Ufpr2019 Ic Marina Ruiz Rel Final
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INICIAÇÃO CIENTÍFICA:
PIBIC CNPq ( ), PIBIC CNPq Ações Afirmativas ( ), PIBIC UFPR TN ( ),
PIBIC Fundação Araucária ( ), PIBIC Voluntária (X), Jovens Talentos ( ), PIBIC EM ( )
NOME DO ORIENTADOR:
Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
TÍTULO DO PROJETO:
Adequação de edificações com vistas à sustentabilidade por retrofitting
BANPESQ/THALES: 2017023792
CURITIBA PR
2018
1
1 TÍTULO
3 RESUMO
4 INTRODUÇÃO
Inicialmente baseada na produção agropecuária, a sociedade garantiu sua subsistência por
meio da agricultura e da criação de animais sem praticamente nenhuma preocupação com o meio
2
ambiente. Isto prosseguiu pelos séculos e, com a Revolução Industrial (1750-1830), os meios de
produção mudaram a partir da difusão das máquinas e, devido ao aumento populacional – e da
maior demanda disso decorrente – cresceu também a exploração da natureza. Entretanto, da
mesma forma que nos primórdios da civilização, não houve maiores precauções quanto à
conservação do meio ambiente e à finitude de seus recursos (SILVEIRA, 2017). A continuidade
desse processo – no qual a natureza foi explorada sem se refletir quanto às suas reais limitações –
acarretou em diversos problemas ambientais, os quais ainda estão vigentes na atualidade, como o
efeito estufa e a redução dos recursos naturais (ALMEIDA, BONILLA et GIANNETTI, 2007).
Foi devido a esse cenário que no ano de 1972, em Estocolmo (Suécia), ocorreu a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (CNUMAH), da qual resultou uma
declaração que atentava para a necessidade de um novo tipo de desenvolvimento econômico, este
capaz de manter o progresso em voga e garantir que as próximas gerações tivessem suas
necessidades atendidas. Essa conferência contou com representantes de 113 países – entre os
quais, o Brasil –, porém, graças a um alerta pela redução das atividades industriais, alguns países
desenvolvidos foram resistentes diante das metas propostas, visto que tal ação poderia
comprometer suas economias (TODAMATERIA, 2017). Em seu sexto parágrafo, a Declaração
sobre o Meio Ambiente Humano (1972), afirmava:
Após uma avaliação dos dez anos da Conferência de Estocolmo, a ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS – ONU retomou o debate das questões ambientais criando a Comissão Mundial
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), chefiada pela então primeira-ministra da
Noruega, Gro Harlem Brundtland (1939-). Formada em 1983 por especialistas internacionais, esta
3
equipe produziu um documento final dos estudos denominado Relatório Brundtland, o qual foi
apresentado em 1987 e posteriormente rebatizado como Our common future (“Nosso futuro
comum”). Apresentando pela primeira vez o termo “sustentabilidade”, o documento em questão
propunha o que chamou de “desenvolvimento sustentável”, sugerindo desde a criação de
tecnologias para uso de fontes energéticas renováveis até o emprego de novos materiais na
construção, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de suprir suas próprias
necessidades (RELATÓRIO BRUNDTLAND, 2018).
Em 1992, vinte anos após a Conferência de Estocolmo, ocorreu uma segunda reunião da
ONU, desta vez denominada Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD). Sediada no Rio de Janeiro e também chamada de a Cúpula da Terra,
a Eco’92 procurou por uma solução que contemplasse simultaneamente o desenvolvimento
econômico e a necessidade de preservação ambiental, além de tentar encontrar um meio termo
entre os interesses dos países desenvolvidos e daqueles em processo de desenvolvimento. Assim,
concluiu que, com o intuito de preservar o meio ambiente, dever-se-ia conciliar componentes
econômicos, ambientais e sociais (BRASIL, 2012a).
