Artigo Tese
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Cristina Cerezuela2
Nerli Nonato Ribeiro Mori3
Resumo: O presente texto tem como objeto de estudo a efetivação da política nacional da educação inclusiva.
Os dados apresentados são resultados de duas etapas de pesquisa: a primeira, refere-se à aplicação de um
questionário a 889 docentes da educação básica das 27 unidades federativas do Brasil; e, a segunda,
compreende um estudo de campo com observação direta das atividades e entrevista semiestruturada com
educadores de quinze escolas das cinco regiões brasileiras, desenvolvido por Dambros (2013), Fellini (2013),
Garcia (2015), Hessmann (2013) e Rodriguero (2013). O estudo discorre sobre a história da educação
especial dos primórdios da exclusão social aos movimentos internacionais que culminaram na reestruturação
política nacional. Apresenta a proposta de estrutura e funcionamento das salas de recursos multifuncionais
(SRM); e, com base nos pressupostos da Teoria Histórico-Cultural, defende uma prática didática
metodológica com possibilidades de humanização do indivíduo, pela apropriação dos bens culturais
produzidos pelo homem. Por fim, analisa os pontos convergentes e divergentes do cenário inclusivo, nas
regiões brasileiras. Conclui que o processo da inclusão educacional está em desenvolvimento, que seus
avanços são consideráveis, mas ainda há um caminho longo a ser percorrido diante das condições objetivas de
sua efetivação, demandando um investimento político, social e econômico. A afinação do discurso com a
prática social depende da compreensão política e ética e do discernimento sobre o que compete a cada setor
da sociedade. É preciso incluir para além dos discursos inclusivos.
Palavras-chave: Educação Básica. Políticas de Educação Inclusiva. Teoria Histórico-Cultural. Atendimento
Educacional Especializado (AEE).
Abstract: The implementation of Brazilian policy on inclusive education is provided in current qualitative
research partaking of the project ‘Basic Education and Inclusion in Brazil’ prepared by the Education
Observatory of the Coordination for the Upgrading of Higher Education Personnel (CAPES). Data are the
result of two research stages. The first refers to the application of the questionnaire to 889 primary school
teacher in the 27 federal states of Brazil; the second comprises a field study with direct observation of
activities plus a half-structured interview with educators from 15 schools in the five Brazilian regions,
following Dambros (2013), Fellini (2013), Garcia (2015), Hessmann (2013) and Rodriguero (2013). Current
discussion comprises the history of special education, ranging from the start of social exclusion to
international movements and the Brazilian political restructuration. The essay presents the structure and
functioning of multifunctional resource class rooms. Foregrounded on the Historical and Cultural Theory, it
defends a didactic and methodological practice with the humanization of the subject concerned through the
appropriation of cultural goods produced. The convergent and divergent factors of the inclusion scenario in
the five Brazilian regions are analyzed. Results show that the process of educational inclusion is still being
developed, with considerable progress, even though a long trajectory still lies ahead for its full
implementation, requiring political, social and economic investments. Fine-tuning of the discourse with social
practice depends on political, ethical and discernment understanding on what each sector of society should
do. It´s better to include beyond inclusive discourses
Keywords: Basic education. Policy of inclusive education. Historical and cultural theory. Specialized
Educational Care.
1
Esta pesquisa faz parte do projeto ‘Educação básica e inclusão no Brasil’, coordenado pelasegunda autora e financiado pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES)/Observatório da Educação.
2
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Professora da Educação Básica do Estado do Paraná
na modalidade Educação Especial. [email protected].
3
Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP). Professora Titular do
Departamento de Teoria e Prática da Educação e do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Estadual de
Maringá (UEM). [email protected].
