Penal, Processo Penal e Contraordenações Geral

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Notas e conceitos essenciais:

01. Contraordenações surgem no ano 1979, com o DL 239/79, de 25 de


julho, quando assistimos ao início da conversão das contravenções em
contraordenações, libertando os Tribunais da decisão de determinados
ilícitos. Existe remissão para a Lei 30/2006. Influências do CP de Napoleão
no séc.19.
02. Ilícitos que tinham Natureza Judicial passam a ter Natureza
Administrativa, entidade que passa a decidir determinada causa deixa de ser o
Tribunal para passar a ser uma entidade/autoridade administrativa.
03. DL 239/79, de 25 de julho é substituído pelo RGCO em 1982 (atual) e
surge, neste ano, o atual Código Penal.
04. RGCO: temos presentes as duas naturezas do regime geral das
contraordenações: dos artigos 1º a 32º temos natureza material - parte
geral , e.g. conceitos e noções - e a partir do 33º entramos na natureza
formal - ou direito adjetivo - das contraordenações - e.g.várias fases do
processo, recursos, etc. -.
05. Contraordenação: infração punível com sanção pecuniária (coima),
não convertível em pena de prisão e que não fica no registo criminal
(e.g.natureza rodoviária, de segurança, etc), punibilidade por título doloso ou
negligência, e a competência para processamento cabe a autoridade
administrativa e não aos Tribunais. Tribunais podem, apenas e só, apreciar
recursos.
06. Contravenção: era infração punível com sanção pecuniária (multa),
não convertível em pena de prisão, ficava no registo criminal, eram
competência dos Tribunais e não de autoridades administrativas, vieram a ser
substituídas pelas contraordenações.
07. Facto ilícito: comportamento culposo, por dolo ou negligência contra
valores que o legislador define dignos de proteção - art.8º RGCO.
08. Direito das Contraordenações: ramo do direito público, com caráter
definitivo e sancionatório, e situado entre o direito administrativo
(processo das contraordenações) e o direito penal, do qual importa alguns
princípios, algumas regras (e.g.defesa e audição do arguido).
09. Multa vs Coima: Multa é uma sanção principal de um ilícito
criminal, coima é sanção pecuniária para ilícitos de natureza
contraordenacional.
10. Crime vs Contraordenação: Um crime tem uma natureza judicial, já
uma contraordenação tem natureza administrativa, diz-se administrativa
porque é justamente uma autoridade administrativa que vai analisar, instruir o
processo, até que o mesmo chegue à fase judicial e muitas vezes nem chega.
11. Admoestação: quando a gravidade da infração e culpa do agente são
reduzidas, a entidade competente limita-se a proferir admoestação, por escrito
- art.51º RGCO

