Caderno de Resumos III COIMI
Caderno de Resumos III COIMI
Caderno de Resumos III COIMI
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE HUMANIDADES
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE HUMANIDADES
2
COMISSÃO ORGANIZADORA
Coordenação Geral
Juciene Ricarte Apolinário, PPGH-UFCG, Brasil/ Pesquisadora, CHAM – Portugal
COMISSÃO CIENTÍFICA
3
Mércia Batista, Universidade Federal de Campina Grande, Brasil
Nicte Fabiola Escarzaga, Universidad Autónoma Metropolitana Unidad Xochimilco,
México
Neimar Machado de Sousa, UFGD, Brasil
Pascale de Robert, Institut de Recherche et Développement - IRD/Paloc., França
Pedro Celestino Pachaguaya Yurja, Universidad Mayor de San Andrés, Bolívia e
Associação Departamental de Antropólogos de La Paz, Bolívia
Pedro Cardim, CHAM-UNL
Rita Potyguara, Potiguar, UFRN, Brasil
Roberta Guimarães Franco, UFLA
Stephen Baines, UNB, Brasil
Taciana de Carvalho Coutinho, UFAM, Brasil
Tonico Benites Ava Guarani Kaiowá, UFGD, Brasil
Vania Maria Losada Moreira – UFRRJ, Brasil
COMISSÃO TÉCNICA
ORGANIZADORES/MONITORES EXTERNOS
4
Maria Andreza Ferreira
Rebeca Sueli Piano de Araújo
Giovanna Gouveia Garrett
Keli Maria Rodrigues da Silva
Sílvio José Nilo Neto
Emanuel Messias Silva do Nascimento Lima
Daniel do Nascimento Silva
Cleyson Pinheiro Bezerra
Maria Vitória Medeiros Nunes
Camila Alice Diógenes Barbosa
Maria Carolina Alves de Oliveira
Guilherme Lima Ferreira
Erica Melo Lima
Lucas Amadeus de Albuquerque Barbosa
João Eduardo Ferreira Leandro
Charlley Gabriel Mendonça de Luna
Maria Carolina Santos Vieira
Jose Guilherme Sieber Padilla Pandolffi
Jéssica Noberto Guimarães
Maria Clara Ferreira Rodrigues
Dawyd Thiago de Oliveira Almeida
Geovanna Luiza Pereira de Souza Santos
João Vitor Souza Muniz
Claudiane Ferreira Pereira
Renata Cavalcante Cordeiro
Cábia Rosa Barbosa
5
APRESENTAÇÃO
6
SUMÁRIO
1. TABELA DE PROGRAMAÇÃO..........................................................................8
2. MINICURSOS........................................................................................................22
4. LANÇAMENTOS DE LIVROS............................................................................23
5. CADERNO DE RESUMOS...................................................................................24
5.1. SIMPÓSIOS TEMÁTICOS................................................................................24
ST2-Políticas Indígenas e indigenista entre os séculos XVI
ao XVIII.....................................................................................................................................24
ST3-Missões Religiosas e Povos Indígenas na América: Séculos XVI ao XXI........................29
ST4-Experiências da educação escolar indígena na América em suas diferentes fases escolares
até o Ensino Superior.................................................................................................................39
ST5-Justiça, Direitos Indígenas e Direitos Humanos.................................................................42
ST6-O Ensino da temática indígena e os 10 Anos da Lei Nº 11. 645/20008: Experiências,
Discussões e Propostas...............................................................................................................50
ST7-Autonomias, Etnicidade e Nação. Movimentos Indígenas na América Latina do século XX
aos dias atuais............................................................................................................................59
ST8-Patrimônio Cultural Indígena: arquivos, museus e sítios arqueológicos na tessitura das
memórias...................................................................................................................................62
ST9-História Ambiental, Plantas, Conhecimentos, espiritualidades e cosmovisões
indígenas: diálogos interdisciplinares no passado e no presente...............................................67
ST10-Protagonismo Indígena e Inquisição na América............................................................75
ST11-Protagonismo das mulheres indígenas no passado e no presente....................................76
ST12-Literaturas indígenas nas Américas: memória, patrimônio e resistência.........................84
ST13-Os povos indígenas e o Estado imperial brasileiro: projetos políticos, terras coletivas e
autonomia...................................................................................................................................90
ST14-História indígena e do Indigenismo: entre a narrativa nacional e o desenvolvimento da
nação (XIX e XXI) ....................................................................................................................93
ST15-Emergências Étnicas, Etnogêneses e Retomadas: povos indígenas e processos identitários
nas Américas...............................................................................................................................102
ST16-Povos Indígenas em fronteiras Amazônicas: Saberes em diálogos e processos de
resistências..................................................................................................................................107
ST17-Fronteiras indígenas na América Latina: espaços, culturas, interações.............................111
ST18-Línguas indígenas nas Américas.......................................................................................118
ST19-Apresentação de resultados de projetos pedagógicos nas escolas indígenas e não-indígenas
e de projetos de extensão sobre temáticas dos povos originários no Brasil e na América............121
7
1. TABELA DE PROGRAMAÇÃO
José Ángel
Quintero Weir,
Universidad del
8
Zulia,
Maracaibo,
Venezuela
Potira Terena,
Brasil
Ceddindígena
s, OAB-DF,
Brasil
Antônio
Aebertom da
Silva Macedo,
Advogado
Potiguara,
Brasil
Bruno da
Silva Antunes
de Cerqueira
(Comissão de
Defesa dos
Direitos dos
Povos
Indígenas -
OAB/DF)
9
y procesos Consejo de la
de Nación
identidad Charrúa,
en las Uruguay Isis
Américas Maria Cunha
Lustosa,
LABOTER/IES
A/UFG
Stephen Grant
Baines,
LAGERI no
DAN/UnB,
Brasil
02/11/ Mesa 3: Mayusa Isolina Juciene https://www.youtube.com/watch?v=fl6KMj
2021: Organizaç González Ricarte GA3I0
19h às ões e Cauich Apolinário,
21h30 associaçõe (Liderança UFCG,
min s: indígena do Brasil
enfrentame povo Maia e
ntos nas Presidenta de U
lutas com e Múuk'il,
povos México
originários Puksi'ik'al
na Abya ACMujeres,
Aylá México
Miguel Angel
Gusman, líder
indígena
Nacion XI-
IUY, la
Organizacion
es Fuerzas
Comunales e
Professor
Universidad
Autonoma de
San Luis Potosí
Nuevo País,
Mexico
Almir
Narayamoga
Suruí, Cacique
e coordenador
do Parlaíndio,
Parlamento
Indígena do
Brasil
Kum’tum
Akroá Gamella,
Líder indígena,
Maranhão,
Brasil
10
Saulo Feitosa,
CIMI Nordeste,
Brasil
Antenor Vaz,
Antenor Vaz -
Land is Life -
LIL/Grupo de
Trabalho
Internacional
pela Proteção
PIACI - GTI
PIACI
02/11/ Mesa 4: João Paulo Vania https://youtu.be/qgCuaVgPaHs
2021: Diretório Peixoto Costa Moreira,
19h às dos Índios: (Instituto UFRRJ,
21h30 protagonis Federal do Brasil
min mos e Piauí/Universid
legados ade Estadual do
indígenas Piauí), Brasil
Rafael Rogério
Nascimento
dos Santos
(Universidade
Federal do Sul
e Sudeste do
Pará), Brasil
11
Pedro Henrique
Coelho Rapozo
(NESAM/
PPGICH/UEA)
, Brasil
Dr. Oliverio
Llanos Pajares.
Antropólogo,
Sociólogo,
exprofesor
Principal de la
Universidad
Nacional
Mayor de San
Marcos, Perú
Zetti Gavelán
Gamarra.
Abogado,
exconcejal de
la
Municipalidad ,
de Lima,
expersonero
nacional de
Izquierda
Unida, Perú
12
arqueológi IPHAN/PB,
cos na Brasil
tessitura
das Mirian
memórias Potiguara,
Conselho da
Educação e
OPIP/PB,
Brasil
Jorge Eremites,
UFPEL, Brasil
Marcio Couto
Henrique,
UFPA, Brasil
José Bessa
Freire,
UNIRIO, Brasil
13
do as lutas Ricardo Pinto
e de Medeiros,
emergênci UFPE, Brasil
as
indígenas Glória Kok
no
presente
André Luís
Bezerra
Ferreira,
PPHIST/UFPA
UEMA, Brasil
Marinelma
Meireles
(IFMA), Brasil
14
03/11/ Mesa 12: Angel Mariana https://www.youtube.com/watch?v=4q88P4K
2021: Universida Cahuapaza, Albuquerq 8Cxc
19:00 des, Presidente da ue Dantas,
h às Grupos e Associação Coordenad
21h30 Associaçõe Latino ora do GT
min s de Americana de Indios na
pesquisas História, ALA História,
sobre HIS, ANPHU,
história Universidad Brasil
indígena Pública de El
na Abya Alto, Bolívia
Yala: rede
de Mg. Gabriela
produção Gresores,
intercultur ALAHIS,
al, Coordenadora
ressignific do Congresso
ação, Latino
decoloniali Americano de
dade e História
resistência Indígena,
Professora da
FHyCS-
Universidad
Nacional de
Jujuy,
Argentina
Claudia
Salomon
Tarquini,
Red/RINEPI,
Universidad
Nacional de La
Pampa,
Argentina
Nestor Daniel
Vargas,
Universidad de
Antioquía.
Colombia,
Colômbia
15
12:00 s e Povos Ângelo
h Indígenas Manhká),
e afro- Brasil
brasileiros
Marina
Tavares
(FIEI),
Brasil
Solange
Nascimento
(UFT), Brasil
Tiago Nagô,
MPT-GT de
Povos
Originários e
comunidades
tradicionais,
Brasil
Illapa
Kallisaya,
Universidad
Pública de El
Alto, Bolívia
Morita
Carrasco
Universidad de
Buenos Aires,
Argentina
16
10:00 indígenas (UFMA), UFRPE,
h às na Brasil Brasil
12:00 formação
h do Brasil Ayalla Oliveira
Imperial (UFSB), Brasil
Tatiana
Oliveira
(UESPI), Brasil
André Roberto
de Arruda
Machado,
UNESP, Brasil
Sônia Barbalho
Potiguara,
Brasil
Francisco
Alfredo Morais
Guimaraes,
UNEB, Brasil
Wania
Alexandrino.
UFOPA, Brasil
17
no Delzenir Coordenad
Presente Guegué, Piauí, ora
Brasil
Juciene
Lucélia Ricarte
Pankará, Apolinário,
Pernambuco, UFCG,
Brasil Brasil,
debatedora
Valdelice
Veron Kaiowá
ParlaÍndio,
Brasil
Alyne Kayapó
(Movimento e
grupo de
pesquisa
Wayrakunas,
Brasil e
ParlaÍndio,
Brasil)
Mercês Akroá-
Gamela, Piauí,
Brasil
Graciela
Pereira de
Souza,
APOINME,
Brasil
Walter Moure,
Psicologia –
USP, Brasi
18
Nação. M Caroline Faria
ovimentos Gomes –
e lutas de LEHPI –
homens e UFES/ SEDU-
mulheresIn ES, Brasil
dígenas na
América Mauricio
Latina do Alejandro Diaz
século XX Uribe – LEHPI
aos dias – UFES/
atuais CLACSO,
Colômbia
Elisabeth
Tanoh
Nouaman,
Universidad
Felix
Houphouët
Boigny de
Abiyán, Costa
do Mafil
Luana Souto
Cavalcanti
(UFCG)
Juciene Ricarte
Apolinário
(UFCG)
05/11/ Minicursos - - -
2021:
08:00
h às
10:00
h
05/11/ Lançament Donatto Fabiola https://www.youtube.com/watch?v=nVf809L
2021: o do Livro: Badillo Escárzaga vQ9w&ab_channel=PET-
10:00 Procesos (UNAM), (UAM- Educa%C3%A7%C3%A3o-
h às de México Xochimilco Conex%C3%A3odeSaberes-UFCG
12:00 reconstituc ), México
h ión Lucas Henrique
comunitari Pinto, (IIGEO-
a en las
19
luchas por FFyL-UBA),
la defensa México
de los
bienes
comunes
contra el
extractivis
mo en
América
Latina.
Fabiola
Escárzaga
y Lucas
Henrique
Pinto
(coords.).
México,
UAM-X.
05/11/ Lançament Yolanda García Fabiola https://www.youtube.com/watch?v=L7ekt33r
2021: o do Livro: (UAM- Escárzaga Zic&ab_channel=ComTudoPropaganda
10:00 Reflexione Xochimilco), (UAM-
h às s sobre las México Xochimilco
12:00 violencias )
h estatales y Omar Villareal
sociales en Salas (UAM-
México y Xochimilco),
en México
América
Latina.
Fabiola
Escárzaga,
Yolanda
García,
Yakir
Sagal,
Rosa
Margarita
Sánchez y
Juan José
Carrillo
(coords.).
México,
UAM-X,
2020
05/11/ Lançament Clovis Antonio João https://www.youtube.com/watch?v=JLUBiZ
2021: o de Livro: Brighenti, Pacheco de Mim_8
10:00 O UNILA, Brasil Oliveira,
h às Moviment Museu
12:00 o Indígena Egon Dionisio Nacional,
h no Brasil: Heck, CIMI, UFRJ,
da tutela Brasil Brasil
ao
protagonis
mo (1974-
1988)
05/11/ Solenidade Edson Kaiapó Pablo https://youtu.be/zhJauXqx2cA
2021: de Ibáñez-
14:00 Bonillo
20
h às Encerrame Juan Marchena
17:00 nto Fernández
h
Conferênci
a Magistral
21
2. MINICURSOS
22
4. LANÇAMENTOS DE LIVROS
23
5. CADERNO DE RESUMOS
5.1 SIMPÓSIOS TEMÁTICOS
ST2 - POLÍTICAS INDÍGENAS E INDIGENISTAS ENTRE O SÉCULO XVI AO
XVIII
Coordenadores: Francisco Cancela, UNEB, Brasil
Marcos Felipe Vicente, SEDUC-CE e PPGH-UFF
24
DESNATURALIZAÇÃO INDÍGENA NA AMÉRICA PORTUGUESA E
HISPÂNICA: LIMITES ENTRE A LEGISLAÇÃO E A REALIDADE LOCAL EM
GUERRA JUSTA (SÉC. XVII-XVIII)
25
América portuguesa, essa doutrina serviu de licença para várias guerras movidas contra
os nativos, em especial, a chamada guerra dos bárbaros, caracterizada por vários conflitos
ocorridos nas capitanias do norte do Brasil entre a segunda metade do século XVII e início
do século XVIII. Paralelos às guerras, foram estabelecidos diversos aldeamentos
missionários com o intuito de converter os índios à fé católica e ensiná-los a cultura
portuguesa, dita civilizada. Foi nesse contexto que o mestre de campo do terço de paulista
Manoel Álvares de Moraes Navarro, que estava em campanha da ribeira do Açu, atacou
os índios Paiaku, aldeados na ribeira do Jaguaribe, no ano de 1699. Esse ataque mobilizou
diversos sujeitos da empreitada colonialista em uma disputa que colocava em discussão
a legitimidade da guerra feita contra os Paiaku. Dessa forma, este trabalho busca refletir
sobre a doutrina da guerra justa e sua aplicação ao contexto colonial, em especial ao
episódio citado. Para tanto, refletiu-se sobre os escritos de alguns teólogos e juristas
ibéricos, responsáveis pela adequação e difusão da doutrina da guerra no Novo Mundo,
além de analisar-se algumas leis portuguesa que versam sobre a liberdade dos índios.
Além disso, analisaram-se cartas e outros documentos referentes à devassa movida contra
Moraes Navarro, que pôs em conflitos o governo da capitania de Pernambuco e o
Governo-Geral do Brasil.
26
ESTUDO LEXICOLÓGICO DE UM MANUSCRITO DO SÉCULO XVIII:
CONTRIBUIÇÕES DAS LÍNGUAS INDÍGENAS AO PORTUGUÊS
BRASILEIRO
Pretende-se com esse artigo apresentar parte dos resultados das pesquisas que foram
desenvolvidas durante o mestrado no Programa de Pós- Graduação da Universidade
Estadual de Feira de Santana- UEFS. O presente trabalho se propôs a analisar, por meio
de fontes documentais produzidas por autoridades da Coroa portuguesa, como, Baltasar
da Silva Lisboa, Domingo Alves Branco Muniz Barreto, e o ouvidor Freire de Veras,
dentre outras, algumas questões referentes à política indigenista do Brasil Colonial,
sobretudo no que se refere à implantação do Diretório dos Índios na Vila de Santarém,
27
que corresponde atualmente à cidade de Ituberá- BA, entre os anos de 1758, data oficial
de fundação da Vila, até o período de 1808, correspondente ao ano da chegada da família
real no Brasil. Período em que se pode perceber a adoção de uma nova postura político-
administrativa do governo em relação à colônia, principalmente, com relação às
populações indígenas. Estabelecendo um diálogo com a Nova História Indígena, bem
como revisitando antigos conceitos como colonizador X colonizado, herói X oprimido, o
estudo buscou compreender os indígenas como sujeitos conscientes de sua própria
história, que em vários momentos puderam contribuir ativamente para a formação, mais
a manutenção da sociedade colonial e posteriormente, para a brasileira. Dessa maneira,
percebe-se que por diversos momentos os esforços empreendidos pela Coroa, refletidos
muitas vezes nas políticas indigenistas, a título do Diretório, não surtiram os efeitos
esperados, sobretudo, no que se refere a “civilizar” as populações indígenas da Vila de
Santarém.
28
ST3 - MISSÕES RELIGIOSAS E POVOS INDÍGENAS NA AMÉRICA:
SÉCULOS XVI AO XVIII
Coordenadoras: Cristina Pompa, UNIFESP
Maria Adelina Amorim, CHAM-UNL
29
Indígena. Objetivou-se, ainda, observar a capacidade de protagonismo da Educação
Indígena no contexto da implementação do sistema de missões religiosas pela
colonização espanhola. Para acessar os documentos selecionados foi preciso consultar
diferentes fontes: a correspondência do jesuíta Pe. Juan de Soto, redigida em 1667, foi
republicada na obra “Historia de la Compañía de Jesús en el Perú” (1965), cedida pela
Biblioteca Nacional do Peru. As cartas de Pe. Jullian de Aller, redigidas em 1668 e 1669,
foram republicadas na “Revista Missionalia Hispânica nº XIII” (1956). Esta rara edição
foi cedida para este estudo em versão digitalizada pela Biblioteca Nacional do México.
