Araújo, 2020
Araújo, 2020
Araújo, 2020
Lisboa
2020
Contributos para a compreensão da compaixão no trabalho:
relação com as características e práticas organizacionais
Vogais:
Doutora Maria Luísa Soares Almeida Pedrosa de Lima, Professora Catedrática
Escola de Ciências Sociais e Humanas do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa;
Lisboa
2020
Tese para obtenção do grau de
Doutor em Ciências Sociais,
na Especialidade de Comportamento Organizacional,
apresentada perante o
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
da Universidade de Lisboa
i
“A capacidade de usar os paradoxos como forças positivas e de evitar
o seu lado destrutivo, pode fazer a diferença entre prosperar num mundo repleto de
exigências contraditórias, versus ser engolido por essas contradições na sequência de escolhas simples e
inequívocas, mas erradas” (…)
ii
ÍNDICE GERAL
iii
1.1.3.2.1. O papel do Poder Social no subprocesso de avaliação cognitiva das
relações compassivas ................................................................................................ 63
1.1.3.2.2. Modelo Teórico interpessoal, dinâmico e social de compaixão
organizacional: Influência dos contextos a nível pessoal, relacional e organizacional
.................................................................................................................................. 66
1.1.3.2.3. O papel do “recetor” e da circularidade na avaliação das relações
compassivas: Um contexto de maior complexidade e incerteza .............................. 75
1.2. Avaliação da compaixão organizacional: a importância do desenvolvimento de um
instrumento de medida ....................................................................................................... 76
1.3. Dimensões paradoxais de compaixão: Perspectivas de integração, de
transcendência e de harmonização ................................................................................... 81
1.3.1. Conceções paradoxais de compaixão organizacional ............................................. 81
1.3.2. Perspectiva de integração: A Teoria da Ação Comunicativa de Habermas ........... 98
1.3.3. Perspectivas de integração, transcendência e de harmonização: diálogo, práticas
reflexivas e a cultura do Butão ....................................................................................... 101
CAPÍTULO II. OPÇÕES METODOLÓGICAS ............................................................... 108
2.1.O Design de Investigação ........................................................................................... 108
2.1.1. Os Paradigmas da Ciência .................................................................................... 108
2.1.2. A Metodologia de Investigação ............................................................................ 110
2.1.2.1. Metodologia Qualitativa ................................................................................ 111
2.1.2.2. A Metodologia Quantitativa .......................................................................... 114
2.1.3. A Estrutura da Presente Investigação ................................................................... 115
CAPÍTULO III. ESTUDO CONCETUAL ........................................................................ 119
3.1. Influência de características organizacionais de estrutura flexível e de valor
humano na resposta colectiva compassiva ..................................................................... 120
3.1.1. Fundamentação Teórica........................................................................................ 120
3.1.1.1. Estudos de compaixão no contexto organizacional: Benefícios e limitações 123
3.1.1.2. Características e Práticas Organizacionais que influenciam a Resposta
Coletiva Compassiva .................................................................................................. 127
3.1.1.3. Influência da flexibilização da estrutura na capacidade colectiva compassiva
.................................................................................................................................... 130
3.1.1.4. Influência da missão organizacional na capacidade colectiva compassiva ... 134
3.1.2. Modelo Teórico Proposto: Influência da flexibilização da estrutura e da missão
organizacional na capacidade colectiva compassiva ...................................................... 138
iv
3.1.3. Implicações e Conclusões do estudo concetual .................................................... 140
CAPÍTULO IV. ESTUDOS EMPÍRICOS ......................................................................... 144
4.1. ESTUDO EMPÍRICO I- Modelo Teórico Proposto: Um contínuum de dimensões
paradoxais de compaixão organizacional ....................................................................... 145
4.1.1. Método .................................................................................................................. 145
4.1.1.1. Design de Investigação .................................................................................. 145
4.1.1.2. Participantes .................................................................................................. 146
4.1.1.3. Procedimentos de recolha de dados ............................................................... 148
4.1.2. Análise de Dados – Processo de Categorização de Compaixão Organizacional . 150
4.1.2.1. Dimensões Teóricas da Compaixão – altruísta, estratégica, interpessoal e
institucional ................................................................................................................ 151
4.1.2.2. Meta-Categorização de Compaixão -altruísta e estratégica, interpessoal e
institucional: Adaptação da Teoria de Habermas ....................................................... 159
4.1.3. Discussão: Proposta de integração e de harmonização das dimensões de
compaixão organizacional- Adatação da Teoria da Ação comunicativa de Habermas .. 162
4.1.4. Limitações, conclusões e implicações do primeiro estudo empírico .................... 166
4.2. ESTUDO EMPÍRICO II- A influência da Compaixão Organizacional,
Características e Ações Organizacionais Compassivas no Job Crafting – Recursos
motivacionais facilitadores?............................................................................................. 171
4.2.1. Proposições teóricas: Influência da Compaixão no trabalho, Características e
Ações Organizacionais Compassivas no Job Crafting ................................................... 171
4.2.2. Design de Investigação ......................................................................................... 183
4.2.3. Amostra ................................................................................................................ 185
4.2.4. Procedimentos ...................................................................................................... 188
4.2.4.1. Técnica de amostragem ................................................................................. 188
4.2.4.2. Técnica de recolha de dados .......................................................................... 189
4.2.4.2.1. Construção e validação de um Questionário on-line .............................. 189
4.2.4.2.1.1. Caracterização do Questionário ....................................................... 191
4.2.4.2.1.2. Validação Estatística das Escalas do Questionário.......................... 196
4.2.4.2.1.2.1. Resultados................................................................................. 197
4.2.5. Análise da relação das dimensões de Compaixão Organizacional no Job Crafting -
Modelo I ......................................................................................................................... 208
4.2.5.1. Racional Teórico e Hipóteses: Modelo I ....................................................... 209
4.2.5.2. Análise dos resultados ................................................................................... 210
v
4.2.6. Análise da relação das Características Organizacionais e Ações Organizacionais
Compassivas no Job Crafting -Modelo II ...................................................................... 216
4.2.6.1. Racional Teórico e Hipóteses ........................................................................ 216
4.2.6.2. Análise dos Resultados .................................................................................. 217
4.2.7. Implicações teórico-metodológicas e práticas ...................................................... 222
4.2.8. Limitações e conclusões do segundo estudo empírico ......................................... 224
CAPÍTULO V. DISCUSSÃO GERAL ............................................................................... 226
5.1. Principais Implicações e Contribuições da Presente Investigação ........................ 226
5.2. Limitações e Direções Futuras.................................................................................. 233
5.3. Conclusões Gerais ...................................................................................................... 235
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 241
ANEXO I. Guião de Entrevista Semi-Estruturada ........................................................... 278
ANEXO II. Questionário -Escalas de Avaliação de: Compaixão Organizacional,
Características e Ações Organizacionais Compassivas, job Crafting e outros conceitos em
contexto de trabalho ............................................................................................................. 279
ANEXO III. Análise Descritiva das Escalas de: Compaixão Organizacional, Job
Crafting, Ação Organizacional Compassiva e Características Organizacionais
Compassivas .......................................................................................................................... 297
ANEXO IV. Cálculo de Saturações dos itens nas Dimensões da Escala de Compaixão
Organizacional e da Escala de Job Crafting-Validade convergente ................................ 300
ANEXO V. Cálculo de Saturações dos itens nas Dimensões da Escala de Ação
Organizacional Compassiva, da Escala de Características Organizacionais Compassivas
e da Escala de Job Crafting-Validade Convergente .......................................................... 302
ANEXO VI. Cálculo das Saturações para verificação das Hipóteses com o Modelo
Estrutural I............................................................................................................................ 304
ANEXO VII. Cálculo das Saturações para verificação das Hipóteses com o Modelo
Estrutural II .......................................................................................................................... 305
vi
Índice de Quadros
vii
Índice de Tabelas
viii
Índice de Figuras
ix
AGRADECIMENTOS
Um especial obrigado ao Prof. Doutor Ace Simpson pela sua partilha de saberes e de
conhecimentos, pelo seu dinamismo, colaboração no trabalho, energia positiva e contributos
científicos.
x
À minha família, mil agradecimentos por terem sempre acreditado em mim e por
terem sempre feito os possíveis para que tudo isto fizesse sentido, aceitando e compreendendo
os meus afastamentos.
Um obrigado profundo é dirigido para aquela que, já não estando presente, sempre
acreditou na minha capacidade de chegar à meta. O seu encorajamento inicial foi
determinante para que este trajeto fosse trilhado.
xi
RESUMO
Para além disso, em termos metodológicos, a presente tese procedeu ainda à validação
para a população portuguesa da escala de compaixão organizacional (Simpson & Farr-
Wharton, 2017). Nas práticas da gestão organizacional com caraterísticas compassivas,
sugere-se que devem ser consideradas as influências dos contextos cultural, político e social
que possam influenciar este fenómeno, procurando harmonizar potenciais paradoxos.
xii
ABSTRACT
The main objective of this research project is the theoretical development of the
organizational compassion concept and its understanding in a broad framework, integrated in
organizational practices. The intention was to deepen the understanding of organizational
characteristics and practices that facilitate the compassionate collective response and to
analyze the impact of compassion in the individual job crafting practices.
Data analysis led to the conclusion that flexibility, when combined with a humanized
culture, facilitate the self-organization of the compassionate collective response process,
regardless of the company mission (profit or pro-social). Assembling evidence to show that
organizational compassion is a multidimensional phenomenon (depending on selfless and
strategic; interpersonal and institutional dimensions) was a very relevant finding which
broadens the current theoretical framework. It was found that only the dimensions of
'assessment', 'response type' and 'compassionate organizational characteristics' have a direct
positive relationship to increasing 'structural job resources', 'social' and 'challenging job
demands' dimensions.
xiii
INTRODUÇÃO
No que se refere à questão do sofrimento dos indivíduos, que se entende fazer parte
incontornável da condição humana, apesar do mesmo ser considerado um aspeto significativo
da vida das pessoas, e também dos contextos de trabalho, tem sido muitas vezes esquecido e
não considerado na vida das organizações (Frost, 1999; 2003).
Embora os contextos de trabalho sejam destacados, cada vez mais, como locais de
experiência de dor, sofrimento ou de angústia, há quem considere que estes também se podem
constituir como locais de cura (e.g., Kanov et al., 2004). De acordo com o modelo teórico
tripartido, pioneiro na literatura, a compaixão organizacional decorre da situação em que os
1
membros de uma organização denotam, sentem empatia e respondem à dor dos demais, sendo
legitimada pelo colectivo num determinado sistema e facilitada por uma série de fatores
organizacionais como valores, rotinas e práticas (Kanov et al., 2004).
Para além destas situações, podem existir outras ocorrências que advém da vida
pessoal e familiar dos indivíduos ou de situações de crise, como por exemplo doença, perda
de familiares por falecimento, divórcio, crises ou catástrofes naturais (Dutton, Worline, Frost,
& Lilius, 2006b; Simpson, Clegg & Cunha, 2013a; Simpson, Cunha, & Clegg, 2015), a que os
colaboradores, equipas, líderes e cultura organizacional não podem deixar de ficar
indiferentes ou intocados (e.g., Dutton, Lilius & Kanov, 2007).
2
No que se refere ao desenvolvimento do conceito de compaixão, a definição mais
ampla e abrangente presente nas pesquisas desenvolvidas nos estudos organizacionais
positivos articula mutuamente os seguintes processos, ou fases, a nível individual e coletivo,
sendo dada ênfase a uma visão positiva geral da compaixão nos contextos de trabalho (Dutton
et al., 2014): 1) a perceção e o reconhecimento do sofrimento do outro; 2) a empatia com o
sofrimento do outro, através da tomada de perspetiva do outro; 3) a avaliação e interpretação
das circunstâncias do sofrimento e das suas causas (i.e., aquando da experiência ou episódio
de sofrimento); e d) o tipo resposta com ações (i.e., a nível material ou emocional) que
aliviam o sofrimento (de vulnerabilidade ou de angústia) dos profissionais.
Neste sentido, à luz da teoria sociológica das interações sociais e das relações de poder
que caracterizam as relações compassivas nos contextos de trabalho, e entendendo a
compaixão organizacional enquanto constructo social, a legitimação da aceitação ou da recusa
da resposta coletiva compassiva está dependente, segundo o modelo teórico defendido por
Simpson e colaboradores (2014b), do tipo de julgamentos e de expectativas presentes no
contexto relacional estabelecido entre “doador” (ator de ajuda) e “recetor” (sujeito em
3
sofrimento) no momento do episódio de sofrimento, assim como no tipo de políticas, normas,
cultura e estruturas organizacionais.
É rumo a pressupostos teóricos similares a estes (e.g., Simpson, Clegg, & Cunha.,
2013) que a literatura sobre compaixão no trabalho tem caminhado. Neste sentido, o modelo
tripartido, considerado padrão concetual de compaixão organizacional (Kanov et al., 2004),
foi sendo redefinido, tendo em conta que o fenómeno de compaixão não se restringe
meramente ao âmbito relacional, mas também é considerado como um processo social
complexo (e.g., Dutton et al., 2014; Kanov et al., 2016; Simpson, Clegg, & Freeder, 2013b;
Simpson et al., 2014 a,b; Simpson, Cunha, & Clegg, 2015).
A este respeito, no que se refere aos estudos sobre o impacto deste fenómeno nos
locais de trabalho, quando os profissionais percecionam o seu trabalho como impulsionado
por práticas positivas e virtuosas, contribuindo para o valor real para a sociedade, estes têm
maior identificação com a organização, não apenas como trabalho ou oportunidade de
4
carreira, mas como um chamamento (Mackey & Sisodia, 2013; Wrzesniewski, McCauley,
Rozin, & Schwartz, 1997).
Por seu turno, quando o motivo da compaixão é instrumental, como o lucro pessoal ou
a reputação da empresa (e.g., Benioff & Southwick, 2004; George, 2013; Kavan, 2005,
citados por Simpson et al., 2014a), poder-se-á admitir, em muitos casos, que os profissionais
podem ser obrigados a envolver-se em atividades compassivas com base numa “compaixão
estratégica”, em contraponto com a defesa de uma gestão de responsabilidade corporativa.
Num estudo recente (Kanov et al., 2016), foi sugerido que algumas características do
contexto organizacional podem minimizar estas dúvidas ou incertezas que decorrem no
processo de avaliação/interpretação da compaixão por ambos os envolvidos no episódio de
sofrimento (doador e sofredor), designadamente quanto à interpretação do ato de dar e de
receber ações compassivas (Kanov et al., 2016), não obstante ser considerado que dada à
complexidade destas dinâmicas, a compaixão seja entendida como um acto de coragem.
5
complexidade e dos aspetos paradoxais deste fenómeno (i.e., que envolve contradições,
tensões, dilemas ou/e dialéticas).
6
estratégica destinada a maximizar os lucros (ou seja, organizações com fins lucrativos), esta
perspetiva não é unânime na literatura.
Os estudos mais recentes (e.g., Lilius et al., 2011 a, b; Madden et al., 2012)
consideram, neste sentido, que as respostas coletivas compassivas podem ocorrer, tanto em
organizações não-governamentais (3º setor), quanto em organizações consideradas com fins
lucrativos (e.g., Simpson, Clegg & Cunha, 2013a), defendendo que todas as organizações têm
capacidade de responder à compaixão (Madden et al., 2012). Admite-se que as características
e práticas organizacionais de rotina, destacando uma cultura preconizada por valores de
cuidado ao outro, se constituam como mais relevantes na capacitação da resposta compassiva,
do que a missão organizacional per se (e.g., Madden et al., 2012).
7
segundo alguns autores (e.g., Simpson et al., 2013a), estes aspetos negativos deveriam ser
compreendidos de forma integrada com os de carácter positivo (que facilitam a resposta
coletiva compassiva), considerando, assim, a necessidade de estudos de aprofundamento no
contexto de trabalho (e.g., Simpson, Clegg, & Cunha, 2013).
Neste sentido, com o objetivo que este estudo se propõe desenvolver, espera-se que o
mesmo se constitua como um contributo relevante para a melhoria da compreensão da
complexidade das relações compassivas e do conhecimento de características e práticas que
facilitam a capacitação do coletivo na aplicação do processo compassivo.
8
Segundo Grant, Fried, Parker e Frese (2010), quando os indivíduos percecionam a sua
organização como compassiva, com uma atuação cuidadora com os mesmos, tendem a exibir
atitudes e emoções positivas que se refletem no aumento de compromisso afetivo, o que, por seu
turno, poderá ter repercussões a nível comportamental, cognitivo e emocional (Rhee, Dutton, &
Bagozzi, 2006). Tal pode ter como consequências, nomeadamente, a mobilização de um maior
envolvimento e esforço no trabalho (Eisenberg, Fasolo, &Davis-LaMastro, 1990).
No que se refere aos aspetos motivacionais para a mobilização e/ou envolvimento dos
indivíduos em ações de moldagem ou redefinição individual do trabalho (i.e., job crafting),
segundo Wrzesniewki e Dutton (2001) foi dada ênfase à importância das emoções positivas e
das virtudes humanas na redefinição de tarefas e de relacionamentos por iniciativa dos
indivíduos, com vista ao alcance de um maior significado e propósito dos trabalhos e ainda
um alinhamento destas ações às suas necessidades e interesses.
9
Neste contexto, o aprofundamento dos estudos do job crafting tem-se constituído
promissor para a compreensão dos mecanismos e dos processos subjacentes à motivação dos
trabalhadores para o seu envolvimento em comportamentos de moldagem com vista à
redefinição dos seus trabalhos, possibilitando a atribuição de um novo significado ao que
fazem (Tims, Bakker, & Derks, 2012; Wrzesniewski & Dutton, 2001).
No que se refere ainda aos benefícios deste constructo no campo das organizações, são
demonstrados, por exemplo, por Demerouti (2014) efeitos preditores do aumento do
envolvimento no trabalho, na motivação, na satisfação, no bem-estar individual, no
desempenho e produtividade do trabalhador e, ainda, na atribuição de significado e de um
maior propósito ao trabalho (Demerouti, 2014; Wrzesniewski & Dutton, 2001).
10
No que concerne à estruturação da presente tese, o primeiro Capítulo diz respeito à
revisão de literatura sobre a concetualização do fenómeno de compaixão organizacional com
foco em diferentes perspetivas. Nele estão também explanadas as teorias subjacentes à
influência das características e das práticas que facilitam este processo compassivo e os
benefícios deste fenómeno.
O segundo Capítulo teve como objetivo descrever o enquadramento teórico das opções
metodológicas efetuadas nos três estudos desenvolvidos na presente investigação, sendo
explanados os principais paradigmas subjacentes aos processos e metodologias de pesquisa.
Pretendeu-se apresentar uma visão global das estratégias inerentes à elaboração dos estudos,
não só em termos teóricos, mas também metodológicos.
11
Após o primeiro estudo, de cariz teórico, realizou-se um primeiro estudo empírico, já
publicado em revista científica com peer review, que seguiu um método qualitativo e
indutivo, suportado na metodologia da Grounded Theory (Strauss & Corbin, 1998). Aqui se
compararam os dados obtidos a partir das definições e significados dos profissionais sobre
compaixão organizacional com a literatura (Habermas,1987). De acordo com uma
metodologia empírica indutiva, pretendeu-se assim aprofundar a conceptualização da
compaixão organizacional, caracterizar as dimensões teóricas encontradas e formular um
modelo teórico, abrangente e integrado, deste constructo multidimensional e paradoxal.
A partir da revisão de literatura sobre paradoxos, é proposta uma leitura sobre como as
dimensões de compaixão organizacional podem ser harmonizadas e integradas, contribuindo,
nesta medida, para o avanço da teoria sobre este conceito e, principalmente, para as práticas
nos contextos de trabalho, onde este fenómeno poderá ser benéfico - para os ambientes
organizacionais e para os colaboradores.
Para cada um dos estudos desenvolvidos, será efetuada uma discussão alargada dos
principais resultados obtidos nos trabalhos realizados na presente investigação, das limitações
e das potenciais implicações teóricas e práticas que destes resultados poderão advir. Serão
analisados os resultados, com incidência nos pressupostos teóricos dos impactos da missão e
da estrutura flexível na resposta coletiva de compaixão, no modelo concetual das categorias e
dimensões teóricas de compaixão organizacional e por último, nas relações diretas entre as
dimensões teóricas de compaixão, as ações e as características organizacionais compassivas e
as dimensões teóricas constituintes do Job Crafting. As ideias gerais deste trabalho serão, na
12
fase final, reunidas, e apresentadas as principais implicações, contribuições teóricas e práticas,
e limitações, referidas no último Capítulo (V).
13
(práticas) organizacionais compassivas, nas dimensões constituintes do constructo de
moldagem individual do trabalho (Job Crafting) (2º Estudo empírico).
Para cada um dos objetivos gerais, 1, 2 e 3, foram destacados os seguintes Objetivos
Específicos (relacionamos em seguida cada um com os objetivos gerais, indicando a respetiva
numeração):
14
CAPÍTULO I. REVISÃO CRÍTICA DA LITERATURA
O foco dos estudos sobre o conceito de compaixão nos contextos do trabalho emergiu
nas correntes de pensamento e valores da religião e na área da psicologia, cujas definições
tiveram como cerne a preocupação de pensar a condição humana (Nussbaum, 1996).
A natureza de compaixão associada a uma “alma pura” era, assim, e de acordo com
estes princípios e crenças, impulsionada a partir de si mesma e generalizada à família, à
sociedade, à humanidade e a todos os seres vivos.
16
compaixão, para além do reconhecimento do sofrimento, contempla uma ação ou uma
resposta que provoca o alívio, o amenizar ou o remover do sofrimento.
Deste modo, segundo a perspectiva dos autores (Kanov et al., 2004), a compaixão
mais do que uma postura de preocupação empática (i.e, posicionar-se e sentir o sofrimento do
outro), deverá ser entendida como uma situação inequívoca de sofrimento que mobiliza uma
resposta (i.e., dando sentido ao sofrimento do outro e permitindo-se a transformá-lo).