Isso serviu como base para a formulação do documento denominado “Agenda 21”, que,
adotado durante a Cúpula da Terra, foi além das questões ambientais para abordar os padrões de
desenvolvimento que causam danos à natureza, incluindo áreas de ação como: proteger a
atmosfera; combater o desmatamento, a perda de solo e a desertificação; e prevenir a poluição da
água e do ar; entre outros. Contudo, de acordo com o site da ONU-BR (2018), seu maior destaque
estava em reconhecer que para o desenvolvimento sustentável ter sucesso se deveria incluir a
responsabilidade sobre a pobreza e a dívida externa dos países em desenvolvimento. Ademais, a
fim de assegurar o total apoio aos objetivos do programa, a Assembleia Geral estabeleceu, naquele
mesmo ano de 1992, a Comissão para o Desenvolvimento Sustentável como integrante funcional
do Conselho Econômico e Social da ONU.
Nos anos seguintes, apesar dos avanços propostos pela Agenda 21, poucos realmente se
concretizaram, sendo necessária a formação de uma Cúpula de “implementação”, idealizada para
transformar as metas e compromissos analisados na Eco’92 em ações concretas e tangíveis.
Destarte, foi realizada dez anos depois, em 2002, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável em Johanesburgo (África do Sul), buscando detalhar os métodos de ação (SEQUINEL,
2002). Também conhecida como Rio+10, esta conferência contou com a participação de 189
países, além de representantes da sociedade civil, sendo nela adotado um plano de ações sobre
4
pobreza e miséria, bem como gestão de recursos naturais. Apesar da fértil discussão, a Declaração
de Johanesburgo foi considerada frustrante por não definir metas ou prazos, dificultando a cobrança
do acordo firmado entre os países (BRASIL, 2012b).
Uma década após a sua realização, em 1996, ocorreu a segunda conferência sobre cidades:
a Habitat II, que ficou também conhecida como a Cúpula das Cidades. Desta vez sediada em
Istambul (Turquia), o evento resultou na elaboração da “Agenda Habitat”, cuja principal estratégia
consistia em apoiar governos e parceiros da sociedade civil, adotando dois objetivos básicos: a
criação de moradias adequadas para todos e o desenvolvimento de assentamentos humanos
sustentáveis em um mundo em processo de urbanização (FERNANDES, 2003).
De acordo com Rolnik (1996), a conferência Habitat II permitiu, pela primeira vez, que
setores não-governamentais tivessem participação oficial nas delegações nacionais em debates do
1 Na conjuntura de conferências sobre o meio ambiente, é importante ressaltar a mais recente concórdia sobre o tema: a Cúpula das
Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, esta realizada em 2015 na sede na ONU em Nova York (EUA), a qual culminou
na adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Contando com série de metas, a ODS propôs um debate de alcance
sistêmico estimulando, segundo o site do Ministério das Relações Exteriores (BRASIL, 2018), a ação em diferentes áreas de
importância crucial para a humanidade e para o planeta nos próximos quinze anos, justificando o nome Agenda 2030. Para tal fim,
preconizou-se uma aliança global para melhorar a vida das pessoas agora e no futuro, partindo de um crescimento ecologicamente
viável (AGENDA2030, 2018).
5
gênero, além de se ter constituído na ocasião um fórum próprio dessas representações como parte
oficialmente integrante do evento. Ademais, a conferência trouxe à tona muita das conclusões que
haviam sido tomadas em 1993, por ocasião do Congresso Internacional de Arquitetura ocorrido em
Chicago IL (EUA), o qual fora promovido pela UNIÃO INTERNACIONAL DE ARQUITETOS (UIA) em
conjunto com o INSTITUTO DE ARQUITETOS AMERICANOS (AIA). Documento síntese desse evento, a
Declaração de interdependência por um futuro sustentável (1993) reconhecia que os edifícios e o
ambiente construído têm um efeito importante no impacto sobre o ambiente natural e a qualidade
de vida. Assim, estabelecia-se definitivamente como responsabilidade dos arquitetos o
planejamento que integre “problemas de recursos, eficiência energética, edifícios e materiais
construtivos saudáveis, um uso e ocupação do solo que seja socialmente e ecologicamente
sensato, ao mesmo tempo em que oferece uma estética que inspire, afirme e enobreça” (LIMA,
1997, p. 219).