As cartas dos jesuítas Pe. Pedro Marbán e Pe, Cipriano Barace, enviados à Mojos para
levarem a doutrina cristã aos indígenas locais em 1676 e redigidas em 1679, foram
republicadas no “Boletín de la Sociedad Geográfica de La Paz. tomo 1, nº 2” (1898). A
edição foi disponibilizada para este estudo pela Universidade Maior de San Andreas, na
Bolívia. O registro do jesuíta Pe. Antonio de Orellana, originalmente escrito em 1687, foi
republicado na obra “Juicio de límites entre Bolivia y Perú. Prueba peruana presentada al
Gobierno de la República Argentina, v. X.” (1906), adquirida junto a Biblioteca Nacional
do Peru. O método Etno-histórico foi o aporte teórico privilegiado neste estudo, por se
entender que a heurística fundante deste método supera as tradições científicas de base
positivista e abre novas perspectivas de estudo do protagonismo das culturas indígenas e
suas diferentes formas de manifestação, inclusive na Educação. O trabalho, portanto,
explora os variados conhecimentos e estratégias pedagógicas indígenas que excedem a
epistemologia ocidental e se relacionam com a elaboração das identidades étnicas e de
seu protagonismo histórico no período colonial. Neste sentido, o trabalho se enquadra ao
eixo temático 3) Missões Religiosas e Povos Indígenas na América: Séculos XVI ao XXI.
A expansão para os sertões de dentro, ao longo da segunda metade do século XVII, foi
marcada pela edificação de aldeamentos e constituição de alianças, com o intuito de
garantir segurança no acesso comercial às rotas dos criadores de gado que seguiam da
Bahia ao Piauí. Ordens religiosas foram incumbidas da tarefa de organizar as aldeias,
disciplinar as almas e fornecer mão de obra nas entradas para o sertão. Coube aos padres
da Companhia de Jesus a administração dos Kiriri e no intuito de atender as solicitações,
foram realizados estudos linguísticos, para sistematizar e normatizar as línguas locais e,
assim, tornar possível a comunicação e a pretendida conversão. No presente trabalho,
analisamos tanto esta documentação, quanto as duas obras que visaram normatizar a
língua Kiriri, o Catecismo da Doutrina Christãa na Lingua Brasilica da Nação Kiriri e a
Arte de Grammatica da Lingua Brasilica da naçam Kiriri, escritas pelo padre Ludovico
Vicenzo Mamiani Della Rovere e utilizadas nas aldeias de Mirandela, Saco dos
30
Morcegos, Natuba e Geru, na segunda metade do século XVII, com o objetivo de
apresentar e de discutir as estratégias de conversão empregadas pelos missionários que
atuaram junto aos Kiriri, bem como o processo de tradução cultural que o Catecismo e a
Gramática evidenciam.
O Sertão de Pernambuco está inserido na Bacia do Submédio Rio São Francisco e possui
dois afluentes do mesmo rio, os rios Moxotó e Pajeú. A sua geografia é composta pela
caatinga, pelas ilhas do São Francisco, pela Serra da Baixa Verde (Pajeú) e a Serra Negra
(Moxotó), estes últimos próximos dos Sertões do Ceará e da Paraíba. Na documentação
colonial, o processo da colonização do Sertão do São Francisco foi marcado pela guerra,
catequese e pecuária. Nesse processo ocorreu os contatos entre as populações indígenas
31
do Sertão do Rio São Francisco – chamadas pelas fontes de “Tapuias” – com os agentes
da colonização portuguesa. Nessas fontes podemos encontrar informações acerca da
diversidade etnocultural dos nativos da região e como as diferentes ordens religiosas
atuaram na pacificação e catequização dos “índios Tapuias”, destacando a historiografia
sobre as missões jesuíticas e capuchinhas no Sertão do São Francisco. Contudo, as
Reformas Pombalinas marcaram o fim formal da tutela dos missionários sobre os índios,
a transformação dos aldeamentos em vilas e expulsão dos jesuítas do Brasil. Isso ocorreu
em meados do século XVIII. Todavia, no início do século XIX, o Governo da Capitania
Pernambuco reativou o trabalho de catequese no Sertão do São Francisco, para pacificar
as populações indígenas que viviam no Moxotó e Pajeú, envolvidas em conflitos com os
criadores de gado. Para esse trabalho foram convocados dois frades capuchinhos, os
italianos Vital de Frescarollo e Ângelo de Nisa. Nosso artigo estuda os documentos de
autoridades civis e militares de Pernambuco com evidencias das causas desses conflitos
que justificavam o retorno do trabalho missionários outrora abolido. E também analisa as
correspondências dos citados frades como o governo de Pernambuco. Nas cartas desses
religiosos observamos os seus trabalhos de contato com os índios da região, a fundação
de aldeias e missões, e o testemunho in loco deles das violências praticadas pelos
fazendeiros contra os indígenas.
32
dariam apoio aos navegadores que circulavam pelos rios. Ao fazer uma leitura a
contrapelo dos relatórios dos Presidentes da Província goiana, entendemos que os
ameríndios possuíam uma consciência social do papel que poderiam desempenhar neste
contexto a fim de garantir a sobrevivência.
33
POR CIMA DOS OMBROS DO TEÓLOGO: VARIAÇÕES SOBRE “DIÁRIOS
DE UM TEÓLOGO ÀS VOLTAS COM A QUESTÃO INDÍGENA (1987-1993)”
34
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
35
perspectiva da tradução como encontro entre o missionário anônimo e o intérprete
indígena; se almeja investigar a participação de ambos nesse processo destacando o
espaço de atuação de cada um. Nessa etapa também observaremos a presença de três
línguas nesse texto (além do manao, também o português e a língua geral) e buscaremos
avaliar a atribuição de cada participante da tradução nessas escolhas linguísticas.
Sabemos que o missionário não tinha conhecimento do manao, enquanto o intérprete
manao não dominava o português; a comunicação entre eles se dava pela língua geral.
Como forma de familiarização com os dados linguísticos, distinguiremos o léxico cristão
nas três línguas, testando a possibilidade dessa via metodológica para examinar a
participação de cada um desses atores nas escolhas finais do texto. O objetivo material
desse trabalho é produzir uma Monografia de História sobre essa doutrina manao.
Sociolinguística.
36
ensejo que se encontra o cerne da investigação; um povo caminhante se estabeleceu em
um território e lutou para ali permanecer: por que um povo que caminhava deixou de
realizar a grande caminhada em busca da terra sem males? Os principais levantamentos
feitos até o momento indicam hipóteses que passam pela alimentação e agricultura (a
ausência de escassez alimentar compunha o ideal da terra sem males). O fato é que se
trata de uma passagem cuja análise se faz indispensável, inclusive para pensarmos sobre
direitos indígena e demarcações na atualidade
37
utilizando de interpretações de obras literárias para compreender os fatos e eventos
históricos. Para construção dessa pesquisa, analisou o livro; Canto Geral, sobretudo o
capítulo; Os Conquistadores, que aborda a temática relacionada a chegada dos europeus
na América, também pesquisou a biografia de Pablo Neruda e releituras de seus poemas,
como parte do processo de interpretação do trabalho, utilizando dos trabalhos de Tzvetan
Todorov (um dos principais nomes da historiografia da América), para fundamentar a
construção dessa pesquisa. Sendo assim, o trabalho sustenta a visão dos conquistadores
enquanto dominadores e opressores dos povos nativos da Américas, esses são tidos como
inocentes e frágeis diante do poder dos europeus, indefesos que foram suprimidos pelos
interesses dos estrangeiros, por conseguinte, a igreja católica como instituição que
mantém e proporciona esses processos de apropriação dos povos indígenas. Os processos
de conquistas nesse sentido, consistem em uma formação de uma nova cultura, por
conseguinte o fim da outra, o que demonstra que os europeus não somente suprimiram a
cultura local, como colocaram outra no lugar
38
ST4 - EXPERIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA NA AMÉRICA
EM SUAS DIFERENTES FASES ESCOLARES ATÉ O ENSINO MÉDIO
O desafio do pensamento indígena para o tempo presente se anuncia como uma filosofia
do arco, da flecha e do maracá. De pronto, esse pensamento indígena ancestral atinge
concepções que foram acreditadas como universalizáveis nas sociedades não indígenas.
Especialmente quando observamos as argumentações e reflexões em que esse
pensamento se fundamenta, constatamos a exigência de uma precondição para que uma
única “humanidade” estivesse contemplada com as benesses do mundo. Essa precondição
encontra-se relacionada aos segmentos humanos desclassificáveis, como menciona
Ailton Krenak, para adentrar o “seleto clube da humanidade”. Os enunciados produzidos
pelos indígenas reafirmam a necessidade de rever conceitos que arbitrariamente são
aplicados como universalizáveis, ao mesmo tempo em que não nos damos conta e nem
tempo para refletir sobre o que isso significou para a diferenciada multidão dos
classificados como “incultos”, “incivilizados”, sub-humanos e não-humanos. Trazemos
estas reflexões com o fito de demostrar que os indígenas lançam mão de uma pedagogia
e explicitam assim um currículo próprio em suas narrativas e memórias históricas e
ancestrais. Uma pedagogia forjada por eles mesmos, elaborada e reelaborada com
autonomia, desde a prática das retomadas de seus corpos-territórios, uma pedagogia
contra o esquecimento. Tais elaborações certamente fornecem pistas para pensar as
influências das retomadas indígenas sobre a educação que praticam cotidianamente.
39
problematizações a fim de compreender os (des)caminhos legais para a implementação
da Educação Escolar Indígena na comunidade investigada. Para tanto, explicitamos os
marcos legais em que a Educação Escolar Indígena está amparada e que dão suporte para
a manutenção, funcionamento e existência da educação diferenciada em âmbito nacional,
e mais especificamente, à Educação Escolar Indígena em Alagoas, atinente ao
etnoterritório Wassu-Cocal. A temática aqui exposta, faz parte das contribuições
vivenciadas por um dos pesquisadores durante a pesquisa de mestrado nas escolas
indígenas alagoana. Pensamos que abordar o tema implica considerar e reconhecer os
avanços e retrocessos na Educação Indígena em Alagoas, bem como as epistemologias
praticadas, saberes pedagógicos e outras cosmologias que é a base de sua práxis na
Educação Escolar Indígena. Nesse sentido, a mobilização propositiva da educação escolar
indígena diferenciada, no tempo presente, mostra-se demandada para todos os níveis da
Educação Básica. Com essa compreensão, debatemos sobre os marcos legais,
mobilizações e (re)invenção das práticas curriculares que (re)direcionaram a educação
escolar indígena no etnoterritório Wassu-Cocal perspectivando novos mundos.
40
ESCOLA INDÍGENA NA ALDEIA CAMICUÃ UM EXEMPLO DO DESCASO E
ABANDONO
A forma como a escola chegou para nós povos indígenas, foi extremamente violento,
tanto físico quanto psicológico. No entanto, essas formas de violências não nos tiraram o
desejo e a vontade de aprender o que o karywa sabe e estarmos em pé de igualdade com
eles no sentindo de conhecimento escolarizado/sistematizado. Somente após a
constituição de 1988 é que podemos “sonhar” como modos escolares próprios sem
imposições do não indígena. Após a constituição as coisas não mudaram
significativamente o quanto desejamos, principalmente para os povos do estado do
Amazonas mais precisamente no Sul do citado estado na Aldeia Camicuã. Nessa aldeia
as coisas “pararam” no tempo do branco, não há esforço de construção de um espaço
físico descente e humanizado. Ao vê-la, temos impressão que o tempo parou, não houve
avanços tecnológicos e as salas são quentes com paredes sujas, já sem tintas e muitos
borrões de tantas colagens de papeis, textos e outras coisas que os professores consideram
importante para o aprendizado do aluno. Sendo assim, o presente texto tem o objetivo
principal de apresentar a realidade da escola indígena ofertada aos Apurinã na aldeia
Camicuã.
Esse trabalho trata da importância do ensino da Língua Quíchua nas escolas públicas e
privadas, para diminuir a tendência do preconceito linguístico e discriminação étnica, que
ocorre desde os tempos da colonização. Nos países ameríndios faltam os currículos
escolares inclusivos, onde se deveriam ensinar, no mínimo 3 canções indígenas, dentro
dos primeiros 5 anos da educação básica escolar. Os falantes da Língua Quíchua sofrem
discriminações cotidianas e massivas, apesar de representarem as culturas mais avançadas
da América do Sul: Incas e Pré-Incas. O Ministério da Educação do Peru (DNLO, 2013,
p. 82), afirma, que a língua quíchua está presente em 7 países da América do Sul, como
em Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Brasil, Chile e Argentina. No início do século XX,
60% da população peruana era quíchua falante, contudo no início do Século XXI há
apenas 15% de falantes. Assim acontecem os genocídios linguísticos, históricos, sociais,
culturais, artísticos e epistemológicos. O ensino da Língua Quíchua nas escolas de 3º, 4º
e 5º ano obteve resultados positivos e na UNB Idiomas da Universidade de Brasília, onde
foi lecionado para os estudantes universitários e profissionais de diversas áreas. Segundo
a teoria sociocultural de Vygotsky (1896-1934), as interações são a base para que o
indivíduo consiga compreender (por meio da internalização) as representações mentais
de seu grupo social.
41
ST5 - JUSTIÇA, DIREITOS INDÍGENAS E DIREITOS HUMANOS
Coordenadores(as): André Augusto Salvador Bezerra, USP
Denise Tatiane Girardon dos Santos, UNICRUZ
Pedro Pachagaia, Associação de Antropologia, Bolívia
42
SISTEMA SOCIOEDUCATIVO PARA A POPULAÇÃO JOVEM INDÍGENA:
PLURALISMO JURÍDICO E HERMENÊUTICA DIATÓPICA COMO
FERRAMENTA JUDICIAL
Este trabalho tem por objetivo analisar, sob a perspectiva decolonial, a inclusão de
indígenas, sujeitos e culturas subalternizadas, nos Programas de Pós-Graduação da
Universidade Federal de Goiás (UFG). Trata-se de uma pesquisa bibliográfica na qual
centramos nossa reflexão nos principais teóricos da decolonialidade e interculturalidade;
e documental dado que será analisada a Resolução Consuni 07/2015 da UFG que “dispõe
sobre a política de ações afirmativas para pretos, pardos e indígenas na Pós-Graduação
stricto sensu na UFG”. Desse modo, a questão problema levantada foi: a noção de
inclusão presente na Resolução perscrutada visa também incluir outras epistemologias ou
43
apenas outros corpos? Iniciou-se a presente pesquisa fazendo um breve histórico sobre o
modo de produzir conhecimento em conjunto com os fatores que influenciam no processo
de inclusão social e, principalmente, no acesso aos cursos de Pós-Graduação stricto sensu
da UFG. Como embasamento teórico tomou-se partido das produções de alguns autores
que discorrem acerca dos Direitos Humanos, como Boaventura de Sousa Santos (1995;
1997; 2013); autores latino-americanos que discorrem acerca da Decolonialidade, como
Walter Mignolo (2003; 2008), Ángel Pérez Gómez (1998), Aníbal Quijano (2005; 2010)
e sobre educação escolar indígena e interculturalidade, como André Marques do
Nascimento (2020; 2021), Elias Nazareno (2019; 2020) e Maria do Socorro Pimentel da
Silva (2015; 2017). A partir deste suporte teórico foi possível compreender qual
epistemologia permeia a UFG bem como o processo de inclusão dos corpos indígenas,
até então subalternizados, excluídos e marginalizados nos cursos de Pós-Graduação da
referida instituição.
A presente pesquisa teve como objetivo principal analisar a evolução dos direitos
indígenas no contexto brasileiro, desde a colonização até 2021, bem como, fazer uma
análise documental acerca da construção da UHE Belo Monte, compreendendo aspetos
jurídicos, legislativos, bem como, o impacto socioambiental sofrido pelas populações
locais, com foco nos povos indígenas. O trabalho foi dividido em duas partes: a primeira
parte teve enfoque na colonização, regime militar, promulgação e período pós
Constituição Federal de 1988. Já a segunda parte consistiu em uma análise documental
da UHE Belo Monte. Através dessa pesquisa foi possível conhecer mais a fundo a história
indígena de resistência e luta, principalmente na medida em que estas lutas se refletem
em ações judiciais. Quanto à análise documental, o projeto foi alvo de controvérsias, além
de ter sido marcado por interesses políticos e económicos, em um momento de extrema
polarização no país, que se sobrepuseram à salvaguarda dos direitos indígenas e da
biodiversidade local. Além disso, nota-se um reflexo da herança colonial enraizada na
sociedade brasileira, que se deve à forma como a história é contada: na perspetiva do
colonizador, não do colonizado. Quando a conclusão, foi possível perceber melhor de que
modo se deu o início da colonização. Como os indígenas lidaram com a invasão em seus
territórios e com a doutrinação forçada e como o fato de, de repente, não serem aceitos
como indígenas e precisarem se assimilar a outra cultura. Essas situações se agravaram
com a Ditadura Militar e foram novamente aliviadas com a abertura democrática do país
em 1988. Foi possível concluir ainda o fato de que a esquerda brasileira, durante algum
tempo, fechou os olhos para os possíveis – e irreversíveis – problemas ambientais e
socioambientais envolvendo a UHE de Belo Monte e os povos originários. Assim,
44
acredito que o trabalho se enquadre no eixo temático 5) Justiça, Direitos Humanos e
Direitos Indígenas.
