BEE - Instalações Elétricas 3
BEE - Instalações Elétricas 3
BEE - Instalações Elétricas 3
Pretendemos com esta coleção – Biblioteca do Eletricista e do Eletrónico – suprir uma lacuna existente no nosso
mercado editorial de livros técnico-práticos na Área de Eletricidade e Eletrónica, destinados a profissionais,
estudantes e amantes desta área tecnológica.
A coleção será constituída por cerca de vinte volumes, de formato médio, a publicar regularmente, desejavelmente
um novo volume de seis em seis meses, tratando temas tão diferenciados como: Instalações Elétricas (RTIEBT),
Corrente Contínua, Magnetismo e Eletromagnetismo, Corrente Alternada Monofásica e Trifásica, Transformadores,
Semicondutores, Optoeletrónica, Transístores Bipolares (BJT), Transístores Unipolares (Fets e Mosfets),
Amplificadores com Transístores, Amplificadores Operacionais, Osciladores, Fontes de Alimentação, Máquinas
Elétricas de Corrente Alternada, Máquinas Elétricas de Corrente Contínua, Eletrónica de Potência, Sistemas
Digitais, Automatismos Industriais, Sistemas de Proteção Elétrica, Energias Renováveis, Domótica,
Microcontroladores e Robótica.
Para abordar alguns dos temas, serão convidadas algumas individualidades com maior experiência nessas áreas.
O presente volume – Corrente Contínua e Eletromagnetismo – é o volume 3 da Coleção e aborda os seguintes
capítulos:
• Capítulo 1 – Corrente Contínua – leis gerais do circuito elétrico
• Capítulo 2 – Condensadores em Corrente Contínua
• Capítulo 3 – Magnetismo e Eletromagnetismo
Houve a preocupação, em todo o texto, de utilizar uma linguagem o mais simples possível, sem descurar o rigor
técnico, de forma a ser compreendida pelos diferentes tipos de leitores, com mais ou menos formação académica.
São apresentados exemplos práticos, com a realização de cálculos simples, sempre que se entendeu pertinente.
O presente volume, bem como os restantes, foi elaborado em conformidade com as novas regras do Acordo
Ortográfico.
Nos sítios www.josematias.pt e www.josematias.pt/eletr ou na página do Facebook
www.facebook.com/jvcmatias, poderá o leitor encontrar conteúdos que certamente lhe interessarão.
Boas leituras!
O autor
CAPÍTULO 1
Corrente contínua – Leis gerais do circuito elétrico
A melhor forma de prever o futuro é criá-lo. – Peter Drucker
Nota: O galvanómetro é um aparelho que indica que há movimento de cargas elétricas no circuito.
A este movimento orientado dos eletrões, do potencial elétrico negativo para o positivo,
dá-se o nome de corrente elétrica. A corrente elétrica cessa (deixa de existir) quando os
dois potenciais elétricos se igualam. Este fenómeno é semelhante àquilo que acontece,
em hidráulica, quando ligamos, através de um tubo ou conduta, dois depósitos de água,
com níveis diferentes, conforme se sugere na figura 4.
A água irá fluir do depósito com maior nível para o de menor nível até ficarem ao
mesmo nível. Nesse instante, deixa de haver movimento de água.
Concluímos, portanto, que só há corrente elétrica entre dois corpos (dois elétrodos,
dois terminais, etc.) quando há diferença de potencial entre eles. Esta é uma das
primeiras conclusões importantes do estudo das leis do circuito elétrico.
3. Tipos de correntes. Efeitos da corrente elétrica
No ponto anterior, vimos como se produz uma corrente transitória i, isto é, de pequena
duração, que se extingue quando os corpos igualam o seu potencial elétrico.
Evidentemente que esta corrente não tem utilidade prática no funcionamento da
generalidade dos recetores e instalações elétricas.
Com efeito, os circuitos elétricos e instalações elétricas necessitam de correntes
perfeitamente estabilizadas, de forma a alimentarem os recetores de uma forma
contínua e de valor constante. Para obter essas correntes, existem aparelhos chamados
geradores elétricos (baterias, pilhas, dínamos, alternadores, etc.), os quais iremos
estudar mais adiante.
Assim, as correntes elétricas dividem-se em dois grandes grupos: correntes
unidirecionais e correntes bidirecionais.
As correntes unidirecionais têm um só sentido (no condutor); as bidirecionais têm os
dois sentidos (no condutor), isto é, variam alternadamente o sentido do movimento dos
eletrões, conforme se sugere na figura.
Daqui em diante, iremos utilizar o sentido convencional da corrente, desde que nada
seja dito em contrário.
com:
I – intensidade de corrente (amperes – A)
Q – quantidade de eletricidade (coulombs – C)
t – tempo (segundos – s)
Em muitas situações práticas, como por exemplo no cálculo de secções de condutores e
fios de bobinas, há a necessidade de definir a grandeza densidade de corrente elétrica J
– que é a intensidade de corrente por unidade de secção do condutor:
com:
J – densidade de corrente (A/m2)
I – intensidade de corrente (A)
S – secção (m2)
Como se sabe, os diferentes recetores elétricos absorvem valores de corrente variados,
uns mais elevados e outros mais reduzidos. Podem também ser submetidos a diferentes
valores de tensão, desde valores muito reduzidos até valores bastante elevados. Por
comodidade, na representação matemática de alguns dos valores das grandezas,
principalmente os valores muito elevados e os valores muito baixos, utilizam-se
frequentemente múltiplos e submúltiplos.
Os submúltiplos mais comuns são:
mili (m) = 10–3 = 0,001
micro (μ) = 10–6 = 0,000001
nano (n) = 10–9
pico (p) = 10–12
Os múltiplos mais comuns são:
quilo (k) = 103 = 1000
mega (M) = 106 = 1 000 000
Ex.: 1 μA = 1 microampere = 0,000001 A
1 kV = 1 quilovolt = 1000 V
5. Energia e potência
Todos nós ouvimos diariamente falar em energia e em potência. Fala-se em energia
elétrica, em energia mecânica, em energia do Sol, diz-se que estamos com mais ou
menos energia, etc. Isto é, o conceito de energia é muito lato, utiliza-se em muitas
circunstâncias.
Não é, de facto, fácil definir o conceito de energia. Podemos, no entanto, dizer que a
energia W é a capacidade que um corpo tem de produzir trabalho. Produz-se trabalho
quando se modifica o estado físico, químico ou de movimento ou repouso de um corpo.
Por exemplo, produzimos trabalho quando: levantamos um peso, subimos umas
escadas, transportamos uma mala, empurramos um carro, etc. Em qualquer das
situações, exercemos uma ação sobre algo. Para produzir qualquer dos trabalhos
referidos, tivemos de despender energia. A energia que nós despendemos, vamos
buscá-la aos alimentos. Os alimentos, por sua vez, receberam, em última análise, a
energia do Sol. Isto é, a energia transforma-se em diferentes formas.
Portanto, quando falamos em energia, estamos a falar num conceito que assume
diferentes formas.
A potência P é, por definição, a energia despendida na unidade de tempo:
com:
W – energia ( Joules – J)
P – potência (watts – W)
t – tempo (segundos – s)
Tal como existem diferentes formas de energia, também existem as diferentes potências
correspondentes, nomeadamente: potência elétrica, potência mecânica, potência
calorífica. Mais adiante, voltaremos a falar sobre o assunto.
6. Resistência elétrica
6.1 Resistências lineares e não lineares
Conforme foi já referido, uma resistência linear apresenta um valor constante,
independentemente dos valores da intensidade e da tensão aplicada. A resistência «não
linear» não tem um valor constante com as grandezas referidas, podendo a sua variação
assumir diversos comportamentos.
Quando aplicamos sucessivos valores de tensão a uma resistência linear, ela será
percorrida por diferentes valores de intensidade, de tal forma que o quociente U/I é
constante e igual a R. A representação gráfica da função U(I) para uma resistência linear
é, por isso, uma reta, tal como se sugere na figura 14 a).
Se aplicarmos sucessivos valores de tensão a uma resistência «não linear», já o mesmo
não acontece, isto é, o quociente U/I não é constante. Deste modo, a representação
gráfica da função U(I) para este tipo de resistência é uma curva, tal como se exemplifica
na figura 14 b).
Um reóstato, por exemplo, é uma resistência linear, pois a sua resistência é constante
com a tensão aplicada, mas o filamento de uma lâmpada de incandescência não é uma
resistência linear, pois a sua resistência varia com a tensão aplicada.
Uma resistência «não linear» do tipo CTN (α = –15 000 × 10–6) de 470 kΩ (a 25 °C) teria
a 80 °C:
R80 = 470 × {1 – 15 000 × 10–6 × (80 – 25)] = 82,25 kΩ
Cada década é o conjunto dos valores inteiros situados entre duas potências de base 10
mais próximas.
Vejamos alguns exemplos de décadas de resistências.
1) Década entre 0,1 Ω (= 10–1 Ω) e 1 Ω (= 100 Ω).
2) Década entre 1 Ω (= 100 Ω) e 10 Ω (= 101 Ω).
3) Década entre 10 Ω e 100 Ω.
4) Década entre 100 Ω e 1000 Ω, etc.
Assim, na década de 100 Ω a 1000 Ω (ou outra década qualquer), teremos sempre:
• 6 resistências da série E6 (20% de tolerância);
• 12 resistências da série E12 (10% de tolerância);
• 24 resistências da série E24 (5% de tolerância) e assim sucessivamente.
Na tabela 5, apresentamos as séries E6, E12, E24 e E48 na década de 100 Ω a 1000 Ω.
A questão que se põe é a de saber como obter cada um dos valores das séries, indicados
no quadro.
Vejamos então uma série para melhor compreendermos o assunto.
A série E6 (de tolerância ± 20%) é constituída, na década de 100 Ω a 1000 Ω, pelas
seguintes resistências (de acordo com a tabela 5):
Série E6 (± 20%): 100 Ω, 150 Ω , 220 Ω, 330 Ω, 470 Ω, 680 Ω
Vejamos por que razão, a seguir a 100 Ω, temos a resistência de 150 Ω e não outra, na
série E6. A resistência de 100 Ω tem, à tolerância de ± 20%, um valor real que se situará
entre:
Rmin = 100 Ω – 20% × 100 Ω = 80 Ω e Rmáx = 100 Ω + 20% × 100 Ω =120 Ω
A resistência de 150 Ω tem, à tolerância de ± 20%, um valor real que se situará entre:
Rmin= 150 Ω – 20% × 150 Ω =120 Ω e Rmáx = 150 Ω + 20% × 150 Ω = 180 Ω
Ora, se repararmos, Rmáx da resistência de 100 Ω e Rmin da resistência de 150 Ω são iguais
entre si e de valor igual a 120 Ω. Concluímos, portanto, que nesta série a resistência
subsequente a 100 Ω só pode ser a de 150 Ω. O mesmo raciocínio seria aplicado às
restantes resistências desta e das outras séries. Note, no entanto, que cada série tem a
sua tolerância própria.
De referir também que os valores das resistências das restantes décadas se obtêm
facilmente a partir dos valores da década indicada na tabela 5, dividindo ou
multiplicando-os por potências de 10.
Exemplifiquemos.
A série E6 (± 20%), por exemplo, tem os seguintes valores nas seguintes décadas:
• Década de 100 Ω a 1000 Ω: 100, 150, 220, 330, 470, 680 Ω
• Década de 10 Ω a 100 Ω: 10, 15, 22, 33, 47, 68 Ω
• Década de 1000 Ω a 10 000 Ω: 1000, 1500, 2200, 3300, 4700, 6800 Ω
Para outras séries e outras décadas, o raciocínio seria semelhante.
7. Circuito elétrico
7.1 Constituição
Um circuito elétrico é constituído por um ou mais geradores elétricos que alimentam os
seus recetores, com a respetiva aparelhagem de ligação, corte, comando, proteção e
medida.
Evidentemente que há circuitos elétricos mais ou menos complexos, com mais ou
menos aparelhos, os quais dependem afinal da função e objetivos que se pretende
atingir com os mesmos.
Em nossas casas, temos diferentes circuitos elétricos protegidos individualmente pelo
seu disjuntor. No laboratório, podemos montar diferentes circuitos elétricos. Numa
fábrica, temos uma instalação elétrica geral com diferentes circuitos elétricos
(parcelares), para funções diferentes.
Os principais elementos que constituem um circuito elétrico são os seguintes:
Diz-se que um circuito está aberto (interruptor K desligado) quando não há passagem
de corrente (I = 0) no circuito.
Diz-se que um circuito está fechado (interruptor K ligado) quando há passagem de
corrente (I ≠ 0) no circuito.
O circuito representado tem alguns dos elementos que normalmente o constituem.
Assim, temos:
• Um gerador G que fornece uma corrente elétrica constante ao circuito.
• Dois recetores (uma lâmpada L e um motor M) que recebem energia da fonte de
alimentação (gerador G).
• Três aparelhos de medida: um voltímetro V, um amperímetro A e um wattímetro W.
O voltímetro mede a tensão aplicada ao circuito e fornecida pelo gerador. O
amperímetro mede a intensidade de corrente I que percorre o circuito. O wattímetro
mede a potência elétrica no circuito (mais tarde, definiremos potência elétrica).
• Um corta-circuitos fusível F para proteger o circuito.
• Um interruptor K para comandar (ligar e desligar) o circuito.
• Condutores de ligação.
Analisemos melhor os principais elementos de um circuito elétrico.
Um circuito elétrico normal é, portanto, constituído por um elemento ativo, pelo menos,
e por um, ou mais, elementos passivos, para além da restante aparelhagem de corte, de
comando e de proteção.
Na figura 42 representa-se um amplificador elementar constituído por dois elementos e
vários elementos passivos.