Questões-exemplo:
01. Qual é o direito subsidiário da parte 2 do RGCO? O direito penal
formal/adjetivo, código de processo penal. - art.41º RGCO -.
02. Qual é o direito subsidiário da parte 1 do RGCO? É o direito penal
material, código penal.
03. Qual é a natureza do RGCO? No RGCO encontramos 2 naturezas, a
primeira parte é natureza material, justamente porque não falamos de fases
do processo mas sim falamos em conceitos, princípios, etc(…) enquanto a
parte 2 tem natureza adjetiva, sendo que fala das várias fases do processo,
logo o direito subsidiário é o direito penal formal.
04. No Direito Substantivo (ou direito material), as coimas podem ser
convertidas em pena de prisão? As coimas não, as multas sim. Porém, as
multas que antes haviam nas contravenções, também não eram convertíveis em
pena de prisão.
05. Em vez de usar a expressão “contraordenações” posso usar ilícito de
mera ordenação social? Sim, significa o mesmo, são sinónimos.
06. Dinstingua o princípio da tentativa punível, no direito penal e nas
contraordenações. No direito penal, quando a moldura penal é superior a
3 anos ou quando a lei determinar, a tentativa é punível, enquanto no caso
das contraordenações, temos o art.12º e 13º RGCO dedicados à tentativa,
aqui não existe questão de molduras penais, é apenas quando a lei
expressamente determina.
07. “Somos instrutores num processo de contraordenação e no decurso
deste processo apercebemo-nos que existe matéria crime, o que fazemos?”
Remeter o processo de contraordenação para o Ministério Público - art.20º
RGCO, art.21º RGCO.
08. Distinga a prescrição, do procedimento da prescrição da coima. A
prescrição da coima recai sobretudo nos prazos em que começa a contar em
concordância com o que está relacionado com a decisão definitiva -
art.29º/nº2 RGCO. Outra coisa é a prescrição do procedimento que está
relacionada com o momento em que acontece a infração e, portanto, existe
um prazo para que se inicie um processo de contraordenação.
09. Quem tem iniciativa da instrução ou pode ter a iniciativa do
processo de contraordenação? As AA podem conferir a instrução no todo ou
em parte às autoridades policiais - art.54º RGCO.
10. Imagine que é uma autoridade administrativa e recebe a
impugnação o que fazia? Primeiro existe o momento de análise para perceber
se existem motivos que podem levar o instrutor a arquivar o processo, caso seja
para manter a decisão, submeto o processo no prazo de 5 dias junto do MP -
art.62º RGCO.
11. Como é que o Juiz decide sobre o processo de contraordenação? O
juiz decide por despacho, quando não considera necessário a audiência de
julgamento e o arguido e o MP não se opõem - existe aqui o triângulo.
12. Que decisões judiciais são suscetíveis de recurso? - art.73º RGCO
13. O que me sabe dizer sobre os recursos judiciais? Estamos a falar do
recurso em 1ºestancia; - arts.73º/74º/ 75º RGCO, afirmar que nem todas as
decisões podem ser sujeitas a recurso, e.g o valor da coima, se há sanções
acessórias, injúrias (…), e em função disso posso recorrer, mas não o posso
fazer de forma individual, aplica-se subsidiariamente, e por força do art.41º
RGCO, o espírito que está vertido no art.64º/nº1e) CPP, nos recursos
ordinários. Tenho 10 dias para recorrer e a tramitação segue a mesma que
se verifica em processo penal. Ter a noção que, para além disso, o Tribunal
da Relação só vai decidir em função do que é matéria de Direito e aqui
invoca-se o art.75º/nº1 RGCO. Da decisão da Relação não cabe recurso.
14. “Somos instrutores num processo de contraordenação e no decurso
deste processo apercebemos que existe matéria crime, o que fazemos?”
Remeter o processo de contraordenação para o Ministério Público - art.20º
RGCO, art.21º RGCO.
15. Porque é que o PL está presente 2x no RGCO? Na parte 1 do
RGCO porque o indivíduo não pode sofrer coima sem ter cometido
infração nulla poena sine lege, e na parte 2 do RGCO porque tal e qual
como acontece no CPP, as AA têm que avançar com o procedimento
contraordenacional assim que tiverem conhecimento de uma infração
contraordenacional para iniciar o processo.
Princípios:
01. Princípio da legalidade: art.2º RGCO: ninguém pode ser punido com
uma contraordenação (receber uma coima) sem que antes da prática daquele
facto não haja uma previsão legal daquele comportamento como
contraordenação; art.43º RGCO aplica-se o mesmo, mas à autoridade
administrativa, assim que esta tiver conhecimento deve prosseguir com o
processo.
02. Princípio da audição e defesa do arguido: art.32º/nº10 CRP deve ser
invocado quando falamos de defesa e o art.50º do RGCO.
03. Princípio do direito de recurso aos tribunais: art.20º CRP; art.55º
RGCO; art.59º RGCO e ss.
04. Princípio da não retroatividade: art.3º/nº1 RGCO; art.29º/nº3 CRP.
05. Princípio da lei mais benéfica: art.3º/nº2 RGCO; art.29º/nº4.
06. Princípio do direito subsidiário: art.32º e 41º RGCO.
07. Princípio da aplicação das contraordenações no espaço: art.4º CP.
Momentos do processo de contraordenação - Síntese
01. entidade fiscalizadora/força policial (psp, gnr, fiscal câmara), elabora auto
de notícia (ANCO) ou auto de denúncia e remete à autoridade
administrativa competente - entidade que lavra auto pode ser a entidade
administrativa competente - e.g. pode ser um fiscal da câmara que levante o
auto e que o remete para os serviços da entidade competente dentro da
câmara, por nesse âmbito ser a câmara a ter competência, ou então se a PSP é
chamada no âmbito de uma situação de desordem num bar/discoteca e sinaliza
situações de natureza contraordenacional no âmbito da segurança privada,
nesse âmbito também remete para o núcleo de segurança privada organizar o
processo de contraordenação). A ideia é a de que, assim que a entidade
fiscalizadora tiver conhecimento do ilícito de natureza contraordenacional, tem
o dever de a comunicar - arts.48º e 54º RGCO, subsidiariamente, por força do
art.41º RGCO (se estivermos a analisar a parte 1, temos de invocar o art.32º
RGCO, se estivermos a analisar a parte 2, temos de invocar o art.41º RGCO);
remeter ainda para os arts. 242º e 244º do CPP (denúncia obrigatória e
denúncia facultativa).

