Simpep 2005
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Resumo
A filosofia 5S é uma das ferramentas mais utilizadas pelas organizações que buscam
implementar a Gestão da Qualidade Total. Entretanto, os resultados efetivos da implantação
desta filosofia não são fáceis de serem mensurados, pois grande parte das organizações
limita-se a atuar nas etapas iniciais, comprometendo as ações de melhoria a médio/longo
prazo. Visando contribuir para a avaliação da implantação desta filosofia, este artigo propõe
uma metodologia multicritério que utiliza o Método da Análise Hierárquica (A.H.P) para
estabelecer a importância relativa dos critérios. Em um experimento, investiga-se o emprego
desta metodologia na avaliação da implantação da filosofia 5S.
Palavras-chave: Qualidade, 5S, AHP.
1. Introdução
Em um cenário caracterizado por intensa competição, as organizações necessitam estar
preparadas para dar respostas rápidas às contínuas transformações e assim manter-se no
mercado em que atuam. Neste cenário, questões relativas às políticas da qualidade têm
ocupado espaço significativo nas discussões do meio profissional de todas as áreas e ramos de
atuação, onde se procura maneiras de tornar a organização cada vez mais competitiva.
Um dos principais elementos diferenciadores no desempenho de uma organização em relação
às demais consiste na adoção dos princípios da Qualidade Total. Tais princípios estão
diretamente associados à satisfação dos clientes internos e externos incluindo assim as
características do produto/serviço (ausência de defeitos e presença de características que
satisfazem o consumidor), a qualidade na rotina da empresa (previsibilidade e confiabilidade
nas operações e processos), a qualidade de vida no trabalho, a qualidade da informação, etc.
Empresários, administradores e gerentes, então pressionados por atender demandas urgentes e
exigentes, buscam a excelência organizacional através da implantação de programas de
qualidade. Um destes programas é o 5S, que facilita a implantação e a prática da Gestão da
Qualidade Total por todas as pessoas de uma organização. Nele trabalham-se os processos
simples, do dia a dia, a começar daqueles que garantem um ambiente de qualidade. Como o
formato do programa 5S é simples, os resultados obtidos com a implantação dos 3S’s iniciais
impressionam. Entretanto, as ações de manutenção e melhorias a longo prazo são
extremamente difíceis, sendo necessário que se faça uma constante avaliação da implantação
do mesmo levando em consideração diversos fatores e critérios.
Visando contribuir para esta questão, este artigo propõe uma metodologia multicritério que
utiliza o Método da Análise Hierárquica (Saaty, 2000) para estabelecer a importância relativa
dos critérios. Este artigo apresenta a seguinte estrutura: a seção 2 apresenta uma breve
descrição da filosofia 5S; a seção 3 apresenta a metodologia proposta para
avaliação/classificação da implantação do programa 5S; na seção 4 investiga-se o emprego da
metodologia proposta na avaliação do programa 5S implantado na construção civil; e
finalmente a seção 5 apresenta as considerações finais.
XII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 7 a 9 de Novembro de 2005.
2. A filosofia 5S
A filosofia 5S foi concebida por Kaoru Ishikawa em 1950 no Japão pós-guerra com o objetivo
de transformar o ambiente das organizações e a atitude das pessoas, melhorando a qualidade
de vida dos funcionários, diminuindo desperdícios, reduzindo custos e aumentando a
produtividade das organizações. Este nome é devido às iniciais das cinco palavras japonesas:
seiri (Organização, utilização e descarte), seiton (Arrumação e ordenação), seisou (Limpeza e
zelo), seiketsu (Padronização e higiene) e shitsuke (Disciplina e respeito) (RIBEIRO, 1999).
A tabela 1 apresenta as definições que sintetizam as cinco etapas do programa:
Senso Definição
Senso de utilização: refere-se a identificação dos materiais, equipamentos, ferramentas, utensílios,
Seiri informações e dados necessários e desnecessários, descartando ou dando a devida destinação àquilo
considerado desnecessário ao exercício das atividades.
