaremos as principais propriedades relativas a buracos


negros. Daremos atenção, em especial: à solução de Schwarzschild, que se refere a buracos
negros eletricamente neutros e sem rotação, e à solução de Kerr, que se refere a buracos
negros com rotação. Na última seção, faremos um breve comentário a respeito de outras
métricas e calcularemos o raio dos horizontes de eventos e a área de um buraco negro de
Kerr-Newman, que é eletricamente carregado e com rotação.

3.1 Introdução

De acordo com a mecânica newtoniana, um buraco negro é um corpo tão denso


que nem mesmo a luz poderia escapar dele. Podemos redefinir o conceito de buraco
negro usando sua velocidade de escape. A velocidade de escape de um corpo massivo é a
velocidade mı́nima necessária para que um objeto possa escapar de seu campo gravitacional.
Assim, a velocidade de escape da Terra é a velocidade mı́nima na qual um objeto deve ser
lançado de modo que não volte a cair na superfı́cie terrestre. Então, definiremos o buraco
negro como um objeto cuja densidade seja suficientemente grande ao ponto de que sua
velocidade de escape seja maior que a da luz. Em outras palavras, nenhum objeto pode
escapar a um buraco negro, uma vez que a velocidade máxima no universo é a velocidade
da luz [23].
Ao tentar escapar do buraco negro, a luz é atraı́da de volta pelo intenso campo
gravitacional. A região do espaço-tempo que limita as trajetórias dos raios de luz que não
conseguem escapar é chamada de horizonte de eventos. O horizonte de eventos de um
buraco negro é, portanto, a região que o delimita, ou seja, é a distância máxima a partir
do centro do buraco negro para a qual não é possı́vel escapar. Deste modo, o horizonte
de eventos age como uma membrana, pois permite que objetos a atravessem e caiam
no buraco negro, mas nunca que façam o caminho inverso. Assim, não temos nenhuma
informação a respeito da matéria encontrada dentro de um buraco negro, já que a luz
emitida por ela nunca nos alcançará [4].

3.2 Buracos Negros de Schwarzschild

Trataremos agora da solução de Schwarzschild para as equações de Einstein. A


geometria de Schwarzschild, definida pela métrica que leva o mesmo nome, é a geometria
que descreve a região do espaço-tempo exterior a um corpo esférico. Tal solução, é obtida
35

quando resolvemos a equação de Einstein para o vácuo, onde Tµν = 0. Deste modo, a
métrica de Schwarzschild é útil para descrever a geometria de um buraco negro que seja
esfericamente simétrico. Como a massa do buraco negro é seu único parâmetro associado
à métrica de Schwarzschild, então buracos negros que tenham a mesma massa serão
equivalentes [10]. O intervalo de espaço-tempo para um corpo esférico de massa M será
dado pela seguinte expressão [1]
   −1
2 2M 2 2M
ds = − 1 − dt + 1 − dr2 + r2 dΩ2 , (3.1)
r r

onde dΩ2 = dθ2 + sin2 (θ)dφ2 .


Note que, para o limite r → ∞ obtemos a métrica do espaço “flat”(plano),
o que é natural pois, quanto mais distante se está de um objeto massivo, mais plano o
espaço se torna. Para r = 2M o termo que acompanha dr2 fica indeterminado, ou seja, a
equação deixa de valer nesse ponto. As condições de contorno para obtenção dessa métrica
só dizem respeito a região onde r > 2M . Portanto, ela deve valer somente nessa região.
Como a solução parte do pressuposto de que estamos considerando somente pontos fora de
um corpo esférico e ao mesmo tempo só é válida para r > 2M podemos definir rS = 2M
como o raio de Schwarzschild. Se um corpo esférico de massa M tiver raio menor que rS
então esse corpo será um buraco negro e o raio de Schwarzschild se refere ao seu horizonte
de eventos, cuja superfı́cie possui área 4πrS2 [23]. A métrica de Schwarzschild pode ser
então reescrita como
   −1
2 rS 2 rS
ds = − 1 − dt + 1 − dr2 + r2 dΩ2 . (3.2)
r r

Essa métrica descreve, portanto, um buraco negro esférico e estático, ou seja,


sem rotação. Por isso, o único parâmetro associado a ele é sua massa M.
A singularidade r = rS não é fı́sica pois, no caso de um buraco negro, um
observador em queda livre não teria como notar nenhuma singularidade ao passar por
r = rS . Podemos reescrever a métrica de Schwarzschild de modo a evitar a singularidade no
horizonte de eventos, quando r = rS . Para isso, podemos fazer uma escolha de coordenadas
que seja mais adequada.
36

3.2.1 Coordenadas de Eddington-Finkelstein

Ao solucionar as geodésicas para a métrica de Schwarzschild (ds = 0), encon-



tramos as condições t = ±r? + K, onde r? = r + rS ln rrS − 1 e K é uma constante. As
coordenadas u e v que tem a direção das geodésicas nulas são obtidas a partir de [3]

u = t − r? e v = t + r? , (3.3)

de modo que
1 1
dt = (dv + du) e dr? = (dv − du). (3.4)
2 2
onde as geodésicas nulas incidentes são definidas por v = constante e as emergentes são
definidas por u = constante [2].

Figura 7: Fonte: [2]. Coordenadas de Eddington-Finkelstein incidentes e emergentes. As setas


indicam a direção da coordenada temporal da métrica de original Schwarzschild. A figura da
esquerda representa um buraco negro: os fótons que chegam atravessam o horizonte de eventos e
alcançam a singularidade; A segunda figura representa um buraco branco no qual o contrário
acontece: os fótons emergem da singularidade, atravessam o horizonte de eventos e se propagam
no infinito.

Se mantivermos as coordenadas r, θ e φ e fizermos a mudança de coordenadas



t → v − r − 2M ln r − 1 , obtemos [2]
rS

r −1
−1+1
  
dr rS r
dt = dv − dr − r = dv − r dr = dv − 1 − dr. (3.5)
rS
−1 rS
−1 rS
37

Assim,  −2  −1


2 2 r 2 r
dt = dv + 1 − dr − 2 1 − dvdr. (3.6)
rS rS
Substituindo dt2 na métrica de Schwarzschild (3.2), obteremos as chamadas
coordenadas de Eddigton-Finkelstein incidentes [2] [23]
   −2  −1   −1
2 rS 2 r 2 r rS
ds = − 1 − dv + 1 − dr − 2 1 − dvdr + 1 − dr2 + r2 dΩ2
r rS rS r
 
rS
ds2 = − 1 − dv 2 + 2dvdr + r2 dΩ2 . (3.7)
r

Note que agora não temos mais a singularidade no horizonte de eventos, o que torna
essa escolha de coordenadas muito mais adequada uma vez que podemos “enxergar”além
do horizonte de eventos, ainda que não possamos ir além do raio do buraco negro rB .
Ao mesmo tempo, continuamos com a singularidade em r = 0, que se trata de uma
singularidade fı́sica (pois representa o centro do buraco negro), e não de uma consequência
da escolha de coordenadas [23].
De maneira análoga, se mantivermos as coordenadas r, θ e φ e fizermos a

mudança de coordenadas t → u + r + 2M ln rrS − 1 , obteremos as coordenadas de
Eddington-Finkesltein emergentes
 
2 rS
ds = − 1 − du2 − 2dudr + r2 dΩ2 . (3.8)
r

3.2.2 Coordenadas de Kruskal-Szekeres

Uma outra transformação de coordenadas largamente utilizada para remover a


singularidade do horizonte de evento resulta nas coordenadas de Kruskal-Szekeres [3]. A

partir da relação r? = r + rS ln r − 1 obtemos
rS

−1
dr?
    
rS rS ? rS (dv − du)
= 1− ⇒ dr = 1 − dr = 1 − , (3.9)
dr r r r 2

onde na última igualdade utilizamos (3.4). Deste modo, temos


 2
2 1 rS
dr = 1− (dv 2 + du2 − 2dvdu),
4 r
1
dt2 = (dv 2 + du2 + 2dvdu). (3.10)
4
Substituindo no intervalo de espaço-tempo (3.2), obtemos
 
2 rS
ds = − 1 − dudv + r2 (u, v)dΩ2 . (3.11)
r(u, v)
38


Lembrando que r? = r + rS ln rrS − 1 e r? = 12 (v − u) podemos igualar essas
duas expressões e aplicar a função exponencial para obter
   
r r rS r v−u
−1= 1− = exp − + , (3.12)
rS rS r rS 2rS

o que, substituindo na equação (3.11) resulta em


rS rS −(u−v)
ds2 = − e− r e 2rS dudv + r2 (u, v)dΩ2 .

