Relatório - Indústria de Fertilizantes
Relatório - Indústria de Fertilizantes
Relatório - Indústria de Fertilizantes
INDÚSTRIA DE FERTILIZANTES
RESUMO
Este relatório tem por objetivo abordar as diferentes faces e particularidades da Indústria
de Fertilizantes no Brasil, perpassando por conceitos básicos relacionados aos fertilizantes até
a discussões que permeiam esse ramo industrial. Aborda-se, ainda, de maneira detalhada, os
aspectos econômicos dessa indústria - sua relação com a agropecuária, seus principais players,
a segmentação do mercado, a cena mundial dessa indústria e os impactos geopolíticos
associados, além do Plano Nacional de Fertilizantes. Ademais, os impactos e outros aspectos
ambientais atrelados à indústria de fertilizantes são objeto de estudo desta obra e, por fim, é
propiciada uma abordagem detalhada dos fluxogramas de processo associados a esse ramo da
indústria química e de sua regulamentação.
SYNOPSIS
This report aims to address the different faces and particularities of the Fertilizer Industry
in Brazil, covering basic concepts related to fertilizers to discussions that permeate this
industrial branch. The economic aspects of this industry are also discussed in detail - its
relationship with agriculture, its main players, market segmentation, the world scene of this
industry and the associated geopolitical impacts, in addition to the National Fertilizer Plan.
Furthermore, the impacts and other environmental aspects linked to the fertilizer industry are
the object of study of this work and, finally, a detailed approach to the process flowcharts
associated with this branch of the chemical industry and its regulation is provided.
2
Sumário
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 4
1.1 Classificação dos fertilizantes ........................................................................................... 4
1.2 Matéria Prima ................................................................................................................... 5
1.3 A indústria de fertilizantes e o agronegócio ..................................................................... 6
2 ASPECTOS ECONÔMICOS ........................................................................................... 7
2.1 Mercado de Fertilizantes e Atratividade ........................................................................... 7
2.1.1 Segmentação do mercado de fertilizantes por setor .................................................. 8
2.2 Cenário global ................................................................................................................... 8
2.2.1 Produção .................................................................................................................... 9
2.2.3 Consumo .................................................................................................................. 10
2.2.3 Competição de mercado e principais indústrias no mundo ..................................... 11
2.2.4 Efeitos da Pandemia ................................................................................................ 11
2.2.5 Efeitos da Guerra na Ucrânia................................................................................... 11
2.3 Cenário Nacional ............................................................................................................ 12
2.3.1 Escala de Produção Nacional .................................................................................. 13
2.3.2 Dinâmica de mercado e relação: Brasil x Mundo.................................................... 14
2.4. Tendências e perspectivas .............................................................................................. 15
2.4.1. Plano nacional de fertilizantes (PNF) e a diminuição da dependência ................... 15
2.4.2. Embrapa, Plano de ação e Investimentos ............................................................... 16
3 IMPACTOS AMBIENTAIS ........................................................................................... 17
4 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ..................................................................................... 20
4.1 Processo para produtos nitrogenados .............................................................................. 21
4.2 Processo para produtos sulfúricos................................................................................... 21
4.3 Processo para produtos fosfatados .................................................................................. 22
4.4 Processo para produtos fosfatados .................................................................................. 22
4.5 Etapa de granulação e mistura ........................................................................................ 23
4.6 Regulamentação .............................................................................................................. 23
5 CONCLUSÃO.................................................................................................................. 24
