Pesquisa
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Porto Alegre
Fevereiro 2003
1
GEILMA LIMA VIEIRA
Porto Alegre
Fevereiro 2003
2
CCAA2
3
GEILMA LIMA VIEIRA
Esta Dissertação de Mestrado foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE EM
ENGENHARIA e aprovada em sua forma final pelos orientadores e pelo Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Profa. Denise Carpena Coitinho Dal Molin Prof. Flávio Barboza de Lima
Dr.a pela Universidade de São Paulo Dr. pela Universidade de São Paulo
Orientadora Co-orientador
BANCA EXAMINADORA
Quero reservar um espaço neste trabalho para prestar uma pequena homenagem a todas as
pessoas que, de uma forma ou de outra, contribuíram para que esta pesquisa fosse realizada.
Sem a contribuição de vocês a caminhada teria sido bem mais difícil.
À professora Denise Dal Molin pela orientação correta e competente, pelas contribuições
valiosas no decorrer do trabalho, principalmente pelo apoio, carinho e amizade com que trata
a todos nós, sem distinção de pessoa.
Ao professor Flávio Barboza de Lima pela co-orientação dada, que muito contribuiu para o
desenvolvimento deste trabalho e pela disponibilidade de ajudar sempre quando era possível.
À querida amiga Aguida Gomes de Abreu pela ajuda de grande importância durante a
realização dos ensaios eletroquímicos. A amizade, compreensão e disponibilidade de sempre
ajudar é característico da sua pessoa.
À professora Mônica Batista Leite, pelas intermináveis consultorias via e-mail. Obrigada,
sobretudo, pelas dicas de como se trabalhar com resíduos. Sua tese é uma grande ferramenta
de consulta para quem deseja continuar trabalhando nessa área.
Ao professor Carlos Formoso, pela dedicação notória dispensada ao NORIE. Quero agradecer
também aos professores Ruy Cremonini, Miguel Sattler, Greven e Luis Carlos Bonin, pela
experiência e conhecimento transmitidos. À professora Ângela Masuero, pela amizade e
carinho disponibilizados a todos nós e em todos os momentos.
Aos meus amigos de turma e do NORIE, Adriana, Dayana, Ricardo, Hilton, Henrique,
Marcos, Constance, Marco Maia, Leandro, Dóris, Juliana, Cristóvão, Renato, Fabrício,
Rafael, Conceição. Obrigada pela amizade e companheirismo.
Aos meus adoráveis companheiros da sala de materiais, Ana Paula, querida amiga, Daniel,
Paulo Sérgio, Ludmila, Alexandre, Marlova, Fernanda, Diana, Lucília, Maria Tereza,
Cristiane, Natália. Com certeza ganhei grandes amigos. Valeu pelo companheirismo, amizade
e pela alegria em todos os momentos, principalmente quando a saudade de casa se fazia sentir.
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Aos auxiliares de pesquisa do NORIE, principalmente ao Diego Altiere, Fabrício, Samuel e
Valter pela dedicação em todas as fases do trabalho, desde a caracterização dos materiais até
os ensaios de durabilidade. Obrigada por tudo.
Ao Éderson e Airton pela ajuda na realização das concretagens e pela amizade. Também ao
pessoal do LEME, Fontes, por suas invenções fantásticas, e professor Luiz Carlos.
A Universidade Federal de Alagoas, na qual tive a honra de fazer o curso de graduação, pelo
conhecimento adquirido e que, apesar das dificuldades, insiste em sobreviver e formar bons
profissionais em todas as áreas.
Ao professor Roberaldo Carvalho de Souza, por ter me iniciado na pesquisa científica e por
ter me ensinado a pensar com objetividade no desenvolvimento dos trabalhos científicos que
realizei sob sua orientação.
Aos amigos da Casa do Estudante, Maíra, Renata, Eliane e todo pessoal do oitavo andar, nos
quais tive a oportunidade de conhecer. Obrigada pela amizade e carinho dedicados a mim.
Aos meus amigos de Maceió, especialmente ao Luis Gustavo e ao Omar, que me ajudaram
assim que eu cheguei em Porto Alegre.
Aos meus pais, Geraldo e Valda, pelo amor incondicional e a minha tia Rita, pelo amor de
mãe dado a mim. A saudade é gr ande, mas saibam que é por vocês que faço tudo isso. Aos
meus irmãos, que são meus amores, obrigada pelo carinho e compreensão.
A Deus, por todas as bençãos recebidas e por ter sido meu refúgio nos momentos difíceis.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................. p.15
3 METODOLOGIA.............................................................................. p.59
3.1 PROGRAMA EXPERIMENTAL....................................................... p.59
3.1.1 Planejamento dos ensaios.................................................................... p.59
3.1.2 Coleta da amostra e beneficiamento dos resíduos............................... p.64
3.1.3 Composição média do resíduo utilizado.............................................. p.66
3.1.4 Seleção e caracterização dos materiais................................................ p.68
8
5.1.3 Resultado dos ensaios com ação combinada dos agregados miúdo e
graúdo reciclados................................................................................. p.114
5.2 MODELAGEM MATEMÁTICA PARA OS RESULTADOS DOS
ENSAIOS DE POTENCIAL DE CORROSÃO E TAXA DE
CORROSÃO....................................................................................... p.118
5.2.1 Análise de regressão múltipla para os concretos reciclados sobre o
potencial de corrosão........................................................................... p.119
5.2.1.1 Efeito isolado da relação a/c sobre o potencial de corrosão.................................. p.121
Efeito isolado do percentual de agregado miúdo reciclado e do agregado graúdo
5.2.1.2
reciclado sobre o potencial de corrosão................................................................. p.122
5.2.1.3 Efeito da interação a/cxIdade sobre o potencial de corrosão................................. p.123
5.2.1.4 Efeito da interação a/cxAMRxAGR sobre o potencial de corrosão...................... p.124
5.2.2 Análise de regressão múltipla para os concretos reciclados sobre a
taxa de corrosão das armaduras........................................................... p.126
5.2.2.1 Efeito isolado da idade sobre a taxa de corrosão das armaduras........................... p.128
5.2.2.2 Efeito da interação IdadexEcorr sobre a taxa de corrosão das armaduras.............. p.129
5.2.2.3 Efeito da interação a/cxAMRxAGR sobre a taxa de corrosão das armaduras...... p.130
5.2.2.4 Efeito da interação a/cxAGRxIdade sobre a taxa de corrosão das armaduras....... p.132
5.2.2.5 Efeito da interação AMRxAGRxIdade sobre a taxa de corrosão das armaduras.. p.134
LISTA DE FIGURAS
The recycling of the coming wastes of activities of the industry of the building site is being a
practice of fundamental importance, so much for the environment, as for the society in
general. The building site dump that leaves the construction sites, the demolition waste or
construction remains is characterized as a of a heterogeneous mixture of materials with a great
recycling potential. The composition of the construction and demolition waste itself constitute
an alternative to eliminate the nocive dump deposition at the margins of public roads, fallow
lands and rivers. At the same time, it is very useful to obtain more economical construction
materials with a insured quality. Many studies were already developed with these materials,
being appraised, in your great majority, in mechanical properties and technical viability of the
use of those residues incorporate to the concrete mix. Little one has been studying on aspects
of durability of concretes produced with recycled aggregates. In that way, the objective of this
work is to do a study the durability of concrete made from recycled aggregates, analyzing the
behavior of the concrete when submitted to the attack of aggressive agents, in this case, the
chloride ions. This study presents the results of the compressive strength, as parameter of
control of the concrete produced. For the durability indexes, results of the potential of
corrosion and the corrosion rate of the iron bars of the recycled concrete obtained are
presented. The concrete production was carried out, with three different water/cement ratios
(0,40; 0,60; 0,80) and with three different proportion of substitution of the natural aggregates
for the recycled, these proportions were of 0%, 50% and 100% of substitution, so much of the
recycled fine aggregates (RFA) as of the recycled coarse aggregates (RCA). The results
proved that there is a great resistance of the concrete obtained with these aggregates, in
allowing corrosion in the shielding shell, with those obtained with a bigger percentage of
substitution of the fine recycled aggregate when compared to concretes produced without
substitution of recycled material.
1 INTRODUÇÃO
A indústria da construção civil vem, ao longo dos anos, aprimorando suas técnicas
construtivas e caminhando paralelamente com o avanço tecnológico que hoje está espalhado
pelo mundo. Essa mesma indústria que cresce e se aprimora, está as voltas com problemas tão
grandes quanto seu crescimento. Um dos questionamentos que se faz é o que será da
construção civil sem os recursos naturais, antes tidos como inesgotáveis e renováveis, uma
vez que sua exploração, excessiva e indiscriminada, tem causado graves problemas
ambientais.
Nenhum questionamento desse tipo estaria em foco se não estivesse havendo uma consciência
mundial de preservação da natureza em todos os seus aspectos, desde a conservação da
matéria-prima até uma percepção de preservação do ambiente, de modo que se possa garantir
a sobrevivência do homem. Isso se justifica porque preservação ambiental é, acima de tudo,
conservar área de matas nativa, rios e espécies em extinção. Essa é a visão de
desenvolvimento sustentável.
A partir do momento em que a indústria da construção civil explora suas jazidas naturais e
não renováveis para a extração de recursos minerais, criando cada vez mais crateras e
crateras, ela está contribuindo para o desequilíbrio ecológico daquela região e
conseqüentemente, quase que simultaneamente, comprometendo várzeas e áreas da baixada
urbana.
Estas justificativas se fazem mais do que necessárias para que haja uma profunda
reformulação das atividades humanas, que passa a incorporar todos os impactos das atividades
de produção e consumo, desde a extração da matéria-prima até o produto final após sua
utilização. Nesse processo de transformação a sociedade depende de significativas mudanças,
por parte do setor da construção civil, para alcançar o desenvolvimento sustentável (JOHN,
2001).
A cadeia produtiva da construção civil, segundo John (2001), é responsável por grandes
impactos ambientais em todas as etapas do seu processo, que vai desde a extração, produção
de materiais, construção, uso até a demolição.
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A redução do impacto ambiental dessa indústria não é uma tarefa das mais fáceis, tendo
que agir em várias áreas, e de forma concomitante, para que se possa obter algum resultado
positivo, devendo portanto: minimizar o consumo dos recursos (conservar); maximizar a
reutilização de recursos; usar recursos renováveis ou recicláveis; proteger o meio ambiente;
criar um ambiente saudável e não tóxico e buscar a qualidade na criação do ambiente
construído (a partir de JOHN, 2001).
Em uma das pontas desse complexo está a geração dos resíduos. Estes são produtos de
correntes de atividades extrativistas, produção industrial e serviços. Podem ser chamados de
subprodutos quando adquirem um valor comercial. Como é caso, por exemplo, da grande
quantidade de armaduras usadas em concreto armado e que contêm altos teores de resíduos, e
da sílica ativa, hoje largamente empregada na construção civil. (CINCOTTO 1989, citado por
LEITE, 2001; JOHN, 2001).
Por outro lado, essa mesma indústria que emprega grandes quantidades de resíduos em seus
materiais também é responsável pelo enorme volume de resíduos de construção e demolição
que vem sendo gerado nas cidades, ano após ano, e depositados indiscriminadamente em
lugares inadequados, provocando sérios problemas ambientais, como assoreamento de rios e
córregos, e evidenciando a falta de uma política para a gestão desses resíduos por parte dos
governantes.
Resta, portanto, ir em busca de alternativas para reduzir o acúmulo desses resíduos. A solução
pode estar inserida em vários pontos. Pode-se começar na melhoria da qualidade dos bens e
serviços dentro da construção civil, resultando numa diminuição de perdas de materiais e que
mais tarde vão diminuir a fatia no percentual de resíduos gerados. Também pode haver uma
grande conscientização ambiental, provocando sérias transformações socioeconômicas e
culturais por parte dos centros urbanos e da sociedade em geral, no sentido de minimizar os
impactos causados pela urbanização indiscriminada e mal planejada das cidades e cobrar dos
responsáveis uma legislação que atenda a todos e que, de sobremaneira, faça valer os direitos
e deveres de cada pessoa envolvida nesse processo.
Uma outra alternativa é fazer uso da reciclagem desses resíduos. A reciclagem significa
redução de custos, redução do volume de extração da matéria-prima, preservando os recursos
naturais limitados, e também a minimização dos problemas com gerenciamento dos resíduos
sólidos urbanos dos municípios (LEITE, 2001; JOHN, 2001).
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Os resíduos provenientes de obras da construção civil e de demolição apresentam
características que dependem do tipo de obra, das técnicas construtivas, da fase em que se
encontra a obra, das características sócio-econômicas da região considerada, entre outros
fatores.
Segundo Zordan (1997), o entulho de construção civil que sai dos canteiros de obras,
demolição ou de restos de construção é constituído por uma mistura de cacos cerâmicos,
tijolos, blocos, argamassa, concreto, madeira, papel, terra e restos orgânicos, entre outros.
Para Pinto (1986), essa mistura é composta, basicamente, de 60% de argamassa, 30% de
componentes de vedação – tijolos, blocos, cacos cerâmicos, 9% de outros materiais (concreto,
pedra, areia, metálicos e plásticos) e 1% de orgânicos.
De acordo com John (1996), citado por Leite (2001), o mercado da construção civil se
apresenta como uma das melhores alternativas para consumir materiais reciclados, pois a
atividade de construção é realizada em qualquer região, o que já reduz custos como de
transporte. Além disso, os materiais necessários para produção da grande maioria dos
componentes de uma edificação não precisam de sofisticação técnica. O raio de alcance que o
resíduo beneficiado pode ter é um ponto importante e favorável no conjunto da possibilidade
de sua reutilização.
Para John (2001), a reciclagem de resíduos apresenta dois tipos de risco. O primeiro é o risco
associado a qualquer inovação tecnológica na construção civil, pois a natureza empírica do
conhecimento e a falta de tradição em inovação, aliadas à longa durabilidade requerida, têm
significado desempenho inadequado de muitas novas tecnologias introduzidas no mercado. A
esse problema soma-se o risco inerente à própria reciclagem, pois muitos resíduos são
considerados perigosos, por possuírem taxas elevadas de concentrações de espécies químicas
perigosas. O que não é o caso dos resíduos de construção e demolição.
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Apesar de algumas desvantagens, as vantagens de se utilizar materiais como esses, muitas
vezes compensam em vários aspectos técnicos e de utilização dos materiais. Se, na origem da
geração do resíduo, a reciclagem significa redução de custos e até mesmo novas
oportunidades de negócios, na outra ponta do processo, a cadeia produtiva que recicla reduz o
volume de extração de matérias-primas, preservando os recursos naturais, que são limitados.
A incorporação desses resíduos a outros produtos permite muitas vezes a produção de
materiais com melhores características técnicas, como é o caso da sílica ativa, que viabiliza
concretos de alta resistência mecânica, e da escória de alto forno, que melhora o desempenho
do concreto frente à corrosão por cloretos (JOHN, 2001).
Silva, Costa e Canêdo (2001) estudaram a viabilidade técnica de concreto fabricado com
agregado miúdo proveniente da reciclagem do entulho do concreto. Nesse trabalho a
substituição do agregado se deu de forma total (100%) e parcial (50%). Os autores puderam
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constatar que os resultados dos ensaios de resistência à compressão atingiram a ordem de
77 a 92% daquela obtida com os concretos de referência, ou seja, sem substituição,
constituindo assim uma opção econômica e ambientalmente lucrativa.