(3.13)
r(u, v)
Podemos reparametrizar as coordenadas u e v da seguinte forma

U = −e−u/2rS e V = ev/2rS , (3.14)

onde U e V são definidos na região r > rs Deste modo que o intervalo de espaço-tempo
será reescrito como

2 4rS3 −
r(U,V )
ds = − e rS dU dV + r2 (U, V )dΩ2 . (3.15)
r(U, V )
Agora, faremos uma última mudança de coordenadas para coordenadas tipo
tempo T = (V − U )/2 e tipo espaço X = (V + U )/2 [2]. Com isso, a última equação se
torna:
4rS3
ds2 = − rr
(dT 2 − dX 2 ) + r2 dΩ2 , (3.16)
e S

que é a métrica de Kruskal-Szekeres. Podemos obter as coordenadas X e T em termos das


coordenadas originais r e t:

ev/2rS + e−u/2rS + e−t/2rS


 t/2rS 
r? /2rS e
T = =e
2 2
 1/2    
r r t
T = −1 exp cosh . (3.17)
rS 2rS 2rS

Analogamente,
 1/2    
r r t
X= −1 exp sinh . (3.18)
rS 2rS 2rS
Além disso, obtemos diretamente das duas últimas equações as seguintes relações
[3]  
2 2 r
T −X = − 1 er/rS , (3.19)
rS
 
t X
= 2arctgh . (3.20)
rS T
Essas relações são válidas para X > 0 e T < 0, pois a métrica de Kruskal-
Szekeres foi definida para esse domı́nio, mas podemos estendê-lo continuamente para
39

X < 0 e T > 0. Deste modo, a relação (3.19) será reescrita como:



r
T − X = − 1 er/rS .
2 2
(3.21)
rS

Essa relação é válida nos domı́nios denotados por I, II, III e IV para os quais
temos [2]   1/2    
 r
X = rS − 1 exp 2rS sinh 2rtS ,
r


(I) : X > 0 ⇒  1/2     (3.22)
r
exp 2rS cosh 2rtS .
r

T = r S − 1

  1/2    
 r
X = 1 − r S exp 2rS cosh 2rtS ,
r


(II) : T > 0 ⇒  1/2     (3.23)
r
exp 2rS sinh 2rtS .
r

T = 1 − rS

  1/2    
 r
X = − 1 − rS exp 2rS cosh 2rtS ,
r


(III) : T < 0 ⇒  1/2     (3.24)
r
exp 2rS sinh 2rtS .
r

T = − rS − 1

  1/2    
 r
X = − rS −1 exp 2rS sinh 2rtS ,
r


(IV ) : X < 0 ⇒  1/2     (3.25)
r
exp 2rS cosh 2rtS .
r

T = − 1 − rS

Além disso, temos agora



X
2arctgh 
t T
, para I e IV ;
= (3.26)
rS 2arctgh T

, para II e III.
X

Podemos notar que a singularidade em r = rS é agora correspondente a T = ±X (que


corresponde a U = 0 ou V = 0 nas coordenadas U e V ). Já a singularidade fı́sica r = 0
corresponde a X 2 − T 2 = 1 (ou U V = 1) que está indicada pelas hipérboles nas regiões II
e III da figura [3] [2].
As regiões I e IV correspondem a um universo chato, com r > rS . Um objeto
que esteja em queda livre na região I e atravesse a linha T = +X (onde fica o horizonte de
eventos), adentra na região II e cai na singularidade r = 0. Nenhum sinal de luz emitido
na região II poderá fazer o caminho inverso e adentrar na região I. Nesse sentido, vemos
que a região II descreve um buraco negro. A região III é similar à região I, apenas com a
40

Figura 8: Fonte: [3]. Coordenadas de Kruskal-Szekeres.

coordenada temporal T invertida. Assim, um objeto na região III faz o caminho inverso do
objeto que cai na singularidade da região 2, ou seja, se origina na singularidade, atravessa a
linha T = −X em direção à região I. Deste modo, a região III representa o que chamamos
de buraco branco. Nas regiões I e IV, quando T → ±X temos, de acordo com a equação
(3.26), t → ∞. Nas proximidades do horizonte de eventos, alguns efeitos quânticos, como
efeito Unruh e radiação Hawking podem ser relevantes [3]. Tais efeitos serão discutidos no
próximo capı́tulo.

3.3 Buracos Negros de Kerr

Após a solução de Schwarzschild, outras soluções da equação de Einstein foram


publicadas. Entre elas, podemos citar a métrica de Reissner-Nordström para objetos
simetricamente esféricos eletricamente carregados, a métrica de Kerr para objetos massivos
em rotação e a métrica de Kerr-Newman para objetos eletricamente carregados e em
rotação. A métrica de Kerr tem importância fundamental, uma vez que muitos objetos
astrofı́sicos, como por exemplo estrelas e buracos negros, são dotados de rotação. Portanto,
a métrica de Kerr possui como parâmetros a massa M e o momento angular J. Podemos
descrever o espaço-tempo ao redor de um objeto rotativo pelo intervalo de espaço-tempo
ds2 , que neste caso será dado por [24]
   2 
2 2M r 2 4M ar sin θ 2 dr 2
ds = − 1 − 2 dt − dφdt + ρ + dθ
ρ ρ2 ∆
2M ra2 sin2 θ
 
2 2
+ r +a + sin2 θdφ2 , (3.27)
ρ2
41

onde, a = J/M é o momento angular por unidade de massa, ρ2 = r2 + a2 cos2 θ e


∆ = r2 − 2M r + a2 . As coordenadas utilizadas (t, r, θ, φ) nas quais a métrica de Kerr é
expressa são chamadas de coordenadas Boyer-Lindquist [25]. Podemos destacar algumas
propriedades importantes da métrica de Kerr [24] :
• É estacionária: não depende explicitamente do tempo;
• É simétrica: não depende explicitamente de φ
• Para r  M e r  a temos ρ2 ≈ r2 e ∆ ≈ r2 . Assim, o intervalo de espaço tempo
assume a forma
   
2M 2M
2
ds ≈ − 1 − 2 dt + 1 − 2 dt2 + r2 (dθ2 + sin2 θdφ2 )
2
r r
4M a
− 2 sin2 θ(rdφ)dt + ... (3.28)
r
Assim, no limite r → ∞ a métrica de Kerr se aproxima assintoticamente da métrica de
Minkowski em coordenadas polares.
• No limite a → 0 (buraco negro sem rotação), a métrica de Kerr se aproxima da métrica
de Schwarzschild, pois ρ2 → r2 e ∆ → r(r − 2M ), então
   −1
2 2M 2 2M
ds → − 1 − dt + 1 − dr2 + r2 (dθ2 + sin2 θdφ2 ). (3.29)
r r

3.3.1 Horizonte de Kerr

A métrica de Kerr é singular tanto para ρ2 = 0 quanto para ∆ = 0. No limite


de Schwarzschild (a → 0) temos ρ2 = r2 = 0, que representa a singularidade fı́sica r = 0
enquanto que para r 6= 0, ∆ = r(r − 2M ) = 0 representa a singularidade r = 2M que
não é fı́sica. Podemos concluir então que ρ2 = 0 é realmente uma singularidade fı́sica,
enquanto ∆ = 0 é uma singularidade decorrente da escolha de coordenadas. Para ∆ = 0,
o descriminante é ∆0 = 4(M 2 − a2 ), portanto se a2 > M 2 , ∆ não terá solução real. Neste
caso, não terı́amos um horizonte de eventos. Por isso, vamos analizar o caso em que
a2 ≤ M 2 . Se resolvermos a equação ∆ = 0, vamos encontrar como soluções [24]

r+ = M + M 2 − a2 ,

r− = M − M 2 − a2 . (3.30)

Devemos notar que r+ → rS quando a → 0, portanto r+ é o horizonte de eventos, enquanto


r− → 0 quando a → 0 e é chamado de horizonte de Cauchy [2].
42

Para uma superfı́cie onde r e t são constantes, temos [1]

2M ra2 sin2 θ
 
2 2 2 2 2
ds = ρ dθ + r + a + 2
sin2 θdφ2 = gφφ dφ2 + gθθ dθ2 . (3.31)
ρ

Com gθθ = ρ2 e

2M ra2 sin2 θ (r + a2 )(r2 + a2 cos2 θ) + 2M ra2 sin2 θ


   2 
2 2 2
gφφ = r + a + sin θ = sin2 θ
ρ2 ρ2
(r + a2 )2 − (r2 + a2 )a2 sin2 θ + 2M ra2 sin2 θ (r + a2 )2 − ∆a2 sin2 θ
 2   2 
2
= 2
sin θ = 2
sin2 θ.
ρ ρ
(3.32)

Assim g = det[gij ] = ((r2 + a2 )2 − ∆a2 sin2 θ) sin2 θ. Tomando integral de g 1/2 em θ e φ,


obtemos a área da superfı́cie:
Z 2π Z π q
A(r) = dφ (r2 + a2 )2 − ∆a2 sin2 θ sin θdθ. (3.33)
0 0

Como a superfı́cie do horizonte de eventos é definida para ∆ = 0, temos em r = r+


Z 2π Z π
2
Ahorizonte = dφ (r+ + a2 ) sin θdθ = 4π(r+
2
+ a2 ). (3.34)
0 0

Mas, temos [2]

2

r+ = 2M 2 − a2 + 2M M 2 − a2 = 2M r+ − a2 ⇒ 2M r+ = r+
2
+ a2 . (3.35)

Então a equação (3.34) se torna


√ √
Ahorizonte = 8πM r+ = 8πM (M + M 2 − a2 ) = 8π(M 2 + M 4 − J 2 ), (3.36)

onde usamos J = ma. Vemos portanto que a área do horizonte de eventos para o buraco
negro de Kerr depende não somente de sua massa, como no caso de Schwarzchild, mas
também de seu momento angular. Mais uma vez, quando a = 0, obteremos Ahorizonte =
4πrS2 a área do horizonte de eventos de um buraco negro de Schwarzschild.
Numa superfı́cie para a qual gtt = 0, devemos ter [1]

ρ2 = 2M r ⇒ r2 − 2M r + a2 cos2 θ, (3.37)

cujas soluções determinarão as ergosferas



rE+ = M + M 2 − a2 cos2 θ,

rE− = M − M 2 − a2 cos2 θ. (3.38)
43

Denominaremos rE+ como ergosfera externa e rE− como ergosfera interna.


Podemos notar que no limite a → 0, rE+ → rS enquanto rE− → 0, o que era esperado,
uma vez que para a solução de Schwarzschild temos apenas um horizonte de eventos [2].