81% dos professores entrevistados com essa básica e não pode ser visto somente como um
certificação. aluno da educação especial. Para evitar que a
Ao discutirmos sobre os números da aprendizagem seja responsabilidade apenas do
inclusão, identificamos com a pesquisa, um professor especializado é necessário o
equilíbrio aproximado entre as matrículas da planejamento conjunto do AEE pela equipe
educação especial em escolas exclusivas e classes pedagógica e uma aproximação entre os
especiais e as matrículas no contexto comum, no professores envolvidos com o aluno. Nesse
ano de 2007. De 654.606 alunos efetivos, 46% são quesito, a Região Centro-oeste, pesquisada por
alunos exclusivos da modalidade especial e 54% Hessmann (2013), se sobressai ao afirmar que lá
estão incluídos das classes comuns. Com a há uma efetiva articulação nas escolas
mudança de paradigma sobre atendimento desse investigadas.
aluno, em 2014 os índices se alteram da seguinte O papel do professor-pedagogo é
forma: o número de matrícula aumenta 26%, fundamental para a concretização da inclusão.
evoluindo para o total de 886.815 (oitocentos e Para tanto, ele deve ter em sua formação inicial e
oitenta e seis mil e oitocentos e quinze). E desta continuada subsídios para compreender o
totalidade, 78% são alunos incluídos no sistema processo e intervir na dinâmica escolar. A unidade
de ensino regular. entre o corpo docente e a equipe pedagógica
Algumas questões são relevantes no que se evitaria que o professor especializado tivesse
reporta a esses dados. O aumento do acesso à dificuldades em dialogar com o professor do
escola; a ampliação na identificação e diagnóstico; ensino comum. As escolas entrevistadas
e, as condições objetivas da escolarização do apresentam o diálogo como insatisfatório. Garcia
aluno com deficiências, TGD e ou AH/SD. As três (2015) relata que uma das professoras
premissas voltam-se para o mesmo enfoque: qual entrevistadas se queixa, constantemente, por ter de
a qualidade da educação modelada pela justificar e explicar aos professores do ensino
perspectiva inclusiva? comum sobre a importância de o aluno estar
Aumentar o acesso não significa garantir a inserido no contexto escolar, da necessidade de se
aprendizagem. Se pensarmos nas reflexões que trabalhar em parceria e, em principal, das
Garcia (2004) faz sobre os interesses que recaem possibilidades de aprendizagem do aluno.
sobre a educação inclusiva, entendemos que o Uma das professoras entrevistadas por
aumento do número de matrículas atende a Fellini (2013) na Região Nordeste se queixa que
proposta da UNESCO de reduzir a exclusão social as reuniões dificilmente ocorrem e isso dificulta
e educacional. Logo, quando verificamos o muito o trabalho do professor especialista. Não há
aumento dos índices de matrícula, é inegável o uma continuidade na discussão sobre as atividades
avanço quanto aos números e às demandas das a serem realizadas bem como na possibilidade de
agências econômicas. fazer um trabalho de conscientização dos
AS estatísticas da inclusão divulgadas não professores do ensino comum.
informam, no entanto, como está a aprendizagem. A articulação entre os professores é um dos
Não são discutidos o ingresso no mercado de aspectos que envolvem a prática pedagógica de
trabalho e o acesso ao ensino superior com as qualidade com vistas à inclusão. Contudo, não
mesmas probabilidades de inclusão. Nem podemos simplificá-la às subjetividades dos
precisamos almejar essa análise, de certa forma educadores. As pesquisas revelam circunstâncias
distante, basta analisar o que o IDEB das escolas concretas que dificultam a interação entre os
investigadas retrata sobre seus resultados, para docentes, entre elas, o conflito de horários e a
percebermos que as escolas não estão lotação em escolas diferentes que demandam
conseguindo atingir as metas estabelecidas. deslocamento dos professores, impossibilitando o
Inúmeros são os fatores que contribuem professor de atuar em tempo integral em uma
para a efetivação da inclusão, na mesma única escola. Consideramos esse último fator
proporção, são os fatores que obstaculizam o determinante para a interação entre os docentes,
processo. Sem dúvida, o percurso necessário para isto é, um professor especialista com 40 horas na
a prática inclusiva é o trabalho pedagógico com o mesma escola tem a possibilidade de conhecer e
envolvimento de toda a comunidade escolar. trocar ideias com todo o seu corpo docente, em
Como mencionamos, a perspectiva inclusiva principal, com o professor que atende o aluno no
introduz o conceito de que o aluno é da educação período contrário. Da mesma forma, o professor
do ensino comum pode entrar em contato com as desafios que vão além dessa organização
produções que os alunos realizam no AEE sem estrutural; para desenvolver os aspectos políticos e
necessitar da mediação de outros profissionais ou filosóficos desse paradigma é necessário o debate
de outros recursos. Essa condição de trabalho participativo dos profissionais da educação. É
favorece a comunicação direta entre os nesta lógica que devemos enfocar a
profissionais. institucionalização do AEE no PPP, na discussão
A pesquisa também observa a presença de e incorporação coletiva no interior da escola. Mas
profissionais não docentes decisivos para a como isso ocorre de fato? Como se dá a
efetivação da inclusão. As regiões apresentam elaboração do PPP nas reuniões e formações
diferenciadas nomenclaturas a esse profissional: pedagógicas? São reflexões que apresentam
agente de apoio, auxiliares de desenvolvimento respostas subjetivas justificadas pela dinâmica de
infantil, serviços gerais. Segundo Hessmann cada unidade escolar. Eis aqui um nó a ser
(2013), esse profissional auxilia os alunos, quando desatado: aproximar a prática cotidiana real das
necessário, nas atividades de alimentação, discussões teóricas no que diz respeito à
locomoção e higienização. Dambros (2013) indica consolidação da educação como um todo. E, em
que duas escolas na Região Norte duas escolas especial, neste contexto, da educação inclusiva.
