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CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

E DA SAÚDE

VOL. 2

científica digital
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
E DA SAÚDE

1ª EDIÇÃO

científica digital

2022 - GUARUJÁ - SP
científica digital

EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA


Guarujá - São Paulo - Brasil
www.editoracientifica.com.br - [email protected]

Diagramação e arte 2023 by Editora Científica Digital


Equipe editorial Copyright© 2023 Editora Científica Digital
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Internacional (CC BY-NC-ND 4.0).

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C569 Ciências biológicas e da saúde: integrando saberes em diferentes contextos: volume 2 / Octávio Barbosa Neto (Organizador),
Carla Cristina Sordi (Organizadora). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2023.
E-BOOK
ACESSO LIVRE ON LINE - IMPRESSÃO PROIBIDA

Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-264-9
DOI 10.37885/978-65-5360-264-9
1. Biologia. I. Barbosa Neto, Octávio (Organizador). II. Sordi, Carla Cristina (Organizadora). III. Título.

2023
CDD 570
Índice para catálogo sistemático: I. Biologia
Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166
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Esta obra constituiu-se a partir de um processo colaborativo entre professores,
estudantes e pesquisadores que se destacaram e qualificaram as discussões neste
espaço formativo. Resulta, também, de movimentos interinstitucionais e de ações
APRESENTAÇÃO

de incentivo à pesquisa que congregam pesquisadores das mais diversas áreas do


conhecimento e de diferentes Instituições de Educação Superior públicas e privadas de
abrangência nacional e internacional. Tem como objetivo integrar ações interinstitucionais
nacionais e internacionais com redes de pesquisa que tenham a finalidade de fomentar a
formação continuada dos profissionais da educação, por meio da produção e socialização
de conhecimentos das diversas áreas do Saberes.
Agradecemos aos autores pelo empenho, disponibilidade e dedicação para o
desenvolvimento e conclusão dessa obra. Esperamos também que esta obra sirva de
instrumento didático-pedagógico para estudantes, professores dos diversos níveis de
ensino em seus trabalhos e demais interessados pela temática.

Octávio Barbosa Neto


Carla Cristina Sordi
SUMÁRIO
Capítulo 01
Abordagens terapêuticas na sobrevida após manobras de ressuscitação cardiopulmonar

Luana Bassetto Martin; Valéria de Castilho Palhares

' 10.37885/221211564........................................................................................................................................................................... 13

Capítulo 02
Audiometria de altas frequências em indivíduos expostos a ruído e agentes ototóxicos

Luciano Veloso de Amorim Santos; Larissa França Ferro Santos; Plácido Fabrício Silva Melo Buarque

' 10.37885/221111070........................................................................................................................................................................... 27

Capítulo 03
Avaliação da composição proteica e da rotulagem de diferentes marcas de suplementos para atletas

Andréia Alves Rosa; Artur Guerra Rosa; Márcio Antonio Mendonça

' 10.37885/221211552........................................................................................................................................................................... 42

Capítulo 04
Avaliação da qualidade de leites padronizados produzidos nos Estados de Goiás e Minas Gerais e
comercializados no Distrito Federal

Andréia Alves Rosa; Artur Guerra Rosa; Márcio Antonio Mendonça

' 10.37885/230111625.......................................................................................................................................................................... 47

Capítulo 05
Características evolutivas do desenvolvimento do bebê pré-termo de extremo baixo peso

Lucieny Almohalha; Marcela Neves Bataglião

' 10.37885/221010569.......................................................................................................................................................................... 52

Capítulo 06
Consequências e critérios de diagnósticos da desnutrição em pacientes acometidos pelo câncer

Driely Pinto Torreias; Ellen Thamyris Pinho Silva

' 10.37885/221211498.......................................................................................................................................................................... 66
SUMÁRIO

Capítulo 07
Declínio da adesão à vacinação infantil e o reaparecimento de doenças já erradicadas no Brasil
Letícia Cantuária Santana; Rebeca Claudia Cabral Correia; Carla Beatriz Clarindo Feitosa; Lucas de Jesus Silva; Thiago de Oliveira
dos Santos; Lara Tatyane Ferreira Santos Honório; Clarissa Maria Tito Beltrão; Gabriela de Gusmão Pedrosa Eugênio; Aline Virgínia
Pontes Bezerra; Bianca Brenda Xavier Costa Brandão

' 10.37885/221211603.......................................................................................................................................................................... 75
Capítulo 08
Desafios na construção de um PES numa UBS, empregando a ERP num cenário de pandemia –
relato de experiência
Genilson Jesus das Virgens

' 10.37885/221211562........................................................................................................................................................................... 85
Capítulo 09
Desbridamento e retenção do implante em artroplastia total do joelho infectada
Pedro Guilme Teixeira de Sousa Filho; José Leonardo Rocha de Faria; Victor Elias Titonelli; Rodrigo Sattamini Pires e Albuquerque

' 10.37885/230111671........................................................................................................................................................................... 101


Capítulo 10
Elaboração de uma sequência didática utilizando-se o tema gerador fármacos para o ensino de
Química orgânica no ensino médio
Raoni Schroeder Borges Gonçalves; André Luís Silveira Brum

' 10.37885/221211605.......................................................................................................................................................................... 113


Capítulo 11
Importância do fisioterapeuta na atenção primária à saúde e a realidade de um município do
Norte do Paraná
Kátia Cristina de Souza; Dennis Armando Bertolini

' 10.37885/221211526........................................................................................................................................................................... 125


Capítulo 12
Influence of aerobic, force, and concurrent training in predictive metabolic syndrome anthropometric
indicators, in obese adolescents
Giuliano Roberto da Silva; Gerusa Dias Siqueira Vilela Terra; Cassiano Merussi Neiva

' 10.37885/221211355........................................................................................................................................................................... 141


SUMÁRIO

Capítulo 13
Linfoma mediastinal em gato – relato de caso
Nathália de Pádua Rezende Kronit; Priscilla da Silva Parreira; Thays Borges Silva; Lidiana Cândida Piveta

' 10.37885/221211167........................................................................................................................................................................... 160


Capítulo 14
Prevalência de dor musculoesquelética em estudantes de Odontologia: revisão de literatura
Semírames Martins de Andrade; Vanara Florêncio Passos; Regina Glaucia Lucena Aguiar Ferreira

' 10.37885/221211543........................................................................................................................................................................... 179


Capítulo 15
Relação comunicativa entre o profissional de saúde e o paciente surdo
José Lima de Sousa Júnior; Geraldo Lucas Alves Monte; Carla Viviane de Meneses Oliveira; Germana Lima D`Oran; Polyane Correia
Lima; Tiago Augusto Cavalcante Oliveira; Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos Santos; Carla Cristina de Sordi

' 10.37885/221211597........................................................................................................................................................................... 194


Capítulo 16
Relato de caso de árvore de jatobá (família fabaceae; Hymenaea courbaril L., 1753) Morta no centro
da cidade de Uberaba, MG
Anna Clara Balbina Silva; Ramon Marques Macedo; Paloma Cristina Pimenta; Maria das Graças Reis; Afonso Pelli

' 10.37885/230111697........................................................................................................................................................................... 207


Capítulo 17
Sabores e afetos: uma experiência de protagonismo e construção de identidades na cozinha
Gabriela Maria da Cruz Silva; Walkiria Santos Costa

' 10.37885/221211507........................................................................................................................................................................... 218


Capítulo 18
Tempo de pena criminal: uma perspectiva em saúde
Carolina Maria Camargo Luca; Isadora de Carvalho Mariano Villela; Aissar Eduardo Nassif; Gabriela Schiavon Ganassin

' 10.37885/221211551........................................................................................................................................................................... 228

SOBRE OS ORGANIZADORES.............................................................................................................................. 240

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................................................................. 241


01
Abordagens terapêuticas na sobrevida após
manobras de ressuscitação cardiopulmonar

Luana Bassetto Martin


UNESP

Valéria de Castilho Palhares


UNESP

'10.37885/221211564
RESUMO

Doenças cardiovasculares são as principais causas de uma parada cardiorrespiratória, e


necessita de intervenção imediata já que a sobrevida está diretamente relacionada com
o tempo da primeira ação. O intuito deste artigo foi identificar as abordagens terapêuticas
para aumentar a taxa de sobrevivência em pacientes que foram submetidos às manobras de
ressuscitação cardiopulmonar. Revisão integrativa de literatura realizada a partir da questão
norteadora: quais são as evidências científicas disponíveis na literatura relacionadas às abor-
dagens terapêuticas de reduzir a taxa de mortalidade em pacientes que foram submetidos
às manobras de ressuscitação cardiopulmonar? Foi utilizada a estratégia PICO. Diante dos
resultados observaram-se poucas publicações sobre o tema, abordagens terapêuticas diver-
gentes com o mesmo fim de aumentar a sobrevida e ausência de estudos nacionais. É uma
temática que precisa ser mais explorada na tentativa de aprimoramento de técnicas, profis-
sionais e leigos para aumentar as chances de vida numa parada cardíaca.

Palavras-chave: Parada Cardíaca, Prognóstico, Taxa de Mortalidade, Taxa de Sobrevida,


Ressuscitação Cardiopulmonar.
INTRODUÇÃO

Doenças crônicas provocam o aumento do número de mortes em todo o mundo,


acometendo principalmente países de baixa e média renda. Estatísticas e pesquisas da
OMS mostram que doenças do coração são a principal causa de morte em vários países
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015). Segundo Malta, Cezario e Moura (2006) ao longo da última
década elas representam até 50% da mortalidade do conjunto das doenças e agravos não
transmissíveis (DANT) e isso se deve a transição demográfica, epidemiológica e nutricional,
retratado pelo aumento da expectativa de vida e a proporção de idosos, o aumento de mor-
bimortalidade por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e o aumento do sobrepeso
e da obesidade que ainda produzem mudanças no perfil da população brasileira.
Segundo o sistema de informações hospitalares do SUS, em 2015 doenças do aparelho
circulatório ocuparam o primeiro lugar totalizando em 7.285 óbitos e taxa de mortalidade
8,11% segundo capítulo do CID-10 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015). Há vários fatores
que aumentam o risco para uma parada cardiorrespiratória, dentre eles está à combinação
da pressão arterial sistólica, tabagismo, colesterol total, HDL-C, LDL-C, índice de massa
corporal e idade, afetando diretamente o bom funcionamento do coração; e como medidas
preventivas a OMS formulou linhas de ação efetivas para reduzir as DCV de todo o mundo
por meio de prevenção não farmacológica que aborda atividade física, alimentação saudável,
cessação do tabagismo, tratamento da doenças de base, e como prevenção farmacológica
o uso profilático de fármacos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
Segundo Lyra, et al., as DCV são a principal causa de PCR, necessitando conheci-
mento de SBV e RCP pelos profissionais da saúde. O suporte básico de vida nada mais é
que o conjunto de habilidades motoras e cognitivas destinadas à manutenção, suporte ou
restabelecimento da oxigenação, ventilação e circulação da vítima em PCR, composta por
uma cadeia de sobrevivência de cinco elos, iniciando pelo reconhecimento da PCR e aciona-
mento do serviço de emergência seguido pela massagem cardíaca imediata e de qualidade,
a desfibrilação rápida, a chegada dos serviços médicos básicos e avançados de emergências
(SME), o suporte avançado de vida e os cuidados pós-PCR. A massagem cardiopulmonar
garante que o fluxo sanguíneo do coração se restabeleça, para isso a posição das mãos e
frequência de 100 a 120/min com a total descompressão torácica são fundamentais até a
chegada de um profissional ou alguém habilitado a utilizar o desfibrilador automático externo
(DEA) como tratamento eficaz (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2015).
O atendimento às pessoas em parada cardiopulmonar (PCR) exige do profissional rapi-
dez e eficiência, pois a sobrevida está diretamente relacionada com o tempo do atendimento,
conhecida como “a hora de ouro” (SANTANA, LOPES E QUEIROZ, 2014); sendo conside-
rada frequente no extra-hospitalar e principal causa de morbimortalidade no intra-hospitalar.

Ciências Biológicas e da Saúde: integrando saberes em diferentes contextos - ISBN 978-65-5360-264-9 - Vol. 2 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
14
Portanto as correntes de sobrevivência do suporte básico (SBV) e do suporte avançado de
vida (SAV) contemplam ações que aumentam a sobrevida das vítimas em risco de morte
súbita (CANOVA, CYRILLO, et al., 2015). É indispensável e de suma importância o pa-
pel das portas de entrada do sistema de saúde, que são as UBSs, UPAs, PSFs, e Pronto
Socorros, no atendimento a essas ocorrências e imprescindível para obter o melhor resul-
tado possível nas “verdadeiras urgências” (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SÃO
JOSÉ DO RIO PRETO, 2013).
As diretrizes para ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e atendimento cardiovascu-
lar de emergência (ACE) foram criadas no intuito de padronizar o atendimento perante os
profissionais de saúde e instrutores da AHA (American Heart Association). Essas diretrizes
sofrem atualização periodicamente, a mais atual realizada em 2015, e servem de instru-
mento de treinamento e educação continuada a leigos e aos profissionais de saúde visando
melhorar a qualidade de atendimento e diminuir a morbimortalidade de pacientes em parada
(AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2015).
Leigos capacitados podem iniciar as manobras de RCP enquanto o serviço médico
especializado não chega ao local, minimizando as sequelas das funções cardíaca e cerebral
da vítima. O encorajamento para que pessoas participem de cursos de suporte básico e
vida (SBV) se torna importante pelo fato de reduzir a morbimortalidade, o que influencia na
sobrevida e qualidade de vida do vitimizado já que o leigo inicia as manobras ao perceber
os sinais da PCR (PERGOLA AM, ARAUJO IEM; 2009).
Portanto doenças cardiovasculares são as principais causas de uma parada cardior-
respiratória, e necessita de intervenção imediata já que a sobrevida está diretamente rela-
cionada com o tempo da primeira ação. Para isso a capacitação de profissionais e leigos
para o atendimento de suporte básico de vida é de suma importância, para que todo o
atendimento, dando relevância a RCP bem sucedida, seja de qualidade, visando diminuir a
morbimortalidade por essa causa.
Em função da elevada prevalência das doenças cardiovasculares, de protocolos prees-
tabelecidos pelas diretrizes internacionais de ressuscitação, dos poucos estudos nacionais
sobre taxa de mortalidade pós RCP e da possibilidade de equipe capacitada para o atendi-
mento à PCR no ambiente hospitalar e extra- hospitalar, optou-se por realizar esta pesquisa.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, método que sintetiza os resultados


de forma sistemática e abrangente, de pesquisas descritivas e qualitativas, permitindo in-
formações mais amplas sobre o tema, para sua possível análise metodológica, agregando
sua aplicabilidade na prática (POMPEO DA, ROSSI LA, GALVÃO CM; 2009).

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Para sua construção as seguintes etapas foram seguidas:

• Identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa;


• Estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos;
• Busca na literatura, avaliação dos estudos incluídos;
• Interpretação dos resultados;
• Apresentação da síntese do conhecimento.

A questão da pesquisa, ou pergunta norteadora, foi construída por meio da estraté-


gia PICO, que orienta a construção da pergunta de pesquisa e da busca bibliográfica e
permite que o pesquisador, ao ter uma dúvida ou questionamento, localize de modo acu-
rado e rápido, a melhor informação científica disponível (SANTOS CMC, PIMENTA CAM,
NOBRE MRC; 2007).
Após a utilização da estratégia PICO, a pergunta consistiu-se em: quais são as evi-
dências científicas disponíveis na literatura relacionadas às abordagens terapêuticas de
reduzir a taxa de mortalidade em pacientes que foram submetidos às manobras de ressus-
citação cardiopulmonar?

Quadro 1. Construção da pergunta norteadora através da estratégia PICO.

P (Paciente ou problema) Pacientes adultos vítimas de PCR.

(Intervenção) A realização de RCP.

A comparação será realizada entre as abordagens terapêu-


C (Controle ou comparação) ticas e as taxas de mortalidade pós-PCR em diferentes am-
bientes e situações.

O (Desfechos ou “Outcomes”) Abordagens terapêuticas e Taxa de mortalidade pós-PCR.

Os critérios de inclusão utilizados para estabelecer a amostra foram:

• Artigos publicados em inglês e português;


• Artigos que retratam as abordagens terapêuticas de reduzir a taxa de mortalidade-
relacionada à RCP;
• Artigos que retratem RCP/PCR em adultos;
• Artigos publicados de 2012 a 2016;
• Artigos na íntegra.

Os critérios de exclusão adotados foram:

• Artigos que abordem menores de dezoito anos;

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• Artigos que abordem ensino de RCP para profissionais e leigos;
• Artigos na forma de resumo e relatos de experiência.

Para o presente estudo, a busca foi realizada em março de 2016 nas seguin-
tes bases de dados:

• Biblioteca Regional de Medicina (BIREME),


• Publicações Médicas (PUBMED);
• SCOPUS.

Foram utilizados os seguintes Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) para busca


nas bases de dados:

• “Ressuscitação Cardiopulmonar”, “Parada Cardíaca”, “Taxa de mortalidade”, “Prog-


nóstico”, “Avaliação” e “Taxa de Sobrevida”.
• “Cardiopulmonary Resuscitation”, “Cardiac Arrest”, “Mortality”, “Mortality rate”,
“Prognosis”, “Survival Analisys”, “Survival rate”, “Survivorship” and “Evaluation”.

Realizaram-se todas as combinações possíveis entre os descritores em cada base de


dados, utilizando-se o conector booleano “AND”. Os artigos que se repetiram em mais de
uma base de dados foram excluídos de uma delas. Para alcançar os objetivos propostos
foram realizadas análises de pesquisas relevantes que dão suporte para tomada de decisão,
permitindo a incorporação desses achados na prática clínica.
Assim, foram encontrados 13 artigos, sendo 05 da base BIREME, 07 da
PUBMED, e 01 da SCOPUS.
Para a Interpretação dos resultados foi realizada primeiramente uma leitura do título e
resumos, sendo aplicados os critérios de inclusão. Foram selecionados 10 artigos, que foram
submetidos à leitura detalhada. Desses artigos 02 foram excluídos por não apresentarem
em seus resultados e discussão a temática relacionada ao estudo. Desta forma, a amostra
final foi constituída de 08 artigos, como mostra a figura 1.

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Figura 1. Fluxograma da seleção dos estudos.

Para a avaliação dos estudos realizou-se a leitura detalhada das publicações e por
meio de um roteiro de coleta de dados buscou-se as seguintes variáveis: autores, título, pe-
riódico, palavras-chave, objetivo, tipo de estudo, amostra, local, técnica de coleta de dados
da taxa de mortalidade, taxa de mortalidade. Para as variáveis quantitativas foi utilizada a
estatística descritiva.
Para a Apresentação da síntese do conhecimento, após agrupar as informações ini-
ciaram-se as discussões, com base nos autores selecionados e em suas relevâncias para
o debate da problemática apresentada.
As abordagens terapêuticas aplicadas e analisadas nos estudos foram às seguintes:
Instituição do suporte básico de vida por leigos em PCR extra-hospitalares;

• Detecção precoce de doença cardíaca;


• Tratamento da PCR com hipotermia terapêutica;
• Encaminhamento da vítima ao hospital mais próximo;
• Padronização de risco de sobrevivência pós-PCR;
• Técnicas alternativas e dispositivos auxiliares para a RCP.

RESULTADOS

A amostra final foi constituída por oito artigos, que estavam no idioma inglês. Com
relação ao país de origem, 90% são provenientes dos Estados Unidos da América e 10%
da Dinamarca, os anos de 2013 e 2014 destacam-se com o maior número de publicações
totalizando 75% dos artigos e nos anos de 2011 e 2015 foram apenas 25% dos artigos.
Apesar dos estudos datarem dos anos de 2011 a 2016, apenas 25% dos estudos co-
letaram os dados em anos anteriores.

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Desses artigos foram publicados nas seguintes revistas:

• Review Elsevier Science com 37,5% e


• Review National Institutes of Health com 62,5% dos artigos.

Das titulações dos autores, destaca-se a categoria de Departamento de Emergências


Médicas, seguido do Departamento de Cuidados Críticos, Instituto Vascular e do Coração,
Departamento de Anestesia, Departamento de Farmacologia, Departamento de Medicina e
Departamento de Neurologia.
Quanto à metodologia adotada, destacam-se os estudos:

• Retrospectivo;
• Observacional;
• Prospectivo;
• Estudo de coorte;
• Ensaio clínico e
• Avaliação comparativa.

Dentre os artigos originais a maioria dos estudos foi realizada em hospitais, sendo que
em 30% dos artigos, duas metodologias foram combinadas.
No quadro apresentado a seguir, podem-se verificar os artigos selecionados para este
estudo, apresentando a síntese dos artigos segundo autor, título, periódico, ano, procedi-
mentos metodológicos e achados da pesquisa.

Quadro 2. Síntese dos artigos segundo autor, título, periódico, ano, procedimento metodológico e achados da pesquisa.

Número Autor, Título, Ano Procedimento Metodológico Achados da Pesquisa

Estudo que avaliou a detecção de uma doença precoce pós-pa-


rada cardíaca para predizer os cuidados dos pacientes através
da validação de uma escala de gravidade da doença chamada:
Pittsburgh cardiac arrest category (PCAC) em duas populações
COPPLER PJ, ELMER J, CALDERON L,
de pacientes. Foram incluídos 607 pacientes com parada cardíaca
et al.
durante o estudo (393 em população 1 e 214 em população 2).
1 Validation of the Pittsburgh cardiac Prospectivo e Retrospectivo
As populações diferiam na idade, local da parada, ritmo, uso de
arrest category (PCAC) illness severi-
hipotermia e distribuição de PCAC. PCAC foi associado à sobrevida
ty score. 2015.
(odds ratio não ajustado (OR) para população 1: 0,33 e população
2: 0,32), mesmo após o ajuste para outras variáveis clínicas. PCAC
é fortemente preditiva de sobrevivência e resultado funcional bom
após a parada cardíaca.
Intervenção envolvendo leigos em reanimação através da edu-
NIELSEN AM, ISBYE, DL, LIPPERT FK,
cação de massa em SBV por três anos. Observou-se um aumen-
RASMUSSEN LS.
2 Observacional to significativo persistente da taxa SBV para todas as PCEH com
Persisting effect of community appro-
etiologia cardíaca presumida. Não houve diferença significativa
aches to resuscitation. 2014.
na sobrevivência de 30 dias.

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Número Autor, Título, Ano Procedimento Metodológico Achados da Pesquisa

Estudo que determinou a taxa de bom resultado neurológico com


base na duração dos esforços de ressuscitação em pacientes tra-
KIM WY, GIBERSON TA, DONNINO MW. tados com hipotermia terapêutica (TH) em parada cardíaca fora
Neurologic outcome in comatose pa- do ambiente hospitalar (PCEH). Foram analisados 86 pacientes.
tients resuscitated from out of-hos- Apesar de maior tempo de inatividade (período de tempo entre o
3 Prospectivo Observacional
pital cardiac arrest with prolonged paciente ser reconhecido como sem pulso e RCE.) estar associado
downtime and treated with therapeu- com pior evolução em pacientes PCEH. Pacientes comatosos que
tic hypothermia. 2014. foram reanimados com sucesso e tratados com TH tiveram taxas
de sobrevivência neurologicamente intactas de 23%, mesmo com
o tempo de inatividade > 20 minutos.
HSU CH, LI J, CINOUSIS MJ, SHEAK KR,
GAIESKI DF, ET AL. CEREBRAL PERFOR-
Pacientes com diferentes escores de CPC (categoria de desempe-
MANCE CATEGORY (CPC) AT KR,
nho cerebral) na alta têm significativamente diferentes trajetórias
GAIESKI DF, et al.
de sobrevivência. CPC favorável à alta hospitalar prevê melhores
4 Cerebral performance category (CPC) Avaliação retrospectiva
resultados em longo prazo de sobreviventes de parada cardía-
at hospital discharge predicts long-
ca que receberam “administração de temperatura direcionada”
term survival of cardiac arrest survi-
(TTM) do que aqueles com pontuações CPC menos favoráveis.
vors receiving targeted temperature
management (TTM). 2014.
Utilizaram dados comparativos para avaliar a sobrevida e deter-
minar terminais locais. 66% dos pacientes levados para hospital
mais próximo tiveram alta hospitalar e 97% destes pacientes que
FIELD JM. Death to discharge Intended Avaliação comparativa/ Estudo receberam alta hospitalar estavam vivos em um ano. Os autores
5
consequences. 2013. retrospectivo não relatam precisão da interpretação de ECG, a intervenção PCI
(intervenção coronária percutânea) bem sucedida, ou estado
neurológico na alta em um ano de acompanhamento devido a
limitações do estudo do banco de dados.
HSU CH, LI J, CINOUSIS MJ, SHEAK
KR, GAIESKI DF, ET AL. CEREBRAL PER-
Pacientes com diferentes escores de CPC (categoria de desempe-
FORMANCE CATEGORY (CPC) AT KR,
nho cerebral) na alta têm significativamente diferentes trajetórias
GAIESKI DF, et al.
de sobrevivência. CPC favorável à alta hospitalar prevê melhores
4 Cerebral performance category (CPC) Avaliação retrospectiva
resultados em longo prazo de sobreviventes de parada cardía-
at hospital discharge predicts long-
ca que receberam “administração de temperatura direcionada”
term survival of cardiac arrest survi-
(TTM) do que aqueles com pontuações CPC menos favoráveis.
vors receiving targeted temperature
management (TTM). 2014.
Utilizaram dados comparativos para avaliar a sobrevida e deter-
minar terminais locais. 66% dos pacientes levados para hospital
mais próximo tiveram alta hospitalar e 97% destes pacientes que
FIELD JM. Death to discharge Intended Avaliação comparativa/ Estudo receberam alta hospitalar estavam vivos em um ano. Os autores
5
consequences. 2013. retrospectivo não relatam precisão da interpretação de ECG, a intervenção PCI
(intervenção coronária percutânea) bem sucedida, ou estado
neurológico na alta em um ano de acompanhamento devido a
limitações do estudo do banco de dados.
O objetivo deste estudo foi desenvolver um método de padro-
nização de sobrevivência para a alta hospitalar pós PCR. Foram
identificados 48,84 pacientes internados entre 2007 e 2010. Por
CHAN PS, BERG RA, MERCHANT RM.
meio de regressão logística hierarquizada foi validado um modelo
Risk- Standardizing survival for in- hos-
6 Coorte para a sobrevivência à alta hospitalar e calculados e padronizados
pital cardiac arrest to facilitate hospital
as taxas de sobrevivência para 272 hospitais com pelo menos 10
comparisons. 2013.
casos de parada cardíaca. O uso deste modelo pode apoiar os
esforços para comparar hospitais nos resultados de ressuscita-
ção como uma ferramenta para qualidade, avaliação e melhoria.
FRASCONE RJ, WAYNE MA, SWOR RA, A análise examinou se o tratamento com dispositivo de limite de
MAHONEY BD, DOMEIER RM, et al. impedância (ACD + ITD) é mais eficaz do que RCP padrão para
Treatment of non- traumatic out-of- todas as paradas cardíacas de origem não traumática, indepen-
7 hospital cardiac arrest with active Ensaio clínico dentemente da etiologia. O tratamento com ACD+ITD resultou
compression cardiopulmonary re- em um aumento significativo na sobrevida à alta hospitalar com
suscitation (ACD) plus an Impedance função neurológica favorável As taxas significativas de aumento
threshold device (ITD). 2013. da sobrevivência foram observadas até um ano após a parada.

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Número Autor, Título, Ano Procedimento Metodológico Achados da Pesquisa

Esse estudo testou se a relação de atenuação entre a massa cin-


zenta e a massa branca (GWR) estavam associadas com a sobre-
vivência e recuperação funcional. Os sujeitos foram pacientes
hospitalizados após a parada cardíaca em uma única instituição
METTER RB, RITTENBERGER JC, entre 01/01/2005 e 30/07/2010. Os indivíduos foram incluídos se
GUYETTE FX, CALLAWAY CW. Associa- tivessem parada cardíaca não traumática e TC sem contraste den-
8 tion between a quantitative CT scan Análise retrospectiva tro de 24 horas após a parada cardíaca. 240 tomografias estavam
measure of brain edema and outcome disponíveis. Os menores valores do GWR foram associados com
after cardiac arrest. 2011. menor pontuação inicial motora na Escala de Coma de Glasgow. A
sobrevida global foi de 36%. Somente 2/58 indivíduos com média
GWR <1,20 sobreviveu e ambos foram tratados com hipotermia.
GWR estima a probabilidade de pré-tratamento de sobrevivência
após uma parada cardíaca.

DISCUSSÃO

O primeiro estudo avaliou a detecção de uma doença precoce pós-parada cardíaca


para predizer os cuidados dos pacientes através da validação de uma escala de gravidade
da doença chamada: Pittsburgh cardiac arrest category (PCAC) em duas populações de
pacientes, na qual foi associada à sobrevida mesmo após o ajuste para outras variáveis
clínicas e de sobrevivência e resultado funcional bom após a parada cardíaca (COPPLER
PJ, ELMER J, CALDERON L, et al; 2015).
As doenças cardiovasculares (DCV) têm papel indiscutível na morbidade e na morta-
lidade do mundo ocidental, tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento
(NOGUEIRA MC, RIBEIRO LC, CRUZ OG; 2009). A prevenção e promoção também se
fazem importantes, e a Atenção Primária à Saúde (APS) contribui com a implantação de
intervenções na melhoria das condições de saúde através de controle de fatores de risco,
dispensação e controle de medicamentos e incentivo a hábitos saudáveis que são essen-
ciais para redução da mortalidade por doenças cardiovasculares. (FARIAS N, SOUZA JMP,
LAURENTI R; ALENCAR SM; 2009).
O segundo estudo comparou a taxa de sobrevida usando o SBV depois de uma PCEH
presumindo com a etiologia da PC em 3 anos através da educação em massa para leigos,
não houve mudança significativa na taxa de sobrevida de trinta dias, mas houve aumento
significativo persistente da taxa SBV para todas as PCEH com etiologia cardíaca presu-
mida. A sobrevivência é o produto da ciência, educação e implementação (NIELSEN AM,
ISBYE DL, LIPPERT FK, RASMUSSEN LS; 2014).
Para que o paciente tenha melhor recuperação o atendimento deve ser imediato e a
intervenção da equipe deve ser organizada e para que isso aconteça é preciso preparação
e segurança da equipe. Um estudo realizado em 2010 aponta pontos positivo e negativos
sobre a visão dos profissionais sobre o serviço; o ponto positivo em destaque apontou o
atendimento pré hospitalar como o local onde os enfermeiros entrevistados encontraram
maior satisfação, se sentindo valorizados e reconhecidos (ROMANZINI EM, BOCK LF;

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2010). Os pontos negativos foram em relação ao despreparo da equipe e das pessoas na
rua e falhas na comunicação, mesmo existindo falhas elas servem de aprendizado, reflexão,
amadurecimento pessoal e profissional para que haja a busca por melhorias.
Após uma campanha realizada por três dias, no sul do país, sobre SBV destinados
a profissionais e leigos, anos depois analisando os resultados diretos e indiretos obtidos
encontraram a implantação de treinamento de SAV e SBV, implantação de leis de acesso
público a desfibrilação em municípios e estados do Brasil, formação de centros de treina-
mento, entre outros. Apontam ainda que apesar dos resultados positivos a necessidade de
leigos e profissionais capacitados e treinados ainda se mantêm, visando um melhor preparo
frente a PCR (CANESIN MF, et al; 2016).
Observamos neste segundo estudo a importância da capacitação de leigos na sobre-
vida das vítimas que sofrem PCR.
Os 3º, 4º e 8º estudos abordaram o tratamento terapêutico a hipotermia (TH) como fator
positivo a sobrevida frente a PC, já que mantém bom funcionamento neurológico, apesar
do tempo de inatividade do indivíduo; o estudo 8, relacionou a atenuação entre a massa
cinzenta e a massa branca (GWR) com a sobrevivência e recuperação funcional (METTER
RB, RITTENBERGER JC, GUYETTE FX, CALLAWAY CW; 2011); o estudo 4, prevê melho-
res resultados em longo prazo a performance cerebral de pacientes que foram tratados com
terapia para hipotermia (HSU CH, LI J, CINOUSIS MJ, SHEAK KR, GAIESKI DF, et AL; 2014)
e o estudo 3, avalia que pacientes comatosos tratados com TH tiveram taxas de sobrevi-
vência neurologicamente intactas de 23% (KIM WY; GIBERSON TA, DONNINO MW; 2014).
Segundo as novas diretrizes, que avaliou evidências priorizando tópicos para revisão
com novas abordagens sobre RCP, todos os pacientes adultos comatosos com retorno de
circulação espontânea após a PCR devem ser submetidos ao controle direcionado de tem-
peratura entre 32ºC e 36ºC, mantida constantemente durante pelo menos 24h, constatando
que há melhora no desfecho neurológico dos pacientes. E recomenda a implantação de
programas de acesso público a desfibrilação para pacientes em PCEH em locais públicos
de grande acesso, e treinamento direcionado para cuidadores e familiares de pacientes de
alto risco e prático e/ou auto dirigido para socorristas leigos, com reciclagem do aprendiza-
do. Sobre dispositivos de limiar de impedância não são recomendados rotineiramente como
adjuvantes na RCP convencional, porém sua combinação com uma RCP compressões-des-
compressões ativas pode ser uma alternativa razoável em ambientes específicos em que
a compressão convencional seja um desafio ou se apresente perigosa para o profissional,
mesmo assim as compressões torácicas manuais continuam sendo o tratamento padrão
frente a esses dispositivos mecânicos para compressões torácicas (AMERICAN HEART
ASSOCIATION; 2015).

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O quinto estudo trouxe que 66% dos pacientes levados para hospital mais próximo
tiveram alta hospitalar e 97% estavam vivos em um ano comparando os resultados de
um ensaio e de um sistema database para avaliar a sobrevida e rubricar terminais locais.
Observou-se neste estudo preocupação em orientar o hospital mais próximo como melhor
opção para o tratamento da PCR. (FIELD JM; 2013).
O sexto estudo desenvolveu um método para padronização de risco de sobrevivência
hospitalar após uma PC para avaliar o atendimento dos hospitais no intuito de melhorar a
qualidade e desempenho do serviço (CHAN OS, BERG RA, MERCHANT RM; 2013). Já o
sétimo estudo trouxe o tratamento com dispositivo de limite de impedância sendo mais eficaz
e com um resultado maior de sobrevida que a RCP padrão. (FRASCONE RJ, WAYNE MA,
SWOR RA, et al., 2013).
Pereira JCRG, em 2008 relata que o controle das variáveis fisiológicas- pressão arterial,
pressão intracraniana, glicemia, temperatura e ventilação, junto com a hipotermia terapêu-
tica e a otimização da perfusão cerebral melhoram o prognóstico do pacientes pós PCR, já
que estes apresentam grande risco de lesão neurológica e um estudo realizado em 2010,
por Rech TH e Vieira SRR, demonstrou, após analisar as fases da hipotermia, que por ser
um tratamento de baixo custo e benéfico em reduzir a mortalidade e melhorar o desfecho
neurológico dos pacientes após PCR deveria fazer parte de protocolos assistenciais de
unidades de terapia intensiva.
A análise destes estudos, embora com metodologias divergentes, possibilitou conhecer
as diferentes abordagens terapêuticas para aumentar a taxa de sobrevivência em pacientes
que foram submetidos às manobras de ressuscitação cardiopulmonar, como:

• Instrução do suporte básico de vida por leigos em PCR extra-hospitalares;


• Detecção precoce de doença cardíaca;
• Tratamento da PCR com hipotermia terapêutica;
• Encaminhamento da vítima ao hospital mais próximo;
• Padronização de risco de sobrevivência pós-PCR;
• Técnicas alternativas e dispositivos auxiliares para a RCP.

CONCLUSÃO

O desenvolvimento desta pesquisa permitiu averiguar que há poucos estudos sobre o


tema, não sendo encontrado nenhum artigo no ano presente e publicado no Brasil.
Nos artigos encontrados observou-se que apenas uma pesquisa encontrou limitações
referente a busca em banco de dados referente ao sistema operacional.

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Trata-se de uma temática que precisa ser mais explorada, tanto na tentativa de com-
preender como os serviços podem se organizar de forma a avaliar a taxa de mortalidade
e elevar a sobrevida no intra e no extra-hospitalar, como com a capacitação de leigos e
profissionais para intervirem da melhor forma possível bem como no aumento da produção
de estudos nacionais que descrevam as abordagens terapêuticas relacionadas à sobrevida
após as manobras de RCP.

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25
02
Audiometria de altas frequências em
indivíduos expostos a ruído e agentes
ototóxicos

Luciano Veloso de Amorim Santos


Associação dos Deficientes Físicos de Alagoas - ADE-
FAL

Larissa França Ferro Santos


Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas - SESAU

Plácido Fabrício Silva Melo Buarque


Instituto Federal Goiano - Campus Ceres

'10.37885/221111070
RESUMO

A Audiometria de Altas Frequências (AAF) verifica os limiares auditivos acima de 8kHz (de 9
kHz a 20 kHz), que não são avaliados através da audiometria convencional. A exposição a
ruídos e substâncias ototóxicas podem acelerar a degradação do sistema auditivo nas altas
frequências. Indivíduos são expostos diariamente a esses agentes, seja de forma ocupa-
cional, em tratamentos medicamentosos ou por exposição ambiental/social. A audiometria
nas altas frequências têm sido analisada como fator primordial na detecção de precoce
das alterações auditivas, assim merece atenção por parte dos pesquisadores advindo da
necessidade de ampliar o banco de dados que favorecem a prevenção da saúde auditiva.
Objetivo: Portanto, o presente estudo tem como objetivo realizar um levantamento biblio-
gráfico de trabalhos científicos publicados nos últimos 12 anos, acerca da audiometria de
altas frequências em indivíduos expostos a ruídos e fatores ototóxicos que causem perda
auditiva, reforçando sua importância. Métodos: A partir do trabalho de KLAGENBERG et al.
(2011), uma revisão atualizada foi realizada sobre audiometria de alta frequência entre os
anos de 2008 à 2020. Resultados: Nossos resultados apresentam 8 novos trabalhos, re-
ferentes a ruído, e 7, referentes aos agentes ototóxicos. O grupo controle foi formado por
300 participantes pertenciam que não foram expostos a fatores de risco para perda auditiva
e 941 ao grupo estudo de indivíduos sujeitos a ruídos e agentes químicos otoagressores.
Conclusão: A revisão de literatura de estudos sobre audiometria de altas frequência entre
os anos de 2008 a 2020 indica que ocorreram mais perdas auditivas nas altas frequências
dos sujeitos expostos a agentes ototóxicos e a ruídos nos últimos 12 anos, em comparação
com o grupo controle.

Palavras-chave: Ototoxidade, Perda Auditiva, Efeitos do Ruído.


INTRODUÇÃO

O exame de Audiometria de Altas Frequências (AAF) trata-se da análise dos limiares


auditivos da porção basal da cóclea, referentes a faixa de 9 kHz a 20 kHz, que não são
avaliados através da audiometria convencional (250Hz a 8kHz), consolidado na prática clí-
nica e preventiva fonoaudiológica (ZEIGELBOIM et al. 1996). Esse exame permite a iden-
tificação de alterações antes que aconteça a perda auditiva nas frequências convencionais
(GONÇALVES et al. 2013). 
A deficiência auditiva nas altas frequências podem ser proveniente de agentes nocivos,
por exemplo, ruídos e ototóxicos (ORTIZ et al. 2016; LOPES & SANTOS 2012). A exposição
ao ruído provoca perda de audição de forma progressiva e irredutível de acordo com o tempo
de submissão a alta pressão sonora (ROCHA et al. 2010; SAMELLI et al. 2020). Outro fator
etiológico da perda auditiva é o agente ototóxico, que lesionam as células ciliadas externas
(DÉBORA et al. 2017).
Atividades ocupacionais têm exposição a fatores prejudiciais a audição. Certas profis-
sões expõem o trabalhador as altas intensidades sonoras a exemplo de bombeiros, músicos,
odontologistas, professor de ciclismo indoor, entre outros. Profissionais que trabalham com
produtos químicos, a exemplo de combustível e agrotóxicos também estão vulneráveis aos
agentes ototóxicos. Além das atividades laborais, a intoxicação química pode ocorrer por
exposição a áreas contaminadas por metais pesados, como o chumbo, ou em alguns trata-
mentos medicamentosos, por exemplo, na fibrose cística e HIV (LOPES et al. 2008; GEYER
et al. 2015; QUIDICOMO & MATAS 2013).
Atualmente, avanços científicos acerca dos riscos causados ao sistema auditivo são
de grande importância, uma vez que, visam prevenir e evitar a progressão das alterações
auditivas. Tais estudos destacam cada vez mais o aprimoramento das soluções que fa-
voreçam métodos para detecção precoce da perda auditiva e a criação de Programas de
Conservação Auditiva (PCA) (BRAMATTI et al. 2008). Com isso, o método da AAF tem sido
aprimorado por meio da novas tecnologias e modernos equipamentos de captura de alta
frequência (LOPES et al. 2012; SAMELLI et al. 2020; OPPITZ et al. 2018).
Para que a sociedade tenha melhores progressões é imprescindível ofertar meios
de avaliar de forma absoluta os aspectos que ocasionam desordem a saúde auditiva.
Assim, diante dos dados expostos o presente estudo tem como objetivo realizar um levan-
tamento bibliográfico de trabalhos científicos publicados nos últimos 12 anos, acerca da
Audiometria de Altas Frequências em indivíduos expostos a ruídos e fatores ototóxicos que
causem perda auditiva.

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METODOLOGIA

A presente revisão de literatura utilizou as plataformas de busca SciELO, com o descritor


Audiometria de Altas Frequências. A amostragem conteve 20 artigos, sendo 15   relacionados
aos assuntos: agentes ototóxicos e ruído.
Uma revisão complementar e atualizada foi realizada a partir do trabalho de revisão
KLAGENBERG et al. 2011, baseada em artigos a partir de 2008. Nesta revisão foram sele-
cionados 7 referentes a agentes ototóxicos, 8 ruídos, que apresentassem na sua elabora-
ção a AAF, visto sua relevância na detecção precoce. Tal prestígio, junto a necessidade de
trabalhos na área (alta frequência), despertou o interesse na pesquisa.
Na divisão dos 2 grupos, os estudos com relação a drogas ototóxicas analisou trabalha-
dores ocupacionais expostos a agrotóxicos, combustível (frentistas), indivíduos acometidos
por fibrose cística e HIV, que estão expostos a drogas nocivas a audição no seu tratamento,
e a exposição ao chumbo advindo da contaminação de alimentos, solo e água.  Já o grupo
exposição a ruído ocupacional, foram observados músicos, bombeiros, trabalhadores de
indústrias, odontologistas e professor de ciclismo indoor.
Os dados quantitativos obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA), a fim
de determinar se as diferenças entre as médias do grupo são estatisticamente significativas.

RESULTADOS

Uma revisão atualizada será aqui apresentada a partir do trabalho de KLAGENBERG


et al. (2011), que por sua vez realizou uma revisão de artigos sobre audiometria de alta
frequência entre os anos de 1999 a 2008. A partir de 2008, quinze novos artigos foram re-
visados seguindo a sequência cronológica até 2020 (Tabela 1).

Tabela 1. Síntese dos artigos sobre audiometria de alta frequência nos últimos 20 anos (n=39).
Características auditiva da população
Ano Autores N° de Sujeitos Faixa etária Referência
estudada
1900 AZEVEDO & IORIO 1999 52 12 a 15 Sujeitos com audição normal até 8kHz NPS
2000 BELTRAMI 1999 101 25 a 35 Adultos expostos e não expostos ao ruído NPS
2000 PEDALINI et al. 2000 158 4 a 60 Sujeitos com audição normal até 8kHz NA
Sujeitos com audição normal até 8000Hz e
2001 ZEIGELBOIM et al 2001 133 30 a 59 NPS
grupo com insuficiência renal crônica
2001 FERNANDES E MOTA 2001 25 17 a 34 Trabalhadores expostos a ruído e solventes NPS
Sujeitos com osteossarcoma expostos à cis-
2003 GARCIA et al. 2003 13 7 a 20 NPS
platina
2003 SAHYEB et al. 2003 50 18 a 30 Jovens com audição normal até 8kHz NA
CASTRO-GUIMARAES et al.
2004 60 18 a 49 Trabalhadores expostos a ruído NPS
2004
2004 BURGUETTI et al. 2004 71 20 a 60 Sujeitos com queixa de zumbido NA
2004 RETAMAL et al. 2004 45 12 a 19 Jovens com audição normal até 8kHz NPS
2004 PORTO et al. 2004 60 21 a 60 Adultos expostos e não expostos ao ruído NA

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Características auditiva da população
Ano Autores N° de Sujeitos Faixa etária Referência
estudada
2004 ZEIGELBOIM et al. 2004 30 20 a 30 Sujeitos com audição normal até 8kHz NA
2005 RAMOS E PEREIRA 2005 32 9 a 10 Escolares NPS
2005 MARTINHO et al. 2005 66 30 a 40 Sujeitos com audição normal até 8kHz NPS
2005 JACOB et al. 2005 44 3 a 28 Sujeitos expostos a agentes quimioterápicos NA
2006 ALMEIDA & NISHIMORI 2006 55 18 a 25 Sujeitos com audição normal até 8kHz NA
2006 SILVA & FEITOSA 2006 64 25 a 35 e 45 a 55 Sujeitos com audição normal até 8kHz NA
2006 REIS et al. 2006 61 Sem dado Grupo controle e grupo com diabetes tipo I Sem dado
2007 CARVALLO et al. 2007 74 18 a 30 Sujeitos com audição normal até 8kHz NA
2007 SÁ et al. 2007 51 18 a 29 Sujeitos com audição normal até 8kHz NA
Sujeitos com audição normal até 8kHz com e
2007 FIGUERÊDO & CORONA 2007 30 19 a 56 NA
sem presença de zumbido
Crianças com audição normal com episódios
2007 Ferreira et al. 2007 31 7 a 12 NA
de otite média secretora bilateral
2007 LOPES et al. 2007 30 7 a 13 Crianças com audição normal até 8kHz NPS
2008 ALMEIDA et al. 2008 10 5 a 27 Sujeitos tratados com cisplatina NA
2008 LOPES et al. 2008 30 7 a 13 Sujeitos com intoxicação por chumbo NA
2009 OLIVEIRA & LIMA 2009 60 18 a 40 Tabagistas com audição normal até 8kHz NA
Bombeiros militares com audição normal até
2010 ROCHA et al. 2010 80 30 a 49 NA
8kHz
2010 MATAS et al. 2010 56 18 e 58 Indivíduos adultos com HIV/AIDS sem dado
2011 LOPES et al. 2012 108 23 a 57 Odontologistas com audição normal até 8kHz NPS
2013 GONÇALVES et al. 2013 94 21 e 51 Músicos militares NA
2012 OTTONI et al. 2012 347 19 e 65 Trabalhadores expostos a ruído NA
2013 QUIDICOMO & MATAS 2013 97 18 e 50 Portadores de HIV em terapia antirretroviral NA
2013 TOCHETO et al. 2013 24 20 a 40 Frentistas com audição normal até 8kHz NA
Pacientes com fibrose cística com audição
2015 GEYER et al. 2015 75 7 a 20 NA
normal até 8kHz
Músicos de orquestra com audição normal
2016 LUDERS et al. 2016 30 33 a 54 NA
até 8kHz
Usuários de reprodutor de música pessoal c/
2016 ORTIZ et al. 2016 55 15 a 19 sem dado
audição normal até 8kHz
Trabalhadores expostos a agrotóxicos com
2017 SENA 2017 88 18 a 59 NA
audição normal até 8kHz
Prof de ciclismo indoor com audição normal
2019 COSTA et al. 2020 8 24 a 36 NA
até 8kHz
Músicos de orquestra com audição normal
2020 SAMELLI et al. 2020 45 19 a 40 NA
até 8kHz

A partir da lista de artigos de KLAGENBERG et al. (2011), a Tabela 1 destaca os resul-


tados de indivíduos sujeitos a ruídos e agentes químicos otoagressores. Destes selecionados,
oito foram referentes a ruído e sete referente aos agentes ototóxicos. 
Com base nos novos artigos revisados, 10 trabalhos amostraram pessoas sem alteração
na Audiometria Convencional (audição normal até 8000 Hz). As idades dos participantes
avaliados oscilaram entre 7 e 65 anos.
A Tabela 2 mostra o número total de trabalhos com sujeitos expostos aos agentes
ototóxicos e ruídos. Dentre estes, 300 participantes pertencem ao grupo controle, que não
foram expostos a fatores de risco para perda auditiva, e 941 ao grupo estudo. 

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Tabela 2. Divisão do total de sujeitos expostos aos agentes ototóxicos e ruídos por grupo controle e grupo estudo. 

Artigos Ototóxico/ Ruído ESTUDO CONTROLE


SENA 2017 Agrotóxicos 49 39
TOCHETTO et al. 2013 Frentistas (Combustível) 24 24
Geyer et al. 2015 Fibrose Cística 39 36
QUIDICOMO & MATAS 2013 HIV 52 45
MATAS et al. 2010 HIV 32 24
LOPES et al. 2008 Chumbo 30 0
OLIVEIRA & LIMA 2009 Tabagistas 30 30
ROCHA et al. 2010 Bombeiros 47 33
LOPES et al. 2012 Odontologistas 108 0
COSTA et al. 2020 Prof. ciclismo indoor 8 0
SAMELLI et al. 2020 Músicos 1 30 15
GONÇALVES et al. 2013 Músicos 2 50 44
LUDERS et al. 2016 Músicos 3 30 0
OTTONI et al. 2012 Exposição a ruído 347 0
ORTIZ et al. 2016 Reprodutor de música pessoal 43 12

As Figuras 1 destacam os trabalhos que apresentaram valores para os grupos controle


e estudo aos agentes ototóxicos e a ruídos. No total de 698 participantes, 424 apresentaram
perda auditiva de alta frequência (grupo estudo), enquanto 274 não apresentaram perdas
auditivas (grupo controle). Portanto, nosso resultado mostra que a diferença entre o grupo
estudo e o grupo controle é de 150 sujeitos que apresentaram alteração na análise da au-
diometria de alta frequência. Isto, nos indica que entre os anos de 2008 a 2020 ocorreram
mais perdas auditivas nas altas frequências em comparação ao grupo controle dos sujeitos
expostos a agentes ototóxicos e a ruídos. 

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Figura 1. Número de participantes parcial e total dos grupos controle e estudo em indivíduos com exposição a ototóxicos
e ruído. Resultado da análise one-way ANOVA, (***, P ≤ 0.001; **, P ≤ 0.01; *, P ≤ 0.06; e ns = não significativo). 

Contudo, foi encontrada diferença estatística significativa de p = 0,06 entre o grupo con-
trole e estudo, assumindo uma probabilidade de apenas 6% da diferença encontrada no estu-
do clínico não seja verdadeira, apesar de, estatisticamente, o valor de p ser maior que 0,05.
No grupo ototóxico (Figura 2), é observado que o os sujeitos expostos a agrotóxicos,
fibrose cística e HIV apresentaram maiores valores do grupo estudo em comparação ao grupo
controle, o que nos indica maior perda auditiva de alta frequência para estas condições nos
últimos 12 anos. Entretanto, os sujeitos tabagistas e que trabalham em postos de gasolina
não apresentaram diferença estatística da análise one-way ANOVA entre os grupos estudo
e controle (p = 0,4). 

Figura 2. Número de participantes dos grupos controle e estudo em indivíduos com exposição a ototóxicos. Análise one-
way ANOVA, (***, P ≤ 0.001; **, P ≤ 0.01; *, P ≤ 0.06; e ns = não significativo).

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No grupo exposto a ruído (Figura 3), 198 participantes correspondem ao grupo estudo,
enquanto 104 ao grupo controle. O resultado da análise one-way ANOVA mostra que não foi
encontrada diferença estatística significativa (P = 0,1) entre o grupo controle e estudo. O pú-
blico que faz uso de reprodutor de música amplificada pessoal, apresentou maior discre-
pância entre os grupos, com 31 indivíduos a mais compondo o grupo estudo. O estudo de
GONÇALVES et al. (2013), que avaliou músicos militares (Músicos 2), apresentou a menor
diferença entre os grupos estudo e controle. 

Figura 3. Número de participantes dos grupos controle e estudo em indivíduos com exposição a ruídos. Análise one-way

ANOVA, (***, P ≤ 0.001; **, P ≤ 0.01; *, P ≤ 0.06; e ns = não significativo).

A Tabela 3 apresenta as médias nas Altas Frequências entre os grupos expostos e


não expostos a ruídos e ototóxicos. Com isso, os resultados apresentados fornecem indícios
acerca dos parâmetros de normalidade e alteração auditiva nas médias dos limiares da re-
gião basal coclear. Desses trabalhos revisados, a maior média foi 47.8 (14kHz), no trabalho
abrangendo frentistas expostos a combustível, entre 20 e 40 anos, e a menor média 0 dB´s
(em 14kHz e 16kHz) nos indivíduos não expostos a antibiótico, no estudo que envolveu o
assunto fibrose cística, com idade de público de 7 a 20 anos. Possivelmente o fator exposi-
ção e baixa idade tenham influenciado em tais achados. 
O resultado médio dos limiares nas altas frequências nos indivíduos expostos foi de
19,02 dB (em 9kHz), 19,89dB (em 10kHz), 23,08dB (em 11.2kHz), 25,29dB (em 12.5kHz),
26,65dB (em 14khz), 25,67 dB (em 16kHz), 28,66 dB (em 18kHz) e 19,2 dB (em 20kHz).
Quanto ao público não exposto obtiveram valores de 13,84 dB (em 9kHz), 12,95dB (em
10kHz), 13,38 dB (em 11.2kHz),16,06 dB (em 12.5kHz), 17,10 dB (em 14khz), 17,34 dB (em
16kHz), 16,11 dB (em 18kHz) e 9,25 dB (em 20kHz).