8. Lei de Ohm
Vimos já que existem diferentes tipos de recetores, que provocam diferentes
transformações energéticas.
A Lei de Ohm, que agora estudamos, aplica-se apenas aos recetores ditos resistivos e
lineares.
Um recetor resistivo é aquele que apresenta apenas «resistência elétrica» (mais tarde,
veremos que há recetores que têm reatância indutiva, reatância capacitiva, etc.); isto é,
não possuem reatância indutiva ou capacitiva. São exemplos de recetores resistivos: o
reóstato, o potenciómetro, a resistência propriamente dita, o irradiador, etc.
Um recetor diz-se linear quando mantém constantes as suas caraterísticas, em toda a
sua extensão e independentemente da corrente que o percorre e da tensão aplicada.
Façamos a montagem indicada na figura.
Nota: Evidentemente que, durante os ensaios, nem sempre o quociente dá exatamente o mesmo valor, pois há sempre
pequenos erros dos aparelhos de medida, erros de leitura, etc.
Georg Simon Ohm chegou exatamente a esta conclusão em 1827, tendo enunciado a
seguinte lei, à qual foi dado mais tarde o seu nome:
Lei de Ohm – É constante o quociente entre a tensão aplicada a um condutor linear (ou
a um recetor resistivo e linear) e a intensidade de corrente que o percorre. A esta
constante de proporcionalidade dá-se o nome de resistência elétrica R. A lei de Ohm é
traduzida matematicamente por:
com:
R – resistência elétrica (em ohms – Ω )
U – tensão aplicada (em volts – V)
I – intensidade de corrente (em amperes – A)
A resistência elétrica de um recetor resistivo e linear pode também ser obtida
graficamente, tal como se representa na figura.
Verifica-se que o gráfico U (I) corresponde exatamente a uma reta, devido ao facto de o
recetor ser linear.
Se não obtivéssemos uma reta, então era porque o recetor não era linear e, portanto, não
poderíamos aplicar a Lei de Ohm ou então era porque teria havido alguma leitura
errada.
A partir da expressão anterior da Lei de Ohm, podemos facilmente obter outras
expressões:
Resolução:
Ao cuidado do aluno.
P5 – Um reóstato tem indicado na sua chapa de caraterísticas os seguintes valores: 200
Ω e 1,3 A.
Calcule:
a) A tensão máxima que se lhe pode aplicar.
b) A intensidade que ele absorve, se lhe aplicarmos 120 V.
c) O valor da tensão que se lhe deve aplicar para que ele absorva 0,4 A.
Solução:
a) 260 V; b) 0,6 A; c) 80 V.
P6 – Uma dada resistência elétrica absorve 0,5 A. Ao aumentar a resistência para 100 Ω,
passou a absorver 0,2 A . Calcule:
a) A tensão aplicada.
b) A resistência inicial.
Solução:
a) 20 V; b) 40 Ω.
9. Geradores
9.1 Tipos de geradores
Gerador é o dispositivo que fornece energia elétrica. Podemos classificar o gerador em:
gerador real e gerador ideal. O gerador real tem uma dada resistência interna r ≠ 0; o
gerador ideal tem uma resistência interna nula: r = 0. Evidentemente que não há
geradores ideais; o que há são geradores com resistência interna muito baixa, que se
aproximam do gerador ideal.
Conforme vimos já, existem, quanto à constituição, basicamente, dois tipos de
geradores: o gerador eletrodinâmico e o gerador eletroquímico.
O gerador eletrodinâmico é um gerador que transforma a energia mecânica em elétrica.
É um gerador rotativo.
O gerador eletroquímico transforma a energia química em elétrica. É um gerador
estático.
Temos como exemplos de geradores eletrodinâmicos: o dínamo e o alternador. O
dínamo fornece corrente contínua. O alternador fornece corrente alternada.
Como exemplos de geradores eletroquímicos, temos as pilhas e as baterias de
acumuladores.
Existem diferentes tipos de pilhas e de baterias, consoante os tipos de elétrodos e os
seus eletrólitos.
Basicamente, uma pilha é constituída por dois elétrodos de materiais diferentes que são
mergulhados ou embebidos numa solução eletrolítica condutora. Na figura, representa-
se o princípio de funcionamento da primeira pilha que foi inventada por Volta, em 1799
– a pilha de Volta.
Assim, para obter o valor de r a partir desta última expressão, é necessário: efetuar um
ensaio em vazio (sem carga), para determinar a força eletromotriz E; e efetuar um
ensaio em carga, para determinar o valor da tensão U correspondente a uma dada
corrente de carga I:
• Ensaio em vazio ⇒ Força eletromotriz E
• Ensaio em carga ⇒ Tensão em carga U e intensidade I
• Cálculo da resistência interna:
O segundo processo utiliza uma expressão que é obtida a partir de dois ensaios em
carga do gerador. Assim, se fizermos dois ensaios em carga diferentes, com tensões U1,
I1 e U2, I2, obtemos as expressões matemáticas:
E = U1 + r I1 e E = U2 + r I2
Igualando as duas expressões, pois que a força eletromotriz E é constante, obtemos:
U1 + r I1 = U2 + r I2
Desta igualdade, explicitamos em ordem a r e obtemos a resistência interna r:
Qualquer das duas fórmulas é muito utilizada no cálculo da resistência interna dos
geradores eletroquímicos. No caso dos geradores eletrodinâmicos, elas também podem
ser utilizadas, mas é mais prático e mais rápido utilizar o ohmímetro ou o multímetro
na medição direta da respetiva resistência interna. Estes aparelhos já não podem ser
utilizados na medição direta da resistência interna dos geradores eletroquímicos.
Esta associação é geralmente feita com geradores que possuem as mesmas caraterísticas
(força eletromotriz E e resistência interna r). O objetivo da associação em série é
aumentar a força eletromotriz total e, portanto, a tensão total U a aplicar a um circuito
ou instalação elétrica.
Assim, a associação em série de geradores é caraterizada pelas seguintes relações:
1) A força eletromotriz total ET é a soma das forças eletromotrizes parciais:
ET = n E
2) A resistência interna total rT é a soma das resistências internas parciais:
rT = n r
3) A intensidade de corrente I é a mesma em todos os geradores.
9.6.2 Associação em paralelo de geradores iguais
Diz-se que dois ou mais geradores são ligados em paralelo quando os seus terminais
positivos são ligados entre si (+ com +) e os seus terminais negativos também entre si (–
com –), tal como se sugere na figura.
Normalmente ligam-se em paralelo geradores que possuem as mesmas caraterísticas.
Esta associação é feita quando se pretende aumentar o valor da intensidade de corrente
I, isto é, quando o recetor R exige mais corrente do que aquela que um só gerador
consegue fornecer. Repare que quando a intensidade fornecida por um gerador é muito
elevada, produz-se uma queda de tensão interna ΔU = r I também elevada, reduzindo
bastante o valor da tensão U que o gerador devia fornecer. Daí a necessidade de ligar
vários geradores em paralelo, de forma que cada um deles forneça menos corrente,
reduzindo assim a queda de tensão no circuito.
Esta associação é caraterizada pelas seguintes relações:
1) A força eletromotriz total ET é igual à força eletromotriz de cada gerador:
ET = E
2) A resistência interna total rT de n geradores é inferior à resistência interna de cada
gerador, sendo calculada por:
3) A intensidade total IT fornecida é igual à soma das intensidades fornecidas por cada
gerador:
IT = n I
(Teorema de Millman)
Se o circuito tivesse quatro geradores, acrescentar-se-ia mais uma parcela ao numerador
e outra ao denominador, e assim sucessivamente. Isto é, para n geradores, teríamos:
Resolução:
a) ΔU = r I = 0,1 × 5 = 0,5 V
b) U = E – r I = 12 – 0,5 = 11,5 V
P2 – Dispõe de 4 pilhas de 1,5 V cada e com uma resistência interna de 0,1 Ω cada.
Calcule:
a) Os valores de ET e rT , se as ligar em série.
b) Os valores de ET e rT , se as ligar em paralelo.
c) A tensão aplicada a um recetor, quando ligadas em série, sabendo que a corrente
fornecida é de 0,3 A.
d) A tensão aplicada a um recetor, quando ligadas em paralelo, sabendo que a corrente
fornecida é de 0,5 A.
Resolução:
a) ET = n E = 4 × 1,5 = 6 V; rT = 4 × 0,1 = 0,4 Ω
Esta associação permite que a tensão em cada lâmpada seja inferior à tensão total U
aplicada ao circuito, permitindo-nos assim utilizar lâmpadas com tensões nominais
inferiores à da rede. Tem, contudo, a desvantagem de, no caso de uma lâmpada se
fundir, as restantes ficarem sem corrente. É o caso das lâmpadas utilizadas nas árvores
de Natal, em que, ao fundir uma, fica todo o conjunto sem iluminação.
Diz-se que dois ou mais recetores são ligados em paralelo quando são submetidos à
mesma tensão elétrica da rede U. Na figura representam-se três recetores diferentes –
uma resistência R, um motor M e uma lâmpada L – submetidos à mesma tensão U.
A tensão entre A e B é igual à tensão entre C e D, igual à tensão entre E e F e igual à
tensão da rede U. A intensidade absorvida por cada recetor é que poderá ser diferente,
dependendo das caraterísticas de cada recetor. Este tipo de associação é o mais
vulgarmente utilizado (nomeadamente nas nossas casas e em instalações comerciais,
industriais, etc., na medida em que torna os recetores independentes uns dos outros.
Por exemplo, se ligarmos, em nossa casa, um aspirador, um aquecedor e um secador de
cabelo à mesma tomada elétrica, através de uma ficha tripla, estamos a ligá-los em
paralelo, funcionando aqueles independentes uns dos outros. Se desligarmos o secador,
os outros dois continuam a funcionar da mesma forma.
A associação mista de recetores consiste em ligar uns recetores em série e outros em
paralelo, das mais diversas formas. Na figura representamos três lâmpadas em
associação mista.
Este tipo de associação encontra-se normalmente em circuitos eletrónicos, em circuitos
impressos, fazendo parte de equipamentos e aparelhagem muito diversa (aparelhagem
de medida, aparelhagem de áudio e vídeo, etc.). Evidentemente que, em laboratório, são
frequentemente efetuadas montagens de que fazem parte associações mistas de
componentes.
O voltímetro V está em paralelo com todo o circuito, portanto mede a tensão total
aplicada U = 15 V. O voltímetro V1 está em paralelo apenas com R1, portanto mede a
tensão U1 aos terminais de R1. O voltímetro V2 está ligado em paralelo com R2, portanto
mede a tensão U2 aos terminais de R2.
Efetuámos um ensaio laboratorial com a montagem correspondente ao esquema
indicado na figura anterior e obtivemos o quadro de leituras seguinte:
O potenciómetro, conforme vimos anteriormente, tem três terminais: dois fixos, ligados
à alimentação, e um ligado ao cursor C móvel, que permite variar a tensão aplicada ao
recetor. O princípio de funcionamento é o mesmo do divisor de tensão, isto é, da
associação de resistências, provocando duas quedas de tensão, em que se utiliza apenas
uma delas para aplicar ao recetor, tal como se sugere na figura.
PROBLEMAS – Associação de resistências em série
P1 – Três resistências de 6 Ω, 9 Ω e 15 Ω são ligadas em série, sob uma tensão total de 24
V. Calcule:
a) A resistência equivalente da associação (RT).
b) A intensidade de corrente no circuito.
c) A tensão aos terminais de cada resistência.
Resolução:
a) RT = R1 + R2 + R3 = 6 + 9 + 15 = 30 Ω
P3 – Três resistências ligadas em série, percorridas por uma intensidade de 1,2 A, têm
aos seus terminais as tensões U1 = 2,4 V, U2 = 3,6 V e U3 = 6 V. Calcule:
a) O valor de cada resistência.
b) A tensão aplicada ao circuito.
Solução:
a) 2 kΩ; 3kΩ; 5kΩ; b) 12 V.
P4 – Quatro resistências são ligadas em série. Sabe-se que R1 = 3 Ω, R2 = 2 R1, R3 = 3 R2 e
R4 = 1,5 R3. Sabendo que a intensidade de corrente é de 500 mA, calcule:
a) Os valores de R2, R3 e R4.
b) A resistência total equivalente.
c) A tensão aplicada a cada resistência.
d) A tensão total aplicada.
Solução:
a) 6 Ω; 18 Ω; 27 Ω; b) 54 Ω; c) 1,5 V; 3 V; 9 V; 13,5 V; d) 27 V
P5 – Um cabo (com dois condutores) em cobre, com 40 metros de comprimento, com
secção (por condutor) de 4 mm2, alimenta um conjunto de recetores, sob uma tensão UR
= 230 V. Sabendo que a intensidade no circuito é de 16A, calcule:
a) A resistência total do cabo.
b) A queda de tensão no cabo (ΔU).
c) A tensão no início do cabo (U1).
d) A queda de tensão no cabo, em percentagem de U1.
Solução:
a) 340 mΩ; b) 5,44 V; c) 235,44 V; d) 2,37%
P6 – Pretende-se construir um divisor de tensão que forneça as tensões de 4 V, 8 V e 12
V. A corrente fornecida deve ser de 20 mA. Calcule:
a) A tensão total da fonte.
b) O valor de cada resistência do divisor de tensão.
c) A resistência total equivalente.
Solução:
a) 24 V; b) 200 Ω; 400 Ω; 600 Ω; c) 1,2 kΩ (ou 1K2).
P7 – Temos um voltímetro com resistência interna total Rt = 500 kΩ que mede tensões
entre 0 V e 150 V. Pretendemos que o voltímetro passe a medir tensões entre 0 V e 250
V. Qual deve ser a resistência a ligar em série com a existente?
Solução:
333,3 kΩ
10.3.2 Associação em paralelo de resistências
Uma associação de resistências em paralelo é caraterizada por se encontrarem todas
submetidas à mesma tensão elétrica, tal como se sugere na figura.
