Régis Jolivet - Tratado de Filosofia Tomo I - Lógica E Cosmologia PDF
Régis Jolivet - Tratado de Filosofia Tomo I - Lógica E Cosmologia PDF
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LÓGICA
COSMOLOGIA
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JOLIVET
'l'RA'l'ADO DE FILOSOFIA
TOMO I: Lógica - Cosmologia
Trad. de Geraldo Pinheiro Machado
TOMO 11: Psicologia - z.a edição
Trad. de Gerardo D. Barreto
Consta o volume de uma longa introdução e de três
livros que versam respectivamente sôbre a sensibilidade
e a afetividade, sôbre a vida intelectual e a atividade
voluntária, e sôbre o sujeito psicológico considerado su-
cessivamente do ponto-de-vista psicológico e do ponto-de-
vista metafísico.
TOMO m: Metafísica
Trad. de Maria da Glória P. Pinto Alcure
O plano da obra pode ser dividido em três partes
principais: Introdução à Metafísica ou Metafísica Crítica
(Teoria do Conhecimento), Ontologia e Teologia Natural.
Dentro dêste esquema simples há contudo uma riqueza
de referências à História da Filosofia, uma excelente
bibliografia e um diálogo permanente com as mais im-
portantes correntes do pensamento moderno.
TOMO IV: Moral
Trad. de Gerardo D. Barreto
O volume apresenta, de forma sóbria mas suficiente
uma larga faixa de assuntos que vão da natureza da mo-
ral aos atos humanos, da moral pessoal e das relações
interpessoais à moral social e sua vasta e complexa pro-
blemática (a propriedade, o trabalho, a ordem doméstica,
a moral civil, a autoridad.e, o bem comum, a moral inter-
nacional, a civilização, o progresso, eto.) .
O TRATADO DE FILOSOFIA de Régis Jolivet é unia
obra de cunho sistemático que se justifica frente à neces-
sidade de uma. ordenação básica das questões, visando
uma exata vinculação a uma. perspectíca global.
~stes e outros livros peidem ser adquiridos na livraria de sua
preferência ou na: .
http://www.obraSCê
mentos oportunos, incorporando as con-
tribuições novas.
Se a Logística não encontra nesta
obra um? exposição de seu desenvolvi-
mento operacional, os conceitos básicos
para a compreensão de sua posição na
problemática da Lógica aí estão postos
com clareza.
A questão da hipótese e da experi-
mentação na ciência face ao determinis-
mo científico e os problemas relativos ao
princípio de indeterminação como incer-
teza epistemológica são abordados com
precisão e justeza.
Noções básicas sôbre as leis socioló-
gicas e os problemas filosóficos que sus-
citam encontram indicações da maior im-
portância. Da mesma forma, a exposição
e crítica do evolucionismo dentro de uma
fidelidade ao que pode ser afirmado em
têrmos estritamente científicos mereceu
um tratamento objetivo e correto.
A aversão moderna pelas obras sis-
temáticas não se justifica diante da ne-
cessidade de uma ordenação básica das
questões que devem ser estudadas dentro
de uma visão global de sua colocação na
estrutura geral em que se situam. Pois,
sem esta visão. global, entramos na linha
de uma falsa especialização, em que um
aparente aprofundamento particularPler-
de a visão das vinculações gerais, conhe-
cimento necessário a' uma justa apre-
ciação crítica 'e não meramente informa-
tiva. (
A obra de Régis .Jolivet se justifica
e r~éomenda sob êste aspecto, pois o au-
tor nos ,apresenta uma informação pre-
ciosa aliada sempre' a considerações que
abrem. [anelas à exposição, comó convém
a um tr'ab~lh,o dirigido especialmente aos
cursos' de nívet" universitário. 'E, neste
sentido, a obra permanece muito atual e
alÍamente re~omendável.
Eduardo Prado de 'Mendonça
TRATADO
DE
FILOSOFIA
I
I
PLANO DA OBRA
r. TRATADO DE FILOSOFIA
Tomo I - Lógica-Cosmologia
Tomo II - Psicologia
Tomo IH - Metafísica
Tomo IV - Moral
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RÉGIS JOLlVET
Professor de Filosofia - Decano da Faculdade de Filosofia 4ia Universidae
Católica de Lyon
TRATADO
DE
FILOSOFIA
INTRODUÇÃO GERAL
LÓGICA-COSMOLOGIA
TRADUÇÁODE
. CAPA DE
I .
I ..
1969
Livraria AGIR-C:dllôra
:RIO DE JANEIRO
.catolicas.com
Copyright © de
ARTES GRÁFICAS INDúSTRIAS REUNIDAS 8. A.
(AGIR)
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íNDICE DAS MATÉRIAS
INTRODUÇÃO GERAL 13
Introdução. Que é a Lógica? ..••. oo. oooo• o. o.....•• o... oooo• o. oo.• o..• 43
Art. lo Noção de Lógica .• oo••• o•• o• o••••. oo• o. : •. oo. o• ooooo. oo. o.. 43
11. Importância da Lógica o•. o o. o•. o.. ooo o 49
IH. Método e divisão da Lógica .. o , •. o oo' . o o. o. 50
I
LóGICA MENOR • o.• : .. o, • , , . ooo, . o•..• ooo.• o.••••.•. : o• o. o. o. , oo.. oo• 55
Capítulo Primeiro: Simples apreensão e têrmo .. o.... oo. o... , o. o. o.... 58
Capítulo Primeiro: Condições da certeza ., o..•.. o.. o•.. o.• , o•..•• oo• o, • 130
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RÉGIS J OLIVET
Art. I. Verdade e êrro . 130
§ 1 A verdade . 130
§ 2 Diversos estados da inteligência . 134
Art. lI.
m.
t: ?ofi~~~S .:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
O critério da certeza .
155
136
138
FILOSOFIA DA NATUREZA
Preliminares 259
COSMOLOGIA 261
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íNDICE DAS MATÉRIAS 9
Capítulo Primeiro: Da quantidade em geral
Art. I. Natureza e espécies da quantidade 263
11. Número , o'. o ••••••• o.... 265
IH. Extensão .. ,
o •••••••••• o o •••••••••• o ••••••••••••• , • '• • o •• o' 267
IV. Quantidade e corpo ..... , o • , • , • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •• 272
Capítulo Primeiro, Natureza dos corpos .simples : o:••...... '.:, ..... o. 318
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10 RÉGIS J OLlVET
Art. I. A vida em geral 361
§ 1 As propriedades da vida 361
§ 2 Natureza da vida 369
§ 3 Os graus de vida, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 370
Art. li. A alma. prin~ípio substancial da vida 371
§ 1 O mecarucrsmo ,............. 371
§ 2 O vitalísmo " . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 375
§ 3 O animismo ......................•.................... 376
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INTRODUÇÃO GERAL
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INTRODUÇAO GERAL
SUMARIO·
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14 RÉGIS JOLIVET
2. Do empirismo à ciência.
a) O conhecimento. empírico. A, ~ecessidade_de saber ori-
gina de início os conhecImentos empIrICOS, que sao o fruto do
exercício espontâneo da inteligência. . Os conh.ecimen~os empíri-
cos permanecem, no entanto, conhecimentos Imperfeitos; falta-
-lhes, freqüentemente, objetividade e se forJ?lam ao ~cas_o, por
generalização prematura e sem ordem, nem metodo. 'I'ais, sao, por
exemplo, os palpites populares sôbre as condições meteorológi-
cas, os provérbios e máximas qu.e !esutnem as observações cor-
rentes sôbre o homem e suas paixoes, etc. tstes conhecimentos
empíricos não devem ser desprezados. Ao contrário, constituem
o primeiro degrau da ciência. Esta apenas aperfeiçoará os pro-
cessos que o empirismo põe em [ôgo para adquirir os seus co-
nhecimentos.
b) O conhecimento científico. A ciência visa a substituir
o empirismo por conhecimentos certos, gerais e metódicos, isto é,
por verdades que valem para todos os casos, em qualquer tempo
e em qualquer lugar, ligadas entre si por suas causas ou prin-
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INTRODUÇÃO GERAL 15
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INTRODUÇÃO GERAL 17
5 2. A Filosofia é uma sabedoria. - O próprio da sabedoria
é julgar, dirigir e orden3;r. Ora, esta3 f~nçõ~..s s~o preci~amente
os privilégios da Filosofia em relaçao as ciencias particulares.
De fato, a Filosofia julga as ciências à luz da própria Filos'ofia,
enquanto seus princípios são absolutamente primeiros e dominam
todo o real. - Dirige as ciências, enquanto chamada a determi-
nar o objeto próprio de cada uma delas. Nenhuma ciência par-
ticular pode definir adequadamente seu próprio domínio, pois
isto exige um conhecimento dos princípios ou ordens superiores,
e o sentido da ordem total, o que só pode competir a uma ciência
mais elevada e sobretudo à ciência universal. - Enfim, a Fi-
losofia ordena o conjunto do saber, não apenas enquanto define
a hierarquia das ciências, mas também enquanto serve a tôdas
de acabamento Ultimo e de fim transcendente. E pelo fato de ser
como que a unidade do saber universal, ela se termina, observa
St.? Tomás (De Ver., q. VIII, art. 16, ad 4m ) , numa intuição ou
visão sintética dos múltiplos efeitos na causa una, e das conse-
qüências no princípio. Essa intuição. é o ponto culminante da
sabedoria.s - Será o próprio estudo da Filosofia que nos per-
mitirá precisar a natureza da função ordenadora dela ou do
primado que lhe pertence.
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. No século XIX, o positivismo (Augusto Comte, Spencer)
conduz sensivelmente às concepções dos gregos antigos, atri-
l buindo à Filosofia apenas um papel unificador do saber positivo, '
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o que resulta em abandonar a indagação das causas primeiras
(dadas como incogniscíveis) e,. por conseguinte, abandonar tôda
I
a metafísica, fazendo da Filosofia 'uma ciência mais ampla, mas
i da mesma natureza das ciências físicas.
I 7 2. A Filosofia como ciência particular. - Alguns filósofos
I desconheceram a universalidade essencial do saber filosófico e
deram à Filosofia um objeto particular. A Filosofia do o.riente
11
ji (China:Confúcio e Lao-Tse, - índia: Vedas, Bramanismo e
.'
': Budismo) endereça-se à moral ~ destina-se menos a tornar o
:1 mundo inteligível do que a torná-lo "utílízâveí".' (NT) ~ En-
,;1
, tre os Gregos, os Estóicos (Zenão de Cittium, Crísípo, Epíteto),
os Epicúreos (Epicuro), os céticos da, Nova Academia (Pirro,
Arcesilas, 'Carneade), reduzem a finalidade da Filosofia à di.. .
reção da vida moral, ou subordinam a êste fim tôdas as indaga-
ções especulatívas. ' ,
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INTRODUÇÃO GERAL 19
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INTRODUÇÃO GERAL 21
com o máximo rigor o universo dos fenômenos, esforçando-se,
ao mesmo tempo, po; apreender as relações que os ligam entre
si, isto é, esforçando-se por interpretá-los.
Não passou muito tempo sem que êste método originasse a
metafísica que êle implicava e que tinha, em HUSSERL, um
caráter idealista muito acentuado. Com efeito, aépoche é uma
colocação entre-parênteses de todo o domínio da existência, dei-
xando apenas subsistir, diante. da inteligência, o puro fenômeno .
Por isso mesmo a fenomenologia husserliana envolve uma es-
pécie de idealismo, que reduz o universo ao conteúdo imanente
da consciência, e não reconhece outro tipo de conhecimento que
o da intuição das essências. Afirma HUSSERL, sem dúvida, que
seu método faz descobrir um Ego transcendental, que será a
primeira existência apoditicamente certa. Mas isto, que leva a
Descartes,' não basta para modificar o caráter idealista da dou-
trina.
Pensadores existencialistas, entretanto, especialmente HEI-
.DEGGER e MERLEAU-PONTY, acharam que a fenomenologia
podia receber um sentido muito diferente e mesmo que, lõgica-
mente, ela deveria encaminhar-se para o existencialismo. Se de
um lado, para ela, todos os problemas se reduzem a definir es-
sências; de outro lado, é ela também "uma filosofia que recoloca
as essências na existência e pensa que só é possível compreender
o homem e o mundo a partir da "factividade" (ou realidade do
fato). 1; uma filosofia transcendental, que deixa em suspenso
as afirmações da atitude. natural, para compreendê-las. Mas é
também .uma filosofia para a qual o mundo sempre "está aí"
antes da reflexão, como uma presença inalienável, e cujo es-
fôrço .se concentra em reencontrar êste contacto ingênuo com o
mundo para lhe dar, por fim, um estatuto filosófico".5
7. o existencialismo. ---: Soh êste nome desenvolvem-se,
atualmente, várias correntes, que muito devem às influências
conjugadas de KIERKEGAARD,6 NIETZSCHE E HUSSERL.
. Representado, na Alemanha, principalmente por HEIDEGGER
,E JASpERS,7 'e, na França, principalmente por G. MARCEL et
J: P. SARTRE,& parece o existencialismo comportar um método.
comum, -"'- o da análise ou" fenomenologia. existencial, e Um prin-
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INTRODUÇÃO GERAL 23
1. Filosofia e experiência.
a) A Filosofia depende da experiência sensível. Tôda fi-
losofia - quer se trate da filosofia da natureza, quer se trate
da metafísica, - é tributária da experiência sensível. Vimos,
efetivamente, que a Filosofia é a ciência universal. Como po-
deria tal ciência constituir-se senão a partir do conhecimento
experimental do real, e, de início, dês te conhecimento que de-
vemos à atividade sensível? É,pórtanto, verdadeiramente dos
sentidos, pelo menos como condição primeira do saber, que de-
pende ,a Filosofia' em tôda a sua extensão, até mesmo no seu
domínio mais materiaL. '
Observemos, entretanto, que' a experiência, em Filosofia, se
apresenta sob forma diferente (ainda que igualmente. rigorosa)
daquela peculiar ao saber positivo. Nas. ciências da natureza, a
experiência implica, antes de tudo, a' intervenção da medida,
para definir relações entre fenômenos-cuja complexidade cresce
à proporção que a ciência se desenvolve: A experiência sôbre
qlle se apóia a Filosofia dizr~speito a fatos extremàmente, ge-
rais, de ordem sensível ou inteligível,: cuja apreensão, se dá com:
uma certeza que as ciências positivas não podem obter no do':
mínio delas, domínio, essencialmente móvel, ambíguo e' com-
plexo. IO Existe todo um material filosôfíco experimental, que
não é o produto da chamada experiência vulgar (isto é, da ex-
periência emes'tado bruto, infra-filosófico), e, sim, o produto da
experiência: já filosófica; que constitui o senso comum, isto é i
que vem do exercício espontâneo da inteligência, obtendo as
10 Cf. P. DUHEM, da Théorie Physique, pág. 265: "O leigo crê que
o-resultado de .uma experiência se distingue da observação-vulgar por
mais 'elevado grau ·~e, certeza; engana-se, porque a. relação de uma .ex-.
periência de física não tem a certeza imediata, e ·relativamente fácil de
controlar, do testemunho 'vulgare não científico. Menos certa que êste,
ela o sobrepuja pelo número e pela precisão dos detalhes que nos dá a
conhecer; encontra-se aí a verdadeira e 'essencial superioridade".
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INTRODUÇÃO GERAL 25
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Tratados Objetos
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Filosofia formais
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LóGICA Lógica material O ente lógico, do
ou ponto-de-vista da
maior verdade
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Filosofia
da
natureza ,
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Cosmologia
Psicologia
O ente inorgânico
O -ente vivo
Il, FIJ,OSOFIA
Critica A razão como
faculdade .do ser
J ESPECULATI VA
Metafísica Ontologia Ente em geral
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INTRODUÇÃO GERAL 35
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INTRODUÇÃO
QUE ~ A LóGICA
SUMARIO 1
ART. I. DEFINIÇAO DA LóGICA. Lógica e Psicologia. - Lógica e
Psicologia. - Lógica e experiência. - O rito do "pré-Iogis-
mo". - História da Lógica.
ART. 11. IMPORTANCIA DA LÓGICA. Lógica espontânea e Lógica
científica. - Lógica e prática científica.
ART. 111. MÉTODO E DIVISA0 DA LÓGICA. A experiência objetiva.
- Lógica formal e Iógica material. - A resolução lógica. -
Lógica, Crítica e Metafísica. 2
A. Definição
32 A palavra "lógica" origma-se da grega "Logos", que signi-
fica razão. A Lógica, com efeito, é a ciência das leis. ideais do
pensamento, e a arte de aplicá-las corretamente· para procurar
e demonstrar a verdade.
A Lógica versa, portanto, sôbre a razão como instrumento
do saber, .com a finalidade de determinar as regras do seu em-
prêgo, isto é, as condições a que a
razão deverá conformar-se
para operar ordenada e fàcilmente, e sem êrro, na procura e
demonstração da verdade. ~te é o sentido mais geral das di-
ferentes definições de Lógica. Quer seja denominada, com Port-
-Royal, arte de pensar, ou arte de julgar, ou ainda ciência do
raciocínio (ARISTóTELES), ou arte da conseqüência (STUART
MILL) I sublinha-se sempre seu papel de instrumento no exer-
cício do pensamento e na organização -do saber.
1. .A Lógica eomo ciêneia. - Dizer que a Lógica é ciência,
é dizer que é um' sistema' de conhecimentos certos, baseados
sôbre princípios universais. Reside aí a diferença entre Lógica
,
1 Cf. para a Introdução: Sto. TOMAS, In Anal. post:, I, 1. - BA-
CON, Novum Orgartum. - DESCARTES, Discours de Z(l. Méthode; L;
Regles pour ·la direction de l'esprit"I - V. - PORT-ROYAL, Logique,
1.0 e 2.° discursos. - BOSSUET, De la connaissance de Dieu et de soi-
I -rnême, c. 1. - GOBLOT, Logique, Paris, 1918, Introdução. .
2 Os algarismos impressos em negrito, no texto, remetem aos nú-
meros marginais.
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LÓGICA 49
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LóGICA 51
Temos assim por verdadeira a asserção: o fogo queima. - ou
esta o~tra: a~ côres dos objetos distantes são mais escuras do
que as dos objetos próximos, - ou ainda esta: a ingratidão faz
sofrer. N6s próprios já experimentamos que ass~m é.
b) Experiência lógica. Outras vêze~ ader:mos a certas
asserções em virtude de uma demonstraçao e nao de uma ex-
periência objetiva. É o que acontece na ordem matemática, na
ordem metafísica e, também, em parte, na ordem moral. Neste
caso a asserção parece-nos verdadeira enquanto conforme a
certas formas ou a certa estrutura, ou falsa enquanto contradiz
essas formas ou essa estrutura.
Mas que é essa estrutura formal? Pode dizer-se, em geral,
que é aquilo que nos é dado como a expressão de algumas exi-
gências válidas para tôda a verdade, e que o pensamento hu-
mano é obrigado a respeitar, desde que pretenda ser verdadeiro.
Alguns exemplos ajudarão a compreender.
Tôda verdade se nos apresenta com a propriedade de não
contradizer-se a si mesma e de se não opor a nenhuma outra
verdade. Por isso a proposição "o triângulo é limitado por
quatro lados" não é verdadeira, como também não o são, em
conjunto, as asserções: 2 X 2 =
4 e 2 X 2 =
5. Tôda verdade,
seja qual fôr o conteúdo, possui, portanto, uma estrutura formal
tal que não pode contradizer-se a si mesma. Isto é, uma estru-
tura tal, que o predicado não pode excluir o sujeito; e que a
verdade em aprêço não pode, por conseguinte, estar em opo-
sição a nenhuma outra proposição verdadeira. Aquilo a que
chamamos verdade tem, portanto, uma estrutura característica,
que chamamos de estrutura formal, visto que ela permanece
válida para tôda a verdade, seja qual fôr sua matéria.
39 2. Lógica "formal" e lógica "material". - A noção de
verdade, que domina tôda a Lógica, tem, portanto, duplo sig-
nificado, ou pode ser concebida em dois graus. Exigimos, com
efeito, de tôda proposição. que pretende ser verdadeira, não
apenas certa estrutura formal, mas também uma validade, en-
tendendo por validade tôdas as condições derivadas da matéria
do pensamento, que lhe afetam a estrutura oU a própria forma.
. É daí que se origina a divisão da Lógica em lógica formal ou
menor e lógica material ou maior. Mas,· de fato, examinando
bem, tôda Lógica é formal, enquanto está inteiramente ordena-
da a definir o que. deve ser a forma do pensamento correto e
verdadeiro. Na lógica menor, trata-se de definir as condiçÕes
do pensament~ :oerente consigo mesmo (independentemente de
qualqu~r matéria determinada). Na lógica maior, trata-se de
determmar a ·forma que o pensamento deve tomar atendendo
aos diferentes objetos aos quais êlese pode aplicar'.9
, ~ Adotamos. a divisão. em .lógica menor e lógica maior, como mais
praticl!-, .d~da ~ Importân~la toma~a pela metodologia das ciências. Mas
.esta divíaâo nao é essencial, é acidental. A matéria do pensamento, do
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52 RÉGIS J OLIVET
Se tôda lógica é formal, poder-se-ia dizer, para melhor dís-
tinguir o que se convencionou chamar de lógica menor e de
lógica maior, que a primeira, que é uma lógica de coerência,
é essencialmente uma lógica da linguagem, isto é, das conven..
ções verbais, - enquanto a segunda é propriamente uma lógica
do pensamento, isto é, do real, tal como se impõe à inteligência.
- Mas continua verdadeiro o que dissemos acima (34), que s6
há lógica do pensamento, porque a própria ordem que impõe o
respeito às convenções verbais é obra do pensamento.
alçada' do lógico. ,
. Notemos ainda; que a Lógica por nós proposta é uma lógica
bivalente, isto é, supõe que tôda proposição só pode ter dois
ponto-de-vista lógico, é um puro acidente, isto é, um elemento que não
modifica de nenhumrnodo as operações lógicas 11.0 que elas têm de
essencial. Isso queremos assinalar, ao dizer que tôda Lógica ,é formal. -
Realmente, como a Lógica é essencialmente, a ciência das leis do pen-
samento correto, a -dívisão exigida por êsse objeto formal dever-se-ia
tomar das três operações da inteligência, a saber: simples apreensão,
juízo, raciocínio. . .
10 Cf. AKOS Von Pauler, Logik, págs. 1~8.
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LÓGICA 53
atolicas.corn
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LÓGICA MENOR
I
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LóGICA MENOR
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CAPíTULO I
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LóGICA 59
b) Conceito mental e conceito objetivo. Distingue-se o con-
ceito mental (ou conceito formal, ou ~inda ",:erbo men~al) do
conceito objetivo. O conceito mental e a C01Sa concebtda en-
quanto concebida, isto ~, en9uanto meio de c0n?eciD).~n~o ou
A
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60 RÉGIS J OJ,J:VET
b) Sinal natural, sinal convencional. Sinal natural é aquêle
, .
que tem alguma relação de causalidade ou de, dependência com
a eoísa significada (o gemido é sinal de dor, a fumaça é sinal
de fogo). Sinal convenciona! é o que resulta de uma convenção
arbitrária (o ramo de oliveira significa paz, o prêto é sinal de
luto a bengala branca precede a um cego, o farol vermelho é
sinai de parada para o automobilista). A maior parte das pa-
lavras são sinais arbitrários.
C. Suplência ("suppositio")
45 1. Noção. - A principal propriedade dos têrmos é a que
chamamos de suplência (suppositio, suposição). Consiste em to-
mar um têrmo por um dos objetos que êle significa, fazendo
conhecer êsse objeto. (Aristóteles, I. Etencii., 1. I). Posso dizer,
por exemplo: "Francisco é homem", "Homem é uma palavra
de duas sílabas", "O homem é uma espécie animal": nos três
casos, a palavra "Homem" tem o mesmo significado, mas supre
(é tomada) por três coisas diferentes, pois é impossível dizer
que Francisco é uma palavra de duas' sílabas ou uma espécie
animal.
2. Divisão. - A propriedade de suplência poderáocasio-
nar numerosos equívocos, se sé não distinguir, cuidadosamente,
a maneira pela qual o têrmo supre (é tomado).
I: Daí as divisões das principais suplências: , .
a) Suplência própria ou imprópria. Própria, se o têrmo
I~
fôr empregado no seu sentido próprio (O leão é um quadrúpe-
de). Imprópria, se o têrmo fôr empregado em sentido figurado
r (metáfora): "Pedro' é um leão. ,.
r: ,i
. b) Suplênci<i essencial ou' acidental. Essencial, se o' têrmo
\1 designar o que, pertence essencialmente à coisa (O homem é
racional) '. Acidental, se p têrmo designar o que convém, apenas,
acidentalmente. à' coisa (O homem, é cientista). Esta última
suplência é dita individual, pois designa necéssàrãamente um
sujeito Individual, ao qual se, atríbui.o caráter acidental (O
homem -'- Pedro-s-, é cientista). A primeira suplência é comum,
,c) Suplência real ou lógic~. Real, se o têrmodesígnar um
ente real (O homem. é, um .ser racional}; Lógica, se designar
um ente de razão (O homem oé uma espécie animal). '
, d) Suplência distributi'lla ou cole~iva. Distributiva, se o
'têrmo se aplicar a todos os sujeitos, tornados individualmente,
aos quais o têrmo convém: Os ministros exercem o poder, exe-
cutivo. - Coletiva, seo têrmo se aplicar somente aos sujeitos'
em conjunto: Os ministros são em número de quinze. '
e) Suplência deten:ninada ou coniusa. -:- Detê~minadase
o têrmo se aplicara alguns sujeitos tomados determinadame~te'
" Algum homem é mentiroso" (a saber, êste homem aqui .J
aquêle homem acolá). Confusa, se o têrmo se aplicar a' alguns
http://www.obrasc
LÓGICA 61
sujeitos tomados indeterminadamente: "Algum homem é men-
tiroso" (a saber, em geral e sem precisão, alguns homens entre
os homens).
ART. 11. COMPREENSÃO E EXTENSÃO
A. Definições e relações.
atolicas.corn
62 RÉGIS J OLIVET
[:
Diferença Composta Simples Diferença
DH~n,.j~~.. rr---'-"----------.,
l
Não
Sensível
Diferença
1
Espécie
I'
. Díferença Petre - 1~ Paule- Diferença
J~~
Numérica idade. Idade NumérJca
4 - - - - Indivíduo
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LÓGICA 63
atolicas.com
64 RÉGIS J OLIVET
2. Definições.
a) Gênero (ou essência determinável). É uma noção uni-
versal, que designa, apenas, parcialmente o sujeito ao qual é
atribuído (O homem é um animal. O cachorro é um ser vivo):
b) Espécie (ou essência determ~nada). Noção universal,
que define completamente o sujeito ao qual é atribuída. (O ho-
mem é um animal racional. O cachorro é um ser, vivo sensível). ..~
http://www.obraSCé
LÓGICA 65
Maior
(entre realidades
real separáveis)
(dada em ato na
coisa)
menor
(entre realidades
não-separáveis)
Distinção .••
com fu.ndamento ou
virtual
(com um fundamentq
de razão ou iógica virtual na coisa)
stoücas.corn
66 RÉGIS J OLlVET
C. Os predicamentos ou categorias.
49 1. Noção. - Os predicamentos ou categorias diferem dos
predicáveis ou universais lógicos. Os predicamentos não são sim-
ples modos de atribuição, e, sim, os próprios atributos, isto é,
aquilo que (id quod) se diz das coisas. Os predicáveis são de
ordem lógica (isto é, não realizáveis fora da inteligência); os
predicamentos são, antes, de ordem real. São os modos especiais
sob os quais o ser pode existir, isto é, o conjunto de gêneros su-
premos em que se distribui todo o real.
2. Divisão. - O ser é ou substância, isto é, capaz de exis-
tir em si e não em outrem como em um sujeito, - ou acidente,
isto é, capaz de existir apenas em outro como em um sujeito.
- De outro lado, distinguem-se nove modos de existir em outro
como num sujeito (e, por conseguinte, nove espécies de aciden-
tes): a qualidade - a quantidade - a relação - a .ação - a
pai.rão - a localização - a posição - a sit1,U1Ção no tempo -
o ter. Há, portanto, ao todo (substância e acidente), dez predí-
camentos,"
3. Acidente predicável e acidente categórico. - É. preciso
distinguir cuidadosamente o acidente predicável (ou lógico) do
acidente predicamento (ou categórico). O primeiro se opõe ao
próprio, o segundo à substância. Segue-se que uma substância
I' pode ser atribuída como acidente predicável (a roupa com que
,I
Pedro se yeste)' e, inversamente, que o acidente categórico pode
I ser uma propriedade (o rir atribuído ao homem).
'I
I 4. Predicamentos lógicos e' predicamentos metafísicos.·-
o estudo das categorias pertence ao mesmo tempo à Lógica e à
11 Metafísica. Considerados formalmente, como 'gêneros (isto é,
como conceitos ou 'atributos), as categorias (chamadas, sob êste
I
aspeto, predicamentos Iôgícos) perten-cem à Lógica. Considera-
das como modos do 'ente real, isto é, significando algumanatu-
reza real (predicamentos metafísicos), pertencem à Ontologia.
Mas é importante notar 'que se trata, tanto em' Lógica, como em
Metafísica, das mesmas categorias, consideradas nesta como na-
turezas, .naquela como entes de razão. Conforme o -aspetoaob
0: qual são consideradas, as categorias' são ou uma classificação
de conceitos ou uma classificação de realidades (quer dizer, das
próprias coisas significadas pelos conceitos).
.' .
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LÓGICA 67
5. Pré-predicamentos e pós-predicamentos. Aristóteles
enumera ainda os pré-predicamentos, ou preâmbulos à teoria
dos predicamentos, e os pós-predicamentos, ou propriedades dos
predicamentos.
a) Pré-predicamentos. Consistem em certo número de dis-
tinções. É preciso distinguir entre "aquilo que se diz" e ..aquilo
que existe": assim "homem" se diz de Paulo, mas não existe
fora de Paulo, de Jaques, de João, etc., isto é, fora de sujeitos
singulares. - É preciso distinguir ainda entre "ser dito de um
sujeito" e "estar em um sujeito". De fato, algumas coisas se
atribuem a um sujeito, mas não estão num sujeito. É o caso de
tôdas as substâncias tomadas universalmente (Homem, Animal).
Outras coisas estão num sujeito, mas não se atribuem a um su-
jeito: é o caso de todos os acidentes tomados singularmente (esta
virtude, esta cõr). - Outras estão num sujeito e se atribuem a
um sujeito: é o caso dos acidentes tomados universalmente (a
virtude, a côr). - Outras, finalmente, nem estão num sujeito
nem se atribuem a um sujeito: é o caso de tôdas as substâncias
singulares (Pedro).
b) pós-predicamentos. São: a oposição e suas espécies (re-
lação, contradição; privação, contrariedade), - as diferentes es-
pécies de prioridade (de tempo, de conhecimento, de dignidade,
de natureza e de causalidade), - a simultaneidade, sob as duas
formas, de tempo e de natureza, - finalmente, o movimento,
ou estado de passagem dum modo de ser para outro modo de ser.
D. Atribuição por si (ou a priori)
50 1. Definição. - Da distinção dos predícv-eís resulta que
alguns predicados convêm por si mesmos e necessàriamente ao
seu sujeito e lhes podem ser atribuídos imediatamente (ou a
priori). É o que Aristóteles chama de "modo de atribuição por
si" (ou modo de atribuição necessáría)."
2. Três modos de atribuição a priori.
a) Primeiro modo. É dos casos em que o predicado compõe
quer a essência, quer parte da. essêncía do sujeito (assim "ani-
mal racional", "animal" e "racional" se dizem por si do homem).
b) Segundo modo. É o dos casos em que o predicado é
uma propriedade do sujeito (o conceito de "capaz de rir", para
o _homem, de "reta" ou de "curva" para a linha). Estas noções
nao podem definir-se sem referência ao seu sujeito.
<:) T~rc~iro modo. É o caso em que o predicado exprime
a açao pr?pr14 d~ sujeit~ (o médico cura, o arquiteto const.,Óí).
Se o predícado nao expnmisse a ação própria do sujeito, a atrí-
6 Aristóteles, I An. Post., c. IV. Cf. Sto. Tomás, In I Post., lect. 10.
.atolicas.com
68 RÉGIS J OLIVET
http://www.obraSCé
LÓGICA 69
atolicas.corn
70 RÉGIS J OLIVET
3. A idéia distinta ou confusa, quando faz conhecer, ou
não, os elementos (ou notas) que compõem seu objeto. Uma
idéia clara pode não ser distinta. O jardineiro tem uma idéia
clara, mas não necessàriamente distinta (ao contrário do botâ-
nico) das flôres que cultiva. Uma idéia distinta, entretanto, é
necessàriamente clara.
D. Ponto-de-vista do modo de significação.
53 1. Têrmos unívocos, equívocos, análogos. - Do ponto-de-
-vista do modo pelo qual os têrmos significam os objetos, distin-
guem-se os têrmos unívocos, equívocos e análogos.10
a) Unívoco é o conceito que se pode atribuir de modo ab-
solutamente idêntico a sujeitos diversos. Por exemplo, o con-
ceito homem se aplica univocamente a Pedro, Paulo, a um prêto,
a um branco.
b) Equívoco é o nome que só se aplica a sujeitos diversos
em sentido totalmente diferente. Exemplo: o cão, constelação e
animal. - O equívoco não ,pode ser nunca um conceito, mas ape- ·1
nas uma palavra que cobre conceitos distintos.
c) Análogo, é o conceito que versa sôbre realidades es-
sencialmente diversas, que têm, entretanto, certa relação entre
'I
si. :É, portanto, intermediário entre o unívoco e o equívoco, e
j
designa uma noção que se aplica a muitos sujeitos em sentido
não totalmente idêntico nem totalmente diferente. Assim a saú-
de é uma noção análoga, enquanto aplicada ao alimento, ao
corpo e ao aspeto fisionômico. De fato, o alimento produz a
saúde, o aspeto fisionômico a exprime; só o corpo a possui.
2. Espécies de analogia. - Distinguem-se:
a) Analogia de atribuição: - é li analogia de umtêrmo ou'
de um conceito que convém a uma ou mais coisas em virtude da
relação dêle (têrmo ou conceito) a uma outra coisa; sendo que
só a esta última coisa é que o conceito 'ou o têrmo se aplicam
própria e principalmente. Assim,' o têrmo são s6 se aplicá pró-
pria e principalmente ao corpo (atribuição intrínseca); mas, por
analogia; se aplica também ao alimento ou ao clima que pro-
duzem a. saúde do corpo, e ao rosto que exprime a-saúde do
corpo (atribuição extrínseca). - O corpo é o analogap.o princi-
pal;.·o alimento, o clima e O· rosto, são analogados secundários.
'b) Analogia de proporcicmaiuiade: é analogia de U,n1 têrmo
ou de um conceito que convém a várias coisas' em virtude de
uma semelhança de relações. Assim é -que se diz "luz da ver-
dade", significando que.averdade é para a inte1J.gência o que a
luz do sol é para os olhos. Há, como se vê, uma proporção de .1
relações, que se poderia traduzir por esta fórmula: . \ . 1
1
10 Cf. Sto. Tomás, I, q. XIII, a. 5.
http://www.obraSCé
LÓGICA
verdade luz
inteligência visão corporal!'
ART. IV. DEFINIÇÃO E DIVISA0 DAS
IDÉIAS E DOS T~RMOS
j
stolicas.com
72 RÉGIS J OLJ:V};:T
hUp:llwww.obrascc
LÓGICA 73
sível analisá-las: por exemplo, a idéia de ser, que não tem ou-
tro conteúdo senão "aquilo que é". - Outras noções, embora
apresentando certa complexidade, são tão gerais, que não com-
portam definição essencial: assim acontece com as noções das
diversas categorias (49). que, por serem gêneros supremos, não
têm, por definição, gênero próximo. - De outro lado, os entes
individuais, enquanto tais, não podem nunca ser definidos, por
causa da complexidade da compreensão ou das notas individuais,
e sobretudo, por causa da impossibilidade, para nós, de lhes co-
nhecer a diferença numérica (46). - Finalmente, alguns dados
experimentais (prazer, dor, luz, calor, côr azul, etc.) são mais
claros do que tôdas as definições que dêles se poderiam dar;
compreendem-se fàcilmente pela experiência, ao passo que ne-
nhuma definição poderia dá-los a conhecer àqueles que os não
tivessem experimentado.
C. A divisão.
57 A divisão das idéias em seus elementos é um dos meios
necessários para obter uma boa definição.
1. Definição. - Dividir é distribuir um todo em suas
partes. Haverá, portanto, tantas espécies de divisão quantas de
todo.
o 2. Espécies. - Chama-se todo aquilo que pode ser resolvi-
do, fisicamente, quer idealmente ao menos, em vários elementos.
De onde três espécies de todo: físico, lógico e moral.
a) Físico. Todo físico é aquêle cujas partes são realmente
distintas. Pode ser: quantitativo (ou integral), quando compos-
to de partes homogêneas (ou integrantes): ex., um bloco de
mármore. Essencial, enquanto forma uma essência completa:
ex., homem. Potencial, enquanto composto de diferentes potên-
cias ou faculdades: ex., a alma, como composta de inteligência
e vontade. Acidental, enquanto composto de partes unidas de
fora: ex., um móvel, um monte de pedras; - ou de partes não
essenciais: ex., o todo que é Pedro e o seu talento musical.
b) Lógico. Todo lógico (ou metafísico) é aquêle cujas par-
tes só se distinguem pela razão (48). Exprime-se por uma noção
universal, que contém em si outras a título de partes subjetivas
(ou de sujeitos). Assim, o gênero contém as espécies: por ex.:
a idéia de metal em relação aos diversos metais (ferro, estanho,
cobre, zinco, etc.), ou a idéia de animal em relação a animal
racional (homem) e a animal irracional (bruto).
Essa noção pode servir de predicado a todos os inferiores:
o homem é um animal, - o cavalo é um animal, etc., - o ferro,
o ouro, a prata, o zinco... é um metal. Inversamente o uni-
versal lógico. entra na compreensão de seus inferiores, ~ompon
d.o, com a diferença específica de cada um as partes metafí-
sicas (46). '
rtolicas.corn
74 RÉGIS J OLIVET
c) Moral. Todo moral é aquêle cujas partes, atualmente
distintas e separadas, estão unidas pelo laço moral dum mesmo
fim: exs., nação, exército, escola, etc. Exprime-se por um con-
ceito coletivo (51).
5. Regras. - Para ser boa, a divisão deve:
a) ser completa ou adequada, isto é, enumerar todos os
elementos de que se compõem o todo. .
b) ser irredutível, isto é, só enumerar elementos verdadei-
ramente distintos entre si, de modo que nenhum esteja com-
preendido no outro. A divisão seguinte: o homem se compõe
de corpo, alma e inteligência, pecaria contra esta regra, pois a
alma humana compreende a inteligência.
c) ser baseada sôbre o mesmo princípio, 'e, por conseguinte,
proceder por membros verdadeiramente opostos entre si. A di-
'Visão seguinte: minha biblioteca se compõe' de livros de Filo-
sofia e de livros de formato in-B.", pecaria contra esta regra,
pois formato in-B.a não se opõe a Filosofia.
,i
:1.
"
(
i
http://www.obrasc
CAPíTULO II
o JUíZO E A PROPOSIÇAO
SUMARIO 1
atolicas.com
76 RÉGIS J OLIVET
http://www.obrasc
LÓGICA 77
63 2. O verbo.
a) Noção. Verbo, segundo a definição de Prisciano, é a
parte da oração cuja função própria é significar a ação, em
tempo e modo.6 Tempo, neste caso, não é a distinção de passado,
futuro e presente - que são apenas acidentes. É somente o
presente, compreendido não como um elemento do tempo, mas
como significativo de uma ação (ou paixão) que implica neces-
sàriamente o tempo (ao contrário do nome, que abstrai total-
mente do tempo).
Esta definição afasta-se sensivelmente do ponto-de-vista de
Aristóteles (Periherm., c. lU). Aristóteles, sem dúvida, perce-
beu os caracteres gramaticais de tempo e modo que o verbo
comporta, mas sua tendência é reduzi-los a puros acidentes, ne-
gligenciando o que há de específico no verbo, - significar a ação
e o estado dela resultante. De fato, para êle, o verbo se reduz
a um nome. que significa um conceito correspondente à ação
4 A indeterminação exprime-se por uma partícula negativa colocada
antes do nome: não-homem, ininteligente, irracional, anormal, etc.
5 Categoremáticos são os têrmos que têm significado por si mes-
mos, como os substantivos e os adjetivos. Chamam-se sincategoremátí-
~os os tê~os que só p~dem ser entendidos com outros, como "algum",
nenhum , e os que estao num caso oblíquo (um caso que não o nomi-
nativo): "de Pedro" "à pátria"
• 6 .Prisciano, Inst~tutiones G;ammaticae, !ib. VIII, I, 1 (ed, Herz,
~eblPZlg, 1865,. t. ~, pago 369): "Verbum est pars orationis cum tempo-
ri us et modís, sine casu, agendi et patiendi."
.atolícas.corn
78 RÉGIS J OLIVET
enunciada pelo verbo: "êle canta", significa "o canto", afetado
,de acidentes de modo e tempo. A definição de Prisciano acentua,
ao contrário, que a função própria do verbo é significar a ação,
isto é, uma realidade irredutível ao simples conceito.
b) Verbo copulativo e verbo existencial. Lógicos e gra-
máticos observaram que o único verbo da proposição lógica é o
verbo ser. A questão é saber se o verbo "é" tem sempre a
mesma função e a mesma natureza. Ora, a análise da propo-
sição levou-nos a distinguir duas funções diferentes do verbo.
As uêzes, efetivamente, êle tem sentido copulativo, isto é, só
serve para ligar um predicado a um sujeito ("o homem é mor-
tal"), sem implicar a existência real dêsse sujeito; - às vêzes
êle põe a existência real de um sujeito ("Deus é", "há ouro
neste mineral").
O problema entretanto, é saber se os dois "é" podem re-
duzir-se um ao outro. Muitos lógicos pretenderam reduzir o
verbo existencial ao copulativo.' Assim, dizem, a proposição
"Deus é", decompõe-se na: "Deus é existente", e "Eu sou", na:
"Eu sou existente". - Mas não é possível admitir esta redução,
pois, de um lado, ela leva a fazer da existência um predicado, o
que não tem sentido: a existência não é um -predícado e, sim, a
atualidade de todos os predicados; - 'de outro lado, ela enuncia
uma tautologia, pois a proposição "Deus é existente", na qual a
cópula só pode significar "exíste"8 se reduz a esta: "Deus existe
existente"; do mesmo modo "Eu sou existente", equivale a "Eu
existo existente".
Seria possível, ao contrário, reduzir o verbo copulativo ao
existencial? Já foi dito que .simj? a proposição "todos os homens
são mortais", por exemplo, reduzir-se-ia a: "não existe homem
imortal". Mas, se é certo que a proposição atributiva, conside-
rada como verdadeira, supõe a existência do sujeito' ("homem"),
não se segue, logicamente, que' ela ponha por si mesma a exis-
tência dêsse sujeito. "Todos os homens sãomortaís", não afir-
ma, nem logicamente, nem mesmo psicologicamente, que há
homens, mas somente que a nota '''mortal'' é essencial a "ho-
mem o'. O mesmo se dá com a proposição "não há homem imor-
tal", que, de si, não nega uma existência, mas apenas a possi-
bilidade de convirem os dois têrmos "homem 00 e "imortal".
É preciso concluir, portanto, que o verbo copulativo e' o
.existencial sõo irredutíveis entre si. Um e outro exprimem,
como vimos, a ação do sujeito; mas o verbo copulativo exprime
o ato segundo (ou a: operação) do sujeito, ao passo que o verbo
existencial afirma o ato primeiro, em virtude do qual, um su-
http://www.obrasca·
LÓGICA 79
tolicas.corn
80 RÉGIS J OLlVET
esse existencial. Significa que todo juízo, de si, visa à existên-
cia, seja para afirmá-la, pura e simplesmente de um sujeito,
seja para enunciar uma determinação dêsse sujeito. Dir-se-á,
portanto muito corretamente que todo juízo incide sôbre o ser,
entende~do por ser tudo que é ou pode ser. E como pensar é
julgar, todo pensamento tem por têrmo, através da essência, o
próprio ser pelo qual essa essência é. Ainda que o "é" copula-
tivo consignifique a existência; e que o "é" existencial consíg-
nifique a essência, - é sempre a existência, exercida ou signi-
ficada, que especifica o juízo e o pensamento, no que êles têm
de essencial.
d) Tôda lógica é predicativa. Esta digressão nos leva a
dizer que só há lógica da predicação ou da atribuição, isto é,
como vimos, que a lógica faz abstração da existência real.I 2 Des-
ta, não há lógica: não há lógica existencial. A existência pode
apenas ser percebida e afirmada, não deduzida: mesmo quando
vem no têrmo de um raciocínio (como no caso da existência de
Deus), ela só vem ao modo de conceito.
Não se deve entender, daí, que a existência escapa ao pen-
samento. Os juízos de existência provam que tal não se dá ab-
solutamente. A existência, afirmada como um absoluto da ser,
é apreendida pela inteligência como exercida por um sujeito,
como o ato primeiro dêsse s'l,Ljeito. O juízo de existência, li-
gando um conceito (sujeito) com o ato de existir (actus essen-
di), manifesta ao mesmo tempo a complexidade do ser e a sua
unidade.
63-bis 3. Compreensão e extensão. - Todo juízo atributivo pode
ser tomado do ponto-de-vista da compreensão e do ponto-de-vista
da. extensão. "O homem é mortal'rsígnífica que "mortal" é um
atributo de "homem" (compreensão) e que "homem" faz parte
da classe mortal" (extensão). O pont(j~de-vista mais fundamen-
tal é, evidentemente, o da compreensão, pois a extensão do scon-
ceitos é apenas uma conseqüência de sua compreensão.
Por isso a fórmula usada pelos' lógicos, para fixar a relação
dos têrrnos da proposição, é construída do ponto-de-vista da
compreensão: o predicado está no' sujeito {praeâicatum- inest
subjecto), ou ainda: o predicado pertence ao sujeito.
. Esta fórmula há-de ser bem compreendida. Leíbniz cf. Dis-
cours de Metaphysique, §§ VIII-XIII; Correspondance avec Ar-
naud, ed. Janet,t L págs. 528-529) quis basear sôbre esta fórmula
. tôda uma metafísica que, a rigor, não deixava nenhum lugar no
mundo à contingência ou à liberdade. Se o predicado está no
. sujeito, diz êle, poder-se-á, pela análise completa de um sujeito
dado, descobrir nêle todos os acontecimentos' que o afetarão, e,
em virtude de sua ligação com o resto do mundo, "todos os acon-
tecimentos passados, presentes e futuros do universo. I
I
"L I~ Cf. Sto, Tomás, In Metaph., VIII, lect. 17 (Cathala TI.O 1568):
ogicus conslderat modum praedicandi et non existentiam rei".
http://www.obrasc
LÓGICA 81
.atolicas.com
82 RÉGIS J OLlVET
compostas. Os lógicos enumeram ainda três espécies de pro-
posições chamadas ocultamente compostas (ou hipotéticas), a
saber: as exceptivas, assinaladas pela palavra salvo ou exceto
(Todos os alunos, exceto Pedro, passaram nos exames); - as
exclusivas, assinaladas pela palavra Só ou sàmente (Só Deus
conhece o íntimo dos corações); - as Teduplicativas, assinaladas
pela expressão enquanto (o homem, enquanto racional, é capaz
de rir).
B. Ponto-de-vista da matéria.
65 1. Juízos analíticos e sintéticos.
a) Definições. Chama-se analítico o juízo em que o a.tri-
buto é ou idêntico ao sujeito (é ocaso, por exemplo, da defi-
nição "o homem é um animal racional"), .-:... ou essencial ao
sujeito ("o homem é racional"), - ou próprio ao sujeito (" o
círculo é redondo"). - Chama-se sintético '0 juízo em que o
atributo não exprime nada de essencial ou próprio ao sujeito:
"êste homem é velho"; "o tempo está claro".14
Os juízos analíticos, que decorrem de um dos três modos de
atribuição por si (50), são juízos a priori. Os sintéticos, são a
posteriori. .
b) Problema dos "juízos sintéticos a priorí". Muitos ló-
gicos modernos, seguindo Kant, só consideram analíticos os juí-
zos em que o predicado está contido na noção do sujeito, no tipo
da proposição "A é A" (considerada, com razão, pelos escolás-
ticos, como uma pseudo-proposição). Na realidade, são analí-
ticos todos os juízos em que a síntese do predicado e do sujeito é
necessária tão-somente em virtude das exigências do objeto. Kant,
que reduziu os analíticos aos juízos puramente tautológicos con-
sidera todos csjuízosmecessários (por exemplo, 7 +
5 =12;
tudo que começa a existir tem uma· causa, etc.) como sintéticos
a priori, isto é, como sínteses realizadas fora de tôda experiên-
cia. Daí deduz êle a. teoria das formas aprioTi do .entendimento
e da sensibílidade.P Mas esta teoria repousa, como se vê, sôbra
um pseudo-problema: .os juízos sil1.téticos a prióTi não existem
na realidade. . . . .