6 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 25
3
Índice de Figuras
Figura 1 - Esquema explicativo sobre produção de fertilizantes ................................................ 5
Figura 2 - Entrega de fertilizantes por cultura, 2010 (em%) ...................................................... 6
Figura 3 - Previsão de participação de receita de fertilizantes secos e líquidos em 2030 .......... 7
Figura 4 - Segmentação do Mercado por Indústria .................................................................... 8
Figura 5 - Principais continentes produtores de fertilizantes no mundo .................................... 9
Figura 6 - Divisão da produção mundial de fertilizantes em toneladas por espécie de nutriente
.................................................................................................................................................. 10
Figura 7 - Consumo em Milhões de toneladas de fertilizantes por país (2018) ....................... 10
Figura 8- Maiores empresas de Fertilizantes do Mundo .......................................................... 11
Figura 9 - Dependência externa por fertilizantes...................................................................... 12
Figura 10 - Importação brasileira de fertilizantes na última década......................................... 13
Figura 11 - Volumes de entregas, produção e importação de fertilizantes por ano no Brasil, em
milhões de toneladas ................................................................................................................. 13
Figura 12 - Principais locais de origem do cloreto de potássio em 2018 ................................. 14
Figura 13 - Principais locais de origem de fertilizantes fosfatados em 2018 ........................... 14
Figura 14 - Principais locais de origem de fertilizantes nitrogenados em 2018 ....................... 15
Figura 15 - Processo de eutrofização ........................................................................................ 18
Figura 16 - Processo de Bioacumulação................................................................................... 19
Figura 17 - Fluxograma geral do processo de produção de fertilizantes .................................. 20
Figura 18 - Fluxograma de produção de fertilizantes nitrogenados - ureia e nitrocálcio ......... 21
Figura 19 - Fluxograma de produção de compostos sulfúricos ................................................ 21
Figura 20 - Processo de produção de fertilizantes fosfatados .................................................. 22
Figura 21 - Processo de obtenção do cloreto de potássio ......................................................... 23
Figura 22 - Etapa de granulação ............................................................................................... 23
Índice de Tabelas
Tabela 1 – Custos e Benefícios da Expansão do Saneamento no Brasil de 2016 a 2016..Error!
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Tabela 2 – Equilíbrio financeiro dos operadores do ponto de vista tarifárioError! Bookmark
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4
1 INTRODUÇÃO
A indústria de fertilizantes é o ramo da indústria química responsável pela produção de
fertilizantes em seus mais diversos tipos. Para seu entendimento, deve-se primeiramente
abordar o conceito de fertilizantes e suas classificações.
Inicialmente, vale ressaltar que o termo fertilizante refere-se a qualquer material, orgânico
ou inorgânico, natural ou sintético, que fornece às plantas um ou mais elementos necessários
ao seu desenvolvimento normal.
Quanto aos elementos químicos presentes nos fertilizantes (conforme a quantidade ou
proporção), estes podem ser divididos em macronutrientes primários (nitrogênio, fósforo e
potássio), macronutrientes secundários (cálcio, magnésio e enxofre) e micronutrientes (boro,
cloro, cobre, ferro, manganês, molibdênio, zinco, sódio, silício e cobalto).
Do ponto de vista industrial, o nitrogênio (N), o fósforo (P) e o potássio (K) são os mais
importantes e originam a classificação usual dos produtos da indústria segundo o elemento
essencial contido, ou seja, em fertilizantes nitrogenados, fosfatados e potássicos,
respectivamente.
As matérias primas básicas desta indústria são amônia anidra, enxofre, rocha fosfática e
sais de potássio, enquanto os ácidos nítrico, sulfúrico e o fosfórico figuram entre as matérias
primas intermediárias.
Ademais, no que tange ao uso de enxofre pela indústria de fertilizantes, mais de 90% do
enxofre do mundo é utilizado para a produção de ácido sulfúrico, cuja finalidade principal é
a produção de fertilizantes, segundo a Petrobras.
Ainda nesse tópico, deve-se ter atenção para o gás natural, cuja participação na cadeia
produtiva dos fertilizantes é extremamente importante, estando os custos deste ligados aos
preços daquele. Essa relação se encontra no fato de o gás natural ser o principal insumo na
produção dos fertilizantes nitrogenados e o maior componente do seu custo produtivo,
representando entre 70% e 75% no caso da ureia.
