A Atualidade Da Antropologia e Os Desafios Contemporâneos
A Atualidade Da Antropologia e Os Desafios Contemporâneos
A Atualidade Da Antropologia e Os Desafios Contemporâneos
contemporâneos
Apresentação
A possibilidade que a antropologia inaugura para o conhecimento é extremamente ampla. A
despeito de seu surgimento, que fazia da antropologia uma ciência destinada a estudar e classificar
somente as culturas, a antropologia contemporânea reivindica o seu objeto de estudo para além
das categorias de produção simbólica humana. Ou seja, é possível determinar o que é cultural e o
que é natural? Tais categorias são heranças da dicotomia estabelecida a partir da modernidade ou
realmente colaboram para a compreensão da sociedade atual? Por outro lado, a sociologia passa a
se colocar dentro de um contexto antropológico.
Desse modo, pensadores como Norbert Elias passam a propor um estudo antropológico que
englobe diferentes áreas do conhecimento a fim de se compreender a formação social de tudo que
envolve a sociedade. Outrossim, as correntes antropológicas mais contemporâneas passam a
assimilar como objeto de estudo a experiência de vida nas grandes metrópoles.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você entenderá o distanciamento entre cultura e natureza. Verá
como a compreensão de Norbert Elias amplia a abordagem sociológica em relação aos processos
formativos da sociedade e, por fim, conhecerá a leitura da antropologia acerca dos processos de
urbanização.
Bons estudos.
Compreender o tecido social, assim como compreender-se nessa constituição social, implica
assimilar uma relação de controle e submissão em todos os casos. Ou seja, o indivíduo, a sociedade
e o Estado dependem uns dos outros para sua existência.
Nesse contexto, você, como antropólogo, deve produzir um estudo etnográfico acerca da educação
na primeira infância, indicando o que implica a determinação estrutural da educação de um
indivíduo. Escreva sua proposta.
Infográfico
Os estudos e propostas de Bruno Latour acerca do conceito de híbridos naturais-culturais se
aproximam em muito do conceito de ciborgue de Donna Haraway. Nesse sentido, Haraway parte
do conceito híbrido de ciborgue para repensar as posições identitárias.
Boa leitura.
ANTROPOLOGIA
SOCIAL
Introdução
Desde seu surgimento, a antropologia estuda a origem e o desenvolvi-
mento humano, pensando nos processos pelos quais a sociedade e os
povos passaram (e passam). Assim, por meio desse estudo, entende-se
o que é natural e cultural no ser humano, ou se é possível estabelecer
uma relação de compreensão com o que não é humano de modo não
hierárquico. Compreender a relação entre a sociedade e o indivíduo no
sentido constitutivo e os modos de existência e experiência de vida nas
cidades também é próprio ao estudo antropológico.
Neste capítulo, você estudará como a abordagem e as críticas con-
temporâneas à dicotomia entre natureza e cultura ocorrem; de que modo
o indivíduo e a sociedade existem em uma correlação e estão submeti-
dos ao controle do Estado; a importância do estudo antropológico em
relação à vida nas cidades e os problemas decorrentes do processo de
urbanização.
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aprofundou ainda mais a cisão dicotômica, porque seus estudos não tratam
da natureza, mas, sim, da cultura, corroborando com a cisão entre extremos.
Latour propôs uma antropologia que se dedicasse ao centro, aos híbridos
de natureza e cultura. Nesse contexto, há também a crítica à modernidade
filosófica. Latour acusou a ontologia moderna de acirrar essa cisão, apre-
sentando três estratégias:
Uma vez que o controle ocorre por meio do Estado, o próprio rei deve se
submeter a ele. Elias argumenta que, em relação à aristocracia que compunha
a corte francesa, por exemplo, a educação estava voltada à autorrepresentação
da superioridade desses nobres perante os outros grupos sociais, inclusive, os
burgueses. Assim, na sociedade de corte, a educação da psique e dos corpos
era o que garantia a distinção dos nobres entre si, pois existiam níveis de
educação destinados a cada um de acordo com seu título e a hierarquia na
corte. Nesse contexto, Luís XIV foi o rei que simbolizou ao máximo essa
educação, estabelecendo as regras de etiqueta e moda como poder regulador
e dominador, principalmente da corte.
Para Elias, Neiburg e Waizbort (2006), a configuração social acontecia
pela relação educacional estabelecida em sua função simbólica, tanto cultural
como social, uma vez que essas categorias estão totalmente ligadas. Isso
significa que não existe o indivíduo desassujeitado, que não esteja submetido
e submerso em uma subjetivação. Esse processo está atrelado aos símbolos
culturais, ao compartilhamento de uma língua e a um modo de vida. O papel
de cada sujeito é estabelecido pela origem de nascimento, tanto geografica-
mente como socialmente: “[a]té sua liberdade de escolha entre as funções
preexistentes é bastante limitada. Depende largamente do ponto em que ele
nasce e cresce nessa teia humana, das funções e da situação de seus pais e, em
consonância com isso, da escolarização que recebe” (ELIAS, 1994, p. 21). Pelo
determinismo social e cultural a priori, pode-se dizer que tal configuração
limita, inclusive, a possibilidade de relações na tessitura social, de modo que
ela funciona como um mapa social do micro para o macro.
