Manual Vij EquipeTecnica 2022
Manual Vij EquipeTecnica 2022
Manual Vij EquipeTecnica 2022
2022
ATUAÇÃO DOS
PROFISSIONAIS DE
SERVIÇO SOCIAL E
PSICOLOGIA
INFÂNCIA E JUVENTUDE
- Infância e Juventude -
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Realização
Núcleo de Apoio Profissional de Serviço Social e Psicologia – DAIJ 1
Coordenação
Silvia Nascimento Penha
Colaboradores
Ana Cristina Amaral Marcondes de Moura
Lúcia Helena Rodrigues Zanetta
Patrícia Vendramim
Revisão Final
Dr. Reinaldo Cintra Torres de Carvalho
Dra. Mônica Gonzaga Arnoni
Silvia Nascimento Penha
5
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1: .................................................................................................................. 12
ASPECTOS HISTÓRICOS, ORGANIZACIONAIS E ADMINISTRATIVOS .................................. 12
1.1 Um Pouco do Trajeto dos Assistentes Sociais e Psicólogos no Tribunal de Justiça ......12
1.1.1 O Tribunal De Justiça, Sua Missão e Estrutura ................................................................................. 12
1.1.2 Subordinação da Equipe Técnica, Serviços Cumulativos e Frequência ............................................ 15
2.3.2 Considerações sobre o estudo social e os documentos técnicos (relatório, laudo e parecer) ......... 48
PREFÁCIO
Introdução
CAPÍTULO 1:
ASPECTOS HISTÓRICOS, ORGANIZACIONAIS E ADMINISTRATIVOS
Ao se apropriar desse campo, ciente do lugar em que está inserido, o assistente social
e o psicólogo, se alicerçados devidamente no campo teórico-metodológico e ético, poderão
vir a desenvolver ações que efetivamente contribuam para assegurar direitos.
Conforme números divulgados no portal institucional, baseados nos relatórios da
“Justiça em Números”, o Tribunal de Justiça de São Paulo é considerado o maior tribunal do
mundo e as ações aqui julgadas correspondem a 25% do total de processos em andamento
na justiça brasileira. Por essa razão, ele tem também a maior força de trabalho, com 2,6 mil
magistrados e aproximadamente 43 mil servidores entre os quais 965 assistentes sociais e
814 psicólogos, conforme dados de agosto de 2018.
Ele é um dos órgãos que compõem o Poder Judiciário e enquanto Justiça Estadual
julga todas as causas que não são de competência de Justiça Especializada (Justiça Federal,
do Trabalho, eleitoral e Militar, entre as quais estão a Infância e Juventude, Família e
Sucessões, Violência Doméstica, Crimes Comuns, Execuções Fiscais dos Estados e
Municípios, Ações Cíveis etc.).
Sua missão institucional é resolver conflitos da sociedade, no âmbito de sua
competência, para preservação de direitos, por meio do julgamento de processos ou
métodos adequados. Cabe observar que tal atuação deve se dar exclusivamente em casos
concretos de conflitos de interesse trazidos à sua apreciação. Dessa forma, não pode tentar
resolvê-los sem que tenha sido previamente provocado pelos interessados.
O Tribunal de Justiça de São Paulo é dirigido por um Presidente, um Vice-Presidente
e um Corregedor Geral da Justiça que são eleitos pelos desembargadores para um mandato
de dois (2) anos.
O Regimento Interno regula a forma de tratamento que deve ser oferecido a todos
os órgãos que compõem a sua cúpula, denominando-se como Egrégio Tribunal de Justiça e
a seus membros, Excelência.
O Tribunal é composto por 360 Desembargadores. O Presidente, o Vice-Presidente,
o Corregedor Geral da Justiça, o Decano, os Presidentes da Seção de Direito Público, de
Direito Privado e do Direito Criminal constituem o Conselho Superior da Magistratura.
Este conselho é o órgão responsável por apreciar matérias e definir questões de
importância geral para todo o Poder Judiciário.
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Para lembrar:
As Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça (NSCGJ) orientam vários assuntos
relacionados ao trabalho realizado pelas equipes técnicas, além de outros aspectos
relevantes para o funcionamento das varas e para os fluxos de trabalho na instituição,
inclusive prazos. E como são permanentemente atualizadas é obrigatório que sejam lidas
pelos profissionais com frequência. Elas estão e são facilmente encontradas na
INTRANET.
