Notas Hidr Exp 2019 S2
Notas Hidr Exp 2019 S2
Notas Hidr Exp 2019 S2
calor, a energia recebida do sol. Neste movimento o ar leva grandes quantidades de vapor
d'água (massa) e induz correntes marítimas (quantidade de movimento), contribuindo para a
manutenção das condições climáticas.
A circulação da água é descrita pelo ciclo hidrológico. A energia solar evapora a água,
dando origem às nuvens, que entram na circulação geral da atmosfera, para novamente
precipitarem-se, alimentando rios, vegetação e lençóis subterrâneos. Neste processo, a
água carrega substâncias dissolvidas, provoca erosão e transporta solo em suspensão, e é
utilizada pelo homem como matéria prima e meio de dispersão dos rejeitos de toda espécie
decorrentes da atividade humana.
Passando da escala global ao funcionamento de máquinas e sistemas de engenharia,
notamos que sempre há o transporte de alguma grandeza (massa, calor ou quantidade de
movimento), em que os fluidos exercem papel relevante.
Máquinas, e mesmo organismos vivos, dependem do ar para dissipar o calor
excedente (transporte de calor). Um ventilador aumenta a velocidade desta transferência,
tornando mais suportável o calor de Ilha Solteira. Uma roupa que seca no varal ilustra o
transporte de vapor d´água (massa) pelo ar, fenômeno que também ocorre num lago ou num
campo com vegetação. Aqui também a velocidade do ar tem importância na intensidade do
processo.
Um importante fenômeno que envolve a transferência de massa é a oxigenação dos
rios, responsável pelo processo de autodepuração. Na oxigenação ocorre a incorporação do
ar atmosférico pela água. Este processo é maior nos rios de montanha, com águas agitadas
e ocorre mais lentamente nos rios calmos, com escoamento lento.
Os fluidos em movimento provocam forças nos corpos imersos. Percebemos isso
facilmente quando andamos de bicicleta ou caminhamos em dias de vento forte, ou mesmo
quando mexemos a colher no café para misturar o açúcar. Essas forças resultam da troca de
quantidade de movimento entre os fluidos e corpos sólidos. Esses mesmos fenômenos
ocorrem no interior do fluido, sempre que houver diferenças de velocidade.
É comum ocorrer transporte de mais de uma grandeza. Entre um vento frio e a água
de um reservatório há troca de calor, de massa e de quantidade de movimento, esta última
evidenciada pela formação de ondas. Um bolo quente esfriando troca calor e umidade com o
ar ambiente. O ar aquecido sobe, iniciando um movimento do ar que aumenta a velocidade
da evaporação e do resfriamento do bolo. Um carro quente numa estrada transfere
movimento e calor para o ar circundante.
Finalmente, devemos citar os fenômenos em que há transporte de uma grandeza sem
depender de movimento do fluido na direção do transporte. Exemplo típico é o calor
transmitido no interior de corpos sólidos, de grande importância para a engenharia, por
exemplo, no desempenho térmico das edificações.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 3
Outra classe de problemas de engenharia envolve a água nos sistemas naturais. Por
exemplo, qual seria o nível máximo das águas de um rio? Essa pergunta é importante para
definir a altura de uma ponte, ou para saber quanta água deve suportar um bueiro
rodoviário. Os projetos das estradas contam com inumeráveis obras hidráulicas deste tipo.
Problemas similares são enfrentados quando se deseja saber qual o volume de água que
deve ser armazenado numa represa para garantir o abastecimento à população. Estes
exemplos, entre tantos outros de quantificação da água disponível ou esperada em um
sistema natural, são tratados em Hidrologia. Na quantificação das diversas fases do ciclo
hidrológico e de sua influência sobre a natureza através de fenômenos como a erosão e
carreamento de solo, a hidrologia utiliza intensivamente conceitos de FT. Os mecanismos
envolvidos no equacionamento da evaporação, por exemplo, e na formação de precipitações
são inteiramente baseados em difusão e advecção de massa, energia e quantidade de
movimento.
A área de recursos hídricos preocupa-se também com a qualidade da água, fator que
a cada dia torna-se mais crítico. Além de levar a água até a população, é necessário garantir
a qualidade que deve ser atingida no tratamento das águas, com custos diferentes para
cada manancial. Depois disso vem a preocupação com a disposição dos resíduos líquidos, e
da sua influência sobre a qualidade disponível para demais aproveitamentos a jusante. O
tratamento de água e de esgotos utiliza intensivamente técnicas desenvolvidas com base
em Fenômenos de Transporte. O estudo da recuperação da qualidade dos rios é
inteiramente baseado em transferência de massa.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 4
A Figura 0.1 ilustra o transporte de massa pelo processo de advecção. Imagine que
um poluente seja lançado num escoamento em uma região em que a velocidade é uniforme.
Após o lançamento, no tempo inicial t0, a massa de poluente lançada é transportada com a
mesma velocidade pelo escoamento, de forma que a mancha não se espalha.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 5
t0 t1 t2 t3 t4 t5
x
Figura 0.1: Advecção de um lançamento de massa num escoamento com velocidade uniforme.
𝑥𝐶𝐺 = 𝑥0 + 𝑉 (𝑡 − 𝑡0 )
t0 t1 t2 t3
Figura 0.2: Espalhamento de um poluente lançado em água parada, por difusão molecular.
t0 t1 t2 t3
x
Figura 0.3: Espalhamento de um poluente pela combinação de advecção e difusão.
Advecção do Ar Aquecido
Convecção
Advecção Advecção
do Ar do Ar
Aquecido Aquecido
Condução
Condução
Fluxo Gerado no Chip
Figura 0.4: Resfriamento de Chip com dissipador: difusão de calor no metal do dissipador e convecção
das aletas para o ar que inicia movimento ascendente advecção de massa e calor.
Difusão Turbulenta
Na maioria dos escoamentos de água e ar envolvidos na transferência de grandezas
é difícil ocorrer a advecção em conjunto apenas com a difusão molecular, porque sendo o ar
e água fluidos com baixa viscosidade, os escoamentos normalmente são turbulentos. As
características da turbulência serão estudadas posteriormente, mas o efeito visível da
turbulência é provocar o espalhamento das manchas de poluente, da mesma forma que a
difusão molecular, mas com uma velocidade muito maior, numa escala macroscópica.
Devido ao efeito provocado ser semelhante ao da Difusão Molecular, essa ação de
espalhamento das manchas pelo escoamento turbulento é frequentemente chamada de
Difusão Turbulenta.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 8
Figura 1.1: Medição de volume transportado pelo escoamento num intervalo de tempo.
Aplicando a definição da equação 1.1 com o volume Vol e com o intervalo de tempo
decorrido t, obtemos o valor da vazão média no período de tempo da medição:
Vol
Q ( Valor Médio no intervalo t) 1.2
t
Para que a definição seja válida no caso de escoamento variável no tempo, interessa
o valor instantâneo.
Vol
Q lim
t 0 t
Q
dVol
dt
(Valor Instantâneo) 1.3
Uma vazão só tem sentido quando associada a uma determinada seção. No caso da
Figura 1.1, trata-se da seção de saída do tubo, com área S. Um sinônimo de fluxo é Taxa de
Passagem. Então podemos dizer também que a vazão é a taxa de passagem de volume
através de uma dada superfície
Vazão é um Fluxo de Volume, ou seja, a quantidade de volume
por unidade de tempo que atravessa uma determinada área .
F
m
Vol FM Q 1.4
M
t t
A dimensão do Fluxo de Massa é [ M / T ], e as unidades são:( Kg/h ), ( ton/h ),
( Kg/s ), ( utm/s ) etc.
t=0 t = t A
x
Figura 1.2: Escoamento uniforme num duto retangular – volume que atravessa a seção.
O perfil uniforme significa que qualquer partícula tem a mesma velocidade. Além
disso, o movimento é unidirecional, ou seja, ocorre apenas na direção x. Podemos marcar
uma partícula qualquer com corante, e determinar sua velocidade por meio do deslocamento
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 10
Exemplo 1.1 : Uma tubulação com 50mm de diâmetro interno abastece um caminhão
tanque de 15.000 l de capacidade com gasolina ( = 860 kg/m3). Sabendo que a velocidade
média no tubo é de 2,0 m/s, pede-se: a) Qual a massa de gasolina transportada; b) Vazão
que sai do tubo; c) Fluxo de massa que entra no tanque; d) Qual o tempo de enchimento
completo do tanque?
SOLUÇÃO:
a) Pode-se usar o valor médio porque a massa é uniformemente distribuída. A partir da
definição de massa específica e sabendo que 1m3 equivale a 1000 litros, obtemos:
kg 1m 3
m Vol 860 ( 3 ) 15000 (l )( ) 12900kg
m 1000l
b) Sabendo que a vazão é a velocidade multiplicada pela área do escoamento, temos:
d2 0,0502
A 0,00196 m 2
4 4
m m3
Q VA 2 ( ) 0,00196m 2 0,00393 4 litros / s
s s
c) Aplicando a definição do fluxo de massa,
kg m3 kg
FM Q 869 ( 3
) 0,00393 ( ) 3.377
m s s
d) O tempo de enchimento vem da aplicação da definição de vazão:
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 11
Exemplo 1.2 : Um fluido com massa específica constante escoa pela redução de diâmetro
de 100mm para 75mm representada na figura. Sabendo que a velocidade no tubo maior é
1m/s, calcule a velocidade no tubo de menor diâmetro.
Volume Constante
V1 Vol1 Vol2 V2
x1 x2
SOLUÇÃO :
Como o volume de fluido no interior da redução (tracejado na figura) é constante,
deduzimos que o volume trazido pelo tubo de 100mm em cada intervalo de tempo deve ser
igual ao volume que sai pelo tubo menor no mesmo intervalo (Vol 1 = Vol2 ). Mas, pela
definição de vazão é possível calcular os volumes, já que o intervalo de tempo considerado
é o mesmo:
Vol1 Vol 2
Q ; mas Vol1 x1 A1 e Vol 2 x 2 A2
t t
x1 A1 x2 A2 A1
V1 A1 V2 A2 V2 V1
t t A2
substituindo as áreas,
A1 d12 / 4 d12 0,12 m
1,78 V2 1,78
A2 d 22 / 4 d 22 0,0752 s
Um fluxo só tem significado quando associado à área em que ocorre. Essa definição é
válida tanto para fluxos advectivos quanto para difusivos.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 12
Quantidade Específica
A concentração pode ser expressa em termos de quantidade da grandeza por
unidade de massa do meio considerado. Chamada de concentração em massa, ou razão de
mistura média, ou ainda, como adotamos neste curso, a Quantidade Específica de uma
grandeza extensiva N qualquer, ,é dada por:
𝛥𝑁
= (valor médio em ∆m ) 1.10
𝛥
O valor em um ponto, como já vimos, é dado pelo limite para um volume tendendo
a zero:
𝑁
= ( em um ponto ) 1.11
Exemplo 1.3
Com base no conceito de grandeza extensiva, deduzir a equação das concentrações
de Calor, Energia Cinética, e Quantidade de Movimento em um escoamento.
Solução:
a) Concentração de Calor: A quantidade de calor depende da temperatura T e do calor
específico c. Aplicando as definições, temos:
a) Concentração de Calor: A quantidade de calor depende da temperatura T e do
calor específico c. Aplicando as definições, temos:
(𝑇 𝑇 ) 𝑉𝑜𝑙 (𝑇 𝑇 )
𝐶 = = 𝐶 = ( − 0)
𝑉𝑜𝑙 𝑉𝑜𝑙
(𝑇 𝑇 )
= = ( − 0)
𝐶𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡.𝑀𝑜𝑣 = ⃗
𝑉 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡.𝑀𝑜𝑣 = ⃗V
N N Vol
FN CN Q FN CN VA 1.12
t Vol t
FN
N m
m t
FM FN VA 1.13
Ilustração: Uma dedução alternativa das equações do fluxo ocorre ao considerar a analogia
entre o escoamento e um trem em movimento, conforme a Figura 1.3. Os vagões equivalem
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 14
Figura 1.3: Analogia com trem em movimento para definição do fluxo de grandezas extensivas.
V2
FE .CINÉTICA ( V A ) FENERGIA e ( V A )
2
Em todos os exemplos vimos que sempre a quantidade específica da grandeza é
multiplicada por uma parte comum que é o Fluxo de Massa Esse termo representa, como já
vimos, a quantidade da grandeza transportada (por Advecção) por unidade de massa do
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 15
fluido transportador.
Exemplo 1.4 : Um rio possui vazão de 10m3/s de água com concentração de sólidos totais
de 250mg/L. Calcular: a) o fluxo de massa de sólidos totais e b) a massa de sólidos
transportada pelo rio em um dia.
Solução:
a) uma vez conhecida a concentração da grandeza extensiva (sólidos totais), o fluxo é dado
pela equação 1.12.
mg g L m3 g m3 g
FST ( 250 0,001 1000 3 ) 10 250 3 10 2.500
L mg m s m s s
b) a massa transportada num dia vem da definição do fluxo médio (eq. 1.7):
kg s
mST FST t 2,5 86.400 216.000 kg / dia
s dia
V3
V1 V2 V3
V2
A1 A3
V1 A2
Corte da Seção Transversal
Seção
Figura 1.4: Escoamento com velocidade variável
A vazão pode ser considerada como a soma da contribuição de 3 seções distintas e
independentes, com velocidades e áreas diferentes.
Q Q1 Q2 Q3 V1 A1 V2 A2 V3 A3
V3 A3
V2 A2
perfil
perfil V1
real
aproximado A1
Seção
Figura 1.5: Escoamento Real e Modelo de Medição, com Velocidades Constantes
É claro que o perfil aproximado não representa com perfeição o perfil real de
velocidades, que varia continuamente. Entretanto, ao adotar um perfil composto de apenas 3
velocidades constantes, estamos adotando um modelo de medição que pode ser
suficientemente exato para nossos propósitos.
Sabemos que o perfil real de velocidades não é como descrito pelo modelo
simplificado de medição. Podemos reduzir o erro de modelo fazendo mais medições de
velocidade ao longo da seção transversal, mas o custo das medições adicionais necessárias
pode não ser viável.
O erro de modelo numa medição pode ser aceitável ou não, dependendo de nosso
objetivo. No caso de uma medição de vazão em rios utilizando flutuadores, pode ser
aceitável um modelo bem simplificado, se nosso objetivo for uma estimativa para fins de
anteprojeto.
Pode-se perceber a partir da Figura 1.6, que a divisão da seção em áreas menores e
um maior número de medições de velocidade diminui o erro de modelo.
Seção Seção
A6
A3
A5
A2 A4
A3
perfil perfil
real
A1 real
A2
A1
Vazão (m3/s) Q1
Q4
QReal
A conclusão que se impõe é que o valor correto surge no limite de uma série de
medições com um número crescente de subdivisões de áreas.
n
QRe al lim Qn lim Vi Ai
n n
i 1
1.15
O sinal de igualdade na equação 1.15 indica que no limite, para número muito grande
de áreas, deixa de existir o erro de modelo. Matematicamente essa operação é denotada
pelo sinal da integral:
Q VdA
A 1.16
método dos dois pontos, em que as velocidades são medidas a 20% e a 80% da
profundidade da subárea considerada. Um exemplo de divisão segundo a técnica de dois
pontos é mostrado na Figura 1.8.
i=1 2 wj n
0,6p
Profundidade pj
Figura 1.8: Divisão da seção segundo a técnica dos dois pontos em cada vertical.
