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Teoria de Cordas Bosônicas∗

M.A.C. Torres
Centro Brasileiro de Pesquisas Fı́sicas – CBPF/MCT
Rua Dr. Xavier Sigaud, 150
22290-180 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Fı́sica, Tese de Mestrado
defendida em abril de 2002, sob orientação de Clóvis José Wotzasek.
Prefácio

Esta Monografia é um trabalho de tese de Mestrado, defendido em abril de 2002,


que acreditamos caber a estudantes de pós-graduação interessados em ingressar em
estudos teóricos da Fı́sica de Partı́culas e Teoria de Cordas. Este é um trabalho
conciso e convém conhecimentos de Teoria Quântica de Campos para trazer clareza
à linguagem e facilitar o entendimento do leitor.
Ao estudante entusiasmado em conhecer Teoria de Cordas, gostaria de preveni-lo
a respeito e aconselhá-lo a procurar conhecer o Modelo Padrão e outras propostas de
Unificação durante seu longo processo de crescimento intelectual, antes de se decidir
a trabalhar tão somente em Teoria de Cordas.
Como um iniciante na Física de Partı́culas, este estudo foi muito enriquecedor
para o seu autor por abordar questões relativas a TQC de uma forma direta: métodos
de quantização, anomalia quântica, ordenamento, regularização, Integral de camin-
ho, correção de Fadeev-Popov e campos fantasmas. Por tal motivo o autor acredita
que esse trabalho possa ser útil ao estudante de Fı́sica de Partı́culas em geral e ao
estudante que queira conhecer um pouco sobre Teoria de Cordas em particular.

Namastê.

M. A. C. Torres.
Resumo

Torres, M. A. C. Teoria de Cordas Bosônicas. Orientador: Clóvis José Wotzasek.


Rio de Janeiro: UFRJ/IF; CAPES, 2002. Dissertação (Mestrado em Ciências).

Estudo introdutório da Teoria de Cordas Bosônicas. Corda Clássica e suas sime-


trias internas. Comparação dos métodos de quantização no cone de luz, covariante
e no calibre conforme explorando a teoria de campos conformes na folha de uni-
verso da corda. Formulação integral de caminho de Polyakov. Teoria perturbativa.
Cordas não crı́ticas e estudo de sua de aplicação em confinamento de quarks.
Abstract

Torres, M. A. C. Teoria de Cordas Bosônicas. Orientador: Clóvis José Wotzasek.


Rio de Janeiro: UFRJ/IF; CAPES, 2002. Dissertação (Mestrado em Ciências).

Introdutory study of Bosonic String Theory. Classical String and its internal
symmetries. Light Cone, Covariant and Conformal quantization methods exposure.
Conformal Field Theory on String world-sheet. Polyakov’s Path Integral formalism.
Non critical String and its application in quark confinement problem.
Conteúdo

1 Introdução 1

2 A Ação de Polyakov 5
2.1 A Partı́cula Corda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Dinâmica da Corda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3 Quantização da Corda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3.1 Quantização no Cone de Luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3.2 Quantização Covariante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3 Teoria de Campos Conformes 30


3.1 CFT no Plano Complexo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.2 A Identidade de Ward . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.3 Ordenamento Normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.4 Campos primários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.5 Álgebra de Virasoro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.6 Espectro da corda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.7 Operadores de Vértice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.7.1 Integral de caminho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

4 A Integral de Caminho de Polyakov 51


4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2 Soma sobre Folhas de Universo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.3 O Funcional Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.4 Fixação de Calibre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.5 A Anomalia de Weyl . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

ii
CBPF-MO-005/02 iii

4.6 A Matriz S . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.6.1 Superfı́cies topológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.7 Operadores de Vértice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.8 Cordas no espaço-tempo curvo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

5 Cordas Não Crı́ticas 71


5.1 Corda Não Crı́tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
5.2 Critério de Confinamento de Wilson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5.3 Cordas Confinantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

6 Considerações Finais 77

Bibliografia 79
Lista de Figuras

2.1 a)Corda fechada b)Corda aberta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6


2.2 Linha de universo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

3.1 Plano complexo da corda fechada c/ linhas equitemporais. (a)Em


coordenadas w, com as bordas identificadas umas as outras. (b)Em
coordenadas z. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.2 Plano complexo da corda aberta com linhas equitemporais. (a) Em
coordenadas w. (b) Em coordenadas z. . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.3 (a)Plano z com 2 operadores locais. (b)Estado obtido na integração
de caminho até a fronteira. (c) Operador de Vértice que produz o
mesmo estado na borda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.4 Representação diagramática de um OPE . . . . . . . . . . . . . . . . 50

4.1 Interações entre cordas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52


4.2 (a) Espalhamento de quatro cordas fechadas, partindo de estados
assintóticos. (b) Folha de universo conformalmente equivalente. . . . 63
4.3 (a) Espalhamento de quatro cordas abertas, partindo de estados assintóticos.
(b) Folha de universo no espaço conforme . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.4 Projeção estereográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.5 Adicionando roscas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

5.1 Laços de Wilson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

iv
Capı́tulo 1

Introdução

A Teoria de Cordas é na atualidade a principal alternativa para a superação de uma


série de divergências entre duas teorias fı́sicas fundamentais, a Mecânica Quântica
(MQ) e a Relatividade Geral (RG) e é também a única proposta para a unificação das
4 forças de interação que conhecemos: eletromagnetica, fraca, forte e gravitacional.
O encontro inevitável entre a RG e a MQ gerou, de inı́cio, resultados entusiasmantes,
como a antecipação da descoberta experimental do pósitron através da Mecânica
Quântica Relativı́stica de Dirac. Herdeira desse trabalho pioneiro, a Teoria Quântica
dos Campos (TQC) deu origem a modelos bem sucedidos da Fı́sica de Partı́culas,
como a Eletrodinâmica Quântica (QED), a Teoria Eletrofraca e a Cromodinâmica
Quântica (QCD). Tais sucessos fazem parte do chamado Modelo Padrão da Fı́sica
de Partı́culas.
Apesar do êxito das aplicações da TQC, do ponto de vista teórico, o Modelo
Padrão deixa fortes indı́cios da existência de princı́pios fundamentais não descober-
tos, ou seja, que existe uma teoria implı́cita. Há um número excessivo (∼ 20) de
parâmetros no Modelo Padrão cujos valores são obtidos a partir de resultados exper-
imentais, não havendo compreensão teórica para tais. Em particular não sabemos
justificar as massas das partı́culas elementares e também não sabemos por que há 3
famı́lias (ou gerações) de quarks e léptons ou se há mais gerações por se descobrir.
Considerando a Relatividade Geral, também há uma necessidade de uma teoria im-
plı́cita, a Gravitação Quântica, correspondente a uma versão quantizada que tenha
como limite clássico a RG devido a natureza intrı́nseca da matéria: ela se revela em
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forma de pacotes discretos. Portanto é de se esperar que a força de atração gravita-


cional, se expresse na forma de transmissão de momentos contidos em pacotes, os
grávitons. Esta forma de pensar evita o princı́pio newtoniano da ação instantânea
a distância, uma vez que nenhuma partícula pode trafegar acima da velocidade da
luz. Um outro motivo é a existência de singularidades na RG. Tais singularidades
seriam varridas a partir de um tratamento quântico, tal como o colápso de um átomo
sugerido pela Fı́sica Clássica é evitado pelas leis da MQ. No entanto a Gravitação
Quântica é uma teoria não renormalizável segundo a Teoria Quântica de Campos
(TQC). Não se é capaz de obter, via TQC, predições numéricas a seu respeito devido
a divergências em seu cálculo que não podem ser absorvidas numa renormalização
usual dos parâmetros da teoria.
Em acréscimo, A Relatividade Geral e o Modelo Padrão tem quase todas as suas
previsões já verificadas experimentalmente. Porém, descobertas recentes e alguns
problemas antigos não encontram respostas naturais nestas teorias. Para citar um
exemplo, na Cosmologia a discrepância entre a energia quântica residual do vácuo
e a Constante Cosmológica, que representa densidade de energia do vácuo, é de 30
ordens de magnitude, no melhor dos cálculos da fı́sica convencional.
A teoria de cordas surge naturalmente como uma teoria de unificação ao ofer-
ecer propostas aos problemas do Modelo Padrão e da Gravitação Quântica. Um
grande número de simetrias internas da Teoria de Cordas elimina parâmetros antes
independentes (massa, por exemplo) na Teoria de Campos, seus grupos de calibre
surgem expontâneamente e a conceituação de partı́culas como cordas acaba com di-
vergências oriundas de cálculos com partı́culas de dimensões pontuais. Somando-se
a tais caracterı́sticas, temos que dentro do espectro de modos de vibração da corda
está o gráviton, isto é, uma partı́cula de spin 2 tal como é descrita na Gravitação
Quântica.
Outra motivação para o estudo da Teoria de Cordas provém da simplicidade
de suas premissas (embora não fundamentais o bastante), em oposição ao Modelo
Padrão que é nada menos que uma coletânea de simetrias emendadas numa única
teoria, sem entendimento da origem dos distintos grupos de simetria. Um único
grupo de simetria , SO(32),existente nas supercordas, a teoria de cordas super-
simétricas, é suficientemente grande para incluir todas as simetrias de calibre do
modelo padrão embora seja mais largo que a realidade que observamos.
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Mas não só de flores se revestem os caminhos da Teoria de Cordas. É de se


suspeitar que ao se encarar uma teoria de 30 anos de desenvolvimento e ainda tida
como uma teoria nascente algo haja de errado. Entre os contras desta teoria está
o fato de que algumas das caracterı́sticas agradáveis que ela possui, como simetrias
internas, se realizam apenas em 26 dimensões (10 para o caso das supercordas).
Onde estão as dimensões que não vemos ainda é um tema em aberto. Uma out-
ra possibilidade de trabalhar com cordas num espaço de 4 dimensões (cordas não
crı́ticas) provoca o surgimento de uma dimensão extra, cujo significado fı́sico ainda
está por ser entendido. Não está claro também o significado do vácuo de cordas,
uma vez que não há ainda uma teoria completa de campos de cordas. De fato, esse
“vazio” no entendimento sobre o que é o vácuo abre na teoria de cordas infinitas
configurações possı́veis de vácuo, forçando os cientistas a uma arbitragem sobre um
número grande de parâmetros, para se configurar na teoria de cordas um modelo
equivalente ao Modelo Padrão, por exemplo.
Em suma, questões como a Unificação e a Gravitação quântica estão além da
fronteira de todo conhecimento da Fı́sica de Partı́culas e Relatividade Geral atual e
são ainda apenas teorias, no sentido especulativo da palavra.
O presente trabalho ambiciona realizar apenas uma abordagem introdutória da
teoria realçando contribuições originais da Teoria Quântica de Campos em duas
dimensões que particularmente impressionaram o autor, como por exemplo a quan-
tização conforme.
O trabalho se originou dos estudos do autor sobre os livro-textos [1, 2] com con-
sulta a vários textos de referência [3] e artigos de revisão [4, 5] e não há originalidade
algum nele, mas tão somente o entendimento do autor sobre o assunto. No capı́tulo
2 conceituamos uma corda, abordamos o princı́pio da ação mı́nima exibindo suas
simetrias clássicas, realizamos a quantização canônica e no cone de luz e verificando
a invariância de Lorentz através da sua algebra de comutadores.
No capı́tulo 3 descrevemos a Teoria de Campos Conforme existente na folha
de universo de métrica plana, realizando a quantização da corda e trabalhando no
espaço de operadores.
No capı́tulo 4 apresentamos o formalismo de Feynman de integração funcional,
introduzimos as correções dos fantasmas de calibre no funcional gerador, calculamos
a anomalia surgida da quantização no calibre conforme, mostramos a simplificação
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do número de diagramas de Feynman e através das propriedades destes diagramas


definimos a matriz S de espalhamento e o operador de vértice que representa um
determinado estado assintótico de uma corda. E conhecendo os operadores de vértice
das partı́culas, mostramos o aparecimento expontâneo de grávitons numa corda que
varre um espaço-tempo curvo.
No capı́tulo 5 uma alternativa coerente da teoria de cordas que surgiu para
driblar o problema da anomalia quântica de Weyl e sua aplicação em confinamento
de quarks é descrita. Tal teoria evita a imposição da dimensão crı́tica do espaço-
tempo e expõe uma nova realização da teoria de cordas.
Em nosso desfecho voltamos a comentar alguns obstáculos da teoria de cordas
encontrados ao longo deste trabalho e apontamos alguns caminhos para se alcançar
os modernos aspectos da teoria de cordas.
Capı́tulo 2

A Ação de Polyakov

2.1 A Partı́cula Corda


A Teoria de Cordas se baseia na interpretação das partı́culas fundamentais como
objetos unidimensionais, ou seja pequenas cordas de extensão muito pequena que se
propagam no espaço-tempo. Esta proposta confronta o modelo existênte da Fı́sica de
Partı́culas baseado na Teoria Quântica de Campos, onde as partı́culas são represen-
tadas por pontos de dimensão zero. Esta diferença confere propriedades interessantes
e desejáveis a Teoria de Cordas, conforme será visto neste trabalho.
Um argumento a favor desta concepção de partı́cula segue do princı́pio de in-
certeza de Heisenberg:

∆x∆p ≥ h̄ (2.1)

Para uma incerteza na posição suficientemente pequena, a incerteza no momen-


to de pode alcançar altı́ssimos valores e a escala de energia desta partı́cula pode
se aproximar da energia de Plank  1019 GeV, onde sua interação com o campo
gravitacional se torna forte e as correções da interação partı́cula-gráviton divergem.
Como na Natureza não existem divergências (se as interações acontecem a matriz
S de tais interações tem que ser capaz de exprimir tais resultados), na escala de
Plank (10−33 m) algo deve ser diferente da Teoria de Quântica de Campos conhecida
para “suavizar” tais singularidades. Oportunamente, o conceito de partı́cula-corda
“suaviza” tais singularidades conhecidas como divergências do ultravioleta (UV), ao
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Figura 2.1: a)Corda fechada b)Corda aberta

tornar não locais as interações entre partı́culas, conforme veremos na seção (4.7).
A partı́cula, sendo uma corda, pode existir em duas formas, corda aberta ou
fechada (Fig. 2.1) e a sua propagação no espaço-tempo forma uma superfı́cie bidi-
mensional comumente chamada de folha de universo, em analogia a linha de universo
da partı́cula pontual no espaço de Minkowski.
Para construirmos a dinâmica da corda e posteriormente quantizar seus esta-
dos, precisamos determinar a ação da corda, que faremos por uma analogia nos
reportando ao caso de uma partı́cula pontual.
Uma partı́cula pontual que se desloca no espaço-tempo de D dimensões descreve
uma linha de universo. A distância ∆l entre 2 pontos ao longo deste caminho é
invariante sob transformações de Lorentz (Fig.2.2). A linha de universo possui um
parâmetro interno de varredura da linha que seria a escala de tempo de determinado
observador. O comprimento ∆l da linha independe da parametrização interna τ da
linha de universo, ou seja, independe do observador externo e de sua escala de tempo.
Portanto a invariância de Lorentz do espaço tempo está imersa na invariância por
reparametrização:

∆l (τ  (τ )) = ∆l(τ ) (2.2)

Enquanto que a simetria de Lorentz envolve linearidade entre as escalas de tempo,


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Figura 2.2: Linha de universo

a única restrição para τ  (τ ) é que seja apenas uma função monótona. A simetria de
reparametrização é maior que a de Lorentz porque inclui no espaço externo as trans-
formações de coordenadas entre referenciais não inerciais. Poderemos considerar a
simetria de Lorentz equivalente a de reparametrização se aplicarmos o conceito de
referenciais inerciais instantâneos.
A ação invariante de Lorentz e por reparametrização interna mais simples que
podemos obter é o comprimento desta linha no espaço de Minkowski que nada mais
é senão a medida do tempo próprio :


S = lim (∆X 0 )2 − (∆X µ )2 (2.3)
∆t→0
∆t

∆X µ → Ẋ µ dτ µ = 0, 1, ..., D − 1 (2.4)

e a ação se torna,

S= dτ (−Ẋ µ Ẋµ )1/2 (2.5)

com métrica ηµν (−, +, +, ..., +).


