Direito Administrativo Sebenta Prática FDUP 2.º Semestre
Direito Administrativo Sebenta Prática FDUP 2.º Semestre
Direito Administrativo Sebenta Prática FDUP 2.º Semestre
Nota Prévia
Foi elaborada pela aluna Francisca Ribeiro, tendo por base as aulas e documentos
disponibilizados pela docente Juliana Coutinho. Salienta-se que estes apontamentos são
apenas complementos de estudo, não sendo dispensada, por isso, a leitura das obras
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Índice
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Caso Prático nº6 ............................................................. Erro! Marcador não definido.
Efeitos sobre o Ato Jurídico Impugnado: ..................... Erro! Marcador não definido.
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Caso Prático nº11 ........................................................... Erro! Marcador não definido.
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Aula 16.02
1. Atos Jurídicos
Os atos jurídicos são operações de ciência, que têm efeitos internos, e que até podem
ter repercussão externa. É um exemplo de ato jurídico o parecer, que pode ter relevância
externa quando é vinculativo, pois repercute-se determinando o ato administrativo a ser
praticado (a relevância externa permite aos interessados não terem de esperar pela
decisão, que já sabem qual é, para reagir).
NOTA: em regra, os pareceres são obrigatórios, mas não vinculativos – artigos 91º e 92º
do CPA –, a menos que exista uma norma especial.
Assim, existem atos jurídicos que produzem efeitos externos, sendo que estes podem ser
atos jurídicos sujeitos a um regime de Direito privado ou sujeitos a um regime de
Direito Administrativo. Em qualquer uma destas formas, existe um ponto em comum: o
procedimento que o antecede é sempre de Direito Administrativo, mesmo que o ato
jurídico seja sujeito a um regime substantivo de Direito privado.
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Quando os atos jurídicos que produzem efeitos externos estão sujeitos a normas de Direito
Administrativo, temos atos jurídico-públicos, ou uma atividade administrativa
jurídico-pública, e dentro dela encaixamos três categorias essenciais de atuação:
i. Regulamentos
ii. Atos Administrativos
iii. Contratos Administrativos
Estas três categorias não correspondem aos únicos atos com efeitos jurídico-públicos da
Administração Pública, mas correspondem aos principais tipos de atos.
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Por exemplo, para fazer um ajuste numa estrada com vista no seu alargamento, o
município pede a um proprietário de um terreno que ceda meio metro desse
terreno, prometendo-lhe a construção de um muro em troca, num prazo de 6 meses
– esta abordagem não tem efeitos vinculativos, mas o que acontece se, depois de
decorrido o prazo dos 6 meses, ainda não tiver sido construído o muro? Neste caso
em que o município não constrói o muro e age de má fé para com o proprietário
do terreno, pode considerar-se na violação do princípio da boa fé (que corresponde
a um princípio geral de Direito Administrativo).
Regulamentos
Os regulamentos são normas gerais e abstratas, emanadas no exercício da função
administrativa por órgãos da Administração Pública, entendido em sentido orgânico
e funcional, no exercício de uma competência regulamentar.
Para que um ato jurídico da Administração Pública se configure como tal, a lei exige que
produza efeitos jurídicos externos. Por sua vez, um contrato administrativo, por
natureza, produz efeitos jurídicos externos. Contudo, nos regulamentos administrativos
podem:
• Ter efeitos internos que se esgotam no seio da pessoa coletiva à qual são
imputáveis, por exemplo, regulamentos que disciplinam organização e
funcionamento dos órgãos de determinada pessoa coletiva – também designados
como regimentos.
• Ser internos, mas ter relevância externa, como, por exemplo, circulares
interpretativas – são regulamentos internos emanados por superior hierárquico
dirigidos aos seus subalternos onde se esclarece a interpretação a dar a normas
legais.
• Serem regulamentos externos que se projetam nas relações jurídicas
administrativas.
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Assim, a produção de efeitos jurídicos externos, nos regulamentos, não é critério de
distinção. A distinção é relevante porque, nos regulamentos externos, pode existir reação
perante os Tribunais Administrativos, ao contrário do que acontece nos regulamentos
internos.
No que diz respeito às normas regulamentares com eficácia interna, a feitura destas
normas não pressupõe uma norma legal que habilite especificamente uma
determinada pessoa coletiva e os seus órgãos a elaborarem normas com eficácia
interna, que se prendam com a organização e funcionamento da pessoa coletiva, e que se
esgotam no seu seio. A competência não se presume, mas aqui entende-se que o poder
regulamentar relativamente a isto é um poder inerente, que resulta da possibilidade da sua
auto-organização.
Já no que diz respeito às normas internas, mas com eficácia externa, e às normas com
eficácia externa, o exercício da competência regulamentar pode fundar-se em normas
de:
• Normas legais
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Deste modo, no que diz respeito à relação dos regulamentos com a lei, estes devem
obedecer ao principio da legalidade, que se desdobra no:
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mais faz do que indiciar a matéria a regulamentar e quem tem competência para a
fazer – a disciplina introduzida é uma disciplina totalmente inovadora.
Quando se fala em discricionariedade, podemos considerar também a emanação
de regulamentos, sendo que os regulamentos independentes são uma manifestação
desta pela sua componente inovadora.
Quanto à eficácia dos regulamentos, a distinção é relevante pelo artigo 135º do CPA,
que não especifica o que é um regulamento, refere sim o que é um regulamento para
efeitos de aplicação do CPA – não significa que não seja aplicado de todo o CPA, mas
em que medida é feita essa aplicação.
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Aplica-se, então, as normas que disciplinam o procedimento das normas com
eficácia externa.
b) Subordinação dos regulamentos internos ao principio da legalidade e
consequências associadas a uma desconformidade – prevista nos artigos
143º e 144º do CPA, onde está concretizado o principio da legalidade. Assim
como o dever de, de acordo com o artigo 144º, nº1, declaração de ilegalidade
dos regulamentos ilegais, de modo que estes cessem a produção dos seus
efeitos.
Entende-se que estes artigos também se aplicam aos regulamentos com eficácia
interna, assim como o dever (artigo 144º, nº1), no entendimento da professora, de
declaração de ilegalidade dos regulamentos, ao contrário da interpretação meramente
literal deste artigo.
A questão neste artigo é o “pode”, que dá a ideia de que, se uma pessoa coletiva que
elaborou um certo regulamento se aperceber que ele é ilegal, pode não declarar a sua
ilegalidade e concordar com a sua manutenção na ordem jurídica, apesar de saberem que
é ilegal – esta é a interpretação que mais respeita a lei.
Isto é a relevância de distinção no que diz respeito ao CPA e, ainda em relação a este
código, é importante referir que os artigos 97º e seguintes, e 135º e seguintes aplicam-se
Só é possível reagir fora desta regra se o CPTA o permitisse, como faz com os atos
administrativos. Mas isto não foi feito para os regulamentos, pelo que não é possível
reagir contenciosamente juntos dos tribunais administrativos – os artigos 72º e seguintes
do CPTA aplicam-se a regulamentos com eficácia externa.
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Se quisermos reagir junto dos tribunais administrativos contra uma norma com
eficácia externa, o que podemos fazer?
Esta distinção é importante porque, em cada um dos casos, utilizamos diferentes tipos de
reação. Para isso, temos de atender ao disposto nos artigos 72º e seguintes do CPTA, em
especial, aos artigos 72º e 73º.
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No caso de se tratar de uma norma regulamentar com eficácia externa mediatamente
operativa, reage-se contenciosamente contra o ato administrativo de aplicação, e só
a titulo acidental. O objeto principal do processo é o ato de aplicação, e a propósito deste
vai ser apreciada a ilegalidade ou a inconstitucionalidade da norma regulamentar com
eficácia externa que o ato aplica.
Aula 23.02
Assim, estando perante uma norma regulamentar com eficácia externa, temos de perceber
se a norma é mediatamente ou imediatamente operativa.
NOTA: ver artigos 72º e 73º do CPTA, articulando o 72º, nº2 com o artigo 281º da CRP.
No que diz respeito à fiscalização sucessiva abstrata, olhamos para os artigos 281º e 282º
da CRP. O artigo 281º define que é possível pedir a fiscalização abstrata de qualquer
norma (conceito funcional de norma, que compreende todas as normas contidas em lei
em sentido formal e também em regulamentos administrativos).
Desta forma, este artigo diz que o TC tem competência para fiscalizar normas
regulamentares com eficácia externa, sejam elas mediata ou imediatamente operativas,
tendo em vista a declaração ou não, com força obrigatória geral, da ilegalidade ou
inconstitucionalidade das normas. Este artigo permite perceber como se articulam as
competências do TC com as competências dos Tribunais Administrativos.
O TC fiscaliza a legalidade das normas legais com força reforçada, ou seja, é uma
ilegalidade reforçada (artigo 112º, nº3 da CRP). Assim, neste tipo de fiscalização, o TC
fiscaliza regulamentos administrativos com normas de eficácia externa, apreciando a
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sua conformidade com a CRP e leis com valor reforçado, tendo em vista a declaração de
inconstitucionalidade ou ilegalidade com força geral. Esta consideração é fundamental
para percebermos o âmbito de controlo dos Tribunais Administrativos face ao Tribunal
Constitucional.
Este pedido está previsto no artigo 73º, nº1 do CPTA, sendo que os seus efeitos
se encontram no artigo 76º. Estes efeitos produzem-se desde o momento da
entrada em vigor da norma regulamentar, associados os efeitos
repristinatórios, sem prejuízo da salvaguarda de decisões transitadas em
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julgado, ou da possibilidade do tribunal poder limitar a produção dos efeitos à
aceitação da sentença.
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impugnação do ato administrativo ou a condenação de um ato legalmente
devido como reação. Assim, só reagimos a título incidental ou secundário.