Em 2016, ocorreu a conferência Habitat III que, sediada na cidade latino-americana de Quito
(Equador), voltou a discutir a questão da sustentabilidade dos espaços construídos. Desde então
se adotou mundialmente a Nova Agenda Urbana – documento que deverá orientar a urbanização
sustentável pelas próximas duas décadas –, segundo a qual são metas internacionais: a igualdade
de oportunidades para todos; o fim da discriminação; a importância das cidades mais limpas; a
redução das emissões de carbono; o respeito pleno aos direitos dos refugiados e migrantes; e a
implementação de melhores iniciativas verdes e de conectividade, entre outras (ONU-BR, 2016).
5 REVISÃO DA LITERATURA
2 No contexto do diálogo internacional para a questão dos assentamentos humanos, a Assembleia Geral da ONU estabeleceu, desde
2002, o Fórum Urbano Mundial. Este, de ocorrência bianual, tem como objetivo estabelecer suportes de aconselhamento à Diretoria
Executiva do UN-HABITAT, considerando as premissas já reunidas pela Agenda Habitat (1996) e considerando também a Declaração
do Milênio (2000), que foi o compromisso firmado no início deste século por 191 nações para combater a extrema pobreza e
outros males da sociedade (ANTONUCCI et al., 2009).
6
No início dos anos 1970, segundo Soares (2012), já existiam recomendações das Nações
Unidas no que se refere à adoção de uma abordagem preventiva às políticas patrimoniais, isto é,
ficaria a cargo dos Estados efetuarem a preservação do seu patrimônio cultural e natural,
destacando-se a necessidade de programar uma fiscalização regular dos bens, por meio de
inspeções periódicas. Nesse sentido, o século passado abriu espaço para a formulação de
documentos que reuniriam diretrizes e recomendações internacionais para as práticas de
conservação, manutenção e utilização dos bens culturais, as quais passaram a ser chamadas de
“Cartas Patrimoniais”.
Desde então, diversas outras Cartas foram desenvolvidas com o intuito de definir as
diretrizes da preservação e restauração, bem como elucidar o valor de patrimônio histórico. A Carta
do Restauro (1972), por exemplo, descreve todas as diretrizes, etapas, responsabilidades, técnicas
e programas para a preservação e restauração de bens históricos, artísticos e culturais (IPHAN,
1972). Posteriormente, no mesmo cenário internacional, elaborou-se a Declaração de Amsterdã
(1975) e a Carta de Burra (1980), entre outras. O desenvolvimento desses documentos ampliou e
consolidou o conceito de patrimônio, ao mesmo tempo em que diversas e inovadoras tecnologias
foram introduzidas para a manutenção e conservação do bem cultural, favorecendo a redução de
3 No Brasil, por exemplo, um projeto que compreendesse o patrimônio para sua preservação surgiu já na década de 1930, quando o
escritor modernista Mario de Andrade (1893-1945) foi convidado a desenvolver um anteprojeto para o então denominado Serviço de
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), com o intuído de promover todas as intervenções em monumentos. Hoje chamado
de INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN), é vinculado ao Ministério da Cultura e desde sua criação em
1937, por meio da Lei Federal n. 378, assinada pelo então presidente Getúlio Vargas (1882-1954), tornou-se responsável pela
conservação, salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros (IPHAN, 2018).