Isto é, a resistência total equivalente a n resistências iguais será n vezes menor do que o
valor de uma só resistência.
Em síntese, numa associação em paralelo, temos as seguintes condições:
1) A tensão é igual em todas as resistências: U1 = U2 = ....... = Un.
2) A intensidade total é igual à soma das intensidades parciais: I = I1 + I2 + ...... + In.
3) O inverso da resistência total é igual à soma dos inversos das resistências parciais.
4) A resistência total equivalente é sempre menor do que a menor das resistências
parciais (confirme esta afirmação, atribuindo valores).
• Aplicações da associação em paralelo
A associação de resistências em paralelo tem muitas aplicações, pois permite alimentar
simultaneamente diferentes recetores sem que uns interfiram no funcionamento dos
outros, isto é, funcionem independentemente.
Há, no entanto, algumas aplicações particulares, como nomeadamente, o aumento (ou
extensão) do campo de medida dos amperímetros.
Suponhamos, por exemplo, que temos um amperímetro que só mede corrente até 1 A e
que a instalação onde vai ser ligado tem uma corrente de 3 A. Como podemos resolver
este problema sem ter de comprar outro amperímetro?
É simples. Liga-se em paralelo com o amperímetro uma resistência com o valor
conveniente (previamente calculado), de forma a ser percorrida por 3 – 1 = 2 A. Isto é, o
amperímetro é percorrido por 1 A, a resistência em paralelo (ou resistência-shunt) será
percorrida por 2 A e, portanto, a corrente total que alimenta o recetor será IT = 1 + 2 = 3
A.
Ou seja, quando o amperímetro marcar 1 A nós, já sabemos que a corrente total no
recetor será de 3 A, conforme se sugere na figura.
Que valor deverá ter então a resistência-shunt Rs?
Suponhamos que a resistência interna do amperímetro é RA = 1,5 Ω. Então, a queda de
tensão interna máxima será:
UA = RA · IA = 1,5 × 1 = 1,5 V
Esta tensão fica também aplicada a Rs, que está ligada em paralelo com o amperímetro,
pelo que teremos:
Esta fórmula permite-nos calcular também o valor de Rs, a partir de Is, IT e RT.
Tal como na associação série, também na associação em paralelo se utilizam duas ou
mais resistências quando se pretende obter um dado valor de resistência que não se
fabrica ou que não possuímos no momento.
PROBLEMAS – Associação de resistências em paralelo
P1 – Três resistências de 20 Ω, 30 Ω e 60 Ω são ligadas em paralelo, sob 24 V. Calcule:
a) A resistência total equivalente
b) A intensidade absorvida por cada resistência
c) A intensidade total fornecida
Resolução:
a)
Note que podia fazer o cálculo por etapas, isto é, primeiro fazia o paralelo entre duas
resistências quaisquer e de seguida fazia o paralelo entre esse resultado e a terceira
resistência, da seguinte forma:
b)
b) IT = I1 + I2 + I3 = 10 + 15 + 30 = 55 mA
Resolução:
a) Rs = R2 + R3 = 6 + 4 = 10 Ω
RT = R1 + Rp = 8 + 3,3 = 11,3 Ω
Solução:
a1) 3,43 Ω; a2) 1,75 A;
b1) 2,86 Ω; b2) 2,1 A.
P3 – Observe a figura. Calcule a resistência equivalente vista dos terminais A e B.
Solução:
6Ω
P4 – Suponha que temos três resistências com os seguintes valores:
R1 = 4 kΩ, R2 = 5 kΩ e R3 = 6 kΩ.
a) Indique o número de associações mistas diferentes que é possível efetuar com as três
resistências.
b) Calcule a resistência equivalente de cada associação.
Solução:
a) 6; b) 8,22 kΩ; 7,40 kΩ; 6,73 kΩ; 3,60 kΩ; 3,33 kΩ; 2,93 kΩ.
P5 – Uma associação mista de três resistências tem uma resistência equivalente de 6 Ω.
Sabe-se que uma delas tem 5 Ω e a outra 10 Ω.
a) Calcule os valores possíveis da terceira resistência. Sugestão: procure primeiro os
esquemas elétricos corretos.
b) Dando novos valores às resistências, procure encontrar uma situação em que haja
apenas uma solução.
Solução:
a) 1,1 Ω; 2,67 Ω; 10 Ω; 10 Ω; b) Ao cuidado do aluno.
P6 – Na figura, representa-se um potenciómetro R cuja resistência máxima é de 600
Ω/Imáx = 0,8 A, a alimentar uma carga de valor Rc = 85 Ω. A tensão aplicada ao
potenciómetro é de 80 V. A posição do cursor do potenciómetro é tal que R1 = 50 Ω e R2
= 550 Ω.
a) Calcule os valores medidos por cada um dos aparelhos de medida, quando K está
aberto.
b) Calcule os valores medidos por cada um dos aparelhos de medida, quando K está
fechado.
c) Admitindo que R1 = 10 Ω e R2 = 590 Ω, verifique se haverá o risco de o potenciómetro
se queimar.
d) Ao variar o cursor entre os dois extremos, calcule:
1. O valor máximo que A1 indicará.
2. O valor da resistência mínima da associação.
e) Calcule a tensão máxima que se poderia aplicar a este circuito, de modo a nunca pôr
em risco o potenciómetro.
Solução:
a) 0,13 A; 0,13 A; 0 A; 7,15 V;
b) 0,647 A; 0,087 A; 0,56 A; 47,7 V;
c) Sim, porque I1 = 0,95 A > Imáx = 0,8 A; a corrente I1 percorrerá as primeiras espiras (10
Ω) do potenciómetro, podendo queimá-las;
d1) 1,07 A (quando o cursor está em cima, isto é, R1 = 0 Ω);
d2) RTmín = 74,45 Ω;
e) 59,6 V.
P7 – Na figura representa-se um divisor de tensão, em que R1 = 40 Ω e R2 = 500 Ω. A
resistência de carga é R = 60 Ω e a tensão U é 50 V.
Diz-se indireto o método em que o aparelho não nos indica diretamente o valor da
resistência (ou outra grandeza qualquer), mas permite que, após leituras e cálculos, se
obtenha o valor da resistência. É o caso do método voltamperimétrico e o caso das
pontes de medida.
O método voltamperimétrico consiste em aplicar a Lei de Ohm num circuito elétrico
que alimenta a resistência R a medir. O voltímetro lê a tensão U aplicada à resistência R,
e o amperímetro lê a intensidade de corrente I que a percorre, permitindo então o
cálculo de R = U/I.
Frequentemente, são feitas várias leituras, com diferentes valores de tensão, o que nos
permite calcular vários valores para R, calculando no fim a média aritmética dos
valores obtidos, como o valor mais provável:
Este processo permite minimizar possíveis erros de leitura cometidos quando se efetua
um só ensaio.
A medição de resistências pelo voltamperimétrico pode ser efetuada utilizando dois
esquemas diferentes: com voltímetro antes do amperímetro e com voltímetro depois
do amperímetro.
Aparentemente, ambos os circuitos darão os mesmos valores, mas não é bem assim.
Repare-se que no esquema a), o voltímetro não mede a tensão aplicada à resistência R,
mas sim a tensão aplicada ao conjunto resistência + amperímetro. Ora, o amperímetro
também tem resistência elétrica. Portanto, este método não nos dá o valor exato de R,
mas sim um valor maior do que R.
No esquema b), o amperímetro não mede só a corrente que percorre a resistência, mas
também a que percorre o voltímetro. Logo, este método também não nos dá o valor
exato de R, nas sim um valor menor do que R.
Então qual o esquema a utilizar?
Bom, nuns casos utiliza-se um deles e noutros utiliza-se o outro. Pode demonstrar-se,
com alguns cálculos ou experimentalmente (inclusive no laboratório virtual), que são
utilizados nas seguintes circunstâncias:
1) Esquema a) — voltímetro antes do amperímetro – É utilizado quando a resistência R
a medir tem um valor elevado (centenas ou milhares de ohms) quando comparado com
a resistência interna do amperímetro (alguns ohms ou décimas do ohm).
2) Esquema b) — voltímetro depois do amperímetro – É utilizado quando a resistência
R a medir tem um valor baixo (alguns ohms ou dezenas de ohms), relativamente
próximo da resistência interna do amperímetro.
Mais tarde, o aluno terá oportunidade de demonstrar experimentalmente estas
afirmações.
As pontes de medida (como por exemplo a ponte de Wheatstone) permitem obter o
valor da resistência Rx a medir, equilibrando os braços de uma ponte, tal como se
representa na figura.
Varia-se a resistência Rc, até que o galvanómetro G indique uma corrente IG nula –
nesta altura a ponte está equilibrada, e a resistência Rx é calculada pela expressão:
Esta fórmula pode ser facilmente demonstrada, por análise do circuito representado na
figura 76. Visto que as resistências Rc, Rm e Rd da ponte são de precisão, a ponte de
medida permite-nos obter resultados com precisão elevada.
Visto que é a rede que vai alimentar o motor e o acumulador, então a tensão U aplicada
tem de ser mais elevada do que a f.c.e.m. E’ de cada um dos recetores, verificando-se
então a seguinte relação:
U = E’ + r’ · I 1)
com:
U – tensão aplicada ao recetor (volts)
E’ – força contraeletromotriz (volts)
r’ – resistência interna do recetor de força contraeletromotriz (ohms)
I – intensidade absorvida (amperes)
r’ · I – queda de tensão interna no recetor (volts)
Desta expressão, deduz-se facilmente aquela que permite calcular a corrente:
Note-se que a tensão aplicada U tem de vencer, não só a f.c.e.m., mas também a queda
de tensão interna (do motor ou do acumulador). Repare também, nos dois esquemas em
que representámos a tracejado a f.e.m. E do gerador que vai fornecer a tensão U. A
f.e.m. E tem, conforme se pode verificar, o sentido contrário ao da f.c.e.m. E’.
10.6.3 Comparação entre o gerador e o recetor de f.c.e.m.
Recordemo-nos da expressão matemática da tensão U aos terminais de um gerador em
carga e comparemo-la com a expressão 1) representada acima. Temos então as seguintes
relações:
• U = E – r · I – fórmula aplicada ao gerador
• U = E’ + r’ · I – fórmula aplicada ao recetor de f.c.e.m.
Não há dúvida que as duas fórmulas são muito semelhantes. Com efeito, ambas se
aplicam aos mesmos dispositivos, que são a bateria/acumulador e o dínamo/motor. Na
verdade, ambos podem funcionar ora como gerador ora como recetor.
A bateria tem f.e.m. e fornece corrente quando funciona como gerador; tem f.c.e.m. e
absorve corrente quando funciona como acumulador de energia.
O dínamo tem f.e.m. e fornece corrente, mas também pode funcionar como recetor
(motor), com f.c.e.m., se lhe fornecermos corrente.
Ambas são reversíveis, isto é, funcionam nos dois sentidos da transformação
energética. Daí que se lhes apliquem ambas as expressões acima indicadas, consoante a
situação.
Na figura apresenta-se um exemplo de uma bateria, funcionando ora como gerador ora
como acumulador. Pode verificar-se que, como gerador, a f.e.m. E = U + r · I é
obviamente maior do que a tensão U fornecida, enquanto como acumulador a tensão
aplicada é maior do que a f.c.e.m.
Considerando agora que o circuito era constituído por N forças eletromotrizes e por N
forças contraeletromotrizes, obtínhamos finalmente a Lei de Ohm generalizada:
em que:
Σ – símbolo que significa «somatório» (ou soma)
ΣE – somatório das f.e.m.
ΣE’ – somatório das f.c.e.m.
ΣR – somatório de todas as resistências no circuito
Esta lei, sendo uma lei geral, pode também ser aplicada, evidentemente, a casos
particulares, como por exemplo a circuitos em que:
1. Existe uma só f.e.m. e uma só f.c.e.m.
2. Existem apenas forças eletromotrizes (uma ou várias).
3. Existe uma só resistência; etc.
É fácil de concluir, portanto, que a Lei de Ohm generalizada pode ser aplicada a
qualquer dos circuitos estudados até aqui, desde que consideremos, na expressão
anterior, apenas os elementos existentes no circuito.
PROBLEMAS – Recetores com força contraeletromotriz
P1 – Uma bateria com f.c.e.m. E’ = 10 V e r’ = 0,2 Ω é carregada por uma fonte de
alimentação cuja tensão é U = 12 V. Calcule:
a) A intensidade absorvida pela bateria.
b) A queda de tensão na bateria.
c) A resistência R a ligar em série com a bateria, para limitar a corrente a 4 A.
Resolução:
b) ΔU = r’· I = 0,2 × 10 = 2 V ou ΔU = U – E’ = 12 – 10 = 2 V
Resolução:
b) ΔU = r · I = 0,7 × 5 = 3,5 V
c) ΔU’ = r’· I = 0,5 × 5 = 2,5 V
d) U = E – r · I = 226 – 0,7 × 5 = 222,5 V ou
U = E’ + r’ · I = 220 + 0,5 × 5 = 222,5 V
P3 – Um motor elétrico, que absorve 8 A, apresenta as seguintes caraterísticas elétricas:
E’ = 214 V e r’ = 1,2 Ω. Calcule:
a) A tensão aplicada ao motor.
b) A queda de tensão no enrolamento do motor.
Solução:
a) 223,6 V; b) 9,6 V.