Pouco se têm estudado sobre aspectos de durabilidade desses concretos. A grande maioria dos
trabalhos avalia propriedades mecânicas e viabilidade técnica da utilização desses materiais
incorporados ao concreto. Oliveira e Assis (1999) estudaram a deterioração de concretos
provenientes de demolição de obras de construção civil e o seu comportamento em relação ao
meio ambiente, simulando um ataque de água com pH baixo. O estudo revelou que a perda de
massa do concreto com agregados reciclados, em função do efeito da chuva ácida, foi
aproximadamente 16% em relação à massa da amostra do concreto de referência.
Dessa forma, passa a ser objeto de pesquisa deste trabalho fazer um estudo relacionado à
durabilidade de concretos produzidos a partir de agregados reciclados, analisando o
comportamento desses concretos quando submetidos a um ataque de agentes agressivos. No
caso da pesquisa em questão, será realizada, em ambiente de laboratório, uma simulação de
ataque de cloretos nestes concretos. Os cloretos são considerados um dos piores agentes de
deterioração de uma estrutura de concreto, pois eles penetram na estrutura porosa do
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concreto, atingem a armadura e podem provocar corrosão, e conseqüentemente levam a
estrutura ao colapso, por esgotar a sua capacidade de resistir aos esforços aos quais é
submetido o concreto armado.
1.1 HIPÓTESE
Como hipótese a ser testada nesse trabalho tem-se a de que a ação de cloretos no concreto
executado com misturas contendo agregados reciclados provoca o fenômeno da corrosão das
armaduras em menor grau quando comparado com concretos obtidos com agregados
convencionais.
1.2 OBJETIVOS
O objetivo geral desta pesquisa é fazer um estudo comparativo do processo de corrosão das
armaduras devido à ação de cloretos, entre concretos tradicionais, ou seja, concretos
produzidos com agregados naturais, e concretos produzidos com agregados reciclados.
Para que este trabalho se apresentasse de forma clara e organizada, foi divido em sete
capítulos.
No primeiro capítulo foi descrita uma breve introdução sobre o assunto a ser estudado,
enfatizando sua importância, assim como a especificação dos objetivos principais e
secundários.
No capitulo 2 está apresentado um estudo sobre o estado da arte dos resíduos de construção
civil, enfocando a importância da reciclagem e fazendo um resumo das pesquisas envolvendo
agregados reciclados e sua influência nas propriedades mecânicas e de durabilidade dos
concretos. Também foi realizada uma breve definição sobre corrosão das armaduras, visto que
esse assunto é um ponto importante no trabalho.
Após receber a herança grega, o império romano (753 a.C. a 476 d.C.) desenvolveu vários
campos da arte, do direito e da engenharia. Nessa época, os romanos usavam em suas
construções calcário calcinado e aprenderam a misturar cal e água, areia e pedra fragmentada,
tijolos britados ou telhas em cacos. Foi o primeiro concreto que se teve notícia na História e,
ironicamente, feito de restos de alvenaria e outras pedras trituradas. Portanto, não é nenhum
exagero afirmar que o primeiro concreto produzido no mundo, que se tem notícia, foi um
concreto obtido de agregados reciclados (NEVILLE, 1997; SUPERINTERESSANTE, 2002).
Nessa época o material utilizado na reciclagem foi proveniente de um volume estimado entre
400 e 600 milhões de metros cúbicos. Por volta de 1955, as instalações de reciclagem
produziram milhões de metros cúbicos de agregados reciclados, com os quais foram
construídas 175.000 unidades habitacionais. Assim, no final de 1956, cerca de 85% do
entulho da Segunda Grande Guerra havia sido removido e, em 1960, todo entulho proveniente
da guerra havia sido reciclado na Alemanha (LEVY, 2002). A partir dessa época,
caracterizou-se o início do desenvolvimento da tecnologia da reciclagem de resíduos de
construção e demolição.
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Atualmente, suprir a carência de matéria-prima e preservar os recursos naturais não
renováveis continuam sendo os maiores motivos para que a reciclagem de resíduos de
construção e demolição seja feita.
Entre encontros e congressos, cujo principal tema era a reutilização de resíduos, foram
desenvolvidas normalizações para a utilização desses agregados. Na tabela 1 é mostrado um
resumo dos principais eventos internacionais, no âmbito da reciclagem de resíduos, que
marcaram o início de normalizações e padronizações do uso de agregados reciclados.
Por conta disso, o governo holandês publicou, em 1989, uma lei sobre resíduos sólidos, com a
intenção de reduzir a poluição ambiental e o consumo de recursos naturais, cuja oferta
diminui a cada ano. De diversas pesquisas nesse país foram formuladas leis e
regulamentações, cujas diretrizes permitem classificar o material reciclado que é produzido.
Nos Estados Unidos, na década 1960, foi criada uma política para gestão dos resíduos
chamada Lei de Conservação e Reciclagem de Recursos, que abrange vários setores da cadeia
produtiva e privilegia os produtos contendo resíduos ou ambientalmente saudáveis. Na década
de 1990, os governos norte-americanos começaram a criar leis que regulamentavam a
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disposição final dos resíduos de construção e demolição. Atualmente, mineradoras já
adicionam aos agregados extraídos das jazidas algumas porcentagens de reciclados. No
programa de reciclagem da cidade de Los Angeles, os custos com reciclagem é cerca da
metade dos custos dos aterros norte-americanos (ZORDAN, 2002; JOHN e AGOPYAN,
2000).
No Brasil, o pioneiro nos estudos sobre reciclagem de resíduos da construção foi o arquiteto
Tarcísio de Paula Pinto, em 1986. Seu primeiro trabalho foi uma dissertação de mestrado
realizada com a utilização de resíduos de construção na fabricação de argamassas. Depois
disso, desencadeou-se no país uma consciência coletiva por parte da sociedade e do meio
25
técnico, até então desacordados para o assunto, no que diz respeito à reciclagem de resíduos
de construção e demolição.
Alguns contestam o termo “resíduo de construção”, pois estes materiais geram um produto
final com a reciclagem e a designação dada é sinônimo de um material que não se pode mais
utilizar. A melhor definição talvez seja “subprodutos”, estes são gerados por processos que
incluem atividades extrativistas, produção industrial e de serviços, com emprego na
construção civil (LEITE, 2001; JOHN, 2001).
Esta classificação está sendo muito contestada no meio técnico. Oliveira, Mattos e Assis
(2001) sugerem que seja feita uma revisão da norma NBR 10004, passando os resíduos de
26
construção e demolição da classe III – inertes, para a classe II – não inertes. Segundo os
autores, o estudo constatou, através de análise química, que o resíduo proveniente de concreto
não apresentou propriedades inertes.
Zaharieva et al. (2002) também afirmam que o agregado reciclado não pode ser considerado
inerte, devido a sua grande heterogeneidade, assim como altos teores de impurezas, como
metais pesados, por exemplo, que podem contaminar os resíduos e conseqüentemente afetar a
durabilidade dos concretos produzidos a partir desses agregados.
Para John e Agopyan (2000), os resíduos são classificados pela NBR 10004, como inertes por
exceção, pois se forem submetidos à análise certamente seriam classificados como não
inertes, especialmente devido ao pH e à dureza da água absorvida, que podem ter importantes
níveis de contaminação. Ainda segundo os autores, as contaminações podem ser originadas
tanto da fase de geração, como do manuseio. Estes contaminantes tanto podem afetar a
qualidade do produto quanto possibilitar riscos ambientais.
Entretanto, segundo Zordan (2000), citado por Leite (2001), os resíduos podem se inserir em
quaisquer das classes II ou III, vai depender apenas da origem e da constituição dos materiais.
Isatto et al. (2000) apontaram que a falta de algumas medidas relativamente simples, como
gerenciamento do armazenamento de materiais no canteiro de obras, está intimamente ligada
à questão das perdas de materiais, e que medidas de prevenção são necessárias para reduzir
estas perdas, sem que, necessariamente, se façam grandes investimentos em novas
tecnologias. Segundo os autores, os grandes índices de perdas originam-se fora dos canteiros
de obras, ainda na fase de planejamento, em virtude de projetos inadequados e falta de
planejamento.
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Há alguns anos não havia quaisquer indicadores para a ocorrência de perdas na construção
civil e quase nada se sabia sobre a geração de resíduos de construção e demolição, exceto pela
formação de imensas pilhas de entulho depositadas nos ambientes urbanos. No Brasil,
atualmente já é possível confirmar as significativas perdas e quantificar a geração desses
resíduos fazendo uso de uma série de indicadores sobre a geração desses materiais. Pinto
(1999) fez uma estimativa de que os resíduos de construção e demolição, além de outras
atividades de manutenção e reparos, gerados nos grandes centros brasileiros, são responsáveis
por aproximadamente 50% do quantitativo dos resíduos gerados, enquanto que as atividades
de canteiro de obras respondem pela outra metade da geração desses resíduos.
Supõe-se que são gerados de 2 a 3 bilhões de toneladas de entulho por ano em todo mundo.
Em países europeus, como Alemanha e Europa Oriental, aproximadamente dois terços dos
resíduos de construção gerados são provenientes de obras de manutenção e demolição, sendo
o restante vindo de atividades de construção. Em países onde o desenvolvimento é acelerado,
o percentual de geração de resíduos tende a aumentar, dada a sua necessidade de aumentar o
ambiente construído. Nos Estados Unidos, o percentual passa para 8% das atividades de
construção e 33% se dão em demolições não residenciais. Na Europa, estima-se que a geração
de entulho varia de 600 a 918 kg/hab.ano, que é muito maior do que a estimativa de 390
kg/hab.ano de resíduo sólido municipal (OZKAN, 2001; VAZQUEZ, 2001; LEITE, 2001;
POON, 1997; JOHN, 2000). Na tabela 2 é possível visualizar a geração dos resíduos de
construção em diferentes países.
No Brasil, não há números precisos que apontam uma estimativa nacional da geração de
resíduos. As estimativas pontuais levam a uma geração anual entre 220 a 670 quilos por
habitante. Estima-se que cerca de 150 quilos de resíduos são gerados para cada metro
quadrado de área construída. A geração de resíduos em algumas cidades brasileiras chega a
500 kg/hab.ano. Na cidade de São Paulo, só a indústria da construção civil gera 90.000 metros
cúbicos de entulho por mês e esse montante corresponde apenas ao material que chega em
aterros oficiais. Para um edifício, cuja massa de materiais equivale a 1000 kg/m², o entulho
gerado corresponde a aproximadamente 5% da massa total do edifício (ANDRADE et al.,
2001; JOHN, 2000; PINTO, 1999).
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Tabela 2: estimativas de geração de resíduos de construção em diferentes países
Quantidade anual
País
Mton/ano kg/hab
Japão 99 785
A tabela 3 apresenta alguns dados sobre a geração de resíduos em algumas cidades do país.
Dados estes que podem revelar importantes índices, mostrando a realidade da geração dos
resíduos sólidos no Brasil.
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Tabela 3: geração de resíduos em algumas cidades brasileiras
(fonte: (1) a partir de LEIT E, 2001; (2) ANDRADE et al. 2001; (3) Superintendência de Limpeza Urbana de
Maceió- SLUM, 1997)
As soluções adotadas atualmente pelos governos da maioria dos municípios brasileiros no que
diz respeito ao grande volume de resíduos de construção e demolição gerados, são, na sua
maioria, emergenciais. Essas soluções, sem planejamento, corriqueiramente repetitivas e com
preços elevados, caracterizam o que se chama de “Gestão Corretiva”1. Segundo Pinto (2001),
a gestão corretiva envolve atividades não preventivas e repetitivas e que, por não
apresentarem resultados satisfatórios, tornam-se muito ineficientes. Além de se sustentarem
1
Definições apresentadas pelo arquiteto Tarcísio de Paula Pinto (2001)
30
na inevitável deposição irregular dos resíduos em áreas naturais, degradando o ambiente
urbano.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) aprovou uma resolução, em 2002, com
orientações a respeito da destinação que é dada ao entulho. Nesta resolução, o CONAMA
recomenda que seja feita reciclagem do material e cria uma co-responsabilidade entre a
construtora e a empresa removedora do entulho, além da previsão de multas.
Estima-se que, em média, 65% do entulho dos bota-foras são de origem mineral, 13%
madeira, 8% plásticos e 14% de outros materiais. O custo projetado do metro cúbico de
argamassa com material reciclado é de 36 dólares, contra 62 dólares de uma argamassa com
material convencional. Um outro dado significativo, é que percentuais de 20 a 25% do
entulho gerado nas cidades são provenientes das construtoras. O restante vem de reformas e
de outros tipos de obra de autoconstrução (TECHNE, 2001).
31
As principais questões que definem a política de reciclagem dos resíduos de construção
civil foram apontadas por Pinto e Agopyan (1994), citado por Cavalcanti (2002):
- mais de 90% dos resíduos da construção civil podem ser reutilizados na própria
indústria da construção civil, na produção de novos componentes de
construção;
Para que os resíduos de construção e demolição deixem de ser um problema e passem a ser
uma solução, a reciclagem desses materiais constitui-se na técnica mais simples e rentável em
termos econômicos e sociais. Além de diminuir os volumosos montantes de entulho
depositados nos diversos tipos de ambientes urbanos, a reciclagem ainda pode reduzir o custo
na construção civil. A reciclagem do resíduo de construção e demolição transforma um
material aparentemente sem uso, em uma fonte de matéria -prima que serve tanto para obras
prediais e residenciais, como também soluciona os problemas que as municipalidades
enfrentam com o gerenciamento desses resíduos.
O apelo ambiental também é outro ponto de grande enfoque para o uso da reciclagem dos
resíduos. Durante a conferência RIO-92 discutiu-se a necessidade de implementação de um
sistema de gestão ambiental para os resíduos sólidos, bem como os benefícios gerados por
essa gestão. Na construção civil, onde o consumo de matéria-prima é altamente impactante na
32
natureza, a reciclagem se insere nesse contexto para a minimização dos impactos
ambientais causados pela extração dos recursos naturais não renováveis, uma vez que a
construção civil pode reaproveitar grande percentual de materiais de construção que foi
descartado (ÂNGULO, ZORDAN e JOHN, 2001).
Entretanto, para que o uso da reciclagem se dê em uma escala na qual os benefícios sociais,
econômicos e ambientais sejam percebidos, o poder público deve implantar um programa
fazendo uso do levantamento dos resíduos gerados na cidade e estimar os custos diretos e
indiretos da disposição do entulho em aterros e, a partir daí, determinar a tecnologia que será
empregada na reciclagem, os investimentos necessários e as possíveis aplicações dos resíduos
reciclados. A sistemática da coleta do entulho, assim como a reciclagem do mesmo, se dará de
forma mais eficiente se houver a presença dos agentes envolvidos na construção civil aliado
ao poder público municipal2.
2
José Carlos Vaz (1994). Disponível em http://www.federativo.bndes.gov.br/dicas
33
Tabela 4: custos para uma instalação de uma central de reciclagem
Obviamente, os custos com materiais e equipamentos não estão incluídos nessa estimativa.
Estes equipamentos têm um valor consideravelmente alto, mas em médio prazo esse
investimento já teria sido compensado. Um estudo realizado para a implantação da usina de
reciclagem de Santo André (SP) mostrou que para uma geração de entulho em torno de 115
metros cúbicos por dia seria necessário um investimento de U$ 144 mil dólares na montagem
dos equipamentos. O custo na obtenção dos agregados reciclados, incluindo todas as despesas,
ficaria em torno de 2,5 dólares por metro cúbico, enquanto que os gastos com o
gerenciamento dos resíduos e os custos com agregados naturais somavam 24,7 dólares por
metro cúbico para a prefeitura da cidade (TECHNE, 1995).