No Art. 802 das NJCGJ está determinado que os assistentes sociais e os psicólogos
judiciários executarão suas atividades profissionais junto às Varas de Infância e Juventude,
da Família e das Sucessões, de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, de Crimes
contra Crianças e Adolescentes e do SANCTVS, nas ações que demandem medidas de
proteção a idosos em situação de risco, mesmo que tramitem nas Varas Cíveis ou da Fazenda
Pública e nas ações que demandem o depoimento especial, nos termos da Lei nº
13.431/2017.
cumprimento mediante carta precatória, elas serão encaminhadas aos técnicos com posto
de trabalho nas Varas da Infância e da Juventude mediante escala de trabalho definida por
portaria, editada pelo Juiz Corregedor Permanente do Setor Técnico.
Juiz Juiz
Na prática:
O parágrafo único do Artigo 804 das NJCGJ pontua que os Psicólogos e Assistentes Sociais
atuarão como peritos do Juízo e não como testemunhas, exceto se o fato a ser provado
ocorreu durante o atendimento realizado pela equipe multidisciplinar.
Os Livros de Carga e outros papéis que por dois anos não sofrerem nenhum registro
poderão ser inutilizados. Mas, para tanto, deve ser solicitada autorização ao Juiz Corregedor
Permanente.
Os assistentes sociais e psicólogos devem manter livros de registros específicos às
suas seções. Quais sejam:
Nos processos digitais o recebimento e a devolução ocorrem por meio digital. Porém:
nem todos estão no sistema e o recebimento e feito de forma física, portanto é de
responsabilidade de cada seção técnica manter um Livro de Controle de Registro de
Processo.
Ele tem por objetivo acompanhar a entrada e saída do processo da seção.
Recomenda-se que o livro tenha espaço para as seguintes anotações:
N° do Processo
Nome
1.2.4 Movjud - Registro Estatístico das Ações dos Assistentes Sociais e Psicólogos
O artigo 807 das Normas da Corregedoria obriga que os setores técnicos de serviço
social e de psicologia apresentem ao seu juiz corregedor relatório das atividades realizadas
no ano. Nele poderá constar também proposta de atividades complementares para o
próximo ano
Esse documento é um importante instrumento para a instituição como um todo, já
que fica consignada a atividade desenvolvida pelos setores técnicos. Além disso, ele irá
documentar e poderá garantir de algum modo a necessária continuidade das ações de
natureza psicossocial desenvolvidas.
Recomenda-se que apresente os seguintes aspectos:
• Quadro de Profissionais na seção
• Quantidade de processos que foram atendidos no ano
• Tipos de Processo
• Natureza das Ações
27
O relatório pode, além do aspecto quantitativo, tecer uma análise qualitativa do que
os números permitem perceber, aliando-se o conhecimento da prática a uma leitura
qualitativa do cotidiano profissional.
Quando possível, alguns resultados poderão ser apresentados em tabelas e gráficos,
sendo que os dados presentes no MOVJUD serão de grande valia para oferecer esses
indicativos.
Considera-se relevante que todas as atividades em que houver a participação dos
profissionais, sejam internas ou externas também sejam computadas, bem como os
resultados alcançados. E dessa forma o Relatório Anual favorecerá o resgate de todo o
trabalho desenvolvido no ano.
Recomenda-se registrar as informações diariamente/mensalmente, e muito embora
isso possa parecer trabalhoso em vista das demandas do cotidiano, é importante que seja
incorporado dentre as atividades profissionais. Não o fazer pode implicar em sério risco de
não conseguir resgatar o trabalho realizado no final do ano
Em 29/10/2020 a CGJ publicou ata de correição para os setores técnicos, que pode
ser acessada através dos links a seguir:
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1.3 Referências
DAVIDOVICH, Terezinha Z. Histórico do serviço social no Tribunal de Justiça de São Paulo. In:
Manual do curso de iniciação funcional para Assistentes Sociais e Psicólogos judiciários.
PINTO, Ana Célia R.G; ALONSO, Denise Helena de Freitas; ANDERSON, Maria Celeste (orgs.)
– Convênio Tribunal/FCBIA – São Paulo, 1991/1992.
FÁVERO, Eunice T, MELÃO, Magda Jorge Ribeiro e JORGE, Maria Rachel Tolosa (orgs.). O
Serviço Social e a Psicologia no judiciário: construindo saberes, conquistando direitos. São
Paulo: Cortez, 2005.