Se se examinam· os exemplos dados por
"KaÍlt,. vê-se que se
reduzem ao segundo modo de atribuição por si (ou a priori).
No juízo 7 + 5 =12, 12 não está contido na noção de 7+5, e,
sim, constitui Uma propriedade ·de 7 +
5, O mesmo se dá com
o princípio de causalidade: a idéia de "ser causado" (predica-
do), não está incluída na noção de "aquilo que começa a existir"
14 A Lógica c1ássi~a não utiliza as palavras ~'analíticos" ou '(sinté-
ticos". Ela fala de. proposiçôes em matéria necessária, contingente e
impossível, conforme enunciem uma coisa que não pode ser de \outro
modo, - ou que pode ser de outro modo, - ou que não pode ser sim-
plesmente.
15 Cf. Critique de la raison pure, Introdução, § 4":6.
http://www.abrase
LÓGICA 83
atolicas.corn
84 RÉGIS J OLIVET
D. Ponto-de-vista da quantidade.
1. A quantidade das proposições. - A quantidade depende
da extensão' do sujeito. Podem distinguir-se:
a) Proposições universais: aquelas cujo sujeito é um têr-
mo universal, tomado universalmente. Exemplo: "todo homem
é mortal".
b) Proposições particulares: aquelas em que o sujeito é
um têrmo particular: "algum homem é virtuoso".
c) Proposições indefinidas: aquelas cujo sujeito é um têr-
mo cuja quantidade não é enunciada: "o homem é mortal",
"d) Proposições singulares: aquelas cujo sujeito é um têrmo
singular: "Pedro é cientista". . 1
" ,
As indefinidas devem ser tratadas ou como universais
(quando são em matéria necessária ou impossível, isto é, ana-
líticas), ou como' particulares (quando são em matéria contin-
gente. isto é, sintéticas). Assim "o homem é mortal" é uma
universal, ao passo que o "homem é cientista" é particular.
'http://www.obraSCé
LÓGICA 85
atolicas.corn
86 RÉGIS J OLIVET
c) Nas particulares afirmativas (I). Sujeito e predicado
são tomados ambos em parte de sua extensão: "algum homem
é virtuoso", significa que uma parte dos homens compõe uma
parte dos virtuosos.
. d) Nas particulares negativas (O). O sujeito é tomado em
parte de sua extensão e o predicado em tôda sua extensão: "al-
gum homem não é virtuoso", significa que uma parte da espécie
homem não é nenhuma parte da espécie virtuoso.
B. As várias oposições.
70 1. Definição. Tomadas as proposições não mais em si mes-
mas, mas nas relações mútuas que têm entre si, verifica-se que
elas se opõem de várias maneiras. De fato, tendo embora o mes-
mo sujeito e o mesmo predicado, podem diferir quer pela qua-
lidade, quer pela quantidade, quer pela qualidade e pela quan-
tidade ao mesmo tempo. . É o que se designa pelo nome de
oposição.
2. As quatro oposições.
I,
Todo homem é cientista (A),
Algum homem é. cientista (1). •
- - X - .-
Nenhum homem é cientista -(E),
.
Algum homem não é cientista '(O).
'.
http://www-~ obrase
LóGICA 87
A E
Todo homem contrárias Nenhum homem
é virtuoso é virtuoso
I o
Algum homem subcontrár;ias Algum homem
é virtuoso não é virtuoso
Fig.5.
.atolicas.corn
88 RÉGIS J OLlVET
http://www.obras
LÓGICA 89
-'
A E
Ê necessdrio que contrárias É impossivel que
venha a guerra k - - - - - - - 7 ! venha a guerra
I O
Ê possível que subcontrárias Ê possível que a
venha a guerra t- .,guerra não venha
li 3.. ·Aplicações.
,'
'.
catai icas.com
90 RÉGIS J OLIVET
~:i
,
mem". Esta proposição é, portanto, recíproca.
c) A particular afirmativa (I) converte-se, também, sim-
plesmente, isto é, ela é recíproca, pois os dois têrrnos são toma-
dos aí particularmente: "algum homem é cientista", - algum
cientista é homem".
d) A particular negativa (O) não pode ser convertida re-
gularmente. Seja a proposição: "algum homem não é médico";
não se poderia fazer do sujeito homem um atributo, porque to-
maria uma extensão universal na proposição negativa: "algum
médico não é homem".
Pode converter-se esta proposição, entretanto, por contra-
posição, isto é, juntando a partícula negativa aos têrmos con-
vertidos: "algum homem não é médico" =
"algum não médico
não é não homem", isto é: "algum não médico é homem".
78 4. Conversão das modais. - Nas modais o dictum se con-
verte de ccdrdo com as regras precedentes. "É impossível que
um homem seja um anjo", conv.erte-se em: "É impossível que
um anjo seja um homem". O modo não deve mudar: "Todo
homem é necéssàríamente animal", converte-se em: "Algum
animal é necessàríarnente homem".
, Além da oposição e, da conversão, distinguem os lógicos, nas
proposições, a propriedade de equ.ipolência. Duas proposições
opostas se tornam .equipolentes quando, por meio da partícula
negativa, são tornadas equivale.ntes quanto ao ,significado. As-
sim as proposições: "nullus homo est sapiens" e "aliquis homo
est sapiens", dão como equipolentes as seguintes: "Non nullus
(= Alíquísj homoest sapiens" e "Non aliquis (= Nullus) homo
estsapíens". Esta propriedade, entretanto, a 'bem dizer, inte-
ressa mais ao gramático do que aoIógíco, pois diz respeito antes
à linguagem. '" " ' ,
5. Quan~ificação do ,predicado.
http://www.obrasc
LóGICA 91
catolicas.com
CAPíTULO lU
O RACIOCíNIO E O ARGUMENTO
SUMARIOl
ART. 1. NOÇõES GERAIS. - Definições: raciocínio, argumento, con-
seqüência e argumento; inferência. - Raciocínio dedutivo e
indutivo. - Regras do raciocínio dedutivo, - A dedução
cartesiana.
ART. II. O SILOGISMO. - Natureza do silogismo. - Princípios do
silogismo. - Extensão e compreensão. - Regras' do .~Hogismo.
- Figuras do silogismo. - Valor das diversas figuras. -
Modos do silogismo. - Espécies de silogismo. - Formas do
silogismo hipotético. - Silogismo hipotético e silogismo cc-
tegórico.- Silogismos incompletos e compostos: entimema,
epiquerema, polissilogismo, sorite, dilema. - Valor do si-
logismo. .,.-- Verdadeira natureza do silogismo. - Essência
do silogismo.
ART. II1. A INDUÇÃO. - Noções gerais. - Princípio da indução: in-
duçâo e silogismo. - Todo coletivo e natureza universal. -
Regra da enumeração suficiente.
ART. IV. A LOGíSTICA. ' - Noção. - ,A lógica das proposiçõea-e das
relações. _ O simbolismo. - Valor e importância da Lo-
gística.
ART. r. NOÇõES GERAIS
A. Definições.
78 1. O raciocínio. - Chama-se raciocínio .a operação pela
qual a inteligência, de duas ou mais relações conhecidas, conclui
outra relação, que delas decorre logicamente. Como,' de outro
'lado, as relações são expressas por juízos, o raciocínio pode' ser
'I' definido também como a operação' que, de dois ou mais juízos,
, J, tira um outro juízo contido logicamente nos primeiros.
O raciocínio é, pois, uma passagem do conhecido ao desco-
nhecido.vConstítuí, por 'isso mesmo, o que chamamos de discurso.
:t costume dividir o pensamento em razão ·e' ·inteligência, em
raciocínio e intuição, isto é, em movimento e· repouso. Ver ou
apreender, por uma idéia ou por um juízo, é encontrar-se em
1 Cf. para todo o capítulo: Aristóteles, Anal. pr., I, c. IV -XXXIX
(Bochenskí, Elementa ,logicae graecae, n.08 48-H9),. '-- João de Santo
Tomás, Logica p. la, Summulae, Iib, 3. - Marífaín j'etite Logique,
181-343. - Stuart-Mill, Systeme de Logique (ULe syllogísme"), -
Goblot, Traité 'de Logique, 207-277.- Luquet, Notions de Logique for-
melle. - L. Couturat, La Logiquede Leibniz, Paris, 1901, págs. 81-tI8,
323-387. - Ch. Serrus, Essai sur Ia signification de Ia Loçique, Paris,
1939.
http://www.abrase
L.ÓGICA 93
atolicas.corn
94 RÉGIS J OLlVET
'~
reduzidas à primeira figura pela conversão por acidente (72).
Estas proposições parecem contestáveis pois em·tôdas as
proposições predicativas, mesmo particulare;, rnesmo sitl-gulares,
a existência do sujeito é sempré·.apenassig!l-ificada (63) e nã;o
posta como real. "Algum homem. é cientista ", "Pedro é cien-
tista" não põe, formalmente, a existência de nenhum homem
cientista. Se se trata de (classes vazias" (o homem é imortal"),
a não validade'da proposição particular "algum imortal. é ho-
mem ") não resulta de uma posição de existência, mas apenas,
da não validade da universal. .Formalmente a ·proposição 'parti-
. cular obtída pela. conversão vale o que vale a universal e perma-
nece ao mesmo plano dela. A conversão por a'Cidente' é, portan-
to, perfeitamente legítima. . .
http://www.obrásc
LÓGICA 95
B. Divisão.
80 Como o raciocínio consiste em usar o que é conhecido para
encontrar o que é ignorado, dois casos podem ocorrer: ou aquilo
que é inicialmente conhecido é uma verdade universal (raciocí-
nio dedutivo), ou aquilo que é inicialmente conhecido é um ou
são vários singulares (raciocínio indutivo).
1. Raciocínio dedutivo. - Raciocínio dedutivo, ou dedução,
é um movimento de pensamento pelo qual se estabelece a ver-
dade de uma proposição enquanto contida numa verdade uni-
versal da qual ela deriva. Por exemplo:
Tudo que é espiritual é incorruptível.
Ora, a alma humana é espiritual.
Logo, a alma humana é incorruptível.
A expressão dêste raciocínio é o silogismo.
O raciocínio por absurdo (54) (que consiste em raciocinar
a partir de uma proposição dada, considerada falsa, para mos-
trar que ela conduz a uma conseqüência evidentemente errada
ou absurda: ex., "o cão é capaz de voar. Ora, o que é capaz de
voar tem asas. Logo, o cão tem asas"), - o raciocínio por ab-
surdo, repetimos, entra na categoria do raciocínio dedutivo. É
de fato possível raciocinar, do ponto-de-vista formal, valida-
mente sôbre proposições absurdas, ou como dizem os logicistas,
sôbre "classes vazias" (conjuntos que não contêm elemento
algum).
2 . Raciocínio indutivo. - Raciocínio indutivo, ou indução,
é um movimento do pensamento pelo qual se passa de uma ou
mais verdades singulares a uma verdade universal, que contém
as primeiras a título de partes. Sua forma geral é a seguinte:
. O calor dilata o ferro, o cobre, o bronze, o aço.
Logo, o calor dilata o metal.
C. Regras principais' do raciocínio dedutivo.
81 1. Relativamente ao verdadeiro e ao falso.
a)' Do verdadeiro só se segue o verdadeiro. D.e fato, se a
dedução é boa, o conseqüente, que está contido no antecedente,
é necessàriamente verdadeiro, como o antecedente. .
b)Do falso podem seguir-se o verdadeiro e o falso. É evi-
dente que se pode deduiirum conseqüente falso de um ante-
cedente falso: ex., o homem é um puro espírito; portanto, não
te~. corpo. Mas. pode deduzir-se também por acidente um con-
se~uente verdadeiro, quando. o .atributo do conseqüente contém,
a título de espécie (ou de parte lógica), o sujeito do antecedente:
ex.: o homem é um puro espírito; portanto, é um ser inteligente.
catolicas.com
96 RÉGIS J OLIVET "
j
2. Relativamente ao necessário e ao contingente.
82 1. Nominalismo eartesiano..
.http.swww.obras
LÓGICA 97
catolicas.com
98 RÉGIS J OLlVET
http://www.obrasc
LÓGICA 99
e da caridade. A idéia de virtude serviu-nos, portanto, de têrmo
médio. De onde o silogismo:
M T
A virtude é amável.
t M
Ora, a caridade é uma virtude.
t T
Logo, a caridade é amável.
Pode deduzir-se imediatamente da forma do silogismo, tal
como se manifesta do que acabamos de dizer, que o têrmo mé-
dio deve encontrar-se nas duas premissas, em relação, numa (a
maior) com o têrmo maior, noutra (a menor) com o têrmo me-
nor; - e não deve jamais encontrar-se na conclusão.
I
.atolicas.com
100 RÉGIS J OLIVET
Stuart Mill, Taine) , segundo a qual há apenas sucessão das pre-
missas à conclusão, análoga à sucessão das fases do movimento.
Para os associacionistas, de fato, o discurso se assemelha ao
movimento pelo qual passamos de um ponto ou de um objeto a
outro, sem que haja causalidade eficiente de um ponto do mo-
vimento em relação' ao seguinte. A conclusão não seria, portan-
to, o efeito das premissas, .rnas apenas o têrmo duma sucessão.
- Esta opinião, como se vê, confunde sucessão e causalidade.
O discurso que se desenrola em virtude da causalidade implica
sucessão dos diferentes atos de conhecimento (que são como que
partes ou fases dum movimento contínuo); mas implica também
uma luz, por cujo efeito a inteligência passa do mais ao menos
conhecido, e de tal modo que as premissas determinam a inte-
ligência a formar a conclusão. Fornecem-lhe seu poder e sua
energia. - De outro lado, é claro que recorrer à simples suces-
são é explicar nada, pois o que deve ser explicado é a própria
sucessão dos atos da inteligência. Explicar o raciocínio pela
sucessão, é como explicar o movimento pelo movimento.
c) O médio. O têrmo médio desempenha papel essencial,
pois que é, por assim dizer, o ponto de encontro ou de junção
dos têrmos maior e menor, que se lhe comparam sucessivamente.
Sôore êle repousa, portanto, ·todo o discurso. Descobrir o têrmo
médio é a tarefa do talento de raciocinar.
85 3. Princípios do silogismo. - Êstes princípios decorrem da
natureza do silogismo. O primeiro é tomado do ponto-de-vista
da compreensão, isto é, da consideração do conteúdo das idéias
que se defrontam no silogismo. 0 segundo é tomado do pon-
-de-vista da extensão, isto é, da consideração dos gêneros ou es-
pécies dos indivíduos aos quais se. aplicam as idéias presentes
no silogismo.. Êsses dois pontos-de-vista são, aliás, rigorosamente
correlatos (46). . . .
a) Princípio da compreensão (ou princípio metafísico).
Duas coisas idênticas a uma terceira são idênticas entre si.
Duas coisas, das quais uma é idêntica, e a outra não, a uma
terceira, não são idênticas entre si.
. b): Princípio da extensão (ou princípio' lógico). .Tudo que
é afirmado universalmente dum sujeito é afirmado de todo o
contido sob êsse sujeito, "Se se afirma, universalmente;' que a
virtude é amável, afirma-se, pelo próprio fato, que tôda.virtude
é amável (dictumde omni). .
Tudo que é negado universalmente de um sujeito, é negado
de todo o .contido sob êsse sujeito. Se se nega universalmente
que o homem é imortal, nega-se, pelo mesmo fato, que cada 'um
dos homens é imortal (dictum de. n u l l o ) . r
http.swww.obras
LÓGICA 101
to é antes o da compreensão (46). Daí o conflito de opimoes
e~tre os lógicos modernos, alguns (Leibniz, Hamilton, Logísti-
cos) preferindo considerar a extensão; outros (Hamelin, Ro-
dier) querendo considerar apenas a compreensão.
t:sse debate é vão, porque extensão e compreensão são cor-
relatas. Os lógicos antigos adotavam ambos os pontos-de-vista.
O primeiro servia-lhes para realçar a identificação dos dois têr-
mos ao médio; o segundo, para sublinhar o próprio do juízo,
que é afirmar ou negar a inclusão de um predicado em um su-
jeito. Mas, mesmo quando se exprimiam do ponto-de-vista da
extensão, supunham sempre que o pensamento se refere ao
mesmo tempo à compreensão, como algo em que se baseia, e se
justifica, o ponto-de-vista da extensão,"
Fazer a teoria do sitogismo, a partir apenas do ponto-de-vista
da extensão, traz, ao lado de algumas vantagens, grandes perigos.
As vantagens consistem em proporcionar uma espécie de con-
figuração visual ou geométrica do silogismo, como o mostram
os diversos esquemas dos tratados de Lógica. O esquema d'Euler,
por exemplo, simboliza a extensão dos têrmos através de três
círculos concêntricos:
Fig. 7
Os inconvenientes do uso exclusivo dêsse processo são: pri-
meiro, materializar sistemàticamente uma operação essencial-
mente ~ntelectU:al, que repousa eõbre uma visão da inteligência
e que é irredutível a qualquer combinação de figuras; - segun-
do, habituar a inteLigência a uma espécie de "lógica de, classes",
abandonando o conteúdo objetivo das idéias, isto é, os objetos
,
"
i
de 'pensamento, considerando-os apenas como quadros vazios
puramente arbitrários, suscetíveisdé serem substituídos por
e
i quaisquer sinais. Em Iugar de considerar a espécie de necessí-
_6 Ai-istóteles coloca-se normalmente do ponto-de-vista da compre-
ensao. É o que constata Leibniz (Nouv~auq: pssais, IV, XVII, § 8): "O
1l!0do vulgar d~ e~uncIa~ ~I.xa antes ?s indivíduos, mas o de Aristóteles
fixa, de preterêncía, as idéias ou uníversaís".
catolicas.corn
102 RÉGIS J OLIVET
dade lógica que liga a conclusão às premissas, e que constitui a
essência do raciocínio, a lógicaextensivista termina por con-
siderar apenas o sinal exterior, que é tido como símbolo da ne-
cessidade lógica, mas que, de fato, a dissimula à inteligência.
§ 2. REGRAS DO SILOGISMO
A. As oito regras.
Eis as regras, com suas fórmulas latinas:
1. Haja somente três têrmos: maior, médio e menor.
"Terminus esto triplex: major mediusque mínorque."
2. Nunca sejam maiores na conclusão do que nas premissas,
"Latius hos quam premissae conclusio non vult."
3. Nunca entre na conclusão o têrmo médio.
"Nequaquam medium capiat .conclusie fas est,"
4. E uma vez ao menos seja êle universal.
"Aut semel aut iterum medius generaliter esto."
5. 'De duas premissas negativas, nada se segue:
"Utraque si praemissa neget, nil inde sequitur."
'6. De duas premissas afirmativas, não se segue conclusão ne-
gativa.
"Ambae affirmantes nequeunt generare negantem." .
7, A conclusão segue sempre a 'pior' premissa.
"Pejorem sequitur semper conclusio partem."
a. De duas premissas particulares, nada se conclui.
"Nil sequítur geminis ex partícularibus unquam."
B. Redução das regras.
http)/\l\iWw.obrasc
LÓGICA 103
b) Peca-se ainda contra esta regra, tomando duas vêzes o
têrmo médio particularmente. Por exemplo:
Alguns homens são santos.
Ora, os criminosos são homens.
Logo, os criminosos são santos.
Nesse silogismo o têrmo médio homens, particular nas duas pre-
missas é tomado, numa, em parte de sua extensão, e noutra em
outra parte de sua extensão, o que dá quatro têrmos.
c) Peca-se, enfim, contra a mesma regra, dando ou ao têr-
mo maior, ou ao menor, uma extensão maior na conclusão do
que nas premissas. Seja o silogismo:
Os Etíopes são negros.
Ora, todo Etíope é homem.
Logo, todo homem é negro.
:tste silogismo tem quatro têrmos, porque homem é tomado
particularmente na menor, e universalmente na conclusão (69).
Para que o silogismo fôsse correto, fôra necessário concluir:
Portanto, algum homem é negro".
2. Segunda regra. - De duas premissas particulares, nada
se conclui. De fato, três hipóteses são possíveis neste caso:
a) As duas premissas são afirmativas. O têrmo médio, en-
tão,' é tomado duas vêzes particularmente (pois nas particulares
afirmativas, sujeito e predicado são ambos particulares). e o si-
logismo fica com quatro têrmos.
, b) As duas premissas são negativas. - Peca-se, então, con-
tra a segunda regra.
c) Uma premissa é afirmativa, a outra negativa. O médio
deve, então, ser atributo da negativa, que é o único têrmo uni-
versal em tais premissas (69). Mas, como a conclusão será par-
ticular negativa (em virtude da regra, segundo a' qual, a con-
clusãosegue sempre a pior parte, isto é, negativa se uma das
premissas é negativa, e particular, se uma das, premissas é par-
ticular). o têrmo maior, que é o predicado dela (conclusão),
será tomado universalmente, e terá, por conseguinte, extensão
maior do que nas premissas e o silogismo terá quatro têrmos.
Nada se pode 'concluir, portanto, de duas premissas parti-
eulares, sem violar uma das regras do silogismo.
1 § 3. FIGURAS DO SILOGISMO
.atolicas.com
104 RÉGIS J OLIVET
http://www.abrase
LÓGICA 105
Pedro (T) é homem (M).
Ora todo homem (M) é mortal (t).
Log~, algum mortal (t) é Pedro (T).
Na realidade, esta quarta figura, (chamada figura galênica) ,
não é uma figura distinta. É apenas uma forma indireta da pri-
meira.
B. Valor relativo das diversas figuras.
90 1. Superioridade da primeira figura. - Aristóteles faz dis-
tinção entre o silogismo simplesmente válido e o silogismo per-
feito. Tôdas as figuras, diz, dão silogismos, válidos ou conclu-
dentes. Mas apenas a primeira dá silogismos perfeitos. É pre-
ciso convir, de fato, que os silogismos da primeira figura são ex-
tremamente claros e que o caráter necessário da conclusão apa-
.xece nêles à primeira vista, enquanto que na terceira figura é
mister certo esfôrço para apreender o encadeamento dos têrmos.
A razão dessa clareza reside no fato que, no silogismo da pri-
meira figura, os têrmos são colocados conforme sua ordem na-
tural. Seja:
M T
A virtude é amável.
t M
Ora, a caridade é uma virtude.
t T
Logo, a caridade é amável.
o M, nesta figura, aparece como contido em T e como con-
tendo t. Dos dois pontos-de-vista, da compreensão e da exten-
são, as relações dos têrmos são imediatamente evidentes, por se
acharem êles ordenados conforme sua amplitude crescente: daí
a clareza com que a conclusão se apresenta, como resultado ne-
cessário das premissas.
É de todo diferente o caso das outras figuras. Seja o silo-
gismo abaixo, da segunda figura:
T M
Nenhum animal é imortal.
tT
Ora, o anjo é imortal
t T
Logo, o anjo não é animal.
:atolicas.com
106 RÉGIS J OLIVET
Na terceira figura:
M T
O homem é um ser inteligente.
M t
Ora, o homem é um bípede.
t T
Logo, algum bípede é um ser inteligente.
É o inverso da segunda figura: M' é menor em extensão e
maior em compreensão do que os outros dois têrmos. Por con-
seguinte, aqui também a hierarquia dos têrrnos foi modificada.
É preciso observar, enfim, que só a primeira figura permite }'. ,
conclusões de qualquer natureza, ao passo que a segunda só
admite conclusões negativas e a terceira conclusões particulares.
2. Redução à primeira figura. - A propósito das segunda
e terceira figuras, diz Aristóteles que elas se aperfeiçoam pela
redução à primeira. O. método a seguir para isto consiste em
servir-se dos elementos do silogismo imperfeito. para construir
o silogismo perfeito que contém, convertendo, para isso, uma ou
outra das premissas. O silogismo acima citado, .da segunda fi-
gura, daria:
M. T
Nenhum ser imortal é animal.
t' M
Ora, o anjo é um ser imortal.
t . T
Logo, o anjo não éum animal..
Do mesmo moda, o silogismo dâ terceira ficaria:
M T
O homem é· um ser inteligente.
t 'M
Ora; algum bípede é homem.
t "T
Logo, algum bípede é um ser inteligente.
§ 4. MODOS' DO SItOGISMO
.i
"
I
http://www.ob rases
LÓGICA 107
Ora, êstes dezesseis casos se podem dar em cada uma das
quatro figuras: temos, por conseguinte, 16 X 4 = 64 combina-
ções possíveis.
2. Modos legítimos. - Grande parte dêsses 64 modos pos-
síveis fere regras do silogismo. Os lógicos mostram que deze-
nove modos apenas são legítimos. Designam-nos por palavras
latinas de três sílabas, A vogal da primeira sílaba indica a na-
tureza da maior, a da segunda, a natureza da menor, e a da
terceira, a natureza da conclusão.
a) Primeira figura. Quatro modos legítimos:
AAA EAE AlI ElO
Barbara Celarent Darii Ferio
b) Segunda figura.
EAE AEE ElO AOO
Cesare Camestres Festino Baroco
c) Terceira figura.
AAI EAO IAI AlI OAO ElO
Darapti Felapton Disamis Datisi Bocardo Ferison
d) Figura galênica (primeira indireta)
AAI EAE AlI AEO mo
Baralip (ton) Celantes Dabitis Fapesmo Friseso (morum)
§ 5.' ESPÉCIES DE SILOGISMO
atollcas . com
108 RÉGIS J OLIVET
http://www.obrasc
LÓGICA 109
.atolicas.com
110 RÉGIS J OLIVET
hipotético, uma lógica das proposições, ao passo que o silogismo
categórico diz respeito à lógica dos têrmos ou das idéias.
É certo, aliás, que se não se reduz, propriamente falando a
um categórico, repousa não obstante sempre o silogismo hipo-
tético sôbre um categórico.
§ 6. SILOGISMOS INCOMPLETOS E COMPOSTOS
http://www-, obrasc
LOGICA .1.1.1
A. Objeções.
. ,
atolicas.corn
112 RÉGIS J OLIVET
i
teligente".
B.· Discussão.
99 'I. O silogismo é instrumento de descoberta, - De fato, as
objeções, acima supõem, sem razão, que a conclusão está contida
li em ato na maior, ou, em outras palavras, que à maior' só pode
li resultar da enumeração de juízos singulares. Na realidade, a
I conclusão só está contida .na maior virtualmente, o que obriga
I
a recorrer] para descobri-la, a uma 'idéia' intermediária (o têrmo
médio). Daí vem também que a conclusão traz algo de nôvo, e'
realiza um progresso no conhecimento, progresso que consiste
~ em descobrir numa idéia aquilo que nela está contido, mas 'que
não era visto de início. Por isso Aristóteles fala corretamente de
causalidade do têrmo médio, salientando assim seu poder de fe-
cundidade na ordem do conhecer.
2. Valor do silogismo categórico. Todo silogismo cate-
górico não se reduz a um silogismo hipotético. A objeção que o.
pretende, apóia-se, sem prova, sôbre uma doutrína que nega o
valor das idéias universais. A discussão desta doutrina pertence
à Crítica do conhecimento. Mas pode observar-se desde já ~ue
o conceito (ou idéia universal) não expríme primeiramente
uma multidão, mas sim, primeiro, uma essêncía ou natureza (48).
http://www.obrasc
LóGICA 113
atolicas.corn
114 RÉGIS J OLIVET
160). - Mas Leibniz acrescenta em seguida que tal defesa do
nominalismo é bem superficial e precária. Como poderiam os
nomes ser universais, se não correspondessem a algo objetiva-
mente universal? De fato, longe de serem os universais, como
pretendem os nominalistas, "todos coletivos", são, diz Leibniz,
"todos distributivos", isto é, não simples soma de indivíduos,
mas uma essência contida inteiramente (distribuída) em cada
indivíduo da espécie correspondente. Eis o que fundamenta o
valor do silogismo, e, mais geralmente, o que justifica tôda a
atividade da inteligência.
Estas notas podem completar-se através de uma observação
muito penetrante de Leibniz, dirigida contra os nominalistas
que recriminam a lógica conceptualista por conduzir ao abuso
das abstrações. Longe de ser assim, diz Leibniz, dá-se precisa-
mente o contrário. São os nominalistas que favorecem o abuso
das abstrações e o psitacismo, com fazerem residir a universa-
lidade nas palavras, e, por isso mesmo, nada terem a procurar
mais a fundo. Um conceptualista, ao contrário (ou realista mo-
derado), por professar que o universal não existe, e que, por
conseguinte, só é concebido nos objetos singulares, deve neces-
sàriamente aplicar-se a se referir constantemente a êstes, nos
quais o universal encontra seu fundamento e medida. (Cf. Ger-
hardt, Phil, Schr., IV, 147).
3. Essência do silogismo. - Pode compreender-se' agora ',I
que a essência do silogismo não consiste, como afirmam os ló- 'I
gicos extensivistas (86), em passar de uma proposição mais uni-
versal a uma menos universal: consiste, sim, em identificar en-
i
tre si os dois extremos T e t, por meio de um mesmo terceiro, I
I
M, que é necessàriamente tomado universalmente. A passagem 1
do universal ao menos universal resulta desta identificação e
garante-lhe a validade lógica, permitindo verificar que o. M,
identificado ao T, não tem menor extensão do que quando iden-
tificado ao t.
Realmente, se nos colocarmos do ponto-de-vista do conteúdo
das proposições, notaremos que a, asserção segundo a qual o si-
logismo leva a concluir de uma verdade mais universal a uma
menos universal deve ser entendida, para ser exata, no sentido
de 'que a maior implica, a título de princípio ou de causa, a. con-
clusão ou conseqüente: esta aparece, portanto, como éfei.to, que,
em certos casos pode ser, quanto às relações lógicas; tão univer-
sal quanto à maior de que decorre, mas que, do ponto-de-vista
dos objetos de pensamento, tem neeessàriamente menosampli-
tude do que o princípio ou a causa de que procede.
Vê-se, assim, como uma lógica nominalista. -ísto é, que im-
plica a negação do valor objetivo das noções universais, e que
substitui, pelo mesmo fato, a essência universal por classes ou
todos coletivos, desconhece profundamente a natureza do silo-
http://www.obras<
LóGICA 115
gismo e troca a atividade viva da inteligência pelo mais cego e
falaz dos mecanismos.
A mecanização do pensamento manifesta-se claramente na
definição que Hobbes propõe do silogismo (De Corpore, pars I,
capo IV § 6): "Syl1ogismum esse collectionem duarum propo-
sition~ in unam summam, et ita syllogismus esse additionem
trium nominum, sicut propositio duorum". Em suma, o papel
do silogismo é estabelecer, na conclusão, que os três têrmos são
nomes diferentes duma mesma coisa, do mesmo modo que pa- °
pel da proposição é enunciar que uma mesma coisa tem dois
nomes diferentes. O nominalismo reduz, assim, fatalmente o
silogismo (e o raciocínio em geral) a uma simples adição, de
todo mecânica, de nomes que significam objetos concretos e sin-
gulares (ibid. § 8), o que equivale a dizer que não há relações
de compreensão ou de extensão entre os têrmos da proposição,
mas que tôda atividade da inteligência consiste em somar ou
desunir palavras.
ART. III. INDUÇAO
A. Noções gerais.
101 1. Definição. - Indução é um racioC1.mo pelo qual a in-
teligência, de dados suficientemente enumerados, infere uma
verdade universal:
~te pedaço de ferro conduz a eletricidade.
~ste outro pedaço, também.
~ste outro, também.
Logo, o ferro conduz a eletricidade.
O ferro conduz a eletricidade.
O cobre, o zinco, a prata, também conduzem.
Logo, o metal conduz a eletricidade.
Como mostra. o segundo exemplo, a indução permite passar
não apenas dos indivíduos (ou partes homogêneas) à natureza
universal (primeiro exemplo), mas também das próprias partes
subjetivas ao todo universal que as contém. Assim a fórmula
mais exata da indução seria: um raciocínio pelo qual, de dados
pa~ciais suficientemente enumerados, é inferida uma verdade
umversal. .
1: a indução, portanto, um movimento e um discurso como
a deduç~o. Mas difere do movimento dedutivo. A ind~ção é
bem ma!8 um salto. que uma marcha; é uma passagem súbita,
de u~ s? golpe, do smgular ao universal, ao passo que a dedução
COnstItUI um progresso regular, realizado por etapas mais ou
menos ':lume~osas, tôdas igualmente necessárias. - De outro
lad~ a \nduçao não é uma explicação: é, essencialmente, apre-
e~ao de t:m fato (ou de uma natureza). Estabelece, sem dú-
VIda, relaçoes expressas nas leis científicas (ou nas definições);
catolicas.ccm
116 RÉGIS J OLIVET
http://www.obrascs
LÓGICA 117
diversas formas (abstração simples, intuição dos princípios, in-
dução científica), a passagem do plano dos objetos sensíveis e
singulares ao plano inteligível das essências e das leis.
103 2. Indução e silogismo. - Uma vez bem compreendido
que a dedução silogística se apóia sôbre o princípio dictum de
omni, dictum de nuLlo (85), isto é, sôbre a conexão lógica dos
conceitos entre si; e que a indução, ao contrário, considera o
conceito universal em função de suas partes subjetivas, fazendo
abstração da conexão dêsse conceito com outros, - vê-se cla-
ramente o êrro de Lachelier (Études sur Ie syUogisme), preten-
dendo reduzir o raciocínio indutivo ao silogismo da terceira fi-
gura (89), no qual a maior seria uma enumeração de partes:
AI A2 A3 An são x .
(ferro) (zinco) (ouro) (etc.) (são) (condutores de eletricidade).
Ora ..
AI A2 A3 An são y .
(ferro) (zinco) (ouro) (etc.) (são) (todos os metais)
Logo
.............. y é x .
(todos os metais) (são) (condutores de eletricidade).
Não haveria aí nem indução, nem mesmo silogismo válido
(salvo no caso de enumeração completa, que daria, aliás, ape-
nas por acidente um bom silogismo); o silogismo repousa sôbre
uma essência e não sôbre uma coleção de indivíduos ou de par-
tes (99).
C. Todo coletivo e natureza universal.
104 . 1. A passagem ao universal. - O raciocínio proposto por
Lachelier não seria uma verdadeira indução como não é uma
verdadeira dedução. Éde capital importância, efetivamente,
distinguir todo coletivo e natureza universal. Não tem a indu-
ção, por essência, - como se diz freqüentemente sem razão -
de levar a concluir de alguns sujeitos singulares a todos sujeitos
singulares que compõem uma coleção (ou todo coletivo), e, sim,
de levar a concluir das partes subjetivas- à sua natureza uni-
versal, realizada nos sujeitos singulares considerados. Não é pos-
sível dar conta da importância da indução de outro modo. Do
ponto-de-vista coletivo a indução aparecerá quer como sofisma
atolicas.com
118 RÉGIS J OLIVET
(se a enumeração dos singulares não fôr completa), quer como
tautologia (se, por hipótese, fôr completa; neste caso, declarar
que "todos os metais são condutores de eletricidade" não seria
mais, evidentemente, do que enumerar um após outro todos os
metais como condutores de eletricidade).
Compreende-se, bem, ao contrário, a importância do racio-
cínio indutivo, quando se percebe que a inteligência, longe de
contar elementos para afirmar de· sua soma o que foi dito de
cada um, apreende nos objetos singulares uma aatureza, que é,
como tal, universalizável. Por isso a forma verdadeira da in-
dução é a que se exprime não por um plural coletivo (todos os
metais conduzem eletricidade), mas por um têrmo abstrato que
signifique uma natureza 'universal (o metal conduz eletricidade) ..
105 2. Regra da enumeração suficiente. - A suficiência da
enumeração é a única regra para a validade do raciocínio indu-
tivo. Mas esta regra não deve ser compreendida só sob o as-
pecto material. Seu verdadeiro sentido já agora aparece cla-
ramente. Se a enumeração para ser suficiente deve abranger
certo número de sujeitos ou de partes, não é que o número dos
sujeitos, como tal e por si mesmo, bastasse para fazer prova
(como supõe a concepção "coletiva" da indução); é que a in-
teligência deverá apreender realmente nesses sujeitos a natu-
reza universal que lhes é comum~. De fato, a enumeração pode
variar grandemente de amplitude de um caso. a outro e o valor
da indução dependerá das condições da enumeração. .
Os processos do raciocínio indutivo, tais .como empregados
pelas ciências experimentais, com o propósito de torriar quanto
possível sufiéiente e rigorosa a enumeração, serão estudados na
Lógica maior. Quanto às questões sôbre o fundamento da in-
dução ou sôbre o valor do raciocínio indutivo, não pertencem
à Lógica formal e, sim, à Lógica maior e à Crítica do conhe-
i. címénto,
ART. IV. 'A LOGfSTICA 9
A. Noção.,
106 1J.. lógica moderna, ou -Logística, que tem como íníciador
Leibniz, mas que se desenvolveu somente '. depois de umacen..
tena de anos com Boole, Schrõder, Peano e, sobretudo, Whitehead
e Russel P, está para a lógica antiga como a álgebra abstrata
.para a aritmética clássica.. Assim como a álgebra pouco a pouco
desligou-se de suas origens experimentais, 'para tornar-se 'uma
. 9 Mlle Maria Luiza Roure, professôra de Lógica formal 'na Faculdade
Católica de Filosofia de Lyon, teve a gentileza de, rever e completar êste
artigo, ' . . f
http://www.abrase,
LÓGICA 119
11 A noção .de classe eas relações entre as classes podem ser ex-
,pr~ssas por mel,! .do cálculo dos predicados monádicos, graças ao em-
Pdre/fo "doIs quantifIcadores, que permitem introduzir as noções de "to-
as , a guns" "nenhum".
12 Aristót~Ies se utiliza várias vêzes de teses da lógica proposícional,
atoucas.com
120 RÉGIS J OLIVET
r
particularmente na redução dos silogismos. Encontra-se, por exemplo,
nas Analíticas (An. Pr., H, 4_6) o eqüivalente das.duas teses seguintes:
r
(p :l q) :::> (---, q '---, p) .
(p & q :::> r) [p & --.. r :::> '---, q]
httpvrwww.obrasc
LÓGICA 121
negar a realidade das propriedades peculiares às proposições
relativas, propriedades que ficaram quase desconhecidas da ló-
gica classíca."
Se bem tenha a Logística descoberto e sistematizado grande
número de leis concernentes às proposições relativas, não con-
seguiu, entretanto, mudar o fundamento destas, em que a có-
pula é está sempre subentendida. É por essa cópula que a Me-
tafísica explica e justifica a necessidade das proposições rela-
tivas, mostrando que aqui, como em tudo, o ser é a razão e o
fundamento úLtimo da afirmação.
108 3. Simbolismo. - O simbolismo, ou emprêgo de sinais
artificiais, não é característico essencialmente da Logística: a
Lógica clássica dêle se serviu amplamente. Mas a Logística ge-
neraliza o seu uso e, sobretudo, utiliza tais símbolos segundo re-
gras precisas, de modo a que o seu sentido seja perfeitamente
claro, ao passo que os têrmos comuns são fàci1mente equívocos.
Os símbolos têm ainda a vantagem de abstrair absolutamente
de tôda matéria, suprimindo, por isso, a fonte de inúmeros erros.
Eis alguns sinais usados (ao menos por alguns logísticos,
pois a simbologia é muito confusa):
. . . . . p, "não-p" (proposição p negada);
p :::> q, "se p, então q" (proposição condicional; implicação
material) ;
p v q, "p vel q" (proposição disjuntiva, não exclusiva);
p.q ou pq ou P & q, "p e q" (proposição conjuntiva);
p/q, "p exclui q e vice-versa" (proposição exclusiva);
p = q, (p, por definição, é o mesmo que q).
p = q ou p ~ q, "p se e somente se q", - ou "p e q" são
verdadeiras ou falsas ao mesmo tempo (proposição de equiva-
lência) .
Parênteses servem também para significar. que aquilo que
nêles está inscrito é considerado como. um todo relativamente
aos fatôres colocados antes ou depois. Por exemplo (p :::> q) v r,
significa uma proposição disjuntiva, cuja primeira parte é p :::> q
e a segunda parte r. Sem o perêntese poder-se-ia compreender
que :p implica materialmente q ou r.
Com o auxílio dêsses sinais podem traduzir-se em fórmulas
curtas, precisas e claras, dizem os logicistas, tôdas as regras da
lógica clássica e tudo o que diz respeito ao silogismo hipotético
e. à lógica das relações, obtendo ainda, pelo mesmo fato,proces-
sos de yerificação lógica duma certeza absolutamente infalível. H
FOI a ambição verdadeiramente prodigiosa de Leibniz, ao
propor s~u projeto de "Característica". Esta, diz êle, permitirá'
arbItrar mfalivelmente as controvérsias filosóficas: bastará to-
atolicas.com
'I
i
fornecer tõdas as condições necessárias e suficientes da dedução
no interior mesmo da teoria.
Tôdas as ciências dedutivas ou racionais procedem ou de-
veriam proceder por via axiomática. Em relação a elas, o 16gico
I'
deveria examinar se nenhuma contradição resulta dos axiomas
e das regras de dedução, - se a dedução das conclusões é cor-
reta e rigorosa, - se as conseqüências que não podem ser de-
duzidas dos axiomas são realmente contraditórias de alguma
tese do sistema. - Não cabe ao lógico, de outro lado, indagar
se os axiomas são verdadeiros e certos, - nem se são mais co-
nhecidos do que as conseqüências dêles tiradas. - Pode haver,
e há de fato, sistemas cujos axiomas-não sãoevídentes (caso
da Teologia), - nem certos (como freqüentemente em Física);
outras vêzes os axiomas podem até ser falsos (caso freqüente
nas ciências da natureza, por exemplo, o princípio do sistema
fechado). Ao lógico interessa a correção do processo de dedução
e não o valor dos axiomas.
A Lógica é, por excelência, uma disciplina axiomática; e a
" '1
Logística visa, antes de mais nada, a dar o máximo de rigor ao • ~I
http·://www.obrasc
LóGICA 123
A questão é saber se a Lógica pode fa~er abstração, d~ ce~
teza da evidência até da verdade dos axiomas da proprra 10-
gica: Já respondel~lOs, implicitamente, a esta questão (34); jul-
gamos, com Frege e Greenwood, q~e um~ lógica que não p~o
ceda de axiomas certos e verdadeiros, nao e uma verdadeira
lógica. Mas uma lógica que partisse de quaisquer axiomas, sem
se pronunciar sôbre sua verdade, teria assim mesmo valor teó-
rico. Além disso, sejam quais forem as opiniões, freqüentemente
opostas dos logísticos sôbre êste ponto, todos estão de acôrdo
de fato para partir de axiomas tidos por verdadeiros e certos,
ainda que remetam o problema da verdade dos axiomas a uma
disciplina, que poderia ser a Filosofia da Lógica, e que trataria
da interpretação ou da aceitabilidade dos axiomas.
B. Valor e importância da Legístíea,
lG'9 1. Formalismo metodológíeo. - O princípio da tradução
em fórmulas esquemáticas, por meio de sinais convencionais,
das diferentes operações lógicas, não traz dificuldade alguma.
O formalismo é útil para fixar a atenção, ajudar a memória, e,
sobretudo, para obter precisão e rigor técnicos. Não haverá,
entretanto, um ponto em que a multiplicidade dos sinais venha
a tornar-se mais embaraçosa do que útil? Em todo caso seria
ótimo maior uniformidade no emprêgo de sinais, que variam
consideràvelmente de autor a autor, a tal ponto que é necessária
uma iniciação preliminar à respectiva simbologia particular, cada
vez que se aborda o estudo dum nôvo sistema.
. 2. Vantagens do formalismo. - Criticou-se muito (Cf. Ma-
ritain, Petite Logique) o emprêgo sistemático do simbolismo em
Lógica, objetando-se que as construções lógicas, através da com-
binação de sinais, tenderiam a mecanizar o pensamento, e, final-
mente visavam a libertar a inteligência do encargo de pensar.
Pode essa crítica vàler contra alguns Iogicístas (Couturat, Carnap,
Tarski) que, por causa do nominalismo, pretendem fundar, com
a Logística uma pura ciência de sinais materialmente tomados, ao
.Ax; lU - (p v q) . ~ . (q v p).
Ax. IV ~ (p ~ q) ~ (r v p) ~ (r v q).
Tradução em linguagem comum: 1. A disjunção de p e de p. im-
plica p. - 2. Uma disjunção é verdadeira, quando um de seus mem-
bros éyerdadeiro.. -.3. A disjunção de duas proposições a<;.arreta sua
disjunção em sentido inverso. - 4. O resultado da ímplicação de duas
disjunções, que têm Ó. mesmo antecedente, é a conseqüência da im-
plicação de seus conseqüentes.
Quanto às regras, Hilbert se serve de duas: regras de substituição
e de separação (ou de conseqüência): a primeira fixa que é possível
substituir uma variável, onde quer que se encontre, por outra variável,
ou por uma expressão de cálculo, 7"' que é possível trocar uma ex-
pressão, por outra expressão equivalente; a segunda, corresponde ao
modusponens do silogismo hipotético: Se temos P e ao mesmo tempo
P ~ Q, temos igualmente Q.
.atolicas.com
:1,
i 124 RÉGIS J OLIVET
passo que o pensamento incide não sôbre sinais com? tais, mas
sôbre as coisas significadas, ou seja, sôbre os conceito. Mas a
grande maioria dos logísticos não nega que os sinais tenham um
sentido, e um sentido lógico. Acontece apenas que êste sentido
não intervém no curso da dedução, a fim de evitar qualquer apê-
lo a evidências, que estariam baseadas na intuição. Intervém
apenas antes e depois da construção técnica: antes, a título "heu-
rístico"; depois, com vistas à interpretação.
O reproche de "mecanismo verbal" feito à Logística não a
atinge mais do que o anterior. Sem dúvida, a mecanização é
inegável; é, mesmo, característica daquilo a que se chama com
razão o "cálculo lógico". Mas, além de o "mecanismo simbólico"
ser também pensamento,condensado em fórmulas, é preciso
admitir, como o observava Leibniz, que todo raciocínio compor-
ta uma parte do mecanismo, e que isto é, mesmo necessário desde
que a dedução. seja longa e complexa. Seria, de fato, impossível
progredir, se se desejasse pensar sempre no sentido das pala-
vras '. e substituir em todo lugar a definição ao definido (Cf.
"Phil. Schrift.", VII, pág. 204). Do mesmo modo que, em Ma-
temática, confiamos na tábua de Pitágoras [tabuada}, usada
maquinalmente, também, no raciocínio, abandonamo-nos ao me-
canismo verbal e simbólico.
C. Conclusões.
.
I
http://www.obras
LÓGICA 125
catolicas.com
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11
LÓGICA MAIOR
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LóGICA MAIOR
catolicas. com
CAPiTULO I
CONDIÇõES DA CERTEZA
SUMARIO I
§ 1. A VERDADE
,'I
http://www.obras<
LÓGICA 131
quais foram f~itas.: C~mhecer essa verdade, is.to é,. conhecer as
A
coisas tais quais sao, e a tarefa de nossa inteligêncía.
2. A verdade lógica. - A verdade lógica designa a con-
formidade da inteligência às coisas, isto é, à verdade ontológica.
Quando afirmo "êste ouro é puro", enuncio uma verdade, se
verdadeiramente a pureza pertence a êste ouro, isto é, se meu
juizo é conforme àquilo que é.
Segue-se daí que a verdade lógica só existe no juízo, e, de
nenhum modo, na simples apreensão. A noção "ouro puro" não
exprime verdade nem êrro. Só pode haver aqui verdade, quan-
do a inteligência, afirmando uma coisa de outra, conhece (ao
menos implicitamente) seu ato e sua conformidade ao objeto, o
que se dá somente no juízo.
catoncas.corn
132 RÉGIS J OLIVET
cioso, pois, como saber, á não ser ainda por representações, que
um juízo está conforme àquilo que. é? Para assegurar-se da
verdade da representação, é preciso recorrer ao real; mas para
conhecer o real, é preciso recorrer à representação.
é evidente.ê
°
círculo
Tal objeção é sem alcance. A verdade, que só se encontra
no juízo (60), se estabelece de fato por referência a represen-
tações (imagens ou conceitos), mas a representações que, como
tais, isto é, abstratas do juízo, são o próprio real, tal como é re-
cebido nos sentidos ou no entendimento (43). A objeção em
debate repousa sôbre falsa noção do conhecimento e sôbre o
postulado implícito que o juízo é a operação fundamental da
inteligência. Ora, êste postulado é errado, pois o juízo supõe sem-
pre a simples apreensão, pela qual a inteligência entra na posse do
real. Pela referência a essa apreensão,· e, por conseguinte, ao
próprio real, é que se pode estabelecer a verdade ou a falsidade
do juízo. Não há nenhuma espécie de círculo vicioso. Do con-
trário, seria necessário renunciar a dar sentido à palavra "veri-
ficação". Afirma-se que, não podendo tomar contato com o real,
poder-se-ia de qualquer modo estabelecer a verdade, acumu-
lando representações e verificando umas pelas outras. Mas;
quem não percebe que isso éentreter-seeom palavras? Seria
como supor que girando indefinidamente no interior de uma
gaiola sem saída, acabaríamos por nos encontrar no exterior!