Para a implantação de uma central de pequeno porte os custos se tornam bem menores. Na
tabela 5 são mostrados alguns valores de investimentos numa central de reciclagem com
capacidade para processar 40 toneladas por hora de entulho.
TOTAL 290.000
Ultimamente, cidades como Belo Horizonte, São Paulo, Santo André, Londrina, São José dos
Campos, Ribeirão Preto e Piracicaba se envolveram no estudo do gerenciamento dos resíduos
de construção e implantaram centrais de reciclagem funcionando experimentalmente.
Atualmente, apenas as centrais de Belo Hor izonte, Ribeirão Preto e Piracicaba estão em
funcionamento. Nas cidades de Recife, Campinas e Natal, o setor privado está desenvolvendo
projetos no sentido de colocar em operação uma central de reciclagem. As cidades de Santo
André e São José do Rio Preto estão analisando a possibilidade de empresas privadas se
associarem às prefeituras e terem autorização de operar estas centrais. Em Santo André a
central funcionou por apenas alguns meses, fazendo uso da reciclagem experimental (JOHN e
AGOPYAN, 2000).
Uma grande variedade de componentes constitui a formação dos resíduos. Dentre eles estão
componentes orgânicos como madeira, papéis, materiais betuminosos, plásticos, entre outros,
e materiais inorgânicos como concretos, cerâmicas, argamassas, materiais metálicos e outros
produtos gerados pela construção civil.
Para John e Agopyan (2000), a possibilidade de reciclagem desses resíduos vai depender da
composição do mesmo. Para resíduos de material cerâmico, quase todo seu percentual pode
ser reciclado e utilizado em diferentes aplicações. Dos percentuais de concreto e argamassa,
assim como rochas naturais, podem ser obtidos agregados para confecção de concretos. Ainda
segundo os autores, uma aplicação que já está sendo muito utilizada no mercado é a
reciclagem de resíduos mistos para a produção de argamassa em canteiro. Foi analisada
também a possibilidade e a viabilidade técnica de reciclagem a partir de composições típicas
de entulhos provenientes da cidade de Itatinga em São Paulo, como pode ser visualizado nas
figuras 1 e 2.
Outros
5% Cerâmicos
Solos 63%
32%
Concretos
13% Cerâmicas
47%
Argamassas
40%
Elementos como gesso, vidros, materiais betuminosos, matéria orgânica, metais, plásticos,
papéis, entre outros, são considerados como impurezas na reciclagem dos resíduos de
construção e demolição. A presença do gesso na composição do resíduo provoca reações de
expansão e pode fissurar o concreto, devendo não ser utilizado na reciclagem. O vidro
também é outro elemento limitante na composição dos resíduos, pois, uma vez inserido no
concreto como agregado reciclado, pode reagir com os álcalis do cimento provocando a
reação álcali-sílica, que provoca a deterioração do concreto. Materiais metálicos também
podem causar danos ao concreto se inseridos na mistura, pois a presença de elementos como
zinco e alumínio podem favorecer o desprendimento do hidrogênio no concreto fresco ou
podem provocar reações de expansão, causando fissuras no concreto endurecido (HANSEN,
1992; LEITE, 2001; JOHN e AGOPYAN, 2000).
Rocha
Outros Material
natural (Arenito)
Rocha 12,74% 0,39% cerâmico
natural (Outras) 26,33%
17,10%
Argamassa Concreto
28,26% 15,18%
Plástico Outros
Rocha
Material 4% 2%
5% Argamassa
Cerâmico 53%
14%
Solo e Areia
22%
Observando estas composições nota-se que, apesar de serem composições das mais variadas
regiõ es do país, não há muita diferença nos percentuais e na caracterização do entulho gerado
no Brasil. Observa-se também, que grandes percentuais dos resíduos de construção e
demolição são compostos de concreto, argamassa e materiais cerâmicos. De onde se pode
concluir que parcelas significativas na composição dos resíduos são passíveis de reciclagem.
Após uma etapa de reciclagem, esses materiais podem se transformar em agregados com
grandes utilizações no setor civil.
Em outros países, a composição dos resíduos de construção e demolição não difere muito da
composição dos resíduos brasileiros. No capítulo 3, no item 3.1.3 é feito um comparativo com
a composição dos resíduos utilizados nesta pesquisa, bem como de outros trabalhos a níveis
nacionais e internacionais, no que diz respeito ao percentual de resíduos utilizados nas
misturas.
39
2.2 UTILIZAÇÃO DE AGREGADOS RECICLADOS EM CONCRETOS
A utilização dos agregados reciclados em concretos está se tornando cada vez mais crescente.
Esse crescimento pode ter se dado por várias razões, entre elas o desenvolvimento da pesquisa
na área tecnológica de produção de concretos com agregados reciclados e também devido à
conclusão de que é perfeitamente possível se utilizar parcelas de agregados reciclados em
concretos das mais variadas classes de resistência.
Só recentemente, esses agregados têm sido usados em obras que não sejam rodovias. Segundo
Touahamia, Sivakumar e McKelvey (2002), agregados provenientes de resíduos de
construção e demolição estão sendo usados em aterros para fundações, paredes de gabiões e
estabilização de encostas.
Para Ângulo et al. (2002), a atual tecnologia empregada dentro das centrais de reciclagem, no
Brasil, não permite que os agregados reciclados sejam utilizados em concretos. Por causa da
inexistência de normas brasileiras, os agregados reciclados têm que seguir as especificações
internacionais, e, na maioria das vezes, os agregados não se enquadram nos critérios
normativos.
As avaliações que são feitas relativas à influência dos agregados reciclados dentro das
propriedades do concreto fresco baseiam-se fundamentalmente no estudo da trabalhabilidade
dos mesmos.
De acordo com Mehta e Monteiro (1994), a trabalhabilidade dos concretos está relacionada
com a facilidade de mobilidade e com a resistência à segregação ou à exsudação. Estas
características vão depender de vários fatores, como consumo de água, consumo de cimento,
aditivos e das características dos agregados. Agregados muito angulosos ou com muitos finos
necessitam de mais água para atingir uma dada consistência.
Estes resultados levam a conclusão de que quanto maior o percentual de agregado miúdo
reciclado, isoladamente, maior é o abatimento da mistura, em relação ao agregado graúdo
reciclado. Para relação a/c maiores, Leite (2001) concluiu que quanto maior a relação a/c,
menores os valores do abatimento. Isso acontece porque misturas com relação a/c mais altas
tendem a se tornar mais ásperas, em função da menor quantidade de cimento.
Hansen (1992), ao citar trabalhos de alguns autores, salienta que algumas adições podem
ajudar as misturas a obterem um abatimento satisfatório, visto que concretos reciclados
possuem desvantagem em relação a trabalhabilidade.
Katz (2002) avaliou propriedades do concreto fresco com agregados reciclados de idades
novas e avançada e concluiu que concretos com agregados reciclados mais velhos requerem
42
mais água que os concretos reciclados de agregados com idades mais recentes. Isso se deve,
segundo o autor, ao percentual de finos, que nos agregados de idade mais avançada têm
quantidades de finos insuficientes que podem prejudicar a trabalhabilidade.
Podem ser citados dois pólos de avaliações das propriedades do concreto. São elas as
propriedades mecânicas e de durabilidade. Para que os concretos desempenhem as funções
que lhe foram atribuídas é de se esperar que ele mantenha a sua resistência e que seja útil por
um período de vida especificado e previsto.
Várias são as pesquisas sobre propriedades mecânicas em concretos reciclados. Na sua grande
maioria, os pesquisadores avaliam propriedades mecânicas de resistência à compressão e
quase sempre o resultado é mesmo: a viabilidade técnica dos concretos com agregados
reciclados devido ao seu bom desempenho diante dessa propriedade. Apenas algumas
recomendações precisam ser feitas para que essa afirmação se confirme. O tratamento dado ao
agregado reciclado antes da concretagem é de fundamental importância para o bom
desempenho das misturas.
Chen et al. (2003) desenvolveram um estudo de concretos com agregados reciclados de tijolos
e concretos, utilizando os agregados reciclados em lotes separados de agregados graúdos
reciclados, lavados e não lavados. Os resultados mostraram que os concretos reciclados,
obtidos a partir dos agregados graúdos lavados, obtiveram valores em torno de 90% da
resistência à compressão e flexão dos concretos de referência. Enquanto que para os concretos
de agregados reciclados não lavados, os valores não passaram de 75%. Para que não
houvesse a saturação dos agregados e, conseqüentemente, uma diminuição da resistência, nos
concretos com os agregados lavados, os mesmos eram lavados de 24 a 36 horas antes da
concretagem e armazenados em um ambiente onde a água pudesse evaporar livremente.
A questão da diminuição da resistência dos concretos reciclados está sendo alvo de muitas
discussões. É perfeitamente comum encontrar resultados onde misturas, contendo agregados
reciclados, obtenham valores abaixo dos de referência. Limbachiya (2000), citado por Levy
(2001) afirma que o decréscimo da resistência nos concretos com agregados reciclados se dá,
principalmente, devido à alteração da relação a/c. Zaharieva et al. (2002) enfatizam que a
alteração da relação a/c provoca diminuição das resistências, mas o acréscimo de água na
mistura, em função da alta taxa de absorção dos agregados reciclados, é necessário para
atingir uma trabalhabilidade adequada.
Um ponto fundamental que precisa ser discutido, é a alta taxa de absorção de água dos
agregados. Por ser um agregado mais poroso, obviamente irá precisar de mais água para ter a
mesma trabalhabilidade que concretos com agregados convencionais. Balizados nessa teoria,
muitos autores realizam misturas de concretos variando a quantidade de água para que o
abatimento e a trabalhabilidade sejam satisfeitos. Dessa forma, a relação a/c é alterada e a
classe de resistência desses concretos também acaba se alterando, acarretando então uma
impossibilidade de comparação direta entre concretos convencionais e reciclados.
Dos trabalhos realizados fixando-se a relação a/c, os resultados foram bastante satisfatórios e
em muitos casos os valores das resistências em concretos reciclados foram significativamente
superiores em relação aos valores do concreto de referência.
45
Para Leite (2001), os fatores de maior influência na resistência à compressão dos concretos
são a porosidade dos materiais e o percentual de substituição dos agregados reciclados. Em
seu trabalho, a autora concluiu que a viabilidade técnica de utilização de percentuais totais de
agregados reciclados era possível apenas para os agregados miúdos reciclados, principalmente
quando se trabalha com relações a/c menores. Quando este percentual de substituição se dá
apenas por parte do agregado miúdo, ou seja, 100% de agregado miúdo e 0% de agregado
graúdo, os concretos apresentam resistências superiores aos concretos de referência, e
apontou uma possível atividade pozolânica, além da maior compacidade das misturas, em
função da melhor distribuição granulométrica.
Para Limbachiya (2000), citado por Levy (2001), é recomendável usar até 30% de material
reciclado para confecção de concreto de alta resistência. Neste trabalho, foram encontradas
resistências entre 50 e 70 MPa em concretos feitos a partir de agregados reciclados. Com
percentuais acima de 30%, as resistências foram menores. Entretanto, a correção da relação
a/c foi feita de modo que houve uma alteração de importância significativa e,
conseqüentemente, houve uma redução da resistência. Ocorrências como essas são
perfeitamente factíveis de acontecerem, pois é sabido que a modificação da relação a/c em
misturas de concreto alteram o valor da resistência mecânica. Trata-se, portanto, da lei de
Abrams, que é amplamente difundida e aplicada no meio técnico.
Mas para que esses materiais alternativos sejam amplamente utilizados há uma necessidade de
conhecer o seu comportamento diante de condições que afetam negativamente as
propriedades do concreto.
47
De uma forma geral, a durabilidade de concretos, sejam eles naturais ou reciclados, incide
diretamente na facilidade ou dificuldade do transporte de fluidos dentro do concreto, sendo
classificado como um concreto pouco ou muito permeável. Os principais agentes de
transporte de fluido no concreto são a água, que pode estar pura ou pode conter agentes
agressivos, o dióxido de carbono e o oxigênio. O deslocamento desses elementos no concreto
vai depender da estrutura da pasta de cimento hidratado (NEVILLE, 1997).
Rasheeduzzafar e Khan (1984), citado por Hansen (1992), compararam absorção de água em
concretos reciclados com diferentes relações a/c e concluíram que a absorção de água nos
concretos com relação a/c maior era cerca de três vezes superior à dos concretos
convencionais devido, principalmente, a porosidade do agregado graúdo reciclado. Entretanto,
essa perda poderia ser amenizada se os agregados graúdos fossem utilizados em concretos
com baixa relação a/c.
Zaharieva et al. (2002) realizaram estudos sobre permeabilidade de concretos com agregados
reciclados e concluíram que, pelo fato de os agregados reciclados requerem mais água na
mistura, a permeabilidade se torna maior em relação aos concretos convencionais. Os estudos
mostraram que a porosidade do concreto reciclado foi duas vezes maior que os de referência.
48
Os autores ressaltaram a limitação desses concretos para uso em concreto armado, pois a
alta porosidade implicaria em corrosão das armaduras, entretanto, com o uso de adições como
escória ou sílica, a porosidade dos concretos reciclados pode diminuir significativamente.
Katz (2002) realizou estudos com agregados reciclados utilizando cimentos Portland branco e
cinza na análise de propriedades mecânicas e de durabilidade. O uso do cimento branco tinha
o objetivo de analisar microscopicamente a diferença entre a pasta da matriz entre um
agregado reciclado e um outro cimento, visto que as amostras de agregados reciclados tinham
composições de concreto e argamassa de cimento Portland cinza. Os resultados de
durabilidade mostraram que as taxas de absorção verificadas aos 28 dias foram maiores para
os concretos reciclados produzidos com cimento branco, mas no geral não houve diferença
significativa entre um cimento e outro no valor da taxa de absorção. Entre os concretos
reciclados e os de referência, a taxa de absorção foi maior para o concreto reciclado. Para os
autores, a alta porosidade do concreto reciclado é função direta da porosidade do agregado.
Sagoe-Crentsil, Brow e Taylor (2001) analisaram carbonatação acelerada num ambiente com
4% de CO 2 e concluíram que os concretos produzidos com 100% de agregados reciclados
tiveram maiores valores que os de referência. Entretanto, em percentuais mistos, ou seja, com
agregados naturais e reciclados, e ainda com adição de 5% de escória, os resultados de
carbonatação acelerada foram menores que os de referência.
Kikuchi (1998), citado por Leite (2001), estudou o fenômeno de carbonatação de concretos
reciclados a partir de resíduos de concreto e os resultados mostraram que os concretos
reciclados tiveram uma menor profundidade de carbonatação que os concretos de referência.
Quando o percentual de substituição se dava por parte do agregado miúdo, os valores foram
maiores que os de referência.
Como pôde ser visto, é grande o número de trabalhos relacionados não só com propriedades
mecânicas mas também com relação à durabilidade desses concretos. Diversos focos são
estudados para avaliar a qualidade desses concretos. Entretanto, ainda talvez, por causa da
resistência em afirmar que concretos reciclados não podem ser usados em concreto armado,
uma carência de trabalhos frente à corrosão das armaduras foi sentida no âmbito dessa revisão
bibliográfica. Por ser um assunto de extrema importância para a durabilidade dos concretos,
seja convencional ou reciclado, e por ser objetivo principal desta pesquisa, uma breve
discussão sobre corrosão das armaduras foi realizada, enfocando a ação agressiva dos
cloretos.