não possuem o profissional, mas apresentam Em relação à organização, observamos que
alunos que demandariam o apoio. Esse dado uma escola da Região Norte não informa como
revela uma contradição entre o discurso político sistematiza as atividades a serem realizadas pelos
de investimento para a inclusão com o que está alunos; duas escolas da Região Centro-oeste
sendo realizado na prática. Se o aluno não possui informam planejá-las semestralmente.
todo o atendimento necessário para atender suas Consideramos esse intervalo muito longo frente
especificidades, ele não está sendo incluído no ao dinamismo da aprendizagem e do
sistema. desenvolvimento da criança. As reflexões
Fellini (2013) identifica que apenas uma convergem para o mesmo ponto: a contribuição
escola não apresenta profissionais não docentes; do trabalho pedagógico para a efetiva inclusão.
uma das escola conta, inclusive, com uma equipe Não pode ser qualquer prática de ensino, e sim,
multiprofissional, uma situação única em relação uma prática fundamentada numa análise crítica da
às escolas investigadas nas cinco regiões. O sociedade e perspectiva de aprendizagem dos
envolvimento dos profissionais da saúde é um alunos do AEE.
avanço na discussão da inclusão. Entretanto, Ao tomar como base os estudos de Barroco
somente a presença desses profissionais não é (2012) e Mori (2016) defendemos que a função da
garantia de um atendimento de qualidade. É escola é ensinar, por esse propósito é necessário
necessário o conhecimento das especificidades buscar meios diferentes para socializar o
dos alunos e como apoiar a vida diária, bem como conhecimento e promover que o aluno se aproprie
a comunicação com os demais educadores de dele. Nesta perspectiva, a superação da visão
como proceder em diferenciadas situações. integradora de socializar o indivíduo com os
Com relação ao Projeto Político Pedagógico demais alunos e com o ambiente dá espaço para a
(PPP), observamos que apenas sete escolas socialização do saber. Como desenvolver um
investigadas (46%) apresentam a sala do AEE em trabalho crítico diante das representações
seus projetos. As demais não estão em estabelecidas de incapacidade e impotência? É
conformidade com a política ou não informam possível atender o aluno com qualidade e
esse dado. Na Região Nordeste uma gestora se promover a apropriação do seu saber científico?
recusou a fornecer o PPP, uma ação pouco A adaptação dos materiais e do currículo
democrática, uma vez que esse documento é um pode ser uma resposta a esses questionamentos.
retrato da escola e dos pressupostos que norteiam Entendemos por adaptação curricular todas as
sua prática pedagógica e, por isso mesmo, deve modificações que promovam o acesso ao
ser público. currículo. Elas podem ser de pequeno ou grande
Conforme os estudos de Rodriguero (2013), porte, e em nível individual ou coletivo. O
na Região Sudeste duas escolas apresentam o material adaptado para atender as especificidades
AEE, mas seus PPPs não estão adequados à nova do aluno pode proporcionar situações de
política. A transição para a educação inclusiva aprendizagem em igualdade. Quando oferecemos
proposta pelas políticas públicas apresenta um recurso tecnológico ou uma mediação
pedagógica que socialmente compensa a algumas atividades que não poderiam ser
deficiência, iniciamos a prática inclusiva. Manter desenvolvidas no AEE, entre elas: inúmeras
o aluno na sala sem proporcionar as devidas atividades prontas reproduzidas para os alunos,
adaptações que favoreçam a aprendizagem é atividades que envolvam a fixação e a
perpetuar sua condição de desigualdade. memorização (ranços da pedagogia tradicional),
Superar a visão biológica organicista do ou até mesmo, repetição das atividades que o
aluno e buscar recursos diferenciados de ensinar é aluno já realiza no ensino comum.