3.3.2 Outras Métricas

Vimos que os buracos negros de Kerr são uma generalização dos buracos negros
de Schwarzschild para o caso em que haja rotação. Outras generalizações podem ser feitas,
porém com menor relevância astrofı́sica. Por exemplo, a métrica de Reissner-Nordström
extende a métrica de Schwarzschild para o caso em que haja a presença de cargas elétricas.
A métrica de de Reissner-Nordström para um objeto de carga elétrica Q é dada por [26]
2  2 −1
rQ rQ
 
2 2M 2 2M
ds = − 1 − − 2 dt + 1 − − 2 dr2 + r2 (dθ2 + sin2 θdφ2 ), (3.39)
r r r r

2 kGQ2
onde rQ = c4
com k a constante de Coulomb, G a constante gravitacional e Q a carga
elétrica do buraco negro. Podemos notar que a massa e a carga são os únicos parâmetros
dessa métrica e que no limite Q → 0, recuperamos a solução de Schwarzschild.
Uma outra generalização pode ser feita acrescentando carga elétrica à métrica
de Kerr, obtendo assim a métrica de Kerr-Newman que tem como parâmetros a massa
M, a carga Q e o momento angular J e terá a mesma estrutura que a métrica de Kerr,
somente com a alteração ∆ = r2 − 2M r + a2 + Q2 . A solução da singularidade ∆ = 0
resulta agora em [2]
p
r± = M ± M 2 − a2 − Q2 ,
p
2
Ahorizonte = 4π(r+ + a2 ) = 4π[2M (M + M 2 − a2 − Q2 ) − Q2 ] = 4π(2M r+ − Q2 ).
(3.40)

Assim, podemos obter as demais métricas a partir da métrica de Kerr-Newman. Para


o limite Q → 0, obtemos a métrica de Kerr; para o limite a → 0 obtemos a métrica de
Reissner-Nordström; para Q → 0 e a → 0 obtemos a métrica de Schwarzschild. Podemos
sumarizar esses resultados na seguinte tabela [2]

Tabela 1: Comparativo entre as principais métricas e seus parâmetros

sem rotação (J = 0) com rotação (J 6= 0)


sem carga (Q = 0) Schwarzschild Kerr
com carga (Q 6= 0) Reissner-Nordström Kerr-Newman
44

Vemos que para descrever um buraco negro, não precisamos de nenhuma


informação a respeito do objeto colapsado que o originou, uma vez que as informações
desse objeto se perdem no buraco negro. Ao invés disso, somente alguns poucos parâmetros
(massa, momento angular e carga) são necessários para caracterizar um buraco negro, o
que é resumido pela máxima: “Um buraco negro não tem cabelos”[10].
45

4 RADIAÇÃO HAWKING

Até agora temos tratado de buracos negros do ponto de vista clássico, ou seja,
não envolvendo mecânica quântica. Porém, sob o ponto de vista quântico, buracos negros
não são tão negros assim. Ou seja, haveria algum tipo de emissão de radiação associada a
eles [10]. De fato, em 1974 Stephen Hawking provou matematicamente a existência dessa
radiação, conhecida como Radiação Hawking [14].
Devido à flutuações do vácuo, pares de partı́culas virtuais podem aparecer e
logo após se aniquilar multuamente. Se um desses pares estiver próximo ao horizonte de
eventos de um buraco negro uma das partı́culas do par pode eventualmente cair no buraco
negro enquanto a outra permaneceria livre. Essas partı́culas livres seriam aparentemente
uma radiação proveniente do buraco negro [4].

(a) (b)
Figura 9: Fonte: [4]. (a)Criação e aniquilação de partı́culas. (b) Criação e aniquilação de
partı́culas nas proximidades de um buraco negro.

Naturalmente essa é apenas uma explicação heurı́stica, que foi apresentada


pelo próprio Hawking, mas que apresenta algumas inconsistências fı́sicas, como veremos.
O objetivo deste capı́tulo é discorrer sobre aspectos termodinâmicos e quânticos
relacionados à radiação Hawking de buracos negros. Na primeira seção trataremos
das analogias com a termodinâmica e obteremos as leis da termodinâmica de buracos
negros, bem como a entropia e a temperatura de Bekenstein-Hawking. Logo em seguida,
utilizaremos as transformações de Bogoliubov para analizar a radiação Hawking sob o
ponto quântico. Na última seção, apresentaremos os métodos utilizados para detectar a
radiação Hawking.
46

4.1 Analogia Termodinâmica

Como discutido no capı́tulo anterior, somente alguns poucos parâmetros são


necessários para descrever um buraco negro. Esse resultado é conhecido como Teorema
“no-hair”. Na termodinâmica ocorre o mesmo. Um sistema pode ser caracterizado por meio
de poucas variáveis macroscópicas, como seu volume e pressão, por exemplo. Portanto, é
natural relacionarmos as propriedades de um buraco negro com a termodinâmica [27].
A área do horizonte de eventos de um buraco negro apresenta a propriedade de
ser não decrescente. Sempre que houvesse acréscimo de matéria no buraco negro a área de
sua superfı́cie aumentaria. E se dois buracos negros colidissem de modo a formar um único
buraco negro esperaria-se que a área do horizonte de eventos do buraco negro resultante
fosse pelo menos igual ou maior que a soma das áreas dos horizontes de evento dos dois
primeiros. Esse comportamento assemelha-se muito com o da entropia pois, de acordo com
a segunda lei da termodinâmica a entropia de um sistema isolado sempre aumenta com o
decorrer do tempo. Além disso, quando dois sistemas são somados, a entropia do sistema
final é maior que a soma das entropias dos sistemas iniciais [10]. Podemos portanto supor
que a entropia para um buraco negro é diretamente proporcional à area de seu horizonte
de eventos, ou seja
S ∝ A, (4.1)

como proposto em 1973 por Bekenstein [15].


De acordo com a lei zero da termodinâmica, um sistema se encontra em
equilı́brio quando sua temperatura é constante em todos os pontos. Um buraco negro
torna-se esfericamente simétrico quando a força gravitacional atuando na superfı́cie do
horizonte é constante. Nesse sentido, um buraco negro se encontra em equilı́brio quando
a força gravitacional atuando em seu horizonte é constante. De acordo com a mecânica
newtoniana, a aceleração gravitacional é dada por a = GM/r2 . Podemos definir na
superfı́cie do horizonte de eventos r = rS (aqui não faremos c = G = 1) [27]

c4
κ = a(rS ) = , (4.2)
4GM
onde κ é a gravidade superficial do horizonte. Definiremos a gravidade superficial como a
aceleração de uma partı́cula estática próxima ao horizonte de eventos, medida por um
observador no infinito. Então, para buracos negros estacionários, a gravidade superficial κ
será constante na superfı́cie do horizonte de eventos. Está é a Lei Zero para termodinâmica
de buracos negros.
Como discutido anteriormente, se a massa de uma buraco negro aumenta por
47

um fator dM , a área de sua superfı́cie deve aumentar por um fator dA

dM ∝ dA. (4.3)

A área do horizonte de eventos para um buraco negro de Schwarzschild, por exemplo, é


dada por A = 16πG2 M 2 /c4 . Portanto,

32πG2 M dM 8π
dA = 4
= GdM. (4.4)
c κ
De modo que encontramos a primeira lei para buracos negros de Schwarzachild na forma
[27]
κ
dM = dA. (4.5)
8πG
Podemos estender esses conceitos para um caso mais geral, como o buraco
negro de Kerr-Newman. No capı́tulo anterior encontramos a área do horizonte de eventos
de um buraco negro. De acordo com a equação (3.40), temos
p
A = 4π[2M (M + M 2 − a2 − Q2 )]. (4.6)

Se diferenciarmos essa equação, considerando que os parâmetros M , Q e J são variáveis,


obteremos [15]
p
2M (M + M 2 − a2 − Q2 ) − a2 − Q2
 
dA
= p dM
8π M 2 − a2 − Q2
 p 
aM da Q(M + M 2 − a2 − Q2 )
−p − p
M 2 − a2 − Q2 M 2 − a2 − Q2
2
dA r+ + a2 a Qr+
= dM − dJ − dQ. (4.7)
8π r+ − r− r+ − r− r+ − r−

onde na última equação utilizamos dJ = d(M a) = adM + M da. Reorganizamos os termos


da equação anterior, encontramos [28]
κ
dM = dA + ΩdJ + ΦdQ, (4.8)

onde κ é a gravidade superficial, Ω é a velocidade angular e Φ é o potencial elétrico no
horizonte e [28]
r+ − r−
κ= ,
α
a
Ω= ,
α
Qr+
Φ= ,
α
48

2
com α = A/4π = r+ + a2 sendo a área racionalizada do buraco negro [15].
Bekenstein propôs que a equação (4.8) para o buraco negro devia ser análoga à
expressão termodinâmica
dE = T dS − P dV. (4.9)

Nesse sentido, ΩdJ e ΦdQ podem ser interpretados como o trabalho realizado sobre o
buraco negro por um agente externo que promove uma variação dJ no momento angular
do buraco negro e uma variação dQ em sua carga. Por isso, ao compararmos as expressões
para o trabalho realizado pela rotação de um corpo e sua carga, vemos que ΩdJ e ΦdQ
tratam-se, respectivamente, do velocidade angular e do potencial elétrico [15]. Ainda de
acordo com as equações (4.8) e (4.9), podemos ver que a entropia é análoga à área do
buraco negro, como argumentado no inı́cio da seção e cuja relação encontraremos mais
adiante.
Naturalmente, podemos estender a lei zero da termodinâmica para a gravidade
superficial κ, redefinida como [29]
p
M 2 − a2 − Q2
κ= p . (4.10)
2M (M + M 2 − a2 − Q2 ) − Q2

Lei Zero: Na superfı́cie do horizonte de eventos de um buraco negro estacionário, a gravi-


dade superficial κ deverá constante.

Além disso, decorre diretamente da equação (4.8) a primeira lei [28]


Primeira Lei: Um buraco negro deve satisfazer a equação
κ
dM = dA + ΩdJ + ΦdQ, (4.11)

onde κ é a superfı́cie gravitacional do buraco negro Ω é velocidade angular do horizonte
de eventos e Φ é o potencial elétrico no horizonte.

