Capítulo Adubação - FINAL PDF
Capítulo Adubação - FINAL PDF
Capítulo Adubação - FINAL PDF
Ítalo Herbert Lucena Cavalcante1, Renato de Mello Prado2, Augusto Miguel Nascimento Lima3,
1
Engenheiro Agrônomo, M.S. Dr. e Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco. E-mail:
[email protected]
2
Engenheiro Agrônomo, M.S. Dr. e Professor da Universidade Estadual Paulista. E-mail: [email protected]
3
Engenheiro Agrônomo, M.S. Dr. e Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco. E-mail:
[email protected]
4
Engenheiro Agrônomo, M.S. Dr. e Professor da Universidade Federal da Paraíba. E-mail: [email protected]
Introdução
acelerado no período que procede ao transplantio até o início da fase reprodutiva, que é dependente
das condições climáticas, mas em clima tropical demanda entre 120 e 150 dias. Após o início do
fases da cultura.
matéria orgânica, quando o cultivo não é realizado em solos com elevados teores de matéria
orgânica deve-se realizar práticas como adubação orgânica, adubação verde, uso de cobertura
morta, rotação de culturas e uso de insumos como biofertilizantes e fontes sintéticas de matéria
orgânica fracionada. A observação e potencial de execução dessas práticas pode ser essencial ao
sucesso econômico da passicultura, pois o maracujazeiro amarelo tem sido cultivado em regiões
maracujazeiro amarelo, o que deve ser observado com cautela, pois um adequado estado nutricional
programa de adubação não deve ser implementado sem o conhecimento prévio da disponibilidade
de nutrientes no solo, considerando-se o custo relativamente baixo das análises de solo e o fácil
acesso aos laboratórios de solo. É conhecido que a fertilidade edáfica expressa a disponibilidade de
nutrientes às plantas e deve ser avaliada se suficiente ou não à exigência da cultura nas distintas
fases fenológicas como meta para garantia de alta produtividade. A avaliação da fertilidade do solo
manejo do solo e dos programas de adubação para garantir adequado estado nutricional com alta
Amostragem de solo
A amostragem constitui a primeira e uma das principais etapas para o sucesso da lavoura,
nutrientes para posterior definição de tipos e doses de fertilizantes minerais, orgânicos ou de ambos
e de corretivos. A eficácia dos resultados de uma análise química do solo está associada ao máximo
de cuidados e critérios na coleta de amostras do solo que serão enviadas para o laboratório. Assim,
cabe ressaltar que, no laboratório, é impossível minimizar e corrigir os erros cometidos no processo
de amostragem do solo. Com isto, erros de amostragem do solo resultam em uma análise inexata e
Em pomares de maracujá a serem instalados, a área deve ser dividida em função do relevo,
textura e cor do solo, do histórico de uso, da vegetação passada e atual, e outras características que
possam separar as diferentes áreas. Em cada área uniforme, coletar aleatoriamente 20 amostras
simples de solo para formar uma amostra composta para as profundidades de 0-20 e 20-40 cm.
Observa-se que mesmo em condições de homogeneidade do solo devem-se evitar áreas superiores a
10 ha.
indesejáveis, tais como: elevada acidez, altos teores de Al trocáveis e deficiência de nutrientes,
pelas plantas, obtendo-se maiores produtividades das culturas. Dentre as finalidades da prática da
calagem destacam-se a correção da acidez do solo pela neutralização do H+, correção da toxidez do
pelo alumínio tóxico (Prado et al., 2004), de forma que tem sido indicado valor de saturação por
bases em torno de 80% para o maracujazeiro adulto. Em estudo avaliando o efeito da aplicação de
calcário ao substrato de produção de mudas de maracujazeiro, Prado et al. (2004) observaram que
maior desenvolvimento das mudas de maracujazeiro foi associado à saturação por bases do solo de
Para a correção da acidez, o calcário é o insumo mais utilizado para a camada mais
superficial do solo, enquanto que para a camada subsuperficial o gesso agrícola é o mais utilizado.