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na sequência de uma ação em que a norma regulamentar é apreciada a título
acidental e aplicada ou desaplicada ao caso concreto, com fundamento na
ilegalidade simples, ou a título principal, com efeitos com força obrigatória geral.
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d) Resolução do Conselho de Ministros pelo qual se procede à nomeação de
vários funcionários – um dos tipos possíveis de regulamento do Governo.
Contudo, neste caso, por estar em causa a nomeação de vários funcionários, é
materialmente um ato administrativo. Assim, a forma é de regulamento, mas
materialmente não é dotado da generalidade e abstração, que materialmente o
regulamento exige, ou seja, temos um invólucro de um regulamento e,
materialmente, temos um ato administrativo plural.
Aqui, este ato administrativo tem um conjunto de destinatários determinado e, à
partida, será um ato administrativo plural que, por questão de simplicidade, foi
incluído num único ato – no fundo, teríamos um feixe de atos administrativos.
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Assim, este regulamento disciplinar é um regulamento administrativo, pelo que,
ao ser disciplinar, produz efeitos externos e as normas que preveem as infrações
disciplinares imediatamente operativas.
NOTA: a norma que define a aplicação da sanção é mediatamente operativa ≠ a que define a
sanção é imediatamente operativa.
Do que resulta do CPTA e do ETAF, as normas com eficácia interna não são passiveis de
qualquer reação junto dos tribunais administrativos e fiscais. O legislador podia ter ido
mais longe, mas não o foi, pelo que fecha a possibilidade a regulamentos com eficácia
externa. O legislador fez este exercício relativamente a atos, mas não aos regulamentos.
Contudo, alguma doutrina entende que, face à não previsão de mecanismos de reação
relativamente aos regulamentos internos, seria importante existir uma interpretação
generosa. Ana Raquel Moniz acaba por admitir que isto seria questionável, pois o artigo
135º fecha essa possibilidade.
Assim, existem dois planos – o que resulta da lei e corresponde à realidade, e o que a
doutrina entende que deveria ser.
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Atualmente, as normas com eficácia interna não têm qualquer mecanismo de reação do
artigo 184º, mas podem ser declaradas ilegais pela própria Administração Pública.
Aula 02.03
NOTA: é muito fácil manipular o procedimento, daí ser tão importante esta verdade procedimental. Por
exemplo, o artigo 26º, alínea a) do Código dos Contratos Públicos.
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Uma outra função passa pela participação dos interessados no procedimento
administrativo que lhes diz respeito. A este direito da participação ainda se junta um
direito de participação popular, quando num procedimento estejam em causa direitos
difusos (como natureza, saúde, educação, etc.), que se traduz numa Lei de ação popular
(discute-se a legitimidade, ou seja, quem é ator popular, e quem e quando pode exercer o
seu direito de participação).
O procedimento está pensado para ser célere, se toda a gente fizer cumprir a sua função
e atuar da forma prevista. Contudo, o grande problema da atuação da Administração
Pública prende-se com a formação sobre o procedimento e na convivência de velhas
práticas difíceis de alterar, mesmo quando contrárias à legislação. Deste modo, não é um
problema de legislação, é um problema de cultura e de formação, que implica uma
mudança completa das estruturas.
De acordo com o artigo 1º, nº1 do CPA, o procedimento administrativo define-se como
“a sucessão ordenada de atos e formalidades relativos à formação, manifestação e
execução da vontade dos órgãos da Administração Pública”. No nº2 do mesmo artigo,
define-se processo administrativo “o conjunto de documentos devidamente ordenados
em que se traduzem os atos e formalidades que integram o procedimento administrativo”.
No que diz respeito aos regulamentos, o procedimento regulamentar está previsto nos
artigos 97º e seguintes do CPA.
1. Fase Preparatória
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i.Fase de Iniciativa
O procedimento regulamentar tem iniciativa oficiosa, ou seja, tem iniciativa do órgão
com competência regulamentar, independentemente da existência ou não de iniciativa
dos cidadãos nesse sentido (os cidadãos podem, por exemplo, apresentar uma petição
nesse sentido), nos termos do artigo 97º do CPA.
ii.Fase de Instrução
Esta fase de instrução dirige-se:
As normas regulamentares podem ter efeitos internos ou externos, sendo que, quando têm
efeitos externos, podem depender de um ato. Estas normas não deixam de produzir efeitos
na esfera jurídica dos cidadãos, interesses esses que devem ser ponderados nesta fase de
instrução.
iii.Fase de Participação
A fase de participação do procedimento regulamentar pode ser feita a duas modalidades
distintas:
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• Consulta pública (artigo 101º CPA) – alternativa à audiência dos interessados,
quando o número de interessados tão elevado que a audiência se torne
incompatível, nos termos do artigo 100º, nº3, alínea c), ou quando a natureza da
matéria o justifique.
2. Fase Constitutiva
A fase constitutiva constitui uma fase de ponderação e aprovação. Pode caber ao mesmo
órgão que tem a competência regulamentar ou não, sendo que pode ser um órgão colegial
ou um órgão singular.
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Artigo 143º - estabelecem-se parâmetros de conformidade, ou seja, os regulamentos
devem estar em conformidade com a CRP, normas de Direito da União Europeia e Direito
Internacional, e com normas hierarquicamente superiores.
Artigo 144º - define o regime da invalidade. Nos regulamentos não falamos de nulidade,
mas sim de ilegalidade (simples ou reforçada) e de inconstitucionalidade.
A invalidade pode ser invocada a todo o tempo por qualquer interessado, mas existem
exceções: se se tratar de uma invalidade material, pode ser invocada a todo o tempo; se
for uma invalidade orgânica, pode ser, também, invocada a todo o tempo; se for uma
invalidade formal ou procedimental, temos de distinguir, de acordo com o artigo 144º:
NOTA: o artigo 74º do CPTA vai de encontro ao nº1 e ao nº2 do 144º do CPA (fazer remissão).
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este o sentido do nº1 do artigo 144º, mas não parece ser conforme àqueles que são
os desígnios da atividade administrativa e a ligação da atividade à legalidade
(apesar de ser o que se retira de uma interpretação literal da norma esse não é o
único elemento relevante em sede de interpretação) .
Mecanismos de Reação
Reclamação e recursos administrativos – artigos 184º e seguintes do CPA.
Ponto 1 do PowerPoint (slide 14) – temos aqui duas formas de reação (tribunais ou própria
Administração Pública), uma questão relevante é saber como estas formas se articulam.
Qual é a melhor alternativa? Recorrer aos tribunais nunca é a melhor alternativa, desde
logo por uma questão económica, temos necessariamente de constituir advogado (artigo
15º do CPTA) e pagar custas. Assim, a melhor coisa a fazer é apresentar reclamação e
recursos administrativos.
A primeira coisa a fazer, por questões de “bom senso”, será tentar falar diretamente com
as pessoas responsáveis, pois podemos ter a sorte de resolver a questão com um mero
telefonema ou reunião. Contudo, se esta hipótese não resultar, a melhor opção passa por
apresentar uma reclamação ou recurso administrativos, uma vez que é gratuito e faz
suspender os prazos, se existirem, de recorrer a tribunal enquanto o recurso está a ser
decidido. Este prazo está suspenso até existir uma decisão, ou terminar o prazo para
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decidir – a partir do momento em que um destes se verifica, retoma a contagem do prazo
para acesso ao tribunal.
NOTA: quando um prazo se interrompe, o prazo começa a contar do 0. Se é suspenso, retoma a contagem
de onde parou.
Uma coisa é a suspensão dos prazos de acesso aos tribunais, outra coisa é a suspensão
dos efeitos da norma, ou seja, se optar por apresentar reclamação e recurso
administrativo, a norma continua a produzir os seus efeitos. Só não é assim se pedir a
suspensão de eficácia da norma à própria Administração Pública, ou se, oficiosamente, a
entidade administrativa entender que não é vantajoso que a norma continue a produzir os
seus efeitos e decida suspendê-los. Neste último caso, é possível recorrer aos tribunais
administrativos e fiscais, tentando uma providência cautelar de suspensão de produção
dos efeitos da norma, nos termos do artigo 130º do CPTA.
Outra vantagem, prende-se com o facto de, no caso de optar pelo uso da reclamação e
recursos administrativos, como é a Administração Pública a fazer a própria fiscalização,
não está limitada pelo princípio da separação de poderes – artigo 185º, nº3 do CPA.
Até agora referimo-nos aos regulamentos, mas também pode existir uma omissão ilegal
de norma regulamentar. Existe um dever de aprovar um regulamento (não há
discricionariedade quanto à existência do regulamento, pode existir quando ao conteúdo),
seja porque existe uma lei que o menciona expressamente, seja porque é necessário
para que outro regulamento ou lei se apliquem.
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para a fase de execução de sentenças, onde existe mecanismos, como a sanção pecuniária
compulsória, em que o tribunal condena o pagamento de uma quantia(quantia essa que
não é retirada do orçamento do órgão, mas sim do ordenado dos próprios titulares do
mesmo, sendo assim em geral muito eficiente), até que o regulamento seja emitido.
Aula 09.03
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3. Regulamento municipal que define as zonas de estacionamento proibido sem
que do mesmo conste qualquer preâmbulo:
Não havendo preâmbulo, não haverá qualquer ilegalidade, mas não havendo nota
justificativa, considera-se que a consulta prévia e a consulta pública ficam prejudicadas e
são reduzidas a formalidades sem sentido. Portanto, se a falta de preâmbulo for
consequência disto, temos uma ilegalidade derivada de um vicio que ocorreu no
procedimento regulamentar que o antecede.