Ou que, multiplicando os zer.os, acabaríamos por obter uma
soma positiva!
4. A verdade moral, - A verdade, moral, por oposição à
mentira, consiste na conformidade da linguagem com o pensa- I
mento. Seu estudo compete à Ética. !
§ 2. DIVERSOS ESTADOS DA. INri:LIGtNCIA EM PRES$NÇA DA VERDAD]i: I
119 A inteligência pode encontrar-se, em relaçãq à verdade, em
quatro estados diferentes: a 'verdade pode ser, para ela,como
se não fôsse; - é o estado de umorômcia; - pode' parecer-lhe
como simplesmente possível: --: é o estado de. dúvida; - pode
aparecer-lhe como provável;-é o estado de .opinião; -pode,
enfim, aparecer-lhe
.' .
corno evidente:. '-- é o estado
I
de certeza.
A.aignorância.
1. Definição. - A ignorância é um estado puramente .ne-
gativo, que consiste na ausência de 'qualquer conhecímento re-
lativamente a: um objeto. ., . .
.:i
- .
htt'p ://www.obras
LÓGICA 133
2. Divisão da probabilidade.
catolicas.com
134 RÉGIS J OLIVET
.i
. http.ówww.obrasc
LÓGICA 135
dentais que dependem da capacidade da inteligência, do gênero
de verdade em questão, do motivo de admitir a verdade. Esta-
mos assim mais certos daquilo que vemos com nossos próprios
olhos do que daquilo que nos contam, - mais certos de uma
verdade matemática do que de uma verdade moral, etc.
§ 3. O ~RRO
atolicas.corn
136 RÉGIS J OLIVET
tantes. Resumem-se no àmor da verdade, que inclina a descon-
fiar de nós mesmos, a julgar com perfeita imparcialidade, a
proceder com paciência, circunspeção e perseverança na inda-
gação da verdade.
ART. n. OS SOFISMAS 6
A. Noções gerais.
123 . 1. Definições. - Chama-se sofisma o raciocínio errado que
se apresenta com as aparências da verdade. Se o sofisma é co-
metido de boa fé, e sem intenção de enganar, é chamado antes
paralogismo. Mas esta distinção, tomada de boa ou má fé, vem
do moralista. Para o lógico, sofisma e paralogísmo são uma e a
mesma coisa. .
2. Divisão. - O êrro pode ter duas espécies de causa: ou
provem da linguagem, ou provem das idéias de que se compõe
o raciocínio. De onde duas classes de sofismas: sofismas de pa-
lavras e sofismas de coisas ou idéias.
B. Sofismas de palavras. - Os sofismas verbais são baseados
sôbre a aparente identidade de algumas palavras. Os prin-
cipais são:
1. O equívoco.- Consiste em tomar uma mesma palavra,
no raciocínio, em sentidos diferentes: ~xemplo:
'li O cão late.
i. Ora, o cão é uma' constelação,
Logo, uma constelação late.
2. Confusão entre sentido composto e sentido dividido.
Esta confusão tem lugar quando se reúne no discurso, isto é,
quando se toma coletívamente, aq'U:ilo que está dividido na ree-
!idade, ou quando se divide no' discurso, isto quando se toma
é.,
. ,
http://www.obras
LóGICA 137
quando se fala de coisas espirituais: como devemos servir-nos
de imagens sensíveis para exprimi-las, fàcilmente a imagem se
substitui à coisa e se torna fonte de êrro.
C. Sofismas de idéias ou de coisas.
var, quer outra coisa, quer mais ou menos aquilo que está em
questao. .Tal seria o raciõcínío que desejasse provar que o So-
o
.catolicas.com
138 RÉGIS J OLIVET
d) Círculo VtctOso. Consiste em demonstrar uma pela ou-
tra duas proposições que têm ambas necessidade de ser demons-
tradas. Tal seria o argumento que provasse a ordem do mundo
pela sabedoria divina e a sabedoria divina pela ordem do mundo.
D. Refutação dos sofismas.
125 1. Sofismas de palavras. - Para refutar os vários sofismas
de palavras, não há outro meio senão criticar impiedosamente
a linguagem, a fim de determinar exatamente o sentido das
palavras que se empregam.
2. . Sofismas de idéias. - Os sofismas de idéias ou de coisas
pecam quer pela matéria, quer pela forma. Para refutá-los, é,
portanto, necessário, examiná-los do duplo ponto-de-vista, da
matéria e da forma. Uma das premissas, ou ambas ao mesmo .,
tempo, podem ser falsas, ou ambíguas. Se forem falsas, é preciso '."
negá-las; se forem ambíguas, é preciso distingui-las, isto é, pre-
cisar os diversos sentidos. Se o argumento peca pela forma, a
conseqüência deve ser negada. .
A. Natureza do critério.
126 1. Definição. - Critério é o sinal graças ao qual se reco-
nhece uma coisa e se a distingue de tôdas as outras. Ora, como
opomos constantemente a verdade ao -êrro, dizendo: "Isto é ver-
dadeiro, isto é falso", devemos possuir algum sinal ou critério
por meio do qual reconhecemos' a verdade. É que êsse sinal que
denominamos critério da verdade, e, como é sob êsse sinal que
devemos 'possuir a certeza, denominamo-lo,taml;Jém, não já do
ponto-de-vista do objeto que aparece, mas' de inteligência que
conhece, critério de certeza.
,
,
I
http://www.obrasc
LÓGICA 139
atolicas.com
140 RÉGIS J OLIVET
http://www.obras
LÓGICA 141
depois do momento em que são elaboradas: nesse caso, o critério
do êxito seria, evidentemente, pouco prático. De outro lado,
acontece que, por acidente, a verdade tem maus resultados, ou
resultados aparentemente maus, e que o falso tem, momen-
tâneamente, boas conseqüências. (De fato, a maior parte das
vêzes, as grandes obras começaram por ser mal sucedidas).
Enfim, como determinar que os resultados de uma doutrina
são bons ou maus, perniciosos ou benfazejos, sem a intervenção
de um critério outro que o êxito (sob pena de círculo vicioso)?
:É impossível, portanto, fazer do êxito o critério supremo da
verdade. Tal critério só pode ser, portanto, o da evidência ob-
jetíva,"
.catoucas. com
CAPíTULO II
SUMARIOl
ART. r.
NOÇõES GERAIS: Natureza e importância. - Divisão. -
A dúvida metódica. .
ART. 11. PROCESSOS GERAIS DO MÉTODO. - A demonstração:
espécies e princípios. - Análise e síntese: natureza e espé-
cies. - Regras de emprêgo. - Papel. - Análise e indução:
síntese e dedução. .
A. Natureza e importância.
.http://www.obraSCé
LÓGICA 143
atollcas.corn
144 RÉGIS J OLIVET
. ,
. ~. . .
http://Www.obrasc
LÓGICA 145
. .....
(.'
atolicas.corn
146 RÉGIS J OLlVET
137 3. Princípios da demonstração. - Chama-se princípio, em
geral, aquilo de que uma coisa procede ou resulta, a qualquer
título. O princípio pode ser próximo ou remoto, conforme de-
penda ou não de um princípio superior.
A demonstração se apóia sôbre princípios formais (ou prin-
cípios primeiros) do conhecimento; como princípios remotos, e
sôbre princípios materiais (definições e postulados), comoprín-
cípios próximos.
a) Princípios formais. Tôda demonstração, para ser váli-
da, deve respeitar os primeiros princípios do conhecimento, que
são, antes de tudo, as leis fundamentais do ser: princípio de
identidade ou de contradição, princípio de razão suficiente.. Na
realidade, tôda demonstração, qualquer que seja, se faz sob a
luz e garantiados primeiros princípios,pois tôda demonstração
consiste em provar, quer que "isto é necessário", quer "que
isto é necessàriamente tal", e que, se assim é, é porque é ne-
cessário que cada coisa seja o que ela é (princípio de identi-
dade) e que tudo tem sua razão de ser (princípio de razão).
Vemos, assim, em que sentido se pode afirmar que tôda
demonstração se baseia nos primeiros princípios, evidentes por
si mesmos, e, por conseguinte, indemonstráveis. :Esses princípios
são a' garantia universal do saber. Se não pudesse chegar ja-
mais a uma proposição evidente por, si mesma, nenhuma de-
monstraçâo seria certa, isto é, não haveria nem demonstração,
.nem ciência possível. Não é necessário, sem dúvida, que cada
raciocínio'. parta explicitamente de. um princípio evidente por
~i . si; mas é preciso que a proposição de que parte a demonstração
seja sempre redutível, imediata ou mediatamente, a um pri..
meiro princípio evidente por si.
. Pode dizer-se, portanto, que tôda ciência se baseia sôbre
uma intuição, isto é, sôbre o .conhecimento direto e imediato de
verdades que se impõem à inteligência pela sua própria luz. .
. b). Princípios materiais. Cada ciência particular tem prin-
cípios próprios, que enunciam, pu a natureza dos objetosacs
quais se aplicam a ciência e suas' demonstrações (definições),
- 9U certas proposições gerais, destinadas a servir de ponto-o
-de-partida para as demonstraçôes.. e com as quais as demons-
traçõesdevem estar de acôrdo (postulados). ..
As definições iniciais não são provas: servem pata precisar '.
tão-somente os objetos (coisas. ou noções) duma ciência. Mas
sob êste aspeto são indispensáveis para evitar os equívocosorí-
ginados pelo. emprêgo de têrmos mal .definidos, que. se tomam
sucessivamente em sentidos diferentes (12:t). De. outro lado, é
evidente que há certos têrmos ou certos' objetos que são tão
claros em si mesmos que convém antes aiér-~ à intuição ime-
., diata que dêles se tem (56).
• ~ ~s postulados, por definição, não são demonstráveis pela
·1 I
http://wWw.obras
LóGICA 147
ual uma ciência superior fornece às inferior~s (subalternas)
~s princípios próprios de que partem, os quars, _para elas, no
nível particular do saber em que permanecem, sao apenas pos-
tulados. De fato, tôdas as ciências particulares, prêsas a pos-
tulados (ou princípios que elas não demonstram), só t;azem
certeza científica na medida em que. êsses postulados sao de-
monstráveis e demonstrados por uma ciência superior, ou, en-
tão coincidem com axiomas evidentes por si. Quando os pos-
tul~dos são simples hipóteses (como ocorre no campo das ciên-
cias experimentais), ou definições convencionais, é manifesto
que a ciência tôda que dêles depende conserva em bloco (ao
menos como sistema), o caráter hipotético (ou convencional)
de seu pontô-de-partida.
Pascal (De l'crt de persuader, seção II do "Fragment de
l'esprit géométrique", ed.Brunschvicg, pág. 190) resume do se-
guinte modo as regras da demonstração válida em si e, ao mes-
mo tempo, capaz de produzir a convicção:
"Regras necessárias para as definições. - Não omitir ne-
nhum dos têrmos um pouco obscuros ou equívocos, sem defi-
nição. Só empregar nas definições têrmos perfeitamente co-
nhecidos ou já explicados.
"Regras necessárias para os axiomas. Não procurar pôr em
axiomas senão coisas perfeitamente evidentes.
"Regras necessárias para a demonstração. Provar tôdas as
proposições, empregando nas provas tão-somente axiomas muito
evidentes em si mesmos, 'QU proposições já demonstradas ou já
concedidas. Não enganar-se jamais com o equívoco dos têrmos,
deixando de substituir mentalmente as definições que os res-
tringem ou que explicam.,
, "Eis as cinco regras que reúnem tudo que é necessário para
tornar provas convincentes; imutáveis, e, numa 'palavra, geo-
métricas ... " . .
§ 2. ANÁLISE E SíNTESE 3
1. Noção. . , ;
icatolicás.com
148 RÉGIS J OLIVET
http://www.obrasc
LÓGICA 149
c'
14.1, . 5. Análise indução. Síntese e dedução. :- Pode precisar-
. ,'-se agora em que 'se assemelham e em que diferem análise e
ind~ção 'e síntese e dedução.' De um lado, é evidente que 'a tn-
-dução é uma espécie de análise,. enquanto decompõe o objeto
.complexo dado pela experiência, com 'O propósito de nêle apre-
, ender .a essência, a causa, o princípio ou a 'lei.' Nos dois casos,
portanto, o processo é regressivo, isto é, é o inverso 'da ordem
natur,al!' segundo a qual as partes, .reaís ou lógicas, são, ao me-
nos logIcamente, anteriores ao. todo, o simples anterior ao com-
, .
catolicas.com
150 RÉGIS J OLIVET
plexo. - De outro lado, a dedução é uma espécie de síntese,
enquanto procede dos princípios às conseqüências, o que é uma
composição, isto é, um processo progressivo, conforme à ordem
natural das coisas.
Não se poderia inferir daí, entretanto, que tôda análise é
uma indução, e que tôda síntese é uma dedução. Indução e
dedução são apenas espécies de análise e de síntese, pois há
inúmeras análises e sínteses que são raciocínios: sem falar das
°
análises e sínteses experimentais, veremos que ato de abstrair,
que é uma análise, não é um raciocínio e provém da intuição;
do mesmo modo, o juízo, que é uma síntese, não é um raciocí-
nio dedutivo, e, sim, um ato simples da inteligência (61).
http://www.abrase
CAPíTULO III
A CI:tNCIA E AS CI1l:NCIAS
SUMARIO'
ART. lo NOÇãO DE CI1:NCIA. - Ciências de explicação e ciências
de constatação. - Só há ciência do geral e do necessário.
- Ciências especulativas 'e ciências práticas.
ART. II. ORIGEM E FIM DA CI1:NCIA. - Lei dos três estados, de
Augusto Com te. - Teoria biológica. - Aparecimento das
ciências positivas. - Espírito científico. - Espírito positivo.
ART. lII. CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS. - Aristóteles. - Bacon,
Augusto Comte. - Sentido e importância da classificação.
- Hierarquia e unidade das ciências.
ART. r. NOÇÃO DE CI:tNCIA
144 1. Definição. - Precisaremos aqui a noção de ciência dada
no comêço dêste livro 1. O têrmo ciência se diz de um ponto-
-de-vista objetivo e de um ponto-de-vista subjetivo.
a) Objetivamente, ciência é um conjunto de verdades cer-
tas e logicamente encadeadas entre si, de modo a formar um
sistema coerente. Sob êsse aspeto, a Filosofia é uma ciência,
tanto quanto a Física ou a Química. Em certo sentido mesmo,
é preciso dizer que ela responde melhor, de direito, à idéia de
ciência do que as ciências da natureza, -porque usa princípios
mais gerais e se esforça por descobrir a razão universal de todo
o real.
b) Subjetivamente, ciência é o conhecimento certo das
coisas pelas suas causas, ou pelas suas leis. A indagação das
causas propriamente ditas (ou do porquê das coisas) compete
principalmente à Filosofia. As ciências da natureza limitam-se
a pesquisar as .leís que governam a coexistência ou a sucessão
dos fenômenos (indagação do como). -,. Noutro sentido, que é
o principal, a ciência é uma qualidade que aperfeiçoa Intrin-
secamente a inteligência, relativamente a um domínio do saber,
habilitando-a a operar fácil e seguramente, e com alegria.
catolicas.com
152 RÉGIS J OLlVET
145 2. Ciências de explicação e ciências de constatação. - En-
tre as ciências do porquê, e as do como, há uma diferença con-
siderável,' que convém compreender. As primeiras, que con-
ferem a ciência no sentido próprio, são ordenadas a determinar
a causa própria ou a razão própria daquilo que cada coisa é.
Vale dizer, como vimos no estudo da demonstração, que elas
incidem sôbre a essência das coisas (real ou ideal), procurando
descobrir quais são as propriedades ou as conseqüências que
delas deveriam necessàriamente. A$ ciências do porquê levam,
assim, à formulação de relações essenciais em que se exprimem,
propriamente, as leis metafísicas, físicas ou morais do real, cujo
conhecimento é princípio de certeza perfeita. - O conhecimento
das essências não é sempre possível, sem dúvida, e a inteli-
gência deve contentar-se freqüentemente com substitutos da
essência ou da causa própria, isto é, com propriedades mais ou
menos fundamentais. É imperfeita a ciência, nesse caso, mas
responde ainda à noção própria de ciência, com permanecer um
conhecimento pelas causas. As ciências dêsse tipo constituem o
domínio das ciências de explicação.
Um outro domínio é o da constatação. As ciências desta ca-
tegoria não visam mais ao porquê ou à inteligibilidade essen-
cial, e sim apenas ao como; aplicam-se a determinar, não mais
I', as causas propriamente ditas, mas as leis segundo as quais di-
ferentes fenômenos se encontramconstanteniente associados en-
tre si, por coexistência ou sucessão. Tais são as ciências da na-
tureza, chamadas também ciências experimentais ou positivas.
Do ponto-de-vista delas, a idéia de causa (têrmo de que se uti-
lizam em sentido largo) se reduz à de um fenômeno, ou con-
junto de fenômenos, que condicionam regularmente a aparição
doutro fenômeno ou grupo de fenômenos. A causa é reduzida,
portanto, à condição ou determinação do como das ligações fe-
nomenais,' formulada por ,uma lei, que é apenas um fato abstrato
ou geral, uma constatação e não uma explicação. 'Que os corpos
se atraem em razão direta .da massa e inversa do quadrado das
distâncias, - isto é ainda, apenas, .um fato, do mesmo modo
que a lei de propagação' da luz à velocidade de 300.000 quilô-
. ;
f metros por segundo. Se se deseja, encontrar, 'entretanto, ex-
! plicações nas leis, é claro que elas 'se mantêm num nívelida
inteligibilidade de todo diferente do das ciências de explicação
ou de porquê), elas visam apenas a uma inteligibilidade funcio-
nal, que é propriamente a inteligibilidade da ordem e da rela-
ção, não a do ser.
146 3. Só há ciência do geral e 'do necessário. - Isto é conse-
q~ência da própria' definição de ciência, e vale para tôda ciência,
seJa do porquê ou do como. .. ' , '
-. a) A ciência tem por objeto o geral. Como tôda ciência
tem por objet~ descobriras causas e as leis, é; ela, pelo próprio
I fato, o conhecimentn daquilo que há de mais geral no, real. O
http://www.obras l
LÓGICA 153
catolicas.corn
154 RÉGIS J OLIVET
c) Sentido em que o individual e o contingente são objeto:f
de ciência. A afirmação de que só há ciência do geral e do ne-
cessário não significa que a ciência não versa sôbre o contin-
gente e o individual, e sim, apenas, que ela visa, no contingente
e individual àquilo que é universal e necessário, a saber, as
leis a que êl~s obedecem, as causas de que dependem, as essên-
cias e as naturezas que os definem como partes de uma espécie
ou de um gênero.
147 4. Ciências especulativas e ciências práticas. - Tôda ciên-
cia é um conhecimento pelas causas. A divisão das ciências em
especulativas (ou teóricas) e práticas, por conseguinte, serve
apenas para distinguir dois fins diferentes do saber científico.
As ciências especulativas 'procuram saber para saber, visam à
verdade pela verdade; as ciências práticas procuram o saber
com vistas à ação. Esta distinção é válida independentemente
dos fins pessoais do cientista. A natureza do saber matemático
não passa de teórica a prática se Pedro o cultivar, por exemplo,
para obter uma situação melhor.
As ciências práticas têm, portanto, como objeto formal, O
conhecimento das coisas ou atos a produzir, enquanto tais. Dis-
tinguem-se as ciências especulativamente práticas, que versam
sõbre os princípios da ação (Moral, Medicina teórica), - e as
ciências pràticamente práticas, que versam sôbre os casos con-
cretos e singulares casuística moral, - medicina prática).
5. Ciências da natureza. - São disciplinas particulares,
incidindo sôbre os diferentes domínios do real. Seu número é
indefinido, e não cessam de multiplicar-se à medida que o es-
tudo da natureza põe em evidência a complexidade dos fenô-
menos naturais. ,.
Podem distinguir-se, entretanto, entre as ciências da natu-
. reza, grandes categorias que comportam subdivisões mais ou
menos numerosas. A classificação das ciências tem por .fím de-
terminar e ordenar logicamente êsses grupos ~u categorias.
,ART. 11. ORIGEM·,E FIM DA
CI~NCIA.ESPtRITO CIENTiFICO
http://www: obras
LóGICA 155
perimentais, tidos pelo tipo da ciência, - .se apre~en~a, na rea-
lidade sob dois aspetos. .Trata-se de explicar, primeiro, a pas-
sagem' do conhecimento empírico ao pensamento científico, ca-
racterizado pelo cuidado de explicação causal rigorosa, - em
seguida, o aparecimento das ciências positivas no século XVII.
1. A passagem do empirismo à ciência. - O positivismo
propôs, para explicar a gênese do pensamento científico, diver-
sas teorias, oriundas em grande parte da mitologia.
a) Lei dos três estados. - A primeira, cronolõgícamente,
dessas teorias, exprime-se na chamada "lei dos três estados",
formulada por Augusto Comte, no Discours sur l'esprit positif.
Segundo êsse filósofo, o pensamento humano teria. passado por
. \ três estados sucessivos: o estado teológico, no qual o homem
"se representa os fenômenos como produzidos pela ação direta
e contínua de agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos,
cuja intervenção arbitrária explica tôdas as anomalias aparen-
tes do universo", - o estado metafísico, em que os agentes na-
turais cedem o lugar a entidades ou qualidades ocultas, tais
como a "leveza", a "gravidade", o "horror do vácuo", o "lugar
natural", etc., - e, enfim, o estado positivo, caracterizado pela
pesquisa das leis dos fenômenos, isto é, de suas relações cons-
tantes, e pelo abandono de qualquer preocupação de determinar
as causas Intimas dos fenômenos".
Nos nossos dias, a Escola sociológica, com Emílio Durkheim,
quis dar a essas perspectivas de Comte um fundamento histó-
rico,. ensaiando provar que as noções .científicas fundamentais
(causa, fôrça, lei, etc.), foram primitivamente de natureza re-
ligiosa. Assim, a idéia de fôrça confundia-se, oríginàriamenté,
com a de maná, ou energia cósmica difundida por tôda parte e
princípio universal da atividade e da eficácia.! ,
.Essas teorias são especiosas e . contêm inúmeras confusões.
Primeiro, a lei de sucessão, formulada por Augusto Comte, não
tem base histórica, pois é fato que ainda hoje coexistem, teolo-
gia, metafísica e ciência positiva, e não apenas coexistem, mas
aparecem como rigorosamente necessáriaspara ,explicação com-
pleta do real. Essa coexistência, não é, de resto, fato nôvo, As
civilizações ditas primitivas possuem, de modo mais ou menos
embrionário, ,simultân~amente,astrês.formas de pensamento
descritas por Augusto Comte, - De outro lado, 'não há continui-
dade real do pensamento teológico. ao pensamento positivo, por-
q~e as duas formas de explicação não se situam no mesmo plano.
i• 'I. Não poderia a primeira, de forma alguma, datnascimerito à
pu"tra, mesmo por intermédio do pensamento metafísico. Tôdas
tres procedem da mesma necessidade fundamental de explicar o
r~:l, ,mas Impl!cam concepções radicalmente diferentes da efi-
CIenCIa. Por ISSO têm podido subsistir conjuntamente, sem
1927~ Cf. p. Essertier, Les formes inférieures de l'explication, Paris,
catolicas.com
156 RÉGIS J OLIVET
hUp://www.obrasc
LÓGICA 157
catclicas.com
158 RÉGIS J OLlVET
'. http:://www.obras
LÓGICA 159
.7 Cf. P.oZitica p08itiva, .I,· 36: "O universo deve ser estudado, não
por êle 'mesmo, mas pela humanidade. Qualquer outro objetivo seria,
na fundo, tão pouco racional quão .pouco imoral"..
· Z8 Cf.: P. Duhem, Le systeme dÍl. Mande. Histoire des doctrines cos-
mo oglques de Platon à Copernic, 5 vols., Paris, 1913-1917.
catoücas.com
160 RÉGIS J OLlVET
sutileza da aparelhagem utilizada, essa experiência poderia ter
sido feita em qualquer momento dos cinco mil anos precedentes.
As noções em jôgo referiam-se apenas aopêso eà velocidade
do deslocamento, noções correntes na vida comum. Tôdas essas
idéias eram, sem dúvida, familiares ao rei Minos de ereta e à
sua família, quando atiravam pedras ao mar, do alto das mu-
ralhas que dominavam as costas, Não conseguimos nós nos ca-
pacitar que a ciência começou com experiências da vida cor-
rente ( .... ) Ela se limitou a estudar as relações que regiam
a sucessão de fenômenos evidentes".
'''Dois séculos antes de nossa era, escreve por sua vez Duhem,
a Astronomia,' a ciência do equilíbrio dos pesos, uma parte da
Óptica, tinham tomado, a forma de teorias matemáticas pre-
cisas, desejosas de satisfazer às exigências do contrôle experi-
mental; muitas partes da Física não tomaram essa forma senão
depois de muitos séculos de ensaios; mas para fazê-lo, não ti-
veram senão que seguir o método pelo qual as primeiras vieram
a chegar ao estado de teorias racionais. '
"A atribuição do título de criador do método das ciências
físicas deu lugar a muitas querelas: uns pretendem atribuí-lo
a Galileu, outros a Descartes, outros a Francisco Bacon, que
morreu sem ter jamais entendido nada dêsse método. Na ver-
dade o método das, ciências físicas foi definido por Platão e pelos
Pitagóricos de seu tempo com uma nitidez e precisão não, ul-
trapassadas; foi aplicado, pela primeira vez, por Eudoxo, quando
tentou, combinando as rotações das esferas homocêntricas, co-
nhecer o movimento aparente dos astros" (Le systeme .du mon-
de, I, págs. 128-129). .
Mas não bastava isso tudo para que tantos esforços che-
gassem ao objetivo, - era necessário que os meios de investi-
gações fôssem mais aperfeiçoados.. Se. a antiguidade e a idade
média falharam em tantas tentativas audaciosas feitas para co-
nhecer "os segredos da natureza", isso se deve, freqüentemente,
à falta de instrumentos apropriados.. O progresso do saber po-
sitivo foi condicionado pelo progresso das técnicas, que só se
podia operar lentamente. Um Tycho-Brahé desenha admirável
mapa do céu sem auxílio de Iunetas--Mas .de que precisões se
tornará capaz a Astronomia desde que. o 'corte de vidros, e a
espectroscopia, colocarem a serviço' dos' cientistas possantes ins-
trumentos de observação! Do mesmo 'modo; não bastou 'a Des-
cartes pôr as' bases do método. positivo para .fazeruma Anatomia
adiantada: faltavam-lhe os instrumentos necessários, que o aper-
feiçoamento do microscópio 'iria fornecer aos .seussucessores.s
Assim, portanto, o aparecimento do saber positivo é con-
seqüência, e não comêço absoluto, Resulta de' um, conjunto de
condições, que foram criadas pacientemente: pelo esfôrço secular
do homem.' Que êle' consista em substituir um método de in-
• 9 Cf. E. Bauer, L,'evolutionde la ph'Jisique et de la philosophie,
pag, 4. .
! '
!
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LOGICA
catolicas. com
162 KEGIS .J OLIVET
http:.f/www.abrase
.
.:;.....
LÓGICA 163
1
atolicas:com
164 RÉGIS J OLIVET
. ' . I
. 13Cf. A. Ç9mte, COUTS de Philosophie Positive, 2.a lição. - A par-
tír de 1848 (Díscours SUT l'ensemble du positivisme), foi a Moral sepa-
http://www.obras l
LóGICA 165
Ir
Êsses tipos gerais nos são dados pela' ontologia natural do
entendimento aplicado à experiência. Exprimem exatamente os
dados físicos intuitivos que estão na base da ciência experi-
.mental e são o resultado da intervenção conjugada da obser-
vação e da esquematízação (ou. abstração) ,. do .mesmo modo que
a Geometria procede; fundamentalmente, do conhecimento in-
tuitivo do espaço. '
158 5~' Sentído e alcance 'da Classíffcação.
'Ji}.
i , ~2 !Jierarquia das ciências. Entre as diferentes categorias
.\i de cIencIasaparecem as ciências intermediárias cada vez mais
numerosas: além de. a Matemática tender a tr~smitir a tôdas
,
I
catolicas.com
166 RÉGIS J OLIVET
as ciências positivas seu modo típico de expressão, conferindo-
-lhes, assim, uma espécie de unidade formal, - entre a Física
e a Química se intercala a Químico-física (Geoquímica, Elec-
troquímica, etc.), depois entre a Química e a Biologia se inter-
cala a Química Biológica; a Psicofisiologia constitui também
uma espécie de intermediário entre a Biologia e a Psicologia
experimental.
Não será preciso concluir que essas ciências intermediárias
preenchem realmente os vazios e suprimem as distâncias que
separam os diferentes grupos de ciências. Significa apenas que
os entes naturais são estudados simultâneamente por diversos
domínios científicos, dado o complexo de suas naturezas: oho-
mem manifesta ao mesmo tempo, por exemplo, fenômenos fí-
sicos, químicos, biológicos, psicológicos e sociológicos. A inter-
dependência de tais fenômenos é que forner> objeto especial às
ciências intermediárias, sem por isso suprimir as diferenças es-
senciais que os definem na sua realidade prôpría.l!
159 b) A unidade da ciência. A classificação das ciências res-
ponde a uma necessidade de unidade, que caracteriza à inteli-
gência humana. Mas a unidade assim proposta. à inteligência,
como vimos, é a de uma ordem ou de uma: hierarquia, que deixa
subsistir as diferenças essenciais que distinguem as diferentes
ciências ou categorias de ciências entre si, por causa dos objetos
essencialmente diferentes que estudam, A classificação não sig-
nifica, portanto, que ,se possa passar. duma ciência à outra sem
introduzir um elemento radicalmente nôvo, isto é, que seja pos-
sível reduzir as ciências superiores às inferiores. Ao contrário,
cada escalão introduz um elemento irredutível aos precedentes: '
a Mecânica introduz a idéia de movimento, que não está incluída
na noção de ,Matemática (que trataapenaada quantidade), e
o fato de o movimento poder ser expresso emtêrmos de espaço
não justificaria uma assimilação essencial. dessas duas realida-
des; do' mesmo modo, a Biologia introduz a ídêía de vida, que
as ciências Físico-químicas não têm' de modo algum ;as ciências
morais, por sua vez, introduzem a noção de atividade inteligente
e livre,. que éde ordem inteiramente nova em relação às' pre-
cedentes. .
. Convém observar, de outro lado, que..está .classificação "visa .
unicamente. às ciências positivas, ou suscetíveis' de serem tra-
tadas, ao m~nos até certo ponto, segundo os.'métodos positivos,
- deixando, portanto, fora de iperspectíva," a Filosofia. .Esta,
que tem objeto próprio, e mesmo o mais geral de: todos, con-
. serva o seu lugar, acima de tôdas asciências, particulares, e à
parte dessas ciências, como a ciência suprema da ordem natural.
Vê-se o que se hã.de entender por unidade da ciêncil:i. Essa
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CAPíTULO IV
OS DIFERENTES MÉTODOS
162 1. O método depende do objeto das ciências. - Compre-
ende-se que cada categoria de ciências, irredutíveis, por defi-
nição, às outras categorias, exija o emprêgo de método distinto. f';
O método a empregar, numa ciência, depende, efetivamente,
da natureza do objeto dessa ciência. Não se estuda a inteligên-
cia, que é imaterial, pelos mesmos processos utilizados para co-
nhecer o corpo e seus órgãos. O estudo da vida postula métodos
outros que o estudo da matéria inorgânica, ou da pura quanti-
dade abstrata. _ _
Convém, portanto, definir os diferentes métodos em uso
nas ciências, e descrever seus processos característicos.
2. Métodos-tipo."'-- Teoricamente há tantos métodos quan-
tos grupos de ciências admitidos na classificação dada acima,
Notamos que aquela classificação, entretanto, pode ser reduzida ..
~
http://www.obrasc
LÓGICA 169
§ 1. NoçÃo DE MATEMÁTICA
A. Definições.
.atolicas.com
170 RÉGIS J OLIVET
tal modo que essa correspondência pode ser expressa sob forma
analítica por uma equação [y = f (x)].
A noção de função ganhou extensão considerável, a. ponto
de tôdas as ciências positivas se dedicarem à determinação das
funções ou das relações constantes entre fenômenos, esforçan-
do-se por exprimir essas relações sob forma de aquisições algé-
bricas. Daí o aspeto simbólico, cada vez mais característico das
ciências da natureza.
165 c) Análise. Sob o nome geral de Análise, designa-se o
conjunto das ciências matemáticas que estudam as relações de
dependência existentes entre diversas grandezas, isto é, o cálculo
infinitesimal, a teoria geral das funções, a teoria dos conjuntos
e o cálculo das probabilidades. Falaremos abaixo do cálculo in-
finitesimal. A teoria geral das funções estuda as leis da cor-
respondência entre números, isto é, as leis que definem a de-
pendência de .uma quantidade qualquer em relação a uma ou
várias outras quantidades (chamadas variáveis). - A teoria dos
conjuntos se. subdivide em dois grupos: .a teoria dos conjuntos
finitos (ou dos conjuntos cuja multidão de elementos pode ex-
primir-se por uni número da série indefinida dos inteiros - 1,
2, 3... ), - e a teoria dos conjuntos transfinitos (um conjunto
é chamado transfinito quando a multidão de seus elementos não
se pode exprimir por um número inteiro: por exemplo, o pró-
prio conjunto dos números inteiros). '
1866 18ào 1890 1900 ,91Ó 19110 1930 1940 1950 19&5
, ~
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"""'" v
~
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~ .."·..·.e.. I'M
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,
1866 1880 1890· 1900 1910 1920 1930 1940 195.0 196~
. . . . . Fig; 8 ' .
Gráfico mostrandoo declínio da natalidade francesa de 1866 a 1932.
O traçado pontilhado .índíca. qual teria sido a natalidade na França, de
. 1932 a 1965, se .ela continuasse a diminuir seguindo 'o mesmo ritmo. :
. ' , < ' - '
http.ówww.obras.
LÓGICA 171
htfp'J/www.obra.se
LÓGICA 173
As aplicações dêsse processo são inúmeras. Em Física, par-
ticularmente as leis ou fórmulas podem exprimir-se por curvas
regularesJ re'presentando as relações definidas de duas grande-
zas variáveis (da pressão e do volume, por exemplo).
c) Cálculo infinitesimal. Êste processo de cálculo, des-
coberto por Newton e Leibniz, traz nôvo progresso no estudo
Ir.; das funções, aperfeiçoando grandemente o cálculo do contínuo
..
4':
~.," .. pelo número. A dificuldade que subsistia, depois da descoberta
"'1,.- da Geometria Analítica, era que o número, com ser descontínuo,
não podia traduzir as va- y ~
riações contínuas de uma ~
grandeza (ou de uma cur- Q'" -"'-~;"""-"'-----'7
va), pois que cada cifrare- . ~ /i
presentava um momento ou
um valor fixada curva ou
Q".. -':~-'-'''''''''''7'~ M
~ x
LM,
: : 1,
da grandeza, não, porém, a ~ ! ~
passagem de uma posição 2. : y ! y'
ou de um valor ao outro. O ~ :
artifício consistiu, aqui, em
supor; de início, acréscimos
quantitativos infinitamente
pequenos' (isto é, menores _-t- Eixo i das, :abscissas
I_--i.-
...
do que qualquer número
N N' x
dado) , depois acréscimos °
infinitesimais correlativos Fig. 10.
Jl x, ,f!" y, de duas variáveis x, y, funções uma da outra, entre as
quais se observam relações fixas, permitindo estabelecer regras
por meio das quais se passa das diferenças indefinidamente de-
crescentes (ou diferenciais dx,dy) às relações ,das quantidades fi-
nitas: Assim às operações matemáticas, destinadas a determinar
as relações existentes entre grandezas finitas pela consideração
de quantidades infinitesimais, faz intervir um número que se tor-
nou, enquanto quantidade fluente (segundo a palavra de New-
ton) , símbolo do próprio movimento das grandezas contínuas.ê
.c, Origem.
168 1. ,Dois problemas de origem; ..:- O problema da· origem
das noções matemáticas pode ser considerado do ponto-de-vista
psicológico e do ponto-de-vista' crítico.. 'Êsses dois pontos-de-vis-
ta, como já notamos diversas vêzes (32), são. de todo diferentes.
A origem .empírica ou psicológica de uma noção não explica sua
origem radical ou seu 'fundamento, racional: não explicamos à
ai> extr~~idades superiores de, tôdas essas verticais, dá o quadro ou
sm al gra~ICQ da ligação 'que .subsíste entre as duas grandezas variáveis.
S e es.sa Iígação comporta uma expressão simples,' chamar-se-á fórmula
ou lei; senã"o, será apenas. um jato empírico. Em todo caso o modo de
represe!ltaça'Ocolocará 'em evidência o procedimento geral 'das variações
e 0\ aCIdentes de deta.lhe';'. ..: ' .
Cf. R. Taton, Hlstolre ducatcut; Paris, 1946, -págs. 43-125.
.atolicas.corn
174 RÉGIS J OLIVET
gênese das noções abstratas mostrando como à criança, pouco
a pouco, as adquire; nem a do número, mostrando que alguns
"primitivos", assim como as crianças, se servem dos dedos para
contar. O conceito de número, como tôda noção abstrata, exige
uma elaboração que ultrapassa os meios das crianças e do pri-
mitivo, embora seja claro que êsse conceito está implícito, já,
nas operações simplíssimas que êles realizam.
2. Matemática e experiência.
http://www.obrasc
LÓGICA 175
corpos que os manifestam, e tratados assim como puras essên-
cias o que explica sua perfeição formal. O processus de for-
ma~ão das noções matemáticas é, assim, tão-somente, um caso
particular do poder de abstrair, próprio à inteligência humana.
O geômetra pode bem tratar de superfície sem espessura,
de círculos perfeitos, de linhas absolutamente retas, de espaço
homogêneo, etc., imaginando tirar a G~ometria de sua cabeça:
na realidade, sem o saber, o que faz e apenas estudar certas
propriedades de extensão da matéria, abstraídas preliminar-
mente da experiência. Dêsse ponto-de-vista, todo o aparato mate-
mático independentemente mesmo do matemático, está baseado
materi~lmente em propriedades físicas e depende formalmente
do jôgo da abstração. Poder-se-ia dizer, usando uma expressão
de L. Brunscvicg, que a Matemática implica uma "objetividade"
sem "objeto".. Mas aí está, precisamente, a definição do que há
de mais geral no processo da abstração (146).
169 c) Teoria axiomática. Segundo B. Rússel (Principia ma-
thematica) , a Matemática é essencialmente axiomática, isto é,
constitui uma ciência puramente hipotético-dedutiva, que eli-
mina totalmente a intuição sensível e a experiência e visa re-
construir livremente seu objeto por meio de proposições inde-
monstráveis (axiomas), combinadas entre si segundo tôdas as
possibilidades e com o máximo de rigor. Dêsse ponto-de-vista',
nota Rússel, a Matemática considera apenas' relações lógicas pu-
ramente formais, e pode dizer-se que seu estudo é tal que "ig-
noramos do que falamos e que não sabemos se o que dizemos é
verdade".
Não há como contestar o valor e o êxito do método axio-
mático, não apenas em Matemática pura, como também nos di-
versos domínios da Matemática aplicada (especialmente em Fí-
sica teórica). Mas em B. Rússel, não se trata apenas de método
axiomático, antes de uma teoria sôbre a origem dos objetos
matemáticos (números e figuras) e, em geral, dos universais (47-
48). Tal teoria é de tipo platônico: para B.Rússel, os universais
subsistem fora do. pensamento; são apreendidos de fora e não
"construídos": em 1 + +
1 = 2, o sinal. só designa uma relação
entre duas unidades, e de' modo algum uma. operação originando
,o número dois. .
Notamos que essa opinião desconhece-o papel da intuição
na formação das noções . matemáticas. Precisando a natureza
dessa intuição, .precisaremos também o papel da experiência em
~atemática. Por intuição não Se há de entender uma intuição
mteligível do mundo platônico, que já excluímos, nem tampou-
cp a intuição sensível,como tal, que incide primeiro sôbre qua-
lidades. A intuição que dá origem à Matemática é uma forma de
abst~aç~o imaginativa, que abstrai a quantidade das qualidades
senslVelS que suporta, e que constrói, a partir dêsse abstrato, es-
r , quemas gerais (essências e 'propriedades) do mundo da quanti-
atolicas.corn
176 RÉGIS J OLlVET
§ 2. PROCESSOS DA MATEMÁTICA
http://www.obras
LOGICA lo/I
catolicas.com
178 .H.EGIS .J OLIVET
I
sências numéricas ou geométricas necessárias e imutáveís.. que
se poderiam considerar, inclusive, a. priori, neste. sentido que
são universais e independentes das formas concretas que, as
podem traduzir na experiência ou na imaginação. .
, 2. Axiomas. -:- Axiomas são princípios imediatamente' evi-
dentes, resultantes' da aplicação do princípio' de identidade à
. ordemda quantidade. Exemplo: duas quantidades iguais a uma
mesma terceira são íguaísentre si; se,de duas quantidades
iguais, se subtrai uma mesma quantidade, à igualdade perdura.
Os axiomas são verdades puramente formais, de. que 'se po-
dem deduzir conseqüências, como se faz com as definições. Como
aplicações imediatas. do' princípio de identidade à ordem da
quantidade,. isto é, como leis 'mais gerais. do ser quantitativo
como tal, os axiomas se encontram envolvidos em, todos os
sCf. Pascal. FragmentDe l'esp~it géometTi'que,ed. Brunschzicg,
pâgs, 164 e segs,
http://www.obras
LÓGICA 179
catolicas.corn
180 RÉGIS J OLIVET
tiano, Henri Poincaré definiu os postulados como convenções
cômodas. - A geometria euclideana, dêste ponto-de-vista, va-
leria apenas pela maior simplicidade que tem (La science et
l'Hypothese, pág. 67). Não se deve entender, entretanto, con-
venção como arbitrário. A "comodidade" dos postulados é bem
o resultado, em certo sentido, de sua objetividade: se a geome-
tria euclideana é a mais cômoda, isto decorre de "concordar ela
tão bem com as propriedades dos sólidos naturais" (ibid., pág.
67), encontrando-se assim, ao mesmo tempo, sugerida e garan-
tida pela experiência.
d) Postulados e experiência. Pareceria, em suma, mais
exato dizer, que os postulados são sugeridos pela experiência
como hipóteses muito gerais, que se não verificam diretamente,
e, sim, através das conseqüências que implicam. Têm, assim,
uma espécie de necessidade, decorrente de sua relação mais ou
menos imediata com as essências geométricas ou físicas a que
se aplicam, e cujas propriedades exprimem. Essa necessidade
permanece, entretanto, hipotética, pois é manifestada apenas pela
fecundidade lógica (ou prática) dos postulados. - Quanto às geo-
metrias não-euclideanas, delas falaremos em Cosmologia. Ob-
;
servemos apenas, agora, que, como seus postulados são puras
convenções arbitrárias; elas constituem, dado o caráter pura-
mente formal que têm, casos particulares, não generalizáveis.
I; Se a Mecânica partisse de postulado contrário ao princípio de
il
I
inércia, poderia desenvolver-se de maneira coerente, pois os pos...
tulados são apenas, segundo a expressão de H. Poincaré, "defi-
nições disfarçadas"; Irias ela se chocaria constantemente com
1 os desmentidos da experiência, dado o caráter arbitrário (não
experimental) das convenções iniciais, isto é, das defíníçôesf
I § 3.· A DEDUÇÃO MA'rÊMÁ~CA.
http://www.obrasc
LÓGICA 181
dos raios, que define o círculo, mas resulta dela. Não se trata
de estar um conceito implicado em outro, ou um juízo em outro,
e, sim, da dependência de um juízo em relação a outro" (Lógica,
pág. 257).
Tais observações têm o defeito de negligenciar. o fato de
não se limitar o silogismo às relações de inclusão. O silogismo
incidesôbre as relações necessárias, sejam de causa para efeito,
de princípio para conseqüência, de natureza para propriedades:
e por conseguinte, -êle considera a dependência dos juízos entre
si (100). Cada vez que o silogismo incide sôbre as propriedades
de uma coisa, então, todo Seu ofício consiste em mostrar, não
que essas propriedades estão contidas na coisa, mas que dela
resultam necessàriamente (66; 86). Dêste ponto-de-vista, por-
tanto, o raciocínio matemático seria apenas um caso particular
do raciocínio silogístico. 10
Contra essa maneira de ver, invoca Lachelier (Études sur
le syllogisme) a seguinte forma de raciocínio matemático:
A > B, B > C, logo A > C. ~sse processo seria irredutível à
silogística, pois versa apenas sôbre casos singulares e implica
pelo menos quatro têrmos (A - maior que B - B - maior
que C). -Repousa, no entanto, esta objeção; sôbre um equí-
voco. Lachelier, e depois dêle inúmeros lógicos modernos, não
viram que o raciocínio em questão é incompleto e subentende
uma maior que exprime uma propriedade universal, da qual o
caso em exame é apenas uma aplicação particular. É aquilo
que já ocorre no caso de igualdade transitiva (a = b,. b = c,
portanto a = c), que é apenas uma aplicação imediata do prin-
cípio lógico do mesmo terceiro (85). Não há aqui senão o caso
particular de uma propriedade que vale universalmente de todos
os sêres que integram uma multidão ordenada (isto é, o gênero
de multidão em que cada parte tem, relativamente a uma outra
parte qualquer, uma relação de antes e depois). Essa proprie-
dade é transitividade e exprime-se: se a está antes de b
(aqui: > b), e se b está antes de C (>c), a está antes de
c (> c): Ora, isso se reduz aos dois silogísmos seguintes:
,1.0 Tudo .que está antes' (que é maior) que um ser que
esta antes de c, está antes de c.
Orà, b é um ser que está antes de c.
Logo, todo ser que ·.está .antes de b, está antes' de c.
2.0 Ora,.a é um ser que está .antes de b. -Logo, a está an-
tes de c. . '.
A maior do primeiro silogismo resulta imediatamente do
princípio:':todo. anterior a .um anterior é; a fortiori, anterior"
(tudo que e maior do que algo maior é, a fortiori, maior). (Cf.
R. Le Mass~p, Philosophie des Nombres, Paris, 1932, págs, '34-35).
b) O poder crw.dor" da Matemática. H. Poincaré afir-
m.ou que ·0 silogismo -seria "uma imensa tautologia", incapaz
n. OlI 1;6l..i73~ argumentação de E. Goblot, Traité de Logique <l.a ed.),
catoucas.com
182 RÉGIS J OLIVET
de acrescentar nada aos dados que recebe, ao passo que a de-
monstração matemática teria de si mesma uma espécie de vir-
tude criadora (Lascience et Z'Hypothese, pág. 10). - Há nisso,
no entanto, duplo equívoco. Vimos, de um lado, que o silogismo
é verdadeiramente fecundo (99). De outro lado, se a Matemá-
tica é "criadora", num sentido que não convém a tôdas as es-
pécies de raciocínio dedutivo, isto decorre do caráter especial
do seu objeto, que é puramente ideal: a Matemática procede por
construções que estão submetidas apenas às leis da coerência
formal, ao passo que nos outros domínios o pensamento não
tem tanto de construir quanto de descobrir. A descoberta, aliás,
não pede menos engenho do que a construção, e a fecundidade
da inteligência nela se manifesta tanto quanto no domínio ma-
temático.
175
A B
-------.
http://www.-obras
LÓGICA 183
catol icas.com
184 RÉGIS JOLIVET
§ 4. PAPEL DA MATEMÁTICA
http://Www.obraSl
LÓGICA 185
De outro lado, a natureza funcional das leis permite apli-
cações indefinidas. G:raças à equação em que se exprime a. ~ei,
pode determinar-se, mdependentemente de qualquer experren-
cia concreta, que resultado se deve atingir para tal valor nu-
mérico das variáveis, e, inversamente, que valor devem receber
as variáveis para tal resultado procurado. Todos os formulários
dos engenheiros são decorrências dêste princípio.
católicas. com
186 RÉGIS J OLIVET
SUMARlO. 14
. § 1. NOÇõES GERAIS. - Ciências experimentais. - Divisão. - Ciên-
cias físiec-quimicas e ciências biológicas. - Da divísâoiem ciên-
cias físicas e ciências naturais. - Fases da ciência experimentais.