O cálculo da necessidade de calagem, ou seja, a dose de calcário a ser recomendada pode ser
No primeiro método, a calagem deve ser eficiente para neutralizar o Al trocável e garantir
GERAIS, 1999)
Y – Valor variável em função da capacidade tampão da acidez do solo e que pode ser
mt – Saturação por alumínio máxima tolerada pela cultura, podendo ser considerado 5%
para o maracujazeiro.
para o maracujazeiro.
O Y (Tabela 2) também pode ser definido de acordo com o valor de fósforo remanescente
(P-rem), que é definido como o teor de P de solução de equilíbrio após agitar por 1 h a terra fina
seca ao ar (TFSA) com solução de CaCl2 10 mmol/L, contendo 60 mg L-1 de P, na relação 1:10.
R2 = 0,9998
Ve – Saturação por bases desejada (%), podendo utilizar 80% para a cultura do
maracujazeiro.
anteriormente indica a quantidade de CaCO3 ou calcário PRNT = 100 % a ser incorporada por
ser usada deve considerar a percentagem da superfície a ser coberta pela calagem (sc), a
misturados à terra de enchemento da cova, 100 g de calcário dolomítico para cada tonelada em área
total.
pela aplicação de calcário, sugere-se o gesso agrícola. O gesso é aplicado em superfície e, após a
sua dissolução, irá fixar-se em camadas subsuperficiais graças a sua alta mobilidade no solo. A
lixiviação de Ca2+ no perfil do solo possibilita o aprofundamento das raízes, permitindo as plantas
utilizarem mais eficientemente a água e os nutrientes disponíveis no solo (Sousa et al., 2007).
subsuperficiais e carrear bases para a subsuperfície, devendo ser aplicado quando a camada de solo
cmolcdm-3 de Ca2+ e, ou, > 0,5 cmolc dm-3 de Al3+ (COMISSÃO DE FERTILIZANTES DO SOLO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS, 1999). Cabe ressaltar que o uso indiscriminado do gesso pode
resultar em uma intensa lixiviação de cátions principalmente potássio para as profundidades além
espessura, podem ser determinadas de acordo com o teor de argila do solo (Tabela 3).
Tabela 3. Necessidade de gesso (NG) de acordo com o teor de argila de uma camada subsuperficial
de 20 cm de espessura.
GERAIS (1999), o P remanescente pode ser utilizado para estimar a capacidade de adsorção de
sulfatos, sendo utilizado também para o cálculo da necessidade de gesso (Tabela 4).
Tabela 4. Necessidade de gesso de acordo com o valor de fósforo remanescente (P-rem) para uma
qualidade nutricional da planta e propiciar ótimo estabelecimento do pomar com vigor adequado.
cálcio visando aumentar à saturação por bases do solo a 58% (Prado et al., 2005).
dm-3 de P incorporada no solo (Prado et al., 2005). Um estudo de Natale et al. (2006) com adubação
de K dm-3.
indicam-se doses de zinco (5 mg dm-3 de Zn) (Natale et al., 2004) e de boro (0,5 mg dm-3 de B)
Ao se considerar que não há uma fórmula que possa ser adotada como padrão para todas
adubação.
para o maracujazeiro amarelo divergem bastante entre si (Tabela 5). Alguns Estados, mesmo nos
dias atuais, ainda não possuem essa importante literatura, embora para os principais produtores
(Bahia, Ceará, Espírito Santo e Minas Gerais) há recomendação de adubação oficial elaboradas por
<6 40 <30 40
Bahia1
7-13 30 31-60 30
14-20 20 61-90 0
______
mg dm-3______ g planta-1 de P2O5 ______
mg dm-3______ g planta-1 de K2O
>20 40 >90 0
______
mg dm-3______ g planta-1 de P2O5 ______
mg dm-3______ g planta-1 de K2O
<10 40 <45 40
Espírito Santo3
10-20 20 45-80 40
>20 10 >80 40
Baixa* 60 Baixa* 0
4
Minas Gerais
Média* 40 Média* 0
Boa* 20 Boa* 0
1
Comissão Estadual de Fertilidade do Solo (1989); 2UFC (1993); 3Prezotti et al. (2007);4Comissão de Fertilidade do
Solo do Estado de Minas Gerais (1999); *Incorporados pelo menos 30 dias antes do transplantio.