Senso de ordenação: refere-se à disposição sistemática dos objetos e dados, isto é, definindo os
Seiton locais apropriados e critérios para estocar, guardar ou dispor materiais, equipamentos, ferramentas,
utensílios, informações e dados de modo a facilitar a localização, uso e guarda de qualquer item.
Senso de limpeza: segundo Lapa (1998) “é retirar e, sobretudo, não depositar “sujeiras” no ambiente
de trabalho, zelando para que cada informação, documento, material, equipamento ou instalação
Seisou
utilizados, estejam sempre nas melhores condições de uso possível”. Procura-se além da limpeza a
identificação das causas desta, buscando assim eliminá-las, atuando como “bloqueio de causas”.
Senso de saúde: preocupa-se com a saúde nos níveis físicos, mental e emocional. Verifica-se a
Seiketsu existência de um clima de trabalho agradável e seguro, onde prevalecem relações interpessoais e
organizacionais saudáveis e produtivas. Busca-se a melhoria da “Qualidade de Vida” no trabalho.
Senso de disciplina: este hábito é o resultado do exercício da força mental, moral e física. Ter Senso
Shitsuke de Autodisciplina significa ainda desenvolver o autocontrole ter paciência, ser persistente na busca
de seus sonhos, anseios e aspirações, respeitar o espaço e a vontade alheia.
Tabela 1 - Os cinco sensos da filosofia 5S
Objetivo
...
Critérios
Critério 1 Critério 2 Critério “m”
(ii) definição de prioridades: Segundo Saaty, “o ser humano tem a habilidade de perceber as
relações entre as coisas que observa, comparar pares de objetos similares à luz de certos
critérios, e discriminar entre os membros de um par através do julgamento da intensidade
de sua preferência de um elemento sobre o outro”. Segundo Costa (2002), de forma
sucinta, neste princípio é necessário cumprir as seguintes etapas:
- cálculo das prioridades médias locais (PML’s): as PML’s são as médias das linhas dos
quadros normalizados;
(iii) consistência lógica: o ser humano tem a habilidade de estabelecer relações entre objetos
ou idéias de forma que elas sejam coerentes, que elas se relacionem bem entre si e suas
relações apresentem consistência (Saaty, 2000). Assim o método A.H.P. se propõe a
calcular a Razão de Consistência dos julgamentos, denotada por RC = IC/IR, onde IR é o
Índice de Consistência Randômico obtido para uma matriz recíproca de ordem n, com
elementos não-negativos e gerada randomicamente. O Índice de Consistência (IC) é dado
por IC = (λmáx –n)/(n-1), onde λmáx é o maior autovalor da matriz de julgamentos.
Segundo Saaty (2000) a condição de consistência é RC ≤ 0,10.
XII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 7 a 9 de Novembro de 2005.
4. A abordagem proposta
No âmbito do Auxílio Multicritério à Decisão, o problema de classificação é um problema de
decisório em que, além de avaliar o desempenho de um conjunto A de alternativas à luz de um
conjunto F de dimensões da qualidade (critérios), deve-se também atribuir o desempenho
destas alternativas a uma das categorias pré-estabelecidas (vide figura 2).
Categoria I
a2 a3
A
Categoria k
a6
onde:
− WCrij é a importância relativa do critério j pertencente à dimensão i.