- Descríção e classificação. - Indução. - Dedução. .
http.Zwww.obrasc
LóGICA 187
§ 1. NOÇOES GERAIS
A. Ciências experimentais.
atolicas.cóm
188 RÉGIS J OLIVET
.http.ówww.obras
LÓGICA 189
mulas matemáticas rigorosas. A princípio deve imaginá-las sob
a forma de hipóteses ou de idéias antecipadas, segundo a pa-
lavra de Claude Bernard, as quais, a seguir, seriam verificadas
e controladas por experiências mais ou menos numerosas, cons-
tituindo esta a fase da experimentação. ~sse processo, do ponto-
-de-vista do fim procurado, é propriamente indutivo, neste sen-
tido que visa a formular leis universais, que são generalização
de ;elações fenomenais singulares, reconhecidas como objetivas
e reais. Mas isso não significa que a dedução esteja inteiramente
excluída: veremos, ao contrário, que a experimentação consiste,
na maior parte das vêzes, em controlar conseqüências deduzidas
da hipótese anteriormente formulada:
A indução, portanto, ao mesmo tempo que permite for-
mular leis, permite substituir, definições e classificações pro-
visórias, da fase descritiva, por definições e classificações de-
finitivas (de direito, senão de fato). Estas, evidentemente, só
podem resultar do conhecimento certo e preciso da natureza
dos fenômenos, que só é dado realmente ao cabo da investigação
científica.
3. Dedução. - A indução tende naturalmente à maior
universalidade possível. Não se' satisfaz a ciência com o esta-
belecimento de diversas leis particulares: esforça-se, ainda, por
reduzi-las à unidade de uma lei superior e mais geral, formu-
lando novas hipóteses, que recebem o nome de teorias cientí-
ficas: as leis particulares aparecem, então, como conseqüências
múltiplas dessas teorias. Neste passo é que se exercita parti-
cularmente a ambição fundamental da ciência de se constituir
em disciplina 'dedutiva. Tal ambição se encontrará tanto mais sa-
tisfeita se as teorias permitirem passar, por dedução, a conse-
qüências verificáveis, que aumentar nosso conhecimento do real.
,'§ 2. PROCESSOS
scatolicas.corn
190 RÉGIS J OLlVET
, http://www;obra~
LÓGICA 191
scatolicas.com
192 RÉGIS J OLIVET
http://www.obra:
LÓGICA 193
scatolicas.corn
194 RÉGIS J OLlVET
J.1 qüência tal por segundo; a eletricidade, em desl~camento men-
surável numa escala de galvanômetro, de amperímetro, de vol-
tímetro etc.' o calor, pelo nível do mercúrio num tubo de vidro,
etc. O que ~etém já agora a atenção do cientista não é mais o
fenômeno em geral, mas a forma matematizada com as .suas
variáveis. Para êle, as propriedades físicas se reduzem rigo-
rosamente à descrição do seu processo de medida.
O artifício da medida, de outro lado, permite à oiência des-
cobrir fatos inacessíveis à intuição sensível. Revelou a expe-
rimentação aspetos do real para os quais não dispomos de ne-
nhum aparelho sensorial: exs., pressão atmosférica, potencial
eletrostático. Temos assim um'a massa de fatos científicos que
só se apreendem sob a forma quantitativa; pelas variações men-
suráveis de instrumentos-testemunhos.1 5
191 b) O fato científico é um fato abstrato. :É abstrato em
diversos sentidos. Primeiro, enquanto isolado do conjunto em
que normalmente é encontrado. A ciência procede por cortes e
sistemas fechados, isto é, por processo que tende a distinguir
grupos de acontecimentos ligados mais pelo significado do. que
pela localização em tal ou qual ponto do espaço. Por isso mesmo
,I,Ili ela' imobiliza o que é móvel e esquematiza o real sensíveL -
:I Segundo, 'é abstrato enquanto, por redução aos elementos comi-
li
,I
tantesque o caracterizam, é o fato científico levado a um grau
i: de generalidade que faz dêle o substituto e o símbolo duma es-
:\ sência abstrata e universaL A forma matemática leva ao ex-
:1"
tremo, êsse caráter abstrato das noções e das leis científicas.
1
::)1
'I," A fórmula ~ ph = ~ --:----- mv2 exprime, em todos os casos
2
I: possíveis, o trabalho realizado pela queda dos graves.
'I
192 c) O fato científico.é um fato interpretado (ou. "raciona-
nalizado"). - Algumas 'vêzes se' disse que, o fato. Científico é
um "fato construído". Isto é verdade, no entanto, de qualquer
espécie de fato, num sentido que ai Psicologia .e a Crítica expli-
carão. O fato científico é, além do mais, um fato capaz Ide
entrar num sistema ou numa lei, o, que vale .dizer que sua in-
teligibilidadeé relativa a êsse sistema ou a essa lei. :E:le cons-
titui, portanto, um só corpo com a sua interpretação; ·é até
mesmo constituído, em grande parte, por essa interpretação' ou
por essa "racionalização" 16 Em alguns casos os fatos científicos
15 A matematízação das ciências físicas se introduz na categoria das
"ciências intermediárias" dos antigos (scientiae' mediae). 'Elas -se tornam
matemáticas quanto à forma, permanecendo' físicas quanto à matéria.
Do ponto-de-vista da explicação (empírica), aproxima-se mais. da Ma-
temática; do ponto-de-vista do objeto (que é sempre, 'em última aná-
lise, o real móvel" e sensível, como 'tal), são mais físicas do que mate-
máticas(Cf. Sto. Tomás, In Boeth. De Trinitate, cf. V, art. 3 ad '6). \
16 Cf. Duhem.' La théorie physique, pág. 277: "Em Física não há'
mais que pensar em deixar à porta do laboratório atearia qu~ se quer
http://www;'obras l
LÓGICA 195
têm apenas caráter teórico ou valor de sinal: tais, por exemplo,
o éter as ondas elétricas, as ondas luminosas, etc.'? A parte de
experiência bruta que o fato científico conserva é como que o
núcleo de objetividade pura que se poderá adaptar, quando ne-
cessário a um outro simbolismo matemático ou a uma outra
teoria ffsica. A ótica, com as teorias da emissão (Newton), da
ondulação (Fresnel) e a Mecânica ondulatória (L. de Broglie),
ilustra de modo nítido êsse caráter do fato científíco.ls
B. .A hipótese.
193 1. Noção.
a) Definição. Uma vez bem estabelecidos os fatos, trata-se
de descobrir a lei da manifestação e do encadeamento dêles,
isto é, de explicá-los, no sentido em que êste têrmo se emprega
nas ciências da natureza (146) .•,A ciência é feita de fatos, es-
creve H. Poincaré, como a casa é feita de pedras; mas a acumu-
lação de fatos não é ciência, tanto quanto a' acumulação de
pedras não é casa (.,.) Os fatos nus não poderiam bastar-nos:
é-nos preciso a ciência ordenada, ou, antes, organizada" (La
seience et L'hipothese, págs. 168-170). Ora, a explicação dos fatos
não é evidente: O cientista, para concebê-la, é forçado a recor-
rer primeiro a Uma hipótese, que constitui uma explicação pro-
visória dos fenômenos observados.
A hipótese, como se vê, é um processo a posteriori. Haja
embora antecipação da lei e, por conseguinte, risco de êrro, nem
por isso se pode dizer, como Goblot (Logique, pág, 295), que a
hipótese é um "passo arbitrário do pensamento", um "salto no
desconhecido", AQ contrário, deve ela ser sugerida pelos pró-
prios fatos, e a êles adaptar-se tão exatamente quanto possível.
experimentar, porque, sem ela, não é possível regular um só instru-
mento, interpretar uma só leitura. Dois aparelhos estão 'constantemente
presentes ao espírito vdo Hsico que experimenta: um, o aparelho con-
creto, de vidro, de métal, que êle. manipula; outro, o aparelho abstrato
e esquemático que a teqria põe em lugar do aparelho concreto e sôbre
o qual o físico raciocina; essas duas idéias estão indissoluvelmente li-
gadas em sua inteligência; uma postula necessàriamente-a outra; assim
como um francês não pode conceber uma idéia sem associar-lhe a pa-
lavra francesa que a -exprime, assim o físico não mais pode conceber o
aparelho concreto sem associar-lhe a noção do. aparelho esquemático.
Tal ímpossíbilídade radical, que impede de dissociar as teorias da Fí~
sica dos processos experimentais próprios para .controlar essas mesmas
teorias, complica singularmente êsse contrôle".
17 A, onda, escreve o sr .. Louis de Broglíe (Int. à la mécanique on-
dulatoire,' Hermann;pág; XIII) é apenas "uma simples representação
simbólica .daquilo -que sabemos sôbre o corpúsculo", .
18 J. Maritain (La Philospphie de la Nature,..págs.99 e seg.) propõe·
que.vse distingam, nas ciências da inatureza, a análise empiriométrica,
pela. qual se' traduz o sensível em fórmulas matemáticás,' e a análise
empirioesquemática, pela qual os conceitos (ou esquemas) cientificas
se resolvem no observável como tal, sem ficar sob a regra da. explicação
matemática. .
catolicas.com
196 RÉGIS J OLIVET
Ela tem, portanto, de si mesma, um caráter de probabilidade:
e o grau de probabilidade dela é função dos fatos experimentais
que a apóiam. .
b) . Papel da hipótese. A hipótese, dissemos, é apenas uma
explicação provisória. Sua finalidade é essa, e comporta dois
aspetos diferentes. De um lado, ela serve para dirigir o trabalho
do cientista (papel heurístico): ajuda-o a imaginar os meios a
usar e os métodos a empregar para prosseguir a pesquisa e
chegar à certeza; é ela, portanto, princípio de invenção e' de
progresso. - De outro lado, a hipótese serve para coordenar
os fatos já conhecidos (papel sistemático): põem em ordem os
materiais acumulados pela observação; sem ela, diz Claude Ber-
nard, "só se poderiam ajuntar observações estéreis", ao modo do
simples empirismo.
194 2. FORtes da hipótese. - Serão devidas quer a fatôres .ín-
ternos, que se resumem no talento do cientista, quer a fatôres
externos, como o acaso ou as circunstâncias concretas da ob-
servação.: Mas os fatôres externos dependem da sagacidade e
do engenho do cientista, assim que é sempre ao "coeficiente
pessoal" que se há-de atentar. .
a) O talento do cientista. É a condição primeira da inven-
ção. Por isso não há regras para a invenção, como não as' há
.para ter talento. A invenção decorre na maior parte das vêzes
de uma espécie de iluminação súbita ou de intuição adívinhadora
que traz ao cientísta uma luz inesperada. Assim descobriu. Ar-
quimedes, subitamente, ao banhar-se, que os corpos imersosre-
cebem um impulso de baixo. para cima produzido pelo líquido
em que são imersos. E. LeRoy escreve: "nada há a responder
àqueles que perguntam como fazer para inventar. É ilusória
qualquer esperança de .um mecanismo. Valeria tanto quanto
:procurar uma técnica da criação. O talento é original, autônomo,
indisciplinável, sempre pessoal e imprevisto" (La tpeneée intui-
tive, t. Il, Paris, 1930,.pág. 78). i
e
É preciso observar, entretanto, que o gênio fruto, em gran-
de parte; de reflexão e de paciência. '~ a lição dos grandes .in-
. ,ventores. H. Poincaré .faz notar quê, se é certo que a invenção
se produz· freqüentemente através duma inspiração súbita, é
também certo que sob certo aspeto ela é apenas o .desabrocha-
.mento ou a recompensa de longo trabalho anterior.
. b) Dissociação e associação. Os fatos são apenas a matéria
,o'
I
bruta sôbre que se aplica o talento. do cientista, É preciso in-
I' terpretá-los e, para isso, associá-los e .dissociá':los.A dissocia-
h ção é o primeiro passo na procura de uma. hipótese inteligível,
I' pois tôda síntese nova provém de uma análise erítíca da ex-
'", periência. O poder inventivo do cientista se mede em parte pela"."
aptidão para dissociar os. grupos de famílias de fenômenos, para
reduzir aos materiais primitivos aserquiteturas .comuns, para
escapar à tirania do já feito. Th. Ribot (Essai sur l'imagination
.' http://www.obrasc
LÓGICA 197
créatrice pág. 19) observa que "é um trabalho análogo àquele
q u e , em'Geologia, produz novos terrenos pela deterioração das
velhas rochas " .
Dissociar não basta. O simples espírito crítico não conduz
necessàriamente à invenção. Esta brota mais freqüentemente
duma aproximação e se apresenta como uma síntese. O acaso
contribui às vêzes.
Galvani amarra os membros de uma rã esfolada a uma
barra de ferro, servindo-se de um fio de cobre, e observa com
grande surprêsa, ao fazê-lo, que os membros se convulsionam
em contato com o ferro. Foi êsse fenômeno devido ao acaso que
levou Volta a supor que basta o contato de dois metais diferentes
para produzir eletricidade. - Foi também por acaso que Roent-
gen notou que o funcionamento do aparelho de raios catódicos
provocava a fluorescência do platinocianureto de bário, - ob-
servação que levou à descoberta dos raios X. - O mesmo acon-
teceu com a descoberta da penicilina, em 1928, por Alexandre
Fleming, a partir da contaminação acidental de uma cultura
microbiana por um bolor de cogumelo. Observou Fleming que
ela destruía a flora microbíana adjacente.
Os casos de acaso, entretanto, são excepcionais. Normal-
mente o cíentísta trabalha ativamente para construir sínteses
possíveis, valendo-se das analogias que permitem aproximar fe-
nômenosafastados.
J .. ,
Foi 'assim que Newton comparou o fenômeno da queda de
uma maçã ao da atração dos planêtas pelo sol; Franklin, o raio
a uma centelha elétrica. '
c) Dedução. Também a dedução intervém freqüentemente
no comêço da hipótese, fazendo surgir conseqüências até então
não percebidas de fenômenos ou de leis já conhecidos.
195 3. Condições de validade. - Antes de qualquer verificação,
deve a hipótese satisfazer às seguintes condições, para ser to-
madaern consideração:
a) Deve ela ser suçeruia, e .verificável,. pelos fatos. Aca-
bamos de ver que .a hipótese não .é um simples arbítrio: deve
nascer, de' qualquer modo, dos fatos observados; Éo sentido da
expressão de Newton, tão freqüentemente citada: Hypotheses
non ftngo.- De outro lado, a hipótese não deve ser absurda,
isto .~ é, contraditória em 'si mesma. Não quer dizer que ela não
possa 'contradizer outras hipótesés admitidas antes.. Na reali-
d.ad~, ~a ciência progride na maior parte -das vêzes -pela subs-
títuíção deteorias antigas por hipóteses novas, mais explicativas.
A verificação da hipótese depende também evidentemente,
da ~~periênCia. Uma hipótese que não" comp~rtasse nenhuma
especie de _verificação 'experimental não poderia ser tomada em
conslder,açao, - Entretanto, 'cabe observar. que a verificação di-
~eta ~e~s~ml?re ,é possível e gue é preciso, nesse caso, recorrer
venficaçao indiretá, que consiste em controlar as conseqüên-
atolicas.com
198 RÉGIS J OLIVET
cias de ordem experimental que podem deduzir-se da hipótese.
Foi o que fêz, por exemplo, Galileu, para a lei das velocidades:
verificou, com o auxílio do plano inclinado, a conseqüência que
dela deduzira sob o nome de "lei dos espaços".
É preciso ir ainda mais longe e observar que a verüicação
pode às vêzes resultar do valor sistemático da hipótese tão-so-
mente. Não se podem verificar de outro modo as grandes teo-
rias. Essa verificação, aliás, pertence, em certo sentido, ao plano
experimental, pois é a capacidade da teoria para unificar o má-
ximo de leis possível que lhe fundamenta a legitimidade e o valor.
b) A hipótese deve ser simples. Neste sentido, que entre
várias hipóteses, o cientista escolherá normalmente a que lhe
parece menos complicada. O princípio em [ôgo aqui é o da sim-
plicidade das vias da natureza (princípio que, para a ciência, é
apenas um postulado). Mas simplicidade é um conceito ambí-
guo. Há uma simplicidade que é pobreza, há uma simplicidade
que é riqueza: o mecanismo da visão é simples, enquanto per-
feitamente uno, mas prodigiosamente complexo nos diferentes
órgãos. O critério da simplicidade parece, portanto, de difícil
manipulação.
I
i
C. Experimentação.
196 1. Noção. - Consiste a experimentação no conjunto de
i
I processos usados para verificar as hipóteses. 'Como vimos acima
(188), difere da observação por obedecer a' uma idéia diretriz,
I, e não apenas, como às vêzes se diz, por implicar a intervenção
do cientista com o propósito de modificar os fenômenos.
I 2. Princípio geral da experimentação. - Eis a idéia geral
I que dirige os métodos de experimentação: como a hipótese con-
siste essencialmente em estabelecer relação de causa e efeito,
ou .de antecedentee conseqüente, entre dois fenômenos (ou dois
grupos de fenômenos), trata-se de descobrir se realmente B
(suposto efeito ou conseqüente) varia cada vez que se faz variar
A (suposto causa ou antecedente); e se varia nas mesmas pro-
porções que A. . • '
. Noutras palavras, trata-se de separar, na massa complexa
das relações existentes entre dóis fenômenos ou dois grupos de
fenômenos,. as. que são realmente essenciais, eliminando, para
isso, aquelas que são apenas acidentais. Não sepodé fazer isto
a priori, evidentemente, por causada nossa ignorância das es-
sências reais. É preciso, portanto, proceder a posteriori;por
experimentação, tomando por critério do essencial a constância
das, relações fenomenais, isto é, apoiando-se sôbre o princípio
do determinismo, 'que' assim se enuncia: nas mesmas circuns-
tâncias, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos,bU' é,n-
tão: as leis da natureza são constantes.
.http::f/www.obras
LÓGICA 199
.catolicas.com
200 RÉGIS J OLlVET
~I:
do método experimental". A complexidade, efetivamente, se
encontra em tôda parte nos fenômenos da natureza; e cresce à
medida que a ciência progride.
I:
cordância, através de uma espécie de ·contraprova. Consiste em
i observar dois casos tão semelhantes quanto possível, e tais, que
'
difiram apenas por um elemento. Se o fenômeno se produz num
dos casos, e não se produz no outro, êsse elemento será o an-
i!
tecedente procurado. Exemplo: as experiências de Pasteur, re-
lativamente à geração espontânea. Dois frascos, de idêntica na-·
tureza, são colocados nas mesmas condições de temperatura, du-
rante o mesmo tempor- um, porém, fechado; I:> outro, aberto.
No aberto se produz uma fermentação; no fechado, não. Pasteur
conclui que a fermentação foi devida aos germens trazidos pelo ar.
~sse método é de emprêgo mais restrito do que o método
de concordância, pois implica, em geral, a 'intervenção do cien-
tista para suprimir a causa suposta, a fim de verificar se o
efeito continua, o que nem sempre é possível em Física, -.De
outro lado, êsse método é .de ·emprêgo corrente em Fisiologia;
daí Claude Bernard considerá-lo como o verdadeiro método.
Mas é exagerar. o valor é o alcance dêle, Apresenta êle uma
grave dificuldade: é que êle só é verdadeiramente seguroquan-
do há apenas duas hipóteses possíveis. Foi, ti razão que levou a
contestar as primeiras experiências de Pasteúr. Poderia ter
acontecido, de fato, "que a fermentação' se, desse sem germens,
'I" por geração espontânea, mas que a renovação do. ar fôssé ne-
li
~' cessária à vida dos microrganismos. Pasteur refez a experiên-
J
cia, fechando um dos vidros com um tampão de algodão este-
,i
http://www.obrasc
LÓGICA 201
rflizado pelo calor: a fermentação não se produziu. Podia ser
que a circulação do ar através do algodão fôsse insuficiente:
contentou-st:! êle em recurvar o pescoço do vidro, inclinando-o
para baixo e a fermentação não se produziu" (Goblot, Loçique,
pág, 303). 'Em resumo, Pasteur terminou por deixar presentes
apenas duas hipóteses contraditórias; e demonstrou, através da
exclusão da hipótese contraditória, que os microrganismos
nascem de gérmens, pois se se suprimem os gérmens, suprime-
-se tôda fermentação.
200 c) Método das variações concomitantes. É o método em-
pregado quando não há duas hipóteses contraditórias. Formula-
-se: quando um fenômeno varia da mesma maneira que um de
seus antecedentes, e nas mesmas proposições, é causado por êsse
antecedente. Exemplo: ,experiências de Pascal no "Puy-de-
-Dôme", destinadas a mostrar que a elevação da coluna de água
vermelha no tubo barométrico varia proporcionalmente à pres-
são atmosférica. Cita, ainda, Stuart Mill, o caso das marés: ob-
serva-se que a intensidade das marés varia ao mesmo tempo
que as posições da lua relativamente à terra, e de forma pro-
porcional a estas.
I. ~se método tem a vantagem de apelar para a mensuração
dos fenômenos, o que o torna prático em Física. É admirável-
mente adaptado à ciência moderna, que se caracteriza, como
vimos, por "substituir a idéia de causa pela de função" (Re-
nouvier, Logique génerale, II, pág. 25). A expressão gráfica
das leis é uma das aplicações mais fecundas . dêsse método (fig.
12), quando, graças ao processo conhecido pelo nome de extra-
polação, que consiste em prolongar a curva além dos limites
da experimentação, descobrimos relações' não experimentadas
de duas grandezas, a partir das relações experimentadas com
que se constrói o gráfico. Essa extra-
,polação traz riscos, evidentemente; I
mas, em todo caso, funciona como hi-
pótese verificável e abre perspectivas
I'
1 V O
novas à imaginação científica. ~ ,~~
O .método das variações concomi- ~!: ~'Y
tantes, entretanto, não apresenta o 'E
mesmo interêsse, quando os fenôme-o -~
nos não são suscetíveis de mensura- U -~
çã~ quantitativa. (veremos que a ten- . li
t,;Ílva de Weber e Fechner de apli-
ca- 19, em Psicologia, para a determi- /
naçao da relação entre a sensação e a O 250 ~OO 750 1000
excitação, acabou fracassando). Pode
ainda neste 'caso servir para estabe- .' Pressões
1ecer que existe uma relação (não FIg. 12:- GráfICO II!,0stra!!'-
mensuráv 1) . t doi f' A • do que as contrações sao
. .e en re OIS enomenos proporcionais às pressões.
ou dOIS grupos. de fenômenos' mas
pe;~e o prin~ipal do 'seu valor, que é traduzir em grandezas nu-
merlcas as relações dos fenômenos entre si.
.. ..i-i:.. _ "_0
atoucas.com
202 RÉGIS J OLIVET
D. Indução. "
r,
http://www.obras
LÓGICA 203
dêle e se encontra em tudo: presente já na observação, cujas
dife;entes demarches move e guia, dá a indução sentido à ex-
..':
' ".
perimentação cuja finalidade é verificar uma hipótese ou in-
dução antecipada. O chamado "problema da indução" é, por-
tanto, exatamente, o problema do valor da ciência. .
-r.
~ '~-'
I
.catoucas.ccm
204 RÉGIS J OLlVET
, ,
http://www.obraS<
LÓGICA 205
portanto, pràpriamente falando, nem teorias, pois se encontram
no ponto-de-partida da ciência, nem hipóteses particulares, sus-
cetíveis de serem verificadas por experimentação, e sim, na
f7':
maior parte das vêzes, definições disfarçadas, ou enunciados su-
"-li .
..".' ... geridos pela experiência comum. O princípio da conservação
da massa, por exemplo, aparece como uma aplicação do prin-
cípio de substância; o princípio da conservação da energia é
apenas uma aplicação do princípio de causalidade. Isso explica
que êsses princípios, dada sua extrema generalidade, escapem
ao contrôle direto da experiência. Poincaré dá um exemplo
muito claro para ilustrar essa peculiaridade dos princípios das
ciências:
"O exemplo mais marcante é o princípio de Carnot. Esta-
beleceu-o Carnot, partindo de hipóteses falsas; quando foi per-
cebido que o calor não é indestrutível, mas pode ser transfor-
.jnado em trabalho, suas idéias foram completamente abandona-
das: depois Clausius voltou a elas e as fêz triunfar definitiva-
mente. A teoria de Carnot, sob a forma primitiva, exprimia,
ao lado de relações verdadeiras, outras inexatas, restos das ve-
lhas idéias; mas a presença destas últimas não alterava a reali-
dade das outras; Clausius não teve senão de afastá-las, como se.
desbastam ramos mortos. O resultado foi a segunda lei fun-
damental da termo-dinâmica. Eram sempre as mesmas relações,
embora não se dessem elas, ao menos aparentemente, entre os
mesmos objetos. Foi o suficiente para que o princípio conser-
vasse seu valor. E mesmo os raciocínios de Carnot não pere-
ceram: estavam aplicados a uma matéria contaminada de êrro-
mas sua forma (isto é, o essencial) permanecia correta" (La
science et I'Hypothese, pág. 194).
205 c) Papel das teorias. As teorias desempenham papel con-
sideráv.el na ciência. Servem, primeiro, para coordenar. e uni-
ficar o saber positivo, enquanto visam a grupar, sob uma hí-
. pótese .muito geral, leis particulares tão numerosas quanto pos-
sível, consideradas .como conseqüências da hipótese. Foi assim
que a teoria eletromagnética de Maxwell permitiu deduzir as
leis da óptica das da .eletrícidade; que a Mecânica Ondulatória
unificou, por sua vez, não sómente grande número de leis, mas
também domínios que pareciam até' então separados.
." Em segundo lugar, ás teorias científicas são instrumento de
, descoberta, sugerindo analogias não ainda percebidas (como foi
o Caso da teoria dos fluidos de Coulomb, nas aplicações à ele-
tricidade), e provocando novas investigações. As teorias evo-
lucionistas, de Lamark e Darwín, estão na origem de' imenso
número de investigações que as abalaram, sem dúvida, mas que
foram sugeridas por, elas.
206 d) Valor das teorias. O valor das' teorias depende evi-
dentemente, da natureza do papel que desempenharam,' e .do
catoücas.com
206 RÉGIS J OLIVET
modo pelo qual o fazem. Acabamos de ver. que elas são hipó.t:ses
com a dupla finalidade de coordenar e unificar o saber POSItIVO,
e de provocar novas descobertas. Enquanto hipóteses, valem,
portanto, como convenções práticas, ou ficções cômodas, sim-
bolizadas pela expressão clássica: "tudo se passa como se ... "
Isto explica porque as teorias são de tão pequena duração, pelo
menos na aparência. A Física, particularmente, vê as teorias
se sucederem em ritmo desconcertante. A ciência modifica suas
hipóteses gerais ao sabor das necessidades novas: o átomo, du-
rante muito tempo, foi apenas um instrumento cômodo de sis-
tematização; o éter tinha a mesma função; a seleção natural,
de Darwin, serviu para explicar fatos bem numerosos; hoje, a
teoria da onda associada, em Mecânica ondulatória, sistematiza
grande número de fenômenos que parecem inexplicáveis na
Mecânica newtoneana.
Entretanto, seria excessivo reduzir as teorias a puras con-
venções práticas. Ondulação e emissão, na teoria da luz; o éter,
de Fresnel; o calórico, de Cournot; os quanta, de Planck; a onda
associada, de Luís de Broglie; a luta pela vida, de Darwin; etc.,
são de fato, se se quiser, ficções justificáveis pela fecundidade
teórica e prática, mas são também noções às quais os cientistas
se esforçam por conferir valor objetivo (o que não significa
"ontológico"). De um lado, relações constantes são manifesta-
das pelas teorias, e tais relações subsistem, freqüentemente, à
ruína das teorias: as leis de ótica, descobertas por Fresnel, em
função da hipótese do éter, permanecem válidas fora dessahi-
pótese, eliminada pela teoria da relatividade; do mesmo modo,
as dificuldades encerradas na teoria cinética dos gases não a
I"
impediram de revelar uma relação. verdadeira, a da pressão
gasosa e da pressão osmótica. - De óutro lado, algumas teorias
têm, .de si mesmas, alcance não apenas matemático ou de co-
ordenação, mas físico, enquanto visam não somente a rela-
ções, mas a realidades físicas ou "coisas". Poincaré o reco-
nhece, implicitamente, quando 'escreve que a realidade. ou não
realidade do éter ·é "problema dos metafísicos" (La science et
l'hypothése, pág. 245). O mesmo se deu com o átomo, que de
hipótese cômoda veio a ser realidade experimental. Nenhum
dêsses "objetos físicos" tem, jamais, deresto, .como tais e
, diretamente. valor propriamente ontológico. São sempre sím-
iI bolos (192) . Por isso não há· como ter por pretexto a ca-
duquice das teorias para contestar o valor da ciência. Em certo
sentido, a própria caducidade é sinal de poder e de progresso.
Ao se sucederem, não desaparecem jamais inteiramente as teo-
rias: o mais freqüentementeentrain, modificadas e transforma-
das, em concepções mais compreensivas; cada uma vai sendo,
ass~m, uma. etapa, na direção de uma c~êl}cia mais corr}pleta e
mais segura. - Elas comportam· sem dúvida, com os riscos de
êrro, todos os perigos que se re;umem no que se costuma cha-
mar "espírito de sistema". Mas êsses perigos são acidentais:
http://www.obrasc
LÓGICA 207
não pertencem à essência das teorias. A história das teorias,
escreve P. Duhem, desenrolando aos olhos do cientista "a tra-
dição contínua, pela qual a ciência de cada época é alimentada
pelos sistemas dos. séculos passados e se apresenta prenhe da
Física do futuro; evocando-lhe as profecias que a teoria for-
mulou e que a experiência realizou, - cria e fortificanêle a
convicção de que a teoria física não é um sistema puramente
artificial, cômodo hoje, amanhã inútil; que ela é uma classi-
ficação cada vez mais natural, um reflexo cada vez mais claro
de realidades que o método experimental não poderia contem-
plar face a face" (La théorie physique, ·pág. 441).
207 4. Fundamento da indução, - A ciência, dissemos, estende
a todos os casos do mesmo gênero o que foi verificado de um
ou mais casos singulares (185). Como legitimar êsse processo?
Para resolver êsse problema, distinguiram alguns a indução
formal da indução ampHficante. A primeira, seria apenas a
enumeração de todos os casos singulares (os metais - a saber,
os 66 metais - são condutores de calor); a segunda, ou indução
pràpriamente dita, seria aquela para a qual, tão-sõmente, se co-
locaria o problema do valor da indução. Mas, na realidade, não
há indução se não fôr "amplificante", ainda mesmo quando a
fórmula geral possa ser verificada a propósito de cada caso sin-
gular, o que é sempre excepcíonal.. e, em todo caso, acidental.
- Aliás a própria expressão, "indução amplificante",. parece
imprópria, pois a indução consiste, muito mais, em apreender °
universal no singular, do que em arriscar uma passagem por
acaso de alguns a todos. Vimos (104) que esta última concep-
ção procede de uma doutrina nominalista, que' identifica as
noções gerais a simples todos coletivos. Apresenta, entretanto,
um valor problemático, enquanto significa o modo pelo qual
se põe, para a ciência positiva, o problema da indução.
268 a) Princípio do determinismo. Deixemos de utilizar, até
agora, a noção de causa e a de condição necessária e suficiente.
Tôda ciência, efetivamente, é, antes de tudo, investigação das
causas: as ciências da natureza não escapam a. essa regra em-
bora nelas se trate apenaade causas segundas ou de condições
determinantes. Estâímplícíto nessa investigação, evidentemente,
que o cientista crê que nada acontece sem causa, ou que todo
fenômeno, tem uma causa proporcionada, ou, ainda, que nas
mesmas condições as'mesmas causas produzem: os mesmos efei-
~o~, ou, enfim, que a natureza· está submetida a leis, isto é, que
ha ord.em, na natureza. A essas diferentes formas do princípio
d~ causalidade, ou princípio .do determinismo, afirmando o con-
.dicíonamento recíproco dos fenômenos se reduz o fundamento
da indução; ,
.. C? princípio do determinismo, enquanto uma das formas do
prmcIpIO de causalidade, é apenas uma aplicação do princípio
.atoIicas.com
208 RÉGIS J OLlVET
.
'
http:tlwww.obras
LÓGICA
....._""' .
catolicas.com
210 RÉGIS J OLIVET
http://www'.obrase
LÓGICA 211
Canon
à élecLroo8
-v;
~~~
Cristal
Fig. 13 - Esquema de um canon de elétrons bombardeando a
superfície de um cristal.
.atolicas.corn
212 RÉGIS J OLIVET
nos' de outro lado, seria negligenciar demais todo um aspecto
obj~tivo da indeterminação, reduzindo-a a simples possibilidade
acidental de medir fenômenos na escala microscópica. A inde-
terminação que se constata nos fenômenos elementares acha-se
ligada à existência de um "quantum" de ação, de tal modo que,
à indeterminação acidental, resultante da imperfeição dos nossos
métodos de medida, se sobrepõe "uma indeterminação essencial,
impossível de elímínar.s? Nessas condições, o determinismo dos
fenômenos poderá conservar um valor eurístico para a ordem
macroscópica, mas, como hipótese de alcance universal, será
apenas uma opinião ou crença.28
212 5. Determinismo e identificação. - Depois de Meyerson
("Identité et Réalité", Paris, 1932) repete-se, freqüentemente,
que o ideal, e. o têrmo, da explicação científica, é a redução ao
idêntico, por isso que o determinismo implicaria universalmente
a identificação dos fenômenos ligados entre si pelas leis me-
cânicas. O ideal das ciências da natureza seria, assim, unificar
todo o real sensível sob uma única lei, transformando, progres-
sivamente, tôdas as relações de fato em relações de direito, isto é
em simples expressões de um mecanismo universal.
Há, entretanto, nessa visão, muitos equívocos. Inicialmente,
como mostrou Boutroux, do ponto-de-vista teórico (cf. "La con-
tingence des lois de la nature"), e como o prova pràticamente
o obstáculo dos "irracionais", contra os quais as ciências inces-
santemente se chocam, seria impossível completar-se a redução
e não se a poderia .propor, no plano especulativo, senão como
simples passagem no limite ou como extrapolação das mais
arriscadas.
De outro lado, convém notar que, nos próprios limites, em
que a ciência se baseia para procurar a identificação dos fenô-
menos, reduzindo-os ao mecanismo, e,' por conseguinte, a fór-
mulas métricas e a equações, nos próprios limites, repetimos,
essa identificação não é real: ela apenas possui valor simbólico
I; e repousa sôbre uma abstração. Efetivamente não sé pode con-
;: cluir, como se faz demasiado freqüentemente, que todos os me-
canismosse assemelham pela redução ao mecanicismo.
27 L. de Broglie, Matiere et Ú1Lmiere, pâg. 252. - Sôbr~' a questão
do indeterminismo, cf. Eddington, Sur le probleme du déterminisme. -
L. de Broglie, La Physique nouveHe et les quanta; Continu et discóntinu.
- A. Sesmat; Systemes de références et mouvements. - Travaux du
IX- Congres International de Philosophie, -t. VII. - -Ch. de Conninck,
Ii Le probleme de l'indeterminisme, Québec, 1937. . .
-i 2& L. de Broglíe acha que êste "ato de fé" ou esta "audaciosa ex-
!
I
! trapolação" não teria fundamento. Apoiando-se sôbre os trabalhos de
Von Neumann, acredita que as "leis de probabilidade enunciadas pela
nova mecânica ondulatória e quântica para os fenômenos elementares,
leis bem constatadas pela experiência, não' têm a foima que deveriam
ter, para que se pudessem interpretar como devidas à nossa ignorância
dos vaIôres exatos de certas variáveis ocultas.. 'O caminho que pp.recia
ainda aberto, para restaurar o. determinismo na escala atômica, parece
agora fechar-se em nossa frente" (Hasard et contingenceen physique
quantique, "Rev. de Mét. et de .Mor.", 19:45, pág, 249).
http://www.abrase
LÓGICA 213
Ao explicarmos, mecanicisticamente, pela probabilidade, a
irreversibilidade de alguns fenômenos, teremos com isso, supri-
mido os fenômenos irreversíveis? Do fato de a química reduzir
a água a ROR, estaremos autorizados a dizer que a água real
é idêntica ao oxigênio e ao hidrogênio separados? Seria o mes-
mo que dizer que a casa se reduz a um amontoado de pedras,
trabalhadas pelo pedreiro, ou ao projeto desenhado pelo arquiteto.
Observar-se-á, aliás, que, quando uma ciência (p. ex. a Fí-
sica) negligencia sistemàticamente aspectos reais das coisas e
fenô~enos, para operar a redução ao mecanicismo, outras ciên-
cias atribuem-se êsses mesmos aspectos como objeto, aspectos
que, portanto, não foram "reduzidos" ou "identificados", mas
simplesmente abstraídos ou postos entre parênteses. A água,
para o químico, não é mais do que ROR; mas para o biólogo e
para o bacteriologista (sem falar do animal que tem sêde), é,
sem dúvida, coisa bem diferente!
6. Determinismo e finalidade. - Lachelier considera a in-
dução baseada "sôbre dois princípios distintos: um, pelo qual
ós fenômenos formam séries, nas quais a existência do prece-
dente determina a do subseqüente; - outro, pelo qual estas
séries formam, por sua vez, sistemas, nos quais a idéia do todo
determina a existência das partes". (Du Fondement de l'induc-
tion, pág, 12.). Caberia, então, admitir, acima do determinismo
causal, um princípio de ordem, que regeria, por assim dizer, "a
manutenção das espécies químicas, tanto quanto a das espécies
vivas" (pág. 11) Com efeito, observa Lachelier, o mecanismo
não é, por si mesmo, um princípio de ordem, e, sim, obedece a
uma lei imanente que governa, por dentro, o exercício das fôr-
ças mecânicas, para a constituição de sistemas naturais e do
sistema universal da natureza.
Nada melhor fundamentado, do ponto-de-vista filosófico, do
que a doutrina de Lachelier. O determinismo mecanicista não
basta, -de si mesmo, para, explicar a ordem 'natural - (nem,
por conseguinte, para justificar a indução), porque isto signifi-
caria, rigorosamente, querer tudo explicar pelo puro acaso.
As fôrças mecânicas se exercitam em direções definidas,
em limites precisos e sob uma forma harmônica, que elas não
'comportam em' si mesmas. Elas são, portanto, assumidas e uti-
lizadas por uma causalidade de ordem- superior, chamada fina-
lidade, que é propriamente a causalidade de' uma idéia. "
Todavia, a explicação finalista, requerida pelo filósofo, é
excluída pelo cientista, não absolutamente, mas relativamente
~ seus' fins e a seus métodos. Com efeito, há uma explicação
mecanicista que constitui, pelo menos no' domínio físico-químico,
a ambição da ciência. Ligar cada fenômeno, às suas condições
deter~inaptes, definir como se comporta a natureza, medir, com
'0 maior rigor-possível, as relações fenomenais: a ciência, por si
mesma, não vai mais longe. Eis porque o quadro que ela nos
.atolicas.corn
214 RÉGIS J OLIVET
Plano supra-espa-
cial e supra tem-
poral da finalidade
- idéia
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lei
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Plano espaço-tem- ~ --"I
poraI da: causalida- :.......... . .
de (determinismo b ' r•.•••.••••••••••
mecânico) ..
Fig. 13-bis
http://www.obras
LÓGICA 215
I
3~ ~ão são raros os casos, na história das ciências. -ern que a léi ou
a essencia são tiradas de uma única experiência,' Sabe-se, p, e., ql.Íl'! foi
~o ver uma palha violEmt~mentE;'repelida .pel<;> .yaI?or de pni recipiente
e águ~ fervente. que Denis Papin teve a intuição instantânea dovapor
como força-motriZ. . '
'. hUp:1lwww.obras(
LÓGICA 217
pôde por êsses métodos, acumular observações, que não só au-
mentaram -nosso conhecimento dos fenômenos vitais, a despeito
da extrema complexidade dêles, como também contribuíram
para o progresso da terapêutica (medicina e cirurgia).
De outro lado, as ciências biológicas dão importância capital
aos processos de classificação dos sêres vivos. A classificação,
denominada sistemática, objeto de um ramo especial da Bio-
logia esforça-se por descobrir, segundo a expressão de Cuvier
"um~ disposição na qual os sêres do mesmo gênero estariam
mais próximos entre si do que os sêres de gêneros diferentes;
os gêneros 'da mesma ordem, mais do que os de tôdas as outras
ordens; e assim por diante" (Le rêqne animal, Introduction)
vale dizer, esforça-se por repartir os sêres vivos, vegetais e ani-
mais, em grupos distintos, cada vez mais gerais, e tais, que os
grupos inferiores apareceriam como subdivisões dos grupos su-
periores. Essa classificação, baseada na natureza das coisas, res-
ponde a uma necessidade da inteligência, que procura a unidade
em tôda parte. Ela deve também ajudar a formular a definição
dos sêres vivos, pela enumeração dos caracteres que lhes fixam
o lugar na classificação.
2 1 9 2 . Pente-de-vista ·finalista. - A intervenção da noção de
finalidade, isto é, organização e adaptação, é que caracteriza as
ciências biológicas. O biólogo professa que os sêres vivos são
organismos que exercem funções diversas, que serierarquizam
elas próprias em vista de um fim determinado e, por conse-
guinte, que tudo se processa como se uma idéia imanente orga-
nizassee governasse por dentro o conjunto extraordinàriamente
complexo dos órgãos e das funções componentes do ser vivo,
animal ou vegetal, bem como os fenômenos físico-químicos que
se passam nesse ser. Claude Bernard notava que a atividade
de .cada ser vivo se exerce segundo uma idéia diretriz, um
plano pretraçado. Portanto, aqui, a finalidade é de início um
dado esperimental, Interpretá-Ia, pertence à Filosofia, como
vimos acima (212).
catolicas.com
218 RÉGIS J OLIVET
1i Anatomia comparada (comparação das diferentes formas vivas),
- Embriologia ou Ontogenia (estudo das fases do desenvolvi-
mento do ser vivo a partir do ôvo), - Paleontologia (estudo
dos fósseis descobertos nas camadas geológicas). - A Fisiologia
se subdivide segundo o gênero da atividade vital (Biomecânica,
Biofísica, Bioquímica, Bioenergética). A Fisiologia pràpriamente
dita é o estudo das funções vitais das quais os fenômenos pre-
cedentes são os ínstrumentos.!'
A Sistemática se apóia sôbre dados da Anatomia e da Fi-
siologia comparadas, para definir e classificar os sêres vivos
como tais.
B. Classificação.
220 1. Diferentes especies de classificação. - Distinguem-se
duas espécies de classificação: artificiais e naturais. As arti-
ficiais se fazem a partir dos caracteres não essenciais do objeto,
e fáceis de descobrir. Tendem sobretudo a estabelecer uma or-
dem provisória e prática. São puramente artificiais e arbitrárias,
quando os caracteres escolhidos são exteriores e acidentais
(como a classificação de livros a partir de seu formato): estas
não têm, evidentemente, nenhum valor científico.' Adquirem
valor científico apenas quando' atendem a caracteres distintivos
intrínsecos aparentes, embora não esteja, aliás, em condições de
determinar se essas características são realmente essenciais. A
classificação das plantas, que Tournefort baseou na presença,
.,,
J
http://www.óbr.as
LÓGICA 219
métodos de concordância e de diferença (198-199) que se em-
pregam aqui.
b) Correlação e subordinação das formas. A partir das
espécies, obtidas_ pela determi~aç~o. do~ caracteres "essenciais"
e pela eliminaçao das. n?tas mdlVldu~lS, pr,?cur~m~se, .sempre
por comparação, constituir grupos mais gerais, distínguíndo-se,
no conjunto dos caracteres "essenciais", os caracteres coordena-
dos e os dominantes.
Chamam-se coordenados os caracteres que aparecem sem-
pre juntos: assim, há correlação entre o aparelho mamário e o
esqueleto (de onde se segue que todo o mamífero é vertebrado);
também há correlação constante entre a forma do dente, do
eôndílo, das unhas, dos intestinos (de onde se pode concluir,
pela forma de um dêsses órgãos, a dos outros).
Chamam-se dominantes os caracteres mais gerais que os
precedentes, cuja presença resulta necessàriamente da presença
dos caracteres coordenados mas, que se podem verificar, tam-
bém, em outros grupos de caracteres coordenados. Encontra-se,
por exemplo, um esqueleto (vertebrado) sempre que se cons-
tata a presença de aparelho mamário (mamíferos), mas se en-
contra também esqueleto em muitos dos não-mamíferos (répteis,
aves, peixes, etc.). Admite-se que o conjunto dos caracteres do-
minantes forma o gênero próximo, e que o conjunto dos carac-
teres coordenados forma a diferença específica ou as últimas
espécies (isto é, aquelas que se compreendem apenas indivíduos).
Procuram-se em seguida formar grupos ainda mais gerais,
com o auxílio dos mesmos princípios de correlação e.subordina-
ção. Distinguem-se assim, em biologia animal, grupos cada vez
mais gerais, que receberam o nome de espécies, gêneros, fa-
mílias, ordens, classes, ramos. - Quanto às raças e às varieda-
des, são apenas formas acidentais, mais ou menos estáveis, das
espécies. ..
.cátolicas.com
220 RÉGIS J OLIVET
:1
http://www.obras
LÓGICA 221
Vialleton (Membres et ceintures des vertébres tétrapodes, Pa-
ris, 1924, págs. 647-678), as grandes subdivisões da Sistemática,
da ramificação à ordem compreendida, fundamentam-se apenas
sôbre a organização, ao passo que, abaixo disso a organização,
não conta mais, pois permanece essencialmente a mesma em
tôdas as espécies de uma mesma ordem. Todavia, essas espécies
não formam u'a massa caótica: .dístribuem-se naturalmente, em
determinado número de formas gerais, que respondem aos gran-
des gêneros dos antigos naturalistas (famílias atuais) e cons-
tituem tipos formais.
, Essas observações significam que os tipos de organização
distinguem apenas sêres abstratos ou quadros (como o triân-
gulo ou círculo do geômetra) que jamais existiram como tais
(o que não significa que tais divisões não tenham valor). Os
tipos formais representam, ao contrário, "tipos concretos que
existem, como tais, durante longo ou curto tempo", e é, por con-
seguinte, apenas para êsses tipos formais que é possível aplicar
as leis de correlação e' de subordínação dos orgãos.32 É também
entre seus limites que se coloca atualmente o problema do trans-
formismo.
SUMARIO
§.'1. NOÇõES GERAIS. - Noção de ciências mórais. - Ciências mo-
rais e psicologia. ---: Ciências morais e ciências positivas. - Ciên-
cias morais e determinismo. - Divisão. -Distinção dos métodos.
§ 2. MÉTODO ,DA HISTóRIA. - Noção de história. - Natureza dos
fatos históricos. - Aparecimento do método histórico. - Fases dó
método. - Heurística - Diferentes espécies de documentos. -
Descoberta dos documentos. - A critica histórica. ...,.. Crítica dos
vestígios. - Crítica' dos testemunhos. - A síntese histórica. -
Imparcialidade do historiador. - Qualidades cientificas dohis-
toriador. - ' Qualidades literárias do historiador. - É a história
,uma ciênéia.? - Método científico da história.' - Filosofia da
história. .
§3. MÉTODO DA SOCIOLOGIA. - Noção de sociologia. - Ciência
Soeíológica, ---', O fato social, objeto da sociologia.- Realidade
do comportamento social. - Existe uma consciência coletiva? -
O constrangimento. - Determinismo dó fim. - Natureza do fato
social; - Noção de sociedade. - Especificidade do fato' social.
~ Generalidade do ,fato social. - A observação, na sociologia. ' -
Observação direta: monografias e etnografia. - Observação in-
direta: história. - As estatísticas. ---.:' Classificação dos tiposso-
I" •
ciais. --'- Definição. - As leis sociológicas. - Diferentes espécies
de lei. - Problema do substrato. ~ Determinismo em Sociologia.
"., ,. -Papel da Sociolpgia.- A Sociologia .não éu'a moral, - A So-
ciologia é útil ao moralista e ao político. ," ,
catolicas.com
222 RÉGIS J OLIVET
§ 1. NOÇÕES GERAIS
i
I
I
http://www.abrase
ciência propriamente dita (146). Bem considerado tudo, o gru-
po das ciências m~rais aparec:e como um ~onjunt? so~fuso de
disciplinas heterogeneas, reunidas de maneira arbitrária,
Entretanto, estas dificuldades não são decisivas. Mostram,
unicamente, que, no grupo das ciências morais se podem intro-
duzir subdivisões, como, aliás, foi necessário fazer no grupo das
ciências da natureza. O que é preciso, para se admitir a legiti-
midade do agrupamento, é que as diferentes disciplinas que o
constituem tenham, malgrado suas diferenças, um elemento co-
mum. :€sse elemento é, como foi visto, a consideração do com-
portamento humano, como tal, nos múltiplos domínios onde se
exerce a atividade do homem. De fato, tôdas as ciências morais
estão ordenadas a êsse fim único, mesmo quando se apóiam,
como a Psicologia, sôbre investigações infra-humanas (Biologia,
Fisiologia e Psicologia animal). - De outro lado, merecem,
umas e outras, embora por razões diferentes, o nome de ciência.