P4 – Um gerador de corrente contínua, com uma f.e.m. de 250 V e resistência interna de
10 Ω, é utilizado para carregar uma bateria de 12 elementos com 2 V de f.e.m. cada e
resistência interna de 0,02 Ω cada. Calcule:
a) A f.e.m. da bateria.
b) A resistência interna a intercalar em série, de modo que a corrente de carga não
ultrapasse 3 A.
c) A tensão aos terminais do gerador, na situação da alínea anterior.
d) A tensão aos terminais da bateria, na situação da alínea b).
e) As quedas de tensão no gerador e na bateria, na situação da alínea b).
Solução:
a) 24 V; b) 65 Ω; c) 220 V; d) 24,72 V; e) 30 V; 0,72 V.
P5 – Com uma dada bateria, foram efetuados dois ensaios em carga que nos deram as
seguintes leituras:
1.° ensaio: U1 = 12 V, I1 = 10 A
2.° ensaio: U2 = 11,25 V, I2 = 15 A
a) Calcule a resistência interna da bateria.
b) Calcule a sua f.e.m.
c) Calcule a tensão aos seus terminais, se estivesse a fornecer 30 A.
Solução:
a) 0,05 Ω; b) 12,5 V; c) 11 V.
P6 – Um motor elétrico, cuja tensão nominal é de 110 V, é ligado a uma rede de corrente
contínua de 220 V. Sabendo que a sua resistência interna é de 2,5 Ω e a sua intensidade
nominal é de 5 A, calcule:
a) A resistência elétrica que é necessário ligar em série com o motor, para que ele fique a
funcionar em regime nominal
b) A sua f.c.e.m.
c) A queda de tensão interna.
Solução:
a) 22 Ω; b) 97,5 V; c) 12,5 V.
11. Energia elétrica
11.1 Energia. Lei da Conservação da Energia
Já aconteceu, certamente, a cada um de nós, haver dias em que nos cansamos com mais
facilidade do que é habitual. Dizemos então que nos sentimos «fracos». Na verdade, o
que acontece então é que estamos com pouca energia, isto é, falta-nos «força» para
realizar determinados trabalhos ou tarefas.
Mas, afinal, o que é a energia, que não conseguimos ver, ouvir ou sentir?
É verdade que os nossos sentidos não a detetam diretamente, mas sabemos que ela
existe, através dos efeitos que produz. Com efeito, a energia de um corpo é a
capacidade que ele possui de produzir trabalho. Um corpo sem energia não pode
produzir trabalho. Existem muitas situações em que se verifica que houve produção de
trabalho – por exemplo, quando: serramos uma tábua, levantamos um peso,
construímos uma casa, etc. Quando produzimos muito trabalho, isso significa que
despendemos muita energia daquela que possuímos. No fim de contas, o que acontece,
em cada um dos exemplos apresentados, é a verificação de transferência de energia ou
transformação energética.
Na verdade, a energia existe sob diversas formas, conforme é do conhecimento geral.
Pode estar armazenada sob as formas: química, elétrica, térmica, mecânica, magnética,
eletromagnética, etc. As diferentes formas de energia podem transformar-se umas nas
outras, com maiores ou menores perdas, com menor ou maior rendimento.
Temos, por exemplo, as seguintes transformações energéticas:
1) De energia elétrica em energia mecânica.
2) De energia mecânica em elétrica.
3) De energia química em elétrica.
4) De energia elétrica em química.
5) De energia elétrica em calorífica.
6) De energia elétrica em magnética, etc.
Em qualquer dos casos, verifica-se sempre a Lei da Conservação da Energia, que diz o
seguinte: «Num sistema energético, não há criação nem destruição de energia, mas
apenas transformação e transferência de energia; se o sistema for isolado (fechado), a
energia total mantém-se constante».
Deve referir-se que um sistema isolado ou fechado é aquele que não permite a saída de
energia para o seu exterior, nem a entrada para o seu interior. Num sistema aberto, a
energia total do sistema não se mantém constante porque parte da energia sai do
sistema ou entra energia no interior, alterando a energia inicial.
Evidentemente que, em qualquer transformação energética, existem sempre perdas
próprias da transformação, as quais são sempre contabilizadas, de acordo com a Lei da
Conservação da Energia:
Energia inicial = Energia final + Perdas
11.2 O efeito de Joule
Conforme vimos anteriormente, a corrente elétrica num condutor produz vários efeitos,
nomeadamente: químico, luminoso, mecânico e térmico.
O efeito térmico ou calorífico não é mais do que a transformação de energia elétrica em
energia calorífica, num condutor ou num recetor térmico. A este efeito calorífico da
corrente elétrica dá-se o nome de efeito de Joule, em homenagem ao físico inglês James
Joule, que primeiro o estudou.
O efeito de Joule nos condutores e nos recetores resulta de choques entre os eletrões
livres e os átomos das substâncias constituintes dos condutores e dos recetores, sempre
que é aplicada ao circuito uma determinada tensão elétrica. De cada choque resulta,
como é fácil de compreender, alguma libertação de calor. Em virtude de serem muitos
os eletrões em movimento, o calor libertado num condutor ou num recetor pode ser
considerável.
A questão que temos de analisar neste momento consiste em saber se o efeito de Joule é
uma vantagem ou um inconveniente ou ambos.
com:
P – potência (J/s ou watts – W)
W – energia (joules – J)
t – tempo (segundos – s)
Temos assim que a resistência R1 absorve uma potência de 500 W, sendo que o gerador
G1 e o motor M1 fornecem uma potência de 500 W; a resistência R2 absorve 1000 W e o
gerador G2, bem como o motor M2 fornecem 1000 W. Isto é, R2, G2 e M2 têm maior
potência do que R1, G1 e M1 – neste caso, têm o dobro da potência.
Qual será afinal a grande importância da potência de um recetor ou de um gerador?
Bom, em muitas situações é importante que o valor da potência P seja elevado, porque
de outro modo o circuito, o recetor, etc., não funcionam, pois poderão não ter potência
suficiente. Por exemplo, não vamos colocar num automóvel um motor de uma
motorizada, não vamos pôr a levantar pesos e alteres um indivíduo magricelas ou não
vamos alimentar os recetores de uma residência com uma bateria, etc. Em qualquer dos
casos, é necessária uma potência mínima.
Ou, visto que, segundo a Lei de Ohm, se verifica que U = R I, teremos também:
Pu = U I = (R I) I = R I2 → Pu = R I2
Qualquer das expressões apresentadas permite calcular a potência elétrica absorvida
por um recetor térmico de resistência R.
Se multiplicarmos a expressão P = R I2 pelo tempo t, obtemos:
W = P t = R I2 t (joules)
fórmula que traduz a Lei de Joule apresentada anteriormente.
Concluímos portanto que num recetor térmico toda a energia elétrica é transformada
em energia calorífica (W = R I2 t), por efeito de Joule, e que a potência elétrica fornecida
é toda transformada em potência calorífica (P = R I2).
Define-se também a potência de perdas no gerador (e nos condutores de ligação) pJ, ou
perdas por efeito de Joule, como:
pJ = r I2 (Watts – W)
Vamos demonstrar ainda que se verifica a seguinte relação matemática entre as três
potências definidas em cima:
Pe = Pu + pJ
Com efeito, se multiplicarmos por I ambos os membros da expressão E = U + r I,
obtemos uma expressão equivalente:
E = U + r I ⇔ E I = U I + r I2 2)
Esta expressão é nem mais nem menos do que a relação matemática entre potências
num circuito:
E I = U I + r I2 ⇔ Pe = Pu + pJ 3)
Se agora multiplicarmos pelo tempo t ambos os membros da expressão anterior,
obtemos uma relação matemática entre as energias em jogo num circuito:
Pe = Pu + pJ ⇔ Pe · t = Pu · t + pJ · t ⇔ We = Wu + Wp
Em que: We – energia elétrica gerada – em W·s (watt·segundo) ou W·h (watt·hora)
Wu – energia útil (consumida pelo recetor) – em W·s (watt·segundo) ou W·h (watt·hora)
Wp – energia de perdas – em W·s (watt·segundo) ou W·h (watt·hora)
Com esta tabela de valores, construímos os gráficos das funções PR (R), Pe (R) e η (R),
representados na figura.
Por análise do gráfico, podemos concluir que:
1) A carga R recebe da fonte a máxima potência (PR) quando se verifica R = r. No caso
presente, temos PR = 11,25 W quando R = r = 0,8 Ω.
2) Na situação de máxima transferência, verifica-se obviamente que o rendimento é de
50%.
O que se conclui desta experiência?
Conclui-se que este gerador (com esta f.e.m. e esta resistência interna) não pode
entregar a uma carga mais do que 11,25 W e, para entregar esse valor máximo, a carga
tem de ter uma resistência igual à da resistência interna do gerador (R = r). Quando se
verifica que R = r, diz-se que há uma adaptação da fonte à carga, e isso verifica-se
quando há máxima transferência de potência para a carga.
Para efeito de transferência da máxima potência, não interessa que o rendimento não
seja máximo, pois para termos o máximo rendimento (63,4%, segundo a tabela) a
potência transmitida PR seria apenas de 10,4 W.
Por analogia com a expressão anterior, temos a seguinte expressão, que relaciona as
potências em jogo:
Pa = Pu + Pp
com:
Pa – potência absorvida (watts)
Pu – potência útil (watts)
Pp – potência total das perdas (watts)
Sendo a potência útil uma potência elétrica (no gerador), então verifica-se que Pu = UI.
De referir, finalmente, que o conjunto das perdas de um gerador (ou de um motor) tem
valores que se situam habitualmente entre 15% e 30% da potência absorvida.
11.9.2 Transformação energética num motor
O motor elétrico transforma, como sabemos, energia elétrica em mecânica. Neste caso, a
energia elétrica We será a energia absorvida Wa, e a energia mecânica Wm será a energia
útil Wu. O motor elétrico tem o mesmo tipo de perdas do gerador: por efeito de Joule
nos enrolamentos, mecânicas (por atrito) e no ferro. Na figura 90 sugere-se a
transformação energética processada num motor, bem como o diagrama respetivo.
No caso do motor, verifica-se que:
• We = Wa = Wu + Wp
• Pe = Pa = Pu + Pp
• Pa = U I e Wa = U I t
em que:
We – energia elétrica (joules)
Pe – potência elétrica (joules)
com:
η – rendimento (sem unidades)
Wu – energia útil (joules)
Wa – energia absorvida (joules)
A energia de perdas será: Wp = Wa – Wu.
O rendimento pode também vir expresso em função das potências:
com:
η – rendimento (sem unidades)
Pu – potência útil (joules)
Pa – potência absorvida (joules)
A potência de perdas será: Pp = Pa – Pu.
O rendimento vem normalmente expresso em percentagem, da seguinte forma:
2) Cálculo de I
3) Cálculo de P
4) Cálculo de U
PROBLEMAS – Lei de Joule. Rendimento
P1 – Uma torradeira tem as seguintes caraterísticas: 750 W, 230 V. Calcule:
a) A intensidade que ela absorve.
b) O valor da sua resistência elétrica.
c) A energia elétrica que consome (em kWh) durante 20 minutos.
d) A intensidade e a potência absorvidas, se a ligássemos a 150 V.
Resolução:
c) t = 20 min = 0,33(3) h
W = R I2 t = 70,6 × 3,262 × 0,33(3) = 249,9 Wh = 0,2499 kWh ou
W = P t = 750 × 0,33(3) ≈ 250 Wh = 0,25 kWh
d) A resistência elétrica da torradeira é constante (70,6 Ω):
Apesar de este esquema ter três malhas, só duas delas (quaisquer duas) são, no entanto,
independentes. Com efeito, uma malha independente tem sempre um ramo que não
faz parte das outras malhas. Isto quer dizer que a 3.ª malha (dependente) é constituída
só por ramos que já foram considerados (percorridos) nas outras malhas, não sendo, por
isso, independentes. Experimente.
Para efeito de aplicação da Lei das Malhas, só contam as malhas independentes que, no
esquema apresentado, serão duas quaisquer das três existentes.
A Lei das Malhas diz o seguinte:
Lei das Malhas «Ao longo de uma malha, a soma algébrica das forças eletromotrizes (∑
E) é igual à soma algébrica das quedas de tensão ∑ (R · I)», isto é:
∑ E = ∑ ( R · I)
Na figura representa-se um circuito elétrico, portanto, só com uma malha.
Arbitrámos o sentido da malha e, portanto, também o sentido da corrente I, pois não
sabemos quais os valores de E1 e E2. Se E1 for maior do que E2, então o sentido da
corrente I indicado na figura é o correto. Se E2 for maior do que E1, o sentido correto será
o contrário do indicado. Se E1 = E2, então a corrente será nula.
Ao aplicarmos a 2.ª Lei de Kirchhoff (lei das malhas) à malha indicada, serão positivas
as f.e.m. e as tensões e quedas de tensão que tiverem o sentido da malha; serão
negativas, se tiverem o sentido contrário ao da malha.
Assim, para o circuito da figura, teremos:
∑ E = ∑ (R · I) ⇔ E1 – E2 = (R1 + r1 + R2 + r2) · I
Note que só E2 tem o sentido contrário ao da malha e será, portanto, negativo.
Suponhamos que, no circuito, as resistências têm os seguintes valores:
R1 = 8 Ω, r1 = 0,3 Ω, R2 = 3,5 Ω e r2 = 0,2 Ω. Suponhamos ainda as duas situações que se
seguem para os valores de E1 e E2.
1.ª situação: E1 = 12 V, E2 = 6 V
A corrente no circuito será:
O valor de I deu positivo, o que quer dizer que o sentido arbitrado para a corrente está
correto. E1 também é positivo, e E2 é negativo. Atendendo aos sentidos de I, E1 e E2,
facilmente se conclui que E1 funciona como gerador e que E2 funciona como recetor de
força contraeletromotriz, ou seja, acumulador (E1 está a carregar E2).