FÁVERO, Eunice Terezinha. Serviço Social, Práticas Judiciárias, Poder: Trajetória do Serviço
Social no Juizado de Menores de São Paulo de 1948 a 1958. In Cadernos do NCA nº 2 –
PUC/SP, out. 1995.
LAROUSSE CULTURAL. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Nova Cultural,
1999.
MATIAS, Dilza Silvestre Galha Matias. Crises, Demandas e Respostas Fora de Lugar. Programa
de Pós-Graduação em Serviço Social – PUC/SP - Dissertação de Mestrado, 2002.
31
RIZZINI, Irene. O Século Perdido: raízes históricas das políticas públicas para a infância no
Brasil. Rio de Janeiro: Editora Universitária Santa Úrsula 1997.
_____. Psicologia Jurídica: Um caminho em evolução. In: Revista da Academia Paulista dos
Magistrados, ano II, nº 2, 2002.
SOARES DA SILVA, Cláudio R. A Utopia da infância cidadã. In: TRINDADE, Jorge(org.) Direito
da criança e do adolescente: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2005.
TRAVIESO, Pilar I. O Sujeito no Discurso Jurídico das Varas de Infância e Juventude: Pedido
de Providências. Dissertação de Mestrado, IP-USP, 2001.
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CAPÍTULO 2:
EQUIPE INTERPROFISSIONAL, AVALIAÇÃO PSICÓLOGICA, ESTUDO
SOCIAL E A PRODUÇÃO DE DOCUMENTOS ESCRITOS
Uma vez que a atualização desse manual se alinha com o curso de iniciação funcional
oferecido aos psicólogos e assistentes sociais ingressantes no TJSP, aborda-se a avaliação
psicológica, o estudo social e a produção de documentos escritos de forma abrangente.
Deste modo, alguns exemplos serão tematizados em outras áreas (p.ex. Vara de Família e
Sucessões). Porém, aportam do mesmo modo para as reflexões das equipes técnicas sobre
a elaboração de documentos escritos na Vara de Infância e Juventude.
que julgam indicados para avaliar cada caso, também podem definir modos de trabalho
interdisciplinar que lhes pareçam adequados. Desta forma, não há normativa quanto a
realizar os procedimentos técnicos e a redação do laudo em conjunto ou separadamente.
A escolha por realizarem os procedimentos em conjunto (por exemplo, entrevista ou
visita domiciliar) deve se basear em critérios éticos e técnicos, isto é, com a avaliação quanto
a se o procedimento feito em conjunto é bom para o usuário e se dá ao profissional a
liberdade para melhor utilizar seu instrumental.
Há situações em que a entrevista conjunta pode inibir o usuário ou pode atrapalhar
um dos profissionais quando, por exemplo, um prefere fazer questões diretas, enquanto o
outro, em contrapartida, opta por entrevista semidirigida ou aberta. Por outro lado, há
situações em que a dupla de profissional tem um entrosamento que enriquece a entrevista
pelo fato das diferenças de abordagens se complementarem e ampliarem a percepção do
caso sem perder de vista o cuidado com o bem-estar do entrevistado.
A redação do laudo, por seu turno, segue o mesmo princípio. Psicólogo e assistente
social podem fazer o trabalho de campo e a elaboração do laudo separadamente (psicólogo
apresenta laudo psicológico e laudo social) e podem, se preferirem, fazer um único laudo,
assinado pelos dois profissionais (neste caso, laudo psicossocial).
No caso de decidirem apresentar um laudo único, é necessário ter em
mente questões preconizadas pelo CFP e pelo CFESS. Tanto a Resolução 006/2019 do CFP,
que institui o Manual de Elaboração de Documentos Decorrentes de Avaliações Psicológicas,
quanto a Resolução nº 557/2009 do CFESS, dispõem sobre documentos conjuntos.
O CFESS estabelece que quando o profissional der sua opinião técnica sobre o objeto
da intervenção conjunta com outra categoria profissional, deve destacar a sua área de
conhecimento separadamente, delimitar o âmbito de sua atuação, seu objeto, instrumentos
utilizados, análise social e outros componentes (vide art. 4º.). O CRP, por sua vez, faz
recomendação semelhante, orientando que cada profissional faça sua análise
separadamente, identificando com subtítulo o nome a categoria profissional, afirmando,
ainda, que a conclusão pode ser conjunta (vide art. 12).
