Transformadora: Pontos Abordados Descrição P Introdução

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FICHAMENTO AULA – 05-11-2020

Disciplina: Seminário C - Seminário -  Pedagogia Histórico-Crítica e prática


transformadora

Profª. Dra. Maria Amélia Dalvi; Prof. Dr. Rodrigo Sarruge Molina

Aluna: Angela do Nascimento Paranha de Oliveira Turma 16: Doutorado

“Tradução” da escola unitária de Gramsci pela Pedagogia Histórico-Crítica de Saviani

MARTINS, Marcos F. “Tradução” da escola unitária de Gramsci pela Pedagogia Histórico-Crítica de Saviani. ETD - Educação
Temática Digital, Campinas-SP, v. 20, n. 4 [p. 997-101], out./dez. 2017. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/8649915/18673
LIMA, M.R.. A Pedagogia Histórico-Crítica e a atualidade do trabalho como princípio educativo: apontamentos para a prática
revolucionária na educação popular. Revista HISTEDBR-On-line. v. 16 n. 67: mar. 2016. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8646091

Pontos abordados Descrição p

Introdução É controverso o lugar da pedagogia histórico-crítica, formulação original de Saviani,


no interior do marxismo. Assim, adotou-se o conceito de tradução de Gramsci para
avaliar sua origem e desenvolvimento, e verificar qual a relação que mantém com o 998
legado do sardo.

GRAMSCI, Tradutibilidade e tradução são conceitos ainda pouco discutidos por estudiosos de 998
TRADUTIBILIDADE E Gramsci, embora colaborem com a interpretação de seu legado e possam orientar a
TRADUÇÃO práxis com vistas a construir uma nova civilização. Tradutibilidade diz respeito à
"possibilidade teórica de traduzir algo [enquanto que tradução refere-se à] atividade
prática de traduzir" (BOOTHMAN, 2017, p. 782).

Porém, a abordagem gramsciana da tradução não a limitou a problema restrito ao


universo linguístico, pois a reporta à dimensão ético-política da luta pela superação
999
do capitalismo, tanto quando trata da tradutibilidade das línguas nacionais em
outras línguas, como quando analisa as possibilidades de tradução de uma cultura a
outra ou mesmo entre paradigmas científicos e filosóficos (BOOTHMAN, 2017).

Ao tratar da tradutibilidade, Gramsci partiu da fala de Lênin ao IV Congresso da


Internacional Comunista (1922), que discutiu as resoluções do Congresso anterior e
as possibilidades da revolução mundial, pois a Russa não teve êxito de ser traduzida 999
para outros contextos (LÊNIN, 1980, p. 627): “Vilitch escreveu ou disse: não
soubemos ‘traduzir’ nas línguas européias a nossa língua” (GRAMSCI, Cad. 11, § 46 -
1999, p. 185). A referência evidencia preocupação com os fracassos revolucionários
no ocidente, como o Biênio Vermelho italiano (1919-1920). Como "a Revolução
Russa e a sua tradução para a experiência dos Conselhos de Fábrica em Turim"
(LACORTE, 2014, p. 61) foi derrotada, surgiu em Gramsci a dúvida: como traduzi-la a
outros contextos?3 A tradução se reporta ao "reconhecimento da complexidade

Para Gramsci, traduzir "Não foi simples operação técnica de passagem de uma
língua a outra, mas sim uma verdadeira tradução cultural na qual o texto, lido em
diferente contexto, adquiria novos significados" (BIANCHI, 2017b, p. 29). Logo, 1000
"Traduzir não significa repetir, mas recriar" (MENESES, 2017, s/p.);
Gramsci, além de exercitar traduções "dos conceitos de Croce para a linguagem da 1001
filosofia da práxis" (BOOTHMAN, 2017, p. 781), de Maquiavel e outros, tentou
traduzir a Revolução Russa para a Itália4 , espelhando os Conselhos de Fábrica nos
sovietes. A tentativa fracassada dos Conselhos o levou a refletir sobre as condições
da revolução no ocidente, o que fez no cárcere. Com isso, atualizou do marxismo ao
século XX5 , seja teoricamente, com a "filosofia da práxis", seja com inovações na
práxis. Ao romper com a dicotomia teoria e prática, estrutura e superestrutura, ser e
pensar (GRAMSCI, Cad. 11, § 37 - 1999, p. 175), traduziu a seu modo o núcleo duro
do materialismo histórico-dialético nos termos da filosofia da práxis6 . Nesse
movimento, destacou o peso da superestrutura na determinação da vida social e
nesta sobressaiu a problemática da educação.
A ESCOLA UNITÁRIA DE Gramsci é um marxista e marcas dessa identidade se expressa, por exemplo, nas 1002
GRAMSCI traduções que fez do marxismo originário e de Lênin em relação à educação e à
escola (no sentido amplo em que a compreendia - JESUS, 2005, p. 87), as quais
guardam: a) dois fundamentos: entender a educação como imanente ao devir do
processo histórico de produção do ser social e assumir o trabalho como princípio
educativo; b) um compromisso ético-político: assumir a luta de classes como
elemento articulador do processo educativo, com vistas a superar a sociabilidade
capitalista que desumaniza o homem (MARTINS, 2016, p. 190).