45
ARTE-EDUCAÇÃO E POVOS ORIGINÁRIOS: DIREITOS HUMANOS E
JUSTIÇA SOCIAL
O presente trabalho é resultados parciais de tese de doutoramento que tem como objetivo
identificar a concepção do povo Kayabi-Kawaiweté, localizado na Terra Indígena
Apiaká-Kayabi no Município de Juara - MT, sobre Arte-Educação. Os povos originários
no Brasil têm feito um movimento de resistência para assegurar os seus direitos e tem
sofrido diferentes formas de violências e violações ao longo de nossa história, e na
atualidade os ataques com vistas a retiradas dos direitos têm sido mais constantes. Nesse
contexto a Arte-Educação tem papel central para a articulação entre política, cultura e
identidades dentro das comunidades indígenas. Por isso, a Arte compreendida como
direitos humanos são fundamentais para o fortalecimento cultural e identitário dos povos
originários. As manifestações artísticas dos povos originários podem ser concebidas
como um movimento decolonial que se estrutura na interculturalidade crítica através de
uma educação indígena que é étnica, cultural, identitária, intercultural e cosmológica,
trazendo fortemente os saberes tradicionais e autênticos das comunidades indígenas,
como por exemplo, os mitos de origem, os lugares sagrados, os territórios, ou seja, a
cultura material e imaterial. Nesse sentido, a manifestação artística dos povos originários
é uma questão de justiça social e direitos humanos, pois abarcam a dimensão ética,
cultural, política e social de cada povo contribuindo para o enfrentamento do
silenciamento e invisibilidade imposta historicamente por nossa sociedade que ostenta
fortemente o seu caráter colonial.
Presentaré dos retos para garantizar un mejor acceso a la justicia de las mujeres indígenas
en Colombia. El primero se relaciona con la necesidad de analizar de manera crítica
algunas de las representaciones racistas y estereotipadas que existen sobre la Jurisdicción
Especial Indígena, las cuales dejan entender que las justicias indígenas son incapaces de
contrarrestar las violencias contra las mujeres indígenas. Estas representaciones resultan
perjudiciales para el ejercicio de administración de justicia que han realizado mujeres
indígenas en calidad de autoridades indígenas, logrando fortalecer el acceso a la justicia
de las mujeres y niñas desde un contexto comunitario. El segundo reto se relaciona
precisamente con estas experiencias de administración de justicia: remite a la necesidad
de construir una articulación y coordinación interjurisdiccional entre las autoridades
indígenas y las instituciones como la Fiscalía, el Instituto Nacional de Medicina Legal
para la garantía de los derechos de las mujeres indígenas. De este modo, este texto
46
pretende ser un aporte para reflexionar sobre la oportunidad de construir soluciones
concertadas que permitan garantizar los derechos de las mujeres indígenas.
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
47
movimentação e o cerceamento de direitos civis e humanos. Isto é, a constituição efetiva
de uma vida legal e juridicamente tutelada por terceiros necessita da crença de que estas
pessoas (indígenas) são inaptas ao exercício da cidadania e sustenta-se em um argumento
de duas faces, racial e médico, resultando a Casa do Índio RJ em um espaço peculiar,
direcionado a gerir de modo manicomial uma categoria interseccional de ser humano –
“índios loucos” ou “deficientes”. Assim, questiona-se: que poderes sustentam por meio
século a retirada de pessoas de seu meio social para isolá-las dentro de um prédio urbano
sob uma tutela institucionalizada? A Casa do Índio RJ torna-se, então, um espaço
socialmente demarcado por critérios de racialidade e de doença, para onde são destinados
corpos e mentes para receber tratamento e resguardado de violências históricas em
processo. Porém, uma vez que as crianças, adultos e demais indígenas que por lá chegam,
encontram-se institucionalmente impedidos de performances identitária ou, até mesmo
de reinventá-los, logo, a Casa se aproxima dos processos históricos de dominação como
a integração compulsória e o regime tutelar: não seria então a Casa do Índio RJ promotora
dos mesmos fenômenos que julga reparar? Segundo Goffman, a "carreira moral" do
doente mental é definida entre esquecer quem ele era e tornar-se aquilo que a instituição
produz nele. Assim, os resultados de um estudo etnográfico realizado na Casa apontam
para graves violações de direitos humanos teoricamente interpretados como "processo de
desontologização" e como “etnocídio”. A Casa do Índio RJ, assim, é definida como um
asilo urbano para a administração de vidas indígenas. Uma instituição total neocolonial.
Este artigo busca dialogar a respeito da relação entre e os povos indígenas e o governo do
general Costa e Silva, diante da ditadura civil militar brasileira, levando em consideração
os massacres praticados pelos governos durante todo o período de governo militar (1964-
1985). Destaco a importância de trazer esse tema, com o intuito entender as motivações
dos governos militares, que levaram ao assassinato de mais de 8.500 indígenas em todo
o território nacional, durante o período citado acima. O enfoque desse trabalho, será no
governo do General Costa e Silva (1967-1969) denominado de anos de chumbo, onde
ocorreram os piores eventos de violência e tortura contra os povos indígenas e militantes
que se manifestavam contra o governo militar. O tema em questão busca além do recorte,
navegar nos anseios dos povos originários diante desse processo, suas vivências, lutas e
resistências. Documentos produzidos nesse período destacam detalhadamente como
funcionavam essas relações, some se a isto, relatórios da cruz vermelha, o relatório
figueiredo e boletins informativos da FUNAI. No entanto o debate irá muito além disso,
envolvendo uma complexidade maior do que se imagina, as motivações, leis, decretos,
garantias, tudo isso será dialogado e investigado como um princípio motivador dessas
relações de violência. O porquê das impunidades garantidas a quem cometia esses delitos,
48
e o que era passado para sociedade, através dos veículos midiáticos de informações, e das
próprias declarações do exército brasileiro e da polícia, também será apontado.
49
ST6 - O ENSINO DA TEMÁTICA INDÍGENA E OS 10 ANOS DA LEI Nº
11.645/2008: EXPERIÊNCIAS, DISCUSSÕES E PROPOSTAS
Coordenadores(as): Neimar Machado de Sousa, UFGD
Wania Alexandrino, UFOPA
50
NOTAS SOBRE UMA MOSTRA DE CINEMA DE INDÍGENA NUMA
UNIVERSIDADE PÚBLICA DO SERTÃO DO PERNAMBUCO: POR UMA
DECOLONIZAÇÃO DA GENTE PRÁXIS CINEMATOGRÁFICA E DO ENSINO
51
LEI 11.645/08: EXPERIÊNCIAS A PARTIR DO PIBID.
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
52
aprendizagem. A partir desses resultados, também é possível apontar a necessidade de
métodos mais efetivos de avaliação ao longo do processo de escolha dos livros didáticos.
Este trabalho visa relatar a experiência de inserção da temática indígena em sala de aula
no componente curricular de Sociologia de dois cursos técnicos integrados ao Ensino
Médio (Eventos e Informática), vinculados ao Instituto Federal Farroupilha (IFFar
Campus São Borja), no Rio Grande do Sul. Nesse sentido, foram desenvolvidas duas
aulas expositivas-dialogadas relacionadas ao conceito de cultura – uma das categorias
fundamentais das Ciências Sociais – com a temática “Povos indígenas: presente e futuro”,
cujo objetivo esteve ligado à compreensão do contexto das sociedades indígenas no
presente, refletindo acerca da diversidade social e cultural desses povos, bem como suas
lutas pela preservação de seus saberes, fazeres, histórias e memórias. A abordagem teórica
para tratar deste tema está vinculada à perspectiva intercultural, para quem pretende-se
desconstruir práticas naturalizadas e enraizadas no fazer docente, buscando, portanto,
“[...] estimular o diálogo, o respeito mútuo e a construção de pontes e conhecimentos
comuns no cotidiano escolar [...]” (CANDAU, 2020, p. 14). Na primeira aula, foram
discutidos, através de uma roda de conversa, os equívocos e os preconceitos que ainda
são frequentes no senso comum, a exemplo do uso estereotipado do termo “índio” e do
termo “bugre” – como as/os/es indígenas são chamados no Rio Grande do Sul –, além de
debater a designação das/os/es indígenas àqueles seres humanos não europeus
(“selvagens”, “atrasados” e “bárbaros”) retratados ao longo da História enquanto área de
conhecimento. Na segunda aula, também a partir de uma roda de conversa, mostrou-se a
contemporaneidade dos povos indígenas, apresentando as/os/es alunas/os/es o videoclipe
da música “Não cansei”, da rapper, atriz, LGBTQIA+ e mãe, da etnia indígena Boe-
Bororo, Katú Mirim, que se encontra na plataforma de vídeos YouTube (NÃO Cansei,
2020). Os resultados ligados ao desenvolvimento das aulas entre as/os/es alunas/os/es
foram altamente positivos, já que houve um rompimento com a inferiorização dos povos
indígenas tão presente na sedimentação histórica de preconceitos que desenham essas
sociedades, tanto no senso comum quanto nos livros didáticos. Além disso, considerou-
se que o tratamento da temática indígena em sala de aula, a partir de sua
contemporaneidade, rompeu com uma história tradicional, superficial e estereotipada
colocada pela visão eurocêntrica, conservadora, hegemônica e dominante sobre os povos
originários do Brasil.
53
Unipampa, com o objetivo de abordar a presença das literaturas indígenas nos acervos,
mediações de leitura e atividades nos espaços de bibliotecas, principalmente as públicas
e escolares, incluindo o caráter formativo da biblioteca. A lei 11.645 de 2008, que inclui
no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura
Afro-Brasileira e Indígena", não têm sido de fato um compromisso pelos governos, e isso
pode ser comprovado a partir da ausência das literaturas indígenas nos acervos escolares
como também ausência de projetos que busquem trabalhar as culturas indígenas durante
todo o ano escolar, para além do 19 de abril e ausência de formações voltadas para
professores/as. No âmbito das bibliotecas públicas, que carecem de recursos e
profissionais especializados, também ocorre o mesmo. Profissionais da Educação, ou
mesmo nos currículos de Biblioteconomia, na maioria das vezes discentes não tiveram no
seu processo formativo a inclusão desse tema para que saiam com aptidão a trabalha-lo
em suas práticas profissionais, por exemplo, na hora de fazer uma seleção de acervos.
Desenvolvimento: Em 2021 foram realizadas duas formações com professoras da rede
pública (municipal e estadual), com em torno de 40 professoras participantes, além de
encontro das professoras com professoras/acadêmicas/artistas indígenas para escuta
intercultural. Há em andamento a construção de acervo especializado de literaturas
indígenas. Para além do acervo de livros conforme os padrões editoriais, também buscas-
se provocar a literatura sendo entendida como conceito que transborda o próprio livro.
Resultados: o retorno das professoras têm sido muito positivo no objetivo de proporcionar
espaço de compartilhamento de conhecimento para protagonismo das autorias indígenas
e das pessoas indígenas, principalmente das principais culturas do sul: Kaingang e
Guarani.
54
A EDUCAÇÃO INDÍGENA NO CAMINHO DA ONÇA & RESISTÊNCIA AO
ETNOCÍDIO DE ESTADO
55
objetiva-se apresentar a etnomatemática como abordagem de ensino para o aulas de
Matemática no contexto da educação básica nas escolas indígena das escolas Pataxós-
BA. O estudo justifica-se porque pensar no estudo da matemática em articulação com a
matemática cultural da educação indígena obtida da experiência sociocultural da etnia
Pataxó é importante para assegurar os saberes matemáticos culturais da etnia. O estudo
foi de caráter qualitativo e etnográfico. Os restultados principais evidenciaram:
Constatou-se que os anciãos das aldeias indígenas, por menos que tivessem o
conhecimento acadêmico, é muito comum deles terem noções de tamanho, medida e
distância, pois esse conhecimento matemático cultural era aplicado no cotidiano.
Verifica-se a práxis decolonial dos professores de matemática desta etnia Verifica-se que
a base do estudo da Matemática nas escolas indígenas parte do princípio da escuta com
os anciãos e a partir de narrativas são desenvolvidos jogos e brincadeiras, de maneira
simples e natural, na qual os alunos trabalham várias áreas da matemática. Concluímos
que a proposta da etnomatemática n escola indígena promove a descolonização da
Matemática eurocêntrica e, valoriza os saberes matemáticos tradicionais e, promove o
fortalecimento da identidade étnica e cultural da etnia.
56
METODOLOGIA DE ENSINO NAS AULAS DE MATEMÁTICA NA ESCOLA
INDÍGENA PATAXÓ BOCA DA MATA
57
projeto vem contribuindo de forma significativa para o processo ensino aprendizagem da
matemática no Colégio Estadual Indígena Bom Jesus., espera-se que este trabalho seja
apenas um marco inicial para a criação dos materiais interculturais e etnomatemáticos, no
processo de inserção dos conceitos matemáticos de nossa escola, aperfeiçoando cada dia
no processo de afirmação do ensino-aprendizagem e na qualificação de uma Educação
Escolar Indígena satisfatória.
58
ST7 - AUTONOMIAS, ETNICIDADE E NAÇÃO: MOVIMENTOS INDÍGENAS
NA AMÉRICA LATINA DO SÉCULO XX AOS DIAS ATUAIS
Coordenadores(as): João Gabriel da Silva Ascenso, PUC-Rio, Brasil
Fabiola Escarzoga, Universidad Autonoma Metropolitana - Xochimilco, México
59
participar como ciudadanos de pleno derecho en las grandes decisiones sobre el destino
de su país. La acción de los movimientos sociales indígenas favoreció la llegada al poder
de Evo Morales como primer indígena elegido a la presidencia de su país con mayoria
absoluta. Un evento histórico desde el retorno a la democracia en 1982. En la presidencia
de 2006 hasta su destitución en 2019, emprendió muchas transformaciones bajo el
nombre de « proceso de cambio» y de descolonización para responder a las demandas de
los movimientos sociales y a todo el pueblo boliviano. Sin embargo el ingreso al poder
de un indígena no traduce un gobierno a favor de los indígenas. Al transcurrir el tiempo
aparece la ruptura y el distanciamiento de los movimientos indígenas del gobierno de Evo
Morales. Si él parecía querer construir un proyecto federador ciertos pueblos indígenas
sueñan con la creación de estados andinos libres como el imperio Tahuantinsuyo.
Na década de 1970 no Brasil, o Movimento Indígena foi um dos movimentos sociais que
mais surpreendeu a sociedade brasileira nas lutas contra a ditadura militar e, dentre suas
lideranças, o cacique Xavante Mário Juruna foi uma das que mais se destacou. Assim
como outros indígenas, Juruna passou a fazer viagens frequentes à capital do país, a
princípio, para denunciar as invasões de suas terras por fazendeiros locais e pedir produtos
de necessidade básica. Mas, aos poucos, compreendeu que havia uma rede de poder
interessada em manter uma certa estrutura social que reproduzia as condições de privação
nas quais sua comunidade se encontrava. Percebeu também que os demais povos
indígenas passavam por situações semelhantes em diversos lugares do país. Sendo assim,
de demandas pontuais, suas exigências e críticas passaram a ser direcionadas às políticas
indigenistas do Estado autoritário. E ao entender que decisões políticas tomadas pelos
poderes da República impactavam a vida dos povos indígenas, optou por tentar participar
dessas disputas dentro do poder Legislativo. Candidatou-se e foi eleito, em 1982, para
deputado federal. Era a primeira vez que um indígena ocupava um espaço no Congresso
Nacional. Esse evento histórico não pode ser subestimado já que estamos nos referindo a
uma sociedade formada com base em fundamentos racistas, que considerava os povos
indígenas incapazes de ocupar lugares de poder. As propostas de Mário Juruna como
deputado federal questionaram padrões modernos de hierarquização racial, superando
alguns limites da República de base eurocêntrica. Suas experiências no Congresso não
acabaram com a colonialidade como estrutura social, que continua sendo hegemônica.
No entanto, as tendências decoloniais das propostas do deputado Mário Juruna foram
importantes porque pautaram debates sobre direitos indígenas, contribuindo para a
consolidação de demandas do Movimento Indígena na posterior Constituição, aprovada
em 1988, impactando realidades de forma concreta.
60
OS IMPACTOS DA PLANTAÇÃO DA SOJA SOBRE AS TERRAS INDÍGENAS
DE RORAIMA: DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA DOS WAPICHANA E
MACUXI DA REGIÃO MURUPÚ
Doutorando Eriki Aleixo de Melo
A fronteira da soja se expande sobre Roraima e as terras indígenas são as mais afetadas.
Desde 2018, o lavrado roraimense muda constantemente: os capins, caimbézais,
mirixizeiros, que antes era lugares de vida de veados, tamanduá, tatus e que pertenciam
aos donos invisíveis, agora dão lugar a extensos desmatamentos, que escondem seu fim
dos olhos humanos. E não só a paisagem muda fora das terras indígenas. Na comunidade,
as relações sociais e de trabalho também sofrem alterações. A noção de propriedade e uso
coletivo das terras são temas recorrentes das reuniões comunitárias, e um novo léxico
começa a surgir, tais como “ganhar um terreno” para tratar dos territórios. No âmbito do
trabalho, indígena que servem como mão de obra vendem sua força de trabalho, e são
submetidos a precariedades, recebendo baixos salários, e em contato com agrotóxico.
Nesse sentido, entendo, portanto, a monocultura da soja enquanto fronteira, que na
perspectiva de Oliveira (2016, p.118-119) trata-se de um “mecanismo de ocupação de
novas terras e de sua incorporação, em condição subordinada, dentro de uma economia
de mercado”. Interessa entender os mecanismos de dominação, as relações alteradas e
formas de resistência dos povos indígenas.
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
61
significado desse encontro reside na articulação e esclarecimento sobre a situação
enfrentada pelos povos indígenas no cenário brasileiro, tanto em nível local quanto
nacional, sensibilizando lideranças e unindo forças para a organização do movimento
indígena em todos os âmbitos e níveis. Essa Assembleia Indígena Nacional realizada na
Terra Indígena Uaçá possibilitou a articulação indígena local-regional-nacional, bem
como a próprio fortalecimento do movimento indígena dos Povos Indígenas de Oiapoque.