Uma das formas mais comuns de sofrimento referidas pelos autores é o processo de
luto, podendo ainda surgir outras situações como por exemplo o divórcio, dificuldades
pessoais e financeiras, que podem potenciar o sofrimento no indivíduo no seu trabalho,
comprometendo os resultados e a sua satisfação (Lilius et al., 2008). Tais situações de
17
sofrimento poderão afectar as respostas emocionais e o clima de trabalho, e potenciar
repercussões negativas a nível individual, como: redução de energia, dificuldades na tomada
de decisão, estados de ansiedade e de preocupação, angústia, sentimentos de tristeza e
dificuldade de concentração e de memória (e.g., Lilius et al., 2008).
O termo compaixão é associado a ações de cuidar dos outros, movida por sentimentos
em que as pessoas denotam atenção e preocupação umas com as outras (Cameron et al., 2004;
Frost, Dutton, Worline, & Wilson, 2000). A mesma, envolve bondade (Soloman, 1998) e
pressupõe a disposição para cuidar dos outros em circunstâncias de adversidade. É também
associada a actos de amor altruísta, de generosidade e de simpatia (Park, Peterson, &
Seligman, 2004). No que se refere ao termo “altruísmo”, trata-se de uma das dimensões
18
sugeridas por Organ (1988) para caraterizar o comportamento de cidadania organizacional.
Refere-se a comportamentos discricionários que têm como objetivo ajudar outras pessoas com
uma determinada tarefa organizacional ou num dado problema relevante (Rego, Ribeiro, &
Cunha., 2010).
De acordo com o movimento de estudos teóricos positivos foi ainda dada especial
relevância aos aspetos positivos seguintes: ao fluir, à motivação, ao envolvimento dos
indíviduos nos seus contextos de trabalho e à importância da atribuição de um significado e de
um maior propósito aos seus trabalhos (e.g., Berstein 2003; Dutton & Glynn, 2008).
19
O movimento dos estudos organizacionais positivos teve assim um carácter inovador
nas pesquisas desenvolvidas sobre os fenómenos humanos presentes nos ambientes de
trabalho. Neste sentido, através do aprofundamento da importância de constructos positivos
como a compaixão, e de outras virtudes humanas, que estavam anteriormente ausentes dos
contextos organizacionais, foi possível verificar que a introdução deste campo de estudos tem
permitido, aos gestores, compreender a forma como gerir as questões positivas nos contextos
e na gestão dos ambientes de trabalho.
A par das temáticas de florescimento das forças e das virtudes individuais e colectivas
no trabalho, e de acordo com o movimento teórico dos estudos organizacionais positivos,
foram mencionados como áreas centrais de aprofundamento científico, os estudos sobre a
conceitualização e o desenvolvimento da teoria de compaixão organizacional (e.g., Frost,
Dutton, Maitlis, Kanov, Lilius & Worline, 2006).
20
acordo com esta perspectiva, a mobilização do padrão de comportamentos por parte do
coletivo para a resposta à dor do outro dependerá, assim, da sua sensibilidade e da capacidade
do colectivo para percecionar a situação do sofrimento e mobilizar a resposta compassiva
(e.g., Dutton et al., 2006 b).
Neste sentido, conforme Dutton e colaboradores sugerem (2006 b), de acordo com este
modelo, enquadrado na arquitetura social, o processo de compaixão permite a auto-
organização e coordenação de recursos pessoais e sociais para a mobilização e capacitação da
resposta coletiva compassiva nas organizações, sendo este processo especialmente pertinente
em situações de gestão de crise, decorrentes de acontecimentos traumáticos a nível interno
dos contextos de trabalho (e.g., despedimentos) ou decorrentes de situações externas às
organizações (e.g., catástrofes naturais, como incêndios ou inundações) (e.g., Dutton et al.,
2006 b; Simpson, Clegg, & Cunha, 2013a; Simpson, Clegg, & Freeder, 2013b).
21
1.1.2. Repercussões da compaixão no trabalho a nível individual, relacional e e
organizacional
22
g) no desempenho organizacional, com indicadores de qualidade e de inovação,
retenção de clientes, rotatividade dos colaboradores e rentabilidade (Cameron et al.,
2004);
h) na confiança organizacional, no brio, na conexão e na motivação (Dutton,
Lilius, & Kanov, 2007; Frost, Dutton, Worline, & Wilson, 2000; Lilius et al., 2008);
i) no aumento da criatividade (Zabelina & Robinson, 2010);
j) na perceção de eficácia na liderança e na tomada de decisões (Boyatzis, Smith,
& Blaize, 2006; Cameron, Mora, Leutscher, & Calarco, 2011; Crossan, Mazutis, &
Seijts, 2013; Dutton et al., 2002; Sutton, 2009; 2010);
k) no aumento do compromisso dos colaboradores com a organização e com os
colegas (Lilius et al., 2008, Frost et al., 2000);
l) na construção de recursos pessoais de confiança, envolvimento e motivação
com o trabalho, assim como, no fortalecimento de valores e crenças humanizadoras
como dignidade, respeito, bem comum e cultivo de competências relacionais através
do aumento de sensibilidade emocional (Dutton et al., 2007);
m) na perceção de auto-eficácia pessoal e na produtividade (Grant, 2008);
n) na capacitação das atitudes de liderança efetivas com decisões éticas e
humanas (Dutton et al., 2002; Crossan et al., 2013; Sutton 2009; 2010; Cameron et al.,
2011);
o) no bem-estar, desempenho e envolvimento em tarefas extras (Rego, Ribeiro, &
Cunha, 2010);
p) na expressão de emoções positivas e no compromisso afectivo organizacional
(Lilius et al., 2008);
q) no desenvolvimento de competências psicológicas como otimismo, esperança,
auto-eficácia, resiliência, satisfação, compromisso organizacional, criatividade,
desempenho e envolvimento no trabalho e em comportamentos de cidadania (Avey et
al., 2008; Luthans & Youssef, 2007);
r) no comprometimento em relação à organização e aos colegas de trabalho (Frost
et al., 2000; Grant et al., 2008; Lilius et al., 2008);
s) na proximidade entre os colaboradores (Frost et al., 2000; Powley, 2009);
t) na intenção dos colaboradores em permanecer na organização (Lilius et al.,
2008).
23
Conforme referido, o valor do processo de compaixão nos contextos de trabalho tem
sido ainda demonstrado, quando aplicado nas práticas e na cultura das organizações, a um
nível macro, com benefícios nas respostas do colectivo a situações de sofrimento dos demais e
na mobilização na organização de respostas colectivas compassivas na gestão de situações de
crise ou de situações traumáticas nas organizações (e.g., Bright, Cameron, & Caza, 2006;
Simpson, Clegg, & Cunha, 2013a; Simpson et al., 2014a).
Paralelamente, Bagozzi (2003, citado por Cameron et al., 2011) sugeriu que as
características organizacionais positivas (e.g., forças e virtudes organizacionais, de que a
compaixão é um exemplo) aumentam a identificação organizacional, levando os indivíduos a
experienciar sentimentos positivos, o que, por conseguinte, motivará o seu envolvimento em
ações de cidadania organizacional (e.g., Rego et al., 2010).
Spector e Fox (2002) argumentam ainda que as situações que induzem emoções
positivas encorajam as pessoas a um maior envolvimento no trabalho. Em paralelo, Rego,
Ribeiro e Cunha (2010) defendem que a adoção de comportamentos de cidadania
organizacional, por seu turno, facilitará a expressão de emoções positivas (Rego et al., 2010).
Em suma, o maior envolvimento dos profissionais nos seus contextos de trabalho está
relacionado com a experiência de emoções positivas, com comportamentos de proactividade e
com a autonomia dos profissionais (e.g., Hakanen, Perhoniemi, & Toppinen-Tanner, 2008).
Com base nestas evidências, é possível, assim, admitir a existência de uma relação
recíproca positiva entre dimensões de componentes humanas/altruístas/compassivas
24
(componente emocional-humana) e dimensões relacionadas com o compromisso, autonomia,
proactividade e envolvimento no trabalho (dimensão material-não-humana).
De acordo com vários autores (e.g., Berg, Dutton, & Wrzesniewski, 2008; Tims &
Bakker, 2010), o conceito de Job Crafting refere-se à forma como o sujeito perceciona o seu
ambiente de trabalho e age sobre o mesmo, ajustando-o às suas necessidades, preferências,
habilidades, paixões e valores. Trata-se de comportamentos proactivos desenvolvidos pelos
profissionais (i.e., a partir das suas próprias iniciativas).
Na revisão de literatura sobre Job Crafting têm sido desenvolvidos vários modelos
teóricos sobre este constructo, a análise das repercussões deste fenómeno para os
colaboradores e organizações e as oportunidades ou características organizacionais que
facilitam a mobilização dos comportamentos de Job Crafting, aspetos que se considera
25
necessitarem de um maior aprofundamento na literatura empírica, o que se pretende realizar
no presente estudo.
Conforme explicado pelos autores (Wrzesniewski & Dutton, 2001), estas mudanças
podem ser manifestadas através de diferentes ações, designadamente: no número de tarefas a
cargo, na forma como as tarefas são desenvolvidas e ainda a nível dos relacionamentos, na
alteração da intensidade e da quantidade de interações com outras pessoas e na forma como
percecionam os conteúdos do trabalho, em relação ao significado das tarefas que executam.
Podem moldar os seus trabalhos através de mudanças em diferentes aspetos do seu trabalho,
como tarefas, relacionamentos no trabalho e nas suas cognições acerca desse trabalho
(Wrzesniewski & Dutton, 2001).
Paralelamente, noutros estudos (Bindl & Parker, 2010; Grant & Ashford, 2008), o Job
Crafting é descrito como comportamentos de proatividade. A tónica colocada em relação a
estes comportamentos é a ideia de que os indivíduos podem alterar as caraterísticas do seu
trabalho por iniciativa própria (e.g., Tims et al., 2012). De modo similar, segundo Lepine e
Van Dyne (1998) estes comportamentos proactivos que os trabalhadores mobilizam no seu
trabalho, por deligência própria, sem a necessidade do conhecimento dos seus líderes ou
superiores, podem resultar num processo de mudança no seu desempenho de trabalho.
26
Num modelo teórico complementar (Tims et al., 2012), o Job Crafting corresponde às
mudanças iniciadas pelos profissionais para reduzir as exigências e aumentar os recursos do
trabalho, de forma a equilibrar ambos às suas necessidades e recursos pessoais. Tims e
colaboradores (2012) definiram, assim, o conceito de Job Crafting baseando-se no modelo
das exigências e de recursos do trabalho, com o objetivo de identificarem caraterísticas do
trabalho que podem ser alteradas pelos profissionais, através de moldagem (i.e., redefinição,
alteração e restruturação de recursos do trabalho).
Isto poderá ser explicado, segundo Parker, Bindl e Strauss (2010), pela ideia de que, as
caraterísticas positivas do envolvimento no trabalho (i.e., energia e entusiasmo) fazem com
que o indivíduo detenha uma maior tendência para a ação, nomeadamente em função do que é
27
benéfico para si. A relação verificada entre os dois conceitos (i.e., envolvimento e e
proactividade sobre o trabalho) é coerente com o modelo das exigências-recursos do trabalho
(Bakker, 2011), que originalmente assumiu que os comportamentos de envolvimento no
trabalho fossem relacionados com o job crafting e que este, por sua vez, esteja relacionado
com os recursos pessoais e do trabalho.
Em pesquisas similares foi demonstrada uma dinâmica relacional positiva entre job
crafting e compromisso no trabalho (Tims, Derks, & Bakker, 2016; Van Wingerden, Derks,
Bakker, 2016) que, por seu turno, influencía de forma positiva o aumento do desempenho
(Fritz & Sonnentag, 2009; Parker et al., 2010; Schaufeli, Bakker, &Van Rhenen, 2009; Tims
et al., 2016).
Com base na análise dos resultados, os mesmos autores (Rudolph et al., 2017)
concluíram quanto ao suporte de concetualização da variável global de job crafting, baseado
nas suas dimensões constituintes, com exceção da redução das exigências percecionadas
como incómodas. Outros autores (Tims et al., 2012) verificaram uma associação positiva do
valor global de job crafting com o de autonomia no trabalho e, ainda, com o de excesso de
trabalho. Por seu turno, estes autores verificaram ainda que a autonomia no trabalho estava
associada, de modo positivo, com a iniciativa pessoal dos profissionais.
29
1.1.2.1.1.1. O modelo tetra-dimensional de Job Crafting
30
Relativamente ao “aumento dos recursos laborais estruturais”, esta dimensão do
modelo teórico de Tims e colaboradores (2012) refere-se ao autodesenvolvimento profissional
dos trabalhadores e aos esforços que possam ser por eles desenvolvidos com vista ao alcance
de alterações ou mudanças nos seus ambientes de trabalho. Baseia-se nos esforços individuais
para a aprendizagem de novas competências e para o desenvolvimento de novos
relacionamentos profissionais (Tims et al., 2012).
Neste sentido, foi referenciada uma face do job crafting que poderá ter um impacto
menos positivo na organização, e que está associada a esta dimensão (Petrou, Demerouti,
Peeters, Schaufeli, & Hetland, 2012; Tims et al., 2012). Este impacto pode ainda surgir se, por
exemplo, a abordagem pessoal da moldagem do posto de trabalho conduzir a procrastinação.
Neste caso, o job crafting poderia resultar em perdas em termos de tempo desperdiçado. Se as
ações do trabalhador o levarem a agir contra os planos estratégicos da organização, este
estaria a desenvolver atividades contraproducentes à organização que poderiam afetar
diretamente os interesses da mesma (Wrzesniewski & Dutton, 2001).
No que se refere aos efeitos da dimensão do job crafting, a nível geral, segundo os
criadores deste modelo teórico (Tims et al., 2012) este fenómeno tem um impacto potencial
positivo nas organizações, visto que poderá promover um aumento do inter-relacionamento
com o trabalho (Bakker et al., 2012; Tims et al., 2012), um aumento da empregabilidade, do
desempenho profissional (Tims et al., 2012), da satisfação laboral, da facilidade de
aprendizagem e do crescimento pessoal (Tims, Bakker, & Derks, 2014), contribuindo
simultaneamente para a diminuição do sentimento de burnout (Tims et al., 2013).
32
Por exempo, Ghitulescu (2006) constatou uma ligação positiva entre o job crafting e o
compromisso organizacional. A este respeito Wrzesniewski e Dutton (2001) demonstraram
que os trabalhadores que moldavam os seus trabalhos manifestavam satisfação pelo facto de
através do envolvimento neste processo de Job Crafting experienciarem um maior significado
e um maior propósito do trabalho. Por seu turno, Bakker e colaboradores (2012) verificaram
que o job crafting dos profissionais foi preditor do seu envolvimento e desempenho no
trabalho (de funções/papéis).
O job crafting tem uma ligação importante entre a motivação no trabalho e o cultivo
de recursos pessoais no trabalho o que, por seu turno, facilita o aumento de um ajustamento
das pessoas aos seus trabalhos (Bakker & Demerouti, 2016). A nível de repercussões,
entende-se ainda que o job crafting está associado a um aumento na empregabilidade e de
desempenho (Tims et al., 2012) e à redução na propensão para o burnout e stress no trabalho
(Tims et al., 2013).
33
deste desenvolvimento proactivo das competências foi dado no estudo de Lyons (2008), onde
30% de todos os episódios de job crafting categorizados estavam relacionados precisamente
com o desenvolvimento proactivo de competências pessoais.
Como síntese das repercussões do job crafting nos referidos estudos, pode-se concluir
quanto um impacto favorável de procura de recursos e de procura de mudanças e um impacto
negativo de redução de exigências percecionadas como incómodas para a motivação e o
desempenho dos ambientes organizacionais em mudança (Demerouti, 2014).
Bakker, Demerouti e Euwema (2005) reportaram, no mesmo sentido, que este tipo de
procura de recursos (e.g., como autonomia, feedback sobre a forma como manter o seu
desempenho, apoio emocional, ajuda instrumental, suporte social do supervisor) poderá ter
um papel atenuante na procura de redução de exigências percecionadas, por parte dos
profissionais, como obstáculos no trabalho.
36
desempenho e de eficiência e protegendo-os de experiências de maior stress e ansiedade
(Holman & Wall, 2002).
O processo de Job Crafting necessita, na prática, de tempo para se instalar (Berg et al.,
2008) e só chega a acontecer se for percecionada pelo trabalhador como uma oportunidade
para o concretizar (Wrzesniewski & Dutton, 2001). Foi concluído que através das mudanças
da forma como os profissionais percecionam os seus trabalhos, eles podem experienciá-los de
uma forma mais positiva e optimizar, tanto os seus ambientes de trabalho, como as suas
experiências de trabalho (Van Wingerden & Poell, 2017).
37
A perceção de oportunidades para o envolvimento dos profissionais em
comportamentos de job crafting, depende de factores internos (individuais) e externos (i.e.,
situacionais ou organizacionais), ou seja, de características pessoais e ambientais.
Além destes aspectos, os profissionais que percecionam ter autonomia no seu trabalho
ou liberdade para tomarem decisões, poderão ter maior probabilidade ou possibilidades para
se envolverem de forma proactiva em comportamentos de suporte/apoio, e em efectuar por
sua iniciativa alterações nas tarefas ou nos relacionamentos otimizando deste modo os seus
ambientes de trabalho.
39
2004). Os efeitos potenciadores podem promover emoções positivas e comportamento pró-
social, enquanto os efeitos facilitadores podem proteger (e prevenir) contra invasões
negativas.
40
Neste sentido, Dutton, Roberts e Bednard (2010), argumentaram que a perspectiva
avaliativa da identificação positiva relacionada com o trabalho facilita uma melhor
compreensão dos outros, uma melhoria no relacionamento com supervisores e colegas e
permite uma maior partilha entre os profissionais de informações, expressando livremente os
seus interesses e sugerindo idéias criativas que desafiam o status quo (Shalley, Zhou, &
Oldham, 2004). Pesquisas anteriores sugerem, simultaneamente, que a compaixão no trabalho
afeta atitudes e comportamentos dos profissionais ao moldar percepções sobre a organização e
dos colegas de trabalho (Lilius et al., 2008).
Na teoria da identidade social (Tajfel, 1974, 1975) é defendido que a identidade das
pessoas é moldada pela sua interação social com os outros em vários contextos e
distinguindo-se dos demais através de formas de categorização em grupos (Ellemers, De
Gilder, & Haslam, 2004; Tajfel, 1974, 1975). De acordo com a perspectiva da teoria da
identidade social, os funcionários que vivenciam compaixão no trabalho estarão mais
propensos a aumentar as suas motivações intrínsecas para melhorar a sua identidade
organizacional.
41
2004; Tajfel, 1974, 1975). Assim, a experiência de compaixão dos membros da organização
permite que os funcionários se envolvam em avaliações positivas sobre a sua identidade
pessoal no trabalho, o que, por conseguinte, aumenta a sua motivação para fomentar ainda
mais a sua identidade, e no sentido de melhorar a perceção do seu auto-valor.
Por exemplo, Dutton, Roberts e Bednad (2010) argumentaram que a perceção positiva
da sua identidade relacionada com o trabalho facilitará a compreensão dos outros e a melhoria
no acesso a recursos auto-afirmativos por meio de respostas proativas às ameaças, criando
emoções positivas entre os membros da organização.
Adicionalmente, em vários estudos empíricos (e.g., Cameron, 2003; Chun, Shin, Choi,
& Kim, 2011; Guchait, Lanza-Abbott, Madera, & Dawson, 2016) foi sugerido que o contexto
organizacional no qual os profissionais estão integrados influencia as suas atitudes e
comportamentos. Neste sentido, a identificação com a organização permite aos indivíduos
42
internalizar os valores e os objetivos preconizados por aquela (Dutton, Dukerich & Harquail,
1994; Karanika-Murray, Duncan, Pontes, & Griffiths, 2015).
Em paralelo, com base nos pressupostos teóricos de trocas sociais recíprocas (Blau,
1964), ao percecionarem atitudes de apoio por parte da sua organização, nomeadamente
através dos seus líderes e colegas de trabalho, os profissionais estarão mais motivados a
responder de forma mútua, retribuindo comportamentos semelhantes de atenção, preocupação
e de cuidado junto dos outros (Rego et al., 2010).
A partir desta perpectiva, entende-se que as trocas sociais entre os profissionais serão
tanto melhores quanto maior for a reciprocidade, isto é, em qualquer relação interpessoal ou
organizacional um indivíduo espera sempre receber o mesmo, ou até mais, do que aquilo que
investiu nessa relação. A ausência de reciprocidade, ou a existência de uma relação de ajuda
desequilibrada poderá, assim, conduzir ao desgaste emocional (exaustão) do trabalhador,
estando, neste sentido, a importância de estabelecimento de trocas sociais recíprocas
associada à necessidade de ser garantido o bem-estar individual.
44
Noutros estudos foi identificada a presença de comportamentos proactivos e de
atitudes de maior dedicação face aos outros o que, por seu turno, mostrou poder potenciar a
perceção da sua identidade prosocial (Dutton et al., 2010; Grant & Ashford, 2008).
Neste sentido, em estudos anteriores (Janig & Habler, 1999; Talarico, Berntsen, &
Rubin, & 2009) foi demonstrado que a expressão e a partilha de narrativas sobre emoções
positivas conduz a uma maior abertura cognitiva e emocional dos profissionais, que lhes
permite reintegrar novas ideias e aprendizagens no sentido da melhoria de recursos laborais
estruturais (intelectuais, emocionais e físicos); estes, por sua vez, facilitam o processo
interpessoal compassivo: de reconhecer, sentir empatia e responder ao sofrimento do outro.
