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Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Manga - Produção
Integrada, Industrialização
e Comercialização

Editores:
Danilo Eduardo Rozane
Ricardo José Darezzo
Ronilda Lana Aguiar
George Hial Alberto Aguilera
Laércio Zambolim

Universidade Federal de Viçosa


Viçosa - Minas Gerais
2004

I
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

© 2004 by Danilo Eduardo Rozane - e-mail: [email protected]


Ricardo José Darezzo - e-mail: [email protected]
Ronilda Lana Aguiar - e-mail: [email protected]
George Alberto Hial Aguilera - e-mail: [email protected]
Laércio Zambolim - e-mail: [email protected]

Direitos de edição reservados ao editor.

CAPA:
Alexandre Antônio da Silva - e-mail: [email protected]
DIAGRAMAÇÃO:
Hélder Alves dos Reis – e-mail: [email protected]
IMPRESSÃO:
Suprema Gráfica e Editora Ltda - e-mail: [email protected]
REVISÃO LINGÜÍSTICA:
José Tarcísio Barbosa - e-mail: [email protected]
PEDIDOS PARA:
Universidade Federal de Viçosa
Empresa Júnior de Agronomia
Tel.: (031)3899-2163
Fax.: (031)3899-2614
www.ufv.br/eja
e-mail: [email protected]

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e Classificação


da Biblioteca Central da UFV
Manga-produção integrada, industrialização e comercia-
M277 lização / Editores: Danilo Eduardo Rozane... [et al.].
2004 – Viçosa : UFV, 2004.
x, 604p. : il. ; 22cm.

Inclui bibliografia.

1. Manga. I. Rozane, Danilo Eduardo. II. Darezzo,


Ricardo José. III. Aguiar, Ronilda Lana. IV. Aguilera,
George Hial Alberto. V. Zambolim, Laércio.VI. Univer-
sidade Federal de Viçosa.

CDD 20.ed. 634.44


Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro sem a autorização expressa dos editores.
Tiragem: 500 exemplares

II
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Aos produtores de manga, aos colegas engenheiros agrônomos, estudantes


de graduação, pós-graduação e técnicos agrícolas por atuarem no
desenvolvimento da produção integrada, na industrialização e comercialização
da mangicultura nacional,

Dedicamos

Os editores.

III
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

IV
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal de Viçosa, ao Centro de Ciências Agrárias e


aos Departamentos de Fitopatologia e Fitotecnia, pelo apoio.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais –
FAPEMIG - pelo apoio na realização do evento.
Aos autores dos capítulos, que dividiram conosco a responsabilidade
de escrever este livro.
Aos amigos José Cláudio Torres, Tiago Cavalheiro Barbosa, Caetano
de Carvalho Berlatto, Bruno Neves Ribeiro, Gervásio Chuiti Taniguchi e
Pedro Henrique Rigoni Rodrigues, pela dedicação na realização dos traba-
lhos e na organização e execução do evento. Um agradecimento especial a
Elaine Maria Lima Totti, Raul Carvalho Côrrea da Silva, Geraldo Lourenço
de Azevedo Júnior e Bárbara Lambertucci, pela amizade, compreensão e
atenção que nos dedicaram durante a execução do evento e desta obra.
A José Tarcísio Barbosa, pela revisão lingüística dos textos e pela
seriedade no desempenho de seu trabalho.
Ao senhor Márcio Cerceau Alves, pela dedicação ao livro, nos traba-
lhos de gráfica, para garantir a qualidade da obra.
Aos funcionários da Suprema Gráfica e Editora, pela ajuda no prepa-
ro da capa do livro, na diagramação e na edição das imagens.

Os editores

V
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

E m p re sa Jún ior d e A gr o no m ia
G estão 2004

Diretor-Presidente
Danilo Eduardo Rozane

Diretor Vice-Peresidente
George Alberto Hial Aguilera

Diretor Financeiro e Administrativo


Pedro Henrique Rigoni Rodrigues

Diretor de Projetos
Ricardo José Darezzo

Diretor de Qualidade
Caetano Carvalho Berlatto

Diretor de Recurso Humanos


Ronilda Lana Aguiar

Diretor de Marketing
David Elias Amalfi Moreira

Diretor de Fisco-Curador
Bruno Neves Ribeiro

VI
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

PREFÁCIO

O Brasil, com sua imensidão territorial reúne condições


edafoclimáticas para o cultivo de uma gama da plantas frutíferas - indo
desde aquelas fruteiras de clima temperado àquelas de clima tropical e
subtropical. Entre as frutíferas mais importantes, situa-se a manga, sendo
o Brasil um dos grandes produtores e exportadores mundiais. A manga
brasileira entra no mercado na entressafra dos outros exportadores - uma
vantagem competitiva ímpar.
Dada sua importância socioeconômica, a manga vem merecen-
do a atenção de pesquisadores, extensionistas e técnicos de empresas pri-
vadas. Estudos e trabalhos experimentais, abordando todos os aspectos da
cultura da manga, vêm sendo conduzidos em diversas regiões do país onde
seu cultivo se faz presente. Uma atenção especial vem sendo dada nos
últimos tempos, ao controle de pragas e doenças, de uma forma tal que o
meio ambiente não seja prejudicado.
Esta publicação descreve o melhoramento genético, produção de
mudas, formação e implantação do pomar, tratos culturais, colheita, industri-
alização e comercialização da manga no Brasil, através de especialistas
ligados à pesquisa, extensão rural e empresas privadas.
A forma clara, objetiva e precisa com que os diversos autores
expuseram cada assunto técnico, permite recomendar essa publicação a
todos os interessados em ampliar seus conhecimentos sobre essa frutífera
tão importante em nossa pauta de exportação.

Danilo Eduardo Rozane


Diretor - Presidente da Empresa Júnior de Agronomia
Universidade Federal de Viçosa

VII
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

PRÓLOGO

Já viste coisa mais bela


Do que uma bela mangueira
E a doce fruta amarela
Sorrindo entre as folhas dela
E a leve copa altaneira

Gonçalves Dias

VIII
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

SUMÁRIO
PANORAMA ECONÔMICO DA CULTURA E COMERCIALIZAÇÃO DA MANGA
Viviani Silva Lirio..............................................................................................................01

MELHORAMENTO GENÉTICO DA MANGA (Mangifera indica L.) NO BRASIL


Eng. Agr. Ph.D. Alberto Carlos de Queiroz Pinto.........................................................17

PROPAGAÇÃO DA MANGUEIRA
José Maria Moreira Dias, Rodrigo Sobreira Alexandre, Delcio de Castro Felismino e
Dalmo Lopes de Siqueira.................................................................................................79

PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS NA CULTURA DA MANGA


João Yoshio Murakami ..................................................................................................135

PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E TRATOS CULTURAIS NA CULTURA DA


MANGUEIRA.
Aparecida Conceição Boliani e Luiz de Souza Corrêa...............................................143

FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DA MANGUEIRA


Francisco Maximino Fernandes e Vinício Martins do Nascimento..........................179

NUTRIÇÃO E DESORDENS FISIOLÓGICAS NA CULTURA DA MANGA


Renato de Mello Prado..................................................................................................199

IRRIGAÇÃO E FERTIRRIGAÇÃO NA CULTURA DA MANGUEIRA


Antônio Humberto Simão, Everardo Chartuni Mantovani e Fúlvio Rodriguez Si-
mão.....................................................................................................................................233

MANEJO DA PARTE AÉREA DA MANGUEIRA


Ryosuke Kavati ..............................................................................................................303

INDUÇÃO FLORAL DA MANGUEIRA E PRINCÍPIOS DO CONTROLE


FITOSSANITÁRIO
Gilberto José Nogueira e Silva André Luís Gnaccarini Villela...................................321

MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA CULTURA DA MANGA


Miguel Francisco de Souza Filho, Valmir Antonio Costa e Wilson Carlos
Pazini.................................................................................................................................339

MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DA MANGUEIRA


Laércio Zambolim e Nilton T. V. Junqueira..................................................................377

IX
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

ATUANDO COM RESPONSABILIDADE – USO CORRETO E SEGURO DE PRO-


DUTOS FITOSSANITÁRIOS
Maria de Lourdes Setten Fustaino, Shizuo Dodo e Danilo Eduardo Rozane.........409

EXPECTATIVA E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS NA CULTURA DA MANGA


João Jorge Dezem............................................................................................................511

SEGURANÇA ALIMENTAR NA PRODUÇÃO DE MANGA


Célia Alencar de Moraes e Andressa Pinheiro Gomes..............................................533

TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA PARA A COMERCIALIZAÇÃO DE MANGA IN


NATURA
José Maria Monteiro Sigrist..........................................................................................553

TECNOLOGIA DA INDUSTRIALIZAÇÃO DA MANGA


Afonso Mota Ramos, Paulo Henrique Machado de Sousa e Selene Daiha
Benevides..........................................................................................................................571

X
Panorama Econômico da Cultura e Comercialização da Manga

PANORAMA ECONÔMICO DA CULTURA E


COMERCIALIZAÇÃO DA MANGA
Viviani Silva Lirio1

“Já viste coisa mais bela do que uma bela mangueira,


E a doce fruta amarela, sorrindo entre as folhas dela,
E a leve copa altaneira?”.
Gonçalves Dias

1. INTRODUÇÃO

O Brasil é o maior produtor de frutas tropicais do mundo. Essa é uma


frase de impacto, e realística. Todavia, muito ainda há que se aprimorar nas
bases dessa atividade no País, para que essa perspectiva otimista se trans-
forme em realidade sustentável. Elementos estruturais não faltam a esse
imenso celeiro agrícola – solo, disponibilidade hídrica em várias localidades,
luminosidade e tecnologia - , sendo preciso trasladar esse vultoso conjunto
de fatores positivos para uma realidade comercial, que se multiplique em
ganhos econômicos e sociais, em geração de emprego, renda e alavancagem
regional.
De fato, em anos recentes, a produção e o processamento de frutas
vêm se destacando como atividades de intenso dinamismo, tanto no nível
nacional quanto no internacional. Segundo pesquisa realizada pelo Banco de
Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais - BDMG (2002), as vanta-
gens tecnológicas e os mecanismos de compensação sazonal entre os he-
misférios, aliados ao desejo de uma alimentação mais saudável e à crescen-
te desregulamentação comercial das nações, têm favorecido a expansão da
fruticultura em diferentes países.

1
Professora da Universidade Federal de Viçosa. [email protected]

1
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

2. A PRODUÇÃO DE MANGA NO BRASIL E NO MUNDO.

A manga é uma das frutas mais procuradas no mundo, e esta deman-


da tem se mostrado crescente. De acordo com informações da EMBRAPA,
a procura tem aumentado bastante tanto no mercado interno quanto no ex-
terno, o que tem se refletido em preços compensadores.
O mundo produziu no ano de 2003, 26.196.090 mil toneladas de man-
ga, distribuídas em cerca de 3.400 mil hectares, o que resulta em um rendi-
mento médio de 7,7 toneladas por hectare. Os principais países produtores
dessa fruta (dados de 2003) são Índia, China, Tailândia e México (Tabela 1),
sendo que o Brasil ocupa a nona colocação nesse ranking.

Tabela 1 – Principais países produtores de manga - área, produção e produ-


tividade - 2003.

País Área Produção Produtividade


Hectares Toneladas Ton/hectare
India 1.500.000 11.400.000 7,60
China 298.700 3.413.366 11,43
Tailândia 290.000 1.750.000 6,03
México 173.837 1.503.010 8,65
Paquistão 99.000 1.036.000 10,46
Indonésia 162.000 891.566 5,50
Filipinas 138.000 890.000 6,45
Nigéria 125.000 730.000 5,84
Brasil 68.000 542.000 7,97
Fonte: EMBRAPA, 2004. Dados básicos obtidos em FAO (2003). Atualizado em 03/02/
2004 e consultado em 16/04/2004.

2
Panorama Econômico da Cultura e Comercialização da Manga

Como se pode observar, a produtividade média oscila muito entre os


países selecionados e a maior parte dos principais produtores mundiais tem
rendimento médio próximo à média mundial, não sendo naturalmente, uma
boa marca. Trata-se de uma medição superficial – o País, tem rendimento
médio em São Paulo de 10 ton/ha e cerca de 25 ton/ha em Petrolina (PE).
Todavia, observando o rendimento médio de outros países, menos expressi-
vos do que os citados na Tabela 1, pode-se notar que ainda há muito por
crescer nesse quesito. Os dados da Tabela 2 trazem o ranking por produ-
tividade média, no ano de 2003.

Tabela 2 – Ranking dos países produtores de manga – selecionados por


produtividade. 2003.

Hectares Toneladas Ton/hectare


País Área Produção Produtividade
Cabo Verde 100 4.500 45,00
Samoa 100 4.000 40,00
Ilhas Cook 100 2.700 27,00
Guatemala 6.990 187.000 26,75
Palestina 23 557 24,22
Sudão 9.500 195.000 20,53
Porto Rico 865 17.375 20,09
Venezuela 4.540 85.549 18,84
Emirados Árabes 530 9.137 17,24
República Dem. do Congo 11.771 198.226 16,84
Israel 1.500 24.000 16,00
Fonte: EMBRAPA, 2004. Dados básicos obtidos em FAO (2003). Atualizado em 03/02/
2004 e consultado em 16/04/2004.

Embora se possa argumentar que a área plantada muito pequena –


Cabo Verde, Samoa e Ilhas Cook, por exemplo – não sirva para
parametrização da realidade global, os dados do Sudão e Congo, destacam
a possibilidade de avanços importantes nesse quesito, principalmente consi-
derando as possibilidades de rendimento esperadas.

3
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

De acordo com VILAS (2003), a cultura da manga é uma das mais


rentáveis – Figura 1. Segundo o estudo realizado pelo citado autor, as ex-
pectativas de rendimento da cultura ficam atrás, somente da banana, limão
e uva (considerada em duas safras anuais). Além disso, vale considerar que
a fruticultura, de um modo geral, possui poderoso elemento de alavancagem
regional de emprego e renda. A quantidade de pessoas empregadas é muito
mais expressiva do que a utilizada em outras culturas (grãos, por exemplo),
e ainda há a questão da mão de obra feminina, pouco demandada em outras
culturas, mas bastante requisitada na produção de frutas.

35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000

5.000
0
ga
*

a
na

e
**

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ab

ol

in
ol

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an
na
va

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ra
M
U

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Ba

Ac

Ab

Ab
G

Ta

Fonte: VILAS (2003).

Figura 1 – Rendimento por hectare – frutas selecionadas.


* Valores médios no Brasil, com uso de irrigação.
**Margem de lucro entre 20% e 40% do rendimento bruto.
*** Duas safras ao ano.

Ao se considerar o rendimento médio dos grãos (Figura 2), obser-


vam-se as vantagens comparativas da fruticultura. É certo que se trata de
duas atividades bastante diferenciadas e, portanto, tal comparação deve ser
feita dentro dos limites cabíveis, entretanto, as diferenças são muito expres-
sivas.
Além disso, vale a já comentada diferença no uso de mão-de-obra
agrícola. Há um grande contingente de pessoas no meio rural que se vincu-

4
Panorama Econômico da Cultura e Comercialização da Manga

la, diretamente, a atividades de produção, colheita e pós-colheita. No caso


da fruticultura, a média, por hectare é de 12 pessoas, contra 3 das culturas
de grãos.2

14000

12000
12000

10000

8000

6000

4000

2000 1.600
660 400
300 300
0
Manga Arroz Feijão*** Milho *** Soja Trigo

Fonte: VILAS (2003).

Figura 2 – Rendimento por hectare – grãos selecionados.


* Valores médios no Brasil, com uso de irrigação.
**Margem de lucro entre 20% e 40% do rendimento bruto.
*** Duas safras ao ano.

Existem elementos adicionais que podem servir de referência otimis-


ta para a produção e comercialização da manga. De acordo com
FERNANDES et al (2004), o crescimento da manga no exterior foi muito
expressivo no período 1998-2002, ficando atrás apenas da uva de mesa e,
de acordo com projeções realizadas pelo Instituto Brasileiro de Fruticultura
– IBRAF, as vantagens devem se manter nos próximos anos (Figura 3).
De acordo com dados da EMBRAPA, em média, do total produzido
de manga o Brasil exporta pouco mais de 20%. Os 80 % restantes da
produção são para a comercialização e consumo no mercado interno brasi-
leiro. A região Nordeste é a principal região produtora de manga do país
2
Esses são valores médios. Diversas pesquisas apontam para número muito mais expressivos em
épocas de colheita, como é o caso da goiabeira.

5
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

com 65% da produção nacional, sendo o Vale do São Francisco, o “eldorado”


brasileiro da produção e exportação de manga (Tabela 3).

Fonte: FERNANDES et al (2004)


Figura 3 – Estimativas de crescimento do mercado internacional de frutas
selecionadas (Mercado Internacional – média, e exportações
brasileiras), nos períodos de 1998-2002 e 2003-2005 (projeção).

Tabela 3 – Participação doas regiões brasileiras na produção brasileira de


manga. 2002.
Região Área Quantidade Rendimento Participação
colhida produzida médio na produção
(ha) (ton) (ton/ha) (%)
Norte 1.450 18.670 12,88 2,22
Nordeste 37.191 551.764 14,84 65,50
Sudeste 25.528 249.948 9,79 29,67
Sul 813 9.132 11,23 1,08
Centro-Oeste 1.694 12.835 7,58 1,52
BRASIL 66.676 842.349 12,63 100,00
Fonte: EMBRAPA, 2004. Dados básicos do IBGE – Produção Agrícola Municipal de 2002.

6
Panorama Econômico da Cultura e Comercialização da Manga

Desagregando a produção por estado, as maiores produções encon-


tram-se na Bahia, São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Norte, sendo
que esses dois últimos possuem rendimentos médios bastante expressivos,
se comparados à média nacional (Tabela 4).

Tabela 4 – Principais estados brasileiros produtores de manga – área, pro-


dução e produtividade – Brasil, 2002.
Estados Área Produção Rendimento
(ha) (ton) (ton/ha)
Bahia 16.213 252.952 15,60
São Paulo 19.705 208.947 10,60
Pernambuco 6.623 136.488 20,61
Rio Grande do Norte 2.986 50.982 17,07
Ceará 4.515 38.247 8,47
Minas Gerais 5.058 29.949 5,92
Paraíba 2.370 24.464 10,32
Sergipe 1.144 18.725 16,37
Piauí 1.849 17.979 9,72
Tocantins 564 10.382 18,41
Fonte: EMBRAPA, 2004. Dados básicos do IBGE – Produção Agrícola Municipal de 2002.

Como é possível observar, o estado de Pernambuco é o que possui as


melhores médias de produtividade, bastante acima das médias nacionais e
próximas das observadas pelos recordistas mundiais. De fato, o pólo de
produção do Vale do São Francisco tem congregado esforços, através dos
seus empresários locais, para o alcance de padrões de qualidade compatí-
veis com as exigências internacionais, e esse esforço coordenado e em
parceria com representantes de outras regiões do País foi recentemente
reconhecido.
De acordo com notícia da Folha On-Line (Brasília), depois de 32
anos de negociações, o governo do Japão assinou um decreto abrindo seu
mercado para as mangas produzidas no Brasil. De acordo com a citada
reportagem, o decreto do governo japonês permite a exportação de um vo-
lume inicial de 5.200 toneladas por ano da variedade “Tommy Atkins”, pro-
7
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

duzida principalmente no Nordeste (Vale do São Francisco e Livramento,


Bahia) e em São Paulo.
“O assessor para Assuntos Internacionais
da Secretaria de Defesa Agropecuária, Gilson
Cosenza, disse que 90% das 820 mil toneladas de
manga produzidas todo ano no Brasil são dessa
variedade. Em 2003, o Brasil exportou 126 mil
toneladas da fruta para Estados Unidos e União
Européia, gerando US$ 71 milhões em divisas. As
mangas destinadas ao mercado japonês, ainda
mais exigente que o norte-americano e o europeu,
devem ser comercializadas a US$ 2 mil por tonela-
da. Nessa primeira etapa, as exportações para o
Japão devem render anualmente cerca de US$
10,4 milhões ao país.”

Essa breve referência destaca o potencial de exportações do Brasil


e, simultaneamente, a necessidade de compreender e adaptar-se às regras
internacionais. Ainda de acordo com o citado texto, os produtores de manga
do Vale do São Francisco, na divisa da Bahia com Pernambuco, se prepa-
ram para começar a exportação da fruta para o Japão. Na realidade, os
produtores do Vale do São Francisco já exportam manga para a Europa e os
Estados Unidos – em torno de nove milhões de caixas anuais. De acordo
com a Folha On-Line , a previsão da Associação dos Exportadores do Vale
é de que sejam vendidas também um milhão de caixas para o Japão a cada
ano. Mas, para que os negócios sejam efetivados, será preciso fazer algu-
mas modificações nos galpões onde a fruta é embalada para atender às
exigências do mercado japonês. Por exemplo, para medir a temperatura dos
tanques onde ficam as mangas que são vendidas para os mercados ameri-
cano e europeu, são usados apenas quatro termômetros em cada um. O
governo japonês exige que sejam instalados 12 termômetros em cada tan-
que.

8
Panorama Econômico da Cultura e Comercialização da Manga

3. CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS SOBRE A COMERCIALI-


ZAÇÃO E CONSUMO DE MANGA.

A manga é hoje, uma das mais importantes frutas tropicais que com-
põem a dieta alimentar das classes média e alta brasileira, com um consumo
médio per capita da ordem de 1,2 kg/ano. No entanto, em algumas capitais,
como São Paulo, o consumo de manga alcança 2,5 kg/per capita/ano
(EMBRAPA, 2004).
No interior do País, ainda se observa, largamente, o consumo infor-
mal da fruta. É típico encontrar, em pequenas cidades brasileiras, o discurso
de que a boa manga é a “colhida no pé, pintadinha e com fiapo, para chupar
e não comer aos pedaços”. Essa é uma cultura alimentar que, com o passar
dos anos, tem se atenuado, e é importante que isso ocorra, pois a inserção
competitiva no mercado internacional será bastante beneficiada com a cri-
ação de um mercado consumidor atento e exigente. Quanto melhor a quali-
dade demandada pelo consumidor doméstico, melhor o padrão de adequa-
ção da produção nacional.
Desconsiderando esse consumo rudimentar, em termos comerciais
constata-se que a comercialização de manga no mercado interno brasileiro
centraliza-se, praticamente, em uma variedade - Tommy Atkins – que re-
presenta quase 80% da área plantada no Brasil. Essa escolha deve-se ao
fato de tratar-se de variedade muito produtiva, com atrativa coloração de
casca (avermelhada), apresentando-se pobre nos atributos de qualidade de
polpa, como sabor e ausência de fibras (TODAFRUTA, 2004).
De acordo com QUEIROZ PINTO, 2004), a qualidade da manga
exportada ou apresentada nos balcões de atacadistas e varejistas no merca-
do interno representa o fator principal na escolha do consumidor. No entan-
to, há que se considerar que o termo qualidade é, per si, bastante vago,
podendo representar uma gama variada de elementos e características in-
trínsecas do produto, podendo, inclusive, variar entre regiões. Em se tratan-
do de um produto alimentar, destacam-se os atributos externos e a
palatabilidade – espera-se um fruto de bom tamanho (não exagerado), apa-
rência vistosa e sem machucados (defeitos), de bom sabor e baixa quanti-
dade de fibras.
Segundo o referido autor, em tese, o consumidor não se preocupa se
a variedade de manga é mais produtiva ou mais resistente a uma determina-

9
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

da doença, ele está interessado na qualidade do fruto que irá consumir. “O


sabor, o rendimento e qualidade da polpa são qualidades muito impor-
tantes no grau de seletividade do consumidor”.
A despeito dessa realidade, no Brasil, é ainda bastante comum que os
representantes da cadeia produtiva (do produtor ao varejista) não se preo-
cupem com a qualidade da fruta comercializada, principalmente no quesito
aparência. Como decorrência, praticamente inexiste o zelo pelas caracte-
rísticas locais de consumo – como dito - , as preferências do consumidor
variam espacialmente.
Naturalmente, o contrário acontece com os mercados externos de
destino da produção nacional – basicamente o europeu e norte-americano.
A aparência externa da fruta serve, apenas, como fator de aproximação
inicial. A partir daí, inicia-se o processo de investigação e “descobrimento”
das qualidade do produto ofertado: sabor, doçura, rendimento, maciez, são
seqüencialmente considerados no processo de escolha.
Em relação aos preços, as séries indicam queda dos mesmos no ata-
cado. Os dados disponíveis na Figura 4 mostram o comportamento dos pre-
ços para cada categoria de produto (Variedades Tommy Atkins, Haden e
Espada) no mercado doméstico (e centros de comercialização seleciona-
dos).

9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1 99 9 2 00 0 2 00 1 2 00 2 2 00 3

To m m y Atk in s Be lo H orizo nte H ad e n B ras ília H ad e n B elo H o riz on te Es pa d a R e cife Es pa d a R io d e Ja n eiro

Fonte: Agrianual, 2004. Dados básicos coletados dos CEASAs locais e deflacionados segun-
do o IGP-DI (FGV).
Figura 4 – Comportamento dos preços de mangas selecionadas em merca-
dos d referência. Médias anuais (Reais/kg).

10
Panorama Econômico da Cultura e Comercialização da Manga

Observa-se que a variedade Tommy é a que tem mantido preços


mais estáveis, mesmo considerando o expansivo crescimento da oferta. De
acordo com dados do Agrianual 2004, na CEAGESP, o volume comercializado
dessa variedade passou de 55.375 toneladas para 75.533 toneladas entre
1999 e 2002, o que representa uma expansão de cerca de 36% - natural-
mente, essa estabilidade relativa se manifesta em função da demanda as-
cendente.
Aliás, no que se refere à demanda, não se pode deixar de destacar o
crescente desenvolvimento da indústria de sucos nacional. O que há alguns
anos não era fato sequer em perspectiva – encontrar sucos processados
em praticamente todo o País – hoje é realidade tangível. É certo que o
movimento em prol da boa saúde ajudou nesse processo, mas também é
verdade que houve muito esforço do empresariado nacional. E existe espa-
ço para crescimento adicional.
De acordo com NIERI (2004), em sucos, a produção mundial é pró-
xima de 20 bilhões de litros ao ano – sendo que o Brasil exportou apenas 23
milhões de litros (praticamente apenas suco de laranja) o que é, realmente,
muito pouco. De acordo com o autor, é preciso “divulgar os sucos brasilei-
ros no exterior [...], o caminho trilhado pela indústria de suco de laranja
deve servir de exemplo, para que o Brasil possa um dia desfrutar a posição
que merece ocupar no mercado internacional”. Ademais, no que se refere à
manga, esse é um fato claro: além de saborosa e de possuir alto rendimento,
a fruta se presta a uma imensa variedade de subprodutos, dos quais o suco
é apenas o mais expressivo representante.
Com vistas a melhor compreender o comportamento da oferta de
manga, principalmente no mercado externo, buscou-se relacionar, através
de um modelo simplificado, os efeitos de variações nos preços externos da
manga sobre a oferta de exportações do produto. Naturalmente, trata-se de
um modelo simplificado, mas útil à compreensão dos mecanismos que
norteiam a oferta do produto no mercado internacional, pelo menos sob o
quesito mais direto: o preço.

11
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

3.1. Oferta de exportações da manga brasileira: uma estimativa da


elasticidade-preço da oferta de manga brasileira no mercado in-
ternacional.

Uma ferramenta simples, porém útil, decorrente dos modelos tradici-


onais de entendimento do comportamento da oferta de um determinado bem,
é a estimativa do coeficiente de elasticidade-preço da oferta. Sua base
conceitual é discutida dentro da teoria da oferta, sendo definida como as
várias quantidades desta por unidade de tempo, que os produtores estão
dispostos a colocar no mercado, a todos os preços alternativos, em determi-
nada época, quando os demais fatores relevantes permanecem constantes
(VARIAN, 1999).
De acordo com REIS et al. (2003), a oferta de exportação de um
produto pode ser definida como: “as quantidades deste produto, que os pro-
dutores colocam no mercado durante um período de tempo, a determinados
preços, ‘ceteris paribus’. Assim, de acordo com a lei da oferta, tende a
existir uma relação direta entre o preço e a quantidade ofertada do produto.
Portanto, a curva de oferta terá uma inclinação positiva. Esta abordagem é
válida para a quantidade exportada, uma vez que quanto maior o preço de
exportação, maior tende a ser a quantidade exportada do produto”. Assim
sendo, utilizou-se como referência o modelo descrito por REIS et al. (2003),
em que se expressa matematicamente essa relação como:

Qx S = f (PXt, PIt, RPt, TCt), (1)

em que

Qx S = quantidade exportada da mercadoria X, por unidade de tempo;


PXt = preço externo do bem X no tempo t (com defasagens);
PIt = preço interno do bem X no tempo t (com defasagens);
RPt = renda per capitano tempo t;
TCt = taxa de câmbio no tempo t.

Na especificação deste modelo de exportação que, como dito, deriva


da descrição de REIS et al (2003), adota-se a hipótese de que o país anali-
sado pode ser considerado como um “país pequeno” no contexto internaci-

12
Panorama Econômico da Cultura e Comercialização da Manga

onal, de forma que as suas exportações não sejam suficientemente expres-


sivas para influenciar os preços do mercado externo. Essa é uma hipótese
bastante realística, considerando que o Brasil não figura entre os principais
exportadores de manga no mundo.
Por simplificação, a oferta de exportações da manga brasileira foi
especificada na forma “duplo logarítmica”, o que facilita a compreensão
dos resultados. As séries (que congregam o período 1990-2003) foram ob-
tidas a partir das bases de dados do AliceWeb (Ministério do Desenvolvi-
mento, Indústria e Comércio), da Fundação Getúlio Vargas (FGV Dados),
FAO e Instituto de Economia Aplicada (IPEA Data). Não foi possível, da-
das as limitações do modelo básico e mesmo dos objetivos do presente estu-
do, estimar os efeitos da imposição de barreiras técnicas atualmente em
vigor, o que se espera realizar futuramente.
O resultado obtido para a elasticidade-preço da oferta de exporta-
ções foi igual a 1,34, indicando um aumento na cotação da manga (já
considerando a defasagem), que se reflete em uma oferta mais que propor-
cional: formalmente, um incremento percentual de 1% no preço estimula a
quantidade ofertada em 1,34%. Esse resultado encontra-se dentro do espe-
rado, uma vez que foi positivo (explicitando a relação direta em preço e
quantidade ofertada) e maior do que a unidade (o que indica tratar-se de um
bem não essencial).
Os resultados também mostraram que há sensibilidade (significativos
a 5%) às variações dos preços domésticos. Esse também era um resultado
esperado, uma vez que o produtor tende a considerar os preços internos no
momento da decisão de venda. Esse é, aliás, um fator crítico nas exporta-
ções nacionais. Salvo nos locais em que a produção já se adequa e se orga-
niza em torno das exportações, boa parte dos produtores considera a idéia
da venda externa como uma opção, não como regra. O problema é que, ao
fazer isso, a busca pela adequação aos exigentes padrões internacionais
fica subestimada e se deixa de formar um parque exportador coeso e uni-
forme.

13
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A primeira constatação ao se tomar contato com a magnitude das


cifras que permeiam a estrutura de produção da manga no Brasil é a de que
se trata de uma atividade em expansão e de grande potencial de crescimen-
to. A segunda constatação é de que ainda há muito o que fazer, até que se
chegue a um padrão de excelência.
De fato, a não ser em algumas regiões produtoras específicas, cuja
produção tem destinação preferencialmente para o mercado externo, a maior
parte da produção nacional tem rendimento bastante baixo, o que indica a
inadequação de variedade e/ou, deficiência de tratos culturais.
Embora não seja objeto dessa pesquisa analisar fatores relacionados
à tecnologia empregada na atividade – que são de caráter eminentemente
técnico, naturalmente fazem parte das preocupações dessa pequena pes-
quisa, pois incidem, diretamente, no rendimento e sustentabilidade da ativi-
dade.
Basicamente, é necessário que sejam observadas, na estrutura de
produção: a colheita e pós-colheita; a qualidade e adequação das mudas; o
cuidado na colheita manual, afim de que não sejam perdidos frutos potenci-
almente bons; uma seleção rigorosa das frutas de qualidade adequadas para
o padrão “mesa” e “industrial”; uma melhoria da capacidade de
processamento e adequação crescente às normas internacionais (não ape-
nas para inserção direta, mas como forma de ampliação gradativa da quali-
dade do produto oferecido).
Além disso, é preciso investir em campanhas que mostrem, dia a dia,
aos consumidores – principalmente os domésticos – os benefícios do consu-
mo da manga, destacando o fato de que uma fruta de qualidade, em benefí-
cios, mais que compensa o valor nela investido.
Em síntese, parafraseando o pesquisador Luciano Nieri “ se isso for
feito o Brasil deixará de ser um exportador de pouca expressão, ape-
sar da imensidão de seu território e da sua alta produção de frutas”. A
trava comercial precisa ser superada e pode sê-lo, como mostram os em-
presários empreendedores dos principais pólos de produção do País.

14
Panorama Econômico da Cultura e Comercialização da Manga

BIBLIOGRAFIA

AGRIANUAL. FNP Consultoria & Agroinformativos. São Paulo: FNP.


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VILAS A T. Panorama do agronegócio da fruta no Brasil e no mun-
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15
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

16
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

MELHORAMENTO GENÉTICO DA MANGA


(Mangifera indica L.) NO BRASIL
Eng. Agr. Ph.D. Alberto Carlos de Queiroz Pinto – Embrapa Cerrados – DF
e-mail: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

A manga (Mangifera indica L.) é uma das principais frutas tropi-


cais produzidas no Brasil. A projeção de demanda dessa fruta para o ano
2000, segundo dados da FAO (FAO Yearbook Production, 1998), foi de
aproximadamente 25,1 milhões de toneladas, o que a torna um atraente
investimento para o fruticultor. Embora a área cultivada tenha crescido nos
últimos anos, a produção não tem acompanhado esse crescimento (Agrianual,
2000).
A base comercial da mangicultura brasileira, no entanto, está
alicerçada apenas em algumas poucas cultivares, todas de origem america-
na e, dentre elas, a ‘Tommy Atkins’ é responsável por cerca de 80% da
área plantada (Pinto, 1996; Pinto & Ferreira, 1999). Apesar das várias ca-
racterísticas agronômicas positivas apresentadas por esta cultivar, como a
excelente coloração do fruto, sua relativa resistência a doenças e aceitável
vida de prateleira, sua elevada suscetibilidade à malformação floral, o co-
lapso interno da polpa e a má qualidade do fruto quanto ao sabor, têm sido
bastante contestadas. Portanto, a grande responsabilidade do melhorista de
manga é aumentar a disponibilidade de variedades que reúnam as melhores
características agronômicas e comerciais, diminuindo a vulnerabilidade, hoje
existente, nessas grandes áreas de cultivos monoclonais, os quais podem
ser destruídos totalmente pelo ataque de uma praga ou doença específica
sobre essa variedade. Outras cultivares, como a ‘Haden’, a ‘Keitt’, a ‘Kent’,
a ‘Van Dyke’ e a ‘Rosa’, também têm sido plantadas, porém, em escala
bem menor. Portanto, essa alta predominância de uma única cultivar deixa a
cultura com um elevado grau de vulnerabilidade, principalmente em relação
ao aparecimento de doenças e pragas de grande poder e destruição. Assim
sendo, o melhorista tem, dentre outras atribuições, a grande responsabilida-

17
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

de de mudar esse panorama, aumentando a disponibilidade de cultivares


superiores (Pinto & Ferreira, 1999). Para tanto, é fundamental a ampliação
da atual base genética existente, por meio, principalmente, da introdução de
novos materiais genéticos, da sua utilização apropriada e da aplicação de
métodos eficientes de melhoramento, além do emprego das modernas téc-
nicas em biotecnologia, para auxiliar no processo de identificação e seleção
de genótipos superiores.
O objetivo deste trabalho é discorrer sobre o melhoramento genético
da mangueira, enfocando recursos genéticos e sua utilização, os mecanis-
mos reprodutivos, os principais métodos de melhoramento atualmente em
uso, bem como outros métodos de uso potencial e, ainda, os recentes pro-
gressos obtidos com a utilização de cada método. Finalmente, aborda-se o
emprego de marcadores moleculares, tanto na identificação e caracteriza-
ção do germoplasma, como no melhoramento genético propriamente dito.

2. A CITOGENÉTICA DA MANGUEIRA

A mangueira é considerada uma espécie alopoliplóide, mais prova-


velmente um anfidiplóide, ou seja, é um poliplóide constituído por dois com-
plementos somáticos completos de duas espécies diferentes sendo, predo-
minantemente, uma espécie alógama.
A Mangifera indica é a espécie de maior estabilidade no número de
cromossomos (2n = 40), embora Singh (1969) cite a ocorrência de plantas
tetraplóides alto número mais alto de cromossomos (2n = 2x = 80). A vari-
ação existente em mangueira, mesmo entre as enxertadas, é confirmada
pelo polimorfismo detectado através de 4 enzimas isolados de tecidos de
folhas de mangueira (Gan et al. 1981).
O estudo citogenético proporcionou evidências de que há um grande
potencial no melhoramento da manga quando se usam outras espécies do
gênero Mangífera, visando a obtenção de híbridos interespecíficos de im-
portância agronômica e comercial (Mukherjee, 1963). A Mangífera odorata
pode ser usada como porta-enxertos ou como progenitor nos trabalhos de
cruzamentos, visando obtenção de híbridos interspecíficos com excelente
adaptação a climas muito úmidos que influenciam o ataque de doenças na
manga comercial. A Mangifera caesia, cultivada no Sudeste da Ásia, pro-
duz fora da época normal de colheita da espécie Mangífera indica utiliza-

18
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

da comercialmente (Bompard, 1993). Com o uso desta espécie, podem-se


obter progênies que produzam em épocas, cujos preços sejam mais vantajo-
sos para o produtor.

3. RECURSOS GENÉTICOS

3.1. A Domesticação e Classificação da Espécie

A mangueira é uma planta que foi domesticada há milhares de anos e


caracteriza-se por produzir frutos de ótima qualidade, sendo considerada
uma das mais importantes espécies frutíferas de clima tropical. Não obstante
tenha se originado em locais de clima quente, ela se adapta bem às condi-
ções de clima subtropical, principalmente devido à sua boa plasticidade
fenotípica, a qual confere ampla facilidade de adaptação aos diferentes
ambientes, a manga se dispersou por todos os continentes, sendo cultivada
atualmente em todos os países de clima tropical e subtropical.
Mukherjee (1985), seguindo a classificação proposta por Vavilov
(1950) para os centros de origem das plantas cultivadas, relata que a man-
gueira é originária do segundo grande centro, o Indiano e do subcentro Indo-
Malaio. Essas regiões distintas deram origem às duas raças de manga: a
raça indiana, originária no centro Indo-Burma Tailandês, que produz frutos
de boa aparência externa, cuja casca é bem colorida, variando de rosa a
vermelho intenso e sementes monoembriônicas; a raça filipínica ou
indochinesa, originária no centro Filipinico Celeste Timor, a qual produz fru-
to de formato alongado, com casca verde-amarelada quando maduro e se-
mentes poliembriônicas.
A mangueira pertence à família Anacardiaceae, na qual além de
Mangifera, são encontrados outros gêneros importantes, tais como
Anacardium, Pistachio e Spondias. No gênero Mangifera, Mukherjee
(1985) descreve 39 espécies, enquanto Bompard (1993) relata a existência
de 69 espécies e as classifica em dois subgêneros com diversas seções,
baseados em caracteres morfológicos. Dentre essas espécies, a Mangifera
indica é a mais importante, muito embora existam outras espécies que pro-
duzam frutos comestíveis, como M. altissima, M. caesia, M. lagenifera,
M. macrocarpa, M. odorata e M. sylvatica.
19
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

3.2. A Distribuição Fitogeográfica, Raças e Espécies

Com relação à distribuição fitogeográfica, a ocorrência do maior nú-


mero de espécies encontra-se na Península Malaia, com cerca de 20 espé-
cies, notadamente nas florestas de terras baixas. Já as formas selvagens de
M. indica, que são bastante próximas dos tipos cultivados, ocorrem com
maior frequência em Burma, Nordeste da Índia e Andamans, locais para
onde devem ser direcionadas expedições de coleta de germoplasma. Den-
tre as espécies de Mangifera, a M. indica e M. foetida são as mais dis-
persas, ocorrendo respectivamente, em 100% e 67% das regiões que cons-
tituem os centros de diversidade descritos acima (Singh, 1982; Mukherjee,
1985).
Eiadthong et al. (1999) identificaram 13 espécies de Mangifera que
ocorrem na Tailândia, dentre as quais, a M. indica, endêmica no país e uma
das principais culturas da Tailândia e a M. foetida, conhecida localmente
como “horse mango”, cultura relativamente importante no Sul da Tailândia.
A M. sylvatica e a M. odorata são cultivadas apenas em pequena escala
e em quintais. As outras nove espécies não são cultivadas.
A ocorrência das duas raças de M. indica, a indiana e a filipínica,
tem proporcionado, através de cruzamentos naturais ou artificiais, a obten-
ção de híbridos inter e intraraciais, que deram origem a centenas de varie-
dades, com características bastante diversificadas. A biologia floral, aliada
ao caráter heterozigótico da planta, conduz a uma ampla diversidade de
formas de copa, ramos, folhas, flores e principalmente de formas, colora-
ções e qualidades dos frutos. Isto podia ser observado nos pomares oriun-
dos de material propagado por sementes (notadamente aquelas
monoembriônicas), que predominavam no Brasil, há cerca de 2 a 3 déca-
das.
Da Ásia, a manga se dispersou por vários países, não obstante haver
uma grande limitação com relação à longevidade das sementes (altamente
recalcitrantes), aliada ao tempo de duração das viagens, na época em que
ocorreu a dispersão da espécie. Mukherjee (1985) relata que a distribuição
da mangueira concentra-se entre os trópicos de Câncer e Capricórnio, nas
latitudes de 20º Norte a 20º Sul, atingindo atualmente, quase 100 países.
A manga foi introduzida na América, provavelmente pelos portugue-
ses no Brasil, no século XVI. Logo em seguida, foi introduzida no México

20
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

pelos espanhóis. As primeiras introduções no Brasil, no entanto, referiam-


se as variedades da raça filipínica, que geralmente produzem frutos com
polpa fibrosa e de baixa qualidade e com semente poliembriônica, com pe-
quena variação genética. Isso fez com que a cultura da manga ficasse limi-
tada a pequenos pomares, sem muita expressão, especificamente para aten-
der ao mercado interno de maneira bem regionalizada, por quase três sécu-
los.
Na metade deste século, no entanto, foram realizadas introduções de
variedades melhoradas da raça indiana, procedentes da Florida/USA, por-
tadoras de melhor qualidade, com sementes monoembriônicas, que induzem
grande variabilidade quando plantadas de pé franco. Este fato modificou
sensivelmente a indústria mangícola nacional, dando um novo alento à cultu-
ra, pois essas variedades americanas, que produzem frutos com pouca fi-
bra, bem coloridos e mais resistentes à antracnose, são mais comercializáveis,
permitindo inicialmente ampliar o excelente mercado interno e, mais recen-
temente permitindo conquistar o mercado externo, notadamente dos Esta-
dos Unidos e Japão. A cultivar Haden foi introduzida no Brasil em 1931,
mas só a partir da década de 60 foi plantada comercialmente. Apresenta
uma série de limitações, principalmente com relação à sua suscetibilidade à
seca da mangueira e à alternância de produção. Em 1970 foi introduzida a
‘Tommy Atkins’, junto com muitas outras variedades, que foram testadas e
algumas recomendadas para as condições brasileiras. Com o aumento da
demanda interna e o interesse crescente pelas exportações a partir de 1980,
a ‘Tommy Atkins’ se mostrou bastante adequada, principalmente devido a
sua maior tolerância à antracnose. A partir disso, juntamente com a ‘Keitt’
tem sido as variedades mais plantadas no país (Piza Jr., 1989; Donadio,
1996).

3.3. Coleções e Bancos Ativos de Germoplasma

Existe um grande acervo de germoplasma de manga, catalogado nas


diversas coleções mundiais (Tabela 1). São quase 6 mil acessos, incluindo
as repetições, dos quais aproximadamente 83% estão disponíveis para in-
tercâmbio (Bettencourt et al., 1992). A maior coleção encontra-se no Insti-
tuto de Pesquisa Hortícola da India - IIHR, em Bangalore, com 1100 aces-
sos.

21
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

No Brasil existem 6 bancos e/ou coleções de germoplasma de man-


ga. As principais coleções de manga no Brasil são as seguintes: Embrapa/
CPATSA em Petrolina-PE com 105 acessos, IAC/EET/EEP em Piracicaba-
SP com 100 acessos, Embrapa/CPAC em Planaltina-DF com 72 acessos,
UNESP/FACVJ em Jaboticabal-SP com 60 acessos, US/ESALQ em Tietê
e Pindorama ambas em SP com 53 acessos e UFV em Viçosa-MG com 17
acessos. Ao todo são conservados 208 acessos distintos. Porém, incluindo
as duplicatas são 437 acessos, portanto mais de 50% são repetições entre
as diversas coleções catalogadas. Desse total, 105 acessos estão em ape-
nas uma coleção, 44 acessos estão em duas coleções, 28 acessos são cata-
logados em três coleções, 19 acessos estão presentes em quatro coleções,
oito acessos aparecem em cinco coleções e oito acessos aparecem em
todas as coleções (Ferreira & Pinto, 1998), perfazendo um total de mais de
400 acessos, incluindo obviamente as duplicatas existentes entre as diver-
sas coleções.
Todas as coleções são mantidas no campo, com cerca de 3 a 5 plan-
tas por acesso, na forma clonal e geralmente enxertadas sobre os porta-
enxertos ‘Espada’, ‘Coquinho’ ou ‘Rosinha’, sendo conservadas a longo
prazo para os trabalhos de caracterização e avaliação. Devem-se buscar
outras formas de conservação, pois a conservação a campo além de onero-
sa e trabalhosa é vulnerável, sujeita aos problemas de ordem biótica e abiótica.
Como a semente da manga é recalcitrante, com longevidade bastante curta,
uma forma eficiente de conservação de germoplasma pode ser a
criopreservação.
O banco ativo de germoplasma – BAG de manga, amparado por
projeto de pesquisa no programa 2 do Sistema Embrapa de Planejamento –
SEP, Conservação e Uso de Recursos Genéticos, localiza-se na Embrapa
Semi-Árido, e está implantado no Campo Experimental de Mandacaru, no
município de Juazeiro - BA. Neste BAG, além da manutenção do
germoplasma no campo, são realizados trabalhos de caracterização e avali-
ação, notadamente parâmetros de produção e características dos frutos.
Na medida do possível, procura-se seguir a metodologia preconizada pelo
IBPGR (1989).

22
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

Tabela 1- Principais coleções de germoplasma de manga existentes no mundo.


País Instituição M. indica Mangifera sp Avaliação Disponibilidade
Austrália DPI 63 - Parcial Disponível
Bangladesh BARI 107 - Em desenv. Parcial
Brasil * Várias 407 - Em desenv. Disponível
Chile INIA 3 - Não Disponível
Colômbia Corpoica 59 1 Em desenv. Disponível
Costa Rica Várias 51 -0000 - -
Costa Marfin IRFA 50 - - Disponível
Cuba DICF 350 - Parcial Disponível
Equador INIAP 4 - - -
Fiji Várias 143 - Em desenv. Disponível
Gualupe CIRAD 31 1 - Disponível
Reunião IRFA 50 - - -
Gabão CIMEV 25 - - -
Índia IIHR 1100 6 Em desenv. Disponível
Indonésia Várias 292 9 Em desenv. Disponível
Jamaica RDD/MA 63 - Parcial Disponível
Kenia NGK 37 - - -
Madagascar DAGAP 36 - Parcial Disponível
Malawi BARS 32 - Parcial Disponível
Malásia MARDI 111 - Em desenv. Disponivel
México Várias 143 - Em desenv. Disponível
Moçambique INIA 119 - - -
Nicarágua Várias 54 - Em desenv. Disponível
Nigéria NHRI 47 - Em desenv. Disponível
Nova Guiné DPI 4 - Não Disponível
Peru Várias 81 - Parcial Disponível
Filipinas UPLB 343 9 Parcial Disponível
Portugal DP/NARS 100 - Parcial Disponível
África do Sul CSFRI 117 - Em desenv. Disponível
Espanha ICCRAT 59 - - -
Sudão HRS 30 - Parcial Disponível
Taiwan TARI 176 - Parcial Disponível
Tanzânia TPRI 10 - - -
Tailândia Várias 294 34 Parcial Disponível
USA Várias 461 4 Parcial Disponível
Venezuela FONAIAP 140 - Em desenv. Disponível
Vietnã ITFC 3 - - -
FONTE: Bettencourt et al, 1992. * Dados atualizados pelos autores.

23
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

As demais coleções de germoplasma de manga são coleções de tra-


balho ou apresentam interesse didático. A coleção da Embrapa Cerrados
sustenta um programa de melhoramento genético por meio da hibridação
intervarietal. A coleção da UNESP/FCAVJ se presta tanto ao melhora-
mento, com a seleção de materiais oriundos de polinização aberta, como
para atividades didáticas. O material mantido na coleção da Embrapa Man-
dioca e Fruticultura têm sido utilizado para alimentar o BAG da Embrapa
Semi Árido e para seleção de material para propagação. A coleção do IAC
tem sido usada para seleção de material, principalmente para utilização como
porta-enxerto, visando resistência/tolerância à seca da mangueira. A pe-
quena coleção mantida na UFV tem interesse didático.
Além das coleções citadas, existem outras coleções menores, que
geralmente apresentam materiais duplicados, ou seja, já representados nes-
sas coleções catalogadas, que têm interesse regional ou local. A coleção da
extinta Empresa de Pesquisa Agropecuária do Ceará-EPACE, por exem-
plo, apresenta 34 acessos, dos quais 85% são repetições das demais cole-
ções, apenas cinco acessos são distintos e devem ser remanejados para o
BAG da Embrapa Semi Árido. Aliás, trabalho semelhante deve ser feito
nas demais coleções, reunindo todos os acessos distintos, numa grande co-
leção no BAG. Portanto, deve-se programar uma atividade de curto e/ou
médio prazos, para duplicar o número de acessos do BAG da Embrapa
Semi Árido, que atualmente conta com pouco mais de 100 acessos e passa-
ria para mais de 200. Para viabilizar essa atividade, propõe-se dinamizar o
manejo do BAG, principalmente no que se refere ao adensamento das plan-
tas. Pode-se estudar uma redução de 50% ou até mesmo 25%, do
espaçamento utilizado atualmente. Além disso, deve-se enfatizar a proble-
mática da identificação do material, indo desde a simples troca da etiqueta,
quando da incorporação de um acesso ao banco de germoplasma, até os
problemas de denominações regionais de variedades, com nomes duplica-
dos para o mesmo acesso ou nomes iguais para acessos diferentes.
À semelhança do que ocorre a nível internacional, as coleções brasi-
leiras necessitam de enriquecimento da variabilidade genética. Esse enri-
quecimento pode se dar, principalmente através de coleta e/ou introdução
de germoplasma. Não obstante a mangueira ser uma espécie exótica, exis-
tem muitos tipos regionais de manga, geralmente propagadas via sementes,
em pomares caseiros que devem ser coletados e incorporados aos bancos

24
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

de germoplasma. Já a introdução de germoplasma do exterior deve ser um


processo contínuo, visando ampliar a variabilidade genética disponível.

3.4. Potencial e Uso dos Recursos Genéticos e seus Problemas

Há uim grande potencial quanto ao uso dos recursos genéticos da


manga mas, a grande maioria desse germoplasma, ou seja 90%, a nível
internacional, refere-se à espécie Mangifera indica (Pinto & Ferreira,
1999). Porém, existem muitas outras espécies de Mangifera com caracte-
rísticas genéticas importantes, que ocorrem nas florestas tropicais do Su-
deste Asiático, que estão sofrendo erosão genética pela forte ação antrópica.
Esse material deve ser explorado do ponto de vista de coleta de germoplasma
e colocado à disposição dos melhoristas, além de ser mantido nos bancos de
germoplasma. A seguir são descritas as principais espécies de Mangifera,
de acordo com Mukherjee (1985), com algumas características importantes
para uso como recurso genético:
M. altissima – Os frutos medem de 5 a 8 cm de comprimento e a
polpa é quase livre de fibras. É usada nas Filipinas para picles
M. caesia - Esta espécie apresenta frutos de 18 a 19 cm de compri-
mento, com polpa de cor branca, rica em suco ácido, de boa fragrância e
pouca fibra, porém com grande variação entre os diferentes tipos, sendo
alguns mais doces do que outros. Há variações que apresentam sementes
totalmente livres, soltas da polpa.
M. cochinchinensis – Os frutos desta espécie são bem pequenos,
medindo em torno de 3 cm de comprimento, com pouca polpa, porem de
fino aroma.
M. decandra, M. gedebe, M. inocarpoides, M. griffithii e M.
quadrifida – Estas espécies apresentam plantas que se desenvolvem bem
em áreas encharcadas, podendo ser testadas como porta-enxerto para plan-
tios em brejos ou em solos de difícil drenagem.
M. foetida - Os frutos medem de 8 a 10 cm de comprimento, com
pouca polpa com cerca de 2 cm de espessura e muita fibra. Esses frutos
quando maduros, são muito consumidos pelos Malaios, pois a polpa é doce,
embora o flavor não seja muito agradável.
M. indica var. mekongensis – As plantas produzem flores e frutos
na mesma época, florescendo e frutificando duas vezes ao ano, o que pos-

25
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

sibilita seu uso na obtenção de material genético com elevada regularidade


e produtividade.
M. langenifera – Os frutos desta espécie medem em torno de 10 a
12 cm, com polpa de coloração creme, com 2 cm de espessura, de sabor
medíocre.
M. macrocarpa - Apresenta frutos grandes oblongos e globosos,
com polpa amarela amargo-doce e não são muito saborosos.
M. odorata – Os furtos medem em torno de 10 cm de comprimen-
to, com distinto sabor quando maduro. A polpa é doce, mas tem muita
fibra.
M. pajang - Os frutos são grandes, com 15 a 17 cm de comprimen-
to, têm casca fina e solta e podem ser descascados como banana. Esse
material pode ser interessante para cruzamentos, na obtenção de varieda-
des com esta característica de casca solta, com excelente qualidade comer-
cial. A polpa é amarelo-clara, doce e ácida.
M. pentandra – As plantas desta espécie produzem frutos esféricos
de bom sabor.
M. zeylanica – Os frutos medem em torno de 6 cm de comprimento
aproximadamente e apresentam o mesmo tamanho e a mesma forma dos
frutos de M. indica.
Não obstante ser um acervo respeitável, o germoplasma de manga
carece de dados de caracterização e avaliação. A grande maioria desse
patrimônio genético não está devidamente caracterizada, embora alguns dados
de avaliação dos principais acessos estejam disponíveis nos programas de
melhoramento da cultura. Esta é uma das principais razões da baixa utiliza-
ção do germoplasma existente.
Bompard (1993) descreve diversas espécies silvestres com enorme
potencial para uso no melhoramento. A M. laurina é uma espécie muito
próxima da raça indiana e com grande adaptação a climas úmido, permitin-
do uma resistência apreciável ao ataque de antracnose.. Em Borneo, as
duas novas espécies M. rufocostata e M. swintonioides têm em comum
uma excelente peculiaridade de produzirem completamente fora de esta-
ção.
Um dos grandes problemas na maioria das coleções e/ou referem-se
às introduções feitas de maneira errônea quando da própria coleta do
propágulo na troca e perda da etiqueta do material genético introduzido. Os

26
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

próprios curadores ou responsáveis pela coleção não são melhoristas ou


não têm conhecinento suficiente sobre manga, resultando em “lançamento”
de novos nomes para uma variedade já existente ou mesmo, com a publica-
ção de nomes de variedades totalmente errados. Este tipo de problema ocor-
reu com o lançamento da variedade ‘Surpresa’ (‘Duncan’, ‘Alphonso’ ou
‘Saigon’?) e com Informações Técnicas sobre manga, mostrando fotos er-
radas das variedades Van Dyke e Keitt. Isto poderia ter sido evitado, se a
aferição e descrição tivessem sido feitas pelo melhorista introdutor da mes-
ma, descrevendo suas características obtidas junto à Instituição de origem.
Em uma segunda introdução, vale a descrição usada na primeira pelo
melhorista e/ou pelo introdutor responsável, pois, à medida que novas etapas
intermediárias de introdução ocorrem, os enganos e problemas ligados aos
nomes das variedades aumentam grandemente. A nomenclatura da manga
tem sido complicada em decorrência da imensa sinonímia em termos de vari-
edades entre países e até mesmo de uma região para outra no mesmo país. A
variedade Filipina parece ser um clone da ‘Carabao’, ‘Manila’ ou ‘Cecil’,
enquanto a ‘Davis-Haden’ é uma mutação da ‘Haden’. No Brasil, a varieda-
de ‘Jasmim’ e Coité, em Fortaleza-CE são, morfologicamente, a mesma
‘Bacuri’, em Mossoró-RN, e ‘Fafá’ em Belém-PA, respectivamente.

4. O MECANISMO DE REPRODUÇÃO

Para se iniciar um estudo de melhoramento de qualquer a fruteira, há


necessidade de se conhecer a biologia floral e o mecanismo de reprodução
da planta. Tipo de inflorescência e de flor existente, número e proporção de
flores, suas características morfológicas, período de abertura (antese), a
polinização e os fatores responsáveis pela sua ocorrência natural, como
vento e insetos são alguns dos fatores mais importantes no estudo do meca-
nismo de reprodução.

4.1. A Biologia Floral e os Fatores Ambientais

A mangueira possui inflorescência tipo panícula de forma cônica a


piramidal que se desenvolve, sob condições normais, de gemas terminais de
ramos maduros entre 6 e 9 meses de idade, nos quais encontram-se flores
perfeitas e masculinas. O número de panículas por planta varia de 600 a
27
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

6000 e as flores por panícula variam de 200 a 4000. As flores iniciam a


antese antes mesmo que as panículas atinjam o total comprimento e a maior
concentração na abertura das flores ocorre entre 9 e 11 horas embora ocor-
ra uma certa variação, dependendo das condições climáticas da região. A
receptividade do estigma dura cerca de 72 horas após a antese, embora
esteja receptivo antes da antese (Mukherjee, 1985). O número de pólen por
antera varia de 271 a 648, havendo variação entre variedades.
A biologia floral da mangueira é totalmente adaptada para polinização
a ser feita por trips e vários tipos de moscas. Embora muitos insetos visitem
as flores de mangueira, aqueles pertencentes à ordem díptera (moscas) têm
a mais alta freqüência (51,6%), vindo a ordem lepidóptera (33%) como a
segunda de maior freqüência (Jison & Hedstron, 1985).
Além da luminosidade, a temperatura é outro fator ambiental de grande
influência na expressão sexual em mangueira. Baixas temperaturas durante
o desenvolvimento da inflorescência contribuem para a redução no número
de flores perfeitas na panícula. As panículas que emergem na metade e no
final da estação de florescimento possuem duas a sete vezes mais flores
hermafroditas que aquelas que emergem no início (Singh et al., 1966). Tem-
peraturas abaixo de 16 °C e/ou acima de 34 °C podem inibir a germinação
do tubo polínico, resultando na não fertilização.
Algumas cultivares monoembriônicas como a Haden não vingam
nenhum fruto quando as condições ambientais, principalmente temperatu-
ras acima de 35 °C, inibem o desenvolvimento do embrião zigótico ou cau-
sam sua degeneração, ocorrendo a queda de flores perfeitas e de frutinhos
(Mukherjee, 1953; Sturrock, 1968). Este fenômeno não acontece com culti-
vares poliembriônicas, uma vez que embriões nucelares desenvolvem-se
naturalmente favorecendo o vingamento de frutos.

4.2. A Expressão Sexual

A relação sexual em mangueira é a proporção entre flores


hermafroditas e estaminadas, sendo bastante variável dentro da panícula,
da planta e entre cultivares. A variedade Edward em condições de Cerra-
dos chega a alcançar uma proporção superior a 75% de flores masculinas,
sendo bem superior a ‘Tommy Atkins’ com 52-62% de flores masculinas,
considerando tanto a posição da flor na raquis quanto a posição da panícula

28
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

na planta (Pinto et al., 1987). Resultado superior foi obtido nas mesmas
condições dos Cerrados na cultivar Mallika, a qual apresentou uma média
de 82,5% de flores estaminadas nas três porções basal, média e apical na
panícula, enquanto a ‘Amrapali’ apresentou 65,8% desse tipo de flor. Em
ambas as variedades, a concentração de flores hermafroditas aumentou da
base para a porção apical da panícula, variando de 8,4% para 28,7% na
‘Mallika’ e de 30,1% para 43,6% na ‘Amrapali’.
Além de fatores ambientais, várias condicionantes fisiológicas estão
envolvidas na expressão e na relação sexual entre flores estaminadas e
hermafroditas. A observação de que variedades de mangueira adaptadas a
climas tropicais geralmente têm rendimento baixo quando exploradas em
climas subtropicais, deve-se possivelmente devido à baixa proporção de flo-
res hermafroditas (Singh et al., 1965). Esta hipótese de que a maior propor-
ção de flores hermafroditas na panícula da mangueira esteja correlacionada
com um maior vingamento e produtividade da planta é bastante controverti-
da e pouca aceita. Alguns estudos têm demonstrado que uma maior relação
entre flores perfeitas e estamindas não influencia uma maior produtividade,
se a proporção de flores hermafroditas for inferior a 4% ( Singh, 1964).

4.3. A Polinização e a Incompatibilidade

A polinização em mangueira, principalmente aquelas


monoembrionicas, é considerada um fator limitante, já que o grande número
de flores não corresponde ao muito pequeno número de frutos vingados. As
plantas poliembriônicas produzem embriões nucelares não sendo, necessa-
riamente, obrigadas à polinização para ocorrer a fecundação e vingamento
de frutos.
A ocorrência de incompatibilidade é evidenciada com a degeneração
dos tecidos embriônicos e nucelares e excessiva queda e perda de frutinhos.
A auto-incompatibilidade parcial ou completa em mangueira tem sido citada
por vários autores (Sharma & Singh, 1970; Ram et al. 1976, Pinto et al.,
2002). A auto-incompatibilidade foi claramente evidenciada na cultivar
‘Dashehari’ (Singh el at. 1962). Estudos embriológicos têm mostrado que,
embora a fertilização resultante do cruzamento entre pais incompatíveis
ocorra logo após a polinização, a degeneração do endosperma verifica-se
15 dias depois, o que demonstra ser a auto-incompatibilidade do tipo

29
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

esporofitica (Mukherjee et al., 1968).


Testes sobre a habilidade de combinação e compatibilidade em auto-
cruzamentos e cruzamentos recíprocos foram realizados nos Cerrados bra-
sileiros, usando-se três variedades de mangueira: Mallika, Amrapali e Tommy
Atkins. A variedade Mallika demonstrou uma elevada auto-incompatibilida-
de (96%), enquanto a ‘Amrapali’ demonstrou uma excelente capacidade de
combinação com as outras variedades (Pinto et al., 2002). A Tommy Atkins
apresentou aceitável compatibilidade com a Amrapali porém, muito baixa
capacidade de combinação (< 5%) com a cultivar Mallika, demonstrando
que existe incompatibilidade no cruzamento entre variedades de mangueira.

4.4. O Vingamento e a Retenção de Frutos

O fenômeno do baixo vingamento de frutos é muito comum em man-


gueira, uma vez que, no máximo, 35% do total de flores da mangueira são
polinizadas, resultando em cerca de 0,01% o número de frutos no stand final
(Singh, 1954). Vários fatores são responsáveis pelo baixo vingamento de
frutos como, o grande número de flores perfeitas que não são polinizadas e
o alto número de flores masculinas na panícula. Além do pequeno número
de pólen por antera que é um fator genético (variedade), os fatores nutricional
(deficiência de B) e ambiental, como a temperatura abaixo de 16°C, tam-
bém afetam a produção e a viabilidade do pólen, causando um baixo
vingamento de frutos (Sharma & Singh, 1970).
A abscisão de flores e frutos de mangueira ocorre ao acaso em
qualquer posição da panícula, embora um maior número de frutos se esta-
beleça ou ocorra o vingamento na porção terminal da panícula. No período
de cruzamentos intervarietais de mangueiras, cultivadas sob regime de
sequeiro nos Cerrados do Brasil Central, a umidade relativa do ar é muito
baixa (< 30%) e provoca uma grande queda dos frutinhos vingados. O mai-
or percentual de queda (67%) ocorre dentro de uma semana após a fecun-
dação, quando os frutos atingem o tamanho “cabeça-de-alfinete”. Ao al-
cançarem o tamanho “bola-de-gude”, a queda declina para uma média de
22% dos frutos vingados inicialmente e, praticamente, param de cair quan-
do atingem o tamanho “bola-de-bilhar” com percentual de queda inferior a
1%. Duas pulverizações semanais com água fria sobre as panículas, cujas
flores foram recém utilizadas nos cruzamentos, contribuíram com o aumen-

30
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

to médio de 1,5% para 6,4%.no vingamento de frutos, com isso aumentando


a população de progênies híbridas.
O uso de reguladores de crescimento como o ácido naftaleno acético
(ANA), aplicado no estágio pré-antese e na dose de 40 a 50 ppm, tem
contribuído para o aumento de 300 a 400% no vingamento e retenção de
frutinhos de manga (Ram, 1983).

4.5. A Embrionia e a Estenospermocarpia

A mangueira é classificada em dois grupos de acordo com o modo de


reprodução das sementes: o grupo monoembriônico e o grupo majoritaria-
mente poliembriônico. As mangas monoembriônicas têm somente um em-
brião zigótico sendo, provavelmente, de origem híbrida, portanto, diferentes
da planta-mãe. As sementes de mangas majoritariamente poliembrionicas
podem conter um ou mais embriões e um dos quais pode ser, mas nem
sempre, zigótico. Os embriões nucelares, também denominados de embri-
ões adventícios, formam plantas similares à planta-mãe, sendo recomenda-
dos para o uso como porta-enxertos, devido à possibilidade de se estabele-
cer um pomar de aceitável uniformidade.
O caráter de poliembrionia é manifestado pela ação de um ou mais
genes recessivos, portanto, o cruzamento de mangas monoembriônicas com
poliembrionicas resulta em progênies monoembriônicas (Leroy, 1947, citado
por Iyer & Degani, 1997; Sturrock, 1968). Trabalhos de cruzamento contro-
lado entre variedades mono e poliembriônicas estão sendo realizados pela
Embrapa Cerrados, visando checar esse tipo de herança quanto ao caráter
poliembrionia.
Na prática, o viveirista comumente elimina a (s) plântula (s) mais
raquítica (s) quanto ao diâmetro do caule e à altura, considerando-a (s)
como material zigótico, e enxerta a mais vigorosa que é considerada,
empiricamente, como sendo de origem nucelar. Esta relação não é total-
mente verdadeira pois, uma semente poliembriônica com 5 embriões, a com-
petição entre os 4 embriões nucelares pela reserva nutricional da nucela/
cotilédone é muito grande. Portanto, é possível que a plântula de origem
zigótica manifeste um vigor similar ou superior àquele da plântula nucelar
mais vigorosa. Além do mais, o fenômeno do policaulismo (Figura 1) pode
interferir na decisão do viveirista quanto à escolha pelo vigor, uma vez que o

31
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

material emergente (plântula) é monoembriônico (zigótico), porém, com inú-


meros caules emergidos sob a camada de solo que cobre a amêndoa que, à
primeira vista, parecem ser plântulas de origem nucelar (semente
poliembriônica). Nas condições dos Cerrados brasileiros, a embrionia em
variedades e híbridos de cruzamentos controlados foi estudada e a ‘Edward’,
‘Tommy Atkins’, ‘Extrema’, ‘Okrong’, ‘Amrapali’ e ‘Mallika’ mostraram
ser monoembriônicas porém, com grau de policaulismo que variou entre 30
a 90% das sementes. O policaulismo manifestou-se também em 41% das
progênies monoembriônicas resultantes de cruzamentos controlados.
A manga não apresenta com freqüência o fenômeno de partenocarpia
como muitos acreditam e sim, a estenospermocarpia. Na partenocarpia,
não há fecundação e a formação do fruto origina-se de um óvulo não fecun-
dado, resultando em manga completamente sem semente. Na
estenospermocarpia, ocorre uma falha ou aborto do embrião sem que hou-
vesse falha na fecundação (Ram et al., 1976). A estenospermocarpia é
cultivar dependente e geralmente ocorre devido à mudança de temperatura,
durante os primeiros dias após o vingamento do fruto. Existem controvérsi-
as na literatura quanto à causa da estenospermocarpia ser devido à tempe-
ratura baixa (Lakshminarayana & Aguilar, 1975; Whiley, 1988) ou à tempe-
ratura alta (Davenport & Núñez Elisea, 1997), durante o vingamento dos
frutos. Nas condições do Nordeste e Centro Oeste brasileiro, o fenômeno
ocorre com mais freqüência entre maio e julho, quando a temperatura atin-
ge os menores valores (< 15 °C), principalmente durante o período noturno.
O fruto estenospermocárpico apresenta-se de pequeno tamanho e de forma
irregular. A cultivar Haden produz frutos estenospermocárpico com grande
freqüência, os quais são vendidos no mercado varejista por preços vantajo-
sos com a denominação de “mini-Haden”.

5. OBJETIVOS DO MELHORAMENTO

Contrariamente ao que ocorria no passado, quando o melhorista for-


mulava os objetivos de seu programa de melhoramento e os conduzia, nor-
malmente, sem considerar o mercado, nos dias atuais, este mercado e a
necessidade de competitividade no mesmo são os fatores que ditam o quê e
como deve ser desenvolvido o produto final do melhoramento. Isto se aplica
não somente à manga, mas também à maioria das espécies de valor econô-

32
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

mico. No caso específico da manga, muitos dos objetivos do melhoramento,


tanto no Brasil como em outros países, não são muito diferentes (Iyer &
Degani, 1997; Lavi et al., 1996; Pinto, 1996, 1999; Pinto & Ferreira, 1999).
As cultivares desenvolvidas em programas de melhoramento preci-
sam atender aos três principais segmentos de uma cadeia produtiva: produ-
tores, distribuidores e consumidores. Os produtores anseiam por cultivares
que apresentem maior produtividade e estabilidade de produção, sejam de
fácil manejo nos tratos culturais e adaptadas às condições climáticas adver-
sas da região para onde foi desenvolvida. Os distribuidores desejam cultiva-
res que resistam ao manuseio e ao transporte e, finalmente, os consumido-
res exigem manga de melhor qualidade. Portanto, novas cultivares somente
serão aceitas se apresentarem, para os diversos segmentos da cadeia pro-
dutiva, alguma(s) vantagem (ns) em relação às já existentes no mercado.
Em geral, ao idealizar um programa de melhoramento de manga, o
melhorista deve ter em mente aquelas características básicas para a nova
cultivar, que seja comercialmente bem sucedida e atenda os três segmentos
da cadeia acima descritos. Assim, características como plantas de porte
baixo; produção precoce e regular, alta produtividade, resistente às princi-
pais pragas e doenças; frutos com tamanho padrão requerido pelo mercado,
de coloração atrativa, de boas qualidades organolépticas (sabor, odor, textu-
ra) livres de desordens fisiológicas, longa vida de prateleira (“shelf-life”) e
resistência ao transporte, além de outras características pós-colheita, são
necessárias e obrigatórias na maioria dos programas de melhoramento (Singh,
1978; Iyer, 1991; Lavi et al., 1996; Tomer et al., 1996; Cilliers et al., 1996;
Iyer & Dinesh, 1996; Pinto, 1996, 1999; Iyer & Degani, 1997; Pinto &
Ferreira, 1999). Com relação ao melhoramento de material para porta-en-
xerto, as principais características requeridas são: poliembrionia; porte anão;
tolerância às condições adversas do solo; resistência a doenças e boa com-
patibilidade com a variedade copa. Obviamente, combinar todas essas ca-
racterísticas em uma única cultivar é muito difícil, embora todas sejam fun-
damentais para a manter a competitividade e o sucesso comercial dessa
cultivar.
Para que as chances do melhorista aumentem na difícil tarefa de
desenvolver uma cultivar com todas as características desejáveis, será ne-
cessário que ele tenha à sua disposição: variabilidade genética, conheci-
mentos sobre a biologia floral, modo de reprodução, níveis e comportamento

33
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

cromossômico do germoplasma disponível, da herdabilidade dos caracteres


perseguidos, correlação entre caracteres. A decisão do melhorista quanto
ao trabalho a longo ou médio prazo depende do estágio em que se encontra
quanto ao seu conhecimento e disponibilidade de recursos materiais e hu-
manos. Portanto, o objetivo pode passar por fases mais longas se não exis-
tem cultivares comerciais já adaptadas e de alto valor comercial. Neste
caso a introdução, avaliação e seleção são fases muito importantes e obri-
gatórias, embora sejam dinâmicas e aceitas em qualquer fase do melhora-
mento. Se já existem cultivares comerciais de alto valor em uso, o que se
busca é corrigir algumas deficiências já identificadas sem perder os atribu-
tos positivos já existentes. Neste caso, realiza-se o melhoramento genético
no sentido específico.

6. PRINCIPAIS MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA O


MELHORAMENTO

No melhoramento da mangueira pode-se dispor de vários métodos,


procedimentos e estratégias os quais podem ser usados isoladamente ou em
conjunto, complementando uns aos outros possibilitando uma maior eficiên-
cia nos trabalhos. A seguir serão descritos e discutidos métodos e estratégi-
as que estão sendo usados ou com potencial de uso no melhoramento da
mangueira.

6.1. A Introdução, Avaliação e Seleção de Cultivares (Progenitores)

A importância da introdução de cultivares no melhoramento genético


é bem conhecida (Fehr, 1987) e, no caso da manga, tem sido bem documen-
tada, especialmente, em relação ao desenvolvimento de novos cultivares na
Flórida (Iyer & Dinesh, 1996; Bompard & Schnell, 1997). O grande número
de genótipos de origens diversas introduzidos com subseqüente melhora-
mento e adaptação levou a Flórida a se constituir em um importante centro
secundário de diversidade da mangueira, habilitando aquele estado ameri-
cano a dar uma contribuição única à indústria de frutas (Knight & Schnell,
1994). Ressalta-se, contudo, que experiências recentes têm mostrado que
precauções precisam ser tomadas quando se vai introduzir uma cultivar de
uma região para outra e, especialmente, de um país para outro, em função
34
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

da possibilidade real da introdução conjunta de patógenos que podem cons-


tituir-se em problemas sérios para a cultura (Iyer & Dinesh, 1996). Portan-
to, é importante que o melhorista tenha consciência desse risco e não tente
“ganhar tempo” em seu programa e burlar a legislação brasileira, a qual
determina que todo e qualquer material introduzido de outro país tem que
passar por um período de quarentena na Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, com o objetivo de evitar a entrada de doenças e/ou pragas
ainda não existentes no país.
A introdução é um método bastante antigo e ainda continua sendo
praticado até hoje como fonte para enriquecimento da variabilidade genéti-
ca (Fehr, 1987; Borém, 1997; Mukherjee, 1985; Bompard & Schnell, 1997;
Mukherjee, 1997). Porém, como método de melhoramento para a obtenção
de novas cultivares é muito limitado. A metodologia consiste basicamente
em se introduzir materiais genéticos diversos (cultivares, seleções avança-
das), que são diretamente avaliados e aqueles que demonstram melhor adap-
tação às condições da região alvo e apresentam as características deseja-
das pelo mercado, são lançados como novas cultivares (Poehlman & Sleper,
1995; Borém, 1997). O lançamento ou recomendação de introduções de
plantas como novas cultivares ocorre, principalmente, em áreas onde a es-
pécie ou a cultura está sendo introduzida (Fehr, 1987).
Na mangueira, a introdução tem sido bastante utilizada, não propria-
mente como método de melhoramento e sim, para a formação de coleções
de trabalho para o estabelecimento de programas de melhoramento (Donadio,
1996; Mukherjee, 1985, 1997; Bompard & Schnell, 1997; Iyer & Degani,
1997; Pinto, 1996; Pinto & Ferreira, 1999). No Brasil, no entanto, é provável
que muitas das cultivares brasileiras, como por exemplo, ´Espada´, ´Imperi-
al´, ´Rosa´, ´Surpresa´ (Donadio, 1996) e outras, tenham sido originadas atra-
vés desse procedimento.

6.2. Melhoramento da População

Uma das vantagens do melhoramento da mangueira é a facilidade


com que indivíduos superiores avaliados e selecionados na própria coleção
de trabalho podem ser clonados e multiplicados por meio da enxertia (Cilliers
et al., 1996; Tomer et al., 1996; Iyer & Dinesh, 1996; Iyer & Degani, 1997).
Os indivíduos selecionados poderão formar uma coleção elite ou “core

35
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

collection”, cujo objetivo maior é aumentar a freqüência de genes favorá-


veis, melhorando a população que servirá de base para os futuros cruza-
mentos. Esse método é muito importante tanto para a mangueira, como
para qualquer outra frutífera que se reproduza por alogamia, embora seja
pouco empregado.
Para o sucesso no melhoramento de populações, é fundamental a
existência de uma aceitável variabilidade genética na população original ou
coleção elite (Fehr, 1987; Falconer, 1989; Borém, 1997). Outros fatores,
como método e intensidade de seleção a serem utilizados, precisam de ava-
liações, interpretação apropriada dos efeitos ambientais, interação genótipo
x local e genótipo x ano, identificação de efeitos pleiotrópicos e de correla-
ções genotípicas e fenotípicas entre caracteres (Falconer, 1989), também
afetam a eficiência do melhoramento de populações e devem ser observa-
dos.

6.3. Método da Seleção Recorrente

É também conhecido na literatura por seleção de plantas individuais a


partir de populações de polinização aberta ou seleção massal baseada em
um só sexo. Esse método tem sido o mais intensamente utilizado, pela sua
facilidade, simplicidade e baixo custo operacional, embora não figure entre
os mais recomendados em termos de eficiência (Cilliers et al., 1996; Tomer
et al., 1996; Iyer & Dinesh, 1996; Iyer & Degani, 1997; Mukherjee, 1997).
Para características de alta herdabilidade, este procedimento é tão eficiente
quanto qualquer outro (Hansche, 1983; Falconer, 1989). Contudo, sua efici-
ência em discriminar indivíduos superiores diminui à medida em que a
herdabilidade dos caracteres é reduzida, tornando-se bastante ineficiente
para baixos valores de herdabilidade (Dudley & Moll, 1969; Hansche, 1983;
Falconer, 1989).
Em sua versão mais simples, esse método consiste basicamente em
se selecionarem plantas em áreas de produção ou não, coletar frutos e ava-
liar as progênies resultantes de polinização aberta. Portanto, neste procedi-
mento, a cultivar resultante tem apenas um dos progenitores conhecido. Na
sua versão aperfeiçoada, os progenitores da população melhorada são cui-
dadosamente selecionados e, desses, um número relativamente elevado de
indivíduos é plantado e avaliado, sendo a seleção relativamente simples e

36
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

fácil de ser realizada (Cilliers, et al., 1996). No entanto, esses autores rela-
tam que o progresso genético desse método é lento devido: (1) ao grande
número de características de qualidade de frutos e produção envolvidas; (2)
ao pouco conhecimento da herdabilidade das principais características de
importância econômica e das correlações genéticas entre elas; e (3) ao
longo período de juvenilidade.
Assumindo como verdadeiros os pressupostos da genética quantitati-
va, de que em uma população alógama e em equilíbrio de Hardy-Weinberg,
o pólen de qualquer indivíduo tem a mesma probabilidade de fecundar o
óvulo de qualquer outro indivíduo (Falconer, 1989), pode-se afirmar que qual-
quer planta de manga originada de semente tomada ao acaso seja um híbri-
do. Assim, as progênies originadas de sementes a partir de populações de
polinização aberta são consideradas todas híbridas meias-irmãs, sendo ape-
nas o progenitor feminino conhecido (Fehr, 1987; Falconer, 1989; Borém,
1997, Pinto, 1999). Conseqüentemente, a eficiência deste método, em ter-
mos de ganho genético ao final de um ciclo de seleção, é bem menor que o
de cruzamentos controlados (Hansche, 1983; Falconer, 1989; Bruckner,
1999). Contudo, como a propagação vegetativa permite a perpetuação de
qualquer genótipo, superior, híbrido ou não, tão logo este seja identificado,
essa menor eficiência é em parte compensada pela simplicidade e pelo menor
custo, especialmente de mão-de-obra, desse método (Hansche, 1983;
Poehlman & Sleper, 1995; Iyer & Degani, 1997; Mukherjee, 1997; Bruckner,
1999).
A eliminação precoce de genótipos indesejáveis é uma estratégia cada
vez mais utilizada para aumentar a eficiência da seleção, uma vez que a
mangueira, pela facilidade da reprodução assexuada, é uma espécie apro-
priada ao manuseio da seleção recorrente, também denominada de seleção
fenotípica individual (Cilliers et al., 1996). Também a seleção precoce de
genótipos desejáveis pode tornar esse método mais eficiente, sendo a
biotecnologia uma importante ferramenta de auxílio.
A quase totalidade das mais de mil cultivares existentes atualmente
na Índia e todas as cultivares desenvolvidas na Flórida foram criadas/de-
senvolvidas através deste procedimento (Iyer & Degani, 1997; Mukherjee,
1997). A cultivar Haden, por exemplo, lançada na Flórida, em 1910, origi-
nou-se de uma planta de sementes da cultivar Mulgoba. A planta seleciona-
da tinha frutos de coloração vermelha altamente atrativa e apresentava pro-

37
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

dutividade superior à de seu progenitor (Campbell & Campbell, 1993). A


´Haden´, por sua vez, também através de polinização aberta, deu origem às
seguintes cultivares: ´Eldon´, ´Glenn´, ´Lippens´, ´Osteen´, ´Parvin´, ´Smith´,
´Springfels´, ´Tommy Atkins´ e ´Zill´ (Mukherjee, 1997). Na África do Sul,
as cultivares Heidi, Neldica, Cerise e Neldawn também foram originadas
por meio desse método (Cilliers et al., 1996). O mesmo ocorreu no Brasil,
com as cultivares Amarelinha, Ametista, Augusta, Brasil, Itamarati, Olivei-
ra Neto e Pavão, dentre outras (Donadio, 1996), e as cultivares IAC 104
Dura, IAC 109 Votupa, IAC 105 Palmera e ÍAC 103 Espada Vermelha,
todas desenvolvidas pelo IAC. As cultivares IAC 104 Dura (poliembriônica)
e IAC 109 Votupa (monoembriônica) originaram-se da ´Tommy Atkins´; a
´IAC 105 Palmera´ (poliembriônica) da ´Palmer´ e a ´IAC 103 Espada Ver-
melha´ (também poliembriônica), da ´Carabao´ (Rosseto et al., 1996, 1997).
Mesmo depois da elaboração de programas mais bem planejados e
fundamentados, a seleção a partir de populações de polinização aberta ain-
da continua sendo o método predominante na maioria dos países que traba-
lham com manga (Mathew & Dhandar, 1996; Cilliers et al., 1996; Iyer &
Dinesh, 1996; Rosseto et al., 1996, 1997). De acordo com Iyer & Dinesh
(1996), com exceção de umas poucas cultivares resultantes de programas
de melhoramento por hibridação planejada, a grande maioria tem sido resul-
tado de seleção individual de plantas originadas de polinização aberta.
No entanto, resultados na obtenção de híbridos superiores não sujei-
tos à sorte (aleatoriedade), devem-se ao cruzamento controlado, embora
possa ser aprimorado com o aperfeiçoamento dos cruzamentos abertos.
Apesar do baixo custo do método, a seleção simples de sementes de plantas
instaladas em coleções de cultivares, sem nenhum controle parental ou uso
de marcadores moleculares, pode apresentar baixa eficiência genética e
resultados inseguros da progênie híbrida. Algumas vezes, as sementes são
pouco controladas, portanto, nem a planta-pai nem a planta-mãe são conhe-
cidas.
Cilliers et al. (1996) descreveram algumas estratégias que têm sido
adotadas em muitos programas que utilizam a seleção fenotípica individual,
visando aumentar a sua eficiência. A primeira é o estabelecimento de po-
mares para a produção de progênies de polinização aberta para avaliação e
seleção. A segunda é a eliminação, nesses pomares fontes, de cultivares
com características indesejáveis em termos de tamanho, coloração e sabor

38
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

de frutos e a inclusão de novos genótipos, visando sempre melhorar a qua-


lidade média do pólen que irá originar as progênies de meio-irmãos para
avaliação e seleção. E, finalmente, a terceira é a seleção, a multiplicação
vegetativa e a avaliação de progênies superiores a partir desses pomares
fontes em diferentes condições ambientais. Esse processo de seleção pode
originar, diretamente, novas cultivares ou progênies superiores para o esta-
belecimento de novos pomares fontes para produção de progênies superio-
res. Exemplos desses tipos de estratégias são encontrados em Israel, onde
o pomar fonte é constituído de 55 genótipos, sendo 35 cultivares e 20 sele-
ções avançadas (Tomer et al., 1996), e na África do Sul, onde o pomar
fonte de progênies conta também com 55 cultivares selecionadas previa-
mente (chamadas “plêiades”) e de onde 100 progênies de cada cultivar são
originadas anualmente (Cilliers et al., 1996). Cultivares como Heidi, Néldica,
Joa e Chené, além de seleções promissoras, foram originadas desse progra-
ma.

6.4. Teste de Progênie

O teste de progênie torna a seleção mais eficiente em comparação


com aquela realizada com base somente na performance do próprio indiví-
duo, como no caso da seleção massal ou fenotípica, pelo fato de a avaliação
ser feita sobre dois indivíduos: o progenitor e suas progênies. Portanto, a
seleção individual com teste de progênie parece ser, aparentemente, o mé-
todo ideal de seleção de indivíduos superiores porque, além da avaliação no
próprio indivíduo, o valor genotípico médio desse indivíduo pode ser direta-
mente medido na sua progênie (Falconer, 1989).
Na prática, contudo, esse método apresenta a desvantagem de au-
mentar o tempo da geração de seleção, especialmente, em se tratando de
espécies perenes, já que um indivíduo não pode ser selecionado até que sua
progênie seja avaliada (Hansche, 1983; Falconer, 1989). Geralmente, a se-
leção inicial dos progenitores baseia-se na performance fenotípica dos mes-
mos, porém, a decisão posterior de manter ou eliminar um determinado pro-
genitor no programa de melhoramento depende da habilidade desse proge-
nitor em produzir progênies superiores (Whiley et al., 1993; Souza, 1998).
No caso específico do melhoramento da mangueira, o teste de progê-
nie tem sido empregado de alguma forma no programa de melhoramento da

39
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Embrapa Cerrados, especialmente antes e após à hibridação intervarietal.


Porém, assim como no caso de outras fruteiras perenes, a seleção daqueles
progenitores que irão ser usados em novos cruzamentos é feita levando-se
em consideração a capacidade desses progenitores em originar progênies
superiores. Um exemplo prático disso está no programa de melhoramento
da Austráalia, onde as cultivares Kensington e Sensation têm se mostrado
excelentes parentais nesse aspecto (Whiley et al., 1993).
A seleção individual seguida do teste de progênie, conforme é preco-
nizada, pode, pelo menos em teoria, ser aplicada sem maiores problemas no
melhoramento da manga. A natureza alógama dessa espécie, associada à
possibilidade de obtenção de muitos descendentes por geração, é favorável
à sua implementação, embora o tempo requerido para que se tenha um ciclo
de seleção completo seja um fator limitante e determinante na introdução de
variantes para a viabilização da metodologia. Associado a isto, a facilidade
com que uma planta pode ser propagada vegetativamente, permitindo que
os melhores indivíduos, uma vez identificados, sejam multiplicados em qual-
quer etapa do programa de melhoramento, faz com que os procedimentos
de seleção adotados para a espécie sejam apenas adaptações das
metodologias conhecidas.
Ainda no caso específico da manga, a recombinação ou o
intercruzamento entre os indivíduos selecionados deve ser anual, com a van-
tagem de a seleção poder ser realizada em ambos os sexos, bastando para
isso eliminar os indivíduos indesejáveis antes do florescimento, na segunda
frutificação. Outra vantagem é a disponibilidade, anualmente, de sementes
recombinadas para o início de novos ciclos de seleção, uma vez que a popu-
lação de indivíduos selecionados pode ser mantida no campo por um longo
período (Mathew & Dhandar, 1996; Cilliers et al., 1996; Iyer & Dinesh,
1996).

6.5. Método da Hibridação

A hibridação é o processo pelo qual as características de interesse


econômico são combinadas ou transferidas para as variedades cultivadas
ou entre elas, servindo, também, para ampliar a base genética dentro de
determinada espécie (Fehr, 1987; Poehlman & Sleper, 1995; Borém, 1997;
Bruckner, 1999). Posterior ao processo de hibridação, a seleção e a clonagem

40
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

(propagação vegetativa) das melhores combinações, seguidas de avaliação


clonal, podem resultar em novas cultivares de forma bastante rápida.
Em fruteiras, uma das limitações deste procedimento, quando com-
parado às espécies anuais propagadas sexuadamente, são o número de com-
binações híbridas que podem ser avaliadas, a inadequação da maioria das
metodologias de predição do valor genético dos parentais (Hansche, 1983;
Souza, 1998), o número limitado de indivíduos que podem ser avaliados por
ciclo, a baixa previsibilidade dos resultados dos cruzamentos devido à alta
heterozigosidade dos progenitores, além do tempo requerido para se com-
pletar um ciclo de seleção e do espaço físico requerido (Hansche, 1983;
Cilliers et al., 1996; Iyer & Dinesh, 1996; Tomer et al., 1996; Bruckner,
1999).
Na mangueira, além das dificuldades supramencionadas e da ocor-
rência de poliembrionia em muitas cultivares, os trabalhos de emasculação,
polinização manual e cuidados pós-polinização, que são requeridos para o
sucesso da hibrização, são também bastante tediosos e de baixa eficiência
em termos de pegamento de frutos (Pinto & Sharma, 1993; Pinto & Byrne,
1993; Cilliers et al., 1996; Iyer & Dinesh, 1996; Tomer et al., 1996; Pinto,
1996, 1999; Pinto & Ferreira, 1999). Contudo, estudos têm sido realizados
visando simplificar esses procedimentos e aumentar sua eficiência (Iyer &
Dinesh, 1996).
Singh et al. (1980) comentam que não há necessidade de se proteger
as panículas após a polinização, pois a germinação do pólen e a fertilização
são rápidas e com isso, os riscos de contaminação por pólen estranho prati-
camente não existem. A cobertura do estigma com uma cápsula gelatinosa
logo após a polinização é um procedimento simples e efetivo para evitar a
contaminação por pólen estranho (Iyer & Dinesh, 1996). Outras alternati-
vas são o plantio intercalado dos progenitores que se deseja cruzar (Whiley
el al., 1993) e o isolamento, através de telado, de plantas de cultivares
estabelecidas lado a lado ou enxertando diferentes cultivares em uma mes-
ma árvore (Pinto & Sharma, 1993; Pinto & Byrne, 1993; Cilliers et al.,
1996; Tomer et al., 1996; Pinto, 1996, 1999; Pinto & Ferreira, 1999). Nesse
último procedimento, é importante usar plantas com porte reduzido (Pinto,
1994b) e colocar no telado, moscas ou abelhas para funcionarem como
agentes polinizadores. Apesar dessas dificuldades, a Índia tem lançado ex-
celentes variedades híbridas como Mallika e Amrapali (Sharma et al., 1972),

41
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Bangalora, Ratna e Rumani (Salvi & Gunjate, 1988; Ramaswany, 1988)


com hábito anão de crescimento e a Bhadauran (Prasad et al. 1965,) resis-
tente à malformação, desenvolvidas em programas de melhoramento por
meio de hibridação intervarietal, a maioria usando o método de polinização
controlada.
Iyer & Dinesh (1996) relatam que o conhecimento das diferenças
entre cultivares, em relação à receptividade do estigma, é essencial para a
escolha adequada dos progenitores femininos em um programa de melhora-
mento, envolvendo hibridação. Informam também que ambos, horário de
polinização e progenitor feminino, são fatores fundamentais de sucesso nas
polinizações, embora a interação entre eles tenha maior efeito. Em ´Tommy
Atkins´, ´Sensation´ e ´Kent´, resultados mostraram que maiores taxas de
sucesso em polinizações manuais foram obtidas pela manhã, enquanto em
´Isis´ e ´Keitt´ essa maior eficiência ocorreu pela tarde (Robbertse et al.,
citados por Iyer & Dinesh, 1996).
Em um programa de melhoramento por hibridação em manga, nor-
malmente, as progênies híbridas são submetidas, basicamente, a duas fases
de seleção (Iyer & Dinesh, 1996; Lavi et al., 1996; Tomer et al., 1996): a
fase inicial e a fase secundária.
Na fase inicial de seleção ou primária, as progênies são selecionadas
com base nas seguintes características: (1) porte da planta ou nanismo; (2)
precocidade de produção; (3) tamanho e forma de fruto; (4) coloração da
casca; (5) qualidades física e química do fruto; (6) ocorrência de distúrbios
fisiológicos nos frutos; (7) suscetibilidade a pragas e doenças; (8) vida pós-
colheita; e (9) época de colheita. Nesse estágio, normalmente, característi-
cas como produtividade potencial e características da de copa da planta não
são consideradas, e a seleção é realizada apenas no local de origem do
programa.
Na segunda fase da seleção ou seleção secundária, as plantas
selecionadas são utilizadas como copa e testadas contra cultivares padrões,
de modo que, além das características acima mencionadas, também são
consideradas outras características importantes, como produtividade, estru-
tura de copa e regularidade da produção. Nessa fase, a seleção deve ser
realizada em diversos locais e, de preferência, abrangendo todas as regiões
alvo da nova cultivar que se pretende desenvolver (Iyer & Dinesh, 1996;
Tomer et al., 1996).

42
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

A despeito das dificuldades encontradas para levar a efeito um pro-


grama de melhoramento por hibridação através de cruzamentos controla-
dos, significativos progressos têm sido alcançados nos últimos anos (Iyer &
Dinesh, 1996). Em Israel, os resultados contemplam 24 seleções avançadas
identificadas, sendo duas delas já lançadas como novas cultivares (Lavi et
al., 1996; Tomer et al., 1996); na Índia, muitas cultivares híbridas, desen-
volvidas através de programas de hibridação controlada, têm sido lançadas
e, gradativamente, têm ganho espaço entre os produtores (Gunjante &
Burondkar, 1993; Iyer & Dinesh, 1996); e na Austrália, o cruzamento
´Sensation´ x ´Kensington´ tem resultado em algumas seleções altamente
promissoras, especialmente em termos de qualidade de fruto e coloração da
casca (Whiley et al., 1993).

6.7. Seleção Clonal

É um procedimento usado normalmente quando se aplica o método


de hibridação intervarietal. Em sua forma mais simples, consiste do cruza-
mento de parentais heterozigotos seguido da seleção, clonagem e avaliação
de plantas de interesse, na geração F1 (Fehr, 1987). A formação dos clones
já a partir dos híbridos F1 é o mais recomendado, embora possa ser repetida
ou efetuada também em gerações subseqüentes. Com a elevada heterozigose
existente em mangueira, mas cruzamentos intervarietais, a geração F1 é
semelhante a uma F2.
Em plantas de propagação assexuada, a seleção clonal é, normal-
mente, empregada como parte dos demais procedimentos, especialmente
na introdução de plantas e no melhoramento por hibridação. O pressuposto
básico para que se obtenha sucesso quando se emprega essa metodologia é
a presença de indivíduos superiores para a obtenção de clones (Fehr, 1987;
Poehlman & Sleper, 1995).
Nesse procedimento como definido acima, a intensidade de seleção
deve ser branda no início das avaliações, à exceção de quando se tratar de
características de alta herdabilidade, e somente quando o número de indiví-
duos for elevado o suficiente para minimizar o efeito da variância ambiental,
a seleção deve ser intensificada. Contudo, a obtenção de resultados confiáveis
somente é assegurada quando a seleção for baseada em avaliações feitas
em vários locais e anos. A ocorrência de variações outras que não as devi-

43
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

das às causas ambientais pode ser atribuída a fatores diversos, como efeitos
de mutação (Poehlman & Sleper, 1995). A seleção clonal também pode ser
considerada como a seleção intra-clonal, ou seja, seleção dentro de uma
cultivar propagada assexuadamente (Fehr, 1987; Poehlman & Sleper, 1995;
Iyer & Dinesh, 1996), como ocorre com a maioria das fruteiras perenes.
A seleção clonal tem produzido resultados valiosos em manga e, por-
tanto, parece ser válida especialmente em países onde certas cultivares
estão em cultivo por longos períodos (Iyer & Dinesh,1996). Mutações
somáticas acumuladas ao longo dos anos são preservadas através da pro-
pagação vegetativa, oferecendo oportunidade para seleção de clones den-
tro da cultivar. Naik (1948) relatou a existência de variação intraclonal para
várias características de frutos de manga, e desde então, muitos outros es-
tudos foram realizados sobre o assunto (Singh & Chadha, citados por Iyer
& Dinesh, 1996; Singh et al., 1985; Singh, citado por Iyer & Dinesh, 1996).
Em um estudo de 13 anos envolvendo diferentes clones originados da culti-
var Dashehari, Singh & Chadha, citados por Iyer & Dinesh (1996), obser-
varam que um deles foi marcadamente superior aos demais em relação à
regularidade da produção, produtividade e resistência à malformação. Por
sua vez, Singh et al. (1985) conseguiram isolar, com base na produtividade
e qualidade de frutos, dois clones da cultivar Langra, que se mostraram bem
superiores à cultivar de origem, em relação a essas características. Mayers
et al., citados por Iyer & Dinesh (1996) e Whiley et al. (1993) relataram
que seleções promissoras dentro da cultivar Kensington têm sido identificadas
na Austrália.
Na seleção clonal, a avaliação dos novos clones deve seguir os mes-
mos procedimentos dos demais métodos, cujos experimentos devem ser
repetidos em diferentes ambientes, onde os novos materiais gerados são
comparados entre si e com cultivares comerciais padrões (Fehr, 1987;
Poehlman & Sleper, 1995; Falconer, 1989; Iyer & Dinesh, 1996; Borém,
1997), visando confirmar a superioridade destes. Outro aspecto importante
e que pode contribuir, significativamente, para o sucesso do procedimento é
a utilização de marcadores isoenzimáticos e/ou moleculares, para detectar
se de fato os novos clones diferem geneticamente da cultivar ou cultivares
que lhes deram origem (Iyer & Dinesh, 1996).

44
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

6.8. Policruzamento e Seleção entre Populações de Meios-Irmãos

Este método consiste no intercruzamento natural entre todos os


genótipos selecionados e plantados em determinada área. Utiliza-se, para
tanto, um campo isolado para evitar contaminações indesejáveis e arran-
jam-se os genótipos nesse campo, de tal forma a possibilitar todos os cruza-
mento entre eles (Fehr, 1987; Borém & Cavassim, 1999). A grande vanta-
gem desse procedimento é que com o intercruzamento entre todos os
parentais, aumentam-se as chances de se obterem novas combinações hí-
bridas superiores.
Este método foi desenvolvido visando o melhoramento de espécies
alógamas, principalmente aquelas com flores hermafroditas pequenas, pela
dificuldade de se efetuar cruzamento artificial (Bravo et al., 1981), como é
o caso da mangueira. No caso da mangueira existem as seguintes: (1) per-
mite a obtenção de ganhos de seleção similares aos obtidos em cruzamen-
tos biparentais, apesar da possibilidade de ocorrência de autofecundação
(Fehr, 1987); (2) necessita de menos mão-de-obra especializada, como no
caso de hibridação controlada; e (3) permite a utilização de um maior núme-
ro de parentais, o que aumenta as possibilidades de ampliação da base ge-
nética do germoplasma.
Em um campo para policruzamento, devem-se considerar os seguin-
tes pontos:
1) Seleção dos parentais, a qual é feita com base nas características de
interesse e nos objetivos do programa de melhoramento, deve levar em
consideração a época de floração. Se parentais incluídos do
policruzamento apresentarem diferentes épocas de florescimento, a efi-
ciência dos cruzamentos é reduzida (Borém & Cavassim, 1999);
2) Formação do campo de policruzamento, de tal forma que a chance de
um dado parental aparecer lado a lado de todos os demais parentais seja
maximizada. Para se conseguir isso, o ideal é que o número de vezes em
que um determinado parental aparece no campo seja igual ao número
total de parentais (Stuber, 1980; Barros et al., 1993), pois nesse caso,
cada parental terá a oportunidade real de polinizar e de ser polinizado por
todos os demais parentais. Por exemplo, se 25 parentais são seleciona-
dos para formar um campo de policruzamento, então o número total de
plantas nesse campo será de 625 e cada parental contribuirá com 25

45
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

plantas, todas originadas de propagação vegetativa. Normalmente, utili-


zam-se, para se fazer esse arranjo delineamentos experimentais, sendo
o de blocos ao acaso e o quadrado latino, os mais indicados (Fehr, 1987;
Borém & Cavassim, 1999);
3) Obtenção e avaliação das progênies policruzadas. Nesse ponto, duas
possibilidades são possíveis: na primeira, considera-se o número de pro-
gênies igual ao número total de plantas no campo e na segunda, o núme-
ro de progênies é igual ao de parentais. Nesse último caso, cada progê-
nie é formada por uma mistura de sementes das plantas de cada parental
(Stuber, 1980). É fácil de se observar que a primeira opção aumenta o
número de plantas a serem avaliadas e, conseqüentemente, aumenta
também a precisão experimental; e
4) Seleção fenotípica individual no campo de progênies policruzadas, segui-
da de avaliação clonal, conforme descrita no item 6.4.
A clonagem em qualquer etapa do melhoramento, conforme já abor-
dado, possibilita que a viabilidade nas progênies policruzadas seja aumenta-
da em relação aos genótipos iniciais e, assim, a probabilidade de que combi-
nações genéticas favoráveis surjam, também é aumentada.
Na literatura, a única referência encontrada sobre a aplicação desse
método no melhoramento da mangueira é dada por Pinto & Ferreira (1999).
Eles relataram que este método está sendo adotado no novo programa de
melhoramento da manga da Embrapa Cerrados. Nesse programa, os
parentais estão arranjados no campo, seguindo o delineamento experimen-
tal quadrado latino, no qual cada parental aparece uma única vez em todas
as linhas e colunas.
Considerando a baixa eficiência dos cruzamentos biparentais contro-
lados na manga, em termos de pegamento de frutos, utilização de mão-de-
obra especializada e, também, pela limitação de progenitores que podem ser
manejados no programa, o policruzamento parece ser um procedimento que
tem muito a contribuir para impulsionar o melhoramento dessa espécie, ape-
sar de ainda não se dispor de dados que mostrem a performance desse
método na espécie em referência.

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Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

7. MELHORAMENTO PARA RESISTÊNCIA A PRAGAS E


MOLÉSTIAS

O trabalho de melhoramento contra pragas e moléstias em manguei-


ra é composto por dois programas distintos: (1) melhoramento para obten-
ção de porta-enxertos poliembriônicos resistentes a Ceratocystis fimbriata
e (2) melhoramento de copas contra pragas e moléstias.

7.1. Melhoramento para porta-enxertos resistentes

Este programa de melhoramento tem por objetivo obter variedades


poliembriônicas de mangueira com características favoráveis para porta-
enxerto e que sejam resistentes ao fungo Ceratocystis fimbriata causador
da doença denominada seca-da-mangueira. Existem dois tipos dessa doen-
ça com sintomatologias típicas e distintas: a seca-das-raízes e a seca-da-
copa. A seca-das-raízes é causada pela infecção do sistema radicular pelo
Ceratocystis fimbriata e passa despercebida de início. No estágio avança-
do a doença começa a inibir a brotação da árvore, provoca murchamento e
queda das folhas e termina por causar a morte completa da árvore em
alguns meses. Nessas condições, se o tronco da árvore próximo ao solo for
descascado com um facão, percebe-se que exibe uma coloração marrom
típica de tecido infectado pelo fungo, contrastando com a coloração amare-
la dos tecidos sadios em regiões mais altas da árvore. Em diversas regiões
do Brasil onde ocorre essa doença, o uso de porta-enxertos resistentes é
fundamental para dar sustentabilidade à mangicultura, sendo até o momen-
to, o único método de controle recomendado para a seca-das-raízes.

7.2.Variabilidade da Resistência para Ceratocystis fimbriata nas Raízes

A condição essencial para se fazer melhoramento é a ocorrência de


variabilidade genética. A ocorrência de variabilidade nas raízes de porta-
enxertos de mangueira foi estudada através da inoculação do fungo
Ceratocystis fimbriata no solo de plantas envasadas, em condições de casa-
de-vegetação (Ribeiro et al., 1986b; Ribeiro, 1993; Ribeiro et al., 1995). Ini-
cialmente, foi constatado que a variedade Ubá, que no Estado de São Paulo
é denominada Jasmin, era totalmente resistente ao fungo inoculado direta-
47
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

mente na planta ou quando inoculado através da rega do solo das mudas


envasadas com a cultura do fungo dissolvida em água (Ribeiro et al., 1986b).
Foi, todavia, descoberta na Estação Experimental de Ribeirão Preto uma
árvore de pé franco da variedade Ubá (Jasmin), morrendo com infecção de
C. fimbriata nas raízes. O biótipo de C. fimbriata isolado dessa árvore
provou ser patogênico à variedade Ubá (Jasmin) (Ribeiro et al., 1986a).
A partir dessa constatação, os testes de resistência de porta-enxer-
tos passaram a ser feitos com dois biótipos do fungo, IAC FITO 334-1 que
é patogênico à Haden e a outras variedades suscetíveis e não é patogênico
à Ubá (Jasmin) e IAC FITO 4905 patogênico à Haden e também a Ubá
(Jasmin). O Quadro 1 apresenta um sumário extraído de Ribeiro, 1993 e
Ribeiro et al., 1995, mostrando a grande variabilidade entre variedades de
mangueira para resistência a dois biótipos de C. fimbriata nas raízes.

7.3. Melhoramento de Porta-Enxertos para Resistência a C. fimbriata.

Em face da existência de grande variabilidade de resistência em raízes


de porta-enxertos de mangueira em relação ao fungo C. fimbriata, foi de-
senvolvida uma metodologia de melhoramento.
O primeiro método é de introdução e seleção de variedades
resistentes. A Tabela 2. mostra que as variedades Carabao (Manila), Pico e
Manga D’agua são resistentes aos dois biótipos conhecidos do fungo C.
fimbriata. Destas, a variedade Carabao (Manila) demonstrou ser um exce-
lente porta-enxerto para mangueira. As árvores apresentam regularidade
de produção e produzem grande número de frutos (500 a 800 frutos por
árvore com 10 anos) pequenos (250 a 300 g). As sementes podem ser reti-
radas do interior do endocarpo com muita facilidade e germinam muito
bem. As plantas jovens apresentam um bom desenvolvimento e a enxertia
apresenta alto índice de pegamento. A experimentação de campo conduzida
em São Paulo indica boa produtividade das copas enxertadas em Carabao
(Manila) (Rossetto et al., 1998) considerado o principal porta-enxerto utili-
zado no México (Gálan Saúco, 1999). Os frutos desse porta-enxerto tem
polpa sem fibra, de excelente qualidade, indicados para consumo in natura
ou fabricação de compota ou suco. Apesar deessas virtudes, o porta-enxer-
to ‘Carabao’ (‘Manila’) apresenta uma limitação para utilização na princi-
pal região produtora de mudas do Estado de São Paulo, Limeira. Tem o

48
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

caule com espessura mais fina a 50 cm de altura, onde normalmente é feita


a enxertia na região de Limeira. Nessa região, o porta-enxerto mais utiliza-
do é Rosinha, um excelente porta-enxerto, mas suscetível ao fungo.

Tabela 2 - Porcentagem de mortalidade de plantas envasadas em estufa, de


variedades de mangueiras poliembriônicas, com inoculação de
dois biótipos de Ceratocystis fimbriata através da rega do solo
com a cultura de fungo dissolvida em água. (Modificado de Ri-
beiro, 1993 e Ribeiro et al., 1995)
Variedades Biótipos
IAC FITO 4905 IAC FITO 334-1
(Patogênico a UBÁ) (Não patogênico a UBÁ)
Amarelinha 25 Suscetível 12,5 Resistente
Ametista 75 Suscetível 100 Alta suscetibilidade
Bocado 80 Suscetível 20 Resistente
Bourbon 100 Alta suscetibilidade 90 Alta suscetibilidade
Brasil 40 Suscetível 80 Suscetível
Carabao 20 Resistente 0 Alta resistência
Castro 40 Suscetível 30 Suscetível
Cecília Carvalho 70 Suscetível 90 Alta suscetibilidade
Coquinho 100 Alta suscetibilidade 100 Alta suscetibilidade
Coração-de-boi 50 Suscetível 0 Alta resistência
Espada 100 Alta suscetibilidade 10 Resistente
Florigon 20 Resistente 100 Alta sucetibilidade
J. Alemão 90 Alta suscetibilidade 50 Suscetível
Jasmin (Ubá) 60 Suscetível 0 Alta resistência
Maçã 80 Suscetível 80 Suscetível
Manga D'agua 10 Resistente 0 Alta resistência
Maracanã 100 Alta suscetibilidade 100 Alta suscetibilidade
Mato Dentro 90 Alta suscetibilidade 60 Suscetível
Modesta 60 Suscetível 20 Resistente
Oliveira Neto 62,5 Suscetível 37,5 Suscetível
Ourinho 37,5 Suscetível 12,5 Resistente
Pavão 20 Resistente 60 Suscetível
Pele-de-moça 100 Alta suscetibilidade 90 Alta suscetibilidade
Pico 10 Resistente 0 Alta resistência
Pingo-de-ouro 90 Alta suscetibilidade 80 Suscetível
Vitória 40 Suscetível 0 Alta resistência
0 = alta resistência, 10-20 = resistente, 25-80 = suscetível, 90-100 = alta suscetibilidade

49
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Nesse tipo demostrado na Tabela 5.9.1., a chance de escape é prati-


camente nula, visto que as plantas são inoculadas repetidas vezes até esta-
bilização da mortalidade.
O segundo método de melhoramento de porta-enxerto é a seleção
para resistência dentro da variedade poliembriônica. A Tabela 5.9.2. mostra
que a mortalidade provocada pela inoculação de C. fimbriata no solo, em
geral, é menor que 100%, ocorrendo, portanto na grande maioria dos casos,
plantas sobreviventes.
Normalmente, as plantas sobreviventes são resistentes ao fungo uti-
lizado na inoculação. Podem ser plantas segregantes, mas podem também
ser pequenas variações da variedade poliembriônica original. As plantas
sobreviventes devem ser plantadas no campo até produzirem os frutos. Estes
serão plantados em vasos (sacos plásticos) e testados para resistência da
forma já descrita. Assim, foram obtidos os porta-enxertos resistentes IAC
101, IAC 102 Touro e IAC 106 Jasmin. O IAC 101 foi erroneamente deno-
minado de Coquinho. Trata-se na verdade de IAC 101 Ourinho. Nenhum
desses 3 porta-enxertos foi aceito pelos viveiristas de Limeira, SP, pela difi-
culdade que apresentam para retirada da semente do interior do
endocarpo. No momento, um programa de seleção para resistência dentro
da variedade Rosinha, utilizada como porta-enxerto em Limeira, SP, está
em andamento, plantado-se 1 mil sementes todo ano e fazendo-se inoculação
direta de C. fimbriata nas plantas quando atingem 150 cm de altura. Dentro
de alguns anos, espera-se ter um porta-enxerto Rosinha resistente ao fungo
e com todas as características exigidas pelos viveiristas de Limeira, SP.

7.4. Melhoramento para Copas Resistentes

Este programa tem por objetivo obter cultivares que combinem alta
produtividade e qualidade dos frutos com resistência à mosca-das-frutas,
antracnose, oídio, mal-formação e seca-da-mangueira. É sem dúvida, um ob-
jetivo difícil de ser atingido, mas a seleção no ano 2000 da variedade IAC 111,
uma filha de mãe Surpresa com pai ignorado, com alta resistência à mosca-
das-frutas, resistência à antracnose e seca-da-mangueira, com boa qualidade
de fruto, demonstra que o objetivo é viável. A IAC 111 é altamente suscetível
à mal-formação e sua produtividade, ainda sendo avaliada, não parece ser
boa. Ela deve ser usada como paterna no programa de melhoramento.

50
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

7.5. Variabilidade da Resistência para Doenças e Pragas da Copa

Os frutos da mangueira são infestados por mosca-das-frutas, princi-


palmente espécies de Anastrepha, especialmente Anastrepha obliqua. A
variabilidade das variedades de mangueira para resistência à mosca-das-
frutas é grande. Carvalho et al., 1996, verificaram na Bahia, que a varieda-
de Espada que em São Paulo é denominada Bourbon, tem alta resistência à
mosca-das-frutas em condições de campo. Os resultados obtidos em
Votuporanga-SP, sumariados na Tabela 3, confirmam a resistência da Bourbon
(Espada na Bahia). A nova seleção denominada IAC 111 tem alta resistên-
cia à mosca-das-frutas (Tabela 3.). Enquanto o “seedling” obtido de mãe
Van Dyke com pai ignorado (Tabela 5.9.2) apresentava 83,3% de frutos
infestados com mosca-das-frutas, a IAC 111 plantada a seu lado em
Votuporanga não apresentava frutos infestados. Isto demonstra que existe
boa variabilidade para resistência à mosca-das-frutas em manga e que é
possível selecionar variedades com frutos de boa qualidade e resistentes à
mosca.
A antracnose causada pelo fungo Colletotrichum gloesporioides é
uma das doenças mais nocivas à mangueira. A variabilidade em relação a
esta doença é reconhecida por diversos autores (Cunha et al., 1993; Soares,
1994; Donadio et al., 1996; Junqueira et al., 2001). As cultivares Sensation e
Bourbon podem ser consideradas altamente suscetíveis; a ‘Haden’ e ‘Es-
pada Vermelha’ suscetíveis; ‘Alfa’ , ‘Tommy Atkins’, ‘Van Dyke’ e
‘Ourinho’ são consideradas resistentes.
Outra doença de ampla ocorrência e muito nociva à mangueira é a
malformação causada por Fusarium sacchari (Anjos et al., 1998). O
germoplasma de mangueira apresenta boa variabilidade para esta doença. A
Tabela 4. mostra o comportamento de 4 cultivares em relação à malformação-
da-inflorescência. A variedade Winter pode ser considerada resistente à
malformação. A verrugose causada por Elsinoe mangifera é muito nociva
à manga em locais com umidade alta no ar. A maioria das variedades é
suscetível, mas a variedade Tommy Atkins é altamente resistente à
verrugose.

51
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Tabela 3. Avaliação da resistência de variedades de mangueira para mos-


ca-das-frutas, em condições de infestação natural de campo, atra-
vés da porcentagem de infestação (% de frutos infestados) e da
intensidade de infestação (porcentagem da área de polpa do fruto
infestado). Votuporanga, SP, dezembro 2001.
Variedade Infestação Intensidade de Classificação da resistência
infestação
---------------- % --------------
IAC 111 0,0 0,0 alta resistência
Bourbon 3,3 0,2 alta resistência
Ourinho 26,6 2,2 resistência moderada
IAC 109 Votupa 36,6 5,1 suscetível
Van Dyke 46,6 5,4 suscetível
Winter 46,6 7,2 suscetível
Tommy Atkins 53,3 11,1 suscetível
Haden 2H 63,3 11,6 suscetível
F1(Van Dyke x pai desconhecido) 83,3 24,2 alta suscetibilidade
F1(Sensation x pai desconhecido) 93,3 45,7 alta suscetibilidade

Outro fungo que causa danos à mangueira é o Oidium


mangiferae. Algumas variedades como Glenn e Mallika são tão suscetíveis
ao oídio que têm produção nula em locais onde a doença ocorre e quando
não são pulverizadas. A maioria das variedades cultivadas tem certa tole-
rância a essa doença.

Tabela 4. Número médio de inflorescências malformadas contadas durante


um minuto de observação em cada árvore, em quatro variedades
de mangueira, em blocos completos ao acaso, com 18 repetições.
Votuporanga, SP, agosto 2001.

Variedades Número de inflorescência Classificação do


malformadas comportamento para
malformação
Winter 5,29 A Resistente
Tommy Atkins 22,81 B Suscetível
Van Dyke 28,66 BC Suscetível
Haden 2H 35,44 C muito suscetível
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.

52
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

A seca-da-mangueira da copa causada por Ceratocystis fimbriata


pode ser controlada pelo corte e queima dos ramos infectados, o que a torna
menos nociva que a seca-das-raízes.
Uma resistência moderada ao patógeno na copa já é suficiente para
o manejo adequado da doença. A Tabela 5. mostra que a Haden, assim
como a Extrema e a Bourbon comum que não constam da Tabela, são as
variedades mais suscetíveis à seca-da-mangueira. A IAC 100 Bourbon apre-
senta uma resistência apenas moderada. A variedade Kent serve como
separadora dos biótipos conhecidos, pois apresenta o mesmo comportamento
da UBÁ (Jasmin), suscetível ao biótipo IAC FITO 4905, resistente ao biótipo
IAC FITO 334-1.
Além das doenças causadas por fungos, ocorrem também as deno-
minadas doenças fisiológicas, para as quais existe uma grande variabilidade
na mangueira. A região Oeste do Estado de São Paulo é uma das regiões
com menor teor de Boro do mundo. Níveis críticos inferiores a 10 mg por
kg de folha são de ocorrência comum em mangueiras nessa região. A mai-
oria das variedades de mangueira, nessas condições, apresenta acentuada
queda de frutinhos novos. Foi verificado que o germoplasma de mangueira
pode ser classificado em tolerante a níveis baixos de Boro, como a varieda-
de Winter; intermediário como Tommy Atkins e sensíveis como Haden e
Van Dyke (Rossetto et al., 1999).
Outra doença fisiológica expressiva é o colapso interno do fruto, rela-
cionado com baixos teores de Ca, em relação a N. As variedades mais
suscetíveis são Tommy Atkins e Van Dyke. A variedade Espada Stahl apre-
senta alta tolerância a esse problema fisiológico.

7.6 Método de Melhoramento de Copas para Resistência a Pragas e


Moléstias.

