PGR Se Manifesta Sobre Prisão de Anderson Torres

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

INQUÉRITO Nº 4.923/DF – AUTOS ELETRÔNICOS E SIGILOSOS

Documento assinado via Token digitalmente por CARLOS FREDERICO SANTOS, em 17/04/2023 14:54. Para verificar a assinatura acesse
RELATOR : MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES
REQUERENTE : ANDERSON GUSTAVO TORRES
PETIÇÃO GCAA/PGR/MPF Nº 3.209 - 353992/2023

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RELATOR,

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O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Subprocurador-Geral

da República infrafirmado, vem, a presença de Vossa Excelência, expor e

requerer o que segue.

Trata-se de pedido de revogação de prisão preventiva formulado

por ANDERSON GUSTAVO TORRES (eDoc. 682), ex-Secretário de

Segurança Pública do Distrito Federal, sob o fundamento de que não estariam

presentes o fumus comissi delicti – prova da existência do crime e indícios de

autoria – e o periculum libertatis – perigo gerado pelo estado de liberdade.

Alega, quanto ao primeiro ponto, que a Secretaria de Segurança

Pública do Distrito Federal (SSP/DF) seria um órgão “essencialmente destinado

ao planejamento da segurança pública, não funcionando como órgão propriamente de

execução”, razão pela qual não seria possível atribuir ao chefe da pasta a

responsabilidade pelos fatos ocorridos no dia 08 de janeiro de 2023,

notadamente a invasão e a enorme depredação dos prédios do Palácio do

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Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, em

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Brasília/DF.

Aduz que não houve omissão penalmente relevante, visto que o

Plano de Ações Integradas (PAI) elaborado pela SSP/DF conteria todas as

diretrizes de atuação, ressaltando que não caberia à pasta a execução das

medidas ali previstas.

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Afirma que sua viagem aos Estados Unidos da América em 06 de

janeiro de 2023 teria sido planejada “quando sequer havia cogitação de

manifestação no Distrito Federal”, bem como que “a eventual presença do

peticionário na Secretaria de Segurança Pública não poderia ter alterado o desfecho dos

eventos”.

Argumenta que, “pelo fato de já ter sido devidamente periciada e

desacreditada”, a minuta de decretação de Estado de Defesa na sede do

Tribunal Superior Eleitoral, apreendida em sua residência durante o

cumprimento de mandado de busca e apreensão, não pode ser empecilho para

a revogação da custódia cautelar.

Pondera que, quando enviou a mensagem para Fernando Oliveira,

seu substituto na SSP/DF no dia 08 de janeiro de 2023, determinando que este

não deixasse a manifestação “chegar no Supremo”, a invasão já teria sido

iniciada, de modo que não haveria falar em conivência ou omissão de sua

parte. Diz, nesse sentido, que “quando tomou ciência do ocorrido, só restava ao
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requerente determinar ao seu Substituto que os vândalos não se aproximassem da

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Suprema Corte, uma vez que o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional já haviam

sido invadidos. De igual maneira, a Praça dos Três Poderes já se encontrava tomada”.

SUSTENTA A AUSÊNCIA DE PERICULUM LIBERTATIS SOB O

ARGUMENTO DE QUE SUA LIBERDADE NÃO REPRESENTARIA RISCO

PARA A ORDEM PÚBLICA, SOBRETUDO PORQUE NÃO EXISTIRIAM

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“ELEMENTOS CONCRETOS DE QUE O REQUERENTE, SE POSTO EM

LIBERDADE, POSSA VIR A PRATICAR QUALQUER ESPÉCIE DE INFRAÇÃO

PENAL, MORMENTE PORQUE É PRIMÁRIO, TEM ENDEREÇO CERTO E NÃO

POSSUI QUALQUER TRAÇO DE PERICULOSIDADE”.

ADUZ, AINDA, A INEXISTÊNCIA DE RISCO À INSTRUÇÃO

CRIMINAL, HAJA VISTA QUE “COMPULSANDO AS DILIGÊNCIAS

(ALGUMAS, INCLUSIVE, JÁ FORAM CONCLUÍDAS, A EXEMPLO DA ANÁLISE

PAPILOSCÓPICA DA MINUTA DE DECRETO), INFERE-SE SER ‘IMPOSSÍVEL’

QUE O REQUERENTE, CASO POSTO EM LIBERDADE, CONSIGA

OBSTACULIZAR O REGULAR PROSSEGUIMENTO DAS INVESTIGAÇÕES”.

Requer, assim, a revogação da prisão preventiva e, subsidiariamente,

a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão previstas no artigo 319

do Código de Processo Penal.

Vieram os autos com vista ao Ministério Público Federal.

É o relatório.

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O requerente, ex-Secretário de Estado de Segurança Pública do

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Distrito Federal, foi preso preventivamente por força de decisão proferida no

Inquérito nº 4.879/DF, em razão de suposta omissão dolosa no desempenho de

suas atribuições em relação aos fatos ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023.

A ordem de prisão preventiva destacou, dentre outros, o

descumprimento dos deveres de acompanhamento e policiamento da

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manifestação que depredou os prédios do Palácio do Planalto, do Congresso

Nacional e do Supremo Tribunal Federal, em Brasília/DF, bem como a inação

para o encerramento do acampamento montado em frente ao Quartel General

do Exército, situado no Setor Militar Urbano, em Brasília/DF.

