CAMILA MEDINA CORSELHA - Lista de Exercícios II - Questão 4 - Uso - Pragmática PDF
CAMILA MEDINA CORSELHA - Lista de Exercícios II - Questão 4 - Uso - Pragmática PDF
CAMILA MEDINA CORSELHA - Lista de Exercícios II - Questão 4 - Uso - Pragmática PDF
Ministério da Educação
Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Faculdade de Educação (FaEd)
Primeiramente, José Luiz Fiorin diz em seu livro de Introdução à Linguística que o conhecimento
do sistema da língua é insuficiente para entender certos fatos linguísticos utilizados numa
situação concreta de fala. Dessa maneira, no sistema linguístico, temos oposições semânticas e
fônicas, e regras combinatórias dos elementos linguísticos. Portanto, nenhuma dessas
características conseguem explicar certos fatos linguísticos utilizados em alguma situação. Tendo
em vista estes fatos, foi possível verificar que era preciso estudar o uso da linguagem, sendo
então esse, o objeto da Pragmática. Dessa forma, a Pragmática é a ciência que estuda o uso
linguístico, estuda as condições da utilização da linguagem, a prática linguística. Assim sendo, a
Pragmática não dá à língua uma posição central como Saussure fazia.
Em vista disso, os primeiros teóricos a fazerem estudos sobre o uso da linguagem foram os
filósofos John Austin e Paul Grice. O primeiro filósofo dizia que a linguagem não tem função
descritiva, mas uma função de agir, ao falar, o homem realiza atos. Um exemplo disso é se
dissermos “Eu lhe prometo vir”, o ato da promessa é realizado quando se diz “Eu lhe prometo”.
Por outro lado, Grice nos mostra que a linguagem natural comunica mais do que aquilo que se
significa num enunciado, pois, quando se fala, comunicam-se também conteúdos implícitos. Por
exemplo, quando alguém diz a outro, que está se aprontando para sair, “São oito horas”, ele não
está fazendo uma simples constatação sobre o que marca o relógio, mas dizendo “Apresse-se,
vamos chegar atrasados”.
Dessa forma, a Pragmática estuda a relação entre a estrutura da linguagem e seu uso. O estudo
do uso é absolutamente necessário, pois há palavras e frases cuja interpretação só pode ocorrer
na situação concreta de fala. Por conseguinte, é necessário também estudar o uso, porque na
troca verbal comunicamos muito mais do que as palavras significam. Segundo Moeschler, há três
domínios de fatos linguísticos que exigem a introdução de uma dimensão pragmática nos estudos
linguísticos: os fatos de enunciação, de interferência e de instrução.
O primeiro fato, de enunciação, tem por definição, o ato de produzir enunciados, que são
realizações linguísticas concretas. Certos enunciados não têm por finalidade a designação de um
objeto ou um evento do mundo, mas referem-se a si mesmos, ou seja, ele não tem uma função
referencial, mas sim autorreferencial. Resumidamente, há certos fatos linguísticos que só são
entendidos em função do ato de enunciar. Por exemplo:
4) Certas negações: quando se diz “Não gosto de doce, adoro-os”; “O trânsito não
estava ruim, estava péssimo”, a negação não incide sobre a proposição negada,
mas sobre sua assertabilidade, isto é, sobre a possibilidade de sua afirmação.
Dessa maneira, o que o falante está dizendo não é que não gosta de doces ou que o
trânsito não esteja ruim, mas que gostar e ruim são termos poucos apropriados para
definir o quanto ele gosta de doces e o estado do trânsito. É a enunciação desses
termos que é posta em questão e não o seu conteúdo.
O segundo fato linguístico é a inferência, que tem por definição a implicância de certos
enunciados com outros. Dessa forma, quando se diz “João é meu sobrinho”, esse
enunciado implica “Sou tio de João”. Essas implicações derivam dos próprios enunciados e,
portanto, não exigem para que sejam feitas, informações retiradas do contexto, da situação
de comunicação. Portanto, em muitos casos, a comunicação não é literal e, por
conseguinte, só pode ser entendida dentro do contexto.
Segundo José Luiz Fiorin, a Pragmática deve explicar como os falantes são capazes de
entender não literalmente uma dada expressão, como podem compreender mais do que as
expressões significam e por que um falante prefere dizer alguma coisa de maneira indireta e
não de maneira direta. Em outras palavras, a Pragmática deve mostrar como se fazem
inferências necessárias para chegar ao sentido do enunciado.
Em cada um desses casos, há um sentido diferente da palavra mas. Esses sentidos são o
resultado do emprego diferente de uma unidade lexical que corresponde à seguinte
instrução sobre a maneira de interpretá-la: na frase P mas Q, de P tire a conclusão R, de Q
tire a conclusão não R e de P mas Q tire a conclusão não R.
Nos anos 1970, a Pragmática era considerada por muitos linguistas a “lata de lixo da
Linguística”, pois diziam eles que ela se ocupava em resolver os problemas não tratados
por outros objetos teóricos da ciência da linguagem. Seu objeto seria um conjunto de fatos
marginais. Mas isso está completamente errado, pois ela trata dos princípios que regem o
uso e não dos usos singulares. Se uma expressão tem vários sentidos quando é usada,
isso deriva de um princípio pragmático aplicado a ela. A Pragmática vai procurar descobrir
esses princípios que governam os diferentes sentidos dados pelo uso.
Ademais, há duas grandes correntes na Pragmática: uma que considera que ela estuda o
conjunto de conhecimentos que deve ter o falante, para utilizar a língua nas diferentes
situações enunciativas, e outra que afirma que os aspectos pragmáticos estão codificados
na língua, que contém todas as instruções para os usos possíveis. A primeira corrente
pensa que a Pragmática, por estudar fatos da fala, está radicalmente separada da
Semântica; a segunda integra a Pragmática e a Semântica, cada uma estudando aspectos
diferentes do sentido (Fiorin, José Luiz, p.170).
Além disso, Fiorin também fala sobre a Teoria dos atos de fala, onde ele cita que a
Pragmática tem início quando Austin começa a desenvolver sua teoria dos atos da fala.
Antes de Austin, a Linguística pensava que as afirmações serviam para descrever um
estado de coisas e, portanto, eram verdadeiras ou falsas. Uma afirmação como “O céu é
azul” descreve o estado do firmamento e, portanto, o falante pode verificar se ela é ou não
verdadeira, no momento em que é usada. Dessa maneira, Austin vai mostrar que a
Linguística era levada como uma ilusão descritiva, pois é preciso distinguir dois tipos de
afirmações: as que são descrições de estados de coisa, a que ele vai chamar de
constativas, e as que não são descrições de estados de coisa. Em vista disso, é tomado,
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Entretanto, há outras duas condições para o sucesso dos performativos, que são de
natureza diferente, são as que fazem do performativo um ato puramente verbal, vazio. Ou
seja, quando sua enunciação exige que o falante tenha certos sentimentos ou intenções, é
preciso que ele tenha de fato esses sentimentos ou intenções. Sem esses sentimentos o
performativo realiza-se, porém ele não terá sucesso, ou seja, ele vai ser realizado
verbalmente, mas não efetivamente. Em síntese, Austin coloca em xeque a ilusão
descritiva, quando mostra que há afirmações que descrevem estados de coisas e que
podem ser verdadeira ou falsas (constativas), e afirmações que não descrevem nada, mas
pelas quais se executam atos, que podem ser felizes ou infelizes, ter sucesso ou fracassar
(performativas).