Observa-se na Figura 1.8 que nas seções mais rasas a velocidade foi medida em
apenas um ponto, correspondendo a 60% da profundidade. Adota-se este critério quando a
profundidade for entre 0,15 e 0,60m.
A ANA (Agência Nacional de Águas) considera justificável o método dos dois pontos
quando o fator tempo é importante na medição, por exemplo, em cheias e medições com
grande variação de nível da água.
A ANA considera preferível o método detalhado que, como indica o nome, adota uma
subdivisão mais fina em cada vertical. A Tabela 1.1 indica as recomendações da ANA para
adoção do método detalhado, com o número de medições em cada vertical definido em
função da profundidade.
Tabela 1.1: Tabela de pontos de medição de velocidade no método detalhado. Fonte: ANA
outra do rio.
A Figura 1.9 apresenta um esquema da divisão da seção utilizada pelos medidores
tipo ADCP, que avaliam a integral da equação 1.16 de forma automática.
Figura 1.9: Divisão da seção em células para integração da vazão pelos medidores tipo ADCPl. Fonte:
ANA (2012), disponível em http://arquivos.ana.gov.br/infohidrologicas
Modelo Adotado
A1 0,35m
A2 0,8m
2,5m 0,9m
Figura 1.10: Seção transversal real e modelo adotado para a medição de velocidade.
Exemplo 1.6: Um rio com seção retangular de 10m de largura com 1,5m de profundidade
possui um perfil de velocidades dado na Figura 1.11. Determinar a vazão.
2,0m/s A z
y 10m
1,5m y
x
Solução:
1. Função da velocidade:
Observa-se que a velocidade varia linearmente com y. Ajustando-se uma reta aos pontos
dados (y = 0, V = 0 e y = 10, V = 2) obtém-se:
V = 0,2y
Analisando a função velocidade percebe-se que V não depende de z. Por isso podemos
adotar o elemento diferencial de área dado no esquema:
z
dy
1,5 y
dA = z dy
Elemento diferencial de área adotado:
10
y 10 y2
Q VdA
A y 0
0,2 y 1,5 dy 0,3
2
15
0
Exemplo 1.7: Um rio possui seção transversal que pode ser considerada triangular de
acordo com a Figura 1.12. O perfil de velocidades, dado na figura, é o mesmo do exemplo
1.5. Pede-se calcular a vazão.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 21
2,0m/s A
z
10m
y
2m
y
x
Vista Superior Seção Transversal
Solução:
1. Função da velocidade:
V = 0,2y
Analisando a função velocidade percebe-se que V não depende de z. Por isso podemos
adotar o elemento diferencial de área dado no esquema, com dimensão finita na vertical:
dy
h dA = h dy
z
y
O elemento de área adotado pode ser escrito apenas em função de y, pois h = 0,2y:
dA = 0,2ydy.
1.6.2. Um rio recebe a água de um afluente pouco antes de um trecho retilíneo, com a seção
dada na figura. No trecho indicado foram lançados flutuadores e medidas as concentrações
de matéria orgânica em 3 pontos de amostragem ao longo da seção transversal, conforme a
figura com a seção de medição. A escala da seção é dada pelo quadriculado com 0,5m de
lado. Os valores medidos foram: V1 = 0,7m/s, V2 = 1,5m/s, V3 = 2,0m/s; C1 = 200mg/L, C2 =
195mg/L e C3 = 25mg/L.
1 2 3
y
Rio
Afluente Seção de Z
x Seção de Medição
medição
Planta de Situação Y
Pede-se:
a) Adote e justifique um modelo de medição para a seção e para os perfis de
velocidade e de concentração;
b) com o modelo adotado em (a) calcule a vazão de água no canal;
c) com os modelos adotados em (a) calcule o fluxo de massa de matéria orgânica
transportado pelo canal.
2
c
a
b
a'
1 3
2,5m 3m
1m
60m 25m 40m
Seção 1 Seção 2 Seção 3
C Max
A z
VMax C Min
10m
y
2,0m y
x
1.6.8. Para obter permissão legal para operar, uma indústria comprometeu-se a lançar no
máximo 3 litros por segundo de efluentes com uma concentração máxima de cianetos igual
a 3 miligramas por por litro. Uma associação de defesa ambiental desconfia do cumprimento
da lei pela indústria, mas uma comissão de vistoria formada para investigar o problema não
foi bem recebida pela empresa. Em consequência, você foi consultado para reunir dados
para amparar uma ação legal contra a indústria. Sua equipe fez medições da seção e
velocidade do rio a montante da indústria suspeita, e das concentrações de cianeto acima e
a jusante do ponto de lançamento, obtendo os seguintes dados:
MONTANTE: V = 0,6m/s, A = 6,3m2, CCN = 0,0000mg/l
JUSANTE : CCN = 0,0081mg/l
Determinar se há base legal para processar a indústria.
dA dA
dA
y V dh
ds
x
Seção dA = dsdz
Figura 1.10: Fluxo de volume através de uma seção inclinada em relação à velocidade.
Já vimos no item 1.4 que um perfil qualquer de velocidades pode ser aproximado por
segmentos elementares nos quais a velocidade é constante. A mesma idéia é válida para
dividirmos também uma seção de forma qualquer em vários planos retilíneos.
Assim, qualquer área e qualquer perfil podem ser aproximados, no limite, por uma
sucessão de áreas planas e perfis constantes, sendo que cada uma contribui com uma
vazão elementar, conforme a equação 1.19. Veja a Figura 1.11.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 26
Seção aproximada
V1 dA 1
V
V dA 2
2
V3 dA 3
V4 dA4
Podemos repetir o raciocínio utilizado no item 1.4. A vazão total é aproximada por
uma soma que engloba as contribuições de toda a área:
Q dQ1 dQ 2 dQ 3 dQ 4
A aproximação é exata no limite, quando o número de áreas dA
n
Q V . dA i
i 1
n
Q lim V .dAi Q V . dA 1.20
A
n i 1
O símbolo "A" na integral significa que o somatório das contribuições deve envolver
toda a área A, e não que ela seja a variável de integração. Dependendo da forma da
equação para expressar o elemento diferencial de área dA, que depende da função da
velocidade, poderemos ter que efetuar uma integração simples ou dupla.
Uma vez que estabelecemos o fluxo de volume, fica fácil escrever diretamente a
massa desse volume para encontrarmos a equação do fluxo de massa:
FMASSA V . dA 1.21
A
A equação 1.21 é a forma mais geral para o fluxo de volume, e a 1.22 sua equivalente
para fluxo de grandeza extensiva qualquer transportada pelo fluido.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 27
A1 1 A2
2
V1
Vol. V2
Área de
Entrada
Controle
Área de Saída
Áreas Laterais dA
dA
Valor nulo
QENTRA V . dA QSAI V . dA
AE AS
Figura 1.12: definição de áreas de entrada e saída por meio do ângulo entre os vetores.
Toda vez que o ângulo entre os dois vetores for > 90° o produto escalar será
negativo. Isso só ocorre nos fluxos de entrada.
Por outro lado, um ângulo <90° indica uma situação entre os vetores que só ocorre
em áreas de saída.
Exemplo 1.8:
Uma trincheira de drenagem intercepta um aquífero numa seção retangular com 2m de
altura, dada em m2 por A = 50 i 25 j . A velocidade de percolação da água na seção
considerada é dada em m/dia por V = 3,0 i 5 j . Calcule o fluxo de volume (vazão) de
água a ser retirada da trincheira, para que a água não se acumule.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 28
Análise:
Trata-se de um caso de velocidade constante ao longo da área, pois a velocidade não é
função de x ou de y. Assim, a equação 1.20 pode ser aplicada diretamente a toda a área:
dQ V dA Q V A
O esquema a seguir permite visualizar a geometria do problema:
y
V
12,5
0
z 0 x
12,5
y Axz 5,0
A=Lz
25 2
A yz Ayz i
x 3,0
q
Área A q Axz j
n
-25
Solução:
Q V A 3 i 5,0 j 50 i 25 j 150 125 275 m 3 / d
Comentários: A solução é teórica porque, na prática, a abertura da vala e o bombeamento
irão alterar as condições de contorno, mudando as cargas e a direção da velocidade nas
proximidades da abertura. Entretanto, o procedimento serve para ilustrar o cálculo, assim
como permite introduzir a discussão sobre o valor negativo do fluxo. Afinal, o que significa
este sinal?
Exemplo 1.9:
A figura mostra o traço de uma seção plana com y
1m de espessura na direção z, perpendicular ao
papel, submetido a um campo bidimensional de
velocidades dado por V = 200 x i + 50 y j (m/s). 1,5m
Determinar o fluxo de volume que atravessa a
1,0m A1
seção A1 indicada na figura.
x
0,5m 1,5m
Solução:
Inicialmente é necessário definir a área A1.em termos vetoriais. Observe o esquema:
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 29
Temos:
dA z ds n
e também d A dAyz i dAxz j ,
dAyz z ds senq z dy
dAxz z ds cosq z dx
Portanto,
dA z dy i z dx j
A contribuição da densidade de fluxo na área dA é dada por:
dQ V dA 200 x i 50 y j z dy i z dx j
Efetuando o produto escalar e lembrando que z = 1
dQ 200 x dy 50 y dx
O fluxo total é a somatória de todas as contribuições ao longo da área A, dada pela
integral de dQ:
x 1, 5 y 1, 5
Q dQ
A x 0, 5
y 1, 0
200 x dy 50 y dx
A integral dupla não pode ser avaliada porque os limites não estão separados. Mas, ao
longo do limite de integração temos que dy = dx/2. Isto transforma a integral dupla em
simples:
x 1, 5
Q
x 0,5
100 x 50 y dx
Ainda não pode ser avaliada porque sobre a área y é função de x. Para resolver,
temos que notar que: y 0,75 0,5 x . Assim, o fluxo fica:
1, 5
x2
Q 100x 37,5 25x dx 75
1, 5
37,5 x 37,5
0,5 2 0,5
1.8.1. Na seção definida pela figura foram observados os valores de velocidade dados por: V
= (1 + 0,5xy) i + 0,2xy j + 0,2y k , sendo V(m/s) e x e y em metros. Calcular a vazão através
da seção considerada.
y (m) Figura Ex. 2
(0,2) (1,2)
x (m)
(4,0)
1.8.2. A Figura mostra um trecho de um canal regular com seção parabólica. Sabendo que a
velocidade é dada por V = 0,5 z2 i, e que a cota do fundo é dada por Z = 0,5y2, calcular a
vazão transportada.
1.8.3. Considere uma seção de escoamento paralela ao plano XZ, com 2 lados horizontais e
2 verticais. A seção é quadrada com 2m de lado. Um dos lados horizontais está situado em z
= 0m e y = 5m, entre x = 0m e x = 2m. Outro lado horizontal está situado em z = 2m (y=5m).
Esta seção está num escoamento dado por 𝑉 ⃗ = 𝑦𝑧 + 𝑧2 + 𝑥 ⃗ , sendo V em (m/s)
e ordenadas x, y e z em metros. Calcule a vazão através da superfície.
1.8.4. Um fluido escoa através das seções hachuradas do V.C. mostrado na figura. Pede-se:
a) Sendo a velocidade em m/s dada por 𝑉 ⃗ = + + ⃗ , calcule a vazão total que
entra ou sai do V.C.
b) Com as velocidades do item anterior e sendo a concentração de uma substância
dissolvida na água dada por C (mg/L) = 20 mg/L calcule o fluxo de massa total da
substância que entra ou sai do V.C.
c) Com as velocidades do item anterior e sendo a concentração de uma substância
dissolvida na água dada por C (mg/L) = 20x + 20y, calcule o fluxo de massa total da
substância que entra ou sai do V.C.
d) Sendo a velocidade dada por 𝑉 ⃗ = 𝑦 + 𝑧 + 𝑥 ⃗ . Calcule a vazão total que entra
ou sai do V.C..
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 31
1.8.5. Um fluido escoa através da seção hachurada do V.C. mostrado na figura. Pede-se:
a) Sendo a velocidade em m/s dada por 𝑉 ⃗ = + + ⃗ , calcule a vazão que entra
ou sai do V.C.
b) Com as velocidades do item anterior e sendo a concentração de uma substância
dissolvida na água dada por C (mg/L) = 20 mg/L calcule o fluxo de massa da
substância que entra ou sai do V.C.
c) Com as velocidades do item anterior e sendo a concentração de uma substância
dissolvida na água dada por C (mg/L) = 20x + 20z, calcule o fluxo de massa da
substância que entra ou sai do V.C.
d) Sendo a velocidade dada por 𝑉 ⃗ = 𝑦 + 𝑧 + 𝑥 ⃗ , calcule a vazão que entra ou sai
do V.C. pela superfície hachurada.
Figura 1
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 32
CAPÍTULO 2
DESCRIÇÃO ELEMENTAR DOS ESCOAMENTOS
O conceito de trajetória é bastante intuitivo. Imagine que você pode marcar uma
determinada partícula do escoamento, e anotar sua posição ao longo do tempo. O resultado
é uma linha definida como trajetória, ou seja, o lugar geométrico ocupado por uma partícula
ao longo do tempo, mostrada na Figura 2.1.
V(t=0)
As trajetórias podem ser obtidas na prática por método fotográfico, lançando algumas
partículas no escoamento e fazendo exposições sucessivas do mesmo negativo. As
partículas sólidas lançadas no escoamento assumem a função de um traçador, ou seja, de
uma substância que se move com a mesma velocidade do fluido em seu entorno.
A trajetória pertence a uma partícula, que é acompanhada no decorrer do tempo ao
se deslocar pelo escoamento. Por isso se diz que a trajetória é um Conceito Lagrangeano
de descrição do escoamento.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 33
y P1
s1 s
P2
s2
j
x
i
Figura 2.2: Vetor posição e vetor deslocamento entre dois pontos
O vetor posição é s em relação à origem. Em P1:
s1 x1 i y1 j 2.1
No ponto P2 o vetor posição após o deslocamento pode ser escrito como s s ,
onde s é o vetor deslocamento. Se o deslocamento
s ocorrer num intervalo de tempo t,
a velocidade média durante o deslocamento é Vmédia s / t . Sua direção é a mesma do
deslocamento s sobre a corda P1P2.
A velocidade instantânea é calculada tomando-se intervalos de tempo cada vez mais
curtos. Com isso, o comprimento da corda tende a zero, e a direção tende para a tangente à
curva da trajetória em P1.
P4 P4
P V P
3 3
s ( t3) V
P2 P
s ( t2) V 2
P1 P1
s ( t1)
V
en
es
= + 𝑛 𝑛
s
A Figura 2.5 mostra o deslocamento de uma partícula entre P e P', com velocidade
constante em módulo, numa trajetória curva com raio r:
P V
, q
V
V
r V
r
q s
,
P
, q r
V
V V t V V2
V r t r
A relação torna-se exata no limite, quando t 0 e q 0. Nessas condições temos
a aceleração normal instantânea.