− GDij(ak) é o desempenho da alternativa ak, à luz do critério j pertencente à dimensão i;
(viii) agregar o valor do desempenho de cada alternativa ak à luz de cada critério em um
índice de desempenho global (índice de desempenho da alternativa à luz de todas as
dimensões) a partir da equação (3);
m n
D(a k ) = ∑∑ KCr j ⋅ GDij (a k ) (3)
i j =1
Senso de Descarte (D1) Cr1 Cr2 Cr3 Cr4 Cr5 Cr6 WCrij (PML’s) KCrj GDij WCrij.GDij
Cr1 1 1 1/2 1/3 3 1/4 0,102 0,010 4 0,408
Cr2 1 1 1/2 1/3 2 1/3 0,096 0,010 4 0,384
Cr3 2 2 1 1/3 2 1/3 0,137 0,014 2 0,274
Cr4 3 3 3 1 3 1/2 0,254 0,026 1 0,254
Cr5 1/3 1/2 1/2 1/3 1 1/4 0,062 0,006 3 0,186
Cr6 4 3 3 2 4 1 0,349 0,035 2 0,698
Razão de Consistência = 0,03 Di (a k ) = 2,204
Senso de Organização (D2) Cr7 Cr8 Cr9 Cr10 Cr11 Cr12 WCrij (PML’s) KCrj GDij WCrij.GDij
Cr7 1 1/4 1/2 1/4 1/3 1/5 0,049 0,014 4 0,196
Cr8 4 1 3 1/2 2 1/3 0,170 0,050 1 0,170
Cr9 2 1/3 1 1/3 1/2 1/4 0,075 0,022 1 0,075
Cr10 4 2 3 1 3 1/2 0,240 0,071 3 0,720
Cr11 3 1/2 2 1/3 1 1/3 0,114 0,034 3 0,342
Cr12 5 3 4 2 3 1 0,354 0,104 2 0,708
Razão de Consistência = 0,02 Di (a k ) = 2,211
Senso de Limpeza (D3) Cr13 Cr14 Cr15 Cr16 Cr17 Cr18 WCrij (PML’s) KCrj GDij WCrij.GDij
Cr13 1 1 1/2 1 1/3 1/3 0,089 0,011 4 0,356
Cr14 1 1 1/2 1 1/3 1/3 0,089 0,011 1 0,089
Cr15 2 2 1 2 1/2 1/3 0,151 0,019 2 0,302
Cr16 1 1 1/2 1 1/3 1/3 0,089 0,011 4 0,356
Cr17 3 3 2 3 1 1/2 0,247 0,031 1 0,247
Cr18 3 3 3 3 2 1 0,336 0,043 3 1,008
Razão de Consistência = 0,01 Di (a k ) = 2,358
Senso de Saúde (D4) Cr19 Cr20 Cr21 Cr22 Cr23 Cr24 Cr25 WCrij (PML’s) KCrj GDij WCrij.GDij
Cr19 1 2 3 3 4 5 1/2 0,231 0,036 0 0,000
Cr20 1/2 1 3 2 3 4 1/3 0,158 0,025 0 0,000
Cr21 1/3 1/3 1 1/3 1/2 2 1/5 0,057 0,009 4 0,228
Cr22 1/3 1/2 3 1 2 3 1/4 0,110 0,017 2 0,220
Cr23 1/4 1/3 2 1/2 1 3 1/3 0,083 0,013 0 0,000
Cr24 1/5 1/4 1/2 1/3 1/3 1 1/4 0,042 0,007 2 0,084
Cr25 2 3 5 4 3 4 1 0,318 0,050 1 0,318
Razão de Consistência = 0,03 Di (a k ) = 0,850
Senso de Disciplina (D5) Cr26 Cr27 Cr28 Cr29 Cr30 Cr31 WCrij (PML’s) KCrj GDij WCrij.GDij
Cr26 1 1/3 1/2 1/4 1/3 1/5 0,050 0,016 3 0,150
Cr27 3 1 2 1/3 1/2 1/4 0,106 0,034 1 0,106
Cr28 2 1/2 1 1/4 1/3 1/4 0,071 0,023 2 0,142
Cr29 4 3 4 1 2 1/2 0,242 0,077 1 0,242
Cr30 3 2 3 1/2 1 1/4 0,150 0,048 3 0,450
Cr31 5 4 4 2 4 1 0,380 0,122 1 0,380
Razão de Consistência = 0,02 Di ( a k ) = 1,470
D(a k ) = 1,778
Tabela 4 – Julgamentos paritários, importâncias relativas dos critérios e índices de desempenho
(v) identificação das categorias de classificação: neste experimento foram definidas cinco
categorias (I, II, III, IV e V) em ordem decrescente de preferência e os valores-limite
que delimitam duas categorias consecutivas (vide tabela 6). A tabela 7 apresenta a
descrição conceitual destas categorias.