Na sua composição, o concreto armado é um conjunto de diferentes materiais que tem uma
função específica: absorver esforços de tração e compressão. O concreto é formado por
cimento, água e agregados e é caracterizado estruturalmente por possuir alta resistência à
compressão. No entanto, sua resistência à tração é baixa. E devido a isso, o aço é incorporado
ao concreto para resistir aos esforços de tração, formando então o concreto armado.
Quando corretamente executado, o concreto protege a armadura sobre dois aspectos: o físico e
o químico. Quanto ao primeiro, a proteção é devida à barreira física proporcionada pelo
cobrimento, sobre a armadura, cuja eficiência depende da qualidade e dimensão da espessura
do concreto de cobrimento; a proteção química resulta do elevado pH existente na solução
50
aquosa presente nos poros do concreto, permitindo, assim, a formação de uma fina película
protetora, conhecida como camada de passivação
Para extrair um certo metal é necessário aplicar, ao minério, energia num processo de
redução. O metal, perdendo energia através de uma reação espontânea, retorna, gradualmente,
ao seu estado natural. Tal fenômeno é chamado corrosão metálica que é a transformação dos
materiais metálicos, pela ação química ou eletroquímica do meio. Caso o aço não tenha
proteção, entrando em contacto com o ar atmosférico e umidade, volta ao seu estado original
(minério) sofrendo corrosão (GENTIL, 1996, grifo do autor).
Ainda segundo Gentil (1996), o concreto que envolve a armadura de aço, quando executado
sem os devidos cuidados, pode não funcionar como uma barreira perfeita, permitindo que as
armaduras sofram ataques de íons agressivos ou de substâncias ácidas existentes na atmosfera,
danificando a camada passivante ou protetora. Os principais agentes responsáveis pela perda
de proteção são: o dióxido de carbono (CO2) e os íons cloreto (Cl−).
São extremamente graves as quatro últimas formas de corrosão quando existe ação conjunta
de solicitação mecânica e meio corrosivo (o que é bastante provável), pois ocasionam a
corrosão sob tensão fraturante, possivelmente a mais grave, podendo provocar a ruptura da
armadura do concreto, enquanto que, a menos prejudicial, é a uniforme, pois se apresenta
distribuída em toda a extensão da barra de aço e, portanto, dificilmente traz conseqüências
graves.
Entre o ânodo e o cátodo haverá uma diferença de potencial (ddp), que pode ser mínima, que
pode dar origem à circulação de corrente elétrica, devido à formação de uma certa pilha.
Conforme a intensidade de corrente e a de acesso do oxigênio, haverá corrosão que tanto
poderá evoluir lentamente e, neste caso, ser desprezível para efeito de vida útil da estrutura,
como rapidamente, quando a corrosão deverá ser considerada
Tais íons têm o poder de destruir, de forma localizada, a película passivante sobre a armadura,
provocando a corrosão por pite. De acordo com Cascudo (1997), estes pontos, ou pequenas
crateras, formam o ânodo da pilha de corrosão e, devido à sua progressão em profundidade,
podem provocar a ruptura da barra de aço. O restante da superfície metálica torna-se o cátodo
e, como se sabe, a relação área anódica/área catódica, sendo muito pequena, poderá dar
motivo a uma intensa corrosão.
Pode haver cloretos no concreto incorporados às misturas dos componentes (aditivos, água,
brita e areia), ou por penetração, do exterior, através da rede de poros, como é o caso de
ambientes marinhos (maresia ou névoa salina) e de sais de degelo usados em estradas e
estacionamentos nos países de climas frios. A quantidade de Cl− é incrementada
temporalmente chegando, até mesmo, a atacar toda a superfície da armadura, podendo
provocar velocidades de corrosão intensas e perigosas (POLDER e PEELEN, 2002; FORTES
e ANDRADE, 2001).
De acordo com Fortes e Andrade (2001), os íons cloreto (Cl−), em contato com a armadura,
produzem uma redução do elevado pH do concreto, que é formado por valores entre 12,5 a
13,5, para valores de até 5. Tais íons atingem a armadura de forma localizada, destruindo a
camada passivadora, resultando na corrosão por pite (pequena área anódica) que, depois de
formado, permanece ativo sempre reduzindo o diâmetro da barra.
54
Os cloretos agressivos podem ser encontrados na natureza, dissolvidos em água. Quando
sólidos, podem depositar-se na superfície do concreto. Em dissolução aquosa, por intermédio
de chuvas ou umidade e através da rede de poros, os agentes agressivos, tanto para o concreto
como para a armadura, atingem as regiões mais internas do concreto armado. Segundo
Cascudo (1997), tais agentes podem ser transportados para dentro do concreto através dos
mecanismos de absorção capilar, difusão, permeabilidade e migração.
Dessa forma se caracteriza a corrosão das armaduras. Em concretos obtidos com agregados
reciclados o mecanismo de transporte é o mesmo, mudando apenas com relação à facilidade
ou dificuldade de transporte dos agentes agressivos. Para concretos reciclados, a resistência à
penetração de agentes agressivos parece limitar o uso desses tipos de concretos para apenas
parte da mistura, pois os trabalhos relacionados com a durabilidade aqui citados, indicam que
utilizar agregados reciclados em percentuais totais, pode comprometer a durabilidade da
estrutura. Entretanto, algumas obras realizadas na Europa, todas executadas com agregados
reciclados no todo ou parte, dão conta de que a reciclagem de resíduos de construção é uma
alternativa viável também para concreto armado.
A seguir são apresentadas algumas dessas obras realizadas, em seus respectivos países,
seguidas de suas principais características:
Holanda
Todos os componentes da
1990 2o viaduto na rodovia RW-32
estruturas
Painéis pré-moldados de
1997-1998 Empreendimento residencial de médio padrão
concreto
Inglaterra
O piso de alta resistência foi construído para analisar o efeito do percentual de 20% de
agregados reciclados de concreto e alvenaria de baixa qualidade. Mesmo assim, os concretos
produzidos obtiveram resistência à compressão similar a de um piso construído com
agregados naturais, atingindo 60 MPa aos 91 dias.
Alemanha
3
BRE (Building Research Establishment). Centro de experimentação de construção e meio ambiente. Realiza
consultorias, pesquisas, especificações e padronizações de produtos no Reino Unido.
57
Desde o fim da Segunda Guerra que a Alemanha se destaca pelo reaproveitamento de
resíduos de construção e demolição. É apresentado na tabela 8 um resumo das principais
obras realizadas neste país.
Na obra de unidades residenciais, foram construídas 550 unidades, cujo objetivo era propagar
a utilização da reciclagem de materiais de construção civil. Para as peças decorativas foi
utilizado cimento branco e cinza, de acordo com o tom do acabamento externo.
Bélgica
A Bélgica também se insere num contexto mundial como um país que também se preocupa
com o gerenciamento dos resíduos. Como exemplo disso, foi a construção da Casa da
Reciclagem, cujo projeto tinha a finalidade de informar sobre a tecnologia da reciclagem para
arquitetos e construtores, que resistem em utilizar materiais alternativos (LEVY, 2001). Na
tabela 9, são mostradas algumas aplicações do concreto com agregados reciclados neste país.
Ainda com referência à obra do porto, dos 650.000 metros cúbicos de concreto, 80.000 metros
cúbicos foram provenientes de agregados reciclados. A caracterização dos resíduos se deu de
forma detalhada e foi utilizada, o processamento e beneficiamento do entulho foram
otimizados e foi empregado todo o controle tecnológico do concreto. Como conseqüência, a
obra está a 14 anos sem manifestações patológicas (LEVY, 2001).
Brasil
No Brasil, apesar da grande demanda de material que pode ser reciclado, o uso na fabricação
de concretos ou de outros elementos da construção civil é pouco ou quase inexistente, sendo
estes materiais utilizados em sub-bases de vias e rodovias, na sua grande maioria. A escassez
dos recursos naturais é um problema que, aparentemente, não afeta este país. Por enquanto, a
grande questão consiste em resolver o problema do gerenciamento dos resíduos dessa
natur eza depositados nos grandes centros urbanos. Sendo assim, cidades como Belo Horizonte
e algumas cidades de São Paulo estão buscando na reciclagem a saída para minimizar os
efeitos nocivos da deposição inadequada nas cidades dos resíduos de natureza da atividade de
construção civil.
59
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
Para que os objetivos deste trabalho fossem plenamente atingidos, um projeto experimental
foi desenvolvido de modo que pudesse otimizar o planejamento, a execução e a análise do
material estudado em concretos produzidos com resíduos. Assim, foram analisadas algumas
propriedades dos concretos feitos com este material no estado fresco e no estado endurecido,
nos quais foram utilizados diferentes percentuais de substituição do agregado natural pelo
reciclado proveniente dos resíduos de construção e demolição, para diferentes níveis de
relação água/cimento.
O planejamento dos ensaios requer, acima de tudo, um respaldo científico que possibilite a
definição das variáveis a serem estudadas, além de facilitar a realização de uma avaliação
estatística dos resultados e maximização das informações obtidas. O planejamento estatístico
de experimentos também possibilita a definição de uma seqüência de ensaios econômica e
eficiente.
As avaliações do produto final desse trabalho são percebidas como importantes porque
possuem aspectos que podem ser medidos e que permitem quantificar as características de
qualidade do produto final. Estes aspectos são transformados em variáveis de resposta que
podem ser analisadas estatisticamente. Para os concretos produzidos a partir do agregado
60
reciclado, o objetivo é que os mesmos tenham um bom desempenho com relação à
resistência e que sejam duráveis (MONTGOMERY, 2001).
Para Ribeiro e Caten (2000), estas variáveis de respostas analisadas são também chamadas de
variáveis dependentes, porque elas dependem de um conjunto de fatores experimentais que
podem afetar os seus resultados. Esses fatores são chamados de variáveis independentes ou
fatores controláveis, que são definidos previamente com a finalidade de conduzir a melhores
valores de resposta. Estas variáveis independentes podem ser alteradas de acordo com os
resultados que se deseja obter e podem ter algum efeito sobre os valores de respostas obtidos.
Muitos projetos de experimentos são realizados com duplo propósito: quantificar a relação
entre a importância de algumas das variáveis de resposta mensuráveis e o conjunto de fatores
experimentais que podem afetá-las; e encontrar os valores dos fatores que produzem o
melhor, ou os melhores valores de resposta (MONTGOMERY, 2001).
Utilizando três fatores controláveis (relação a/c, % AGR e % AMR), cada um a três níveis, o
projeto estatístico adotado foi um fatorial cruzado, que consiste em investigar todas as
combinações possíveis de níveis dos fatores. Os fatoriais cruzados são mais econômicos,
porque necessitam de um número menor de repetições, e permitem que se possa avaliar
possíveis interações e os valores dos fatores escolhidos obedecem a uma distribuição que
permitirá construir modelos de comportamento bem mais estruturados (RIBEIRO e CATEN,
2000).
Dentro do intervalo definido para a substituição dos agregados naturais pelos reciclados,
observa-se o percentual 100% de agregados naturais para os três níveis de relação
água/cimento. Isso se deve, principalmente, à heterogeneidade do material reciclado, sendo
necessário um concreto com agregados naturais (de referência) para servir de parâmetro
norteador nos ensaios e na interpretação dos resultados obtidos no experimento. Dessa forma,
o projeto experimental consta de um total de 27 traços, dentre os quais, três são do concreto
de referência.
Foram considerados quatro exemplares para cada traço e a repetição se deu construindo uma
matriz com um projeto fatorial fracionado envolvendo as três relações água/cimento e os três
percentuais de substituição do agregado. Este procedimento foi adotado em virtude das
dificuldades técnicas que seriam enfrentadas se o projeto fatorial cruzado fosse rodado
completamente duas vezes. Uma das dificuldades seria nos ensaios de durabilidade que requer
bastante tempo e espaço físico para sua realização.
Alguns fatores durante a execução do experimento desta pesquisa foram mantidos constantes,
são eles:
- pré-umidificação dos agregados reciclados: esta decisão foi tomada para que o
mesmo não absorvesse parte da água de amassamento do concreto, o que
prejudicaria a trabalhabilidade e afetaria o valor da relação água/cimento.
Na tabela 10 estão dispostos todos os parâmetros do projeto fatorial cruzado completo e suas
combinações, bem como o número de corpos-de-prova moldados para cada traço e ensaio,
sendo considerado quatro exemplares por traços. Na tabela 11 é apresentado o projeto fatorial
fracionado para a repetição do experimento.
A cidade de Maceió é uma das capitais brasileiras que ainda não possui uma usina de
beneficiamento de resíduos de construção. Todo resíduo dessa natureza é coletado e uma
parte é armazenada em aterros que recebem todo tipo de material, não só inerte, gerado na
cidade. A outra parte é utilizada como aterro em terrenos e estradas não pavimentadas.
A amostra do resíduo foi proveniente de uma obra de demolição de uma escola (figura 6a e
6b) . Apesar de ter sido uma amostra vinda diretamente de uma obra de demolição, não foram
encontrados apenas restos de construção. Na amostra do resíduo foram encontrados, e
conseqüentemente descartados papel, plástico, matéria orgânica e quaisquer outras impurezas
que pudessem danificar a qualidade do concreto.
(a) (b)
Figura 6: amostra de resíduo utilizada. (a) Vista geral da amostra. (b)
Coleta da amostra para o transporte
(b)
(a)
Figura 7: etapa de beneficiamento do resíduo. (a) Britador de
mandíbulas para obtenção dos agregados. (b) Peneirador mecânico
para separação do agregado miúdo e do agregado graúdo reciclado
Após essa etapa, os resíduos foram armazenados em tonéis de alumínio e transportados para
Porto Alegre juntamente com os agregados naturais e o cimento Portland comercializados em
Maceió para produção de concreto.
66
3.1.3 Composição média do resíduo utilizado
A composição foi feita apenas para o agregado graúdo, pois não seria possível fazer um
detalhamento macroscópico do agregado miúdo reciclado e dizer de qual tipo de material
seria composto aquela fração miúda.
Para a realização da composição dos resíduos, foram utilizadas duas amostras do mesmo
material com aproximadamente 12 kg cada uma. O resultado da composição média do entulho
está representado na tabela 12, bem como o percentual para cada tipo de material analisado.
67
Tabela 12: percentual do resíduo de construção e demolição da amostra coletada na
cidade de Maceió
Nesta composição foi observado que determinados materiais tinham percentuais bastante
baixos, como por exemplo os valores da composição de rochas naturais e telhas de amianto
que tiveram suas composições em torno de 0,48% e 0,88%, respectivamente. Assim, optou-se
por não apresentar esses componentes em um percentual separado e juntá-los àqueles
materiais que também tiveram seus percentuais consideravelmente baixos.
Pode ser observado nesta figura o grande percentual de material cerâmico na composição dos
resíduos utilizados nesta pesquisa. Ainda pode ser visto nestes resultados um grande
percentual de argamassa, seguido também de um valor considerável de resíduos de concreto.