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Para o caso da corda, existem 2 parâmetros internos que identificam todos os pon-
tos da folha de universo. Podemos associa-los inicialmente às coordenadas temporal
τ e de posição relativa σ dentro da corda. Mas de fato, temos a liberdade de escol-
her para a folha de universo qualquer reparametrização difeomórfica (transformação
isométrica e infinitamente diferenciável) a esta, preservadas as coordenadas espaço-
tempo X µ , pois são estas as grandezas com realidade fı́sica de interesse. A ação
da corda também deve preservar a simetria de Poincaré para campos de partı́culas
no espaço-tempo. Y. Nambu e T. Goto [6, 7] propuseram que a ação mais simples
que poderı́amos escrever seria proporcional a área da folha de universo. Partindo
do elemento de linha invariante de Lorentz:

ds2 = dX µ dXµ = hab dσ a dσ b (2.6)

para hab = ∂a X µ ∂b Xµ métrica da folha de universo induzida pelas coordenadas de



espaço-tempo, chega-se que o elemento de área será: dA = −hd2 σ, h = det(hab )
e a respectiva ação:


S = −T d2 σ −h (2.7)

onde T é a chamada tensão da corda. Observamos, em concordância com a adimen-


sionalidade de S, que T tem dimensão (distância)−2 . Na escala de energia da corda,
é conveniente escrevermos:

1
T = , onde α é a inclinação de Regge,
2πα
α = lP2 ∼ 10−66 cm2 , lP comprimento de Planck (2.8)

O comprimento de Planck é a escala de distância onde a gravitação quântica tem


efeito e por isso é tomado como a escala de comprimento da corda.
Se trabalharmos na parametrização inicial τ e σ da folha de universo e adotarmos
as convenções ∂τ X µ = Ẋ µ e ∂σ X µ = X µ e os ı́ndices 0 e 1 para as direções temporais
e espaciais da métrica da folha de universo, teremos por ação:
 
S = −T (Ẋ µ Xµ )2 − (Ẋ)2 (X  )2 d2 σ (2.9)
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Essa é a conhecida ação de Nambu-Goto. A existência da raiz na ação introduz


dificuldades no cálculo. Utilizando uma métrica intrı́nseca auxiliar [8, 9] da folha de
universo, independente das coordenadas do espaço-tempo, gab (σ 1 , σ 2 ) com assinatura
(−, +) obtemos uma ação equivalente, chamada ação de Polyakov [10]:

T √
S=− −g g ab ηµν ∂a X µ ∂b X ν (2.10)
2

O que se fez ao se criar a métrica intrı́nseca g ab foi adicionar novas simetrias


a folha de universo. Uma escolha de calibre para cada simetria, fixa a métrica
intrı́nseca gab e não se tem liberdades extras em relação a ação anterior. Por uma
contagem do número de parâmetros livres e do número de restrições das simetrias
verificamos se há graus extras de liberdade:
A matriz simétrica
 
 g 
 11 12 
g
gab =  
 g12 g22 

possui 3 parâmetros livres. As simetrias na folha de universo da ação de Polyakov


são :

• Difeomorfismo (ou simetria de reparametrização) :

σ 1,2 → σ 1,2 (σ 1 , σ 2 )
X µ (σ 1 , σ 2 ) = X µ (σ 1 , σ 2 )
∂σ a ∂σ b
gab (σ 1 , σ 2 ) = gcd (σ 1 , σ 2 ) (2.11)
∂σ c ∂σ d

• Invariância de Weyl (ou reescalonamento conforme da métrica):


gab (σ 1 , σ 2 ) = exp(2ω(σ 1 , σ 2 ))gab (σ 1 , σ 2 )
X µ (σ 1 , σ 2 ) = X µ (σ 1 , σ 2 ) (2.12)

e no espaço-tempo temos a simetria de Poincaré, uma composição da simetrias de


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Lorentz e invariância por translação das cordas:

X µ (σ 1 , σ 2 ) = Λµν X ν (σ 1 , σ 2 ) + aµ

gab (σ 1 , σ 2 ) = gab (σ 1 , σ 2 ) (2.13)

Pelo difeomorfismo, podemos manipular 2 graus de liberdade na métrica gab e pela


invariância de Weyl 1 grau de liberdade pode ser manipulado. Escolhendo os calibres
certos podemos então usar para métrica intrinseca os valores que desejarmos.
A combinação das transformações por difeomorfismo (isométricas) e Weyl são
chamadas de transformações conformes. A simetria conforme na folha de universo
terá destaque no capı́tulo 3.
Cabe aqui observar que a invariância de Weyl é uma simetria que não existia
antes na ação de Nambu-Goto. Para verificarmos sua validade na ação de Polyakov,
precisamos calcular o novo determinante g ,

g ab = e−2ω g ab
g  = det(e2ω gab ) = e4ω g, e portanto,

 T √
S =− −ge2ω g ab e−2ω ηµν ∂a X µ ∂b X ν = S (2.14)
2

A nı́vel clássico, podemos ser mais enfáticos e mostrar a equivalência entre as


duas ações. Na ação de Polyakov, a métrica intrı́nseca não deve possuir dinâmica,
o que implica na nulidade do tensor energia-momento :

2√ δS 1
Tab = − −g ab = ∂a X µ ∂b Xµ − gab g cd∂c X µ ∂d Xµ = 0 (2.15)
T δg 2

as três equações acima tem como solução gab = hab . Aplicando esta solução na ação
de Polyakov,chega-se a ação de Nambu-Goto, confirmando a equivalência clássica.
A nı́vel quântico, até hoje não foi provado a equivalência entre tais ações.
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2.2 Dinâmica da Corda


Vamos utilizar o princı́pio da ação mı́nima para determinarmos as equações clássicas
de movimento de uma corda de comprimento l. Os pontos fixos são a corda na
posição inicial X µ (σ, τ 1 ) e na posição final X µ (σ, τ 2 ), onde a folha de universo está
parametrizada em suas coordenadas de posição relativa σ e tempo τ . Consideremos
a variação da ação sob variações infinitesimais dos campos X µ da folha de universo:

partindo de S= dσdτ L

   
τ2
∂L  ∂L
δS = dτ dσ δX + δ Ẋµ
τ1 σ ∂Xµ µ
∂ Ẋµ

com Ẋ = ∂τ X e X  = ∂σ X. Sendo δ variação na forma, este é independente da


variação nos parâmetros: δ∂a X = ∂a δX. Integrando por partes,
 σ=l  τ 2   
τ2 
∂L δL δL
δS = dτ δXµ  − dτ dσ ∂σ + ∂τ δXµ (2.16)
τ1 ∂Xµ σ=0 τ1 σ δXµ δ Ẋµ

Pelo princı́pio da ação mı́nima, a variação de S deve ser nula, o que nos leva a dois
tipos de equação:

δL δL
as equações de movimento ∂σ 
+ ∂τ =0 (2.17)
δXµ δ Ẋµ
σ=l σ=0
∂L  ∂L 
e as condições de contorno nas bordas = (2.18)
∂Xµ  ∂Xµ 

No formalismo Hamiltoniano, para o Lagrangeano do tipo L(X µ , Ẋ µ , X µ , τ, σ),


os momentos conjugados de X µ são respectivamente,

δL δL
pµτ = , e pµσ = (2.19)
δ Ẋµ δXµ
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o que nos permite reescrever 2.17 e 2.18

∂τ pµτ + ∂σ pµσ = 0 (2.20)


pµσ |σ=l = pµσ |σ=0 (2.21)

A equação 2.20 é uma equação de conservação de corrente enquanto a equação


2.18 expressa que o fluxo de momento sigma que sai da corda é igual ao fluxo de
momento sigma que entra na corda, havendo portanto conservação de momento
sigma total da corda. Para uma corda aberta de extremidades livres, podemos dizer
que não há fluxo de momento nas extremidades e impor a condição de contorno de
Neumann

pµσ (σ = l) = pµσ (σ = 0) = 0 (2.22)

Outras condições de contorno podem ser impostas e originam diferentes espaços


varridos pelas extremidades das cordas, conhecidos como branas, objetos de variadas
dimensões e que assumiram um papel importante no estudo da teoria de corda
quando se descobriu que estes objetos possuem dinâmica.
Utilizando a ação de Nambu-Goto, encontramos para os momentos conjugados

(Ẋ · X  )X µ − (X  )2 Ẋ µ
pµτ = T  (2.23)
(Ẋ · X  )2 − (X  )2 (Ẋ)2
(Ẋ · X  )Ẋ µ − (Ẋ)2 X  µ
pµσ = T  (2.24)
(Ẋ · X  )2 − (X  )2 (Ẋ)2

É fácil verificar que as equações acima satisfazem

pµτ · Xµ = 0, p2τ + T 2 (X  )2 = 0


pµσ · Ẋµ = 0, p2σ + T 2 (Ẋ)2 = 0 (2.25)
CBPF-MO-005/02 13

2.3 Quantização da Corda


A quantização da teoria de cordas equivale a segunda quantização na teoria de
Campos, pois as coordenadas espaço-tempo dos pontos da corda podem ser vistos
como campos escalares imersos na folha de universo bidimensional. As diferentes
configurações possı́veis de X corresponderão a composições dos modos de vibração
da corda.
No formalismo canônico de quantização, substituı́mos variáveis clássicas por op-
eradores e colchetes de Poisson por relações de comutação. Mas quando o sistema
possui simetrias, que se traduzem em vı́nculos, nem todas as variáveis são indepen-
dentes e podem ser transformadas em operadores. Nestas circunstâncias, há dois
procedimentos usuais em Teoria Quântica de Campos que se traduzem na teoria de
Cordas nos métodos de quantização covariante e a quantização no cone de luz. Um
terceiro método que explora a simetria conforme da folha de universo será estudado
no capı́tulo seguinte.
A quantizacão no cone de luz consiste em escolhermos um calibre (cone de luz),
separar as variáveis não dinâmicas e quantizar canônicamente sobre as variáveis
restantes. Ao identificarmos as variáveis não dinâmicas entre os campos X µ , perde-
se a covariância de Lorentz explicita existente na ação da corda. Após a quantização
tem que se verificar a existência da simetria de Lorentz através dos geradores de
simetria da corda, verificando se eles satisfazem a álgebra dos geradores de Lorentz.
Veremos adiante que a necessidade da manutenção da invariância de Lorentz na
teoria de cordas levará a imposição da dimensão D = 26 do espaço-tempo para as
cordas bosônicas. Este é um resultado bastante significativo pois nunca houve uma
teoria que apontasse a dimensão espaço-temporal em que ela vive, muito embora
D = 26 não seja o resultado esperado. Até onde conseguimos entender o universo
em que vivemos, temos por base outro resultado, D = 4. A adição de supersimetria
e compactificação de coordenadas são as alternativas para explicar por que D = 4 é
o espaço-tempo que enxergamos dentro da teoria de cordas.
Ainda ilustrando a importância do método de quantização no cone de luz em
teorias de calibre em geral, a sua aplicação na QCD [11, 12] torna finita contribuições
de até 2 laços nos gráficos de Feynman. É esperado que divergências nas integrais de
Feynman diminuam por estarmos (por esse método) eliminando uma das variáveis
CBPF-MO-005/02 14

de integração.
Pelo outro lado, o método de quantização covariante visa preservar a invariância
de Lorentz do inı́cio ao fim. Para que isso se concretize, é preciso ignorar a existência
de vı́nculos (simetrias) na teoria e realizar o procedimento canônico de quantização.
Porém, a relação de comutação de variáveis covariantes envolve a métrica do espaço-
tempo que é de tipo indefinida (nem positiva, nem negativa em todos os seus termos).
A métrica do espaço de Hilbert correspondente será também indefinida, o que implica
na perda de unitariedade (conservação da probabilidade) e na existência de estados
de norma negativa (fantasmas). Para sanar este problema, resta restabelecer os
vı́nculos existentes na teoria. Os vı́nculos são impostos posteriormente nos estados,
uma vez que estes não são compatı́veis com as relações de comutação da teoria.
Impostos os vı́nculos, é preciso checar se os estados fantasmas estão desacoplados
para se recuperar a unitariedade. Novamente a condição para que isso ocorra será
quando a dimensão do espaço-tempo for menor ou igual a 26.
Embora consigamos realizar a quantização da corda bosônica mantendo a uni-
tariedade e a invariância de Lorentz, um sério percalço surge na quantização: o
estado fundamental da corda é taquiônico (velocidade acima da luz ou m2 < 0). Tal
obstáculo só é sanado acrescentando supersimetria à teoria de cordas.

2.3.1 Quantização no Cone de Luz


Sobre as liberdades das simetrias internas da folha de universo, escolhamos um
calibre onde possamos especificar sua métrica intrı́nseca gab = ηab (+, −) na ação
de Polyakov, onde ηab é a métrica de Minkowski de um espaço de 2 dimensões .
Deixando os campos da métrica de ser variáveis livres do sistema, sua respectiva
corrente de simetria, o tensor energia-momento, tem que ser obrigatóriamente nula.
Tal condição gerará o vı́nculo de nossa teoria, que obteremos a seguir.
Primeiramente, notemos que para a escolha da métrica gab = ηab a ação de
Polyakov toma a forma:
 
T
S=− dσdτ (Ẋ)2 − (X  )2 (2.26)
2

onde os ı́ndices covariantes e contravariantes estão contraı́dos. Recorrendo à equação


CBPF-MO-005/02 15

(2.15), temos que os vı́nculos Tab = 0 se traduzem em:

T01 = T10 = Ẋ · X  = 0
1 2
T00 = T11 = (Ẋ 2 + X  ) = 0 (2.27)
2

onde tomamos o ı́ndice 0 para o parâmetro τ e o ı́ndice 1 para σ em gab .


Usando a ação (2.26), os momentos (2.19) e a equação de movimento (2.20) se
tornam

pµσ = −T X 
µ
pµτ = T Ẋ µ , (2.28)
(∂σ2 − ∂τ2 )X µ = 0 (2.29)

A equação de movimento (2.29) possui como solução geral a soma de campos


que se movem à velocidade da luz (c = 1) para a direita e esquerda.

µ
X µ (σ, τ ) = XD (τ − σ) + XEµ (τ + σ) (2.30)

Para as cordas fechadas de comprimento parametrizado em l = 2π, adicionamos


a periodicidade como condição de contorno

X µ (σ, τ ) = X µ (σ + 2π, τ ) (2.31)

que nos permite escrever a solução geral periódica de X µ na forma de série expo-
nencial de Fourier

1 1 i 1
µ
XD (τ − σ) = xµ + (τ − σ)pµ + √ αnµ exp(−in(τ − σ))
2 4πT 2 2πT n=0 n
1 1 i 1
XEµ (τ + σ) = xµ + (τ + σ)pµ + √ αnµ exp(−in(τ + σ)) (2.32)
2 4πT 2 2πT n
n=0

com xµ e pµ sendo respectivamente posição e momento do centro de massa da corda.


Como queremos que X µ sejam reais, teremos sempre para os conjugados complexos
µ µ
α−n = αnµ∗ e α−n = αnµ∗ .
Para as cordas abertas, com comprimento parametrizado em l = 2π, relem-
CBPF-MO-005/02 16

bramos a condição de contorno (2.22)

∂σ X µ (σ = 0) = ∂σ X µ (σ = 2π) = 0

que obriga αnµ = αnµ e vincula os movimentos esquerda/direita da corda. Neste caso,
temos como solução

1 µ i 1 µ
X µ (σ, τ ) = xµ + p τ+√ αn exp(−inτ ) cos(nσ) (2.33)
2πT 2πT n=0 n

Para realizarmos a quantização da corda, transformando αnµ , xµ e pµ em op-


eradores precisamos encontrar e eliminar uma liberdade de calibre que não está
aparente. Checando a contagem dos graus de liberdade e vı́nculos impostos até
agora, conforme comentado anteriormente, a ação de Polyakov, devido as suas sime-
trias, tem 3 graus de liberdade e nós só impusemos 2 vı́nculos (eq. 2.27) no sistema
por escolha de calibre. Portanto, antes da quantização, ainda devemos escolher um
calibre que quebre uma liberdade do sistema. Esta liberdade podemos identificar
como uma invariância de reparametrização residual. Pelos vı́nculos em (2.27), re-
conhecemos que as tangentes Ẋ µ (σ, τ ) e Xµ (σ, τ ) da folha de universo em (σ, τ ) são
ortogonais, mas não existe uma direção preferencial destas tangentes sobre o plano
tangente em (σ, τ ). Para analisarmos esta parametrização residual, vamos supor que
existem duas parametrizações (σ, τ ) e (σ, τ ) que satisfaçam (2.27). Sabendo que

∂X ∂X ∂ τ ∂X ∂ σ
= +
∂τ ∂ τ ∂τ ∂ σ ∂τ

Podemos deduzir que

∂2 ∂2 ∂2 ∂2
− σ=0 e − τ =0 (2.34)
∂τ 2 ∂σ 2 ∂τ 2 ∂σ 2

Este resultado poderı́amos ter visto de outra forma: os vı́nculos (2.27) colocam
gab no calibre conforme, e portanto as transformações de σ ± = τ ± σ são sempre
holomórficas, onde se verifica sempre

∂2 ∂2
∂+ ∂− σ ± (σ+ ,σ− ) = − σ ± (σ+ ,σ− ) = 0
∂τ 2 ∂σ 2
CBPF-MO-005/02 17

As reparametrizações τ (σ, τ ) e σ(σ, τ ) satisfazem as mesmas equações que X µ (σ, τ ).