V V2
an lim
t 0 t r
A direção e o sentido são os mesmos de V, ou seja, segundo o raio da curva, no
sentido da circunferência para o centro:
V2
an e 2.8
r n
O versor normal aponta sempre para fora da curva, o que explica o sinal negativo. A
aceleração é sempre dirigida em direção ao centro, portanto em sentido contrário ao versor.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 37
Uma representação dos escoamentos pode ser obtida quando se traçam linhas
contínuas que são, em cada ponto, tangentes ao vetor velocidade. Essas linhas são
chamadas de Linhas de Corrente. Podem ser obtidas por meio de uma fotografia do
escoamento, onde se lançou um grande número de partículas visíveis. Com um tempo de
exposição apropriado, cada partícula deixará no negativo um segmento correspondente ao
caminho percorrido durante o tempo de exposição, conforme demonstra o esquema da
Figura 2.6.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 38
trajetória de uma
partícula marcada posição no início
do intervalo
posição no final
do intervalo
Linha de Corrente:
V une pontos na direção
tangente a V
V é tangente ao traço
Figura 2.7: Exemplo de visualização de escoamento para traçar linhas de corrente. Fonte Rui Vieira.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 39
𝑥 𝑦 𝑧
= = 2.9
𝑢 𝑣 𝑤
VP ( t ) VP (t+ t)
P P
Q VQ ( t ) Q VQ (t+ t)
L.C. L.C.
Figura 2.8: Variações da velocidade num escoamento não permanente numa curva de tubulação.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 40
VP (t+ t)
V
- VP ( t ) aLocal lim
t 0 t
V
Figura 2.9: Variação local da velocidade: mesmo ponto, dois instantes de tempo.
sendo V(P, t) e V(P, t + t) a velocidade de duas partículas que passam pelo ponto P nos
dois instantes de tempo considerados. O limite corresponde à derivada da velocidade em
relação ao tempo. Foi usado o símbolo de derivada parcial em 2.10 porque a velocidade
depende também da localização no espaço.
VP ( t )
V
V aConvectiva lim
VQ ( t ) t 0 t
Figura 2.10: Variação convectiva da velocidade: dois pontos no mesmo instante de tempo.
No limite quando t tende a zero o deslocamento também fica infinitesimal, ou seja, s0, e
a equação 2.11 fica:
() ()
= V lim
s0
( ) = V 2.12
= + V 2.13
= + V 2.14
Em que a notação DV/Dt indica que a derivada é uma operação a ser efetuada com
as velocidades de uma determinada partícula da substância em escoamento, ou seja,
variáveis Lagrangeanas. O segundo membro da equação 2.14 é, conforme deduzimos, a
mesma quantidade (aceleração sentida pela partícula) definida com as variáveis Eulerianas
(velocidades medidas em pontos definidos do espaço).
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 42
Euler
V V
a V
t s
Lagrange Local Convectiva
O resultado da equação 2.15 pode ser deduzido também a partir das regras do
cálculo de funções de várias variáveis, pois V = f (s, t), sendo s a coordenada intrínseca que
define a trajetória.
Assim, segundo o cálculo:
V V V V
V t s no limite, dV dt ds 2.15
t s t s
A aceleração fica então:
V dt V ds V V
a V 2.16
t dt s dt t s
Uma apresentação alternativa de 2.13 ou 2.16 é a seguinte:
V V2
a ( ) 2.17
t s 2
_____ Aceleração de uma Partícula em Coordenadas Cartesianas
EXEMPLO 2.1:
O escoamento permanente de água através de um bocal convergente, conforme
mostrado na Figura 2.11, pode ser descrito pela abordagem unidimensional com uma
velocidade média que varia em função de x, u(x).
Supondo que a velocidade varie linearmente entre V 0 e 3V0 ao longo do bocal com
comprimento L, pede-se: a) calcule a aceleração como função de x; b) sendo V 0 = 3 m/s e
L = 1m, calcule a aceleração na entrada e na saída do bocal.
Solução:
O problema é unidimensional na direção x: ⃗ = 𝑉𝑥 = 𝑢
𝑉
Com as condições de contorno do problema, a velocidade é dada por:
𝑥
( ) = 𝑉0 ( + )
Portanto,
𝑢 𝑉0
=
𝑥
Item a) Usando a equação 2.18:
𝑢 𝑢 𝑉02 𝑥
= +𝑢 = ( + )
𝑡 𝑥
Item b) Substituindo os valores numéricos:
Na entrada, x = 0,
2
= ( + ) = 𝑠2
Na saída, x = 1m,
2
= ( + ) = 𝑠2
EXEMPLO 2.2:
Encontre a aceleração de uma partícula no campo Euleriano de velocidade dado por:
⃗ (𝑥 𝑦 𝑧 𝑡) =
𝑉 𝑡 + 𝑥𝑧 + 𝑡𝑦 2 ⃗
Solução: Será aplicada a equação 2.22.
2
Inicialmente, identificamos os componentes: u = 3t ; v = xz e w = ty .
Calculamos agora as derivadas parciais necessárias
⃗
𝑉 ⃗
𝑉 ⃗
𝑉 ⃗
𝑉
= + 𝑦2 ⃗ ; =𝑧 ; = 𝑡𝑦 ⃗ ; = 𝑥
𝑡 𝑥 𝑦 𝑧
= + ( 𝑡𝑧 + 𝑡𝑦 2 𝑥 ) + ( 𝑦 2 + 𝑥𝑧𝑦𝑡) ⃗
EXEMPLO 2.3:
Um escoamento permanente bidimensional ocorre no plano xz, sendo x > 0 , z > 0 e A
uma constante, com a velocidade dada por:
⃗ (𝑥 𝑧) = − 𝑥 + 𝑧 ⃗
𝑉
Determine a equação das Linhas de Corrente e a aceleração das partículas.
5
C= 1
4
C= 2
3 C= 3
C= 4
2
0
0 1 2 3 4 5 6
Figura 2.12: Linhas de Corrente de escoamento nas proximidades de um canto.
2 2
Fica para o leitor demonstrar as acelerações: ax = A x ; az = A z.
O conceito de variação local e convectiva surge sempre que precisarmos avaliar taxas
de variação no tempo de uma grandeza qualquer usando informações Eulerianas.
A Figura 2.13 ilustra o caso com a temperatura sentida pelos ocupantes de um carro
durante uma viagem de Ilha Solteira para São Carlos. A informação Euleriana disponível é a
variação local das temperaturas medidas nas duas cidades. Qual é a taxa de variação média
no tempo, sentida pelos ocupantes do carro, que viaja com janelas abertas?
Figura 2.13: Ilustração de cálculo de taxa de variação Lagrangeana com variáveis Eulerianas.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 47
(a)
vórtice (b)
Figura 2.14: Linhas de emissão de ponto a jusante de cilindro. Fotos: cortesia do Prof. Edson Del Rio.
Uma linha de emissão é o lugar geométrico ocupado pelas partículas que passaram
por um dado ponto do escoamento em instantes anteriores. Cada ponto do escoamento
pode ter uma linha de emissão diferente, e como a linha de emissão é uma representação
instantânea, pode variar ao longo do tempo. A forma mais comum de linhas de emissão que
observamos no dia a dia é proporcionada pelas chaminés de fábricas.Os diferentes padrões
de escoamento identificados pelos vórtices das fotos (a) e (b) ocorrem devido à variação da
velocidade do fluido.
O mesmo tipo de estrutura (vórtices a jusante de um cilindro) pode ser visualizado por
meio das linhas de corrente, conforme o exemplo da Figura 2.15. No caso da figura foi
utilizada a técnica do pó de alumínio, obtendo-se a foto com tempo de exposição
suficientemente longo para que as trajetórias apareçam como traços brancos.
Figura 2.15: Vórtices observados pelas linhas de corrente. Obtida de VIEIRA, R.C.C.S.
Oscilação do bocal
Trajetória
Trajetória
Linha de Emissão
Trajetória
Figura 2.17: Exemplo de linhas de tempo construídas com injeção de bolhas de hidrogênio
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 50
A Figura 2.17 mostra como linhas de tempo, marcadas pelo método de bolhas de
hidrogênio, podem ser usadas para determinar a diferença de velocidades num escoamento.
As bolhas são geradas por eletrólise da água que ocorre no contato com um fio submetido a
uma corrente polarizada. As bolhas de hidrogênio são carreadas pelo escoamento, servindo
como traçador. Observa-se na linha (a) o lugar onde inicialmente as partículas foram
marcadas. A corrente elétrica foi fornecida durante um intervalo de tempo conhecido,
gerando muitas linhas de tempo que foram carreadas pelo escoamento. A foto só permite
visualizar com clareza a primeira linha de tempo (c), marcada no início do pulso de corrente,
e a última (b), que recebeu as bolhas em (a) no final do pulso de corrente.
Existem escoamentos em que a velocidade varia segundo duas direções, como, por
exemplo, em um rio. As velocidades são menores perto das margens, aumentando em
direção ao centro do rio. Além disso, considerando um determinado ponto do rio, a
velocidade varia na direção vertical, conforme a Figura 2.18 (b). É menor junto ao fundo,
atinge um máximo em algum ponto intermediário e depois decresce ligeiramente até a
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 51
superfície (veja figura). As velocidades em rios e canais são medidas com um equipamento
semelhante ao anemômetro de conchas, chamado molinete fluviométrico.
Escoamentos em escala menor são medidos com outras técnicas. Como exemplo,
podemos medir as velocidades do ar no interior de dutos utilizando a anemometria de fio
quente.
L.C.
Superfície de Controle
1 2 3
|𝑉𝐶 + 𝑆 𝑡− 𝐸 𝑡= 2.27
| + 𝑆 − 𝐸 = 2.28
𝑡 𝑉𝐶
Comportamento dinâmico
Divide os escoamentos entre Laminares e Turbulentos. Pela sua importância na
análise dos escoamentos a divisão entre laminares e turbulentos é abordada com mais
detalhe a seguir.
Agulhas injetando
corante
Linhas de Emissão
paralelas
Agulhas injetando
corante
Linhas de Emissão
não se misturam
Ponto de Injeção
Velocidade Média
Figura 2.22: Detalhe de uma linha de emissão em escoamento turbulento de água em canal.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 56
𝑉 = 𝑉+𝑣
Fe
m As
Ae
Fs
A equação 1.1 está ligada a um intervalo de tempo t. Como os escoamentos são
contínuos, é mais conveniente escrever as taxas médias no intervalo de tempo, dividindo a
equação 3.1 por t:
m
F Me F Ms Q e Q s 3.2
t
A equação 3.2 é exata quando as vazões não variam no tempo t ou quando são
usados os valores médios no intervalo de tempo. No caso de fluxos variáveis, é necessário
usar um valor instantâneo, obtido pelo limite da variação da massa quando t tende a zero.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 58
dm
F Me F Ms 3.3
dt
A equação 3.3 diz que “A taxa instantânea de variação da massa é igual ao
saldo dos fluxos de entrada e saída”
_____ balanço de volumes
No exemplo da usina hidrelétrica e em muitos casos da prática a massa específica
não varia. Esse é o caso dos chamados escoamentos incompressíveis. Para constante, o
balanço de massas fica equivalente a um balanço de volumes:
m Vol
Qe Qs 3.4
t t
Vol
Qe Qs 3.5
t
A equação 3.5 diz que “A taxa média de variação do volume é igual à diferença de
vazões de entrada e saída”
Quando a vazão varia no tempo, pode-se usar o mesmo raciocínio, mas escrevendo a
fórmula com valores instantâneos.
dVol
Qe Qs 3.6
dt
Nesse caso, cada pequeno intervalo diferencial de tempo dt traz uma variação
diferencial no volume dVol.
A variação total num dado tempo finito é o somatório das variações diferenciais ao
longo do intervalo de tempo considerado. Analiticamente, isto se consegue pela integração
da equação diferencial da equação 3.6:
V = ( − )
t t
Vol TOTAL
t0
dVol
t0
(Qe Qs ) dt
3.7
É claro que a equação 3.8 possui um erro, pois as vazões variam continuamente. A
aproximação torna-se mais fina à medida que decresce o intervalo de tempo considerado,
ou seja, aumenta o limite n do somatório de parcelas finitas. A equação só é totalmente
exata no limite para t 0. O limite da série infinita de somas é, como sabemos,
equivalente à integral:
Vol TOTAL lim Voli
t
t 0
t0
dVol 3.9
i 1
Assim, como em vários casos da prática, a quantidade n de somas a ser efetivamente
realizada depende dos objetivos do cálculo. Usualmente, quanto mais rápida a variação dos
fluxos no tempo, menor deve ser o intervalo de tempo t adotado.
O segundo membro foi dividido em duas parcelas porque num caso geral a massa
específica pode variar. Já o caso da variação de volume só tem sentido em escoamento
incompressível, e dividir ou não os termos de entrada e saída dos fluxos é apenas uma
questão de conveniência e/ou clareza.
EXEMPLO 3.1:
Um reservatório prismático com área da base Ab = 10m2 possui um volume inicial de 20 m3 e
recebe, durante 1 hora, uma vazão média de 10m 3/h, fornecendo uma vazão média de
30m3/h. Com esses valores médios o reservatório fica completamente vazio após 1 hora.
Determine a dinâmica da variação de nível no reservatório por meio de um gráfico do nivelo
em função do tempo, para os casos seguintes.
___ Caso 1: vazões constantes
Temos apenas um intervalo de tempo para aplicar a equação 3.5:
Vol = (10 – 30) t = -20 t, e a variação do nível é linear, conforme os gráficos.
Q(m3/h) Nível (m)
QS
30 3,0
20 2,0
QE
10 1,0
t (h) t (h)
___ Caso 2: vazão constante de entrada e saída de 60 m 3/h durante a última meia hora:
Neste caso temos dois intervalos de 0,5h, em que as vazões são constantes, nos
quais podemos usar a equação 3.5:
Vol1 = (10 – 0) t = 10(m3/h) G 0,5 h = + 5 m3 Vol1 = Vol0 + Vol1 = 25m3
Vol2 = (10 – 60) t = -50(m3/h) G 0,5 h = - 25 m3 Vol2 = Vol1 + Vol2 = 0m3
Usando a equação 3.5 em 2 intervalos de tempo consecutivos chegamos ao mesmo
resultado final do caso 1 (reservatório vazio). Isto é lógico, uma vez que as vazões médias
não variaram.
Observamos que neste caso o nível aumentou durante o primeiro intervalo, como
demonstra o gráfico a seguir.
Q(m3/h)
Nível (m)
QS
60 3,0
2,0
QE 1,0 t (h)
10 t (h)
0 0,5 1,0
0 0,5 1,0
A equação 3.7 fornece a variação total nos dois intervalos de tempo, levando ao
mesmo resultado final:
VolTOTAL = Vol1 + Vol2 = + 5 – 25 = - 20 m3
VolFINAL = VolINICIAL + VolTOTAL = 20 – 20 = 0m3
Comentário: Os casos 1 e 2 ilustram que podemos chegar ao mesmo resultado final, mas
com dinâmicas diferentes. Somente com a divisão em dois intervalos de tempo foi possível
captar a variação real de nível no caso 2.
Assim, para conhecer em detalhe a evolução dos níveis de água no reservatório, com
vazões que variam continuamente, é necessário utilizar intervalos de tempo cada vez
menores. No limite, chega-se à equação 3.9. O exemplo 3.2 mostra um caso prático da
situação de vazões variáveis.
EXEMPLO 3.2:
Um reservatório prismático com área da base Ab = 10m2 recebe uma vazão constante de
10m3/h. A vazão de saída em m3/h é dada por Qs = 10H, sendo H a cota do nível da água
em metros. Considerando que inicialmente a água está na cota H i = 5,0m, Calcular o nível
após decorrido 1 hora.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 61
Qe = 10 m3 /h
dVol = A B dH
H
Qs = 10H m3 /h
Análise: como neste problema a vazão de saída varia continuamente, a solução exata
precisa partir do balanço instantâneo. A variação total de volume será encontrada pela
integração do balanço instantâneo.