Visto que existe grande variabilidade no germoplasma de manga para


resistência às diversas pragas e moléstias, a atitude lógica e racional do
melhorista é utilizar essa variabilidade para obter cultivares que combinem
alta produtividade e qualidade do fruto com resistência às principais pragas
e moléstias.
O primeiro método de melhoramento utilizado sempre é o de introdu-
ção e seleção. Exemplo clássico disso ocorreu no Estado de São Paulo,

53
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

onde o cultivar Haden, muito suscetível à seca-da-mangueira, muito sensí-


vel à deficiência de Boro, muito suscetível à antracnose e verrugose, foi
substituído pela introdução da Tommy Atkins que é menos suscetível à seca-
da-mangueira (Tabela 5), semi-tolerante à deficiência de Boro e resistente
à antracnose e verrugose.
O segundo método é da hibridação e seleção. Para o melhoramento
contra pragas e moléstias o Instituto Agronômico de Campinas tem um
programa de hibridação natural em campos de policruzamento, onde apenas
as mães têm identidade conhecida. Isto permite trabalhar com um número
alto de “seedlings”. Com a identificação de pais com potencialidade para
dar bons descendentes, o programa está evoluindo para combinações pater-
nais com hibridação natural em condição de isolamento, o que permitirá a
obtenção de determinadas combinações híbridas com quantidade grande de
“seedlings”.
Quanto à metodologia de seleção, é necessário considerar primeiro o
tipo de distribuição da praga ou doença no campo. Na área biológica, a
distribuição uniforme não existe. Ocorrem dois tipos de distribuição: a nor-
mal, que é mais freqüente e a distribuição em reboleira ou binomial negati-
va.
No caso da seca-da-mangueira, a distribuição é em reboleira e, além
disso, sua ocorrência é demorada. Para esta doença, é necessária inoculação
artificial do patógeno para fazer a seleção. Normalmente isto é feito no
viveiro, quando as mudas atingem 150 cm de altura. A inoculação é feita
provocando um ferimento pela retirada de uma folha e posterior pulveriza-
ção no local da ferida de uma suspensão aquosa de esporos do fungo. A
seleção é feita 90 dias após a inoculação. Nos materiais suscetíveis, o fungo
cresce rapidamente, podendo infectar até 50 cm do ramo em 90 dias. No
programa de seleção para copas apenas as plantas altamente suscetíveis
são eliminadas, porque uma resistência moderada à seca-da-mangueira na
copa já é suficiente para um bom manejo do pomar. No caso de seleção
para porta-enxertos, somente as plantas com alta resistência são aproveita-
das.

54
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

Tabela 5. Comportamento de 15 variedades de mangueira utilizadas como


copa, em relação a dois biótipos de Ceratocystis fimbriata, ava-
liado pela extensão do ramo infectado pelo fungo 80 dias após
sua inoculação. Mococa, SP (Modificado de Rossetto et al., 1996).
Variedades Biótipo Biótipo
IAC FITO 4905 IAC FITO 334-1
(patogênico a UBÁ) (não patogênico a UBÁ)
São Quirino 1,3 a alta resistência 0,3 a alta resistência
Irwin 3,5 ab resistente 1,2 ab alta resistência
Van Dyke 4,3 ab resistente 8,3 a-d resistência moderada
Edward 6,8 abc resistência moderada 12,8 abc suscetível
Tommy Atkins 8,3 a-d resistência moderada 15,5 de suscetível
IAC 100 Bourbon 8,9 a-d resistência moderada 11,7 a-d suscetível
Sensation 11,9 b-e suscetível 13,7 cde suscetível
Smith 13,2 cde suscetível 8,8 a-d resistência moderada
Kent 15,8 def suscetível 0,9 ab alta resistência
Glenn 19,5 efg suscetível 30,4 g alta suscetibilidade
Joe Welch 19,5 efg suscetível 12,2 a-e suscetível
Palmer 22,0 fg alta suscetibilidade 18,7 def suscetível
Zill 24,6 g alta suscetibilidade 23,6 efg alta suscetibilidade
Haden 26,2 g alta suscetibilidade 27,2 fg alta suscetibilidade
Médias 13,0 12,5
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%.

Um patógeno importante para a mangicultura brasileira é o fungo


Botryodiplodia theobromae, causador de diversas doenças em
mangueira. Pode causar morte de mudas recém-enxertadas em viveiro com
sintomas semelhantes a “damping-off”; pode causar danos a flores e frutos
com sintomas semelhantes à antracnose e pode ainda causar seca de árvo-
res com incidência no tronco com sintomas muito semelhantes à seca-da-
mangueira. A incidência deste patógeno, ao contrário dos demais, é
errática. Pode causar grandes danos em mudas em determinado
local. Quando é montado um experimento varietal nesse local, ele não mais
ocorre, frustrando o pesquisador. Outrossim, as tentativas até agora feitas
para inocular artificialmente esse patógeno em mangueira não foram bem
sucedidas. Este é o único patógeno da mangueira para o qual não existe um
método prático para selecionar plantas resistentes. A expectativa é desen-
volver essa metodologia já que esse patógeno é muito importante para a
cultura da mangueira no Brasil.

55
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

No caso das doenças e pragas da mangueira, a distribuição em geral


é normal, o que permite fazer seleção em condições naturais de campo. Em
geral, a ocorrência das doenças e mosca-das-frutas na ausência de medi-
das de controle é alta, o que permite fazer seleção em condições naturais de
campo sem necessidade de inoculação artificial do patógeno ou infestação
artificial da mosca-das-frutas.

8. OUTROS MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

Várias outras estratégias ou procedimentos podem ser utilizados no


melhoramento da manga, com maior ou menor grau de possibilidade de
sucesso. A indução de mutações, o uso de variantes somaclonais resultan-
tes de plantas micropropagadas e o índice de seleção, são algumas dessas
estratégias.
Em relação à indução de mutações, a sua aplicação no melhoramen-
to da manga tem resultado no lançamento de algumas cultivares no Brasil.
Por exemplo, a cultivar IAC 100 Bourbon, que apresenta resistência mode-
rada à Ceratocystes fimbriata, originou-se, de acordo com Rosseto et al.
(1996, 1997), de uma mutação da cultivar Bourbon. Também originaram-se
por esse método, as cultivares IAC 101 Coquinho, IAC 102 Touro, IAC 106
Jasmin, IAC 107 Castro e IAC 108 Bocado (Rosseto et al., 1997).
As variações somaclonais são alterações genéticas e fenotípicas ori-
ginadas durante o cultivo in vitro da planta. Podem afetar qualquer região
do genoma da planta, resultando de vários tipos de arranjos no genoma da
planta: alterações no número e arranjo de cromossomos; alterações no nú-
mero de cópias dos genes; variações nas sequências de DNA metilado;
ativação de elementos de transposição e mutações de ponto (Scrowcroft,
1984). No caso específico da manga, embora a literatura não disponha de
informações sobre seu emprego no melhoramento, pode ser um procedi-
mento a ser aplicado no futuro, desde que a ocorrência das variantes seja
elevada e necessária para utilização de forma eficiente.
O índice de seleção consiste na combinação de todas as característi-
cas a serem melhoradas em um índice que, teoricamente, dentre todas as
metodologias de seleção, seja a opção mais eficiente (Falconer, 1989). O
índice é construído com o objetivo de melhorar o valor genético agregado do
indivíduo, sendo nesse índice, cada característica apropriadamente balance-

56
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

ada através do estabelecimento de pesos de acordo com sua importância


econômica relativa. Contudo, uma das dificuldades de se aplicar o índice de
seleção em fruteiras e, em especial, em manga, é a falta de um precedimento
eficiente para o estabelecimento desses pesos (Souza, 1996). Baker (1986)
sugeriu que uma opção é estabelecer os pesos econômicos, considerando a
proporcionalidade dos caracteres envolvidos no índice. Por exemplo, sabe-
se que o porte pequeno da planta, a coloração vermelha da casca e a longa
vida pós-colheita são três importantes características no desenvolvimento
de cultivares de manga para as condiçõs do Nordeste. Para essas caracte-
rísticas, diz-se, hipoteticamente, que uma redução de 0,5 m no porte da
planta, um aumento de 1,0 unidade na coloração vermelha escala de 0 a 9,
onde 0 = 0-10% e 9 = 90-100% de coloração vermelha, respectivamente, e
um aumento de cinco dias na vida de prateleira teriam todos, o mesmo valor
econômico relativo. Assim, para conferir a essas características o mesmo
valor no índice de seleção, os pesos relativos das mesmas seriam: 10, 5 e 1,
respectivamente. Apesar da maior eficiência desse método, a sua utilização
em plantas tem sido restrita, provavelmente, por ser um método sofisticado
e que exige a disponibilidade de estimativas de parâmetros genéticos, como
por exemplo, herdabilidade e correlações genotípicas e fenotípicas. Na mai-
oria dos programas de melhoramento, os dados não permitem estimativas
apropriadas desses parâmetros, principalmente nos estudos de herança ge-
nética.

9. ESTUDO DA HERANÇA EM MANGUEIRA

A poliembrionia em mangueira é um caráter sob controle genético,


possivelmente um fator recessivo controlado por um simples par de gens.
Análises de progênies de mangas monoembriônicas cruzadas com
poliembriônicas indicam que a monoembrionia é um caráter dominante
(Sturrock, 1968). No entanto, um indivíduo que contenha somente um dos
alelos recessivo será heterozigótico e poderá ou não apresentar um fenótipo
poliembriônico. Como exemplo, a variedade Simmonds é uma poliembriônica
originada do cruzamento entre a ‘Haden” (monoembriônica, heterozigótica
dominante) com a ‘Carabao’ (poliembriônica, homozigótica recessiva). O
número de embriões adventícios é grandemente influenciado por fatores
ambientais, tais como a nutrição e o clima (Knight, 1970). A diferenciação

57
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

entre o embrião nucelar e o zigótico tem sido possível através da análise


enzimática do tecido nucelar (Schnell & Knight, 1994). Entretanto, este tipo
de estudo é muito difícil de ser aplicado na prática, deixando o mangicultor
ainda indeciso e continuando a escolher a plântula mais vigorosa na semen-
teira, como sendo a planta nucelar.
Nos trabalhos de melhoramento por hibridação da Embrapa Cerra-
dos, Brasília, tem-se observado um elevado percentual de suscetibilidade à
malformação floral nas progênies cujos grupos parentais continham a culti-
var Tommy Atkins. De 23 progênies, do cruzamento entre ‘Tommy Atkins’
x ‘Mallika’, todas mostraram-se suscetíveis à malformação e de 49 progê-
nies oriundas do cruzamento ‘Winter’ x ‘Tommy Atkins’, 47 plantas estão
mostrando sintomas de malformação floral. Com esse resultado, pode-se
criar a hipótese de que a malformação floral em mangueira esteja sob con-
trole genético de forma monogênica e cuja expressão nas progênies F1 é
homozigótica dominante.

10. SITUAÇÃO ATUAL DO MELHORAMENTO DA MANGA


NO BRASIL

No Brasil, os programas de melhoramento de manga bem organiza-


dos são três apenas e são desenvolvidos pelas seguintes instituições: Embrapa
Cerrados, Instituto Agronômico de Campinas – IAC e FCAV-UNESP, em
Jaboticabal-SP. O programa da Embrapa Cerrados, tem sido, basicamente,
desenvolvido com base na hibridação controlada, embora o processo de
cruzamento aberto já sido feito anteriormente e pretende-se retornar sua
aplicação com o advento da técnica do quadrado latino. Em ambos, o obje-
tivo é o mesmo, ou seja, o desenvolvimento de híbridos com alta capacidade
produtiva; melhor qualidade de frutos, produção regular e livre de doenças,
além de plantas de porte reduzido (Pinto & Byrne, 1993), visando a adapta-
ção às condições dos Cerrados e do Nordeste brasileiro. Neste trabalho,
cultivares brasileiras, indianas e provenientes da Flórida são usadas nos gru-
pos parentais. O trabalho de melhoramento da manga no Brasil, semelhante
a de outros países, passa por 5 fases bastante distintas:
Fase 1 – Introdução, Avaliação e Seleção de Cultivares;
Fase 2 – Hibridação Intervarietal;
Fase 3 – Seleção Inicial e Caracterização de Progênies;

58
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

Fase 4 – Testes Regionais;


Fase 5 – Testes de Mercado. Todas essas fases estão, total ou parci-
almente, inclusas nos métodos de melhoramento de mangueira descritos na
literatura e discutidos anteriormente.
A técnica utilizada anteriormente por Mukherjee et al. (1961), a qual
recomendava somente sacos plásticos não perfurados e número de flores
limitado a dez por panícula, foi aprimorada na Embrapa Cerrados (Pinto &
Byrne, 1993; Pinto, 1996). A técnica aprimorada segue os seguintes passos:
a) as panículas originadas em ramos secundários e terciários devem ser
preferidas para serem polinizadas, uma vez que retêm mais frutos que as
terminais; b) panículas das plantas progenitoras femininas ou progenitoras
masculinas, usadas nos cruzamentos, devem ser ensacadas na tarde anteri-
or, retirando-se todas as flores abertas; c) devem ser usados sacos de
polietileno, perfurados com alfinete em 1/3 de seu comprimento e de tama-
nhos suficientes para ensacar a panícula totalmente; d) flores estaminadas
e perfeitas da planta progenitora masculina, ainda com anteras fechadas,
são coletadas pela manhã e mantidas em placas de petri sob 3 condições à
sombra, meia-sombra e ao sol para facilitar a abertura sincronizada das
anteras; e) flores perfeitas da planta progenitora feminina são emasculadas
e polinizadas entre 11:00hs da manhã e 13:00 hs da tarde; um homem pode
emascular e polinizar entre 100 e 150 flores/dia; f) os sacos de polietileno
são removidos cerca de 10-15 dias após a polinização; g) pulverizações com
fungicida e/ou água diariamente são bastante benéficas para evitar abscisão
e ataque fúngico que promovem a queda de frutos; h) os frutos vingados
são ensacados (tipos de sacos para cebola) para evitar queda e perda dos
mesmos quando maduros. O ganho na obtenção de híbridos foi da ordem de
5%, ou seja, conseguiu-se aumentar o sucesso no número de frutos híbridos
de 1,45% para 6,40% com o aprimoramento da técnica de hibridação entre
1981 e 1993 no total de 14.780 cruzamentos.
O trabalho de hibridação da Embrapa Cerrados visa, principalmente,
a obtenção de uma cultivar anã, prolífica, resistente a doenças e com frutos
de alta qualidade (coloração da casca atrativa, ótimo sabor, polpa firme e
sem fibra). Atualmente, cerca de 1480 híbridos de mangueira (F1) e progê-
nies obtidas de retrocruzamentos estão instalados na área experimental da
EMBRAPA/CPAC. As primeiras quatro variedades Roxa Embrapa 141 e
Alfa Embrapa 142, Beta e Lita foram lançadas entre 1998 e 2002. Outras

59
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

seleções de híbridos tais como o CPAC 142/86, CPAC 23/86, CPAC 98/86,
CPAC 263/93, CPAC 294/94, CPAC 256/94 e CPAC 329/94 apresentam
excelentes características de frutos de tamanho médio e alto rendimento de
frutos/planta. A seleção CPAC 07.294/94 apresentou porte anão e produ-
ção precoce aos 2 anos de idade, porém os frutos são de baixa qualidade,
quanto ao sabor. Existem seleções excelentes quanto à produtividade e qua-
lidade do fruto como a CPAC 23/86, CPAC 23/93, a CPAC 256/94 e CPAC
329/94.
Um novo projeto, visando a obtenção de variedades a partir de cruza-
mentos abertos, está sendo instalado na EMBRAPA/CPAC, utilizando o
delineamento estatístico do quadrado latino. Esta metodologia promoverá
uma melhor aleatoriedade dos cruzamentos entre as variedades selecionadas
bem como, uma colheita mais orientada, permitindo-se estimar a probabili-
dade da herança de certas características dos frutos híbridos obtidos e que
serão semeados para obtenção das progênies F1 (Fig. 5.1).
A utilização de plantas anãs sobre-enxertadas com variedades mono
e poliembriônicas e o confinamento de moscas polinizadoras dentro dos sa-
cos plásticos envolvendo as panículas das duas variedades ou mantendo-as
em telados protegidos, faz parte do novo aprimoramento de técnicas dentro
do programa de hibridação intervarietal de mangueiras no CPAC (Pinto,
1994a). As vantagens do uso da técnica de recuperação de copa e do
confinamento em telados com moscas são a obtenção de um maior número
de híbridos por meio de cruzamentos múltiplos ou policruzamentos,
consequindo-se uma maior população de material elite, além da possibilida-
de de também se aumentar rapidamente a variabilidade genética na popula-
ção de progenitores. Mesmo usando-se 2 variedades-copa que tenham
florescimento em época diferente, como a ‘Winter’ e ‘Palmer’, com a prá-
tica da irrigação e da indução floral, pode-se sincronizar o florescimento e
utilizá-las em copa múltipla sem problema.
Programas de melhoramento da manga em outros Estados, como o
desenvolvido pela FCAV-UNESP em Jaboticabal-SP, tem selecionado hí-
bridos oriundos de cruzamentos aberto, com características comerciais bas-
tante aceitáveis, como as variedades Coração-de-Boi, Alda, Natalina e Pa-
vão (Donadio, 1996). Recentemente, o Instituto Agronômico, em Campi-
nas-SP, lançou duas variedades IAC-103 Espada Vermelha e IAC-107 Dura
ambas muito resistentes aos dois tipos de Seca-da-Mangueira (aérea e do

60
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

sistema radicular) causadas pelo fungo Ceratocystis fimbriata. A ‘Espada


Vermelha’ além de ser recomendada para uso como porta-enxerto é tam-
bém recomendada como variedade copa (Rosseto et al., 1994). O progra-
ma desenvolvido pelo IAC está centrado em dois objetivos principais. O
primeiro é obter cultivares poliembriônicas com características adequadas
para porta-enxerto e com resistência à seca da mangueira (Ceratocystis
fimbriata) e o segundo, desenvolver cultivares copas mono ou poliembriônicas
que apresentem, além das características desejadas pelo mercado, resistên-
cia à seca da mangueira, antracnose, oídio e moscas-das-frutas (Rosseto et
al., 1996, 1997), discutidas anteriormente (tópico 5.10).
O processo de mutação, que pode ocorrer espontaneamente ou ser
induzida através de radiações químicas ou agentes mutagênicos, é uma ou-
tra técnica utilizada na obtenção de novas variedades de mangueira. Uma
remota, porém, ainda possivel obtenção de uma variedade com caracterís-
ticas aceitáveis é através da mutação de gema. A variedade Davis-Haden
é um exemplo deste tipo de “sport” ou mutação de gema citada pela litera-
tura (Young & Ledin, 1954).

11. BIOTECNOLOGIA APLICADA AO MELHORAMENTO

No melhoramento clássico, vários fatores têm limitado a eficiência


do processo de seleção, podendo ser citados: o baixo nível de conhecimento
sobre a resposta à seleção a nível genotípico e a base biológica dessa res-
posta (Lee, 1995) e a ligação gênica e a auto-incompatibilidade, além da
dificuldade e/ou impossibilidade de cruzamentos entre espécies não relacio-
nadas (incompatibilidade sexual) (Brasileiro & Dusi, 1999; Altman, 1999).
Outro problema, resultante das modernas práticas na agricultura, as quais
têm enfatizado a máxima produtividade associada a alta qualidade e unifor-
midade do produto, tem sido a redução da diversidade genética do “pool”
gênico para a maioria das espécies cultivadas (Lee, 1995; Brasileiro & Dusi,
1999).
Grande parte do sucesso do melhoramento genético de plantas em
geral tem sido obtido sem o uso, de fato, dos conhecimentos sobre a biologia
da planta. Embora muitas informações estivessem disponíveis, não eram
utilizadas porque ou eram irrelevantes ou muito difíceis de serem incorpora-
das aos programas de melhoramento. Por exemplo, fenômenos biológicos

61
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

de suma importância para o melhoramento, como a heterose, a epistasia, a


interação patógeno-hospedeiro e a resposta a estresses abióticos, não têm
sido apropriadamente empregados pela maioria dos melhoristas (Lee, 1995).
Por outro lado, o rápido e crescente desenvolvimento das técnicas
em biotecnologia vem sendo um instrumento moderno e eficaz na manipula-
ção da variação genética. A utilização dessas técnicas permite ofecerer a
curto e médio prazos, benefícios sócioeconômicos bem maiores que as
metodologias tradicionalmente utilizadas (Ferreira & Grattapaglia, 1998;
Ortiz, 1998; Altman, 1999). A biotecnologia é, normalmente, conceituada
como sendo um conjunto de processos biológicos que têm como base prin-
cipal, a tecnologia do DNA recombinante e a cutltura de tecidos, dentre
outras técnicas de manipulação (King & Stansfield, 1990; Borém, 1997).
Cronologicamente, é possível dividir a biotecnologia vegetal em três
fases distintas. A primeira fase teve início com o surgimento da propagação
de plantas por meio da cultura de tecidos (Peters et al., 1999; Moraes-
Fernandes et al., 1999). A regeneração de plantas através de técnicas de
cultura de tecidos é um requerimento primário para a utilização de tecnologias
em genética molecular em qualquer espécie de planta (Poehlman & Sleper,
1995; Ferreira et al., 1998; Brasileiro & Dusi, 1999). Além dessa, existem
várias outras aplicações da cultura de tecidos, destacando-se a clonagem
“in vitro”, a conservação de germoplasma in vitro, a multiplicação de
genótipos para análise em experimentos replicados, a obtenção de variantes
somaclonais, a quebra de barreiras de incompatiblidade genética, a clonagem
de genótipos superiores para teste de capacidade de combinação, a cultura
de anteras para obtenção de di-haplóides, a multiplicação de genótipos su-
periores e a recuperação de plantas livres de vírus (Scowcroft, 1984;
Poehlman & Sleper, 1995).
A segunda fase da biotecnologia surgiu na década de 80, com o ad-
vento das técnicas de marcadores moleculares (Ferreira & Grattapaglia,
1998), e a terceira teve início com o surgimento da engenharia genética (ou
transgenia) e das plantas transgênicas (Carneiro & Paiva, 2000), as quais
foram rapidamente adotadas por um grande número de agricultores em vá-
rias partes do mundo (Skerritt, 2000). A variabilidade genética existente na
natureza é a matéria-prima que o melhorista de plantas utiliza e da qual
depende para desenvolver novas cultivares. Assim, a possibilidade de se
engenheirar ou transformar plantas permite ao melhorista ter acesso a um

62
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

novo e variado “pool” gênico que não estaria disponível por meio do melho-
ramento clássico (Aragão et al., 1998; Brasileiro & Dusi, 1999).
Embora se reconheça a importância atual das técnicas de cultivo in
vitro e, em particular, da engenharia genética como ferramentas que o
melhorista não deve perder de vista, a abordagem, neste tópico, se limitará
apenas à aplicação dos marcadores moleculares por serem estes de maior
interesse imediato dos melhoristas em geral e da manga em particular.
Entende-se por marcadores moleculares as características de DNA
que diferenciam dois ou mais indivíduos e que são herdadas geneticamente.
Atualmente, diversos tipos de marcadores moleculares estão disponíveis, os
quais se diferenciam entre si, pela tecnologia utilizada para revelar a varia-
bilidade a nível de DNA (Milach, 1998).
Em plantas, a identificação dos primeiros marcadores moleculares
ocorreu na década de 70 e estes foram os marcadores de RFLP -
Polimorfismo de Comprimento de Fragmentos de Restrição. Esses
marcadores apresentam as desvantagens de exigirem sondas radioativas e
técnicas sofisticadas e laboriosas, sendo, portanto, de difícil utilização no dia
a dia do melhoramento (Rafalski & Tingey, 1993). Foi somente após o de-
senvolvimento das técnicas de PCR - Reação de Polimerase em Cadeia,
que os marcadores moleculares ganharam maior atenção por parte dos
melhoristas de plantas. Diversas técnicas foram desenvolvidas, cada uma
com suas vantagens e desvantagens, porém, todas eficientemente aplicá-
veis ao melhoramento (Rafalski & Tingey, 1993; Bretting & Widrlechner,
1995; Ferreira & Grattapaglia, 1998). Os principais marcadores baseados
na técnica de PCR são: RAPD - Polimorfismo de DNA Amplificado ao
Acaso; AFLP - Polimorfismo de Comprimento de Fragmentos Amplifica-
dos, e Microsatélites ou SSR - Sequências Simples Repetidas (Ferreira &
Grattapaglia, 1998). Existem, ainda, os marcadores baseados em locos hi-
persensíveis de mini-satélites ou VNTR - “Variable Number of Tandem
Repeats”, os quais são uma variação dos marcadores de RFLP; e os
marcadores isoenzimáticos, que são baseados em diferenças na mobilidade
de enzimas (proteínas) e vem sendo utilizados desde a década de 60 (Bretting
& Widrlechner, 1995; Ferreira & Grattapaglia, 1998).
Dos marcadores baseados em PCR, os Micro-satélites ou SSR são
considerados os mais informativos, porém de alto custo, enquanto os de
RAPD são os mais simples e de mais baixo custo (Ferreira & Grattapaglia,

63
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

1998). Os marcadores de RAPD, em função da simplicidade e da rapidez


com que podem ser obtidos, do baixo custo e do não requerimento de co-
nhecimentos aprofundados em biologia molecular, têm sido bastante utiliza-
dos na caracterização e estudos filogenéticos, DNA fingerprint e constru-
ção de mapas genéticos em diversas espécies de plantas (Nybom, 1994).
Por sua vez, Lavi et al. (1996) consideram os marcadores de AFLP um dos
mais promissores, tanto para a identificação, acesso da variabilidade gené-
tica e estudo do relacionamento filogenético, quanto para melhorar a efici-
ência dos programas de melhoramento da manga, através, principalmente
da seleção assistida por marcadores - MAS.
Dentre as principais aplicações dos marcadores de DNA no melho-
ramento de plantas em geral estão: (1) identifcação de parentais e seleção
de cruzamentos; (2) identificação e proteção de cultivares; (3) atribuição de
linhagens a grupos heteróticos em espécies alógamas; (4) certificação de
pureza genética; (5) monitoramento de cruzamentos e (6) caracterização e
manejo de bancos de germoplasma, como aplicações de curto prazo e (7)
construção de mapas genéticos; (8) mapeamento de locos de herança sim-
ples; (9) mapeamento de características de herança quantitativa; (10) sele-
ção assistida por marcadores - MAS; e (11) prospecção e clonagem de
genes de interesse econômico, como aplicações de médio e longo prazos
(Lee, 1995; Ferreira & Grattapaglia, 1998).
Os marcadores moleculares também podem ser utilizados para ca-
racterizar o genótipo de um indivíduo a partir de células de tecidos em qual-
quer estádio de desenvolvimento da planta, o que possibilita acelerar o pro-
cesso de seleção e recombinação dos indivíduos desejados e, conseqüente-
mente, reduzir o tempo necessário para se completar uma geração de me-
lhoramento (Ferreira & Grattapaglia, 1998). Esse aspecto adquire especial
importância no melhoramento de espécies perenes (frutíferas e florestais),
em que o longo ciclo vegetativo e a limitação de espaço dificultam e redu-
zem o interesse pelo melhoramento dessas espécies (Hansche & Beres,
1980; Hansche, 1983; Guimarães & Moreira, 1999).
Nas diversas regiões do mundo, a avaliação e a caracterização dos
recursos genéticos da manga, bem como de outras frutíferas, para uso em
programas de melhoramento, têm sido feitas com base em características
agronômicas e morfológicas (Chadha & Pal, 1986; Iyer & Dinesh, 1996).
Por outro lado, é sabido que as características agronômicas e morfológicas,

64
Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

assim como outros marcadores morfológicos, são afetados, em maior ou


menor grau, pelas condições ambientais e podem, como consequência, não
representar com fidelidade as similaridades e/ou as diferenças genéticas
existentes entre indivíduos (Andersen & Fairbanks, 1990; Rafalski & Tingey,
1993). Nesse sentido, a grande vantagem dos marcadores moleculares é
que eles não estão sujeitos aos efeitos do ambiente.
Em manga, onde a identificação de cultivares tem sido feita funda-
mentalmente com base em caracteres morfológicos (Iyer & Dinesh, 1996),
a utilização de marcadores moleculares e isoenzimáticos tem sido enfatizada
mais recentemente. Muitos estudos têm sido desenvolvidos, objetivando,
principalmente, a caracterização e a identificação de cultivares e o relacio-
namento filogenético entre as diversas espécies de Mangifera (Adato et
al., 1995; Iyer & Dinesh, 1996; Eiadthong et al., 1999). Segundo Iyer &
Dinesh (1996), com a implementação desses estudos, o número de cultiva-
res com parentais desconhecidos tem sido reduzido. Degani et al. (1990)
desenvolveram alguns sistemas de isoenzimas polimórficas para a manga e
as empregou na caracterização sistemática e na análise de parentesco en-
tre diversas cultivares. Mostraram que cultivares morfologicamente simila-
res, como por exemplo ´Pico´ e ´Carabao´, podem ser facilmente distinguíveis
através de análises isoenzimáticas. Por meio desses estudos, a origem de
algumas cultivares foi confirmada, assim como, a origem de alguns híbridos,
rejeitada. Por exemplo, a origem da ´Haden´ foi confirmada como sendo a
´Mulgoba´; da ´Zill´ a ´Haden´, e da ´Tahar´ a ´Irwin´. Mostraram, também,
que a ´Carabao´ não pode ser o progenitor masculino da ´Edward´, tida
como híbrido entre ´Haden´ e ´Carabao´; e a ´Keitt´ não pode ser progênie
da ´Mulgoba´.
Schnell et al. (1995) estudaram a aplicação de marcadores moleculares
de RAPD na identificação de cultivares de manga e observaram que ne-
nhum dos 11 primers estudados resultaram, isoladamente, em um padrão
único de bandeamento para quaisquer dos 25 acessos examinados. Contu-
do, algumas combinações de padrões de bandeamento de dois primers re-
sultaram em padrões únicos de fingerprinting para cada acesso. Adato et
al. (1995), por sua vez, aplicaram a técnica do DNA fingerprinting na
identificação, análise genética e estrutura familiar de 20 cultivares de man-
ga, através de marcadores de mini e micro-satélites. Concluíram que essa
técnica pode ser bastante útil para a identificação de cultivares de manga,

65
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

bem como para auxiliar no processo de melhoramento em si. Concluíram,


ainda, que a utilização de diferentes grupos de marcadore moleculares na
MAS para características importantes economicamente, pode possibilitar a
seleção precoce, ou seja, no estádio de seedlings. É justamente na MAS
que se tem uma das grandes utilidades dos marcadores moleculares em
fruteiras perenes como a manga (Ferreira & Grattpaglia, 1998; Guimarães
& Moreira, 1999). Por exemplo, se em um determinado cruzamento um
gene que controla a expressão de um caráter de importância econômica, de
herança monogênica, está intimamente ligado a um ou mais marcadores
moleculares, a progênie resultante desse cruzamento pode ser selecionada
no estágio de seedlings e antes da expressão fenotípica do caráter de inte-
resse, somente com base no marcador ou marcadores. A MAS permite,
ainda, a redução do número de retrocruzamentos necessários para a
introgressão de genes em cultivares comerciais.
A caracterização molecular do germoplasma de manga disponível é,
também, essencial para o seu uso mais adequado em etapas subseqüentes
do melhoramento. Essa caracterização molecular permite ao melhorista iden-
tificar acessos duplicados, simplificando os trabalhos subseqüentes. Possibilta,
ainda, identificar a existência de variabilidade genética nesse germoplasma,
selecionar progenitores e planejar melhor os cruzamentos.
No Brasil, estudos envolvendo biotecnologia em manga são pratica-
mente inexistentes. O trabalho envolvendo a análise genética de genótipos
de mangueira através de marcadores RAPD, desenvolvido por Souza et al.
(2002), é pioneiro nessa área. Isso mostra que há uma situação de quase
negliência, assim dizer, por parte dos melhoristas de manga, em relação ao
emprego da biotecnologia no melhoramento genético da espécie. É sempre
importante ressaltar que os recentes avanços nessa área têm possibilitado
ganhos consideráveis para as diversas culturas que deles têm se beneficia-
do mundo afora. Portanto, é importante que o melhoramento da mangueira
no Brasil passe, também, a se beneficiar desses avanços. Para tanto, é
necessário que a pesquisa pública incentive pesquisas com a cultura nessa
área e, principalmente, que os melhoristas dessa importante frutífera te-
nham consciência dos ganhos potenciais advindos do seu uso e, com isso,
quebrem sua resistência em relação a essa ferramenta fundamental na arte
de fazer melhoramento.

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Melhoramento Genético da Manga (Mangifera Indica L.) No Brasil

12. CONCLUSÕES

O Brasil encontra-se entre os dez maiores produtores mundiais de


manga e um dos maiores exportadores desta fruta, mas, a exportação ainda
é baixa quando comparada com o total produzido. A integração do Brasil
aos mercados internacionais e a crescente busca do consumidor por produ-
tos de melhor qualidade pressionarão os produtores, por produtos diferenci-
ados para que possam garantir sua participação no acirrado mercado inter-
nacional. Porém, a base da mangicultura brasileira está concentrada apenas
em uma cultivar, proporcionando sérios riscos à sua sustentabilidade. As-
sim, o melhoramento genético torna-se ferramenta de fundamental impor-
tância, proporcionando a geração de cultivares com os atributos necessári-
os e assegurando a competitividade da mangicultura nacional. A associação
dos métodos clássicos de melhoramento genético com as modernas técni-
cas da biologia molecular poderá acelerar o desenvolvimento de novos cul-
tivares, contribuindo de maneira eficaz para a sustentabilidade do agronegócio
da manga nacional.

13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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78
Propagação da Mangueira

PROPAGAÇÃO DA MANGUEIRA
José Maria Moreira Dias1; Rodrigo Sobreira Alexandre2;
Delcio de Castro Felismino2; Dalmo Lopes de Siqueira1.

1. INTRODUÇÃO

O Brasil, considerado o nono produtor mundial de manga, com produ-


ção anual da ordem de 823 mil toneladas, tem participação de 3,4 % no
volume exportado. Em 2000, o Brasil ocupou o segundo lugar em volume
exportado, atrás apenas do México (FAO, 2002). Estes dados são suficien-
tes para destacar a importância da Mangicultura no cenário da Fruticultura
Brasileira, como um grande fator na gestão de Agronegócios, seja a nível do
mercado interno, seja, principalmente a nível do mercado externo.
A produção brasileira é voltada para atender, principalmente, o mer-
cado interno. E a preocupação dos produtores, quanto a esse mercado, é
com a regularidade na oferta. Para se alcançar este objetivo, quatro fatores
são vitais para o êxito da cultura: clima, solo, nível tecnológico e qualidade
da muda. O clima é o principal fator que determina a possibilidade de um
cultivo econômico, onde os plantios comerciais somente são viáveis dentro
de valores específicos de temperatura, chuva, altitude, insolação, umidade
relativa e ventos. Entretanto, a mangueira é considerada uma espécie de
boa adaptação a diferentes tipos de solo, em função de vários aspectos
inerentes à planta, dentre eles, um sistema radicular bem desenvolvido e
profundo. Quanto ao nível de tecnologia aplicado à cultura, destaca-se a
indução floral, hoje conhecida como uma importante estratégia para a intro-
dução no mercado consumidor de frutos na entressafra. A qualidade da
muda é outro fator essencial no sistema de produção da mangueira, porque,
ao influenciar a qualidade do sistema radicular e as características da copa,
estará, direta ou indiretamente, influenciando a adaptabilidade edafoclimática
e o nível de tecnologia a ser adotado.

1
Prof. do Departamento de Fitotecnia, da Universidade Federal de Viçosa. Campus
Universitário; UFV; CEP.: 36.570-000: Viçosa-MG.; E-mail: [email protected]
2
Doutorando do Departamento de Fitotecnia/UFV;

79
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O objetivo deste capítulo será discutir aspectos relevantes do proces-


so de produção de mudas da mangueira.

2. REPRODUÇÃO DA MANGUEIRA

O conhecimento das características reprodutivas das plantas é fun-


damental, para que se possam eleger, apropriadamente, os métodos de pro-
pagação. Este aspecto é altamente relevante, em se tratando, principalmen-
te, de plantas arbóreas perenes, como é o caso da mangueira. Para estas
plantas, a qualidade da muda vai influenciar diretamente sua adaptabilidade
edafoclimática, longevidade, produtividade e qualidade do fruto.
A mangueira é uma planta tipicamente de fecundação cruzada, o que
a caracteriza como planta heterozigótica. Por outro lado, esta fruteira apre-
senta variedades monoembriônicas e poliembriônicas. A formação na se-
mente de mais de um embrião é um fenômeno conhecido por poliembrionia,
tendo ocorrência em muitas variedades mangíferas. A ocorrência de
genótipos poliembriônicos e monoembriônicos também pode acontecer den-
tro de uma única variedade e a distinção inequívoca entre o embrião sexual
e assexual é realizado por meio de marcadores genéticos. A poliembrionia é
determinada por um complexo de genes e, especificamente na mangueira, é
herdada como um caráter recessivo (Sturrock, 1968).
Os embriões assexuais, provenientes de sementes poliembriônicas,
são produzidos pelo crescimento das células somáticas formadoras do teci-
do nucelar (Saúco, 1999 e Manica, 2001). Estes autores acrescentam que,
algumas vezes, sementes de cultivares poliembriônicos podem produzir apenas
uma planta, e sementes de cultivares monoembriônicos, devido a ramifica-
ções do caulículo, podem formar, por sua vez, mais de uma planta por se-
mente. Este fenômeno é denominado policaulismo.
Os cultivares poliembriônicos, propagados por sementes, podem pro-
duzir plantas geneticamente idênticas à planta mãe, se provierem de embri-
ões nucelares. Segundo Saúco (1999) e Manica (2001), das diversas plântulas
(geralmente, de 2 a 7) originadas de apenas uma semente de cultivares
poliembriônicos, somente uma delas é sexual, sendo as demais, considera-
das oriundas de propagação assexual ou vegetativa. Estes autores relatam,
ainda, que a localização privilegiada dos embriões nucelares, em relação ao
zigótico, proporciona a eles um crescimento mais vigoroso, podendo inibir

80
Propagação da Mangueira

ou impedir o desenvolvimento do embrião zigótico, dada à concorrência exis-


tente entre os embriões nucelares pelo espaço e substâncias nutritivas dis-
poníveis na semente. Segundo os mesmos autores, o crescimento simultâ-
neo de várias plântulas emergentes de uma mesma semente poliembriônica
pode ocasionar deformações na zona de união do caule com as raízes, im-
pedindo o desenvolvimento normal da plântula e causando o aparecimento
de mudas defeituosas, que devem ser eliminadas no momento da formação
do viveiro.
Mesmo sendo os embriões zigóticos menos vigorosos que os nucelares,
não se pode descartar a possibilidade de que algumas plântulas sejam origi-
nárias deles, portanto, distintas da planta-mãe (Saúco, 1999). Segundo
Maheshwari et al. (1955), Sachar & Chopra (1957) e Sturrock (1968), nor-
malmente o embrião zigótico se degenera ou produz mudas raquíticas. Por
esta razão, a distinção entre plântulas de origem nucelar e zigóticas, normal-
mente tem sido feita com base nos seus vigores. Não obstante, plântulas
zigóticas e nucelares, não raramente, podem mostrar-se morfologicamente
semelhantes (Ram, 1997), exigindo, neste caso, o emprego de marcadores
genéticos, para se lograr a identificação.

3. PROPAGAÇÃO DA MANGUEIRA

A propagação da mangueira pode dar-se por duas vias: seminífera e


vegetativa. As vantagens e os inconvenientes de cada uma serão vistos à
continuação.

3.1. Propagação pela via seminífera

Quando uma muda é originada de uma semente monoembriônica, o


processo é conhecido como propagação sexual, meiótica ou gâmica, prove-
niente do resultado da união dos gametas masculino e feminino.
A propagação pela via seminífera é um método mais simples e segu-
ro, formando plantas vigorosas e mais longevas, além de dotadas de um
sistema radicular abundante e profundo. A propagação seminífera permite a
obtenção de novas variedades, a formação de bancos de germoplasma e a
produção de mudas a um custo mais baixo.

81
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Desde a introdução da mangueira no Brasil pelos portugueses, no


século XVI, a cultura se expandiu, principalmente, por meio da propagação
a partir de sementes, disseminando-se o cultivo desde o Norte - Nordeste
até aos estados do Sudeste. Em muitas regiões brasileiras, ainda hoje, os
pomares são formados a partir de mudas obtidas por este método, cujas
sementes, muito freqüentemente, são obtidas de uma única variedade, mui-
tas vezes, monoembriônica. Essa condição, aliada à natureza heterozigótica
da mangueira, propicia segregação gênica, acarretando, como conseqüên-
cia, formação de plantas muito vigorosas e porte elevado, dificultando as
práticas culturais e impedindo uma condução racional do pomar; início do
ciclo de produção mais tardio, o que impede um retorno do capital investido
em menor espaço de tempo; produção irregular nos primeiros anos; colheita
mais difícil, cara e demorada; grande variabilidade também nas caracterís-
ticas físicas, químicas e organolépticas dos frutos. Mancin et al. (2004) re-
latam que na Índia, a transição da fase vegetativa para a fase reprodutiva é
geralmente de quatro a cinco anos em plantas enxertadas e de mais de oito
anos em plantas obtidas pela via seminífera.
Estas desvantagens constituem sérios obstáculos para o que se espe-
ra de uma Mangicultura moderna. Para atender as exigências dos merca-
dos interno e externo, é fundamental melhorar a qualidade, produtividade e
o nível tecnológico de nossos pomares. Isto somente é possível com o em-
prego da propagação vegetativa, com base em cultivares de comprovada
qualidade, tanto com relação ao seu sistema radicular, quanto da parte aé-
rea. A propagação seminífera deverá ter sua aplicação apenas nos traba-
lhos de melhoramento genético, para obtenção de novas variedades, ou na
propagação de plantas, visando a formação de porta-enxertos ou a multipli-
cação de cultivares poliembriônicos, pelo resgate das plântulas obtidas dos
embriões nucelares.
A tecnologia recomendada para a obtenção de mudas, pela via
seminífera, será descrita na parte referente à enxertia (item 3.2.2.2.)

3.2. Propagação pela via vegetativa

Define-se por propagação vegetativa, o processo pelo qual a muda é


produzida a partir dos métodos de enxertia, mergulhia, estaquia, propagação
in vitro a partir de células e tecidos somáticos e, ainda, pelo resgate das

82
Propagação da Mangueira

plântulas obtidas dos embriões nucelares das sementes de variedades


poliembriônicas (Figura 1).
A propagação vegetativa apresenta importantes vantagens: plantas
homogêneas, com características varietais idênticas às da planta matriz;
plantas de menor porte, o que facilita, em muito, as práticas culturais e a
colheita dos frutos; permite eliminar ou reduzir a fase juvenil; permite a
produção mais precoce de frutos, sendo estes de melhor qualidade; e produ-
ção regular e em maior volume. Não obstante, apresenta, como desvanta-
gens, plantas com menor longevidade; sistema radicular, às vezes, menos
desenvolvido; possibilidade de transmissão de enfermidades sistêmicas; e
de originar plantas apresentando mutações de gemas. Além do mais, é um
processo de produção de mudas mais caro, quando comparado com o
seminífero, e apresenta riscos potenciais no referente aos aspectos
fitossanitários, devido à homogeneidade da população clonal do pomar. Re-
alisticamente, estas desvantagens não constituem obstáculos reais, pois a
menor longevidade pode ser compensada pelo maior número de plantas por
unidade de área, proporcionando maior volume de produção e produtividade
do pomar; sistema radicular pouco vigoroso, problema relativo e questionável.
A transmissibilidade de enfermidades sistêmicas pode ser evitada nessa
modalidade de propagação, mediante um bom controle fitossanitário das
plantas matrizes e práticas culturais corretas no pomar.
Assim, alguns dos grandes objetivos da mangicultura moderna po-
dem ser alcançados pelo emprego da propagação vegetativa, a partir da
qual as plantas podem apresentar características agronômicas mais desejá-
veis.

3.2.1. Importância das plantas matrizes

Um dos principais fatores responsável pela grande variabilidade de


plantas e frutos nos pomares comerciais é a utilização de material propagativo
(sementes ou partes vegetativas), retirado de plantas sem nenhum controle,
e das quais se desconhecem características como produção, alternância de
produção, resistência ou tolerância a doenças, características de qualidade
(cor, peso, aroma, sabor, presença de fibras, consistência da polpa, tamanho
da semente).

83
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O processo de propagação vegetativa deve-se iniciar pela escolha da


planta que vai fornecer os propágulos: ramos, estacas, garfos, hastes porta-
borbulhas ou células, tecidos ou órgãos, quando se tratar de cultivos in vitro.
Estes propágulos devem ser obtidos de plantas que expressem fielmente as
características varietais, ou seja, plantas que foram selecionadas pelos seus
atributos agronomicamente superiores e, por isto, chamadas de plantas ma-
trizes. Para a mangueira, tais plantas devem ser selecionadas de cultivares
com ausência ou menor tendência à alternância de produção; cultivares
com alta porcentagem de flores hermafroditas e pouca tendência a produzir
frutos sem embrião; frutos de cor atrativa; frutos com capacidade de mane-
jo pós-colheita, com boa conservação durante o período de transporte e
armazenamento e tolerância à antracnose, para que seja viável o combate
sob o ponto de vista comercial; e frutos saborosos, sem fibra e cujo caroço
(endocarpo) tenha peso inferior a 10 % do peso total do fruto (Manica,
1981).
Quando a opção pelo método de propagação recair na enxertia, deve-
se escolher com igual acuidade as plantas matrizes fornecedoras das se-
mentes, as quais serão utilizadas para a obtenção dos porta-enxertos. Estas
matrizes devem apresentar características bem definidas e homogêneas, no
que se refere à alta produtividade, de modo que a planta proporcione grande
quantidade de sementes; alta taxa de poliembrionia, visando a formação de
uma população homogênea de porta-enxertos; precocidade na germinação
da semente; crescimento rápido e vigoroso das plântulas, atingindo antes o
ponto de enxertia; plantas com características ananicantes e capazes de
transmitir este caráter ao cultivar copa; facilidade na execução da enxertia;
resistência ou alta tolerância aos fitoparasitas; sistema radicular bastante
desenvolvido e capaz de romper possíveis barreiras físicas, químicas ou
microbiológicas do solo, como o Mal ou Seca da Mangueira , induzido pelo
porta-enxerto (Donadio, 1980; Manica, 1981).
Deste modo, o produtor de mudas deverá dispor de um pomar para o
fornecimento de material para obtenção de porta-enxerto e de outro para
enxerto (Saúco, 1999).

84
Propagação da Mangueira

3.2.2. Métodos de propagação vegetativa

3.2.2.1. Estaquia e Alporquia

Segundo Manica (2001), a propagação vegetativa, com base nos


métodos da estaquia ou alporquia, não tem sido utilizada na propagação
comercial desta fruteira, embora proporcione precocidade de produção e
mantenha, na descendência, as características genéticas da planta matriz.
Pelo método da estaquia, o enraizamento se realiza de maneira lenta
e as mudas apresentam sistema radicular pouco vigoroso e superficial, sem
nenhuma adaptação a determinados tipos de clima e solo e, por conseguinte,
o transplantio é bastante difícil. Estas características também são experi-
mentadas pelas mudas produzidas pelo método da alporquia, agravado pelo
fato de a planta matriz proporcionar um muito baixo rendimento em mudas,
quando comparado ao método da própria estaquia. Com base em todos
estes aspectos, esses dois métodos de enraizamento adventício, embora
possíveis, são poucos adotados para a produção de mudas (Saúco, 1999;
Manica, 2001; Mancin et al., 2004; Propagação da Mangueira, 2004; Toda
Fruta, 2004).
No que se refere aos aspectos da estaquia, os propágulos (estacas)
são preparados, geralmente, a partir de ramos sadios e maduros, apresen-
tando comprimento entre 10 a 15 cm e contendo de 3 a 5 gemas. Assim
preparadas, seus extremos proximais (bases) são mergulhados em solução
de AIB a 5.000 mg L-1, durante 24 horas (Manica, 2001). Segundo o mesmo
autor, antes do plantio, deve-se lavar com água a parte tratada das estacas.
O plantio das estacas no meio enraizante, leito de enraizamento ou recipien-
tes individuais, é feito verticalmente ou ligeiramente inclinado, enterrando
aproximadamente dois terços do seu comprimento no substrato.
Dijkman (1950) estudou o enraizamento adventício do cultivar ´Haden‘,
a partir de estacas com folhas. Esse autor, inicialmente, lavou as estacas em
água corrente por 30-45 minutos para remover o exsudato da extremidade
cortada e, em seguida imergiu suas bases, por 5 segundos, em solução de
ácido indolbutírico a 10.000 mg L-1. Seis semanas após o plantio, Dijkman
logrou enraizar 75 % das estacas tratadas, enquanto aquelas não tratadas
com a solução auxínica não vingaram.

85
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Núñez-Elisea et al. (1992), para estudar o efeito do ácido


naftalenoacético (ANA) no enraizamento adventício de estacas do cultivar
´Tommy Aktins‘, preparou esta auxina sob a forma de gel, utilizando a pasta
de lanolina, contendo 2 %, 1 % ou 0,5 % de ANA. Os autores conseguiram,
nestas respectivas concentrações auxínicas, enraizar 93 e 53 % das esta-
cas, as quais formaram raízes primárias com comprimento acima de 5 cm e
raízes laterais com aproximadamente 5 mm de comprimento.
As estacas, durante todo o processo de enraizamento e da formação
da muda, devem receber todas as práticas culturais necessárias, inclusive o
uso de instalações que permitam um sombreamento ligeiro do ambiente e
dotadas de sistemas de nebulização intermitente ou de microaspersão.

3.2.2.2. Enxertia

Obtenção do porta-enxerto

O passo inicial na obtenção do porta-enxerto deve ser a seleção das


plantas matrizes fornecedoras das sementes. No Brasil, o porta-enxerto é
obtido, quase que exclusivamente, com base na disponibilidade de sementes.
Geralmente, os viveiristas coletam, ao acaso, frutos das variedades mais co-
muns na região, sem considerarem características fundamentais, como aque-
las descritas anteriormente, para porta-enxerto. Segundo Mancin et al. (2004),
a grande variabilidade que ocorre em pomares de mangueira se deve, em
grande medida, ao uso de porta-enxertos não selecionados e padronizados.
Segundo Manica (2001), no Nordeste do Brasil, os cultivares mais
utilizados como porta-enxerto são ‘Espada’, ‘Rosa’, ‘Carlota’, ‘ltamaracá’
e ‘Coité’, devido ao vigor da planta, ao seu sistema radicular bastante de-
senvolvido e à grande disponibilidade de sementes. Nos estados do Sudeste,
as mais utilizadas têm sido ‘Coração de Boi’, ‘Sapatinho’, Ubá’, ‘Coquinho’,
‘Espada’, ‘Jasmim’ e ‘Rosinha’. Estes quatro últimos porta-enxertos, antes
considerados resistentes à Seca da Mangueira, mostram, em estudos re-
centes, apresentar suscetibilidade a esta enfermidade. A escolha de cultiva-
res que visem a obtenção de plantas anãs, tem recaído nas cultivares india-
nas ‘Malika’ e ‘Amrapali’. No Brasil, embora existam preferências regio-
nais, a escolha de porta-enxerto, de modo geral, tem sido, majoritariamente,
pelos cultivares ‘Coquinho’ e ‘Espada’. A ‘Coquinho’, possivelmente, por

86
Propagação da Mangueira

germinar mais rapidamente, e a ‘Espada’, talvez, por ser mais vigorosa, de


crescimento mais rápido e resistente à Seca da Mangueira. Desta forma, os
viveiristas brasileiros têm feito opção por uma ou outra, conforme a disponi-
bilidade de sementes em suas propriedades. O Instituto Agronômico de
Campinas-SP lançou alguns cultivares, que são recomendados como porta-
enxertos, pelas suas resistências à Seca da Mangueira. São eles: o ‘IAC
101 Coquinho’, ‘IAC 102 Touro’, ‘IAC 103 Espada Vermelha’ e ‘IAC 104
Dura’. Entretanto esses cultivares ainda não estão sendo utilizados larga-
mente, devido à insuficiência de sementes para formação de porta-enxertos
(Manica, 2001; Mancin et al., 2004; Propagação da Mangueira, 2004; Toda
Fruta, 2004).
Ainda não há uma definição clara de quais são os porta-enxertos
mais indicados para cada situação. Ramos et al. (2001) comentam que o
Brasil carece de pesquisas conclusivas quanto ao uso de porta-enxertos
para a cultura da mangueira. Para estes autores, o cultivar ‘Espada’, por
exemplo, tem sido mais utilizado no Cerrado, por ser mais disseminado e de
fácil aquisição. Para eles, este porta-enxerto, em geral, proporciona à copa
um crescimento muito vigoroso, dificultando os tratos culturais e a colheita,
além de aumentar as perdas na pós-colheita. Seguem comentando que,
embora os cultivares nacionais de mangueira, para porta-enxerto, sejam
ótimos sob o ponto de vista de consumo in natura ou para fins industriais,
como a ‘Bourbon’, a ‘Oliveira Neto’, e indianas, que têm rendimento e
coloração de frutos (casca amarela) menos aceitáveis no mercado, elas
apresentam maior disponibilidade de fenótipos anões.
Em mangueira, os efeitos do porta-enxerto sobre a copa não são,
ainda, bem conhecidos, porém admite-se que o vigor, longevidade, produção
e qualidades do fruto sejam influenciados. Apesar disso, a enxertia é um
método sempre recomendado para a mangueira. Por exemplo, o caráter
ananicante se reveste de grande importância, quando o objetivo é a obten-
ção de uma combinação copa x porta-enxerto, também com esta caracte-
rística. Assim, para o caso de cultivares porta-enxertos poliembriônicos de
porte baixo, essa característica pode ser mais facilmente transmitida ao
conjunto, desde que a copa também tenha essa característica. No referente
aos cultivares porta-enxertos monoembriônicos de porte baixo, essa carac-
terística poderá não se manifestar nas enxertias, visto que cada porta-en-
xerto será um híbrido, um genótipo distinto.

87
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Nas condições de Cerrado, Ramos et al. (2001), visando a seleção de


porta-enxertos com característica ananicante para mangueira, verificaram
que a copa de ‘Tommy Atkins’ foi semelhante em altura, às copas de ‘Haden’,
‘Van Dyke’ e ‘Winter’, as quais apresentam tendência de menor cresci-
mento, quando enxertadas sobre o porta-enxerto ‘Espada’. Nas condições
de Cerrado, este porta-enxerto, normalmente, é muito vigoroso, e este vigor
se manifesta com as copas mais vigorosas como a ‘Tommy Atkins’ e a
‘Haden’.
Trabalhos posteriores realizados por Ramos et al. (2004), enxertando
os quatro cultivares copas, acima mencionados (‘Tommy Atkins’, ‘Haden’,
‘Winter’ e ‘Van Dyke’) sobre o porta-enxerto monoembriônico ‘Amrapali’,
mostram uma clara redução na altura da planta, independentemente do cul-
tivar copa. Entretanto, quando utilizou o cultivar ´Rosinha` como porta-en-
xerto e o ´Tommy Atkins` como copa, a planta resultante apresentava-se
com maior porte.
Nas condições de São Paulo, Simão et al. (1997), ao avaliarem o
comportamento de diferentes cultivares comerciais, como copa e como porta-
enxerto, concluíram que ‘Oliveira Neto’ e ‘Carlota’, como cultivares copas,
foram os mais produtivos; e como porta-enxertos, foram aqueles que indu-
ziram uma maior produção. Por outro lado, os cultivares ‘Coco’ e ‘Espada’,
tradicionalmente utilizados como porta-enxertos, mostraram produções in-
feriores às dos cultivares copas utilizados como porta-enxertos.
Também para as condições de São Paulo, Ribeiro et al. (2002), ao
estudarem o comportamento de porta-enxertos mono e poliembriônicos de
mangueira, em relação às baixas temperaturas, verificaram que o cultivar
‘Carabao’ apresentou um alto grau de resistência a esta condição, indepen-
dentemente da copa enxertada, podendo ser indicada para formação de
mudas nas regiões mais frias daquele estado.
São José (1992), ao estudar o comportamento dos cultivares porta-
enxertos ‘Coquinho’ (suscetível à Seca da Mangueira) e ‘Carabao’ (resis-
tente a esta enfermidade), verificou que ‘Coquinho’ mostrou melhor cresci-
mento inicial da muda, maior sistema radicular e peso da matéria seca, en-
quanto ‘Carabao’ se destacou, por proporcionar 100 % de pegamento na
enxertia, pela modalidade borbulhia por escudagem em placa embutida.
Na Índia, Reddy et al. (1989), ao estudarem oito porta-enxertos, ob-
servaram que a altura e volume máximos da copa ocorreram, quando foi

88
Propagação da Mangueira

utilizado o porta-enxerto ‘Muvandan’, seguido do ‘Olour’ e ‘Bappakai’. A


copa apresentou altura e volume mínimos, com o porta-enxerto de
‘Vellaikulumban’, no referente às características de produção, o maior nú-
mero e peso de frutos foram obtidos com o porta-enxerto ‘Olour’.
Manica (2001) comenta que, na Flórida, o porta-enxerto mais utiliza-
do era o ‘Turpentine’, cultivar poliembriônico, por ser mais produtivo e vigo-
roso. Entretanto, os viveiristas preferiam os tipos monoembriônicos, parti-
cularmente o cultivar ‘Haden’, pelo seu grande vigor, embora apresentando
uma maior heterogeneidade. Na Austrália, predominavam os porta-enxer-
tos poliembriônicos, ‘Kensington Pride’ e a manga comum. Na África do
Sul, os cultivares ‘Peach’ e ‘Sabre’. Nas Filipinas, preferencialmente os
cultivares ‘Carabao’ e ‘Pico’. Em Porto Rico, para locais de clima semi-
árido e com emprego de irrigação suplementar, o porta-enxerto ‘Eldon’ tem
sido o mais utilizado, por induzir no enxerto um menor vigor e altura da copa.
O caráter ananicante da planta, ao permitir uma maior número de plantas
por unidade de áreas, suplanta a desvantagem de a planta produzir menor
número de frutos. Em Israel, ainda, segundo Manica, o principal porta-en-
xerto para a mangueira era o ’13/1', uma seleção poliembriônica, tolerante à
salinidade da água e aos solos moderadamente alcalinos. No solo arenoso
da planície costeira, que não contém cal, o porta-enxerto ‘Sabre’ é o mais
recomendado e utilizado. Para os solos argilosos, quando a água de irriga-
ção não é muito salina, o porta-enxerto poliembriônico, o ‘4/9’, tem sido
bastante recomendado.

Obtenção das sementes

Com base em plantas matrizes, agronomicamente selecionadas para


porta-enxertos, o passo seguinte é a colheita dos frutos, para extração das
sementes. Deve-se colhê-los maduros.
Segundo Mancin et al. (2004), o período que vai desde a colheita do
fruto, obtenção da semente e até a semeadura, não deverá ultrapassar de
15 a 30 dias, visto que as sementes perdem seu poder germinativo com
relativa rapidez. Portanto, a época de semeadura deve coincidir com a da
colheita dos frutos.
Após a colheita dos frutos, procede-se a retirada da casca e da polpa,
seguida da lavagem das sementes. Estas, uma separada das outras, devem

89
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

ser colocadas sobre folhas de jornal, para secagem em local sombreado e


ventilado, por três a cinco dias. Em seguida, realiza-se a extração do
tegumento externo (capa fibrosa e dura ou endocarpo) que envolve a amên-
doa. Esta operação pode ser realizada com o auxílio de tesoura de poda ou
de lâminas cortantes bem afiadas. Pinto & Genú (1981) criaram o eliminador
de endocarpo (Figura 2), que apresenta algumas vantagens: não fere os
dedos do operário, permite aumentar e manter o rendimento diário do traba-
lho e deixa as amêndoas isentas de ferimentos e prontas para a semeadura.
Naquelas sementes de difícil remoção do tegumento externo (endocarpo),
como do cultivar ´Espada‘, uma alternativa para facilitar a germinação seria
realizar cortes na parte ventral do caroço (Toda Fruta, 2004). Uma vez
preparadas as sementes, elas devem ser selecionadas por peso ou tamanho,
descartando-se aquelas pequenas e defeituosas. Em seguida, efetua-se um
tratamento com fungicidas específicos (em pó), sendo, em seguida, embala-
das dentro de sacolas transparentes de polietileno e armazenadas em local
fresco ou levadas diretamente para o meio de germinação.
Tanto para a obtenção de mudas pela via seminífera, como para a
obtenção de porta-enxertos, recomenda-se, como visto anteriormente, a uti-
lização de cultivares poliembriônicos. Dessa forma, têm surgido divergênci-
as entre autores, quanto ao efeito do peso da semente sobre a germinação.
Assim, pesquisas têm sido realizadas para verificar o efeito dessa caracte-
rística na germinação e crescimento de plântulas de mangueira (Soares,
1989). Moraes (1989) recomenda a separação e classificação das semen-
tes de mangueira por peso ou tamanho, porque, segundo o autor, as mais
pesadas destacam-se por serem mais vigorosas. Ao estudarem esse com-
portamento em sementes dos cultivares ‘Ubá’ e ‘Espada’, Borges et al.
(1998) não encontraram para o primeiro cultivar, efeito do peso da semente
sobre a porcentagem de germinação. Todavia verificaram que o aumento
da taxa de germinação acompanhou o aumento da temperatura, atingindo
seu máximo à 30,3 ºC, e que a maior velocidade de germinação para esse
cultivar ocorreu a 34,8 ºC. Com relação ao cultivar ´Espada`, as sementes
com peso acima de 19,0 g mostraram maior poder germinativo e a maior
velocidade de germinação ocorreu à temperatura de 40,0 ºC.
Com base na literatura revisada, observa-se que o método mais indi-
cado e que resulta em maior percentagem de germinação é o do uso de
sementes sem endocarpo, as quais, após o completo preparo, devem ser,

90
Propagação da Mangueira

imediatamente, semeadas (Chauran et al., 1979; Moreira Júnior et al., 1994;


Manica, 2001; Mancin et al., 2004; Toda Fruta, 2004).
Borges (1997) verificou que sementes de mangueira ‘Ubá’ não de-
vem ser armazenadas. A semeadura deve ser realizada logo após a coleta
dos frutos e preparo das sementes. E que a germinação das mesmas tam-
bém é influenciada pela presença do tegumento, proporcionando sua remo-
ção, maior rapidez e maior índice de germinação (em torno de 90 %). Abel-
Galil (1992) mostrou que a porcentagem de germinação de sementes com o
tegumento removido após 10, 18 e 24 dias da extração do caroço foi de
39,78; 80,67 e 96,22 % respectivamente, comparado com 0; 11,1 e 45,56 %
para sementes com tegumento intacto. De acordo com Chauran et al. (1979),
o plantio de sementes de manga ‘Ubá’, desprovidas do endocarpo e sem
passar por um período de armazenamento, apresentou maior porcentagem
de germinação, altura, diâmetro e número de folhas em plântulas, bem como
maior produção de matéria seca de parte aérea e de raiz. King & Roberts
(1980) explicam este problema com base no fato de as sementes de man-
gueira serem consideradas recalcitrantes, não tolerando condições de
armazenamento, principalmente sob baixa umidade e baixa temperatura.
Girija & Srinivasam (2000) mostraram, para as condições da Índia,
que sementes dos cultivares ‘Neelem’ e ‘Goa’ armazenadas em sacos de
aniagem molhados, mantiveram a viabilidade por um período de no máximo
dez semanas. Chauran et al. (1979), ao estudarem o efeito do tempo de
armazenamento sobre a germinação de sementes de mangas, constataram
que a viabilidade é inversamente proporcional ao tempo de armazenamento.
O índice de germinação aos 48 e 60 dias de armazenamento foi de 56,78 e
64,67 % e aos 0 e 28 dias, foi de 97,50 e 95,67%, respectivamente.

Métodos de semeadura

Semeadura em leitos
Os leitos devem ser preparados em locais planos ou levemente incli-
nados; bem batidos pelo sol e protegidos contra os ventos; livres de plantas
daninhas de difícil eliminação; afastados de plantas adultas ou de pomares
velhos ou abandonados; e próximos de uma fonte abundante de água de boa
qualidade. Os solos para sementeira devem ser férteis, bem estruturados e
bem drenados.

91
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Escolhido o local, o solo deve ser devidamente arado e gradeado. Em


seguida, os canteiros devem ser levantados, de modo a apresentarem di-
mensões da ordem de 8-10 m de comprimento, 1,0-1,2 m de largura e 0,15
m de altura.
Para obter melhores resultados com a semeadura em leitos de se-
menteira, Manica (2001) aconselha:
a. Usar, como substrato, a mistura de areia pura e lavada com terriço
(terra de superfície, rica em matéria orgânica), na proporção de 1 : 1;
b. Incorporar 5-10 kg de esterco curtido, 100 g de superfosfato simples e
50 g de cloreto de potássio, por metro quadrado de sementeira.
c. Após a incorporação destes componentes à mistura de substratos,
proceder a desinfecção do leito, usando fumigantes, sendo o mais usado
o brometo de metila. Para receber a fumigação, a mistura deve estar
bem preparada e adequadamente úmida, para permitir uma resposta
mais favorável do fumigante. Outra alternativa para a desinfecção do
solo é a “solarização”, que consiste em deixar o solo da sementeira
coberto com uma lona ou plástico transparente durante um período de 3
a 4 meses. Este tratamento, em geral, tem apresentado bons resultados.
As sementes devem ser plantadas em sulcos (de preferências trans-
versais ao sentido de comprimento do leito), distanciados de 20 a 25 cm um
do outro, numa profundidade de 5-6 cm, ficando as sementes distanciadas
entre si, de 3 a 5 cm. Devem-se colocar as sementes dentro do sulco com o
lado convexo para cima ou o lado ventral para baixo (Figuras 3 e 4). As
sementes são, depois, cobertas com uma fina camada do mesmo substrato
do leito. Em seguida, colocar uma pequena camada de cobertura morta
sobre a superfície do leito, visando a conservação da umidade; evitar a
formação de uma crosta compacta na superfície do leito, o que dificultaria a
infiltração de água e as trocas gasosas; evitar incidência direta do sol e
concorrência precoce com as plantas daninhas; permitir uma germinação
mais uniforme e facilitar a posterior retirada das mudinhas. A cobertura
morta deve ser retirada paulatinamente e por etapas, na medida em que as
mudinhas começam a germinar e crescer, aumentando a sua exposição ao
sol gradativamente.
A velocidade de germinação das sementes de mangueira está tam-
bém relacionada com a profundidade de semeadura. Foi observado que

92
Propagação da Mangueira

o menor tempo (29,9 dias) alcançado para atingir 50 % de germinação ocor-


reu a 1 cm de profundidade (Padma & Reddy, 1998).
Quando as sementes se originam de cultivares poliembriônicos, a
germinação resulta em duas a oito mudinhas (Figura 1). Destas, recomen-
da-se, inicialmente, deixar as duas mais vigorosas. Posteriormente, elimina-
se mais uma, permanecendo apenas uma muda por semente. Com altura
aproximada de 10 a 12 cm, fase em que a segunda e terceira folhas passam
para uma cor verde-escura, as mudinhas são consideradas aptas para o
transplantio, seja diretamente para o solo do viveiro, seja para recipientes.
Em geral, as sementes das variedades monoembriônicas se caracte-
rizam por apresentar um número menor de dias para germinar, quando com-
paradas com as poliembriônicas. Por outro lado, sementes poliembriônicas
com alta porcentagem de germinação, são consideradas as melhores op-
ções para se obterem padrões que induzam portes baixos a médios em co-
pas comerciais (Avilán et al., 1995).
No momento de serem retiradas da sementeira, deve-se tomar muito
cuidado com a raiz principal e com a haste da muda, procurando-se conser-
var, ainda, os cotilédones aderentes às plântulas. Nesta fase de transplantio,
uma grande percentagem de mudas pode morrer. Assim, pelas possíveis
perdas durante a obtenção do porta-enxerto e na enxertia, deve-se semear
de 40 a 50 % a mais, em relação ao número de mudas a serem produzidas.
Por outro lado, o transplantio deve ser feito nas horas mais frescas do dia,
de preferência, em dias chuvosos, e dispensar cuidados acurados na opera-
ção de transplantio, devido à fragilidade do sistema radicular das mudinhas.
Quando o transplantio é feito em embalagem individual, o ideal é que o
viveirista disponha de um telado ou casa de vegetação munida de um efici-
ente sistema de nebulização ou microaspersão, para minimizar estas perdas,
nesta fase de repicagem das plântulas. Sendo o transplantio feito direta-
mente no solo do viveiro, pode-se proceder a uma cobertura morta (Manica,
2001).
A semeadura em leito e posterior repicagem permitem formar lotes
uniformes de plantas e evitar as falhas de sementes que não germinam.
Para prevenir o ataque de enfermidades e pragas, após a germinação
da maior parte das sementes, deve-se iniciar o controle fitossanitário, se-
gundo as especificações técnicas.

93
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Até há alguns anos, era comum alguns viveiristas semearem em lei-


tos de sementeira, transplantando, posteriormente, as plântulas diretamente
no solo do viveiro, para formar os porta-enxertos. Aí, eram enxertados e as
mudas arrancadas, quando estavam apresentando porte adequado. Atual-
mente, é um sistema em desuso. Além de ser mais demorado, ocasiona
estresse à muda, devido à poda de parte das raízes, quando do arranquio e
choques mecânicos durante o acondicionamento (embalagem) da muda, vi-
sando seu transporte. A muda da mangueira é bastante sensível a estresse
no seu sistema radicular. Desta forma, o método mais indicado é a semea-
dura diretamente em recipientes.

Semeadura em recipientes
A formação da muda de mangueira pelo sistema de semeadura direta
em recipientes (sacolas plásticas ou tubetes) apresenta como vantagens:
menor uso de mão-de-obra; seleção de embriões recém-germinados e uni-
formes; separação dos embriões somáticos, o que resulta em maior unifor-
midade dos porta-enxertos; aceleração na obtenção do porta-enxerto; e maior
eficiência na formação da muda, devido à redução de tempo (Manica, 2001;
Mancin et al., 2004). Ribeiro et al. (1994), ao avaliarem o desenvolvimento
de porta-enxertos em sacolas plásticas, verificaram que o melhor desenvol-
vimento foi induzido no cultivar ‘Tommy Atkins’ pelos porta-enxertos
‘Supresa’, ‘Florigon’ e ‘M 13-269’.
O recipiente deve apresentar tamanho (altura x diâmetro) suficiente-
mente adequado, para permitir pleno desenvolvimento do sistema radicular
e da parte aérea do porta-enxerto, assegurando condições apropriadas para
a realização bem sucedida da enxertia e que permita à planta enxertada,
formar todos os seus elementos definitivos, de acordo com as normas e
padrões estabelecidos para esta fruteira. Como recipientes, têm sido utiliza-
das sacolas de plástico de cor preta, com dimensões de 35 a 40 cm de
altura, com 22 a 25 cm de diâmetro e de 0,12 a 0.15 mm de espessura.
Devem-se adquirir sacolas perfuradas na base e até a um terço de sua
altura, visando melhor arejamento das raízes e escoamento do excesso de
água.
Para o enchimento dos recipientes, tem sido recomendado o empre-
go da seguinte mistura de substratos: 3 partes de terriço de ótima qualidade
e 1 parte de esterco bem curtido, adicionando, em cada m3 da mistura, 3 kg

94
Propagação da Mangueira

de superfosfato simples e 500 g de cloreto de potássio (São José, 1992). No


caso de se utilizarem, como substrato, solos argilosos ou subsolo, recomen-
da-se a adição de 1 parte de areia (Propagação da Mangueira, 2004). Ou-
tras misturas de substratos recomendadas têm sido: 1/3 de terra virgem,
fértil e peneirada, 1/3 de areia lavada e 1/3 de esterco de curral bem curtido
ou 1/2 de solo fértil, 1/2 de esterco de curral bem curtido, neste caso, adici-
onando, em cada m3 da mistura, 300 g de calcário dolomítico, 340 a 600 g de
superfosfato simples e de 300 g de cloreto de potássio (Manica, 2001).
Moraes (1989) recomenda efetuar o enchimento dos recipientes com ante-
cedência de 15 dias, utilizando-se uma mistura preparada com três partes
de terra fértil e uma parte de esterco bem curtido, adicionando 20 kg de
superfosfato simples e 5 kg de cloreto de potássio por metro cúbico desta
mistura.
Manica (2001) recomenda fumigar a mistura de substratos, após seu
preparo, com brometo de metila, cerca de 5 a 6 dias antes da semeadura,
segundo as especificações. Na operação de enchimento, devem-se deixar
vazios, sem completar com substrato, os últimos 5-6 cm do recipiente. Nes-
ta condição, arranjar os recipientes dentro de um ripado ou telado, em forma
de fileiras simples ou duplas, espaçadas entre si nas entrelinhas de 60-80
cm, de modo a facilitar a enxertia e as práticas culturais no viveiro. Os
recipientes são enchidos, parcialmente, para facilitar a semeadura, distribu-
indo as sementes (amêndoas), uma em cada recipiente, com a face ventral
voltada para baixo, para, logo em seguida, completar o enchimento dos reci-
pientes e, com isso, cobrir, adequadamente as sementes. Após a semeadu-
ra, cobrir os recipientes com uma pequena camada de cobertura morta (ma-
terial vegetal), cujas finalidades são as mesmas já anteriormente menciona-
das.
Como recomendado para a semeadura em leito, também em recipi-
entes, deve-se semear ao redor de 25 % a mais de sementes, para reparar
as possíveis perdas durante a obtenção do porta-enxerto e na enxertia.
A retirada da cobertura morta segue os critérios, também, já mencio-
nados anteriormente. No processo de germinação, ocorrendo formação de
mais de duas plântulas por recipiente, deve-se efetuar um desbaste, deixan-
do-se apenas as duas plântulas mais vigorosas. Depois de certo desenvolvi-
mento, elimina-se mais uma, permanecendo apenas a plântula mais vigoro-
sa por recipiente.

95
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Na operação de desbaste, tomar cuidado para não danificar a haste e


raízes, principalmente a pivotante, e, conservando, quando possível, os
cotilédones aderentes. É fundamental dispor de um sistema eficiente de
irrigação.
No local do viveiro, os recipientes, contendo os propágulos, devem
ser colocados em uma instalação que ofereça cobertura, para se evitarem a
desidratação das mudas e a queima das folhas. Uma boa cobertura pode
ser preparada com um sombrite (de cor preta ou azul) que mantenha 50 %
de sombreamento, o que permite melhor adequação da radiação e menor
aquecimento interno (Manica, 2001). Este autor sugere que as mudas de-
vem ser transferidas do ambiente sombreado para as condições de céu
aberto, quando suas primeiras folhas se tornarem maduras. Um viveiro de
mudas produzidas em recipientes, distribuídos em fileiras duplas e sob con-
dições de pleno sol pode ser visto na Figura 5 .
As práticas culturais na sementeira são aquelas normalmente reco-
mendadas: adubações, eliminação de plantas daninhas, irrigações e controle
fitossanitário.
Pinto & Genú (1981) recomendam para mudas de mangueira, aduba-
ções em cobertura com 3 aplicações: aos 60, 120 e 180 dias após a semea-
dura, utilizando-se 5 g/planta de sulfato de amônio e fazendo-se pulveriza-
ções foliares com a formulação 10-10-10 a 0,25 %. Sampaio (1986) reco-
menda adubar as mudas, aplicando, em cobertura, 5 g/recipiente, da mistu-
ra: 55 g de uréia, 55 g de superfosfato simples e 35 g de cloreto de potássio,
em três aplicações, aos 50-60, 120-130 e 170-180 dias após a semeadura.
Manica (2001) recomenda iniciar com as adubações, quando as
plântulas estiverem com suas primeiras folhas já maduras e sugere, de 30
em 30 dias, aplicar 5 g/planta da mistura contendo 55 g de uréia, 55 g de
superfosfato triplo, 36 g de sulfato de potássio ou cloreto de potássio e mais
44 g de terriço.

A enxertia propriamente dita


A enxertia é o método de propagação mais utilizado para a manguei-
ra, em razão de sua simples e fácil execução e, também, pelas desvanta-
gens e conseqüências do enraizamento adventício, seja por estaquia, seja
por alporquia, conforme discutido anteriormente. Os índices de pegamento
na enxertia são sempre altos, desde que observados os fatores responsáveis

96
Propagação da Mangueira

pelo êxito deste método. São eles: compatibilidade entre porta-enxerto /


enxerto; condições fisiológicas do porta-enxerto e do enxerto (garfo ou bor-
bulha), em correlação com a época do ano e a disponibilidade destes
propágulos; condições climáticas (temperatura e umidade) reinantes na época
da execução da enxertia; modalidades e submodalidades utilizadas; habili-
dade do enxertista; qualidade dos instrumentos cirúrgicos e dos demais
materiais usados na operação da enxertia e práticas de manejo pré e pós-
enxertia.
Conforme já mencionado anteriormente, embora os efeitos do porta-
enxerto sobre a copa e vice-versa não estejam, ainda, claramente conheci-
dos, acredita-se que o vigor, longevidade, produção e qualidade do fruto
sejam influenciados pela combinação porta-enxerto x enxerto (Manica, 2001).

Época de realização da enxertia


Na mangueira, a enxertia pode ser realizada durante todo ano, desde
que para isto, se disponha de porta-enxertos com conformação adequada e
de enxertos apropriados: garfos maduros e borbulhas intumescidas. No caso
da enxertia na modalidade borbulhia, para algumas submodalidades, a plan-
ta deverá estar apresentando plena circulação de seiva. Manica (2001) e
Mancin et al. (2004) recomendam realizar a enxertia em dias e horas de
pouca insolação, devendo-se evitar os períodos de muita chuva ou de altas
temperaturas. Estas condições reduzem, consideravelmente, o percentual
de pegamento.
Normalmente, os porta-enxertos alcançam padrão adequado para
receber a enxertia de 6 a 8 meses, depois da semeadura, quando as plantas
estão apresentando o caule com diâmetro entre 8 a 12 mm a 20-30 cm
acima do coleto da planta. Duas semanas antes da operação da enxertia,
deve-se irrigar as mudas no viveiro em dias alternados, de preferência à
tarde. Com esta prática, a seiva circula com mais abundância e possibilita a
obtenção de uma maior percentagem de pegamento (Mancin et al. (2004).
Os ramos fornecedores dos propágulos (garfos e gemas) para a
enxertia devem provir de ramos terminais da variedade que se pretende
propagar. Estes devem ser sadios e originados e desenvolvidos na estação
anterior. Não se deve utilizar ramos originados no ano em que se realiza a
enxertia, tampouco quando o broto terminal da estação anterior estiver em
fase de crescimento ativo.

97
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Quando se tratar de garfos, estes devem ser tomados da extremida-


de de ramos maduros (seis a oito meses de idade), roliços, coloração em
transição entre o verde e o verde-cinza escuro, tendo as gemas apicais
intumescidas e sadias (Figura 6A). Além desses garfos, extraídos de ramos
do último surto de crescimento da planta matriz, ótimos garfos podem ser,
também, obtidos do ápice dos ramos que frutificaram na última estação. A
abscisão da raque floral junto ao extremo destes ramos promove a forma-
ção, quase sempre, de várias gemas adventícias, as quais são muito volumo-
sas e vigorosas (Figura 6B), condições estas que vão contribuir para a for-
mação precoce das pernadas da muda.
Independentemente da fonte , os garfos devem apresentar um diâ-
metro igual ou pouco inferior ao diâmetro do caule do porta-enxerto, na
altura da enxertia.
Saúco (1999) e Manica (2001) relatam que, para se obter um alto
índice de pegamento na enxertia, é necessário que o porta-enxerto apresen-
te conformações adequadas e que a gema terminal do garfo esteja iniciando
o seu intumescimento. Não estando intumescida, o instrumento pode ser
conseguido mediante duas práticas: a primeira, pela remoção de um anel de
casca a aproximadamente 30 cm abaixo do ápice do ramo; a segunda, pela
desfolha na parte terminal do ramo, até uma distância de 15 a 20 cm do
ápice, deixando-se uma porção do pecíolo, com comprimento ao redor de
0,6 cm. Duas ou três semanas depois de realizada uma ou a outra prática, as
gemas terminais começam a intumescer, proporcionando ao garfo condi-
ções ideais para ser usado na enxertia. A coleta destes ramos na planta
matriz deve-se dar, de preferência, nas primeiras horas do dia, de modo a
assegurar uma perfeita turgescência dos futuros garfos. Os ramos coletados
devem passar por uma criteriosa seleção, antes da extração dos garfos.
Estes devem apresentar de 15-18 cm de comprimento e de 10-15 mm de
diâmetro. Uma vez extraídos, os garfos podem ser utilizados para a enxertia
imediata ou acondicionados em bolsas transparentes de polietileno, conten-
do no seu interior serragem, papel úmido, turfa, musgo e armazenados, por
alguns dias, sob condições de temperaturas mais baixas.
Pinto & Genú (1981) mencionam, para pequenos períodos de 2 a 5
dias, conservar os garfos envolvidos em folhas de jornal, mantidos à tempe-
ratura de 10 °C. Para períodos mais longos, da ordem de 10 dias, estes
autores recomendam antes tratar a base cortada dos garfos em uma solu-

98
Propagação da Mangueira

ção de parafina líquida, mantida em banho-maria a 46 ºC e, depois, envolver


os garfos em folhas de papel de jornal, conservando-os em local com tem-
peratura na faixa de 10 °C.
Quando se tratar de hastes porta-borbulhas, se as plantas matrizes se
localizarem próximas ao viveiro, as hastes poderão ser colhidas um dia an-
tes da operação da enxertia (Figura 7). O acondicionamento delas pode ser
como o indicado acima, para os garfos, armazenando-as em local fresco e
sombreado até o momento da enxertia no campo.
Mancin et al. (2004) aconselham, para a obtenção de borbulhas, que
entre cinco a dez dias, antes da coleta da haste porta-borbulhas, se realize a
decapitação da porção terminal do ramo, eliminando-se a gema apical. Através
desta prática, conseguem-se borbulhas intumescidas e aptas para uma
brotação mais precocemente.

Métodos de enxertia
Das três modalidades de enxertia: encostia, borbulhia e garfagem,
apenas as duas últimas têm importância prática e econômica. Estas apre-
sentam submodalidades e, dentro de cada submodalidade, existem diferen-
tes tipos e até subtipos; todos perfeitamente utilizáveis na enxertia da man-
gueira. Entretanto, serão descritos somente os modelos mais eficientes e
utilizados para a propagação desta fruteira.

Enxertia pela modalidade garfagem


a) Garfagem no topo em fenda
A garfagem no topo em fenda é das submodalidades, uma das mais
utilizadas na enxertia da mangueira. Apresenta, como principais vantagens,
precocidade e altos índices de pegamento, além da facilidade de execução,
quando comparada com as demais submodalidades de garfagem.
Na enxertia por garfagem no topo em fenda, são utilizados porta-
enxertos que apresentem 8 a 12 mm de diâmetro até a altura do ponto de
enxertia. A operação desse modelo de enxertia inicia-se pela remoção de
folhas e partículas de solo aderidas nas hastes dos porta-enxertos. Posteri-
ormente, com o uso da tesoura de poda, decapita-se o porta-enxerto com
um corte transversal, conferido a uma altura de 10 a 15 cm (Figura 8A);
pelo uso do canivete de enxertia, faz-se, em seguida, uma incisão longitudi-
nal no centro do corte transversal, de modo a formar uma fenda completa,

99
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

passando pelo tecido medular da haste decapitada e apresentando de 3 a 5


cm de profundidade (Figuras 8B, C e D). O garfo é preparado, realizando
um duplo bisel (cunha), conseguido pela execução de dois cortes conver-
gentes, um de cada lado da sua base de maior diâmetro e tendo comprimen-
to semelhante à profundidade da incisão feita no porta-enxerto (Figura 8E).
Para introduzir o garfo, recomenda-se abrir um pouco a fenda com a lâmina
do canivete e inserir o garfo, de modo a coincidir os câmbios, em pelo me-
nos um dos lados (Figura 8F). Em seguida, usando uma fita plástica com
aproximadamente 1,0 cm de largura e 25-30 cm de comprimento, cobrir,
totalmente, a área cortada na zona de união dos dibiotos, iniciando-se pela
parte inferior do porta-enxerto, continuando até pouco acima da parte supe-
rior do porta-enxerto, voltando-se com a fita, de modo que a laçada final
seja dada mais ou menos na metade do comprimento da incisão, a fim de
promover um melhor contato entre os tecidos dos dois biontes (Figura 8G).
Após o amarrio, cobrir o enxerto com um saquinho plástico transpa-
rente com, aproximadamente 15 cm de comprimento, 8 de largura e 0,02
mm de espessura, enrolando-o justo e cuidadosamente em torno do enxerto,
seguido de seu amarrio frouxo na extremidade inferior do porta-enxerto, um
pouco abaixo do ponto de união (Figuras 8H, I e J). Assim, este invólucro
permite a formação de uma câmara úmida, evitando, daí para frente, a per-
da de água pelo garfo. Quando surgir a brotação e esta alcançar ao redor de
2 cm, desenrolar o saquinho, voltando a amarrá-lo, como antes (Figura 8K).
Este será retirado, quando a brotação estiver bem desenvolvida, apresen-
tando folhas expandidas e alcançando o fundo do saquinho, condição que,
normalmente, ocorre aos 40-50 dias, indicando, em geral, o pegamento do
enxerto (Figura 8L). Nas condições da Universidade Federal de Viçosa,
embora sem comprovação científica, o uso da fita transparente de polietileno,
de baixa densidade e espessura inferior a 0,02 mm, tem substituído, com
vantagens, o saquinho plástico na proteção do garfo contra o dessecamento.
A fita é enrolada em todo o garfo, deixando expostas apenas as gemas.
Esse procedimento tem acelerado a brotação das gemas, significativamen-
te, em todos os modelos de garfagem (Figuras 8M e N).
Terminada, assim, a operação da enxertia, as plantas devem ser acon-
dicionadas em instalações que lhes assegurem um sombreamento parcial,
tais como ripados, telados ou casa de vegetação. Segundo Manica (2001) e
Mancin et al. (2004), em viveiro de campo, o sombreamento parcial das

100
Propagação da Mangueira

plantas recém enxertadas pode ser conseguido, mediante uso de papelão,


ripados ou bambu.
Decorridos dois a três meses da enxertia, retirar a fita plástica que
liga e protege o dibioto no ponto de união, bem como retirar, paulatinamente,
o sombreamento, estando a planta plenamente aclimatada, depois de 15 a
30 dias (Figuras 8P e Q).
Quando a planta enxertada alcança entre 50 e 70 cm de altura, ela é
considerada uma muda pronta para ser transportada e plantada no campo.
Em Viçosa-MG, Pinheiro et al. (1970), utilizando a garfagem no topo
em fenda, obtiveram, para a mangueira, um pegamento de 97,10%. No Dis-
trito Federal, Durigan, citado por Manica (2001), trabalhando com diferen-
tes cultivares, obteve um índice de pegamento dos enxertos variando de 20,
60, 70, 80 a 100% sobre o total de plantas enxertadas, índices influenciados
pelos cultivares utilizados com enxerto, porém não pelo tipo de garfagem no
topo. Em Cruz das Almas- BA, o pegamento foi de 79,2%.
Durante todo o período de formação da muda, devem-se realizar as
práticas culturais que se fizerem necessárias, tais como irrigação, controle
de plantas daninhas, controle fitossanitário, desbrotas no porta-enxerto e
adubações.
Quando as cascas e lenhos do garfo e do porta-enxerto coincidem
nos dois lados (mesmo diâmetro), esta enxertia é denominada de garfagem
no topo em fenda cheia. Quando o diâmetro do porta-enxerto for maior do
que o do enxerto, ela é chamada de garfagem no topo em meia fenda.

b) Garfagem no topo à inglesa simples


A garfagem no topo à inglesa simples, à semelhança da de topo em
fenda, resulta, também, em alta percentagem de pegamento, sendo essenci-
al para isto, que o porta-enxerto e o enxerto apresentem diâmetros seme-
lhantes, ambos variando entre 6 a 12 mm. Pelo uso de uma tesoura de poda,
o porta-enxerto é decapitado à altura de 15 a 20 cm e o enxerto encurtado
para 10 a 15 cm de comprimento, contendo, pelo menos, três gemas. Pelo
uso de um canivete de enxertia bem afiado, ambos dibiotos são talhados em
bisel simples, devendo este apresentar comprimentos semelhantes e varian-
do entre 3 a 5 cm (Figuras 9A e B). Em seguida, justapor as faces cortadas
do porta-enxerto e enxerto em sentidos opostos, tendo-se o cuidado de fa-
zer coincidirem as cascas em, pelo menos, um dos lados, o que garante a

101
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

soldadura e o vingamento do enxerto (Figura 9C). Em seguida, com uma


fita plástica, faz-se a ligadura-atadura e a proteção da área cortada no pon-
to de união, passando a fita de modo firme e em forma de espiral, começan-
do de baixo para cima.
Nesse modelo de enxertia, a grande dificuldade está no amarrio, quan-
do o enxertista terá que segurar o dibioto com uma das mãos e com a outra
fazer o amarrio. O enrolamento da fita deve-se iniciar no meio do ponto de
união, indo com a fita para baixo, depois para cima e voltando com ela
novamente, para o meio da zona de união, efetuando aí a laçada (Figura
9D).
Concluída a operação da enxertia, as etapas seguintes são em tudo
semelhantes àquelas preconizadas para a enxertia no topo em fenda, con-
forme descrito anteriormente.

c) Garfagem no topo à inglesa com entalhe


Este modelo é uma variante da inglesa simples e é usado, geralmente,
quando se trata de porta-enxertos mais finos. Uma vez talhado o bisel sim-
ples (3 a 5 cm de comprimento), abre-se uma fenda reta de aproximada-
mente 2 a 3 cm de profundidade no porta-enxerto, iniciando-se a mais ou
menos um terço abaixo da extremidade superior do bisel (Figuras 10A). No
garfo, procede-se de igual maneira (Figuras 10B), porém, para confeccio-
nar a fenda, deve-se tomar o garfo com sua extremidade distal (ápice) vol-
tada para o operador. Delimita-se, assim, um entalhe (lingüeta) em cada um
dos biontes, o que permite um duplo encaixe (Figuras 10C), ficando o opera-
dor com ambas as mãos livres para efetuar o amarrio do enxerto (Figuras
10D), o que não acontece na garfagem no topo à inglesa a simples, onde
ocorre maior perda de tempo com esta operação. Como em todos os tipos
de garfagem, o amarrio termina mais ou menos na metade dos cortes, de
modo a proporcionar maior e melhor contato entre os tecidos dibióticos.
Pinheiro et al. (1970), estudando a eficiência das modalidades e
submodalidades de enxertia na mangueira, nas condições de Viçosa, logra-
ram um porcentual de pegamento de 88,90 %, empregando a enxertia por
garfagem no topo à inglesa simples e de 88,80 %, empregando a inglesa
com entalhe. Nas condições do Distrito Federal, Durigan, citado por Manica
(2001), ao empregar as garfagens no topo à inglesa simples e com entalhe,
alcançou índices de pegamento de 20 %, 40 %, 60 % e 80 %, índices que

102
Propagação da Mangueira

foram influenciados pelos cultivares utilizados com enxerto, porém não pelo
tipo de garfagem no topo.

d) Garfagem lateral sob a casca


Nesta submodalidade, o porta-enxerto deve apresentar ótimas condi-
ções de crescimento, sanidade e estado nutricional; com idade, normalmen-
te, entre 6 e 12 meses, mostrando um diâmetro de 6 a 15 mm, na altura da
enxertia. O local do porta-enxerto, selecionado para fazer a enxertia, deve
ser liso e situado entre 20 e 25 cm acima da superfície do solo. A operação
inicia-se por efetuar no porta-enxerto um corte (incisão) na casca, com um
comprimento de 6 a 8 cm, executado em direção paralela à haste. Ato con-
tínuo, no início da parte superior desta incisão, faz-se um corte na casca, no
sentido transversal ao eixo da haste, dando, assim, um aspecto de “T” nor-
mal. Com relação ao garfo, este, inicialmente deve ser encurtado para 7 a 9
cm de comprimento, tendo um diâmetro igual ou pouco menor do que o do
porta-enxerto. Em seguida, efetua-se um bisel simples na sua extremidade
proximal, começando abaixo da gema terminal e continuando até a parte
inferior do garfo, tendo comprimento semelhante ao da incisão no porta-
enxerto. Na seqüência da enxertia, faz-se a introdução do garfo dentro da
incisão do porta-enxerto, tomando-se o cuidado de fazer coincidir o câmbio
de ambos os biontes no extremo superior.
Uma fita plástica de 25 a 30 cm de comprimento e 8 a 12 mm de
largura é enrolada firmemente, iniciando-se na base da enxertia até atingir a
parte superior, porém deixando-se a parte terminal do enxerto, que é a parte
com maior diâmetro e com as gemas intumescidas, livres da fita. Posterior-
mente, faz-se o amarrio. Segue-se a colocação de um saquinho plástico,
amarrado nas partes inferior e superior do porta-enxerto, quando a estação
do ano apresentar baixa umidade no ar; porém em períodos de elevada
umidade relativa, deve-se amarrar o saquinho de plástico apenas na parte
superior, deixando-se a parte inferior aberta, para evitar-se o excesso de
umidade.
Após o pegamento do enxerto e iniciado o crescimento e brotação, a
parte do porta-enxerto que está logo acima do ponto de enxertia deve ser
encurvada cuidadosamente, para estimular um crescimento mais rápido do
novo enxerto. Logo após o primeiro surto de brotação, retira-se o saquinho
plástico, aguardam-se mais 2 a 3 semanas, para remover a fita plástica.

103
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Quando surge o segundo surto de brotação, utilizando-se uma tesoura de


poda, pratica-se um corte firme, a aproximadamente 1 cm acima do ponto
de união, eliminando-se, completamente, a parte superior do porta-enxerto.
No ferimento, aplica-se uma pasta fungicida. Do lado e tangenciando o
porta-enxerto, crava-se um tutor, para amarrar e conduzir, verticalmente, o
enxerto, conforme o mesmo for crescendo.
Toda a brotação que aparecer no porta-enxerto deve ser removida,
ainda na sua fase inicial. Outras práticas culturais devem ser realizadas,
segundo recomendações técnicas.
Empregando este tipo de enxertia, Pinheiro et al. (1970) alcançaram,
nas condições de Viçosa, um índice de pegamento de 63,40 %.

e) Garfagem lateral no alburno


Para esta submodalidade de garfagem, utilizam-se porta-enxertos com
6 a 12 meses de idade e diâmetro ao redor de 10 mm na altura da enxertia;
os garfos devem estar maduros e com diâmetro igual, ou ssemelhante ao
corte praticado no porta-enxerto.
Na extremidade basal do enxerto, utilizando-se um canivete de enxertia
bem afiado, efetuam-se dois cortes alongados e oblíquos em lados opostos:
o primeiro, um corte inclinado, medindo 3 a 5 cm de comprimento, iniciando-
se abaixo da gema terminal, tendo-se cuidado para não danificá-la; o outro
corte, com cerca de 1 cm de comprimento, começando na casca e pene-
trando no lenho, formando, assim, uma pequena cunha de lados opostos
desiguais (Figura 11A), de modo a conferir um perfeito encaixe no corte
feito no porta-enxerto. Este corte é realizado na altura de 15 a 20 cm acima
do coleto, executado longitudinalmente de cima para baixo, suavemente in-
clinado em direção ao centro da haste, com aproximadamente 5 a 7 cm de
comprimento. Próximo à base da parte final desse corte (seu extremo infe-
rior), aprofunda-se o canivete, promovendo um outro corte, de modo a per-
mitir destacar um fragmento de casca aderida a uma porção do lenho (Figu-
ra 11B). Como na garfagem no topo à inglesa com entalhe, a feitura de
lingüetas nos biontes facilita o encaixe dos mesmos, de tal forma que, na
justaposição das superfícies cortadas do porta-enxerto e do enxerto, haja
perfeita coincidência das cascas, em pelo menos em um dos lados (Figura
11C). Em seguida, realizam-se a ligadura-atadura e a proteção da zona de
união do enxerto (Figura 11D). Nesta operação, a fita plástica é enrolada,

104
Propagação da Mangueira

iniciando-se pela parte inferior do ponto de enxertia, seguindo-se até a parte


superior do corte. Terminada esta operação, cobre-se o enxerto com um
saquinho plástico, amarrando-o frouxamente na sua parte inferior, para se
evitar o dessecamento ou penetração de água. Com o pegamento do enxer-
to, as gemas começam a brotar; sendo isto um indicativo de quando se deve
começar a movimentar o saquinho plástico protetor, para permitir o livre
crescimento da nova brotação. O porta-enxerto deve ser cortado parcial-
mente a 5-10 cm acima do ponto de união. A fita plástica é removida depois
que o primeiro surto de brotação tenha ocorrido. A parte restante do porta-
enxerto será decapitada após o segundo fluxo vegetativo. Do lado e de
modo tangencial ao porta-enxerto, coloca-se um tutor, para amarrar e con-
duzir, verticalmente, o enxerto, conforme este for crescendo.
As práticas culturais preconizadas para o viveiro devem ser realiza-
das, quando necessárias.
Pinheiro et al. (1970), estudando as diferentes modalidades e
submodalidades de enxertia na mangueira, nas condições de Viçosa-MG,
encontraram um índice de pegamento de 67,60 %, quando utilizaram a
garfagem lateral no alburno.

Enxertia pela modalidade borbulhia


A modalidade borbulhia tem como vantagem principal conferir um
maior rendimento da planta matriz em material propagativo (enxerto), quan-
do comparada com a modalidade garfagem. Enquanto esta última produz,
no máximo 3 enxertos (garfos) de cada ramo ponteiro, a borbulhia poderá
fornecer até 5 vezes mais, isto é, 15 enxertos (borbulhas). Entretanto, o
desenvolvimento do enxerto é mais lento do que na garfagem, pois se utiliza
somente um pequeno fragmento de casca, contendo ou não uma porção do
lenho, ao passo que na garfagem, utiliza-se um segmento de ramo, o qual,
por armazenar maior quantidade de substâncias, como carboidratos, confe-
re maior vigor e desenvolvimento inicial ao enxerto.

a) Borbulhia por escudagem sob casca em “T” invertido


A melhor época para realização desta submodalidade de borbulhia é
durante a fase de pleno crescimento vegetativo do porta-enxerto, quando
existe intensa circulação da seiva. É importante, ademais, que esta planta
apresente um ótimo estado sanitário e nutricional. Normalmente, são utiliza-

105
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

dos porta-enxertos com idade entre 6 e 12 meses, mostrando um diâmetro


de 10 a 15 mm na altura da enxertia. A operação da enxertia inicia-se por
conferir uma incisão com comprimento de 3 a 5 cm, executada no sentido
longitudinal ao eixo e numa região lisa da haste do porta-enxerto, situada
entre 20 e 25 cm acima da superfície do solo. Ato contínuo, no final da parte
inferior desta incisão, faz-se um corte na casca, no sentido perpendicular ao
eixo da haste, dando, assim, um aspecto de “T” invertido (Figura 12A). Pelo
uso de um canivete de enxertia bem afiado, retira-se da haste porta-borbu-
lhas, uma placa de casca, contendo um resquício do lenho e, no centro, uma
gema vigorosa e intumescida (borbulha) (Figura 12B). Esta é introduzida,
de baixo para cima, na incisão feita no porta-enxerto (Figura 12C), proce-
dendo-se à ligadura-atadura e proteção com fita plástica, cobrindo-se toda a
borbulha (Figura 12D). Após 35 dias, se a borbulha estiver verde, é sinal de
que o enxerto pegou; não estando verde, repete-se, apenas uma vez, a
enxertia, a qual deve ser realizada, imediatamente abaixo da primeira. Con-
cretizado o pegamento do enxerto, decapita-se a parte superior do porta-
enxerto, 5-10 cm acima do enxerto, a fim de acelerar o desenvolvimento da
muda. Transcorridos 8 dias da decapitação do porta-enxerto, a gema do
enxerto começa a intumescer, devendo-se retirar a fita plástica, para favo-
recer a brotação do enxerto. A parte restante do porta-enxerto será cortada
a 0,5-1,0 cm acima do enxerto, após aparecer o segundo fluxo vegetativo.
Do lado e de modo tangencial ao porta-enxerto, coloca-se um tutor,
para amarrar e conduzir, verticalmente, o enxerto, conforme este for cres-
cendo. Quando os dois fluxos de crescimento estiverem plenamente madu-
ros, fato que ocorre, normalmente, depois de 5 a 7 meses da enxertia, a
muda será considerada formada e portanto, pronta para tomar sua destinação
final.
Ao longo do processo de formação da muda, seguir as especificações
técnicas com relação às práticas culturais.

b) Borbulhia por escudagem embutida no alburno


Este subtipo se diferencia do anterior, pelo fato de o escudo (borbu-
lha) não mais ser embutido sob casca e sim, no alburno ou lenho do porta-
enxerto.
No início de sua execução, faz-se no porta-enxerto, a uma altura de
15 a 20 cm do solo, uma incisão oblíqua de aproximadamente 3 cm de com-

106
Propagação da Mangueira

primento e a uma profundidade tal que venha atingir um pouco menos da


metade do diâmetro do porta-enxerto. Em seguida, retira-se o canivete de
enxertia desta incisão, colocando-o à altura do término da incisão, numa
posição ligeiramente inclinada para cima e faz-se pressão, de modo a retirar
uma porção triangular e relativamente espessa do lenho (Figura 13A). Pos-
teriormente, procede-se igualmente na haste porta-borbulhas, de modo a se
obter uma porção de lenho do enxerto (escudo), a mais semelhante possível
àquela extraída do porta-enxerto e tendo uma gema situada na posição
mediana do escudo (Figura 13B). Em seguida, embute-se o escudo do en-
xerto na lacuna deixada no porta-enxerto, coincidindo a casca em pelo me-
nos um dos lados (Figura 13C) e conferindo, posteriormente, a ligadura-
atadura e proteção, observando os mesmos cuidados referidos no subtipo
anteriormente descrito (Figura 13D).
Uma outra derivação deste subtipo seria a retirada do escudo, não na
forma triangular, mas na forma côncava, em que sua porção mediana é que
iria atingir a quase metade do diâmetro do lenho. A operação deste modelo
está ilustrada na Figura 14.
A diferença entre ambos os subtipos reside na rapidez da operação:
no primeiro caso, há maior rapidez, em face de o corte oblíquo feito para
retirar o escudo no porta-enxerto permitir a sustentação da borbulha e com
isto o enxertista ficar com as duas mãos livres para efetuar o amarrio (liga-
dura-atadura). Isto já não ocorre no segundo caso, visto que uma das mãos
estará segurando a borbulha e a outra, efetuando o amarrio, o que poderá
levar à não coincidência das camadas geratrizes de ambos os biontes, em
pelo menos um dos lados.

c) Borbulhia por escudagem em placa embutida em janela.


A enxertia, por este subtipo, é utilizada naquelas plantas que apresen-
tam a casca bem desenvolvida, como é o caso da mangueira. E a sua exe-
cução exige que ambos os biontes estejam soltando a casca com facilidade.
No porta-enxerto, apresentando diâmetro de 10-12 mm, à altura de 15 a 20
cm do solo, inicia-se a operação da enxertia, pela retirada de um disco de
casca com diâmetro de 6-10 mm ou de um quadrilátero de casca, com as
dimensões de 1,0 a 1,5 cm de largura e 3,0 cm de comprimento, abrindo-se
uma janela (Figura 15A). Ato contínuo, da haste porta-borbulhas, retira-se
outro escudo, de preferência com igual formato e tamanho e sem apresen-

107
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

tar resquício de lenho, tendo no seu centro uma gema (Figura 15B). Este é
inserido na janela aberta no porta-enxerto (Figura 15B). Após esta justapo-
sição, faz-se o amarrio com fita plástica, de modo a cobrir todas as partes
cortadas (Figura 15C), quando se tratar de períodos sujeitos a chuvas; em
épocas secas, a gema poderá ficar descoberta (Figura 15D). Iniciada a
brotação, deve-se retirar a fita plástica e decapitar o porta-enxerto (Figura
15E).
A retirada do escudo de casca pelo uso tão somente do canivete de
enxertia, por mais habilidoso que seja o enxertista, proporciona diferenças
de formato e dimensões deste escudo retirado, respectivamente, no porta-
enxerto e na haste porta-borbulhas. Por isso, para extrair estes escudos de
casca, já existem, hoje, instrumentos cirúrgicos, como furador de couro ou
cartuchos vazios de arma de fogo, tendo suas bases fixadas em um suporte.
Assim, a janela aberta no porta-enxerto terá a mesma dimensão e formato
do escudo do enxerto (Figura 16). Isto concorrerá para tornar esse tipo de
enxertia de execução mais rápida, aproximando ou alcançando o rendimen-
to da escudagem sob casca em “T” invertido.
A retirada da fita plástica é feita por etapas entre os 40 e 60 dias
depois da enxertia. Inicia-se por cortá-la parcialmente, a qual permanece,
de modo frouxo na planta, protegendo a borbulha. Ao mesmo tempo, retira-
se um semi-anel de casca na haste do porta-enxerto a mais ou menos 2 cm
acima do ponto de enxertia e do lado contrário à borbulha, visando forçar a
brotação da mesma. Após o pegamento do enxerto, elimina-se a parte ter-
minal do porta-enxerto, a uma altura de 10 cm acima do enxerto, deixando-
se de 3 a 5 folhas nesta porção do porta-enxerto. Surgindo brotações em
qualquer parte do porta-enxerto, estas devem ser eliminadas, para evitar
concorrência com a borbulha enxertada. Aos 15-20 dias depois da retirada
da fita, a gema do enxerto começa a brotar. É quando se elimina o porta-
enxerto, decapitando-o a aproximadamente 1 cm acima do ponto de enxertia.
Decorridos, aproximadamente, 6 meses da enxertia, a muda, normalmente,
estará formada, apta para tomar sua destinação final.
São José (1992), ao empregar este modelo de borbulhia, alcançou
100 % de pegamento, enxertando ‘Haden’ nos cultivares porta-enxerto
‘Coquinho’ e ‘Carabao’.
Um viveiro com mudas de mangueira, já enxertadas e aos nove me-
ses após a semeadura, pode ser visto na Figura 17.

108
Propagação da Mangueira

Enxertia em plântula ou em caroço


Segundo Manica (2001), trata-se de um modelo de enxertia barato e
muito simples de ser praticado para a propagação da mangueira, tendo apre-
sentado índices entre 75 % e 85 % de pegamento. Já é utilizado por alguns
viveiristas. Por este modelo, as mudas ficam prontas para o plantio no cam-
po em menos de um ano. A plântula (epicótilo) emergida e ereta, apresen-
tando de 12 a 15 cm de comprimento e possuindo folhas, é usada como
porta-enxerto. A garfagem no topo em fenda cheia é a submodalidade de
enxertia mais usual.

Enxertia múltipla
Uma das vantagens da enxertia é permitir a produção de mudas es-
peciais, com vistas a atender, geralmente, pomares domésticos, onde, mui-
tas vezes, o espaço disponível é pequeno, não permitindo plantar várias mudas.
Tal obstáculo pode ser resolvido, formando os porta-enxertos com 3 a 5
ramos vigorosos, bem distribuídos, saindo de pontos diferentes e a uma altu-
ra entre 50 a 60 cm acima do solo; e, quando estes apresentarem as carac-
terísticas padrões de um porta-enxerto normal, serão enxertados, cada ramo
com um cultivar diferente, previamente escolhido. Aconselha-se realizar a
enxertia por garfagem de topo, por formar, mais rapidamente, a copa com
os múltiplos cultivares. Deve-se ter o cuidado de se realizarem desbrotas
freqüentes do porta-enxerto, de modo a não dificultar o crescimento dos
enxertos, visto que estes já enfrentarão uma concorrência natural entre eles.
É importante que se escolha os enxertos com semelhante grau de vigor,
para aquele porta-enxerto, de modo a evitar competição desigual entre eles.
Trata-se de um método pouco prático, mas que gera desejo e curiosi-
dade naquelas pessoas que gostam de frutas, mas que não possuem espaço
suficiente para o cultivo de muitas frutíferas. Poderá vir a ser um método
importante para atender à Fruticultura urbana.
Como discutido anteriormente, o êxito do método da enxertia depen-
de de um elenco de fatores, dentre eles a modalidade e a submodalidade,
com seus mais variados tipos e subtipos. O índice de pegamento geralmente
é alto, tanto pela garfagem, como pela borbulhia, nas suas respectivas
submodalidades e tipos. Entretanto, esse índice será tanto maior, quanto
maior for o adestramento e vivência do enxertista em trabalhar com elas.
Talvez por isso é que as garfagens de topo e as borbulhias por escudagem

109
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

têm proporcionado os mais altos índices de pegamento, razão pela qual são
descritas neste trabalho.
O método de enxertia por garfagem no topo à inglesa simples tem
demonstrado maior vigor inicial do enxerto e, ademais, o ramo enxertado já
se forma na vertical, dando continuidade ao ramo do porta-enxerto (Toda
Fruta, 2004). Já Manica (2001) aconselha utilizar o método de enxertia de
garfagem no topo em fenda. Nas condições de Viçosa-MG, a garfagem de
topo, nas suas três submodalidades, tem mostrado superioridade sobre os
demais modelos de enxertia, seja quanto ao índice de pegamento, seja quan-
to ao vigor e desenvolvimento do enxerto.
Embora a cultura de células e tecidos vegetais constituia um método
de propagação vegetativa, este tema será, por suas particularidades, abor-
dado, separadamente, mais adiante.

Transplantio
A muda obtida por enxertia, formada diretamente no solo do viveiro
ou em recipientes, quando apresentar dois fluxos de crescimento maduros,
estará pronta para ser plantada no pomar ou para ser comercializada. Quando
produzida diretamente no solo do viveiro, a muda formada é arrancada,
embalada e aclimatizada. E, tão logo termine a aclimatização, o que, em
geral, ocorre ao redor de 10 dias, a muda necessita ser plantada prontamen-
te. Após esta fase, as mudas de mangueira, normalmente emitem novos
surtos de raízes, ainda no local de aclimatização. Neste caso, deve-se, en-
tão, cortar a parte exposta das raízes, antes do transporte, armazenando-as
em locais protegidos e irrigando-as, diligentemente, visando recuperá-las
dos estresses.

Sobre-enxertia
Por várias razões, pode-se desejar trocar a variedade copa já forma-
da no pomar, normalmente com vários anos de produção, reaproveitando o
sistema radicular vigoroso do porta-enxerto, o qual deve encontrar-se sem
debilidades biológicas e/ou fisiológicas. Desta forma, podem-se substituir de
forma escalonada as linhas do pomar, sem que essa operação cause uma
queda drástica na produção. Por esse método, transformam-se plantas de
cultivares de baixa produtividade ou com pequeno interesse pelo mercado,
por outras que apresentem características agronômicas de maior valor.

110
Propagação da Mangueira

No final do inverno, efetua-se o corte total da copa a 40-60 cm de


altura. Os cortes devem ser em plano inclinado, para possibilitar melhor
cicatrização e evitar o acúmulo de água, devendo-se protegê-los com o
pincelamento de pasta fungicida à base de cobre. No limiar da primavera,
inicia-se no tronco, uma vigorosa brotação, devendo-se selecionar de 3 a 4
brotações, aquelas mais vigorosas e bem distribuídas, Estas, quando apre-
sentarem diâmetro de 8-12 mm, receberão a enxertia.
Durante o primeiro ano, a planta sobre-enxertada deverá ser inspeci-
onada periodicamente, retirando-se ramos laterais do tronco e conduzindo
os novos ramos enxertados para formação da nova copa. No segundo ano,
a planta sobre-enxertada normalmente inicia a produção, o que representa
uma grande vantagem, pois se substitui um pomar de baixa produção ou
pouco interesse comercial, por um cultivar de alto valor comercial.

4. SISTEMAS INDICADOS PARA PRODUÇÃO DE MUDAS DE


MANGUEIRA

4.1. Sistema de produção em recipientes

Em regiões em que predominam os solos de natureza arenosa, é con-


veniente optar-se pelo sistema de produção em recipientes, sendo as saco-
las plásticas, os mais utilizados. Esta recomendação se deve ao fato de a
mangueira possuir um sistema radicular muito carente de radicelas e sensí-
vel aos choques mecânicos e podas realizados, quando do arranquio da muda,
se essa for produzida diretamente no solo. Assim, uma vantagem desse
sistema, como já mencionado anteriormente, é permitir a semeadura direta-
mente em recipientes (sacolas plásticas ou tubetes), tanto para a produção
da muda pela via seminífera, como pela via vegetativa. Esta opção permite
um menor uso de mão-de-obra; selecionar embriões recém-germinados e
uniformes; separar embriões somáticos, o que resulta em maior uniformida-
de dos porta-enxertos; e acelerar a obtenção do porta-enxerto; apresentar
maior eficiência na formação da muda, devido à redução de tempo (Manica,
2001; Mancin et al., 2004). A produção da muda de mangueira em recipien-
tes apresenta muitas outras grandes vantagens: não depaupera os solos da
propriedade; permite a produção de maior número de mudas por unidade de
área; permite o uso de uma mistura adequada de substratos, para enchi-
111
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

mento dos recipientes, propiciando um rápido desenvolvimento da muda,


sendo esta de qualidade superior; recipiente não entrando em contato com o
solo, a muda não será portadora de patógenos de solo, tampouco de plantas
daninhas de difícil eliminação; haverá redução de gastos com insumos mo-
dernos e com mão-de-obra; não haverá gastos com material de embalagem
e com as operações de arranquio da muda; dispensa o período de
aclimatização da muda e após o arranquio, a muda poderá ser comercializada
para formação de novos plantios em qualquer época do ano, desde que,
para isto, se disponha de sistema de irrigação. Uma das poucas desvanta-
gens seria, por exemplo, necessidade de um sistema mais sofisticado de
irrigação e mão-de-obra mais especializada.
Aspectos da tecnologia de produção de mudas em recipientes, tais
como características dos recipientes, misturas de substratos usadas para
enchimento dos recipientes, desinfecção das mesmas, modos de preparo e
de plantio das sementes, instalações usadas para acondicionar os recipien-
tes, após a semeadura e práticas culturais recomendadas no viveiro, já fo-
ram descritos anteriormente.

4.2. Sistema de produção diretamente no solo do viveiro

Na escolha do local do viveiro, deve-se dar preferência a solos fér-


teis, de topografia plana ou ligeiramente inclinada, bem ensolarados, próxi-
mos a uma fonte de água abundante e de boa qualidade, livres de plantas
daninhas, bem drenados e distantes de plantas adultas. Recomenda-se fa-
zer a análise química e física do terreno, para as correções necessárias.
Como a muda vai ser arrancada com um bloco de solo (torrão) ade-
rido no sistema radicular, devido à sensibilidade deste aos estresses, devem-
se escolher os solos sílico-argilosos ou argilosos, para permitir a retirada das
mudas com blocos inteiros, o que não será possível em solos arenosos, o que
pode prejudicar ou impedir o pegamento da nova muda no campo.

5. PROPAGAÇÃO DA MANGUEIRA IN VITRO

É altamente desejável um método eficiente para a propagação clonal


da mangueira. O cultivo de células e tecidos vegetais constitui uma adequa-
da biotecnologia para a propagação de genótipos superiores, permitindo a
112
Propagação da Mangueira

produção de um número expressivamente elevado de plantas, geneticamen-


te idênticas à planta matriz, em um curto período de tempo e em um reduzi-
do espaço laboratorial.
A propagação clonal in vitro da mangueira tem sido demonstrada,
usando-se duas diferentes rotas: a organogênica e a embriogênica somática.
Sem a pretensão de esgotar o tema, será feito, a seguir, um apanhado geral
dos resultados de algumas das importantes pesquisas, realizadas nestes dois
campos da propagação in vitro da mangueira.

5.1. Organogênese

Um dos grandes problemas para a propagação in vitro da mangueira


é que os tecidos dessa planta, quando excisados, exsudam uma grande quan-
tidade de fenóis. Nas condições in vitro, estas substâncias são considera-
das um dos principais fatores a impedir o estabelecimento da cultura, já que
elas acarretam, em curto período de tempo, necrose dos tecidos adjacentes.
A exsudação de fenóis impede a expressão da habilidade morfogênica
dos explantes nos diferentes meios de cultura. Segundo Reuveni &
Golubowicz (1997), o fenômeno da exsudação de fenóis, aliado à contami-
nação endofítica, é o grande obstáculo para a formação de brotos de man-
gueira in vitro, embora Raghuvanshi & Srivastava (1995), imergindo os
explantes de manga em meio de cultura líquido de Murashige & Skoog
(1962), com adição de polivinilpirrolidona (PVP) a 1 % e sob agitação, te-
nham obtido brotos, quando foram transferidos e cultivados no meio MS
solidificado.
Thomas & Ravindra (1997), ao estudarem a exsudação de fenóis em
brotações mais jovens dos cultivares ´Alphonso‘ e ´Totapuri‘, observaram
que em brotações com 4 semanas de idade, com folhas de coloração cobre
e caule castanho, foram os que exsudaram mais fenóis. Os brotos com 2-4
meses de idade com folhas e caules verdes foram os que exsudaram menos
fenóis para ambos os cultivares estudados. E que a exsudação de fenóis é
também dependente do genótipo.
Chavan et al. (2000) mostraram que brotos apicais, com aproximada-
mente 5 cm de comprimento, extraídos de árvores adultas de mangueira,
foram os que se estabeleceram melhor nas condições in vitro. E que a
imersão desses explantes em solução com 100 mg de ácido ascórbico + 50

113
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

mg de ácido cítrico/100 mL de água destilada, durante 30 segundos, seguida


do cultivo dos mesmos em meio contendo 0,05 % de PVP, foi o método mais
efetivo para reduzir a esudação fenólica.
Sharma & Singh (2002), ao estudarem o efeito do estiolamento de
brotos no conteúdo de fenóis e na atividade da enzima polifenol oxidase
(PPO), observaram que brotos estiolados de manga apresentaram baixa
atividade da PPO e do conteúdo de fenóis, resultando numa maior sobrevi-
vência dos explantes, se comparado aos brotos não estiolados, onde a ativi-
dade da PPO e o conteúdo e fenóis foi maior, resultando numa baixa sobre-
vivência dos explantes.
Com base na literatura revisada, observa-se que, embora a rota
organogênica possibilite a obtenção de brotações, o número de brotos alon-
gados é significativamente baixo, sendo o ataque de fenóis, o grande fator
inibidor do processo. Enquanto este problema não for equacionado, a
organogênese não poderá ser utilizada na propagação comercial dessa fru-
teira.