o principal desafio do professor do AEE. Como Sobre essa questão, Hessmann (2013)
efetivar esses princípios? O que a literatura observaem sua pesquisa queos alunos
apresenta como alternativa viável de consolidação matriculados em anos diferentes do ensino comum
dos espaços inclusivos? Como assumir o papel de realizam a mesma atividade. Em nosso
mediador entre o aluno e o conhecimento diante entendimento, o espaço e a carga horária do AEE
de obstáculos históricos? Acreditamos que nem a são oportunidades caras para avançar no
literatura, nem as conclusões obtidas pelo grupo desenvolvimento da criança, que não podem ser
OBEDUC podem responder a contento as desperdiçadas com atividades que não sejam
questões suscitadas. É possível, no entanto, fazer direcionadas especificamente para cada aluno.
uma aproximação da teoria com o desejado, do Nas palavras de Vygotsky (2007, p. 38), “[...] o
ideal com o real. único bom ensino é o que se adianta ao
Como discute barroco (2012),na escola se desenvolvimento”. Para tanto, não basta
realiza a transformação das funções cognitivas identificar o nível de desenvolvimento em que a
elementares para funções psicológicas superiores criança se encontra, é preciso mediar esse
(FPS). Para isso, é necessário o professor do AEE processo na zona de desenvolvimento próximo
se instrumentalizar com recursos e estratégias (ZDP), porque as crianças podem ter o mesmo
diferenciadas para promover a formação dos nível de desenvolvimento real, mas diferentes
conceitos científicos nos alunos. ZDP.
Há a necessidade pedagógica e, porque não A prática pedagógica precisa ser planejada
dizer também social, de abandonar as atividades com exclusividade para cada aluno. Algumas
reprodutoras e mecanicistas que não agregam atividades até podem servir para mais de um
muito aos processos de desenvolvimento da aluno, mas a mediação não. Esta se obriga a ter
criança, quiçá o desenvolvimento da coordenação como direção, em específico, o desenvolvimento
motora. O auxílio do material concreto, das individual. Barroco (2012, p. 291) destaca a “[...]
experiências visuais e, até mesmo os jogos, importância da linguagem como meio de
auxiliam no início do processo pedagógico, mas comunicação e como recurso ao desenvolvimento
devem ser empregados como um meio, não como do psiquismo regulado pelas FPS”. Para Luria
um fim. Requisitar ações mais complexas é buscar (1994) e Vigotski (2001) a linguagem é essencial
formas de revolucionar o pensamento da no processo de generalização e formação dos
criança.Vygotsky (2007) prova a importância da conceitos, isto é, as formas mais complexas da
superação de atividades apoiadas no visual. Ao atividade consciente.