45
presença do sofrimento nos locais de trabalho e redesenhando os seus trabalhos para incluir
nas suas funções recursos de modo a sentir e a responder, com sabedoria humana ao
sofrimento dos outros. O sujeito sente-se motivado para modificar o seu contexto de trabalho
de modo a torná-lo mais significativo para si, e para conseguir lidar de melhor forma com as
caraterísticas do mesmo (Wrzesniewski & Dutton, 2001).
Neste sentido, a premissa central desta teoria da prática social é a de que a realidade
social é produzida nas práticas das estruturas organizacionais (Nicolini, 2012). Segundo
Orlikowski (1992), as práticas organizacionais referem-se aos padrões de ações repetidas
desenvolvidas pelas organizações (incorporados nas rotinas), os quais se constituem como
46
facilitadores na mobilização e na coordenação de recursos que visam legitimar a aplicação dos
subprocessos de compaixão (e.g., Dutton et al., 2006b; Kanov et al., 2004). Para Giddnes
(1984), as práticas são constituídas recursivamente nas estruturas, sendo legitimadas como
capacitantes ou inibidoras de acordo, com as normas e valores.
47
constituídas e legitimadas mutuamente a nível das práticas e das normas sociais, na
arquitetura social (e.g., Dutton et al., 2006 b).
A integração dos princípios da teoria da prática social nos estudos organizacionais está
ainda baseada na premissa de que todos os fenómenos, como por exemplo o significado do
conhecimento ou do poder, são constituídos de forma dinâmica e contínua, mediante acordo
com o contexto político, social e cultural, com base nas práticas sociais quotidianas (Nicolini,
2012). Neste sentido, entende-se que as relações compassivas não devem ser entendidas como
sendo meramente positivas ou estáticas, mas sim dinâmicas, procurando integrar aspectos
negativos e positivos.
Neste sentido, os autores chamaram à atenção para o facto de que em vez de serem
considerados como previsões, os resultados das pesquisas deveriam ser compreendidos como
generalizações teóricas admitindo as alterações nas variáveis de acordo com as diferenças nos
contextos (Feldman & Orlikowski, 2011).
Com base nos princípios da teoria da prática social e da realidade dos contextos das
organizações, Simpson e colaboradores (2014a) procuraram redefinir o conceito de
49
compaixão organizacional (e.g., Feldman & Orlikowski, 2011; Nicolini,2012;
Orlikowski,1992), seguindo uma perspectiva sociológica.
À luz dos princípios da teoria da prática social (Feldman & Orlikowski, 2011) os
fenómenos sociais, como é exemplo o processo de compaixão organizacional, e atendendo à
sua complexidade e princípio de interligação mútua de relação com outros fenómenos, como
o poder nas relações compassivas, deverão ser ententidos de forma interligada, num
continuum, mesmo que, em algumas circunstâncias, possam ser percecionados como
conceitos ou fenómenos paradoxais.
Com base nestes pressupostos, para os designados autores (e.g., Simpson et al., 2014b)
as relações de legitimação e de recusa das ações de compaixão devem ser entendidas
enquanto relações de poder, percecionadas geralmente como assimétricas (Osterlund &
Carlile, 2005) complexas, contigentes e específicas a um determinado contexto (e.g., Simpson
et al., 2014a).
50
apontam para uma tolerância e consideração da ambiguidade e complexidade, bem como uma
apreciação da realidade organizacional contingente, múltipla e emergente.
“Na maioria das circunstâncias, as ações que expressam compaixão geram custos psicológicos,
que em alguns casos, podem levar o indivíduo ao esgotamento, devido à gradual redução na
sua capacidade de suportar a dor e a aflição alheia”
(Barbosa, Souza, & Moreira., 2014, p. 317)
Não obstante a relevância do movimento de estudos sobre teorias positivas, pelo facto
de se constituírem como alternativa fundamental aos estudos desenvolvidos na psicologia
tradicional, com foco nos défices e na anormalidade, vários autores (Fineman, 2006 a,b),
apontam críticas diversificadas às abordagens com foco no positivo, considerando-as
redutoras. Argumentam com base no desajustamento dos seus resultados à luz da realidade
complexa dos contextos laborais que caracterizam as dinâmicas das organizações. Por
exemplo, Simpson e colaboradores (2014 a,b) chamaram à atenção para a existência de uma
desconexão entre os pressupostos da teoria compassiva organizacional com foco apenas no
positivo e a realidade dos contextos organizacionais.
51
As limitações identificadas na literatura, a este nível, motivaram a necessidade dos
autores (e.g., Simpson et al., 2014a,b) recorrerem à adaptação da teoria das práticas sociais
(Felman & Orlikowski, 2011; Orlikowski, 2002) para explicar e compreender os mecanismos
e as influências subjacentes à complexidade do fenómeno da compaixão organizacional, entre
os quais a influência a nível do sistema de poder político, da hierarquia organizacional e das
práticas humanas e materiais que facilitam e inibem a resposta compassiva, procurando
compreender de forma mais clara a dinâmica dos fenómenos organizacionais como estando
interligados.
A este respeito, por exemplo, Lopes, Pina, Cunha e Rego (2011) chamaram à atenção
para o discurso humanista, como o foco apenas no positivo no domínio dos estudos
organizacionais, poder ser empregue indevidamente pelos gestores, alertando, neste sentido,
para os riscos da extensão (intencional ou não) a um discurso próximo do totalitarismo e de
práticas instrumentais manipulativas. Nas referidas críticas que ressaltam, estes autores Lopes
et al., 2011), associam à teoria positiva uma perspetiva “naife” e idealista das práticas
humanistas nas organizações, fundamentando que as mesmas não contemplam a realidade do
mundo do trabalho (Lopes et al., 2011).
Como outras propostas alternativas, e com base nas referidas limitações, têm sido
traçados vários caminhos de pesquisa sobre o desenvolvimento concetual de compaixão no
trabalho, no sentido da integração de características e práticas, facilitadoras e inibidoras – bem
como no sentido de analisar os aspectos e efeitos negativos na compaixão (e.g, Frost, 2003;
Frost et al., 2006).
“Uma pessoa confiante, gentil, líder compassiva, pode ganhar o afeto de seus seguidores, mas também pode
estar vulnerável a ser manipulada ou enganada por outros”.
52
Por exemplo, Barbosa e colaboradores (2014) idenficaram como aspetos inibidores da
manifestação de comportamentos compassivos algumas condições ou características de
trabalho, nomeadamente: a ambiguidade de funções, o contacto direto e intenso com clientes
em sofrimento emocional e físico, o exercício de atividades profissionais desenvolvido em
turnos e ainda, o facto de os profissionais lidarem com situações de sofrimento diário
inerentes à sua função profissional.
Para Teixeira, Farci, Sampaio e Guimarães (2004) estes factores identificados como
inibidores do processo compassivo estão associados às relações de compaixão e podem
influenciar de forma negativa o papel cuidador dos profissionais nos seus contextos laborais,
ao lidar diariamente com situações de sofrimento.
53
equilíbrio trabalho-família) pode, assim, também, constituir-se como causa do seu sofrimento
devido à exposição a experiências negativas.
Com base nas evidências negativas dos efeitos da compaixão, vários autores (e.g.,
Dutton et al., 2014; Simpson, Cunha, & Rego, 2014; Simpson, Clegg, & Cunha, 2013a;
Simpson et al., 2014 b) admitem que as práticas compassivas não são universais: oscilam
entre aspectos positivos e negativos, cujos resultados são variáveis de acordo com os
contextos culturais, sociais e políticos. Este entendimento corrobora as abordagens
54
sociológicas preconizadas sobre o fenómeno de compaixão organizacional (Dutton et al.,
2014; Simpson et al., 2014b).
55
Suportando-se na teoria e nos princípios da prática social, há quem defenda que a
legitimidade do processo compassivo deverá ser compreendida, não apenas a nível relacional,
mas também à luz da realidade das práticas e das normas e valores incorporados na estrutura
organizacional (e.g., Dutton et al., 2006 b; Lilius et al., 2011a,b; Madden et al., 2012).
De acordo com estas premissas, a compaixão pode, assim, ser definida e avaliada
tendo em conta as características organizacionais (Kanov et al., 2004). Por exemplo,
McLelland (2012) avalia a compaixão de uma organização de acordo com o grau em que as
suas rotinas são suscetíveis de perceber, sentir e responder ao sofrimento do outro. As
respostas de compaixão organizacionais são por isso legitimadas e coordenadas através da
aplicação de políticas de compaixão, rotinas (Kanov et al., 2004) e valores de respeito pela
humanidade (Dutton et al., 2006b; Dutton et al.,2007).
56
À luz da teoria das práticas sociais, em estudos organizacionais recentes (Lilius et al.,
2011 a,b; Madden et al., 2012) foram demonstrados efeitos coordenados de práticas
organizacionais e características de estrutura, valores e comportamento dos líderes que
facilitam a capacitação coletiva compassiva, destacando-se, a título de exemplo:
57
Qualidade das interações e interdependência de funções
Benner, Tanner e Chesla (1996) verificaram que, quanto maior for a interdependência
das funções dos colaboradores, a coordenação que lhes está associada e a qualidade das
interações sociais - que são a base do comportamento de auto-organização (Goldstein, Hazy,
& Lichtenstein, 2010) - maior é a probabilidade do coletivo responder de forma compassiva
ao sofrimento dos demais com preocupação empática (Eisenberg, 2000).
Diversidade de recursos
58
A este respeito, Bernardo (2009) faz referência a características flexíveis
organizacionais, a saber: qualidade de interações, participação, trabalho em equipa, diálogo e
comunicação interna, autonomia, criatividade, valorização, confiança mútua, coordenação de
ações, construção de estratégias com objetivos claros com base num entendimento mútuo,
cooperação profissional e qualidade do trabalho de equipa.
Segundo ainda alguns outros estudos (e.g., Goldstein et al., 2010, citados por
Lichtenstein, 2000), o interior das organizações complexas é permeável às constantes ruturas
de perpectivas e de posicionamentos, e às desordens internas ou desequílibrios criados, em
59
parte, por um potencial de conflito, que emerge do próprio contexto dos ambientes de trabalho
(West,1985, citado por Lichtenstein, 2000). Este aspecto é entendido como positivo para a
facilitação da auto-organização e coordenação de recursos do coletivo, de forma a legitimar a
emergência de novas respostas, necessárias para a evolução e inovação da organização
(Bauer, 2000; Lichtentein, 2000).
Conforme é explicado por Obadia, Vidal e Melo (2007), quando uma organização
introduz uma nova prática para solucionar um determinado problema, e caso esta solução
proposta funcione durante um certo período de tempo, os colaboradores terão tendência para
aceitar, legitimar e incorporar essa prática nos valores, crenças, rotinas e pressupostos da
organização (Obadia et al., 2007).
Para além do valor que a teoria da prática social, aplicada à ciência organizacional,
tem para a compreensão da realidade dos fenómenos organizacionais - como, por exemplo, a
capacitação do processo de compaixão nos contextos de trabalho - complementarmente, a
teoria dos sistemas adaptativos complexos (Lichtenstein, 2000) destaca-se como um
contributo fulcral na compreensão da dinâmica de emergência e de coordenação de novos
padrões de comportamentos compassivos nas práticas e rotinas nos contextos de trabalho (que
são legitimados pelo colectivo de acordo com as características, práticas e recursos
organizacionais) (Lichtenstein, 2000, citado por Araújo et al., 2016).
60
numa cultura e identidade coletiva definidas com valores humanos, crenças e culturas
caracterizadas pela qualidade das interações.
Neste sentido, estes autores (Worline & Dutton, 2017) observaram e analisaram os
comportamentos dos líderes nos contextos de trabalho aquando de situações de sofrimento,
verificando, se davam atenção a indivíduos em situações de sofrimento, como expressavam
esse reconhecimento, se era enfatizada empatia e como era feita a explicitação e narração das
situações e as emoções.
Num trabalho desenvolvido por Simpson, Clegg e Cunha (2013), baseado nas
respostas organizacionais em situação de crise organizacional junto dos funcionários, foi
demonstrado que as organizações identificadas como aquelas que preconizavam políticas,
rotinas e práticas diárias compassivas, baseadas numa cultura e filosofia de cuidado junto dos
funcionários, aquando as situações de crise constituíram-se, simultaneamente, como os
melhores exemplos organizacionais de credibilidade na expressão de práticas de cuidado aos
seus profissinais nos momentos excepcionais (e.g., em situações de crise decorrentes de
inundações).
62
1.1.3.2. Compaixão Organizacional enquanto constructo social, multidimensional, complexo
e paradoxal
Foi questionado, por vários autores, o facto de, na literatura dos estudos
organizacionais positivos dedicada à definição de compaixão, não terem sido consideradas
perspectivas desenvolvidas sobre este conceito na área da filosofia, nem analisadas as
dinâmicas de poder político, cultural e sociológico, aspectos que estes autores consideraram
influenciar o processo das relações de compaixão (e.g., Simpson et al., 2014 a,b).
64
Neste sentido, com base nos referidos argumentos limitativos apresentados em vários
trabalhos (Simpson et al., 2014a;b) contra a explicação e compreensão da compaixão
organizacional à luz da teoria tripartida (Kanov et al., 2004), como alternativa aos estudos
focados apenas nos factores positivos de compaixão (e.g., Cameron et al., 2004), começaram
a ser desenvolvidos paradigmas divergentes e teorias complementares para reformular o
modelo tripartido de compaixão organizacional, aprofundar a compreensão dos limites deste
fenómeno e contribuir para a compreensão da sua complexidade nos ambientes de trabalho.
65
Na sua essência, para estes autores (op. cit.), a integração do subprocesso de
“avaliação” constitui, assim, uma maior complexificação do processo compassivo no sentido
de legitimar ou recursar as relações de compaixão.
66
Retomamos a definição do conceito de compaixão organizacional (Kanov et al., 2004)
que, confome já referido, legitimou este fenómeno nos contextos de trabalho, emergiu
consensualmente na literatura organizacional e foi citada em inúmeras publicações (Dutton et
al., 2007; Dutton et al., 2006b; Lilius et al., 2011a,b: Lilius et al., 2011., Lilius et al., 2008) - e
que compreendeu, conforme referido, três subprocessos de dimensões com uma componente
cognitiva, afetiva/relacional e comportamental e foi legitimado no contexto de trabalho como
um processo social e coletivo de consciência do sofrimento do outro, empatia pelo mesmo que
culmina no tipo de ações ou respostas para minimizar este sofrimento.
Neste novo modelo reformulado (Dutton et al. 2014), para além de quatro
subprocessos que derivam do processo de compaixão organizacional, a saber (1) perceber o
sofrimento do outro; (2) sentir empatia com esse sofrimento (através da tomada de
perspectiva) ou juntos (latim: com) no sofrimento (latim: paixão); (3) Avaliar as
circunstâncias desse sofrimento (dar sentido ao sofrimento); e (4) responder com ações para
aliviar o sofrimento dos trabalhadores, manifesta-se também a influência de três níveis de
67
contextos da vida das pessoas (pessoal, relacional e organizacional) cujas variáveis
(características e práticas de cada um dos contextos) são assumidas, nesta perspectiva,
interferirem na forma como se manifesta o episódio de compaixão e o resultado das relações
compassivas (i.e., facilitando vs inibindo; legitimando vs recusando) (Dutton et al., 2014).
Conforme preconizado por Dutton e colaboradores (2014), numa primeira fase surge o
reconhecimento do sofrimento do outro por parte do “actor focal” (doador); refere à perceção
ou tomada de consciência deste estado de sofrimento (angústia) ou de situação de
vulnerabilidade do outro (Kanov et al., 2004). Tal pressupõe a atenção e o reconhecimento
sobre o sofrimento do outro, através de uma escuta ativa e da procura de informação para
compreender a situação ou as condições daquele, enquanto “sofredor” (Miller, 2007).
A expressão preocupação empática (e.g., Dutton et al., 2006b) sentida pelo “actor
focal” (doador) “em relação ao “sofredor” (sujeito que recebe a ajuda) refere-se ao
envolvimento de sentimentos de simpatia e de altruísmo orientados para o outro, traduzido na
busca de motivação para ajudar a atenuar o seu sofrimento, em oposição ao sentimento de
motivação egoísta, focado no próprio (e.g., Batson & Shaw, 1991; Batson, Eklund, Chermok,
Hoyt, & Ortiz, 2007).
68
Subprocesso de compaixão: A avaliação cognitiva – “dar sentido ao sofrimento”
Estes autores (op. cit.) afirmam que tais critérios, perceções e expectativas (i.e., a nível
pessoal, relacional e organizacional) poderão influenciar a resposta dos “sofredores” aos
“actores de ajuda” em situações futuras de sofrimento. Como critérios de interpretação (que
legitimam ou recusam a resposta compassiva) que decorrrem nesta diáde, Croker e Canevelho
(2008) destacaram as seguintes: a) os “sofredores” (recetores) procuram dar sentido aquilo
que motiva os “sujeitos de ajuda” (doadores) a desencadearem ações de suporte ou de
comportamento compassivo; b) os “atores de ajuda” (doadores) procurarem compreender o
papel que o “sofredor” tem na situação de sofrimento (ou de vulnerabilidade) em que se
encontra (e.g., analisar a causa para o merecimento de ajuda), bem como o papel que estes
poderão vir a assumir no futuro como respondentes (Dutton et al., 2014).
69
Estas ações e recursos divergem entre a simples presença e a escuta, até uma ação
mais elaborada e coordenada que introduz recursos como resposta ao sofrimento, no sentido
de melhoria da experiência ou situação do “sofredor”. Estes recursos, ou as ações de resposta
ao outro, divergem, assim, na sua categorização, podendo ser concretos (e.g., bens materiais,
vestuário, géneros alimentares,…) ou abstratos (e.g., atenção, tempo, preocupação, criação de
um espaço psicológico seguro-…). As respostas compassivas podem ainda ser concretizadas
através de gestos de apoio emocional, flexibilidade no trabalho, conversas, escuta e expressão
de preocupação ou empatia. Podem ainda ser organizados de forma planeada, improvisada
(Dutton et al., 2006 b) ou contínua (Way & Tracy, 2012).
70
Contexto pessoal: Características individuais
No que se refere às características que dizem respeito ao contexto pessoal, que podem
interferir no processo de avaliação da situação de sofrimento na relação da díade, segundo
Shiota e colaboradores (2006) foi demonstrado que os sentimentos de compaixão estavam
correlacionados de forma positiva com traços de personalidade, de extroversão,
agradabilidade e abertura a novas experiências. Por seu turno, as características de
extroversão estavam associadas a emoções sociais e positivas, à orientação comum e
prosocial, e ao altruísmo.
Por outro lado, Frost e colaboradores (2000) demonstraram que o facto do actor focal
conhecer, de forma próxima, o sujeito que ajuda (o sofredor), esta situação facilitará a sua
perceção de quando, e de que forma, deverá agir perante eventuais situações de sofrimento do
outro.
72
Contexto organizacional: Influência de normas, valores e crenças
Neste sentido, num conjunto de estudos foi defendido que as crenças partilhadas de
cuidar/de ajuda (de suporte e apoio) aos demais são importantes na mobilização de níveis
elevados de comportamentos e de ações compassivas nas organizações. Assim veremos em
seguida.
Os resultados de alguns estudos (e.g., Simpson, Clegg, & Cunha, 2013a) permitiram
aos autores admitir que nas organizações onde é desejável e aceitável legitimar o
conhecimento de situações para agir de forma compassiva, os indivíduos desenvolvem uma
maior propensão para partilhar expressões de sofrimento (ou de vulnerabilidade), assim como
legitimam que os demais o façam nos contextos de trabalho.
A partir da teoria da prática social (Orlikowski, 1992; 2002), foi realçado o papel da
influência das caraterísticas de contexto (estrutura) organizacional na facilitação ou inibição
no desenvolvimento de padrões repetidos de ações (comportamentos), nas quais é formado ou
manifestado o processo coletivo de compaixão (e.g., Lilius et al., 2011b; Madden et al.,
2012).
Neste sentido, e de forma específica, foram descritos vários exemplos destas práticas,
de ações de suporte aos profissionais, tanto a nível emocional, quanto a nível material (Mc
Clelland, 2012) que legitimam a capacitação para a aplicação do processo compassivo. Por
exemplo, Dutton e colaboradores (2002, 2006b) defenderam a importância de serem
dinamizadas práticas com vista a ser divulgado o valor de se responder ao sofrimento dos
73
outros. Um dos exemplos destas práticas refere-se ao procedimento de avisar os colegas
quando alguma pessoa se encontra em situação de sofrimento.
74
crucial para a expansão de sentimentos e para a mobilização da coordenação de ações
compassivas (Madden et al., 2012).
76
de trabalho e nos indivíduos bem como a possibilidade de serem desenhadas intervenções
com vista a aumentar a compaixão e avaliar a sua eficácia nas organizações e nos indivíduos.
77
A necessidade de elaboração de um instrumento de medição de compaixão
organizacional com qualidades psicométricas fidedignas levou os autores a desenvolverem
estudos com o objetivo de se obter um maior alinhamento da teoria da prática social (Dutton
et al., 2014; Simpson et al., 2014a,b).
78
sofrimento dos colegas (Worline & Dutton, 2017). Admite-se uma influência recíproca e
bidirecional entre estes subprocessos.
79
compaixão organizacional cujos resultados evidenciaram adequadas qualidades psicométricas.
Este estudo permitiu ainda, demonstrar, de forma empírica, o efeito da perceção de suporte
organizacional (antecedente) na compaixão organizacional e os efeitos deste fenómeno
(compaixão organizacional) nos comportamentos de cidadania organizacional e no bem-estar.
