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RESUMO DO ARTIGO: Experiências de Estágio: Contribuições para a Transição Universidade-

Trabalho

A transição da universidade para o mercado de trabalho é uma tarefa potencialmente


conflituosa, podendo representar uma crise em relação à escolha profi ssional, uma vez que
exige uma série de escolhas quanto aos possíveis caminhos profi ssionais. Enquanto alguns
alunos seguem um percurso mais “estudantil”, preocupando-se apenas em cumprir
adequadamente as exigências acadêmicas, outros procuram mais ativamente desenvolver uma
postura profi ssional e experiências que os aproximem da prática da profissão.

O período de formação universitária, assim, pode ser visto como uma grande transição de
desenvolvimento que exige uma série de movimentos de adaptação por parte do indivíduo. A
adaptabilidade de carreira refere-se a comportamentos, atitudes, competências e estratégias de
coping que o indivíduo lança mão para se inserir em sua comunidade e se adaptar a diferentes
contextos e transições em sua carreira. Quatro aspectos ou dimensões são centrais na
adaptabilidade de carreira: preocupação, controle, curiosidade e confiança.Compreende-se,
portanto, que a transição da universidade ao mercado de trabalho não implica apenas uma
transição de contextos (ambientes), mas uma também transição de identidade.

Na transição da universidade para o mercado de trabalho, os indivíduos são demandados a


se identifi carem mais intensamente com o papel de trabalhadores. Nesse sentido, deve-se
destacar que o início do exercício da profi ssão é também um ponto crucial no processo de
construção da identidade profissional, sendo o momento a partir do qual o indivíduo será
reconhecido socialmente de acordo com sua profissão e terá a oportunidade de satisfazer suas
necessidades psicológicas, sociais e materiais através do seu trabalho.

Cabe destacar que o percurso tradicional para jovens de classe média é trabalhar apenas
após o término dos estudos de nível superior. Entretanto, mesmo para os estudantes que já
tenham tido experiências de trabalho anteriores à formatura, o marco de término da graduação
os inscreve socialmente de uma forma diferente: como profi ssionais. Torna-se relevante,
portanto, investigar como se dá a formação da identidade de papel de trabalhador e de profi
ssional durante a graduação universitária, uma vez que estes processos têm impacto na
qualidade da transição da universidade para o mercado de trabalho.

Sabe-se que as atividades extraclasses relacionadas ao ensino superior cumprem um papel


importante nessa passagem de estudante a profi ssional. Em especial, as experiências de
estágio se destacam entre as atividades relevantes para a formação profi ssional e o
desenvolvimento profi ssional. Os estágios, além de se relacionarem com uma maior
empregabilidade dos recémformados, também servem como uma aproximação à realidade do
mundo do trabalho, contribuindo para o desenvolvimento de competências transversais (ou
seja, não técnicas, tais como responsabilidade, autonomia) e para uma adequação mais realista
das expectativas dos estudantes frente ao trabalho.

Em grande parte, os estágios são ainda espaços privilegiados para o comportamento


exploratório vocacional, no qual o estudante pode se experimentar tanto com o intuito de
conhecer mais sobre a profissão quanto sobre si mesmo. Essa disposição para ser curioso e
experimentar oportuniza a descoberta de novas possibilidades e o desenvolvimento de novas
competências, sendo um importante recurso no processo de construção da carreira.

Participaram desta pesquisa seis estudantes formandos do curso de Engenharia Civil de


uma universidade federal brasileira, quatro mulheres e dois homens, com idades que variaram
de 22 a 29 anos. O tempo das experiências de estágio variou de seis meses a quatro anos e
meio. Um dos participantes ainda não havia iniciado o estágio quando realizou a entrevista, mas
sua inclusão na pesquisa foi mantida, pois seu relato pôde ser contrastado com os demais a
partir desta diferença. O instrumento utilizado foi uma entrevista semiestruturada, abordando
os seguintes temas: um breve histórico de vida do participante, seu percurso na graduação
desde a escolha profissional até o momento atual, as experiências acadêmicas consideradas
mais relevantes para sua formação como profissional (incluindo atividades extraclasse) e como
estava lidando com a transição de estudante para o papel de trabalhador e profissional.

Foram relatadas mudanças pelos estudantes na forma como se percebiam no início e ao


final da graduação, chamando a atenção os movimentos em direção à profissionalização, que
envolvem o aumento de responsabilidade e seriedade. Agumas experiências foram importantes
para a formação profissional, como atividades extraclasse, de iniciação científica, Programa de
Educação Tutorial (PET), saídas a campo e principalmente o estágio. O fato de desempenharem
atividades de trabalho no estágio foi destacado, pois isso permitiu se experimentarem em uma
posição mais ativa e colocarem em ação os conhecimentos adquiridos na faculdade, integrando
teoria e prática. O estágio foi compreendido pelos participantes como uma experiência que
possibilita conhecer diversas áreas de atuação da profissão, descobrir interesses, orientar
escolhas dentro do curso e de projeto profi ssional. Após iniciarem a prática, alguns mudaram
suas preferências vocacionais, interessando-se por áreas de trabalho que nem conheciam ou
que imaginavam que não iriam gosta.

Identificaram-se, nas experiências de estágio aqui analisadas, características capazes de


influenciar positivamente o desenvolvimento da adaptabilidade de carreira e a transição ao
papel profissional. O destaque do estágio em relação às demais experiências está em seu
caráter de ensaio de trabalho, no qual o estudante pode aplicar os conhecimentos teóricos à
prática e assumir ativamente responsabilidades. Os aprendizados obtidos com o estágio
constituíram-se efetivamente em habilidades e competências que contribuíram para o
sentimento de estar sendo preparado para o exercício profi ssional. O estágio também auxiliou
na defi nição de interesses e elaboração de projetos profissionais com maior clareza, tendo
havido ganhos em termos de exploração vocacional que possibilitaram maior confiança em
relação ao futuro.

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