Logo, temos a liberdade de escolher um calibre tal que uma das coordenadas internas
(σ, τ ) da folha de universo seja igual a um dos campos X µ . Escolhemos identificar
a coordenada do cone de luz com o parâmetro τ

1 +
X + = x+ + p τ (2.35)
2πT

onde trocamos no espaço de coordenadas X 0 e X 1 por X ± = √1 (X 0 ± X 1 ). O


2
produto escalar covariante se torna: pµ Xµ = p+ X − + p− X + − p X , onde os termos
i i

com ı́ndices i dobrados são somados para i = 2, ..., D. Utilizando os vı́nculos em


(2.27) e a definição de X + somos capazes de determinar x − , p− e αn− , coeficientes
da expansão de X − .
Recordando (2.25),

pτ · X  = p+
τ X
−
+ p−
τ X
+
− piτ X i = 0, i = 2, ..., D

mas X + = 0, p+ + i i
τ = p /2π e de (2.29) pτ = T Ẋ . Logo,

2πT i i
X − = Ẋ X (2.36)
p+

A outra equação em (2.25) fornece

pτ · pτ + T 2 X  · X  = 0 = 2p+ − i i 2 + −
τ pτ − pτ pτ + T (2X X − X i X i )

e portanto

p− πT
Ẋ − = τ
= + (X i X i + Ẋ i Ẋ i ) (2.37)
T p

Somando (2.36) e (2.37)

πT
X − + Ẋ − = (X i + Ẋ i )2 (2.38)
p+
CBPF-MO-005/02 18

Se expressarmos X − numa expansão de Fourier

− −p− τ i  αn− −inτ


X (τ, σ) = x + + √ e cos nτ para a corda aberta (2.39)
2πT 2πT n

e para a corda fechada

− α0− i  αn− −in(τ ±σ)


XD (τ − σ) = x−
D + τ+√ e
2πT 2πT n
− − α0− i  αn− −in(τ ±σ)
XE (τ + σ) = xE + τ+√ e (2.40)
2πT 2πT n

e aplicando a expansão de X − e X i em (2.38), igualando os coeficientes de igual


expoente, determinamos

− 2πT  i i
αm = α α para a corda aberta (2.41)
2p+ n n m−n

e
√ √
− 2πT  i i − 2πT  i i
αm = αn αm−n ; αm = αn αm−n para a corda fechada (2.42)
p+ n
p+ n

e em especial para a corda fechada, encontramos que

α0− = α0− (2.43)

Agora podemos realizar a quantização estabelecendo os comutadores entre os


campos, para i, j = 2..D

[x− , p+ ] = −i, [X i (σ, τ ), pjτ (σ  , τ )] = iδij δ(σ − σ  ) (2.44)

As implicações destas relações para as cordas abertas e fechadas são semelhantes


e as trataremos em paralelo, acrescentando as contribuições dos operadores anti-
holomórficos αnµ existentes nas cordas fechadas. Aplicando a expansão de Fourier de
CBPF-MO-005/02 19

X i e pjτ = T Ẋ j obtemos a relação de comutação

[xi , pj ] = iδij , [αni , αm


j
] = nδij δn+m e em adicional,
 
αni , αm j
= nδij δn+m , αni , αm j
= 0 para as cordas fechadas (2.45)

j
observando que para os operadores α−n = (αnj )† como conseqüência da relação
clássica (2.33). Semelhante a uma série de osciladores harmônicos, αnj são os oper-
adores de criação (n < 0) e aniquilação (n > 0) de modo |n| de vibração da corda,
o mesmo valendo para os operadores antiholomórficos αnj .
O estado fundamental da corda aberta é tal que

αnj |0; k = 0, n > 0


pj |0, k = k j |0; k (2.46)

enquanto que a corda fechada tem números quânticos a mais relativo aos modos
anti-holomórficos

αnj |0, 0; k = 0, αnj |0, 0; k = 0 n > 0


pj |0, 0; k = k j |0, 0; k (2.47)

Continuando a quantização, vamos determinar o operador Hamiltoniano. Como


as variáveis X + e X − não são dinâmicas, O Hamiltoniano no calibre do cone de luz
se torna
     
T i 2 i 2 1
dσ (piτ )2 + T 2 (x )2 e usando os vı́nculos,
i
H= dσ (ẋ ) + (x ) =
2 2T
+ −
p p
= (2.48)
2πT

Colocando o Hamiltoniano em função dos operadores alfa,


 +∞
1

 2 m=−∞
i
αm i
α−m para a corda aberta,
H= e (2.49)

 +∞ i i i i
m=−∞ αm α−m + αm α−m para a corda fechada
CBPF-MO-005/02 20


onde α0i = pi / 2πT . Se aplicarmos o ordenamento criação-aniquilação no Hamilto-
niano, afim de evitarmos ambiguidades, temos


+∞
pi pi
H= i
: α−m i
αm :+ −a
m=1
4πT
para a corda aberta e
 +∞ 
 pi pi
H=2 i i i i
: α−m αm : + : α−m αm : + − 2a
m=1
2πT
D−2

para a corda fechada, com a = − n (2.50)
2 n=1

O parâmetro a assim definido é infinito. Ele necessita passar por um processo de


regularização para que um valor fı́sico possa ser extraı́do dele. Seu valor é importante
para a determinação da energia e massa da partı́cula no estado fundamental. A
regularização deste termo se procede multiplicando um termo de atenuação de altos
modos

  d  −nλ 
∞ ∞
n → lim n exp(−nλ) = − e
n=1
λ→0
n=1

 −2 1 1
= lim e−λ 1 − e−λ = lim 2
− + O(λ) (2.51)
λ→0 λ→0 λ 12

A adição de um contratermo no Hamiltoniano



n2 λ exp(−2nλ)
n=1

evanescente no limite λ → 0, mas cuja contribuição de energia cancela o termo


infinito λ−2 , mostra que este infinito não tem significado real e pode eliminado.
Logo,

D−2
a= (2.52)
24

Os termos sob ordenamento normal em (2.50) realizam a contagem dos números


quânticos de cada modo multiplicados pela energia deste modo, totalizando a energia
CBPF-MO-005/02 21

da partı́cula a menos da contribuição do estado fundamental. Para simplificar ,


designemos


+∞ 
+∞
i i i i
N= : α−m αm : e N= : α−m αm : (2.53)
m=1 m=1

Podemos obter as massas dos estados da corda a partir dos autovalores do oper-
ador M 2 . Utilizando (2.48)

M 2 = 2p+ p− − pi pi = 2πT (N − a) na corda aberta e, (2.54)


 
= 4πT N + N − 2a na corda fechada (2.55)

Conseqüentemente, para o estado fundamental da corda, o autovalor da massa


ao quadrado é

m2 = −2πT a (corda aberta) (2.56)


= −8πT a (corda fechada) (2.57)

À primeira vista, gostarı́amos de impor a < 0, mas este valor será determinado na
recuperação da simetria de Lorentz e infelizmente a < 0 não se sucederá. Por isso
enquanto estivermos falando de cordas bosônicas teremos de conviver com partı́culas
de massa quadrática negativa, o que significa que as cordas são partı́culas com
velocidade acima da luz em seu estado fundamental. Estes tipos de partı́culas,
denominadas táquions, até hoje nunca foram encontrado na natureza e sua existência
invalidaria a Relatividade Geral. A eliminação dos táquions do espéctro das cordas
se resoverá nas supercordas, que está além do escopo deste trabalho.
O estado fundamental da corda é freqüentemente referenciado como estado de
vácuo. Esta designação faz sentido no contexto em que notadamente existe uma
teoria de campos de 2 dimensões na folha de universo da corda. Nesta teoria de
campos , os operadores alfa realizam a criação e destruição de partı́culas em seus
respectivos modos e os números quânticos deste estado descreveriam a quantidade
de partı́culas em cada modo n. Nesse aspecto, o estado fundamental da corda
descreveria um vácuo (ausência de partı́culas) com sua energia residual.
Por outro lado, não podemos nos confundir com a realidade fı́sica que é expressa
CBPF-MO-005/02 22

no espaço-tempo. Neste, a corda nunca deixa de existir e não há criação ou de-
struição de cordas. Os operadores alfa atuam somente nos modos de vibração da
corda e cada estado da corda possui propriedades distintas e por isso associamos a
cada diferente estado da corda uma partı́cula diferente encontrada na natureza. Por
enquanto ainda não existe uma teoria de campos de corda consistente, portanto at-
enção é necessária ao significado da palavra vácuo designando o estado fundamental
da corda.
Realizada a quantização no calibre do cone de luz, precisamos verificar as con-
dições para a existência da invariância de Lorentz, verificando se a álgebra de Lorentz
é satisfeita para os geradores de Lorentz da teoria. Vamos agora trabalhar somente
com a corda aberta, pois o resultado final é idêntico ao obtido com a corda fechada.
Os geradores de Lorentz são as cargas conservadas das correntes de simetria obtidas
pelo Teorema de Noether:
 l  l
M µν
= dσ xµ pντ − xν pµτ =T dσ xµ ẋντ − xν ẋµτ (2.58)
0 0

e a correspondente álgebra de Lorentz que se realiza classicamente é

[M µν , M ζρ ] = iη νζ M µρ − iη µζ M νρ − iη νρ M µζ + iη µρ M νζ (2.59)

O gerador M µν expandido nos operadores alfa se torna

∞
1 µ ν
M µν
=x p −x p −i
µ ν
(α−n αn − α−n
ν µ ν
αnµ ) (2.60)
n=1
n

sendo os resultados (2.58), (2.59) e (2.60) escritos na parametrização covariante


do espaço-tempo. Na parametrização do cone de luz, classicamente terı́amos os
geradores M −i na forma

1
M −i = √ (M 0i − M 1i ) (2.61)
2

e que aplicado na álgebra de Lorentz produziria,

[M −i , M −j ] = 0 (2.62)
CBPF-MO-005/02 23

Porém isto não ocorre quando trabalhamos quanticamente utilizando M −i expandido


em operadores alfa. M −i envolve αn− que é quadrático em αni e portanto M −i é
cúbico em αni , que acarreta em um problema de comutação entre estes operadores.
A introdução do ordenamento faz aparecer parcelas com o termo a (2.52) que não
se cancelam. O resultado do operoso cálculo dos comutadores é
∞ 
 
−i −j 2 1 1 1
[M , M ]= m(1 − (D − 2)) + ( (D − 2) − a) (α−m
i j
αm − α−m
j
αmi
)
(p+ )2 m=1
24 m 24
(2.63)

Portanto a invariância de Lorentz só é recuperada para

a=1 e D = 26 (2.64)

anulando o lado direito de (2.63), em concordância com a álgebra de Lorentz.


Os outros geradores de Lorentz não apresentam anomalia alguma. Em M ij as
constantes de ordenamento são canceladas pela anti-simetria do gerador e em M +i
αn+ = 0 apaga a contribuição dos operadores modais alfa neste gerador.
A esse valor fixo da dimensão espaço-temporal D, necessário para a manutenção
da simetria de Lorentz e Weyl (cap. 4) damos o nome de dimensão crı́tica. Cordas
não crı́ticas, isto é, que existem em espaço de dimensão não crı́tica, necessitam da
adição de um campo extra para contrabalancear a perda de simetria destas e serão
apresentadas no capı́tulo 5.
Existe um esquema para reduzir a dimensão crı́tica D utilizando o método de
paraquantizaçãono calibre do cone de luz [13]. A paraquantização consiste numa
flexibilização do método canônico de quantização pela definição dos em termos de q
paraoperadores com simetria interna SO(q):


q
i
X = X iα
α=1

e determinação das relações de comutação destes. Por esse método a dimensão


crı́tica alcança o valor

24
D =2+
q
CBPF-MO-005/02 24

e portanto para q = 12, D = 4. O valor de a se mantém inalterado. Por mais


interessante que seja o resultado, o significado fı́sico dos paraoperadores não é bem
compreendido e tal método não é muito citado na literatura clássica de cordas.
Como conseqüência do resultado (a = 1), voltamos a afirmar que, segundo (2.56)
e (2.57), os estados fundamentais das cordas aberta e fechada se tornam taquiônicos.
O primeiro estado excitado da corda aberta no modo mais baixo (n = 1)

i
α−1 |0; p (2.65)

é um vetor de polarização i transversa a propagação no cone de luz e de massa zero


(2.56) e por isso o identificamos com o fóton.
Na corda fechada, a restrição clássica (2.43) impõe que os estados da corda sejam
tais que N|α = N |α e o primeiro estado da corda de menor energia é do tipo

i
Cij α−1 j
α−1 |0, 0; p (2.66)

que possui massa zero. Existem 242 estados que combinados pelos coeficientes Cij
podem gerar estados de partı́culas de 3 tipos: grávitons, dı́latons e o estado tensor
antisimétrico. Uma matriz (C)24×24 pode ser decomposta em 3 termos:

(C) = (G) + (B) + Φ (I) (2.67)

onde Φ = T r(C)/24 e (I) é a matriz identidade; (G) é uma matriz simétrica de


traço nulo e (B) é uma matriz antisimétrica. Os estados do tipo

i
Gij α−1 j
α−1 |0, 0; p (2.68)

são os grávitons, por serem de spin 2, simétricos e sem massa, tal como é requerido
pela gravitação quântica para a quantização da métrica do espaço-tempo.
O estado definido por um único escalar

i
Φα−1 i
α−1 |0, 0; p (2.69)

é definido como o dı́laton.


CBPF-MO-005/02 25

E o estado definido por uma matriz antisimétrica

i
Bij α−1 j
α−1 |0, 0; p (2.70)

é chamado de estado tensor antisimétrico.

2.3.2 Quantização Covariante


Na quantização covariante, partimos dos estabelecimento das relações de comutação
nos campos no calibre covariantes a despeito dos vı́nculos da teoria.