02. a autoridade administrativa notifica o arguido da infração (notifica-o de


que é arguido num processo de contraordenação) - arts.46º e 47º RGCO,
relativamente à questão da notificação. Nesta notificação, temos que garantir
um princípio - Princípio do direito de audição e defesa - art.50º RGCO,
alinhado com o art.32º, nº10 CRP, ideia de que temos que dar um prazo de 15
dias se não especialmente determinado por lei outro diferente (razoável -
conceito indeterminado), alinhamento entre a obrigação de notificar e dar a
possibilidade, ao arguido, de defesa (no caso de não se conformar com a
decisão), ou requerimento (no caso de se conformar com a decisão mas
pretende que não seja aplicada a sanção acessória) ou então conforma-se com
a decisão. Arguido tem prazo razoável para apresentar defesa ou
requerimento - quando a lei não estabeleça prazo diferente, são 15 dias -
art.50º RGCO, remete para art.191º CPA (regime especial).

03. autoridade administrativa responde ao arguido (prazo médio de 30 dias) -


art.58º RGCO, remete para art.192º CPA

04. arguido (ou seu defensor) aceita a decisão ou apresenta impugnação


judicial, escrita, fundamentada, no prazo de 20 dias úteis, entregando-a à
autoridade administrativa - via CTT com aviso de receção, ou se for
pessoalmente, não deve sair da AA sem o comprovativo em como o entregou a
impugnação com carimbo data/hora - , junto do pedido ao juíz de Direito do
Tribunal de Comarca do local de prática da (suposta) infração, devendo constar
de alegações e conclusões - arts.55º, 59º, 60º, nº1 e 61º RGCO , exceções de
regime para decidir Tribunal competente.

05. autoridade administrativa recebe a impugnação judicial e remete ao


Ministério Público no prazo de 5 dias - Até ao envio dos autos ao MP, a AA
pode revogar a decisão de aplicação da coima - art.62º, nº1 RGCO e nº2
RGCO -
Nota: não se entrega a impugnação no tribunal, entrega-se na AA, é esta que
tem o processo em mãos!

06. Ministério Público apresenta os autos ao juiz de Direito - art.62º RGCO.

07. O juiz, se aceitar o recurso, decidirá - art.64º, nº1 RGCO. O juiz decide -
por despacho, quando não considere necessária a audiência de julgamento e o
arguido ou o MP não se oponham - triângulo - ou por audiência de julgamento
- art.64º, nº2 RGCO.

08. O arguido pode recorrer - da sentença ou do despacho judicial no prazo de 10


dias, Tribunal de 2ª instância (Tribunal da Relação), sendo apreciada somente
a matéria de direito, não cabendo recurso das suas decisões - arts.73º, 74º, nº1
e 75º, nº1 RGCO.
Nota: nem todas as decisões são suscetíveis de impugnação judicial!
Nota: apresentar recurso por via de defensor (e.g.advogado).

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