5.2. Embriogênese somática

Embriões somáticos são semelhantes aos embriões zigóticos e pos-


suem características em comum, incluindo a habilidade para germinar e
formar plantas completas, sem a ocorrência de um desenvolvimento isolado
da parte aérea e da raiz. Porém, os embriões somáticos desenvolvem-se de
células somáticas, podendo dessa forma, dar origem a réplicas de um único
genótipo. Essa característica permite a propagação clonal. Por isso, a
tecnologia com vistas ao uso de sementes sintéticas é muito vantajosa, pois
pode combinar os aspectos da eficiência da semente, se comparado a outra
forma de propágulos, como a produção clonal in vitro através da
embriogênese somática (Gray & Purohit, 1991). Assim, a utilização de
biotecnologias modernas, como a embriogênese somática, tem sido empre-
gada em várias fruteiras tropicais, dentre elas a mangueira (DeWald, 1989a
e b).
A embriogênese somática pode ser considerada como o melhor mé-
todo de propagação massal in vitro de fruteiras, em virtude da alta taxa de
multiplicação; escalonamento da produção pela manutenção da cultura em
meio líquido, o que elimina a dependência de períodos específicos de dispo-

114
Propagação da Mangueira

nibilidade de material propagativo; e plantio direto da muda obtida via


embriogênese somática sem a necessidade de enxertia, com menor custo
de produção, além de a planta ser geneticamente igual à planta mãe, sem as
influências do porta-enxerto (Merkle, 1995, citado por Barros, 1999).
Com a recombinação gênica que ocorre nos processos sexuais nor-
mais é pouca a probabilidade de se recuperarem plantas com característi-
cas da planta original. Existem, por isso, várias estratégias para propagação
clonal, dentre elas, a utilização de tecido nucelar como fonte de explante no
processo de embriogênese somática (Thomas, 1999). Nesse sentido,
Kotalawala (1973) já mencionava que uma característica dos clones
nucelares da mangueira é apresentar um sistema radicular mais adequado
ao transplantio e ao estabelecimento em regiões mais secas.
Litz & Lavi (1997) fazem uma distinção ao empregar a técnica da
embriogênese somática em manga, separando-a em fases distintas: uma
fase inicial de estabelecimento da cultura de embriões, onde os embriões
somáticos podem ser resgatados, tanto de tecido nucelar de óvulos (Litz et
al., 1982), como, também, de frutos imaturos (Litz, 1984); uma segunda
fase, em que os embriões podem ser mantidos em meio líquido em suspen-
são (DeWald et al., 1989a) ou semi-sólido (DeWald et at., 1989b); e, final-
mente passando por uma fase de maturação e germinação. Nas duas pri-
meiras fases, a presença da auxina 2,4-D é fundamental no processo, entre-
tanto, o estímulo à maturação dos embriões somáticos é aumentado com
ausência de 2,4-D (DeWald et al., 1989a e b).
Litz et al. (1982) relatam que a eficiência da embriogênese somática
em tecidos nucelares de manga foi observada em meio líquido com água de
coco (20 % v/v). Informam, ainda, que a embriogênese somática é depen-
dente do cultivar, parecendo estar relacionada com o grau de poliembrionia.
Por exemplo, no cultivar ´Chino‘, considerado altamente poliembriônico, a
embriogênese somática ocorreu em 84 % dos óvulos inicialmente cultiva-
dos, mas no cultivar ´Healt‘, que não apresenta alta poliembrionia, apenas 7
% dos óvulos deram origem a embriões somáticos. Litz & Lavi (1997) tam-
bém informam que, tanto a indução de embriões somáticos em cultivares
monoembriônicos, quanto em poliembriônicos de manga, a partir do tecido
nucelar, é dependente do genótipo. Litz (1984), investigando a embriogênese
somática, a partir de calos monoembriônicos de origem nucelar de frutos
imaturos de manga, já havia observado efeito do cultivar, onde explantes de

115
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

‘Rubi’ e ‘Irwin’ responderam mais favoravelmente à indução de calos, com


52 e 60 % de calos formados, respectivamente. E que somente calos deri-
vados de tecido nucelar de ‘Tommy Atkins’, ‘Ruby’ e ‘Irwin’ diferencia-
ram-se em embriões somáticos, com média de 11,1; 23 e 40 %, respectiva-
mente.
Thomas (1999), avaliando a freqüência de embriões somáticos, pro-
venientes do tecido nucelar de manga monoembriônica ‘Arka Anmol’, ob-
servou que o cultivo de óvulos intactos proporcionava uma maior porcenta-
gem de calos, ou seja, aproximadamente 40 % para o meio MS e 100 %
para os meios B5 e RO, respectivamente, se comparado aos óvulos
excisados.
Litz et al. (1998) trabalharam com explantes nucelares de sementes
imaturas de quatro genótipos, sendo dois considerados altamente
embriogênicos (os poliembriônicos ‘Hindi’ e ‘Parris’) (DeWald et al., 1989;
Monsalud et al., 1995), dois moderadamente embriogênico (monoembriônicos
‘Lippens’ e ‘Tommy Atkins’) (Litz, dados inéditos) e um de difícil resposta
embriogênica (poliembriônico ‘Nam Doc Mai’) (Litz, dados inéditos). Os
explantes foram cultivados em meio contendo ou não a auxina 2,4-D e agre-
gados celulares embriogênicos do cultivar ´Parris`. Esses autores observa-
ram que o potencial embriogênico do cultivar ´Hindi` foi maior do que dos
outros genótipos estudados e, que o meio contendo 2,4-D (4,52 µM) e agre-
gados celulares embriogênicos do cultivar ´Parris` promoveu um maior nú-
mero de embriões somáticos, embora esse tratamento não tenha diferido do
meio com ausência da auxina, mas com a presença do agregado celular.
Observaram, ainda, uma baixa competência embriogênica para os cultiva-
res estudados e, que o desenvolvimento de embriões nucelares provenien-
tes de genótipos monoembriônicos é fortemente reprimido pela presença de
um inibidor. Esan & Murashige (1972) relataram que em cultivares cítricos
monoembriônicos, o inibidor está presente na nucela e, que a embriogênese
somática pode ser inibida no tecido nucelar de indivíduos poliembriônicos,
quando cultivados com tecidos nucelares de indivíduos monoembriônicos.
Tisserat & Murashige (1977a) mostraram que o etileno pode ser considera-
do um inibidor embriogênico em tecidos nucelares de citros e, que tecidos
monoembriônicos produziam níveis mais altos de etileno. Litz & Yurgalevitch
(1997) demonstraram que explantes de óvulos de mangueiras
monoembriônicas produzem níveis muito mais altos de etileno, que explantes

116
Propagação da Mangueira

correspondentes ao tipo poliembriônico. Segundo Litz et al. (1998), a indução


de competência dos explantes nucelares dos genótipos ‘Hindi’ e ‘Lippens’
através do agregado celular embriogênico do cultivar ´Parris`, pode ser
explicada pela produção de um agente extracelular. De acordo com Gavish
et al. (1991) e Kragh et al. (1991), culturas embriogênicas produzem prote-
ínas extracelulares, como a kitinase e, segundo DeJong et al. (1992), certas
kitinases estão envolvidas no desenvolvimento do embrião somático.
Litz & Yurgalevitch (1997) mostraram que a biossíntese de etileno foi
maior em explantes de ‘Tommy Atkins’ no início do cultivo e aos três meses
na presença de ACC. Apesar de o AVG inibir a síntese de etileno, ainda não
se sabe a causa do efeito inibitório que o mesmo promove, quanto a forma-
ção de embriões somáticos. Observaram, ainda, que a inibição do processo
embriogênico ocorre na presença de sulfato de diciclohexilamônio (DCHA),
inibidor da síntese da espermidina; ácido 1-aminociclopropano-1-carboxílico
(ACC), mediador da síntese de etileno e aminoetoxivinilglicina (AVG), inibidor
da síntese do etileno; mas não na presença de metilglioxal bis-
(guanilhidrazona) (MGBG), inibidor da descarboxilação da s-
adenosilmetionina. Isso indica que a competência para indução embriogênica
é mais sensível à atividade da espermidina sintase do que para a atividade
da SAM-descarboxilase. Litz & Schaffer (1987) mostraram a ocorrência
de maiores concentrações de espermidina endógena em tecidos nucelares
de cultivares poliembriônicos (‘Parris’ e ‘Peach’), do que nos
monoembriônicos (‘Irwin’, ‘Keitt’ e ‘Tommy Atkins’). E que o fornecimen-
to exógeno de espermidina foi efetivo para a indução embriogênica de
explantes nucelares poliembriônicos. Neste caso, a utilização da espermidina
resultou na formação de 12 e 8 embriões nos cultivares ‘Parris’ e ‘Peach’,
respectivamente. Entretanto, para os cultivares monoembriônicos, a utiliza-
ção da espermidina redundou na inibição dos mesmos.
Espécies ortodoxas podem passar por um processo de desidratação
e neste caso podem permanecer por muitos anos armazenadas em tempe-
raturas ambiente ou baixa (Roberts, 1973). Em contraste, embriões recalci-
trantes, como em manga, não sobrevivem passando por desidratação ou
armazenamento a baixas temperaturas. Nesse caso, o ácido abscísico (ABA)
aumenta os níveis endógenos de proteínas e ácidos graxos na maturação do
embrião somático, proporcionando, assim, um maior período de
armazenamento (Bornmann, 1993; Janick et al., 1993).

117
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Segundo Finkelstein & Crouch (1987), a alta osmolaridade e o ABA


estimulam a maturação de embriões. Embora tenha sido demonstrado que
níveis altos de osmolaridade sejam benéficos para a maturação do embrião,
isso ainda não está bem esclarecido. Apesar de o aumento de níveis endógenos
de ABA ter ocorrido em resposta a tratamentos osmóticos em cevada (Morris
et al., 1988), isto não foi observado em trigo (Finkelstein & Crouch, 1986).
Assim, Pliego-Alfaro et al. (1996a) mostraram que após 4-8 semanas, ape-
nas a presença de manitol, ou este associado ao ABA, independente da
concentração, inibiu significativamente a expansão dos embriões somáticos
e, que a germinação precoce também foi inibida fortemente depois de 4
semanas com a utilização de ABA (50 e 100 µM) associado com manitol (5;
7,5 ou 10 %). E após 8 semanas, a inibição da germinação se manifestou
mais fortemente com o tratamento com ABA (50 e 100 µM), combinado
com manitol (7,5 ou 10 %).
Pliego-Alfaro et al. (1996b) estudaram o desenvolvimento de embri-
ões de manga do cultivar ´Carabao‘ e observaram que os embriões nucelares
apresentaram alta germinação e desenvolvimento normal do broto, ou seja,
com presença de parte aérea (broto: 7,5 mm) e raiz (30,1 mm) quando na
ausência de ABA. Concentrações de 250 e 500 µM (ABA) resultaram em
15 e 4,8 % de germinação, respectivamente. Mas a germinação foi inibida
com as concentrações de 750, 1250, 1500 e 1750 µM (ABA). O ABA
pareceu inibir a germinação precoce do embrião durante o desenvolvimento
da semente, parecendo, ainda, estar envolvido com a aquisição de tolerân-
cia à dessecação (Kermode, 1990). Carman (1988) e Welbaum et al. (1990)
relatam que a presença do ABA no meio de cultura fez com que embriões
somáticos recalcitrantes de Hevea brasiliensis adquirissem um grau de
tolerância à dessecação semelhante aos ortodoxos. Pence (1992) demons-
trou que níveis endógenos de ABA, durante a maturação de embriões de
cacau, correspondiam a um aumento na produção de lipídios e ácidos graxos.
Segundo Pliego-Alfaro et al. (1996b), a germinação foi inibida completa-
mente, quando ao meio se adicionou 12,5 % de manitol. E o desenvolvimen-
to da raiz e do broto foi inibido, quando se utilizou 10 e 12,5 % de manitol. A
combinação ABA/manitol afetou o desenvolvimento dos embriões maiores
(3,5 cm), mas não dos menores (1,8 cm). Quanto à temperatura, a germina-
ção e o desenvolvimento dos embriões foram inibidos em temperaturas de
7,5 e 15 ºC, ao passo que todos os embriões germinaram em temperaturas

118
Propagação da Mangueira

de 22,5; 30 e 37,5 ºC.


Dewald et al. (1989b) mostraram que a utilização de meio líquido
resultou em embriões somáticos maiores (> 20 mm) do cultivar ´Jaimes
Saigon‘, porém com certas anormalidades como policotilédones, fasciação,
ausência de bipolaridade, necrose e hiperidricidade, se comparado aos em-
briões crescidos em meio sólido, que apresentaram desenvolvimento nor-
mal. Houve uma maior proliferação de embriões somáticos do cultivar
´Parris‘, quando se adicionou ao meio 6 % de sacarose; porém, em meio
contendo 3 % de sacarose em combinação com ABA (3 µM) e água de
coco (20 % v/v), observou-se uma maior freqüência de embriões somáticos
normais. Embriões morfologicamente normais também foram alcançados
com maior freqüência em meio solidificado com gelrite, se comparado ao
agente solidificante difco bacto-agar. A germinação dos embriões somáticos
foi mais eficiente em meio B5 meia-força, contendo água de coco e caseína
hidrolisada. Este trabalho relata a importância de se obterem plântulas nor-
mais e, não apenas a germinação propriamente dita. Essa característica é
de extrema importância na propagação de plantas, principalmente na obten-
ção de porta-enxertos, que neste caso, devem ser os mais vigorosos possí-
veis.
Com base na literatura revisada, verifica-se que, com a atual tecnologia,
já é possível obter culturas de embriões, manutenção destas culturas em
meio líquido em suspensão e, em alguns casos, a maturação e a germinação
desses embriões. Neste último aspecto, entretanto, a formação de plantas
perfeitas ainda continua mostrando um muito baixo rendimento. Porém, uma
vez otimizados os protocolos, a embriogênese somática será, sem dúvida, o
principal método de propagação para esta fruteira, pelas vantagens, anteri-
ormente mencionadas.

119
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

6. REFERÊNCIAS

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mango seedstones. Assiut Journal of Agricultural Sciences, 23(4): 137-
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127
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Figura 1. Sementes de mangueira germina- Figura 2. Eliminador de


das: A. Monoembriônica; B. Poliembriônica endocarpo (Pinto & Genú,
com três plântulas germinadas (Manica, 1981).
2001).

Figura 3. Semente de manga con- Figura 4. Posição correta da amên-


tendo no seu interior a amêndoa. doa para o plantio.

Figura 5. Viveiro formado em fileiras duplas. Mudas produzidas em sacolas


plásticas, sob condições de pleno sol (Toda Fruta, 2004).

128
Propagação da Mangueira

a a

b b

A B

Figura 6. Garfos da mangueira ‘Ubá’ extraídos da extremidade de ramos do


último surto de crescimento (A) e da extremidade de ramos que frutifica-
ram no ano anterior (B). Detalhes das gemas: vista frontal: Ab e Bb; vista
de topo: Aa e Ba.

A
Figura7. Hastes porta-borbulha da mangueira ‘Ubá’
(A). Detalhe da gema (B).

129
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

A B C D

E F G H I J K

L M N O P Q

Figura 8. Garfagem no topo em fenda. Detalhes: da decapitação do porta-


enxerto (A); da realização da incisão no porta-enxerto (B, C e D); do duplo
bisel realizado no garfo (E); da justaposição dos biontes (F); da ligadura-
atadura e proteção (G); da colocação do saquinho plástico (H, I, J e K); da
retirada do saquinho plástico (L); da proteção de todo o garfo com a fita
plástica, em substituição ao saquinho plástico (M e N); da união dos biontes
no ponto de enxertia (O); do pegamento do enxerto (P e Q).
130
Propagação da Mangueira

Figura 9. Garfagem no topo à inglesa simples. Detalhes: do bisel simples no


porta-enxerto e garfo (A e B, respectivamente); da justaposição dos dois
biontes (C); da ligadura-atadura e proteção (D).

A B C D

Figura 10. Garfagem no topo à inglesa com entalhe. Detalhes: da lingüeta


no porta-enxerto (A) e no garfo (B); da justaposição dos dois biontes pelo
encaixe das lingüetas (C); da ligadura-atadura e proteção (D).

131
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

A B C D
Figura 11. Garfagem lateral embutida no alburno. Detalhes: do bisel duplo
desigual no garfo e do entalhe feito no porta-enxerto (A); da justaposição
dos dois biontes (B); da ligadura-atadura e proteção (C); do início da brotação
da gema apical (D).

A B C D

Figura 12. Borbulhia por escudagem sob casca em “T” invertido. Detalhes:
da confecção da incisão em “T” invertido (A); da borbulha (B); da introdu-
ção de borbulha na incisão (C); da ligadura-atadura e proteção (D).

132
Propagação da Mangueira

A B C D

Figura 13. Borbulhia por escudagem imbutida no alburno. Detalhes: da inci-


são no porta-enxerto (A); da borbulha (B); da justaposição dos dois biontes
(C); da ligadura-atadura e proteção (D).

A B C D E

Figura 14. Borbulhia por escudagem imbutida no alburno. Detalhes: da inci-


são no porta-enxerto (A); da borbulha (B); da justaposição dos dois biontes
(C e D); da ligadura-atadura e proteção (E).

133
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

A B C D E

Figura 15. Borbulhia por escudagem imbutida em janela. Detalhes: do re-


tângulo de casca retirado no porta-enxerto (A); do retângulo de casca reti-
rado na haste porta-borbulha, tendo uma gema no centro e a justaposição
dos dois biontes (B); da ligadura-atadura e proteção de toda a borbulha (C)
e deixando exposta a gema (D); da decapitação do porta-enxerto (E).

A B C

Figura 16. Borbulhia por escudagem Figura 17. Viveiro com plantas já
imbutida em janela. Detalhes: do disco enxertadas, aos nove meses após a
de casca retirado no porta-enxerto (A); semeadura (Toda Fruta, 2004).
do disco de casca retirado na haste
porta-borbulha, tendo uma gema no
centro e a justaposição

134
Produção Integrada de Frutas na Cultura da Manga

PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS NA


CULTURA DA MANGA
João Yoshio Murakami – CATI – Casa da Agricultura de Vista Alegre do Alto –
SP, Membro do comitê gestor do PIF – Manga.
e-mail: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

A manga é uma fruta da família das Anacardiáceas, sendo cultivada


em várias partes do mundo como a Índia, China, México, Tailândia, Paquistão,
Filipinas, Nigéria, Gâmbia e Brasil, segundo dados da FAO (2003).
O mundo produz cerca de 25 milhões de toneladas de manga e o
Brasil, com uma produção de cerca de 968.942 toneladas (AGRIANUAL
2003), ocupa a 17 ª colocação, possuindo a vantagem de produzir na
entressafra dos principais países produtores e exportadores, daí o bom de-
sempenho das exportações de manga nos últimos anos (CINTRA &
BOTEON, 2002 e CAMPOS, 2003). A manga possui grande importância
econômica pelo potencial de exportação e em 2001, liderou o ranking do
faturamento entre as frutas frescas brasileiras exportadas, gerando divisas
de U$ 50,8 milhões (SECEX, 2002) e U$ 103 milhões em 2002 (PINAZZA,
L. A.,2003). As exportações de manga ocorrem em maior expressão nos
meses de agosto a dezembro para os Estados Unidos e União Européia e,
em menor volume, no primeiro semestre para a União Européia (CINTRA
& BOTEON, 2002).
No Brasil, a manga ocupava uma área de 67.591 hectares com uma
produção de 842.349 toneladas de frutas no ano de 2002, com um valor da
produção, em torno de R$ 311 milhões (IBGE, 2003). Destacam-se neste
cenário, as regiões nordeste e sudeste, com 54 e 40 % da área total respec-
tivamente, envolvendo principalmente a Bahia, Ceará, Pernambuco, São
Paulo e Minas Gerais. A área plantada no ano de 2003 cresceu 30 % no
nordeste e entre 5 a 10 % no sudeste, impulsionada pela boa aceitação da
fruta no mercado externo, segundo SEBASTIANI (2003).

135
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

No Estado de São Paulo, a área de plantio era de aproximadamente


23.000 hectares (IEA, 2003). Há forte tendência de crescimento, devido ao
desestímulo da área citrícola, pela baixa remuneração e surgimento de no-
vos problemas fitossanitários (C.V.C. , greening , morte súbita ) e interesse
de importadores de suco da manga , utilizando as cultivares mais comuns no
estado como a Tommy Atkins e Palmer.

2. PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS – PIF

É um sistema de exploração agrícola que busca produzir alimentos e


outros produtos de alta qualidade, mediante o uso dos recursos naturais e
tecnologias apropriadas, capazes de minimizar o uso de insumos poluentes e
assegurar uma produção sustentável a preços competitivos.

3 . POR QUE PIF?

A necessidade da PIF é porque o mercado europeu exigiu certificação


quanto à inocuidade alimentar das frutas temperadas desde 2003 e para
todas as outras frutas, a partir de 2005.
Houve muitas mudanças no mundo nas duas últimas ou três décadas
nas áreas sociais , econômicas, governamentais, agrícolas, relações entre
as pessoas e relações com o ambiente ao nosso redor. Muitos países abri-
ram as portas para a importação de frutas de outros centros produtores

4. FATORES DETERMINANTES PARA A IMPLANTAÇÃO DA


PRODUÇÃO INTEGRADA.

• Uso abusivo de agroquímicos;


• Aumento da resistência das pragas e doenças aos agrotóxicos;
• Contaminação dos produtos produzidos;
• Contaminação dos aplicadores de agrotóxicos;
• Contaminção ambiental;
• Exigência do mercado consumidor.

136
Produção Integrada de Frutas na Cultura da Manga

5. OBJETIVOS

• Consolidação de padrões de qualidade e competitividade, conforme


requisitos internacionais.
• Avanço da capacidade produtiva e gerencial.
• Ampliação de mercados interno e externo.
• Expansão da produção e renda do setor frutícola.
• Capacitação tecnológica em sistemas integrados de produção,
sustentabilidade ambiental e segurança alimentar.

6. AÇÕES PRIORITÁRIAS

• Desenvolvimento tecnológico.
• Produção de mudas certificadas.
• Promoção de frutas para os mercados interno e externo.
• Produção integrada de frutas – PIF.
• Capacitação do setor frutícola.
• Desenvolvimento tecnológico.

7. ESTRATÉGIA DE AÇÃO

• Base estratégica: modelo de parceria e desenvolvimento integrado com


agentes da cadeia das frutas.
• Agentes integrantes: setor público e setor privado.

8. PÚBLICO ALVO

• Agentes da produção, do processamento, da distribuição e da


comercialização de produtos frutícolas.
• População das regiões dos pólos frutícolas.
• Consumidores finais.

137
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

9. DIRETRIZES GERAIS DA PIF

• Principíos básicos
-sustentabilidade ambiental
-saúde humana
-fatores sociais
-viabilidade econômica
-avaliação da conformidade
-rastreabilidade.
• Sistema de Adesão voluntária de produtores e empacotadoras.

10. A PIF BUSCA

• Proteger a saúde do consumidor.


• Proteger a saúde do trabalhador.
• Preservar o meio ambiente.
• Assegurar a qualidade da água.

• Insumo: usada na :
-Pulverização
-Irrigação
• Superficial e profunda
• Garantir a qualidade interna da fruta produzida.
• Assegurar a receita do produtor.

11. PIF NO BRASIL – INSTRUMENTOS NORMATIVOS

A PIF é fundamentada na Instrução Normativa MAPA/20 – Diretri-


zes Gerais da Produção Integrada de Frutas , publicada no DOU do dia 15/
10/2001.

• A Instrução Normativa MAPA/ SARC/12 , DOU 13/12/2001 – fala so-


bre definições e conceitos para os efeitos da PIF, como o Regulamento
da Avaliação da Conformidade:

138
Produção Integrada de Frutas na Cultura da Manga

• Sistema de Avaliação da Conformidade sob o regime da PIF.


• Selo da Conformidade.
• Sistema de Rastreabilidade.

12. NORMAS TÉCNICAS GERAIS PARA A PIF.

Áreas Temáticas
• Capacitação
• Organização
• Material propagativo: implantação de pomares
• Nutrição
• Recursos naturais: manejo e conservação do solo
• Recursos hídricos e irrigação
• Manejo da parte aérea
• Proteção integrada da planta
• Colheita e Pós – colheita; Análise de resíduos
• Processo de empacotadoras
• Sistema de rastreabilidade e cadernos de campo
• Assistência técnica

13. DIVISÃO DAS ÁREAS TEMÁTICAS

• Obrigatórias
• Proibidas
• Recomendadas
• Permitidas com restrição

14. CARACTERÍSTICA DA PRODUÇÃO INTEGRADA

• Não renuncia a nenhuma tecnologia


• Emprega a mais apropriada para cada ocasião
• Respeita o meio ambiente e o aplicador de agroquímicos, utilizando os
menos tóxicos, mais específicos, menos persistentes e menos agressivos
aos inimigos naturais.
• Utiliza, sempre que possível, o controle biológico, favorecendo a fauna
auxiliar. Prioriza o emprego de inseticidas biológicos e feromônios, assim
139
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

como o acompanhamento do ciclo biológico das pragas, como medida de


proteção fitossanitária;
• Realiza estudos de solo, clima e água para racionalizar as práticas cultu-
rais, não abusando dos adubos químicos, primando pelo uso de adubos
orgânicos (buscando o máximo equilíbrio da planta), utilizando as varie-
dades mais adaptadas, sistemas de irrigação que economizem água e
melhorem a produtividade;
• Realiza práticas conservacionistas de manejo do solo e da água;
• Organiza a cadeia produtiva e de comercialização das frutas (cadeia
agroindustrial).

15. PARA CONSEGUIR ISSO A PIF UTILIZA A PROTEÇÃO


INTEGRADA DAS PLANTAS. (PIP)

A PIP tem três fases:


• Prevenção
• Monitoramento e Previsão
• Controle

Prevenção: é onde recai toda a ênfase do processo.


Na prevenção são importantes:

• Otimização do uso dos recursos naturais


• Práticas de cultivo sem impactos negativos sobre o agro-sistema
• Proteção e aumento da população de antagonistas, como artrópodes,
fungos e vegetais benéficos.

A decisão de aplicar medidas diretas de controle deve-se basear em:


-Sistemas de Monitoramento e Previsão

• Monitoramento: Manejo Integrado de Pragas – MIP


• Previsão: Modelos Epidemiológicos e de Prognóstico ( época de
ocorrência e risco ) e Estação de Aviso.

Controle: Uso de medidas de controle que agem exclusivamente so-


bre os organismos alvos (pragas, doenças, plantas invasoras).

140
Produção Integrada de Frutas na Cultura da Manga

Medidas biológicas: uso de predadores (inimigos naturais)


Medidas biotecnias: uso de macho estéril
Uso de agroquímicos seletivos: feromônios

A aplicação de medidas menos seletivas somente quando os passos


anteriores não evitarem a ocorrência de danos a níveis inaceitáveis: -
Agroquímicos semi-seletivos : Bacillus thuringiensis

- Agroquímicos não seletivos, mas de pequena persistência

16. O MIP COMO MÉTODO DE MONITORAMENTO DA PO-


PULAÇÃO DE PRAGAS

Princípios:

- Existe equilíbrio na natureza


- Todas as pragas têm inimigos naturais
- A agricultura rompe este equilíbrio
- A aplicação de defensivos químicos agrava ainda mais este desequilíbrio
- Todas as plantas toleram um certo nível de ataque de seus inimigos.

17. ANTES DE APLICAR UM DEFENSIVO DEVE-SE:

- Levantar o nível populacional da praga presente no pomar


- Verificar se essa população está acima do limite máximo aceitável
- Verificar as condições ambientais
- Aplicar o produto mais específico possível para o organismo a ser contro-
lado, seja ele praga ou planta daninha.

REFERÊNCIAS

ANN, P.J. Effect of climate on development of mango bacterial spot and


chemical control. Plant Pathology Bulletin, v.2, n. 1 , p. 12 – 19, 7 ref.
1993, disponível em : CAB Abstracts. Acessado em 23/03/2004.

141
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

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2001/2002. Disponível em http://www.anvisa.gov.br. Acessado em 09/01/
2004
CAMPOS, E.M. Análise econômica da produção de manga na região do
Escritório de Desenvolvimento Rural de Jaboticabal. Trabalho de Gradu-
ação apresentado à F.C.A. V ./UNESP, para graduação em Agrono-
mia. Dezembro,2003, 102 p.
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Banco
de Dados agregados: agricultura. Disponível em : http://www.ibge.gov.br.
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INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Levantamento Subjetivo.
Disponível em http://www.iea.sp.gov.br. Acessado em 29/12/2003
LEVANTAMENTO UNIDADES DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
. LUPA – Estatísticas Agrícolas. CATI/ IEA – Secretaria da Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo, 1997.
PINAZZA, L. A . A arrancada exportadora. Revista Agroanalyseis. Rio
de Janeiro, v. 23, n. 3 , p. 53-55, 2003
SEBASTIANI, R.E.G. Manga – Setor enfrenta baixa rentabilidade em 2003.
Revista Hortifruti Brasil, dezembro, pg 16 .
SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR SECEX/MDIC. Dados de
exportação. Sistema Alice Web. Disponível em http://
www.portalexportador.gov.br Acessado em 10/06/2003

142
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E TRATOS


CULTURAIS NA CULTURA DA MANGUEIRA.
Aparecida Conceição Boliani¹
e Luiz de Souza Corrêa²

1. INTRODUÇÃO

A cultura da mangueira tem sua vida útil relativamente extensa. Des-


sa forma, se for adequadamente instalada e mantida, continua a produzir
lucrativamente durante um período relativamente longo. Seu plantio requer,
portanto, um bom planejamento através de cuidadosa escolha do local, ade-
quado preparo do solo e criteriosa seleção do material, a fim de proporcio-
nar produção uniforme, fruto de boa qualidade, rápida comercialização da
safra e retorno econômico seguro.
O ditado popular de que a mangueira não requer cuidado especial no
plantio e que cresce e produz satisfatoriamente mesmo sem realização de
tratos culturais adequados é errôneo. Na realidade, a mangueira responde
de forma benéfica ao uso de tratos culturais adequados.
No Brasil, esta cultura se desenvolveu de forma muito rudimentar,
conseqüentemente a mangicultura caracterizou-se por apresentar baixa pro-
dutividade e má qualidade dos frutos, resultando na redução do consumo,
sendo este, inversamente proporcional ao volume produzido.
Atualmente, em função da exigência dos mercados externo e interno
e graças ao grande esforço das pesquisas e do setor produtivo na geração e
na adaptação de novas técnicas, têm sido obtidos como resultados: produ-
ção de frutos de melhor qualidade, possibilidade de produção de frutos o ano
todo em determinadas regiões e aumento da exportação dos frutos.

¹ Prof.Adjunto do Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio-Economia da


UNESP Campus de Ilha Solteira. Av. Brasil, 56. CEP 15385-000 Ilha Solteira, SP.
[email protected]
² Prof.Titular do Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio-Economia da
UNESP Campus de Ilha Solteira. Av. Brasil, 56. CEP 15385-000 Ilha Solteira, SP.
[email protected]

143
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O cultivo da mangueira, assim como de outras frutíferas perenes, as


quais proporcionam a sua exploração por um período relativamente longo,
onde a inversão de capital é bastante significativo e amortizado a longo
prazo, deve ser bem planejado em todos os aspectos. Um pomar bem plane-
jado, com formação das mudas, plantio e tratos culturais adequados deter-
mina o sucesso do investimento.

2. PLANEJAMENTO

Um pomar bem planejado e instalado possibilita o sucesso do empre-


endimento e certamente será altamente rentável. Por outro lado, um pomar
instalado sem um adequado planejamento refletirá todos os erros cometidos
em sua implantação, aumentando e acumulando custos ou mesmo prejuízos,
ano após ano, durante toda sua vida útil (KAVATI, 1996, p.73).
Inúmeros fatores afetam a exploração da cultura da mangueira, en-
tretanto dentro do planejamento de implantação da cultura, deve-se estar
atento a:
- Estudo do mercado: os aspectos relativos à comercialização
(sazonalidade de oferta e preços), malha para transporte, mercado (interno
e externo) in natura e para produtos da industrialização;
- Controle da época de produção: conhecimento das condições
edafoclimáticas, escolha adequada de cultivares e tratos culturais visando
ampliar a frutificação e o período de colheita dos frutos;
- Rendimento: levar em consideração aspectos relativos a redução
de copas com vistas ao uso de densidades maiores de plantas por área,
através do uso de porta-enxertos ananicantes, poda, anelamento e produtos
químicos;
- Cultivares: procurar promover diversificação, uma vez que a maio-
ria dos pomares são de Haden e Tommy Atkins, o que torna a mangicultura
muito vulnerável. A escolha deverá considerar tolerância ou resistência a
doenças e pragas, produtividade, qualidade do fruto e características ade-
quadas ao processamento.
O planejamento adequado de um mangueiral deve ser feito com an-
tecedência, de forma ordenada, realizando estudos básicos, os quais orien-
tem um plano de exploração da propriedade, cujos procedimentos podem

144
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

viabilizar ou inviabilizar o agronegócio. Esses estudos básicos compreen-


dem o levantamento das condições climáticas; características físico-quimicas
do solo; disponibilidade de recursos hídricos; infra-estruturas; etc. Os vários
aspectos envolvidos na implantação de um mangueiral, de forma individual
ou com fruta, são importantes na produção de frutos e serão descritos a
seguir:

2.1. Climáticos

Neste aspecto, de acordo com KAVATI (1996, p.74), vários autores


consideram que para as condições brasileiras, a extensão territorial disponí-
vel favorável à cultura é bastante extensa, visto que toda a região ao norte
do paralelo 25° Sul pode ser cultivada, evitando-se apenas as regiões frias
por excesso de altitude ou solo pouco profundo, excessivamente compacto
ou encharcado.
A mangueira é planta originária da Ásia Meridional e Arquipélago
Indiano, região de clima tropical, caracterizada por uma alternância bem
nítida de estações secas e úmidas. Nessas condições, a planta tem desen-
volvimento vegetativo adequado no período das águas e florescimento e
frutificação no período seco. O período seco deve ocorrer um pouco antes
da época do florescimento e, para melhores resultados, deve continuar du-
rante esta fase, até o início do desenvolvimento dos frutos. Este período
seco tem forte influência na diferenciação das gemas vegetativas e florais,
evitando os riscos de ataque de fungos nas flores e nos frutos (KAVATI,
1996, p. 74; SIMÃO, 1998, p. 600).
A mangueira, embora tolere ampla variação de condições climáticas,
o êxito de seu plantio em escala comercial somente é possível dentro de
certos limites específicos e bem definidos de temperatura e precipitação
pluviométrica, pois as condições atmosféricas exercem notável influencia
sobre a produtividade e a qualidade dos frutos (MEDINA et al., 1981. p.
112).

145
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

TEMPERATURA

Dos fatores climáticos, a temperatura é um dos mais importantes,


pois, além de controlar os processos vitais da planta, constitui um dos princi-
pais fatores determinantes da produção. Os limites mínimos e máximos são
os mais importantes. E a mangueira, neste caso, tolera temperaturas desde
0 até 50°C. Temperaturas inferiores a 2°C causam danos elevados em ár-
vores adultas e podem provocar a morte de plantas jovens. Temperaturas
altas não prejudicam, porém, se acompanhadas de vento e baixa umidade
relativa, os danos poderão ser elevados no período de frutificação (SIMÃO,
1998, p. 600).
A variação média de temperatura para um ótimo crescimento da
mangueira situa-se entre 24 a 30°C. A temperatura, além de agir sobre o
florescimento, influencia a época de colheita, antecipando ou retardando
(SIMÃO, 1998, p. 601).
As baixas temperaturas durante o florescimento impedem a abertura
das flores e o desenvolvimento do tubo polínico, podendo em alguns casos,
provocar o aparecimento de frutos partenocárpicos. No Estado de São Paulo,
seu efeito se faz sentir sensivelmente nas floradas de maio e junho, no in-
verno, as quais normalmente não chegam a frutificar (SIMÃO, 1998, p.
600).
A mangueira é muito afetada por geadas e os danos dependem de
vários fatores, como a idade da árvore, o teor de umidade do solo e o estádio
de crescimento da planta (ativo ou dormente), além da época, severidade e
duração da geada. Geralmente, as árvores jovens com lenho imaturo e aque-
las em crescimento muito ativo são mais severamente afetadas do que as
árvores mais desenvolvidas e de lenho maduro e aquelas em estado dor-
mente. Diferença de 2 a 3°C é comumente admitida, o que significa que as
mangueiras em crescimento ativo, podem ser afetadas a 10°C, enquanto
aquelas em estádio de dormência podem suportar temperatura tão baixa
como – 1°C, durante curto período. Mangueiras idênticas em crescimento e
idade e crescendo em solos secos são também severamente danificadas
quando comparadas com aquelas crescendo em solo úmido (MEDINA et
al., 1981, p. 113).

146
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA

A mangueira vegeta e frutifica em áreas onde a precipitação varia de


240 a 5.000 mm. Os limites da precipitação pluvial com que a mangueira
pode ser cultivada com êxito são amplos, vagos e variáveis. Sob temperatu-
ra favorável e precipitação tão baixa, como 200 a 250 mm, mas com uso de
irrigação, a mangueira pode crescer com sucesso. Também desenvolve bem
sob boas condições de drenagem e de precipitação tão alta como 1.900 a
2.500 mm ou mais. A quantidade de precipitação em si não parece ser
significativa, mas, sim, sua distribuição é que tem grande importância
(MEDINA et al. 1981, p. 115).
A mangueira produz mais e frutos de melhor qualidade nas regiões
onde ocorre uma estação seca bem definida durante o período de
florescimento e frutificação da planta, isto é, as melhores regiões para a
implantação da cultura comercial da mangueira são aquelas onde uma es-
tação chuvosa alterna com um período de seca pronunciada durante o perí-
odo de florescimento do ano. A estação seca é importante, pois provoca
uma dormência temporária que é necessária para prevenir excesso de cres-
cimento vegetativo às expensas da produção de flores durante o período
normal de florescimento. A flor da mangueira é bastante delicada e facil-
mente danificada pelo clima úmido. Além disso, no período chuvoso, os
insetos polinizadores tem suas atividades afetadas e não há polinização. A
falta de agentes de transferência é considerada um dos fatores importantes
que afetam a frutificação (MEDINA et al. 1981, p. 115).
A mangueira necessita de maiores quantidades de água na fase de
planta nova, da planta adulta quando em pleno crescimento vegetativo, na
fase de frutos já vingados e aumentando de tamanho e peso; de menor
quantidade de água disponível no período de repouso vegetativo, para esti-
mular um intenso florescimento, e no período de florescimento, para evitar
prejuízos que podem ser causados pelas doenças, prejudicar as atividades
dos insetos polinizadores, causar injúrias nos estigmas e um baixo vingamento
dos frutos. Na fase final da formação, no desenvolvimento e amadureci-
mento dos frutos, a planta necessita de água disponível no solo, porém de
pouca chuva, para não ocorrerem manchas nos frutos, rachaduras, baixo
teor de sólidos solúveis totais, de péssima qualidade para o consumo e de
baixo valor comercial (MANICA, 2001, p. 55).

147
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

As chuvas lavam os grãos de pólen, além de proporcionar o apareci-


mento, principalmente de doenças fúngicas.
As regiões onde a precipitação se situa entre 800 a 1.300mm anuais,
desde que apenas pequena parte ocorra durante o período de florescimento,
parecem ser ideais para a implantação da cultura.
Embora a mangueira seja considerada uma planta bastante resistente
à seca, alguns estudos têm demonstrado que a mesma apresenta maior
crescimento vegetativo, maior retenção de frutos e conseqüentemente, maior
produtividade sob condições de irrigação. A água no solo afeta o cresci-
mento da parte aérea e do sistema radicular, ou seja, à medida que se reduz
a sua disponibilidade, diminui sensivelmente o crescimento da planta, sendo
as raízes menos afetadas que as brotações da parte aérea (CASTRO NETO,
1995, p. 83).
Segundo WHILEY & SCHAFFER (2000, p. 147), a grande tolerância
da mangueira à seca é reforçada por aspectos peculiares de sua fisiologia, em
relação ao seu comportamento hídrico. Destes fatores, destacam o sistema
radicular profundo, raízes superficiais resistentes ao dessecamento e sistemas
de canis de látex, que conferem à mangueira, capacidade de sobrevivência
em ambientes de extrema deficiência hídrica, alta demanda evapotranspiratória
por períodos prolongados, como ocorre em regiões tropicais.
O estresse hídrico tem sido considerado por vários autores como um
dos fatores de indução floral da mangueira. Dentre eles, NÚÑEZ-ELISEA
& DAVENPORT, 1994, p. 57 e SCHAFFER et al., 1994, p.165. A aplica-
ção do estresse hídrico sob condições de temperaturas noturnas abaixo de
15ºC não aumentou a proporção de gemas reprodutivas, quando comparado
com o tratamento irrigado, provocando, entretanto, iniciação rápida na
brotação das gemas. Tais resultados sugerem que baixas temperaturas pro-
porcionaram condições necessárias para a indução, enquanto a irrigação,
nessas condições, acelerou a brotação das gemas (NÚÑEZ-ELISEA &
DAVENPORT, 1994, p. 57).
O principal impacto do estresse hídrico na mangueira é o de conter os
fluxos vegetativos. A idade acumulada dos ramos é maior nas árvores
estressadas que naquelas sob condições ótimas de disponibilidade de água
(DAVENPORT & NUNEZ-ELISEA, 2000, p. 69).
O atraso na brotação das gemas, causado pelo estresse hídrico, pode
aumentar o tempo para acumulação do estímulo floral (SCHAFFER et al.
1994; DAVENPORT & NUNEZ-ELISEA, 2000, p.69).
148
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

UMIDADE RELATIVA

A umidade relativa do ar durante o ciclo da cultura da mangueira é


bastante importante, por favorecer o aparecimento de doenças fúngicas.
Quando altos valores de umidade relativa estão associados a temperaturas
elevadas, ocorre maior incidência de doenças fúngicas, provocando danos
econômicos, podendo, às vezes, inviabilizar a produção comercial de frutos,
(LIMA FILHO et al., 2002, p. 44).
Durante o período de repouso vegetativo, a umidade relativa pode ser
baixa, sem causar prejuízos à mangueira. A umidade relativa alta pode pre-
judicar as flores e os frutos pela possibilidade de um mais intenso ataque da
antracnose (Colletotrichum gloesporioides). Por outro lado, nos períodos
muito secos, com baixa umidade relativa, seguidos de períodos com aumen-
to imediato da umidade relativa, aparecem nas plantações muitos frutos
rachados, uma vez que o aumento do volume da polpa é mais intenso do que
a expansão externa da casca, causando o seu rompimento. Geralmente es-
ses frutos são facilmente atacados por doenças, prejudicando o seu desen-
volvimento e o seu completo amadurecimento (MANICA, 2001 p. 57).
Em anos excessivamente úmidos na época da florada, a produção
pode ser parcial ou totalmente perdida. Condições úmidas e tempo enco-
berto quando as mangueiras estão em pleno florescimento, mesmo que não
ocorram chuvas, são muito prejudiciais (SIMÃO, 1998, p. 603).

VENTOS

Ventos intensos causam grandes prejuízos pela queda de flores e fru-


tos, que provocam. Por isso, regiões livres de ventos fortes devem ser pre-
feridas para o estabelecimento das plantações. Os prejuízos causados pelo
vento podem exceder a mais de 20% quando os frutos se encontram em
fase final de desenvolvimento (SIMÃO, 1998, p. 602).
As perdas provocadas pelo vento dependem da sua freqüência, da
fase da planta (florescimento, frutificação, dormência) e da densidade de
plantio. Quando uma planta está em pleno florescimento, vingamento dos
frutos ou com ramos muito carregados de frutos, os ventos intensos causam
grandes quedas de flores e de panículas, aparecendo muitos ramos quebra-
dos e redução de frutos nas plantas, devido à sua queda, além de depreciar

149
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

os frutos, por provocar lesões na sua casca, devido ao atrito com as folhas
e ramos, principalmente quando os frutos estão bem pequenos e com a
casca extremamente delicada (MANICA, 2001, p. 57).
Os ventos constantes, ainda que de baixa velocidade, afetam as man-
gueiras pelo excesso de evaporação da água do solo, principalmente nos
locais onde a precipitação é fator limitante. Ventos de 10 a 29 metros por
segundo podem causar prejuízos, que às vezes ultrapassam 20% da produ-
ção. (MEDINA et al. 1981, p. 120).

INSOLAÇÃO

A mangueira é uma planta exigente em radiação solar para poder


florescer, fixar os frutos e permitir o seu pleno desenvolvimento. A densida-
de do plantio deve permitir penetração de sol nas mudas adultas, devendo-
se evitar plantios muito densos, onde as plantas podem florescer abundante-
mente, mas sem frutificar, pela ausência de insolação direta. As
inflorescências na mangueira surgem abundantemente ao redor da copa, na
sua parte externa, praticamente sem flores na parte mais interna da planta.
Tem sido comprovado que em locais de maior insolação ou nas plantas bem
formadas com maior intensidade de luz na sua parte interna, os frutos são
de maior tamanho, em maior quantidade e de coloração muito mais intensa
na parte externa da casca em comparação com os frutos de plantas em
locais de menor insolação ou de mudas muito fechadas com grande dificul-
dade de penetração de luz na sua parte interna (MANICA, 2001, p. 55).
Locais sujeitos à nebulosidade por períodos prolongados interferem
na porcentagem de pegamento dos frutos. As nuvens afetam a safra pela
interceptação do calor do solo, causando assim em alguns casos, queda de
flores e frutos pequenos. A neblina assim como o orvalho também causam
prejuízo. (MEDINA et al., 1981, p. 119).

ALTITUDE

A mangueira cresce em altitudes desde o nível do mar até 1300 m,


nas regiões tropicais, porém, não pode ser cultivada em escala comercial
em localidades acima de 650 m (MEDINA et al., 1981, p. 117).
A altitude do local a ser implantado com mangueira deve ser também
150
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

considerada, uma vez que a temperatura pode exercer papel importante na


produção dos frutos. De maneira geral, considera-se que altitude superior a
600 m não é adequada para a cultura (KAVATI, 1996, p. 75).
Acima desta altitude, as mangueiras podem crescer, mas raramente
produzem safras rentáveis. Na maioria dos casos, são severamente afeta-
das pelas temperaturas baixas de inverno e o florescimento e frutificação
são sensivelmente prejudicados, além da grande dificuldade que se tem em
estabelecer as plantas novas (MEDINA et al., 1981, p. 117).
Normalmente, para cada 150 m de aumento na altitude, a temperatu-
ra baixa um grau centígrado, geralmente ocorrendo um atraso de 5 dias no
período de floração e amadurecimento dos frutos. A altitude atrasa a floração
em 4 dias a cada 120 metros, como a latitude retarda a floração em 4 dias
para cada grau (MANICA et al., 2001, p. 56).
Por outro lado, em regiões de maior altitude, existe a possibilidade de
colher frutos maduros mais tarde, garantindo melhor preço médio para o
produtor, como para a industria, que pode receber frutos durante um período
maior durante o ano. Com uma combinação de variedades e locais de plan-
tio em regiões de maior ou menor altitude, é possível, oferta de frutos por
um período maior (MANICA, 2001, p. 56).

2.2. Edáficos

A mangueira, de acordo com vários autores, é considerada uma das


plantas mais rústicas, adaptando-se aos mais variados tipos de solo, quer
sejam arenosos, argilosos, porém com a ressalva de serem profundos, per-
meáveis, drenados e ligeiramente ácidos (SIMÃO, 1998, p. 603).
Os solos alcalinos não são muito favoráveis e quando muito alcalinos
danificam a mangueira, que, dependendo do teor de sais de certos perfis,
pode vir a apresentar sintomas de clorose (MEDINA et al., 1981, p.119).
Os solos excessivamente argilosos e pouco profundos devem ser
evitados, a menos que se realize um excelente serviço de drenagem, pois a
mangueira não tolera solo encharcado, preferindo os solos secos aos úmi-
dos. Por outro lado,os arenosos, embora valiosos, muitas vezes deixam a
desejar, por reterem pouca umidade, impedindo o pegamento dos frutos,
quando o período de estiagem se prolonga por três a quatro meses após o
florescimento (SIMÃO, 1998, p. 603).

151
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Solo com pH entre 5,5 e 7,5 é considerado o mais adequado para a


mangueira (MEDINA et al., 1981, p.119).
Como a mangueira é uma planta com sistema radicular muito amplo,
deve-se levar em consideração a natureza do subsolo e também o nível
freático, que deve se situar abaixo de 1,8-2,5m. Vários autores mencionam
que os solos profundos (2,0 a 2,5m) são os mais indicados para a cultura
(MANICA, 2001, p.63).

3. LOCALIZAÇÃO DO POMAR

A área onde será instalado o pomar deve ser selecionada conside-


rando: aspectos climáticos, edáficos, existência de infra-estruturas tais como
a vias de acesso, as quais devem permitir circulação de veículos durante o
ano todo, disponibilidade de mão-de-obra, principalmente no período da co-
lheita; disponibilidade de água em quantidade e qualidade, com facilidade de
captação, além de restrições fitossanitárias, etc. Fatores que influenciarão
de forma direta nas práticas culturais e no escoamento da produção (KAVATI,
1996, p.77).
Áreas castigadas por ventos fortes ou frios devem ser evitadas, pois,
às vezes, podem impedir o êxito comercial da cultura.

4. DISTRIBUIÇÃO DOS TALHÕES, CARREADORES E ES-


TRADAS.

Para o planejamento dos talhões e do sistema de plantio a ser adota-


do, vários fatores devem ser levados em consideração: declividade e con-
formação do terreno; tipo de solo (se arenoso e, portanto, mais sujeito à
erosão, deve-se tomar mais cuidados conservacionistas); eliminar, sempre
que possível, linhas mortas que dificultam os tratos culturais, dentre eles, a
irrigação; deve-se considerar a possibilidade de irrigar futuramente deter-
minados talhões, levando em conta o sistema que poderá ser adotado (as-
persão, canhão, autopropelido, etc); existência de estradas e divisas que
poderão ser utilizadas para a demarcação das glebas; esquematizar as pro-
priedades sempre pensando em expandiu a cultura, preparando os talhões
limítrofes para uma eventual ampliação.

152
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

Os talhões que serão implantados dependem da declividade e da uni-


formidade do terreno. Dessa forma, podem existir 3 tipos de talhões: talhões
quadrados (Figura 2), talhões retangulares (Figura 2) e talhões irregulares.
Os talhões retangulares são mais indicados para terrenos planos ou com
pequena declividade (5 a 6%), uniformes, e, portanto, pouco sujeitos à ero-
são. Os talhões irregulares são utilizados em terrenos irregulares, que apre-
sentam mais de uma declividade e são mais sujeitos à erosão. Os carreadores
podem ser contínuos, quando o terreno é plano ou com pouca declividade ou
desencontrados (Figura 3), quando há desnível acentuado em um sentido,
evitando que carreadores muito longos funcionem como canais de escoa-
mento das águas de chuvas e causem sérios problemas de erosão. Os
carreadores principais são locados em nível ou com desnível de (1,5%) (1,5
m por 100metros), para evitar o acúmulo de água. Os carreadores secundá-
rios ou pendentes são sempre desencontrados, obedecendo a uma inclina-
ção de mais ou menos 4 5° em relação aos principais e não devem ter mais
que 200 metros, se a declividade for muito acentuada ( DE NEGRI &
BLASCO, 1991, p. 321)

Fonte: DE NEGRI & BLASCO (1991)


Figura 1. Talhões quadrados com carreadores contínuos.

Fonte: DE NEGRI & BLASCO (1991)


Figura 2. Talhões retangulares com carreadores contínuos.

153
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Fonte: DE NEGRI & BLASCO (1991)


Figura 3. Talhões quadrados com carreadores desencontrados.

Fonte: DE NEGRI & BLASCO (1991)


Figura 4. Talhões irregulares com carreadores desencontrados.

5. DIMENSÃO DOS TALHÕES

Os talhões não devem ser muito grandes por diferentes razões, den-
tre elas, destaca-se a dificuldade em controlar algumas doenças e pragas
que, muitas vezes, atacam apenas parte do talhão e aí obriga-se a pulveriza-
ção do talhão todo, devido à dificuldade em separá-lo somente para aquela
operação. Em grandes propriedades, é comum existirem áreas mais sujeitas
a determinados problemas em razão de microclimas, que só serão conheci-
dos após seu aparecimento sistemático. Outra razão para se estabelecer o
comprimento das ruas do talhão é a quantidade de calda que será gasta
numa pulverização, quando as plantas estiverem adultas, para que a opera-
ção sempre termine no final ou início da rua, evitando demasiado transito do
equipamento, sem estar operando. Para efeito de manejo integrado de pra-
gas e doenças, também não se recomendam talhões muito grandes, para

154
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

facilitar a tomada de decisões e evitar desperdícios desnecessários (DE


NEGRI & BLASCO, 1991, p. 322).
Os talhões não devem ser grandes, também não podem ser demasia-
damente pequenos, porque as perdas com carreadores passam a ser consi-
deráveis e devem ser levadas em consideração, principalmente face ao ele-
vado custo das terras. Geralmente, os carreadores consomem 5 % da área
a ser destinada aos pomares (DE NEGRI & BLASCO, 1991, p. 322).

6. SISTEMAS DE PLANTIO

O sistema de plantio a ser empregado deverá ser estudado para cada


talhão e está em função da característica de cada um, como declividade,
uniformidade, etc. De acordo com (DE NEGRI & BLASCO, 1991, p. 326),
existem basicamente dois tipos de plantio: em linha reta ou em nível.
O plantio em linha reta é utilizado em terrenos planos ou com desnível
uniforme em um único sentido e pode ser feito de duas maneiras:

a) Plantio em linhas retas paralelas ao carreador, utilizado quando o terreno


é plano, ou cujo desnível é perpendicular aos carreadores superior e
inferior do talhão (Figura 5)

Fonte: DE NEGRI & BLASCO (1991)


Figura 5. Alinhamento em retas paralelas ao carreador.

155
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

b) Plantio em linhas retas paralelas às linhas de desnível (cortando as águas)


utilizado em terrenos com declive uniforme em um único sentido, porém
não paralelo aos carreadores (Figura 6).

Fonte: DE NEGRI & BLASCO (1991)


Figura 6. Alinhamento em retas paralelas a linha de nível.

O plantio em nível, recomendado para talhões com declividade mais


acentuada e topografia irregular, deve ser demarcado com o auxilio de uma
nivelada básica fazendo o primeiro sulco com o trator e sulcador de cana. A
partir disso, os sulcos paralelos podem ser feitos com o uso de uma estaca,
com a dimensão desejada para as entrelinhas, conduzido por dois operários,
de tal forma que uma ponta fique sobre o sulco já aberto e a outra marque
onde o sulcador deverá abrir o novo sulco (Figura 7). Dentre os sulcos já
demarcados e a partir do centro do talhão, são locados os pontos onde serão
plantadas as mudas com o auxílio de uma estaca ou corrente, sendo que os
dois deverão ser trabalhados dentro dos sulcos, para evitar erros de inclina-
ção (Figura 8).

156
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

Fonte: DE NEGRI & BLASCO (1991)


Figura 7. Demarcação de sulcos paralelos à nivelada básica.

Fonte: DE NEGRI & BLASCO (1991)


Figura 8. Alinhamento em sulcos paralelos à nivelada básica.

157
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

7. AQUISIÇÃO DAS MUDAS

No Brasil, até há alguns anos, o cultivo da mangueira era mais limita-


do a plantios domésticos, cuja produção era destinada ao consumo local e o
excesso não tinha perspectiva de boa comercialização, sendo a propagação
feita quase exclusivamente por sementes. Com o desenvolvimento da cultu-
ra, esta fruta atingiu posição de destaque nas exportações brasileiras, tor-
nando-se necessária a utilização de mudas de boa qualidade para instalação
de pomares com alto potencial produtivo e frutos com boa qualidade (CAS-
TRO NETO et al. 2002, p. 119).
Com a exigência, em termos de qualidade das mangas, tanto no mer-
cado interno como no externo, os produtores se conscientizaram de que a
produtividade do pomar e a qualidade de seu fruto começam pela muda de
boa qualidade. Na mangicultura, assim como em outras culturas frutíferas,
a muda de boa qualidade representa não apenas lucros na implantação do
pomar em função do crescimento rápido da muda sadia e bem formada,
mas também assegura maior probabilidade de sucesso em outras práticas
que serão empregadas futuramente (CASTRO NETO et al., 2002, p.119).
Mas, como nem sempre é possível a aquisição de mudas das varieda-
des desejadas em qualidade e quantidade, é importante que isso seja anteci-
padamente planejado.
Para um bom planejamento, deve-se escolher um viveirista idôneo,
encomendar e contratar o fornecimento das mudas, especificando-se as
variedades, bem como os porta-enxertos desejados, quantidade, época de
entrega, preços e garantias. É fundamental que o viveiro escolhido para
essa finalidade tenha capacidade técnica e estrutural para assegurar a qua-
lidade das mudas, dentro dos padrões estabelecidos (KAVATI, 1996, p. 77).
Na produção de mudas de manga, recomenda-se o uso de sementes
e material de propagação para copa (garfos e borbulhas) provenientes de
plantas matrizes de produtor registrado e devidamente credenciado pelo
Ministério da Agricultura, pelas Delegacias Federais de Agricultura , ou por
Instituições de Pesquisa , ouvida a Comissão Estadual de Sementes e Mu-
das – CESM – local (CASTRO NETO et al., 2002, p.135).

158
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

8. PREPARO DA ÁREA

8.1. Preparo do Solo

As operações de preparo do solo devem ser feitas com bastante an-


tecedência em relação ao plantio. Consistem na roçagem, queima do mato,
encoivaramento e destoca. Após a limpeza da área, procede-se à subsolagem
se necessário, aração e 20-30 dias após realizam-se a calagem e gradagem.
Ao final, devem ser estabelecidas as curvas de nível e marcação das linhas
e covas de plantio.

8.2. Espaçmento

O espaçamento depende do cultivar, especialmente do hábito de cres-


cimento, porta-enxerto, finalidade da produção, dos implementos agrícolas
utilizados no manejo da cultura, das podas de formação, condução e
frutificação, bem como da profundidade e da fertilidade do solo, além do
período de vida útil que se espera do pomar.
A mangueira, quanto à vegetação, difere muito das outras árvores
frutíferas. Desenvolve-se por um período longo (oito meses), durante o ano.
Nesta fase vegetativa, produz de três a quatro fluxos vegetativos, aumen-
tando dessa forma o volume de sua copa, pelo crescimento em altura e
diâmetro, ampliando dessa forma, a sua capacidade produtiva (SIMÃO,
1998, p. 607).
Os conhecimento sobre o hábito de crescimento da mangueira forne-
cem meios para correlacionar sua forma e suas dimensões, com um
espaçamento compatível com sua atividade biológica, evitando erros na for-
mação do pomar, os quais se refletirão na produtividade (SIMÃO, 1998, p.
608).
As mangueiras só frutificam ao redor da copa e quando ela se encon-
tra exposta à luz. À medida que as mangueiras vão se desenvolvendo, co-
meçam a tocar uma nas outras e, além da redução no número de frutos,
propiciam ambientes favoráveis à presença, principalmente de doenças
fúngicas, como oídio e antracnose. Além dos prejuízos no rendimento, au-
menta a dificuldade para a realização do controle fitossanitário (KAVATI,
1996, p. 99; SIMÃO, 1998, p. 608).
159
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O comportamento da mangueira foi caracterizado por KAVATI (1989,


p. 99), que, realizando um levantamento em 20 pomares, envolvendo as
variedades Haden, Tommy Atkins e Keitt, na região de Lins - SP, observou
que a planta apresenta desenvolvimento inicial lento e a partir do quarto ou
quinto ano após o plantio, tem uma alta taxa de crescimento vegetativo,
comprovando-se um elevado ritmo de crescimento da planta, quando com-
parado às outras regiões do mundo.
Com relação ao número de fluxos de crescimento, verificou-se que a
variedade Tommy Atkins apresentou média de 2,7 , enquanto a Haden e a
Keitt, 4 fluxos. O maior ou menor número de fluxos não está diretamente
relacionado com o crescimento, pois as variedades Tommy Atkins e Keitt
foram semelhantes, apresentando crescimento da porção terminal do ramo
pouco superior a 50cm, enquanto na Haden, este crescimento foi superior a
60cm (Tabelas 1 e 2 ) (KAVATI, 1989, p. 99).
No Brasil, em pomares irrigados do sudeste e do centro-oeste, a den-
sidade de plantio mais comum é de 100 plantas.ha-1 (10x10 m). Nos plantios
com tecnologia de produção para exportação, como a do semi-árido nordes-
tino, onde a irrigação é obrigatória, a densidade de plantio mais comum é de
250plantas/ha (espaçamento de 8x5 m). Maiores densidades já estão sendo
empregadas nessa região, porém exigem-se manejos mais adequados quan-
to aos tratos culturais, principalmente podas, irrigação e nutrição
(ALBUQUERQUE et al., 1999).
CUNHA & CASTRO NETO (2000) recomendam para as condi-
ções dos tabuleiros costeiros, espaçamento de 7 x 4,5 m.

160
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

Tabela 1. Número de fluxos de crescimento terminal dos ramos em uma


estação, de 3 variedades de mangueira com diferentes idades,
1988.
Variedades Ano de Nº de fluxos Comprimento
Plantio de Crescimento (cm)
1978 2,46 51,38
1983 2,58 53,79
1984 2,47 51,82
Tommy Atkins 1985 2,41 49,35
1986 3,25 44,66
1987 3,25 62,83
Média 2,73 Média 52,30
1978 3,42 51,42
1980 3,75 62,68
Keitt 1982 2,75 45,00
1983 3,25 52,92
Média 3,29 Média 54,00
1981 3,66 59,91
1983 3,00 58,30
Haden 1985 4,00 59,16
1987 3,25 62,83
Média 3,47 Média 60,05
Fonte: KAVATI (1989)

161
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Tabela 2. Altura da planta, diâmetro da copa e secção transversal do tronco,


de 3 variedades de mangueira com diferentes idades, 1988.
Variedades Ano de Altura Diâmetro Secção
Plantio (m) da copa Transversal
(m) do tronco (cm²)
1978 6,40 7,48 606
1983 4,28 5,42 253
1984 3,37 4,20 132
Tommy Atkins 1985 2,88 2,57 82,5
1986 2,15 1,65 38
1987 1,59 0,94 19
1978 4,57 4,65 362
1980 4,36 5,05 251
Keitt 1982 4,17 4,90 211
1983 4,07 4,95 150
1981 4,67 5,75 343
1983 4,90 7,00 3,57
Haden 1985 3,47 4,30 172
1987 1,59 0,94 19
Fonte: KAVATI (1989)

MANICA (2001, p. 184) divide os espaçamentos mais utilizados no


mundo para a cultura da mangueira da seguinte forma: a) para os plantios
com cultivos intensos, como poda de formação da planta, poda sistemática
de frutificação, manutenção da altura da planta controlada e com irrigação,
a área disponível por planta, têm sido desde 9 até 24,5 m².; b) alguns países,
mesmo adotando as práticas acima, realizam plantios com espaçamentos
intermediários e com área total por planta variando de 24 até 72 m² ; c) para
os plantios em locais de solos férteis, clima tropical e muito favorável à
mangueira, sem as podas sistemáticas para controlar a altura e crescimen-
to lateral da planta (conduzida livremente), a área ocupada pela planta varia
de 77 a 120 m². Essas informações podem ser visualizadas na Tabela 3.
Outros espaçamentos têm sido utilizados em função do solo e do
manejo da cultura. Assim, em solos pobres da Flórida, de acordo com
CAMPBELL & MALO (1974), têm sido recomendados espaçamentos de
l0m x 8m, 8m x 8m, l0m x 5m e 8m x 5m (para futuro desbaste) ou 9m x 9m;
9m x 6m e 6m x 6m, sendo que nos menores deve ser feito a partir do 5º ou
6º ano pós-plantio, um desbaste de parte das plantas.
162
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

A disposição das plantas no campo pode ser quadrangular, retangular


ou triangular, porém, predomina o quadrado (MEDINA et al., 1981).
A redução do porte da planta tem sido motivo de pesquisas, pois
facilita a execução de tratos culturais e colheita, além de muitas vezes,
aumentar a produção por área. Nesse sentido, destacam-se a obtenção de
porta-enxertos ananicantes, interenxertia e uso de produtos químicos.
Em trabalho desenvolvido por RAMOS et al. (1996), verificou-se
que os porta-enxertos com maior tendência ananicante foram ‘Maçã’ (2,20m),
‘Imperial’ (2,41m), ‘Mallika’ (2,63m) e o ‘Amrapali’ (2,82m).
Com relação à interenxertia, PINTO (1994) cita que utilizando como
porta-enxerto a cultivar Espada, como interenxerto ‘Santa Alexandrina’ e
‘Tommy Atkins’ como copa, houve uma redução de 53% na altura (2,7m),
quando comparada com a enxertia normal (5,7m), em plantas com 12 anos
de idade. Uma planta interenxertada de copa pequena produz entre 150 e
200 frutos, enquanto a mangueira enxertada de maior copa produz 400
frutos. No entanto, a mangueira interenxertada pode ser plantada em uma
densidade de até 400 plantas/ha.
ZARRAMEDA et al. (2000) trabalhando com 6 porta-enxertos, 3
interenxertos e 3 cultivares de copa, constataram que os resultados prelimi-
nares aos 40 meses idade para as combinações Julie2 / Camphor / Tommy
Atkins; Manzana / Camphor / Tommy Atkins; Peru / Tetenene manzana /
Haden; Peru 2 / Tetenene manzana / Haden e Julie2 / Camphor / Haden
mostraram valores de altura da planta e volume da copa significativamente
menores que as demais combinações para as mesmas copas. O cv. El Edward
não mostrou diferenças significativas entre os valores das variáveis em es-
tudo para as combinações avaliadas.
SINGH & DHILLON (1992) verificaram que o cloreto de mepiquat
(CCC) e o paclobutrazol (PBZ), além da indução, são indicados para para-
lisar o crescimento. Nesse sentido, ALBUQUERQUE et al. (1996) traba-
lhando com cloreto de mepiquat (CCC) em concentrações variando entre
5000 e 15000ppm, verificaram que o produto paralisou o crescimento
vegetativo da mangueira ‘Tommy Atkins’, independente das condições de
umidade do solo, bem como promoveu boa floração, frutificação e fixação
dos frutos.

163
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Tabela 3. Diferentes espaçamentos e densidade de plantas em locais de


cultivo de manga no mundo (MANICA, et al. , 2002).
Espaça- Área por Nº de Locais Observações
mento Planta plantas
(m) (m²) (ha)
3,0 x 3,0 9 1.100 Tailândia Plantios recentes
3,0 x 3,9 11,27 854 Israel, Ilhas Cánarias cv. Irwin
3,0 x 4,0 12 833 Ilhas Cánarias 1 planta 8-12 anos
3,0 x 4,5 13,5 740 Flórida, Israel
3,0 x 5,0 15 666 Israel
4,0 x 4,0 16 640 Tailandia Plantios recentes
3,0 x 5,4 16,2 617 California Plantios recentes
3,5 x 5,0 17,5 571 Flórida, California Plantios recentes
3,5 x 6,0 21 476 Flórida
3,6 x 4,5 16,2 606 Brasil Pesquisa
4,0 x 5,0 20 500 Israel cv. Haden
3,0 x 7,0 21 476 África do Sul Plantios recentes
3,5 x 7,0 24,5 408 Brasil Elimina 1 planta
4,0 x 6,0 24 416 Flórida
4,0 x 7,0 28 357 Venezuela Plantio recente
5,0 x 5,0 25 400 Brasil Depois 10 x 10 m
5,0 x 6,5 33 300 Peru, Brasil
5,0 x 7,0 35 285 Brasil, Peru
5,0 x 8,0 40 250 Brasil, Peru
5,4 x 7,2 38,9 257 Brasil, Peru
6,0 x 6,0 36 277 Israel, Peru Maya, Nimrod
5,5 x 7,0 38,5 210 Brasil I. mecanizada
6,0 x 7,5 45 222 Brasil I. mecanizada
6,5 x 8,0 52 192 Brasil I. mecanizada
7,0 x 7,0 49 204 Camarões Cultivares anãs
6,0 x 9,0 54 185 Austrália, Venezuela Plantios recentes
7,0 x 8,0 56 178 D.F. Brasil Alfa Embrapa 142
8,0 x 8,0 64 156 Venezuela, Tailândia México
6,0 x 12,0 72 139 Austrália plantio atual Kensington, Keitt
7,0 x 11,0 77 129 Brasil
8,0 x 10,0 80 125 Estado São Paulo Keitt e Palmer
9,0 x 9,0 81 110 Brasil
8,0 x 12,0 96 103 Venezuela
9,0 x 10,5 94,5 105 Filipinas
10,0 x 10,0 100 100 México Ataulfo, T. Atkins
11,0 x 11,0 121 82 Brasil, MG
10,0 x 12,0 120 83 Estado São Paulo Haden, Keitt, T. Atkins
12,0 x 14,0 168 60 Estado São Paulo Ruby, Haden

164
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

8. 3. Coveamento

Uma vez definido o espaçamento, feita a marcação das linhas de


plantio, deve-se proceder à abertura das covas, com pelo menos dois meses
antes do plantio. As covas devem ter 50x50x50cm, devendo ser acrescido
ao solo dos primeiros 20 cm, adubo mineral e orgânico. Tal mistura deve ser
colocada na parte inferior da cova, permitindo maior aprofundamento do
sistema radicular.

Fonte: CUNHA et al. (1994)


Figura 9. Separação da camada de terra da superfície (A) da camada do
subsolo (B) e inversão na cova para plantio.

8.4. Época de plantio

A melhor época para o plantio é aquela que coincide com o início do


período das chuvas, devido ao maior pegamento e menor custo devido aos
menores gastos com irrigação. Todavia, quando é possível irrigar as mudas
na cova, pode-se plantar em qualquer época do ano. Sempre que possível,
deve-se dar preferência a dias nublados e mais frescos, para a realização
do plantio.

165
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

8.5. Plantio

Antes do plantio, retira-se o saco plástico que envolve o bloco de


terra com a muda. A muda deve ser colocada no centro da cova, de tal
forma que seu colo fique 5 cm acima do nível do solo, com o objetivo de
evitar afogamento quando da acomodação do solo, pela irrigação ou chu-
vas.
As covas devem ter uma bacia com um metro de diâmetro, na qual,
logo após o plantio, são colocados cerca de 20 litros de água. Sempre que
possível, é recomendável colocar cobertura morta sobre a cova, com o ob-
jetivo de reduzir perdas excessivas de umidade e proteger o solo ao redor da
planta, das altas temperaturas.
Quando necessário,deve-se proteger as mudas contra o sol, com es-
tacas de bambu ou madeira com altura de 1 a 1,5 m, cobertas com capim
seco, palhas de arroz, etc.

9. TRATOS CULTURAIS

9.1. Controle de Plantas Invasoras

O conhecimento sobre a distribuição do sistema radicular de qual-


quer cultura é essencial pela sua importância na nutrição e absorção de
água, permitindo o uso mais racional de práticas de cultivo, tais como o
manejo de plantas daninhas e do solo e uso de cultura intercalar (CARVA-
LHO & CASTRO NETO, 2002, p. 153).
CHOUDHURY & SOARES, (1992, p. 172) estudaram o sistema
radicular da mangueira (Mangifera indica L.), com oito anos de idade, em
espaçamento de 10x10 m, irrigada por aspersão sobcopa, na região do
Submédio São Francisco. Concluíram que: a) na distribuição horizontal do
sistema radicular da mangueira, 68 % das raízes de absorção e 86 % das
raízes de sustentação estão localizadas na faixa de solo compreendida entre
90 a 260 cm, em relação ao caule; b) na vertical, do sistema radicular da
mangueira, 65 % das raízes de absorção e 56 % das raízes de sustentação
se distribuem de maneira uniforme nas três primeiras camadas do solo (0 a
60 cm); c) a aplicação de fertilizantes deve ser feita na faixa de solo com
maior concentração de raízes de absorção, que está compreendida entre 90
166
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

e 260 cm em relação ao caule; d) os locais para monitoramento do manejo


de água estão situados a 260 cm de distancia do caule e nas profundidades
de 30 a 60 cm.; e) a concentração de 68% das raízes de absorção, compre-
endida entre 90 e 260 cm de distância horizontal, em relação à planta, define
a área que deve ser efetivamente molhada por planta, por ocasião da esco-
lha e do dimensionamento dos sistemas de irrigação. Tais informações po-
dem ser mais bem visualizadas nas Figuras 10, 11 e 12.

167
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Fonte: CHOUDHURY & SOARES (1992)


Figura 10. Diâmetro de raízes e distribuição horizontal do sistema radicular
da mangueira cv. Tommy Atkins, em solo arenoso irrigado.

168
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

Fonte: CHOUDHURY & SOARES (1992)


Figura 11. Distribuição horizontal das raízes de absorção da mangueira cv.
Tommy Atkins e recomendação da localização de fertilizantes
(produtor) e tensiômetros (pesquisa).
169
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Fonte: CHOUDHURY & SOARES (1992)


Figura 12. Distribuição vertical do sistema radicular da mangueira cv. Tommy
Atkins em solo arenoso irrigado.

O controle das plantas daninhas tem como objetivo reduzir a compe-


tição por luz (plantas jovens), água, nutrientes, bem como diminuir o número
de plantas hospedeiras de pragas e doenças que atacam a mangueira.
Em plantas jovens devem ser realizadas uma capina na coroa e duran-
te o período seco, uma gradagem na entrelinha, e no das chuvas, uma roçada.
Durante a fase de formação do pomar (até o 3º a 4º ano), é comum a utiliza-
ção de culturas intercalares, cujo manejo controla as plantas daninhas.
Nas plantas adultas, realiza-se a capina na linha de plantas e no perí-
odo das chuvas uma roçada na entrelinha e no período seco, uma gradagem.
A capina pode ser substituída por herbicidas do grupo Paraquat, Glifosate
ou Terbacil.
O cultivo com enxada e grade deve ser efetuado de tal forma que
não provoque cortes acentuados nas raízes.

170
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

9. 2. Cultivo de Plantas Intercalares

A utilização de culturas intercalares em pomares é prática comum


nas regiões tropicais e tende a se intensificar em decorrência da necessida-
de do aumento de produção de alimentos e riscos inerentes às atividades
agrícolas. Quando realizada adequadamente, deve ser incentivada, com o
objetivo principal de reduzir o custo de implantação e formação do pomar,
melhoria do solo nas entrelinhas, além de cumprir a função social pela de-
manda de mão de obra. Em algumas regiões do país, a prática é especial-
mente comum na fruticultura de pequeno porte, na qual os produtores, usan-
do de mão de obra familiar e poucos recursos financeiros, buscam maximizar
o retorno econômico. O equilíbrio no ecossistema é outro aspecto relaciona-
do com o cultivo consorciado. As monoculturas, por constituírem sistemas
de produção mais simples e com pequena variabilidade genética, apresen-
tam maior instabilidade, favorecendo a ocorrência, a multiplicação e a pro-
pagação de pragas, doenças e plantas invasoras (CARVALHO & CAS-
TRO NETO, 2002, p.159).
Para a escolha da cultura intercalar, o produtor deve lembrar-se de
que o pomar é a cultura principal e nenhuma outra deve interferir no seu
desenvolvimento, assim como as plantas infestantes devem ser controladas.
No planejamento do plantio, deve-se levar em consideração que durante o
ciclo da cultura intercalar haverá necessidade de utilização de práticas de
manejo, como adubações, pulverizações, colheitas, etc, podendo-se optar
pelo plantio em parte da entrelinha ou em ruas alternadas (CARVALHO &
CASTRO NETO, 2002, p. 159).
Para o preparo do solo para a cultura intercalar, deve-se optar por
técnicas como plantio direto, evitando-se revolver o solo, cortar as raízes da
mangueira e favorecer a erosão. Com base nessas exigências, as espécies
para adubação verde são as mais indicadas e utilizadas pelas suas caracte-
rísticas e, também, como alternativa viável como cobertura morta para con-
trole das plantas daninhas e maior armazenamento de água no solo. Nessas
áreas, além da importância de um manejo adequado do solo e da água, é
necessário buscarem-se alternativas para exploração agrícola durante a
estação chuvosa, pois nesse período as áreas ficam praticamente ociosas.
O cultivo intercalar para fins de adubação verde constitui-se numa dessas
alternativas (CHOUDHURY et al., 1991, p. 3)

171
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O preparo do solo e plantio de culturas intercalares devem ser feitos


de modo que causem o menor dano possível ao sistema radicular, sendo
recomendado realizá-los a partir de um metro de distância da projeção da
copa.
As culturas intercalares mais viáveis são: cereais anuais, mamão,
abacaxi, banana, mamoeiro, maracujazeiro, melancia e outras, cuja produ-
ção poderá amortizar os custos de implantação. Podem também ser utiliza-
das leguminosas e outras espécies que promovam melhoria no solo, tais
como as contidas nas Tabelas 4 e 5.

Tabela 4. Produtividade de massa seca-MS (kg. ha-1) e teor de nutrientes


(%) de leguminosas e de espontâneas, crescendo em Latossolo
Vermelho-Escuro em Sete Lagoas, MG.
Espécies MS P K Ca Mg C N
Kg.ha-1
Feijão-bravo do Ceará 7.251 0,08 0,77 1,11 0,09 37,62 2,64
Feijão-de-porco
(Canavalia ensiformes) 5.371 0,06 0,46 0,95 0,09 37,84 2,31
Mucuna-preta
(Stizolobium aterrimum) 6.986 0,10 0,82 0,51 0,08 38,45 3,06
Guandu (Cajanus cajan) 2.867 0,08 0,51 0,43 0,06 39,03 2,33
Lab-Lab (Dlochos 736 0,11 0,57 1,07 0,10 37,22 2,74
lablad)
Panicum maximum 535 0,07 1,43 0,34 0,13 36,94 2,43
Melanpodium 301 0,13 1,60 0,94 0,20 36,15 1,70
perfoliatum
Commelina benghalensis 112 0,10 2,35 0,52 0,16 33,21 1,74
Bidens pilosa 247 0,13 1,70 0,72 0,14 37,15 1,89
Richardia brasiliensis 60 0,08 1,25 1,74 0,13 27,71 1,92
Blainvillea latifolia 78 0,10 1,75 0,89 0,16 32,18 2,23
Spermacoce latifólia 36 0,10 1,41 1,06 0,14 32,30 2,58
Croton glandulosos 20 0,08 0,76 0,67 0,19 36,40 2,48
Portulaca oleracea 16 0,08 3,03 0,40 0,27 33,26 1,91
Emilia sonchifolia 14 0,08 1,65 0,74 0,14 36,43 2,15
Euphorbia heterophylla 10 0,28 1,98 0,54 0,09 35,86 1,44
Fonte: Adaptado de CARVALHO & CASTRO NETO (2002).

172
Planejamento, Implantação e Tratos Culturais na Cultura da Mangueira

Tabela 5. Quantidade média de nutrientes incorporados ao solo pelos adu-


bos verdes, com base no material vegetal produzido.
Macronutrientes (kg.ha-1) Micronutrientes (g.ha-1)
Leguminosa N P2O5 K2O Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn
C. juncea 183 39 204 105 52 13 236 92 4,2 721 275
C. spectabilis 44 10 56 38 10 3 74 30 561 170 64
Guandu 144 30 131 55 21 10 157 82 3,1 506 144
Mucuna preta 86 19 73 39 14 6 93 64 8,1 612 103
Mucuna anã 91 15 55 32 14 7 91 74 5,8 714 105
Lab-Lab 67 19 69 42 19 7 93 32 4,6 578 100
Feijão-de-porco 169 31 138 109 30 11 169 42 4,0 780 133
Obs: Quantidade de nutrientes, considerando-se plantio em área total.
Fonte: Adaptado de CARVALHO & CASTRO NETO (2002).

O principal objetivo do uso de cultura intercalar é fornecer renda ao


produtor, capaz de reduzir os custos de implantação do pomar nos dois pri-
meiros anos, visto que nesse período, a produção de frutos é pequena. Nes-
te caso, há exigência de tecnologia mais aprimorada tanto na irrigação, como
na poda e no controle de doenças e pragas pois, geralmente, ocorrem pro-
blemas não muito comuns no plantio solteiro de manga. Em condição de
cerrado, o amendoim-bravo (Arachis pintoi) tem sido testado em cultivo na
entrelinha de fruteiras como espécie competidora com as ervas daninhas,
podendo ser testada em outras regiões (MOUCO et al., 2002, p. 142).

9. 3. Quebra -vento

Em regiões onde ocorrem ventos intensos e constantes, estes podem


provocar redução significativa na produção, pois derrubam flores e frutos,
além de causarem ferimentos nos frutos pelo atrito com as folhas e ramos.
Por outro lado, aumentam as taxas de transpiração da planta e evaporação
do solo.
Na região do semi-árido brasileiro, o vento compromete o desenvol-
vimento das plantas, principalmente nos três primeiros anos. Em função
disso, é comum o uso do capim elefante, por apresentar desenvolvimento
rápido e atingir altura de até 4 m. Também são utilizadas diversas espécies
de frutíferas como quebra-ventos, tais como bananeiras com 3 a 4 linhas de
plantas instaladas entre talhões ou coqueiros nas margens laterais do plantio
(MOUCO et al., 2002, p.139).

173
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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177
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

178
Fertilidade do Solo e Nutrição da Mangueira

FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DA


MANGUEIRA
Francisco Maximino Fernandes1 e Vinício Martins do Nascimento1

1. INTRODUÇÃO

A mangueira (Mangifera indica L.) é uma frutífera importante nas


regiões tropicais e subtropicais, desenvolvendo-se relativamente bem em
uma grande variedade de solos. De forma geral, tolera solos de baixa ferti-
lidade, mas produz melhor em solos mais férteis. Por outro lado, o aumento
de produtividade agrícola para qualquer cultura, inclusive a manga, é função
das inter-relações do solo, clima, planta e homem. Desses fatores, o solo é
um dos que o homem já aprendeu muito sobre o seu manejo, principalmente,
no manejo da água e das características químicas, uma vez que as proprie-
dades físicas do solo são pouco passíveis de modificação. No caso da man-
gueira, cabe salientar que esta planta apresenta um sistema radicular bas-
tante desenvolvido, proporcionando-lhe uma maior habilidade em explorar
um maior volume de solo para satisfazer a sua demanda nutricional e em
água. Isso, entretanto, não quer dizer que ela não deva ser adubada ou que
não se procure conhecer melhor os aspectos relacionados com a fertilidade
do solo e sua adubação (Guimarães, 1982, p.28).

2. EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS

As frutíferas constituem um grupo de culturas de importância cres-


cente e a demanda por informações sobre correção da acidez e adubação
tem aumentado muito. A nutrição, em muitos casos, além de afetar de for-
ma marcante a produtividade, tem efeito sobre a qualidade dos frutos, con-
servação pós-colheita e suscetibilidade das plantas a moléstias (Quaggio et
al., 1997, p.121). Entretanto, esses mesmos autores relatam que as informa-
1
Depto. de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos, Faculdade de Engenharia, UNESP - Câmpus
de Ilha Solteira. Av. Brasil, 56 - CEP 15385-000 - Ilha Solteira-SP - E-mail:
[email protected]

179
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

ções sobre a nutrição das plantas frutíferas, de uma maneira geral, são
limitadas mesmo no Estado de São Paulo e que elas têm surgido de forma
esparsa em todo o mundo e transferidas de uma região para outra. Embora
isso não seja o ideal, os resultados são aceitáveis, desde que ancorados em
elementos técnicos, tais como composição química das culturas, análise de
solo e diagnose foliar.

2.1. Extração de nutrientes

Um dos procedimentos para cálculo de adubação se baseia na deter-


minação das quantidades de nutrientes removidos pela cultura em um deter-
minado período.
É sabido que a absorção de nutrientes minerais pelas culturas varia
em função da idade e do estádio fisiológico da planta. O conhecimento da
dinâmica dos nutrientes nas diversas partes da planta, ao longo do cultivo, é
importante porque fornece subsídios para adequar programas de adubação
para a cultura.
Por outro lado, para a mangueira, são poucos os trabalhos que tratam
das exigências ou que quantificam a extração de nutrientes pela planta em
suas diversas fases de desenvolvimento ou que fornecem as suas propor-
ções nas diversas partes da planta (folhas, frutos, caule e raízes) (Guima-
rães, 1982, p.28).
Além de a idade afetar a extração de nutrientes, o estado fisiológico
da planta durante o ano agrícola também afeta a absorção de nutrientes
pela mangueira, conforme se observa pela composição química das folhas
na Tabela 1.

180
Fertilidade do Solo e Nutrição da Mangueira

Tabela 1 - Valores médios de análise foliar da mangueira, em diferentes


épocas de amostragens. (Adaptado de Avilan, 1971)
Estádio fisiológico
Nutriente ______________________________________________
Antes da Plena floração e Maturação
Floração formação de frutos de frutos
____________________ g kg -1 ___________________

Nitrogênio 12,2 11,0 10,4


Fósforo 1,1 1,0 1,0
Potássio 7,5 5,8 5,3
Cálcio 20,4 26,0 24,1

Observa-se que antes da floração, ocorrem os maiores teores de


nitrogênio, fósforo e potássio nas folhas. Na época de plena floração e for-
mação de frutos, encontram-se os níveis mais baixos desses nutrientes e,
finalmente, na época de maturação dos frutos, verifica-se uma tendência de
manutenção ou mesmo diminuição dos níveis desses nutrientes nas folhas.
Os dados na literatura nacional sobre absorção e exportação de nu-
trientes são escassos. Neste sentido, Nascimento et al. (1989, p.343 a 345)
estudaram as variações nos teores foliares de macronutrientes durante o
ano, em duas variedades de manga, Haden e Extrema, cultivadas na região
de Ilha Solteira. Constataram que os menores teores foliares de nitrogênio,
fósforo e potássio ocorreriam no período de florescimento e frutificação e,
os menores teores de cálcio coincidiam com a época de baixa precipitação
pluviométrica.
Silva et al. (1998, p.659) avaliaram, a cada 30 dias, o teor de nutrien-
tes foliares, em mangueira Tommy Atkins irrigada, com idade acima de
quatro anos, cultivada na região do submédio São Francisco. Pelos resulta-
dos, observaram variações nos teores para os nutrientes avaliados (N, P, K,
Ca, Mg, B, Cu, Fe, Mn e Zn), entretanto, os que apresentaram as maiores
oscilações foram o nitrogênio e o cálcio, ao passo que o fósforo e o magnésio
tiveram a menores variações, tendo o potássio apresentado oscilações in-
termediária. Os autores explicam que as oscilações de nitrogênio, cálcio e
potássio, são os resultados de aplicações foliares freqüentes de nitrato de
cálcio e nitrato de potássio, para induzir a diferenciação floral.

181
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

No Brasil, dois trabalhos estudando a composição mineral de frutos


de manga na colheita, permitem calcular a extração média de nutrientes
pela colheita, conforme apresentado na Tabela 2.

Tabela 2 – Extração média de nutrientes em frutos de manga na colheita.


(Adaptado de Hiroce et al. 1977 e Haag et al. 1990)
Nutriente Hiroce et al. (1977) Haag et al (1990) Média
(média de 3 variedades)1 (média de 4 variedades)2
g t-1 de fruto g t-1 de fruto g t-1 de fruto

Nitrogênio 1.282 793 1.037


Fósforo 188 123 155
Potássio 1.977 1.277 1.627
Cálcio 184 207 195
Magnésio 159 185 172
Enxofre 185 140 162
Boro 0,9 2,6 1,7
Cobre 1,3 1,2 1,25
Ferro 3,6 18 9,3
Manganês 3,5 4,5 4,0
Zinco 1,4 8,8
1
Variedades: Haden, Extrema e Carlota; produção média de frutos = 11 t ha-1.
2
Variedades: Haden, Sensation, Tommy Atkins e Edward; produção média de frutos=15 t ha-1

Verifica-se pela Tabela 2 que o nitrogênio, fósforo e potássio são


exportados, em média, numa relação aproximada de 6,6:1:10,2 (Haag et al.,
1990, 476) a 7:1:10,8 (Hiroce et al., 1977, p.160). Desta forma, consideran-
do, respectivamente, uma produção média de 15 e 11 t ha-1, o solo forneceu
anualmente e deverão ser repostas as seguintes quantidades de nutrientes:
N = 11,9 e 14,1 kg; P2O5 = 4,12 e 4,58 kg; e k2O = 22,98 e 26,0 kg.
Na prática, as quantidades a serem repostas deverão ser maiores,
considerando que muitos cultivos são realizados em solos de baixa fertilida-
de e considerando ainda as perdas, que eventualmente ocorrem e as neces-
sidades das novas partes da planta e a eficiência dos fertilizantes.

182
Fertilidade do Solo e Nutrição da Mangueira

2.2. Elementos Essenciais e suas Funções

Analisando uma planta fresca, verifica-se que a água é o componen-


te que apresenta maior proporção. Nos frutos frescos de manga, mais de 80
% corresponde à água (Hiroce et al. 1977, p.158). Cerca de 90% ou mais
de uma planta fresca é formada por carbono, hidrogênio e oxigênio.
O carbono vem do ar, o oxigênio do ar e da água e o hidrogênio vêm
da água. Desta forma, a contribuição do solo para a composição da planta é
algo ao redor de 10%. Dos três meios que fornecem elementos para a
planta: ar, água e solo; o último é o que apresenta menor contribuição. En-
tretanto, não se pode passar sem ele, porque os materiais que fornece aos
vegetais são tão essenciais para o crescimento e produção, como aqueles
outros que formam a maior proporção da planta. Além disso, como já foi
mencionado, o solo é o mais facilmente modificável pelo homem. Toda a
civilização, através da necessidade de alimentos, depende do fato de que se
pode trabalhar o solo e fazê-lo mais produtivo quando necessário.
Deve-se ressaltar que o homem se alimenta do ar, água e plantas
(direta ou indiretamente) e que somente alimentando as plantas, consegue-
se alimentar o homem, sendo esse o objetivo final do estudo de nutrição
mineral de plantas, o qual está intimamente ligado ao estudo da fertilidade
do solo e da adubação.
Os nutrientes essenciais desempenham na mangueira funções seme-
lhantes, reconhecidas em outras espécies vegetais, por isso não serão aqui
discutidas.

3. AVALIAÇÃO DA NECESSIDADE DE ADUBAÇÃO

Em se tratando de uma planta perene, é preciso considerar que a


mangueira passa por diversas fases durante o seu ciclo. Assim, antes de
entrar em produção, é preciso cuidar da formação das mudas e da forma-
ção da planta. Durante estas fases, vários procedimentos podem ser adotados
para avaliação do estado nutricional ou da necessidade de suplementação
de nutrientes.

183
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

3.1. Análise química do solo

A análise química do solo é a primeira dessas técnicas a serem utili-


zadas na formação de mudas ou na instalação do pomar de mangueira. Ela
ainda pode ser utilizada para acompanhamento da fertilidade do solo e mes-
mo para recomendação de adubação também na fase produtiva, conforme
será discutido posteriormente.

3.2. Experimentação

A experimentação é outro procedimento indispensável em nível regi-


onal, para a definição da necessidade de adubação. Nesse aspecto, nas
condições brasileiras, para a cultura da manga, são muito poucos os traba-
lhos de experimentação com este assunto.

3.3. Sintomas Visuais

Através da visualização de sintomas de deficiência ou excesso de


nutrientes é possível fazer correções no esquema de adubações. No caso
dos micronutrientes, a observação de sintomas permite a recomendação de
adubação foliar.

3.4. Análise Foliar

A análise química de folhas permite a avaliação do estado nutricional


das plantas, ou seja, permite identificar o nível de comprometimento da pro-
dutividade, em função da situação nutricional, principalmente em casos ex-
tremos.
A composição das folhas é afetada por diversos fatores externos
como internos da planta. Desta forma, a amostragem precisa ser bem defi-
nida quanto à época, tipo de folha, posição na árvore e representatividade
do pomar de mangueira.
A amostragem de folhas da cultura da manga, de acordo com Quaggio
et al. (1997, p.124), consiste em coletar folhas no florescimento, do meio do
último fluxo de vegetação, de ramos com flores na extremidade. Amostrar
quatro folhas por árvore, vinte plantas por talhão.
184
Fertilidade do Solo e Nutrição da Mangueira

Por outro lado, Silva et al. (2002, p.208) sugerem recomendações


gerais para padronização da amostragem de folhas de mangueiras, confor-
me segue:

1. Separar os talhões ou conjunto de talhões (não ultrapassar 10 ha)


com a mesma idade, variedade e produtividade em áreas homogê-
neas. Manter o mesmo agrupamento usado na análise de solo;
2. Escolher para coleta apenas as folhas inteiras e sadias, evitando-
se folhas atacadas por pragas e doenças. As folhas devem ser
coletadas na altura média da copa da árvore, nos quatro pontos
cardeais, em ramos normais e recém-maduros. Coletar as folhas
na parte mediana do penúltimo fluxo do ramo ou do fluxo terminal,
desde que este tenha pelo menos quatro meses de idade. Retirar
quatro folhas por planta, em 20 plantas selecionadas ao acaso;
3. Realizar a coleta no período de florescimento ou, preferencial-
mente, antes, principalmente quando for realizada a aplicação de
nitratos ou outro fertilizante foliar para a quebra de dormência das
gemas florais, com o propósito de evitar contaminações;
4. Não amostrar plantas que tenham sido adubadas, pulverizadas ou
após períodos intensos de chuvas;
5. Após a coleta, devem-se acondicionar as amostras em sacos de
papel, identificando-as e enviando-as, imediatamente, para um la-
boratório. Se isso não for possível, armazená-las em ambiente pro-
tegido;
6. Realizar amostragem de folhas, anualmente, pois os teores foliares
de nitrogênio condicionam as doses de fertilizantes nitrogenados a
serem aplicadas.

Na Tabela 3 são apresentadas as faixas de teores adequados de macro


e micronutrientes em folhas de mangueira. (Quaggio et al., 1997, p.125).

4. RECOMENDAÇÕES DE ADUBAÇÃO

Para se fazer uma recomendação de adubação, de acordo com


Compagnon (1986) citado por Bataglia (1987, p.413), é indispensável se
estabelecer um diagnóstico com base nos seguintes elementos:

185
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

• Conhecimento do solo - Características pedológicas, histórico das


culturas e adubações anteriores, classificação em grupos homogêneos e
características químicas de modo a se modular o nível de adubação;
• Conhecimento da planta - Necessidade nutritiva em função da evolu-
ção com o tempo. A análise do crescimento, da produção e do conteúdo
de nutrientes nas folhas são suficientes para quantificar as necessidades
das plantas;
• Conhecimento das relações solo-planta - Obtido através da análise
dos experimentos de adubação em diferentes tipos de solos e materiais
vegetais. A partir de curvas de respostas dos diversos nutrientes com
respeito ao crescimento e à produção, podem ser estabelecidos critérios
mais seguros para recomendação. Os experimentos podem também dar
melhores informações sobre as interações entre os tratamentos e resis-
tência a ventos, pragas e moléstias.

Tabela 3 - Faixas de teores de macro e micronutrientes em folhas de man-


gueira.
Faixas de teores de nutrientes
Nutrientes considerados adequados
Macronutrientes ________ g kg-1 ________
Nitrogênio 12 – 14
Fósforo 0,8 – 1,6
Potássio 5 - 10
Cálcio 20 – 35
Magnésio 2,5 – 5,0
Enxofre 0,8 – 1,8
Micronutrientes ______ mg kg-1 ______

Boro 50 – 100
Cobre 10 - 50
Ferro 50 - 200
Manganês 50 - 100
Molibdênio -
Zinco 20 – 40

186
Fertilidade do Solo e Nutrição da Mangueira

4.1. Amostragem de solo

Tratando-se de culturas perenes, como a mangueira, muitos


questionamentos surgem sobre a melhor forma de realizar a operação de
amostragem do solo para fins de avaliação da fertilidade, com o objetivo de
obter amostras de solo que melhor representem a área amostrada. Nesse
sentido, Silva et al. (2002, p.200) recomendam:

1. Em pomares a serem instalados, seis a oito meses antes do plantio,


a área deve ser estratificada em função da cor e textura do solo, da vegeta-
ção atual e passada, do relevo, e de outras características que possam per-
mitir a separação de áreas diferentes. As amostras de solo devem ser
coletadas nas profundidades de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm ou ainda em
outras profundidades, quando necessário. A avaliação de camadas mais
profundas tem sido muito útil para se identificar em barreiras químicas ao
crescimento radicular, tais como a deficiência de cálcio ou excesso de alu-
mínio, a presença de sais em excesso e de sódio trocável, todos muito pre-
judiciais à mangueira. Em cada área uniforme, coletar 20 amostras simples
para formar uma amostra composta para cada profundidade. Devem-se
evitar áreas ou conjunto de áreas superiores a 10 ha;
2. A amostragem em pomares implantados também deve ser feita
em diferentes profundidades, em pelo menos 20 pontos para formar uma
amostra composta por área uniforme. Devem ser retiradas amostras de 0 a
20 cm e de 20 a 40 cm ou ainda a outras profundidades, quando necessário.
As amostras devem ser coletadas aleatoriamente, na projeção da copa das
árvores, evitando coleta em faixas de terra recém-adubadas. Em pomares
já estabelecidos, a maior concentração de raízes da mangueira está entre a
extremidade da projeção da copa e 0,9 m do tronco, embora o sistema
radicular possa atingir um raio de cinco metros ao redor do tronco, depen-
dendo do sistema de irrigação empregado ou do regime hídrico regional;
3. Em sistemas de irrigação localizada, a maior concentração de raízes
da mangueira limita-se ao bulbo molhado. Portanto, a amostragem e a adu-
bação deverão ser realizadas nesses locais. As amostras coletadas na “pro-
jeção da copa” não devem ser misturadas com aquelas coletadas fora des-
sa região ou na extremidade do bulbo molhado. Essas amostras devem ser
coletadas separadamente. Para fazer as recomendações de adubação e

187
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

calagem, pode-se recorrer à média entre os dois resultados, dependendo do


sistema de irrigação utilizado.

4.2. Calagem

Devido à acidez quase generalizada da grande maioria dos solos, com


problemas de toxidez de alumínio e conseqüentemente baixos teores de cál-
cio e magnésio, o uso de calcário como corretivo do solo e fontes destes
nutrientes é da maior importância para a cultura da manga.
A quantidade de calcário a ser utilizada irá variar em função do crité-
rio usado para determinar a necessidade de calagem. No Estado de São
Paulo, Quaggio et al. (1997, p.146) recomendam aplicar corretivo para ele-
var a saturação por bases a 80%. Na Tabela 4 é mostrada a variação da
quantidade de corretivo, para duas áreas distintas, comparando a recomen-
dação para o Estado de São Paulo com as recomendações para os Estados
de Minas Gerais, Bahia, Ceará, Goiás e Rio de Janeiro. Verifica-se que para
uma mesma situação, a quantidade de corretivo a aplica varia entre os Es-
tados, especialmente quando se compara a recomendação para o Estado de
São Paulo com os demais Estados.
Quanto ao tipo de corretivo, as recomendações estaduais apresen-
tam recomendações contrastantes, no caso da cultura da manga. Para o
Estado de São Paulo, não é feito qualquer comentário. No entanto, para
outras frutíferas, recomenda-se manter um mínimo de Mg+2 de 9 mmolc dm-
3
. Para os Estados de Minas Gerais e Ceará, recomenda-se utilizar calcário
dolomítico, sendo que para o Estado do Ceará determina que este tipo de
corretivo deve ser utilizado, principalmente, quando o teor de Mg+2 for infe-
rior a 5 mmolc dm-3. Para os Estados da Bahia, Rio de Janeiro e Goiás, a
recomendação não faz menção sobre qual corretivo utilizar.
No caso de pomares estabelecidos, compara-se a análise de solo da
projeção da copa com a da entre linha, para verificar se a aplicação deverá
ser feita em maior quantidade nesta região, devido à acidificação causada
pelos adubos, ou em área total. Após esta aplicação, os próprios tratos cul-
turais incorporarão o corretivo (Guimarães, 1982, p.33).

188
Fertilidade do Solo e Nutrição da Mangueira

Tabela 4 - Análise química e teor de argila em duas áreas distintas e quan-


tidade de calcário (PRNT=100%) a ser aplicado em aplicada em
mangueira, de acordo com a recomendação oficial de alguns
estados brasileiros.
Esta- Necessidade de calagem,
Análise química do solo e teor de argila do t ha-1,PRNT=100%

Área 1 Área 2 Área 1 Área 2

P-resina, mg dm-3 20 10 SP 6,2 4,1


M.O., g dm-3 21 40 MG 4,4 0,9
pH-CaCl2 4,0 4,6 BA, sem irri-
K, mmolc dm-3 0,3 1,6 gação 3,6 1,6
Ca, mmolc dm-3 1 15 Ba, com irri-
Mg, mmolc dm-3 1 9 gação 4,4 1,8
Al, mmolc dm-3 8 6 CE 2,8 1,2
(H+Al), mmolc dm-3 78 58 GO 3,4 1,2
V, % 3 31 RJ 2,8 1,4
Argila, g kg-1 600 600

4.3. Adubação de plantio ou instalação

Esta adubação, de acordo com as recomendações oficiais, disponí-


veis no Brasil, restringe-se a alguns estados ou regiões produtoras de man-
ga (Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Semi-
árido). De forma geral, existem variações nas recomendações de adubação
de plantio, isto é, todas as recomendações preconizam adicionar na cova
esterco de curral ou outro adubo orgânico, cujas quantidades variam entre
10 e 20 litros de esterco de curral ou torta de mamona ou 3 a 6 litros de
esterco de galinha, 20 a 250 g cova-1 de P2O5 e 10 a 60 g cova-1 de K2O
(apenas Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro recomendam); e somente o
Estado de são Paulo recomenda a adição de zinco.
No Estado de Minas Gerais, Souza et al. (1999, p.239) recomendam a
seguinte adubação por cova: 20 litros de torta de mamona, 100 g cova-1 de
calcário dolomitico para cada tonelada aplicada em área total; 20 – 40 ou 60 g
cova-1 de P2O5 e 10 – 20 ou 30 g cova-1 de K2O, dependendo do teor de P2O5
e K2O no solo (bom, médio ou baixo). Recomenda-se ainda, aplicar metade da
dose de P2O5 na forma solúvel e a outra metade, na forma de fosfato natural.

189
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

No Estado de São Paulo, Quaggio et al. (1997, p.146) recomendam


aplicar por cova: 10 litros de esterco de curral (ou três litros de esterco de
galinha); 200 g de P2O5; e 5 g de zinco.
Na região do Semi-árido, mangueira irrigada, Silva et al. (2002, p.212)
recomendam aplicar por cova: 20 a 30 litros de esterco de curral; 80 – 120
ou 250 g de P2O5, dependendo do teor de P-disponível no solo (>40 – 21 a
40 – 10 a 20 e < 10 mg dm-3 de P-Mehlich).
Todas as recomendações sugerem que a adubação de cova anteceda
o plantio da mangueira por pelo menos 30 dias. Misturar bem esses fertili-
zantes à terra retirada da cova, usando a mistura para o enchimento da
mesma.

4.4. Adubação de formação

A adubação de formação visa em primeiro lugar a redução do perío-


do que antecipa a fase de produção.
Em Minas Gerais, Souza et al. (1999, p.240) recomendam a aduba-
ção com NPK, conforme Tabela 5, aplicando os fertilizantes em toda a área
de projeção da copa das plantas. As eventuais deficiências de micronutrientes
deverão ser supridas de acordo com as necessidades.

190
Fertilidade do Solo e Nutrição da Mangueira

Tabela 5 - Adubação de formação da mangueira para o Estado de Minas


Gerais.
Disponibilidade de P* Disponibilidade de K
____________________ ____________________
Época Nitrogênio Baixa Média Boa Baixa Média Boa
N, g planta-1 __ P2O5, g planta-1____ ___ K2O, g planta-1___

....................................... 1º ano pós-plantio ...................................

Outubro 40 90 60 30 - - -
Janeiro 40 - - - 60 40 20
Março 20 - - - 60 40 20
Total 100 90 60 30 120 80 40

................................... 2º ano pós-plantio ......................................


Outubro 50 120 80 40 - - -
Janeiro 50 - - - 60 40 20
Março 50 - - - 90 60 30
Total 150 120 80 40 150 100 50

................................. .3º ano pós-plantio ......................................


Outubro 70 150 100 50 90 60 30
Janeiro 70 - - - 90 60 30
Março 60 - - - 90 60 30
Total 200 150 100 50 270 180 90

*
Extrator Mehlich 1

No Estado de São Paulo, recomenda-se a adubação com NPK, de


acordo com a análise de solo e a idade da planta, a qual está apresentada na
Tabela 6. Os adubos devem ser aplicados em três parcelas, no início, mea-
dos e final da estação das chuvas (Quaggio et al.,1997, p.146).

191
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Tabela 6 – Adubação de formação da cultura da manga para o Estado de


São Paulo.
P-resina, mg dm-3 K +, mmolc dm-3
Idade Nitrogênio 0-12 13-30 >30 0-0,7 0,8-1,5 1,6-3,0 >3,0
Anos N, g cova-1 ......... P2O5, g planta-1 ......... .......... K2O, g planta-1 ..........
0-1 30 - - - 40 - - -
1-2 60 160 80 60 80 40 - -
2-3 120 240 160 100 160 120 80 40
3-4 160 320 240 120 240 180 120 80

Por outro lado, para a região do semi-árido, para mangueira irrigada,


recomenda-se a adubação NPK, considerando a análise química do solo,
conforme Tabela 7. A dose de nitrogênio deve ser parcelada em seis aplica-
ções ao ano em solos argilosos e em doze, em solos arenosos, iniciando com
10 g por planta aos trinta dias após o plantio. O fósforo deve ser parcelado
em duas aplicações no segundo ano e a dose de potássio deve ser parcelada
da mesma forma que o nitrogênio. Utilizar como fonte de nitrogênio, o sulfa-
to de amônio e como fonte de fósforo, o superfosfato simples, para fornecer
enxofre às plantas (Silva et al., 2002, p.212).

Tabela 7 – Adubação de formação da cultura da manga para o Semi-árido.


P-Mehlich, mg dm-3 K+, cmolc dm-3
Idade Nitrogênio <0,10 10-20 21-40 >40 <0,16 0,16- 0,31- >0,4
0,30 0,45 5
Meses N, g cova-1 ......... P2O5, g planta-1 ......... .......... K2O, g planta-1 ..........
0 - 12 150 - - - - 80 60 40 20
13 - 24 210 160 120 80 40 120 100 80 60
25 - 30 150a - - - 80 60 40 20
a
antes de aplicar nitrogênio nesta época, realizar análise foliar, principalmente se for fazer a
indução floral entre 30 e 36 meses.

4.5. Adubação de produção

Na fase de produção, a adubação tem por finalidade repor as quanti-


dades exportadas pela colheita.
Para o Estado de Minas Gerais, considerando uma produtividade de
10 t ha-1, recomenda-se a adubação com NPK, de acordo com a Tabela 8.

192
Fertilidade do Solo e Nutrição da Mangueira

No entanto, no ano em que não ocorrer produção, suprimir as aplicações


referentes às épocas B e C (Souza et al., 1999, p.241)
No Estado de São Paulo, recomenda-se aplicar, anualmente, a adu-
bação NPK, de acordo com a análise de solo e a produtividade esperada, de
acordo a Tabela 9. Recomenda-se aplicar o fósforo, preferencialmente em
dose única, antes do florescimento. Quando utilizar formulação NPK, par-
celar o fósforo juntamente com o nitrogênio e o potássio. As doses de nitro-
gênio e potássio devem ser aplicadas na superfície do solo, em três parce-
las, sendo a primeira no inicio das chuvas e as outras, após a colheita, até o
final do período chuvoso (Quaggio et al., 1997, p.146).

Tabela 8 - Adubação de produção da mangueira para o Estado de Minas


Gerais.
Disponibilidade de P1 Disponibilidade de K
____________________ ____________________
Época Nitrogênio Baixa Média Boa Baixa Média Boa
N, g planta-1 __ P2O5, g planta-1____ ___ K2O, g planta-1___

.................................... 4º ano pós-plantio ...................................

A2 20 - - - 30 20 10
B 80 150 100 50 90 60 30
C 100 - - - 90 60 30
Total 200 150 100 50 210 140 70

................................... 5º ano pós-plantio ......................................


A 30 - - - 30 20 10
B 100 150 100 50 120 80 40
C 100 - - - 90 60 30
Total 230 150 100 50 240 160 80

................................. .6º ano pós-plantio ......................................


A 50 - - - 60 40 20
B 150 150 100 50 150 100 50
C 150 - - - 150 100 50
Total 350 150 100 50 360 240 120

1
Extrator Mehlich; 2 Estádios de desenvolvimento: A=precede a floração, B=após o pegamento
dos frutos e C=após a colheita

193
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Tabela 9 – Adubação de produção da cultura da manga para o Estado de


São Paulo.
Produtivi- N nas folhas, g P-resina, mg/dm3 K+, mmolc/dm3
dade kg-1
esperada <10 10-12 >12 0-5 6-12 13-30 >30 0-0,7 0,8-1,5 1,6-3,0 >3,0
t N, kg ha-1 ......... P2O5, kg ha-1 ........ ..........K2O, kg ha-1 .......

< 10 20 10 - 30 20 10 - 30 20 10 -
10-15 30 20 - 40 30 20 - 50 30 20 -
15-20 40 30 - 60 40 30 - 60 40 30 -
> 20 50 40 - 80 60 40 - 80 50 40 -

4.5.1. Localização dos adubos

Na mangueira, recomenda-se aplicar os adubos ao redor das plantas


e na projeção da copa (Quaggio, et al., 1997, p.147) ou em uma faixa, cujo
centro coincida com a projeção da copa, de largura igual à distância entre o
tronco e esta projeção (Guimarães, 1982, p.34). Ainda, se possível, reco-
menda-se a incorporação dos fertilizantes para protegê-los de perdas ou até
mesmo para colocá-los mais próximos do sistema radicular.
Por outro lado, Choudhury e Soares (1992, p. 170 a 171), estudando a
distribuição do sistema radicular de mangueira em solo arenoso do Semi-
árido, irrigado, com problemas de adensamento, para subsidiar práticas agro-
nômicas, entre elas, localização de fertilizantes, em um pomar da variedade
Tommy Atkins (8 anos de idade; espaçamento de 10 x 10 m), observaram
que, na distância de 90 a 345 cm, ocorria uma existência de 90 e 88 % de
raízes nas profundidades de 0 a 20 e 20 a 40 cm, respectivamente. Os
pesquisadores, na discussão do trabalho, relataram que isto evidencia que a
pratica de localização dos fertilizantes na periferia da projeção da copa da
planta, em sulcos estreitos e rasos não é a mais adequada para a condição
estudada. Essas informações permitiram aos autores concluírem que, a apli-
cação de fertilizantes deve ser feita na faixa de solo com maior concentra-
ção de raízes de absorção, que está compreendida entre 90 e 260 cm em
relação ao caule.
Silva et al. (2002, p.214) recomendam que, em condições semi-ári-
das, a aplicação do fertilizante está diretamente relacionada com a distribui-
ção do sistema radicular da planta. Na fase de formação, as adubações

194
Fertilidade do Solo e Nutrição da Mangueira

devem ser iniciadas a partir de um mês do plantio, distribuindo-se os fertili-


zantes na área correspondente à projeção da copa, mantendo-se uma dis-
tância mínima de 50 cm do tronco da planta. Deve-se fazer uma leve incor-
poração e irrigar logo em seguida. O raio da área de aplicação deverá ser
ampliado em função do crescimento da planta. A partir de três anos ou
quando as plantas entrarem em produção, os fertilizantes deverão ser apli-
cados em sulcos, abertos ao lado da planta. A cada ano, o lado adubado
deve ser alternado. A localização desses sulcos deve ser limitada pela pro-
jeção da copa e pelo bulbo molhado, por ter esta região maior concentração
de raízes. O parcelamento da dose total dos fertilizantes na fase de produ-
ção deverá ser da seguinte forma: nitrogênio – 50 % após a colheita, 30 %
após o pegamento dos frutos e 20 % 50 dias após o pegamento dos frutos;
fósforo – 60 % após a colheita e 40 % na floração; potássio – 25 % após
a colheita, 20 % antes da indução floral, 15 % na floração, 15 % após o
pegamento dos frutos e 15 % 50 dias após o pegamento dos frutos.

4.6. Adubação orgânica

A adubação orgânica compreende o uso de resíduos orgânicos (ani-


mal, vegetal, etc.) com a finalidade de aumentar a produtividade das cultu-
ras.
O principal efeito da adubação orgânica é a melhoria das proprieda-
des químicas, físicas e biológicas do solo. No entanto, os adubos orgânicos,
apesar de possuírem nutrientes em teores baixos e desbalanceados, quando
aplicados carreiam nutrientes que devem ser considerados nas adubações.
A liberação dos nutrientes dos adubos orgânicos é mais lenta que a
dos adubos minerais, pois é dependente da mineralização da matéria orgâni-
ca. Na Tabela 10, são apresentadas as porcentagens que representam uma
aproximação da taxa de conversão de nutrientes da forma orgânica para a
forma mineral ao longo dos anos (Comissão de Fertilidade do Solo do Esta-
do de Minas Gerais, 1989, p.52).

195
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Tabela 10 – Porcentagens de conversão dos nutrientes aplicados, via adu-


bos orgânicos, para a forma mineral.
% de conversão
Nutriente 1o ano 2o ano Após o 2o ano

N 50 20 30
P 60 20 20
K 100 - -

Ressalta-se que na literatura nacional, nada é mencionado sobre a


adubação orgânica na mangueira, exceto no plantio. No entanto, este tipo
de adubação deve ser estudado na cultura da manga, principalmente, apro-
veitando a disponibilidade regional deste tipo de adubo.

4.7. Adubação com micronutrientes

A adubação com micronutrientes, via foliar, tem sido freqüentemente


empregada em frutíferas. No entanto, o fornecimento dos micronutrientes
poderá ser realizado por meio da aplicação de fertilizantes ao solo, na forma
de sais, de fritas, etc.. Na literatura nacional, a carência de trabalhos de
pesquisa na cultura da manga, para melhor fundamentar as recomendações
existentes, é acentuada.
Nesse aspecto, Campos et al. (1971, p.767) estudaram a viabilidade da
aplicação de mistura de micronutrientes (Zn, Cu, Mn, Mg e B) sem a adição
de neutralizantes. Em uma primeira pulverização, aplicou o boro como ácido
bórico e o restante dos micronutrientes como sulfato, a uma concentração de
0,5 %. Na segunda aplicação, as doses foram aumentadas em 50 %. Conclu-
íram que a adição de neutralizantes para mangueiras podia ser dispensada.
No Estado de São Paulo, Quaggio et al. (1997, p.147) recomendam
que, por ocasião do primeiro tratamento fitossanitário, visando a proteção
da florada antes da emissão da panícula, acrescentar à calda de pulveriza-
ção, três g L-1 de sulfato de zinco e um g L-1 de ácido bórico. Essa aplicação
de micronutrientes deve ser repetida quando houver um fluxo novo de
brotação nas plantas.

196
Fertilidade do Solo e Nutrição da Mangueira

Na região Semi-árida, as deficiências mais comuns de micronutrientes


que ocorrem na mangueira são de zinco e boro. Em função da análise foliar
e de solo, recomenda-se aplicar quantidades que variam de 25 g planta-1 de
sulfato de zinco a 100 g planta-1 de fritas e 10 g planta-1 de bórax a 100 g
planta-1 de fritas ou fazer a correção via foliar, conforme Silva et al. (2002,
p.215).

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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198
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

NUTRIÇÃO E DESORDENS FISIOLÓGICAS NA


CULTURA DA MANGA
Renato de Mello Prado1

1. INTRODUÇÃO

Uma das principais conseqüências do processo de globalização tem


sido a elevação do nível de exigência dos consumidores quanto à qualidade
dos produtos. A manga é a fruta tropical que mais contribui com as exporta-
ções brasileiras de frutas frescas. Isto evidencia que esta fruta tem con-
quistado o mercado internacional, gerando divisas para o Brasil. Esta boa
aceitação internacional da manga brasileira deve-se, principalmente, à sua
qualidade. Entretanto, sendo uma fruta perecível, sua distribuição para cen-
tros distantes é limitada pela curta vida pós-colheita em temperatura ambi-
ente (Yuen et al., 1993). Na exportação para os mercados europeu e ame-
ricano, o transporte marítimo é uma boa alternativa, devido ao baixo custo,
além de permitir maiores volumes de carga. No entanto, devido ao longo
período de transporte, o fruto necessita de uma vida útil pós-colheita longa,
cerca de um mês. Nota-se, assim, a importância da qualidade da manga
para a economia de toda a cadeia do agronegócio desta frutífera.
Uma melhor qualidade dos frutos da mangueira depende, além do
fator genético, do ponto ideal de colheita e de aspectos ligados ao estado
nutricional das plantas. Assim, ultimamente, está sendo muito discutido o
papel da nutrição mineral na melhoria da qualidade dos frutos, especialmen-
te, quanto aos aspectos físicos e tecnológicos das frutas como: cor da cas-
ca, teor de sólido solúveis, acidez, entre outros, e, ainda, suprimindo eventu-
ais desordens fisiológicas, favorecendo o aumento da vida de prateleira com
ganhos durante o processo de distribuição e comercialização do produto.
Mangas com menor incidência de injúrias provocadas por desordens
fisiológicas podem resultar em frutos de qualidade superior. Assim, qualida-

1
Prof. Dr.Depto. de Solos e Adubos, FCAV/Unesp - Campus Jaboticabal, Via de acesso Prof. Paulo
Donato Castellane, s/n.14.884-900, Jaboticabal-SP. [email protected]

199
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

de é o conjunto de características próprias que resultam na aceitabilidade de


um produto determinado, frente a seus semelhantes. Portanto, é a soma de
todos os atributos que se combinam que contribuem e para que os produtos
sejam nutritivos, desejados e aceitos.
Distúrbios fisiológicos referem-se a quaisquer danos produzidos nos
tecidos do fruto, que não foram causados por patógenos ou danos mecâni-
cos. Ressalte-se que, embora certos patógenos estejam presentes nos fru-
tos com distúrbios fisiológicos, sua patogenicidade não foi comprovada ci-
entificamente. Estes distúrbios ocorrem em resposta a uma condição ad-
versa, ou por deficiências nutricionais durante o período de desenvolvimen-
to e crescimento dos frutos.
Assim, a presente revisão objetiva indicar os fatores nutricionais que
afetam a qualidade dos frutos da mangueira, com ênfase na desordem fisi-
ológica, através de resultados de pesquisa com a finalidade de amenizar os
efeitos da ocorrência deste problema.

2. ASPECTOS FÍSICOS E TECNOLÓGICOS

Com relação à nutrição e aos atributos físicos e tecnológicos da fruta,


existe pouca experimentação. Entre os aspectos físicos da manga, a cor da
casca mostra-se muito importante. Durante o amadurecimento dos frutos,
ocorrem várias alterações bioquímicas, sendo a clorofila degradada, haven-
do acúmulo de antocianina (pigmento vermelho) que se acumula, ao mesmo
em tempo que os carotenóides aumentam. Existem várias razões que cau-
sam alterações na cor da manga, como as manchas esverdeadas (Figura 1),
citando McKenzie (1994) que o fator estado nutricional da planta e/ou do
fruto constitui o mais importante para explicar a coloração da casca da
manga. O autor complementa que pomares de mangueira que recebem al-
tas doses de nitrogênio têm maior freqüência de frutos verdes, comparados
aos pomares com baixa adubação em N, que têm maior freqüência de fru-
tos amarelos.

200
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

Figura 1. Aspecto de um fruto de manga com manchas esverdeadas na casca.

McKenzie (1996), avaliando diferentes cultivares de mangueira


(sensation; Kent; Tommy Atkins, Heidi e Keitt) na África do Sul, verificou a
necessidade do uso moderado da adubação nitrogenada, a partir de níveis
que considerem o valor mais baixo da faixa de suficiência do nutriente, para
o melhor desenvolvimento da cor da casca, à exceção a cv. Heidi, em que
níveis mais elevados são aceitáveis. No Brasil, pomares de mangueira com
teor de N foliar >12 g kg-1 tendem a ter maior incidência de frutos com
coloração da casca verde (Pinto, 2000).
Kumar e Kumar (1989) verificaram que a aplicação de zinco nos
frutos da mangueira em pré-colheita melhora a sua qualidade, devido ao
aumento do conteúdo de açúcares e sólidos solúveis totais.