7
Finalmente, foi sob essa perspectiva que surgiu o conceito de retrofit na década de 1990
nos Estados Unidos da América e também na Europa. A princípio, o termo foi utilizado na indústria
aeronáutica referindo-se à atualização de aeronaves e, posteriormente, passou a ser usado também
na construção civil. Deste modo, passou a referenciar todo o processo de modernização e
atualização de edificações, assim como valorizar os edifícios antigos, de modo a torná-los
contemporâneos através de uma atualização tecnológica (ROCHA et QUALHARINI, 2001).
A ideia de retrofit – palavra derivada da junção de “retro”, do latim, que significa movimentar-
se para trás; e “fit”, do inglês, que se relaciona à adaptação; ajuste – aplicada na área de construção
civil pretende basicamente revitalizar edifícios postergados, aumentando sua vida útil, conforto e
funcionalidade. Neste sentido, a utilização do processo de retrofitting condiz perfeitamente com os
pressupostos da sustentabilidade, uma vez que, a partir da conscientização dos profissionais de
arquitetura e engenharia para preservação do meio ambiente, torna-se possível a diminuição de
novas construções, já que muitas das preexistentes possuem grande potencial de reabilitação e
reutilização (OLIVEIRA, 2007).
4 Edwards (2009) esclarece outros fatos relevantes no cenário mundial sobre edifícios, ou quais se destacam:5% da energia gerada no
mundo destina-se a aquecer, iluminar e ventilar edifícios, somando ainda 5% para construí-los; 40% da água na Terra destina-se a
abastecer as instalações sanitárias e outros usos nos edifícios; 60% da melhor terra cultivável no planeta é utilizada pela construção;
e 70% dos produtos madeireiros mundiais dedica-se à construção de edificações.
8
demandas do usuário e provendo aos empreendedores uma maior garantia de vendas são ações
que promovem a não obsolescência dos empreendimentos.
É necessário elucidar que o retrofit não se limita a somente edificações antigas e, como
salientam Barrientos et Qualharini (2004), o processo relaciona-se a uma reforma generalizada do
partido arquitetônico – que são as soluções dadas ao programa de necessidades –, o que engloba
pisos, iluminação, elevadores, fachadas, ar condicionado central, sistemas hidráulicos, segurança,
automação predial e pavimentação, entre muitos outros itens desse processo. Isto de forma que,
para alcançar esses objetivos, deve-se usar as ferramentas mais modernas que a tecnologia
fornece, a fim de produzir uma arquitetural funcional e bioclimática.
Para justificar o uso do processo do retrofit, ainda segundo Moraes et Quelhas (2011),
destaca-se os seguintes motivos:
atualizar (BARRIENTOS et QUALHARINI, 2004). Isto posto, é possível ter um retrato real da
situação da edificação devido aos levantamentos descritos, uma vez que avaliar o estágio de
degradação é indispensável à sua reabilitação.
Para uma apropriada intervenção de retrofit, a arquiteta Telma Fattori Nunes, gerente de
projetos da Cushman & Wakefield Semco – empresa especializada em gerenciamento de imóveis
– sugere que seja seguida uma metodologia que envolve basicamente 07 (sete) etapas, assim
descritas por Moraes et Quelhas (2012):
Nesse contexto, é evidente que a investigação de uma pesquisa possui papel fundamental
na definição das diretrizes do projeto, que, ainda segundo Moraes et Quelhas (2012), caracterizam
um trabalho complexo que exige a presença de um profissional da área específica acompanhando
o arquiteto na intervenção do retrofit, de forma a permitir o reaproveitamento de materiais,
equipamentos e funções que ainda possuem condições para reutilização, pois se torna relevante
10
manter os originais quando são de boa qualidade e tiverem padrão superior ao usualmente utilizado
e disponível no mercado5.
