Igotul004029 TM
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Introdução
No segundo capítulo, são referidos alguns aspectos ligados a esta cultura singular que
caracteriza a população cigana, com destaque para os valores e as práticas culturais mais
específicas e relevantes do grupo. Tentou-se que esta análise assumisse, tanto quanto
possível, uma perspectiva dinâmica, identificando algumas tendências recentes de
mutação que se estão a verificar nesta mesma cultura, resultantes, quer de processos
gerais de transformação sócio - cultural, quer das políticas de integração social que têm
sido implementadas, a nível nacional, e que visam promover a inclusão dos ciganos na
sociedade portuguesa.
O terceiro capítulo está mais voltado para a discussão conceptual dos dois conceitos--
chave da minha investigação. Com base em autores nacionais e estrangeiros, tento
primeiramente defini-los e posteriormente relacioná-los, com o intuito de ver até que
ponto existe de facto uma ligação entre a etnicidade cigana e a exclusão sócio - espacial.
São ainda expostas algumas políticas sociais e urbanas inclusivas, que foram e têm sido
implementadas ao longo dos tempos, e que, de um modo ou de outro, contribuem para
atenuar certas desigualdades sociais e situações de exclusão social e espacial que
afectam, em particular, a população cigana.
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Compreender quais os factores que explicam a exclusão sócio - espacial dos ciganos
de Tomar;
Caracterizar o perfil sócio - demográfico dos ciganos a nível nacional e local (cidade
de Tomar);
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Hipótese
Há mais de 40 anos, começaram a chegar a Tomar os ciganos que estão na origem dos
indivíduos pertencentes a este grupo étnico que actualmente habitam na cidade.
A minha hipótese centra-se nas diferenças sociais e culturais, entre os ciganos e os não
ciganos, que poderão de certa forma contribuir para que aqueles se tornem alvos de
rejeição e discriminação social, por parte da população dominante.
Problemática da Investigação
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
3. Questão de Partida
Será Tomar uma cidade inclusiva, que adopta ou adoptou políticas sociais e
urbanas de inclusão social?
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
A minha questão de partida inicial foi reformulada, tendo sofrido algumas alterações à
medida que ía afunilando os objectivos relativos ao meu estudo de caso.
Efectivamente, tentei especificar mais os factores que explicam essa exclusão social,
com o intuito de restringir a pesquisa e me focar naqueles que realmente estão
associados ao meu objecto de análise.
A formulação da minha questão de partida teve como base os cinco requisitos
balizadores, segundo os autores R. Quivy e L. V. Campenhoudt, que devem ser
respeitados e tidos em conta, desde que se começa a pensar numa questão de partida
inicial:
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
O primeiro requisito é preenchido, pois a minha questão remete para outras questões
que auxiliam a investigação, para além das que já citei acima, tais como:
Porque estão os ciganos à beira rio em Tomar, e não em outro espaço urbano?
Quais os critérios que definem se uma pessoa ou um grupo social estão ou não
excluídos da sociedade?
Os dois termos principais que compõem a minha questão de partida, estão claramente
evidenciados, são eles: a exclusão sócio - espacial e os ciganos de Tomar.
Quanto aos dados que necessito de recolher para responder à questão de partida, são
relativos à caracterização do agregado familiar dos ciganos que habitam na cidade
(sexo, idade, profissão, habilitações literárias, rendimentos…), à evolução histórica da
sua presença e da sua cultura e, ainda, às relações entre ciganos e não ciganos e à
percepção que os últimos têm dos primeiros.
Para os obter, consultei bibliografia e dados estatísticos provenientes de algumas
instituições que trabalham com população cigana, tendo também realizado uma recolha
directa de informação baseada em entrevistas institucionais e em inquéritos a ciganos e
não ciganos. Com todos estes elementos, consegui conduzir o plano para a minha
investigação.
Quanto à exequibilidade do trabalho, tentei que este fosse temporalmente realista, tanto
em termos do tempo necessário à aquisição dos conhecimentos fundamentais e
específicos, como do processo de recolha directa de informação.
Ao avaliar o processo, penso que os dados recolhidos foram compatíveis com o tempo
disponível, pois, apesar de alguns contratempos, consegui obter a informação necessária
e redigir o trabalho no período de cerca de um ano lectivo que estava destinado à
realização desta pesquisa.
É importante referir, por último, que a minha questão de partida está isenta de juízos de
valor, porque não julga, apenas tenta compreender os factores que melhor podem
explicitar a situação de exclusão social e espacial vivida pelos ciganos de Tomar.
9
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Através do balanço das minhas primeiras leituras, que foram feitas com base em cinco
artigos científicos seleccionados de acordo com os tópicos definidos na questão de
partida, o objectivo inicial é que se faça a comparação dos textos, e que estes cubram
diversas abordagens e perspectivas relativas ao tema que está a ser investigado.
Os artigos que li referem-se, em geral, ao conceito de exclusão social, como um
conceito amplo e um fenómeno estrutural que provoca desigualdades numa sociedade
heterogénea, que sente a exclusão: a nível económico, (situação face ao emprego,
rendimentos do agregado familiar…), a nível político, (a falta de informação em relação
à política condiciona a participação activa popular) e a nível social, (falta de alojamento,
mudanças na estrutura familiar, carência de respostas por parte do sistema de Segurança
Social às classes mais desfavorecidas…).
Para Anthony Giddens, a exclusão social significa «…uma rede social limitada, ou
fraca, levando ao isolamento e ao contacto mínimo com outros…foca a atenção num
conjunto mais amplo de factores que impedem que indivíduos ou grupos tenham
oportunidades que estão abertas à maioria da população», (2010: 325).
Este autor defende que os grupos sociais mais afectados são os jovens e, também, os
idosos, devido às alterações nos padrões de emprego que exigem, cada vez mais, jovens
com maiores habilitações e elevadas qualificações, nomeadamente ao nível dos
serviços.
Já para Maria Manuela Mendes, a exclusão social: «…gera naturalmente a auto-
exclusão política…está em estreita relação com a cidadania, ou seja, a situação de
―excluído‖ não pode ser dissociada da ausência de direitos que foram já apropriados
pela maioria das pessoas integradas na sociedade», (2005: 43), referindo que os
mecanismos que mais contribuem para as situações de exclusão da população cigana
são: os baixos níveis de escolarização «… no grupo étnico cigano, existem perfis
escolares e socioprofissionais contrastantes, acentuando-se e reproduzindo-se as
desigualdades e os factores de contraste entre os ciganos e a sociedade em geral.», e a
sua inserção na economia informal desregulamentada, «Estamos perante práticas de
sobrevivência precária, accionadas por segmentos pobres da população - a venda
ambulante,…encontram-se sujeitos a condições de forte vulnerabilidade à pobreza,
…estão efectivamente excluídos do mercado formal de trabalho, bem como do sistema
de segurança social vigente.» (Mendes, 2005: 44).
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
uma evolução que não está isenta de tensões, como, de resto, se constata em diversos
textos.
Já Eduardo Costa (2001) admite a existência de uma certa fragilidade em termos de
coesão comunitária e a necessidade de implementação de medidas que respeitem mais a
diversidade cultural, a diferença e o pluralismo, dignos de um Estado de direito
democrático como é o caso do nosso país.
Para além dos conceitos já mencionados, deve ainda referir-se um subconceito debatido
por Zanfrini, que é o preconceito étnico. Este consiste na percepção da diferença
sociocultural, e tem como base um sentimento discriminatório normalmente de carácter
negativo, baseado em estereótipos sociais idealizados por nós e aplicados a grupos
culturalmente distintos.
Isto aplica-se aos ciganos, referindo Zanfrini que «…la distancia social, se produce en el
caso de gitanos…» (2004: 71), existindo uma forte noção de diferença cultural face a
este grupo étnico na Europa.
Diferença Cultural:
(Família)
Acesso a transportes
Acesso a serviços,
Instituições públicas e privadas
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Trata-se da primeira associação cigana a ser criada na sub-região do Médio Tejo.
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Capítulo I
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No Século XV, começa a História documentada dos ciganos. Segundo Olímpio Nunes2,
(citado por Mendes, 2005: 49), apesar da data de entrada no continente europeu não ter
ocorrido antes do séc. XII, os ciganos conseguiram dispersar-se pela Europa em menos
de 100 anos, existindo, ainda assim, algumas datas e locais ―oficiais‖ da sua fixação em
determinados pontos do continente, «À Grécia…chegaram no último quartel do século
XIII, bem como a Bizâncio, e a vários pontos da península balcânica…século XIV,
existem alguns indícios da presença de ciganos na Alemanha, Países Baixos,
Dinamarca, Itália… À Rússia e países nórdicos, bem como à Escócia, chegam nos
primeiros anos do século XVI» (Mendes, 2005: 49).
2
Ver figura 1
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Desde cedo, parecem ter emergido elementos de diferença e tensão entre ciganos
e não ciganos, de que são exemplo as lógicas de mobilidade (sedentarização
versus nomadismo) e a questão da propriedade da terra.
Se entre os não ciganos, a sedentarização parece ser a norma, «… já adequou o
meio ambiente que o cerca às suas próprias necessidades e controla a seu favor o
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
local onde vive» (Mendes, 2005: 50), predominando a propriedade privada, esta
realidade contrasta com a dos ciganos, um grupo ―viajante‖, que assumiu um
comportamento marcado pelo nomadismo, menos compatível com a
incorporação do princípio da propriedade privada de bens imóveis «O valor da
propriedade privada confronta-se com a liberdade de movimentos -
itinerância…» (Mendes, 2005: 50).
Na verdade, trata-se de «…duas lógicas, duas culturas e dois tipos de economia
―destinados ao confronto‖ (Ortega, 1994: 16, in Mendes, 2005: 50).
É com base nestas causas que os ciganos, a partir do século XV, enfrentam
determinados estereótipos, sendo perseguidos e excluídos pelos governantes de
alguns países europeus, através de leis3 que forçam a sua expulsão desses
territórios - «…os ciganos passaram a fazer parte das ―classes perigosas‖,
conotados como ―ociosos‖, indesejáveis, e ―temidos‖ pelas populações em
geral», (Mendes, 2005: 50).
Mas nem sempre os ciganos foram sujeitos a estes estereótipos; inicialmente até
foram bem acolhidos, pois eram vistos como peregrinos, o que lhes concedia um
certo carácter religioso. Mas a partir do século XV e até à II Guerra Mundial, o
estatuto favorável de que beneficiavam desvaneceu-se completamente, tendo-se
multiplicado as leis na Europa, cujos objectivos eram «Expulsar e vigiar os
nómadas…», «Assemelhando-se a um vagabundo que vive da caridade,
progressivamente o cigano passa a ser socialmente representado como um
criminoso em potencial, um estrangeiro ou até como um espião» (Mendes, 2005:
50-51).
Durante o Nazismo, os Estados Germânicos implementaram várias formas de
represálias contra ciganos, nómadas ―não ciganos‖, tsiganas e zigeuner, tendo
exterminado entre 220 e 230 mil vítimas, pois eram consideradas raças
inferiores, «…devido às suas características antropológicas ou pelo seu modo de
vida» (Mendes, 2005: 51).
As perseguições e a exclusão ―formal‖ verificadas desde o século XV foram
determinantes para que os ciganos migrassem para outros países europeus, nos
séculos XIX e XX. «As mudanças de fronteiras - por exemplo, no fim da
3
Ver tabela 1, em anexo
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Teófilo Braga defende que a origem dos ciganos provém de uma tribo de
pastores que invadiram e reinaram no Egipto mas para Coelho essa ideia é «uma
invenção absurda» (Lopes, 2008: 23).
Já Olímpio Nunes também tem relevo neste tema com a sua obra «O Povo
Cigano» (1981), em que refere alguns ciganos que residem em bairros de lata,
nos arredores de Lisboa, bem como no resto do território nacional, relatando
também os fluxos migratórios dos ciganos a nível internacional: «Até à década
de 90, podemos afirmar que o saber etnográfico sobre os ciganos, em Portugal,
se reduzia, praticamente, à etnografia de Olímpio Nunes (1996)» (Bastos, J.,
2007).