Em geral a cova para transplantio das mudas de maracujazeiro amarelo devem ser
Tabela 5, independentemente do Estado, enquanto a adubação potássica deve ser efetuada na Bahia
e no Espírito Santo.
Uma particularidade da recomendação direcionada ao Estado da Bahia refere-se ao
Adubação de frutificação
reprodutiva é praticamente unânime nas mais distintas regiões do Brasil e do mundo, observando-se
micronutrientes.
máximo quando apresentam maior número de ramos produtivos. Assim, o contínuo e vigoroso
macro e micro nutrientes nos solos para obtenção de produtividade com viabilidade econômica.
visando atingir o máximo do potencial produtivo nas diferentes regiões brasileiras. A demanda
dessa é crescente e diferencia-se dentre os anos, com maiores quantitativos indicados no segundo
<6 60 <30 60
Bahia1
7-13 40 31-60 50 80
14-20 20 61-90 50
______
mg dm-3 ______ g planta-1 de P2O5 ______
mg dm-3 ______ g planta-1 de K2O g planta-1 de N
>20 30 >80 40
P K
Boa 20 Boa 80
1
Comissão Estadual de Fertilidade do Solo (1989); 2UFC (1993); 3Prezotti et al. (2007);4Comissão de Fertilidade do
Solo do Estado de Minas Gerais (1999)
Tabela 7. Recomendação de adubação de frutificação para o segundo ano de cultivo nos principais
14-20 30 61-90 80
______
mg dm-3 ______ g planta-1 de P2O5 ______
mg dm-3 ______ g planta-1 de K2O g planta-1 de N
>20 30 >80 40
P K
Boa 30 Boa 90
1
Comissão Estadual de Fertilidade do Solo (1989); 2UFC (1993); 3Prezotti et al. (2007);4Comissão de Fertilidade do
Solo do Estado de Minas Gerais (1999)
economicamente viável apenas até o segundo ano de cultivo, caracterizando-se uma queda sensível
na longevidade produtiva da cultura de três anos para até menos de dois anos. Entretanto, na Bahia
terceiro ano após o transplantio. Em Minas Gerais, ao se optar por realizar uma poda de restauração,
recomenda-se, ainda, uma adubação que deve ser realizada após essa atividade fitotécnica (Tabela
8).
Tabela 8. Recomendação de adubação recomendada para o Estado de Minas Gerais, após a poda de
restauração do maracujazeiro.
Média* 40 Média* 40 60
Boa* 20 Boa* 20
*
Conforme as deliberações de Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais (1999).
nitrogenados promove vegetação excessiva e afeta negativamente à emissão de botões florais, com
Quanto às fontes dos nutrientes contidos nas tabelas acima se recomenda o uso de fontes
solúveis de P como superfostato simples e superfostafo simples em consórcio com outras fontes
que possuam > 50% NH4-N visando à promoção da fase reprodutiva da cultura sem, no entanto,
é bastante relevante, destacando-se como ideal a relação N:K de 1:2 no início da frutificação e 1:3 a
partir do início da colheita. A exigência do potássio aumenta com a idade das plantas até o final da
segunda colheita do segundo ano de produção e as relações das quantidades N/K aplicadas
uma parcela anual, enquanto em solos de textura média ou arenosa, recomenda-se fornecimento em
Alternativamente Quaggio & Piza Junior (1998) sugerem uma recomendação de adubação
ainda ser considerado baixo (15 a 18 t ha-1), a cultura apresenta potencialidade para níveis
superiores a 40 e até 50 t ha-1. Diante desta amplitude as sugestões para que a adubação da cultura
seja feita também com base na projeção do rendimento esperado entre 15 e 35 tha-1, como indicado
na Tabela 9.
Fonte: Quaggio& Piza Junior (1998); *Adaptado ao original em mmol dm-3; PD=produtividade desejada.