Cerâmica
polida Outros Material
3% 2% cerâmico
Argamassa 48%
28%
Concreto
19%
Figura 9: percentual da composição média dos resíduos de construção
e demolição coletados na cidade de Maceió
68
Leite (2001), em seus estudos também apontou um grande percentual de argamassa na
composição média dos resíduos provenientes da cidade de Porto Alegre. Por todo o país, nas
pesquisas feitas sobre resíduos de construção e demolição, são apresentados valores de grande
incidência desses materiais. Hendricks e Janssen (2001), Zordan (1997) e Chen et al. (2003)
evidenciaram grandes percentuais de concreto, argamassa e materiais cerâmicos na
composição dos resíduos em seus trabalhos. Na tabela 13 é possível fazer um comparativo dos
percentuais de resíduos desses materiais dos autores citados, com a composição dos resíduos
de construção e demolição utilizados neste trabalho, que pode ser visualizado na figura 9.
3.1.4.1 Cimento
Na execução dos concretos foi utilizado o cimento Portland composto CPII F - 32 (Cimento
Portland composto com fíler, com 32 MPa de resistência à compressão aos 28 dias). Este tipo
de cimento foi escolhido por não possuir adição pozolânica, fato este que pode influenciar nos
resultados dos ensaios. Segundo a NBR 11578 (ABNT, 1991), o teor de adição de fíler neste
cimento fica entre 6 e 10% de material carbonático (CaCO3), não provocando com isso
alteração nas constituições resistentes do cimento, pois o fíler não reage quimicamente, ele
tem a função de apenas preencher os vazios do cimento, não possuindo propriedades
cimentantes e pozolânicas.
69
3.1.4.2 Agregados
Agregado miúdo natural: a areia utilizada foi de origem quartzosa e utilizada toda a fração
passante na malha de # 4,8 mm e descartada qualquer quantidade superior a esta
granulometria.
Agregado miúdo reciclado: este material foi britado e peneirado e utilizado toda porção
passante na peneira de # 4,8 mm (figura 10a).
Agregado graúdo natural: foi utilizada uma brita de origem granítica, possuindo uma
dimensão máxima característica de 19 mm. O material foi lavado, retirando todo material
pulverulento ou qualquer impureza que ele pudesse conter, sendo colocado ao ar livre para
secar.
Agregado graúdo reciclado: tal como o agregado miúdo reciclado, este agregado foi britado e
peneirado, definindo-se uma faixa granulométrica que passasse na peneira de malha # 19 mm
e ficasse retido na peneira de # 4,8 mm (figura 10b). Este material não pôde ser lavado em
função da facilidade de desagregação. Portanto, foi utilizado no mesmo estado em que estava
depois de peneirado.
(a)
(b)
Figura 10: agregados reciclados utilizados. (a) Agregado miúdo. (b)
Agregado graúdo
70
3.1.4.2.1 Composição granulométrica
A importância de fazer uma análise granulométrica nos agregados se dá pelo fato de obter
dados empíricos importantes para uma dosagem adequada do concreto. O módulo de finura,
por exemplo, é um dado extraído dessa análise. Quanto maior o módulo de finura mais graúdo
se torna o agregado. Isso infere de forma direta em algumas características físicas do
agregado.
O aumento do tamanho dos grãos provoca uma diminuição na superfície específica, fazendo
com que a mistura necessite de uma demanda menor de água, especialmente para o caso do
agregado miúdo (NEVILLE, 1997). Ainda segundo o autor, a composição granulométrica
dos agregados é um fator de grande importância na trabalhabilidade de concretos. Essa
mesma propriedade, a trabalhabilidade, influencia em outros fatores como a demanda de água
e de cimento, o controle da segregação e ainda possui efeito sobre a exsudação, o lançamento
e o acabamento do concreto. Entretanto, não se pode balizar o comportamento de dois
materiais distintos, como agregado natural e reciclado, apenas com dados obtidos de análise
granulométrica. Outras propriedades também devem ser consideradas, principalmente quando
está envolvida no problema a quantidade de água para a mistura.
Apesar de estarem classificados em uma mesma graduação e terem uma mesma dimensão
máxima característica, o agregado miúdo reciclado teve uma distribuição granulométrica
diferente do agregado natural, apresentando uma distribuição bastante contínua, ou seja, as
partículas de agregado de um certo tamanho se acomodam de modo que os vazios formados
são preenchidos pelas partículas de tamanho inferior.
71
Peneir
Peneira % % Método de % Método de
a % retida
(mm) retida acumulada ensaio (NBR) acumulada ensaio (NBR)
(mm)
25 0 0 25 0 0
19 2,6 3 19 1,1 1
12,5 68,2 71 12,5 34,8 36
9,5 26,4 97 7217 (1987) 9,5 32,1 68
7217 (1987)
6,3 2,1 99 6,3 16,5 85
4,8 0,6 100 4,8 8,4 93
<4,8 0,1 100 <4,8 7,1 100
Total 100 - Total 100 -
Dimensão máxima Dimensão máxima
característica (mm)
19 característica (mm)
19
7217 (1987) 7217 (1987)
Módulo de finura 7,00 Módulo de finura 6,62
Graduação Brita 1 7211 (1983) Graduação - 7211 (1983)
72
Observa-se que o agregado graúdo reciclado apresentou um módulo de finura menor que o
agregado natural. Para este caso, além de possuir um módulo de finura menor, o agregado
graúdo reciclado precisará de mais água para envolver sua área superficial que o agregado
natural devido a sua superfície porosa. O agregado graúdo reciclado, apesar de ter uma
granulometria contínua, não se encaixou em nenhuma das faixas de graduação prescrita pela
NBR 7211 (ABNT, 1983).
Para que os resultados das análises granulométricas sejam mais facilmente interpretados, são
apresentados a seguir os gráficos das curvas granulométricas para os agregados miúdo e
graúdo, permitindo perceber se a granulometria de uma amostra se enquadra em uma
determinada especificação, ou se é muito grossa ou muito fina, ou deficiente de um
determinado tamanho (NEVILLE, 1997). Os gráficos com as curvas granulométricas dos
agregados miúdo e graúdo estão dispostos nas figuras 11 e 12.
100
90
80
70
% Retida acumulada
60
50
40 Agr. Natural
30 Agr. Reciclado
20 Limite Inferior
10 Limite Superior
0
6,3 4,8 2,4 1,2 0,6 0,3 0,15 <0,15
Abertura das peneiras (mm)
Figura 11: curvas granulométricas dos agregados miúdos, naturais e
reciclados, bem como seus limites, inferior e superior
73
100
90
80
70
% Retida acumulada
60
50
40 Agr. Natural
30 Agr. Reciclado
20 Limite Inferior
10 Limite Superior
0
25 19 12,5 9,5 6,3 4,8 <4,8
Na dosagem dos concretos foi necessário determinar os valores da massa específica dos
agregados. Quando se estuda o controle da dosagem e consumo dos materiais é importante
que se conheça o volume que é ocupado, incluindo-se os poros existentes nas partículas do
agregado. Dessa forma, faz-se necessário conhecer o valor da massa específica que é definido,
segundo a NBR 9937 (ABNT, 1987), como a massa do material por unidade de volume,
incluindo os poros internos das partículas.
Para o agregado miúdo, natural e reciclado, foi determinada a massa específica seguindo as
prescrições da NBR 9776 (ABNT, 1987), que recomenda o uso do frasco de Chapman.
74
O agregado graúdo natural teve sua massa específica determinada de acordo com a NBR
9937 (ABNT, 1987), com o uso de uma balança hidrostática.
Com o agregado graúdo natural, por ser um material frágil e bastante poroso, não foi possível
se utilizar dessa norma. O procedimento normal dos ensaios seria prejudicado, pois a norma
de ensaio para agregados graúdos recomenda fazer uma secagem superficial do material. Este
tipo de procedimento, feito com o agregado reciclado, desagregaria o material e ainda, por ser
muito poroso, a água dos poros poderia não estar sendo retirada na secagem. Assim, os
resultados obtidos seriam valores provavelmente incorretos e acabaria prejudicando todo o
processo de dosagem do concreto.
Leite (2001), apoiada na bibliografia internacional, desenvolveu um método que pudesse fazer
essa medida, obtendo resultados confiáveis. O procedimento foi adaptado para o agregado
graúdo reciclado e descrito em forma de proposta de norma. Deste modo, foi utilizado nesta
pesquisa a proposta de norma da referida autora para a determinação da massa específica dos
agregados graúdos reciclados.
- cobrir o recipiente com uma placa de vidro, de modo que não haja nenhuma
bolha de ar aprisionado;
C
ã=
B− A + C (equação 3.1)
onde:
É importante que sejam efetuadas pelo menos duas medidas consecutivas desse ensaio com
amostra do mesmo agregado. O resultado é a média entre os resultados de cada determinação.
76
O resultado do ensaio de massa específica dos agregados naturais e reciclados estão
dispostos na tabela 16.
Natural 2,70 -
Graúdo
Reciclado 2,52 93
Natural 2,62 -
Miúdo
Reciclado 2,51 96
Como foi observado, o valor das massas específicas dos agregados reciclados foram menores
que os agregados convencionais. Na dosagem dos concretos, as massas desses materiais
precisarão passar por uma compensação, para que não haja diferenças nos volumes de
material quando forem utilizados agregados reciclados e convencionais nas misturas de
concreto.
Os agregados reciclados, diferentemente dos naturais, têm uma alta taxa de absorção de água
devido a sua porosidade, no caso do agregado graúdo, e o percentual de materiais finos, no
caso do agregado miúdo. Determinar essa taxa é imprescindível, pois ela determina o
percentual de água que deverá ser suprido minutos antes de sua utilização nas concretagens
para que não ocorram problemas como redução na relação água/cimento, abatimento e
moldabilidade do concreto devido à falta de água.
77
Neste trabalho, o ensaio de absorção do agregado graúdo foi feito utilizando uma proposta
de norma desenvolvida por Leite (2001), em seu trabalho. As normas NBR 9777 (ABNT,
1987) e NBR 9937 (ABNT, 1987), que determinam as taxas de absorção dos agregados
naturais miúdos e graúdos, respectivamente, não puderam ser utilizadas, devido,
principalmente, à grande porosidade e à fácil desagregação do material graúdo e a grande
quantidade de finos do agregado miúdo, dificultando o procedimento normal do uso dessas
normas.
(a) (b)
O procedimento de cálculo foi o mesmo tanto para o agregado miúdo como para o graúdo. A
taxa de absorção do material foi calculada através das equações 3.2 e 3.3 (LEITE, 2001).
M sub− f − M sub−0
Asec a (%) =
M sec a (equação 3.2)
78
M sub − f − M sub− 0
Asub (%) =
M sub− 0 (equação 3.3)
onde:
Na tabela 17 estão apresentados os valores das taxas de absorção calculadas a partir das
equações 3.2 e 3.3.
Absorção (%)
Agregado reciclado Absorção Média (%)
Seco Submerso
Miúdo 7,50 14,65 11,08
De acordo com os resultados deste ensaio, pode ser observada uma taxa de absorção bastante
alta para os agregados reciclados. Isso explica a necessidade de pré-umedecimento dos
mesmos minutos antes da execução das concretagens. Ficou estabelecido que as taxas de
absorção seriam compensadas para que os agregados não absorvessem toda a água do traço e
as misturas se tornassem pouco trabalháveis devido à falta de água. Entretanto, esse
procedimento precisa ser feito cuidadosamente, para que não haja um excesso de água na
mistura, ocasionando um aumento da relação água/cimento e, conseqüentemente, uma
diminuição nas resistências mecânicas dos concretos produzidos. Para evitar que fatos como
esses ocorram, a compensação de água foi empregada na ordem de 50% da taxa de absorção
dos agregados, tirada a partir da curva de absorção em 24 horas, e adicionada à água do traço
para que não houvesse uma diminuição da relação água/cimento das misturas.
79
3.1.4.3 Água
A água utilizada nesta pesquisa foi água com condições de potabilidade proveniente da rede
de abastecimento público.
3.1.4.4 Aditivo
Sua utilização foi indispensável na produção dos concretos que tem baixo consumo de água,
como é o caso dos traços com relação água/cimento de 0,40. Ele terá a função de conservar a
mistura com uma mesma quantidade de água, previamente estabelecida no estudo da
dosagem, sem alterar as condições de trabalhabilidade fixadas pelo abatimento do concreto.
3.1.4.5 Armadura
Figura 14: limpeza das barras de aço com solução de ácido clorídrico
e água deionizada
Para esta pesquisa a determinação do teor ideal de argamassa foi feita utilizando-se um traço
médio de 1:5 (cimento:agregados) em massa. Com o concreto produzido com este ajuste a
mistura obteve um teor ideal de argamassa de 47% e uma relação água/cimento de 0,56.
Posteriormente foram feitos mais dois traços, sendo um mais rico (1:3) e outro mais pobre
(1:7,5). A escolha desses traços foi realizada para que todos os níveis de relação água/cimento
definidos pelo projeto estatístico, que varia de 0,4 a 0,8, fossem contemplados. A
trabalhabilidade foi estabelecida conforme prescreve a NBR 7223 (ABNT, 1982), e fixado
seu valor em 70±10 mm. Depois de estabelecidos os traços auxiliares foram realizadas as
81
dosagens experimentais com a moldagem de dois corpos-de-prova para cada traço. A
realização dos ensaios de resistência à compressão foi feita aos 7 e 28 dias para a obtenção do
diagrama de dosagem, como pode ser visto na figura 15.
3.1.5.2 Definição dos traços e produção dos concretos com agregados naturais e reciclados
Foram realizados 27 traços ao todo, sendo que 3 deles são do concreto de referência, obtidos a
partir do diagrama de dosagem. Na tabela 18 encontram-se os traços unitários para as três
relações água/cimento utilizadas nesta pesquisa para o concreto de referência, bem como seus
respectivos consumos de cimento.
82
Tabela 18: traços unitários em massa, quantitativos de materiais (kg) e consumo de
cimento por metro cúbico de concreto para o concreto de referência
Teor de Consumo de
a/c m a p
argamassa (%) cimento (kg/m3)
Para os agregados reciclados também foram determinados traços unitários a partir dos
concretos de referência, levando-se em conta o percentual de substituição e a compensação
dos volumes pela redução das massas dos agregados reciclados. Essa redução é necessária
porque os agregados reciclados possuem uma massa específica menor que os agregados
naturais e se não houvesse essa compensação o volume de material reciclado seria maior
comparado ao material natural, e o traço, por conseqüência, seria alterado. A compensação é
calculada através da equação 3.4, que envolve os valores das massas específicas de cada
material.
ã ag
= M ag ×
reciclado
M ag reciclado natural
ã ag natural
(equação 3.4)
onde:
Essa equação foi usada tanto para o agregado miúdo quanto para o agregado graúdo reciclado
e seus valores estão dispostos na tabela 19.
100% agregados
Traços unitários 50% Agregados reciclados
reciclados
0,40 3,24 0,99 2,25 3,32 3,18 7,5 7,00 6,35 14,00
0,60 5,46 2,04 3,43 4,46 4,27 7,5 7,00 8,55 14,00
0,80 7,69 3,08 4,60 5,02 4,81 7,5 7,00 9,62 14,00
84
3.1.5.2.1 Mistura dos materiais e moldagem dos corpos-de-prova
Devido à alta absorção dos agregados reciclados seu efeito também foi compensado fazendo-
se uma pré-umidificação dos agregados antes dos mesmos serem utilizados na concretagem.
O processo se dava cerca de dez minutos antes da mistura dos materiais para a concretagem, e
o percentual variou de acordo com a taxa de absorção do material.