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No estudo de (LUDERS et al. 2016), dos 30 músicos avaliados, 23 tiveram os limiares
de 14000 Hz e 16000 Hz ausentes, o que corrobora com os dados apresentados no estudo
(Tabela 3), onde essas frequências apresentaram limiares elevados, podendo indicar que
o fator de risco ototóxico e o ruído expôs prioritariamente essas frequências. Observando
ainda a tendência do aumento dos limiares também em 12500 Hz.

Tabela 3. Média dos limiares nas altas frequências nos indivíduos expostos e não expostos a ototóxicos e ruídos.

Fatores de Faixa
Artigos Condição 9kHz 10kHz 11.2kHz 12.5kHz 14kHz 16kHz 18kHz 20kHz
risco etária
Sena. 2017 Agrotóxicos 18 a 59 Expostos 20,5 22,5 25,5 28 31 33 37,5 40
Ñ Expostos 13 12,5 13 12,5 13 13 14,5 16,5
Tochetto e Siquei-
Combustível 20 a 40 Expostos 31,56 32,71 39,06 47,8
ra. 2013
Ñ Expostos 25,42 27,5 33,75 45,21
Geyer et al. 2015 Fibrose Cística 7 a 20 Expostos 5 5 7,5 5 2,5 2,5
Ñ Expostos 5 2,5 5 2,5 0 0
Lopes et al. 2008 Chumbo 7 a 13 Expostos 7,83 4,75 7,22 4,41 0,49
Oliveira e Lima.
Tabagistas 18 a 40 Expostos 14,3 17,3 22,6 20,9 16,3 25,8 33
2009
Ñ Expostos 9,8 8,2 10,4 6,5 2 7,2 21,1
Quidicomo e 18 e
HIV 2013 Expostos 14,2 12,32 16,88 20,45 23,48 25,36 30,09
Matas. 2013 50
Ñ Expostos 9 7 8,89 8 6,56 12,33 18,56
18 e
Matas et al. 2010 HIV 2010 Expostos 38,41 37,61 43,52 46,36 53,06 50,11 32,16 14,5
58
Ñ Expostos 35,53 32,76 35,39 41,84 45,66 41,84 25,26 11,4
30 a 39 Expostos 14,1 17,6 18 24,8 32 40,9
Rocha, Atherino e
Bombeiros Ñ Expostos 10 10,5 11,1 15,9 22,1 0
frota. 2010
40 a 49 Expostos 20 22, 25,1 33,7 46,7 60,3
Ñ Expostos 14,8 18,8 20,2 26,4 30,9 36,6
Samelli et al.
Músicos 1 19 a 40 Expostos 7,07 7 7,21 7 9,29 10,56 3,06
2020
Ñ Expostos 9,6 8,7 10,2 10,7 10,6 10,3 2
Gonçalves et al. 21 e
Músicos 2 Expostos 22,8 22,35 22,25 28,25 32,85 35,2
2013 51
Ñ Expostos 14,1 20,85 20,6 28,8 23,45 24,35
Luders et al. 2016 Músicos 3 33 a 54 Expostos 32,25 37,65 42,2 45, 35

O estudo acima, ainda possibilitou a discussão sobre a importância da conscientização


em relação aos problemas advindos da exposição a altas intensidades sonoras em músicos
de orquestra sinfônica. Nenhum dos participantes faz uso do protetor auditivo e através
de questionário relataram sintomas auditivos advindos da exposição permanente, que se
destacaram zumbido, dificuldade de ouvir e intolerância a sons intensos. Em contrapartida,
o estudo de (LAITINEN 2005) demonstrou que músicos que não apresentaram sintomas
auditivos, faziam uso do protetor auricular. É comum na prática clínica observarmos traba-
lhadores com audição normal e com essas queixas supracitadas, assim como, em ambientes
onde há presença de músicos, perceber a ausência do protetor auditivo.

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DISCUSSÃO

A partir da lista de artigos de KLAGENBERG et al. (2011), a Tabela 1 destaca os re-


sultados de indivíduos sujeitos a ruídos e agentes químicos otoagressores. Os artigos com
maior número amostral foram compostos por 347 indivíduos, que avaliou a exposição de
trabalhadores a ruído em indústrias de marmoraria, madeireira, metalúrgica e fabricação de
cimento (OTTONI et al. 2012). Enquanto, que outra pesquisa avaliou apenas 8 indivíduos
na profissão de ciclismo indoor, expostos as altas intensidades musicais presente na aula
(COSTA et al. 2020).
Dentre os resultados médio dos limiares nas altas frequências nos indivíduos expostos
a diferentes frequências de acordo com a Tabela 2, a faixa etária que apresentou melhores
resultados foi de 7 a 20 anos, presentes no estudo de (GEYER et al. 2015), sobre a influência
do uso de antibióticos em paciente com Fibrose Cística. Com objetivo de padronizar a análise
discursiva, foram traçadas médias entre as orelhas nos trabalhos (SENA 2017), (LUDERS
et al. 2016) e (LOPES et al. 2008), pois estes disponibilizaram os valores separadamente
e não uma média interaural.  Os estudos que envolveu odontologistas e professores de
ciclismo indoor não foram incluídos, devido a não discriminação exata dos valores médios
dos limiares tonais de AF.
Segundo SENA (2017), sujeitos expostos a agrotóxicos apresentaram resultados em
médias altas nos limiares nas AAF com significância estatística para todas as frequências.
Enquanto, que o grupo não exposto obteve melhores limiares com aproximadamente 7bB
de diferença. Quanto a diferença interaural, não houve diferença considerável, com variação
máxima de 2dB. Avaliando a influência do fator idade nas altas frequências, os trabalhadores
expostos tanto acima de 45 anos, como abaixo, apresentaram piores médias em relação ao
grupo controle. Os indivíduos tiveram rebaixamento dos limiares detectado apenas pela AAF,
e a exposição ao ototóxico comprometeu a saúde auditiva, independentemente da idade.
O agente químico chumbo, com grande potencial ototóxico, foi abordado por LOPES
et al. (2008), o qual mostraram resultados de alteração em 4 frequências na OD (de 10kHz
a 14kHz), enquanto a OE ficou dentro do padrão apenas em 14kHz. Os maiores limiares
foram 8,16dB (em 11.2kHz) na OD e 8,33dB (em 9khz) na OE. Não houve diferença esta-
tisticamente significante entre ambas as orelhas, mesmo a OE obtendo melhor sensibilida-
de. O nível de chumbo no sangue e a acuidade auditiva, não teve importância estatística
na diferença entre os limiares desse grupo de pessoas. Apesar do estudo supracitado ter
utilizado como padrão de normalidade a referência de LOPES et al. (2007), é necessário
estudos que assegurem a padronização das médias, certificando a existência da alteração,
assim dimensionando a influência do agente tóxico.

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Segundo GEYER et al. (2015) que analisaram pacientes em tratamento de fibrose
cística, cujo requer a utilização de antibióticos prejudiciais a cóclea, seu trabalho também
demonstrou piores médias nas altas frequências no grupo exposto ao medicamento. Não
houve diferença significante entre as orelhas na AF. O trabalho citado acima foi importante
por relacionar a quantidade ingerida do medicamento com os resultados das AAF, compro-
vando que a administração acima de 10 cursos de dosagem medicamentosa acarreta maior
prevalência de alteração auditiva.
A abordagem terapêutica de indivíduos com HIV, assim como no estudo supracitado,
também inclui a administração de medicamentos otoagressores, que compromete a acuidade
auditiva. Autores ainda afirmam que o HIV mesmo sem uso de medicamentos acomete a
audição (QUIDICOMO & MATAS 2013). Consequentemente, o uso de medicação seria um
fator agravante para perda auditiva, portanto, esse público requer bastante atenção.
De acordo com TOCHETTO et al. (2013) que corroborou com os trabalhos referentes
a ototoxidade da presente revisão ao analisar a influência do combustível nas alterações
auditivas em frentistas. Os resultados mostraram que a média dos limiares nas altas fre-
quências foram superiores no grupo estudo, sendo significante em 9kHz e 10kHz. É comum
observar esses trabalhadores sem o uso dos equipamentos de proteção individual, portanto,
implementar no exame periódico as altas frequências, será um fator positivo na conscienti-
zação dos trabalhadores, favorecendo a compreensão destes, quanto ao prejuízo causado
pela exposição laboral, possibilitando-o prevenir antes de sofrer influência na comunicação. 
O tabagismo investigado no trabalho de OLIVEIRA & LIMA (2009), mostraram que o
hábito de fumar ocasionou dano à audição, com maior prejuízo nas altas frequências. Diante
disso, podemos considerá-lo como fator de risco para perda auditiva e esse grupo poderia
se beneficiar com a detecção precoce, direcionando foco além da aplicação ocupacional
deste método avaliativo (Audiometria de Alta Frequência).
No que concerne o grupo exposição a ruído ocupacional, de acordo com (ROCHA
et al. 2010), os bombeiros expostos a ruído não obtiveram diferença entre as orelhas, tanto
por grupo como faixa etária, sendo o grupo experimental detentor dos limiares mais eleva-
dos, com maior significância em 16kHz, de 30 a 39 anos, e em 14kHz e 16kHz, de 40 a 49
anos. O público com idade acima dos 39 anos também apresentou redução da capacidade
auditiva em relação aos mais jovens. Esses dados atestam o termo idade como determinante
da perda auditiva, além da contribuição da exposição a fatores de risco.

CONCLUSÃO

A revisão de literatura de estudos sobre audiometria de altas frequência entre os anos


de 2008 a 2020 indica que ocorreram mais perdas auditivas nas altas frequências dos

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sujeitos expostos a agentes ototóxicos e a ruídos nos últimos 12 anos, em comparação com
o grupo controle. Assim, por meio desta conclusão, é possível ressaltar a importância da
utilização de EPIs aos sujeitos expostos a agentes ototóxicos e a ruídos, a fim de preservar
a acuidade ou saúde auditiva.
Portanto, a audiometria de alta frequência foi o fator determinante na detecção pre-
coce de alterações auditivas em hipoacusias induzidas por ruídos e substâncias químicas
ototóxicas. Ainda observando a prioridade dos trabalhos aqui citados em utilizar normo-ou-
vintes como grupo amostral, todos os indivíduos expostos, tanto a ruído como a ototóxicos,
demonstraram limiares mais elevados de 250Hz a 20kHZ, com maior predisposição nas
altas frequências. 

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03
Avaliação da composição proteica e
da rotulagem de diferentes marcas de
suplementos para atletas

Andréia Alves Rosa


Universidade de Brasília - UNB

Artur Guerra Rosa


Universidade de Brasília - UNB

Márcio Antonio Mendonça


Universidade de Brasília - UNB

'10.37885/221211552
RESUMO

Os suplementos alimentares são produtos que proporcionam benefícios à saúde de seus


consumidores, uma vez que possuem em sua composição nutrientes capazes de suprir as
deficiências de alguns nutrientes no organismo. Dentre os inúmeros suplementos, o chama-
do whein protein ou suplementos para atletas, ganham cada vez mais adeptos atualmente.
Neste contexto, a averiguação frente às fraudes realizadas pelos fabricantes com o intuito de
gerar principalmente vantagens financeiras, é um procedimento que deve ser considerado
junto aos órgãos fiscalizadores a fim de garantirem produtos com qualidade nutricional e
segurança alimentar dos consumidores. Uma das principais fraudes observadas é em relação
a composição de proteínas do produto e a informação na rotulagem do produto. Portanto,
esse trabalho teve como objetivo comparar a porcentagem de proteínas no produto comer-
cializado junto a informação contida na rotulagem da embalagem do respetivo produto. E, a
partir das análises de proteínas realizadas em 13 marcas de whein protein comercializadas
no Distrito Federal, observou-se que sete estavam em desacordo com a porcentagem apre-
sentada no rótulo das amostras analisadas, o que leva a concluir que deve haver uma maior
preocupação pelos órgãos de fiscalização frente à qualidade dos produtos comercializados
para o público alvo desses suplementos alimentares.

Palavras-chave: Suplemento Alimentar, Whein Protein , Proteínas, Rotulagem,


Segurança Alimenta.
INTRODUÇÃO

Os suplementos alimentares são definidos, segundo a Instrução Normativa 76/2020


(BRASIL, 2020), como “produtos que não tratam, previnem ou curam doenças, ou seja, não
são considerados medicamentosos”. Eles são destinados a pessoas saudáveis, tendo como
finalidade o fornecimento de nutrientes (vitaminas e minerais), substâncias bioativas e pro-
bióticos, para que haja a complementação da alimentação”. A criação dessa nova categoria
alimentar, foi realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a fim de
proporcionar o consumo de alimentos de qualidade e que proporcionem segurança alimentar.
Dentre as categorias que se enquadram na Instrução Normativa vigente, os suplementos
para atletas (whein protein), estão entre os mais consumidos por indivíduos que almejam
um maior desempenho frentes às atividades físicas. Esse suplemento é produzido a partir
da proteína do soro do leite, devido à alta concentração de aminoácidos essenciais em sua
composição, com a finalidade de prevenir tanto a hipertrofia quanto a manutenção da massa
muscular de quem os consome. A maioria desses suplementos são comercializados de duas
formas: a concentrada, onde o teor de proteica é de 29 a 89% e, a forma isolada, onde a
concentração é de até 90% (DA SILVA, 2019).
Devido ao grande consumo desses suplementos junto à população, faz-se necessário
um processo rigoroso de fiscalização, em consequência do alto índice de fraudes encontrados
nestes produtos com o objetivo, principalmente, econômico por parte dos fabricantes. Para
tanto, a análise da composição nutricional é um procedimento de grande importância a fim de
assegurar tanto a qualidade do alimento, quanto a segurança alimentar dos consumidores.
Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi realizar a comparação da composição
proteica junto a rotulagem do produto disponível no comércio varejista do Distrito Federal.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram analisadas 13 marcas de proteínas para atletas (whein protein) comercializadas


no varejo do Distrito Federal de outubro de 2019 até fevereiro de 2020; adicionalmente foram
selecionadas apenas produtos nacionais. As análises foram realizadas no Laboratório de
Análise de Alimentos da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade
de Brasília, Brasília, DF. As marcas foram analisadas em triplicata para maior confiabilidade
dos resultados. A metodologia usada foi a de semi-micro Kjeldahl, segundo metodologia
preconizada pelo Instituto Adolfo Lutz (ILAL, 2005), segundo padrões preconizados pela
Instrução Normativa Nº 76 (BRASIL, 2020); posteriormente os dados foram comparados com
a rotulagem (em relação a proteína). Foi realizada a análise de variância e o teste de média
Tukey a 5% de probabilidade nas marcas usando o programa estatístico R CODE TEAM®.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das análises dos teores de proteínas e a comparação junto à rotulagem


de cada marca do produto estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Porcentagem do teor de proteínas encontrados em 13 marcas de whein protein versus porcentagem descrita
na rotulagem, comercializados no varejo do Distrito Federal.

Marca Proteína (%) Rotulagem


A* 44,25i > 62%
B* 56,91h > 60%
C* 69,30f > 75%
D 73,15e > 72%
E* 82,28cd > 94,09%
F* 36,71k > 80%
G 82,94bc > 80%
H* 70,41f > 80%
I 81,10d > 80%
J 83,76b > 80%
L 93,73a > 85%
M 62,06g > 58,46%
N* 42,06j > 80%
Letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

É possível observar que as marcas A, B, C, E, F, H e N não obtiveram teor mínimo


mostrado na embalagem, sendo que grande parte não alcançou a marca de 80%, onde as
marcas A, F e N tiveram níveis alarmantes de discrepância, demonstrando uma clara vio-
lação das normas. A grande exceção foi a marca E, que obteve teor de proteína acima de
80%, mas vendia ao teor de 94,09%.
Pelos agrupamentos, é possível observar uma tendência de grupos maiores atingirem a
norma, salvo exceções como a marca E. Isso pode ser explicado por um padrão comum de
vender o teor de 80%, então grande da parte das marcas que atingiram as normas estavam
neste teor, assim consequentemente sendo agrupadas em grupos maiores.

CONCLUSÃO

A partir do estudo realizado, foi observado que sete das 13 marcas analisadas, encon-
tram-se com teores de proteínas inferiores aos indicados nos respectivos rótulos. Faz-se
necessário, portanto, uma maior atenção por parte dos órgãos fiscalizadores com objetivo
de evitar tais fraudes junto aos produtos comercializados.

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REFERENCIAS

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Instrução Normativa Nº 76,


de 05 de novembro de 2020. Dispõe sobre a atualização das listas de constituintes, de
limites de uso, de alegações e de rotulagem complementar dos suplementos alimentares.
A IN 76/2020 altera a IN 28/2018. 

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa


(IN) 76/2020, que dispõe sobre a atualização das listas de constituintes, limites de uso,
alegações e rotulagem complementar dos suplementos alimentares. A IN 76/2020 altera
a IN 28/2018. Diário Oficial da União. Brasília. DF. 2020

DA SILVA, D. O. Análise crítica de regulamentação de suplementos alimentares no Brasil.


Estudo de caso: whein protein. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica
da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. 27p. 2019.

ILAL. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Métodos Fí-
sico-Químicos para Análise de Alimentos, 4 ed. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado
de São Paulo, v.1, 201p. 2005.

R Core Team. R: A Language and Environment for Statistical Computing. R Foundation


for Statistical Computing. Vienna: R Core Team, 2017.

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04
Avaliação da qualidade de leites
padronizados produzidos nos Estados de
Goiás e Minas Gerais e comercializados no
Distrito Federal

Andréia Alves Rosa


Universidade de Brasília - UNB

Artur Guerra Rosa


Universidade de Brasília - UNB

Márcio Antonio Mendonça


Universidade de Brasília - UNB

'10.37885/230111625
RESUMO

O leite é um produto rico em proteínas, carboidratos e vitaminas sendo um alimento de alto


valor nutricional. Pela sua composição físico-química é um meio propício ao desenvolvimento
de micro-organismos. A obtenção, o beneficiamento e o armazenamento devem ser feitos
de maneira higiênica para garantir a qualidade final do produto. O objetivo deste trabalho
foi avaliar a qualidade físico-química e microbiológica de sete marcas de leite padronizado
comercializada no Distrito Federal. As amostras foram oriundas de sete laticínios do Estado
de Goiás e de Minas Gerais. As análises foram realizadas no Laboratório de Análise de
Alimentos da Universidade de Brasília seguindo normas do Instituto Cândido Tostes. Os re-
sultados foram comparados aos limites estabelecidos pela Instrução Normativa n°76. Os re-
sultados revelam qualidade satisfatória para os parâmetros físico-químicos para as setes
marcas. Entretanto, as análises qualitativas de eficiência da pasteurização e microbiológica
indicam leites impróprios para o consumo humano. Não foi detectado presença de antibió-
ticos nas marcas.

Palavras-chave: Leite, Físico-Química, Microbiologia, Antibióticos.


INTRODUÇÃO

O leite é um alimento biológico de alto valor nutricional fundamental na dieta infantil.


Devido à sua composição físico-química rica em carboidrato, proteínas e vitaminas o leite
é um meio propício ao desenvolvimento de micro-organismos patogênicos. O controle da
qualidade do produto final depende da saúde do animal, do beneficiamento dentro dos
padrões estabelecidos pela legislação e do armazenamento adequado. Qualquer falha em
uma dessas etapas compromete a qualidade do leite. É de suma importância o controle da
qualidade do leite com o máximo de higiene para evitar contaminações em qualquer uma
dessas etapas (Moura, 2012). O objetivo desse trabalho foi avaliar a qualidade fisíco-química
e microbiológica de sete marcas de leite padronizados produzidos nos Estados de Goiás e
Minas Gerais e comercializados no Distrito Federal.

MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Análise de Alimentos da Faculdade


de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília, Brasil. As análises foram
realizadas em sete marcas de leite padronizadas comercializadas no Distrito Federal, mas
produzidas nos estados de Goiás e Minas Gerais. A amostragem ocorreu mensalmente,
correspondente aos meses de março de 2017 a dezembro de 2018. Todos os testes foram
feitos em triplicata, a fim de permitir maior confiabilidade nos resultados.
As características físico-químicas foram analisadas conforme metodologia adotada
pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2005). As análises de variância para cada parâmetro, assim
como a comparação das médias pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância, foram
efetuadas pelo software SAS.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das análises físico-químicas das sete marcas de leites padronizado


produzidos nos Estados de Goiás e Minas Gerais e comercializados no Distrito Federal
encontram-se na Tabela 1.

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Tabela 1. Análise físico-química de sete marcas de leite padronizado produzidas nos Estados de Goiás e Minas Gerais.
IC D LIP
Marca AC (°D) EST (%) ESD (%) PROL (%) PROS (%)
(ºH) (g/mL) (%)
A 14,65b -0,5040a 1,030b 11,37b 8,41b 3,00ab 3,06a 0,89a
B 16,38a -0,5380a 1,031ab 11,86ab 8,71ab 3,30ab 3,38a 1,01a
C 16,51 a
-0,5344 a
1,031 ab
12,22ª 8,90 ab
3,35ª 3,44 a
1,02a
D 15,74ab -0,5397a 1,031ab 11,65ab 8,65ab 3,06ab 3,15a 0,95a
E 15,41 ab
-0,5410 a
1,031 ab
11,56 ab
8,66 ab
2,91 b
2,88 a
0,96a
F 16,78a -0,5367a 1,032a 12,10ab 8,98a 3,11ab 3,16a 0,86a
G 15,64 ab
-0,5352 a
1,0312 b
11,83 ab
8,72 ab
3,11 ab
3,16 a
0,89a
AC = acidez dornic; IC = índice crioscópico; D = densidade; EST = extrato seco total; ESD = extrato seco desengordurado; LIP
= lipídios; PROL = proteína do leite; PROS = proteína do soro. Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatis-
ticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Embora exista diferença significativa entre os tratamentos no parâmetro acidez Dornic,


todas as marcas se encontram dentro dos padrões estabelecidos pela Instrução Normativa
76, estando entre 14 e 18 °D (Brasil, 2018). O mesmo acontece com a densidade, estando
todas as marcas com médias situadas no intervalo de 1,028 a 1,033 g/mL; e também com
os valores de extrato seco total e extrato seco desengordurado, os quais são superiores a
11,2 % e 8,2%, respectivamente. Na análise de teor de lipídios, apenas a marca E obteve
média inferior ao determinado pela legislação vigente, que é superior a 3%.
Apenas índice crioscópico não apresentou diferença estatística entre os tratamentos.
Entretanto, a marca A encontra-se com valor em desacordo com o padrão determinado pela
legislação, que considera o valor máximo -0,530 °H. O resultado poderia indicar adição de
água ao leite, porém a densidade encontra-se com valor normal, e as análises de colifor-
mes totais e coliformes termotolerantes apresentadas na Tabela 2, indicam problemas na
saúde dos animais.
Na Tabela 2 encontram-se os resultados das análises qualitativas do leite por meio
de testes de eficiência da pasteurização (fosfatase e peroxidase), detecção de presença
de antibióticos (Eclipse e Twinsensor) e qualidade microbiológica pela presença de salmo-
nela e coliformes.

Tabela 2. Análise qualitativa de sete marcas de leite padronizado produzidas nos estados de Goiás e de Minas Gerais e
comercializadas no Distrito Federal.
C. termotolerantes
Marca Fosfatase (%+) Peroxidase (%-) Eclipse Twinsensor Salmonela C. totais NMP/mL
NMP/mL
A 100 52,9 100 100 100 52,9 82,3
B 100 86,6 100 100 93,3 80,0 93,3
C 100 100 100 100 100 37,5 68,7
D 100 88,8 100 100 100 72,2 77,7
E 100 87,5 100 100 100 31,2 87,5
F 100 100 100 100 100 76,4 94,1
G 100 94,4 100 100 100 22,2 77,7
Porcentagem de amostras em conformidade com a legislação vigente (IN°76/MAPA).

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CONCLUSÃO

A qualidade físico-química das marcas analisadas encontra-se dentro dos pa-


drões estabelecidos pela legislação vigente. No entanto, a partir das análises realizadas,
observou-se que a qualidade microbiológica das mesmas, é considerada imprópria para
o consumo humano.

REFERENCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 76.


Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, p. 13, 2018.

INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz: Métodos químicos
e físicos para análise de alimentos. 4 ed. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2005, 1018p.

MOURA, L. B. de Análise microbiológica de leite pasteurizado tipo C destinado ao programa


leite é saúde no Ceará. Revista Verde, Mossoró, RN, v. 7, n. 5, p. 87-90, 2012.

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05
Características evolutivas do
desenvolvimento do bebê pré-termo de
extremo baixo peso

Lucieny Almohalha
UFTM

Marcela Neves Bataglião


UFTM

'10.37885/221010569
RESUMO

Objetivo: Analisar o desenvolvimento de bebês pré-termo de extremo baixo peso e descrever


suas características evolutivas nos primeiros dois anos de vida. Métodos: Trata-se de um
estudo transversal, exploratório e descritivo com abordagem quali-quantitativa. A amostra foi
composta por 20 participantes, sendo 10 pais/cuidadores e 10 bebês pré-termo de extremo
baixo peso de 0 até 2 anos de idade corrigida. A coleta de dados consistiu na aplicação
de dois instrumentos avaliativos: Ficha de Caracterização da Amostra que examinava os
dados da história pregressa e a escala motora nomeada Alberta Infant Movement Scale.
Resultados/Discussão: Seis bebês eram meninos e 4 meninas, com média de peso de
960 gramas. Sete eram prematuros extremos. A caracterização geral do desenvolvimento
atual dos bebês mostra que os bebês não apresentavam atrasos no desenvolvimento motor
ampla e fino, percepto-cognitivo e psicossocial-emocional segundo os testes usados. Do total
de participantes, sete bebês se encontravam com o desenvolvimento motor adequado para
idade corrigida e três foram categorizados como atraso no desenvolvimento. Conclusões:
Observou-se que o desenvolvimento dos bebês pré-termo que participaram do estudo apre-
sentou sequência progressiva normal nas habilidades motoras, independente do peso de
nascimento. Acredita-se que esses resultados são decorrentes das orientações que os
cuidadores receberam e seguiram e da participação dos bebês em programas de follow-up.

Palavras-chave: Prematuridade, Baixo Peso ao Nascimento, Desenvolvimento Motor, Risco


ao Desenvolvimento, Aprendizagem.
INTRODUÇÃO

O sistema nervoso central dos bebês está em plena plasticidade nos primeiros meses
de vida, sendo capaz de processar diversos estímulos sensoriais advindos do próprio orga-
nismo da criança quanto do ambiente onde ela se insere (SILVEIRA, 2012), dessa forma a
criança será capaz de se adequar às demandas do ambiente e realizar as tarefas que são
típicas para sua idade No entanto, o nascimento prematuro pode impor situações diferen-
tes aos bebês que os impede de conseguir adequar-se as demandas do meio (FONSECA
e SCOCHI, 2014).
O recém-nascido pré-termo (RNPT) é mais vulnerável biologicamente que um bebê
nascido de termo, e essa vulnerabilidade pode ser decorrente de uma imaturidade orgânica e
neurológica que, muitas vezes, exige suportes especiais (FONSECA e SCOCHI, 2014) para
manutenção da vida, da saúde e do desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS), designa-se como RNPT, a criança que nasceu com idade anterior a 37 sema-
nas gestacionais, podendo ainda ser classificada como a) prematuridade extrema: aquela de
nascimento antes de 28 semanas; b) muito prematuro: com nascimento entre 28 e 31 sema-
nas e seis dias de gestação; e c) prematuridade moderada e tardia: quando o nascimento se
dá entre a 32 e a 37 semana de gestação respectivamente (WHO, 2018; SANTOS, 2017).
A OMS (2018), apresentou uma prevalência onde foi verificado que nascem, anual-
mente, em torno de 15 milhões de bebês, e que mais de um milhão desses bebês morrem
dias após o parto prematuro (WHO, 2018). A prematuridade é considerada a segunda causa
de morte de crianças com menos 5 anos de idade, perdendo apenas para casos de pneu-
monia. No, entanto, estudos da própria OMS, apontam que, 75% desses bebês prematuros
poderiam ser salvos com adoção de medidas simples, como aplicação de antisséptico e
antibióticos para evitar infecções e sepses que geram os óbitos (BRASIL, 2016). O Brasil
e os Estados Unidos estão entre os dez países com os maiores índices de nascimentos
prematuros, sendo que o Brasil aparece em décimo lugar, com 279 mil partos prematuros
por ano. A taxa brasileira é 9,2 dos bebês prematuros, igual à da Alemanha e inferior à dos
Estados Unidos, que chega a 12% (WHO, 2018).
A imaturidade neurobiológica é um fator que pode levar o RNPT a desenvolver disfun-
ções que comprometerão seu desenvolvimento e interferirão em suas habilidades funcionais,
ocupacionais (BRASIL, 2016, CAÇOLA e BOBBIO, 2010) e acadêmicas. Sabe-se que 10
a 15% dos RNPT desenvolvem uma grande variedade de sequelas no desenvolvimento
neurológico durante a infância e que 30 a 40% deles apresentam desordens motoras, com-
portamentais e de aprendizado na idade escolar (CAÇOLA e BOBBIO, 2010).
O extremo baixo peso (EBP) é um outro fator determinante da classificação da pre-
maturidade e está diretamente relacionado a morbimortalidade infantil assim como aos

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comprometimentos no desenvolvimento neuropsicomotor da infância. As crescentes evidên-
cias mostram que esses RNPT de extremo baixo peso estão exibindo problemas neurocom-
portamentais e de aprendizagem, mesmo na ausência de paralisia cerebral, observados nos
programas de seguimentos da infância até a adolescência, tornando-se um grande problema
de saúde pública, da educação e se tornou motivo de diversas pesquisas (SANTOS, 2017).
A literatura mostra uma extensa lista de problemas relacionados com o desenvolvimento
motor, cognitivo e social de bebês prematuros, sendo o domínio motor uma das três princi-
pais áreas do desenvolvimento que poderá ser influenciada pela prematuridade (CAÇOLA
e BOBBIO, 2010). Deve-se ressaltar que anormalidades motoras ou atrasos são manifes-
tações clínicas poderosas para detectar problemas neurológicos e que podem impactar o
comportamento educacional.
O aumento no número de nascimentos prematuros, assim como altas taxas de so-
brevivida decorrentes de uma assistência tecnológica mais adequada a esse prematuro
amparadas por políticas nacionais de humanização a assistência desde 2000, justifica a
importância da realização de pesquisas nesse âmbito, bem como, a necessidade de criação,
implementação e avaliação de programas de intervenção precoce. Este é um modelo de
assistência voltado para o cuidado humanizado que reúne estratégias de intervenção biop-
sicossocial que devem endereçar o acompanhamento do desenvolvimento de todos esses
bebês, especialmente aqueles com limitações transitórias ou permanentes. Cabe ressaltar
que o bebê prematuro apresenta um desejo enorme de se recuperar (FONSECA e SCOCHI,
2014). Logo, as intervenções precoces, devem envolver avaliações e estimulações de todas
as áreas do desenvolvimento infantil e ainda focar em práticas centradas nas demandas da
família e contextos (SILVEIRA, 2012).
Levando em consideração tais expostos, pode ser dizer que a estimulação precoce
auxilia na otimização do processo de desenvolvimento, facilitando a aquisição neuro-sensó-
rio-motora, emocional e social do recém-nascido nos seus primeiros anos de vida. A estimu-
lação precoce permite que o bebê vivencie estímulos de grande importância, mas também
deve ser ressaltado a influência do dia a dia, do ambiente externo e da forma como ele é
cuidado (FONSECA e SCOCHI, 2014).
Mediante tais fatores, o objetivo do presente estudo foi analisar o desenvolvimento de
bebês pré-termo de extremo baixo peso, compreender suas características e descrever as
evoluções evidenciadas.

MÉTODOS

Foi realizada uma pesquisa exploratória, transversal, descritiva com abordagem quali-
-quantitativa, por amostra de conveniência, com 10 pais/cuidadores e 10 bebês pré-termo de

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extremo baixo peso (menor que 1000 gramas ao nascimento) com idade corrigida de 0 até 2
anos no momento da pesquisa. Foram incluídos cuidadores de RNPT nascidos com extremo
baixo peso que aceitaram participar da pesquisa, assinaram o termo de consentimento livre
e esclarecido e que permitiram a participação de seus bebês para serem examinados pelos
testes utilizados na pesquisa. A participação dos cuidadores era necessária uma vez que
foi preciso realizar uma anamnese com eles para coletar dados da história pregressa e do
desenvolvimento, assim como para responder a questões qualitativas dos instrumentos de
coleta. Não foram incluídos bebês em diferentes idades ou que não nasceram pré-termo de
extremo baixo peso. A idade das crianças, mesmo corrigida, não eram iguais, mas todas se
enquadravam dentro do que é exigido pelas normativas do teste utilizado na referida pesqui-
sa. Logo, é possível dizer que a diferença nas idades não estaria diretamente relacionada
ao tempo de estimulação recebido ou a possíveis adaptações devido a idade e intervenção.
Todos os participantes frequentavam um ambulatório de pediatria de uma universidade pú-
blica da região do Triangulo Mineiro, Brasil.
Para a coleta dos dados foram utilizados dois instrumentos: uma ficha de anamnese e
o Alberta Infant Motor Scale (AIMS) (PIPER e DARRAH, 1994). A ficha de anamnese con-
tinha informações sociodemográficas, história pre, peri e pós-natal, parto e hospitalização
além de dados gerais do desenvolvimento da criança até o momento da pesquisa. O AIMS
é um instrumento de medida observacional do desempenho motor que avalia, monitora e
documenta o desenvolvimento motor grosseiro de bebês a termo e pré-termo, por meio da
observação de habilidades motoras sequenciais do desenvolvimento, desde o nascimento
até os 18 meses de vida ou até a aquisição da marcha independente (PIPER e DARRAH,
1994). Consiste em uma escala de 58 itens, distribuídos em quatro subescalas (posturas):
supina (9 itens), prona (21 itens), sentada (12 itens), e em pé (16 itens). Para cada um dos
itens têm-se descritores-chaves que devem ser identificados e observados para o bebê ser
aprovado naquele item. Os padrões motores e as posturas são analisados usando-se três
critérios: alinhamento postural, movimentos antigravitacional e superfície de contato, o que
caracterizará o controle do bebê em cada nível postural, sua habilidade em mover-se dentro
e fora da postura e sua janela motora em cada subescala. A janela motora é composta por
todos os itens alocados entre os itens menos e mais maduros observados no repertório motor
do lactente. A pontuação é feita por meio da observação dos itens, e quando determinadas
habilidades motoras estão presentes pontua-se “observado” (O) e o lactente recebe um
ponto. Quando não se observa a habilidade pontua-se “não observado” (NO) e o lactente
não recebe pontuação. Conforme a pontuação e a idade, o bebê pode pontuar na faixa do
percentil 5, 10, 25, 50, 75 ou 90 (CABRAL, 2012; PIPPER; DARRAH, 1994).

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Os dados foram plotados em tabelas do Microsoft Word® 2010, onde se atribuiu valo-
res numéricos aos participantes e a análise estatística descritiva simples foi realizada com
frequências absoluta e relativa média (COZBY, 2003). Para a análise qualitativa foi utilizado
o método de análise de conteúdo, através da modalidade temática (CAREGNATO e MUTTI,
2006). Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
da Universidade Federal do Triângulo Mineiro segundo parecer 3.461.633.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em relação ao perfil dos 10 cuidadores participantes, a idade materna variou entre 16 e


41 anos (média 30 anos e 09 meses), e a idade paterna, entre 21 e 44 anos (média 33 anos
e 04 meses). Em outro estudo, no qual foi analisado 579 partos, a média da idade materna
foi de 27,7 anos, sendo menor do que encontrado nesse estudo (ALMEIDA et al, 2008).
Em estudo realizado em Feira de Santana, Bahia, mostrou que o risco de parto pre-
maturo aumentava com a diminuição da idade materna (AUGER, HANSEN, MORTENSEN,
2013). Em contrapartida, outro estudo, evidencia que mulheres com 40 anos ou mais ti-
nham 2,6 mais partos prematuros em 100 nascimentos do que mulheres entre 25 e 29 anos
(MARTINS et al, 2011). Então, nota-se que mulheres adolescentes (menores de 20 anos) e
com idade avançada (maiores de 34 anos) apresentaram associação com o parto prematura.
Em relação a escolaridade materna, os achados foram: duas responsáveis referiram
ensino fundamental completo; cinco possuem ensino médio completo e dois, incompleto;
somente uma possuía ensino superior. Já a relação da escolaridade paterna, obteve-se os
seguintes achados: três responsáveis referiram ensino fundamental incompleto e um, ensino
fundamental completo; um possuía ensino médio completo e um, incompleto; somente dois
possuíam ensino superior; dois responsáveis optaram por não responder ao item. Dentre as
profissões/ocupações quatro mães eram do lar, as demais relataram ser estudante, manicure,
recepcionista, caixa de mercado, vendedora e auxiliar administrativa. Em relação ao perfil
dos pais, as profissões/ocupações foram muito diversificadas, tais como pedreiro, colhedor,
tratorista, usineiro, vigilante, linha de produção, encarregado de jardinagem. Dentro os dez
pais, um estava desempregado no momento da pesquisa.
A escolaridade da mãe tem sido apontada como um fator de risco importante para a
mortalidade neonatal e para os nascimentos de baixo, afirmando que as mães com baixa
escolaridade constituem um grupo social em desvantagem de recursos materiais e de apoio
social (GONZAGA et al 2016; SILVEIRA, 2012; LEAL, GAMA, CUNHA, 2006). No presente
estudo, não foi encontrada associação significativa entre a escolaridade materna e o óbito
neonatal, prevalecendo entre os casos escolaridade de até 11 anos.

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No quesito econômico, sete famílias declararam renda mensal de um a dois salários-
-mínimos; duas famílias de três a quatro salários; uma de cinco a 10 salários. Neste estudo
o perfil socioeconômico da população mostrou-se similar ao encontrado por outros autores,
em que a renda familiar mensal é de até um salário-mínimo (SILVA e MONTEIRO, 2010;
GONZAGA et al, 2016).
A análise dos dados relacionados a caracterização dos bebês ao nascimento mostrou
que seis eram meninos e quatro meninas. Um bebê tinha de 0 a 3 meses, dois de 4 a 6 me-
ses, três de 7 a 12 meses e quatro de 13 a 18 meses. A média do peso entre as crianças foi
de 960 gramas e a média da estatura 33,3 centímetros. Os dados da caracterização estão
mais detalhados na Tabela 1. Sete bebês possuem apenas o diagnóstico de pré-termos
extremo, o restante possui em conjunto com a prematuridade extrema outro diagnóstico
associado, os quais são: hidrocefalia, hipotireoidismo, displasia pulmonar, epilepsia e car-
diopatia congênita. A maioria das crianças utilizava algum tipo de medicação, no entanto
não foram realizadas análises estatísticas que pudesse mencionar alguma correlação entre
o uso de medicação e possível interferência no desenvolvimento. Além disso, os instrumen-
tos utilizados pata a coleta de dados não determina a necessidade de realizar correlações
entre variáveis. Em relação ao teste de Apgar, todos os bebês apresentaram notas inferiores
a 7 no primeiro minuto e superiores a 8 pontos no quinto minuto. Três bebês não tinham
essas notas em seus registros. A tabela 1 apresenta os dados do perfil dos bebês partici-
pantes da pesquisa.

Tabela 1. Caracterização dos Bebês ao nascimento segundo relato do cuidador.

Bebê Sexo Peso (grs) Estatura (cm) IG * ICr ** ICo *** Internação (dias) Diagnóstico Clínico
1 F 640 34 24 18m 14m 150 RNPT
RNPT, Hidrocefalia, Hipotiroi-
2 F 630 26 24 12m 8m 182
dismo
3 F 26 8m 4m14d 91 RNPT
4 M 1280 37 28 16m 13m 61 RNPT, Hidrocefalia
5 M 1045 37 32 2m 0m 47 RNPT
6 F 1007 39 32 15m 13m 53 RNPT
7 M 790 30 26 13m 9m14d 108 RNPT
8 M 1390 37 31 14m 12m 55 RNPT
9 M 805 NI 29 14m 9m7d 74 RNPT
RNPT, Displasia Pulmonar,
10 M 1210 34 29 9m 6m 106
Epilepsia, Cardiopatia
*(IG/SEM) Idade Gestacional por semanas; **(ICr) Idade cronológica; *** (ICo) Idade Corrigida; (NI) Não Informado; (RNPT) Recém-na-
scido Pré-Termo.
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

Em relação ao teste de Apgar, todos os bebês apresentaram notas inferiores a 7 no


primeiro minuto e superiores a 8 pontos no quinto minuto. Esse dado é interessante pois
revela que mesmo que tenham nascido com dificuldades, houve recuperação fisiológica

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rápida na avaliação após minutos e isso indica um bom prognóstico e grandes chances de
sobrevida. Esse resultado vem em contraponto aos achados na literatura, os quais dizem
que a média do índice de Apgar no 1º minuto de vida foi de 4,6 variando entre 1 e 8, e no 5º
minuto de 6,14, variando entre 0 e 9. Com isso, recém-nascido (RNs) prematuros extremos
e RNs com baixos índices de Apgar no 1º e 5º minuto tem evolução complicada, provocando
alterações neurológicas (QUEIROZ, GOMES, MOREIRA, 2018).
A caracterização geral do desenvolvimento atual dos bebês apresentados na Tabela
2, mostra que os bebês não apresentavam atrasos no desenvolvimento motor ampla e fino,
percepto-cognitivo e psicossocial-emocional. No desenvolvimento motor, foi notado que
dentre os 14 itens avaliados, os bebês realizaram 12: controla a cabeça, leva mão à boca,
leva objetos à boca, segura objetos com uma mão, segura objetos com as duas mãos,
bate dois objetos, rola, senta, engatinha, fica de pé, anda com apoio, segue objetos com o
olhar. Em relação ao desenvolvimento percepto-cognitivo, dentre os 8 itens avaliados, os
bebês realizaram cinco: responde os chamados pelo nome, percebe sons do ambiente,
discrimina pessoas familiares, reconhece objetos familiares, utiliza gestos para se comuni-
car. Referente ao desenvolvimento psicossocial-emocional, notou-se que a maior parte das
crianças eram agitadas, felizes e gostavam de estar com outras crianças. Os itens que não
foram realizados não eram compatíveis com as idades dos bebês.

Tabela 2. História geral do desenvolvimento segundo relato dos cuidadores.


Itens Sim Não Itens Sim Não
Controla a cabeça 7 3 Percebe sons do ambiente 9 1
Leva mão à boca 8 2 Responde se chamado pelo nome 8 2
PERCEPTO-COGNITIVOS

Leva objetos à boca 8 2 Discrimina pessoas familiares 10 0


Segura objetos com uma mão 8 2 Reconhece objetos familiares 7 3
Segura objetos com as 2 mãos 6 4 Reconhece partes do corpo 2 8
Bate dois objetos 6 4 Imita gestos 5 5
MOTORES

Rola 7 3 Utiliza gestos para se comunicar 6 4


Senta 7 3 Verbaliza o que quer 2 8
Engatinha 7 3 Gosta de estar com outra criança 7 3
SOCIOEMOCIONAL

Ficar de pé 7 3 Chora muito 4 6


Anda com apoio 6 4 Nervosa 5 5
Anda independente 1 9 Agitada 7 3
Alimenta sozinha 2 8 Quieta 3 7
Segue objetos com o olhar 8 2 Feliz 9 1
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

Com base nos resultados do presente estudo, observou-se que o desenvolvimento dos
bebês pré-termo que participaram apresentou um desenvolvimento adequado segundo os
principais marcos normativos, o que se acredita ser decorrente das orientações que as mães
receberam e da participação dos bebês em programa de follow-up. Segundo Brandão (1992),
a intervenção é precoce se ocorre antes que padrões de postura e movimentos anormais se

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instalem, sendo os primeiros quatro meses o período ideal para iniciar o programa. E tem
como objetivo acompanhar, orientar e estimular o desenvolvimento do bebê em risco. A con-
tribuição da intervenção precoce sobre o desenvolvimento do recém-nascido em risco tem
sido estudada por diversos autores (SHAPIRO-MENDOZA, 2013; GROSS e PANIAGUA,
2012). Então, alguns estudos, ressaltam a importância da intervenção multidisciplinar pre-
coce e aponta benefícios significativos em relação ao desenvolvimento dos bebês, quando
comparado às crianças que não passaram pela intervenção (CHEN et al, 2014).
A tabela 3 apresenta dados da análise postural e observação motora dos bebês
participantes. Esses dados foram verificados e pontuados pelo pesquisador com cada
bebê. Os bebês foram colocados nas posturas: supino, prono, sentado, de gato, ajoelhado,
de pé, e andando.

Tabela 3. Análise postural e observação motora segundo pesquisadores.

Postura Observação Sim Não


Simetria 8 2
Alterações no tônus 1 9
Alterações padrão das articulações 1 9
Controle de cabeça 8 2
Supino Manobra de tração nos braços 8 2
Mudança de decúbito (para lado Direita/Esquerda) 7 3
Mudança de decúbito (para prono) 7 3
Passa para sentado (Sozinho/Com apoio) 5 5
Manipula objetos (Como? É simétrico?) 8 2
Eleva a cabeça 8 2
Simetria 8 2
Apoia nos antebraços 6 4
Apoia nas mãos com braços estendidos 5 5
Pega objetos com uma das mãos (D ou E) 7 3
Alcança objetos 7 3
Prono
Pega objetos com as duas mãos 7 3
Rola para supino 7 3
Rola para E ou D 7 3
Locomoção (se arrasta/engatinha) 7 3
Muda de prono para sentado 6 4
Muda de prono para gato 7 3

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Postura Observação Sim Não
Simetria 7 3
Descarga de peso em um lado (D/E) 5 5
Controle de cabeça 7 3
Controle de tronco 7 3
Permanece na posição sem apoio 7 3
Assume a postura sozinho 7 3
Senta de lado (D/E) 7 3
Faz transferência de peso 7 3
Sentado
Passa para a posição de gato 7 3
Passa para de pé 5 5
Reação de apoio para frente 7 3
Reação de apoio para os lados (D/E) 7 3
Reação de apoio para atrás 6 4
Reação de equilíbrio sentado 7 3
Reação de endireitamento (D/E) 7 3
Manipula objetos 7 3
Permanece sozinho na posição 7 3
Transfere peso para os braços 7 3
Apoio com as mãos 7 3
De gato
Engatinha 6 4
Passa para a posição sentada 7 3
Passa para a posição de pé 1 9
Ajoelha a partir de gato 5 5
Transferência de peso para frente 5 5
Transferência de peso para atrás 5 5
Transferência de peso para os lados (D/E) 5 5
Ajoelhado
Reação de equilíbrio 5 5
Reação de endireitamento 5 5
Permanece sem apoio 5 5
Passa para de pé 4 6
Levanta do chão 6 4
Levanta do ajoelhado 4 6
Levanta da posição de cócoras 1 9
Fica de pé independentemente 4 6

De pé Fica de pé com apoio 6 4

Simetria 4 6

Transferência de peso (D/E) 3 7


Reação de equilíbrio 3 7
Reação de endireitamento 3 7
Anda independente 2 8
Simetria 10 0
Transferência de peso (D/E) 2 8
Reação de equilíbrio 2 8
Andar Reação de endireitamento 2 8
Consegue parar quando anda 2 8
consegue parar quando corre 0 10
Consegue correr mantendo o equilíbrio 0 10
Apresenta coordenação visuo-pedal 1 9
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

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Estudos afirmam que recém-nascidos prematuros e com baixo peso ao nascer têm alto
risco para apresentar problemas de desenvolvimento e maior vulnerabilidade da criança em
não desenvolver habilidades motoras relevantes nos primeiros meses de vida (LINHARES
et al, 2003). Em consonância a esta informação, pesquisa realizada com 21 lactentes, evi-
denciou que 61,9% das crianças apresentaram desenvolvimento motor alterado (suspeito
e atraso) (RESTIFFE e GHERPELLI, 2012).
Em relação às aquisições motoras, um estudo mostrou que a aquisição da marcha e do
sentar em crianças prematuras nascidas com baixo peso foram mais tardias quando com-
paradas às de crianças nascidas a termo (RESTIFFE e GHERPELLI, 2012). Corroborando,
Saccani et al (2013) que destacaram correlação direta e significativa entre o peso ao nas-
cer e os percentis de desempenho referentes às posturas prono, supino, sentado e em
pé. Em contrapartida, alguns estudos não encontraram correlação entre o baixo peso ao
nascer e o desenvolvimento motor (DATAR e JACKNOWITZ, 2009; VOLPI et al, 2010).
Os dados da Tabela 4 demonstram o desenvolvimento motor amplo dos bebês partici-
pantes segundo o critério de caracterização da escala AIMS. Do total de participantes, sete
bebês se encontravam com o desenvolvimento motor adequado para idade corrigida e três
foram categorizados como atraso no desenvolvimento.

Tabela 4. Caracterização do desenvolvimento motor dos bebês estudados.

BEBÊ PRONO SUPINO SENTADO EM PÉ SCORE CLASSIFICAÇÃO NORMATIVA


1 21 9 12 13 55 T
2 1 0 1 0 2 AT
3 4 3 1 2 10 AT
4 21 9 11 11 52 T
5 1 0 0 1 2 AT
6 21 9 11 11 52 T
7 21 9 11 11 52 T
8 20 9 11 11 51 T
9 21 9 11 15 56 T
10 21 9 11 4 45 T
T: Típico; AT: Atípico
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

A Alberta Infant Motor Scale (AIMS) é considerado um instrumento de triagem do de-


senvolvimento motor grosso, confiável para ser aplicados em bebês prematuros, podendo
ser aplicado de forma isolada ou associado com outros instrumentos de avaliação, sendo
capaz de avaliar o desenvolvimento motor em relação aos marcos de desenvolvimento e
transições de posturas (BALBI, CARVALHAES, PARADA, 2016). Esta escala, foi utilizada em
diversos estudos para acompanhar o desenvolvimento motor de prematuros e RN a termo
(MANACERO e NUNES, 2008; FUENTEFRIA, SILVEIRA, PROCIANOY, 2017; FORMIGA,
VIEIRA, LINHARES, 2015).

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Em estudo realizado em Porto Alegre, avaliaram 44 recém-nascidos, os quais todos
apresentaram desenvolvimento motor normal pela escala AIMS durante o primeiro ano de
vida (MANACERO e NUNES, 2008). Esses dados vêm de contraponto aos encontrados
nesta pesquisa, pois nota-se que apenas 30% da população apresentou um desenvolvi-
mento atípico. E podemos sugerir que essa porcentagem esteja associada a presença de
um diagnóstico, como a paralisia cerebral.

CONCLUSÃO

Em conclusão, os prematuros incluídos neste estudo apresentaram sequência pro-


gressiva normal nas habilidades motoras, independente do peso de nascimento. Então,
não foram observadas, nesta população, alterações no desenvolvimento neuropsicomotor
durante os dois primeiros anos de vida. O que infere que a AIMS pode ser utilizada bebês
prematuros de extremo baixo peso, para avaliar o desenvolvimento motor.
Além disso, a intervenção precoce se mostrou um componente importante no processo
de aceleração do desenvolvimento neuropsicomotor dos bebês do estudo, destacando-se
como um protocolo essencial após o nascimento desta população. Com isso, o terapeuta
ocupacional tem contribuído junto à equipe de profissionais, atuando tanto na estimulação
dessas crianças como na escuta ativa à família sobre o dia a dia na criação do filho.

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06
Consequências e critérios de diagnósticos
da desnutrição em pacientes acometidos
pelo câncer

Driely Pinto Torreias


Centro Universitário Estácio da Amazônia

Ellen Thamyris Pinho Silva


Centro Universitário Estácio da Amazônia

'10.37885/221211498
RESUMO

Objetivo: Este trabalho objetiva descrever as consequências e critérios de diagnósticos


da desnutrição em pacientes acometidos pelo câncer. Assim como, conceituar câncer, re-
latar consequências da desnutrição e apontar critérios de diagnósticos da desnutrição em
pacientes com câncer. Métodos: Trata-se de uma revisão de literatura integrativa, com
abordagem quali-quantitativa através de artigos encontrados nas bases de dados: Pubmed,
Google acadêmico e INCA, realizadas nos meses de fevereiro a maio de 2022, sendo se-
lecionado para análise apenas os estudos que compreendem o período de 2018 a 2022.
Resultados: A idade, a desnutrição, e a fraqueza muscular são fatores de risco que con-
tribuem para o desfecho em morte do indivíduo. Com o avanço da idade, há diminuição da
resposta imunológica do organismo. Em pacientes oncológicos a desnutrição torna-se um
fator de risco que aumenta os custos na saúde pública, o tempo de internação e os índices
de mortalidade, por estar diretamente associada ao tratamento oncológico. A alimentação
tem um importante papel no tratamento do câncer. Conclusão: As alterações metabólicas
resultantes da manifestação da patologia, contribui para aumentar o tempo de hospitalização
e o desencadeamento da desnutrição. É de suma importância ressaltar a importância da
atuação do profissional nutricionista na recuperação da saúde desses pacientes, na melhora
do estado nutricional e no acompanhamento da intervenção dietética.

Palavras-chave: Câncer, Desnutrição, Estado Nutricional, Pacientes Oncológicos.