Solução:
𝑉𝑜𝑙 𝑉𝑜𝑙
= − = −
𝑡 𝑡
A equação diferencial resultante não pode ser integrada porque há 3 variáveis (Vol, H e t).
Usando a relação entre volume e altura do nível d’água podemos reduzir a 2 variáveis:
𝑉𝑜𝑙 =
= − = 𝑡
𝑡 −
Com as variáveis separadas podemos integrar
∫ = ∫ 𝑡
− 0
− = − =
EXEMPLO 3.3:
Resolva o problema 3.2 utilizando método numérico aproximado (eq. 3.7) utilizando t de 6
minutos (0,1h).
Análise: o método numérico considera que os fluxos se mantêm constantes durante o
intervalo. Evidentemente esta hipótese contém um erro, já que o fluxo de saída varia
continuamente. Esta é a razão pela qual a solução numérica contém erros, sendo apenas
uma aproximação da solução.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 62
Lembrando que quando os fluxos variam no tempo, o balanço deve ser escrito para um
instante de tempo:
𝑁
= − 3.13
𝑡
EXEMPLO 3.4:
Um meio para determinar a vazão de rios consiste na injeção de substâncias traçadoras,
como sais ou corantes. Numa determinação de vazão em um córrego foram lançados 2L/s
de água com uma concentração de corante fluorescente igual a 5mg/L. Numa seção a
jusante, após a completa mistura do traçador, retirou-se uma amostra da água, obtendo-se
uma concentração de corante de 0,2mg/L. Qual a vazão do córrego?
FN,1 Q2
FN,2
Q1
VC FN,3
Q3
= −
Regime Permanente: = = −
- Grandeza N = Volume
= − + 2 =
= − 𝐶 + 𝐶2 2 =𝐶
+ = ( + )
𝑠 𝑠
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 64
EXEMPLO 3.5:
Considere um recipiente com 100 litros de água à temperatura de 20C, recebendo 1 L/s de
água a 80C e com uma vazão de saída de 1L/s. Durante os instantes iniciais a água sai
com temperatura de 20C, mas depois disso a água sai com a temperatura média do
reservatório. Isto quer dizer que a água no reservatório é bem misturada. Analise o
transiente da temperatura da água no reservatório, supondo que a variação da massa
específica da água com a temperatura é desprezível. Calcule a variação da quantidade de
calor armazenada em 10 segundos e a temperatura média da água na caixa ao final deste
período. Adote ρ = 995 kg/m3 e calor específico c = 4,18kJ/kg°C.
Fe
AS
Ae FS
Solução:
Parte a) _____ Análise do transiente
A grandeza extensiva considerada é a quantidade de calor:
𝑁
= ( − 0) = = ( − 0)
Como a temperatura da água varia continuamente, o fluxo de calor que deixa o reservatório
também varia, de forma que o balanço de energia só é válido instantaneamente, e deve ser
expresso na forma diferencial:
𝑁 ( 𝑇)
𝑡
= − 𝑡
= −
em que a temperatura de referência adotada foi T0 = 0.
− 𝑡
=
𝑄
𝑉𝑜𝑙
= − 𝑡
𝑉𝑜𝑙
Lembrando que o tempo de detenção hidráulico, definido como = , é o tempo
𝑄
médio de permanência de cada partícula no reservatório.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 65
A equação acima pode ser integrada facilmente, entre um instante de tempo inicial ti
em que a temperatura do reservatório é Ti e um tempo t qualquer, obtendo-se:
− 𝑡 𝑡
= =
𝑖 − 𝑖
Que é a solução para o transiente de temperatura no reservatório. Quando o tempo tende ao
instante inicial, T tende a Ti e q 1; por outro lado, quando o tempo é muito grande, q0 e
T Te.
Observe que a solução não depende da massa específica nem do calor específico do
fluido no reservatório, apenas depende da relação entre o volume do reservatório e a vazão
de alimentação, dado pelo tempo de detenção hidráulico. Desta forma a solução vale para
qualquer problema semelhante, podendo ser expressa pelo gráfico adimensionalizado da
figura seguinte.
1,0
0,8
0,6
q / qi
0,4
0,2
0,0
0 1 2 3 4
t/
Resposta adimensional da temperatura no reservatório
0⁄ 00
− ( 𝑠) = ( − )
( 𝑠) = − = 𝐶
Resposta: a temperatura da água no reservatório após 10 segundos será de 25,7°C.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 66
EXEMPLO 3.6:
Calcule numericamente um valor aproximado para a temperatura da água do reservatório do
exemplo anterior ao final de 10 segundos.
Solução:
Para utilizar uma aproximação numérica da equação diferencial do balanço de energia,
vamos considerar que os fluxos permanecem constantes ao longo do intervalo de tempo
finito adotado.
= ( − )𝐶 𝑠=
𝐶 𝑠
Essa quantidade de calor, acrescentada à massa da caixa, permite calcular o acréscimo de
temperatura:
= = 𝐶
𝐶
Resposta: A temperatura da caixa ao final do intervalo de 10 segundos será de 26,0C,
aproximadamente.
Comentários: Note que o erro da solução numérica aproximada foi de 0,3°C em relação à
solução analítica. Este erro tende a diminuir com a adoção de menores intervalos de tempo.
Se o cálculo for repetido para mais um intervalo de 10 segundos o acréscimo de
temperatura será menor, porque maior quantidade de energia deixa o reservatório, visto que
a água sairá mais quente.
A solução numérica partiu da premissa que a água no reservatório permanece a 20°C
durante todo o intervalo de tempo considerado. Evidentemente, esta simplificação implica
em que a resposta possui certo erro. Entretanto, o erro tende a diminuir com o intervalo de
tempo considerado no cálculo.
EXEMPLO 3.7:
Considere novamente o reservatório do exemplo 3.5, levando em conta a variação da massa
específica com a temperatura. Calcule numericamente a temperatura da água ao final de 10
segundos.
Fe
Dados: (80C) = 971,8kg/m3
AS (20C) = 998,2kg/m3
Ae FS c = 4,18 kJ/kgC
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 67
Análise: este problema envolve o balanço transiente de massa da água, visto que, com o
aumento da temperatura causado pela entrada de água quente, o reservatório de volume
constante irá conter cada vez menos massa; além disso, a outra grandeza envolvida é a
energia, também com balanço transiente, visto que a saída de água cada vez mais quente
conduzirá cada vez mais energia para fora da caixa e o fluxo de entrada de energia térmica
é constante.
Em vista dessas dificuldades, torna-se mais simples resolver o problema por aproximação
numérica.
Solução:
A grandeza extensiva considerada é a quantidade de calor: N mc ( T T0 ). A variação da
quantidade de calor no período é dada por:
= 𝑖𝑛𝑎𝑙 − 𝑛𝑖 𝑖𝑎𝑙 = (𝑡 + 𝑡) − (𝑡)
mas também podemos expressar a variação por meio dos Fluxos:
= 𝐸𝑛𝑡 𝑜𝑢 − 𝑆𝑎𝑖𝑢 = 𝑡− 𝑡
Expressando agora os fluxos de energia em função dos fluxos de massa e volume,
𝑁 = 𝑉 ; = ( − 0) 𝑁 = ( − 0 )𝑉
Considerando a temperatura de referência T 0 como nula e substituindo os valores
numéricos, temos as quantidades de energia que entraram e saíram:
= ( ) ( ) ( 𝐶) ( ) ( ) (𝑠) =
𝐶
= ( ) ( ) ( 𝐶) ( ) ( ) (𝑠) =
𝐶
= = = 𝐶
𝐶
numérica carrega um erro de aproximação. Como antes, este erro tende a diminuir com o
intervalo de tempo considerado.
O Volume de Controle (VC) é uma região definida do espaço. A massa é livre para
entrar e sair do VC, que então pode possuir massa variável com o tempo. As grandezas num
VC são usualmente mais fáceis de quantificar com variáveis Eulerianas. A Figura 3.2 traz de
forma esquemática um escoamento qualquer representado por suas linhas de corrente, e
um volume de controle.
O Volume de Controle é conceitualmente diferente do sistema. Um Sistema é uma
quantidade definida de massa. Por isso é normalmente mais fácil quantificar as grandezas
de um sistema usando variáveis Lagrangeanas. Num escoamento, um sistema pode mudar
de forma, acompanhando o escoamento, mas sempre contém a mesma massa.
Volume de Controle
L.C.
Superfície de Controle
Um sistema não é muito útil para efetuar balanços de massa em escoamentos. Todas
as equações de balanços usam como base um volume de controle. Isso ocorre porque não
há interesse, por exemplo, em saber “qual água” se encontra num reservatório, e sim
“quanta água?” é a pergunta importante. Salvo raras exceções, toda água é igual do ponto
de vista da solução de problemas práticos. Por exemplo, no caso de hidrelétricas, é
necessário operar o reservatório com segurança e produção ótima de energia elétrica.
Portanto interessa equacionar o problema a partir do reservatório, uma região fixa do espaço
(VC), e não a partir de cada massa de água que escoa no rio (Sistema).
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 69
Outra razão, talvez menos óbvia, é que as variáveis que utilizamos para descrever os
escoamentos são Eulerianas. Isso significa que foram medidas em pontos definidos do
espaço, e não em partículas definidas de matéria.
____ Balanço
Para o balanço geral de massa vamos imaginar um VC com fluxos que entram e
saem por várias seções de entrada e saída. Inicialmente vamos simplificar o efeito de todas
as entradas em uma só e de todas as saídas também em uma só.
Vamos pensar agora no efeito dos fluxos de entrada e saída do nosso VC. Se isso
parece difícil com um VC abstrato, podemos pensar no conhecido problema do reservatório,
conforme a Figura 3.3, com o mesmo resultado:
Área Lateral
FM,e
V.C. M
t
Área de Saída
Área de Entrada
FM,s
Figura 3.3: Reservatório atuando como volume de controle num escoamento.
dA V
V
Áreas Laterais V
dA Áreas de Saída
Valor nulo dA
Sinal positivo
Figura 3.4: Sentido do vetor área em relação a densidades de fluxo de entrada e saída.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 70
F M ,E F M ,S
Podemos agora levar as integrais para o segundo membro, e também acrescentar um
termo nulo, sem alterar o balanço:
M
V . dA V . dA V . dA 0 3.17
T AE
AS
AL
FM , E FM ,S NULO
dt
SC V dA 0 3.19
Para encerrar o balanço integral de massa num V.C. falta explicitar como, de uma
forma geral, é calculada a massa contida no VC.
Se imaginarmos uma massa específica uniforme ao longo de todo o volume, fica
muito fácil:
= 𝑉𝑜𝑙 onde Vol é o volume total.
= ( V ) 3.20
água doce
Rio
0 maré alta
maré baixa
zona de mistura
= f (x,y,z,t) água salgada
1
Figura 3.5: Corte esquemático de estuário, com variação da massa específica da água.
pequenos que podemos considerar a massa específica constante em seu interior. A massa
M fica então:
n
M Vol (Quanto menor o Vol, melhor a aproximação) 3.21
i 1
A medida que aumenta o limite n do somatório, diminui o tamanho dos volumes Vol.
Quanto menor o volume, mais preciso fica o cálculo da massa, já que consideramos
constante em cada volume e ele pode variar continuamente. Esse processo, no limite, leva-
nos à massa como resultado de uma integração. A integral corresponde ao somatório das
massa de infinitos volumes diferenciais dVol:
n
M lim ( i Voli ) dVol 3.22
VC
n i 1
t VC
dVol SC
V . dA 0
3.23
Surpreendente e Elegante!
t VC
dVol SC
V . dA 0 3.24
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 73
𝑡
∫𝑉𝐶 𝑉𝑜𝑙 + ∫𝑆𝐶 ⃗
𝑉 ⃗⃗⃗⃗⃗ = 3.25
𝑁
| = ∫𝑉𝐶 𝑉𝑜𝑙 + ∫𝑆𝐶 ⃗
𝑉 ⃗⃗⃗⃗⃗ 3.26
𝑡 𝑆 𝑡
Considere uma caixa de areia, conforme esquema da Figura 3.6. As caixas de areia
são utilizadas na entrada das estações de tratamento de esgoto para remover os sólidos
sedimentáveis, que podem prejudicar as etapas posteriores do tratamento.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 74
comporta
VISTA SUPERIOR
Areia sedimentada
CORTE LONGITUDINAL
Figura 3.6: Esquema de uma caixa de areia com duas câmaras de sedimentação.
A caixa de areia tem duas câmaras que funcionam de forma alternada. Enquanto uma
câmara é usada, a outra deve ser limpa. O problema em questão é determinar o tempo
médio de utilização de cada câmara. Para isso é necessário saber a taxa de acúmulo de
areia na câmara de sedimentação.
O problema pode ser analisado com o balanço da grandeza extensiva N dada pela
massa de sólidos (areia) no esgoto. São definidos:
N = mS , a massa de sólidos sedimentáveis na água;
= dmS / dm, a concentração de sólidos em kg por kg de fluido;
CS = , a concentração de sólidos em kg por m3 de fluido.
Com a notação acima definida o balanço de sólidos na caixa de areia é dado pela
equação geral 3.26 da seguinte forma:
⃗ ⃗⃗⃗⃗⃗ =
∫ 𝐶𝑆 𝑉𝑜𝑙 + ∫ 𝐶𝑆 𝑉
𝑡 𝑉𝐶 𝑆𝐶
− + =
𝑡
−𝐶 +𝐶 =
𝑡
= (𝐶 − 𝐶 )
𝑡
Portanto, é possível conhecer a taxa de variação da massa de areia medindo-se as
concentrações de areia na entrada e saída e a vazão. A medição deve ser mantida por um
período de tempo significativo, em intervalos suficientemente pequenos. No caso em
questão, deve ser previsto uma campanha de medição de 24h, no mínimo, com amostras
obtidas a cada hora, durante um dia típico. Com os dados experimentais tem-se a variação
diária:
𝑡
𝑆 = ∫ 𝑆 = ∫ ( 𝐶𝑠 − 𝐶 ) 𝑡
0
Aproximando numericamente a integral por meio de um somatório:
2
𝑆 ∑(𝐶𝑠 − 𝐶 ) 𝑡
𝑖
Com esse procedimento calculamos a variação diária de massa e, conhecendo a
quantidade máxima de areia, o período de tempo máximo para encher a caixa de areia.
Essa abordagem fornece a resposta com rapidez, mas necessita de um levantamento
experimental de dados custoso.
Para aplicar a técnica de medição direta devem ser realizados dois levantamentos
batimétricos, separados por um período de tempo significativo, que pode ser de dois a três
dias no caso em questão.
O levantamento pode adotar, por exemplo, a técnica de medição de profundidades
em pontos organizados numa malha, conforme o esquema da Figura 3.7.
j
n
Zi,j
A i,j
1
i
0
0 1 2 ... m
Zi,j
H
hi,j
Observa-se na figura que é medida a profundidade Zi,j em cada ponto de uma malha
de m x n pontos. A cada profundidade medida corresponde uma altura de areia depositada
hi,j, que pode ser calculada conhecendo-se a profundidade total da caixa H, sendo que
hi,j = H – Zi,j.
Cada ponto representa uma área Ai,j delimitada pela linha de fronteira traçada na
metade da distância até cada um dos pontos vizinhos. Na malha retangular as áreas de
influência de todos os pontos internos são iguais. Nos pontos do contorno sólido a área é
metade e nos cantos, um quarto das áreas interiores.