No caso de laudo único, as análises social e psicológica devem estar explicitadas no
corpo do laudo. Ou seja, as informações gerais que contemplariam as duas áreas poderiam
ser escritas conjuntamente e, em separado, análise social e análise psicológica. Se a
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conclusão for à mesma e, desde que fique explicitada a opinião técnica dos dois profissionais,
pode ser feito em conjunto.
O importante, no caso, é que o leitor reconheça qual parte do laudo é resultado da
avaliação social e qual é resultado da avaliação psicológica.
Exemplo
Destinatário (que é sempre o juiz. Importante ter em mente que não se trata de nomear o
juiz, por ex. “Dr. Fulano”, pois o destinatário não é a pessoa do juiz, mas o cargo que ele
ocupa; deixar claro a vara a que se refere o processo (infância, família, violência doméstica)
✓ Número do processo
✓ Tipo de ação
✓ Nome do autor da ação e da parte contrária (ou nome da criança/adolescente em ação
de Vara de Infância e Juventude)
✓ Parágrafo introdutório identificando os subscritores do laudo (o que corresponde ao
item 1 da Resolução do CFP);
✓ Item com breve resumo do processo, isto é, explicação do que motivou a determinação
de avaliação psicossocial (o que corresponde ao item “descrição da demanda” da
resolução do CFP);
✓ Item com Análise Social do caso, incluindo, se necessário, divisão em subitens;
✓ Item com Análise Psicológica do caso, incluindo divisão em subitens onde constem o
procedimento utilizado e a análise do caso;
✓ Item com conclusão conjunta elaborada pelos dois profissionais.
Assinatura Assinatura
Nome por extenso Nome por extenso
CRESS CRP
subsídios para a decisão do juízo. Esta particularidade nos convida a pensar nas
especificidades da avaliação psicológica no contexto do Judiciário, uma vez que o resultado
de tal avaliação poderá ter um impacto importante na vida das pessoas que fazem parte do
processo judicial e, nesta medida, diferencia-se de avaliações demandas pelo próprio sujeito.
Além disto, a avaliação deverá resultar na elaboração de um documento escrito, que
tem a função de comunicar os resultados desta avaliação para um profissional que não é do
campo da psicologia e precisa compreender o laudo para poder tomar decisões sobre o caso.
Sendo assim, o cuidado com a escrita tem um sentido importante para o psicólogo que atua
no Judiciário.
tópicos.
• Entrevista pode ter múltiplos usos, de acordo com o objetivo do profissional, por
exemplo, jornalista, chefe de empresa, professor etc.
• Entrevista psicológica: Instrumento fundamental do método clínico, consiste em
técnica de investigação científica em psicologia.
Fechada:
Aberta:
Anamnese
Entrevista
Da anamnese:
• Que o paciente conhece sua vida e está capacitado para fornecer dados sobre a
mesma.
Da entrevista:
• Cada ser humano tem organizada uma história de sua vida e um esquema de seu
presente, e desta história e deste esquema temos que deduzir o que ele não sabe;
• Aquilo que não nos pode dar como conhecimento explícito, nos é oferecido ou
emerge através do comportamento não verbal;
• Lacuna e contradições: reflexo do objeto de estudo; correspondentes as da
personalidade.
1
Mais informações sobre o material podem ser encontradas no Youtube: Confiram no link:
https://youtu.be/68QeDpS11hw.
41
dirigir agora aos princípios técnicos, éticos e científicos da profissão, destacando algumas
perguntas que o profissional precisaria se fazer ao escrever laudo psicológico no contexto do
Judiciário.
• As informações que constam no laudo são necessárias? Há dados irrelevantes ou
que expõem excessivamente a privacidade da pessoa avaliada?
• Há imprecisão ou ambiguidade das palavras que podem levar a uma
compreensão equivocada do texto?
• Há juízo de valor ou preconceitos?
• O laudo consiste em reprodução do discurso ou em análise de cunho psicológico?
• Quais os possíveis efeitos do laudo nos diferentes leitores?
✓ Os operadores do Direito terão condições de compreender a
avaliação de modo a pautar sua atuação no compromisso com o
jurisdicionado?
✓ As pessoas a quem o laudo se refere poderiam sentir-se
desrespeitadas ou excessivamente expostas?
✓ As informações contidas no laudo poderão estimular o litígio,
prolongar desnecessariamente o processo ou cronificará o conflito?
• Os leitores terão condições de distinguir entre a voz do autor do laudo e a voz da
pessoa avaliada?