INTRODUÇÃO

O câncer representa diversas doenças malignas que promovem o desenvolvimento


desordenado de células. Elas invadem tecidos adjacentes ou órgãos a distância de forma
agressiva e incontrolável, determinando a formação de tumores (INCA, 2020). De acordo
com a Organização Mundial da Saúde (2022), o câncer é uma das principais causas de
morte em todo o mundo, representando quase 10 milhões de mortes em 2020, ou quase
uma em cada seis mortes.
O câncer é uma das principais causas de morte nas Américas. Em 2008, causou
1,2 milhão de mortes, 45% das quais ocorreram na América Latina e no Caribe. Deste
modo, prevê-se que a mortalidade por câncer nas Américas aumente para 2,1 milhões até
2030 (OPAS, 2020).
Em indivíduos hospitalizados, é comum a observação de paciente com desnutrição,
além do mais, em pacientes com câncer, essa implicação torna-se três vezes mais frequente.
Com isso, sugere-se que a doença prejudique o estado nutricional durante a hospitalização
(VILLARDO et al, 2018).
Estudos demonstram que a desnutrição nos pacientes em tratamento oncológico tem
alta prevalência, tornado-se prejudicial a qualidade de vida dos mesmos (FREITAS et al,
2020). A desnutrição com consequente perda da massa muscular está associada a perda da
capacidade funcional, maior incidência de toxicidade da quimioterapia, maior hospitalização,
taxas aumentadas de complicações e mortalidade (RAVASCO, 2019).
Estima-se que até 10 e 20% dos doentes com câncer morrem devido as consequên-
cias da desnutrição e não por conta do próprio tumor (MUSCARITOLI, 2019). A desnutrição
em pacientes com câncer tem desfechos negativos sobre a qualidade de vida, tolerância e
prognósticos dos tratamentos anticancerígenos, com consequentes maiores custos gerais
em saúde (CACCIALANZA, 2022).
Diante disso, a obtenção e a manutenção de um balanço energético e de um peso
razoável devem constituir a principal meta de saúde para todos os indivíduos, incluindo os
sobreviventes de câncer (MAHAN, 2018).
A avaliação e detecção precoce do risco nutricional em pacientes com câncer permi-
te intervenção nutricional rápida com o objetivo de prevenir a deterioração nutricional e o
desperdício de músculos (RAVASCO, 2019). Ademais, a avaliação do estado nutricional
deve ser frequente, em todas as etapas do tratamento oncológico, para desfechos clínicos
favoráveis a saúde do paciente (CACCIALANZA, 2022).
O tema escolhido justifica-se pelo fato da existência de altas prevalência de desnutrição
em pacientes acometidos pelo câncer. Entretanto, o estado nutricional do paciente muitas
vezes é negligenciado em virtude da falta de conhecimento por parte da equipe multidisciplinar

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oncológica sobre o assunto. O câncer associado a desnutrição implica em consequências
negativas para a saúde do indivíduo, sendo, o estado nutricional um dos fatores essenciais
para as chances de sucesso do tratamento. Deste modo, é imprescindível a monitorização
nutricional, para identificar precocemente, prevenir ou tratar a desnutrição. Ademais, é es-
sencial que a questão nutricional ganhe notoriedade e espaço, além da importância de ser
adjuvante no tratamento oncológico.
Diante do exposto, objetiva-se com este trabalho descrever as consequências e critérios
de diagnósticos da desnutrição em pacientes acometidos pelo câncer. Ademais, o presente
estudo contribui para ampliar conhecimentos teóricos acerca da temática.

MÉTODOS

O estudo trata-se de uma revisão de literatura integrativa, com abordagem quali-quan-


titativa. Os artigos utilizados foram pesquisados e selecionados através das seguintes bases
de dados: Pubmed, Google acadêmico e INCA. Os descritores utilizados foram: câncer, des-
nutrição, estado nutricional e paciente oncológico (Cancer, Malnutrition, Nutritional Status,
Cancer Patient). As pesquisas foram realizadas nos meses de fevereiro a maio de 2022, sen-
do selecionado para análise apenas os estudos que compreendem o período de 2018 a 2022.
Na base de dados Pubmed consultou-se 20 estudos, no Google acadêmico 15 artigos,
no INCA 17 resultados, obtendo-se o total de 52 trabalhos analisados. Os artigos conside-
rados estavam escritos em português, inglês e espanhol. Além disso, apresentaram dados
relevantes sobre câncer e desnutrição, de fácil compreensão e qualidade criteriosa. Os crité-
rios de exclusão utilizados foram: trabalhos sem conexão com a temática, a falta de resumos
na íntegra no local pesquisado, não possuir caráter científico e os que não continham dados
relevantes para a pesquisa. Dessa maneira, obteve-se o total de 10 artigos selecionados.

RESULTADOS

Para composição desta revisão de literatura foram selecionados 10 artigos. Os estudos


elegidos compreendem o período de 2018 a 2020. O quadro 01 aborda os principais achados
que sintetizam o presente trabalho científico.

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Tabela 01. Principais dados dos artigos selecionado sobre desnutrição em pacientes oncológicos.

Título Autores (ano) Principais resultados


Câncer é o nome geral dado a um conjunto de
ABC do câncer: abordagens básicas para o con- mais de 100 doenças, que têm em comum o
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (2020)
trole do câncer. crescimento desordenado de células, que ten-
dem a invadir tecidos e órgãos vizinhos.
A incidência do câncer aumenta consideravel-
mente com a idade, muito provavelmente por-
Adequação proteica versus Estado Nutricional de
que, com o avançar dos anos, há um acúmulo de
Pacientes Oncológicos Adultos em Unidade de VILLARDO; SEGADILHA; ROCHA et al. (2018)
fatores de risco para alguns tipos específicos de
Terapia Intensiva.
câncer associados à tendência à menor eficácia
dos mecanismos de reparação celular.
A nutrição é um fator central em oncologia,
influencia o desenvolvimento de doenças, os
sintomas inerentes ao tumor, a resposta e a re-
Nutrição em pacientes com câncer. RAVASCO (2019)
cuperação após tratamento(s) antineoplásico
(s), tendo assim um forte impacto na qualidade
de vida e no prognóstico da doença.
Percebemos que a desnutrição estava associada
Desnutrição e sobrevivência geral em paciente a um risco aumentado de mortalidade por todas
ZHANG et al. (2020)
mais velhos com câncer. as causas em pacientes mais velhos com câncer
que estavam ativamente em tratamento.
Ao final do estudo, dos indivíduos que apre-
Avaliação nutricional e funcional em Oncologia sentaram como desfecho o óbito, mais de
e Desfecho clínico em Pacientes da Cidade de MAURINA et al. (2020) 68% eram desnutridos. Identificaram-se, como
Caxias do Sul/RS. fatores de risco para a desnutrição, a idade e
fraqueza muscular.
Com esta revisão daliteratura foi possível verifi-
car que a desnutrição anda lado a lado com os
pacientes em tratamento oncológico. Com isso,
Prevalência de desnutrição em pacientes onco-
FREITAS et al. (2020) há aumento do tempo de internação hospita-
lógicos.
lar, altos custos em saúde pública e aumento
de estatísticas de óbitos ocasionados por esta
patologia.
A alimentação tem um importante papel no tra-
Consumo Alimentar e Estado nutricional de
tamento de doenças, incluindo o tratamento
mulheres com Câncer de mama em Tratamento PEREIRA et al. (2020)
do câncer, devendo ser equilibrada, seguindo
Quimioterápico.
as recomendações das diretrizes e consenso.
O Projeto Diretrizes Triagem e Avaliação do Esta-
do Nutricional afirma que a avaliação é a primei-
ra conduta a ser adotada para um atendimento
Avaliação do Risco Nutricional de Pacientes Onco-
nutricional. A utilização da ASG-PPP, incluindo
lógicos Atendidos no Ambulatório da Unacon em MOTA et al. (2019)
itens referentes ao tumor e avaliados por uma
um Hospital de Referência por meio da ASG-PPP.
pontuação numérica, possibilita identificar o
risco nutricional do paciente e a necessidade
de reavaliação.
Em relação ao estado nutricional, a MAN, quan-
do comparada com IMC e CP, identificou um
Estado Nutricional de Idosos Oncológicos por
OLIVEIRA et al. (2018) maior número de pacientes com estado nutri-
meio de Diferentes Métodos.
conal inadequado (risco nutricional e desnu-
trição).
Embora seja reconhecido que para a avaliação
nutricional desses pacientes, a conjunção de
diferentes métodos de avaliação ( c l í n i c o s ,
antropométricos, composição corporal, e bio-
Risco nutricional em pacientes com câncer do químico) seja importante para a otimização da
STANGHERLIN et al. (2018)
trato gastrointestinal: métodos diagnósticos. detecção do estado nutricional, determinação
de estratégias terapêuticas e melhora clínica, a
identificação de métodos que se aproxime do
padrão de referência na detecção de risco nutri-
cional nestes pacientes é de suma importância.
Fonte: Próprios autores (2022).

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DISCUSSÃO

As células do corpo humano passam por um processo natural e ordenado de multiplica-


ção, visando atender as necessidades específicas do organismo. Entretanto, quando as células
crescem incontrolavelmente, em um processo anormal, que invade órgãos e tecidos, com efei-
tos agressivos ao organismo, têm-se o câncer (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER , 2020).
No estudo aborda-se o risco de aumento da idade, com aumento da incidência do
câncer. Tal fato, deve-se aos danos celulares causados ao longo da vida, a influência do
ambiente e estilo de vida, associados a menor eficácia de reparação celular, dessa maneira,
ocasionando mutações no material genético (VILLARDO; SEGADILHA; ROCHA et al, 2018).
A nutrição é um dos fatores centrais em relação a oncologia. É importante ressaltar
que a nutrição celular adequada permite o desenvolvimento apropriado das atividades celular
auxiliando a prevenção de doenças, o fortalecimento do sistema imunológico e preparo do
organismo para possibilitar o tratamento de neoplasias (RAVASGO, 2019).
Diante disso, observa-se aumento da mortalidade em pacientes com câncer, desnutri-
dos com idades avançadas (ZHANG et al, 2020). Em seus estudos, Mauriana et al. (2020),
dos indíviduos que foram a óbito, mais 68% estavam desnutridos. Estes achados alertam
para as consequências desfavoráveis ocasionadas pela desnutrição associada ao câncer.
O Câncer provoca alterações metabólicas no organismo e há aumento das necessi-
dades energéticas. A desnutrição é um fator de risco que pode ser associada de maneira
frequente com o estado nutricional de pacientes oncológicos. Desse modo, desencadeia
desfechos negativos para os indivíduos acometidos de câncer como a perda de massa
muscular, o aumento de infecções, a menor qualidade de vida, a toxicidade do tratamento,
o aumento de internação e dos custos hospitalares (FREITAS et al, 2020).
A alimentação é de suma importância para o tratamento de doenças crônicas como o
câncer, por exemplo. Entretanto, a intervenção alimentar deve estar de acordo com as re-
comendações científicas de consensos e diretrizes, com o intuito de adequar a distribuição
de macro e micronutrientes e em consonância com as Leis de Pedro Escudeiro. A conduta
dietoterápica é essencial no auxilio a prevenção, combate e tratamento de enfermidades
(PEREIRA et al, 2020) .
Para detectar alterações ligadas ao estado nutricional, a triagem e a avaliação do es-
tado nutricional devem ser as primeiras condutas tomadas frente ao paciente. A Avaliação
Subjetiva Global produzida pelo Próprio Paciente (ASG-PPP) é uma importante ferramenta
que possibilita a identificação do risco nutricional atual do paciente e contribui para verifi-
car a necessidade de fazer a reavaliação, protocolo reconhecido pelo Ministério da Saúde
(MOTA et al, 2019).

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Ademais, outra ferramenta de triagem nutricional validada, que identifica a desnutrição
e risco de desnutrição em pacientes com idade maior ou igual a 65 anos é a Mini Avaliação
Nutricional (MAN). Esta ferramenta quando comparada ao Índice de Massa Corporal (IMC)
e Circunferência da Panturrilha (CP) foi mais eficaz em identificar um maior número de pa-
cientes com risco nutricional e desnutrição (OLIVEIRA et al, 2018).
A avaliação do estado nutricional dos pacientes com câncer deve ser conjunta a diferen-
tes métodos de avaliação, como clínicos, antropométricos, composição corporal e bioquímico.
Portanto, para otimização do diagnóstico nutricional é importante que métodos eficazes, de
fácil aplicação e baixo custo sejam utilizados para auxiliar o paciente oncológico diante de
um momento de fragilidade e angústia (STANGHERLIN et al, 2018).

CONCLUSÃO

Conclui-se que a ocorrência de desnutrição em pacientes oncológicos é frequente.


Essa alteração do estado nutricional é prejudicial ao organismo e metabolismo em diversos
aspectos, como demora/diminuição na resposta ao tratamento e aumento de óbitos. Ademais,
contribui para maior tempo de hospitalização e internação, de maneira geral, diminui as
respostas orgânicas ao enfretamento da doença.
Além disso, é essencial a presença do profissional nutricionista na equipe multidisciplinar
oncológica, visto que, é o profissional responsável pelo planejamento dietético, avaliação
e educação nutricional. Desse modo, medidas para prevenir e/ou tratar a desnutrição são
essenciais para a qualidade de vida e prognósticos dos pacientes com câncer.

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07
Declínio da adesão à vacinação infantil e o
reaparecimento de doenças já erradicadas
no Brasil

Letícia Cantuária Santana Lara Tatyane Ferreira Santos Honório


Centro Universitário Cesmac Centro Universitário Cesmac

Rebeca Claudia Cabral Correia Clarissa Maria Tito Beltrão


Centro Universitário Cesmac Centro Universitário Cesmac

Carla Beatriz Clarindo Feitosa Gabriela de Gusmão Pedrosa Eugênio


Centro Universitário Cesmac Centro Universitário Cesmac

Lucas de Jesus Silva Aline Virgínia Pontes Bezerra


Centro Universitário Cesmac Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alago-
as - UNCISAL

Thiago de Oliveira dos Santos


Centro Universitário Cesmac Bianca Brenda Xavier Costa Brandão
Centro Universitário Cesmac

'10.37885/221211603
RESUMO

Objetivo: Expor a importância da vacinação infantil e compreender os fatores associados


à inação vacinal no Brasil. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com
levantamento bibliográfico realizado a partir da análise de artigos publicados nas bases
de dados Medline (Via PubMed), ScienceDirect e LILACS (Via BVS). Foram utilizados os
descritores “Vaccination”, “Vaccination Refusal”, “Public Health”, “Brazil” e “NOT COVID-19”
para busca, utilizando filtro de artigos publicados nos últimos 5 anos (de janeiro de 2017 a
dezembro de 2022). Ao final de leitura, respectivamente de título, resumo e artigo completo
foram incluídos 8 artigos para elaboração do trabalho. Resultados: Através da vacinação já
foi possível erradicar doenças como a varíola, a poliomielite e o sarampo, tendo esse último
sido reintroduzido no Brasil em 2019 devido à baixa adesão da população à vacinação, o
que demonstra sua notável importância no contexto da saúde pública. A hesitação vacinal
possui origem multifatorial. A confiança no sistema de saúde foi relatada como determinante
para a aceitação da vacina e a falta de recomendação médica foi documentada como fator
de risco para a hesitação vacinal. Além disso, a falta de conscientização ou informações
inadequadas fornecidas pelas autoridades de saúde e profissionais de saúde leva à criação
de falsas crenças sobre os benefícios da vacinação e seus efeitos adversos. Conclusão:
Cumprir com o calendário vacinal da criança implica em contribuir para a manutenção da
erradicação de doenças graves, que repercutem em agravos à saúde, aumento na taxa de
morbimortalidade e até mesmo em onerosos investimentos direcionados aos tratamentos
de doenças preveníveis. Para isto, a educação em saúde é um recurso fundamental para a
difusão ampla de informações.

Palavras-chave: Vacinação, Criança, Hesitação Vacinal, Saúde Pública.


INTRODUÇÃO

Uma das conquistas mais marcantes na história da saúde pública é a invenção das
vacinas, que tem contribuído para a redução da prevalência de muitas doenças imunopre-
veníveis (DVPs), como por exemplo a poliomielite, varíola e outras. No entanto, desde sua
descoberta, a vacinação tem sido um assunto controverso (OLIVEIRA, 2022). O Programa
Nacional de Imunizações (PNI) e o Sistema Único de Saúde (SUS) vêm fornecendo vacinas
gratuitas contra várias doenças para pessoas de todas as faixas etárias, atingindo uma co-
bertura nacional superior a 90% (SATO, 2018). No entanto, apesar dos esforços do governo
com campanhas de vacinação, a cobertura vacinal no Brasil vem caindo desde 2013 e tem
sido demonstrado um aumento no nível de recusa vacinal no país (CÉSARE, 2020).
Desde a década de 1990, as coberturas vacinais para crianças estavam acima de 95%,
o que indicava boa adesão da população à vacinação. No entanto, de uma forma inespera-
da, desde 2016 essa cobertura vem caindo cerca de 10 a 20 pontos percentuais e, conse-
quentemente, gera um aumento na taxa de mortalidade infantil. As epidemias de sarampo
em Roraima e no Amazonas são consequências imediatas do declínio da cobertura vacinal
(SATO, 2018). Vários fatores estão relacionados a essa queda, seja o enfraquecimento do
Sistema Único de Saúde (SUS), seja dos aspectos técnicos, como o desenvolvimento do
novo sistema de informação de imunização, sejam os aspectos sociais e culturais que afetam
a aceitação da vacinação (SATO, 2018).
Apesar de todos os esforços para garantir a distribuição e aplicação de vacinas, vi-
sando benefícios individuais e coletivos, pessoas e grupos que questionam a fim de gerar
segurança e a necessidade de aplicação de vacinas estão presentes em todo o mundo. Este
não é um fenômeno recente, surgiu logo após a introdução da vacina contra a varíola no
final do século 18 e continuou ao longo do tempo (SUCCI, 2018). Os argumentos e crenças
dos grupos antivacinação não mudaram muito nos últimos dois séculos, mas a capacidade
de disseminar informações aumentou em eficácia e velocidade nas últimas décadas. A per-
da de confiança nas vacinas e nos programas de imunização podem levar à diminuição da
cobertura vacinal, com todas as suas consequências (SUCCI, 2018).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) categorizou a hesitação vacinal como uma
das dez ameaças globais à saúde que o mundo enfrentou em 2019. A hesitação da vacina é
influenciada por três fatores principais: confiança, complacência e conveniência. Influenciados
por esses fatores, indivíduos hesitantes em vacinar podem recusar algumas vacinas ou
atrasar a vacinação (GUZMAN-HOLST, 2020). O declínio da adesão à vacinação torna a
população – especialmente o grupo infantil – mais vulnerável às doenças imunopreveníveis e
propicia o retorno de doenças que já foram erradicadas e são potencialmente fatais. Portanto,

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diante desta problemática, o presente estudo objetiva expor a importância da vacinação
infantil e compreender os fatores associados à inação vacinal no Brasil.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com levantamento bibliográfico reali-


zado a partir da análise de artigos publicados nas bases de dados Medline (Via PubMed),
ScienceDirect e LILACS (Via BVS). Foram incluídos trabalhos que apresentavam combina-
ções dos descritores “Vaccination”, “Vaccination Refusal”, “Public Health”, “Brazil” e “ NOT
COVID-19” para busca, utilizando filtro de artigos publicados nos últimos 5 anos (de janeiro de
2017 a dezembro de 2022) e com texto completo gratuito. Foram incluídos neste capítulo os
estudos citados nos artigos selecionados que apresentavam concordância com a temática e
os critérios de inclusão, e foram excluídos os estudos com população, intervenção, desenho
e estruturação que não se alinharam ao objetivo do trabalho. Os autores foram responsáveis
por selecionar os estudos por meio de protocolo padronizado, estabelecido em consenso
antes do início das buscas nas bases de dados, visando melhor qualidade e redução de
possíveis vieses. Foram encontrados 134 artigos com a estratégia de busca, dos quais 23
foram selecionados após leitura do título, 15 artigos foram considerados relevantes após
leitura do resumo e, após os critérios de seleção, restaram 8 artigos, que foram submetidos
à leitura minuciosa para coleta de dados e análise específica para serem aplicados neste
estudo. A análise dos artigos foi realizada de forma autônoma por dois pesquisadores, que
são autores deste estudo. Quando não houve concordância entre incluir ou excluir um dos
estudos, um terceiro pesquisador foi convocado para estabelecer a decisão final. Vale res-
saltar que os textos considerados elegíveis foram lidos por completo por todos os autores.
A Figura 1 ilustra a estratégia utilizada para selecionar os artigos abordados nesta
revisão de literatura.

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RESULTADOS

A hesitação vacinal é definida como o atraso na aceitação ou a recusa das vacinas


recomendadas, apesar de sua disponibilidade nos serviços de saúde. Ela deve ser entendida
como um continuum entre aqueles que aceitam e aqueles que recusam indubitavelmente
todas as vacinas, ou seja, indivíduos hesitantes situam-se entre esses dois extremos. Em pro-
porção menor, há aqueles que recusam apenas algumas vacinas e aqueles que ainda têm
dúvidas sobre a decisão de vacinar ou não (SATO, 2018).
Um estudo realizado com cidades do Brasil analisou as proporções de municípios com
coberturas maiores que 95% para diversas vacinas incluídas na PNI, demonstrando uma
alta homogeneidade da cobertura vacinal na primeira década dos anos 2000 e uma queda
a partir de 2014 (SATO, 2018). Corroborando com esses dados, um estudo semelhante,
realizado por Lemos et al (2020), em uma cidade do Mato Grosso, observou que o esquema
vacinal oportuno incompleto em crianças até os 12 meses foi de 82,03%, sendo as vacinas
com os menores percentuais para o esquema incompleto BCG e Hepatite B, uma vez que
são aplicadas ainda nas primeiras horas de vida. No entanto, aquelas vacinas com mais
de uma dose, como a VIP e Penta, ambas aplicadas aos 6 meses de vida, foram as mais
incompletas no calendário vacinal. Portanto, observa-se que as vacinas com esquemas

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multidoses apresentaram queda nos percentuais de aplicação das doses subsequentes,
demonstrando um resultado similar ao encontrado por outros autores.
Com a introdução da vacina no Brasil, tornou-se possível a redução ou eliminação de
doenças como coqueluche, difteria, poliomielite, tuberculose, febre amarela e varíola. Para
controlar essas doenças evitáveis através das vacinas, é imprescindível uma alta taxa de
cobertura vacinal, especialmente considerando as viagens globais para países emergen-
tes. Porém, com a diminuição das vacinações e aumento de imigrantes, criou-se no Brasil
um ambiente propício para surtos (OLIVEIRA, 2022). Para Sato et al (2018) esse cenário
vem mudando rapidamente. Em 2013–2015, foram registrados 1.310 casos de sarampo
nos estados de Ceará e Pernambuco. Em 2018, essas epidemias voltaram nos estados de
Roraima e Amazonas com mais 1.500 casos confirmados apenas nos oito primeiros meses
de 2018. Essa estatística é um alerta sobre o impacto da queda das coberturas vacinais de
forma geral. Durante 2001–2013, a maioria dos casos de sarampo no país foram importados,
ou seja, os indivíduos contraíram sarampo fora do Brasil, ao contrário do surto ocorrido no
estado do Ceará durante 2013-2014, em que a transmissão ocorreu localmente. Outro surto
ocorreu no Brasil em 2018, no qual foram identificados mais de 10.000 casos, a maioria nos
estados do Amazonas e Roraima, além de São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco,
Rio de Janeiro, Sergipe e Pará. Um fator contribuinte foi a importação do genótipo D8 do
sarampo que chegou por meio de imigrantes venezuelanos (OLIVEIRA, 2022). Em 2017,
um surto de febre amarela ocorreu em Minas Gerais, afetando 90 cidades, e em outros
estados brasileiros, como Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rio
de Janeiro, São Paulo e Tocantins e como apenas 58% da população brasileira estava
imunizada em 2018, a redução da cobertura vacinal foi considerada a principal causa deste
surto (OLIVEIRA, 2022). A incidência de coqueluche diminuiu desde o início da vacinação
DTP, principalmente em 1980. No entanto, surtos ocorreram na região Centro-Oeste entre
2012 e 2014, com mais de 4.000 casos/ano e estão relacionados a alterações fenotípicas
em cepas bacterianas, redução da adesão à vacinação e redução do potencial de indução
de imunidade (OLIVEIRA, 2022).
De acordo com os resultados do estudo de Césare et al (2020), sete vacinas apresen-
taram redução nas doses aplicadas no Brasil em 2019 em relação ao ano anterior: Rotavírus
monovalente, Pneumocócica 10v, Hepatite B, BCG, VIP/VOP, DTP e Pentavalente, todas
elas utilizadas para a imunização de crianças. Os achados do estudo no Brasil estão de
acordo que houve uma queda recente na cobertura vacinal em outros países, demonstrando
que este é um problema global. Os movimentos anti-vacinação espalharam conhecimentos
imprecisos sobre a segurança e os benefícios da vacinação na região. Isso levou as pes-
soas a interpretar o risco da vacina não com base na avaliação racional das evidências,

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mas por meio da incerteza. Como resultado, no Brasil, várias regiões experimentaram uma
queda na cobertura vacinal e o subsequente ressurgimento de doenças, como o sarampo
em 2018, com o total de casos no ano superando os relatados durante todo o período 2013-
2015 (HOLST-GUZMAN, 2020). Além disso, estudos mostraram que a cobertura vacinal na
década de 1980 era maior em famílias ricas e que essa desigualdade socioeconômica havia
diminuído nas décadas de 1990 e 2000. Em 2015, o perfil de cobertura vacinal foi invertido,
com crianças de famílias mais abastadas apresentando menor cobertura. Ideias equivoca-
das sobre os efeitos colaterais das vacinas poderiam fazê-los sentir-se capazes de criticar
a ciência médica em relação às vacinas, levando-os a acreditar em fatos alternativos não
científicos encontrados na internet (CÉSARE, 2020).
Uma revisão sistemática realizada por Holst-Guzman et al (2020), observou que quan-
to às influências individuais e de grupos para a hesitação vacinal, as maiores preocupa-
ções que levaram à rejeição da vacina foram documentadas em indivíduos pertencentes
ao grupo socioeconômico baixo, indivíduos com baixo nível de escolaridade e adultos mais
velhos. A vacinação foi aceita por mães trabalhadoras com maior escolaridade, pais de
crianças que estudavam em escolas estaduais e pessoas que trabalhavam no sistema de
saúde. Já aquelas que focaram nas influências contextuais, a hesitação vacinal foi comu-
mente documentada em pais de crianças e meninas pré-adolescentes e adultos mais velhos.
Problemas específicos de vacinas que levaram à recusa de vacinas foram relatados princi-
palmente por pais de bebês, crianças, pré-adolescentes e adolescentes. Sato et al (2018)
verificou que o sentimento geral em relação à vacinação é positivo, mas há grande varia-
bilidade. A segurança destacou-se como o aspecto que traz sentimentos negativos, parti-
cularmente na Europa. Os percentuais de brasileiros que responderam discordar quanto à
importância, segurança e efetividade da vacina foram 0,7%, 6,1% e 4,5%, respectivamente,
bastante abaixo de outras localidades. A confiança no sistema de saúde foi relatada como
determinante para a aceitação da vacina e a falta de recomendação médica foi documen-
tada como fator de risco para a hesitação vacinal (HOLST-GUZMAN, 2020). Outra razão
importante para a falta de vacinação entre crianças e adultos é a falta de conscientização
ou informações inadequadas fornecidas pelas autoridades de saúde e profissionais de saú-
de, o que leva à criação de falsas crenças sobre os benefícios da vacinação e seus efeitos
adversos (HOLST-GUZMAN, 2020).

DISCUSSÃO

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável visam reduzir as desigualdades (Objetivo


10) e garantir a cobertura universal de saúde, fornecendo acesso a vacinas seguras para
todos (Objetivo 3). No entanto, vários elementos podem ter contribuído para o surgimento

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da hesitação vacinal que inviabiliza os objetivos citados, incluindo a perda de confiança na
segurança da vacina. As mídias sociais podem desempenhar um papel importante nesse
sentido, atuando como fonte de informações gerais sobre vacinas, incluindo as reações
adversas, para o público. A erradicação, ou pelo menos o controle de doenças evitáveis por
vacinas que mataram milhões de crianças no passado, como varíola, sarampo e poliomielite,
levou a um sentimento de que as vacinas não são mais necessárias (CATA-PRETA, 2021).
Semelhante ao contexto histórico vivenciado durante a Revolta da Vacina, atualmen-
te enfrenta-se uma recusa por parte da população quando se trata da imunização vaci-
nal. As áreas de influências contextuais incluem aspectos históricos, geográficos, políticos,
socioeconômicos, culturais, religiosos e de gênero, bem como comunicação e mídia, in-
fluências de lideranças e percepções da indústria farmacêutica (SATO, 2018). A opinião é
formada individualmente ou de forma coletiva diante de experiências vivenciadas, crenças
e confiança no sistema. Ressalta-se que a hesitação vacinal e suas determinantes variam
ao longo do tempo e são específicos em cada cenário.
Esse comportamento é influenciado por muitos fatores inter-relacionados, como a
confiança, complacência e conveniência, conhecido como modelo dos “3 Cs”, proposto pela
OMS em 2011. A confiança é sobre a eficácia e segurança das vacinas, o sistema de saúde
que as fornece e as motivações dos gestores para recomendá-las. A complacência resulta
da baixa percepção de risco de contrair a doença de forma que a vacinação não seria con-
siderada necessária. Por fim, a conveniência considera a disponibilidade física, disposição
para pagar, acessibilidade geográfica, capacidade de compreensão e acesso à informação
em saúde (SATO, 2018). 
Estudos distinguem grupos de vacinadores, vacinadores seletivos (hesitantes) e não
vacinadores. Esses polos de aceitação total ou recusa total compreendem grupos menores
que os hesitantes, que também se distribuem em grupos heterogêneos. Dentre as justificati-
vas da falta de adesão vacinal, destacaram-se a baixa percepção do risco da doença, medo
de efeitos adversos, questionamentos sobre a eficácia e o interesse financeiro da indústria
farmacêutica. Geralmente, a interpretação do risco vacinal não se baseia na avaliação das
evidências, mas sim na sensação de incertezas e ambiguidades que permanecem mesmo
diante das evidências empíricas (SATO, 2018). Para Césare et al (2020) o elemento psico-
lógico é um fator importante no atraso do calendário vacinal devido à ansiedade dos pais,
preocupados com a imunização de seus filhos. Tais aspectos combinados com o ativismo
de grupos anti-vacinação nas mídias sociais e a desconfiança na ciência médica expuseram
a complexidade de enfrentar a redução da cobertura vacina.
Embora a cobertura vacinal tenha erradicado ou controlado muitas doenças infec-
ciosas em todo o mundo, o alto fluxo rápido de informações falsas divulgados por grupos

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antivacinação tem impactado no índice de não adesão, reacendendo os surtos. Esses surtos
têm destacado a necessidade de melhorias na vigilância vacinal e nas estratégias de controle
pelos sistemas públicos de saúde (CÉSARE, 2020). De acordo com os resultados do estudo,
sete vacinas apresentaram redução nas doses aplicadas no Brasil em 2019 em relação ao
ano anterior, todas elas utilizadas para a imunização de crianças (CÉSARE, 2020).
Por fim, é importante ressaltar que a resposta imune é melhor quando a vacina é apli-
cada na idade recomendada e o intervalo mínimo é respeitado. Essa observação deve-se
ser levada em consideração principalmente devido ao aumento da suscetibilidade a novas
infecções nessa faixa etária e ao sistema imunológico menos maduro.

CONCLUSÃO

A vacinação é uma das principais ferramentas para a prevenção de doenças infecto-


contagiosas e para a diminuição da morbimortalidade de crianças em todo o mundo. Essa
eficácia, já bastante conhecida das vacinas, deve-se principalmente aos conhecimentos
acerca da imunidade específica adquirida através de linfócitos e anticorpos. Contudo, ob-
serva-se um avanço crescente na hesitação vacinal e uma diminuição significativa da sua
cobertura sobre doenças erradicadas, como poliomielite, difteria e rubéola. Esses resultados
se devem, em especial, ao crescente aumento dos movimentos antivacinas no Brasil e no
mundo, o que abala a confiabilidade das pessoas na ciência, através da disseminação de
informações alarmistas e inverídicas acerca das vacinas e das indústrias farmacêuticas
responsáveis pela sua fabricação.
Os resultados analisados sugerem que novos dados sejam coletados ao longo dos
próximos anos para confirmação dos padrões observados nos resultados atuais e a ne-
cessidade urgente da implementação de políticas públicas efetivas, objetivando uma nova
adesão às vacinas e o combate à disseminação de informações falsas. O Programa Nacional
de Imunização é um grande avanço na saúde pública brasileira e é necessária atenção
especial dos governantes, profissionais da saúde e da comunidade científica para evitar
que a hesitação vacinal afete a cobertura desse programa, principalmente nas populações
menos abastadas e mais vulneráveis, com a realização de esforços contínuos para garantir
o acesso à vacinação. Sendo assim, é necessária uma abordagem para superar a hesitação
vacinal que envolva educar as pessoas sobre imunização, por meio dos diferentes canais
de comunicação, incluindo as mídias sociais.

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REFERÊNCIAS

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países de baixa e média renda: evidências globais sobre o surgimento da hesitação em
vacinas. American Journal of Preventive Medicine, Volume 60, Edição 1, Suplemento
1, (páginas S1-S98). Janeiro de 2021.

CÉSARE, Náthaly et al. O perfil longitudinal da cobertura vacinal no Brasil revela uma
mudança recente nos padrões marcados pela redução diferencial entre regiões. Interna-
tional Journal of Infectious Diseases, volume 98, (páginas 275-280). Setembro de 2020.

HOLST- GUZMAN, Adriana et al. Barreiras à vacinação na América Latina: uma revisão
sistemática da literatura. Vaccine, volume 38, Edição 3 (páginas 470-481). 16 de Janeiro
de 2020.

LEMOS, Patrícia et al. Fatores associados ao esquema vacinal oportuno incompleto até
12 meses de idade. Revista Paulista de Pediatria, Rondonópolis, Mato Grosso 2022; 40:
e2020300. 12 de novembro de 2021.

MIZUTA, Amanda et al. Percepções sobre a importância da vacinação e da recusa da


vacina em uma escola de medicina. Revista Paulista de Pediatria, São Paulo 2019 ja-
neiro-março; 37(1): 34-40. 9 de agosto de 2018.

OLIVEIRA, Isadora et al. Movimentos anti-vacinação no mundo e no Brasil. Revista da


Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2020; 55: e0593-2021. 20 de maio de 2022.

SATO, Ana. Qual a importância da hesitação vacinal na queda da cobertura vacinal no


Brasil? Revista de Saúde Pública, São Paulo 2018; 52: 96. 27 de novembro de 2018.

SUCCI, Regina. Recusa vacinal – o que precisamos saber. Jornal de Pediatria, volume
94, edição 6 (páginas 574-581). Novembro- dezembro 2018.

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08
Desafios na construção de um PES numa
UBS, empregando a ERP num cenário de
pandemia – relato de experiência

Genilson Jesus das Virgens


Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB

'10.37885/221211562
RESUMO

A saúde é um espaço em que o planejamento não só é vital, como a sua ausência pode
afetar duramente a sua eficiência e efetividade. Em todo o tempo estamos sempre planifi-
cando, consciente ou inconscientemente. Planejamos o que comer, quando iremos viajar,
quantos filhos ter, como e quando adquirir um automóvel. Há diversas maneiras de se pla-
nejar, utilizando-se das mais variadas técnicas e instrumentos. A pandemia da COVID-19
além de afetar a nossa saúde física e emocional, colocou também à prova nossa capacida-
de de planejar. O presente relato de experiência é proveniente de uma atividade realizada
no Mestrado Profissional em Saúde da Família – PROFSAÚDE, vinculado a Universidade
Federal do Sul da Bahia – UFSB. Na atividade foi realizado um Planejamento Estratégico
Situacional com o emprego da Estimativa Rápida Participativa na fase de diagnóstico, numa
UBS em plena pandemia. O artigo se propõem a apresentar o relato da experiência de ope-
racionalização desse PES empregando a ERP em uma UBS e os desafios encontrados. Ele
traz como um dos resultados a percepção de que a junção Academia x Serviço é sempre
rica e transformadora.

Palavras-chave: COVID-19, ERP, Planejamento, SUS, UBS.


INTRODUÇÃO

Planejamento é algo inerente ao ser humano. Em todo o tempo estamos sempre plani-
ficando, consciente ou inconscientemente, de forma transitória ou cabal. Planejamos o que
comer, quando iremos viajar, quantos filhos ter, como e quando adquirir um automóvel, um
imóvel etc. Há, no entanto, áreas em que o planejamento é indispensável, tão necessário
que se não for realizado formalmente todo o desempenho e finalidade da área/tema ficará
comprometida. A saúde é um desses espaços em que não só o planejamento é vital, como
sua própria eficiência e efetividade serão duramente afetadas. O Prof. Antonio Cardoso
elucida com muita propriedade essa questão:

Na Saúde, o planejamento é a função que permite melhorar o desempenho (a


eficiência e a efetividade) dos serviços no cumprimento das suas finalidades
de proteção, promoção, recuperação e reabilitação da saúde. (CARDOSO,
2013, pg. 03).

Os Sistemas de Saúde, independentemente de seus níveis e hierarquia, tem em suas


perspectivas fundamentais otimizar os níveis de saúde de sua população. Bárbara Starfield,
grande estudiosa e teórica sobre o assunto, destaca sua função precípua:

Todo sistema de Serviços de saúde possui duas metas principais. A primeira é


otimizar a saúde da população, por meio do emprego do estado mais avançado
do conhecimento sobre a causa das enfermidades, manejo das doenças e
maximizar o da saúde. A segunda meta, e igualmente importante, È minimizar
as disparidades entre subgrupos populacionais, de modo que determinados
grupos não estejam em desvantagem sistemática em relação ao seu acesso
aos serviços de saúde e ao alcance de um ótimo nível de saúde. (STARFIELD,
2002, pg. 19)

No Brasil, a Atenção Primária a Saúde, mais conhecida como Atenção Básica, é o


alicerce do nosso Sistema Único de Saúde, através dela e de seus atributos fundamentais,
a proteção à saúde de nossa população se principia. Cardoso nos leva à essa direção:

No caso da Atenção Básica (AB), há uma expectativa de que defina uma di-
recionalidade para suas práticas que seja, simultaneamente, coerente com os
princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e com a realidade sócio-sanitária
do território. (CARDOSO, 2013, pg. 03).

Percebemos diante disso, que um passo decisivo para a efetivação do SUS e da


Atenção Básica em nosso país perpassa pelo planejamento. O Planejamento Estratégico
Situacional, que tem como referencial teórico, Carlos Matus, foi o instrumento emprega-
do na sistematização de uma planificação para a Unidade de Saúde desse cenário. E na
perspectiva de que o trabalho em equipe é fundamental em todas as áreas e aspectos na

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saúde, foi empregado a Estimativa Rápida Participativa – ERP, na fase de diagnostico do
planejamento e a equipe foi estimulada e desafiada a participar dessa construção social.
Elisabeth Figueiredo assinala a importância do trabalho em equipe na atenção a saúde das
populações de áreas adscritas:

[...] é necessário que o trabalho seja realizado em equipe, de forma que os


saberes se somem e possam se concretizar em cuidados efetivos dirigidos
a populações de territórios definidos, pelos quais essa equipe assume a res-
ponsabilidade sanitária. (FIGUEIREDO, 2014. pg. 3)

Nestes termos, é crucial o envolvimento de todos os membros de uma Equipe de Saúde


na obtenção de um trabalho efetivo e de qualidade, resultando em ganhos reais do ponto de
vista social e avanços na sistematização do cuidado. Nesta perspectiva este trabalho tem
como objetivos primordiais:

a) Relatar a operacionalização de um PES e o emprego da ERP em uma UBS;


b) Relatar os desafios do emprego do referido Planejamento em um cenário Pandê-
mico;
c) Ressaltar as contribuições da junção Academia x Serviço no incremento ao SUS.

DETALHAMENTO DA EXPERIÊNCIA

Metodologia

Empregamos o método teórico/prático do Planejamento Estratégico Situacional na


concepção de Carlos Matus com a aplicação da Estimativa Rápida Participativa na Fase
Explicativa do método, onde tecnicamente realiza-se um diagnóstico.
Para a realização deste diagnóstico da UBS selecionada e sua área adscrita, utilizamos
o referencial teórico-metodológica da Estimativa Rápida Participativa – ERP, que conforme
aponta Campos et al, ( 2010) “... é um método utilizado para a elaboração de um diagnóstico
de saúde de determinado território”. Refere ainda esses mesmos autores que a ERP:

[...] constitui um modo de se obter informações sobre um conjunto de proble-


mas e dos recursos potenciais para o seu enfrentamento, num curto período
de tempo e sem altos gastos, constituindo importante ferramenta para apoiar
um processo de planejamento participativo. (CAMPOS et al, 2010)

A tarefa em questão foi fruto de uma atividade advinda do Mestrado Profissional em


Saúde da Família – PROFSAÚDE, vinculada a UFSB, na Disciplina Planejamento e Avaliação
na Saúde da Família. O campo de estudo foi no município de Coaraci, interior da Bahia e

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a Unidade Básica selecionada foi o Centro de Saúde Dr. Ângelo Brito. A parte operativa da
Estimativa Rápida Participativa foi realizada entre os dias 21 a 30 de Setembro de 2020, com
a participação da Equipe e auxílio fundamental dos Agentes Comunitários de Saúde, assim:

a) Aplicamos questionários semiestruturados;


b) Identificamos os informantes chaves;
c) Realizamos os contatos pessoais.

Nesses contatos de pessoas houveram interações numa ação dialógica, onde os sabe-
res de cada informante foram respeitados, ocorrendo uma troca sinérgica. Dados importantes
foram colhidos e mesclados com dados oficiais fornecidos pelos Sistemas de Informações
oficiais: CNES, E-SUS, HIPERDIA, SMS-COARACI.
Após o levantamento de todos esses dados, seguimos os importantes passos na con-
dução do Planejamento :

a) Realização do diagnóstico;
b) Identificação das principais necessidades de saúde dos clientes (público alvo) da
organização;
c) Identificação dos problemas finais (problemas vividos pelos clientes);
d) Identificação dos problemas organizacionais (problemas vividos pelos trabalhado-
res);
e) Construção da Missão Organizacional da Unidade de Saúde;
f) Aplicação de uma matriz de SWOT1.

Em virtude da Pandemia da COVID-19 diversos procedimentos tiveram de ser adap-


tados como forma de proteger os informantes-chaves, o pesquisador e a Equipe de Saúde.
Essa foi uma situação atípica que resultou em grandes desafios:
Não realizamos reuniões presenciais com a participação dos informantes-chaves, por
ser um período muito crítico da pandemia, com um número alto de casos e por não haver
naquele período o advento da vacina. Optamos por realizar conversas online e/ou presencial
com a participação apenas do pesquisar e um Agente Comunitário de Saúde. Não houveram
reuniões comunitárias;
Adotamos todos os cuidados para evitar a transmissão do vírus (uso de máscaras,
álcool em gel, avental e distanciamento de 2 mts entre os participantes;

1 Análise ou matriz SWOT (inglês) – em português, análise ou matriz FOFA – é um método de planejamento estratégico que englo-
ba a análise de cenários para tomada de decisões, observando 4 fatores. São eles, em inglês: Strengths, Weaknesses, Opportunities
e Threats. Em português: Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças.

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Grande parte das “conversas” foram realizadas fora do ambiente da Unidade de Saúde,
a maioria delas aconteceram nas residências. Ao adotarmos esse protocolo de saúde, utili-
zando um ambiente com o mínimo de pessoas possíveis ou mesmo espaço externo e aberto,
foi possível realizarmos uma boa proteção.
Disponibilização de tempo maior para o levantamento dessas informações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a aplicação dos referidos instrumentos na atividade, obtivemos os resultados


que seguem abaixo, que posteriormente reverteram e reverterão em melhorias para a
Unidade de Saúde:

Identificação e Descrição da Unidade

Nome do Estabelecimento: Centro de Saúde Dr. Ângelo Brito, Razão Social: Município
de Coaraci. Tipo de Estabelecimento: Unidade Básica, CNES: 2390051 Data de início:
27/5/2003, CNPJ Mantenedora: 14147474000175, Horário de Funcionamento: de 07 às
17:00, Telefone: 73 3241-1110 (SMS), Endereço: Rua Antônio Teixeira, 17. Bairro: Centro,
Cidade: Coaraci Estado: BA CEP: 45638-000. O Centro de Saúde Dr. Ângelo Brito é uma
Unidade Básica de Saúde no modelo tradicional. Possui 06 micro áreas e 01 em processo
de transição de zona rural para zona urbana. Possui uma cobertura de 100% da Atenção
Básica e Saúde Bucal. O atendimento ocorre em demanda programada e demanda espon-
tânea. Não conta com o apoio do NASF. Não utiliza o Prontuário Eletrônico (PEC), tudo é
realizado da maneira tradicional, com prontuários de papel. Os encaminhamentos realizados
são para a Unidade de referência (Centro Municipal de Especialidades) e para a Central
de Regulação Municipal. São realizados agendamentos para as seguintes especialistas
que atendem no Centro Municipal de Especialidades: Pediatria, Ginecologia, Geriatria e
Psicologia. Os agendamentos para outras especialidades são realizados junto ao Serviço de
Regulação do município, sendo alguns realizados no próprio município e outros na cidade
polo da região, em Itabuna.

Missão Organizacional - Construída

Finalidades: Executar ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, com


atendimento integral, humanizado e contínuo.
Público alvo: Moradores do território de abrangência da UBS – Centro I, na cidade
de Coaraci – BA.

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Ações permanentes: Realização de consultas Médicas, assistência Odontológica,
consultas de Enfermagem; Acolhimento; Realização de Pré-natal, Planejamento Familiar;
Consulta de Crescimento e Desenvolvimento da criança; Imunização; HIPERDIA; Realização
de Curativos, Citologia, Visita Domiciliar; Administração de medicação; Trocas e Instalação
de Sondagem Vesical e Nasogástrica; Nebulização; Testes Rápidos de: Sífilis, HCV, HBsAg
e HIV 1 e 2, Triagem Pré-natal e Neonatal; Ações de Educação em Saúde.
Princípios/valores: Atendimento Universal, Contínuo, Equânime, e Integral
MISSÃO: Executar ações contínua de saúde, à populações pertencentes a área de
abrangência do CMS Dr. Ângelo Brito, Centro I, enfocando as medidas de promoção, preven-
ção e recuperação da saúde, com atendimento humanizado, ético, integral e de qualidade,
articulado com organismos municipais, estaduais, federais, públicos e/ou privados e ampla
participação popular, referenciando os princípios e diretrizes do SUS.

Situação sócio-demográfica da area adscrita

Conforme E-SUS, competência 09/2020, tendo como referência o Centro I, a UBS tem
cadastrada os seguintes dados:

a) 3.550 usuários;
b) 1.976 Feminino;
c) 1.574 Masculino.

Esse dado corrobora com os achados de estudos no Brasil que apontam uma popu-
lação feminina um pouco maior que a masculina. Dados da PNAD (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios) 2019, identificou que o número de mulheres no Brasil é superior ao
de homens, sendo a população brasileira composta por 48,2% de homens e 51,8% de mu-
lheres, (IBGE, 2019). A área adscrita à Unidade é composta de 44,5% de homens e 55,5%
de mulheres. Do quantitativo de pessoas cadastradas 8,8% se auto referem brancas, 7,2%
pretas, 0,4% amarelas e 83% de pardas. Este dado é importante para a elaboração de po-
líticas assistências à populações específicas. A tabela 01 retrata esses números:

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Tabela 01. Identificação do usuário/cidadão-raça/cor.

Descrição Quantidade
Branca 314
Preta 259
Amarela 16
Parda 2961
Indígena 0
Não informado 0
Total 3550
Fonte: E-SUS 09/2020.

Jacques e Leal, (2017, pg. 76), apontam que com relação às famílias, elas podem “evi-
denciar as mais diversas formas de organização da sociedade” [...] e quão isso é importante
no estabelecimento do acompanhamento integral desses núcleos e suas configurações. Neste
sentido a tabela 02 nos faz perceber a dinâmica que elas apresentam no território em análise.

Tabela 02. Informações sociodemográficas – relação de parentesco com o responsável familiar.

Descrição Quantidade
Cônjuge/companheiro(a) 282
Filho(a) 349
Enteado(a) 10
Neto(a) / Bisneto(a) 63
Pai / mãe 13
Sogro 02
Irmão(a) 20
Fonte: E-SUS 09/2020.

Sobre a questão do emprego/desemprego, problema social evidenciado tanto nos


dados oficiais (E-SUS, 2019), quanto nos dados obtidos pelos informantes chaves, Buss e
Pellegrini Filho, entendem que existem vários estudos sobre os Determinantes Sociais em
Saúde e sua relação com as iniquidades socais, e os DSS:

[...] privilegia os “aspectos físico-materiais” na produção da saúde e da doença,


entendendo que as diferenças de renda influenciam a saúde pela escassez de
recursos dos indivíduos e pela ausência de investimentos em infra-estrutura
comunitária (educação, transporte, saneamento, habitação, serviços de saúde
etc.), decorrentes de processos econômicos e de decisões políticas. (BUSS e
PELLEGRINI FILHO, 2007, pg 82)

A tabela 03 estratifica a situação do mercado de trabalho na área adscrita, evidenciando


que apenas cerca de 30% afirmam possuir realmente algum vínculo trabalhista.

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Tabela 03. Informações sociodemográficas – situação no Mercado de trabalho.

Descrição Quantidade
Empregador 28
Assalariado com carteira de trabalho 193
Assalariado sem carteira de trabalho 108
Autônomo com previdência social 52
Autônomo sem previdência social 148
Aposentado / pensionista 408
Desempregado 108
Não trabalha 616
Servidor publico / military 07
Outro 236
Não informado 1643
Total 3550
Fonte: E-SUS 09/2020.

Com relação as deficiências, 4,7% da população faz referência a elas, destas, des-
taca-se a deficiência visual com um percentual de 30%, o que evidencia a necessidade
de um “olhar” diferenciado para esses cidadãos, principalmente no que tange a acessibi-
lidade, tabela 04.

Tabela 04. Informações sociodemográficas – deficiências.

Descrição Quantidade
Tem deficiência SIM 167
NÃO 3383
Auditiva 31
Física 38
Intelectual / cognitivo 37
Visual 50
Outra 21
Fonte: E-SUS 09/2020.

Situação Epidemiológica

Com relação as condições de morbimortalidade, a situação epidemiológica e sanitária,


tanto os dados coletados através do E-SUS, os dados da Unidade, os dados da observação
ativa, quanto os dados coletados dos informantes chaves, foram fundamentais para ca-
racterizar esse cenário. Em vista da heterogeneidade da área, observa-se reflexo também
na composição desse quadro epidemiológico. Doenças infecciosas e parasitárias estão
paralelamente presentes com as doenças crônicas-degenerativas “comorbidades ditas
da modernidade”.
Muito claramente foram citadas pelos informantes chaves as doenças crônico-degene-
rativas como as principais causas de adoecimento e morte na área. Patologias cardiovas-
culares; Hipertensão Arterial, Diabetes e os cânceres de forma geral, foram os mais citados

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pelos informantes chaves. Corroborando com essa perspectiva, o gráfico 01, referente aos
atendimentos de 08/2020, demonstra essa forte tendência de adoecimento por condições
crônicas degenerativas:

Gráfico 01. Problemas / Condições avaliadas.

180 168
160
140
120
100 83
80 67
60 32
40 14 14 21
1 3 1 8
20
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Fonte: E-SUS 08/2020.

Infraestrutura da area adscrita

Por englobar regiões do centro da cidade, de um bairro periférico e da zona rural,


nota-se discrepâncias significativas de estrutura física das residências, condições socioe-
conômicas e nível educacional.: 71% de domicílios são casas; 7,2% apartamentos; 1,9%
entram na categoria “outro” e 19% sem informação. Na condição de tipo de imóveis encon-
tramos: 78,4% de imóvel próprio; 0,1% financiado; 14% alugados; 0,3% arrendados e 6,3%
imóvel cedido. Com relação ao tipo de construção: 97% dos domicílios são constituídos de
alvenaria revestida, 0,2% alvenaria sem revestimento; 0,2% de taipa com revestimento;
0,2% de madeira aparelhada; 0,2% de material aproveitado; 0,1% composto de outro mate-
ria. Na forma de escoamento do banheiro ou sanitário encontramos: 44,7% são coletados
na rede de esgotamento; 6% são depositados em fossa séptica; 1,5% em fossa rudimentar;
20% são jogados diretamente no Rio Almada; 1,1% são jogados em céu aberto e 26,4%
não informaram. Quanto ao destino do lixo; 72,7% são coletados pela prefeitura; 0,7% são
queimado ou enterrado; 0,1% são jogados a céu aberto e 26,3% não informaram. Com rela-
ção ao abastecimento de água 75,3% dos domicílios possui rede encanada; 12,7% utilizam
poço, nascente ou cisterna; 0.3% utilizam outra forma de abastecimento e 23% optaram por
não informar. Com relação ao consumo da água: 69% utilizam água filtrada; 0,1% fervida;
25% clorada; 0,9% mineral; 2,8% utiliza sem tratamento e 24% optaram por não informar.
Domicílios com energia elétrica: 50,2% disseram possuirem energia; 0,8% disseram não
possuirem e 49% optaram por não informar. Com relação à renda familiar: 0,8% vivem com
¼ de salário mínimo; 5,1% com meio salário mínimo; 30% com um salário mínimo; 18,3%

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com dois salários mínimos; 0,8% com três salários mínimos; 2,3% com quatro salários mí-
nimos; 1,0% acima de quatro salários mínimos e 39% optaram por não informar.
Embora todas essas informações sejam autoreferidas, sinalizam muitas questões sig-
nificativas que devem ser sempre observadas nas análises de situação epidemiológica, na
tomada de decisão e planejamento das ações de promoção, prevenção e recuperação da saú-
de, uma vez que influenciam diretamente na qualidade de saúde de determinada população.
Devido à heterogeneidade da área, percebida tantos nos dados oficiais coletados, na
observação ativa, quanto no relato dos informantes chaves, na parte estrutural encontramos
uma arquitetura bem característica da época áurea do cacau, com grandes casas e bastante
mobiladas, bem como a existência de casas minúsculas, confeccionadas com argila (taipa),
madeira ou até materiais diversos.
A grande maioria das ruas são calçadas com paralelepípedo, contudo em um bairro
periférico existem algumas ruas sem calçamento. Com relação à rede esgoto, coleta de lixo
e abastecimento de água, encontra-se dentro de parâmetros aceitáveis, conforme eviden-
ciados pelo E-SUS.
A infraestrutura da área é composta por uma gama interessante de equipamentos
socioeconômicos e de saúde tais como: Bancos, Casas Lotéricas, Farmácias, Padarias,
Supermercados, Financeiras de empréstimos, Escolas, Academias, Lojas comerciais diver-
sas, Correios, Clinicas, Fórum, Cartórios, Sede da Prefeitura, Câmara de Vereadores, Loja
Maçônica, Ginásio de esporte, oficinas mecânica, de conserto de relógios etc.