(a)
(b)
Figura 16: medida do abatimento em concretos com agregados
naturais e reciclados. (a) concreto com agregados naturais. (b)
concreto com agregados reciclados
85
A tabela 20 apresenta os valores dos abatimentos obtidos para todos os traços produzidos,
bem como o percentual de aditivo superplastificante utilizado nas concretagens.
0.4 0 0 - 75
0.4 50 0 0.3 70
0.4 0 100 2.0 10
0.4 100 100 2.0 15
0.4 100 0 1.0 110
0.4 0 50 2.0 125
0.4 50 50 3.0 0
0.4 50 100 2.1 25
0.4 100 50 2.0 45
0.6 0 0 - 75
0.6 50 0 1.0 65
0.6 0 100 2.0 25
0.6 100 100 3.0 0
0.6 100 0 0.3 65
0.6 0 50 0.2 80
0.6 50 100 3.0 0
0.6 100 50 3.0 25
0.8 0 0 - 65
0.8 50 0 0.8 65
0.8 0 100 3.0 0
0.8 100 100 3.0 0
0.8 100 0 0.2 50
0.6 50 50 2.5 20
0.8 0 50 2.0 15
0.8 50 50 1.2 25
0.8 50 100 3.0 0
0.8 100 50 3.0 0
86
Após as concretagens foram moldados corpos-de-prova de acordo com a NBR 5738
(ABNT, 1994). Para cada traço de concreto foram moldados 4 corpos-de-prova, sendo dois
cilíndricos de dimensões 9,5 x 19,5 cm (diâmetro x altura) e dois prismáticos de dimensões 10
x 10 x 6 cm (comprimento x largura x altura). O adensamento dos corpos-de-prova foi feito
através de processo mecânico. A cura dos mesmos foi feita armazenando-os em um local seco
e cobertos com um saco plástico para evitar a saída de água por evaporação nas primeiras 24
horas. Após esse período os corpos-de-prova foram desmoldados e colocados em câmara
úmida até a idade de 28 dias nos quais seriam ensaiados.
Para a avaliação do comportamento dos concretos produzidos com agregados reciclados sob o
processo de corrosão da armadura iniciada por ação de íons cloreto, foram realizados ensaios
de resistência de polarização e potencial de corrosão em corpos-de-prova prismáticos.
A despassivação da armadura do concreto reciclado por íons cloreto foi obtida através de
ciclos alternados de imersão e secagem dos corpos-de-prova em uma solução agressiva de
3,5% de NaCl, simulando um ambiente marinho que contém teores suficientes de sais que
possam despassivar as barras de aço do concreto. Os ciclos de imersão e secagem aceleram o
processo de corrosão, pois uma vez imersos e saturados de cloretos, quando postos em um
ambiente para secagem, ocorre uma diminuição da umidade e possibilitam a entrada e difusão
de oxigênio. Com isso, a água evapora e permanecem nos poros do concreto os sais que se
87
transformam em cloretos livres, atingindo a armadura e destruindo sua camada de proteção
(filme óxido), podendo provocar o fenômeno de corrosão.
Os corpos-de-prova permaneceram neste ciclo por um período de 150 dias ficando dois dias
imersos na solução e cinco dias expostos num painel de lâmpadas para a secagem. As figuras
17a e 17b apresentam os corpos-de-prova nos ciclos de imersão e secagem respectivamente.
(a) (b)
A resistência de polarização (Rp) representa o quanto um sistema formado por concreto e aço
pode desenvolver um processo eletroquímico de corrosão. De acordo com Cascudo (1997),
para o estudo particular da corrosão de armaduras, o referido sistema é o conjunto
aço/eletrólito/concreto, sendo, que, quanto maior a resistência de polarização, menor será a
velocidade de corrosão encontrada. Esta técnica infere, de forma quantitativa, sobre a taxa ou
velocidade de corrosão e baseia-se na utilização de um estímulo de uma corrente contínua
aplicada à armadura, exercendo uma polarização ao redor do potencial de corrosão livre
(Ecorr). Este potencial está no estado estacionário de corrosão, ou seja, todos os elétrons
liberados nas reações anódicas são consumidos nas reações catódicas, formando um
equilíbrio.
88
O ensaio de resistência de polarização, segundo Gonzalez (1989), consiste em fazer uma
varredura aplicando pequenos valores de potencial em torno do potencial de corrosão (Ecorr),
registrando a medida da corrente de polarização. Com isso, os valores para a resistência de
polarização (Rp) do aço são calculados com a relação entre a variação do potencial, a partir do
potencial de corrosão (∆Ecorr) e a intensidade de corrente medida (∆I) e se expressa pela
fórmula da equação 3.5:
∆E
Rp =
∆I (equação 3.5)
O dado principal e mais relevante neste ensaio está na obtenção do valor da intensidade de
corrosão que é obtida calculando-se primeiramente o valor da corrente de corrosão. Depois
de obtido o valor de Rp, experimentalmente, faz-se uso da equação de Stern-Geary
(CASCUDO, 1997) para a obtenção desse valor. A corrente de corrosão instantânea é
calculada pela equação 3.6:
89
β a ⋅ βc ∆I B
I corr = ⋅ =
2,3 ⋅ (β a + β c ) ∆E Rp (equação 3.6)
onde:
∆E = variação no potencial
O valor de B, segundo Andrade et al. (1988), citados por Cascudo (1997), pode ser adotado
de acordo com o estado, passivo ou ativo, de corrosão das armaduras dentro do concreto. Os
valores de B situam-se entre 13 e 52 mV, obtidos pelos autores a partir de ensaios de
polarização com barras de aço numa solução saturada de Ca(OH)2. Assim, os valores
assumidos para a referida constante foram de 26 mV, para a armadura no estado ativo (mais
negativo que –350 mV) de corrosão, e 52 mV, para a armadura em estado passivo (mais
positivo que –200 mV). Para valores entre –200 e –350 mV, que estabelece uma
probabilidade incerta da atividade de corrosão, o valor de B foi adotado de acordo com o
valor obtido para a resistência de polarização (Rp). Sendo assim, quanto maior o valor de Rp,
B assumia de 26 mV, e quanto menor Rp, o valor de B estabelecido foi 52 mV.
Nesta pesquisa foram utilizados esses mesmos valores para a determinação da corrente de
corrosão instantânea.
Dividindo-se o valor de Icorr pela área da barra polarizada tem-se a taxa ou velocidade de
corrosão, caracterizada pela densidade de corrente de corrosão. Este valor é o parâmetro mais
importante para a avaliação do estado de corrosão das barras de aço do concreto. Ele
determina o estado em que se encontra a armadura e ainda é uma ferramenta importante para
90
a previsão de vida útil nas estruturas que têm esse tipo de problema. O valor da densidade
de corrente é dado pela equação 3.7.
I corr
icorr =
A (equação 3.7)
onde:
(a) (b)
Os projetistas mais antigos imaginavam que obras realizadas em concreto possuíam uma vida
útil infinita, e não se preocupavam com os critérios de durabilidade e manutenção dessas
estruturas. Embora esse pensamento tenha permanecido por algum tempo, atualmente existe
uma grande conscientização, por parte dos profissionais da área, da necessidade de construir
obras duráveis e de qualidade, com acompanhamento constante.
Em materiais como o concreto, que possui várias fases, existem outras propriedades que
podem tornar limitante a resistência do concreto. Em muitos casos a durabilidade e a
impermeabilidade podem ser mais importantes. Porém, a resistência dá uma indicação da
qualidade do concreto pelo fato de estar relacionada com a pasta de cimento endurecida. A
porosidade da matriz, que é a estrutura da pasta de cimento endurecida, e a zona de transição
entre a matriz e o agregado graúdo, são os fatores que determinam a resistência dos concretos
mais utilizados (NEVILLE, 1997).
92
Neste trabalho a resistência à compressão dos ensaios experimentais foi analisada
estatisticamente, estudando-se a influência dos fatores independentes nos concretos
produzidos. Foram eles, a relação água/cimento (a/c), o percentual de agregado miúdo
reciclado (%AMR) e o percentual de agregado graúdo reciclado (%AGR). Os resultados
foram analisados através do método de análise de variância e análise de regressão múltipla,
para testar se os fatores controláveis (a/c, %AMR, %AGR) e suas interações seriam
significativos, ou não, na variável de resposta (resistência à compressão) medida. Com base
nessa análise, chegou-se a um modelo, cuja função pode ser mostrada através da equação 4.1.
A equação 4.1 está ajustada para valores codificados das variáveis utilizadas e cujos valores,
reais e codificados, estão apresentados na tabela 21.
(equação 4.1)
Onde:
De acordo com a equação 4.1 os fatores significativos foram a/c, AMR e suas interações,
a/cxAMR, AMRxAGR e a/cxAMRxAGR. O coeficiente de correlação (r²) do modelo foi de
0,9987.
93
Tabela 21: níveis reais e codificados para as variáveis utilizadas
45
40
35
fc (MPa)
30
25
20
15
10
0,40 0,50 0,60 0,70 0,80
Relação a/c
Quando uma mistura de concreto feito com agregados reciclados é realizada, é preciso levar
em conta fatores como porosidade e resistência do próprio agregado. Com agregados
convencionais, o concreto tem sua ruptura normalmente na zona de transição. Para os
agregados reciclados, isso dificilmente acontecerá devido a sua baixa resistência, ocasionando
a ruptura do concreto no próprio agregado. O gráfico da figura 20 apresenta os efeitos
isolados dos percentuais de substituição do AMR e do AGR, calculados a partir da equação
4.1, bem como a tendência de comportamento dos agregados reciclados com o aumento do
percentual de substituição, considerando os níveis codificados dos percentuais e fixando no
ponto médio (0,60), também em níveis codificados, o valor da relação a/c.
95
45,0
40,0 AMR
35,0 AGR
fc (MPa)
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
% de substituição
De acordo com o gráfico, quanto maior o percentual de agregado miúdo reciclado, maior
tende a ser a resistência. O contrário acontece com o agregado graúdo reciclado, ou seja,
quanto maior o percentual, a partir de 50%, menor a resistência. Como já foi dito
anteriormente, isso pode ser explicado devido a sua baixa resistência e alta porosidade. Para
os agregados miúdos, o aumento da resistência pode ser explicado por fatores como, textura,
granulometria contínua e grande quantidade de finos, possibilitando misturas mais compactas.
45 45
40 40
35 35
30
fc (MPa)
30
fc (MPa)
25 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80
% Substituição AMR Relação a/c
0,40 0,60 0,80 0 50 100
(a) (b)
Figura 21: resistência à compressão em função da interação a/cxAMR.
(a) fc em função do %AMR, para as diferentes relações a/c. (b) fc em
função da relação a/c para os diferentes teores de AMR.
De acordo com os gráficos, para as três relações água/cimento estudadas, quanto maior o
percentual de substituição do agregado miúdo reciclado, maior a resistência à compressão,
exceto para o percentual de 100% de AMR e relação a/c = 0,40, em que não houve variação
significativa.
Estes resultados contrariam Mehta e Monteiro (1994), que afirmam que a fração miúda do
agregado reciclado contém pasta endurecida de cimento e seu uso é inadequado para a
produção de concretos, diminuindo a sua resistência.
Ainda de acordo com o gráfico da figura 21b, é possível observar que o comportamento da
curva fc x a/c para os concretos produzidos com agregados reciclados é semelhante ao da
curva do concreto de referência. Evidentemente, podem ser encontradas algumas variações
nos resultados, mas a configuração do comportamento é a mesma, ou seja, quanto maior o
percentual de substituição do agregado miúdo reciclado maior é o valor da resistência à
compressão.
45 45
40
40
35
35
fc (MPa)
30
30
25
fc (MPa)
20 25
15 20
10 15
5 10
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 5
% substituição AGR 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80
Relação a/c
0,40 0,60 0,80
0 50 100
(a) (b)
Figura 22: resistência à compressão em função relação água/cimento e
do %AGR. (a) fc em função do % AGR. (b) fc em função da relação
a/c para diferentes %AGR.
A grande demanda de água requerida na produção desses concretos deveu-se ao fato de que
grande parte da composição dos agregados era constituída de material cerâmico e outros tipos
de materiais bastante porosos e que, apesar de terem sido submetidos a uma pré-molhagem
antes da concretagem, ainda absorvia grande parte da água. Isso dificultou o processo de
trabalhabilidade e moldabilidade das misturas. Um outro ponto a ser levantado sobre esse
assunto, diz respeito à compensação de água, feita através da taxa de absorção dos materiais
99
reciclados, na qual poderia ter utilizado um percentual maior do que 50% de compensação
da absorção. Porém, como já haviam sido produzidos alguns traços, compensados com este
percentual de 50%, optou-se por não alterar o valor da compensação da absorção.
Os concretos realizados com 100% de substituição do agregado graúdo natural pelo reciclado
e relação a/c de 0,40 e 0,60 se tornaram difíceis no que diz respeito à moldabilidade,
possuindo misturas com uma textura bastante áspera e, por conseqüência, ocorrendo uma
diminuição na resistência. A curva de comportamento entre a resistência e a relação
água/cimento não seguiu o mesmo padrão da curva com relação ao %AMR, ficando alguns
valores abaixo da curva de referência, como pode ser visto na figura 22 b.
Para relações a/c maiores (0,80) e com os percentuais de 50% e 100%, a técnica da pré-
molhagem antes da concretagem possibilitou uma moldabilidade e trabalhabilidade
satisfatórios, obtendo na maioria dos casos, valores de mesma equivalência, ou mesmo, acima
dos valores dos concretos de referência.
No gráfico da figura 23, é apresentado o efeito das substituições conjuntas, totais e parciais,
dos agregados naturais pelos reciclados, em função da relação a/c.
De acordo com o gráfico da figura 23 é possível notar que, em alguns casos, houve redução
da resistência e em outros houve aumento dessa mesma propriedade. Para relações a/c
menores (0,4 e 0,6) houve uma redução apenas nos concretos feitos com 100% de substituição
100
dos agregados miúdo e graúdo utilizados conjuntamente num mesmo traço. Essa redução
foi de 16% para os concretos com relação a/c = 0,4 e 11% para os concretos de relação
a/c = 0,6. Nos traços com esse mesmo percentual e relação a/c = 0,8 os valores situaram-se no
mesmo patamar que os de referência.
50
Referência
45
100% AMR - 50% AGR
40 100% AMR - 0% AGR
50% AMR - 50% AGR
35
0% AMR - 100% AGR
fc (MPa)
25
20
15
10
0,40 0,60 0,80
Relação a/c
A redução do nível de resistência para concretos com 100% de substituição pode ser
explicada pela grande dificuldade de se obter misturas adensáveis. Mesmo com a técnica da
pré-molhagem dos agregados a moldagem ficou bastante prejudicada. Além de agregados
muito porosos, que absorvem grande quantidade de água, o uso de relações água/cimento
baixas também proporcionou essa situação, obtendo, com isso, misturas com grande carência
de água, excessivamente ásperas e pouco adensáveis, mesmo com a ajuda de aditivo
superplastificante.
Hansen (1992) avaliou resistência mecânica em suas pesquisas e encontrou uma diminuição
em torno de 20% em concretos com 100% de AMR e 100% AGR, trabalhando com relação
a/c baixa (0,45). Esse aspecto de perda da resistência quando se trabalha com 100% de
substituição dos agregados naturais pelos reciclados também foi constatado nesta pesquisa,
embora a sua taxa máxima de redução tenha ficado em torno de 16%.
