4 IMPERIALISMO LINGUÍSTICO E SEUS DESDOBRAMENTOS - Daniel - Vasconcelos - Dissertacao2
4 IMPERIALISMO LINGUÍSTICO E SEUS DESDOBRAMENTOS - Daniel - Vasconcelos - Dissertacao2
4 IMPERIALISMO LINGUÍSTICO E SEUS DESDOBRAMENTOS - Daniel - Vasconcelos - Dissertacao2
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4.1. INTRODUÇÃO
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My book on linguistic imperialism (Phillipson 1992) explores how English has retained its
dominant role in former colonies, its pivotal role in North-South relations, and the way
language pedagogy has consolidated a hierarchy of languages, invariably with English at the
top.
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Una ideología de superioridad y de dominación que pretende imponer los propios criterios
(étnico-culturales, respectivamente masculinos) a la parte subalterna.
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English learners are increasing in number and decreasing in age. As a news headline it is
not much of a story. We’ve become used to the idea of English growing in popularity across
the world. Far from being news, it has become one of the few enduring facts of global modern
life – a trend which began in the late 19th century when English was heralded, from Europe to
Japan, as the new rising world language.
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Economic force has proved to be considerably more effective than military in both the
speed and efficiency of establishing hegemony.
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As an American teaching English in Japan, the question occurred to me, as I’m sure it has
to the many who share that description – why is it not the other way around? Why isn’t it
Japanese that is taught as core curriculum in American schools and not vice versa? And
anyone who thinks about it for more than five seconds invariably bumps up against some
version of the same idea. It is the idea that was introduced to me at an early age by my
neighbor Roy, gleefully preaching cold war era-doom over our backyard fence: “boy, you
better git’ ready to start learning Russian! he, he, he!” The idea is that language and power
are connected; ‘they’ learn English because ‘we’ won the war, and that if we lost the cold war,
I would have had to learn Russian (or worse, the metric system!). Of course this sounds an
exaggeration, but it touches on the central idea: that language and power are linked. It is this
link that leads us to English in Japan.
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“[...] con la “independencia formal” de las colonias no termina su condición de ser
“colonizadas” y su “colonialidad” fundamental, sino que se ahonda aún más, solo que los
medios de dominación hayan cambiado de una ocupación militar y política a un imperialismo
económico, una ocupación simbólica y mediática, un anatopismo filosófico y una alienación
cultural cada vez más sutiles”.
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“The British empire has given way to the empire of English”.
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Linguicism involves representation of the dominant language, to which desirable
characteristics are attributed, for purposes of inclusion, and the opposite for dominated
languages, for purposes of exclusion.
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I was born in a large peasant family: father, four wives and about twenty-eight children. I
also belonged, as we all did in those days, to a wider extended family and to the community
as a whole. […] We spoke Gikuyu in and outside the home. I can vividly recall those evenings
of story-telling around the fireside.
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We therefore learnt to value words for their meaning and nuances. […] The language,
through images and symbols, gave us a view of the world, but it had a beauty of its own. […]
And then I went to school, a colonial school, and this harmony was broken. The language of
my education was no longer the language of my culture. […] English became the language of
my formal education. In Kenya, English became more then a language: it was the language,
and all other had to bow before it in deference.
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Imperialism is a species in a genus of dominance and power relationships. It is a subtype of
something, and has itself subtypes to be explored later.
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[…] when we analyze the contents of uncountable coursebooks, either structuralist or
communicative, it is possible to notice that elements such as cultural references, for instance,
have always resorted to the practice of mirroring the daily life of native speakers, spreading
and incorporating their beliefs, different types of behavior, values, and ways of life.
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Language promotion was always part of the American global strategy.