3. IMPORTÂNCIA DA DESORDEM FISIOLÓGICA

A mais importante desordem fisiológica em frutos de mangueira é o


complexo colapso interno do fruto, que pode aparecer no início da maturação
ou mesmo após a colheita, por ocasião da distribuição/comercialização dos
frutos.
Wainwright e Burbage (1989) definem desordem fisiológica como o
resultado de um desequilíbrio no metabolismo induzido por um ou mais fato-
res ambientais na pré ou pós-colheita, levando ao colapso celular e ao apa-
recimento de áreas escuras e aquosas em alguma parte da polpa. Sua ocor-
rência em manga ainda não é totalmente esclarecida. Assim, vários relatos
sugerem que fatores edáficos e do ambiente têm sido relacionados ao apa-
recimento de desordens fisiológicas (Schaffer e Andersen, 1994).
Esse problema tem ocasionado enormes prejuízos econômicos, prin-
cipalmente por ser de difícil detecção, sendo na maioria das vezes constata-
do apenas pelo consumidor final. Na Flórida, os pomares de mangueira cul-

201
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

tivados intensivamente (adubação, indução de florescimento, etc.), têm apre-


sentado crescimento de incidência do colapso interno do fruto (Malo e
Campbell, 1978). No Brasil, este problema tem se agravado nos últimos
anos, especialmente em mangueiras melhoradas de origem americana, a
exemplo da Tommy Atkins, Van Dyke e Zill (Ferreira, 1989). Assim, uma
das prováveis causas dessas desordens é o desequilíbrio nutricional, que
pode estar condicionado pelo patrimônio genético da cultivar, uma vez que,
nas mesmas condições de ambiente e tratos culturais, as variedades dife-
rem entre si quanto à suscetibilidade à desordem. Mangas fibrosas como
‘Espada’ e ‘Coquinho’ são pouco ou quase nada afetadas, ao passo que as
cultivares melhoradas como ‘Tommy Atkins’, ‘Kent’, ‘Irwin’ e ‘Keitt’ são
muito susceptíveis (Evangelista, 1992).
Além dos fatores genéticos e edáficos, as variáveis do ambiente têm
sido envolvidas no aparecimento das desordens fisiológicas em manga, po-
dendo, indiretamente, ser um dos fatores que causam a deficiência de cálcio
nos frutos. Normalmente, espera-se que o equilíbrio nutricional favoreça a
menor ocorrência de distúrbios fisiológicos e podridões, mantendo por mais
tempo as características organolépticas das frutas (frescas) e, conseqüen-
temente, uma vida de prateleira maior.
Nesse aspecto, o cálcio é o nutriente mais estudado, visando a dimi-
nuição das desordens fisiológicas e permitindo a ampliação da vida pós-
colheita dos frutos de manga. Van Eeden (1992) encontrou relação entre a
baixa concentração de cálcio e desordem fisiológica em frutos de manguei-
ra.
Poovaiah (1985) relata a importância de pesquisas que tratem da
interação entre o cálcio na planta e o retardamento do amadurecimento, da
senescência, além de influenciar na qualidade das frutas.
A pesquisa tem mostrado que maior teor de cálcio no fruto pode adiar
o amadurecimento e a senescência, mediante redução da respiração, da
evolução do etileno e da perda de massa fresca, atrasando o amadureci-
mento e estendendo a vida pós-colheita (Tirmazi, 1981; Mootoo, 1991; Van
Eeden,1992 e Yuniarti, 1992) e, ainda, aumentando a firmeza dos frutos
(Bangerth, 1979), podendo manter suas qualidades organolépticas.
Na literatura, a deficiência do Ca leva a uma deterioração acentuada
das membranas, com alteração em sua arquitetura, fluidez e permeabilidade
à passagem de água (Poovaiah, 1986). Existe uma tendência em associar

202
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

aumento na firmeza com elevação do teor de cálcio nos mesmos


(Gerasopoulos et al., 1996). Sams e Conway (1984) reforçam que a manu-
tenção da integridade da parede celular e da firmeza de frutos tratados com
cálcio é o resultado da redução da despolimerização devido às ligações do
Ca+2 com os grupos carboxílicos livres dos polímeros de poligalacturonato
da parede celular e da lamela média. Desse modo, vários autores indicam
que a deficiência de cálcio causaria o colapso interno dos frutos da man-
gueira (Young, 1957; Young et al., 1962 e Burdon et al., 1991).
De acordo com Raymond et al. (1998a), desordens fisiológicas como
colapso interno, danos nas sementes e cavidade penducular, são encontra-
das em cultivares de mangas suscetíveis e, o que determina cada tipo, são
os diferentes sintomas que apresentam, sendo a característica principal, a
desorganização das células e a ruptura da parede celular, seguidas de dete-
rioração das conexões vasculares entre o caroço e o mesocarpo.
Diferenciam ainda o tipo de sintoma que cada desordem pode causar
nos frutos de manga, sendo que os danos na semente (Figura 2b) afeta
somente o interior do mesocarpo; a cavidade penducular (Figura 2c) afeta
as extremidades do fruto, podendo ser encontrados cristais de oxalato de
cálcio; enquanto o colapso interno (Figura 2a) se caracteriza por um ama-
durecimento parcial do mesocarpo e, em estagio inicial, apresenta colora-
ção amarela, bem definida entre o caroço e o mesocarpo.

203
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Figura 2. Sintomas visuais em frutos: a) início do estágio de colapso interno;


b) estágio avançado de danos na semente; c) estágio avançado de
cavidade penducular em frutos de manga (Raymond et al., 1998a).

Portanto, os sintomas mais comuns da desordem fisiológica são a


desintegração da polpa, formação de cavidade abaixo do pedúnculo (cavi-
dade peduncular), amolecimento sob a casca, fendilhamento da semente,
manchas necróticas na polpa e verrugas no endocarpo. Assim, o colapso
interno é o resultado da desorganização celular, sendo caracterizado pela
degradação da polpa (Figura 3).

Figura 3. Fruto da mangueira caracterizando a sintomatologia do colapso


interno.
204
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

É pertinente acrescentar, ainda que a época em que cada tipo de


desordem aparece nos frutos depende da cultivar, conforme mostra a Tabe-
la 1 (Raymond et al., 1998a). Na cv. Irwin, os sintomas (danos na semente
e cavidade penducular) aparecem mais tardiamente, em relação à Tommy
Atkins e Van Dyke, não havendo, porém, diferenças com relação ao colap-
so interno entre as cultivares estudadas.

Tabela 1. Tempo em que as desordens fisiológicas ocorreram na semente,


cavidade penducular e colapso interno, detectadas em frutos de
mangueira ‘Tommy Atkins’, ‘Irwin’ e ‘Van Dyke’
Período da primeira detecção das desordens*
Cultivar
Danos na semente Cavidade penducular Colapso interno
Tommy Atkins 8 8 14
Irwin 12 12 14
Van Dyke 8 8 14

* Frutos maduros após o pegamento.

Galan-Saúco et al. (1984) acrescentaram ainda, que a desordem fisi-


ológica do colapso interno em manga é a combinação de danos nas semen-
tes e na cavidade penducular dos frutos.
Freqüentemente, os problemas ligados à má nutrição de cálcio na
planta surgem nos frutos após a colheita ou durante o armazenamento
(Ricardo, 1983). O amadurecimento das mangas é caracterizado pelo
amaciamento do fruto, acompanhado da solubilização de pectinas, envol-
vendo a ação das enzimas poligalacturonase (PG) pectinametilesterase
(PME), e celulase (Abu-Sarra e Abu-Goukh, 1992). Os autores
complementam que a ação da PME em promover sítios de ligação para o
Ca2+ é sem dúvida importante para a concentração deste íon na parede
celular e na lamela média, mas, a ação de outras enzimas que degradam a
parede celular e a lamela média, tais como a PG, também são importantes.
Esse fato vem despertando interesse de pesquisadores e, segundo
Gunjate et al. (1979) e Menezes (1997), sugerem que a aplicação de cálcio
em pré-colheita na manga seria uma alternativa viável para a manutenção
de sua qualidade. Acrescentam ainda, que aplicações de Ca nos frutos em
pós-colheita poderiam ser, também, interessantes.
205
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

4. RESULTADOS DE PESQUISA

a) Pulverização e/ou imersão de frutos de mangueira em solução de cálcio


(pós-colheita) vs. desordem fisiológica

Uma forma de aplicação do Ca em pulverização nos frutos, em pós-


colheita, seria por imersão do fruto. Neste sentido, Zambrano e Manzano
(1995) compararam a aplicação de Ca em mangas por simples imersão
(solução com CaCl2 4 a 6%) por 2 horas e infiltração a vácuo com a mesma
solução por 10 minutos. Apesar de os tratamentos terem reduzido a perda
de matéria seca durante o armazenamento (6 a 8%), os modos de aplicação
foram semelhantes.
Evangelista et al. (2000) avaliaram a influência de níveis de cálcio (0,
2,5 e 5,0%) aplicado na pré-colheita, observando seu efeito na atividade das
enzimas poligalacturose (PG), pectinametilesterase (PME) e b-galacturose
em mangas ‘Tommy Atkins’, bem como no armazenamento. Concluíram que
os frutos que receberam o tratamento CaCl2 a 5,0% apresentaram textura
significativamente mais firme. Não foi observada diferença significativa na
atividade da PG nos frutos. Com relação à atividade da b-galactosidase, quan-
to maior a concentração de cálcio, menor a atividade observada (Tabela 2).

Tabela 2. Valores médios obtidos para as medidas de textura e atividade das


enzimas poligalacturonase (PG) e β-galactosidase em mangas
‘Tommy Atkins’, safra 1995, armazenadas a 10 ± 1°C e 80-90% UR
Determinações
Tratamentos Textura Poligalacturonase Â-galactosidase
(N) (U.min-1g-1 ) (nkat.mg-1 )
Controle 83,23 b 136,59 a 523,00 a
CaCl2 a 2,5 % 89,87 ab 130,41 a 460,19 ab
CaCl2 a 5,0 % 94,44 a 127,97 a 437,90 b
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey
(p<0,05).

206
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

Os autores acrescentam ainda, que houve efeito dos tratamentos no


armazenamento dos frutos, observando elevação nos valores médios obti-
dos para a atividade da PG ao longo do período de armazenamento, com
conseqüente perda de firmeza.
Junior e Chitarra (1999) estudaram o efeito da aplicação de cloreto
de cálcio (0, 2 e 4%) em mangas ‘Tommy Atkins’, aliada ao tratamento
hidrotérmico, sobre a aparência interna dos frutos. Os autores observaram
que, inicialmente, os frutos estavam sadios e sem colapso interno. No 8° e
no 15° dias, alguns frutos apresentaram colapso; entretanto, os autores con-
cluíram que o efeito foi isolado e ao acaso, não apresentando diferença
significativa (Tabela 3).

Tabela 3. Médias das notas atribuídas à aparência das mangas submetidas à


imersão pós-colheita por 90 minutos em solução de CaCl2 e arma-
zenadas sob refrigeração por 22 dias
Tratamentos (CaCl2)
Armazenamento
0% 2% 4%
(dias)
Aparência interna
0 1,0 a 1,0 a 1,0 a
8 1,0 a 1,2 a 1,4 a
15 1,0 a 1,0 a 1,3 a
22 1,0 a 1,0 a 1,0 a

Valores seguidos pelas mesmas letras na horizontal não diferem entre si pelo teste de Tukey,
a 5% de probabilidade.

Ainda neste experimento, notou-se que a intensidade do colapso nos


frutos foi uniforme, verificando-se que a desordem ocorreu em pequena
escala, sendo independente do tratamento aplicado. Em todos os tratamen-
tos, o comportamento do Ca foi semelhante em todo o período de
armazenamento e com o aumento da concentração de cálcio na solução
ocorreu maior acúmulo do elemento, tanto na casca como na polpa (Tabela
4).

207
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Os autores concluíram que existe correlação positiva entre a quanti-


dade de cálcio aplicada e a quantidade do elemento presente na casca,
resultando em boa aparência externa do fruto; porém, houve diminuição da
penetração do elemento na polpa, não garantindo a qualidade final da fruta
para a eventual exportação.

Tabela 4. Valores médios de cálcio na casca e na polpa de frutos de man-


gueira, submetidos à imersão pós-colheita por 90 minutos em so-
lução de CaCl2, armazenado sob refrigeração por 22 dias

Tratamentos (CaCl2)
Armazenamento
0% 2% 4%
(dias)
Cálcio na casca
0 0,280 a 0,318 b 0,443 c
8 0,243 a 0,369 b 0,424 c
15 0,292 a 0,365 b 0,461 c
22 0,327 a 0,417 b 0,484 c
Cálcio na polpa
0 0,054 a 0,062 b 0,074 c
8 0,067 a 0,089 b 0,123 c
15 0,090 a 0,109 b 0,134 c
22 0,103 a 0,124 b 0,146 c
Valores seguidos pelas mesmas letras na horizontal não diferem entre si pelo teste de Tukey,
a 5% de probabilidade.

Joyce et al. (2001), avaliando o efeito de níveis de cálcio na pós-


colheita e na infiltração do elemento no amadurecimento de frutos de duas
cultivares ‘Kensington’ e ‘Sensation’ de manga, observaram que o teor de
cálcio na polpa diminuiu, mas ao analisar o fruto como um todo, o conteúdo
do elemento aumentou (Figuras 4 e 5). Houve alteração do tamanho do
fruto durante o desenvolvimento, com um aumento do peso da polpa, em
ambos os cultivares. Os autores afirmam ainda, que desprezando a região
208
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

mais interna do mesocarpo, houve aumento da dimensão das células. Os


teores de cálcio decresceram da casca para a parte mais interna do
mesocarpo, sendo essa causa atribuída à diminuição da espessura da pare-
de celular.
Na tentativa de elevar os teores de cálcio em mangas (pós-colheita),
Wills et al. (1988) e Van Eeden (1992) fizeram aplicações do elemento,
porém, não obtiveram resultados favoráveis. Possivelmente, a falta de
estômatos funcionais nos frutos da manga (Dietz et al. 1988) pode ter con-
tribuído para a ineficiência da pulverização com cálcio.
Burdon et al. (1990) determinaram níveis de cálcio em mangas ‘Kent’,
‘Beverly’ e ‘Sensation’, verificando que: 1) existe variação no teor de cálcio
conforme a posição na fruta. A polpa interna, normalmente possui teores
inferiores de cálcio em relação à externa. A região apical, localização essa
sujeita ao “colapso interno”, é a mais pobre em cálcio; 2) comparando-se
duas regiões de produção da manga ‘Kent’, verificaram maior incidência de
distúrbios na região em que os frutos apresentaram menores teores de cál-
cio na polpa; 3) o cultivar ‘Beverly’, menos sujeito à ocorrências de distúr-
bios, apresentou teores de cálcio semelhantes ou mesmo inferiores, aos en-
contrados na manga ‘Kent’, mais suscetível; 4) o teor de cálcio decresceu,
no fruto, da base para o ápice; e 5) o teor de cálcio nos frutos variou de
0,135 a 0,041%.

209
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Figura 4. Largura dos frutos (A), peso da polpa do fruto (B), concentração
de cálcio na polpa (C) e o conteúdo de cálcio nos frutos de manga
(D) de ‘Kensington’, durante o crescimento e a maturação.

210
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

Figura 5. Largura dos frutos (A), peso da polpa (B), teores de cálcio na
polpa (C) e conteúdo de cálcio nos frutos de mangueira (D)
‘Sensation’, durante o desenvolvimento e a maturação.

b) Pulverização de cálcio na planta (pré-colheita) vs. desordem fisiológica

Silva e Menezes (2001) avaliaram a qualidade pós-colheita da manga


‘Tommy Atkins’ submetida à aplicação pré-colheita de CaCl 2 e ao
armazenamento refrigerado. Os fatores estudados foram concentrações de
CaCl2 (1% e 2%) e números de aplicações (2, 3 e 4 vezes). Houve ainda
um tratamento adicional que funcionou como controle. As pulverizações
foliares foram iniciadas cerca de 35 dias após a antese, num intervalo de 15
dias. Do total de 280 frutos colhidos, 175 foram levados para análise imedi-
ata, enquanto 105 permaneceram em câmara fria (10oC) por 30 dias, sendo
posteriormente analisados. As concentrações de CaCl2 testadas em dife-

211
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

rentes números de pulverizações não resultaram em incremento do teor de


cálcio no fruto e também não influenciaram a firmeza da fruta (Tabela 5). A
incidência de colapso interno não foi associada à aplicação de cálcio.
Outros estudos indicaram que pulverizações foliares com CaCl2,
dirigidas aos frutos, não resultaram em incremento de cálcio nos mesmos
(McKenzie 1994; 1995; Rabelo et al., 1996).

Tabela 5. Firmeza dos frutos e teores de cálcio em mangas “Tommy Atkins”


tratadas com diferentes concentrações e número de pulveriza-
ções de CaCl2 em pré-colheita
Concentrações de CaCl2 Cálcio Firmeza
% µmol de Ca2+/100 g N
(material liofilizado)
0 18,0a(1) 62,2a
1 20,5a 54,0a
2 19,5a 52,6a
Número de aplicações de CaCl2
2 20,7a -
3 20,2a -
4 - 19,0a -
(1)
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,05).

Sampaio et al. (1999), trabalhando na fase de frutificação de man-


gueiras ‘Tommy Atkins’ (Ca foliar = 33 g kg-1 no florescimento), com oito
anos de idade, cultivadas em um Latossolo Vermelho-Escuro (Ca = 33 mmolc
dm-3 e V = 37%), realizaram sete pulverizações com cloreto de cálcio (0,6 e
1,2%), observando os efeitos no intervalo de 2 semanas. Os frutos foram
colhidos em duas ocasiões: 16/12/96 (colheita em época normal) e 06/01/97
(colheita tardia). Não houve efeito no conteúdo de cálcio na polpa dos fru-
tos das plantas tratadas (0,043 a 0,047%) em comparação com as não tra-
tadas (0,052%). A incidência de distúrbios fisiológicos foi similar em todos

212
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

os tratamentos, independente dos conteúdos de nitrogênio e cálcio no


mesocarpo dos frutos.
Evangelista et al. (2002) estudaram em manga “‘Tommy Atkins” (18
anos de idade), produzidas em Ibirá-SP, a pulverização em pré-colheita com
cloreto de cálcio, nas concentrações de 0,0%, 2,5% e 5,0%, em três épocas
de desenvolvimento dos frutos (40; 60 e 90 dias após a floração), a fim de
verificar a influência do cálcio na estrutura da parede celular destes frutos
através de microscopia eletrônica de transmissão, imediatamente após a
colheita e depois de 35 dias de armazenamento. Nas condições experimen-
tais, verificou-se que os frutos do tratamento-controle (sem a aplicação de
cloreto de cálcio) (Figura 6a e 6b), no dia da colheita, já apresentavam
desestruturação da parede celular e dissolução da lamela média (LM), ao
passo que no tratamento com cálcio, a estrutura permaneceu escura, indi-
cando a presença de material intercelular (Figura 6c e 6d). A degradação da
parede celular ocorre inicialmente na LM, levando à formação de espaços
vazios bastante distintos, havendo dissolução ainda maior, com o
armazenamento prolongado (35 dias). Assim, os frutos tratados com cloreto
de cálcio a 5,0% apresentaram LM bem definida e ausência de espaços
vazios, mesmo após o armazenamento, mostrando ser essa uma concentra-
ção efetiva na preservação da lamela média.

213
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Figura 6. Aspecto da parede celular com detalhe da lamela média em frutos


de mangueira sem aplicação de cálcio (A, B) e com aplicação de
cálcio (5%) (C, D), em fotografia de microscopia eletrônica de
transmissão.

c) Dinâmica do cálcio no sistema solo-planta e a desordem fisiológica

A ausência de efeitos de distúrbios fisiológicos na manga submetida à


aplicação de Ca pode ocorrer em função de vários fatores, desde a eficiên-
cia da técnica em garantir melhor nutrição das plantas e frutos, como tam-
bém, aplicações deste nutriente em plantas já com nível de Ca foliar ade-
quado; entretanto, por algum fator abiótico (estresse hídrico), o elemento
não atende em nível suficiente a uma concentração adequada nos frutos,
especialmente na fase de alta taxa de crescimento.

214
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

A literatura menciona que o nível adequado de Ca (teor foliar igual ou


superior a 25 g kg-1) diminui a incidência do colapso interno dos frutos (CO-
MISSÃO ESTADUAL DE FERTILIDADE DO SOLO, 1989). Entretan-
to, existem autores que indicam como teores adequados de Ca para a man-
gueira, valores a partir de 20 g kg-1 (Raij et al., 1996; Young & Koo (1969).Ou-
tros autores consideram como adequado, valor superior a 28 g kg-1, depen-
dendo do ramo em que foi coletada a folha (com ou sem fruto) (Malavolta
et al., 1997) e também da época de amostragem (antes da floração até a
maturação dos frutos) (Martinez et al., 1999) (Tabela 6). É oportuno salien-
tar que estas indicações de teores adequados de Ca estão associadas a
pomares de alta produção. Tendo em vista a necessidade de conciliar a alta
produção com qualidade, ou seja, com baixa incidência de desordem fisioló-
gica, novas pesquisas são necessárias para definição de um padrão de Ca
que atenda a presente condição.

Tabela 6. Teores foliares de cálcio considerados adequados para a man-


gueira.
Ca Fonte
g kg-1
28-34 Malavolta et al. (1997) (1)
30-33 Malavolta et al. (1997) (2)

20-35 Young & Koo (1969), citado por Guimarães (1982) (3)

20-35 Quaggio et al. (1997) (4)

20,3-20,5 (5)

24,8-27,5 (6) Martinez et al. (1999) (8)

22,0-26,2 (7)

(1)
ramos com frutos; (2) ramos sem frutos (2a ou 3a folha na base da panícula de flores); (3) solos
ácidos; (4) ramos com flores (sem frutos), sendo as folhas do último fluxo de vegetação; (5)
Antes da floração; (6) Plena floração e formação de frutos; (7) Maturação de frutos; (8) Folhas
coletadas em diferentes posições da copa.

215
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Portanto, o uso rotineiro da diagnose foliar para o Ca mostra-se im-


portante. No Brasil estudos de levantamento do estado nutricional da man-
gueira são escassos. Entretanto, existe um levantamento realizado no Nor-
deste, onde Pinto et al. (2003) avaliaram 63 pomares de mangueira ‘Tommy
Atkins’ em plantios comerciais com 7 anos ou mais de idade, no estado da
Bahia. Os autores constataram que a seqüência de limitação por deficiência
(em pomares de baixa produtividade: < 250 kg de frutos por planta) foi:
B>Cu=Zn>Ca>N>Fe>Mn>P>K=Mg. Neste sentido, nota-se que entre os
macronutrientes, o cálcio coloca-se como mais limitante para produção da
mangueira. Isto é motivo de preocupação, inferindo-se que isso, possivel-
mente, se deve ao baixo uso de calcário nos pomares.
Assim, as quantidades de cálcio que devem estar presentes nos fru-
tos para garantir a máxima qualidade pós-colheita, podem ser relativamente
maiores que as quantidades do elemento aplicado externamente, efetiva-
mente absorvido e metabolizado. Segundo Quaggio et al. (1997), o teor de
cálcio exportado na colheita em um pomar produzindo 10-12 t ha-1, é da
ordem de 1,3 kg de Ca por t de frutos. Huett & Dirou (2000) observaram
em pomares de mangueira, a seguinte ordem de extração K>N>P=Ca,
correspondendo a 22,5; 16,5; 3; 3 kg ha-1, respectivamente, para uma produ-
ção de 15 t ha-1. Assim, outros autores, colocam o Ca como terceiro nutrien-
te mais extraído pelo fruto de manga, perdendo apenas para N e K (Haag et
al., 1990; Estrada et al., 1996). A casca da manga apresenta alto teor de Ca,
uma vez que estes tecidos de proteção possuem células menores e propor-
cionalmente com maior quantidade de parede celular, constituída por fibras
celulósicas ricas em pectatos de cálcio e magnésio (Gunjate et al.,1979).
Desse modo, o uso de técnicas eficientes, como fontes e modos de
aplicação de Ca para suprir a planta com o nutriente e, conseqüentemente,
os frutos, passa a ser de extrema importância. Para tanto, é necessário
conhecer a dinâmica do cálcio no solo e na planta.
Salienta-se que o contato cálcio-raiz ocorre graças ao processo de
fluxo de massa e, assim, este nutriente para ser absorvido pelas plantas
dependerá do fluxo da corrente transpiratória e da concentração de Ca na
solução do solo. Portanto, a quantidade de cálcio em um órgão particular da
planta está relacionada ao volume da água que se move para esse órgão
(Bangerth, 1979). O transporte de cálcio ocorre principalmente nos vasos
do xilema, sendo a troca catiônica verificada nas paredes destes vasos con-

216
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

dutores. Desta maneira, a competição pelo cálcio entre os vários drenos se


intensifica, quando a concentração de Ca no xilema é baixa e o processo
transpiratório é elevado.
Portanto, a fim de favorecer o processo de contato (Ca-raiz) e a absor-
ção e melhorar a nutrição em Ca nas mangueiras e, conseqüentemente aos
frutos, é importante o uso da irrigação. Neste sentido, a irrigação complemen-
tar na mangueira é prática obrigatória, mesmo em regiões com precipitação
satisfatória (1600 mm ano), não apenas pelos efeitos na qualidade de frutos,
mas também na produtividade da cultura (Singh et al., 1998). Uma vez a
mangueira irrigada, em regiões tropicais, tem incrementado o número de fru-
tos por planta e também o seu peso de frutos (Farré & Hermoso, 1993).
Neste sentido, Simões et al. (2002) verificaram que o aumento da
lâmina de água contribuiu para a diminuição dos sólidos solúveis, entretanto,
aumentou o teor de amido e a firmeza da polpa da manga cv. ‘Tommy
Atkins’ com 11 anos de idade (Figura 7).
11,4 9 Y = 5,33 + 0,032X
Y = 12,817 – 0,0237X R 2 = 0,68
11,2 R 2 = 0,80 8,5
11
Amido (%)
SS (%)

10,8 8
10,6 7,5
10,4
10,2 7
10 6,5
70 80 90 100 70 80 90 100
Lâmina de água (%) Lâmina de água (%)

70
60
Firmeza de polpa (N)

50
40
30 Y = 29,28 + 0,277X
20 R 2 = 0,70
10
0
70 80 90 100
Lâmina de água (%)

Figura 7. Comportamento de sólidos solúveis, amido e a firmeza da polpa,


em mangas ‘Tommy Atkins’, submetidas a diferentes lâminas de
água e armazenadas em condições de 12 ± 1 ºC e 90 ± 5 % U.R.
Mossoró - RN, 2001.

Teores elevados de cálcio são encontrados rapidamente em órgãos


que apresentam alta taxa de transpiração, como as folhas, e que têm área

217
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

de superfície elevada em relação ao volume (Ho e Adams, 1989). Especifi-


camente, durante o desenvolvimento do fruto, Oosthuyse et al. (2000) ob-
servaram durante o período de alta taxa de crescimento, maiores teores de
nutrientes nas folhas, quando comparado à fase de desenvolvimento lento
ou maturação. As maiores variações ocorrem com o Ca, K, N e Mn.
Os frutos acumulam, em geral, a maior parte do cálcio durante os está-
gios finais do crescimento (Bangerth, 1979). Isto se deve, provavelmente, à
maior área superficial do fruto nesta fase, comparada ao início do desenvolvi-
mento (Clark e Smith, 1988), visto que frutos jovens carecem de uma cutícula
bem desenvolvida e da presença de estômatos funcionais (Dietz et al. 1988).
Entretanto, a diluição no teor de Ca devido ao crescimento resulta em
nível de cálcio baixo nos tecidos vegetais. Em frutos com elevadas taxas de
crescimento (divisão e expansão celular), as possibilidades de decréscimos
acentuados nos níveis de Ca são elevadas, uma vez que estes órgãos vege-
tais apresentam reduzidas taxas transpiratórias. Nestas condições, os níveis
baixos de Ca não são suficientes para uma eficiente estabilização da parede
celular e integridade das membranas (Marschner, 1995), podendo conduzir
à distúrbios fisiológicos. No caso da mangueira, o desenvolvimento do fruto
é intenso dos 30 aos 55 dias após a floração, conforme indicam Castro Neto
e Reinhardt et al. (2003). Os autores relataram que o crescimento dos fru-
tos de mangueira ‘Haden’ (Figura 8A e 8B) apresentou padrão sigmoidal,
tendo aos 75 dias atingido o ponto de maturação fisiológica. Portanto, pode-
se inferir que no período crítico, entre 30 e 55 dias após a floração, a irriga-
ção ou fertirrigação é fundamental para manter adequado o teor de Ca na
solução, minimizando o efeito de diluição do nutriente no fruto e, a eventual
ocorrência da desordem fisiológica.

Figura 8. Evolução de massa seca, massa fresca e volume do fruto da man-


gueira cv. Haden, ao longo da fase de desenvolvimento, a partir da
floração (Castro Neto e Reinhardt, 2003).

218
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

Nota-se, pois, que devido à baixa mobilidade do cálcio na planta, há


necessidade de fornecimento constante deste nutriente. Para tanto, a forma
mais interessante de fornecer cálcio seria aplicá-lo ao solo de modo que a
solução do solo possa suprir o elemento constantemente aos frutos.
Na aplicação via pulverização ou imersão, há necessidade de que o
elemento seja aplicado constantemente na fruta para ser absorvido em quan-
tidade suficiente, a fim de atingir os benefícios esperados. Em termos práti-
cos, várias pulverizações com o nutriente nos frutos, em nível de campo,
tornam-se pouco viáveis. Além disso, para que o elemento possa promover
os benefícios desejados, além de ser absorvido, deve ocorrer a devida
metabolização.
Como fonte de cálcio para aplicação no solo, há o calcário e o gesso.
Para garantir a máxima eficiência da calagem, é importante utilizar material
com adequado poder de neutralização e reatividade. Além disso, um fator
importante para eficiência da calagem, é a adequada incorporação no solo,
antes da implantação do pomar, com alto grau de mistura calcário-solo, in-
corporado em profundidade (camada 0-30 cm), especialmente para cultura
perene como a mangueira. Neste sentido, o uso da grade aradora superpesada
tem sido indicado para a incorporação do calcário de forma adequada (alto
grau de mistura, atingindo 30 cm de profundidade) (Prado & Roque, 2002).
Em pomares implantados, a prática da calagem poderia ser feita superficial-
mente, logo após a colheita, visando fornecer o Ca, de forma que tenha
tempo suficiente para suprir este nutriente, constantemente e eficientemen-
te, durante todo o período reprodutivo da nova safra.
É oportuno salientar que apesar da falta de pesquisa que poderia
sustentar uma recomendação de calagem para cultura da manga, existem
indicações na literatura (Boletins Técnicos). Diante desta situação, não são
conhecidos os efeitos da correção da acidez do solo e o fornecimento de
bases como Ca na qualidade dos frutos, com intuito de minimizar a desor-
dem nutricional.
Lee et al. (1998) analisaram os efeitos da aplicação de cálcio no solo,
sendo 100 g de CaCl2 por planta e 10 kg de pó de marisco por mangueira,
em pré-florescimento, sobre características de qualidade pós-colheita das
frutas. Após 96 dias da antese, os frutos foram colhidos. Houve aumento do
teor de Ca nos frutos, porém, não foi suficiente para elevar significativa-
mente a qualidade pós-colheita das mangas. Pode-se inferir que a ausência

219
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

de resultados favoráveis na qualidade das frutas tenha sido causada pela


quantidade de cálcio disponível e pelo pouco tempo para a solubilização do
elemento no solo, que não foi suficiente para a máxima absorção pela planta
e, conseqüentemente, não influiu na qualidade da manga.
De toda forma, são oportunos novos estudos de avaliação de doses,
fontes e modos de aplicação de cálcio no solo, sobre a qualidade da manga.

d) Relação do equilíbrio nutricional e a desordem fisiológica

Young e Miner (1962) estudaram os efeitos da adubação nitrogenada,


em solos com diferentes teores de cálcio, sobre a incidência de colapso
interno dos frutos de manga. Para isso, conduziram experimento, avaliando
a adubação nitrogenada em mangueiras em duas áreas, uma em solo ácido
e pobre em cálcio e outra em solo calcário. Verificaram que na primeira
área, a incidência de colapso da polpa nas parcelas que receberam alta dose
de nitrogênio foi de 78%, enquanto na testemunha, a incidência foi de 7%.
Já no solo calcário, a incidência do problema caiu para 5%, independente-
mente dos níveis de nitrogênio aplicados. Com isso, concluíram que a inci-
dência desse distúrbio diminuiu quando se aumentou o teor de cálcio na
planta e que teores foliares de cálcio em torno de 25 g kg-1 reduziram bas-
tante o problema de colapso interno dos frutos, independentemente dos teo-
res de nitrogênio. Por outro lado, Romano et al. (2002) estudaram a incidên-
cia de colapso interno na cv. Tommy Atkins em lavouras, com aplicação de
nitrogênio na dose de 3 kg ha-1 (Nfoliar = 10,4 e Cafoliar = 23,0 g kg-1) e de 7 kg
ha-1 (Nfoliar = 13,8 e Cafoliar = 20,6 g kg-1). Para este nível de N atingido na
planta, os autores não confirmaram a hipótese de que o aumento da aduba-
ção nitrogenada teria provocado maior incidência de colapso interno.
Moraes et al. (2002) avaliaram a relação entre o equilíbrio de alguns
nutrientes e a ocorrência de distúrbios fisiológicos em mangueira ‘Tommy
Atkins’, cultivadas no Vale do São Francisco. Observaram que as concen-
trações de Ca e Mg nos frutos sem sintomas foram maiores que naqueles
com sintomas de distúrbio fisiológico (Tabela 7).
Embora não tenham sido observadas diferenças significativas para
as concentrações de nitrogênio e potássio, as relações N/Ca e K/Ca foram
maiores nos frutos com sintomas na polpa e na casca para N/Ca e, na casca
para K/Ca. O magnésio também parece estar envolvido no problema, uma

220
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

vez que os teores deste elemento foram significativamente maiores nos fru-
tos sadios, na polpa e casca. Além disso, os frutos com sintomas do distúrbio
fisiológico também apresentavam relação K/Mg mais elevada.

Tabela 7. Composição mineral da polpa de mangas ‘Tommy Atkins’ sem


sintomas e com sintomas de distúrbio fisiológico. Petrolina - PE,
2002.
Composição Polpa Casca
Mineral Sem sintomas Com sintomas Sem sintomas Com sintomas
(1)
N (g/kg) 8,7 a 9,4 a 7,6 b 9,4 a
P (g/kg) 11,2 a 10,2 a 8,4 a 11,9 a
Ca (g/kg) 0,5 a 0,3 b 2,3 a 1,9 b
Mg (g/kg) 1,2 a 0,9 b 2,8 a 2,5 b
B (mg/kg) 9,0 a 9,8 a 12,8 b 14,8 a
N/Ca 17,2 b 31,0 a 3,3 b 5,0 a
N/B 1008,1 a 967,2 b 598,5 a 644,0 a
Ca/B 59,8 a 33,6 a 180,6 a 129,6 b
K/Mg 9,3 a 11,6 a 3,2 a 4,9 a
K/Ca 22,3 a 33,2 a 3,7 b 6,3 a
(1)
Médias seguidas de mesma letra na horizontal não diferem entre si, pelo teste de Tukey
(p<0,05).

A importância das relações N/Ca e K/Ca na ocorrência de distúrbios


fisiológicos em manga, pode ainda ser atribuída ao papel metabólico que
estes elementos desempenham sobre a absorção e translocação diferencia-
da dos mesmos no interior dos vegetais. Por outro lado, a absorção do Ca
pelas plantas é bem menos eficiente, podendo inclusive ser inibida em pre-
sença de altas concentrações de K. Além disso, os vasos do floema, maior
provedor de nutrientes para os frutos, e onde o Ca tem baixa mobilidade,
apresentam sempre elevadas concentrações de K. Os teores de N e B na
casca dos frutos com sintomas de distúrbio fisiológico foram maiores que os
encontrados nos frutos sem sintomas (Tabela 6), observando-se o inverso
com relação ao Ca e Mg. Como os teores de nutrientes na casca dos frutos

221
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

são normalmente mais elevados que na polpa, é possível que a determina-


ção de nutrientes na casca seja mais indicada para a diagnose da fisiopatia,
do que aquela determinada na polpa dos frutos. Essas ponderações estão
embasadas nas altas relações N/Ca e K/Ca e na baixa relação Ca/B encon-
tradas na casca dos frutos com sintomas de distúrbio fisiológico (Tabela 6).
Os resultados das análises de solo e foliar, realizadas após a colheita, não
indicaram qualquer nível de deficiência dos elementos essenciais, não sendo
possível estabelecer correlação entre os níveis de nutrientes no solo e nas
folhas, com o balanço na polpa e na casca dos frutos. Os autores concluem
que os baixos teores de Ca e Mg e alta relação K/Ca e N/Ca tanto na polpa
quanto na casca, são indicativos da ocorrência de desordem fisiológica na
mangueira ‘Tommy Atkins’ e a determinação destes nutrientes na casca
dos frutos pode expressar melhor a diagnose de desordem fisiológica.
A fim de manter a nutrição adequada das plantas com cálcio, as suas
relações com outros nutrientes são muito importantes, visto que o aumento
dos níveis de N, K, Mg pode resultar na redução do teor de Ca nas folhas e
na polpa, podendo predispor o pomar à maior incidência de distúrbios fisio-
lógicos nos frutos. Por outro lado, o baixo teor de fósforo predispõe a fruta
a danos ocasionados por baixas temperaturas e senescência interna. Assim,
vários nutrientes minerais, bem como as relações entre eles, estão relacio-
nados às desordens fisiológicas em plantas (Marschner, 1995).
Pinto et al. (1994) verificaram, em um experimento no cerrado, que a
adubação N, P e K associada ao gesso, incrementou a produção de 139
para 245 frutos e, ainda, reduziu a incidência do colapso interno. O melhor
tratamento, com 150 g de N por planta e com 2,9 t/ha de gesso resultou, no
quarto ano de experimentação, proporcionou o índice de 97% dos frutos
considerados normais. Por outro lado, observa-se que as maiores doses de
N reduziram a produção e a porcentagem de frutos normais das plantas
(Tabela 8).
Portanto, o uso do gesso como fonte de Ca aplicado ao solo bem
como doses moderadas de nitrogênio a médio prazo possibilitam maximizar
a produção e minimizar a incidência de desordem fisiológica. Nota-se, as-
sim, que a maioria dos estudos indica que mangueiras com equilíbrio
nutricional e com maiores teores de Ca no fruto tendem a apresentar menor
incidência do colapso interno.

222
Nutrição e Desordens Fisiológicas na Cultura da Manga

Tabela 8. Efeito da adubação e da gessagem na média do número de frutos


com e sem colapso em quatro anos de experimentação e a por-
centagem de frutos normais obtidos no primeiro e no quarto ano
de experimentação (Adaptado de Pinto et al., 1994).
N Gesso Frutos por planta Frutos normais
Média Com colapso Sem colapso 1o ano 4o ano
g por planta t/ha %
(1)
Testemunha 0 139 76 63 15 40
(2)
150 2,9 245 52 193 40 97
(2)
300 2,9 198 90 108 33 58
600 (2) 2,9 176 48 128 35 89
(1)
Testemunha: sem adubação fosfatada, potássica e gesso.
(2)
Com adubação fosfatada (200 g P2O5 por planta, como superfosfato triplo) e potássica
(480 g K2O por planta).

e) Outros fatores que afetam a desordem fisiológica

Existem outros estudos que objetivaram avaliar as causas do colapso


interno da fruta, apontando para outros nutrientes diferentemente do Ca,
que poderiam afetar este distúrbio. De acordo com estes estudos, o fenô-
meno estaria relacionado ao estádio de maturação dos frutos e à época da
colheita. Raymound et al. (1998b) compararam os teores de nutrientes de
frutos sadios com aqueles sintomas de colapso interno em mangueiras
‘Tommy Atkins’ cultivadas na Flórida-EUA. Verificaram que a ocorrência
do colapso interno esteve mais relacionado com o baixo teor de Cu e alto de
P, do que com uma deficiência de Ca.
Quanto à época de colheita, Sampaio e Scarpare Filho (1998) procu-
raram determinar os fatores da relação planta/ambiente que predispõem os
frutos da mangueira ‘Tommy Atkins’ a apresentarem distúrbios fisiológicos.
Para tanto, foram analisados os posicionamentos dos frutos na planta, está-
dios de maturação e a relação vigor do ramo/fruto. As avaliações permiti-
ram concluir que: a) o posicionamento dos frutos na planta não tem influên-
cia na ocorrência das desordens fisiológicas; b) existe certa relação entre o
vigor dos ramos e a presença dos distúrbios nos frutos; c) o percentual de

223
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

ocorrência dos distúrbios fisiológicos é altamente influenciado pelo estádio


de maturação do fruto à época de colheita, sendo de pequena monta em
frutos colhidos precocemente.
Vale ressaltar que existem tecnologias paralelas que visam melhorar
a qualidade das mangas, como o uso do ensacamento dos frutos no campo
durante seu desenvolvimento, o que pode reduzir a incidência da doença e
injúrias. Entretanto, o ensacamento dos frutos, por reduzir a transpiração,
pode influenciar na acumulação do cálcio e afetar sua vida de prateleira.
Joyce et al. (1997) avaliaram frutos de mangueira ‘Sensation’ ensacadas
(papel e plástico) sete semanas antes da colheita. Os resultados não indica-
ram diferença nos teores de cálcio nos frutos, entre os dois tipos de sacos.
O uso ou não do ensacamento dos frutos no campo não afetou a cor e a
perda de peso após a colheita. Os sacos plásticos promoveram maior perda
de água e, portanto, devem ser evitados.
Beasley et al. (1999) obtiveram respostas semelhantes em frutos de
manga ‘Kensington’, ensacadas aos 9, 25 e 41 dias antes da colheita, não
observando diferenças na acumulação de Ca após a colheita das mangas.
Salienta-se ainda, a existência de outras medidas para amenizar o
problema da desordem fisiológica, tais como: nas cultivares sensíveis, como
‘Tommy Atkins’, ‘Kent’ e ‘Van Dike’, colher os frutos fisiologicamente
maduros (“de vez”); utilizar cultivares menos suscetíveis à desordem, como
a cv. Haden.
Por fim, as práticas de raleio ou outras técnicas que resultem em
frutos demasiadamente grandes podem aumentar os distúrbios fisiológicos,
principalmente, devido ao efeito da diluição do cálcio no fruto.

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Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

232
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

IRRIGAÇÃO E FERTIRRIGAÇÃO NA
CULTURA DA MANGUEIRA
Antônio Humberto Simão1
Everardo Chartuni Mantovani 2
Fúlvio Rodriguez Simão3

1. INTRODUÇÃO

A irrigação visa, sobretudo, suprir as necessidades hídricas das plan-


tas. Não funciona em separado, mas integrada a outras práticas agrícolas
de forma a beneficiar a cultura e o produtor em particular. É necessária em
regiões onde o regime pluvial não atende às necessidades das plantas du-
rante todo o seu ciclo ou em parte dele, permitindo ampliar o tempo de
exploração, o número de colheitas ou ainda melhorar a produção já existen-
te.
No conceito antigo, a irrigação era vista como uma técnica que visa-
va basicamente a “luta contra a seca”. Em uma visão mais atual, dentro de
um foco empresarial do agronegócio, a irrigação é uma estratégia para o
aumento da área plantada e da rentabilidade da propriedade rural, aumen-
tando a produção e a produtividade das culturas, de forma sustentável, pre-
servando o meio ambiente e com maior geração de emprego e renda.
A expansão da fruticultura no Brasil, especialmente na Região Nor-
deste, vem provocando uma crescente demanda por tecnologias na área de
irrigação voltadas para o manejo de solo, água, planta e nutrientes. O poten-
cial existente para a exploração da fruticultura faz desta atividade um ótimo
negócio para o desenvolvimento da agricultura no Nordeste brasileiro e con-
seqüentemente para a economia do país. Dentre as fruteiras cultivadas, a
mangueira (Mangifera indica L.) desponta como uma cultura de alto valor
comercial (Coelho et al., 2000).

1
Engº Agrônomo, MS – FAHMA Planejamento e Eng. Agrícola Ltda – e-mail: [email protected]
2
Engº Agrícola, DS – Professor Titular do DEA – UFV – e-mail: [email protected]
3
Engº Agrônomo, MS – Secretaria de Ciência e Tecnologia de MG – e-mail: [email protected]

233
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

A água é um fator que afeta o metabolismo da mangueira. O manejo


adequado da água está intimamente relacionado com outros fatores como
nutrição, aplicação de fito-reguladores, tratos fitossanitários e principalmen-
te estresse hídrico e indução floral. Nenhum dos fatores mencionados é
capaz de assegurar alta produtividade, se não for realizado no tempo e na
quantidade adequada.
Ao se adotar a irrigação, surgem as indagações relativas aos méto-
dos mais adequados e as formas mais apropriadas de manejo da água para
atender às necessidades hídricas da cultura para seu desenvolvimento e
produção. A escolha do método de irrigação é uma questão ligada às condi-
ções topográficas, disponibilidade do recurso hídrico, qualidade da água, efi-
ciência de irrigação, economicidade do sistema utilizado, entre outros
(Scaloppi, 1986).
Uma vez implantado o sistema de irrigação, a questão seguinte é a
definição e operacionalização da estratégia de manejo da irrigação, que in-
diquem o momento e a quantidade de água a ser aplicada, que resultem no
desenvolvimento e produção, em níveis adequados, para a cultura implanta-
da. Por outro lado, se o sistema de irrigação adotado for pressurizado, abre-
se a possibilidade para veiculação de produtos químicos, juntamente com a
água de irrigação, com benefícios diretos na redução dos custos de mão-de-
obra e na melhoria da eficiência da adubação (Silva et al., 1996).
Este trabalho tem por objetivo abordar alguns aspectos técnicos da
aplicabilidade da irrigação e fertirrigação na cultura da mangueira, envol-
vendo os métodos de irrigação mais adaptados à cultura, o manejo da irriga-
ção de forma a aplicar a quantidade de água necessária para suprir as ne-
cessidades hídricas nas diferentes fases fenológicas da mangueira e as pos-
sibilidades e principais técnicas para aplicação de fertilizantes via água de
irrigação.

2. IMPORTÂNCIA DA IRRIGAÇÃO

O Brasil, por sua grande diversidade edafoclimática, apresenta con-


dições favoráveis para a prática da fruticultura, com potencial para atender
aos mercados interno e externo. Nos últimos anos tem havido considerável
expansão da fruticultura irrigada, em pólos regionais como Juazeiro e Livra-

234
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

mento do Brumado, no estado da Bahia, Petrolina, em Pernambuco e Janaúba


e Jaíba, em Minas Gerais, além de outros locais sem tradição anterior no
cultivo de fruteiras.
No mundo inteiro, a agricultura irrigada está se profissionalizando em
níveis nunca vistos. A fruticultura vem, cada vez mais, ocupando lugar de
destaque no complexo agroindustrial, seja pelo aumento do consumo interno
e das exportações, seja por sua importância social na geração de empregos,
ou ainda, pelo crescimento da rentabilidade dos pequenos e médios produto-
res.
O desafio é produzir mais, melhor e com menores custos, oferecendo
aos clientes e consumidores produtos de qualidade a preços competitivos.
Portanto, o irrigante que desejar ter sucesso precisa assumir o papel de
empresário rural, atuando profissionalmente em toda a cadeia produtiva do
agronegócio, desde a aquisição de insumos, produção, colheita e pós-colhei-
ta até a distribuição do produto final, seja de forma isolada ou através de
associações ou cooperativas.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, no ano de 2002 a área
cultivada com manga no Brasil era de 67.590 ha, gerando uma produção de
842.350 t, o que corresponde a uma produtividade média de 12,5 t.ha-1. No
Quadro 1 são apresentados os três estados brasileiros maiores produtores
de manga.

Quadro 1 – Área cultivada, produção e produtividade dos três estados bra-


sileiros maiores produtores de manga no ano de 2002.
Estado Área Cultivada (ha) Produção (t) Produtividade (t.ha-1)
São Paulo 20.354 208.947 10,3
Bahia 16.240 252.952 15,6
Pernambuco 6.632 136.488 20,6
Fonte: Ministério da Integração Nacional (2002).

No Quadro 1, pode-se perceber a importância do uso da irrigação no


incremento da produtividade na cultura da mangueira. No estado de São
Paulo, onde a manga é cultivada pela maioria dos produtores, em condições
de sequeiro, tem-se uma produtividade média de 10,3 t.ha-1. Já no estado de
Pernambuco, onde a mangueira é cultivada sob condições irrigadas obtém-
se uma produtividade média de 20,6 t.ha-1, ou seja, o uso da irrigação possi-

235
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

bilitou a expansão da cultura para novas áreas, além de otimizar a tecnologia


de produção, o que permitiu duplicar a produtividade da mangueira quando
comparada com os cultivos de sequeiro.
Os benefícios da irrigação na cultura da mangueira são ressaltados
por Castro Neto et al. (2000), que relatam que o efeito potencial da irriga-
ção contribui para os dois pontos mais importantes de uma economia
globalizada: o aumento de produtividade e a melhoria da qualidade da fruta.
Os mesmos autores comentam que os aumentos de produtividade da man-
gueira decorrentes do uso de tecnologias, incluindo a irrigação, mesmo sem
monitoramento técnico adequado, podem ser vistos comparando a produti-
vidade média da mangueira sob regime de sequeiro (12 t.ha-1) com aquelas
em áreas irrigadas, cuja média se situa em torno de 30 t.ha-1.
Segundo o Censo Frutícola elaborado pela Companhia... (2000), a
área cultivada com manga na região Nordeste do Brasil corresponde a 35.480
ha, sendo 74% desta área irrigada pelos mais variados métodos de irriga-
ção.
A fruticultura tem sido uma das atividades agrícolas que mais têm
demandado conhecimentos relativos à irrigação, principalmente devido à
utilização de fruteiras de alto valor econômico. A utilização de irrigação
também é uma estratégia dos fruticultores para reduzir os riscos associados
à atividade.
O conhecimento das necessidades hídricas e nutricionais de máxima
eficiência econômica para as culturas é indispensável para a obtenção de
sucesso no empreendimento frutícola, pois a água e os nutrientes são os
fatores que mais limitam o rendimento da planta (Ruggiero et al., 1996).
Neste contexto, sanar tais problemas significa possibilitar o aumento da pro-
dutividade, da qualidade dos frutos, da margem de lucro do produtor e da
competitividade nos mercados nacionais e internacionais.
Entretanto, para que as técnicas de irrigação e fertilização sejam bem
sucedidas, é de suma importância o seu manejo adequado, visando maior
competitividade econômica e sustentabilidade ambiental, exigidas por um
mercado globalizado e consciente da necessidade de preservação do meio
ambiente.

236
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

3. MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO

O uso da irrigação com técnicas adequadas, é um dos fatores


determinantes para o sucesso do produtor, em especial no caso da fruticul-
tura irrigada, que envolve altos custos e conseqüentemente possui maior
risco associado à atividade. Deve-se destacar, portanto, a importância da
escolha correta do método de irrigação a ser utilizado, da realização criteriosa
do projeto, da utilização de equipamentos que atendam às especificações
para as quais foram projetados, dos cuidados durante a implantação do sis-
tema, da correta manutenção do mesmo e na determinação correta do mo-
mento de aplicação da água e de produtos químicos que eventualmente
poderão ser aplicados pelo sistema.
Vários métodos podem ser escolhidos com base na viabilidade técni-
co-econômica e benefícios sociais advindos de seu uso.
As diversidades edafoclimáticas, econômicas e sociais das regiões
brasileiras possibilitam o uso dos diferentes sistemas de irrigação, que po-
dem ser agrupados em três grandes métodos, conforme apresentado a se-
guir.

a. Irrigação por superfície: a água é aplicada no perfil do solo, utilizando


sua própria superfície para condução e infiltração, podendo ser:

a1. Por Sulco, que consiste na condução da água em pequenos canais ou


sulcos, paralelos às fileiras de plantio, durante o tempo necessário para
umedecer o perfil do solo ocupado pelas raízes;
a2. Por Faixa, onde a aplicação da água no solo ocorre em faixas de terre-
no compreendidas entre diques paralelos;

a3. Por Inundação, no qual a água é aplicada em bacias ou tabuleiros, que


são áreas limitadas por diques ou taipas. A inundação pode ser perma-
nente ou temporária;

a4. Por Microbacias, que se caracteriza pela aplicação da água por meio
de mangueiras flexíveis em pequenas microbacias em torno da planta; e

237
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

a5. Subterrânea ou Subirrigação, que significa a manutenção e controle


do lençol freático a uma profundidade pré-estabelecida.

b. Irrigação por aspersão: a água é aplicada ao solo sob a forma de


chuva artificial, por fracionamento de um jato de água, em grande núme-
ro de gotas que se dispersam no ar e caem sobre a superfície do terreno
ou do dossel vegetativo. Destacam-se, nesse grupo, os sistemas, Con-
vencional, Ramal Rolante, Montagem Direta, Autopropelido, Pivô Cen-
tral e Linear.

c. Irrigação localizada: a água é aplicada na superfície ou subsuperfície


do solo, próximo à planta, em pequenas intensidades e com alta freqüên-
cia. Um sistema completo de irrigação localizada consta de conjunto
motobomba, cabeçal de controle, sistemas de automação, linhas de tubu-
lação (sucção, recalque, principal, secundária, derivação e lateral), vávulas
e gotejadores ou microaspersores, que irão constituir, respectivamente,
os sistemas de irrigação por gotejamento e microaspersão.

Na Figura 1 são apresentados os métodos de irrigação utilizados nos


35.480 ha de manga cultivados no Nordeste brasileiro (Companhia..., 2000).
Percebe-se que 26% da manga cultivada não é irrigada, sendo apenas 18%
dos cultivos irrigados por superfície e o restante da área utiliza de sistemas
de irrigação pressurizados, sendo 41% por microaspersão, 10% por
gotejamento e 5% por aspersão.

238
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

N ã o Irrigado M icroaspersã o G otejam ento A spersão S ulco M icrobacia

4%
14% 26%

5%

10%

41%

Figura 1 – Métodos de irrigação utilizados no cultivo de manga no Nordeste


Brasileiro (Companhia..., 2000).

Na Figura 2, são apresentados os métodos de irrigação utilizados nos


14.008 ha de variedades americanas de manga cultivadas no pólo Juazeiro-
BA/Petrolina-PE (Companhia..., 2000). Nota-se uma supremacia dos mé-
todos de irrigação localizada, sendo 47% dos cultivos irrigados por
microaspersão e 16% por gotejamento. Apenas 8% dos cultivos são irriga-
dos por aspersão e o restante utiliza irrigação por superfície, sendo 24%
irrigados por sulco e 5% por microbacias. Segundo a Companhia... (2000),
os 29% da área cultivada que utiliza métodos de irrigação por superfície
pertence a pequenos produtores proprietários de lotes nos diversos períme-
tros de irrigação existentes no pólo Juazeiro-BA/Petrolina-PE. O uso de
irrigação por superfície por parte desses produtores deve-se ao fato dos
mesmos não terem recursos suficientes e nem acesso aos agentes financei-
ros para promover a mudança do sistema de irrigação atual por sistemas
que possibilitem maior eficiência no uso da água e maior facilidade de ma-
nejo no campo, como é o caso dos sistemas localizados, amplamente utiliza-
dos pelos médios e grandes produtores de manga da região.

239
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

M icroa spersão G otejam ento A spersão S ulco M icrob acia

5%

24%
47%

8%
16%

Figura 2 – Métodos de irrigação utilizados em variedades americanas de


manga cultivadas no pólo Juazeiro-BA/Petrolina-PE (Compa-
nhia..., 2000).

Conforme demonstrado nas Figuras 1 e 2, a cultura da mangueira no


Nordeste brasileiro é explorada sob os sistemas de irrigação por gotejamento,
microaspersão, aspersão, sulcos e microbacias. Os sistemas de irrigação
por gotejamento, sulcos e microbacias são mais indicados para solos argilo-
arenosos e argilosos, enquanto os sistemas por aspersão e microaspersão
são mais adequados para solos arenosos e areno-argilosos.
Com a Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei
Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997, torna-se imperativo a racionalidade
no uso da água. Assim, a eficiência na aplicação da água pelos sistemas de
irrigação deverá ser a máxima possível. Nesse caso, os métodos de irriga-
ção por superfície são os menos indicados. A irrigação por aspersão, além
do maior consumo de energia, pode gerar baixa uniformidade de distribui-
ção de água devido ao choque do jato com as copas das plantas. Tais des-
vantagens agravam-se na floração, quando os jatos podem causar queda
das panículas, afastando os insetos polinizadores das mesmas (Silva et al.,
1994 e Silva et al., 1996). Desta forma, o sistema de irrigação por aspersão
convencional do tipo sobrecopa deve ser usado apenas durante os dois pri-
meiros anos de idade da mangueira, quando, então, deve ser modificado
para o sistema de irrigação por aspersão do tipo sobcopa, substituindo ape-

240
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

nas os aspersores convencionais por aspersores com ângulo zero (Soares e


Costa, 1995).
Segundo Coelho et al. (2000), a microaspersão (Figura 3) tem sido o
sistema de irrigação localizada mais empregado na cultura da mangueira
por promover uma área molhada superior à gerada pelo sistema de irriga-
ção por gotejamento.

Figura 3 – Sistema de irrigação por microaspersão na cultura da mangueira,


utilizando-se dois microaspersores por planta (Foto: Fazenda
FAHMA – Lote 29M, Gleba C2, Projeto Jaíba, Matias Cardoso-
MG).

A escolha de um dos métodos citados deve ser baseada na viabilida-


de técnica e econômica do projeto, bem como dos benefícios sociais advindos.
O processo é complexo e exige conhecimentos relativos ao solo, à topogra-
fia, à planta, à água, ao clima, ao manejo, à energia, aos custos, entre outros.
Com respeito ao solo, esse limita a adoção de irrigação por superfí-
cie. Se tiver baixa capacidade de retenção d’água serão exigidas irrigações
freqüentes e haverá grande probabilidade de ocorrência de perdas de água
241
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

por percolação. A heterogeneidade dos solos não restringe nenhum método,


mas torna complexo o manejo da irrigação por superfície.
Quanto à topografia, os métodos que não necessitam de adequações
da superfície do solo, como a aspersão e a irrigação localizada, são preferi-
dos em condições mais irregulares. Para a irrigação por superfície, a
declividade tem que ser pequena e uniforme, para que os custos de sistema-
tização e movimentação de solo do horizonte A não sejam elevados.
Considerando-se a planta, não há um método melhor que outro, mas
sim um método que facilite o manejo da cultura. Por exemplo, culturas que
exigem tratamento fitossanitário permanente não deveriam ser irrigadas por
métodos que promova a lavagem da parte aérea, pois acarretam custos
mais elevados e provocam danos ao meio ambiente.
Quanto ao clima, a principal limitação é o vento, o qual afeta os siste-
mas em que a água é lançada ao ar, como a aspersão e a microaspersão na
fase inicial de desenvolvimento da cultura. Em regiões em que a velocidade
do vento é maior que 3,0 m.s-1, as perdas por arrastamento são elevadas. Se
associado ao vento, houver uma umidade relativa baixa e temperaturas ele-
vadas, as perdas são maiores e restringem a irrigação por aspersão, a me-
nos que se irrigue em períodos de menor intensidade dessas variáveis.
A influência do irrigante é menor nos métodos pressurizados (asper-
são e localizada), o que facilita o manejo da irrigação.
Os métodos de irrigação por superfície são os que apresentam o menor
consumo de energia, pois nestes, a altura manométrica é menor, se compa-
rada aos outros métodos. Sistemas por aspersão com aspersores de alta
pressão, como o canhão hidráulico, têm sido preteridos, face ao grande con-
sumo de energia. Grandes desníveis em relação à fonte de água, também,
levam áreas a serem preteridas.
Segundo Mantovani (2001), a escolha de qualquer método de Irriga-
ção depende de uma série de fatores, destacando-se o tipo de solo, a topo-
grafia e o tamanho da área, os fatores climáticos, fatores relacionados ao
manejo da cultura, o déficit hídrico, a capacidade de investimento do produ-
tor e o custo do sistema de irrigação. Considerando o grande volume de
água exigido na irrigação e considerando a necessidade de otimizar sua
utilização, um dos aspectos importantes que está sendo analisado na esco-
lha do método de irrigação é a eficiência com que este irriga a cultura.

242
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Um projeto de irrigação deve contemplar, de forma integrada, entre


vários aspectos, os seguintes: definição de um sistema de irrigação, elabora-
ção de um planejamento baseado em estudos básicos da área, plano de
exploração agrícola, conhecimento da infraestrutura disponível na área, pre-
visão do manejo da irrigação e comportamento do sistema radicular das
culturas a serem implantadas.
A implantação de um projeto mal concebido poderá trazer sérios pro-
blemas para a sua operacionalização, podendo até inviabilizá-lo, futuramen-
te. Deve-se levar em conta, as características físicas e químicas do solo e
da água, as condições climáticas e o nível de tecnologia a ser adotado nos
cultivos.
É muito importante ficar bem claro que não há propriamente um método
de irrigação mais eficiente que outro para quaisquer condições: há um mé-
todo que se adapta melhor. Deve-se, então, primeiramente, estudar bem as
características da cultura e da área que se quer irrigar e, depois, escolher o
método que melhor se adapte a essas características. O manejo da irriga-
ção juntamente com o método empregado influenciam em grande parte o
aumento da produção em associação, logicamente, à combinação favorável
de cultura e solo.
Em função das atuais tecnologias de produção empregadas no culti-
vo da mangueira e por suas características e forma de aplicação de água
junto à área de concentração das raízes, em pequenas quantidades e em
alta freqüência, os sistemas de irrigação localizados são os mais apropria-
dos para a exploração da mangueira, por permitirem maior eficiência no uso
da água e outros insumos.

4. MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO DOS SISTEMAS DE


IRRIGAÇÃO

A eficiência da aplicação de água depende, em grande parte, de uma


adequada manutenção do sistema de irrigação. Por manutenção, entendem-
se todas as etapas que visem manter o equipamento ou a estrutura
implementada em condições de funcionamento adequado. Canais, drenos,
tubulações, motobomba, aspersores, gotejadores, sistema de movimentação
e outros componentes apresentam desgastes e alterações que exigem acom-
panhamento ao longo do tempo e, no momento oportuno, devem-se substi-

243
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

tuir os componentes e ajustar as estruturas. Não existem recomendações


gerais para um plano de manutenção, principalmente pela quantidade de
sistemas de irrigação e pela grande variabilidade de condições de funciona-
mento.
Na irrigação pressurizada, é necessário que o sistema de bombeamento
proporcione água em quantidade e pressão compatível com o sistema utili-
zado. Para isso, é necessário avaliar o funcionamento do motor e da bomba,
substituindo e ajustando os componentes com problemas. As tubulações
não devem perder água nas junções e as possíveis ocorrências devem ser
imediatamente eliminadas. As juntas de borracha, presentes nas conexões
das tubulações de engate rápido usadas na irrigação por aspersão, não de-
vem se ressecar e, no período em que o sistema esteja parado, as tubula-
ções devem ser guardadas em locais onde as borrachas fiquem protegidas
da incidência direta dos raios solares.
Os componentes responsáveis pela distribuição da água (aspersores,
difusores, gotejadores e microaspersores) devem ser permanentemente
observados. A substituição e/ou a recuperação daqueles que apresentam
problemas promovem ganhos significativos de uniformidade.
Um outro aspecto da manutenção do sistema é o aumento dos cuida-
dos quando se aplicam produtos químicos via água de irrigação (quimigação).
Primeiramente, pela ação corrosiva de muitos dos produtos químicos aplica-
dos, os quais podem comprometer a durabilidade do equipamento de irriga-
ção e, em segundo lugar, pelos cuidados especiais com o manejo e o funci-
onamento da irrigação durante a aplicação do produto químico. Neste caso,
é importante que nenhuma etapa da manutenção do sistema, como elimina-
ção de fugas, troca de aspersores, gotejadores ou microaspersores defeitu-
osos, adequação e ajuste da pressão, seja esquecida. Sintetizando, a
implementação de programas de manutenção preventiva e corretiva, funda-
mental para se obter um manejo cada vez mais adequado da irrigação, vem
proporcionar também uma maior eficiência na quimigação.
A vida útil de qualquer sistema de irrigação depende em primeiro
lugar de um manejo correto do sistema e de uma manutenção preventiva
dos equipamentos que o compõem.
O manejo dos equipamentos de um conjunto de irrigação deve ser
executado de modo a mantê-los o maior tempo possível na sua forma origi-
nal, sem deformações, rachaduras, trincas e outros danos, os quais podem

244
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

provocar vazamentos que, além de reduzirem a vida útil, ainda comprome-


tem a eficiência do sistema.
Deve-se ter cuidado para não expor estes equipamentos a intempéri-
es desnecessariamente, como deixá-los expostos a sol, chuva e vento, quando
estes não estiverem em funcionamento. Nas situações, onde a exposição a
fatores adversos for inevitável (irrigação com água salina) ou mesmo ne-
cessária (caso da quimigação), deve-se seguir à risca todas as instruções
recomendadas para evitar o desgaste excessivo dos equipamentos.
A atenção deve ser dirigida também no sentido de se reduzir ao míni-
mo, a necessidade de reposição de peças, de modo a tornar os sistemas
menos onerosos possível.
Os sistemas de irrigação de um modo gerais têm exigências particu-
lares quanto ao seu manejo, em função da maior ou menor complexidade
tecnológica envolvida. Quanto maior a complexidade do sistema, mais equi-
pamentos são necessários e, portanto, tem-se maior custo.
Os sistemas convencionais, apesar de fazerem uso de uma tecnologia
mais simples, exigem cuidados especiais, pois neles ocorre a maior interfe-
rência do irrigante. Portanto, não sendo adequadamente manejados, não
cumprirão seu objetivo principal, que é o de irrigar de forma eficiente a
maior área com o menor custo. Os sistemas de laterais com movimentação
manual exigem um contato ainda maior com o irrigante, em função de sua
própria composição.
Os cuidados para o manejo adequado dos sistemas de irrigação por
aspersão devem ser tomados com relação a todos os equipamentos que
formam o corpo do sistema (motobomba, tubulações, etc.). Ao colocar a
motobomba em funcionamento, deve-se verificar se ela está escorvada e se
o registro da linha de recalque está fechado para não sobrecarregar o mo-
tor. Tão logo a bomba atinja a velocidade normal de funcionamento, o regis-
tro deverá ser aberto lentamente. Processo inverso, isto é fechamento lento
do registro deve ser feito antes de desligar o motor. Os tubos devem ser
mantidos alinhados para evitar maior esforço nas juntas de vedação. Nos
casos em que as linhas forem desmontadas, evitar a exposição das peças ao
sol, para que estas não se ressequem e percam sua função. As partes sub-
metidas a desgastes como aspersores giratórios, bocais e juntas de vedação
deverão ser examinadas periodicamente e, se necessário, substituídas.

245
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

A manutenção refere-se às operações de conservação para o bom


desempenho dos sistemas, evitando o desgaste prematuro das peças. Para
a aspersão convencional, é uma tarefa muito simples de ser realizada e
refere-se praticamente à manutenção do conjunto motobomba.
Para os conjuntos motobomba com motor a explosão, a manutenção
consiste na limpeza do filtro de ar, troca do óleo lubrificante e filtro de óleo
do motor. Estas trocas devem ser realizadas no momento e nas proporções
recomendadas pelos fabricantes. Para as bombas, deve-se ter o cuidado de
se verificar o nível do óleo lubrificante, completando-o sempre que necessá-
rio; raramente há necessidade de substituição deste óleo. A drenagem da
voluta da bomba é uma operação de manutenção que só deve ser realizada
quando a bomba não vai ser utilizada por um longo período.
Os sistemas de irrigação localizada variam com as peculiaridades de
cada tipo e concepção, sendo em princípio, semelhantes. A composição de
um sistema de irrigação por gotejamento pode ser considerada como um
modelo básico desse método de irrigação.
A irrigação localizada é um sistema fixo e se fundamenta na passa-
gem de pequena vazão em orifícios de diâmetro reduzido de estruturas es-
peciais chamadas de emissores. Estes são adaptados a mangueiras flexí-
veis colocadas ligeiramente acima ou imediatamente abaixo da superfície
do solo. A filtragem da água, para evitar o entupimento dos emissores, a
possibilidade de aplicação de fertilizantes via água de irrigação, o controle
volumétrico e o fornecimento de água com a pressão requerida pelo sistema
são realizados pelo cabeçal de controle, o qual recebe a água da fonte de
abastecimento através da tubulação de sucção, impulsionado por um con-
junto motobomba.

5. NECESSIDADES HÍDRICAS

A determinação da necessidade hídrica de uma cultura é fundamen-


tal para o planejamento e a condução de sistemas de produção agrícola,
determinando na escolha da época de plantio e da necessidade de irrigação.
As fruteiras apresentam diferentes necessidades de água. Isto se
deve principalmente a características morfológicas e fisiológicas das plan-
tas e a características edafoclimáticas da região de cultivo, havendo tam-
bém influência dos tratos culturais como adubação, podas, controle de pra-

246
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

gas e doenças e capinas.


Pode-se ressaltar ainda, que o requerimento de água varia em uma
mesma cultura em seus diferentes estádios de desenvolvimento e em dife-
rentes épocas do ano.
Em algumas fruteiras, o requerimento de água é bem estudado e os
parâmetros para a sua determinação podem facilmente ser encontrados na
literatura. Para outras fruteiras, entretanto, a informação necessária pode
não estar facilmente disponível. Nessas situações, normalmente são reali-
zados ajustes baseados nos valores encontrados para culturas com caracte-
rísticas semelhantes. Também se deve destacar a necessidade de uso
criterioso das informações disponíveis, sendo muitas vezes necessária a re-
alização de ajustes, devido a diferentes situações, como uso de novas vari-
edades ou mudanças nos tratos culturais utilizados convencionalmente.
Em algumas regiões onde ocorrem baixas precipitações e alta de-
manda evapotranspirométrica, como no caso do semi-árido brasileiro, tor-
na-se necessário o fornecimento de água por meio de irrigação, consideran-
do o atendimento das necessidades fisiológicas de desenvolvimento, manu-
tenção e produção de frutas.
A mangueira requer uma quantidade anual de água que dependerá da
evapotranspiração local, podendo atingir valores de 1.197 a 1.368 mm.ha-
1
.ano-1, sendo que se pode, a princípio, basear-se numa demanda no inverno
de 2,2 mm.dia-1 e 4,4 mm.dia-1 no verão. É uma cultura que pode resistir à
deficiência de água no solo por um período de até oito meses. A mangueira
necessita de água durante a formação floral, todavia essa necessidade não
chega a ser crítica. Trabalhos de pesquisa têm mostrado que a irrigação não
é desejável durante a diferenciação do broto floral e deve iniciar-se somen-
te na emergência da panícula, após a diferenciação floral. O estresse hídrico
do solo retarda o crescimento das gemas vegetativas e colabora com o
crescimento das gemas florais. O período mais crítico para a irrigação da
manga é de 4 a 6 semanas após o estabelecimento dos frutos (Coelho et al.,
2000).
Tapia e Vega (1994) afirmam que resultados experimentais permitem
sugerir que a mangueira requer ao menos 15 dias de estresse hídrico, apli-
cação de fertilizantes no solo e aplicações foliares de nitratos para produzir
brotos florais. Já o estresse hídrico excessivo pode resultar em malformações
florais e enfermidades que podem reduzir a produção. Desta forma, a falta

247
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

de uma programação definida na aplicação do estresse hídrico na manguei-


ra pode levar a uma interrupção no crescimento vegetativo e, conseqüente-
mente, a uma redução na produtividade.
No caso da mangueira cultivada nas condições de clima tropical, a
imposição do estresse hídrico tem sido considerada efetiva na indução flo-
ral. Nestas condições, a aplicação de água, através da irrigação, representa
uma alternativa que pode ser utilizada tanto para garantir o desenvolvimento
da cultura como para estabelecer as condições fisiológicas de estresse hídrico
adequadas para indução floral. Neste aspecto, o manejo do suprimento de
água, realizado através da irrigação, passa a ter um papel importante no
controle da época de produção da cultura com benefícios diretos na rentabi-
lidade do produtor (Silva et al., 1996).

6. COMPORTAMENTO DO SISTEMA RADICULAR

Choudhury e Soares (1992), citados por Soares e Costa (1995), em


estudo realizado em latossolo, na cultura da mangueira, variedade ‘Tommy
Atkins’, sob irrigação por aspersão sobcopa, na fazenda Fruitfort, Petrolina-
PE, constataram que 68% das raízes de absorção e 86% das raízes de
sustentação estão localizadas na faixa horizontal de 90 a 260 cm em relação
ao caule e na profundidade de 0 a 120 cm. Na distribuição vertical, 65% das
raízes de absorção e 56% das raízes de sustentação ocorrem na profundi-
dade de 0 a 60cm.

7. MANEJO DA IRRIGAÇÃO

Para o sucesso de um empreendimento de irrigação ou sustentabilidade


da produção, vários aspectos devem ser considerados, por exemplo, manejo
adequado do solo e da cultura. Especificamente do ponto de vista da irriga-
ção, quatro aspectos são fundamentais: a qualidade do projeto, do equipa-
mento, da implantação e do manejo do sistema no campo. Considerando a
situação atual da indústria, dos equipamentos disponíveis e das firmas
prestadoras de serviços, verifica-se que os três primeiros pontos estão ao
alcance do produtor, dependendo, é claro, da disponibilidade de recursos
financeiros. Talvez o ponto que exija maiores cuidados seja o manejo da
irrigação, ou seja, a condução da lavoura irrigada, definindo-se de forma
248
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

precisa as necessidades hídricas da cultura, bem como a lâmina e o momen-


to de irrigação mais adequados. Também se incluem aí os cuidados de ava-
liação, manutenção e ajustes no sistema de irrigação, no controle efetivo da
fertirrigação e muitos outros do cotidiano do sistema de produção.
A implantação de um programa de manejo apresenta várias vanta-
gens, destacando-se: aumento da produtividade e da rentabilidade, amplia-
ção da área irrigada, otimização da utilização da mão-de-obra, energia elé-
trica, nutrientes e outros insumos, além da preservação do meio ambiente.
Uma pergunta que tem desafiado os especialistas é o por quê do
atual atraso da aplicação das técnicas de manejo de irrigação em condições
de campo. Esse fato não é restrito ao Brasil. Na verdade, é exceção a
região do mundo onde o manejo tecnificado da irrigação é aplicado de for-
ma sistemática.
Como princípios importantes, deve-se lembrar que o manejo da irri-
gação envolve a interação do solo, da água, do clima, com a planta a ser
cultivada, sendo por isso impossível definir uma receita geral. Dessa forma,
é imprescindível que se tome cuidado com generalizações e transposições
de critérios e recomendações. Uma simplificação metodológica pode re-
dundar em grandes limitações na precisão e na continuidade do processo.
Por outro lado, deve-se considerar que o emprego da metodologia será no
campo e o sucesso do processo de implantação dependerá das análises e
decisões diárias, realizadas no local, com pessoal nem sempre qualificado
para este trabalho. Nesse ponto, é fundamental considerar que qualquer
que seja a proposta de manejo, ela deverá levar em conta os aspectos téc-
nicos e operacionais. Essas considerações parecem óbvias, mas observa-se
que muitos insucessos em programas de manejo advêm da falta de compre-
ensão dessas questões operacionais, que são um importante alerta para o
especialista responsável pelo sistema de produção.
O manejo racional da irrigação consiste na aplicação da quantidade
necessária de água às plantas no momento correto. Por não adotar um
método de controle da irrigação, o produtor rural usualmente irriga em ex-
cesso, temendo que a cultura sofra um estresse hídrico, o que pode compro-
meter a produção. Esse excesso tem como conseqüência, o desperdício de
energia e de água, usados em um bombeamento desnecessário.
Segundo estudo realizado pela Companhia Energética de Minas Ge-
rais, CEMIG (1993), se a irrigação fosse utilizada de forma racional, aproxi-

249
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

madamente 20% da água e 30% da energia consumida seriam economiza-


das; sendo 20% da energia economizada devido à aplicação desnecessária
da água e 10% devido ao redimensionamento e otimização dos equipamen-
tos utilizados para a irrigação.
Uma grande meta da fruticultura nacional é atingir os exigentes mer-
cados internacionais. A qualidade na produção de frutas é uma exigência
mundial, não basta ter um produto de qualidade, mas todo um sistema da
produção monitorado, com sustentabilidade, enfatizando a proteção ao meio
ambiente, segurança alimentar, condições de trabalho, saúde humana e vi-
abilidade econômica.
Para que a fruta brasileira seja aceita para exportação, criaram-se
mecanismos de certificação que atestam as condições de cultivo, garantin-
do, desta forma, que foi obtida a partir de boas práticas agronômicas. Den-
tre os mecanismos de certificação, destaca-se a produção integrada de fru-
tas (PIF). Para que este mecanismo seja adotado em uma propriedade, o
produtor deve seguir as Normas Técnicas para Produção Integrada de Fru-
tas (NTGPIF). Dentre as normas relacionadas à irrigação, destacam-se a
recomendação da utilização de sistemas de irrigação com maior uniformi-
dade de aplicação de água e a realização do manejo da irrigação baseado no
balanço da água no solo.
A implantação de um programa de manejo de irrigação requer
conscientização, com visão integrada, tecnologia apropriada e
operacionalidade, além de possibilitar a otimização do uso de insumos, au-
mento da produtividade e da rentabilidade e ampliação da área irrigada.
Ainda contribui para implantação de uma exploração sustentável, preser-
vando o meio ambiente, por meio da utilização adequada da água e energia,
não promovendo percolação profunda, minimizando a lixiviação de produtos
químicos e, conseqüentemente, a contaminação do lençol freático.
O manejo adequado dos recursos hídricos deixou de ser um procedi-
mento limitado às propriedades rurais e aos engenheiros agrônomos e agrí-
colas a partir da criação da Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997,
que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Naci-
onal de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Essa Lei estabelece que a
Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamen-
tos: a água é um bem de domínio público; a água é um recurso natural
limitado, dotado de valor econômico; em situações de escassez, o uso

250
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

prioritário dos recursos hídricos é para o consumo humano e de animais; a


gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das
águas; a bacia hidrográfica é a unidade territorial para a implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos; e a gestão dos recursos hídricos deve
ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usu-
ários e das comunidades.
É importante frisar que implementar um programa de manejo signifi-
ca, entre outras coisas, implantar um sistema de monitoramento, que pode
ser via solo, clima, planta, ou associação entre eles.

7.1. Métodos usados no manejo da irrigação

O manejo da irrigação pode ser feito através de diversos métodos.


De uma maneira geral, os métodos existentes baseiam-se na medição da
demanda de água em um ou mais componentes do sistema solo-planta-
atmosfera. Desta forma, a definição de quando e quanto irrigar para suprir
as necessidades hídricas da cultura pode ser feita por meio de medidas no
solo, na planta ou de parâmetros climáticos.

a) Métodos que se baseiam em medidas no solo: estes métodos basei-


am-se unicamente no conhecimento do estado hídrico do solo, ou seja,
no manejo da água útil do solo e do nível de esgotamento permissível. Os
principais métodos pertencentes a esse grupo são: padrão de estufa,
tensiômetro, colman, boyoucos, sonda de nêutrons, TDR e Dupea.

b) Métodos que se baseiam em medidas na planta: estes métodos basei-


am-se nos conhecimentos do estado hídrico da planta como indicador do
estresse hídrico, seja de forma direta, como é o caso da câmara de ten-
são xilemática, seja de forma indireta, através da temperatura do dossel
vegetativo, por meio do termômetro de infravermelho. Estes métodos
apresentam-se como alternativas futuras, mas ainda sem aplicação em
nível de propriedade rural, sendo mais utilizados em trabalhos de pesqui-
sa científica.

251
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

c) Métodos que se baseiam em medidas de parâmetros climáticos: estes


métodos são os mais operacionais em nível de propriedade rural. As
variáveis climáticas mais comumente utilizadas são: temperatura (máxi-
ma, média e mínima), umidade relativa, velocidade do vento, radiação
solar, insolação e precipitação. Com base nessas informações, é possível
determinar a evapotranspiração de referência (ETo), que consiste na
demanda hídrica de uma cultura hipotética, e a partir deste dado, através
de coeficientes apropriados, determinar a demanda hídrica da cultura a
ser manejada, também conhecida como evapotranspiração da cultura
(ETc). Para a determinação da ETo, podem-se usar desde simples medi-
das de evaporação da água de um tanque evaporímetro, como o tanque
“Classe A”, até complexas equações empíricas.

Todos os métodos citados apresentam vantagens e desvantagens téc-


nicas e operacionais, sendo recomendável a associação de dois ou mais
deles.
Em nível de propriedade, o que se tem observado é que dentre os
métodos citados, os que têm se apresentado como mais operacionais são o
tensiométrico e os que se baseiam na medida de parâmetros climáticos,
como o método FAO, sendo por isso adotados por alguns fruticultores para
o manejo da irrigação.

7.1.1. Método tensiométrico

No método tensiométrico, a umidade do solo é determinada de forma


indireta a partir da tensão em que a água está retida pelas partículas do solo.
Para a transformação dos valores de tensão em percentagem de umidade, é
necessário fazer a curva característica de retenção da água no solo.
O tensiômetro, equipamento utilizado para a aplicação do método, é
constituído basicamente por uma cápsula porosa de cerâmica ou porcelana,
ligada a um manômetro de mercúrio ou a um vacuômetro metálico por um
tubo preenchido com água, onde se lê a tensão com que a água está retida
no solo. A cápsula porosa do tensiômetro está sempre saturada pela água
que preenche o tubo do tensiômetro. Ao ser colocada no solo, a cápsula
porosa deverá ficar na profundidade em que se quer avaliar a umidade.
Após entrar em contato com o solo, a água contida na cápsula, por estar
252
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

com um potencial hídrico maior que o solo que a circunda, receberá a mes-
ma tensão pela qual a água do solo está sendo retida, formando um vácuo
no final do tubo do tensiômetro, sendo esta tensão medida pelo vacuômetro.
Os tensiômetros podem ter comprimentos variados de acordo com a
profundidade que se deseja monitorar. Por ser um sensor de vácuo, possui
um limite teórico de medição de 1,0 atm. Na prática, contudo, sua faixa de
medição é de 0 a 0,75 atm, pois, após este nível de tensão, a água evapora-
se, ocorrendo entrada de ar pelos poros da cápsula, o que faz o vacuômetro
parar de funcionar. A leitura zero indica que o solo está saturado e que as
raízes das plantas podem sofrer pela falta de oxigênio. Assim, o tensiômetro
é capaz de avaliar apenas uma parte da água útil do solo. Este intervalo de
funcionamento, de 0 a 0,75 atm, representa cerca de 70% da água retida em
solos arenosos e 40% da água retida em solos argilosos. Desta forma, o
manejo da água no solo com tensiômetros deverá ser conduzido, preferenci-
almente, em solos arenosos e em áreas irrigadas, com intervalo curto entre
irrigações. Neste contexto, a umidade estará sempre próxima à capacidade
de campo, sendo a água retida em tensões menores, dentro do intervalo de
leitura do aparelho, possibilitando a avaliação da umidade do solo. Segundo
Azevedo et al. (1983), de 0,1 a 0,6 atm de tensão, o teor de água no solo é
adequado para a maioria da culturas.
A determinação da umidade do solo através do tensiômetro, caso o
equipamento seja utilizado corretamente, apresenta boa precisão. Porém,
em nível de propriedade rural, têm sido observadas dificuldades operacionais
no uso e manuseio dos tensiômetros no campo, o que tem limitado a adoção
deste método pelos fruticultores.

7.1.2. Método FAO

O método FAO foi desenvolvido pela Organização das Nações Uni-


das para a Alimentação e Agricultura (FAO) e se baseia na medição de
parâmetros climáticos para a determinação do consumo de água das plan-
tas cultivadas, por meio do modelo apresentado na equação 1.

253
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

ETc = ETo.Kc.Ks.Kl eq. 1

em que
ETc – evapotranspiração da cultura, mm;
ETo – evapotranspiração de referência, mm;
Kc – coeficiente de cultura, adimensional;
Ks – coeficiente de umidade do solo, adimensional;
Kl – coeficiente de localização, adimensional.

7.1.2.1. Evapotranspiração da cultura (ETc)

A evapotranspiração da cultura corresponde ao consumo de água


das plantas cultivadas num determinado período. A ETc depende da planta,
do solo e do clima, sendo este último fator predominante sobre os demais, de
modo que a quantidade de água requerida por uma cultura, varia com a
extensão da área coberta pelo vegetal e com os meses do ano.
A determinação da evapotranspiração da cultura dependerá da
evapotranspiração de referência e de coeficientes de ajustes determinados
experimentalmente. Dessa forma, a determinação da ETo é o primeiro pas-
so para o cálculo da evapotranspiração da cultura.

7.1.2.2. Evapotranspiração de referência (ETo)

A nova conceituação da evapotranspiração de referência estabelece


a determinação da ETo padrão com base no conceito de uma cultura hipo-
tética, que apresenta altura de 0,12 m, resistência aerodinâmica do dossel
de 70 s.m-1 e albedo de 0,23 (Smith et al., 1991). Essa ETo assemelha-se à
ETo de uma superfície extensa, coberta com grama, de altura uniforme, em
crescimento ativo, cobrindo completamente a superfície do solo e sem res-
trição de umidade (Sediyama, 1996).
A ETo padrão é determinada pela equação de Penman-Monteith,
parametrizada pela FAO. Para tal, faz-se necessária a medição dos seguin-
tes dados climáticos: temperatura (máxima, média e mínima), umidade rela-
tiva, radiação solar, velocidade do vento e precipitação pluvial. Vale ressal-
tar que as variáveis climáticas que mais influenciam na determinação da
ETo são a radiação solar e a velocidade do vento.
254
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Para a obtenção de todas as variáveis climáticas necessárias para a


determinação da ETo padrão por meio da equação de Penman-Monteith,
faz-se necessário o uso de estações meteorológicas completas. O ideal nes-
te caso é a utilização de estações agrometeorológicas automáticas (Figura
4), que medem as variáveis climáticas, normalmente em base horária e ar-
mazenam os dados por um período de tempo que depende do modelo e da
marca da estação. Em sistemas mais tecnificados, a estação automática
pode ser conectada ao computador central da propriedade e o monitoramento
do clima, para subsidiar a tomada de decisão nas diferentes etapas que
compõem o sistema produtivo, poderá ser feito à distância.

(A) (B)
Figura 4 – Estação agrometeorológica automática: (A) detalhe e (B) insta-
lada no campo juntamente com o Tanque “Classe A” (Fotos:
Fazenda FAHMA – Lote 29M, Gleba C2, Projeto Jaíba, Matias
Cardoso-MG).

Apesar do grande avanço relacionado à simplificação do manuseio e


diminuição dos custos das estações agrometeorológicas automáticas, as
mesmas ainda são pouco acessíveis em um grande número de situações,
principalmente para pequenas propriedades. Para exemplificar, uma esta-
ção automática com qualidade para o monitoramento do clima, visando o
manejo da irrigação e o auxílio na tomada de decisão de outros fatores
relacionados com o sistema produtivo, com previsão de doenças, controle
fitossanitário e indução floral, apresenta um custo da ordem de US$ 3.000,00
a US$ 4.000, 00.

255
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Uma outra possibilidade, é a utilização de estações simplificadas, com-


postas de um abrigo meteorológico, termômetro de máxima e mínima e pluvi-
ômetro (Figura 5). Neste caso o conjunto, com características técnicas e de
qualidade, apresenta um custo da ordem de US$ 170,00. Para a determina-
ção da ETo neste caso, devem-se utilizar equações simplificadas que neces-
sitam apenas de valores medidos de temperatura, como as equações de
Hargreaves & Samani e Blaney & Cridlle. Diversos resultados de pesquisas
recomendam a utilização da metodologia de Hargreaves & Samani para re-
giões de clima árido e a de Blaney & Cridlle para regiões de clima úmido.

(A) (B)
Figura 5 – Abrigo meteorológico com termômetro de máxima e mínima (A)
e pluviômetro (B) (Foto: Everardo Chartuni Mantovani).

Outra forma mais simplificada, porém menos precisa, de se determi-


nar a evapotranspiração de referência, é por meio do uso de tanques de
evaporação, como o tradicional Tanque “Classe A”. Este equipamento tem
a característica de promover uma integração nos fatores que influenciam
na ETo, apresenta baixo custo e é de fácil manuseio no campo, sendo pas-
sível de utilização em pequenas e médias propriedades.
Vale ressaltar, que para determinação da Eto, existem diversos méto-
dos, porém para se obter maior precisão nos resultados e com isso maior
sucesso no manejo da irrigação, deve-se usar o maior número possível de
variáveis climáticas, usando sempre que possível o método proposto por
Penman-Monteith, considerado pela FAO como o método padrão para a
256
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

determinação da ETo. Assim, sempre que possível convém fazer uma cor-
relação entre o método de Penman-Monteith com outros métodos mais sim-
ples como o Tanque “Classe A” e os propostos por Hargreaves & Samani e
Blaney & Cridlle, visando uma correção no valor da ETo usada para a
determinação da evapotranspiração da cultura. Com o avanço dos recursos
computacionais e o advento de softwares empregados nas mais diversas
fases do processo produtivo, este procedimento está cada vez mais facilita-
do e passível de ser adotado em nível de propriedade rural.
A seguir são apresentados os modelos e procedimentos para a deter-
minação da ETo, pelos métodos de Penman-Monteith, Blaney & Criddle e
Hargreaves & Samani e pelo Tanque “Classe A”.

a) Equação de Penman-Monteith

A equação combinada, baseada na equação de Penman-Monteith,


considerada pela FAO como padrão para a determinação da Eto, é apre-
sentada a seguir (equação 2).

∆ γ 0,622 λ ρ 1
ΕΤο = ( R n − G) + K1 (e − e ) eq. 2
∆+γ * ∆+γ * P ra s d

em que
ETo - evapotranspiração de referência, MJ.m-2.d-1;
Rn - saldo de radiação à superfície, MJ.m-2.d-1;
G - fluxo de calor no solo, MJ.m-2.d-1;
K1 - coeficiente de conversão de unidades;
P - pressão atmosférica média estimada, kPa;
es - pressão máxima de saturação de vapor, kPa;
ed – pressão atual de vapor, kPa;
ra - resistência aerodinâmica, s.m-1;
l - calor latente de evaporação, MJ.kg-1;
λ - densidade do ar seco, kg.m-3;
∆ - tangente da curva de saturação de vapor, em função da tempera-
tura do ar, kPa.ºC-1;
γ - constante psicrométrica, kPa.ºC-1; e
γ* - constante psicrométrica modificada, kPa.ºC-1.
257
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O cálculo do saldo de radiação à superfície (Rn) é estimado através


da equação 3.

Rn = (1 - a) Rs – Rb eq. 3

em que
Rs - saldo de radiação de ondas curtas, MJ.m-2.d-1;
Rb - saldo de emissão efetiva de ondas longas, MJ.m-2.d-1;
a - reflectância de ondas curtas ou albedo, adimensional.

b) Equação de Blaney & Criddle (FAO)

ETo = a + b [ p ( 0,46 T + 8,13)] eq. 4

em que
ETo - evapotranspiração de referência, mm.d-1;
a e b - fatores de ajuste local, adimensional;
p - percentagem diária média de horas anuais de brilho solar; e
T - temperatura média, ºC.

Os fatores de ajuste a e b são determinados em função da umidade


relativa média, da duração do dia e da velocidade média do vento.

c) Equação de Hargreaves & Samani

ETo = 0 ,0023 R
a
(Tmax - Tmin )1/2 (Tmed + 17 ,8 ) eq. 5

em que
ETo - evapotranspiração de referência, mm.d-1;
Tmed - temperatura média, ºC, [Tmed = 0,5 (Tmax + Tmin)];
Tmax - temperatura máxima, ºC;
Tmin - temperatura mínima, ºC; e
Ra - radiação solar no topo da atmosfera, mm.d-1.

258
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Com o avanço dos recursos computacionais e o advento de softwares


especializados usados para o manejo da irrigação, como o Irriga, desenvol-
vido no âmbito do Grupo de Estudos e Soluções para Agricultura Irrigada
(GESAI) do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Fede-
ral de Viçosa, a determinação da ETo por meio de equações complexas, que
envolvem vários parâmetros climáticos, como a equação de Penman-Monteith,
pode ser facilmente adotada em nível de propriedade rural, desde que o
produtor tenha meios de medir as variáveis climáticas exigidas por cada
equação.

d) Tanque “Classe A”

É o tipo de evaporímetro mais utilizado. Consiste em um tanque cir-


cular de aço galvanizado ou de metal, com 1,21 m de diâmetro interno e 25,5
cm de altura, circundado por grama ou solo nu. O tanque deve ser instalado
sobre um estrado de madeira de 10 cm de altura e cheio d’água até que o
seu nível fique a 5 cm da borda superior do tanque. A evaporação da água é
medida com um micrômetro de gancho, assentado sobre um poço
tranqüilizador. A oscilação máxima do nível da água dentro do tanque deve
ser de 2 cm.
Para se determinar a ETo por meio Tanque “Classe A”, utiliza-se a
equação 6.

ETo = Ev.Kt eq. 6

em que
ETo - evapotranspiração de referência, mm.dia-1;
Ev - evaporação medida no Tanque “Classe A”, mm.dia-1; e
Kt - coeficiente do tanque, adimensional.

O coeficiente do tanque (Kt) varia em função da velocidade do ven-


to, da umidade relativa do ar e da cobertura do solo que o circunda, tendo os
seus valores tabelados, conforme apresentado no Quadro 2.
Em virtude de seu baixo custo de implantação e fácil manejo, o Tan-
que “Classe A” tem sido empregado em vários projetos de irrigação. Apre-

259
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

senta erro considerável quando utilizado para determinação da


evapotranspiração diária e pode apresentar erros operacionais quando não
instalado e manejado de forma adequada.
Simão et al. (2003), comparando a ETo obtida pelo Tanque “Classe A”
com a calculada pela equação de Penman-Monteith, para as condições da
região norte de Minas Gerais, concluíram que o tanque não deve ser utilizado
para controle de irrigações com turno de rega diário, devido ao grande erro
padrão de estimativa encontrado para esta situação (2,54 mm.dia-1).

Quadro 2 - Valores do coeficiente do tanque (Kt) em função da velocidade


do vento, da umidade relativa do ar e da cobertura do solo que o
circunda, segundo Doorenbos e Pruitt (1977).
Tanque circundado por grama Tanque circundado por solo un
Posição do UR média (%) Posição do UR média (%)
Vento Tanque Baixa Média Alta Tanque Baixa Média Alta
(km.dia-1) R (m)1 <40 40-70 >70 R (m)1 <40 40-70 >70
1 0,55 0,65 0,75 1 0,70 0,80 0,85
Leve 10 0,65 0,75 0,85 10 0,60 0,70 0,80
< 175 100 0,70 0,80 0,85 100 0,55 0,65 0,75
1000 0,75 0,85 0,85 1000 0,50 0,60 0,70
1 0,50 0,60 0,65 1 0,65 0,75 0,80
Moderado 10 0,60 0,70 0,75 10 0,55 0,65 0,70
175 – 425 100 0,65 0,75 0,80 100 0,50 0,60 0,65
1000 0,70 0,80 0,80 1000 0,45 0,55 0,60
1 0,45 0,50 0,60 1 0,60 0,65 0,70
Forte 10 0,55 0,60 0,65 10 0,50 0,55 0,65
425 – 700 100 0,60 0,65 0,70 100 0,45 0,50 0,60
1000 0,65 0,70 0,75 1000 0,40 0,45 0,55
1 0,40 0,45 0,50 1 0,50 0,60 0,65
Muito 10 0,45 0,55 0,60 10 0,45 0,50 0,55
Forte 100 0,50 0,60 0,65 100 0,40 0,45 0,50
> 700 1000 0,55 0,60 0,65 1000 0,35 0,40 0,45

1
Distância radial do dossel vegetativo ou do solo nu em torno do Tanque “Classe A”.

260
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

7.1.2.3. Coeficiente de cultura (Kc)

O Kc é o coeficiente que corrige e ajusta a evapotranspiração para


as condições da cultura manejada. O valor do Kc é estabelecido em função
da cultura, da fase fenológica, do clima, do manejo cultural, da densidade de
plantio, entre outros fatores. O método FAO divide a cultura em quatro
fases, cada qual com um Kc específico, conforme apresentado no Quadro
3.
Na fase I, o Kc é definido principalmente pela evaporação na super-
fície do solo, que continua influenciando na primeira parte da fase II, sendo
gradativamente substituída pela transpiração da cultura, aumentando de for-
ma linear. Na fase III, a cobertura do solo atinge seu máximo e o Kc é
definido pela transpiração da cultura. Na fase IV, o Kc decresce linearmen-
te até a colheita.
No Quadro 4, são apresentados valores sugeridos de Kc para os
diferentes estádios de desenvolvimento da cultura da mangueira cultivada
na região Norte de Minas Gerais. E na Figura 6, é apresentado o gráfico
com a evolução do Kc durante o crescimento vegetativo da cultura da man-
gueira e em três ciclos produtivos, evidenciando as fases de indução floral,
com o uso de paclobutrazol (PBZ) e nitratos (NO3), florescimento e
frutificação (Flor) e colheita.

261
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Quadro 3 – Valores de Kc em função do estádio de desenvolvimento da


cultura.
Estádio de desenvolvimento Caracterização do Estádio Kc
Da germinação até a cultura cobrir 10% da superfície do
I. Inicial terreno ou 10% a 15% do seu desenvolvimento 0,2 a 1,0
vegetativo.
II. Secundário ou de Do final do primeiro estádio até a cultura cobrir de 70% Varia linearmente entre os
desenvolvimento a 80% da superfície do terreno ou atingir de 70% a 80% valores do primeiro e terceiro
vegetativo do seu desenvolvimento vegetativo. estádios
III. Intermediário ou de Do final do segundo estádio até o início da maturação,
0,9 a 1,25
produção também denominado estádio de produção.
Varia linearmente entre os
Do início da maturação até a colheita ou final da
IV. Final ou de maturação valores do terceiro estádio e 1,0
maturação.
a 0,3

Fonte: Doorenbos e Kassan (1979).

Quadro 4 - Valores sugeridos de Kc para os diferentes estádios de desen-


volvimento da cultura da mangueira cultivada na região Norte
de Minas Gerais.

Fase Estádio de desenvolvimento Duração (dias) Kc


0 – 6 meses 180 0,30
7 – 12 meses 180 0,35
Crescimento
13 – 18 meses 180 0,40
Vegetativo
19 – 24 meses 180 0,45
25 – 36 meses 360 0,55
Indução floral – PBZ 90 - 120 0,75 – 0,85
Indução floral – NO3 15 0,20 – 0,30
Floração + frutificação 105 0,80 – 0,90
Produção
Colheita + preparo p/ próxima safra 45 0,50 – 0,60
Desenvolvimento dos ramos 70 - 90 0,60 – 0,70
Indução floral – PBZ 90 - 120 0,75 – 0,85

262
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Figura 6 – Evolução do Kc durante os estádios de desenvolvimento da cul-


tura da mangueira.

7.1.2.4. Coeficiente de umidade do solo (Ks)

O coeficiente de umidade do solo pode ser determinado por três


metodologias. A primeira, descrita na equação 7, foi proposta por Bernardo
(1996); a segunda, apresentada na equação 8, é utilizada em algumas situa-
ções específicas, como no caso da irrigação de alta freqüência ou irrigação
em solos muito arenosos. A terceira metodologia é apresentada pela equa-
ção 9.

ln (LAA + 1,0 )
Ks =
ln (CTA + 1,0 )
eq. 7

Ks = 1,0 eq. 8

263
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Ua − PM
Ks = eq. 9
CC − PM

em que

Ks – coeficiente de umidade do solo, adimensional;


ln – logaritmo neperiano;
LAA – lâmina atual de água no solo, mm;
CTA – capacidade total de armazenamento de água no solo, mm;
Ua – umidade atual do solo, mm;
PM – ponto de murcha permanente, mm; e
CC – capacidade de campo, mm.

7.1.2.4. Coeficiente de localização (Kl) e percentagem de área mo-


lhada (Pw)

Em irrigação localizada somente uma parte da superfície do solo é


molhada. Em conseqüência, são reduzidos a evaporação direta da água do
solo e o efeito da alta freqüência de aplicação de água, mantendo o solo
sempre próximo à capacidade de campo, favorecendo o aumento da
transpiração. No balanço supõe-se uma diminuição na evapotranspiração
da cultura (ETc), cuja magnitude depende de várias características das par-
tes transpirantes das plantas, como: massa foliar, superfície total das folhas,
volume da copa, entre outras características. Assim, em irrigação localiza-
da, é necessário fazer uma correção na evapotranspiração da cultura deter-
minada para os demais métodos de irrigação.
Numerosos procedimentos têm sido propostos para corrigir a ETc
devido ao efeito da localização. Entre eles, estão selecionados como mais
práticos, aqueles que se baseiam na percentagem de área sombreada, que é
definida como “a fração da superfície do solo sombreada pela cobertura
vegetal ao meio-dia no solstício de verão, em relação à superfície total”
(Pizarro, 1990). Assim, a correção devido à localização, consiste em multi-
plicar a ETc por um coeficiente de localização (Kl), cujo valor depende da
percentagem de área sombreada definida anteriormente.

264
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Um dos fatores importantes a considerar no cálculo de um projeto de


irrigação localizada, é a proporção da superfície ou volume de solo que deve
ser umedecido em relação à superfície total. Essa proporção designa-se
percentagem de área molhada (Pw) e depende do volume de água aplicada
em cada ponto de emissão, do espaçamento entre emissores e do tipo de
solo que está sendo irrigado.
Diversos autores têm estudado a relação entre Kl e a percentagem
de área sombreada e/ou molhada, obtendo as mais variadas equações. A
seguir são apresentadas algumas equações propostas por diversos autores
para a determinação de Kl.

Keller (1978)
Kl = P + 0,15(1 − P ) eq. 10

Keller e Bliesner (1990)


Kl = P eq. 11

Keller e Karmeli (1975)


P
Kl = eq. 12
0,85

Fereres (1981)
Se, P ≥ 65% → Kl = 1,0 eq. 13
Se, 20% < P < 65% → Kl = 1,09 P + 0,30 eq. 14
Se, P ≤ 20% → Kl = 1,94 P + 0,1 eq. 15

Aljibury et al. (1974), citados por Hernandez Abreu et al. (1987)


Kl = 1,34 P eq. 16

Decroix (comunicação pessoal), citado por Vermeiren e Jobling (1980)


Kl = 0,1 + P eq. 17

265
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Hoare et al. (1974), citados por Hernandez Abreu et al. (1987)


Kl = P + 0,5(1 − P ) eq. 18

Bernardo (1996)
Kl = P eq. 19

Em todas as equações, P representa o valor da percentagem de área


sombreada ou molhada, em decimal, devendo sempre utilizar a que fornecer
o maior valor.
Estes métodos supõem que a evapotranspiração na área sombreada
se comporta quase igual à evapotranspiração da superfície de um solo sob
irrigação convencional, enquanto a área não sombreada elimina água com
uma intensidade muito menor. As equações propostas por Hoare et al. (1974),
citados por Hernandez Abreu et al. (1987) e Keller (1978), mostram a influ-
ência da parte sombreada (P) e da não sombreada (1 - P) pela cultura, no
valor de Kl.
Segundo Pizarro (1990), uma crítica que se pode fazer a estas equa-
ções é que em todas elas, com exceção das propostas por Fereres (1981) e
Keller e Bliesner (1990), a relação entre Kl e P é linear. Trabalhos conduzi-
dos na Califórnia por Fereres (1981), com as culturas da amendoeira e do
pessegueiro, mostram que tal relação não se cumpre e que, para pequenos
valores de P, as necessidades calculadas podem ser menores que as reais.
Em alguns métodos, para maiores valores de P, ocorrem valores de
Kl maiores que um. Nestes casos, deve-se considerar o valor de Kl igual a
um. E no caso de ausência de cultivo (P=0), algumas equações fornecem
valores não nulos de Kl. Por estas razões, é recomendável, ao aplicar estas
equações, não perder de vista o seu significado real.
Apesar de não existirem resultados de pesquisas conclusivos, dentre
os métodos citados, os que têm maior aceitabilidade entre técnicos e pesqui-
sadores que trabalham com fruticultura irrigada, sendo por isso mais adotados
em nível de propriedade rural, são os propostos por Keller (1978) e Fereres
(1981). Na Figura 7, é apresentado um gráfico comparando os valores de
Kl em função da percentagem de área sombreada ou molhada pelos méto-
dos propostos por estes pesquisadores.

266
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Á rea so m b rea d a o u m o lh ad a (% )
Figura 7 - Valores de Kl em função da percentagem de área sombreada ou
molhada pelos métodos propostos por Keller (1978) e Fereres
(1981).

Observa-se que no método proposto por Keller (1978), o valor de Kl


apresenta um comportamento linear em função do aumento da percenta-
gem de área sombreada ou molhada. Já no método proposto por Fereres
(1981), o valor de Kl não varia linearmente com o aumento da percentagem
de área sombreada ou molhada e, a partir de 65% de área sombreada ou
molhada, não se considera mais o efeito da localização, apresentando valor
de Kl igual a um.
Para a mangueira cultivada sob irrigação localizada com valores de
percentagem de área molhada (Pw) inferiores ou iguais a 50%, recomenda-
se para o cálculo do Kl, o método proposto por Fereres (1981). Já para
cultivos com valores de Pw superiores a 50%, recomenda-se para o cálculo
do Kl, o uso do método proposto por Keller (1978). Esta recomendação
baseia-se na segurança do sistema de irrigação em fornecer água para a
cultura.
Vale ressaltar que a metodologia de cálculo do Kl se baseia na per-
centagem de área molhada (Pw) proporcionada pelo sistema de irrigação
ou na percentagem de área sombreada (Ps) pela cultura, devendo sempre
267
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

ser usado, no momento do manejo da irrigação, o maior valor entre as duas.


Assim, num plantio de manga sob irrigação localizada com Pw, por exem-
plo, de 40%, deve-se usar o método proposto por Fereres (1981) para o
cálculo do Kl, sendo o seu valor igual a 0,74. Porém, se a cultura, em deter-
minada fase fenológica, apresentar um valor de área sombreada igual a
70%, o valor do Kl passará para um, pois no método proposto por Fereres
(1981), quando os valores de Pw ou Ps forem superiores ou iguais a 65%, o
valor do Kl é igual a um.
De maneira geral, valores elevados de Pw aumentam a segurança do
sistema, sobretudo em caso de avaria na instalação ou situações de extrema
evapotranspiração. Por outro lado, ao aumentar-se o Pw, geralmente se
aumenta também o custo de implantação do sistema. Enfim, pode-se dizer
que, quanto maior é o intervalo entre irrigações, maior é o risco no caso de
um valor de Pw muito próximo ao mínimo. Um aspecto que deve ser obser-
vado no dimensionamento de sistemas de irrigação localizada é que quanto
maior o volume de solo molhado e, portanto, o explorado pelas raízes, menor
será a possibilidade de se produzir um estresse hídrico, pelo aumento da
reserva de água no solo.
Segundo Pizarro (1990), valores de Pw na ordem de 30 a 40% po-
dem ser suficientes. Keller (1978) aconselha para árvores, valores de Pw
superiores a 20%, em zonas com altas precipitações e solos de textura mé-
dia a argilosa, onde a irrigação é aplicada durante os períodos secos, geral-
mente curtos, e entre 33 e 50% em zonas com baixas precipitações. Já San
Juan (1988) afirma que é comprovado o aumento de produção quando se
irriga mais de 50% do volume ocupado pelas raízes.
Para plantios mais espaçados, Keller e Bliesner (1990) recomendam
valores de Pw entre 33 e 67% e afirmam que em regiões com considerável
suprimento de chuvas, valores menores que 33% são aceitáveis para solos
de textura média a argilosa. Os mesmos autores consideram que valores de
Pw superiores a 33% promovem um desenvolvimento satisfatório do siste-
ma radicular das plantas.

268
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

8. EFICIÊNCIA DE IRRIGAÇÃO

Através da determinação da evapotranspiração da cultura, discutida


anteriormente, conhece-se a lâmina de irrigação real necessária. Para a
aplicação desta lâmina, visando suprir as necessidades hídricas da cultura,
faz-se necessário o conhecimento da eficiência de irrigação do sistema.
Desta forma, pode-se determinar a lâmina de irrigação total necessária por
meio da equação 20.

IRN
ITN = eq. 20
Ei

em que

ITN – lâmina de irrigação total necessária, mm;


IRN – lâmina de irrigação real necessária, mm; e
Ei – eficiência de irrigação, decimal.

A eficiência de irrigação é função das perdas de água que ocorrem


na condução da água do ponto de captação até o de emissão; das perdas
por evaporação e arraste pelo vento, a partir da saída da água do emissor
até alcançar a superfície do solo; das perdas por escoamento superficial
para fora da área irrigada e das perdas por percolação abaixo do sistema
radicular.
Na seleção de sistemas de irrigação, é necessário o conhecimento da
eficiência de cada método de aplicação de água. A eficiência de irrigação
pode ser definida como a relação entre a quantidade de água requerida pela
cultura e a quantidade total aplicada pelo sistema para suprir essa necessi-
dade. Quanto menores as perdas de água devido ao escoamento superficial,
à evaporação, ao arraste pelo vento e à drenagem profunda, maior será a
eficiência de irrigação de um sistema. Valores médios de eficiência de irri-
gação para os diferentes métodos são apresentados no Quadro 5.

269
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Quadro 5 - Eficiência de irrigação e consumo de energia em diferentes


métodos de irrigação.
Método de Eficiência de irrigação Consumo de Energia
irrigação (%) (kWh.m-3)
Superfície 40 a 75 0,03 a 0,3
Aspersão 60 a 85 0,2 a 0,6
Localizada 80 a 95 0,1 a 0,4

Fonte: Marouelli et al., 1994.

8.1. Avaliação do sistema de irrigação

A avaliação do desempenho de um sistema de irrigação é etapa fun-


damental antes de qualquer estratégia de manejo de irrigação, visto que é
com base nos seus resultados que será possível adequar o equipamento e a
sua utilização em relação aos requerimentos de água das plantas cultivadas,
considerando-se a eficiência e a uniformidade de aplicação de água do sis-
tema.
De maneira geral, em sistemas de irrigação por aspersão, a avaliação
visa determinar o padrão de distribuição de água no campo e a eficiência de
irrigação, relacionada com as perdas de água por evaporação, por
arrastamento pelo vento e por percolação. Já na irrigação localizada, visa-
se determinar a uniformidade de aplicação de água pelo sistema.

8.2. Uniformidade de distribuição de água

A uniformidade de distribuição de água de um sistema de irrigação é


um parâmetro de grande importância. A baixa uniformidade da lâmina de
água aplicada ao longo da área leva a resultados insatisfatórios, com redu-
ção da eficiência de aplicação de água. A uniformidade de distribuição da
água em sistemas de irrigação por aspersão é influenciada principalmente
pelo tipo de perfil de distribuição do aspersor, pela relação entre a pressão e
o diâmetro do bocal, pela variação de pressão no sistema e pela velocidade
e direção do vento. Para sistemas de irrigação localizada, os principais fato-

270
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

res que afetam a uniformidade de distribuição de água estão relacionados à


variação da vazão ao longo da linha lateral, que é principalmente afetada
pelo projeto hidráulico, pelo coeficiente de variação de fabricação dos emis-
sores e pelo entupimento total ou parcial desses mesmos emissores.
Na irrigação por aspersão, a água é aplicada na forma de uma preci-
pitação artificial, caindo na superfície do solo com uma certa uniformidade
decorrente do projeto realizado. Esta uniformidade com que a água é apli-
cada, é conseqüência de diversos fatores, tais como: seleção adequada do
aspersor, pressão de serviço, ângulo de inclinação, espaçamento adotado no
dimensionamento e condições climáticas.
Em geral, a baixa eficiência nos projetos de irrigação por aspersão
está relacionada com a desuniformidade de aplicação da água e com a
perda de água por evaporação e por arrastamento pelo vento. Para deter-
minar a uniformidade de distribuição de água de um sistema de irrigação por
aspersão, instala-se um conjunto de pluviômetros eqüidistantes entre quatro
aspersores, sendo dois em cada linha lateral. Em seguida, liga-se o sistema
de irrigação por um período nunca inferior a duas horas. Durante o teste,
medem-se a pressão e a vazão no bocal do aspersor, a direção e a velocida-
de do vento e o volume ou a lâmina de água coletada em cada pluviômetro.
Merriam e Keller (1978) apresentam o seguinte critério geral para
interpretação dos valores do coeficiente de uniformidade de um sistema de
irrigação: maior que 90%, excelente; entre 80 e 90%, bom; entre 70 e 80%,
regular; e menor que 70%, ruim.
O principal parâmetro que descreve a uniformidade de distribuição
de água de um sistema de irrigação é o coeficiente de uniformidade de
Christiansen (CUC), proposto por Christiansen (1942). Na irrigação por
aspersão, o CUC pode ser determinado por meio da equação 21.

 n

 ∑ Li − L 
CUC = 1001 − i 
 n.L  eq. 21
 
 

271
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

em que

CUC – coeficiente de uniformidade de Christiansen, %;


Li – lâmina de água coletada em cada pluviômetro, mm;
L – média das lâminas coletadas em todos os pluviômetros, mm; e
n – número de pluviômetros.

A uniformidade para sistemas de irrigação localizada está geralmen-


te limitada à uniformidade de descarga dos emissores para suprir a água
requerida pelas plantas individualmente. A baixa uniformidade de distribui-
ção levará a um aumento da quantidade de água aplicada, uma vez que,
para que as plantas que recebem menor lâmina d’água recebam a quantida-
de suficiente, a lâmina de irrigação deverá ser aumentada. Com isso, a
maior parte das demais plantas receberá um excesso de água que se perde-
rá. Salienta-se, ainda, que, além de maior produtividade, uma maior unifor-
midade é importante para homogeneizar a distribuição de fertilizantes na
cultura, quando o sistema de irrigação é também usado para a fertirrigação.
O uso do coeficiente de uniformidade de Christiansen, determinado
por meio da equação 22, para o cálculo da uniformidade de distribuição de
um sistema de irrigação localizada, permite a obtenção de resultados bas-
tante confiáveis. Porém, ela requer a medição da vazão de todos os emisso-
res do sistema, demandado muito tempo e muita mão-de-obra. Um outro
método proposto por Keller e Karmeli (1975) recomenda a medição de
vazões em quatro pontos ao longo da linha lateral, ou seja, no primeiro emis-
sor, no emissor situado a 1/3 do comprimento, no emissor situado a 2/3 do
comprimento e no último emissor. Neste mesmo método, as linhas laterais
selecionadas para a determinação das vazões, ao longo da linha de deriva-
ção, devem ser a primeira linha lateral, a linha lateral situada a 1/3 do com-
primento, a situada a 2/3 do comprimento e a última linha lateral. Devido ao
pequeno número de pontos determinados em cada linha lateral, principal-
mente em se tratando de linhas laterais de maior comprimento, DENÍCULI
et al. (1980) sugerem a coleta de dados em oito emissores por linha lateral,
determinando-se a vazão do primeiro emissor da linha lateral, dos situados a
1/7, 2/7, 3/7, 4/7, 5/7, 6/7 do comprimento da linha lateral e do último emissor
da linha, mantendo-se o mesmo critério proposto por Keller e Karmeli (1975)
para a seleção das linhas laterais a serem avaliadas.

272
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

 n

 ∑ Qi − Q 
CUC = 1001 − i 
 n.Q  eq. 22
 
 
em que
CUC – coeficiente de uniformidade de Christiansen, %;
Qi – vazão coletada em cada emissor, L.h-1;
Q – média das vazões coletadas em todos os emissores, L.h-1; e
n – número de emissores avaliados.

Em geral, quando se aplica uma lâmina de irrigação (LA) para satis-


fazer as necessidades hídricas requeridas pela cultura (LR), parte da água
se perde por evaporação direta e arrastamento pelo vento, sendo que a
maior parte chega ao solo (LL).
A Figura 8 apresenta um diagrama típico de distribuição da água na
irrigação por aspersão e ilustra o que ocorre, quando se aplica uma lâmina
de irrigação (LA) para satisfazer as necessidades hídricas requeridas pela
cultura (LR). A lâmina aplicada (LA) não é uniforme. Enquanto numa fração
da área LA excede a LR, perdendo-se por percolação profunda (LP), em
outra fração a lâmina aplicada é inferior à requerida, produzindo um déficit
(LD). Como resultado da falta de uniformidade na aplicação da água, so-
mente uma parte da lâmina total aplicada fica armazenada na zona radicular
(LM).

273
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Irrigação
LA

Evaporação e Arraste

LL

0 Área irrigada (%) 100


Lâmina
infiltrada
LM

LR Percentagem de área
adequadamente irrigada
LD

LP

Perfil de distribuição
de água

Figura 8 – Diagrama típico de distribuição de água na irrigação por aspersão.

8.3. Perdas por evaporação e arraste

As perdas de água por evaporação e arrastamento pelo vento são


influenciadas pelos elementos climáticos, como velocidade do vento, umida-
de relativa, temperatura do ar e radiação solar. Além dos elementos climá-
ticos, existem outros fatores que afetam estas perdas, como a distância
percorrida pela gota, a intensidade de aplicação de água do sistema e a
distribuição e o tamanho das gotas, que são função do diâmetro do bocal e
da pressão de serviço do aspersor.
A evaporação da água no ar e o arrastamento da água pelo vento são
perdas que influenciam diretamente a eficiência de aplicação. Muitos pes-
quisadores quantificaram as perdas por evaporação e arraste. Clark e Finkely,
citados por Edling (1985), estimaram perdas por evaporação e arraste mé-
dias que excederam a 15%, sob condições de velocidade média do vento
maior que 6 m.s-1, e perdas menores que 10% para condições de velocidade
média do vento menor que 4 m.s-1. Ali e Barefoot (1981) mediram perdas

274
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

por evaporação e arraste pelo vento, variando de zero a 48%, sob diferentes
combinações de condições de operação. Estas perdas variaram de 20 a
47%, zero a 20%, 29 a 48%, e de 13 a 45%, para condições de vento fraco
e umidade relativa do ar baixa, vento fraco e umidade relativa do ar alta,
vento forte e umidade relativa do ar baixa e vento forte e umidade relativa
do ar alta, respectivamente.
Paz (1990), em estudo realizado em condições de campo no Nordes-
te brasileiro para avaliar as perdas de água de um aspersor de média pres-
são, observou que as perdas por evaporação e arrastamento pelo vento
variaram de 16 a 43% do volume total de água aplicada, com valores de
umidade relativa média variando entre 24 e 68%, velocidade do vento vari-
ando entre 0,5 e 4,6 m.s-1 e temperatura média do ar oscilando entre 25 e
35oC.

9. PARÂMETROS DE DESEMPENHO DA IRRIGAÇÃO

Através da avaliação da uniformidade de distribuição de água no solo


por um sistema de irrigação, podem-se determinar todos os parâmetros de
avaliação de desempenho envolvidos no manejo da irrigação.
A eficiência de aplicação de água (Ea) é determinada pela equação
23.

Ea = 100 (Larm Lapl-1) eq. 23

em que

Ea - eficiência de aplicação de água, %;


Larm - lâmina média armazenada, mm; e
Lapl - lâmina aplicada, mm.

A lâmina média armazenada é determinada com base no perfil de


distribuição de água obtido por meio da avaliação da uniformidade de distri-
buição de água do sistema de irrigação.
A eficiência potencial de aplicação de água (EPa) é calculada, se-
gundo a equação apresentada por Bernardo (1996).

275
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

EPaBernardo = 100 (Lcol Lapl-1) eq. 24

em que

EPaBernardo - eficiência potencial de aplicação de água, %; e


Lcol - lâmina média coletada, mm.