Ocorre, geralmente, após o assistente social ter clareza do objetivo do estudo social - para
que fazer - e, concomitantemente, ao planejamento e sistematização da prática.
Nesta linha, afirma Iamamoto (2000, p.61), “as bases teórico-metodológicas são
recursos essenciais que o assistente social aciona para exercer o seu trabalho: contribuem
para iluminar a leitura da realidade e imprimir rumos à ação”. Evita, assim, que sua prática
se torne mecânica, imediatista e burocrática, visto que o compromisso com a qualidade do
trabalho perpassa pelo encadeamento entre a teoria e a prática, entre o pensar e a ação
profissional.
E a qualidade profissional não comparece apenas na ação propriamente dita, mas
também, na escuta, na linguagem em suas diversas formas (escrita, gestual, oral), na
reflexão, na percepção da realidade, no respeito às crenças, valores, territórios, cultura,
grupos étnicos, gênero, orientação sexual e outros. A escolha de instrumentais não é tarefa
fácil, pois requer que avaliemos e reavaliemos objetivos, linguagens, estratégias, etc. Por
exemplo, dependendo da linguagem que utilizamos em uma perícia social, laudo social,
relatório social ou parecer social, poderemos estar reforçando a lógica da exclusão e não
facilitando o acesso a direitos (civis, políticos, sociais e humanos) que é papel precípuo do
Serviço Social. (LAVORATTI, 2016, p. 24)
Partindo-se do pressuposto que o profissional não é neutro e, além disso, está
condicionado às regras e à cultura institucional onde trabalha, o direcionamento que dará a
sua intervenção e análise será a partir do seu posicionamento ético-político. Cabe, assim, ao
assistente social se utilizar da autonomia técnica para a realização de sua intervenção e para
a escolha dos instrumentais de trabalhos antes de emitir sua opinião técnica, sem perder de
vista de que seu foco deve ser o(s) sujeito(s) atendido e os direitos que lhe são garantidos
constitucionalmente.
2.3.1.1 Entrevista
A entrevista (individual e/ou conjunta) costuma ser uma das primeiras ferramentas
que o assistente social utiliza para fazer as aproximações com os sujeitos envolvidos nas
ações judiciais no ambiente forense ou na residência. Além disso, é o momento em que ele
deve se apresentar e esclarecer o motivo do seu uso, o papel que desempenha na instituição,
43
2
http://www.cressrj.org.br/site/wp-content/uploads/2013/07/VERSÃO-FINAL-Termo-de-Orientação-
Visita-Domiciliar.pdf
47
atentar que todos os envolvidos são sujeitos de direitos. Ainda nesta perspectiva e
considerando que não existe neutralidade da intervenção técnica, o documento chama a
atenção para o seguinte aspecto:
[...] não se trata de uma visita para avaliação moral e comportamental dos
usuários, mas, no caso do Serviço Social, conhecer a realidade concreta
desses sujeitos no espaço onde as relações ocorrem naquele momento da
visita, respeitando sua privacidade e não contribuindo para o cerceamento
dos seus direitos.
3
http://www.tjsp.jus.br/Corregedoria/Comunicados/Comunicado?codigoComunicado=11552&pagina=30.
49
científico, conforme o art. 156 do Novo Código de Processo Civil (CPC). Ele deverá apresentar
um parecer que esteja fundamentado em sua área de conhecimento, buscando elucidar e
analisar situações que sirva de embasamento para o magistrado tomar sua decisão.
O trabalho do perito - especialista em determinado assunto - está fundamentado em
dois eixos: por um lado, o da normativa geral (dada pelo Código de Processo Civil) e, por
outro, o das normativas específicas do campo do saber do profissional, ou seja, aos
fundamentos teóricos e metodológicos da profissão, que o habilita a realizar avaliações que
envolvem questões de natureza técnica ou científica. Ele deverá assim, na perícia social,
seguir o que estabelece o CPC e, ao mesmo tempo, os fundamentos de sua profissão.
A perícia, segundo Mioto:
O laudo pericial, de acordo com o art. 473 CPC (Código de Processo Civil), deverá
conter:
Para além do papel de perito na área de família, o assistente social atua também na
infância e juventude, família, violência doméstica e idoso. Na diversidade/ampliação de
ações e atribuições, seu objeto de estudo é sempre a realidade social vivida pelo sujeito
social. Entender sua história, as relações que constituiu ao longo da vida nos mais variados
contextos: sociofamiliar, habitacional, laboral, econômico, cultural, territorial poderá dar o
rastro do porquê da judicialização de sua situação familiar. Neste sentido e a despeito de
como esses sujeitos se apresentem ao profissional, eles vêm, geralmente, movidos por
sofrimentos, vulnerabilidades, por direitos violados, mas, especialmente, por um pedido de
ajuda profissional.