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FIGURA 2:
FIGURA 3:
48), permitindo, portanto, que a língua inglesa seja exportada como uma
commodity industrial, não sendo necessário levar em consideração a cultura
local de quem importa essa “mercadoria”. É sempre bom lembrar que ao
“comprar” tal produto, ele vem composto por materiais, abordagens, técnicas
e métodos, já prontos para serem “consumidos”. Como alerta Phillipson
(1992, p. 13), “parece, portanto, essencial para aqueles preocupados com o
ensino e aprendizado de inglês, questionar o profissionalismo do ensino da
língua que nós herdamos”.41
A recepção acrítica do produto importado, neste caso, a língua inglesa,
em países como o Brasil, promove, potencialmente, a infiltração de diferentes
valores, ideologias e diversos outros elementos culturais nativos dos países
anglófonos hegemônicos. O imperialismo cultural, através, não apenas do
profissionalismo da indústria do ensino, mas, também, do consumo maciço
de produtos como filmes, séries, música, etc., produzidos nesses espaços
dominadores, desempenham papel fundamental no processo de
(re)colonização dos países receptores, do Sul (PHILLIPSON, 1992).
A harmonia de interesses e a identificação ideológica construída e
também alimentada por esses produtos culturais importados e consumidos
acriticamente, ajudam a criar, potencialmente, um mercado consumidor
passivo e subserviente, que não apenas se permite dominar, mas que, por
conta de uma aculturação avassaladora, manifesta abertamente o desejo de
ser, de fato, dominado. Trata-se de fenômeno, como afirma Gatlung (1971),
mais visível entre as classes dominantes dos países periféricos, que
idealizam cultura, ideologia e produtos oriundos das nações hegemônicas em
detrimento de todos esses aspectos locais.
A língua inglesa, como uma das mais importantes faces do
imperialismo cultural – se não a mais importante – vem inserida em todos os
produtos importados, principalmente dos EUA. As representações culturais
estrangeiras de sucesso e fama, por exemplo, consumidas em larga escala
em países do Sul como o Brasil, associam a “vitória” pessoal, o espírito de
“vencedor” em ambientes sempre altamente competitivos e pouco
colaborativos, ao padrão exibido por esses mesmos produtos. O homem
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It therefore seems essential for those concerned with the teaching and learning of English
to question the language pedagogy professionalism we have inherited.
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It is clear that socio-culture shift inherent and triggered by Americanization facilitates
English linguistic imperialism.
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The effect of the application of this tenet has been to consolidate English at the expense of
other languages, to perpetuate dependence on aid and expertise from the core English-
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speaking countries, and to raise an insuperable language barrier for the mass of primary
learners. There are economic consequences too: advancing the starting age for English
learning creates more Jobs for teacher of English, and fewer for those who might specialize in
other languages.
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[…] this tenet, in combination with the other four, has been effective in maintaining the
privileged position of English, and that the linguicist structure on which the tenets rest may
actually have contributed to standards falling.
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Honey, no artigo referido não aprofunda a ideia da existência de um suposto “imperialismo
benigno”. Importante deixar claro que eu não defendo essa tese, ao contrário, acredito que o
imperialismo, o colonialismo e neocolonialismo se caracterizam pela violência e pelo
desrespeito, e que amenizar suas essências é trilhar o perigoso caminho da conivência.
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Nigerians are sophisticated enough to know what is in their interest, and that their interest
includes the ability to operate with one or more linguistic codes.
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Allan Davies (1996) também dedicou uma revisão com críticas ao livro
“Linguistic Imperialism” (1992). Dentre muitas, ele acusa Phillipson de
reproduzir um discurso de culpa (DAVIES, 1996, p. 485), de interpretar de
forma equivocada o relatório que inspirou a elaboração das cinco falácias
(1996, p. 492), afirmando ainda que o livro é ingênuo, paternalista e, em
muitos trechos, exagera ao atribuir tamanha importância às línguas nas
relações Norte e Sul. Segundo Davies, língua é indicativo e não causa de
desigualdades.
No ano seguinte, 1997, Phillipson escreve, então, um novo artigo
respondendo às críticas de Davies (1996). Phillipson, na sua nova
elaboração, afirma que Davies confunde sua tentativa de se auto-
responsabilizar e de fazer um apelo ao comportamento ético, com o tal
“discurso de culpa”. O autor também não aceita o argumento de que ele
estaria exagerando ao atribuir à língua tamanha importância nas relações
Norte e Sul (PHILLIPSON, 1997, p. 241). Para ele, se a língua não fosse de
vital importância, governos de países centrais não teriam investido tanto, nos
últimos quarenta anos, na difusão de suas línguas nacionais. Phillipson
também reitera sua opinião a respeito das cinco falácias (p. 242), e afirma
que intelectuais acadêmicos, especialistas no assunto, têm a
responsabilidade ética de articular políticas anti-imperialistas que devem
servir à promoção da justiça social (PHILLIPSON, 1997, p. 246).