Os vícios que respeitam ao ato de aprovação são vícios relacionados com o procedimento
do regulamento administrativo, pelo que serão vícios derivados, sendo que temos aqui
uma invalidade orgânica. Relativamente a prazos, é possível invocar a todo o tempo,
quando está em causa uma ilegalidade orgânica, ao abrigo do artigo 144º, nº1 do CPA.
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Caso Prático nº4
1. Contrato de arrendamento social sujeito ao regime da renda apoiada,
previsto na Lei n.º 81/2014, de 19 de dezembro:
Temos aqui um contrato de arrendamento, que é um contrato (negócio jurídico entre, pelo
menos, duas partes), em que uma das partes é um contraente público, cujo objeto social é
dirigido ao arrendamento e habitação social. A outra parte será o arrendatário que,
considerando as características deste contrato, será uma pessoa singular, que se encontra
e fez prova, no âmbito de uma situação concursal, de uma situação socioeconómica, que
preenche os requisitos e lhe permite o acesso à habitação social.
O ato de atribuição de habitação social é um ato administrativo, mas neste ato é celebrado
um contrato administrativo, que é um contrato de arrendamento social. O contrato de
arrendamento social é um contrato público de Direito Administrativo, que não é regido
pelo Código dos Contratos Públicos, uma vez que não está sujeito a concorrência, mas é
este o regime indicado, que se qualifica como um regime jurídico de Direito
Administrativo.
2. Declaração que esclarece, após pedido do interessado, que “de acordo com os
registos o contribuinte não tem dívidas fiscais”:
Está aqui em causa um ato meramente declarativo, pois verifica uma determinada
situação, em que se declara e comunica ao interessado, sem que haja produção de efeitos
jurídicos externos, portanto não merece a declaração como ato administrativo, que, ao
abrigo do artigo 148º do CPA, exige a produção de efeitos jurídicos externos inovadores.
Assim, tem de existir uma extinção, modificação de uma relação jurídica ou alteração da
qualidade de uma situação ou de um bem. Neste caso, não se altera nada, não existe o
caráter regulador exigido, pelo que é um ato meramente declarativo.
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3. Nos termos do artigo 11.º do Código das Expropriações, “a entidade
interessada, antes de requerer a declaração de utilidade pública, deve
diligenciar no sentido de adquirir os bens por via de direito privado, salvo
nos casos previstos no artigo 15.º, e nas situações em que, jurídica ou
materialmente, não é possível a aquisição por essa via”:
3. Por último, há uma fase em que se tenta, de forma amigável, chegar a um montante
de indemnização a pagar, onde pode ou não existir um consenso. Não havendo
consenso, segue-se para os tribunais comuns, que vão decidir qual a indemnização
a pagar a título de expropriação – são estes tribunais a fazê-lo, uma vez que é isso
que resulta do Código de Expropriações.
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NOTA: ler o artigo 212º, nº3 CRP com o artigo 4º ETAF, que contém um elenco
exemplificativo.
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b) Atos de conteúdo positivos – independentemente do seu efeito favorável ou
desfavorável, constituem uma nova relação jurídica, modificam uma existente,
extinguem uma anterior, ou alteram uma qualidade ou estado de uma determinada
coisa ou bem (por exemplo, um auto de contraordenação, uma licença de
construção, um ato de despedimento). Isto está relacionado com o facto de se
alterar ou criar uma coisa, não está relacionado com os seus efeitos. Neste caso, o
pedido adequado é um pedido de impugnação, uma vez que o que se pretende é a
anulação desse ato – há um efeito que queremos que deixe de existir.
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dever de quem recebe um requerimento e não tem o exercício da competência, o remeter
para quem a tenha.
Assim, não é um ato administrativo, pois não produz efeitos inovadores individuais e
concretos, mas pode classificar-se como um ato de caráter material e instrumental,
praticado pelo órgão que recebeu o requerimento, ao abrigo do princípio da colaboração
e da boa fé procedimental.
Para além disso, o facto do ato não se localizar no termo do procedimento não é relevante
para os efeitos, apenas define de forma inovadora a posição subjetiva do concorrente
excluído. É bipolar, produz efeitos jurídicos desfavoráveis para o candidato excluído e
tem um conteúdo positivo.
ii. Se o interessado quiser reagir contra o ato que põe termo ao seu procedimento,
tem de reagir contra o ato de exclusão.
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Artigo 51º, nº2 do CPTA – permite a reação de atos administrativos que não ponham
termos a um procedimento administrativo, pois a definitividade horizontal não é critério
da qualificação desse ato como administrativo.
O regime geral dos pareceres vinculativos está regulado nos artigos 91º e 92 do CPA e,
regra geral, são obrigatórios e não vinculativos. Este parecer vinculativo produz efeitos
jurídicos externos e tem relevância externa, na medida em que condiciona a decisão do
órgão que tem a competência decisória.
Os pareceres, para serem vinculativos, têm de resultar de uma norma especial, a regra é
que não são vinculativos, por isso a norma especial tem de o qualificar como tal. A partir
do momento em que é vinculativo e o órgão não o respeita, esse ato será um ato inquinado
por um vício invalidante, cuja consequência seria a anulabilidade.
Para efeitos do CPA, não são atos administrativos, mas o legislador trata como se fossem
para efeitos de acesso aos TA, no artigo 51º, nº2, alínea b) do CPTA.
Todos os atos administrativos que merecem essa qualificação, para efeitos do artigo 148º
do CPA, são suscetíveis de ser alvo de reação contenciosa nos termos do CPA. Mas
acontece o contrário, quando existem atos jurídicos que não são atos para efeitos do artigo
148º, contra os quais não posso reagir contenciosamente, como se de atos administrativos
se tratassem, porque o legislador no CPTA os define como tal.
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9. Remoção de uma autocaravana estacionada num terreno do domínio público
municipal:
É uma operação material, á partida, fundada num ato administrativo, que determina a
remoção dessa autocaravana.
Portanto, a operação de remoção da caravana é uma operação material, fundada num ato
prévio que será um ato administrativo que determina essa mesma remoção.
Todos os atos administrativos devem ser notificados, ao abrigo do artigo 114º do CPA:
Artigo 112º do CPA – refere-se à forma como a notificação deve ser efetuada, sendo que
os meios mais frequentes são o meio eletrónico e a carta registada. A notificação por meio
eletrónico depende de uma manifestação prévia de vontade do interessado, que não tem
de ser expressa, mas pode ser implícita dessa vontade. As notificações por via pessoal
consistem em entrega em mão.
Artigo 113º do CPA – refere-se à perfeição das notificações, ou seja, a partir de quando
os notificados se consideram notificados. Esta questão é relevante, pois é importante
distinguir a data de expedição e a data em que ela chega à posse do interessado. A única
maneira de se resolver situações de má fé (por exemplo, eu vi que o email chegou à caixa
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de entrada, mas não o vou abrir), é através de presunções, criadas pelo legislador, isto é,
presume-se que a pessoa está notificada, de acordo com os critérios estabelecidos neste
artigo.
Quando o ato administrativo produz efeitos desfavoráveis, tem de ser sempre notificado,
e só é requisito de eficácia nestes casos – isto acontece porque também é a partir desse
momento que o lesado pode reagir contenciosamente ou administrativamente. Se o ato
produzir efeitos desfavoráveis, o interessado pode esperar pela notificação e só a partir
daí toma as diligências necessárias. Se o ato lesar de alguma forma o destinatário, ele tem
o interesse de reagir contenciosamente, cujos prazos só começam a contar a partir da
notificação.
Artigo 51º, nº4 do CPTA – diz que o pedido adequado é o de condenação à prática do
ato legalmente devido, mas se houver algum engano, não há problema. Está aqui
subjacente o princípio pro accione, que corresponde a uma ideia de favorecimento da
justiça.
Aula 16.03
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Questão 12 – Falta de decisão, no prazo previsto no n.º 1 do artigo 128.º do CPA, de
requerimento no qual se solicita a prorrogação do período de estágio:
Quando se refere a um ato administrativo, o artigo 13º do CPA é o ponto de partida, cuja
ideia é: um procedimento administrativo de iniciativa externa (responsabilidade do
interessado), inicia-se sempre com a apresentação do requerimento, que, se tiver
determinadas características, daí decorre o dever, para o responsável do procedimento e
o órgão de competência acessória, de iniciar o procedimento administrativo, de modo a
que se decida sobre esse requerimento.
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Verificados estes requisitos, o órgão com competência decisória está incumbido do dever
de decidir, num determinado prazo, definido no artigo 128º do CPA. No nº1 deste artigo,
estão definidos os prazos de procedimentos de iniciativa externa (corresponde a 60 dias
úteis, que pode ser prorrogável para 90), se não existir um prazo especial previsto.
Decorrendo este prazo de 60 dias úteis, se não houver decisão, como podemos interpretar
este silêncio administrativo?
Temos de o fazer à luz de duas considerações, presentes nos artigos 129º e 130º: há uma
norma especial que atribui ao procedimento administrativo um significado de silêncio
administrativo, ou seja, considera-se que o pedido foi deferido. Contudo, o artigo 13º
do CPA não é autossuficiente, remetendo para uma norma especial que atribui um
deferimento tácito, porém, se não existir essa norma especial, aplicamos o disposto no
artigo 129º, considerando o silêncio como uma omissão ilegal.
NOTA: remissão do artigo 67º, nº1, alínea a) do CPTA, para os artigos 13º e 128º do CPA;
remissão da alínea c) do nº1 do artigo 67º do CPTA para o artigo 61º, nº4 do CPA.
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Em qualquer uma destas situações, quando esta seja uma das atuações da Administração
Público, o pedido adequado é o de condenação à prática de um ato devido. Também
podemos reagir administrativamente, fazendo uso da reclamação e recursos
administrativos (introduzidos na revisão de 2015, artigo 184º, alínea b) do CPA).