relatar um estudo realizado com crianças com Para provocar de forma intencional e
deficiência intelectual, o autor conclui consciente esse desenvolvimento, o professor ao
identificar o nível de desenvolvimento que a
[...] que um sistema de ensino baseado criança se encontra emprega a palavra como
exclusivamente em meios visuais, e que ‘matéria prima’, extraindo o caráter prático, visual
excluísse tudo quando respeita ao e imediato do processo e assim, assumindo seu
pensamento abstrato, não só não ajuda a caráter abstrato e generalizador. Ao explorar as
criança a superar sua capacidade natural,
ideias e respostas do aluno o professor
mas na realidade consolida tal incapacidade,
dado que ao insistir sobre o pensamento especialista,
visual elimina os germes do pensamento
abstrato nestas crianças (VYGOTSKY, [...] deve encaminhar, portanto, sempre de
2007, p. 38). situações de emprego de recursos
psicológicos mais simples àquelas que
requerem maior complexidade, requisitando
Os argumentos sobre exigir da criança algo
da criança que empregue, intencional e
para além do que ela já sabe nos faz refletir sobre
Por outro lado, também observamos a pesquisas relatam que algumas famílias não
questão da formação do professor para o compreendem a função do AEE e não se
atendimento do aluno. Este quesito interfere empenham na frequência e acompanhamento dos
significativamente na efetivação da inclusão, a alunos. Rodriguero (2013) analisa que isso
postura mediadora entre o conhecimento e o
aluno, entre o aluno do AEE e o professor do [...] sem dúvida, dificulta a continuidade no
ensino comum, entre ele e os demais profissionais trabalho dos professores e, certamente,
da escola, bem como o planejamento reflete-se no processo de aprendizado e
sistematizado e direcionado são ações desenvolvimento do aluno, ao mesmo
tempo, leva-nos a pensar na hipótese de que
profissionais que requerem formação teórica e
os atendimentos do AEE estão
metodológica para sua execução. A qualidade da subordinados não apenas às determinações
formação e a práxis no cotidiano concreto da das políticas que os preconizam e orientam,
escola são grandezas diretamente proporcionais. mas à escola, entendida como instituição
As contradições sociais obstaculizam a que deve promover acessibilidade,
consolidação de uma escola que possa oportunizar adaptação curricular, capacitação de
equidade para a aprendizagem e o recursos humanos, superação das barreiras
desenvolvimento do aluno. Mesmo porque, esse é atitudinais, o que já se constitui algo
o discurso ideológico proferido em diversos bastante complexo. Não bastasse isto,
momentos da história da educação. A escola vista alunos e familiares ainda estão
subordinados a questões culturais e
como a redentora da sociedade, mascara a
sociofinanceiras, ao conhecimento e
realidade e inverte a sua compreensão culminando valorização do AEE, à confiança de que o
na acentuação das desigualdades sociais. Todavia, AEE fará diferença no desenvolvimento da
o profissional com formação adequada apresenta, criança [...] (RODRIGUERO, 2013, p. 142).
em tese, melhores chances de entender as
determinações externas que alteram as dinâmicas O compromisso da família faz a diferença
escolares de forma crítica. Urge instrumentalizar o no desempenho do aluno como um todo. No
profissional da educação para pensar crítica e ensino comum, pelas limitações do próprio
ativamente a realidade escolar, buscando no contexto, às vezes ele não recebe todo o
desempenho de sua função a consciência política atendimento necessário, e pelas suas faltas no
e pedagógica do ato de ensinar. AEE não há sequência de qualidade no
Uma proposta política viabilizadora da atendimento. Garcia (2015, p. 155) analisa que:
inclusão deve levar em conta o número de alunos
em sala. Uma escola investigada da Região Dentre as causas mais frequentes da
Centro-oeste ressalta que os alunos público-alvo ausência dos alunos na SRM estão: falta de
da educação especial são matriculados no ensino compromisso e credibilidade da família no
comum, respeitando o limite de no máximo dois trabalho desenvolvido e no aprendizado do
alunos por sala, e a sala que recebe os alunos aluno, distância e falta de disponibilidade
podem ter no máximo vinte alunos. Essa medida da família para transportá-los até a escola
no contraturno. Neste impasse, o educando
amplia o investimento na educação. Turmas com
com deficiência, muitas vezes, não é
número reduzido implicam em mais salas de trabalhado no ensino regular e nem no AEE
aulas, mais profissionais contratados e mais com a intensidade que necessita. Acaba
recursos financeiros. São necessidades que sendo privado da apropriação do
divergem da política neoliberal do Estado conhecimento científico do qual tem direito.
Mínimo.
A frequência do aluno na SRM é um fator No que se refere às questões de
decisivo para a efetivação da proposta inclusiva. infraestrutura, as escolas revelam que a falta de
Os dados revelam que é uma dificuldade transporte público gratuito, ou a falta de refeição
enfrentada de valor significativo, seis escolas aos alunos (ações que evitariam o deslocamento
pontuam que a infrequência dos alunos durante a troca de períodos) interferem na
compromete a sua escolarização. Entre as causas frequência dos alunos no horário oposto. Nas
possíveis para a não assiduidade podemos escolas da Região Norte, devido ao clima de altas
mencionar a de origem social e a de ordem temperaturas, a ausência de ambientes
política econômica. Sobre as causas sociais, as climatizados implica no desgaste físico de