A eficiência potencial de aplicação de água é a estimativa da percen-


tagem total de água aplicada na irrigação que atinge a superfície do solo ou
as plantas. Quando não existirem perdas por percolação, a eficiência poten-
cial de aplicação (EPa) é igual à eficiência de aplicação (Ea). Ela reflete a
perda de água por evaporação direta e arrastamento pelo vento no trajeto
das gotas d’água até o solo ou as plantas.
A determinação da eficiência potencial de aplicação diretamente no
campo, por meio dos valores das perdas por evaporação direta e arraste
pelo vento, durante a realização dos testes de uniformidade, fornece um
valor momentâneo para as condições em que o teste foi realizado. O méto-
do descrito por Keller e Bliesner (1990), apresentado nas equações 25 e 26,
permite estimar a EPa para as condições médias do dia da avaliação, repre-
sentando, assim, um valor mais abrangente das condições gerais.

EPaKeller = 0,976 + 0,005ETo - 0,00017ETo2 + 0,0012Vv -


- CI (0,00043ETo + 0,00018Vv + 0,000016ETo Vv) eq. 25

CI = 0,032 p1,3 Db-1 eq. 26

em que

ETo - evapotranspiração de referência, mm.d-1;


Vv - velocidade média do vento, km.h-1;
CI - coeficiente adimensional que caracteriza o potencial de evapo-
ração e arraste;
Db - diâmetro do bocal do emissor, mm; e
p - Pressão de serviço do emissor, KPa.

276
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Para os valores de CI, tem-se:


se CI < 7, considerar CI = 7;
se 7 < CI < 17, substituir o valor diretamente na equação 15; e
se CI > 17, considerar CI = 17.

A eficiência de distribuição para área adequadamente irrigada (EDad)


é calculada para a aplicação de uma lâmina de irrigação que possibilite
atingir uma percentagem de área adequadamente irrigada (Pad) pré-
estabelecida. Para a mangueira, deve-se adotar um valor de 90% para área
adequadamente irrigada, por se tratar de uma cultura de alto valor econômi-
co e sistema radicular bem desenvolvido, sendo os valores da EDad obtidos
por meio do método apresentado por Keller e Bliesner (1990), descrito na
equação 27.

EDad = 100 + (606 - 24,9Pad + 0,349Pad2 - 0,00186Pad3).


.(1- CUC 100-1) eq. 27

em que

EDad - eficiência de distribuição para área adequadamente irrigada, %;


Pad - percentagem de área adequadamente irrigada desejada, %; e
CUC - coeficiente de uniformidade de Christiansen, %.

A eficiência de irrigação (Eipad), para uma dada área adequadamen-


te irrigada, utilizada na determinação da lâmina de irrigação a ser aplicada
para suprir as necessidades hídricas de uma cultura, é calculada pela equa-
ção 28, a partir dos valores da eficiência de distribuição para área adequa-
damente irrigada (EDad) e da eficiência potencial de aplicação (EPa), obti-
dos pelos métodos apresentados por Keller e Bliesner (1990).

Eipad = EDad EPaKeller Ec eq. 28

277
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

em que

Eipad - eficiência de irrigação para área adequadamente irrigada,


decimal;
EDad - eficiência de distribuição para uma percentagem de área ade-
quadamente irrigada, decimal;
EPaKeller - percentagem efetiva de água que alcança a superfície do
solo, ou, eficiência potencial de aplicação, decimal; e
Ec - eficência de condução, decimal.

A eficiência de condução (Ec) reflete as perdas de água por vaza-


mento, sendo função das condições de manutenção do sistema de irrigação.
Em condições de boa manutenção, elas são menores que 1%. Entretanto,
em sistemas com manutenção inadequada, esse valor pode chegar a 10%,
ou seja, a eficiência de condução da água será somente de 90%. Essas
perdas ocorrem, principalmente, nos acoplamentos das tubulações.

O coeficiente de déficit (Cd) é expresso pela razão entre a lâmina de


água deficitária e a lâmina de água requerida pela cultura, denominada de
lâmina de irrigação real necessária, conforme apresentado na equação 29.

Cd = 100 (Ldef IRN-1) eq. 29

em que

Cd - coeficiente de déficit, %;
Ldef - lâmina de déficit, mm; e
IRN - lâmina de irrigação real necessária, mm.

A lâmina de água deficitária é determinada através da diferença en-


tre a lâmina de irrigação real necessária e a lâmina média armazenada (equa-
ção 30).

Ldef = IRN – Larm eq. 30

278
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

A perda por percolação (Pp) é a parte da água aplicada que se movi-


menta para a região abaixo da zona radicular, podendo ser expressa pela
razão entre a lâmina percolada e a lâmina média coletada (equação 31).

Pp = 100 (Lper Lcol-1) eq. 31

em que

Pp - perda por percolação, %; e


Lper - lâmina percolada, mm.

A lâmina percolada é determinada através da diferença entre a lâmi-


na média coletada e a lâmina média armazenada, conforme apresentado na
equação 32.

Lper = Lcol – Larm eq. 32

10. O MODELO IRRIGA PARA O MANEJO DA IRRIGAÇÃO

Para a determinação da necessidade hídrica em tempo real com o


objetivo de se realizar um correto manejo da irrigação, é necessário consi-
derar vários fatores que interferem no processo. Para facilitar a decisão de
quando e quanto irrigar, é desejável que se utilizem sistemas computacionais
associados a estações agrometeorológicas, sendo mais adotado o uso de
planilhas eletrônicas, que são de difícil configuração em especial quando
são necessárias alterações nos parâmetros utilizados ou softwares especifi-
camente desenvolvidos para esta finalidade.
Para manejo de irrigação também são utilizados outros métodos que
integram os fatores envolvidos no processo, como os tensiômetros e o tan-
que classe “A”. Entretanto, eles apresentam alguns problemas operacionais,
além de não poderem ser utilizados para outras finalidades, como o planeja-
mento de diversas atividades através de simulações e a previsão de ocor-
rência de doenças.
Para que a implantação de um projeto de irrigação atinja seus objeti-
vos, é necessário, além de um projeto adequadamente dimensionado, o ma-

279
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

nejo eficiente da irrigação e dos diversos fatores a ela relacionados, como:


nutricionais, fitopatológicos, edáficos, climáticos e fitotécnicos. O conceito
de manejo eficiente da irrigação é complexo e, no seu sentido mais amplo,
relaciona tanto o aspecto do manejo da água como também o manejo do
equipamento, com o objetivo de adequar a quantidade de água a ser aplica-
da e o momento certo desta aplicação. O manejo adequado da irrigação não
pode ser considerado uma etapa independente dentro do processo de pro-
dução agrícola, tendo, por um lado o compromisso com a produtividade da
cultura explorada e por outro, o uso eficiente da água, promovendo a con-
servação do meio ambiente.
A agricultura irrigada representa o maior consumidor de água dentre
os diversos usuários, chegando em muitos países, a totalizar 80% do consu-
mo. No Brasil, estima-se que metade da água consumida ocorra na agricul-
tura irrigada. Estes números indicam que qualquer política e/ou trabalho
relacionado ao manejo dos recursos hídricos devem considerar a irrigação
como um componente fundamental.
Dentro deste contexto e considerando a necessidade de uma utiliza-
ção mais eficiente da água, desenvolveu-se o Irriga, um sistema
informatizado voltado para o monitoramento de áreas irrigadas, visando dar
sustentabilidade à irrigação em áreas agrícolas, possibilitando um uso mais
eficiente dos recursos hídricos e racionalizando o uso da água em lavouras
irrigadas.
O Irriga, cuja tela principal está apresentada na Figura 9, é um siste-
ma de apoio à decisão na área da agricultura irrigada, com módulos que
permitem o manejo do sistema de irrigação (Avalia) e da água (Manejo e
Decisão) e simulações de cenários como ferramenta de planejamento agrí-
cola (Simula).

280
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Figura 9 - Tela principal do software Irriga.

Desenvolvido no âmbito do Grupo de Estudos e Soluções para Agri-


cultura Irrigada (GESAI) do Departamento de Engenharia Agrícola da Uni-
versidade Federal de Viçosa, coordenado pelo Prof. Everardo Chartuni
Mantovani, o Irriga está inserido dentro de uma política de parceria e de
solução para o grave problema associado à falta de manejo da irrigação em
condições de campo. Incorpora uma visão técnica sem perder de vista a
operacionalidade necessária no dia-a-dia.
O programa é parte de uma filosofia de trabalho que vem sendo de-
senvolvida nos últimos 10 anos, envolvendo uma solução efetiva para qual-
quer sistema de irrigação pressurizado, cultura, tamanho de área, região,
solo, clima, topografia e outras fontes de variação, consistindo num agrupa-
mento de ferramentas para o gerenciamento da irrigação. Desde que foi
criado, o Irriga é atualizado anualmente. Em 2003, porém, ele ganhou uma
nova versão com novo design e implementação de melhorias.
A seguir, são apresentadas algumas características dos módulos do
Irriga.

281
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

a) Decisão
Indica por parcela a severidade do déficit de água no solo, a lâmina e
o tempo de irrigação em cada uma das parcelas do campo por meio de uma
escala de cores (azul, amarelo e vermelho). É de fácil acesso para ser
utilizado no dia-a-dia pelo pessoal de campo ou escritório.

b) Manejo
Indica o déficit, momento, lâmina de irrigação e cerca de outras 50
variáveis, por meio de gráficos e relatórios padronizados ou personalizados.
É mais indicado para técnicos visando analisar cada parcela de forma deta-
lhada.

c) Simula
Ferramenta de planejamento usada para a definição da lâmina de
projeto, déficit hídrico, veranico, horas de irrigação, consumo de energia e
uma infinidade de variáveis na forma de gráficos e relatórios. Dispõe de
dados climáticos diários de mais de 500 estações meteorológicas de todo o
Brasil, permitindo utilização de critérios de probabilidade de forma muito
simples.

c) Avalia
Permite avaliação dos diversos sistemas de irrigação, possibilitando
os cálculos de eficiência de irrigação por diversas metodologias.

O Irriga já foi implantado em escala de produção em diversas loca-


lidades brasileiras, com diferentes culturas e características edafoclimáticas,
em pequenas e grandes propriedades e diferentes sistemas de irrigação
pressurizados, sendo, portanto, ajustável às mais diversas necessidades de
uso.
Maiores informações sobre o software e outros produtos e serviços
prestados pelo GESAI podem ser obtidos no site www.irriga.com.br ou pelo
e-mail [email protected].
No programa, antes de utilizar o sistema de manejo e a simulação de
irrigação, o usuário deve fornecer informações básicas sobre o sistema de
produção (solo, clima, água, cultura e sistema de irrigação). Com a base de
dados climáticos abrangendo todo o território nacional, quando o usuário

282
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

identifica a localidade onde está o cultivo, o sistema identifica as estações


meteorológicas mais próximas, para que o usuário selecione uma ou mais
estações, visando futuras simulações que auxiliarão no processo de planeja-
mento agrícola.
O Irriga utiliza o monitoramento do clima para o cálculo das neces-
sidades hídricas da cultura, o que permite a definição do tempo de irrigação.
Tal método foi selecionado pela praticidade e operacionalidade. Para corre-
ção de possíveis desvios ou erros nesta estimativa o sistema permite ao
usuário a entrada de dados de umidade do solo.
Diante do exposto, pode-se verificar a importância de um bom pro-
grama de manejo da irrigação. Com um sistema bem manejado, pode-se
reduzir o número de irrigações e economizar água e energia, de acordo com
as diferentes necessidades hídricas de cada fase da cultura a manejar.
O manejo da irrigação, utilizando o software Irriga, possibilita o uso
racional da água, indicando as necessidades hídricas das culturas e
minimizando a percolação de água além da camada de solo explorada pelo
sistema radicular, entre outros recursos disponíveis para suporte à decisão
em cultivos sob irrigação.

11. FERTIRRIGAÇÃO

A irrigação teve avanço considerável nas últimas décadas, tanto no


que diz respeito ao aprimoramento de novos métodos quanto ao incremento
de novas áreas irrigadas. Dentre as vantagens da irrigação, está aquela que
possibilita utilizar este próprio sistema como meio condutor e distribuidor de
produtos químicos, como fertilizantes, inseticidas, herbicidas, nematicidas,
reguladores de crescimento, simultaneamente com a água de irrigação, prá-
tica conhecida como quimigação.
A fertirrigação é o mais eficiente meio de fertilização e combina os
dois principais fatores essenciais no crescimento e desenvolvimento das
plantas: água e nutrientes. É definida como sendo a aplicação dos fertilizan-
tes via água de irrigação. Sua introdução agrega vantagens como melhoria
da eficiência e uniformidade de aplicação de adubo, desde que o sistema de
irrigação também tenha boa uniformidade; possibilidade de redução na do-
sagem de nutrientes com a aplicação dos nutrientes no momento e na quan-
tidade exatos requeridos pelas plantas; maior aproveitamento do equipa-

283
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

mento de irrigação; menor compactação e redução dos danos físicos às


plantas com a redução do tráfego de máquinas dentro da área; redução de
contaminação do meio ambiente devido ao melhor aproveitamento dos nu-
trientes móveis no solo quando aplicados via irrigação localizada e diminui-
ção da utilização de mão-de-obra, dentre outras. Esta técnica, quando utili-
zada racionalmente, pode proporcionar melhor desenvolvimento das plantas
e qualidade dos frutos, proporcionando aumento na competitividade do fru-
ticultor.
Inserida no contexto da agricultura sustentável, a fertirrigação é o
sistema mais racional de aplicação de fertilizantes. A possibilidade de distri-
buir os nutrientes em cada fase do desenvolvimento fenológico permite sin-
cronizar o suporte nutricional no solo com a exportação realizada pela plan-
ta. Na fertirrigação, tanto a irrigação quanto a fertilização afetam o com-
portamento do vegetal, podendo os ajustes em um dos fatores determinar
limites impostos pelo outro. Para se obter o desempenho vegetativo e
reprodutivo ideal nas plantas via fertirrigação, todos os fatores que contribu-
em para o incremento da irrigação-fertilização devem ser balanceados, de
modo que nenhum deles imponha limite significativo.
Em contrapartida, há limitações ao emprego da fertirrigação, como a
necessidade de conhecimentos técnicos dos adubos e cálculos das dosa-
gens; treinamento de pessoal para manuseio dos adubos e injetores; danos
ambientais com procedimentos inadequados; corrosão dos equipamentos de
irrigação; toxidez ao agricultor, toxidade e queima das folhas das plantas;
custo inicial elevado do sistema de irrigação e aumento das perdas de carga
no sistema de irrigação.
Alguns fatores devem ser considerados para se ter uma fertirrigação
adequada, como seleção adequada dos adubos e o seu parcelamento, a
nutrição e a classificação das plantas, o tipo de solo, a qualidade da água, o
tipo de injetor, a sua posição e a taxa de injeção, o tempo, a quantidade e a
uniformidade de aplicação dos produtos na água de irrigação. Deve ser
observada a relação custo/benefício em função da adoção desta técnica.

284
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

11.1. Levantamento de informações para planejamento da


fertirrigação

11.1.1. Dados gerais da propriedade e da cultura

Para o início do planejamento da fertirrigação, é fundamental a aqui-


sição de todos os detalhes que possam ser fornecidos pelo proprietário ou
pelo gerente agrícola da propriedade, como localização, área, identificação
das culturas, localização das fontes de água e dados históricos de cultivos
anteriores. Essas informações são de extrema importância para o enge-
nheiro agrícola ou agrônomo delinearem a execução do projeto.
Para uma adequada programação da fertirrigação, são necessárias
informações técnicas como variedade utilizada, profundidade média do sis-
tema radicular na condição de cultivo, data de plantio, espaçamento e den-
sidade de plantio, duração total do ciclo produtivo, duração média das fases
da cultura e períodos de maior exigência nutricional, porcentagem de área
sombreada por fase de desenvolvimento da cultura, época ou data da co-
lheita, taxa de absorção de macro e micronutrientes e potencial de produti-
vidade, todas importantes para o planejamento da fertirrigação.

11.1.2. Características químicas e físicas do solo

O conhecimento das condições químicas e físicas do solo, atuais e


anteriores, orientam o engenheiro responsável sobre a evolução da
estruturação do solo e sobre a sua fertilidade. Com esta informação, é pos-
sível utilizar a fertirrigação para corrigir ou manter as condições atuais do
solo, oferecendo ao cultivo ambiente mais propício ao desenvolvimento.
O processo de fertirrigação é complexo, por envolver aspectos físi-
cos, químicos e, principalmente, biológicos (Carrijo et al., 1999). Portanto, é
necessário o entendimento dos componentes que envolvem o processo para
o aproveitamento de todos os benefícios da prática da fertirrigação.
Entre as análises requeridas para o solo destaca-se a de fertilidade
do solo, sendo os fatores mais considerados, o pH, a condutividade elétrica,
os teores de cálcio e magnésio trocáveis, a matéria orgânica e a CTC total.

285
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Deve, também, ser feita a análise textural do solo, com a determina-


ção dos teores de argila, areia e silte. A determinação da curva de retenção
de água no solo e a densidade determinam a capacidade de armazenamento
de água no solo, importante para fins de projeto e manejo.

11.1.3. Características químicas e biológicas da água de irrigação

A avaliação da qualidade da água a ser utilizada na irrigação das


culturas é indispensável e de primordial importância, sobretudo quando se
trata de projetos de irrigação ou exploração das áreas em regiões áridas e
semi-áridas, visto que, na falta de informações relevantes para a qualidade
da água e o manejo adequado, essas áreas podem se tornar improdutivas
devido à salinização e sodificação, causando enormes prejuízos
socioeconômicos (Gheyi et al., 1995).
A qualidade da água influencia o processo de fertirrigação. A solubi-
lidade dos fertilizantes altera-se em função de variações de pH, e alguns
nutrientes podem até se precipitar quando combinados aos sais naturalmen-
te presentes na água, exigindo controle da lâmina de irrigação e da concen-
tração de nutrientes na calda de fertirrigação (Nielsen et al., 1995).
A amostragem da água para fins de irrigação deve ser representativa
observando-se alguns detalhes: se a fonte foi um poço, a amostra deve ser
coletada depois da bomba e 30 minutos após seu funcionamento; no caso de
lagos, rios ou reservatórios, as amostras deverão ser coletadas em local
próximo da sucção e abaixo da lâmina d’água. A qualidade das fontes de
água está sujeita à variação sazonal. Portanto, deve ser analisada periodica-
mente, ao menos duas vezes no ano.

11.1.4. Sistema de irrigação

A implantação e manutenção corretas dos sistemas de irrigação são


condições básicas para o adequado fornecimento de fertilizantes via água
de irrigação, aliados ao dimensionamento adequado e à uniformidade de
aplicação de água. A desuniformidade no fornecimento de água resulta em
enormes variações na quantidade aplicada de fertilizantes, colocando a uni-
formidade de aplicação de fertilizantes como dependente direta da correta e
uniforme aplicação de água.
286
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Atualmente, a fertirrigação é mais freqüentemente utilizada nos sis-


temas de irrigação localizada, como o gotejamento e a microaspersão. A
fertirrigação localizada é a que melhor distribui os adubos, contemplando
maior número de raízes absorventes sob a copa.

11.2. Equipamentos utilizados para fertirrigação

Para a correta utilização da fertirrigação, são necessários alguns equi-


pamentos e acessórios que variam de acordo com o sistema de irrigação
utilizado. Para a escolha dos equipamentos, devem ser considerados o volu-
me a ser aplicado, a capacidade, a precisão ou fidelidade de funcionamento,
a forma de operação e a mobilidade do equipamento e a diluição dos fertili-
zantes.
Os tanques de soluções fertilizantes podem ser de diversos materiais,
considerando-se sua característica não corrosiva. O tamanho e o formato
são função da estratégia agronômica da produção, do tamanho do pomar, da
capacidade de injeção e da solubilidade do adubo utilizado. Pela Equação
33, determina-se a capacidade do tanque de fertilizantes.

Qp.qi.P
Vt = eq. 33
Ca.Q

em que

Vt - capacidade do tanque, m3;


Qp - quantidade de produto a ser colocado no tanque, g;
qi - taxa de injeção do produto, m3.h-1;
P - percentagem do nutriente no adubo, %;
Ca - concentração desejada da solução na tubulação de irrigação,
g.cm-3; e
Q - vazão do sistema de irrigação, m3.h-1.

Os principais tipos de injetores de fertilizantes são os tanques


pressurizados, o injetor Venturi, os dosificadores hidráulicos e as bombas de
injeção direta.

287
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

a) Tanque pressurizado

Tanques pressurizados são tanques metálicos com tampas herméti-


cas que são conectados a dois pontos da tubulação principal do sistema de
irrigação. Para haver injeção da solução fertilizante que está dentro do tan-
que, é necessário que haja um diferencial de pressão entre o ponto de entra-
da da água do sistema no tanque e o de saída da solução. A solução é
incorporada na tubulação de descarga do sistema de irrigação através da
segunda tubulação que sai do reservatório. Um registro de fechamento len-
to é instalado entre os pontos de entrada e saída das duas tubulações cita-
das, justamente para criar o diferencial de pressão que permite o funciona-
mento do tanque pressurizado, que faz com que a água seja desviada em
maior ou menor volume para o interior do tanque. A tubulação de entrada
conduz a água limpa para o tanque que contém a solução a ser aplicada e,
após a diluição, ela passa a ser conduzida pela tubulação de saída e introduzida
na tubulação principal do sistema de irrigação. São baratos, de fácil opera-
ção, porém com baixa uniformidade de aplicação do produto.

b) Injetor Venturi

Os injetores Venturi são peças plásticas ou metálicas, ocas, em for-


ma de “T”, que possuem uma seção convergente gradual, seguida de um
estrangulamento com grande constrição interna no diâmetro, e de uma se-
ção divergente gradual com o mesmo diâmetro da tubulação, ao qual está
conectado, instalado em “by-pass”, com a tubulação principal (Figura 10).
Seu princípio de funcionamento é baseado na pressão negativa causada
pela mudança brusca de velocidade do fluxo de água ao atravessar a
constrição, com a conseqüente sucção do fertilizante contido num reserva-
tório aberto e incorporação na água de irrigação que passa pelo injetor. Seu
custo é baixo; possui grande capacidade de injeção para pressões e vazões
bem definidas; tem possibilidade de controle da taxa, usando-se apenas um
registro; pode ser usado para outros tipos de produtos na quimigação, e é de
fácil manutenção, podendo sofrer variação na taxa de injeção do produto.
As perdas de carga podem alcançar de 20 a 30% da pressão de serviço,
sendo mais acentuadas quando instalados em série na tubulação do sistema
de irrigação (Pinto, 2001).

288
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

LINHA PRINCIPAL
FLUXO

VENTURI

BOMBA AUXILIAR
FILTRO

Inejetor de Fertilizante tipo Venturi

Figura 10 – Injetor tipo Venturi e esquema de montagem.

c) Dosificador hidráulico

Dosificadores hidráulicos são sistemas complexos de material plásti-


co ou de aço inox, tendo como principal vantagem o uso da energia hidráu-
lica para seu acionamento (Figura 11). Seu princípio de funcionamento é
semelhante ao do carneiro hidráulico, ou seja, a pressão da rede aciona o
movimento do eixo vertical que comprime um diafragma de borracha, para
que ocorra a injeção do fertilizante. São mais precisos, têm alto preço e
capacidade de injeção limitada.

d) Bomba de injeção direta

As bombas de injeção direta são outra possibilidade para uso em


fertirrigação (Figura 12). Têm boa precisão, podem ser de pistão ou dia-
fragma, necessitando de fonte auxiliar de energia para seu funcionamento.
As de diafragma são confeccionadas com materiais resistentes à pressão.
As de pistão podem ter um ou mais pistões acoplados em blocos metálicos
que se movimentam impulsionados por meio de sistemas tipo bielas ou
acoplados em roldanas. No início de cada ciclo, há a abertura de uma válvu-
la de aspiração que deixa passar para o interior da câmara um volume da
solução proveniente de um reservatório. Quando o pistão executa o movi-
mento em sentido contrário, a válvula de aspiração se fecha e a válvula
propulsora se abre. O aumento da pressão no interior do cilindro provoca a
abertura da válvula de descarga, que deixa passar o volume de solução
anteriormente aspirado, e daí, esta solução passa a ser injetada na tubulação
de irrigação. Estas bombas podem ter capacidade de injeção ilimitada de-
pendendo do seu tamanho. O custo é elevado e varia em função da taxa de

289
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

injeção relacionada ao tamanho da bomba, podendo inviabilizar seu uso para


pequenas áreas. Requerem materiais anticorrosivos e manutenção periódi-
ca.

Figura 11 – Injetor de fertilizante com acionamento hidráulico para


fertirrigação.

290
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Figura 12 - Sistema de injeção de fertilizante com bomba de injeção direta e


pá misturadora de acionamento elétrico (Foto: Fazenda FAHMA
– L29M/C2 – Projeto Jaíba).

Para o correto manejo da fertirrigação, alguns acessórios como fil-


tros e válvulas são necessários. É recomendado que o injetor de fertilizantes
seja instalado no sentido do fluxo de água, após o filtro de areia e antes dos
filtros de discos ou tela. Também se pode fazer uso de misturadores da
solução fertilizante, de medidores de vazão, de válvulas de abertura e fe-
chamento automáticas, de manômetros e de sensores de pH e condutividade
elétrica.

291
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

11.3. Principais fertilizantes utilizados em fertirrigação

11.3.1. Características desejáveis

Existem diferentes fontes de fertilizantes e cada produto deve ser


escolhido em função do sistema de irrigação, da cultura, do tipo de solo, da
solubilidade do produto e do seu custo.
Os fertilizantes a serem utilizados em fertirrigação podem ser líqui-
dos, comercializados em forma de solução pronta para aplicação, ou sólidos,
que devem ser dissolvidos antes da aplicação e apresentar alta solubilidade,
para evitar entupimentos nos emissores e diferenças na concentração apli-
cada. A pureza do fertilizante pode interferir na solubilidade em água, pois
esta é calculada a partir de produtos puros e os valores tabelados devem ser
aplicados apenas a fertilizantes com alto grau de pureza. No Quadro 6, são
listados os principais fertilizantes utilizados na fertirrigação e suas caracte-
rísticas.

292
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Quadro 6 - Principais fertilizantes utilizados na fertirrigação e suas carac-


terísticas.
Fertilizantes N P K Outros nutrientes Solubilidade Índice parcial de Índice de
(%) (%) (%) (%) (g.L-1 a 20° C) salinidade (%) acidez/basicidade
Nitrato de amônio 34 - - 28% CaO 1180 2,99 110
Nitrato de cálcio 14 - - 7% CaO 1020 4,41 -20
3% MgO
Nitrocálcio 27 - - 59% SO3 1000 - 26
Sulfato de amônio 20 - - - 710 3,25 110
Uréia 45 - - - 780 1,62 71
Nitrato de potássio 13 - 44 - 320 1,30 -115
Nitrato de sódio 16 - - - 73 5,34 -
Ácido fosfórico - 54 - - 46 - 110
MAP 9 48 - - 380 0,53 60
DAP 16 45 - - 700 0,56 88
KCl branco - 60 -- 40% Cl 340 1,94 0
Sulfato de potássio - - 48 16% S 110 0,96 0
Sulfato duplo K e S - - 22 18% MgO 290 - -
22% S
Ácido bórico - - - 18% B 63 - -
Sulfato de zinco - - - 22% Zn 965 - -

Fonte: Antunes et al., 2001.

Segundo Pinto (2001), os fertilizantes ricos em nitrogênio, potássio e


micronutrientes são, na sua maioria, solúveis em água e não apresentam
problemas de uso. Já os fosforados são mais problemáticos para serem
utilizados em fertirrigação. Embora existam alguns fertilizantes fosforados
solúveis, como o fosfato de amônio, alguns apresentam perigo de serem
utilizados em águas com elevado teor de cálcio, pois pode ocorrer precipita-
ção como fosfato de cálcio, que é insolúvel, levando a obstruções nas tubu-
lações e emissores.
Produtos contendo cálcio devem ser evitados para evitar precipita-
ção, devendo-se restringir aos solos muito ácidos e com alto teor de sódio. A
fonte de cálcio mais recomendada é o nitrato de cálcio, adubo mais solúvel
em água. Como alternativa, pode-se usar o cloreto de cálcio. Alguns fertili-
zantes com concentração de cálcio superior a 6 meq.L-1 podem se precipi-

293
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

tar no sistema de irrigação, assim como as concentrações de bicarbonatos


acima de 5 meq.L-1.
A alteração do pH da água pela solução fertilizante pode causar pre-
cipitado, sendo aconselhável manter esse pH entre 5,0 e 6,0, utilizando-se
um peagâmetro para aferição. A aplicação de amônia anidra não é reco-
mendada, devido à possibilidade de aumento dos níveis de pH da água de
irrigação. Quando o pH for maior que 7,5, o Ca e o Mg podem se acumular
nos filtros, nas tubulações e nos emissores, contribuindo para sua obstrução,
principalmente quando o valor de saturação do carbonato de cálcio for mai-
or que 0,5 e a concentração da solução for maior que 30 meq.L-1.
Um dos problemas causados pela adoção da fertirrigação é a corro-
são dos equipamentos do sistema de irrigação, sendo necessária a utilização
de componentes plásticos ou inoxidáveis e cuidados na aplicação de ácidos.
O parcelamento dos produtos na água da fertirrigação deverá ser
maior nas regiões de chuva intensa e solos arenosos, para evitar perda do
adubo pela lixiviação, trazendo maior eficiência e segurança na fertirrigação.
Por serem utilizados produtos tóxicos na fertirrigação, cuidados es-
peciais devem ser tomados para evitar a contaminação do meio ambiente.
Caso haja uma parada imprevista no sistema de irrigação, a solução contida
nos tubos pode retornar e parar na fonte de água, principalmente nos siste-
mas com injetores Venturi ou quando a sucção da solução for feita pela
própria tubulação de irrigação, casos em que se trabalha com pressão nega-
tiva nos sistema de injeção. Dispositivos de segurança são imprescindíveis
para evitar estes riscos, como registros e válvulas de controle.
A possibilidade de automação, além de minimizar as perdas dos pro-
dutos e reduzir a mão-de-obra, evita o risco de contaminação do operador
do sistema e melhora sua eficácia. Existem sistemas computadorizados que
permitem que os produtos sejam aplicados separadamente de acordo com a
necessidade das culturas.

11.3.2. Compatibilidade entre fertilizantes utilizados em fertirrigação

A compatibilidade entre os adubos deve ser considerada visto que


alguns íons são incompatíveis entre si, como pode ser observado no Quadro
7.

294
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

Quadro 7 – Grau de compatibilidade entre alguns fertilizantes – Incompatí-


vel (I), com Solubilidade Reduzida (S) e Compatível (C).
U NA SA NC NP CP SP SF QF SM AF AS AN MAP
Uréia – U
Nitrato de amônio – NA C
Sulfato de amônio – AS C C
Nitrato de cálcio – NC C C I
Nitrato de potássio – NP C C C C
Cloreto de potássio – CP C C C C C
Sulfato de potássio – SP C C S I C S
Sulfato Fe, Zn, Cu, Mn – SF C C C I C C S
Quelato Fé,Zn,Cu, Mn – QF C C C S C C C C
Sulfato de magnésio – SM C C C I C C S C C
Àcido fosfórico – AF C C C C C C C I S C
Ácido sulfúrico – AS C C C I C C S C C C C
Ácido nítrico – NA C C C C C C C C I C C C
MAP C C C I C C C C C C C C C

Fonte: Antunes et al., 2001.

Utilizando-se misturas de compatibilidade desconhecida, deve-se pro-


ceder ao “teste da jarra”, misturando os fertilizantes em um recipiente de
vidro, na proporção a ser utilizada e aguardar duas horas. O ânion sulfato é
incompatível com o cálcio e os fosfatos com o cálcio e o magnésio. Caso
ocorra a formação de precipitados, há possibilidade de ocorrer entupimen-
tos nos sistema de filtragem e nos emissores, como é o caso da aplicação de
cálcio na água rica em bicarbonatos, que formam precipitados de gesso.
A injeção do cloreto de potássio aumenta a salinidade da água de
irrigação e pode causar problemas de intoxicação nas culturas. A mistura de
sulfato de amônia reduz significativamente a solubilidade do fertilizante no
tanque.

295
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

11.4. Manejo eficiente da fertirrigação

A nutrição mineral pode afetar bastante o desenvolvimento da planta,


sua produtividade e a qualidade de seus frutos.A aplicação eficiente de fer-
tilizantes via água de irrigação deve seguir as recomendações de período de
aplicação, freqüência, doses e fontes, assegurando, desta maneira, uma ade-
quada disponibilidade de água e nutrientes na zona radicular da planta.
A irrigação localizada tem uma influência marcante na fruticultura,
por proporcionar uma elevada concentração das raízes num volume de solo
relativamente inferior ao reservado para a planta, em comparação com os
resultados obtidos para irrigação por aspersão ou sulco. Esse aspecto deter-
mina uma alta freqüência de irrigação, bem como a aplicação localizada e
parcelada de fertilizantes ao longo do ciclo fenológico da cultura, o que
proporciona maior eficiência de aproveitamento de fertilizantes, em compa-
ração com os resultados conseguidos com a adubação convencional.
Os procedimentos adequados à aplicação de fertilizantes via água de
irrigação compreendem três etapas distintas. Durante a primeira etapa, deve-
se pôr a funcionar o sistema de irrigação, para equilibrar, hidraulicamente,
as subunidades, com cerca de ¼ do tempo total programado para a irriga-
ção. Na segunda etapa, faz-se a injeção dos fertilizantes no sistema de
irrigação por um período que corresponda a dois quartos do tempo total de
irrigação. Na terceira etapa, o sistema de irrigação deverá continuar funci-
onando, para completar o tempo total de irrigação, lavar completamente o
sistema de irrigação e carrear os fertilizantes da superfície para camadas
profundas do solo.
Algumas recomendações importantes sugeridas por Gonzaga Netto
(2001), para a preparação e injeção dos fertilizantes, são apresentadas a
seguir:

ü usar 75 % da solubilidade recomendada pelo fabricante;


ü conhecer o volume do tanque de solubilização dos fertilizantes;
ü observar os graus de compatibilidade dos fertilizantes, para reduzir
a possibilidade de formação de precipitados;
ü quantificar os fertilizantes a serem injetados de acordo com o
planejamento da fertirrigação por unidade de rega;

296
Irrigação e Fertirrigação na Cultura da Mangueira

ü adicionar água ao tanque de dissolução, colocar o fertilizante e


iniciar o processo de agitação com pá motorizada ou rodo;
ü desmanchar os torrões de fertilizantes remanescentes e prosseguir
com a agitação;
ü seguir as recomendações de cada fertilizante quanto ao tempo
de agitação e repouso da solução;
ü transferir a solução para o tanque de sucção, realizando uma
pré-filtragem com uma peneira de malha fina, sem agitar a
solução;
ü iniciar a injeção, provocando um gradiente de pressão de acordo
com a vazão de injeção requerida;
ü não agitar a solução durante a injeção, para evitar que impurezas
ou resíduos de fertilizantes sejam injetados;
ü para uréia ou sulfato de amônio, recomendam-se 20 minutos de
agitação e 10 minutos de repouso no tanque de dissolução;
ü para o cloreto de potássio, recomendam-se 20 minutos de
agitação, quebrar os torrões, reiniciar o processo de agitação
por mais 20 a 30 minutos, enquanto se procede a retirada da
espuma gelatinosa sobrenadante;
ü para o MAP, recomendam-se 20 minutos de agitação, quebrar
os torrões, reiniciar a agitação por mais 40 minutos e deixar em
repouso, no mínimo, por seis horas. O ideal é preparar a solução
um dia antes da aplicação;
ü para o nitrato de cálcio, devem-se seguir os mesmos
procedimentos recomendados para o MAP, além de retirar o gel
sobrenadante; e
ü para os demais fertilizantes, à exceção dos líquidos, as maneiras
de preparação das respectivas soluções deverão enquadrar-se
num dos procedimentos descritos acima, com alguns ajustes.

297
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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302
Manejo da Parte Aérea da Mangueira

MANEJO DA PARTE AÉREA DA MANGUEIRA


1
Ryosuke Kavati

1. INTRODUÇÃO

A mangueira se caracteriza por um lento desenvolvimento vegetativo


em sua fase juvenil, para na fase adulta, apresenta uma alta taxa de cresci-
mento. Segundo SAÚCO (1999), pode alcançar nos trópicos até quarenta
metros de altura, mas nos subtrópicos dificilmente supera dez metros. Em
qualquer das situações, no entanto, mais do que a altura das plantas, o mo-
delo estrutural formado pela mangueira é que traz maiores dificuldades ao
atendimento dos objetivos básicos da fruticultura comercial, cujo mercado é
cada vez mais competitivo e exigente quanto à qualidade da fruta. Os as-
pectos qualitativos que os principais mercados passaram a exigir recente-
mente, além das características intrínsecas da manga, envolvem outros as-
pectos como a inocuidade dos alimentos e a sustentabilidade desta produ-
ção e do meio ambiente, exigindo uma nova postura de todos os elos da
cadeia produtiva envolvida. Na produção, portanto, esta estrutura natural da
mangueira deve ser manejada, de forma a possibilitar o atendimento aos
atuais requisitos.
Por formar uma copa densa com um alto índice foliar, por um lado, a
planta cria boas condições para proliferação de pragas e doenças; por outro
lado, esta estrutura dificulta ou mesmo impede a realização de seu controle,
diminuindo a produção e afetando a sua qualidade. Além disso, cada vez
mais calda defensiva é lançada no ambiente, na busca de um controle mais
adequado, comprometendo os demais aspectos qualitativos. Esta estrutura
também impede que a fruta adquira a cor avermelhada na casca, que é uma
característica fundamental na comercialização, que só se manifesta naque-
las onde há uma incidência de luz solar.
O manejo da mangueira, no entanto, é uma prática ainda em desen-
volvimento, em função da existência de poucas informações acerca do as-
1
Engenheiro Agrônomo, MSc., DEXTRU – CATI – SAA-SP. Av. Brasil, 2340 – CEP. 13.073-
001 – Tel. (19) 3743-3795 – [email protected]

303
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

sunto, além da sua exploração ser feita nas mais variadas condições climá-
ticas. O clima é tido como o principal fator que influencia diferentemente
nas respostas a qualquer intervenção feita na planta.
Todas as práticas aqui descritas são resultado da observações feitas
no campo. Procura-se neste trabalho, associar as respostas observadas com
os poucos conhecimentos que o autor dispõe no momento.

2. ASPECTOS MORFOLÓGICOS, FISIOLÓGICOS E A


FENOLOGIA DA MANGUEIRA

Segundo SAÚCO (1999), a mangueira mantém um tronco individua-


lizado ao longo de sua vida, através do crescimento regular, apical e seguin-
do um eixo. Este crescimento se dá por fluxos periódicos, cujo comprimento
de cada internódio está em função da fase de desenvolvimento da planta, da
temperatura reinante no período, na disponibilidade de água, do vigor da
planta, do cultivar, além de diversos outros fatores externos e internos. Nor-
malmente, na fase juvenil, o comprimento médio de cada internódio é maior
que em plantas adultas, considerando o fluxo desenvolvido em uma mesma
época. Cada fluxo é caracterizado pelo desenvolvimento de um internódio
finalizado por um nó, onde folhas emergem ao longo do ramo, cerca de oito
a dez, concentrando-se em seu ápice outros tantos de folhas. Cada fluxo
vegetativo dura de 30 a 45 dias, sendo os 15 a 20 primeiros dias gastos no
desenvolvimento do ramo em comprimento e diâmetro e os restantes, para
completar a maturação dos tecidos produzidos (SIMÃO, 1980). Estes flu-
xos de novos crescimentos não ocorrem em intervalos regulares e podem
não ocorrer em todas as partes da copa ao mesmo tempo, principalmente
em plantas adultas, caracterizando a mangueira com um crescimento
vegetativo de forma errática, podendo apenas uma parte da copa desenvol-
ver-se em uma determinada época, dividindo a planta em setores, normal-
mente definida ao nível de uma pernada ou mesmo de sub-pernadas.
O ritmo de crescimento é interrompido ciclicamente pela ocorrência
natural de condição desfavorável ao desenvolvimento vegetativo, quer seja
pelas baixas temperaturas de outono e inverno, fundamental nas regiões dos
subtrópicos, ou pela deficiência hídrica nas condições tropicais (Figura 1).
O retorno às condições favoráveis induz a gema apical e algumas axilares
ao desenvolvimento, reiniciando um novo ciclo de crescimento, agora sob

304
Manejo da Parte Aérea da Mangueira

um número variável de ramificações, sendo uma de origem apical, que pre-


domina em vigor mantendo um eixo de crescimento, e um número variável
de brotações verticilares (Figura2). A quantidade de ramificações verticilares
formada em cada ciclo, está fundamentalmente relacionada à duração do
período estressante, quando as gemas axilares do ápice para a base do
internódio são estimuladas ao desenvolvimento, em função da diminuição da
ação do fito-hormônio responsável pela promoção da dominância apical.
Após um período extremamente prolongado, gemas do internódio anterior
podem também se desenvolver. Esta resposta está fundamentada na
dominância apical, exercida pela auxina (AIA) produzida nas gemas apicais
e a sua distribuição é afetada basicamente pela força da gravidade. Portan-
to, em condições de baixa produção do fito-hormônio, há uma concentração
maior na base da unidade produtora, diminuindo a sua concentração em seu
ápice, permitindo assim, o desenvolvimento das gemas em posição mais
elevada. Como ocorre uma concentração de folhas, portanto, de gemas
axilares no ápice de cada internódio, cada ciclo de crescimento da manguei-
ra se caracteriza pela formação de múltiplas unidades de crescimento, a
partir de um mesmo ponto.

Figura 1 – Ciclo anual de Figura 2 – Dominância do fluxo ori-


crescimento (A). ginado da gema apical, responsável pela
formação de um eixo de crescimento.
305
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Uma vez que a planta atinge um desenvolvimento apto à produção, o


período desfavorável ao crescimento vegetativo, pode induzir a gema apical
à diferenciação floral, passando a exercer forte dominância, impedindo o
desenvolvimento das demais gemas. Aparentemente, o principal fator que
determina se a gema apical será reprodutiva ou vegetativa, é a duração
deste período estressante, uma vez que, a retomada das condições favorá-
veis antes de uma completa maturidade da gema apical resulta em um novo
ciclo vegetativo na planta. Este fato vem de encontro às observações feitas
por DAVENPORT (1992) e NUÑEZ-ELISEA & DAVENPORT (1994),
segundo os quais, plantas submetidas a um estresse hídrico por 14 dias sob
regime de temperaturas altas (27ºC dia / 22º C noite), com a retomada de
irrigação, obtiveram apenas brotos vegetativos. Resultados semelhantes
foram obtidos, quando as plantas foram submetidas a temperaturas notur-
nas abaixo de 15º C. Segundo SIMÃO (1971), o florescimento só ocorre em
ramos com, no mínimo, 4 meses de idade, sob condições tropicais. Em regi-
mes de temperaturas mais amenas, necessitam de 3 meses, (CUNHA et
al., 2002). SOUZA et al. (2004), trabalhando com 19 variedades,
monoembriônicas e poliembriônicas, irrigadas e por oito ciclos, observaram
que algumas variedades floresciam com cerca de 30 dias de estresse hídrico.
Nas condições do Estado de São Paulo, observa-se em alguns anos um
pequeno fluxo de crescimento muito tardio, em meados para o fim do mês
de maio, cujo florescimento ocorre no mês de julho, em terminais ainda não
totalmente maduros, resultando na formação de panículas mistas, ou seja,
vegetativas com pequenas inflorescências nas axilas foliares.
O florescimento e o desenvolvimento vegetativo ocorrem de forma
errática na planta, podendo florescer uma parte da copa de cada vez, dando
a idéia de ocorrerem vários fluxos floríferos em um ciclo. Esta
desuniformidade no florescimento está em função da idade de cada grupo
de terminais, separados por setores definidos pela pernada ou ao nível de
sub-pernadas, uma vez que se desenvolveram em épocas diferentes. Este
fato indica que a indução à diferenciação floral, qualquer que seja o agente,
está intimamente relacionada à idade da gema apical, cuja resposta é obtida
primeiramente nos terminais mais maduros. Normalmente, ocorrem pelo
menos 3 fluxos de florescimento em mangueiras submetidas às condições
naturais. O uso de reguladores de crescimento como paclobutrazol só é
eficiente com a obtenção de uma alta porcentagem de terminais com

306
Manejo da Parte Aérea da Mangueira

inflorescência, quando a planta é submetida a um processo qualquer, que


uniformize a brotação do último fluxo vegetativo na planta, sendo a poda o
processo mais utilizado.
KULKARNI (2004) considera a temperatura como o principal fator
externo que influencia o florescimento da mangueira. Nas condições do
Estado de São Paulo, a ocorrência de alguns dias com temperaturas notur-
nas baixas, entre 15º C e 18º C, nos meses de outono, promove o florescimento
da mangueira cerca de 80 a 90 dias após o evento. Esta resposta é observa-
da diferentemente na planta, quando apenas uma porção da copa floresce
em conformidade com a idade do fluxo terminal, e em cultivares mais ou
menos sensíveis a um baixo nível de estímulo. Normalmente, as variedades
poliembriônicas, as “comuns”, cultivadas há muito tempo sob efeito do cli-
ma regional, respondem primeiro, florescendo antes que as variedades
introduzidas, geralmente monoembriônicas. A duração e a intensidade, por-
tanto, influem diferentemente em função da idade dos terminais e das ca-
racterísticas dos cultivares. Cultivares monoembriônicas, aparentemente,
necessitam de temperaturas abaixo de 15º C por algumas horas e durante 4
a 5 dias, para entrarem em processo de repouso. A permanência desta con-
dição por um período prolongado, mais de 15 dias, induz uma boa e única
florada nas principais variedades mais cultivadas.
A indução artificial de inflorescências axilares é bastante utilizada
pelos produtores, para retardar a colheita, fugindo assim de um pico de
safra, quando os preços são baixos. O método mais empregado e mais efi-
ciente é o da retirada manual da inflorescência apical, o que estimula o
aparecimento de diversas panículas axilares, cerca de 30 dias após a opera-
ção, assegurando uma colheita com um mês de atraso. Esta é uma opera-
ção que envolve um certo grau de risco, uma vez que, se após a retirada da
panícula terminal, houver mudanças nas condições ambientais favoráveis
ao crescimento vegetativo, ocorrerá o desenvolvimento de um fluxo
vegetativo em detrimento da produção. Nas condições do Estado de São
Paulo, a elevação da temperatura após a retirada da panícula terminal oca-
siona uma brotação vegetativa. Este comportamento indica que as gemas
axilares não haviam sofrido a diferenciação floral até aquele momento. Por
outro lado, a eliminação de panículas que já formaram frutos e com diâme-
tro superior a 0,5 cm estimula também a brotação vegetativa, indicando a
ação, também, de substâncias produzidas pelos frutos ou pelas sementes

307
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

em formação, comprovando o importante papel de fatores endógenos no


processo de florescimento da mangueira. SINGH (1987) considera que a
combinação de um alto conteúdo de amido, nível ótimo de citoquininas e
inibidores com baixo nível de giberelinas, favorecer a indução floral.
O sistema radicular da mangueira caracteriza-se pela capacidade de
se adaptar às condições do meio onde se situa, uma vez que sobrevive por
períodos muito prolongados de condições extremas, sendo amplamente cul-
tivado sob as mais variadas condições edáficas, fato observado por diversos
autores citados por SAÚCO (1999). No entanto, o modelo de crescimento
das raízes é pouco conhecido. Algumas teorias de que o fluxo de cresci-
mento das raízes corresponde a um fluxo vegetativo realizado, corrobora
bem as diferentes respostas obtidas pelo anelamento do tronco ou dos ra-
mos. Segundo esta teoria, o fluxo de crescimento das raízes ocorre após um
fluxo de crescimento vegetativo, quando a porção formada atinge o ápice
de eficiência fotossintética, deslocando uma grande quantidade de
fotosintetizado para a formação da porção radicular correspondente ao cres-
cimento aéreo realizado. Em plantas com desenvolvimento errático, onde
apenas uma porção da copa está promovendo um crescimento, o anelamento
do tronco, impedindo a passagem de substâncias promotoras do crescimen-
to radicular, não surte os efeitos desejados. No entanto, o anelamento feito
apenas nas pernadas ou sub-pernadas que estão promovendo o crescimen-
to vegetativo nesta ocasião, induz esta porção da copa ao repouso necessá-
rio para a indução floral da gemas apicais.
Fenologicamente, a mangueira apresenta um período relativamente
longo de desenvolvimento vegetativo, uma fase de repouso (r) e uma fase
reprodutiva , remontada pelo início da fase de desenvolvimento vegetativo.
Plantas novas em fase juvenil, sob condições favoráveis ao cresci-
mento, apresentam lançamentos de novos fluxos a cada 30 a 45 dias. O
comprimento de cada fluxo varia muito em função das condições de tratos
culturais ou climáticas a que estão submetidas, tendo de 15 a 30 cm de
comprimento, com um número de folhas em cada internódio variando de 8 a
12, sendo 5 a 6 ao longo do internódio e as demais concentradas no ápice,
próximas do nó. WHILEY et al. (1989), citados por LIMA FILHO (2002),
relacionam o número de folhas por fluxo com a temperatura reinante no
período, já que em condições de temperaturas de 20º C/15º C, constataram
7,1 folhas/fluxo, e em condições de 30º C/25º C, obtiveram 13,6 folhas/
fluxo.
308
Manejo da Parte Aérea da Mangueira

colh r fl colh r

Figura 3 – Crescimento da mangueira em função do estádio fenológico.


Onde colh = colheita, r = repouso, fl = florescimento.

Mangueiras adultas submetidas às condições naturais, apresentam


um período de desenvolvimento vegetativo que se inicia ainda na fase
reprodutiva (Figura 3), através do crescimento dos terminais que por algu-
ma razão não frutificaram. Este crescimento caracteriza-se apenas por ra-
mos verticilares, uma vez que a gema apical originou a inflorescência infru-
tífera. Este crescimento é em taxa maior após a colheita da produção do
ciclo anterior. Plantas com a produção já estabilizada, por volta do décimo
ano, apresentam comprimentos de cada fluxo bem menores, da ordem de
15 a 20 cm. WHILEY & SCHAFFER (1997), citados por LIMA FILHO et
al. (2002), verificaram que existem diferenças marcantes na tendência en-
tre cultivares, em relação ao crescimento vegetativo, uma vez que, sob con-
dições controladas de temperaturas, Irwin produziu apenas 2 fluxos
vegetativos com aproximadamente 45 dias de dormência entre os períodos
de crescimento, enquanto Kensington produziu 4,7 fluxos, com apenas 5
dias de dormência entre os lançamentos. Nas condições do Estado de São
Paulo, a variedade Haden cresce em média 3,47 fluxos/ano, com um au-
mento de 60,05 cm, Keitt efetua 3,29 fluxos/ano, com adição de 54 cm e
Tommy Atkins 2,73 fluxos/ano e crescimento de 52,30 cm (KAVATI, 1986).

309
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Este crescimento é interrompido pela ocorrência de condições desfavorá-


veis, ficando a planta por um período variável em completo repouso (r),
após o qual entra na fase reprodutiva.
O florescimento pode ser dividido em 4 fases (Figura 4): fase de
entumescimento da gema apical (estádio 1), que dura em média 10 dias
para a variedade Haden; fase de alongamento da panícula, com o cresci-
mento do eixo principal e concomitantemente com as secundárias, da base
para o ápice, cuja duração é de 32 dias (estádio2). CUNHA et al. (2002)
observaram em condições do semi-árido nordestino, esta fase com duração
de 35 a 42 dias. Plantas da variedade Haden, com 10 anos de idade e
conduzidas adequadamente, produzem panículas de tamanho médio de 64
cm, tendo portanto, um crescimento médio de 2 cm por dia. LIMA FILHO
et al. (2002) definem a inflorescência como uma panícula medindo entre 10
e 60 cm. Com a metade do alongamento do eixo principal realizado, as
flores do eixo secundário da base da inflorescência se abrem, ocorrendo
nesta fase, portanto, o crescimento da panícula e o florescimento ao mesmo
tempo (estádio3). CUNHA et al. (2002) afirmam que as primeiras flores só
se abrem depois de 21 dias de iniciado o desenvolvimento da inflorescência,
e a duração do florescimento varia de 18 a 23 dias. A fase de frutificação
(estádio 4) inicia-se ainda com o eixo principal em pleno desenvolvimento e
as últimas frutas atingem diâmetro superior a 0,5 cm, quando já foi
estabelecida a produção definitiva, ou seja, após a ocorrência do derrame
natural, 25 a 35 dias após o término da fase de alongamento da panícula. O
florescimento, portanto, na variedade Haden, com 10 anos de idade e nas
condições do Estado de São Paulo, dura em média 72 dias. Como ocorrem
mais 2 ou 3 fluxos de florescimento, o período total nesta fase chega em
média aos 110 dias.

310
Manejo da Parte Aérea da Mangueira

Figura 4 – A duração das fases do florescimento da mangueira, cv. Haden.

Esta fase de florescimento e desenvolvimento inicial do fruto é um


período crucial na produção comercial de manga, uma vez que diversos
fatores atuam de modo marcante, podendo provocar perdas severas na pro-
dução: dentre eles, a incidência de enfermidades como a antracnose e o
oídio, que se não forem devidamente controladas, podem provocar a dimi-
nuição da produção em até 80%. A intensidade da ocorrência de cada uma
das enfermidades está intimamente relacionada com o clima reinante no
período, principalmente sob a ação da umidade relativa do ar, que, em con-
dições elevadas, favorece o ataque de antracnose e, em baixas, a ocorrên-
cia de oídio. Além da umidade relativa do ar, outros fatores climáticos como
a temperatura, também têm participação importante, uma vez que tanto as
baixas quanto as altas (< 10º C e > 33º C) afetam a produção de grãos de
pólen e a sua viabilidade, segundo (ISSARAKRAISILIA & CONSIDINE
(1994), citados por LIMA FILHO et al. (2002). O efeito da temperatura
mais visível na prática, no entanto, é a formação de frutos partenocárpicos,
conhecidos como “nubinhos”, que são frutos que apresentam algum desen-
volvimento sem o embrião e que não têm valor comercial. Na variedade
Haden, tida como uma das mais sensíveis às baixas temperaturas, algumas

311
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

horas de temperatura noturna abaixo de 15º C, em um determinado momen-


to específico do seu desenvolvimento inicial, induzem a formação deste tipo
de frutos. Já em Palmer, é mais comum este efeito ser provocado pelas
altas temperaturas diurnas, acima de 33º C, observadas em florescimento
tardio, embora LAKSHMINARAYANA & AGUILAR (1975), citados por
LIMA FILHO et al. (2002) considerem um intervalo maior, de 12º C e 44º
C, respectivamente.
De um total de 500 a mais de 4 mil flores de cada panícula, geralmen-
te, apenas uns poucos frutos completam seu desenvolvimento e atingem a
maturação, 100 a 150 dias após o florescimento (CUNHA et al., 2002), cuja
variação depende da cultivar e do clima. Cultivares precoces são colhidos
de meados do mês de outubro a meados do mês de novembro (Haden), no
Estado de São Paulo. As de meia-estação (Tommy Atkins) são colhidas
entre meados de novembro a meados de dezembro, enquanto as tardias são
colhidas entre janeiro e fevereiro (Palmer) e fevereiro a março para as mais
tardias (Keitt). Nas condições do semi-árido, em Juazeiro-BA, NUNES et
al. (2001) obtiveram as colheitas de todas as variedades anteriormente cita-
das, entre os meses de dezembro a fevereiro. Durante este período de de-
senvolvimento das frutas, ocorrem fluxos vegetativos a partir dos terminais
que por alguma razão não frutificaram.

3. MANEJO DA PLANTA NA FORMAÇÃO DO POMAR

Como a moderna fruticultura exige a produção de frutas de alta qua-


lidade, obtidas prioritariamente através de métodos que minimizem os riscos
decorrentes da utilização de insumos químicos, visando a inocuidade ali-
mentar e a sustentabilidade ambiental, como define a Produção Integrada
ou sem o uso de substância química de síntese como apregoa a Produção
Orgânica, é necessário formar uma planta que, de um lado, crie um ambien-
te desfavorável à evolução das principais enfermidades e à instalação das
pragas e por outro lado, permita um eficiente controle, se for o caso. Ou-
trossim, é necessário que a planta seja estruturalmente bem formada, capaz
de produzir e sustentar boas cargas de frutos e tenha conformação que
facilite as diversas operações de tratos culturais. A mangueira, pelo hábito
de crescimento natural, resulta em planta de porte muito elevado, abundante
massa vegetativa e uma copa muito volumosa, que rapidamente promove

312
Manejo da Parte Aérea da Mangueira

inicialmente o “fechamento” da planta e posteriormente o “fechamento” do


pomar, qualquer que seja o espaçamento adotado, criando condições som-
brias, extremamente favoráveis às doenças e pragas. Por outro lado, a es-
trutura formada inviabiliza qualquer método de controle atualmente conhe-
cido, especialmente das doenças, por exigir equipamento cada vez mais
potente e com gasto cada vez maior de caldas, para atingir todas as partes
da planta.
É fundamental, portanto, uma interferência no desenvolvimento natu-
ral da mangueira, para obtenção dos objetivos propostos, através de uma
poda de formação, que objetive a produção de uma planta em forma de uma
taça, a partir de três pernadas principais dispostas radialmente em torno de
um tronco único e localizadas nos 20 cm terminais, a uma altura de 30 e no
máximo de 60 cm, medida a partir do colo da planta. Isto só é possível a
partir da implantação de mudas produzidas com os padrões descritos por
CASTRO NETO et al. (2002), ou seja, mudas novas, com no máximo 13
meses de idade, contados a partir da semeadura do porta-enxerto; enxertia
feita no mínimo a 15 cm e no máximo a 30 cm de altura, medida a partir do
colo da planta e mudas em haste única, tendo um fluxo maduro em altura de
mais ou menos 60 cm.
Nos subtrópicos, esta muda deve ser plantada no início da estação
chuvosa, tendo assim, um longo período favorável ao desenvolvimento
vegetativo. Nas condições dos trópicos semi-áridos, a irrigação é funda-
mental para promover um rápido crescimento das plantas. Uma vez a muda
estabelecida, observada pelo lançamento de novos fluxos de crescimento,
faz-se o primeiro encurtamento em uma altura próxima a 60 cm, medidos a
partir do colo da planta. Este encurtamento deve ser feito abaixo de um nó,
em um fluxo totalmente maduro. O corte abaixo de um nó procura eliminar
a concentração de gemas axilares existente no ápice do internódio, deixan-
do para promover brotações, gemas dispostas ao longo do ramo seccionado.
Esta operação feita sob condições desfavoráveis ao crescimento vegetativo
resulta na morte do internódio podado, estimulando a brotação das gemas
do ápice do internódio anterior, formando uma concentração de ramos emer-
gindo de um mesmo ponto, tornando-o bastante suscetível à quebra, pois
segundo PIZA JUNIOR (2002), para a máxima resistência, uma só pernada
deve se desenvolver em um determinado ponto do tronco. Das brotações
surgidas, selecionam-se os três ramos mais bem dispostos, que se constitui-

313
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

rão nas três pernadas da planta, eliminando-se os demais. Todos os cortes


devem ser protegidos através de pincelamento com tinta látex.
O segundo encurtamento é realizado quando as três pernadas efetu-
arem pelo menos 3 fluxos de crescimento, realizando o desponte abaixo do
3º nó, em tecido maduro. Nas condições dos subtrópicos, ainda é possível de
serem realizados, desde que o plantio da muda fosse efetuado no início do
período chuvoso. Prevalecendo já condições inadequadas ao crescimento
da planta, deve-se esperar a retomada das boas condições para efetuar esta
operação. Das brotações surgidas, selecioram-se 3 ramos dispostos para a
face externa da planta, eliminando os demais.
O terceiro encurtamento é realizado da mesma forma que o anterior.
Nas condições dos subtrópicos, esta operação é feita no segundo ciclo fa-
vorável ao desenvolvimento vegetativo, assim como o quarto encurtamento,
feito da mesma forma que o anterior. Feitas estas 4 operações de encurta-
mento, está formada a estrutura básica da planta, a uma altura de 2 a 2,5
metros, com uma copa ocupando no máximo 30 m2. A partir desta estrutura
básica formada, as podas de encurtamento passam a ser feita acima do nó,
procurando obter um maior número possível de terminais aptos à produção.
Normalmente, nas condições dos subtrópicos, esta fase é alcançada aos 3
anos de idade.
Possíveis inflorescências que surgirem nesta fase devem ser elimina-
das para não interferirem no processo de formação da planta. Como já foi
discutido no capítulo anterior, a retirada da panícula floral, em época ou sob
determinadas condições, induz o desenvolvimento de panículas axilares, que
demandarão mais trabalhos. Esta operação deverá ser realizada quando os
frutos tiverem mais de 1 cm de diâmetro, cortando-se a panícula em sua
base. Nesta situação, o desenvolvimento vegetativo ocorrerá em um fluxo
de vários ramos axilares, que deverão ser eliminados, deixando apenas um,
mais bem colocado, para a formação da sub ou sub-sub-pernada.

4. MANEJO DA PLANTA EM POMARES ADULTOS

Atualmente, a produção de manga no Brasil é feita basicamente em


dois modelos estruturais de plantas, sob as mais diferentes condições climá-
ticas, indo desde o tropical em baixa latitude até o Trópico do Capricórnio e,
também, sob diferentes sistemas de produção, desde irrigados e com indução

314
Manejo da Parte Aérea da Mangueira

artificial ao florescimento, até plantios sem irrigação e com florescimento


natural.
Pomares com plantas de livre crescimento – Neste modelo, as
mudas utilizadas na implantação dos pomares são aquelas tradicionalmente
produzidas no sistema “a campo”, quando os porta-enxertos são plantados,
conduzidos e enxertados no terreno. Na comercialização, as mudas são
arrancadas com uma porção de terra, embaladas e despontadas a 1 até 1,2
m de altura. Normalmente são mudas com 18 a 24 meses de idade contados
da semeadura do porta-enxerto, com a enxertia por borbulhia feitas em
altura de 50 até 80 cm de altura. Mais recentemente, passou-se a produzir
estas mudas em sacolas plásticas, no entanto, com todos os processos idên-
ticos ao anterior. Estas mudas, implantadas no campo, em espaçamentos
que variam de 8 x 5 m até 10 x 10 m, são deixadas ao livre crescimento.
Plantas assim conduzidas formam um grande número de brotações a
partir das gemas existentes na proximidade do último nó, formando um tron-
co único muito grande, que contribui para formação de planta com grande
estatura. Algumas destas brotações que ocupam as posições centrais em
torno do tronco, passam a se destacar em desenvolvimento, em face da
própria posição mais vertical no conjunto, que lhes favorece o desenvolvi-
mento vegetativo pela rápida circulação da seiva bruta (PIZZA JUNIOR,
2002), assumem a posição de liderança, ocupando a posição central da copa,
dando uma conformação piramidal ao conjunto. Normalmente, as primeiras
safras, obtidas a partir dos 3 anos de idade, caracteriza-se pela quebra de
muitas destas ramificações, em função da frágil inserção no tronco, uma
vez que um número grande de brotações surge em um mesmo ponto. Este
tipo de formação tem custo extremamente baixo, em função de nenhum
dispêndio destinado a esta operação.
Em locais climaticamente favoráveis ao desenvolvimento vegetativo,
associado aos tratos culturais realizados, normalmente aos 5 anos de idade,
a estrutura formada pode já ser considerada inadequada para a produção de
frutas que atendam aos mercados mais exigentes. A estrutura compacta e
densamente enfolhada dificulta e encarece o adequado controle de doen-
ças, principalmente a antracnose nas condições dos subtrópicos, uma vez
que cria um ambiente altamente favorável à instalação de focos de inóculos
permanentes no interior da copa. Praga como a cochonilha branca –
Aulacaspis tubercularis – encontra um habitat perfeito e seu controle se

315
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

torna extremamente difícil nestas condições. Por outro lado, todas as frutas
produzidas na porção mais alta da copa não adquirem cor característica da
variedade, já que durante o seu desenvolvimento pela ação de seu próprio
peso, a fruta acaba ficando abaixo da densa folhagem, impedindo a ação da
luz que é fundamental para o desenvolvimento do pigmento antocianina
(LIMA FILHO, et.al., 2002), responsável pela coloração avermelhada da
casca das principais variedades comerciais atualmente produzidas. Nesta
situação, considera-se a ocorrência do “fechamento” da planta. Com mais
alguns anos, ocorre o “fechamento” do pomar nos espaçamentos menores
e, com 10 a 12 anos nos, de espaçamento maiores. Considera-se um pomar
fechado, não pelo fato de copas de plantas vizinhas se encontrarem, mas
pelo sombreamento promovido em uma grande porção da copa, uma vez
que a mangueira pode produzir flores que não frutificam na ausência de
raios solares. Isto limita a vida útil do pomar a algumas poucas safras, tor-
nando o empreendimento inviável do ponto de vista econômico.
Com o intuito de dar uma sobrevida para pomares nesta condição,
faz-se uma poda corretiva. Dentre os diversos tipos de podas indicadas por
KAVATI (1989), apenas a poda de eliminação do centro da copa ou do topo,
descrita como poda de eliminação da dominância apical por SAÚCO (1999)
ou poda de abertura central conforme ALBUQUERQUE et al. (2002), tem
sido amplamente utilizada.
Esta poda consiste em iniciar os trabalhos de manejo em plantas adul-
tas, geralmente com idade superior a 7 anos, quando normalmente tem uma
altura entre 4,5 e 6 metros (GONZÁLEZ et al., 1979), e já atingiu a fase de
declínio de produção. Nesse tipo de poda, eliminam-se todos os ramos que
formam a porção central da copa, podendo chegar em nível de pernadas ou
sub-pernadas; geralmente são ramos de crescimento vertical, localizadas
no centro da copa. A eliminação é feita de forma que reste apenas uma
superfície vegetativa, com a forma de tronco de um cone.
A eliminação desta vegetação que não contribui em nada para a pro-
dução de frutas sadias e de boa coloração promove uma completa abertura
da copa, aumentando a luminosidade, ventilação e aeração, além de permitir
uma boa deposição de calda fungicida em toda a árvore, possibilitando um
perfeito controle das doenças fúngicas.
Esta poda deverá ser feita o mais próximo possível do florescimento,
na fase de repouso, de modo a evitar que a planta se recupere e emita novo

316
Manejo da Parte Aérea da Mangueira

fluxo vegetativo, em detrimento do florescimento. Feita nesta época, abril a


junho/julho, nas condições do Estado de São Paulo, não se tem observado
nenhum comprometimento da produção do ano. Nestas condições, também
os galhos, normalmente grossos que ficam expostos com possibilidade de
sofrer queimaduras devido a ação dos raios solares, ficam bastante
minimizados, dado a inclinação solar que ocorre no inverno. No verão, quando
o sol se põe mais a pino, as novas brotações já promovem suficiente
sombreamento, que evita este tipo de queimadura.
Apesar de este tipo de poda não eliminar o problema de fechamento,
por não modificar o volume da copa em sua porção inferior, onde ocorre o
encontro de plantas adjacentes, permite por outro lado, surgir uma nova
superfície frutificante, na porção interna da copa, onde anteriormente se
encontrava um vazio vegetativo, possibilitando a manutenção e na maioria
das vezes, promovendo um aumento na quantidade de frutas colhidas, e
uma melhoria em sua qualidade. Nas condições dos trópicos, dada a maior
proximidade com a linha do Equador, portanto com pouca ou nenhuma vari-
ação na intensidade da luz solar durante o ano, é necessário que alguns
ramos verticais sejam preservados na operação de poda, para que promo-
vam um leve sombreamento com o objetivo de proteção dos ramos contra a
queimadura provocada pelo sol.
Este tipo de poda é bastante trabalhoso, uma vez que consiste no
corte e na retirada de materiais muitas vezes de grande dimensão. O rendi-
mento em plantas adultas, conforme descrito anteriormente, é de 4 plantas
por homem / dia, considerando o corte e a retirada do material. O local dos
cortes, principalmente dos grandes, deve ser protegido com tinta látex. Para
a manutenção dos efeitos obtidos, anualmente deve ser repetida a opera-
ção, agora de forma mais simples, uma vez que a eliminação consiste de
ramos finos, operação que é possível ser realizada com facões e tesouras.
Os bons resultados obtidos por esta operação possibilitarão a exploração
por um período bastante longo, havendo pomares utilizando basicamente
este tipo de poda já há quinze anos, em plantas com cerca de 25 anos e
mantendo boa produtividade e produção de frutas de boa qualidade.
Atualmente, este tipo de poda é feito precocemente, iniciando-se em
plantas com 4 a 5 anos de idade, quando já têm um fluxo de crescimento
vegetativo intenso. A operação, como descrita anteriormente, consiste na
retirada da maioria dos ramos responsáveis pela formação do topo da árvo-

317
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

re, diferindo na quantidade de ramos eliminados, uma vez que aqui é neces-
sário deixar alguns ramos para que a planta continue o seu desenvolvimen-
to. Geralmente, são eliminados ramos de crescimento vertical, que deverão
ser cortados rente, em uma bifurcação. Aqueles que formam a copa na
posição mais alta são deixados, resultando a copa com uma pequena aber-
tura em seu centro. Normalmente, a eliminação de dois ramos, raramente
mais de três, é suficiente para promover uma boa abertura da copa. O
rendimento nestas condições é bastante razoável, podendo um homem,
munido com serrote de poda, realizar os trabalhos em cerca de 30 árvores
por dia, inclusive retirando-se o excesso de vegetação interna. A retirada do
material podado é em quantidade bastante inferior ao da poda anterior, mas
mesmo assim é bastante volumoso, necessitando de uma carreta com dois
operários para executar os trabalhos de 4 podadores. Estes materiais, por
se constituírem de galhos relativamente finos, podem ser enleirados nas
entrelinhas e desintegrados por uma roçadeira.
Pomares com formação de plantas – Pomares com plantas for-
madas conforme descrito no capítulo 3 são próprios para serem manejadas
das mais diversas formas conhecidas atualmente, como a indução artificial
ao florescimento por estresse hídrico ou através do uso de produtos quími-
cos, anelamentos, indução ao florescimento axilar feita manualmente ou
quimicamente e outros, cujo emprego sempre implica, também, no manejo
das plantas, e cujos assuntos deverão ser tratados especificamente neste
evento, razão pela qual não serão abordados neste capítulo.

5. BIBLIOGRAFIA CITADA

ALBUQUERQUE, J. A. S.; MOUCO, M. A. C.; MEDINA, V. D.; VAS-


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Manejo da Parte Aérea da Mangueira

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Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

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320
Indução Floral da Mangueira e Princípios do Controle Fitossanitário

INDUÇÃO FLORAL DA MANGUEIRA


E PRINCÍPIOS DO CONTROLE
FITOSSANITÁRIO
Gilberto José Nogueira e Silva1
André Luís Gnaccarini Villela2

1. INTRODUÇÃO

O cultivo da mangueira (Mangifera indica L.) no Vale do São Fran-


cisco permite produzir frutos de exelente qualidade em qualquer época do
ano, desde que sejam seguidas as tecnologias do manejo da indução floral
com a utilização do regulador de crescimento vegetal, Cultar (Paclobutrazol),
ou abreviadamente PBZ e dos métodos de controle fitossanitário, entre eles,
o químico, evidenciado neste capítulo .
Com este manejo, é possível programar a produção para melhores
janelas de mercado.

1
Biólogo com especialização em Fruticultura irrigada pela UNEB, e-mail: [email protected]
2
Engº. Agrônomo - Suporte Técnico ao Mercado da Syngenta Proteção de Cultivos Ltda, e-mail:
[email protected]

321
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Tabela 1
M ercado In tern o
JA N FEV M AR ABR M AI JU N JU L AGO SET OUT NOV DEZ

M ercado E xterno
JA N FEV M AR ABR M AI JU N JU L AGO SET OUT NOV DEZ

P reç o s A lto s P reç o s M éd io s P reç o s B a ix o s

Técnicas do manejo da indução floral e fitossanitário

As técnicas do manejo da indução floral, além do uso do regulador de


crescimento vegetal Cultar (PBZ), exigem uma série de práticas envolven-
do poda, nutrição equilibrada e irrigação, ajustadas de acordo com cada
fase fenológica e com o controle fitossanitário adequado.
Para fazer um bom manejo de poda, é necessário conhecer a anato-
mia da mangueira, como panícula, gema apical, gema axial, região anelar,
primeiro, segundo e terceiro fluxos, etc. A poda de pós colheita possibilita
obter melhor material de produção para a safra seguinte, como gemas mais
homogêneas e mais férteis; árvores com menor porte, facilitando operações
de raleio, colheita, etc...; árvores mais arejadas, com melhor arquitetura,
facilitando as pulverizações com produtos químicos visando a sanidade das
plantas, o controle de pragas e doenças e promovendo melhor qualidade de
frutos com maior coloração (Figura 1).

322
Indução Floral da Mangueira e Princípios do Controle Fitossanitário

Figura 1

Fatores que influenciam o processo da floração

Como já foi afirmado anteriormente, a nutrição é a base fundamental


para o sucesso do manejo da indução floral. O manejo da poda na pós-
colheita permite a renovação da parte aérea da planta como também esti-
mula a renovação das raízes efetivas, as quais são responsáveis pela absor-
ção dos elementos chaves para síntese de fotoassimilados, assim como do
Cultar, aplicado via solo, após a emissão do segundo fluxo vegetativo.
É nas raízes também , onde é produzida a Citocinina, o fitormonio
mais importante na diferenciação do tecido vegetativo em reprodutivo.

323
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Fotoperíodo

A mangueira pode ser considerada uma planta neutra em relação ao


fotoperiodismo. Entretanto, foi observado na Índia, que no lado da planta
que recebeu mais luz diretamente, ocorreu um maior número de flores per-
feitas (Hermafroditas) (Schaffer 1994). Isso serve para orientar o sentido
das plantas na implantação dos novos pomares, para que recebam a luz
solar por igual.

Temperatura

A temperatura é um fator muito importante no florescimento da man-


gueira. Em condições naturais, com temperatura diurna de 31 oC e noturna
25 oC , os ramos não floresceram, (Shu & Sheen 1987). Nas regiões tropi-
cais, onde não ocorrem temperaturas frias durante a noite, a floração da
mangueira só acontece quando os brotos ( gemas ) atingem determinada
idade ( maturação ).

Giberelina

A biossíntese de Giberelina é mais acentuada em temperaturas ele-


vadas, favorecendo a brotação dos ramos e suprimindo a floração da man-
gueira, (Nuñez-Elizea & Davenport 1995). O regulador de crescimento
vegetal Cultar (PBZ) inibe a biossíntese da Giberelina, contribuindo para a
inibição do crescimento dos ramos, promovendo a maturação das gemas e
conseqüentemente favorecendo a floração. Os ramos vegetativos em de-
senvolvimento são fontes de Giberelina e Auxina.

Citocinina

A Citocinina, por sua vez, é sintetizada no ápice das raízes e transpor-


tada via xilema para as gemas apicais, desempenhando um importantíssimo
papel na diferenciação do tecido vegetativo em reprodutivo. Os estudos
anatômicos dos brotos da mangueira demonstraram que a gema apical é
composta de primórdios foliares e primórdios florais e para que haja a dife-
renciação floral, é necessário um verdadeiro equilíbrio entre os hormônios.
324
Indução Floral da Mangueira e Princípios do Controle Fitossanitário

A Auxina e a Giberelina são responsáveis pelo crescimento vegetativo e a


Citocinina pelo crescimento reprodutivo (Tongunpai et al 1996), sendo
que esse balanço hormonal influencia a floração.

Etileno

No processo fisiológico da floração da mangueira, o Etileno é o gran-


de responsável pela maturação dos órgãos reprodutivos da planta
(Fellipe,1979). Quando a planta inicia a biosíntese do Etileno, observam-se
uma exsudação de látex nas gemas apicais e uma acentuada epinastia nas
folhas maduras (Davenport, Nuñez-Elizea 1997). Além do Etileno
endógeno , há o Etefon, conhecido quimicamente como (Ácido 2-Cloroetil-
Fosfonico), que aplicado em pulverização entre 200 e 300 ppm numa solu-
ção com ph<3, transforma-se em Etileno dentro da planta, estimulando
também a planta a continuar produzindo Etileno necessário até a total
maturação dos ramos (Tabela 2).

Tabela 2

Fonte: Davenport, 1995

325
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Estresse hídrico

O estresse hídrico consiste na redução gradual da quantidade de água


da irrigação. Esta prática permite uma maturação mais rápida e mais uni-
forme dos ramos.
A água não deve ser suspensa totalmente, já que a planta necessita
continuar fotossintetizando e acumulando reserva sem vegetar (Albuquerque
et al., 1999). Por outro lado, a suspensão total da irrigação poderá contribuir
para uma brotação vegetativa indesejada, caso haja chuva durante este pe-
ríodo.
O estresse hídrico total já foi bastante utilizado no passado, associado
à pratica de anelamento. Entretanto, este modelo condicionava a produção
para uma única época do ano, levando em consideração os riscos, caso
houvesse chuvas ocasionais e ainda enfrentava o mercado na época de
preços baixos, e com baixa produtividade, pois o estresse total debilita bas-
tante a planta, provocando abortamento e aumentando a susceptibilidade a
doenças. O anelamento também causava sérios problemas, porque além da
debilidade das plantas, havia o risco de infecções .

Cultar – (PBZ)

O Cultar (PBZ) tem sido utilizado para otimizar a floração da man-


gueira promovendo a paralisação do crescimento vegetativo e reduzindo o
alongamento do brotação (Daziel & Laurence, 1994; Chen 1997; Tongumpai
et al., 1989,1999; Nunes-Elizea & Davenport, 1995; Ferrari & Sergent, 1996.)
A principal ação do PBZ é inibir o processo de biosíntese de
Giberelinas. O PBZ é absorvido através das raízes, tecidos, ramos e folha-
gem (Tongumpai et al, 1991; Burondka & Gunjate, 1993), entretanto nas
condições do semi-árido, a melhor recomendação é a aplicação via solo. O
PBZ é absorvido pelas raízes, circulando pelo xilema até as folhas e gemas.
Em seu movimento acropétalo, não tem mobilidade pelo floema (Ferrari &
Sergent, 1996), portanto não deixa resíduo nos frutos.
O movimento do PBZ no interior da planta é lento, chegando até as
gemas meristemáticas, inibindo a divisão celular e comprometendo a
biosíntese de Giberelina pela inibição da oxidação de kaurene para ácido
karenóico, reduzindo o nível de divisão celular sem causar citoxicidade (Daziel
& Lawrence, 1984). As conseqüências fisiológicas de sua aplicação são a
326
Indução Floral da Mangueira e Princípios do Controle Fitossanitário

redução do crescimento vegetativo e um melhor aproveitamento de subs-


tâncias assimiláveis pela planta.
As folhas das plantas tratadas com PBZ apresentam uma coloração
verde escura (intensa), contendo um maior teor de clorofila. Outro incre-
mento do PBZ é o favorecimento de um maior índice de flores hermafroditas,
que permitem uma maior frutificação (Bernadi & Moreno, 1993; Voom et
al., 1993; Kurian & Yer, 1993).
O Cultar (PBZ) deve ser aplicado no solo úmido, devendo-se irrigar
logo após, já que a água é o veículo de condução do produto para o períme-
tro radicular. A aplicação deve ser bem distribuída em pequenas covas ou
em sulco circular com 10 a 15 cm de profundidade, a uma distância do
tronco que varia de 60 a 150 cm, dependendo da idade da planta, observan-
do-se ainda a localização da maior concentração das raízes efetivas (Figura
2). Também é comum a aplicação do PBZ no colo da planta (Figura 3).

Figura 2

327
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Aplicação no
Colo da Planta

Fonte: Engo Agro M.Sc. Francisco Fernandes da Costa


Figura 3

Para o sistema de irrigação por gotejamento (Figura 4), é recomen-


dado fazer a aplicação sempre abaixo de cada gotejo ou em sulco linear ao
lado dos gotejadores. É importante cobrir o PBZ logo após a aplicação, pois
o mesmo é sensível à fotodecomposição. O Cultar (PBZ) deve ser diluído
em um a dois litros de água por planta, para facilitar a distribuição
(Albuquerque et al, 1999b).

328
Indução Floral da Mangueira e Princípios do Controle Fitossanitário

Fonte: Engo Agro M.Sc. Francisco Fernandes da Costa


Figura 4

Para obter sucesso na aplicação do PBZ, é importante observar o


critério de dosagem recomendada, (Albuquerque et al. (1999a,1999b) e
(Albuquerque & Mouco (2000), que determina de um modo geral, a dosa-
gem de um grama do principio ativo ( PBZ ) por metro linear do diâmetro da
copa da mangueira. Entretanto, na prática recomendam-se maiores cuida-
dos e bom senso, analisando-se um conjunto de características como: histó-
rico da planta, tipo de solo, se drenado ou não, vigor vegetativo da planta,
variedade e o residual no solo remanescente da aplicação na safra anterior,
que poderá ser observado visualmente após a poda com a emissão dos
brotos vegetativos. Quando o resíduo do PBZ é significativo, observa-se
nos brotos um vigor vegetativo comprometido, recomendando-se neste caso,
reduzir a dosagem em 50 a 70 % com relação à safra anterior, (Albuquerque
& Moco, 2000).
Com relação à variedade, vale destacar a capacidade de vegetação
da planta. Assim, a Kent e Haden, que possuem um vigor vegetativo eleva-
do, exigem uma dose de Cultar bem maior com relação a Tommy Atkins,
(Albuquerque & Moco, 2002) tabela 3.

329
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Tabela 3. Recomendação de dosagem de paclobutrazol (Petrolina, PE)


Diâmetro Área PBZ PBZ PBZ
(m) (m2) (gr) (gr/m linear) (gr/m2)
2,00 3,14 1,65 0,83 0,53
2,25 3,98 1,80 0,80 0,45
2,50 4,91 2,00 0,80 0,41
2,75 5,94 2,20 0,80 0,37
3,00 7,07 2,45 0,82 0,35
3,25 8,30 2,70 0,83 0,33
3,50 9,62 2,90 0,83 0,30
3,75 11,04 3,20 0,85 0,29
4,00 12,57 3,60 0,90 0,29
4,25 14,19 4,00 0,94 0,28
4,50 15,90 4,45 0,99 0,28
4,75 17,72 4,90 1,03 0,28
5,00 19,64 5,35 1,07 0,27
5,25 21,65 5,80 1,10 0,27
5,50 23,76 6,30 1,15 0,27
5,75 25,97 6,80 1,18 0,26
6,00 28,27 7,35 1,23 0,26
6,25 30,68 8,10 1,30 0,26
6,50 33,18 8,90 1,37 0,27

O manejo da indução floral no Vale do São Francisco, além do Cultar


( PBZ ) e do Etefon, ainda conta com um terceiro elemento, o Sulfato de
Potássio (K2SO4) o qual é aplicado de 2 a 2,5% em duas ou três aplicações
com um intervalo de sete dias a partir de sessenta dias de aplicação do
PBZ. É comum também se aplicar o Sulfato de Potássio nestas mesmas
dosagens, intercalando-se com o Ethefon com intervalo de sete dias.
O íon potássio interfere na relação Potássio / Nitrogênio (K/N), evi-
tando que a planta vegete e colaborando com a maturação dos ramos, me-
lhorando a fertilidade da gema.
Dando continuidade ao manejo da indução floral, vem a última opera-
ção que é a quebra da dormência que normalmente é feita com Nitrato de
Potássio (KNO3), Nitrato de Cálcio (CaNO3) e ultimamente com o Nitrato
de Amônia ( NH4NO3), que a campo vem dando bons resultados, além do
baixo custo. Esses nitratos são usados em pulverizações após um período
de noventa a cem dias da aplicação do Cultar ( PBZ ).

330
Indução Floral da Mangueira e Princípios do Controle Fitossanitário

O Nitrato de Potássio é usado na dosagem de 3 a 4%, o Nitrato de


Cálcio de 2 a 3% e o Nitrato de Amônia a 1,5%.
O número de pulverizações é de 4 a 6 aplicações, em intervalos de
sete dias. As pulverizações com nitratos são mais recomendadas nos horá-
rios de temperaturas mais baixas, no início da noite ou pela madrugada, para
melhor aproveitamento de absorção.
As respostas às aplicações do nitrato variam bastante e dependem
de diversos fatores, tais como: condições climáticas, equilíbrio nutricional da
planta, variedade e principalmente do estado nutricional ( grau de maturação)
das gemas.
É bom salientar que a irrigação é reduzida aos sessenta dias da apli-
cação do Cultar ( PBZ ) e só deve retornar aos índices normais, quando for
observada a florada acima de 50% (Quadro 1).

Quadro 1

Fonte: Engo Agro M.Sc. Francisco Fernandes da Costa

Conforme se observa no quadro acima, é possível identificar as di-


versas fases da cultura, dando ênfase à floração, momento em que devem
ser observados os maiores cuidados fitossanitários , ou seja, as pulveriza-

331
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

ções contra pragas e doenças tão propícias nesta fase.


Assim, os estádios fenológicos devem ser associados às principais
pragas e opções de controle químico.
Ciclo da Mangueira x Ocorrência de Doenças e Insetos Praga

M ês d e
p ro d u çã o C iclo c/ C u lta r

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12

C re sc im . Ve geta tivo P a r al iz . C r es cim e n to

A p lic. C u lta r In d u ção

F lo r a ção

F ru tifica ç ão C o lh eita

Poda

O íd io

A n tra cn o se

M o r te d esc en d e n te

M icro á c a ro
C o ch o n ilh a

Tr ip es
L a g a r ta d a s P a n ícu la s

Conhecidas as principais pragas e sua época de ocorrência / dano,


pode-se estabelecer uma estratégia de controle ( Programa de Tratamen-
to), visando manter a s populações de pragas e a pressão da doença abaixo
do nível de dano econômico. Vale salientar ainda que, para frutíferas in
natura, os danos que interferem na qualidade visual da fruta são irreversíveis,
depreciando o produto final para a comercialização.

332
Indução Floral da Mangueira e Princípios do Controle Fitossanitário

Crescimento Vegetativo

Durante esse período, deve-se atentar para o ataque do


Microácaro ( Aceria mangiferae ) que leva à morte das gemas laterais,
provocando um superbrotamento, plantas raquíticas com copa mal
estruturada, sendo também vetor do fungo Fusarium spp. , principal
agente causal da má formação das brotações.

Má formação dos ramos produtivos Má formação do botão floral

Para o seu controle, recomenda-se o uso do enxofre elementar, que


auxilia a nutrição, visto que esse elemento é essencial para a formação da
metionina, presente no processo da elongação do tubo polínico na fecunda-
ção das flores. Há também a utilização da abamectina ( Vertimec ), na
dosagem de 100 ml / 100 l água do produto comercial, caso as populações
se apresentem elevadas.
Outra praga incidente nesta fase é a Mosquinha das Manga
(Erosomyia mangiferae ), para seu contrlo recomenda-se o uso de insetici-
das piretróides seletivos a inimigos naturais.

333
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Floração

Este é o principal período para a proteção da produção, visto que é


neste estádio fenológico que ocorrem os principais danos causados por
insetos e a instalação da principal doença da mangueira, a antracnose.
A antracnose (Colletrotichun gloeosporioides) ataca ramos no-
vos, inflorescências, folhas e frutos, causando desfolhamento, queda de flo-
res e frutos, e diminuição da produtividade e qualidade. Uma vez infectado,
o fruto apresentará os sintomas após o início da sua maturação, geralmente
em pós colheita.
O controle químico deve-se iniciar em pré florada (gemas entumecidas)
com a utilização de um fungicida sistêmico – Azoxistrobina (Amistar) na
dose de 120 g/ha do produto comercial.
Outras pulverizações devem ser realizadas durante o florescimento e
frutificação em intrevalos de 15 a 20 dias, alternando com princípios ativos
com diferentes modos de ação, como o triazol Difenoconazole (Score ) na
dose de 200 ml / ha, auxiliando também no controle de Oídio (Oidium
mangiferae) e seguindo assim a estratégia anti-resistência recomendada
pelo FRAC (Fungicide Resistance Action Commite ).
Uma pulverização em pré-colheita pode ser realizada caso haja forte
pressão de doença com Azoxistrobina (Amistar) na dose de 120 g / ha ou 15
g / 100 l de água, respeitando o intervalo de segurança de dois dias antes da
colheita.
Em complemento ao tratamento a campo, utiliza-se o tratamento em
pós-colheita, quando os frutos são imersos em solução contendo
Thiabendazole (Tecto SC) na dosagem de 400 ml / 100 l de água, durante
um minuto com espalhante adesivo (Agral) a 0,05 %.
Este Programa de Tratamento tem se mostrado a campo, altamente
eficiente no controle do complexo de doenças da mangueira (Antraconse,
Oídio, Morte Descendente, Alternaria e Fusarium).
É nesta fase também que ocorrem os principais danos causados por
insetos-praga. Citam-se: Tripes ( Selenothrips rubrocinctus e Frankliniella
schultzei) e Lepdópteros da Inflorescência (Pleuroprucha asthenaria), esta
sendo favorecida pela má formação da panícula. No controle desses insetos,
recomenda-se o uso de inseticidas piretróides seletivos a inimigos naturais e
inseticidas fisiológicos específicos de baixa toxicologia respectivamente.

334
Indução Floral da Mangueira e Princípios do Controle Fitossanitário

Frutificação e Maturação

Passado o período critico de ataque de doenças e pragas que lesionam


diretamente a fruta, deve-se atentar para uma importante praga que pode
trazer restrições à exportação, principalmente para os mercados americano
e japonês: a mosca das frutas (Anastrepha spp e Ceratites capitata).
Outra praga incidente nestas fases, são as cochonilha ( Aulacaspis
tubercularis, Pseudaonidia tribitiformis e Pseudococus adonidum), para
as quais recomenda-se o uso de inseticidas do grupo dos neonicotinóides,
seletivos a inimigos naturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A evolução dos conhecimentos e dos métodos de previsão e


mensuração de doenças levará a substituição de intervalos definidos entre
as aplicações, para aplicações com critérios mais precisos, ajudando o setor
a utilizar os defensivos de forma mais correta e segura.
Todos os produtos acima citados estão registrados junto ao MAPA
para a cultura da mangueira, seguindo a legislação brasileira e os protocolos
para exportação.
Vale salientar também os cuidados dispensados para uma boa quali-
dade do fruto, que têm início com raleio, toalete, inclusive a pintura dos
frutos com a Cal para evitar queimaduras do sol no lado poente da planta.
Com estes cuidados, é possível obter frutos de boa qualidade, tamanho
uniforme, coloração, etc.
É bom lembrar que para que todo esse processo tenha êxito, é im-
prescindível o acompanhamento nutricional rigoroso dentro das necessida-
des da mangueira.

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337
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

338
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA


CULTURA DA MANGA
Miguel Francisco de Souza Filho1
Valmir Antonio Costa2
Wilson Carlos Pazini3

1. INTRODUÇÃO

A mangueira (Mangifera indica L.), em nível mundial, é atacada


por três ou quatro pragas-chave (moscas-das-frutas, bicudo-da-semente,
brocas e cigarrinhas), várias pragas secundárias e um grande número de
pragas ocasionais em áreas localizadas onde se desenvolvem. Das 260 es-
pécies pragas relatadas, entre insetos e ácaros, registradas como primárias
e secundárias na cultura da manga, 87 atacam os frutos, 127 atacam as
folhagens, 36 ocorrem nas inflorescências, 33 habitam as brotações e 25
alimentam-se de ramos e troncos (PEÑA et al., 1998). Basicamente as
pragas-chave requerem medidas anuais de controle, enquanto as pragas
secundárias ocorrem em baixos níveis, não atingindo importância econômi-
ca, no entanto, ocasionalmente podem se tornar problemas sérios por várias
razões a seguir: alterações nas práticas culturais, mudança de cultivares,
alterações nos protocolos internacionais de exportação impondo tolerância
zero a determinada praga e principalmente pelo uso indiscriminado de
pesticidas no controle das pragas-chave (PEÑA et al., 1998; WAITE, 2002).
No Brasil, não poderia ser diferente, pois das pragas que afetam a
cultura da mangueira, destacam-se insetos e ácaros que danificam folhas,
flores, frutos, ramos e tronco. As estratégias de manejo desses organismos
requerem conhecimento da sua biologia e da fenologia da planta, que são
pré-requisitos indispensáveis para a implementação do Manejo Integrado

1
Eng. Agrônomo, [email protected], Instituto Biológico, C.P. 70, CEP 13001-970,
Campinas, SP
2
Eng. Agrônomo, [email protected], Instituto Biológico, C.P. 70, CEP 13001-970,
Campinas, SP
3
Eng. Agrônomo, [email protected], CEMIP/FCAV/UNESP, via Paulo D. Castelanne,
Jaboticabal, SP

339
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

de Pragas (MIP) (NASCIMENTO e CARVALHO, 1998). O MIP repre-


senta um avanço significativo como sistema racional de controle de pragas
em frutíferas, pois tem como principal objetivo, a utilização mínima de
agroquímicos, no sentido de amenizar problemas de contaminação do ambi-
ente e, conseqüentemente, diminuir as taxas de resíduos no produto final,
garantindo uma melhor qualidade de vida, tanto para o produtor como para
o consumidor.
Devido às suas características, o MIP é o sistema fitossanitário ideal
a ser seguido pela fruticultura brasileira e principalmente no sentido de aten-
der o mercado externo de fruta in natura que é extremamente exigente
quanto à qualidade da fruta e à ausência de resíduos de agrotóxicos.

2. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS E SEUS COMPONEN-


TES BÁSICOS

O Manejo Integrado de Pragas é definido com um sistema de


apoio a decisões para seleção e uso de táticas de controle de pragas, usado
individualmente ou harmoniosamente, coordenado em estratégias de mane-
jo, baseado em análises de custo e benefício, que levam em conta, os inte-
resses dos produtores e os impactos na sociedade e no meio ambiente
(KOGAN e SHENK, 2002). Dentro desta definição, Norris et al. (2003)
apresentam uma visão conceitual global do MIP, mostrando os vários com-
ponentes de um programa de MIP e suas inter-relações representadas na
Figura 1.

340
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

Sociedade
Leis e regulamentos:
- para pragas
- para tecnologia
Varejo
Pouca informação, medo e prejuízos

Ecossistema Econômico
Resistência de pragas Perdas por pragas
Poluição Manejo
Custo do controle
Tempo Integrado
Valor da safra
Interação entre os tipos de pragas de Pragas
Custos ao consumidor
Diversidade

Tecnologia de controle
Cultural/mecânico
Biológico
Genético e Melhoramento de plantas
Pesticidas

Pragas
Identificação
Biologia
Ecologia
Dinâmica populacional
Avaliação populacional

Figura 1. Estrututa conceitual para MIP, mostrando os vários componentes


de um programa de MIP e suas inter-relações (NORRIS et al.,
2003).

341
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Pela definição, observa-se que o MIP é apoiado basicamente por


três atividades fundamentais para sua implementação: avaliação do
agroecossistema, tomada de decisão e escolha da tática de controle para
redução populacional da praga.

2.1. Avaliação do Agroecossistema

O Manejo Integrado de Pragas nada mais é do que a aplicação dos


conhecimentos de ecologia, pois ocorre dentro de ecossistemas agrícolas ou
agroecossistemas, que consistem de uma cultura e de seu ambiente. Ape-
sar de o agroecossistema apresentar uma biodiversidade menor que o
ecossistema natural, mesmo assim é um sistema totalmente complexo e os
organismos que o compõem, sejam pragas ou não, estão interagindo na co-
munidade.
Considerando todas as categorias de pragas, verifica-se que as mes-
mas não existem isoladas umas das outras, e na maioria das culturas, elas
têm ocorrido simultaneamente. Para o MIP é importante levar em conside-
ração esse fato, pois muitas vezes o uso de uma determinada tática de
controle visando uma categoria de praga pode potencialmente influenciar
todas as outras categorias presentes no agroecossistema. A Figura 2, na
forma de diagrama, representa o potencial de interações entre as diferentes
categorias de pragas, notando-se que artrópodos (insetos e/ou ácaros),
nematóides e patógenos podem entre si mostrar uma faixa de interações
desde tênue até a mais íntima (NORRIS et al., 2003)

342
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

Plantas daninhas

Artrópodos
(insetos e ácaros) Nematóides

Vertebrados Patógenos
(homem,
(homem, animais
animais domésticos
domésticos (fungos, bactérias e vírus)
ee outros)
outros)
Figura 2. Diagrama representando as interações potenciais entre as dife-
rentes categorias de pragas. As espessuras das flechas repre-
sentam aproximadamente a importância da interação (modifica-
do de NORRIS et al., 2003).

Portanto, na implementação do MIP, é fundamental o planejamento


do agroecossitema, onde os problemas fitossanitários devem ser previa-
mente conhecidos com o objetivo de tornar a cultura menos suscetível ao
ataque de pragas. Para tanto, o agroecossistema deve ser avaliado através
de um programa de estudos visando buscar informações fundamentais para
a aplicação correta do MIP, lembrando-se de que, para cada região e/ou
cultura, as estratégias a serem aplicadas serão distintas.
As informações básicas necessárias para a elaboração de um pro-
grama de MIP devem compor as seguintes etapas (GALLO et al., 2002):
a) Identificação das pragas mais importantes da cultura (pragas-chave);
b) Identificação dos inimigos naturais das pragas;
c) Avaliação populacional das pragas e de seus inimigos naturais
(amostragem);
d) Estudos dos fatores climáticos;
e) Conhecimento dos estádios fenológicos da planta;
f) Avaliação das táticas mais adequadas de controle.
343
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

2.2. Tomada de decisão

A tomada de decisão é uma etapa que leva em conta basicamente a


análise dos aspectos econômicos da cultura e a relação custo/benefício do
controle de pragas. No entanto, é importante ressaltar que a tática de con-
trole de pragas não é uma atividade que aumenta a produção, pois apenas
evita as perdas provocadas pela competição dos organismos.
Uma vez que a identidade da praga tenha sido estabelecida, a sua
densidade determinada, a informação dos estádios fenológicos tanto da pra-
ga como da cultura tenha sido definida, essas informações poderão ser usa-
das para tomada de decisão nas estratégias de manejo. A necessidade de
implementação de táticas de controle dependerá da relativa densidade da
praga para os limiares apropriados ao estádio fenológico da cultura.
Com base na flutuação populacional das pragas, podem-se definir
alguns parâmetros importantes para a tomada de decisão no MIP
(CROCOMO, 1990):
⇒ Nível de equilíbrio: refere-se ao equilíbrio da densidade populacional da
praga por um longo período de tempo na ausência de mudanças perma-
nentes no ambiente (Figura 3)
⇒ Nível de dano econômico: é a menor densidade populacional da praga
capaz de causar perdas econômicas significativas (Figura 4).
⇒ Nível de ação: é a densidade da praga em que as ações de controle
devem ser tomadas para impedir que a população alcance o nível de
dano econômico (Figura 4).
Baseando-se nesses parâmetros, é possível classificar as pragas em
(GALLO et al., 2002):
a) Não econômicas: quando a densidade populacional da praga dificilmente
atinge ou ultrapassa o nível de dano econômico (Figura 3).
b) Ocasionais: quando a densidade populacional da praga atinge ou ultra-
passa o nível de ação ou nível de dano econômico, retornando ao equilí-
brio após a aplicação de uma tática de controle. Ocorre em condições
especiais, como condições climáticas atípicas ou o uso indevido de inse-
ticidas (Figura 4).
c) Perenes: quando a densidade populacional da praga atinge o nível de
ação ou o nível de dano econômico com freqüência, exigindo adoção
constante de medidas de controle (Figura 5)

344
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

d) Severas: quando o nível de equilíbrio está situado acima do nível de ação


e do nível de dano econômico, exigindo medidas preventivas de controle
para garantir a produtividade da cultura (Figura 6).
Como se verifica, as adoções de medidas de controle no MIP são
realizadas, avaliando-se o potencial de dano suportado pela cultura em rela-
ção à densidade populacional da praga, levando-se em consideração os ní-
veis de ação e de dano econômico. É importante lembrar que o termo dano,
largamente aplicado, refere-se às perdas econômicas decorrentes da injúria
provocada pela praga.
Densidade populacional da praga

Nível de dano
econômico

Nível de ação

Nível de equilíbrio

Tempo
Figura 3. Flutuação populacional de uma determinada praga no decorrer do
tempo para espécies que não atingem a posição de praga (modifi-
cada de SILVEIRA NETO et al., 1976).

345
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização
Densidade populacional da praga

Medidas de controle
Nível de dano
econômico
Medidas de controle
Nível de ação

Nível de equilíbrio

Tempo

Figura 4. Flutuação populacional de uma determinada praga no decorrer do


tempo para pragas ocasionais (modificada de SILVEIRA NETO
et al., 1976).
Densidade populacional da praga

Nível de dano
Medidas de controle econômico

Nível de ação

Nível de equilíbrio

Tempo

Figura 5. Flutuação populacional de uma determinada praga no decorrer do


tempo para pragas perenes (modificada de SILVEIRA NETO et
al., 1976).

346
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga
Densidade populacional da praga

Medidas de controle
Nível de equilíbrio
Medidas de controle

Nível de dano
econômico
Nível de ação

Nível de equilíbrio
modificado

Tempo

Figura 6. Flutuação populacional de uma determinada praga no decorrer do


tempo para pragas severas (modificada de SILVEIRA NETO et
al., 1976).

2.3. Escolha da tática de controle para redução populacional da praga

É importante enfatizar que dois termos foram largamente utilizados


no sistema de MIP: tática e estratégia. Em MIP, tática refere-se aos méto-
dos disponíveis para o controle das pragas, enquanto estratégia é um plano
para uma ação bem sucedida baseada nos objetivos do sistema de produção
da cultura e na biologia e ecologia das pragas (NORRIS et al., 2003). Con-
forme já citado no item 2.1, deve-se levar em conta que o controle efetivo
de uma praga de importância econômica é o objetivo principal dentro das
estratégias de MIP, além de preservar a integridade ambiental e o bem estar
da sociedade. Portanto, para a aplicação racional das táticas de controle se
faz necessário que se conheçam bem a cultura, as características
bioecológicas das pragas e também outras áreas do conhecimento tais como
física, química, engenharia, meio ambiente, economia, sociologia e legisla-
ção.
Há vários tipos possíveis de táticas a serem aplicadas nos programas
de MIP, entretanto, é importante levar em consideração que as mesmas são
inesgotáveis e que envolvem muita pesquisa e a tecnologia disponível
(LUCKMANN; METCALF, 1975 apud CROCOMO, 1990). Os tipos de

347
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

táticas podem ser abordados da seguinte forma (CROCOMO, 1990; GALLO


et al., 2002):

1) Métodos legislativos ou regulatórios:


a) Serviço quarentenário;
b) Tratamentos quarentenários;
c) Medidas obrigatórias de controle;
d) Programas de supressão e erradicação.

2) Métodos mecânicos:
a) Destruição manual;
b) Uso de barreiras;
c) Esmagamento;
d) Armadilhas;
e) Catação;
f) Ensacamento de frutos.

3) Métodos culturais:
a) Destruição de restos de cultura;
b) Poda ou desbaste;
c) Adubação e irrigação;
d) Uso de culturas armadilhas;
e) Manipulação ou destruição dos hospedeiros alternativos.

4) Método de resistência de plantas

5) Métodos de controle por comportamento:


a) Feromônios;
b) Repelentes;
c) Controle por meio de esterilização de insetos.

6) Métodos de controle físico:


a) Fogo;
b) Drenagem;
c) Inundação;
d) Temperatura;

348
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

e) Armadilhas luminosas;
f) Som.

7) Métodos de controle biológico


É considerado o alicerce de programas modernos de MIP, pois os inimigos
naturais mantêm as pragas em equilíbrio, sendo um dos responsáveis pela
mortalidade natural no agroecossistema.

8) Métodos de controle autocida ou genéticos:


a) Técnica do inseto estéril (TIE).

9) Método químico:
a) Pesticidas (inseticidas, fungicidas, nematicidas e herbicidas).

2.4. Algumas considerações a respeito do MIP

Pela definição, verifica-se que o sistema dá ênfase ao processo de


tomada de decisão, que é o componente básico que o distingue do sistema
convencional de controle de pragas (KOGAN e SHENK, 2002). Isto impli-
ca em dizer que é importante aprender a tolerar a presença de pragas e a
injúria provocada, enquanto isso não significar prejuízo econômico, pois é
possível esperar que a população desses organismos atinja o nível de dano
econômico para considerá-los como pragas. Essa tolerância pode-se dizer
que é um fator chave dentro dos programas de MIP, que favorece a ação do
ambiente, principalmente com relação à atuação dos inimigos naturais, que
poderão ter a sua eficiência incrementada em face do seu crescimento
populacional.

3. PRAGAS DA MANGUEIRA

Conforme já citado anteriormente, a correta identificação das pra-


gas-chave da cultura compõe o esteio de um programa de MIP, pois são
elas que causam os maiores prejuízos, devendo-se a elas toda atenção por
parte do agricultor. Também é importante salientar que o Brasil por ser um
país de extensão continental, com clima tropical e biodiversidade exuberan-
te, faz com que os problemas fitossanitários sejam distintos de uma região
349
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

para outra. Confirmando esta informação, verifica-se que na região Nor-


deste (principalmente o Vale do São Francisco), as moscas-das-frutas são
consideradas a principal praga em face dos seus danos diretos como pela
sua importância quarentenária, enquanto que no estado de São Paulo além
das moscas-das-frutas, destacam-se como pragas-chave, a cochonilha-bran-
ca e o besouro-amarelo. Entretanto, em se tratando de pomares em forma-
ção, cochonilhas, ácaros e tripes podem causar danos consideráveis e até
maiores do que o das moscas-das-frutas (NASCIMENTO e CARVALHO,
1998).
A seguir, serão apresentadas de forma objetiva, as principais pragas
da cultura, abordando os seguintes tópicos dentro da seguinte ordem: 1)
nome vulgar da praga; 2) nome científico (ordem e família); 3) importância
econômica; 4) hospedeiros; 5) descrição e biologia; 6) danos; 7)
monitoramento e nível de ação; 8) manejo (cultural, mecânico, físico, bioló-
gico e químico). Essas informações foram obtidas com base na consultas
das seguintes referências: Van Halteren, 1970; Mariconi, 1976; Zahler, 1991;
Silva, 1992; Cunha et al., 1993; Potenza et al., 1993; Labuschagne et al.,
1995; Jiron, 1996; Nascimento e Carvalho, 1998; Peña et al., 1998; Souza
Filho et al., 2000; Gavioli e Takakura, 2001; Haji et al., 2001; Gallo, 2002;
Waite, 2002; Carvalho, 2003; Coto e Saunders, 2003; Moreira, 2004.

3.1. Moscas-das-frutas

Nome científico:
Anastrepha fraterculus (Wiedemann, 1830) (Diptera, Tephritidae)
Anastrepha obliqua (Macquart, 1835) (Diptera, Tephritidae) à “principal
espécie”
Ceratitis capitata (Wiedemann, 1824) (Diptera, Tephritidae)

Importância econômica: Grupo de pragas muito importantes não só devi-


do aos danos diretos que causam aos frutos, mas, também, em decorrência
das rígidas medidas quarentenárias impostas pelos países importadores da
fruta in natura.

Hospedeiros: São aquelas plantas que possuem frutos que permitem o


desenvolvimento das fases de ovo, larva e pupas viáveis, independente da

350
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

qualidade ou da quantidade de insetos produzidos. Assim sendo, o conheci-


mento de plantas hospedeiras na região onde se pretende estabelecer um
programa de controle de moscas-das-frutas é fundamental, uma vez que o
ataque nas fruteiras comerciais ocorre da migração das moscas para o po-
mar. Como exemplo, o estado de São Paulo apresenta um grande número
de espécies vegetais hospedeiras de moscas-das-frutas (Tabela 1), amadu-
recendo seus frutos em diferentes estações do ano, proporcionando assim,
o aumento da densidade populacional da praga e sua ampla distribuição por
todo território. Essa seqüência de eventos caracteriza o fenômeno conheci-
do como sucessão hospedeira. Outro fator que também favorece o estabe-
lecimento das moscas-das-frutas é a existência de diversos ciclos de
frutificação de um mesmo hospedeiro ao longo do ano, a exemplo de goiaba,
carambola, nêspera, citros e chapéu-de-sol (Tabela 2).

351
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Tabela 1. Ocorrência de mosca-das-frutas nas plantas hospedeiras mais


comuns no estado de São Paulo.
Plantas Hospedeiras Moscas-das-frutas
Nome comum Nome científico C. c.1 A. f.2 A. o.3
Anacardiaceae
1. Cajá-manga Spondias dulcis X X X
2. Manga Mangifera indica X X X
3. Siriguela Spondias purpurea X X X
Combretaceae
4. Chapéu-de-sol Terminalia catappa X X X
Ebenaceae
5. Caqui Diospyrus kaki X X -
Malpighiaceae
6. Acerola Malpighia glabra X X -
Myrtaceae
7. Araçá Psidium cattleyanum X X -
8. Goiaba Psidium guajava X X X
9. Jabuticaba Myrciaria cauliflora X X -
10. Jambo Syzygium jambos X X X
11. Pitanga Eugenia uniflora X X X
12. Uvaia Eugenia pyriformis X X X
Oxalidaceae
13. Carambola Averrhoa carambola X X X
Passifloraceae
14. Maracujá-doce Passiflora alata X X -
Rosaceae
15. Nêspera Eriobotrya japonica X X X
16. Pêra Pyrus communis X X -
17. Pêssego Prunus persica X X X
Rubiaceae
18. Café Coffea arabica X X -
Rutaceae
19. Laranja-azeda Citrus aurantium X X -
20. Laranja -doce Citrus sinensis X X -
21. Limão-cravo Citrus limonia X X -
22. Kunquat Fortunella sp. X X X
23. Mexirica do Rio Citrus deliciosa - X -
24. Tangerina “Cravo” Citrus reticulata X X -
25. Tangerina “Ponkan” Citrus reticulata X X -
26. Tangor “Murcott” C. reticulata × C. sinensis X X -
Sapotaceae
27. Abiu Pouteria caimito X X -
28. Sapoti Achras zapota X - -
1
C.c. = Ceratitis capitata
2
A.f. = Anastrepha fraterculus
3
A.o. = Anastrepha obliqua

352
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

Tabela 2. Períodos de ocorrência de moscas-das-frutas em alguns hospe-


deiros no Estado de São Paulo.
Meses
Plantas hospedeiras
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
1) Acerola C + C C +
2) Araçá
A A + A A
(Psidium cattleyanum)
3) Café C + + + + + + + +
4) Caqui C C + +
5) Carambola A A A A + A + + + + +
6) Chapéu-de-sol C + + + + + + + +
7) Goiaba + + A A A A A + A A
8) Jabuticaba A A A A
9) Laranja doce A + + + + + + A
10) Manga A A + +
11) Nêspera A + A + + + + + + +
12) Pêssego + C + + +
14) Pitanga A A A A + A
15) Serigüela A + A A
16) Uvaia + A A A

A Anastrepha spp.
C Ceratitis capitata
+ Anastrepha spp. e Ceratitis capitata

Descrição e biologia: A larva de C. capitata apresenta 5-8 mm de com-


primento; coloração branca a amarelada; a parte anterior é delgada e a
posterior truncada. O adulto de C. capitata mede cerca de 5 mm de com-
primento por 10 a 12 mm de envergadura; o tórax na parte dorsal é preto
com desenhos simétricos brancos; as asas são transparentes-rosadas com
faixas amarelas e castanhas e o abdome é predominantemente amarelado
com duas listas transversais acizentadas (Figura 7). O macho é facilmente
reconhecido por apresentar na cabeça entre os olhos, um par de apêndices
filiformes, terminando em forma de espátula (parece um segundo par de
antenas).
As larvas de Anastrepha apresentam 9-10 mm de comprimento;
coloração geral branca, chegando a ser amarela, dependendo do fruto hos-
pedeiro em que esteja se alimentando; a parte anterior é delgada e truncada
na parte caudal; são ápodas e quando completam o seu desenvolvimento
dentro do fruto, transpassam a “casca” e caem no solo onde empuparão.

353
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Os adultos de Anastrepha são maiores do que os adultos de C. capitata.


No caso de A. fraterculus e A. obliqua, chegam a medir cerca de 6,5 e 7,5
mm, respectivamente. Apresentam coloração predominantemente amarela
e suas asas apresentam três faixas distintas: a faixa “C” (costal), faixa “S”
e faixa “V” invertido sendo as mesmas sombreadas de amarelo e marrom
escuro (Figura 7).
O ciclo de vida das moscas-das-frutas ocorre em três ambientes con-
forme o esquema da Figura 8.

Figura 7. Adultos de moscas-das-frutas: fêmeas de Anastrepha frateculus


(esquerda) e Ceratitis capitata (direita)

354
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

V E GE TA Ç Ã O
(A dulto)

F R U TO
(O vo e Larva)

SO LO
(Pupa)

Espécies de Ciclo de vida em dias a 25oC


moscas-das-frutas Ovo Larva Pupa Pré-oviposição
A. fraterculus 2-4 12-15 10-20 7-10
A. obliqua 3-4 10-13 13-17 7-15
C. capitata 2-4 6-11 9-11 3-4
Figura 8. Ciclo de vida das moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae)

O período de duração do ciclo de vida das moscas-das-frutas é de-


pendente de vários fatores, principalmente da temperatura, da planta hospe-
deira e da própria espécie de mosca. Ceratitis capitata apresenta a dura-
ção do seu ciclo de ovo a adulto em torno de 18 a 30 dias no verão, enquanto

355
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

A. fraterculus e A. obliqua varia de 25 a 35 dias. Em épocas ou em regiões


de baixas temperaturas, o ciclo é prolongado.

Danos: Os danos das moscas-das-frutas são causados diretamente nos


frutos pela fêmea adulta (perfuração do fruto por ocasião da oviposição) e
pelas larvas (consumo da polpa provocando um apodrecimento interno).
Nos frutos de manga, a infestação por larvas não é notada, pois os mesmo
permanecem com a aparência externa normal. Entretanto, ao apalpar o
fruto, notam-se pontos de amolecimento da polpa e até extravasamento de
suco pelo orifício de saída das larvas.

Condições favoráveis e período crítico: Os principais fatores que favo-


recem a incidência de moscas-das-frutas são a presença de plantas hospe-
deiras e condições climáticas favoráveis. Precipitações intensas acarretam
uma redução na atividade das moscas. O seu período crítico se inicia a
partir da maturação dos frutos.

Monitoramento e nível de ação: O processo de avaliação do número de


espécies de moscas-das-frutas e de sua distribuição em cada localidade
produtora é chamado de monitoramento. Esse sistema pode enfocar a aná-
lise de ovos e larvas diretamente nos frutos ou indiretamente através do uso
de armadilhas que capturam adultos. Os modelos de armadilhas atualmente
usados no Brasil são os seguintes: McPhail e Jackson.

a) Armadilhas McPhail
Esse modelo também conhecido como frasco caça-moscas é confecciona-
do em plástico que apresenta uma única entrada em sua parte inferior
(invaginação) (Figura 9a). Utiliza isca líquida como atraente alimentar à
base de proteína hidrolisada a 5% ou pelets de torula (levedura). Deve-se
evitar a adição de inseticida na calda colocada nas armadilhas.
Essa armadilha tem como alvo principal do monitoramento, capturar as fê-
meas, que, no período que antecede ao início da oviposição, necessitam
grandemente de substâncias protéicas e carboidratos, embora também ma-
chos sejam coletados nos frascos.
A periodicidade de reabastecimento da armadilha pode ser semanal ou a
cada 10-15 dias, dependendo da época do ano e estendendo-se até o final

356
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

da safra. O modelo mencionado captura tanto C. capitata como as espéci-


es de Anastrepha.

b). Armadilha Jackson


A modelo Jackson é confeccionada de papelão parafinado e apresenta
a forma de triângulo (telhado de duas águas), tendo uma inserção na parte
inferior, removível, que contém um adesivo de longa duração (Figura 9b). É
específica para captura da espécie C. capitata (mosca-do-mediterâneo), que
utiliza atraente sexual constituído do paraferomônio trimedlure, que atrai so-
mente os machos. Durante o monitoramento, a atividade do trimedlure apre-
senta uma duração de cerca de dois meses no campo.

Figura 9. Armadilhas modelos McPhail (a) e Jackson (b) (Foto b: Adalton


Raga)

c) Localização e densidade das armadilhas no campo

O monitoramento deve dar condições de previsibilidade da infestação


de moscas-das-frutas e por isso a instalação das armadilhas é intensificada
na periferia dos pomares, detectando populações invasoras. Os frascos de-
vem ser distribuídos a uma distância mínima de 50 m um do outro e em
áreas grandes poderão ser distanciados de 150 a 200 m, contornando a área
produtora e também no interior do pomar. Na planta, as armadilhas deverão

357
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

ser instaladas em ramos firmes acerca de 1,80 m de altura ou a 3/4 da altura


da planta, localizando-as um pouco para dentro da copa, para evitar a luz
direta do sol nos momentos mais quentes do dia. Levando-se em considera-
ção o tamanho do pomar, as armadilhas McPhail podem ser instaladas na
seguinte proporção, conforme a Tabela 3.

Tabela 3. Número de armadilhas McPhail em relação ao tamanho do pomar.

Tamanho do pomar Número de armadilhas


Área até 2,0 hectare 4 armadilhas
> 2,0 até 5,0 hectares 2 armadilhas / hectare
Área acima de 5 hectares 10 armadilhas + ½ armadilha/hectare
No caso das armadilhas Jackson, instalar uma armadilha a cada três
hectares e aplicar os mesmos procedimentos utilizados para a armadilha
McPhail quanto sua localização na planta.

d) Época de instalação das armadilhas

O monitoramento pode ser iniciado quando os frutos atingirem cerca


de 50% do seu tamanho.

e) Inspeção das armadilhas


A partir da instalação das armadilhas, inspecioná-las semanalmente
ou duas vezes por semana, dependendo do estágio de desenvolvimento do
fruto, sendo essa operação realizada até o final da colheita. Para as arma-
dilhas modelo McPhail, o conteúdo do frasco deve ser despejado em uma
peneira e em seguida transferido para uma bandeja de fundo branco con-
tendo água, onde se efetua a separação e contagem das moscas-das-frutas.
Na armadilha Jackson realizam-se a identificação e remoção dos machos
capturados de C. capitata.

f) Determinação do nível populacional para tomada de decisão

Após a contagem das moscas por ocasião da inspeção das armadi-


lhas, aplica-se a determinação do nível populacional de moscas, consideran-
do-se o número de moscas (M) por armadilha(A) por dia(D), denominado
358
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

de índice M.A.D., que é a estimativa do número médio de moscas captu-


radas em uma armadilha em um dia em que essa armadilha ficou exposta no
campo. A função desse índice populacional é mostrar uma medida relativa
do tamanho da população de adultos de moscas no tempo e no espaço. Esse
índice é usado como uma informação básica para comparar o tamanho da
população da praga antes, durante e depois da aplicação da medida de con-
trole.
O valor do índice M.A.D. é o resultado da divisão do número total de
moscas capturadas pelo produto obtido da multiplicação do número total de
armadilhas no pomar, pelo número de dias de exposição das armadilhas no
campo, após a última inspeção. Portanto, a fórmula é a seguinte:

M.A.D.= __M__
AxD

em que:

M = no de moscas capturadas no período


A = no de armadilhas no pomar
D = no de dias de exposição da armadilha

Embora não haja estudos específicos determinando o nível de contro-


le de moscas-das-frutas no Brasil, recomenda-se iniciar o controle da pra-
ga, quando o índice M.A.D. alcançar os seguinte valores:
Anastrepha sp. è 1 adulto de mosca/armadilha/dia
Ceratitis capitata è 1 machos adultos/armadilha/dia (armadilha
Jackson)

Manejo: O êxito no controle de moscas-das-frutas sempre se ba-


seia na integração de vários métodos de controle, uma vez que essas espé-
cies apresentam características que as distinguem como pragas-chave, como
a alta produção de ovos, alta viabilidade de ovos, alta capacidade de disper-
são de adultos e de colonização sob diferentes condições ecológicas.