O vínculo do trabalhador é aqui relevante, uma vez que, sendo trabalhador de uma pessoa
coletiva pública, não significa que o contrato de trabalho seja um contrato celebrado ao
abrigo da Lei Geral das Funções Públicas, sendo que só quando é celebrado ao abrigo
desta lei é que corresponde a um contrato público de Direito Administrativo. Se o
contrato entre uma pessoa coletiva pública e um trabalhador for regido pelo Código de
Trabalho, trata-se de um contrato público de Direito Privado. Assim, o contrato de
trabalho de Direito privado rege-se pelo Código de Trabalho, ao passo que os contratos
de Direito Administrativo regem-se pela Lei Geral das Funções Públicas, o que leva a
regimes substantivos distintos.
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• Todos os litígios laborais que envolvam pessoas coletivas públicas, cujos
contratos de trabalho são de Direito Administrativo, são da competência dos
Tribunais Administrativos.
• Todos os litígios que envolvam pessoas coletivas públicas, cujos contratos de
trabalho são regidos pelo Código de Trabalho, são competência dos Tribunais
Comuns.
Assim, se o vínculo for privado, são responsáveis os Tribunais Comuns, se, por outro
lado, o vínculo for público, são responsáveis os Tribunais Administrativos.
Quando temos um ato administrativo que aplica uma sanção disciplinar (é antecedido
por um procedimento administrativo especial, regido pela Lei Geral do Trabalho em
Funções Públicas), o CPA aplica-se apenas subsidiariamente nos termos do artigo 2º,
nº5.
Assim, este é um ato desfavorável, que tem duas consequências muito importantes
associadas:
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realidade) . Esta exigência de fundamentação resulta articulação dos artigos 268º,
nº3 da CRP e 152º do CPA.
Porque o seu efeito é desfavorável, para além do ato ter de ser fundamentado, deve ser
notificado para produzir os efeitos jurídicos desfavoráveis a que pretende, nos termos do
artigo 160º do CPA. A notificação só é requisito de eficácia quando os efeitos sejam
desfavoráveis (sendo está outra obrigação que decorre do ato ter conteúdo desfavorável).
ii. Bipolar ou multipolar – esta qualificação relaciona-se com a projeção dos efeitos
dos atos administrativos, uma vez que pode acontecer que o ato produza efeitos
não só na esfera jurídica do destinatário (bipolar), como também na esfera jurídica
de terceiros (multipolar).
(por exemplo, uma licença industrial concedida a uma fábrica de curtume de peles
numa zona residencial, que emite fumo, faz descargas em zona próxima, afetando
não só interesses públicos difusos, como o ambiente, mas também os residentes
da zona – é um ato que se pratica num contexto de uma relação jurídica poligonal,
porque existem outras pessoas afetadas por essa licença)
42
b. Coletivos – dirigem-se a um conjunto de pessoas devidamente unificado,
como, por exemplo, os membros de um órgão colegial.
c. Plurais – por questões económicas, são vários atos administrativos que
constam num único documento, uma vez que têm o mesmo conteúdo e têm
tantos destinatários quantos atos são, compilando, assim, num ato plural.
d. Gerais – têm os seus destinatários indeterminados no momento em que se
pratica o ato administrativo, mas sabemos quem são, porque o ato assim o
define, logo são determináveis.
(por exemplo, um ato administrativo que permite esplanadas aos
comerciantes da rua de Cedofeita – à primeira vista, não sabemos quem são,
mas conseguimos determiná-los)
Pergunta 1 (resposta):
Neste caso, temos um ato desfavorável de conteúdo positivo, pelo que o pedido adequado
é o de impugnação. É um ato impositivo porque aplica uma sanção ao trabalhador,
primário e bipolar.
Pergunta 2:
Pergunta 3:
Têm enquadramento muito particular no artigo 176º, nº2 do CPA, que nos diz que, se o
ato de cobrança não for cumprido voluntariamente, é sempre possível a execução coerciva
desta obrigação pecuniária pela Administração Pública, remetendo para o artigo 179º.
43
Segue-se um processo de execução fiscal, ou seja, reencaminha-se a questão para
Autoridade Tributária, que inicia esse processo e pode levar, em face do incumprimento,
à penhora de bens do destinatário do ato administrativo.
Estes atos têm de ser notificados (artigo 160º) e fundamentados (artigo 152º, nº1, alínea
a)).
Pergunta 4:
Para que seja possível recorrer aos tribunais, existe um conjunto de pressupostos que
têm de estar cumpridos:
44
5. Legitimidade – peço a licença, ela foi-me negada, tenho legitimidade ativa para
avançar para a ação, porque sou titular de interesse direto e pessoal na demanda
(está relacionado com o interesse processual).
Neste caso, até tenho interesse direto na demanda, pelo que tenho legitimidade, contudo,
não tenho interesse em reagir porque a licença me foi concedida.
Todavia, quem reage contra este ato administrativo é o Ministério Público, que avança
com a ação contra este ato administrativo ilegal, precisamente porque ele é ilegal,
independentemente de ter efeitos favoráveis ou desfavoráveis, uma vez que para o MP o
único interesse relevante é a legalidade.
Atos Administrativos
Esta qualificação de uma determinada como ato administrativo é relevante porque este
está sujeito a um certo regime substantivo e processual.
45
1. A possibilidade de execução prévia: prevista nos artigos 176º, nº 1 do CPA; nos
artigos 6º e 8º, nº 2 do DL 4/2015, de 7 de janeiro; e no artigo 149º do CPA de
1991.
Aula 30.03
46
desta ajuda prevista. Os pedidos de acesso ao Direito seguem um procedimento
administrativo especial previsto na Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais, ao qual se
aplica subsidiariamente o CPA, nomeadamente o artigo 2º, nº5.
Neste caso, temos uma situação de inércia por parte da Administração Pública. Ana
Leonor apresenta um requerimento, estando os requisitos do artigo 13º do CPA
preenchidos, logo existe um vinculação da Administração Pública, sendo que esta tem um
dever de atuar (artigo 102º do CPA).
Relativamente aos prazos, havendo uma norma especial, afasta-se a norma geral prevista
no CPA, sendo que, neste caso, a Administração Pública tem um prazo de 30 dias para
atuar. Este prazo não foi respeitado, pelo que estamos perante um silêncio. Deste modo,
nos termos do artigo 25º, nº2, o silêncio administrativo é interpretado como um
deferimento tácito do requerimento.
O artigo 25º da Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais deve ser lido em articulação com
o artigo 130º do CPA.
O deferimento tácito, da forma como está configurado, não tem associada a preclusão da
competência, sendo possível o exercício expresso posterior da competência por parte
do órgão, que pode praticar deferimento expresso (concordando com o deferimento
tácito formado), ou indeferimento expresso. Isto acontece porque, no deferimento tácito,
não são analisados os pressupostos da situação pela entidade competente, logo pode
tratar-se de uma situação sem qualquer cabimento, onde não se verificam os pressupostos
de facto do Direito, não se podendo, deste modo, manter aquela decisão de deferimento
tácito.
Assim, considera-se que, no pedido apresentado pela Ana Leonor, existe lugar ao
deferimento tácito. Se não existisse esta norma especial, tínhamos uma omissão ilegal e
tínhamos que tentar perceber quais os mecanismos a utilizar.
47
Procedimento Administrativo de um Ato Administrativo
Primário
Os atos primários são aqueles que incidem sobre uma ação especial e concreta, enquanto
os atos secundários são aqueles que incidem sobre um outro ato administrativo, como,
por exemplo, os presentes nos artigos 165º e seguintes do CPA.
1. Fase Preparatória
a. Fase Inicial
b. Fase Instrutória
c. Fase da Audiência dos Interessados
d. Fase da Preparação Direta da Decisão
2. Fase Constitutiva ou Decisória
3. Fase Integrativa de Eficácia ou Complementar
NOTA: esta organização pode ser apresentada de forma diferente pelos diferentes autores, mas é
uma questão irrelevante.
1. Fase Preparatória
a. Fase da Iniciativa
Quanto à iniciativa do procedimento, podemos ter uma de duas opções:
48
• Procedimento de hétero-iniciativa – quando é iniciado a pedido dos interessados
(artigo 68º, nº1 do CPA), através da apresentação de um requerimento inicial
(artigos 102º a 109º do CPA).
49
ao momento, apresentando, por fim, uma proposta de decisão. Esse relatório é enviado ao
órgão com competência decisória.
Este órgão não tem contacto direto nem com os factos nem com os interessados, sendo
que as informações que tem relativamente ao que aconteceu ao longo do procedimento
são as resultantes do relatório elaborado pelo responsável.
Deste modo, a tendência é que o órgão com competência decisória concorde com a
proposta presente no relatório. Contudo, também pode acontecer o contrário, ou seja, o
órgão com competência decisória pode perceber que não foram tomadas todas as
diligências instrutórias necessárias para com o procedimento.
O que se impõe é que este órgão olhe para o relatório de forma crítica, de modo a
controlar a legalidade de tudo aquilo que foi feito pelo responsável e pela decisão que foi
proposta. Se encontrar alguma falha, comunica-a e, se existirem diligências instrutórias
que não foram realizadas, terão de o ser, ou diligências instrutórias que não foram
realizadas corretamente e terão de ser realizadas novamente.
Artigo 55º do CPA – o que está previsto é uma delegação obrigatória e não uma
delegação típica (salvo as exceções do nº2 do artigo 55º), ou seja, o legislador fixa, por
principio, a obrigatoriedade de delegação de tarefas num outro órgão que assume as
competências do procedimento administrativo. Não é uma delegação que siga o regime
dos artigos 44º e seguintes do CPA, é uma delegação atípica e conformada pelo legislador
no artigo 55º.