De acordo com a lei zero, podemos esperar que a gravidade superficial κ esteja
relacionada com a temperatura de um buraco negro, e de certa forma, podemos considerar
que a gravidade superficial exerça o papel da temperatura de um buraco negro [28]. De fato,
se considerarmos que o buraco negro emite radiação, haverá uma temperatura associada a
essa radiação proporcional κ, que será dada por [27]

~κ ~c3
kB T = = , (4.12)
2πc 8πGM
49

onde ~ é a constante de Planck, c é a velocidade da luz no vácuo, kB é a constante de


Boltzmann, G é a constante gravitacional de Newton e M a massa do buraco negro. Vemos
que a temperatura tem a massa como único parâmetro

~c3
T = . (4.13)
8πkB GM
Contudo, essa expressão para a temperatura do buraco negro nos diz que a tempetura
decresce com o aumento da massa, ou seja, buracos negros menores apresentam temperatura
maior que os mais massivos. Se a massa do buraco negro for grande o suficiente de modo
que sua temperatura seja menor que a da radiação cósmica de fundo, então não seria
possı́vel detectar sua radiação. De fato, a temperatura para a radiação cósmica de fundo é
da ordem de 3K, enquanto a temperatura para a radição Hawking é da ordem de 10−9 K
para um buraco negro com massa da ordem da massa sol [28].
Se reescrevermos a equação (4.5) da seguinte forma

κc2 ~κ kB c3 k B c3
dE = d(M c2 ) = dA = dA = T dA, (4.14)
8πG 2πkB c 4G~ 4G~
e compararmos com a primeira lei da termodinâmica na forma dE = T dS, obteremos a
entropia de Bekenstein-Hawking [27]

AkB c3
SBH = . (4.15)
4~G
κ
Utilizando coordenadas naturais (c = G = 1), temos que 8π
dA = T dS, de
modo que podemos reescrever a primeira lei como:

dM = T dS + ΩdJ + ΦdQ, (4.16)

e com isso obtemos não mais uma lei mecânica para buracos negros, mas sim uma lei
termodinâmica [28].
Da segunda lei da termodinâmica dS ≥ 0 obtemos uma segunda lei análoga
para buracos negros: dA ≥ 0.
Entretanto, a medida que o buraco negro irradia, sua massa descresce e conse-
quentemente a área de seu horizonte de eventos também. Mas isso seria uma contradição
à segunda lei que acabamos de enunciar e também a segunda lei da termodinâmica. Pen-
sando nisso, Bekenstein propôs que mesmo que a entropia SBH decresça, a entropia total
ST = Sext +SBH , onde Sext é a entropia da região exterior ao buraco negro, é uma função não
decrescente no tempo. Assim, ele propôs a segunda lei generalizada para buracos negros [30]
50

Segunda Lei (Generalizada): Para a entropia total, temos

dST ≥ 0, (4.17)

qualquer que seja o processo ocorrido.

Sabendo que a superfı́cie gravitacional κ tem relação direta com a temperatura


de um buraco negro, e que a terceira lei da termodinâmica afirma que é impossı́vel alcançar
T = 0 por meio de processos fı́sicos, portanto, podemos enunciar a terceira lei análoga
para buracos negros [31]:

Terceira Lei : É impossı́vel, por meio de qualquer processo fı́sico, alcançar κ = 0.

Podemos reunir as analogias entre a termodinâmica e a mecânica de buracos


negros na seguinte tabela:

Tabela 2: Comparativo entre a termodinâmica clássica e a mecânica de buracos negros.

Leis Termodinâmica Buraco Negro


Lei Zero T constante para um sistema em κ constante para um buraco negro
equilı́brio estacionário
κ
1a Lei dE = T dS + P dV dM = 8π dA + ΩdJ + ΦdQ
2a Lei dS ≥ 0 dST = Sext + 14 ABH ≥ 0
3a Lei Impossı́vel alcançar T = 0 Impossı́vel alcançar κ = 0

Embora, num primeiro momento, as leis mecânicas para buracos negros fossem
somente analogias à termodinâmica, sem qualquer interpretação fı́sica mais profunda,
a partir do momento em que Hawking provou a relação entre a área de um buraco e
sua entropia, viu-se que as leis obtidas não eram meramente analogias mas na verdade
descreviam a termodinâmica de buracos negros [28].

4.2 Transformações de Bogoliubov

Evidentemente, o ponto de vista clássico não é o mais adequado para abordar o


fenômeno pois a radiação Hawking é um efeito quântico. Portanto, o objetivo dessa seção
é abordar a radiação Hawking por meio da mecânica quântica, o que será feito através das
chamadas transformações de Bogoliubov.
Ao comparar as soluções da equação de Klein Gordon para partı́culas não
massivas a partir do ponto de vista de um observador inercial e de um observador não-
inercial, surge o chamado efeito Unruh, no qual o número de partı́culas depende do
51

observador. Em outras palavras, um observador uniformemente acelerado observa radiação


de partı́culas enquanto um observador inercial observa o vácuo.
Para calcular a produção de partı́culas, devemos utilizar as transformações
de Bogoliubov entre o estados de vácuo externo e interno [32]. Sejam ui e vi conjuntos
completos de soluções da equação de Klein-Gordon satisfazendo [33]

< ui , uj >= − < u∗i , u∗j >= δij , < ui , u∗j >= 0;
< vk , vl >= − < vk∗ , vl∗ >= δkl , < vk , vl∗ >= 0. (4.18)

ui está relacionado ao modos emergentes e vi está relacionado aos modos incidentes, vistos
no capı́tulo 3. Podemos escrever o operador campo escalar φ̂ como
X X †
φ̂ = (âi ui + âi † u∗i ) = (bˆj vj + bˆj vj∗ ), (4.19)
i j

onde âi e âi † são, respectivamente, os operadores de aniquilação e criação relativos a ui e


ˆ
bˆj e b† são os operadores criação e aniquilação relativos a vi .
j

Esses operadores obedecem as seguintes relações de comutação [32]

[âi , aˆj † ] = δij , [âi , aˆj ] = [âi † , aˆj † ] = 0;


† † †
[bˆk , bˆl ] = δkl , [bˆk , bˆl ] = [bˆk , bˆl ] = 0. (4.20)

O estado de vácuo será definido por [34]

âi |0 >a = 0, bˆk |0 >b = 0. (4.21)

Além disso, temos



|1i >a = âi † |0 >a , |1j >b = bˆj |0 >b . (4.22)

Por completeza, podemos escrever vi e vi∗ em termos de ui e u∗i através das


transformações de Bogoliubov [33]
X
vj = (αji ui + βji u∗i ),
i
X
vj∗ = ∗ ∗
(αji ∗
ui + βji ui ), (4.23)
i

onde αki e βki são as coeficientes de Bogoliubov. Utilizando as transformações de Bogoliubov


52

na equação (4.2), obtemos


X X X †X

φ̂ = (âi ui + âi † u∗i ) = bˆj (αji ui + βji ui ) + bˆj
∗ ∗ ∗ ∗
(αji ui + βji ui )
i j i i
X X † X X †
= ui (αji bˆj + βji
∗ ˆ
bj ) + u∗i ∗ ˆ
(αji bj + βji bˆj ), (4.24)
i j i j


que nos leva às relações entre os operadores âi , âi † e bˆj , bˆj

∗ ˆ†
X
âi = (αji bˆj + βji bj ),
j
∗ ˆ†
X
âi † = (αji bj + βji bˆj ). (4.25)
j

Pelas condições de ortogonalidade (4.18) obtemos as seguintes relações para os


coeficientes de Bogoliubov [33]
XX
0 = < vk , vl∗ > = (αki βlj∗ < ui , uj > +βki αlj∗ < u∗i , u∗j >)
i j
X
⇒ (αki βlj∗ − βki αlj∗ ) = 0, (4.26)
i

e
XX
δkl = < vk∗ , vl∗ > = (αki αlj∗ < ui , uj > +βki )βlj∗ < u∗i , u∗j >
i j
X
⇒ (αki αlj∗ − βki βlj∗ ) = δkl . (4.27)
i

Podemos analogamente obter as transformações de Bogoliubov inversas


X

ui = (αki vk − βki vk∗ ),
k
X
u∗i = (αki vk∗ − βki
∗ ∗
vk ), (4.28)
k

e também as relações inversas entres os operadores de aniquilação e criação


X
bˆk = ∗
(αki âi − βki âi † ),
k
† X
bˆk = ∗
(αki âi † − βki âi ). (4.29)
i

Com base nisso, podemos definir o operador [34]



N̂i = âi † âi , N̂j0 = bˆj bˆj , (4.30)
53

cujo valor esperado é o número de partı́culas. No vácuo, temos

a < 0|N̂i |0 >a = 0,

b < 0|N̂i0 |0 >b = 0. (4.31)

Porém, se calcularmos o valor esperado de N̂k0 para os estados de vácuo |0 >a obteremos
[[33] [35]
XX
a < 0|N̂k0 |0 >a = a < 0| ∗
(αki âi † − βki âi )(αkj aˆj − βkj

aˆj † )|0 >a
i j
XX XX
= a < 0| ∗
(αki αkj âi † aˆj |0 >a +a < 0| ∗
βki βkj âi aˆj † |0 >a
i j i j
X
a < 0|N̂k0 |0 >a = |βki |2 . (4.32)
i

Os coeficientes βki não são todos nulos, portanto, a < 0|N̂k0 |0 >a 6= 0. Da mesma
forma, se calcularmos o valor esperado de N̂i para os estados de vácuo |0 >a , obteremos
2
P
b < 0|N̂i |0 >b = j |βij | . Assim, o observador B (que se encontra na região incidente)

observa partı́culas no vácuo do observador A (que se encontra na região emergente) e


vice-versa. Este é o caso mais simples de Radiação Hawking. No Apêndice B, calculamos
os coeficientes de Bogoliubov e obtivemos
1
a < 0|N̂k0 |0 >a = , (4.33)
e2πωk /κ − 1
que corresponde ao espectro de um corpo negro com temperatura T = κ/(2πkB ), e
havı́amos assumido em (4.12) [14].