Negar às ciências morais o caráter de ciência seria endossar
uma concepção estritamente positivista da ciência. Seja embora
verdade que tôda ciência tem por base a experiência, também
é verdade que apenas é possível experiência do sensível e do
mensurável. Ora, a ciência ultrapassa legitimamente aquilo que
é accessível aos sentidos. - A história, cabe notar, ,constitui caso
particular, pois incide sôbre o singular e o contingente. Mas
não merecerá ela, sob outros aspectos, ser considerada ciência'!
Em todo caso, cumpriria apenas reservar-lhe um lugar à parte
no grupo das ciências morais. '
ZJO c) Ciências morais e determinismo. Finalmente objeta-se
que, se o domínio das ciências morais é o do comportamento
humano como tal, exclui, êle, necessàriamente, o determinismo,
que á ciência absolutamente requer. '
Mas essa objeção provém também de indefensável concepção
do determinismo, pois implica a afirmação de que apenas existe
uma espécie de determinismo, a do puro mecanicismo.
Na realidade, como vimos (208), o princípio do determinis-
mo, no sentido mais geral, não é outra 'coisa que o princípio de
razão suficiente ou de inteligibilidade, que exige que tôda rea-
.Iídade e todo fenômeno tenham razão de' ser. :€sse princípio
recebe várias aplicações .e 'Se reveste de diversas formas nos
'. diferentes domínios' estudados pelas ciências, em que operam
tipos essencialmente distintos de determinação. -:- De mais a
mais, sabe-se que 'as próprias ciências físico-químicas se aco-
modam, através das leis estatísticas, à indeterminação dos ele-
mentos (seja tal indeterminação real ou resultante da insufi-
ciência dos nossos processos de observação e de medida). Por-
" tanto, se determinismo, afinal, significa apenas inteligibilidade,
. .
,
'
as ciências morais, justamente como ciências, satisfazem 'ao prin-
cípio do determinismo, visando tornar inteligível, em seus di-
ferentes domínios, o comportamento humano como tal. Não
:atolicas.com
224 RÉGIS J OLIVET
significa que as ciências morais renunciem a estabelecer leis o
fato de o homem nelas estar encarado como ser dotado de
liberdade. Há, primeiramente, as leis da atividade livre como
tal (leis morais). Além disso, o homem, individual ou coleti-
vamente, é suscetível, mesmo agindo livremente, de um com-
portamento normal, regular e previsível, que permite estabe-
lecer leis positivas, válidas para o maior numero de casos (leis
estatísticas) .88
Em resumo, nada se opõem a que se conserve o grupo das
ciências morais que está perfeitamente definido por seu objeto
e por seu fim.
B. Divisão.
221 1. Subdivisão das ciências morais. - O estudo da noção
de ciências morais já nos apontou a divisão conveniente para
o grupo complexo dessas ciências. Parece-nos poder distinguir
duas grandes categorias:
a) Ciências moraís teóricas. São as que estudam o homem,
tomado individual ou coletivamente, tal como é. Tais ciências
são: a Psicologia, a Sociologia, a Economia, a História. São
ciências de fatos.
b) Ciências morais práticas. São as que definem as leis
pelas quais a atividade humana se deve conformar. São elas:
a Moral e a Política. Portanto, são ciências, no dizer corrente,
,
normativas.
http://www.obra:
LÓGICA 225
da arte história da física, etc.) - Em sentido estrito, História
é ° est~do dos fatos do passado que interessaram à evolução das
sociedades humanas. Assim, ocupa-se a História às vêzes de fa-
tos humanos (p. ex., a Guerra das Gálias, o assassinato de César,
as Cruzadas, a Reforma, a Revolução Francesa, etc.); e de fatos
materiais que tiveram notáveis repercussões nas sociedades hu-
manas (erupção do Vesúvio em 79, inundações do Nilo, etc.)
Convém, portanto, distinguir dois sentidos da palavra his-
tória: 1.0, quando designa a própria realidade histórica ou his-
tória vivida pela humanidade; 2.°, quando designa uma obra
literária, visando contar essa realidade histórica (história escrita).
O fato histórico, portanto, pode ser um fato individual, desde
que tenha exercido influência notável sôbre o curso dos acon-
tecimentos: o nariz de Cleópatra, os cálculos de Cromwell, a
psicologia de Napoleão 1.0, pertencem à história. A grande
maioria dos fatos históricos são, aliás, desta espécie, porque a
História, em certo sentido, é obra das grandes individualidades.
De outro lado número incomparàvelmente maior de fatos indi-
viduais não são "históricos", por não terem tido influência
apreciável sôbre a marcha dos acontecimentos.
Langlois e Seígnobos ("Introduction aux études histori-
ques", 4.a ed., pág. 216) assinalam dois casos em que se deve
considerar histórico o individual: "1.0, quando o ato do indiví-
duo atuou como exemplo sôbre uma massa de homens e criou
uma tradição, - caso freqüente na arte, na ciência, na religião,
na técnica; 2.°, quando dispôs de poder de dar ordens, de im-
primir direção a u'a massa de homens, como acontece com os
chefes de Estado, ou militares ou da Igreja."
233 2. Natureza dos fatos históricos. - Chamam-se fatos his-
tóricos, fatos singulares afetados das circunstâncias de que se
revestiram no espaço e no tempo.. Os fatos históricos são por-
tanto originais e únicos, o que constitui uma das caraterísticas
que distinguem a História da Sociologia.' Com efeito, a Socio-
logia pode tomar por objeto de estudo os fatos do passado,
mas apenas os considera sob um aspecto geral, despojando-os
das circunstâncias concretas que os marcaram historicamente.
No assassinato de Júlio César, esforçar-se-á por descobrir os
caracteres do assassinato político em geral; na Reforma, pro-
curará descobrir a forma geral das revoluções religiosas.
Segue-se que a História e a Sociologia podem ter o mesmo
objeto material, mas ambas o tratam sob ângulo diferente: cada
qual tem objeto formal distinto, a saber:. a História, a deter-
scatolicas.com
226 RÉGIS J OLIVET
minação da ordem dos acontecimentos particulares; a Socio-
logia, a determinação dos tipos sociais e das leis da vida social.
234 3. O principio do método histórico
a) A história, gênero literário. O método histórico for-
mou-se lentamente. As etapas de seu progresso estão marcadas
pelo progresso do rigor científico aplicado à pesquisa e à crítica
dos documentos. Sob êsse aspecto, veremos, as ciências auxi-
liares da História muito proveito trouxeram para o estudo do
passado e' contribuíram de maneira decisiva para transformar
a História, de gênero literário, que era de há muito, em disci-
plina científica. A História, com efeito, foi freqüentemente con-
cebida, na antiguidade e na idade média, como instrumento de
ensino moral e de edificação, como processo para consagrar a
glória de um povo ou de uma família. Nas obras surgidas desta
concepção, a preocupação Iíteráría e oratória predominava, em
detrimento das exigências estritas da verdade histórica. Obra
de imaginação, a história servia-se dos documentos apenas como
pretexto para ampliações mais ou menos engenhosas.
b) História-ciência. Seria injusto, entretanto, pensar que
tôdas as obras históricas da antiguidade, da idade média e da
época moderna, até o século XIX, surgiram da imaginação ro-
manesca, da apologia ou da amplificação oratória. As vêzes
afirma-se isso, mas muito injustamente. Com efeito é certo que
a antiguidade produziu obras históricas tão científicas, de' in-
tençãoe inspiração, quanto os trabalhos contemporâneos, mal-
grado fôssem os processos de informação é os meios de crítica
infinitamente menos' abundantes e perfeitos do que os nossos,
Tucidides e Tácito não deíxaramde ter pelo menos "espírito
científico". Obrigatório dizer o mesmo; e com maior razão, dos'
grandes eruditos dos séculos XVII e XVIII, corno Lenaín . De
, Tillemont, os Bollandístas, os Beneditinos da Congregação de
São Mauro, sobretudo Mabillon, que, com seu famoso tratado
de De re'diplomatica, -ínstauroueutênticamente o método cien-
tífico da história. Na reálidade,o espírito científico na história
longe está de ser coisa nova e contemporânea.. O que tem pro-
gredido são os meios de informação e de crítica; que nada mais
são do' que instrumentos, válídos-apenas :conforme ouso que
dêles ~e f a z . . .
{ Etapas do método. .- O fato histórico,sendo fato do
passado, não pode ser conhecido diretamente; -pode apenas ser
apenas conhecido pelos vestígios deixados, isto é, pelos diferen-
tes documentos que atestam a realidade e ps circunstâncias. do
acontecimento.. É conveniente, além disso, criticar e interpretar
.êsses documentos, a fim de lhes determinar o valor e o sentido.
O método hist,6ri~o compreende entã~ .três fases distint~, a
saber: a pesquisa de documentos; a crítica de documentos, e a
construção histórica,
" ,http://www.obra~
LÓGICA 227
B. A heurística.
scatolicas.corn
228 RÉGIS J OLlVET
fotografias. A pesquisa, a classificação, a crítica dos vários do-
cumentos são objeto da erudição, que está na base da história,
como a observação está na base da ciência.
C. A critica histórica.
237 A crítica histórica visa fixar, com a máxima precisao, o
valor dos diferentes ·documentos do passado, vestígios e teste-
munhos.
1. Crítica dos vestígios. - A crítica dos documentos-ves-
tígios do passado incide sôbre três pontos: autenticidade e pro-
cedência, integridade, sentido do documento.
a) Autenticidade e proveniência. Trata-se de determinar
o autor e a data do documento. Apela-se para critérios externos
(crítica externa) ou para critérios internos (crítica interna).
Os critérios externos (exteriores ao documento em si mesmo)
consistem nas referências ao documento feitas (explícita ou im-
plicitamente) por contemporâneos; testemunha se pertence,. ou
não, ao presumido autor. É certo, por exemplo, que' o Tratado
das Leis é autênticamente de Platão, pelo fato de ser citado
como' tal, várias vêzes, por Aristóteles. Constata-se, ao con-
trário, que as obras atribuídas a Dionísio, o Areopagita(refe-
rindo-se ao Dionisio, de que falam os "Atos dos Apóstolos",
XVII, 34, e que foi convertido por São Paulo) não foram co-
nhecidas e 'nem citadàs antes do século V. - t;ste último fato
fornece um argumento chamado argumento do silêncio. Não
é sem valor, mas não é, em geral, decisivo por si mesmo. Pode
acontecer efetivamente, que um documento perfeitamente autên-
tico não tenha sido conhecido e citado por seus contemporâneos,
ou mesmo que todos os vestígios contemporâneos estejam per-
didos. Necessário, então, utilizar-se dos critérios ínternos;
Os 'critérios internos de autenticidade são os que se extraem
do-conteúdo do documento: letra, vocabulário, estilo; idéias, lín-
gua, alusões a fatos conhecidos, traços de costumes, etc. Es-
,força-se por determinar sé o conteúdo concorda com o que. se
sabe, por outros meios, sôbre o autor presumido; - ' se, au-
têntico em parte, o documento não contém interpolações, plá-
gios, recomposições, etc .. A crítica interna das. obras do Pseudo-
-Dionísio, por ex., revelou. estilo e idéias tomadas do filósofo
grego Próclus (441-485): o autor reproduz mesmo textualmente,
em "nomes divinos", 18-35, uma passagem do "Tratado "do Mal"
de Próclus; descobriram-se também alusões à heresia monofi-·
sísta (sec. V). - Se se possuem outros documentos do mesmo
autor, a crítica interna torna-se, evidentemente, rüaís fácil. '
,
238 b) Integridade. Pode dar-se que 'se possua ou o documento
original, ou apenas uma cópia dêle. No primeiro caso, é neces-
sário examinar a integridade do documento pelos critérios ex-
http.ewww.obrasc
LÓGICA 229
atolicas.com
230 RÉGIS J OLlVET
cias (magnetismo, aerolitos, etc.), tiveram que ser reconhecidos
como exatos, devido ao progresso das ciências, que permitiu
explicá-los. Noutro domínio, Renan, por ex., ao escrever que
"o princípio da crítica é que o milagre não tem lugar nas coisas
humanas", põe um a priori de natureza filosófica, contrário à
pura objetividade histórica e científica, que o leva, em várias
circunstâncias, aos' mais grosseiros erros de fato.
240 b) Exame dos testemunhos. Qual o grau de veracidade
de um ou dos vários testemunhos? É possível descobrir em seu
testemunho vestígio de êrro ou de mentira? Se houver apenas
um testemunho será necessário pesquisar - em geral e em
particular quanto ao próprio fato em exame, - se o testemunho
possui a inteligência; o valor moral e a competência requerida.
Não são garantias suficientes nem a forma de afirmação, nem
a precisão do testemunho (há um modo de ser, exato que é a pior
forma de falsidade, por causa da maneira pela qual fatos, ma-
terialmente verdadeiros são colocados em relação mútua; in-
versamente, certas inexatidões materiais testemunham, alguma
vez, observação segura e fiel). É necessário também pesquisar
se o testemunho é sincero, o que se pode inferir do que se sabe
por fora a seu respeito, e por' não parecer ter êle ínterêsse
algum em alterar a verdade dos fatos. - Ter-se-á sempre em
mente, entretanto, certa possibilidade de serem os fatos alter-a-
dos, devido ao "coeficiente pessoal", impossível de eliminar-se
inteiramente.
O caso de vários testemunhos de um mesmo fato comporta
duas hipóteses: acôrdo dos testemunhos, que constitui, sobre-
tudo quando os testemunhos são independentes, presunção ·de
veracidade; - desacôrdo entre os testemunhos, quando convém
dar mais fé, não' ao maior. número de testemunhos, mas àqueles
que possuem maior valor moral, competência e inteligência.
Tudo isto. nos dá, entretanto, o mais freqüente das vêzes,
apenas probabilidades. Por isso o historiador escrupuloso guar-
dar-se-á de crer na infalibilidade de. seus métodos.
D. Síntese histórica.
241 Examinemos até aqui,apenas, a análise de 1atos, tendente
a fornecer ao historiador' cópia mais ou menos -ímportante de
material' histórico. Trata-se agora de passar à síntese, que é a
obra própria do historiador, e que consiste na reconstituição
da ordem dos acontecimentos passados. Obra 'difícil, que requer
todo um conjunto de: qualidades morais, cientffícas e literárias.
. 'r
1. Imparcialidade do historiador. - Há uma. tmparcíalí..
dade natural: aquela que consiste em excluir absolutamenta a
mentira premeditada, :.seja pela deformação sistemática dos fatos,
seja pela omissão voluntária dé alguns dêles. .
hUp://www.obra
L.ÓGICA 231
ecatoucas.com
232 RÉGIS J OLIVET
,http://www.obra~
LÓGICA 233
scatolicas.com
234 RÉGIS J OLlVET
http://www.obras
LÓGICA 235
não escolheu para atualizar, seja por não ter querido, seja por
não ter podido; ou seja porque é necessário sempre escolher e
por conseguinte renunciar. O tempo, que é o campo ~os pos-
síveis impõe ao homem a forma do antes e do depois. Essa
lógic~ é a lógica daquilo que foi feito e não daquilo que se faz.
A História autêntica aplicar-se-á, então, não somente a re-
tomar o homem no seu esfôrço secular para atingir a uma
humanidade mais perfeita, como também, e por isso mesmo, a
retomar, na sua irredutível originalidade, essa gênese e essa
elevação, das quais os acontecimentos são sempre, apenas, ex-
pressão exterior e condensada.
§ 3. MÉTODO DA SOCIOLOGIA 36
A. Noção de sociologia.
250 1. A ciência sociológica
a) Da antiguidqde ao século XIX. A Sociologia, como
ciência positiva dos fatos sociais, é uma disciplina recente. Não
quer isto dizer, porém, que o estudo das sociedades e dos fatos
sociais fôsse desconhecido dos antigos, ou, que não tivessem,
êles, idéia de uma ciência positiva das sociedades. De fato,
embora o ponto-de-vista normativo domine geralmente todos os
estudos sociais até o século XIX, - e o esfôrço dos filósofos
tenha consistido primeiramente em definir o que deve ser. a
sociedade, - convém notar que, obras como a "República", de
Platão; a "Política", de Aristóteles; o "De regimine principum",
de Santo Tomás; o "De cive e o Leviathan", de Hobbes; obras
de Locke, Montesquieu, Vico, Condorcet, De Maistre, etc. co-
mandadas embora por uma finalidade normativa,' não deixavam
de implicar ou incluir uma sociologia positiva, já que procura-
vam fixar como se comportam de fato os homens, enquanto
sêres sociais. Ficou apenas mal definida e, às vêzes, mesmo,
desconhecida, a noção de comportamento social e de psicologia
coletiva. ' ,
Com os economistas do século XVIII, entretanto,aparece
li noção de leis naturais das' sociedades. Quesnay fala, em seu
Tableau écoiwmique,. das "leis naturais" que o legislador deve
procurar', conhecer, a fím de tornar as leis ,políticas mais úteis
36Cf; S. Tomás, Ia:"Iae, q. 90-1Q7 (La loi, la socíéré). ed. da "Revue
des Jeunes", Paris, 1935. - A. Comte, "Cours de Philosophie positive",
48." lição. - "Discours sur l'esprit positif", - E. Durkheim. "Les rêgles
de la méthode scciologique", nova edi., Paris, 1947. - P. Bureau, "In-
troduction à la, méthode sociolcgique". - R Lacombe, "La méthode
soclologique de Durkheim". .-,- O.. Maunier, "Introduction à la socio-
logie".. - Lamonnyer-Troude, "Précis .de Sociologíe", Marseille, 1934.
- O. Leroy, '''La Raison primitive". - J. Monnerot, "Les faits' sociaux
~e sont pas des choses", Paris, 1946. ~ Bouthoul, "Traité de Sociologie",
aris, 1946. - F.Tohnies,. "Commúnauté et société": "Càtegories fon-
damentales de la sociologia", trad, fra. de Leif, Paris, 1944.
,http://www.obrasc
LÓGICA 237
atolicas.com
238 RÉGIS J OLIVET
reção em que elas não parecem ter dado tudo que delas se
poderia esperar. No fundo, Durkheim cedeu cada vez mais ao
temperamento de filósofo, e, sob o nome de Sociologia, quis
fazer prevalecer certa concepção do homem e ,da sociedade
que, sem falar de sua indigência filosófica, não correspondia
mais ao desígnio (por êle proposto) de uma Sociologia autên-
ticamente positiva.ê?
d) A sociologia americana. As condições sociais dos Es-
tados Unidos foram favoráveis ao desenvolvimento da Sociolo-
gia. Povo jovem, à procura de sua verdadeira fisionomia, a nova
sociedade se chocava contra problemas numerosos e variados,
que incitaram a refletir sôbre a vida social, suas condições e
suas leis. 38 De outro lado, o desenvolvimento das grandes me-
trópoles urbanas e as distâncias entre a cidade e o campo de-
veriam facilitar, mais do que na Europa, o progresso da So-
ciologia rural e da Sociologia urbana. A indústria americana,
a estrutura do capitalismo americano, tão diferente do capita-
lismo europeu, provocaram estudos científicos sôbre o trabalho,
enquanto os europeus, sôbre êste tema, ainda estavam no es-
tágio das considerações filosóficas. Enfim, uma ciência nova
podia, mais fàcilmente do que na Europa, achar lugar em uni-
versidades novas" bastante mais livres a respeito das disciplinas
científicas.
A sociologia americana produziu e continua produzindo
obras de extremo interêsse e de grande valor.ê? Inicialmente,
estêve sob a influência, de Comte e de Spencer, com os primeiros
sociólogos americanos, atribuindo, entretanto, maior importân-
cia 'ao fator psíquíco.i? - especialmente com Ch. Cooley41 que
introduziu a idéia fecunda daquilo que chamamos atualmente
do "Grupo elementar" (o grupo cujos membros todos têm entre
as relações pessoais) e que lançou as bases da Psicologia 'Social
moderna, mostrando que o caráter do indivíduo é feito por um
jôgo de estímulos e' respostas.
http://www.ohras<
LÓGICA 239
catolícas.com
240 RÉGIS J OLIVET
ou ideais sôbre as consciências individuais, correspondendo a
uma realidade psicológica de natureza especial.
Os fatos sociais exercem uma espécie de coerção sôbre os
indivíduos que se manifesta quer pela existência de sanções
determinadas quer pela resistência que opõem aos esforços dos
indivíduos que tentam contrariá-los. R. Maunier classifica as
sanções sociais em místicas (excomunhão, índex, expulsão, pe-
nitência, etc.), - morais (censura, reprovação), - jurídicas
(reparação, penas diversas), - satíricas (caçoadas, etc.). A
resistência às inovações ou transformações se exprime, princi-
palmente, pelo misoneísmo.
255 2. Há uma "consciência coletiva"? - Como explicar o
comportamento social? Não basta reconhecer-lhe a realidade,
ou classificá-lo de acôrdo com suas manifestações: é necessário,
ainda, determinar aquilo pelo que, precisamente, os fatos em
questão são fatos sociais, isto é, definir a essência do fato social.
Em primeiro lugar encontramos, proposta por Durkheim, a no-
ção de consciência coletiva. Para êle, o fato social será essen-
cialmente aquêle que é produzido por uma consciência coletiva,
exterior e superior às conciências individuais, fonte de tôdasas
representações (ideais e sentimentos), e, por conseguinte, de
tôdas as realidades tangíveis e visíveis que compõem a realidade
social.
O problema é saber como entender a relação entre a cons-
ciência coletiva e as consciências individuais. Dever-se-á pensar
que a vida social produz na consciência individual fatos origi-
nais de ordem psicológica, mas de natureza especial? - ou
pertence a consciência coletiva a um ser distinto das consciên-
cias individuais? Durkheim hesitou entre estas concepções. A
primeira não o pôde satisfazer, porque, para ,êle, os fatos sociais
são "maneiras de agir, de pensar, de sentir, que existem fora
das consciências individuais" ("Regles de la méthode sociolo-
gique", pág. 6). Quánto à segunda, tende a introduzir uma
noção mítica, que Durkheim parece rejeitar: "A sociedade .díz
êle, não contém nada afora osíndívíduos." ("Regles ", pág. XV.).
- Finalmente, a consciência coletiva, deverá ser concebida como
a reunião das consciências individuais, constituindo, porém, en-
quanto reunião, um todo absolutamente irredutível aos elemen-
tos individuais e de natureza absolutamente diferente. ("Re-
gles", págs, XV-XVI). Há nisto certa analogia com o que se
produz na formação, por síntese, dos todos naturais.
Estas explicações não eliminam as, dificuldades. A compa-
ração com os todos naturais é capciosa, pois supõe uma fusão'
das consciências individuais. Algo do gênero parece insinuar
Durkheím, escrevendo: "É necessário que as consclêncías sejam
,associadas, combinadas, e' combinadas de celta forma. Dessa
combinação é que resulta a vida social, Agregando-se, pene-
trando-se, fundindo-se, almas individuais originam um ser, psí-
http.ôwww.obra
LÓGICA 241
iscatoücas. com
242 RÉGIS J OLIVET
1. Noção de sociedade.
http://www.obras'
LÓGICA 243
http://w·ww.obras
LÓGICA 245
scatolicas.corn
246 RÉGIS J OLIVET
265
..
consiste em confundir o elementar com bessencia1.
c) Método histórico-cultural. O único método, que parece
permitir uma determinação objetiva da prímitívídade (relativa)
das várias sociedades, consistiria, primeiramente, na recónsti-
tuição, quanto possível precisa, dos conjuntos culturais, dos tipos
orgânicos de civilização, utilizando, para isso, caracteres (ma-
http://www.obras(
LÓGICA 247
.~I
catolicas. com
248 RÉGIS J OLIVET
o critério da situação geográfica aparece, neste ponto, como
auxiliar. Como em Geologia, a antiguidade dos fósseis desco-
bertos não é estabelecida através da natureza dos mesmos, mas
através da natureza do terreno onde são encontrados, assim em
Etnologia é observação quase constante e que revela uma lei,
que os pdvos se rechaçam uns aos outros dos locais férteis para
os menos produtivos. Daí que a população situada em melhor
lugar pode ser legitimamente considerada como posterior àquela
que ocupa a situação menos favorável. Seria difícil compreender
que os Esquimaus viessem expontâneamente instalar-se nas re-
giões árticas da baía de Hudson e que os Pigmeus se tenham
estabelecido por si mesmos no coração das florestas impenetrá-
veis da Africa equatorial.
Assim, se se constata que um tipo cultural está freqüen-
temente instalado em regiões menos favorecidas, pode concluir-
-se que êle constitui tipo anterior; e se se desconhece outro que
possa ser considerado como anterior a êle, poder-se-á tê-lo como
"primitivo".
267 e) A noção de "primitivo". Suposto descoberto um tipo
realmente (isto é, historicamente) "primitivo ", subsistirão ain-
da dificuldades devido ao caráter ambíguo da noção de primi-
tivo. Ter-se-ia, com efeito, de saber, se êsse tipo é verdadei-
ramente o tipo primitivo da humanidade, isto é, o dado pri-
mitivo original. O mais antigo tipo conhecido não é necessà-
riamente o primeiro. - De outro lado, que relação existe entre
êsse "primitivo" e os tipos de civilização mais complicados,
mais elaborados, que lhe são contemporâneos? - Enfim como
explicara estagnação relativa dêsses "primitivos" -durante tan-
tos séculos? Tôdas essas questões referem-se à classificação:
ver-se-á mais adiante que são difíceis de resolver e deixam
alguma .íncerteza .sôbre as conclusões da Etnologia.
E. Método comparativo.
268 A experimentação propriamente: dita não é praticável em
Sociologia. A única forma que ela poderá assumir consistirá
no estudo dos efeitos produzidos, numa dada sociedade, pelas
inovações políticas ou sociais, ou por determinado açontecimen-
.fo; por exemplo, a introdução da indústria num país agrícola,
s~gund.? o nível de civilização, mas. que abraça, numa unídade orgã-
mca, todas as. necessidades essenciais, - materiais e espirituais ....:.. da
natureza humana; é sempre um ciclo cultural qúe se forma em algum
lugar, desenvolve-se' e se propaga, quer o leve consigo Um .povo que se
, desloca;> quer se transmita de 'povo para povo, -de tribo para tribo".
(Schmidt, Voies nouveUes en Ethnologie, pág. 18). Dito-de outra forma,
os diferen~es estágios de civilização exprimem-se por um conjunto de
, crenças, ritos e hábitos exteriores 'determinados, dependentes uns dos
, outros egu.e se. mantêm coerentes, através das migrações. Cada: um
,.d~stes estágios chama-se Ciclo cultural; 'pode dar-se dêle déscriçãopJ,le~
t;~~' Caga CIclo, p,01S. que !lbr~ça tôdas as manifestações de vida de uma
o, reune em sru cívíhzação material e a civilização espiritual."
http://www.obras(
LÓGICA 249
a introdução do divórcio em um país que o não admitia, os en-
saios de coletivização agrária (Rússia), etc. Assim mesmo êste
gênero de ~studo dep~nde. mais da ob~ervação do que ~a ex-
perimentaçao. A Sociologia encontrara, em compensaçao, no
emprêgo do método comparativo, e da estatística, um sucedâneo
da experimentação.
1. A comparação. - Consiste em aproximar os costumes
ou fatos sociais semelhantes de países ou de lugares diferentes:
comparar-se-á, por exemplo, o feudalismo francês com as ordens
hierárquicas do Oriente; - as formas religiosas dos' Bantus e
as dos Pigmeus; - a família patriarca de Atenas, de Roma e de
Esparta; - o direito matrimonial em culturas, de tipos dife-
rentes, etc. A finalidade da comparação é descobrir o que de
essencial e, por conseguinte, constante, há no fato social, em
contraposição ao que lhe é acidental e provém de particulari-
dades de tempo e de ambiente. 1l:sse processo é, aliás, de em-
prêgo delicado, por causa da extrema complexidade dos fatos
sociais. Freqüentemente, analogias superficiais ou semelhanças
puramente materiais levam a identificar fatos sociais essencial-
mente diferentes entre si. (Foi assim que etnólogos falaram da
.l
"comunhão mitriaca", insinuando que o rito mitriaco era idên-
jl tico à comunhão eucarística cristã. Ora Franz Cumont (Les re-
! •
ligions orientales dans le paganisme romain) adverte-nos que a
"ceia mitriaca e de seus companheiros deve ser entendida no
mesmo sentido que o "socialismo de Diocleciano"!).
269 2. A estatística. - A comparação destina-se a isolar tipos
de fatos sociais. Pela estatística procuram-se descobrir as rela-
ções que existem entre certos tipos de fatos sociais de natureza
diferente (método das concomitantes). Chama-se estatística um
conjunto numérico dos fatos singulares da mesma natureza pro-
duzidos em tempo e espaço determinados: estatística dos nas-
cimentos, e suicídios na França, em 1938; estado da produção
mineira no Pás-de-Calais-em 1937; número' de casos de tuber-
culose, de 1930 a 1936, entre os operários de tal indústria.
As estatístícas são de grande utilidade para a Sociologia.
. Assim, por seu intermédio procura-se determinar que proporção
existe entre o número de hectolitros de álcool consumido em
'dado país e' o número de casos de loucura nesse mesmo país;
ou ainda a relação entre o desemprêgo e a criminalidade. Ve-
rificada a correlação mais ou menos estreitaentre as variações
de um ede outro fato, conclui-se pela existência de uma ligação
entre êles,que pode ser matemàticamente calculada e expressa
em gráfico '(figo 15) .5lMas compete à interpretação sociológica
(263) . dizer se cabe estabelecer entre os dois fenômenos uma
rela:~ão de causa e efeito. .
catolicas. com
260 RÉGIS J OLlVET
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1930 \93\ 1932 1933 1934 1935
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Fig. 15. Moeda, preço e produção nos Estados Unidos, de 1930 a 1935
(Extraído de "Aperçu de la situation monétaire", Société des nations,
Genêve, 1935). A - Depósitos à vista. B - Velocidade da circulação dos
depósitos à vista. C - Preços por atacado. D - Produção industrial. E -
Importâncias levadas a débito das contas particulares. F - Produção
industrial e preços por atacado.· .
A Estatística é uma ciência difícil, não apenas pelos cuidados
que devem ser. tomados no cálculo e uso dos elementos mas
por ser mais do que qualquer outra, ciência da dúvida crítica.
Crítica das fontes, crítica dos métodos, dos resultados e das
conclusões: o "esprit de finesse" deve sempre controlar o es-
pírito geométrico, o discernimento deve primar sôbre o puro
i cálculo, o sentido das complexidades sociológicas deve dominar
i o espírito de sistema. .
A Estatística se ramificou em técnicas numerosas.e diversas,
tais como os inquéritos e os contrôles por sondagens: Nas em-
11 prêsas: estudo de mercados, campos de expansâocomercíal.vetc.P
f
I . 270 3. Classificação dos tipos sociais. -,- A classificação tem por
:! finalidade estabelecer grupos naturais ou de espécies de fatos,
apoiando-se sôbre a importância dos caracteres, para determi-
nar conjuntos orgânicos; depois ciclos culturais. Pode também
i
procurar estabelecer séries progre~siv{Zs e genéticas, mostrando
!l 1
como os diferentes tipos sociais. se sucederam, uns aos outros.
a) As classificações genétie,as. Muitas classificações foram
propostas. Spencer, Durkheim, Giddings, estabeleceram classi-
'.:1 ficações morfológicas, considerando (de acôrdo com a lei de
Comte), que a sociedade evoluí; pela diferenciação, do fato
.mais simples ao mais complexo. Também foram propostasetes-
sificaçães econômicas tiradas ora. da organização econômica ge.:.
ral (Boucher) ora do desenvolvimento da técnica (Grosse},
l
.,
http://www.obra~
LÓGICA 251
b) Mito do elementar. Tôdas essas classificações têm o
defeito de pretender descobrir o fato elementar, ou o fato mais
simples, como ponto-de-partida para a evolução. As formas
sucessivas de cultura, são aí julgadas como engendradoras uma
das outras, através de uma complexidade crescente. Assim é
que Comte supõe a sucessão dos três estados, e, no interior do
primeiro (estado teológico), a sucessão das três formas: feti-
chismo, politeísmo, monoteísmo; - o fetichismo seria a forma
mais elementar.55 - Ora, a determinação do elementar é o que
há de mais incerto e gratuito. Double, maná, totem, etc.: cada
sociólogo optou por um ou por outro dêsses fatos, de acôrdo
com as preferências, mas não por razões verdadeiramente ob-
jetivas. Os pretensos fatos elementares são na realidade, fre-
qüentemente, de extrema complexídade.f Hoje nenhuma clas-
sificação é realmente possível: às seqüências culturais propostas
falta base científica. A tarefa da Sociologia deve portanto con-
sistir, antes de tudo, em estabelecer uma classificação natural
dos diferentes tipos de fatos sociais.
271 4. A Defínição
a) Natureza da definição em Sociologia. A definição, em
Sociologia, ciência de fatos, evidentemente, apenas pode ser o
resumo da classificação natural. Como esta ordenou e subor-
dinou os fatos, em função de seus caracteres distintos, a defini-
ção significará o tipo geral ao qual pertence determinado fato.
O êrro capital de muitos sociólogos é partir de definição a
priori: isso é arbitrário e anti-científico.. É, não obstante, o que
faz regularmente Durkheim: trata suas definições iniciais (que
deveriam ser nominais e provisórias) (55) como definitivas, e
pretende atingir, incontinenti, o caráter essencial de 'uma dada
realidade (religião, suicídio, socialismo" etc.). Em virtude des-
sas definições gratuitas e arbitrárias, o culto de Deus, para
Durkheím, não é senão o culto idealizado da socíedade.w para
outros (Tylor), êsse culto se reduz a uma forma de. animismo;
a moral cristã, se torna, para alguns (S. Reinach), forma mo-
derna de· velho tabu; os sacramentos derivam da magia, etc.
Essas definições, longe de serem fruto de ínquérito vobjetívo
sôbre os fatos, governam os inquéritos e lhes impõem, arbi-
'tràriamente, os resultados. Afinal, só se encontram nessas ,cons-
truções pseudo-científicas as opiniões filosóficas de seus autores.r"
1>3 Referente' à confusão entre elementar e essencial, cf. a discussão
da "Société française de. philosophie,' Bulletin de la Soco fr.. de phil.,
março de 1938. Para a criticado evolucionismo espenceriano,cf. A. La-
lande, "Les illusions évolutionnistes", Paris, 1930. .
54 Frazer escreve: "Na evolução do pensamento, como na da ma-
t~ria, o mais simples ·é o primeiro no tempo". Ora, M. Levy-Bhuhl, ao
Cl~~ essa 'frase (ULes fonctions mentales"; pág. 11) faz notar que, con-
trarIamente à afirmação de Frazer, as línguas primitivas são exatamente
. COmplicadas.
55 Cf. E. Durkheim, Les formes élémentaires de la viereligieuse.
56.Cf. R. Lacombe, ','La méthode socíologique de Durkheim".
scatolicas.com
252 RÉGIS J OLIVET
b) Condições para uma boa definição. Vê-se do que pre-
cedeu, que uma boa definição sociológica deve obter-se pelo
conjunto orgânico de que faz parte o fato considerado, como
também do ciclo cultural a que pertence tal fato, isto é, pelo
contexto étnico, social geográfico.s? Segue-se que a definição
de fatos materialmente semelhantes poderá variar totalmente
de acôrdo com os organismos ou ciclos onde êsses fatos se en-
contram (por exemplo, a definição de uma interdição alimentar
no ciclo animista e em ciclo cristão) o que equivale a dizer
que a definição não pode realmente ser formulada senão a
partir de uma classificação orgânica, cientificamente elaborada.
F. Leis sociológicas.
272 1. Diferentes espécies de leis.- A formulação das leis
sociológicas é a explicação dos fatos a partir de suas causas.
Portanto; ela procura causas, tomando esta palavra em seu sen-
tido empírico, como antecedente constante. - Os processos uti-
lizados pela Sociologia, como se acabou de ver, são, as devidas
alterações, os das ciências experimentais: método da concor-
dância, método das variações concomitantes. Comparações e es-
tatística só fazem pôr em prática êsses métodos gerais e estão
a serviço da indução, bem como da observação.
As leis' que a Sociologia procura estabelecer são: leis da
coexistência dos grupos ou tipos sociais; - leis de funcioná-
mente dêsses grupos; - finalmente, leis da evolução dêsses
grupos.
Os sociólogos contemporâneos, na realidade, evitam, geral-
mente, falar de leis.. Com efeito, dedicam-se 'mais a determinar
tipos do' que a formular leis. As "leis". a que nos referimos
aqui, portanto, devem ser compreendidas como expressões de
57 Segue-se que o método de Frazer (Le Rameau d'Or) , que se
processa pela acumulação dos fatos encontrados, não importa onde e
quando, (sem falar da explicação evolucionista a partir de qualquer
hipótese psicológica arbitrária) alcança apenas resultados decepcionan-
teso Exemplo: "Sob a rubrica "itãotoéar o chão", [Frazer]' agrupará
práticas como estas, supostas baseadas sôbre a mesma interdição: O
Micado e o pontífice dos Zapotecas não deveriam pôr os pés. na terra;
os soberanos de Taiti não deveriam pisar solo que não fôsse de seus
Estados; era mau presságio que o rei -de . Dosuma tocasse o solo; os reis
, da Pérsia andavam somente de carro ou a cavalo; em Seus palácios pi-
savam em tapêtes; o rei de 'Sião jamais punha os pés na terra; os reis
de Uganda não passeavam a :pé fora de' seus palácios; os australianos
de Vitória não jogavam nunca ao chão de emou (Rameau d'Or, lI, pâgs:
396-397) . O leitor creria que acaba de ver formas diferentes de uma
mesma superstição. Se olhar mais profundamente, verificará .que, se
executou ... uma performance. Efetivamente, há três tipos de fatos:
1, 4; 5, 6, dignidade real; 2,. os soberanos fazem parte' do país e não
podem abandonar seus lugares sagrados -, 7, é proibido jogar coisas
sagradas (a idéia de chão não tem nada a ver com isso; se se jogar
carne de emou ao fogo ou na água seria a 'mesma coisa); 3, duvidoso.
Que. é que fai a unidade dêste ajuntamento heteroclitic6? 'Nada; a rlão
~er a palavra solo ... " (O. Leroy, L'oeuVre de J.-G. Frazer, em "Vie
mtelleçtuelle", de 25 de outubro de 1938, pâg. 272.)
atolicas. com
254 RÉGIS J OLlVET
,http://www.obrasl
LÓGICA 255
q~·~"r
...........
. r- mmlsmo para a realidade tôda, é recorrer a um postulado gra-
tuito, aliás in inteligível.
a) Determinismo social. O determinismo social tão-somente
poderia ser concebido como determinismo do tipo moral, e não
físico, pois diz respeito a um domínio que envolve o exercício
das liberdades humanas. Significará êle,. pràpriamente, a ordem
mais freqüente em que se exercem .essas liberdades. Por isso,
as leis sociológicas serão sempre apenas leis estatísticas, que
fixam médias mais ou menos exatas.
b) O exercício da liberdade. - Pode sem dúvida objetar-se
que a liberdade humana não se exerce constantemente, e que o
automatismo desempenha parte considerável na nossa vida. Isto
é verdade; não resolve, porém, o problema. A única considera-
ção que atinge o fundo da questão é esta já ilustrada pelos casos
de "indeterminismo" da ordem física (211): é precisamente a
indeterminação dos elementos individuais que fundamenta o
valor das leis estatísticas.
Efetivamente, desde que se considerem grandes números,
as diferenças individuais tornam-se sensivelmente iguais de
parte a parte, anulam-se e deixam transparecer verdadeiras
constantes; da mesma maneira, os casos berrantes e excepcio-
nais desaparecem na massa dos casos conformes às leis' da
natureza moral. A lei que estabelece uma relação inversa entre
a freqüência dos divórcios e a taxa de natalidade, por exemplo,
poderá 'conter numerosas exceções: guardará seu valor estatís-
tico desde que se considerem um tempo e um espaço suficien-
temente extensos. - Em outro sentido, se lançarmos 6 vêzes
um dado, poderemos, por exemplo,obter três vêzes o número 3,
e três vêzes o número' 6, ou quatro vêzes o '2 e duas vêzes o 5.
Se se lançar 6.000 vêzes, os númetos obtidos repartir-se-ão sen-.
sivelmente segundo a proporção de 1/6 ou 1.000 vêzes cada Um
(se seis lances' sucessivos acarretam nas seis vêzes o n.? 5, seis
outros .lances sucessivos resultarão uma vez ou outra seis vêzes
2, etc.). . . ,
Uma ordem e uma leíisão assim evidenciados, sem que a
contingência dos fatos singulares (indeterminação na ordem fí-
sica, liberdade humana na ordem moral" possa jamais ser posta
em dúvida. Ao contrário, a constância -das leis es.tatísticas e a.
precisão das médias implicam a indeterminação dos elementos..
Pretender,com Durkheim, .basear o valor das leis sociológicas
sôbre a negação da liberdade humana, ou deduzir esta negação
da realidade das leis vsiciológicas, é falsear. profundamente o
sentido das leis estatísticas e desconhecer: as condições de uma
verdadeira ciência socio~ógica.
G. .Papel da Sociologia.
2'16 1. A'sociologia não é uma m~ral - A Sociologia teve, com
Durkheim, grandes ambições. Pretendeu-se, efetivamente, tirar
catolicas.com
li 256 RÉGIS J OLIVET
i:
! dela uma arte sociológica que apontaria os fins a atingir, da
mesma forma que a moral aponta regras de dever. - Ora, isto
é impossível, porque a Sociologia é apenas uma ciência de fatos,
indicando o como dos fenômenos sociais, sem ser capaz de dar
ordens que imponham tal ou tal maneira de agir.
Esta impossibilidade é particularmente evidente no contexto
sociológico durkheimiano; se, de fato, a Sociologia é uma espécie
de física social, como se pode revestir de caráter normativo?
Sem dúvida as ciências da natureza dão lugar às técnicas: mas
as técnicas indicam somente como agir, se se quiser obter de-
terminado resultado. Elas não impõem a procura dêsse resul-
tado. - A observação de Durkheim de que a Sociologia pode
definir o normal (ou o estado de saúde social) não é melhor:
o normal e o sadio (que Durkheim, aliás identifica erronêa-
mente, pois pode 'acontecer que o que é de fato normal não
seja sadio) apenas se definem, como estados de direito, em
função de uma metafísica, que determine a natureza e o destino
do homem.
Com maior razão, a sociologia durkheimiana será, absolu-
tamente, incapaz de atribuir ao normal e ao sadio uma obrí-
I gatorie~ade.59 Portanto, é impossível aceitar a concepção de
I Durkheim de uma arte sociológica: a Sociologia, assim compre-
endida~ não pode dar ordens e nem estabelecer regras de con-
duta; e mesmo incapaz de dizer o que é bom e o que é mau,
Em todo o caso, se se considerar a Sociologia como ciência
prôpriamentg dita, será admitir que, como tal, permanece alheia
à determinação dos fins (o que não significa alheia à. ordem dos
fins (253).
277 2. A Sociologia é útil ao. moralista e ao político. - Seria
err~neo,. de outro lado, pensar que nada se tem a esperar da
Sociologia, Os fatos sociais que ela põe em evidência; as com-
paraçoes a que procede e as relações que estabelece entre rea-
l~dades s?c~ais que parecem, à 'primeira vista, não conexas; os
tipos ~oclals que chega a determinar; a influência das repre-
sentaçoes sociais, que ela descobre, 'nos mais variados domínios;
as leis qU~chega .aIormular, - são preciosos elementos para a
I
.i ' .
~
1
:~ Paris~
giPtyige . "Le conflit de la morale et de la' sociologie'!, 1911.
1934, c. IX. ves Simon, "Critique de la. connaissance morale", París..
'. http://www.obrasca1
FILOSOFIA DA NATUREZA
:olicas.com
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FILOSOFIA DA NATUREZA
COSMOLOGIA
Preliminares
Noção e divisão da Filosofia da Natureza
A. Filosofia da Natureza.
Z81 1. Noção. - A Filosofia da Natureza (ou Filosofia Natural)
tem por objeto, como vimos (22), o ser no primeiro e segundo
grau de abstração, isto é, de um lado o mundo corporal, en-
quanto tal, de outro o mundo vivo como tal. A primeira parte
chama-se Cosmologia. a segunda Psicologia. 1
Z. Filosofia da Natureza e ciências positivas,
a) Distinção. Distinguir a Filosofia da Natureza das cíên-
cias é de suma importância. A diferença essencial, que existe
entre elas, é clara: as ciências versam sôbre o ser móvel e sen-
sível, enquanto móvel e sensível (isto é. enquanto sujeito à
observação dos sentidos e mensurável); e a Filosofia versa sôbre
o ser móvel e sensível enquanto ser (isto é, sôbre os primeiros
princípios pelos quais o ser móvel e sensível é inteligível). É
próprio da Filosofia . tudo julgar e definir do ponto-de-vista
do ser (24-25), ao passo que a ciência julga e define do ponto-
-de-vista .das realidades acessíveis à observação sensível (direta
ou por intermédio de instrumentos)' e à medida.
O exemplo esclarecerá melhor. A ciência trata da natureza
do corpo...Determina, na Química, quais os elementosconstí-
tutivos de cada corpo, quais os corpos quimicamente simples;
- na Física; quais os fenômenos pelos quais se manifesta a
energia física. Em tôdas: estas investigações, procura 'exprimir,
1 Cf. J. Maritajn, "La Philosophie de la nature.Essai erítíque eur
sesfrontiereset son obiet", Paris 1935. - '''Les degrés du savoir",
Paris, 1932,págs. 43-134.
scatolicas.com
260 RÉGIS J OLlVET
....
http://www.obraSCi
COSMOLOGIA 261
B. Cosmologia.
1. Definição. - Cosmologia (etímolõgícamente, estudo do
mundo) é a parte da Filosofia da N atureza que trata dos corpos
enquanto tais, abstração feita de serem ou não vivos.
2. I)ivisão. - A Cosmologia, de acôrdo com o método fi-
losófico, parte da observação das propriedades mais gerais dos
corpos, visando definir a essência dêstes, tal como' se manifesta
por suas propriedades.
. As 'propriedades mais gerais dos corpos, visando definir 'â
essência dêstes, tal como se manifesta por suas propriedades.
As propriedades gerais se resumem na quantidade (e na-
quilo que com ela se relaciona), - e nas qualidades sensíveis.
Daí a divisão da Cosmologia:
I. Da quantidade
lI. Das qualidades sensíveis
lII. Da natureza dos corpos 5
A "título de introdução à Psicologia, anexaremos a estas
questões o estudo da vida em geral e do problema da evolução.
atoücas.corn
PRIMEIRA PARTE
A QUANTIDADE
,
" lugar e o espaço, de um lado, e, de outro lado, embora menos
estritamente, o movimento e o tempo.
CAPÍTULO I
DA QUANTIDADE EM GERAL
SUMARIO·
ART. I. NATUREZA E ESPÉCIES DA QUANTIDADE. - Noção de
quantidade. - Quantidade e extensão exterior. - E&pécies.
ART. n. NúMERO. - Noção. - Unidade transcendental. - Gênese
do número. - Empirismo e ineismo. - Numerar é abstrair.
- A questão do número infinito. - O problema. - Número
e multidão.
ART. 111. EXTENSÃO. - Realidade da extensão. - Noção do continuo.
O problema da extensão. - ' As pretensas antinomias do
contínuo. - A irrealidade da extensão, segundo Lachelier.
A natureza do continuo. - Contínuo e indivisíveis. - An-
'terioridade do todo sôbre as partes. - Geometrias não eu-
clidianas. '
ART. IV. QUANTIDADE E CORPO. - Extensão geométrica e BÚbs-
,tância corporal. - A teoria cartesiana. - Distinção real
entre extensão e corpo., - Quantidade, acidente absoluto. -
O efeito formal P1'imário,da quantidade. - A divisibilidade
interna. ,
I
I
sência que se há de definir e dividir em espécies), 'ou em re-
lação ao corpo, da qual é acidente (49). ' ,
hftp://www.ob'ras l
COSMOLOGIA 263
ART. I - NATUREZA E ESPÉCIES DA QUANTIDADE
1. Noção. - Não se pode definir, propriamente falando,
a quantidade, que é um gênero supremo. Pode-se apenas, des-
crevê-Ia. Empiricamente é o domínio do grande e do pequeno,
daquilo que se mede, ou daquilo que ocupa lugar no espaço, e
é divisível. Partindo destas observações, dir-se-á, filosàficamente,
que a quantidade se caracteriza, antes de tudo, pela divisibili-
dade interna, isto é, por compor um todo feito de partes ho-
mogêneas (ordo partium in totO).5 Efetivamente, é o que nela
existe de mais fundamental e de que derivam as outras pro-
priedades, a saber: a divisibilidade (ou a separabilidade das
partes), que acarreta, evidentemente a realidade das partes
homogêneas; - a mens'Urabilidade, que implica a pluralidade
das partes; - a extensão espacial (para a quantidade contínua),
que implica a extensão, interna resultante da exterioridade das
partes umas em relação às outras; - finalmente, a impenetra-
bilidade, oriunda do fato de as partes do espaço serem ocupadas
pelas partes do corpo.