Existem métodos de projeto arquitetônico que anteveem o uso do retrofit no futuro, a fim de
facilitar uma posterior atualização da edificação, visto a importância de salvaguardar um
desenvolvimento urbano sustentável. Por isto, Edwards (2009), tendo em mente o ciclo de vida de
todos os componentes do edifício, sugere em sua pesquisa algumas ferramentas para tal uso do
retrofitting. São elas:
• Evitar a exclusividade funcional, pois a função pode ter uma vida útil mais curta do que o próprio
edifício;
• Maximizar o acesso à luz e ventilação natural;
• Adotar a simplicidade funcional do projeto, uma vez que a simplicidade das instalações e dos sistemas
construtivos permite melhorá-los periodicamente;
• Fornecendo acesso a energia renovável; e
• Proporcionar a possibilidade de substituição de peças, pois a construção flexível e removível é mais
fácil de renovar do que a tradicional.
5 Em razão disso, um retrofit não implica necessariamente na completa alteração das características arquitetônicas de um edifício. Por
conseguinte, alguns casos em que as fachadas possuem alguma importância histórica para a região, por exemplo, é propicio substituir
os componentes antigos por outros tecnologicamente mais convenientes. Assim, mantém-se as peculiaridades arquitetônicas originais
(MORAES et QUELHAS, 2012).
11
Segundo Lanzinha, Freitas et Castro Gomes6 (2006), citados por Moraes et Quelhas (2011),
o crescimento observado no Brasil foi possível graças a alguns aspectos fundamentais, como os
fatos do seu parque habitacional “envelhecido” tornar-se relevante e os prédios construídos nas
décadas de 1950 e 1960apresentarem-se degradados. Além disto, houve a necessidade de
canalizar recursos para a reabilitação dos edifícios existentes como consequência indireta das
limitações ao crescimento indiscriminado dos centros urbanos, em paralelo ao “despovoamento”
dos núcleos urbanos antigos das grandes cidades, em conjunto a uma maior atenção na
recuperação do patrimônio e dos centros históricos nacionais.
Soma-se a isso a constatação de que o Brasil é um país principalmente urbano, uma vez
que, conforme dados recentes do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE), mais
de 80% da população vive em cidades. De acordo com Vale (2006), devido à baixa qualidade de
vida urbana no país, a destruição e descaracterização do patrimônio edificado e, acima de tudo, a
falta de sustentabilidade ecológica nos processos decorrentes das ações urbanas empreendidas,
coloca o Brasil em meio a uma verdadeira “crise urbana”. Por isto, o adensamento dos centros
contribuiu, segundo o autor, com a intensificação de investimentos no setor imobiliário, o que
juntamente com a atratividade das áreas centrais, mostra que o país, embora jovem, possui um
mercado bastante promissor para as intervenções por retrofitting arquitetônico.
6 LANZINHA, J. C. ; FREITAS, V. P.; CASTRO GOMES J.P. Metodologias de diagnóstico exigencial à reabilitação de edifícios de
habitação. In:CONFERÊNCIA NACIONAL SOBRE PATOLOGIA E REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS. Porto (Portugal), FACULDADE DE
ARQUITETURA DA UNIVERSIDADE DO PORTO – FAUP, mar. 2006.
7 Destaca-se que o processo de retrofit não se trata apenas de uma simples restauração do patrimônio histórico da cidade – ou ainda
de uma mera reforma. Isto porque a restauração apenas devolve o edifício ao estado original, assim como no processo de reforma não
existe um engajamento com as características originais da edificação. O retrofit une as duas técnicas e vai além, pois “[...] busca a
eficiência do edifício e sua sincronicidade com o tempo presente, dentro das limitações físicas de sua antiga estrutura; com a
vantagem da redução do prazo de construção e a adequação geográfica do imóvel dentro do contexto da cidade” (VALE,
p. 146-147, 2006).
12
O retrofit em prédios tombados pelo IPHAN também se tornou bastante comum no país,
desde as intervenções paulistanas na Sala São Paulo, na Pinacoteca do Estado, no Museu do
Ipiranga, na Casa das Retortas (Figura 04), no Mercado Municipal e no Palácio das Indústrias, todas
realizadas do final do século passado até a primeira década de 2000. Tais ações de retrofit quase
sempre são realizadas e financiadas pelo Poder Público, embora existam exceções. Da mesma
forma, atualmente, há o retrofitting de prédios comerciais, os quais são modernizados com o objetivo
de implantar sistemas que proporcionem a economia de água e energia aos ocupantes, além da
valorização do imóvel. Tais empreendimentos concentram-se em áreas nobres das cidades, como
na Avenida Paulista (SANTANA, 2014).