A validação deste instrumento de avaliação quantitativa de compaixão organizacional
(dimensões) efetuada pelos seus criadores (Simpson & Farr-Wharton, 2017) constituiu uma
contribuição significativa para o avanço da ciência sobre compaixão organizacional com
impacto nos ambientes organizacionais (a título de exemplo, de modo a ser utilizada pelos
líderes e gestores na avaliação das relações compassivas no contexto de trabalho e no apoio e
feedback dado aos colaboradores) e para o desenvolvimento de estudos futuros.
80
2017), outros constructos (e.g., ações de liderança compassiva), o mesmo, permitirá, em
estudos futuros, testar de forma empírica as relações de causalidade e os efeitos entre estas
variáveis, alguns destes demonstrados apenas em estudos desenvolvidos de acordo com uma
metodologia qualitativa.
(…)“o campo da responsabilidade social das empresas não só apresenta uma ampla paisagem de teorias,
como também uma grande proliferação de abordagens, que são controversas, complexas e pouco claras”
81
Algumas destas definições de compaixão têm sido destacadas e críticadas em alguns
trabalhos quanto aos seus argumentos com base em suposições contraditórias ou antíteses
implícitas (e.g., compaixão: cuidado-instrumentalidade; sentimentalismo-racionalidade;
egoísmo-altruísmo).
Compaixão ineficiente
A decisão de um gestor para agir de acordo com uma ética de compaixão, de cuidar e
de lidar com o sofrimento dos demais, parece impor ineficiência irracional à empresa,
associada aos desvios de dividendos aos accionistas, fundamentada por argumentos de
necessidade de medidas adicionais para esta ajuda. O economista Friedman (1967; 1970),
vencedor do Prémio Nobel, defendeu a noção de que a ganância é positiva (Friedman, 1979),
argumentando que os gestores que contribuem para causas sociais atuam de forma ilegal.
82
O termo de “mão invisível”, como foi famosamente defendido por Adam Smith (1776,
p.260), assim como por Mandeville [1806] e por Voltaire [1778] exemplifica este tipo de
atitude ética paradoxal com foco no interesse próprio e egoísta.
A ação social direcionada de acordo com essa visão é ineficaz em fornecer benefício
real e, portanto, deve ser deixada para organizações sem fins lucrativos, como por exemplo,
instituições religiosas, instituições de caridade, hospitais, escolas e ONGs (Friedman, 1967;
1970).
Compaixão estratégica-racional
Convém, a este respeito, notar que mesmo que a organização não seja levada a abster-
se de tais atividades com base na compaixão altruísta, em muitos casos ela pode ser obrigada
a fazê-lo com base na compaixão estratégica, em prol da gestão da reputação corporativa.
Por exemplo, de acordo com alguns discursos das áreas de religião e da psicologia, a
compaixão é geralmente concebida como uma “virtude individual”, impulsionada por uma
“consciência ética” de atuar para o bem comum e para o dever moral.
84
Neste domínio, Rousseau (1762, 1767) considerou a compaixão apenas como a “condição
humana” natural, antes desta ficar comprometida por influências sociais que preconizam valores
de domínio, controlo e de poder.
A compaixão pode, assim, ser vista como sentimento irracional: arbitrário, emocional,
tendencioso e, portanto, não confiável e inadequado (Nussbaum, 2003), particularmente como
base para a ação organizacional, que é a base para as críticas de Thompson (1975), descritas no
contexto da administração pública: “Compaixão administrativa pode ser pensada como
tratamento especial, como “esticar” as regras, como o “estado dos homens” pré-moderno, e
não o “estado de direito” ”(p. 20).
Na visão de Thompson (op. cit.), “a organização moderna, por sua natureza, pode
oferecer apenas tratamento impessoal, categorizado e não-compassivo” (p. 20).
Por exemplo, de acordo com Solomon (1997) e Grant (1988), considera-se vantajosa a
necessidade de as organizações integrarem componentes de discurso de “compaixão
feminina” (componente humanista) em oposição a uma componente de “compaixão
masculina” esta última, associada a um discurso e a práticas socialmente irresponsáveis e
agressivas, que visam, segundo estes autores, alcançar o sucesso e a obtenção do lucro per se.
85
Em paralelo, Pullen e Rhodes (2015) defenderam uma resposta compassiva
incorporada, com características de um discurso caracterizado como “mais feminino”
associado a preocupações éticas.
Vários estudos concluiram que as respostas compassivas são possíveis de ocorrer (ou
não), tanto em ONGs, quanto em organizações com fins lucrativos (Simpson, Clegg, &
Cunha, 2013). Tal sugere que todas as organizações são capazes de responder
compassivamente (Madden et al., 2012). As práticas de rotina organizacionais que realçam
uma cultura de cuidar dos demais parecem, portanto, ser mais importantes para responder
compassivamente do que a missão organizacional (pró-social vs lucrativa).
A análise acima referida indica que a compaixão organizacional pode ser concebida de
forma mais abrangente do que geralmente o é na literatura organizacional, em que este
fenómeno tende a ser visto como um processo interpessoal positivo virtuoso (i.e., Cameron et
al., 2004).
87
polarizadas - na forma como parecem minar a virtude da compaixão por meio da apropriação
ou “colonização” , aqui adaptando o termo utilizado por Habermas (1987).
Por exemplo, para alguns autores consideram que, quando aplicado ao contexto
organizacional, o conceito de compaixão associado ao discurso de capitalismo e de
democracia pressupõe que, ao impor, por exemplo, objetivos de teorias de gestão positiva, os
gestores podem falhar em apropriar um discurso humanista compassivo ao promover o
totalitarimo e a prática de manipulação (Alvesson & Willmott, 1992; Fineman, 2006a).
Segundo George (2013) isto significa, que as práticas organizacionais e de gestão que
são instrumentais (e estratégicas), no sentido de fomentar valores de “cidadania” e de
responsabilidade social das empresas, poderão ser entendidas como políticas organizacionais
contrárias ao discurso ético de consideração dos interesses e direitos humanos e do
desenvolvimento sustentável das sociedades. Conforme acrescentou George (2013), estas
práticas de responsabilidade social investidas de instrumentalismo, ou de hipocrisias, com
vantagens de melhoria de contexto competitivo em que se inserem, poderão estar a mascarar
um discurso manipulativo, instrumental, que visa apenas legitimar essas atividades sociais
que promovem a sua reputação; em simultâneo, poderão estar a estimular o maior
desempenho económico e financeiro, tornando as empresas melhor sucedidas (Garriga &
Malé, 2004).
89
Conforme realçado por vários autores (e.g., Nonaka, Chia, Holt, & Peltokorpi, 2014) o
termo “sabedoria” é entendido como uma elaboração mais sofisticada que o conhecimento
preciso (Bierly, Kessler, & Christensen, 2000).
De acordo com esta perspectiva, segundo defendido por alguns filósofos, como
Nietzsche (2002), a complexidade das práticas (ação) de “dar” e de “receber” compaixão
deverão ser entendidas de acordo com os fenómenos sociais organizacionais - como são as
relações hierárquicas e de poder - ao invés de serem apenas considerada uma “componente
emocional”.
Se devo ser compassivo” (…) “não quero que seja chamado como tal ” (…)
90
pelo facto de receber ajuda e de deter o conhecimento de que é o objeto da caridade do outro,
preservando, assim, o seu valor, dignidade e não potenciando relações de dependência.
91
organizacional como associado a implicações positivas relacionadas com conceitos de
capacitar, habilitar, apoiar e facilitar (Simpson et al., 2014b).
Conforme afirmado por estes autores (op. cit.), as tensões verificadas entre o “poder
do recetor “e o “poder do doador” são particularmente evidentes na prática da relação de
compaixão, nomeadamente do ponto de vista do “doador”, por um lado, e do “recetor”, por
outro.
b) a postura de suporte pode ter como objetivo, não só aliviar o sofrimento, mas também
agir devido a um sentido de obrigação e a um sentimento de estar em dívida em relação ao
receptor;
Por seu turno, do ponto de vista do receptor, é referido que este também pode
vivenciar paradoxos de poder em compaixão, designadamente:
b) o facto de que ao depender dos outros para receber apoio compassivo também pode
influenciar o desenvolvimento de uma mentalidade de vítimização e de uma perceção
reduzida de valor pessoal e falta de responsabilidade pelo seu próprio bem-estar pessoal e
felicidade (Olasky, 1995).
92
Para Dutton e colaboradores (2014) o facto de ser o doador a efectuar a avaliação
permiti-lhe ter vantagem e controlo sobre o receptor.
Neste sentido, para Simpson e Berti (2019), a compaixão organizacional deverá ser
entendida de forma diversificada, integrando características aparentemente contraditórias ou
dimensões paradoxais mas interdependentes, destacando-se, como exemplos: feminino-
masculino; metas internas-externas; controlo-flexibilidade; sentimentalismo-racionalidade;
fraqueza-força; dependência-independência; domínio-misericórdia e fadiga-energia.
93
capacidade de impor a sua vontade sobre os outros, quanto com o objetivo de alcançar algo
através dos demais.
Para Foucault (1984), podem ainda ser definidos como formas de poder, os príncipios
tomados como certezas ou verdades que orientam a cognição e a vida social, sendo ainda
referido que outras formas de “domínio suave” poderão estar em causa (Hardy & Leiba-
O'Sullivan, 1998).
94
eventualmente vulnerável e de grande risco, pelo facto de necessitar, nestas circunstâncias
organizacionais, de grande coragem pessoal para se envolver em ações compassivas.
O pressuposto de que o acto de compaixão requer coragem foi também defendido por
outros autores (Darley & Latane, 1968). De acordo com esta perspectiva, responder de forma
diferente aos outros requer uma atitude de coragem, pois trata-se de uma característica
humana inerente ao receio de rejeição social e à procura de aceitação social.
Assim, o poder de compaixão associado a atos de coragem é relevante para dar apoio,
para aceitar e ainda para recusar o apoio oferecido (e.g.,Simpson, et al., 2014b). A compaixão
estará, neste sentido, associada a um sentimento de coragem para responder, retirar, receber
ou recusar a ajuda do outro como transcendendo o apoio compassivo na medida em que este
conceito também é entendido como associado ao poder, ao controlo e ao domínio.
O termo paradoxo, segundo referido na literatura (Schad, Lewis, Rasich, & Smith,
2015), refere-se a contradições persistentes entre elementos interdependentes que parecem
"lógicas isoladamente, mas absurdas e irracionais quando aparecem simultaneamente"
(Lewis, 2000, p. 760), levando à paralização da ação.
95
muitas vezes latentes e apenas se tornando salientes com a emergência de circunstâncias em
mudança.
Para Clegg, Cunha e Cunha (2002) o construto da compaixão parece ser caracterizado
por diversos dilemas (contradições) de forma simultânea e interdependente com outros
fenómenos nas organizações. Algumas das dimensões de compaixão organizacional, como
altruísta, individual ou sentimental, parecem lógicas por si mesmas - mas tornam-se
paradoxais quando consideradas juntamente com as dimensões estratégicas, institucionais ou
racionais.
96
Lüscher & Lewis, 2008) e reorganização de configurações de materiais (Abdallah, Denis, &
Langley, 2011).
Para Putnam, Fairhurst e Banghart (2016) a perspectiva de ser apenas considerada uma
das dimensões de definição de compaixão mais virtuosas, ignorando outras, argumentando
como sendo a mais desejável ou aceitável para caracterizar o fenómeno de compaixão, poderá
estar associada a uma forma negativa de reflexão perante um paradoxo ou dicotomia.
Segundo a perspectiva da teoria da prática social· (Feldman & Orlikowski, 2011), não
tem sentido os fenómenos organizacionais serem compreendidos como independentes ou
como dimensões dicotómicas ou antíteses, como por exemplo: corpo-mente; cognição-
comportamento; livre arbítrio-determinismo; indivíduo-instituição; subjetiva-objetiva e
positiva-negativa (e.g., Reckwitz, 2002).
97
Em suma, admitindo a maior complexidade do conceito de compaixão organizacional,
com dimensões em tensão, entende-se que este constructo será melhor caracterizado de uma
forma mais abrangente do que através de abordagens meramente virtuosas/positivas, de
seleção de uma das dimensões em prol de outra dimensão ou de negação de contradições. De
facto, à luz da realidade das dinâmicas e processos compassivos, os paradoxos do conceito de
compaixão no trabalho (dimensões) são inerentes às organizações.
98
contradição), b) regras de razão (uma boa razão deve ser apresentada quando disputam
alegações/reclamações e c) regras de governação (o discurso deve ser voluntário e livre de
coerção). Embora estas pré-condições nunca possam ser totalmente realizadas, elas devem
estar presentes a ponto de fornecer uma base para comunicar com racionalidade.
Por seu turno, os sistemas referem-se aos mecanismos que são cada vez mais
utilizados na sociedade moderna para coordenar atividades baseadas na racionalidade
instrumental orientada para a escolha dos meios eficientes para um determinado fim. Embora
Habermas (1987) concorde que a especialização sistémica (e.g., economia, política, direito,
ciência e religião) se constitua como uma parte integrante da ação social na sociedade
moderna, chama a atenção para os riscos associados a esse tipo de coordenação.
Argumenta que os sistemas não coordenam com base num acordo mútuo sobre a
validade de afirmações-valores (ou seja, racionalidade comunicativa), mas sim através de
lógicas específicas do sistema (i.e., lucro, poder, justiça, verdade, crença). Conforme é
referido, como não existe acordo suficiente sobre os valores para permitir que o sistema
exerça energia alinhada, o mundo da vida e os sistemas podem se dissociar.
99
do sistema prevalece sobre os efeitos integradores mais abrangentes do mundo da vida, com a
colonização do sistema no mundo da vida.
A perspetiva de Habermas (1987) foi de alguma forma criticada pela sua visão do
mundo da vida e do sistema como categorias de ação e coordenação que operam como duas
esferas sociais diferentes (ver, por exemplo, Fraser 1989; McCarthy 1991; ou Mouzelis 1997).
100
Adotando os pressupostos de Habermas (1987), existem estratégias que podem facilitar o
envolvimento da complexidade e a integração das contradições das diferentes conceituações
da compaixão organizacional, que serão desenvolvidas nesta tese (Capítulo IV).
Conforme definido por Cunha, Rego e Sousa (2016), ao contrário de uma atribuição
apenas negativa a discursos em tensão (contraditórios), os paradoxos podem também se
constituir como oportunidade e desafios e implicação para a mudança, inovação ou evolução
dos ambientes compassivos no trabalho (Cunha et al., 2016).
101
A dialética destas tensões poderá assim ser resolvida através de uma abordagem de
integração de elementos contraditórios (Clegg & Cunha, 2017, citados por Cunha et al., 2016)
ao invés de serem encarados como simples fontes de contradições e de tensão, que poderão
culminar, conforme é referido por Cunha e colaboradores (2016) em “processos circulares”
virtuosos ou viciosos nas organizações (Cunha et al., 2016; Smith & Lewis, 2019, citados por
Simpson e Berti, 2019).
Com base na corrente filosófica Asiática (Li, Sekiguchi & Qi., 2014, citados por
Simpson e Berti, 2019) a transcendência é caracterizada como um processo cognitivo de
reenquadramento de tensões/oposições inerentes à vida (Bartunek, Gordon, &
Weathersby,1983; Hahn Preuss, Pinkse, & Figge, 2015; Waldman & Bowen, 2016;
Westenholz, 1993).
102
A possibilidade de ser considerada uma perspectiva mais abrangente de entendimento
sobre o processo de transcendência é associada à contingência de, através desta abordagem,
uma série de tensões (paradoxos) se tornarem salientes, com oportunidades de se
transcenderem. Conforme descrito trata-se de um um processo inconclusivo de realização
contínua que pressupõe ajustamentos (Janessens & Steyaert, 1999; Tracy, 2004).
103
O fenómeno de transcendência implica, assim, segundo Cunha e colaboradores (2016),
que as tensões ou paradoxos sejam enquadrados de tal forma que estes sejam percecionados
como componentes integrantes de um todo maior.
Neste sentido, segundo esta perspectiva, o diálogo traduz-se num meio para incorporar
e integrar as diferenças no pensamento organizacional. Esta abordagem de diálogo e de pensar
a realidade organizacional com abertura às posições divergentes e à comunicação, “flexível e
aberta“ que contempla as contradições, poderá facilitar uma maior harmonia, práticas
constructivas e conduzir à inovação (Cunha et al., 2016).
104
A cultura compassiva do Butão: A busca da harmonia
Com base nas práticas sociais e de artefactos paradoxais que caracterizam os aspectos
tradicionais e culturais do Butão, é desenvolvido o discurso cognitivo e de estratégias socio-
materiais para resolver as tensões inerentes às relações compassivas (Ura, 2004, citado por
Simpson e Berti, 2019).
Os autores Simpson e Berti, (2019) e Simpson e colegas (2014b) sugerem que seria
benéfico para a teoria organizacional integrar o discurso de uma “sabedoria compassiva”. O
termo de “sabedoria compassiva”, refere-se, como já indicado, à integração de tensões de
conceitos relacionados.
Como proposta de solução temporária para resolver estes dilemas ou tensões, foi
sugerido pelos autores o recurso ao processo de transcendência, através de uma síntese
105
criativa destas tensões ou da integração de elementos contraditórios (Simpson & Berti, 2019).
Smith e Lewis (2011, citados por Simpson e Berti, 2019), consideram, neste sentido, que
negar ou ignorar as tensões paradoxais, poderá levar a círculos viciosos.
Com base no idealismo que caracteriza a cultura e valores compassivos das tradições e
da religião budista do Butão, são realçadas e equilibradas (os extremos) contradições/ tensões
que facilitam a redefinição de conceitos inerentes ao discurso de compaixão através da
transcendência (i.e., espiritual-material; sentimentalismo-racionalidade; domínio-autonomia;
emoção-sentimento; controlo- domínio; empoderamento-fortalecimento/autonomia,…)
(Simpson & Berti, 2019).
Por outras palavras, atendendo ao facto das tensões ocorrerem de forma contínua, estas
situações constituem-se como oportunidades para tornar salientes estratégias de
transcendência cognitiva, discursiva e sócio-material (Simpson & Berti, 2019).
Será assim possível defender que a prática de uma “compaixão com sabedoria” seja
consubstanciada num discurso capacitador de integração e de equilíbrio “corajosos”, através
de um discurso que legitima as ações de compaixão, tensões entre as práticas sociais e
artefactos materiais; isto é, entre sentimento e racionalidade (Simpson & Berti, 2019). Assim,
os autores -Simpson e Berti (2019) procuraram identificar uma abordagem que reconhecesse
as contradições adicionais inerentes às noções de sabedoria (o relativismo e dependência do
julgamento do contexto) e de poder (a existência de várias formas de domínio).
108
De acordo com o Paradigma pós-positivista, fundado por grandes filósofos da ciência
do século XX, como Karl Popper [1902-1994] e pelo seu percursor, Thomas Kuhn [1922-
1996], a verdade, dada como absoluta, das pesquisas científicas de comprovação de teorias
(pela observação), é questionada, sendo preconizado que o conhecimento é inevitalvelmente
hipotético-dedutivo, ou seja, parte-se de dúvidas e admite-se o erro científico para construir o
conhecimento. O paradigma do pós-positivismo é comum no campo das pesquisas
desenvolvidas na área de ciências sociais (especialmente na sociologia) por razões práticas e
concetuais.
Considerando que até cerca do final da primeira metade deste último século os
paradigmas dominantes eram o positivista e o pós-positivista, a investigação construía-se,
predominantemente, a partir de uma perspetiva hipotético-dedutiva.
Com base em pressupostos similares, foi sendo construída uma outra perspectiva
diferente de investigação denominada por metodologia indutiva.
109
As metodologias indutivas passaram a ser preferencialmente utilizadas pelos
investigadores numa tentativa de construir a realidade social concreta e, ao assumirem uma
postura de não neutralidade sobre o fenómeno em estudo, entendiam ser os próprios a
encontrar a resposta para os problemas que analisavam (Lopes, 2003).
110
pesquisa e os procedimentos de recolha e de análise de dados. Por seu turno, a escolha das
técnicas depende dos objetivos que se pretende atingir (Carmo, 1998).
Quanto à metodologia de investigação qualitativa, esta tem sido descrita como estando
assente nos pradigmas fenomenológico, descritivo, interpretativisto e indutivo (i.e., sustentada
nos dados sociais).
111
experiência (Carmo & Ferreia, 2008). Este, está mais interessado no processo do que nos
resultados, verificando-se o seu envolvimento e a sua não-neutralidade.
A perceção sobre qual é o problema a ser explorado pode ocorrer durante o estudo e na
análise de dados recolhidos é explorada a essência e a compreensão dos fenómenos nos seus
contextos de ocorrência.
Grounded Theory
112
geração de teoria a partir dos dados, com base na estratégia da análise comparativa, tendo
como base os dados obtidos e interrelacionados (Bogdan & Biklen, 1994; Patton, 1990).
Em paralelo, conforme é referido pelos autores (Strauss & Corbin, 1998), a grounded
theory é um método de investigação qualitativa que utiliza um conjunto sistemático de
procedimentos para desenvolver de forma indutiva a teoria fundamentada nos dados sobre um
dado fenómeno.
Nos estudos que utilizam a grounded theory, os investigadores partem para o campo
de psquisa com uma revisão genérica da temática em estudo e com o propósito de gerar teoria
nova a partir dos dados recolhidos. De acordo com este método, a recolha de dados, a sua
análise e a teorização permanecem em inter-relação uns com os outros (Lopes, 2003).
Como resultado final, a grounded theory, permite chegar a um novo conceito e/ou
teoria, a partir dos significados e interpretações dos atores sociais que os sujeitos têm da
realidade, e baseados nos seus quadros de referência, e que se procura estabelecer na análise
de relações entre estes significados, ou seja, que surgem através de um processo de abstração
relativamente às experiências e aos seus significados.