2.ª situação: E1 = 12 V, E2 = 15 V
A corrente no circuito será:
O valor de I deu negativo, o que quer dizer que o sentido arbitrado para a corrente não
é o correto, de acordo com os valores de E1 e E2, nesta situação. Portanto, neste caso,
teremos de trocar no esquema o sentido da corrente, ficando E2 a funcionar como
gerador e E1 como recetor, conforme era de esperar, pois E2 > E1.
Vamos fazer de seguida a aplicação, em simultâneo, das duas Leis de Kirchhoff, a uma
rede elétrica, para o cálculo das suas correntes.
12.3.4 Aplicação das duas Leis de Kirchhoff
Vamos então determinar as correntes de uma rede elétrica, utilizando as duas Leis de
Kirchhoff, em conjunto. Observe a rede cujo esquema elétrico se representa na figura.
Este sistema pode ser resolvido por um dos métodos estudados em Matemática –
método da substituição, método da redução, etc. Podemos ainda fazer simulações das
Leis de Kirchhoff utilizando software informático próprio, o qual nos dá a solução do
problema, antes da resolução do mesmo. Existem vários programas informáticos para o
efeito, nomeadamente: o Multisim, o PSPICE, o ORCAD, etc.
Na figura, representamos a solução de um problema, utilizando dois programas
diferentes.
Resolução:
b) Visto que E1 é recetor, temos:
U1 = E1 + r1 · I = 6 + 0,1 × 1,5 = 6,15 V
Visto que E2 é gerador, temos:
U2 = E2 – r2 · I = 15 – 0,15 × 1,5 = 14,775 V
U3 = R3 · I = 2 × 1,5 = 3 V
U4 = R4 · I = 3,75 × 1,5 = 5,625 V
Verifica-se que U2 = U3 + U1 + U4 ⇔ 14,775 V = 14,775 V.
P2 – Observe o esquema elétrico representado, em que: E1 = 15 V, E2 = 9 V, E3 = 6 V, r1 =
0,3 Ω, r2 = 0,2 Ω, r3 = 0,1 Ω, R1 = 2 Ω, R2 = 3 Ω, R3 = 4 Ω.
Assim, temos:
Na figura 113 representam-se os circuitos que nos permitem obter os valores da tensão
de Thévenin (ETh) e da resistência equivalente de Thévenin (RTh).
A parte do circuito dentro do tracejado (fig. 112 b) funciona com uma «caixa preta» com
dois terminais. Frequentemente, dá-se-lhe o nome de dipolo (dois polos ou terminais).
O enunciado do teorema parece complicado, mas a sua aplicação é relativamente
simples e fácil de compreender, através da resolução de alguns problemas.
PROBLEMAS – Teorema de Thévenin
P1 – O esquema elétrico representado tem os seguintes valores: E1 = 9 V, E2 = 12 V, r1 =
0,1 Ω, r2 = 0,2 Ω, R1 = 4 Ω, R2 = 6 Ω, R3 = 3 Ω. Utilizando o Teorema de Thévenin, calcule
a intensidade em R2.
Resolução:
Conforme vimos anteriormente, podíamos calcular estas correntes pelas Leis de
Kirchhoff ou pelo Teorema da Sobreposição. Mas vejamos agora como calculá-las
utilizando o Teorema de Thévenin.
Para calcular I2, vamos «abrir» o circuito entre os terminais A e B indicados na figura
114, isto é, o ramo de R2 (onde passa a corrente I2) é desligado. De seguida, vamos obter
sucessivamente a f.e.m. ETH e a resistência interna RTH do gerador de Thévenin, para
calcularmos finalmente o valor de I2.
a) Cálculo de ETh
Vamos determinar a tensão entre A e B, com os terminais abertos, tal como se sugere na
figura 115. Obtemos então:
b) Cálculo de RTH
Quanto à resistência interna do gerador de Thévenin, ela obtém-se medindo a
resistência interna entre A e B, substituindo no circuito da figura anterior os geradores
(E1, neste caso) pelas suas resistências internas (r1, neste caso). Obtemos, assim, a figura
116.
Segundo o teorema, teremos que «... a parte do circuito que fica é equivalente ao
gerador de Thévenin...».
Substituindo então «a parte do circuito» pelo gerador de Thévenin, obtemos o circuito
total equivalente (já com a resistência R2) representado na figura 117:
Os materiais mais utilizados na constituição das armaduras são: alumínio, estanho, ligas
de estanho e chumbo, prata, papel metalizado. Como dielétricos utilizam-se substâncias
sólidas, líquidas ou gasosas, como por exemplo: ar, vidro, papel parafinado, plástico
(poliéster), material cerâmico, óleo, etc.
2. Carga e descarga de um condensador
Dada a sua constituição (duas armaduras metálicas separadas por um isolador), o
condensador é um componente que, quando se lhe aplica uma tensão contínua, fica ao
fim de algum tempo com as suas armaduras carregadas, uma positiva e outra
negativamente – é a carga do condensador.
Se desligarmos a fonte de alimentação e ligarmos as duas armaduras, entre si, através
de um fio condutor, elas descarregam-se rapidamente, ficando ambas com carga nula –
é a descarga do condensador.
Mas vejamos melhor os dois fenómenos, carga e descarga, em corrente contínua.
Esta constante pode ser obtida graficamente através da reta (tracejado) tangente à curva
de i (ver figura). Evidentemente que a constante de tempo é sempre inferior ao tempo
real de carga do condensador; podemos dizer que a constante de tempo é o tempo que o
condensador leva, na carga, a ficar com 63,2% da sua tensão máxima. A constante de
tempo para a descarga define-se de uma forma semelhante, sendo a fórmula a mesma.
com:
C – capacidade do condensador (farads – F)
Q – carga elétrica armazenada numa armadura (coulombs – C)
U – tensão aplicada (volts – V)
Quanto maior for a tensão aplicada tanto maior será a carga Q armazenada; no entanto,
o quociente C é sempre constante, isto é, a capacidade é uma caraterística constante
para cada condensador.
Os condensadores são definidos pela sua capacidade C e também pela tensão nominal
Un (tensão que não convém ultrapassar).
Um condensador com elevada capacidade C quer dizer que pode armazenar grande
quantidade de carga elétrica Q. Da expressão anterior, deduzem-se as seguintes
expressões:
com:
C – capacidade (farads – F)
εr – constante dielétrica relativa (sem unidades)
ε0 – constante dielétrica absoluta (ou permitividade) do ar ou do vazio (farads por metro
– F/m) = 8,85 × 10–12 F/m
S – área de uma armadura (metros quadrados – m2)
d – <distância entre armaduras ou espessura do dielétrico (metros – m)
A constante dielétrica relativa εr é obtida em tabelas. Temos, como exemplos, os
seguintes valores de εr: papel – 2,5; cartão – 4; resina – 5; porcelana – 5,5; baquelite – 6;
mica – 7; etc.
5. Associação de condensadores
Tal como as resistências, os condensadores podem ser associados em série, em paralelo
e em associação mista.
Vamos analisar aqui apenas as associações em série e em paralelo.
Observando a fig. a), pode verificar-se que os dois condensadores se carregam com a
mesma corrente i (corrente transitória, que se anula quando o condensador está
carregado) durante o mesmo tempo t, pois encontram-se ligados em série. Por essa
razão, temos que:
Q1 = Q2 = i · t
O condensador equivalente C deve armazenar a mesma carga total Q, sob a mesma
tensão total U, pelo que se deve verificar:
Q1 = Q2 = Q
Por outro lado, sabemos que:
O condensador equivalente deverá ter uma capacidade C tal que, quando submetido à
tensão U, armazena a carga Q = i · t. Temos, por isso, Q = C · U (ver fig. b). Explicitando
em ordem à tensão, obtemos:
Por outro lado, segundo a Lei das Malhas, temos:
Visto que Q = Q1 = Q2, dividindo ambas as parcelas por Q, vem, para dois
condensadores em série:
O condensador polarizado só pode ser alimentado da forma indicada no seu corpo, isto
é, atendendo às polaridades respetivas: + com + e – com –. É o caso da maior parte dos
condensadores eletrolíticos que são polarizados. Quanto aos restantes, não é necessário
ter cuidados particulares na verificação das polaridades; apenas se deve prestar muita
atenção à tensão elétrica que se lhes aplica. Utiliza-se geralmente a simbologia indicada
na figura 17.
Na zona de fratura, criou-se um par de polos magnéticos (de nome contrário, entre si).
Se aproximarmos, de uma agulha magnética, cada uma dessas partes, verificaremos que
cada uma delas continua a comportar-se como um íman.
1.4.3 Os polos magnéticos e a zona neutra
Os ímanes são caraterizados por manifestarem as suas propriedades quase
exclusivamente nas extremidades polares. Com efeito, a zona central do íman não
apresenta quaisquer propriedades visíveis exteriormente. Esta zona tem, por isso, o
nome de zona neutra.
Quer dizer que, se aproximarmos uma agulha magnética da zona neutra de um íman, a
agulha não sofre qualquer desvio.
Isto é, a indução magnética pode ser considerada como uma densidade de fluxo
magnético, por unidade de superfície. Na prática, muitas vezes fala-se
indiferenciadamente em densidade de fluxo magnético ou em indução magnética.
Assim, para o mesmo fluxo Ф, quanto mais concentradas estiverem as linhas de força
(isto é, menor secção S) maior será a indução magnética, pois que B = Ф/S. Na figura
sugere-se a variação da indução magnética quando um conjunto de linhas de força
(mesmo fluxo Ф) atravessa superfícies diferentes (S1, S2, S3). Os valores da indução são
calculados, respetivamente, por:
com:
B – indução magnética (amperes por metro – A/m)
I – intensidade de corrente (amperes – A)
r – raio da circunferência que constitui a linha de força (metros – m)
μ0 – permeabilidade magnética do ar (henrys por metro – H/m)
Concluímos, portanto, que a intensidade do campo magnético H criada por um
condutor retilíneo é tanto mais elevada quanto mais intensa for a corrente e mais
próxima estiver, do condutor, a linha de força considerada. A indução B aumenta, não
só com H, como ainda com a permeabilidade do meio; pelo contrário, H não varia com
a permeabilidade do meio. No seguimento, teremos oportunidade de verificar que H é
sempre independente do meio e que B é sempre dependente do meio, seja qual for o
tipo de circuito considerado.
Problemas – Campo magnético criado por condutor retilíneo
P1 – Um condutor retilíneo é percorrido por uma corrente de 10 A.
a) Calcule os valores de H e B, à distância de:
a1) 10 cm do condutor; a2) 1 cm do condutor.
b) Tire conclusões.
Resolução:
b) Pode concluir-se facilmente que as induções criadas por condutores retilíneos são
efetivamente muito fracas, mesmo em pontos muito próximos do condutor. Para obter
valores de indução com algum significado, será necessário que a corrente atinja valores
muito elevados (várias dezenas de amperes).
P2 – Um condutor retilíneo percorrido por 25 A cria um campo magnético de 60 A/m
num determinado ponto em seu redor. Calcule:
a) A distância a que se encontra o ponto.
b) O valor da indução magnética.
R.: a) 6,6 cm; b) 0,075 mT.
P3 – Determine o valor da intensidade que deve percorrer um condutor retilíneo de
modo que, à distância de 3 cm, tenha uma indução de 0,1 mT.
R.: 15 A
As linhas de força criadas já não são rigorosamente circunferências, pois interagem com
as do outro condutor, deformando-se ligeiramente, conforme se sugere na figura.
O sentido das linhas de força pode ser determinado pela deslocação da agulha
magnética (o norte indica o sentido das linhas de força) ou então utilizando novamente
a regra do saca-rolhas.
A regra do saca-rolhas pode ser utilizada, aqui, de duas formas diferentes (ver figura):
1.ª – Se colocarmos o saca-rolhas S1 por baixo de uma das extremidades da espira, a
regra será a seguinte: «Fazendo progredir o saca-rolhas segundo o sentido da corrente, a
sua rotação indica-nos o sentido das linhas de força (no interior e no exterior da
espira)».
2.ª – Se colocarmos o saca-rolhas S2 segundo a direção da linha L do plano da placa de
vidro, passando no centro da espira, a regra será a seguinte: «Fazendo rodar o saca-
rolhas segundo o sentido da corrente na espira (de a para b), a progressão do saca-
rolhas indica-nos o sentido das linhas de força no interior da espira».
Podemos, portanto, dizer que a espira, percorrida por corrente, se comporta como um
íman, com duas faces (N e S), tal como se sugere na figura.
3.2.2 Indução B e excitação magnética H
Visto que as linhas de força criadas se deformam ligeiramente, umas às outras, e os
valores de B e H, no interior da espira variam de ponto para ponto, então faz sentido
calcular os valores da indução B e da excitação H no centro da espira, que são obtidos
pelas expressões:
com:
H – excitação magnética no centro da espira (A/m)
B – indução magnética no centro da espira (tesla)
I – intensidade de corrente (amperes)
r – raio da espira (metros)
μ – permeabilidade magnética do meio (H/m)
3.2.3 Os eletrões e o magnetismo
Como se sabe, os eletrões estão em constante movimento em torno dos núcleos dos
átomos. Durante a sua trajetória, eles formam sucessivas órbitas mais ou menos
circulares, comportando-se como se fossem condutores circulares (espiras) percorridos
por corrente elétrica. Isto quer dizer que os eletrões, no seu movimento constante, criam
o seu próprio campo magnético, semelhante ao indicado na figura anterior e que se
sugere na figura seguinte.
Nota: Recordamos que o sentido do movimento dos eletrões (sentido real da corrente) é
contrário ao sentido convencional da corrente elétrica.
Ao campo magnético criado pelo eletrão durante o seu movimento dá-se o nome de
efeito de spin (ou efeito de rotação). Evidentemente que, nas substâncias não
magnetizadas, o efeito de spin de cada eletrão é anulado pelos restantes, isto é, o
somatório é nulo. Nas substâncias magnetizadas, os campos criados são orientados num
sentido comum, como se cada eletrão originasse um pequeno íman elementar que se vai
somar aos restantes.