Margie Berns (BERNS et al, 1996), em artigo escrito em coautoria com
os participantes do seminário sobre “World Englishes”, na Universidade
Purdue, EUA, também dedicou algumas críticas ao trabalho de Robert
Phillipson. Segundo os autores, os argumentos e a retórica de Phillipson,
apesar da relevância do tema, falharam em persuadir todos os participantes
do seminário:
Você tem um problema levado à justiça e um
advogado com o conhecimento e experiência para
lidar com ele. Apesar do julgamento começar bem,
você, em certo momento, acaba ficando sem
esperanças porque vê seu advogado perder a
causa por excesso de confiança, exibir um estilo de
argumentação que ofende a todos no tribunal, que
viola os procedimentos da corte e falha em
demonstrar evidências convincentes e relevantes.
Para piorar, não apenas você perde a causa, mas
perde, também, o direito a recorrer. O veredito foi
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You have a case and a lawyer with the background and experience to handle it. Although
the trial begins well, you eventually come to feel hopeless and helpless as you watch your
lawyer lose the case because of over-confidence, a style of argument that offends everyone
in the courtroom, violation of courtroom procedures, and lack of convincing and relevant
evidence. To make matters worse, not only do you lose this session in court, but you have no
second chance, no right to appeal. The verdict has been delivered and the case closed.
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Phillipson afirma que, apesar de Crystal sustentar que seu livro não
defende nenhum interesse político, é impossível deixar de lembrar que a
Crystal foi encomendado, pelo governo dos EUA, um estudo, anterior à obra,
sobre o inglês como uma língua global (PHILLIPSON, 1999 apud
SEIDLEHOFER, 2003, p. 52). Ao fazer tal afirmação Phillipson tenta
evidenciar que Crystal, apesar de se autocaracterizar como “independente”,
possui estreitas ligações com os principais representantes do imperialismo,
colocando em suspeita sua autonomia ideológica.
Phillipson afirma, também, que Crystal, ao discorrer sobre a história da
língua inglesa, se refere aos EUA como “América”, ignorando todos os outros
países do continente. Ignora, também, a presença de populações indígenas
nos EUA, anteriores à chegada dos colonizadores – aos quais ele se refere
como “exploradores”. Ainda mais, segundo Phillipson, Crystal afirma que a
língua inglesa nunca foi motivo de conflitos nas ilhas britânicas e nem nos
EUA, aparentemente se esquecendo da problemática relação que a língua
inglesa sempre travou no seu próprio território com as línguas nativas, de
origem celta, das populações da Irlanda, Escócia e País de Gales, este
último, o país de origem de Crystal.
Phillipson (1999) também critica a descrição feita por Crystal sobre a
chegada da língua inglesa na África do Sul. Ele afirma que Crystal não
menciona o Apartheid e sequer o nome de qualquer uma das línguas nativas
faladas na região. Crystal, também, apesar de fazer menção, não analisa o
conceito de imperialismo linguístico (PHILLIPSON, 1999 apud
SEIDLEHOFER, 2003, p. 53).
Crystal também é acusado por Phillipson de adotar uma perspectiva
eurocêntrica e triunfalista da língua inglesa ao, por exemplo, ignorar os
países onde o fim da colonização formal resultou em autocracias que
impuseram a língua inglesa como idioma oficial. Países esses constituídos
por populações nativas de outros idiomas e que, muitas vezes, não falam o
inglês, resultando, portanto, na esdrúxula situação de marginalização de uma
boa parte da população, em virtude do uso de sua própria língua, em seu
próprio território (PHILLIPSON, 1999 apud SEIDLEHOFER, 2003, p. 55).
Entrando para o debate, David Crystal respondeu às críticas de
Phillipson em artigo publicado em 1999, em que começa afirmando que o
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