8 Com a frenagem regenerativa, os elevadores inteligentes armazenam energia na subida e descida para utilizá-las na frenagem,
possibilitando reduções do consumo energético de 30% a 50%, em comparação aos elevadores convencionais (SANTANA, 2012).
13
terraço gramado no primeiro pavimento e floreiras no térreo. Além disso, de acordo com Santana
(2012), prevê-se o uso de madeiras certificadas, materiais com conteúdo reciclado incorporado e
produtos regionais – ou seja, fabricados dentro de uma distância máxima de 800 km –, assim como
o uso de tintas e adesivos com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis. Conforme a
consultora de sustentabilidade do CENTRO DE TECNOLOGIA DE EDIFICAÇÕES (CTE), Adriana Petrella
Hansen,
[...] o ambiente foi projetado para proporcionar conforto térmico e visual aos
usuários, além de qualidade de ar interno, possível devido à adoção de materiais
com baixa emissão de poluentes na obra. Enquanto os locatários serão
beneficiados pela redução do consumo de água e energia que o projeto
proporcionará (SANTANA, 2012, p. 50).
O projeto de retrofit do Paulista 2028 possui pré-certificação Gold LEED (PAULISTA2028, 2018) e
tem como diferenciais medidas sustentáveis importantes, ressaltadas também pela consultora do
CTE, a saber:
Ainda segundo Santana (2012), outras medidas sustentáveis serão implantadas nas
diversas áreas do edifício, começando pela infraestrutura, que será planejada para a gestão e coleta
seletiva de resíduos e facilitará a obtenção da certificação dos espaços internos pelo locatário. Nas
áreas comuns, haverá apenas um aparelho de ar-condicionado, enquanto para as demais áreas,
será instalado um sistema individual para cada pavimento. Os equipamentos do tipo VOLUME DE
REFRIGERANTE VARIÁVEL (VRV) permitirão a adequação do volume de refrigeração à temperatura
ambiente, utilizando apenas a energia necessária, sem desperdícios9.
Para citar alguns exemplos locais, com base na reportagem de Bubniak (2012), a cidade de
Curitiba possui dois grandes exemplos de edificações que foram “retrofitadas”: o Shopping Estação
(Figura 06) e Shopping Curitiba (Figura 07). Ambos reutilizaram espaços já existentes para novos
usos, reciclando suas estruturas antigas e tombadas pelo patrimônio, sendo que o primeiro era uma
estação ferroviária e o segundo um quartel general. Outro exemplo recente de retrofit foi a
atualização da Estação Rodoviária, que demonstrou a possibilidade que esse processo oferece na
reutilização de espaços e adaptação a novas demandas. Para o arquiteto Manoel Dória, citado na
mesma matéria, as intervenções realizadas se relacionam com sustentabilidade, uma vez que não
foi “necessário destruir para construir algo novo”.
9
A porcentagem de economia estimada para o consumo de água no Paulista 2028 é de 35% e a de energia de 16%, segunda as
informações do CTE. Contudo, a BNCORP, responsável pelo projeto, espera uma economia ainda maior sobre os custos de operação,
ou seja, em torno de 30%, o que representa uma enorme vantagem, considerando um investimento com valor muito próximo ao
realizado em empreendimentos sem os diferenciais de sustentabilidade (SANTANA, 2012).