PROBLEMAS – Indução e excitação magnética numa espira
P1 – Calcule os valores de B e H no centro de uma espira de raio igual a 3 cm, quando
percorrida por uma corrente de 15 A.
Resolução:
P2 – Calcule o raio de uma espira, percorrida por 20 A , sabendo que a indução no seu
centro é de 0,5 mT.
R.: 2,5 cm.
O sentido das linhas de força pode ser obtido novamente pela regra do saca-rolhas,
agora com o seguinte texto «Se fizermos rodar o saca-rolhas segundo o sentido da
corrente na espira, então a progressão do saca-rolhas indica-nos o sentido das linhas de
força no interior da bobina».
Concluímos, portanto, que a bobina, tal como o íman, apresenta um polo N e um polo S
nas suas extremidades. Isto é, podemos utilizar uma bobina percorrida por corrente
como se fosse um íman. A estas bobinas, se lhes juntarmos um núcleo de ferro no
interior, dá-se-lhes o nome de eletroímanes.
3.3.3 Indução B e excitação magnética no solenoide
Tal como vimos no estudo da espira, a indução B e a excitação H variam de ponto para
ponto no seu interior. Sendo assim, não faz sentido calcular os diferentes valores de B e
H, em cada ponto, mas calcular os valores num ponto médio que é o centro da bobina
(ponto O representado na figura).
com:
H – excitação magnética no centro da bobina (A/m)
B – indução magnética no centro da bobina (T)
N – número de espiras da bobina
I – intensidade de corrente (A)
μ – permeabilidade magnética (H/m)
ℓ – comprimento da bobina (m)
Se pretendermos aumentar a indução magnética B de uma bobina e, portanto, a sua
força eletromagnética, podemos fazê-lo aumentando o seu número de espiras, ou
aumentando a corrente que a alimenta, ou ainda aumentando a permeabilidade
magnética (utilizando materiais com melhor permeabilidade, como é o caso dos
ferromagnéticos). De entre os materiais ferromagnéticos, existem diferentes tipos, com
diferentes permeabilidades magnéticas, conforme veremos mais adiante.
Conforme veremos mais à frente, as bobinas têm diferentes aplicações que lhes são
conferidas por esta natureza eletromagnética, sendo utilizadas em aparelhagem: de
proteção, de comando, de sinalização, de medida, etc.
P2 – Uma bobina toroidal, com 1000 espiras, tem um comprimento de 30 cm. Calcule a
corrente necessária para produzir uma indução de 10 mT na linha de força média.
R.: 2,4 A.
P3 – Uma bobina toroidal, cujo raio médio é de 10 cm e a secção transversal é igual a 8
cm2, é percorrida por 3 A. Sabendo que a indução na linha média é de 8 mT, calcule:
a) O número de espiras.
b) O fluxo magnético.
R.: a) 1333; b) 64 × 10–7 Wb.
Ao aproximarmos uma agulha magnética, verificamos que a bobina com núcleo de ferro
exerce uma forte atração sobre ela, enquanto a de núcleo de ar praticamente não exerce
qualquer influência sobre a agulha, mantendo esta a orientação normal Norte-Sul. Se
nos recordarmos da bobina longa (ou solenoide), a excitação magnética criada era dada
por H = N I/ℓ, ou seja, tem o mesmo valor nas duas bobinas (com núcleo de ferro e sem
núcleo), pois o valor de H não depende do tipo de núcleo, conforme se pode concluir
por análise da fórmula anterior.
Por que razão então a bobina com núcleo de ferro tem uma «força magnética»
bastante mais elevada?
É, evidentemente, devido à permeabilidade magnética.
Esta importância da permeabilidade magnética no aumento da indução tem aplicações
em muitos domínios, nomeadamente na construção dos núcleos dos aparelhos: de
medida, de proteção (disjuntores, relés), de comando (contactores, telerruptores,
automáticos de escada), de máquinas elétricas (dínamos, motores, alternadores), etc.
3.5.2 As permeabilidades absoluta e relativa
Cada substância tem o seu valor de permeabilidade magnética. A permeabilidade
magnética absoluta do ar ou do vazio μ0 vale, conforme foi já referido anteriormente:
μ0 = 4 π × 10–7 H/m
As permeabilidades absolutas de todas as outras substâncias são referidas em relação à
permeabilidade do ar μ0 , por comodidade de exposição e de cálculo. Assim, define-se a
permeabilidade relativa μr de uma qualquer substância como a razão entre a sua
permeabilidade absoluta μ e a permeabilidade absoluta do ar μ0:
Nas aplicações mais importantes, são utilizados o primeiro e o terceiro dos tipos de
circuitos apresentados. São esses que vamos estudar daqui em diante. O estudo do
circuito magnético é importante para a correta compreensão do funcionamento de
muitos dispositivos que serão estudados na área da Eletrotecnia/Eletrónica, como por
exemplo: aparelhagem elétrica (de medida, de proteção, de comando, etc.),
eletroímanes, máquinas elétricas, etc.
3.6.2 Classificação dos circuitos magnéticos
Os circuitos magnéticos podem ser classificados em: homogéneos, heterogéneos,
perfeitos e imperfeitos.
Um circuito magnético diz-se homogéneo se a sua permeabilidade e secção forem
constantes ao longo de todo o circuito. Um circuito magnético diz-se heterogéneo se a
sua permeabilidade e/ou secção não forem constantes ao longo de todo o circuito. O
circuito heterogéneo é o que apresenta maior variedade de aplicações, em virtude de, na
generalidade das situações práticas, haver troços distintos (sejam secções diferentes,
sejam percursos através do ar e através do material ferromagnético utilizado).
Na figura 38, apresentamos dois meros exemplos: um de circuito homogéneo e outro de
circuito heterogéneo.
Nota: O entreferro é um troço muito curto, através do ar, situado entre dois troços
ferromagnéticos. O valor do entreferro é geralmente de alguns milímetros ou poucos
centímetros (consoante o dispositivo).
Um circuito magnético diz-se perfeito quando não apresenta linhas de dispersão ou de
fuga.
Um circuito magnético diz-se imperfeito quando apresenta linhas de dispersão ou de
fuga.
Na figura 39 representamos um exemplo de um circuito magnético imperfeito. Neste
circuito existem dois tipos de linhas de força: as que se fecham totalmente pelo núcleo
ferromagnético do circuito e as que se afastam do trajeto devido, fechando-se pelo ar –
são as linhas de dispersão.
Comparando as duas expressões entre si, podemos estabelecer a analogia seguinte entre
as grandezas das duas expressões:
Compreendendo esta analogia entre duas leis, será muito fácil, para o aluno, assimilar e
aplicar a Lei de Hopkinson.
PROBLEMAS – Indução B e excitação H em bobina longa
P1 – Na figura 42 representa-se um circuito homogéneo em ferro-silício, de secção
retangular, cuja bobina é percorrida por 0,3 A. As dimensões do núcleo são indicadas na
figura, em milímetros. Sabendo que a indução no núcleo é de 1,2 T, calcule:
a) Os valores de H e B.
b) A força magnetomotriz.
c) O fluxo magnético.
R.: a) 2501 A/m; 1,57 T; b) 550 A; c) 0,12 mWb.
4. Forças eletromagnéticas
4.1 Ação de um campo magnético sobre um
condutor retilíneo. Criação de forças
eletromagnéticas
Todos nós já observámos, no dia a dia, aparelhos elétricos em que há peças em
movimento, sem que haja qualquer intervenção humana ou qualquer outra intervenção
exterior (ex.: agulha de aparelho de medida, rotação de um motor, etc.). Para provocar
movimentos (de rotação, de translação, etc.) nos equipamentos ou aparelhagem elétrica,
basta que haja condutores (retilíneos, espiras, bobinas) percorridos por corrente e
submetidos a campos magnéticos.
Da interação entre o campo magnético exterior e o condutor percorrido por corrente
resulta uma força que provoca o movimento do condutor. A esta força dá-se o nome de
força eletromagnética.
Na figura suGere-se a força eletromagnética resultante da interação entre as
grandezas e .
Concluímos, portanto, que sempre que um condutor é percorrido por uma corrente I
cuja direção é perpendicular à indução B, exerce-se sobre ele uma força
eletromagnética , perpendicular a e a , que faz deslocar o condutor paralelamente
a si mesmo.
Se os vetores e não forem perpendiculares entre si, continua a exercer-se a força ,
embora com um valor inferior, conforme é traduzido pela expressão da Lei de Laplace
que analisaremos de seguida.
Para determinar o sentido de F, basta, por isso, colocar os três dedos da mão direita
perpendicularmente entre si e orientar a mão de modo a fazer corresponder os dedos da
forma indicada na figura 49.
O sentido de F pode ainda ser determinado através da chamada regra da palma da mão
direita, que consiste em colocar a mão direita estendida de tal forma que a indução B
entre perpendicularmente à palma da mão e de forma que a corrente I saia pelo polegar.
Os restantes dedos indicam-nos o sentido da força F, conforme se sugere na figura.
Em a), o fluxo magnético através da secção da espira é nulo (as linhas de força são
paralelas ao plano da espira), enquanto em b) o fluxo magnético através dela é máximo
(as linhas de força são perpendiculares ao plano da espira). Por esta razão, dissemos que
a espira se encontrava em duas posições extremas.
Vejamos então o que acontece à espira, em cada uma das posições, se for percorrida por
uma determinada corrente I.
Em a), verifica-se o seguinte (ver figuras 52 a) e 53 a):
• Sobre o condutor a exerce-se uma força F que, segundo a regra dos três dedos da mão
direita, aponta para cima (verifique).
• Sobre o condutor c, exerce-se também uma força F que aponta para baixo (verifique!).
• Sobre o condutor b não se exerce qualquer força, pois o condutor encontra-se paralelo
às linhas de força (sen α = 0 ⇔ F = B I ℓ sen α = 0).
Concluímos portanto que a espira fica submetida a um conjunto de duas forças com
sentidos tais que a fazem rodar em torno de um eixo. A este sistema de forças dá-se o
nome de binário de rotação (figura 53 a).
Em b), verifica-se o seguinte (ver figuras 52 b) e 53 b):
• O condutor a fica submetido a uma força que aponta para cima.
• O condutor c fica submetido a uma força F que aponta para baixo.
• O condutor b não fica submetido a qualquer força, em virtude de se deslocar sempre
paralelamente às linhas de força (sen α = 0).
Concluímos que, nesta posição, a espira não roda. Aliás, esta posição (vertical) é a única
em que a espira está submetida a um binário de rotação nulo. É fácil de imaginar que
em qualquer outra posição intermédia o binário é sempre diferente de zero.
Assim, quando a espira se encontra a rodar, ela não para na posição vertical, devido à
inércia do movimento, continuando portanto a rodar continuamente. É esta a explicação
para o movimento rotativo, que tantas aplicações apresenta.
Conclui-se portanto que as forças F1 e F2, exercidas sobre cada um dos condutores, têm o
mesmo valor e são dadas pela expressão genérica:
com:
ℓ– comprimento dos condutores (metros)
r – distância entre os condutores (metros)
F – força de atração ou repulsão entre condutores (newton)
Note que os sentidos das forças F1 e F2 são, no exemplo apresentado, de repulsão entre
os condutores (os condutores tendem a afastar-se, se as forças forem suficientemente
fortes), com as correntes de sentidos contrários. Se as correntes tiverem o mesmo
sentido, facilmente se verifica que os condutores tendem a atrair. Verifique, utilizando a
regra dos três dedos da mão direita, que se verificam as propriedades descritas.
Podemos, portanto, concluir o seguinte:
1. Condutores paralelos percorridos por correntes do mesmo sentido atraem-se.
2. Condutores paralelos percorridos por correntes de sentidos contrários repelem-se.
Fazendo a analogia com a interação entre ímanes, facilmente se constata que, nos
ímanes, a atração se verifica quando os polos têm nomes contrários; aqui, as correntes
devem ter o mesmo sentido, para se verificar atração entre condutores.
A interação entre condutores elétricos percorridos por corrente verifica-se bastante
quando as correntes elétricas são elevadas, particularmente em situações de curto-
circuito. É o que acontece entre os barramentos nos Postos de Transformação e
Subestações Elétricas, onde as correntes podem atingir valores bastante elevados. Por
essa razão, existem distâncias mínimas a considerar entre barramentos, de forma que
não se toquem em resultado de esforços eletrodinâmicos muito fortes. As espiras nas
bobinas percorridas por correntes elevadas também estão sujeitas a esforços violentos,
razão pela qual devem estar muito bem isoladas, de forma a evitarem contatos elétricos
por degradação do isolamento.
com:
B – indução na superfície de contacto entre a armadura e o núcleo (tesla)
S – superfície total de contato entre o núcleo e a armadura (m2)
μ0 – permeabilidade do ar ou do vazio = 4π × 10–7 (H/m)
F – força atrativa do eletroíman (newton – N)
Se substituirmos μ0 pelo seu valor, na expressão anterior, ela pode assumir o seguinte
aspeto:
F = 4 × 105 × B·S
com as mesmas unidades.
De referir que, num íman em U, há duas superfícies de contacto, pelo que a superfície S
é, neste íman, a soma das duas. Note que a força atrativa é frequentemente indicada em
quilograma-força (kgf), razão pela qual recordamos aqui a equivalência entre o
quilograma-força e o newton:
1 kgf = 9,8 N
Pressupõe-se, portanto, nestas fórmulas, que a espessura do entreferro é igual a zero.