2. Quantidade e extensão exterior. - Pelo que precedeu
observa-se que é necessário distinguir a quantidade como tal
da extensão externa (sensível ou local), isto é, do fato de os
corpos poderem comparar-se em sua extensão e medir-se uns
pelos outros. A quantidade como tal é evidentemente anterior
(logicamente) à extensão externa, que é apenas conseqüência
dela. O princípio primeiro intrínseco da quantidade, aquilo que
a constitui como tal e que lhe basta, portanto para existir, nada
mais é do que a realidade de uma divisibilidade interna, isto é,
a existência. de partes homogêneas, colocadas umas fora das
outras. A quantidade constitui, primeiramente, aquilo que se
poderia chamar medida por dentro. O corpo tem quantidade
em si mesmO, pelo fato de sua divisibilidade interna (do que
resulta o .poder de ocupar lugar no espaço) e não enquanto
relacionado aos objetos exteriores (isto é, enquanto ocupante
de um espaço). '
285 B. Espécies de quantidade
Distinguem-se duas. quantidade contmua. e quantidade des-
contínua. .
1. O contínuo.
à)· Definição .. É chamada quantidade contínua aquelacujas
partes. são tais que o. fim de. uma é ao mesmo tempo comêço
5 É o que permite distinguir partes quantitativas e partes essenciais.
A água; por exemplo, édivisivelem oxigênio e. hidrogênio. Mas não
é .esta divisibilidade que a torna extensa, e,.' sim, a dívisibilidade da
s~a. '!la~sa .homogêneaem u'a multidão de gôtas de água,estas mesmas
divisíveis indefinidamente. .
catolicas.com
264 RÉGIS J OLIVET
da seguinte. Portanto, é a quantidade divisível (e não dividida
atualmente) em partes da mesma natureza. De onde deriva a
.propríedade da extensão. ,
. . Distingue-sefàcilmente o contínuo do conttguo, quantidade
.cujas partes estão apenas em contato .
. b) Divisão do continuo. A quantidade contínua pode divi-
dir-se em: contínuo simultâneo - cujas partes apresentam-se ao
mesmo tempo:' linha (comprimento), - superfície (compri-
mento e largura), - volume (comprimento, largura e profundi-
dade); - ' e contínuo sucessivo - cujas partes apresentam-se
uma após asoutras: o movimento e o tempo .
. . 2; . O número. .:- A quantidade descontínua (ou discreta,
isto é dividida) é a constituída de unidades da mesma natureza
óu de partes homogêneas atualmente separadas uma das outras,
ou em simples contigüidade, e consideradas como partes de um
todo: três cadeiras, cem homens, as peças de u'a máquina, um
monte de pedras. A isto é que se denomina número.
Distingue-se o número "numerado" (ou concreto) e o "nu-
merante" (ou abstrato). O primeiro designa coisas múltiplas
que se somam por um número: três cadeiras, dez homens: - o
'número. abstrato é o tomado absolutamente: 2, 3, 7, etc. - A
noção de 'númerocónvêm primeira e principalmente à quanti-
dade. discretà, pois ~ pormeio dela q~e medimos o contínuo. Se-
cundàriamente, também é aplicada ao contínuo, de vez que pode
ser útil para medir outro contínuo (com um metro mede-se uma
tábua). . L
ART. 11 - O NOMERO
II A. Noção.
~
il
1. A· unidade transcendental.
~
I,
acrescenta realmente ao ser. Significa apenas negação: negação
da divisão: tudo aquilo que é ser é uno e indiviso.' Daí o axioma:
o ser e o um são conversíveis (ens et unum convertuntur).
Esta unidade transcendental é princípio ds multidão isto é,
da coleção dos entes indivisos em si mesmos e distintos uns dos
.outros, - e considerados como distintos: um. homem, um ~avalo,
uma pedra; uma árvore formam uma pluralidade de sêres em
que cada qual é um (com uma unidade mais ou menos perfeita).
http.z/www.obrasca'
,COSMOLOGIA ' 265
B. Gênese do número.
287 1. Empirismo e ineísmo. - Muito se discutiu sôbre a gê'-
nese do número. As duas opiniões sustentadas relativamente à
origem das noções matemáticas também aqui se encontram: o
empirismo e o ineísmo. Concepções opostas, nenhuma satisfaz
mais do que a outra. O número não é uma realidade sensível e
empírica, como não é, também, inato à inteligência. Como vimos
(168) o número resulta de uma elaboração feita pela inteligência,
a partir dos dados experimentais. O problema está em saber
como se faz essa elaboração.
2. Numerar é abstrair. - Nada se explica, procurando a
gênese do número na Soma de unidades distintas; o problema
consiste justamente em explicar essa soma, que é o próprio nú-
mero. A unidade do número não é simplesmente a simultanei-
dade de elementos distintos (ou opostos): éuma verdadeira uni-
dade; não, uma justaposição, uma interpenetração e, enfim, uma
"identidade". A série numérica, efetivamente, está condicio-
nada pelo fato de cada um de seus elementos ser considerado
como parte de um todo único e unívoco.
Conclui-se daí que 'a gênese do número (isto é, da divisão da
quantidade) está ligada à nossa capacidade de abstrair, e de
pensar o geral. O número é apenas um caso particular da ativi-
dade .de abstrair, e nada mais é que a apreensão de um (gênero
ou espécie) no múltiplo (indivíduos ou partes). O número é
dado implicitmente (e. intuitivamente) no universal lógico e ex-
prime (ou implica) a unidade de têrmosmúltiplos. Como o uni-
versal, êle é, portanto, um ente de razão..
tolicas.corn
266 RÉGrs JOLIVET
http://ww,w'.obra~
COSMOLOGIA ~Ol
scatolicas.com
268 RÉGIS J OLlVET
http://www.obrasca1
, COSMOLOGIA 269
existrr em si mesma, porque não possui partes simples e sua rea-
lidade, Se a tivesse, não poderia ser outra do que a dessas partes
simples. Ela existe, apenas, na consciência, porque é na cons-
ciência unicamente que pode ser o que é, um todo em si mesmo
antes das partes, as quais o dividem, mas não o constituem".
Lachelier retoma os argumentos de Leibniz, que mostrava,
contra Descartes, que a extensão geométrica não pode ter, como
tal, unidade interna, e que equivale a um simples fenômeno."
"Requer, portanto, para ser, um princípio de ser e de unidade,
que é a entelequia, ou forma substancial.
" ~sses argumentos são decisivos contra Descartes e contra
sua concepção de corpo, como pura extensão geométrica. Mas no
que Lachelier não tem razão é em aplicar ao contínuo concreto
o que vale apenas para o contínuo abstrato. O contínuo abstrato,
como tal, evidentemente, tem unidade somente na inteligência.
Não pode formar um todo por si mesmo e em si mesmo, pois,
considerado por abstração de tôda natureza, falta-lhe completa-
mente o princípio objetivo da unidade. Mas, o caso do contínuo
concreto (ou corpo), precisamente, é outro, porque as partes
dêste contínuo encontram no corpo (ou, mais exatamente, na sua
forma substancial) um princípio objetivo de unidade. Neste
caso, o contínuo (ou corpo) existe antes das partes: estas, que
existem apenas 'em potência no corpo, dependem do todo.
B. Natureza do contínuo.
291 Como o contínuo se compõe de partes potenciais, vem 0
problema de saber como elas se unem, entre .si, e o que são em
si mesmas. ;
1. Contínuo e indivisível. - O matemático divide o contí-
nua (abstrato) em elementos indivisíveis (ponto,linha, super-
fície) assim como o físico decompõe em pontos distintos e traje-
tória do movimento .(167).. Mas isso são puras ficções' matemá-
ticas. ~fetivamente, a, quantidade contínua não é' composta de
elementos indivisíveis: de um lado, seria contrário à noção de
quantidade, que implica divisibilidade indefinida; - de outro
lado, elementos índívísiveís Ya saber, neste caso, inextensos)
nunca poderiam engendrar a extensão.
'Pode, entretanto, .admitir-se que o contínuo contém em po~
:olicas.com
270 RÉGIS J oLIVET
tência elementos indivisíveis, - e, ainda, que os limites do con-
tínuo são indivisíveis em ato, mas não distintos da massa que
completam ou limitam.
2. Todo e partes. - O contínuo não se origina da agregação
das partes contràriamente ao que pensava Leibniz.ê Esta opi-
nião, logicamente, conduz à conclusão de que o contínuo resulta
da soma de elementos não contínuos. De fato, se as partes exis-
tem antes do contínuo, é necessário que sejam inextensas (caso
contrário pôr-se-ia de nôvo o problema para elas). É o que
admite Leibniz, para quem o composto resulta de elementos sim-
ples (monadas) anteriormente dados e unificados pela entele-
quia (alma ou forma). Mas não se .pode compreender como o
contínuo poderia originar-se da adição de elementos não con-
tínuos.
292 3. As metageometrias
http://www.obrascatc
COSMOLOGIA 271
ilicas.corn
272 RÉGIS J OLIVET
I
contingentes e próprios, e constata que a inteligência não tem
mais nada onde se apegar. 18 A substância como tal, não parece;
portanto, ter realidade (Principes de la Philosophie, 1.a parte,
c. LXIII). Para que ela fôsse inteligível, seria necessário que
i fôsse por si própria 'Subsistente, ou fôsse concebida como capaz
de subsistir separadamente de tôdas as suas propriedades (Prin~
http://www.obrascatoIicas
COSMOLOGIA 273
princípios que não sejam também recebidos na Matemática"
(Principes, IH, c. LXIV) .
295 2. A extensão é realmente distinta da substância corporal.
- Não cabe aqui a discussãodos princípios da teoria cartesiana.
Dependem êles da Crítica do conhecimento. Mas, pode mostrar-
se, diretamente, que essa teoria esbarra com dificuldades insu-
peráveis.
a) A teoria cartesiana faz do corpo um simples fenômeno
- Vale neste caso, contra Descartes, a argumentação de Leibniz,
retomada por Berkeley e Lachelier, que acima citamos (290).
Pode, efetivamente, provar-se pela própria natureza da extensão
geométrica, que ela não pode existir em si mesma, o que quer
dizer, que exige, para existir, um sujeito. É da essência da ex-
tensão, tomada como pura extensão (como deseja Descartes), ter
partes umas fora das outras. Potencialmente, é a extensão mul-
tiplicidade pura. Ela não pode, portanto, ser dada em ato, como
um todo (isto é, como um ser), senão por um princípio distinto
de si mesma. Por conseguinte, é impossível identificar o corpo
com ela: se o corpo fôsse únicamente extensão geométrica, seria
simples fenômeno ou aparência. 15 .
b) Contradições internas da teoria cartesiana - Nas Médi-
tations (IV.a Medit.), tomando como exemplo a substância-cera,
afirma que a substância, uma vez despojada de suas proprieda-
des, somente pode ser conhecida, pela inteligência. Mas de outro
lado, se a substância dos corpos, segundo Descartes, consiste na
extensão, e os acidentes nada têm de real afora as modificações
mecânicas dos corpos, como atribuir exclusivamente ao entendi-
mento o poder de perceber as substâncias? Parece que, uma vez
percebido, tudo aquilo que pode ser percebido por intermédio
dos sentidos", nada mais há a perceber; e o entendimento não
tem mais objeto algum. Chegamos, portanto, ao seguinte dile-
ma: ou a substância corporal se reduz a extensão e é inteira-
mente acessível aos sentidos; ou apenas pode ser conhecida pelo
entendimento, e neste caso é necessário admitir que a extensão,
a figura e o movimento são propriedades realmente distintas da
substância corporal. 16 - Descartes oscila entre estas posições; os
.com
movimentos contrastantes de seu pensamento mostram que sua
noção de substância se choca contra a experiência e a razão.
296 3. Quantidade, acidente absoluto. - Conclui-se da discussão
acima que a quantidade realmente é um acidente dos corpos e
não sua substância. Mas, como observa Aristóteles (I Metaph.,
c. IlI), a quantidade é o sujeito de todos os outros acidentes sen-
síveis; e isto lhe confere uma espécie de substancialidade apa-
rente, enquanto concebida como revestida das qualidades sensí-
veis (côr, resistência, forma, figura, sabor, impenetrabilidade).
Por essa propriedade pela qual a quantidade, sujeito dos
outros acidentes corporais (e chamada por isso de acidente abso-
luto), age anteriormente, por exemplo, sôbre os órgãos dos sen-
tidos, admite-se como possível que, subtraída a substância, per-
maneça a extensão, - se bem que isto possa realizar-se apenas
por milagre do poder divino, e assim mesmo sem que a extensão
perca sua relação transcendental com a substância 17 que lhe é es-
sencial. A extensão, como tal, é, portanto, inteligível per se, en-
quanto concebida na relação transcendental que tem ao corpo ou
à natureza que a faz existir, conferindo-lhe a unidade de um
todo. Ininteligível é a extensão geométrica de Descartes, conce-
bida como subsistente por si, como bastando-se a si própria
absolutamente.
B. Primeiro efeito formal da quantidade.
297 . 1. Efeito formal primário e secundário. ~ Pela quantidade,
o corpo é extenso, situado em um lugar, mensurável e divisível,
impenetrável. Dentre êsses efeitos formais (ou conseqüências
naturais da quantidade) podem ainda distinguir-se o ~feito pri-
I
http://www.obrascat
COSMOLOGIA 275
:olicas.com
CAPÍTULO II
LUGAR E ESPAÇO
SUMARIO
ART. 1. O LUGAR.·- Noção. - Definição. - Problemática do lugar.
- Impenetrabilidade e mulWocação. - Os corpos são na-
turalmente impenetráveis - A multilocação.
ART. n. O ESPAÇO. - Noção comum e problemas.. - O espaço e 8
imaginação. - Problemas. - As teorias realistas. - O es-
paço confundido com a imensidade divina. - O espaço re-
duzido ao vácuo. - O espaço confundido com os corpos. -
Teorias idealistas. - O espaço como "ordem dos coexisten-
tes". - O espaço como forma "a priori" da sensibilidade.
- O espaço como relação de dimensões. - O espaço é um
ente de razão com fundamento na realidade. - A questão do
vácuo absoluto. - O problema. - Princípios de solução. -
O espaço é finito ou infinito? - Um mundo infinito em ex-
tensão não é contraditório. - O espaço é de fato finito ou
infinito?
ART. r. O LUGAR
A. Noção.
1. Definição aristotélica. - A noção de lugar nos é bastante
familiar. Veremos, entretanto, que, encarada do ponto-de-vista
estritamente filosófico, comporta numerosas dificuldades. ~ - Eís
a definição de lugar dada. por Aristóteles: Lugar é a superfície
interior dum continente em·,relação ao seu cont~údo,. superfície
essa considerada como imóvel e como não tendo mudado. (Phys.,
IV, capo IV). .
a) Superfície interior. O lugar é definido primeiramente
como sendo a superfície. (ou limite) interior do continente. É
preciso entender aqui a superfície ou limite como tal, e não como
coísa.. olugar não é constituído pelo recipiente de ferro, mas por
sua superfície interna, que é.apenas um limite. .
b) A imobilidade. O lugar, como tal,..é imóvel, pois que não
muda desde que o próprio conteúdo não mude. .
, I
http://www-.obrascatl
COSMOLOGIA 277
imaginada em razão da imo~ili~ade ,(~uposta) ~a terra. M~s é
evidente que só se requer ~qU1 a tmob~li;iade relattVa ao, co~teudo.
Contudo subsistem amda duas dificuldades. A primeira de-
corre do fat; de a definição ar~totélica aplicar-se apenas ao caso,
dos corpos em repouso. No caso em que os corpos envolventes'
são móveis (meios fluidos), o lugar não será mais referíve1. A
segunda dificuldade; que é ligada à precedente, consiste em pro-
por do lugar uma definição por demais substancialista: o lugar
aristotélico seria considerado como um continente ou um recípí-
ente. - Sôbre "êsses .dois pontos, aliás, Aristóteles mesmo se:
aproxima duma definição melhor quando diz que no caso de'
meios móveis (água, ar). o lugar deverá ser definido por refe-
rência a pontos fixos não contíguos (por exemplo, uma barca
amarrada, tal ponto do rio). Isso nos leva a considerar o lugar
como significando essencialmente uma relação; nesse caso, a su-
perfície contígua a um corpo poderá servir para determinar o
lugar dêsse corpo, sem propriamente constituí-lo. O lugar se de-
finirá, de modo geral, não mais como um recipiente imóvel, mas
com.o um sistema de relações entre um dado corpo e outros cor-
pos tomados como referência.
3. Problemas relativos ao lugar. - Deve concluir-se, do
que foi dito acima, que o lugar é qualquer coisa de real, isto é,
uma maneira de ser (ou acidente) que afeta realmente o corpo
em si mesmo. Desta noção de lugar surgem dois problemas: um
consiste em procurar se e até que ponto a impenetrabilidade é
uma propriedade dos corpos, - o outro, se a multilocação (ou
presença simultânea em diversos lugares) repugna absoluta-
mente ao corpo.
B. Impenetrabilidade e multiplicação dos corpos.
Z99 1. Os corpos são naturalmente· impenetráveis. - Basta a
experiência para mostrar que dois corpos diferentes não podem
ocupar ao mesmo tempo o mesmo lugar. 2 A impenetrabilidade é
uma propriedade que deriva da quantidade çontínua, mas, como
vimos' (284), a título de efeito formal secundârio, - Todavia,
essa propriedade pode ser. entendida de diversas maneiras e
pode-se indagar se ela é absolutamente necessária.
a) Impenetrabilidade e extensão geométrica. - Aquêles
que; .co:tno Descartes, reduzem o corpo à -pura extensão geomé- .
olicas.corn
J.i'
t'
278 RÉGIS J OLIVET
'i
tríca, devem considerar a impenetrabilidade como absoluta-
.,i mente necessária (Cf. Lettre à MOTU8, A.T.,V. pág. 342): como
'1
; as partes da extensão se distinguem apenas. pela posição relativa,
I
não poderiam ocupar o mesmo lugar sem se confundirem com-
pletamente e, por isso mesmo, sem abolir a extensão. 8 Mas essa
opinião baseia-se apenas sôbre a hipótese gratuita e falsa (295)
que reduz o corpo à pura extensão.
b) Impenetrabilidade e substância corporal. A impenetra-
bilidade não é a essência dos corpos, nem mesmo a essência da
quantidade. Não é mais do que um efeito secundário e não há
argumento que possa provar ser êsse efeito absolutamente neces-
sário, isto é; que seja absolutamente impossível que dois ou mais
corpos ocupem juntos o mesmo lugar e se interpenetrem real-
.1
I mente. - Locke (" An Essay concerning human understanding,
i
'I
lI, capo IV) objeta que os corpos se confundiriam. Mas a objeção
não se mantém: as essências podem muito bem ser concebidas
como se interpenetrando, sem deixarem de permanecer distintas
e sem que cada corpo perca sua quantidade própria.
b) A multiZocação - Será absolutamente impossível que
um corpo ocupe simultâneamente vários lugares? Seria absoluta-
mente impossível se se entendesse a multilocação no sentido de
'I multiplicação quantitativa (e por conseguinte, numérica)' do
,i corpo: um corpo não pode ser ao mesmo tempo um e vários. -
Mas, se nos colocarmos no ponto-de-vista da substância (ou es-
, sência) do corpo, esta pode muito bem estar simultâneamente
;j em vários lugares, porque, como tal, é estranha à ordem da quan-
tidade (297) e, portanto, não está circunscrita a um lugar.
ART. lI. O ESPAÇO
A. Noção comum e problemas.
300 1. O espaço da imaginação. ...:.. A noção de espaço está li-
gada à de lugar, quer seentendá por espaço a distância entre di-
versos lugares (espaço real), quer se considere o espaço como o
receptáculo de todos os corpos, abstração feita dêsses corpos (es-
paço geométrico ou imaginário). - 1!:sse espaço 'não se confunde,
Ii
paço apresenta-se à imaginação corno que penetrando,. de certo
modo, as próprias coisas e enchendo todos os lugares. - Muito
menos se confunde o espaço com a quantidade concreta: ao con-
i trário, êle é imaginado sob a forma dum continente suscetível de
I , receber Q' quantidade, com os corpos, sem .ser modificado, e pa-
rece, por ,conseguinte, distinto tanto dos corpos como da quan-
tidade concreta, sujeitos de contínuas modificações. I
I
3 A mesma doutrina leva Descartes a afirmar que dois corpos con-
t~gUOS e em repouso um em relação ao outro, formam um 56. (Cf. Prín-
Ctpes, II, capo LV. A. T., VIII, pâg. 71). '
http://wwW.obrasc~
COSMOLOGIA 279
.~I"::'" .'
,~ ....
itolicas.com
280 RÉGIS J OLIVET
6 Cf. ROBIN, "La pensée grecque'', Paris, 1923,. pág. 139; parece
que há, na base do sistema de DEMóCRITO, "duas extensões: a que
!. não oferece resistência ou O vácuo, e. a que oferece ·resistência ou o
I átomo". .
, 7 Cf. A. SESM~T, "Le systeme absolu classique et les mouvements
réels", Paris, 1935, n,? 253~ , .
8 Cf. E. GOBLOT, ''Traité de Logique", n.? 204, pág. 320: "Não' há
1\ 'razão pata que O que se passa em um dado tempo e lugar seja modificado
! pelo unico fato de se passar em outro tempo e outro lugar", o que
quer dizer que "o tempo e o espaço são indiferentes ao que se passa
n~les". - Mesma observação no I. MEYERSON: "Identité vet réalité",
pags. 27 e segs. r ..
9 ,Cf. "Príncipes de la Philosophie", lI, cap: XXI: "Saberemos
t~mbém que êste mundo, ou a matéria extensa que compõe o universo,
nao tem Iimites, porque para além de qualquer Iímíte imaginável po-
demos suporamda espaços. indefinidamente extensos, que não sõmente
rmagrnamos mas concebemos. serem de fato exatamente como os ímagi-
http://www.obras
COSMOLOGIA 281
catol icas.com
282 RÉGIS J OLIVET
305 2. O espaço como forma "a priori" da sensibilidade.
Leibniz concebia o espaço como uma ordem produzida pela inte-
ligência. Kant o considera como um fenômeno resultante da es-
trutura da percepção sensível. Segundo êle, os sentidos são feitos
de tal modo que impõem a todos os objetos percebidos a forma
espacial chamada, por êsse motivo, "forma "a príori" da sensibi-
lidade".ll
a) Os argumentos kantianos. A doutrina de Kant baseia-
se, por um lado, sôbre os princípios gerais de sua Crítica, cuja
exposição e discussão pertencem à Crítica do conhecimento, e em
particular sôbre a teoria dos juízos sintéticos "a priorí " cujo ca-
ráter sofístico já notamos (64); - e por outro lado, sôbre os ar-
gumentos seguintes. Kant observa que a experiência exterior só
é possível pelo espaço, isto é, só pressupondo o espaço é que posso
relacionar certas sensações com objetos exteriores. - Além
disso, diz êle, "é impossível imaginar jamais que não haja es-
paço, embora se possa muito bem conceber que não haja obje-
tos nêle": êle é, portanto, a condição da possibilidade dos fenô-
menos. (Critique de la raison pure. Dialética transcendental,
P seção, § 2). - Enfim, o conceito de espaço é contraditório (an-
tinomia da noção de espaço), porque exige que se tenha o espaço
ao mesmo tempo por finito e infinito: por finito, porque uma
quantidade deve ser concebida necessàriamente como finita
(tese), - e por infinito, porque o espaço não pode ser limitado
senão por corpos, os quais, por sua vez, se apresentam no espaço
(e assim por diante), o que implica a infinitude do espaço (an-
títese). (Critique de la raisO'n pure. Dialética transcendental,
1.0 antinomia) ,
306 b) Discussão. O primeiro argumento é pura petição de
princípio, pois poder-se-ia afirmar igualmente (e até melhor)
que a noção de espaço é concebido a partir da sensação e da per-
cepção dos objetos corporais diferentes de mim, ou "exteriores"
a mim, "exterioridade" essa formalmente distinta do espaço e
princípio da representação do espaço.
j
O segundo argumento não pode, servir para demonstrar o ca-
ráter "a priori" da representação do- espaço. Ao contrário, im-
plicar o caráter" a posteriori" do espaço, pois a representação va-
zia (ou espaço imaginário) de que fala Kant não é (como êle
j
mesmo afirma sem perceber o caráter contraditório da asserção)
11 Cf. "Critique de la raison pure". Estética transcendental. Pri-
meira seção, § 4: "O espaço não é mais do que a forma de todos os
fenômenos dos sentidos externos, isto é,á única condição subjetiva da
sensibilidade sob .a qual nos· é possível uma intuição exterior. Ora
como a .receptividade em virtude da qual o. sujeito pode receber ~
impressão dos objetos precede necessàriamente tôdas as iãtuíções dêsses
objetos, compreende-se fàcilmente que a forma de todos os fenômenos
pode se~. dada ~~teriormente· a tôdas ~s percepções reais, por con~
guínte, a priori ; e. compreende-se ainda que, .sendo .pura intuiçao,
em que todos os objetos devem estar determinados, 'ela pode conter
anteriorrncnta a qualquer experiência os princípios de suas relações".
http://www~obra~
COSMOLOGIA 283
scatolicas.com
284 RÉGIS J OLlVET
http://www;obras(
COSMOLOGIA 285
J,
catolicas.com :
CAPíTULO rrr
o MOVIMENTO
Sumário 1
http://www.obraSI
COSMOLOGIA 287
catoúcas.com
288 RÉGIS J OLIVET
siste na aquisição progressiva dos elementos do latim: mas é o
ato dum ser em potência, pois que Pedro não é ainda um latinista
perfeito. Quando,? fôr, cessa~á o movimento. Co~ maior, razão
aplica-se esta análise ao movimento local. O movimento e, por-
tanto o ato duma potência enquanto tal, isto é, um ato começado,
que ~rossegue, que não chegou ao seu último têrmo.
c) Elementos do movimento. Há, portanto, quatro elemen-
tos diferentes a serem distinguidos dentro do movimento: o su-
jeito que se move (móvel), - a forma (substancial ou acidental)
que o sujeito perde ou adquire, - o movimento como tal, ou es-
tado de tendência ou de passagem para uma forma, - os dois
têrmos: a quo (ponto-de-partida) e ad quem (ponto de che-
gada).
Todos êsses elementos se encontram inclusive no movimento
instantâneo (caso da mutação substancial), que se efetua como
tal em um só instante), no qual a passagem e o têrmo ad quem
são materialmente idênticos, embora permaneçam formalmente
distintos.
B. Ação e paixão.
315 A realidade complexa do movimento leva a distinguir aquilo
que move (motor) e aquilo que é movido (móvel) ou, em outras
palavras, um agente que exerce uma ação e um paciente que
sofre a ação.
1. Ação transitiva e ação imanente. - Chama-se ação tran-
sitiva aquela cujo têrmo (ou efeito) está fora do sujeito que age
(a ação de escrever, a ação do fogo sôbre a água, a ação da es-
tação radiofônica). - A ação imanente é aquela cujotêrmo (ou
efeito) é interior ao sujeito que age (o ato de ver, o ato de pen-
sar, e, em geral tôdas as ações vitais) .
2. Dificuldades: da ação transitiva. - Em que consiste es-
sencialmente a ação transitiva? 01,tde se encontra ela: no sujeito
ou no objeto? Sea situamos no sujeito (agente), ela não produz
nada exteriormente e não é mais transitiva. Se a situamos no
objeto (paciente)., o agente não é mais o princípio da ação. Se a
fazemos residir nos dois, o mesmo acidente se encontrará simul-
tâneamente nos dois sujeitos, o que é impossível. Enfim, a pas-
sagem duma açâoparece ininteligível: Não se pode conceber a
ação como uma realidade que sai da causa, pois que na. passagem
verso: no agente, como seu princípio, no paciente, como seu
do agente ao paciente, ela existiria' em si mesma (como subs-
.
tância), o que é absurdo. (Cf. Aristóteles, Física IH,. capo IH).
316' 3.Princípio de solução. - São bastante nu'rnerosas as opí-
niõ~s formuladas em resposta às dificuldades expostas acima. A
mais satisfatória parece ser aquela que considera a ação como es-
tando ao mesmo tempo 110 agente e no paciente, mas a título di-
http://www.obras
COSMOLOGIA 289
VeTSo: no agente, como seu princípio, no paciente, como seu
têrmo. Não será, pois, como tal, um movimento do agente (a
causa enquanto causa, não muda), mas um movimento (ou mu-
tação) do paciente produzido pelo agente. 5 Daí o axioma: a ação
está no paciente (actio est in passo). Más é evidente, por um
lado, que a ação procede do agente e, portanto, preexiste nêle
duma certa maneira; - e, por outro, que, por ela, estabelece-se
entre o agente e o paciente uma relação real recíproca, que é,
do paciente para o agente, uma relação de dependência, e do
agente para o paciente; uma relação constituída pela ordenação
de sua atividade para produzir determinado efeito no paciente. 4
C. Ação à distância.
317 1. Definição. - Chama-se ação à distância aquela que se
produziria (se fôsse possível) sem qualquer contato entre o
agente e o paciente. As palavras "sem qualquer contato" ex-
cluem ao mesmo tempo a contigüidade das massas corporais
(contato físico), - e o contato exercido pela difusão duma fôrça
através do espaço ou meio intermediário (contato virtual ou di-
nâmico); - A ação dum espírito sôbre um corpo não pode evi-
dentemente se exercer senão por contato virtual.
2. O problema da ação à distância. - É possível a ação à
distância? Entendida no sentido estrito, isto é, daquela que se
exerceria sem qualquer contato, físico ou dinâmico, a ação à dis-
tância parece ser impossível. 5 Com efeito, a ação, na falta do
meio intermediário, não poderia passar dum corpo a outro. Esta
é, aliás, uma das razões porque os físicos imaginaram, sob o nome
de éter, um meio suscetível de explicar o que se poderia chamar
de circulação das fôrças ou fenômenos físicos (luz, eletricidade)
através do espaço.
Parece, à primeira vista, que somos obrigados a admitir a
realidade da ação à distância por simples contato virtual ou dinâ-
mico entre os corpos (ação do sol sôbre a terra; transmissão do
T.S.F.). Entretanto, trata-se antes dum contato físico, que se
produz. sucessivamente do ponto-de-partida da ação ao ponto-de-
chegada, por intermédio dos diferentes corpos; ou mais precisa-
catolicas.corn
290 J OLIVET
RÉGIS
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COSMOLOGIA 291
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292 RÉGIS J OLIVET
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COSMOLOGIA 29:
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o sistema de referência em que se baseia o caráter absoluti
(ou real) do movimento pode, além disso, ser entendido fora dI
teoria do éter. Pode-se admitir, para todos os movimentos dr
universo, um sistema de referência absoluto, definido pelas po·
sições iniciais de repouso dos pontos materiais, isto é, pelas po-
sições tidas como ocupadas por êsses pontos, antes que alguma
fôrça houvesse agido sôbre êles. e pela imobilidade do centro de
t gravidade da totalidade dos pontos materiais antes que tivessem
sofrido a ação duma fôrça externa. 11 A Mecânica se encontraria
assim provida dum sistema de referência absoluto, capaz de ex-
plicar a realidade dos movimentos absolutos (e não sàmente de-
finidos relativamente uns aos outros), sem substancializar o es-
paço à moda de Newton.
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CAPíTULO IV
o TEMPO
ART.
SUMARIOl
1i I'
325 1. A experiência da duração. - O tempo nos é de tal modo
familiar que nada nos parece mais claro e evidente. Entretanto,
"i~
I" se nos pomos 'a refletir sôbre a sua natureza, começam a surgir
:1 as dificuldades. Por isso dizia Santo Agostinho: "Se não me
fazem indagações sôbre o tempo, sei o que é; se me perguntam,
, já não sei mais." (Confissões, XI, capo XIV, n.? 17). - Todavia,
lo
podemos tentar precisar em que consiste a nossa experiência do
tempo. É uma experiência de duração, isto é, de permanência
do ser ou de perseverança no ser, mas uma perseverança. que
comporta a sucessão pela qual se encadeiam urnas nas outras as
fases duma existência sujeita à mudança. ,
Partindo de nossa própria duração, que inclui mudança con-
tínua, podemosnoe elevar à noção duma duração realmente per-
manente, que excluiria m'U,dança e sucessão, e que seria a posse
estável e perfeita da existência. A êsse gênero de duração cha-
mamos de eternidade. Vemos que não pode comportar comêço,
1 Cf. Aristóteles, Phys., IV, caps. XI-XIV -PLaTINa, 3.? Ennea-
des, capo VII. - Sto. AGOSTINHO, Confissões, 1. XI, capo XIV ss. -
Sto. TOMAS, in Phys. IV, lect. 17-23. - JOÃO DE Sto. TOMAS, CursU8
Philosophicus. Phil. Nat., 1.0 p., q. XVIII. - J. Guitton, .Le temps et
l'éternité chez Plotin et Sto. Augustin, Paris, 1933. -Justification du
temps, Paris, 1941. - H. BERGSON, Essai sur les oonnées immédiates
de la conscience; Duré et Simultaneité; La perception du changement.
- Van Biéma, Le tempset l'espace chez Leib'Jtiz et Kant, Pari~ 1908.
I' - HAVET, Kant etle pr.obleme du temps; Paris,· 1947. - A. Ketz,
Temps, espace et relativité, Paris, 1936. - LAVELLE, nu Temps et
de l'Eternité, Paris, 1945.
.http://www.obrascato
COSMOLOGIA 29~
licas.corn
296 RÉGIS J OLIVET
'http://www.obraSCé
COSMOLOGIA 297
2. Teorias subjetivas.
a) O tempo como ordem de posições sucessivas. LEIBNIZ
propõe aqui uma teoria que corresponde exatamente à do espaço.
Reduzindo todo o real a um sistema de substâncias imateriais
(mônadas), LEIBNIZ não pode considerar o espaço e o tempo
como realidades distintas das mônadas, Mas, nessas condições,
como explicar a realidade psicológica do espaço e do tempo? -
Vimos acima (304) que, para LEIBNIZ, o espaço nada mais é do
que "a ordem dos coexistintes". Não se confunde com o corpo,
e nem mesmo com determinada situação dos corpos: é a ordem
mesma graças à qual os corpos são situáveis, têm entre si situa-
ções relativas e existem juntos. Assim também, não se deve
fazer do tempo determinada sucessão de fenômenos, pois o tempo
nada mais é do que " a ordem das posições sucessivas conexas
entre si". Nouveaux Essais 1. 11, capo XIII-XIV). O tempo é, por-
tanto, pura relação. Compõe-se de instantes indivisíveis (como
as partes da extensão). Mas os instantes, fora de nós, não são
nada. Por conseguinte, o tempo não é nada fora da inteligência:
tem apenas existência ideal e representa simplesmente a ordem
<las sucessões possíveis que atribuímos às coisas.
Essa teoria encontra as mesmas dificuldades que a do es-
paço. Para começar, não oferece fundamento algum para a re-
presentação do tempo. Essa representação, reduzida por LEIB-
NIZ à de uma ordem determinada e fixa de sucessão, torna-se
idêntica, afinal à própria ordem lógica e, por conseguinte, não
,. tem outra realidade que a do espírito que mede ou conta. A su-
cessão não é, portanto, uma realidade objetiva, mas um ato da
inteligência. O tempo mede a alma e não as coisas. Mas por que
estaria a alma assim sujeita ao tempo?
Além. disso, incapaz de explicar a sucessão temporal (senão,
como acabamos de ver, por uma petição de princípio), a teoria
de Leibniz também não consegue explicar a continuidade do
tempo (ou, mais exatamente, a continuidade de sua represen-
tação). Com efeito, se o tempo é mais do que pura medida, é
ainda mais do que uma sucessão nos corpos, assim como o espaço
é mais do que uma coexistência dos corpos. O tempo é uma su-
cessão contínua e uniforme e' não, como o supõe a tese de Leib-
niz, uma pluralidade de instantes contados sucessivamente pela
inteligência. De fato, o instante é apenas um corte arbitrário in-
atollcas.corn
298 RÉGIS J OLIVET
http://www.obrasc
COSMOLOGIA 299
.atolicas.corn
300 RÉGIS J OLIVET
hUp :Hwww.obrasc
COSMOLOGIA 301
a) O tempo é algo real. Nem tôda a realidade se reduz à
categoria de coisa ou substância. Os acidentes são também rea-
lidade; mesmo a potência (314) é real. Ora, o tempo tem justa-
mente a realidade dum acidente, isto é, uma realidade autêntica,
mas limitada e relativa. Essa realidade é o movimento ou a su-
cessão enquanto mensuráveis. Essa mensurabilidade é algo obje-
tivo, um aspecto real do movimento e da mudança.
b) O tempo só existe em ato pela inteligência. O movi-
mento é mensurável independentemente da inteligência, mas só
é medido em ato pela inteligência. Equivale dizer que não há
tempo em ato senão pelo pensamento: é no pensamento, en-
quanto mede o movimento, que o tempo completa o seu existir,
quando a inteligência, pela memória, soma o antes e o depois,
isto é, reúne o passado ao presente, e antecipa o futuro.
Essas conclusões aplicam-se ao tempo abstrato, como mul-
tiplicidade sucessiva. Mas mesmo êsse tempo supõe um tempo
originário e constituinte sem o qual não seria concebível.
De fato, antes mesmo de "pensar" a passagem do presente
a um outro presente, dum antes a um depois, eu mesmo
imagino essa passagem. Em cada presente, definido como uma
coincidência instável do ser e da consciência, há simultâneamente
um futuro que se anuncia e se torna atual e um passado que se
forma. Como já observava Aristóteles, a três dimensões do tempo
são concretamente inseparáveis. Exprimem um ritmo da ex"is-
tência, uma tensão indivisa, muito mais do que uma realidade
objetiva, de tal modo que é preciso dizer, com Sto. Agostinho,
que, de certa maneira, eu é que sou o tempo, exatamente en-
quanto sou essencialmente passagem e transição. O tempo origi-
nário é uma espécie de explicitação de minha subjetividade.
É dêsse tempo. constituinte que procede a noção de tempo,
a qual faz abstração da sucessão contínua, em que os três ele-
mentos de que ela o compõe se implicam e se sobrepõem cons-
tantemente. Dêsse ponto-de-vista é bem verdade que o tempo só
se faz ato na inteligência e pela inteligência. Mas, como sua rea-
lidade lhe advém da mutação, será preciso que a mutação, isto
é, a passagem e o escoamento, que é a síntese permanente do pre-
sente, do passado e do futuro, já seja tempo. Do contrário, êste
ficaria exterior a nós: nós o contemplaríamos mas não o vivería-
mos. A "medida" que o tempo exprime é, portanto, antes de
tudo e fundamentalmente, o próprio ritmo de nossa existência
móvel e fluente.
É certo, entretanto, que, ao afirmar que o tempo só é atual
na inteligência e pela inteligência, queremos fazer justamente
distinção entre a existência que flui e a consciência do fluxo.
Sem essa consciência explícita, não mais haveria tempo, pois o
tempo em ato é essa mesma consciência. Vale dizer que há na
origem do temp.o, uma consciência que não é temporal, isto é,
que não está estendida no tempo e que, pelo contrário, assumindo
atolicas.corn
302 RÉGIS J OLIVET
http://www.obra~
COSMOLOGIA 303
coincide com o ponto M no instante em que produzem os raios
(instante calculado em relação à estrada), mas desloca-se em se-
guida para a direita com a velocidade v do trem. O observador
colocado no trem (visto da estrada) corre ao encontro da luz
vinda de B e foge da luz vinda de A. Por conseguinte, verá a
primeira antes da segunda e para êle o raio B terá precedido o
raio A, o que significa que os dois raios, simultâneos em relação
à estrada, não o serão mais em relação ao trem e inversamente.
A simultaneidade é portanto relativa. Donde a seguinte conclu-
são: cada sistema de referência (sistema de coordenadas) tem o
seu tempo próprio; uma indicação de tempo não tem sentido
senão quando se indica o sistema de comparação utilizado para
a medida do tempo.
E com isso vêem-se revolucionadas as concepções do tempo e
do espaço da Física clássica. Esta supunha um tempo e um es-
paço homogêneos, independentes um do outro; a Física relati-
vista construiu um "continuum" de quatro parâmetros (três do
espaço e um do tempo) interdependentes, o que parece dar um
sentido real à ficção matemática de Lorentz, segundo o qual os
corpos em movimento sofreriam uma contração no sentido da
translação. Em outras palavras, a massa varia com a velocidade;
não há mais nem duração, nem comprimento, nem massa abso-
lutos.
334 2. O ponto-de-vista filosófico.
scatol icas.com
304 RÉGIS J OLlVET
, ;
\
14 Cf. Cf. MARITAIN, Réflexions surl'intelligence, págs. 346 .é segs,
, J
http.ówww.obras
SEGUNDA PARTE
AS QUALIDADES SENSíVEIS
Os corpos não estão sujeitos sõmente ao movimento local.
Sofrem ainda outra espécie de movimento, pelo qual as quali-
dades que agem sôbre nossos sentidos, e que são chamadas, por
isso, qualidades sensíveis (312), modificam-se constantemente,
quer quanto à natureza, quer quanto à intensidade. São essas
qualidades que vamos estudar agora. A primeira questão que
examinaremos é a de sua existência, negada pela teoria meca-
nicista. Tentaremos, em seguida, determinar sua natureza.
CAPÍTULO I
SUMARIO 1
catolicas.corn
2. Divisão das qualidades.
'http://wwW.abrase
COSMOLOGIA 307
atólicas.com
308 RÉGIS J OLIVET
'I
ART. rr, DISCUSSAO DA TESE MECANICISTA i
http://www~obrasc
COSMOLOGIA 309
acompanham. É perfeitamente compreensível que a Física des-
cubra em tudo apenas movimento, pois ela visa tão-somente o
o aspecto quantitativo dos fenômenos. O aspecto qualitativo, evi-
- ~'..-, :
l~:'~·.,_ ..
dentemente, só pode ser apreendido por uma atividade vital.
atolicas.com
310 RÉGIS J OLIVET
o átomo devia ser considerado como uma espécie de sistema solar
no centro do qual os elementos, chamados elétrons planetários,
gravitam (como os planêtas em tôrno do sol) em tôrno de nú-
cleos atômicos (elétrons nucleares), formados de agregados de
prótons e elétrons. ~sses elétrons e êsses prótons, aos olhos do
físico, não são, êles próprios, mais do que grãos de eletricidade
dotados de energia e compondo o que chamamos de matéria. Por
isso mesmo, tôdas as propriedades físicas ou químicas dos corpos
devem reduzir-se a modificações do meio intra-atômico. 5
Essa breve exposição basta para fazer perceber o sentido
exato da teoria eletromagnética da luz e da teoria eletrônica.
São teorias essencialmente físicas (204-206), isto é, primeiro,
vastas hipóteses de natureza sintética e, a seguir, puros símbolos
de ordem matemática. Vimos, com efeito, que a identificação dá
luz com a eletricidade não significava realmente mais, na con-
cepção de Maxwell, do que a igualdade das velocidades da luz e
da onda eletromagnética. Quanto aos elétrons, sua função é de
apenas tomar o lugar dum substrato desconhecido e de energias
igualmente desconhecidas na sua natureza específica. Basta
observar que o elétron se define apenas pela grandeza constante
da carga eletromagnética, pois que é a única constância que a
ciência pode descobrir e medir. A ciência substitui, portanto, aqui,
de acôrdo com os seus métodos, a realidade ontológica e quali-
tativa, que não pode alcançar, pelo símbolo quantitativo. Quem
o nota, aliás, é o próprio Loreaiz (The theory of electrons, Leip-
zíg, 1909, pág. 2) .
Vê-se, assim, até que ponto seria errado querer apoiar a tese
.mecanicista das qualidades sensíveis na teoria eletrônica. Não
somente não implica ela -nada disso, mas ainda (como o eviden-
ciou o energetismo) 4, orienta, antes, para-a constatação dum uni-
verso prodigiosamente mais rico de diversidades qualitativas do
-que aquêle que os nossos sentidos, abandonados a si mesmos, po-
deriamnos dar a conhecer. Não se trata, aliás, de negar areali-
lidade do elétron (ou das outras entidades físicas, mas de bem
Sef. A. REY, La théorie physique chez les physiciens contempo-
rains. págs, 281 e sego Paris, 1907;-..,.... PE'RRIN, Les atomes, Paris, 1913.
--'- L. de BROGLIE, Matiere et Lumiere: La Physique nou'Velle et °les
Quanta, Paris,. 1941. .. . .
4 O energetísmo .representa uina orientação física oposta à do me-
canicismo puro. Prende-se às concepções de Leibniz que afirmou,' con-
tra Descartes, que o que se conserva,. não é a quantidade do movimento,
mas a energia cinética (319), restaurando, assim, as qualidades (sem,
entretanto, apresentá-las como objeto do. físico). Como teoria .física, o :
energetismo mostra que todos os fenômenos físicos se reduzem a trans-
formações de energia. - DUHEM escreveu a respeito dessa concepção
física: ."Grande número de físicos.:. reconheceu que Dão era absolu-
tamente necessário que as propriedades físícasfêssem substituídas por
,con~unt~s de forma e de movimento; que os .estaâos e as qualidal'$es
podiam ser não explicados, mas simbolizados por números efigura's"..
(Revue âes Questions scientifiques, tomo L, abril. de 1901, pág, 131) .
.- J. TANNERY exprime as mesmas opiniões na Science ét Phil6sophie,
pâgs, 2-7).
http://www .obrasr
COSMOLOGIA 311
compreender que essa reali~ade é simbólic~ e, por conseguinte,
que a identificação de qualidades com movimentos moleculares
e com radiações é apenas uma identificação simbólica ou mate-
mática, exprimindo constâncias métricas e não naturezas ou es-
sêncías.
ART. IH. OBJETIVIDADE DAS QUALIDADES
catoflcas.com.
312 RÉGIS J OLIVET
http://www.ob raSei
COSMOLOGIA 313
princípio de ordem imanente (princípio de finalidade) I único
capaz de explicar a realidade e a permanência dos sistemas na-
turais (213). A rigor, pode afirmar-se mesmo que o mecanicismo
puro, ontologicamente, não existe. Não passa duma maneira sim-
bólica de descrever fenômenos nos quais a quantidade, e o movi-
mento que ela torna possível, aparecem como simples instru-
mentos da diversificação qualitativa do universo.
atolicas.corn.
CAPíTULO II
http://www.obrasc
COSMOLOGIA 315
sensíveis. Cada uma delas, tomada em si mesma, é uma espécie;
ou essência, absolutamente distinta e irredutível e não se fala de
movimento ou de passagem duma qualidade a outra, dum con-
trário a outro, senão por referência ao sujeito quantitativo da
mudança. 2 Somente a passagem dum grau a outro parece co-
locar um problema especial.
catolicas.com
316 RÉGIS J OLIVET
diferentes. - Da mesma forma, um amargor cujo caráter amargo
se acentua é uma qualidade que se transforma em outra quali-
dade essencialmente diferente.
Contudo, convém destacar o que há de justo nessa noção
ambígua de "quantidade intensiva". Ela põe em evidência o fato
da continuidade ideal dum contrário a outro e duma qualidade a
outra, duma passagem contínua cujos elementos ou graus se en-
cadeiam uns outros graças à continuidade quantitativa que lhes
serve de suporte.
b) Qual é a causa da intensificação? - Como se produzem
o crescimento e a diminuição de intensidade? Acabamos de ver
que é impossível fazê-los consistir na adição ou supressão de qua-
lidades da mesma natureza, pois seria imaginar a qualidade com-
posta de partes e fazer dela uma quantidade propriamente dita
(uma soma de partes homogêneas). - A concepção mais inteli-
gível é sem dúvida a que atribui o crescimento ou diminuição de
intensidade ou a um exercício mais ou menos perfeito da ativi-
dade do sujeito, - ou a uma adaptação mais ou menos perfeita
do sujeito à atividade eSIlecffica que exerce.
ART. lII. MEDIDA DAS QUALIDADES
350 1. Sentido do problema. - Acabamos de falar de graus
da qualidade e de admitir, como fundamento da noção de quanti-
dade intensiva, a realidade objetiva do progresso contínuo duma
qualidade a outra (ou dum grau a outro), isto é, de séries ideal-
mente divisíveis. Nessas condições, não se poderia admitir tam-
bém a possibilidade de medir as qualidades, isto é, de as reduzir
de alguma forma ao número? - Questão importante, devido ao
. ,, caráter matemático das ciências da natureza (190); se a quali-
\
dade como tal não é realmente mensurável, que valor explicativo
I dever-se-á reconhecer às ciências, para as quais só o mensurável
conte? .