José Pereira Bastos afirma que, até à década de 90, eram escassos os estudos
sociográficos e etnográficos sobre os ciganos. Contudo, a partir de 1995,
começam a aparecer inúmeras investigações e relatórios coordenados por
investigadores universitários, com «formações e interesses muito diversos»
(Bastos, J., 2007:25).
Os estudos e publicações mais recentes sobre os ciganos surgem de organizações
como a ONPC (Obra Nacional Pastoral dos Ciganos), o CIDAC (Centro de
Informação e Documentação Amílcar Cabral), o SOS Racismo e o Secretariado
Entreculturas.
A nível académico destacam-se os trabalhos de investigação de José Gabriel
Pereira Bastos e Susana Pereira Bastos, do CEMME, (Centro de Estudos e
Minorias Étnicas da Universidade Nova de Lisboa), assim como os estudos de
Maria Manuela Mendes (2005) sobre os ciganos do Porto e de Espinho, Eduardo
Costa Dias, a Luísa Cortezâo, o Carlos Jorge Santos Sousa, entre outros que merecem
igualmente destaque.
Por último, é de destacar ainda o trabalho levado a cabo pela investigadora
Alexandra Castro, que explora, no âmbito de um projecto do Centro de Estudos
Territoriais do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, os
aspectos mais relacionados com a mobilidade e com o território em que circulam
e se instalam as populações ciganas.
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Este estudo que está representado através do gráfico 1, contou em concreto com a
existência em cerca de 20 000 ciganos existentes em Portugal Continental, embora se
reconheça como foi dito anteriormente a maioria dos estudos apontam para os 50 000
ciganos em Portugal, ainda assim e continuando a análise deste estudo, em termos de
distribuição sócio - espacial relativamente ao número de ciganos por distrito, não
esquecendo que é um estudo de 2005, o Porto, é o distrito que apresenta um maior
número absoluto de ciganos, com 2.268, em seguida apresenta-se o distrito de Lisboa
com 1882, em terceiro lugar Faro com 1688, o distrito de Braga com 1566, e o distrito
de Aveiro com 1536, sendo estes os cinco distritos onde a população cigana neste
mesmo ano (2005), se faz sentir mais, em termos quantitativos.
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2000
1500
1000
500
Fonte: Questionário Ciganos, Territórios e Itinerância, CET, 2005 e SOS Racismo, 2007
Através deste estudo podemos constatar que alguns concelhos do interior não registam a
presença dos ciganos nessas áreas, contudo conclui-se também que a se verifica uma
maior concentração dos ciganos ao longo do litoral, embora hajam ciganos em
concelhos que fazem fronteira com a Espanha.
Quanto à distribuição dos ciganos face à população não cigana, regista-se que em alguns
distritos como Portalegre, Beja, Bragança, Faro e Évora, os distritos onde o peso dos
ciganos é maior face à população não cigana, contando em termos percentuais com 1%,
0.9%, 0.8%, 0.4% e 0.4%, respectivamente, sendo as regiões do Alentejo e do Algarve
onde mais peso tem este grupo étnico, relativamente à população não cigana.
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A nível dos concelhos, existe uma maior dispersão dos ciganos, ao nível do território
nacional, sendo mais os do interior, onde se evidencia mais esse peso da presença dos
ciganos face à população residente.
Gráfico 2- Distribuição do peso dos ciganos face à população residente por distrito
(%)
1,2
0,8
0,6
0,4
0,2
Fonte: Questionário Ciganos, Territórios e Itinerância, CET, 2005 e SOS Racismo, 2001
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Gilroy, citado por Judith Okely, afirma que os ciganos querem mesmo a sua própria
unidade nacional, mas querem-no para poderem ser puros e culturalmente homogéneos
(1993: 49).
Quanto à organização social, os ciganos vivem como um clã, ―É um modo de vida em
que nitidamente se observa o primado do colectivo sobre o individual. A centralidade
das vivências colectivas é algo de estruturador nas interacções da vida do dia-a-dia dos
indivíduos‖ (Mendes, 2012:150).
Em ocasiões especiais como festas ou cerimónias, reúnem-se todos para em grupo
poderem praticar os costumes dos seus antepassados.
Trata-se de um grupo social muito fiel à sua cultura, obedecendo às suas regras internas,
tornando-se mais difícil, neste caso, obedecerem e respeitarem as regras ditadas pela
sociedade maioritária em geral.
Existem diferentes subgrupos que se enquadram dentro do grupo étnico cigano, como é
referido por Angus Fraser (1998), Olímpio Nunes, (1996) e Adolfo Coelho (1995) entre
outros autores, que demonstram a diversidade dos elementos na cultura cigana.
Pode mesmo afirmar-se que existem subculturas dentro da cultura cigana, devido ao
facto dos subgrupos que se foram formando nos países europeus terem especificidades
que dependem de características únicas quanto às suas origens históricas, à sua
ocupação profissional e aos elementos que adoptaram da sociedade de destino, e que os
fazem ser diferentes entre si.
É preciso referir que há uma heterogeneidade sócio - cultural, sendo possível identificar
características diferentes de grupo para grupo, mesmo dentro de um mesmo território
nacional, como é afirmado em estudos recentes, de que é exemplo o trabalho realizado
por Olga Magano (2012), em que a autora retrata a integração dos ciganos portugueses.
Para além de se registar uma a dificuldade de integração social na sociedade dominante,
devido aos particularismos sócio - culturais, ―Os resultados deste estudo revelam a
diversidade dessas trajectórias e percursos de vida, a heterogeneidade de origem e de
traços culturais e identitários que, aparentemente, não coloca em causa o sentimento de
pertença e de ancoragem à identidade cigana.‖, (Magano, O., 2012: 3).
O mesmo evidencia Lurdes Nicolau (2012), no seu estudo relativo aos ciganos
transmontanos - embora estes se auto-intitulem como ciganos, existem dois grupos
distintos, como é afirmado pela autora, os gitanos ou quitanos e os ―chabotos‖ou
―recos‖, cujas ―…as diferenciações entre si são evidentes, em vários aspectos, como o
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que incluem acessórios de metal e correntes de ouro, bem como jóias e anéis que
simbolizam o estatuto económico familiar. Contudo, para o dia-a-dia, os ciganos
utilizam apenas um traje que vestem sempre, deixando de o utilizar quando encontram
um melhor. As mulheres ciganas da Península Ibérica vestem saias compridas, uma
opção distinta da observada noutros grupos, como por exemplo as Manouches, ou até
mesmo as Gitanas, que usam a saia mais curta.
Contudo, as mulheres ciganas podem usar decotes e mostrar os seus seios, enquanto
amamentam as crianças, pois só é considerado tabu, a parte do corpo que vai da cintura
até aos pés.
Quanto ao cabelo, este normalmente encontra-se apanhado atrás, sendo o uso de tranças
frequente: ―Em Portugal e Espanha muitas ciganas casadas andam em cabelo‖ (Nunes,
Olímpio, 1996: 150).
Contudo, dependendo de país para país, e consoante os grupos de ciganos existentes na
Europa, algumas mulheres casadas usam um lenço de seda na cabeça (dikló), como
acontece com as mulheres Rom.
Como foi referido anteriormente, a maioria dos ciganos integram na sua cultura
aspectos da cultura não - cigana, e as mulheres têm um fascínio pelo vestuário moderno,
nutrindo um gosto pelos saltos altos. Costumam também usar amuletos ao pescoço,
como forma de se protegerem do mau-olhado.
Como já foi referido neste trabalho, os ciganos de alguns países europeus foram
impedidos de se vestirem com os seus trajes, como aconteceu em Portugal, em 1579,
ano em que se exigiu aos ciganos que se vestissem como a maioria da população lusa.
O mesmo se verificou em Espanha, em 1539 e 1560 na cidade de Toledo, especialmente
em relação às mulheres: ―Essas proibições vão ao extremo de impedir o traje até nas
manifestações folclóricas, indo as penalidades até ao castigo do chicote, à pena das
galés e ao exílio‖ (Nunes, 1996: 151).
No entanto, com a evolução dos tempos, muitas ciganas foram adaptando os seus trajes
mais tradicionais, e renderam-se à cultura dominante. Algumas já usam calças ou saias
mais curtas, como se verifica nalgumas festas, em que as ciganas que bailam danças
típicas ou o flamenco, já mostram mais as pernas.
No que respeita aos homens, não se nota grande diferença em relação ao modo de vestir
dos Gadjé, ―O cigano com razoável nível económico, sedentário, traja como qualquer
gadjó. Os pobres vestem as roupas que apanham, sem preocupação da medida que se
lhes ajuste‖ (Nunes, 1996: 151).
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Alguns desses traços comuns à maioria dos ciganos portugueses são, por exemplo, em
termos religiosos, acreditar na vida para além da morte, ter fé em Deus e na Virgem
Maria, ainda que o culto predominante na actualidade seja o da Igreja Evangélica
Filadélfia - há uma subdivisão entre católicos e evangélicos na população cigana. Em
termos de sedentarização, a quase totalidade dos ciganos portugueses adoptou este
modo de vida, ainda que alguns experimentem condições habitacionais muito precárias
e degradantes, residindo em barracas ou em tendas, sem as mínimas condições de
higiene.
Relativamente às habilitações literárias, ainda persiste muito analfabetismo, tendo a
maioria dos ciganos portugueses níveis de instrução que não ultrapassam o básico,
sendo muito raros os casos de frequência de cursos superiores.
Em termos profissionais, uma grande parte dos ciganos portugueses vive da venda
ambulante, sendo esta a profissão predominante entre eles. Presentes desde há décadas
em muitas feiras, desenvolveram uma forte aptidão para o marketing e a venda,
trabalhando essencialmente por conta própria.
Quanto aos principais traços, ou características culturais comuns aos ciganos
portugueses, podemos destacar o papel preponderante que a família assume, pois existe
uma forte coesão familiar e um forte desejo e sentido de responsabilidade em preservar
o grupo. Nutrem um enorme respeito e carinho pelos mais idosos e pelas crianças e têm
uma especial admiração e afeição pela Natureza e pela liberdade, que muito os
caracteriza enquanto grupo étnico, e que os distingue da população maioritária.
Em termos artísticos, têm muito enraizada na sua cultura uma forte apetência para a
dança e para a música, como se poderá verificar no segundo ponto 2.2.2, revelando-se
verdadeiros bailarinos e músicos.
Cabe agora fazer uma breve análise sobre os aspectos etnográficos e antropológicos dos
ciganos portugueses. Para tal, baseei-me, essencialmente, na obra de Adolfo Coelho
(1995) intitulada ―Os Ciganos de Portugal‖, em que o autor especifica algumas
características dos ciganos em Portugal. Este trabalho está dividido em três partes,
40
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
sendo as duas primeiras dedicadas à língua dos ciganos em Portugal, recorrendo o autor
à gramática e esboçando um glossário das palavras segundo o dialecto cigano, com
tradução para português.
A terceira parte retrata a História e faz o esboço etnográfico dos ciganos de Portugal,
sendo traçado um perfil antropológico e etnográfico dos ciganos portugueses, a partir
das observações e experiências pessoais de Adolfo Coelho. Para complementar diversos
aspectos deste trabalho, recorri a outras obras, a que farei referência ao longo do texto,
nomeadamente para desenvolver mais especificamente os seis pontos acerca dos
costumes e tradições da cultura cigana em Portugal, comparando-a com a situação
observada noutros países europeus.
De acordo com Adolfo Coelho, subsiste alguma dificuldade em delinear e estudar o
perfil antropológico e etnográfico dos ciganos, pela simples razão destes manifestarem
alguma desconfiança e serem supersticiosos, o que contribui para que, nem sempre seja
possível traçar com total veracidade algumas das suas características.
Como refere Maria Manuela Mendes, ―O secretismo que envolve algumas das suas
práticas culturais ancestrais é algo que convém reafirmar quotidianamente perante o não
cigano‖ (2012: 155).
Perante todo este secretismo, permanece a dúvida relativamente ao que poderá
corresponder à realidade e ao que poderá apenas ser um mito na cultura cigana, pois os
ciganos procuram assumir, de um forma algo exclusiva e mesmo fechada, o controlo
social sobre aquilo que é de facto a sua cultura, entendendo que apenas a eles compete
ter mesmos conhecimentos intrínsecos ao grupo.