101
O melhor desempenho da atuação conjunta dos agregados miúdo e graúdo reciclados se
deu nos concretos com 50% de substituição de AGR e 100% de AMR e com 50% de ambos,
porque não houve perda de resistência. O ganho foi observado para todas as classes de
resistências, tendo seu maior valor obtido para o traço 100% de AMR e 50% de AGR e
relação a/c = 0,80, em que o aumento da resistência foi de 56% em relação ao concreto de
referência.
Pode ser observado, também, um aumento da resistência para o traço com 100%AMR e
0%AGR, para as três relações a/c estudadas. Uma explicação para o bom desempenho desse
traço pode estar associado a um fator de ordem química, devido a um possível efeito
pozolânico do material cerâmico finamente moído. Leite (2001) estudou a pozolanicidade de
resíduos contendo material cerâmico e constatou que as amostras apresentaram índices de
atividade pozolânica e que isso pode ter contribuído para o aumento das resistências nos
concretos que continham altos percentuais de agregado miúdo reciclado. A autora ressalta
ainda, que o aumento da resistência pode não ter sido apenas devido ao efeito pozolânico,
devendo, portanto, ser estudado em outras propriedades.
De acordo com Limbachyia (2000), citado por Levy (2001), os concretos produzidos com
agregados reciclados permanecem seguindo a tendência de comportamento da curva de
Abrams, ou seja, à proporção que aumenta a relação água/cimento diminui a resistência e está
representada num gráfico cuja curva segue um comportamento exponencial. Nesta pesquisa
pode se observar que os concretos de agregados reciclados se inserem nessa mesma tendência,
tendo apenas uma translação nos valores em relação à curva do concreto de referência. Esses
detalhes podem ser visualizados na figura 24.
102
55
Referência
50 100% AMR - 50% AGR
45 100% AMR - 0% AGR
50% AMR - 50% AGR
40
0% AMR - 100% AGR
fc (MPa)
35
100% AMR - 100% AGR
30
25
20
15
10
0,40 0,50 0,60 0,70 0,80
Relação a/c
Algumas considerações precisam ser feitas sobre a análise dos resultados realizados neste
capítulo. O objetivo central desta pesquisa é avaliar aspectos de durabilidade desses
concretos. Isso pode justificar a forma superficial com que foi tratada a propriedade mecânica
de resistência à compressão, não sendo estudada mais em profundidade em outras
características, como por exemplo, evolução da resistência com a idade e outros aspectos de
igual interesse para essa propriedade. Entretanto, algum ponto dessa linha de pesquisa
precisava ser estudado, para que pudesse servir como um parâmetro de controle da produção e
comprovar que esses concretos seguem o mesmo comportamento técnico de outros já
conhecidos. Além de ter uma medida de referência, para que a análise dos resultados de
durabilidade possa ser feita com confiabilidade e segurança.
- o pior desempenho dos concretos produzidos ficou para os traços com 100%
de substituição dos agregados miúdo e graúdo conjuntamente. Além das
dificuldades de conseguir misturas moldáveis e trabalháveis, houve uma
diminuição na resistência. Essa redução foi de 16% para relação a/c = 0,40, e
11% para relação a/c = 0,60. Não houve redução na taxa para relação
a/c = 0,80, mas também não houve ganho considerável.
Diferentemente do que diz a Mehta e Monteiro (1994), o uso do AMR não constitui uma ação
prejudicial à resistência do concreto. Ficou comprovado neste estudo que quando havia
apenas a substituição da fração miúda, o aumento da resistência era significativo,
independente da relação a/c utilizada. Porém, é perfeitamente viável se utilizar o %AMR
combinado com %AGR, principalmente em traços médios, com 50% de substituição de
ambos os agregados, obtendo-se concretos de resistências acima dos valores de referência.
Contundo, vale ressaltar que alguns cuidados precisam ser tomados para que esses resultados
aconteçam. Uma seleção e caracterização criteriosa dos agregados são necessárias, além de
cuidados como a pré-molhagem, de acordo com a taxa de absorção que possui esse agregado,
adotando apenas o procedimento de compensação parcial dessa taxa, para que não haja
saturação da mistura, ocasionando uma diminuição da resistência.
104
São apresentados, neste capítulo, os resultados dos ensaios eletroquímicos de durabilidade dos
concretos produzidos com agregados reciclados. Foi analisada a atuação dos agregados miúdo
e graúdo isoladamente, assim como a utilização conjunta de ambos.
A seguir são apresentados os gráficos dos resultados desses ensaios para as três relações a/c
utilizadas e para os três percentuais de substituição dos agregados reciclados.
5.1.1 Resultado dos ensaios com ação isolada do agregado miúdo reciclado
Os valores da resistência ôhmica e do potencial de corrosão foram tirados das leituras dos
ensaios feitos ao longo desse período. Não foram plotados os gráficos dos valores da
resistência de polarização ao longo do tempo porque estes foram utilizados no cálculo da taxa
da corrosão.
105
50000
30000
20000
10000
-100
Ecorr (mV) - Cu/CuSO 4
-200
-300
-400
-500
-600
-700
10
1
icorr ( mA/cm )
2
0,1
0,01
1E-3
1E-4
Idade (dias)
50000
30000
20000
10000
-100
E corr (mV) - Cu/CuSO 4
-200
-300
-400
-500
-600
-700
10
0,1
icorr ( mA/cm )
2
0,01
1E-3
1E-4
Idade (dias)
50000
30000
20000
10000
-100
E corr (mV) - Cu/CuSO4
-200
-300
-400
-500
-600
-700
10
0,1
icorr ( mA/cm )
2
0,01
1E-3
1E-4
Idade (dias)
Pode-se observar também que, ao longo do período de ensaio, os concretos com relação a/c=
0,40 e com 50% e 100% de substituição de AMR situaram-se num patamar aceitável de
potencial de corrosão (entre –200 e –350 mV), como visto na figura 25. Apesar desses valores
apresentarem uma probabilidade incerta da atividade de corrosão (segundo os critérios de
avaliação da norma internacional ASTM C-876) e o percentual de 100% de AMR tenha
ficado acima dos valores de referência, os valores da taxa de corrosão correspondentes a esses
percentuais apresentaram valores de grau desprezível, possibilitando também a não
despassivação da armadura (E corr mais negativo que –350 mV) contida nesses concretos.
A figura 26 mostra que para 50% de substituição de AMR, em concretos com relação
a/c = 0,60, o resultado é bastante satisfatório, por não ter ocorrido a despassivação da
armadura e os valores da velocidade de corrosão situarem-se abaixo dos de referência.
5.1.2 Resultado dos ensaios com ação isolada do agregado graúdo reciclado
Nos gráficos das figuras 28, 29 e 30 são mostrados os resultados dos ensaios dos concretos
que tiveram apenas a substituição de agregado graúdo reciclado.
Para as três relações a/c utilizadas observa-se que o desempenho isolado do agregado graúdo
reciclado é um pouco diferente do comportamento do agregado miúdo reciclado. Em todas as
relações a/c trabalhadas, a substituição do agregado graúdo natural pelo reciclado provocou
um aumento da resistência ôhmica, do potencial de corrosão e da taxa de corrosão,
simultaneamente.
A sobretensão ôhmica ou resistência ôhmica (Rohm) é definida como um produto entre uma
densidade de corrente (i) que circula em uma célula eletroquímica e uma resistência (R)
existente no condutor (que no caso de corrosão de armaduras de concreto é a própria barra por
onde flui a corrente eletrônica), e o eletrólito que é o maior controlador da resistência R. Esse
produto pode ser determinado quantitativamente pela medida da condutividade da solução
aquosa no meio (GENTIL, 1996; CASCUDO, 1997).
50000
30000
20000
10000
-100
-200
E corr (mV) - Cu/CuSO4
-300
-400
-500
-600
-700
10
1
icorr (m A/cm )
2
0,1
0,01
1E-3
1E-4
Idade (dias)
30000
20000
10000
-100
E corr (mV) - Cu/CuSO4
-200
-300
-400
-500
-600
-700
10
1
icorr (m A/cm )
0,1
2
0,01
1E-3
1E-4
Idade (dias)
20000
10000
-100
-200
E corr (mV) - Cu/CuSO4
-300
-400
-500
-600
-700
10
1
icorr ( mA/cm )
2
0,1
0,01
1E-3
1E-4
Idade (dias)
No caso desta pesquisa, o uso do agregado graúdo reciclado possibilitou uma diminuição na
condutividade da solução de cloreto de sódio possivelmente devido à densidade de sua
estrutura. Um agregado com um índice de vazios muito grande pode ter dificultado o
transporte dos íons no concreto, visto que os mesmos, ao tentarem atingir a armadura podem
ter ficado presos e confinados na estrutura porosa do agregado, diminuindo a condutividade
do meio. Isso pode ser observado nas baixas taxas de corrosão e alta de resistência ôhmica
encontradas para concretos com relação a/c = 0,40, como pode ser visto na figura 28.
Uma explicação de ordem química para esse fenômeno reside na possibilidade de o agregado
ter desenvolvido alguma atividade pozolânica no concreto. Segundo Price (1975), citado por
Leite (2001), utilizar pozolanas combinadas com cimento e em quantidades ideais promove a
melhoria de diversas propriedades do concreto, entre elas aumento da trabalhabilidade,
redução da permeabilidade e aumento da resistência ao ataque de agentes agressivos. Dessa
forma, utilizar agregados reciclados com grandes teores de material cerâmico, que
possibilitam algum tipo de atividade pozolânica, pode ter contribuído para a diminuição da
condutividade e, conseqüentemente, um aumento da resistência ôhmica nesses concretos.
Para relação a/c = 0,80 o comportamento foi muito similar ao concreto de referência. Apesar
de terem apresentado valores de resistência ôhmica maiores que o concreto de referência nas
primeiras idades, a atuação constante de íons cloreto nos ciclos de molhagem e secagem,
aliado à baixa resistência desses concretos, favoreceu o aumento da condutividade desse
eletrólito, resultando numa diminuição na resistência ôhmica, o potencial de corrosão
indicando que a armadura já tinha sido despassivada e os índices de velocidade de corrosão
com valores muito mais altos (~1 µA/cm²) indicando atividade de corrosão nas barras.
114
5.1.3 Resultado dos ensaios com ação combinada dos agregados graúdo e
miúdo reciclados
Entretanto, em alguns casos, o uso combinado de agregados miúdo e graúdo possibilitou uma
diminuição tanto nos níveis de potencial de corrosão como nos níveis da taxa de corrosão
calculados. Para o traço com 50% de AMR e 100%AGR e relação a/c = 0,80 esses valores
foram percebidos de forma bastante acentuada.
50000
30000
20000
10000
0
-100
Ecorr (mV) - Cu/CuSO4
-200
-300
-400
-500
1
icorr (m A/cm )
2
0,1
0,01
1E-3
1E-4
40000
Rohm (ohms)
30000
20000
10000
- 1 000
-200
-300
Ecorr (mV) - Cu/CuSO4
-400
-500
-600
1
i corr ( mA/cm )
2
0,1
0,01
1E-3
1E-4
Idade (dias)
50000
40000
Rohm (ohms)
30000
20000
10000
-100
Relação a/c = 0,80
REF
-200 50% AMR - 50% AGR
E corr (mV) - Cu/CuSO4
-400
-500
-600
-700
10
0,1
icorr (m A/cm )
2
0,01
1E-3
1E-4
Idade (dias)
Dessa forma, optou-se por fazer uma modelagem matemática a fim de estudar mais
especificamente o efeito isolado de cada percentual de substituição dos agregados reciclados,
bem como o efeito de suas interações na avaliação da durabilidade desses concretos.
Para o estudo de durabilidade dos concretos produzidos foi realizada uma modelagem dos
resultados experimentais, através de análise de regressão múltipla, cujo objetivo é o de
explicar grande parte da variabilidade dos resultados apresentados anteriormente.
Foi realizada análise de regressão múltipla tanto para o potencial de corrosão quanto para a
taxa de corrosão nas armaduras dos concretos produzidos.
Assim como o potencial de corrosão, a resistência ôhmica também infere de forma qualitativa
na avaliação da corrosão. Entretanto, pelo mesmo motivo de não extrair dados sobre o valor
real da velocidade de corrosão e de não se ter o conhecimento sobre faixas de valores
aceitáveis dentro da atividade de corrosão, sua modelagem não foi realizada.
119
5.2.1 Análise de regressão múltipla para os concretos reciclados sobre o
potencial de corrosão (Ecorr) das armaduras
Estes dependem de inúmeras variáveis, como umidade, tipo de cimento, aditivo, tipo de
agregado, idade, cobrimento do concreto, entre outros. Por outro lado, o levantamento de
potenciais de corrosão em estruturas constitui-se, ainda, na técnica mais utilizada para
monitorar estruturas de concreto armado com vistas à corrosão das armaduras e constitui-se
num instrumento que, se rigorosa e cuidadosamente utilizado, permite identificar de forma
não destrutiva as áreas com corrosão (CASCUDO, 1997).
A American Society for Testing and Materials (ASTM C876/91) prescreve o método de
ensaio para a obtenção dos potenciais de corrosão em concreto e estabelece a avaliação da
probabilidade de corrosão em armaduras de concreto.
Como foi visto nos gráficos do item 5.1, o potencial de corrosão medido nas barras variou de
acordo com os percentuais de substituição do agregado, com a relação a/c e com a idade
durante o período de ensaio. Partindo do princípio de que a variação do potencial de corrosão
depende destas variáveis, um estudo foi desenvolvido no sentido de analisar a influência
destes fatores sobre seus valores.
A equação 5.1 foi obtida através dos resultados dos ensaios experimentais e descreve o
comportamento do potencial de corrosão (Ecorr) em função das variáveis principais e de suas
interações.
120
71,06
E corr = −95 ,46 − 390,22 × a/c + 119 ,94 × AGR − − 104 ,36 × AMR × AGR +
AMR
38,99 × a/c × AMR 10785 ,0 × a/c 79401,2 × AMR
+ + −
AGR Idade Idade 2
(equação 5.1)
Onde:
AMR – percentual de agregado miúdo reciclado, com valores codificados segundo tabela 21
AGR – percentual de agregado graúdo reciclado, com valores codificados segundo tabela 21
De acordo com a equação 5.1, os efeitos significativos são a/c, AGR e AMR, assim como as
interações AMRxAGR, a/cxAMRxAGR, a/cxIdade e AMRxIdade. O modelo está ajustado
para explicar mais de 85% da variabilidade no potencial de corrosão (Ecorr), cujo coeficiente
de determinação (r²) é igual a 0,854.
De posse desses dados e calculados os valores dos potenciais em função das variáveis
estabelecidas no modelo de regressão, os resultados obtidos foram comparados com os da
ASTM C876/91, que estabelece a probabilidade de corrosão das armaduras de concreto, como
pode ser visualizado na tabela 22.
Pelo gráfico pode-se observar que quanto maior a relação a/c, maior, negativamente, é o valor
do potencial de corrosão. A influência do aumento da relação a/c sobre o aumento do
potencial constata que à proporção que a qualidade do concreto diminui, a armadura fica mais
suscetível a danos que nos concretos de boa qualidade, com relação a/c mais baixas. Segundo
Cascudo (1997), a iniciação da formação de pilhas eletroquímicas, que são responsáveis pelo
processo de corrosão nas armaduras, em concretos com zonas mais aeradas (concreto poroso)
tornam-se zonas preferencialmente anódicas, onde o processo corrosivo é mais intenso.