113
2.1.2.2. A Metodologia Quantitativa
114
As pesquisas de natureza quantitativa são, assim, no geral, alvo de medição, de acordo
com os objetivos da investigação, através do recurso ao inquérito por questionário: opiniões,
atitudes, perceções, preferências e comportamentos dos sujeitos. As inferências são
determinadas através da aplicação de técnicas estatísticas, podendo ser elaborados modelos
teóricos capazes de predizer comportamentos e tendências (Bryman, 1989).
Salienta-se que os Modelos de Equações Estruturais (MEE), uma das muitas formas de
análise estatística de dados disponível na abordagem quantitativa, integram vários
procedimentos (Kline, 1998), que utilizam modelos de relações lineares entre variáveis, quer
sejam realmente medidas ou latentes. Nos Modelos de Equações Estruturais, as relações entre
variáveis são previamente determinadas a partir das hipóteses de investigação, sendo o
modelo uma técnica de análise confirmatória. De referir que esta técnica de procedimento
estatístico (MEE) é considerada a mais eficiente e apropriada para analisar a relação entre
múltiplas variáveis no contexto das Ciências Sociais (Hair, Anderson, Tatham, & Black,
1998).
115
(características de missão e de flexibilização de estrutura organizacional) no processo de
organização da resposta compassiva.
116
e ações organizacionais compassivas e dimensões de job crafting). Este segundo estudo tem
assim, como objetivos, testar as hipóteses formuladas e verificar os pressupostos teóricos.
A triagem das revistas científicas para submissão destes artigos obedeceu a alguns
critérios-chave. O primeiro critério passou pela obrigatoriedade de a revista estar indexada na
base de dados Scopus. Como segundo critério foi tida em conta a preferência por revistas com
uma ligação direta entre os seus conteúdos e o contexto organizacional.
No que diz respeito à análise de dados, recorreu-se ao software SPSS, na versão 22.0
(Maroco, 2011; Pestana & Gameiro, 2008) para a análise descritiva das respostas às questões
e para as escalas de medidas dos constructos, e para a análise de consistência interna das
dimensões das escalas de medida dos constructos (compaixão organizacional, ações e
características compassivas e job crafting). Recorreu-se, por sua vez, ao software Amos v.22
(Arbuckle & Wothke, 2003) para a análise fatorial confirmatória, no sentido de validar as
escalas de medida utilizadas, as dimensões dos construtos e, ainda, ao teste de hipóteses para
avaliar a relação das variáveis (modelos I e II) através da análise de modelação de equações
estruturais (MEE). Optou-se por esta abordagem, por ser considerada a mais eficiente e
apropriada para analisar a relação entre múltiplas variáveis no contexto das Ciências Sociais
(Hair, Anderson, Tatham, & Black, 1998).
118
CAPÍTULO III. ESTUDO CONCETUAL
119
3.1. Influência de características organizacionais de estrutura flexível e de valor
humano na resposta colectiva compassiva
Com base na teoria e princípios da teoria da prática social (e.g., Feldman &
Orlikowski, 2011; Orlikowski, 1992, 2002), designadamente que “as práticas/ações decorrem
na produção da vida social; que as relações entre práticas e estrutura social são constituídas
mutuamente” (Feldman & Orlikowski, 2011, p. 1241), a literatura mais recente sugere o
desenvolvimento de novos estudos, incluindo a análise da relação dos efeitos combinados de
práticas contextuais diárias e de características organizacionais (e.g., Lilius et al., 2011b;
Madden et al., 2012). Como por exemplo, atender àquelas que ainda não foram estudadas na
literatura, como é o caso da estrutura (de menor controlo, i.e., flexível), do tipo de missão
organizacional (pró-social vs. produtividade) e dos valores humanos (compassivos ou mais
humanizados).
120
Como já referido, o movimento teórico dos Estudos Organizacionais Positivos
(Positive Organizational Scholarship - EOP) permitiu o desenvolvimento de um número
considerável de pesquisas focadas, inicialmente, nos aspetos positivos (e.g., virtudes
humanas) ou seja, naquilo que funciona nas instituições (Lopes, Cunha, Kaiser, & Muller-
Seitz, 2009).De entre as muitas virtudes estudadas, ao estudo aqui desenvolvido interessou a
compaixão, que segue o movimento teórico dos EOP (e.g., Cameron, Dutton, & Quinn,
2003). A compaixão é definida como uma ação empática para aliviar a dor ou o sofrimento do
outro (Frost, Dutton, Worline, & Wilson, 2000). O presente estudo constituiu-se, assim, como
um contributo para a compreensão da forma como as práticas organizacionais e as condições
de estrutura organizacional podem afetar a organização coletiva de respostas compassivas.
121
As práticas organizacionais (Orlikowski, 1992) referem-se aos padrões de ações
repetidas e desenvolvidas pelas organizações que podem facilitar o processo de compaixão.
Por exemplo, em contextos pouco caracterizados pela participação dos colaboradores, ou
quando estão unicamente focados em regras, o processo de compaixão poderá não ocorrer,
pelo menos, na forma como esta teoria pressupõe (Dutton et al., 2006b). A partir destes dados
poder-se-á eventualmente admitir uma maior probabilidade destes pressupostos teóricos
(Kanov et al., 2004) poderem ser mobilizados em contextos organizacionais em estruturas
com políticas de organização mais flexíveis.
122
e social (em locais como Hospitais, Escolas), outros trabalhos consideram que, só por isso,
este critério não é suficiente, admitindo que esta competência depende, sobretudo, da
capacidade de auto-organização do coletivo para a resposta compassiva (e.g., Madden et al.,
2012). Poderá assim haver práticas organizacionais que limitam as condições de resposta
compassiva, de acordo com o tipo de organizações (Lilius et al., 2011b), como são, por
exemplo, as relações difusas constatadas nas organizações não-governamentais (Dutton et al.,
2006) salientando-se, no entanto, a necessidade do desenvolvimento de mais estudos para
conclusões mais sólidas.
Não obstante, para melhorar o conhecimento das condições de organização que podem
influenciar a capacidade de resposta compassiva, a atual literatura sugere o desenvolvimento
de novos estudos, incluindo a análise da relação dos efeitos combinados de práticas
contextuais diárias e de características organizacionais, como por exemplo da estrutura
flexível e da missão organizacional (pró-social vs produtividade).
123
mostraram que a perceção dos colaboradores em relação às virtudes organizacionais foi
proditora do seu bem-estar e do seu desempenho. A pesquisa desenvolvida por Dutton e
colaboradores (2006) evidenciou que a compaixão, quando definida segundo um processo
dinâmico tripartido (Kanov et al., 2004), permite a auto-organização de forma coordenada,
agilizando recursos, especialmente quando acontece como resposta a acontecimentos de
sofrimento traumático.
124
Tendo em conta os benefícios e as potenciais barreiras para a expressão de compaixão
no contexto organizacional, considerou-se importante analisar efeitos das práticas quotidianas
e características da organização que facilitam as respostas compassivas nesses contextos: a)
indiretamente, através da promoção de condições em que o processo espontâneo de
compaixão é mais provável de se mobilizar; e b) diretamente, através de tentativas explícitas
para incluir a compaixão nas rotinas, por meio da institucionalização de processos de
compaixão.
Não obstante, à luz da teoria sociológica das interações sociais e das relações de poder
(e.g., Simpson, Clegg, & Freeder, 2013b; Simpson et al., 2014a,b), atrás aprofundadas, no
capítulo de revisão de literatura, a legitimação da aceitação ou da recusa da resposta coletiva
126
compassiva está dependente do tipo de julgamentos, de expetativas e de perceções presentes
no contexto relacional estabelecido entre doador (ator de ajuda) e recetor (em sofrimento), no
momento próprio do episódio de sofrimento, assim como no tipo de políticas, cultura e
estruturas atrás caracterizadas, e que podem facilitar ou inibir as relações de compaixão.
Com base nestes pressupostos, alguns estudos (Dutton et al., 2006; Madden et al.,
2012) têm destacado relações entre práticas e características organizacionais que contribuem
para a capacidade dos colaboradores se auto-organizarem de modo a adotarem padrões de
resposta coletiva para a minimização do sofrimento humano.
129
Quadro 1.
Impacto de características e de práticas organizacionais na facilitação e inibição da resposta compassiva
-Bem-estar e desempenho
-Práticas que suportam a compaixão e os Recursos
-Confiança relacionais: Partilha de valores; políticas, crenças e
-Qualidade de interações interpessoais rotinas relacionadas com o processo de compaixão,
-Identidade pró-social respeito, suporte e de reconhecimento; resolução de
-Comprometimento afetivo individual problemas; atribuição de recompensas; partilha de
sentimentos; celebração e tomada de decisão coletiva.
-Interdependência de funções
-Características de estrutura flexível: Normas com limites
-Diversidade a nível de Recursos
permeáveis, autonomia e interações sociais.
emocionais, cognitivos e sociais
-Compromisso com os colegas e
trabalho.
-A legitimação da aceitação ou da -A pressão da organização para a produtividade e para
Inibição
recusa da RCC está dependente das a eficiência, dando especial importância às tecnologias,
expetativas e percepções de ambos políticas, cultura e estruturas organizacionais
“dador” e “recetor” no momento do caracterizadas por normas pouco flexíveis.
episódio de sofrimento -Práticas de relação difusa
Adaptado de Dutton e colegas (2014); Lilius e colaboradores (2011a,b);Lilius e colegas (2008)
Como referido, a qualidade de deteção e resposta dada pelo coletivo para minimizar o
sofrimento depende de características de contexto das organizações. As limitações criadas
pelas configurações institucionais de estrutura e pela missão apelam ainda para a necessidade
do desenvolvimento de pesquisas adicionais sobre compaixão em organizações focadas na
produtividade (Madden et al., 2012).
Outros estudos referem que as relações difusas de poder, em organizações com missão
pró-social, são uma limitação para o processo de compaixão (Dutton et al., 2006 b).
132
Considera-se, assim, que o ambiente complexo das organizações atuais (West, 1985)
não pode ser visto de forma estável a funcionar com mecanismos controláveis, mas deve ser
antes enquadrado num sistema organizacional permeável a trocas de informações entre o
ambiente interno e externo, cujos agentes são caracterizados também por uma natureza
complexa, tendo em conta a sua diversidade (Goldstein et al., 2010, citados por Madden et al.,
2012).
De acordo com a perspetiva de sistema adaptativo complexo, com base numa estrutura
organizacional informal, é facilitada a auto-organização espontânea de uma dada organização
(MacDaniel, 2007, citado por Madden et al., 2012). Segundo esta perspetiva (Capra, 1996,
citado por Lichtenstein, 2000) as organizações caracterizadas por maior flexibilidade de
estrutura, onde os membros têm qualidade de interações, maior autonomia, liberdade e
capacidade para inventar novas estruturas, recursos e regras sem ser necessário a existência de
uma instrução formal (Capra, 1996; Stacey, 2005, citados por Madden et al., 2012), os
colaboradores vão desenvolvendo formas mais eficazes para lidar com problemas, como o
sofrimento, influenciando a qualidade de deteção e de resposta dada para minimizar o
sofrimento.
133
Tendo por base os pressupostos teóricos dos sistemas adaptativos complexos das
organizações (Capra, 1996, citado por Lichtenstein, 2000), a explicação da emergência da
auto-organização do comportamento coletivo de compaixão em contexto laboral poderá ser
enquadrada na legitimação deste tipo de comportamento pelo coletivo, de tal forma que este
padrão de comportamento corresponde a uma resposta mais eficaz para a organização resolver
os problemas de sofrimento. Tais padrões de comportamentos, quando incutidos na rotina
diária laboral, encorajam outros recursos e influenciam a qualidade de deteção e de resposta
dada pelo coletivo para minimizar o sofrimento (Madden et al., 2012).
Proposição 1 (P1): Espera-se que uma maior flexibilização da estrutura organizacional facilite
a coordenação e a auto-organização da resposta coletiva compassiva.
Na literatura científica têm sido referidas várias limitações das organizações sem fins-
lucrativos, descrevendo-as como tendo maior ambiguidade e falta de métodos de avaliação
estandardizados para avaliar o desempenho (Lio & Hull, 2006). Estas organizações são
também identificadas como tendo baixos salários, poucos benefícios, pouca flexibilidade,
constrangimentos devido à responsabilidade alargada e dispersa da rede de apoio (Lio & Hull,
2006), pelo facto das suas práticas serem influenciadas e controladas por aspetos políticos e
por financiamentos (Birdi, Patterson, & Wood, 2007), em que os empregados têm que
desempenhar vários papéis e funções (Mintzberg, 1979, citado por Madden et al., 2012).
De referir ainda que estas organizações (3º sector) são caracterizadas por terem
práticas de relação difusa e uma estrutura complexa de responsabilidades, de modo a poder
134
responder às necessidades de todos os stakeholders. Estes aspetos poderão constituir
limitações para a aplicação da teoria de processo de organização compassiva (Dutton et al.,
2006 b).
Por outro lado, alguns estudos (Benz, 2005) referem que a motivação intrínseca dos
empregados, a perceção de utilidade do seu trabalho e a perceção de suporte está mais
claramente associada às organizações sem fins-lucrativos, enquanto a perceção de
competência mais associada às lucrativas (Mogilner, Vohs & Aaker, 2010). Nas organizações
sem fins-lucrativos, os empregados parecem confiar mais nas práticas dirigidas aos objetivos,
e têm maior autonomia e variedade nas tarefas executadas (Mirvis & Hacklett,1983, citados
por Benz, 2005).
Questão 3 (Q3): Será que as organizações com fins lucrativos terão uma maior capacidade
de auto-organização de resposta coletiva compassiva, em consequência dos objetivos e das
funções dos colaboradores parecerem estar melhor definidas?
Questão 4 (Q4): Será que as organizações sem fins lucrativos, com um tipo de missão
orientado para a mudança social, estarão mais habilitadas para fazer emergir padrões de
resposta coletiva compassiva?
A missão de uma organização representa a razão da sua existência (Collins & Porras,
1996). Para providenciar algumas orientações em relação à conceção de missão, os autores
consideram que a mesma deve abranger: a) o propósito básico da organização (objetivos); e b)
os valores estratégicos (metas) que a organização pretende agregarem a elementos que com
ela interagem.
De salientar ainda que na análise efetuada por Cristley (2013), é descrito que a
integração da cultura de políticas e da missão de cuidar dos outros nas organizações sem fins
135
lucrativos, requer uma coordenação alinhada das declarações de missão estratégica, visão,
valores, práticas e padrões de comportamento organizacional de compaixão que devem ser
comunicadas de forma clara, partilhadas, defendidas e identificadas pelos interesses dos
stakeholders – levando a emergir uma identidade cultural organizacional (Pearce & David,
1987). Assim, quando os colaboradores percecionam uma missão organizacional (objetivos,
metas) comum, com valores reais e credíveis, desenvolvem maior confiança e
comprometimento, dedicação e desempenho com a organização (Pendleton & King, 2002,
citados por Cristley, 2013).
Considerou-se, assim, que quando uma organização é caracterizada por uma estrutura
flexível com elevada qualidade de relacionamentos, legitimada por valores e crenças de
respeito pela humanidade (compassivos), são nutridas uma variedade de rotinas e práticas de
compaixão (Kroth & Keller, 2009, citados por Madden et al., 2012) que são incorporadas nos
comportamentos pelas quais se regem os colaboradores.
136
Neste sentido a forma como estão definidos os comportamentos dos líderes a nível do
contexto organizacional (com vs. sem atitudes compassivas), as normas (i.e., padrões
normativos sobre o significado e o modo como a organização pode expressar e agir face ao
sofrimento) e valores estruturais (controlo vs. expressão de sentimentos), e no que refere ao
sofrimento humano e compaixão no contexto laboral, irá influenciar de forma direta a
facilitação ou inibição da resposta de compaixão na organização. Influenciará, também, a
forma como os colaboradores se mobilizam face ao sofrimento e em relação aos objetivos ou
metas organizacionais (natureza produtiva vs. social) (Trice & Beyer, 1993, citado por
Madden et al., 2012) que podem ser ou não legitimados também pelo coletivo (Cristley,
2003), e a nível do contexto social e relacional.
À luz da teoria dos sistemas adaptativos complexos (Capra, 1996, citado por
Lechtenstein, 2000) admite-se que a auto-organização para a emergência de comportamentos
compassivos seja mais facilitada em contextos laborais caracterizadas por um funcionamento
ou gestão de estruturas com regras mais flexíveis (com menos controlo), permeáveis às trocas
e à mudança, em que este comportamento pode surgir sem orientação de líder, com base numa
cultura e identidade coletiva definida com valores humanos e crenças caracterizadas pela
qualidade das interações.
Baseados neste tipo de questões, e com base nos pressupostos subjacentes à teoria dos
sistemas complexos (Lechtenstein,2000), colocou-se a seguinte proposição:
137
Proposição 2 (P2): A capacidade para a auto-organização da resposta coletiva compassiva é
influenciada diretamente pela estrutura hierárquica flexível e por valores culturais humanistas
que orientam a forma de atuação dos colaboradores para atingir os objetivos,
independentemente da sua natureza.
Chegou-se assim à proposta de um novo modelo teórico, que se desejava ver testado
de forma empírica como recomendação de desenvolvimento de estudos empíricos futuros.
138
facilitam a sua emergência no tipo de resposta esplamadas nas práticas, valores e cultura da
organização (Madden et al., 2012), constituindo-se como um novo padrão de comportamento,
mais adaptável para responder de forma a minimizar o sofrimento (Olson & Eoyang, 2001,
citados por Obadia et al., 2006).
Assim, ainda com base na teoria dos sistemas complexos (Chiles et al., 2004, citados
por Madden et al., 2012) as condições de qualidade dos processos sociais, o trabalho de
equipa (e.g., interação e mútuo ajustamento de regras e papeis); a diversidade de agentes, e a
criatividade (Thompson, 1967; Holland, 1995, citado por Madden et al., 2012) podem
influenciar a auto-organização da resposta compassiva, e por sua vez, a modificação de
normas, valores e práticas, de tal forma que a capacidade compassiva passará a constituir um
novo padrão de comportamento social e relacional.
140
colaboradores tem evidenciado inúmeros benefícios no desempenho e no bem-estar dos
indivíduos (e.g., Lilius et al., 2011 a; Lilius et al., 2008; Lilius et al., 2011b).
Ao considerar que a compaixão não é necessariamente uma virtude, e que deve ser
entendida enquanto processo relacional e social complexo - que vai para além de noticiar e
responder ao sofrimento outro, - este fenómeno envolve também os julgamentos de
legitimidade efetuados por parte de ambos os doadores e recetores em relação à decisão de
aceitar ou de rejeitar os atos de compaixão.
141
da evidência de influências positivas na resposta coletiva compassiva, quando presentes os
componentes relacionados com as práticas quotidianas do funcionamento das equipas, como
interdependência de papéis, diversidade de funções, trabalho realizado em equipa, ou
liderança - ela mesma compassiva - ainda falta estudar a relação de outros componentes
práticos, a saber, autonomia, inovação, participação e cooperação.
142
limitações e os contributos deste constructo e da sua prática nas organizações, e compreender
as condições que favorecem o bom desenvolvimento da compaixão e das capacidades
coletivas compassivas no espaço laboral.
143
CAPÍTULO IV. ESTUDOS EMPÍRICOS
4.1.1. Método
Assim, a partir dos saberes, experiências e das realidades dos profissionais, pretendeu-
se compreender e interpretar significados e vocabulário utilizado pelos entrevistados para
definir este constructo. Simultaneamente, a partir da análise detalhada das suas respostas,
pretendeu-se formular categorias que permitam a construção de uma nova teoria concetual
sobre este fenómeno.
4.1.1.2. Participantes
146
Tabela 1.
Caracterização dos Entrevistados
147
4.1.1.3. Procedimentos de recolha de dados
148
Neste sentido, como a metodologia escolhida foi a Grounded Theory, como método
mais utilizado para gerar teoria (Strauss & Corbin, 1990), o processo de seleção dos
entrevistados foi sendo construído à medida que os dados foram recolhidos e analisados até se
atingir a saturação teórica de informação, ou seja, até que se verificasse que as categorias
encontradas nos discursos dos entrevistados começavam a estabilizar e o facto de adicionar de
novos casos não contribuísse para a investigação, pelos padrões de informação repetida.
No que se refere à técnica selecionada a utilizar para a recolha dos dados, de acordo
com o segundo objetivo geral desta investigação, e com vista a desenvolver teoria abrangente
sobre o conceito de compaixão organizacional, optou-se pela técnica de entrevista
exploratória semi-estruturada que, pelas suas características, permitiu, por um lado, o contacto
directo (menos formal) e aprofundado com os entrevistados e, por outro, compreender com
detalhe a sua perceção do conceito de compaixão na organização, entre outros aspectos,
relacionados com o enquadramento da realidade de trabalho, com a experiência profissional
dos participantes e com outra informação relevante para a análise do fenómeno em causa.
Antes do início da aplicação da entrevista com cada um dos participantes foi feito um
enquadramento quanto à importância da sua colaboração no estudo. Adicionalmente, foi
pedida a autorização dos entrevistados para a gravação áudio (gravador) e informado o tempo
previsto para a realização da entrevista (i.e., 30 minutos). Após explicitado o consentimento
informado e garantido o anonimato e a confidencialidade dos participantes, bem como dos
seus relatos, procedeu-se à aplicação da entrevista pelo entrevistador através do recurso ao
Guião de entrevista.
149
Será que se pode falar de compaixão organizacional e, se sim, como poderá ser definido
o conceito de compaixão organizacional?
De modo a se proceder a uma análise qualitativa dos detalhes dos discursos recolhidos
nas entrevistas, a partir da sua gravação em sistema áudio, os dados foram posteriormente
transcritos na sua totalidade.
150
4.1.2.1. Dimensões Teóricas da Compaixão – altruísta, estratégica, interpessoal e
institucional
Na presente subseção será apresentada a forma como os dados recolhidos nos micro-
discursos foram codificados e agrupados em categorias de nível superior, analisando-os de
forma emparelhada.