62
ST8 - PATRIMÔNIO CULTURAL INDÍGENA: ARQUIVOS, MUSEUS E SÍTIOS
ARQUEOLÓGICOS NA TESSITURA DAS MEMÓRIAS
Coordenadores(as): Ana Paula da Silva, Pro Índio - UERJ
Sandra Benites, Museu Nacional, UFRJ
Emanuel Oliveira Braga, IPHAN/PB, Brasil
63
indígenas do Piauí funde-se a memórias, mobilizações étnicas, lutas camponesas e
conflitos fundiários. A afirmação e reelaboração da identidade étnica, utilizada no intuito
de legitimar as demandas territoriais e as políticas recentes em relação aos povos
indígenas constituem exemplos da agência desses grupos, que se mobilizam em prol da
luta por direitos fundamentais. Esse processo histórico conduziu ao desenvolvimento de
relevantes ações políticas e de mobilização comunitária, corroborando com a criação do
primeiro Museu Indígena do Estado do Piauí, o Museu Indígena Anízia Maria (MIA
MARIA). Esse trabalho tem por objetivo apresentar e fomentar discussões a respeito de
um projeto de pesquisa e extensão mais amplo intitulado, em curso, intitulado
“Salvaguarda e aquisição de acervo do Museu Indígena Anízia Maria dos Tabajara
Tapuio Itamaraty (Lagoa de São Francisco, PI)”, que visa apoiar a ação museológica dos
povos Tabajara Tapuio Itamaraty, através do financiamento para a aquisição de
equipamentos, viabilização de cursos de formação de gestão do acervo físico e atualização
do ambiente multimídia do museu indígena mencionado. O Projeto pretende registrar
também as narrativas associadas à ancestralidade indígena, promovendo um diálogo inter
geracional entre as lideranças, juventude indígena, anciões e integrantes do Núcleo Gestor
e Núcleo Educativo do Museu Indígena Anízia Maria (MIA MARIA).
64
TRILHA DA MEMÓRIA: MUSEUS INDÍGENAS EM REDE, PROCESSOS DE
AFIRMAÇÃO ÉTNICA E ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA ENTRE OS
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO.
Nos últimos anos, uma diversidade de povos indígenas tem atuado na apropriação de
processos museológicos próprios, protagonizando a construção de museus indígenas,
espaços de memória e centros de documentação em seus territórios onde estes espaços
tem assumido importante papel nas lutas e resistências dos povos/etnias ao se
constituírem em potentes espaços de reivindicação de uma educação diferenciada, de
valorização dos processos tradicionais de transmissão de conhecimento, de afirmação
étnica, de construção de autorrepresentação e contra narrativas, de produção, difusão
cultural e de luta pela demarcação dos territórios, produzindo processos de autonomia.
Atualmente o envolvimento dos povos indígenas nesse projeto de construção de espaços
específicos que representa a sua cultura, tem sido em torno de uma consciência sobre a
importância de se preservar seus ritos, saberes, fazeres e ecossistemas presentes em seus
territórios. O presente trabalho tem o objetivo de mostrar como os povos indígenas no
Brasil tem se apropriado da ferramenta museu para fortalecer suas lutas em torno de seus
territórios e construído relações diante da criação de redes de memória.
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
O Ara GuydjePya’u (ritual de ano novo) acontece na Terra Indígena Toldo Chimbangue,
em Chapecó, Santa Catarina. Ele performatiza o fim de um ciclo da natureza, marcado
pelo inverno, e semeia bons presságios e sentimentos para que a vida floresça plena tal
qual a brotação que a primavera promove. Os Guarani, protagonistas do ritual foram
expulsos da terra de Araça’í, município de Saudades, SC. Eles vivem, há mais de vinte
anos, de modo provisório com os Kaingang do Chimbangue que os acolheram de modo
solidário. Os processos sociais concretos decorrentes dessa expropriação marcam essa
situação histórica. Os Guarani apesar da diáspora e das incertezas quanto ao retorno à
terra tradicional, resistem de distintas maneiras para manter seu modo de vida. A
realização dos rituais se traduz em força e potência para a união e fortalecimento do grupo
e a revitalização das memórias ancestrais. As interações em campo foram mediadas pela
família Moreira e Barbosa, a observação participante aconteceu fundamentalmente nas
atividades desenvolvidas na Opy (casa de reza) acompanhando todas as etapas da
preparação e realização do ritual. A primeira etapa consistiu na preparação da Opy, os
xeramoy (anciãos), o karai e os adultos transmitem os repertórios e modos de
conhecimento Guarani para os participantes do ritual. É dedicado uma atenção especial
às crianças e jovens que são iniciados nas coletas das flores, pintura dos símbolos
sagrados, preparação do fogo, dos alimentos, na elaboração dos objetos rituais e na
65
seleção das roupas. A realização das atividades é acompanhada pela explicação dos
significados simbólicos do sagrado Guarani, e sobretudo, de informações sobre a
importância política de se cultuar o modo de ser Guarani, como uma expressão de
resistência às influências não índias.A segunda etapa do ritual consiste na experiência de
comunicação com Nhanderu que acontece através do petyngua (cachimbo), dos cantos e
danças sagrados. As forças da natureza são evocadas para realizar a purificação do corpo
e do espírito. O momento é marcado pela gratidão em relação à vida e as experiências
partilhadas durante o ano que está a acabar. Do mesmo modo, são enunciados os pedidos
de proteção e força para o novo cicloque se inicia.
Tendo em vista a aproximação de um grande evento que reúne todo Povo Potiguara/PB:
Novenário e Festividades em Honra ao venerado São Miguel Arcanjo, o qual nosso povo
tomou para si, a proteção e a coragem do santo, de forma que o mesmo passou a ser o
“Padroeiro dos Potiguara”, ao qual durante seus festejos, nossos antepassados sempre
dedicaram seu tempo e empenho na realização de seu novenário. Evento este, que é pura
riqueza da tradição Potiguara e da oralidade que vem se perpetuando na memória do nosso
povo, como parte integrante, permanente e indissociável dessa paisagem que hoje
emoldura e embeleza esse cenário que já foi palco de batalha dos nossos ancestrais, bem
como dos alicerces onde está encravada toda nossa história, que nos remete a um passado
específico, presente em nossas memórias e dos moradores mais antigos desse lugar; e nas
histórias contadas por eles para seus filhos, netos, etc. História essa, que envolve lutas e
exploração do nosso povo, que reconstruiu a história desse lug. E entendendo que a
presença dos costumes, cultura e religiosidade de um povo, é a forma pela qual podemos
fortalecer nossa história, a qual é alimentada pela memória dos nossos ancestrais, a partir
dos relatos, mantem-se viva toda história, suas crenças e fé. As lembranças de uma
história vivida que se perpetua através dos tempos. Diante de toda esta historicidade,
achamos pertinente, e de grande relevância trabalharmos com os nossos alunos a
importância desses eventos, como forma de manter viva , nossa Identidade Cultural, e o
orgulho de fazer parte desse cenário que compõe essa grande história. Este trabalho,
propõe desenvolver uma análise da importância do processo histórico da Igreja de São
Miguel Arcanjo, como marco histórico de grande importância para o Povo Potiguara.
Monumento este de arquitetura Barroca de linhas simples, situada na aldeia com mesmo
nome, herança das Missões Jesuítas que hoje perpetua através dos novenários e
festividades em homenagem ao Padroeiro dos Potiguara. O mesmo tem como resultado
final, uma marcha cultural pela comunidade, com faixas e cartazes, levadas pelos nossos
alunos, com frases que buscam conscientizar toda comunidade sobre a importância desse
nosso patrimônio. Encerrando com uma exposição dos trabalhos desenvolvidos pelos
alunos sobre o tema trabalhado e fotografias e objetos que remetem à historicidade
envolvida nesse contexto.
66
ST9-HISTÓRIA AMBIENTAL, PLANTAS, CONHECIMENTOS,
ESPIRITUALIDADES E COSMOVISÕES INDÍGENAS: DIÁLOGOS
INTERDISCIPLINARES NO PASSADO E NO PRESENTE
Coordenadores(as): José Otávio Aguiar, Doutor em História e Culturas Políticas pela
UFMG
Ana Maria Monsalve Cuartas, Doutora SUSFOR, Universidade de Lisboa
Na relação ser humano-natureza, caminha-se cada vez mais longe desta última. Este
distanciamento, além de causar o adoecimento de toda uma sociedade, impulsiona um
tensionamento depredador de diferentes modos de vida. Estes modos de vida, opostos,
podem se tornar complementares à medida que estabelecem com-versas interculturais, tal
como a oposição complementar a partir da etnia Kaingang. É possível pensar também na
complementaridade da psique, deste humano que chama a natureza de “meio” ambiente,
e que vive também numa “meia” humanidade. Um humanismo que se encontra em crise,
sob um céu que ameaça cair quando da não unicidade de quem está abaixo dele, sobre um
chão que ameaça ruir quando da não unicidade de quem está acima dele. Ao negar modos
de estar-sendo, característico da colonialidade e do exercício de poder de uma metade da
humanidade para com a outra. Buscar, portanto, por uma poética intercultural que
promova com-versas interculturais a partir de uma fenomenologia autoetnográfica, uma
escuta profunda para com os indígenas e uma mudança de ação por parte dos não-
indígenas faz-se imprescindível. Também, na com-versa entre a psicologia junguiana e a
filosofia, um pensar nas raízes que levam a um inconsciente cultural destruidor da mãe
terra, e, por outro lado, uma filosofia de vida, pautada no bem-viver que encontra na
espiritualidade a cura da desconexão com a natureza e a vida. No tempo circular dos
indígenas, tal como a poética faz circular os sentidos em educação e na vida, é plausível
a construção de um ethos planetário, um pensar em um outro mundo possível, que por
sua vez, supõe estabelecer uma com-versa dos modos de estar-sendo no mundo, supõe
reciprocidade com a natureza, supõe mudanças e sonhos.
67
ASTÚCIAS SERPENTINAS, OU PARA UMA ECO-ESTÉTICA DO
IMPREVISÍVEL
Doutoranda Vivian Catarina Dias (Unifesp)
68
Desde então, novos subagrupamentos têm sido propostos, gerando um refinamento do
agrupamento clássico das línguas Tupí. O ramo Tuparí é o segundo maior dentro da
família linguística Tupí. A coleta da castanha na Amazônia Brasileira é recorrente entre
os povos indígenas, inclusive os Tupari. Porém, cada etnia tem sua maneira de realizar a
coleta da castanha, bem como, suas tradições e costumes na realização da atividade. Esse
estudo teve como objetivo registrar a coleta da castanha e refletir sobre sua importância
para o povo Tupari da Terra Indígena Rio Branco em Rondônia. Dentre os procedimentos
metodológicos, destaca-se a revisão bibliográfica e o levantamento documental, tendo
como objeto de estudo o Estudo de Componente Indígena (ECI) e relatórios de andamento
de programas que envolvem a Terra Indígena Rio Branco. A atividade de coleta da
castanha é realizada por homens, mulheres e crianças que adentram na Floresta
Amazônica, realizam a coleta e rompimento dos ouriços fornecidos pelas castanheiras,
transporta os frutos até a aldeia e efetivam os procedimentos de lavagem, seleção e
secagem da castanha. Essa tradição está inserida na vida do povo indígena Tupari, nos
seus costumes, em sua cultura e tradições, por isso precisa ser respeitada e preservada.
O presente artigo tem por objetivo apresentar o mito e o rito como aspectos da
espiritualidade indígena potiguara que reverberam na produção de garrafadas. O foco do
estudo está direcionado à Aldeia São Francisco, localizada no município de Baía da
Traição estado da Paraíba. A etnografia e netnografia metodologias adotadas no âmbito
das investigações serviram de base para coletar informações sobre a temática que
objetivamos construir. Falar da dimensão espiritual dos ressurgentes que habitam o litoral
norte do estado é dialogar com as ações cotidianas sobretudo as atividades realizadas em
comum no interior da aldeia de modo que as práticas ritualísticas ali existentes juntamente
com os ritmos da natureza com sua fauna e flora impulsionam o universo de subjetividade
e assumem dimensão de espiritualidade no interior da tradição indígena. Os Potiguara
trazem consigo heranças de uma cultura milenar que ainda hoje se move na arte, nos
rituais e na produção de remédios caseiros. Os interlocutores do lugar evidenciam que as
plantas trazem cura que emana da terra, lugar que segundo eles é de deleites e de
reverência aos antepassados Potiguara. Neste sentido o mito e o rito enquanto cernes
dessa construção subjetiva estão inseridos no contexto em que se movem cosmovisões,
cosmologias e saberes existenciais pois a vegetação e seus ritmos cósmicos alimentam
não só expectativas de cura no indígena, mas trazem sobretudo a certeza da própria
imortalidade.
69
AYAHUASCA: UMA ERVA DE PODER NA PROMOÇÃO DE CURA E
CONEXÃO COM O SAGRADO UMBANDISTA NO SUDOESTE DA
AMAZÔNIA
Mestranda Carla Simone de Oliveira Peres (UFAC)
70
ensino aprendizagem e desenvolvimento. Apesar dos muitos conhecimentos divulgados
sobre os indígenas no Brasil, não há efetiva divulgação das vivências indígenas em suas
relações com territórios, natureza, história, espiritualidade, cosmovisão/natureza e
etnicidade. Este trabalho focaliza especificamente o não apagamento das memórias dos
povos originários, dando a importância necessária para a valorização de povos
injustiçados com a exploração instaurada desde a chegada de povos europeus em território
brasileiro. O objetivo do presente estudo é ampliar as vivências adquiridas na aldeia,
partindo de espaços democráticos, educativos, com uma abordagem audiovisual que tem
como o Cineclube com um instrumento pedagógico. A proposta parte das interações com
a comunidade da aldeia e da tentativa de responder a demandas colocadas pela
comunidade para o trabalho com jovens e crianças. Considerando uma perspectiva de
engajamento com a realidade, o projeto pretende a criação de uma programação com
temática diversa que aborde temas da atualidade perpassados pela proposta do Bem Viver.
Os dados serão coletados a partir de encontros na Aldeia, em espaços educativos com
educadores, crianças, adolescentes e adultos indígenas na preparação, condução e
reflexão sobre eventos de cineclube. Esta comunicação especificamente apresentará as
primeiras etapas da entrada na aldeia, a definição dos trabalhos conjuntos, a escolha pelo
trabalho com o cineclube, além de cenas do primeiro encontro do cineclube realizado em
setembro de 2021.
A temática das missões jesuítico-indígenas tem sido amplamente abordada ao longo das
últimas décadas, evidenciando a importância deste período nos processos históricos de
países como Paraguai, Argentina e Brasil e dos povos indígenas que fizeram parte desta
história. Não é novidade que os jesuítas legaram uma grande diversidade de documentos,
como cartas ânuas, dicionários e diários, nos quais são possíveis analisar as relações de
alianças e/ou conflitos que se estabeleceram entre indígenas e missionários, questões de
convivência cotidianas, conflitos ontológicos, características e adversidades ambientais,
entre outros. Alguns eventos narrados pelos jesuítas evidenciam a ocorrência de conflitos
entre grupos Guarani que não concordavam com os ensinamentos e imposições dos
jesuítas e transformações ambientais que desencadeavam cobranças dos indígenas
missioneiros aos padres para resolver a situação. Propomos ler estes eventos a partir do
estabelecimento de relações cosmopolíticas entre lideranças Guarani e não humanos; e da
História Ambiental para entender as transformações ambientais causadas pela formação
da organização socioeconômica das reduções jesuíticas. Para fundamentar o diálogo entre
as duas abordagens utilizamos o conceito de “encontros pragmáticos” proposto por
Mauro de Almeida. Os documentos utilizados para a realização da presente pesquisa
71
consistem em Cartas Ânuas compiladas por Jaime Cortesão (1969), disponíveis na
Biblioteca Nacional e manuscritos pesquisados no Centro de Pesquisas Históricas da
PUCRS. A análise se fundamenta em autores da Antropologia, Histórias das missões
jesuíticas e História Ambiental. Os dados encontrados demonstram que as roças
missionais sofreram com ataques de roedores, insetos e estiagens, gerando períodos de
fome e conflitos nas missões, ao mesmo tempo, lideranças xamânicas estabeleceram
alianças com animais e espíritos para lutar contra a presença dos jesuítas. Em
contrapartida, os jesuítas recorreram as práticas cristãs, como procissões, missas e
penitências para lutar contra as “pragas ambientais”
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
72
O ENSINO DA CULTURA INDÍGENA ATRAVÉS DA HISTÓRIA DA
ALIMENTAÇÃO PARA ALUNOS DO 7° ANO DO FUNDAMENTAL.
A cultura indígena é bastante diversificada e possui um enorme valor social. Ela está
interligada com todas as outras culturas na sociedade brasileira mais do que podemos
imaginar, inclusive nas nossas práticas cotidianas e através dos alimentos que
consumimos. Não podemos mais tratar a história dos povos indígenas como algo que
ficou no período colonial e como uma herança deixada pelos nossos antepassados.
Precisamos desconstruir os estereótipos que foram perpetuados no nosso país durante
tanto tempo, principalmente nas escolas. Estas, continuam reservando um lugar ao
indígena num passado remoto e um tema exclusivo às comemorações do Dia do Índio.
Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é apresentar uma proposta para se trabalhar
a questão da cultura indígena no ensino fundamental, através da história da alimentação,
e do conceito de cultura e etnicidade evidenciados por Frederick Barth. Para tanto, além
do levantamento bibliográfico, foram realizadas entrevistas orais com dois indígenas
Potiguara: Daniel Potiguara que é professor indígena e Caboclinho, antigo cacique geral
dos Potiguara, para saber sobre as práticas alimentares pessoais e da realidade atual do
povo Potiguara e como eles tem lidado com o consumo de outros alimentos não-
indígenas, industrializados, fastfoods etc. Por fim, verificou-se que na atualidade tem sido
muito corriqueiro nas aldeias Potiguara a entrada de alimentos industrializados e que isso
está trazendo sérias consequências para a saúde dos indivíduos desses lugares. O que nos
mostra que isso não é um motivo de privilégio para eles como muitos podem pensar. Na
verdade, o fato deles comerem esses tipos de alimentos está mais relacionado ao costume
inserido e estimulado pelos tempos modernos do que por escolha própria. Além disso eles
expressaram a importância dos alimentos naturais e destacaram que é muito frequente
para o povo Potiguara ingerir peixes e crustáceos, o que se pode relacionar claramente a
etimologia da própria palavra Potiguara, que significa comedor de camarão.