-200
-250
-300
-350
Ecorr (mV)
-400
-450
-500
-550
-600
0,40 0,50 0,60 0,70 0,80
Relação a/c
A partir desta constatação, somada a outros fatores ligados à qualidade do concreto, como
espessura do cobrimento, por exemplo, não se pode afirmar que apenas concretos com relação
a/c mais altas têm potenciais que sugerem atividade de corrosão. Outros fatores precisam ser
122
analisados, como por exemplo os percentuais de substituição de agregados reciclados que
se mostraram significativos na análise, bem como suas interações com a relação a/c e a idade.
5.2.1.2 Efeito isolado do percentual de agregado miúdo reciclado (AMR) e agregado graúdo
reciclado (AGR) sobre o potencial de corrosão
-350
-360
-370
-380
Ecorr (mV)
-390
-400
AMR
-410
AGR
-420
-430
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
% substituição
Ainda de acordo com a figura 35 é possível verificar um aumento do potencial para valores
acima de 50% de substituição de AMR. Entretanto, esse aumento é ainda menor que os
concretos sem substituição desse agregado. Subtende-se que quanto menor o potencial de
corrosão menor a taxa de corrosão obtida. Sob esse aspecto o AMR responde positivamente
123
na diminuição desses valores. Para o agregado graúdo, independente do percentual de
substituição, os níveis de potencial aumentam gradativamente.
O aumento do potencial de corrosão em função da idade e da relação a/c pode ser visualizado
no gráfico da figura 36. Para a obtenção desse gráfico variou-se os níveis de idade e relação
a/c e manteve-se no ponto médio, os níveis codificados das demais variáveis da equação 5.1.
-200
-250
-300
-350
Ecorr (mV)
-400
-450
-500
-550
-600
30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150
Idade (dias)
À medida que aumenta a idade, o aumento do potencial de corrosão é mais acentuado para
relações a/c maiores (0,6 e 0,8). Para relação a/c = 0,8 esse aumento foi da ordem de
–350 mV ao longo do período de 150 dias. Com relação a/c = 0,6 esse comportamento
também foi percebido, porém com menor magnitude, na qual o aumento do potencial ficou
em torno de -200 mV. O aumento do potencial, para relações a/c maiores, implica diretamente
na porosidade do concreto, uma vez que concretos com grande número de vazios favorece a
propagação da corrosão, pela facilidade com a qual os íons cloreto atingem a armadura e são
capazes de despassivá-la.
124
5.2.1.4 Efeito da interação a/cxAMRxAGR sobre o potencial de corrosão.
-200 -200
-250 -250
-300 -300
Ecorr (mV)
-400 -400
-450 -450
-500 -500
-550 -550
-600 -600
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
%AMR
%AGR
0,4 0,6 0,8 0,4 0,6 0,8
(a) (b)
Figura 37: potencial de corrosão em função do efeito da interação
a/cxAMRxAGR. (a) Gráfico de Ecorr em função do %AMR.
(b) Gráfico de Ecorr em função do %AGR.
De acordo com os gráficos apresentados, pode-se observar que o potencial de corrosão tem
seus níveis diminuídos à proporção que aumenta o %AMR para todas as relações a/c
utilizadas (figura 37a). Para o %AGR esse comportamento foi observado para todas as
relações a/c, mas com uma diferença de menor magnitude. Vale ressaltar que esse gráfico foi
obtido mantendo-se o valor real da idade fixada no ponto médio e utilizados os valores
codificados de a/c, AMR e AGR.
A figura 38 mostra o resultado do potencial de corrosão para 0%, 50% e 100% de AMR e
AGR em função das relações a/c utilizadas.
125
-200
-250
-300
-350
Ecorr (mV)
-400
-450
-500
-550
-600
0,40 0,50 0,60 0,70 0,80
Relação a/c
Referência 100%AMR - 50%AGR
100%AMR - 0%AGR 50%AMR - 50%AGR
0%AMR -100%AGR 100%AMR - 100%AGR
De acordo com o gráfico da figura 38, observa-se um melhor desempenho para o concreto
com 100%AMR e 0%AGR, para todas as relações a/c estudadas. Esse mesmo traço
possibilitou uma diminuição mais significativa no valor do potencial de corrosão para relação
a/c = 0,80 em relação ao concreto de referência, assim como em todos os concretos onde
havia substituição total ou parcial do AMR. Por outro lado, os concretos com 100% de
substituição de ambos os agregados tiveram o pior desempenho com relação aos outros
concretos, obtendo valores de potencial de corrosão acima de todos os outros.
0 ,392 × Idade
− − 1 ,28 × 10 −8 × a/c × AGR × Idade × E corr
2
E corr
(equação 5.2)
Onde:
AGR – percentual de agregado graúdo reciclado, com valores codificados segundo tabela 21
De acordo com a equação 5.2, o único fator principal significativo foi a idade, tendo os
outros fatores inseridos na análise, como a/c, AMR, AGR e Ecorr, aliados com interações de
segunda e de terceira ordem. Isso mostra o grau de dificuldade em se avaliar aspectos de
durabilidade em concretos, principalmente quando são concretos especiais, como os concretos
reciclados, que requerem uma atenção especial nesse sentido.
128
O modelo definido para estas variáveis possui um coeficiente de determinação (r²) igual a
0,885 e a equação foi ajustada para os níveis codificados de a/c, AMR e AGR apresentados na
tabela 21 e para os níveis reais de idade e E corr.
A figura 39, apresenta o gráfico do efeito isolado da idade sobre a taxa de corrosão das
armaduras dos concretos produzidos. O gráfico foi obtido variando-se os níveis reais da idade
e mantendo-se os demais níveis das variáveis da equação 5.2 no ponto médio.
10,00
1,00
icorr (µA/cm²)
0,10
0,01
30 50 70 90 110 130 150
Idade (dias)
De acordo com a figura 39 é possível observar que a taxa de corrosão das armaduras de
concretos com agregados reciclados aumenta à proporção que aumenta a idade. Cabe
salientar, que nesse período os concretos ficavam submetidos a ciclos constantes de
molhagem e secagem, cuja molhagem era composta de uma solução aquosa de 3,5% de NaCl
misturado à água, com o objetivo de acelerar o processo de corrosão. Dessa forma, os valores
de velocidade de corrosão foram aumentando gradativamente com o tempo. Entretanto, o
comportamento desse gráfico mostra apenas que a idade influencia para o aumento da taxa, e
que não se pode tirar outras conclusões a respeito desses concretos, como por exemplo, se os
mesmos encontram-se em um nível aceitável de corrosão. Estas considerações vão depender
129
dos outros fatores que também foram significativos na análise de regressão múltipla, como
por exemplo a interação entre a idade e os percentuais de AMR e AGR.
Na figura 40 pode ser observado o efeito da interação IdadexEcorr sobre a taxa de corrosão das
armaduras dos concretos produzidos. O gráfico foi obtido variando os valores da idade e do
potencial de corrosão e mantendo-se no nível médio as demais variáveis da equação 5.2.
1,2
1,1
1,0
0,9
0,8
i corr (µA/cm²)
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
30 50 70 90 110 130 150
Idade (dias)
Esse gráfico mostra que os valores da taxa de corrosão variam de acordo com a idade,
independente da faixa de potencial medido. Pode ser observado também que para uma mesma
faixa de potencial de corrosão medido, as taxas de corrosão apresentaram diferentes valores.
Pode acontecer de um determinado concreto apresentar valores de potenciais que acusam uma
atividade de corrosão na barra, e no entanto a mesma desenvolve processo de corrosão com
velocidade diferente daquela deduzida a partir do potencial. De acordo com Andrade e
Gonzalez (1978), citado por Cascudo (1997), diferentes valores de taxa de corrosão foram
encontrados para um mesmo potencial medido. Os resultados obtidos nesse trabalho conferem
130
com os resultados das autoras citadas e reitera o fato de o potencial de corrosão ser um
dado meramente qualitativo na avaliação da corrosão.
1,9
1,6
1,3
icorr (µ A/cm²)
1,0
0,7
0,4
0,1
0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
Relação a/c
Referência 100%AMR - 0%AGR
0%AMR - 100%AGR 100%AMR - 50%AGR
50%AMR - 50%AGR 100%AMR - 100%AGR
2,0
1,8 relação a/c = 0,40
0%AGR
1,6
50%AGR
1,4
i corr (µ A/cm²)
100%AGR
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
30 50 70 90 110 130 150
Idade (dias)
(a)
2,0
1,8
relação a/c = 0,60
1,6 0%AGR
1,4 50%AGR
icorr (µA/cm²)
100%AGR
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
30 50 70 90 110 130 150
Idade (dias)
(b)
133
2,0
1,8 relação a/c = 0,80
1,6 0%AGR
50%AGR
1,4
icorr (µA/cm²)
100%AGR
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
30 50 70 90 110 130 150
Idade (dias)
(c)
De acordo com os gráficos é possível observar que à medida que aumenta a relação a/c,
aumenta o grau da taxa de corrosão das armaduras e a influência do agregado graúdo
reciclado. A diferença entre o concreto com 100% de AGR e o de referência foi maior em
todas as relações a/c estudadas. Porém, essa diferença diminui quando diminui também a
relação a/c. Isso pode levar a uma conclusão de que a corrosão das armaduras, em concretos
com agregados graúdos reciclados, pode acontecer em maior grau e mais rapidamente para
relações a/c maiores (0,6 a 0,8). Para relação a/c = 0,40 essa diferença é insignificante.
Rasheeduzzafar e Khan (1984), citado por Hansen (1992), concluíram que concretos com
agregados reciclados podem corroer as armaduras mais rapidamente do que concretos
convencionais, porém essa perda pode ser compensada se os concretos reciclados forem
produzidos com relações a/c menores. Por outro lado, Mulheron (1989), também citado por
Hansen (1992), em testes de durabilidade feitos com concretos de agregados reciclados, sob
temperatura ambiente (20oC) e ciclos de molhagem e secagem, concluiu que o processo de
iniciação da corrosão era independente do tipo de agregado utilizado e que os fatores
preponderantes para esta condição era a relação a/c e a profundidade de cobrimento do
concreto na barra.
134
Controvérsias à parte, o fato é que, tanto para as substituições totais ou parciais de
agregado graúdo e independente da relação a/c estudada, a taxa de corrosão acontece acima
dos valores de referência. O desempenho desse tipo de agregado só melhora quando aliado ao
agregado miúdo, porque possibilita uma diminuição na velocidade de corrosão. Concluindo,
portanto, que o agregado graúdo não contribui para a melhoria da durabilidade de concretos
reciclados frente à corrosão das armaduras iniciada por cloretos, exceto quando misturado ao
agregado miúdo reciclado em proporções parciais de ambos ou totais, quando essa
substituição se dá apenas por parte do agregado miúdo reciclado.
A figura 43 apresenta o efeito da interação tripla entre o AMR, AGR e a idade dos concretos
produzidos. Primeiramente avaliou-se o efeito isolado do percentual de agregado graúdo e
miúdo, depois foi analisado o efeito da combinação de ambos, total e parcial, sobre a taxa de
corrosão.
1,6 1,6
1,4 1,4
1,2 1,2
1,0 1,0
icorr (µA/cm²)
icorr( µA/cm²)
0,8 0,8
0,6 0,6
0,4 0,4
0,2 0,2
0,0 0,0
30 50 70 90 110 130 150 30 50 70 90 110 130 150
Idade (dias) Idade (dias)
Referência 0%AMR - 100%AGR Referência 50%AMR - 50%AGR
100%AMR - 0%AGR 100%AMR - 100%AGR 100%AMR -50%AGR 50%AMR - 100%AGR
(a) (b)
Figura 43: taxa de corrosão em função do efeito da interação
AMRxAGRxIdade. (a) Efeito isolado do %AMR, %AGR e 100%
ambos. (b) Efeito da atuação conjunta de AMR e AGR
De acordo com os gráficos, pode-se observar que nos traços onde não houve substituição do
AMR e quando houve substituição total de agregados reciclados, as taxas de corrosão obtidas
foram bem maiores que os valores de referência, e os traços com apenas a substituição de
135
AMR situaram-se praticamente na mesma faixa que os concretos com agregados naturais
(figura 43a).
Na figura 43b também são mostrados os concretos com substit uição de ambos os agregados.
Nota-se que com os traços onde houve um percentual maior de substituição do AGR a
corrosão ocorreu bem mais rápido que nos outros concretos. Embora este tipo de agregado
tenha, talvez, a propriedade de confinamento dos íons cloreto devido a sua porosidade, como
foi visto no item 5.1.2, seu desempenho na durabilidade de concretos reciclados não surte um
efeito positivo, exceto quando combinado com agregado miúdo reciclado na mistura.
Com tudo que foi exposto até aqui, é possível fazer algumas considerações a respeito do uso
desses agregados, entre elas:
De acordo com as considerações feitas neste capítulo, é possível concluir que o uso do
agregado reciclado no concreto, em proporções convenientemente dosadas, não afeta a
durabilidade do concreto frente à corrosão das armaduras. Exceto quando estes percentuais se
inserem de forma total de ambos os agregados numa mesma mistura. Pois a dificuldade de
obter concretos moldáveis nessa proporção faz com que os mesmos fiquem mais suscetíveis à
ação de agentes agressivos, devido, logicamente, à alta porosidade existente nesses concretos.
Da mesma forma, concretos com apenas substituição de agregado graúdo não teve seu
desempenho considerado satisfatório, exceto quando inserido em concretos de baixa relação
a/c .
É imprescindível que se faça também uma consideração a respeito dos cuidados a serem
tomados ainda na fase de moldagem dessas misturas. A pré-molhagem dos agregado antes da
concretagem se constitui numa técnica de fundamental importância na obtenção de misturas
moldáveis e trabalháveis. Um possível erro no cálculo da quantidade de água a ser usada na
pré-umidificação dos agregados pode levar a mistura tanto à saturação quanto a um concreto
seco e conseqüentemente poroso. Sendo assim, medidas bem tomadas ainda na fase do
preparo das misturas podem favorecer um bom desempenho desses concretos frente à ação de
qualquer agente externo.
137
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o objetivo de contribuir para análise da viabilidade técnica dos resíduos de construção e
demolição, este trabalho foi desenvolvido a partir de um planejamento detalhado de atividades
que possibilitaram realizar este estudo de forma clara e precisa.
Algumas conclusões podem ser tiradas da análise desses resultados. A partir do estudo
experimental realizado pode-se concluir que:
Muitos estudos, porém, ainda precisam ser feitos para sedimentar a utilização desses materiais
nos mais variados tipos de construção. Num momento em que se discute preservação do
ambiente e seus recursos naturais, a reciclagem de resíduos de construção e demolição se
constitui numa saída para minimização desses impactos. Desde que sejam tomadas medidas
rigorosas na especificação, normalização e utilização desses materiais, o seu uso não ficará
restrito a utilizações de pouca importância.
Muita coisa há ainda por fazer com relação ao estudo de resíduos de construção e demolição.
Os materiais de construção e suas aplicações jamais deixarão de ser estudados. Dentro desse
contexto, as pesquisas sobre reciclagem de materiais provenientes de atividades da construção
civil também terão que estar sempre em desenvolvimento.
Este trabalho talvez tenha dado uma pequena parcela de contribuição no estudo desses novos
materiais. Muitas pesquisas podem e devem ser desenvolvidas no sentido de aprimorar o uso
desses materiais e consolidá-lo como um material de boa qualidade. Dessa forma, são
apresentadas algumas sugestões para trabalhos futuros:
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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