Isto significa que os que são considerados estranhos à cultura cigana fiquem de fora,
sendo excluídos delas, havendo, neste caso, um reforço do fechamento dos ciganos face
aos não ciganos.
À semelhança de Olímpio Nunes (1996), para Coelho (1995) os ciganos são
identificados como um grupo forte e resistente em termos físicos, que se adapta às
condições ambientais mais adversas que possam surgir e que tem uma forte conexão à
Natureza, ―Ciganos e ciganas, de aparência juvenil ou decrépita, resistem a grandes
marchas, deitam-se e dormem na terra muitas vezes húmida, lamacenta, sem teto‖
(Coelho, 1995: 165).
O reforço da instrução formal pode ser um aspecto a melhorar se for bem trabalhado e
incutido desde cedo aos ciganos nacionais, uma vez que estes são maioritariamente
analfabetos abandonando desde muito cedo o sistema de ensino para poderem constituir
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
família, com destaque para as raparigas. Embora se trate apenas de um apontamento que
tem como base uma reflexão pessoal, não queria deixar passar esta questão em branco,
pois embora os estudos de carácter etnográfico não sejam muito actuais, reflectem,
ainda assim, os tempos actuais, embora se verifique um ligeiro avanço na educação e
numa maior permanência dos jovens ciganos portugueses (rapazes e raparigas) no
sistema escolar.
Segundo Coelho, ―O cigano tem a paixão do seu modo de vida…‖ (1995: 167), este
modo de vida que se liga muito à vida familiar, que é o pilar fundamental em termos de
organização social, pelo qual se regem os ciganos.
Embora, na generalidade dos casos, as pessoas não ciganas desconheçam a história da
população cigana, existem algumas particularidades desta cultura que, pela força das
circunstâncias, acabam por se difundir. Isto decorre de vivermos numa sociedade cada
vez mais diversificada culturalmente e em que há um maior contacto entre culturas
diferentes, ainda que estejamos a falar de pessoas com a mesma nacionalidade, como
acontece com os ciganos portugueses.
É que, relembramos, apesar destes serem detentores de uma cultura que lhes é muito
própria, são acima de tudo cidadãos portugueses, desde a Constituição Portuguesa de
1822.
De qualquer forma, o facto de a maioria dos portugueses desconhecer a história da
cultura deste grupo étnico, faz com que não consigam compreender algumas atitudes ou
normas que norteiam a conduta das pessoas ciganas, o que favorece o aumento do
estigma social e do estereótipo, ligado ao preconceito e racismo.
Todos estes elementos juntos funcionam como uma ―bola de neve‖ que vai crescendo,
até que um dia acaba por espoletar em conflitos entre ciganos e não ciganos.
Desta forma está patente a ideia de que a cultura dominante se sobrepõe à minoritária,
tal como refere Vala (1999:151), baseando-se na tese de Pedersone e Bierbrauer,
―Quando diferentes culturas entram em contacto (…) existe então uma tendência
generalizada para reagir a estas diferenças de uma forma discriminatória, ou seja, os
membros do grupo de estatuto mais elevado usam os valores e padrões culturais que os
caracterizam para julgar desfavoravelmente os grupos de menor estatuto‖, (2008: 20).
Mas deixemos esta questão ligada à discriminação e à exclusão para o capítulo seguinte,
onde se irá dar maior ênfase a este tema.
A principal razão que muitas vezes é apresentada para esta dificuldade em se conseguir
conhecer com alguma profundidade a cultura cigana e os seus elementos mais
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fixaram: ―No decurso da longa coexistência da língua cigana com outras, as influências
foram recíprocas, e talvez não haja uma língua europeia que não tenha emprestado
algumas palavras à cigana…‖ (Liégeois, 1989: 38).
Na Península Ibérica, temos o grupo dialetal ―caló‖ ou ―cali‖. Adolfo Coelho (1995)
refere-se à língua cigana como «geringonça», assim como em algumas leis portuguesas
e espanholas, o termo «geringonça» significa língua artificial, ou seja, a maioria dos
autores defende que os ciganos falavam uma língua misteriosa, vista com algum
secretismo, inventada pelos próprios ciganos, e que só mesmo eles entendiam.
Falavam então em português, ou em espanhol, apenas assuntos ou temáticas que lhes
convinham, porque os assuntos mais pessoais ou aqueles que faziam questão que
passassem despercebidos aos não ciganos eram muito bem ocultados, através da sua
própria língua, o caló, ―…todos fizeram, o juramento de o não ensinarem a ninguém
estranho à raça, e que é mais fácil um cigano deixar-se matar que descobrir o segredo da
sua língua‖ (Coelho, 1995: 174).
Para Adolfo Coelho, existe uma relação entre o calão e a língua que é falada pelos
ciganos, pois, segundo este autor o calão ―propriamente, quer dizer, língua de cigano; é
um termo com que os ciganos do nosso país ainda hoje se designam‖ (Coelho, 1995:
74).
Deste modo, uma das principais diferenças entre o calão e a língua dos ciganos é que
este não se apresenta como um dialecto, apresentando ―termos com que em português se
designa o vocabulário especial de criminosos de profissão, fadistas, contrabandistas,
garotos e outra gente de hábitos duvidosos, que por aquele meio buscam não ser
entendidos da sociedade geral‖ (Coelho, 1995: 73).
O Caló está cada vez mais em desuso e foi-se perdendo muito da sua essência
linguística; contudo, o pouco que resta desta língua, falada quer pelos ciganos
portugueses quer pelos ciganos espanhóis, parece sobreviver residualmente em algumas
cidades espanholas muito frequentadas por ciganos, nomeadamente da região de
Andaluzia, que adoptaram alguns dos seus vocábulos.
A língua foi-se deteriorando linguisticamente, embora os ciganos com mais idade ainda
tentem falar e dialogar entre si, de uma forma muito alterada, devido às influências que
sofreu das línguas dominantes.
Por isso, hoje em dia, a maioria dos ciganos, tanto em Espanha, como em Portugal
falam o espanhol, ou o português, respectivamente.
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Como é referido por Olímpio Nunes (1989), na sua obra intitulada ―O povo cigano‖, ―O
caló seguiu a evolução normal duma língua mais fraca em contacto com outra mais
fortemente estruturada, e foi sendo modelada pelo castelhano e português, cedendo e
importando o vocabulário e a gramática‖ (1989: 255).
Embora tenham existido leis nos dois países ibéricos que proibiam a utilização da língua
cigana, o que de certo modo também facilitou a sua perda de relevância, acabou por
reforçar a necessidade de a preservar, contribuindo para que a língua cigana fosse
encarada e curiosamente estudada por muitos investigadores com especial interesse e
profundidade.
O Caló, à semelhança do que acontece com outros dialectos falados pelos ciganos de
vários países europeus, é um dialecto do romani, que é basicamente o mesmo para todos
os ciganos a nível mundial. Como analisa pormenorizadamente Angus Fraser (1998), os
dialectos derivados do Romani são diferentes entre si e mesmo muito particulares, tendo
características muito próprias, com ramificações dialectais, faladas por grupos que há
muito se fixaram em regiões diferentes.
Pode-se assim dizer que o romani é uma língua dinâmica, que está em constante
mutação, ―… em todos os pontos da Europa são constantes as importações de elementos
de elementos das culturas anfitriãs‖ (Fraser, 1998: 288).
Até mesmo as canções e as lendas, que passam de geração em geração, estão
permanentemente a ser alteradas de uma forma criativa. O mesmo sucede aos dialectos;
por exemplo, o dialecto romani galês incorpora vocábulos com origens diversas, com
destaque para o inglês, o grego, as línguas eslavas e o próprio galês, detectando-se ainda
algumas influências de Romeno, Alemão e Francês.
Fraser admite que existam mais de 60 dialectos do romani, que estão agrupados pelos
diferentes grupos de ciganos europeus, sendo classificados de várias formas.
Efectivamente, basta uma pequena alteração, ou transformação dialéctica, para se
conseguir distinguir um grupo étnico do outro, o que provoca o aparecimento de novas
subdivisões. Existem os Kaale da Finlândia, os Cárpatos do leste da Hungria, Galícia
Polaca e Transilvânia; os Sinti Piemontesi e os Sintilombardi, que são dialectos que
pertencem aos grupos do norte da Itália e que acabaram por se separar, ao nível fonético
e em termos do vocabulário. Fraser categoriza-os em dois tipos, os falados na
Alemanha, na Flandres e na Alsácia, os falados em Veneza, na Itália, na Estíria, na
Áustria e na Hungria, (Fraser, 1998: 289). As subdivisões que referi anteriormente
pertencem ao dialecto sinto e apresentam-se de uma forma muito homogénea, pois
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
embora possuam algumas diferenças no campo lexical, são perceptíveis entre si e não
apresentam uma grande dificuldade de comunicação dentro do mesmo grupo.
Faz-se também uma forte distinção entre os dialectos valaco e os não valaco.
O Romeno assume uma forte influência linguística no romani, o que explica o seu
próprio nome. Efectivamente, muitas dessas influências foram capturadas pelos Rom,
que se destacam pelos seguintes dialectos principais: Kalderash «romeno», Kalderash
«sérvio», Kalderash «russo», Lovari, Tchurari e Matchvano, nos E.U.A.
Quanto aos dialectos não valacos, estes abrangem toda a Europa, desde a Rússia,
Báltico e Ucrânia, até à Grã-Bretanha e Península Ibérica, tendo mesmo chegado a
difundir-se pelos Balcãs.
Os dialetos não valacos, por abrangerem em termos geográficos uma grande área, vão
adquirir uma enorme diversidade e importar novas formas de falar e de construir frases,
o que traduz um processo de inovação linguística.
Fraser questiona se de facto o Romani não deveria ser considerado como uma língua
constituída por um grupo de línguas, em vez de ser encarada como uma única língua,
uma vez que existem dialectos diversificados (Fraser, 1998: 290).
Ainda assim, o romani terá sempre a sua base inicial no antigo sânscrito, tendo origem
indiana, persa, arménia, eslava e grega, e um notável contributo por parte das línguas
europeias. Além de ser uma língua instável, trata-se de uma língua unicamente oral,
constituindo-se como um elemento importante de identidade cultural para os ciganos,
que os distingue dos não ciganos. Na verdade, é um orgulho para os ciganos serem
detentores de uma língua própria, que os protege socialmente dos restantes.
A sedentarização da maioria dos ciganos, ou seja, a sua fixação em determinadas
regiões e países, foi um factor também determinante para o avanço do processo de
assimilação em termos da língua falada pelos ciganos, e dos tais dialectos que se foram
afastando, progressivamente, da língua original, acabando por adoptar particularismos
dos países em que se fixaram.
Fraser considera que a vontade, ou a preferência em se conseguir uma língua unificada,
comum à maioria dos ciganos, criando um Romani estandardizado, que foi uma das
medidas propostas no quarto Congresso Mundial Roman, ―… é apenas um aspecto de
um novo desejo sentido por alguns ciganos…de encontrar maneira de rodear a
diversificação nas suas próprias fileiras, produto do prolongado contacto com uma vasta
sociedade europeia‖ (Fraser, 1998: 304).
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tocado pelos ciganos Os temas da música cigana obtiveram uma forte influência sobre
outros músicos e compositores alemães e austríacos conceituados, como Schubert,
Beethoven ou Haydn, entre outros.
A música espanhola de raiz cigana é mundialmente conhecida, surgindo no ano de
1860, em Sevilha, o primeiro «café cantante», onde todos os músicos eram de etnia
cigana.
É precisamente no século XIX que se começa a impor a chamada «arte flamenca», arte
andaluza, que tem como base o «canto hondo». De facto, a música flamenca tem
origens orientais, com influência andaluza, ―…com mescla de mourisco e hebraico, que
os próprios ciganos absorveram‖ (Nunes, 1996: 323).
Como vimos anteriormente, a música cigana foi sobretudo uma música instrumental na
Hungria, uma música mais vocal na Rússia, enquanto na Espanha está muito mais
presente na dança.
O flamenco simboliza a ―imagem de marca‖ dos ciganos espanhóis, pois é a partir dele
que são reconhecidos mundialmente intérpretes como Ramon Montoya, Paco Aguillera,
Carmen Amaya, Lola Flores e Paco de Lúcia, entre outros.