Elias ainda propõe uma reflexão sobre dois conceitos: função e poder.
A função deve ser pensada a partir do jogo de xadrez, no qual o movi-
mento de cada peça implica no movimento das outras. Isso também ocorre
com as funções dentro de uma sociedade, em que as ações dos indivíduos
acontecem em caráter relacional entre eles, de modo que não existe função
sem relação, pois toda função implica em algo/alguém, havendo produções
simbólicas sociais.
Nesse sentido, existem as relações de poder, pois se toda função exige
uma relação, o poder se instaura nesta, portanto, quem tem maior poder
sobre o outro domina. Assim, o poder possui um caráter relacional e diversas
formas de ação, não ficando restrito apenas à dominação e fundamentando
as estruturas sociais. Por exemplo, em uma relação de trabalho, pode-se dizer
que quem domina é o patrão, pois ele tem os meios de produção, por outro
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lado, quem manda é o empregado, pois para continuar sendo chefe, precisa
que o outro trabalhe para ele.
Na sociedade, não existem indivíduos que não estejam submetidos ao con-
trole do Estado, inclusive quem o compõe. Segundo Elias, o poder é estrutural
e o que forma a sociedade, a qual vive em constante processo civilizador. Pela
compreensão dupla em relação à formação da sociedade — o indivíduo não
existe sem ela, nem ela sem o sujeito, Elias defende que todas as entidades se
estabelecem por meio da relação e submissão ao controle.
Portanto, o Estado se legitima por meio da coação da sociedade, na qual
os indivíduos vivem, submetidos às regras estatais, por exemplo, quando o
Estado decide declarar guerra, quem deve servir ao exército, torna o voto
obrigatório, intervém na educação de crianças e adolescentes, etc. Com isso,
Elias demonstra que “[s]omos levados a acreditar que o nosso ‘eu’ existe de
certo modo ‘dentro’ de nós; e que há uma barreira invisível separando aquilo
que está ‘dentro’ daquilo que está ‘fora’ – o chamado ‘mundo exterior’” (ELIAS,
2008, p. 129), que as pessoas somente existem por meio da sociedade, a qual
apenas existe devido ao Estado.
No link a seguir, assista à série “Somos 1 só”, em que é apresentado o ponto de vista
de diversos pensadores sobre a relação entre cultura e natureza.
https://qrgo.page.link/PYJvC
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Leituras recomendadas
CASTRO, B. J.; OLIVEIRA, M. A. Para além da dicotomia homem-natureza: a pers-
pectiva não-moderna de Bruno Latour. REMEA — Revista Eletrônica do Mestrado em
Educação Ambiental, Rio Grande, v. 35, n. 2, p. 348–361, maio/ago. 2018. Disponível
em: https://periodicos.furg.br/remea/article/download/8225/5390. Acesso em: 26
set. 2019.
COSTA, A. O. Norbert Elias e a configuração: um conceito interdisciplinar. Configu-
rações — Revista de Sociologia, Braga, v. 19, p. 34–48, 2017. Disponível em: https://
journals.openedition.org/configuracoes/3947. Acesso em: 26 set. 2019.
DESCOLA, P.; SCARSO, D. A ontologia dos outros. Entrevista com Philippe Descola.
Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v. 28, n. 43, p. 251–276, jan./abr. 2016. Disponível
em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/aurora/article/view/aurora.28.043.EN01.
Acesso em: 26 set. 2019.
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Derrida pertenceu à corrente pós-estruturalista. Tal corrente, ao mesmo tempo, deu continuidade
ao pensamento estruturalista e rompeu com parte desse pensamento. A obra de Derrida
problematiza as estruturas que significam a realidade a partir da produção simbólica que se dá
primeiramente pela linguagem.
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Na prática
A relação entre as migrações rurais para as grandes cidades constitui, em grande parte, a história do
Brasil. Ou seja, o fenômeno conhecido como êxodo rural acontece desde o processo de
colonização. Assim, cabe dizer que a antropologia urbana vem justamente estudar a tessitura social
dos modos de vida nas cidades a partir dos fenômenos que a compõem.
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A pílula anticoncepcional enquanto técnica farmacopolítica
A obra de Paul B. Preciado tem mostrado, dentro dos estudos sobre biopolítica, antropologia e
estudo de gênero, uma outra abordagem em relação à ciência e à estruturação de simbólico na
sociedade. Compreenda, assistindo a este vídeo, qual a relação entre a farmacopolítica e a pílula
anticoncepcional.
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