Acerca disso, o Projeto de Lei nº 6.407/2013 prevê medidas para fomentar a indústria
brasileira de gás natural, visando ampliar a competição na oferta e na movimentação desse
produto, reduzindo a tributação incidente em sua comercialização. Dentre as justificativas
para a propositura do PL 6.407/2013, é enfatizada, pelos seus defensores, a necessidade de
estabelecimento de uma política de preços de gás natural transparente e competitiva
nacionalmente, razão pela qual é proposto o retorno do controle de seus preços e dos critérios
de reajuste, os quais passariam a ser estabelecidos, conjuntamente, pelos Ministros de Estado
de Fazenda, de Minas e Energia e de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Com
a implementação dessa medida, as indústrias nacionais ganhariam força frente à grande
indústria multinacional, de forma que a alta taxa de importação tenderia a diminuir com o
tempo.
6
2 ASPECTOS ECONÔMICOS
Os fertilizantes possuem suma importância para a economia global e, especialmente, a
brasileira, visto a escalabilidade de produção e consumo agrícola anual do país, atuando como
uma commodity essencial para alavancar a produção de outros insumos básicos, por exemplo
soja e trigo. Além disso, o crescimento populacional expressivo nos últimos anos acarretou em
um aumento da demanda por alimentos, consequentemente, trazendo uma necessidade cada vez
maior na utilização de fertilizantes que, indiretamente, ao balancear a relação de oferta e
demanda ajuda no controle da inflação e a alta de preço dos produtos.
2.2.1 Produção
Os 6 maiores exportadores de fertilizantes são Rússia, China continental, Canadá, Marrocos,
Estados Unidos da América e Arábia Saudita. Coletivamente, esses principais fornecedores
responderam por mais da metade (52,6%) dos fertilizantes exportados globalmente em 2021.
Entre os continentes, os países da Europa venderam o maior valor em dólares de fertilizantes
exportados durante 2021, com embarques avaliados em US$ 29,6 bilhões ou 35,9% do total
mundial. Logo atrás, em segundo lugar, ficaram os exportadores asiáticos com 34,8%, enquanto
13,4% dos embarques internacionais de fertilizantes vieram da América do Norte. Outros 13%
foram enviados de exportadores da África.
Figura 5 - Principais continentes produtores de fertilizantes no mundo
Quanto aos diferentes tipos de fertilizantes exportados, cerca de quatro quintos (80,4%) eram
produtos à base de nitrogênio. Os fertilizantes potássicos representam 15,5% comparados aos
fosfatados com 2,7%. Excluindo as subcategorias de fertilizantes minerais ou químicos, o outro
tipo de fertilizantes são os fertilizantes animais ou vegetais, que representaram os 1,4%
restantes.
A ureia, DAP e MOP são os principais produtos para fertilizantes de nitrogênio, fósforo e
potássio, respectivamente. O fosfato de diamônio (DAP) contém 46% de fosfato (medido em
P2O5 ) e 18% de nitrogênio. O cloreto de potássio (MOP) contém 60% de potássio, medido em
K2O. Eles têm uma grande participação de mercado e são amplamente negociados em todo o
mundo. A ureia contém 46% de nitrogênio e sua participação no consumo de nitrogênio está
aumentando. A maior parte da capacidade de nitrogênio novo e gasoduto no mundo está na
forma de ureia. O fosfato de monoamônio (MAP) contém 46% de fosfato e 11% de azoto.
10
2.2.3 Consumo
A demanda de fertilizantes é influenciada pela evolução da área plantada e rendimentos, o
mix de culturas, preços de safras e razões de preços de fertilizantes por safra, regimes de
subsídio de fertilizantes, regulamentos de manejo de nutrientes, práticas de reciclagem de
nutrientes e inovação. O nitrogênio é de longe o maior nutriente, respondendo por quase 60%
do consumo total
Os fertilizantes de fósforo (fosfato) e potássio são aplicados principalmente para melhorar a
qualidade das culturas. Ademais, a aplicação anual nem sempre é necessária, pois o solo
absorve e armazena esses dois nutrientes por um período maior em comparação com o
nitrogênio, logo, o nitrogênio deve ser aplicado todos os anos para manter os rendimentos e a
biomassa. Vale ressaltar que o Brasil consome quantidades substanciais de fosfato e potássio
devido à sua significativa produção de soja.
