O Horror Econômico - Resenha

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

NATHALIA GOMES DE JESUS MARTINS

O Horror Econômico

Viviane Forrester

Vitória/ES

2023
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS

SERVIÇO SOCIAL

FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA

Nathália Gomes de Jesus Martins

Viviane Forrester cita que cada vez mais o trabalho dos trabalhadores torna-se
desnecessário para o funcionamento da economia e, dessa forma, há uma nova
lógica que visa a extinção do trabalho assalariado, ou até mesmo a progressiva
interrupção de vínculos empregatícios. De acordo com ela, “qualquer que tenha sido
a história da barbárie ao longo dos séculos, até hoje o conjunto dos seres humanos
sempre beneficiou de uma garantia: ele era essencial ao funcionamento do planeta,
como à produção, à exploração dos instrumentos do lucro, de que fazia parte ( ... ).
Hoje, pela primeira vez, a massa humana já não é materialmente necessária, e
menos ainda economicamente” (1997, p.160 - 161). Ademais, a autora insere o fato
de que o desemprego é uma complicação estrutural e endêmica, e negá-lo é como
sustentar o discurso ideológico dominante, visto que há a proliferação de
subempregos e de ocupações indignas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), em 2021, o Brasil bateu recorde em desempregos e
subempregos no primeiro trimestre do ano, onde 14,8, milhões de trabalhadores
ficaram sem trabalho, cerca de 14,7% do país. No entanto, em 1994, de acordo
com a International Labor Organization, esse já era um problema mundial, dado que
cerca de 820 milhões de pessoas ao redor do mundo estavam desempregadas ou
subempregadas.
Desse modo, a autora critica a economia privada, que estimula esse raciocínio,
além de condenar governos que elaboram essas políticas que resultam em apenas
resquícios para os trabalhadores. Assim, seria indispensável entender que a
economia não considera as necessidades sociais, visto que as conveniências
privadas acabam prejudicando as sociais. Como ela mesma indaga, “em nome de
quê o país inteiro e outros países, e os partidos de esquerda em primeiro lugar
acreditaram, e ainda acreditam, que a prosperidade da empresa seria equivalente à
da sociedade, que o crescimento criaria empregos” (1997 p. 83).
Dessarte, Forrester menciona que "alcançar a indiferença geral, é mais uma vitória
para o sistema do que ganhar o apoio parcial", destacando que a alienação, como
Karl Marx chama, também é uma arma para perpetuação do acúmulo de capital.
Assim, para grandes empresas e estados, é preferível que a população esteja
indiferente e desinteressada de fatos políticos. Ela expõe que todas essas
consequências sistemáticas são geradas em decorrência da busca do lucro e,
dessa forma, multinacionais, transnacionais, globalização e mundialização
governam a economia, onde os países são meras municipalidades.
A autora também responsabiliza a instituição que deveria servir de suporte para a
constituição do coletivo: o Estado. Cada vez mais privatizado e neoliberal, os
governos se eximem de suas obrigações e servem aos capitalistas e ao capital,
sempre tendo a publicidade como aliada. Desse modo, a população é convencida,
se faz acreditar, e chega até a defender enganações que dão seguimento nas
retiradas de direitos dos trabalhadores e na sua permanência na miséria. Como ela
conclui, “cada um parece ao contrário, estranhamente cúmplice: não só aqueles que
ainda têm a bondade de se dignar ou se dar ao trabalho de fazer uso dessas
perífrases corteses em relação à população que não tem mais avisos a dar, mas
que reclamam essas promessas, suportam seus perjúrios e, afinal, pedem apenas
para ser exploradas. (...) Assim tacitamente aineaçados, estamos imobilizados
dentro de espaços sociais condenados, locais anacrônicos que se autodestóem,
mas onde temos o estranho e apaixonado desejo de permanecer, enquanto o futuro
se organiza, debaixo de nossos olhos, em função da nossa ausência, já programada
de maneira mais ou menos consistente” (1997, p. 133 - 135).
A obra ataca o neoliberalismo e explicita as convergências entre fatores econômicos
e sociais, focalizando na questão do desemprego. No entanto, apesar de
reconhecer a acumulação de capital, a exploração e complicações sistemáticas, a
autora parece transfigurar essas contradições de um ponto de vista bastante moral.
Dessa forma, ela constata que “não se trata de chorar sobre o que não existe mais,
de negar e renegar o presente. Não se trata de negar, de recusar a mundialização...
Trata-se, pelo contrário, de levá-los em consideração. Trata-se de não ser mais
colonizado. De viver com conhecimento de causa, de não mais aceitar tacitamente
as análises econômicas e políticas que passam por cima dos fatos, que só os
mencionam como elementos ameaçadores, obrigando a medidas cruéis, as quais se
tornarão ainda piores se não forem aceitas com toda a submissão” (1997, p.144).
REFERÊNCIAS

FORRESTER, Viviane. O horror econômico. Lisboa: Terramar, 1997.

Desemprego e subemprego batem recorde; 14,8 milhões estão sem trabalho.


Vermelho, 2021. Disponível em:
https://vermelho.org.br/2021/05/27/desemprego-e-subemprego-batem-recorde-148-
milhoes-estao-sem-trabalho/. Acesso em 02 de fevereiro de 2023.

SAIFI, Samira. Leituras de Economia Política. Campinas, (4): 189-93, 1997.

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