Valores culturais

Os aspectos culturais além de diversificado, são bastante completos e complexos cul-


turalmente. Encontram-se nesse território várias expressões culturais, religiosas, com suas
crenças e práticas ricas e variadas. Nessa composição pode ser encontrada academia de
balé, escola de música, barzinhos com suas histórias e cultura da cidade, Igrejas, Centros
Espíritas e Maçonaria. Batistela, menciona a necessidade de se identificar, conhecer e va-
lorizar a expressão dessas diversas crenças, valores e práticas.

[...] “é fundamental que se reconheça e respeite a expressão dessas crenças e


práticas na sociedade, viabilizando um encontro de saberes que possa conferir
maior efetividade às ações de promoção, prevenção e cuidado, realizadas
pelos serviços de saúde. BATISTELA, (2007. pg 31)

Residem nessa área, cantores, atores, poetas, artistas plásticos, parteiras, rezadeiras,
benzedeiras, expressão bastante forte da cultura locorregional.

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Ambiente interno e externo da organização

Internamente a Unidade de Saúde possui uma estrutura bastante regular para as ações
e serviços que se propõem a realizar. Está muito bem localizada, em local plano, arejado,
com boa acessibilidade e incidência de luz solar. Sua estrutura física é adequada, neces-
sitando de uma revitalização em sua pintura. Há materiais permanentes que precisam de
substituição por outros mais novos, contudo, não impedem a realização de ações de saúde.
Dentre as necessidades destacam-se: inexistência de um expurgo adequado para a lavagem
de materiais sujo e/ou contaminados; Adquações na copa para attender a demanda dos
servidores e reforma na sala de reuniões. O gráfico 02 apresenta a disposição organizativa
da estrutura da Unidade.

Gráfico 02. Disposição organizativa da estrutura da Unidade.

Od ont ologia Triagem Recepção Banh eiros


Ob servação/medicação Coo rd enação Sala de reuniões Triagem/ acolhimento

Imu nização Con sult ório s Curativo Cop a

Área de serviço Famácia

1 1 1 1
1 1

3
4
1
1 1 1 1

Fonte: SMS Coaraci 09/2020.

A Unidade de Saúde encontra-se próxima dos mais importantes equipamentos so-


cioeconômicos do município. Sua localização não possui nenhuma barreira geográfica que
dificulte seu acesso, podendo chegar de transporte automotivo, bicicleta ou a pé. O gráfico
03 apresenta esses equipamentos:

Gráfico 03. Equipamentos sócioeconômicos da area adscrita.

7
6 6
5 5 5
4
3 3
2 2
1 1 1 1 1 1
0
a…

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Fonte: SMS Coaraci 09/2020.

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Principais necessidades de saúde dos clientes (publico alvo) da organização

– Acompanhamento periódico aos usuários do HIPERDIA;


– Visita domiciliares regulares do Médico e da Enfermeira;
– Visitas regulares dos ACS aos grupos populacionais;
– Ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde em todas as etapas da
vida.

Problemas finais e organizacionais (vividos pelos clientes e pelos trabalhadores)

Problemas vividos pelos clientes (população)

– Não acompanhamento satisfatório aos usuários do HIPERDIA;


– Não estruturação de cuidados para os idosos;
– Falta de visita domiciliares regulares de Médico;
– Gravidez na adolescência;
– Desemprego e subemprego;
– Ações desarticuladas de promoção, prevenção e recuperação da saúde.

Problemas organizacionais

– Deficiência nas ações de referências e contra-referências;


– Inexistência de prontuário eletrônico;
– Inexistência de ações intersetoriais integradas;
– Inexistência de local adequado para a realização de ações de Educação em saúde;
– Ausência de ações estruturadas de Educação em Saúde;
– Rotatividade de profissionais;
– Desarticulação entre a Equipe de Saúde Bucal e a ESF.

Finalizado esse processo de construção de diagnostico, utilizamos alguns instrumentos


que são peculiares dos processos de planejamento englobado pelo PES, assim, aplicamos:

1. A matriz TUC2 (nos problemas vividos pela população e nos problemas vividos pela
organização);
2. “Árvore de Problemas”;

2 Transcendência dos problemas para gestores e técnicos da organização, para as forças sociais que o apoiam e para a população;
Urgência dos problemas e implicações da postergação do enfrentamento dos problemas considerados; Capacidade de enfrenta-
mento dos problemas e possibilidade de obter efeitos de impacto dentro do horizonte de tempo do plano.

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3. Matriz de Análise dos Problemas;
4. Matriz de programação das estratégias (para resolução do problemas);
5. Fluxo lógico de sustentação do problema priorizado;
6. Matriz de análise de viabilidade e metas do problema priorizado;
7. Avaliação de alcance de metas do problema priorizado;
8. Gestão do plano (a operacionalização do Plano em si).

No que tange a estruturação e resultado final do plano, houve viabilidade e ganhos,


primordialmente, contudo, diversas adaptações e limitações tiveram de ser efetuadas por
conta do cenário de pandemia, evidenciados no método do estudo. Isso sinaliza a notorie-
dade do planejamento em toda e qualquer circunstancia, mesmo em um cenário adverso, ou
melhor, é justamente em um cenário adverso tal qual o enfrentado na pandemia, que uma
boa planificação, ou seja, uma planificação justa, realçará sua essencialidade.
Outro fator preponderante na experiência desse planejamento foi a sinergia entre a
Academia e o Serviço, numa junção de teoria e prática, ação reflexiva, que resultou em
ganhos mútuos. Em um Mestrado Profissional, como em nosso caso, o objetivo é contribuir
para a qualificação dos alunos/servidores, levantar informações que orientarão na formulação
de políticas públicas para saúde e no enfrentamento aos desafios relativos a mesma, reali-
zando uma re-leitura que fortalecerá a “visão” de ambas sobre as duas realidades distintas,
que devem se complementar. Essa colaboração além de causar impacto na formação dos
estudantes/servidores envolvidos nas ações, fortalece as políticas públicas da saúde, qua-
lifica os serviços envolvidos e a relação da Universidade com setores da sociedade ainda
pouco evidenciados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os inúmeros resultados advindos do emprego do PES permitiu apreender a comple-


xidade dos processos sociais e em contrapartida forneceu ferramentas operacionais para a
construção de projetos e planos de ação para o enfrentamento dos problemas estratégicos da
UBS, que em certa medida resultou, e resultará, num impacto positivo na qualidade de vida
da população adscrita a essa UBS. Entretanto, por conta do cenário pandêmico que tivemos,
foi extremamente desafiador, do ponto de vista operacional e psicológico, principalmente no
emprego da ERP, no que tange a proteção da Equipe de Saúde, dos informants-chaves e
do próprio pesquisador, uma vez que pesava muito no momento, a incompreensão e incer-
tezas sobre o comportamento do vírus, do desenvolvimento da doença e tendo ainda como
agravante a vacinação que não havia sido liberada nem iniciada no Brasil. Contudo, essas
adaptações e cuidados redobrados forneceram substratos consideráveis para perceber o

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quão é sempre desafiador o trabalho em saúde; o quanto que a academia através de seu
suporte e aporte teórico re-significa uma atuação e recebe ao mesmo tempo uma releitura
de sua relevância na sociedade.
O papel relevante e desafiador da atuação dos profissionais de saúde, do SUS, da
APS e da Academia, são colocados ainda mais à prova no enfrentamento de situações e
cenários atípicos como o da pandemia da COVID-19. Entretanto, mesmo em meio a tal
disposição não peculiar, a percepção de que a junção Academia x Serviço é sempre rica
e transformadora se põem em evidência quando do emprego intricado de um processo de
Planejamento envolvendo um método prático e relacional que é o ERP, sendo apresentado
viavelmente, mesmo em um cenário tão atípico como o padêmico.

Agradecimentos

Agradeço imensamente ao Prof. Dr. Antonio José Costa Cardoso/UFSB pelo apren-
dizado e incentivo constante, aos demais Prof. Drs do PROFSAÚDE/UFSB, Jane Mary
Guimarães, Luiz Antônio de Castro, Lina Faria, Márcio Florentino e Rocio Alvarez, aos cole-
gas do curso turma 3, Conceição, Dândara, Davi, Maria Eugênia, Luciano, Matheus, Pedro,
Sérgio e Tamine, a Secretária de Saúde de Coaraci, Maria Luiza, a Equipe do Centro de
Saúde Dr. Ângelo Brito, na pessoa de sua Coordenadora a Enf. Mª José Silva A. Santana e
a toda Equipe de Saúde do CAPS de Coaraci, onde trabalho atualmente.

REFERÊNCIAS

BATISTELLA, C. Saúde, doença e cuidado: complexidade teórica e necessidade histórica.


In: Fonseca AF, Corbo AD, organizadores. O território e o processo saúde-doença. Rio de
Janeiro: EPSJV, Fiocruz; 2007. p. 25-49.

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17(1):77-93, 2007.

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so de Campos, Horácio Pereira de Faria, Max André dos Santos. – 2ª ed – Belo Horizonte:
Nescon/UFMG, 2010. 110P.

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em Saúde. Curso de Planejamento e Avaliação em Saúde. Módulo I. Brasília, DF: ENAP,
2013, pp. 34-56.

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pes de Saúde da Família. Artigo. Laboratório de Planejamento Participativo em Saúde da
Universidade de Brasília (UnB), 2013. 30 pg.

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CECILIO, L.C.O. Trabalhando a missão de um hospital como facilitador da mudança or-
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as Famílias e os Processos de Saúde-Doença. Revista Sociais & Humanas - VOL. 30 /
Nº 1 – 2017.

MATUS, C. O Plano como Aposta. In: Planejamento e orçamento governamental – Volume


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PAIM, J.S. Planejamento em Saúde para não Especialistas. In: Campos, Gastão Wagner.
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STARFIELD, B. Atenção Primária: equilÌbrio entre necessidades de saúde, serviços e


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TEIXEIRA, C. Planejamento em saúde: conceitos, métodos e experiências. EDUFBA,


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TONI, J. Planejamento e Elaboração de Projetos: um desafio para a gestão no setor pú-


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09
Desbridamento e retenção do implante em
artroplastia total do joelho infectada

Pedro Guilme Teixeira de Sousa Filho


Universidade Unichristus

José Leonardo Rocha de Faria


Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia -
INTO/MS

Victor Elias Titonelli


Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia -
INTO/MS

Rodrigo Sattamini Pires e Albuquerque


Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia -
INTO/MS

'10.37885/230111671
RESUMO

Objetivo: O objetivo do trabalho é comparar os pacientes tratados com desbridamento e re-


tenção do implante (D+R) que evoluíram com resultados favoráveis e desfavoráveis, analisan-
do os fatores de risco para o pior desfecho. Métodos: Trata-se de um estudo retrospectivo,
em que foram selecionados pacientes submetidos ao tratamento de infecção periprotética do
joelho com D+R durante o período de janeiro de 2014 a dezembro de 2019. Foram incluídos
apenas casos com D+R realizado em até 4 semanas após a artroplastia. Foi considerado
tratamento com sucesso o daquele paciente que não teve recidiva da infecção em 2 anos
após o D+R. Resultados: Dos 49 pacientes incluídos na amostra, 30 tiveram sucesso com
o D+R. A análise laboratorial de VHS e de PCR evidenciou que ambas as variáveis eram
significativamente maiores no grupo de pacientes com falha do D+R. A curva ROC iden-
tificou um valor de 21,05 como ponto ótimo de corte para o valor de PCR, verificando que
valores superiores aumentam o risco de insucesso no D+R. Conclusão: O desbridamento
associado a retenção do implante é uma boa opção terapêutica para as infecções agudas da
artroplastia total do joelho, com mais de 60% de sucesso para casos bem indicados. É im-
portante atentar aos valores de PCR e VHS no momento da infecção periprotética, pois, em
casos que estão muito elevados, maximizam as chances de insucesso do D+R.

Palavras-chave: Artroplastia Total do Joelho, Infecção, Complicação.


INTRODUÇÃO

A artroplastia total do joelho (ATJ) é um procedimento cirúrgico altamente eficaz no


tratamento da artrose do joelho, melhorando significativamente a qualidade de vida dos
pacientes, e proporcionando alívio dos sintomas, restauração da função articular, melhoria
da mobilidade e independência.1 A infecção é uma causa de falha após ATJ. A prevalência
de infecção pós artroplastia primária variou de 0,5 a cinco por cento em séries com 821 a
13.478 artroplastias. A taxa de infecção é maior nos pacientes com prótese de revisão e
naqueles com artrite reumatóide.2,3,4
Atualmente, a percentagem de joelhos infectados é considerada baixa. Entretanto,
estima-se que haja um aumento no número absoluto de pacientes infectados, uma vez
que há cada vez mais substituições totais do joelho. Kurtz et al. projetaram que a demanda
por artroplastia do joelho primária nos Estados Unidos deverá crescer 673% em 25 anos,
passando de 450.000 em 2005, para 3,48 milhões em 2030.3,5 Se 2% dos 3.480.000 pa-
cientes desenvolvem uma infecção no primeiro ano após a artroplastia do joelho, espera-se
que, aproximadamente, 69 mil pacientes sejam tratados por infecção peri-protética a cada
ano. A gravidade e a complexidade também estão aumentando, devido ao grande número
de patógenos resistentes.3
Os algoritmos de tratamento para infecção de ATJ aguda incluem desbridamento com
retenção do implante (D+R) 6, revisão em estágio único7 ou revisão em duas etapas, com a
colocação de um espaçador de cimento de polimetilmetacrilato (PMMA) com antibiótico em
um primeiro momento, seguido de reimplantação de uma prótese após condições clínicas
e laboratoriais favoráveis 8.
O D+R é uma opção terapêutica bastante atraente, por ser um procedimento mais sim-
ples, com menor risco de complicação. Sabe-se que este procedimento, realizado em infec-
ções precoces ou infecções hematogênicas tardias, tem uma taxa de sucesso mais elevada
em pacientes saudáveis, infecções com organismos de baixa virulência e em pacientes com
sintomas de início recente 6,9
. Caso o D+R seja realizado, é necessário assegurar-se que
a prótese esteja estável e bem posicionada, e que exista boa cobertura de partes moles 9.
Mesmo quando bem indicado, existem casos em que o D+R não evolui com sucesso
no tratamento da infecção. O presente estudo tem como objetivo comparar os pacientes
tratados com D+R que evoluíram com resultados favoráveis e desfavoráveis, analisando os
fatores de risco para o pior desfecho.

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102
Materiais e Métodos

Trata-se de um estudo retrospectivo, em que foram selecionados pacientes subme-


tidos ao tratamento de infecção periprotética do joelho com D+R durante o período de
janeiro de 2014 a dezembro de 2019 em hospital terciário de referência (Instituto Nacional
de Traumatologia e Ortopedia). Foram considerados como critérios de inclusão: ATJ e D+R
realizados no hospital; D+R realizado em no máximo 4 semanas após a artroplastia. Foram
excluídos todos os casos que atendiam a algum dos critérios abaixo: Pacientes com D+R
realizado com mais de 4 semanas após a ATJ; prontuário médico incompleto; pacientes
considerados com infecção superficial (pele e subcutâneo) e que não tiveram a cápsula
articular violada durante o procedimento; pacientes que não tiveram seu polietileno subs-
tituído durante a abordagem cirúrgica. Na análise inicial observamos 65 pacientes, porém,
16 pacientes foram excluídos por algum critério acima mencionado. Assim sendo, nossa
pesquisa constitui-se de 49 pacientes.
Conforme a rotina do grupo de cirurgia do joelho, os pacientes com infecção de ATJ
com indicação de D+R foram abordados através de acesso sobre cicatriz prévia, associa-
do a retirada do polietileno, coleta de pelo menos cinco amostras ósseas ou da interface
prótese-cimento-osso e irrigação com desbridamento intenso da articulação. Após esta
etapa, foi colocado um novo polietileno e fechamento por planos. Em todos os pacientes
iniciou-se uma antibioticoterapia empírica conforme orientado pela Comissão de Controle
de Infecção Hospitalar (CCIH), podendo ser modificada posteriormente, conforme resultado
de culturas e antibiograma.
Os sujeitos incluídos na pesquisa foram distribuídos em dois grupos de acordo com
o resultado clínico do tratamento para infecção. Foi considerado tratamento com sucesso
o daquele paciente que não teve recidiva da infecção em pelo menos 2 anos após o trata-
mento com D+R associado a antibioticoterapia. O grupo A foi formado pelos pacientes que
evoluíram de forma satisfatória após o D+R, e o grupo B foi formado pelos pacientes com
recidiva da infecção após o D+R. Foram coletados dados demográficos e clínicos relativos
aos pacientes incluídos na pesquisa a partir de consulta dos prontuários médicos.
Os dados coletados a partir dos instrumentos de pesquisa foram dispostos em uma
planilha eletrônica, construindo assim o banco de dados da pesquisa. A análise estatística dos
dados foi feita através do programa IBM SPSS (Statiscal Package for the Social Sciences),
versão 22.0. Para investigar a associação significativa entre um determinado fator e o su-
cesso/insucesso no D+R, foi aplicado o teste qui-quadrado, e quando um dos princípios do
teste qui-quadrado foi violado, utilizou-se o teste Exato de Fisher.
Na Análise Inferencial de Variáveis Quantitativas, a hipótese de normalidade da distri-
buição foi verificada pelos testes de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk. Quando a hipótese

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de distribuição normal não foi rejeitada nos grupos, a comparação de dois grupos foi feita
pelo teste t de Student. A igualdade das variâncias, necessária para a execução do teste
t de Student sem correção, foi avaliada internamente no teste t-de Student pelo teste de
Levene. Quando para pelo menos um dos grupos a hipótese de normalidade da distribuição
foi rejeitada por pelo menos um dos testes, a comparação dos dois grupos independentes
foi feita pelo teste não paramétrico de Mann-Whitney.
Para a identificação de um ponto de corte ótimo para as variáveis quantitativas signi-
ficativamente associadas ao sucesso/insucesso da D+R, foi usada a metodologia da Curva
ROC (Receiver Operating Characteristic). A medida de desempenho do teste diagnóstico
proposto usando tal ponto de corte, foi a área sob a curva ROC (Área Under the Curve- AUC),
e a significância da área sob a curva ROC foi avaliada pelo teste que julga a hipótese nula
H0: a área sob a curva ROC é igual a 0,5. Sob a hipótese nula, o teste proposto não tem o
poder de discriminar indivíduos com insucesso e sucesso, daí porque se espera rejeitar H0.
Além do teste de significância, foi obtido intervalo de confiança assintótico para a área sob
a curva, para o qual espera-se não conter o valor 0,5.
Todas as discussões foram realizadas ao nível de significância máximo de 5% (0,05), ou
seja, foi adotada a seguinte regra de decisão nos testes de significância estatística: rejeição
da hipótese nula sempre que o p-valor associado ao teste foi menor que 0,05.

RESULTADOS

A amostra base desta pesquisa foi formada por 49 pacientes que atenderam aos critérios
de inclusão descritos. Do total, 30 tiveram sucesso com o D+R, conforme mostra distribuição
da Figura 1. Dos 19 casos de insucesso, sete (36,8%) evoluíram para artrodese e um caso
(5,3%) foi submetido à artroplastia de ressecção como cirurgia de salvamento. Os outros 11
pacientes (57,9%) obtiveram sucesso com Revisão de ATJ em 2 tempos.

Figura 1. Distribuição dos casos de Sucesso e Insucesso no desbridamento e retenção do implante (D+R).

D+R sem
Sucesso
38,8%

D+R com
Sucesso
61,2%

Fonte: Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (2020).

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A Tabela 1 a traz a distribuição quanto ao sexo, ao lado operado e às principais comorbi-
dades dos pacientes nos subgrupos segundo o sucesso no D+R e na amostra global. A maio-
ria dos pacientes submetidos ao D+R são do sexo feminino (77,6%), o lado esquerdo foi o
mais frequentemente operado (57,1%) e as comorbidades mais prevalentes foram hiperten-
são (65,3%), obesidade (55,1%), diabetes (20,4%) e artrite reumatóide (16,3%). Ao comparar
os grupos, foi evidenciado que o sucesso do D+R não está significativamente associado ao
sexo do paciente, ao lado operado ou a alguma das comorbidades envolvidas.

Tabela 1. Distribuição do sexo e das principais comorbidades dos pacientes, nos subgrupos segundo o sucesso no
desbridamento e retenção do implante (D+R) e na amostra global.
Sem Com
Global
sucesso na D+R sucesso na D+R p-valor do teste comparando as
Variável n=49
n=19 n=30 distribuições nos dois subgrupos
F % F % F %
Sexo
Feminino 15 78,9% 23 76,7% 38 77,6% 1,000(a)
Masculino 4 21,1% 7 23,3% 11 22,4%
Lado Operado
Direito 7 36,8% 14 46,7% 21 42,9% 0,498(b)
Esquerdo 12 63,2% 16 53,3% 28 57,1%
Principais Comorbidades
Hipertensão 13 68,4% 19 63,3% 32 65,3% 0,715(b)
Obesidade(c) 11 57,9% 16 53,3% 27 55,1% 0,754(b)
Diabetes 3 15,8% 7 23,3% 10 20,4% 0,720(a)
Artrite Reumatóide 4 21,1% 4 13,3% 8 16,3% 0,694(a)
(a) Teste exato de Fisher (b) Teste quiquadrado
(c) O paciente foi considerado obeso se o seu índice de massa corporal (IMC) fosse maior ou igual a 30 Kg/m2.
Fonte: Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (2020).

Foram avaliados, ainda, os valores de VHS e PCR no pré-operatório imediato à realiza-


ção do D+R. O valor do VHS variou de 28 a 130, resultando numa média de 69,5, mediana
de 61,5 e desvio padrão de 27,9 (Tabela 2). Já o PCR variou de 0,5 a 202, resultando numa
média de 51,9, mediana de 21,1 e desvio padrão de 59,5 (Tabela 3).

Tabela 2. Principais estatísticas da distribuição do VHS dos pacientes.

Grupo
Estatística
Sem Sucesso na D+R Com sucesso na D+R Global
Mínimo 28,0 30,0 28,0
Máximo 130,0 115,0 130,0
Média 85,4 57,6 69,5
Mediana 86,8 57,5 61,5
Desvio Padrão 29,6 20,2 27,9
Fonte: Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (2020).

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Tabela 3. Principais estatísticas do PCR dos pacientes.

Grupo
Estatística
Sem Sucesso na D+R Com sucesso na D+R Global
Mínimo 2,8 0,5 0,5
Máximo 202,0 172,0 202,0
Média 78,2 35,2 51,9

Mediana 50,0 15,2 21,1

Desvio Padrão 68,3 47,9 59,9


Fonte: Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (2020).

Os p-valores dos testes de normalidade levaram à conclusão de que o VHS e PCR não
seguiam distribuição normal na amostra global e nos subgrupos da pesquisa. Sendo assim,
as distribuições de VHS e PCR dos pacientes dos grupos de sucesso e insucesso após D+R
foram comparadas pelo teste de Mann-Whitney, que resultou num p-valor 0,008 e 0,005
respectivamente, mostrando que ambas as variáveis laboratoriais eram significativamente
maiores no grupo de pacientes sem sucesso após o D+R.
No grupo com sucesso após o D+R, pelo menos 75,0% dos pacientes tinham PCR
menor ou igual a 27,3. Os pacientes deste grupo com PCR acima deste valor do Percentil
75 são considerados atípicos, estando assinalados por * no boxlot da figura 2. Em contraste,
pelo menos 75% dos pacientes do grupo sem sucesso no D+R tem PCR acima de 21,1.

Figura 2. Distribuição da PCR nos grupos sem e com sucesso após o desbridamento e retenção do implante (D+R).

Fonte: Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (2020).

A figura 3 a traz a curva ROC (AUC - area under curve) para o valor de PCR como
indicador de insucesso no D+R. Para cada ponto de corte foram calculados valores de
sensibilidade e especificidade, que estão dispostos no gráfico. Um classificador perfeito
corresponderia a uma linha horizontal no topo do gráfico, e a linha diagonal verde representa
um teste básico de referência. Na prática, curvas consideradas boas estarão entre a linha

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106
diagonal e a linha perfeita, onde quanto maior a distância da linha diagonal, melhor o teste
diagnóstico. Na presente análise, a curva ROC identificou como ponto ótimo de corte o valor
de PCR igual a 21,05. Nesse ponto, a sensibilidade e a especificidade atingem seu máximo
simultâneo possível, concluindo-se que este é o ponto de corte que maximiza a razão de
chances de insucesso no D+R.

Figura 3. Curva ROC usando a PCR como indicador de insucesso no D+R.

Fonte: Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (2020).

A área sob a curva ROC (AUC - area under curve) é uma medida do desempenho do
teste proposto (índice de exatidão do teste). Uma área sob a curva de 0,5 é considerada
como hipótese nula, e acima de 0,60 é considerada como desempenho satisfatório. Nesta
análise, a área sob a curva ROC foi igual a 0,74, mostrando desempenho satisfatório do
teste proposto com o ponto de corte da PCR igual a 21,05.
Ao analisar os resultados das culturas, o germe de maior incidência foi o Staphylococcus
aureus, presente em 42,9% dos casos, seguido pelo Staphylococcus epidermides e pela
Pseudonomas, ambos com incidências de 10,2% dos casos. Quatro pacientes (8,2%) tiveram
seus resultados de cultura negativos. Outros onze pacientes (22,4%) apresentaram dois ou
mais tipos diferentes de germes na cultura. Não foi identificada relação estatística entre o
resultado do D+R e a quantidade ou tipos de germes encontrados em cada um dos grupos.

DISCUSSÃO

Há estudos que evidenciam a falta de uniformidade dos pacientes que realizam o desbri-
damento e retenção do implante (D+R). Em razão disso, os resultados são bem discrepantes

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na literatura. Os fatores controversos são: o marco temporal para a abordagem cirúrgica,
a antibioticoterapia realizada e a duração do tratamento, o microorganismo acometido e a
substituição ou não do polietileno. Nosso pensamento é que protocolos bem estabelecidos
devam ser definidos em cada hospital objetivando o resultado mais satisfatório 10.
Ottesen et al. relatam uma taxa de sucesso de 84% no D+R. A substituição do polietileno
ocorreu em 31% dos pacientes 10. Achamos que a troca do polietileno é fundamental para o
adequado desbridamento do joelho. Em função disto, todos os nossos pacientes tiveram o
polietileno substituído. Argenson et al. evidenciam que a substituição do polietileno permite a
visualização mais adequada da região posterior do joelho 11. Pensamento que corroboramos
e defendemos. Além disso, Zhang et al. afirmam que a troca do polietileno reduz a taxa de
recidiva. Eles alegam que biofilme aderido ao polietileno é um fator de risco, assim sendo,
a troca deste componente é necessária 12.
Qasim et al. relatam após uma revisão da literatura uma taxa de sucesso de D+R entre
31 a 100%. Segundo esses autores um dos fatores do sucesso é o microorganismo que
está sendo tratado 13. Nós concordamos com essa informação. O germe mais acometido
na nossa pesquisa foi o Staphylococcus aureus. Há diversos estudos com resultado similar
em relação ao germe 11-12,14-16.
Qasim et al. afirmam que o D+R deva ser feito apenas uma única vez 13. Nós ratifica-
mos esse pensamento. Na nossa opinião caso haja insucesso com o D+R a revisão em dois
tempos deve ser uma opção. Achamos que o uso do espaçador com antibiótico local possa
erradicar esse processo infeccioso de uma forma mais agressiva.
Choo et al. recomendam a lavagem do joelho associando uma solução antisséptica 17.
Como não há uniformidade na literatura sobre este tópico nossa pesquisa utilizou apenas
soro fisiológico. Argenson et al. em um consenso sobre o tema orientam a lavagem do joelho
com 6 a 9 litros de solução salina11. Além disso, defendem o uso de uma solução antisséptica.
Nosso pensamento é que não está claro na literatura quais os efeitos da solução antisséptica
por via tópica em contato com o tecido ósseo ou muscular, além de não haver consenso
sobre a quantidade da concentração das diversas soluções antissépticas.
Odum et al. afirmam que a falência do D+R afetam negativamente a revisão em 2
tempos subsequente 18. Em razão disso, nossa pesquisa utilizou como marco temporal 4
semanas após a ATJ. Pensamos que esse período ainda não há a formação de biofilme.
Zaruta et al. evidenciam uma tendência de recomendar o uso do dreno de sucção.
Segundo eles o dreno de sucção reduz o espaço morto do joelho e diminui o fluído da ferida
operatória 19. Nosso hospital adota como protocolo sempre fazer esse tipo de cirurgia sem
manguito pneumático e sem dreno de sucção. Na nossa visão o manguito pneumático pode

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mascarar alguma coleção purulenta, bem como, o dreno de sucção pode ser uma nova porta
de entrada para recidiva do processo infeccioso.
Argenson et al. relatam como taxa de falência do D+R o PCR > 115 mg/L 11. Nosso
estudo observou que 75% do grupo sem sucesso com este procedimento apresentavam um
PCR > 21,1. Em razão disso, o nosso hospital adota a aferição do PCR como um protocolo
pré-operatório de uma artroplastia total do joelho primária. Assim sendo, caso haja uma
suspeita de infecção teremos um dado prévio que nos auxilie na melhor opção terapêutica.
Kim et al. realizaram o procedimento de desbridamento artroscópico do joelho em al-
guns pacientes da sua série 15. A indicação para essa opção baseou-se na condição geral
do paciente e na severidade dos sintomas. Em nossa opinião, o desbridamento artroscópi-
co não possui espaço terapêutico na infecção aguda da ATJ. Achamos que a ausência da
substituição do polietileno compromete o tratamento em questão.
Avaliamos as comorbidades mais prevalentes que foram respectivamente: hipertensão,
obesidade, diabetes e artrite reumatóide. Nosso estudo observou que o sucesso do D+R
não está significativamente associado as comorbidades envolvidas. Narayanan et al. incluí-
ram o tabagismo como fator de risco 20. Nossa pesquisa por ser retrospectiva não analisou
esse dado. Achamos que o tabagismo pode interferir na cicatrização da ferida operatória.
Devemos lembrar, que nosso país possui uma campanha antitabagismo de sucesso, em
função disso, pensamos que a ausência desse dado não compromete nossos resultados.
Mulpur et al. concluíram que as comorbidades, o resultado de cultura e a identificação do
patógeno não influenciaram na efetividade do tratamento21.
Nosso estudo ocorreu em um país em desenvolvimento e pacientes oriundos do sistema
único de saúde. Em razão disso, o aspecto nutricional pode ter sido um fator que interferiu
no resultado do tratamento. Infelizmente não avaliamos esse parâmetro.
Shao et al.22 e Kuiper23 et al. evidenciam a falta de uniformidade sobre o tema. Concluem
que devam surgir estudos prospectivos multicêntricos com diagnóstico e critérios similares
23. Nosso pensamento está de acordo com essa afirmação. Achamos que avanços no tra-
tamento da infecção pós ATJ incluem o surgimento de novos marcadores na detecção do
diagnóstico precoce, bem como, novos antibióticos que possam ser administrados por via
oral ou intramuscular, diminuindo o período de internação e com isso o custo do tratamen-
to. Consequentemente haverá uma diminuição do impacto psicológico que muitas vezes a
internação prolongada têm sobre os pacientes.

CONCLUSÃO

O desbridamento associado a retenção do implante é uma boa opção terapêu-


tica para as infecções agudas de ATJ, com mais de 60% de sucesso para casos bem

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indicados. É importante atentar aos valores de PCR e VHS no momento da infecção peri-
protética, pois, em casos que estão muito elevados, maximizam as chances de insucesso
do desbridamento e retenção do implante (D+R).

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10
Elaboração de uma sequência didática
utilizando-se o tema gerador fármacos
para o ensino de Química orgânica no
ensino médio

Raoni Schroeder Borges Gonçalves


Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

André Luís Silveira Brum


Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

'10.37885/221211605
RESUMO

No ensino público brasileiro, repleto de contrariedades e constantemente desafiado pela rea-


lidade socioeconômica de seus alunos, é fundamental o desenvolvimento de novas práticas
pedagógicas que contribuam para a manutenção dos alunos em sala de aula e para uma
melhoria em seu desempenho escolar. Principalmente práticas que tenham como função
romper com os métodos tradicionais de ensino. Nesse contexto, a utilização de temas que
façam parte do cotidiano do aluno é uma ferramenta bastante poderosa, podendo contribuir
não só para um maior estímulo à aprendizagem, como também para uma melhor compreen-
são da relevância dos diferentes temas abordados nas disciplinas de ciências. Os fármacos
ou insumos farmacêuticos ativos (IFAs) são os componentes farmacologicamente ativos en-
contrados em um medicamento. Essas substâncias têm como objetivo modificar ou explorar
sistemas fisiológicos ou estados patológicos em benefício da pessoa na qual se administra.
Porém, apesar dos benefícios diretos, inúmeros problemas também são associados ao con-
sumo indiscriminado de medicamentos. Particularmente, o uso massivo de antidepressivos
tem chamado bastante atenção, principalmente durante a pandemia do novo Coronavírus.
Nesse contexto, tendo em vista a importância do tema fármacos no cotidiano dos alunos e
o potencial a ser explorado com base nas estruturas químicas dessas substâncias, o pre-
sente trabalho tem como objetivo o desenvolvimento de uma sequência didática onde serão
exploradas questões sociais relacionadas ao uso de medicamentos e conceitos ligados à
química medicinal para o ensino de tópicos como funções orgânicas, interações intermole-
culares e propriedades físico-químicas de compostos orgânicos.

Palavras-chave: Tema Gerador, Fármacos, Antidepressivos, Química Orgânica e


Sequência Didática.
INTRODUÇÃO

No ensino público brasileiro, repleto de contrariedades e constantemente desafiado


pela realidade socioeconômica de seus alunos, é fundamental o desenvolvimento de novas
práticas pedagógicas que contribuam para a manutenção dos alunos em sala de aula e
para uma melhoria em seu desempenho escolar. Nesse contexto, a utilização de temas que
façam parte do cotidiano dos estudantes é uma ferramenta bastante poderosa, que pode
contribuir não só para um maior estímulo à aprendizagem, como também para uma melhor
compreensão da relevância dos diferentes temas abordados nas disciplinas de ciências.
De acordo com a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio
(BNCC-EM), é necessário fazer da sala de aula um ambiente mais acolhedor, tornando o
processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico e atrativo. Esse caminho pode ser cons-
truído a partir do uso de metodologias ativas e com a utilização de temas geradores, onde
o aluno possa ser o protagonista de seu saber e tempo e dialogar com assuntos ligados
ao seu cotidiano.
A estratégia tradicional de ensino da química para discentes do Ensino Médio (EM)
passa pelo desafio de fazê-los compreender as transformações químicas e seus impactos
e consequências práticas no mundo real. Tal conhecimento possibilitará com que o estu-
dante interprete e analise as informações recebidas de diversas fontes tais como aquelas
veiculadas na mídia, senso comum e da própria escola, possibilitando assim a construção de
um conhecimento científico aplicado a diversas situações e suas repercussões no cotidiano
(BRASIL, 2002). Neste contexto, a divisão dos assuntos por temas permite uma relação com
essas situações cotidianas e possibilita a compreensão de tais fatos sob a luz da química
ensinada na escola (SCHNETZLER, 2010). Nesse contexto, a possibilidade de se trabalhar
com o tema gerador “fármacos” pode contribuir para que os alunos identifiquem a relação
existente entre as estruturas químicas dessas substâncias e as influências que elas exercem
em nosso organismo (PAZINATO et al., 2012).

Fármacos e as indústrias farmacêutica e farmoquímica

Os fármacos ou insumos farmacêuticos ativos (IFAs) são os componentes farmacolo-


gicamente ativos encontrados em um medicamento. Essas substâncias têm como objetivo
modificar ou explorar sistemas fisiológicos ou estados patológicos em benefício da pessoa
na qual se administra (BRUNTON & DANDAN, 2015).
O processo de desenvolvimento de um fármaco é complexo e envolve a participação
de profissionais de inúmeras áreas. No entanto, a química apresenta um papel fundamen-
tal, principalmente nas etapas iniciais, onde a proposta de novas estruturas e a descoberta

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de novas moléculas é fundamental, sendo o profissional atuante nessa etapa o químico
medicinal. Segundo definição da IUPAC, a Química Medicinal é responsável pelo plane-
jamento, descoberta, invenção, identificação e preparação de compostos biologicamente
ativos (protótipos), além do estudo do metabolismo, interpretação do mecanismo de ação a
nível molecular e a construção das relações entre a estrutura química e a atividade farma-
cológica (relação estrutura atividade – do inglês structure-activity relationship SAR). Para
que uma substância seja considerada um candidato a fármaco, evoluindo do processo de
descoberta para a etapa de desenvolvimento, alguns fatores devem ser considerados, tais
como: simplicidade estrutural, com possibilidade de modificações, visando a otimização de
seu perfil farmacoterapêutico; ser membro de uma série congênere com SAR bem estabe-
lecida; possuir situação patentária favorável e apresentar boa propriedade farmacocinética.
O fármaco, conforme dito anteriormente, corresponde ao princípio ativo do medica-
mento, tendo como responsável por sua fabricação a indústria farmoquímica. Os papéis das
indústrias farmoquímica e farmacêutica pode gerar, por vezes, conflitos conceituais. A pri-
meira é uma indústria de química fina, que faz transformações químicas e trabalha predo-
minantemente com os processos orgânicos, utilizando como matérias primas intermediários
químicos, produtos naturais ou de origem biológica. Já a indústria farmacêutica é o fabricante
do medicamento que em sua composição possui o IFA, os excipientes e o veículo. É uma
indústria de formulação, que mistura e prepara as formas e apresentações farmacêuticas.
Está na ponta final da cadeia de produção pois oferece o medicamento que é o produto
pronto para uso e consumo humano. No entanto, muitas indústrias possuem ambas insta-
lações, farmoquímica e farmacêutica (COSTA et al, 2014). Lamentavelmente, nosso país
produz apenas 5% dos insumos farmacêuticos ativos (IFAs) destinados para produção de
medicamentos para o consumo interno (PRESTES, 2022).

O percurso do fármaco no nosso organismo

A farmacodinâmica e a farmacocinética compreendem duas das principais áreas de


estudo da farmacologia. Farmacodinâmica consiste na interação do fármaco com seu sítio
de ação em nosso sistema biológico, resultante das interações hidrofóbicas, estéricas e
eletrostáticas. A farmacocinética estuda o percurso que o fármaco faz em nosso corpo,
o tempo de evolução de sua absorção, distribuição, metabolização e excreção (TOZER
& ROWLAND, 2009).
Absorção: é o processo no qual o fármaco deixa seu local de administração e alcança a
corrente sanguínea. A via de administração preferencial para um fármaco é a oral. No entanto
há outras vias de administração, tais como: cutânea, subcutânea, muscular, endovenosa,

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respiratória e retal. A forma mais convencional de absorção é a partir do intestino delgado.
Apenas pela via de administração endovenosa que o processo de absorção não é observado.
Distribuição: a distribuição é a passagem do fármaco do fluxo sanguíneo para outros
tecidos (WINTER, 2009).
Metabolização: processo onde fármaco é convertido em outras substâncias, permitin-
do com que o mesmo seja eliminado do organismo. O processo se dá através da ação de
enzimas e ocorre comumente no fígado, rins, pulmões e tecidos nervosos (WINTER, 2009).
Excreção: pode ser definida como a passagem do fármaco da circulação sanguínea
para o meio externo. Os rins são a principal via de excreção do nosso organismo. No en-
tanto, também pode ocorrer através dos pulmões, fezes, lágrimas, suor, saliva e suco bi-
liar (WINTER, 2009).
A relação entre a intensidade/duração do efeito e a dose do fármaco administrado de-
pende de sua farmacocinética e farmacodinâmica. O grau de afinidade e a especificidade da
ligação entre o fármaco e seu sítio receptor está intrinsecamente relacionado com a química
básica. A farmacodinâmica é determinada por interações intermoleculares que compreendem
forças eletrostáticas, tais como ligações de hidrogênio, dipolo-dipolo, íon-dipolo, ligações
covalentes e interações hidrofóbicas. Já a fase farmacocinética está interligada à solubili-
dade em água de um fármaco e ao seu potencial de atravessar das membranas biológicas.
Além disso, fatores como a massa molecular, energias de conformação, o grau de
ionização, a lipossolubilidade são fundamentais para as propriedades farmacológicas.

OBJETIVO

Tendo em vista a importância do tema fármacos e o potencial do mesmo a ser utilizado


como base para o ensino de química orgânica no ensino médio, o presente trabalho tem
como objetivo o desenvolvimento de uma sequência didática (SD) onde podem ser explo-
radas conceitos ligados à química medicinal para o ensino de tópicos como funções orgâ-
nicas, interações intermoleculares e propriedades físico-químicas de compostos orgânicos,
além do desenvolvimento de debates ligados a questões sociais relacionadas ao consumo
de medicamentos.

RESULTADOS

A SD proposta no presente trabalho foi elaborada para ser aplicada com alunos de
turmas do 3º ano do ensino médio e é dividida em quatro momentos, conforme apresentado
no quadro abaixo (Quadro 1).

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Quadro 1. Dinâmica da sequência didática.

Atividade Objetivo
Introdução ao tema fármacos através de uma discussão com base nas pergun- Ambientar os alunos ao tema aborda-
tas: o que é um fármaco, o que é um medicamento, qual é o percurso percor- do, além de despertar a curiosidade
1º momento rido por um fármaco em nosso organismo e como se dá seu modo de ação? deles no que diz respeito ao percur-
A discussão é facilitada através da apresentação de um vídeo (https://www. so do fármaco em nosso organismo
youtube.com/watch?v=j688ggKizjA) e da realização de uma roda de conversa. e seu modo de ação.
Estimular o aluno a identificar em tais
Apresentação, através de slides, de fórmulas estruturais em bastão e da es- estruturas as funções orgânicas pre-
2° momento trutura em 3D de fármacos antidepressivos, sendo esses a fluoxetina e o es- sentes e prever os tipos de interações
citalopram. intermoleculares que tais fparmacos
podem realizar.
Elucidar a diferença entre os medi-
camentos de referência, similar e
3° momento Ilustração de uma história em quadrinhos (HQ) sobre o uso de medicamentos. genérico, bem como explorar ques-
tões sociais relacionadas ao uso de
medicamentos.
Aplicação de um questionário com 10 questões (sendo as 5 primeiras baseadas Estimular a participação dos alunos
4° momento no tema desenvolvido em aula e as 5 restantes extraídas de exames anteriores e fomentar neles o desejo de realizar
do ENEM). o ENEM.

No primeiro momento da SD é proposta uma discussão com os alunos abor-


dando as questões:

• O que é um fármaco?
• O que é um medicamento?

Qual é o percurso percorrido por um fármaco em nosso organismo e como se dá seu modo de ação?

A discussão é facilitada pela apresentação de um vídeo previamente selecionado a


partir da plataforma YouTube, cujo link é apresentado no Quadro 1. O vídeo ilustra o pro-
cesso de absorção do fármaco após sua ingestão por via oral e sua apresentação teve como
objetivo ambientar os alunos em relação ao assunto que seria abordado, além de despertar
a curiosidade deles no que diz respeito ao percurso do fármaco em nosso organismo.
Em seguida à apresentação do vídeo é feita uma roda de conversa na qual o professor
busca responder as perguntas levantadas, esclarecer eventuais dúvidas sobre o assunto e
estimular novas questões que possam surgir mediante o interesse dos alunos. Os principais
conceitos abordados nessa etapa da SD são apresentados na introdução do presente ca-
pítulo, nas seções: “Fármacos e as indústrias farmacêutica e farmoquímica” e “O percurso
do fármaco no nosso organismo”. Além disso, com o intuito de facilitar a discussão, foi pre-
parado um conjunto de slides contendo os principais tópicos abordados. Tais slides podem
ser acessados através do QR code disponível na figura 1.

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Figura 1. QR code de acesso ao material desenvolvido para a aplicação da sequência didática.

No segundo momento da SD são apresentadas as estruturas de Lewis e gifs animados


contendo as estruturas químicas em 3D de dois fármacos antidepressivos, a fluoxetina e
o escitalopram (Figuras 2 e 3). As fórmulas estruturais em bastão foram desenhadas uti-
lizando-se o programa CHEMDRAW 7.0.1. Já os gifs (formato de intercâmbio de gráficos)
foram preparados utilizando-se o software PyMOL (as estruturas de Lewis e os gifs podem
ser acessados através do QR code disponível na figura 1).
A apresentação das estruturas os fármacos tem como premissa a compreensão por
parte dos alunos de que boa parte dos fármacos comercializados na atualidade são peque-
nas moléculas orgânicas. Além disso, a partir das estruturas apresentadas, são discutidos
diversos conceitos de química orgânica abordados no ensino médio como as funções orgâ-
nicas, interações intermoleculares e quiralidade. Nesse contexto, os alunos são estimulados
a identificarem as funções orgânicas presentes nas estruturas dos fármacos, as interações
intermoleculares que cada uma das substâncias pode realizar e a presença ou não de car-
bonos quirais. A discussão permite, ainda, correlacionar os conceitos de interações intermo-
leculares e propriedades físico-químicas de uma molécula orgânica com suas propriedades
farmacológicas.

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Figura 2. Estrutura de Lewis e estrutura em 3D da fluoxetina.

Figura 3. Estrutura de Lewis e estrutura em 3D do escitalopram.

No terceiro momento os alunos são estimulados a ler e interpretar uma tirinha em


quadrinhos preparada para a presente SD (Figura 4). As tirinhas em quadrinhos foram pre-
paradas utilizando-se o site Pixton, uma plataforma online que permite a criação de histórias
em quadrinhos utilizando modelos pré-definidos pelo site além de possibilitar a montagem
a partir do zero, utilizando as diversas ferramentas disponibilizadas pela plataforma. O site
tem diversas opções de plano, contando inclusive com a opção de testes gratuitos por
tempo determinado.
Essa etapa teve como intuito de abordar as questões sociais relacionadas ao tema
desenvolvendo os conceitos de medicamentos de referência, medicamento genérico e o
medicamento similar.

Figura 4. Tirinha em quadrinhos preparada para a abordagem de questões ligado aos temas medicamentos de referência,
medicamento genérico e o medicamento similar.

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Por fim, no quarto momento da SD, é proposta a aplicação de um questionário com o
intuito de verificar o aproveitamento dos conteúdos por parte dos alunos, através de uma
perspectiva qualitativa (o questionário pode ser acessado através do QR code disponibili-
zado na figura 1).
O questionário proposto contém 10 questões onde as cinco primeiras dialogam dire-
tamente com o conteúdo abordado na SD e as outras cinco foram selecionadas a partir de
provas antigas de ENEM onde priorizou-se questões que tenham alguma relação com o
conteúdo exposto.

DISCUSSÃO

A inserção do ensino de química para alunos do ensino médio por muitas vezes é
encarada como um desafio. Nesse contexto, despertar no aluno o interesse pelos assuntos
abordados e a motivação necessária em sala de aula é um papel importante do professor e
faz parte do processo de ensino aprendizagem. O aluno, ao ser motivado a pensar, tomar
decisões e encarar situações do seu cotidiano terá maior empatia pelo tema abordado.
No que diz respeito à Resolução do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno
n° 4, de 17 de dezembro de 2018, que institui a Base Nacional Comum Curricular na Etapa
do Ensino Médio (BNCC-EM), como etapa final da Educação Básica, nos termos do artigo
35 da LDB, completando o conjunto constituído pela BNCC da Educação Infantil e do Ensino
Fundamental, com base na Resolução CNE/CP nº 2/2017, fundamentada no Parecer CNE/
CP nº 15/2017, essa preconiza em seu Art. 4° que a BNCC-EM reitera seu fundamento
nas seguintes competências gerais, expressão dos direitos e objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento dos estudantes:

I. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo


físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar apren-
dendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclu-
siva.

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II. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências,
incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade,
para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e
criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes
áreas.
III. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mun-
diais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
IV. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escri-
ta), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens
artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, ex-
periências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que
levem ao entendimento mútuo.
V. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de
forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo
as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir co-
nhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal
e coletiva.
VI. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conheci-
mentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo
do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto
de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
VII. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular,
negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns, que respeitem e
promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo res-
ponsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação
ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
VIII. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreenden-
do-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com
autocrítica e capacidade para lidar com elas.
IX. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazen-
do-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com
acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus
saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer
natureza.- Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibili-
dade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos,
democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

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Dessa forma, acredita-se que o presente trabalho está em conformidade com os funda-
mentos estabelecidos pela BNCC-EM e a utilização do tema gerador fármacos pode contribuir
para que outros temas relevantes para a formação do aluno como cidadão consciente sejam
abordados em sala de aula.
Particularmente, a presente SD, além de correlacionar a química de fármacos com
o conteúdo classicamente ministrado no Ensino Médio, abre um espaço para discussões
relevantes no âmbito da sociedade e da saúde pública, como a automedicação, distúrbios
psiquiátricos e o uso de medicamentos que não tenham sua eficácia comprovada. No que diz
respeito ao uso indiscriminado de antidepressivos, esse tornou-se uma preocupação dentre
os jovens. No trabalho intitulado “O uso de antidepressivos na adolescência e sua autome-
dicação”, Barboza e colaboradores abordam a questão da depressão na adolescência e, a
partir de dados da literatura, mostram que cerca de 25% dos adolescentes são acometidos
por sintomas de depressão e que a automedicação se tornou um hábito comum, sendo os
fármacos mais comumente consumidos sem prescrição medica a fluoxetina, a paroxetina,
a sertralina, a venlafaxina e o citalopram (BARBOZA et al.,2021). Portanto inserir na escola
tais temas torna-se de extrema relevância, no sentido de trazer a química de forma mais
contextualizada e abrir o debate a um tema de fundamental relevância, contribuindo de forma
significativa para o processo de ensino-aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de temas geradores que estejam inseridos no cotidiano dos alunos tem um
potencial enorme para auxiliar no processo de ensino aprendizagem. O cotidiano do aluno
quando confrontado ao conhecimento químico permite o desenvolvimento de um caráter
investigador, além de um sentimento de autonomia e uma melhora na capacidade de tomada
de decisões frente a situações problemáticas. Particularmente, o tema fármacos tem uma
grande capacidade de potencializar o ensino dos conteúdos de química orgânica abordados
no ensino médio, principalmente devido à relação direta entre as estruturas químicas dos
fármacos e assuntos fundamentais como as funções orgânicas, as interações intermolecu-
lares e as propriedades físico-químicas de compostos orgânicos.
Por fim, a presente proposta abre a possibilidade para que outros temas relevantes
à saúde pública sejam abordados em sala de aula. Nesse caso, optou-se por questionar a
problemática da depressão, um tema que ainda é caracterizado como um tabu em nossa
sociedade, mas que tem afetado um número cada vez maior de jovens. No entanto, o mesmo
percurso pode ser utlizado para a abordagem de problemáticas ligadas a doenças infeciosas,
como a tuberculose e a COVID-19, doenças crônicas e outros temas que possam despertar
o interesse dos estudantes.

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Importância do fisioterapeuta na atenção
primária à saúde e a realidade de um
município do Norte do Paraná

Kátia Cristina de Souza


Universidade Estadual de Maringá - UEM

Dennis Armando Bertolini


Universidade Estadual de Maringá - UEM

Artigo original publicado em: X2019


Revista UNINGÁ - ISSN 2318-0579.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/221211526
RESUMO

Com a instituição do SUS o modelo de atenção à saúde foi reestruturado e dentre as diver-
sas situações que complicam a saúde, a atenção básica com sua equipe multidisciplinar,
surge como peça fundamental para prevenção e promoção de saúde. Assim, este estudo
teve por objetivo explanar sobre a importância da fisioterapia nas ações de saúde da aten-
ção básica. A proposta consistiu em uma revisão bibliográfica e análise acerca da atuação
do fisioterapeuta em um município do norte do Paraná, caracterizado por ser qualitativo e
descritivo. Realizou-se um levantamento da literatura, buscando documentos nas bases de
dados: LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), MEDLINE
(Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), SCIELO (biblioteca virtual Scientific
Electronic Library Online), Google Acadêmico e sites governamentais, com os descritores:
Atenção Primária à Saúde, Estratégia Saúde da Família, Fisioterapia. Buscou-se documentos
que explanassem sobre a atuação do fisioterapeuta na atenção primária, sendo selecio-
nados utilizando os seguintes critérios de inclusão: livros, teses, artigos e outros tipos de
publicações que abordassem o tema, publicados entre 2008 a 2018, indexados nas bases
de dados supracitados, disponíveis na íntegra e no idioma português. Com este estudo
pode-se verificar que a atuação do fisioterapeuta na atenção básica do município estudado
ainda é muito restrita e encontra muitos obstáculos para se fortalecer. Constatou-se que é
de grande valia consolidar o fisioterapeuta na atenção básica em saúde, pois sua inserção
acarreta em inúmeros benefícios.

Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde, Estratégia Saúde da Família, Fisioterapeutas,


Sistema Único de Saúde.
INTRODUÇÃO

O Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil é um dos maiores e mais complexos sis-
temas de saúde pública do mundo, abrangendo desde procedimentos simples, por meio da
Atenção Básica, até os procedimentos mais complexos, garantindo acesso integral, universal
e gratuito para toda a população do país (BRASILa, 2019).
No Brasil, com a implantação do SUS o modelo de atenção à saúde foi reformulado,
inserindo a atenção primária com o objetivo de reorientar o sistema e valorizar ações indivi-
duais e coletivas, envolvendo promoção, prevenção de agravos, recuperação e reabilitação
de saúde (NEVES; ACIOLE, 2011).
Por sua vez, esse modelo, passou a se basear por uma concepção ampliada do pro-
cesso saúde-doença, visto que o acesso a bens e serviços de saúde é um processo que de-
pende de políticas públicas mais amplas que sejam capazes de prover qualidade de vida, de
maneira que associe completamente as ações preventivas às ações curativas (CARVALHO;
BARBOSA, 2010). De acordo com Delai e Wisniewski (2011), dentre as diversas situações
que agravam a saúde, a atenção básica juntamente com sua equipe multidisciplinar surgem
como peças fundamentais para a promoção de saúde e a prevenção de doenças e agravos
na sociedade, sendo que é um conjunto de ações capazes de proporcionar círculos virtuosos
na construção de sistemas de saúde efetivos.
Assim, a fim de fortalecer esse modelo de atenção, em 1994 foi reconhecido pelo
Ministério da Saúde a Estratégia Saúde da Família (ESF) que, por meio de assistência
integral e multiprofissional, centrada na comunidade, a atenção primária tem reiterado sua
inserção na rede de saúde. Recentemente, em 2008, surgiram os Núcleos de Apoio à Saúde
da Família (NASF) com objetivo de auxiliar as equipes da ESF e estender a oferta do cuidado
no nível primário reafirmando a integralidade, qualidade e resolubilidade do sistema (AVEIRO,
2011). Para tanto, em 2008, houve uma mudança na nomenclatura para Núcleo Ampliado de
Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), com o objetivo de apoiar a consolidação da
Atenção Básica no Brasil, ampliando as ofertas de saúde na rede de serviços, assim como
a resolutividade, a abrangência e o alvo das ações (BRASILb, 2019).
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), para atingir um melhor resultado sobre
os diversos fatores que afeta a dinâmica saúde-doença, é significativo que as intervenções
tenham estruturação em uma equipe multiprofissional, capazes de solucionar as demandas
necessárias. Assim, os profissionais que podem ser contemplados no NASF-AB são médico
acupunturista; assistente social; profissional/professor de educação física; farmacêutico;
fisioterapeuta; fonoaudiólogo; médico ginecologista/obstetra; médico homeopata; nutricio-
nista; médico pediatra; psicólogo; médico psiquiatra; terapeuta ocupacional; médico geriatra;
médico internista (clínica médica), médico do trabalho, médico veterinário, profissional com

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formação em arte e educação (arte educador) e profissional de saúde sanitarista, ou seja,
profissional graduado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou
graduado diretamente em uma dessas áreas. Contudo, a composição de cada um dos NASF
é definida pelos gestores municipais, de acordo com os critérios de prioridade identificados
a partir dos dados epidemiológicos e das necessidades locais e das equipes de saúde que
serão apoiadas (BRASILb, 2019).
Sendo assim, inserida no NASF-AB, a fisioterapia encontra-se cada vez mais respaldada
na área da saúde, por ser uma profissão importante no processo de promoção, manutenção
e recuperação das condições de saúde. Deste modo, a inserção e acesso à fisioterapia,
no âmbito do SUS são muito importantes para somar ações que venham ao encontro das
necessidades da população.
Portanto, essa pesquisa justificou-se devido ao anseio de expor, tanto aos profissionais
da área da saúde quanto aos usuários do serviço, a importância do papel do fisioterapeuta
e como a sua atuação pode beneficiar as ações de atenção primária, contribuindo com o
fortalecimento deste nível de atenção. Assim, este estudo objetiva compreender a colocação
do profissional fisioterapeuta nas práticas de intervenções na atenção primária. Por fim, es-
pera-se incitar os gestores municipais, os profissionais de saúde e os usuários, à expansão
do panorama quanto ao significado da inclusão do fisioterapeuta nas atividades multidisci-
plinares de promoção da saúde e nos programas de capacitação em serviço, prezando pela
integralidade e transversalidade proposta pelo SUS.

MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, caracterizado por ser qua-
litativo, percorrendo fases descritivas, sendo que a pesquisa foi concebida realizando um
levantamento bibliográfico, executando pesquisas por meio de livros, artigos científicos,
publicações e outros documentos que abordassem o tema em pauta. Contrapondo com as
informações obtidas foi realizada, também, uma análise do cenário acerca da atuação do
fisioterapeuta no município de Nossa Senhora das Graças/PR.
Destaca-se que os estudos de revisão consistem em organizar, esclarecer e resumir as
principais obras existentes, assim como fornecer citações completas abrangendo a arte da
literatura relevante em uma área (VOSGERAU; ROMANOWSKI, 2014). Desta forma, este
estudo foi direcionado a partir de uma pergunta norteadora: “Qual a relevância da atuação
do fisioterapeuta na atenção primária?”
Assim, a pesquisa foi direcionada por meio do levantamento bibliográfico, utilizando as
bases de dados: LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde),

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MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), SCIELO (biblioteca vir-
tual Scientific Electronic Library Online), além do Google Acadêmico e sites governamentais.
Para tanto, a pesquisa ocorreu utilizando-se Descritores em Ciências da Saúde (Decs)
selecionados de acordo com elementos da questão norteadora, sendo eles: Atenção Primária
à Saúde, Estratégia Saúde da Família, Fisioterapia. Os descritores de assunto foram asso-
ciados utilizando-se o operador booleano “AND”.
No levantamento de literatura na base do Google Acadêmico, foram utilizadas várias
estratégias de busca, a fim de se obter uma quantidade satisfatória de documentos relaciona-
dos com o tema proposto, além de utilizá-lo para a manutenção da citação da fonte primária.
Para tanto, foram selecionados livros, teses, artigos científicos, e outros tipos de publi-
cações, sendo que os documentos foram analisados e selecionados utilizando os seguintes
fatores para inclusão, elegendo os documentos que abordassem o assunto proposto, pu-
blicados entre os anos de 2008 a 2018, artigos brasileiros, indexados nas bases de dados
supracitado e disponíveis na íntegra, nos idiomas português e/ou inglês. Já os critérios de
exclusão consistiram em documentos repetidos e aqueles que não atendiam os critérios de
inclusão estabelecidos.
Além da revisão literária, a pesquisadora elaborou uma exposição do contexto e de
como se dá a atuação do profissional fisioterapeuta no município de Nossa senhora das
Graças, Estado do Paraná. Desta forma, pretende-se relatar sua experiência, demonstrando
o panorama local, em relação as práticas fisioterapêuticas, e comparar as informações obti-
das, através da análise dos documentos literários, com a realidade enfrentada no município.
Portanto, as análises e reflexões deste estudo baseiam-se nas observações desta pesqui-
sadora que atua como fisioterapeuta na rede municipal de saúde do município acima citado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Estratégia da Saúde da Família (ESF) é a mais importante iniciativa de organização


da Atenção Primária à Saúde (APS) no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que o foco
de atenção deixa de ser direcionado apenas no indivíduo e na doença, passando a ser cen-
trado no coletivo. O processo de trabalho da equipe de saúde passa a dar mais atenção à
promoção e a manutenção da saúde dirigindo-se as condições crônicas (BRASILa, 2011).
O município a ser relatado trata-se de Nossa Senhora das Graças, localizado no norte
do estado do Paraná (PR), local de atividade profissional da pesquisadora, onde é a única
fisioterapeuta atuante na rede municipal de saúde. Em relação aos aspectos demográficos,
em 2017 o município possuía uma área total de 185.769 km² e tinha uma população estimada
para 2018 de 4.008 pessoas, segundo informações do site do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). Com estas características, nota-se que é um município de pequeno

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porte, sendo que o mesmo conta com uma Unidade Básica de Saúde (UBS), que constitui
uma equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF), que não é muito bem estruturada, pois
as ações em saúde não se mostram articuladas entre todos os profissionais que compõe
a ESF. Conforme o Ministério da Saúde preconiza, cada equipe de Saúde da Família deve
ser responsável por, no máximo, 4.000 pessoas de uma determinada área, que passam a
ter corresponsabilidade no cuidado com a saúde (BRASILc, 2019), sendo assim o município
atende essa perspectiva.
A ESF busca oportunizar a qualidade de vida da população brasileira e interferir nos
fatores que colocam a saúde em risco, como falta de atividade física, má alimentação e o
uso de tabaco. Com atenção integral, equânime e contínua, a ESF se fortalece como uma
porta de entrada do SUS. Sendo que, o fisioterapeuta dentro NASF-AB, atuando de maneira
integrada com a equipe, apresenta papel de suma importância quando se refere a preven-
ção e promoção de saúde, passando a suprir a demanda da comunidade no que se refere
a agravos em saúde, com uma prática integral e acolhedora, abrangendo todos os ciclos
de vida, quebrando o falseio de ser apenas uma profissão reabilitadora (TORRES, 2009).
O Ministério da Saúde (BRASILb, 2011) explica que alguns profissionais, como o fi-
sioterapeuta, não compõem a equipe mínima na atenção básica, contudo, a proposta atual
da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é que a inserção deste profissional nesse
nível de atenção ocorra por meio do NASF. Portanto, apesar do município conter uma ESF,
o mesmo não conta com a implantação do NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família),
presumindo que isto afete a inserção do fisioterapeuta nas ações primárias à saúde, sendo
que o serviço de fisioterapia municipal é lotado na esfera de manutenção das ações de saúde,
e sua atividade consiste em atender, primordialmente, as demandas de atenção secundária
e terciária, voltando suas ações para intervenções de reabilitação e cura.
Estudos mostram que a inserção de outros profissionais na atenção básica, além da-
queles previstos na equipe mínima, como fisioterapeuta, fonoaudiólogo e terapeuta ocupa-
cional, tem como objetivo o fortalecimento desse nível de atenção, uma vez que aumenta
a resolutividade do sistema e contribui para a integralidade no cuidado (BAENA; SOARES,
2012; BISPO JUNIOR, 2010).
Dentro do município em questão, as ações primárias de saúde, tanto as ações de
prevenção quanto as de promoção da saúde, se dão por meio de orientações individuais
ou, de forma exordial, exprimem-se em algumas atividades grupais, planejadas e realizadas
pelos profissionais da UBS, sendo que, em oportunidades raras, há o convite para que o
profissional fisioterapeuta participe, ministrando palestras informativas e orientativas. Isso
pode se relacionar ao fato de que, ainda, há um pouco conhecimento acerca da atuação do
profissional fisioterapeuta nas ações de atenção básica. No estudo de Oliveira et al. (2011),

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realizado em um município do Amazonas, constataram que o conhecimento dos profissio-
nais da equipe de saúde acerca da atuação do fisioterapeuta na atenção básica à saúde é
insuficiente em comparação aos outros níveis de atenção, sendo que eles consideram que
o fisioterapeuta atue apenas nos níveis secundário e terciário.
A unidade de fisioterapia municipal, onde ocorrem os atendimentos fisioterapêuti-
cos, fica localizada em um prédio municipal onde funcionam os setores de Fisioterapia e
Odontologia. No que diz respeito a infraestrutura, a sala destinada aos atendimentos fisiotera-
pêuticos possui uma metragem de 3x4 metros, sendo que se apresenta muito pequena para
as necessidades de trabalho, já que deve acomodar as macas existentes, um armário onde
se guarda os materiais e acessórios, uma pequena mesa para os aparelhos de eletroterapia,
uma mesa auxiliar, além de permitir a movimentação do fisioterapeuta e de um paciente
neste espaço. Esse fato interfere na logística dos atendimentos, já que, na Resolução nº
444 de 14/04/2014, do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO)
a nível ambulatorial, em pacientes de cuidado mínimo, poderia ser prestado assistência a
12 pacientes, por turno de 6 horas, sendo que, seria necessária uma ampliação no espaço
físico, para o atendimento mínimo de dois pacientes/hora, isso faria com que o fluxo de
atendimentos fosse otimizado.
Desde que inserida no serviço de fisioterapia municipal, observou-se que a demanda
seria maior do que aquela suportada pela unidade de fisioterapia. Assim, em pouco tempo,
gerou-se uma lista de espera. Desta forma, o atendimento ao usuário é realizado com base
na guia de encaminhamento para fisioterapia, sendo anotado o nome e contato do pacien-
te, sendo que, assim que a vaga é disponibilizada, o fisioterapeuta entra em contato com
o paciente para marcar a avaliação. Na avaliação, o fisioterapeuta decide se o paciente
será admitido para tratamento ou se precisará ser encaminhado para unidades de alta e/ou
média complexidade.
Corroborando com o estudo de Herbst (2011) a principal demanda da unidade am-
bulatorial de fisioterapia do município consiste nos atendimentos à pacientes nas áreas de
Traumato-ortopedia e Neurologia. Deste modo, o profissional fica restrito em atuações ine-
rentes a reabilitação e cura. De acordo com Bispo Júnior (2010), o profissional que trabalha
no SUS tem a possibilidade de atuar no nível de atenção primária, porém a demanda extensa
com foco na reabilitação acaba por restringir sua área de atuação.
Uma situação averiguada na unidade de fisioterapia local, é que os encaminhamentos
para tratamento fisioterapêutico nem sempre se respaldam em uma real necessidade ou em
embasamento efetivo. Condizente com essa realidade, o estudo de Andrade (2015) realizado
em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, constata que há uma banalização das referências, sen-
do uma das maiores causas do alto índice de pacientes indicados para tratamento individual,

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circunstância que acaba por sobrecarregar o sistema de saúde. Verifica-se que uma grande
parte dos encaminhamentos são embasados apenas na queixa/sintomatologia do paciente,
sendo que não são realizadas uma anamnese rigorosa ou exames complementares. Nesta
dinâmica de ações o foco do cuidado torna-se curativo-reabilitador por primazia.
Carneiro et al. (2012) relatam que a maioria dos encaminhamentos para fisioterapia é
caso crônico e simples, que poderiam ser solucionados com tecnologias frugais existentes
na atenção primária, consequentemente diminuiria as filas de espera, selecionando apenas
os casos mais complexos para atendimento nas policlínicas, otimizando o fluxo de encami-
nhamentos e o processo de trabalho do fisioterapeuta.
Os casos de menor complexidade é que muitas vezes obstruem o fluxo para o atendi-
mento para pacientes com reais necessidades individuais. Para Bispo Junior (2010), desta
maneira, seria imprescindível que neste momento a intervenção da fisioterapia fosse pautada
no controle de riscos, isto é, no controle dos fatores associados ao desenvolvimento e pro-
gressão da doença. Longe disso, o que vivenciamos é o paradigma do profissional reabilita-
dor, devido ao privilégio de ações curativas e de reabilitação (SALMÓRIA; CAMARGO, 2008).
Portes et al. (2011) atribuem a não valorização das ações preventivas e educativas da
fisioterapia, possivelmente, devido à grande demanda por atendimento curativo reabilitador
e, principalmente, ao reduzido número de fisioterapeutas atuantes na ESF, sendo que esta
percepção condiz muito com a realidade do município deste estudo.
Para Rodrigues et al. (2013) o atendimento fisioterapêutico não deve ser apenas indivi-
dualizado, deve-se evidenciar, também, o atendimento em grupo, com ações voltadas para
a prevenção e promoção da saúde. Sendo uma prática profissional baseada em decisões
conjuntas, numa perspectiva interdisciplinar. Para tanto, a atuação do fisioterapeuta na saúde
coletiva precisa criar uma base mais sólida na atenção primária.
Uma dificuldade encontrada no município objeto deste estudo, na relação com os ou-
tros profissionais da ESF, refere-se aos atendimentos domiciliares, que ocorrem uma vez na
semana e não são vinculados às visitas da ESF, sendo realizado um trabalho independente
dos outros profissionais da saúde. Geralmente, os pacientes domiciliados são os mais crí-
ticos e necessitam de cuidados múltiplos. Assim sendo, ao realizar a visita, o profissional
fisioterapeuta busca observar quais são as demandas daquele paciente e, muitas vezes se
depara com um amplo aspecto de alterações, em que necessitaria de uma equipe multipro-
fissional para lidar com este paciente e sua família. Na opinião de Loures e Silva (2010) o
fisioterapeuta tem um grande potencial mediador, podendo ser um elo entre a comunidade e
a equipe de saúde, favorecendo a identificação dos problemas que devem ser considerados
por toda a equipe na elaboração das ações de saúde.

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Conforme o Ministério da Saúde relata, a proximidade da equipe de saúde com o usuá-
rio facilita o conhecimento da pessoa, da família e a da vizinhança, garantindo uma maior
adesão do usuário aos tratamentos e às intervenções propostas pela equipe de saúde. O re-
sultado é mais problemas de saúde resolvidos na Atenção Básica, sem a necessidade de
intervenção de média e alta complexidade (BRASILc, 2019). Diante de uma comunidade é
preciso considerar a realidade social onde estão inseridos os usuários. Este conhecimento
pode ocorrer por meio da visita domiciliar, que contribui em vários aspectos para conhecer
a dinâmica familiar. Sendo que, ao perceber a realidade da família, o fisioterapeuta pode
embasar ações tanto coletivas quanto individuais, agregando o conhecimento científico (sa-
beres da fisioterapia) aos conhecimentos empíricos (saberes da família) (ANDRADE, 2015).
Neste contexto, de acordo com Cardoso Junior (2014), pode-se estabelecer a educação
em saúde que compreende um conjunto de ações que propiciam com que as pessoas sejam
operacionalizadas ao autocuidado, bem como, troquem hábitos e comportamentos preju-
diciais por outros considerados mais saudáveis. Com isto, visa-se estabelecer um vínculo
de corresponsabilidade que facilitará a implementação de outras ações, com maior adesão
dos usuários aos programas oferecidos pelo fisioterapeuta, ou àqueles já constituídos como
grupos específicos de idosos, gestantes, puericultura, entre outros.
Em um estudo sobre a visão da atuação do fisioterapeuta em uma equipe de saúde da
família no município de Salvador, Estado da Bahia, Souza et al. (2015) averiguaram que a
maioria dos entrevistados abordam o atendimento em domicílio aos acamados como função
a ser realizada pelos fisioterapeutas, sendo que apenas um entrevistado relatou acerca da
promoção de saúde. Sendo assim, ficou evidenciado o desconhecimento dos outros profis-
sionais de saúde quanto às possibilidades de atuação da Fisioterapia.
Um dos aspectos observados no ambulatório de fisioterapia municipal em questão
consiste na procura pelos usuários, que não estão admitidos para os fisioterapêuticos, que
chegam até o fisioterapeuta afim de solucionar dúvidas ou mesmo para solicitar orientações
de exercícios ou de condutas, visando amenizar suas queixas. Assim, em geral as ações
de atenção primária da fisioterapia são reduzidas às orientações para esses usuários que
buscam instruções. Apesar de ainda serem inconstantes, as ações de orientação e de bus-
ca de corresponsabilidade do cuidado por parte do paciente, impulsionam a execução de
um serviço de fisioterapia que estime a participação do usuário na prevenção dos riscos e
agravos a sua saúde. Segundo Augusto et al. (2011) um dos princípios das intervenções
em promoção da saúde é a participação da população, desta maneira, é preciso que se
conheçam as crenças, os valores, os significados e os objetivos da população em relação
à promoção da saúde, bem como a atuação da fisioterapia neste processo.

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Para Soares e Assis (2016) a atuação do fisioterapeuta na atenção básica não deve
representar exclusivamente ações voltadas à reabilitação na Estratégia de Saúde da Família
(ESF), sendo que isso coincidiria com a reprodução do modelo curativo, mas sua atuação
deve instituir um novo estímulo para a transformação da realidade social e epidemiológica.
Para tanto, de acordo com Oliveira et al. (2011) a fisioterapia como potencial integrante
da equipe multidisciplinar do NASF-AB precisa reformular-se de modo que a reabilitação
aplicada ao seu objeto de estudo, associe espaço com atividades de promoção, educação
em saúde e prevenção de riscos de modo a libertar-se do paradigma de assistência restrita
ao nível de atenção terciária e aproximar-se da atenção primária. Portanto, há necessidade
de se romper o isolamento e o individualismo da prática fisioterapêutica reabilitadora, mani-
festando uma nova lógica de atuação em equipe multiprofissional e interdisciplinar.
Ao vislumbrar o ser humano como um todo é que se pode atingir o propósito pelo qual
a fisioterapia identifica-se, que é conservar, aprimorar e recompor a integridade de órgãos,
sistemas e ou funções. Para que isso ocorra, é fundamental desenvolver um panorama
sistêmico. A fisioterapia que direciona a sua ciência apenas na patologia não produz saúde
e, se ela fica restrita a níveis individuais de atenção, deteriora-se (SILVA; SILVEIRA, 2011).
Muitas vezes, no cotidiano profissional, percebe-se que as tecnologias assistenciais da
profissão não preparam o fisioterapeuta completamente para o atendimento das demandas,
ou seja, dos problemas de saúde que lhes são apresentados pela coletividade. Pode-se ve-
rificar que, educar para a saúde, reforçando o autocuidado é tão importante quanto reabilitar
após doença. Cardoso Júnior (2014) enfatiza que a educação em saúde é um elo entre os
saberes dos profissionais e os saberes da população, o que inevitavelmente reorienta as
práticas profissionais, que deverão servir de encorajamento e apoio para que a população
busque as raízes e soluções para os problemas de sua saúde.
Assim, para Andrade (2015) é preciso criar oportunidades para que o fisioterapeuta
possa, em sua trajetória profissional, recorrer não só aos saberes adquiridos na sua formação,
mas também àqueles adquiridos durante a sua prática e, também àqueles desenvolvidos
através da relação com outros profissionais de saúde e com os usuários. É sabido que a
capacitação em serviço é um moderador desta relação entre os atores da saúde, bem como
da constante renovação de idéias e ações efetivas.
No que concerne à educação permanente, em algumas ocasiões, a Secretaria da 15ª
Regional de Saúde convida o Fisioterapeuta propondo a participação em capacitações e/ou
cursos, o que se mostra de grande valia, pois muitas das vezes, as lições aprendidas nestes
encontros são aplicadas na dinâmica diária de trabalho. Contudo sente-se necessidade de
uma maior oferta de capacitação, para que o profissional esteja inserido em uma educação
permanente e se sinta estimulado a aprender e buscar novos conhecimentos que possa

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agregar a sua prática como profissional, bem como possam estar em constante atualização
em conformidade com os princípios do SUS. Para Duarte e Oliveira (2012) a Educação
Permanente pode ser vista como uma estratégia fundamental para a mudança no sistema
de saúde e para a recomposição das práticas de formação, atenção, gestão, formulação de
políticas e controle social no setor saúde.
Esse quadro traz ponderações a respeito da responsabilidade sobre a capacitação
profissional, sendo que de um lado a gestão de saúde deveria articular e facilitar o acesso à
capacitação e treinamento e, por outro lado a percepção do profissional visando buscar, por
meios próprios, novos conhecimentos que possam ressignificar as suas práticas, voltando
a atuação para o coletivo e as demandas do SUS. Portanto, a educação permanente, tanto
aquela ofertada pela gestão quanto aquela acessada pelo profissional deveriam caminhar
sincronizadas, em benefício de prestar uma assistência de qualidade e resolutiva.
No momento em que a pesquisadora apossou de suas atividades profissionais no setor
público, foi lhe instigada a prática reflexiva, entre o que tinha absorvido durante a sua forma-
ção acadêmica, concluída em 2016, e o que estava vivenciando em sua prática profissional.
Contudo, a impulsionou a buscar novas formas de implementar seu serviço na sua unidade
de inserção. Para tanto, sentiu-se a necessidade de conhecer mais sobre a atenção básica,
bem como aprimorar o exercício de atividades para a Gestão dos Serviços em Saúde. Para
tal, surgiu a oportunidade de qualificação em uma especialização de Gestão em Saúde, que
nesta ocasião, é concretizada com a elaboração desse trabalho.
As atividades desenvolvidas pela fisioterapia no contexto da atenção primária enfatizam
atenção individual e coletiva tanto em nível preventivo quanto de reabilitação junto a diferentes
públicos (FONSECA, 2016). Embasado nos estudos de Friedrich et al. (2018) pode-se veri-
ficar que as razões para realizar ações grupais, de acordo com os usuários e profissionais,
se dão por conta de os mesmos estimularem as relações interpessoais, a construção de
saberes e o cuidado integral. Deste modo, as atividades em grupo tornam-se um importante
meio para a promoção da saúde no nível de atenção primária, impactando positivamente
na qualidade de vida das pessoas. Quando analisamos as políticas públicas voltadas para
a inserção do fisioterapeuta na atenção primária, verificamos que o fisioterapeuta não está
inserido nos programas multidisciplinares da atenção básica, como é o caso do município
analisado, ou, quando está introduzido na equipe, a sua participação é incipiente. Sabe-se
que os saberes inerentes à Fisioterapia podem contribuir na prevenção de doenças e na re-
dução de sequelas quando aplicados na atenção básica. Assim, evidencia-se a necessidade
de ações propositivas da fisioterapia na atenção básica que viabilizem esta conscientização
e participação dos pacientes e familiares, bem como reduzam as demandas para os demais
níveis. Diante desse contexto, a proximidade entre a fisioterapia e o nível primário revela-se

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como uma possibilidade de consolidar a APS, expandindo a resolutividade do sistema e
fornecendo garantia da integralidade assistencial (BISPO JÚNIOR, 2010).
Contudo, o desenvolvimento de políticas que insiram e valorizem o trabalho do fisiote-
rapeuta dentro da equipe básica de saúde é necessário para promover a integração deste
profissional (SALMÓRIA; CAMARGO, 2008). Assim, torna-se de extrema importância a troca
de experiências, pontuando as fragilidades e potencialidades apresentadas pelos profissionais
e pela gestão, com finalidade de estabelecer estratégias para implementar essa proposta.
Neste sentido, constata-se que existem limites a serem superados, no que tange à práti-
ca profissional, determinado pelo cenário apresentado pelo município em questão. Para Bispo
Junior (2010) a participação do fisioterapeuta nos conselhos municipais de saúde (CMS) é
apontada como uma possibilidade de mudança de foco, visto que objetiva encontros com
representantes da sociedade e da saúde, que podem definir estratégias a serem executa-
das no âmbito local e produzindo propostas para discussão na esfera municipal e regional.
Este modelo que contempla um novo perfil do fisioterapeuta frente à lógica organi-
zacional do SUS, onde a atenção básica deve ser resolutiva com objetivo de reduzir os
encaminhamentos para os outros níveis de atenção, depende não só de uma releitura da
prática, mas de um reconhecimento maior por parte dos gestores de saúde na inserção
destes profissionais nas equipes multidisciplinares. Para Bispo Júnior (2010) precisa existir
uma transformação na formação profissional, fazendo uma transição da ênfase curativo/
reabilitadora para uma lógica promocional/preventiva, sendo uma condição imprescindível
para empreender um novo modelo de atuação.
Assim, cabe ao fisioterapeuta, em consonância com a equipe de saúde e com os gesto-
res locais, planejar e desenvolver estratégias para contemplar tanto as ações de reabilitação,
que não podem deixar de ser desenvolvidas, quanto às ações de promoção da saúde e pre-
venção de doenças, sendo a diferença crucial o momento da intervenção, enquanto a primeira
ocorre no controle de danos, a segunda atuaria no controle de riscos e, para tanto, faz-se
necessário um conhecimento prévio da realidade da comunidade (BISPO JÚNIOR, 2010).
Como podemos verificar, a fisioterapia está percorrendo uma fase excepcional de cres-
cimento, tanto científico quanto tecnológico, prestando serviços de saúde ao ser humano em
todas as etapas de sua vida, de várias maneiras diferentes, embora no SUS a maior ênfase
seja para área de reabilitação, deixando muitas vezes de lado a área de atenção primária
(BARBOSA, 2011). No entanto, para Soares e Bezerra (2014) a inserção da fisioterapia na
APS apresenta uma recente conquista da área, desenvolvendo uma prática generalista e
promotora de saúde.
Contudo, ainda existem muitos desafios a serem enfrentados, na medida em que
ainda é incipiente a atuação do profissional fisioterapeuta neste nível de atenção, apesar

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da já comprovada importância deste profissional nas equipes que atuam nestes cenários.
Apesar disso, como discorremos, ainda há um estigma que o fisioterapeuta atua somente
no âmbito da reabilitação e cura, sendo que este equívoco acaba afastando este profissional
dos programas de promoção da saúde. Consequentemente, promove um crescimento da
demanda para a reabilitação, perpetuando este ciclo.
Entretanto, podemos afirmar que a inclusão do fisioterapeuta na atenção básica/Es-
tratégia Saúde da Família acarreta em inúmeros benefícios, tanto para a comunidade que
teria assistência integral e interdisciplinar, para o profissional fisioterapeuta que ampliaria
seu campo de atuação e, também, para o Estado que abordaria mais ações de promoção e
a prevenção de agravos, reduzindo custos com assistência e a reabilitação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos constatar que nos últimos anos há uma mudança do perfil demográfico e
epidemiológico da população, sendo assim, as atividades orientadas para a prevenção, pro-
teção e promoção a saúde, como as mudanças de hábitos de vida e detecção precoce de
doenças, devem ser vistas como essenciais nas ações de saúde. Para isso, para atender a
demanda, é preciso ter uma base com uma equipe de saúde formada por profissionais de
diversos setores, capazes de atender as diferentes exigências. Com este estudo pode-se
verificar que a prática profissional do fisioterapeuta no município de Nossa Senhora das
Graças, Estado do Paraná, encontra-se subordinada às ações de reabilitação e cura, mesmo
que em alguns momentos haja inexpressiva oportunidade de atuação na atenção básica,
seja através das orientações individuais ou dos convites para ministrar palestras em grupos.
Assim, diante do que foi exposto torna-se fundamental que os gestores aprimorem sua
visão, buscando conhecer a realidade de sua população e compreender acerca de como o
fisioterapeuta, com suas competências, pode atuar neste contexto. Entretanto, almeja-se
que, cada vez mais, o profissional fisioterapeuta esteja engajado e inserido nas atividades
voltadas para a prevenção e promoção da saúde, passando a ter voz ativa e visibilidade
dentro de uma proposta de atuação multidisciplinar e interdisciplinar no cenário da atenção
básica em saúde. Destarte, para que essa perspectiva se torne realidade, é fundamental a
viabilização de um contexto, onde o fisioterapeuta seja compreendido como um profissional
que atua dentro de programas de atenção primária, exercendo sua função junto à uma equipe
multidisciplinar, recomendada pelo SUS. Também, é de fundamental importância que os pro-
fissionais da área da saúde, gestores e os usuários, tenham conhecimento acerca de como
a atuação do fisioterapeuta influencia nas práticas de saúde voltadas à Atenção Primária.
Diante do exposto, este estudo permitiu vislumbrar ações reflexivas e explorar a realidade de
um município paranaense acerca da atuação do fisioterapeuta na atenção básica. Contudo,

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faz-se necessário um constante debate acerca do tema, visto que as políticas públicas de
saúde vêm sendo modificadas constantemente, para tanto, é relevante motivar os profissio-
nais da saúde, para que executem ações integradas com outros profissionais, preconizando
uma maior resolução das demandas.

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12
Influence of aerobic, force, and concurrent
training in predictive metabolic syndrome
anthropometric indicators, in obese
adolescents

Giuliano Roberto da Silva


FAGAMMON, CEMES, FACICA, SREino de Minas Gerais
– SRE

Gerusa Dias Siqueira Vilela Terra


Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS

Cassiano Merussi Neiva


Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP

'10.37885/221211355
ABSTRACT

Objective: The objective of this study was to evaluate the influence of aerobic, strength and
concurrent training on predictive or related anthropometric indicators for metabolic syndrome
in overweight and obese adolescents. Methods: For this, 80 adolescent members of the
Geração Saúde project of a city in the central-southern region of the state of Minas Gerais,
aged 16 to 19, were selected to carry out training protocols. Participants were divided into four
homogeneous groups (n = 20), being: aerobic training group (ATG), strength training group
(STG), concurrent training group (CTG) and a sedentary control group (SCG). The training
protocols were performed over four weekly sessions, each session lasting 60 minutes, for
a total of 12 weeks of practice, making a total of 48 training sessions, except for the SCG,
which was oriented to not perform any physical practice during the study. Results: After the
conclusion, it was possible to perceive that the strength training and concurrent protocols were
responsible for significantly lowering the waist circumference and fat percentage indicators,
respectively (p≤0.05). However, the aerobic training protocol did not influence the improve-
ment of any of the evaluated indicators. Conclusion: Concluded that none of the protocols
applied were capable of influencing the joint improvement of all the indicators studied in the
adolescents, but the strength and concurrent protocols in isolation were effective in control-
ling some important anthropometric variables, probably due to their higher load intensities.

Keywords: Anthropometric Indicators, Aerobic Training, Concurrent Training, Metabolic Syn-


drome, Strength Training.
INTRODUCTION

In all stages of human life, we should encourage and put into practice actions aimed at
promoting health, directed at all groups of individuals and populations. However, it is impor-
tant that special attention be given to young individuals, especially in primary prevention, in
relation to diseases that manifest and are associated with weight-related diseases such as
diabetes and hypertension (PETRIBÚ, CABRAL & ARRUDA, 2009).
Overweight and obesity, mainly abdominal, are the main causes of chronic non-commu-
nicable diseases (CNCD), becoming a global public health problem, where the risks of heart
disease, stroke, and diabetes, associated with the increase of body weight (WHO, 2012),
have increased considerably.
Abdominal obesity (also known as central obesity) occurs due to the accumulation of
subcutaneous and visceral adipose tissue. This usually occurs in the growth stages (childhood
and adolescence), tending to continue and increase in adult life. This accumulation is often
associated with metabolic complications and cardiovascular diseases (LOBATO et al., 2013).
Obesity and its related anthropometric indicators such as body mass index (BMI), waist
circumference (WC), fat percentage (FP), waist-hip ratio (WHR) and total body mass (TBM),
have been used in the diagnosis of the nutritional status of children and adolescents due
to the increase in the prevalence of overweight and obesity in the country (ARAÚJO et al.,
2012) and abroad (WHO, 2016).
According to recent studies how to Araújo et al. (2012) and WHO (2016), this increase
in the prevalence of obesity is related to the increase in the early occurrence of metabolic
syndrome (MS) in adolescents and is due to the fact that, in recent years, we are witnessing
an increase in food intake rich in fat, salt and sugars, poorer in vitamins and minerals, and
associated with chronic lack of physical activity due to the increasingly sedentary nature of
many forms of work, changing transport modes, and increasing urbanization.
On the other hand, regarding what may contribute to the control of obesity and its related
effects in adolescents, there is still no consensus on which physical activity would be the most
appropriate. However, we can highlight some types of training based on bio-energetic path-
ways, such as aerobic work, which consists of training intensity ranging from 65 % to 90 % of
maximum heart rate (HRmax) (BANZ et al., 2003), or resistance training (or force), which are
parameterized by the loads employed. However, concerning this activity and its efficiency for
this age group is still much discussed. According to the positioning of the National Strength
and Conditioning Association, of the American Orthopedic Society for Sports Medicine, and
the Academy of Pediatrics, adolescents can benefit from this type of activity if it is prescribed
and supervised with a sufficient regime (FLECK & KRAEMER, 2006).

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Still on this subject, authors such as Nelson et al. (2007), and Chodzko-Zajko et al.
(2009), recommend the performance of concurrent training as an effective way to control
weight gain. Accordingly, Stewart et al. (2005), admit that the execution of concurrent training
protocols by overweight adolescents, which can improve the anthropometric indicators, are
usually related to MS.
Thus, the objective of the present study was to evaluate the influence of aerobic, stren-
gth and concurrent training, on the anthropometric indicators indicated as predictor (WC) or
related risk factors (TBM, BMI, WHR and FP) respectively for metabolic syndrome in over-
weight or obese adolescents.

METHODS

Ethical aspects, design, and selection of study subjects

This research, which took place in accordance with CNS Resolution 466/2012, was
approved by the CEP-CONEP system (CAAE Protocol: 50765915.5.0000.5143; Opinion
Number: 1.348.952), and was developed in a municipality in the central-south of the state of
Minas Gerais, with a population estimated at around 65 thousand in habitants.
The study, of an interventionist nature, had its outline over 5 consecutive months, which
were organized as follows (Figure 1):

Figure 1. Interventionist nature.

Font: Autors.

The first screening of the participants took place over a period of 30 days, starting 2
months before the start of the study intervention activities, involving eight public schools,
with 539 students from 9th grade and 3 from high school, aged between 16 to 19 years. The
Informed Consent Term (ICT) was delivered, presented, and read to the parents of those
under the age of 18, and the Free and Informed Consent Term (FICT) to parents of minors

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and to those students over 18 years of age. Subsequently, the study volunteers then sub-
mitted the respective Terms duly signed by themselves or their legal guardians, in advance
of the start date of the study activities.
The adopted inclusion criteria were: 1) the age group (between 15 and 19 years); 2)
present BMI equal to or greater than 26 kg/m2; 3) be sedentary (do not practice regular
physical activities beyond the weekly physical education class); and 4) being motivated to
lose weight. As exclusion criteria, in addition to the non-inclusion criteria, the following were
adopted: 1) medical impediment to the practice of physical activities; 2) intellectual/cognitive
impairment making it impossible to understand the objectives and methods of the study; and 3)
unavailability of time or schedule for the complete implementation of the intervention protocols.
In order to facilitate the participation of the volunteers, the initial data collection for the
first screening was carried out in the schools themselves.
The second screening, also in the schools, began in the first month immediately after
the end of the first screening and lasted until the end of the second month. At this stage of the
study the anthropometric evaluations were performed to select the volunteers with required
BMI values. Those eligible were invited to participate in the study. In relation to underage
participants identified as being overweight/obese, their parents/guardians were contacted
for presentation of the evaluation results. They were also asked about the risks of childhood
obesity and about the importance of changing habits, such as adopting a balanced diet and
regular physical exercise. Everyone was advised on the low and controlled risk of the practice
of guided exercises.
At the end of this phase of the study, those who agreed to participate were then in-
cluded as subjects (n = 80), and were randomly distributed into 4 numerically equivalent
groups as follows: Aerobic Training Group (ATG, n = 20), Strength Training Group (STG, n
= 20), Concurrent Training Group (CTG, n = 20) and Sedentary Control Group (SCG, n =
20), the latter being composed of subjects who did not participate in the training protocols in
this phase of the study and were also instructed not to perform any physical practice during
the study period. The subjects from the three training groups were then referred to a local
gym, accredited to the Geração Saúde project to begin a physical training protocol guided by
Physical Education professionals, where they underwent 12 consecutive weeks of training.
At the end of the study the SCG subjects were offered the same training conditions and
orientation as those offered to the training groups, in order to offer the same possible benefits
expected with the physical training program of the study subjects.
For reasons of operational difficulty and follow-up, none of the groups were submitted
to nutritional control or monitoring, which may have influenced the final results of the study.

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However, guidelines for not altering current diet habits were given to all study subjects, as
well as their relatives.
For data uniformity and error minimization, and also due to the difficulty of performing
the test and retest in each of the phases of the study due to the high number of volunteers,
and later of subjects, data collection was always carried out by 4 researchers, in paired form
(in the pre, during and post intervention stages). These researchers were well acquainted
with and had great experience in the execution of the techniques.

Anthropometric assessments

In order to follow the phases of the study, the anthropometric evaluations were performed
at four times: before the beginning of the training protocols; at the end of the fourth week of
the training protocols; at the end of the eighth week of the training protocols; and at the end
of the intervention, immediately after the twelfth week of the training protocols. However for
the analysis of results, only the pre-training data and at the end of the 12 weeks of training
were used for the comparison.
In addition to BMI, the TBM, WC, WHR and FP were also evaluated.
The TBM was measured in kilograms (kg) using the Filizzola® Human weighing scale,
with a maximum capacity of 150 kg and a precision of 100 grams. Weighing was performed
with the individual barefoot and in an orthostatic and anatomical position, in the center of the
platform, and wearing swimwear (MOSER et al., 2011).
The height was measured in centimeters (cm), using a Sanny® brand compact ste-
nometer, with a measurement range of 0 to 210 cm and a precision of 0.1 cm. Height was
measured at the end of a maximal inspiration, following the same positioning and dressing
mentioned above, but with the feet together, with the posterior surfaces of the heel, pelvic and
scapular waist and occipital region in contact with the wall, and with the head in the Frankfurt
horizontal plane (CONDE & MONTEIRO, 2006).
BMI was calculated according to the Ketlet standard and expressed in mass distribution
values (kg)
​​ per area (m2) of body surface, obtained by the following predictive equation: mass
(in kg) divided by the square of height (in m) (kg ÷ m2). To compare with normal values, the
cut-off points were used for classification according to the World Health Organization (WHO,
2000) references.
The WC was measured in centimeters with a flexible and inextensible Polar brand tape
measure, with a precision of 0.1 cm, applied immediately at the midpoint between the lower
edge of the last rib and the iliac crest, parallel to the ground, on the skin surface but without
compressing the subcutaneous tissue. The individual had to stand with their feet together,
abdomen relaxed, and arms extended and relaxed, parallel to the body (MOSER et al.,

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2011). In order to compare with normal values, WHO criteria (WHO, 2000), were adopted
according to the I Brazilian Guideline for Diagnosis and Treatment of Metabolic Syndrome
(I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica, 2004), which
establishes as a cut-off point for increased cardiovascular risk a measure of abdominal cir-
cumference equal to or greater than 94 cm for men and 80 cm for women.
For WHR, the hip circumference (HC) was measured at the maximum extension of the
buttocks in centimeters with a flexible and inextensible tape measure, with a resolution of
0.1 cm, being superimposed on the skin but without compressing the subcutaneous tissue
(FERREIRA et al., 2006). The WHR was calculated from the division of WC by HC, in cen-
timeters (GHARAKHANLOU et al., 2012). For comparison with normal values, the cut-off
points proposed by Yusuf et al. (2005), were used, with values ​​≥ 1.0 for men and ≥ 0.80 for
women being considered cardiovascular risk indexes.
Finally, to measure the FP, a Sanny®Harpenden type skin fold caliper, with its stems
maintaining constant pressure of 10 g/mm2 was used. The fat percentage was calculated
using the Guedes protocol, specific for Brazilian populations, which uses in its equation the
sum of three distinct anatomical sites for adolescent males (triciptal, suprailiac and abdominal)
and females (subscapular, suprailiac and thigh) (GUEDES, 1985).

Preliminary tests and training protocol dynamics

Prior to the accomplishment of the training protocols, tests were carried out to deter-
mine the desired intensities as well as to evaluate the familiarization of the subjects with the
ergometers to be used in the training sessions.
Aerobic Training Intensity Evaluation - The subjects submitted to the aerobic trai-
ning protocols were initially tested on an Inbrasport® model ATL® 10000 treadmill (Jones &
Doust, 1996) for users up to 180 kg, with 0 to 26 % inclination and velocity of up to 24km/h,
similar to those used in training sessions. The test was performed with the purpose of fin-
ding the closest individualized intensity to reach the target heart rate values ​​of each subject
for the training (approx. 75 % of HRmax for the age) (JONES & DOUST, 1996); (TANAKA
& MONAHAN, 2001).
The tests started with a treadmill walk at a speed of 3 km/h for five minutes at a slope
of 1 %. Ateach minute thereafter the velocity was progressively increased by 0.5 km/h, with
the inclination maintained at 1 %, until the participants reached 75 % HRmax estimated for
their age, here called the target HR. The respective velocities at 1 % inclination, which are
determinant to reach the stabilized target HR of each subject, were used as reference for the
training protocol. After the end of the test, which lasted an average of 20 minutes, a period
of five minutes of deceleration was observed (BENTLEY, NEWELL & BISHOP, 2007).

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Strength Training Loads assessment- For the subjects practicing the strength protocol,
after a period of 1 week of adaptation to a series of exercises without loads, a target zone
of training intensity was determined. A maximum 1 repetition (1RM) load test was applied in
each exercise (ACSM, 2009); (WATTS et al., 2004). The strength training protocol included
ten exercises for the main muscle groups, nine of them performed with progressive external
overload (i) Bench Press ; ii) Lat Pullldown; iii) Leg Extension; iv) Leg Curl; v) Bar Curl; vi)
Lying Triceps Press; vii) Leg Press; viii) High Pull; ix) Calf Leg Press), and one of them wi-
thout external load (Abdominal) (CAYRES et al., 2014).

Dynamics of training protocols

All training protocols used in the study lasted a period of 12 consecutive and uninter-
rupted weeks, following the same density pattern of 4 weekly sessions distributed in a 2x1x2
interval model (Monday, Tuesday, Thursday and Friday) distributed over a 60 minute period,
totaling 48 training sessions. Regarding the duration of the 60 minutes of the sessions, it
is important to point out that the initial 10 minutes were destined for warm up and the final
5 minutes for deceleration and calm, with small changes of these times only for SCG, with
each protocol having its specifications according to the related groups, as described below:
ATG: this group had an adaptation period of 1 week, maintaining intensity at 65 % of
HRmax. After this adaptation period the intensity of the load control was performed progressi-
vely, increasing the intensity of the effort to 70 % of the HRmax in the 2nd week, and to 75 %
HRmax (target frequency) in the 3rd week (making individual adjustments to the intensities
when necessary), maintaining this until the end of the training protocol (BENTLEY, NEWELL
& BISHOP, 2007).
STG: After adapting for one week to 70 % of the load relative to 1RM for each exercise,
the participants in this group performed four sets of ten repetitions with loads at the progres-
sive intensities of 75 % to 85 % of the load relative to 1RM, and interval between series of
2 minutes (VASCONCELLOS et al., 2013). For this, the ten pre-established exercises were
proportional, adequate and sequentially distributed to each session, following the guidelines
regarding session duration, effort intensity and weekly frequency (ACSM, 2009); (WATTS
et al., 2004). In this case, load control was performed by adding 5 % of 1RM every 4 weeks.
CTG: this group performed the training protocol as follows: initially the aerobic training
was performed with a duration of 30 minutes, being divided into five minutes of warm-up, 20
minutes of walking-running on the treadmill within the intensity of the target zone (in this case
corrected from 65 % to 75 % of HRmax) and the five final minutes of deceleration21. In this part
of the protocol, the load control followed the same parameters used in the ATG. Subsequently,
in the same session, the strength training was performed, undergoing a change for three sets

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of 10 repetitions with an interval of 1 minute and 30 seconds in the intensity of 70 % to 75 %
of the load relative to 1RM (FAIGENBAUM & WESTCOYY, 2009). Ten strength exercises
pre-established in this training protocol as well as the proportional, adequate and sequential
distribution of the exercise on different days were the same as those used in the strength
training protocol. In this case, training load control was performed by adjusting from 70 %
to 75 % of the load relative to 1RM, at the end of the 6 week training period, and remaining
until the end of the protocol.
In all 3 training groups, stretching exercises were performed at the beginning and relaxa-
tion at the end of the training, with the participants being instructed to ingest water and wear
appropriate clothes to practice physical exercises during the sessions (MONTEIRO et al., 2013).
At the end of the training period the previously described anthropometric indicators for
each subject were re-evaluated for the last time.
As with the training groups, the subjects of the SCG were also evaluated for their an-
thropometric indicators, at the same time as the ATG, STG and CTG participants. However,
the SCG participants, as mentioned above, did not undergo any physical activity intervention
protocol and were instructed to continue their normal routines, not participating in regular
physical activities apart from the mandatory weekly school physical education class. At the
end of the study training protocol, participants in the SCG group had the opportunity to par-
ticipate in an equal 12 weeks of targeted physical training.

Statistical analysis

The experiment was conducted in a completely randomized design (CRD), when the
experimental conditions were homogeneous for measuring the TBM, WC, WHR and FP va-
riables. In the absence of similar experimental conditions, the randomized block design
(RBD) was used. Due to gender influencing the variables mass and BMI, being a source
of heterogeneity, the experiment was conducted in a randomized block design to measure
these variables.
After the Lilliefors test to verify the normality of the data, first the paired Student’s
t-test was performed in order to compare the means of all pre and post-treatment response
variables. In a second step, in order to verify if there was statistical difference between the
groups, the non-parametric Kruskal Wallis and Friedman tests were used to analyze the stu-
dies conducted in CRD and RBD, respectively. For multiple comparison of the levels of the
groupsthe Student’s t-test was performed, based on the sum of the treatments. In all tests,
5 % significance was adopted (R CORE TEAM, 2016).

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The Kruskal Wallis test was not performed to compare the groups only for the WHR
variable, since in no group was there a difference between the pre and post treatment values​​
according to the paired t-test.

RESULTS

When assessing the groups initially it is possible to observe homogeneity among the
anthropometric variables. Below are the results of comparisons before and after the appli-
cation of the training protocols, for all variables tested.
Table 1 shows results for the TBM, BMI and WHR variables.
Regarding TBM, the results indicate that there was no difference between the four groups
evaluated (p = 0.187), showing that none of the protocols used were effective in significantly
influencing the paired changes of this variable.
When comparing the results obtained in relation to the BMI in the pre and post training
phase, it is also not possible to find a significant difference between the training protocols
(ATG, STG, CTG) as well as for the SCG (p = 0.391).
The same happens with respect to WHR in which the results presented in Table 1 do
not allow us to observe any difference between the groups.

Table 1. Mean ± standard deviation of anthropometric responses to training (pre vs. post-test).

Variables ATG STG CTG SCG

TBM (kg) Pre 91.63 ± 12.22 93.36 ± 14.91 91.23 ± 12.28 91.46 ± 12.85

Post 90.29 ± 12.07 93.01 ± 15.29 90.48 ± 12.45 91.38 ± 12.65

∆% - 1.46 - 0.37 - 0.82 - 0.09

BMI (%) Pre 33.19 ± 3.57 32.73 ± 3.56 32.69 ± 4.25 32.68 ± 3.33

Post 32.70 ± 3.49 32.59 ± 3.64 32.43 ± 4.36 32.65 ± 3.25

∆% - 1.48 - 0.43 - 0.80 - 0.09

WHR (cm) Pre 0.854 ± 0.08 0.898 ± 0.05 0.850 ± 0.01 0.860 ± 0.08

Post 0.857 ± 0.08 0.889 ± 0.06 0.843 ± 0.01 0.859 ± 0.09

∆% 0.35 - 1.00 - 0.82 - 0.12


Legend: Δ% Percentage of variation; * Significant difference compared to pre-training (p ≤ 0.05). TBM = total body mass,
BMI = body mass index, and WHR = waist-to-hip ratio.

Regarding FP, when analyzing the results, a significant difference can be observed for
CTG between the pre and post training phases (p = 0.013), which can be seen in Graphic 1.

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Graphic 1. Values of mean ± standard deviation of fat percentage responses to training (pre vs. post-test).

Legend: Δ% ATG = 2.19; STG = - 2.69; CTG = 3.20; SCG = - 2.04. *


Significant difference compared to pre-training (p ≤ 0.05).

A significant reduction can also be observed in relation to WC, but in this case for STG,
which is presented in Graphic 2.

Graphic 2. Values of mean ± standard deviation of waist circumference responses to training (pre vs. post-test).

Legend: Δ% ATG = - 1.31; STG = - 2.37; CTG = 2.00; SCG = - 1.78. * Sig-
nificant difference compared to pre-training (p ≤ 0.05).

DISCUSSION

According to the results obtained, it was noted that the TBM variable was not influenced
by any of the training protocols, that is, none of the protocols tested in the study were able to
reduce the subject’s body mass. In the study by Martins (2007), who also evaluated overweight
adolescents where they performed three concurrent training sessions per week, no significant
differences were also observed regarding body mass. In this case, the methodology of the
study which differs from the current, employed 16 weeks of concurrent training protocol, but
also no form of diet control was adopted. Thus, supported by the present results, the authors
wanted to corroborate the results found by the aforementioned author, and we suggest that
even with longer periods of intervention, concurrent training in isolation, demonstrates not to
be able to promote significant changes in TBM.

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These results, at least in relation to STG and CTG can be partly explained by the fact
that in these two training models, there is a strong possibility of an increase in lean muscle
mass, especially when practiced by adolescents, differently to what is observed in aerobic
training protocols. This condition in turn, neutralizes possible losses in TBM caused by the
decrease in body fat also caused by training, a hypothesis that was also raised in the study
by (Martins, 2007), but does not explain the results found for ATG, which in this case was
limited by the duration of the study and/or even the intensity of the aerobic load applied to
the training, which may have been insufficient to promote changes in body fat.
However, to maintain TBM due to the possible compensation of loss and gain of body
fat and lean mass, respectively, hypothesized for the strength and concurrent training, would
promote changes in the percentage of fat in both groups, a result found only for the STG.
On the other hand, Antunes et al. (2013), when conducting a study with obese ado-
lescents, also without control or nutritional intervention, in which they were divided between
strength training and aerobic training, obtained significant differences in the reduction of the
weight variable in both protocols between the pre to post-training phases when compared
to the control group, which differs from the findings of the current study. However, their me-
thodology differs from the current study, with an increase in volume and intensity, in which
three training sessions were performed on non-consecutive days for 20 weeks, with 15 to 20
repetitions for each exercise series versus 12 weeks of 10 repetitions by series in the current
study. In addition to varying intensities of aerobic training, it also differs from the current, noting
that in the present study it was 65-75 % of HRmax versus 70-85 % in the cited study. In their
case, the authors attributed weight loss to significantly higher intensities and volumes for the
two protocols, which probably matched the potential for weight loss in adolescents, but did
not specify whether or not there was a reduction in fat percentage.
Souza et al. (2012), compared which type of training (aerobic, strength and concurrent)
would be most effective in the loss of body mass of young men, during a 16 week period
with three training sessions per week on alternate days, without changes in diet habits. They
observed that in none of the training sessions was it possible to obtain significant changes
in mass loss, similar to the results of the present study, although with subjects of different
ages and only males.
According to Monteiro et al. (2013), a concurrent training protocol with adolescents aged
between 12 and 15 years and with a duration of 16 weeks of training, obtained a significant
reduction in BMI, which differs from the current study where which did not observe significant
changes in this anthropometric condition. A possible explanation for this difference in outcome
is perhaps due to the fact that in the cited study the number of weeks of the practical protocol
was longer in relation to our study.