O Leste da Capitania de Minas Gerais – entenda-se por essa expressão toda a região entre
a atual Zona da Mata Mineira e a região Jequitinhonha-Mucuri-Doce – permaneceu
73
incólume a uma ocupação promovida de forma sistemática e intensiva, durante todo o
período áureo da mineração setecentista. Coberta pela densa Mata Atlântica e habitada
por populações indígenas miticamente reportadas como antropófagas, que para ali haviam
se refugiado nos três primeiros séculos de colonização, a região funcionava como
“barreira verde”, para a proteção contra a realidade do contrabando e a possibilidade de
uma invasão externa. A partir da segunda metade dos setecentos, com o declínio das
jazidas auríferas da região mineradora, levas cada vez mais significativas de luso-
brasileiros dirigiram-se para este “leste selvagem”, sob o incentivo do Estado e debaixo
de uma forte guerra indígena. Para reprimir os ataques das nações dos Puri-Coroado e dos
Botocudos, que expulsavam os colonos das terras já ocupadas, a metrópole construía
postos militares estrategicamente situados: os chamados presídios e quartéis. Estes, no
entanto, mostravam-se insuficientes para a defesa dos colonos e o aldeamento dos índios.
Neste embate entre a sociedade mestiça luso-brasileira e as diversas etnias indígenas
envolvidas nessa “zona de contato colonial”, destacaremos, em nossa pesquisa, o que
permanece da forma como os índios Puri-Coroado da Zona da Mata Central manejavam
os recursos botânicos para promover guerra e medicina. Nossas fontes remontarão às
diversas literaturas de viagem, à memória oral Puri e à arqueologia em busca de dar
protagonismo aos sujeitos indígenas, ao seu conhecimento dos biomas e biotas locais e à
sua sabedoria de experimentação, com frequência negligenciada nos relatos luso-
brasileiros e europeus.
74
ST10-PROTAGONISMO INDÍGENA E INQUISIÇÃO NA AMÉRICA
Coordenadores: Ângelo Adriano Faria de Assis, UFV, Brasil
Almir Diniz de Carvalho Júnior, UFAM
Nas últimas décadas, os estudos sobre o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, sua ação,
representantes, vítimas, apoiadores e críticos têm ganhado destaque e dado origem a
estudos os mais variados, com novas perspectivas, metodologia, recortes e focos de
análise. A democratização do acesso às universidades e os avanços tecnológicos
permitiram, da mesma forma, que estes estudos se espalhassem por instituições de Norte
a Sul do país, acabando com a concentração que existia em grandes centros. Um dos
ramos destes estudos que têm sido cada vez mais visitado envolve a presença de indígenas
envolvidos com o Santo Ofício. As documentações referentes às visitações inquisitoriais
à América portuguesa nos séculos XVI, XVII e XVIII apresentam um leque de denúncias
e confissões envolvendo estes indivíduos. Nesta comunicação, pretende-se apresentar um
panorama destes casos, citando alguns dos estudos recentes e novas perspectivas de
análise para os estudiosos interessados no assunto
75
ST11 - PROTAGONISMO DAS MULHERES INDÍGENAS NO PASSADO E NO
PRESENTE
Coordenadoras: Juciene Apolinário (UFCG)
Graça Graúna (UPE)
76
aclamadas pela crítica literária chilena contemporânea e exerce uma forte resistência
política tanto anticolonial como feminista, por esses dois vieses traçaremos um percurso
de análise literária que pince os rastros de resistência em poemas de duas obras Guerra
Florida e a obra Río Herido. O É importante poderarmos que a luta das mulheres Mapuche
é para além da sua própria condição feminina e indígena, mas sobretudo uma luta contra
todos os sistemas dominantes que atravessam seus corpos, é o que notaremos nos poemas
selecionados. Assim, observa-se através desse corpus literário a expressão do corpo
fraturado da mulher indígena, que, por isso mesmo em resistência, tensiona a memória
sobre o trauma colonial, atravessados pela ancestralidade, questões de gênero, identidade
e relações com a morte, fazendo que a literatura seja potencializadora da existência sob
as vias da resistência.
Este estudo tem por objetivo discutir os estereótipos sociais que na sutileza discursiva e
nas ações veladas “condenam as mulheres indígenas a adotarem apenas aldeias para
viverem e fazer desses espaços a única forma de moradia aceitável pela sociedade. Com
isso refletir: Quem são os sujeitos/sistemas que fomentam a segregação dessas mulheres?
Será que não entendem que o lugar das mulheres indígenas é onde elas quiserem estar? E
que os espaços urbanos são privilegiados com a presença dessas mulheres com saberes e
valores pluridimensionais que muito contribuem frente ao universo da diversidade
humana? Na tentativa de responder a tais indagações valeu-se da narrativa de três
mulheres indígenas moradoras da cidade de Rio Branco-Acre há mais de 10 anos. No
contexto histórico da colonização europeia, os povos originários sofreram graves
consequências como extermínio, dizimação por doenças contraídas dos brancos, violação
de seus modos de vida desconstrução discursivo-prática de suas ancestralidades, cujas
ações dos invasores designaram condições/limitações de espaços sociais e geográficos
onde poderiam viver os grupos étnicos: As terras demarcadas cuja inversão de direitos
restringiu seus proprietários legítimos do seu livre uso. As mulheres brasileiras foram
afetadas em cheio pelo patriarcalismo que sistematizou o “lugar das mulheres” (do lar)
submissas a seus pais ou maridos, inferiorizando-as, e essa cultura dos brancos influencia
no trato dado as mulheres indígenas como se elas não tivessem direito de escolher onde
morar. Concluiu-se que nos últimos anos as mulheres de todas as raças e etnias vêm
resistindo às práticas de opressão na direção da contra colonização. Assim, debates que
colocam as mulheres indígenas como protagonistas de suas manifestações genuínas, nas
quais elas reagem a todos os tipos de preconceitos e discriminação por meio da oralidade,
lutas políticas narrativas, interculturalidade e escrita, serão de grande relevância social.
77
ANA DA LUZ FORTE DO NASCIMENTO A “FEN’NÓ”: INSPIRANDO O
PROTAGONISMO DAS MULHERES KAINGANG
78
como elas vivenciam a experiência de liderança e como articulam-na com o lugar social
do feminino no contexto das relações sociais de sexo e gênero estabelecidas no interior
das comunidades. De modo a pensar em que medida é possível, mapear alguns
condicionantes sociais estabelecidos pelo lugar do feminino na comunidade em
contraposição ao patriarcado e em diálogo com as articulações políticas de mulheres não
indígenas que versam acerca dos debates feministas, no sentido de historicizar esse
diálogo e de problematizar a maneira como essas mulheres são afetadas por essas
interlocuções e como isso afeta suas práticas políticas. Procuro lançar mão de uma
abordagem de pesquisa identificada com uma literatura pós-colonial e decolonial e do uso
da história oral como instrumentos de acesso à experiência de vida dessas mulheres, de
modo a trazê-las para dentro da narrativa historiográfica como protagonistas de uma cena
social na qual algumas performances de gênero, por exemplo, são reformuladas
relativamente aos modelos tradicionalmente identificados como patriarcais, de modo a
pensar tais experiências como formas de resistência do “outro”, aqui assumindo a híbrida
identidade da mulher indígena nordestina, abrindo caminho para inúmeras possibilidades
de análise que tocam as especificidades dessa identidade.
Este trabalho apresenta algumas reflexões sobre a agência política das Mulheres
Kaingang da Terra Indígena Toldo Chimbangue no município de Chapecó – SC. Parte
das conclusões aqui apresentadas são resultados obtidos em minha pesquisa de mestrado
em História sobre o protagonismo feminino na Terra Indígena Toldo Chimbangue entre
os anos de 1980 a 2019, articuladas à um evento mais recente que é a posse de Iara
Campolin como vereadora suplente na Câmara Municipal de Chapecó, em outubro de
2021. Iara é a primeira indígena a assumir um cargo no legislativo municipal. Ao ocupar
esse espaço, Iara além de representar os Kaingang que vivem em Chapecó, reverencia o
legado deixado por suas ancestrais, um legado de luta por direitos, em especial o direito
à terra. Nas últimas décadas, percebe-se um grande envolvimento das mulheres indígenas
não só no movimento indígena ou dentro de suas comunidades. As mulheres têm
reivindicado suas inscrições em espaços públicos e de poder também na sociedade
nacional. Acreditam que seus envolvimentos nesses ambientes de relevância social são
fundamentais para ampliar os debates sobre os direitos indígenas. A nova geração de
mulheres Kaingang no Toldo Chimbangue têm frequentemente acionado a linguagem do
direito, buscando a manutenção de direitos conquistados e, principalmente, a ampliação
do acesso a esses direitos. Tanto o envolvimento das mulheres Kaingang no processo de
luta e conquista da Terra, quanto suas atuações em defesa de seus direitos, e mais
recentemente a posse de uma Kaingang ao legislativo municipal, demarcam a agência
política das mulheres do Toldo Chimbangue em momentos e contextos diversos.
79
MULHERES INDÍGENAS EM MOVIMENTOS GLOBAIS:
AUTORREPRESENTAÇÕES HISTÓRICAS E PROTAGONISMO POLÍTICO.
80
enemy’s language: contemporary Native Women’s writings of North America (1997),
organizado por Joy Harjo e Gloria Bird; e Contrapontos da Literatura Indígena
Contemporânea no Brasil (2013), de Graça Graúna, para pensar a reescrita/apagamento
de fronteiras impostas pelos colonizadores, no fortalecimento das lutas de mulheres
contra o sistema-mundo patriarcal/capitalista/colonial/moderno.
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
81
NETAS DA FEN’NÓ: LUTANDO POR CIDADANIA NAS OCUPAÇÕES
ESCOLARES DE 2016
Graduanda Eloise Kist Hoss (UFFS)
Nesta apresentação busco refletir sobre a participação das jovens mulheres Kaingang e
Guarani que residem na Terra Indígena (T. I.) Toldo Chimbangue, situada em Chapecó-
SC, no movimento estudantil de ocupação escolar de 2016. Com base no trabalho de
campo – exercício que conjuga métodos de observação participante, entrevista e escrita
de diário de campo –, realizado durante os meses de abril, julho, setembro e outubro de
2017, essa pesquisa foi realizada para a escrita da monografia de conclusão do curso de
Licenciatura em Ciências Sociais. Através da descrição etnográfica das práticas de
resistência juvenil e a agência feminina observada nas interações com estudantes na
Escola Indígena de Ensino Fundamental (EIEF) Fen’Nó e a partir das entrevistas
realizadas com quatro estudantes, mulheres, jovens, Kaingang e Guarani, na faixa etária
entre 13 e 18 anos, analiso as dimensões da experiência étnica (BARTH, 2005) e da
agência feminina (ORTNER, 2006) vivenciadas na mobilização estudantil de ocupação
escolar realizada na EIEF Fen’Nó em outubro de 2016. Minha primeira visita à T.I. Toldo
Chimbangue ocorreu durante a Semana Cultural realizada na escola no ano de 2015.
Ainda em 2016, visitei novamente a escola durante Semana Cultural no mês de abril e
também no mês de outubro, quando realizei uma atividade de cine debate com o
documentário “Índio Cidadão?” (KAIOWÁ, 2014) durante a ocupação do movimento
estudantil. Nas práticas e performances observadas na Semana Cultural e nas observações
participantes realizadas na escola, as/os estudantes interagem com os conhecimentos
ancestrais, com os sentidos e significados através dos quais também constroem suas
identidades. Busquei descrever as participantes e entrevistadas, as “netas da Fen’Nó” que
atuaram como protagonistas na mobilização estudantil, através de suas categorias de
autorepresentação, ou seja, sob a perspectiva do direito de falar por si e de falar de si.
Dessa forma, as estudantes evidenciaram a importância das suas ações como um exercício
da cidadania e destacaram neste processo de mobilização uma união mais efetiva entre
estudantes, professores, pais e lideranças. Essa experiência propiciou o reconhecimento
por parte das/os estudantes dos repertórios reiterados que marcam a história de luta dos
ancestrais. Com base no diálogo realizado com as estudantes, emergiram os relatos de
reconhecimento da ancestralidade Kaingang na memória das “netas”, em sentido
simbólico, de Ana Fortes do Nascimento, a Fen’Nó.
82
nos levou a refletir, especificamente, sobre a atuação das mulheres indígenas do Amapá
e norte do Pará no enfrentamento ao novo coronavírus. As mulheres indígenas são
responsáveis pelo cuidado da casa e da família, o que inclui, adicionado ao trabalho
doméstico e da roça, a preocupação constante com o bem-estar dos seus filhos e
familiares. Com a chegada da covid-19 entre os povos indígenas coube a estas mulheres
o papel central de cuidar dos membros de sua família que foram contaminados pelo vírus,
e aplicar as medidas de prevenção ao contágio. O objeto de análise deste estudo é o livro
“Fala Parente! A covid-19 chegou entre nós”, publicado pelo PET-Indígena da
Universidade Federal do Amapá e que reúne 100 relatos de indígenas do Amapá e norte
do Pará sobre como a covid-10, compreendendo o período de 21 de maio a 29 de agosto
de 2020. Do total de relatos, 51 foram realizados por mulheres indígenas: idosas, jovens,
profissionais de saúde, lideranças indígenas, filhas e netas, mas, principalmente, mães.
Nos relatos o cuidado adquire uma dimensão mais ampla, pois sai da esfera familiar e se
estende a toda a aldeia, neles as mulheres não falam de si enquanto indivíduo, mas sim
vinculado a um coletivo, a sua família, seu povo. Entre as temáticas abordadas pelas
mulheres indígenas em seus relatos destacamos: (1) os remédios tradicionais utilizados
para combater a covid-19; (2) a necessidade do distanciamento social e o impacto em suas
famílias e aldeias; (3) o atuação das mulheres indígenas enquanto profissionais de saúde
e/ou lideranças de suas comunidades e (4) as incertezas e o medo dessas mulheres, que
apesar de tanta luta também se sentiam incapazes de garantir a segurança de suas famílias,
ameaçadas por um inimigo invisível Este trabalho procura visibilizar o papel de tantas
mulheres indígenas que não mediram esforços para resistir a pandemia e ajudar suas
famílias e comunidades.
83
ST12 - LITERATURAS INDÍGENAS NAS AMÉRICAS: MEMÓRIA,
PATRIMÔNIO E RESISTÊNCIA
84
contemporânea para a infância e as implicações para a constituição de leitores literários
em escolas indígenas. Para uma melhor compreensão da realidade que envolve estas
pesquisas, definimos o período de 1999, por ser considerado o ano em que foi defendida
a primeira tese de Doutorado relacionada à atual literatura de autoria indígena no Brasil,
até os dias atuais. Para esse levantamento escolhemos o Catálogo de Teses e Dissertações
da CAPES, porque é um portal que contém todas as teses e dissertações brasileiras, e
utilizamos os termos “Literatura indígena brasileira contemporânea” e “Literatura
indígena infantil.” A partir disso, foram encontrados 29 trabalhos, sendo 7 teses de
Doutorado e 22 dissertações de Mestrado, evidenciando que existem poucos trabalhos
que tratam, especificamente, sobre a temática da literatura indígena brasileira
contemporânea para a infância. A análise destes trabalhos constatou que, apesar destas
pesquisas terem relação com a literatura indígena brasileira contemporânea, apenas 1 tese
de Doutorado e 1 dissertação de Mestrado possuem relação direta com o tema principal
desta pesquisa, a literatura de autoria indígena para a infância. As pesquisas também
destacam a origem da produção de literatura indígena enquanto resistência cultural,
política e histórica dos povos indígenas porque aponta a (re)construção da identidade
destes, com as marcas da oralidade em publicações de suas narrativas. Há um grande
caminho a ser percorrido pela luta e reconhecimento dos direitos dos povos indígenas
para que não haja uma generalização, que poderá contribuir ainda mais para a criação de
superficialidade e, consequentemente, estereótipos. O trabalho contribui com as reflexões
do Simpósio Temático12 – Literaturas indígenas nas Américas: memória, patrimônio e
resistência.
85
narrativas que indicam espacialidade, sociedade e religião. DESENVOLVIMENTO: O
corpus de pesquisa que apresentamos é a edição venezuelana Del Roraima al Orinoco:
mitos y leyendas de los índios Taulipang y Arekuná, Tomo II, de 1989, do etnógrafo
alemão Theodor Koch- Grunberg. Duas afirmações fundamentam a pesquisa: Primeiro
destaca a ausência da seção “Prólogo” nas edições brasileiras, o que reflete na dimensão
da participação dos informantes indígenas na obra. Sem a seção, não ocorre créditos da
participação aos informantes indígenas no trabalho do antropólogo, nem as condições da
captação, ou da tradução das narrativas. O segundo fundamento é a ausência de oito
narrativas em língua Taurepáng, também ausentes nas edições brasileiras, em alfabeto
fonético internacional, com textualidade original, atribuída a Mayuluaípu. A ausência
dessas narrativas diminui a contribuição dos indígenas para a literatura brasileira ao
relegar sua cultura a uma alteridade congelada, desvinculada de processos históricos,
negando sua voz nas criações culturais atuais. PRINCIPAIS RESULTADOS: As
narrativas que Theodor Koch-Grünberg apresenta em seu texto são oriundas do
imaginário coletivo de nações tradicionais que habitam o circum-Roraima. Então, num
projeto que vise abordar em perspectiva de literatura comparada, mitos de fatura indígena,
tradução e ideologia, parece importante deslindar o movimento de transposição da
oralidade para escrita dos objetos textuais desses povos tradicionais. Especialmente, se
objetivamos reconhecimento da colaboração indígena e do Circum-Roraima para
literatura brasileira. EIXO TEMÁTICO: Literaturas indígenas nas Américas- memória,
patrimônio e resistência.
86
em 1944, e a American Indian Chicago Conference, de 1961. O presente trabalho se
baseia nos referenciais teóricos e metodológicos da história intelectual. Abordamos a
figura de D’Arcy McNickle como um intelectual indígena.
87
intituladas: “historicidade da problemática”, “ a representação poética do/da indígena no
romantismo e no modernismo brasileiro” e “autoria indígena feminina contemporânea”,
essas duas últimas com subseção única, cada. Eixo temático: Literaturas Indígenas nas
Américas: memória, patrimônio e resistência.