50
de serviço ou outras razões ponderosas, invocadas fundamentadamente no
procedimento concreto ou em diretiva interna respeitante a certos procedimentos.
• A pessoa do delegado: a tarefa de direção do procedimento deve ser delegada
pelo órgão decisor no seu inferior hierárquico ou, no caso de órgão colegial, em
membro do órgão ou agente dele dependente.
• Os poderes a delegar: os poderes a delegar pelo órgão competente para a decisão
final são os que a lei faz corresponder à figura do responsável pelo procedimento
(artigo 55º, nº5; artigo 64º, nº3; artigo 66º, nº1; artigo 82º, nº1; artigo 92º, números
2 e 3; artigo 92º, nº6; artigo 100º, nº3; artigo 111º, nº2; artigo 117º, nº1; artigos
118º; artigos 122º a 124º; artigo 126º; artigo 128º, nº1 – CPA).
b. Fase de Instrução
i. Diligências Probatórias
Esta fase é regida pelo princípio do inquisitório, previsto no artigo 58º do CPA, ou seja,
impõe-se à Administração Pública que adote uma postura ativa. A este artigo 58º juntamos
os artigos 115º e 116º, também do CPA, que definem o dever da Administração Pública
averiguar oficiosamente todos os factos cujo conhecimento seja relevante para a justa e
célere decisão do procedimento.
51
de diligências instrutórias e para a tomada de decisão em prazo razoável (artigo 60º, nº2
do CPA).
Nesta fase, o que se pede aos interessados é que levem para o procedimento todos os
factos e documentos que considerem relevantes, produzindo prova relativamente a
esses factos (artigo 116º, nº1), de qualquer uma das formas de prova admitidas no Direito:
As diligências consultivas são a solicitação de pareceres, que vêm enunciados nos artigos
91º e 92º do CPA.
Em regra geral, os pareceres são obrigatórios e não vinculativos, a não ser que sejam
classificados como tal por uma norma especial. O CPTA prevê a possibilidade de o
parecer vinculativo ser imediatamente impugnado (artigos 51º, nº2, alínea b) do CPTA +
artigo 51º, nº3 do CPTA).
52
c. Fase da Audiência dos Interessados
Nesta fase, o responsável pelo procedimento notifica os interessados para que estes se
pronunciem sobre tudo aquilo que foi feito até ao momento. É enviada uma
notificação escrita, dirigida aos interessados, onde consta uma descrição de tudo o que foi
feito e onde é dito qual será o sentido provável da decisão. Isto é muito relevante porque
a participação dos interessados tem de ser esclarecida e livre (artigo 122º do CPA), com
indicação da data e hora da audiência prévia, que pode ser escrita ou oral.
Colocam-se algumas questões: E se tem de existir audiência prévia, mas não houve e não
foi devidamente dispensada? Ou então, e se houve lugar a dispensa de audiência prévia,
mas não pelos termos do artigo 124º? Qual é o vicio que daqui resulta?
53
O direito à audiência prévia não constitui por si só um direito fundamental (artigo 267º,
nº5), apenas pode ser considerado como tal em dois casos: no artigo 32º, nº10
(procedimentos de contraordenação) e no artigo 69º, nº3.
A estes dois casos junta-se um outro, onde o ato administrativo que vier a ser praticado
afeta direitos fundamentais, ou seja, uma posição jurídica que merece a salvaguarda de
um direito fundamental. Embora o direito de audiência prévia não constitua por si mesmo
um direito fundamental, a sua preterição configura uma posição jurídica classificada pela
CRP como direito fundamental, levando à nulidade.
Em qualquer um destes casos, cabe ao interessado fazer prova de que a audiência prévia
seria essencial, ou seja, que a decisão final do procedimento seria diferente se ela tivesse
sido cumprida.
Esta fase termina com a elaboração, pelo responsável do procedimento que termina aqui
a sua intervenção, de um relatório a enviar para o órgão com competência decisória
(artigo 126º do CPA).
54
2. Fase Constitutiva ou Decisória
Quando o órgão recebe o relatório, verifica-o e, à partida, seguirá o conteúdo e sentido
proposto pelo responsável. Contudo, se não concordar com o mesmo, pode enviar o
relatório para trás e pedir para serem repetidas algumas coisas. No caso da competência
decisória pertencer a um órgão colegial, há que atender ao disposto nos artigos 21º a 35º
do CPA.
55
vinculativo) e entende que aquela seria a sua decisão, então apenas decide assinar
e homologa a decisão, não repetindo o ato.
• Arquivamento, nos procedimentos de iniciativa oficiosa (artigo 95º do CPA) –
conclui-se que não vale a pena fazer mais nada.
A notificação é feita nos termos dos artigos 111º e 113º do CPA, atendendo aos elementos
do artigo 114º. Todos os atos têm de ser notificados e, alguns deles, para além da
notificação, exigem publicação em DRE (artigo 159º do CPA).
Regra geral, não é necessária a comunicação do ato administrativo para que este
produza os efeitos jurídicos a que tende junto dos seus destinatários. Os atos
administrativos não são, em princípio, recetícios (artigo 158º, nº1 do CPA). Contudo,
existem atos cuja notificação é requisito de eficácia, nomeadamente os atos previstos no
artigo 160º do CPA, que são atos com efeitos desfavoráveis.
Apesar de não ser necessária a comunicação dos atos administrativos para a produção dos
efeitos a que tendem, tal não impede que a mesma comunicação seja condição de
oponibilidade de efeitos desfavoráveis (artigo 188º, nº1 do CPA e artigo 59º, nº1 do
CPTA).
A eficácia pode ser deferida, ou seja, se o momento da prática é hoje, à partida, começará
a produzir os seus efeitos hoje também, ao abrigo do artigo 155º, salvo nos casos em que
a lei ou o próprio ato lhe atribuam eficácia retroativa (artigo 156º), diferida ou
condicionada.
56
• Quando for necessária a aprovação da ata (artigos 157º, alínea c) e 34º, nº6)
• Quando a lei impuser publicação obrigatória (artigo 158º)
• Quando os atos administrativos devam ser notificados aos seus destinatários nos
termos dos artigos 160º e 114º, nº1 do CPA
57
Vícios do Ato Administrativo e Respetivas Consequências
Jurídicas
58
59
60
Caso Prático nº7
1. Parecer da APA
Aqui a lei faz depender a licença de um parecer positivo. Quando o legislador diz que a
concessão de licença em determinado caso depende de parecer favorável prévio, diz-nos
que se o parecer for negativo, não há licença, se for positivo, pode ou não haver licença.
Existe aqui uma vinculatividade muito particular, ou seja, nestes casos, só têm
vinculatividade os pareceres de sentido negativo, uma vez que não se pode, de qualquer
forma, conferir a licença.
2. Licença
Ato administrativo propriamente dito, de acordo com o artigo 148º do CPA. É um ato
autorizativo, sendo que existe uma querela doutrinal entre saber se é um ato permissivo
ou constitutivo.
Neste caso, a licença foi concedida, embora o parecer tivesse sido negativo.
3. PDM
Este PDM desrespeita o sentido negativo do parecer e respeita o regulamento, que, por
sua vez, viola o CC. Deste modo, o regulamento é ilegal, nos termos dos artigos 143º e
144º do CPA, sendo que é material.
61
NOTA: assim, a qualificação está feita. De seguida, temos de tentar perceber como esta
ilegalidade se repercute na licença e quais as consequências da violação do parecer. Por fim, ver
o que o vizinho pode fazer, uma vez que é um terceiro.
Aula 13.04
Artigo 144.º CPA – Nos termos deste artigo, à ilegalidade material, formal e orgânica
estãoassociados prazos diferentes. No nosso caso, o regulamento administrativo viola
uma norma do CC, o artigo 1360.º, sendo, por isso, ilegal. Esta é uma ilegalidade
material, podendo ser invocada a todo o tempo.
62
vício formal cuja consequência jurídica seria, em princípio, a anulabilidade,
mas no caso das licenças de construção é aplicado outro regime, o RJUE, que
prevê um procedimento administra?vo especial para licenças de construção.
Assim, aconsequência poderia não ser a anulabilidade, mas sim a nulidade,
pelo facto de não ter respeitado o parecer desfavorável e ter emi?do a licença
na mesma.
Pede-se sempre a título principal a consequência mais grave (neste caso a nulidade do
atoadministrativo), mas pede-se a título subsidiário a consequência menos gravosa que
satisfaz na mesma o meu interesse, caso não se entenda pela consideração desse vício
mais grave (neste caso a anulação do ato administrativo).
64
sancionado com nulidade (ar?go 161.º/1 CPA).
65
emborasejam obrigatórios, não são vincula?vos. Se for vincula?vo e for desrespeitado,
temos umvício formal cuja consequência jurídica é anulabilidade (ar?go 163.º/1 CPA).
Se não for vincula?vo e for desrespeitado, apenas recai sobre o órgão que não o seguiu
um dever defundamentação rela?vamente a esta desconsideração pelo parecer, pois
não há obrigaçãode o parecer ser seguido pelo órgão com competência decisória. A
violação deste dever de fundamentação representa um vício formal cuja
consequência jurídica será a anulabilidade.
8. Veja-se o ar?go 150.º CPA sobre o facto de o ato administra?vo ter um texto escrito.
O ar?go 151.º CPA determina as menções obrigatórias a colocar no ato administra?vo.