[X µ (σ, τ ), pντ (σ  , τ )] = −iη µν δ(σ − σ  )


[X µ (σ, τ ), X ν (σ  , τ )] = [pµτ (σ, τ ), pντ (σ  , τ )] = 0 (2.71)

onde designamos η µν (+ − −... − −) a métrica de Minkowski no espaço-tempo de D


dimensões. Temos liberdade para escolher a métrica interna e fazemos gab = ηab ,
o que acarreta nos mesmos vı́nculos Tab = 0 que em (2.27). Conforme dissemos
anteriormente, os vı́nculos não podem ser estabelecidos sobre os operadores e serão
condição de diferenciação dos estados fı́sicos dos estados fantasmas.

 fı́s|Tab |fı́s = 0 (2.72)

A equação de movimento da corda é a mesma que em (2.29) e as condições


de contorno continuam sendo (2.22) e (2.31) para respectivamente cordas abertas
e fechadas. Como resultado, o campo X µ segue a solução (2.30) e sua expansão
de Fourier segue (2.33). Fazendo uso dessa expansão a relação de comutadores no
calibre covariante implica que

[xµ , pν ] = −iη µν µ
[αm , αnν ] = −mδm+n η µν (2.73)
e em adicional para a corda fechada,
µ
[αm , αnν ] = −mδm+n η µν µ
[αm , αnν ] = 0 (2.74)

De forma equivalente à quantização no calibre do cone de luz, poderı́amos con-


µ
siderar αm operadores de criação e aniquilação para m < 0 e m > 0 respectivamente.
CBPF-MO-005/02 26

Porém o comutador dos operadores com ı́ndice covariante zero possui o sinal inver-
tido que leva ao surgimento de estados de norma negativa, ditos fantasmas. Por
exemplo, numa corda aberta (m > 0),

0 0 0 0
 0; p |αm α−m | 0; p =  0; p |[αm , α−m ]| 0; p = −m (2.75)

Vamos desenvolver as condições (2.72) em forma de operadores para a aplicarmos


sobre os estados fı́sicos da corda. De agora em diante trabalhamos somente com a
corda fechada pois a corda aberta possui resultados semelhantes. Dividindo X µ em
µ
campos que se deslocam para a direita XD (τ − σ) e para esquerda XEµ (τ + σ), e
usando que

µ
µ
(∂τ + ∂σ )XD = 0 → ẊD
µ
= −XD (2.76)

(∂τ − ∂σ )XEµ = 0 → ẊEµ = XEµ (2.77)

obtemos no lugar das equações vı́nculos



Ẋ · X  = ẊD 2
+ ẊE2 = 0 

2
e → ẊD = ẊE2 = 0 (2.78)


1
2
(Ẋ 2 + X  2 ) = ẊD
2
− ẊE2 = 0

2
Podemos expandir ẊD em série exponencial,

1 

2
ẊD =− Lm e−im(τ −σ) (2.79)
4πT m=−∞

O lado esquerdo da equação acima pode ser refeito substituindo X µ pela sua ex-
pansão (2.32). Os coeficientes Lm ficam portanto determinados

1 

Lm = − αn · αm−n (2.80)
2 n=−∞
CBPF-MO-005/02 27

escrito em notação de produto escalar covariante. Analogamente,

1 

ẊE2 =− Lm e−im(τ −σ) (2.81)
4πT m=−∞

1 

Lm = − αn · αm−n (2.82)
2 n=−∞

onde


α0µ = √ (2.83)
2 2πT

Por conseqüência de (2.79) e (2.81), os vı́nculos clássicos (2.78) aplicados nos


estados implicam que para Lm e Lm transformados em operadores,

Lm |fı́s = Lm |fı́s = 0 para m > 0 (2.84)

O caso m < 0 está considerado na equação acima uma vez que Lm = L†−m atua
sobre o bra de (2.72), compondo a mesma equação acima, em outra forma:

 fı́s|L†m =  fı́s|L†m = 0 para m > 0 (2.85)

Para m = 0 voltamos a ter que definir um ordenamento entre os operadores. Escol-


hendo o ordenamento criação-destruição, precisamos modificar (2.84) para

(L0 − a)|fı́s = (L0 − a)|fı́s = 0 (2.86)

sendo a novamente uma constante de ordenamento. Escrevendo L0 por extenso,

1 ∞
p2 ∞
L0 = − α02 − α−n · αn = − α−n · αn (2.87)
2 n=1
8πT n=1

com resultado análogo para L0 . O espectro de massa dos estados fı́sicos M 2 = p2 é


CBPF-MO-005/02 28

por conseguinte,
   

∞ 

M 2 = −8πT a+ α−n · αn = −8πT a+ α−n · αn (2.88)
n=1 n=1

Note que a equação acima oferece o mesmo espectro de massa que em (2.55) para
a = 1.
Trabalhando-se com a relação de comutação dos operadores alfa, pode-se chegar
a álgebra de Virasoro com extensão central

D 3
[Lm , Lm ] = (m − n)Lm+n + (m − m)δm+n (2.89)
12

ou seja, {Lm } são geradores de Virasoro.


Estados quaisquer que satisfazem a relação (2.84) e (2.86), considerados estados
fı́sicos, só são livres de possuir norma negativa para a = 1 e 1 ≤ D ≤ 26 ou a < 1
e 1 ≤ D ≤ 25, mostrado por Brower, Goddard, Thorn e outros [14, 15, 16]. Este
resultado da quantização covariante é uma condição menos restritiva que a imposição
a = 1 e D = 26 na quantização no cone de Luz (2.64).
Em adicional, conseguimos implementar uma quantização com um número de
variáveis independentes maior que do que no sistema clássico, sujeito aos vı́nculos
(2.27). Em compensação houve uma redução do espaço dos estados de Fock na
quantização covariante em relação a quantização no cone de luz.
Um exemplo de interesse na quantização covariante é mostrarmos que os fótons
longitudinais estão excluı́dos, tal como acontece na quantização no cone de luz.
Basta verificarmos que eles tem norma zero e portanto não são estados fı́sicos. O
fóton longitudinal é uma excitação de modo n = 1 do estado fundamental de uma
corda aberta na direção do momento k, com este no cone de luz (k 2 = 0). Ou seja,

|fóton = p · α−1 |0; k = k · α−1 |0; k (2.90)

e sua norma será

fóton|fóton = 0; k|α1 · kk · α−1 |0; k =


k 2 0; k|[α1µ , α−1µ ]|0; k = 0 (2.91)
CBPF-MO-005/02 29

Em relação a simetria de Lorentz, esta é preservada e pode-se mostrá-la sem


dificuldades, através da obediência dos geradores M µν à álgebra de Lorentz. Nos
limitaremos a comentar que pela inexistência de operadores α− , M µν possui entre
os termos em αµ apenas os quadráticos, cujas constantes de ordenamento são elim-
inadas pela anti-simetria de M µν e nenhuma anomalia quântica é acrescentada à
álgebra de Lorentz.
Capı́tulo 3

Teoria de Campos Conformes

Sabemos que classicamente existe uma simetria conforme na folha de universo e


é de nosso desejo (por razões a serem esclarecidas no próximo capı́tulo) que es-
sa simetria seja preservada após a quantização da corda. Neste capı́tulo vamos
estudar um processo de quantização numa condição em que a simetria conforme
(Weyl×Difeomorfismo) é claramente preservada e veremos suas propriedades no es-
paço de operadores quânticos. Esta condição é a restrição a uma métrica plana para
a folha de universo.

3.1 CFT no Plano Complexo


A folha de universo de uma corda aberta, conexa, sem furos ou alças é conformal-
mente equivalente ao plano complexo C (ver sec. 4.6.1). Podemos ver isso transfor-
mando a métrica da folha de universo por meio de difeomorfismo e transformações
de Weyl na métrica da superfı́cie plana. Essa superfı́cie plana possui uma estrutura
complexa ao relacionarmos as transformações de rotação com as rotações no plano
complexo.
Escolhida a métrica plana para a folha de universo no espaço de Minkowski,

g00 = −g11 = −1; g01 = g10 = 0 (3.1)

vamos aplicar uma transformação para o espaço Euclidiano σ 2 = iσ 0 que possui


maiores vantagens para o cálculo e cujos resultados são equivalentes, por extensão
CBPF-MO-005/02 31

analı́tica, aos resultados no espaço de Minkowski. A métrica Euclidiana é então do


tipo (+,+) δab com a, b = 1, 2 e a ação de Polyakov (2.10)

1
S= (∂1 X µ ∂1 Xµ + ∂2 X µ ∂2 Xµ ) (3.2)
4πα

A transformação das coordenadas da folha de universo para as coordenadas do


plano complexo se dá segundo: z = σ 1 + iσ 2 e z̄ = σ 1 − iσ 2 (σ 1,2 parâmetros internos
da folha de universo), e usando a notação ∂ = ∂z e ∂¯ = ∂z̄ , a ação de Polyakov se
torna,

1
S= d2 z∂X µ ∂X
¯ µ (3.3)
2πα

Podemos ver que sua equação clássica de movimento será:

¯ µ=0
∂ ∂X (3.4)

De (3.4) concluı́mos que os campos X µ (z, z̄) são a soma de funções holomórficas e
antiholomórficas de z, conforme vimos em capı́tulo anterior (2.17). Rearranjando
¯
as derivações parciais, percebe-se que ∂X(z) e ∂X(z̄) são funções holomórficas e
anti-holomórficas de z respectivamente e por isso omitiremos a notação (z, z̄) de
parâmetros.
A quantização na folha de universo segue da substituição das variáveis clássicas
por operadores. Tais operadores poderão compor uma ação conformalmente invari-
ante e possuir determinados pesos sob transformação conforme. Para encontrar as
propriedades dos operadores precisamos fazer um estudo sobre os geradores do grupo
de simetria conforme.
Veremos a seguir que o grupo de simetria conforme age segundo o espaço de
transformações holomórficas e anti-holomórficas

z  = f (z) e z̄  = k(z̄) respectivamente.

Por haver um mesmo comportamento entre as transformações holomórficas e anti-


holomórficas, trataremos de agora em diante apenas das holomórficas, fazendo menção
ao anti-holomorfismo quando necessário.
CBPF-MO-005/02 32

Observamos uma condição para a simetria conforme ao aplicarmos a variação da


ação por dilatação da métrica:

transformação: gab = eω ĝab (3.5)


δS δgab δS
= ∝ gab T ab = T a a (3.6)
δω δω δgab

Logo, o traço do tensor energia-momento da corda precisa ser nulo. Isso se traduz
em coordenadas do plano complexo:

T a a = Tz z̄ = Tz̄z = 0 (3.7)

Portanto as componentes do tensor energia-momento serão somente duas:

Tzz (z) = T (z) e Tz̄ z̄ (z̄) = T̄ (z̄)

correntes geradoras de transformações holomórficas e antiholomórficas, respectiva-


mente.
O teorema de Noether nos mostra que a invariância da ação a transformações
infinitesimais dos campos implica na conservação de correntes das simetrias j, assim
conhecidas por respeitarem, semelhante a corrente de cargas elétricas, a equação de
conservação:

∇·j = 0

As correntes de dilatação (ou corrente de escala) e translação, existentes na folha de


universo são:

translação δz = 2a → j = T (z) , a = constante


dilatação δz = 2z → j = zT (z) (3.8)

e para uma transformação conforme mais geral

δz = f (z) → j = f (z)T (z) (3.9)

A função analı́tica f (z) pode ser escrita numa espansão da série de Laurent em
CBPF-MO-005/02 33

torno da origem:


+∞
fn
f (z) =
n=−∞
z n−1

e o operador que transforma z seria:


 

+∞
fn
δz = F (z)z = f (z) → F (z) = ∂
n=−∞
z n−1

O operador F (z) é na verdade uma combinação de infinitos termos que são a base
do grupo de operadores de transformação conforme,

Ln = z 1−n ∂ (3.10)

cuja álgebra de comutação é a bem conhecida álgebra de Virasoro:


 
[Lm , Ln ] = [z 1−m ∂, z 1−n ∂] = z 1−m ∂z 1−n − z 1−n ∂z 1−m ∂ =
(m − n)z 1−m−n ∂ = (m − n)Lm+n (3.11)

com resultado análogo para os operadores anti-holomórficos L̄n e Lm , L̄n = 0 como
se poderia naturalmente esperar. De uma forma mais geral, a corrente j transforma
conformalmente outros campos (primários, a serem vistos) e a expressão de Ln é
mais geral do que a apresentada (3.10), mas a álgebra de Virasoro acima se mantém
válida a menos de uma extensão .
Até agora admitimos sem contestação a existência da simetria conforme. Para
constatarmos a existência de simetria conforme numa folha de universo de métrica
plana, precisamos verificar a condição (3.7). O Tensor energia-momento (2.15) de
uma folha de universo com métrica plana se torna:

1
Tab = ∂a X µ ∂b Xµ − δab ∂c X µ ∂ c Xµ (3.12)
2

que notadamente possui traço nulo

T a a = δ ab Tab = T11 + T22 = 0


CBPF-MO-005/02 34

Há um porém: o tensor acima não está bem definido quanticamente devido a
um problema de ordenamento de operadores atuando no mesmo ponto e que será
tratado adiante. Mesmo assim o resultado é correto por haver cancelamento por
subtração dos termos de ordenamento do tensor quântico.

3.2 A Identidade de Ward


Para sabermos como os operadores se transformam com a corrente de simetria
f (z)T (z), precisamos de uma relação semelhante a que conhecemos na mecânica
quântica

δA = [G, A] (3.13)

A preservação da corrente de simetria conforme obtida pelo teorema de Noether,


é uma garantia da invariância da ação perante transformações conformes. Porém,
nosso interesse é que haja preservação do valor esperado de um operador qualquer
obtido através de inserção deste na ação quântica (ou funcional gerador ou integral):

A = [dX]A exp(−S) (3.14)

onde, relembrando o formalismo de integração de caminho, não há operadores dentro


da integral, mas valores numéricos. Ao aplicarmos a variação do valor esperado
sob transformações conformes, os campos X µ não se transformam. Caso contrário
terı́amos que considerar variações da medida de integração:

0 = δ A = [dX]δ (A exp(−S)) =
= δA − AδS (3.15)
CBPF-MO-005/02 35

A variação da ação ocorre segundo a corrente de simetria j = f (z)T (z):



1
δS = d2 σ∂µ (fν T µν )
π R

1
= d2 z ∂¯ (f (z)T (z)) =
π R

1
dzf (z)T (z) (3.16)
2πi C

onde R é a região onde a corrente não se anula e C seu contorno. O resultado (3.16)
assim exposto deve ser zero, pela conservação da corrente de simetria ∇j = 0 e
esperamos que isso se realize quanticamente, com δS = 0, mas não necessariamente
AδS se anula. Trabalhando com as equações (3.15) e (3.16), obtemos:

1
δA(z0 ) = dzf (z) T (z)A(z0 )
2πi C

sendo (z0 ) no interior do contorno C. Caso (z0 ) estivesse fora do contorno, poderı́amos
considerar variações infinitesimais tal que um novo contorno C  em torno de z0 es-
tivesse completamente exterior a C. Nessa região a corrente de simetria se anula
e terı́amos δA = 0. Considerando que a equação acima é válida para quaisquer
inserções de operadores, ela também deve ser válida no espaço de operadores

1
δA(z0 ) = dzf (z)T (z)A(z0 ) (3.17)
2πi C

Tal equação é a identidade de Ward, adequada às nossas condições de trabalho.


O termo do lado direito de (3.17), o resı́duo de jA, é em outras palavras o termo
z −1 da espansão de Laurent de jA e a inserção de operadores no interior de C é
responsável pelos resı́duos que antes não existiam. Portanto, nos será relevante, afim
de obter a transformação conforme dos operadores, calcular o produto de operadores
T A, dando especial atenção aos termos de singularidade (resı́duos) deste produto.
Um passo imediatamente anterior será determinar um tensor energia-momento bem
definido no plano complexo.
CBPF-MO-005/02 36

3.3 Ordenamento Normal


Para preservar as simetrias clássicas, queremos que a equação de movimento (3.4)
seja preservada. Quanticamente, o valor esperado de um operador é o limite clássico
da variável clássica correspondente. No formalismo de integrais de caminho, o valor
esperado de um funcional está descrito em (3.14). A equação de movimento que se
realiza classicamente pelo caminho que extremiza a ação (ou está num ponto de sela
desta) tem uma equação correspondente pela integração de caminho (3.14).
Para verificarmos a equação de movimento, façamos a derivação

δ δ
1 = 0 = [dX] exp(−S)
δXµ (z, z̄) δXµ (z, z̄)

δS
= − [dX] exp(−S)
δXµ (z, z̄)
1 !
= ∂ ¯ µ (z, z̄)
∂X (3.18)
πα

A equação acima implica que no espaço de operadores,

∂ ∂¯X̂ µ (z, z̄) = 0 (3.19)

O resultado em (3.18) não deve ser alterado se fizermos inserções em pontos distintos
de (z, z̄).

δ
0= [dX] [exp(−S)X ν (z  , z̄  )]
δXµ (z, z̄)
 
δS
= − [dX] exp(−S) X (z , z̄ ) + [dX] exp(−S)η µν δ 2 (z − z  , z̄ − z̄  )
ν  
δXµ (z, z̄)
1 ¯ µ !
= 
∂ ∂ X (z, z̄)X ν (z  , z̄  ) + η µν δ 2 (z − z  , z̄ − z̄  )
πα !
→ ∂ ∂¯ X µ (z, z̄)X ν (z  , z̄  ) = −πα η µν δ 2 (z − z  , z̄ − z̄  ) (3.20)

Note que as derivadas parciais acima são no ponto z e z̄ respectivamente.