Os temas das músicas são variados, segundo Stewart (1997: 92), e as letras são muitas
vezes lamentações das suas condições de vida, falando sobre pobreza ou traição,
centrando-se muito no estilo de vida dos ciganos. As melodias exprimem
essencialmente sentimentos, dependendo do tipo de melodia, mais alegre ou mais
inclinada para a melancolia e tristeza.
Jean-Pierre Delfeil, citado por Olímpio Nunes (1996: 331), agrupa em cinco grupos a
música cigana: o primeiro é a música dos cabarés russos e húngaros, o segundo grupo
corresponde ao flamenco gitano da Andaluzia, o terceiro grupo à música popular ou de
gaita-de-foles, o penúltimo grupo ao jazz manouche e, por último, o grupo mais
autêntico, que incorpora a música como meio de comunicação privilegiado no seio do
próprio grupo.
Contudo, o segundo grupo é o que mais exprime a música e a alma cigana, pois embora
ainda não se tenha muitas certezas quanto à sua origem, é reconhecida por alguns
musicólogos uma raiz situada na Índia.
Os instrumentos musicais mais utilizados pelos ciganos são os instrumentos de corda,
como a guitarra, a viola, o violino, o bandolim, o címbalo e o alaúde, sendo raras as
vezes em que usam instrumentos de sopro.
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Stewart (1997: 92) reconhece, à semelhança de Olímpio Nunes, o prestígio musical dos
ciganos durante o período medieval e o início da idade moderna na sociedade não
cigana; contudo, actualmente, os ciganos actuam sobretudo em festas particulares nas
suas próprias comunidades, constituindo essa prática, um dos seus rituais favoritos.
Quanto aos ciganos portugueses, em particular Adolfo Coelho (1995: 173) compara-os
aos ciganos da Hungria, que considera possuírem um verdadeiro talento musical, ao
contrário dos ciganos nacionais que não revelam propriamente ter uma música
instrumental, afirmando: ―…os portugueses limitam-se a reproduzir, sem originalidade,
os cantos e bailados dos ciganos espanhóis.
Na ―Enciclopédia da música em Portugal no século XX‖, de Salwa Castelo Branco
(2010: 834), afirma-se que esta falta de visibilidade comercial, de expressão cultural e
mesmo de referências escritas sobre a música dos ciganos portugueses, é fruto
precisamente dessa forte influência do flamenco espanhol, sendo este estilo e o seu
contexto bastante mais abordados e referidos pela maioria dos autores que se debruçam
sobre o assunto.
Apesar de os músicos ciganos portugueses participarem em festas, casamentos, e em
cerimónias pouco divulgadas, fazem-no de uma forma muito informal e invisível, o que
os impossibilita, de certa forma, de terem acesso a uma maior expansão musical no
âmbito dos mercados musical nacional e internacional.
Na segunda metade do século XX, surge um novo género musical, a rumba, que é muito
popular entre os ciganos do Sudoeste europeu, nomeadamente espanhóis, que foram
gradualmente adotando o ritmo latino, com origens africanas, acompanhado pelo som
da viola flamenca, pelas palmas e pelo cante jondo (Castelo Branco, 2010: 835).
A rumba foi popularizada a partir dos anos 60 pelo músico Pere Pubili i Calaf,
tornando-se nos anos 80 e 90 do século XX um género musical mundialmente
conhecido, com um sucesso preconizado pelos ciganos franceses, das regiões de
Montpellier e Arles Foi precisamente este estilo musical que influenciou e permitiu
definir melhor a música dos ciganos portugueses, verificando-se que esta, nalguns
casos, vai reflectir o gosto que alguns ciganos nutrem pelo fado nacional - há fadistas e
músicos de origem cigana, sendo exemplo a história da Severa -, e, também, uma certa
proximidade à música mais popular, vulgarmente designada como ―música pimba‖.
Este último processo decorre, entre outros aspectos, de uma coincidência nos espaços
preferenciais de actuação destes dois estilos musicais, com destaque para as festas,
feiras e outros espaços públicos.
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pois muitos turistas começam a apreciar este tipo de arte performativa, que se
caracteriza por ser uma dança sensual, com movimentos muito expressivos
―…constituem uma verdadeira pantomina‖ (Nunes, 1996: 324).
No caso de Portugal, Gil Vicente, nos inícios do século XVI, já se referia a ciganas que
dançavam e cantavam nas suas peças. Na Turquia, no século VII, a dança era
considerada uma das profissões das ciganas, assim como no Egipto, no século XVIII,
existiam ciganas que dançavam em casas de particulares, ou até mesmo em espaços
públicos, enquanto em países como a Rússia ou a Hungria, a componente musical
assumia especial destaque comparativamente à dança cigana.
Contudo, já aqui tivemos oportunidade de referir que tanto a música como a dança,
assumiram em Espanha uma especial visibilidade, tornando-se, nos dias de hoje, uma
atracção turística.
A influência da arte flamenca, em termos do vestuário no caso das mulheres, foi de tal
ordem, principalmente na região de Andaluzia, que muitas espanholas adoptaram o
vestuário das ciganas, ―Assim surgiu o «gitanismo» que caracteriza os andaluzes e fez
com que facilmente se viesse a confundir o vestuário cigano com o andaluz ou
sevilhano‖, (Nunes, 1996: 325).
Tanto a música como a dança assumem-se como arte, fazem parte do dia-a-dia dos
ciganos, reflectindo muito da sua própria cultura e não sendo encaradas como um mero
divertimento, mas antes como uma maneira de viver e de se estar na vida. Na verdade, o
amor pela dança e pela música é incutido desde cedo nas crianças ciganas.
Neste ponto vai-se falar sobre o casamento, que ocorre normalmente em idade
precoce e é considerada a maior festa dos ciganos, pois costuma durar vários dias,
juntando centenas de convidados. O espaço físico onde normalmente ocorre esta
cerimónia é ao ar livre, mas também pode ter lugar em recintos fechados, nas feiras, em
campos de futebol, etc…; inicialmente é servido o almoço, que se cozinha também ao ar
livre e posteriormente começa o baile.
O casamento será provavelmente a cerimónia mais fulcral para os ciganos, pois
constituir família é levado muito a sério por este grupo populacional, uma vez que está
na base de toda a sua estrutura e organização social. No entanto, os ciganos assumem
práticas e regem-se, também neste domínio, por normas muito diferentes das vigentes
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Uma década depois, em 1960, conseguiu levar essa mesma doutrina a Espanha, onde
teve muito sucesso entre os ciganos, chegando a Portugal em 1970.
Estes movimentos evangélicos têm a particularidade de debaterem assuntos pertinentes,
em termos históricos e sociais, para as populações ciganas, incentivando-os a que se
preocupem um pouco mais em registar e debater a história da religiosidade cigana,
através de narrativas, de textos e de registos, que ajudam nessa mesma compreensão.
Ruy Blanes argumenta que o chamamento é uma das etapas importantes para um
evangelista, pois é a partilha comum entre os crentes deste movimento religioso e
constitui a ―… ―salvação espiritual‖, em grande parte motivada pela profusão, através
de vários mecanismos narrativos e comunicacionais, de uma história particular (o
―chamamento ao povo cigano‖) (2012: 131).
O pastor Clément le Cossec deu os seus primeiros testemunhos evangélicos aos ciganos,
como o intuito de converter e de difundir a palavra cristã, através da partilha e da
interacção sociais.
Iniciou a sua experiência entre os ciganos em 1946 no norte de França, onde a pedido de
um jovem que tinha a sua mãe doente, fez uma oração; o mesmo sucedeu em 1950,
quando conseguiu curar milagrosamente uma família de manouches, que rapidamente se
converteu à igreja evangélica.
Posteriormente, o pastor inicia a doutrina, ensinando a ler e a compreender melhor a
bíblia, dando origem ao Movimento Evangélico Cigano, que se estendeu a vários outros
países europeus, começando pelo território espanhol. É a partir daqui, através das mãos
de um cigano, Emiliano Jiménez Escudero, associado a outros pastores espanhóis que
conseguiu chegar até Portugal (Bastos, Correia, e Rodrigues, 2007: 165).
Podemos considerar que este movimento, que acabou por alastrar à Península Ibérica,
contribuiu para reforçar e cimentar laços familiares entre os ciganos espanhóis e
portugueses, através de intercâmbios e seminários organizados por entidades localizadas
em ambos os países, sucedendo o mesmo entre os ciganos espanhóis que migravam
sazonalmente para o sul da França, ―…muitas famílias ciganas da Catalunha partilham
laços de parentesco com grupos de gitanes no lado francês‖, (Blanes, R., 2012: 138).
Todo este processo de evangelização possibilitou aos ciganos europeus uma maior
mobilidade, devido às missões evangélicas situadas em diferentes países, o que também
favoreceu o aumento das redes sociais entre ciganos de diferentes grupos de etnia
cigana, registando-se uma verdadeira transformação social na vida dos ciganos, neste
caso dos peninsulares.
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Como muitos ciganos passaram a viver em bairros sociais nas cidades, ou seja, houve
uma transformação da sua mobilidade, passando de nómadas a sedentários, tornaram-se
frequentadores dos locais de prática do culto evangélico, participando nas reuniões
religiosas que têm lugar na sua área de residência.
No caso dos ciganos evangélicos portugueses, Johannes Ries, que no seu artigo discute
o dinamismo e a influência da missão Pentecostal nos ciganos, admite que este
movimento teve de se adaptar às necessidades e aos objectivos dos ciganos, tendo em
conta que é um grupo há muito marginalizado, posto de parte pela sociedade maioritária
em vários países (Ries, J., 2012: 278).
Contudo, a Igreja Evangélica tem contribuído para uma maior aproximação social entre
ciganos e não ciganos, verificando-se um crescimento no número de crentes, que
espalham a palavra e que, de certa forma, auxiliam a atenuar algumas tensões, como a
dos contrários4, que muitas vezes originam conflitos entre famílias ciganas que acabam
quase sempre em mortes de familiares.
Assim como outras restrições que são impostas pela própria Igreja Evangélica de
Filadélfia, os ciganos portugueses que a frequentam têm de respeitar ―… a proibição de
porte e uso de armas, mas também o consumo de bebidas alcoólicas e de drogas,
incluindo o tabaco‖, (Bastos, José; Correia, André e Rodrigues, Elisabete, 2007: 167).
Estas e outras proibições favoreceram a uma maior aproximação social e cultural entre
os gadjés e os ciganos portugueses.
Entre os ciganos, a morte de um familiar é sempre encarada como um luto rigoroso ―Os
ciganos deitam luto pelos mortos que é de cor preta (collardó)‖ (Coelho, 1995: 191) , o
qual se deve ao mais elevado respeito pelo defunto.
Normalmente após o enterro, os conflitos existentes entre familiares são atenuados e,
por vezes, mesmo esquecidos. Os funerais são sempre acompanhados por muitas
lamentações e gritos exacerbados, devendo os ciganos, durante o luto, evitar a presença
em as festas.
Durante o funeral, os ciganos não colocam utensílios nem objectos na sepultura, apenas
se limitam a colocar o corpo, que é sepultado pelo próprio grupo familiar. É feita a
cerimónia fúnebre na igreja, e posteriormente procede-se ao funeral.
Alguns ciganos não recorrem ao luto (vestir de preto) e ao final de um ano é
expressamente proibido recordar ou lamentar o falecido, pelo facto de que o morto deve
4
A lei dos contrários rege as relações entre famílias ciganas que estejam em conflito, são os homens
mais velhos e mais respeitados dentro do grupo étnico que tentam resolver e apaziguar o conflito.
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
descansar em paz, e os vivos devem-no deixar viver a sua nova vida, num plano
diferente do nosso.
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Capítulo III
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Liégeois, J.Pierre, (1989: 96-104)
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Quanto à electricidade nos lares, cerca de 44,6% dos ciganos não tinham acesso a esta
infra-estrutura, distanciando-se dos santomenses (26%) e dos moçambicanos (5,9%);
quanto ao acesso a instalações de banho, 75,9% dos ciganos não dispunham de banho,
contra 47,4% dos santomenses e 18,1% dos guineenses; acresce que 60,7% dos ciganos
não tinham saneamento básico, contra 13,4% dos lares de santomenses e 5% dos lares
indianos. Relativamente a estes indicadores, os ciganos apresentam assim valores muito
elevados comparativamente aos outros grupos étnicos, o que vem reforçar a grave
situação de pobreza no que diz respeito às péssimas condições de habitação em que
viviam os ciganos da AML nos anos 80 e 90 (Bastos, José; Correia, André e Rodrigues,
Elisabete, 2007: 45).