A exigência de assinatura e iden?ficação do autor resulta das alíneas a) e g) do ar?go
151.º CPA. O ar?go 155.º CPA é relevante para compreender as consequências jurídicas
rela?vasà falta destas menções obrigatórias, que devem estar presentes no texto do
ato administra?vo. A indicação do autor do ato é um requisito de existência (leitura
combinada do ar?go 151.º e 155.º CPA), sendo que a falta do mesmo se traduz num
vício de invalidade que acarreta a inexistência jurídica. A indicação do sen?do, objeto
e conteúdo é um requisito de existência (leitura combinada do ar?go 151.º e 155.º
CPA), e a sua falta traduz-se num vício invalidade que acarreta a inexistência jurídica.
A falta de assinatura traduz-se num vício invalidante que acarreta a anulabilidade
(ar?go 163.º/1 CPA).
11. O nosso sistema cons?tucional admite os estados de exceção, que têm associado
umprincípio de legalidade especial, embora restri?vo. O legislador admite a prá?ca de
atos administra?vos não precedidos de procedimento administra?vo em estado de
necessidade, ou seja, estes atos serão válidos. A falta deste procedimento não resulta
66
emnenhum tipo de vício. Fora deste estado de exceção, esta prá?ca consiste num vício
formal que tem como consequência jurídica a nulidade, nos termos do ar?go
161.º/2/l) CPA.
12. A no?ficação pode ser um requisito de eficácia, nos termos do ar?go 160.º CPA.
Quandoa mesma for requerida e não for cumprida temos um vício de ineficácia que
não é um vício invalidante.
13. Temos um vício orgânico, há uma incompetência absoluta (ar?go 161.º/2/b CPA).
Estaocorre dentro da função administra?va, um órgão de uma determinada pessoa
cole?va exerce uma competência de um órgão de uma pessoa cole?va diferente,
sendo a consequência jurídica a nulidade 161º/2/b.
15. Todos são vícios materiais. No erro ou dolo sobre pressupostos de facto a
consequência jurídica é a anulabilidade (ar?go 163.º/1 CPA) e na coação (que pode ser
esicaou moral) a consequência jurídica é a nulidade (ar?go 161.º/2/f CPA).
Considerações Especiais:
Artigo 162.º/3 CPA - Os atos anuláveis produzem os efeitos jurídicos até ao momento
em que são anulados, e os nulos não. Nos atos nulos há uma destruição retroativa de
todos os efeitos. Há casos específicos em que os sujeitos beneficiam de atos nulos,
nomeadamentenas licenças de construção.
o Exemplo: Eu acatei a licença de construção que me foi concedida e comecei a
construir a casa porque na altura não se sabia que ela era nula. Mais tarde,
quandoa licença é declarada nula, aplica-se o disposto no artigo 162.º/3 CPA
(proteção do beneficiário de boa fé) a medidas de demolição das edificações
efetuadas ao abrigo desta licença de construção nula. Aqui depende se o sujeito
está de boa féou não. Se estiver de má fé, ou seja, se conhecer a nulidade do ato
e decidir acatar o ato administrativo na mesma, não merece esta proteção e
procede-se à demolição da casa, sendo que nem vai ter direito a uma
indemnização.
68
Aula 20.04
Esta lei cria problemas interpretativos relativamente ao artigo 185º, nº2 do CPA e ao artigo
3º do DL 4/2015, de 7 de janeiro, que aprova o CPA em anexo.
Nestas situações, não existe uma suspensão do prazo de acesso aos tribunais
administrativos, uma vez que o prazo ainda não está a decorrer, suspendendo-se os efeitos
do ato administrativo ou da norma, ao contrário da situação anterior.
Olhando para a segunda parte do nº4 deste artigo 225º da LGTFP e para o artigo 3º, nº3
do DL 4/2015, existe um efeito revogatório associado a essa segunda parte do artigo 225º,
nº4.
O legislar diz-nos que, quando haja uma norma especial que qualifique um determinado
tipo de recurso como necessário, os efeitos associados à sua utilização são aqueles que
69
estão previstos neste artigo 3º, que são efeitos suspensivos do ato da norma regulamentar
sobre o qual se faz uso do recurso necessário. O legislador não pode, na norma especial,
prever de outra forma, pois colocaria em causa o princípio da tutela jurisdicional efetiva.
Assim, existem sempre efeitos suspensivos, que não podem, em caso algum, ser afastados
por uma norma especial e, caso aconteça, o artigo 3º resolve.
v Artigo 190º do CPA (efeitos sobre os prazos) – não tem haver com efeitos
produzidos pelo ato ou norma regulamentar sobre o qual se apresenta a
reclamação ou recurso, mas com a suspensão de prazos. No nº1, diz-nos que se
tiver um ato administrativo ou norma que esteja sujeita a um recurso
administrativo necessário, suspende o prazo (o que é necessário é o recurso
necessário).
v Remissão do nº3 do artigo 190º para o artigo 59º, nº4 e 5 do CPA. O nº4 do artigo
190º permite a opção de fazer as duas coisas ao mesmo tempo no recurso
facultativo – o recurso direto aos tribunais, o uso dos mecanismos ou uso dos
mecanismos e o recurso aos tribunais, simultaneamente, relativamente ao mesmo
ato (existem mecanismos de articulação no CTA, mas não vamos falar sobre eles).
70
2. Recursos – para outro órgão que não o autor do ato/norma ou da omissão ilegal.
a. Hierárquico – para o mais elevado superior hierárquico do autor do ato/norma
ou da omissão ilegal (artigos 193º a 198º do CPA).
1. Regime Geral
A natureza das impugnações administrativas pode ser (artigo 185º, nº2 do CPA):
71
• Facultativa – quando a possibilidade de acesso aos meios contenciosos de
impugnação ou de condenação à prática do ato devido não dependa da sua prévia
utilização.
• Necessária – quando a possibilidade de acesso aos meios contenciosos de
impugnação ou de condenação à prática de ato devido dependa da prévia
utilização das garantias administrativas.
Artigo 3.º
Impugnações administrativas necessárias
72
Qual é o objeto dos mecanismos de reação administrativa, ou seja, quando posso utilizá-
los?
73
Efeitos sobre o Ato Jurídico Impugnado:
Os efeitos sobre o ato jurídico impugnado estão referidos no artigo 189º do CPA.
• Não têm efeito suspensivo, com exceção dos casos em que o autor do ato ou o
órgão competente para conhecer do recurso, oficiosamente ou a pedido do
interessado (neste último caso, a decisão tem de ser tomada no prazo de três dias),
considere que a sua execução imediata cause prejuízos irreparáveis ou de difícil
reparação ao destinatário, e a suspensão não cause prejuízos para o interesse
público – números 2 e 3 do artigo 189º.
• A possibilidade de ser decidida pela Administração a suspensão de eficácia do ato
não prejudica o pedido de suspensão de eficácia perante os tribunais
administrativos – artigo 189º, nº5.
Para além disto, existe uma outra possibilidade: o facto de fazer uso de uma reclamação
ou recurso facultativo não acarreta efeitos suspensivos do ato contra o qual foi feita a
impugnação e, desta forma, existe uma de duas opções: ou peço à Administração para que
esses efeitos não se produzam, ou ela, oficiosamente, entende que é esse o caminho mais
correto. Se nada disto acontecer, posso recorrer aos tribunais administrativos,
apresentando uma providência cautelar, pedindo a suspensão dos efeitos.
2. Regime Especial
74
O regime previsto no CPA para a reclamação e recursos administrativos é geral, existindo
um especial, regulado pelos artigos 267º e seguintes do Código dos Contratos Públicos.
Neste regime especial, o CPA aplica-se apenas subsidiariamente.
Artigo 267º
Direito aplicável
2 – Os prazos previstos no presente título contam-se nos termos do disposto no artigo 87º do
Código do Procedimento Administrativo e não lhes é aplicável, em caso algum, o artigo 88º do
mesmo código.
Artigo 268º
Natureza
Artigo 269º
Decisões impugnáveis
Artigo 270º
Prazo de impugnação
75
Sem prejuízo do disposto no nº3 do artigo 138º e no nº3 do artigo 177º, as impugnações
administrativas de quaisquer decisões administrativas ou de outras àquelas equiparadas relativas
à formação de um contrato público devem ser apresentadas no prazo de cinco dias a contar da
respetiva notificação.
Artigo 271º
Apresentação da impugnação
2 – O recurso administrativo das deliberações do júri deve ser interposto para o órgão
competente, por lei ou por delegação, para a decisão de contratar.
Artigo 272º
Efeitos da impugnação
2 – Enquanto as impugnações administrativas não forem decididas ou não tiver decorrido o prazo
para a respetiva decisão, não se pode proceder:
a) À decisão de qualificação;
c) À decisão de adjudicação.
Artigo 273º
Audiência dos contrainteressados
76
os candidatos ou os concorrentes para, querendo, se pronunciarem no prazo de cinco dias, sobre
o pedido e os seus fundamentos.
Artigo 274º
Decisão
1 – As impugnações administrativas são decididas no prazo de cinco dias a contar da data da sua
apresentação, equivalendo o silêncio à rejeição das mesmas.
2 – Quando haja lugar a audiência dos contrainteressados nos termos do disposto no artigo
anterior, o prazo para a decisão da impugnação administrativa conta-se do termo do prazo fixado
para aquela audiência.
• A apreciação da legalidade e do mérito (artigo 185º, nº3 do CPA e artigo 3º, nº1
do CPTA): os regimes de revogação e da anulação administrativas (artigos 165º e
seguintes do CPA).
77
Caso Prático nº11
1. Quem tem legitimidade para fazer uso da reclamação e dos recursos
administrativos?
Artigo 87º – se o prazo for de até 6 meses, contam-se os dias úteis e, se o prazo for superior
a 6 meses, contam-se os dias corridos.
4. E do recurso hierárquico?
NOTA: fazer remissão do artigo 193º, nº2, parte final do CPA para o artigo 58º do CPTA.