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
88
modernismo, mas esteticamente se aproxima do simbolismo. O uso da linguagem no nível
metalinguístico implica numa operação de combinar elementos que retornem ao próprio
código, nesse sentido pode-se nomear de metapoesia o movimento do próprio fazer
poético que retorna para si. No entanto, observa-se que a diferença dos contextos de
produção e recepção literária refletem nessa poética metalinguística, enquanto Aline
Rochedo Pachamama enuncia do Brasil contemporâneo, situado no sul global,
reivindicando seu lugar social de mulher, indígena, historiadora e editora através da auto
publicação, Florbela Espanca, faz referência à Europa do século XIX, que ao longo do
tempo se consagrou como uma autora canônica, que ocupa um lugar de prestígio na
literatura. Neste sentido, salientamos a importância em tensionar os diferentes lugares e
fazeres poéticos, visto que, a poesia de Aline Rochedo Pachamama tem características de
resistência, por fazer referência ao seu lugar social, reivindicando, portanto, alteridade.
89
ST13 - OS POVOS INDÍGENAS E O ESTADO IMPERIAL BRASILEIRO:
PROJETOS POLÍTICOS, TERRAS COLETIVAS E AUTONOMIA
Coordenadores(as): João Paulo Peixoto Costa, IFPI/UESPI
Mariana Dantas, UFRPE
Durante grande parte do século XIX, a Província do Rio Grande de São Pedro foi palco
de vários projetos de colonização com imigrantes europeus em territórios até então
habitados por grupos indígenas, principalmente Jês. Na região nordeste do estado, um
grupo Kaingang, na época chamados de Coroados e liderado pelo cacique conhecido
como João Grande, controlava um território entre os rios Caí e Sinos, que resistia ao
90
avanço das colônias alemãs ao sul e das fazendas de pecuária ao norte. Segundo Relatório
da Presidência da Província de 1853, esse grupo foi atacado por uma liderança dos
Coroados a serviço do governo, e seu líder foi morto. Minha pesquisa está sendo
desenvolvida em dois sentidos a partir dos processos históricos envolvendo esse grupo
Kaingang: buscar nas fontes indícios e relatos da atuação dos indígenas a partir de uma
perspectiva que busca ressaltar a agência e as dinâmicas internas; e buscar quais as
relações econômicas, políticas e sociais envolveram esse grupo indígena no contato com
a frente de colonização, que incluía entre outros aspectos a abertura de estradas, a posse
da terra e os conflitos, buscando ressaltar a violência presente no processo de colonização
da região. A partir de uma leitura preliminar da documentação disponível em arquivos,
foi possível relacionar as políticas de imigração, de aldeamento e catequese e de obras
públicas e agricultura do governo provincial com os conflitos envolvendo o grupo de João
Grande. A partir do diálogo contínuo com descendentes dessa liderança, estou
relacionando dados sobre a territorialidade e os regimes de memória que envolvem o
passado e o presente da presença indígena na região. Essa pesquisa se insere nos eixos de
História Indígena, Etnohistória e História do Brasil Império.
91
das relações coloniais, acordos e alianças entre indígenas e colonos, reformulações de
símbolos religiosos cristãos são minimizadas. Destacamos que antes mesmo do final do
século XIX não falava-se mais acerca dos povos indígenas presentes no Nordeste.
Destituídos dos antigos territórios, não eram mais reconhecidos como coletividades,
sendo referidos individualmente como "remanescentes" ou "descendentes" (OLIVEIRA,
1998). A negação da identidade indígena foi o principal argumento jurídico utilizado para
justificar os esbulhos de terras indígenas e a extinção oficial dos aldeamentos no Século
XIX, que ocorreu acentuadamente a partir de meados do período (SILVA, 2006).
92
ST14 - HISTÓRIA INDÍGENA E DO INDIGENISMO: ENTRE A NARRATIVA
NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DA NAÇÃO (XIX E XXI)
Coordenadores(as): Carlos Benítez Trindad, HISTAGRA - Universidad de Santiago de
Compostela, Espanha
Poliene Soares dos Santos Bicalho, UEG - Universidade Estadual de Goiás, Brasil.
93
A FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO E O PROJETO MODERNIZADOR DA
DITADURA BRASILEIRA (1969-1974)
Doutor Breno Luiz Tommasi Evangelista (UFF)
94
hegemônicas no indigenismo peruano das primeiras décadas do século XX – perdessem
espaço no país, dando lugar a um indigenismo de matriz higienista e caráter autoritário,
que se tornou o oficial durante o governo de Odría (1948-1956). Ne momento, enquanto
as perspectivas mais conservadoras tenderam a se concentrar na revista oficial do Instituto
Peruano, Perú Indígena, criada em 1948, os intelectuais identificados com um
indigenismo mais crítico e progressista tenderam a publicar seus artigos na revista do
Instituto Interamericano, América Indígena, que havia surgido em 1941 e que tinha um
perfil de abertura a diferentes perspectivas indigenistas. A pesquisa se baseia nos
pressupostos teórico-metodológicos da história intelectual e parte de uma abordagem
transnacional para desvendar, por meio da análise desse debate, os caminhos que fizeram
com que as perspectivas indigenistas mais progressistas perdessem espaço no país andino,
sem, no entanto, deixarem de existir completamente.
95
INDIGENISMO BRASILEIRO ENTRE OS POVOS INDÍGENAS DE OIAPOQUE
Doutora Carina Santos de Almeida (UNIFAP)
A “questão indígena” na história do Brasil foi tratada de diversas formas. Nos tempos
coloniais esteve sob responsabilidade das ordens religiosas, missões e aldeamentos, após,
foi atendida pela política de aldeamentos mistos e de colônias militares. Recentemente,
os ameríndios passaram a ser atendidos pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) entre
1910 e 1967 e pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) desde 1967. Em sua trajetória,
o “indigenismo” brasileiro visou orientar, conduzir e nortear as políticas indigenistas e a
legislação sobre os índios adotadas pelo Estado, alcançando definitivamente os povos
indígenas que viviam na região de Oiapoque na primeira metade do século XX. A
“proteção tutelar” do SPI marcou o percurso e a história de vida de muitas sociedades
autóctones no Brasil. Em Oiapoque não foi diferente, caracterizada pela condição de
fronteira, os povos ameríndios foram atendidos pela agência e na década de 1940
receberam em suas terras a instalação de dois postos indígenas. O SPI buscou atrair e
fixar os índios que habitavam as proximidades e adjacências do rio Oiapoque no lado
brasileiro e promoveu a “proteção tutelar”, a “assistência” e a “nacionalização” dessa
população que sequer falava o português. O Estado brasileiro desconhecia as populações
nativas que viviam na região de Oiapoque, assim, a implementação da agência nesta
fronteira corroborou para (re)conhecer tais sociedades.
Os Ka’apor do Maranhão, conhecidos geralmente por sua arte plumária, nos finais do
século XIX e início do XX, receberam a alcunha de “os mais temidos indígenas do
Maranhão”, pois estavam em “ situação de isolamento” e constantemente envolvidos em
situações de conflito com garimpeiros, madeireiros e seringueiros. Destarte isso, é que
nesta exposição utilizaremos do conceito de representação para refletirmos sobre em
quais circunstâncias classificações como a citada anteriormente são acionadas e
utilizadas. Principalmente, ao pensar em elementos como locais e agentes sociais que
estão envolvidos no processo de produção e também de recepção dessas representações.
Mediante a resultados prévios de pesquisa que indicam que os principais meios de
circulação dessas imagens eram os periódicos, a exemplo dos Pacotilha (MA) e O Correio
da Tarde (MA), que ao dedicarem parte de algumas edições para a situação dos índios do
estado, concediam espaço para funcionários do Serviço de Proteção ao Índio e a outros
não-indígenas, lhes dando a oportunidade de exporem suas impressões gerais sobre o
panaroma geral das populações indígenas ou sobre aquilo que estava diretamente ligado
às atividades do SPI no estado. Levando em conta que, especificamente no caso do povo
Ka’apor, tais imagens estavam intimamente ligadas ao fato de ocuparem territórios
96
fronteiriços, que desde muito tempo despertavam interesses interesses dos mais variados
grupos, visto que eram compreendidos como parte de uma zona vastíssima, fértil e
imprescindível para o desenvolvimento da agricultura almejado tanto a nível estadual
quanto nacional.
97
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
OS PARINTINTIN NA IMPRENSA AMAZONENSE: ENTRE PRÁTICAS E
REPRESENTAÇÕES SOBRE A GUERRA
Graduanda Ana Rivick Lira Bernardo (UFAM)
98
OS ARTIGOS SOBRE A ARGENTINA NA REVISTA AMÉRICA INDÍGENA
DURANTE O PRIMEIRO PERONISMO (1946-1955)
Graduando Carlos Henrique Da Silva Beretello (UEM)
O Serviço de Proteção ao Índio (SPI) foi um órgão federal criado em 1910 motivado por
uma sugestão do positivista Cândido Mariano da Silva Rondon, que propunha uma
organização que estabelecesse uma convivência pacífica interna entre os indígenas e com
o povo “civilizado”; garantisse sua integridade, os civilizando e possibilitando uma noção
de pertencimento social; além de fixar o indígena na terra diminuindo o nomadismo. O
SPI deveria garantir assistência aos indígenas nos mais diversos âmbitos, o que incluía
oferecer medicamentos gratuitos, recurso e assistência para os indígenas aldeados ou que
já vivem na condição de “civilizados”. Antes desse momento, a assistência
governamental específica a saúde indígena na região inexistia, sendo necessário recorrer
a hospitais nas cidades grandes em caso de enfermidades. Esse atendimento médico
especializado deveria ser oferecido nos Postos de Assistência, Nacionalização e Educação
Indígena, sendo o Posto Indígena Nísia Brasileira, do território Potiguara, instaurado em
1930, com sua enfermaria construída entre 1941 e 1944. Assim, o presente trabalho
apresenta os resultados desenvolvidos no Projeto Os potiguara da Paraíba sob a tutela do
SPI, baseado na pesquisa com documentos da área de saúde do PI Nísia Brasileira, no
período de 1945 a 1967, em estudos bibliográficos sobre o SPI e a saúde indígena
99
brasileira do período. A partir disso foi possível perceber quais as doenças mais comuns
e o modo como essa assistência era prestada, especialmente no momento das epidemias
que atingiram o Posto no início da década de 1950, se dando muitas vezes de forma
insuficiente devido a falta de verba, a secundarização das questões de saúde e outros
problemas internos do órgão.
Desde 1910, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) vem sendo responsável por prestar
assistência e implantar uma tutela aos povos indígenas do Brasil, durante os diferentes
100
períodos governamentais, se destacando a “Era Vargas” e o “Regime Militar”. Sendo
assim, este trabalho objetiva apresentar os resultados desenvolvidos no Projeto Os
potiguara da Paraíba sob a tutela do SPI, e discutir como se encontrava a autonomia
financeira e os investimentos comerciais, do Posto Indígena Nísia Brasileira, e se o
mesmo sofreu mudanças em seu funcionamento, durante a transição da era varguista, para
o governo Dutra, durante os anos de 1945-1953. Os dados da pesquisa se deram através
do acervo documental do Arquivo do Museu do Índio do Rio de Janeiro, a partir da análise
de documentos como recibos, folhas de pagamentos, planejamentos semestrais e
relatórios, entre outros, referentes as aldeias potiguara da Baía da Traição, no estado da
Paraíba. Ademais, através da documentação foi possível observar as consequências das
políticas expansionistas e do sistema de tutelagem do SPI sobre esse povo, bem como
entender como se fortaleceram as relações de tutelagem do órgão para com os indígenas
da região, alcançando assim os interesses político-econômicos do governo vigente.
101
ST15 - EMERGÊNCIAS ÉTNICAS, ETNOGÊNESES E RETOMADAS: POVOS
INDÍGENAS E PROCESSOS IDENTITÁRIOS NAS AMÉRICAS
Coordenadores(as): Estêvão Martins Palitot, UFPB, Brasil
Izabel Missagia de Mattos, UFRRJ, Brasil
Carmen Lucia Silva Lima, UFPI, Brasil
102
CADÊ O “ÍNDIO” QUE VIVIA AQUI? MEMÓRIA E RESSURGÊNCIA: A
RECONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA DO POVO PURI NO NOROESTE
FLUMINENSE (SÉCULO XVIII – XXI)
A presente pesquisa investiga a trajetória e agência dos Puri no território fluminense nos
séculos XVIII a XX, com ênfase nos municípios de Santo Antônio de Pádua e Miracema,
localizados na região Noroeste do estado. Considerados extintos a partir do século XIX,
eles sofreram um apagamento histórico pelas conjunturas políticas/sociais que foram
sendo construídas e levadas a frente pelo imaginário colonial. Isso causou um profundo
desprendimento identitário de muitos desses indígenas que acabavam por ser afastados
de suas famílias e consequentemente da usualidade dos seus costumes, tradições e língua.
Não se falando mais em indígenas, mas em uma sociedade “misturada”, se estabeleceu
então um cenário que dissolvia os indígenas tanto dos registros oficiais, como de dentro
das sociedades o que contribuiu para perpetuar e atribuir a eles um “estigma de extinção”.
Assim, com base nos processos de ressurgência desse povo que são observados hoje,
relativos ao fortalecimento dos movimentos de emergência étnica que foram crescendo a
partir do estabelecimento da Constituição de 1988, busco contrapor a lógica do suposto
desaparecimento desse povo no século XIX visto que eles nunca deixaram de existir. Para
isso, empreendo um esforço de contestação deste “estigma de extinção” por meio da
análise de seus deslocamentos e sociabilidades na região, feita através de levantamento
histórico-bibliográfico, fazendo uso de fontes primárias e secundárias, bem como de
trabalhos memorialistas de pesquisadores e relatos orais que descendentes desse povo
resguardam hoje, no século XXI a fim de contribuir para a reconstrução de suas histórias.
Com isso, enfatizo o uso da memória como instrumento crucial para a sobrevivência e a
continuidade dessas histórias que estão em constante movimento e retomo a pergunta do
enunciado a fim de tentar respondê-la: Cadê o “índio” que vivia aqui?
103
ações políticas de ação direta não violenta, visando a autodeterminação dos povos
indígenas nos Estados Unidos, como também instrumento para forjar uma identidade
interétnica, que pudesse reverter as péssimas condições sociais dos povos nativos nos
centros urbanos e nas reservas. Interessa ainda contribuir para os debates acerca do
movimento indígena no contexto das lutas pelos direitos civis nas décadas de 1960 e 1970,
objeto pouco explorado pela bibliografia especializada nos Estados Unidos e no Brasil.
104
A TAREFA HISTÓRICA DAS PSICOLOGIAS INDÍGENAS DO PONTO DE
VISTA DA MULTIPLICAÇÃO DIALÓGICA
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
105
partir de uma “participação observante” e na realização de entrevistas baseadas na
metodologia da História Oral. Entre as ações da referida Associação, constatou-se a ideia
de identificar os indígenas que estão na cidade, incentivar a autoidentificação e
autodeclaração e fortalecer o processo de afirmação da identidade indígena em contexto
urbano por meio da articulação coletiva. Este estudo enquadra-se no eixo temático
denominado “Emergências étnicas, etnogêneses e retomadas: povos indígenas e
processos identitários nas Américas”.
106
ST16 - POVOS INDÍGENAS EM FRONTEIRAS AMAZÔNICAS: SABERES EM
DIÁLOGOS E PROCESSOS DE RESISTÊNCIA
107
dos principais textos e teorias a respeito da Filosofia e Interculturalidade em escolas
indígenas e não indígenas.
Este estudo de caso buscou analisar o acesso e a permanência dos indígenas ingressantes
pelo Processo Seletivo Especial (PSE) na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa)
e revelou que o PSE é uma expressão da política de sua ação afirmativa. Sendo a única
universidade pública federal instalada nessa região, multicampi e transfronteiriça, tornou-
se a primeira com sede no interior da Amazônia legal. No estudo empírico, adotou-se
entrevista com lideranças indígenas (cacique e coordenador do Diretório Acadêmico
Indígena - Dain), gestores e docentes da Ifes; questionário online com diretores dos
Institutos temáticos; questionário impresso com discentes indígenas (PSE, 2010-2015) e
análise de seus memoriais acadêmicos. Resultados demonstram que o PSE possibilitou o
acesso de 254 indígenas ao ensino superior (2010 e 2015), com acentuada diversidade
108
étnica (17 povos) - destacando-se os povos Arapiun (52), Wai Wai (40) e Munduruku
(40), vindo de seus três grandes territórios da região: Baixo Tapajós, Médio e Alto
Tapajós e Calha Norte da região do Oeste do Pará, área de abrangência da Ufopa,
tornando-a um rico campo epistemológico para a produção de conhecimentos na
interação com os povos Borari, Sataré-Mawé, Kumaruara, Apiacá, Arara Vermelha,
Munduruku, Wai Wai, Kaxuyana, Mahayana, Xerew, Hyskariana, Arapiun, Tapuia,
Tupaiú, dentre outros. Desde a sua origem, a Ufopa tem garantido anualmente o acesso
dos indígenas ao ensino superior por meio de sua política afirmativa, resultando ser em
2021 a segunda no ranking das instituições públicas de ensino superior do país com maior
presença de estudantes indígenas matriculados nos seus cursos de graduação. Entretanto,
em relação à permanência, poucas ações/estratégias têm sido efetivadas, considerando a
complexidade própria desse processo formativo e das especificidades dos discentes
indígenas, tornando-se urgente um compromisso não só de uma gestão universitária, mas
uma exigência identitária enquanto universidade amazônica, transfronteiriça e
multicultural.
109
patrimonial, valorização dos saberes ambientais e alimentares para uma vida biológica
saudável e economicamente sustentável.