Segundo Alexandra Castro, a percentagem dos ciganos residentes em Portugal que
habita em condições condignas, é de cerca de 70%, vivendo os restantes numa situação
habitacional precária.
―Esta precariedade manifesta-se a diferentes níveis: fracas condições físicas do
alojamento; localização geográfica periférica e dificuldade de ver garantida a
estabilidade residencial num dado território‖ (Castro, 2012: 125).
Esta situação de exclusão sócio - espacial contrasta fortemente com o resto da
população portuguesa que se encontra numa situação mais favorável.
Isabel Duarte (2000), citada por Alexandra Castro, refere que os ciganos nómadas são
percepcionados segundo os entrevistados das localidades inerentes ao estudo, de forma
negativa e como menos evoluídos face aos ciganos que já se encontram numa situação
de sedentarização, pois, ―são mais evoluídos, ―mais sociáveis‖ (Castro, 2004: 59).
Durante o estudo nacional realizado pela investigadora, que consiste em identificar a
dimensão da população cigana em Portugal e as diversas realidades espaciais em que
vive esta população, sendo aplicado um inquérito a alguns municípios em grande parte
do território continental, os entrevistados, associam sempre a itinerância, como uma
característica comum aos ciganos, independentemente do seu grau de fixação (Castro,
2004: 60).
Os ciganos com estas práticas são um segmento minoritário em Portugal, porém a
itinerância pode ser encarada como algo positivo, ―pela sua associação à liberdade…a
desvinculação dos direitos de cidadania dos ciganos com a consequente
desresponsabilização das entidades locais‖, assim como pode ter uma conotação
negativa, ―é uma forma de desvio contra o qual a sociedade maioritária tende a lutar‖
(Castro, 2004: 61).
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Este estudo realizado em 2005, realizado através de inquéritos enviados às 278 câmaras
municipais do continente, em pareceria com os dados recolhidos com um estudo
realizado pelo SOS Racismo em 1997, veio também confirmar que os ciganos
portugueses e com práticas ainda de itinerância preferem permanecer em territórios
públicos, como é evidenciado por cerca de 58,3% dos municípios, contudo essa
tendência tem-se vindo a alterar, pois têm preferido os terrenos privados (50,9%), para
aí se fixarem temporariamente (Castro, 2004: 62).
O modo como os ciganos se apropriam de um determinado território, associado às
políticas ―repressivas‖ e à pressão das populações locais dos vários municípios,
facilitam a expulsão dos ciganos de determinados territórios e impedem o
acampamento/estacionamento nesses mesmos locais, sendo esta situação muito comum
em vários municípios (Castro, 2004: 63).
Existem outros estudos, também algo desactualizados, que afloram a situação
habitacional em que os ciganos portugueses viviam, nomeadamente o estudo de 2000 da
Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos e os dados de 2006-2007 apresentados pelo
Centro de Estudos Territoriais.
O primeiro estudo apontava para cerca de 4.398 pessoas a residirem há mais de dois
anos numa situação de precariedade habitacional a nível nacional, enquanto, que o SOS
Racismo (2001), nos seus dados, menciona por volta de 4.200 ciganos portugueses
numa situação habitacional precária, sendo os distritos de Viana do Castelo, Castelo
Branco, Coimbra e Évora os mais afectados por esta situação de precariedade (SOS
Racismo, 2001: 22, citado por Castro, 2007: 66).
O segundo estudo, do Centro de Estudos Territoriais aponta para 6.516 ciganos que
viviam em condições precárias de habitação, face a um número total de ciganos de 33.
940 Indivíduos, a autora obteve estes resultados através dos resultados obtidos pelo
questionário CTI 2, do trabalho recolhido no terreno e da informação analisada no
Programa Rede Social (Castro, 2007: 67).
A maioria dos ciganos analisados neste estudo habitavam em tendas, e não tinham
qualquer tipo de condições e infra-estruturas básicas, tratando-se de famílias que nunca
tiveram acesso a uma casa ou quando residiram numa habitação tinham um estatuto
ilegal de ocupação; alojamentos desprovidos de infra-estruturas básicas, como o acesso
a água canalizada, a electricidade da rede pública e a infra-estruturas de saneamento
(Castro, 2007: 68).
68
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Podemos então concluir que um segmento da população cigana vive ainda em condições
habitacionais muito precárias.
A criação do Estado Social visa garantir os serviços públicos e a protecção a toda a
população, numa lógica universalista. Neste contexto, urge minimizar a situação de
exclusão sócio - espacial em que se encontram muitos portugueses; por isso mesmo, o
Estado investiu em políticas e, ou medidas sociais e urbanas, que irão ter um papel
importante, em alguns casos, na integração do grupo étnico cigano, como iremos
verificar de seguida.
Como é afirmado por alguns autores mencionados acima, o grupo étnico cigano,
apresenta muitas dificuldades e limitações no que diz respeito à sua integração em
vários domínios, assim sendo, ―não é de estranhar que os indivíduos pertencentes
principalmente ao grupo étnico cigano manifestem uma inserção problemática na
sociedade envolvente‖ (Mendes, 1997: 46).
Contudo, importa aqui salvaguardar, que no domínio sócio - espacial, ou seja no que diz
respeito ao acesso à habitação, às acessibilidades em termos de transportes e acesso a
serviços e a instituições públicas e privadas, a população cigana encontra muita
dificuldade, em conseguir de facto aceder a estas áreas.
No domínio social, é um grupo que também manifesta vulnerabilidades na área da
educação, emprego e formação.
Segundo Bruto da Costa, há na sociedade um conjunto de sistemas sociais, com um
certo nível de interdependência que podem ser considerados como básicos ou
essenciais, sem os quais nem sempre é fácil viver em sociedade (Costa, 2008: 65).
Desta forma, quando uma determinada parte se encontra menos incluída na sociedade
em vários domínios (social, económico, político, espacial…), importa criar mecanismos
ou medidas que favoreçam essa mesma inclusão.
A esfera social, ―enquanto domínio fundamental de inclusão remete-nos, desde logo,
para a importância das redes de sociabilidade (família, vizinhança territorial ou
profissional e amizade, a esfera territorial, ―…pelas características dos territórios que
habitamos, pelas referências identitárias que construímos e que nos permitem ser
reconhecidos e reconhecermo-nos como parte dessa sociedade e pela construção das
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
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Artigo 44º, alínea 1, da Constituição Republicana Portuguesa
7
Artigo 13º
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
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possível dar-se respostas e ter soluções eficientes e que de certa forma facilitem a
integração da população cigana a nível nacional.
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Capítulo IV
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Corresponde às entrevistas nº1 e nº2
78
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
―…nós fomos com eles a sítios para arrendar, e ninguém aceita, e depois diziam-
nos: ―Ah, oh meninas, vocês não podem…então vocês andam com ciganos, a
tentar arrendar casas? Não sabem que eles vos vão enganar?‖ (Vice-Presidente da
ACMET9).
A própria associação refere que a exclusão institucional está bem patente nas escolas,
nos centros de formação e no mundo do trabalho, ao dizer que:
79
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
―…ninguém aluga casa a ciganos, por exemplo, há sobre ocupação, pelo menos
na minha cidade, de famílias em apartamentos T3, que estão 11 e 12 pessoas.‖,
(Mediador Municipal de Coimbra).
―…a opinião pública diz: «Ah, não, não, não metam os ciganos juntos
connosco!», e os Presidentes da Junta são os primeiros a levantarem e: «Não,
não, não, só para os ciganos aqui na minha Junta não façam!»‖, (Mediador
Municipal de Coimbra).
Contudo os problemas sentidos pelos ciganos, quer em Tomar, quer em Coimbra são
muito semelhantes e abarcam as mesmas áreas, a dificuldade no acesso à habitação, no
acesso ao emprego, na área da saúde e no acesso à educação:
11
37 anos, 12º ano de escolaridade
80
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
por mil euros, mil e tal euros, porque ultrapassaram um x de dias, portanto há
uma série de coisas.‖, (Mediador Municipal de Coimbra).
A ACMET afirma que os preconceitos e estereótipos face aos ciganos estão bem
enraizados na população da cidade de Tomar, sendo algo que se verifica desde muito
cedo e já na escola. Tal é observável, por exemplo, nos espaços públicos de lazer e
entretenimento, sendo proibida a entrada de ciganos nos bares e espaços nocturnos.
O tratamento diferencial face aos ciganos verifica-se em outros espaços que recusam ou
que colocam entraves ao acesso por parte dos ciganos, como ginásios, os serviços da
Câmara ou ainda o Conselho de Ministros.
81
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
82
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Leste Europeu. Ressalva a área da habitação, afirmando que ainda existem muitos
ciganos portugueses a viverem em condições de precariedade:
12
74 anos, mestrado em Artes, Teologia, Educação.
13
62 anos, licenciatura em Filologia Românica.
83
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Também os não ciganos têm muita dificuldade em aceitar que os ciganos tenham as
mesmas oportunidades e os mesmos direitos que os restantes cidadãos portugueses, ou
seja, não conseguem depositar qualquer tipo de confiança neste mesmo grupo étnico,
como afirma a representante do GACI no que se refere ao acesso à habitação:
― (…) há aquele preconceito, são ciganos, vão partir, vão estragar, não
vão pagar, à partida pensam assim sem dar chance às pessoas de pelo
menos de…ficar à experiência…‖ (GACI).
Como podemos constatar as opiniões das quatro instituições, quer as que actuam a nível
local, quer as que actuam a nível nacional, não divergem muito no que diz respeito às
percepções de exclusão e de racismo de que são alvo os ciganos no contexto da
sociedade portuguesa em geral.
84
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
85
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
86
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Capítulo V
Este último capítulo irá ter como base de desenvolvimento o meu caso de
estudo, relativo à situação de exclusão sócio – espacial que as pessoas e famílias ciganas
enfrentam no acampamento do Flecheiro, onde residem, localizado na cidade de Tomar.
Neste ponto inicial tentarei explicitar, recorrendo a um enquadramento histórico-
geográfico, a área que abrange este estudo e, posteriormente, farei o ponto de situação
actual em que se encontram os ciganos de Tomar, com base na análise dos dados
resultantes da aplicação da técnica do inquérito por questionário a alguns elementos
desta população.
87
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Fonte:
http://www.mediotejodigital.pt/pt/conteudos/regiao+do+medio+tejo/geografia/%C3%81rea+do
+M%C3%A9dio+Tejo/
15
Segundo os censos de 2011: www.ine.pt
16
Informação disponível no site: www.mediotejodigital.pt
88
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Fonte: www.cm-tomar.pt
A cidade conta com um património histórico e cultural imponente e é conhecida como a
cidade dos Templários. É uma cidade antiga, repleta de história, tendo sido fundada por
17
Fonte: www.cm-tomar.pt
18
Informação retirada do site da Câmara Municipal de Tomar
89
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
D. Gualdim Pais, no ano de 1160, com o castelo que irradiava e continua ainda hoje a
transmitir toda a sua imponência. Foi sede de Ordens religiosas, como a Ordem do
Templo e a Ordem de Cristo; o Infante D. Henrique foi um dos impulsionadores do
crescimento da própria cidade.
A cidade medieval conta com inúmeros monumentos considerados importantes marcos
históricos, conhecidos internacionalmente, como acontece com o Convento de Cristo, o
Castelo, e todos os monumentos de cariz religioso, que compõem assim o centro
histórico da cidade, local onde começou o seu desenvolvimento urbanístico. A partir de
inícios dos anos 90 do século passado, foram elaborados e implementados diversos
projectos urbanísticos que têm contribuído para o processo de recuperação do centro
histórico da cidade (ver figura6).