Sim, de acordo com o artigo 197º, nº4, se a competência não for exclusiva. No caso da
competência ser exclusiva, só pode ordenar à prática do ato ilegalmente omitido.
78
decida. No momento em que o autor do ato reconhecer que errou, a lei dá-lhe a
possibilidade de resolver o assunto, desde que o resolva em sentido favorável ao
interessado e, caso não seja, o recurso tem de seguir para o superior hierárquico.
Do recurso, ao abrigo do artigo 197º, nº1 (decisão), pode “confirmar ou anular o ato
recorrido” e também pode “revogá-lo, modificá-lo ou substituí-lo”.
Não é um ato confirmativo. Para que um ato seja confirmativo, existem alguns critérios a
seguir: é necessário que haja um claro objeto de sentido de sujeitos e de fundamentação.
Desta forma, basta que a fundamentação seja diferente para que o ato praticado não seja
confirmativo.
Para o recurso hierárquico ser necessário, é necessário uma norma especial que o
qualifique como tal (artigo 185º, nº2) e, por ser necessário, estão lhe associados os efeitos
suspensivos do artigo 189º.
79
Artigo 114º, nº2, alínea c) – deve identificar-se, na notificação, quando a reclamação ou
recurso sejam necessários. No nº4 deste artigo, dá-se a possibilidade de utilização a
posteriori, no prazo de 30 dias, do recurso ou da reclamação que é necessário e cujo lapso
não foi indicado como tal na notificação.
A ideia é não penalizar o interessado por erro da Administração Pública, admitindo que o
interessado é um homem médio, que não tem de ter conhecimento sobre estas questões.
80
Neste caso, temos uma decisão de contratar, nos termos do artigo 36º do CCP, que foi
tomada com base num quórum com base ilegível. O vício, neste caso, é orgânico, cuja
consequência jurídica é a nulidade, ao abrigo do artigo 161º, nº2, alínea h) do CPA.
Existe aqui um aspeto fundamental que se prende com o facto de que os mecanismos de
reação administrativa que se referem a atos contratuais, estão sujeitos a um regime
especial previsto nos artigos 267º e seguintes do CCP. Não existindo uma norma aqui que
nos sirva, aplicamos o CPA subsidiariamente, nomeadamente, nos artigos 147º e
seguintes.
Se temos aqui uma deliberação da Câmara Municipal, e não tendo regulação prevista no
CCP, aplica-se o CPA subsidiariamente, e temos um prazo de 5 dias uteis, sendo que a
impugnação é facultativa.
A Câmara Municipal não está integrada numa estrutura hierárquica, uma vez que
entre o presidente da Câmara Municipal, a própria Câmara Municipal e a Assembleia
Municipal não existe qualquer relação de hierarquia, nem um órgão que desse ordens,
tomasse decisões e contra o qual se pode apresentar recursos disciplinares.
Desta forma, não pode ser utilizado o recurso hierárquico, podendo ir pela via da
reclamação. Poderíamos apresentar, também, um recurso tutelar, ou seja, um recurso
apresentado ao Governo pela Assembleia Municipal, pela Câmara Municipal ou pelo
Presidente da Câmara Municipal, mas o seu fundamento só pode ser um, a ilegalidade,
ao abrigo do artigo 199º, nº3 do CPA. Neste sentido, se assim não fosse, estaríamos a
permitir, nesta sede, uma tutela quanto à oportunidade, mérito e conveniência sobre as
Autarquias Locais, que é claramente vedada pela CRP.
Deste modo, seria possível, ao abrigo do artigo 185º, nº3, o fundamento da ilegalidade e
conveniência do ato praticado para as reclamações e para os recursos, sempre que a lei
não determine o contrário. Neste caso, como estamos perante uma tutela de mera
legalidade, não se pode permitir, por via deste artigo, aquilo que a CRP não permite (tutela
de mérito da Administração Autónoma). Assim, este recurso tutelar tem como
fundamento apenas a legalidade (artigo 199º, nº3, a contrario).
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Utilizaríamos, então, a reclamação, à qual se aplicaria o disposto nos artigos 191º e 192º
do CPA, e um recurso tutelar (artigos 199º, nº1, alínea c) e 199º, nº3), com fundamento
única e exclusivamente na ilegalidade da decisão de contratar (o que se pedia para
fiscalizar era a concordância ou não da decisão de contratar com as normas e princípios
aplicáveis). Este recurso é da competência do Governo, sendo assegurada pela Inspeção
Geral das Finanças, nos termos da lei 27/96.
Temos aqui um vício material, de violação de lei em sentido estrito, com referência aos
pressupostos de Direito do ato administrativo praticado, ou seja, as normas que deviam
fundar e limitar o ato administrativo não foram respeitados pelo autor do ato (o seu
conteúdo e prescrição não foram seguidas), que é delegado no exercício dos poderes de
delegação, sendo que esta condição deve ser mencionada no ato administrativo, ao abrigo
do artigo 48º do CPA.
Assim, a falta de menção não constitui um vício invalidante, mas sim uma mera
irregularidade, sendo que o que se impõe é que os interessados não sejam prejudicados.
Não temos nenhuma informação sobre a matéria propriamente dita para percebermos os
regimes especiais aplicáveis como na alínea anterior, por isso vamos cingir-nos ao que
está no CPA.
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A delegação de poderes tem lugar entre dois órgãos, ao abrigo dos artigos 44º e seguintes
do CPA, da mesma pessoa coletiva ou pessoas coletivas diferentes. Regra geral, entre os
dois existe uma relação de hierarquia, mas esta também pode não acontecer.
A consequência jurídica aplicável é a nulidade, ao abrigo do artigo 162º, nº2, alínea d).
A configuração da audiência prévia como um direito fundamental, resulta do artigo 269º
da CRP, pelo que este ato é nulo.
Relativamente a este ato administrativo que aplica uma sanção disciplinar, temos de
perceber qual é o tipo de vinculo que resulta desta relação laboral à qual é aplicada a
sanção. As sanções disciplinares são aplicadas sempre numa relação laboral, ou seja,
numa relação jurídica de trabalho, onde, por um lado, temos o trabalhador e, no outro, a
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entidade empregadora, e é pela forma como o trabalhador exerce as suas funções que lhe
é instaurado o procedimento disciplinar.
Assim, considerando que, neste caso, temos de observar o disposto no regime especial da
Lei do Trabalho em Funções Públicas, não é possível fazer uso da reclamação, apenas é
possível apresentar recurso hierárquico ou tutelar, sendo que são necessários, nos
termos do artigo 225º, nº4 desta lei, a interpretar de acordo com o artigo 3º do DL 4/2015
que aprova CPA em anexo. O CPA aplica-se subsidiariamente, em tudo o que não esteja
previsto na LGTFP.
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O ato de adjudicação é um ato administrativo que põe termo ao procedimento pré-
contratual. Através deste ato, decide-se celebrar o contrato com a proposta graduada em
primeiro lugar.
O ato de adjudicação é praticado pela entidade adjudicante, entidade essa que se insere
numa previsão do artigo 2º do Código dos Contratos Públicos (CCP). O contrato de
empreitada é um contrato de direito público regido pelo CCP e a sua prestação está sujeita
a concorrência, logo o seu regime substantivo é o previsto no CCP.
Quem não praticou o ato e devia ter pratico era o subalterno, por isso as possibilidade são
a reclamação ou recurso hierárquico.
Fazendo-se uso do recurso hierárquico, temos limitações, nos termos do artigo 197º, nº4
do CPA, pelo que não poderia o superior hierárquico substituir-se ao órgão omisso,
poderia apenas ordenar à sua prática, tendo em conta que se trata de uma competência
exclusiva do subalterno.
No caso da reclamação esta questão não se coloca, uma vez que é dirigida ao subalterno.
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O que está aqui em causa?
O que está aqui em causa é um recurso que foi apresentado ao Tribunal Central
Administrativo do Norte, de uma decisão proferida em primeira instância pelo Tribunal
Administrativo do Porto, que considerou que não existia interesse para agir, daí a exceção
dilatória.
O município do Porto podia ter optado por fazê-lo diretamente, mas optou por criar uma
empresa municipal, sujeita a tutela de mérito e de legalidade por parte do município. Esta
empresa municipal recorreu aos Tribunais Administrativos, solicitando a resolução do
contrato de arrendamento, o despejo e a condenação a pagar a renda em dívida.
Face ao não cumprimento voluntário, esta pessoa coletiva podia fazer uso dos
mecanismos de reação coerciva?
A resposta é sim, o facto de ser uma pessoa coletiva privada não obsta, porque o que
está em causa é o exercício de poderes públicos de autoridade, pelo que se aplica o
CPA (que tem subjacente um critério orgânico e funcional). Assim, aplica-se o CPA a
todos os atos praticados que se prendam com este contrato.
O problema reside na interpretação do artigo 183º do CPA: nos termos do artigo 176º do
CPA (a interpretar de acordo com as outras normas já mencionadas), vigora entre nós o
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privilégio da execução prévia, pelo que, à partida, pode executar-se coercivamente, sem
a necessidade de recorrer previamente aos tribunais (quando é necessário, tem de existir
uma norma especial, como a do artigo 183º).
Aqui, não esteva em causa apenas o despejo, sendo que, quanto a este, não existiam
grandes dúvidas. O que podia suscitar algumas questões, era quanto à cobrança coerciva
das rendas, através de um processo tributário – teria de ser pedido à Autoridade Tributária
para o fazer.
Contudo, o que se sucede é que o artigo 179º, nº1 está inserido na parte IV do CPA e, de
acordo com o artigo 2º, nº1 deste código, esta parte aplica-se, também, à conduta de
qualquer entidade, independentemente da sua natureza, adotada no exercício de poderes
públicos ou regulada de modo específico por disposições de Direito Administrativo.