/. 2. Medida indireta. - São-nos bastante familiares os pro-
cessos de medida das qualidades (ou fenômenos) em uso nas ci-
ências da natureza. Quandó se consulta um -termômetro, sabe-sê
que as variações do calor se encontram aí expressas pelo movi-
mento da coluna de mercúrio no tubo graduado. É evidente que
se trata.duma medida indireta (ou por acidente) do calor, com-
pletamente diferente da medida. duma quantidade, que se faz
por comparação com .outra quantidade. Vinte graus de calor não
são a SOma de víntevêzes um grau de calor. Pará conseguir
e~sas medidas indiretas da qualidade, recorre-se a três processos
diferentes: . . , "r '.
·http://www.obra:
COSMOLOGIA 317
medida da qualidade. Assim, a atração é calculada conforme a
quantidade da massa dos cor~os e em ra~ão inversa de sua di~
tância. Da mesma forma a força explosiva duma dada quantí-
dade de gás poderá ser medida pelo seu volume, ou ainda medir-
se-á a intensidade luminosa pela fôrça elétrica fornecida por um
dínamo ou pelo número de fontes luminosas.
b) Medida dos efeitos quantitativos. - Noutros casos o ar-
tifícío consiste em ligar a mudança qualitativa a efeitos mensurá·
ráveis. Termômetro, barômetro, galvanômetro, etc., são basea-
dos em artifícios dêsse gênero.
c) Medida de relações e proporções. - ~sse gênero de me-
didas aplica-se às variações de intensidade e consiste, não mais
em medir massas ou efeitos quantitativos, mas em comparar
entre si medidas de massas ou de efeitos, isto é, em estabelecer
entre números relações ou proporções que signifiquem as rela-
ções ou proporções entre qualidades ou entre graus. Há três ma-
neiras possíveis de raciocinar: designando por a, b, e c várias
intensidades, dir-se-á que: se a b e b= =
c, segue-se que a Cj =
ou ainda: se a > b e b > c, segue-se que a > Cj ou enfim,
definir-se-á o aumento de intensidade duma série contínua (a
> b > a) sob a seguinte forma:
a b a b a b
1.° - <- 2.° 3.° >
b c b c c c
Nos dois primeiros casos, obtêm-se apenas valôres ordinais,
exprimíveis por números ordinais que significam, não qualidades
enumeráveis, mas relações de ordem (lugares ou momentos na
série). - No terceiro caso, as fórmulas se aproximam do número
cardinal, pois que são quantidades que estão sendo comparadas
entre si. 3
352 3. Medida analógica. - Em todos os casos, a medida das
qualidades não é evidentemente senão uma medida por analogia.
A qualidade como tal não se mede, o que quer 'dizer que não é
redutível a um número. 4 Decorre daí que a diversidade qualita-
tiva, como tal, escapa à ciência, que só pode dar: uma represen-
tação simbólica do real. Contudo, o simbolismo matemático é
ainda uma maneira de conhecer,' como a redução da qualidade
à quantidade é um meio de tomar posse, não apenaapràtíca-
mente, mas também especulativamente, dos fenômenos (190-
192) .
3Cf. HOENEN, Cosmologia (Roma, 1936) pág, 204.
, 4Seria entretanto exagerado afirmar '(como faz H. Bergson, Don-
nées immédiates de la con~cience, págs, 7 e segs.) que os graus de .in-
tensidade sejam absolutamente heterogêneos·e incomensuráveis entre
si. Há uma heterogeneidade específica dum grau de intensidade a ou-
tro, mas que se verifica no interior dum gênero qualitativo idêntico:
oamargo que se torna mais ou menos amargo, continua sempre amargo;
a luz que se torna mais intensa' não deixa de ser luz, etc. '
scatolicas.com
TERCEIRA PARTE
CAPíTULO I
http://www.obrasc
\....U::i.M.ULUti.l.h
.atolicas.com
I
320 RÉGIS J OLIVET
11
I simples do que o compreendido pelo saber positivo sob êsse nome,
pois que, pela inteligência, ultrapassamos tôda composição física
! e vamos até onde a composição (se fôr real) só pode ser metafí-
sica, isto é, tal que os componentes não são mais coisas, corpos
ou elementos, mas simplesmente princípios de ser. Portanto, não
cabe a nós procurar determinar o que são, fisicamente, enquanto
espécies definidas, os corpos ou elementos simples. Essa pesquisa
pertence às disciplinas positivas e a nós compete apenas registrar
os resultados que nos são fornecidos.
3. As soluções filosóficas. - As soluções filosóficas pro-
postas para o problema da natureza do corpo podem ser reduzi-
das a duas principais: o atomismo (sob a dupla forma do meca-
nicismo e do dinamismo), e o hilemorfismo. Vamos expor e dis-
cutir o atomismo sob os dois aspectos de que se pode revestir.
A. O atomismo grego.
i.~
http.swww.obras
COSMOLOGIA, 32~
B. O atomismo modemo.
scatolicas.corn
322 RÉGIS J OLIVET
.http://www.ob ra:
COSMOLOGIA 323
'car as leis das proporções definidas e das proporções simples, em
virtude das quais as sínteses químicas se reduzem a combinações
de átomos agrupados em números determinados e compondo mo-
léculas (Fig. 34)
~sse' atomismo, em certo sentido, combinava bem com a visão
de Descartes, pois que as propriedades dos corpos compostos (ou
da molécula) encontravam-se explicadas pelos agrupamentos
mecânicos dos átomos, mas, por outro lado, divergia bastante dela
bem como do atomismo dos antigos. Com efeito, o- mecanicismo
não mais se encontrava aí em todo o seu rigor: real no nível da
molécula, não existia mais do nível do átomo, ou elemento sim-
ples, que Dalton não concebia como elemento material indiferen-
ciado, mas como um elemento especificamente determinado e
irredutível.
4. Complexidade dos "corpos simples".
Dalton considerava o átomo de oxigênio como especifica-
mente distinto do átomo de hidrogênio ou de carbono e, por con-
seguinte, como o ponto limite da análise química. Mas, desde
1815, Prout, partindo da observação de que os elementos simples
tinham por pesos atômicos múltiplos inteiros do elemento de hi-
drogênio, propôs considerá-los como derivados do hidrogênio."
Por volta da mesma época (1827), o botânico Roberto Brown
demonstrava, através de diversas experiências, que os fluídos
compõem-se de moléculas premidas umas contra as outras e ani-
madas dum movimento desordenado, foi chamado movimento
browníano. A física atômica mostrou, em seguida, que as molé-
culas dos corpos sólidos obedecem a um movimento ordenado
que se manifesta por um balanço regular, cuja amplitude de-
pende.iem parte, da temperatura e, em 'parte, da fôrça de atração
molecular (de origem eletromagnética). .
Por caminhos diferentes, mas convergentes, a concepção
atômica dos corpos se impunha cada vez mais, ao mesmo tempo
na Química e na Física. - Por outro lado, em oposição à con-
cepção puramente mecanicista, a natureza parecia composta de
dois pnncípios primeiros irredutíveis: um elemento ponderável
e inerte (massa· ou matéria) e um elemento ativo e desprovido de
massa (energia). Veremos que a Física contemporânea elabora
.ainda, .sob êstes dois pontos-de-vista,. novas reduções .
C.' A Física atômica contemporânea.
365 1. Definições. - Para seguir uma exposiçao das teorias
atuais. da ffsíca atômica e da radioatividade, é preciso terem
mente as definições seguintes: .
7 Uma medida mais acurada mostrou que os 'pesos atômicos não
são múltiplos exatos de H. Essas variações 'se' explicam pela existência
de corpos. isótopos (descobertos em 1910)', isto é, corpos que têm as .
mesmas propriedades físico-químicas com pesos atômicos diferentes.
scatoucas.com
324 RÉGIS J OLIVET
a) O átomo é a menor quantidade de matéria dum corpo
simples, capaz efetivamente de entrar em combinação.
b) O elétron (ou negaton) é a menor quantidade de carga
elétrica discernível de fato e separável de qualquer suporte ma-
terial quimicamente constituído. :É o quantum de eletricidade ou
átomo de eletricidade dita negativa.
c) O positon é um elétron positivo, isto é, de carga elétrica
igualou de sinal contrário à do elétron negativo (ou' negatõn}.:
d) O neutron é um corpúsculo neutro, a princípio consi-
derado como formado pela união dum próton e um elétron, que,
entretanto, após novas descobertas, surgiu antes' como um cor-
púsculo elementar simples, de massa ligeiramente superior à do
próton. '
e) O próton é o núcleo do átomo de hidrogênio. A massa
do próton é quase 2.000 vêzes maior que a do elétron, mas sua
carga (positiva) é igual, em valor absoluto, àdo elétron. Consi-
derado, a princípio, como uma unidade elementar de. eletrici-
dade, o próton, parece, hoje, ser formado pela combinação dum
neutron com um positon.
, f) O mesoton (ou mézon) é uma partícula extremamente
instável que tem carga às vêzes positiva, às vêzes negativa, e
massa intermediária entre a do elétron e a do próton (massa que:
cêrca de 200 a 240 vêzes maior que a do elétron, lhe tinha valido
o nome de elétron pesado).
~ g) O fóton· é o quantum da luz, isto é, a menor quantidade
de energia radiante. Parece suscetível de se transformar em
'elétrons e inversamente; supõe-se que o desaparecimento simul-
tâneo dum elétron e dum positon de origem a dois, fótons.
2. O átomo. - Por volta de meados do sêc, XIX, as mo-
léculas eram ainda consideradas corno iÍldivisíveis., 9 progresso
'I
da física corpuscular permitiu decompô-las em seus elementos,
I isto é, libertar os átomos. Descobriu-se, em seguida, que o pró-
t prio átomo constitui Um mundo extremamente complexo.
Tôda molécula surge .como formada de átomos, em número
.variável, segundo a natureza da molécula. A dos gases raros (hé-
'lio, neon, argon) comporta .apenaa.um átomo; a dos gases sim-
ples, comporta 2; a molécula da água. (ROR) compreende 3.
O átomo écomposto duma parte central, ou núcleo, carre-
gado de eletricidade positiva. Os elétrons descrevem; à volta
dêsse núcleo, órbitas elípticas quantificadas.Exi~temem .número
j suficiente para neutralizar a carga donúéleo. ,~ O átomo 'mais
simples é o do hidrogênio. Emtôrno deseu núcleo' gravita ape-
I nas um elétron cuja massa é a 1.S40.a parte da dó próprio átomo.
I
I O seu diâmetro é de um décim:o-milionésimo tíe milímetro. Para
se obter o pêso duma grama, seria. preciso reunir seiscentos' mil
i bilhões de bilhões de átomos de H. • ' . .1
I ' . I .
. Até há pouco, o átomo' de Uranium era considerado e mais rico
8
em elétrons (92). Mas recentemente obtiveram-se elementos .artificiais
.http://www.obras
COSMOLOGIA: ' 325
3. O núcleo. - O próprio núcleo é complexo, pois mostra-
Se composto de neutrons e de prõtons, equivalendo o número
dêstes últimos ao dos elétrons, de modo a tornar o átomo elêtrica-
mente neutro, A estabilidade do núcleo é assegurada por fôrças
de atração de natureza desconhecida. - A hipótese dos elétrons
nucleares já está hoje abandonada. Denomina-se núcleo tôda
partícula componente do núcleo atômico; conforme as cir-
cunstâncias, um nucleon extraído do núcleo será um próton
(carga elétrica + e) ou um neutron (carga elétrica nula).
catolicas.corn
326 RÉGrs J OLIVET ,
hUp:l/www.obras
COSMOLOGIA 327
§ 2. DISCUSSÃo DO ATOMISMO
A. Ponto-de-vista filosófico.
368 1. Forma do problema. - Já observamos que se trata,
para nós, do corpo simples no sentido estrito da palavra, a saber,
de um lado, dum corpo propriamente dito, isto é, dotado de uni-
dade interna (um por si) e, de outro lado, dum corpo que não
resulta de corpos anteriores. Consideramos, por conseguinte,
entre as coisas ou elementos que a ciência descobre ou pode des-
cobrir pela análise física, o elemento último, aquêle além do
qual não se pode ir, porque seria fisicamente indecomponível.
Que êsse elemento seja descoberto ou não, pouco nos importa. A
ciência, procurando-o, supõe-no; e isso nos basta. Queremos ex-
plicar a natureza ou essência dêsse elemento, ou corpo simples.
2. A solução atomista. - Há um atomismo filosófico que
se não deve confundir com o atomismo científico, embora a lin-
guagem dos cientistas pareça freqüentemente implicar essa con-
fusão. O atomismo científico, propondo considerar os corpos
como compostos de corpúsculos, faz abstração de qualquer noção
de composição ulterior de natureza não-física (ou, simplesmente
quantitativa); ao passo que a tese essencial do atomismo filosó-
fico consiste em afirmar que os princípios primeiros dos corpos
são constituídos por elementos corporais, extensos, simples e in-
divisíveis (átomos) cujas combinações bastariam para explicar
todos os corpos naturais com tôdas as suas propriedades.
~sse atomimso filosófico comporta dois graus. A forma mais
radical é a do pUTO mecanicismo (atomismo grego e mecanicismo
cartesiano), que só admite o princípio do movimento local. -
Uma forma de atomismo, (chamada dinâmica) açlmite que os
princípios primeiros materiais, ou átomos, sejam dotados de qua-
lidades e de energias especificamente diferentes. 1: esta segunda
forma do atomismo a adotada (como filósofos) por numerosos
cientistas, como mais adaptada aos dados positivos. Quanto aos
argumentos a favor de uma e outra das formas de atomismo, são
sempre os que resultam da análise experimental dos corpos.
369 3. Insuficiência do mecanicismo. - As seguintes observa-
ções mostram a incapacidade do mecanicismo para. explicar a
natureza dos corpos: . .
a) A' diversidade específica dos corpos é objetiva e irre-
dutível. - Já discutimos a tese mecanicista de diversos pontos-
de-vista, -:-;- de modo particular quando estudamos .o problema
da objetividade das qualidades sensíveis. (341-344) - e mostra-
. mos que o mecanicismo,como tal, não existe. Não passa duma
visão abstrata "do real, que é tão absurdo concretizar, como o:seria
concretizar a quantidade ou o número como tais. ~ Conclui-se,
pois, que é impossível negar a diversidade específica dos corpos
catolicas.com -
RÉGIS J OLIVET
http://www.obrasc
.COSMOLOGIA 329
terminar a análise ai, -'-- e se não são, estão fora da quantidade e não
se vê como é que o átomo extenso poderia resultar de mínima inex-
tensos. 'O!91). . , . .
.is Od~namismo' de OSTWALD, segundo o -qual tôda a realidade
corporal se reduz a fôrças ou energias -sem qualquer suporte .material,
é tão pouco inteligfvel como à teoria de BERGSON que define todo o
real pela mutação pura (331).
:atolicas.com
330 RtGrs J OLIVET
Mesmo supondo que essa redução fôsse confirmada, não pas-
saria duma redução quantitativa que de forma alguma implica-
ria a redução específica ou qualitativa.
Enfim, o átomo de hidrogênio comporta ao mesmo tempo
massa a energia, realidades de natureza essencialmente distinta,
que implicam no átomo, mesmo no mais simples, como é o caso
do átomo de hidrogênio, uma composição intrínseca. Por con-
seguinte, o átomo de hidrogênio não explica nada. Como êle pró-
prio precisa de explicação, não traz solução, e, sim, outro pro-
blema.
372 2. A equação reversível matéria-energia. ~ Essa dualidade
intrínseca do átomo é contestada, ainda, pelo atomismo filosó-
fico, em nome daquilo que, na Física, se chama de equação rever-
sível entre a matéria e a energia. Com efeito, a ciência parece
ter conseguido reduzir a massa e a energia a uma 'Única reali1
dade fundamental, suscetível de tomar a forma da matéria ou da
energía's e de converter-se duma na outra (Fig.18).
" httpv/www.obras:
COSMOLOGIA
9Be
4
+ 4He
260
~. I2C + In + e-- + e+
catoficas. com
332 RÉGIS JoLI\ÍET
Ílttp://WWW .obras
COSMOLOG1A 333
dos sêres corporais seria, daí por diante, constituída pela Geome-
tria do espaço. O mecanicismo cartesiano se veria assim ultra-
passado por essa teoria unitária tão radical que a própria ex-
tensão perderia, nela, a sua complexidade cartesiana de subs-
tância dotada de propriedades geométricas: só subsistiria a pro-
priedade de forma, com as diferenças infinitamente variáveis de
que é suscetível. 20
A Filosofia nada tem a opor a essa concepção cíentífica.
Símbolo por símbolo, a forma geométrica, a representação estru-
tural, a curvatura do espaço-tempo, valem umas pelas outras.
Mas o símbolo matemático, equação ou figura, está para o· real
assim como a planta arquitetônica está para a casa ou o retrato
para a pessoa.
C. Conclusão.
De qualquer maneira que se entenda, o atomismo filosófico
não pode dár a razão dos corpos, pois não explica ne-m a diversi-
dade específica das naturezas corporais, nem a unidade interna
dos corpos, nem mesmo a do átomo que, enquanto corpo simples,
conserva, por mais longe que se leve a redução ou a análise dos
sêres materiais, ao mesmo tempo a sua individualidade e. uma
dualidade interna de massa e energia, isto é, de matéria e qualí-
dade, que parece implicar uma dualidade fundamental de prin-
cípios constitutivos.
ART. 11. O HILEMORFISMO
§ 1. N QÇÃo GERAL DO H!LEMORFISMO
•catolicas.com
334 RÉGIS J OLIVET
981 z: Senso comum e Filosofia. - Em certo sentido, o hile-
morfismo pertence ao senso comum, de onde deriva a metafísica
natural do espírito humano. (9) A experiência, sob as mais varia-
das f ormas, sugere já que os entes naturais encerram uma -com-
plexidade fundamental: a matéria, dotada duma espécie de plas-
ticidade indefinida, e um princípio de diversidade qualitativa, e
de unidade, distinto da matéria. - Contudo, o senso comum, sub-
mísso à imaginação tende fortemente a "reificar" (ou substan-
cializar) os princípios dessa complexidade que a experiência lhe
impõe, e a transformá-los em sêres ou coisas. Tôdas as dificulda-
des, com que se debateu a especulação grega atéAristóteles. (6)
provinham sobretudo da incapacidade em que se achavam os
pensadores iônicos, eleatas, efésios ou pitagóricos, de se libertar
das representações imaginativas, para conceber apenas na inteli-
gência realidades que, não sendo sêres materiais, mas somente
princípios de ser, só podem ser acessíveis à razão metafísica.
Foi Platão o primeiro a dar forma inteligível às intuições
confusas do senso comum, mostrando que os princípios dos corpos
não são êles próprios corpos (como o imaginavam os iônicos),
nem números (como pensavam os pitagóricos}, mas realidades
metafísicas, a que êle chamava de matéria e forma. - Entre-
tanto, Platão não se liberta ainda inteiramente dos primeiros
pensadores gregos, no sentido de que não chega a dar-se conta
da verdadeira natureza dêsses princípios metafísicos. Obsecado
pelo problema da mutação (aliás fundamental) êle concebe a
matéria como uma privação de ser e lhe retira, assim, tôda a
positividade. Por outro lado, êle parece considerar as formas
como subsistentes fora da matéria, num mundo inteligível (ou
mundo das Idéias), de que de algum modo participaria o mundo
da matéria.
Foi obra de Aristóteles elaborar, a partir dêsses dados ex-
tremamente ricos, mas confusos, uma doutrina de grande poder
I
:e coerência. Tem-se dito que êle fêz descer as formas do céu à
,- terra, e essa fórmula exprime bem, de fato, a idéia essencial de
- sua doutrina, que consistiu em mostrar que as formas são ima.-
nentes à matéria e entram realmente em composição com -ela a
-título de co-princípio intrínseco: constitutivo.
,--
http://www.bbr
COSMOLOGIA 335
Mercúrio). O mármore, como matéria, e a imagem Mercúrio,
como forma, são princípios intrínsecos de estátua.
b) Matéria-prima e forma substancial - Pode-se levar
mais longe a análise e considerar o corpo como tal (o mármore,
por exemplo). Constata-se que êle próprio é uma realidade com-
plexa, a saber, uma matéria afetada de certas determinações que
o fazem tal matéria (mármore e não madeira ou ar). De nôvo,
para explicar essa complexidade irredutível, será preciso recor-
rer a princípios intrínsecos, que serão agora, não mais tal ma-
téria já determinada (mármore) e tal forma acidental (Mercú-
rio), mas pura e simplesmente o que se denomina matéria-prima
(ou matéria absolutamente indeterminada) e forma substancial
(isto é, princípio primeiro pelo qual a matéria se torna tal ma-
téria). ítsses princípios intrínsecos são, na plena acepção da pa-
lavra, princípios, isto é, aquilo de que procede o corpo, real e
primeiramente, e que não supõe absolutamente nada anterior a
êle, São, portanto, realidades metafísicas.
383 4. Duas concepções: tomismo e suarezismo. - O problema
que se apresenta a respeito da matéria-prima consiste em saber
se é preciso concebê-Ia como pura potência, a ponto de ser des-
provida, como tal, de qualquer ato, ao mesmo tempo formal e
entitativo, ou se, ao contrário, convém reconhecer-lhe um certo
ato e um certo ser próprio.
a) . Ato formal e ato entitativo - Distinguem-se duas espé-
cies de ato: o ato [ormol; que é a própria forma enquanto unida
.à matéria para produzir o composto, - e o ato entitativo, que é
a existência, pela qual uma coisa é posta fora de suas causas e se
opõe, contraditoriamente, ao nada. Ora, admitindo que a matéria
não é, por si mesma, um ser em ato, deve-se dizer que lhe falta
ao mesmo tempo o ato formal e entitativo, ou que lhe falta sim-
plesmente o .ato formal? A primeira opinião é a de Sto. Tomás;
a segunda.. a de Suarez e resulta de pensar Suarez que a exis-
tência não se distingue da essência real, enquanto real, ou, pelo
menos, não se distingue com distinção real adequada; para êle
não há, entre essência e existência, outra distinção que a que
existe entre uma entidade possível e essa mesma entidade colo-
cada fora de suas causas. Segue-se daí que a matéria, que tem
essência própria, deve ter, pelo mesmo fato, existência própria;
se não, ela não seria nada, pois, tirada a existêncía, desaparece
tôdarealidade: fica só uma simples potência objetiva, isto é, um
puro nada. '
884 b) Matéria·e ordem existencial. Vê-se agora como se opõem
os dais conceitos. Para os tomistas, a matéria-prima não é orde-
nadaimediatamen;te à existência; esó lhe -é ordenada pela me-
diação da forma, que recebe antes da existência (entendendo-se
o' antes, aqui, duma prioridade de natureza e não de tempo):' a
matéria é pura potência, na ordem essencial e na ordem existen-
cial, Para Suarez, a matéria só é pura potência na ordem da es-
ascatolicas, com
336 RÉGIS J OLIVET
eêncui; na ordem existencial, ela possui necessàriamenteum certo
ato entitativo próprio, pelo qual é colocada fora de suas causas,
de modo que, ao menos pela potência absoluta de Deus, poderia
subsistir sem a forma.
Mas será inteligível admitir a matéria, por, si e imediata-
t mente, suscetível de existência? Assim não o julga Sto. Tomás.
Sua opinião se baseia em dois argumentos principais. Em todo
composto, observa êle, só há um .. esse" existencial, pelo qual
existem indivisivelmente a matéria e a forma (Ia, q. 76, art. 3;
q. 77, art. 2 ad 3). Por outro lado, a matéria não é ordenaria ime,-
diatamente à existência, mas à forma, e recebe a existêncja em
recebendo a fOTma; por conseguinte, estando em pura potência
a tôda forma, está em potência a tôda existência. Com efeito,
tudo que é, ou é ato, ou é potência participando dum ato. Ora, a
matéria não é ato: não o admite o seu conceito; não está, .por-
tanto, jamais em ato, se não pela participação dum ato. Mas o
único ato de que pode participar a matéria é o da' forma e, por
conseguinte, dizer que a matéria está em ato é dizer que recebeu
uma forma. Assim também, afirmar que a 'matéria pode estar
em ato sem a forma, é afirmar uma' coisa contraditória: é afir-
mar, ao mesmo tempo, que a matéria possui uma 'forma e que
não a possui (IV de Pot., art, 1; II C. Gem., capo 43; Quodlib., IH,
art. 1).
385 c) As exigências da unidade s1l.bstancial. Essa argumenta-
ção, contudo, não parece convincente a Suarei. Porque, enfim,
pensa êle, se é verdade que a matéria está desprovida dêsse ser
natural que resulta da forma, não está, entretanto, desprovida
de todo ser. Deve ter um ato metafísico, que é o ato mesmo ,pelo
qual é colocada fora de suas causas, pelo menos incompleta e
imperfeitamente, enquanto deve ser completada' péla forma
(Disp. Metaph. XIII seg.). '
Objeção especiosa no sistema tomista. :t8se ato entitativo :da
matéria deve ser colocado num gênero, e, necessàriamente, no
gênero substancial, se é verdade que a matéria é substância par-
cial. Mas, nesse caso, não há mais geração substancÍal propria-
mente dita, porque a forma acresc!entadaa uma c~a' já exis-
tente substancialmente não lhe pode conferir mais do que um
ser acidental. 21 Eis aí, de fato,'o n6 do problema. Está em [ôgo
aqui tôda a questão da unidade do composto substancial, quees-
tudaremos mais adiante.
r '
21 Se SUAREZ insiste tanto, na XIII.a Disp.' Metaph, sôbre o que
êle chama o atoentitativoda matéria, é sobretudo, 'parece, para se 9por
a certos filósofos que, infiéis a Sto. TOMAS, enfraquecem a realidade
da matéria ao ponto de transformá-la em puro limite, numa privação
e numa simples negação. (Cf. P. DESCOQS, Archives 'de Philosophie,
I
j
http://wWW.ob rase,
CoSMOLOGIA 337
§ 2. As PROVAS DO HILEMORFISMO
A. As mutações substanciais.
386 Discutindo O atomismo e o dinamismo, tivemos já ocasiao
de entrever os argumentos que exigem a concepção hilemorfista.
Se não se pode explicar a essência dos corpos pelos corpúsculos,
nem a extensão pelos indivísíveis inextensos, a explicação autên-
tica só poderá ser encontrada numa teoria que fundamente tanto
a diversidade qualitativa como a quantidade dos corpos em prin-
cípios metafísicos. É freqüentemente proposto também, em favor
do hilemorfismo, um argumento mais direto, porém mais difícil,
tirado da mutação substancial (312). Esta, de fato, parece ínin-
teligível fora da concepção hilemorfista.
1. O fato das mutações substanciais. - O ponto-de-partida
do argumento, ou o fato que lhe serve de fundamento, é a reali-
dade da mutação substancial na natureza. Tentou-se contestá-la.
Ora, diz-se, ainda que nem sempre seja possível distinguir clara-
mente as mutações substanciais das mudanças acidentais, há cer-
tas mudanças que são, da maneira mais evidente, transformações
que resultam na produção duma substância, nova, especüicamen-
te diferente da que sofreu a mudança. O fato da nutrição dos sê-
res vivos é por si mesmo mais claro do que qualquer demonstra-
ção: os alimentos não-vivos, de que se nutre o ser vivo, são trans-
formados em substâncias novas e dotadas de vida. - Pode, além
disso, afirmar-se que também os próprios corpos inanimados estão
sujeitos a verdadeiras mutações substanciais.' Há, com efeito,
coisas que, transformando-se, mudam completamente de proprie-
dade e seria muito difícil considerar essas mudanças puramente
acidentais. É verdade que simples acidentes modificam, às vêzes
grandemente, o aspecto exterior das coisas: vai uma grande dis-
tância, por exemplo, dum pedaço de carvão a um diamante. Mas
há grande número de mudanças mais importantes e que parecem
afetar a substância em si mesma. .
O problema preciso que se coloca aqui não é o de distinguir
tôdas as mutações substanciais das acidentais. É êsse um pro-
blema que pertence às ciências positivas. A nós basta constatar
que há, na natureza, mutações substancíais, o que é absoluta-
mente certo, embora possa haver dúvida sôbre um ou outro caso
particular de mudança ~ ,
2. O argumento baseado nas mutações. - A mutação subs-
tancial não se explica senão pelo recurso a dois princípios dis-
tintos, potencial um; 'atual outro, que são a matéria-prima e a
forma substancial. Com efeito, será preciso admitir a realidade
dum sujeito comum aos dois têrmos da mudança (313), sem o
-----' " .
atolicas.corn.
338 RÉGIS J OLIVET
que não haveria mudança, mas. aniquilação e criaçã<;>. ~sse s~
jeito comum deve ser indeterminado (do ponto-de-vista especi-
fico) pois é passivo: perde sua determinação específica e recebe
uma ~ova, isto é, é indiferente a esta ou àquela determinação es-
pecífica. l!; êsse sujeito comum, indeterminado, passivo e em si
mesmo indiferente, que chamamos de matéria-prima.
Por outro lado, a mutação. substancial se faz entre dois têr-
mos especificamente distintos (o pão se torna célula viva), quer
dizer, o sujeito comum se torna especificamente outro, diferente
do que era. Essa transformação substancial, ou mudança especí-
fica, exige, evidentemente, para se 'realizar, um princípio deter-
minante, pelo qual seja a matéria colocada numa nova espécie.
A êsse princípio especificador é que chamamos forma subs-
tancial.
3. Valor do argumento das mutações substanciais. - Fo-
ram levantadas, contra êsse argumento, algumas dificuldades
cujo exame nos permitirá precisar melhor o sentido e o alcance
que se lhe devem dar. 22
Objeta-se, antes de tudo, que é sempre difícil estabelecer
experimentalmente a realidade das mudanças específicas. - A
isso tem-se respondido que o fato do vir-a-ser substancial per-
manece certo, independentemente dos resultados da técnica cien-
tífica: esta pode hesitar freqüentemente ante tais ou tais fatos
concretos, mas não põe em dúvida Universalmente a realidade da
mudança específica.
Contudo, essa resposta, por válida que pareça, é insuficiente.
Baseia-se, com efeito, numa "evidência" que a ciência pode pôr
em dúvida, observando que as mudanças, "substanciais" são de-
duzidas, pelo senso comum, das mudanças de propriedades. 'E
que nada prova, "a priori", que estas impliquem algo mais do
-que graus diferentes de propriedades, e não uma mudança de
natureza. - Pode-se mesmo contestar o rigor do argumento ti-
rado da nutrição. Para que fôsse realmente comprovante, seria
necessário que se pudesse estabelecer que a transformação do
alimento nos 'coloca em presença duma ou várias substâncias es:-
sencialmente diferentes das que existiam antes da nutrição.'
Afirmar essa transformação não é provar as mutações substan-
ciais, mas tomá-las como postulado. De fato, ao querer demons-
trar o hilemorfísmo a partir do não--vivo pela sua transformação
no vivo, propõe-se como postulado que a forma específica do não-
-vivo não subsiste em ato no ser vivo (ou, de modogeral, que é
impossível que os princípios elementares subsistam realmente no
seio do composto), ~ o que não é mais do que '3-'ma forma do
hilemorjiemo. .
http://www.obra
COSMOLOGIA 339
B. A multiplicidade dos indivíduos' na espécie.
rscatolicas. com
340 RÉGIS J OLIVE'!'
,
ii
. http://www.obras l
COSMOLOGIA 341
a teoria hilemorfista tem realmente a vantagem (ao contrário do
atomismo e do dinamismo) de justificar, do modo mais satisfa-
tório, maior número de fatos.
1. A oposição das propriedades. - O fato da oposição das
propriedades exige dois princípios especificamente distintos. 24
Ora, todos os corpos manifestam propriedades absolutamente
opostas e irredutíveis entre si: as relacionadas com a quantidade
(extensão, passividade) e as que dependem da qualidade (diver-
sidade específica, atividade). Essa oposição explica-se bem pelo
duplo princípio: a matéria, fonte de extensão e passividade; ti
forma substanc'ial, fonte das qualidades e de energias específicas
(coesão, afinidade, atração, formas cristalinas, etc.)
2. Unidade e divisibilidade dos corpos. - Os corpos são,
ao mesmo tempo, divisíveis e unos. A unidade é particularmente
notável nos sêres vivos, - na planta e, sobretudo, no animal.
Quanto mais perfeito o animal, mais íntima a unidade, mais es-
sencial, mais estreitamente une ela tôdas as partes do corpo.
Vimos que nem o atomista, nem o dinamismo, podiam explicar
essa unidade: os corpos, tais como concebidos por essas teorias,
não passam de agregados de elementos unidos de fora. Ao con-
trário, com a forma substancial fica explicada a unidade, por
mais estreita que seja, bem como a divisibilidade levada aos li-
mites mais extremos: é a matéria que permite a divisão das par-
tes; é a forma que as reúne num mesmo todo substancial.
'§ 3. MATÉRIA, FORMA E COMPOSTO SUBSTANCIAL
A. Noção de matéria.
389 1. O primeiro sujeito. - Vimos com que cuidado é preciso
distinguir .matêría-príma e matéria segunda. Esta não é nada
mais do que o corpo já constituído (mármore, madeira, ar, animal,
etc.). A matéria-prima, ao contrário, é o primeiro s.ujeito que,
pela união' com uma forma torna-se um ser pr.opriamente dito
(uma substância). Negativamente, ela é, segundo .8 expressão
de Aristóteles, aquilo que por si' não é nem ser, nem qualidade,
nem quantidade, nem absolutamente nada do que implica uma
determinação qualquer. Ela é aquilo que, sendo absolutamente
indeterminada, pode se tornar, pela forma, um ser corporal
qualquer; .
catolicas.com
1
342 RÉGIS JOLIVET .j
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COSMOLOGIA 343
rcatoltcas.com
344 RÉGIS J 01JVET
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n.·· 11 e segs, Report. parís., II, d. 12, q, 1, n.o 13. '.
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COSMOLOGIA 345
iatoücas.com
346 RÉGIS JOLIVET
http://www.obra
CoSMOLOGIA 347
A. Posição do problema.
397 1. Forma específica e individuação. - Tudo que dissemos
até agora diz respeito apenas à natureza específica dos corpos. l!:
pela forma substancial que os sêres corporais se colocam numa
determinada espécie. Mas de fato, só os indivíduos existem real-
mente, isto é, antes da mesma espécie, mas numericamente dis-
tintos uns dos outros (46). O problema que se coloca,portanto,
é de saber como e por que uma mesma espécie pode comportar
entes ao mesmo tempo idênticos, pois são todos da mesma natu-
reza, e distintos entre si, pois um não é o outro, e cada um possui
uma natureza individual, própria e incomunicável. 1:sse é o pro-
·, blema da indiduação.
.:i
2. Formas corporais e formas subsistentes. - Pode limitar-
se antes o campo do debate. Trata-se, neste caso, Unicamente de
sêres corporais. Quanto às formas subsistentes (ou substâncias
espirituais), não pode haver desacôrdo: todos concordam unâní-
memente em que os' espíritos são individualizados por sua pró-
pria forma, pois não têm matéria. Mas não se pode concluir, ime-
diatamente, que os entes corporais sejam igualmente individua-
Iízados por sua forma. Sujeitos essencialmente diferentes, como
os espíritose os corpos, podem ter diferentes princípios de indi-
viduação; A questãoque se propõe, então, é de saber qual é êsse
princípio relativamente aos sêrescorporais.
1:sse é um dos problemas que mais fizeram. exercitar a suti-
léza. dos filósofos.. O melhor meio de lhe apreender bem o 'sen-
tido, é, .sem dúvida, expô-lo e discutir as diversas soluções pro-
postas: poder-se-á, ao longo do debate, perceber mais de perto a
questão,e definir os têrmos duma solução satisfatória. "
. ,
27 Cf. P. DESCOQS, Essai"critique SUT l'hylémorphisme, págs, 77-121.
scatolicas.com
348 ltÉGIS J OLIVET
.http://www.abrase
COSMOLOGIA 349
dualidade é unidade. Os sêres são, portanto, indivíduos pelo mes-
mo princípio que lhes confere a unidade, isto é, pela forma.
Essa solução suscita numerosas objeções. De início, convém
observar que a individualidade não resulta primeiramente da
realidade, mas da incomunicabilidade. Podem conceber-se indi-
víduos simplesmente possíveis. - Por outro lado, a forma subs-
tancial é apenas espedficadora e pode pertencer a um número
indefinido de indivíduos, que devem, portanto, ser indivíduos por
outra coisa que não pela forma. - Pode-se, certamente, respon-
der que o que individualiza não é a forma específica ou abstrata,
mas a forma concreta, que é sempre tal forma singular. Mas,
justamente, a questão é saber como e porque a [orma específiCa
é tal forma individual. Os partidários dessa opinião nos dão ape-
nas uma solução verbal. - Não acrescentam grande coisa à so-
lução dizendo que a forma, sendo princípio de unidade, deve ser
também princípio de individualidade. Porque há unidade e uni-
dade: a forma específica é o princípio de unidade específica; a
forma individual é o princípio de unidade individual. O que se
procura 'saber é como essa forma é individual, qual o princípio
de sua individualidade. E a questão fica sem resposta. 28
C. A individuação pela matéria quantificada.
'400 1. Tese tomista. - Sto.. Tomás, depois de .Aristóteles, julga
que o princípio da individuação deve ser produrado na matéria
quantificada (matéria signata quantitate) (De Ente et Essentia.
capo lI). Com efeito, diz êle, o princípio da individuação não
pode ser alguma coisa da essência, pois a essência é específica e
não pode, como tal, individualizar. Mas deve ser intrínseco ao
ser individuado, isto é, deve ser algo que afete' a substância mes-
ma do ser. O ente deve ser um indivíduo por sua própria 'subs-
tância e não somente por uni acidente acrescentado. - Ora, aca-
bamos de ver que não se pode procurar o princípio de individua-
ção do lado da forma, que é puramente específica e faz os entes
idênticos, e não diferentes e distintos. Resta buscá-lo do lado da
matéria. Mas' esta, tomada em si mesma, sem a quantidade, é
algo comum a todos' os corposçprivada, como tal, de princípio
de divisão: como pode ser ela, então, princípio de divisão? Pela
quantidade. Somos assim, levados a pensar que o princípio de
individuação reside na matéria, maS na matéria quantificada sus-
cetível,a êsse título, de receber tal ou tal quantificação deter-
minada. . ' . .
i
·i, r
http://www.obras
CAPíTULO II
catolicas.corn
352 RtGIS JoLIVET
. I'
d.
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COSMOLOGIA 353
A. Atamos, moléculas, cristais.
1. O átomo. - Tivemos de constatar que o átomo revela
prodigiosa complexidade. Surge, portanto, como um composto.
O problema consiste em saber se êsse composto deve ser tido
por misto perfeito ou por simples agregado de elementos homo-
gêneos. Ora, os fenômenos manifestados pelo átomo, seja em-
bora pelo mais simples dêles, que é o átomo de hidrogênio, só são
verdadeiramente inteligíveis se se tem o átomo por misto per-
feito. Com efeito, êle é dotado de unidade. e de propriedades
essencialmente distintas das de seus elementos componentes.
a) A unidade do átomo. A experiência demonstra que
todos os átomos duma mesma molécula são iguais, dotados do
mesmo pêso atômico, da mesma carga elétrica, etc. - Por outro
lado, é sabido que se requerem fôrças enormes para decompor os
átomos em seus elementos constitutivos. Tudo isso é sinal evi-
dente duma unidade interna absolutamente contrária à natureza
do simples agregado, cujos elementos conservam sua indepen-
dência própria e se deixam dissociar sem resistência.
b) Constância e estabilidade dos átomos. A física atômica
e a química discernem em cada molécula do misto um número
de átomos exatamente determinado e invariável. Constatam
igualmente que os átomos que entram na composição da molécula
conservam, até certo ponto, as suas propriedades, sem deixar,
aliás, como se verá, de ser assumidos pela unidade própria da
molécula. Tudo isso manifesta uma verdadeira unidade no áto-
mo e exclui a hipótese dum simples agregado acidental.
c) As propriedades específicas do átomo. As propriedades
do átomo se apresentam como diferentes das de seus elementos,
o que seria ininteligível 'na -hípótese da união acidental, em que
as propriedades do todo são apenas a soma das propriedades de
seus elementos. As experiências de Aston com os prótons e de
Millikan com os elétronst demonstraram que os componentes,
obedecem, fora do átomo, a leísrmecânicàs e. eletrodinâmicas
(teoria de Maxwell) que, entretanto, não se lhes aplicam mais
quando no interior do átomo. Aparece assim o átomo como espe-
cificamente distinto· de seus componentes e .dotado de unidade
inte~na.· .
.atoucas. com
354 RÉGIS J OLlVET
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COSMOLOGIA 355
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356 RÉGIS J OLIVET
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COSMOLOGIA 357
A. A permanência virtual.
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358 RÉGIS J OLlVET
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COSMOLOGIA 359
atolicas.com
QUARTA PARTE
http://www.abrase
COSMOLOGIA 361
duma organização determinada dos elementos materiais que lhe
servem de suporte. - Trata-se, em seguida, de examinar se a
multidão das espécies vivas pode explicar-se pelo processo de
evolução e de diferenciação progressiva a partir dum elemento
simples original. São essas as questões que havemos de estudar.
CAPíTULO I
NATUREZA DA VIDA
SUMARIO 2
~ '-':,;,,".
....
atolicas.com
362 RÉGIS J OLIVET
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·http://www.obrasc
COSMOLOGIA 363
tábua de Mendelejeff) intervêm constantemente na constituição
dos vegetais e dos animais. São êles, por ordem crescente de
importância: C, 0, H, N, S, P, Cl, K, Na, Mg, Ca, Fe. - Os cons-
tituintes primários são: as matérias protéicas (ou albumínói-
des), assim chamadas porque só se encontram em estado natural
nos sêres vivos. Essas matérias contêm sempre C, 0, H, Az, S, -
as gorduras e hidratos de carbono, materiais de reserva (colo-
cam-se ao lado das gorduras as substâncias chamadas lipóides,
muito mais complexas (tipo colesterina), - os minerais (clorato
de sódio, sulfatos e fosfatos de potássio, de cálcio, de magnésia),
_ a água, em teor bastante elevado, - as diástases (enzimas ou
fermentos), que do ponto-de-vista químico dependem das maté-
rias protéicas e têm, fisiologicamente, a função de acelerar as
reações químicas e de transformar, sem grande desgaste, massas
enormes de matéria. ~sses fermentos não são vivos, mas fabrica-
dos e utilizados pela matéria viva: seu papel é de importância
capital em todos os fenômenos de assimilação e desassimilação.
421 b) Análise física. A maior parte dos constituintes químicos
são colóides naturais (ou pseudo-soluções), isto é, substâncias que
se encontram num estado intermediário entre as suspensões em
dispersão mecânica (areia agitada com água num tubo) e as so-
água). °
luções propriamente ditas (ou dissoluções: o sal dissolvido na
colóide compreende portanto uma fase dispersada (mi-
galhas) e uma fase contínua (meio de dispersão). Cada fase
pode tomar o estado sólido (sol), líquido (gel) ou gasoso.
As propriedades dos colóides são: a heterogeneidade ótica,
mostrando que a solução coloidal é formada de grãos extrema-
mente pequenos em suspensão na água, - o movimento brow-
,niano (364), - a carga elétrica (colóides eletropositivos e eletro-
negativos), - a floculação, ou coagulação dos grânulos, determi-
nando a doença. e a morte, - a adsorção, ou propriedade de reter
indefinidamente certas substâncias postas em contato com os co-
.r lóides.
° estado coloidal não pertence exclusivamente ao mundo
vivo: a química produz colóides artificiais. Mas uma 'diferença
capital distingue os colóides naturais dos artificiais: o meca-
nismo químico dos sêres vivos é rigorosamente específico, o que
não acontece com os colóides artificiais.
c) A célula viva. Fisiologicamente, a célula é "um pequeno
organismo que nasce PÓT divisão duma célula preexistente -
assimila e desassimila - cresce e. se divide denôvo em duas
células filhas, a menos que morra antes" (R; COLLIN, "Réfle-
xions sur -le psychisme", p. 57:) - Morfologicamente, a célula
é uma pequena.massa. de s4bstânciavivá (ou protoplasma), limi-
tada por uma membrana. Q protoplasma compreende uma parte
central ou núcleo, envolto por uma membrana nuclear, 'e uma
parte externa ou citoplasma, limitada pela membrana: celular.
Nos unicelulares (protófitos e protozoários), a célula cons-
atolicas. com
364 RÉGIS J OLIVET
titui um indivíduo completo e autônomo. - Nos pluricelulares
(plantas e animais), as células compõem tecidos, os tecidos ór-
gãos, os órgãos, sistemas mais ou menos complexos. A célula per-
de a sua autonomia individual e é assumida pelo organismo
total. B
422 2. Organização e Estrutura. - Os minerais são com-
postos de partes integrantes homogêneas, de forma que basta
dividi-los para multiplicá-los. Os sêres vivos, ao contrário, são
heterogêneos: quer se trate de plantas ou de animais, há diversi-
dade de partes, de membros e de órgãos. Para formar uma planta
é preciso uma raiz, um caule, fôlhas, e cada uma dessas partes
por sua vez oferece uma complexidade extrema. Com os animais
superiores, a complicação é maior ainda: ossos, nervos, músculos,
vasos, tecidos, tudo é composto e adaptado de maneira mara-
vilhosa. - Aliás, não é preciso considerar o organismo completo.
A menor célula, vegetal ou animal, traz sempre o mesmo caráter
de heterogeneidade, de organização complexa de elementos de
natureza diversa em um todo nitidamente definido. 4
Uma descoberta recente de STANLEY parece, entretanto,
convidar a que não se faça ligação de maneira absoluta e total
entre a vida e a organização. Com efeito, STANLEY, tendo con-
seguido obter soluções concentradas de vírus filtráveis, consta-
tou que êsse corpo albuminóide cristalizado, que conserva o po-
der de crescimento, característica essencial do ser vivo, não re-
vela, ao microscópio eletrônico, nem estrutura organizada,. nem
órgão. Os fisiologistas se perguntam se êsse corpo não constitui
uma ponte entre a matéria morta e a matéria viva. Em todo
caso, não deixa de ser, ao que parece, o ponto mais baixo do
mundo vivo.
B Distinguem-se as células somáticas (soma) ou células que com-
'põem o corpo orgânico e são diferenciadas em pele, osso, músculos,
nervos, etc. ..:.... e as células genéticas (germe) ou células que compõem
o núcleo das células somáticas. Denominam-se genéticas ou específicas
porque são elas que carregam o patrimônio hereditário e que são trans-
mitidas aos descendentes. .Nos unicelulares, tudo se reduz a uma célula
específica. - Denomina-se genotipo, num indivíduo, o conjunto das
propriedades comuns a. tôda a raça, tal eomo êsse ' conjunto é realizado
no ôvo ou -célula original, pela fecundação, - e fenotipo, o conjunto
das características individuais, resultante da reação do genótipo às
condições exteriores,· bem como- das reações mútuas dos elementos do
seu genotipo.. .
4 Essas observações mostram que o têrmo estrutura é ambíguo e
deveria ser sempre explicitado. Veremos, em Psicologia, que 'a Escola
da .Forma o toma por sinônimo de forma. Ora, êle tem um. sentido
muito mais largo. Tôda estrutura é o efeito dum dinamismo, mas há.
várias espécies de dinamismo. Numa, as fôrças qu.e constituem o. sis-
tema se juntam simplesmente umas às outras e. se C0I'9Põem segundo' ·1
as leis simples do cálculo vetorial. Noutra, elas constituem um sistema
coordenado e individualizado, do tipo "histórico" (isto é, guardando'
sua complexidade através das conjunturas de sua' duração temporsã) .
É a êste último sistema (o caso do organismo vivo) que se deve re-
servar o nome de forma (cf.R. RUYER, Eléments de psycho-biologie,
Paris, 1946, pág. 8). .
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COSMOLOGIA 365
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COSMOLOGIA 367
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368 RÉGIS J OLIVET
I
variações indefinidas. Fatos êsses que basta constatar. - Mas,
'por outro lado, é certo que, justwniente porque são análogos, não
há discriminação radical a ser feita entre os processos da natu-
reza e os da inteligência. tles se' assemelham de fato: uns e
, outros procedem duma idéia, que é uma forma, no mundo inor-
,gânico (391) e uma concepção da inteligência" entre os sêres in-
I teligentes. É a parte justa do antropomorfismo. E' então outro
\
"
"1' 9 Cf. CUÉNOT, lnvention et finalité en Biologie, Paris, 1941.
,i
I
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COSMOLOGIA 369
problema se levanta, que _é o d~ expli~arA a.idéia, a fOrI?a, a fínal].,
dade a ordem e a invençao (termos smommos) nos seres desprn,
vido~ de razão. Problema que iremos reencontrar na Metafísica.
§ 2. NATUREZA DA VIDA
I
t
listas têm proposto definições da vida não muito rigorosas. Assim
10
pág, 180.