𝑆 = ∑∑ 𝑉𝑜𝑙𝑖 = ∑∑ 𝑖 𝑖
𝑖 𝑖
𝑆 = 𝑆 − 𝑆 = ∑∑ 𝑉𝑜𝑙𝑖 = ∑∑ ( 𝑖 − 𝑖 ) 𝑖
𝑖 𝑖
3.5 Exercícios
2 - Uma hidrelétrica tem um lago alimentado por dois afluentes, e 6 turbinas. As vazões
afluentes observadas no dia foram de Q1 = 600 m3/s e Q2 = 120 m3/s. Cada turbina operou
com vazão de 100 m3/s, mas 2 turbinas ficaram ligadas apenas 6 horas. Qual a variação do
volume do lago?
D = 3m
D = 1m Turbina
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 78
6 - Um tanque cilíndrico possui uma área de base igual a 1m 2. A água escoa por um orifício
de 50 mm de diâmetro, segundo a figura. A vazão que escoa em m3/s é dada por Q = 2,7Ah
8 - O duto da figura tem seção transversal quadrada com 0,1m de lado e descarrega água
por quatro fendas de 0,01m por 1m localizadas em nas faces laterais de uma derivação.
Sabendo que o regime é permanente, que o duto da derivação é fechado em sua
extremidade inferior e com base nas velocidades nas faces dadas na figura, pede-se:
a) vazões nas faces 1 e 3; b) módulo e sentido da velocidade média na seção b.
Seção a b
0.1m
Va = 8 m/s Vb
Velocidades:
0.1m V1 = V2 = 4 - 2Z
V3 = V4 = 2 - Z
Z V3
1.0m
V2 V1
Y
0.01m X V4
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 79
CAPÍTULO 4
TRANSFORMAÇÕES DE ENERGIA NOS ESCOAMENTOS
V2
(a) tempo t
F2
V1 III
2
F1
I Z2
Z1 1
x 1
V2
(b) tempo t + t F2
III II
V1
F1 Z2
x 2
Z1
No instante inicial da análise o Sistema coincide com o VC. Com o passar do tempo a
água deixa o VC, como é mostrado na Figura 4.1 (b), em que a porção tracejada (Sistema)
não mais coincide com o VC.
Aplicaremos o princípio da conservação da energia mecânica ao Sistema:
= = − 4.1
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 80
Pensando na variação de energia do sistema, vemos que a região III compõe a parte
do sistema cuja energia não variou entre t e t+t. Toda essa parte contém, em cada ponto, a
mesma quantidade de fluido e à mesma velocidade no início e no fim do período. Isto quer
dizer que a soma das energias cinética e potencial das unidades de massa dessa região do
sistema não varia. Portanto, a variação ocorre porque a parte I do sistema desapareceu,
dando origem à parte II.
− 2 2 2 = ( + )− () 4.6
1
p1 A1x1 p2 A2x2 m( V22 V12 ) mg( z2 z1 ) 4.7
2
Os termos da equação 4.7 representam energia total. Dividindo a equação pela
quantidade de massa envolvida na variação da energia, temos, lembrando que “Ax” é o
volume de fluido que entrou e saiu do VC:
p1 p2 1 2
(V2 V12 ) g ( z2 z1 ) 4.8
2
Em que os termos representam energia por unidade de massa (Nm/kg). Rearranjando
os termos obtemos a Equação de Bernoulli:
p1 V12 p2 V22
g z1 g z2 4.9
2 2
Daniel Bernoulli (1700-1782)
Hipóteses Utilizadas
2
p V Escoamento Incompressível
g z Cte
Regime Permanente
2 Atrito desprezado
Em um tubo de corrente
Equação de Bernoulli (1738)
V2
z 2
m V1 t
z1 V2 < V 1
t 0
m V1
z1 V2 > V 1
t 0 V2
z 2
t
Figura 4.2: comportamento de sistema sólido numa rampa
V12 V22
m m g z1 m m g z2 4.10
2 2
A Figura 4.3 mostra três situações possíveis para um escoamento forçado no interior
de um tubo. A ilustração fala por si só. Nos escoamentos forçados a energia cinética deixa
de ser controlada pela cota, como aconteceria com um corpo isolado.
V2 D2 = D1
Escoamento Forçado
V2 = V1
2
V1
V2
1 D2 < D1
V2 > V1
2
V1
1 V2 D2 > D1
V2 < V1
2
V1
Área determina a Velocidade
1
Figura 4.3: Comportamentos possíveis de um escoamento quando aumenta a cota da tubulação.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 83
A Figura 4.3 deixa claro que nos escoamentos forçados não há como compensar a
variação da cota com a energia cinética. A velocidade é controlada apenas pelo diâmetro da
tubulação.
_____ Conclusão :
Nos escoamentos forçados, a Velocidade não é determinada
pelas variações da cota.
Já vimos que não é possível comparar o escoamento com uma massa isolada, sob
pena de comprometer o entendimento físico do problema. Entretanto, a nossa analogia do
escoamento com um trem, constituído de muitos vagões interligados, é bem mais
aproximada da situação que realmente ocorre. Observe a situação da Figura 4.4.
Na Figura 4.4 a velocidade dos vagões não irá variar quando passarem pela
elevação, pois a velocidade de cada vagão é a mesma do trem, que é constante O que
ocorre então, se a energia Potencial aumentou e a Cinética não pode diminuir para
compensar?
Corpo Isolado: V 1= V 3
V 2 < V1 V2
V
V1 3
V2
Trem: V 1 = V 2 = V 3
V1 V
3
Figura 4.4: Comportamento de corpo isolado e de um trem frente a uma elevação de cota.
A resposta a essa pergunta pode ser dada quando pensamos nas barras de
união entre os vagões, introduzindo mais um componente na analogia, capaz de armazenar
energia. Pensando que nos vínculos como molas, eles se tornam capazes de armazenar
energia potencial sob a forma de deformação elástica.
O potencial elástico das molas de união é análogo, no caso real, à pressão existente
nos escoamentos.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 84
Imagine (Fig. 4.5) uma mola com constante elástica K, sendo comprimida por uma
força F. O trabalho realizado pela força ficará armazenado na mola sob forma de energia
potencial.
F
FK x
xi=0
F dW F dxK xdx
xf x x2
xf
W
xi
dW
0
K x dx K
2
Figura 4.5: mola armazena energia
(a) li
V=0
(b)
lf
Figura 4.6: Desaceleração de sistema massa-mola comprime a mola.
Para obter a equação 4.11 dividimos a energia mecânica expressa na equação 4.10
pela quantidade de massa envolvida (m = A x) . Uma forma bastante conveniente da
equação surge ao dividirmos a equação 4.10 pelo peso da massa envolvida, ou seja, W =
mg = g A x . A equação 4.10 fica:
p1 V12 p2 V22
z1 z2 4.13
2g 2g
Lembrando que o peso específico = g.
Os termos da equação 4.13 representam energia por unidade de peso do fluido. As
unidades no sistema SI são (Nm/N) ou simplesmente (m). Pelas unidades percebe-se que
os termos da equação 4.13 são Cargas. Esta nomenclatura vale-se da correspondência
entre pressões e colunas de fluido que exercem a mesma pressão. O termo carga surgiu
para definir a altura da coluna de água, conforme o esquema da Figura 4.7.
dA
Se p1 = p2, dizemos que H é a
coluna equivalente
de fluido altura de coluna equivalente, ou CARGA:
H p1 g H H
tubo p1
H
1 2
Figura 4.7: Relação entre pressão e altura equivalente de coluna de fluido ou Carga.
Com base nessa analogia, todos os termos de energia por peso da equação foram
chamados de cargas. Temos:
𝑝
Carga de Pressão: 𝑝 =
𝑉2
Carga Cinética: =
2
Carga Potencial : = 𝑧
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 86
Lembrando que as cargas de pressão resultam do trabalho das forças externas sobre
o sistema e as demais compõem a energia mecânica do sistema (por unidade de peso).
Com o uso das cargas a equação de Bernoulli pode ser escrita da forma:
𝑝
𝑇 = + 𝑧 + 𝑉 (m) 4.14
Fluido Manométrico
Carga Piezométrica:
p1
Fluido de Trabalho 𝑝
𝑝𝑧 = + 𝑧
1
Z1
Figura 4.8: Piezômetro – cota do nível do fluido coincide com a carga piezométrica.
p1 p2 V 2
A 2
1
1
1
2g A2
2
Resolvendo em função de V1 temos:
𝑝 − 𝑝2
𝑉 = 2
√
( 2 − )
2
1 2 L.C.
V
a 1 2
L
(a) (b)
Figura 4.10: Medidor tipo Pitot (a) e detalhe do ponto de estagnação (b).
Veia contraída
V1 Seção
Contraída Distribuição
h de pressões
no orifício
V2
d
Figura 4.11: Orifício de parede delgada em reservatório de grandes dimensões e detalhe da veia
contraída.
A área do jato também é menor, devido à curvatura das linhas de corrente ao passar
pelo orifício. O fenômeno da contração do jato é levado em conta por outro coeficiente
experimental, chamado de Coeficiente de Contração (Cc).
𝑆 𝑜 𝐶𝑜𝑛𝑡 𝑎 𝑎
𝐶𝐶 =
𝑂 𝑖 𝑖𝑜
Para orifícios circulares de parede delgada Cv varia entre 0,95 e 0,99 e o Cc = 0,62.
A vazão através do orifício com área Ao fica então:
= 𝑉𝑅 𝑎𝑙 𝑎𝑡𝑜 = 𝐶𝑉 √ 𝐶𝐶 𝑂
= 𝐶 √
O coeficiente de descarga típico de orifícios circulares de parede delgada é 0,61.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 90
Quando um tubo descarrega por meio de um bocal que causa estreitamento da seção
e aumento da velocidade, a vazão descarregada pelo tubo pode ser facilmente determinada
com auxílio de um manômetro. Esta aplicação é ilustrada pela Figura 4.12 que mostra um
bocal na extremidade de um tubo dotado de um piezômetro.
Piezômetro
a
h
Bocal L.C. retilíneas
2 z
1 e paralelas
Jato livre 1
Figura 4.12: Bocal descarregando em jato livre e detalhe da variação de pressão no interior do tubo.
𝑉 = 𝑉2 2 𝑉2 = 𝑉
2
𝑉 = 2
√
( 2 − )
2
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 91
4.5. Exercícios
4.5.1) Um fluido de = 10.000 N/m3 escoa por um tubo horizontal, com uma redução de
diâmetro de 150mm para 50mm. Sabendo que a pressão na seção 1, antes da redução, é
de 500.000 N/m2, e a velocidade é 2m/s, calcular a pressão na seção 2, após a redução.
4.5.2) Desprezando as perdas no Venturi da figura, calcule a vazão de água transportada.
ar
0.75m
água
D1 = 0,3m
D2 = 0,15m 2
4.5.3) A figura mostra dois Tubos Venturi verticais, transportando água ( = 1000 kg/m3),
instalados lado a lado e interligados por dois circuitos manométricos, com fluido
manométrico de = 2000 kg/m3 . Sabendo que no ponto 1 a velocidade é 1m/s e a pressão
é 10.000 Pa, pede-se:
a) Calcular a pressão no ponto 2 b) Calcular a pressão no ponto 3
c) Calcular a pressão no ponto 4 d) Calcular a vazão no venturi da esquerda.
3 1 z=1m
2,0m
4 2 z=0,5m
0,25m
Q 50mm
100mm
Pede-se determinar a vazão que sai pelo orifício e a leitura h, sabendo que o coeficiente de
contração do orifício é 0,66.
Ar
h
0,15m
0,40m
Jato Livre
Hg Água
4.5.5) O tubo de 100mm de diâmetro descarrega água em jato livre através do bocal de
50mm. As perdas de carga entre a saída e o piezômetro são h = 10V2/2g sendo V a
velocidade no tubo. A leitura do piezômetro é h= 2,5m. Calcular a vazão.
h
100mm
2m
50mm
4.5.8) Um reservatório de grandes dimensões contém água ( = 9.800 N/m3 ) escoando por
um orifício circular de parede delgada na parede inclinada a 60, sendo que o jato sobe até
um nível 2,0 m acima do orifício. Sabe-se que a área do orifício é 5 cm2, e que seus
coeficientes são CC = 0,60 e CV = 0,9. Calcule a) a carga H no orifício b) a vazão escoada.
H= ?
2m
4.5.9) Na tubulação da figura a água escoa com velocidade de 2,4 m/s no ponto A. Aonde o
nível da água chegará no piezômetro C?
Ex. 4.5.9
Ex. 4.5.10
4.5.10) Se cada manômetro indicar a mesma leitura para uma vazão de 28 l/s, qual deverá
ser o diâmetro da constrição na figura deste problema?
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 94
4.5.11) Para uma vazão de ar de 2 m3/s ( = 12,0 N/m3) qual deverá ser a maior seção A2
necessária para que a água se eleve até a abertura do piezômetro? Despreze efeitos de
compressibilidade.
Ex. 4.5.12
Ex. 4.5.13
4.5.13) A água escoa num tubo vertical de 50mm conforme a figura, caindo em jato livre
sobre um disco com 0,30m de diâmetro. No centro do disco está um manômetro diferencial.
O escoamento é axissimétrico, com a água deixando o disco horizontalmente, num jato com
1mm de altura. Calcule a vazão e a deflexão no manômetro.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 95
5.1 Introdução
Vamos iniciar com o balanço global de massa (equação 3.22), deduzido no item 3.3.
Onde M indica a massa do Volume de Controle e os índices indicam o tempo em que ela é
avaliada.
Pergunta : Podemos demonstrar que a derivada da equação 5.2 é equivalente
às duas integrais do balanço global da equação 3.23?
A relação entre Sistema e Volume de Controle para uma dada lei física é chamada
também de Transformação de Reynolds. É uma ferramenta muito útil, porque todas as leis
da física clássica se aplicam a quantidades de massa definidas. Na Mecânica dos Fluidos,
como já pudemos perceber, é importante que tenhamos leis válidas para uma região
definida do espaço, o Volume de Controle. Logicamente, tudo que for válido para a Massa,
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 96
também será válido para qualquer outra grandeza extensiva N. Nessa generalização para
outras grandezas extensivas nosso esforço será amplamente recompensado.
Imagine um escoamento, visualizado esquematicamente na Figura 5.1 por meio de
suas linhas de corrente. Existe um Volume de Controle qualquer, que contém inicialmente
em seu interior uma massa que constitui o Sistema sob análise (Fig. 5.1(a)). Podemos
pensar que o volume foi demarcado por uma linha de tempo, acompanhando a forma do
sistema no instante inicial.
Decorrido um intervalo de tempo t, o Sistema, carregando consigo sua massa e suas
grandezas extensivas N, terá se deslocado devido ao escoamento, enquanto que o V.C.
permanece fixo no espaço, conforme ilustrado na Figura 5.1(b). Lembre-se que a Linha de
Tempo pode deformar-se ao acompanhar o escoamento, mas sempre demarcará a mesma
quantidade de fluido inicial (com a mesma massa e mesmas quantidades das grandezas
extensivas N - ver propriedades da linha de tempo).
1 2 3
Com esse expediente, as equações 5.3 e 5.4 relacionam a massa do sistema por
meio de medições nas regiões do espaço correspondentes, indicadas pelos índices1, 2 e 3.
Observe que as quantidades de massa e da grandeza N devem ser descritas por variáveis
Eulerianas, embora a quantidade total das grandezas seja de um sistema.