De fato, para dada ação em questão , um cálculo rigoroso da função de Green
CBPF-MO-005/02 37

de 2 pontos de campos escalares nos fornece:

α µν
X µ (z, z̄)X ν (w, w̄) = − η ln |z − w|2 (3.21)
2

o que confirma o resultado anterior. Isso mostra que a função correlação de 2 pontos
não é bem definida quando esses 2 pontos coincidem. É um problema conhecido da
teoria de campos que é corrigido por um ordenamento dos operadores na função de
Green. No caso, definimos o ordenamento normal:

α µν
: X µ (z, z̄)X ν (w, w̄) := X µ (z, z̄)X ν (w, w̄) + η ln |z − w|2 (3.22)
2

e conseqüentemente,

∂ ∂¯ : X µ (z, z̄)X ν (z  , z̄  ) := 0 (3.23)

Precisamos estender essa idéia de ordenamento normal para o caso de produto


de mais de 2 operadores e entre operadores ordenados. Intuitivamente basta sub-
stituirmos (ordenarmos) cada par de operadores não ordenados pelo par ordenado
mais a singularidade. Uma realização disso já existe e é aplicável em nosso ca-
so: o teorema de Wick. Seja F (X) um funcional de X, produto não ordenado de
operadores.

α δ δ
: F := exp d2 z1 d2 z2 ln |z12 |2 F (3.24)
4 δX µ (z1 , z̄1 ) δXµ (z2 , z̄2 )

No caso de um produto não ordenado de operadores ordenados, invertendo a ex-


pressão anterior e vinculando a a ordenação de pares com um termo de cada operador
(F e G), temos:

α δ δ
: F :: G : = exp − d2 z1 d2 z2 ln |z12 |2 : F G : (3.25)
4 δXFµ (z1 , z̄1 ) δXGµ (z2 , z̄2 )

Uma vez definido o produto ordenado, podemos redefinir o tensor energia-momento


T (z). Classicamente, vimos que o tensor energia-momento se anula (2.15). Porém
quanticamente isso não acontece. O tensor clássico (2.15) envolve o produto de
variáveis no mesmo ponto. Quanticamente precisamos trabalhar com operadores
CBPF-MO-005/02 38

ordenados para que eles estejam bem definidos. Em variáveis do plano complexo,
temos:

1
T (z) = − : ∂X µ (z)∂Xµ (z) : (3.26)
α

Agora, para encontrarmos os resı́duos T A de (3.17), basta que expressemos este


produto em função de sua forma ordenada (regular) mais singularidades. Os termos
regulares não produzirão resı́duo algum enquanto que o termo singular de ordem z −1
comporá o resı́duo. Para exemplificar, obtemos a transformação do campo X ν no
ponto (0, 0), a partir da corrente infinitesimal 2f (z)T (z) de transformação conforme.
Expandindo T X em termos ordenados e singulares:

1 1 ∂X ν
T (z)X ν (0, 0) = − : ∂X µ
∂Xµ : X ν
(0, 0) = − : ∂X µ
(z)∂X µ (z)X(0, 0) : +
α α z

Lembramos que f (z) deve ser regular em torno da origem e podemos decompô-lo
em série de Taylor. Aplicando o resultado acima em (3.17):
"  #
∞
1 (n) ∂X ν
δX ν = (X  (2f (z)) − X(z))z→0 = 2Resz→0 f (0)z n = 2f (0)∂X ν
n=0
n! z

que é a expansão de Taylor de primeira ordem de δz = 2f (z), ou seja, a corrente


de simetria conforme não realiza uma variação na forma de X, mas apenas uma
reparametrização. Logo,

X  (z) = X(z) (3.27)

o que caracteriza uma transformação conforme.


CBPF-MO-005/02 39

3.4 Campos primários


Entre os operadores existe uma classe especial chamada de campos primários ou
conformes que se transformam da seguinte forma [17, 18]

z → z  = w(z), z̄ → z̄  = w̄(z̄)
φ(z, z̄) → φ (w, w̄) = (∂z w)−h (∂z̄ w̄)−h̄ φ(z, z̄) (3.28)

onde (h, h̄) é o peso conforme de φ e h + h̄ sua dimensão de escala. Pode-se verificar
pela identidade de Ward, que o seu produto com o tensor energia-momento deve ser

h ∂φ(0, 0)
T (z)φ(0, 0) = φ(0, 0) + + termos regulares (3.29)
z2 z

onde o primeiro termo é responsável pelas transformações de escala e o segundo


resulta da expansão de Taylor. Não há termos de maior singularidade por não
respeitarem transformações segundo (3.28). Existe um número seleto de campos
primários e nem todo produto ordenado de campos primários é um campo primário,
mas quando isso ocorre, seu peso conforme é a soma dos pesos conformes para cada
componente, holomórfico e antiholomórfico.
Alguns campos primários usuais e seus respectivos pesos conformes são

dz ≡ (−1, 0); X µ ≡ (0, 0); ∂X µ ≡ (1, 0);


¯ µ ≡ (0, 1);
∂X ∂ n ∂¯m X µ ≡ (n, m);
α k 2 α k 2
: exp(ik · X) :≡ , ; (3.30)
4 4

O peso conforme do operador exponencial em (3.30) é obtido expandindo o operador


em série de Taylor de termos ordenados.
Indaguemos agora se o tensor energia-momento T (z) é um campo primário ou
não. Tal questão é relevante, uma vez que afetará a álgebra dos geradores do grupo
conforme que compõe T . Novamente recorramos ao teorema de Wick para calcular
este produto de operadores:

D 2 1
T (z)T (0) = 4
+ 2 T (0) + ∂T (0)+ : T (z)T (0) : (3.31)
2z z z
CBPF-MO-005/02 40

Neste caso D é o número de campos X µ , isto é, a dimensão do espaço-tempo,


resultante da contração dos ı́ndices de ambos os tensores. Numa situação mais geral
o coeficiente de z −4 pode assumir outros valores e o denominamos de carga central.
Esta checagem mostra que o tensor energia-momento não é um campo primário.
Mas se o fosse, seria de peso (2, 0).

3.5 Álgebra de Virasoro


Como vimos na seção (3.1), as transformações conformes em duas dimensões pos-
suem geradores que obedecem a álgebra de Virasoro. O tensor energia-momento re-
sponsável pelas transformações conformes nos operadores deveria ser a composição
de geradores que obedecem a essa mesma álgebra. Porém, a existência da carga
central na transformação conforme do próprio tensor energia-momento (ele não se
transforma conformalmente) acarreta em modificações na álgebra inicial.
Vamos expandir o tensor energia-momento em série de Laurent em torno da
origem



Ln
T (z) = (3.32)
n=−∞
z n+2

onde Ln são chamados geradores de Virasoro. Note também a conveniência da


potência de z estar de acordo com o peso conforme de T (z), mesmo ele não sendo
um campo primário. Os geradores de Virasoro podem ser obtidos por método de
resı́duos

1
Ln = dzz n+1 T (z) = Res(z n+1 T (z))z=0 (3.33)
2πi C

para C um contorno em torno da origem. A álgebra de comutação destes operadores


pode ser obtida após o entendimento do que significa a comutação no espaço de
operadores locais em duas dimensões . Para que se estabeleça a analogia com a
equação (3.13), é preciso determinar a carga conservada inerente a uma dada corrente
CBPF-MO-005/02 41

de transformação. No plano complexo, a carga conservada, dada a corrente j, é



1
Q= dzj(z) = Resj(z) (3.34)
2πi C

Juntando (3.13) e (3.17), onde sob transformações infinitesimais, o contorno se


aproxima do ponto de inserção:

[Q, A(0, 0)] = Resz→0 j(z)A(0, 0) (3.35)

Aplicando para o caso em que as cargas conservadas são os geradores de Virasoro,

[Lm , Ln ] = Resz1 →z z1m+1 T (z1 )Resz→0 z n+1 T (z)


c 2 1
= Resz→0 z n+1 Resz1 →z z1m+1 + T (z) + ∂T (z)
2(z1 − z)4 (z1 − z)2 z1 − z
c 
n+1 3 m+1 m+1 m+1
= Resz→0 z ∂ z + 2∂z T (z) + z ∂T (z)
 c 12 
= Resz→0 (m3 − m)z m+n−1 + 2(m + 1)z m+n+1 T (z) + z m+n+2 ∂T (z)
12
o terceiro termo pode ser modificado por integração parcial
c 
3
= Resz→0 (m − m)z m+n−1
+ (m − n)z m+n+1
T (z)
12
c
= (m − n)Lm+n + (m3 − m) δm+n (3.36)
12

δm+n é um delta de Dirac. Chamamos a álgebra acima de álgebra de Virasoro


extendida com carga central c.

3.6 Espectro da corda


Uma vez que somos capazes de determinar relações de comutação entre operadores,
podemos partir para encontrar os modos de vibração da corda. Tratemos primeira-
mente da corda fechada. Sendo ∂X e ∂X¯ campos primários de peso (1,0) e (0,1),
podemos escrevê-los na expansão de Laurent:

α
1/2 

αmµ
α
1/2 

αmµ
∂X µ (z) = −i ¯ µ (z̄) = −i
, ∂X (3.37)
2 z m+1 2 z̄ m+1
m=−∞ m=−∞
CBPF-MO-005/02 42

onde os coeficientes da série de Laurent são


1/2  1/2 
2 dz m 2 dz̄ m ¯ µ
µ
αm = z ∂X µ (z) e αm
µ
=− z̄ ∂X (z̄) (3.38)
α 2π α 2π

Em especial verificamos que α0µ = α0µ e que correspondem a carga conservada com re-
speito a corrente de simetria por translação i∂a X µ /α na folha de universo. Tal carga
é o momento linear. Considerando contribuições holomórficas e anti-holomórficas,
 1/2
1 2
µ
p = (dzj µ − dz̄ j̄ µ ) = α0µ (3.39)
2πi C α

Integrando 3.37,

1/2 

α α 1 µ
αm αm µ
X (z, z̄) = x − i pµ ln |z|2 + i
µ µ
+ . (3.40)
2 2 m zm z̄ m
m=−∞
m=0

Usando o mesmo procedimento que em (3.36)de expansão dos comutadores na


µ µ
forma de resı́duos, obtemos a relação de comutação dos operadores αm e αm ,

µ
[αm , αnν ] = [αm
µ
, αnν ] = mδm+n η µν (3.41)

µ µ
A relação de comutação mostra que estes operadores αm e αm são exatamente os
operadores de criação e aniquilação de estados de corda com modo de vibração |m|,
para m < 0 e m > 0 respectivamente. É interessante notar que na quantização
conforme realizada não foi preciso estabelecer, isto é, impor a relação de comutação
(3.41). Isto ocorre porque a passagem das relações clássicas para a quantização
foi feita anteriormente quando definimos o ordenamento normal de operadores, que
assim como a relação de comutação e os colchetes de Poisson, tende para o limite
clássico quando os operadores se afastam e a influência da singularidade evanesce.
Utilizando (3.41) e (3.39),

i 
[xµ , pν ] = [X µ , pν ] = − Res (dz∂X ν
− dz̄ ¯ ν )X µ = iη µν
∂X (3.42)
α

Naturalmente, os operadores holomórficos comutam com os operadores anti-holomórficos.


CBPF-MO-005/02 43

A partir destes operadores podemos definir seus autovetores como estados da


corda partindo do estado fundamental com momento k

αnµ |0, 0; k = 0, αnµ |0, 0; k = 0, n > 0


pµ |0, 0; k = (2/α)1/2 α0µ |0, 0; k = k µ |0; k
µ
α−n |0, 0; k >= |1n, 0; k >, µ
α−n |0, 0; k >= |0, 1n; k >, n > 0 (3.43)

como já o fizemos nos processos de quantização anteriores (seção 2.3). Agora
µ
podemos calcular os geradores de Virasoro Lm em função dos operadores αm . Obten-
hamos primeiramente o tensor energia-momento,

1 1  αm µ
αµn
T (z) = − : ∂X µ
∂Xµ := : : (3.44)
α 2 m,n z m+n+2

e por (3.33) teremos

1  αµ αµn 

αµ αµj−m
m
Lj = Res : m+n−j+1 := : m : (3.45)
2 n,m
z m=−∞
2

Para j = 0, os operadores em (3.45) comutam. Não há problema de ordenamento


e podemos esquecer o sı́mbolo ::. Porém, para j = 0, os operadores αnµ e αµ−n não
comutam entre si e o ordenamento normal ainda não nos é bem conhecido entre
estes operadores. Ordenemos o produto colocando operadores de criação a esquerda
e igualemos ao ordenamento anterior acrescentando uma constante.

1 ∞ 
∞ µ
2 µ ◦ α−m αµm ◦
L0 = (α0 ) + (α−n αµn ) + a = ◦ ◦ +a (3.46)
2 n=1 m=−∞
2

Aplicando L0 sobre um estado fundamental da corda e fazendo uso da álgebra


de Virasoro,

1
L0 |0, 0; 0 = [L1 L−1 − L−1 L1 ]|0, 0; 0 = 0 (3.47)
2
CBPF-MO-005/02 44

concluimos que

a=0 (3.48)

◦◦
Logo os dois tipos de ordenamento, normal :: (3.45) e criação-aniquilação ◦◦ (3.46),
são equivalentes.

3.7 Operadores de Vértice


Existe uma outra parametrização do plano complexo que permite uma visualização
natural das inserções pontuais de operadores no plano complexo, permitindo que as
interpretemos como estados iniciais assintóticos da corda.
Para uma dada parametrização z, podemos encontrar w = σ + iτ tal que

z = exp(−iw) = exp(τ − iσ) (3.49)

Se associarmos σ à coordenada de posição na corda e τ à coordenada tempo, latitudes


de tempo constante no plano w serão cı́rculos concêntricos no plano z (fig.3.1).
Para o caso da corda fechada, haverá uma periodicidade que podemos definir como
σ = σ + 2π, que ocorrerá desta forma também z, e para a corda aberta σ será
limitado.
Consideremos o caso da corda fechada. Esta percorre a folha de universo em
coordenadas temporais τ ∈ (−∞, ∞) com uma periodicidade em σ que faz a corda
descrever um cilindro de comprimento infinito como folha de universo. Observando
a evolução da corda ela tem origem no estado assintótico τ → −∞, como se pode
ver no plano w e que corresponde a um ponto no plano z. A corda segue a flecha
do tempo τ → ∞ varrendo no plano z todo o plano complexo.
Na corda aberta, não existe a periodicidade e a limitação σ ∈ [0, π] faz com que as
linhas equitemporais tracem no semi-plano z, Imz ≥ 0, semi-circunferências. Para
que possamos realizar transformações holomórficas em torno da origem, precisamos
definir o tensor energia momento para Im(z) < 0. Lembrando-nos que αnµ = αnµ na
CBPF-MO-005/02 45

0 2π
(a) (b)

Figura 3.1: Plano complexo da corda fechada c/ linhas equitemporais. (a)Em


coordenadas w, com as bordas identificadas umas as outras. (b)Em coordenadas z.

corda aberta e conseqüentemente Ln = Ln , podemos definir

T (z) = T̄ (z̄), Im(z) < 0 (3.50)

que permite reescrever os geradores de virasoro como carga no plano z integrada da


corrente de simetria, tal qual na corda fechada,
 
1   1
Lm = dzz m+1
Tzz − dz̄ z̄ m+1
Tz̄ z̄ = dzz m+1 Tzz (3.51)
2πT C 2πT

onde a primeira integração é sobre um semi-cı́rculo C e a segunda integração é sobre


uma curva fechada, graças a definição (3.50) na região Im(z) < 0. Assim voltamos
a trabalhar no plano complexo por inteiro.
Feito o mapeamento entre os planos w e z, vamos estudar o caso da corda fechada
em que o plano w é um cilindro, identificadas as bordas σ = 0 e σ = 2π. Existe
um outro mapeamento isomórfico que pode ser feito entre os estados assintóticos
iniciais e operadores locais. Para a integração de caminho descrever a evolução do
estado da corda, se necessita saber seu estado inicial quando Imw → −∞. No plano
z isto corresponde a origem, o que é equivalente a conhecer os campos neste ponto,
CBPF-MO-005/02 46

0 π
(a) (b)

Figura 3.2: Plano complexo da corda aberta com linhas equitemporais. (a) Em
coordenadas w. (b) Em coordenadas z.

que definimos como o operador de vértice. A correspondência inversa vale para um


operador de vértice qualquer no plano z e um estado inicial no plano w. Assim cada
operador de vértice A corresponde ao estado inicial |A .
Como exemplo, vamos estudar o estado |I correspondente ao operador de
vértice identidade I. No plano z, os operadores ∂X e ∂X ¯ aplicados no vértice
identidade tem comportamento analı́tico. Portanto não apresentam resı́duos em
(3.38) e conseqüentemente,

αm |I = 0 e αm |I = 0, m>0 (3.52)

Tal comportamento deste estado é idêntico ao comportamento do estado fundamen-


tal. Logo, obtemos a indentificação estado-operador

|I = |0, 0 (3.53)

¯
e por ∂X(z) (∂X(z̄)) ser (anti-)holomórfico nesse vértice, podemos expandi-lo em
série de Taylor em torno deste. Daı́ encontramos os operadores α como resı́duos
CBPF-MO-005/02 47

dessa expansão

1/2  1/2  $
2 dz −m 2  i
µ
α−m |I = z ∂X µ (z)|I =  m µ
α 2π α  (m − 1)! ∂ X (z0 ) , m>0
(3.54)

De forma que existe uma correspondência entre operadores

1/2
2 i
µ
α−m → ∂ m X µ (z0 ), m>0 (3.55)
α (m − 1)!

um atuando sobre o estado e o outro sobre o vértice. A equação acima mostra que
µ
α−m (m > 0) correspondem a campos primários de peso (m, 0). correspondência
acima se mantém para outros estados |A com operador de vértice A(z0 ) com or-
µ
denamento normal. O operador local correspondente a α−m atuando no estado |A
será o ordenamento normal do produto de ambos operadores locais

1/2
2 i
µ
α−m |A → : ∂ m X µ (z0 )A(z0 ) : (3.56)
α (m − 1)!