Fonte: www.cm-tomar.pt
90
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Fonte: http://www.google.pt
Fonte: http://www.google.pt
91
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Em Tomar existem algumas festas de cariz religioso, com destaque para a festa dos
Tabuleiros, que se realiza de quatro em quatro anos, nos inícios do mês de Julho,
consistindo num cortejo que desfila pela cidade, e é composto por várias centenas de
pessoas transportando à cabeça tabuleiros verticais elaborados com pães, organizadas
em conjuntos que simbolizam cada uma das 16 freguesias. Na cidade existe também a
Feira de Santa Iria, que é realizada em honra da padroeira de Tomar, Santa Iria.
Tomar tem um grande potencial turístico, verificando-se que a própria autarquia tem
vindo a desenvolver e a apostar neste sector, com recurso a fundos comunitários. Este é,
cada vez mais, um pilar chave de desenvolvimento da própria cidade, que está incluída
num espaço geográfico de elevado valor, em termos de património físico e imaterial,
que beneficia de uma boa localização geográfica, o que contribui para reforçar a sua
capacidade de atracção sobre visitantes e turistas.
Uma cidade como esta que pretende aumentar a sua visibilidade com base em elementos
como a boa qualidade urbanística e a valorização das principais dimensões da sua
cultura e património, deverá também ter como preocupação a promoção das diferenças
(por exemplo, étnico - culturais) e ser uma cidade inclusiva.
92
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Legenda:
- Área correspondente ao Acampamento do Flecheiro
- 1ª divisão do Flecheiro
- 3ª divisão do Flecheiro
93
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
19
Informações com base na entrevista a Almerindo Lima
94
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
3ª Parte do acampamento
Fonte: ACMET
O quadro 2 retrata os dados relativos ao primeiro inquérito que foi aplicado pela
ACMET à população cigana de Tomar, em 2011, quando residiam no acampamento
189 ciganos (praticamente 1% da população da cidade). Actualmente, com a chegada ao
Flecheiro de novas famílias ciganas vindas sobretudo de Lisboa e dos concelhos que
95
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
estão situados na envolvente ao concelho de Tomar, estima-se que existam aqui entre
200 a 300 pessoas ciganas.
Devido a este aumento populacional, os problemas sociais e espaciais que já existiam,
nomeadamente associados à precariedade das condições de habitação agravaram-se,
uma vez que segundo os próprios residentes de origem cigana, que visitei, observei e
questionei no acampamento do Flecheiro, há muitas pessoas ―concentradas num só
espaço com tão poucos recursos‖ (relativamente à habitação).
Cidade de Tomar
20
Segundo os dados do inquérito realizado pela ACMET,
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=291882780906222&set=pb.100002535077215.-
2207520000.1378741009.&type=3&theater, (consultado a 2/09/2013).
96
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
21
Presidente ACMET e dinamizador cultural
22
Informações retiradas com base nas entrevistas exploratórias
23
2013-2015
97
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
98
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
medida prioritária, ou seja, existem de facto projectos que prevêem o realojamento desta
população, restando saber quando é que irão ser efectivamente concretizados.
UNIDADES ESTRATÉGICAS
CONVENTO DE CRISTO/
IC 9 1 /MATA DOS 7 MONTES
4 2 CENTRO HISTÓRICO
5 VÁRZEA GRANDE/ESTAÇÃO
IC 3 3 (TECIDO CONSOLIDADO)
2
1 4 CORREDOR RIO NABÃO
CIDADE NOVA
3 5 (TECIDO CONSOLIDADO)
DRIVERS ESTRATÉGICOS
REALOJAMENTO PRIORITÁRIO
CONECTIVIDADE REGIONAL
A CRIAR
CONECTIVIDADE URBANA/REGIONAL
A MELHORAR
A CRIAR
MOBILIDADE SUSTENTÁVEL
A CRIAR
99
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Com base na análise dos dados24 relativos aos inquéritos aplicados à população
cigana a residir no acampamento do Flecheiro, foi realizada uma descrição e reflexão
sobre a situação em que se encontram os ciganos de Tomar.
24
Ver tabela 8 em anexo
100
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
101
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Fonte: ACMET
Fonte: ACMET
Relativamente às condições das habitações do Flecheiro, as casas são abarracadas,
construídas com materiais frágeis e precários, não tendo a maioria qualquer tipo de
infra-estruturas, como água canalizada e saneamento básico. Apenas a electricidade está
presente na maioria dos alojamentos.
102
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Quanto aos equipamentos domésticos, a maioria das famílias tem televisão sem cabo,
não tem transporte particular (automóvel/carrinha), no entanto, todos possuem
telemóvel.
Como podemos observar através da figura 14, a grande maioria das casas não apresenta
muitas divisões, sendo os espaços relativamente amplos, sem corredores, normalmente
com apenas duas divisões.
Quanto aos principais problemas sentidos, ou melhor, quanto ao que faz mais falta no
acampamento, a maioria das pessoas respondeu que eram a água canalizada e o
saneamento básico.
Em termos de acessibilidade, os inquiridos afirmam que existem transportes colectivos
urbanos suficientes junto ao acampamento, existindo uma paragem de autocarro
acessível ao acampamento e cujo percurso serve vários pontos da cidade.
Segundo os inquiridos, os terminais ferroviário e rodoviário também se situam próximo
do Flecheiro, mas, normalmente, a pessoas deslocam-se a pé na cidade.
Em relação ao tipo de serviços ou espaços públicos que costumam frequentar, é de
salientar: os cafés, os jardins e parques, o centro de saúde, o hospital, o mercado
municipal, as escolas, o supermercado e as farmácias.
103
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
25
Observação: alguns comerciantes de Tomar colocam sapos à porta dos estabelecimentos para de
modo a dissuadirem a entrada dos ciganos, uma vez que o sapo simboliza azar e infortúnio, segundo a
cultura cigana.
104
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Esta última parte tem por base a análise da informação patente nos inquéritos por
questionário realizados à população não cigana de Tomar, inquéritos esses que, em
termos de estrutura e conteúdo, são relativamente semelhantes ao inquérito dirigido à
população cigana de Tomar.
O objectivo é, à semelhança do ponto anterior, procurar compreender o tipo de relação
que existe, entre a população maioritária, ou seja a não cigana, face à cigana. Neste
caso, como o número de questionários realizados foram em maior número, foi possível
fazer uma análise exploratória à informação recolhida.
26
Expressões retirada das respostas dos inquéritos dirigidos à população cigana de Tomar.
105
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Como nos mostra a tabela 9, foram inquiridos 200 não ciganos, dos quais 48%
são homens e 52% mulheres.
Frequências (%)
Absolutas
Masculino 96 48,0
Sexo Feminino 104 52,0
Total 200 100,0
A maioria das pessoas inquiridas pertence ao grupo dos jovens adultos, com idades
compreendidas entre os 18 e os 38 anos - 47% dos inquiridos (gráfico 3). De seguida
temos o grupo etário dos 39 aos 59 anos, que representa cerca de 38,5% dos inquiridos,
seguindo-se o grupo dos 60 aos 80 anos de idade que inclui 12,5% dos inquiridos. Por
último, temos os inquiridos de idade superior a 80 anos, a que corresponde apenas uma
percentagem de 2 %.
12,5 2
18-38
38,5
39-59
60-80
>80
106
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Quanto à naturalidade dos não ciganos, como está apresentado na tabela 10, os valores
respectivos são maioritariamente de Tomar (74%), seguindo-se os que são naturais de
outros concelhos do país (17,5%), posteriormente os naturais de países estrangeiros
(7%) e, por último, os que correspondem a outros concelhos do Ribatejo (1,5%).
Frequências Percentagens
Concelhos Absolutas Percent. Cumulativas
Tomar 148 74,0 74,0
Outros concelhos do 3 1,5 75,5
Ribatejo
Outros concelhos 35 17,5 93,0
Estrangeiro 14 7,0 100,0
Total 200 100,0
Quanto ao estado civil das pessoas inquiridas, 49,5% são casadas, de seguida temos as
pessoas solteiras com 35%, seguindo-se os divorciados e os viúvos, com 7,5% e 5,5%,
respectivamente. Por último, aparecem os separados com uma percentagem de 2,5%
(tabela 11).
Tabela 11 – Estado civil dos inquiridos não ciganos, (%)
107
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Quanto ao grau de escolaridade, mais de 40% dos inquiridos tem o ensino secundário,
como podemos observar através do gráfico 4, seguindo-se o 3º ciclo e o ensino superior.
Por último, temos cerca de 10% dos inquiridos não ciganos que possuem o 1º ciclo,
sendo muito poucos os que têm apenas o 2º ciclo completo.
50
40
30
20
10
0 Percentagem de não
ciganos
Quanto à situação laboral dos inquiridos não ciganos, como é possível verificar pela
tabela 12, a maioria, ou seja 60,5%, exercem uma actividade profissional, e 39,5% não
exercem actividade profissional, ou seja, os desempregados e os reformados.
Frequências Percentagem
Absolutas
108
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Quanto ao nível de contacto social estabelecido entre não ciganos e ciganos em Tomar,
o gráfico 5 mostra que a maioria dos não ciganos entende ter uma relação razoável
(41%), aparecendo depois os que se dão mal (29%) e muito mal (25%). Refira-se que
apenas 5% referem manter ―boas‖ ou ―muito boas relações. Os dados analisados
apontam, portanto, para um quadro de relações desfavorável, uma vez que um pouco
mais de metade dos respondentes diz relacionar-se mal e muito mal, apontando isto para
um quadro de incompreensão, porventura mútua, e de eventual rejeição face à
população cigana.
15
10
5
0
Muito Mal Razoável Bem Muito
mal bem
O gráfico que se segue apresenta com que frequência os não ciganos (segundo o sexo)
costumam sociabilizar com os ciganos. Refira-se que, maioritariamente, tanto homens,
como mulheres, nunca ou ―raramente‖ sociabilizaram com ciganos, ainda que no caso
das últimas, o gráfico 6 espelhe níveis de sociabilização ligeiramente mais elevados.
Isto poderá acontecer pelo facto de haver diversas comerciantes entre as inquiridas, o
109
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
que implica mais contacto com o público, incluindo-se aqui os clientes ciganos. No
fundo, este ―convívio‖ com a população cigana decorre, essencialmente em virtude das
características da actividade profissional, acabando, de algum modo, por ser um
contacto ―forçado‖, ou mesmo um contacto casual muito superficial.
Gráfico 6 – Frequência de contacto entre não ciganos e ciganos por sexo, (%)
Frequências Percent.
Absolutas
Sim 19 9,5
Não 181 90,5
Total 200 100,0
Fonte: Inquérito à População não Cigana de Tomar
A larga maioria dos não ciganos (mais de 90%) admite não ter amigos ciganos em
Tomar, como se verifica na tabela 13, o que indicia a ausência de interacção e,
110
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
sobretudo, desconhecimento, uma vez que quase não se verificam relações sociais que
ultrapassem os contactos estritamente superficiais e necessários.
No que diz respeito aos espaços de convívio entre não ciganos e ciganos podemos
concluir que 82,5% dos não ciganos não costumam conviver em nenhum espaço com
ciganos (tabela 14) Os poucos locais onde ocorre convívio correspondem aos espaços
públicos, à rua e ao café, com uma percentagem de 4%, respectivamente. Curiosamente,
a Feira regista um valor inferior às três tipos de cenários de interacção já mencionados.
Relativamente aos tipos de assuntos que os não ciganos conversam com os ciganos,
constata-se pelo gráfico 7 que quase não conversam acerca de nenhum dos assuntos
explicitados, embora falem de outro tipo de assuntos (11%). Ainda assim, dos vários
tipos de assuntos referidos, os poucos que são objecto de conversa relacionam-se com
as políticas gerais do país (3%), os problemas da cidade (3%), o desporto (2,5%) e os
problemas sociais e ambientais.
111
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0 Sim
Não
As próximas tabelas são relativas à forma como a população não cigana percepciona a
evolução, ao longo dos últimos 10 anos, da sua atitude relativamente aos ciganos (tabela
15). Refira-se que a maioria da população não cigana tem a noção que a sua atitude
perante este grupo étnico piorou (65%), registando-se apenas 6% de inquiridos que
afirmam que melhorou.