Compaixão altruísta
“Isso não é fácil, é uma coisa realmente genuína. É algo que nasce dentro de nós ... e é real”.
“A compaixão que tenho pelo outro está relacionada à capacidade de me colocar no lugar
…nos sapatos da outra pessoa”.
151
No discurso de outro entrevistado (E 27) foi referido que é natural sentir preocupação
humana, empatia e interesse genuíno pelas lutas vivenciadas por outros, não apenas no
trabalho, mas também nas suas vidas particulares - e não apenas entre colegas de trabalho,
mas também em relação aos clientes:
“É o que nos leva a demonstrar preocupação, empatia pelos outros por causa das suas
condições, dentro da organização e no nível pessoal e, mais tarde… a compaixão
organizacional deve ser algo identificável por outros na prática, dentro e fora da
organização, e é esse interesse no outro… Eu vejo isso não apenas para os funcionários da
organização, mas também para os seus clientes”.
“Eu acredito que é importante ter compaixão no trabalho, tem a ver com o ser humano, com
as pessoas…” (E27) “A compaixão expressa-se nos direitos dos funcionários e tem a ver com
a pessoa, é uma visão mais humanista, também necessária no trabalho temporário, em
situações de crise e na mobilidade dos funcionários em que os direitos humanos se estão se
tornando cada vez menos presentes. Assim, a compaixão é um equilíbrio. (E 5)
“Compaixão profissional deve sempre ser integrada aos valores, padrões, justiça social ...
dentro disso, compaixão faz sentido”.
Não obstante, parece ser discutível, exatamente, qual a forma como a motivação da
compaixão altruísta ou, ao contrário, egoísta, pode ocorrer (por exemplo, os filósofos
realmente debateram-se nestes aspetos ao longo de milénios); consequentemente, constatou-se
152
que os dados surgiam num continuum em que altruísmo e compaixão estratégica representam
os extremos de dimensões teóricas.
Compaixão estratégica
“Para ser mais produtivo, quanto mais compaixão e paixão houver, melhor as pessoas se
adaptam e evoluem (…) (E19) “é necessário criar condições de trabalho onde as pessoas
sejam felizes “ (E17)
“O objetivo das organizações do segundo e terceiro setores é obter lucro, elas devem atingir
objetivos, mas a organização apenas só é tão boa quanto o seu pessoal o é, se este último não
estiver satisfeito, o anterior (o primeiro) não funcionará”.
A compaixão, de acordo com alguns dos entrevistados (E7), não tem que
necessariamente se envolver na resposta direta ao sofrimento manifesto, mas é fundamental
na prevenção do sofrimento e na criação de condições no local de trabalho que contribuam
para a satisfação dos trabalhadores.
153
Sobre a importância do equilíbrio entre vida profissional e pessoal, um entrevistado do setor
educacional (E5) afirmou:
“Compaixão é equilíbrio ... preocupação com os valores da igualdade, leis e com os espaços
de que cada funcionário necessita, com flexibilidade de horários, para conciliar família e
trabalho e trabalhar a partir de casa”.
“Ações compassivas podem ser geradas por meio de diversificados eventos, valores, treino,
educação ou desenvolvimento de caráter diversificados e outras iniciativas. Esses aspetos
melhoram o ambiente, o que afeta a produtividade da empresa. É importante facilitar a vida
nas empresas - compaixão pela vida pessoal dos funcionários. As iniciativas que as
multinacionais poderiam promover dentro das ações de marketing das próprias empresas
seriam, por exemplo, o prémio de uma viagem turística a seus funcionários”.
154
No que concerne ao segundo par de categorias, este representa dois níveis de
representação da compaixão organizacional como compaixão interpessoal e compaixão
institucional.
Compaixão interpessoal
“O que eu fiz foi valorizar essa pessoa quando outras pessoas a desvalorizavam” (E6).
“Saber olhar para as pessoas. Estou pensando na empatia como um todo, para torná-las
pessoas importantes para a organização, conhecer suas opiniões, ideias, olhar para as
mesmas como os seres humanos que são”.
155
Um entrevistado envolvido nas forças armadas (E11), com vasta experiência em
liderança de equipas, descreveu a compaixão organizacional como estando ligada a
relacionamentos, disponibilidade, suporte, compreensão, respeito e igualdade:
“De facto, é a componente relacional e da pessoa em destaque... deve estar disponível para
as pessoas e., Ser atencioso com as pessoas ... deve estar disponível para fornecer
apoio/suporte e entender o outro ...para respeitar o outro como igual”.
“A compaixão pode ser mais importante quando houver uma crise de demissão. É mais fácil
as pessoas receberem ajuda nesse processo com uma série de situações de solidariedade e…
os recursos humanos podem ajudar a procurar outro emprego”.
Compaixão institucional
Estes conceitos foram ainda posteriormente avançados por outros entrevistados (E2;
E3;E5), com a visão de que a compaixão deve ser reforçada e comunicada sistemicamente em
toda a organização, como políticas formais, rotinas e processos:
“Com as hierarquias, acredito que é difícil sentir essas ações de compaixão, sinto que é mais
entre os pares (professor) -professor (es); professor (es) -aluno (s)” .
“a compaixão profissional deve ser sempre integrada nos valores, padrões, justiça social ...
dentro disso, a compaixão faz sentido.”
157
“No contexto do trabalho, a compaixão não existe. O que deve estar presente é o respeito
dos direitos e deveres dos colaboradores quando eles têm problemas (...). Há um conjunto de
regras estratégicas que fazem o colaborador se sentir bem na sua organização (...), por
exemplo, a possibilidade de ter a tarde livre para dar apoio a uma criança (filho)” .
“Os recursos humanos devem ser orientados para as pessoas. Aumentamos a compaixão
dentro dessa estrutura e com base na liderança”… A liderança compassiva, conforme
descrita por um entrevistado na área de direito, é benigna, benevolente e paternalista: “Os
líderes devem se aproximar das pessoas ... conhecê-las, criar camaradagem ... demonstrar
atitudes de afeto e atitudes firmes, como fazem os pais”. (E10)
'”é o líder que deve construir a casa e levar as pessoas à tarefa certa, valorizar e corrigir
erros ... é compaixão ... motivar, valorizar e capacitar ... '”
“Como líder da empresa, eu costumava ajudar os meus subordinados nos momentos mais
difíceis da vida pessoal e famíliar. Um exemplo dessas atitudes foi atribuir uma parte do
salário quando algo aconteceu… Lembro-me de um funcionário que teve um incêndio na sua
casa e paguei-lhe o seu salário antecipadamente”.
159
a) díada: compaixão interpessoal e altruística: como representando os valores internos
ou o mundo da vida impulsionado pela ética da teoria de Habermas; e
b) díada: compaixão institucional e estratégica, como representando a perspectiva de
racionalidade de Habermas, impulsionada pelo sistema.
Como proposta de modelo teórico concetual de compaixão organizacional abrangente,
classificou-se o mundo da vida como mecanismos que derivam da interação comunicativa
humanística e virtuosa, e classificou-se o sistema como mecanismos que denotam o poder
(lucro, eficiência e controlo).
Neste sentido, o modelo teórico emergente neste estudo demonstrou que a compaixão
organizacional é caracterizada por ser um conceito multidimencional complexo que envolve
valores internos do mundo da vida relacionados com intenções altruístas e virtuosas, bem
como sistemas racionais e práticos (Figura 2).
160
Com base nestes pressupostos de Habermas, considerou-se que, na concetualizaçao
emergente de compaixão organizacional encontrada no presente estudo, não faria sentido
perspetivar uma "dissociação" concetual.
161
4.1.3. Discussão: Proposta de integração e de harmonização das dimensões de compaixão
organizacional- Adatação da Teoria da Ação comunicativa de Habermas
A análise de dados deste estudo destacou ainda como cada uma dessas tensões
concorrentes, e que competem, podem ser harmonizadas por meio de uma comunicação
coordenada.
163
A importância do aspeto de transcendência do paradoxo da compaixão organizacional
é que permite alavancar e ampliar o poder da compaixão para além dos contextos do mundo
da vida. Tal transcendência, através da ligação e alavancagem de tensões interdependentes e
duradouras, conforme foi sugerido, está no centro da excelência em liderança (da Cunha,
Clegg, & Cunha, 2002; Lewis, Andriopoulos, & Smith, 2014).
Assim, para além de se constituir como fulcral para a compreensão deste problema de
colonização, segundo a teoria de Habermas (1987) ainda são contemplados os meios para
minimizar as tensões dos conceitos paradoxais, nomeadamente através de uma solução de
harmonização e de transcendência.
A ação comunicativa é uma solução proposta por Habermas para resolver os referidos
problemas de colonização.Trata-se de um processo de diálogo mútuo e aberto entre duas ou
mais partes interessadas, ajustando-se deliberadamente e coordenando ações para atender e
acomodar as necessidades dos outros. Compreende um diálogo reflexivo em que os
participantes de uma discussão estão abertos a aprender uns com os outros, inclusivé
questionando os argumentos do conhecimento aprendido por meio da educação cultural, que
parecem ser à partida inquestionáveis.
Esse diálogo revelaria que os benefícios da compaixão estratégica são limitados, sem
uma base de compaixão altruísta, enraizada nas noções de virtude, consciência ou ética
165
humana. Neste sentido, sem uma base tão autêntica e sincera, a compaixão estratégica poderá
ser (dependendo de onde é colocada no continuum) uma farsa. É muitas vezes percecionada e
experienciada como tal, com efeitos motivacionais limitados sobre as partes interessadas
(Simpson et al., 2013 a). Da mesma forma, como sugerido por alguns participantes deste
estudo, a compaixão institucional deve ser alargada a partir dos comportamentos compassivos
de cada membro. A força da compaixão institucional é limitada se não for fundamentada em
relações interpessoais compassivas entre indivíduos.
166
Com base na abordagem das noções de Habermas (1987) sobre mundo da vida e
sistema, procedeu-se ao emparelhamento das quatro dimensões teóricas de compaixão
organizacional encontradas como dois mecanismos (pares), que se teorizou como operando
num continuum: compaixão altruísta (mundo da vida) e compaixão estratégica (sistema),
bem como compaixão interpessoal (mundo da vida) e compaixão institucional (sistema).
167
podem ser alavancadas e transcendidas para produzir maior poder e energia (Putnam,
Fairhurst, & Banghart, 2016).
De referir que o processo de aplicação de análise dos dados foi apenas realizado por
um avaliador, não tendo sido contemplada a sua validação por parte de terceiros.
Não obstante essas limitações, os resultados deste estudo constituem uma contribuição
significativa e justificam futuros projetos de pesquisa para obter conclusões mais
significativas.
169
transcender os paradoxos da compaixão, alavancando os sistemas para expandir o poder da
compaixão para além dos contextos do mundo da vida.
170
4.2. ESTUDO EMPÍRICO II- A influência da Compaixão Organizacional,
Características e Ações Organizacionais Compassivas no Job Crafting – Recursos
motivacionais facilitadores?
Conforme já referido nesta tese, o aprofundamento dos estudos sobre a moldagem (ou
o redesenhar) do trabalho partiu dos trbalhos inicialmente desenvolvidos por Wrzeniewski e
Dutton (2001). Como já indicado, este processo, denominado de job crafting, refere-se a
iniciativas por parte dos profissionais para a redefinição dos seus papéis, tarefas e
relacionamentos nas organizações, numa perspetiva de “bottom-up”, em oposição à
desenvolvida na literatura tradicional, em que os gestores e líderes tinham um papel fulcral no
desenho das tarefas dos profissionais (Grant, Fried, Parker, & Frese, 2010; Hormung,
Rosseau, Glaser, Angerer, & Weigl, 2010).
171
de trabalho, no sentido de equilibrarem as exigências das tarefas laborais, e os recursos
disponíveis para as concretizar, às suas capacidades e necessidades (Akin et al., 2014; Bakker
& Bal, 2010; Bakker et al., 2012; Petrou et al., 2012; Van Weigerden & Poell, 2017).
A perceção da identificação com a organização, por si só, não demonstrou uma relação
direta nos comportamentos de crafting, sem contemplar o estado psicológico no envolvimento
do trabalho, ou seja, a sua relação com a estrutura do contexto (Martin & Cullen, 2006). Não
obstante, Hur e colaboradores (2017) demonstraram a existência de uma relação entre as
variáveis de identificação com a organização, envolvimento no trabalho e job crafting.
173
No estudo desenvolvido por Hur e colaboradores em 2015, também foi demonstrada
uma relação positiva entre compaixão e desempenho no trabalho. Neste estudo, os autores
(Hur et al., 2015) verificaram que esta relação foi mediada pelas variáveis de perceção de
identidade positiva relacionada com o trabalho e pela criatividade (Tajfel, 1974, 1975).
De referir ainda a ênfase dada ao papel da teoria das emoções positivas na explicação
dos mecanismos subjacentes à mudança de comportamentos dos profissionais nas
organizações, nomeadamente ao moldarem o seu trabalho (Weiss & Cropanzano, 1996).
174
motivacionais e oportunidades para os próprios melhorarem as suas competências sociais e
emocionais de modo a reconhecer, respeitar, sentir empatia face ao outro, ser capaz de
compreender e de avaliar a situação/estado de sofrimento dos outros e de responder com
sabedoria, no sentido de atenuar o sofrimento. Este aumento de recursos sociais poderá
facilitar, por conseguinte, o processo de redefinição dos seus papéis e relacionamentos,
ajustando-os a um maior significado e propósito, em sintonia com os valores, crenças e
práticas do sistema compassivo.
Em vários estudos empíricos (Cameron, 2003; Chun et al., 2011; Guchait et al., 2016)
foi sugerido que o contexto organizacional no qual os profissionais estão integrados influencia
as suas atitudes e comportamentos. Neste sentido, a identificação com a organização permite
aos indivíduos internalizar os valores e os objetivos preconizados pela mesma (Dutton et al.,
1994; Karanika-Murray & Michaelides, 2015). Nos contextos de trabalho onde são
preconizados valores e práticas virtuosas os profissionais sentem um elevado sentido de
missão e de chamamento o que, por seu turno, os inspirará a desenhar e a alterar as suas
tarefas, reforçando de forma positiva a sua identidade organizacional (Wrzesniewski et al.,
2013).
175
Neste sentido, quando os profissionais percecionam a sua organização com valores e
atitudes otimistas, compassivas e íntegras (i.e., de respeito, confiança, atuando de forma
compassiva perante dificuldades e situações de sofrimento) tenderão a generalizar tais
perceções, tanto aos seus trabalhos, quanto aos níveis emocional e cognitivo (Dutton et al,
2010; Grant et al., 2008). Tenderão também a ter atitudes de maior lealdade, encontrando
novos significados no trabalho e experienciando um sentido de missão (e.g., Milliman et al.,
2003; Wrzesniewski et al., 2013).
176
dedicação face aos outros o que, por seu turno, poderá potenciar a perceção da sua identidade
prosocial (Dutton et al., 2010; Grant et al., 2008).
Neste sentido, em estudos anteriores (Janig & Habler, 1999; Talarico et al., 2009) foi
demonstrado que a expressão e a partilha de narrativas de emoções positivas conduz a uma
maior abertura cognitiva e emocional dos profissionais, que lhes permite reintegrar novas
ideias e aprendizagens no sentido de melhoria de recursos laborais estruturais (intelectuais,
emocionais e físicos) facilitando o processo interpessoal compassivo: de reconhecer, sentir
empatia e de responder ao sofrimento do outro.
No que diz respeito à dimensão de recursos laborais sociais, esta tem uma importante
vertente relacional, estando associada ao desenvolvimento de laços com colegas de trabalho e
177
com as suas chefias. Diz respeito aos esforços desenvolvidos pelos profissionais para obter
suporte ou feedback relativamente ao seu desempenho ou ao objetivo de manter uma relação
de mentoria com um superior hierárquico (Tims et al., 2012). Tais recursos (ações) podem ser
identificados e potenciados quando, por exemplo, os profissionais pedem conselhos a outros
mais experientes (i.e., solicitando feedback do seu trabalho aos supervisores ou
colaboradores) ou quando pedem sugestões aos colegas mais entendidos, sobre a forma como
lidar com situações mais exigentes do ponto de visita emocional e de sofrimento
(Wrzesniewski & Dutton, 2001).
179
A experiência de compaixão a partir dos membros da organização potenciará a sua
motivação no trabalho, o que, por seu turno, desenvolverá a sua identidade com a organização
e com os próprios. Os autores argumentaram que as experiências de compaixão entre os
membros tendem a desenvolver-se de acordo com a perspetiva de identificação positiva com o
trabalho e com a identidade social coletiva (Tajfel, 1974), traduzindo-se numa maior
motivação intrínseca para o envolvimento no comportamento de job crafting e para aumento
no desempenho no trabalho. Por exemplo, Dutton e colaboradores (2010) argumentaram que a
perceção de avaliação positiva do trabalho potenciará a compreensão dos profissionais em
relação aos outros, bem como o aumento do acesso aos recursos de autoafirmação,
manifestando-se um maior número de iniciativas e de respostas proactivas, fomentando ainda
emoções positivas entre os membros.
180
De acordo com estes pressupostos, relativamente ao efeito das dimensões de
compaixão, caraterísticas e práticas (ações) organizacionais compassivas nas dimensões de
aumento de recursos laborais estruturais, sociais e exigências laborais desafiantes, foram
formuladas as seguintes proposições que se pretendem ver validadas empíricamente na
presente investigação:
Sempre que um indivíduo tome medidas ativas para alterar ou diminuir tarefas ou
atividades que lhe são percecionadas como incómodas, está a diminuir as exigências laborais
percecionadas como obstáculos. Isto pode suceder devido à tendência dos trabalhadores em
ajustar o trabalho sempre que este se torne mais exigente (Clegg & Spencer, 2007). Podem
incluir-se nesta dimensão, não só a evasão a tarefas físicamente penosas, mas também aquelas
que são mais exigentes do ponto de vista psicológico ou emocional (Tims et al., 2012).
Neste sentido, não obstante as exigências do trabalho poderem ser percecionadas como
desafiantes para os profissionais, estas podem ser, simultaneamente, percecionadas pelos
mesmos como fatores de stress (percecionadas como incómodas). De salientar que os recursos
do trabalho parecem constituir-se componentes fundamentais no papel impulsionador e
motivacional para o maior envolvimento dos profissionais no trabalho.
181
tensão) podendo a perceção de compaixão ter um efeito atenuador destes aspetos negativos
através da promoção de emoções positivas. Assim, altos níveis de características e de ações de
compaixão deverão registar níveis mais baixos na procura da redução das exigências laborais
percecionadas como obstáculos. Consequentemente, as experiências de compaixão poderão
estar relacionadas de forma negativa com a procura de redução das exigências incómodas
(excesso de trabalho, tensão), na medida em que terão um papel atenuador destas tensões.
182
4.2.2. Design de Investigação
O cerne deste estudo foi, neste sentido, responder aos objetivos formulados nesta tese e
nas hipóteses. Para tal, recorreu-se aos seguintes procedimentos:
No que concerne ao tratamento estatístico para a análise dos dados recorreu-se aos
seguintes procedimentos:
Recorreu-se ao software Amos V.22 (Arbuckle & Wothke, 2003) para a análise
fatorial confirmatória, no sentido de validar as escalas de medida utilizadas, as
dimensões dos construtos e, ainda, para se proceder ao teste de hipóteses para
verificação da relação das variáveis (modelos I e II)
184
De referir que a Análise Fatorial Confirmatória utiliza os Modelos de Medida
de Equações Estruturais (Bentler, 1980) e o software estatístico com o LISREL
(Steenkamp & Trijp, 1991).
Para o recurso dos MEE baseados em relações teóricas entre variáveis, foi
necessário verificar previamente se estão comtemplados os procedimentos,
seguindo a proposta de Hair e colaboradores (1998).
De referir que o Alfa de Cronbach é o modelo mais utilizado nas ciências sociais
para verificação de consistência interna e validade de escalas, medindo a forma
como um conjunto de variáveis representam uma determinada dimensão (Hill &
Hill, 2002). Um valor do coeficiente de consistência interna medido pelo Alfa de
Cronbach superior a 0,80 é considerado adequado e um coeficiente de
consistência interna entre 0,70 e 0,80 é considerado como aceitável (Muñiz,
2003; Muñiz et al., 2005; Nunnaly, 1978).
4.2.3. Amostra
186
Tabela 2. Distribuição de frequências: Características sóciodemográficas dos respondentes
CATEGORIAS N %
GÉNERO
Masculino 83 36
Feminino 148 64
IDADE
« 30 (22-30) 13 5.6
31-40 46 19.9
41-50 72 31.2
51-60 63 27.3
61-70 29 12.6
» 84 (71-84) 8 3.5
HABILITAÇÕES LITERÁRIAS
Ensino secundário 25 10.8
Curso técnico profissional 22 9.5
Licenciatura 109 47.2
Mestrado 45 19.5
Doutoramento 14 6.1
CONDIÇÃO NO TRABALHO
Exercer atividade profissional 184 79.7
Desempregado 5 2.2
Trabalhador-estudante 6 2.6
Reformado 27 11.7
Outros 9 3.9
SETOR ORGANIZACIONAL
Público 98 42.6
Privado 87 37.8
ONGs/IPSS 37 16.1
Outros 8 3.5
ÁREA DE ATIVIDADE DA ORGANIZAÇÃO
Educação 53 22.9
Saúde 28 12.1
Administração -pública 25 10.8
Social-beneficiária 19 8.2
Empresarial 15 6.5
Artes-espetáculos 11 4.8
Comércio 9 3.9
NÚMERO de PESSOAS INTEGRAM ORGANIZAÇÃO
10 pessoas e menos 29 12.6
11-50 49 21.2
51-100 27 11.7
101-1000 63 27.3
1001-5000 34 14.7
5000 e mais 29 12.6
NÚMERO DE PESSOAS QUE INTEGRAM EQUIPAS
3 e menos 32 13.9
3-5 59 25.5
6-8 46 19.9
9-15 37 16
16 e mais 57 24.7
TEMPO QUE É COLABORADOR
6 meses e menos 6 2.6
6 meses a 2 anos 16 6.9
2 a 5 anos 36 15.9
5 a 10 anos 40 17.3
10 anos e mais 133 57.6
HORAS DE TRABALHO POR SEMANA
4 e menos 2 0.9
5-14 13 5.6
15-24 14 6.1
25-34 33 14.3
35-45 135 58.4
45 e mais 34 14.7
Nota: N=número de participantes; %= frequência
187
4.2.4. Procedimentos
Foi assim pedido a cada um dos participantes que partilhasse e divulgasse junto de
outros profissionais e de outras organizações o link da plataforma on-line do questionário e
também foi solicitada colaboração e participação através das redes sociais. Adicionalmente,
procedeu-se à realização de reuniões junto de algumas organizações dos diferentes setores (1º,
2º, 3º) para apresentação, enquadramento e esclarecimentos quanto ao presente estudo.