4.3 Evidências Experimentais da Radiação Hawking

Como já mencionado, a detecção direta da radiação radiação Hawking é muito


pouco viável, do ponto de vista prático, uma vez que a temperatura associada a essa
radiação é muito inferior à da radiação cósmica de fundo. Pensando nisso, em 1981 Unruh
propôs um método experimental para a detecção da evaporação de buracos negros [16]. De
acordo com ele, haveria um sistema fı́sico dotado de propriedades análogas às propriedades
de buracos negros.
A ideia básica por trás desses sistemas análogos, é que os mesmos argumentos
utilizados para prever a radiação de buracos negros também são válidos para prever o
espectro térmico de ondas sonoras que deve ser obtido a partir do horizonte sônico de
um fluido supersônico. Por esta razão, os análogos de buracos negros são denominados
buracos negros acústicos. Hoje em dia, sabe-se que aspectos da Relatividade Geral como
54

a existência de horizontes de eventos, a definição de uma métrica e de uma gravidade


superficial, possuem análogos em mecânica dos fluidos. Além disso, se a velocidade do
fluido exceder a velocidade do som, então as ondas sonoras não poderão escapar da região
de fluxo supersônico, semelhantemente ao que ocorre com a luz aprisionada em um buraco
negro. Ou seja, os fônons exercem um papel semelhante ao dos fótons. A região do fluido
na qual isso ocorre é denominada ergorregião [36].
Desde que foram propostos por Unruh, os análogos de buracos negros se
tornaram uma importante linha de pesquisa teórica. Recentemente, Steinhauer observou a
radiação Hawking em um análogo de buraco negro obtido a partir do confinamento de
um condensado de Bose-Einstein em um feixe de laser [37]. Esse resultado é de grande
importância para a confirmação da radiação Hawking, que por sua vez, traz muitas
implicações positivas no desenvolvimento de uma teoria que una gravidade e mecânica
quântica.
55

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, fizemos uma revisão da teoria da relatividade, apresentando


seus conceitos mais fundamentais e obtivemos as equações de campo de Einstein, a partir
das quais, surgem as principais soluções de buracos negros. Após isso, apresentamos, no
contexto da relatividade geral, uma revisão teórica das principais propriedades relacionadas
às soluções clássica de buracos negros, com enfase nas métricas de Schwarzschild e Kerr.
Calculamos os raios dos horizontes de eventos e a área correspondentes a cada uma
das soluções apresentadas. A partir da expressão para a área de um buraco negro de
Kerr-Newman, obtivemos uma relação análoga à primeira lei da termodinâmica, por
meio da qual construimos toda a analogia termodinâmica de buracos negros. Por último,
analizamos, quanticamente, a radiação Hawking. Para isso, utilizamos as transformações de
Bogoliubov e calculamos o valor esperado do operador número de partı́culas. Concluı́mos
que a radiação Hawking é um efeito quântico e que a emissão de radiação de um buraco
negro é similar ao de um corpo negro. Nosso interesse é aplicar a chamada violação da
simetria de Lorentz a esse contexto. Partindo de um modelo onde um campo vetorial
possui uma direção preferencial, pretendemos calcular sua influência no cálculo do raio do
horizonte de eventos. Cálculos anteriores impõem um requisito de não-dinâmica, exigindo
que o campo vetorial adquira um VEV (“Vacuum Expectation Values”) puramente radial.
A expectativa é de que a introdução de dinâmica pode trazer interessantes contribuições
da violação de Lorentz no contexto da radiação de Hawking.
56

APÊNDICE A -- RELATIVIDADE

Neste apêndice, serão tratados alguns aspectos mais técnicos de Relatividade


Restrita e Geral, em especial em relação à algebra de tensores, ferramenta fundamental
para o desenvolvimento matemático da teoria de relatividade.

A.1 Transformações de Galileu x Transformações de Lorentz

Queremos mostrar que a teoria eletromagnética é invariante por transformações


de Lorentz, mas não por transformações de Galileu. Para tanto, basta mostrarmos que a
equação da onda [6]

1 ∂ 2φ
∇2 φ − =0 (A.1)
c2 ∂t2
é mantida invariante apenas por transformações de Lorentz.
Dados dois referenciais inerciais com velocidade relativa V entre si, podemos
encontrar uma relação entre o sistema de coordenadas de S no sistema de coordenadas de
S’.
As transformações de Galileu são dadas por:

x0 = x − V t, (A.2)

y 0 = y, (A.3)

z 0 = z, (A.4)

t0 = t. (A.5)

Como x = x(x0 , t0 ) = x0 + V t0 , y = y(y 0 , t0 ) = y 0 , z = z(z 0 , t0 ) = z 0 e t =


t(x0 , t0 ) = t0 , as derivadas parciais se transformam da seguinte forma:

∂ ∂x0 ∂ ∂t0 ∂ ∂ ∂2 ∂2
= + = ⇒ = (A.6)
∂x ∂x ∂x0 ∂x ∂t0 ∂x0 ∂x2 ∂x02
57

∂ ∂y 0 ∂ ∂ ∂2 ∂2
= = ⇒ = (A.7)
∂y ∂y ∂y 0 ∂y 0 ∂y 2 ∂y 02

∂ ∂z 0 ∂ ∂ ∂2 ∂2
= = ⇒ = (A.8)
∂z ∂z ∂z 0 ∂z 0 ∂z 2 ∂z 02

Deste modo temos ∇2 = ∇02 , porém, o mesmo não vale para as derivadas
temporais. Com efeito, temos

∂ ∂x0 ∂ ∂t0 ∂ ∂ ∂ ∂2 2 ∂
2
∂2 ∂2
= + = −V + ⇒ = V − 2V + (A.9)
∂t ∂t ∂x0 ∂t ∂t0 ∂x0 ∂t0 ∂t2 ∂x02 ∂x0 ∂t0 ∂t02
e a equação da onda se torna

1 ∂ 2φ 2
∂2 ∂2
 
2 02 1 2 ∂
∇ φ− 2 2 =∇ φ− 2 V − 2V 0 0 + 02 φ (A.10)
c ∂t c ∂x02 ∂x ∂t ∂t

Portanto vemos que a equação da onda não permanece invariante sob trans-
formações de Galileu. As transformações de Lorentz não consideram o tempo absoluto,
logo, a coordenada temporal no referencial S’ deve depender não só da coordenada temporal
como também das coordenadas espaciais de S. Para este caso as transformações de Lorentz
serão dadas por

x0 = γ(V )(x − V t) (A.11)


y0 = y (A.12)
z0 = z (A.13)
 
0 Vx
t = γ(V ) t − 2 (A.14)
c

enquanto as transformações inversas são

x = γ(V )(x0 + V t0 ) (A.15)


y = y0 (A.16)
z = z0 (A.17)
V x0
 
0
t = γ(V ) t + 2 (A.18)
c

onde γ(V ) = (1 − V 2 /c2 )−1/2 .


Mas, utilizaremos as transformações de Lorentz na forma geral para provar a
58

invariância da equação da onda:

x0α = Λα β xβ ⇔ xα = Λβ α x0β (A.19)

lembrando que Λα β e Λβ α são constantes.


As derivadas parciais se transformam da seguinte forma

∂ ∂xβ ∂
∂µ0 = = = Λµ β ∂β (A.20)
∂x0µ ∂x0µ ∂xβ

∂ 0µ = η µν ∂ν0 = η µν Λν α ∂α = η µν (ηνβ η αγ Λβ γ )∂α = δβν η αγ Λβ γ ∂α = Λµ γ (η αγ ∂α ) = Λµ γ ∂ γ


(A.21)
µν µν
onde usamos η = ηµν e η ηνβ = δβν .
Como o produto interno é definido por Aµ B µ = ηµν Aν B µ , temos

1 ∂2
2 = ∂µ ∂ µ = −∂0 ∂ 0 + ∂i ∂ i = ∇2 − (A.22)
c2 ∂t2
 é o operador D’Alambertiano.
Assim, para transformações de Lorentz, a equação de onda se transforma da
seguinte maneira:

02 φ = (∂µ0 ∂ 0µ )φ = (Λµ β ∂β Λµ γ ∂ γ )φ = (Λµ β Λµ γ )∂β ∂ γ φ = ∂γ ∂ γ φ = 2 φ (A.23)

onde usamos Λµ β Λµ γ = δγβ . Portanto, provamos que o operador D’Alambertiano, assim


como a equação de onda são invariantes por transformações de Lorentz.

A.2 Tensores e Álgebra de Tensores

Ao construir equações fı́sicas, é de grande interesse que estas sejam invariantes


sob transformações gerais de coordenadas. Para tanto, devemos saber como as quantidades
fı́sicas descritas por tais equações se transformam de um sistema de coordenadas para
outro. Os escalares como por exemplo, um número ou o tempo próprio (dτ ), não se
alteram sob transformações gerais [19]. Um outro exemplo simples é o da transformação
de um vetor. Dizemos que um vetor V µ é cotravariante se, sob uma transformação de
coordenadas xµ → x0µ ele se transforma da seguinte maneira
∂x0µ ν
V 0µ = V (A.24)
∂xν
59

Por exemplo, a derivada total de xµ é um vetor cotravariante, pois


∂x0µ ν
dx0µ = dx (A.25)
∂xν
Um vetor Uµ é covariante se sob uma transformação de coordenadas xµ → x0µ
ele se transforma da seguinte maneira
∂xν
Uµ0 = Uν (A.26)
∂x0µ
A derivada parcial é vetor covariante pois
∂ ∂xν ∂ ∂xν
∂µ0 = = = ∂ν (A.27)
∂x0µ ∂x0µ ∂xν ∂x0µ
No caso da transformação de Lorentz temos xµ = Λν µ x0ν , portanto, ∂µ0 = Λµ ν ∂ν .
Os tensores são objetos matemáticos extremamente importantes em fı́sica,
pois, equações tensoriais válidas em um determinado sistema de coordenadas são válidas
em qualquer outro sistema de coordenadas. Em particular, se um tensor é nulo em um
determinado sistema de coordenadas, então ele será nulo em todos os outros [21]. Podemos
definir os tensores a partir da definição de vetores contravariantes e covariantes. Um tensor
contravariante de ordem se transforma como o produto de dois vetores contravariantes:
∂x0µ ∂x0ν αβ
T 0µν = T (A.28)
∂xα ∂xβ
Portanto, sabendo que um tensor contravariante de ordem n T µ1 ...µn se transforma como o
produto de n vetores contravariantes V µ1 W µ2 · · · , temos
∂x0µ1 ∂x0µn ν1 ...νn
T 0µ1 ...µn = · · · T (A.29)
∂xν1 ∂xνn
Da mesma forma, um tensor covariante de ordem m Tµ1 ...µm se transforma como
o produto de m vetores covariantes = Rν1 S ν2 · · · . Logo,
∂xν1 ∂xνm
Tµ0 1 ...µm = · · · Tν ...ν (A.30)
∂x0µ1 ∂x0µm 1 m
Um tensor misto é aquele que possui indı́ces covariantes e contravariantes. Por
exemplo, o tensor Tνµ é covariante de ordem um e contravariante de ordem um e obedece a
seguinte regra de transformação:

∂x0µ ∂xβ α
Tν0µ = T (A.31)
∂xα ∂x0ν β
Podemos facilmente estender essa definição para o caso mais geral de um tensor
60

contravariante de ordem n e covariante de ordem m [21]


 0µ1
∂x0µn
 β1
∂xβm

0µ1 ...µn ∂x ∂x
Tν1 ...νm = α
··· ν 0ν
· · · 0νm Tβα11...β
...αn
(A.32)
∂x 1 ∂x n ∂x 1 ∂x m

A partir da definição geral de tensor podemos notar que:


1) Se todos os ı́ndices são contravariantes (covariantes), então temos um tensor puramente
contravariante (covariante);
2) Os tensores contravariantes (covariantes) de ordem um são vetores contravariantes
(covariantes);
3) Tensores de ordem 0 são escalares.
Os tensores obedecem as seguintes regras algébricas [19] [21]
1)Combinação Linear: A combinação linear de dois tensores de mesma ordem deve resultar
num terceiro tensor de mesma ordem. Por exemplo, sejam U = Uνµ11...ν
...µn
m
e V = Vνµ11...ν
...µn
m

tensores mistos de mesma ordem, e a e b constantes. Temos

T = Tνµ11...ν
...µn
m
= aU + bV = aUνµ11...ν
...µn
m
+ bVνµ11...ν
...µn
m
(A.33)

Logo T deve ser uma tensor de mesma ordem que U e V. Com efeito, temos
 0µ1
∂x0µn
 β1
∂xβm

0µ1 ...µn ∂x ∂x
Tν1 ...νm = a ··· · · · 0νm Uβα1...α
1 ...βm
n

∂xα1 ∂xνn ∂x0ν1 ∂x


 0µ1 (A.34)
∂x0µn
 β1
∂xβm

∂x ∂x
+b ··· · · · 0νm Vβα1...α
1 ...βm
n
.
∂xα1 ∂xνn ∂x0ν1 ∂x

Portanto,
∂x0µ1 ∂x0µn ∂xβ1 ∂xβm
  
Tν0µ1 ...ν
1 ...µn
= · · · · · · 0νm Tβα1...α n
1 ...βm
. (A.35)
m
∂xα1 ∂xνn ∂x0ν1 ∂x
De maneira geral, se R1 , R2 , ..., Rp são tensores de mesma ordem e α1 , α2 , ..., αp são escala-
res, então R = α1 R1 + α2 R2 + ... + αp Rp é um tensor de mesma ordem que os Rs.

ρ ...ρ
2) Produto Direto: O produto direto de um tensor U = Uνµ11...ν
...µn
m
com um tensor V = Vσ11...σqp
resulta num tensor de ordem m + n + p + q, pois,

Tνµ11...ν
...µn ρ1 ...ρp
= Uνµ11...ν
...µn
· Vσρ11...σ
...ρp

m σ1 ...σq m q
 0µ1
∂x0µn ∂xβ1 ∂xβm α1...αn

∂x
= · · · αn · 0ν1 · · · 0νm Uβ1 ...βm x
∂xα1 ∂x ∂x ∂x
 0ρ1 0ρp γ1
∂xγq λ1...λp

∂x ∂x ∂x
· · · λp · 0σ1 · · · 0σq Vγ1 ...γq . (A.36)
∂xλ1 ∂x ∂x ∂x
61

Portanto,
 0µ1
∂x0µn ∂x0ρ1 ∂x0ρp

∂x
Tνµ11...ν
...µn ρ1 ...ρp
m σ1 ...σq
= · · · αn · · · · λp x
∂xα1 ∂x ∂xλ1 ∂x
 β1 βm γ1
∂xγq

∂x ∂x ∂x α1...α λ1...λ

· · · 0νm · 0σ1 · · · 0σq Tβ1 ...βmnγ1 ...γqp . (A.37)
∂x 1 ∂x ∂x ∂x

3) Contração: Se, para um tensor U = Uνµ11...ν


...µi ...µn
i ...νm
fazemos µi = νi = j e
somamos em j, o tensor resultante U’ será a contração de U e terá ordem m + n − 2. Ou
seja,
µ ...µ jµ ...µ
U 0 = Uνµ11...ν
...µi−1 µi+1 ...µn
i−1 νi+1 ...νm
= Uν11...νi−1
i−1 i+1
jνi+1 ...νm
n
(A.38)

A.2.1 Tensor Métrico

Antes de mais nada, vamos mostrar que a métrica é um tensor. A métrica é


definida como [19]
∂y α ∂y β
gµν ≡ ηαβ, (A.39)
∂xµ ∂xν
0
onde y α é um referencial inercial e xµ é não-inercial. A métrica gµν num novo sistema de
coordenadas x0µ é
∂y α ∂y β ∂y α ∂xγ ∂y β ∂xλ ∂y α ∂y β ∂xγ ∂xλ
 
0
gµν = ηαβ 0µ 0ν = ηαβ γ 0µ λ 0ν = ηαβ γ λ (A.40)
∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x0µ ∂x0ν

Com isso concluı́mos que a métrica é um tensor covariante de ordem 2, pois

0 ∂xγ ∂xλ
gµν = gγλ (A.41)
∂x0µ ∂x0ν
Sabendo que a métrica é um tensor, se fizermos o produto direto da métrica
gµν com um tensor que tenha ı́ndices covariantes (por exemplo, Uαµλ ) e uma contração no
ı́ndice µ, obteremos de acordo com as regras 2 e 3 da seção anterior, um novo tensor V
definido como:
λ
Vνσ = gµν Uσµλ . (A.42)

Chamaremos essa operação de abaixamento de ı́ndices, por razões óbvias. Analogamente,


podemos definir uma operação de levantamento de ı́ndices utilizando a inversa da métrica
g µν :
Wσνλ = g µν Vµσ
λ
, (A.43)

onde Wσνλ . É fácil ver que as operações levantamento e abaixamento devem ser inversas
entre si, ou seja, abaixar (levantar) um ı́ndice e depois levantá-lo( abaixá-lo) nos leva ao
62

tensor original [19]


Wσνλ = g µν Vµσ
λ
= g µν gµγ Uσγλ = Uσνλ . (A.44)
νλ
Para que σ = g µν gµγ Uσγλ devemos ter

g µν gµγ = δλν . (A.45)

Ou seja, baixar um ı́ndice de g µν ou levantar um ı́ndice de gµν resulta no delta de Kronecker.


Podemos notar que baixando ambos ı́ndices de g µν obtemos gµν

gµσ gνλ g µν = gµσ δλµ = gλσ , (A.46)

e, inversamente, levantando ambos os ı́ndices de gµν obtemos g µν .


Uma das funções fundamentais da métrica é definir a noção de distância entre
dois pontos em espaços não-Euclidianos [1]

ds2 = gµν dxµ dxν . (A.47)

Portanto, o tensor métrico obedece as seguintes propriedades [1]


1) g é simétrico (gµν = gνµ );
2) O conceito de distância é invariante sobre uma transformação de coordenadas

∂xγ ∂xλ 0µ 0ν
ds02 = gµν
0
dx0µ dx0ν = gγλ dx dx = gγλ dxγ dxλ = ds2 (A.48)
∂x0µ ∂x0ν
Dados dois vetores U e V , seu produto interno deve depender somente dos
vetores e não do sistema de coordenadas no qual foram especificados [schaum]. Em outras
palavras, o produto interno de dois vetores deve ser um invariante. Sejam U = U µ e
V = V µ vetores contravariantes. Com o auxı́lio da métrica podemos definir o produto
interno geral
U · V = gµν U µ V ν = Uµ V µ = U µ Vµ . (A.49)

Da mesma forma para vetores covariantes, temos

U · V = g µν Uµ Vν = Uµ V µ = U µ Vµ . (A.50)

Logo, para realizar o produto interno de dois vetores de mesmo tipo, devemos levantar ou
abaixar o ı́ndice de um deles e ultilizar as regras 2 e 3 da seção anterior. Como exemplo,
vamos calcular o produtoe interno entre o quadri-vetores velocidade

dxµ dxν ds2


U · U = gµν = 2 = −1, (A.51)
dτ dτ dτ
63

onde usamos dτ 2 = −ds2 . Como U · U é constante, temos


U
U· =0 (A.52)

A.2.2 Conexão Afim

No capı́tulo 1 definimos o sı́mbolo de Christoffel, ou conexão afim, e afirmamos


que este não se trata de um tensor. Nesta seção vamos mostrar como o sı́mbolo de
Christoffel se transforma sob uma mudança de coordenadas e verificar que ele não é um
tensor [19]. Lembrando da definição da conexão afim:

∂xλ ∂ 2 y µ
Γλνσ = . (A.53)
∂y µ ∂xν ∂xσ
Mudando o sistema de coordenadas xµ → x0µ , obtemos

∂x0λ ∂ 2 y µ ∂x0λ ∂xα ∂


 µ ρ
∂y ∂x
Γ0λ
νσ = 0ν 0σ
= 0ν
µ
∂y ∂x ∂x α µ
∂x ∂y ∂x ∂xρ ∂x0σ
∂x0λ ∂xα ∂y µ ∂ 2 xρ ∂xρ ∂xκ ∂ 2 y µ
 
= + . (A.54)
∂xα ∂y µ ∂xρ ∂x0ν ∂x0σ ∂x0σ ∂x0ν ∂xκ ∂xρ
∂xα ∂y µ
Rearranjando os termos e usando a identidade ∂y µ ∂xρ
= δρα , obtemos