112
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Tabela 16 - Atitude das instituições públicas de Tomar em relação aos ciganos, (%)
Frequências Percent Percentagens
Absolutas Cumulativas
Quanto à convivência entre não ciganos e ciganos, esta manteve-se inalterada (63%,
tabela 18), assim como a integração dos ciganos na cidade (59,5%), como podemos
observar na tabela 19. Apesar destas posições maioritárias, deve referir-se que as
opiniões que apontam para um deteriorar dos quadros de convivência e integração dos
ciganos em Tomar se sobrepõem às (poucas) opiniões que mencionam uma evolução
favorável. No que diz respeito à exclusão social dos ciganos, o quadro de respostas vai,
precisamente, no mesmo sentido (tabela 20).
113
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
114
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
A maioria dos não ciganos nunca passou por uma situação de conflito que envolvesse
ciganos (80,5%), ou seja, nunca foram mal tratados ou até mesmo discriminados por um
cigano (tabela 22). Ainda assim, cerca de 20% afirmam ter já sido mal tratados por um
cigano.
115
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
80
70
60
50
40
30
20
10
0 Não ciganos
Quanto às diferenças mais notórias entre ciganos e não ciganos, o modo de socializar e
de interagir dos ciganos, assim como os seus valores e as práticas culturais, são as
diferenças que mais se evidenciam, seguindo-se, em terceiro lugar, a língua (gráfico 9).
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10 Sim
0
Não
116
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Quanto à questão ―já houve na cidade algum conflito de vizinhança que envolvesse
ciganos e não ciganos‖, as respostas dividem-se, uma vez que cerca de 45%
responderam afirmativamente, contudo, a maioria disse que ―não‖, 55% (tabela 23).
Importa ainda fazer menção à cronologia dos conflitos de vizinhança entre ciganos e
não ciganos (tabela 24), uma vez que a população não cigana pode recear possíveis
atitudes menos favoráveis por parte da população cigana, o que é evidenciado num
estudo de caso realizado no bairro social de Atouguia, em Guimarães. Os autores
referem que ―O receio de represálias, sentido por portugueses não ciganos, por parte dos
ciganos, é bem visível. Alguns dos inquiridos, ao responderem ao questionário nas
questões relacionadas com os ciganos, advertiam amiúde: ‖Veja lá, eles que não saibam
que eu disse isso!” (Silva, Sobral, Ramos, 2008: 15).
A população não cigana nestas questões relacionadas com as situações de conflito entre
ciganos e não ciganos, não respondeu, ou dizia que não sabiam exemplificar algum
evento sucedido. Ainda assim, nos últimos três anos registaram-se mais conflitos,
verificando-se que em 2011 tiveram lugar cerca de 4,5% dos casos, em 2012, 9,5% e em
2013, 10% de situações em que ocorreram conflitos de vizinhança entre ambas as
partes.
Esta maior ocorrência de conflitos registados entre não ciganos e ciganos de Tomar,
deve-se possivelmente ao facto dos inquiridos (não ciganos) terem registado nas suas
memórias, e de se lembrarem dos últimos acontecimentos conflituosos mais recentes
entre ambas as partes.
Para 11,5% dos respondentes existem frequentemente conflitos de vizinhança entre
ciganos e não ciganos.
117
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Tabela 24 – Cronologia dos conflitos de vizinhança entre ciganos e não ciganos, (%)
Os principais motivos que desencadeiam os conflitos entre ciganos e não ciganos são os
insultos e conflitos afins (21%), a proibição de entrada dos ciganos em determinados
estabelecimentos nocturnos, por parte de alguns proprietários (11,5%) e, por último, os
furtos (6,5%).
Tabela 25 - Motivos dos conflitos de vizinhança entre ciganos e não ciganos (%)
118
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Quanto ao facto de os não ciganos conseguirem, ou não, viver no mesmo prédio tendo
como vizinho um cigano a resposta é positiva (57%), segundo a tabela 26.
Contudo, trata-se de um ―sim‖ muito reticente, e com a condição de que os ciganos
respeitem as regras da sociedade maioritária. Segundo o estudo realizado por Manuel
Silva, José Sobral e Mariana Ramos, a maioria dos inquiridos não ciganos do bairro da
Atouguia afirma que não queria ter os ciganos como vizinhos Contudo, existem os que
discordam desta afirmação, e que defendem que os ciganos ―deveriam ser “obrigados a
viver como as pessoas ao pé de quem vivem”, ou seja, respeitar os outros, cuidar dos
espaços comuns, não fazer barulhos e sujeitar-se às regras e valores da maioria não
cigana‖ (Silva, Sobral e Ramos, 2008: 11).
As razões que levam 43% dos inquiridos (tabela 26) a ter respondido que não seria
capaz de viver no mesmo prédio que um cigano, incluem ―pertencer a uma cultura
diferente‖ (9%), ―serem pessoas conflituosas‖ (6,5%), e também ―não se conseguirem
adaptar à sociedade envolvente‖ (6%), (tabela 27).
119
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Tabela 27 - Razões de não viver no mesmo prédio tendo como vizinhos os ciganos,
(%)
Avaliação das condições de habitação dos ciganos por parte dos não ciganos
120
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Tabela 28 - Vivem muito mal, não tem condições dignas de habitação e de vida, (%)
Tabela 29 - Vivem bem, tem bons níveis de rendimento e boas condições de vida, (%)
Tabela 31 - Vivem ali, porque não há outro local que os possa acolher, (%)
121
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Tabela 32 - Vivem separados dos não ciganos, porque estes não os querem por perto, (%)
Frequências Percent Percentagens
Absolutas Cumulativas
Sim 88 44,0 44,0
Não 112 56,0 100,0
Total 200 100,0
5.7.3 – Percepções e Retratos Sociais dos não ciganos em relação aos ciganos
Quanto aos poucos aspectos positivos que a população não cigana evidencia em
relação à população cigana, destacam o facto de os ciganos serem unidos e solidários
―entre eles‖ (13,5%) e leais (9%) (gráfico 10).
Gráfico 10- Aspectos positivos que os não ciganos encontram nos ciganos de
Tomar, (%)
100
80
60
40
20
Sim
0
Não
122
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
É claramente perceptível que os aspectos positivos são muito pouco valorizados, pois
como vemos no gráfico 11, a população não cigana atribui mais notoriedade a estes
atributos, havendo mais elementos negativos do que propriamente positivos,
evidenciando-se entre os primeiros, o facto de os ciganos serem considerados
agressivos, estarem ligados à criminalidade e serem mal-educados.
O mesmo acontece no estudo anteriormente citado, que refere que ―Os portugueses não
ciganos atribuem aos ciganos características particularmente negativas.
A população não cigana, sobrevaloriza os aspectos negativos dos ciganos‖ (Silva,
Sobral, Ramos; 2008: 4).
Gráfico 11- Aspectos negativos evidenciados pelos não ciganos em relação aos
ciganos de Tomar, (%)
100
80
60
40
20
Sim
0 Não
123
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Considerações Finais
124
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
É certo que o nível de agressividade, ou de conflito, não será, na larga maioria das
localidades portuguesas, tão grave como se verificava há alguns anos atrás (década de
90). De qualquer forma, em pleno século XXI, tal ainda acontece.
Apesar desta situação, deve referir-se que tem havido alguma preocupação em
implementar algumas políticas sociais e urbanas de carácter inclusivo que têm
contribuído para a integração deste grupo étnico na sociedade portuguesa em geral. Em
2013, foi mesmo aprovada a ENICC (Estratégia Nacional para a Integração das
Comunidades Ciganas), que consiste num conjunto de medidas que têm como principais
objectivos promover a integração da população cigana em quatro áreas chave: a saúde, o
emprego, a educação e a habitação.
No que respeita às conclusões específicas, isto é, aquelas que retirei da investigação
sobre a situação dos ciganos de Tomar, começo por afirmar que considero tratar-se de
um caso de estudo ilustrativo de que efectivamente subsistem fenómenos como o
racismo (Mendes, 2005 e 2012) e todas as formas de exclusão social que sobrepesam
sobre as pessoas ciganas. Decorre daqui que este trabalho também pretende denunciar a
situação existente em Tomar e alertar para a necessidade de uma intervenção urgente,
nomeadamente quanto à precariedade social e habitacional que caracteriza o
acampamento do Flecheiro, que põe em causa os mínimos da dignidade humana.
Verifica-se uma evolução positiva em termos de integração dos ciganos de Tomar, na
medida em que a ACMET, em parceria com outras entidades tem realizado um trabalho
importante, sobretudo no âmbito do desenvolvimento de actividades com as crianças
ciganas, facto referido pela maior parte dos não ciganos e ciganos.
Estas acções que visam a integração da população cigana de Tomar podem não ter já
resultados muito salientes, mas terão certamente impactos importantes no futuro das
gerações mais jovens e vindouras.
Perante o exposto, foi possível responder à questão de partida e às questões
complementares que orientaram esta pesquisa. Como se pode verificar através da
análise dos dados, para os não ciganos, a sua relação com a população cigana de Tomar
não tem melhorado, contudo, ainda mantêm um certo nível de contacto mínimo, uma
vez que os inquiridos na sua maioria eram comerciantes locais, ou seja, por razões de
ordem económica têm que diariamente se relacionar com os clientes, entre eles ciganos.
Uma das diferenças existentes entre não ciganos e ciganos, apontadas pelos inquiridos
foi a questão dos ciganos pertencerem a uma cultura que segundo os não ciganos, é
125
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
muito distinta da maioritária, e que se rege por valores sócio culturais próprios, o que
por vezes dificulta a interacção entre ciganos e não ciganos.
Verifica-se também um esforço, ou um certo interesse por parte da população local não
cigana em obter algum conhecimento sobre os ciganos residentes na cidade, contudo
persiste ainda um forte desconhecimento mútuo relativamente à singularidade deste
grupo étnico.
Como já foi referido no início da minha investigação, a minha questão de partida
pretendia compreender que factores explicam, e podem contribuir para a situação de
exclusão sócio - espacial dos ciganos de Tomar, e foi o que pretendi apreender, as
respostas aos inquéritos e as entrevistas exploratórias realizadas, confirmam a existência
de uma forte exclusão sócio - espacial na cidade de Tomar, onde ainda perdura o
preconceito e o desconhecimento sobre as diferenças étnicas e culturais.
A título de reflexão final, gostaria de assinalar que este trabalho deparou-se com
algumas limitações e dificuldades, sendo de destacar uma certa falta de bibliografia
sobre a temática, sobretudo na área da geografia, para além de outros aspectos que
enuncio de seguida e que se referem, essencialmente, às condições de preparação e
implementação do trabalho de campo:
- No caso da população cigana de Tomar, senti que tive pouco tempo para os
conhecer e me relacionar, uma vez que é a primeira vez que estou a estudar este
grupo étnico;
126
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Referências Bibliográficas
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saúde e liberdade, ciganos: números, abordagens e realidades", edição SOS Racismo,
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abordagem estrutural – dinâmica‖, Lisboa, Câmara Municipal de Sintra e ACIDI, pp.
26-27, 44-48; pp.163-169.
127
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
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spatial exploring the multiple dimensions of poverty and social exclusion‖, Editora
Ashgate, pp. 57-71.
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em Portugal Continental, Lisboa, Instituto da Segurança Social.
128
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
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a pobreza: vulnerabilidade e exclusão social no Portugal Contemporâneo", Edições
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Cortesão... [et al.], Porto, Afrontamento, pp. 13-20.
Fraser, Angus (1998) –―História do povo cigano‖, Lisboa, Edições Teorema, pp. 280-
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129
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Magano, Olga (2010) – "Tracejar vidas normais". Estudo qualitativo sobre a integração
social de indivíduos de origem cigana na sociedade portuguesa', Lisboa, Universidade
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principais dimensões de análise da etnicidade - o caso da etnicidade cigana‖, ―A
etnicidade e a exclusão social‖, in tese de dissertação de mestrado intitulada:
Etnicidade, grupos étnicos e relações multiculturais: elementos para a compreensão
das relações entre ciganos, no âmbito de uma Sociologia das Relações Étnicas e
Raciais, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pp. 26-31; pp. 41-49;207-246.