359
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

a) Controle cultural

- Os frutos temporões, atacados e os caídos no chão deverão ser coletados


e destruídos e/ou enterrados;
- Frutos das espécies hospedeiras próximas ao pomar deverão ser consumi-
dos e o restante coletado e destruído;
- Manutenção do solo vegetado para estimular a atuação dos inimigos natu-
rais.
b) Controle Biológico
Dentre os predadores, patógenos e parasitóides que atuam no con-
trole biológico, este último grupo se constitui no principal mecanismo de
redução natural das populações de moscas-das-frutas, agindo nas fases larval
e pupal. Na Tabela 4 são apresentados a espécie de parasitóide e respecti-
vos hóspedes/hospedeiros. No campo do controle biológico aplicado, em
1994 foi introduzido no Brasil o parasitóide Diachasmismorpha
longicaudata (Ashmead) (Hymenoptera: Braconidae) e, recentemente, após
uma série de estudos de avaliação de sua eficiência e seu impacto ambiental,
foi solicitado o seu registro definitivo junto ao MAPA, Ibama e a Anvisa,
para o seu uso como agente de controle biológico de moscas-das-frutas na
fruticultura brasileira, por meio de sua criação massal em uma biofábrica.

Tabela 4. Parasitóides (Hymenoptera: Braconidae) relacionados a algumas


espécies de moscas-das-frutas.
Espécie de Parasitóide Hóspede
Doryctobracon areolatus (Szépligeti) A. fraterculus, A. obliqua, C. capitata
Doryctobracon brasiliensis (Szépligeti) A. fraterculus, C. capitata
Opius bellus Gahan A. fraterculus, A. obliqua, C. capitata
Utetes anastrephae (Viereck) A. fraterculus, C. capitata

c) Controle Químico
Baseia-se no emprego de inseticidas em cobertura total ou na forma
de isca tóxica. No tratamento em cobertura, aplica-se somente o inseticida
em água, procurando atingir todas as plantas do pomar. A forma de menor
impacto desse método é o de iscas tóxicas (atraente alimentar + inseticida),
que são preparadas conforme a forma descrita anteriormente para isca uti-
lizada em frascos. A isca tóxica geralmente é aplicada em ruas alternadas,
360
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

visando a folhagem e não o fruto, em apenas uma parte da copa das plantas,
não superior a 1 m2, aplicando cerca de 150-200ml de calda por planta. As
aplicações de isca tóxica devem ser realizadas pela manhã, nas plantas das
bordaduras do pomar, próximo à mata nativa e nos focos de ocorrência de
moscas, devendo ser reaplicada a cada 7-10dias ou logo após um período
chuvoso. O momento para executar o controle químico deve ser baseado no
monitoramento das armadilhas e do desenvolvimento dos frutos. Na Tabela
9, é apresentada uma lista de inseticidas com uso autorizado para o controle
de moscas-das-frutas na cultura da manga.

3.2. Cochonilha-branca

Nome científico: Aulacaspis tubercularis Newstead, 1906 (Hemiptera:


Diaspididae)

Importância econômica: Atinge elevadas populações em brotações no-


vas, folhas e frutos da mangueira, praticamente todos os anos. Porém, seu
principal prejuízo é nos frutos, por depreciá-los e até inviabilizá-los para a
comercialização.

Hospedeiros: A. tubercularis já foi encontrada em Aceraceae: Acer


kawakamii. Anacardiaceae: Mangifera indica, Mangifera sp. Arecaceae:
Cocos nucifera. Iridaceae: Dietes prolongata. Lauraceae: Cinnamomum
camphora, Cinnamomum ceylanicum, Laurus nobilis, Litsea laurifolia,
Litsea polyantha, Litsea pungens, Litsea sebifera, Machilus sp., Phoebe
sp. Pittosporaceae: Pittosporum glabratum. Rutaceae: Citrus sp.
Sapindaceae: Dimocarpus longan.

Descrição e biologia: É reconhecida por apresentar diversas carapaças


brancas masculinas reunidas perto da fêmea. A carapaça da fêmea adulta
tem formato circular, cor branca opaca e com exúvias, dos ínstares anterio-
res, marginal. A fêmea pode colocar até 18 ovos por dia, durante 8 a 12
dias, num total de 80 a 200 ovos. O período de incubação é de 7 a 8 dias,
após o qual, a ninfa deixa a carapaça e se fixa em outro local para começar
a alimentação. A ninfa fêmea necessita de mais 28 a 32 dias para seu
desenvolvimento, completando o ciclo de vida em torno 35 a 40 dias. Depois

361
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

de deixar a carapaça, a ninfa masculina se fixa quase que imediatamente,


em grupos com 10 a 80 ninfas; realiza uma ecdise e começa a produzir
linhas de cera, formando uma escama alongada, branca, tri-carenada. O
período “pupal” do macho é de uma semana após seu completo desenvolvi-
mento. Portanto, o macho leva de 23 a 28 dias se desenvolver do ovo à
maturidade. A razão sexual entre macho e fêmea é de aproximadamente
11:1. Esta é uma situação muito incomum entre Diaspididae que não é fácil
explicar.

Danos: A. tubercularis provoca danos nos ramos novos, nas folhas e prin-
cipalmente nos frutos; através da sucção constante de seiva elaborada,
inoculação de toxinas, além de haver indícios de que o orifício feito para sua
alimentação, no fruto, favoreça a entrada de doenças pós-colheita. Para
tanto, parte do aparelho bucal da cochonilha penetra na epiderme e no
parênquima, alcançando os vasos dos floema. Nas folhas, em volta do local
de alimentação, fica amarelo e se houver muitos insetos, esta área pode se
estender por vários centímetros quadrados. A. mangiferae é uma sugadora
de floema, conseqüentemente o dano pode ser muito maior que as áreas
amarelas observadas nas folhas. Nas folhas mais velhas (acima de nove
meses), observam-se as maiores infestações. Em ataques severos, causa
descoloração e áreas necróticas no tecido, podendo resultar na queda das
folhas. Nos frutos, provoca manchas e deformações.

Condições favoráveis e período crítico: A cochonilha branca tem al-


cançado altas populações em regiões de baixa umidade relativa do ar, a
exemplo do cerrado e semi-árido. Alguns estudos de flutuação populacional
mostram que a praga é mais abundante no setor sombreado da copa da
mangueira, onde as temperaturas são mais moderadas. Período crítico: du-
rante a frutificação.

Monitoramento e nível de ação: O número de plantas a serem


inspecionadas na parcela obedece à proporção contida na Tabela 5.

362
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

Tabela 5. Número de plantas a serem inspecionadas em função do tama-


nho da parcela.
Parcelas de até 5 hectares 10 plantas
Parcelas de 6 a 10 hectares 14 plantas
Parcelas de 11 a15 hectares 18 plantas
Parcelas acima de 15 hectares Dividir em parcelas menores
As plantas são inspecionadas mensalmente no período vegetativo e
semanalmente no período critico (frutificação). Em cada planta, examinam-
se quatro ramos da parte interna, até o terceiro fluxo de crescimento, inclu-
sive; um ramo em cada quadrante da planta. Neste ramos, escolhe-se uma
folha infestada para verificar se a cochonilha está viva. No período crítico,
acrescenta-se à observação, um fruto da parte interna.
Quando se constatarem cochonilhas vivas na folha amostrada, o ramo
será considerado infestado, anotando-se ‘R’ na ficha de Inspeção, confor-
me o modelo da Figura 10. Se o fruto examinado contiver pelo menos um
inseto vivo, ele será considerado infestado, anotando-se ‘F’. Se os dois ór-
gãos estiverem infestados, anota-se ‘R/F’. O nível de ação será alcançado,
no período vegetativo, quando 50% das folhas estiverem infestadas e no
período crítico, quando a infestação atingir 20% das folhas ou 5% dos fru-
tos.

Manejo:
a) Cultural:
- Reduzir o uso de fungicidas à base de cobre;
- Manter o solo vegetado para estimular a multiplicação de inimigos natu-
rais;
- Evitar utilização de grade como capina, pois a poeira favorece o desenvol-
vimento de cochonilha de carapaça.

b) Controle biológico: Há poucos estudos realizado sobre os inimigos


naturais de A. tubercularis no Brasil. Entretanto, a África do Sul fez a
introdução de besouros do gênero Cybocephalus, principalmente
Cybocephalus binotatus (Coleoptera: Nitidulidae) e vespinhas do gênero
Aphytis (Hymenoptera: Aphelinidae) originários da Tailândia, em 1995. Os
inimigos naturais de outras cochonilhas de carapaça são bastante conheci-

363
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

dos no Brasil e não apresentam grande especificidade. Assim, acredita-se


que crisopídeos, cocccinelídeos, aracnídeos e afelenídeos migrem para cul-
tura de manga e exerçam efetivo controle biológico, sem estar cientifica-
mente registrado. Com isso, abre-se uma vasta área de pesquisa para iden-
tificar e verificar a eficácia de inimigos naturais que atuam sobre A.
tubercularis em mangueira.

c) Químico: Utilização de óleo vegetal de 0,5 a 1,0%.

3.3. Besouro-amarelo

Nome científico: Costalimaita ferruginea (Fabr., 1801) (Coleoptera,


Chrysomelidae)

Importância econômica: É uma praga severa durante a implantação e a


formação dos pomares, devido à migração dos adultos originados de plan-
tas vizinhas. Outro fator de agravamento é o besouro amarelo poder devo-
rar toda a vegetação nova em poucos dias, inibindo o desenvolvimento da
planta.

Hospedeiros: Trata-se de uma praga polífaga, que ataca desde


monocotiledôneas, dicotiledôneas e até algumas de Coniferae (Pinus, por
exemplo). Usualmente, se alimenta de folhas, mas, as flores, os ramos no-
vos e as frutificações também fazem parte do seu cardápio. Como resulta-
do, tornam-se praga em árvores frutíferas, algodão, café, cacau, videira,
batata doce, erva-mate, legumes, cereais, cana-de-açúcar, soja, quiabeiro,
eucaliptos, pinus, palmáceas, seringueira, acácia e outras.

Descrição e biologia: É um besouro com aproximadamente 5 a 6,5 mm de


comprimento por 3 a 3,5 mm de largura; a coloração dorsal é amarelo-pardo
brilhante e a região ventral, alaranjada. Tem a forma de ovo e se joga no
solo com freqüência, ao ser observado. O adulto alimenta-se principalmente
do limbo foliar e a larva, das raízes de gramíneas. A fêmea faz apenas uma
postura contendo, em média, 90 ovos de coloração amarela e aspecto bri-
lhante. O período de incubação é de 8 a 9 dias. A larva vive no solo, o que
dificulta sua observação. Até o momento são conhecidos apenas dois está-

364
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

dios de desenvolvimento no período larval (1o e 2o ínstares), sendo que o


primeiro instar dura cerca de 19 dias e o segundo cerca de 35 dias. Esse
besouro tem ciclo anual.

Danos: São mastigadores e devoram as folhas da mangueira, deixando-as


perfuradas ou rendilhadas. Quando o ataque é intenso, prejudica o desen-
volvimento da planta, por reduzir sua capacidade fotossintética, principal-
mente quando a árvore é nova.

Condições favoráveis e período crítico: A época de incidência da praga


é nos meses da primavera, logo após a ocorrência de chuvas suficientes
para ocasionarem um bom molhamento (mais de 20 mm), quando os adultos
emergem do solo. O período crítico se inicia cerca de 5 dias após estas
chuvas, prolongando-se até março do ano seguinte.

Monitoramento e nível de ação: Como se trata de praga de ocorrência


esporádica, cujos danos dependem da idade do pomar, não se faz
monitoramento em pomares adultos. Em plantios novos, com até 4 anos de
idade, o monitoramento deve ser feito rotineiramente, examinado-se um
número de plantas proporcional ao tamanho do parcela, conforme a Tabela
5. Faz-se a inspeção na periferia do pomar, pois normalmente, o ataque da
praga começa de fora para dentro. Os dados dessa inspeção deverão ser
registrados em ficha própria, cujo modelo é apresentado na Figura 10. O
nível de ação será alcançado quando 10% das plantas inspecionadas esti-
verem infestadas pelo besouro. Planta infestada é aquela que concentra
grande quantidade da praga.

Manejo:
a) Cultural: O solo deve ser mantido vegetado na entrelinha, visando gerar
abrigo e proteção aos inimigos naturais, principalmente na instalação e ma-
nutenção de pomares novos.

b) Controle biológico: O predador Supputius cincticeps (Hemiptera:


Pentatomidae) é relatado como atuante no seu controle. Como o besouro
passa parte do ciclo no solo, ele está sujeito ao ataque de todos os inimigos
naturais que sobrevivem neste nicho agro-ecológico. Há relato da sua

365
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

predação por Tynacantha marginata (Hemiptera: Pentatomidae), Arilus


carinatus (Hemiptera: Reduviidae), Misumenops pallens (Araneae:
Thomisidae), Peucetia sp. (Araneae: Oxyopidae) e pelos fungos
entomopatogênicos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae var.
anisopliae.

d) Químico: Não há referência específica sobre o controle desta espécie,


porém, as plantas podem ser pulverizadas com inseticidas organo-fosforados.

4. OUTRAS PRAGAS E SEUS INIMIGOS NATURAIS

Além das pragas relacionadas anteriormente, a cultura da manga pode


ser atacada por outros insetos e ácaros, considerados como pragas secun-
dárias ou eventuais. Entretanto, os seus surtos poderão acontecer em de-
corrência de desequilíbrios provocados pelo manejo inadequado da cultura
ou em função de combinações de fatores climáticos altamente favoráveis a
esses organismos. Na Tabela 8, estão listadas 37 espécies de pragas já
registradas, causando danos à mangueira (MARICONI, 1976; CUNHA et
al., 1993; NASCIMENTO e CARVALHO, 1998; HAJI et al., 2001; GALLO
et al., 2002; CLAPS e WOLFF, 2003; MOREIRA, 2004).
Conforme já mencionado, o MIP é um sistema de aplicação regional,
adequado às condições ecológicas da região e como exemplo, a Tabela 6
mostra os níveis de ação aplicados para tomada de decisão no controle das
pragas, tanto das principais como das secundárias e eventuais que ocorrem
no Vale do São Francisco. O modelo de ficha de inspeção apresentado
(Figura 10), além de monitorar as pragas principais, também permite ava-
liar as outras pragas que possam vir a ocorrer na cultura.
Os inimigos naturais das pragas da mangueira têm sido muito pouco
estudados, com exceção da moscas-das-frutas que é uma praga geral em
Fruticultura. O pouco que existe relatado ocorre em outros países, ou quan-
do ocorre no Brasil, está relacionado à praga em outra cultura (Tabela 7).
Quanto aos produtos registrados atualmente para o controle das pragas da
mangueira no Brasil, os mesmos contemplam basicamente as pragas consi-
deradas secundárias ou eventuais, com exceção novamente das moscas-
das-frutas (Tabela 9).

366
PRODUÇÃO INTEGRADA DE MANGA - SP
FICHA DE INSPEÇÃO DE PRAGAS E INIMIGOS NATURAIS
Plantas ou armadilhas inspecionadas No % ou Observações
Pragas MAD
Q/F 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Moscas-das-Frutas F
1 LEGENDA:
2
Cochonilha Q = quadrantes
3
4 (1, 2, 3, 4)
Besouro-amarelo
1 F = frascos
2 caça-moscas
Oídio
3
s = sintomas
4
1
S = sim
Bacteriose 2
3 O = ovo
4
Seca da Mangueira L = larva
Malformação Floral
Outras Pragas N = ninfa
Inimigos Naturais /// /// /// /// /// /// /// /// /// /// /// /// /// /// /// /// /// /// //////// //////// //////////////////////
Joaninhas L A = adulto
A
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

O MAD =
Crisopídeos
L mosca/armadilha
(bicho-lixeiro) /dia
A
Percevejos N
Outras Pragas =
predadores A A = ácaro
Moscas predadoras L P = percevejo
(sirfídeos e outras) A T = tripes
Ácaro predador A
Aranhas A
Vespinhas ou Vespas A
Data: _____/_____/_____ Parcela: _________ Estado fenológico: __________________________________ Inspetor:________________________

Figura 10. Modelo de ficha de amostragem utilizada no monitoramento das pragas e inimigos naturais na

367
cultura da manga.
Tabela 6. Métodos de amostragem e níveis de ação para as pragas da mangueira no Vale do São Francisco

368
(MOREIRA, 2004)
Local da planta a
Praga Método de amostragem Nível de ação
ser inspecionado
Moscas-das-frutas
Utilização de armadilhas
(Anastrepha spp. e - 1mosca/armadilha/dia
McPhail ou Jackson
Ceratitis capitata)
Brotações Presença da praga ou danos 10% de brotações infestadas
Folhas novas Presença da praga ou danos 10% de folhas novas infestadas
Mosquinha (Erosomyia
Ramos Presença da praga ou danos 10% dos ramos infestados
mangiferae)
Panículas Presença da praga 2% de panículas infestadas
Frutos Presença da praga 2% de frutos infestados
Microácaro-da-
Presença de superbrotamento 5% do ramos com
mangueira Brotações
vegetativo superbrotamento
(Eriophyes mangiferae)
Efetuar batedura em bandeja
Ramos plástica branca de ramos com 40% de ramos infestados
brotações e/ou folhas novas
Tripes (Selenothrips
Efetuar batedura em bandeja 10% de panículas com 10 ou
rubrocinctus) Panículas
plástica branca mais tripes
Efetuar batedura em bandeja 10% de panículas com 10 ou
Frutos
plástica branca mais tripes
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Microlepidópteros da Efetuar batedura em bandeja


Panículas 10% das panículas infestadas
inflorescência plástica branca
Brotações Presença da praga ou danos 30% das brotações infestadas
Pulgões Folhas Presença da praga ou danos 30% das folhas infestadas
Panículas Presença da praga 30% de panículas infestadas
Tabela 7 . Inimigos naturais relatados para as pragas secundárias da mangueira
Praga Inimigos naturais
No Brasil, para a cultura dos citros, são citados os seguintes inimigos naturais, os
quais, teoricamente, também poderiam ser encontrados nos pomares de manga: os
predadores Chrysoperla sp. (Neuroptera: Chrysopidae) (RODRIGUES et al.,
1997), Pentilia egena Muls. (Coleoptera: Coccinellidae) (RODRIGUES et al.,
Pinnaspis aspidistrae 1996), Scymnus sp., Coccidophilus citricola Brèthes e Hyperaspis notata
(Coleoptera: Coccinellidae), além dos parasitóides Arrhenophagus sp.
(Hymenoptera: Encyrtidae), Pteroptrix sp., Cales sp., Encarsia sp. (Hymenoptera:
Aphelinidae) (RODRIGUES & CASSINO, 2004) e Aphytis lingnanensis Compere
(Hymenoptera: Aphelinidae) (RODRIGUES, 2001).
Não há referências no Brasil. Dennill (1992), na África do Sul, citou a predação
de S. rubrocinctus e Heliothrips haemorrhoidalis (Bouché) por Orius thripoborus
(Hemiptera: Anthocoridae). Na Costa Rica, Coto e Saunders (2003) citaram que
uma outra espécie de tripes, Thrips palmi Karny, que pode ser atacada pelos
seguintes inimigos naturais: Orius insidiosus (Say) (Hemiptera: Anthocoridae),
Selenothrips rubrocinctus
Cycloneda sanguinea (L.) (Coleoptera: Coccinellidae), crisopídeos e os fungos
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

entomopatogênicos Beauveria bassiana (Bals.), Lecanicillium lecanii Zare &


Gans e Hirsutella sp. Bennett et al. (1993) citam Goetheana shakespearei
(Hymenoptera: Eulophidae) como parasitóide de tripes na Flórida (EUA) e
Guadalupe (Equador).
Podem ser predadas por percevejos reduvídeos, como Apiomeris pictipes Herrich-
Trigona spp.
Schaeffer, na Costa Rica, segundo Coto e Saunders (2003).

369
Tabela 8. Relação dos insetos e ácaros associados a cultura da mangueira (Mangifera indica)

370
Espécie Nome comum Danos Hospedeiros
Acari
Actinedida (Prostigmata)
Família Eriophyidae
1.Eriophyes mangiferae (Sayed, 1946) - Microácaro-da-mangueira - Brotações e inflorescências - Mangueira
Insecta
Coleoptera
Família Cerambycidae
2. Chlorida festiva (L., 1758) - Coleobroca - Ramos e troncos - Polífaga
Família Chrysomelidae
3. Crimissa cruralis Stal, 1858 - Besouro-vermelho - Folhas - Mangueira e cajueiro
4. Costalimaita ferruginea (Fabr., 1801) - Besouro-amarelo - Folhas - Polífago
5. Sternocolaspis quatuordemcicostata (Fefèvre, 1877) - Besouro-de-limeira - Folhas - Polífaga
Família Scolytidae
6. Hypocryphalus mangiferae (Stebbing, 1914) - Broca-da-mangueira - Ramos e troncos - Mangueira
Diptera
Família Cecidomyiidae
7. Erosomyia mangiferae Felt - Mosquinha - Botões florais e brotações - Mangueira
Família Tephritidae
8. Anastrepha fraterculus (Wied., 1830) - Mosca-das-frutas - Frutos - Polífaga
9. Anastrepha obliqua (Macquart, 1835) - Mosca-das-frutas - Frutos - Polífaga
10. Ceratitis capitata (Wied., 1824) - Mosca-do-mediterrâneo - Frutos - Polífaga
Hemiptera
Família Aetalionidae
11. Aetalion reticulatum (L., 1767) - Cigarrinha-das-frutíferas - Ramos e inflorescências - Polífaga
Família Aphididae
12. Aphis craccivora Koch, 1854 - Pulgão - Folhas e brotações - Polífaga
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

13. Aphis gossypii Glover, 1877 - Pulgão - Folhas e brotações - Polífaga


14. Toxoptera aurantii (Boyer de Fonsc., 1841) - Pulgão - Folhas e brotações - Polífaga
Família Coccidae
15. Ceroplastes sp. - Cochonilha-de-cêra - Ramos - Polífaga
16. Saissetia coffeae (Walker, 1852) - Cochonilha-parda - Ramos e folhas - Polífaga
Continua...
...Continuação
Família Diaspididae
17. Abgrallaspis cyanophylli (Signoret, 1869) - Cochonilha - Folhas - Polífaga
18. Acutaspis paulista (Hempel) - Cochonilha - Folhas - Polífaga
19. Aspidiotus destructor Sign., 1869 - Cochonilha - Folhas - Polífaga
20. Aulacaspis tubercularis (Newstead, 1906) - Cochonilha-branca - Tronco, ramos, folhas, frutos - Polífaga
21. Chrysomphalus aonidum (Linnaeus 1758) - Cochonilha-cabeça-de-prego - Folhas - Polífaga
22. Chrysomphalus dictyospermi (Morgan, 1889) - Cochonilha-cabeça-de-prego - Folhas - Polífaga
23. Diaspis boisduvalii Signoret, 1869 - Cochonilha - Folhas - Polífaga
24. Hemiberlesia lataniae (Signoret, 1869) - Cochonilha-amarela - Folhas - Polífaga
25. Howardia biclavis (Comstock, 1833) - Cochonilha - Tronco e ramos - Polífaga
26. Mycetaspis personata (Comstock, 1883) - Cochonilha - Folhas - Polífaga
27. Pinnaspis aspidistrae (Signoret, 1869) - Cochonilha-escama-farinha - Tronco, ramos e folhas - Polífaga
28. Pseudaonidia trilobitiformis (Green, 1896) - Cochonilha-de-escama - Folhas - Polífaga
Família Pseudoccidae
29. Pseudococcus adonidum (L., 1762) - Cochonilha-pulverulenta - Ramos, folhas e frutos - Polífaga
Hymenoptera
Família Apidae
30. Trigona spinipes (Fabr., 1793) - Irapuá - Folhas novas e flores - Polífaga
Família Formicidae
31.Acromyrmex spp. - Quenquéns - Folhas - Polífaga
32. Atta spp. - Saúvas - Folhas - Polífaga
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

Lepidoptera
Família Megalopygidae
33. Megalopyge lanata (Stoll-Cramer, 1780) - Lagarta-de-fogo - Folhas - Polífaga
Família Psychidae
34. Oiketicus kirbyi (Lands-Guild., 1827) - Bicho-cesto - Folhas - Polífaga
Thysanoptera
Família Thripidae
35. Frankliniella schultzei Trybom, 1920 - Tripes - Folhas e brotações - Polífaga
36. Selenothrips rubrocinctus - Tripes - Folhas - Polífaga

371
Tabela 9. Inseticidas e acaricidas registrados para o controle de pragas na cultura da mangueira

372
Dose
Igrediente Ativo Produto Comercial Indicação
(ml ou g p.c. /100 L d’água)
Abamectina Vertimec 18CE 100 Pinnaspis aspidistrae (cochonilha-escama-farinha)
Bifentrina Talstar 100EC 30 Selenothrips rubrocinctus (tripes)
Carbosulfano Marshal 400SC 75 Selenothrips rubrocinctus (tripes)
Enxofre Sulficamp 700 Eriophyes mangiferae (microácaro-da-mangueira)
Aetalion reticulatum (cigarrinha-das-frutíferas)
Fenitrotiona Sumithion 500CE 150 Megalopyge lanata (lagarta-de-fogo)
Selenothrips rubrocinctus (tripes)
Anastrepha fraterculus (mosca-das-frutas)
Ceratitis capitata (mosca-do-mediterrâneo)
Lebaycid EC 100
Megalopyge lanata (lagarta-de-fogo)
Selenothrips rubrocinctus (tripes)
Fentiona
Anastrepha fraterculus (mosca-das-frutas)
Ceratitis capitata (mosca-do-mediterrâneo)
Lebaycid 500 100
Megalopyge lanata (lagarta-de-fogo)
Selenothrips rubrocinctus (tripes)
Anastrepha fraterculus (mosca-das-frutas)
100 Ceratitis capitata (mosca-do-mediterrâneo)
Parationa-metílica Bravik 600CE
Megalopyge lanata (lagarta-de-fogo)
70 Selenothrips rubrocinctus (tripes)
Quinometionato Morestan BR 75 Eriophyes mangiferae (microácaro-da-mangueira)
Anastrepha fraterculus (mosca-das-frutas)
Triclorfom Dipterex 500 300 Ceratitis capitata (mosca-do-mediterrâneo)
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Megalopyge lanata (lagarta-de-fogo)


Bio Trimedlure - Ceratitis capitata (mosca-do-mediterrâneo)
Trimedlure
Bioceratitis - Ceratitis capitata (mosca-do-mediterrâneo)
Fonte: Agrofit/Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, www.agricultura.gov.br, outubro/2004
Manejo Integrado de Pragas na Cultura da Manga

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376
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS


DA MANGUEIRA
Laércio Zambolim1,
Nilton T. V. Junqueira2

A história do manejo integrado teve início com as pragas. A partir de


1930, por mais de quatro décadas o controle de pragas e, até certo ponto o
controle de doenças, tinha por objetivo erradicar os insetos-praga e patógenos.
Naquela época, quando se falava em erradicação, o sentido era o de elimi-
nar completamente o agente nocivo, o contrário do conceito moderno que é
o de redução da população inicial e manutenção da população em equilíbrio,
visando convivência harmônica dos agentes nocivos com as plantas e meio
ambiente.
No passado, o controle de pragas baseava-se no método de aplica-
ção em larga escala e continuada de inseticidas, devido ao baixo custo e
largo espectro. Entretanto, com o tempo verificou-se que essa prática era
inadequada por provocar contaminação no agroecossistema causando des-
ta maneira, seu desequilíbrio. Espécies tornaram-se resistentes com o con-
seqüente ressurgimento de espécies previamente controladas, surtos epidê-
micos de pragas historicamente de importância secundária e redução da
população de insetos benéficos. Além disto, passaram a ser observadas
efeitos deletérios em animais selvagens, domesticados, homem, bem como
acúmulo de resíduos tóxicos no solo, na água e nos alimentos.
Entretanto, progressos eram obtidos durante esse período devido: 1-a
formulação da teoria do controle biológico, com seus predadores, parasitas
e métodos de controle populacional; 2-o conceito da manutenção dos inse-
tos em níveis economicamente toleráveis, por meio do manejo do ecossistema,
baseado num maior conhecimento de ecologia aplicada e de dinâmica
populacional. Nas décadas de 50 e 60, surgiu o conceito integrado de
controle de pragas, cuja característica é empregar com maior amplitude
as táticas de controle dos agentes nocivos. De acordo com Stern et al.

1
Departamento de Fitopatologia, Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, 36.571.000.
[email protected]
2
EMBRAPA-CPAC, CxPostal 08223, CEP 73.301-970, Planaltina, DF.

377
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

(1959), entende-se por controle integrado, como “o controle aplicado de


pragas que combina e integra os controles químico e biológico”. Com o
passar dos tempos, esse conceito tornou-se mais abrangente, até chegar à
definição adotada pela FAO(1968): “Controle integrado é definido como
um sistema de manejo de organismos nocivos que utiliza todas as técnicas e
métodos apropriados da maneira mais compatível possível para manter as
populações de organismos nocivos em níveis abaixo daqueles que causam
injúria econômica” Por esta definição, o controle integrado visa a integração
de todas as técnicas apropriadas de manejo com os elementos naturais
limitantes e reguladores do ambiente.
Neste período, surgiu uma consciência ecológico-ambiental, em fun-
ção muitos programas de erradicação química não terem tido resultados
satisfatórios. Daí, começou a ser desenvolvida uma filosofia ainda mais
abrangente, denominada de manejo integrado de pragas. A partir da dé-
cada de 70, foi proposto o termo manejo integrado de doenças por
Chiarappa em 1974. O termo Manejo implica na “utilização de todas as
técnicas disponíveis dentro de um programa unificado, de tal modo a manter
a população de organismos nocivos abaixo do limiar de dano econômico e a
minimizar os efeitos colaterais deletérios ao meio ambiente” (NAS, 1969).
Ainda no final da década de 60, foi emitido o conceito de limiar
econômico de dano (LED) como sendo “a menor densidade populacional
que causa dano econômico” (Stern et al.,1959; Zadoks, 1985). Na década
de 80, o LED foi refinado por vários autores, inclusive por Mumford &
Norton (1984), que o definem como “o nível de ataque do organismo nocivo,
no qual o benefício do controle iguala seu custo”.
Portanto, o controle integrado se diferencia do manejo integrado, de-
vido ao fato de o primeiro LED ser função apenas de considerações econô-
micas e o segundo não só de considerações econômicas, mas também de
aspectos ecológicos, de difícil quantificação. Além disto, no manejo integra-
do, há que se considerar o aspecto sociológico, isto é toda e qualquer medi-
da a ser adotada deve buscar o bem estar da sociedade que irá consumir os
produtos agrícolas produzidos. Kogan (1984) e Luckmann & Metcalf (1994)
definiram Manejo Integrado como sendo: “a escolha e o uso inteligente
de táticas de controle que produzirão conseqüências favoráveis dos pontos
de vista econômico, ecológico e sociológico”.Portanto, o Manejo Integra-
do é a otimização do controle de pragas de maneira lógica, tanto econômica

378
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

quanto ecologicamente. Isso é conseguido por meio do uso compatível de


diversas táticas, de modo a manter a redução da produção abaixo do limiar
de dano econômico, sem, ao mesmo tempo, prejudicar o homem, os animais,
as plantas e o ambiente. Na produção vegetal, o Manejo Integrado deve
assegurar uma agricultura forte e um ambiente viável. Na saúde pública,
deve assegurar a proteção do homem e de seus animais domésticos, além
de manter adequado, o ambiente onde vivem.
As décadas de 80 e 90 têm testemunhado importantes avanços na
aceitação da filosofia do manejo integrado de pragas e doenças (Zadoks,
1993). Entretanto, apesar de ser pedra fundamental do controle e do Mane-
jo Integrados, o LED, em qualquer das duas abordagens, no controle de
doenças, raramente tem sido cientificamente estimado. Segundo Lopes et
al., 1994, nem sempre há relação entre intensidade de doença e dano. Dano
é entendido como sendo redução na produção. Portanto, a determinação da
função de dano é imprescindível, mas difícil.
O Manejo Integrado envolve três aspectos principais: 1- determi-
nar como o ciclo vital de um patógeno precisa ser modificado, de modo a
mantê-lo em níveis toleráveis, ou seja, abaixo do limiar de dano econômico;
2-combinar o conhecimento biológico com a tecnologia disponível para al-
cançar a modificação necessária, ou seja, exercer a ecologia aplicada; 3-
desenvolver métodos de controle adaptados às tecnologias disponíveis e
compatíveis com aspectos econômicos e ecológico-ambientais, ou seja, con-
seguir aceitação econômica e social (Geier, 1966).
No Manejo Integrado, procura-se evitar o que se denomina de
síndrome do pesticida (Doutt & Smith, 1971). Neste contexto, a falha do
controle químico é remediada pela intensificação do próprio controle quími-
co. Há também a síndrome da resistência (Zadoks & Schein, 1979).
Neste caso, a vulnerabilidade genética às doenças é combatida com genes
de resistência que aumentam a vulnerabilidade genética a essas doenças.
Há ainda dois outros limiares, pertinentes à filosofia do manejo inte-
grado de acordo com Zadoks & Schein, (1979). O Limiar de ação é defi-
nido como “a severidade de doença na qual medidas de controle necessitam
ser tomadas para impedir que o limiar de dano econômico seja excedido”. O
Limiar de aviso tem por objetivo dar tempo ao agricultor para que o produ-
to químico a ser aplicado seja comprado e as máquinas preparadas, no caso
específico de uma ação de controle químico. Para os fungicidas sistêmicos,

379
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

geralmente o limiar de ação é mais alto, e para os protetores convencionais


mais baixo.
O controle supervisionado demanda a orientação de um especia-
lista e tem por objetivo principal a racionalização do uso de fungicidas, de
acordo com sistemas baseados no monitoramento da doença e no limiar de
dano econômico. O controle supervisionado, na maioria das vezes, envolve
somente o controle químico (Chiarappa em 1974), daí ter um escopo mais
estreito que o manejo integrado (van Leiteren, 1993; Wijnands & Kroonen-
Backbier, 1993). O calendário fixo de atomizações é o oposto do controle
supervisionado.
Uma ampliação do escopo do Manejo Integrado proposta é o Mane-
jo Integrado da Cultura (MIC) (FAO, 1991). O “Manejo integrado da
cultura envolve todas as atividades do sistema de produção e é composto
por diversas atividades de manejo, cada uma focalizando um aspecto parti-
cular do sistema, como manejo integrado de pragas, manejo integrado de
nutrientes, manejo integrado da água, etc. O manejo integrado da cultura
trata do manejo do sistema de produção e visa otimizar o uso dos recursos
naturais, reduzir o risco para o ambiente e maximizar a produção. Os obje-
tivos de um determinado sistema de manejo são dependentes dos recursos
naturais, socioeconômicos e tecnológicos e de suas inter-relações”.
Seja qual for o sistema a ser adotado, se manejo integrado de pragas
e doenças ou um sistema mais abrangente de manejo integrado da cultura, o
que se procura é a obtenção de: 1-maior estabilidade da produção; 2-padro-
nização de procedimentos de controle integrado; 3-exploração de novas áreas
agricultáveis ou a exploração de áreas velhas com novas culturas; 4-maio-
res rapidez e flexibilidade na resposta a surtos epidêmicos de pragas e
patógenos; 5-menor agressão ao meio ambiente.
A ciência fitopatológica sempre esteve mais próxima da filosofia do
controle integrado que da erradicação. Desde a década de 20, Fawcett &
Lee (1926) lançaram a seguinte frase:”Na prevenção e no tratamento de
doenças, dois aspectos devem sempre ser considerados: a eficiência dos
métodos e seus custos. É óbvio que o custo do método empregado deve ser
menor que o prejuízo causado pela doença”. Esta frase escrita há quase 78
anos antecipa o aspecto econômico, uma das idéias básicas do controle
integrado.

380
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

Portanto, há inúmeras razões para se preferir manejo a controle. Entre


as razões: (1) controle transmite a idéia de um grau de dominância sobre o
agroecossistema que é inatingível pelo homem; (2) controle dá ao agricultor
uma impressão de falha do sistema quando a doença, previamente controla-
da, volta ao nível de dano; (3) o agricultor nem sempre tem em mente que
medidas de controle são aplicadas para reduzir o dano e não para destruir os
organismos causais; (4) manejo, ao contrário de controle, admite que os
patógenos são componentes inerentes do agroecossistema e que devem ser
tratados numa base racional e contínua; (5) manejo, ao contrário de contro-
le, baseia-se no princípio de se manter a doença abaixo do limiar de dano
econômico ou de, pelo menos, minimizar ocorrências acima daquele limiar.
Sugere, portanto, a necessidade de contínuo ajuste do sistema; (6) manejo,
por se basear no conceito de limiar de dano econômico, enfatizando a
minimização do dano em detrimento da erradicação total e estando, assim,
menos sujeito a mal entendidos (Apple 1977).

Utilização do Limiar Econômico de Dano (LED) em fruteiras tropi-


cais

Inúmeras fruteiras tropicais são afetadas por doenças foliares. Tais


doenças reduzem a fotossíntese da folha e podem vir a comprometer a
produção. Para o controle de tais tipos de doenças pode-se utilizar o LED.
As táticas de controle só seriam aplicadas se o LED for atingido. No siste-
ma integrado de produção de frutíferas, essa abordagem vem sendo utiliza-
da pelos técnicos e produtores na cultura da maçã, pera, mamão, manga e
outras

Utilização do Período Crítico de Infecção (PCI) em fruteiras tropi-


cais

A produção de frutas para consumo in natura implica, via de regra,


em frutos totalmente sadios, sem lesão alguma. Uma única lesão já é sufici-
ente para inviabilizar o comércio, principalmente em casos de mercados
exigentes. Assim, em condições de campo, o que se faz é a tomada de
decisão com base no período crítico de infecção (PCI), tendo a abordagem
do LED pouca aplicação.
381
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Na cultura da manga, a antracnose causada por Colletotrichum


gloeosporioides é a principal doença da cultura. A sua distribuição é gene-
ralizada, ocorrendo em todas as regiões produtoras de manga do País, em
épocas quentes e úmidas, enquanto em locais de temperaturas amenas, as-
sume menor importância. A doença manifesta-se nas folhas novas e nos
frutos, depreciando-os para o comércio. A severidade da doença está inti-
mamente relacionada com as condições climáticas e com o desenvolvimen-
to fenológico da planta. O pleno conhecimento desses fatores na região de
cultivo é fundamental para possibilitar o uso de medidas eficientes e seguras
de controle.
A seguir, são descritos os principais fatores agravantes de doenças
na cultura da manga e como minimizar seus efeitos para se ter sucesso no
manejo das doenças.
Os princípios e as medidas de controle devem ser empregados de
acordo com cada patossistema e com as condições ambientais de cada
região produtora ou até do local, sendo sempre recomendando que se apli-
que o maior número de medidas.
O manejo integrado das doenças da manga requer um conjunto de
princípios e medidas que se aplicam visando o patógeno, o hospedeiro e o
ambiente, eliminando-se ou reduzindo-se o inóculo inicial e/ou pela redução
da taxa de infecção. Os princípios que visam a eliminação e redução do
inóculo inicial são a exclusão, a erradicação, a terapia (quimioterapia,
termoterapia, podas e cirurgia) e a resistência vertical; aqueles que redu-
zem a taxa de infecção das doenças são a resistência horizontal, a proteção
e a evasão ou escape.
A seguir, serão discutidos os fatores que predispõem ao ataque de
patógenos que incidem na cultura da manga e os princípios e as táticas de
controle dessas doenças.

FATORES QUE PREDISPÕEM A MANGUEIRA A DOENÇAS

1-FATORES RELACIONADOS AO CLIMA

Os fatores do clima que mais se relacionam com a incidência e a


severidade das doenças na manga são: temperatura, precipitação
382
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

pluviométrica, umidade relativa, duração do molhamento foliar e ventos for-


tes. Antes da implantação do pomar, torna-se importante consultar publica-
ções sobre o zoneamento agroclimático da região. Regiões onde predomi-
nam clima quente e estresse hídrico desfavorecem doenças denominadas
antracnoses.

2-FATORES RELACIONADOS AO SOLO - IMPEDIMENTO


FÍSICO

Solos com deficiência de drenagem e com impedimento físico devem


ser evitados. O acúmulo de umidade favorece patógenos habitantes do solo
como espécies de Phytophthora e Pythium.

3-FATORES RELACIONADOS AO SOLO - IMPEDIMENTO


QUÍMICO (ACIDEZ E BAIXA FERTILIDADE)

Solos ácidos devem ser corrigidos de acordo com as exigências da


cultura, antes da implantação. Após, a cada dois anos deve-se fazer análise
do solo para saber se necessita ser corrigido ou não com calcário. Entretan-
to, deve-se tomar o cuidado com a quatidade de calcário a ser empregada.
Excesso de calcário (pH >7,0) indisponibiliza a maioria dos micronutrientes,
altera a fauna e flora do solo e pode tornar as plantas suscetíveis a determi-
nadas doenças.
Solos com baixo teor de fósforo devem receber fosfatagem em toda
a área, antes do plantio, pois, após o plantio, essa correção torna-se difícil
devido à sua baixa mobilidade.

4- EMPREGO DE MUDAS DE BAIXA QUALIDADE

A qualidade genética ou fitossanitária da muda reflete diretamente


na qualidade e no sucesso do pomar. As mudas podem disseminar doenças
que podem inviabilizar o pomar, como nematóides, bactérias, fungos de so-
los, e doenças foliares. Dessa forma, o produtor, ao adquirí-las, deve exigir
o certificado fitossanitário de origem;

383
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

5. USO DE PORTA-ENXERTO SUSCETÍVEL ÀS DOENÇAS.

6- PLANTIO DE CULTIVARES SUSCEPTÍVEIS A DOENÇAS E


NÃO ADAPTADAS À REGIÃO

Para escolher uma cultivar bem adaptada, o produtor deve levar em


consideração, além do clima e o solo, a altitude e os estádios fenológicos da
planta. Caso o alvo para a doença sejam flores ou frutos, a variedade/culti-
var escolhida deve florar e desenvolver os frutos no período mais seco e/ou
frio do ano, mesmo que haja necessidade de podas programadas. Como
exemplo, cita-se o caso de frutíferas no Cerrado. Somente as cultivares que
floram de abril a junho (início da estação seca) conseguem escapar da
antracnose e produzir frutos sadios sem o uso de fungicidas.

7- MONOCULTURA

A monocultura facilita a proliferação e a disseminação de doenças.


Sistemas de policultivos ou sistemas de cultivos integrados ou consorciados
entre culturas diferentes ou entre cultivares geneticamente heterogêneas,
diversificam e aumentam as populações de vertebrados, artrópodes não pra-
gas e de microrganismos não patogênicos no rizoplano e fitoplano. Muitos
desses organismos são benéficos por serem simbiontes, predadores de pra-
gas e de agentes fitopatogênicos. Esse fato foi observado por Junqueira e
Gasparotto (1990), em seringueira, e por Aguiar et al. (1998) e EMBRAPA
(2000), em maracujá consorciado com mamão e graviola. O aumento des-
ses organismos benéficos e não pragas, em cultivos de fruteiras intercala-
das acontece em função da suspensão ou redução do volume de defensivos
químicos aplicados no sistema. Em um sistema de cultivo de gravioleira
intercalado com maracujá-azedo e mamão papaya replantados a cada 2,5
anos, verificaram-se, ao longo de 8 anos, aumentos consideráveis na popu-
lação de percevejos e formigas predadores, lagartos (Tropidurus torquatus),
himenópteros, ácaros predadores de fungos, colêmbolas e agentes
polinizadores do maracujazeiro e da gravioleira. É importante ressaltar que
as espécies escolhidas para serem intercaladas com a fruteira não devem

384
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

ser hospedeiras de vetores, patógenos ou pragas que a atacam, não podem


ser muito competitivas e nem produzir efeitos alelopáticos. As palmáceas e
bananeira não são recomendadas para serem consorciadas com culturas
perenes de vida longa, pois são muito competitivas por água e nutrientes.

8. MÉTODO DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO

O sistema de aspersão ou pivô central não adequado para fruteiras


por molhar a parte aérea da planta, acarretando problemas na polinização e
aumentando a incidência de doenças. Por outro lado, reduzem a população
de ácaros. Estes sistemas lavam os defensivos e fertilizantes foliares, fa-
zendo com que os intervalos de aplicação sejam reduzidos, aumentando,
dessa forma, o volume de defensivos e o custo de produção. Neste caso,
para reduzir a incidência ou severidade das doenças, recomenda-se que a
irrigação seja feita pela manhã para dar tempo suficiente para as folhas
secarem antes da noite. O sistema de microaspersão distribui bem a água,
mas aumenta a incidência de ervas daninhas. O sistema de gotejamento não
distribui bem a água e aumenta a incidência de podridão de raízes, caso os
emissores sejam colocados muito perto do tronco. O excesso de água du-
rante a irrigação aumenta a incidência de doenças e lixivia os nutrientes.

9. ORIENTAÇÃO DO POMAR EM RELAÇÃO À POSIÇÃO DO


SOL E VENTOS

Plantios no sentido norte-sul provocam queimadura dos frutos, pois


ficam sujeitos ao sol da tarde, aumentando a incidência de doença.

10. DEFICIÊNCIA DE MATÉRIA ORGÂNICA

Geralmente, os solos são pobres em matéria orgânica. A utilização


constante de defensivos e adubos químicos acidifica, saliniza, mineraliza e
esteriliza parcialmente o solo. Como conseqüência, há uma redução na po-
pulação de microrganismos benéficos na rizosfera, como as bactérias de
raízes e micorrizas (Tokeshi, 2001), que podem precipitar e impedir a absor-
ção pela planta, de elementos tóxicos como alumínio e outros. Quimicamen-

385
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

te, a matéria orgânica é a única fonte de N que não se volatiliza e pode


fornecer os 45 minerais de que a planta precisa para ser bem nutrida, en-
quanto a adubação química pode oferecer no máximo, 15 (Primavesi, 2001).
A matéria orgânica tem grande importância no restabelecimento do equilí-
brio da planta e pode tornar as plantas mais tolerantes ao ataque de certas
doenças.

11. ESPAÇAMENTO INADEQUADO

Plantios muito adensados favorecem a incidência de doenças e difi-


cultam o controle.

12. ÉPOCA INADEQUADA DE PLANTIO

No plantio efetuado durante o período seco, as plantas se desenvol-


vem sadias e atingem rapidamente a fase adulta, tornando-se mais toleran-
tes a doenças.

13- DESCONHECIMENTO DA EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS

Conhecer o ciclo e a epidemiologia da doença é de extrema impor-


tância no seu controle e na redução do uso de agroquímicos. Sabe-se que a
incidência de antracnose ocorre de dezembro a março. Dessa forma, as
pulverizações devem ser feitas somente nesse período. Sabe-se também
que o patógeno sobrevive durante o período seco, em ramos mortos e frutos
secos caídos ou remanescentes na planta. A eliminação destes restos de
cultura vai diminuir a densidade do inóculo primário da doença.

14- AUSÊNCIA DE PODAS DE FORMAÇÃO E CONDUÇÃO

As podas devem ser efetuadas para formar copas com arquitetura


desejável para a colheita e tratos fitossanitários (podas de formação) e para
permitir maior arejamento no interior da copa (poda de condução), diminuin-
do a incidência de doenças.

386
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

15- AUSÊNCIA DE PODAS DE LIMPEZA

Essa poda deve ser feita para eliminar os galhos secos e doentes que
servem como fonte de inóculo de doenças e hospedeiros de brocas.

16. FERTILIZANTES EMPREGADOS INCORRETAMANTE

A mangueira possui sistema radicular simples e pouco eficaz. Dessa


forma, quando aplicados em quantidades elevadas de uma só vez, os fertili-
zantes salinizam e acidificam o solo, provocando estresses na planta. Além
desse problema, pode haver o “consumo de luxo”, o que acaba provocando
um desequilíbrio nutricional na planta, predispondo-a ao ataque de patógenos.
Dessa forma, os fertilizantes devem ser aplicados em pequenas quantida-
des a intervalos de 15 a 45 dias.

17-PH DA RIZOSFERA

O uso constante de fertilizantes nitrogenados à base de uréia e sulfa-


to de amônio na rizosfera abaixa consideravelmente o pH do solo. Dessa
forma, a planta reduz ou cessa a absorção de outros elementos essenciais
como o K, P, S, Ca e Mg, mas continua absorvendo em quantidades meno-
res, o nitrogênio. Sendo assim, ocorre desequilíbrio nutricional por excesso
de N, aumentando a susceptibilidade às doenças. A bacteriose e a antracnose
aumentam de intensidade quando o N está em excesso. Para resolver esse
problema recomenda-se uma análise química e física do solo da rizosfera,
fazendo-se a coleta das amostras a 20 e 40 cm de profundidade, a cada dois
anos. De posse desse resultado, fazer uma calagem e uma gessagem na
área. A gessagem na área torna-se importante para prevenir o colapso in-
terno da polpa dos frutos.

18. DESCONHECIMENTO DOS FATORES CLIMÁTICOS QUE


PREDISPÕEM A DOENÇAS

A prevenção da doença em função das condições climáticas é de


extrema importância para o seu controle e para a redução da quantidade de

387
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

defensivos a ser aplicada. Como exemplo, cita-se a manga. Sabe-se que o


período de incidência da antracnose principalmente no Cerrado é de no-
vembro a abril. De maio a outubro, a doença desaparece devido à baixa
umidade. Sendo assim, só há necessidade de aplicações de defensivos de
novembro a abril nessa região.

19-PH DA ÁGUA USADA NAS PULVERIZAÇÕES

A maioria dos defensivos disponível no mercado é mais eficaz em pH


em torno de 5,0. Em muitos casos, a água usada nas pulverizações tem pH
acima de 6,0, o que diminui consideravelmente o sucesso no controle da
doença, levando o produtor a diminuir os intervalos de aplicação. Desta
maneira, recomenda-se o monitoramento do pH da calda fungicida antes da
aplicação, para se verificar se o pH está dentro da faixa ideal para aquele
defensivo.

20. FALTA DE CONHECIMENTO NO USO DE HERBICIDAS

O controle de ervas daninhas é uma prática necessária e importante


no manejo de doenças no pomar. No entanto, o mau uso de herbicidas pode
provocar prejuízos e aumentar a incidência de doenças em fruteiras. Pes-
quisas em andamento vêm mostrando que o uso de glyphosate aplicado em
certas fruteiras mesmo com protetor de derivas, provoca queda de flores e
acelera a maturação de frutos, diminuindo o tamanho e o rendimento de
polpa, quando comparado à capina manual e ao mulching com lona de
polietileno preto de 1,20 metro em largura. Este herbicida, mesmo em doses
subletais, ativa a síntese do etileno e acelera a maturação dos frutos. Têm
sido verificadas em algumas fruteiras, como o maracujazeiro, alta incidên-
cia de antracnose nos frutos e brotações nas parcelas tratadas com esse
herbicida. Dessa forma, deve-se evitar o uso de herbicidas nos períodos de
floração e desenvolvimento de frutos. Caso não seja possível, utilizar um
protetor de deriva no bico do pulverizador. Esse protetor pode ser feito com
uma bacia de plástico com 40 cm em diâmetro que deve ser acoplada no
bico do pulverizador, conforme descrito por Junqueira et al. (2000a).

388
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

21. USO INDISCRIMINADO DE AGROQUÍMICOS

O uso indiscriminado de agroquímicos pode provocar atrofobiose e


efeitos iatrogênicos (nanismo, enfezamento, clorose, amarelecimento, baixo
índice de vingamento de flores, frutos pequenos) nas plantas, desequilíbrio
biológico e danos ao meio ambiente. O excesso e/ou o uso freqüente de
defensivos sistêmicos, além de provocarem intoxicações, fazem com que a
planta gaste mais energia para se desintoxicar e/ou metabolizar as substân-
cias estranhas ao seu organismo. Como conseqüência, diminuirem a sua
produtividade. Tem-se verificado, em fruteiras tropicais que a utilização
indiscriminada de fungicidas sistêmicos (benomyl e tebuconazole) e prote-
tores (mancozeb, cobre e clorothalonil), em pulverizações a intervalos de 7
e 15 dias, controlou muito bem as doenças (verrugose e antracnose) nos
frutos em comparação com os protetores. No entanto, nas aplicações em
intervalos semanais, os fungicidas sistêmicos podem reduzir o peso dos fru-
tos.

22-PULVERIZAÇÕES FEITAS COM EQUIPAMENTOS E BI-


COS INADEQUADOS E/OU DESREGULADOS

Estima-se que 90% dos pesticidas aplicados não atinjam o alvo, sen-
do dissipados no ambiente. No caso da manga, recomenda-se que as pulve-
rizações de defensivos sejam feitas diretamente sobre os frutos e flores,
tendo em vista que frutos e flores são os principais alvos das doenças. A
aplicação dirigida tem a vantagem de ser mais eficaz, gastar muito menos
defensivo e afetar menos o meio ambiente. Por outro lado, demanda mais
uso de mão-de-obra, que é compensada pelo menor gasto de defensivos.
Colletotrichum gloeosporioides penetra na flor e daí infecta o fruto em
formação permanecendo em estado de dormência até a maturação, ocasião
em que surgem as lesões da antracnose.

389
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

23- REDUÇÃO DA POPULAÇÃO DE INIMIGOS NATURAIS E


PREDADORES

O manejo ecológico de doenças e pragas mantém em equilíbrio a


população de inimigos naturais e predadores no ambiente, o que é desejável.
Aplicar os produtos somente quando a doença ou praga atingir níveis de
danos econômicos ou, preventivamente, quando tiver certeza do apareci-
mento da doença, o que acontece, geralmente, após chuvas prolongadas.

24- CONTROLE DE EROSÃO DENTRO DO POMAR

A erosão no pomar empobrece o solo em nutrientes e matéria orgâ-


nica. Para evitá-la, deve-se manter as ervas daninhas das entrelinhas roçadas
ou utilizar coberturas com adubos verdes. Evitar o uso de grades nas entre-
linhas, pois, além de favorecer a erosão, aumenta a população de
fitonematóides;

25-CUIDADOS DURANTE A COLHEITA, TRANSPORTE E NO


ARMAZENAMENTO DAS FRUTAS

Ferimentos provocados durante as etapas de colheita, transporte e


armazenamento servem de porta de entrada para fungos apodrecedores.
Dessa forma, deve-se evitar qualquer tipo de ferimento no fruto e fazer os
tratamentos recomendados para a pós-colheita. Se possível, utilizar a
termoterapia e/ou defensivos alternativos não tóxicos. Alguns autores (Storch
et al. 2000, Junqueira et al. 2000) constataram que o leite de vaca, pó de
rocha diatomácea e alguns extratos de plantas oleaginosas tem sido eficaz
no controle de doenças e na preservação de frutos de manga em pós-co-
lheita.

390
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DA MANGUEIRA

As doenças mais importantes da mangueira, são a antracnose


(Colletotrichum gloeosporioides), oídio (Oidium mangiferae), podridão
peduncular do fruto e podridão-seca-dos-ramos (Lasiodiplodia
theobromae), podridão-parda-do-fruto(Dothiorella dominicana), seca da
mangueira (Ceratocystis fimbriata), verrugose (Elsinoe mangifera), man-
cha angular (Xanthomonas campestris pv. mangiferaindica), malformação
da mangueira (Fusarium subglutinans) e colapso interno do fruto (distúr-
bio fisiológico). Além destas doenças, destacam-se as podridões em pós-
colheita causadas por Diplodia sp., Lasiodiplodia theobromae,
Colletotrichum gloeosporioides, Dothiorella ribis e Hendersonula
toruloidea,. A seguir, são descritas as medidas de controle para cada uma
dessas doenças.

ANTRACNOSE

Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc. fase


anamórfica
Glomerella cingulata (Stoneman) Spaul & Schr.
O patógeno pode atacar também: abacateiro, videira, banana, maci-
eira, cajueiro, goiabeira, citros, cana-de-açucar.
A doença causa danos, quando longos períodos de chuva coincidem
com o estado ativo de crescimento e floração da mangueira. Portanto, perí-
odos chuvosos e encobertos com orvalho no período noturno, muito fre-
quentes no inverno na região Sudeste, são favoráveis à antracnose. Em
regiões onde a umidade relativa não ultrapassa 70 %, a doença pode não
surgir nos frutos.
O patógeno infecta tecidos tenros da mangueira, inflorescências, flo-
res e frutos novos. A doença ocorre em regiões com temperatura oscilando
entre 10 ºC a 30 ºC sob condições de alta umidade acima de 90 % por no
mínimo 12 h ou quando as partes aéreas da planta ficam cobertas com água
líquida por no mínimo 10 h. A temperatura acima de 25 ºC é a ideal para a
formação de apressórios do fungo.

391
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O controle da antracnose deve ser feito por meio de uma associação


entre métodos culturais, controle químico, monitoramento do pomar e utili-
zação de variedades resistentes.

1. Monitoramento do pomar

A elaboração de um programa de controle da antracnose varia muito


e depende sobretudo das condições climáticas e da intensidade e freqüência
com que a doença se manifesta. Por essa razão, o produtor deve adotar um
sistema de acompanhamento da doença no campo e das condições climáti-
cas, principalmente nos períodos de floração, frutificação e colheita, de modo
a estabelecer uma estratégia de controle adequada. Se o período de floração
da mangueira ocorrer no mês de julho e se a umidade relativa do ar estiver
abaixo de 65% e a temperatura noturna abaixo de 16 ºC, a infecção por C.
gloeosporioides não é favorecida; se tais condições persistirem até o final
de setembro, seria o ideal, pois nesse período, os frutos não estão mais
suscetíveis à doença. Mas essas mesmas condições climáticas favorecem
a incidência de oídio, que provoca ferimentos nos frutos. Esses ferimentos
servirão de porta de entrada para C. gloeosporioides a partir de outubro,
época em que as condições climáticas tornam-se favoráveis à antracnose.
Dessa forma, o controle do oídio é de extrema importância no manejo da
antracnose.
Outro fator importante no manejo da antracnose consiste no acom-
panhamento das condições climáticas. Como mencionado anteriormente, o
período compreendido entre o estádio de floração e desenvolvimento inicial
dos frutos (de julho até o final de setembro) é aquele considerado de maior
suscetibilidade à antracnose. Assim, a ocorrência de chuvas ou a elevação
da temperatura e da umidade relativa nesse período significam alta incidên-
cia de antracnose e colheita de frutos com injúria. Portanto, imediatamente
após a ocorrência das chuvas, o produtor deve realizar pulverizações com
fungicidas, de acordo com o estádio de desenvolvimento do fruto. Se os
frutos estiverem com mais de 60 dias de idade, não há mais necessidade de
tratamento, pois, após essa idade eles já se tornaram resistentes à penetra-
ção do C. gloeosporioides. Dessa forma, reduz-se consideravelmente o
gasto de fungicidas, pois só seriam recomendados somente nas épocas fa-
voráveis à doença.

392
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

2. Medidas culturais

Os pomares devem ser instalados em regiões com baixa umidade e


promovida a indução de floração, de forma que ocorra produção em épocas
desfavoráveis ao fungo.
Nas regiões onde ocorrem, durante o ano, períodos de elevada umi-
dade relativa, sugere-se realizar o plantio com maior espaçamento, para
favorecer a ventilação e a insolação entre as plantas, bem como podas
leves, para abrir a copa e aumentar a aeração e a penetração dos raios
solares.
Durante os períodos de repouso, recomenda-se proceder às podas de
limpeza, para eliminar os galhos secos, os restos de panículas e os frutos
velhos remanescentes, recolhendo-se, ainda, os caídos. Essas medidas têm
a finalidade de reduzir as fontes de inóculo do fungo na área de plantio.
A aplicação, a lanço, de 23,6 kg de gesso agrícola + 460 g de
superfosfato triplo + 665 g de nitrocálcio + micronutrientes, em 81 m2 ocu-
pados pela projeção da copa de mangueiras da Cv. Tommy Atkins cultiva-
das no Distrito Federal, reduziu significativamente a incidência da antracnose,
da podridão peduncular e do colapso-interno nos frutos. Por outro lado, não
influenciou a incidência do oídio nas flores e da malformação floral.

3. Controle químico

É efetuado mediante pulverizações com fungicidas à base de cobre,


mancozeb e tiofanato metílico, dando-se preferência a produtos sistêmicos
nos períodos chuvosos, devido à sua ação sistêmica. Para evitar possíveis
induções de formas resistentes do patógeno, recomenda-se, a cada duas a
três pulverizações com fungicidas sistêmicos, fazer rotação com outro
fungicida protetor como o mancozeb. Os fungicidas cúpricos são eficazes,
mas só devem ser aplicados antes ou após o florescimento. No entanto, os
fungicidas orgânicos são preferidos no período de floração, por não causa-
rem injúrias nas flores, não provocarem aumento na população de cochonilhas
e não interferirem na ação de insetos polinizadores. O oxicloreto de cobre a
0,5% tem sido sugerido como um possível substituto do mancozeb após o
florescimento.

393
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Nas regiões de clima favorável à antracnosse, a primeira pulveriza-


ção é geralmente efetuada antes do florescimento, quando os botões florais
se apresentam intumescidos. Outras pulverizações devem ser feitas duran-
te o florescimento e a frutificação, em intervalos variáveis de 15 a 20 dias,
de acordo com as condições climáticas e a gravidade da doença.
A alternância de fungicidas de contato e sistêmicos no programa de
pulverização para evitar o aparecimento de estirpes do fungo resistentes ao
fungicida sistêmico deve ser levada em consideração.

4. Resistência varietal

Dentre as cultivares plantadas com vistas ao mercado externo, a


Tommy Atkins e Van Dyke são consideradas as menos suscetíveis à
antracnose. As cultivares Haden, Bourbon e Palmer, de grande aceitação
comercial, são consideradas como bastante suscetíveis. ‘Malikka’,
‘Amrapalli’ e ‘Alfa Embrapa 141’ vêm se comportando como resistentes.

5. Tratamento pós-colheita

O tratamento em pós-colheita consiste na imersão dos frutos em tan-


ques de água à temperatura de 55 °C, durante cinco minutos, em um perío-
do de, no máximo, 24 horas, após a colheita.
Nos pomares sujeitos a surtos epidêmicos, adicionar o fungicida
prochloraz a 0,045% ou 0,055%, acrescentados de detergente (espalhante
adesivo) 0,1% à água quente do tratamento térmico. A finalidade do deter-
gente é remover a cerosidade da casca da manga, para facilitar a penetra-
ção do fungicida no fruto. O thiabendazole também pode ser utilizado. O
tratamento hidrotérmico quarentenário para moscas-das-frutas, utilizado nas
mangas exportadas para os Estados Unidos, também é eficiente no controle
da antracnose, dispensando qualquer outro tipo de tratamento.
Estudos realizados por Junqueira et al.(2000) indicam que a antracnose
da manga na pós-colheita pode ser controlada de forma eficaz, pelo uso de
defensivos naturais. Estes autores trabalhando com frutos das cultivares Haden,
Winter e Kent, verificaram que a imersão dos frutos em extratos de frutos de
sucupira branca (Pterodon pubescens Benth.) a 20ºC e 40ºC, Protego (pó de
diatomito) a 3%, leite de vaca (tipo C) e água a 45ºC, apresentaram eficiência

394
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

semelhante ou superior aos fungicidas padrões recomendados na literatura,


como o thiabendazole a 0,26% aquecido a 45ºC ou 50ºC.
O controle biológico por meio da imersão dos frutos em uma suspen-
são de Bacillus licheniformis a 10.000.000 células/ml foi eficiente no con-
trole da antracnose e podridão-peduncular nas variedades de manga Sensation
e Keitt (Dodd et al. 1997).

Oídio

Oidium mangiferae Bert.


A doença pode causar sérios danos se ocorrer na inflorescência nas
épocas de temperaturas amenas e alta umidade relativa do ar, seguidas de
um brusco período de calor e redução da umidade relativa. Tais condições
são excelentes para a germinação e penetração dos conídios do fungo. Em
regiões semi-áridas do Nordeste do país, a doença pode ocorrer o ano todo.
Os conídios podem germinar numa ampla faixa de temperatura, vari-
ando de 9 ºC a 30 ºC; entretanto, os percentuais ideais para a germinação do
fungo ocorrem na temperatura de 20 ºC e umidade relativa variando de 20
% a 25 %. Níveis epidêmicos ocorrem quando a temperatura estiver na
faixa de 20 a 25 ºC . Quando as partes da planta murcham pelo excesso de
calor ou falta de umidade, os tecidos ficam pouco túrgidos e aí ocorre maior
penetração do fungo. Os conídios não necessitam de um filme de água para
germinar, pois o fungo utiliza as reservas próprias de energia para germinar.
Chuvas desfavorecem a ocorrência da doença.
Para o controle da doença em locais favoráveis, recomendam-se
pulverizações preventivas à base de enxofre molhável 0,4%. O tratamento
deve começar antes da abertura das flores e estender-se até o início da
frutificação. Em geral, são feitas três pulverizações com intervalos de 15 a
20 dias, ou seja, na fase que antecede a abertura das flores, após a queda
das pétalas e durante o pegamento dos frutos. Em regiões onde ocorre o
ataque de ácaros na floração, recomenda-se também uma pulverização com
enxofre durante a fase de intumescimento das gemas florais. Dinocap tam-
bém tem sido recomedado para o controle da doença.
Deve-se evitar a aplicação do enxofre nas horas com temperaturas
mais elevadas. O enxofre pode ser fitotóxico, principalmente para folhas
novas.

395
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Outros fungicidas utilizados no controle da antracnose e de


Lasiodiplodia, como o mancozeb e o tiofanato metílico, têm algum efeito
também sobre o oídio. Dessa forma, em locais onde ocorrem essas outras
doenças, sugere-se a definição de uma estratégia comum de controle.

Resistência varietal

São consideradas tolerantes ao oídio as cultivares Brasil, Carlota, Es-


pada, Imperial, Oliveira Neto, Coquinho, Tommy Atkins, Keitt, Sensation, Alfa
Embrapa 141, Malikka e Amrapalli. Além de serem menos suscetíveis ao
oídio, algumas dessas cultivares produzem frutos que pesam menos que os de
outras espécies e possuem pedúnculos de maior diâmetro, o que lhes permi-
tem permanecer na planta, apesar das lesões provocadas pela doença.

Morte descendente da mangueira e Podridão basal ou


Peduncular do fruto

Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griffon & Maubl.


A lista de hospedeiros é extensa, tais como o cacaueiro, seringueira,
cafeeiro, cana-de-açúcar, milho, fumo, chá, algodoeiro, batata, mamaão,
maracujá, citros, abacateiro e pinha.
As condições favoráveis à infecção situam-se entre temperaturas de
27 °C a 32 °C e umidade relativa do ar superior a 80 %. A fonte de inóculo
para a próxima estação é produzida em frutos apodrecidos na árvore ou no
chão. Uma vez a planta infectada, o fungo pode permanecer nos tecidos
vasculares por anos até que o tecido morra. A disseminação ocorre por
ventos, instrumentos de poda e a penetração na planta ocorre por meio de
aberturas naturais ou ferimentos. Estresse hídrico ou o excesso de água,
deficiência de cálcio e falta de proteção aos ramos podados constituem
portas de entrada para o fungo na planta.
A doença ocorre com maior severidade no semi-árido do nordeste.
Portanto, as medidas de controle devem ser integradas, envolvendo:
a- Vistorias do pomar para se verificar a presença de manchas e desidrata-
ção de ramos, morte dos ramos ponteiros, panículas podadas que não
foram eliminadas nas podas de limpeza e proteção das partes podadas
com fungicidas. Deve-se também ficar atento nas épocas de estresse

396
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

hídrico, indução floral, floração e frutificação do pomar aos primeiros


sintomas da doença.
b) evitar a enxertia de garfos que emitiram inflorescências, principalmente
daqueles com restos de inflorescências remanescentes;
c) na implantação do pomar, utilizar mudas sadias, sem qualquer sinal de
estresse, lesão ou sinal no local da enxertia;
d) adubar adequadamente o pomar no que se refere a macronutrientes (N
P K, Ca, Mg), principalmente Ca e Mg, e a micronutrientes, com ênfase
em B e Zn, durante ou após a colheita;
e) evitar submeter as plantas a estresse hídrico ou nutricional prolongado;
f) aplicar corretamente e na época adequada, os indutores de florescimento;
g) proceder à vistoria periódica do pomar, principalmente nas épocas de
indução floral (áreas irrigadas do Nordeste), de floração e de frutificação;
h) podar e eliminar sistematicamente os ramos, galhos e ponteiros afetados
ou secos que possam favorecer a sobrevivência do fungo no pomar;
i) eliminar todas as plantas mortas ou que apresentem a doença em estágio
avançado, reduzindo o potencial de inóculo no campo;
j) proteger com uma pasta cúprica ou thiabendazole os locais podados e
antes do surgimento das rachaduras dos troncos, a fim de evitar novas
infecções;
k) desinfetar com freqüência as ferramentas de poda com solução de água
sanitária (hipoclorito de sódio) 2%;
l) controlar adequadamente as coleobrocas ou outros insetos que possam
causar nas árvores ferimentos que sirvam de porta de entrada para o
fungo.
Outras medidas de controle são: 1- pulverizar com fungicidas à base
de cobre, tiofanato metilico ou carbendazim e mancozeb indicados para o
controle da antracnose, os quais reduzem a incidência da doença no campo,
desde que sejam iniciadas as pulverizações antes do florescimento e prossi-
gam até a frutificação, em intervalos de 15 a 20 dias, conforme as condi-
ções climáticas e a incidência da doença; 2) para regiões semi-áridas, pul-
verizar com fungicidas à base de thiabendazole 0,24% nos períodos críticos
da cultura na poda, no estresse hídrico, na indução floral, na floração e na
frutificação acompanhadas de uma aplicação de iprodione 0, 20 %. e 3) nas
áreas irrigadas do Nordeste submetidas à indução floral, iniciar as pulveri-
zações durante o estresse hídrico.

397
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Para o controle da podridão-basal ou peduncular do fruto e da


antracnose bem como da moscas-das-fruta, fazer o tratamento em pós-
colheita com água quente à temperatura de 55 °C, durante 60 minutos, com
thiabendazole, detergente (espalhante) 0,1%; entretanto, a eficiência de
controle só é completa se estiver associada a pulverizações na fase de pré-
colheita. Para frutas não destinadas à exportação, recomenda-se o trata-
mento com thiabendazole a 0, 1 % com a finalidade de protegê-las contra a
podridão basal.

Malformação floral e vegetativa

Não se conhece até o momento o verdadeiro agente causal da ano-


malia. Cita-se que ácaros, tripes, micoplasmas, vírus, distúrbios hormonais e
genéticos sejam as causas prováveis. Entre os fungos citados na literatura
destacam-se: Fusarium oxysporum , Fusarium moniliforme var.
subglutinans, Cylindrocarpum mangiferum entre outros. Entre os ácaros,
citam-se: Eriophes mangiferae, Aceria mangiferae considerado vetor de F.
moniliforme var. subglutinans.
Trata-se de uma doença que ocorre em quase todas as regiões do
país onde a manga é cultivada. Há muita controvérsia sobre as condições
que favorecem a doença. Contudo, parece que a doença é mais severa até
10 anos de idade das plantas, e a partir daí, decrescendo.
As medidas de controle da má formação-floral e vegetativa são:1-
Não utilizar porta-enxertos ou material de enxertia retirado de plantas apre-
sentando sintomas de má formação floral ou vegetativa; 2- Eliminar todos
os ramos com malformação vegetativa; 3-Eliminar os ramos que apresen-
tam continuamente, má formação-floral, a partir do nó em que, pela primei-
ra vez, se observou o sintoma; 4- Eliminar as panículas com má formação
quando tiverem 1,5 cm de comprimento, com um corte feito a, pelo menos,
20 cm abaixo do seu ponto de inserção, forçando, dessa forma, a brotação
das gemas axilares, que darão origem a novas panículas, na maior parte dos
casos, sadias. Sempre que possível, retirar do pomar e queimar os restos
desta poda.
Após o surgimento da má formação, podar os ramos e pulverizar a
planta, ou simplesmente pincelar o local dos cortes com um fungicida prote-
tor de amplo espectro. Os produtos à base de cobre podem ser utilizados,

398
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

desde que os riscos relativos à fitotoxidez nas flores sejam levados em con-
sideração.
Quanto à resistência varietal, nas condições do país, as cultivares
Tommy Atkins e Haden para a má formação floral e Keit e Palmer para a
malformação vegetativa têm sido consideradas as mais suscetíveis. No en-
tanto, a ‘Malikka e a Amrapalli’, assim como os híbridos Alfa Embrapa 141,
vêm se mostrando resistentes quando comparadas à ‘T. Atkins’, sob as
mesmas condições no Distrito Federal.

Podridão parda do fruto ou podridão mole do fruto

Recomendam-se as mesmas medidas indicadas para o controle da


antracnose.

Colapso-interno-do-fruto

O colapso interno, também denominado amolecimento-interno-da-man-


ga, é um distúrbio fisiológico caracterizado pela desintegração e descoloração
da polpa, que perde a sua consistência natural, tornando o fruto parcial ou
totalmente imprestável para o consumo. O colapso-interno ocorre em todas
as regiões produtoras de manga do país. As variedades Tommy Atkins e Van
Dike são as mais suscetíveis no país. Admite-se ser esta doença, o resultado
do desequilíbrio nutricional provocado pela escassez de cálcio e agravado pelo
excesso de nitrogênio. Vários autores citam que em solos calcários, a incidên-
cia da doença não passa de 5 %. Pinto et al. (1996), estudando o efeito do
gesso, do nitrogênio e de micronutrientes na incidência do colapso-interno-da-
manga ‘Tommy Atkins”, nas condições do Distrito Federal, concluíram, após
seis anos de estudos, que a incidência desta doença foi reduzida significativa-
mente com tratamento em que foram aplicados, a lanço, 23,6 kg de gesso
agrícola + 460 g de superfosfato triplo + 665 g de nitrocálcio em 81 m2 ocupa-
dos pela projeção da copa da mangueira. Com esse tratamento, esses auto-
res conseguiram aumentar o índice de frutos sem colapso de 40 para 97%.
Eles concluíram também que a relação Ca : N nas folhas das plantas que
receberam este tratamento era de 2,2 : 1, o que correspondia a 20 : 1 aplica-
dos em cobertura, e que a distribuição das chuvas no período de formação dos
frutos é importante na redução da incidência da doença.
399
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Como não se conhecem todas as causas do colapso-do-fruto, torna-


se difícil controlá-lo. É possível, entretanto, propor algumas medidas pre-
ventivas:
1. O ponto de colheita é fundamental. Nas variedades mais sensíveis,
colher o fruto “de vez”.
2. O comportamento varietal diferenciado é bastante conhecido. Por
conseguinte, devem-se evitar as cultivares mais suscetíveis, como
Tommy Atkins, Kent, Van Dike. A ‘Haden’ pode ser uma boa opção.
3. Recomenda-se a nutrição equilibrada da planta, principalmente com
relação a cálcio e nitrogênio. Deve-se levar em conta a análise tanto
do solo como foliar.
4. É preciso ter cuidado com os tratamentos pós-colheita. O tratamento
hidrotérmico em pomares com histórico da doença pode aumentar a
incidência do colapso interno do fruto;
5. Seguir um programa de calagem, gessagem e adubação que assegu-
re teores foliares elevados de cálcio e uma conveniente relação N/
Ca;
6. Assegurar teores adequados de boro, pelo fornecimento regular des-
te micronutriente.

Mancha angular
Xanthomonas campestris pv. mangiferaindica Patel et al. , 1948)
Robbs, Ribeiro e Kimura, 1974
No Brasil, a doença pode causar danos superior a 70 % principal-
mente no estado de São Paulo, onde os relatos dessa doença são mais seve-
ros. Ocorre também nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás,
Bahia e Distrito Federal.
A doença infecta ramos, folhas, inflorescências e frutos em qualquer
estádio de desenvolvimento. A mancha-angular tem como hospedeiro so-
mente a mangueira.
A penetração da bactéria nas partes vegetativas e reprodutivas ocor-
re por ferimentos. Altos níveis de umidade e altas temperaturas são condi-
ções favoráveis à doença, assim como ventos fortes e chuva de granizo
devido à formação de ferimentos.A disseminação da bactéria ocorre por
insetos como a mosca-das-frutas, mariposas, insetos perfuradores dos fru-
tos, cochonilhas e formigas.

400
Manejo Integrado de Doenças da Mangueira

Os ramos novos apresentando rachaduras nos 10 cm finais e as


inflorescências nos eixos principais e secundários exsudam uma goma rica
em células bacterianas que daí são disseminadas por insetos.

O controle da doença deve ser integrado:

1-inicia com a escolha de mudas sadias e de procedência conhecida.


2-proteção do pomar contra ventos fortes com plantas do tipo que-
bra-vento.
3-eliminação dos frutos doentes no pomar para reduzir a fonte de
inóculo.
4-imersão do material vegetativo em solução de hipoclorito de sódio
ou de cálcio a 0,35% por 5 minutos antes da enxertia.
5-atomizar as plantas com a mistura de oxicloreto de cobre com
mancozeb na proporção de 2,0 e 3,0 kg/ha, respectivamente, após o descanso
da mistura por no mínimo 8 horas, nas horas de temperaturas mais amenas.
6- a variedade Haden é considerada tolerante e a Tommy Atkins,
suscetível.

Verrugose

Elsinoe mangifera Bit & Jenkis fase perfeita.


Sphaceloma mangifera fase imperfeita.
No país, a doença tem relatos em Minas Gerais, São Paulo, Rio de
Janeiro, Espírito Santo e Distrito Federal.
A doença é restrita somente a mangueira apesar de que o gênero
Sphaceloma já fora relatado em citros, amendoim, abacate, goiaba, uva e
maçã.
Os sintomas ocorrem nas folhas novas, onde podem ser vistas man-
chas quase circulares, com 1 mm de diâmetro, de coloração pardo-escura a
preta. Em ataques severos, as folhas se encarquilham e podem cair prema-
turamente. Nos frutos novos, a doença provoca lesões com margens irregu-
lares e coloraçaõ marrom. À medida que os frutos se desenvolvem, as le-
sões aumentam de tamanho e seus centros podem ficar recobertos por um
tecido corticoso fissurado. Os danos se limitam em geral à superfície exter-
na dos frutos.

401
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O fungo ataca preferencialmente tecidos jovens em crescimento,


causando danos nas inflorescências, folhas e frutos. O fungo sobrevive de
um ano para outro em ramos mortos, lesões antigas e partes atacadas de
frutos que permanecem no solo. Sob condições de alta umidade o fungo
esporula e os conídios são disseminados por respingos de orvalho ou da
chuva nos tecido novos em formação, onde germinam e penetram.

As medidas de controle da doença são:


1-poda sistemática dos galhos secos, ramos e ponteiros atacados prin-
cipalmente nos períodos de alta umidade.
2-catação e retirada de frutos infectados caídos sobre o solo.
3-pulverizações com produto à base de cobre.

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407
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

408
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

ATUANDO COM RESPONSABILIDADE – USO


CORRETO E SEGURO DE PRODUTOS
FITOSSANITÁRIOS 1
Maria de Lourdes Setten Fustaino 2
Shizuo Dodo 3
Danilo Eduardo Rozane 4

1. INTRODUÇÃO

Na implantação de qualquer lavoura, logo se pensa nos cuidados ne-


cessários para que ela produza frutos de boa qualidade nutricional, física,
química e biológica. Esses cuidados são muitos: a escolha do lugar, a sele-
ção das sementes ou mudas, os equipamentos, os insumos, as pessoas que
vão trabalhar e muitos outros. É preciso plantar com consciência para co-
lher bons resultados, produzir alimentos saudáveis e de forma econômica.
Os pesticidas ou produtos fitossanitários ou defensivos agrícolas ou
agrotóxicos ou agroquímicos, como substâncias químicas, são produtos im-
portantes para proteger as plantas do ataque de pragas, doenças e plantas
daninhas, mas podem ser perigosos se forem usados de forma errada, pois
podem ter ação fisiológica sobre os organismos vivos, e a importância de
seu uso deve ser equilibrada pela informação dos efeitos que os mesmos
podem causar em pessoas que manipulam os produtos nas fábricas e nos
campos, nos consumidores de alimentos, eventualmente contaminados com
seus resíduos, nos animais domésticos e silvestres, além de organismos aqu-
áticos e meio ambiente.
O uso correto e seguro dos defensivos agrícolas é uma responsabili-
dade de todos, desde o prescritor devidamente habilitado, o proprietário e o
1
As informações contidas neste capítulo fazem parte do CD – Portifólio e são de prioridade da
FMC Química do Brasil Ltda., estando vetada a reprodução das mesmas sem nosso consenti-
mento expresso.
2
Engenheira Agrônoma – Diretora Registro e Product Stewardaship – FMC Química do Brasil
Ltda, e-mail: [email protected]
3
Engenheiro Agrônomo – Consultor Autônomo, e-mail: [email protected]
4
Engenheiro Agrônomo – Consultor Autônomo, e-mail: [email protected]

409
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

trabalhador que realiza a aplicação (FREITAS, 2003).


Do ponto de vista toxicológico, eles são mais tóxicos ou menos tóxi-
cos ao homem, existindo para cada, um estudo da avaliação toxicológica
correspondente, feita tanto ao nível dos países como também a nível inter-
nacional, esta feita pela FAO-OMS. A avaliação toxicológica mais comum
é dada pela dose letal 50, ou DL50 ou LD50 que é geralmente estudada em
ratos albinos e outros animais de laboratório, das quais uma das mais impor-
tantes é a aguda oral, (quando a exposição se dá através de uma única dose
e pela boca), havendo, ainda, a dérmica (quando a exposição ocorre pela
pele) ou a inalatória (pelas vias respiratórias), (BAPTISTA, 2002).
A DL50 é definida como “a dose que previsivelmente causará uma
resposta de 50% em uma população, na qual se procurará determinar o
efeito letal” e sua unidade é mg/kg. Uma classificação de substâncias quí-
micas, baseada na DL50 dos ingredientes ativos, é dada a seguir:

Quadro 1 – Classificação de substâncias químicas baseada nos valores da


DL50 agudaoral.

Classificação DL50 (mg/kg)


Extremamente tóxica até 5
Altamente tóxica 5 - 50
Moderadamente tóxica 50 - 500
Levemente tóxica 500 - 5.000
Relativamente não tóxica maior de que 5.000

É de se notar, ainda, que a exposição ao tóxico pode dar-se em doses


sub-letais, dadas repetidamente, quando então se caracteriza a toxicidade
crônica.
Ao se observar uma relação de DL50 (aguda oral, por exemplo) de
pesticidas, verifica-se que, em geral, os inseticidas têm toxicidade maior
(caracterizada por valores mais baixos de DL50) do que os fungicidas e
herbicidas. Tipicamente, apresentam, quase sempre, valores de DL50
comumente variando de 1 a 500 mg/kg, em contraposição aos fungicidas e
herbicidas, com poucas exceções, que apresentam, quase sempre, valores
de DL50 acima de 5.000 mg/kg.
410
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Com efeito, os inseticidas são mais tóxicos ao homem e aos animais


superiores do que os fungicidas e herbicidas e, freqüentemente, são os res-
ponsáveis por intoxicações ocupacionais no campo e nas fábricas. Isso se
explica pelo fato de, tanto em insetos como nos animais superiores (incluin-
do-se o homem), os inseticidas terem o mesmo modo e local de ação, que é
comumente o sistema nervoso, fato que não se passa com fungicidas e
herbicidas, que são, precisamente, destinados a controlar microorganismos
vegetais e ervas daninhas, cujo modo de ação é, de todo, diferente. Desse
modo, ao se discorrer a respeito de toxicidade de pesticidas, é comum des-
tinar grande ênfase para o estudo de toxicologia de inseticidas, como enca-
minhamento racional e coerente com a importância que este segmento de
pesticidas tem no quadro geral de intoxicações e outros efeitos toxicológicos
adversos. (BAPTISTA, 2002).

2. AQUISIÇÃO E RECEITUÁRIO AGRONÔMICO

Antes de comprar um produto fitossanitários, é fundamental consul-


tar um Engenheiro Agrônomo para fazer uma avaliação correta dos proble-
mas da lavoura, como o ataque de pragas, doenças e plantas daninhas.

Procedimentos na hora da compra:


• Só compre o produto com a receita agronômica e guarde uma via;
• Exija e guarde a nota fiscal, pois é a sua garantia diante do código de
defesa do consumidor;
• Certifique-se de que a quantidade do produto comprado será suficiente
para tratar a área desejada, evitando comprar produto em excesso;
• Examine o prazo de validade dos produtos adquiridos e não aceite produ-
tos vencidos;
• Não aceite embalagens danificadas;
• Verifique se as informações de rótulo e bula estão legíveis;
• Aproveite para comprar os equipamentos de proteção individual (EPI);
• Certifique-se de que o revendedor informou o local onde as embalagens
vazias devem ser devolvidas.

411
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

3. TRANSPORTE

Legislação Brasileira

a) Decreto nº 96.044 e Portaria nº 204 Ministério dos Transportes


No Brasil, o Decreto nº 96.044 de 18 de maio de 1988 e a Portaria nº
204 do Ministério dos Transportes de 20 de maio de 1997, publicada em 26
de maio de 1997 (Suplemento especial do Diário Oficial da União) regula-
mentam o transporte rodoviário de produtos perigosos, incluindo os produtos
fitossanitários. Os produtos estão classificados da seguinte maneira:

Quanto à sinalização da unidade de transporte, são necessári-


as as seguintes medidas:

Nos casos em que o transporte de produtos perigosos exige uma


sinalização, a unidade de transporte deve possuir:
• Uma sinalização geral, indicativa de “transporte de produtos perigosos”,
através de painel de segurança.
• Uma sinalização indicativa da “classe de risco do produto transportado”,
através do rótulo de risco.

412
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Rótulos e Símbolos

Constituem uma sinalização da unidade de transporte (rótulos de ris-


co e painéis de segurança).
Os rótulos de risco aplicáveis aos veículos transportadores devem ter
o tamanho padrão mínimo no limite da moldura de 300 mm x 300 mm para
unidade de transporte, com uma linha na mesma cor do símbolo a 12,5mm
da borda, paralela a todo seu perímetro.
Os painéis de segurança devem ter o número da ONU e o número de
risco do produto transportado apostos em caracteres negros, não menores
que 65 mm, num painel retangular de cor laranja, com altura de 300 mm e
comprimento de 400 mm, com uma borda preta de 10 mm, conforme nº
7500 da ABNT. No transporte de mais de um produto, o painel de seguran-
ça não deve apresentar números.
NOTA: Quando for expressamente proibido o uso de água no produ-
to, deve ser colocada a letra X no início, antes do número de identificação
de risco.

413
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Rótulos de Risco

Conforme Port 204/97, página 11 do Diário Oficial

414
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Transportes de carga fracionada são necessárias as seguintes


medidas:
Para o caso de produtos perigosos fracionados na mesma unidade de
transporte.
A unidade de transporte deve portar o descrito abaixo:
· Na frente: o painel de segurança, do lado do motorista. Na
parte superior, deve haver o número de identificação de risco do produto, e
na parte inferior, o número de identificação do produto (número de ONU,
conforme Portaria do Ministério dos Transportes - Instruções complemen-
tares ao Regulamento do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos),
quando transportar apenas um produto;
· Na traseira: o painel de segurança, do lado do motorista, idên-
tico ao colocado na frente, e o rótulo indicativo do risco do produto, se todos
os produtos pertencerem a uma mesma classe de risco;
· Nas laterais: o painel de segurança, idêntico aos colocados na
frente e na traseira, e rótulo indicativo do risco do produto, colocado do
centro para a traseira, em local visível, conforme regra acima.

Transporte de carga fracionada de um único produto em veículos utilitários.


Obs.: Se houver mistura de produtos de número de ONU diferentes, o pai-
nel deve ser alaranjado e sem números. Para utilitários, o tamanho do painel
de segurança é 22,5 x 30 cm e o rótulo de risco, 25 x 25 cm.
No transporte de apenas um produto que tenha risco subsidiário, de-
verá ser colocado nas laterais e traseira o rótulo correspondente.

415
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Transporte de cargas fracionadas, na mesma unidade de transporte


(carroceria tipo baú), carga completa com um único produto classificado
como perigoso.

Transporte de cargas fracionadas de produtos perigosos diferentes,


na mesma unidade de transporte, carga com vários produtos classificados
como perigosos (painel alaranjado sem números), de classe de risco dife-
rentes.

Transporte de cargas fracionadas de produtos perigosos diferentes,


na mesma unidade de transporte (carroceria aberta) com produtos classifi-
cados na mesma classe de risco.

416
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Obs. Quando o transporte for realizado em carroceria aberta é ne-


cessário o uso de lonas.
As unidades de acondicionamento de transporte de carga fracionada,
quando trafegando vazias, não devem permanecer com os rótulos de risco,
nem os painéis de segurança, bem como não devem continuar portando a
ficha de emergência e o envelope para transporte, para que o atendimento
emergencial não seja prejudicado.

b) Decreto nº 1.797 de 25/01/96


Dispõe sobre a execução do Acordo de Alcance Parcial para Facili-
tação do Transporte de Produtos Perigosos, entre Brasil, Argentina, Paraguai
e Uruguai, de 30 de dezembro de 1994.
Deverá ser seguido quando o destinatário estiver localizado em um
dos três países citados.

c) Normas Técnicas
NBR 7500 - Símbolos de Risco e Manuseio para Transporte e Arma-
zenagem de Materiais.
NBR 7501 - Transporte de Produtos Perigosos – Terminologia.
NBR 7503 - Fichas de Emergência para Transporte de Produtos
Perigosos Características e Dimensões.
NBR 7504 - Envelope para Transporte de Produtos Perigosos - Ca-
racterísticas e Dimensões.
NBR 8285 - Preenchimento da Ficha de Emergência para Transpor-
te de Produtos Perigosos.

417
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

NBR 8286 - Emprego nas Unidades de Transporte e de Rótulos nas


Embalagens de Produtos Perigosos.
NBR 9734 - Conjunto de Equipamentos Proteção Individual para
Avaliação de Emergência e fuga no Transporte Rodoviário de Produtos
Perigosos.
NBR 9735 - Conjunto de Equipamentos para Emergência no Trans-
porte Rodoviário de Produtos Perigosos.

d) Leis de Crimes Ambientais (Lei 9.605 de 13/02/98)


Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar,
fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósitos ou usar produto
ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambi-
ente em desacordo com as exigências estabelecidas em leis e regulamen-
tos.
Pena da reclusão de 1 a 4 anos e multa.
§
1o - Nas mesmas penas incorre quem abandona os produtos ou
substâncias referidos no caput ou os utiliza em desacordo com as normas de
segurança.

e) Decreto nº 3.179 de 21/09/99


Dispõe sobre a especificação das Sanções aplicáveis às condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências. Regulamenta
a lei nº 9.605. Art. 43 Regulamenta a multa prevista pelo art. 56 acima,
entre R$ 500,00 a R$ 2.000.000,00.

3.1 - Exigências da Legislação

a) Do Veículo e Equipamentos
O veículo de transporte deve estar sempre em perfeitas condições de
uso. Além de estar funcionando perfeitamente, deve estar limpo, sem fres-
tas, parafusos, tiras de metal ou lascas de madeiras soltas, proporcionando
um transporte que evite danificar as embalagens. Todos os dispositivos que
compõem o veículo devem também estar em perfeitas condições.
Durante as operações de carga e transporte, os veículos deverão
portar rótulos de riscos (símbolos para identificar a classe do produto trans-
portado) e painéis específicos sobre segurança de produto. O objetivo do

418
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

uso destes símbolos é a identificação do risco do produto por parte das


autoridades (corpo de bombeiros, polícia, etc.), caso ocorra algum acidente,
para que sejam tomadas as providências necessárias e imediatas.
Os veículos que transportam Produtos Perigosos deverão portar um
Kit de Emergência e pelo menos um conjunto completo de EPI’s (equipa-
mentos de proteção individual) para cada pessoa (motorista e ajudantes).
Com o objetivo de unificar o entendimento em relação ao tacógrafo,
previsto pela resolução número 14 do CONTRAN, o DENATRAN escla-
receu que todos os veículos que transportam produtos perigosos devem utilizá-
lo, independente do ano de fabricação, PBT ou CMT.

Kit de Emergência e EPI


(de acordo com as NBR 9735 e 9734 do ABNT).
• 2 calços para as rodas; (150 x 200 x 150 mm, no mínimo)
• Dispositivos para sinalização:
50 metros de fita ou corda (fita: largura mínima 7 cm; corda: diâmetro
mínimo 5 cm)
6 dispositivos para sustentação da fita/corda para caminhões com ou
sem reboque ou 04 dispositivos para demais veículos
4 placas “Perigo Afaste-se” (340 x 470 mm, no mínimo)
4 cones
• 1 lanterna com 2 pilhas médias
• Jogo de ferramentas
• Lona impermeável (3x4 m) - sólidos perigosos
• Pá de material antifaiscante

Grupo de EPI

Produto não inflamável Produto inflamável


EPI básico (luva e capacete) EPI básico (luva e capacete).
Óculos de segurança. Óculos de segurança Máscara
Máscara semi-facial com filtro semi-facial com filtro VO combina-
GA combinado ou máscara de do ou máscara de fuga.
fuga.

419
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Prescrições de serviço
É proibido entrar numa carroceria coberta, carregada com produtos
da Classe 3 (inflamáveis), portando aparelhos de iluminação a chama. Além
disso, não devem ser utilizados aparelhos e equipamentos capazes de pro-
duzir ignição dos produtos ou de seus gases e vapores.
Materiais facilmente inflamáveis não devem ser utilizados para estivar
as embalagens nos veículos.
Nos locais de carga, descarga e transbordo, os produtos perigosos
devem ser mantidos isolados de gêneros alimentícios e de quaisquer outros
produtos de consumo.

Obs:
Use material absorvente para recolher o material derramado.
Lave com água corrente a parte contaminada.
Em caso de contaminação, o veículo transportador, antes de ser
recolocado em serviço, deverá ser cuidadosamente lavado com água cor-
rente e devidamente descontaminado em local previamente licenciado pelo
órgão de controle ambiental.
Se, por qualquer motivo, tiverem que ser efetuadas operações de
manuseio em locais públicos, as embalagens contendo produtos de natureza
distinta deverão ser separadas, segundo os respectivos símbolos de risco.

b) Da Carga e seu Acondicionamento


O expedidor é responsável pelo bom acondicionamento da carga no
veículo. As embalagens deverão estar devidamente rotuladas, etiquetadas e
marcadas de acordo com a correspondente classificação e tipo de risco.
Não é permitido o transporte de produto fitossanitário em cabines de veícu-
los, Kombis, automóveis e outros tipos de veículos não apropriados. Tam-
bém é proibido o transporte destes produtos conjuntamente com animais,
alimentos, medicamentos ou embalagens para estes bens.

Obs:
É proibido transportar produtos fitossanitários em veículos de passa-
geiros. O veículo apropriado é do tipo caminhonete.
Nunca deixe as embalagens soltas ou empilhadas desordenadamente.

420
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

As embalagens devem estar preferencialmente organizadas em palets


e empilhadas de forma a evitar o tombamento durante a viagem. A altura
máxima deve ser respeitada.

c) Quanto ao Itinerário
Os veículos deverão evitar o uso de vias em áreas densamente povo-
adas ou de proteção de mananciais, reservatórios de água ou reservas flo-
restais.

d) Quanto ao Estacionamento
Em situações emergenciais, o estacionamento em locais que não se-
jam autorizados (zonas residenciais, logradouros públicos ou locais de fácil
acesso ao público e a veículos) deve ser bem sinalizado e sob vigilância do
condutor e/ou autoridades locais (bombeiros, polícia, órgãos do meio ambi-
ente, etc.).

e) Pessoal Envolvido na Operação de Transporte


Para o transporte de Produtos Fitossanitários acima da quantidade
isenta, o motorista deverá ter curso do SENAI ou SENAT que o
credenciará para tal. Para fazer o curso, o motorista deve ser habilitado
(Carteira Nacional de Habilitação) nas categorias B, C, D ou E e ter capa-
cidade de interpretar textos. O curso poderá ser feito à distância ou regular
com 40 horas de duração. A cada 5 anos é obrigatório fazer a reciclagem.
Durante o trajeto, o condutor e o responsável pela carga deverão checar se
as condições dos veículos e da carga estão satisfatórias (se não há vaza-
mentos, etc.).
Todas as pessoas envolvidas na operação de transporte devem ter
consciência do tipo de produto que estão transportando, dos riscos que o
trabalho envolve, de como evitá-los e de como agir em caso de emergência.
Todos os envolvidos devem possuir seus EPI’s (Equipamentos de Proteção
Individual).

421
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

No recebimento do produto:
1. O cliente deverá observar na nota fiscal, se junto com a mesma estão as
fichas de emergência de cada produto;
2. Todas as mercadorias recebidas devem ser conferidas em sua qualidade
e quantidade, e confrontadas com a nota fiscal. Qualquer anormalidade,
o cliente deverá comunicar ao fabricante pelos telefones constantes dos
envelopes ou fichas de emergência das embalagens ou aos representan-
tes regionais;
3. Quando do recebimento dos produtos e constatação de avarias, seguir o
procedimento descrito no verso do envelope de emergência;
4. Qualquer anormalidade com a carga: avaria, falta, troca de produto, etc.,
deverá ser anotada no conhecimento de transporte;
5. Nossas transportadoras estão orientadas a efetuar as entregas somente
nos endereços constantes no corpo da nota fiscal.

f) Quanto à documentação
A documentação que acompanha a carga é de importância vital, pois
é nela que estão todas as informações dos produtos. Portanto, todo o Produ-
to Fitossanitário Perigoso, durante o processo de transporte, deverá estar
acompanhado de:
· Nota Fiscal do Produto (contendo o nº da ONU e o nome próprio para
embarque, classe ou sub-classe do produto, além da Declaração assina-
da pelo expedidor de que os produtos estão adequadamente acondicio-
nados para suportar os riscos normais de carregamento, transporte e
descarregamento conforme a legislação em vigor), veja exemplo abaixo;
· Envelope de Emergência (contendo telefone do expedidor, corpo de bom-
beiros, polícia rodoviária, etc.), veja exemplo abaixo;
· Ficha de Emergência (contendo todas as orientações em caso de aci-
dente), veja exemplo abaixo.

Esta documentação deverá ser emitida pelo expedidor e deverá estar


disposta dentro do envelope de emergência desde o início, até a entrega do
produto ao seu destinatário. A ficha de emergência deve conter o nome e
telefone do expedidor impresso no campo específico.

422
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Limites de Isenção para Transporte de Produtos Perigosos:


De acordo com a portaria número 204 de maio de 1997 do Ministério
dos Transportes, há um limite máximo em quantidades de produtos perigo-
sos que podem ser transportados sem a aplicação das seguintes exigências:
a. Rótulos de Risco e painéis de segurança afixados nos veículos;
b. Porte de equipamentos de proteção individual e de equipamentos para
atendimento a situações de emergência, exceto extintores de incêndio;
c. Limitações quanto ao itinerário, estacionamento e locais de carga e des-
carga;
d. Porte de ficha de emergência (embora a legislação não obrigue, é acon-
selhável que as fichas sempre acompanhem a nota fiscal);
Treinamento específico para o condutor do veículo (habilitação espe-
cial para o transporte de produtos perigosos);

Permanecem válidas as seguintes exigências:


a. Precauções de manuseio;
b. As disposições relativas à embalagem dos produtos e sua marcação e
rotulagem, conforme a Port. nº 204/97 MT e NBR 7500 da ABNT;
c. Incluir no corpo da Nota Fiscal:
Para produtos perigosos:
• Número de risco;
• Número de ONU;
• Nome apropriado para embarque (ex. produto tóxico inflamável, NE);
• Classe e/ou subclasse do produto;

423
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

• Declaração de conformidade com a legislação, assinada pelo expedidor;


• Inserir a expressão: Quantidade limitada ou Quantidade Ltda, quando
for o caso.
Para produtos não perigosos:
• Inserir que de acordo com a Portaria 204 de 20 de maio de 1997 do
Ministério do Transporte este produto não é classificado como perigoso
para o transporte.

Nota Fiscal

Envelope para transporte


O envelope deve ser confeccionado em papel kraft puro com
gramatura mínima de 90g/m². Todos os fios de contorno do envelope são
impressos em cor preta. O tamanho é 190 x 250 mm.

424
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

O envelope é composto por quatro áreas, com as utilizações


especificadas a seguir:
Área A: reservada para impressão do texto conforme a figura.
Área B: deve conter logotipos impressos em qualquer cor e informa-
ções pertinentes aos programas de ação para atendimento de emergência,
tais como listagem de telefones em várias regiões ou cidades do país.
Área C: está reservada para conter o nome, endereço e telefone da
“Transportadora”, que atualmente é de preenchimento obrigatório.
Área D: reservada para impressão do texto conforme a figura.

425
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Fichas de emergência

3.2. Em caso de Emergência, Acidente ou Avaria

Em caso de acidente, avaria ou outro fato que obrigue a imobilização


do veículo que está transportando Produto Fitossanitário, o condutor adota-
rá as medidas indicadas na Ficha de Emergência do produto transportado e
Envelope para o transporte, colocando a autoridade de trânsito mais próxi-
ma a par da ocorrência, do local e das classes e quantidades dos materiais
transportados. Nestes casos, o fabricante, a transportadora, o expedidor e o
destinatário deverão dar todo o apoio necessário e prestarão os esclareci-
mentos que lhes forem solicitados pelas autoridades públicas.

426
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Orientação para o motorista em caso de vazamento e/ou acidente.


Parar imediatamente o veículo e observar o que está acontecendo
(vazamento de produto, defeito mecânico do veículo, etc.) Não fumar e
nem acender fósforos.

Em caso de vazamento de produto:


• Sempre use Equipamento de Proteção Individual (EPI);
• Sinalize a área utilizando os cones, fita/corda e dispositivos de sustenta-
ção da fita/corda;
• Estanque o produto com terra, para que não atinja rios, lagos, outras
fontes de água, rodovias, etc;
• Afaste curiosos;
• Siga as orientações da Ficha de Emergência;
• Contate o fabricante;
• Acione as autoridades locais e o expedidor (telefone do expedidor na
ficha de emergência);
• Não deixe o veículo sozinho.

Obs:
Contenha o vazamento para prevenir a contaminação de rios, córregos,
lagoas e outras fontes de água, além de rodovias;
Recolha o material derramado para que possa ser feito o descarte
em locais adequados;
Leve sempre os dispositivos de sinalização para serem utilizados em
caso de acidente.

3.3. Responsabilidades

As responsabilidades são do fabricante, expedidor e do transporta-


dor.
O fabricante, deve fornecer ao expedidor:
• Informações relativas aos cuidados a serem tomados no transporte e
manuseio do produto e quanto ao preenchimento da ficha de emergên-
cia;
• Especificações para o acondicionamento do produto e o conjunto de equi-
pamentos para emergências.

427
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O expedidor, deverá exigir do transportador:

• Motorista com curso MOPP - Movimentação de Produtos Perigosos;


• Uso de veículo e equipamentos em boas condições operacionais;
• Veículo que contenha equipamentos necessários para situações de emer-
gência (conforme instruções de uso) e EPI;
• Acondicionamento de produto de acordo com as especificações do fa-
bricante;
• Emprego de rótulos de risco e painéis de segurança;

O expedidor deverá entregar ao transportador todas as embalagens


devidamente rotuladas e etiquetadas, bem como os rótulos de risco e painéis
de segurança para uso no veículo, além de informar ao motorista sobre as
características dos produtos transportados;
O expedidor deverá ainda orientar e treinar o pessoal empregado nas
atividades de carga (amarração, etc.).

O transportador, deverá fazer cumprir todos os procedimentos do


Decreto para transporte, no que se refere à carga, documentação, identifi-
cação do risco, etc.

Obs:
Tanto o expedidor quanto o transportador devem ter conheci-
mentos sólidos no que se refere ao transporte de produtos perigosos.

3.4 - Transporte para a Fazenda

Quando um agricultor compra um produto fitossanitário e vai


transportá-lo para a sua fazenda, também se fazem necessárias medidas de
segurança. Seguem algumas indicações para transporte no varejo:
• É proibido o transporte de produtos fitossanitários dentro das cabines de
veículos automotores ou dentro de carrocerias quando esta transportar
pessoas, animais, alimentos, rações, etc.
• O transporte de produtos fitossanitários acima da quantidade isenta exi-
ge que o motorista seja profissional e tenha curso para transporte de
produtos perigosos.

428
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

• Para pequenas quantidades de produtos fitossanitários, o veículo reco-


mendado é do tipo caminhonete, onde os produtos devem estar, prefe-
rencialmente, cobertos por lona impermeável e presos à carroceria do
veículo.
• Acondicionar os produtos fitossanitários de forma a não ultrapassarem o
limite máximo da altura da carroceria.

Ao transportar qualquer quantidade de produtos fitossanitários, levar


sempre consigo as instruções para casos de acidentes, contidas na ficha de
emergência do produto.
Em caso de acidentes, devem ser tomadas medidas para evitar
que possíveis vazamentos alcancem mananciais de águas ou que possam
atingir culturas, pessoas, animais, depósitos ou instalações, etc.
Deve ser providenciado o recolhimento seguro das porções vazadas.
No caso de derramamento de grandes quantidades, devem ser avisados o
fabricante e as autoridades locais, e deve-se seguir as informações contidas
na ficha de emergência.
Embalagens que contenham resíduos ou que estejam vazando não
devem ser transportadas.

Obs:
Uma caixa fechada pode ser usada para separar pequenas quantida-
des de produtos fitossanitários, quando misturados com outro tipo de carga.
Produtos Fitossanitários nunca devem ser transportados junto com alimen-
tos ou ração animal.

3.5. Infrações

Multas para o transportador, expedidor de 138,4 UFIR a 692 UFIR


que não cumprirem as regulamentações de transporte. O veículo e/ou a
carga serão apreendidos
Acidentes de transporte que provocarem danos ambientais por não
atenderem às normas vigentes serão enquadrados na Lei de Crimes
Ambientais (Art. 56 da Lei 9.605 de 13 de fevereiro de 1998), onde está
previsto multa, reparação do meio ambiente atingido e até mesmo pena de
reclusão de 2 a 4 anos aos infratores.

429
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

3.5 - Lista de Verificações

De transporte para revendas


N° QUESTÃO SIM NÃO
Quanto aos veículos usados para transporte
1. A empresa utiliza veículos apropriados para o transporte de produtos
fitossanitários (caminhonetes, caminhão tipo baú ou carroceria,
devidamente protegido, lonado, amarrado, etc.)?
2. Os veículos utilizados estão em bom estado de conservação? (freios,
faróis, estados dos pneus, tanque sem vazamento, pára-choques,
extintores, carroceria em perfeitas condições, ou seja, sem frestas,
objetos pontiagudos ou lascas de madeira, etc.)
3. O veículo possui o kit de emergência para transporte de produtos
perigosos?
- 2 calços para rodas
- Dispositivos para sinalização:
- 50 metros de fita ou corda
- 6 dispositivos para fixação da fita ou corda (caminhões)
- 4 dispositivos para fixação da fita ou corda (demais veículos)
- 4 placas "PERIGO AFASTE-SE"
- 4 cones
- Pá de material antifaiscante - perigosos sólidos
- 1 lanterna com 2 pilhas médias
- Jogo de ferramentas
- Lona impermeável (3 x 4 m) - perigosos sólidos
4. O veículo possui kit de EPI para cada ocupante?
- EPI básico (luva e capacete)
- Óculos de segurança (protetor facial)
- Máscara semi-facial com filtro GA ou VO combinado ou máscara
de fuga
5. O(s) veículo(s) possui(em) rótulos indicativos de risco e painéis de
segurança?
Quanto à documentação para transporte
6. A empresa possui Fichas de Emergência para transporte de todos os
produtos fitossanitários comercializados?
7. A empresa possui envelopes de emergência para transporte de
produtos perigosos?
8. As notas fiscais emitidas pela empresa informam adequadamente o
nome de embarque do produto, número da ONU, classe ou subclasse
do produto, além de informar o grupo de embalagem do produto
fitossanitário e sua respectiva quantidade isenta?
Grupo de embalagem I - alto risco - até 5 kg ou litro
Grupo de embalagem II - risco médio - até 50 kg ou litro
Grupo de embalagem III - baixo risco - até 100 kg ou litro
Produto não perigoso para transporte - sem restrições
9. O(s) motorista(s) possui(em) curso de habilitação do SENAI ou
SENAT ou empresas credenciadas pelo DETRAN para o transporte

430
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Quanto ao procedimento de carga e descarga


10. Os operadores estão devidamente equipados (botas, macacão e
capacete)?
11. Quando a mercadoria está sendo recebida/despachada, é conferida?
12. Quando a mercadoria está sendo despachada é feito o checklist de
embarque?
Quando o transporte é feito pelo próprio agricultor
13. A empresa informa corretamente ao agricultor os cuidados
necessários para o transporte de produtos fitossanitários até a
fazenda?
- Nunca transportar os produtos perigosos nas cabinas ou no interior
de veículos fechados
- Veículo recomendado é do tipo caminhonete
- Nunca transportar os produtos junto com pessoas, animais,
alimentos, rações ou medicamentos
- Acondicionar de forma que não ultrapasse a altura da carroceria
- Deve-se usar uma lona plástica para proteger a carga
- Para carga e descarga recomenda-se o uso de macacão com mangas
compridas e botas
- Para volumes acima da quantidade isenta é recomendável que o
transporte seja feito pela própria revenda ou empresa de transporte

Para embarque de produtos perigosos


ITENS A SEREM AVALIADOS SIM NÃO
MOTORISTA
1. Está uniformizado? (vestimenta completa)
2. O aspectos físico do motorista é duvidoso (embriaguez/sonolência)
3. A carteira de habilitação está em dia?
4. Leu a ficha de emergência?
5. Foi instruído quanto aos procedimentos de emergência?
6. Possui curso para transportar produtos perigosos?
VEÍCULOS
1. Os aspectos gerais de conservação estão bons?
2. Os pneus estão em bom estado?
3. Os freios estão em bom estado?
4. Os extintores de incêndio estão carregados e dentro da validade?
5. Os espelhos retrovisores estão em bom estado?
6. O cano de descarga é afastado do tanque de combustível?
7. O tanque de combustível está bem fechado e sem vazamentos?
8. Os faróis e lanternas estão funcionando?
9. Os limpadores de pára-brisa e buzina estão funcionando?

431
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

10. A cabina e os pára-choques estão em bom estado?


11. O assoalho da carroceria está em bom estado?
12. As laterais e as travas de carroceria estão em bom estado?
13. Possui kit de emergência?
2 calços
Dispositivos para sinalização:
50 metros de fita ou corda
6 dispositivos para fixação da fita ou corda (caminhões)
4 dispositivos para fixação da fita ou corda (demais veículos)
4 placas "PERIGO AFASTE-SE"
4 cones
Pá de material antifaiscante - perigosos sólidos
1 lanterna com 2 pilhas médias
Jogo de ferramentas
Lona impermeável (3x4m) - perigosos sólidos
14. Possui o grupo de EPI exigido na legislação?
EPI básico (luva e capacete)
Óculos de segurança (protetor facial)
Máscara semi-facial com filtro GA ou VO combinado ou máscara de fuga
15. Possui rótulo de risco e painéis de segurança?
16. O veículo é apropriado para transporte de produtos perigosos?
17. Possui tacógrafo?
18. A carga está bem acondicionada e presa à carroceria?
DOCUMENTAÇÃO
1. Possui as Fichas de Emergência apenas dos produtos embarcados?
2. Possui envelope para transporte?
3. Está com a nota fiscal dos produtos?
AUXILIARES
Os ajudantes estão uniformizados e equipados para a operação de carga e
descarga?

432
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

3.6 - TELEFONES DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL


ALAGOAS DF
13° Superintendência Regional 1° Distrito Regional
Rua Comendador Almeida Guima- BR 040 Km. 01 Área Alfa
rães, 22 Bairro Santa Maria - Brasília - DF
Bairro Pajuçara - Maceió - AL 72433-000
57030-160 Tel.: (0xx61) 394.3000
tel.: (0xx82) 231.8026 Fax.: (0xx61) 394.5112
Fax.: (0xx82) 231.8026 Plantão 24 horas: (0xx61) 394.3001
Plantão 24 horas: (0xx82) 1527
ESPÍRITO SANTO
AMAZONAS 12ª Superintendência Regional
3° Distrito Regional Av. Marechal Mascarenhas de
Rua Recife, 2479, Conjunto DNER Moraes, 2214
Bairro Bento Ferreira - Vitória -ES
Bairro Flores - Manaus - AM 29052-120
69050-030 Fax.: (0xx27) 3225.3799
Tel.: (0xx92) 648.6520 Plantão 24 horas: (0xx27) 3227.5078
Fax.: (0xx92) 648.6584
Plantão 24 horas: (0xx92) 648.6406 GOIÁS
BAHIA 1ª Superintendência Regional
10° Superintendência Regional Av. do Desvio Quadra CH Lote 25/
Av. Frederico Pontes, 151 26
Bairro do Comércio - Salvador - BA Chácara Nossa Senhora da Pieda-
40460-000 de
Fax.: (0xx71) 241.3987 Setor Jardim Guanabara II
Plantão 24 horas: (0xx71) 241.5855 Goiânia - GO - 74675-090
Tel.: (0xx62) 207.2288
CEARÁ Fax.: (0xx62) 207.5022
16° Superintendência Regional Plantão 24 horas: (0xx62) 227.5200
BR 116 Km. 06 / 227.5201 / 207.6868 / (0xx62) 1527
Cajazeiras - Fortaleza - CE
60864-190
Tel.: (0xx85) 295.3022
Fax.: (0xx85) 295.3256
Plantão 24 horas (0xx85) 295.3591
433
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

MARANHÃO PARÁ
18ª Superintendência Regional 19ª Superintendência Regional
Rua José Muller, 37 Travessa Dom Pedro I, 52
Centro - São Luís - MA Bairro Umarizal - Belém - PA
Fax.: (0xx98) 221.2547 66050-100
Plantão 24 horas: (0xx98) 221.1937 Tel.: (0xx91) 241.3932
Fax.: (0xx91) 341.6462
MATO GROSSO Plantão 24 horas: (0xx91) 255.2100
2ª Superintendência Regional
Rua Joaquim Murtinho, s/n PARAÍBA
Bairro Porto - Cuiabá - MT 14ª Superintendência Regional
78020-830 Av. Cel. Estevão D’Ávila Lins, s/n
Tel.: (0xx65) 322.0005 Bairro Cruz das Armas - João Pes-
Fax.: (0xx65) 322.6801 soa - PB
Plantão 24 horas: (0xx65) 667.1000 58085-000
Fax.: (0xx83) 222.5408
MATO GROSSO DO SUL Plantão 24 horas: (0xx83) 241.6688
3ª Superintendência Regional
Rua Antônio Maria Coelho, 3033 PARANÁ
Bairro Jardim dos Estados, Campo 7ª Superintendência Regional
Grande Av. Victor Ferreira do Amaral, 1500
79020-210 Bairro Tarumã - Curitiba - PR
Tel.: (0xx67) 325.3600 82800-000
Fax.: (0xx67) 325.3600 Fax.: (0xx41) 267.4446
Plantão 24 horas: (0xx67) 1527 Plantão 24 horas: (0xx41) 267.4446
PERNAMBUCO
MINAS GERAIS 11ª Superintendência Regional
4ª Superintendência Regional Av. Antônio de Góes, 820
Praça Antônio Mourão Guimarães, Bairro Pina - Recife - PE
s/n 51010-000
Cidade Industrial - Contagem - MG Tel.: (0xx81) 3465.8386
32210-170 Plantão 24 horas: (0xx81) 3453.2561
Fax.: (0xx31) 3333.1584 / 3453.1130
Plantão 24 horas: (0xx31) 3333.2999

434
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

PIAUÍ SANTA CATARINA


17ª Superintendência Regional 8ª Superintendência Regional
Av. João XXIII, 1516 Rua Álvaro Mullen da Silveira, 104
Bairro dos Noivos - Teresina - PI Centro - Florianópolis - SC
64045-000 88020-180
Tel.: (0xx86) 233.1414 Tel.: (0xx48) 222.2380
Fax.: (0xx86) 233.1010 Fax.: (0xx48) 222.5978
Plantão 24 horas: (0xx86) 233.1011 Plantão 24 horas: (0xx48) 1527
(0xx48) 246.3799
RIO DE JANEIRO
5ª Superintendência Regional SÃO PAULO
Rodovia Presidente Dutra, Km. 163 6ª Superintendência Regional
Bairro Vigário Geral - Rio de Janei- Rua Engenheiro Ciro Soares de
ro - RJ Almeida, 180
21240-000 Bairro Vila Mariana - São Paulo - SP
Tel.: (0xx21) 2489.0627 02167-000
Plantão 24 horas: (0xx21) 2471.6111 Fax.: (0xx11) 6954.0712
Plantão 24 horas: (0xx11) 6954.2049
RIO GRANDE DO NORTE
SERGIPE
15ª Superintendência Regional
20ª Superintendência Regional
Av. Bernardo Vieira , 3656
Av. Maranhão, 1890
Bairro Lagoa Seca - Natal - RN
Bairro Santos Dumont - Aracajú - SE
59051-005
49087-420
Fax.: (0xx84) 211.3749
Tel.: (0xx79) 245.2233
Plantão 24 horas: (0xx84) 2114.4708
Fax. (0xx79) 245.2095
/ 211.3860 Plantão 24 horas: (0xx79) 2223.2333
/ 2223.1877
RIO GRANDE DO SUL
9ª Superintendência Regional TOCANTINS
Rua Siqueira Campos, 664 22ª Superintendência Regional
Centro - Porto Alegre - RS BR 153 Km. 652
90010-000 Bairro Guaracy - Gurupi - TO
Tel.: (0xx53) 221.3680 77402-210
Fax.: (0xx53) 221.6912 Tel.: (0xx63) 714.1284
Plantão 24 horas: (0xx53) 371.2153 Fax.: (0xx63) 714.1012
Plantão 24 horas: (0xx63) 1527

435
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

3.7 - Telefone de Emergência das Empresas Associadas á Andef


(24 Horas)

Aventis - 0800 122333


BASF - 0800 112273
Bayer - 0800 243334
Dow AgroSciences - (0xx11) 4449.3222 - 4449.1616 e 4449.5111
DuPont - 9 (0xx11) 4166.8318
FMC - (0xx34) 3319.3000
Hokko - (0xx11) 3054.5000
Ihara Bras - (0xx15) 225.1744
Monsanto - 0800 141977
Rohm and Haas - (0xx12) 3954.2100
Sipcam Agro - (0xx34) 0800 170450
Syngenta - 0800 160210 / 0800 262500
Uniroyal - (0xx19) 3522.5000
Consultas e emergências
STD - Safe Truck Driving - Consultoria em Transporte Rodoviário de Pro-
dutos Perigosos
Mário Sérgio Turiani - Celular (0xx11) 9906.0127 / Fax.: (0xx11) 4521.8968
e-mail: [email protected] - www.stdturiani.com.br -
www.produtosperigosos.com.br

4 - ARMAZENAMENTO DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS

4.1 – Características Técnicas do Armazém

4.1.1 Localização

• Se possível, numa zona industrial (exceto indústria de produtos alimentí-


cios) distante de área residencial (hospitais, escolas, igrejas, bancos, ruas
e avenidas movimentadas, etc.) obedecendo às posturas municipais dos
órgãos responsáveis pela localização das edificações. Respeitar uma dis-
tância mínima de 10 metros entre edificações para facilitar a movimen-
tação de veículos.
436
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

• Distante de locais com potencial de inundação.