Figura 7 - Consumo em Milhões de toneladas de fertilizantes por país (2018)
Comparado aos EUA, o Brasil será afetado diretamente, pois o Brasil importa 85% de seus
fertilizantes. A oferta nos EUA deve ser um problema menor, pois os EUA têm uma produção
doméstica robusta. No entanto, os agricultores dos EUA provavelmente enfrentarão preços mais
altos devido à interconexão global da indústria global de fertilizantes. Em 11 de março, ambas
as nações anunciaram planos para apoiar a produção adicional de fertilizantes para lidar com
os custos crescentes.
Levantamento realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
mostra que os preços pagos pelo agronegócio brasileiro aumentaram até 5,8% em apenas uma
semana. Em dólar, o valor pago pelos fertilizantes derivados de ureia atingiu US $642 a
tonelada no porto de Paranaguá, no Paraná, na quinta-feira, 24. O valor é 5,8% superior aos US
$607 registrados uma semana antes, em 17 de fevereiro, segundo a CNA.
Os fertilizantes derivados de cloreto de potássio (KCl) tiveram aumento de 1,1% no mesmo
período, para US$ 867 a tonelada em Paranaguá. Já os fertilizantes do tipo fosfato
monoamônico (MAP) tiveram alta de 0,5%, para US$ 971 a tonelada. A CNA nota que o preço
desses insumos já estava em trajetória de alta, e a tendência se intensificou com a escalada dos
problemas geopolíticos.
componente para a próxima safra, mas com potencial queda de produtividade. O Brasil tem
duas, às vezes três, safras por ano.
A elaboração do plano teve seu início no ano passado e, com a sua instituição, foi criado o
Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas, órgão consultivo e deliberativo que
tem por objetivo coordenar e acompanhar a implementação do Plano Nacional de Fertilizantes.
Além da redução da dependência externa, o PNF ainda apresenta oportunidades em relação
a produtos emergentes como os fertilizantes organominerais e orgânicos (adubos orgânicos
enriquecidos com minerais, por exemplo) e os subprodutos com potencial de uso agrícola, os
bioinsumos e biomoléculas, os remineralizadores (exemplo, pó de rocha), nanomateriais, entre
outros.
3 IMPACTOS AMBIENTAIS
De acordo a Lei 12.305, os resíduos industriais são aqueles gerados nos processos
produtivos. Eles variam com cada tipo de indústria e podem ser sólidos, líquidos ou gasosos.
Geralmente, os resíduos líquidos e gasosos são dispersos nos rios e nos esgotos, e pelo ar,
respectivamente. Enquanto, os sólidos são destinados a aterros e lixões, ou amontoados em
depósitos.
A norma ABNT NBR 10004 classifica os resíduos com perigoso (classe 1), ou não
perigosos (classe 2). Além disso, os não perigosos podem ser divididos em Não Inertes (Classe
2 A) e os Inertes (Classe I2 B).
Com o aumento da população nos últimos 50, a demanda por alimentos subiu
proporcionalmente no contexto mundial. Consequentemente, a o setor industrial de fertilizantes
produziu mais resíduos e, também, mais toxinas dispersas pelo meio-ambiente.
Nesse contexto, os resíduos são produzidos desde a mineração da matéria-prima. A
atividade de extração de minérios é uma das atividades que mais geram impactos ambientais.
Na obtenção dos minérios fosfatados, os principais resíduos são: material estéril, magnetita,
rejeitos da unidade de concentração, líquidos provenientes da drenagem oleosa, lama e rejeitos
do processo de flotação dos minérios.
Para a extração, cerca de 30 a 40 metros de espessura de material estéril é retirado. E,
posteriormente, é colocado em pilhas que causam impactos ambientais por meio de efluentes
tóxicos ou radioativos, alterando a paisagem.
Ademais, a água que bombeia no fundo da cava carrega contaminantes provenientes das
rochas ou das operações de lavra, além dos resíduos de vazamentos de veículos e máquinas.
Cerca de 85% da massa alimentada na usina de beneficiamento é lama, rejeitos magnéticos
ou rejeitos de flotação. Os rejeitos são dispostos em bacias de contenção, enquanto os rejeitos
magnéticos são postos em pilhas.