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In a practical protocol with a duration of one year of aerobic work with 30 obese adoles-
cents, De Melo (2011), noticed in their results that there was a significant reduction of BMI
in 80 % of the participants of the group that performed this aerobic protocol, however, in that
study the group underwent a nutritional intervention during the long period of training, which
differs from the present study due to the fact that it did not have nutritional intervention and
different practice durability.
In a study also conducted with overweight adolescents in the United States, Davis
(2012), tested a strength training protocol failing to evidence significant changes in BMI when
the group did not have nutritional monitoring, a result that corroborates the findings found
in the present study. Moreover, in analyzing the results obtained on the variable WHR, the
author points out that in none of the training protocols tested, was it possible to perceive any
significant reduction for this variable, also agreeing with the results presented here.
On the other hand, the present study differs from that found by Barbosa Júnior et al.
(2013), who, when applying protocols of strength and aerobic training during a period of 12
weeks for their adolescent volunteers, obtained significant differences when comparing the
pre and post training phases. However, in their case, the authors report that they used a
restrictive nutritional control after the 12 weeks of training, which probably explains the dif-
ference of the results in relation to the present study.
Carvalho et al. (2013), in submitting their groups of adolescents to 12 weeks of aerobic,
strength and concurrent training, at a frequency of three sessions a week on alternate days,
did not obtain significant differences for the WHR variable between the pre to post-training,
which corroborates the results obtained in this study. Although the results were similar and
both did not adopt any form of nutritional intervention, the methodology of both studies dif-
fers in some points, since the intensity ranged from 40 to 60 % of the HRmax versus 70 to
85 % HRmax in the current study, the strength training consisted of six exercises versus ten
exercises in the current, and the concurrent training was performed in two periods, where
aerobic training was performed in the morning period and strength training in the afternoon
period. In the current study the practical protocols occurred in the same training session. This
indicates that even at higher intensities the protocols tested here do not promote adjustments
to the extent that they differ from those with significantly lower intensities.
The same occurred in the study Martins (2007), where after 16 weeks of concurrent
training applied in adolescents, no significant changes were obtained in relation to the WHR
variable. With the FP variable also investigated in this study, it was possible to obtain signi-
ficant differences when comparing the pre-workout to the post-workout for the practitioners
who performed the concurrent training protocol, but the same did not occur in the group that
performed the aerobic training and in the group that practiced strength training. These results

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are similar to those observed in the present study, emphasizing the greater efficiency of the
concurrent training in reducing body fat, an extremely important and desired effect for the
treatment of adolescents presenting predictive indicators for metabolic syndrome.
Monteiro et al. (2013), obtained results similar to the current study for the FP variable,
when subjecting obese adolescents aged 12 to 15 years to 20 weeks of concurrent training
with three sessions per week with a duration of 60 minutes each, being 50 % of the session
time for aerobic training and 50 % for strength training. The intensity of aerobic training ran-
ged from 70 to 85 % of HRmax, with a total of 12 exercises performed in strength training.
However, although the results are similar, the methodology of both studies differs.
In another study conducted by Monteiro et al. (2015), when applying concurrent training
in a group of obese male and female adolescents aged 12 to 17 years for 16 weeks, it was
possible to significantly lower FP only in the male subjects when comparing the pre to the
post-workout, which differs from their previous findings as well as from the present study,
since in these findings the decrease in fat percentage occurred for both genders. In the ci-
ted case, we can consider that the concurrent training seems to exert more intense effects
in male adolescents, which can be observed when analyzing samples stratified by gender,
which was not the case in the present study, which may have presented minor changes in
the CTG since it involves both male and female adolescents.
When subjecting a group of obese adolescents between 12 and 15 years of age to
20 weeks of concurrent training three times a week with a duration of 60 minutes, Antunes
et al. (2013), also obtained significant results on the FP variable when comparing the pre-
and post-training phases, which corroborates with the current results obtained, since in the
present study, no type nutritional intervention was tested.
Differently from what occurred in the study conducted by Chaudhary, Kang e Sandhu
(2010), obese young women were submitted to aerobic training and strength training, divided
into two different groups, for a six week duration, where it was possible to lower FP in both
training groups, when compared to the control group. Therefore, the differences in results
may have occurred due to the fact that there was diet control in both groups in the cited stu-
dy, besides the fact that they were adult women, which showed to be more sensitive than
adolescents in the changes of this variable when submitted to physical training.
One possible explanation for this is the fact that in pre-adolescence, eutrophic girls
increase their fat reserves by up to 20 %, a fact that is considered as a preparation for the
phase of marked growth and development (ACCIOLY, SAUNDERS & LACERDA, 2010).
According to the authors, this condition only seems to normalize when they reach adul-
thood. In this case, pre adolescents and obese adolescents may find it even more difficult
to reduce their fat masses during puberty, even when they undergo physical training without

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nutritional monitoring. This supports the interpretation of the results observed by Monteiro
et al. (2015), as in the present study, where we believe that the delta of the FP difference
found between the pre and post phases for the CTG group was minimized by the results
presented by the girls.
Finally, when analyzing the results for the anthropometric variable WC, it was noted that
the strength training protocol was the only one able to promote changes (decrease) in this
indicator. This result resembles that found by Miranda et al. (2014), where after the appli-
cation of the strength training protocol in overweight adolescents, significant changes were
observed in the WC variable when compared to the control group. However, in relation to
aerobic training, the results of the present study differ from the findings of Leite et al. (2009),
and Schiavoni et al. (2014), who, when subjecting obese adolescents aged 11 to 15 years,
with and without Metabolic Syndrome, to a protocol of 12-week aerobic training, observed
a significant decrease in WC in adolescents. However, in the two cited studies, there was
diet control throughout the study, which can explain the differences obtained in the results of
the two studies when they were compared with the current study, in which aerobic training
without diet control was not able to significantly reduce WC.
On the theme of WC, it is worth mentioning the studies of Albuquerque Filho (2014) and
De Lima et al. (2015), who investigated the interference of concurrent training for 16 weeks on
the WC of overweight and obese adolescents, aged between 12 and 16 years, when compared
to the untrained control group, presented a significant reduction for this MS indicator. This
result also differs from those found in the current study, where when comparing the results
of the concurrent training group to the control group, there were no significant differences.
The divergences in the findings may also have occurred because in the two studies cited
Albuquerque Filho (2014) and De Lima et al. (2015), there was nutritional control throughout
the practice of the protocols to the detriment of the current study.

CONCLUSION

From the results obtained, it was concluded that none of the training protocols (aerobic,
strength and concurrent), in isolation and without nutritional monitoring, were able to simul-
taneously influence all the predictive or MS related anthropometric indicators studied here.
None of them were able to promote any change in the anthropometric variables BMI,
WHR and TBM, being insufficient for reversion of these variables when practiced in isolation
without nutritional monitoring, by obese and overweight adolescents.
However, concurrent training was responsible for a significant reduction in FP, as was
strength training able to reduce WC, two important anthropometric indicators related to MS,
even without nutritional intervention, which did not occur among the other groups. In turn,

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the protocol of aerobic training in isolation was not effective in promoting changes in any of
the indicators studied here.

Study limitations

This study had some limitations to obtain more satisfactory results, such as: nutritional
follow-up by a professional in the area, together with the training protocols; monitoring of daily
activities, which may have influenced the physical training protocols employed; because it
was a group of teenagers, there was no routine of periodicity of training schedules, that is,
each training session was carried out at different times by the same participant, ideally, the
practice at the same times, due to the disposition of the study participant.

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13
Linfoma mediastinal em gato – relato de
caso

Nathália de Pádua Rezende Kronit


Centro Universitário de Goiás - UNIGOIÁS

Priscilla da Silva Parreira


Centro Universitário de Goiás - UNIGOIÁS

Thays Borges Silva


Centro Universitário de Goiás - UNIGOIÁS

Lidiana Cândida Piveta


Centro Universitário - UNIGOIÁS

'10.37885/221211167
RESUMO

O linfoma é uma neoplasia de caráter hematopoiético, maligno, que tem origem através
da proliferação de células linfoides e pode acometer felinos de qualquer idade, sexo ou
raça. A etiologia do linfoma é multifatorial. Um grande fator contribuinte para este índice
é a infeção pelo vírus da leucemia felina (FeLV) e pelo vírus da imunodeficiência felina
(FIV). Os sinais clínicos da forma mediastinal são efusão torácicas, dispneia e linfadenome-
galia. O diagnóstico é realizado com base no histórico, sinais clínicos, exame físico, exame
de imagem e exames laboratoriais. O tratamento proposto é a quimioterapia sistêmica com-
binada, sendo seu principal objetivo induzir a remissão da massa tumoral. O prognóstico do
linfoma mediastinal para felinos é desfavorável. O objetivo do trabalho foi relatar o caso de
um felino, SRD, de 3 anos de idade, macho, FeLV positivo, que apresentava dispneia com
respiração paradoxal, apatia e anorexia. Após a realização de exames de imagem, exames
hematológicos e citologia, definiu-se o diagnóstico de linfoma mediastinal. No presente relato
todo protocolo de tratamento foi instituído, o paciente recebeu alta, mas retornou com piora
e então optou-se pela realização procedimento de eutanásia.

Palavras-chave: Hematopoiética, Imunossupressão, Linfócito, Neoplasia, Quimioterapia.


INTRODUÇÃO

As neoplasias são massas provenientes de proliferações de tecido anormal que sur-


gem em diferentes partes do corpo, com características específicas e apresentam ritmos de
crescimento e riscos diferentes (SANTOS & BATISTA 2021). Os linfomas possuem como
característica a origem em células linforreticulares, apresentando comportamento biológico
maligno, e ocorre principalmente em órgãos linfoides como linfonodos, baço e medula ós-
sea, contudo pela constante migração dos linfócitos pelos tecidos pode ocorrer em qualquer
órgão (DALECK et al., 2016).
O linfoma é a neoplasia hematopoiética felina mais comum, compreendendo mais de
50% de todos os tumores hemolinfáticos, pode acometer felinos de qualquer idade, sexo ou
raça, embora os gatos de raça pura, como Manx, Birmanê e Siamês possam ter risco maior.
Não se conhece a etiologia precisa do linfoma felino em muitos casos, entretanto, causas
virais de linfoma felino são bem definidas, havendo infecções tanto pelo vírus da leucemia
felina (FeLV) quanto pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV) (CHOY & BRYAN, 2016).
Tais neoplasias podem apresentar-se em diferentes localizações anatômicas sendo clas-
sificado em multicêntrico, mediastinal (ou tímico), alimentar e extranodal (linfoma cutâneo,
nasal, renal e em sistema nervoso) (DALECK & NARDI, 2017).
No Brasil, infecções retrovirais ainda desempenham papel importante no desenvol-
vimento desta neoplasia em felinos. A maior prevalência da forma mediastinal ocorre em
gatos positivos para FeLV, um retrovírus oncogênico, e o prognóstico é desfavorável para
esses pacientes (ALVES, 2022).
Para estabelecer o diagnóstico e definir o estadiamento, deve-se realizar inicialmente
uma anamnese bem feita atentando-se para o histórico, juntamente com uma avaliação
física completa do paciente através do exame físico (ênfase na palpação dos linfonodos,
auscultação pulmonar e cardíaca), e exames complementares tais como teste sorológico para
FIV (vírus da imunodeficiência felina) e FELV (vírus da leucemia felina), radiografia de tórax
para avaliar presença de massas na região de mediastino e/ou efusões pleurais, exames
laboratoriais como hemograma e perfil bioquímico, avaliação citológica da efusão pleural e
de linfonodos (AZEVEDO et. al., 2022). O exame histopatológico é de suma importância,
pois, por meio dele, é observado microscopicamente a proliferação de células malignas que
confirmam a suspeita de linfoma mediastinal (SANTOS e BATISTA, 2022).
Os agentes quimioterápicos mais eficazes para o tratamento do linfoma são doxorru-
bicina, vincristina, ciclofosfamida e prednisona ou prednisolona. A poliquimioterapia é mais
efetiva em relação à quimioterapia, isso pois as linhagens de células linfomatosas contri-
buem para a resistência quimioterápica. A poliquimioterapia é dividida em fases: indução
da remissão, intensificação se não houver remissão completa na primeira fase, manutenção

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para prolongar e manter a remissão, além dos protocolos de emergência ou resgate, que
têm como objetivo induzir nova remissão (RIBEIRO et. al., 2017).
O objetivo deste trabalho de conclusão de curso, foi realizar uma revisão bibliográfica
sobre o linfoma mediastinal em felinos, e descrever um relato de caso sobre um paciente
felino com a neoplasia citada.

REVISÃO DE LITERATURA

Cavidade torácica: região do mediastino, linfonodos e timo

A cavidade torácica é formada por três compartimentos, as cavidades pleurais esquer-


da, direita e o mediastino. As cavidades pleurais encontram-se nas partes laterais do tórax,
sendo preenchidas pelos pulmões e suas estruturas associadas (JERICÓ et. al., 2019).
O mediastino é um espaço localizado entre a cavidade pleural esquerda e direta, po-
dendo ser dividido em três partes: mediastino cranial; pré cardíaco, médio ou cardíaco e o
mediastino caudal ou pós cardíacos. Nessa região estão localizadas estruturas vitais impor-
tantes, como coração, traqueia, esôfago, grandes vasos, linfonodos mediastinicos e ester-
nais, brônquios, nervos e o timo (figura 1) (KONIG E LIEBICH, 2021; JERICÓ et al., 2019).
O sistema linfático no geral constitui uma via acessória pela qual os líquidos podem
fluir dos espaços intersticiais para o sangue. Os linfonodos participam de diversos processos
patológicos que ocorrem na área ou região afetada, atuando principalmente na drenagem
de fluidos e na apresentação de antígenos. Seu aumento pode estar associado a inflamação
local, infecção por migração dos patógenos e por neoplasias (FEITOSA, 2020).
Os linfonodos torácicos são divididos em dois grupos, que realizam a drenagem da
parede torácica, contendo o linfocentro torácico dorsal e o ventral. Já os órgãos da cavida-
de torácica são drenados pelo linfocentro mediastinal, bronquial, torácico dorsal e torácico
ventral (KONIG E LIEBICH, 2021).

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Figura 1. Esquema ilustrativo de corte transversal da cavidade pleural na altura do mediastino cranial, evidenciando a
cavidade pleural direita e esquerda, região do mediastino e timo.

Adaptado de: König & Liebich, 2021.

O linfocentro torácico dorsal é composto pelos linfonodos intercostais e linfonodos


aorticotorácicos, realizam drenagem do teto do tórax e envias seus vasos eferentes para o
ducto torácico. O linfocentro torácico ventral situa-se dorsalmente ao esterno e lateralmente
ao músculo transverso do tórax, realizando a drenagem da parte ventral torácica e enviando
seus vasos para o ducto torácico ou para os linfonodos mediastinais. O linfocentro medias-
tinal compreende os órgãos no interior do mediastino, incluindo coração, traqueia, esôfago
e timo. O linfocentro bronquial é composto por linfonodos traqueobronquiais e pequenos
linfonodos pulmonares (figura 2) (KONIG E LIEBICH, 2021).
O timo é um órgão linfoide primário, localizado no mediastino anterior e é responsável
pela maturação de linfócitos T em animais jovens. O timo tem uma origem par do terceiro
arco faríngeo, e os botões crescem seguindo o pescoço ao lado da traqueia e invadem o
mediastino, no qual eles se prolongam até o pericárdio (KONIG & LIEBICH, 2021).

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Figura 2. Esquema representando o corte longitudinal do tórax do gato, destacando o linfocentro torácico dorsal, ventral
e mediastinal.

Adaptado de: https://br.pinterest.com/pin/337770040794890237/

Linfoma

O linfoma é uma neoplasia de caráter hematopoiético, maligno, que tem origem através
da proliferação de células linfoides, principalmente em linfonodos e órgãos viscerais sólidos e
um tipo de tumor comum em cães e gatos (ETTINGER et. al. 2022). Os linfomas podem ser
caracterizados pela sua distribuição anatômica no corpo, pela distribuição histológica dentro
dos órgãos hemolinfáticos, pela morfologia das células, imunofenotipos, citopenias e, quando
conhecido, seu comportamento biológico e características moleculares (VALLI et al. 2017).
A classificação do linfoma é baseada de acordo com a região anatômica afetada,
podendo apresentar cinco tipos diferentes: alimentar, mediastinal, multicêntrico, cutâneo e
extranodal (JERICO, et al., 2019).

Linfoma mediastinal

A forma mediastínica envolve os linfonodos mediastinais e/ou do timo, e os principais


sinais clínicos presentes são: dispneia, tosse, derrames pleurais, e em casos mais raros
edema de cabeça e Síndrome de Horner (DALEK et al., 2016; HORTA et al., 2021).
O linfoma mediastinal é um tumor com maior incidência em felídeos e é caracteriza-
do como uma neoplasia primária de células redondas. Louwerens (2005) descreve que o
linfoma de mediastino é uma neoplasia predominantemente de linfócitos T e acomete ani-
mais jovens, adultos e idosos, de seis meses a sete anos de idade (JERICÓ et al., 2019;
LOUWERENS, 2005).

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O linfoma em felinos pode estar associado a leucemia viral felina (FeLV) e imunode-
ficiência viral felina (FIV) devido ao potencial oncogênico dessas retroviroses responsável
por infecções, e por disfunções imunológicas em gatos domésticos (OLIVEIRA et. al., 2020;
CALAZANS, DALECK & DE NARD, 2016).

Etiologia

A etiologia do linfoma é multifatorial, uma vez que vários fatores podem exercer influên-
cia no desenvolvimento desta neoplasia. Um grande fator contribuinte para este índice é a
infeção pelo vírus da leucemia felina (FeLV), que promove uma transformação neoplásica
dos linfócitos (COSTA et. al., 2017). A formação de neoplasias relacionadas a FeLV ocorre
a inserção do material genético do retrovírus no genoma do hospedeiro em regiões próximas
a oncogenes celular, dessa forma, altera o crescimento celular e leva a mutações genéticas
somáticas, predispondo a clonagem de células anômalas onde há integração do genoma
viral (AZEVEDO et.al., 2022)

Sinais Clínicos

Os achados clínicos associados ao linfoma mediastinal podem ser variados e inespecífi-


cos, além de depender da forma anatômica e da extensão da doença. Podem ser observadas
eventualmente alterações como dispneia em decorrência do espaço ocupado pela massa
tumoral, taquipneia, alterações em sons cardíacos e pulmonares compatíveis com efusão
torácicas, tosse, cianose, linfadenomegalia, apatia, vômitos e perda de peso (SILVA, 2022;
DALECK & DE NARDI, 2017).
Comumente, as anormalidades estão relacionadas à cavidade torácica por conse-
quência do deslocamento pulmonar e cardíaco, devido presença da neoplasia e da efusão
torácica (SGARIONI, 2019). A principal consequência da efusão pleural no paciente é a alte-
ração da postura, apresentando a posição ortopnéica, caracterizada pelo decúbito esternal,
cabeça e pescoço estendidos com boca aberta em busca de melhorar o quadro respiratório
(FEITOSA, 2020).
A neoplasia pode gerar compressão da inervação simpática vagal do esôfago gerando
engasgos, regurgitação e disfagia. Comprometimento da inervação simpática ocular poden-
do ocasionar miose, enoftalmia e protusão de terceira pálpebra, sinais compatíveis com a
síndrome de Horner (DALECK & DE NARDI, 2017).

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Diagnóstico

A apresentação clínica e a anamnese são de extrema importância para estabelecer


um diagnóstico, podendo já levar a uma suspeita plausível de linfoma. Porém, exames com-
plementares devem ser realizados, tanto para a investigação, como para o estabelecimento
do estadiamento oncológico do paciente (CALAZANS et al., 2016).
Estudo realizado por Souza et al. (2021), afirma que o diagnóstico é realizado por meio
do exame histopatológico para identificar e definir o tipo e subtipo do linfoma, sendo que a
citologia por meio da punção aspirativa por agulha fina (PAAF) é considerado um exame
auxiliar, que pode ser inconclusivo na maioria das vezes (SOUZA et al., 2021). Exames com-
plementares como radiografias de tórax, tomografia computadorizada, análises hematológicas
e bioquímicas, ultrassonografia abdominal, punção de medula óssea e exame sorológico para
Imunodeficiência Viral Felina (FIV) e Leucemia Viral Felina (FeLV) são muito valiosos para
direcionar e concluir o diagnóstico. Além disso, todos os pacientes doentes devem passar
por monitoração dos demais órgãos, principalmente, os linfonodos (SOUZA et al., 2021).
O monitoramento com exames de imagem é essencial para avaliar linfonodos e esta-
belecer o estadiamento oncológico. De acordo com Azevedo et. al. (2022), as radiografias
torácicas são utilizadas nas projeções laterolateral esquerda e direita e projeção ventro dorsal
para avaliar a presença de massas mediastinais, linfonodos acometidos, efusões pleurais
(em consequência do infiltrado neoplásico pulmonar) e deslocamento dorsal da traqueia
(devido ao aumento de tamanho da neoplasia) (AZEVEDO et.al., 2022).
A ultrassonografia é usada para avaliar as massas mediastinais. Evidência na avalia-
ção abdominal mudança na ecogenicidade dos órgãos parenquimatosos, ou seja, fígado,
baço e rins, alterações na textura do órgão secundária à infiltração neoplásica. Além disso,
estruturas ou órgãos linfoides aumentados podem ser facilmente identificados, facilitando
assim, realizar aspirados ou biopsias com o objetivo de confirmar o diagnóstico (SILVA, 2019).
Outra opção de exame de imagem é a tomografia computadorizada, esta apresenta
melhor detalhamento das estruturas da cavidade torácica, auxiliando no diagnóstico de lin-
foma. Deve-se ressaltar que não é indicada para pacientes descompensados com dispneia
acentuada, pois o paciente precisará passar por sedação, aumentando os riscos anestésicos
(JARK et. al. 2022).
Em muitos casos, quando a citologia não conclui o diagnóstico de linfoma o método
padrão ouro é o histopatológico. O diagnóstico histopatológico do linfoma avalia a arquite-
tura do órgão acometido para anormalidades, como a infiltração das células neoplásicas e
a invasão capsular, incluindo o tamanho da célula e o índice mitótico (VALENCIANO et. al.,
2011; VALLI et al., 2016).

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A análise histopatológica é importante para realizar a classificação e imunofenotipagem
do tumor, porém fatores como custo e risco da coleta diminuem a solicitação desse exame
(JARK et al. 2022). A imunofenotipagem é necessária para se chegar a um diagnóstico con-
clusivo, porque vários tipos de linfoma são morfologicamente indistinguíveis, mas são feno-
tipicamente heterogêneas. Como o linfoma linfocítico pequeno, linfoma linfoblástico, linfoma
da zona marginal versus linfoma da zona T ou linfoma difuso de grandes células B versus
linfoma T periférico (VALLI et al., 2016).
Essa técnica tem sido aplicada em vários linfomas felinos, e foi utilizada em estudo que
relataram a sua utilidade diagnóstica (FELISBERTO et al., 2016). Consiste na avaliação dos
anticorpos para proteínas específicas aplicados ao tecido lesionado, geralmente seguido
por um anticorpo secundário de uma espécie diferente do paciente ou do anticorpo primá-
rio. Os anticorpos secundários são conjugados a enzimas que catalisam uma mudança de
cor quando o substrato é adicionado. Este método permite aos patologistas identificarem
células individuais que expressam a proteína de interesse e colocar essas células no con-
texto da arquitetura do tecido (AVERY et al., 2013).

Diagnóstico Diferencial

O principal diagnóstico diferencial do linfoma mediastinal é o timoma (JARK et. al.


2022). Este é composto por células epiteliais tímicas neoplásicas que acomete o timo, loca-
lizado na região de mediastino, por isso, os sinais clínicos são muito parecidos com linfoma
mediastinal. É incomum a presença de efusão pleural e apresenta um melhor prognóstico
em comparação com o linfoma (BANDARRA et. al. 2000). Outra diferença, o linfoma aco-
mete mais gatos jovens, FeLV positivo, já o timoma é mais comum em animais mais velhos
(HORTA et. al., 2018).

Estadiamento oncológico

O estadiamento tumoral é determinado com base na avaliação clínico cirúrgico e dados


histopatológicos. O principal sistema de estadiamento tumoral utilizado avalia, o tumor pri-
mário (T), incidência de células tumorais nos linfonodos (N) e metástase (M), representado
pela sigla TNM (JERICO; NETO; KOGIKA, 2019). Em geral o estadiamento pode auxiliar na
definição do prognóstico do paciente e no desenvolvimento do plano terapêutico (Quadro 1).

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Quadro 1. Sistema de estadiamento clínico para linfoma em gatos, estabelecendo estádio de evolução da doença pela
observação do tumor, linfonodo sentinela e possibilidade de metástase.

Estádio Extensão da doença


- Nódulo solitário (extranodal) ou em um único linfonodo (ou órgão linfoide)
I
- Pode incluir tumores intratorácicos
- Presença de tumor extranodal com ou sem envolvimento de linfonodo regional
II - Envolvimento de 1 ou mais linfonodos do mesmo lado do diafragma
- Presença de nódulo primário no trato gastrointestinal, com ou sem envolvimento do linfonodo mesentérico
- Presença de 2 tumores extranodais em lados opostos do diafragma
- Aumento de 2 ou mais linfonodos acima e abaixo do diafragma
III
- Nódulos intra-abdominal primário não excisável
- Nódulos supraespinhal ou espinhal, independente de outras áreas tumorais
IV - Estádios I, II ou III com envolvimento de fígado e/ou baço
V - Estádios I, II, III ou IV com envolvimento inicial do sistema nervoso central e/ou medula óssea
Subestágio Parâmetros
A Assintomático
B Sintomático
Adaptado de: Daleck e De Nardi (2022).

Tratamento

A principal forma de tratamento é a quimioterapia sistêmica combinada, a qual utiliza


medicamentos que atuam por diferentes mecanismos, diminuindo assim a probabilidade do
crescimento de células cancerosas resistentes. Dessa forma induzir a remissão da massa
tumoral em casos de linfoma mediastinal em felinos, contudo pode ser associada a seções
de radioterapia com o intuito de reduzir as bodas tumorais, além das cirurgias para exérese
tumoral (COSTA, et al., 2017).
A quimioterapia antineoplásica é a mais utilizada em tratamento de linfoma mediastini-
cos, fundamenta-se em três etapas, a primeira fase de indução, em que as doses de fármacos
são maiores e o intervalo entre as seções de quimioterapias são mais curtas. A segunda, fase
de manutenção, são utilizadas doses menores e o intervalo entre as seções são maiores.
Enquanto na terceira fase é a terapia de resgate, sendo essa, mais uma tentativa de remis-
são da neoplasia com um curso agressivo de quimioterapia (DALECK & DE NARDI, 2017).
Diferentes procedimentos quimioterápicos são descritos e aplicados em casos de linfo-
ma mediastinal, mesmo não existindo um protocolo perfeito que preencha condições como
boa eficácia, baixo custo e baixa toxicidade. Ainda assim, existem alguns protocolos que
são mais empregados na rotina clínica obtendo resultados satisfatórios (SGARIONI, 2019).
Os protocolos quimioterápicos mais citados e utilizados são o OP, COP, CHOP
e LOPH. O primeiro consiste na associação de dois fármacos, sendo eles a vincristina
(Oncovin®) e a prednisolona. O segundo consiste nos mesmos fármacos do protocolo an-
terior sendo associado o fármaco ciclofosfamida. O terceiro protocolo apresenta associa-
ção de ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisolona. Já a última associação de

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fármacos combina a lomustina, vincristina, prednisolona e doxorrubicina (quadro 2) (DALECK
& DE NARDI, 2017; SILVA, 2022; SGARIONI, 2019).

Quadro 2. Posologia dos protocolos OP, COP, CHOP e LOPH utilizados como agentes antineoplásicos no tratamento de
pacientes felinos com linfoma mediastínico.

Fármaco Posologia Administração Frequência


Prednisolona 1-2 mg/kg VO Diariamente ou dias alternados
Vincristina 0,5-0,75 mg/m² IV A cada 1 ou 2 semanas
Ciclofosfamida 200 mg/m² VO A cada 3 semanas
Doxorrubicina 25 mg/m² IV A cada 3 semanas
Lomustina 50-60 mg/m² VO A cada 3 semanas
Adaptado de: Daleck e De Nardi (2022).

Estudo realizado por Silva et al. (2020), compara dois protocolos quimioterápicos anti-
neoplásicos (COP e clorambucila + prednisolona - CP), utilizados em um felino FeLV positi-
vo, com alterações físicas compatíveis com quadro de linfoma. O protocolo CP apresentou
excelente respostas nos linfomas de células pequenas em outras localizações anatômicas,
além de ter baixo custo e fácil administração (SILVA et al., 2020).

Prognóstico

A avaliação histológica é fundamental para estabelecer o prognóstico do paciente.


Dessa forma os linfomas de baixo grau de malignidade apresentam células com baixo per-
centual mitótico com uma progressão lenta e estão relacionados à maior sobrevida (VAIL,
2013). Os linfomas de alto grau possuem um elevado percentual mitótico e por isso acabam
desenvolvendo resistência aos quimioterápicos. A maior parte dos linfomas mediastinais são
classificados como intermediários a alto grau de malignidade (JARK et. al. 2022).
O prognóstico do linfoma mediastinal para felinos é desfavorável, pois a neoplasia não
obtém cura e ainda que haja boa resposta ao tratamento com remissão clínica, o paciente
é susceptível a ficar resistente ao quimioterápico. O tratamento objetiva aumentar o tempo
de sobrevida (em torno de oito meses) com maior qualidade de vida (LIMA, 2022).

RELATO DE CASO

Um felino, sem raça definida, macho, castrado, com 3 anos e 11 meses de idade, pe-
sando 3 Kg, positivo para Leucemia Viral Felina (FeLV), foi encaminhado para atendimento
clínico, apresentando sinais clínicos como dispneia com respiração paradoxal, apatia e ano-
rexia. Ao exame físico foi observado apatia, desidratação, mucosas hipocoradas, aumento
de linfonodos submandibulares e pré-escapular e hipofoneia na ausculta cardiopulmonar,
sugestiva de efusão torácica.

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Para estabilizar o paciente foi realizado tranquilização para controle da respiração
com butorfanol (0,2 mg/kg), iniciado oxigenoterapia e realização de toracocentese de alí-
vio. Logo após o procedimento, foi realizado exames de radiografia torácica. Nesse foi
verificando alargamento do mediastino em porção cranial podendo indicar lesão expansiva,
presença de líquido em espaço mediastinal lateral sugestivo de efusão pleural, os campos
pulmonares colapsados, possivelmente devido aos processos infecciosos/inflamatórios e/
ou neoplasias (figura 3).
O líquido da drenagem torácica foi encaminhado para análise, tendo como resultado
acentuada presença de linfócitos pequenos e alguns apresentando atipia, sugerindo um
transudato modificado sugestivo de linfoma.

Figura 3. Radiografia torácica do paciente felino, SRD, diagnosticado com linfoma mediastinal. (A) Posição laterolateral
esquerda evidenciado pela seta fina vermelha a presença de efusão pleural. (B) Posição laterolateral direita destacado
pela estral amarela o colapso nos campos pulmonares. (C) Posição ventro-dorsal identificado pela seta grossa verde o
alargamento do mediastino cranial.

Fonte: arquivos do autor (2022).

Na avaliação de ultrassonografia abdominal foi possível constatar em cavidade ab-


dominal linfonodos reativos de forma difusa, com linfonodo mesentérico medindo cerca de
3,91cm x 1,53cm e líquido livre de alta celularidade (figura 4).

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Figura 4. Ultrassonografia abdominal de um Felino, SRD, portador de linfoma mediastinal.

(A) Linfonodo ilíaco reativo evidenciado pela seta rosa medindo 2,21cm x 1,30cm. (B) Linfonodo mesentérico com aumento
de ecogenicidade identificado pela seta laranja, medindo 3,91cm x 1,53cm; (C) Presença de líquido livre de alta celularidade
destacado pela estrela verde.
Fonte: arquivos do autor (2022).

Na avaliação hematológica foram constatadas anemia, pela diminuição nos valores de


eritrócitos, hematócrito e hemoglobina com eritrócitos (3,32 mi/µL, referência: 5-10), hemoglo-
bina (5,10 g/dL, referência: 8-15), hematócrito (15,80 %, referência: 24-45). Na série branca
apresentou leucocitose (29.600 mil/µL, referência: 6.000-19.000), por neutrofilia (25.456 µL,
referência: 2.100-14.250) e eosinopenia (0 µL, referência: 120-2.280). O paciente foi moni-
torado repetindo o hemograma para acompanhamento hematológico (quadro 3).

Quadro 3. Monitoramento hematológicos do paciente felino. SRD, diagnosticado com linfoma mediastínico.

Dia 0 Dia 7 Dia 31 Referência


Eritrócitos (µL) 4,68 3,32 5,60 5-10
Hemoglobina (g/dL) 7,60 5,10 9,20 8-15
Hematócrito (%) 21,90 15,80 26,00 24-45
Plaqueta (µL) 420 300 120 300-700
Leucócitos totais 32.100 29.600 31.000 6.000-19.000
N. segmentados 25.680 25.456 22.320 2.100-14.250
Eosinófilos 0 0 0 120-2.280
Linfócitos 5.457 3.552 7.440 1.200-10.450
Proteína plasmática - - 5,50 6,5-7,5
Fonte: elaborado pelo (2022).

Com base no diagnóstico e nos sinais clínicos apresentados, instituiu-se o tratamento


na internação com o protocolo quimioterápico CP (prednisolona 3 mg/kg, SID + clorambucil
2 mg/animal, a cada 3 dias), antiemético (ondansetrona 0,5 mg/kg, TID), antibiótico de amplo
espectro (ceftriaxona 30 mg/kg, BID), analgésico (dipirona 25 mg/kg, SID), opióide (morfina
0,1 mg/kg, TID).
Diante dos resultados obtidos através dos exames complementares solicitados - ava-
liação hematológica, bioquímicas, radiografia, ultrassonografia em associação com a análise
do líquido após drenagem torácica, definiu-se o diagnóstico de linfoma mediastinal. O tutor

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e médico veterinário optaram por iniciar o protocolo terapêutico quimioterápico CP, no qual
o paciente reagiu bem no início. Após 20 dias do início do tratamento, o animal apresentou
piora no quadro clínico geral, intensificando as alterações respiratórias e inapetência. Dessa
forma foi instituído, o procedimento de eutanásia.

DISCUSSÃO

O linfoma mediastinal está frequentemente associado a infecção pelo vírus da leucemia


felina (FeLV), como observado no paciente do relato. A FeLV é causada por um retrovírus
com alto potencial oncogênico capaz de induzir o surgimento de neoplasias, replicando-se
em linfócitos e macrófagos do tecido linfoide regional e propaga-se no organismo infectando
a medula óssea (BIEZUS, 2019).
As alterações clínicas encontradas em felinos com infecção persistente variam e as
principais formas de apresentação da doença são anemia, imunossupressão, linfoma e
leucemia. O paciente apresentava alterações clínicas como dispneia com respiração para-
doxal, apatia e anorexia. Ao exame físico foi observado desidratação, mucosas hipocoradas,
aumento de linfonodos submandibulares e pré-escapular e hipofoneia na ausculta cardiopul-
monar, sugestiva de efusão torácica (BIEZUS, 2019).
O diagnóstico de linfoma mediastinal deve-se levar em consideração a anamnese,
exame físico e exames complementares. Na imagem radiográfica da cavidade torácica foi
visualizado alargamento do mediastino em porção cranial, presença de líquido em espaço
mediastinal lateral e pelos campos pulmonares colapsados, que são sinais sugestivos de
linfoma mediastínico (AZEVEDO et al., 2022; SOUZA et al., 2021).
Silva (2019) relata que a ultrassonografia abdominal complementa informações e per-
mite coleta de líquidos cavitários para formular o diagnóstico. Foi constatado no paciente
aumento de linfonodos ilíacos e mesentéricos e a presença de líquido livre. Além da análise
citológica do líquido presente em espaço mediastinal confirmando acentuada presença de
linfócitos pequenos e alguns apresentando atipia (SILVA., 2022; SGARIONI, 2019).
Ao chegar no diagnóstico definitivo, realizou-se o estadiamento oncológico do paciente
classificando no estágio III pela presença de tumor extranodal em lados opostos do diafrag-
ma, aumento de linfonodos e nódulos intra-abdominal não excisável. Daleck e De Nardi
(2022), descrevem sinais clínicos que classificam o paciente em estágios que determinam
a extensão da doença e subestágios A (assintomático) e B (sintomático) para definir os
parâmetros. De acordo com estes autores e com a apresentação sinais clínicos, o paciente
atendido se enquadra no subestágio B, tendo assim um prognóstico desfavorável.
Instituiu-se o tratamento quimioterápico com o objetivo de reduzir e promover a remis-
são do linfoma mediastínico. Vários protocolos quimioterápicos são propostos pela literatura,

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como os que foram descritos anteriormente, visto que a quimioterapia é a melhor opção de
tratamento e permite remissão completa e duradoura destas neoplasias. Optou-se pelo pro-
tocolo CP devido ao baixo custo, tempo de tratamento, resposta celular rápida e raramente
apresentar efeitos colaterais. A literatura relata que este protocolo permite uma melhor
recuperação do paciente e menor índice de vômito. O protocolo CP obedece a intervalos
de administração que proporciona morte celular tumoral e permite recuperação de células
normas, reduzindo efeitos colaterais (SILVA et al, 2020).
O tempo de sobrevida dos pacientes com linfoma de mediastino varia em torno de 30
dias a 1 ano, com base na data de diagnóstico até o óbito (SIMON et al, 2008). O paciente
não respondeu de forma positiva ao protocolo CP, apresentado piora clínica e por escolha
em conjunto com o tutor e o médico veterinário responsável optou-se pela eutanásia, 20
dias após instituir o tratamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O linfoma mediastinal tem se manifestado como uma importante neoplasia presente


na rotina clínica dos felinos. Possui etiologia multifatorial, com ênfase em animais imunos-
suprimidos pelo vírus da leucemia felina ou pelo vírus da imunodeficiência felina. O diag-
nóstico precoce pode proporcionar uma melhor qualidade de vida e aumentar a sobrevida
do paciente, contudo, na maioria dos casos a identificação desta patologia é realizada já
em sua fase tardia, tornando o tratamento quimioterápico menos efetivo e fazendo com seu
prognóstico seja desfavorável. É importante ainda realizar terapia de suporte para garantir
qualidade de vida ao paciente.
Diante dos resultados obtidos conclui-se que, as manifestações clínicas em conjunto
com os exames complementares realizados apontam o diagnóstico de linfoma mediastíni-
co. No presente relato de caso, observou-se piora acentuada no quadro clínico do paciente,
logo, foi recomendado a eutanásia, dificultando assim a determinação de resultados efetivos
referente a utilização do protocolo CP (clorambucila e prednisolona).

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14
Prevalência de dor musculoesquelética
em estudantes de Odontologia: revisão de
literatura

Semírames Martins de Andrade


Universidade Federal do Ceará - UFC

Vanara Florêncio Passos


Universidade Federal do Ceará - UFC

Regina Glaucia Lucena Aguiar Ferreira


Universidade Federal do Ceará - UFC

'10.37885/221211543
RESUMO

Objetivo: Descrever a prevalência da dor musculoesquelética entre estudantes de


Odontologia, suas características e fatores associados. Métodos: Revisão integrativa da
literatura obtida por meio de busca eletrônica nas bases de dados: IBECS, LILACS, MEDLINE
e SciELO, tendo como critérios de inclusão: artigos publicados entre 2019 e 2022, nos idiomas
português e inglês, textos disponíveis na íntegra, com ênfase na dor musculoesquelética
em acadêmicos de Odontologia. Resultados: Identificaram-se altas taxas (entre 68,3%
e 91,2%) de prevalência de dor musculoesquelética em pelo menos uma região do corpo
nos estudantes de Odontologia, sendo os locais mais afetados: ombros (44,1% a 67,1%),
pescoço (7,14% a 77,1%), além das regiões superior (1,79%% a 71,7%) e inferior (3,57% a
81%) das costas. Movimentos repetitivos e hábitos posturais inadequados durante o aten-
dimento configuram-se como fatores associados à DME entre os estudantes. O design não
ergonômico de cadeiras odontológicas também surgiu como um fator de influência, posto
que manter o suporte adequado da região lombar é crucial para preservar a curva lombar
e, consequentemente, a atividade muscular. Ademais, muitos estudantes possuem hábitos
posturais inadequados e dificuldade de aplicar a ergonomia na prática clínica. Conclusão:
Diante das altas taxas de DME em estudantes de Odontologia, torna-se fundamental a adoção
de posturas de trabalho adequadas, a utilização de equipamentos ergonômicos, a realização
de pausas e de alongamento entre os atendimentos e a prática regular de exercício físico,
visando-se à prevenção da dor musculoesquelética.

Palavras-chave: dor Musculoesquelética, Estudantes, Odontologia, Ergonomia.


INTRODUÇÃO

A ergonomia é uma ciência que visa modificar o processo de trabalho para adequar
a atividade do serviço às características, às habilidades e às limitações de pessoas, com
vistas à sua atuação eficiente, confortável e segura (LOMBARDI et al. 2012; GOPINADH
et al. 2013). A ergonomia aplicada à Odontologia tem como finalidade desenvolver um am-
biente ergonomicamente planejado, com equipamentos racionalmente distribuídos, para
diminuir o estresse físico e cognitivo, prevenir as doenças relacionadas ao exercício profis-
sional, buscando um aumento de produtividade, melhoria na qualidade do serviço prestado
e diminuição da fadiga na equipe de trabalho (GRARBIN et al. 2009; KUMAR et al. 2012;
PRESOTO et al. 2012).
Sendo a cavidade oral uma região com acesso restrito e visibilidade limitada, os ci-
rurgiões-dentistas (CD) e estudantes de Odontologia se veem forçados a assumir posições
posturais repetitivas, muitas vezes inadequadas sob o ponto de vista ergonômico, que podem
levar a condições insalubres de trabalho, tornando-os vulneráveis a riscos ocupacionais
(GUPTA, 2011), tais como os distúrbios musculoesqueléticos. Estes são definidos como
lesões do sistema musculoesquelético que podem ocorrer após traumatismos repetitivos
ou únicos e que afetam negativamente o cotidiano do indivíduo (FELEMBAN et al. 2021).
A dor musculoesquelética (DME) é o principal sintoma desses distúrbios, que também
podem se manifestar através de rigidez muscular, amplitude de movimento restrita e diminui-
ção da força muscular (KAPITÁN et al. 2021). É atribuída a vários fatores de risco, incluindo
a postura estática prolongada, movimentos repetitivos, iluminação de baixa qualidade, mau
posicionamento, predisposição genética, estresse mental, condicionamento físico e idade
(RABIEI et al. 2012).
Na Odontologia, entre os fatores que levam ao aumento dos riscos de aparecimento
de DME estão: maus hábitos de trabalho, repetitivos e de longo prazo (HODAČOVÁ et al.
2022), posições estáticas desajeitadas do pescoço e das costas, movimentos musculares
repetidos dos membros superiores e punhos, distensões musculares, contrações muscula-
res isométricas, atuação em campo de trabalho pequeno e uso de dispositivos vibratórios
(ABOALSHAMAT, 2020).
Ademais, DME pode levar a uma menor produtividade no trabalho, prejudicar a quali-
dade e a eficiência dos atendimentos, reduzir a expectativa e qualidade de vida e contribuir
para a incapacidade ocupacional, que é um importante problema de saúde para indivíduos
e sistemas de saúde em todo o mundo (MOOSA e BHAYAT, 2022). A literatura aponta que
as áreas do corpo mais frequentemente acometidas pelos dentistas são a região lombar, o
pescoço, os ombros, as mãos e os punhos (HASHIM et al. 2021).

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A prevalência de DME entre cirurgiões dentistas é alta, variando de 47% a 93% em
diferentes pesquisas8. No entanto, a DME pode aparecer precocemente e os problemas
iniciarem ainda durante a graduação em Odontologia10, podendo a prevalência variar de
39% a 93% em estudantes universitários (KAPITÁN et al. 2021).
A ergonomia é, pois, fundamental para evitar o aparecimento de DME, entre os estudan-
tes, pois a falta de treinamento com relação às normas ergonômicas, aliada à inexistência de
supervisão por parte dos docentes, são fatores que podem contribuir para o desenvolvimen-
to de vícios posturais, que propiciam o surgimento de lesões (MOOSA e BHAYAT, 2022).
Estudos conduzidos com estudantes demonstram o pouco conhecimento dos discentes
sobre o tema, bem como serem frequentes posturas inadequadas durante a realização de
atendimento odontológico (PIETROBON e REGIS FILHO, 2010: GARBIN et al. 2011).
Diante do exposto, e visando-se contribuir com o debate sobre a temática, realizou-
-se esta revisão integrativa da literatura com o objetivo de descrever a prevalência de dor
musculoesquelética entre estudantes de Odontologia, com ênfase em suas características
e fatores associados.

MÉTODO

Desenho do estudo

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura científica.

Questões norteadoras

As questões norteadoras elaboradas para guiar o presente estudo foram: “Estudantes


de odontologia são acometidos por dor musculoesquelética?” e “Em quais regiões do corpo
essa dor é prevalente?”.

Coleta de dados

Os estudos foram selecionados por meio de busca eletrônica nas bases de dados:
IBECS (acesso via BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS, acesso via BVS), MEDLINE (acesso via BVS e PubMed), e SciELO.

Definição dos critérios de inclusão e exclusão

Os critérios de inclusão estabelecidos foram estudos publicados nos idiomas português


e inglês, disponíveis na íntegra, produzidos entre os anos de 2017 e 2022.
Os critérios de exclusão foram estudos de revisão de literatura e estudos de intervenção.

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Estratégias de busca nas bases de dados

Após consulta aos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), foram selecionados e


utilizados os seguintes descritores: “musculoskeletal pain”, “dentistry” e”students”, e os res-
pectivos termos em português. O operador booleano “AND” foi utilizado entre os descritores,
conforme descrito no Quadro 1.
Foram analisados primeiramente os títulos e os resumos dos referidos artigos, a fim de
verificar se respondiam à perguntas norteadoras. A partir desta análise, foram selecionados
todos os artigos que atendiam aos critérios de inclusão.

Quadro 1. Estratégias de busca e artigos encontrados por base de dados.


Número de artigos encontrados na
Local de busca Estratégia de busca
primeira busca
(musculoskeletal pain) AND (dentistry)
MEDLINE (Via PubMed) 63
AND (students)
(musculoskeletal pain) AND (dentistry)
MEDLINE, LILACS E IBECS (Via BVS) 34
AND (students)
(musculoskeletal pain) AND (dentistry)
SciELO 4
AND (students)
Fonte: Elaboração própria.

Inicialmente, foram encontrados 63 artigos na MEDLINE (Via PubMed), 34 estudos nas


bases de dados MEDLINE, LILACS E IBECS (Via BVS) e 4 artigos na base Scielo. Após
a aplicação dos filtros com os pré-requisitos para a revisão (publicado nos últimos 5 anos,
idioma em português ou inglês e texto disponível na íntegra), foram encontrados 33 artigos.
Esses 33 estudos restantes foram analisados pelo título e destes foram excluídos 12,
pois não respondiam às perguntas norteadoras ou eram publicações repetidas. Dos 16
estudos selecionados pelo título, após análise dos resumos, foram excluídos 6, uma vez
que não estavam dentro dos critérios de elegibilidade. Dos 10 selecionados pelo resumo,
se excluiu nenhum artigo, após a leitura na íntegra, pois todos contribuíam para a temática
estudada. Desta forma, foram incluídos nesta revisão integrativa 10 publicações, conforme
a Figura 1, que representa o fluxo de seleção dos artigos científicos.

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Figura 1. Diagrama de fluxo para seleção de artigos.

Os artigos foram analisados de forma descritiva e sintetizados no quadro 2, com infor-


mações relevantes, sendo apresentada uma síntese de cada estudo.
Como o estudo não tratou de pesquisa com seres humanos, não foi submetido à apro-
vação do Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS

De acordo com o ano de publicação, os artigos estão distribuídos do seguinte modo:


20% foram publicados em 2018, 20% em 2020, 30% em 2021 e 30% em 2022. Quanto à
metodologia, 80% são estudos transversais e 20% estudos prospectivos a longo prazo,
conforme apresentados no Quadro 2, que expõe as características principais dos estudos
na ordem de publicação.

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Quadro 2. Descrição dos artigos selecionados na revisão integrativa.

AUTOR E ANO IDIOMA PAÍS TÍTULO TIPO DE ESTUDO


AGHAHI; DARABI; HASHEMIPOUR, Neck, back, and shoulder pains and ergono-
Inglês Irã Transversal
2018 mic factors among dental students
Awareness of ergonomics & work-related
musculoskeletal disorders among dental
ALYAHYA et al., 2018 Inglês Arábia Saudita Transversal
professionals and students in Riyadh, Saudi
Arabia
Nordic Assessment of Occupational Disorders
ABOALSHAMAT, 2020
Inglês Arábia Saudita among Dental Students and Dentists in Saudi Transversal
Arabia
Evaluation of the Cervical Physiotherapeutic
Treatment Needs, Work Ergonomics, and Ne-
KUĆ; ŻENDZIAN-PIOTROWSKA, 2020 Inglês Polônia cessity for Physical Activity Among Students Transversal
of Dentistry at a Medical University. A Pilot
Study
Prevalence of postural musculoskeletal symp-
Emirados Árabes
HASHIM et al., 2021 Inglês toms among dental students in United Arab Transversal
Unidos
Emirates
Prevalence and Predictors of Musculoskele-
FELEMBAN et al., 2021 Inglês Arábia Saudita tal Pain Among Undergraduate Students at a Transversal
Dental School in Saudi Arabia
The Development of Musculoskeletal Disor-
KAPITÁN et al., 2021 Estudo prospectivo de
Inglês República Tcheca ders during Undergraduate Dentistry Studies
longo prazo
- A Long-Term Prospective Study
Association between work-related muscu-
SEZER et al., 2022 Inglês Turquia loskeletal symptoms and quality of life among Transversal
dental students: a cross-sectional study
The Prevalence and Development of Neck
and Lower Back Pain and Associated Factors Estudo prospectivo de
HODAČOVÁ et al., 2022 Inglês República Tcheca
in Dentistry Students - A Long-Term Prospec- longo prazo
tive Study
The Ergonomic Knowledge and Practice of
MOOSA; BHAYAT, 2022 Inglês África do Sul Dental Students in a Tertiary Institution in Transversal
South Africa
Fonte: Elaboração própria.

Aghahi, Darabi e Hashemipour (2018) investigaram os fatores ergonômicos causadores


de dores musculares em estudantes de Odontologia. Participaram do estudo 199 estudan-
tes dos semestres 6º ao 12º. Foi aplicado um questionário sobre fatores ergonômicos e
sociodemográficos dos alunos. O estudo mostrou que 69% dos estudantes relataram dores
musculares durante o trabalho odontológico. Ademais, 62% dos participantes disseram que
quando estavam trabalhando não conseguiam mudar de posição adequadamente e apenas
5% fizeram exercícios de alongamento entre os atendimentos.
Alyahya et al. (2018) realizaram um estudo para investigar a conscientização so-
bre ergonomia e a prevalência de distúrbios musculoesqueléticos entre estudantes de
Odontologia. O questionário aplicado incluiu perguntas sobre as características demográficas,
a implementação da ergonomia, as condições de trabalho, os distúrbios musculoesquelé-
ticos e as atividades físicas profiláticas. Observou-se que 236 estudantes responderam ao
questionário, destes, 40,4% afirmaram aplicar a ergonomia durante os atendimentos. A dor
na coluna lombar foi o distúrbio mais relatado (81%), seguida da dor no pescoço (77,1%) e
na parte superior das costas (71,7%).