A taxa de variação no tempo da grandeza N (ou da massa M) do sistema fica então:
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 97
dN N S t t N S t ( N 2 N 3 ) t t ( N 1 N 2 ) t
lim lim 5.5
dt S t 0 t t 0 t
Lembrando que N é substituído por M no caso do balanço de massa.
Observe que parte da massa do sistema que antes estava no V.C. foi afastada pelo
fluxo que entra no V.C., levando consigo suas grandezas extensivas. Assim, podemos
associar a grandeza N (ou a massa) da região 1 da Figura 5.1 ao fluxo de entrada da
grandeza N ( ou da massa):
N1 FN ,E t 5.6
N 3 FN ,S t 5.7
dN ( N 2 )t t ( N 2 )t N 3 N1
lim 5.8
dt S t 0 t
dN ( N 2 )t t ( N 2 )t ( FN ,S FN ,E )t
lim 5.9
dt S
t 0 t
É fácil perceber que os fluxos da equação 5.9 não dependem do limite considerado,
porque são fluxos médios no intervalo de tempo. Assim, a derivada da massa no sistema
fica com dois termos, mas apenas um varia no limite para t 0:
dN ( N 2 )t t ( N 2 )t
lim FN ,S FN , E 5.10
dt S
t 0 t
O próximo passo é verificar que quanto menor o tempo t , menor é o volume que vai
entrar e sair do V.C. devido ao escoamento. Isto implica que no limite o volume 2 tende para
o próprio Volume de Controle, de forma que podemos escrever a Lei Física da Conservação
da Massa da seguinte forma:
𝑁 𝑁
| = | + 𝑁𝑆 − 𝑁𝐸 5.11
𝑡 𝑆 𝑡 𝑉𝐶
𝑁
𝑡 𝑆
| =
𝑡
∫𝑉𝐶 𝑉𝑜𝑙 + ∫𝑆𝐶 ⃗
𝑉 ⃗⃗⃗⃗⃗ 5.13
dN V2
e gz u
dm 2 interna
potencial
cinética 6.1
Q-
Q+ Sistema
Q W E W+
W-
Processo
Convenção de Sinal
a.
Portanto, unindo a 1 lei da termodinâmica, que descreve a variação da energia num
sistema, ao resultado previsto pela relação Sistema - V.C., ficamos com a seguinte equação:
dE Q W
t t
t VC e dVol SC e V dA
6.2
dt S
Nesse caso são as forças de contato ao longo da sua superfície as responsáveis pelo
trabalho. Forças de contato originam-se das pressões e das tensões de cisalhamento ao
longo da superfície do sistema.
Além disso, trabalho pode ser extraído ou retirado de um sistema fluido sem que suas
fronteiras se movam, por meio do torque existente em um eixo com pás. É o caso das
bombas e turbinas.
trabalho de eixo (bomba ou turbina)
W =W + W + W
p t e
trabalho de forças tangenciais (cisalhamento)
t t + t
pistão de
área A
Fp Fp
p
x
Figura 6.1: Trabalho realizado pelas forças de pressão
W p
t
A
p dA V (trabalho das forças de pressão) 6.6
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 101
p
FT
V
WT FT x
Fp
WT FT V t 0
Figura 6.2: Fronteira móvel em que o trabalho das forças tangenciais é nulo
Portanto, o trabalho das forças de contato fica reduzido apenas ao trabalho das forças
de pressão nas entradas e saídas do V.C., desde que as áreas de entrada e saída sejam
perpendiculares às velocidades. Assim, temos que:
W W p We We
t
t
t
AE AS
p dAV
t 6.7
As áreas de entrada e saída podem ser substituídas por toda a superfície do V.C.,
pois ao longo das áreas laterais a velocidade é, por definição, perpendicular à área e o
produto escalar ⃗⃗⃗⃗⃗ 𝑉
⃗ é nulo.
W We
t
SC
p dA V
t 6.8
Q W p We
t
t
t
t VC
e dVol SC
e V dA 6.9
Q W e p
t
t
t VC e dVol SC
e V dA 6.10
decorre da diferença de fluxos de entrada e saída de trabalho das forças de pressão (p/) e
energia interna (e) nas fronteiras do sistema. Suas dimensões são dadas por:
ML
L
W FL T2 ML 2
6.11
t
3
T T T
As unidades no SI na equação 6.10 são de joules por segundo, ou Watt.
As situações mais comuns na vida prática são as que envolvem um VC com apenas
uma entrada e uma saída, operando em regime permanente, conforme a Figura 6.3. Vamos
considerar também um trabalho de eixo, já que é muito comum a presença de bombas ou
turbinas nas aplicações hidráulicas.
We
A entrada
A lateral
V1
2
seção 2 : u
1 2
z
seção 1 : u1 2
z
1 V.C. V2
A saída
Q p1 V 12 W e p2 V 22
( gz 1 u 1 ) 1V 1 A 1 ( gz 2 u 2 ) 2 V 2 A 2
t 1 2 t 2 2
6.13
Q p1 V 12 W e p2 V 22
gz 1 u 1 gz 2 u 2 6.14
t VA 1 2 t VA 2 2
Com 6.15 em 6.14 vemos que os termos iniciais dos dois membros da equação 6.14
representam, respectivamente, quantidade de calor e trabalho por unidade de massa
acrescentados ou retirados do V.C.
Q p1 V 12 W e p2 V 22
gz 1 u 1 gz 2 u 2 6.16
m 1 2 m 2 2
perdido para o ambiente, o que torna o termo do calor (Q/m) negativo pela nossa
convenção. Assim, verifica-se que o último termo da equação 6.17 é sempre positivo.
Uma vez que a transformação de trabalho em calor é um processo irreversível, a
quantidade de energia representada pelo último termo não pode mais ser recuperada para
trabalho útil. Dizemos então que o termo final da equação representa uma perda de energia
do sistema. Trata-se, em outras palavras, da irreversibilidade do processo, ou seja, a
diferença entre o trabalho realizado ao longo de um caminho reversível e o real.
Usando a notação de perdas para o termo das irreversibilidades do escoamento, a
equação da energia fica:
p1 V12 We p2 V22
gz1 gz2 Perdas1 2 6.18
1 2 m 2 2
Os termos da equação 6.18 representam energia por unidade de massa, ou joules por
kilograma no SI.
Dividindo-se a equação 6.18 pela aceleração da gravidade o resultado não se altera e
a equação fica expressa em termos chamados de Carga, muito utilizados na prática quando
se trata de escoamentos incompressíveis. Em termos de carga, o balanço de energia fica:
𝑉2 2 𝑉22
+ 𝑧 + − 𝑀 = + 𝑧2 + + 2 6.19
2 2
− = ∫ V + ∫ ( + ) ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗
= ∫ ( + ) ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗
= ∫ ( + ) ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗ + ∫2 ( + ) ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗
Considerando que as grandezas são igualmente distribuídas pelo interior do tubo nas
seções de entrada e saída, os termos da energia específica “e” e do trabalho nas fronteiras
(p/ρ) pode sair da integral
= ( + )∫ ⃗ ⃗⃗⃗⃗⃗ + (
V 2
+ 2 ) ∫2
⃗ ⃗⃗⃗⃗⃗
V
Considerando que foi dada a velocidade média nas seções de entrada e saída,
avaliamos as integrais:
2
= ( + )(− V ) + ( + 2 )(+ V2 2)
= (𝑢2 − 𝑢 ) 𝑉 = ( 2 − ) 𝑉
𝑡
𝑄
𝑡
= 2
2
= 𝑊
00 2
𝑉 = 2
=
Uma turbina a vapor usa 4.600 kg/h de vapor e entrega 700 kW de potência a um gerador
elétrico, conforme a figura. Os dados de entrada e saída do vapor são dados a seguir. Pede-
se calcular a perda de calor através da carcaça da turbina e nos mancais. Calcular a efi-
ciência da turbina. Entrada: h1 = 2790kJ/kg; V1 = 60m/s. Saída: h2 = 2093kJ/kg; V2 = 270m/s.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 107
Q p1 V 12 W e p2 V 22
gz 1 u 1 gz 2 u 2
t VA 1 2 t VA 2 2
Pelo fato do escoamento ser compressível, os termos p/ρ e u são somados para formar a
entalpia do gás, de forma que a equação do balanço fica:
𝑉2 𝑊 𝑉22
+ ( + 𝑧 + ) = + ( + 𝑧2 + 2)
𝑡 𝑉 𝑡 𝑉
Solução:
a) Perda de calor:
Substituindo os valores numéricos na equação acima, temos:
= 𝑉 = = 𝑠
𝑠
𝑊 𝑉 𝑉
= + [( + )− ( + )]
𝑡 𝑡
= + [( − ) +( − ) ]
𝑡 𝑠 𝑠
= − 𝑊
𝑡
O sinal negativo indica que o calor deixa o volume de controle.
b) Eficiência
O cálculo da eficiência usa o fato de que quando há 100% de eficiência a perda de calor é
nula. Assim, o trabalho reversível é dado pela energia total retirada do vapor, conforme a
equação:
𝑊 𝑣 𝑉 𝑉
− = [( + )− ( + )]
𝑡
𝑊 𝑣
= 𝑊
𝑡
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 108
O trabalho reversível pode ser calculado diretamente, somando o trabalho líquido (700kW)
às perdas (147kW).
A eficiência é dada pelo trabalho líquido em relação ao trabalho máximo (reversível)
𝑊
= = =
𝑊 𝑣
Portanto, 82,6% de eficiência da turbina.
Análise:
O escoamento é considerado incompressível e permanente. Adotamos como volume de
controle a água na tubulação entre as seções 1 e 2. O jato descarrega com pressão
atmosférica (jato livre), portanto com pressão relativa nula. O balanço de energia para este
caso é dado pela equação 5.19 em termos de trabalho por unidade de massa:
p1 V12 We p2 V22
gz1 gz2 Perdas1 2
1 2 m 2 2
𝑃 𝑎 2
Sabendo que = , temos que 𝑃 𝑟 𝑠 2 = 2 ( 2
)
Solução:
Adotando massa específica da água ρ = 1000 kg/m3 e substituindo valores na equação
acima,
2 2
𝑊
+ + − = + + +
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 109
𝑊
=− ( )
O termo é negativo porque se trata de uma bomba que realiza trabalho sobre a água.
A potência fornecida pela bomba é calculada multiplicando-se o termo do trabalho de eixo
por unidade de massa pelo fluxo de massa do escoamento.
𝑊
𝑃𝑜𝑡 = 𝑉
𝑃𝑜𝑡 = 𝑥 = 𝑊
𝑃𝑜𝑡 0
A potência consumida : 𝑃𝑜𝑡 𝑜 𝑎 = = = 𝑊
0
Obs: a potência consumida pela bomba é maior do que a transferida ao líquido devido
principalmente a perdas por atrito nos mancais e por recirculação do líquido no interior da
bomba, das zonas de alta para as de baixa pressão.
1 2 3 4 5
V
F
Na analogia entre trem e escoamento, cada vagão pode ser imaginado como uma
certa quantidade de massa do fluido em escoamento. As forças transmitidas para cada
vagão pelos vínculos correspondem no escoamento às forças resultantes das pressões que
atuam em cada face dos elementos de massa.
Supondo massas e atrito iguais em todos os vagões, podemos calcular as forças nos
vínculos entre os vagões, que são as barras 1,2,3,4 e 5 vistas na Fig.6.4. Nada impede que
as forças sejam colocadas num gráfico da posição dos vagões.
Na Figura 6.4 a energia para o movimento é fornecida pela locomotiva, e consumida
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 110
pelo trabalho dissipativo do atrito ao longo do trem. Com isso as forças nos vínculos entre
vagões diminuem.
No caso de fluido escoando num tubo, as forças nos vínculos são substituídas por
distribuição de tensões ao longo da área de contato entre os elementos de massa, conforme
o esquema da Figura 6.5.
F V
1 2 3 4 5 6
l
(a)
p Diagrama de Forças
F
5-4
F
3-4
P 4
3-4 P
5-4 F
at
(b) p (c)
Figura 6.5: Fluido escoando em um tubo - (a) analogia entre as massas de fluido e os vagões do trem;
(b) isolando o elemento de fluido; (c) diagrama de forças resultantes no elemento 4.
Pensando em cada uma das porções de massa de fluido, representadas pelos blocos
numerados da Figura 6.5, vemos que elas recebem energia para o escoamento ( fornecida
por uma bomba ) e, à medida que passa o tempo, essa energia é dissipada pelo trabalho
das forças de atrito, fazendo com que a pressão diminua. Podemos então equacionar as
diferenças de forças entre os vínculos em função do atrito:
= + 𝑎𝑡
Usando AL = Área lateral e AT = Área de seção transversal vemos que:
𝑎𝑡 = 𝑝
𝑝
= 𝑝 𝑇] 𝑝 = 𝑝 −
𝑇
= 𝑝 𝑇
P Perfil de Pressões
observadas no tubo.
x
1 2 3 4 5
Veja que a analogia não é perfeita devido a essa maior liberdade de raciocínio que
temos ao analisar os escoamentos, já que uma unidade de massa pode sempre ser
substituída por outra, num determinado local de análise, à medida que passa o tempo
No trem, as forças permanecem constantes ao longo do tempo em cada vagão
(Sistema – Análise Lagrangeana). Com o fluido, as pressões permanecem constantes em
uma dada região do tubo (Volume de Controle – Análise Euleriana).
A energia por unidade de peso do fluido em escoamento, ou carga total, foi definida
pela equação 4,14, assim como seus componentes, a carga piezométrica e a carga cinética.
Os termos da equação da energia podem ser representados graficamente num escoamento
em tubos pelas Linhas de Carga, conforme o esquema da Figura 6.7.
Figura 6.7: Linhas de carga num trecho de tubo: H = carga total, H = perda de carga.
A equação da energia, na forma de cargas da Equação 6.19, pode ser aplicada entre
as seções 1 e 2 do escoamento da Figura 6.7.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 112
p1 V12 P V2
z1 H M 2 z 2 2 H 12
2g 2g
As perdas de energia por unidade de peso, ou perdas de carga, numa tubulação com
escoamento forçado, podem ser expressas pela chamada equação universal:
L V2
H 12 f 6.21
D 2g
em que a perda é dada em metros, f é um adimensional chamado fator de atrito, L é o
comprimento em metros entre as seções 1 e 2 e D é o diâmetro da tubulação em metros.
O fator de atrito f é determinado por ajuste de dados experimentais. Sabe-se que f
depende do número de Reynolds do escoamento e da rugosidade relativa /D. A utilização
das fórmulas originais de regressão para o fator de atrito é dificultada porque são equações
implícitas, ou seja, com a incógnita nos dois membros.
Várias aproximações explícitas para o fator de atrito f foram propostas ao longo da
segunda metade do século 20. Uma aproximação bem simples e com faixa de validade
bastante ampla foi apresentada por Swamee e Jain (1976), conforme a equação 6.22.
1 , 325
f 6.22
2
5 , 74
ln
3 ,7 D Re 0 , 9
= = 6.23
64
f ; válida para Re < 2000 6.24
Re
Como Re está dentro dos limites de utilização, a eq. 6.22 pode ser usada:
1,325
f 2
0,0181
0,15 5,74
ln
0,9
3,7 * 200 694494
A perda de carga é dada pela eq. 6.21. Com os valores numéricos temos:
500 8 0,152
HTubo 0,0181 17,28m
0,25 9,8 2 0,255
Resposta item a: Cada Newton de fluido perdeu 17,28 Joules de energia devido ao
atrito viscoso, ao percorrer os 500m de tubo. Essa energia foi transformada em calor.