As respectivas doses devem ser incorporadas ao solo antes dos picos de floração desta
forma, apesar do inconveniente do custo de produção, as fertilizações deverão ser feitas em quatro
ou cinco vezes. Ao se administrar um maracujazal com vistas aos índices de produtividade entre 25
e 30 t ha-1 as quantidades dos insumos da Tabela 5 devem ser acrescidas em 25% e para níveis
superiores a 30 t ha-1 as dosagens devem ser aumentadas em 50% (São José et al., 2000).
A adubação orgânica pela sua função ao solo e às plantas sempre está inserida no processo
produtivo do maracujazeiro. Por outro lado, devido ao elevado tempo para a mineralização da
maioria das fontes tradicionais são usadas no sistema produtivo do maracujazeiro no Brasil, outros
insumos orgânicos têm sido estudados como fontes alternativas de matéria orgânica ou mesmo
condicionante para o solo cultivado com essa importante frutífera. Dentre os insumos orgânicos
com potencial uso comercial na passicultura destaca-se o biofertilizante, também conhecido como
bovino fresco na proporção 1:1) no solo e nas plantas de maracujazeiro amarelo têm sido
identificados na literatura indicam ser possível obter produtividades de até 24 t ha-1 (Cavalcante et
al., 2012a), com produção de frutos com qualidade comercial semelhante aos cultivos tradicionais
al., 2012; Cavalcante et al., 2012b). A produção em quantidade e qualidade obtida com uso do
(Freire et al., 2014) e ao adequado estado nutricional proporcionado em plantas tratadas com esse
biofertilizantes para o maracujazeiro amarelo, não são em todos os trabalhos que se verificam
efeitos significativos desse insumo, especialmente sobre os índices produtivos da cultura. Por outro
lado, de uma forma geral, os melhores resultados identificados na literatura foram registrados
quando se aplicou 1,2 L por planta de biofertilizante anaeróbico simples para cultivos realizados em
solos de textura arenosa. O biofertilizante deverá ser aplicado diluído em água na proporção 1:1 em
aplicações a cada 60 dias e essa calda distribuída em uma área de 0,283 m 2 (30 cm de raio ao redor
do caule).
de solo e também da análise foliar. Este último método permite indicar o estado nutricional da
cultura do ano anterior e verificar os nutrientes deficientes ou em excesso no solo para empregar
colaborar com a informação da análise de solo e ajudar na tomada da decisão para a prática da
resultados da análise foliar pela faixa adequada indicada por diversos autores conforme relatado por
Prado & Natale (2006) ou ainda pelo DRIS (Sistema de Diagnose e Recomendação). O importante é
considerar que estes padrões têm necessidade de atualização daí o método DRIS é uma opção
indicada pelo custo baixo da experimentação e rapidez na obtenção das normas DRIS. No entanto, a
mesma tem necessidade de ser validada com estudos de acurácia fato que está sendo incorporado
otimização dos programas de adubação atingindo alta produtividade com uso racional dos
demanda energética na planta associada à redistribuição de nutrientes das folhas para os frutos.
empíricos sem considerar as reais demandas da cultura, as plantas podem exibir sintomas visuais de
e produção do maracujazeiro.
nutricionais descritas por Ruggiero et al. (1996), Prado & Natale (2006) e Borges & Lima (2009).
Tabela 10. Sintomatologia de deficiências nutricionais no maracujazeiro.
Folhas: coloração verde escura que evolui para cor amarelada progressivamente da
margem para o centro
P Velha
Planta: menor desenvolvimento, atraso de ciclo, menor floração e queda de frutos
novos
Folhas: clorose que evolui para necrose, a partir das margens para o centro.
Curvatura para baixo e queda prematura
K Velha
Planta: atraso na floração, redução da fotossíntese líquida, diminuição do tamanho
e do teor de sólidos solúveis dos frutos
Folhas: amarelecimento internerval inicial que evolui para coloração escura (até
Mg Velha
marrom), mas as nervuras permanecem verdes. Limbo encarquilhado
Folhas: mais finas, maiores e mais largas que o normal, na coloração verde escura,
Cu Velha
com nervuras salientes e com aspecto de murchamento
Folhas: clorose internerval (presença do verde muito claro na lâmina foliar entre as
Fe Nova nervuras), com evolução para coloração amarelo-esbranquiçada em toda a
superfície foliar
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248p.