Já na indústria de fertilizantes, o fosfogesso, resultado do processo de obtenção do ácido
fosfórico(P2O5) é produzido em uma razão de 5 para 1 em massa. Ou seja, 1 tonelada de ácido
para 5 toneladas de fosfogesso. Ele é armazenado em pilhas, as quais apresentam as seguintes
características: possuem alto pH, alto teor de fluoretos, sulfatos, e fosfatos totais.
Portanto, o líquido proveniente dessas pilhas é altamente tóxico. Entretanto, esse material
ainda pode ser reaproveitado no setor de construção civil, como matéria prima.
Sobre as emissões atmosféricas, a reação entre a polpa de rocha fosfática ultrafina e o ácido
sulfúrico, em um misturador, gera gases contendo fluoretos, vapor d’água e material
particulado. Além disso, a produção do TSP (superfosfato triplo) e do SSP (superfosfato
simples), geram os mesmos resíduos, os quais podem ser reutilizados em outras etapas do
processo. Dessa forma, o principal problema está relacionado com a emissão de material
particulado. Esse tipo de efluente pode ser tratado com um filtro manga, que separa os gases
das partículas.
Entres os resíduos líquidos, o processo de lavagem de equipamentos, veículos e máquinas
é o principal responsável pela contaminação da água. Nesse sentido, ela se mistura com ureia,
nitratos, sulfato de amônio, e micronutrientes; assim como efluentes gerados no laboratório de
qualidade.
18
Bioacumulação se trata do processo pelo qual substâncias (ou compostos químicos) são
absorvidas pelos organismos. Nesse sentido, os elementos tóxicos despejados no meio
ambiente, como resíduos industriais, ou pela utilização dos fertilizantes, são acumulados ao
longo da cadeia alimentar. Esse processo é denominado biomagnificação, uma vez que a
alimentação ao longo da vida de um ser vivo, aumenta a concentração do material tóxico no
topo das cadeias alimentares. Assim, esse impacto ambiental afeta diretamente a sociedade,
uma vez que os seres humanos podem consumir diariamente animais ou plantas repletas de
material tóxico. Segue um exemplo desenvolvido por figura retirada do livro “Living in the
environment” (Scott Spoolman and G. Miller, 2011)
Figura 16 - Processo de Bioacumulação
Em relação aos aspectos energéticos, a média mundial de gasto de energia com a indústria
de fertilizantes está em 1,2%. Todavia,o Brasil gasta cerca de 2%, quase o dobro da média
mundial.
Além disso, o processo de síntese da amônia é responsável por gastar 92,5% da energia de
toda a indústria. Isso demonstra a alta quantidade de calor necessário para produzir a amônia,
além do alto montante dessa substância.
Embora esse setor industrial não seja relativamente o que mais gasta energia, ele é bastante
expressivo. Nessa perspectiva, os domicílios no Brasil são responsáveis por cerca de 10% do
gasto energético no país. Considerando que existem 70 milhões de habitações nacionais, é
possível afirmar que o setor de fertilizantes consome o equivalente a, pelo menos, 8 milhões de
domicílios em média (considerando a média mundial, que está abaixo do gasto do setor no
Brasil).
20
4 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
A complexidade do processo de produção de fertilizantes NPK se dá principalmente devido
à quantidade de processos ocorrendo simultaneamente, bem como a interdependência destes -
produtos oriundos de um processo são utilizados como reagentes em outros. O fluxograma geral
é organizado de uma forma parecida com a figura abaixo:
Figura 17 - Fluxograma geral do processo de produção de fertilizantes
Os fertilizantes nitrogenados são os mais utilizados em todo o mundo, com mais de 100
milhões de toneladas usadas anualmente (TRAGE, 2019). Alguns dos exemplos de fertilizantes
nitrogenados utilizados na produção agrícola são a uréia, a amônia em solução aquosa, o nitrato
de amônio, o sulfato de amônio e o nitrocálcio (VITOSH, 1983).