Resta calcular a pressão a montante do registro, aplicando a equação da energia.
Chamamos o ponto inicial do reservatório de “1”, tomado, por simplicidade, na superfície do
reservatório, e de “2” o ponto imediatamente a montante do registro.
𝑉2 2 𝑉22
+ 𝑧 + − 𝑀 = + 𝑧2 + + 2 (eq. 6.19)
2 2
1 2
Venturi
x
’
’
Arranjo Fator de forma
Figura 6.10: Ilustração de diferenças de arranjo e de forma de rugosidades de mesmo tamanho.
Embora a análise dimensional seja útil para definir os parâmetros adimensionais que
irão descrever o fenômeno em qualquer escala, ela nada fala sobre a forma da função f, que
dever ser determinada experimentalmente.
Blasius, em 1913, foi o primeiro a correlacionar os dados experimentais em
escoamento turbulento, mas apenas para tubos lisos. A fórmula empírica de Blasius
correlacionou os resultados dos ensaios com uma dispersão de 5%, sendo dada por:
0
= 4 6.27
𝑅
O efeito do parâmetro /D, chamado de rugosidade relativa, foi esclarecido por
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 117
Nikuradse, em 1933. Nikuradse utilizou tubos de vidro revestidos internamente com grãos de
areia de tamanho uniforme. Os ensaios de Nikuradse demonstraram que o fator de atrito de
tubos rugosos comporta a divisão em 3 regiões, que podem ser observadas na Figura 6.8 e,
de forma mais esquemática, na Figura 6.11. Na primeira região, chamada de escoamento
turbulento hidraulicamente liso, o tubo possui o mesmo fator de atrito de um tubo liso; nesta
região f não depende da rugosidade relativa do tubo. Com o crescimento do número de
Reynolds, o fator de atrito começa a depender tanto do número de Reynolds quanto da
rugosidade; esta segunda região é chamada de escoamento turbulento de transição. Na
terceira região, chamada de escoamento turbulento hidraulicamente rugoso, o fator de atrito
depende apenas da rugosidade relativa.
Com os dados de Nikuradse para tubos lisos e para a região de escoamento
hidraulicamente liso dos tubos rugosos, a equação do fator de atrito é dada por:
1
0,86 ln (Re f ) 0,8
f
6.28
1
1,14 0,86 ln
f D 6.29
1 2,51
0,86 ln
3,7 D Re f 6.30
f
Finalizando a descrição do comportamento do fator de atrito, para escoamentos
laminares, temos uma equação que pode ser deduzida teoricamente, dada por:
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 118
64
f 6.31
Re
A explicação para o comportamento complexo do fator de atrito surge ao observar o
tamanho relativo das rugosidades em relação à espessura da camada limite .
A Figura 6.11 reproduz as características principais do diagrama de Moody, realçando
as diversas subdivisões de comportamento do fator de atrito.
0,08
0,05
0,04
0,01
Turbulência Completa
0,03
0,02 0,001
0,0002
0,0001
0,01
103 104 105 106 107 108
Número de Reynolds - Rey
Figura 6.11: Diagrama de Moody realçando as 4 regiões de comportamento diferente do fator de atrito.
>> ’ >
Transição Hidraulicamente Rugoso
Subcamada Limite Amortecedora
' '
’ ’ <<
Figura 6.12: Tamanho relativo das rugosidades e camada limite nas diversas regiões do
Diagrama de Moody determinam o comportamento do fator de atrito.
1
1,14 0,86 ln
f D ’ < 0,008
Região de Transição (Colebrook-Moody)
1 2,51
0,86 ln
3,7 D Re f
f 0,008 < ’ < 1,9
Figura 6.13: Resumo das equações do fator de atrito e faixa de validade.
Existe uma razoável dificuldade prática de utilização das diversas equações que
descrevem o comportamento do fator de atrito, visto que várias são implícitas, ou seja, com
o fator de atrito aparecendo nos dois membros da equação. Devido à dificuldade de
utilização, o esforço para desenvolver fórmulas explícitas envolveu diversos pesquisadores.
A fórmula de Samee e Jain apresentada na equação 6.22 é um exemplo desse
desenvolvimento. Entretanto, embora seja bem simples e aplicável na maioria das situações
práticas, ela apresenta limitações, ou seja, não reproduz o comportamento completo em
todas as faixas do número de Reynolds.
Dentre as fórmulas válidas para toda a faixa de número de Reynolds, incluindo o
escoamento laminar, podemos citar as de Churchill (1977)1 , Chue (1984)2 , e a de Pereira e
Almeida (1986)3 .
1
CHURCHILL, S.W, 1977. Friction fator equation spans all fluid regimes. Chem. Engng., 84-7, pp.
91-92.
2
CHUE, S.H., 1984. A pipe skin friction Law of universal applicability. Proc. Inst. Civil. Engrs., Part
2, 77 – mar 1977, pp. 43-48.
3
PEREIRA, A.J. e ALMEIDA, A.B., 1986. Formulação explícita e universal da resistência em tubos.
XII Congresso Latino-Americano de Hidráulica. São Paulo, S.P.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 121
6.32
Sucção
Recalque Saída
V
A bomba pode ser encarada como um mecanismo que coloca as massas no início do
tubo e as comprime em direção à saída. A energia fornecida pela bomba é usada para
acelerar as massas e para comprimir as molas (aumentar a pressão). Com o passar do
tempo, enquanto as massas deslocam-se no tubo, a pressão cai devido ao trabalho das
forças de atrito, conforme deduzido no item 6.1 e 6.2, e as molas vão se distendendo
progressivamente. Na saída, à pressão atmosférica, é como se as molas estivessem
totalmente distendidas, e só há energia cinética.
Num caso geral a energia adicionada pela bomba pode provocar variações na carga
de pressão e na carga cinética. Essas transformações de energia são visualizadas por meio
dos diagramas de carga, que contêm as Linhas de Carga Piezométrica (LP) e Linha de
Carga Total (LC).
A Linha de Carga Piezométrica indica em cada ponto a altura que a água do tubo
alcançaria caso fosse instalado um piezômetro com tomada estática naquele ponto do tubo.
𝑃
𝑃 = + 𝑧
A Linha de Carga Total, como o nome indica, mostra a altura que seria atingida pela
água num piezômetro conectado a um Tubo de Pitot (tomada dinâmica). A distância entre as
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 122
A Figura 6.15 mostra o caso em que a energia introduzida provoca apenas aumento
da pressão.
LC
Carga (m)
HM LP
Hc x
VS VR
Sucção Bomba Recalque VS = VR
Figura 6.15: Bomba adiciona energia que se manifesta no aumento de pressão, já que a energia cinética
permanece constante.
L.C.
Carga (m)
Hc
HM
L.P.
VS < VR
EC,S < EC,R
x
VS VR
A bomba da Figura 6.16 mostra um caso mais comum do que o booster da Figura
6.15. A energia fornecida pela bomba é dividida entre aumento de carga cinética e aumento
de pressão.
O efeito de redistribuição entre formas de energia não depende da bomba existir,
acontece também nas tubulações sempre que varia o diâmetro. Veja o esquema da Figura
6.17.
HTotal
Carga (m)
Hc H
LC
Hc LP
P/
P/
x
V1 V2 V1
Figura 6.17: Quando a velocidade aumenta, a pressão diminui pois a energia disponível é limitada.
𝐸 𝑛𝑖 𝑖𝑎𝑙 𝐸 𝑜 𝑛 𝑖 𝑎 𝐸 𝑖𝑛𝑎𝑙 𝐸𝑃 𝑖 𝑎
+ = +
𝑈𝑛 𝑃 𝑠𝑜 𝑈𝑛 𝑃 𝑠𝑜 𝑈𝑛 𝑃 𝑠𝑜 𝑈𝑛 𝑃 𝑠𝑜
A relação anterior expressa em palavras a conservação de energia. Numericamente
os termos de energia por unidade de peso terão a dimensão de espaço [L], com unidades
em (m) metros no SI. A energia por unidade de peso é chamada genericamente de Carga
Hidráulica.
energia dissipada pelo escoamento entre as duas seções resulta do atrito, e é chamada de
Perda de Carga (H).
Assim, para um trecho de tubulação com início na seção 1 e final na seção 2, e uma
bomba em um ponto qualquer entre a seção final e inicial a equação 6.19 fornece:
2 2
p V p V
1
z 1
H z H
2 2
1 B 2
2g 2g
-He = - (-HB)
p1 V12 p2 V22
z1 HT z2 H
2g 2g
-He = - (+HT)
O termo genérico carga de eixo (He) ou ainda altura manométrica (HM) é usado para
designar uma máquina hidráulica, que pode ser uma bomba ou turbina.
Assim, a equação da energia, na presença de uma máquina hidráulica, seja ela uma
bomba ou uma turbina, fica com os termos cujo significado é realçado a seguir.
Carga Inicial Hi Carga Final HF
p1 V12 p V 2
z1 H M 2 z2 2 H
2g 2g
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 125
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 126
____ Bombas
A potência fornecida ao eixo de uma bomba será maior que a acrescentada ao fluido:
𝑃𝑜𝑡𝐸𝑖𝑥𝑜 =
𝑜 𝑎
em que B é o rendimento da bomba (0 < B <1) .
A potência de eixo da bomba é também chamada de potência bruta da bomba, e
corresponde à potência líquida fornecida pelo motor elétrico. A potência consumida pelo
motor elétrico que aciona a bomba é maior que a potência fornecida ao eixo da bomba:
𝑃𝑜𝑡𝐸𝑖𝑥𝑜 𝑜 𝑎
𝑃𝑜𝑡𝑀𝑜𝑡𝑜 = =
𝐸𝑙é𝑡 𝑖 𝑜
𝑀 𝑀
em que M é o rendimento do motor elétrico (0 < M <1)
____ Turbinas
A potência retirada do eixo de uma turbina será menor do que a retirada do fluido.
𝑃𝑜𝑡𝐸𝑖𝑥𝑜 𝑇𝑢 𝑖𝑛𝑎 = 𝑇 𝑇
Exemplo 6.6.1:
Sabendo que as perdas de carga entre as seções 1 e 2 na tubulação da figura são de
5m e que o diâmetro da tubulação na seção 1 é 1,0m e na seção 2 é 0,50m, pede-se: a)
Identifique se a máquina hidráulica é uma bomba ou uma turbina; b) Calcule a potência
retirada ou acrescentada ao fluido.
Máquina
Seção 1: p = 100kPa; V = 0,5m/s; z = 3m
Seção 2: p = 30kPa; z = 2m
= 9800 N/m3.
1 2
Análise: deve ser aplicado o balanço de energia em forma de cargas, conforme a equação
6.19, para descobrir se a carga da máquina é positiva (bomba) ou negativa (turbina). Antes é
necessário calcular a velocidade na seção 2 pela continuidade.
Solução:
Admitindo regime permanente e escoamento incompressível:
𝑉 2
𝑉2 = = 𝑉 2 𝑉2 = 𝑠
2 2
Resposta: a máquina é uma Turbina, que retira uma potência de 11,7kW da água.
Exemplo 6.6.2:
A figura mostra uma tubulação alimentada por um reservatório de grandes dimensões,
que descarrega num jato livre na cota 200,00m, com velocidade 5m/s. As perdas de carga
no percurso total da tubulação são de 25m. A carga total na entrada da tubulação (seção 1)
é de 220m. Informe se a máquina hidráulica é uma bomba ou turbina.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 128
1 Bomba ou Turbina?
2
Análise: trata-se de um problema semelhante ao anterior, exceto que não são fornecidas as
cargas individuais na seção de entrada da tubulação.
Solução:
2
− 𝑀 = + + +
𝑀 = −
Resposta:
A máquina hidráulica é uma bomba, com altura manométrica de 6,3m.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 129
6.7.1. Água escoa de um grande reservatório e descarrega em jato livre. Calcule H(m) e a
pressão relativa p (kN/m2) indicada pelo manômetro antes do bocal. Perdas desprezíveis.
6.7.2. A água se escoa na tubulação da figura. Calcule o diâmetro necessário, d, para que
as leituras manométricas sejam as mesmas.
Ex. 6.7.2
Ex. 6.7.3
Ex. 6.7.5
Ex. 6.7.4
6.7.5. Calcule a altura h necessária para produzir uma vazão de 85 l/s e uma potência de 15
kW na turbina. Despreze as perdas.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 130
6.7.8) Calcular a vazão e a potência fornecida pela bomba. As perdas de carga na tubulação
são dadas e a perda no bocal é desprezível. Dados: ATUBO = 0,1m2; ABOCAL = 0,05m2; Perdas
no tubo HTUBO = 5V2/2g; densidade do mercúrio dHG = 13,6.
Bocal
Bomba Z = 20m
2m
1m
Z = 0m
Hg
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 131
| = =
𝑡 𝑆
Aplicando-se a relação sistema-volume de controle para a quantidade de movimento
tem-se:
⃗ = ∫ ⃗V V + ∫ ⃗V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗ 7.1
= ∫ V V + ∫ V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗ 7.2
= ∫ V V + ∫ V ⃗ ⃗⃗⃗⃗⃗
V 7.3
Observe nas equações 7.2 e 7.3 que o termo 𝑉⃗ ⃗⃗⃗⃗⃗ não é decomposto porque é um
escalar.
A avaliação correta do primeiro membro depende, em cada caso, do correto
isolamento do volume de controle, e da consideração de todas as forças, tanto de contato
como de campo ou de ação à distância (normalmente a força peso).
Nos itens seguintes serão desenvolvidos exemplos de aplicação a casos simples de
interesse prático.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 132
Inicialmente é necessário definir com clareza o volume de controle adotado, para não
cometer erros no isolamento. Foi escolhido para este problema um V.C. que inclui apenas o
jato de água. Seu isolamento aparece no lado direito da figura.
A pressão atmosférica não atua no contato jato-pá. Mas a área de ação da pressão
atmosférica sobre a superfície superior do jato tem a mesma projeção que a superfície
inferior da pá, de forma que as forças devido à pressão atmosférica vão se anular. Por isso é
mais conveniente usar pressões efetivas. Com isso, todas as forças de pressão se anulam,
com exceção da força F exercida pela pá sobre o jato de fluido.
A força F é resultado da integração de um diagrama de pressões efetivas que se
desenvolve ao longo da pá, como ilustrado na Figura 7.1. Esta distribuição de pressões é
desconhecida, mas o balanço integral não depende desta informação para calcular a força
resultante F. Esta é uma grande vantagem da técnica de balanços globais. Aplicando o
balanço, para regime permanente, temos:
Direção x:
= − = ∫ V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗
Direção y:
= − = ∫ V ⃗ ⃗⃗⃗⃗⃗
V
Em que W representa o peso da água sobre a pá.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 133
Desenvolvendo a componente x:
− = ∫ V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗ + ∫ V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗
2
Como as seções 1 e 2 possuem velocidades constantes, as componentes podem ser
retiradas da integral, assim como a massa específica.
EXEMPLO 7.1: A figura mostra um bocal com 0,05m2 de área, descarregando um jato livre
com Vj = 10m/s numa pá defletora horizontal. A pá divide o jato pelo meio, e o ângulo
= 30°. Calcule a força necessária para manter a pá no lugar.
(+V ) (+V )
− = (+ V )(−V ) + (− V ) + (− V )
− = (− )− ( )( )
=
Direção x:
= − 2 + = ∫ V ⃗ ⃗⃗⃗⃗⃗
V
Direção y:
= − − 2 = ∫ V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗
Em que W representa o peso da água contida no interior da curva.