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Aboalshamat (2020) investigou os níveis de consciência sobre ergonomia e a preva-
lência de dor musculoesquelética entre estudantes de Odontologia. Os dados foram obtidos
por meio de questionário com questões demográficas, questões sobre o nível de consciência
da ergonomia e o questionário nórdico sobre dor em diversas regiões do corpo. Um total de
322 participantes responderam ao questionário. Com relação à prevalência de dor muscu-
loesquelética, 81,33% dos participantes relataram ter apresentado dor ou desconforto em
uma ou mais partes do corpo nos últimos 12 meses. As regiões mais afetadas foram: parte
superior das costas (48,19%), coluna lombar (43,98%) e pescoço (36,45%).
Kuć e Żendzian-Piotrowska (2020) investigaram as necessidades de tratamento fisio-
terapêutico cervical, hábitos ergonômicos diários e necessidade de atividade física entre
estudantes de Odontologia. Neste estudo, 112 alunos responderam a um questionário sobre
possíveis tratamentos fisioterapêuticos, atividades físicas e associação entre o fator de risco
e a deficiência cervical, bem como a dor crônica. O motivo mais comum para frequentar a
reabilitação no grupo estudado foram relacionados à dor na coluna cervical (7,14%), coluna
lombar (3,57%), coluna torácica (1,79%) e uma combinação das três (8,92%).
Hashim et al. (2021) investigaram a prevalência e a natureza da dor musculoesquelética
relacionada ao trabalho e exploraram seus fatores associados entre estudantes de graduação
em Odontologia. O questionário aplicado foi composto por questões relacionadas a dados
sociodemográficos, fatores de risco e ocorrência de dor no pescoço, ombros e região lom-
bar, na última semana e nos últimos doze meses. Os questionários foram preenchidos por
202 estudantes de odontologia. A prevalência da dor musculoesquelética relacionada ao
trabalho em pelo menos um local do corpo foi de 68,3% nos últimos 12 meses. A dor lombar
foi a mais comum, com prevalência de 61,4% no ano anterior. A prevalência de cervicalgia
e dor no ombro foram de 52,5% e 44,1%, respectivamente.
Felemban et al. (2021) avaliaram a prevalência e os preditores de dor musculoesque-
lética em estudantes de Odontologia. Um questionário foi usado para coletar dados socio-
demográficos, identificar a gravidade da dor e avaliar as ações relacionadas ao trabalho que
podem influenciar a dor musculoesquelética. Participaram do estudo 377 estudantes, tendo
a maioria deles (91,2%) apresentado dor ou desconforto musculoesquelético em uma ou
mais partes do corpo nos últimos 12 meses. A dor no pescoço nos últimos 12 meses foi a
mais comum, relatada por 69,2% dos participantes, seguida de dor no ombro (67,1%) e dor
lombar (65%). A maioria dos entrevistados relatou dobrar o pescoço ao realizar movimentos
repetitivos, durante o trabalho por períodos prolongados (82%), e apenas 25% relataram
realizar exercícios de alongamento entre as consultas.
Kapitán et al. (2021) analisaram o desenvolvimento de distúrbios musculoesqueléti-
cos entre 73s estudantes de Odontologia, durante os cinco anos do curso. Os participantes

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preencheram o mesmo questionário no início (primeiro ano), no meio (terceiro ano) e no final
(quinto ano) do curso, o qual era composto por perguntas sobre dados pessoais, possíveis
fatores de risco e proteção e intensidade da dor em diferentes regiões do corpo. A prevalência
de dor nos últimos 12 meses foi maior no pescoço, acometendo 46,6% dos estudantes no
primeiro ano do curso, 52,1% no terceiro, e 61,6% no quinto. O segundo local mais atingido
foi a região lombar, com 42,5%, 47,8%, e 49,3% no primeiro, terceiro e quinto ano respectiva-
mente. Em terceiro lugar ficou a parte superior das costas, sendo referida no primeiro ano por
23,3% estudantes, no terceiro ano por 32,9%, e no quinto ano por 47,9% dos participantes.
Sezer et al. (2022) investigaram a frequência e a distribuição anatômica dos sintomas
musculoesqueléticos relacionados ao trabalho. Os questionários englobavam questões sobre
dados sociodemográficos e avaliação de sintomas musculoesqueléticos. 105 alunos parti-
ciparam da pesquisa. A região do corpo mais dolorosa nos últimos 12 meses foi o pescoço
(66,7%), seguido da lombar (64,8%) e parte superior das costas (60%). Nos últimos 12 meses,
a incapacidade para o trabalho devido à dor foi mais observada na região lombar (19%).
Hodačová et al. (2022) avaliaram o desenvolvimento, prevalência e intensidade das
queixas musculoesqueléticas mais comuns entre estudantes de Odontologia durante todo
o período de seus estudos. O questionário incluiu questões sobre seus dados pessoais,
distúrbios musculoesqueléticos gerais, fatores associados e a intensidade da dor em 10
áreas corporais. Os locais que os alunos do último ano relataram ter sofrido maior intensi-
dade de dor (moderada e severa) foram: pescoço (20,5%), lombar (11%) e parte superior
das costas (8,2%).
Moosa e Bhayat (2022) avaliaram as deficiências existentes na formação em ergonomia
das escolas de Odontologia. O nível de conhecimento ergonômico dos estudantes foi ava-
liado, utilizando-se um questionário sobre dados demográficos, conhecimento ergonômico,
prevalência e locais de dor musculoesquelética. Houve um total de 106 respondentes. A po-
sição problemática mais comum foi inclinar o pescoço para frente (99%), ademais, 82%
relataram não conseguir manter as costas retas. A maioria dos alunos (72%) percebeu que
a dor musculoesquelética estava relacionada à má postura. Os locais mais acometidos por
dor musculoesquelética foram as costas (75%), pescoço (51%) e ombros (51%).

DISCUSSÃO

A presente revisão integrativa da literatura foi realizada a fim de analisar as publica-


ções científicas mais recentes que discutam sobre a prevalência de DME em estudantes
de odontologia. Por meio da revisão dos artigos foi possível constatar que os acadêmicos
de odontologia possuem alta prevalência de dor musculoesquelética em pelo menos uma

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região do corpo (AGHAHI et al. 2018; ABOALSHAMAT, 2020; FELEMBAN et al. 2021;
HASHIM et al, 2021).
O método mais utilizado nos estudos para avaliar a dor e desconforto foi o Questionário
Nórdico Musculoesquelético (ABOALSHAMAT, 2020; FELEMBAN et al. 2021; HASHIM
et al. 2021; KAPITÁN et al. 2021; HODAČOVÁ et al. 2022; SEZER et al. 2022). Formulado
em 1987, este questionário é usado para coletar dados, como dor e estado de incapacida-
de durante os últimos 12 meses e 7 dias, em nove regiões do corpo mais prováveis de se
desenvolver distúrbios musculoesqueléticos, a saber: pescoço, ombros, cotovelos, punhos
e mãos, parte superior das costas, parte inferior das costas, quadris, joelhos e tornozelos e
pés (KUORINKA et al. 1987).
Entre os locais avaliados, os mais comuns para o desenvolvimento de DME foram
a parte inferior das costas, parte superior das costas, pescoço e ombros. O pescoço foi o
local mais acometido pela dor em cinco dos estudos analisados com prevalência variando
entre 7,14% e 77,1% (ALYAHYA et al. 2018; ABOALSHAMAT, 2020; KUĆ e ŻENDZIAN-
PIOTROWSKA, 2020; HASHIM et al. 2021; HODAČOVÁ et al. 2022. A prevalência de dor
no pescoço nos estudos pode estar associada aos movimentos repetitivos realizados com
o pescoço flexionado. Tendo em vista que o trabalho odontológico geralmente requer uma
inclinação da cabeça para frente em torno de 15° a 20°, é evidente que isso resulta em so-
brecarga dos músculos do pescoço e articulações da coluna cervical. Essa posição causa
a tensão dos músculos extensores do pescoço, pois eles devem manter a cabeça contra a
gravidade. A inclinação da cabeça causa tensão muscular, que além de levar à cervicalgia,
também pode afetar a curva da lordose cervical, que a longo prazo pode causar incapaci-
dade funcional, dor ou protrusão discal mais grave (DE CARVALHO et al. 2009; KHAN e
YEE-CHEW, 2013; ŠUSTOVÁ et al. 2015).
A parte inferior e parte superior das costas também apresentaram percentagens altas,
variando de 3,57% a 81% e 1,79%% a 71,7%, respectivamente (ABOALSHAMAT, 2020;
FELEMBAN et al. 2021; HASHIM et al. 2021; KAPITÁN et al. 2021). Os principais motivos
que levam aos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho na região lombar in-
cluem: posição incorreta ao sentar-se, flexão para a frente no trabalho e falta de inclinação
do quadril na posição sentada. A fraqueza dos músculos estabilizadores da coluna lombar
devido à postura sentada longa e incorreta também tem influência nos distúrbios dolorosos
(GANDOLFI et al. 2021).
O design não ergonômico de cadeiras odontológicas também se configurou como um
fator de influência, pois manter o suporte adequado da região lombar é muito importante
para preservar a curva lombar e, consequentemente, a atividade muscular. Desse modo,

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a pressão dos discos vertebrais e as dores nas costas e nas pernas serão diminuídas
(BOTTA et al. 2028).
O alto nível de dor na parte superior das costas ocorre devido à manutenção de uma
carga estática por um longo período, aumentando a tensão sobre a coluna durante o atendi-
mento odontológico. Isso indica que há suporte inadequado quando os alunos se apoiam no
banco odontológico e que os princípios ergonômicos são subestimados (LIETZ et al. 2020).
Os ombros também foram muito acometidos, com prevalência de 44,1% a 67,1% entre
os estudos7-8,10-13,17-19. A dor nos ombros pode ser causada por movimentos repetitivos
realizados com os braços elevados ou abduzidos. Outro fator de risco é o trabalho prolonga-
do com os braços elevados em contração estática isométrica (KHAN e YEE-CHEW, 2013).
Os estudos apresentados nesta revisão mostraram que os estudantes possuem hábitos
posturais inadequados durante o atendimento. Nos estudos que avaliaram a postura nos
atendimentos, a posição problemática mais comum foi a inclinação do pescoço, com percen-
tuais variando entre 82% e 99%. Ademais, 82% dos acadêmicos relataram não conseguir
manter as costas retas (FELEMBAN et al. 2021; MOOSA e BHAYAT, 2022).
Para além da presente revisão integrativa, outros estudos demonstraram que a maioria
dos alunos de graduação e pós-graduação inclinavam o pescoço para frente, não mantinham
a cabeça a uma distância adequada da boca do paciente, sobrecarregavam os antebraços
e não conseguiam manter as costas retas durante os atendimentos clínicos (GARBIN et al.
2011; GARCIA et al. 2017; CERVERA‐ESPER et al. 2018). A alta prevalência desses hábi-
tos posturais explicam por que os locais mais comuns para o desenvolvimento de DME são
ombros, coluna cervical, partes superior e inferior das costas.
Para evitar posturas estáticas que comprimem os vasos sanguíneos e reduzem a
oxigenação é necessário a aplicação dos princípios ergonômicos durante os atendimen-
tos ao paciente, afinal, o objetivo primordial da ergonomia é a prevenção dos distúrbios
musculoesqueléticos relacionados ao trabalho e dos sintomas associados que agravam
esses distúrbios (LADERAS e FELSENFELD, 2002; DANTAS e DE LIMA, 2015). Em um
estudo conduzido por Alyahya e colaboradores (2018) 59,6% dos estudantes afirmaram
não conseguir aplicar a ergonomia corretamente durante os atendimentos, aumentando a
probabilidade de desenvolver algum distúrbio musculoesquelético. Estudos mostram que a
capacidade de trabalho e a produtividade dos profissionais da Odontologia aumentam com
a prática de posturas corretas, contribuindo, assim, para o exercício da profissão sem dor,
e, consequentemente, para um atendimento odontológico de qualidade para os pacientes
(SZYMANSKA, 2002; PANDIS et al. 2007).
Nos estudos analisados nesta revisão, a percentagem de estudantes que realizaram
exercícios de alongamento entre as consultas variou de 5% a 25% (AGHAHI et al. 2018;

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FELEMBAN et al. 2021). Sentar-se constantemente e sem pausas predispõe o operador ao
desconforto musculoesquelético, afetando sua percepção sobre o trabalho odontológico, que
passa a considerá-lo um trabalho desafiador e exaustivo. Como bem enfatiza a literatura,
interrupções ou micro pausas no trabalho para a realização de alongamentos são conside-
radas práticas essenciais para reduzir ou variar a carga musculoesquelética (SZYMANSKA,
2002; KIERKLO et al. 2011).
Uma alternativa para a prevenção e redução dos sintomas dos distúrbios musculoes-
queléticos é a prática de exercício regular, principalmente na modalidade aeróbicas e o
alongamento. Para indivíduos com dor lombar crônica, a estabilização da coluna lombar e
exercícios de caminhada podem ser recomendados. Eles não apenas aliviam, mas também
previnem a dor crônica nas costas, aumentando a resistência muscular (KUMAR et al. 2014;
SUH et al. 2019).

CONCLUSÃO

Através da presente revisão integrativa da literatura, identificaram-se altas taxas de DME


em estudantes de Odontologia, com maior prevalência nas regiões dos ombros, pescoço e
lombar (parte superior inferior das costas).
Movimentos repetitivos e hábitos posturais inadequados durante o atendimento confi-
guram-se como fatores associados à DME entre os estudantes. O design não ergonômico
de cadeiras odontológicas também surgiu como um fator de influência, posto que manter o
suporte adequado da região lombar é crucial para preservar a curva lombar e, consequen-
temente, a atividade muscular.
Pôde-se concluir também que a prevenção do desenvolvimento de distúrbios muscu-
loesqueléticos está pautada na adoção de posturas de trabalho adequadas, utilização de
equipamentos ergonômicos, realização de pausas e de alongamento entre os atendimentos
e prática regular de exercícios físicos.
Ademais, é necessário que haja uma política de conscientização nos cursos de
Odontologia voltada para a prevenção dos distúrbios musculoesqueléticos em estudantes,
no intuito de que as medidas preventivas sejam adotadas pela maioria dos indivíduos.

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15
Relação comunicativa entre o profissional
de saúde e o paciente surdo

José Lima de Sousa Júnior


Universidade Estadual do Ceará - UECE

Geraldo Lucas Alves Monte


Universidade Estadual do Ceará - UECE

Carla Viviane de Meneses Oliveira


Universidade Estadual do Ceará - UECE

Germana Lima D`Oran


Universidade Estadual do Ceará - UECE

Polyane Correia Lima


Universidade Estadual do Ceará - UECE

Tiago Augusto Cavalcante Oliveira


Universidade Estadual do Ceará - UECE

Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos


Santos
Universidade Estadual do Ceará - UECE

Carla Cristina de Sordi


Universidade Estadual do Ceará - UECE

'10.37885/221211597
RESUMO

Objetivo: Objetivou-se neste estudo identificar quais são as barreiras comunicativas enfren-
tadas entre usuários surdos e profissionais de saúde. Métodos: Trata-se de uma revisão
integrativa da literatura cuja busca foi realizada nas bases de dados Banco de Dados em
Enfermagem (BDENF), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System (MEDLINE), via Biblioteca Virtual
em Saúde (BVS), no mês de novembro de 2022. Resultados: Foi possível encontrar uma
amostra de 557 artigos, que, após a aplicação dos critérios de inclusão e a exclusão dos
artigos repetidos e dos que não abordavam as barreiras comunicativas entre a população
surda e os profissionais da saúde, sofreu modificação, e, no final, contou com 17 estudos
selecionados. Conclusão: A presente revisão integrativa demonstrou que diversas são as
barreiras comunicativas apresentadas em estudos realizados nas unidades básicas de saúde
do nosso país e que estas além de dificultarem os atendimentos dos pacientes surdos, por
vezes fazem com que os mesmos deixem de procurar assistência de saúde.

Palavras-chave: Saúde, Surdez, Barreira de Comunicação, Acesso a Serviço de Saúde.


INTRODUÇÃO

A Deficiência Auditiva (DA) é definida pelo Ministério da Saúde como perda total ou
parcial da capacidade de ouvir, podendo esta se manifestar em diferentes graus, reduzindo a
sensibilidade e a discriminação auditiva. A surdez é uma deficiência invisível, principalmente
em relação à acessibilidade, pois não requer mudanças físicas, como por exemplo, no caso
de pessoas com mobilidade reduzida. Contudo, a surdez requer a implementação de ações
relacionadas à capacitação dos profissionais de saúde para o uso, tradução ou interpretação
da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e a sensibilização da população.
Ademais, a surdez pode trazer prejuízos para a comunicação e, em muitos casos,
produzir uma barreira entre profissionais de saúde e pacientes surdos. Essa situação con-
tribui para a baixa adesão do surdo aos serviços de saúde e também para diagnósticos
inadequados, interferindo assim, na qualidade de vida dessa população. Salienta-se, que
ter um profissional para acolher é o principal facilitador ao acesso e deve ser foco de ações
para melhorar a atenção à saúde das pessoas com DA. Faz-se necessário promover acesso
universal, com adequação de serviços, remoção de barreiras à comunicação e estímulo ao
acolhimento do usuário (CONDESSA, et al., 2020).
É válido ressaltar, que em busca de suprir as demandas da comunidade surda, a Lei
nº 10.436, de 24 de abril de 2002 foi sancionada. Essa lei regulamenta a garantia, por parte
do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, de formas ins-
titucionalizadas de apoiar o uso e difusão da LIBRAS como meio de comunicação objetiva
e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil (NEPOMUCENO, et al.,2022).
Outrossim, a comunicação é uma condição indispensável na vida dos seres humanos,
por permitir o convívio em sociedade. Na enfermagem, constitui uma ferramenta básica
para a realização do cuidado, uma vez que possibilita o relacionamento interpessoal en-
tre o paciente e a equipe de saúde, segundo Marquete, V.F; Costa, M.A.R; Teston, E.F.
(2018). O profissional de enfermagem tem o direito e o dever de realizar cursos de comuni-
cação e expressão de LIBRAS, a fim de proporcionar um melhor atendimento às pessoas
com deficiência auditiva. Apesar disso, observa-se ainda um déficit na formação desses
profissionais, no que tange o conhecimento sobre a LIBRAS aplicada à saúde, uma vez que
o decreto 5.626/2005 estabelece a LIBRAS como componente curricular obrigatório apenas
nos cursos de licenciatura e fonoaudiologia.
Contudo, apesar da Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência
desde 2006 assegurar os direitos dos usuários de saúde surdos, esta comunidade ainda
representa uma importante parcela da população brasileira que enfrenta inúmeras barreiras
na acessibilidade à saúde, de acordo com Pereira et al. (2020). Estima-se que 9,7 milhões de
brasileiros apresentam algum tipo de deficiência, sendo 22,1% com caráter severo – isto é,

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indivíduos que não ouvem ou com baixa audição, ainda que usem aparelhos auditivos. As fa-
lhas de comunicação aumentam as chances de diagnósticos equivocados, erros de preen-
chimento de prontuário por problemas de compreensão na anamnese, constrangimentos,
não adesão ao tratamento, sofrimento e insatisfação do usuário.
Entretanto, tendo em vista essa realidade e considerando que o pilar para a atenção
em saúde (desde a anamnese até o momento das orientações) é a boa comunicação entre
o profissional e o usuário, é de se esperar que, no momento em que isso se torna falho, são
grandes as possibilidades de equívocos de diagnósticos e, consequentemente, de proble-
mas em sua solução, como afirma Soares et. al. (2018). A equipe de enfermagem ainda
está, na sua maioria, despreparada para atender a população com necessidades especiais,
o que interfere diretamente na qualidade do cuidado prestado e contribui para a resistência
apresentada por esses indivíduos quanto à procura dos serviços de saúde e adesão ao
tratamento correto.
Portanto, nesse cenário, ao buscar atendimento em saúde, os principais obstáculos
enfrentados por surdos envolvem a falta de conhecimento da língua de sinais, por parte dos
profissionais, e a falta de intérpretes nas unidades. É notório que tais dificuldades prejudicam
o acesso desses sujeitos aos serviços de saúde. No Reino Unido, um estudo revelou que o
nível de insatisfação em relação à comunicação estabelecida com os médicos e a equipe de
saúde da atenção primária é maior entre pacientes surdos do que entre ouvintes (Santos,
A.S; Portes, A.J.F., 2019).
Em suma, as barreiras comunicacionais geram sentimentos negativos e afastam o
sujeito das unidades de saúde, o medo de não ser compreendido faz com que este busque
atendimento apenas em caso de adoecimento. Por fim, é fundamental que o profissional
invista em estratégias que facilitem a compreensão e o acolhimento do sujeito através de
uma comunicação efetiva.
Mediante o exposto, o objetivo deste trabalho foi identificar quais são as barreiras co-
municativas enfrentadas entre usuários surdos e profissionais de saúde.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura cuja busca foi realizada nas bases
de dados Banco de Dados em Enfermagem (BDENF), Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System
(MEDLINE), via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), no mês de novembro de 2022.
A revisão integrativa da literatura é um método que permite síntese de conhecimento
por meio de processo sistemático e rigoroso. Para o desenvolvimento desta revisão, foram
adotadas seis etapas: (1) Seleção da questão orientadora da revisão; (2) Busca e seleção

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dos estudos primários; (3) Extração de dados dos estudos primários; (4) Avaliação crítica
dos estudos; (5) Síntese dos resultados da revisão e (6) Apresentação da revisão (MENDES;
SILVEIRA; GALVÃO, 2019).
Inicialmente realizou-se a seleção dos artigos por meio de uma busca avançada com os
três descritores padronizados e disponíveis nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).
Para a realização do rastreio, os descritores foram utilizados conforme estão apresentados
a seguir: Barreira de comunicação (and) Surdez; Surdez (and) Acesso a serviço de saúde;
Barreira de comunicação (and) Acesso a serviço de saúde.
A análise dos dados seguiu critérios de inclusão baseados no tema proposto pela atual
pesquisa, sendo: (1) estudos realizados entre os anos de 2017 e 2022; (2) publicações
disponíveis em formato de artigos completos (originais); (3) estudos publicados no idioma
português, inglês e espanhol. Foram excluídos os artigos repetidos e estudos que tratavam
da comunidade surda sem referência a barreira comunicativa enfrentada entre os surdos e
profissionais de saúde.
Na investigação inicial, foram encontrados 557 estudos por meio de uma busca avan-
çada com os descritores citados. Após aplicação dos critérios de inclusão, totalizou-se 158
publicações. Finalizando assim a primeira etapa, nos quais estavam distribuídos nas se-
guintes bases de dados: BDENF (11); LILACS (30); MEDLINE (117).
Após leitura e análise integral dos estudos, 25 publicações tratavam sobre a barreira
comunicativa enfrentada entre os surdos e profissionais de saúde. Porém, 8 estavam repeti-
dos, encontrando-se indexados em mais de uma base. Dessa forma, dos 25 artigos, restaram
17 estudos que definiram a amostra final desta revisão, os quais foram organizados em uma
tabela descrita nos resultados.
A construção da amostra de dados analisada, a partir das estratégias de busca des-
critas acima, está disposta no formato de organograma na Figura 1.

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Figura 1. Organograma sintetizando as estratégias de busca utilizadas, que resultaram na amostra de dados final.

RESULTADOS

Com a pesquisa dos descritores nas bases de dados mencionadas, foi possível en-
contrar uma amostra de 557 artigos, que, após a aplicação dos critérios de inclusão e a
exclusão dos artigos repetidos e dos que não abordavam as barreiras comunicativas entre
a população surda e os profissionais da saúde, sofreu modificação, e, no final, contou com
17 estudos selecionados.
Dos 17 artigos científicos, 47,05% (n=8) foram encontrados na base LILACS, 29,41%
(n=5) encontrados na base BDENF e 23,52% (n=4) encontrados na base Medline. Ademais,
em relação ao ano de publicação dos artigos, foram selecionados estudos dos últimos 6
anos (2017 a 2022). Nota-se que o ano de 2020 se sobressaiu, apresentando 5 artigos dos
17 selecionados, enquanto as outras publicações ficaram bem distribuídas nos demais pe-
ríodos, excetuando-se o ano de 2022, no qual só teve 1 artigo selecionado.
Em relação aos periódicos, a distribuição das publicações foi: dois artigos na Revista
CEFAC e na Revista Baiana de Enfermagem, e apenas um artigo das demais revistas citadas:
Revista Brasileira de Epidemiologia, Saúde em Redes, Revista Brasileira em Promoção da
Saúde, Revista Brasileira de Educação Médica, Clinical Medicine, Journal of the American
Association of Nurse Practitioners, Scandinavian Journal of Caring Sciences, Gaceta
Sanitaria, Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, Revista Eletrônica de Comunicação
Informação & Inovação em Saúde, Revista Enfermagem Atual In Derme, Fundamental Care
Online e Revista Latino-Americana de Enfermagem. A tabela 1 mostra as especificações
de cada um dos estudos.

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Tabela 1. Artigos coletados nas bases de dados LILACS, BDENF e Medline sobre as dificuldades relacionadas à comunicação
entre pacientes surdos e profissionais de saúde.
BASE DE
TÍTULO DO ARTIGO AUTORES PERIÓDICO E ANO
DADOS
Barreiras e facilitadores à comunicação no atendi- Condessa, A.M; Giordani, Rev. Bras.
LILACS mento de pessoas com deficiência sensorial na aten- J.M.A; Neves, M; Hugo, F.N; Epidemiologia, 2020.
ção primária à saúde: estudo multinível. Hilgert, J.B.
Barreiras arquitetônicas e de comunicação no acesso Santos, M.L.M; Fernandes, J.M; Epidemiol. Serv. Saúde,
à atenção básica em saúde no Brasil: uma análise Vicente, D.P; Simionatto, J; San- 2020.
LILACS
a partir do primeiro Censo Nacional das Unidades ches, V.S; Souza, A.S;
Básicas de Saúde, 2012. Christofoletti, G; Merey, L.F.
Assistência à gestante surda: barreiras de comunica- Ferreira, D.R; Alves, F.A.P; Silva, Saúde em Redes, 2019.
LILACS ção encontradas pela equipe de saúde. E.M.A;
Linhares, F.M.P; Araújo, G.K.N.
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LILACS
mento à saúde. valho, S.A,S.
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LILACS as com deficiência auditiva sobre seu atendimento motu, B.P.R. Inov. Saúde, 2017.
nos serviços de saúde.
Atenção à saúde e surdez: desafios para implantação Nóbrega, J.D; Munguba, M.C; Revista Brasileira em
LILACS da rede de cuidados à pessoa com deficiência. Pontes, R.J.S. Promoção da Saúde,
2017.
“Meu Sonho É Ser Compreendido”: Uma Análise da Pereira, A.A.C; Passarin, N.P; Revista Brasileira de
LILACS Interação Médico-Paciente Surdo durante Assistência Nishida, F.S; Garcez, V.F. Educação Médica, 2020.
à Saúde.
Satisfação do usuário surdo com o atendimento à Rezende, R.F; Guerra, L.B; Car- Rev. CEFAC.
LILACS
saúde. valho, S.A.S. 2020.
Assistência de enfermagem a uma paciente surda Nepomuceno, S.R; Paiva, J.S; Rev. Enferm. Atual In
BDENF hospitalizada: relato reflexivo de uma experiência. Lima, H.F; Bezerra, B.H; Noguei- Derme, 2022.
ra, V.T.F; Rouberte, E.S.C.
Como eu falo com você? A comunicação do enfer- Soares, I.P; Lima, E.M.M; San- Rev. Baiana Enferm.,
BDENF
meiro com o usuário surdo. tos, A.C.M; Ferreira, C.B. 2018.
Comunicação com deficientes auditivos na ótica de Marquete, V.F; Costa, M.A.R; Rev. Baiana Enferm.,
BDENF
profissionais de saúde. Teston, E.F. 2018.
Acolher e escutar o silêncio: o cuidado de enferma- Costa, A.A; Vogt, S.E; Ruas, Fundam. Care. Online,
BDENF gem sob a ótica da mulher surda durante a gestação, E.F.G; 2018.
parto e puerpério. Holzmann, A.P.F; Silva, P.L.N.
Percepções de sujeitos surdos sobre a comunicação Santos, A.S; Portes, A.J.F. Rev. Latino-Am. Enfer-
BDENF
na Atenção Básica à Saúde. magem, 2019.
Exploring communication difficulties with deaf pa- Abou-Abdallah, M; Lamyman, Clinical Medicine, 2021.
Medline
tients. A.
Nurse practitioner perceptions of barriers and faci- Pendergrass, K.M; Nemeth, L; Journal of the American
litators in providing health care for deaf American Newman, S.D; Jenkins, C.M; Association of Nurse
Medline
Sign Language users: A qualitative socio-ecological Jones, E.G. Practitioners, 2017.
approach.
Communication difficulties experienced by deaf male Sirch, L; Salvador, L; Palese, A. Scandinavian Journal of
Medline patients during their in-hospital stay: findings from a Caring Sciences, 2017.
qualitative descriptive study.
Accesibilidad de las mujeres sordas al sistema público Luengo-Rubalcaba, S; Abad- Gaceta Sanitaria, 2020.
Medline
sanitario del País Vasco. -García, R; Tíscar-González, V.

Com referência à metodologia utilizada, 47,06% (n=8) dos estudos são de abordagem
qualitativa, 41,18% (n=7) são de abordagem quantitativa e 11,76% (n=2) são de abordagem
mista (quanti-qualitativa). Em relação às temáticas dos estudos selecionados, a tabela 2 apre-
senta os 17 artigos e suas respectivas considerações, além das abordagens empregadas.

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Tabela 2. Artigos selecionados e suas respectivas temáticas exploradas.

TÍTULO DO ARTIGO ABORDAGENS CONSIDERAÇÕES


Barreiras e facilitadores à comunicação no atendimento Analisa a prevalência e os fatores associados à presença
de pessoas com deficiência sensorial na atenção primá- Quantitativa de facilitadores à comunicação nas unidades básicas de
ria à saúde: estudo multinível. saúde no Brasil.
Barreiras arquitetônicas e de comunicação no acesso à Analisa os resultados do Censo Nacional das Unidades
atenção básica em saúde no Brasil: uma análise a partir Básicas de Saúde no que se refere às barreiras arquitetô-
Quantitativa
do primeiro Censo Nacional das Unidades Básicas de nicas e de comunicação na Atenção Básica em Saúde em
Saúde, 2012. todo o território brasileiro.
Assistência à gestante surda: barreiras de comunicação Identifica as principais barreiras e as formas de comu-
Quantitativa
encontradas pela equipe de saúde. nicação entre a equipe de saúde e as gestantes surdas.
A perspectiva do paciente surdo acerca do atendimento Conhece a perspectiva do surdo quanto às melhorias ne-
Mista
à saúde. cessárias no atendimento à saúde para essa população.
Comunicação e acessibilidade: percepções de pessoas Analisa a percepção de sujeitos com deficiência auditiva
com deficiência auditiva sobre seu atendimento nos Quantitativa em relação ao seu atendimento nos serviços de saúde.
serviços de saúde.
Atenção à saúde e surdez: desafios para implantação da Conhece a assistência à saúde prestada às pessoas surdas,
rede de cuidados à pessoa com deficiência. a partir da sua perspectiva, com vistas a refletir sobre a
Qualitativa
inclusão de ações na Rede de Cuidados à Pessoa com
Deficiência.
“Meu Sonho É Ser Compreendido”: Uma Análise da Caracteriza os atendimentos de saúde aos surdos, na
Interação Médico-Paciente Surdo durante Assistência perspectiva dos profissionais médicos, dos internos de
à Saúde. Quantitativa Medicina e dos próprios usuários, e discute as estratégias
desenvolvidas na interlocução e interação médico-pacien-
te e as ferramentas para o aprimoramento.
Satisfação do usuário surdo com o atendimento à saú- Investiga a satisfação de surdos em relação aos Serviços
de. de Saúde, caracteriza a amostra quanto aos aspectos
Quantitativa sociodemográficos, socioeconômicos e autodeclaração
da surdez e verifica se há associação entre satisfação com
o atendimento.
Assistência de enfermagem a uma paciente surda hos- Relata a experiência vivenciada por internos de enferma-
pitalizada: relato reflexivo de uma experiência. Qualitativa gem no seu processo prático de formação a assistência de
enfermagem a uma paciente surda hospitalizada.
Como eu falo com você? A comunicação do enfermeiro Descreve os saberes e as práticas de profissionais enfer-
Qualitativa
com o usuário surdo. meiros da atenção básica na assistência do usuário surdo.
Comunicação com deficientes auditivos na ótica de Descreve o conhecimento e a capacitação dos profissio-
profissionais de saúde. Quantitativa nais de saúde quanto à comunicação com os deficientes
auditivos.
Acolher e escutar o silêncio: o cuidado de enfermagem Identifica a percepção da mulher surda sobre os cuidados
sob a ótica da mulher surda durante a gestação, parto Qualitativa de enfermagem realizados durante a gravidez, parto e
e puerpério. puerpério.
Percepções de sujeitos surdos sobre a comunicação na Analisa as percepções de indivíduos com surdez em re-
Atenção Básica à Saúde. Mista lação ao processo comunicacional com profissionais de
saúde da Atenção Básica do Estado do Rio de Janeiro.
Exploring communication difficulties with deaf patients. Destaca as barreiras de comunicação entre médico e
Qualitativa pacientes com perda auditiva, e sugere mudanças para
melhoria.
Nurse practitioner perceptions of barriers and facilita- Examina as percepções dos profissionais de enfermagem
tors in providing health care for deaf American Sign Lan- sobre as barreiras e facilitadores no fornecimento de cui-
Qualitativa
guage users: A qualitative socio-ecological approach. dados de saúde para usuários surdos usuários da Língua
de Sinais Americana.
Communication difficulties experienced by deaf male Explora a experiência de comunicação de pacientes surdos
patients during their in-hospital stay: findings from a Qualitativa em relação à sua permanência no hospital.
qualitative descriptive study.
Accesibilidad de las mujeres sordas al sistema público Explora quais são as percepções e as vivências de mulhe-
sanitario del País Vasco. Qualitativa res surdas em relação à acessibilidade ao Sistema Público
de Saúde de Vasco (Osakidetza).

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DISCUSSÃO

Todos os documentos incluídos nesta revisão foram analisados na íntegra e verificou-


-se como resultados da pesquisa a existência de barreiras comunicativas nos atendimentos
prestados a pessoas surdas dentro das unidades de saúde. Nesta perspectiva, percebeu-se
durante as leituras que muitos estudos vêm sendo realizados sobre esta temática, o que
evidenciou que muitas dificuldades são encontradas no que tange a comunicação entre
os profissionais de saúde e os pacientes surdos. Nesse sentido, os estudos realizados por
Nepomuceno et al. (2022) e Soares et. al. (2018) apresentam as barreiras de comunicação
vistas diariamente nos atendimentos das unidades de saúde, dentre elas cita-se a falta de
compreensão nos diálogos, criando obstáculos no levantamento de dados durante a anam-
nese e interação com a equipe multiprofissional e dificuldade na escolha e realização dos
procedimentos. Tendo conhecimento dessas barreiras de comunicação, observa-se que a
falta de conhecimento dos profissionais de saúde a respeito da Língua Brasileira de Sinais
- LIBRAS, está diretamente ligada a todas elas.
Os estudos revelam que apesar de ser um direito regulamentado em lei a acessibilida-
de e o atendimento inclusivo e integral de pessoas com deficiência sensoriais nem sempre
ocorrem como garantido na Constituição, causando insegurança e resistência dos usuários
na procura das unidades de saúde (Santos, et al, 2020).
Nos estudos realizados por Marquete, V.F; Costa, M.A.R; Teston, E.F. (2018), Santos
et al. (2019), Nepomuceno et al. (2022), Ferreira et al. (2019) e Soares et. al. (2018) cons-
tatou-se que pelo fato de um grande número de profissionais não conhecer e não saber se
comunicar de forma efetiva através da LIBRAS, a comunicação entre paciente e profissional
fica prejudicada, acarretando assim um atendimento ineficaz, que pode vir a trazer malefícios
no processo de saúde/doença do paciente.
Ainda sobre as barreiras relacionadas aos profissionais, pode-se citar que pelo fato dos
mesmos não possuírem o pleno conhecimento em relação a comunicação com pacientes
surdos, por vezes estes se sentem inseguros em atender esse público e acabam não pres-
tando um atendimento de qualidade e tendo resistência em realizar o atendimento, como
demonstra o estudo de Marquete, V.F; Costa, M.A.R; Teston, E.F. (2018). Outro ponto a ser
citado é a dificuldade em compreender os reais motivos que trouxeram o paciente à unida-
de de saúde. O artigo de Nóbrega, J.D; Munguba, M.C; Pontes, R.J.S. (2017) demonstra,
através de pesquisa realizada com os usuários, que a comunicação ineficaz pode resultar
em diagnósticos e tratamentos inadequados.
Destaca-se também que a ausência de um intérprete qualificado e conhecedor da
Língua Brasileira de Sinais nas unidades de saúde é outra barreira comunicativa. Nos es-
tudos realizados por Rezende, R.F; Guerra, L.B; Carvalho, S.A.S. (2020) notou-se que a

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presença de um intérprete durante o atendimento deixou o paciente surdo mais satisfeito
com a assistência ofertada pelo profissional. Vale ressaltar ainda, que este intérprete foi
contratado pelo próprio usuário, visto que nas unidades não se faz presente esse tipo de
profissional. A pesquisa de Marquete, V.F; Costa, M.A.R; Teston, E.F. (2018), também
apresenta o intérprete como um facilitador da assistência, entretanto eles ressaltam que
a presença deste durante as consultas, não proporciona um vínculo e uma comunicação
integral e direta entre o paciente e o profissional de saúde.
Além de não proporcionar uma inclusão direta entre profissional e usuário, a presen-
ça de terceiros, como o intérprete e o próprio familiar, podem ser vistos como barreiras
de comunicação, pois por vezes o paciente surdo pode se sentir constrangido em relatar
suas demandas pessoais e sentir que sua privacidade está sendo violada. Em Rezende,
R.F; Guerra, L.B; Carvalho, S.A,S.(2021), Pereira et al. (2020) e Vieira, C.M; Caniato, D.G;
Yonemotu, B.P.R. (2017) foi visto que, ter algum acompanhante durante as consultas pode
fragilizar a relação profissional/paciente, pois o usuário não consegue expor suas intimidades
e particularidades, pelo fato de sentir-se envergonhado e constrangido.
Dessa forma, Rubalcaba, García e Gonzáles (2020) reafirmam sobre o sentimento de
descriminação e limitação da sua própria autonomia no acesso ao sistema de saúde, pois os
profissionais costumam ignorá-los como comunicadores válidos quando há outro interlocutor
que se comunica oralmente. Assim, os profissionais não os abordam mesmo quando se trata
de sua própria saúde gerando um desconforto e sentimentos profundos de invisibilidade,
fazendo com que se sintam inválidos como pessoas. Assim contribuem para não receberem
a mesma assistência com qualidade que seria prestada a uma pessoa ouvinte que interfere
na tomada de decisões, restringindo seu direito à autonomia.
Apesar das barreiras de comunicação apresentadas acima, os estudos demonstraram
que tanto profissionais como pacientes surdos buscam estratégias que possam facilitar a
comunicação durante as consultas, dentre as quais pode-se citar a utilização de gestos,
mímicas, leitura labial e escrita. Embora esses facilitadores possam, por vezes, contribuir
para viabilizar a assistência, pesquisas demonstram que podem ocorrer falhas no atendi-
mento. Em Ferreira, D.R; Alves, F.A.P; Silva, E.M.A; Linhares, F.M.P; (2019) os pacientes
relatam que por vezes não conseguem realizar a leitura labial ou não se fazem entendidos
por meio de mímica e gestos. Além disso, a utilização da escrita não se faz eficaz pois muitos
usuários não são alfabetizados.
Outra barreira facilmente encontrada e vivenciada pela a equipe de enfermagem é
não saber quando estará diante um paciente surdo na unidade de saúde, o que dificulta o
processo de cuidado com qualidade. Se a equipe estivesse ciente de quando um usuário
surdo precisaria e fosse até a unidade, poderia solicitar antecipadamente a presença de

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um intérprete no dia para que pudesse colaborar com a assistência ao mesmo. Mas como
o processo fisiológico e patológico de saúde-doença se estende para além do controle hu-
mano, não será previsível quando este necessitará dos cuidados da equipe.
Em pesquisas realizadas nas Unidades Básicas de Saúde do Brasil ficou evidente
que “a maioria dessas instituições não apresentam os facilitadores necessários à comuni-
cação para garantir acessibilidade às pessoas com deficiência sensorial” (Condessa, et al.,
2020.). Diante desses dados, é notório que haja planejamento e promoção de ações que
possibilitem a implantação de facilitadores e uma adequação na prestação de serviços para
os pacientes surdos.
Abdallah e Lamyman (2022) reiteram a importância de promover a inclusão de pes-
soas surdas em todos os âmbitos da saúde. Devem ser aprimoradas as políticas públicas
de saúde, a pesquisa e que a educação seja mais acessível, a fim de alcançar resultados
positivos para o engajamento dos pacientes surdos. Ao fazer isso, podemos ver melhorias
na qualidade de vida dos mesmos, principalmente ao que tange na situação socioeconômica
daqueles que têm perda auditiva e uma maior representação da comunidade surda na práti-
ca clínica e na educação em saúde colaborando para o desenvolvimento técnico-científico.

CONCLUSÃO

A presente revisão integrativa demonstrou que diversas são as barreiras comunicativas


apresentadas em estudos realizados nas unidades básicas de saúde do nosso país e que
estas além de dificultarem os atendimentos dos pacientes surdos, por vezes fazem com que
os mesmos deixem de procurar assistência de saúde.
Percebe-se ainda, que essas barreiras estão diretamente relacionadas ao fato dos
profissionais de saúde não terem conhecimento da Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS
e necessitarem utilizar de meios alternativos, como a mímica, gestos e escrita, que nem
sempre são eficazes.
Diante dos dados obtidos, foi notório a importância de se reconhecer a necessidade
de colocar em prática o que é trazido em lei no que tange a obrigatoriedade de se ofertar
um serviço inclusivo e integral às pessoas com deficiências sensoriais. Nesse sentido, para
que isto ocorra se faz necessário que nos cursos de graduação da saúde sejam ofertadas
disciplinas que possibilitem o aprendizado da LIBRAS, assim como profissionais que já atuem
nesses serviços, busquem realizar capacitações nessa língua, para que estes realizem um
atendimento qualificado à pacientes surdos.

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203
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16
Relato de caso de árvore de jatobá (família
fabaceae; Hymenaea courbaril L., 1753)
Morta no centro da cidade de Uberaba, MG

Anna Clara Balbina Silva


Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM

Ramon Marques Macedo


Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM

Paloma Cristina Pimenta


Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM

Maria das Graças Reis


Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM

Afonso Pelli
Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM

'10.37885/230111697
RESUMO

Este artigo tem o objetivo de apresentar um relato de caso de indivíduo arbóreo que morreu
no Campus I da UFTM e tentar identificar possível causa da morte. A História de Vida de
qualquer organismo envolve atributos (nascer, crescer, atingir a maturidade sexual, passar
por episódio (s) reprodutivo (s), senescência e morte programada), que se adequam às con-
dições de seus ambientes. O intuito é maximizar a sobrevivência, reprodução e contribuição
genética para a próxima geração. Como resultado das observações, os autores concluem
que não se pode afirmar que a árvore em pauta foi morta por anelamento, uso de herbicidas
ou outros métodos usuais. As recomendações cabíveis no presente caso seria arquivar o
processo, pois não foram encontradas evidências de negligência, imperícia, imprudência ou
mesmo crime ambiental. Este problema poderia ter sido evitado se um profissional da área,
tivesse orientado a escolha de qual espécie plantar no referido local.

Palavras-chave: Adequação Ambiental, Análise Ambiental, Diagnóstico Ambiental.


INTRODUÇÃO

A História de Vida de qualquer organismo envolve atributos, que os adequam às con-


dições de seus ambientes. As respostas dos organismos e populações parecem seguir um
conjunto de regras que tendem a maximizar a sobrevivência, reprodução e contribuição para
a próxima geração (PIANKA, 1982; RICKLEFS, 2010).
Os organismos devem reproduzir-se, isto é, eles devem converter recursos em des-
cendentes. A reprodução foi uma estratégia desenvolvida ao longo da história evolutiva e, se
mostrou eficaz para vários grupos distintos. A reprodução envolve a escolha entre opções:
quando começar a reproduzir, quantas unidades de dispersão produzir a cada vez, quanto
de cuidado conferir a elas. Cada uma destas escolhas afeta outros aspectos da vida do
indivíduo. Devido à reprodução embutir riscos, um investimento em reprodução geralmente
afeta adversamente a vida do reprodutor. Em muitos casos, o investimento nos descenden-
tes drena tantos recursos dos genitores que poucos descendentes são produzidos depois
(FUTUYMA, 2009; RAVEN et al. 2011).
O conjunto de regras e escolhas pertencentes ao cronograma individual de reprodução
é denominado História de Vida; com seus respectivos componentes. Dentre esses pode-se
citar: nascimento, crescimento, maturidade (idade da primeira reprodução), reprodução ou
parição (número de episódios de reprodução), fecundidade (número de proles produzidas
por episódio de reprodução), e término da vida ou senescência e morte programada. Vale
ressaltar que a senescência e morte programada é uma estratégia salutar, pois, o custo
de manutenção, e os erros associados aos reparos, com o passar do tempo, tendem a se
mostrar dispendiosos e ineficazes (RICKLEFS, 2010).
A única certeza que temos, quanto a história de vida dos organismos é a morte. A cur-
va de sobrevivência dos organismos é peculiar para cada categoria taxonômica. A Figura 1
ilustra o fenômeno (TOWNSEND et al., 2010).

Figura 1. Diferentes tipos de curva de sobrevivência, para diferentes categorias taxonômicas, evidenciando que muitas
vezes os organismos morrem antes de experimentar ao menos um episódio reprodutivo (lx – supervivência e x – idade).

A curva de sobrevivência é construída com os dados de supervivência da tabela de


vida dinâmica. A Figura 1 aponta que algumas categorias taxonômicas apresentam elevada

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208
taxa de mortalidade inicial. Ou seja, muitos indivíduos nascem, sem, no entanto, atingirem
o período reprodutivo. Sabemos que na natureza um indivíduo deixa apenas um indivíduo
que irá chegar à maturidade, e este irá deixar apenas um descendente. Caso uma fêmea
deixasse mais de uma fêmea ou descendente (média de 1,1 descendentes/genitor, p.ex.) não
teria espaço no planeta Terra para os descendentes do único genitor original. Caso o mesmo
organismo deixasse 0,9 descendentes/genitor, em pouco tempo está população seria extinta.

DETALHAMENTO DO CASO

No estudo de caso atual, o indivíduo em pauta é uma árvore. Como existia a suspeita
de que a árvore poderia ter sido morta, e não morrido por causas naturais, um processo
administrativo foi aberto. Dessa forma em meados de 2019, a Disciplina de Ecologia &
Evolução do Instituto de Ciências Biológicas e Naturais foi notificada através do Processo
Administrativo interno da UFTM nº 23085.030016/2019-78. São vários fatores relacionados
ao evento da morte de uma árvore no Campus I da UFTM, em um ambiente drasticamente
modificado e antropizado. Desta forma são tecidas algumas considerações.
Existem basicamente três possibilidades para matar uma árvore. A primeira seria o
corte do tronco e posterior destoca de raiz. Outra possibilidade seria o anelamento. Para que
a árvore morra é necessário retirar um anel ao redor de toda a extensão do tronco, comple-
tando a circunferência. Esta técnica é conhecida como anel de Malpighi. Este nome se deve
ao biólogo italiano Marcello Malpighi (1628-1694), que concebeu experimento elegante e
simples em 1675 (Figura 2).

Figura 2. Anel de Malpighi, retirando todas as camadas da casca da árvore, levando a árvore a morte após alguns meses.

O Anel de Malphigi consiste na retirada de um anel de casca de um ramo ou mesmo


do tronco principal de uma árvore. A casca é relativamente grossa e contém várias cama-
das: 1) Casca externa ou ritidoma; 2) Casca interna, floema ou líber, que se situa junto ao
câmbio e tem como função conduzir as substâncias nutritivas (seiva elaborada) nas plantas
vasculares; 3) Câmbio que se compõe de camadas de células situadas entre o lenho e a
casca interna ou floema; e 4) Alburno que é formado pelas camadas mais exteriores ou mais
novas da madeira.

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Como a casca é grossa e composta por várias camadas, recomenda-se que sejam
feitos dois anelamentos, sendo um logo acima do outro, paralelos e equidistantes em 10
cm. O anelamento interrompe o floema e provoca o acúmulo de substâncias acima do corte,
que não mais passam para a parte inferior. Algumas semanas depois da operação, pode-se
notar um inchaço na região imediatamente acima do corte (RAVEN et al. 2011).
O corte ao longo da circunferência do tronco deve ter profundidade suficiente para
interromper a passagem da seiva elaborada.
Outra estratégia para matar árvores seria com o uso de herbicidas, que podem ser apli-
cados de diversas formas. Os herbicidas mais comuns e eficazes são os à base de glifosato
(Roundup, Killzall, Volagro) ou de triclopir (Garlon, Bush B Gon, Termifin).
Ainda existe outra possibilidade pouco eficaz, que seria o uso de água fervente nas
raízes da planta. Esta metodologia não é usual, é cara e demanda grande esforço, assim
como o emprego de grandes quantidades de óleo queimado. Prática também pouco eficaz
e usual, sendo que a última deixa evidência marcante.
A Universidade Federal do Triângulo Mineiro, como Instituição, se preocupa com suas
obrigações legais e, não poderia ser diferente, já que as Instituições Federais de Ensino
Superior do país são as responsáveis pela produção e divulgação do conhecimento, sempre
alicerçado na ética e respeito. A sustentabilidade ambiental, econômica e social é meta da
UFTM. Questões relacionadas a supressão de árvores na UFTM já foram abordadas de
maneira coerente e ética no passado.
No ano de 2009, após algumas fortes chuvas na cidade de Uberaba, um servidor preo-
cupado com a segurança patrimonial e com a vida de transeuntes, encaminhou Memorando
136 de 2009 da Disciplina de Ecologia & Evolução, de 27 de outubro de 2009, ao Ilmo. Sr.,
Prof. Dr. Virmondes Rodrigues Junior, então Reitor Pro-tempore da UFTM, com o assunto:
projeto paisagístico do Campus I. No memorando relatava a preocupação com o assun-
to. O Magnífico Reitor Virmondes R. Junior solicitou um projeto. Na época foi recomendada
poda controlada de todas as árvores do Campus I e sugerido que um projeto paisagístico
fosse apresentado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Uberaba, incluindo a supres-
são de árvores e plantio de novas mudas de porte compatível com o ambiente.
O Memorando 05 de 2010 da Disciplina de Ecologia & Evolução, de 23 de fevereiro
de 2010, encaminhado ao Ilmo. Sr., Prof. Dr. Virmondes Rodrigues Junior, na época Reitor
Pro-tempore da UFTM, com o assunto “projeto paisagístico do Campus I” apresentava a
proposta, que foi aprovada. Desta forma foi encaminhado Ofício 20 de 2010 da Disciplina
de Ecologia & Evolução, de 25 de março de 2010, ao Ilmo. Sr., Dr. José Sidney da Silva,
Diretor do Depto de Recursos Ambientais da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de

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Uberaba. O assunto era projeto paisagístico e revitalização de parte do jardim do Campus I da
UFTM, na Praça Manoel Terra, 330.
O Processo administrativo 1/6409/2010 foi gerado em 26 de março de 2010, às 16:53:54,
com código de barras 010064092010, da Prefeitura Municipal de Uberaba/MG.
Concluindo pode-se dizer que se a UFTM, por algum motivo, desejasse o corte da
árvore em pauta, teria solicitado permissão à prefeitura. E jamais iria realizar qualquer tipo
de procedimento ilegal.
O objetivo do presente artigo é apresentar um relato de caso de indivíduo arbóreo que
morreu no Campus I da UFTM e tentar identificar possível causa da morte.

Metodologia

Segundo relatos de pessoas que trabalham na Instituição, a árvore objeto de avaliação,


era um jatobá. Vale destacar que a identificação correta somente seria possível, através de
folhas, flores e fruto.
O jatobá pertence à Família Fabaceae ou Leguminosae, descrita como Hymenaea
spp. L., 1753, nativa das florestas tropicais do continente americano e da Ásia, também
denominada jutaí, copal, jataí e muitos outros nomes. A espécie pode alcançar 40 metros
de altura e 2 metros de diâmetro, embora uma árvore tenha atingido mais de 60 metros na
Amazônia (CARAMORI et al., 2004; SOUZA, FELFILI, 2006; ALMEIDA, BANDEIRA 2010;
CUNHA, BORTOLOTTO 2011; OLIVEIRA et al., 2019).
Foi avaliada como pouco preocupante na Lista Vermelha da União Internacional para a
Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais versão 3.1, pois, possui ampla distribuição
geográfica, é considerada comum, por ocorrer em áreas protegidas, e por sua população
não estar ameaçada ou em declínio.
Como espécie mais amplamente distribuída do gênero, o jatobá pode ser encontrado
desde o sul do México e Antilhas até grande parte da América do Sul, no Brasil é encontrado
desde o norte a sudeste; na Amazônia, na Caatinga, no Cerrado, na Mata Atlântica e no
Pantanal, e está sendo introduzida na China, na Costa do Marfim, na Indonésia, no Quênia,
no Madagascar, na Maurícia, em Singapura, no Sri Lanka, em Taiwan e em Uganda. É en-
contrada em altitudes superiores a 500 metros acima do nível do mar (CARAMORI et al.,
2004; SOUZA, FELFILI, 2006; ALMEIDA, BANDEIRA 2010; CUNHA, BORTOLOTTO 2019;
OLIVEIRA et al., 2019).
Em atendimento a convocação para laudo técnico, referente a morte de uma árvore
no Campus I; Processo Administrativo nº 23085.030016/2019-78, a equipe se dirigiu ao
local, inspecionando a árvore, objeto da perícia. Foram realizados registros e documen-
tação fotográfica.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

As Figuras 3 a 7 apresentam os registros e documentação fotográfica.

Figura 3. Visão geral da árvore, que segundo o Departamento de Controle Ambiental da Prefeitura Municipal de Uberaba,
Secretaria de Meio Ambiente, teria sofrido anelamento

Figura 4. Visão de possível anel de Malpighi que, segundo o Departamento de Controle Ambiental da Prefeitura Municipal
de Uberaba, teria sido realizado na árvore.

Figura 5. Visão de possível anel de Malpighi que, segundo o Departamento de Controle Ambiental da Prefeitura Municipal
de Uberaba, teria sido realizado na árvore (observar a retirada da vegetação que cobria a parte afetada da árvore).

Figura 6. Visão posterior da árvore, na altura de possível anel de Malpighi que, segundo o Departamento de Controle
Ambiental da Prefeitura Municipal de Uberaba, teria sido realizado na árvore (observar que a casca da árvore se encontra
intacta.

Figura 7. Restos de pequenos fragmentos no pé da árvore, compatível com a ocorrência de cupim ou serra-pau, que
podem causar danos semelhantes à árvores.