• Afastado de armazéns de alimentos, rações animais, medicamentos e de
produtos que ofereçam risco de explosão e fogo.
• Distante de mananciais, obedecendo às posturas municipais estabelecidas
pelos poderes públicos. Exemplo: represas, rios, riachos, lagos, etc.
• Possibilitar acesso adequado ao corpo de bombeiros em casos de incên-
dio.

4.1.2 - Edificação

• O armazém deve ser construído de alvenaria.


• Pé direito com no mínimo 4 metros de altura, para otimizar a ventilação
natural diluidora.
• Acesso ao depósito por dois lados ou mais, para o serviço de salvamento
e corpo de bombeiros.
• Via de acesso adequado para carga e descarga dos veículos, com no
mínimo 10 metros de largura, também para a rota de fuga em casos de
acidentes.
• Telhado em boas condições: telhas de barro ou amianto, que não tenha
infiltração.
• Instalações elétricas dentro de normas de segurança, com aterramento,
quando necessário, com fiação embutida.
• Sistema de alarme contra incêndios.
• Escritório, banheiros, cozinha, sala de café, devem ser construídos fora
do depósito. Se houver escritório dentro do armazém, este deve ter pelo
menos uma saída que não passe pelo depósito.

4.1.3 – Pavimentação

• O piso deve ser impermeável (concreto ou similar), que facilite a limpeza


e não permita infiltração para o sub-solo.
• Sistema de contenção de resíduos, como: Sistema selado, composto de
ralos, drenos, diques, (lombadas ou muretas nas saídas - 20 cm de altu-
ra), canaletas, que levem os resíduos a um tanque de contenção.
• O piso deve ser impermeável (concreto ou similar), que facilite a limpeza
e não permita infiltração para o sub-solo.
437
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

• Sistema de contenção de resíduos, como: Sistema selado, composto de


ralos, drenos, diques, (lombadas ou muretas nas saídas - 20 cm de altu-
ra), canaletas, que levem os resíduos a um tanque de contenção.

4.1.4 – Drenagem

• Recomenda-se que o sistema de drenagem das águas pluviais seja


construído de maneira que possa funcionar adequadamente (ex.: siste-
ma selado, visto acima).
• O piso do armazém não deve ter drenagens abertas (prevenção contra
liberação incontrolada de produtos).
• Os canos de descida das águas pluviais devem ter proteção mecânica
(evitar danos mecânicos pela entrada e saída de veículos).

4.1.5 – Ventilação

• Natural: Aberturas inferiores (Elementos vazados e telas de proteção -


de 30 a 50 cm do chão) e superiores (janelas opostas e exaustores eólicos),
respectivamente para a liberação de gases pesados e leves.
• Artificial: Use ventilação mecânica para um maior controle da qualidade
do ar e da temperatura das dependências do armazém. Instale exausto-
res em uma parede, com entradas de ar na parede oposta aos mesmos,
no mesmo nível. A utilização de mais de um ventilador e entrada de ar,
faz com que o ar se mova uniformemente e remova vapores com maior
eficácia. Este tipo de sistema deve ser à prova de explosão e de acordo
com as normas já existentes.

* Nota: para uma maior circulação do ar no armazém, recomenda-se dei-


xar um espaço livre de 1 metro entre a parte mais alta dos produtos e o
telhado, assim como 50 cm entre as mercadorias e as paredes.

4.1.6 – Iluminação

• Natural: Telhas translúcidas.


• Artificial: À prova de explosão e de acordo com as normas já existentes.

438
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

4.1.7 – Saídas de Emergência

• Deve estar no máximo a 30 metros do ponto mais distante do armazém.


• Devem ser claramente marcadas e desenhadas de tal forma a ser de
fácil acesso e abertura e devidamente sinalizadas.

4.1.8 – Pára-raios

•Todos os armazéns devem estar equipado com pára-raios.

4.2 – Gerenciamento Do Armazém

4.2.1 – Sinalização

Devem existir em lugar visível as seguintes indicações/referências:


• Armazém de produtos fitossanitários.
• Proibida a entrada de pessoas estranhas ou não autorizadas.
• Proibido fumar.
• Saídas de emergência.
• Recipientes para coleta de resíduos (sólido, líquidos absorvidos).
• Extintores (conforme norma do corpo de bombeiros).

4.2.2 – Organização do Armazém

• Deve estar sempre limpo.


• Isolado de agentes físicos e químicos, que possam prejudicar os produtos
armazenados.
• Isolado de locais onde se conservem ou consumam alimentos, bebidas,
medicamentos, etc.
• Demarcar no piso do armazém, a área de estocagem e a área de circu-
lação.

439
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Estabelecer um esquema de armazenamento para:


• Não permitir que diferentes classes de produtos para uso agrícola pos-
sam ficar juntos, evitando desta forma a contaminação cruzada (ex.:
inseticidas, fungicidas ou herbicidas com fertilizantes). Sinalizar a locali-
zação destas classes de produtos;
• Intercalar produtos inflamáveis com produtos não inflamáveis, evitando
desta forma o agravamento do risco de incêndio, no caso de ser um
único local de armazenamento. É aconselhável que as portas de separa-
ção e isolamento sejam do tipo corta-fogo.
• Evitar que pessoas não autorizadas, e especialmente crianças, tenham
acesso. Para entrar no armazém, toda e qualquer pessoa, funcionário ou
visitante, deve estar devidamente vestida: calça, camisa, sapato e capa-
cete.

O armazém deve estar protegido para evitar incêndio, conforme NR


23(*1). O depósito deve conter, em local visível:
• Geradores de espuma;
• Hidrantes (perto das saídas);
• Mangueiras;
• Extintores de incêndio (contatar corpo de bombeiros para saber qual o
extintor mais indicado para essa situação), também devem se localizar
perto das saídas;
Sistema de segurança e alarme de incêndio, ambos ligados a uma
estação central (ex.: corpo de bombeiros).

440
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

EXTINTOR QUANTO AO TIPO DE FOGO


Tipo de fogo a ser À
Dióxido Químicos
combatido Base Bomba Cartucho Químicos
Espuma de Secos
de Tanque de Gás Secos
Carbono Ordinários
Água
CLASSE:
Combustíveis
SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM
Ordinários: lã,
papel, roupa
CLASSE:
Líquidos
Inflamáveis: SIM SIM NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO
gasolina, tintas,
óleos, etc.
CLASSE:
Equipamentos
Elétricos: motores, NÃO SIM NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO
transformadores,
etc.

O armazém deve estar devidamente aparelhado com equipamento


de proteção coletiva, tais como: vestiário, chuveiro, armários individuais du-
plos (para evitar que haja mistura de roupas civis com as de trabalho), chu-
veiro de emergência, lava-olho e caixa de emergência. Na caixa de emer-
gência deve constar no mínimo:
• Respirador com filtro apropriado para multigases;
• Luvas de nitrila ou neoprene;
• Bota de PVC;
• Avental de PVC;
• Óculos ou viseira do tipo ampla visão;
• Macacão de algodão.

Manter em local visível


• Fichas de emergência dos produtos comercializados.
• Placas ou cartazes com aviso de risco dos produtos, conforme NBR
7500 (*2).
• Telefones de emergência.

441
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

• Médico e hospital ou pronto socorro mais próximo.


• Fabricantes dos produtos envolvidos.
• Centros de Informação Toxicológica (CIT’s).
• Materiais absorventes (serragem, vermiculita, etc), adsorventes e
neutralizantes (*), conforme constante da ficha de emergência - NBR
7503 (*3).
(*) Ácidos ou bases, conforme o produto a ser neutralizado.
• Manter tambores de areia em local sinalizado para absorção de material
derramado;
• Manter tambores vazios de tampa removível em local sinalizado (para
recolhimento do material contaminado).
• Manter disponíveis fichas de informação sobre segurança de produto
(FISP) fornecido pelo fabricante.
• Atividades secundárias deverão ser evitadas no local de armazenamento.

Deveres do responsável pelo armazém


• Promover o manuseio seguro dos produtos, quando da entrada e saída
destes do armazém, mantendo um relatório deste processo diariamente
(controle de estoque);
• Manter fichas de emergência e de segurança dos produtos armazenados
em local adequado (é aconselhável que se mantenha estas fichas em
painéis de fácil visualização);
• Manter uma área de circulação. Esta área deve, pelo menos, ter um
corredor central orientado para a porta principal do armazém e corredo-
res secundários, separando as diversas áreas;
• Manter o corpo de bombeiro, médico e hospital, informados sobre as
fichas de emergência;
• Manter um afastamento de no mínimo, 50 cm, entre as paredes laterais
e as pilhas de produtos (além de funcionar como área de ventilação,
permitem localizar e identificar vazamentos);
• Armazenar produtos sobre estrados (paletes), evitando contato direto
das embalagens com o piso e facilitando a localização de vazamentos;
• Manter os rótulos existentes nas embalagens sempre voltados para o
lado de fora da pilha (fácil identificação);
• Manter no armazém, equipamentos de proteção individual completo, para
uso em casos de emergência;

442
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

• Elaborar plano de emergência (incêndio/vazamento) e treinar funcioná-


rios para a execução desse plano. Deverão estar inclusos no treinamen-
to:
- Conhecimentos dos danos que cada produto pode causar;
- Procedimentos gerais de segurança e como operar estes equipamentos
(ex.: extintores);
- Procedimentos em casos de emergência: toque de alarme, uso correto
dos EPI’s, procedimentos de evacuação do local, confirmar o número de
pessoas que estão no local e definir um ponto de encontro.

O plano de emergência deve mostrar onde obter ajuda - Tele-


fones de emergência. Além disso, deve ser praticado
freqüentemente, visando descobrir problemas e falhas em equipa-
mentos.
• Manter em local identificado, estojo de primeiros socorros.

Derrame ou vazamento
• Suspender todas as operações;
• Não utilizar água para lavagem e/ou limpeza;
• Isolar a área contaminada;
• Seguir os procedimentos de fichas de emergência e da FISP (Ficha de
Informação de Segurança do Produto);
• Utilizar os EPI’s - Equipamentos de proteção individual, antes de qual-
quer providência para descontaminação do local;
• Absorver o produto derramado ou que tenha vazado, com material ab-
sorvente, adsorvente e neutralizante, conforme constante da ficha de
emergência (NBR 7503). Em caso de dúvida, contactar o fabricante do
produto.
• No caso de produto sólido, varrer com cuidado, procurando gerar o míni-
mo possível de poeira;
• Material resultante da limpeza, deve ser guardado em recipientes fecha-
dos e em lugar seguro e devidamente identificado;
• Solicitar informações ao fabricante sobre o destino final do lixo tóxico
recolhido.

443
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Procedimentos

Em casos de contaminação
• Contaminação da pele: lavar com água corrente e sabão.
• Contaminação dos olhos: lavar com água corrente (por 10 minutos).
Procurar assistência médica especializada para cuidados complementa-
res, levando consigo rótulo e/ou bula.
• Intoxicação por inalação/ingestão: Primeiros socorros: consultar fi-
chas de informação sobre segurança de produto (FISP) ou rótulo/bula.
Contactar imediatamente o hospital/médico mais próximo, levando con-
sigo as informações de segurança (rótulo/bula, etc.) do produto.
• Acionar, caso necessário, o fabricante do produto envolvido, através do
telefone de emergência ou de atendimento ao cliente.
• Roupas contaminadas deverão ser lavados. Sapatos contaminados de-
vem ser descartados.

Cuidados com os funcionários


• Devem ser adequadamente treinados. Devem receber equipamentos de
proteção individual e treinamento de como usá-los. Devem ser periodi-
camente submetidos a exames médicos;
• Devem ser proibidos de comer, beber ou fumar no interior do depósito.
Permanecer somente o tempo necessário no interior do armazem;
• Devem iniciar o dia sempre com roupas limpas e descontaminadas, res-
peitando os horários limites da jornada de trabalho;
• Devem ler e seguir as instruções do rótulo dos produtos, para obter in-
formações específicas dos mesmos.

Atividades não rotineiras


Atividades não rotineiras deverão ter uma permissão por escrito para
serem realizadas.
Esta permissão deverá:
• Registrar que a área onde se realizará o trabalho contém produtos peri-
gosos, inflamáveis e/ou combustíveis;
• Informar os riscos de acidentes e, portanto, assegurar que o trabalho
pode ser realizado com total segurança;

444
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

• Registrar quem irá realizar este trabalho e se esta pessoa tem conheci-
mento suficiente em casos de emergência.

(*1) NR 23 - Norma Regulamentadora 23 - ABNT


(*2) NBR 7500 - Norma Brasileira - ABNT
(*3) NBR 7503 - Norma Brasileira - ABNT

4.2.3 – Cuidados Com As Embalagens

Cuidados no armazenamento
• Não armazenar embalagens abertas, danificadas ou com vazamento.
• As embalagens devem ser armazenadas sobre paletes para evitar
o contato direto com o piso do depósito.
• As embalagens contendo produtos líquidos devem ser armazenadas
com a tampa voltada para cima.
• As embalagens devem ser dispostas de tal forma que as pilhas
fiquem afastadas das paredes (50 cm) e do teto (1 metro).
• As embalagens devem ser dispostas de tal forma a proporcionar
melhores condições de aeração do sistema e permitir facilidade de
manuseio e/ou movimentação do conjunto.
• As embalagens devem ser dispostas de tal forma, que na mesma
pilha haja somente embalagens iguais e do mesmo produto.
• As embalagens de formato retangular devem ser empilhadas com
apoios cruzados, o que assegura uma auto-amarração do conjunto,
bem como uma maior resistência do mesmo.
• Deve ser efetuado um controle permanente das datas de validade
dos produtos, para evitar o vencimento. É importante aplicar um
sistema de rodízio, de tal forma que a primeira mercadoria a entrar
seja a primeira a sair.
• Periodicamente (2 vezes ao ano), devem ser realizadas vistorias no
depósito, para checar suas condições de segurança.

Empilhamento Máximo
A seguir, são apresentadas sugestões sobre a altura máxima de
empilhamento.

445
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

ATENÇÃO: Sempre verifique a informação de altura máxima de


empilhamento escrito na embalagem, Ficha de Informação de Segurança
de Produto (FISP) ou cheque direto com o fabricante. A altura máxima de
empilhamento pode variar em função da qualidade e resistência do material
utilizado na embalagem.

Tambores Metálicos de 100 a 200 Litros:

Pilha comum:
• Somente aconselhável em pisos horizontais não recalcáveis, na
posição vertical, com altura máxima da pilha de 3 tambores.

Pilha sobre palete:


• Uma camada por palete, na posição vertical;
• Altura máxima da pilha - 4 paletes.

Prateleira porta-palete:
• Uma camada de tambores de 100 e 200 litros, por palete.

Baldes Metálicos de 20 litros:

Pilha comum:
• Altura máxima da pilha - 6 baldes.

Pilha sobre palete:


• Três camadas por palete, na posição vertical;
• Altura máxima da pilha - 3 paletes.

Pilha em prateleira porta palete:


• 3 camadas por palete, na posição vertical;
• Não sobrepor os paletes.

446
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Bombonas Plásticas de 100 a 200 litros - Tampa Removível:

Pilha comum:
• Altura máxima da pilha - 2 bombonas.

Pilha sobre paletes:


• Uma camada por palete na posição vertical;
• Altura máxima da pilha - 2 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• Uma camada por palete na posição vertical;
• Não sobrepor os paletes.

Bombonas e Baldes Plásticos de 30 a 50 litros:

Pilha comum:
• Altura máxima - 3 bombonas/baldes.

Pilha sobre paletes:


• 2 camadas por paletes na posição vertical;
• Altura máxima da pilha - 2 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• Uma camada por palete;
• Altura máxima - 2 paletes.

Baldes Plásticos de 20 litros com Tampa Removível:

Pilha comum:
• Altura máxima - 3 baldes.

Pilha sobre paletes


• 2 camadas por paletes na posição vertical;
• Altura máxima da pilha - 2 paletes.

447
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Pilha em prateleira porta-palete:


• 3 camadas por palete.

Bombonas Plásticas de 20 litros:

Pilha comum:
• Altura máxima - 3 bombonas

Pilha sobre paletes:


• 2 camadas por paletes, na posição vertical;
• Altura máxima da pilha - 2 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 3 camadas por palete.

Bombonas e Baldes Plásticos de 10 litros:

Pilha comum:
• Altura máxima - 5 bombonas/baldes.

Pilha sobre paletes:


• 4 camadas por paletes, na posição vertical;
• Altura máxima da pilha - 2 paletes; ou
• 2 camadas por paletes, na posição vertical;
• Altura máxima da pilha - 4 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 4 camadas por palete, na posição vertical;
• Não sobrepor os paletes.

Caixas Coletivas contendo baldes ou Bombonas Plásticas de 20


litros:

Pilha comum:
• Altura máxima - 4 caixas.

448
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Pilha sobre paletes:


• 3 camadas por paletes;
• Altura máxima - 2 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 3 camadas por palete.

Caixas Coletivas contendo Baldes ou Bombonas Plásticas de 10


litros:

Pilha comum:
• Altura máxima - 6 caixas

Pilha sobre paletes:


• 4 camadas por paletes;
• Altura máxima da pilha - 2 paletes (para baldes, não sobrepor palete).

Pilha em prateleira porta-palete:


• 4 camadas por palete.

Caixas Coletivas contendo Baldes ou Bombonas Plásticas de 5


litros:

Pilha comum:

• Altura máxima - 8 caixas (se possível com amarração).

Pilha sobre paletes:


• 4 camadas por paletes;
• Altura máxima da pilha - 3 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 4 camadas por palete.

449
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Caixas Coletivas Contendo Frascos Metálicos de 5 litros:

Pilha comum:
• Altura máxima - 8 caixas (se possível com amarração).

Pilha sobre paletes:


• 4 camadas por paletes;
• Altura máxima - 2 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 6 camadas por palete

Caixas Coletivas Contendo Frascos Metálicos de 1 litro:

Pilha comum:
• Altura máxima - 6 caixas.

Pilha sobre paletes:


• 4 camadas por palete;
• Altura máxima - 3 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 4 camadas por palete.

Caixas Coletivas contendo Frascos Plásticos ou de Vidro de 1 litro:

Pilha comum:
• Altura máxima - 10 caixas.

Pilha sobre paletes:


• 4 camadas por palete;
• Altura máxima - 3 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 6 camadas por palete

450
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Caixas Coletivas contendo Frascos Plásticos ou de Vidro de 0,5


litro:

Pilha comum:
• Altura máxima - 12 caixas.

Pilha sobre paletes:


• 7 camadas por palete;
• Altura máxima - 2 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 7 camadas por palete

Caixas Coletivas contendo Frascos Plásticos ou de Vidro de 100 -


250 ml:

Pilha comum:
• Altura máxima - 15 caixas.

Pilha sobre paletes:


• 9 camadas por palete;
• Altura máxima - 2 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 9 camadas por palete

Caixas Coletivas contendo Aerosóis:

Pilha comum:
• Altura máxima - 10 caixas.

Pilha sobre paletes:


• 4 camadas por palete;
• Altura máxima - 2 paletes.

451
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Pilha em prateleira porta-palete:


• 6 camadas por palete

Sacos de 20 a 30 kg contendo grânulos:

Pilha comum:
• Altura máxima - 10 sacos, com amarração.

Pilha sobre paletes:


• 5 camadas por palete;
• Altura máxima - 2 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 7 camadas por palete.

Sacos de 20 a 25 kg contendo Pó Molhável ou Pó Solúvel:

Pilha comum:
• Altura máxima - 10 sacos, com amarração.

Pilha sobre paletes:


• 5 camadas por palete;
• Altura máxima - 2 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 8 camadas por palete.

Sacos de 20 kg contendo Pó Seco:

Pilha comum:
• Altura máxima - 20 sacos, com amarração.

Pilha sobre paletes:


• 6 camadas por palete (se possível com amarração);
• Altura máxima - 3 paletes.

452
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Pilha em prateleira porta-palete:


• 10 camadas por palete.

Caixas ou Barricas acima de 10 a 25 kg contendo Pó Seco, Pó


Molhável, Pó Solúvel ou Grânulos:

Pilha comum:
• Altura máxima - 5 camadas.

Pilha sobre paletes:


• 3 camadas por palete;
• Altura máxima - 2 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• 5 camadas por palete.

Caixas ou Barricas até 10 kg contendo Pó Seco, Pó Molhável, Pó


Solúvel ou Grânulos:

Pilha comum:
• Altura máxima - 7 caixas/barricas.

Pilha sobre paletes:


• 3 camadas por palete;
• Altura máxima - 3 paletes.

Pilha em prateleira porta-palete:


• Caixas - 9 camadas por palete;
• Barricas - 3 camadas por palete.

4.2.4 – Incêndio

Além dos riscos normais de incêndios, como queimaduras e geração


de fumaça, incêndios em depósitos de produtos fitossanitários trazem riscos
adicionais. Os produtos e seus derivados em combustão podem gerar gases
e vapores tóxicos. As melhores medidas são sempre as preventivas.

453
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Medidas preventivas
A localização de um depósito deve ser afastada de outros prédios.
• Devem ser deixados caminhos de acesso, para eventual passagem
de carros de bombeiros.
• As instalações elétricas devem estar em boas condições.
• Jatos de água não devem ser usados quando existem produtos que
possam ser espalhados pela pressão da água, correndo o risco de
levá-los para esgotos ou coleções de água.
• Deve conter sistema de alarme contra incêndio.
• É conveniente que o depósito seja vistoriado periodicamente pelo
corpo de bombeiros, que deve ser informado sobre os tipos de
produtos armazenados.
• Devem existir diversos tipos de equipamentos para o combate ao
fogo.
• Deve ser previsto na construção do depósito, um sistema de
contenção de água.
• Embalagens com líquidos combustíveis ou com formulações
contendo solventes inflamáveis devem ser esfriadas com neblina
de água, para evitar explosões.
• Incêndios podem gerar vapores tóxicos. Portanto, nestas situações,
é importante evitar a aproximação de qualquer pessoa desprotegida.
• É recomendável que empresas que armazenam grandes quantidades
de produtos fitossanitários, disponham de equipamentos de proteção
individual adequados para casos de incêndios, principalmente
máscaras contra gases. Para isto, é conveniente consultar o corpo
de bombeiros.

Início do incêndio
• Soar alarme de incêndio (evasão das pessoas do local).
• Chamar corpo de bombeiros e, nesse meio tempo, tentar evitar que
o fogo se espalhe.
• Usar extintores de incêndio para minimizar o problema (usar
máscaras - respirador com filtro apropriado para multigases).
• Se o incêndio se espalhar, somente bombeiros deverão entrar no
local.

454
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

• Fogo deverá ser apagado, se possível, com espuma (para não


espalhar produto fitossanitário).
• Pessoas que estavam no local do acidente deverão ser levadas ao
hospital mais próximo para serem submetidas a exames médicos.

Limpeza após o fogo


• Providenciar que o local seja adequadamente isolado, até o momento
da limpeza total da área.
• Pessoas que trabalharem na limpeza do local devem estar
familiarizados com produtos fitossanitários e observar o uso de
equipamentos de proteção individual.
• Proibido fumar, comer ou beber durante a descontaminação da área.
• Cuidados para não disseminar produtos químicos para fora da área
contaminada (em sapatos e pneus de carro).
• Resíduos gerados deverão ser armazenados para posterior
destruição em local adequado.
• Autoridades locais deverão estar informadas sobre procedimentos
pós-acidentes (limpeza, geração e descarte de resíduos, etc.).
• Produtos recuperados após o incêndio podem estar aparentemente
bons, mas por terem sido expostos a temperaturas elevadas, podem
ter iniciado um processo de degradação. Neste caso, entrar em
contato com o fabricante do produto em questão, para que este
faça uma avaliação das condições físico-químicas do mesmo.

4.2.5 – Armazenamento em Pequenos Depósitos

Mesmo para estocagem de pequenas quantidades de produtos


fitossanitários em fazendas, algumas regras básicas devem ser observadas
para garantir um correto armazenamento.
• Não armazenar produtos fitossanitários junto com alimentos ou
medicamentos;

• É recomendada a construção de um compartimento isolado para o


armazenamento de produtos fitossanitários. Se os produtos forem
guardados num galpão de máquinas, a área deve ser isolada com
tela de proteção ou parede e mantida fechada sob chave;
455
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

• Não fazer estoque de produtos além das quantidades para uso a


curto prazo, como uma safra agrícola;

• Todos os produtos devem ser mantidos nas embalagens originais.


Após uma remoção parcial do conteúdo, as embalagens devem ser
novamente fechadas;

• No caso de rompimento das embalagens, estas devem receber uma


sobre capa, preferencialmente de plástico transparente, com o
objetivo de evitar o vazamento de produto. É importante o rótulo
permanecer sempre visível ao usuário;
• Finalmente, é recomendado não armazenar produto fitossanitário
em local sujeito a umidade.

4.3 – Lista de Verificação


N° Q u estão Sim N ão
L ocalização e C onstrução
1. O armazém satisfaz o s requisito s mínimo s no que diz respeito à
lo calização ? S e fo r não , em quais aspecto s existem falhas?
.................................................
2. O acesso ao armazém (entradas e saídas) satisfaz o s requisito s
mínimo s?
3. Q ual a capacidade no minal do armazém? ...... to neladas.
4. E m relação à co nstrução , o armazém co rrespo nde ao s requisito s
co nsiderado s:
- E dificação ?
- P avimentação ?
- D renagem?
- V entilação ?
- Iluminação ?
- S aídas de E mergência?
- P ára-R aio s?
Se não fo r, em quais aspecto s existem falhas? ..............................

456
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

5. O armazém co ntém sistema de diques de no mínimo 20 cm de


altura?
6. O armazém po ssui sistema adicio nal para co ntenção de resíduo s
pro cedentes de incêndio s? Q ual?
- Fo sso para retenção ?
- P arede externa para co ntenção ?
- O utro s? D escrever ......................................................
7. Se ho uver algum tipo de aco mo dação o u escritó rio na estrutura do
armazém:
- E stá adequadamente separado deste?
- T em pelo meno s uma saída que não passa pelo depó sito ?

Gerenciamento do Armazém
8. O armazém está:
- Bem sinalizado?
- Limpo?
- Isolado?
- Com disposição correta de produtos?
- Com equipamentos de proteção (contra incêndio e individual)?
- Equipado com materiais absorventes e neutralizantes?
- Equipado com tambores para retirada de material descartado?
- Com telefones de emergência em local visível?
- Com fichas de emergência e segurança dos produtos
armazenados?
9. Respeitando a altura máxima de empilhamento das embalagens, de
acordo com este manual?
10. Há uma estrutura gerencial definida, com responsabilidades claras
das pessoas que trabalham no armazém?

457
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

11. Estas responsabilidades incluem:


- Recebimento e despacho de mercadorias?
- Higiene, saúde e segurança?
- Condições de armazenamento apropriadas?
- Sistema de segurança do armazém (contra assalto e incêndio
criminoso)?
- Proteção ao meio ambiente?
- Procedimentos do plano de emergência?
- Requisitos mínimos quando forem realizados trabalhos secundários?
12. Precauções de segurança contra assalto e incêndio criminoso, incluem:
- Sistema de alarme?
- Janelas e portas protegidas?
- Vigilância durante 24 horas?
- Suficiente iluminação externa?
13. Todos os trabalhadores do armazém estão treinados com relação a:
- Conhecimento dos riscos à saúde dos diferentes produtos
armazenados?
- Manuseio seguro e correto destes produtos?
- Procedimentos de emergência?
14. Estão as Fichas de Emergência e Segurança de Produtos, atualizadas?
15. Estão os registros de entrada e saída (estoque) de produtos,
atualizados? Este fato garante saber quantidade e localização destes
produtos a qualquer momento que for necessário?

458
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Higiene e Segurança Pessoal


16. São adequados os padrões de higiene e segurança pessoal?
17. São usadas roupas específicas para o trabalho realizado no armazém?
18. Quando necessário, são usados Equipamentos de Proteção Individual?
Descarte de Resíduos e Embalagens
19. Há um procedimento no caso de derrame ou vazamento de produtos?
20. Este material resultante é absorvido e descartado adequadamente?
21. Há um procedimento de emergência no caso de intoxicações?
22. Se houver, as embalagens vazias são armazenadas e descartadas
adequadamente?
Incêndio
23. Existem sinais de "É Proibido Fumar" no armazém?
24. Os produtos são armazenados distantes de equipamentos que possam
causar faísca e conseqüentemente fogo?
25. O número de extintores de incêndio, hidrantes e geradores de espuma
são suficientes no caso de incêndio no depósito?
26. O depósito contém detectores de fumaça e incêndio (alarme)?
27. O alarme está automaticamente ligado ao corpo de bombeiros?
28. Existe um plano de emergência?
29. Funcionários são treinados e praticam freqüentemente o plano de
emergência?
30. Autoridades locais conhecem o sistema de segurança do armazém?

5 – USO CORRETO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO IN-


DIVIDUAL

5.1 - Por Que usar Epi?

EPI são ferramentas de trabalho que visam proteger a saúde do tra-


balhador rural, que utiliza os Produtos Fitossanitários, reduzindo os riscos de
intoxicações decorrentes da exposição.

459
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

As vias de exposição são:

A função básica dos EPI é proteger o organismo do produto tóxico,


minimizando o risco.
Intoxicação durante o manuseio ou a aplicação de produtos
fitossanitários é considerado acidente de trabalho.
O uso de EPI é uma exigência da legislação trabalhista brasileira
através de suas Normas Regulamentadoras*. O não cumprimento poderá
acarretar em ações de responsabilidade cível e penal, além de multas aos
infratores.
* E revisão.

5.2 – Risco

O risco de intoxicação é definido como a probabilidade estatística de


uma substância química causar efeito tóxico. O Risco é uma função da
toxicidade do produto e da exposição.

460
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Risco = f ( toxicidade; exposição)

A toxicidade é a capacidade potencial de uma substância causar efeito


adverso à saúde. Em tese, todas as substâncias são tóxicas e a toxicidade
depende basicamente da dose e da sensibilidade do organismo exposto.
(Quanto mais tóxico um produto, maior é a dose necessária para causar
efeitos adversos).
Sabendo-se que não é possível ao usuário alterar a toxicidade do
produto, a única maneira concreta de reduzir o risco é através da diminuição
da exposição. Para reduzir a exposição o trabalhador deve manusear os
produtos com cuidado, usar equipamentos de aplicação bem calibrados e
em bom estado de conservação, além de vestir os EPI adequados.

RISCO TOXICIDADE EXPOSIÇÃO


ALTO ALTA ALTA
ALTO BAIXA ALTA
BAIXO ALTA BAIXA
BAIXO BAIXA BAIXA

O manuseio de produtos fitossanitários deve ser realizado por pesso-


as adultas, alfabetizadas e bem informadas sobre os riscos.
A melhor fonte de informação sobre o produto são o rótulo e a bula.

461
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

5.3 – Responsabilidades

A legislação trabalhista prevê que:

É obrigação do empregador
• fornecer os EPI adequados ao trabalho
• instruir e treinar quanto ao uso dos EPI
• fiscalizar e exigir o uso dos EPI
• repor os EPI danificados

É obrigação do trabalhador
• usar e conservar os EPI

Quem falhar nestas obrigações poderá ser responsabilizado

O empregador poderá responder na área criminal ou cível, além de


ser multado pelo Ministério do Trabalho.
O funcionário está sujeito a sanções trabalhistas podendo até ser de-
mitido por justa causa.
É recomendado que o fornecimento de EPI, bem como treinamentos
ministrados, sejam registrados através de documentação apropriada para
eventuais esclarecimentos em causas trabalhistas.
Os responsáveis pela aplicação devem ler e seguir as informações
contidas nos rótulos, bulas e nas Fichas de Informação de Segurança de
Produto (FISPQ), fornecidas pelas indústrias, sobre os EPI que devem ser
utilizados para cada produto.

462
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

O papel do Engenheiro Agrônomo durante a emissão da receita é


fundamental para indicar os EPI adequados pois, além das características
do produto, como a toxicidade, a formulação e a embalagem, o profissional
deve considerar os equipamentos disponíveis para a aplicação (costal, trator
de cabina aberta ou fechada, tipo de pulverizadores e bicos), as etapas da
manipulação e as condições da lavoura, como o porte, a topografia do terre-
no, etc.

5.4 – Aquisição Dos Epi

Os EPI existem para proteger a saúde do trabalhador e devem ser


testados e aprovados pela autoridade competente para comprovar sua efi-
cácia.
O Ministério do Trabalho atesta a qualidade dos EPI disponíveis no
mercado através da emissão do Certificado de Aprovação (C.A.). O forne-
cimento e a comercialização de EPI sem o C.A. é considerado crime e
tanto o comerciante quanto o empregador ficam sujeitos às penalidades
previstas em lei.
A indústria de produtos fitossanitários incentiva seus canais de distri-
buição a comercializarem EPI de qualidade e a custos compatíveis.

5.4.1 Principais equipamentos de proteção individual

Abaixo, estão listados os principais itens de EPI disponíveis no mer-


cado, além de informações e descrições importantes para assegurar a sua
identificação e o uso:

Luvas
Um dos equipamentos de proteção mais importantes, pois protege as
partes do corpo com maior risco de exposição: as mãos.
Existem vários tipos de luvas no mercado e a utilização deve ser de
acordo com o tipo de formulação do produto a ser manuseado.
A luva deve ser impermeável ao produto químico. Produtos que con-
têm solventes orgânicos, como por exemplo os concentrados emulsionáveis,
devem ser manipulados com luvas de BORRACHA NITRÍLICA ou
NEOPRENE, pois estes materiais são impermeáveis aos solventes orgâni-

463
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

cos. Luvas de LÁTEX ou de PVC podem ser usadas para produtos sólidos
ou formulações que não contenham solventes orgânicos.
De modo geral, recomenda-se a aquisição das luvas de “borracha
NITRILICA ou NEOPRENE”, que podem ser utilizadas com qualquer tipo
de formulação.
Existem vários tamanhos e especificações de luvas no mercado. O
usuário deve certificar-se do tamanho ideal para a sua mão, utilizando as
tabelas existentes na embalagem.

Respiradores
Geralmente chamados de máscaras, os respiradores têm o objetivo
de evitar a inalação de vapores orgânicos, névoas ou finas partículas tóxi-
cas através das vias respiratórias. Existem basicamente dois tipos de respi-
radores: sem manutenção (chamados de descartáveis) que possuem uma
vida útil relativamente curta e recebem a sigla PFF (Peça Facial Filtrante),
e os de baixa manutenção que possuem filtros especiais para reposição,
normalmente mais duráveis.
Os respiradores mais utilizados nas aplicações de produtos
fitossanitários são os que possuem filtros P2 ou P3. Para maiores informa-
ções consulte o fabricante.
Os respiradores são equipamentos importantes mas que podem ser
dispensados em algumas situações, quando não há presença de névoas,
vapores ou partículas no ar, por exemplo:
a) aplicação tratorizada de produtos granulados incorporados ao solo;
b) pulverização com tratores equipados com cabines climatizadas.

Devem estar sempre limpos, higienizados e os seus filtros jamais de-


vem estar saturados.
Antes do uso de qualquer tipo de respirador, o usuário deve estar
barbeado, além de realizar um teste de ajuste de vedação, para evitar falha
na selagem.
Quando estiverem saturados, os filtros devem ser substituídos ou des-
cartados.
É importante notar que, se utilizados de forma inadequada, os respi-
radores tornam-se desconfortáveis e podem transformar-se numa verda-
deira fonte de contaminação.

464
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

O armazenamento deve ser em local seco e limpo, de preferência


dentro de um saco plástico.

Viseira facial
Protege os olhos e o rosto contra respingos durante o manuseio e a
aplicação.
A viseira deve ter a maior transparência possível e não distorcer as
imagens. Deve ser revestida com viés para evitar corte. O suporte deve
permitir que a viseira não fique em contato com o rosto do trabalhador e
embace. A viseira deve proporcionar conforto ao usuário e permitir o uso
simultâneo do respirador, quando for necessário.
Quando não houver a presença ou emissão de vapores ou partículas
no ar o uso da viseira com o boné árabe pode dispensar o uso do respirador,
aumentando o conforto do trabalhador.
Existem algumas recomendações de uso de óculos de segurança para
proteção dos olhos. A substituição do óculos pela viseira protege não so-
mente os olhos do aplicador mas também o rosto.

Jaleco e calça hidro-repelentes:


São confeccionados em tecido de algodão tratado para se tornarem
hidro-repelentes, são apropriados para proteger o corpo dos respingos do
produto formulado e não para conter exposições extremamente acentuadas
ou jatos dirigidos. É fundamental que os jatos não sejam dirigidos proposita-
damente à vestimenta e que o trabalhador se mantenha limpo durante a
aplicação.
Os tecidos de algodão com tratamento hidro-repelente ajudam a evi-
tar o molhamento e a passagem do produto tóxico para o interior da roupa,
sem impedir a transpiração, tornando o equipamento confortável.
Estes podem resistir a até 30 lavagens, se manuseados de forma
correta. Os tecidos devem ser preferencialmente claros, para reduzir a ab-
sorção de calor e ser de fácil lavagem, para permitir a sua reutilização.
Há calças com reforço adicional nas pernas, que podem ser usadas
nas aplicações onde exista alta exposição do aplicador à calda do produto
(pulverização com equipamento manual, por exemplo).

465
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Jaleco e calça em não-tecido


São vestimentas de segurança confeccionadas em não-tecido (tipo
Tyvek/Tychem QC). Existem vários tipos de não-tecidos e a diferença en-
tre eles se dá pelo nível de proteção que oferecem.
Além da hidro-repelência, oferecem impermeabilidade e maior resis-
tência mecânica à névoas e às partículas sólidas.
O uso de roupas de algodão por baixo da vestimenta melhoram sua
performance, com maior absorção do suor, melhorando o conforto ao traba-
lhador com relação ao calor.
As vestimentas confeccionadas em não-tecido têm durabilidade limi-
tada e não devem ser utilizadas quando danificadas.
As vestimentas de não-tecido não devem ser passadas a ferro, não
são a prova ou retardantes de chamas, podem criar eletricidade estática e
não devem ser usadas próximo ao calor, fogo, faíscas ou em ambiente po-
tencialmente inflamável ou explosivo, pois se auto-consumirão.
As vestimentas em não-tecido devem ser destruídas em incineradores
profissionais para não causarem danos ao ambiente.

Boné árabe
Confeccionado em tecido de algodão tratado para tornar-se hidro-
repelente.
Protege o couro cabeludo e o pescoço de respingos e do sol.

Capuz ou touca
Peça integrante de jalecos ou macacões, podendo ser em tecidos de
algodão tratado para tornar-se hidro-repelente ou em nãotecido.
Substituem o boné árabe na proteção do couro cabeludo e pescoço.

Avental
Produzido com material resistente a solventes orgânicos (PVC, bagum,
tecido emborrachado aluminizado, nylon resinado ou nãotecidos), aumenta
a proteção do aplicador contra respingos de produtos concentrados durante
a preparação da calda ou de eventuais vazamentos de equipamentos de
aplicação costal.

466
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Botas
Devem ser impermeáveis, preferencialmente de cano alto e resisten-
tes aos solventes orgânicos, por exemplo, PVC.
Sua função é a proteção dos pés. É o único equipamento que não
possui C.A.

5.5 – Risco X Exposição X Operação

Os EPI não foram desenvolvidos para substituir os demais cuidados


na aplicação e sim para complementá-los, evitando-se a exposição. Para
reduzir os riscos de contaminação, as operações de manuseio e aplicação
devem ser realizadas com cuidado, para evitar ao máximo a exposição.

Atenção: Esta tabela não deve ser considerada como único critério
para utilização dos EPI. As condições do ambiente de trabalho poderão
exigir o uso de mais itens ou dispensar outros para aumentar a segurança e
o conforto do aplicador. Leia as recomendações do rótulo e bula. Observe a
legislação pertinente.
467
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

5.6 – Uso Dos Epi

Para proteger adequadamente, os EPI deverão ser vestidos e retira-


dos de forma correta.

5.6.1 – Veja Como Vestir Os Epi

Calça e Jaleco
A calça e o jaleco devem ser vestidos sobre a roupa comum, fato que
permitirá a retirada da vestimenta em locais abertos. Os EPI podem ser
usados sobre uma bermuda e camiseta de algodão, para aumentar o confor-
to. O aplicador deve vestir primeiro a calça do EPI, em seguida o jaleco,
certificando-se de que este fique sobre a calça e perfeitamente ajustado. O
velcro deve ser fechado com os cordões para dentro da roupa. Caso o
jaleco de seu EPI possua capuz, assegure-se de que este estará devidamen-
te vestido pois, caso contrário, facilitará o acúmulo e retenção de produto,
servindo como um compartimento. Vale ressaltar que o EPI deve ser com-
patível com o tamanho do aplicador.

Botas
Impermeáveis devem ser calçadas sobre meias de algodão de cano
longo, para evitar atrito com os pés, tornozelos e canela. As bocas da calça
do EPI sempre devem estar para fora do cano das botas, a fim de impedir o
escorrimento do produto tóxico para o interior do calçado.

Avental Impermeável
Deve ser utilizado na parte da frente do jaleco durante o preparo da
calda e pode ser usado na parte de trás do jaleco durante as aplicações com
equipamento costal.
Para aplicações com equipamento costal é fundamental que o pulve-
rizador esteja funcionando bem e sem apresentar vazamentos.

Respirador
Deve ser colocado de forma que os dois elásticos fiquem fixados
corretamente e sem dobras, um fixado na parte superior da cabeça e outro

468
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

na parte inferior, na altura do pescoço, sem apertar as orelhas. O respirador


deve se encaixar perfeitamente na face do trabalhador, não permitindo que
haja abertura para a entrada de partículas, névoas ou vapores. Para usar o
respirador, o trabalhador deve estar sempre bem barbeado.

Viseira facial
Deve ser ajustada firmemente na testa, mas sem apertar a cabeça do
trabalhador. A viseira deve ficar um pouco afastada do rosto para não em-
baçar.

Boné árabe
Deve ser colocado na cabeça sobre a viseira. O velcro do boné ára-
be deve ser ajustado sobre a viseira facial, assegurando que toda a face
estaja protegida, assim como o pescoço e a cabeça.

Luvas
Último equipamento a ser vestido, devem ser usadas de forma a evi-
tar o contato do produto tóxico com as mãos.
As luvas devem ser compradas de acordo com o tamanho das mãos
do usuário, (não podendo ser muito justas, para facilitar a colocação e a
retirada, e nem muito grandes, para não atrapalhar o tato e causar aciden-
tes).
As luvas devem ser colocadas normalmente para dentro das mangas
do jaleco, com exceção de quando o trabalhador pulveriza dirigindo o jato
para alvos que estão acima da linha do seu ombro (para o alto).
Nesse caso, as luvas devem ser usadas para fora das mangas do
jaleco. O objetivo é evitar que o produto aplicado escorra para dentro das
luvas e atinja as mãos.

5.6.2 – Como Retirar Os Epi

Após a aplicação, normalmente a superfície externa dos EPI está


contaminada. Portanto, na retirada dos EPI, é importante evitar o contato
das áreas mais atingidas com o corpo do usuário.
Antes de começar retirar os EPI, recomenda-se que o aplicador lave
as luvas vestidas.

469
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Isto ajudará a reduzir os riscos de exposição acidental.


Veja agora a maneira correta para a retirada dos EPI:

Boné árabe
Deve-se desprender o velcro e retirá-lo com cuidado.

Viseira facial
Deve-se desprender o velcro e colocá-la em um local de forma a
evitar arranhões

Avental
Deve ser retirado desatando-se o laço e puxando-se o velcro em
seguida.

Jaleco
Deve-se desamarrar o cordão, em seguida curvar o tronco para bai-
xo e puxar a parte superior (os ombros) simultaneamente, de maneira que o
jaleco não seja virado do avesso e a parte contaminada atinja o rosto.

Botas
Durante a pulverização, principalmente com equipamento costal, as
botas são as partes mais atingidas pela calda.
Devem ser retiradas em local limpo, onde o aplicador não suje os
pés.

Calça
Deve-se desamarrar o cordão e deslizar pelas pernas do aplicador
sem serem viradas do avesso.

Luvas
Deve-se puxar a ponta dos dedos das duas luvas aos poucos, de
forma que elas possam ir se desprendendo simultaneamente.
Não devem ser viradas ao avesso, o que dificultaria o próximo uso e
contaminaria a parte interna.

470
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Respirador
Deve ser o último EPI a ser retirado, sendo guardado separado dos
demais equipamentos para evitar contaminações das partes internas e dos
filtros.

Importante: após a aplicação, o trabalhador deve tomar banho com


bastante água e sabonete, vestindo roupas LIMPAS a seguir.

5.7 – Lavagem e Manutenção

Os EPI devem ser lavados e guardados corretamente, para assegu-


rar maior vida útil. Os EPI devem ser mantidos separados das roupas da
família.

Lavagem
A pessoa que for lavar os EPI deve usar luvas à base de Nitrila ou
Neoprene.
As vestimentas de proteção devem ser abundantemente enxaguadas
com água corrente para diluir e remover os resíduos da calda de pulveriza-
ção.
A lavagem deve ser feita de forma cuidadosa, preferencialmente com
sabão neutro (sabão de coco). As vestimentas não devem ficar de molho.
Em seguida, as peças devem ser bem enxaguadas para remover todo o
sabão.
O uso de alvejantes não é recomendado, pois vai danificar o trata-
mento do tecido.
As vestimentas devem ser secas à sombra. Atenção: somente use
máquinas de lavar ou secar, quando houver recomendações do fabricante.
As botas, as luvas e a viseira devem ser enxaguadas com água abun-
dante após cada uso. É importante que a VISEIRA NÃO SEJA
ESFREGADA, pois isto poderá arranhá-la, diminuindo a transparência.
Os respiradores devem ser mantidos conforme instruções específi-
cas que acompanham cada modelo. Respiradores com manutenção (com
filtros especiais para reposição) devem ser higienizados e armazenados em
local limpo. Filtros não saturados devem ser envolvidos em uma embalagem
limpa para diminuir o contato com o ar.

471
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

5.8 – Reativação do Tratamento Hidro-repelente

Testes comprovam que, quando as calças e jalecos confeccionados


em tecido de algodão tratado, para tornarem-se hidro-repelentes, são pas-
sados a ferro (150 a 180°C), a vida útil é maior. Somente as vestimentas de
algodão podem ser passadas a ferro.

Descarte
A durabilidade das vestimentas deve ser informada pelos fabricantes
e checada rotineiramente pelo usuário. Os EPI devem ser descartados quando
não oferecem os níveis de proteção exigidos. Antes de serem descartadas,
as vestimentas devem ser lavadas para que os resíduos do produto
fitossanitário sejam removidos, permitindo-se o descarte comum.

Atenção: antes do descarte, as vestimentas de proteção devem ser


rasgadas para evitar a reutilização.

5.9 – Mitos

Existem alguns mitos que não servem mais como desculpa para não
usar EPI:

EPI são desconfortáveis


Realmente os EPI eram muito desconfortáveis no passado, mas, atu-
almente, existem EPI confeccionados com materiais leves e confortáveis.
A sensação de desconforto está associada a fatores como a falta de treina-
mento e ao uso incorreto.

O Aplicador não usa EPI


O trabalhador recusa-se a usar os EPI somente quando não foi
conscientizado do risco e da importância de proteger sua saúde. O aplicador
profissional exige os EPI para trabalhar. Na década de 80, quase ninguém
usava cinto de segurança nos automóveis. Hoje, a maioria dos motoristas
usa e reconhece a importância.

472
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

EPI são caros


Estudos comprovam que os gastos com EPI representam, em média,
menos de 0,05% dos investimentos necessários para uma lavoura. Alguns
casos como a soja e milho, o custo cai para menos de 0,01%. Insumos,
fertilizantes, sementes, produtos fitossanitários, mão-de-obra, custos admi-
nistrativos e outros materiais somam mais de 99,95%. O uso dos EPI é
obrigatório e o não cumprimento da legislação poderá acarretar em multas e
ações trabalhistas. É preciso considerar os EPI’s como insumos agrícolas
obrigatórios.

5.10 – Considerações Finais

O simples fornecimento dos equipamentos de proteção individual não


garante a proteção da saúde do trabalhador e nem evita contaminações.
Incorretamente utilizados, os EPI podem comprometer ainda mais a segu-
rança do trabalhador.
O desenvolvimento da percepção do risco aliado a um conjunto de
informações e regras básicas de segurança são as ferramentas mais impor-
473
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

tantes para evitar a exposição e assegurar o sucesso das medidas individu-


ais de proteção à saúde do trabalhador.
O uso correto dos EPI é um tema que vem evoluindo rapidamente e
exige a reciclagem contínua dos profissionais que atuam na área de ciências
agrárias através de treinamentos e do acesso a informações atualizadas.
Bem informado, o profissional de ciências agrárias poderá adotar medidas
cada vez mais econômicas e eficazes para proteger a saúde dos trabalhado-
res, além de evitar problemas trabalhistas.

5.11 – Fornecedores De Equipamentos De Proteção Individual

VESTIMENTA EM TECIDO HIDRORREPELENTE

ADN ROUPAS PROFISSIONAIS ENGESEL EQUIPAMENTO DE SEGU-


Rua Fiação da Saúde, 391 RANÇA LTDA.
Saúde - SP - 04144-020 Rua Manoel Fernando Dias, 126
Tel. (11) 275 5436 - Fax: (11) 275 3443 Jardim Novo Campos Elíseos -
E-mail: [email protected] Campinas - SP - 13060-210
WebSite: www.adnroupas.com.br Tel: (19) 3227 9844 - 0800 149844

AZEREDO PROTEC EQUIPAMENTOS DE PRO-


Rua Senador Saraiva, 210 - Centro TEÇÃO LTDA.
Espírito Santo do Pinhal - SP - 13990-000 Rua Maria Isabel Tomas, 66
Tel/Fax: (19) 3651 3273 Campinas - SP - 13083-792
E-mail: [email protected] Tel: (19) 3287 0024 - 9106 2023
WebSite: www.azeredoepi.com.br
TEM TEM
AZR IND. COM. CONFECÇÕES Av. João Pessoa, 751 - Martins
LTDA. Uberlândia - MG - 38400-338
Rua das Camélias, 864 - Bairro Tel: (34) 3216 1200 - Fax: (34) 3216 2313
Mirandópolis E-mail:
São Paulo - SP - 04048-061 [email protected]
Tel: (11) 5589 8523 Fax: (11) 5583 0923
E-mail: [email protected] UNLINE IND. COM. LTDA.
WebSite: www.azr.com.br Rua São Judas Tadeu, 198
Piracicaba - SP - 13424-200
Tel: (19) 3422 3326
E-mail: [email protected]

474
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

VESTIMENTA EM NÃO TECIDO


DUPONT DO BRASIL S.A. - DIVISÃO NÃO TECIDOS
Alameda Itapecuru, 506 - Alphaville
Barueri - SP - Cep: 06454-080
Tel: (11) 4166 8304 - Fax: (11) 4166 8257
TeleDuPont: 0800 171715
WebSite: www.dupont.com.br

LUVAS
ANSELL
Rua 9 de Julho, 4499 - Jd. Paulista
São Paulo - SP - 01407-100
Disque Ansell: (11) 3884 6654 - 3884 9376
Sr Marcus Vinicius Mello Mazza
Cel: (11) 9936 6078
E-mail: [email protected]

CALIFORNIA RUBBER INDÚSTRIA & COMÉRCIO DE


ARTEFATOS DE LATEX LTDA.
Av. Ponta Grossa, 2025 - Parque Industrial
Califórnia - PR - 86820-000
Tel. (43) 429 1394 - Fax: (43) 429 1411
E-mail: [email protected]

I.C. LEAL LTDA.


Rua Clímaco Barbosa, 171
São Paulo - SP - 01523-000
Tel. (11) 3346 7324 - Fax: (11) 3279 6606
E-mail: [email protected]
WebSite: www.leal.com.br
MUCAMBO S.A.
Rua do Rócio, 351
São Paulo - SP - 04552-000
Tel. (11) 3846 1888 - Fax: (11) 3846 2450
E-mail: [email protected]
WebSite: www.mucambo.com.br
475
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

RESPIRADORES
3M DO BRASIL
Via Anhanguera, km 110 - Caixa Postal 123
Sumaré-SP - 13001-970
Disque Segurança: 0800 550705
Tel: (19) 3864 7000
WebSite: www.3m.com.br

AIR SAFETY INDÚSTRIA & COMÉRCIO LTDA.


Rua Titicaca, 611 - bairro Regina Lice
Barueri - SP - 06412-080
Tel: (11) 5522 0988
E-mail: [email protected]
WebSite: www.airsafety.ind.br

CONNEX COMERCIAL LTDA.


Av. Juan Esper, 190 - Veleiros
São Paulo - SP - 04771-000
Tel: (11) 5547 9185 - 5521 2699

EPICON - IND. DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVI-


DUAL LTDA.
R. Bandeirantes, 653
Diadema - SP - 09912-230
Tel/Fax: (11) 4043-4296
E-mail: [email protected]
WebSite: www.epicon.com.br

LUMAC EQUIP. DE PROTEÇÃO INDUSTRIAL LTDA.


Rua Itiúba, 207 - Vila Prudente
São Paulo - SP - 03158-010
Tel. (11) 6965-3800 - Fax: (11) 6966 3809
E-mail: [email protected]
WebSite: www.lumac.com.br

476
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

MSA DO BRASIL EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTOS DE


SEGURANÇA LTDA.
Av. Roberto Gordon, 138
Diadema - SP - 09990-901 - Caixa Postal 376
Tel. (11) 4071-1499 - Fax: (11) 4071-2020
E-mail: [email protected]
WebSite: www.msanet.com.br

DRAEGER IND. COM. LTDA.


Al. Pucuruí, 51
Barueri - SP - 06460 100
Tel: (11) 4689 4944 - Fax: (11) 4191 3508
E-mail: [email protected]
WebSite: www.draeger.com.br

BOTAS
BRACOL IND. COM.
Rua Bauru, 964
Lins - SP - 16401 100
Fax: (14) 3533 2202
E-mail: [email protected]

FUJIWARA EPI
Av. Governador Roberto da Silveira, 751 - Vila São Carlos
Apuracana - PR - 86800-520
Tel. (43) 420 5000
E-mail: [email protected]
WebSite: www.fujiwara.com.br

SÃO PAULO ALPARGATAS S.A.


Rua Urussui, 300 - Itaim Bibi
São Paulo - SP - 04542 903
Tel: (11) 3847 7322
WebSite: www.alpargatas.com.br

477
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

VICHI EQUIP. DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL LTDA.


Rua Enéas de Barros, 346 - Penha
São Paulo - SP - 03613-000
Tel: (11) 6957 3003

ASSOCIAÇÕES E ENTIDADES

ANIMASEG - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS INDÚSTRI-


AS DE MATERIAL DE SEGURANÇA E PROTEÇÃO DO
TRABALHO
Rua Francisco Tapajós, 627 - sala 3 - Saúde
São Paulo - SP - 04153-001
Tel/Fax: (11) 5058 5556
E-mail: [email protected]
WebSite: www.animaseg.com.br

FUNDACENTRO
Rua Capote Valente, 710
São Paulo - SP - 05409-002
PABX: (11) 3066-6000
Fax: (11) 3066-6343
E-mail: [email protected]
WebSite: www.fundacentro.gov.br

SINDISEG - SINDICATO DA INDÚSTRIA DE MATERIAL DE


SEGURANÇA E PROTEÇÃO AO TRABALHO NO ESTADO
DE SÃO PAULO
Praça da República, 473 - 1° andar
São Paulo - SP - 01095-001
Tel: (11) 3361 9355 - 3361 7593
E-mail: [email protected]
WebSite: www.sindseg.com.br

478
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

SINTESP - SINDICATO DOS TÉCNICOS DE SEGURANÇA DO


TRABALHO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Rua 24 de Maio, 104 - 5° andar
República - Centro - SP
Tel: (11) 3362 1104
E-mail: [email protected]
WebSite: www.sintesp.org.br

IPT - INSTITUTO DE PESQUISA TECNOLÓGICA DE SÃO


PAULO
Av. Wilson Bergo, 300 - Caixa Postal 72
Franca - SP - 14406 091
Tel: (16) 3720 1033
E-mail: [email protected]

6. SEGURANÇA NO PREPARO DA CALDA

O preparo da calda exige muito cuidado, pois é o momento em que o


trabalhador está manuseando o produto concentrado.
• A embalagem deve ser aberta com cuidado para evitar derramamento
do produto;
• Utilize balanças, copos graduados, baldes e funis específicos para o pre-
paro da calda. Nunca utilize esses mesmos equipamentos para outras
atividades;
• Faça a lavagem da embalagem vazia logo após o esvaziamento da em-
balagem;
• Após o preparo da calda, lave os utensílios e seque-os ao sol;
• Use apenas o agitador do pulverizador para misturar a calda;
• Utilize sempre água limpa para preparar a calda e evitar o entupimento
dos bicos do pulverizador;
• Verifique se todas as embalagens usadas estão fechadas e guarde-as no
depósito;
• Manuseie os produtos longe de crianças, animais e pessoas desprotegidas.

479
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

7. DESTINAÇÃO FINAL DE EMBALAGENS VAZIAS DE


AGROTÓXICOS

7.1 – Responsabilidades

As responsabilidades são do usuário, do revendedor e do fabricante.

Os Usuários deverão:

a) Preparar as embalagens vazias para devolvê-las nas unidades de recebi-


mento;
• Embalagens rígidas laváveis: efetuar a lavagem das embalagens (Tríplice
Lavagem ou Lavagem sob Pressão);
• Embalagens rígidas não laváveis: mantê-las intactas, adequadamente
tampadas e sem vazamento;
• Embalagens flexíveis contaminadas: acondicioná-las em sacos plásticos
padronizados.
b) Armazenar na propriedade, em local apropriado, as embalagens vazias
até a sua devolução;
c) Transportar e devolver as embalagens vazias, com suas respectivas tam-
pas e rótulos, para a unidade de recebimento indicada na Nota Fiscal
pelo canal de distribuição, no prazo de até um ano, contado da data de
sua compra. Se, após esse prazo, remanescer produto na embalagem, é
facultada sua devolução em até 6 meses após o término do prazo de
validade.
d) Manter em seu poder, para fins de fiscalização, os comprovantes de
entrega das embalagens (um ano), a receita agronômica (dois anos) e a
nota fiscal de compra do produto.

Os Canais de Distribuição deverão :

a) Disponibilizar e gerenciar unidades de recebimento para a devolução de


embalagens vazias pelos usuários/agricultores1;
b) No ato da venda do produto, informar aos usuários/agricultores sobre os
procedimentos de lavagem, acondicionamento, armazenamento, trans-
porte e devolução das embalagens vazias;

480
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

c) Informar o endereço da sua unidade de recebimento de embalagens va-


zias para o usuário, fazendo constar esta informação no corpo da Nota
Fiscal de venda do produto;
d) Fazer constar dos receituários que emitirem, as informações sobre des-
tino final das embalagens;
e) Implementar, em colaboração com o Poder Público e empresas
registrantes, programas educativos e mecanismos de controle e estímulo
à LAVAGEM (Tríplice ou sob Pressão) e à devolução das embalagens
vazias por parte dos usuários.

(1) Sugestão: os revendedores podem formar parcerias entre si ou com


outras entidades, para a implantação e gerenciamento de Unidades de Recebi-
mento no intuito de otimizar custos e facilitar os agricultores tendo só um endere-
ço para a região.

Os Fabricantes deverão:
a) Providenciar o recolhimento e dar a destruição final adequada às emba-
lagens vazias devolvidas às unidades de recebimento em, no máximo,
um ano, a contar da data de devolução pelos usuários/agricultores;
b) Implementar, em colaboração com o Poder Público, programas educativos
e mecanismos de controle e estímulo à LAVAGEM (Tríplice e sob Pres-
são) e à devolução das embalagens vazias por parte dos usuários/agri-
cultores;
c) Alterar os modelos de rótulos e bulas para que constem informações sobre
os procedimentos de lavagem, armazenamento, transporte, devolução e
destinação final das embalagens vazias.

7.2 – Preparação das Embalagens

7.2.1 – Embalagens Laváveis

Definição: São aquelas embalagens rígidas (plásticas, metálicas e de


vidro) que acondicionam formulações líquidas de agrotóxicos para serem
diluídas em água (de acordo com a norma técnica NBR-13.968).

481
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Procedimentos para o Preparo e Movimentação das Embalagens:

Lavagem das embalagens:

• Procedimentos de lavagem das embalagens rígidas (plásticas, me-


tálicas e de vidro):

Como fazer a Tríplice Lavagem?

a) Esvazie completamente o conteúdo da embalagem no tanque do pulveri-


zador;
b) Adicione água limpa à embalagem até ¼ do seu volume;
c) Tampe bem a embalagem e agite-a por 30 segundos;
d) Despeje a água de lavagem no tanque do pulverizador;
e) Faça esta operação 3 vezes;
f) Inutilize a embalagem plástica ou metálica, perfurando o fundo.

Como fazer a Lavagem Sob Pressão?

Este procedimento somente pode ser realizado em pulverizadores com


acessórios adaptados para esta finalidade.
a) Encaixe a embalagem vazia no local apropriado do funil instalado no
pulverizador;
b) Acione o mecanismo para liberar o jato de água;
c) Direcione o jato de água para todas as paredes internas da embalagem
por 30 segundos;
d) A água de lavagem deve ser transferida para o interior do tanque do
pulverizador;
e) Inutilize a embalagem plástica ou metálica, perfurando o fundo.

482
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Atenção:
• As operações de tríplice lavagem ou lavagem sob pressão devem ser
realizadas pelo usuário na ocasião do preparo de calda, imediatamente
após o esvaziamento da embalagem, para evitar que o produto resseque
e fique aderido à parede interna da embalagem, dificultando assim a sua
remoção;
• Somente utilize água limpa para realizar a lavagem das embalagens;
• Este procedimento não se aplica às embalagens flexíveis como: sacos
plásticos, sacos aluminizados, e sacos multifoliados e embalagens rígidas
com formulações não miscíveis em água tais como formulações oleosas.
UBV, tratamento de sementes;
• Na execução das operações de lavagem das embalagens, devem-se utili-
zar sempre os mesmos equipamentos de proteção individual (EPI’s) exigi-
dos para o preparo da calda;
• Cuidado ao perfurar o fundo das embalagens para não danificar o rótulo
das mesmas, facilitando assim a sua identificação posterior.

Armazenamento na Propriedade Rural:


Mesmo para guardar as embalagens vazias lavadas, algumas regras
básicas devem ser observadas para garantir o armazenamento seguro:

• As embalagens lavadas deverão ser armazenadas com as suas respec-


tivas tampas e rótulos e, preferencialmente, acondicionadas na caixa de
papelão original, em local coberto, ao abrigo de chuva, ventilado ou no
próprio depósito das embalagens cheias;
• Não armazenar as embalagens dentro de residências ou de alojamentos
de pessoas ou animais;
• Não armazenar as embalagens junto com alimentos ou rações;
• Certificar-se de que as embalagens estejam adequadamente lavadas e
com o fundo perfurado, evitando assim a sua reutilização.

483
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Transporte das Embalagens Lavadas da Propriedade Rural para a


Unidade de Recebimento:

Os usuários/agricultores devem tentar acumular (observando sem-


pre o prazo máximo de um ano da data da compra para a devolução ou de
seis meses após o vencimento) uma quantidade de embalagens que justifi-
que seu transporte (carga de 01 veículo) à unidade de recebimento, verifi-
cando antes o período/calendário de funcionamento daquela unidade. Em
caso de dúvida, entre em contato com seu distribuidor.
• Nunca transportar as embalagens junto com pessoas, animais, alimen-
tos, medicamentos ou ração animal;
• Nunca transportar embalagens dentro das cabines dos veículos
automotores;

Indicações para o transporte seguro

• Embalagens vazias lavadas estão isentas das exigências legais e técni-


cas para o transporte de produtos perigosos;
• O veículo recomendado é do tipo caminhonete, onde as embalagens de-
vem estar, preferencialmente, presas à carroceria do veículo e cobertas;
• As embalagens de vidro deverão ser acondicionadas, preferencialmen-
te, nas caixas de papelão originais, evitando-se assim, eventuais aciden-
tes durante o transporte e descarga do material;

7.2.2. Embalagens não Laváveis

Definição: São todas as embalagens flexíveis e aquelas embalagens


rígidas que não utilizam água como veículo de pulverização. Incluem-se
nesta definição as embalagens secundárias não contaminadas rígidas ou
flexíveis.
· Embalagens flexíveis: Sacos ou saquinhos plásticos, de papel,
metalizadas, mistos ou de outro material flexível;
· Embalagens rígidas que não utilizam água como veículo de pul-
verização: embalagens de produtos para tratamento de sementes, Ultra
Baixo Volume - UBV e formulações oleosas;

484
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

· Embalagens secundárias: referem-se às embalagens rígidas ou flexí-


veis que acondicionam embalagens primárias, não entram em contato
direto com as formulações de agrotóxicos, sendo consideradas embala-
gens não contaminadas e não perigosas, tais como caixas coletivas de
papelão, cartuchos de cartolina, fibrolatas e as embalagens
termomoldáveis. Elas também devem ser devolvidas.

Procedimentos para o Preparo das Embalagens Não Laváveis:

Armazenamento na Propriedade Rural:


• As embalagens flexíveis primárias (que entram em contato direto com
as formulações de agrotóxicos), como sacos ou saquinhos plásticos, de
papel, metalizados ou mistos, deverão ser acondicionadas em embala-
gens padronizadas (sacos plásticos transparentes), todas devidamente
fechadas e identificadas, que deverão ser adquiridas pelos usuários nos
canais de comercialização de agrotóxicos;
• As embalagens flexíveis secundárias, não contaminadas, como caixas
coletivas de papelão, cartuchos de cartolina e fibrolatas, deverão ser
armazenadas separadamente das embalagens contaminadas e poderão
ser utilizadas para o acondicionamento das embalagens lavadas ao se-
rem encaminhadas para as unidades de recebimento;
• As embalagens rígidas primárias (cujos produtos não utilizam água como
veículo de pulverização) deverão ser acondicionadas em caixas coleti-
vas de papelão todas devidamente fechadas e identificadas. Ao acondi-
cionar as embalagens rígidas primárias, estas deverão estar completa-
mente esgotadas, adequadamente tampadas e sem sinais visíveis de con-
taminação externa;
• Todas as embalagens não laváveis deverão ser armazenadas em local
isolado, identificado com placas de advertência, ao abrigo das intempéri-
es, com piso pavimentado, ventilado, fechado e de acesso restrito;
• As embalagens não laváveis poderão ser armazenadas no próprio depó-
sito das embalagens cheias, desde que devidamente identificadas e se-
paradas das embalagens lavadas;
• Nunca armazenar as embalagens, lavadas ou não, dentro de residências
ou de alojamentos de pessoas e animais;

485
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

• Não armazenar as embalagens junto com pessoas, animais, medicamen-


tos, alimentos ou rações.

Obs:
Os usuários/agricultores devem armazenar as embalagens nas suas
propriedades temporariamente, até no máximo um ano, a partir da data de
sua aquisição, cumpridas as condições citadas acima.

Indicações para o transporte seguro


• Embalagens vazias não lavadas devem ser transportadas em sepa-
rado, obedecendo às normas da legislação de transporte de produtos perigo-
sos.

7.3. REQUISITOS MÍNIMOS PARA INSTALAÇÃO DE UNIDA-


DES DE RECEBIMENTO (POSTO) DE EMBALAGENS VA-
ZIAS
Necessidades Posto de Recebimento

Localização Zona Rural ou Industrial

Além da área necessária para o galpão,


observar
Área necessária
mais 10 metros para movimentação de
caminhões
A área deve ser toda cercada com altura
Área cercada
mínima de 1,5 metros

Portão de duas folhas 2 metros cada folha

Área para movimentação de veículos Com brita ou outro material

Área total do galpão (mínimo) p/ lavadas 150 m²

Área para embalagens não laváveis Sim (80 m² mínimo)

Caixa de contenção Sim

Pé direito 4,5 metros

Fundações A critério

486
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

A critério (definição regional) Ex: metálico,


Estrutura
alvenaria.

Cobertura A critério, com beiral de 1 metro

Piso cimentado (mínimo de 5 cm com


Piso do Galpão
malha de ferro)

Mureta lateral 3 metros

Telado acima da mureta Sim

Calçada lateral 1 metro de largura

Instalação elétrica Sim

Instalação hidráulica Sim

EPI (Equipamento de Proteção Individual) Sim

Instalações sanitárias Sim (com vestiário e chuveiro)

Sinalização de toda a área Sim

Gerenciamento Sim

Licença ambiental Sim

Obs. Consulte o site www.inpev.org.br para maiores detalhes de projeto.

7.3.1. – Critérios para o Gerenciamento das Unidades De Recebimento

Implantação da Unidade de Recebimento

a) Identificar parceiros e definir responsabilidades: O gerenciamento da


Unidade deverá ser de responsabilidade dos revendedores ou de uma outra
entidade parceira, podendo delegar ou terceirizar a atividade;
b) Preparar e implantar campanhas de orientação ao usuário: O agricultor
deverá ser orientado sobre o endereço e período/calendário de funciona-
mento da Unidade de Recebimento na ocasião em que estiver adquirindo o
produto. Palestras, dias de campo e outros eventos poderão, em conjunto

487
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

com órgãos públicos, ser utilizados para distribuição de material informati-


vo;
c) Consultar os órgãos ambientais competentes sobre a autorização ambiental:
Unidades de Recebimento de Embalagens Vazias necessitam de
licenciamento ambiental para serem implantadas;
d) Adequar os postos de recebimento para o preparo das embalagens e
trabalho dos operadores: Dotar as unidades de recebimento de equipamen-
tos e instalações adequadas para o manuseio das embalagens lavadas ou
não (gôndolas para a separação e armazenamento destas embalagens por
tipo de material), e trabalho seguro dos operadores (EPI’s, vestiários, etc.);
e) Treinar a equipe de trabalho: O supervisor e os operadores deverão ser
treinados para as atividades de uso de equipamentos de proteção individual,
recebimento, inspeção, triagem, e armazenamento das embalagens. E de-
verão estar informados sobre o destino final de cada tipo de embalagem.

Operacionalização das Unidades de Recebimento:


Recebimento das Embalagens:
Ao receber uma partida de embalagens vazias, o encarregado da
Unidade de Recebimento deverá adotar os seguintes procedimentos:

a) Inspeção das Embalagens:


Cada carga de embalagens deverá ser inspecionada da seguinte for-
ma:

• As embalagens rígidas laváveis deverão ser inspecionadas uma a uma,


verificando visualmente se as mesmas se encontram adequadamente lava-
das. As embalagens laváveis que não foram lavadas devem ser separadas,
notificando-se o agricultor responsável, fazendo constar no verso do Com-
provante de Recebimento, as quantidades, tipos e a informação do não cum-
primento da legislação quanto ao processo de lavagem. De acordo com a
legislação, o agricultor poderá ser penalizado por não fazer a tríplice lava-
gem ou lavagem sob pressão;
• As embalagens rígidas e flexíveis secundárias, como caixas coletivas de
papelão, cartuchos de cartolina e fibrolatas deverão ser inspecionadas uma
a uma, verificando se não há contaminação aparente. As embalagens con-
taminadas devem ser armazenadas na área segregada;

488
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

• As embalagens flexíveis só devem ser aceitas se estiverem guardadas


dentro do saco plástico transparente padronizado (disponível nos
revendedores), com a etiqueta devidamente preenchida;
• Registrar no Termo de Responsabilidade / Comprovante de Recebimento
as quantidades e tipos de embalagens recebidas. No verso do documento,
deverão ser anotadas a quantidade e condições das embalagens entregues
em desacordo com a legislação. Uma cópia do documento deverá perma-
necer na Unidade de Recebimento.

b) Preparação das Embalagens:


• Nos postos de recebimento, as embalagens lavadas são separadas das não
lavadas e simplesmente arrumadas, preferencialmente separando-as por
matéria–prima (plástico, metal, vidro ou caixas coletivas de papelão) para
posterior transferência para uma central de recebimento;
• Nas centrais de recebimento, as embalagens recebidas, depois de devida-
mente selecionadas e separadas por matéria–prima (PEAD, COEX, PET,
metal, vidro ou caixas coletivas de papelão) são preparadas para a redução
de volume, para viabilizar o seu transporte;
• As embalagens plásticas, metálicas e caixas coletivas de papelão são de-
vidamente prensadas e enfardadas;
• As embalagens de vidro são trituradas e os cacos gerados são acondicio-
nados em tambores metálicos.

c) Armazenagem das Embalagens:

• Nas Unidades de Recebimento, todas as embalagens não lavadas devem


ser armazenadas separadas das lavadas, em local segregado, identificado
com placas de advertência, ao abrigo das intempéries, com piso pavimenta-
do, ventilado, fechado e de acesso restrito.

d) Transporte das Embalagens:

Do posto de recebimento para a central de recebimento:


• O transporte das embalagens desde o posto até uma central de
recebimento deverá ser previamente agendado com o inpEV, responsável

489
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

pela retirada e pelo frete, através de um telefone 0800 que será informado
quando do credenciamento;

Da Unidade Central de Recebimento para o destinatário final:


• O transporte dos fardos de embalagens plásticas e metálicas e dos
tambores contendo o vidro moído deve ser previamente negociado com o
inpEV, entidade que centraliza e coordena o recolhimento e o destino final
das embalagens.

7.4 – Destino Final de Resíduos

A aplicação de um produto fitossanitário deve ser planejada de modo


a evitar desperdícios e sobras. Para isto, peça sempre ajuda de um enge-
nheiro agrônomo para calcular a dose a ser aplicada em função da área a
ser tratada.

O que fazer com a sobra da calda no tanque do pulverizador ?


• Volume da calda deve ser calculado adequadamente para evitar grandes
sobras no final de uma jornada de trabalho;
• Pequeno volume de calda que sobrar no tanque do pulverizador deve ser
diluído em água e aplicado nas bordaduras da área tratada ou nos
carreadores;
• Se o produto que estiver sendo aplicado for um herbicida, o repasse em
áreas tratadas poderá causar fitotoxicidade e deve ser evitado;
• Nunca jogue sobras ou restos de produtos em rios, lagos ou demais cole-
ções de água.

O que fazer com a sobra do produto concentrado ?


• O produto concentrado deve ser mantido em sua embalagem original;
• Certifique-se de que a embalagem está fechada adequadamente;
• Armazene a embalagem em local seguro.

Produto Vencido ou Impróprio para Comercialização


Problemas com produtos vencidos ou impróprios para a utilização
normalmente são causados por erros no manuseio.

490
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Os produtos fitossanitários normalmente apresentam prazos de vali-


dade colocados nos rótulos e bulas, de 2 a 3 anos, tempo suficiente para que
sejam comercializados e aplicados. A compra de quantidades desnecessári-
as ou falha na rotação de estoque poderão fazer com que expirem os prazos
de validade.
As embalagens dos produtos fitossanitários são dimensionadas para
resistir com segurança às etapas de transporte e armazenamento. Avarias
nas informações de rótulo e bula ou danos nas embalagens, normalmente
são causados pelo manuseio impróprio durante o transporte e ou
armazenamento.

O que o fazer com o produto vencido ou impróprio para uso ou


comercialização?

Caso o produto venha a se tornar impróprio para utilização ou em


desuso, consulte o registrante através do telefone indicado no rótulo para
sua devolução e destinação final.

Disponibilidade Atual de Unuidades Centrais de


Recebimento de Embalagens

Bahia: Estado de Mato Mato Grosso do Sul:


Barreiras Grosso: Chapadão de Sul
Ilhéus Campo Novo do Dourados
Parecis Maracaju
Espírito Santo: Campo Verde Ponta Porã
Itarana Lucas do Rio Verde São Gabriel do Oeste
Primavera do Leste
Goiás: Rondonópolis Minas Gerais:
Luziânia Sapezal Jaiba
Mineiros Sorriso Monte Carmelo
Morrinhos Pouso Alegre
Rio Verde São Sebastião do Para-
íso
Maranhão: Uberaba
Balsas

491
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Paraná: Pernambuco: São Paulo:


Cambé Carpina Bilac
Cascavel Petrolina Catanduva
Colombo Guariba
Cornélio Procópio Santa Catarina: Ituverava
Maringá Campos Novos Paraguaçu Paulista
Morretes Mafra Piracicaba
Palotina São José do Rio Preto
Ponta Grossa Taquarivaí
Prudentópolis
Renascensa Rio Grande do Sul:
São Mateus do Sul D. Pedrito
Sta Teresinha do Itaipu Passo Fundo
Tuneiras do Oeste
Umuarama
Obs:
Todo comerciante de agrotóxico é obrigado (Lei 9.974 de 06/00) a disponibilizar seu local de
recebimento de embalagens vazias, devidamente licenciado.
É recomendável, por questões práticas e financeiras, pertencer ou formar associações regionais
montadas para construir e gerenciar as unidades de recebimento, atendendo, assim, o que determi-
na a legislação. Para maiores informações, entrar em contato com a ANDAV, com a OCB ou com
o inpEV:
Tel.: (11) 3069-4403 - site: www.inpev.org.br / e-mail: [email protected]

8. APLICAÇÃO DO PRODUTO

O sucesso do controle de pragas, doenças e plantas daninhas depen-


de muito da qualidade da aplicação do produto fitossanitário. A maioria dos
problemas de mau funcionamento dos produtos nas lavouras é devido à
aplicação incorreta.
Além de desperdiçar o produto, uma aplicação mal feita poderá conta-
minar os trabalhadores e o meio ambiente. O prejuízo pode ser muito grande.

Procedimentos para aplicar corretamente um produto:


• Mantenha os equipamentos aplicadores sempre bem conservados;
• Faça revisão e manutenção periódicas nos pulverizadores, substituindo
as mangueiras e bicos danificados;

492
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

• Lave o equipamento e verifique o seu funcionamento após cada dia de


trabalho;
• Jamais utilize equipamentos com defeitos, vazamentos ou em condições
inadequadas de uso e, se necessário, substitua-os;
• Leia o manual de instruções do fabricante do equipamento pulverizador
e saiba como calibrá-lo corretamente;
• Pressão excessiva na bomba causa deriva e perda da calda de pulveri-
zação;
• Use sempre água limpa para preparar a calda de pulverização;
• Jamais misture em tanque produtos incompatíveis e observe a legislação
local;
• Verifique a velocidade do vento na tabela abaixo, para evitar a deriva.

Outras regras importantes:


• Sempre use EPI para aplicar produtos fitossanitários;
• Evite aplicar produtos fitossanitários nas horas mais quentes do dia;
• Não coma, não beba e não fume durante a aplicação;
• Não desentupa bicos com a boca;
• Após a aplicação, mantenha as pessoas afastadas das áreas tratadas,
observando o período de reentrada na lavoura.

493
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

9. PERÍODO DE CARÊNCIA OU INTERVALO DE SEGU-


RANÇA

É o número de dias que deve ser respeitado entre a última aplicação


e a colheita. O período de carência vem escrito na bula do produto. Este
prazo é importante para garantir que o alimento colhido não possua resíduos
acima do limite máximo permitido.

Por exemplo: se a última aplicação do produto na lavoura de tomate


foi no dia 2 de março e o período de carência é de 5 dias, a colheita só
poderá ser realizada a partir do dia 7 de março.
A comercialização de produtos agrícolas com resíduo acima do limite
máximo permitido pelo Ministério da Saúde é ilegal. A colheita poderá ser
apreendida e destruída. Além do prejuízo da colheita, o agricultor ainda po-
derá ser multado e processado.

Para evitar este problema, é importante consultar o Engenheiro Agrô-


nomo sobre o melhor produto a ser usado para combater as pragas de final
de ciclo e, principalmente, respeitar o período de carência escrito na bula.

10. HIGIENE

Contaminações podem ser evitadas com hábitos simples de higiene.


Os produtos químicos normalmente penetram no corpo do aplicador
através do contato com a pele. Roupas ou equipamentos contaminados dei-
xam a pele do trabalhador em contato direto com o produto e aumentam a
absorção pelo corpo. Outra via de contaminação é através da boca, quando
se manuseiam alimentos, bebidas ou cigarros com as mãos contaminadas.

Procedimentos importantes para evitar contaminações:


• Lave bem as mãos e o rosto antes de comer, beber ou fumar;
• Ao final do dia de trabalho, lave as roupas usadas na aplicação, separa-
das das roupas de uso da família;
• Tome banho com bastante água e sabonete, lavando bem o couro cabe-
ludo, axilas, unhas e regiões genitais;
• Use sempre roupas limpas;
494
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

• Mantenha sempre a barba bem feita, unhas e cabelos bem cortados.

Procedimentos para lavar as vestimentas de proteção:

• Os EPI devem ser lavados separadamente da roupa comum;


• As vestimentas de proteção devem ser enxaguadas com bastante água
corrente para diluir e remover os resíduos da calda de pulverização;
• A lavagem deve ser feita de forma cuidadosa com sabão neutro (sabão
de coco). As vestimentas não devem ficar de molho. Em seguida, as
peças devem ser bem enxaguadas para remover todo o sabão;

Importante:
• Importante:
• Nunca use alvejante, pois poderá danificar a resistência das vestimentas;
• As botas, as luvas e a viseira devem ser enxaguadas com água abundan-
te após cada uso;
• Guarde os EPI separados da roupa comum para evitar contaminação;

Faça revisão periódica e substitua os EPI estragados.

11. PRIMEIROS SOCORROS EM CASO DE ACIDENTES

Via de regra os casos de contaminação são resultado de erros come-


tidos durante as etapas de manuseio ou aplicação de produtos fitossanitários
e são causados pela falta de informação ou displicência do operador. Estas
situações exigem calma e ações imediatas para descontaminar as partes
atingidas, com o objetivo de eliminar a absorção do produto pelo corpo,
antes de levar a vítima para o hospital.

Procedimentos básicos para casos de intoxicação:


• Descontamine a pessoa de acordo com as instruções de primeiros so-
corros do rótulo ou da bula do produto;
• Dê banho e vista uma roupa limpa na vítima, levando-a imediatamente
para o hospital;
• Toda pessoa intoxicada deve receber atendimento médico imediato;

495
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

• Ligue para o telefone de emergência do fabricante, informando o nome


e idade do paciente, o nome do médico e o telefone do hospital.

12. INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS, CENTROS VINCU-


LADOS AO SISTEMA DE INFORMAÇÃO TOXICOFAR-
MACOLÓGICAS

1) CENTRO DE CONTROLE DE INTOXICAÇOES HOSPITALARES


Jabaquara-SP-Tel.: (011) 275-5311
Av. Francisco de Paula Quintanilha Ribeiro, 860.
04330-020 – São Paulo - SP

2) CENTRO DE CONTROLE DE INTOXICAÇÃO


Tel.: (0192) 39-3128
Hospital das Clínicas - Unicamp
Cidade Universitária Zeferino Vaz
3081-97O – Campinas - SP

3) CENTRO DE CONTROLE DE INTOXICAÇÕES


TeL.: (016) 634-7020 - Hospital das Clínicas – USP
Unidade de Emergência
Rua Bernardino de Campos, 1000.
14015-130 – Ribeirão Preto - SP

4) CENTRO DE INFORMAÇÃO DE INTOXICAÇÕES


TeL.: (0112) 32-7755 – Hospital Universidade de Taubaté
Av. Granadeiro Guimarães, 270.
12020-130 – Taubaté -SP

5) CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS


TeIs.: (0512) 23-6110/23-6417
Rua Domingos Crescêncio, 132 – 8º andar
90650-090 – Porto Alegre - RS
496
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

6) CENTRO ANTI-VENENO DA BAHIA


Rua Direta do Saboeiro, Estrada Velha do Saboeiro, s/nº, Cabula
CEP.: 41.150-000 Salvador – Bahia
Telefones:
Administrativo- (71) 387-4343/3414
Fax: (71) 387-3414
Urgência (24h)- 0800 284 4343

7) CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS


Tal: (041) 246-3434
Rua República da Argentina, 4406.
1050-000 – Curitiba – PR

8) CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS


Tel.: (0149) 22-3048 - Campus da Universidade da UNESP
18610 - Botucatu – SP

9) CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS


Tels.: (081) 231-2827/231-2229 – Hospital da Restauração
Av. Agamenon Magalhães s/nº
50110-000 – Recife - PE

10) CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS


TeI.: (084) 223-5544 - Hospital Giselda Trigueiro
Rua Cônego Montes s/nº - Quintas
59037-170 – Natal - RN

11) CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS


Tels.: (0482) 31-9535/34-3111 - Hospital Universitário
88049 – Florianópolis - SC

497
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

12) CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS


Tel.: (0432) 21-2001 - Hospital Universitário de Londrina
Av. Dr. Roberto Cock s/nº - Vila Operária
86037-010 – Londrina - PR

13) CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS


TeL.: (067) 387-3031 - Departamento de Toxicologia e Farmacologia
Av. Filinto Muller s/nº
79074-460 – Campo Grande - MS

14) CENTRO DE INFORMAÇÕES TÓXICO-FARMACOLÓGICAS


Tels.: (021) 551-7697/552-0898 -Instituto Fernandes Figueira
Av. Rui Barbosa, 716 - 2º andar
22250-020 – Rio de Janeiro - RJ

15) CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA


TeL.: (061) 225-0070 - Hospital de Base do Distrito Federal
Terapia Intensiva - 2º andar - SCS Q 101 - Bloco A
70335-900 – Brasília - DF

16) CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA


Tel.: (083) 224-6392 - Hospital da Universidade Federal da Paraíba
Campus Universitário 1
58.000 - João Pessoa - PB

17) CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA


Tel.: (031) 212-3397 - Ramal 171
Rua Alfredo Balena, 46.
30130-100 - Belo Horizonte - MG

498
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

18) CENTRO DE INFORMAÇÕES TÓXICO-FARMACOLÓGICAS


Tel.: (062) 249-1094
Av. Presidente Costa e Silva
Jardim Bela Vista
74.000 – Goiânia - GO

19) CENTRO DE INFORMAÇÕES ANTI-VENENO


TeL.: (065) 321-7555 - Hospital de Pronto Socorro Municipal
Rua General Vale s/nº
78.060 - Cuiabá – MT

20) COORDENADORIA REGIONAL DOS CENTROS DE


INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA.
Tels.: (011) 257-7611/259-9846 - Centro de Vigilância Sanitária
Av. São Luiz, 99 - 13º andar.
01046-001 – São Paulo - SP

21) CENTRO DE CONTROLE DE INTOXICAÇÕES DO ESPIRITO


SANTO (CCI/ES) Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória
Alameda Mary Ubirajara, s/nº
Praia do Canto, s/nº
29000 - Vitória – ES

499
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

13 - LEGISLAÇÃO FEDERAL DE AGROTÓXICOS

LEI Nº 7.802, DE 11 DE JULHO DE 1989.

Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embala-


gem e rotulagem, o transporte o armazenamento, a comercialização, a pro-
paganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final
dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção
e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras pro-
vidências.

O Presidente da República.
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:
Art. 1º A pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem,
o transporte o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial,
a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e
embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização
de agrotóxicos, seus componentes e afins, serão regidos por esta Lei.
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se:
I - agrotóxicos e afins:
a) os produtos e os agentes do processes físicos, químicos ou biológicos,
destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e
beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de
florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de
ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a
composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de
seres vivos considerados nocivos;
b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes,
estimuladores e inibidores de crescimento.
II - componentes: os princípios ativos, os produtos técnicos, suas matérias
primas, os ingredientes inertes e aditivos usados na fabricação de agrotóxicos
e afins.
Art. 3.º Os agrotóxicos, seus componentes e afins, de acordo com definição
do artigo 2º desta Lei, só poderão ser produzidos, exportados, importados,
comercializados e utilizados, se previamente registrados em órgão federal,

500
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis


pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura.
§ 1º Fica criado o registro especial temporário para agrotóxicos, seus
componentes e afins, quando se destinarem à pesquisa e à experimentação.
§ 2º Os registrastes e titulares de registro fornecerão, obrigatoriamente, à
União, as inovações concernentes aos dados fornecidos para o registro de
seus produtos.
§ 3º Entidades públicas e privadas de ensino, assistência técnica e pesquisa
poderão realizar experimentação e pesquisas, e poderão fornecer laudos no
campo da agronomia, toxicologia, resíduos, química e meio ambiente.
§ 4º Quando organizações internacionais responsáveis pela saúde,
alimentação ou meio ambiente, das quais o Brasil seja membro integrante
ou signatário de acordos e convênios, alertarem para riscos ou
desaconselharem o uso de agrotóxicos, seus componentes e afins, caberá
autoridade competente tomar imediatas providências, sob pena de
responsabilidade.
§ 5º O registro para novo produto agrotóxicos, seus componentes e afins,
será, concedido se a sua ação toxica sobre o ser humano e o meio ambiente
for comprovadamente igual ou menor do que a daqueles já registrados,
para o mesmo fim, segundo os parâmetros fixados na regulamentação desta
Lei.
§ 6º O Fica proibido o registro de agrotóxicos, seus componentes e afins:
a) para os quais o Brasil não disponha de métodos para desativação de seus
componentes, de modo a impedir que os seus resíduos remanescentes
provoquem riscos ao meio ambiente e à saúde pública;
b) para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil;
c) que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas,
de acordo com os resultados atualizados de experiências da comunidade
científica;
d) que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de
acordo com procedimentos e experiências atualizadas na comunidade
científica;
e) que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de
laboratório, com animais, tenham podido demonstrar, segundo critérios
técnicos e científicos atualizados;

501
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

f) cujas características causem danos ao meio ambiente.


Art. 4º As pessoas físicas e jurídicas que sejam prestadoras de serviços na
aplicação de agrotóxicos, seus componentes e afins, ou que os produzam,
importem, exportem ou comercializem, ficam obrigadas a promover os seus
registros nos órgãos competentes, do Estado ou do Município, atendidas as
diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis que atuam nas
áreas da saúde, do meio ambiente e da agricultura.
Parágrafo Único. São prestadoras de serviços as pessoas físicas e jurídicas
que executam trabalhos de prevenção, destruição e controle de seres vivos,
considerados nocivos, aplicando agrotóxicos, seus componentes e afins.
Art. 5º Possuem legitimidade para requerer o cancelamento ou a
impugnação, em nome próprio, do registro de agrotóxicos e afins, argüindo
prejuízos ao meio ambiente, à saúde humana e dos animais:
I - entidades de classe, representativas de profissões ligadas ao setor;
II - partidos políticos, com representação no Congresso Nacional;
III - entidades legalmente constituídas para a defesa dos interesses difusos
relacionados à proteção do consumidor, do melo ambiente e dos recursos
naturais.
§ 1º Para efeito de registro e pedido de cancelamento ou impugnação de
agrotóxicos e afins, todas as informações toxicológicas de contaminação
ambiental e comportamento genético, bem como os efeitos no mecanismo
hormonal, são de responsabilidade do estabelecimento registrante ou da
entidade impugnante e devem proceder de laboratórios nacionais ou
internacionais.
§ 2º A regulamentação desta Lei estabelecerá condições para o processo
de impugnação ou cancelamento do registro, determinando que o prazo de
tramitação não exceda 90 (noventa) dias e que os resultados apurados sejam
publicados.
§ 3º Protocolado o pedido de registro, será publicado no “Diário Oficial” da
união um resumo do mesmo.
Art. 6º As embalagens dos agrotóxicos e afins deverão atender, entre outros,
aos seguintes requisitos:
I - devem ser projetadas e fabricadas de forma a impedir qualquer vazamento,
evaporação, perda ou alteração de seu conteúdo;
II - os materiais de que forem feitas devem ser insuscetíveis de ser atacados
pelo conteúdo ou de formar com ele combinações nocivas ou perigosas;

502
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

III - devem ser suficientemente resistentes em todas as suas partes, de


forma a não sofrer enfraquecimento e a responder adequadamente às
exigências de sua normal conservação.;
IV - devem ser providas de um lacre que seja irremediavelmente destruído
ao ser aberto pela primeira vez.
Parágrafo único. Fica proibido o fracionamento ou a reembalagem de
agrotóxicos e afins para fins de comercialização, salvo quando realizados
nos estabelecimentos produtores dos mesmos.
Art. 7º Para serem vendidos ou expostos à venda em todo Território
Nacional, os agrotóxicos e afins ficam obrigados a exibir rótulos próprios,
redigidos em português, que contenham, entre outros, os seguintes dados:
I - indicações para a identificação do produto, compreendendo:
a) o nome do produto;
b) o nome e a percentagem de cada princípio ativo e a percentagem total
dos ingredientes inertes que contém;
c) a quantidade de agrotóxicos, componentes ou afins, que a embalagem
contém, expressa em unidades de peso ou volume, conforme o caso;
d) o nome e o endereço do fabricante e do importador;
e) os números de registro do produto e do estabelecimento fabricante ou
importador;
f) o numero do lote ou da partida;
g) um resumo dos principais usos do produto;
h) a classificação toxicológica do produto.
II - instruções para utilização, que compreendam:
a) a data de fabricação e de vencimento;
b) o intervalo de segurança, assim entendido o tempo que deverá transcorrer
entre a aplicação e a colheita, uso ou consumo, a semeadura ou plantação,
e a semeadura ou plantação do cultivo seguinte, conforme o caso;
c) informações sobre o modo de utilização, incluídas, entre outras: a
indicação de onde ou sobre o que deve ser aplicado; o nome comum da
praga ou enfermidade que se pode com ele combater ou os efeitos que se
pode obter; a época em que a aplicação deve ser feita; o numero de aplicações
e o espaçamento entre elas, se for o caso; as doses e os limites de sua
utilização;
d) informações sobre os equipamentos a serem utilizados e sobre o destino
final das embalagens.

503
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

III - informações relativas aos perigos potenciais, compreendidos:


a) os possíveis efeitos prejudiciais sobre a saúde do homem, dos animais e
sobre o meio ambiente;
b) precauções par evitar danos a pessoas que os aplicam ou manipulam e a
terceiros, aos animais domésticos, fauna, flora e melo ambiente;
c) símbolos de perigo e frases de advertência padronizados, de acordo com
a classificação toxicológica do produto;
d) instruções para o caso de acidente, incluindo sintomas de alarme, primeiros
socorros, antídotos e recomendações para os médicos.
IV - recomendação para que o usuário leia o rótulo antes de utilizar o produto.
§ 1º Os textos e símbolos impressos nos rótulos serão claramente visíveis e
facilmente legíveis em condições normais e por pessoas comuns.
§ 2º Fica facultada a inscrição, nos rótulos, de dados não estabelecidos
como obrigatórios, desde que:
I - não dificultem a visibilidade e a compreensão dos dados obrigatórios;
II - não contenham:
a) afirmações ou imagens que possam induzir o usuário a erro quanto à
natureza, composição, segurança e eficácia do produto, e sua adequação
ao uso;
b) comparações falsas ou equívocas com outros produtos;
c) indicações que contradigam as informações obrigatórias;
d) declarações de propriedade relativas à inoquidade tais como “seguro”,
“não venenoso”, “não tóxico”; com ou sem uma frase complementar, como:
“quando utilizado segundo as instruções;
e) afirmações de que o produto é recomendado por qualquer órgão do
Governo.
§ 3º Quando, mediante aprovação do órgão competente, for juntado folheto
complementar que amplie os dados do rótulo, ou que contenha dados que
obrigatoriamente deste devessem constar, mas que nele não couberam, pelas
dimensões reduzidas da embalagem, observar-se-á, o seguinte:
I - deve-se incluir no rótulo frase que recomende a leitura do folheto anexo,
antes da utilização do produto;
II - em qualquer hipótese, os símbolos de perigo, o nome do produto, as
precauções e instruções de primeiros socorros, bem como o nome e o
endereço do fabricante ou importador devem constar tanto do rótulo como
do folheto.

504
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Art. 8º A propaganda comercial de agrotóxicos, componentes e afins, em


qualquer melo de comunicação, conterá, obrigatoriamente, clara advertência
sobre os riscos do produto à saúde dos homens, animais e ao meio ambiente,
e observará o seguinte:
I - estimulará os compradores e usuários a ler atentamente o rótulo e, se for
o caso, o folheto, ou a pedir que alguém os leia para eles, se não souberem
ler;
II - não conterá nenhuma representação visual de práticas potencialmente
perigosas, tais como a manipulação ou aplicação sem equipamento protetor,
o uso em proximidade de alimentos ou em presença de crianças;
III - obedecerá ao disposto no inciso II, do § 2º, do artigo 7º, desta Lei.
Art. 9º No exercício de sua competência, a União adotará, as seguintes
providências:
I - legislar sobre a produção, registro, comércio interestadual, exportação,
importação, transporte, classificação e controle tecnológico e toxicológico;
II - controlar e fiscalizar os estabelecimentos de produção, importação e
exportação;
III - analisar os produtos agrotóxicos, seus componentes e afins, nacionais
e importados;
IV - controlar e fiscalizar a produção, a exportação e a importação.
Art. 10 Compete aos Estados e ao Distrito Federal, nos termos dos artigos
23 e 24 da Constituição Federal, legislar sobre o uso, a produção, o consumo,
o comércio e o armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e afins,
bem como fiscalizar o uso, o consumo, o comércio, o armazenamento e o
transporte interno.
Art. 11. Cabe ao Município legislar supletivamente sobre o uso e o
armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e afins.
Art. 12. A União, através dos órgaos competentes, prestará, o apoio
necessário as ações de controle e fiscalizações, à Unidade Federativa que
não dispuser dos meios necessários.
Art. 13. A venda de agrotóxicos e afins aos usuários será feita através de
receituário próprio, prescrito por profissionais legalmente habilitados, salvo
casos excepcionais que forem previstos na regulamentação desta Lei.
Art. 14. As responsabilidades administrativas, civil e penal, pelos danos
causados à saúde das pessoas e ao meio ambiente, quanto a produção, a
comercialização, a utilização e o transporte não cumprirem o disposto nesta

505
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Lei, na sua regulamentação e nas legislações estaduais e municipais, cabem:


a) ao profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou indevida;
b) ao usuário ou a prestador de serviços, quando em desacordo com o
receituário;
c) ao comerciante, quando efetuar venda sem o respectivo receituário ou
em desacordo com a receita;
d) ao registrante que, por dolo ou por culpa, omitir informações ou fornecer
informações incorretas;
e) ao produtor que produzir mercadorias em desacordo com as
especificações constantes do registro do produto, do rótulo, da bula, do
folheto e da propaganda;
f) ao empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos
equipamentos adequados à proteção da saúde dos trabalhadores ou dos
equipamentos na produção, distribuição e aplicação dos produtos.
Art. 15 Aquele que produzir, comercializar, transportar, aplicar ou prestar
serviço na aplicação de agrotóxicos, seus componentes e afins, descumprindo
as exigências estabelecidas nas leis e nos seus regulamentos, ficará sujeito
à pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, além da multa de 100
(cem) a 1.000 (mil) MVR. Em caso de culpa, será punido com pena de
reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, além da multa de 50 (cinqüenta) a 500
(quinhentos) MVR.
Art. 16. O empregador, profissional responsável ou o prestador de serviço,
que deixar de promover as medidas necessárias de proteção à saúde e ao
meio ambiente, estará sujeito à pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro)
anos, além de multa de 100 (cem) a 1.000 (mil) MVR. Em caso de culpa,
será punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, além de multa
de 50 (cinqüenta) a 500 (quinhentos) MVR.
Art. 17. Sem prejuízo das responsabilidades civil e penal cabíveis, a infração
de disposições desta Lei acarretará, isolada ou cumulativamente, nos termos
previstos em regulamento, independente das medidas cautelares de embargo
de estabelecimento e apreensão do produto ou alimentos contaminados, a
aplicação das seguintes sanções:
I - advertência;
II - multa de até 1.000 (mil) vezes o Maior Valor de Referência - MVR,
aplicável em dobro em caso de reincidência;
III - condenação de produto;
IV - inutilização de produto;
506
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

V - suspensão de autorização, registro ou licença;


VI - cancelamento de autorização, registro ou licença;
VII - interdição temporária ou definitiva de estabelecimento;
VIII - destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, com resíduos
acima do permitido;
IX - destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, nos quais tenha
havido aplicação de agrotóxicos de uso não autorizado, a critério do órgão
competente.
Parágrafo único. A autoridade fiscalizadora fará a divulgação das sanções
impostas aos infratores desta Lei.
Art. 18 Após a conclusão do processo administrativo, os agrotóxicos e afins
apreendidos como resultado da ação fiscalizadora, serão inutilizados ou
poderá ter outro destino, a critério da autoridade competente.
Parágrafo único. Os custos referentes a quaisquer dos procedimentos
mencionados neste artigo correrão por conta do infrator.
Art. 19. 0 Poder Executivo desenvolverá ações de instrução, divulgação e
esclarecimento, que estimulem o uso seguro e eficaz dos agrotóxicos, seus
componentes e afins, com o objetivo de reduzir os efeitos prejudiciais para
os seres humanos e o meio ambiente e de prevenir acidentes decorrentes
de sua utilização imprópria.
Art. 20 As empresas e os prestadores de serviços que já, exercem atividades
no ramo de agrotóxicos, seus componentes e afins, tem o prazo de até 6
(seis) meses, a partir da regulamentação desta Lei, para se adaptarem às
suas exigências.
Parágrafo único. Aos titulares do registro de produtos agrotóxicos que tem
como componentes os organoclorados será exigida imediata reavaliação de
seu registro, nos termos desta Lei.
Art. 21. 0 Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa)
dias, contado da data de sua publicação.
Art. 22. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 23. Revogam-se as disposições em contrário.

José Sarney - Presidente da República.


Íris Rezende Machado.
João Alves Filho.
Rubens Bayma Denys

507
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

14. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização correta e segura dos defensivos agrícolas deve objetivar


melhores resultados econômicos na atividade agrícola, além de evitar o uso
inadequado e que os erros ocorridos na história dos defensivos agrícolas
não mais se repitam.
Tem-se a certeza de que o desenvolvimento da percepção do risco,
aliado a um conjunto de informações e regras básicas de segurança, medi-
ante programas de educação e treinamento, é fundamental para eliminar as
causas dos acidentes no campo e garantir a preservação da saúde e do
bem-estar das pessoas envolvidas com produtos fitossanitários.
O agrobusiness brasileiro, ano após ano, passa a ter maior destaque
na economia do país, sobretudo a partir de 1994, com a entrada do Brasil na
Organização Mundial do Comércio – Lei n. 30, de 16/12/1994, e Decreto
1.355, de 30/12/1994. O aumento das exportações brasileiras dos
agronegocios (US$ bilhões) traduz o destaque no setor: ano de 2000 = 21,75;
ano de 2001 = 23,95; e em 2003 = 30,6. Com isso, a defesa vegetal passou
a ter papel extremamente relevante (CONCEIÇÃO, 2003). O futuro é muito
promissor! E o agronegócio deverá levar o Brasil ao primeiro mundo!

15. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Associação Brasileira de Normas Técnicas - NBR 7500, NBR 7503, NBR


7504, NBR 8285, NBR 8286, NBR 9734, NBR 9735 e NBR 14619.
BAPTISTA, G.C. Toxicologia, meio ambiente e legislação. In. Curso de
especialização por tutoria à distância da Associação brasileira de educação
agrícola superior – ANDEF. Modulo 8., 2002. Viçosa, 2002. CD-ROM.
CONCEIÇÃO, M.Z. Segurança no manuseio e na aplicação de produtos
fitossanitários. In: ZAMBOLIM, L.; SILVA, A.A.; AGNES, E.L. (Eds).
Manejo Integrado: Integração Agricultura-Pecuária – Viçosa: UFV; DFP;
DFT, 2004, 513p. I il.
Decreto nº 3.179, de 21 de setembro de 1999 - Regulamenta a lei nº 9.605
Decreto nº 96.044, de 18 de maio de 1988

508
Atuando com Responsabilidade - Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários

Dicas de Segurança para Armazenagem de produtos Agroquímicos - Tra-


dução de texto extraído da revista “Farm Chenicals”.
FRANCO, F. & AZENHA, A.C., 1995. Armazenagem de Produtos
Fitossanitários - BASF S.A.
FREITAS, J.L. Considerações sobre o uso dos defensivos agrícolas. In:
ROZANE, D.E.; COUTO, F.A.d’.A.; Agronomia, E.J. (Eds). Cultura da
Goiabeira: Tecnologia e Mercado. 1.ed. Anais...Viçosa: Simpósio Brasileiro
sobre a cultura da Goiabeira, 2003, 402p.I il.
Guidelines for the Safe transport of pesticides - GIFAP.
Lei nº 9503, de 23 de setembro de 1997, código de Trânsito Brasileiro
Leis de Crimes Ambientais nº 9.605 de 13 de fevereiro de 1998
MACEDO, C.L.L., 1995 - Manual de Armazenamento de Produtos
Fitossanitários - DowElanco Ind. Ltda.
Manual de Armazenamento de produtos Fitossanitários / - Associação Na-
cional de Defesa Vegetal. Campinas - São Paulo: À Associação, 1997.
Manual de Transporte de Produtos Fitossanitários / São Paulo: ANDEF,
1999.
Manual de Uso Correto de Equipamentos de Proteção Individual / ANDEF
– Associação Nacional de Defesa Vegetal. Campinas, SP: Linea Creativa,
2001.
Manual de Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários / BASF S/A,
2001
MARTINS, S.M., 1994. 0 Manual de Armazenagem/Distribuição -
DowElanco Ind. Ltda.
NBR 7500, NBR 7503 - ABNT (Associação Brasileira de Normas Técni-
cas).
NBR 9843, maio 1987 - Armazenamento de Defensívos Agrícolas. GIFAP,
1988 - Guidelines for Safe Warehousing of Pesticides.

509
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

PELICER, J.ª 1995 - Transporte de Defensivos Agrícolas.


Portaria nº 204, de maio de 1997 do Ministério dos Transportes.
Resolução nº 26/98 de 22 de maio de 1998. Disciplina o transporte de carga
em veículos destinados ao transporte de passageiros.
Resolução nº 91/99 de 06 de maio de 1999. Dispõe do Curso de Treinamen-
to Específico e complementar (reciclagem) para condutores de veículos
com Produtos Perigosos

510
Expectativa e Utilização de Produtos na Cultura da Manga

EXPECTATIVA E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS


NA CULTURA DA MANGA
João Jorge Dezem1

1. INTRODUÇÃO

A mangueira - Mangifera indica, L. Dicotyledonae, Anacardiaceae


- é originária da Ásia, Índia, tendo sida trazida para o Brasil pelos portugue-
ses, tornando-se uma das principais frutíferas cultivadas no Nordeste brasi-
leiro, Estado de São Paulo e Minas Gerais.
Atualmente, a oferta mundial de manga é de aproximadamente 24
milhões de toneladas, sendo sua produção bastante concentrada, visto que,
mais de 50% deste total são produzidos na Índia e cerca de 10% na China,
seguidos do México, Tailândia e Filipinas. O Brasil, com uma produção anu-
al de cerca de 823 mil toneladas, é o nono produtor com uma participação
de 3,4% no volume total ofertado. Com relação à exportação, têm sido
registrados incrementos significativos, passando de 4 mil toneladas, em 1991,
para quase 68 mil toneladas, em 2000, garantindo ao Brasil o segundo lugar
entre os maiores exportadores de manga, sendo superado apenas pelo Mé-
xico.
Efetivamente, a manga vem apresentando as maiores taxas de cres-
cimento entre as frutas exportadas pelo Brasil, e a perspectiva é de aumen-
to dessa participação. Entretanto, as mudanças no mercado internacional
nos últimos anos, como o aumento da concorrência e das exigências por
parte dos principais mercados importadores, têm resultado em grandes de-
safios.

MERCADO INTERNO

O principal objetivo dos produtores de manga no mercado interno é a


regularidade na oferta. Para tanto, tem-se feito uso da indução floral, princi-

1
Engenheiro Agrônomo – Sipcam-Agro, Bebedouro – SP, e-mail: joã[email protected]

511
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

palmente, e da diversificação das variedades plantadas, entre precoces, de


meia estação e tardias. O uso da indução floral tem como principal objetivo
a comercialização da fruta no período de entressafra do mercado interno,
época em que os preços da fruta são mais elevados.
No mercado interno, a manga alcança as maiores cotações no pri-
meiro semestre, devido à inexistência de safra na maioria dos pólos de pro-
dução do país. No mercado do produtor de Juazeiro, a maior central de
comercialização de frutas do Nordeste, os preços da manga alcançam a
cotação máxima em maio e a mínima, em novembro (Fig. 1).
A área plantada no Estado de São Paulo é de aproximadamente 30.000
ha, representando o município de Jaboticabal 18% desta área. Os principais
municípios produtores são: Monte Alto, Cândido Rodrigues, Fernando Pres-
tes, Taquaritinga, Jaboticabal, Taiaçu, Taiúva, Vista Alegre do Alto, Itápolis,
Ibitinga e Borborema - com produção estimada de 340 mil toneladas/ano.
Com relação ao volume de manga comercializado no mercado interno, a
tendência é de um aumento, principalmente porque, dos 25 mil hectares
plantados na região do Vale do São Francisco, 18 mil estarão em produção
plena nos próximos dois anos.Essa produção deverá provocar um acrésci-
mo no volume de manga ofertado no mercado nacional de cerca de 280 mil
toneladas/ano. Tal volume equivale a mais de 2, 8 vezes a quantidade total
de manga comercializada atualmente nas principais centrais de abasteci-
mentos do país (CEASAS de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro).
Essa produção adicional pode provocar uma queda considerável nos
preços da manga no mercado interno. Para evitar que a exploração da man-
ga se torne inviável, é necessário que os mangicultores produzam com qua-
lidade adequada às exigências do mercado nacional e internacional, além de
fazer estudos de mercado, para verificar quais estão cotando melhor o pro-
duto.

512
Expectativa e Utilização de Produtos na Cultura da Manga

MERCADO EXTERNO

PAÍSES EXPORTADORES E FLUXO DO COMÉRCIO

Apesar da pouca expressão da manga no mercado internacional de


frutas, as exportações vêm crescendo rapidamente, sendo o México, Brasil
e Paquistão os maiores, respondendo juntos por 52,75% do total exportado
em 2000 (Tabela 1).

O México é o líder nas exportações de manga, contribuindo com


cerca de 33,83% do total exportado mundialmente. O Brasil aparece em
segundo lugar, embora o volume exportado seja menor do que um terço do
mexicano. A Holanda, embora não seja um país produtor, aparece no grupo
dos grandes exportadores de manga, por possuir os principais portos recep-
tores do produto na Europa, reexportando-o em seguida para os demais
países do continente.

513
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Tabela 1. Principais países exportadores de manga no mundo em 2000.

Participação Participação
Países Exportação (t.)
(%) acumulada (%)

México 206.782 33,83 -


Brasil 67.172 10,99 44,82
Paquistão 48.453 7,93 52,75
Filipinas 40.031 6,55 59,30
Índia 37.110 6,07 65,37
Holanda 34.477 5,64 71,01
Equador 25.502 4,17 75,18
Peru 21.070 3,45 78,63
Bélgica 13.965 2,28 80,91
Guatemala 12.948 2,12 83,03
África do sul 12.341 2,02 85,05
Outros 91.383 14,95 100,00
Mundo 611.234 100,00

Fonte: FAO, 2002 (dados básicos).

Em 2000, o valor das exportações mundiais de manga foi de aproxi-


madamente US$ 381 milhões, referentes a 611,2 mil toneladas da fruta,
comercializadas in natura, sendo pouco representativo o comércio da pol-
pa e do suco. Esse valor é pequeno, comparado com a produção mundial de
23,5 milhões de toneladas. É interessante ressaltar que grande parte da
produção mundial de manga é oriunda de variedades pouco conhecidas no
mercado internacional.

514
Expectativa e Utilização de Produtos na Cultura da Manga

Outro fator que pode estar influenciando negativamente as exporta-


ções é o pouco conhecimento da fruta pela maioria da população dos princi-
pais mercados importadores.
Apesar de existirem fatores limitantes ao comércio da manga, o Bra-
sil vem apresentando uma taxa de crescimento médio anual de 27,06% nas
exportações, estando acima da média mundial de 13,45%.
O mercado importador pode ser dividido em dois principais grandes
blocos: o americano, representado pelos Estados Unidos da América, e o
europeu. Internacionalmente, três fluxos de comércio se destacam no mer-
cado de manga: a América do Sul e Central que abastecem o mercado
Norte Americano, Europa e Japão; a Ásia, que, preferencialmente, exporta
para países dentro de sua própria região e para o Oriente Médio; a África,
que comercializa a maior parte de sua produção no mercado europeu. Em
relação à união européia, os países americanos tendem a exportar basica-
mente para a Holanda, enquanto Costa do Marfim, Mali e Israel exportam
para a França, e o Paquistão exporta preferencialmente para o Reino Uni-
do, devido à grande parte de sua população de imigrantes preferirem varie-
dades indianas.
Na Europa, a produção é pequena, concentrando-se principalmente
no sul da Espanha, onde se cultivam as variedades Tommy Atkins e Keitt, e
na região da Sicília, Itália. Entretanto, a quantidade produzida é insuficiente
para suprir a demanda do mercado. O México, Brasil, Peru, Equador e Haiti
foram os principais exportadores em 2000, respondendo por 95% da manga
importada pela União Européia; por importar manga de países com diferen-
tes épocas de produção, o mercado europeu se mantém abastecido pratica-
mente durante o ano todo. A participação do Brasil nesse mercado é, prin-
cipalmente, em novembro e dezembro, entretanto são registradas exporta-
ções brasileiras para a Europa até o final de março. Os principais países
importadores são Holanda, França e Reino Unido. Dentro da União Euro-
péia, a Holanda e a Bélgica têm um papel importante como intermediários,
visto que mais de 90% das importações entram através dos portos de Ro-
terdã, Antwerp e Zeebrugge.
Com relação ao mercado americano, o México é o principal fornece-
dor, abastecendo o mercado entre os meses de fevereiro e agosto. O Haiti
e a Guatemala também exportam manga para os Estados Unidos nesse
mesmo período.

515
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O Brasil coloca a manga no mercado americano, entre agosto e no-


vembro, junto com o Equador e o Peru. Estes dois últimos países estendem
a exportação para os Estados unidos até os primeiros meses do ano

CARACTERÍSTICAS DO MERCADO

a) Preferência do consumidor

O mercado internacional de manga não é uniforme, devido às varia-


ções de preferências e exigências dos consumidores. Portanto, para obter o
sucesso na produção e exportação é preciso conhecer o mercado antecipa-
damente, para delinear as estratégias que considerem essas variações.
A manga para ser exportada deve apresentar coloração vermelha e
brilhante, com fibras curtas e peso entre 250 e 600 gramas por fruto, para o
mercado dos EUA. Na Europa, a preferência é por frutos entre 300 a 450
gramas, o que, em uma caixa de 4 quilos líquidos, representa de 9 a 14
frutos. Em geral, a Tommy Atkins é a variedade que possui a maior partici-
pação no volume mundialmente comercializado, devido principalmente à
coloração intensa, bom rendimento e resistência ao transporte a longas dis-
tâncias, razões pelas quais é a mais produzida atualmente.
A fruta deve ser colorida, porque o consumidor associa a cor verde
com maturação insuficiente. Mangas de coloração verde são mais
consumidas por grupos étnicos de origem asiática. Entretanto, com o acirra-
mento da competitividade no mercado internacional é importante que os
países exportadores, como é o caso do Brasil, diversifiquem as variedades
exportadas, a fim de se precaver de eventuais mudanças nas preferências
dos consumidores. Como exemplo, pode ser citado o caso do Reino Unido,
onde o mercado atacadista, geralmente, vende mangas de pequeno tama-
nho (12, 14 e 16 por caixa) para pequenas quitandas e restaurantes, que
preferem variedades bastante coloridas, como a Tommy Atkins e a Haden.
Enquanto nos supermercados, freqüentemente, são comercializadas frutos
maiores, de variedades como a Kent ou Keitt, como também os da Tommy
Atkins.

516
Expectativa e Utilização de Produtos na Cultura da Manga

b)Modalidade de pagamento

A manga é uma fruta que, na maioria das vezes, é vendida por con-
signação, com o preço de mercado sendo determinado no destino. Esta é
uma importante variável, que deve ser mais bem discutida pelo produtor,
pois podem-se estabelecer estratégias que visem manter a competitividade
e a viabilidade econômica. A qualidade do produto e os custos do transpor-
te afetam os preços, que são negociados entre o importador e os supermer-
cados. Cabe, então vigilância constante e cuidados desde a decisão da épo-
ca de colheita até a classificação, resfriamento e distribuição. Através des-
sa forma de pagamento, quando o preço de mercado no momento da entre-
ga do produto não é suficiente para cobrir os custos, os prejuízos são inevi-
tavelmente repassados aos produtores. Para equilibrar esta situação, a ma-
neira de minimizar os riscos, têm sido os contratos de vendas, estabelecen-
do intervalos de preço (máximo e mínimo) a serem pagos.
É importante comentar que os preços pagos pela manga no mercado
internacional, na última década, têm decrescido, já que passaram de US$
1,77 por quilo, em 1991, para US$ 1,15, em 2000. A principal explicação
para a redução no preço da manga é o ingresso de novos fornecedores no
mercado (maior oferta).

c) Estrutura de mercado

Nos grandes mercados importadores de manga, a comercialização


está centrada principalmente em grandes redes de supermercados, que são
exigentes quanto à regularidade na oferta e ao volume embarcado. Nos
Estados Unidos, cerca de 95% dos produtos agrícolas passam diretamente
dos produtores e das casas de embalagens para os supermercados, sem
intermediários. Na Europa, principalmente nos mercados como Reino Uni-
do, Alemanha, Holanda e França, 70% a 80% da distribuição da fruta está
sob a responsabilidade das grandes redes de supermercados. A única exce-
ção, dentro do mercado Europeu, é a Espanha, onde as centrais de abaste-
cimento ainda controlam a maioria da distribuição das frutas. A conseqüên-
cia principal dessa concentração na distribuição é a exigência cada vez
maior na qualidade do produto.