Di (a1 ) Conceito
Senso de Descarte (D1) 2,204 Regular
Senso de Organização (D2) 2,211 Regular
Senso de Limpeza (D3) 2,358 Regular
Senso de Saúde (D4) 0,850 Ruim
Senso de Disciplina (D5) 1,470 Ruim
Todas as Dimensões 1,778 Regular
Tabela 8 – Classificação do desempenho
Estes resultados mostram que o programa de implantação do 5S (a1) foi atribuído à categoria
III (desempenho Regular) segundo os sensos D1, D2 e D3, e atribuído à categoria IV
(desempenho Ruim), segundo os sensos D4 e D5.
XII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 7 a 9 de Novembro de 2005.
A figura 3 ilustra as classificações obtidas por a1. Nesta mesma figura, observam-se também
as fronteiras (b1, b2, b3 e b4), compostas de valores-limite em cada Dimensão (Senso) que
delimitam duas categorias de classificação consecutivas.
D1 D2 D3 D4 D5
4
I - Muito Bom
b1
3,5
3 II - Bom
b2
2,5
2 III - Regular b3
1,5
b4
1 IV - Ruim
0,5
V - Muito Ruim a1
0
6. Considerações finais
A filosofia 5S é uma importante ferramenta para as empresas/organizações que buscam seguir
os princípios da Qualidade Total. Porém, especial atenção deve ser dada na avaliação da
implementação dos cinco Sensos, tendo em vista a melhoria contínua da qualidade dos
processos de produção de bens e serviços.
Neste contexto, a abordagem proposta apresenta-se como uma ferramenta simples e viável
para a avaliação da implantação do 5S em diferentes processos de uma mesma organização ou
em processos de organizações distintas. Através desta abordagem, além de obter a categoria
de classificação da implantação do 5S à luz de cada Dimensão (Senso), também foi possível
identificar as Dimensões, assim como os critérios, em que a implantação do 5S apresentou
piores desempenhos.
Em especial, o emprego do Método da Análise Hierárquica (A.H.P) buscou incorporar um
tratamento da subjetividade e imprecisão presente na etapa de avaliação da importância
relativa das Dimensões e critérios intrínsecos ao problema em questão. No experimento
realizado, todos as matrizes de julgamento foram consideradas consistentes (RC ≤ 0,10).
Além disso, vale a pena ressaltar que a importância relativa de Dimensões e critérios pode ser
facilmente adaptada de acordo com o ramo de atividade da organização em análise.
Finalmente, ressalta-se também que, sem perda de contexto ou generalidade, neste artigo
buscou-se ilustrar apenas o emprego da abordagem proposta na avaliação e classificação do
desempenho de uma única implantação do programa 5S, embora tal abordagem já tenha sido
aplicada em empresas de outros ramos, apresentando resultados satisfatórios.
7. Referências
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Engenharia e Instituto de Computação da UFF. Niterói. 2002.
Lapa, R.P. Programa 5S. Rio de Janeiro: Qualitymark. 1998.
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Mousseau, V. Slowinski, R. “Inferring an ELECTRE TRI Model from Assignment Examples”,
Journal of Global Optimization, n.º 12, pp. 157 – 174. 1998.
Ribeiro, H. - 5S administrativo. São Paulo: PDCA Consultoria em Qualidade. 1999.
Roy, B. Mèthodologie Multicritère d’Àide à la Dècision. Economica. Paris. 1985
Saaty, TL. - Decision making for leaders. Pitts burg, USA: WS. Publications. 2000.
SEBRAE. - O GQT nas empresas de serviço. Brasília. 2000.
___. - Programa D-OLHO na qualidade:manual do empresário. Brasília, DF. 1999.
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