110
ST17-FRONTEIRAS INDÍGENAS NA AMÉRICA LATINA: ESPAÇOS,
CULTURAS, INTERAÇÕES
Coordenadores(as): Angela Doingues, U. Lisboa, Portugal
Naybe Gutierrez, UPO, Servilha, Espanha
Pablo Ibañez, CHAM, UNL, Portugal
111
Este estudo, utilizando as ferramentas metodológicas da Micro-História e uma abordagem
interdisciplinar focada na Geografia Histórica, na Antropologia, na História do Trabalho,
na História Marítima, na Educação Patrimonial e na História Indígena aborda a trajetória
dos trabalhadores indígenas recrutados para o Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro
(1763-1820). Utilizamos uma documentação administrativa produzida pelos funcionários
e militares no Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro lançando mão de uma etnografia do
arquivo para mapear a presença indígena naquela instituição militar. Além desses
documentos históricos, analisamos a produção cartográfica e dos viajantes para
inventariar as ações dos sujeitos históricos indígenas no mundo do trabalho. Analisar os
mecanismos de recrutamentos desses homens para o mundo do trabalho representado por
uma instituição militar como a Marinha descortina novos dados históricos sobre o
protagonismo dos indígenas na sociedade colonial e imperial redimensionando os papeis
desse grupo étnico na formação da economia fluminense e brasileira. A hipótese que
embasa este trabalho é a de que inúmeros mecanismos jurídicos foram criados pelo Estado
para garantir o acesso à mão de obra indígena e a condução desses homens para o Arsenal
da Marinha do Rio de Janeiro, burlando a legislação indigenista vigente que garantia as
liberdades indígenas. Neste sentido, os trabalhadores indígenas lançaram mão de
estratégias e agenciamentos para lidar com o processo de recrutamento e as vicissitudes
do mundo do trabalho. A análise das trajetórias desses trabalhadores indígenas no
contexto urbano colonial e imperial nos informam sobre os significados inúmeros
aspectos da condição indígena no Rio de Janeiro no século XVIII e XIX. Pretendemos
apresentar os mecanismos jurídicos e coercitivos para o mundo do trabalho, o cotidiano
desses indivíduos e a formação da categoria sócio-profissional do remeiros do Arsenal da
Marinha.
112
rio Madeira, a partir da ideia de que esse espaço não era, apenas, um mecanismo de
ocupação engendrado pela coroa portuguesa. Trata-se de uma ocupação na cachoeira do
Salto que articula-se, em grande medida, ao relacionamento do governo colonial com os
índios Pama na segunda metade do século XVIII Considera-se, assim, que Balsemão
representa um lugar que foi construído a partir dos objetivos e mobilidades dos povos
indígenas na fronteira.
Esta pesquisa procura investigar e esboçar de que forma as chefias Kuikuro – no que
fazem e no que se diz que fazem, através de narrativas históricas – são centrais para
compreender as relações dessa população com o espaço, a terra e a produção de lugares
socialmente relevantes. Ao mesmo tempo, traça a maneira como espaços e lugares são
também produzidos no interior dos enunciados, através de uma análise pragmática dos
dêiticos espaço-temporais em Kuikuro mobilizados pela enunciação. Foi desenvolvida
por meio da análise de seis transcrições de narrativas gravadas em diferentes momentos,
pela pesquisadora doutura Bruna Franchetto e pelo pesquisador doutor Carlos Fausto, e
contando com diferentes narradores ao longo das últimas décadas. A aposta central aqui
é a de que noções como política e poder, quando são relevantes para a pesquisa
etnográfica, não podem, no Alto Xingu, ser desarticuladas da maneira como os espaços
se organizam histórica e socialmente. Mais do que isso, é possível pensar a chefia alto-
xinguana como homóloga à dêixis espacial, e, em simetria inversa, pensar a dêixis – a
projeção de coordenadas espaciais e também temporais – como uma modalidade de se
fazer política. Essa imagem de política espacializada e situada – ou de um espaço
atravessado de relações situadas de poder e prestígio – é ainda contrastada com uma outra,
o resultado direto do processo colonizatório e de devastação que atravessa a formação da
nação brasileira moderna: a do espaço vazio, pura propriedade. Terra expropriada e
explorada no latifúndio.
113
compreensão e interação diante da realidade e outros indivíduos presentes nela. Suas
atividades estavam em realizar trocas de correspondências entre autoridades portuguesas
e espanholas, contrabando de mercadorias, abertura de caminhos, guias, intérpretes e
espiões, bem como em denunciar usurpações e excessos cometidos nos pueblos pelas
autoridades coloniais. Esses indivíduos “mestiços”, “cristãos” e “infiéis”, poderiam estar
acostumados a desenvolver-se em âmbitos distintos com relativa fluidez e a transpassar
barreiras geográficas, culturais e mentais. As práticas e as ações surgem não como simples
respostas aos estímulos ocasionados pelo contato e convívio com as sociedades europeias,
mas, além disso, como participantes interessados em se beneficiar e sobressair as pressões
externas, a partir de suas próprias lógicas. São personagens identificados nos desvios de
padrões das fontes históricas, fragmentadas e dispersas, que nos permitem obter uma ideia
de como indígenas (“cristãos” e “infiéis”), escravizados e desertores sobressaíam ao
sistema colonial, suas limitações, deficiências e imposições, exercendo funções como
mediadores entre “dois mundos”, em que adquiriram valor diante dos traços diferenciados
e constitutivos de sua identidade.
Na segunda metade do século XVIII o mundo natural se tornou objeto de bastante atenção
dos governos ultramarinos, algumas disciplinas científicas, como a botânica, agronomia
e geologia, de forma mais sistemática do que nos séculos anteriores, tornaram-se
ferramentas da administração metropolitana, no sentido de propiciarem, através de um
saber especializado, o enriquecimento da economia colonial. Nesse período, foram
criados jardins botânicos tanto em Portugal, como o da Ajuda e o da Universidade de
Coimbra, quanto nas colônias, como o de São José, em Belém. As principais funções
desses jardins eram reunir espécies vegetais nativas e exóticas, assim como realizar
ensaios para o cultivo em larga escala e para o uso industrial de produtos de origem
vegetal. O ambiente político, a rede de coleta e produção de conhecimento articulada
pelas instituições metropolitanas, as viagens filosóficas pelos territórios ultramarinos e a
instalação dos jardins botânicos são temas bem explorados na historiografia. Entretanto,
quando se trata da participação dos povos indígenas nesses projetos coloniais, sobretudo
no Grão-Pará, a produção é um pouco exígua. Os povos indígenas, em diversos
momentos, além de fornecerem informações importantes para os funcionários coloniais,
foram agentes no trânsito de espécies extremamente requisitadas pelo império português.
Seus conhecimentos foram necessários para a execução da missão de espionagem em
território fronteiriço, deveriam obter no jardim francês em Caiena (La Gabriele), a noz
moscada, o cravo da índia e a canela, o que colaborou para tornar exitosa a experiência
de implantação do Jardim Botânico de São José, e resultou na obtenção documentada de
uma das primeiras coleções de vegetais transplantados para aquele jardim.
114
DE INIMIGOS A BONS AMIGOS? OS CAMACÃ E O BARÃO FERNANDO
STEIGER NO QUADRO DA INTERIORIZAÇÃO DA COLONIZAÇÃO NA
PROVÍNCIA DA BAHIA
Doutora Ayalla Oliveira Silva (UFRRJ)
Esta proposta de comunicação trata das tensões sociopolíticas e das relações étnicas
estabelecidas no processo de expansão da fronteira agrícola em Ilhéus, sul da Bahia,
Brasil, durante a segunda metade do século XIX. Na segunda metade daquele século,
Ilhéus experimentou a consolidação da lavoura do cacau como economia monocultora de
exportação, região historicamente caracterizada pela resistência dos botocudos e pataxós
ao avanço da fronteira de ocupação não indígena sobre os seus territórios. Nesse processo,
Fernando Steiger, um fazendeiro suíço estabelecido em Ilhéus desde os anos 1840,
conseguiu do governo da província concessão de terras em uma zona interiorana da
região, a fim de implantar uma nova fazenda e expandir os seus negócios, cujo sucesso
dependia da relação que ele fosse capaz de estabelecer com os indígenas habitantes da
região. O objetivo é analisar, por meio da correspondência particular do barão Fernando
Steiger, a aliança recíproca de proteção estabelecida entre ele e um grupo Camacã de
contato intermitente. Ocasião na qual Steiger instalou os indígenas no núcleo que ele
denominou de “colônia militar”, nas proximidades da sua nova propriedade, no intuito de
utilizá-los como braço armado contra os botocudos e pataxós, seus “inimigos em
comum”. Os camacãs, por seu turno, tinham a expectativa de manter a sua segurança e a
sua sobrevivência na região, que era, à época, objeto preferencial da colonização
provincial, o que impactava profundamente a vida dos povos indígenas.
Esta comunicação tem como objetivo explicitar as relações travadas entre os agentes
estatais e as comunidades guaranis no Rio Grande do Sul, província do extremo sul do
Brasil, durante o período pós-independência. Estas relações foram pautadas por uma
acentuada preocupação com as fronteiras nacionais por parte do Estado, não apenas no
que diz respeito à consolidação dos territórios nacionais frente aos interesses dos países
platinos em formação, mas também em relação às fronteiras de inclusão e exclusão dos
indígenas na nascente sociedade brasileira. Assim, procuro demonstrar que o as políticas
indigenistas da província buscaram invisibilizar a presença da população guarani, em
especial a fixada na região das antigas missões jesuíticas, estabelecendo um discurso de
decadência e esvaziamento daqueles territórios que buscava apropriar-se das terras e do
gado pertencente aquela população indígena e “assimilá-la” ao povo brasileiro. No
entanto, os guaranis fizeram frente as alegações de inexistência: trabalhando como peões
em diversas localidades, contrabandeando gado na fronteira e mobilizando estruturas
políticas para a manutenção das terras e rebanhos das antigas estâncias missioneiras.
115
OS GUAICURUS E A FRONTEIRA OESTE BRASILEIRA NO SÉCULO XIX:
DISCURSOS POLÍTICOS, DISPUTAS DE TERRAS E PROJETO DE NAÇÃO
O ano de 1791 é chave para a compreensão das relações entre os indígenas guaicurus e
os luso-brasileiros, pois foi quando se estabeleceu um Tratado de Paz entre as partes.
Começara, então, já desde o final do século XVIII, um processo que intencionou, nesse
primeiro momento, que esses indígenas, viventes na região limítrofe entre o Brasil e o
Paraguai, se aproximassem dos luso-brasileiros. Ainda que esses não vissem indígenas
como seres humanos, buscaram construir uma maior afinidade desses povos consigo, do
que com seus inimigos também intencionados naquelas terras, os espanhóis (e, após,
paraguaios). A partir dessa aproximação assegurada, ao menos em parte, pelo Tratado de
Paz de 1791, intentasse então começar a consolidar o domínio, indireto, da monarquia
sobre aqueles sertões, afinal, pelo tal acordo, os “chefes” guaicurus teriam jurado
vassalagem à coroa. Com uma maior associação dos guaicurus aos luso-brasileiros e o
governo considerando aquelas terras suas, a proteção das mesmas, ainda que pelos
próprios indígenas, era de sumo interesse da coroa e, após, do Império. Os guaicurus
acabaram sendo mais compreendidos dentro uma ideia de “brasileiros” quando
associados aos territórios que ocupavam e, então, tomados enquanto argumentos de que
tais regiões limítrofes seriam, por consequência, propriedade do Império frente às
reivindicações paraguaias. Ainda assim, discursos antagônicos existiram, perpetuados em
situações onde os primeiros representariam problemas para seus locutores. No meio
dessas vozes moldadas por grupos dominantes não só os territórios ocupados pelos
guaicurus se mostraram não plenamente reconhecidos, como o status desses indígenas
dentro do Brasil e, mesmo suas identidades, foram moldadas ao bel-prazer de terceiros,
conforme a esses fosse mais interessante.
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
Esse estudo tem o objetivo de analisar a formação familiar mista, a apresentação dos
nubentes e suas relações com o mundo do trabalho em São Luís no contexto de transição
do Regimento das Missões para o Diretório Pombalino. Através do exame quantitativo e
qualitativo dos registros de casamento da Freguesia de Nossa Senhora da Vitória, foquei
no levantamento dos casamentos exogâmicos, dos quais participaram sujeitos indígenas
e categorizados como mestiços dentro de uma sociedade sustentada em pilares
hierárquicos. É lançado o olhar sobre se os casamentos mistos serviram enquanto via de
inserção dos povos indígenas na sociedade colonial e quais colocações no mundo do
116
trabalho esses noivos vieram ter em dois momentos distintos e dinâmicos: no primeiro
momento indígenas e mestiços formando família sob o artifício de imposição do
casamento cristão enquanto dispositivo de conquista e expansão espiritual ou até mesmo
por suas próprias vontades, majoritariamente ocupavam-se nas condições como escravos
ou servos e no segundo momento, indígenas alforriados, com novas posições nos mundos
do trabalho que alicerçaram a família sob as bênçãos nupciais a partir da política do
Diretório Pombalino que estimula os casamentos mistos (especialmente entre brancos e
índios), em meio as forças da Coroa Portuguesa na tentativa de apagar as suas identidades
étnicas em nome da tomada da identidade portuguesa como era esperado pelo ministério
pombalino, além das matizes propostas no recorte transitório, o matrimônio cristão além
de ter sido um palco que proporcionou a transformação das identidade indígenas, em
contrapartida, este sacramento foi um espaço de aproximação entre indígenas,
descendentes qualificados pelas categorias sociais, africanos e afro-brasileiros.
117
ST18 - LÍNGUA INDÍGENA NAS AMÉRICAS
Coordenadores(as): Márcia Nascimento, UFRJ
Pedro Daniel dos Santos Souza, UNEB
Ana Vilacy Galucio, UFPA/Museu Paraense Emílio Goeldi
Este trabalho, que é parte de uma pesquisa de mestrado em Letras em andamento, tem
por objetivo refletir sobre a emergência das línguas de sinais indígenas e a urgência de
seus estudos enquanto forma de revitalização linguística e, consequentemente, parte da
resistência dos povos indígenas. A partir dos resultados obtidos através de uma pesquisa
bibliográfica no banco de Teses e Dissertações da CAPES, utilizando para isso os
descritores: “Língua de sinais indígenas”; “Língua de sinais emergentes”; e “Indígenas
surdos”, foram localizadas quinze pesquisas realizadas entre os anos de 2008 e 2020 que
abordaram a temática “indígena surdo” e destas, dez investigaram especificamente as
118
línguas indígenas de sinais de diversos povos: Terena, Sateré-Mawé, Paiter Suruí,
Guarani Kaiowá e Akwê Xerente. Embora a Libras seja reconhecida enquanto língua de
sinais dos surdos brasileiros, as pesquisas existentes alicerçaram discussões sobre a
existência de línguas de sinais específicas em diversos Territórios Indígenas, bem como
sua inter-relação com a cultura e a sua importância nas práticas comunicativas dentro do
território, levando-nos a refletir sobre a importância do mapeamento dessas línguas para
a garantia dos direitos linguísticos dos indígenas surdos.
Este trabalho visa apresentar uma descrição inicial das variações diafásica e diageracional
com foco no campo semântico animais nas línguas Enawene Nawe e Paresi, línguas
indígenas pertencentes à família linguística Aruák. As referidas línguas contam com,
aproximadamente, 1.000 e 3.000 falantes respectivamente, os quais se encontram
localizados no Estado do Mato Grosso. Os dados para análise foram obtidos através do
banco de dados das línguas e dados coletados a partir da leitura bibliográfica. Conforme
Cardoso (2010), a variação diafásica está relacionada ao comportamento linguístico do
falante mediante a situação em que se encontra. Um exemplo disso são as formas
atribuídas pelo povo Paresi ao item lexical jacaré, as quais ocorrem como ‘kamomenare’
em contextos formais de fala, a exemplo de rituais sagrados, cânticos, festas e narração
de histórias, e ‘yakare’ em contextos informais de fala, como por exemplo o dia a dia da
comunidade. Por sua vez, a variação diageracional está associada com a diferença na fala
entre falantes de faixas etárias distintas. Um exemplo disto pode ser verificado na
utilização de itens lexicais distintos para se referir ao item lexical ema fêmea, o qual é
nomeado como ‘zolairo’ por falantes mais velhos e ‘ohiroli’ por falantes mais jovens. O
estudo deste fenômeno ajudará no processo de descrição e documentação linguística das
línguas indígenas brasileiras no âmbito da sociolinguística, bem como, contribuirá para
fins de inserção de dados no banco de dados das línguas em análise, como forma de
registro e documentação.
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
119
discute sobre o impacto da ‘arte de doutrinar’ em língua kiriri, tronco Macro-Jê, na Aldeia
de Natuba, no semiárido baiano. Para tanto, baseamo-nos em estudos do Catecismo da
Doutrina Christãa na Lingua Brasilica da Nação Karirí (1698), da gramática do Pe. Jesuíta
Maniani, intitulada Arte de Grammatica da Lingua Brasilica da Naçam Karirí (1699). Na
perspectiva da Linguística Histórica, História Social da Língua e da Cultura da Escrita
por um viés historiográfico sobre fatos deixados pelo tempo para recompor narrativas,
interessamo-nos pelas nações dos “bárbaros indígenas” no processo de catequese, pois,
foram povos que fizeram a história do semiárido baiano no século XVII, entretanto, foram
versados por um viés etnocêntrico como coadjuvantes desse processo sócio-histórico.
Nessa investida, apresentaremos o protagonismo dos Tapuias do Sertão, como arquivo
vivo, para a produção escrita em língua Kiriri setecentista; e, resquícios léxicais
registrados no catecismo e na gramática em língua Kiriri, supostamente originários da
família Kiriri, tronco Macro-Jê, que encontram-se vivos em comunidades circunvizinhas
ao antigo Aldeamento de Natuba, fazendo-nos crer que o legado linguístico Kiriri
perpetua entre falantes do semiárido baiano. Assim, esse legado linguístico constitui-se
como maior impacto da catequese nos ‘caminhos de dentro’.