Assim, o artigo 179º, nº1 também se aplica a esta empresa municipal.
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Contudo, a empresa não concordou e apresentou recurso (o que, segundo a professora,
não faz muito sentido). O tribunal acaba por concordar com a decisão do tribunal em
primeira instância.
NOTA: este é um acórdão fundamental e devemos ter esta jurisprudência em consideração para o
estudo.
Aula 27.04
• Ato primário;
• Singular;
Neste caso prático, a notificação não menciona que o recurso era necessário, sendo que o
deveria fazer, de acordo com o artigo 114º, nº2. Assim sendo, a consequência jurídica
consta do artigo 114º, nº4, salvaguardando-se o destinatário do ato, uma vez que ele
desconhecia a necessidade, e o juiz, a partir do momento em que verifica que tal se deveu
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a um lapso, suspende o processo no prazo de 30 dias, para que o interessado faça uso dos
mecanismos de impugnação administrativa necessários. Findo o recurso a esses
mecanismos, ou o processo judicial se extingue porque se tornou inútil, ou o processo
prossegue, tendo em consideração a decisão proferida.
Temos ainda o problema da preterição da audiência prévia dos interessados, prevista nos
artigos 121º e seguintes do CPA. Desta forma, devia ter sido notificado para a exercer,
nos termos do artigo 122º, e, não tendo sido, existe um vício formal, que leva à nulidade
por se tratar de um ato contraordenacional (artigo 161º, nº2, alínea d) + artigo 32º, nº10
da CRP).
O Frederico, caso não quisesse proceder ao pagamento da coima, deveria fazer uso do
recurso administrativo necessário, que tem associado efeitos suspensivos (artigo 189º, nº1
– suspende os efeitos do ato contraordenacional). Considerando que o recurso era
necessário, o Frederico apenas poderia recorrer aos tribunais depois de decorrido o prazo
para a decisão ou depois de existir uma decisão sobre o mesmo recurso (artigo 198º,
números 3 e 4). Até lá, a possibilidade não existia, na medida em que o recurso era
necessário.
ii. Os pareceres estão regulados nos artigos 91º e 92 do CPA. Em regra, são
vinculativos e não obrigatórios. Quando um órgão com competência decisória não
segue um parecer vinculativo, deve fundamento, de acordo com o artigo 152º,
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alínea c), sendo que daqui não resulta nenhum vício invalidante, apenas o dever
de fundamentar.
Os pareceres não vinculativos não são suscetíveis de recurso direto nos tribunais
administrativos.
i. Função Administrativa
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O exercício da função administrativa é da responsabilidade do Estado, de pessoas
coletivas públicas, de pessoas coletivas privadas sujeitas a influência pública
dominante ou, ainda, de concessionários, ao abrigo do artigo 1º, nº5 da Lei 67/2007.
NOTA: a Lei 67/2007 só é aplicável quando os danos decorrem de atos, ações ou omissões que
decorram de atos regidos por normas de Direito Administrativo.
Nesta função, a responsabilidade nem sempre é por factos ilícitos. Importa distinguir
entre:
2. Responsabilidade por factos lícitos (artigo 16º) – este artigo 16º tem uma
aplicação residual, aplicando-se apenas aos casos que não estão previstos em
legislação extravagante. Trata-se de uma conduta adotada pela Administração
Pública que é conforme ao Direito, mas desta resultam danos para os cidadãos,
que suportam encargos extraordinários resultantes dessa atividade e têm, por
isso, direito a indemnização (por exemplo, 3 terrenos seguidos, em que apenas no
meu, que é o do meio, não é permitida a construção, por se tratar de património
verde – não existe qualquer conduta ilícita da Administração, mas existe um dano
significativo que precisa de ser ressarcido).
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• Negligencia leve (artigos 7º, números 1 e 2, e 10º)
• Negligencia grosseira (artigos 6º e 8º)
Os pressupostos que conhecemos do Direito Civil, mantém-se aqui: facto ilícito, culposo,
que provoque um dano, e que exista um nexo de causalidade entre o facto e o dano.
Contudo, existe uma especificidade quanto ao dano, que, para relevar, tem de ser especial
e anormal, ou seja, tem de afetar a esfera jurídica de uma pessoa concreta e
determinada, o que dificulta a verificação, na prática, desta responsabilidade.
Aula 04.05
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Caso Prático nº15
Quando existe uma relação hierarquia, ao superior hierárquico cabe dar ordens e
instruções em matéria de serviço, ao subalterno cabe cumprir essas ordens e instruções,
ou seja, no que respeita às competências previstas que cabem ao subalterno (não é pedir
para ir buscar um café ou um croissant, são competências de serviço).
Caso o ato venha a ser praticado pelo subalterno em execução de uma ordem ou instrução
ilegal, em relação ao qual exerceu o direito de respeitosa representação, e desse ato resulte
um dano, o subalterno não é responsável patrimonialmente relativamente a esse
dano, quem poderá ter será o superior hierárquico.
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O lesado intenta uma ação contra uma entidade administrativa e contra o autor do ato,
que atuou na qualidade de subalterno, a pergunta que se coloca é: o subalterno que
exerceu o direito de respeitosa representação, poderá vir, no âmbito dessa ação de
responsabilidade civil extracontratual, a invocar isso, por forma a ser considerado pelo
tribunal como parte ilegítima, porque se limitou a cumprir uma ordem ou instrução dada
pelo superior hierárquico sobre a qual exerceu o direito?
Não, porque o direito tem uma eficácia limitada em relação à relação entre superior
hierárquico e subalterno, portanto não pode o lesado que nada tem que ver com esta
relação, ficar prejudicado pelo exercício por parte do subalterno pelo seu exercício do
direito de representação.
No final, o tribunal vai apreciar tudo o que as partes levaram para a ação (todos os
ARGUMENTOS utilizados), e face ao argumento utilizado pelo subalterno de que atuou
exercendo o direto de respeitosa representação, verificando que estão verificados os
pressupostos da responsabilidade extracontratual por factos ilícitos, faz uma de duas
coisas:
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Neste caso, as entidades procedem ao pagamento da indemnização e exercem o
direito de recessão sobre o superior hierárquico – sendo a ação de
responsabilidade procedente, não será contra o subalterno que a ação de regresso
será intentada (este apenas continua no processo, sem ser chamado a responder).
No que diz respeito à competência dos tribunais administrativos, para julgar ações de
responsabilidade de entidades administrativas quando seja de aplicar a Lei 67/2007,
são sempre competentes os tribunais administrativos – artigo 4º,nº1, alíneas f), g), e h)
do ETAF.
Contudo, existe uma exceção, no que diz respeito à responsabilidade civil extracontratual
no exercício da função jurisdicional, quando se funde em erro judiciário, é competente o
tribunal da jurisdição do tribunal que cometeu o erro (por exemplo, se o erro judicial
tiver sido cometido pelo tribunal da jurisdição comum, a ação de responsabilidade deve
dar entrada nos tribunais comuns) –alínea a) do nº4, do artigo 4º do ETAF.
Se uma pessoa coletiva pública for responsável por atos praticados ao abrigo de normas
de Direito privado, não é aplicável a Lei 67/2007, é aplicável o Código Civil, mas como
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se trata de uma pessoa coletiva pública, são responsáveis os tribunais administrativos (que
vão aplicar normas de direito privado).
Qualquer tipo de tratamento ou exame de diagnóstico tem de estar descrito num relatório médico
(corresponde a um dever deontológico), sendo que este funciona como um importante elemento
de prova, tal como a prova pericial.
Quem tem de fazer prova dos pressupostos da responsabilidade é o lesado, sendo o relatório
um importante instrumento neste campo. Contudo, não existindo relatório, a jurisprudência tem
entendido que existe uma inversão do ónus da prova, isto é, é o médico que deveria ter elaborado
o relatório, e não o fez, que tem de fazer prova de que os pressupostos da responsabilidade não se
verificaram.
A criança apresentava dificuldades respiratórias e muita tosse, sendo que a médica que a observou
na primeira visita ao hospital, diagnosticou uma ligeira constipação, mandando a criança para
casa novamente. Contudo, os sintomas continuaram a piorar, e a mãe decidiu voltar ao hospital
no dia seguinte, tendo sido, novamente, mandada embora.
Aquilo que se questionava era se o AVC poderia ter sido evitado no caso de a médica que o
observou no primeiro dia ordenasse imediatamente à elaboração dos exames complementares de
diagnóstico (a questão que se coloca não é a de que a médica deveria ter adivinhado o que a
criança tinha, apenas ordenasse, com maior antecedência, a criança a fazer os exames). Foi,
portanto, considerado que sim, existindo, aqui, um erro médico, sendo que a questão prende-se
com o montante de indemnização.
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Nesta ação, a juíza achou que os danos morais seriam quantificados em 80.000€, que é a
indemnização atribuída ao dano morte, confirmada pelos tribunais superiores. Este caso foi
relevante, uma vez que impulsionou os juízes a irem mais longe neste tipo de ações, e a testarem
os padrões dos valores de indemnização geralmente atribuídos.
Duas crianças estavam a brincar perto de uma linha de comboio, tendo acabado por ir para cima
da mesma. Estando com música, não se aperceberam do comboio e, apesar da insistência do
maquinista em apitar e tentar travar, não conseguiu parar o comboio.
Neste caso, não podemos responsabilizar o maquinista ou a CP, uma vez que este fez tudo aquilo
que estava ao seu alcance. A responsabilidade cabe à REFER, que é a empresa responsável pela
vedação dos locais por onde passa a linha de comboio, de forma a impedir o acesso a esses locais.
Neste caso, a indemnização aos pais foram divididas entre a avó e a REFER.
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