188
4.2.4.2. Técnica de recolha de dados
Pré-Teste
Esse pré-teste teve também em vista a adequação dos objetivos do estudo (Ghiglione
& Matalon, 1995), que consiste na apresentação do instrumento a “um pequeno número de
189
pessoas pertencentes às diferentes categorias de indivíduos que compõem a amostra” (Quivy
& Campenhoudt, 1998, p.182).
Conforme referido, por forma a proceder à aplicação e à recolha dos dados de resposta
dos respondentes, os participantes que constituíram a amostra do presente estudo foram
convidados a aceder ao questionário on-line, através da designada plataforma Google criada
para o efeito, cujo acesso foi possível através de um link de acesso.
190
4.2.4.2.1.1. Caracterização do Questionário
A análise do presente estudo, de acordo com os objetivos geral e específicos desta tese
(Seção de Introdução, pp. 13-14), incluiu a totalidade das questões referentes às 4 escalas de
avaliação: 1) Escala de perceção de compaixão organizacional (e dimensões constituintes,
versão com 6 a 9 itens por dimensão/constructo); 2) Escala de ações organizacionais
(compassivas); 3) Escala de características organizacionais (compassivas); e 4) Escala de job
crafting (e dimensões constituintes).
Conforme sugerido por Hill e Hill (2002), o questionário é antecedido por uma breve
nota introdutória, onde constam: o pedido de colaboração no preenchimento, a justificação da
aplicação do instrumento, a descrição do mesmo, a instituição onde decorre a investigação e
as questões de confidencialidade e de anonimato. Neste sentido, no início do questionário foi
efetuada uma breve explicação sobre os objetivos do estudo e explicitados os procedimentos
de participação, assim como o tempo total de resposta ao questionário (cerca de 15m).
De referir que o predomínio deste tipo de escala de medida tipo likert é associada à
rapidez e entendimento dos respondentes na modalidade de resposta pretendida, da facilidade
de codificação das respostas e, ainda, das possibilidades de tratamento estatístico.
192
Para além de questões dirigidas a 4 dimensões da Escala de Compaixão Organizacional
(dimensões: Consciência- 8 itens; Avaliação - 9 itens; Empatia - 8 itens; Tipo de Resposta -8
itens) estão incluídas neste Questionário questões que diz respeito às seguintes Escalas:
Esta escala de Job Crafting é constituída por 21 itens que se subdividem ou organizam
em 4 dimensões (i.e., aumento dos recursos laborais estruturais-5 itens; aumento dos recursos
laborais sociais-5 itens; aumento das exigências laborais desafiantes-5 itens; redução de
exigências laborais percecionadas como incómodas-6 itens), medidas através de uma escala
de tipo likert de seis pontos (1:Discordo Totalmente a 6: Concordo Totalmente).
193
Quadro 2.
Questionário:Dimensões da Escala de Compaixão Organizacional
DIMENSÕES ITENS
“Quando alguém está em sofrimento na minha organização, os outros tendem a...”
1 ...dar-se conta
2 ….tornarem-se conscientes
Consciência
4 …sentir o sofrimento
5 …reconhecer o estado de perturbação
6 ...prestar atenção
7 ...observar os sinais
8 ... trazer ao de cima a dor "escondida"
1 ... avaliar o quão merecedor de compaixão é o/a colega de trabalho
2 ... avaliar o nível de responsabilidade do/a colega de trabalho pelo seu estado de sofrimento
3 ... procurar compreender se o colega de trabalho é capaz de se auto-ajudar
Avaliação
2 ... responder
3 ... desenvolver ações práticas
Dim 4.
194
Quadro 3.
Questionário: Escala de Ação Organizacional (compassiva)
ITENS
ESCALA Quando alguém está em sofrimento na minha organização, esta tende a…
1.Recorrer aos canais de comunicação interna para informar os colaboradores sobre as formas de
apoiar
2.Ter programas disponíveis a que os funcionários podem aceder para obter ajuda
3.Sublinhar e tornar visíveis os princípios fundamentais para valorizar as pessoas em detrimento
Organizacional
dos lucros
Ação
Quadro 4.
Questionário: Escala de Características Organizacionais (compassivas)
ITENS
ESCALA Pensando nas características da sua organização, indique o seu nível de concordância, com as
seguintes afirmações…
4.Quando alguma pessoa tem algum tipo de necessidade, a minha organização recorre aos canais
de comunicação, como boletim interno ou uma atualização por e-mail, para informar os
colaboradores a apoiar aquela pessoa
5.Na minha organização eu ouço histórias sobre colegas que recebem apoio uns dos outros
durante os momentnos difíceis, através de refeições, cartões, flores ou outras expressões de
suporte
6.A minha organização patrocina formas de ajudar outras pessoas com necessidades, tais como
programas de doação, angariação de fundos, apoio financeiro ou doação de fundos para férias de
colegas
195
Quadro 5.
Questionário: Dimensões da Escala de Job Crafting
DIMENSÕES ITENS
Para cada uma das afirmações indique o seu grau de concordância
Aumento de
estruturais
01. Tento desenvolver as minhas competências
recursos
laborais
Dim 1.
07. Tento assegurar-me que o meu trabalho é menos intenso do ponto de vista emocional
08. Organizo o meu trabalho de forma a tentar minimizar contacto com pessoas cujos
Redução de
incómodas
09. Organizo o meu trabalho de forma a minimizar contacto com pessoas cujas expectativas
são irrealistas
10. Tento assegurar-me de que não tenho de tomar muitas decisões difíceis no trabalho
11. Organizo o meu trabalho de forma a ter a certeza que não tenho de me concentrar durante
um longo período de tempo de uma só vez
12. Peço ao meu supervisor para me orientar
de recursos
Aumento
18. Se surgem novidades eu sou dos (as) primeiros (as) a aprender acerca delas e a
desafiantes
exigências
laborais
experimentá-las
Dim 4.
19. Quando não há muito para fazer no trabalho eu vejo isso como uma oportunidade para
começar novos projetos
20. Aceito frequentemente tarefas extras, mesmo sabendo que não vou receber mais por isso
21. Analiso os diferentes aspetos do meu trabalho para o tornar mais desafiante
196
4.2.4.2.1.2.1. Resultados
Análise descritiva
No que concerne aos procedimentos de estatística descritiva, para cada uma das
variáveis (dimensões e escalas) medidas através de escalas de tipo likert foram realizadas
tabelas de frequências e alguns cálculos estatísticos relevantes, como a média (i.e., para as
questões numa escala de 1 a 6, um valor superior a 3,5 é superior à media da escala), o desvio
padrão (que representa a dispersão absoluta), o coeficiente de variação (que ilustra a dispersão
relativa) e foram ainda realizados gráficos ilustrativos dos valores médios das respostas dadas
às várias questões (ver Anexo III). Para as dimensões dos constructos de compaixão
organizacional e de job crafting, e para as escalas de ações e de características organizacionais
(compassivas), os valores foram determinados a partir do cálculo da média dos valores dos
itens que as integram.
Tabela 3.
Distribuição das dimensões da Escala de Compaixão Organizacional
Desvio Coef.
N Média Padrão Variação Mínimo Máximo
Dim 1. Consciência 230 4,03 0,99 24% 1,00 6,00
Dim 2. Avaliação 229 3,73 1,01 27% 1,00 5,89
Dim 3. Empatia 230 3,51 1,10 31% 1,00 6,00
Dim 4. Tipo de Resposta 230 3,76 1,08 29% 1,00 6,00
197
Dimensões da Escala de Job Crafting
Tabela 4.
Distribuição das Dimensões da Escala de job crafting
Desvio Coef.
N Média Padrão Variação Mínimo Máximo
Dim 1. Aumento de recursos laborais estruturais 231 5,20 0,77 15% 1,00 6,00
Dim 2. Redução de exigências laborais incómodas 230 3,33 1,11 33% 1,00 6,00
Dim 3. Aumento de recursos laborais sociais 231 3,78 1,04 28% 1,00 6,00
Dim 4. Aumento de exigências laborais desafiantes 231 4,57 0,90 20% 1,00 6,00
Tabela 5.
Distribuição das Escalas de Ação Organizacional e de Características Organizacionais Compassivas
Desvio Coef.
N Média Padrão Variação Mínimo Máximo
Escala de Ação Organizacional 230 3,01 1,20 40% 1,00 5,38
Escala de Características Organizacionais 231 3,09 1,14 37% 1,00 5,50
198
Análise da consistência interna das Escalas
200
alfa seja mais elevado, verificando-se, portanto, elevada consistência interna da escala
de Características Organizacionais.
201
Tabela 6.
Consistência interna das dimensões das escalas
Dimensões/Escalas α Nº Itens
Consciência 0.932 8
Avaliação 0.932 9
Empatia 0.948 8
Tipo de resposta 0.950 8
Numa primeira análise constatou-se que todas as saturações das variáveis (itens)
medidas nas respetivas dimensões foram estatisticamente significativas (p<0,001).
Para cada dimensão, calculou-se a média das saturações fatoriais, a consistência
202
interna e a fiabilidade composta, bem como a proporção da variância extraída, valores
representados na tabela 7. De acordo com estes resultados, à semelhança do estudo
desenvolvido por Simpson e Farr- Wharton (2017), verificou-se a existência de
validade convergente de todas as quatro dimensões, na medida em que as saturações
fatoriais são elevadas, com valores médios superiores ao mínimo exigido de 0,5.
As saturações fatoriais também foram significativas (valores t>1,96; p<0,001) e
verificou-se a fiabilidade do constructo, pois os valores da consistência interna e da
fiabilidade composta são sempre superiores ao mínimo exigido de 0,80.
Finalmente, a variância extraída foi superior a 0,50 para todas as quatro dimensões.
Tal significa que a validade convergente permite confirmar a construção específica
para as dimensões da escala de Compaixão Organizacional.
De acrescentar que a validade convergente da escala de medida é ainda confirmada
pela existência de saturação positiva e estatisticamente significativa (t>1,96; p<0,001)
entre todas as dimensões da escala de Compaixão Organizacional.
Relativamente à Escala de Ação Organizacional foi analisado que (ver Tabela 7):
Numa primeira análise verificou-se que todas as saturações das variáveis (itens)
medidas nas respetivas dimensões foram estatisticamente significativas (p<0,001).
Para a escala, calculou-se a média das saturações fatoriais, a consistência interna e a
fiabilidade composta, bem como a proporção da variância extraída, que se apresentam
na Tabela 7.
Verificou-se a existência de validade convergente da escala, pois as saturações
fatoriais são elevadas com valores médios superiores ao mínimo exigido de 0,50 as
saturações fatoriais são também significativas (valores t>1,96; p<0,001).
Verificou-se a fiabilidade do constructo, pois os valores da consistência interna e da
fiabilidade composta são sempre superiores ao mínimo exigido de 0,80.
Ainda, a variância extraída é superior a 0,50 para a escala. Portanto, a validade
convergente vem confirmar a construção especificada para a escala de Ação
Organizacional.
203
Numa primeira análise, verificou-se que todas as saturações das variáveis (itens)
medidas nas respetivas dimensões foram estatisticamente significativas (p<0,001).
Para esta escala calculou-se a média das saturações fatoriais, a consistência interna e a
fiabilidade composta, bem como a proporção da variância extraída, conforme se
representadas na tabela 7.
Verificou-se a existência de validade convergente da escala, pois as saturações
fatoriais são elevadas com valores médios superiores ao mínimo exigido de 0,50; as
saturações fatoriais são também significativas (valores t>1,96; p<0,001); verifica-se a
fiabilidade do constructo, pois os valores da consistência interna e da fiabilidade
composta são sempre superiores ao mínimo exigido de 0,80; a variância extraída é
superior a 0,50 para a escala. Portanto, a validade convergente vem confirmar a
construção específica para a escala de Características Organizacionais Compassivas.
Todas as saturações das variáveis (itens) medidas nas respetivas dimensões foram
estatisticamente significativas (p<0,001). Para cada dimensão, calculou-se a média das
saturações fatoriais, a consistência interna e a fiabilidade composta, bem como a
proporção da variância extraída, dados apresentados na Tabela 7.
Verificou-se a existência de validade convergente das quatro dimensões, pois as
saturações fatoriais são elevadas com valores médios superiores ao mínimo exigido de
0,50 as saturações fatoriais são também significativas (valores t>1,96; p<0,001); a
fiabilidade do constructo verificou-se pois os valores da consistência interna e da
fiabilidade composta foram sempre superiores ao mínimo exigido de 0,80 e; a
variância extraída é superior a 0,50 para as quatro dimensões. Portanto, a validade
convergente veio confirmar a construção específica para as dimensões da escala de
Job Crafting).
A validade convergente da escala de medida foi ainda confirmada pela existência de
saturação positiva e estatisticamente significativa (t>1,96; p<0,001) entre a maioria
das dimensões da escala de Job Crafting), que não é significativa entre as dimensões
“aumento de recursos laborais estruturais” e “redução de exigências laborais
incómodas” (p=0,671) e entre as dimensões “redução de exigências laborais
incómodas” e “aumento de exigências laborais desafiantes” (p=0,330).
204
Tabela 7.
Critérios para a Validade Convergente e Dimensões da Escala
Média
saturações Consistência Fiabilidade Variância
Escala Dimensão Items Fatoriais interna compósita extraída
Compaixão Consciência 8 0,802 0,932 0,998 0,646
Organizacional Avaliação 9 0,775 0,932 0,999 0,625
Empatia 8 0,834 0,948 0,999 0,698
Tipo de resposta 8 0,840 0,950 0,999 0,717
Job Crafting Aumento dos recursos
5 0,844 0,914 0,996 0,718
laborais estruturais
Redução de exigências
6 0,784 0,877 0,993 0,549
laborais incómodas
Aumento dos recursos
5 0,698 0,821 0,984 0,511
laborais sociais
Aumento das exigências
5 0,734 0,838 0,988 0,541
laborais desafiantes
Ações Organizacionais 8 0,835 0,945 0,999 0,686
Caraccterísticas Organizacionais 6 0,753 0,889 0,994 0,577
205
Quadro 6.
Valores de referência para a avaliação do ajustamento dos modelos de equação estrutural
206
ajustamento adequada, verificada também no estudo desenvolvido por Simpson e Farr-
Wharton (2017) (p=.414; CFI=1; RMSEA=.000).
Portanto, pode-se admitir que as dimensões estudadas são validadas para medir a
escala de Compaixão Organizacional. Os diversos elementos psicométricos
demonstraram a validade da versão portuguesa desta escala.
Portanto, a validade convergente confirma a construção específica para as dimensões
da Escala de compaixão.
Assim, com base nestes dados, foi possível admitir que os diversos indicadores
psicométricos também demonstraram a validade da versão portuguesa desta escala, podendo-
se concluir que os itens estudados são validados para medir a ação organizacional.
No que refere ao Modelo I, procedeu-se à análise das relações de cada uma das 4
dimensões de compaixão nas 4 dimensões de job crafting.
Relativamente ao Modelo II, teve por objetivo proceder aos estudos de análise das
relações das variáveis “características organizacionais compassivas” e “ações organizacionais
compassivas” nas 4 dimensões do job crafting.
Conforme já referido, para testar as hipóteses (relação entre as dimensões ou fatores)
recorreu-se ao Modelo Estrutural ou de Equações Estruturais (com o software AMOS v.22;
Arbucke & Wothke, 2003; Luque, 2000). Assim, os modelos estruturais apresentados neste
ponto permitem estudar as hipóteses (H1a,b; H2a,b) e determinar as relações significativas
entre as diferentes variáveis latentes dos modelos, possibilitando assim a verificação das
hipóteses de investigação.
MODELO I.
209
H1a: Cada uma das dimensões de compaixão (perceção/consciência do sofrimento,
empatia, avaliação e tipo de resposta) influencia de forma positiva o aumento de recursos
laborais estruturais, sociais e exigências desafiantes.
H1b: Cada uma das dimensões de compaixão (perceção/consciência do sofrimento,
empatia, avaliação e tipo de resposta) influencia de forma negativa a redução de exigências do
trabalho percecionadas como incómodas.
Este primeiro modelo tem por objectivo proceder ao estudo da análise das relações
entre cada uma das 4 dimensões de compaixão e cada uma das dimensões do job crafting.
Verificou-se que a hipótese H1a foi somente confirmada quanto à relação positiva
encontrada entre as duas dimensões de “avaliação” e de “resposta compassiva”, e as
características compassivas no “aumento de recursos laborais estruturais, sociais e
desafiantes”. Contudo, a hipótese H1a formulada não foi confirmada no que diz respeito à
relação positiva entre as duas dimensões de “Consciência” e de “Empatia” da compaixão
organizacional e as ações organizacionais compassivas no Aumento de recursos laborais
estruturais, sociais e exigências desafiantes (ver Tabela 9; Figura 3;Anexo VI).
211
“Consciência” não corresponde uma variação significativa da dimensão “Aumento de
exigências laborais desafiantes”.
213
Avaliação e redução de exigências laborais incómodas
Tabela 9.
Cálculo das saturações do Modelo Estrutural I para a verificação das Hipóteses
214
* p<0,05 *** p<0,001
Figura 3. Representação do Modelo Estrutural Final (Global) I. Estimativas estandardizadas das Escalas de
Compaixão organizacional e de Job Crafting
215
Tabela 10.
Ajustamento do modelo estrutural para o Modelo I
Adaptado de Arbuckle e Wothke (1999), Karjaluoto, Mattila e Pento (2002) e Luque (2000)
Nota: IFI – Incremental Fit Index; CFI – Comparative fit index; RMSEA – Root mean square error of
approximation; NFI – Normed of fit index; AIC – Akaike Information Criterion.
MODELO II
Relativamente ao Modelo II, este teve por objetivo proceder aos estudos de análise das
relações entre as variáveis “características organizacionais compassivas” e “ações
organizacionais compassivas” de cada uma das 4 dimensões do job crafting.
H2a: Cada uma das ações e as características compassivas influencia de forma positiva o
aumento de recursos laborais estruturais, sociais e de exigências desafiantes.
H2b: Cada uma das ações e as características compassivas influencia de forma negativa a
procura de redução de exigências percecionadas como incómodas
216
4.2.6.2. Análise dos Resultados
Modelo II
Este segundo modelo tem por objetivo realizar o seguinte estudo: análise das relações
entre a variável ações organizacionais compassivas com cada uma das 4 dimensões do job
crafting; análise das relações entre as variáveis características organizacionais compassivas
com cada uma das 4 dimensões do job crafting
Desenvolveu-se a análise das saturações para verificação das hipóteses com o Modelo
Estrutural.
218
Portanto, verificou-se a H2a.
Verificou-se que esta não foi confirmada na sua totalidade (ver Tabela 11; Figura 4;
Anexo VII).
219
Tabela 11.
Cálculo das saturações do Modelo Estrutural II para a verificação das Hipóteses
Saturações
Hip. Dimensão/ Escala Dimensão da Escala de Job Crafting t p
Standartizados
MODEL II
H2a Ações Org. Aumento de recursos laborais estruturais -0,100 -1,531 0,126
H2a Características Org Aumento de recursos laborais estruturais 0,382 5,343 ***<0,001
H2a Ações Org. Aumento de recursos laborais sociais 0,051 0,797 0,426
H2a Caracterísitcas Org Aumento de recursos laborais sociais 0,556 7,106 ***<0,001
H2a Ações Org. Aumento de exigências laborais desafiantes -0,051 -0,808 0,419
H2a Características Org Aumento de exigências laborais desafiantes 0,555 7,088 ***<0,001
H2b Ações Org. Redução de exigências laborais incómodas 0,123 1,713 0,087
H2b Caractrísticas Org Redução de exigências laborais incómodas 0,140 1,916 0,055
* p<0,05 *** p<0,001
Figura 4. Representação do Modelo Estrutual Final (Global) II. Estimativas estandardizadas das Escalas de Ação
e de Características Organizacionais Compassivas e de job crafting
220
De referir que não obstante terem sido considerados os vários elementos adequados
para maximizar o ajustamento do modelo, estes foram os resultados conseguidos.
Tabela 12.
Ajustamento do Modelo Estrutural para o Modelo II
Adaptado de Arbuckle e Wothke (1999), Karjaluoto, Mattila e Pento (2002) e Luque (2000)
Nota: IFI – Incremental Fit Index; CFI – Comparative fit index; RMSEA – Root mean square error of
approximation; NFI – Normed of fit index; AIC – Akaike Information Criterion.
Tabela 13.