Um outro exemplo de correspondência estado-operador é

|0; k →: eik·X(z0 ) : (3.57)

que é facilmente compreendida percebendo que sob a translação X µ → X µ + aµ o


lado direito e esquerdo de (3.57) se transformam do mesmo modo, multiplicados por
eik·a .
Procedendo segundo (3.56) podemos obter os operadores locais de todos os
estados da corda, observando-se que o mesmo é válido para os operadores anti-
holomórficos da corda fechada.
CBPF-MO-005/02 48

3.7.1 Integral de caminho


No espaço dos operadores de vértice no plano z o formalismo de integral de caminho
utilizado para definir a evolução de um estado inicial toma a seguinte forma:

ΨA [Xfµ , τ0 ] = [dXjµ ]Xfµ (τ0 ) exp(−S[Xjµ ])A(z0 ) (3.58)

onde um estado inicial dado pelo operador de vértice A no ponto (z0 ) evolui para um
estado com a configuração de campos Xfµ (coordenadas espaciais). Este funcional
é a função de onda na representação X de determinado estado na formulação de
Schrödinger. A condição de fronteira Xjµ = Xfµ acontece para um dado tempo τ = τ0
que no plano z se expressa por uma circunferência fechada em torno do centro z0 =
(0, 0). Os campos Xjµ (τ, σ) estão sujeitos a condição de causalidade. Esse conceito
de funcional integral como um propagador não deve valer somente para estados
iniciais assintóticos representados por operadores de vértice. Podemos expandir
sua definição para estados inicial e final definidos pelas respectivas configurações
de campos Xiµ e Xfµ , que serão as condições de borda inicial e final dos caminhos
possı́veis de Xjµ nos tempos τi e τf .

Ψ[Xfµ , τf ] = [dXjµ ]Xfµ ,Xiµ exp(−S[Xjµ ])Ψ[Xiµ , τi ] (3.59)

A integração funcional acima é feita no plano z numa coroa circular τf > τ > τi
ou ri < |z| < rf . A região |z| < ri não tem influência na equação acima, quando se
conhece o estado da partı́cula para |z| = ri . Mas poderı́amos substituir esta condição
de borda por uma superposição de operadores de vértice que aplicados isoladamente
em pontos fixos z  s distintos no interior do disco (|z0 | < ri ) produzissem na fronteira
desse disco a mesma configuração de campo Xiµ por evolução temporal.
Pelo mesmo princı́pio, o produto de 2 operadores de vértice atuando em pontos
distintos tem efeito na borda que contém estes pontos |z| = 1, por exemplo, idêntico
a uma superposição de efeitos de operadores de vértice isolados na região |z| < 1
que, por propriedade dos operadores conformes (3.28), podem ser transportados
para atuarem no ponto z = (0, 0) , cujo efeito é o de um único operador de vértice
dual do estado inicial assintótico que evolui para o estado |Ψ(Xi ) na borda |z| = 1
CBPF-MO-005/02 49

Ai (z, z̄)
Aj (0, 0)
|Ψij,z,z̄

Aij,z,z̄ (0, 0)

Figura 3.3: (a)Plano z com 2 operadores locais. (b)Estado obtido na integração de


caminho até a fronteira. (c) Operador de Vértice que produz o mesmo estado na
borda

(Fig.3.3). A expressão do produto de operadores (OPE) se traduz em


 h −hi −hj h̄k −h̄i −h̄j k
Ai (z1 , z̄1 )Aj (z2 , z̄2 ) = z12k z̄12 cij Ak (z2 , z̄2 ) = Aijz2,z̄2 (z1 , z̄1 ) (3.60)
k

Podemos interpretar a expressão (3.60) numa forma tipo diagrama de Feynman.


Este diagrama descreve um espalhamento de 2 estados assintóticos iniciais, repre-
sentados pelos operadores de vértice Ai e Aj e os possı́veis estados finais assintóticos
representados pelos operadores de vértice Ak ’s
CBPF-MO-005/02 50

j❅

 ❅
❅❅ k
k

Figura 3.4: Representação diagramática de um OPE


Capı́tulo 4

A Integral de Caminho de
Polyakov

4.1 Introdução
Já apresentamos anteriormente (3.58) a formulação de integral de caminho no plano
complexo. Neste capı́tulo, voltamos ao assunto discutindo problemas na folha de
universo tais como fixação de calibre, anomalia de Weyl e operadores de vértice.
Por fim acrescentaremos complexidade a ação de Polyakov considerando a métrica
Gµν do espaço-tempo dependente dos campos de coordenada X µ (modelo sigma não
linear) que induzirá ao aparecimento de grávitons.

4.2 Soma sobre Folhas de Universo


A formulação de integral de caminho de Feynman de cálculo de propagação de uma
partı́cula prescreve uma soma sobre todos os caminhos possı́veis que essa partı́cula
pode tomar, ponderada pelo peso eiS , S ação clássica de Polyakov.
Dentre os caminhos possı́veis que essa partı́cula pode tomar, estão aqueles que
envolvem interações com o vácuo com surgimento de novas partı́culas e interações
entre as próprias partı́culas. Por outro lado, devido as simetrias internas da ação
clássica (difeom.,Weyl), ela só denota diferença entre caminhos que traçam folhas de
universo com topologias diferentes. As diferentes topológias são oriundas justamente
CBPF-MO-005/02 52

aberto↔ fechado

aberto↔ aberto

aberto↔ fechado+aberto

fechado↔ fechado+fechado

aberto+aberto↔ aberto+aberto

Figura 4.1: Interações entre cordas

das interações entre cordas, tais como na figura (4.1).

4.3 O Funcional Integral


A partir desta seção, vamos utilizar a métrica Euclidiana na folha de universo,
aplicando uma rotação no plano complexo em τ substituindo-o por τ  = −iτ . A
motivação desta troca é que topologias não triviais da folha de universo não podem
ser descritas por uma métrica de Minkowski sem apresentar singularidades, enquanto
que este problema não existe utilizando uma métrica Euclidiana.
O funcional integral se torna

[dX][dg] exp(−S) (4.1)
CBPF-MO-005/02 53

onde junto a ação de Polyakov acrescentamos outros termos invariantes a transfor-


mações de coordenadas (difeomorfismo) e Weyl
  
1 2 1/2 ab µ 1 2 1/2 1
S= d σg g ∂a X ∂b Xµ + λ d σg R+ ds k (4.2)
4πα M 4π M 2π ∂M

O terceiro termo na equação acima é a contribuição da borda da folha de universo,


sendo R o escalar de Ricci e k = ta nb ∇a tb a curvatura geodésica da borda e ta e na
vetores tangente e normal à borda, respectivamente.
Na verdade, o segundo e o terceiro termo não são Weyl- invariante, mas sua
soma sim. Contribuições da borda surgem no segundo termo sob transformação de
Weyl que são canceladas por contribuições do terceiro termo transformado quando
ponderamos seus coeficientes conforme escrito na equação acima. Por esse entre
outros motivos que se seguem, chamaremos
 
1 2 1/2 1
χ= d σg R+ dsk (4.3)
4π M 2π ∂M

A constante λ não é um parâmetro livre. Seu papel será desvendado quando trabal-
harmos com a métrica do espaço-tempo. Mas por ora podemos destacar seu efeito
na interação entre cordas. A ação S pode ser reagrupada em 2 termos:

S = SP ol + λχ (4.4)

χ depende somente da topologia da folha de universo e é de fato o conhecido número


de Euler de superfı́cies bidimencionais (χ = V értices + F aces − Arestas numa
triangulização de superfı́cie). Se fizermos um buraco em uma folha de universo de
uma corda aberta, seu número de Euler é diminuı́do de uma unidade. Portanto o
caminho correspondente a esta nova folha terá um peso multiplicado pelo fator e−λ
no funcional integral (4.1) em relação a folha anterior. Por sua vez, a nova folha
de universo pode ser interpretada como um caminho de propagação de uma corda
aberta em que, interagindo com o vácuo, uma nova corda aberta é criada e a seguir
destruı́da. Considerando pesos para ambos processos de criação e destruição de uma
partı́cula, concluı́mos que a interação (corda aberta)↔(corda aberta) possui como
constante de acoplamento ∼ e−λ/2 .
CBPF-MO-005/02 54

As propagações com criação e posterior destruição de cordas fechadas se refletem


na folha de universo com a presença de roscas ou alças (”handles” em inglês). Nestas
circunstâncias o número de Euler χ é diminuı́do de 2 para uma corda criada e
destruı́da em seqüência. Deste modo, a constante de acoplamento para processos de
criação ou destruição de uma corda fechada é ∼ e−λ .

4.4 Fixação de Calibre


O funcional integral (4.1) não realiza corretamente uma integração sobre caminhos
por não observar inúmeras configurações de campos e métricas que estão no mesmo
grupo de simetria, isto é, que representam o mesmo caminho. O funcional correto
se encontra dividindo a medida de integração pelo volume do grupo de simetria da
folha de universo.

[dX][dg]
Z= exp(−S) (4.5)
V oldif ×W eyl

Efetivamente calcularemos o volume do grupo de simetria pelo método de Fadeev-


Popov, escolhendo uma métrica fiduciária e integrando sobre o espaço de transfor-
mações conformes (W eyl × dif ).
Conforme vimos anteriormente, as liberdades internas da folha de universo per-
mitem que fixemos a métrica intrı́nseca da folha como uma dada métrica fiduciária:

ĝab = δab → R = 0 (4.6)

Fixado o calibre, seja ξ uma transformação conforme qualquer,

ξ ∂σ  c ∂σ  d
ĝab (σ1 , σ2 ) = exp(2ω (σ1 , σ2 )) ĝcd(σ 1 , σ 2 ) (4.7)
∂σ a ∂σ b

A medida Fadeev-Popov ∆F P é assim definida:



1 = ∆F P (g) [dξ] δ(g − ĝ ξ ) (4.8)
CBPF-MO-005/02 55

Incorporando (4.8) no funcional Z (4.5),



[dX dg dξ]
Z(ĝ) = δ(g − ĝ ξ )∆F P (g) exp(−S(X, g)) (4.9)
V oldif ×W eyl

onde escrevemos Z em funcão da métrica fiduciária por razões que ficarão clara na
seção seguinte. Integrando primeiramente em g, observando a existência da função
δ:

[dXdξ]
Z(ĝ) = ∆F P (ĝ ξ ) exp(−S(X, ĝ ξ )) (4.10)
V oldif ×W eyl

A equação (4.8) mostra que a medida ∆F P é um invariante conforme e S também o é.


Deste modo, nenhum termo do integrando depende de ξ, de forma que a integração
em ξ gera exatamente o volume do grupo de simetria e simplifica a expressão :

Z(ĝ) = [dX]∆F P (ĝ) exp(−S(X, ĝ)) (4.11)

Ainda resta calcularmos a medida de Fadeev-Popov para que possamos conhecer


o funcional Z por completo. Para isso, consideremos transformações ξ (4.7) próximas
a identidade. A variação total ( forma + deslocamento) da métrica será

δgab = (2δω − ∇c δσ c )gab − 2(P1 δσ)ab (4.12)

onde
1
(P1 δσ)ab = (∇a δσb + ∇b δσa − gab ∇c δσ c ) (4.13)
2

Através da equação (4.8), calculemos o inverso da medida de Fadeev-Popov na


CBPF-MO-005/02 56

simplificação de transformações próximas à identidade:



∆−1
F P (ĝ) = [dδωd2δσ]δ ((2δω − ∇c δσ c )g − 2(P1 δσ))
reescrevendo o delta de Dirac em forma de integral
 %  &
2 2 1/2 ab
= [dδωd δσdβ] exp 2πi d σĝ β (2(P1 δσ) − (2δω − ∇c δσ )g)ab
c

e integrando em δω surge um delta de Dirac que força β a ter traço zero


 %  &
2  2 1/2  ab
= [d δσdβ ] exp 4πi d σĝ β (P1 δσ)ab (4.14)

com β  sendo a restrição de traço nulo sobre as funções β. Para simplificar, podemos
inverter ∆−1
F P substituindo campos bosônicos por campos fermiônicos

δσ a → ca

δβab → bab , com b também de traço nulo. (4.15)

A medida de Fadeev-Popov se torna:



∆F P (ĝ) = [db d2 c] exp(−Sg ) (4.16)

onde a ação fantasma Sg é


 
1 2 1/2 1
Sg = d σĝ ab
bab (P1 c) = d2 σĝ 1/2 bab ∇a cb (4.17)
2π 2π

A segunda expressão de Sg decorre da nulidade do traço de b. O funcional Z (4.11)


se torna

Z(ĝ) = [dX db d2 c] exp (−S[X, ĝ] − Sg [b, c, ĝ]) (4.18)

Numa observação aa nı́vel clássico (na próxima seção se seguirá o estudo quântico),
o funcional Z deve possuir peso conforme nulo para que este seja invariante à trans-
formações de Weyl. Essa condição já era satisfeita para a ação de Polyakov e a
medida de integração dX (3.3, 3.30). Precisamos checar agora a nulidade do peso
conforme para a ação fantasma e seus campos b e c. Admitindo estes como op-
CBPF-MO-005/02 57

eradores conformes de pesos correspondentes aos seus graus tensoriais, bab (2,0) e
ca (-1,0) vemos que o peso conforme da ação Sg é (0,0) e da medida de integração
também é (0,0).
Para o caso da corda aberta, precisamos limitar as transformações ξ tais que as
bordas se transformem nelas mesmas para que este grupo de simetria (espaço das
transformações ξ) represente a mesma folha de universo. Isto implica no requeri-
mento

na δσ a = 0 , na = vetor normal a borda (4.19)

para evitar deslocamentos normais de pontos da borda. Os campos b e c também


sofrerão restrições em virtude das suas equações de movimento se darem nas bordas.

4.5 A Anomalia de Weyl


Na quantização no cone de luz (2.3.1), aprendemos que a condição para preservação
da invariância de Lorentz da corda após a quantização é D = 26. Uma anomalia
existirá na algebra dos geradores do grupo de Lorentz para D = 26. A quebra da
simetria de Lorentz no espaço tempo equivale a uma anomalia na folha de universo
da corda. Uma vez que as coordenadas do espaço-tempo podem ser vistas como
campos escalares na folha de universo da corda, a simetria de Lorentz destes campos
no espaço tempo está ligada as simetrias de difeomorfismo e invariância de Weyl na
folha de universo. Escolhendo a preservação do difeomorfismo na folha de universo,
a anomalia se manifestará na quebra da simetria de Weyl (note que é uma escolha
arbitrária qual a simetria interna a ser preservada [19]).
Problemas de ordenamento de operadores que aparecem a nı́vel quântico de-
stróem a simetria de Weyl, quebrando a condição de simetria T a a = 0 (3.7). É
natural que se espere a quebra desta condição, uma vez que Tab , a corrente de sime-
tria existente nas transformações conformes, não é um campo primário (ou operador
conforme) e portanto não se conserva conformalmente, isto é, nao se transforma se-
gundo (3.28).
É razoável crer que a simetria de Weyl na teoria quântica seja restaurada se
forçarmos no produto de tensores (3.31) a carga central a zero.
CBPF-MO-005/02 58

Do ponto de vista da integral de caminho, a simetria de Weyl exige que o fun-


cional gerador Z independa da escolha da métrica fiduciária. A condição para que
isso ocorra irá igualmente restaurar a simetria de Weyl. Em outras palavras, quer-
emos que

Z[g ξ ] = Z[g ] (4.20)

que é equivalente a checar se



... gξ = ... g = [dX db d2 c] exp(−S[X, b, c])... (4.21)

é válido para quaisquer operadores inseridos. Tomando ξ para uma transformação


de Weyl infinitesimal, ξ : g  = (1 + δω(σ))g

1
δW eyl ... g =− d2 σg 1/2 δω(σ)T aa (σ)... g =0 (4.22)

o que novamente obriga a condição (3.7).