Cf. CUÉNOT R. Dalbiez, etc., Le Transformisme, Paris. 1927,
.atoücas.corn
370 RÉGIS J OLIVET
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COSMOLOGIA 371
§ 1. O MECANICISMO.
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372 RÉGIS J OLIVET
1. A irritabilidade.
~
.~
hUp://www.obrasc
COSMOLOGIA 373
Prova simplesmente que os corpos animados e inanimados são
corpos e têm propriedades físico-químicas comuns. Os mesmos
fenômenos físico-químicos encontram-se sempre nos três reinos
da natureza, mas com particularidades absolutamente próprias
de cada reino. As noções de contração muscular, de secreção,
não têm nenhuma espécie de aplicação no mundo inorgânico
(419). O sofisma mecanicista consiste em eliminar as parti-
cularidades que compõem, de fato, as diferenças essenciais, para
considerar apenas os traços comuns. 11
432 2. Os tropísmos, - Chama-se tropismo a resposta dada
pelo organismo vegetal a um excitante externo natural (luz:
fototropismo; pêso: geotropismo; calor: termotropismo, etc.). O
mecanicismo afirma que a noção de tropismo, por um lado, pode
ser estendida ao reino animal, e, por outro lado, que não significa
mais nada que puros fenômenos físico-químicos. Dessa forma,
chegar-se-iam a reduzir ao determinismo físico-químico tôdas as
reações vitais do animal e da planta. 12
Em refutação, pode-se observar, com R. COLLIN (loc. cit.,
pág. 144) que "a obediência às fôrças mecânicas, se comporta
uma explicação mecânica, nem por isso possui qualquer signifi-
cação mecanicista". No mesmo sentido, mostrávamos, acima
(404), que a explicação atômica não tinha absolutamente sen-
tido atomísta.
Por outro lado, e em oposição a certas afirmações de LOEB,
está demonstrado que os tropismos significam sempre uma ativi-
dade governada pelo próprio interêsse, individual ou específico,
do ser vivo, enquanto que as reações físico-químicas puras' são
desprovidas de qualquer aparência de finalidade. O corpo bruto
se deixa destruir: suas reações são de natureza puramente me-
cânica e são estrita e infalivelmente condicionadas pela ação da
11 Cf. R. COLLIN, Réflexions sur lepsychisme, pág. 142: "Apli-
quemós um mesmo excitante, um choque, por exemplo, 1.0) sôbre um
músculo; 2.°) sôbre uma fôlha de Mimosa pudica (sensitiva), e 3.°)
sôbre uma haste de metal. Teremos as três respostas seguintes: '1.°)
Modificação molecular + contração + reação elétrica. ,2.°) Modificação
molecular. + fechamento dos foHolos + reação elétrica. 3.°). Modifi-
cação molecular + reação elétrica. - Nos três casos encontramos algo
em comum, a modificação molecular e a -reação elétrica, fenômenos
não específicos; encontramos a mais, nos casos 1 e 2, uma reação ca-
racterística ( ... ): Em resumo, o conceito de irritabilidade comporta
o conceito de resposta específica. 'A reação elétrica é uma reação banal
da: matéria, qualquer que seja ela." '. .
. 12 Cf. L P. PAVLOV, Les réflexes condit~onels,.Paris, 1927, pág. 24:
<lA observação objetiva do ser vivo, que começa pelo estudo dos. tro-
pismos dos sêres rudimentares, pode e deve permanecer a mesma quari-
do atinge -as manifestações superiores do organismo animal, e que, rios
animais superiores, chamam-se manifestações psíquicas. Cedo ou tarde;
a ciência, apoiando-se sôbre às analogias das manifestações exteriores,
transportará para o nosso mundo objetivo os dados.objetivos obtidos
e, aclarando brusca e intensamente nossa natureza tão misteriosa, elu-
cidará o mecanismo eo sentido real daquilo' que mais preocupa o ho-
mem, isto é, a sua consciência e o sofrimento de ser consciente,"
~atolicas.com
374 RÉGIS J OLIVET
hÚp':llwww .obra:
COSMOLOGIA 375
tem à mudança, fazem-no de maneiras essencialmente diferen-
tes. A matéria conserva seu passado apenas por pura inércia,
enquanto que a vida o conserva ativamente e o refaz constante-
mente de nôvo: em outras palavras, o presente da matéria é, em
relação ao passado, um resultado necessário; o presente da vida
é em relação ao passado, uma invenção contínua. Do mesmo
modo, a resistência à mudança na matéria é apenas a forma de
sua inércia e se traduz pelo desgaste; na vida, é um processo de
adaptação e de progresso. 16
§ 2. O VITALISMO
httpj/www.obraSl
COSMOLOGIA 377
vitalismo não deixa outra explicação possível senão a do hile-
morfismo. Pois se o corpo vivo não pode ser explicado mecânica-
mente e se não se pode explicar a atividade vital por um princí-
pio imaterial exterior ao corpo, .só res~a reco~Te~ à doutrina q~e
explica ao mesmo tempo a dualidade irredutíveil, e a correlaçao
das propriedades do ser vivo corporal, pela união intrínseca dum
princípio material e dum princípio formal. 19 Poder-se-á então
compreender que o ser vivo corporal, mais ainda do que o ser
inorgânico, é um ser uno por si e não uma soma ou um conglo-
merado de elementos, e que as partes múltiplas e heterogêneas
do ser vivo obedecem a uma lei de unidade e concorrem para o
mesmo fim. E compreender-se-ão ainda as diferenças específicas
que existem entre os sêres vivos, sendo a forma substancial o que
determina a natureza do composto.
2. O psiquismo. - O princípio formal dos sêres vivos re-
cebe o nome de alma (psyche). Aristóteles define a alma como
o ato primeiro do corpo orgânico, ou ainda, (colocando-se no
ponto-de-vista dos efeitos da alma) como o princípio primeiro
da vida, da sensibilidade e do movimento. Acrescenta ainda
ARISTóTELES que a alma é também o princípio primeiro da
inteligência, ficando assim afirmada a unicidade da alma em
cada ser vivo. Com efeito, o homem, natureza intelectual, não
possui três almas, embora possua as três potências, vegetativa,
sensitiva e racional, assim como o animal não tem duas almas,
vegetativa e sensitiva. A a.~ma superior assume as funções dos-
graus inferiores: a alma do animal é ao mesmo tempo vegetativa
e sensitiva; a alma humana é ao mesmo tempo vegetativa, sen-
sitiva e racional.
O psiquismo é portanto a expressão duma forma autêntica
(422), isto é, dum princípio interno de estruturação, que condi-
ciana o exercício duma conduta unificada (em oposição às es-
truturas físicas que se reduzem a uma soma de fenômenos físi-
cos determinados de um ao outro, - em cadeia,. - por uma es-
pécie de enganchamento sucessivo). Dêsse ponto-de-vista, não
há que hesitar em falar dum psiquismo vegetal, da mesma forma
I' que dum psiquismo animal e humano. Com efeito,na sua es-
sência mesmo, o psiquismo (ou a forma) não é nada mais do que
a interioridade de si a si .mesmo, ou a posse de si por si mesmo,
comandando de dentro a estruturação do ser vivo, o que quer
dizer que êle não é de fato, propriamente falando, uma proprie-
dade do ser 'vivo; - mas é o próprio ser vivo, corno tal. Psiquis-
mo e vida são convertíveis. - Dir-se-á ainda, por conseguinte,
que todo psiquismo é su?jetividade, pois sendo a forma um dína-
19 Cf. J. MARITAIN, Les Degrés du savoir, pág. 381: "O que é
"inteiramente "físico-químicq" é o. conjunto dos. meios energéticos e
materiais do .fenômeno . (vital). Materialmente 'físico-químico, o fenô-
meno. mesmo é formalmente vital; é uma auto-atuação 'do sujeito, e
implica que as energias 'físico-químicas em [ôgo sejam precisamente
meios,insirumentos dum princípio radical de atividade imanente."
catolicas.corn
378 RÉGIS J OLIVET
I,
.
:
I
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CAPÍTULO II
.catolicas.com
380 RÉGIS J OLIVET
Quaternário
Terciário Plioceno 7
Mioceno 12
Oligoceno 15
Eoceno 25
Secundário Cretáceo 50
Jurássico 40
Trias 50
Primário Permiano 40
Carbonífero 50
Devoniano 70
Siluriano 65
Cambriano 75
Precambriano Algonquiano 1.000 (?)
(Arqueozóico) Arqueano
http://www.obras l
COSMOLOGIA 381
a vida existisse antes do momento em que encontrou na Terra
condições favoráveis ao seu desenvolvimento. A vida, pensava-
-se, sempre existiu no Universo sob a forma de embriões deno-
minados panspermes por SVANTE-ARHENIUS em 1908, ou
biogenes por J. SCHULTZ, em 1929. .tsses embriões, flutuando
livremente no espaço, teriam chegado à Terra por efeito da ra-
diação cósmica e teriam semeado a face do globo,
A. A autobiogênese.
catolicàs.com
382 RÉGIS J OLIVET
'. . . ' . \
Cf. A. DAUVILL1ER et E. DESGUIN, La Genése -de la 'vie, phase
3
de l'évolution' géoquimique, Paris, 1942,pág. 119.. .." .
http://www.obrasc
COSMOLOGIA 383
3. As sínteses, bioquímicas. - A hipótese da geração es-
pontânea nas origens parecerá menos arbitrária se nos dermos
conta das sínteses bioquímicas que a ciência realiza hoje. 'Sabe-
-se que foi em 1827 que Fr. WOHLER conseguiu fabricar artifi-
cialmente a uréia. Desde então, têm-se multiplicado as sínteses
bioquímicas (fabricação artificial de certos produtos da vida) e
têm-se realizado no laboratório combinações orgânicas muito
complexas. É de se pensar que nos aproximamos assim, pouco a
pouco, do momento em que será capturado o segrêdo da vida.
B. Discussão.
445 1. Filosofia e ciência da vida. - Pode-se admitir que o
fato de "ter a geração espontânea se esquivado sem reserva pos-
sível ante as tentativas de verificação" 4 não é suficiente para
provar, cientificamente, a impossibilidade absoluta da "geração
espontânea".
Essa impossibilidade pode ser estabelecida pela Filosofia? A
resposta tem sido freqüentemente afirmativa. Mas se é verdade,
ao contrário do que pensa Ed. LE ROY 5, que a questão da ori-
gem da vida não é da competência exclusiva da ciência positiva
e que tem um aspecto propriamente filosófico, - incorrer-se-ia
certamente em outro êrro julgar que o problema ·possa ser resol-
vido inteira e definitivamente por via filosófica. Por um lado,
com efeito, se é certo que a vida é uma realidade irredutível,
como tal, à matéria, não se segue' daí necessàriamente que a'vida
não tenha podido surgir da matéria orgânica, quer dizer, da aqui-
sição pela matéria mineral duma 'estrutura celular, precedida
ela mesma de estágios pré-celulares (que, aliás, ainda existem
sob nossas vistas). - Por outro lado, 8: exclusão sistemática
duma evolução que teria dado naturalmente nascimento à vida,
.leva a admitir a criação imediata por Deus, no próprio curso da
evolução geral, se não dos sêres vivos, pelo menos dum primeiro
organismo vivo, Isso nada tem de impossível. ,Mas a tendência
será, antes, para considerar que a evolução, desde as próprias
origens, implicava, a título de potência imanente como próprio
aparecimento da vida; todos os .sêres vivos surgidos no correr dos
tempos. , '
, Os Escolásticos medievais admitiram a geração espontânea,
limitando-a; entretanto, estritamente
.
aos "animais
. :
inferiores". 6
catolicas.com
384 RÉGIS J OLIVET
C. Conclusão
http://www.obraSCê
COSMOLOGIA 385
vida. Convém, portanto, deixar à ciência, no plano fenomenal
que é o seu por definição, plena liberdade de pesquisa e de hipó-
teses. Julgamos, além disso, que se pode admitir que a hipótese
da evolução tem por si mesma, não sàmente no plano científico,
mas também no plano filosófico, um valor heurístico que não po-
deria ser negligenciado sem prejuízo.
Observemos, enfim, que a noção de "geração espontânea"
não se aplica bem do ponto-de-vista científico atual, às origens
da vida. Em certo sentido, jamais houve geração espontânea, se
por isso se entende, como se faz comumente, o nascimento dum
organismo vivo a partir da matéria bruta. Como fizemos notar,
o problema das origens da vida é completamente outro, desde
que se coloca no nível pré-celular. Arriscando uma .tradução
filosófica, diríamos que a vida estava na potência da matéria,
exatamente no mesmo sentido em que os Escolásticos dizem que
a alma dos irracionais está na potência da matéria. Não houve,
portanto, "geração espontânea", mas somente advento, no curso
da evolução geral, de condições que tornaram a vida possível em
ato, e lhe impuseram o desenvolvimento.
1
t
"
É dêsse gênero a solução sugerida por BERGSON 9 e Ed. LE
ROY 10, - mas em têrmos que parecerão indevidamente meta-
físicos aos cientistas e defeituosamente físicos aos filósofos. De
! fato, sua concepção da biosfera implica, sob a forma daquela
"energia" ou daquele "élan" invocados por êles, uma espécie de
preexistência difusa da vida que, do ponto-de-vista científico,
tem um aspecto nitidamente mítico, - e, do ponto-de-vista filo-
sófico, é um realismo (ou "Coisismo") da vida, em que se pode
discernir certa incapacidade de passar do plano físico da coisa
para o plano metafísico da potência.
atolícas.com
386 RÉGIS J OLIVET
§ 2. O FATO DA EVOLUÇÃO
.com
388 RÉGIS J OLIVET
458 1. Paleontologia.
a) O argumento. O argumento tirado da paleontologia
pode ser resumido assim: quanto mais se desce ao passado, mais
os diversos representantes das espécies vivas que se encontram
nas camadas' geológicas diferem dos representantes atuais dos
mesmos grupos, o que parece implicar a realidade duma evo-
lução.
Por outro lado, conseguiu-se estabelecer numerosas séries
morfológicas ligando entre si formas fósseis cujos graus inter-
mediários estão tão perto uns dos outros que não se pode propor
hipótese mais razoável do que a da variação das linhas morfoló-
gicas, isto é, a que identifica as séries morfológicas com as séries
genealógicas. 12
(Fig. 40, pago 405 Evolução do pé posterior dos hipidia-
nos) 1. Eohippus (eoceno); 2. Mésohippus (oligoceno
inferior e médio);
3. Miohippus (oligoceno superior); 4. Merychippus
(mioceno médio);
5. Hipparion (mioceno superior); 6. Equus (quater-
nário). (Segundo H.F. OSBORN).
b) Alcance do argumento. t:sse é, realmente, um argu-
mento de grande fôrça, mas somente dentro dos limites do trans-
formismo restrito. Convém observar, com efeito, que as classifi-
cações ou séries morfológicas não implicam necessàriamente fi-
liação por mudanças contínuas, nem mesmo um verdadeiro de-
senvolvimento genealógico. A filiação parece grandemente pro-
vável dentro do limite das espécies e dos gêneros. Mas tôdas as
séries que se tentaram estabelecer entre os grupos superiores ao
gênero (221) não passam de construções artificiais ou puramente
lógicas. H
Para explicar a existência de formas de transição entre as
grandes divisões da Sistemática,. houve quem quisesse supor que
essas formas tenham existido antes do precambriano, mas que os
vestígios delas desapareceram. É uma hipótese que pode ser de-
fendida, mas que não se impõe' de forma alguma. Tudo o que
se pode dizer, é que, se as genealogías dos grandes grupos da Sis-
temática permanecem problemáticas, somos, entretanto, levados
a pensar, para explicar o aparecimento de formas novas, que
.
,
http://www.obrascc
COSMOLOGIA 389
deve ter havido transições, ou que se terão produzido mutações
bruscas de grande extensão. Mas, nesse último caso, como
; r observa VIALLETON, isso equivaleria à introdução de nôvo da
I
J
idéia de criação na concepção da origem das espécies. 14
459 2. Distribuição geográfica dos sêres vivos.
rtolicas.com
390 RÉGIS J OLIVET
.http://www.obraSCê
COSMOLOGIA 391
b) Discussão. A lei proposta por HAECKEL já está hoje
abandonada. VIALLETON demonstrou que as semelhanças
apresentadas pelas formas embrionárias não significam repetição
duma formal ancestral, mas são simplesmente o resultado das
condições às quais se acha sujeito o desenvolvimento do embrião.
Além disso, a correspondência entre a evolução ontogênica e a
evolução filogênica apresentar-se-ia sempre defeituosa: um ór-
gão adquirido tardiamente na evolução filogêníca aparece muito
cedo no desenvolvimento do embrião: VIALLETON cita aqui o
caso da formação da cavidade ocular nos vertebrados.
463 6. Provas diretas: os fatos de mutação. - Ressaltam-se fatos
de variação lenta e fatos de variação brusca.
a) As variações lentas. Entre os primeiros citam-se os re-
sultantes das experiências. de FISCHER, que, submetendo 48 cri-
sálidas de Arctia caja ao congelamento intermitente de _8.°, pôde
obter 48 formas aberrantes de borboletas. A aberração consistia
numa importante invasão de negro sôbre as asas superiores.
b) As variações bruscas ou mutações. Os casos de variações
bruscas (mutações propriamente ditas) são numerosos. MOR-
GAN conseguiu obter, pelo cultivo duma môsca, a drosófila,
mais de cem mutações bruscas, relacionadas particularmente
com a côr dos olhos e a forma das asas. Da mesma forma,
BLARINCHEM conseguiu, recorrendo a mutilações, provocar a
aparição de numerosas variedades do Zea Mais. Atualmente
estão generalizados os processos que servem para romper o
equilíbrio duma espécie por influências como a hibridação, o
traumatismo, etc. O método de hibridação que consiste em
isolar raças puras e cruzá-las, é o mais empregado: foram
assim obtidos resultados surpreendentes e conseguiu-se produ-
zir variedades novas de trigo (tripo de Vilmorin, trigo Marquês
do' Canadá, cereais do laboratório de Svalõf}, destinados a res-
ponder a determinadas necessidades. ~ Todos êsses fatos obri-
gam a admitir que há nos sêres natu,rais uma plasticidade bas-
tante grande que dá testemunho em favor. da realidade da evo-
~~. .
c) Valor do argumento. As mutações lentas não provam
absolutamente' a possibilidade da formação de novas espécies,
pois essas mutações, produzidas pela cultura e criação, não se
fixam e não são transmitidas 'aos descendentes. Os caracteres
adquiridos (quer dizer, somente inscritos no soma) não se perpe-
tuam na espécie; somente permanecem os caracteres inscritos no
germe (421). Admite-se, todavia, que a aquisição de caracteres
novos possa criar um estado. de premutação, e· favorecer o. apa-
... ·..."'is
atolicas.com
392 RÉGIS J OLIVET
recimento duma mutação brusca logo que se dêem as condições
necessárias.
As mutações bruscas são fatos experimentais, assim como a
realidade de sua transmissão na espécie. Mas é de se notar que
essas mutações são de pouca extensão e que não se poderia, de
forma alguma, basear nelas um argumento em favor do trans-
formismo generalizado.
464 7. Conclusão. - Da discussão precedente, pode-se concluir
que a realidade da evolução se impõe, do ponto-de-vista positivo,
dentro dos limites dos grupos inferiores da Sistemática, gêneros
e espécies, mas que permanece puramente hipotética para os
grupos superiores.ít A hipótese parece mesmo chocar-se contra
dificuldades cada vez maiores. Por um lado, com efeito, "na
época cambriana (comêço do primário), a primeira que nos for-
nece maior número de fósseis, o mundo animal tem já uma fisio-
nomia que não difere essencialmente do ,mundo atual. Os qua-
dros existem" (CAULLERY, O problema da evolução, pág. 413) .
A evolução deveria ter-se realizado, portanto, nos períodos ini-
ciais bem antes da era cambriana e teria exigido duração imensa-
mente longa que nos é, e provàvelmente permanecerá, sempre
inacessível. - Por outro lado, admitindo-se a hipótese mono-
filática e levando-se em conta a ordinária lentidão das mudanças
constatadas, seria preciso, para se ter um ponto-de-partida co-
mum às espécies, remontar tão longe no passado que viríamos a
situar êsse ponto numa época em que, conforme os dados, mais
seguros, a Terra ainda não existia. O transformismo generali-
zado não pode, portanto, ser estabelecido por via positiva. Do
ponto-de-vista dos fatos, é apenas uma hipótese que não chega
nem ao nível da probabilidade.
B. A questão de princípio.
http.r/www.obras.
.:';
COSMOLOGIA
católicas. com'
394 RÉGIS J OLlVET
§ 3. O MECANISMO DA EVOLUÇÃO
http.swww.ob rase
COSMOLOGIA 395
durando as circunstâncias novas, aos poucos as novas necessi-
dades e novas atividades se transformam em hábitos perdurá-
veis. t:stes acarretam o desenvolvimento dos órgãos que desen-
volvem mais atividade e a atrofia dos que não têm mais utili-
dade. É podem até gerar novos órgãos, assim como o desuso pode
fazer desaparecer órgãos que ficaram sem objeto. Daí a célebre
fórmula: a função cria o órgão.
2. O fator hereditariedade. - As modificações produzidas
pelo [ôgo das necessidades se transmitem por hereditariedade aos
índív iduos da mesma espécie.
"Tudo quanto a natureza levou os indivíduos a adquirir ou
a perder por influência das circunstâncias a que foi exposta sua
raça durante muito tempo e, por conseguinte, pela influência e
emprêgo predominante de determinado órgão, ou pela influência
duma constante falta de uso de determinada parte, é conservado
na geração de novos indivíduos, contanto que as mudanças adqui-
ridas sejam comuns aos dois sexos ou àqueles que produziram
êsses novos indivíduos", LAMARCK, PhiLosophie zoologique, I,
pág. 235).
469 3. Discussão dos fatôres lamarckianos.
a) A ação do meio e do hábito. É preciso notar, de início,
que muitos fatos parecem justificar a opinião de LAMARCK.
A ação do meio é certa: climas diferentes (montanha ou proxi-
midade do mar) exercem uma ação mais ou menos profunda nos
vegetais; representantes duma, mesma espécie, colocados em
meios muito diferentes, parecem, com o tempo, não ter mais nada
em comum. A montanha produz o nanismo do sujeito, a pilosí-
dade das fôlhas, o esplendor das flôres; o clima marinho, os altos
troncos e as fôlhas espêssas. - Da mesma forma são bem conhe-
cidos os efeitos do hábito: sabe-se que certas populações, ajus-
tando taboinhassôbreos lábios superiores das mulheres, conse-
guem dar a êsses órgãos enormes proporções.
b) Limites dos [atõres meio e hábito. Resta saber- se a
adaptação resultante dos fatôres invocados por LAMARCK é su-
fícíente para explicar a evolução. Ora, neste ponto os naturalis-
tas, estão unânimemente de acôrdo para responder negativa-
mente. A grande maioria dos casos' invocados se refere a deta-
lhes e não atinge a organização; a estrutura interna nunca é pro-
fundamente modificada. Os. caracteres adquiridos pela ação dos
fatôres lamarckianos são "caracteres superficiais, específicos,
mas não verdadeiramente caracteres anatômicos": (VIALLE-
TON,L'illusion transjormiste, pág. 242). Quanto aos órgãos rudi-
mentares, já vimos mais acima (461) que não podemser reduzi-
dos a órgãos regressivos.
470 c) A função não cria o. órgão. O axioma Iamarckiano é .
obviamente falso, porque a função supõe sempre o órgão que a
ratoncas.com
396 RÉGIS J OLIVET
21 Cf. VIALLETON, 'Loc, cít., pág, 242: <lA cabeça do fêmur, -des-
locada em certas luxações patológicas da anca, vai se encostar num
ponto do osso ilíaco, formando uma articulação nova. imperfeita."
22 Cf. J. CHEVALLER, L'habitude,. pág, 71.
25 O naturalista TOWER, de Chicago, tendo constatado que a dorí-
fora compreendia várias raças locais: raças quase negras nos climas
quentes (Texas e Colorado), raças mais claras nos climas frios (Chi-
cago), empreendeu, em 1896, experiências com êsses insetos. Trans-
! portando para_Chicago doríforas negras, êle· observou que, desde a \ '
prxmell"~ geraçao, seus descendentes tornavam 'a CÔJ; do local de trans-
plant.açao (o que denotava a ação do meio), mas que .iamaís a côr assim
adquirida se tornava hereditária. .
24 Cf. E. C!UYÉNOT, L'evolution en biologie, pág, 39.. I
I
http://www.obrasc
COSMOLOGIA 397
prio ser, isto é, à idéia que êle é e que comanda, de dentro, o
desenvolvimento do ser vivo.
B. O darwinismo.
.atoucas.com
398 RÉGIS J OLIVET
tância à seleção natural do que ao hábito e julga que a causa prin-
cipal das transformações dos sêres vivos reside na acumulação
contínua de variações insensíveis, mas vantajosas, sobrevindas
na organização física ou mental.
472 2. Discussão dos fatôres darwinianos. - Deve-se notar que,
da mesma forma que os fatôres lamarckianos, os fatôres darwi-
nianos também têm uma ação real. Especialmente o [ôgo da se-
leção natural é coisa certa. Mas resta sempre o problema de sa-
ber se sempre a seleção natural é capaz de produzir novas espé-
cies, como quer DARWIN, - e se ela se realiza verdadeira e uni-
versalmente por meio da concorrência vital. Vamos expor as
objeções levantadas contra a seleção natural.
a) Alcance da seleção natural. Todos os fatos conhecidos
testemunham contra a hipótese darwiniana, segundo a qual a
seleção natural seria produtora de novas espécies. Com efeito,
a seleção só age dentro duma dada espécíe; - não age em direção
determinada e parece, ao contrário, operar ao acaso, - enquanto
que os fatos paleontológicos nos impõem a idéia duma ortogê-
nese, isto é, duma evolução seguindo linhas bem definidas; - e,
enfim, ela determina apenas oscilações de pequena amplitude,
a maioria das quais desaparece duma geração para outra sem
deixar traços. 27
Essa última observação, dizem, bastaria para derrubar a
hipótese darwiniana, que supõe a produção de pequenas varia-
ções contínuas. Para que elas determinassem a seleção, seria pre-
ciso que fôssem realmente vantajosas, o que nunca se dá nos pri-
mórdios, quando a variação (por hipótese) é mínima. Por outro
lado, seria explicar ainda coadaptações, isto é, a formação de par-
tes adaptadas umas às outras no interior dum mesmo órgão. Ora,
não há razão nenhuma para supor que uma variação acidental
acarrete as variações concomitantes dos outros órgãos, que a tor-
nariam útil e viável.
b) Alcance do fator hereditariedade. Teríamos de retomar,
a propósito de DARWIN, as' observações feitas a propósito. de
LAMARCR. A ação dos fatôres externos só teria a eficácia que
lhes atribuem os dois naturalistas se os caracteres produzidos
por êles se transmitissem por hereditariedade. Ora, pode-se pôr .
em dúvida, seriamente, que os caracteres do soma se inscrevam
no germe. Somente a forma, as aptidões naturais e o~ instintos
se transmitem, o que significa que os fatôres externos não se-
riam suficientes para explicar a variação das espécies.
c) Seleção natural e luta pela vida. Alguns naturalistas
não admitem mais que a .seleção natural seja um efeito da con-.
corrência vital. As coisas se passam de maneira muito diferente
da imaginada por DARWIN. Com efeito, a. eXpertência mostra
.que a eliminação dos indivíduos, dentro duma dada espécie, .dá
muito pequena'. margem .
à seleção. Essa eliminação .
parece, ao
I 27 Cf. H. COLLIN, De la matiere à la vie, Paris; 1926, págs. 242-243.
http·://www.6bras
COSMOLOGIA 399
.catolicas.corn
400 RÉGIS J OLIVET
as células germinais provocaram sucessivamente, no correr dos
tempos, as grandes mudanças que deram origem à variedade das
espécies. Ficaria assim explicada a extrema raridade das formas
intermediárias, pelo menos nos graus superiores da Sistemática.
A Paleontologia considera que, ao mesmo tempo que à lei de
descontinuidade, a evolução obedece às leis fundamentais de
diferenciação progressiva, de especialização e de desenvolvi-
mento ortogenético.
Lei de diferenciação progressiva. No curso do desenvolvi-
mento dum grupo, as formas provenientes duma origem comum
se afastam cada vez mais das outras, como os ramos duma árvore
em crescimento: diz-se que tomam um "aspecto ramificado".
Lei de especialização. Aos tipos primitivos que têm, morfo-
lógica e funcionalmente, um caráter geral e indiferenciado, su-
cedem-se tipos cada vez mais especializados, isto é, orgânica-
mente adaptados a um gênero particular de vida.
Lei de ortogênese. A evolução dos organismos vivos, uma
vez engajada numa determinada direção, prossegue sempre no
mesmo sentido (mesmo que as conseqüências sejam fatais para
a espécie). Essa tendência às vêzes se limita a certas famílias ou
gêneros, às vêzes a certos órgãos. Mas é também constatada no
desenvolvimento geral dos grupos.
474 3. Os fatôres de mutação. - Já expusemos (422) o essen-
cial da teoria cromosômica.. Será certamente exagerado dizer,
como fazem certos biólogos 28 que, por ela, o transformismo
saiu enfim "do domínio da teoria para entrar no da ciência po-
sitiva". As experiências feitas permitem formular, pelo menos,
as seguintes conclusões:
a) A sede das mutações. Parece que é nos cromosomas que
se encontra a sede das mutações; e osfatôres das variações de-
vem agir imediatamente sôbre as células germinais. A alteração
cromosômíca (qualquer que seja a sua natureza) deve portanto
ser considerada como a causa da modificação do patrimônio he-
reditário e, por conseguinte, da evolução. ' '
b) Os fatôres de mutação. Quais são os fatôres que, agindo
sôbre os genes .cromosômícos, determinaram as mutações? Por AI
1
<
http://wWW.ob raSCé
COSMOLOGIA 401
ou magnético, as varíações de pressão, o estado de ionização da
atmosfera, etc. Sendo esse~ ~ato~es capazes de agir sôbre a cons-
ti!uição molecular da .mat<:na .vIVa sem ~ .de~trUir, podem tam-
bem, por isso mesmo, influir sobre a freqüência e amplitude das
mutações.
475 4. Discussão do mutacionismo. - Os fatos postos em foco
pelas experiências da genética 29 bastam para provar que agen-
tes externos podem provocar mutações através de diversas alte-
rações das células germinais, e que essas mutações são transmis-
síveis por hereditariedade (463) . Fica ainda por resolver a
questão de saber se tais mutações são aptas a explicar a evolução
que a história da vida parece nos impor à consideração.
a) As mutações e os casos de aberração. A primeira difi-
culdade com que se choca o mutacionismo é que às variações
produzidas pelas mutações representam quase sempre anomalias,
monstruosidades, formas aberrantes e corrompidas. Ora, tais
formas não poderiam, primeiro, viver e, depois, suposto que
sobrevivessem malgrado seus caracteres anormais, seria preciso
reduzir a evolução a um processo teratológico, quando, ao con-
trário, ela parece se conformar, em geral, com uma lei de pro-
gresso.
É certo que se pode discutir a noção de monstruoso: temos a
tendência para identificar o nôvo, o inédito, com o monstruoso
e o degenerado; o que é evidentemente arbitrário. Mas é tam-
bém certo que, .para dar produtos duradouros, as 'mutações deve-
riam trazer à luz do dia indivíduos novos inteiramente adaptados
e harmoniosamente conformados, o que significa dizer que a mu-
tação deveria ser, não parcial (porque a mutação duma parte
somente determina uma monstruosidade ou uma anomalia geral-
mente nociva), mas total: E não seria isso criação? - Pode-se,
pelo menos, dizer que há equivalência.
b) As mutações são de pouco amplitude. Observou-se que
as mutações nunca' introduzem mais do que variações superfi-
ciais. ao ,É evidente que o descoloramento dos olhos ou a trans-
formação dos pêlos não poderiam passar por mudanças de grande
importância. A rigor, as mutações poderiam, portanto, explicar
a formação das variedades ou das raças, no seio duma mesma
espécie, mas não a formação dos grandes quadros da vida.
c) As mutações e o quadro da espécie. Asobservações pre-
cedentes adquírem mais pêso pelo fato de que as mutações here-
29 São particularmente' citadas as experiências do naturalista MUL-
LER, do Texas (em 1927) que conseguiu estender bastante a intensidade
dos fenômenos mutacíonaís pelo emprêgo dos raios X edo radium.
Submetendo a môsca do vinagre a.raiosde fraco comprimento de onda,
conseguíu ao mesmo tempo, multiplicar ás mutações e realizar mutações
novas. Resume êle assim a sua 'descoberta: "Consegui, de ~aneÍJ::a. ar-
tificial, produzir môscas anãs, môscas sem pêlo, môscas de pelos bífidos,
môscas de asas curtas, -môscas de olhos brancos." (Cf. CAULLERY,
L'hérédité, pág. 337). . ' '
, 30 Cf. VIALLETON, L'illusion transformiste, pág. 256.
rtoücas.com
402 RÉGIS J OLIVET
ditáTÍas não têm bastante estabilidade para transpor o quadro da
espécie. Jamais, com efeito, elas acarretam a esterilidade do cru-
zamento com a espécie original, o que basta para demonstrar que
as formas mudadas permanecem compreendidas na espécie de
que eonstítuem simplesmente casos aberrantes (pois que, mal-
grado certas exceções, a esterilidade é a lei dos cruzamentos
entre indivíduos de espécies diferentes) .
D. Neo-Darwinismo: A Mutação-Seleção.
476 1. A teoria sintética. - Numerosos cientistas de nossos dias
julgaram poder retomar a teoria darwiniana da seleção natural,
a despeito das objeções que lhe são feitas e que acabamos de
expor (472), ao mesmo tempo que o ponto-de-vista mutacionista.
O princípio mutação-seleção forneceria, então, uma teoria sinté-
tica da evolução capaz de resolver os problemas que o lamarckis-
mo, por um lado, e o mutacionismo puro, por outro, deixam em
suspenso. 31
2. Solução das objeções ante-selecíonistas,
a) A objeção das coadaptações. Vimos mais acima que se
objeta, contra a seleção natural, que um órgão qualquer só cons-
tituiria uma vantagem se encontrasse no organismo as estruturas
que lhe permitem o funcionamento. 32 - A essa objeção respon-
dem os neo-darwinistas que o valor duma mutação não depende
somente de sua utilidade in abstrato ou teórica. De fato, muitas
mutações teoricamente úteis tiveram de ser eliminadas. Mas,
eliminadas após tentativas infrutíferas, elas deveriam, provável-
mente, se reproduzir em seguida e encontrar enfim um terreno
mais favorável à sua integração no organismo.
b) A seleção é inoperante. É conhecido, objeta-se, o nú-
mero de espécies que conservaram órgãos ou instintos manifesta-
mente inúteis e até mesmo nocivos. A seleção elimina, parece, o
monstruoso. Mas, para o resto, não há decisão nem rigor. 32
Os neo-darwinistas respondem que êsses fatos são certos,
mas que podem ser compreendidos na teoria selecionista. Com
efeito, às vêzes a "pressão de seleção" é relativamente fraca e
deixa subsistir órgãos ou instintos que teriam sido eliminados em
casos de concorrência vital mais ativa. -,-. Além disso, numerosos
caracteres podem se reunir ao patrimônio hereditário sem te-
rem utilidade atual: subsistindo sem utilidade e flutuando, por
assim dizer, numa espécie de indiferença seletiva,êsses caracte-
, .
res podem ter se .revestido de-repente dum valor seletivo .(por
.~
.32 Por exemplo, uma modificação dos órgãos predatórios 'só ~ útil
quando acompanhada duma modificação da dentição que dê ao animal
maior capacidade para rasgar a prêsa.: .
http://www.obrasc
COSMOLOGIA 403
exemplo, em caso de mudança das condições do meio. É êsse
um fenômeno de predeterminação, mas sem alcance finalista ~~
que parece se impor como um fato positivo. 34
c) As variações não se inscrevem no soma. !:ste ponto-de-
-vista defendido por WEISSMAN e até aqui tido por certo, é,
entretanto, contestado pelos neo-darwinistas.
É evidente, dizem, que há uma considerável diferença entre
soma e germe. Mas em que consiste essa diferença? Verifican-
do-se (como o exigem os fatos de paralelismo ou coadaptação)
que soma e germe são capazes das mesmas variações, poder-se-á
dizer que "no soma, as variações têm relações dialéticas imedia-
tas com o meio" (quer dizer que o soma "responde" imediata-
mente às mudanças no meio), - enquanto que sôbre o germe
essas variações agem apenas fraca e fortuitamente. Dêsse ponto-
-de-vista, o germe seria uma espécie de soma esclerosado e fi-
xado, e, a êsse título, fator de permanência hereditária: suas pos-
sibilidades de variação seriam de tipo mecânico e aleatório. Mas,
em certas circunstâncias, êle poderia se libertar de sua indife-
rença e de sua inércia em relação ao meio e recuperar até um
certo ponto, suas relações dialéticas com êste e com o soma. 35
§ 4. CONCLUSÕES
..~
atolicas.com
404 RÉGIS J OLIVET
t'
atolícas.corn
I
, .
.,I
',. .
, .
~http://www.obras
íNDICE ALFABÉTICO
.catolicas.com
408 RÉGIS J OLlVET
Borel, 120, 165 Coulomb, 205
Boscovic, 365', !l70' Cournot, 138" 144', 165, 167, 206
Bose, 0451" Couturat, 36", 60" 74, 109. 162 288'
',
Bossuet, 32, 2-46 Cuénot, 419', 424-425, 455, 441', 470',
Bounoure, 419 471", 47!l" 476
Bouthoul, 250 Cumont (Franz), 269
Boutroux (Emile), 158, 212 Curry, 106, 109
Boutroux (Pierre), 162', 168', 181 Cuvier, 2112, 428, 455, 465
Boyer.28 Cuviller, 252
Brachet, 4191
Bréhier (Em). 16 Dalbiez, 427·, 441'
Brentano, 65 Dalton, 864, 40S
Bricout, 367" Darbon, 163
Brochard, 36", 3181 Dardel,232
Broglie (L. de), 192, 206, 211, 343, 567", Darmois, 269
372, sra- Darwin, 205, 206, 455', 0471-472
Broglie (M. de), 18:J1 Dauvillíer, 444
Bros (A). 266 Daval, 163
Brouwer, 110 Déjardín, 367"
Brown, .564' Delacroix, 150
Brunhes-Vallaux, Z7P Delage (Y.), 441" 456
Brunschvicg, 162', 168", 408' Delhomme, B-bis
Bucher, 270 Demócrito, 6, !lO2&, 339", 362. 370
Buffon, 455' Deploíge, 276
Burdo, 435 Descartes, 11, 8, B-bis, 12-1!l, 32, !l7, ll2',
Bureau (P.). 250. 27~ 981, 117, 182, 1!l9", 14S. 150, '151,
Burloud, 450 167, 175, ISO, 190, 20S, 289", 290',
Bumet, 7 294-296, 299", 80!l, 308-509, !l19", !l39",
BuytendijIr., 435 343, 863, 364, 41S", 4!lO", 434.
Descoqs, 361', 385, 387, 396"
Canguílhem, 419 Desguin, 441 .
Cantor, 288 Diderot, 455"
Carles, 441 Dionísio o Ereopagita (pseudo) 237
Carnap, 98, 106, 109, 110 Diophante,. 164
Carnéades, 7 Dirac, 211, 372
Carnot, 204" Dopp, 108, 110 .
Caullery, 419, 4411, 445, 467, 47J. 477 Dríesch, 435
Chevalier a.), 433', 441', '4704 Dufrenne, S-bis
Crísípo, 7 Duhem, 9, 114, 150, 182" 192, 206, 313
Church, 106' Dupont de Nemours, 250 '
Clarke, 301, 1102" Durand (de Saínt-Pourçaínj, 898
Collin, 4191, 421·, 424", 431",' 432, 441', Dunías, 269 .
472" Durkheim, 148, 250, 252~257. 263', 264,
Comte, 6, 37", 148, 149, 151, 157, 250, 266", 271", 274-276
246, 251. 270"
Condorcet, 149, 246 Eddington,~lI
Conceptualistas, 048' Einsteín, 11,298, 811!J.8!J4
Condillac, 25 Empedocles, 6
Condorcet;. 250 Epicuro, 7, 862', 870
Confúcio, 7 Epíteto, 7' • ....
CoU:nick (Ch. de), '211 'Evatóstenes, 880
Cooley, 252 Escolásticos, .86 ,
Correns, 422" Espinas, .260
Corte (de), 8 Essertier,148
http://www,, obras
ÍNDICE JlLFA~ÉTICO
.... /
...
catoIicás.COm
410 RÉGIS J OLIVET
http://www ~ obras.
íNDICE i\LFABÉTICO 411
Ramsay, 201 Tácito, 234b
:atolicas.com
11
http://www.obra~
íNDICE ANALíTICO DAS MATÉRIAS
...
,
. ",f'
,
;'catoricas.éom
414 RÉGIS J OLlVET
ção, 399'; a - e o problema da evo- Instinto. O - como critério da verdade.
lução. 477. 128.
Formalismo, - metodológico e - fi- Intensidade. natureza da -. 349".
losófico. 109. Irr itabilldade, noção. 419; - e meca-
nicismo. 431.
Geral. o -, como objeto da ciência,
146. Juízo. noção, 60-63; espécies. 64-68.
Geração espontânea. a hipótese da -.
443-446. Lamarckismo, noção, 468; discussão.
Genética. noção. 47!l. 469·470.
Gênero, noção 47". Lei, noção de - científica. 203; a - em
Geometria, noção. 166·167; as não Sociologia. 272-275.
euclidianas. 292-293. Lei biogenética, noção e discussão. 462.
Graus metafísicos, noção. 48". Lei dos três estados. 148.
Lógica. definição, 32-35; importância,
Hábito. - e mecanicismo, 433'; o fator 37; método e divisão. 38-39; - biva-
lamarckiano do -. 469. lente e polivalente, 39; - das classes.
Haeceídade, - e individuação. 399. 106; - das relações, 107.
Hereditariedade. o fator da -. 468"; Lógica Maior, noção e divisão. 115.
discussão, 470'; 471 b; 472 b • Logística, noção, 106-108; valor.' 109-
Hermenêutica. noção, 238. -110.
Heurística. noção, 235-236. Lugar. noção. 298; problemas do -.
História. noção. 232-234; método. 235- 298.
-243; a - é uma ciência? 244-246; a
- em Sociologia. 263. Massa,'ila - e a eletricidade. !l72.
Homologías, noção. 460. Matemática. noção. 163·167; origem.
Hidrogênio. o átomo de -. 371. 168-169; processos, 170-17!l; papel.
Hilemorfísmo, noção, 380-385; provas, 178-181.
386-387; valor explicativo. 388. Materialismo. mecanicismo e -, 4!l0".
Hipótese, noção. 193; fonte da -, 194; Matéria, a equação matéria energia.
condições de validade.. 195. .372; noção filosófica de -, 389; indí-
Hipotético. silogismo -, 92-95; 98". viduação pela -. 400 - 401.
Matéria-prima. noção, 382 b ; 389-390; re-
Idéia. noção. 43; hierarquia das -, 46"; lação à forma. 383-384; a - quanti-
classificação das - 51-52. ficada e a individuação, 400-401.
Identificação, - e determinismo, 212. Mecânica ondulatória, 367, 37!l',
Ignorância. noção, 119. Mecanicismo, noção. 341; o - e ás qua-
Impenetrabilidade. noção. 299. lidades sensíveis, 342-343; critica do
Impetus, ver FÔrça viva. -, 345; 369-372; 430-433; 478.
Inclusão. ver Inerência. Méd{o (têrmo). noção 83-84; 89-90.
Indefinidas. proposições -. 68. Metáfora. noção. 123. '
Indeterminísmo, problema do - 211. Método. noção. 132; divisão, '133; pro-
Indivíduo. noção. 46'. cessos gerais, 135-141;09 - -tipos, 162;
Individuação, problema da -, 397-399; - da Matemática. 163-181: - das
.a - pela matéria 400-401. ciências experimentais, 184-214;
Indução. noção. 802; 101·103; - e uni- das ciências biológicas, 218-224; -
versal. 104; .regras, 105; sofismas da das ciências morais. 232-277; o - his- I
-. 124; análise e - 141; a na Mate- tórico cultural, 265; o - comparativo ,-,
mática, 176; a - nas ciências da na- em Sociologia, 268-271.
tureza, 202-214; - e abstração. 214. Misto, noção, 403; lealida<!e do -. 405-
In ferêncía, noção, 79". -407; propriedades. 498-409;elemen-
Inerência, - e relação. 66"; a - na Ma- tos, 410; explicação hilemorfista do
temática. 174". ' -. 411-412.'
Instrumentos. papel dos - nas .cíências, Modalidade, noção e espécie•.67.
187. Molécula. natureza, 406.
http://www.obras l
íNDICE ANALíTICO DAS MATÉRIAS 415
Monadismo, - leibniziano, 373", Princlpios primeiros, natureza, 137,
Monismo, hipótese do - primitivo, 382".
448, Privação, noção, 394-.
Moral. Sociologia e -, 276-277. Probabilidade, noção e divisão, 120; cál-
Movimento. noção, 312-314; - local, culo das -, 165.
318-319; - absoluto, 320. Proporções, lei das -, 408"; as - sim.
Multilocação, problema da -, 299. pies e múltiplas, 412.
Mutação, - qualitativa, 348-349; medi- Proposição, noção, 62, 63; divisão, 64.
da da -, 350-352; a - substancial. -68.
386; argumento da -, 1187-388; fatos Propriedade, noção, 47"; oposição das
de -, 4611; as - bruscas, 473"; os fa- -,388.
tôres de -. 474. Próton, noção, 365.
Mutacionismo. noção, 4711; discussão; Protoplasma, análise química e física
475; o - e os fatos, 477, do -, 420. 421.
Mutações substanciais, v. mutações. Psicologia, Cosmologia e -, 418.
, Psiquismo, noção, 436",
Necessário, o -, como objeto da ciên-
cia. 146. Qualidade, noção. 338.
Necessidade. o fator -, 4681 ; discussão, Qualidades sensíveis. noção, 338; pro-
470. blema das -, 339; teoria mecamcis-
Neo-darwinismo, 476. ta das -, 341-343; objetividade das
Neo-vitalismo, noção, 435. -, 844; medida das -, 350-352.
Neutron, noção, 365. Quanta, teoria dos -, 366.
Nominalismo, noção, 48; o e a Ló- Quantificação, do predicado, 73·74.
gica. 68, 73·74, 82, 86, 95, 98. 100, Quantidade, noção, 284; espécie, 285; a
109-110. - e o corpo, 294-296; a - acidente
Número. noção. 163. 286; ciências dos absoluto, 296; os efeitos da -. 297;
, -, 164-165; gênese dos -, 287; - in- - intensiva. 349"; - formal e - vir-
finito, 288. tual, 401.
Observação, - nas ciências, 186-192. Raciocínio, noção 78-79; divisão, 80; re-
Opinião, noção, 120. gras, 81; - construção, -fI2"; - mate-
Oposição. noção, 69; espécies, 70; leis, mático, 174-176.
71. Relação. noção, 53'; - e inerêncía, 66";
Órgãos rudimentares, noção, 461. lógica das -, 107, 1I0; as - de gran-
deza, 170. '
Paixão, ação e -, 315-316. Relatividade, teoria da -, 333-334.
Panlogismo, - de Leibníz, 63-bis.
Panspermía, hipótese da, '-o 442. Sabedoria, noção, 5.
Particulares. proposições -, 66, Seleção natural. noção, 471 c; 472.
Pollssilogismo, noção, 96. ' Sentido composto, confusão de - com
Positon (ou .posítron) noção, 365. sentido dividido, 123.
Pós-predicarnentos, noção. 49", Sentimentos, .a lógica dos -, lI4.
Postulados, noção. 137, 173, Série natural. principio da -, 222.
Preadaptação, noção, 470". Simultaneidade, noção física de -, 3113-
-1l34,
Predicado, noção, '60; quantificação do
Sinal, noção, 44.
-. 73-74. '
Sociedade, noçã~ 258-261.
"Praedicatum inest subjecto", discus-
Sociologia; noção 250-253; objeto, 254-
são, 67". -261; a' observação em -,262, 267; o
Predicamentos, 'noção, '49. método comparativo em -, 268-270; a
Predicáveis, noção. 4748. definição em -, 271; a lei em -, 272-
Prelogismo, mito do -, 35, 275; papel da -, 276·277-
Pré-dicamento, noção, 49". Sofismas, noção e divisão, 1211-124; re-
Primitivos, problema dos -. 264-267. futação, 125,
, •.:.lo
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:tste livro foi composto e impresso
pela
CRAFICA EDITORA BRASILEIRA LTDA.
à Rua Luís Gama, 185 .
São Paulo
para
AGIR S. A.,
no 3.· trimestre do ano de 1968
Exemplar
M 3445-
scatolicas. com