Ajustamento dos Modelos Estruturais
221
4.2.7. Implicações teórico-metodológicas e práticas
Uma das explicações para não ter sido suportada a relação positiva entre as dimensões
de “reconhecimento do sofrimento” e de “empatia” e as dimensões de job crafting (i.e.,
“aumento de recursos e de exigências laborais desafiantes”), poderá ser o facto de,
comparativamente às dimensões de “avaliação” e “resposta”, estas (“reconhecimento” e
“empatia”) implicarem uma interpretação e uma ação direta no sentido de minimizar a
situação de sofrimento do outro. Estas dimensões de job crafting (“aumento de recursos
laborais sociais, estruturais e de exigências desafiantes”) estão, de igual modo, relacionadas
com uma atitude proactiva que implica esforço, estimulação, aprendizagem e envolvimento.
222
conforme preconizado por vários autores (Lilius et al., 2011 b; Madden et al., 2012; Dutton et
al., 2014) os fenómenos do contexto laboral, designadamente, as ações/práticas institucionais,
estão envolvidas e são entendidas, de forma inseparável, com as características
organizacionais de estrutura, missão e ainda com a cultura da organização, que define os
valores institucionais sobre os quais os colaboradores se devem reger (Wagner, Newell, &
Picooli, 2010).
223
4.2.8. Limitações e conclusões do segundo estudo empírico
Tal como todas as pesquisas, no presente estudo existem limitações. Uma delas é a
questão de que a dimensão de compaixão organizacional referente à “avaliação”, na escala
utilizada no presente estudo (Simpson & Farr-Wharton, 2017), é considerada limitada, uma
vez que foi apenas tida em conta a perspetiva do “ator focal”. De referir que a necessidade de
ser considerada também nesta dimensão de “avaliação” o ponto de vista do “recetor” já tinha
sido reportada em estudos anteriores (e.g., Dutton et al., 2014; Simpons, Clegg, & Cunha,
2013a; Simpson, Clegg, & Freeder, 2013b; Simpson et al., 2014b; Simpson & Farr-Wharton,
2017). Neste sentido, sugere-se a sua reformulação em pesquisas futuras, de modo a serem
incluídas ambas as perspetivas de “doador” e “recetor”, na forma como ambos os envolvidos
avaliam o sentido das intenções de cada um, as motivações mútuas e, por fim, a legitimação
ou recusa da ação compassiva (Dutton et al., 2014; Simpson et al., 2014b).
Outra das limitações do presente estudo é o facto de este ter sido apenas baseado nas
respostas dadas pelos respondentes integrados num contexto cultural específico. Neste
sentido, estudos futuros poderiam desenvolver uma perspetiva multicultural.
Na análise e tratamento estatístico dos dados verificou-se que alguns dos índices de
análise factorial confirmatória apresentaram valores de baixo ajustamento, não obstante terem
sido considerados os índices de modificação ou ajuste para maximizar o ajustamento dos
modelos. Estes resultados menos adequados poderão também estar associados ao elevado
número de variáveis ajustadas em função da dimensão da amostra (Bentler & Chow, 1987).
Este estudo constitui uma contribuição para o avanço da literatura, tanto na compaixão
organizacional, quanto na criação de empregos. Antes de tudo, como um estudo empírico,
agregou conhecimento e a compreensão abrangente sobre as características do contexto de
compaixão no trabalho que facilitam ou constituem oportunidades para a moldagem
individual do trabalho.
A nível prático, poderá se constituir como um incentivo para ampliar a reflexão dos
gestores sobre o design de programas e modelos de gestão destinados a promover ambientes
organizacionais compassivos. Ainda ao nível da realidade organizacional, também poderá
aumentar a consciencialização dos gestores sobre políticas e práticas de compaixão no
trabalho, de modo que seja considerada uma adequação de recursos e a promoção de práticas
compassivas nas suas organizações, alinhadas às culturas organizacionais, a fim de se garantir
oportunidades para os profissionais se envolver em comportamentos de job crafting.
225
CAPÍTULO V. DISCUSSÃO GERAL
No que se refere ao primeiro estudo desenvolvido nesta tese (Araújo et al., 2016), a
nível concetual, em resposta ao primeiro objetivo geral e específico formulados A (1),
pretendeu-se formular e desenvolver o modelo teórico quanto à forma como o efeito
combinado de características de estrutura flexível organizacional (em diferentes setores
organizacionais) e de uma cultura onde são definidos valores humanizados, contribuiu para a
facilitação do processo de respostas coletivas compassivas, independentemente da estratégia
da missão (lucrativa vs prósocial/Humana) ou do sector organizacional em análise.
226
exemplos, quando estas contemplam valores, normas e práticas de preocupação com os
profissionais).
Assim, a nível das implicações teóricas, o desenvolvimento deste estudo permitiu
formular o modelo teórico de que as características específicas de maior flexibilização
organizacional, aqui refletidas (Araújo et al., 2016), relacionadas com as práticas quotidianas
da organização permeáveis a mudanças (dimensões de: participação; trabalho de equipa;
autonomia dos colaboradores e inovação), permitem aos trabalhadores perceber, expressar e
responder à minimização do sofrimento dos demais (Kanov et al., 2004), indendentemente do
setor ou da missão organizacional.
No que se refere a implicações práticas, poder-se-à admitir que este primeiro estudo se
constitui como um avanço na literatura sobre as características e práticas contextuais que
facilitam a organização do processo compassivo nas organizações permitindo, por
conseguinte, chamar a atenção dos gestores para as características, práticas e condições do
contexto organizacional que facilitem a resposta compassiva, independentemente do setor
laboral (1º, 2º, 3º) ou da missão organizacional preconizada (e.g., lucrativa vs prósocial)
(Araújo et al., 2016).
228
ao outro. Isto corrobora outras perpectivas preconizadas por Simpson e colaboradores (2015),
ao incluir os valores, cultura, políticas, comunicação, recursos disponíveis, que se refletem
nas rotinas e práticas e nos papéis/funções dos profissionais a nível “socio-material” e
político, que estão também contemplados na definição do processo de compaixão
organizacional.
A nível de implicações práticas, são por isso variadas as áreas consideradas como
potencial preocupação que os gestores, líderes e stakeholders deverão considerar como
relevantes, de modo a desenvolver uma cultura compassiva nos contextos laborais, assim
como a adotar uma perspectiva de consideração da interação de uma multidimensionalidade
de conceitos de compaixão (e.g., a nível sócio-material).
No segundo estudo empírico, para responder ao terceiro objetivo geral definido para a
presente investigação – designadamente, quanto à análise do impato de compaixão
organizacional, características e ações organizacionais na moldagem individual do trabalho
(Job Crafting), a partir das perceções dos profissionais (1º, 2º, 3º setores) – os dados
indicaram que, em relação aos referidos construtos (conforme objetivos específicos definidos,
C-D-E (3), p.14), pretendeu-se analisar a relação preditora das perceções de dimensões de
compaixão organizacional (Dutton et al., 2014), características e ações organizacionais
compassivas nas perceções de dimensões de moldagem individual do trabalho (Job Crafting)
levado a cabo pelos profissionais nos seus contextos de trabalho (Tims et al., 2012).
Uma das explicações que foi avançada para o facto de não ter sido suportada a relação
direta positiva entre as dimensões de “reconhecimento do sofrimento” e de “empatia” e as
dimensões de job crafting (i.e., “aumento de recursos e de exigências desafiantes”), poderá
230
estar relacionada ao facto de, comparativamente às dimensões de “avaliação” e “resposta”,
estas (“reconhecimento” e “empatia”) não implicam uma interpretação e ação direta no
sentido de minimizar a situação de sofrimento do outro (Dutton et al., 2014).
Conforme referido, não obstante não se ter verificado relação positiva entre as ações
organizacionais compassivas no job crafting, o contexto das organizações, as ações/práticas
institucionais estão envolvidas, de forma inseparável, nas características organizacionais,
conforme preconizado nos trabalhos de Madden e colaboradores (2012), de Lilius e
colaboradores (2011b) e de Dutton e colaboradores (2014): de estrutura, missão e cultura da
organização. Estas definem os valores institucionais sobre os quais os colaboradores se devem
reger (Wagner, Newell, & Picooli, 2010). As dimensões do constructo de job crafting estão
associadas a aspectos definidos na estrutura, nomeamente valores, normas, condições de
trabalho - à luz da perspectiva sociológica (Dutton et al., 2014; Simpson et al., 2014b) e dos
princípios da teoria social (Feldman & Orlikowski, 2011) - que postulam que as práticas são
constituídas nas estruturas. Neste sentido, de acordo com estes pressupostos, poder-se-à
admitir a existência de uma relação, ainda que indirecta, entre as ações e características de
compaixão organizacional e dimensões de job crafting. Este estudo contribuiu para o
231
aprofundamento dos efeitos positivos das características organizacionais compassivas a nível
macro (geral) nos comportamentos de moldagem individual do trabalho.
232
vista à promoção de ambientes organizacionais compassivos e à sua aplicação por parte dos
gestores de forma individual e institucional.
Como qualquer trabalho académico, também este revelou diversas limitações que importa
destacar. Apesar destes já terem sido abordados em cada um dos estudos, pretende-se
apresentar, nesta seção, de forma resumida e enquanto conclusões.
233
por parte de respondentes pertencentes apenas a um contexto cultural específico, sugerindo-
se, assim, o desenvolvimento de pesquisas futuras que comtemplem a diversidade de
contextos culturais, ou seja, de acordo com uma abordagem transcultural.
234
5.3. Conclusões Gerais
De forma complementar, teve ainda como objetivos proceder à análise dos efeitos da
compaixão nas ações de moldagem individual do trabalho e à formulação de modelos teóricos
sobre compaixão organizacional, com vista ao avanço da literatura do comportamento
organizacional e, especificamente, do fenómeno de compaixão organizacional.
Neste sentido, a partir da formulação do modelo teórico de capacitação das respostas
compassivas, no primeiro estudo foi possível identificar características organizacionais
relacionadas com o trabalho que se constituem como antecedentes ou facilitadores do
processo de compaixão organizacional, nomeadamente de estrutura flexível com valor
humano independentemente do setor e da missão organizacional, considerando a necessidade
de tais proposições teóricas serem validadas empiricamente (Araújo et al., 2016).
Ao contrário de alguns estudos (e.g., Kanov et al., 2004) que defendiam que a resposta
compassiva era concretizada apenas (ou facilitada) nas organizações não-governamentais com
missão prósocial, o modelo teórico preconizado através do estudo concetual (Araújo et al.,
2016), permitiu corroborar os pressupostos teóricos e empíricos demonstrados noutros
estudos recentes (Lilius et al., 2011b; Madden et al., 2012), sendo preconizado que o processo
compassivo pode acontecer em qualquer setor organizacional (1º, 2º, 3º) ou profissional,
independentemente da missão específica laboral (prósocial ou lucrativa) estando, sobretudo,
relacionado com determinadas características e práticas organizacionais.
235
Adicionalmente, o modelo teórico de compaixão organizacional apresentado no
primeiro estudo empírico, descrito por um continuum de dimensões paradoxais de compaixão
(Araújo et al., 2019), corroborou a complexidade, a dinâmica contínua e fluída e a
interdependência das dimensões de compaixão - entre altruísta e estratégica, entre
interpessoal e institucional - do processo envolvido na dinâmica da compaixão. Tal vem na
linha de anteriores estudos, reforçando, neste sentido, a importância da influência de uma
multiplicidade de variáveis nos contextos pessoais, relacionais e organizacionais na
legitimação das relações compassivas (Dutton et al., 2014; Kanov et al., 2016; Simpson et al.,
2013a; Simpson et al., 2014b).
Esta investigação pemitiu, assim, ainda abrir caminhos rumo à emergência de um novo
paradigma concetual da compaixão organizacional, entendido como um constructo abrangente
e integrador de perspectivas e de posicionamentos, ainda que paradoxais (e.g., Simpson &
Berti, 2019). O mesmo apresenta riqueza de oportunidades para o desenvolvimento de estudos
empíricos, com potenciais benefícios para a gestão das organizações e para a reflexão de
condutas holísticas e sistémicas, com atenção a aspectos éticos/humanos e materiais.
É fundamental que, na gestão organizacional, os líderes estejam atentos aos aspetos que
poderão limitar a prática do fenómeno de compaixão organizacional, como são o tipo de
estruturas, de valores, de cultura e de sistemas (político, social…).
238
Tabela 14.
Características e Práticas organizacionais facilitadoras da compaixão no trabalho
239
Por fim, a tradução e validação de um instrumento de avaliação de compaixão
organizacional para a população portugesa constitui-se um marco para o avanço de estudos na
literatura científica sobre comportamento organizacional compassivo nas organizações e para
o avanço da realização de estudos empíricos da relação deste construto com outros conceitos a
nível do contexto de trabalho (e.g., Ações de liderança, trabalho de equipa, …) que terão sido
alvo sobretudo de análise de natureza qualitativa.
Nesta procura por formas de trabalho e de relação consonantes com sociedades mais
pacíficas, harmoniosas e justas, deseja-se que este trabalho possa ser um contributo útil e
consequente.
240
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277
ANEXO I. Guião de Entrevista Semi-Estruturada
Questão Geral-Central-Principal:
278
ANEXO II. Questionário -Escalas de Avaliação de: Compaixão Organizacional,
Características e Ações Organizacionais Compassivas, job Crafting e outros conceitos em
contexto de trabalho
279
SECÇÂO (1) (Dados demográficos)
Q1 - Questões sócio-demográficas:
Começamos por solicitar que responda a algumas questões que têm apenas como
objetivo proceder à caracterização global dos participantes neste questionário.
Assim, pedimos que nos indique:
Q2 - Sexo:
O Masculino
O Feminino
Q3 - Idade: __________
O Ensino preparatório
O Ensino básico
O Ensino secundário
O Curso técnico-Profissional
O Frequência do ensino superior
O Licenciatura
O Mestrado
O Doutoramento
O Público,
O Privado,
O IPSS, ONGs
O Outros
280
Q8 - Em que área de atividade enquadra a organização para a qual trabalha?
O Agricultura e Alimentação
O Artes e Espetáculos
O Comércio
O Construção
O Culto-Religião
O Educação
O Empresarial-negócio
O Energia
O Governamental - Administração pública
O Indústria Legal-Justiça
O Media-Comunicação
O Saúde
O Serviço da Comunidade
O Social-beneficência
O Transporte e Distribuição
O Outra atividade. Qual?
O Menos de 10 pessoas
O Entre 11 a 50 pessoas
O Entre 51 a 100 pessoas
O Entre 101 a 1000 pessoas
O Entre 1001 a 5000 pessoas
O Mais de 5000 pessoas
O Menos de 6 meses
O Entre 6 meses a 2anos
O Entre 2 a 5 anos
O Entre 5 a 10 anos
O Mais de 10 anos
O Menos de 4 horas
O Entre 5 a'14 horas
O Entre 15 a 24 horas
O Entre 25 a 34 horas
O Entre 35 a 45 horas
O Mais do que 45 horas
281
SECÇÂO (2) (Compaixão no trabalho)
Q13 - Compaixão Organizacional: Pensando nas questões que têm vindo a ser
estudadas, relacionadas com a compaixão no trabalho, adaptadas do questionário
de Simpson e Farr-Wharton (2017) consciência, avaliação, empatia e tipo de
resposta/ação compassiva, indique o seu nível de concordância com as seguintes
afirmações.
282
Q16 - EMPATIA - Quando alguém está em sofrimento na minha organização, os
outros tendem a…
283
Q17 - TIPO DE RESPOSTA - Quando alguém está em sofrimento na minha
organização, os outros tendem a…
284
SECÇÂO (3)
Q18 - Ações de Liderança: Sugerimos que pense nas ações desenvolvidas pelo
seu superior hierárquico, Em que medida as seguintes aÍirmações se lhe aplicam?
(adaptadas de Simpson e Far-Wharton, 2017).
285
Q20 - AÇÃO ORGANIZACIONAL - Em que medida as seguintes afirmações se
aplicam às ações desenvolvidas pela sua organização (adaptadas de Simpson e
Farr'Wharton, 2017) :-Quando alguém está em sofrimento na minha organização,
esta tende a…
286
Q21 - CARACTERISTICAS ORGANlZACIONAIS - pensando nas características da
sua organização, indique o seu nível de concordância com as seguintes
afirmações… (adaptadas de Simpson e Farr'Wharton, 2017).
287
288
Q22 - Bem-estar - Considerando os aspetos relacionados com o bem-estar no seu
trabalho indique o seu nível de concordância com as seguintes afirmações
(adaptadas de Simpson e Farr-Wharton, 2017).
289
Q23 - PERCEÇÃO DE SUPORTE ORGANIZACIONAL - No que se refere às
questões de perceção de suporte por parte da sua organização, avalie o nível de
concordância com as seguintes afirmações… (adaptadas de Simpson e Farr-
Wharton, 2017).
290
Q24 - COMPORTAMENTO DE CIDADANIA ORGANIZACIONAL - Relativamente
às ações de cidadania organizacional, avalie o seu nível de concordância com as
seguintes afirmações (adaptadas de Simpson e Farr-Wharton,2O17).
291
Q25 - TRABALHO EM EQUIPA - No que se refere ao trabalho desenvolvido em
equipa, indique o seu grau de concordância relativamente a cada uma das
afirmações (adaptadas de Simpson e Farr'Wharton,2017)
292
Q26 - COMPROMISSO AFETIVO - Em que medida as seguintes afirmações
(adaptadas de Simpson e Farr-Wharton,2O17) relacionadas com o compromisso
afetivo com a organização onde trabalha se aplicam a si?
293
Q27 – COMPORTAMENTO E AJUSTAMENTO AO TRABALHO - Para cada uma
das afirmações, relacionadas com a forma como ajusta (redesenha) o seu conteúdo
funcional a nível de tarefas, aspetos cognitivos e relacionais (aspetos estudados no
questionário adaptado de Tims, Bakker e Derks, 2012'), indique o seu grau de
concordância:
294
295
296
ANEXO III. Análise Descritiva das Escalas de: Compaixão Organizacional, Job
Crafting, Ação Organizacional Compassiva e Características Organizacionais
Compassivas
Gráfico 1.
Médias e Diagrama Tipo Caixa: Dimensões da Escala de Compaixão Organizacional
297
Gráfico 2.
Médias e Diagrama Tipo Caixa: Dimensões da Escala de job crafting
1
Dim 1. Aumento Dim 2. Dim 3. Aumento Dim 4. Aumento
de recursos Diminuição de de recursos de recursos
laborais exigências laborais sociais laborais
estruturais laborais desafiantes
desagradáveis
298
Gráfico 3.
Médias e Diagrama Tipo Caixa: Escalas de Ação Organizacional Compassiva e de
Características Organizacionais Compassivas
299
ANEXO IV. Cálculo de Saturações dos itens nas Dimensões da Escala de Compaixão
Organizacional e da Escala de Job Crafting-Validade convergente
300
Escala de Job Crafting
Saturações
Não Erro
Dimensão de JC Variável Estandardizadas Teste t p
Estandardizadas padrão
01 0,630 0,932 0,036 17,551 ***<0,001
Aumento de
Estruturais
Dim 1.
Sociais
Dim 3.
laborais
Exigências
301
ANEXO V. Cálculo de Saturações dos itens nas Dimensões da Escala de Ação
Organizacional Compassiva, da Escala de Características Organizacionais Compassivas
e da Escala de Job Crafting-Validade Convergente
Saturações
Incómodas
Desafiantes
302
Escala de Ação Organizacional
Saturações
Ação Erro
Variável Não estandardizadas Estandardizadas Teste t p
Organizacional padrão
Saturações
Características Erro
Variável Não estandardizadas Estandardizadas Teste t p
Organizacionais padrão
303
ANEXO VI. Cálculo das Saturações para verificação das Hipóteses com o Modelo
Estrutural I
Dimensão Saturações
Dimensão
Escala de
Hipóteses Escala de Não Estandardi- Erro
Compaixão Teste t p
Job Crafting Estandardizadas zadas padrão
Organizacional
Aumento de Recursos
H1 Consciência 0,028 0,021 0,072 0,386 0,700
laborais Estruturais
Aumento de recursos
H1 Empatia -0,622 -0,467 0,085 -7,348 ***<0,001
laborais estruturais
Aumento de recursos
H1 Avaliação 0,520 0,390 0,081 6,439 ***<0,001
laborais estruturais
Aumento de recursos
H1 Tipo de Resposta 0,343 0,258 0,075 4,549 ***<0,001
laborais estruturais
Aumento de recursos
H1 Consciência 0,021 0,020 0,075 0,284 0,776
laborais sociais
Aumento de recursos
H1 Empatia -0,017 -0,016 0,074 -0,229 0,819
laborais sociais
Aumento de recursos
H1 Avaliação 0,366 0,340 0,079 4,633 ***<0,001
laborais sociais
Aumento de recursos
H1 Tipo de Resposta 0,149 0,139 0,075 2,002 * 0,045
laborais sociais
Aumento de exigências
H1 Consciência 0,023 0,019 0,076 0,299 0,765
laborais desafiantes
Aumento de exigências
H1 Empatia -0,348 -0,290 0,080 -4,361 ***<0,001
laborais desafiantes
Aumento de exigências
H1 Avaliação 0,496 0,413 0,084 5,897 ***<0,001
laborais desafiantes
Aumento de exigências
H1 Tipo de Resposta 0,271 0,226 0,078 3,492 ***<0,001
laborais desafiantes
Redução de exigências laborais
H2 Consciência -0,158 -0,152 0,074 -2,138 * 0,032
incómodas
Redução de exigências laborais
H2 Empatia -0,027 -0,026 0,073 -0,372 0,710
incómodas
Redução de exigências laborais
H2 Avaliação 0,160 0,153 0,073 2,178 * 0,029
incómodas
Redução de exigências laborais
H2 Tipo de Resposta 0,184 0,176 0,073 2,502 * 0,012
incómodas
304
ANEXO VII. Cálculo das Saturações para verificação das Hipóteses com o Modelo
Estrutural II
Saturações
Dimensão da Escala Não Erro
Hipóteses Escala Estandardizadas Teste t p
de Job Crafting Estandardizadas padrão
305