Se há quebra da condição (3.7), que valores possı́veis T a a pode assumir? Vimos
no capı́tulo 3 que no plano complexo, de métrica plana e R = 0, não houve a quebra
desta condição (3.7). Adicionalmente, o difeomorfismo e a simetria de Poincaré
estão preservadas na ação quântica (funcional Z). Consequentemente o traço T a a
deve ser invariante a estas simetrias. De uma maneira heurı́stica, encontramos a
única forma possı́vel para o traço

T a a = a1 R (4.23)

Para nos compatibilizarmos com comentários anteriores (seção 3.5), temos que
encontrar a1 ∼ c, sendo c a carga central.
No cálculo de a1 , estaremos trabalhando com a parametrização de coordenadas
complexas. A condição (3.7) se traduz em

a1
Tz z̄ = gz z̄ R (4.24)
2
CBPF-MO-005/02 59

Aplicando uma derivação covariante em ambos os lados,

a1
∇z̄ Tz z̄ = ∂z R (lembrete: ∇a gbc = 0) (4.25)
2

Utilizando a equação de conservação de corrente,

a1
∇z Tzz = −∇z̄ Tz z̄ = − ∂z R (4.26)
2

Agora vamos calcular a variação de ambos os lados da equação acima sob uma
transformação infinitesimal de Weyl: g  = (1 + 2δω(z))g. Vamos partir de uma
métrica inicial plana: g = 1 e R = 0. Sabendo que o escalar de Ricci se modifica
em transformações de Weyl segundo

1/2
g R = g 1/2 (R − 2∇2 δω) (4.27)

temos no lado direito da equação (4.26)

a1 a1
δW (∂z R) = ∂z (δW R)  −a1 ∂z ∇2 δω = −4a1 ∂z2 ∂z̄ δω (4.28)
2 2

No lado esquerdo, aplicamos a identidade de Ward (3.17) e a equação (3.31) para


obter a variação sob transformação conforme de T , com as coordenadas em trans-
formação infinitesimal δz = f (z) que induz a transformação de Weyl 2δω = ∂f (z).

c
δTzz (z) = − ∂z2 δω(z) − 4δω(z)Tzz (z) − f (z)∂Tzz (z) (4.29)
6

Os dois últimos termos são contribuições devido a transformação de coordenadas de


um tensor conforme (2,0). A contribuição anômala da transformação de Weyl é

c
δW Tzz = − ∂z2 δω (4.30)
6

e tomando a derivada covariante desta expressão , lembrando que ∂ z = 2∂z̄ remon-


tamos a equação (4.26) sob transformação de Weyl

c
δW (∇z Tzz ) = − ∂z̄ ∂z2 δω = 4∂z2 ∂z̄ δω (4.31)
3
CBPF-MO-005/02 60

Logo,

c c
a1 = − ; T aa = − R (4.32)
12 12

em acordo com colocações anteriores.


A carga central c engloba contribuições da ação de Polyakov e da ação fantasma.
O cálculo da carga central na teoria de campos conformes sobre os campos fantasmas
e a equação (3.31) fornecem

c = cX + cg = D − 26 (4.33)

Portanto a teoria é invariante a transformações de Weyl somente para o número


de dimensões D=26, a mesma condição obtida para a ocorrência da invariância de
Lorentz encontrada na seção (2.3), o que reforça comentários anteriores sobre a igual
origem da anomalia de Weyl e Lorentz.
Se trabalharmos em um espaço sem a invariância de Weyl (D = 26), a métrica
da folha de universo terá um grau de liberdade, que deve ser integrado no funcional
Z. Tal variável livre da métrica, δω, terá comportamento idêntico a um campo extra
adicionado à ação. Tal teoria de cordas é chamada de não crı́tica e a trataremos
adiante no capı́tulo 5.

4.6 A Matriz S
Conforme vimos no estudo da teoria de campos conformes, a soma sobre os variados
tipos de folha de universo na integração funcional é bastante simplificada quando
consideramos os estados inicial e final da corda assintóticos, que se tornam pontos de
singularidade no plano z. A amplitude de probabilidade de transição entre estados
assintóticos dados constitui um elemento da Matriz S de espalhamento de partı́culas.
Vamos primeiramente considerar processos de espalhamento conexos, isto é, nen-
huma corda permanece livre de interação, e simples, sem a existência de partı́culas
virtuais. Para as cordas abertas, as superfı́cies da folha de universo equivalem a um
disco com pequenos dentes abertos na borda correspondentes aos estados assintóticos
das cordas.
CBPF-MO-005/02 61

Para as cordas fechadas, as superfı́cies da folha de universo equivalem a uma


esfera com pequenos furos abertos em sua superfı́cie, onde estes furos correspondem
a estados assintóticos das cordas fechadas.
Tais equivalências (figuras 4.2 e 4.3) são decorrencia da estrutura da folha de uni-
verso e sua simetria conforme. A folha de universo de uma corda é classificada como
uma superfı́cie de Riemann, o que significa que ela é uma variedade topológica de
2 dimensões com estrutura complexa, em curtas palavras, uma variedade complexa
unidimensional. Em tais superfı́cies existe uma relação de equivalência conforme
quando o mapeamento de pontos entre as superfı́cies ocorre por meio de funções
analı́ticas:

f i ∈ C∞ : M → N z  = f i(z i )
i
(4.34)

A simetria conforme na folha de universo torna folhas (superfı́cies de Riemann)


conformalmente equivalentes indistinguı́veis. Conseqüentemente, a distinção entre
folhas de universo ocorre apenas por diferenças topológicas.
As folhas de universo são caracterizadas por suas constantes topológicas, grandezas
invariantes a transformações conformes. Tais constantes são entre outras a compaci-
dade, o número de bordas b, o número de Euler χ, a orientação e o gênus g. O gênus
de uma superperfı́cie de Riemann é definido como o número máximo de curvas
fechadas nesta superfı́cie que não separam a a superfı́cie em partes desconexas.
Para superfı́cies com orientação (com 2 lados), alvos de nosso interesse, o número
de Euler χ estabelece uma certa relação com outras constantes topológicas:

χ = 2 − 2g − b (4.35)

Em processos de interação, b é definido pelos estados assintóticos e os possı́veis


caminhos de evolução das cordas expressos por diferentes folhas de universo ocorrem
por variação do gênus da folha.
Conforme vimos o mapeamento estado-operador da folha de universo no plano
complexo, os estados assintóticos correspondem a distúrbios locais, ou operadores
de vértice no plano complexo.
Os operadores de vértice Vi (ki ) dependem do momento k da corda. A semelhança
CBPF-MO-005/02 62

da teoria quântica de campos, o elemento da matriz S de um espalhamento de n


partı́culas é dado por:

S(k1 , ..., kn ) =
  [dXdg] 'n (
exp(−SX − λχ) d2 σi g(σi )1/2 Vi (ki , σi ) .
Vdif × W eyl i=1

topol. f. u.

(4.36)

Na estrutura da equação acima, observamos que cada operador de vértice local é


integrado sobre todos os pontos da folha de universo. Há a necessidade dessa inte-
gração para que as interações se tornem não locais e assim preservem o difeomorfismo
sobre a folha de universo.
Enquanto que as figuras (4.2) e (4.3) descrevem espalhamentos simples, a equação
acima considera todas as ordens da expansão perturbativa de um espalhamento
através da soma sobre todas as topologias de folha de universo (fig.4.5).
Dentro do formalismo de integrais de caminho, tal expansão pode ser vista como
a segunda quantização da corda.

4.6.1 Superfı́cies topológicas


A estrutura complexa das folhas de universo foi explorada no capı́tulo 3 e é manifesta
pela equivalência conforme da folha de universo com uma cobertura universal S̃

módulo grupo de coberturas ( G ), onde as coberturas universais podem ser somente
o plano complexo C, o disco aberto D e a esfera ou plano complexo extendido
C + ∞. Este é o resultado de um importante teorema matemático de mapeamento
de superfı́cies de Riemann. A estrutura complexa de tais coberturas universais ‘é
transportada para a folha de universo. Vamos comentar tais equivalências para os
casos de topologias mais simples.
Esfera complexa e disco
Seja uma esfera tangenciando o plano complexo C. O ponto de tangência da
esfera chamamos de polo sul e o ponto da esfera diametralmente oposto é o polo
CBPF-MO-005/02 63

Figura 4.2: (a) Espalhamento de quatro cordas fechadas, partindo de estados


assintóticos. (b) Folha de universo conformalmente equivalente.

Figura 4.3: (a) Espalhamento de quatro cordas abertas, partindo de estados


assintóticos. (b) Folha de universo no espaço conforme
CBPF-MO-005/02 64

Figura 4.4: Projeção estereográfica

norte da esfera (4.4). Através de um segmento de reta que parte do polo norte da
esfera e corta esta e o plano complexo, associa-se a todo ponto do plano complexo
um ponto da esfera. Este método chama-se projeção estereográfica. Apenas o polo
norte da esfera não possui correspondência, e pela equivalência, vemos que o plano
complexo é uma superfı́cie não compacta aberta equivalente a esfera menos o polo
norte S 2 − {N},e o seu fecho C + {∞} equivale a esfera compacta. Na seção (3.7)
mostramos a equivalência entre uma folha de universo simples de uma corda fechada
e o plano complexo. A inclusão dos estados assintóticos transforma o plano complexo
numa esfera complexa, conforme a figura (4.2b).
O fecho do plano complexo C + {∞} com um cı́rculo retirado e sem bordas
equivale a um disco aberto. Para mostrar isso, seja esse furo um cı́rculo de raio
unitário aberto no plano complexo. Do centro O desse cı́rculo, centro de coordenadas
polares, associamos a cada ponto de coordenada z exterior ao cı́rculo, um ponto
interior ao cı́rculo de coordenada 1/z e por fim, o infinito {∞}, pertencente ao
fecho, associamos ao centro O.
Formações topológicas mais complexas são construı́das adicionando-se furos, ou
ligando tais furos em formação de rosca (fig.4.5).
CBPF-MO-005/02 65

...

g=2 g=3
g=0 g=1

Figura 4.5: Adicionando roscas

4.7 Operadores de Vértice


Conforme os estudos do capı́tulo 3 de associação estado-operador, o estado taquiônico
de uma corda pode ser representado por:

V(k) = gc : eikX : (4.37)

onde gc é uma constante de acoplamento e utilizamos a normalização para que o


operador seja bem definido no plano complexo.
O aspecto global das interações na folha de universo das cordas determina que o
operador de vértice atue em toda a folha de universo, tomando para a corda fechada
a seguinte forma:

Vo = 2gc d2 σg 1/2 eikX(σ) , ou no plano complexo,

= gc d2 z : eikX(z) : (4.38)

Os operadores de vértice são inseridos no funcional gerador Z (4.18) formando a


função correlação entre estados assintóticos, compondo elementos da matriz S. Para
que a matriz S seja invariante a transformações conformes, o peso conforme de cada
operador de vértice inserido deve ser (0,0). O peso conforme de d2 z é (-1,-1). Logo
o peso conforme de : eikX : deve ser igual a (1,1). A partir da equação (3.30):

α k 2 4
= 1 =⇒ m2 = −k 2 = −  (4.39)
4 α

resultado idêntico ao obtido anteriormente para a massa do táquion (2.57).


Para o primeiro nı́vel de excitação de uma corda fechada, o seu operador de
CBPF-MO-005/02 66

vértice será:

2gc
d2 z : ∂X µ ∂X
¯ ν eikX(z) : (4.40)
α

α k 2
O peso conforme do integrando agora é: h = 1+ 4
e a massa quadrática
correspondente será

α k 2
+ 1 = 1 =⇒ m2 = 0 (4.41)
4

Portanto, por respeito a invariância conforme, o estado é sem massa, de acordo com
resultados anteriores.
Podemos ver que por inserção de operadores de vértice representante de diferentes
estados de corda na matriz S e preservação da simetria conforme, obtém-se um
espectro discreto de massa para tais estados. Porém o primeiro estado massivo é da
ordem da massa de Planck (MP l ) de 1019 GeV. Uma interpretação fı́sica inicial na
teoria de cordas é que todos as partículas massivas que conhecemos seriam partı́culas
não massivas e que teriam suas massas geradas por quebras de simetria e transições
de fase em perı́odos remotos do universo.

Operadores de Vértice no formalismo da integral de caminho

Assim, torna-se tarefa elementar descrever um operador de vértice para qualquer


estado de uma corda descrevendo a folha de universo no plano complexo, de curvatu-
ra zero (eq. 4.40). Porém, para incluirmos os operadores de vértice na integração
funcional de Polyakov é necessário que a invariância de Weyl e o difeomorfismo es-
tejam explı́citos nos operadores de vértice, sem escolha de calibre de gµν . Para esse
propósito, pode-se partir de uma formulação de operador de vértice com simetria
por difeomorfismo e encontrar condições para que haja a simetria de Weyl. Tais con-
dições devem estabelecer os mesmos critérios para o espectro de massa anteriormente
obtidos.
Para nos compatibilizarmos com uma descrição independente de métrica pre-
cisamos generalizar o ordenamento normal definido no plano complexo. Assim,
CBPF-MO-005/02 67

definimos o operador renormalizado [F ]r por



1 δ δ
[F ]r = exp d2 σd2 σ  ∆(σ, σ  ) F (4.42)
2 δX µ (σ) δXµ (σ  )
α
com ∆(σ, σ  ) = ln d2 (σ, σ  ) (4.43)
2

onde d(σ, σ  ) é a distância geodésica entre σ e σ  .


Certamente a fixação da massa quadrática dos estados da corda pela invariância
de Weyl exclui da teoria quaisquer possı́veis deltas de Dirac de interações locais pois

dD k
δ (X(σ) − x0 ) =
D
exp(ik · (X(σ) − x0 ) (4.44)
(2π)D

é uma formulação inconsistente, uma vez que integrações de momento k fora da


camada de massa como as que produzem de divergências na TQC não são possı́veis.
Tal situação reforça o aspecto anteriormente comentado de não localidade das in-
terações numa folha de universo.

Operadores de Vértice de cordas fechadas não massivas

A forma geral de operadores de vértice mais simples envolvendo derivações nos


campos X µ , em analogia a expressão (2.67), é

gc ) *
V1 =  d2 σg 1/2 (g ab sµν + i2ab aµν )[∂a X µ ∂b X ν eik·X ]r + αφR[eik·X ]r (4.45)
α

com 2ab sendo um tensor antisimétrico, sµν e aµν respectivamente matrizes simétrica
e antisimétrica e φ um campo escalar.
Novamente a condição da invariância de Weyl sobre o operador de vértice deve
ser imposta :

δW V1 = 0 (4.46)
CBPF-MO-005/02 68

Observando uma invariância de calibre existente em V1

sµν −→ sµν + ξµ kν + ξν kµ
aµν −→ aµν + ξµ kν − ξν kµ
γ
φ −→ φ + k · ξ (4.47)
2

com γ constante função da distância geodésica e da renormalização escolhida. Pre-


cisamos também eliminar polarizações longitudinais inexistentes na corda (ver 2.3).
Obtemos das condições acima k 2 = 0 para o primeiro estado excitado da corda
fechada em concordância com resultados anteriores.