517
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

d) Sazonalidade da oferta e demanda

O mercado internacional de manga é abastecido durante todo o ano


(Fig. 2), mas concentra a sua oferta durante o período de abril a setembro.
Nessa época do ano, os preços de mercado se mantêm baixos. É exata-
mente nesse período que o México exporta sua produção para os Estados
Unidos (80%) e a Europa (20%). Também é nesse período que ocorre a
comercialização no mercado externo de outros grandes exportadores como
a Índia, o Paquistão e Filipinas. Durante os meses de outubro a dezembro e
entre o mês de janeiro a março, a oferta diminui, refletindo-se em preços
mais satisfatórios. Os países que cobrem estes períodos de demanda são
relativamente poucos, sendo o Brasil, os exportadores mais representativos,
seguidos do Equador e Peru (Fig. 2).
O Brasil, mais precisamente o Vale do São Francisco, por possuir
condições climáticas favoráveis e por dispor de tecnologia para manejar a
floração da mangueira, pode exportar durante todo o período em que há
uma menor concentração na oferta de manga no mercado internacional.
Entretanto, para obter uma melhor cotação de preço, os exportadores brasi-
leiros concentram suas exportações no mercado norte americano, entre os
meses de agosto até meados de novembro e, para o mercado europeu, de
meados de novembro até o final de dezembro. Com relação ao mercado
norte americano, os produtores brasileiros, nestes dois últimos anos, têm
ampliado o período de exportação, já que antes esse período só se iniciava
de setembro, para não coincidir com o final da safra mexicana. De janeiro
até março, o Brasil exporta um volume relativamente pequeno de manga,
que é basicamente destinada ao mercado europeu; nesta época, os preços
no mercado interno alcançam maiores cotações.
O desenvolvimento de novas tecnologias no cultivo da mangueira tem
ampliado, significativamente, as exportações, como é o caso do Equador e
do Peru, que no momento são os principais concorrentes da manga brasilei-
ra. A tendência é uma redução da sazonalidade e conseqüente ampliação
de concorrência. Nesse contexto, a regularidade no fornecimento e a quali-
dade, a preços competitivos, são requisitos essenciais para manter as ex-
portações. Um fato favorável ao produto nacional, com relação aos nossos
principais concorrentes, principalmente o sul americano, são as condições
climáticas das zonas de cultivo.

518
Expectativa e Utilização de Produtos na Cultura da Manga

Isto porque o excesso de chuva e a alta umidade, nas regiões onde


são exploradas a mangueira no Equador, Peru e Venezuela, reduzem o grau
de coloração da fruta e favorecem a incidência de antracnose. Já o Vale do
São Francisco, onde é cultivada praticamente toda a manga brasileira
direcionada ao mercado internacional, registra baixa precipitação e umida-
de relativa e um elevado grau de luminosidade, fatores que concorrem efe-
tivamente para uma adequada qualidade mercadológica, no aspecto de co-
loração como de sanidade vegetal.
Jan . F e v. M ar. A br. M ai. Ju n. Ju l. A go . S e t. O ut. N ov. D e z.
M éx ico
B rasil
E q uad or
H on d uras
Ven ezuela
P eru
G uatem ala
C osta R ica
Á frica d o Sul
C ota M ar fim
Isra el
Ín dia
P asqu istão
F ilip in as
Fig. 2. Períodos de oferta de manga no mercado mundial.
Nota: ∇ = Concentração das exportações brasileiras de manga para o mer-
cado norte americano.
⊗ = Concentração das exportações brasileiras de manga para o
mercado europeu.
♦ = Exportações pontuais da manga brasileira principalmente para
o mercado europeu

519
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

DOENÇAS QUE OCORREM NA CULTURA DA MANGA

∇ ♦
FUNGOS BACTÉRIA

Antracnose Mancha angular


Oídio
Fusariose
Seca da mangueira
Verrugose ⊗ FISIOLÓGICA
Morte descendente Podridão interna
Geleificação da polpa
Queima da panícula
Podridão basal

AS DIFICULDADES NO CONTROLE QUÍMICO

• Arquitetura da planta;
• Equipamentos de aplicação
• Legislação Brasileira

520
Expectativa e Utilização de Produtos na Cultura da Manga

MELHORIA NA ARQUITETURA DA PLANTA: MELHOR


APROVEITAMENTO NA APLICAÇÃO DE PRODUTOS

- PODA DE FORMAÇÃO
PODA DE ABERTURA DA COPA

521
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O CONTROLE DAS DOENÇAS


Mancha angular
Antracnose Oídios

Bacteriana

Fúngicas

522
Expectativa e Utilização de Produtos na Cultura da Manga

Mancha angular

O organismo causador é a bactéria Xanthomonas campestris pv


mangiferaeindicae (Patel et al., 1948). É disseminada por respingos de
água e insetos. A infecção e a gravidade da doença são acentuadas pela
ocorrência de altos níveis de umidade e temperatura, assim como por ven-
tos fortes e granizos que ferem a planta, favorecendo a penetração da bac-
téria.

523
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Antracnose

Causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides Penz., forma


imperfeita de Glomerella cingulata. O fungo sobrevive de forma saprofítica
em lesões dos ramos, folhas e frutos, sobre os quais esporula em condições
de calor e umidade. A disseminação é feita pelo vento e principalmente por
respingos de chuva. A infecção ocorre em tecidos tenros. A umidade é o
principal fator determinante da gravidade da doença.

524
Expectativa e Utilização de Produtos na Cultura da Manga

Maior poblema da
antracnose: latência
sob determinadas con-
dições do meio (látex).

Os sintomas só se
manifestam quando
o meio se torna fa-
vorável (látex-amido
>> açúcares e água
+ clima) – mancha
do mercado

525
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

O(S) MÉTODO(S) DE CONTROLE ATUALMENTE UTILIZADO

526
Expectativa e Utilização de Produtos na Cultura da Manga

Oídios

Causada por Oidium mangiferae Bert., que corresponde na sua fase


sexuada a Erysiphe polygoni D.C. É um parasita obrigatório, e depende
de um hospedeiro para se desenvolver e reproduzir. O fungo é disseminado
pelo vento e por insetos. A penetração do fungo nos tecidos tenros é
favorecida pela perda de turgecênscia, causada pela perda de água nos
tecidos da planta.

527
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

528
Expectativa e Utilização de Produtos na Cultura da Manga

ANTRACNOSE E OÍDIOS

EM PLANTAS NÃO PODADAS, A MAIOR FONTE DE


INÓCULO ESTÁ NA PARTE INTERNA DA COPA (AMBIEN-
TE SOMBRIO, POUCO VENTILADO E MAIS ÚMIDO)

Tendências

529
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

CONTROLE EFICIENTE DAS DOENÇAS


DA MANGUEIRA:
A - PODAS
B – EQUIPAMENTOS DE APLICAÇÃO
(TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO)
C – MONITORAMENTO
(CLIMA – ANTRACNOSE)
(NÍVEL DE INFECÇÃO – OÍDIOS)
D – PRODUTO CERTO NA HORA CERTA

Obs. Após o ciclo completo do tratamento, fazer aplicações a cada


20 dias ou conforme as condições climáticas com Oxicloreto de Cobre +
Mancozeb ou somente Oxicloreto de Cobre, até o amadurecimento do fru-
to.

530
Expectativa e Utilização de Produtos na Cultura da Manga

REFERÊNCIAS

ARAÚJO,J.L.P. Sistemas de Produção - Cultivo da Mangueira. Custos de


Produção e Rentabilidade da Manga – 2004. Internet www.embrapa.com.br,
em 20 de outubro de 2004.
KAVATI,R. As doenças da mangueira e seu manejo. CATI Comitê Gestor
do PIF Manga da Região de Lins,2004.
MURAKAMI, J. Doenças de florada na cultura da Manga e potencial da
cultura na região de Jaboticabal. CATI Comitê Gestor do PIF de Manga da
Região de Vista Alegre do Alto, 2004.
SEAGRI – BAHIA – Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrí-
cola do Estado da Bahia – Estudos sobre a Cultura da Manga – 2004.
Internet www.seagri.ba.gov.br, em 20 de outubro de 2004.

531
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

532
Segurança Alimentar na Produção de Manga

SEGURANÇA ALIMENTAR NA PRODUÇÃO


DE MANGA
Célia Alencar de Moraes1
Andressa Pinheiro Gomes2

1. INTRODUÇÃO

Segurança alimentar pressupõe a garantia de suprimentos abundan-


tes de alimentos com qualidade e que não apresentem riscos à saúde. Este
capítulo trata deste último aspecto, e, em particular, dos riscos ligados à
eventual presença de microrganismos patogênicos na manga e produtos
derivados.
A intensificação do comércio internacional de alimentos tem pressio-
nado diferentes países a criar normas e padrões comuns com a finalidade
de harmonizar as práticas desse comércio, proteger a saúde dos consumi-
dores e conter a disseminação de pragas e doenças. No Brasil, o órgão
governamental responsável pelo controle dos alimentos, no que tange a saú-
de pública, é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, ligada
ao Ministério da Saúde. No Mundo, a Organização Mundial da Saúde -
OMS e a Food and Agriculture Organizantion- FAO, compostas pela maio-
ria dos países, subscrevem as diretrizes elaboradas pelo painel de especia-
listas no Codex Alimentarius, que compila normas básicas e recomenda-
ções sobre alimentos. No comércio internacional de alimentos as exigências
sanitárias dos países compradores também determinam os padrões. Para
frutas e seus derivados, medidas sanitárias e fitossanitárias são acordadas
entre países. A Comissão Internacional para Especificação Microbiológica
dos Alimentos - ICMSF - congrega membros da União Internacional de
Sociedades Microbiológicas e tem por objetivo geral, melhorar a segurança
microbiológica dos alimentos no comércio internacional. Esta comissão co-
leta avalia e correlaciona dados sobre o estado microbiológico dos alimen-

1
PhD, Professora Adjunta- Departamento de Microbiologia da Universidade
Federal de Viçosa-UFV.
2
Bacharel em Economia Doméstica- UFV

533
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

tos, faz considerações sobre a necessidade de critérios microbiológicos e,


onde eles são apropriados, define métodos de análise e planos de amostragem.
Estes são apenas alguns dos organismos relacionados à segurança
alimentar em seus aspectos mais básicos. É necessário salientar que há três
aspectos que determinam como será definida a qualidade mínima aceitável
em um alimento. Estes são: padrões, recomendações e especificações.
Padrões – Os padrões emanam de um órgão governamental, no Brasil, a
ANVISA, e têm força de lei; são mandatórios e têm que ser cumpridos em
relação a todos os alimentos que eles englobam. Por exemplo, os padrões
microbiológicos sanitários estabelecidos na resolução RDC nº 12, de 02 de
janeiro de 2001 estabelecem que para frutas frescas, “in natura”, prepara-
das, devem-se examinar cinco amostras por lote e que ausência de
Salmonella deve ficar provada em 25g de cada amostra. Portanto, para
consumo humano este é o padrão e é mandatório, não se admitindo que dele
se transija. Os padrões só fazem sentido se forem realmente eficazes em
garantir a saúde do consumidor e se forem factíveis isto é alcançáveis pelas
práticas possíveis na cadeia de produção.

Recomendações – As recomendações originam-se geralmente de pro-


gramas que congregam especialistas, no caso, microbiologistas, como ocor-
re nas instituições multinacionais previamente citadas. As recomendações
não são mandatórias, não têm força de lei, mas servem de base para legis-
ladores de diferentes países estabelecerem seus padrões em bases científi-
cas, homogêneas e factíveis.

Especificações – As especificações são estabelecidas por contratos entre


comprador e vendedor. O comprador determina, em contrato, as caracterís-
ticas microbiológicas do produto. As especificações podem ser mais rigoro-
sas que os padrões, mas o contrário não é verdadeiro, uma vez que os
padrões são mandatórios e devem necessariamente ser cumpridos. Assim,
no exemplo mencionado, um serviço de alimentação pode decidir que seu
fornecedor entregue apenas frutas em que haja ausência de Salmonella
em 50 gramas de cada uma das cinco amostras examinadas por lote.
A manga, produto de amplo consumo interno e de crescente potenci-
al para exportação, tem merecido especial atenção em relação à segurança
alimentar devido à sua implicação em surtos atípicos de infecção alimentar

534
Segurança Alimentar na Produção de Manga

nos últimos anos. Como será mostrada, qualquer alteração em processos na


cadeia produtiva precisa ser considerada sob o ponto de vista do seu impac-
to na segurança alimentar de maneira mais abrangente.

A ECOLOGIA MICROBIANA DOS ALIMENTOS

Os microrganismos de relevância nos suprimentos de alimentos são


as bactérias, os fungos e os vírus que afetam humanos. Bactérias e fungos,
ao encontrarem condições apropriadas podem crescer nos alimentos, dete-
riorando-os ou neles liberando toxinas. Os vírius são apenas veiculados por
alimentos, por serem capazes de se multiplicar apenas em hospedeiros vi-
vos. A origem desses microrganismos nos alimentos é variada. Plantas têm
a microbiota superficial típica, assim como os animais. Estes carregam ain-
da uma grande quantidade de microrganismos característicos, principalmente
no trato intestinal, bem como liberam grande número de microrganismos em
excreções, secreções e na expiração. Plantas e animais doentes, além da
microbiota normal, carregam os patógenos que lhes causam a doença. Como
os alimentos são produtos de origem vegetal ou animal, os microrganismos
que naturalmente se associam a eles podem, dependendo das condições,
refletir em futura deterioração do alimento, produção de toxinas ou no caso
dos alimentos de origem animal, transmissão de doenças. Fontes de conta-
minação exógenas aos alimentos incluem solo, rico depositório de microrga-
nismos; a água contaminada por diferentes tipos de dejetos, esgotos, lixo e
resíduos de atividade industrial; finalmente , os manipuladores de alimentos
completam o rol das principais fontes. Uma reflexão simples é suficiente
para avaliar e concluir sobre as inúmeras possibilidades de acesso aos ali-
mentos pelos microrganismos oriundos dessas fontes.
Uma vez presentes, o curso natural dos microrganismos e as conse-
qüências para o suprimento do alimento resultam dos princípios gerais que
determinam as relações ecológicas.
A ecologia microbiana dos alimentos trata das interações entre os
microrganismos e os alimentos. A composição dos alimentos e suas carac-
terísticas físico-químicas determinam a constituição das populações
microbianas que os colonizam e também influenciam as interações entre
elas.

535
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Os microrganismos usam os alimentos como fontes de nutrientes para


seu próprio crescimento. Portanto, a presença de microrganismos resulta
em alterações que ocorrem de maneira mais lenta ou mais acelerada, de-
pendendo de fatores inerentes aos alimentos, das condições do ambiente
em que eles são estocados e das características fisiológicas de cada micror-
ganismo.

Os fatores inerentes aos alimentos são:

• COMPOSIÇÃO DE NUTRIENTES
A presença de água, fontes de carbono e nitrogênio, vitaminas, fato-
res de crescimento e minerais nos alimentos suprem as necessidades dos
microrganismos em diferentes graus. Fungos filamentosos e leveduras têm
menores exigências seguidas de bactérias Gram-negativas. Bactérias Gram-
positivas têm exigências nutricionais maiores e mais específicas.

• pH
Aceita-se como regra geral que microrganismos crescem melhor
em pH entre 6,6 e 7,5 e que abaixo de pH 4,0 poucos crescem. Os fungos e
leveduras são menos exigentes e pH menor que 4,0 favorece seu cresci-
mento por eliminar a competição pelas bactérias. As bactérias crescem em
velocidade maior que os fungos e, portanto, quando as condições lhes são
favoráveis, elas superam os fungos. O limite inferior para crescimento de
fungos filamentosos é abaixo de 1,0 e para leveduras é menor que 2,0. Isso
depende do microrganismo e dos outros fatores ambientais.

• CONTEÚDO DE UMIDADE
Em Microbiologia, é expresso como atividade de água- aw, represen-
tada pelo quociente da pressão de vapor do alimento, pela pressão de vapor
da água pura, na mesma temperatura. A água pura, portanto, tem aw igual a
1,0 e os alimentos têm aw inferiores a 1,0. A maioria das bactérias exige
maior teor de água livre e as deterioradoras crescem em aw acima de 0,91.
Fungos filamentosos e leveduras requerem menos água livre, sendo que a
maioria dos deterioradores crescem em aw acima de 0,80 e 0,88, respectiva-
mente.

536
Segurança Alimentar na Produção de Manga

• PRESENÇA DE O2 E POTENCIAL DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO (Eh)


Os fungos filamentosos e leveduras encontrados em alimentos são
geralmente aeróbios, embora alguns sejam facultativos. Entre as bactérias,
existe certa diversidade nesse aspecto. Algumas, as anaeróbias requerem
condições reduzidas (Eh negativo), outras requerem Eh positivo e são
aeróbias. Bactérias facultativas crescem em presença ou em ausência de
O2 e são flexíveis quanto ao Eh. Quando um microrganismo aeróbio cresce
em um meio, ao usar o O2 presente, reduz o meio e pode criar condições
para as bactérias sensíveis ao O2 e ao Eh positivo.

• CONSTITUINTES ANTIMICROBIANOS
Animais e plantas desenvolveram no curso da evolução, mecanismos
de defesa contra a invasão e proliferação de microrganismos. Algumas subs-
tâncias antimicrobianas e mecanismos de defesa podem permanecer no
alimento. São exemplos, o sistema lactoperoxidase do leite bovino, a lisozima
do ovo, garlicina em alho, eugenol em cravo-da-India, entre outros.

• ESTRUTURAS BIOLÓGICAS
Coberturas externas de frutos e sementes bem como cascas e pelí-
culas de ovos e a pele dos animais provêm proteção contra a invasão por
microrganismos em alguma extensão.

Os fatores inerentes ao ambiente de estocagem do alimento são:

• TEMPERATURA
A temperatura de estocagem dos alimentos determina a velocidade
com que os microrganismos poderão neles se desenvolver. Em temperatu-
ras de refrigeração (entre 0°C e 7°C) apenas os microrganismos psicrófilos
e psicrotróficos irão crescer, ainda que lentamente. A deterioração dos ali-
mentos é, por isso, mais lenta em câmaras frias e geladeiras do que em
temperatura ambiente. Algumas bactérias patogênicas como Listeria
monocytogenes e Yersinia enterocolítica também se multiplicam sob re-
frigeração. Sob congelamento, a –18°C ou abaixo, poucos microrganismos
crescem e, quando o fazem, sua taxa de crescimento é muito baixa. Sob
condições normais não há crescimento em produtos congelados. Entretan-
to, nem todos alimentos mantêm qualidade em temperaturas muito baixas. É

537
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

o caso das frutas tropicais que se conservam melhor de 13°C a 17°C do que
a 7°C.

• UMIDADE RELATIVA
A umidade relativa do ambiente de estocagem equilibra-se com a do
alimento. Assim, a aw do alimento relaciona-se com a umidade relativa do
ambiente, no equilíbrio, da seguinte forma: UR= aw x 100. Portanto, as con-
siderações sobre aw do alimento em relação a grupos de microrganismos
podem ser extrapoladas para UR.

• GASES PRESENTES NO AMBIENTE


Dióxido de carbono (CO2) tem sido amplamente usado para esten-
der vida de prateleira de inúmeros alimentos, inclusive por ter ação sobre
microrganismos. Em atmosfera contendo 10% ou mais de CO2, a inibição
de microrganismos é maior quanto mais baixa for a temperatura, o que é
explicado pela maior solubilidade do CO2 em água, em temperaturas mais
baixas. A inibição também é maior em pH na faixa ácida. As bactérias
Gram-negativas são geralmente mais sensíveis ao CO2 do que as Gram-
positivas.

• ATIVIDADE DE OUTROS MICRORGANISMOS


Bactérias como as produtoras de ácido láctico podem crescer em
alimentos, sem representar riscos, inibindo o crescimento de bactérias
patogênicas. As bactérias do ácido láctico utilizam-se de açúcar para pro-
duzir ácido láctico, baixam rapidamente o pH e, assim, impedem o cresci-
mento de outras bactérias. As bactérias do ácido láctico, como as dos gêne-
ros Lactobacillus e Lactococcus,também produzem outros fatores
inibidores, tais como o H2O2, as bacteriocinas e outros produtos com ativi-
dade antimicrobiana menos relevante para essa finalidade. Clostridium
botulinum, L. monocytogenes, Salmonella sp e Staphylococcus aureus
estão entre as bactérias que são inibidas pelas bactérias do ácido láctico.
A análise da combinação dos fatores inerentes ao alimento e dos
inerentes ao ambiente de estocagem é fator principal para que sejam iden-
tificados os riscos microbiológicos associados a esse alimento. Em resumo,
a interação entre o alimento, os microrganismos nele possivelmente presen-

538
Segurança Alimentar na Produção de Manga

tes e o ambiente de estocagem determina os passos e processos para ga-


rantir a segurança do consumidor.

MICRORGANISMOS EM MANGA E EM PRODUTOS DE


MANGA

Uma vez presentes em alimentos os microrganismos podem deteriorá-


los, tornando-os inaceitáveis para o consumo, causando sérios prejuízos eco-
nômicos e sociais, embora não necessariamente, causando danos à saúde.
A deterioração por microrganismos, ainda que fator significante na cadeia
de produção de alimentos, foge ao escopo deste capítulo.
A composição da manga e suas características físico-químicas de-
terminam os tipos de microrganismos que nela se desenvolverão. A compo-
sição das frutas varia de acordo com a variedade botânica, com práticas de
cultivo e com o estágio de maturação. A polpa de manga madura apresenta
cerca de 14 a 16% de sólidos solúveis, que é o índice dos compostos solú-
veis em água, os açúcares, ácidos, vitaminas e algumas pectinas. A ativida-
de de água , aw, é alta, cerca de 0,982 a 0,990, o que é favorável a todos os
microrganismos, inclusive às bactérias patogênicas e permite a germinação
de esporos de bactérias dos gêneros Clostridium e Bacillus. O pH da pol-
pa de manga é cerca de 3,6 a 4,0.
Alimentos com pH abaixo de 4,5 são denominados alimentos ácidos
e, assim como frutas, polpa de frutas e sucos, geralmente não estão sujeitos
a mudanças microbiológicas que envolvem riscos toxicológicos. A exceção
é a presença de micotoxinas, quando contaminados por fungos toxigênicos.
Portanto, associam-se frutas e seus produtos muito mais a perdas por mi-
crorganismos deterioradores que a riscos à saúde pública. Este quadro pode
sofrer mudanças, com alterações em processos ou em hábitos alimentares.
O aumento no consumo de produtos “in natura”, de frutas frescas
preparadas para consumo direto e também sucos de frutas frescas ou de
polpas congeladas, traz para o campo da higiene e da preparação em servi-
ços de alimentação, boa parte da responsabilidade pela segurança alimen-
tar.
A Resolução - RDC N°12, de 2 de janeiro de 2001 da ANVISA,
aprovou o Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para ali-
mentos. Este aplica-se aos alimentos destinados ao consumo humano e dis-

539
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

põe sobre os critérios para o estabelecimento de padrões sanitários de


alimentos, os procedimentos e instruções gerais, incluindo aqueles sobre as
metodologias aceitáveis para amostragem, coleta, acondicionamento, trans-
porte e para análises microbiológicas dos produtos.
O Regulamento define que amostra indicativa é a amostra com-
posta por um número de unidades amostrais inferior ao estabelecido de
acordo com o plano de amostragem; amostra representativa é aquela
constituída por um determinado número de unidades amostrais estabelecido
de acordo com o plano de amostragem e unidade amostral é a porção ou
embalagem individual que se analisará, tomada de forma totalmente aleató-
ria de uma partida como parte da amostra geral.
Os padrões microbiológicos sanitários para alimentos constam no
anexo da Resolução.
Para frutas “frescas, in natura, preparadas (descascadas ou
selecionadas ou fracionadas) sanificadas, refrigeradas ou congeladas, para
consumo direto”, o regulamento estabelece que a tolerância para amostra
indicativa é a ausência de Salmonella sp em 25 g da amostra e até 5x102
coliformes a 45°C/g. Isto significa que para qualquer amostra tomada, sem
considerar um plano de amostragem, esses limites não podem ser excedi-
dos. Entretanto, o regulamento apresenta também um padrão com um plano
de amostragem de três classes para esses produtos onde:
n=número de unidades de amostras a serem colhidas aleatoriamente de um
lote e analisadas individualmente;
c= número máximo aceitável de unidades de amostras que podem exceder
o critério m (nenhuma pode exceder M);
m= número máximo ou o nível da bactéria relevante; valores acima desse
são marginalmente aceitáveis ou são inaceitáveis; é usado no plano de
três classes para separar alimentos de boa qualidade dos alimentos de
qualidade marginalmente aceitável;
M= uma quantidade usada no plano de três classes para separar o alimento
com qualidade marginalmente aceitável daquele alimento inaceitável.
Desta forma, para frutas e seus produtos frescos como descrito aci-
ma, o padrão de coliformes a 45°C é:

540
Segurança Alimentar na Produção de Manga

n = 5
c = 2
m = 102 /g
M = 5x102 /g

Isto significa que, em cada lote, cinco unidades amostrais devem ser
analisadas para coliformes a 45°C. Aceita-se que duas dessas cinco unida-
des possam apresentar entre 102 e 5x102 coliformes por grama em análise
por método recomendado.Se um única unidade de amostra apresentar mais
que 5x 102/g , o lote é inaceitável, portanto deve ser rejeitado. O mesmo
ocorre se mais de duas unidades apresentarem mais que 102 /g.
Os padrões microbiológicos para “polpas ou purês refrigerados ou
congelados” são:

• Para amostras indicativas

Coliformes a 45°C/ g 102


Estafilococos coagulase positivos/ g 10 3
Salmonella sp / 25g Ausência

• Para amostras representativas, em plano de amostragem de 3 classes


n c m M
Coliformes a 45°C /g 5 2 10 102
2
Estafilococos coagulase positivos /g 5 2 10 103
Salmonella sp /25 g 5 0 ausência

Os critérios definidos nessa Resolução são mandatórios, enforçáveis


pelo Ministério da Saúde e devem ser observados por todos os produtores e
pelos serviços de alimentação. Esses padrões para frutas e seus produtos
não esterilizados incluem um agente infeccioso, Salmonella e um toxigênico,
Staphylococcus coagulase positivo, além do indicador de contaminação, os
coliformes que crescem a 45°C. Procura-se assim, a segurança do consu-
midor em relação aos possíveis riscos relacionados a esses alimentos.

541
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

SALMONELLA EM MANGA

Os clássicos surtos de doenças transmitidas por alimentos ocorrem


de maneira localizada, afetando pessoas relacionadas entre si ou que fre-
qüentam os mesmos ambientes e consomem os mesmos produtos. Por ou-
tro lado, surtos de doenças alimentares causados por produtos frescos con-
taminados caracterizam-se por serem geograficamente dispersos e com baixo
número de casos em cada local, tornando sua detecção e investigação mais
difíceis. A identificação desses surtos depende da comunicação entre os
laboratórios de saúde pública e do compartilhamento dos resultados. Por
exemplo, aumentos significativos na freqüência de casos causados por um
determinado sorotipo de Salmonella, cujos isolados apresentam padrões
indistintos em PFGE, sugerem que o surto se origina de uma única fonte.
Uma vez observada a evidência de um surto, procede-se ao rastreamento
para identificar a fonte original do agente infeccioso, por meio de questioná-
rios aplicados a pacientes sobre a aquisição e consumo de alimentos nos
dias anteriores ao início dos sintomas da doença. Cruzamentos de dados
permitem identificar aspectos comuns que possam existir entre os casos e
apontar alimentos possivelmente implicados. Esta é a razão da exigência de
meios para assegurar a rastreabilidade dos produtos.
Salmonelose é uma doença provocada por diferentes sorotipos de
Salmonella, uma bactéria Gram-negativa, que coloniza o trato intestinal de
animais e do homem, sendo as aves, talvez, seu principal reservatório. Cres-
ce numa faixa de 5- 45°C, talvez até 47°C, e sua faixa de pH para cresci-
mento é de 4 a 9, dependendo da estirpe e da composição do meio. A
atividade de água para crescimento de Salmonella em alimentos é de 0,945
a 0,999 e, embora seja uma bactéria anaeróbia facultativa, seu crescimento
é inibido por Eh abaixo de – 30 mV, portanto é favorecida pela presença de
O2. Além disso, não é uma bactéria fastidiosa, podendo crescer em meios
pouco complexos.
Pelas características da polpa de manga e pelas características da
Salmonella, é possível deparar-se, em certas condições, com crescimento
desta bactéria em manga e seus produtos. O pH relativamente baixo pode
restringir esse crescimento.
Salmonella chega aos alimentos de origem vegetal principalmente via
água contaminada por material fecal de animais ou humanos, podendo também

542
Segurança Alimentar na Produção de Manga

ser inoculada por manipuladores de alimentos. Das três síndromes conhecidas


em humanos, a mais comumente associada a alimentos é uma gastroenterite
caracterizada por dores abdominais, diarréia, vômitos, febre, desidratação, dor-
de-cabeça e calafrios. A severidade dos sintomas depende de muitas variáveis,
sendo a mortalidade de 0,1 – 0,2%, atingindo principalmente os idosos e as
crianças. O período de incubação dessa doença é de 5 – 72 horas, mais
freqüentemente entre 12 – 36 horas e a duração varia de 1 a 4 dias.
Na década de 1990, os produtores de manga que exportavam para os
Estados Unidos incluíram em seu fluxograma de produção o processo de
imersão das frutas em água quente, a 47°C, por 75 a 90 minutos, para aten-
der à exigência do Serviço de Inspeção do departamento de Agricultura
daquele país (USDA/APHIS). Esse processo foi regulamentado como par-
te das medidas de controle da mosca da fruta, em substituição à fumigação
com dibrometo de etileno, reconhecido como carcinogênico. A medida foi
adotada também pelos produtores de manga da Flórida que vendem seu
produto para a Califórnia.
À época, não foram feitos estudos sobre o impacto desse tratamento
sobre a qualidade microbiológica das frutas e sobre os microrganismos
patogênicos possivelmente afetados por essa medida, bem como o controle
necessário para o processo.
Em dezembro de 1999, um surto de infecção por Salmonella enterica
Sorotipo Newport foi detectado abrangendo 13 estados norte-americanos.
Das 78 pessoas infectadas, 15 foram hospitalizadas e duas morreram. To-
dos os isolados de Salmonella demonstraram um único padrão quando ana-
lisados por eletroforese de gel em campo pulsado (PFGE), um método
molecular para distinguir bactérias e já bem estabelecido para Salmonella.
Estudos epidemiológicos implicaram mangas frescas, consumidas por gran-
de percentual dos indivíduos nos cinco dias que precederam a apresentação
dos sintomas da infecção. Rastreamento das mangas apontou para uma
única fazenda no Brasil, onde os técnicos dos Centers for Disease Control
and Prevention (CDC), órgão governamental americano responsável pelo
monitoramento de doenças, identificaram no tratamento de desinfestação
dos frutos com água quente, o possível ponto de contaminação. Este foi o
primeiro relato de surto de salmonelose cuja origem foram mangas frescas
contaminadas, possivelmente naquela etapa do processamento incorporada
para desinfestação de larvas de mosca da fruta, uma praga agrícola.

543
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

A possibilidade da internalização de Salmonella em mangas frescas


foi demonstrada em condições análogas ao tratamento de desinfestação
pós-colheita. Nesse tratamento, as mangas são submersas em água a 47°C
por 90 minutos e, em seguida, em água fria. Usando-se a água de resfriamento
contaminada, demonstrou-se em laboratório que a Salmonella podia ser
detectada na polpa de manga mesmo após uma semana de incubação.
Um segundo surto de salmonelose que teve mangas frescas como a
possível origem foi detectada em março de 2001, quando os departamentos
de saúde pública de dois estados americanos relataram a ocorrência de 19
casos confirmados por cultura das bactérias. O sorotipo de S.enterica nes-
te surto era Saintpaul e o padrão em PFGE era o mesmo em cada caso,
confirmando o surto. Mais sete casos dispersos em cinco outros estados
foram reportados naquele mesmo ano. A média das idades dos pacientes
era de 35 anos, variando de 1 a 89 anos. Manga fresca foi o único possível
fator associado a todos os casos, identificado em estudo de 13 casos e 25
indivíduos controles.
Neste surto, não foi possível fazer o rastreamento completo até a
fazenda, mas identificou-se o Peru como país de procedência. Após o pri-
meiro surto de infecção por Salmonella Newport em 1999, houve reco-
mendação pelo APHIS de que a água quente usada no tratamento de imersão
fosse clorada na concentração de 50 – 200 ppm. Essa medida só foi publicada
em 2002, portanto, é possível que os produtores do Peru não tivessem usado
água devidamente clorada no tratamento de desinfestação.
Evidencia-se, assim, o impacto global das doenças associadas a ali-
mentos contaminados, bem como a necessidade de análises de risco para
cada novo processo implementado. Outro aspecto a ser considerado é se,
realmente, a Salmonella contaminou as frutas via água, significando que
qualquer patógeno veiculável por água é um risco potencial nesse
processamento, até análises mais completas.

GARANTIA DE SEGURANÇA ALIMENTAR – O SISTEMA


HACCP/ APPCC

Os estudos dos surtos de salmonelose demonstram claramente que


para cada novo processo de produção desenvolvido, a análise criteriosa dos
impactos na saúde pública faz-se necessária. No mercado global, os efeitos

544
Segurança Alimentar na Produção de Manga

das doenças alimentares extrapolam a preocupação com o consumidor e


atingem a área econômica com repercussões potencialmente devastadoras
para os produtores.
O controle da qualidade e da segurança dos alimentos é obtido e mais
eficiente quando o sistema é dinâmico e específico. O sistema para garantia
da segurança é o Hazard Analysis Critical Control Point- HACCP, no Bra-
sil traduzido para Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle- APPCC.
Este sistema, embora construído sobre bases que podem ser aplicadas para
qualidade geral, é específico para segurança alimentar. Os produtores e a
indústria de alimentos têm a responsabilidade de cultivar ou criar, transpor-
tar, processar e preparar alimentos que apresentem o menor nível possível
de risco para o consumidor. Riscos de natureza química, física ou
microbiológicas são avaliados e os níveis aceitáveis são os mais baixos ca-
pazes de serem obtidos pelas tecnologias atualmente disponíveis. Portanto,
os critérios de qualidade devem necessariamente contemplar padrões
factíveis, isto é, possíveis de serem atingidos pelas práticas de produção
existentes.
HACCP/APPCC é considerado o melhor sistema disponível para
projetos de programas que assistam as empresas na produção de alimentos
seguros. Originalmente, foi desenvolvido pela companhia de alimentos
Pillsbury, em conjunto com os laboratórios do exército americano, em re-
posta à demanda pela NASA por alimentos que se aproximassem ao máxi-
mo de 100% de garantia de segurança para o consumo em vôos espaciais.
O sistema foi apresentado ao público em 1971, na primeira Confe-
rência Nacional de Proteção Alimentar promovida pelo Serviço de Saúde
Pública dos Estados Unidos. Desde então, evoluiu para acomodar-se à rea-
lidade das plantas de produção de alimentos e se tornar exeqüível.
Ao reconhecer a eficácia desse sistema em garantir alimentos mais
seguros, os órgãos de controle dos Estados Unidos, FDA (Food and Drug
Administration) e o USDA, publicaram regulamentos finais com requeri-
mentos mandatórios de implementação do sistema HACCP para uma gama
de alimentos locais e importados. Há um movimento internacional para es-
quemas regulatórios baseados nos princípios do HACCP/APPCC para ga-
rantia de segurança dos alimentos. O Brasil é país signatário do GATT (Ge-
neral Agreement on Tariffs and Trade), o acordo internacional para facilitar
o comércio entre as nações.Os acordos e tratados estabelecidos no GATT

545
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

guiam essas nações sobre como estabelecer requerimentos sanitários e


fitossanitários. Para alimentos, esses acordos referenciam as recomenda-
ções e padrões desenvolvidos pelo Codex Alimentarius, como sendo uma
base científica aceitável para proteção do consumidor. O Codex Alimentarius
recomenda o HACCP como necessário na garantia de segurança dos ali-
mentos.
No Brasil, o sistema está sendo incorporado como exigência para
alimentos seguros. Resoluções da ANVISA e do MAPA têm estabelecido
metas para implementação do Sistema HACCP/APPCC em diversas ca-
deias produtivas.
Este sistema é direto e lógico e deve ser implementado com bom
senso para atingir seu objetivo. De uma maneira simplificada, ele pode se
resumir nos seguintes passos: conhecer o processo do início ao fim; decidir
onde os riscos podem se materializar; estabelecer controles e monitorá-los;
ter tudo por escrito e conservar dados arquivados e finalmente, assegurar a
continuidade efetiva do processo.
Assim, para que o sistema funcione, os planos de HACCP/APPCC
precisam focalizar apenas os reais perigos associados à segurança alimen-
tar. HACCP/APPCC é um sistema de gerenciamento de segurança ali-
mentar que, por si só, exige contínuo monitoramento de pontos, registro de
dados e verificação do sistema. Mesmo que os princípios sejam aplicáveis a
outros atributos de qualidade, segurança é o principal objeto e deve ser
destacado porque é possível que HACCP/APPCC seja usado para julgar
aceitabilidade de produtos em comércio interno e internacional. Se os prin-
cípios do HACCP/APPCC forem usados para um plano de qualidade, este
não deve ser chamado HACCP.
O sistema consiste de sete Princípios que provêem bases para esta-
belecer, implementar e manter um Plano de HACCP para a operação
em questão.

546
Segurança Alimentar na Produção de Manga

• PRINCÍPIO 1

Análise de perigos. Prepara-se uma lista de passos no processo onde


perigos significativos podem ocorrer e descrevem-se medidas preventivas.
Este princípio marca o início do trabalho da equipe de HACCP/APPCC.
Constrói-se um fluxograma detalhado do processo do início ao fim. Identifi-
cam-se os perigos que podem ocorrer em cada etapa e descrevem-se as
possíveis medidas preventivas para o controle de cada perigo.

• PRINCÍPIO 2

Identificação dos Pontos Críticos de Controle (PCCs) no processo.


Um PCC é um local, prática, procedimento ou processo no qual o
controle pode ser exercido, assim minimizando ou prevenindo um perigo.

• PRINCÍPIO 3

Estabelecimento dos Limites Críticos para medidas preventivas as-


sociadas com cada PCC identificado.
O limite crítico é definido como um critério que deve ser atendido
para cada medida preventiva associada com o PCC. Os limites críticos
demarcam a diferença entre um produto seguro e o produto não seguro
naquele PCC. Eles devem envolver um parâmetro mensurável e podem ser
a tolerância absoluta para o PCC.

• PRINCÍPIO 4

Estabelecimento dos procedimentos para monitorar os PCCs. Esta-


belecimento de procedimentos para usar os resultados do monitoramento
para ajustar o processo e manter controle.
A equipe de HACCP/APPCC deve especificar os requerimentos de
monitoramento para gerenciamento do PCC dentro de seus limites críticos.
A freqüência e pessoa responsável têm que ser definidas.

547
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

• PRINCÍPIO 5

Estabelecimento de Ações Corretivas para serem tomadas quando


os resultados do monitoramento indicarem um desvio de um limite crítico
estabelecido.
As ações corretivas visam trazer o processo de volta ao controle,
incluindo medidas para mantê-lo sob controle e também ação pertinente ao
produto que foi manufaturado enquanto o sistema estava fora de controle.

• PRINCÍPIO 6

Estabelecimento dos procedimentos de Verificação de que o sistema


está funcionando corretamente.
São métodos, procedimentos e testes para determinar que o sistema
esteja em acordo com o plano. A verificação confirma que todos os perigos
foram identificados no plano, quando ele foi desenvolvido. As atividades
incluem inspeções, revisão do plano de HACCP/APPCC, dos registros de
PCCs, desvios e outras atividades.

• PRINCÍPIO 7

Estabelecimento de procedimentos de Registros.


Registros precisam ser mantidos para demonstrar o funcionamento
do sistema sob controle e que ações corretivas foram tomadas para todos
os desvios dos limites críticos. São importantes para demonstrar a produção
de alimento seguro. Os registros devem ser postos à disposição dos fiscais
sanitários, quando requisitados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os novos desafios do mercado internacional de alimentos têm pressi-


onado o ajuste da produção de alimentos com os padrões aceitáveis nos
principais países compradores. A produção de manga, importante produto
de exportação para o Brasil, não escapa a esse desafio. A sofisticação
maior do mercado interno de frutas também exige maior volume de produ-
tos com melhor qualidade e padrão de segurança. O nível de informação da

548
Segurança Alimentar na Produção de Manga

população em geral leva à crescente qualificação da demanda por alimen-


tos sadios. Em conseqüência, alimentando essa tendência , o Brasil investe
em programas para assistência na produção de alimentos seguros. O foco
dos programas, tanto no âmbito do Ministério da Saúde, quanto do Ministé-
rio da Agricultura, é o sistema APPCC de garantia de segurança alimentar.
Ao se tornarem mandatórios sistemas como esse, há que se conside-
rar aspectos ligados à produção por pequenas unidades produtoras. O siste-
ma HACCP/APPCC é perfeitamente adaptável para pequenos produtores,
mas por trabalhar com planos customizados, há que se prover condições
para que sejam exeqüíveis e representem real vantagem para o produtor
também. No mercado interno mais exigente e no mercado competitivo e
globalizado, qualidade e segurança alimentar podem fazer a diferença entre
o produto aceito e o produto rejeitado, além de resultar em menores perdas.
Considere-se também que manga é matéria-prima para produção de néctar
e polpa para o consumo humano.Logo, a segurança desses produtos come-
ça com a qualidade da produção da manga. Perdas com produtos que não
passam nos testes de esterilidade comercial são freqüentes e podem ser
evitadas com o melhor controle da produção. Os riscos resultantes da pre-
sença de esporos bacterianos nesses produtos e as medidas preventivas
necessárias também precisam ser mais definidos.
Os surtos de salmonelose caracterizados nos Estados Unidos são
ilustrativos da necessidade de programas de controle de microrganismos
patogênicos e da avaliação criteriosa de cada novo processo incorporado à
produção. Sistemas de notificação de casos de toxinfecções, com identifi-
cação dos agentes causadores por laboratórios especializados e a possibili-
dade de rastreamento de produtos implicados, precisam ser instituídos e as
informações compartilhadas em redes. Os instrumentos de identificação
dos agentes infecciosos e da discriminação entre grupos de uma mesma
espécie e dentro de um mesmo grupo estão disponíveis e precisam fazer
parte da rotina dos laboratórios que compõem o Sistema de Vigilância
Epidemiológica em Minas Gerais e no Brasil.
Sistemas de controle de segurança de alimentos como os de vigilân-
cia epidemiológica funcionam e dão retorno em termos de saúde do consu-
midor e lucro para o produtor, mas apenas se forem implementados de ma-
neira correta, realista, sem se transformarem apenas em exigências buro-
cráticas. Eles só funcionam, se cumprirem suas promessas, portanto devem
ser apoiados em suas missões.
549
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Segurança Alimentar na Produção de Manga

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dispõe sobre: o controle de qualidade na área de alimentos. Diário Oficial
da União, Brasília, 02 de dezembro de 1993.

551
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

552
Tecnologia Pós-colheita para a Comercialização de Manga In Natura

TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA PARA A


COMERCIALIZAÇÃO DE MANGA IN NATURA
José Maria Monteiro Sigrist1

1. INTRODUÇÃO

A tecnologia pós-colheita abrange aspectos de fisiologia, ou seja, do


metabolismo dos frutos, como respiração, transpiração, produção de etileno;
transformações químicas, bioquímicas; distúrbios fisiológicos e doenças cau-
sadas por microrganismos que ocorrem durante o período de amadureci-
mento e senescência dos frutos. Engloba, ainda, práticas de colheita e de
manuseio pós-colheita adotadas com a finalidade de manter a qualidade dos
frutos por períodos prolongados.
Como se pode observar, é um assunto bastante amplo, para ser co-
berto apropriadamente em poucas páginas. Desta forma, pretende-se, nes-
te Capítulo, discorrer sobre as Práticas de Colheita e de Manuseio Pós-
Colheita de Mangas visando sua Comercialização in natura e, abordar,
alguns aspectos da Produção Integrada de Manga, conforme descritos em
Lopes et al., 2003 e Palla et al., 2004.
A Produção Integrada de Frutas (PIF) é uma exigência dos merca-
dos importadores, principalmente da Comunidade Européia. Com a adoção
recente deste sistema, as práticas de colheita e de manuseio pós-colheita,
estocagem e transporte passaram a contemplar além dos requisitos que
garantam a qualidade da fruta, aqueles que estejam em conformidade com
a sustentabilidade ambiental, a segurança alimentar, a saúde e a segurança
do trabalhador e a viabilidade econômica, assegurando seu controle e sua
rastreabilidade permanente (Andrigueto, 2002).

1
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Instituto de Tecnologia de Alimentos – ITAL,
Av. Brasil, 2880, Campinas, SP, CEP: 13073-001, e-mail: [email protected]

553
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

2. COLHEITA

2.1. Ponto de Colheita

As mangas, mesmo as de uma mesma árvore, dificilmente possuem


a mesma idade porque o florescimento e a polinização ocorrem durante um
período relativamente longo, de várias semanas. Conseqüentemente, os fru-
tos não amadurecem simultaneamente e, assim, eles são usualmente colhi-
dos de diferentes árvores, em várias ocasiões durante o período da safra.
Um dos principais problemas encontrados em mangas destinadas ao
consumo in natura ou ao processamento é a desuniformidade de amadure-
cimento dos frutos em um mesmo lote.
Embora numerosos e objetivos índices de maturação estejam dispo-
níveis, quase nenhum deles é utilizado na prática porque eles são, em sua
maioria, destrutivos e de difícil realização no campo. Ainda, mostram consi-
derável variação entre as variedades nenhuma generalização pode ser feita
para todas elas. Os índices de maturação para a colheita incluem: sólidos
solúveis (ºBrix), relação sólidos solúveis e acidez, conteúdo de amido, colo-
ração da polpa, gravidade específica, etc.
Assim, a ênfase está em fatores da aparência dos frutos, com a de-
terminação do momento da colheita freqüentemente baseada na experiên-
cia do produtor. Na prática, o ponto de colheita tem sido determinado pela
forma, tamanho e coloração externa do fruto.
Em trabalhos realizados no ITAL, Medlicott (1987) sugeriu a deter-
minação do ponto de colheita de mangas baseada na posição do “ombro”
em relação à do pedúnculo dos frutos. Este método de colheita tem funcio-
nado adequadamente para a maioria das variedades. A Figura 1 ilustra três
estádios de maturação de mangas de acordo com este método.

Figura 1. Mangas “Tommy Atkins” maturas, meio-maturas e imaturas


(Medlicott, 1987)

554
Tecnologia Pós-colheita para a Comercialização de Manga In Natura

O estádio denominado Maturo é representado por frutos que possu-


em os “ombros” acima da linha da região de inserção do pedúnculo ao fruto,
com discreta depressão nesta região e saliência do ombro, sendo o fruto
firme e de coloração da casca verde. Fruto Meio-Maturo é aquele que
apresenta o “ombro” alinhado com a região de inserção do pedúnculo ao
fruto, com contorno levemente saliente, possuindo coloração externa verde
e é firme. O Imaturo é aquele que possui o “ombro” abaixo desta região,
sem saliência, possuindo coloração de casca verde e é firme.
Utilizando-se este método para se determinar o ponto de colheita,
recomenda-se que mangas destinadas a mercados distantes sejam colhidas
quando estiverem “Meia-Maturas” e aquelas que serão comercializadas
em mercados próximos, sejam colhidas “Maturas”.
Nunca se deve colher frutas “Imaturas”, pois estas não estão
fisiológicamente desenvolvidas para amadurecerem após serem colhidas.
Assim, elas permanecerão verdes, murcharão e entrarão em senescência
(se deteriorarão) sem passarem pelo estádio de fruta madura.
Caso o ponto de colheita seja determinado através do uso de algum
instrumento ou equipamento, recomenda-se que sejam calibrados periodi-
camente para que estejam em acordo com as Normas Técnicas Específi-
cas para a Produção Integrada de Manga Nacional e do Estado de São
Paulo (Lopes et al., 2003 e Palla et al., 2004).

2.2. Utensílios Utilizados na Colheita

As mangas, quando ao alcance das mãos, sempre devem ser colhi-


das com a utilização de um instrumento cortante, geralmente uma tesoura
de poda. Com ela, corta-se o pedúnculo com 1 a 2 cm de comprimento, para
que se evite o vazamento do látex, que, certamente, manchará os frutos e,
também, se reduza a possibilidade de entrada de microrganismos na região
de inserção do pedúnculo ao fruto, que poderão causar doenças às frutas e
ao homem.
Quando as mangas estiverem no alto, deve-se utilizar o colhedor de
saco ou escadas.
O colhedor de saco é o mais indicado e consiste de uma longa vara,
com uma lâmina cortante em uma de suas pontas e um saco pequeno onde
os frutos são coletados após se desprenderem da árvore (Figura 2).

555
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Quando uma escada é utilizada, o colhedor deve portar uma sacola


com fundo falso (que se abre) para facilitar seu descarregamento, sem que
os frutos sofram golpes e sejam danificados.
As mangas, em nenhuma hipótese, devem ser derrubadas da árvore,
deixadas cair ou serem lançadas ao chão ou aos contentores de colheita
(caixas plásticas). Também, deve-se evitar o choque dos frutos com os
galhos da plantas.

Figura 2. Colhedor de saco para mangas. (Adaptado de Bleinroth, 1988)

Recomenda-se a sanitização da tesoura, colhedores de sacos ou das


sacolas utilizadas na operação de colheita das mangas, especialmente se
elas forem da PIF.

2.3. Exsudação do Latéx

No sistema convencional de produção de mangas, é prática comum


cortar o pedúnculo na região em que há a imediata exsudação do látex e,
então, colocar a fruta com esta parte em contato com o solo, por alguns
minutos, até que não haja mais a saída desta substância. Com isto, evita-se
que o látex escorra pela fruta, manchando-a.

556
Tecnologia Pós-colheita para a Comercialização de Manga In Natura

No sistema de Produção Integrada da Manga, esta prática não é


permitida. Assim, alguns produtores estão utilizando no campo, mesas de
metal (200 x 100 x 100 cm), com tampo de tela de arame, onde as mangas,
logo após serem colhidas, têm seus pedúnculos cortados e são colocadas
com esta região para baixo, em cima destas telas, por 30 minutos (Figura 3).
Um dos problemas com este método é que, dependendo das condi-
ções climáticas (temperatura e umidade relativa ambiente), a exsudação
completa do látex pode levar mais que 30 minutos. Desta forma, muitos
preferem realizar esta operação no galpão de embalagem, através da imersão
dos frutos em cal, conforme descrito mais à frente, em 3.3.

2.4. Contentores de Colheita

Os contentores de colheita nada mais são do que caixas plásticas,


como a mostrada na Figura 3.
Devem possuir superfície interna lisa, sem arestas, para que não da-
nifiquem os frutos. Caso isto ocorra, e para se evitar o contato da parede da
caixa com os frutos, devem-se utilizar forros, que sejam macios, flexíveis,
laváveis e de fácil higienização. Mangas PIF são proibidas de serem colo-
cadas em caixas plásticas forradas com jornal.
A utilização de caixas plásticas que estejam em bom estado de con-
servação é obrigatória para frutas PIF. Para estas mangas, recomenda-se
ainda que as caixas sejam sempre sanitizadas e que nunca sejam colocadas
em contato direto com o solo. Para isto, recomenda-se que se forre o solo
com material adequado, antes de distribuir as caixas plásticas pelo campo.
O forro deve ser mantido sempre limpo e deve ser colocado sempre com o
mesmo lado em contato com o solo.

557
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Figura 3. Mesa de metal, com tampo de tela de arame, onde as mangas são
deixadas até a completa exsudação do látex.

As mangas, principalmente da PIF, devem ser cuidadosamente colo-


cadas nestas caixas plásticas de modo a se evitar choques ou abrasões e
distribuídas uniformemente em seu interior, de modo que a última camada
de frutos não ultrapasse suas alças.
Frutos que estiverem exsudando látex e/ou manchados por esta subs-
tância, que sofreram abrasões, golpes ou contato com o solo, devem ser
colocados em contentores separados e bem identificados
Recomenda-se que os contentores com as mangas permaneçam à som-
bra até o momento de serem transportados para o galpão de embalagem.

2.5. Identificação dos Lotes de Colheita

No Sistema de Produção Integrada das Frutas, a garantia da


rastreabilidade do produto é obrigatória. Desta forma, cada lote de frutas
deve ser identificado com uma etiqueta onde conste: produção integrada,
data de colheita, variedade, nome da fazenda, número da parcela e o res-
ponsável pela colheita.

558
Tecnologia Pós-colheita para a Comercialização de Manga In Natura

É proibido o manuseio de frutas da PIF em conjunto com as de outros


sistemas de produção ou com outros produtos.

2.6. Transporte para o Galpão de Embalagem

Quanto mais rápida for a remoção das mangas do campo para o


galpão de embalagem, menor será a possibilidade de sua perda devido à
deterioração causada por altas temperaturas. Essas, além de provocarem
uma perda excessiva de água do produto (perda de peso e murchamento),
aceleram enormemente as atividades metabólicas das mangas (respiração,
transformações químicas, produção de etileno, etc.), reduzindo seu período
de comercialização.
As caixas contendo as frutas devem ser retiradas cuidadosamente
do campo e transportadas em baixa velocidade por vias regulares da propri-
edade.
Recomenda-se utilizar veículos adequados, com a pressão dos pneus
reduzida e amortecedores adaptados para absorver impactos. Nunca se
deve transportar as frutas a granel e utilizar veículos com tração animal.
Recomenda-se, ainda, molhar as vias internas da propriedade para se
evitar a formação de poeira.
Em períodos de grande insolação, deve-se cobrir o veículo com lona
de cor clara ou sombrite 50% ou tecido de algodão cru, deixando-se espaço
entre a lona e as mangas, para permitir a ventilação.
Transportar frutas da PIF conjuntamente com as de outro sistema de
produção ou outros produtos, somente é permitido, desde que devidamente
identificados, separados e assegurados os procedimentos contra riscos de
contaminações.
Os veículos devem estar sempre limpos para se evitar contamina-
ções com terra, fertilizantes, sujeira, etc.

2.7. Higiene na Colheita

Manter instalações sanitárias fixas ou móveis, disponíveis e em boas


condições de higiene e equipamentos para a lavagem das mãos a menos de
500 m, para utilização dos trabalhadores em campo.

559
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

3. OPERAÇÕES NO GALPÃO DE EMBALAGEM

3.1. Características do Galpão de Embalagem

Os galpões de embalagens para as mangas provenientes da PIF de-


vem estar em conformidade com regulamentos, como, por exemplo, os da
Food and Drug Administration (FDA), contidos no Título 21, parte 110 do
Código de Regulamentações Federal (CFR) - http://www.access.gpo.gov/
nara/cfr/waisidx_00/21cfr110_00.html. Neste “site”, são encontrados re-
quisitos sobre a área externa dos galpões de embalagem, piso, drenos, teto,
paredes, fluxo de funcionários/pessoas e da própria fruta, iluminação, por-
tas, ventilação, unidades de refrigeração, suprimento de água, encanamen-
to, toaletes, estações de sanitização de mãos e botas, equipamentos, áreas
de recepção, embarque, manuseio, e de armazenamento de embalagens,
etc. Estes requisitos são importantes para que se possam implementar os
sistemas de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e de Análise de Perigos e
Pontos Críticos de Controle (APPCC).
Recomenda-se que todo o galpão de embalagem para manga tenha
uma estrutura para a coleta e tratamento de seus efluentes, uma vez que o
descarte em cursos de água é proibido.

3.2. Recepção

A área de recepção deve ser protegida contra as intempéries e deve


ser organizada de forma a permitir a movimentação eficiente das frutas
para a área subsequente (de manuseio).
Os lotes que chegam ao galpão de embalagem devem ser identifica-
dos, mantendo-se as informações quanto ao Certificado Fitossanitário de
Origem (CFO) para aquelas que serão exportadas, procedência, peso e
hora de chegada para subsidiar a ordem de manuseio. Esta identificação é
necessária para que se possa manter a rastreabilidade do produto.
Nesta área, as mangas da PIF podem ser mantidas com as de outro
sistema de produção ou outros produtos desde que devidamente identifica-
dos, separados e assegurados os procedimentos contra riscos de contami-
nação.

560
Tecnologia Pós-colheita para a Comercialização de Manga In Natura

Amostras dos lotes podem ser tomadas para a realização de análises


de qualidade das frutas (presença de insetos, estádio de maturação, defei-
tos, etc.), de acordo com o mercado a que se destinam.

3.3. Eliminação do Pedúnculo

Caso o pedúnculo não tenha sido removido, ainda no campo, logo


após a colheita dos frutos, sua retirada deve ser realizada nesta etapa do
manuseio pós-colheita.
Para que o látex não manche as frutas, logo após a retirada do
pedúnculo, as mangas devem ser imersas por um minuto em uma solução
de cal a 0,5 a 1%.
A partir desta etapa, é proibido o manuseio de frutas da PIF em
conjunto com as de outros sistemas de produção, na mesma linha.

3.4. Lavagem

As mangas contidas nos contentores devem ser descarregadas em


esteiras rolantes dentro de tanques com água. Deve-se evitar a queda acen-
tuada dos frutos sobre as esteiras ou mesmo o impacto de uma fruta sobre
a outra, para que se reduzam as perdas devido aos danos mecânicos.
Recomenda-se que o tanque tenha bomba para agitação e recirculação
da água, o que facilita a remoção das sujeiras da superfície da fruta.
Deve-se utilizar sempre água tratada e potável para a lavagem dos
frutos. Para a sua reutilização, ela deve passar antes por uma estação de
tratamento de água. Anualmente, deve-se fazer análise da água no ponto de
entrada do equipamento de lavagem para verificar se está em acordo com
os padrões de potabilidade estabelecidos pela Portaria 518, do Ministério da
Saúde (Brasil, 2004).
Toda vez que se adiciona cloro (100 mL.L-1) à água de lavagem,
recomenda-se que se confira periodicamente o pH, a concentração de cloro
e a temperatura da água.
Recomenda-se, ainda, que os instrumentos e equipamentos utilizados
na operação de lavagem sejam freqüentemente aferidos.

561
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

3.5. Seleção e Classificação

A seleção dos frutos é uma operação distinta da classificação. Nesta


etapa, as mangas imaturas ou muito maduras, fora de peso, defeituosas,
com danos mecânicos que comprometam sua qualidade, devem ser retira-
das da esteira, que possui uma velocidade constante ao redor de 3 m.min-1.
Como no Brasil não há nenhuma Norma ou Regulamento Técnico de
Padrões de Identidade e Qualidade para Mangas, são os países importado-
res que ditam a cultivar, o tamanho ou peso, o estádio de maturação e a
qualidade das frutas desejadas.
Para a Europa, os tipos mais comuns são o 6, 7, 8 e 9, ou seja, 6 a 9
mangas por embalagem de 4 a 4.2 kg.
Para os Estados Unidos e Canadá, os tipos preferidos são o 9, 10, 12
e 14. Este último, excepcionalmente, sendo a preferência para os tipos 10 e
12, ou seja, mangas com 370 a 420 g (tipo 10) ou 320 a 370 g (tipo 12).
Para o mercado interno, as caixas de papelão contêm de 9 a 18 fru-
tas, com 6 a 7 kg líquidos. A preferência é por frutas de maior tamanho,
como as dos tipos 9, 10 e 12 que obtêm os melhores preços.
Os equipamentos de classificação realizam esta operação com base
no peso das frutas (Figura 4).

3.6. Tratamentos Fitossanitários

Mangas destinadas à Europa e ao Canadá devem ser submetidas ao


tratamento hidrotérmico para o controle de fungos que causam doenças
como a antracnose e a podridão peduncular.
O tratamento consiste na imersão das mangas em água a 50ºC por
um período de 5 minutos. A este tratamento físico, deve-se associar um
fungicida. Este pode ser adicionado à água a 50ºC ou, então, estar em outro
tanque onde as mangas serão imersas após serem tratadas em água quente.

562
Tecnologia Pós-colheita para a Comercialização de Manga In Natura

Figura 4. Equipamento utilizado na classificação de mangas. As caçambas


com as frutas desarmam, deixando as frutas caírem em diferentes
esteiras, de acordo com seu peso.

O fungicida a ser utilizado tem que ser permitido pelo país importador
e, para as frutas da PIF tem que estar na Grade de Agroquímicos e, portan-
to, registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) do Brasil.
Mangas enviadas aos Estados Unidos, Japão e Chile devem ser sub-
metidas ao tratamento hidrotérmico, visando o controle das moscas-das-
frutas (Figura 5). O tratamento consiste na imersão das frutas em tanques
com água a 46.1 ºC. O tempo de permanência das frutas nesta temperatura
depende de seu peso: 75 minutos para manga com peso inferior a 425 g e 90
minutos para fruta com peso acima de 425 g. O controle da temperatura
deve ser bastante rigoroso e geralmente monitorado por sistema
computadorizado, acompanhado sempre por um técnico do Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos. Antes deste tratamento, a temperatura

563
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

da polpa das frutas deve estar ao redor de 21 ºC. Após o tratamento, as


mangas são colocadas em outro tanque, com temperatura da água a 21ºC,
nele permanecendo por 30 minutos.
O tratamento térmico para controle de moscas-das-frutas e todos os
subsequentes até a expedição dos produtos são realizados em uma área
denominada de “zona limpa”. Esta área impede a entrada de insetos, inclu-
sive moscas-das-frutas, por ser toda revestida com telas de 30 mesh.
Há a necessidade de se manter registro de aplicação de produtos
fitossanitários e comprovação de que nos últimos 12 meses não se utiliza-
ram produtos proibidos pelo Brasil e pelos países importadores bem como a
comprovação, através de registros de que foi cumprido o estipulado nos
rótulos dos produtos utilizados e que o responsável técnico pelo tratamento
fitossanitário tem competência comprovada através de certificados de qua-
lificação formal, nacionalmente reconhecido. Há, também, a necessidade
de se utilizarem instalações e/ou equipamentos adequados para os trata-
mentos hidrotérmicos e recomenda-se que os sensores utilizados para o
registro e controle de temperatura sejam aferidos regularmente.

Figura 5. Gaiola contendo as caixas de mangas (à esquerda) e as frutas


imersas em água aquecida a 46.1 ºC (à direita) para controle das
moscas-das-frutas

564
Tecnologia Pós-colheita para a Comercialização de Manga In Natura

3.7. Aplicação de Cera

As ceras geralmente são utilizadas para reduzir a perda de água das


mangas, evitando seu murchamento. Também tem a função de melhorar a
aderência de fungicidas a elas, ou simplesmente como cosmético, para me-
lhorar a aparência das frutas e torná-las mais atrativas.
São aplicadas em mangas, geralmente por aspersão, para se repor a
cera natural removida durante as etapas de lavagem e dos tratamentos
hidrotérmicos.
Recomenda-se aplicar a cera específica de acordo com a aceitação
do mercado importador.

3.8. Secagem

Há a necessidade de se secar a cera aplicada à superfície das frutas.


Esta operação é realizada através de um túnel com ar aquecido a 45 ºC, por
onde passam as mangas. A velocidade da esteira deve ser a suficiente para
a secagem da cera, evitando-se o aquecimento da fruta.

3.9. Embalagem

A Instrução Normativa Conjunta SARC/ANVISA/INMETRO Nº


009 (Brasil, 2002) legisla sobre os requisitos mínimos de embalagens ade-
quados para frutas e hortaliças, que, naturalmente se aplicam às mangas.
Como esta Instrução Normativa é bem geral, deve-se evitar o uso de emba-
lagens que acabem não protegendo as frutas por serem de difícil paletização
e, consequentemente, de difícil manuseio (Figura 6).

565
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Figura 6. Embalagens de papelão para mangas, com formato trapezoidal, de


difícil paletização e manuseio.

As frutas no interior das embalagens devem ser sempre da mesma


variedade, qualidade e homogêneas quanto ao grau de maturação e tama-
nho. Para as mangas da produção integrada, o conteúdo das embalagens
deve ser da mesma origem.
A identificação da fruta deve estar de acordo com normas técnicas
de rotulagem e, no caso de mangas da PIF, necessariamente, ter indicação
de PIF - Manga, variedade, peso, produtor, parcela ou lote e exportador.

3.10. Paletização

A paletização é um sistema de unitização de carga em que se utiliza


uma plataforma móvel (o estrado), projetada para ser manuseada por
empilhadeira ou garfo mecânico, na qual, embalagens de dimensões e con-
teúdos idênticos podem ser empilhadas, de modo que formem uma única
unidade de manuseio. Essa plataforma possui a forma retangular, construída
de madeira ou plástico rígido e com as dimensões de 1,00 x 1,20 m.
No caso de mangas, recomenda-se o empilhamento em colunas (Fi-
gura 7), já que o trançado é menos resistente. Geralmente, utilizam-se 12
embalagens na base e 20 na altura.

566
Tecnologia Pós-colheita para a Comercialização de Manga In Natura

Figura 7. Paletização com empilhamento em colunas, com 12 embalagens


na base (4x3) e 20 na altura.

Todo “pallet” que tem como destino os Estados Unidos, tem que es-
tar envolto em tela (30 mesh) para se evitar a entrada de insetos, principal-
mente, moscas-das-frutas.

3.11. Resfriamento Rápido

O resfriamento rápido refere-se, como seu próprio nome sugere, à


rápida diminuição da temperatura das frutas até aquela bem próxima da
temperatura ótima de transporte ou armazenamento.
É uma operação distinta do armazenamento, requerendo instalações
e equipamentos especiais. As câmaras frigoríficas convencionais não po-
dem ser utilizadas como “pré-resfriadores”, uma vez que não possuem a
capacidade de refrigeração ou o movimento de ar necessários ao rápido
resfriamento do produto. “Conteiners” utilizados para o transporte das fru-
tas são ainda menos eficientes para o seu rápido resfriamento.
No caso de mangas, o método mais eficiente é aquele em que as
frutas podem ser rapidamente resfriadas pela produção de uma diferença
na pressão do ar nas faces opostas dos pallets. Esta diferença de pressão
força o ar frio (10 a 12 ºC) e úmido (umidade relativa ao redor de 95%)
através das embalagens e carrega consigo o calor da fruta. Neste caso, as
próprias mangas recebem diretamente o fluxo de ar frio e a velocidade do

567
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

resfriamento rápido pode ser regulada em função do volume de ar. Este


método é denominado de resfriamento rápido com ar forçado e pode reduzir
a temperatura de mangas próxima de 13 a 15 ºC para 10 a 12 ºC, tempera-
tura de transporte em 6 a 8 horas.
O resfriamento rápido só faz sentido se a partir deste momento a
cadeia do frio for respeitada. Significa dizer, que a partir deste momento, as
mangas não devem mais retornar à temperatura ambiente. É utilizado quan-
do as frutas são transportadas a grandes distâncias, em conteiners maríti-
mos refrigerados, como na exportação. Ou quando as mangas forem trans-
portadas em veículos refrigerados.
Mangas que foram tratadas pelo calor (tratamento hidrotérmico), para
controle das moscas-das-frutas, são embarcadas por via aérea para os Es-
tados Unidos. A água quente, por 75 ou 90 minutos, altera substancialmente
o metabolismo das frutas, havendo necessidade de serem transportadas e
comercializadas mais rapidamente. Desta forma, não são submetidas ao
resfriamento rápido.
Como exigência da PIF, recomenda-se aferir, periodicamente, os ins-
trumentos utilizados para o controle da temperatura e umidade relativa do
“pré-resfriador”.

3.12. Estocagem

Como as mangas são frutas altamente perecíveis e possuem uma


reduzida vida de pós-colheita, mesmo quando mantidas sob refrigeração,
não se recomenda seu armazenamento por períodos prolongados.
Assim, mangas que serão exportadas ou transportadas a longas dis-
tâncias devem permanecer em câmaras frigoríficas somente o tempo ne-
cessário para se completar a carga do meio de transporte a ser utilizado,
conteiner marítimo ou veículo refrigerado.
A temperatura ótima para a maioria das variedades de mangas está
entre 10 e 12 ºC e a umidade relativa deve ser mantida ao redor de 90%.
Nestas condições, as frutas mantêm-se em boas condições por 1 mês.
Recomenda-se a aferição dos termômetros e dos higrômetros regular-
mente e mangas da PIF só podem ser armazenadas com as de outros siste-
mas de produção ou com outros produtos, se devidamente separadas,
identificadas e assegurados os procedimentos contra riscos de contaminação.

568
Tecnologia Pós-colheita para a Comercialização de Manga In Natura

3.13. Expedição e Transporte

O veículo ou o conteiner deverá ser carregado de forma rápida e em


local construído especialmente para este fim. Para mangas refrigeradas, a
temperatura de polpa deverá ser mantida durante esta operação.
A temperatura do conteiner deverá estar a 10 – 12 ºC e a umidade
relativa ao redor de 90% para que a cadeia do frio seja mantida até o desti-
no do produto.
Deve-se manter o registro de expedição e destino dos lotes para se
garantir a rastreabilidade.
Recomenda-se verificar e aferir freqüentemente os instrumentos uti-
lizados para se determinar e registrar a temperatura e a umidade relativa
durante a expedição e o transporte e manter uma amostra do material expe-
dido para acompanhamento da qualidade do produto pelo período em que
ele estiver sendo transportado.
O transporte de frutas da PIF em conjunto com as de outros sistemas
de produção só é permitido desde que devidamente separadas, identificadas
e assegurados os procedimentos contra riscos de contaminação.

3.14. Lavagem e Sanitização

Todo o galpão de embalagem, seus equipamentos, pré-resfriadores,


câmaras frigoríficas, veículos de transporte, etc. têm que ser constante-
mente lavados e sanitizados.
Os produtos utilizados para a sanitização geralmente são à base de
cloro ou amônia quaternária. Esta última é preferida ao hipoclorito de sódio
porque ele oxida (enferruja) metais.
A adoção de um plano de Análise de Perigo e Ponto Crítico de Con-
trole contempla aspectos de lavagem e sanitização da infra-estrutura para o
perfeito manuseio, estocagem e transporte de mangas.

569
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRIGUETO, J.R.; KOSOSKI, A.R. Marco legal da produção inte-


grada de frutas do Brasil. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA)/Secretaria de Apoio Rural e Cooperativismo, 2002.
60p.
BLEINROTH, E.W. Determinação do ponto de colheita de frutas. In:
BLEINROTH, E>W> (Org.). Tecnologia de pós-colheita de frutas tro-
picais. Campinas: ITAL, 1988. p.1-19.
BRASIL. Secretaria de Apoio Rural e Cooperativismo/Ministério da Agri-
cultura, Pecuária e Abastecimento, Agência Nacional de Vigilância Sanitá-
ria/Ministério da Saúde e INMETRO/Ministério do Desenvolvimento, In-
dústria e Comércio Exterior. Instrução Normativa Conjunta SARC/ANVISA/
INMETRO Nº 009 de 12 de novembro de 002. Diário Oficial, 14 nov. 2002.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 518, de 25 de março de 2004.
In: SILVA, N. da et al. Manual de métodos de análise microbiológica da
água. Campinas: ITAL, 2004. 94p.
LOPES, P.R.C. et al. Normas técnicas e documentos de acompanha-
mento da produção integrada de manga. Petrolina, PE: Embrapa Semi-
Árido, 2003. 74p.
MEDLICOTT, A.P. Presentation of data from a visit to ITAL, Brasil to
study the Effects of Maturity, Storage and Gas Treatment on Mango Fruit
Ripening. London: ODNRI, 1987. 51p. (Visit Report Nº R1401 (R).
PALLA, V.L. et al. Normas técnicas e documentos de acompanhamen-
to da produção integrada de manga para o Estado de São Paulo.
Jaboticabal, SP. CATI, 2004. No prelo.

570
Tecnologia da Industrialização da Manga

TECNOLOGIA DA
INDUSTRIALIZAÇÃO DA MANGA
Afonso Mota Ramos1
Paulo Henrique Machado de Sousa2
Selene Daiha Benevides3

1. INTRODUÇÃO

A fruticultura mundial foi responsável pela produção de 580,1 mi-


lhões de toneladas em 2003 (FAO, 2004), ano em que a fruticultura brasilei-
ra experimentou um momento de franco desenvolvimento.
Segundo estimativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-
cimento (MAPA), o Brasil registrou produção de 38 milhões de toneladas
em 2003. A área plantada, pelos cálculos do órgão, também teve aumento
substancial. De 2,1 milhões de hectares, passou para aproximadamente 2,3
milhões em 2003. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) apontam que o setor tem tido crescimento vertiginoso a cada safra.
Em 2001, segundo o órgão, a produção foi de 34,2 milhões de toneladas,
passando para 37,7 milhões em 2002. A área plantada manteve-se a mesma
nestes dois anos: 2,1 milhões de hectares (BELING et al., 2004).
A produção de mangas em 2003 foi de 25.563.469 toneladas, sendo a
China, a Índia, a Tailândia, México e o Paquistão, os maiores produtores
mundiais, responsáveis por mais de 84% da produção total de manga. O
Brasil ficou em sétimo lugar, responsável por 4% da produção mundial (FAO,
2004).
No Brasil, os principais produtores de manga são os Estados de São
Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Pará, Paraná,
Espírito Santo, Pernambuco e Ceará, que são juntos, responsáveis por 90%
da produção nacional (BELING et al., 2004).

1
Professor adjunto, Departamento de Tecnologia de Alimentos, UFV, e-mail: [email protected]
2
Aluno de Doutorado, Departamento de Tecnologia de Alimentos, UFV, e-mail:
[email protected]
3
Aluna de Doutorado, Departamento de Tecnologia de Alimentos, UFV, e-mail:
[email protected]

571
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

A manga é uma fruta tropical muito importante e o seu cultivo tem


sido difundido por todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo. Sua
importância se dá pela exploração comercial e também pelo seu cultivo em
pomares domésticos de autoconsumo (MANICA et al., 2001).
Na maioria dos países tropicais em desenvolvimento, a abundância
natural de frutas tropicais frescas leva freqüentemente a um excedente
com respeito à demanda local. Infelizmente, o excesso de frutas frescas
nem sempre é completamente utilizado e valorizado como deveria. Apenas
uma quantidade limitada destes frutos é produzida e comercializada (HENG
et al., 1990).
No Brasil, como em outros países, a fruta é consumida principalmen-
te na forma in natura. As tentativas para industrialização em grande escala
não foram bem sucedidas pelas seguintes razões (SOLER, 1989):
- falta de matéria-prima uniforme e em grande quantidade;
- dificuldades de transporte, amadurecimento e conservação antes
do processamento;
- safra curta, não justificando a instalação de uma planta específica
para manga;
- falta de divulgação dos processos adequados para elaboração de
produtos de manga.
O primeiro fator é o mais importante. O fato de a safra ser de curta
duração deveria se constituir num incentivo à sua industrialização, o que
permitiria a absorção do excesso de produção, além de possibilitar o consu-
mo do produto industrializado na época em que a fruta fresca não pudesse
ser encontrada.
Entretanto, observa-se uma crescente tentativa para a industrializa-
ção de manga, porém ainda não tem sido bem sucedida, pois há um maior
interesse na produção de variedades exportáveis, deixando de lado variá-
veis propícias à industrialização.
A partir da manga, podem-se preparar fatias, pedaços ou rodelas em
calda, néctar, polpa, doce em massa ou mangada, suco simples e concentado,
congelado, geléias, fatias ou pedaços congelados ou refrigerados, fatias cris-
talizadas, cereais de manga, vinho e vinagre e ainda produtos menos conhe-
cidos, como produtos de manga verde ou imatura, conhecidos na índia como
“amchur” ou “amchoor” e o “chutney”. E ainda podem ser utilizados os
resíduos da industrialização da manga como componentes de rações mistas

572
Tecnologia da Industrialização da Manga

para animais (MANICA, 2001). Com a mudança no estilo de vida da huma-


nidade em busca de uma alimentação mais saudável, com um maior consu-
mo de frutas frescas e com a melhoria do padrão de qualidade das frutas
exigido pelos consumidores, os produtores são incentivados a oferecer um
produto com melhor qualidade. Entretanto, com relação à manga destinada
ao processamento por parte da agroindústria, essa exigência por qualidade
do produto tem sofrido pouca mudança (MATOS, 2000), porém esforços
têm sido dedicados para que os responsáveis pelo elo dessa cadeia
agroindustrial mudem o mais rápido possível esse cenário.

Aspectos Econômicos de Produção e Mercado

A Food and Agriculture Organization (FAO) tem mostrado que a


comercialização mundial de produtos derivados de frutas cresceu mais de
cinco vezes nos últimos quinze anos. Entre os países em desenvolvimento, o
Brasil destaca-se por ter a maior produção, que está concentrada em um
pequeno número de espécies frutíferas, as quais são cultivadas e processa-
das em larga escala (BRUNINI et al., 2002).
Devido ao excelente sabor aliado às boas características nutritivas e
funcionais da manga, a mangicultura tem ganho importância econômica,
estando entre as dez culturas mais plantadas no mundo, em aproximada-
mente 94 países. Devido ao clima propício, a cultura da manga se apresenta
como uma das principais culturas nas regiões tropicais (MATOS, 2000).
De acordo com dados da FAO (2004), a produção mundial de manga
no ano de 2003 foi de, aproximadamente, 25.563.469 toneladas, sendo a
Índia, o principal produtor do fruto, responsável por quase metade da produ-
ção mundial. O Brasil ocupa a sétima posição na classificação mundial de
produtores de manga, participando com 3,0 % da produção (Figura 1).

573
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Produção Mundial, 2003 (FAO)


Indonésia
3%
Nigéria
México Paquistão Filipinas Brasil 3%
Tailândia 6% 4% 3% 3% Egito
7%
1%
China Outros
13%
15%

Índia
42%

Figura 1. Participação dos principais países produtores de manga na produ-


ção mundial (FONTE: FAO, 2004)

Na América do Sul, o Brasil se destaca como o principal produtor de


manga, de onde se pode prever um importante aumento das plantações e da
produção, concentrando-se grande número no Vale do São Francisco
(SAÚCO, 1999).
No Brasil, segundo o censo agropecuário de 1996 do IBGE (2004), a
região Nordeste foi a principal produtora de manga do país, em número de
frutos, sendo responsável por 49,78% da produção nacional total, sendo os
Estados de São Paulo e Minas Gerais os maiores produtores de manga em
nível nacional (Tabelas 1 e 2).

574
Tecnologia da Industrialização da Manga

Tabela 1. Produção de manga por região em 1996


Região Produção de manga (em 1.000 frutos)
Nordeste 699.767,47
Sudeste 505.179,99
Norte 117.885,44
Centro-Oeste 59.822,88
Sul 23.174,93
Total 1.405.830,71
Fonte: IBGE, 2004

Tabela 2. Principais estados produtores de manga em 1996


Estado Produção de manga (em 1.000 frutos)
São Paulo 258.967,77
Minas Gerais 223.392,07
Pernambuco 163.017,41
Bahia 154.979,20
Ceará 100.857,92
Paraíba 98.469,53
Pará 87.984,30
Rio Grande do Norte 51.980,07
Maranhão 39.950,48
Piauí 39.575,45
Fonte: IBGE (2004)

O período em que ocorre a maior oferta da manga brasileira vai de


outubro a março, diferente daquele dos países do hemisfério norte, como a

575
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Índia, China, Paquistão e México (DONADIO, 1996). Este fato possibilita


ao Brasil a explorar o mercado externo sem a presença desses grandes
competidores (LEITE et al., 1998).
O mercado de produtos derivados da manga ainda é bastante reduzi-
do. Os produtos da manga tais como polpa ou suco concentrado represen-
tam uma mínima porcentagem da produção mundial da manga (0,02%). O
mercado de frutas secas/desidratadas é ainda mais reduzido, sendo a Co-
munidade Européia, Japão e Estados Unidos, os principais mercados. Os
principais exportadores são Tailândia, Índia, Filipinas, Taiwan e Malásia. O
produto desidratado é importado em cubos, grãos, pedaços, rodelas, lâminas
e pó, com a particularidade de preferir-se que sejam de cor laranja-amare-
lado (SAÚCO, 1999).
Uma das características marcantes do mercado interno é o elevado
percentual de perdas decorrentes da logística inadequada, da falta de
capacitação e cuidados no manuseio do produto na região, com perdas em
torno de 40% (LEITE et al., 1998). A produção de polpa de manga em 1997
ficou em torno de 2.800 toneladas, segundo dados da ASTN, com um cres-
cimento de 21% de 93 a 97. Esta produção (84%) se destina basicamente
ao mercado externo.
A manga, mesmo apresentando grandes possibilidades de industriali-
zação, ainda não é devidamente industrializada. A viabilização do aproveita-
mento racional da manga, preservando ao máximo seus componentes
nutricionais, seria extremamente importante para o Brasil, grande produtor
mundial (de manga) da fruta (RIBEIRO e SABAA-SRUR, 1999).
A manga processada, em substituição à manga in natura, também
representa uma opção vantajosa na pauta de exportação brasileira de pro-
dutos agroindustriais. Segundo Gonçalves (2002), produtos processados ou
elaborados são potencialmente diferenciáveis e, portanto, agregam mais valor,
gerando maiores receitas e visando novos postos de trabalho no país.
Na Tabela 3, observam-se as estimativas e projeções publicadas (SIL-
VA, 1999) para sucos e polpas de frutas tropicais no Brasil, de 1993 a 1999,
sendo os maiores crescimentos de polpas de mamão, manga, acerola e goi-
aba e sucos de abacaxi, maracujá e caju.

576
Tecnologia da Industrialização da Manga

Tabela 3. Evolução da Produção de Sucos e Polpas


Produção (ton.)
Sucos e Polpas Evolução %
1993 1999 1999/1993
Abacaxi (60º Brix) 19.194 33.156 72,7
Maracujá (50º Brix) 36.693 87.270 137,8
Caju (36º Brix) 33.399 81.271 143,3
Mamão (25º Brix) 620 964 55,4
Manga (13º e 16º Brix) 2.300 3.085 34,1
Acerola (6º e 8,5º Brix) 1.960 4.858 147,9
Goiaba (8º e 12º Brix) 38.219 45.397 18,8
Fonte: SILVA (1999)

Caracterização da Manga

A composição química e as características da manga variam com as


condições da cultura, variedade e o estádio de maturação (CARDELLO e
CARDELLO, 1998). Como são encontradas no Brasil diversas cultivares
de mangueira, estudos de caracterização física e química de mangas de
variedades regionais são de grande importância na escolha de matérias-
primas para consumo in natura ou para industrialização. Para consumo do
fruto fresco, a preferência é por frutas com baixa acidez, alto teor de sóli-
dos solúveis e ausência de fibras. As indústrias, no geral, preferem mangas
com alto rendimento de polpa, alto teor de sólidos solúveis e ausência de
fibras (GONÇALVES et al., 1998).
Estudos têm sido realizados para verificar quais as variedades
indicadas para industrialização. As principais variedades-copa (fruto para
mesa) são “Tommy Atkins”, “Keitt”, “Kent”, “Van Dyke” e “Palmer”, ao
lado de outras, tais como a “Carlota”, “Espada”, “Extrema”, “Maranhão”,
“Rosa”, “Coité”, “Lira”, “Mamão”, “Ubá” e “Badhudaran” (resistente à
má formação), usadas também para o fabrico de sucos (ALMEIDA et al.,
2000). Com relação ao aspecto sensorial, Kato et al. (1976), ao estudarem
polpas concentradas de manga das variedades “Espada”, “Bourbon”,
“Haden”, “São Quirino” e “Non Plus Ultra”, verificaram que não havia
diferenças entre elas no teste de preferência, sendo os néctares preparados
a partir destas polpas igualmente bem avaliados.
577
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

A comercialização da manga no mercado interno brasileiro centrali-


za-se em uma única variedade, a norte-americana “Tommy Atkins”, repre-
sentando 79% da área plantada no Brasil. Variedade muito produtiva, daí
ser eleita pelos produtores para seus plantios, tem casca de coloração ver-
melha, porém se apresenta pobre nos atributos de qualidade de polpa, como
sabor e ausência de fibras (PINTO, 2002).
A Tabela 4 mostra a composição química e físico-química de algu-
mas variedades de mangas maduras, em estudo realizado por Silva (1985) e
Bleinroth (1985).

Tabela 4. Determinações físico-químicas e químicas da polpa de diversas


variedades de mangas maduras
Variedades
Determinações Tommy
Espada1 Jasmim1 Coité1 Rosa1 Keitt2 Ubá2
Atkins2
pH 3,60 3,60 4,10 3,40 3,69 4,29 4,04

Sólidos solúveis (ºBrix) 14,80 12,20 13,60 14,20 14,10 15,60 18,80

Acidez (% ac. cítrico) 0,54 1,50 0,46 0,79 0,57 0,38 0,62

Açúcares redutores (%) 4,53 3,60 4,24 4,04 3,72 4,08 4,54

Açúcares totais (%) 12,32 10,48 11,99 12,57 11,30 12,37 14,55
Amido (%) 1,32 1,26 0,97 0,86 - - -
Vitamina C (mg/100g) 3,9 25,0 21,7 16,3 58,0 42,0 -
Fonte: 1 – SILVA, 1985; 2 – BLEINROTH, 1985.

As alterações que as mangas sofrem durante o armazenamento tam-


bém são importantes, pois são úteis na definição das condições de seu
armazenamento e processamento.(JAGTIANIE et al., 1988). Algumas das
mudanças ocorridas são listadas a seguir:
- Sólidos solúveis, pH, açúcares totais, sacarose, carotenóides e a
intensidade do sabor aumentam;
- Sólidos insolúveis, o teor de acidez e o amido diminuem;
- Sólidos totais permanecem constantes;
- A respiração e a transpiração aumentam até um pico e depois dimi-
nuem;

578
Tecnologia da Industrialização da Manga

- Alteração da coloração da polpa: de amarelo claro para amarelo


escuro ou laranja;
- Diminuição dos teores de vitamina C;
- Firmeza diminui.
Mangas jovens são adstringentes, ácidas e ricas em vitamina C, en-
quanto mangas maduras são doces, ricas em b-caroteno, moderadas em
vitamina C e altamente aromáticas. Os principais constituintes são
carboidratos, ácidos orgânicos, proteínas e aminoácidos, pigmentos, subs-
tâncias pécticas, polifenóis, vitaminas, minerais, ácidos graxos e componen-
tes responsáveis pelo aroma (LAKSHMINARAYANA, 1980).

Industrialização da Manga

O consumo da manga in natura, sem dúvida predomina, entretanto,


sendo esta fruta ser amplamente utilizada na culinária e na indústria alimen-
tícia. Na culinária, permite a elaboração de pratos como: musses, saladas,
vitaminas, bolos, tortas e molhos. Na indústria alimentícia, os produtos mais
comuns são: polpas, sucos, néctares e geléias, sendo que, a maior produção
se dá na forma de polpa- a matéria-prima para a elaboração de sucos, néc-
tares, doces em massa e geléias.
Das centenas de variedades de manga existentes no mundo, aproxi-
madamente 100 são cultivadas no Brasil, poucas delas com características
apropriadas à industrialização.
A variedade “Ubá” é muito apreciada para a industrialização, princi-
palmente para a produção de sucos, justificado pelo seu sabor e textura.
Entre os principais produtores desta variedade, está a cidade de Visconde
do Rio Branco, localizada na Zona da Mata Norte de Minas Gerais.
As fibras da manga “Ubá” são curtas e macias, sua polpa suculenta
e saborosa. Sem falar de outras vantagens fundamentais para o negócio,
como a manutenção da cor amarelo-claro após o processamento, a viscosi-
dade apropriada para o consumo e a conservação do sabor, além dos valo-
res nutricionais da fruta, é rica em potássio e vitaminas C e A (AGROFRUIT,
2004) .

579
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Polpa ou Purê de Manga


Embora com uma taxa de crescimento um pouco mais tímida do que
a dos sucos prontos para beber e com investimentos bem menos volumosos,
a categoria das polpas é um nicho tão ou mais “apetitoso” e com perfil mais
próximo do fôlego das pequenas e médias empresas.
De acordo com a Instrução Normativa nº 01, de 7 de Janeiro de 2000,
do MAPA, que aprova o regulamento técnico para polpas de frutas, define-
se polpa ou purê de manga, como o produto não fermentado e não diluído,
obtido da parte comestível da manga (Mangifera indica, L.), através de
processo tecnológico adequado, com teor mínimo de sólidos totais de 14g/
100g de polpa (BRASIL, 2000).
A composição da polpa de manga varia com a cultivar, condições
culturais e climáticas, estádio maturação na colheita, armazenamento e tra-
tamento pós-colheita e método de processamento empregado. Normalmen-
te, o conteúdo de umidade na polpa é em torno de 80%, o conteúdo de
sólidos solúveis varia de 15 a 20ºBrix, conteúdo de açúcar total entre 4% e
26%, relação Brix/acidez (Ratio) assumindo valores entre 20 e 116, acidez
titulável próximo de 0,5% de ácido cítrico, embora se tenham encontrado
valores de 0,1% a 1,1% (WU et al., 1993). O rendimento em polpa de frutos
pequenos é de cerca de 50% a 60%, enquanto para frutos grandes, o rendi-
mento é de cerca de 60% a 70%.
Para a produção de polpa, suco e néctar de manga, a cultivar mais
utilizada é a Ubá em Minas Gerais, também conhecida por Carlota ou
Carlotinha no Rio de Janeiro, principalmente pela sua cor, aroma e sabor
pronunciados, teor de sólidos solúveis elevado e bom rendimento. Outras
variedades também podem ser utilizadas, como a Bourbon, Haden, Kent,
Manilla, Sensation, Tommy Atkins, etc.
Entre os métodos de conservação de polpas podem ser citados: asséptico,
Hot Fill, pelo frio, pelo uso de aditivos químicos e por processos mistos.
O envase asséptico resulta em um produto final de melhor qualidade
quanto às características básicas de cor, aroma, calor e consistência, quan-
do comparada a produtos produzidos por métodos convencionais não po-
dem deixar de ser mencionados os outros métodos de conservação, os quais
até a etapa de refino seguem o mesmo fluxograma.
A elaboração de polpa ou purê de manga é descrita a seguir, de acor-
do com o fluxograma da Figura 2.

580
Tecnologia da Industrialização da Manga

Mangas

Colheita

Transporte

Recepção / Pesagem
Água ↓
Pré-lavagem / Seleção Inicial

Lavagem / Seleção Final

Branqueamento / Despolpamento / Refino

Formulação

Pré-aquecimento / Desaeração

Pasteurização em trocador de
calor

Envase Asséptico

Armazenamento

Figura 2. Fluxograma de obtenção da polpa manga pelo processo asséptico.

Etapas do Processamento de Polpa de Manga

Colheita

As mangas devem ser colhidas em bom estado de maturação, de


maneira manual, com bolsas (sacolas) ou mecânica, tomando-se os devidos

581
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

cuidados para que não sejam causadas injúrias nos frutos. Os frutos devem
ser acondicionados em recipientes adequados, tais como contentores ou
caixas plásticas, limpas e sanitizadas (com água clorada) e colocados sob a
proteção do sol e solo para que não sejam contaminados. Devem-se obser-
var os parâmetros básicos para uma colheita adequada de forma a oferecer
um produto final de excelente qualidade.

Transporte
Os frutos nos contentores são enviados à fábrica em caminhões ou
carretas, cobertos por lona de cor clara para serem protegidos do sol, de-
vendo-se deixar um espaço de 40-50cm entre a lona e os frutos para manter
a ventilação. Deve-se ter o cuidado com relação à velocidade alta e estra-
das ruins para que os frutos não cheguem à indústria com injúrias.

Recepção e pesagem
Os frutos devem atender as especificações do comprador, podendo
ser feitos testes para controle da matéria- prima.
A pesagem é feita para efeito de pagamento e para se determinar o
rendimento da produção.

Pré-lavagem e Seleção Inicial


A pré-lavagem com água potável é feita com o intuito de retirar as
sujidades mais grosseiras do fruto e reduzir a carga microbiana.
A seleção é a etapa peculiar a todo o processamento de frutos, de-
vendo ser observadas a uniformidade e aparência dos mesmos. Esta etapa
tem a finalidade de retirar os frutos com defeitos, ou seja, aqueles que estão
no estádio de maturação não uniforme, os podres, feridos, machucados, que
irão comprometer a qualidade do produto final.

Lavagem e Seleção Final


Esta operação, sanitização, visa lavar os frutos com água clorada a
50 mg/L cloro residual livre por 2 minutos, deixando os frutos imersos nesta
solução. O objetivo é reduzir a carga microbiana para permitir o emprego
menos severo dos agentes físicos e químicos em relação à estabilidade do
produto final.

582
Tecnologia da Industrialização da Manga

Os frutos sofrem uma seleção final, retirando os que porventura pos-


sam ter passado despercebidos pela seleção inicial.
Os frutos selecionados são lavados novamente com água potável para
reduzir os resíduos da água clorada da etapa de sanitização. É usado spray
na esteira aspergindo a água juntamente com escovas para que sejam reti-
rados quaisquer resíduos dos frutos.

Branqueamento / Despolpamento / Refino


O branqueamento é um cozimento realizado nas mangas e tem como
objetivo facilitar o despolpamento. Então, os frutos selecionados são trans-
feridos pela esteira a um tanque cozedor, onde é realizado o branqueamento
com água potável, à temperatura de 100ºC por 1,5 minutos, sob agitação
constante com palhetas de aço inoxidável.
Os frutos são submetidos à despolpadeira com peneiras com telas
perfuradas para ser desintegrado e despolpado. De um lado do equipamen-
to sai a polpa grossa e ainda com fibras e do outro, o caroço e a casca.
Em seguida, o produto segue para uma refinadora com peneiras com
telas perfuradas com diâmetros menores que a despolpadeira, a fim de se
obter uma polpa refinada e padronizada, eliminando as fibras do produto.

Formulação da Polpa
É realizada em tachos de aço inoxidável, onde são retiradas amostras
para determinações do pH e Brix para em seguida ser formulada a polpa,
ajustando-se o pH com ácido cítrico para reduzir para 3,9 a 4,1 a fim de
garantir a eficácia do tratamento térmico. Finalizada a formulação, a polpa
segue para o tanque de equilíbrio para o pré-aquecimento e desaeração.

Pré-Aquecimento / Desaeração
A polpa é pré-aquecida antes de entrar no desaerador, objetivando a
remoção do ar e do oxigênio absorvidos durante o despolpamento, promo-
vendo um bloqueio nas reações químicas e enzimáticas.

Pasteurização
A polpa é pasteurizada a 110ºC por 30 segundos, para destruir os
microrganismos deteriorantes, principalmente fungos filamentosos e leve-
duras, pois devido ao baixo pH, não se desenvolvem microrganismos

583
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

patogênicos. Em seguida, a polpa é resfriada a 30 -35ºC para em seguida


ser envasada.
A polpa de manga pode ser pasteurizada em trocadores de calor do
tipo tubular e de superfície raspada devido à sua viscosidade elevada.

Envase asséptico
O processo de enchimento asséptico engloba uma combinação de
princípios de esterilização a alta temperatura, durante certo tempo, com
métodos de enchimento asséptico. Difere dos outros métodos porque o pro-
duto é rapidamente esterilizado e resfriado, antes de ser envasado em em-
balagens assépticas. O produto esterilizado e resfriado sob pressão flui con-
tinuamente do sistema de calor para as embalagens primárias (assépticas),
seguindo para as embalagens secundárias (tambores). Com esse tipo de
envase, não se tem contato com o ar atmosférico ou qualquer fonte de
contaminação. Após o envase, a polpa é rotulada e segue para o
armazenamento.

Armazenamento
A polpa, após envase asséptico, pode ser armazenada à temperatura
ambiente, em local seco, fresco e protegido da luz.

Outros métodos de obtenção / conservação de polpa

Processo Hot Fill


Neste método, a polpa é submetida a um tratamento térmico de pas-
teurização a 95ºC por 2 minutos e em seguida resfriada.
O enchimento é realizado em tambores com embalagem plástica,
devendo ser feito a quente logo após a saída do produto do trocador de
calor. A temperatura de enchimento não deve ser inferior a 90ºC. Porém,
temperaturas inferiores poderão ser utilizadas quando ao produto são adici-
onados conservantes.
O fechamento deve ser feito logo após o enchimento. Existem má-
quinas acopladas com injetores de vapor que soltam um jato de vapor sobre
o espaço livre dos recipientes, eliminando o ar e aumentando o vácuo produ-
zido após o resfriamento.

584
Tecnologia da Industrialização da Manga

Conservação pelo uso do frio


As temperaturas baixas são utilizadas para retardar as reações quí-
micas e a atividade enzimática, bem como retardar ou inibir o crescimento e
a atividade dos microrganismos. Quanto mais baixa for a temperatura, mais
reduzida será a ação química, enzimática e o crescimento microbiano.
O congelamento é um dos processos mais indicados para a preserva-
ção das propriedades químicas, nutricionais e sensoriais. No entanto, apre-
senta o inconveniente de os custos de produção e armazenamento serem
relativamente elevados. Além disto, requer para a distribuição do produto
uma cadeia de frio, constituída basicamente de túnel de congelamento e de
câmara frigorífica a –20ºC, além de transportes também frigorificados.
Para melhor estabilidade do produto, é importante que seja submetido
a um tratamento térmico adequado, para inativação das enzimas e redução
da carga de microbiana deteriorante, e que seja resfriado a temperaturas
abaixo de 10ºC, antes de ser embalado, proporcionando um congelamento
mais rápido.

Conservação pelo uso de aditivos químicos


O processo de conservação por meio de aditivos químicos é bastante
difundido no Brasil, sendo utilizado, basicamente, em produtos destinados ao
mercado interno, ou então para exportação à paises onde não há restrições
quanto aos produtos quimicamente conservados.
Os conservantes são definidos como agentes que retardam ou mas-
caram as alterações indesejadas em alimentos, que podem ser causadas por
microrganismos, enzimas ou reações químicas. Porém, a principal razão de
sua utilização visa a inibição dos microrganismos.
Os conservantes químicos mais usados para sucos e polpas de frutas
são ácido benzóico e benzoatos, ácido sórbico e sorbatos, dióxido de enxo-
fre (SO2) e sulfitos.

Conservação por processos mistos


Na realidade, a maioria dos alimentos é conservada pela utilização de
métodos mistos. Geralmente, dois ou mais processos são aplicados. Em
sucos e polpas de frutas, em geral, são associados o tratamento térmico, o
uso de conservantes e o congelamento.

585
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Produção de Suco e Néctar de Manga


A maioria dos sucos integrais de frutas produzidos no Brasil é pro-
cessada pelo processo Hot Fill e uma pequena parte pelo processo asséptico.
Os sucos de frutas produzidos por ambos os processos são encorpados,
sendo consumidos depois de diluição em água e adição de açúcar (MAIA,
2000). Porém, o suco de manga, devido à sua grande viscosidade, tem sido
comercializado no Brasil como suco tropical de manga, que sofre uma dilui-
ção durante o processo de fabricação, mas que ainda necessita de adição
de água e açúcar no momento do consumo.
A Instrução Normativa no 12, de 4 de setembro de 2003, do MAPA,
a qual estabelece os Padrões de Identidade e Qualidade para Sucos Tropi-
cais, define suco tropical de manga como a bebida não fermentada, obtida
pela dissolução, em água potável, da polpa da manga (Mangifera indica,
L.), por meio de processo tecnológico adequado, devendo o produto não
adoçado conter no mínimo 60% de polpa e o adoçado, no mínimo 50% de
polpa (BRASIL, 2003).
O processamento do suco é similar ao da polpa, diferindo na etapa de
despolpamento, em que se realiza adição de até 5% de água ou suco refina-
do, respeitando-se os limites estabelecidos pelos Padrões de Identidade e
Qualidade do produto. O suco geralmente é submetido ao processo de en-
chimento a quente, acondicionado em garrafas de vidro ou de plástico com
volume de 500mL ou em embalagens cartonadas quando é processado pelo
sistema asséptico.
Na fase de despolpamento, desintegra-se a fruta, deixando-se o ca-
roço intacto. A polpa líquida pode ser separada do caroço, da casca residual
e das fibras por centrifugação ou por prensagem, por meio de peneiras em
série, com diâmetros da malha da peneira de 0,8 mm, 0,6 mm ou 0,5 mm.
Para o refino do suco, pode ser utilizado um finisher com diâmetro de ma-
lha menor que 0,5 mm. O processo de desaeração previne a oxidação do
produto. O tratamento térmico tem por objetivo reduzir a carga microbiana,
bem como a atividade enzimática.
Após a extração e refino, o suco segue para os tanques de formula-
ção, onde se procede ao ajuste de certas características físico-químicas
(pH, teor de polpa, etc) mediante a incorporação de acidulante e de preser-
vativos (benzoato e metabissulfito de sódio ou potássio) nas quantidades
recomendadas pela legislação.

586
Tecnologia da Industrialização da Manga

Em seguida, faz-se uma homogeneização, que tem o objetivo de re-


duzir as partículas em suspensão que se dividem e começam a flutuar, me-
lhorando a aparência do suco. É feita em homogeneizador de piston a uma
pressão de 100-150 kg/cm2. Através de um aumento da pressão, as partícu-
las ficam extremamente finas e então se dispersam no líquido.Posteriormente,
o suco recebe um pré-aquecimento a 50°C, que remove o ar e o teor de O2
dissolvido no suco, promovendo um bloqueio nas reações químicas de oxi-
dação da vitamina C, reduzindo a formação de espuma, a cor, o sabor, o
aroma, e melhorando a qualidade do suco após 4 a 6 semanas de estocagem.
Depois da desaeração, o suco sofre o tratamento térmico, seguindo
os vários caminhos, como foi visto no processamento de polpas, dependen-
do do método escolhido para conservação do produto.
Na Figura 3, observa-se o fluxograma do processamento de suco
tropical de manga, produzido pelos dois principais processos: Hot Fill e
asséptico.

587
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Colheita

Transporte

Recepção / Pesagem
Água ↓
Pré-lavagem / Seleção Inicial

Lavagem / Seleção Final

Branqueamento / Despolpamento / Refino

Formulação

Pré-aquecimento / Desaeração
Hot fill Asséptico
↓ ↓
Tratamento térmico Tratamento térmico
↓ ↓
Enchimento Resfriamento
↓ ↓
Fechamento Enchimento asséptico
↓ ↓
Resfriamento Armazenamento

Armazenamento

Figura 3. Fluxograma de obtenção do suco tropical de manga pelos proces-


sos Hot Fill e asséptico (MAIA, 2000).

Há ainda o néctar de manga, que pode ser obtido a partir de frutas


frescas ou, mais comumente, a partir da polpa previamente preparada. As
etapas iniciais para a produção de néctares são as mesmas já descritas para
polpa de manga, diferindo, basicamente, na etapa de formulação.
De acordo com a Instrução Normativa no12, de 4 de setembro de
2003, néctar de manga é definido como a bebida não fermentada, obtida da

588
Tecnologia da Industrialização da Manga

dissolução em água potável, da parte comestível da manga (Mangifera


indica, L.) e açúcares, destinado ao consumo direto, podendo ser adiciona-
do de ácidos, devendo conter no mínimo 40% (m/m) de polpa de manga.
Ainda de acordo com esta legislação, o néctar de manga deve conter as
seguintes especificações contidas no Quadro 1.

Quadro 1. Padrões de Identidade e Qualidade do néctar de manga.


Mínimo
Suco ou polpa de manga (g/100g) 40,00
Sólidos solúveis em oBrix, a 20oC 10,00
Acidez total em ácido cítrico (g/100g) 0,20
Açúcares totais (g/100g) 7,00
Fonte: BRASIL, 2003.

A formulação é feita em um tanque munido de agitador, onde são


misturados os ingredientes. As etapas seguintes correspondem à correção
do pH e do teor de sólidos solúveis, a fim de que o produto tenha uma
relação sólidos solúveis totais/acidez total titulável adequada, e uma nova
homogeneização.
A conservação do néctar pode ser feita das seguintes maneiras:
- Envase a frio nas embalagens e pasteurização em cozedores rotativos
(spin cookers) a 100oC por 3 minutos.
- Pasteurização direta em trocadores de calor a placas a 80oC, segui-
do de envase a quente e posterior resfriamento.
- Pasteurização em trocador de calor a placas a 90oC por 1 minuto e
envase asséptico em embalagens cartonadas.
A seguir, é apresentado um fluxograma para a obtenção de néctares
de manga, a partir da polpa da fruta (Figura 4).

589
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Polpa

Tanque com agitador

Homogeneização

(Hot Fill) Desaeração Asséptico (Tetra brik)
↓ ↓ ↓
Tratamento térmico Enchimento a frio Tratamento térmico
↓ ↓ ↓
Enchimento a quente Recravação a vácuo Resfriamento
↓ ↓ ↓
Fechamento Tratamento térmico Enchimento
↓ ↓ ↓
Inversão Resfriamento (Spin Cooker) Fechamento
↓ ↓ ↓
Resfriamento Armazenamento Armazenamento

Armazenamento

Figura 4. Produção de néctar de manga a partir de polpa de manga


(SOLER, 1988).

Um néctar típico de manga pode ser elaborado com 20 a 30% de


polpa de manga, 12 a 18 oBrix, pH em torno de 3,5 e acidez total titulável
entre 0,20 e 0,30% de ácido cítrico (WU et al., 1993).
A manga também vem sendo utilizada como base para formulações
de misturas de sucos prontos para beber, devido à sua polpa altamente vis-
cosa e sabor exótico, além da presença de vários nutrientes como beta
caroteno, ácido ascórbico, sais minerais e considerável teor de fibra.

Doce de Manga em Calda ou Compota de Manga


Conforme estabelecido pela Resolução nº 12, de 24/07/1978, doce de
fruta em calda é o produto obtido de frutas inteiras ou em pedaços, com ou
sem sementes ou caroços, com ou sem casca, cozidas em água e açúcar,
envasado em lata ou vidro e submetido a um tratamento térmico adequado
(BRASIL, 1978b).
As variedades de manga indicadas para a elaboração de fruta em
calda, por exemplo, devem apresentar tamanho e forma regulares, elevado

590
Tecnologia da Industrialização da Manga

rendimento em pedaços de tamanho uniforme, textura firme, resistência ao


processamento térmico, pouca fibra, cor amarela, uniformidade das carac-
terísticas físico-químicas, notadamente da relação sólidos solúveis/acidez
total e sabor e aroma agradáveis. Variedades que atendem a esses requisi-
tos são: “Haden”, “Extrema”, “Carlota”, “São Quirino”, “Imperial”, “Non
PlusUltra” e “Cecília Carvalho” (DE MARTIN, 1981).
Na elaboração de manga em calda, segue-se o fluxograma mostrado
na Figura 5. As diferentes etapas do processamento são descritas a seguir:

Recebimento da matéria-prima

Com as frutas, devidamente amadurecidas, é determinado o peso


para posterior cálculo de rendimento.

Lavagem das frutas


Feita por imersão e agitação em água clorada (10 mg/L de cloro
ativo).

Seleção das frutas


São separadas as frutas que não se apresentam dentro das caracte-
rísticas desejáveis para o consumo.

Descascamento e descaroçamento manuais


O descascamento é feito por meio de facas especiais de aço inoxidá-
vel; os caroços são removidos, utilizando-se colher de bordas afiadas, pene-
trando no sentido longitudinal das frutas.

Corte em fatias uniformes


Feito manualmente, empregando-se facas comuns de aço inoxidável,
tomando o cuidado de obter fatias bem uniformes.

Seleção dos pedaços


As fatias que apresentam esmagamento parcial ou que estão fora do
tamanho padrão são separadas e classificadas como descarte.

591
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Branqueamento
Pode ser feito em banhos de água quente ou com jatos de vapor,
objetivando principalmente a retirada do ar dos tecidos e a inativação
enzimática.

Acondicionamento
Após o branqueamento, existem duas opções: se o produto a ser fa-
bricado é uma compota, haverá necessidade de cozimento da fruta em cal-
da de açúcar, antes do envase; caso se trate do processamento de fruta em
calda, a fruta é envasada crua, seguindo-se a adição do xarope.

Adição de xarope a quente


O xarope é formulado com sacarose até 40oBrix e pH corrigido para
3,9, com ácido cítrico.
Ao adicionar o xarope, deve-se deixar um espaço livre na embala-
gem, isto é, não se deve enchê-la completamente. Esse espaço é necessário
para permitir a movimentação da calda durante o aquecimento das embala-
gens e, também, para poder absorver a dilatação do produto, evitando o
transbordamento da calda - a legislação determina que esse espaço livre na
embalagem não deve ser superior a 10% de seu volume.

Exaustão
É feita em túnel de vapor (exaustor contínuo), por meio da injeção
direta de vapor sobre o produto, durante um período de 4 minutos. A tempe-
ratura de saída do túnel deve ser igual a 85oC, tomada no centro da lata.

Recravação
Feita em recravadeira automática, imediatamente após a saída das
latas do exaustor.

Tratamento térmico
O tratamento térmico que poderia confundir-se com o branqueamen-
to, na realidade se distingue por uma série de aspectos, sendo o principal
relacionado ao objetivo com que é executado. Enquanto no branqueamento,
o objetivo principal é inativar as enzimas, no tratamento térmico, os objeti-
vos principais são:

592
Tecnologia da Industrialização da Manga

- eliminar a maioria dos microrganismos presentes;


- melhorar, pelo cozimento, a textura, o sabor e a aparência do produ-
to.
No caso das frutas em conserva, onde o pH é menor que 4,5, conse-
gue-se realizar um tratamento térmico eficiente, utilizando-se água com tem-
peratura próxima do ponto de ebulição, em pressão atmosférica. O tempo
de tratamento térmico varia em função do produto, tendo-se que garantir a
temperatura mínima de 85ºC no centro dos pedaços de frutas. A penetra-
ção do calor no produto depende de diversos fatores, dentre os quais se
destacam: material de embalagem, tipo e formato do produto, concentração
da calda, nível de enchimento do recipiente, tamanho da embalagem e mo-
vimentação do recipiente.
Os equipamentos para tratamento térmico variam, normalmente, em
função do porte da empresa. Nas pequenas indústrias, costuma ser realiza-
do em tanques abertos, que operam em pressão atmosférica e nas indústri-
as de grande porte, podem ser encontrados os esterilizadores abertos, con-
tínuos, sem agitação e os do tipo “spin cooker”, que promovem a rotação da
embalagem durante o tratamento térmico.

Resfriamento
Deve ser executado no menor tempo possível e logo em seguida à
esterilização. Um resfriamento prolongado poderá causar supercozimento
do produto, além de alterações microbiológicas. A temperatura final de
resfriamento deve estar entre 35-40ºC, o que provocará a evaporação rápi-
da da água ainda aderida à embalagem. É importante, também, que a água
de resfriamento contenha de 1 a 2 mg/L de cloro livre, para que não se torne
agente de contaminação do produto, enquanto os vedantes da tampa estão
aquecidos e semifluidos.

Armazenamento
Os lotes devidamente marcados para posterior identificação são ar-
mazenados em local seco e ventilado para evitar corrosão, manchas nos
rótulos e amolecimento das caixas de papelão. A temperatura de estocagem
deve no máximo de 38ºC.

593
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Recebimento da matéria-prima

Lavagem das frutas

Seleção das frutas

Descascamento e descaroçamento manuais

Corte em fatias uniformes

Seleção dos pedaços

Branqueamento

Acondicionamento

Adição de xarope a quente

Exaustão

Recravação

Tratamento Térmico

Resfriamento

Armazenamento

Figura 5. Fluxograma de processamento de manga em calda ou compota.

594
Tecnologia da Industrialização da Manga

Geléia de Manga
Geléia é o produto obtido pela cocção do suco de frutas com açúcar,
adicionado de ácido e pectina e concentrado até a consistência gelatinosa.
Do ponto de vista tecnológico, a geléia consiste em uma firme estrutura
geleificada, livre de partículas sólidas da fruta; é clara, transparente, bri-
lhante, macia ao cortar, porém firme. Entretanto, o produto mais comum no
mercado brasileiro é a geleiada, que se compõe de pedaços de frutas em
suspensão. A Legislação Brasileira de Alimentos em vigor não faz distinção
entre esses produtos, qualificando-os todos como geléia (GENÚ e PINTO,
2002).
Na elaboração de geléia de fruta, é necessário otimizar a relação
entre a pectina, açúcar e ácido, para que o produto adquira consistência
adequada. Souza (1983) realizou um trabalho com 10 variedades de mangas
produzidas em Minas Gerais, a fim de obter informações sobre as variáveis
envolvidas no processo de geleificação, verificando que a variedade “Ubá”
foi a que apresentou melhor qualidade, e que os valores de pectina deveriam
estar compreendidos na faixa de 1,2 e 1,5%; sólidos solúveis de 66 a 69oBrix
e pH entre 3,3 a 3,5 para resultarem numa geléia de melhor sabor e textura.
As etapas de formulação de geléia de manga a partir da polpa são
apresentadas a seguir, como mostra o fluxograma da Figura 6.
A polpa é submetida à fervura com água na proporção 1:1, durante
20 minutos. Faz-se a separação do suco, mediante a utilização de peneiras
de malhas finas. Depois, faz-se a adição de 50% do peso do suco em açú-
car e 1,2% de pectina comercial. Faz-se a concentração do produto em
tacho aberto ou a vácuo e ajusta-se o pH com adição de solução de ácido
cítrico 50%, quando a concentração do produto estiver em torno de 60 oBrix..
Em seguida a concentração continua até atingir 66oBrix. O produto é então
envasado a quente em potes de vidro, feitos a exaustão por cerca de 5
minutos em túnel a vapor e o fechamento hermético.

595
Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Polpa de manga

Extração do suco

Formulação
(adição de açúcar e pectina)

Cocção

Adição da solução de ácido cítrico

Embalagem

Exaustão

Recravação

Resfriamento

Acondicionamento

Armazenamento

Figura 6. Fluxograma de elaboração de geléia de manga a partir da polpa.

Doce em Pasta de Manga


De acordo com Resolução Normativa nº 9, de 11/12/78, doce em
pasta é o produto resultante do processamento adequado das partes comes-
tíveis desintegradas de vegetais com açúcares, com ou sem adição de água,
pectina, ajustador do pH e outros ingredientes e aditivos permitidos por es-
tes padrões até uma consistência apropriada, sendo finalmente, acondicio-
nado de forma a assegurar sua perfeita conservação (BRASIL, 1978a).
Quanto à consistência, o doce pode ser classificado como cremoso,
quando a pasta for homogênea e de consistência mole, não devendo ofere-

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Tecnologia da Industrialização da Manga

cer resistência nem possibilidade de corte, ou em massa, quando a pasta for


homogênea e de consistência que possibilite o corte. Nos doces cremosos, o
teor de sólidos solúveis do produto final não deve ser inferior a 55% e, nos
doces de corte, a 65%.

Doce em Massa de Manga ou Mangada

Doce em massa ou mangada é o produto obtido da polpa de manga


adicionado de açúcar e, opcionalmente, ácido e pectina, e concentrado por
aquecimento e evaporação, até alcançar uma consistência tal que, ao resfri-
ar, gelatinize-se até o ponto de corte.
Prepara-se uma mistura composta por 50% a 60% de polpa de fruta,
40% a 50% de açúcar comum (sacarose) e, opcionalmente, pequena quan-
tidade de ácido (geralmente cítrico), que é concentrado até, aproximada-
mente 75 oBrix (GENÚ E PINTO, 2002). Em um estudo com a variedade
de manga “Coquinho”, Soares Junior (2003) evidenciou a necessidade de
adição de pectina da ordem de 1% sobre o peso do produto final para a
obtenção do doce com textura adequada para corte, a partir da manga ma-
dura.
O processo de concentração pode ser feito em tacho aberto ou em
concentrador a vácuo. O uso do último equipamento resulta em um produto
final com melhores características sensoriais, em virtude de a operação ser
realizada a temperaturas mais baixas. Em aquecimentos prolongados, po-
dem ocorrer alterações no sabor e na cor do produto, inversão excessiva da
sacarose e hidrólise da pectina, dificultando a formação do gel.
O produto concentrado pode ser embalado em latas em potes ou
pacotes de plástico. No caso do uso das latas, o enchimento é feito a quente,
e os recipientes fechados e resfriados em água até a temperatura de 37oC;
diferentemente, quando do uso de pacotes, o produto é despejado em for-
mas, resfriado por cerca de 24 horas, cortado e embalado (GENÚ E PIN-
TO, 2002). Um método muito comum de embalagem é o envolvimento dos
tabletes em papel celofane ou similar. As indústrias de maior porte utilizam
principalmente as latas e mais recentemente, as embalagens tipo “longa
vida”.
Na formulação, são feitos os cálculos e a pesagem dos ingredientes a
serem utilizados, levando-se em conta que, segundo a legislação, a quanti-

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Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

dade de açúcar utilizada tem que ser igual ou menor que a quantidade dos
ingredientes vegetais. A fase de aquecimento tem como objetivos principais
a completa dissolução e mistura dos componentes; cocção dos diversos
componentes visando a obtenção da coloração, sabor e aroma característi-
cos do produto; evaporação de parte da água presente, a fim de garantir
consistência e/ou conservação adequadas e tratamento térmico do produto
para eliminação da maioria dos microrganismos presentes. A determinação
do ponto final da cocção também pode ser feita por refratometria ou tempe-
ratura de ebulição.

Doce de Manga Cremoso


Para os doces cremosos, podem ser utilizados diversos tipos de em-
balagens, tais como: latas, potes de vidro, embalagens plásticas rígidas ou
flexíveis, etc. Em qualquer desses casos, é importante que o produto seja
envasado a quente (temperatura acima de 85ºC) e que se proceda à inver-
são das embalagens (quando for o caso). Também nesses casos, pode-se
recorrer, sempre que necessário, à utilização da fase de exaustão e/ou tra-
tamento térmico do produto após o envase.

Manga desidratada
Devem ser escolhidas mangas menos fibrosas para o processo de
desidratação, como as variedades “Haden”, “Tommy-Atkins” ou “Keitt”.
A produção de manga desidratada pode ser feita por secagem natu-
ral ao sol, ou por meio de secagem artificial realizada em secadores elétri-
cos, por desidratação da fruta por imersão em soluções concentradas de
solutos, e por uma combinação de dois métodos, como desidratação osmótica
seguida de secagem em estufa.
Reis (2002) realizou a secagem direta de fatias de manga Tommy
Atkins em secador de bandeja à temperatura de 60oC, sendo desidratada
até um teor de umidade final de 15-20%. Souza Neto (2002) obteve peda-
ços de manga Coité com boa estabilidade durante 4 meses através de osmose
em xarope de sacarose a 55oBrix por 4 horas a 65oBrix seguida de secagem
em estufa a 65oC até umidade de 15%. Brandão et al. (2003) secaram
pedaços de manga em secagem solar após pré-tratamento osmótico de 45º
a 65ºBrix e imersão seqüenciada em xaropes de 45, 55 e 65ºBrix, obtendo
produtos com boa estabilidade durante 180 dias. Pina et al. (2003) utilizaram

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Tecnologia da Industrialização da Manga

a tecnologia de métodos combinados na conservação da manga (Mangifera


indica, L.) em pedaços, sendo os pedaços submetidos a um ajuste de ativi-
dade de água por meio de imersão em xarope de sacarose a 25ºBrix.
A Figura 7 apresenta o fluxograma de obtenção de manga desidrata-
da.

Polpa de manga

Extração do suco

Formulação
(adição de açúcar e pectina)

Cocção

Adição da solução de ácido cítrico

Embalagem

Exaustão

Recravação

Resfriamento

Acondicionamento

Armazenamento

Figura 7. Fluxograma de processamento de manga desidratada (REIS, 2002).

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Manga - Produção Integrada, Industrialização e Comercialização

Outros produtos
Além dos produtos descritos, outros tratamentos industriais têm sido
aplicados à manga em menores quantidades, como é o caso de manga ver-
de em água salgada, que se destina em grande parte à fabricação de tempe-
ros especiais do tipo “chutney”, picles de manga, batida de manga, manga
em pó, vinagre e vinho de manga, manga em pedaços congelada ou refrige-
rada e gelado de manga. Sua utilização em saladas de frutas tropicais seria
outra possibilidade industrial importante. A casca e o caroço podem ser
aproveitados para elaboração de rações para animais.

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