∂x0λ ∂xκ ∂xρ α ∂x0λ ∂ 2 xα


Γ0λ
νσ = Γ + . (A.55)
∂xα ∂x0ν ∂x0σ κρ ∂xα ∂x0ν ∂x0σ
O primeiro termo é o que se esperaria do comportamento de um tensor sob
uma transformação de coordenadas, mas a existência do segundo termo nos diz que o
sı́mbolo de Christoffel não é realmente um tensor. Desejamos encontrar uma fórmula
alternativa para o termo inomogêneo no sı́mbolo de Christoffel. Para isso vamos derivar a
∂x0λ ∂xα
relação ∂xα ∂x0σ
= δσλ em relação a x0ν e encontrar [19]

∂x0λ ∂ 2 xα ∂xρ ∂xα ∂ 2 x0λ


= − . (A.56)
∂xα ∂x0ν ∂x0σ ∂x0ν ∂x0σ ∂xρ ∂xα
Deste modo podemos reescrever a equação (A.55)

∂x0λ ∂xκ ∂xρ α ∂xρ ∂xα ∂ 2 x0λ


Γ0λ
νσ = Γ − . (A.57)
∂xα ∂x0ν ∂x0σ κρ ∂x0ν ∂x0σ ∂xρ ∂xα

A.2.3 Derivada Covariante

Ao trabalhar com tensores muitas vezes desejamos derivá-los para obter alguma
equação fı́sica. É desejável que tais derivadas de tensores tenham comportamento tensorial,
mas isso nem sempre acontece [19]. Com efeito, dado um tensor contravariante V α , cuja
transformação de um conjunto de coordenadas xµ para um conjunto de coordenada x0µ é
64

do tipo

∂x0α β
V 0α =
V (A.58)
∂xβ
Se diferenciarmos V 0α em relação a x0λ obtemos

∂V 0α
 0α 
∂xσ ∂ ∂x β ∂xσ ∂x0α ∂V β ∂xσ ∂ 2 x0α β
= V = + 0λ σ β V (A.59)
∂x0λ ∂x0λ ∂xσ ∂xβ ∂x0λ ∂xβ ∂xσ ∂x ∂x ∂x
∂V 0α
O primeiro termo corresponde ao que se esperaria se ∂x0λ
fosse um tensor mas,
o segundo termo que é inomogêneo, faz com que essa derivada não se comporte como um
tensor. Logo, precisamos redefinir a operação derivada de maneira que a derivada de um
tensor gere um novo tensor. Isolando o termo inomogêneo da equação (A.57)

∂ 2 x0κ ∂x0κ τ ∂x0δ ∂x0γ 0κ


= Γ − Γ (A.60)
∂xµ ∂xν ∂xτ µν ∂xµ ∂xν δγ
e substindo na equação (A.59), obtemos [21]

∂V 0α ∂xσ ∂x0α ∂V β
 0α
∂x0κ ∂x0γ 0α ∂xσ β

∂x τ
= + Γ − Γ V (A.61)
∂x0λ ∂x0λ ∂xβ ∂xσ ∂xτ σβ ∂xσ ∂xβ κγ ∂x0λ
∂x0κ ∂xσ ∂x0γ β
Lembrando que ∂xσ ∂x0λ
= δγκ , ∂xβ
V = V 0γ e rearranjando os termos obtemos

∂V 0α ∂xσ ∂x0α ∂V β
 
0α 0γ β τ
+ Γλγ V = + Γστ V (A.62)
∂x0λ ∂x0λ ∂xβ ∂xσ
Segue imediatamente da equação anterior que se definirmos a derivada covariante
de um tensor contravariante V µ como
∂V µ
V;λµ = + Γµλτ V τ (A.63)
∂xλ
essa derivada será também um tensor.
Podemos obter de maneira análoga a derivada covariante de um tensor covari-
ante. Para um vetor covariante Vα , que se transforma da seguinte maneira

∂xβ
Vα0 = Vβ (A.64)
∂x0α
a derivada com relação a xλ será

∂Vα0 ∂ 2 xβ ∂xβ ∂xσ ∂Vβ0


= V β + (A.65)
∂x0λ ∂x0λ ∂x0α ∂x0α ∂x0λ ∂xσ
65

Neste caso como temos


∂ 2 xκ ∂xκ 0τ ∂xδ ∂xγ κ
= Γ − Γ (A.66)
∂x0µ ∂x0ν ∂xτ µν ∂x0µ ∂x0ν δγ
e a equação (A.65) se torna

∂Vα0 ∂xσ ∂xβ ∂Vβ


 
0γ 0 τ
− Γαλ Vγ = − Γβσ Vτ (A.67)
∂x0λ ∂x0λ ∂x0α ∂xσ

Deste modo, podemos definir a derivada covariante de um tensor covariante


como
∂Vµ
− Γτµλ Vτ
Vµ;λ = (A.68)
∂xλ
e a equação (A.67) nos garante que essa derivada gera um tensor.
Note que, uma vez que o sı́mbolo de Christoffel é obtido das derivadas do tensor
métrico, este deve se anular para espaços cuja métrica é constante. Logo, no espaço de
Minkowski a derivada parcial e a derivada covariante coincidem [19] [21].
Podemos estender a definição de derivada covariante para um tensor mais geral
T = Tνµ11νµ22...ν
...µn
m
para obter um tensor Tκ = Tνµ11νµ22...ν
...µn
m ;κ
da seguinte forma [21]

∂Tνµ11νµ22...ν
...µn
Tνµ11νµ22...ν
...µn
m ;κ
= m
+ Γµακ1 Tναµ 2 ...µn
1 ν2 ...νm
+ Γµακ2 Tνµ11να...µ n
2 ...νm
+ ... + Γµακn Tνµ11νµ22...ν
...α
∂xκ m

− Γνακ 1
Tαν µ1 µ2 ...µn
2 ...νm
− Γνακ
2
Tνµ11α...ν
µ2 ...µn
m
− ... − Γνακ m
Tνµ11νµ22...α
...µn
(A.69)

Podemos verificar algumas propriedades da derivada covariante [21] [19]. Dados


dois tensores arbitrários de mesma ordem U e V e escalares a e b :
1) A derivada covariante de uma combinação linear de tensores é a combinação linear das
derivadas covariantes
U + bV
(aU V );λ = aU
U ;λ + bV
V ;λ ; (A.70)

2) A derivada covariante do produto direto de dois tensores obedece à regra de Leibniz

U V );λ = (U
(U U ;λV ) + (U
U V ;λ ); (A.71)

3) A derivada covariante de um tensor contraı́do é a contração da derivada covariante


∂Uαµα ∂U µ
U µ;λ = (Uαµα );λ = + Γ µ
U
λν α
να
= + Γµλν U ν . (A.72)
∂xλ ∂xλ
Podemos notar que em espaços com métrica constante as propriedades 1 e 2
66

recaem nas propriedades da derivada usual. Além disso, a derivada covariante da métrica
é sempre nula [19]. Com efeito,
∂gµν
gµν;λ = − Γσλµ gσν − Γσλν gσµ . (A.73)
∂xλ
Usando a definição da métrica e derivando com relação a xα obtemos

∂y α ∂y β ∂ 2 y α ∂y β ∂y α ∂ 2 y β
 
∂gµν ∂
= η αβ = η αβ + ηαβ
∂xλ ∂xλ ∂xµ ∂xν ∂xλ ∂xµ ∂xν ∂xµ ∂xλ ∂xν
dxα ∂y β dxα ∂y β
= ηαβ Γσλµ σ ν + ηαβ Γσλν σ µ . (A.74)
dy ∂x dy ∂x
dxα σ ∂ 2 yα
Onde na última igualdade usamos Γ
dy σ λµ
= ∂xλ ∂xµ
, de acordo com a definição do sı́mbolo
de Christoffel dada no capı́tulo 1. Assim
∂gµν
= Γσλµ gσν + Γσλν gσµ , (A.75)
∂xλ
e concluı́mos que o resultado a equação (A.73) é zero e o mesmo vale para g µν . Portanto, a
métrica é constante perante a derivada covariante e vemos que as operações levantamento
e abaixamento de ı́ndices comutam com a derivada covariante

(gµν V µ );λ = gµν (V;λµ ) = Vν;λ


(A.76)
(g µν Vµ );λ = g µν (Vµ;λ ) = V;λν

Portanto, as equações obtidas na ausência de gravidade podem ser reescritas


na presença de campos gravitacionais apenas substituindo ηµν por gµν e a derivada usual
pela derivada covariante e o princı́pio da covariância geral nos garantirá que as equações
obtidas seram verdadeiras [19] [20].