A força de atração do núcleo (Fa), em relação a uma armadura que se encontre a uma
determinada distância ε do núcleo, é evidentemente variável. Será tanto menor quanto
maior for essa distância. Podemos representar a força de atração em função da
espessura do entreferro ε, num gráfico como o representado na figura 60.
Quando ε = 0, temos Fa = F = B2 S / (2μ0), conforme tínhamos já referido. À medida que
ε vai aumentando, a força de atração Fa é cada vez menor. A partir de um determinado
ponto, o núcleo não consegue atrair a armadura (devido ao peso mais o atrito).
P2 – Um eletroíman reto, com uma secção de 10 cm2, tem uma força atrativa de 50 kgf.
Calcule o valor da indução no polo.
R.: 1,1 T.
Na figura estão representados os sentidos das correntes induzidas nos ensaios descritos,
considerando que N é o polo do íman que se encontra mais próximo da bobina. Se
tivéssemos considerado que era o polo S, então os sentidos das correntes seriam os
contrários dos indicados.
Ao íman móvel que provoca o aparecimento da corrente induzida dá-se o nome de
indutor. Ao circuito elétrico onde aparecem estas correntes (induzidas) dá-se o nome
de induzido. Ao fenómeno que consiste na produção de correntes induzidas,
provocadas por um campo magnético variável, dá-se o nome de indução
eletromagnética.
O fenómeno da produção de forças eletromotrizes e correntes induzidas é regido pela
Lei de Faraday ou Lei da Indução Eletromagnética (ano de 1831). O sentido da corrente
induzida é explicado pela Lei de Lenz (ano de 1834).
Vejamos então o que dizem estas duas leis.
Segundo a Lei de Lenz, a corrente induzida I deve ter um sentido tal que, pela sua ação,
deve opor-se à causa que originou o seu aparecimento. Temos, portanto, duas situações
distintas:
1.ª situação – Aproximação do polo N do íman, o que implica um aumento do fluxo
magnético através da bobina.
2.ª situação – Afastamento do polo N do íman, o que implica uma diminuição do
fluxo magnético através da bobina.
Isto é, a causa que deu origem às correntes induzidas foi a variação do fluxo magnético
através da bobina, que, num caso aumentou e no outro diminuiu, o que provocou
correntes de sentidos contrários.
Quando se aproxima o polo N, cria-se na bobina um polo N’ que tende a impedir a
aproximação do polo N do íman. A corrente I criada tem o sentido correspondente a
este polo N’, determinado pela regra do saca-rolhas (já estudada anteriormente).
Quando se afasta o polo N, cria-se na bobina um polo S’ que tende a impedir o
afastamento do polo N do íman. A corrente I criada tem o sentido correspondente a este
polo S’, determinado novamente pela regra do saca-rolhas.
Isto é, no primeiro caso, cria-se um fluxo de sentido contrário ao do íman, o qual tende
a opor-se ao aumento do fluxo indutor. No segundo caso, cria-se um fluxo do mesmo
sentido do fluxo do íman, o qual tende a opor-se à diminuição do fluxo indutor. As
correntes induzidas nos dois casos têm, obviamente, sentidos contrários. Se
utilizássemos o polo S do íman, os sentidos das correntes induzidas seriam contrários
aos indicados na figura.
De acordo com as Leis de Faraday e de Lenz, a f.e.m. induzida na bobina tem a
seguinte tradução matemática:
com:
e – f.e.m. induzida numa espira (volt)
E – f.e.m. induzida numa bobina (volt)
N – número de espiras da bobina
Фf – fluxo magnético final, por espira (weber)
Фi – fluxo magnético inicial, por espira (weber)
tf – instante final (segundos)
ti – instante inicial (segundos)
Δt = tf – ti – intervalo de tempo (segundos)
ΔФ = Фf – Фi – variação de fluxo no intervalo Δt (weber)
Nota : O sinal (–) na fórmula quer dizer que a f.e.m. criada tende a opor-se à causa que a
originou.
PROBLEMAS – Forças eletromotrizes induzidas
P1 – Foram efetuados três ensaios com uma bobina de 200 espiras e com um íman que
ora se aproximava da bobina, ora permanecia imóvel no seu interior, ora se afastava da
bobina. Calcule a f.e.m. induzida em cada espira (e) e na bobina (E), nas seguintes
situações:
a) Durante a aproximação, sabendo que ao aproximar o íman da bobina, o fluxo através
dela variou de 0 para 8 mWb, durante 0,5 s.
b) Durante os dois segundos seguintes à aproximação do íman, período durante o qual
este ficou imóvel.
c) Durante o afastamento do íman, sabendo que durou 0,5 s o afastamento em relação à
posição da alínea b). Na posição final, a bobina ficou fora da ação do íman.
Resolução:
Note que o sinal negativo tem apenas significado físico. Nos cálculos, interessa-nos
apenas o valor absoluto.
Estes valores já eram de esperar, pois, segundo a Lei de Faraday, desde que não haja
variação de fluxo não há f.e.m. induzida.
Os valores das alíneas a) e c) são iguais (em módulo), na medida em que são iguais as
variações de fluxo no mesmo intervalo de tempo. A única diferença reside apenas no
sentido da f.e.m. induzida e, portanto, da corrente respetiva.
P2 – Uma bobina tem 250 espiras. Calcule:
a) A variação de fluxo verificada em cada espira durante 0,6 segundos, sabendo que foi
medida uma f.e.m. induzida de 5 V na bobina.
b) O tempo que durou a aproximação de um íman que induziu uma f.e.m. de 3 V na
bobina, com uma variação de fluxo de 10 mWb (por espira).
R.: a) 12 mWb; b) 0,83 s.
com:
ℓ– comprimento da linha de força média
μ – permeabilidade magnética do meio
S – secção transversal do núcleo considerado
Para aumentar Ф, devemos diminuir o valor de Rm (Lei de Hopkinson). Para diminuir
Rm, podemos fazê-lo por um dos seguintes processos:
1. Aumentando a permeabilidade magnética μ.
2. Diminuindo o comprimento das linhas de força ℓ.
3. Aumentando a secção S do núcleo.
Vejamos alguns exemplos de aplicação, por variação da relutância Rm.
A) Variando a permeabilidade do meio – Se considerarmos novamente as duas
bobinas, indutora e induzida (imóveis ou não), e fizermos deslizar no seu interior
(introduzindo e retirando, com maior ou menor velocidade) um núcleo ferromagnético
(com permeabilidade mais elevada que a do ar, evidentemente), então a relutância
magnética varia e, portanto, também o fluxo magnético, logo, a f.e.m. induzida.
A introdução (ou retirada) do núcleo ferromagnético, com maior ou menor velocidade,
provoca evidentemente uma variação de fluxo ΔФ, positiva ou negativa, consoante o
sentido do deslocamento do núcleo, e de valor mais ou menos elevado consoante a
velocidade que imprimirmos.
Esta experiência pode, portanto, ser feita com as bobinas imóveis, embora o fenómeno
continuasse a verificar-se caso alguma das bobinas se encontrasse em movimento. Na
figura 68 sugerimos a experiência efetuada.
B) Variando o comprimento ℓ das linhas de força – A variação do comprimento das
linhas de força está, afinal, associado também à variação da permeabilidade. Com
efeito, se pretendermos diminuir o comprimento ℓ, temos de incluir um núcleo
ferromagnético que canalize as linhas de força e reduza o seu trajeto total. Na figura 69
exemplificamos um processo simples de o fazer. Deslocando a armadura A (abrindo ou
fechando o circuito ferromagnético), fazemos variar o percurso das linhas de força e
portanto o seu comprimento ℓ, a relutância magnética, o fluxo Ф e finalmente a f.e.m.
induzida que desloca o ponteiro do galvanómetro.
Deve referir-se ainda que a Lei de Lenz também permitiria determinar o sentido da
corrente induzida, embora seja um pouco mais trabalhosa. Experimente.
5.4.6.3 Nova expressão para a f.e.m. induzida num condutor
Vimos já que a f.e.m. induzida numa bobina é obtida, de acordo com a Lei de Faraday,
por E = – N·ΔФ/Δt, em que N é o número de espiras. Tratando-se de um condutor
retilíneo, a f.e.m. induzida no condutor retilíneo é calculada pela expressão:
com:
e – f.e.m. induzida no condutor retilíneo (volt)
Фf – fluxo final (weber)
Фi – fluxo inicial (weber)
ΔФ – variação de fluxo ou fluxo cortado pelo condutor (weber)
Δt – intervalo de tempo em que se verifica ΔФ (segundos)
Isto é, a f.e.m. induzida e é igual ao fluxo cortado pelo condutor em cada unidade de
tempo, o que quer dizer que quanto maior for a velocidade de deslocamento do
condutor tanto maior será a f.e.m. induzida.
Por manipulação matemática, demonstra-se que a expressão anterior origina a nova
expressão para a f.e.m. induzida no condutor retilíneo:
e = – B · ℓ · v (com v = d/t)
com:
e – f.e.m. induzida no condutor (volt)
B – indução magnética (tesla)
ℓ – comprimento do condutor (metros)
v – velocidade de deslocamento do condutor (metros por segundo)
d – distância percorrida pelo condutor (metros)
t – tempo de deslocamento considerado (segundos)
Conclui-se que a f.e.m. induzida é tanto maior quanto maior for a indução, maior for o
comprimento do condutor e maior for a velocidade de deslocamento do condutor,
conforme seria lógico esperar.
5.4.6.4 Princípio de funcionamento do dínamo
O dínamo, ou gerador de corrente contínua, baseia o seu princípio de funcionamento
nas f.e.m. induzidas em condutores retilíneos (que constituem cada espira das bobinas
do dínamo) que cortam as linhas de força de um campo magnético. Os condutores de
cada uma das centenas ou milhares de espiras das bobinas do dínamo cortam as linhas
de força do campo magnético, ao rodarem em torno de um eixo, conforme é sugerido na
figura.
As correntes induzidas nos dois condutores retilíneos da espira representada na figura
somam-se, originando assim as duas polaridades (+ e –) que alimentarão uma carga
qualquer. O sentido da corrente em cada condutor é obtido pela regra dos três dedos da
mão esquerda ou da palma da mão esquerda, com as correspondências já indicadas.
Experimente, para os vetores indicados na figura.
PROBLEMAS – F.e.m. induzida num condutor
P1 – Na figura representa-se um condutor retilíneo C que pode deslocar-se sobre o
circuito elétrico que não tem qualquer fonte de energia. O circuito encontra-se
mergulhado num campo magnético uniforme de indução B. O condutor C encontra-se
perpendicular às linhas de força e é forçado a deslocar-se perpendicularmente ao campo
magnético, segundo a direção e sentido de F. Sabendo que B = 0,6 T, que o comprimento
do condutor é de 20 cm e que se desloca a uma velocidade linear de 1,5 m/s:
Se a corrente I for contínua, então não há correntes de Foucault, pois que I = constante
⇔ B = constante ⇔ Ф = constante e, portanto, não há f.e.m. induzidas, nem correntes
induzidas, nem correntes de Foucault (que são correntes induzidas no núcleo
ferromagnético).
Se a corrente I for variável, por exemplo alternada, já há correntes de Foucault. Com
efeito, a corrente I variável provoca uma indução B variável e, portanto, um fluxo Ф
variável, no núcleo ferromagnético, o qual produz no próprio ferro f.e.m. induzidas, de
acordo com as leis de Faraday e de Lenz. Essas correntes, circulares, aparecem em
planos perpendiculares à direção da indução B, conforme se sugere na figura. Quando a
indução magnética inverte o seu sentido, por inversão do sentido da corrente I, também
as correntes induzidas têm sentidos contrários.
Qual é o efeito destas correntes?
Bom, ao circularem no núcleo de ferro, aquecem-no e, portanto, há dispêndio de energia
sob a forma de calor.
Como se podem reduzir as perdas por correntes de Foucault?
Um dos processos consiste em laminar o núcleo de ferro, isto é, em dividir o núcleo
maciço em chapas, recobertas por material isolante e colocadas umas sobre as outras.
Desta forma, as correntes de Foucault que se formam são reduzidas porque ficam
confinadas à espessura das chapas de ferro.
O efeito dos polos do íman é, no entanto, o mesmo, pois ambos contribuem para que o
disco não entre em movimento uniformemente acelerado, devido à ação conjunta de
travagem. Evidentemente que neste caso o íman não faz parar o disco (mas antes regula
a sua velocidade), em virtude de existir uma força eletromagnética exterior (provocada
pela energia medida) que está constantemente aplicada ao disco. Por um lado, temos a
força eletromagnética produzida pela energia a medir, por outro lado, a força de
travagem que evita que o disco entre em aceleração.
C) Outras aplicações da travagem – Existe um número considerável de aplicações das
correntes de Foucault, na travagem de massas metálicas. Indiquemos algumas delas:
• Regulação da velocidade dos discos dos «relés de disco». São dispositivos de
proteção cujo princípio de funcionamento (elétrico) é semelhante ao do contador de
energia e que atuam quando, por exemplo, a potência ultrapassa determinado valor.
• Aplicação nos freios eletromagnéticos dos camiões de grande tonelagem.
• Amortecimento das massas metálicas móveis, ligadas aos ponteiros, em aparelhos de
medida (amperímetros, voltímetros, galvanómetros). Permite que os ponteiros de
determinados aparelhos de medida estabilizem a sua posição rapidamente, sem
grandes oscilações.