120
ST19 - APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS DE PROJETOS PEDAGÓGICOS
NAS ESCOLAS INDÍGENAS E NÃO-INDÍGENAS E DE PROJETOS DE
EXTENSÃO SOBRE TEMÁTICAS DOS POVOS ORIGINÁRIOS NO BRASIL E
NA AMÉRICA
Coordenadoras: Lana C. Gomes de Araújo, UFPE, Brasil
Gláucia de Souza Freire, UFPE, Brasil
121
DECOLONIZANDO A ADMINISTRAÇÃO: A “ORGANIZAÇÃO FORA DAS
ORGANIZAÇÕES MODERNAS/COLONIAIS”
A partir da decolonialidade, refletimos sobre dois pontos de vista ontológicos nos Estudos
Organizacionais: um que vê as organizações como entidades estabilizadas e outro que as
vê como processos. Em seguida, considerando o debate sobre a ‘Organização fora das
organizações formais’, propomos uma discussão sobre a Organização que existe para
além das organizações modernas/coloniais. Nosso objetivo é contribuir com o avanço do
campo dos Estudos Organizacionais, por meio da inserção de discussões de outras formas
de organizar oriundas do mundo não surgido da modernidade/colonialidade. É o que
chamamos de ‘Organização fora das organizações modernas/coloniais’. O artigo é um
ensaio teórico crítico. Realizamos um resgate teórico do conceito de colonialidade e de
pontos de vista ontológicos sobre organizações no campo dos Estudos Organizacionais,
o que culminou em um olhar crítico sobre as compreensões hegemônicas de organização,
possibilitando discussão sobre a organização que há fora das organizações formais, e
também fora das organizações modernas/coloniais. Como exemplos dessas organizações,
propomos um olhar sobre organizações indígenas e organizações quilombolas, cujos
modos de ser e viver se diferenciavam e se contrapunham à lógica, muitas vezes violenta,
da economia-mundo capitalista. Nossa contribuição vai no sentido de expandir a
discussão feita pelo campo, sugerindo possibilidades de outras formas de organizar vindas
de mundos não surgidos da modernidade, como as organizações indígenas e organizações
quilombolas, para as quais propomos a noção de 'Organização fora das organizações
modernas/coloniais'. Considerando-as assim em estado de tensão com a
modernidade/colonialidade por possuírem no cerne dos seus modos de ser e organizar, a
resistência e a luta contra colonizadoras.
122
– que, no decorrer de cem anos, marcaram a história econômica e política dos sertões
da Bahia.
O presente artigo tem como objetivo revisitar a Inquisição Portuguesa durante a sua
atuação no Brasil Colônia, mais especificamente na Capitania de Pernambuco no início
do século XIX, e analisar como esta instituição se comportou perante as possíveis heresias
cometidas pelos povos indígenas, desta forma nos debruçamos particularmente sobre o
processo inquisitorial do índio Miguel Dias Lopes acusado de bigamia e preso por este
crime em 1802 na Vila de Olinda. Sendo assim, também buscamos compreender a
percepção do Santo Ofício, sobre o crime/pecado de bigamia, uma vez que, o bígamo,
sob a ótica dessa instituição, realizava não só uma transgressão social, mas, sobretudo,
religiosa, revelando-se, portanto, um herege, um “suspeito na fé”. Para nortear a nossa
pesquisa utilizamos por base as reflexões metodológicas empreendidas por Carlo
Ginzburg para análise de documentos inquisitoriais, revisões bibliográficas de autores
que trabalham esta temática, revisitação de passagens bíblicas e análise de processo crime
inquisitorial pertencente ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT)
disponibilizados em formato digital no site do referido Arquivo.
APRESENTAÇÕES EM PÔSTER
123
Antonio Jair Martins dos Santos (EIMFS)
Leandro Vieira Cavalcante
124
A Constituição Federal de 1988 promoveu o reconhecimento da posse da terra enquanto
direito universal e alienável dos povos nativos do Brasil. Além disso, ao contrário da
concepção que se tinha até então, foi-lhes garantido o direito à diferença, de exercerem
sua cultura, religiosidade e atividades necessárias à sua subsistência, sendo também
considerados cidadãos brasileiros. No entanto, a inovação da constituição cidadã não foi
suficiente para garantir concretamente a devida posse da terra aos indígenas brasileiros.
Observamos constantes embates violentos envolvendo fazendeiros, madeireiros e outras
categorias, cujos interesses na riqueza ambiental diverge do ideal indígena de
sobrevivência. Um exemplo claro dos conflitos pela posse e uso da terra entre índios e
não índios acontece na região do litoral sul do Estado da Paraíba, na qual a comunidade
indígena de etnia Tabajara contesta a ocupação de seu território pelo Grupo Elizabeth e
outros empreendimentos, os quais, apesar de promoverem um ideal neoliberal de
desenvolvimento, agridem a natureza com suas práticas produtivas. Diante disso, nosso
trabalho se propõe a encaminhar um breve estudo sobre a natureza dos conflitos
envolvendo as territorialidades reivindicadas pelos povos indígenas, que constantemente
sofrem agressões do capitalismo predatório. Utilizamos em nosso trabalho a metodologia
da pesquisa bibliográfica, além disso nos valemos da exposição abundantemente
encontrada na internet de casos de violência sofridos por grupos indígenas na luta pela
conquista de seus direitos.
A qualidade dos livros didáticos oferecidos para ajuda do planejamento escolar, ainda
vem sendo muito discutidos nos dias atuais, os assuntos tratados neles na maioria das
vezes não estão adequados ao cotidiano dos alunos e dos lugares que eles vivem. Portanto,
a presente pesquisa tem como objetivo geral analisar a abordagem da temática ambiental
presente no livro didático em uma escola indígena Potiguara. No primeiro momento foi
discutido sobre a inserção da temática ambiental nas séries iniciais a partir dos PCN de
Meio Ambiente e da lei 9795/99 de educação ambiental. Em seguida foi realizado uma
análise do livro de Ciências 4° ano do ensino fundamental, e com isso, foi posto alguns
critérios de análise como, meio ambiente, saúde, e temáticas relacionadas a comunidade
indigena. Foi observado que o livro aborda temáticas ambientais e conceitos objetivos e
de fácil compreensão, porém os exemplos sugeridos não estão muito adaptados à
realidade de uma comunidade indígena. Como a escola está localizada em uma aldeia
indígena e seu ensino é classificado como específico e diferenciado pode acontecer o caso
de relacionar as temáticas apresentadas no livro com as situações locais da aldeia e
utilização das próprias cartilhas, livros feitos na região no qual aborda as temáticas
ambientais.
125
PLANTAS, CURAS, ESPIRITUALIDADE INDÍGENA E O ENSINO DE
HISTÓRIA
Graduando Alan de Freitas Felipe (UFCG)
Graduando Antônio dos Santos Silva
(UFCG)
Graduanda Jéssica Priscila de Melo
Machado (UFCG)
Graduando Lucas Martins Bezerra (UFCG)
Graduando Mateus Pereira da Silva (UFCG)
Graduanda Shayenne Santos Sousa
Nascimento (UFCG)
Doutora Juciene Ricarte Apolinário (UFCG)
126
Os estudos que envolvem a temática da alimentação em sua perspectiva histórica ganham
destaque no fazer historiográfico, ampliando as possibilidades para entender os eventos,
sujeitos e seu entorno através de uma nova perspectiva. Atuando como, talvez, o elemento
de maior universalidade na experiência humana, o alimento é, ao mesmo tempo, um
construtor de identidades, mas que possui potencial para destruí-las e, através, de ações
conscientes ou não recriar uma nova. A necessidade de se pensar a história e culturas
indígenas, asseguradas pela lei 11.456/2008, e a confecção de trabalhos no âmbito da
disciplina Estudos de Cultura e História Indígenas, ministrada pela professora Juciene
Ricarte Apolinário, resultaram na construção dessa pesquisa. Objetiva-se, então, à
relacionar o estudo da alimentação enquanto categoria histórica e a temática indígena e
suas possibilidades de aplicações em sala de aula. Analisar o alimento é muito mais que
uma sumarização do que some, mas envolve também o como se come, com quem, de que
forma, as práticas agrícolas e/ou industriais, as identidades e as sensibilidades. O melting
pot brasileiro, expressão que indica uma certa padronização cultural que está imersa
dentro de um caldeirão, atua como um constructo de caráter dúbio: ao mesmo tempo que
erige a identidade de culinária nacional atua como agente mobilizador de esquecimento.
A confluência das três raças, gênese do brasileiro contemporâneo, é comumente
explorado de maneira tendenciosa, manifestando certos interesses que visam apagar a
participação indígena e africana na construção da sociedade brasileira e de sua cultura.
No mais, buscaremos demonstrar as potencialidades do campo da História da
Alimentação se inserida dentro do ambiente escolar, por entender que este é um campo
frutífero para a propagação do saber e da busca pelo respeito e valorização da história dos
povos originários e de suas resistências frente ao projeto de extermínio a que são
submetidos desde o início da colonização.
127
retorno às atividades presenciais, as ações extensionistas do Projeto “História e Cultura
Kaingang”, com povos indígenas Kaingang continuam mantendo o caráter híbrido onde
há alternação as demandas e solicitações dos indígenas. O presente trabalho tem como
objetivo abordar ações dos estudantes e pesquisadores extensionistas com indígenas
Kaingang que vivem em contextos urbanos no Vale do Taquari diante das medidas
adotadas pela Univates. adversidades, continua atuando junto às comunidades Kaingang
das Terras Indígenas (Emã) Foxá/Lajeado, Jamã Tÿ Tãnh/Estrela e Acampamento Wãre,
com vista a vencer as desigualdades sociais que impactam na luta indígena o
desenvolvimento social da região.
128
O referido projeto tem como título: BULLYING: UM PROJETO DE PREVENÇÃO NA
ESCOLA INDÍGENA, tendo como autor e idealizar o professor Daniel Santana Neto, da
escola Estadual Indígena Cacique Iniguaçú, localizada na aldeia Tramataia-Marcação-
PB, e-mail: [email protected]. O presente projeto é de caráter preventivo e foi
desenvolvido na escola já mencionada com os alunos do Ensino Médio. Um tema muito
presente na escola e na sociedade, então, foi um projeto muito importante para trabalhar
ações e atividades de combate e prevenção ao bullying com os estudantes da referida
instituição indígena. Elencamos como objetivo geral: Desenvolver ações de
conscientização, discussão, prevenção e combate ao bullying no contexto da escola
indígena e também da comunidade local. Tendo em vista um assunto muito pertinente e
fundamental para ser abordado em sala de aula e envolver todos os estudantes no tocante
de conscientizá-los em suas atitudes e práticas com o outro. Sabemos que é um tipo de
violência que gera outras violências e pode levar a pessoa ao isolamento social e até
mesmo a morte. No desenvolvimento do projeto os estudantes indígenas foram tomando
mais consciência das consequências e sequelas que o bullying deixaria na vida da pessoa.
Optamos por uma metodologia dinâmica e interativa no intuito de envolver vários atores
da escola e família. Portanto, é importante abordar várias estratégias de combate e
prevenção ao bullying, para que se tenha um ambiente escolar sadio e uma sociedade mais
ética, respeitosa e igualitária. O projeto se encaixa no Simpósio Temático 19.
129
estereótipo entra nesse contexto é porque o ensino sobre os indígenas ainda é repassado
de forma bastante genérica com inclinações ultrapassadas dos povos nativos do Brasil, o
que limita o indígena e suas atividades. A exploração e conhecimento das artes, que não
são poucas, tem o poder de representar de maneira responsável, didática e esclarecedora
o lugar desses povos na sociedade e só tem a agregar no aprendizado, na inclusão e na
explicitação da importância da atuação dos povos indígenas e conscientizar sobre a falta
de representatividade deles nos mais diversos assuntos discutidos no âmbito político,
social, cultural e educacional.
130
Aponta-se aqui que a pesquisa a ser apresentada está em fase inicial e será realizada sem
investimentos financeiros por intermédio do Programa de Iniciação Científica Voluntária
(PIC), do Programa de Educação Tutorial/Conexões de Saberes – Comunidades
Populares e do Grupo de Estudos e Pesquisas Macondo: Artes, Culturas Contemporâneas
e outras epistemologias, todos da referida instituição. Assim, pretende-se através das
teorias decoloniais e da etnografia pós-moderna, elaborar cartografias que tragam consigo
minuciosas análises e reflexões acerca das táticas e de aspectos formais da produção
cinematográfica Indígena no estado de Pernambuco. Vale salientar que o ineditismo desta
proposta nos faz iniciá-la mediante levantamento bibliográfico (livros, capítulos de livros,
artigos e demais trabalhos acadêmicos), que será tratado via perspectiva da hermenêutica
crítico-analítica. Nesse sentido, o corpus da pesquisa será conformado por filmes
coletados e mapeados a partir de sua exibição em festivais, nos perfis de redes sociais dos
coletivos de cinema indígena e nos canais do YouTube. É importante mencionar a
preocupação em relação à lei Lei n° 11.645/2008, que regulamenta a obrigatoriedade do
Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena em todos os níveis de ensino
(básico e superior). Para tanto, esta pesquisa dialogará com outras pesquisas institucionais
já finalizadas (Contribuições da Filosofia do Bem Viver e do Pensamento Indígena à uma
Pedagogia Antirracista) por meio do PIC da UFRPE, corroborando à discussão, além da
pretensão de se realizar a disponibilização de uma plataforma onde colocar-se-á os filmes
mapeados para o livre acesso de professores(as) de todos os níveis e esferas do saber
interessados(as) em problematizar e construir um conhecimento crítico e reflexivo à
hegemonia vigente da e na academia eurocentrada.
131
sua confissão era humilhação pública, cortar a planta dos pés e a morte na fogueira. Os
indígenas também foram uma das principais vitimas durante a inquisição, e um dos
motivos era a não realização de sua conversão ao cristianismo, e as mulheres indígenas
eram chamadas de bruxas e feiticeiras.
A figura indígena sempre esteve presente na literatura brasileira, antes mesmo desta se
tornar um movimento. Entretanto, é apenas à partir do séc. XIX, com o surgimento da
primeira geração do Romantismo, que o mesmo torna-se uma figura com maior
visibilidade na literatura do Brasil. Vários autores trataram sobre a figura indígena,
principalmente na primeira fase do Romantismo, que chegou a ser descrita como o
movimento dos autores “indianistas”. Entre tais autores, destacamos as obras do autor
José de Alencar: O Guarani (1957), Iracema (1865) e Ubirajara (1874), trazendo uma
análise mais aprofundada acerca desta última. Em Ubirajara, é possível analisar que José
de Alencar constrói um indígena com as características de um herói nacional, um
guerreiro romântico, visto como fiel, honroso, humilde e lutador. Levando em
consideração o contexto no qual o mesmo estava inserido e as construções existentes
acerca da imagem do indígena (selvagem, desumano e sem civilização), podemos afirmar
que José de Alencar foi importante por trazer uma humanização do indígena na literatura
da época. A literatura indígena no ensino de história, é um ponto que também necessita
de destaque. Como sabemos, a história sempre atuou como símbolo de resistência,
possuindo um papel central na formação do ser humano, todavia, quando se trata dos
níveis Fundamental e Médio, o ensino se centraliza nos fatos narrados por livros didáticos,
que ainda possuem uma história completamente eurocêntrica, o que acaba silenciando e
até mesmo excluindo algumas vozes e existências, como é o caso dos povos indígenas.
Portanto, é necessário ressaltar que o ensino não é uma caixa fechada, existem muitas
formas de produzir aprendizados através de um panorama teórico-metodológico que faça
com que a relação de ensino-aprendizado na sala de aula seja construtiva e crítica. À partir
desta perspectiva analisaremos o ensino de história utilizando a literatura como aparato
metodológico, trazendo problematizações e possíveis caminhos para um ensino inclusivo.
132
Graduanda Ana Luiza Araújo (UFCG)
Graduanda Rebeca Araújo (UFCG)
Graduanda Yasmin Silva (UFCG)
Graduanda Shayenne Nascimento (UFCG)
Doutora Juciene Ricarte Apolinário (UFCG)
133
Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG)
Doutora Juciene Ricarte Apolinário
Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG).
Embasados pelo artigo 210, capítulo III, da Constituição Federal do Brasil (1988), que
asseguram a formação básica comum e o respeito aos seus valores culturais e artísticos o
grupo Educação-Conexão de Saberes, vem desde 2020, colaborando com os
professores(as) indígenas potiguaras vinculados, em sua maioria, à Organização dos
Professores Indígenas da Paraíba (OPIP), na formação do ensino sobre educação
patrimonial e educação ambiental, além do desenvolvimento de atividades pedagógicas
formativas e colaborativas. Para isso utilizou-se a etnoeducação que é uma metodologia
que implica na experiência etnográfica enquanto travessia de fronteira interétnica
compartilhada por petianos(as), professores(as) indígenas e não-indígenas nas narrativas
de experiências de ensino-aprendizagem, em que se ressignifica as identidades culturais
através da educação patrimonial e ambiental. As atividades ocorreram mediadas por
Tecnologias Digitais (TD), em razão de sua inviabilidade na modalidade presencial nas
escolas indígenas potiguaras, em função da crise sanitária causada pela pandemia novo
coronavírus, necessitaram serem readaptadas. Os encontros/webinários e formações on-
line junto aos professores(as) Potiguara da Paraíba, têm possibilitado a produção de
conhecimento e o acúmulo de experiências fundamentais ao desenvolvimento de um
conjunto de reflexões em torno da educação patrimonial/ambiental, principalmente, em
perspectiva étnica de trocas e colaborações entre petianos(as) e professores(as) indígenas
e não-indígenas.
134
visando à elaboração de material didático específico e diferenciado para o auxílio das
práticas pedagógicas na sala de aula, na formação de professores Potiguara com ênfase
nas séries iniciais. Objetiva-se a realização de oficinas pedagógicas com os professores
das escolas indígenas da Baía da Traição para confecção, elaboração e publicação de
materiais específicos abrangendo diversos temas. Acompanhar o processo de
alfabetização das crianças indígenas que estão nos anos iniciais do Ensino Fundamental
nas escolas referidas. Promover intercâmbio e troca de experiências pedagógicas exitosas
entre os professores indígenas e comunidade petiana. Elaborar artigos científicos
acadêmicos visando à divulgação dos resultados das pesquisas, respeitando a anuência
dos Potiguara. Aplicaremos entrevistas estruturadas e semi estruturadas com os
professores Potiguara a respeito dos costumes e práticas tradicionais possíveis de serem
acrescentadas ao Currículo escolar e o que já vem sendo aplicado na perspectiva da
educação patrimonial/ambiental a partir da vida pela vida e para a vida do grupo étnico e
com ou sem o uso de material didático-pedagógico não-indígena. A pesquisa encontra-se
em desenvolvimento e com isso a comunidade petiana conseguiu realizar importantes
leituras sobre temas como etnoeducação, educação patrimonial e educação ambiental
favorecendo os primeiros contatos com os professores indígenas Potiguara.
135