Mendes, Maria Manuela (2005) – Etnicidade e exclusão social (cap. I), Os ciganos na
Europa e em Portugal (cap. II), in "Nós, os ciganos e os outros: etnicidade e exclusão
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130
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Nunes, Olímpio (1996) – ―O Povo Cigano‖, Ed. do Autor e Obra Nacional da Pastoral
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Kneale, Pauline, (1999) – «Study skills for Geography Students: a pratical guide»,
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131
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Silva, Manuel Carlos, Sobral, José Manuel, Ramos, Mariana (2008) – ―Ciganos e não
ciganos: imagens conflituosas em contextos de vizinhança – o bairro social da
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Stewart, M. (1997) – ―The puzzle of Roma persistence: group identity without a nation‖
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Subcomissão de Igualdade de Oportunidades e Família (2008) - Relatório das audições
efectuadas sobre Portugueses Ciganos no âmbito do Ano Europeu para o Diálogo
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Thomas, Gary, (2009) – «How to do your Research Project: a guide for students in
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Webgrafia:
www.acidi.gov.pt
http://www.cm-tomar.pt
https://www.facebook.com/acmet.tomar
http://www.programaescolhas.pt/
132
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
ANEXOS
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Bom dia/Boa tarde, o meu nome é Mónica Sequeira, sou aluna de Mestrado em
População, Sociedade e Território do Instituto de Geografia e Ordenamento do
Território da Universidade de Lisboa. Estou a fazer um trabalho de investigação sobre
os ciganos de Tomar, esta entrevista tem como objectivos compreender melhor a
história, os objectivos e o funcionamento da associação cigana de Tomar, os projectos
desenvolvidos pela associação, conhecer a história dos ciganos de Tomar, a sua
organização e composição sócio -espacial, o tipo de relação entre os ciganos e não
ciganos, bem como a nível da habitação, perceber quais as condições de habitação,
quais os apoios e de quais instituições advêm os mesmos.
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Bom dia/Boa tarde, o meu nome é Mónica Sequeira, sou aluna de Mestrado em
População, Sociedade e Território do Instituto de Geografia e Ordenamento do
Território da Universidade de Lisboa. Estou a fazer um trabalho de investigação sobre
os ciganos de Tomar, esta entrevista tem como objectivos entender como uma não
cigana percepciona o papel da associação cigana de Tomar da qual faz parte, o que a
motivou a fazer parte da mesma, assim como compreender a percepção/posição de uma
não cigana relativamente aos problemas de exclusão sócio - espacial dos ciganos em
Tomar.
Idade:
Escolaridade:
Profissão:
Funções desempenhadas na associação e desde quando?
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
1- Como é fazer parte da ACMET, sendo a Dr.ª Sílvia uma não cigana? Tempo
de pertença?
2- Que barreiras encontrou enquanto Vice-Presidente de uma associação cigana
aqui em Tomar? Foi fácil ou difícil a sua adaptação ao cargo?
3- Quais as razões que a motivaram a fazer parte da ACMET, foram razões
profissionais ou pessoais?
4- A ACMET tem conseguido dar resposta a maior parte dos problemas
expostos pelos ciganos de Tomar?
5- Há outros ciganos na associação? Quem são? Qual a vantagem e /ou
desvantagem de ser uma associação com membros e sócios não
exclusivamente de origem cigana?
10- Qual é a maior luta/ambição dos ciganos de Tomar? (Que direitos ou até
mesmo que bens costumam reivindicar; em termos de problemas, o que
expõem mais)?
11- Há quanto tempo estão aqui radicados os ciganos nesta cidade e qual a
história da ocupação daquele terreno e das primeiras famílias?
16- Quais são os desafios que os ciganos de Tomar poderão enfrentar nos
próximos anos?
17- De um modo geral, se pudesse caracterizar por breves palavras os ciganos de
Tomar, como os caracterizaria?
18- Até 2020 todos os países da União Europeia, têm de ter bem definidas as
suas políticas de inclusão/integração social dos ciganos.
Acha que Portugal será capaz até 2020 de cumprir essas mesmas políticas
inclusivas, e que as mesmas possam chegar a todos os ciganos portugueses
nomeadamente aos ciganos de Tomar?
- Se não, porquê? Quais os motivos/razões?
- Se sim, porquê? E em que domínios se irá alterar a situação dos ciganos
portugueses?
- O que acha das estratégias que já foram definidas e das organizações
envolvidas e das suas actividades?
- (Ver na ENIC as medidas para a habitação e coloca-las à consideração do
entrevistado)
1- Quando foi criado este projecto? Por quem? Razões? Tipo de apoios e pareceria
subjacentes à sua criação? - História do projecto
2- Mas antes deste projecto já existiam mediadores sócio - culturais, como é
funcionava esta área profissional? Quem vos contratava? Quem vos formava?
3- Como funciona este projecto? Como se organiza administrativamente?
- Saber como se organiza hierarquicamente, quem são os dirigentes?
Quais são os principais objectivos de um mediador municipal? Em que área e
instituições poderemos encontrar um mediador municipal? Que actividades e serviços
competem ao mediador? Que tipo de ajuda presta aos ciganos a nível nacional?
4- Que tipo de projectos/iniciativas directamente relacionados com os ciganos
portugueses os mediadores municipais têm desenvolvido (em parceria ou não
com a Câmara Municipal de Lisboa, e outras (Tomar) ACIDI)? Referir quais são
os parceiros e domínios/áreas de colaboração.
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Idade:
Escolaridade:
Profissão:
Funções desempenhadas e desde quando?
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Idade:
Escolaridade:
Profissão:
Funções desempenhadas e desde quando?
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
17- Até 2020 todos os países da União Europeia, têm de ter bem definidas as suas
políticas de inclusão/integração social dos ciganos.
141
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Acha que Portugal será capaz até 2020 de cumprir essas mesmas políticas
inclusivas, e que as mesmas possam chegar a todos os ciganos portugueses, ou
apenas a uma só parte dos ciganos?
- Se não, porquê? Quais os motivos/razões?
- Se sim, porquê? E em quê que irá alterar a situação dos ciganos portugueses?
(O que acha das estratégias que já foram definidas nas 4 áreas, educação,
habitação, emprego e na saúde?)
- Na sua opinião, as organizações e as instituições têm cumprido, ou regem-se
por estas estratégias?
Bom dia/Boa tarde, o meu nome é Mónica Sequeira, sou aluna de Mestrado em
População, Sociedade e Território do Instituto de Geografia e Ordenamento do
Território da Universidade de Lisboa. Estou a fazer um trabalho de investigação sobre
os ciganos de Tomar, esta entrevista tem como objectivos compreender e explorar um
pouco mais sobre a História dos ciganos em Portugal e recolher mais dados científicos
sobre este mesmo grupo étnico.
Caracterização sociográfica do entrevistado
Idade:
Escolaridade:
Profissão:
Funções desempenhadas e desde quando?
142
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
- Acha que Portugal será capaz até 2020 de cumprir essas mesmas políticas inclusivas, e
que as mesmas possam chegar a todos os ciganos portugueses, ou apenas a uma só parte
dos ciganos?
- Se não, porquê? Quais os motivos/razões?
- Se sim, porquê? E em quê que irá alterar a situação dos ciganos portugueses?
(o que acha das estratégias que já foram definidas, as organizações, as
instituições).
Bom dia/Boa tarde, o meu nome é Mónica Sequeira, sou aluna de Mestrado em
População, Sociedade e Território do Instituto de Geografia e Ordenamento do
Território da Universidade de Lisboa. Estou a fazer um trabalho de investigação sobre
os ciganos de Tomar, esta entrevista tem como objectivos compreender a questão da
habitação, os projectos e as iniciativas que têm sido realizadas ao longo dos anos, o que
ainda falta fazer e melhorar, ao nível do realojamento dos ciganos nos bairros sociais.
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Bom dia/Boa tarde, o meu nome é Mónica Sequeira, sou aluna de Mestrado em
População, Sociedade e Território do Instituto de Geografia e Ordenamento do
Território da Universidade de Lisboa. Estou a fazer um trabalho de investigação sobre
os ciganos de Tomar, e pretendo com a realização deste inquérito compreender melhor o
tipo de relacionamento que existe entre a população não cigana e os ciganos da cidade
de Tomar.
Os dados e as informações obtidas serão considerados rigorosamente confidenciais e é
garantido o seu anonimato, destinando-se exclusivamente a trabalho científico de
carácter académico.
1) Idade:_____
2) Sexo:
Masculino Feminino
3) Naturalidade__________________
Freguesia____________ Concelho________________
Solteiro---------------------------------------------------------------------------------------
Casado pelo civil………………………………………………………………….
Casado pelo religioso………………………………………….............................
Divorciado-----------------------------------------------------------------------------------
Separado-------------------------------------------------------------------------------------
Viúvo-----------------------------------------------------------------------------------------
5) Grau de escolaridade que completou?
- 1º Ciclo: 1ºano 2º ano 3º ano 4º ano
- 2º Ciclo: 5º ano 6ºano
- 3º ciclo: 7º ano 8º ano 9º ano
- Ensino Secundário: 10ºano 11ºano 12ºano
- Ensino Superior: Licenciatura Mestrado Doutoramento
6) Há quanto tempo vive em Tomar?_____________
145
Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
7) Situação Laboral
7.1-Tem trabalho? S __ ; N __
9.1) Tem amigos ciganos? (Em caso negativo passar à questão 10)
Sim Não
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
11) Já alguma vez não foi bem tratado ou foi tratado de forma
discriminatória por um cigano na cidade de Tomar?
Sim Não
Descreva a situação:
________________________________________________________________
________________________________________________________________
12) Que tipo de diferenças são mais notórias entre ciganos e não ciganos
(resposta múltipla):
- Modos de vestir--------------------------------------------------------------------
- Religião--------------------------------------------------------------------------------
- Língua---------------------------------------------------------------------------------
- Valores e práticas culturais---------------------------------------------------------
- Actividade profissional---------------------------------------------------------------
- Modo de socializar/interagir--------------------------------------------------------
-Outra Qual?_______________
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
12.1) Quais destes factores (escolhidos na questão 12) dificultam mais a relação
entre ciganos e não ciganos?
________________________________________________________________
12.2) Já houve algum conflito de vizinhança explícito na cidade de Tomar
envolvendo ciganos e não ciganos?
Sim Não
Quando?_______________
Motivos? _____________________________________________________
_____________________________________________________________
13) Seria capaz de viver no mesmo prédio, tendo como vizinhos os ciganos?
Sim Não
15) Enuncie dois aspectos positivos e dois aspectos negativos dos ciganos de
Tomar:
15.1) Aspectos positivos;
15.2) Aspectos negativos;
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Bom dia/Boa tarde, o meu nome é Mónica Sequeira, sou aluna de Mestrado em
População, Sociedade e Território do Instituto de Geografia e Ordenamento do
Território da Universidade de Lisboa. Estou a fazer um trabalho de investigação sobre
os ciganos de Tomar, e pretendo com a realização deste inquérito a obtenção de alguns
dados quantitativos relativos aos ciganos, compreender a sua integração na cidade, bem
como o tipo de relacionamento que existe entre a população cigana e não cigana da
cidade de Tomar. Os dados e as informações obtidas serão considerados rigorosamente
confidenciais e é garantido o seu anonimato, destinando-se exclusivamente a trabalho
científico de carácter académico.
I- Caracterização sociográfica dos Ciganos de Tomar
1) Idade:_____
2) Sexo:
3) Masculino Feminino
4) Naturalidade__________________
Freguesia____________ Concelho________________
8) Situação Laboral
7.1-Tem trabalho? S __ ; N __ O que faz?____________ Onde?__________
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
14.1) Na sua opinião há transportes públicos suficientes que param aqui perto do
acampamento?
Sim Não
Quais?______________________
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
Onde é a paragem?__________________________________
17) Como se dá com os seus vizinhos? (De 1 a 5, sendo 1 muito mal e 5 muito bem)
1 2 3 4 5
21) Com que frequência costuma conviver/socializar com as pessoas não ciganas?
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
25) Já alguma vez não foi bem tratado ou foi tratado de forma discriminatória
(sentiu-se prejudicado), por um não cigano na cidade de Tomar?
Sim Não
25.1) Descreva a situação:
26) O que acha que a população não cigana de Tomar pensa acerca da vossa etnia?
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Exclusão Sócio - Espacial dos Ciganos de Tomar
______________________________________________________________
Tabela 1- Leis, regulamentos e decisões administrativas aplicadas aos ciganos
Fonte: José Gabriel Pereira Bastos, (2007: 37)
portugueses
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