Desenvolvendo a componente x:
− 2 2 + = ∫ V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗ + ∫ V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗
2
− 2 2 + = (V2 q−V )
O tratamento da direção y é semelhante, levando a:
− − 2 2 = V2 q
EXEMPLO 7.2: A figura mostra uma curva vertical de 120 com redução de 300mm para
200mm. A cota média da seção 2 situa-se 1,5m acima da cota média da seção 1. A pressão
relativa na seção 1 é de 50 kPa. A vazão transportada pela tubulação é de 200 L/s. O
volume interno da curva é de 85 L. Calcule a força exercida pela água sobre a curva.
Solução:
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 136
𝑉2 = = = 𝑠
2
2 2
𝑝2
+ + = + + +
𝑝2 = 𝑃
c) Adotar e isolar um VC para calcular o somatório de forças e aplicar o balanço de
quantidade de movimento.
O VC escolhido será a água no interior da curva. As distribuições de tensões tangenciais
e normais ao longo das paredes internas são desconhecidas, mas sua integral sobre a área
resulta na força da curva sobre a água, denotada por F na figura.
Direção x:
+ 2 2 − = ∫ V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗ + ∫ V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗
2
+ 2 2 − = (+V ) (−V ) + (−V2 ) (+V2 2)
= + 2 2 + (V + V2 )
𝑥 =
Direção z:
− 2 2 − + = ∫ V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗ + ∫ V ⃗V ⃗⃗⃗⃗⃗
2
= 2 2 + V + (+V2 )
= + + =
O sinal positivo indica que o sentido adotado (+k) é correto.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 137
𝑝 𝑝2 𝑉22 𝑉2
− = − + 2
𝑉22 𝑉2
𝑝 − 𝑝2 = − + 2 **
2 2
Igualando o termo p1-p2 das equações marcadas com asterisco, pode-se obter a perda de
carga:
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 138
𝑉22 𝑉2
− 2 = V22 − V 2
= − + 2
2
𝑉22 𝑉2
2 = + ( − )
2
2
2
𝑉22 𝑉2 𝑉 ( ) + 𝑉2 ( − )
2 2
2 = + ( − )=
2
2
2
𝑉 [( ) + − ] 𝑉2 2
2 2
2 = = ( − )
2
2
𝑉2
2 = ( − )
2
W
F1
Fat F2
z
x
FB
Figura 6.4: Estrutura em escoamento livre.
= ∫ = ∫ 𝑝 = ∫0
2
=
EXEMPLO 7.3: A figura mostra um trecho de canal retangular com 2m de largura, com uma
comporta vertical controlando a vazão em regime permanente. Calcule a vazão e a força
exercida pela água sobre a comporta, sabendo que o nível de montante é 5 m e o de jusante
2 m. Despreze a ação das tensões de cisalhamento.
1
V1
y1 2
A1 V2
y2 A2
Análise:
A força de atrito no fundo será desprezada, bem como a força vertical da água sobre a
comporta, resultante das tensões tangenciais. A equação da energia entre as seções 1 e 2,
bem como a continuidade, serão utilizadas para determinar a vazão. Com a vazão
conhecida pode ser aplicado o balanço global da quantidade de movimento para o volume
de controle constituído pela água entre as seções 1 e 2.
Solução:
O volume de controle isolado é mostrado no esquema a seguir:
V.C.
Fx
z F1
x F2
O balanço global aplicado ao V.C. isolado acima fornece, conforme a discussão do item 7.4:
𝑦2 𝑦22
− − = (+V )(− V ) + (+V2 )(+ V2 2)
2 2
7.5.1. Calcule a força resultante da água sobre esta placa com orifício. O tubo tem diâmetro
de 0,3 m e o diâmetro do orifício é de 0,2 m, sendo a vena contracta de 0,16 m.
Ex. 6.5.3
7.5.4. Calcule a força horizontal exercida pela água sobre o cone quando a velocidade
média no tubo de 200 mm for igual a 3 m/s.
Ex. 6.5.4
7.5.5. Uma vazão de 1.820 l/min de água ocorre num tubo de 50 mm de diâmetro, o qual se
alarga para 100 mm. Se a pressão no tubo pequeno for igual a 138 kN/m2, calcule o módulo
e o sentido da força horizontal sobre o alargamento.
7.5.6. Um bocal de 100 mm é rebitado (com 6 rebites) numa dobra de uma tubulação
horizontal de 300 mm e descarrega água na atmosfera. Determine a carga de tensão em
cada rebite quando a pressão no tubo for igual a 600 kN/m2. Despreze as forças verticais.
7.5.7. Um tubo cônico divergente se encontra na horizontal, possui comprimento de 0,3 m,
sendo o diâmetro do estrangulamento igual a 75 mm; o diâmetro na saída e igual a 100 mm,
por onde ocorre uma descarga de 28,3 l/s para a atmosfera. Calcule o módulo e o sentido de
cada componente da força que a água exerce sobre o tubo.
7.5.8. Neste escoamento de água no plano horizontal, determine a força sobre as cavilhas
que prendem o conjunto curva-bocal à tubulação. O bocal descarrega em jato livre e as
perdas são desprezíveis.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 143
7.5.9. Água está fluindo em regime permanente no jato livre com vazão de 50l/s. O jato é
desviado pela placa circular com 0,3m de diâmetro. Um manômetro situado no centro da
placa acusa uma pressão de 980kPa. Determine a velocidade do jato, a força exercida pela
água sobre a placa e a força a ser exercida sobre a placa para mantê-la no lugar.
7.5.10. Quando a bomba indicada na figura pára de funcionar (e não oferece nenhuma
resistência ao escoamento), a força exercida sobre a mola é igual a 672 N. Quando a bomba
está funcionando, a força cresce para 2,24 kN. Qual a potência que a bomba está
fornecendo para a água? Suponha que a superfície da água no tanque não se modifique..
Ex. 7.5.11
7.5.11. Um tanque é montado sobre um carro, conforme a figura. Considere a água que sai
do tanque através de um bocal de 0,05m 2, com velocidade de 10m/s. O nível da água no
tanque é mantido constante pela adição de água por meio de uma tubulação vertical.
Determinar a tensão no arame que mantém o carro estacionário.
7.5.12. A figura mostra um dispositivo que recebe um jato de água com 10m/s de velocidade
e 0,1m2 de área. O jato recebido é desviado e descarrega por duas fendas laterais de 0,1m2
de área cada uma, com a velocidade formando um ângulo de 60° com o plano horizontal. A
massa do dispositivo é de 5kg e 10 litros de a água ficam retidos em seu interior, em regime
permanente. Pede-se: a) calcular a velocidade média de saída em cada fenda lateral; b) a
força indicada no dinamômetro.
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 144
y
x
Ex. 7.5.13
60
Ex. 7.5.12
7.5.13. Calcule a força sobre a curva com bocal da figura, situada no plano horizontal e
descarregando com um jato livre. A área do tubo é 1m 2 , a velocidade da água no tubo é
3m/s e na saída do bocal é 9m/s. A pressão na entrada da curva pode ser calculada
sabendo que as perdas de carga entre a curva e o jato livre podem ser desprezadas.
7.5.14. Um bocal de 0,01m2 de área lança um jato no plano horizontal sobre a pá dupla da
figura, com velocidade 5m/s. Sabendo que na pá o jato se divide em dois jatos iguais,
calcule as resultantes Rx e Ry sobre a pá.
Ex. 7.5.14 o 2
60
o
45
5m/s 6m/s
y 1
y
3
o x
60
x Ex. 7.5.15
7.5.15. A figura mostra um jato livre de água de área 0,1 m2 e velocidade 6m/s, atingindo
um anteparo no plano horizontal. Ao bater no anteparo o módulo da velocidade não varia e o
jato é dividido em duas partes. Sabe-se que sai pela seção 3 duas vezes mais água do que
sai pela seção 2. Pede-se:
a) áreas A2 e A3
b) as reações sobre o anteparo
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 145
CAPÍTULO 1
ITEM 1.6
1.6.1
a) Q = 0,02m3/s; b) FM = 19,9kg/s; c) FN = 4g/s (N = sólidos totais); d) FN = 3743kW.
1.6.2
O mapa mostra que as maiores concentrações de matéria orgânica devem-se, provavelmente, à
contribuição do afluente. O problema possui solução aberta. Uma das possíveis soluções é discutida a
seguir.
a) Adotei divisão da seção em subáreas com velocidades constantes.
Seção 1 triangular, com menores velocidades devido à pequena profundidade, com base 2m e
profundidade máxima 0,5m. : A1 = 2x0,5/2 = 0,5m2;
Seção 2 trapezoidal, entre y = 2,0 e y =3,5m, com área de transição entre as velocidades
baixas da margem e o canal principal do rio com as maiores velocidades: A2 = (0,5 + 1,0)/2 x
1,5 = 1,125m2;
2. Cc = 1,875g/m3, Cb = 0;
1.6.6
Devido à simetria é possível resolver para metade da seção e dobrar o resultado.
a) Q = 13,33m3/s, b) FN = 1.667g/s (N = massa de cloretos).
1.6.7
a) VM = 1m/s; b) Q = 3m3/s; c) FM = 3.000kg/s ; d) FN = 300g/s (N = massa de sal).
1.6.8
N = massa de cianetos.
Fluxo medido no rio FN = 30,6mg/s;
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 146
t (s) h (m)
0 5,000
5 4,867
10 4,738
15 4,613
20 4,491
25 4,372
30 4,256
35 4,143
40 4,033
45 3,926
50 3,822
55 3,721
Item d) 60 3,622
CAPÍTULO 4
Ex. 4.5.1 P = 336.735Pa = 337kPa.
Ex. 4.5.2: Q = 0,070m3/s
Ex. 4.5.3: a) P2 = 7.400 Pa ; b) P3 = 29.600Pa ; c) P4 = 4.950 Pa ; d) Q = 0,0156 m3/s.
Ex. 4.5.4: VOrificio = 5,67m/s ; h = 1,64m ;
A vazão depende da área contraída o orifício: Q = 5,67 ASeção Contraída = 0,0073 m3/s.
Ex. 4.5.5: Q = 0,0148m3/s.
Ex. 4.5.6: a) Q = 0,0430m3/s ; b) p = 84.264 Pa; c) H = 11,82m.
Ex. 4.5.7: a) Q = 0,0964m3/s ; b) p = 44.491 Pa; c) H = 7,69m.
Ex. 4.5.8: a) H = 3,29m ; b) Q = 0,00215m3/s.
Ex. 4.5.9: A carga de pressão do ponto B é 1,51m. O nível do piezômetro C ficará 0,31 acima da cota
do ponto A.
Ex. 4.5.10: D = 0,0543m
Ex. 4.5.11: A 0,0219m2.
Ex. 4.5.12: V = 59,7m/s.
Ex. 4.5.13: Q = 0,0082m3/s ; deflexão = 0,397m.
CAPÍTULO 6
6.7.1: P = 32.279 Pa; H = 4,82m
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 148
6.7.2: d = 0,236m
6.7.3: Bomba com HM = 16,73m; Pot = 19,7kW.
6.7.4: Pot = 30.093W
6.7.5: h = 23,98m
6.7.6:
a) VM = 0,5m/s; Q = 3,96x10-6 m3/s ; FM = 3,93x10-3 kg/s
b) 410,7W
c) 2,0 m/s
d) 2410,7W
e) 146,75°C ! (a água irá evaporar, mudando as condições do problema)
6.7.7:
a) a) Bomba ; b) HM = 29,96m; c) Pot = 293.625 J/s; d) C = 2.763,5 kWh = 9,95x109 J.
6.7.8: OBS: Nas versões anteriores não foi incluída na proposta do problema a distância entre o
centro do tubo e o nível do mercúrio no lado esquerdo do manômetro (2,0m). Com esse dado, as
respostas ficam:
Q = 0,871m3/s ; b) Pot = 302,9 kW
CAPÍTULO 7
Ex. 7.5.1
Força exercida pela água sobre a placa: Fa p = (17.723 + 0,0393 Patm ) N (sentido +x); esta resposta
depende da pressão atmosférica local.
Força resultante sobre a placa : F = 17.723 N (sentido -x); esta é a força a ser aplicada pelos vínculos
que unem o tubo à placa (parafusos, rebites, solda, etc). Esta força não depende da pressão
atmosférica local.
Ex. 7.5.2
Força exercida pela água sobre a placa: Fa p = (322,6 + 0,01767 Patm ) N (sentido -z); esta resposta
depende da pressão atmosférica local.
Força resultante sobre a placa : F = 322,6 N (sentido +z); esta é a força a ser aplicada pelos vínculos
que unem o tubo à placa (parafusos, rebites, solda, etc). Esta força não depende da pressão
atmosférica local.
7.5.3
Força necessária para manter o projétil F = 6.570N (sentido -x)
7.5.4
Força exercida pela água sobre o cone: Fa c = (1.477 + 0,031415 Patm ) N (sentido +x); esta resposta
depende da pressão atmosférica local.
Força resultante sobre o cone : F = 1.477 N (sentido –x); esta é a força a ser aplicada pela barra que
mantém o cone no lugar. Esta força não depende da pressão atmosférica local.
7.5.5
Força aplicada pelo vínculo sobre a expansão F = 1339N (sentido +x); a expansão comprime o tubo
menor.
7.5.6
Tensão em cada rebite T = 5655N (tração)
Notas de Hidráulica Experimental – versão 1.8 – 2019/s2 149
7.5.7
Componentes da Força exercida pela água sobre o tubo:
Componente X:
Fx a t = (–17,34 + 0,003436 Patm ) N (sentido –x); esta resposta depende da pressão atmosférica
local.
O sentido coincide com o adotado (–x) quando Fx a t > 0. Isto ocorre para
Patm > 5049,5Pa, o que abrange a maioria das situações comuns.
Componente Y:
Fy a t = 18 N (sentido –y)
7.5.8
Força do conjunto curva + bocal sobre as cavilhas FVC Cavilhas = 8.747 N (sentido –x); O sentido indica
que as cavilhas são tracionadas.
7.5.9
Velocidade do jato : V = 44,27m/s;
Força exercida pela água sobre a placa: Fa p = (2.213,5 + 0,0707 Patm ) N (sentido +x); esta resposta
depende da pressão atmosférica local.
Força resultante sobre a placa : F = 2.213,5 N (sentido –x); esta é a força a ser aplicada pelos vínculos
sobre a placa para mantê-la no lugar. Esta força não depende da pressão atmosférica local.
Ex. 7.5.10
Potência da bomba Pot = 8.828W
Ex. 7.5.11
Tensão no arame T = 2.500N (tração no arame)
Ex. 7.5.12
Velocidade média de saída em cada fenda lateral V = 5m/s.
Força indicada no dinamômetro F = 14.477N (força de compressão na mola)
Ex. 7.5.13
Componente X da força sobre a curva Fx = 34.500N (sentido +x).
Componente Y da força sobre a curva: Fy = 23.383N (sentido –y).
Ex. 7.5.14
Componente x da resultante sobre a pá Rx = 375N (sentido –x)
Componente y da resultante sobre a pá Ry = 0.
Obs: a resultante sobre a pá é a força necessária para manter a pá no lugar.
Ex 7.5.15
a) Áreas: A2 = 0,03333... m2; A3 = 0,06666... m2.
b) Reações sobre o anteparo
Componente x: Rx = 4.448N (sentido –x)
Componente y: Ry = 1.551N (sentido –y)
Obs: a reação sobre o anteparo é a força necessária para manter o anteparo no lugar.