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Como pode-se observar pelas fotos, não foi realizado anelamento completo na árvore,
logo essa técnica, frequentemente utilizada para matar árvores deve ser descartada. Outra
evidência que deve ser considerada é que algumas semanas depois do anelamento, ob-
serva-se inchaço na região imediatamente acima do corte. O que também não foi constata-
do. De fato, a árvore está machucada, mas não existem meios de afirmar há quanto tempo
ela foi danificada, pois, a cicatrização está completa, sem sinais de seiva. Quando a árvore
foi machucada há pouco tempo, a seiva escorre, solidifica e forma cristais, como o famoso
âmbar. No presente caso não existem sinais de cristais de seiva, logo o machucado deve
ser antigo e, com o passar do tempo foi sendo naturalmente eliminado. Em alguns casos, a
árvore é machucada ainda plântula, e carrega a cicatriz por toda a vida.
A Figura 3, fotos A, B e C, evidenciam trepadeiras saudáveis e enraizadas no pé da
árvore (algumas foram retiradas para visualizar possível anelamento – que não foi consta-
tado). Sendo que várias cobriam a parte danificada da planta. Daí conclui-se que não foi
utilizado herbicida, pois caso contrário essa planta também estaria morta. Tampouco foi
utilizada água fervente ou óleo queimado. A água fervente mataria a outra planta e o óleo
queimado deixaria evidências claras.
A Figura 07 apresenta resíduos no pé da árvore que são compatíveis com resíduos
produzidos por insetos das Ordens Coleoptera ou Isoptera. Isoptera é uma Ordem de insetos
eussociais, conhecidos por cupins ou térmitas. Com cerca de 2.800 espécies catalogadas
no mundo (320 no Brasil), são notórios pelos prejuízos econômicos que causam como pra-
gas de madeira e de outros materiais celulósicos, ou ainda como pragas agrícolas, apesar
de apenas cerca de 10% das espécies conhecidas de cupim possuir estas características.
Em número de espécies, a Ordem Isoptera deve ser considerada intermediária entre
os insetos; já em termos de biomassa e abundância, os cupins apresentam enorme signifi-
cância e quase podem ser comparados às formigas, minhocas, mamíferos herbívoros das
savanas africanas ou até mesmo com seres humanos, e estão entre os mais abundantes
invertebrados de solo de ecossistemas tropicais. Esta grande abundância dos cupins nos
ecossistemas, aliada à existência de diferentes simbiontes, confere, a estes insetos, a possi-
bilidade de desempenhar papéis como o de “super decompositores” e auxiliares no balanço
carbono-nitrogênio.
É bem provável que a ocorrência desses insetos tenha colaborado, em maior ou menor
grau, para a morte da árvore.

CONCLUSÕES

Não existe evidência que possa ser utilizada para dizer que a árvore em pauta foi morta
por anelamento, uso de herbicidas ou outros métodos usuais.

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Ela realmente estava danificada, mas não se pode afirmar que a morte foi causada
pelos danos nem tampouco há quanto tempo o dano foi realizado. É provável que o dano
tenha sido causado por pessoas que usam a casca da árvore para uso medicamentoso,
através da medicina tradicional, mas sem intenção de matar a árvore. Além disso, a possível
retirada de parte da casca não é suficiente para matar a árvore.
Como a árvore é de grande porte, é provável que a morte tenha sido natural. O am-
biente não é adequado, existe elevada impermeabilidade do solo. A árvore estava no centro
da cidade em um canteiro bem pequeno.
Este problema poderia ter sido evitado se um profissional da área, como um biólogo
p. ex., tivesse orientado a escolha de qual espécie plantar naquele local.
Na Figura 8 observa-se um exemplar da espécie Paubrasilia echinata Lam. plantado
em situação semelhante. Vale ressaltar que a área de distribuição original da espécie é de
floresta ombrófila densa da Mata Atlântica, a partir do extremo nordeste do Brasil até o Rio
de Janeiro, ou seja, nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,
Sergipe, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. A árvore, típica de ambiente úmido e som-
breado pode alcançar 15 metros, com copa frondosa e ampla. Está localizada em terreno
com desnível de 1,5 a dois metros do nível da rua, o que condiciona solo mais seco no
inverno. Provavelmente a UFTM irá passar pelo mesmo problema em alguns anos, já que
é previsível a morte deste indivíduo.

Figura 8. Visão geral de um exemplar de Pau-Brasil plantado próximo a árvore que morreu, em condições similares a
outra. Pode-se observar desnível com a rua que passa por trás da árvore.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os autores consideram que as recomendações cabíveis no presente caso seria arqui-


var o processo, pois não existe evidência de negligência, imperícia, imprudência ou mesmo
crime ambiental. Além disso, cortar o exemplar de jatobá e plantar árvore compatível com

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a arborização urbana no local. Também é sugerida o transplante da árvore de Pau-Brasil
enquanto ainda está jovem, visando evitar possíveis problemas correlatos no futuro.
Também se recomenda a contratação imediata de um biólogo, através de concur-
so público, para participar e cuidar das questões relacionadas ao meio ambiente, dentro
do âmbito da UFTM.

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17
Sabores e afetos: uma experiência de
protagonismo e construção de identidades
na cozinha

Gabriela Maria da Cruz Silva


UNIAPAE

Walkiria Santos Costa


UNIAPAE

'10.37885/221211507
RESUMO

A alimentação é um fazer essencial para a vida, por muito tempo essa prática vem se mo-
dificando e se tornando cada vez mais complexa. O espaço da cozinha se tornou um lugar
que possibilita encontros, identificação, pertencimento e expressões culturais, além de con-
tribuir para a promoção da autonomia e independência dos indivíduos. A partir da primeira
infância se inicia o contato com os alimentos, sendo esta uma interação que estimula a
exploração de diferentes aromas, texturas e sabores que serão ofertados de acordo com a
cultura de cada família e influenciam no desenvolvimento e aquisição de habilidades. Tal
experiência para muitas pessoas é algo comum, no entanto para a pessoa com deficiência
ela pode ser incompleta visto as barreiras que podem impedi-los de realizar suas escolhas.
Com isto posto, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Sorocaba/SP,
desenvolve atividades que proporcionam a vivência da pessoa com deficiência no ambien-
te da cozinha através de oficinas do Centro de Convivência e Fortalecimento de Vínculos,
serviço tipificado na Tipificação de Serviços Socioassistenciais. As atividades facilitaram a
construção do livro de receitas adaptado, construído coletivamente e a partir das potências
desenvolvidas dentro da oficina Cozinha Experimental, todo o processo incitou a construção
de autonomia, o sentimento de pertencimento e identificação das potencialidades de cada
usário a partir da aproximação de cada história, conforme previsto na Política Nacional de
Assistência Social. Este relato de experiência propõe compartilhar o trabalhado desenvolvido
pelo serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, descorre sobre as metodologias
utilizadas para elaborar uma linguagem adaptada e identificar as potenciais individuais de
cada usuário para a construção do livro, bem como os resultados alcançados que impactam
diretamente a qualidade de vida desses sujeitos.

Palavras-chave: Assistência Social, Inclusão Social, Culinária, Deficiência Intelectual.


INTRODUÇÃO

A cozinha é um espaço de encontro, que favorece a sensibilidade e o espírito de co-


laboração em ambientes de convivência. O preparo de refeições no cotidiano para muitas
famílias brasileiras é um oportuno e raro momento de trocas afetivas entre as pessoas
que temos vínculo.
Conforme sua finalidade Institucional, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
de Sorocaba é uma organização da Sociedade Civil, sem fins lucrativos, de Assistência
Social que preconiza a defesa e garantia de direitos para pessoas com deficiência intelec-
tual e múltiplas. Também desenvolve ações voltadas às políticas de saúde e educação, em
consonância com as diretrizes traçadas em território nacional.
Desde 2015 a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Sorocaba executa o
Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de Pessoas com Deficiência Intelectual
e/ou múltiplas, priorizando aquelas que estão em situação de vulnerabilidade e risco social
devido a fragilização de vínculos familiares e comunitários. O Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos esta tipificado na Proteção Social Básica e segundo o Ministério
de Desenvolvimento Social (MDS), tem como objetivo previnir a ocorrência de situações de
risco social, sendo assim estimula seus usuários a identificar suas potenciailidades de forma
singular, desenvolver socialização e convivência comunitária e fortalecimento dos vínculos
familiares (BRASIL, 2009).
Dados do IBGE no Censo 2010 indicam que o Brasil possuía 190.755 799 habitantes
e com estimativa de 213 317.639 em 2021. Em 2019 a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde)
apontou que 8,4% da população total possui algum tipo de deficiência, sendo elas deficiência
visual, auditiva, motora e/ou intelectual.
Segundo um relatório emitido pela UNICEF¹, existem quase 240 milhões de crianças
com deficiência no mundo e estas apresentam desvantagens em comparação a crianças
sem deficiência, no que tange às medidas de bem-estar infantil e pleno desenvolvimen-
to. Os desafios enfrentados por esse público se apresentam desde 1a dificuldade de acesso
a políticas públicas para construção de planejamento familiar, acesso a assistência pré-natal
de qualidade para um diagnóstico eficaz e não tardio, puerpério acompanhado por equipe
qualificada e a elaboração do luto familiar.

1 Fundo das Nações Unidas para a Infância, 2021. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de- imprensa/ha-no�
-
-mundo-quase-240-milhoes-de-criancas-com-deficiencia-revela-analise-do-unicef> Acesso em junho, 2022.

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A execução do serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, visa garantir o
direito de pleno desenvolvimento dessas pessoas, de forma que elas atravessem todas as
fases do ciclo de suas vidas com equidade de oportunidades, autonomia e qualidade de vida.
Uma das estratégias do atendimento desenvolvido no serviço foi a oficina “Cozinha
Experimental: Sabores e Afetos”, que prevê atividades voltadas para garantia da segurança
alimentar dos usuários e suas famílias, formado de ações contínuas, vinculadas à atividade
“Lançando Sementes” também desenvolvida na instituição. Tem a finalidade de promover às
famílias o acesso à produção de uma alimentação saudável que incida sobre os índices de
adoecimento pela má qualidade da alimentação e/ou escassez de valores nutricionais nos
alimentos consumidos, em consonância com a Política Nacional de Segurança Alimentar.
Para as famílias em situação de empobrecimento ou cuja renda não é suficiente para
garantir a variedade de alimentos ideal, as atividades da Cozinha Experimental trazem estra-
tégias para aproveitamento de tudo que normalmente é descartado, transformando em fonte
de alimentação saudável e de valores nutricionais aliados no enfrentamento à insegurança
alimentar. As atividades desenvolvidas se fundamentam na Política Nacional de Assistência
Social (2004), que prevê a elaboração de serviços voltados à garantia dos mínimos sociais,
contribuindo com a inclusão e equidade dos usuários, assegurando ações que garantam a
convivência familiar e comunitária.
Assim, o presente trabalho prevê relatar uma das atividades desenvolvidas na oficina,
a elaboração do livro “Misturando as Gostosuras do Comilão”, produzido e editado pelos
usuários do Centro de Convivência, com recursos de linguagem adaptados a pessoas com
deficiência intelectual e que materializou o objetivo das atividades desenvolvidas na oficina
de desenvolver as potencialidades da pessoa com deficiência, a sensibilidade, o espírito de
colaboração e iniciativa, a motivação e a aquisição de repertório com valores de cooperação
e solidariedade em uma culinária afetiva.

AUTONOMIA A PARTIR DA ALIMENTAÇÃO: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM A


COMIDA E SEUS IMPACTOS SOCIAIS.

A comida está presente na vida de qualquer ser vivo como principal fonte de proteínas,
carboidratos, lipídeos, vitaminas e minerais; que químicamente se transformam em energia
e outros componentes necessários para manutenção do corpo e sua existência.
No entanto com a evolução da humanidade a comida deixou de ser apenas um ato
necessário à sobrevivência, e através da modificação do cultivo e preparo dos alimentos
houve a descoberta de diferentes técnicas de culinária o que a partir de então passaram a
guardar tradições, representar culturas, firmar identidades e unir grupos diversos de pessoas,

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tornando um fazer que antes era apenas fundamental para sobrevivência em um espaço de
outras possibilidades.
O desenvolvimento de um indivíduo se dá através das experiências vividas, as trocas
de saberes e o praticar dessas ações. Ainda na primeira infância, instintivamente, a criança
explora o ambiente ao seu redor em busca de estímulos que vão complementar e aprimo-
rar o seu desenvolvimento e a aquisição de habilidades, neste período as experiências são
fundamentais para o seu aprendizado. A alimentação exerce um papel primordial neste pe-
ríodo, pois proporciona o contato com diferentes texturas, aromas, sabores, o que a partir do
processamento sensorial o indivíduo armazena a memória baseada na experiência, além de
promover a construção da autonomia e independência e ser um dos primeiros contatos da
criança com a cultura de sua família. Como cita Azevedo, S. e Ortale, F. (2019), a cozinha
evidencia uma identificação cultural e a escolha de um alimento, muitas vezes, carrega o
sentimento de pertencimento de uma comunidade.
Mas, para que a experiência seja completa é preciso considerar o contexto de vida, as
subjetividades e as características que compõem uma família, por exemplo, uma criança
com deficiência pode precisar de outros mecanismos ou auxílio para explorar o ambiente
da cozinha e assim descobrir suas potencialidades nesse espaço. No entanto, uma família
que não tem acesso a orientações específicas ou acompanhamento profissional, poderá
encontrar maiores dificuldades e não conseguir proporcionar essa vivência por completo,
podendo refletir negativamente em seu desenvolvimento.
Dentre as diversas experiências proporcionadas na culinária encontramos as trocas
culturais, que são primordiais para a construção de identidades. Essa troca pode acontecer
de diferentes formas, mas neste caso iremos discutir sobre a experiência do indivíduo com
o alimento e os impactos sociais em torno da comida.
Durante as atividades na oficina de Cozinha Experimental, no Centro de Convivência
e Fortalecimento de vínculos da APAE-Sorocaba, oferecidas para um público de adultos,
jovens e idosos com deficiência intelectual e múltiplas; foram observados que a maioria
dos usuários do serviço não tiveram o contato com o alimento em sua integridade durante
a infância, ou quando tiveram, existia sempre impedimentos que tornavam a experiência
incompleta, apresentando reflexos disso em sua vida adulta. Na presença de algo que
impeça a participação efetiva de uma atividade cotidiana, encontram-se rompimentos no
desenvolvimento de autonomia e independência, o que pode levar o indivíduo a grandes
impactos ao longo de todas as fases de sua vida.
A alimentação é algo que está presente em todo ciclo da vida e ela está ligada com
outras ações cotidianas, como na consolidação das relações, construção de identidade e
assim como as suas diferentes formas de fazer, o ato de cozinhar ganhou também espaço

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nas tradições de diferentes povos, reunindo pessoas e permitindo a construção de uma
memória afetiva completa vivenciada.
Compreendendo o impacto do alimento na nossa vida é possível construir outras dis-
cussões em torno disso, como o fato de que ao se alimentar um indivíduo precisaria realizar
escolhas e identificar aquilo que seu corpo aceita, o que é necessário para sua saúde e o que
está inserido no seu repertório e cultura, ação que pode ser traduzida como autonomia de
escolha, mas que quando se trata de algumas parcelas da sociedade se torna algo distante.
Para algumas pessoas com deficiência na sociedade, ainda é muito distante a pos-
sibilidade de escolha sobre aquilo que se vai consumir ou fazer no universo da culinária.
Pessoas com deficiência historicamente são segregadas das atividades coletivas da socie-
dade e o fato de sua presença não ser permitida no fazer e escolhas do ambiente da cozinha
traduz o quão hostil tem sido a sua participação nos espaços, afinal a cozinha é onde as
pessoas se reúnem, conversam, fazem suas escolhas, constroem memórias, firmam sua
identidade, constroem a independência financeira e estabelecem seu lugar naquela cultura
configurando tradições.
Segundo Azevedo e Ortale (2019, apud Heck e Belluzzo (1998, p. 90), a culinária
representa identidades que não se diluem com o contato multicultural. Ao contrário, ela
permanece como “marca de resistência à aculturação absoluta” e pode ser vista como um
código simbólico que organiza a produção econômica e as relações. Ou seja, a prática ali-
mentar revela o valor social, sinaliza a origem e os laços afetivos de quem a consome e traz
imbricadas memórias e costumes.

DESENVOLVIMENTO: MISTURANDO AS GOSTOSURAS DO COMILÃO, PROCESSO


DE IDENTIFICAÇÃO E PERTENCIMENTO ATRAVÉS DA COMIDA

Para muitos é comum estar em contato com os alimentos e realizar a escolha sobre
aquilo que se vai consumir, no entanto para pessoas com deficiência essa realidade pode
ser outra, por exemplo se resumir apenas ao ato de se alimentar, sem obter controle sobre
a sua alimentação, muitas vezes por falta de acessibilidade, adaptações e até mesmo reco-
nhecimento das suas potencialidades por terceiros, familiares, amigos e sociedade em geral.
O início das atividades na cozinha experimental encontrou barreiras existentes justa-
mente pela falta de repertório e contato com o ambiente da cozinha, seus utensílios, equi-
pamentos, os próprios ingredientes e para além disso a autonomia de escolha. O espaço
da oficina se torna fundamental para proporcionar essa vivência na busca de ampliar o
repertório através do contato com os alimentos, compreendendo sua diversidade e a cultura
expressa através dele e além disso possibilitar que os usuários reconheçam e habilitem as
suas potencialidades.

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Assim, os primeiros passos da oficina tiveram como objetivo facilitar e promover o con-
tato com utensílios e suas formas de utilização, para garantir a segurança dos usuários neste
ambiente. Neste processo foi necessário estudar formas de adaptações e a construção de tec-
nologias assistivas, junto das Terapeutas Ocupacionais da instituição, que pudessem facilitar
as atividades na cozinha para alguns usuários. Deste modo, estas atividades promoveram o
ganho de autonomia e independência. A Lei Brasileira de Inclusão - LBI(Lei Nº 13.146, de 6
de julho de 2015), preconiza que esse serviço tenha como objetivo a garantia da segurança
de renda, da acolhida, da habilitação e da reabilitação, do desenvolvimento da autonomia
e da convivência familiar e comunitária, para a promoção do acesso a direitos e da plena
participação social.
Escolher a própria comida requer proximidade com o alimento, ou seja, identificação e
sentimento de pertencimento, decisão essa que é fundamentada nas experiências vividas e
ofertadas pelo núcleo familiar, o que expressa também a sua identidade. Portanto, segundo
Azevedo e Ortale (2019 apud Montanari (2008, p. 15-16) comida é cultura quando produzida,
quando preparada e quando consumida, porque o homem escolhe a própria comida com
critérios ligados às dimensões econômicas, nutricionais e de valores.
Para desenvolver este contato com os alimentos, foi preciso compreender juntos o
caminho que o alimento percorre até chegar à mesa. Entender os recursos e mão de obra
que são necessários e assim possibilitar o debate político sobre segurança alimentar, quais
os impactos na sociedade e as lutas, ainda existentes, para que população tenha o acesso
à uma alimentação digna e completa.
O direito a uma alimentação completa é garantido na Constituição Brasileira (Brasil,
1988), e que infelizmente ainda é um privilégio para poucos. É então a partir da proximidade
com este ambiente, ingredientes e seus processos que os usuários passam a se identificar
e compreender a sua cultura através do alimento.
De acordo com Aliaga M. A.; Sandra M. C.; Trad L. A. B. (2020), a segurança alimentar
e nutricional vai além da disponibilidade de alimentos, e se configura como a segurança da
relação que o indivíduo e o coletivo têm com o alimento.
Entretanto, durante as oficinas, a partir da leitura de um livro de receitas convencional,
os participantes da atividade levantaram a discussão da falta de acessibilidade no ambiente
da cozinha em todos os seus contextos, identificando mais uma barreira que os afastava da
possibilidade de escolha e autonomia sobre sua alimentação.
Através de uma Assembléia com os usuários, foi decidido construir um livro de receitas
autorais, iniciado no segundo semestre de 2018, que pudesse ser acessível financeiramente
e ofertasse diferentes formatos de leitura. A elaboração do livro contou com a participação

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dos usuários do centro de convivência, que fizeram a construção de forma coletiva, reali-
zando testes das receitas e explorando as mais diversas formas de utilizar um ingrediente.
Para facilitar a leitura e tornar o conteúdo do livro mais acessível, todo o passo a passo
das receitas foram fotografados pelos usuários e separados por cor, facilitando o leitor a en-
contrar a página escolhida. É válido ressaltar que a edição do livro foi realizada em conjunto
com uma pessoa com deficiência intelectual e múltipla que trouxe para essa finalização um
olhar ampliado daquilo que poderia contemplar diferentes públicos.
Pertencer a um lugar é poder sentir-se parte, estar integrado e participar de forma
efetiva. Neste contexto, a pessoa com deficiência ainda encontra dificuldades, a partir do
fato de que o mundo não é acessível e a grande maioria das produções, estruturas arqui-
tetônicas, formas de comunicação e materiais não são pensados para contemplar uma
diversidade de pessoas.
A efetivação do livro de receitas “Misturando as Gostosuras do Comilão” é também um
ato de resistência frente uma sociedade capacitista. Cada página carrega uma identidade,
uma expressão artística daquilo que foi experienciado pela primeira vez de forma autônoma,
com liberdade, existência e protagonismo.
O processo foi concretizado através de um desejo dos usuários em realizar oficialmen-
te o lançamento do livro, produzindo exemplares para todos os familiares atendidos pela
APAE e também poder distribuir para a comunidade, com o objetivo de ampliar a discussão
sobre acessibilidade.
O processo de revisão, diagramação e impressão dos exemplares foi possível atra-
vés de uma emenda parlamentar que foi fundamental para produção, além de possibilitar
a discussão sobre acessibilidade e o quão necessário é estabelecer esse diálogo e incluir
pessoas com deficiência na construção desses e demais projetos.
A pandemia do COVID-19 trouxe contratempos para a realização do evento, sendo
preciso alterar a data e o local do lançamento. O evento foi então prorrogado para acontecer
junto ao Sarau da APAE - Sorocaba/SP em 2022, momento em que são reunidas diferentes
expressões artísticas e que é fundamentado em lutas e pautas sociais, este em específico
sobre o Setembro Verde, Mês de Inclusão da Pessoa com Deficiência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração do livro de receitas, teve como objetivo promover o sentido de perten-


cimento e construção de identidade, com base nas histórias de vida de cada indivíduo e
as diversas expressões culturais que surgem através do alimento. Com isso, as atividades
relatadas foram essenciais para estreitar os laços dos usuários com os seus familiares,
promovendo o contato com a culinária afetiva.

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É importante ressaltar que a acessibilidade para a participação efetiva da pessoa com
deficiência em muitos espaços ainda é um processo em construção, que necessita ser as-
sumido como responsabilidade, afinal entende-se que é um dever do Estado, comunidade
e família assegurar a pessoas com deficiência direitos inerentes a vida como um todo, con-
forme previsto na Lei Brasileira de Inclusão.

É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com defi-


ciência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde,
à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à
educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilita-
ção e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto,
ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e
tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e
comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo
e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e
econômico (Lei Nº 13.146, de 6 de julho de 2015).

A construção do livro de forma deliberativa entre os usuários foi um marco importante na


história desses sujeitos e de suas famílias, que puderam visualizar que através do estímulo
e equiparação de oportunidades, existe potência até mesmo em um espaço popularmente
considerado menos acessível, e principalmente que esta emerge a partir do vínculo.
Compreender em essência o alimentar-se, além de uma ação que supre necessidades
básicas, é assimilar que estes momentos são responsáveis pela construção de rituais fa-
miliares com receitas típicas e encontros já fechados, é aquisição de repertório, que incide
diretamente na construção de sociabilização qualitativa e saudável.
Todo processo de elaboração do livro proporcionou a aproximação do sujeito com a sua
história, o tornando protagonista e permitindo que a partir deste lugar pudesse entender sua
existência, seus desejos e firmar as suas escolhas na vida, favorecendo a sua participação
em sociedade de forma efetiva através da acessibilidade.
A produção do livro se tornou mais do que apenas um material resultado de uma ativida-
de, esse processo instrumentalizou os usuários para sua participação e posicionamento fora
da instituição, encontrando formas de estar inserido em um cotidiano mais ativo e funcional,
através do fortalecimento de vínculo com os seus familiares e território.

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REFERÊNCIAS

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nal: significados construídos por líderes comunitários e moradores de um bairro
popular de Salvador, Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 2020. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/csp/a/Msmy3XpTVhbpZfsx5wsPzkh/?lang=pt&format=pdf. Acesso
em julho, 2022.

AZEVEDO, SILVANA; ORTALE, FERNANDA. Cozinha de Herança: memórias e identi-


dades de um tesouro compartilhado, Universidade de São Paulo, 2019. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/italianistica/article/view/168578/160187. Acesso em junho, 2022.

BRASIL. Lei 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da pessoa com deficiência). Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em julho, 2022.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em julho, 2022.

BRASIL. Lei Nº 11.346, De 15 De Setembro De 2006. Institui o Sistema Nacional de


Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11346.htm. Acesso em julho, 2022.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de


Assistência Social. Brasília: PNAS, 2004. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webar-
quivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS2004.pdf. Acesso em julho, 2022.

Conselho Nacional de Assistência Social. Tipificação Nacional de Serviços Socioassis-


tenciais. Resolução CNAS nº 109, de 11 de novembro de 2009. Brasília:, CNAS, 2009.

MORESCHI C. L.; ALMEIDA M. A. A Comunicação Alternativa Como Procedimento


de Desenvolvimento de Habilidades Comunicativas. Revista Brasileira de Educação
Especial. Marília, v. 18, n. 4, p. 661-676, 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/
rbee/a/N3Sz9N6gvhGmvZnNYPTQdwx/?format=pdf&lang=pt. Acesso em julho, 2022.

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18
Tempo de pena criminal: uma perspectiva
em saúde

Carolina Maria Camargo Luca

Isadora de Carvalho Mariano Villela

Aissar Eduardo Nassif

Gabriela Schiavon Ganassin

Artigo original publicado em: 2017


Revista UNINGÁ - ISSN 2318-0579.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/221211551
RESUMO

O tempo de prisão está diretamente relacionado à uma ameaça à saúde aos privados de
liberdade. Sendo assim, esse estudo tem como objetivo correlacionar o tempo de pena cri-
minal com a situação de saúde de homens encarcerados. Estudo descritivo e exploratório,
realizado em uma penitenciária estadual localizada em Maringá-PR, Brasil. A população
total em estudo foi composta por 380 detentos. No presente estudo, foi observado que o
tempo de pena de uma forma geral não influencia nas condições de saúde dos detentos.
Com exceção do exame de urina, que demonstrou pequena associação com o tempo de
pena. A associação de tempo de pena com alteração de saúde é ainda escassa na literatura,
sendo necessário mais aprofundamento no assunto por outros pesquisadores. Em relação
aos exames de urina, estes apresentaram alteração significativa, muito provavelmente quanto
maior o tempo de pena, maior é a chance deste apresentar alterações e problemas urinários.
Concluiu-se que o tempo prisional influenciou apenas em alterações urinárias e que a partir
disso deve-se instituir inspeções às condições de higiene, qualidade da água e garantir a
prática de sexo seguro e conscientização de doenças sexualmente transmissíveis.

Palavras-chave: Prisioneiros, Penitenciárias, Assis-Tência à Saúde.


INTRODUÇÃO

Estima-se que mais de 10,35 milhões de pessoas estejam detidas em instituições penais
em todo o mundo, quer como prisioneiros detidos antes do julgamento/preventivo ou conde-
nado e sentenciado (WALMS-LEY, 2016). Desde o ano 2000, o total mundial da população
carcerária cresceu quase 20%, o que é ligeiramente acima da estimativa do aumento de
18% na população em geral do mundo durante o mesmo período. Existem diferenças con-
sideráveis entre os continentes (WALMS-LEY, 2016). Nas Américas, a população prisional
aumentou 14%, nos EUA mais de 80%, nos países da América Central e sul-americanos
em 145% (WALMSLEY, 2016).
As condições de vida na maioria das prisões do mundo são insalubres, devido à su-
perpopulação, a violência, a falta de luz solar, ar fresco e água limpa, má alimentação e
a disseminação de infecção (WHO, 2003). As taxas de infecção, como tuberculose, HIV e
hepatite, são muito mais elevadas, em presos do que na população em geral (WHO, 2003;
GOIS, 2012). Alguns estudos concluíram que além das precárias condições de higiene,
a baixa qualidade da alimentação e o stress causado pela situação de confinamento, au-
mentam o risco de adoecimento dos presos (PINHEIRO, 2015; HARIGA, 2011). O tempo
de prisão também está diretamente relacionado à uma ameaça à saúde aos privados de
liberdade (GOIS, 2012), porém não há artigos na literatura que tenha feito um estudo que
relacione situação de saúde prisional com o tempo de pena total ou tempo já cumprido e a
ser cumprido de confinamento dos prisioneiros.
Nota-se, entretanto, que há uma lacuna na literatura sobre a relação entre estado de
saúde em prisioneiros de permanecer na prisão por um longo período de tempo, ou seja,
não se sabe se os prisioneiros com maior expectativa de permanecer na prisão possuem
melhor ou pior situação de saúde. Desta forma, esse estudo tem como objetivo correlacionar
o tempo de pena criminal com a situação de saúde de homens encarcerados da Penitenciária
Estadual de Maringá-PR.

MATERIAL E MÉTODOS

Local da Pesquisa

A instituição prisional em estudo é um estabelecimento de segurança máxima, destinado


a indivíduos privados de liberdade do sexo masculino que cumprem pena em regime fecha-
do. Possui uma área construída de 6.190 metros quadrados, num terreno de 24.210 metros
quadrados, 60 celas com capacidade para 6 indivíduos cada, perfazendo um total de 360
vagas. Esta é dotada de completa infraestrutura com guaritas, galerias, solários, refeitórios,

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salas de aula, salas de atendimento, cozinha, panificadora, lavanderia, consultório médico,
odontológico e área íntima. Parte da população carcerária ocupa-se em 13 canteiros de
trabalho nas áreas de manutenção (cozinha, lavanderia, faxina externa e interna, barbea-
ria, parlatório, horta, reciclagem de lixo, jardinagem, biblioteca, equipamentos eletrônicos,
alfabetização), cinco canteiros de trabalho conveniados (lixamento de jeans, digitação em
braile, produção de material didático em relevo, restauração de livros e gravação de livro
falado) e ainda a Unidade conta com trabalhos artesanais de bordado em ponto cruz, redes
e tarrafas, caçapas de mesa de bilhar e bichinhos de retalhos de tecidos (7).

Amostragem

A população total em estudo foi composta por 380 detentos da referida penitenciá-
ria. Os critérios de inclusão estabelecidos foram: ter pena estabelecida no momento da coleta
de dados, aceitar em participar do estudo, ter realizado um ou mais exames laboratoriais
(glicemia, lipidograma, hemograma, leucograma, fezes e urina I). O critério de exclusão
determinado foi estar em prisão temporária aguardando julgamento não tendo estabelecido
um tempo total de prisão em regime fechado e não ter realizado pelo menos um dos exa-
mes laboratoriais citados acima. Desta forma, foram excluídos 161 detentos, restando 219
detentos para composição final da amostra.

Coleta de dados

Os dados foram coletados em dois momentos: primeira visita (dados sociodemográficos)


e segundo momento visitas agendadas para coletas de exames laboratoriais (totalizando
50 visitas agendadas feitas pelo pesquisador e alunos envolvidos no projeto durante o ano
de estudo). O instrumento utilizado foi um questionário semi-estruturado, contendo infor-
mações sociodemográficas: idade, cidade proveniente, tipo de réu, data de prisão, tempo
de condenação, religião, cor da pele, profissão relatada, trabalho dentro da penitenciária,
escolaridade; e informações laboratoriais: glicemia, colesterol total, HDL, LDL, triglicérides,
fezes, hemograma completo e parcial de urina I.

Variáveis do estudo

A variável tempo de condenação foi computada como uma variável contínua e foi
dividida em três tempos diferentes: tempo total de pena, tempo já cumprido de pena até a
data da coleta dos exames laboratoriais, e tempo ainda restante, desde a data da coleta dos
exames, para término de pena.

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As variáveis bioquímicas de análise clínica foram classificadas como variáveis dico-
tômicas (alterado e não alterado), sendo a categorização considerada “alterado” ou “não
alterado”, utilizada para as análises estatísticas, foram as seguintes:

Glicemia: foi considerado o estado de jejum, pois todos os exames foram colhidos pela manhã e em jejum por todos os participantes, considerando
glicemia de jejum ≤100 mg/dl (não alterado) e >100mg/dl (alterado) (16).
Colesterol Total: foi considerado colesterol total <200mg/dl (não alterado) e >200mg/dl (alterado) (16).
HDL: foi considerado HDL >60mg/dl (não alterado) e <60mg/dl (alterado) (16).
LDL: foi considerado LDL <100mg/dl (não alterado) e >100mg/dl (alterado) (16).
Triglicérides: foi considerado triglicéride <150mg/dl (não alterado) e >150mg/dl (alterado) (16).
Exame de fezes: Para o presente estudo, foram realizados três exames de fezes parasitológicos avaliando a presença, ou não, de parasitas ou protozo-
ários. A positivação em pelo menos 1 dos 3 exames coletados foi considerada como alterada, sendo classificada normal (não alterado) quando as três
coletas obtiveram resultados negativos. Nos exames considerados alterados, foi observada a presença de um ou mais agentes como Endolimax nana,
Giardia lamblia, Entamoeba coli, Iodamoeba butschlii, Entamoeba histolytica, Strongyloides stercoralis, Hymenolepis nana e Enterobios vermiculares.
Hemograma Completo: foi dividido em hemograma e leucograma. Foi considerado hemograma normal (não alterado), quando todos os seguintes
achados laboratoriais estavam dentro dos valores de referência - eritrócitos 4,50 - 6,10 milhões/mm³; hematócrito 40,0 - 54,0 %; hemoglobina 12,8
- 17,8 g/dl; VCM 82,0 - 96,0 fL; HCM 26,0 - 34,0 pg; CHCM 32,0 - 36,0 g/dl; RDW 11,0 - 15,0. E foi considerado hemograma não normal (alterado)
quando pelo menos um dos exames divergiu dos valores de referência. Foi considerado leucograma normal (não alterado), quando todos os seguintes
achados laboratoriais estavam dentro dos valores de referência - leucócitos 4.000 - 11.000/mm³; bastonetes 00 - 04%; bastonetes 00 - 440/mm³;
segmentados 40 - 65%; segmentados 1600 -7150/mm³; eosinófilos 01 - 05%; eosinófilos 40 - 550/mm³; basófilos 00 - 110/mm³; basófilos 00 - 01%;
linfócitos 25 - 45%; linfócitos 1.000 - 4.950/mm³; monócitos 02 - 10%; monócitos 80 - 1.100/mm³; plaquetas 150.000 - 450.000/ mm³. Foi considerado
leucograma não normal (alterado), quando pelo menos um dos exames divergiu dos valores de referência (9).
Parcial de Urina I: foi considerado parcial de urina I normal (não alterado), quando todos os seguintes achados laboratoriais estavam dentro dos
valores de referência - densidade 1.015 a 1030; pH 5 a 7; células até 10.000/mL; hemácias até 5.000/mL; leucócitos até 10.000/mL; cor amarelo
citrino; aspecto límpido; proteína negativa; glicose negativo; corpos cetônicos negativo; urobilinogênio negativo; bilirrubina negativo; nitritos nega-
tivo; hemoglobina negativo; bactérias ausentes; filamentos de muco raros. Foi considerado parcial de urina I alterado, quando pelo menos um dos
seguintes achados laboratoriais divergiu dos valores de referência - densidade 1.015 a 1030; pH 5 a 7; células até 10.000/mL; hemácias até 5.000/
mL; leucócitos até 10.000/mL; cor diferente de amarelo citrino; aspecto turvo; proteína positiva ou com traços positivos; glicose positiva; corpos
cetônicos positivos; urobilinogênio positivo; bilirrubina positiva; nitritos positivo; hemoglobina positiva ou com traços positivos; bactérias raras,
escassas, moderadas ou abundantes; filamentos de muco escasso, moderado ou abundante (9).

Os dados foram tabulados com dupla entrada em planilhas do Microsoft Excel® 2010,
e posteriormente analisados no ambiente estatístico SPSS 9.0 para Windows. A análise
estatística consistiu em análise descritiva e utilizou-se o teste de Qui-Quadrado para amos-
tras independentes para verificar a correlação entre alteração de exames laboratoriais com
o tempo de pena do detento. Adotou-se nível de significância de 5% para todos os testes.
O desenvolvimento do estudo ocorreu em conformidade com a Resolução 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde e seu projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
com seres humanos da instituição signatária (CAAE: 18565213.9.0000.5220). Todos os
participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias.

RESULTADOS

A idade média da população de detentos inclusos no presente estudo foi de 36,78 anos
(DP=10,11) e a média de tempo de pena foi de 21,61 anos (DP=13,03). A amostra se carac-
terizou como população predominantemente de cor/raça branca (52,1%), católica (66,6%),
de baixa escolaridade (50% não completaram o ensino fundamental), e, provenientes de
setor de comércio (53,2%) e de produção de bens de serviço industrial (26,8%) em relação

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à ocupação profissional antes do encarceramento. Em relação à ocupação constatou-se que
62,1% não trabalham durante o encarceramento e 37,9% trabalham.
Com relação aos exames laboratoriais 6,9% dos indivíduos tiveram o exame de gli-
cose sérica alterada, 16,2% o colesterol total apresentou-se alterado, 95,8% obtiveram o
colesterol HDL alterado e 51,9% o colesterol LDL alterado. Além disso 19,4% apresentaram
alteração no exame de triglicérides, 40% apresentaram alteração de leucograma, enquanto
que em 38% dos indivíduos as amostras de fezes estavam alteradas e 60,5% apresentaram
alterações significantes no teste de Urina I

Tabela 1. Características descritivas (n=219).

Variáveis Variáveis X (DP)


Idade 36,78 (10,11)
Tempo de Pena 21,61 (13,03)
N %
Alterado 15 6,9
Glicose
Não alterado 201 93,1
Alterado 35 16,2
Colesterol total
Não alterado 181 83,8
Alterado 207 95,8
HDL
Não alterado 9 4,2
Alterado 112 51,9
LDL
Não alterado 104 48,1
Alterado 42 19,4
Triglicerides
Não alterado 174 80,6
Alterado 54 38
Fezes
Não alterado 88 62
Alterado 74 35,1
Hemograma
Não alterado 137 64,9
Alterado 86 40,8
Leucograma
Não alterado 125 59,2
Alterado 124 60,5
Urina
Não alterado 81 39,5

Ao comparar o tempo total de pena dos prisioneiros com exames laboratoriais alterados
e não alterados, observou-se que não houve associação estatisticamente significativa entre
o tempo total de pena com alterações laboratoriais de glicose, CT, HDL, LDL, TGL, fezes,
hemograma e leucograma. Entretanto, o exame de urina demonstrou associação estatisti-
camente significativa (p<0,05), em relação ao tempo total de pena (tabela 2).
Ao comparar o tempo de pena já cumprido pelos prisioneiros até a coleta de dados
com exames laboratoriais alterados e não alterados, observou-se que não houve associação
estatisticamente significativa entre o tempo de pena já cumprido com alterações laboratoriais
de glicose, CT, HDL, LDL, TGL, fezes, hemograma e leucograma e urina (tabela 3).

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Tabela 2. Comparação entre o tempo total de pena e os resultados laboratoriais.

Não Alterada
Variáve is Alterada X (DP) p-valor
X (DP)
21,65
Glicose 21,23 (9,55) 0,905
(13,35)
21,68
CT 21,29 (10,06) 0,871
(13,63)
25,69
HDL 21,44 (13,27) 0,342
(7,50)
21,53
LDL 21,70 (12,49) 0,924
(13,79)
22,34
TGL 18,65 (8,96) 0,101
(13,84)
22,28
Fezes 25,26 (14,03) 0,209
(13,39)
22,58
Hemograma 19,91 (10,76) 0,159
(14,20)
21,95
Leucograma 21,20 (12,32) 0,684
(13,71)
23,78
Urina 19,94 (10,64) 0,04
(16,02)

Tabela 3. Comparação entre o tempo cumprido de pena e os resultados laboratoriais.

Não Alterada
Variáveis Alterada X (DP) p-valor
X (DP)
6,19
Glicose 4,92 (4,88) 0,384
(5,35)
6,16
CT 5,67 (4,25) 0,62
(5,51)
7,26
HDL 6,03 (5,35) 0,501
(4,67)
5,58
LDL 6,55 (5,44) 0,183
(5,17)
6,26
TGL 5,35 (4,38) 0,324
(5,52)
6,08
Fezes 6,83 (5,14) 0,437
(5,76)
6,29
Hemograma 5,97 (4,97) 0,685
(5,54)
6,18
Leucograma 6,17 (4,82) 0,988
(5,68)
6,26
Urina 6,04 (5,46) 0,778
(5,36)

Tabela 4. Comparação entre o tempo de pena restante a ser cumprido e os resultados laboratoriais.

Não Alterada
Variáveis Alterada X (DP) p-valor
X (DP)
Glicose 16,30 (8,62) 15,45 (11,56) 0,78
CL 15,62 (9,08) 15,49 (11,78) 0,953
HDL 15,39 (11,52) 18,44 (6,84) 0,431
LDL 15,13 (10,49) 15,92 (12,28) 0,608
TGL 13,29 (7,76) 16,05 (12,04) 0,159
Fezes 18,38 (12,58) 16,17 (11,23) 0,28
Hemograma 13,94 (9,91) 16,26 (12,07) 0,158
Leucograma 15,03 (11,08) 15,73 (11,63) 0,664
Urina 13,87 (8,98) 17,49 (13,94) 0,025

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Por fim, ao comparar o tempo de pena restante a ser cumprido dos prisioneiros com
exames laboratoriais alterados e não alterados, também não houve associação estatistica-
mente significante do tempo de pena restante a ser cumprido com os exames de glicose,
CT, HDL, LDL, TGL, fezes, hemograma e leucograma. Apenas a variável do exame de urina
apresentou associação estatisticamente significativa (p<0,05) para o tempo de pena restante
a ser cumprido (tabela 4).

DISCUSSÃO

No presente estudo, foi observado que o tempo de pena total, tempo de pena já cum-
prido e tempo de pena a ser cumprido de uma forma geral não influencia/interfere nas con-
dições de saúde dos detentos na Penitenciária Estadual de Maringá - PR. Com exceção do
exame de urina, que demonstrou associação estatisticamente significativa para o tempo de
pena total e tempo de pena a ser cumprido.
Atualmente, sabe-se que há uma maior probabilidade de difusão de doenças contagio-
sas e sexualmente transmissíveis pela falta de saneamento básico e de estrutura que um
sistema de encarceramento pode vir apresentar (NOGUEIRA, 2009), porém nada se afirma
em relação ao tempo de pena, se tem ou não relação com melhora ou piora na condição
de saúde de forma geral.
Segundo Nogueira e Abrahão (NOGUEIRA, 2009), a baixa qualidade de alimentação
aumenta o risco de adoecimento dos prisioneiros. De fato, o presente estudo verificou que
95,8% dos homens em privação de liberdade apresentaram alteração de HDL e 51,9%
apresentaram LDL alterados. Isso significa que possivelmente há uma relação com a má
qualidade da alimentação ou a privação de certos tipos de alimentos como: gorduras mono
e poliinsaturadas, presentes em óleos, oleaginosas e peixes, que são consideradas gordu-
ras saudáveis, que ajudam a reduzir o LDL e a aumentar o HDL (GARCIA, 2001 e XAVIER,
2013). Além disso, o sedentarismo também contribui para a diminuição do HDL e o aumento
do LDL (XAVIER, 2013). Nota-se que pelo próprio fator ambiental e estrutural, os prisioneiros
não realizam atividade física rotineiramente. Desta forma, ainda que o tempo de pena total, já
cumprido e a ser cumprido não tenha influenciado estatisticamente na alteração dos exames
de HDL e LDL, pode-se considerar que a privação de certos tipos de alimentos acrescido
ao sedentarismo, podem talvez ser os responsáveis pelo aumento do LDL e da diminuição
do HDL da população em estudo.
Em relação aos exames de urina, estes apresentaram alteração significativa em relação
ao tempo total de pena e a expectativa de maior tempo do detento de permanecer na peni-
tenciária, isto é, muito provavelmente quanto maior o tempo de pena, maior é a chance deste
apresentar alterações e problemas urinários que serão detectados nos exames laboratoriais

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de parcial de urina I. Segundo vários autores Braoios, et al (2009), Assis (2007), Dotti (2003)
e Bitencourt (2004), as condições precárias de higiene, baixa ingestão de líquidos e atividades
sexuais (com ou sem consentimento) estão presentes na maioria das penitenciária brasilei-
ras. A ITU (infecção do trato urinário) no homem adulto saudável é rara, entretanto, tem-se
evidenciado na literatura que na faixa etária de 20 a 50 anos podem ocorrer as prostatites
agudas, que estão altamente associadas ao homossexualismo e relação com uma parceira
infectada (BRUCKER, 1990; ENGEL, 1988; KAYE, 1991 e LENZ, 1994). Logo, as causas de
alterações urinárias no presente estudo, possivelmente estão relacionadas a esses fatores,
atrelados à falta de estrutura e acesso à higiene.
Segundo o relatório da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito, 2009/BRASIL) ao lado
da hiperlotação das penitenciárias, realidade bem comum no sistema penitenciário brasileiro,
outros problemas como a falta de acesso a água em quantidades minimamente razoáveis
– seja para higiene, seja para consumo, são fatores que veem à contribuir com problemas
de saúde como por exemplo a ITU, que foi destacada no presente estudo.
Além disso, não se pode desconsiderar por total a não associação encontrada na pe-
nitenciária em estudo do tempo de pena com a condição de saúde da pessoa em privação
de liberdade, pois é sabido que em muitas penitenciárias as celas muito provavelmente
estejam contaminadas por esgoto corrente e que nelas haja lixo em caráter permanente,
inclusive fezes e urina mantidas em garrafas de refrigerantes nos cantos das celas, já que
não há instalações sanitárias suficientes (BARCELLOS, 2010). No ano de 2009 a CPI repor-
tou vários casos em que vasos sanitários, sem descarga, servem, a mais de 70 presos em
uma mesma cela, e nos quais água para limpeza é jogada apenas uma vez dia. O resultado
é a grosseira falta de condições de higiene e odor insuportável, além de insetos variados.
Com relação aos outros exames laboratoriais (glicemia, HDL, LDL, CT, TGL e Fezes),
estes não sofreram influência dos tempos de pena total, cumprido e a ser cumprido, e que
talvez possam ser explicados pelo simples fato de que o sistema prisional de Maringá realiza
certo controle na saúde dos detentos quanto às condições gerais de saúde ou pelo fato da
amostra ter sido comprometida, uma vez que houve elevado número de recusas dos parti-
cipantes em realizar certos tipos de exames.
Estudo anterior refere que a pena prisional é acompanhada por uma redução na ex-
pectativa de vida e interferência na condição de saúde dos detentos e, portanto, têm uma
relação direta com o tempo de permanência na prisão (PATTERSON, 2013). Entretanto para
a realidade do referido centro de detenção isso não foi observado.
O estudo realizado mostrou limitações importantes em relação ao número elevado de
recusas dos detentos em realizar certos tipos de exames laboratoriais como os exames de
HIV, sífilis, hepatites, gonorreia e tuberculose, sendo estes, temas amplamente discutidos na

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literatura atual em se tratando de estudos em penitenciárias. Além disso, nesse estudo não
foi avaliado o estado biopsicossocial dos detentos, apenas o estado físico/orgânico através
de exames laboratoriais/bioquímicos.
Ainda sobre as limitações do estudo, a associação de tempo de pena com alteração de
saúde de pessoas em com privação de liberdade é ainda escassa na literatura, dificultando a
interface com estudos semelhantes, especialmente em se tratando de população carcerária.

CONCLUSÃO

Essa associação de tempo de pena com alteração de saúde é ainda escassa na li-
teratura, sendo necessário mais aprofundamento no assunto por outros pesquisadores e
maior controle das variáveis de confusão para dizer se esta associação pode ou não ser
verdadeira. Sendo assim, não se pode afirmar com certeza que o indivíduo que permane-
ceu ou permanecerá no sistema prisional não possui nenhuma chance maior ou menor de
apresentar melhor ou pior condição de saúde ou apresentar mais ou menos fatores de risco
para determinadas doenças.
Concluiu-se que o tempo prisional influenciou apenas em alterações urinárias e que
a partir disso devem-se instituir inspeções às condições de higiene, qualidade da água e
garantir a prática de sexo seguro e conscientização de doenças sexualmente transmissíveis.
Reconhecem-se as necessidades de saúde dos homens privados de liberdade, a partir
da necessidade de garantir a integridade física e moral dos detentos que estão comprome-
tidas pela vida nas prisões. Os apenados possuem problemas e necessidades de saúde
diferenciadas da população em geral, que precisam de resolubilidade, e que frente ao fato
que a vida na prisão têm o seu processo saúde-doença deteriorado pela simples situação
de adentrar no sistema prisional.

Agradecimentos

À Fundação Araucária por conceder bolsas de apoio técnico à pesquisa científi-


ca. À Gabriela, Nassif, Isadora, Aline Chotte de Oliveira e João Ricardo Vissoci que contri-
buíram com a concepção do projeto, execução da pesquisa, redação do artigo e aprovação
final da versão a ser publicada.

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REFERÊNCIAS

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Ano XI, n. 39, p.74-78, out./dez. 2007.

BARCELLOS, A.P. Violência urbana, condições das prisões e dignidade humana. Facul-
dade de Direito da UERJ, Santiago, 2010.

BITENCOURT, C.R. A Falência da Pena de Prisão: Causas e alternativas. 3ª ed. São


Paulo: Saraiva, 2004.

BRAOIOS, A. et al. Infecções do trato urinário em pacientes não hospitalizados: etiolo-


gia e padrão de resistência aos antimicrobianos. J Bras Patol Med Lab, Goiás, v.45, n.6,
p.449-456, Dec. 2009.

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do Sistema Carcerário. CPI sistema carcerário. Brasília: Edições Câmara, Câmara dos
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BRUCKER, P.C. Urinary tract infections. Prim Care, Philadelphia, v.17, p.825-832, Dec.
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ponível em: <http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=18>
acessado em: 27 Jun. 2016.

DOTTI, R.A. A crise do sistema penitenciário. Arq: RD, Artigos de direito, Goiás, Ago. 2003.

ENGEL, J.D.; SCHAEFFER, A.J. Evaluation of and antimicrobial therapy for recurrent
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GARCIA, R.W.D. Dieta Mediterrânea: inconsistências ao se preconizar modelos de dieta.


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LENZ, L.L. Infecção Urinária. São Paulo: BYK, 1994.

NOGUEIRA, P.A.; ABRAHÃO, R.M.C.M. A infecção tuberculosa e o tempo de prisão da


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SOBRE OS ORGANIZADORES

Thais Ranielle Souza de Oliveira


Docente de Epidemiologia e Bioestatística, Bióloga, Doutorado em Ciências Biológicas, mestrado
em Entomologia. Especialização em Vigilância Epidemiológica e Saúde Pública .Atuando em
ensino e pesquisa nas áreas de biologia e saúde humana.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4142285275497455

Octávio Barbosa Neto


Professor Associado do Instituto de Educação Física e Esportes (IEFES) da Universidade Federal
do Ceará (UFC). Concluiu mestrado e doutorado em Ciências (Patologia Geral) pela Faculdade de
Medicina da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Especialização em Fisiologia e
Cardiologia do Exercício pelo Instituto Cardiovascular (UC San Diego Health, CA). Orientador do
programa de Pós-graduação em Educação Física da UFTM. Parecerista de periódicos nacionais
e internacionais. Docente e pesquisador nas áreas de Fisiologia Humana e do Exercício com
ênfase em Cardiologia do Exercício (efeitos agudos e crônicos dos exercícios aeróbicos e
resistidos) aplicados a sujeitos saudáveis (jovens e idosos) e a portadores de Doenças Crônicas
(hipertensão, doença arterial periférica, diabetes, obesidade, câncer, dentre outras), Fisiologia
Cardiovascular no Desempenho Humano e Recursos Ergogênicos, Controles Autonômicos e
Reflexos, Neovascularização, Variabilidade Cardiovascular e Terapia Celular.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9184030256588469

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ÍNDICE REMISSIVO

A F
Adequação Ambiental: 208 Fármacos: 115, 118

Adolescents: 157 Fisioterapeutas: 126

Aerobic Training: 145, 147 H


Análise Ambiental: 208 Hesitação Vacinal: 76

Aprendizagem: 53 I
Assistência Social: 219, 220, 221, 227 Inclusão Social: 219

Atenção Primária à Saúde: 22, 126, 129, 140 Infecção: 104, 238

B L
Baixo Peso ao Nascimento: 53 Leite: 155

Barreira de Comunicação: 195 M


C Metabolic Syndrome: 147, 155, 157

Câncer: 70, 71, 73 O


Concurrent Training: 145 Odontologia: 131, 179, 180, 181, 182, 185, 186,
187, 189, 190, 191, 192, 193
COVID-19: 76, 78, 86, 89, 99, 123, 225
Ototoxidade: 28
Criança: 38, 76
P
Culinária: 219
Pacientes Oncológicos: 70, 73
D
Parada Cardíaca: 18
Deficiência Intelectual: 219, 220
Perda Auditiva: 28
Desenvolvimento Motor: 53, 64
Planejamento: 86, 87, 88, 89, 91, 99, 100
Desnutrição: 70
Prematuridade: 53
Diagnóstico Ambiental: 208
Prisioneiros: 229
E
Prognóstico: 170
Efeitos do Ruído: 28
Q
ERP: 85, 86, 88, 98, 99
Química Orgânica: 113
Estado Nutricional: 70, 156
Quimioterapia: 176
Estratégia Saúde da Família: 100, 126, 127, 129,
130, 137, 138 R

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240
ÍNDICE REMISSIVO

Risco ao Desenvolvimento: 53

Rotulagem: 45

S
Saúde: 18, 22, 25, 26, 27, 41, 46, 54, 63, 64, 65,
68, 71, 73, 75, 76, 77, 84, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92,
96, 97, 98, 99, 100, 124, 126, 127, 128, 129, 130,
133, 134, 135, 137, 138, 139, 140, 142, 145, 156,
157, 182, 183, 195, 196, 197, 198, 199, 200, 201,
204, 205, 206, 220, 227, 232, 238

Saúde Pública: 76

Segurança Alimentar: 227

Serviço de Saúde: 195

Sistema Único de Saúde: 26, 77, 87, 126, 127,


129, 138

Strength Training: 145, 148

Surdez: 195, 198

SUS: 15, 25, 77, 86, 87, 88, 89, 91, 92, 93, 94, 95,
99, 100, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 135, 136,
137, 138, 139
T
Taxa de Sobrevida: 18

U
UBS: 85, 86, 88, 90, 91, 98, 130

V
Vacinação: 76

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