14
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO
FIGURA 11 FIGURA 12
FIGURA 13
Segundo Gelinski (2010), o processo de restauro foi adequado quanto à composição de materiais e à
resistência aos esforços e intempéries, além da precisão do ponto de vista da recomposição geométrica e
tecnicamente integrado com os demais componentes construtivos. Considerando o valor patrimonial da
edificação, as dimensões e a proporção das aberturas, frente à área maciça de alvenaria e à geometria dos
volumes que compõem o embasamento, o auditório e a torre, eram características da estética e da técnica
vigente no momento do projeto original, que retratava a transição do status de província para metrópole com
a verticalização na área central da cidade. Isto foi totalmente respeitado pelos arquitetos.
Além disso, na restauração da argamassa de revestimento, elaborou-se um levantamento de toda a
superfície para ensaio de laboratório e caracterização da composição original, assim como o registro da
paginação, frisos e pingadeiras 10. A decisão de remover todo o revestimento foi devido a terem sido
encontrados grandes trechos com aplicação de cimento projetado sobre a argamassa original fragilizada por
ocos ou presença de material orgânico – ou pelas marcas das pichações. A recomposição exigiu a remoção
das tubulações embutidas, de modo a evitar fissuras, além da aplicação de um sistema de impermeabilização
para suportar a movimentação das grandes extensões de alvenaria. No momento dessa aplicação, foram
realizados testes de coloração, aderência e resistência para validação da solução. Por fim, nas superfícies
revestidas com placas de granito foi feito hidrojateamento para limpeza e leve polimento (GELINSKI, 2010).
Segundo o site do escritório responsável pela obra (PIRATININGA, 2010), as mudanças que foram
implementadas no prédio da Biblioteca destinavam-se a promover maior convivência com os espaços criados,
como novas salas individuais e para estudos em grupo providas por equipamentos mais recentes, tendo em
vista o espaço limitado existente antes da intervenção. No que tange à parte estrutura,l foi necessário reforço
no nível do subsolo, de modo a possibilitar um sistema flexível que permitisse reversibilidade. Paralelamente,
a iluminação natural abarcou toda a área de leitura; e, quando necessária, a iluminação artificial foi projetada
especialmente para o conforto dos frequentadores. Além disso, a edificação recebeu uma nova rede de
infraestrutura que abrange desde as instalações hidráulicas até à proteção de descargas elétricas, assim
como foi desenvolvida uma climatização específica para cada condição de uso diferente do ambiente.
Como proteção à atividade da leitura, foi
FIGURA 15
construída para circulação pública na área
externa do edifício utilizando-se vidro
transparente estruturado a 82º (Figura 14)
em relação ao piso, de maneira a se evitar a
incidência de reflexos externos, além de atuar
como barreira térmica e acústica para os
salões da Biblioteca, de modo a amplificar e
qualificar o passeio público. Ademais, o
projeto de modernização valorizou a inclusão
de portadores de deficiência e a circulação
em todo seu conjunto (PIRATININGA, 2010).
Por fim, acrescenta-se que a localização
e inserção na Praça Dom José Gaspar
(Figura 15) foi determinante para a nova
configuração do prédio, uma vez que a
relação da Biblioteca é de desfrute com os cidadãos usuários da praça; um local dedicado à leitura de jornais
e revistas, o que se opõem com a clara separação no interior do que é área pública daquela sob controle de
acesso. Colaborando com isto, como afirma Helm (2010), a reconexão com a praça aconteceu por meio de
um mobiliário especial projetado especialmente para a requalificação, assim como pela geometria da
plataforma externa, a qual passou a permitir a realização de atividades externas.
10
Considerando cada trecho e item, as fachadas foram submetidas a vários ensaios, os quais foram feitos pelo Estúdio Sarasá. Tanto
os perfis de aço e alumínio quando o adesivo de silicone e os vidros utilizados na nova fachada passaram por verificação dimensional
e laudos técnicos realizados na própria obra. Para a liberação da argamassa de revestimento da fachada era feita a coleta de material
em campo, limpeza com água morna e sabão neutro, caracterização de materiais – pedras, argamassa e aditivos –, granulometria e
balanceamento das dimensões e proporções de participação das diferentes partículas. A execução de protótipos para testes da
argamassa permitiu a identificação das eventuais correções, assim como a proposição de ajustes até a validação da solução técnica
(GELINSKI, 2010).