A materialização desse pedido de ajuda, que não se confunde com “favor”, se dará
pela escrita de um documento técnico, após a avaliação social, que será juntado aos autos
do processo. Ele servirá como prova, apesar de não ter sido produzido com essa
intencionalidade pelo profissional.
Neste sentido, não existe uma padronização para nomear os diferentes tipos de
registros utilizados pelo assistente social no espaço forense, contudo é possível realizar
algumas diferenciações de acordo com a sua finalidade. Dentre eles, há o relatório social, o
laudo e o parecer.
O relatório social, segundo Magalhães (2006, pag. 61/62), pode conter informações
das atividades, procedimentos e encaminhamentos realizados. Entretanto, não deve apenas
informar, mas esclarecer, mesmo que brevemente, o porquê daquela intervenção, evitando,
dessa forma, ser apenas “informe”.
Segundo Iamamoto (1992, p.42), “o Estudo Social consiste em coletar dados, a partir
de um instrumental específico e definido pelo Assistente Social, para cada caso particular, e
interpretar estes dados a partir de um referencial teórico, elaborando-se uma opinião
técnica sobre a situação. Dentro de uma visão de globalidade, visto ser a interpretação da
situação”.
Para a realização da perícia, o profissional se utiliza do estudo social, que inicia e
orienta o processo de trabalho e a avaliação. Ou seja, ele não é o documento, mas o processo
de conhecimento que resultará em documento. Nele, o assistente social tem autonomia para
escolher a metodologia que se aplicará a cada caso, podendo compreender entrevistas,
visitas, observações, estudo documentais e bibliográficos e, a partir daí, fazer a investigação,
51
do ponto de vista profissional, da realidade social da família que está sendo avaliada, para a
elaboração do laudo e do parecer conclusivo.
É imprescindível considerar que “o caso” em estudo não é “um caso”, ou seja, ele
tem sua condição singular, todavia a sua construção é social, histórica, cultural. As influências
familiares, os condicionantes culturais, as determinações sociais relacionadas ao mundo do
trabalho, às políticas sociais, ao território onde vive, particularizam-se em sua história e
explicam sua condição presente (FÁVERO, 2009, p.5)
O laudo social, assim, é a análise escrita com o parecer conclusivo e o parecer, a
opinião fundamentada do profissional, que, no final, será anexado aos autos do processo.
Destinatário: juiz da vara (importante ter em mente que não se trata de nomear o juiz, “Dr.
Fulano”, pois o destinatário não é a pessoa do juiz, mas quem ocupa o cargo; deixar claro a
Vara (Infância, Família, Violência Doméstica)
Número do Processo
✓ O tipo de ação
✓ Nome do autor da ação e da parte contrária (ou nome da criança/adolescente em ação
de Vara de Infância e Juventude)
✓ Parágrafo introdutório, identificando os subscritores do laudo
✓ Item com breve resumo/histórico do processo, isto é, explicação do que motivou a
determinação de avaliação psicossocial;
✓ Item com Análise Social do caso, incluindo, se necessário, divisão em subitens, onde
constem procedimentos e instrumentos utilizados e análise do caso;
✓ Item com Análise Psicológica do caso, incluindo divisão em subitens onde constem o
procedimento e instrumentos utilizados e a análise do caso;
✓ Item com conclusão/parecer conjunto elaborado pelos dois profissionais.
Local e data
Assinatura Assinatura
Nome por extenso Nome por extenso
CRESS CRP
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O documento escrito pelo assistente social tem a função de subsidiar decisões que
irão interferir diretamente nas vidas das pessoas atendidas, portanto deverá ser
fundamentado, verdadeiro, honesto e, se possível comprovável. (CFESS, 2003)
É importante se ater de que essa escrita também perpassa pela formação
educacional e cultural, valores e visão de mundo de quem o escreveu. Portanto, a leitura que
fará do que observa e sente, em seu exercício profissional, não será neutra e direcionará a
sua intervenção e conclusão. No documento escrito ficará impressa sua assinatura e, uma
vez apensado aos autos do processo, torna-se público, não cabendo ao profissional controlar
seu destino, as possíveis interpretações dos leitores e o uso que se fará dele.