4.8 Cordas no espaço-tempo curvo


Até agora não fizemos consideração alguma sobre a métrica do espaço-tempo Gµν .
Tal métrica é função das coordenadas espaço-temporais:

1
S= d2 σg 1/2 g ab Gµν (X)∂a X µ ∂b X ν (4.48)
4πα M

Um espaço-tempo curvo e dinâmico é pano de fundo natural para o aparecimento


de grávitons e a teoria de cordas é consistente com este quadro. Para justificá-lo,
consideremos o espaço-tempo próximo a curvatura nula.

Gµν = ηµν + ζµν (X) (4.49)

com ζµν (X) bem pequeno. O termo exponencial da integral de caminho de Polyakov
pode ser reescrito através de uma expansão de Taylor

1
exp(−S) = exp(−SP ol ) 1 − d2 σg 1/2 g ab ζµν (X)∂a X µ ∂b X ν + termos o. sup.
4πα M
(4.50)

onde vemos que surge um operador de vértice no termo em ζ. Para que este seja
CBPF-MO-005/02 69

um gráviton, temos

ζµν (X) = −4πgc eik·X sµν (4.51)

de tal maneira que a ação numa exponencial com o espaço-tempo curvo termina por
escrever um estado coerente de grávitons.
Podemos partir agora para uma situação mais geral em que a ação não só possui
o operador de vértice do gráviton como também de outros estados não massivos da
corda fechada:

1 ) *
S= 
d2 σg 1/2 (g ab Gµν (X) + i2ab Bµν (X))∂a X µ ∂b X ν + α Φ(X)R (4.52)
4πα

onde Bµν (X) é um tensor antisimétrico e Φ(X) um escalar que junto a parte diagonal
de Gµν descreve o dı́laton. Uma teoria de campos com uma ação do tipo (4.52) com
os coeficientes do termo quadrático dependente do campo é chamada de modelo
sigma não linear.
Como em (4.47), a ação possui a liberdade de calibre

δBµν (X) = ∂µ ζν (X) − ∂ν ζµ (X) (4.53)

que é um análogo a nı́vel de tensor do vetor potencial Aµ do eletromagnetismo. A


grandeza calibre-invariante é

Hωµν = ∂ω Bµν + ∂ν Bωµ + ∂µ Bνω (4.54)

Precisamos garantir a invariância de Weyl para a ação na forma (4.52). Para


isso vamos partir da ação Weyl-invariante de Polyakov e considerar pequenas con-
tribuições de Bµν (X) e Φ(X) e estando Gµν (X) em torno da métrica plana.

Gµν (X) = ηµν + χµν (X), χµν (X) = −4πgc sµν eik·X
Bµν (X) = −4πgc aµν eik·X
Φ(X) = −4πgc φeik·X (4.55)

Relacionando a transformação de Weyl na ação quântica com o traço do tensor


CBPF-MO-005/02 70

energia-momento segundo (4.22), obtemos

1 G ab i B ab 1 Φ
T aa = − β g ∂a X µ
∂b X ν
− β 2 ∂a X µ
∂b X ν
− β R (4.56)
2α µν
2α µν
2

onde β G , β B e β Φ são coeficientes encontrados na expansão da ação, como em (4.52),


até segunda ordem nos campos χ, B e Φ. Consideramos que O tensor acima possui
ordenação.

α
G
βµν ≈ α Rµν + 2α ∆µ ∆ν Φ − Hµλω Hν λω
4
α ω
B
βµν ≈− ∆ Hωµν + α ∆ω ΦHωµν
2
D − 26 α 2 α
βΦ ≈ − ∆ Φ + α ∆ω Φ∆ω Φ − Hµνλ H µνλ (4.57)
6 2 24

A condição para invariância de Weyl fornece 3 equações de movimento para os


campos G, B e Φ:

βG = βB = βΦ = 0 (4.58)

onde a primeira equação se assemelha a equação de Einstein com as fontes de energia


provenientes do dı́laton e do tensor antisimétrico.
Nas equações de movimento (4.58) Φ sempre aparece diferenciado, de forma que
existe uma invariância a soluções Φ deslocadas de uma constante. Na ação (4.52)
vemos que uma translação em Φ é sempre uma contribuição proporcional ao número
de Euler, sendo este invariante sob transformações de Weyl. Num background (con-
figuração de campos G, B e Φ) simples

Φ(X) = Φ0

podemos associar Φ0 com a constante λ responsável pela força de acoplamento entre


cordas (seção 4.3): λ = Φ0 e desta forma entendemos que λ não é um parâmetro
livre, mas uma parte da configuração do background da corda.
Capı́tulo 5

Cordas Não Crı́ticas

Cordas não crı́ticas são cordas definidas num espaço de dimensão D<26. A perda
aparente da invariância de Weyl é contornada pelo surgimento de um campo escalar
extra, o campo de Liouville.
No estudo que se segue, expomos cordas não crı́ticas, segundo o trabalho de
Polyakov [10] e Polchinski [1], e com o intuito de alcançar um entendimento quali-
tativo da aplicação desta teoria em confinamento de quarks, revisamos o critério de
Wilson [20] para confinamento e apresentamos razões para que o operador laço de
Wilson possa ser interpretado como um funcional integral cuja ação é do tipo corda
não crı́tica.

5.1 Corda Não Crı́tica


Vamos admitir apenas a preservação do difeomorfismo. O funcional integral (ou
ação quântica) de uma corda é inicialmente

[dgdX]
exp (−S[X, g]) (5.1)
V oldif

onde a métrica g interna da folha de universo da corda é função de (σ1 , σ2 ), co-


ordenadas internas da folha de universo da corda. Uma fixação de calibre de tais
coordenadas elimina 2 variáveis livres das 3 existentes na métrica da folha de uni-
CBPF-MO-005/02 72

verso de tal maneira que a integração sobre a métrica g ocorra segundo a forma:

gab (ϕ) = eϕ δab (5.2)

A medida dg passa a ser substituı́da pela medida dϕ relativa apenas ao espaço


de métricas conforme.
O funcional integral da corda se torna do tipo:

[dϕdX] exp (−S[X, ϕ]) (5.3)

Analisando primeiramente a integração nos campos X µ , a integral



[dX] exp (−S[X, g]) = Z[g] (5.4)

seria o funcional integral (a menos de campos fantasmas para correção do volume de


integração dos calibres) se não houvesse uma anomalia de Weyl presente. Ou seja,
variações por transformação de Weyl em Z:

1
δW Z[e δ] = −
ϕ
d2 σg 1/2 δϕT a a (5.5)

não são nulas uma vez que quanticamente o tensor energia-momento não tem mais
traço nulo:

D − 26
T aa = − R (5.6)
12

onde D − 26 é a carga conforme do tensor energia-momento na teoria de cordas


bosônicas e R é o escalar de Ricci do plano de evolução da corda. No calibre
conforme de g, utilizando eq.(4.27)

R = −e−ϕ ∂a ∂a ϕ (5.7)

com a derivação parcial feita na métrica plana.


CBPF-MO-005/02 73

Desenvolvendo Z[g] a partir de (5.5), chegamos a



D − 26
Z[exp(2ϕ)δ] = Z[δ] exp d2 σ(∂a ϕ)2 (5.8)
48π

Isto significa que para a anomalia de Weyl não nula (D = 26), o funcional integral
da corda equivale ao funcional de uma teoria de cordas Weyl-invariante acrescido de
um campo escalar extra. Substituindo (5.8) em (5.3):

Z= [dϕdX] exp (−S[ϕ, X]) onde,

1 26 − D
S= d2 σ α  (∂ϕ)2 + (∂X µ )2 (5.9)
4πα 12

A métrica da folha de universo acima é plana e não existe mais simetria de Weyl
nesta ação. Isso nos dá a liberdade de considerar outros termos não Weyl-invariante
a serem acrescentados a ação.
A teoria de cordas não crı́ticas é autoconsistente e seus resultados e interpre-
tação fı́sica não são necessariamente equivalentes ao modelo de cordas crı́ticas com
compactação. Em outras palavras, no caso de D = 4 o campo extra de Liouville na
teoria não crı́tica talvez não seja capaz de gerar o mesmo comportamento fı́sicos tais
quais os aspectos da não-comutatividade espaço-tempo que surgem da compactação
das dimensões extras na teoria crı́tica.

5.2 Critério de Confinamento de Wilson


Vamos fazer uma breve abordagem sobre o laço de Wilson e seu critério de confina-
mento [21]. Este estudo presume a existência de uma teoria de calibre que descreva
a interação entre quarks.
Trabalhando num espaço Euclidiano, o laço de Wilson, definido numa grade de
posições discretas do espaço-tempo, possui um limite contı́nuo,
+   $
W (C) = T r P exp −ig µ µ
dx A (x) (5.10)
C

onde C é um caminho fechado, isto é, um laço, Aµ são os campos de calibre e P é


CBPF-MO-005/02 74

o operador de ordenamento de caminho. Para um entendimento fı́sico do operador


W (C), reescrevemos
 
µ µ
dx A (x) = d4xj µ (x)Aµ , (5.11)
C

onde j µ é uma função nula exceto ao longo do caminho C. Tal função pode ser
vista como uma corrente externa de quarks a induzir campos de calibre. Num
caminho espaço-temporal C, a corrente externa de quarks na integral (5.11) descreve
a criação de um par quark-antiquark, sua propagação e seu aniquilamento num
tempo subseqüente. A integral (5.11) escrita numa exponencial em W (C) assume
o valor do termo de interação entre quarks e campos de calibre na ação. Portanto,
interpretamos W (C) como a amplitude de probabilidade de criação, propagação e
destruição de um par quark-antiquark ao longo de um laço C. Vide fig.5.1.
Para que quarks existam em estados não ligados, é preciso que caminhos de
propagação quark-antiquark afastados como em C1 na fig.5.1 tenham uma prob-
abilidade significativa. Para que haja confinamento de quarks, isto é, quarks só
existam em estado ligado, é preciso que só caminhos estreitos de propagação quark-
antiquark como em C2 tenham probabilidade significativa. O critério de Wilson
relaciona a possibilidade de confinamento com 2 tipos de comportamento do laço de
Wilson W (C):
,
e−KL(C) ⇒ sem confinamento
W (C) ∼ (5.12)
e−KΣ(C) ⇒ há confinamento

onde L(C) é o perı́metro de C e Σ(C) é a área contornada por C. De posse desse con-
hecimento, vamos ilustrar situações de confinamento e liberdade assintótica quark-
antiquark utilizando o caminho C3 que traça um retângulo de lados como percursos
apenas no eixo temporal e espacial separadamente. Relevemos a invariância de
Lorentz.
No caso de confinamento :

W (C) ∼ e−2KLT

O papel estatístico da exponencial nos permite interpretar o expoente do tipo −ET


CBPF-MO-005/02 75

Figura 5.1: Laços de Wilson

com E sendo a energia potencial do par quark-antiquark. Então :

E(L) = 2KL

e a força entre quark e antiquark é constante, para qualquer distância entre eles,
dentro do limite de acoplamento forte em baixas energias referentes a medições de
espalhamento em distâncias hadrônicas onde o confinamento se realiza.
No caso de liberdade assintótica que se realiza a altas energias/curtas distâncias,
imaginando o percurso C3 com T>>L, o laço de Wilson tem o seguinte comporta-
mento:

W (C) ∼ e−2KT

onde temos a situação E = 2K, isto é, as partı́culas percorrem uma superfı́cie
equipotencial, livres.

5.3 Cordas Confinantes


Na situação em que a teoria de calibre é confinante, o comportamento do laço de
Wilson de proporcionalidade a exponencial de uma área sugere a possı́vel existência
CBPF-MO-005/02 76

de teoria de cordas que descreve o laço de Wilson, pois conforme interpretação acima,
o operador de Wilson pode ser visto como um funcional integral e por outro lado
ação de uma corda é uma integração de área limitada pelas bordas da corda, que
por difeomorfismo interno podem se transformar na curva C. Tal é a conjectura de
A. Polyakov [22], ou seja, que a forma

W (C) = [dϕ][dX]e−S(ϕ,X) (5.13)

com S descrevendo a ação da corda não crı́tica, é solução das equações de Yang-Mills
no espaço de laços que fornecem a dinâmica do operador de Wilson [23, 24]:

- (C) = g 2
LW dsduċ(s)ċ(u)δ(c(s) − c(u))W (C)W (C) (5.14)
0

- valendo
com o operador laço L
 
- = lim
ε
δ2
L ds dt (5.15)
ε→0 −ε δc(s + t)δc(s − t)

Uma outra condição de contorno para as cordas confinantes é a existência da


simetria ”zigzag” no Operador laço de Wilson W (C). Tal simetria consiste na in-
variância do laço de Wilson sob transformações s → α(s) gerais. Em transformações
não difeomórficas em que dαds
troca de sinal, o contorno c(α(s)) reverte seu caminho,
a qual não gera variação alguma no laço de Wilson por ser um operador de trans-
porte paralelo. Por outro lado, a ação da corda sofrerá restrições para manifestar a
simetria ”zigzag”, que é mais genérica que o difeomorfismo da corda.
Encontrar cordas confinantes, isto é, que satisfaçam as condições acima, crı́ticas
ou não, é um dos atuais campos de trabalho dos teóricos em cordas. Em recente tra-
balho [25] seus autores encontraram uma descrição de corda não crı́tica que obedece
a conjectura acima dentro da aproximação WKB. O resultado é mais impressionante
ao se constatar que sua legitimidade se dá somente em D = 4.
Capı́tulo 6

Considerações Finais

Dentre os temas aqui tratados de teoria de cordas, gostarı́amos de mencionar alguns


problemas deixados em aberto e que são razão de estudos ainda atuais que não
puderam ser alcançados nesta abordagem introdutória.
O fato da dimensão D = 26 não ser observada até hoje é justificada na teo-
ria de cordas pela existência de dimensões compactas de tamanho da ordem do
comprimento de Planck (lP l ), de tal forma que nenhuma partı́cula trafegue nestas
dimensões.
A compactação das dimensões extras fez surgir uma nova simetria conhecida co-
mo dualidade T, que se realiza entre dimensões compactas de curvatura R e α /R.
O quadro de dimensões compactas tornou claro a existência de soluções de cor-
das abertas cujas extremidades vivem em superfı́cies (membranas) p-dimensionais
(p< D), conhecidas como p-branas. Tais soluções são não-perturbativas e tem sua
importância para os casos que não podem ser estudados perturbativamente, como
confinamento e buracos negros. Em novas interpretações da teoria de cordas, as
branas são tidas como os objetos reais e as cordas descrevem tensões entre branas.
Um outro problema na teoria de cordas até aqui tratada é a existência de estados
taquiônicos. Esta situação é resolvida pela adição de supersimetria e pela projeção
GSO (expurgação dos estados taquiônicos). A supersimetria oferece a vantajosa
contribuição de diminuir a dimensão crı́tica para D = 10 e acrescentar estados
fermiônicos a teoria de cordas.
Notadamente, somente agora conseguiu-se [26] os resultados obtidos pela QCD
CBPF-MO-005/02 78

e confirmados experimentalmente de espalhamento às altas energias. Este é um


antigo erro na teoria de cordas que a incapacitou de ser uma teoria de interação de
quarks e gluons por 30 anos. Tal correção foi feita dentro da validade da conjectura
AdS/CFT que estabelece uma dualidade entre teoria de cordas com supergravidade
e teoria de campos conforme.
Por fim, diversas diretrizes de estudo são hoje seguidas em teoria de cordas e
permanecem em aberto:

• Gravitação Quântica - estudos da conjectura ADS/CFT, cálculo de entropia


e descrição de microestados de um buraco negro, aplicação do princı́pio de
Holografia.

• Geometria não comutativa, CFT e aspectos matemáticos

• Soluções tipo Universo em Branas e estudo da constante cosmológica (ou


parâmetro cosmológico).

• Teoria de Campos de Cordas - promete resolver a diversidade de soluções de


vácuo na teoria de cordas e colocar mais vı́nculos na dinâmica do campo de
fundo ( métrica G+ campos)

• Teorias efetivas, supergravidade, teorias fundamentais (Teoria M)

Estes e outros aspectos correntemente investigados na Teoria de Cordas visam


tornar a única teoria de unificação uma proposta efetiva de modelamento da reali-
dade fı́sica.
Bibliografia

[1] J. Polchinski. String theory. Vol. 1 and 2. Cambridge Univ. Pr., UK, 1998.

[2] B. Hatfield. Quantum field theory of point particles and strings. Redwood City,
USA: Addison-Wesley (1992) 734 p. (Frontiers in physics, 75).

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