18
FIGURA 22 FIGURA 23
FIGURA 19
FIGURA 24
FIGURA 21
FIGURA 25
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho propôs sintetizar os conceitos relacionados ao retrofit tendo como plano de
fundo o seu surgimento, caracterização e difusão a partir dos despertares ecológico e histórico que
ocorreram no último quartel do século passado. Foi possível não apenas apresentar um panorama
geral, mas também ilustrar, descrever e analisar casos de edificações que passaram por retrofitting
no Brasil. Constatou-se por meio desta pesquisa que a sustentabilidade consiste na resposta mais
adequada a como desenvolver o retrofit, visto que a recuperação de obras danificadas através do
uso desse processo arquitetônico é uma ferramenta de intervenção limpa e confiável, a qual
evita que as edificações tornem-se obsoletas, modernizando-as. E mesmo que outros fatores por
si só não venham a justificar o reaproveitamento destas, o custo ambiental da demolição e o gasto
energético em novos materiais já são razões substanciais para a escolha dessa readequação.
Outra conclusão do presente estudo corresponde ao fato de que a preservação dos valores
arquitetônicos e paisagísticos fundamentados no patrimônio construído – o qual independe de ser
este tombado ou não – deve ser considerada no processo de retrofitting, pois todas as construções
preexistentes fazem parte da paisagem urbana e, portanto, contribuem para a identidade e memória
da população ali estabelecida. E é justamente neste âmbito que o retrofit pode atuar de modo a
evitar o envelhecimento e inadequação das edificações, que poderiam levar à degradação de seu
entorno. Assim, o objetivo central voltar-se-ia à melhoria da qualidade de vida em geral, o que
favorece à reabilitação do ambiente urbano em todos as suas instâncias: da político-econômica à
socialcultural, passado pelos âmbitos tanto administrativos quanto ambientais.
No cenário nacional, ficou evidente o crescimento de intervenções prediais por retrofit nas
últimas décadas, porém ainda há necessidade de maior investimento nessa área. Com objetivo de
fomentar o mercado de construção civil no Brasil, a realização de estudos no campo da
remodelação de edifícios preexistentes é de grande importância, bem como o esforço por encontrar
formas de aplicá-los à nossa realidade. Por fim, observou-se que, apesar do recente crescimento,
ainda não existe um número significativo de casos de retrofitting no país e, portanto, um relatório
como este deve ressaltar a necessidade de se realizar cada vez mais estudos nas áreas de
requalificação e readequação de edificações, sempre com uma abordagem sustentável.
9 REFERÊNCIAS
FONTES DE ILUSTRAÇÕES
Figura Disponível em: Acesso em:
01 https://4.bp.blogspot.com/_XhCzPB_ZW84/RzieuAp9GVI/AAAAAAAAAJw/eyE4X2IEjwg/s400/cinemalimp 17 dez. 2018
o1.jpg
02 http://cidadedesaopaulo.com/v2/wp-content/uploads/2017/02/Esta%C3%A7%C3%A3o-da- 17 dez. 2018
Luz_040614_Foto_JoseCordeiro_016.jpg
03 http://www.maiorviagem.net/wp-content/uploads/2015/11/IMG_9689.jpg 17 dez. 2018
04 https://i.pinimg.com/originals/c7/f0/13/c7f013be96ed389d9a2eef49aceaec9b.jpg 17 dez. 2018
05 http://www.bnengenharia.com.br/wp-content/uploads/2014/10/paulista_2028.jpg 17 dez. 2018
06 https://i1.wp.com/curitibadegraca.com.br/wp- 17 dez. 2018
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10 PARECER DO ORIENTADOR
11 DATA E ASSINATURAS