O fluxograma abaixo ilustra a produção de alguns desses compostos:
Figura 18 - Fluxograma de produção de fertilizantes nitrogenados - ureia e nitrocálcio
O processo de produção dos fertilizantes nitrogenados utiliza como principal matéria prima
o gás natural, obtido através da destilação do petróleo em uma refinaria. Este gás natural é então
combinado com o ar atmosférico, fontes de hidrogênio e nitrogênio respectivamente, para a
realização de uma síntese de Haber-Bosch (N + 3H → 2NH ), gerando como produto a amônia.
2 2 3
Por fim, a amônia é utilizada em dois processos: reação com gás carbônico em pressão e
temperatura altas para síntese de ureia; e reação com ácido nítrico para produção de nitrato de
amônio e nitrocálcio.
O processo usa como matéria prima a pirita, um dissulfeto de ferro mineral extraído por meio
do processo de extração Frasch: bombeia-se uma quantidade de água superaquecida até o
subsolo, fazendo com que o enxofre presente na pirita derreta; o enxofre então é obtido na forma
de dióxido de enxofre (SO ) (NEHB et al., 2006).
2
Esse dióxido de enxofre é reagido com água para a síntese de ácido sulfúrico, que será usado
como reagente em vários processos, com destaque para sua reação com a amônia, gerando como
produto o fertilizante sulfato de amônio.
A matéria prima principal é uma rocha fosfática, que é extraída mineralmente, tratada para
remoção de impurezas e moída. Essa rocha tratada é então usada para a síntese do ácido
fosfórico, e esses dois compostos, juntamente ao ácido sulfúrico, agem como reagentes para a
produção dos fertilizantes fosfatados: termofosfato, superfosfatos simples e triplo, fosfato
monoamônico (MAP) e diamônico (DAP) e a rocha parcialmente acidulada.
4.6 Regulamentação
O processo de produção e comercialização de fertilizantes no Brasil é regulamentado pelo
Decreto nº 50.146/61, assinado pelo então presidente Juscelino Kubitschek em 27 de janeiro de
1961.
O decreto estabelece que todo fertilizante produzido ou comercializado no Brasil deve estar
devidamente registrado em órgão federal competente, e que este registro deve detalhar sua
origem e composição. Neste registro da composição, é obrigatório a especificação do teor de
N, P2O5 solúvel em água ou em ácido cítrico 2%, K2O solúvel em água e CaO + MgO solúveis
em HCl. Além disso, essa regulamentação estabelece que os teores de N, P2O5 e K2O podem
variar apenas dentro de 1% do valor esperado. Por fim, é expressamente proibido o uso de
substâncias sem utilidade fertilizante ou técnica, as chamadas “cargas”, e de fontes de
nitrogênio não tratadas, como pelos de animais, resíduos de curtume ou lã (SENADO
FEDERAL, 1961).
24
5 CONCLUSÃO
A partir das informações pesquisadas ao longo do trabalho conclui-se que a indústria
fertilizante é uma indústria com grande importância atualmente. No Brasil, a indústria química
no geral tem aumentado o número de importações ano a ano, de forma que o déficit comercial
no setor atingiu valores elevados, o que aumenta a vulnerabilidade externa do país.
O setor de fertilizantes é o segmento que representa um terço do déficit citado, e o fertilizante
cloreto de potássio é o item que possui 90% de dependência externa. O agronegócio também é
afetado por esse setor, uma vez que o aumento na produção de grãos (maior produção brasileira
que representa 23% do PIB), aumenta a necessidade de um aumento na produtividade da terra,
que pode ser obtida por meio de fertilizantes. Sendo, portanto, um segmento de enorme valor
estratégico.
Por fim, é importante ressaltar a correlação desse setor com o contexto atual de guerra na
Ucrânia. Existem diversos projetos planejados para reduzir a dependência externa brasileira,
todavia, aquela com maior perspectiva é a do pré-sal pois poderão elevar a disponibilidade de
gás natural, utilizado como matéria prima para a fabricação dos nitrogenados. Podemos
perceber que no cenário de guerra, que afetou drasticamente a exportação de gás natural, essa
alternativa se torna ainda mais necessária.
25
6 BIBLIOGRAFIA
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2022.