Conforme manifestações anteriores do Ministério Público Federal

nos presentes autos, existe uma linha investigativa em evolução,

supervisionada pelo Supremo Tribunal Federal, que segue seu curso normal e,

até o momento, converge para a hipótese inicialmente estabelecida.

Nesse sentido, sem qualquer juízo de antecipação da culpa, e

reservando-se o Parquet a emitir sua opinião definitiva ao fim da apuração,

registra-se que a presente manifestação está cingida à análise dos requisitos

e pressupostos para a manutenção da prisão cautelar.

A análise circunstanciada sobre a omissão do investigado no

cumprimento de seus deveres funcionais, de modo a concorrer, de forma livre

e consciente, para a concretização dos resultados danosos perpetrados pela

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massa violenta será realizada no momento da formação da opinio delicti.

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Por consectário, o MPF entende que, no atual cenário da

investigação, não mais subsistem os requisitos para a manutenção da

segregação cautelar.

Com efeito, é cediço que a prisão preventiva possui natureza

eminentemente processual e não tem como finalidade antecipar o

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cumprimento de pena, devendo observar as finalidades específicas do artigo

312 do Código de Processo Penal1.

Ademais, pontua-se que a prisão preventiva submete-se à cláusula

rebus sic stantibus, de modo que a custódia deve ser revogada quando alterado

o quadro fático, probatório ou processual que justificou a sua decretação,

conforme regra do artigo 316 do Código de Processo Penal.2

No caso, a prisão preventiva do requerente foi decretada a fim de

preservar a ordem pública e a instrução criminal, diante da existência de

elementos concretos que demonstravam, à época, a necessidade e a adequação

da medida.

Nesse contexto, conforme ressaltado pela Procuradoria-Geral da

República anteriormente nos autos, a prisão do investigado foi fundamental


1 Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado
pelo estado de liberdade do imputado.
2 Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr
da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como nova-
mente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
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para evitar a ocultação ou destruição de provas, como, por exemplo, os

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materiais que foram encontrados em sua residência durante o cumprimento

do mandado de busca e apreensão domiciliar.

Ocorre que, considerando o cenário atual das investigações,

existem medidas cautelares diversas da prisão que cumprem de forma mais

adequada as finalidades em tela, providência que deve ser realizada, nos

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termos do artigo 282, § 6º, do Código de Processo Penal.

Art. 282. (…) § 6º A prisão preventiva somente será determinada


quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar,
observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição
por outra medida cautelar deverá ser justificado de forma
fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma
individualizada.

Nessa linha de raciocínio, tendo em vista as circunstâncias do fato,

os elementos informativos até então coligidos nos autos, bem como as

condições pessoais do investigado, reputa-se adequada a substituição da

prisão preventiva pelas seguintes medidas cautelares previstas no artigo 319,

III, IV, VI e IX, do Código de Processo Penal: (1) monitoração eletrônica, com

proibição de ausentar-se do Distrito Federal; (2) proibição de manter contato

com os demais investigados; e (3) afastamento do cargo de Delegado de

Polícia Federal.

Com efeito, a concessão de liberdade ao investigado, mediante a

imposição de monitoração eletrônica e restrição de deslocamento, ao tempo

em que constitui medida menos gravosa do que a prisão e providência mais


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adequada ao caso, possui como finalidade garantir a aplicação da lei penal.

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Cumpre-se, assim, com o princípio da proporcionalidade e seus subprincípios

de necessidade, adequação e proporcionalidade em sentido estrito.

Do mesmo modo, observando os mesmos princípios, a proibição de

contato com os demais investigados se revela essencial, sobretudo

considerando o grave contexto dos fatos investigados e a posição do

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requerente nos quadros da Administração Pública, que pode se utilizar de sua

influência política para influenciar o andamento da apuração.

Pelo mesmo motivo, o afastamento do cargo de Delegado de Polícia

Federal revela-se extremamente relevante, haja vista a possibilidade de real de

utilização do cargo para alteração do curso das investigações.

DOS PEDIDOS

DIANTE DO EXPOSTO, REQUER O MINISTÉRIO PÚBLICO

FEDERAL:

(I) A REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA DE ANDERSON

GUSTAVO TORRES;

(II) A IMPOSIÇÃO DAS SEGUINTES MEDIDAS CAUTELARES

DIVERSAS DA PRISÃO:

(II.A) MONITORAÇÃO ELETRÔNICA, COM PROIBIÇÃO DE

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AUSENTAR-SE DO DISTRITO FEDERAL;

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(II.B) PROIBIÇÃO DE MANTER CONTATO COM OS DEMAIS

INVESTIGADOS;

(III.C) AFASTAMENTO DO CARGO DE DELEGADO DE POLÍCIA

FEDERAL.

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POR OPORTUNO, PLEITEIA-SE, NOVAMENTE, QUE A POLÍCIA

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FEDERAL APRESENTE RELATÓRIO CONCLUSIVO DA INVESTIGAÇÃO, NO

PRAZO DE 30 (TRINTA) DIAS.

Brasília, data da assinatura digital.

Carlos Frederico Santos


Subprocurador-Geral da República

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