A educação não é apartada das relações de poder; delas emerge e,


retroalimentando-as, forma um tipo de homem e de civilização. Tal processo é 1003
mediado pela força do aparato da sociedade política e pela direção intelectual e
moral da sociedade civil. Assim, “Toda a relação de 'hegemonia' é necessariamente
uma relação pedagógica” (GRAMSCI, Cad. 10 - Parte II, § 44 - 1999, p.399).

Na prisão, Gramsci refletiu sobre as escolas socialistas de formação onmilateral, cujo


exemplo histórico era a "escola única do trabalho" da reforma escolar Russa, 1003
incorporada ao programa do PC-Russo no 8º Congresso (março-1919).
Protagonizada por Krupskaia e presente em Pistrak, essa escola buscava forjar uma
nova cultura, geral e politécnica, com o desenvolvimento mental, físico, criativo
(interesse da escola nova) e dos sentidos.

O termo "unitário" indica uma só escola para todos10 e também que nela se articule
"saber e fazer" (MARTINS, 2000). O foco é no desenvolvimento omnilateral do
homem como produtor da própria história, e não nos instrumentos e técnicas, como 1005
parece enfatizar o termo "politécnico" (NOSELLA, 2007, p. 146). Assim, "O 'princípio
unitário ultrapassa a escola como instituição e se relaciona à luta pela igualdade
social, para superar as divisões de classe, que se expressam na separação entre
trabalho industrial e trabalho intelectual e dividem a sociedade entre governantes e
governados." (SOARES, 2006, p. 339- 340)

Se "escola é instrumento para elaborar intelectuais de diversos níveis” (GRAMSCI, 1006


Cad. 12, § 1 - 2000a, p. 19)

Na escola unitária, os conteúdos são valorizados e articulados à síntese trabalho


moderno-formação humanística. O educando deve apropriar conhecimentos
1006
historicamente produzidos e sintetizados nos clássicos, que guardam composições
do desenvolvimento do espírito humano.
A TRADUÇÃO DA ESCOLA Se entre 1960-70, Saviani sofreu influência da fenomenologia e do existencialismo 1007
UNITÁRIA DE GRAMSCI (cf. SAVIANI, 1978), posteriormente a identidade marxista gramsciana nele
POR SAVIANI prevaleceu e transparece na pedagogia histórico-crítica. Ele reconhece que "as
fontes específicas da pedagogia histórico-crítica se reportam às matrizes teóricas do
materialismo histórico representadas, basicamente, por Marx e Gramsci" (SAVIANI,
2013a, p. 77).

Saviani foi perguntado recentemente sobre isso17: "O senhor considera que a
pedagogia histórico-crítica é uma tradução da escola unitária?". Ao que respondeu:
"Podese dizer isso a posteriori, pois o meu contato com Gramsci foi durante o
processo de formulação dessa teoria pedagógica e não antes dele". E prosseguiu:
"Essa é sua leitura, pois há os que não veem essa relação entre pedagogia histórico- 1008
crítica e Gramsci."

Quando Saviani conheceu a produção do sardo, percebeu que havia


correspondência entre o que tinham feito. Em 1978, em disciplina do Doutorado em
Educação da PUC-SP, fez "estudo monográfico do pensamento e das obras de
Gramsci buscando extrair os elementos teóricos que nos permitissem compreender
de forma crítica os problemas da educação brasileira" (SAVIANI, 2012, p. 6).
Considerado "1979 como um marco importante na formulação da pedagogia
histórico-crítica" (SAVIANI, 2012, p. 6), cada vez mais o sardo se incorporou às
formulações de Saviani e este se tornou pioneiro na introdução daquele no campo
da educação no Brasil.
1010
Percebe-se que no processo de formação, a dinâmica que se estabelece na relação
professor-aluno, tanto para Gramsci quanto para Saviani, é a de um movimento
descendente do professor (da síntese à síncrese) e ascendente do aluno (da síncrese
à síntese).
A tradução produzida por Saviani revela o que ele próprio afirmou na palestra de
21/05/2017 (cf. nota XVII), que embora Gramsci possa ser identificado na pedagogia
Conclusão histórico-crítica de diversas maneiras, esta tem com ele, particularmente, 1012
"afinidades de propósitos e o mesmo viés metodológico", e foi desenvolvida a partir
de "análises orientadas por conceitos e categorias elaborados por Gramsci, que se
incorporaram a ela".

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