5.5.2.2 Fusão de metais, por indução eletromagnética
Na figura 80 representa-se um recipiente resistente a elevadas temperaturas (cerâmico,
de aço, etc.), onde é colocado o metal que se pretende fundir. O enrolamento em torno
do recipiente é alimentado em corrente alternada. O fluxo variável assim criado, ao
atravessar o metal, cria nele correntes induzidas que o aquecem. As temperaturas a
atingir têm de ser elevadas para provocarem a fusão do metal (várias centenas de graus
centígrados), pelo que as correntes (bem como o número de espiras) devem ser também
elevadas. As correntes induzidas no metal não são mais do que correntes de Foucault,
as quais vão provocar um aquecimento que será tanto mais elevado quanto maior for o
valor das correntes, bem como a sua frequência. A este aquecimento do metal dá-se o
nome de aquecimento por indução eletromagnética.
com:
L – indutância (em henry – H)
Фt – fluxo magnético total (em weber – Wb)
I – intensidade de corrente (em ampere – A)
Analisemos agora a definição anterior, e expressão respetiva, e tiremos algumas
conclusões:
1. A indutância é uma caraterística de qualquer circuito elétrico, seja ele constituído por
bobinas, condutores retilíneos, etc.
2. A indutância existe mesmo que a corrente e o fluxo sejam permanentemente
constantes (nesta situação, não existirá f.e.m. induzida). Evidentemente que, se Фt e I
forem variáveis, a indutância continuará a existir, embora possa assumir diferentes
valores no mesmo circuito (para correntes diferentes) – nesta situação, serão criadas
f.e.m. induzidas.
3. A indutância é tanto mais elevado quanto maior for o número de espiras N, o fluxo Ф
ou a corrente I, numa bobina.
4. No caso de se tratar de um condutor retilíneo, evidentemente que o fluxo é
geralmente tão reduzido que o coeficiente L é aproximadamente nulo, pelo que se
despreza o seu valor na generalidade dos casos (só quando a corrente é da ordem das
centenas de amperes e/ou N é elevado é que L é geralmente considerado).
No seguimento, veremos mais algumas caraterísticas desta grandeza tão importante nos
circuitos com bobinas.
5.6.3 Outra expressão para a indutância L
Podemos obter uma outra expressão para a indutância, no caso de se tratar de uma
bobina toroidal ou de solenoides compridos. Conforme vimos anteriormente, verifica-se
no interior da bobina toroidal que:
Ora, visto que por definição é L = Фt/I, então teremos, para bobina com núcleo de ar:
com:
L0 – indutância no ar (em henry)
L – indutância no ferro (em henry)
μ0 – permeabilidade do ar (em henry por metro)
μ – permeabilidade do ferro (em henry por metro)
N – número de espiras da bobina
S – secção de cada espira (em metros quadrados)
ℓ– comprimento da linha média do toroide (ou solenoide)
Por análise destas últimas expressões, podemos tirar mais algumas conclusões acerca da
indutância:
1. L depende apenas das caraterísticas intrínsecas da própria bobina. Evidentemente
que estas duas expressões não entram em contradição com a primeira, pois, na
expressão L = Фt/I, se I aumenta também Фt aumenta, originando um valor para L que é
praticamente constante (embora não rigorosamente).
2. L é bastante mais elevado quando o meio é ferromagnético.
3. L depende, entre outras grandezas, da permeabilidade. Se o meio for, por exemplo,
ferromagnético, então verifica-se que não é sempre constante, podendo variar
significativamente em determinadas zonas da curva de magnetização.
4. Concluímos, portanto, que L é praticamente uma constante de proporcionalidade
entre Фt e I; só o não é se o circuito ferromagnético funcionar na zona não linear da
curva de magnetização.
Nos problemas que vamos resolver, consideramos geralmente que L é constante, desde
que I não varie substancialmente. Em ensaios laboratoriais, em que se pretende
demonstrar que L varia com μ e se pretende construir o respetivo gráfico, fazemos
variar I entre limites consideráveis, de modo a abrangermos uma zona considerável da
curva de magnetização (zona linear + zona não linear).
5.6.4 A força eletromotriz de autoindução
5.6.4.1 Expressões matemáticas
Conforme foi já referido, a f.e.m. de autoindução é criada no próprio circuito, onde se
verifica (por processos vários) uma variação de fluxo magnético. Segundo as leis de
Faraday e de Lenz, a f.e.m. induzida numa bobina é dada por:
Por análise das expressões (1) e (2), podemos tirar algumas conclusões interessantes:
1. Só existe autoindução, e portanto f.e.m. autoinduzida, quando há variação de
corrente (ΔI ≠ 0) e portanto variação de fluxo (ΔФ ≠ 0).
2. Se ΔI = 0 ou ΔФ = 0 – corrente constante ou fluxo constante – então não há f.e.m.
autoinduzida. Note que L pode ser diferente de zero, apesar de não existir f.e.m.
autoinduzida. Na verdade, L é uma caraterística do circuito (= constante) e não tem
nada a ver com as variações de corrente ou de fluxo.
3. Além de aumentar com o coeficiente de autoindução, a f.e.m. autoinduzida é tanto
mais elevada quanto maior for a variação de corrente (ΔI) ou de fluxo (ΔФ), na unidade
de tempo. Portanto, a f.e.m. depende da «frequência» (rapidez) da variação da corrente
ou do fluxo.
4. A autoindução num circuito (e portanto a f.e.m. induzida) pode ser permanente ou
transitória, consoante o tipo de corrente ou o funcionamento do circuito:
• Se a corrente for alternada (de sentido variável), então a autoindução é permanente,
existindo uma f.e.m. constante.
• Se a corrente for transitória (por exemplo, abrindo ou fechando um circuito em
corrente contínua ou alternada), então a autoindução só existe durante um período
curto, correspondente à abertura ou ao fecho do circuito.
5. Conclui-se finalmente que, em corrente contínua, só existe autoindução na abertura e
no fecho de circuitos, ou seja, em regime transitório.
5.6.4.2 Classificação dos circuitos quanto à autoindução
Quanto à autoindução, os circuitos podem ser classificados em: fortemente indutivos,
fracamente indutivos e não indutivos.
Um circuito diz-se fortemente indutivo quando apresenta uma elevada f.e.m. de
autoindução. Exemplo: circuitos com bobinas de núcleo ferromagnético (enrolamentos
de motores, de geradores, de transformadores, de balastros, etc.)
Um circuito diz-se fracamente indutivo quando apresenta uma reduzida f.e.m.
induzida. Exemplo: circuitos com bobinas sem núcleo ferromagnético.
Um circuito diz-se não indutivo quando a f.e.m. de autoindução é desprezável.
Exemplo: circuitos com condutores retilíneos, enrolamentos em poucas espiras e com
núcleo de ar, resistências elétricas, etc.
PROBLEMAS – Autoindução
P1 – Um circuito ferromagnético toroidal, cuja linha de força média tem um
comprimento de 30 cm, tem um enrolamento com 200 espiras. A secção transversal do
núcleo é de 8 cm2 e a permeabilidade relativa de 2000. Calcule:
a) A indutância do circuito.
b) O fluxo total Фt e o fluxo por espira Ф, supondo que I = 1,5 A.
c) A intensidade necessária para produzir um fluxo por espira de 5 mWb.
Resolução:
O circuito, alimentado em corrente contínua, é constituído por dois ramos (1 e 2), cada
um dos quais tem uma lâmpada de incandescência, iguais entre si. Em série com L1,
existe um reóstato R; em série com L2, ligamos uma bobina B, que tem a sua própria
resistência Rb e ainda a sua indutância de valor L.
Numa fase pré-experimental, vamos ligar o interruptor K e regular o reóstato Rv até
que as duas lâmpadas apresentem o mesmo brilho (mesma corrente). Quando assim
acontecer, desligamos K, deixando de haver corrente no circuito e ficando as lâmpadas
apagadas.
Iniciemos então a experiência propriamente dita, ligando o interruptor, e observemos o
que acontece no circuito.
1. Verificamos que a lâmpada L1 acende de imediato, atingindo o brilho anteriormente
observado.
2. Verificamos ainda que a lâmpada L2 demora um certo tempo até atingir o brilho
observado anteriormente, ou seja, o brilho igual ao da outra lâmpada.
A diferença de brilhos verificada durante alguns instantes tem a ver obviamente com as
correntes I1 e I2 nos dois ramos – quanto maior for a corrente maior será o brilho da
lâmpada. Se o brilho de lâmpada L2 está atrasado (no tempo) em relação ao outro é
porque a corrente respetiva também o está. Na figura 84 sugere-se a evolução das
correntes i1 e i2, desde o instante em que se liga o interruptor K.
A que será devido este diferente comportamento das correntes?
Analisemos a resposta a esta questão.
Ao ligar K, a corrente na bobina tende a aumentar bruscamente de 0 para I2, ou seja, há
uma variação brusca de fluxo (ΔФ) na bobina, que produz nela própria uma f.e.m. de
autoindução e uma corrente i' que, segundo a Lei de Lenz, tende a opor-se à causa que
lhe deu origem. Esta corrente i' dura enquanto durar a variação de fluxo, isto é, durante
uma fração de tempo bastante curta (centésimas de segundo) – corresponde, por isso, a
um regime transitório (da corrente). A soma da corrente I2 (constante) com a corrente
transitória i' origina a corrente i2 representada no gráfico da figura 84, a qual atinge o
valor I2 = i1, no instante em que i’ = 0 (fim de regime transitório).
Se alimentarmos apenas a bobina 1, cria-se um fluxo Ф1, que atravessa esta bobina. Parte
deste fluxo – Ф12 – vai atravessar a bobina 2. Este é o fluxo comum às duas bobinas ou
fluxo mútuo.
Se alimentarmos agora apenas a bobina 2, cria-se um fluxo Ф2 (igual ou diferente de Ф1)
que atravessa esta bobina. Parte deste fluxo – Ф21 – vai atravessar a bobina 1. Este é
também o fluxo comum às duas bobinas, chamado igualmente fluxo mútuo.
Evidentemente que Ф12 e Ф21 poderão ser iguais ou diferentes, consoante as bobinas e as
correntes que as percorrem forem iguais ou diferentes, respetivamente.
5.7.3 Indutância mútua ou coeficiente de indução mútua
Vimos anteriormente que a indutância de um circuito é uma grandeza que depende
apenas das caraterísticas intrínsecas do circuito. No caso particular de uma bobina
toroidal, vimos mesmo que a indutância L era dada por:
Quando há uma ligação magnética entre dois circuitos, com fluxos comuns, define-se
uma nova grandeza, que tem o nome de indutância mútua.
Assim, a indutância mútua M entre dois circuitos é o quociente entre o fluxo magnético
que atravessa um deles (provocado pelo outro) e a corrente que percorre o outro:
com:
Ф12 = fluxo produzido pela bobina 1 e que atravessa a bobina 2
Ф21 = fluxo produzido pela bobina 2 e que atravessa a bobina 1
O quociente M é uma constante, como se vê pela expressão anterior, qualquer que seja o
circuito alimentado. É expresso em henrys (H), tal como a indutância L.
A grandeza M será tanto mais elevada quanto maior for o fluxo comum e menor a
corrente na outra bobina. O valor do fluxo comum é, obviamente, dependente de vários
fatores, como: a permeabilidade magnética, o comprimento das linhas de força, o tipo
de circuitos (bobinas com ou sem núcleo), o número de espiras, etc. Na figura 95 sugere-
se a ligação magnética entre duas bobinas, onde se pode constatar a importância dos
fatores referidos.
com:
E1 – f.e.m. induzida na bobina 1, devido à variação de corrente na bobina 2
E2 – f.e.m. induzida na bobina 2, devido à variação de corrente na bobina 1
Como se pode constatar facilmente, as expressões da f.e.m. de indução mútua diferem
da f.e.m. de autoindução fundamentalmente nas grandezas M e L, o que é natural,
dadas as diferentes caraterísticas de indução nos dois casos.
PROBLEMAS – Indução mútua
P1 – Duas bobinas B1 e B2, diferentes uma da outra, têm um coeficiente de indução
mútua de 1,1 H. Calcule:
a) A f.e.m. induzida em B1, quando I2 varia de 4 A durante 0,2 s
b) A f.e.m. induzida em B2, quando I1 varia de 4 A durante 0,2 s
Resolução:
Verifica-se que E1 = E2, conforme era de esperar, pois ΔI/Δt é igual nos dois casos.
P2 – Resolva um problema semelhante ao anterior, supondo que M = 0,3.Compare os
resultados dos dois problemas.
R.: a) 6 V (as f.e.m. induzidas são bastante inferiores às do problema 1, na medida em
que a indução mútua é muito reduzida); b) 6 V.
com:
Wm – energia magnética (em joules – J)
L – indutância (em henrys – H)
I – intensidade de corrente (em amperes – A)
A este tipo de energia, que ora se transforma de elétrica em magnética, ora se
transforma de magnética em elétrica, dá-se usualmente o nome de energia
eletromagnética (para a distinguir, por exemplo, da energia fornecida por um íman, que
é apenas mag nética).
Esquemas para interpretação
Esq1 – Na figura representa-se um tubo em PVC, em torno do qual foi colocada uma
bobina com N > 1000 espiras, ligada a dois leds, em antiparalelo. Deixa-se cair um íman
forte pelo tubo, na vertical. Por que razão os dois leds vão acender, momentaneamente,
um após o outro?
Esq2 – Observe a figura. O que vai acontecer à agulha quando se liga o interruptor K? E
ao trocar as polaridades da pilha?
Esq5 – Como se sabe, as bobinas são elementos indutivos que armazenam energia
magnética (Wm = L I2/2). Ao serem ligadas e desligadas, provocam correntes induzidas
no circuito, as quais podem ser muito fortes, provocando enormes estragos nos
circuitos, particularmente na aparelhagem de corte. Explique por que razão é colocado
um condensador em paralelo com o interruptor K da figura.
Esq8 – Na figura representa-se um eletroíman constituído por uma bobina com núcleo
de ferro em U. Entre os polos magnéticos do eletroíman balança um pêndulo
constituído por uma lâmina de cobre (ou alumínio). Quando se alimenta o eletroíman, o
pêndulo é travado. Por que razão isso acontece?