A.2.4 Propriedades Algébricas do Tensor de Riemann


λ
No capı́tulo 1, definimos o tensor curvatura ou tensor de Riemann Rµνσ de
segundo tipo como sendo

∂Γλµσ ∂Γλµν
λ
Rµνσ = − + Γρσµ Γλρν − Γρλµ Γλρσ . (A.77)
∂xν ∂xσ
λ
Iremos demonstrar que Rµνσ é um tensor. Para tanto, devemos lembrar de como a conexão
afim se comporta sob uma transformação de coordenadas. Da equação (A.57) podemos
isolar o termo inomogêneo da transformação do sı́mbolo de Christoffel e obter a equação
(A.60) [19]
∂ 2 x0κ ∂x0κ τ ∂x0δ ∂x0γ 0κ
= Γ − Γ . (A.78)
∂xµ ∂xν ∂xτ µν ∂xµ ∂xν δγ
67

Vamos derivar a última equação em relação a xρ e obter

∂ 3 x0κ ∂ 2 x0κ τ ∂ 2 x0κ ∂Γτµν ∂x0δ ∂x0γ ∂x0η ∂Γ0κ


δγ
= Γ + −
∂xρ ∂xµ ∂xν ∂xρ ∂xτ µν ∂xρ ∂xτ ∂xρ ∂xµ ∂x ν ∂xρ ∂xη

∂ 2 x0δ ∂x0γ ∂x0δ ∂ 2 x0γ




− Γδγ + . (A.79)
∂xρ ∂xµ ∂xν ∂xµ ∂xρ ∂xν

Utilizando a equação (A.78), obtemos

∂ 3 x0κ ∂x0κ ∂Γτµν ∂x0δ ∂x0γ ∂x0η ∂Γ0κ


 0κ
∂x0δ ∂x0γ 0κ

τ ∂x δ δγ
ρ µ ν
=Γµν δ
Γρτ − ρ τ
Γδτ + τ ρ

∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂xη
µ ν ρ
 0γ  0δ
∂x0σ ∂x0θ 0δ ∂x0δ ∂x0γ τ ∂x0σ ∂x0θ 0γ
  
0κ ∂x ∂x δ
− Γδη Γ − Γ + Γ − Γ .
∂xν ∂xτ ρµ ∂xρ ∂xµ σθ ∂xµ ∂xτ ρν ∂xρ ∂xν σθ
(A.80)

Organizando os termos comuns e alterando alguns ı́ndices, ficamos com

∂ 3 x0κ ∂x0κ ∂Γδµν ∂x0δ ∂x0γ ∂x0η ∂Γ0κ


   
τ δ δγ 0σ 0κ 0σ 0κ
= + Γµν Γρτ − − Γηδ Γσγ − Γηγ Γδσ
∂xρ ∂xµ ∂xν ∂xδ ∂xρ ∂xµ ∂xν ∂xρ ∂xη

 0δ
∂x0δ τ ∂x0δ τ

0κ ∂x ∂x τ
− Γδγ τ Γ + Γ + Γ . (A.81)
∂x ∂xρ µν ∂xν ρµ ∂xµ ρν

Agora vamos subtrair da equação anterior a mesma equação com ı́ndices ρ e ν trocados
[19]

∂x0κ ∂Γδµν ∂Γδµρ ∂x0δ ∂x0γ ∂x0η ∂Γ0κ ∂Γ0κ


   
τ δ τ δ δγ δη 0σ 0κ 0σ 0κ
0= − ν +Γµν Γρτ −Γµρ Γντ − µ − −Γηδ Γσγ +Γγδ Γση .
∂xδ ∂xρ ∂x ∂x ∂xν ∂xρ ∂xη ∂xγ
(A.82)
∂xµ ∂xν ∂xρ
Se multiplicarmos por ∂x0α ∂x0β ∂x0λ
obteremos

∂Γ0κ ∂Γ0κ ∂xµ ∂xν ∂xρ ∂x0κ ∂Γδµν ∂Γδµρ


 
αβ αλ 0σ 0κ 0σ 0κ τ δ τ δ
− − Γλα Γσβ + Γβα Γσλ = − + Γµν Γρτ − Γµρ Γντ .
∂xλ ∂xβ ∂x0α ∂x0β ∂x0λ ∂xδ ∂xρ ∂xν
(A.83)
Deste modo obtivemos a seguinte regra de transformação

0κ ∂xµ ∂xν ∂xρ ∂x0κ δ


Rαβλ = R , (A.84)
∂x0α ∂x0β ∂x0λ ∂xδ µνρ
δ
demonstrando assim que Rµνρ é um tensor.
λ
Na verdade, Rµνσ é o tensor de Riemann de segundo tipo e fazendo a operação
abaixamento de ı́ndice obtemos o tensor de Riemann de primeiro tipo [21]

δ
Rλµνρ = gδλ Rµνρ (A.85)

Agora, queremos escrever explicitamente a relação entre Rλµνρ e a métrica gµν .


68

Usando a equação (2.48), obtemos [19]


     
1 ∂ δη 1 ∂ δη
Rλµνρ = gδλ ρ g gµη,ν + gνη,µ − gµν,η − gδλ ν g gµη,ρ + gρη,µ − gρµ,η
2 ∂x 2 ∂x
 
τ δ τ δ
+ gδλ Γµν Γρτ − Γµρ Γντ . (A.86)

Usaremos a seguinte relação

∂ η ∂ δη ∂g δη ∂gδλ
0= ρ
(δλ ) = ρ
(gδλ g ) = g δλ ρ
+ g δη ρ
∂x ∂x ∂x ∂x
δη
∂g ∂gδλ
⇒ gδλ ρ = −g δη ρ = −g δη [Γσρδ gλδ + Γσρτ gσδ ], (A.87)
∂x ∂x
onde na última igualdade usamos a equação (A.75). Então a equação (A.86) se torna
1
Rλµνρ = δλη (gµη,νρ + gνη,µρ − gµν,ηρ ) − [Γσρδ gλδ + Γσρτ gσδ ]Γδµν
2  
1 η σ σ δ δ τ δ τ
− δλ (gµη,ρν + gρη,µν − gρµ,ην ) + [Γνδ gσλ + Γνλ gσδ ]Γµρ + gτ λ Γµν Γρδ − Γµρ Γνδ .
2
(A.88)

Após cancelarmos alguns termos, obtemos


1
Rλµνρ = (gνλ,µρ − gµν,λρ − gρλ,µν + gρµ,λν ) + gσδ [Γσνλ Γδµρ − Γσρλ Γδµν ]. (A.89)
2
Diretamente da equação acima podemos verificar as seguintes propriedades do
tensor de Riemann [19] [21]
1) Simetria na troca do primeiro par de ı́ndices com o segundo:

Rλµνρ = Rνρλµ ; (A.90)

2) Anti-simetria na troca de dois ı́ndices do primeiro ou do segundo par:

Rλµνρ = −Rµλνρ = −Rλµρν = Rµλρν ; (A.91)

3) Ciclicidade nos três últimos ı́ndices:

Rλµνρ + Rλρµν + Rλνρµ = 0. (A.92)

Da propriedade 2 concluı́mos que termos como Rλλνρ ou Rλµνν (sem soma em λ ou ν)


são nulos. Além disso, para os seguintes casos, supondo que cada ı́ndice varie de 1 até
n, temos (sem soma nos ı́ndices repetidos)[21] i) Para Rλµλµ , λ ¡ µ temos n(n − 1)/2
componentes independentes e não-nulos; ii) Para Rλµλν , µ ¡ ν, temos n(n − 1)(n − 2)/2
componentes independentes e não-nulos; iii) Para Rλµνρ temos n(n − 1)(n − 2)(n − 3)/12
69

componentes independentes e não-nulos. Somando todos esses termos concluı́mos que


o tensor de Riemann possui n2 (n2 − 1)/12 componentes independentes. Logo, para um
espaço de 4 dimensões, por exemplo, temos 20 componentes independes!
A partir da definição do tensor de Riemann, obtivemos o tensor de Ricci, que é
um tensor simétrico [19], pois

Rµσ = g λν Rλµνσ = g λν Rνσλµ = Rσλµ


λ
= Rσµ . (A.93)

Podemos ver que o tensor de Ricci possui 10 componentes independentes num espaço de 4
dimensões. Além disso, devido a anti-simetria do tensor de Riemann, vemos que esta é a
unica forma de obter um tensor de segunda ordem não nulo a partir do tensor de Riemann
[21].
70

APÊNDICE B -- CÁLCULO DOS COEFICIENTES DE BOGOLIUBOV

Este apêndice destina-se ao cálculo dos coeficientes de Bogoliubov. Por sim-


plicidade, consideraremos um campo escalar não massivo e utilizaremos a geometria de
Schwarzschild. A frequência positiva está relacionada com os modos emergentes u e a
frequência negativa está relacionada aos modos incidentes v, definidos no capı́tulo 3. Para
frequências positivas, o campo escalar que satisfaz a equação de Klein-Gordon tem o
seguinte comportamento [38]
Φω ∼ e−iωu . (B.1)

Lembrando da transformação (3.14), obtemos, a partir do parâmetro afim U da região


emergente
1
u = −2rs ln(−U ) = − ln(−U ), (B.2)
κ
e o campo escalar se torna

Φω ∼ e κ ln(−U ) . (B.3)

Na região dos modos incidentes, o parâmetro afim não será V, pois este foi
definido na região r > rs , mas sim v. Deste modo, temos
 

Φω ∼ exp ln(−v) , (B.4)
κ

para v < 0. Para v > 0, os raios de luz incidentes cruza o horizonte de eventos futuro e
portanto, não alcança um observador externo. Portanto,

 0, se v > 0;
Φω = (B.5)
 exp( iω ln(−v)), se v < 0;
κ

Tomando a transformada de Fourier, obtemos


Z +∞ Z 0  
˜ iω 0 v 0 iω
Φω = e Φω = exp iω v + ln(−v) dv. (B.6)
−∞ −∞ κ

Podemos mostrar que [38]


 
πω ˜ 0
Φ˜ω (−ω 0 ) = − exp Φω (ω ). (B.7)
κ

Com efeito, para ω 0 > 0, podemos utilizar o eixo imaginário e escrever v = ix,
71

obtendo
Z +∞  

Φ˜ω (ω 0 ) = −i exp − ω x + ln(xe −iπ/2 0
) dx
0 κ
  Z +∞  
πω 0 iω
= −i exp exp − ω x + ln(x) dx. (B.8)
2κ 0 κ

Para ω 0 < 0, utilizaremos v = −ix


Z +∞  
˜ 0 0 iω iπ/2
Φω (−ω ) = i exp ω x + ln(xe ) dx
0 κ
  Z +∞  
−πω 0 iω
= i exp exp ω x + ln(x) dx, (B.9)
2κ 0 κ

e obtemos com isso, a relação (B.7). Com isso, podemos identificar os coeficientes de
Bogoliubov da seguinte forma (para ω 0 > 0):

αωω0 = Φ˜ω (ω 0 ),
 
−πω ˜ 0
βωω0 = Φ˜ω (−ω 0 ) = − exp Φω (ω ). (B.10)
κ

Portanto,  
2 −2πωi
|βij | = exp |αij |2 . (B.11)
κ
A partir da última relação e de (4.27), obtemos [14]
X 1
|βij |2 = . (B.12)
j
eπωi /κ −1
72

REFERÊNCIAS

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