Cabe refletir, a título de conclusão, que para escrever, é preciso ler. É preciso tempo
e recolhimento. É preciso crítica e revisão. O trabalho escrito não se dá de forma instantânea,
ele necessita de disciplina e persistência e só se aprende a escrever, escrevendo. A linguagem
escrita requer muitos adjetivos: objetividade (ir diretamente ao ponto), clareza (ser
compreensível); coesão (unidade entre cada parágrafo e o todo); concisão (redução de
palavras); coerência (lógica entre a introdução, desenvolvimento e conclusão) e, somado a
eles, a correição gramatical.
Escrever requer um espaço que favoreça o estudo, a concentração e a reflexão, onde
o profissional possa não só reproduzir as informações e impressões de
atendimentos/entrevistas, mas, sobretudo, contextualizá-las e traduzi-las de forma coesa,
analítica, clara e fundamentada, visto que os casos no universo forense, costumeiramente,
são de extrema complexidade e os pareceres técnicos afetam o destino de crianças,
adolescentes e famílias e, especialmente, servem de subsídios para o magistrado tomar sua
decisão.
Escrever é intrínseco ao ato de ler, exige planejamento, pausas e revisões. É um
trabalho por vezes minucioso, no qual uma vírgula ou um ponto fora do lugar pode confundir
ou dar uma ideia contrária; em que a inconsistência ou excesso de palavras podem gerar
desconforto àquele que lê. Exige paciência e compromisso com o leitor. Paciência para que
as palavras certas surjam e traduzam o que é imprescindível e importante dizer no texto;
compromisso para não expor o(s) sujeito(s) avaliado(s) e não acirrar o conflito e/ou o
sofrimento entre pessoas que são importantes umas às outras e que, por não conseguirem
lidar com a situação posta, necessitam de ajuda profissional.
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Quesitos são pontos sobre os quais se pede esclarecimento. Por vezes, há mal-
entendidos e alguns profissionais supõem que quesitos seriam recomendações de perguntas
a serem feitas para as pessoas avaliadas, havendo também confusão entre quesito e
recomendação de procedimentos (por ex. utilizar Rorschach). Sendo assim, é importante
consignar que eles não são sugestões de perguntas a serem formuladas às pessoas avaliadas
nem, tampouco, recomendações de como o perito deve proceder sua avaliação. Quesitos
são questões que os advogados, a defensoria ou ministério público entendem que precisam
ser contempladas no estudo para melhor compreensão do caso.
Como é de praxe na tramitação processual, as manifestações dos advogados, dos
defensores e do ministério público são endereçadas ao juiz e, deste modo, devem ser
respondidos pelo profissional quando e se forem deferidos por ele. Há situações nas quais
ele parte de desconhecimento do objeto de estudo do Serviço Social e da Psicologia e, assim,
são frequentes perguntas relativas a questões médicas, condições de moradia, bem como
outras alheias à área.
Nestes casos, o quesito deve ser respondido com o esclarecimento de que a área de
conhecimento é incompetente para avaliar aquele ponto. O mesmo pode ser aplicado em
questões fatuais (por ex.; o pai (ou a mãe) fica alcoolizado na presença do filho? Quem leva
a criança para a escola?; Quais remédios a criança toma?. Como se o assistente social e o
psicólogo pudessem afirmar a ocorrência destes hábitos. A perguntas assim, pode-se
responder: “de acordo com relato, a mãe leva as crianças para escola (ou toma os remédios
56
4
Pois no processo há três tipos de prova: documental, testemunhal e pericial. A prova testemunhal é o meio de prova
em que um terceiro deponha sobre fatos que presenciou.
57
Dica:
A plataforma Google Acadêmico é uma fonte de pesquisa mais consistente que o Google,
pois dá acesso a artigos científicos. Para tanto, o pesquisador deve acessar o link:
scholar.google.com.br e digitar a palavra-chave da sua pesquisa ou nome do autor na barra
em branco. Pode filtrar apenas por publicações em português ou incluir todos os idiomas na
sua pesquisa. Muitos artigos científicos podem ser acessados no navegador ou baixados em
PDF.
Referências - Psicologia
BLEGER, José. A entrevista psicológica. In _____ Temas de Psicologia. São Paulo: Martins
Fontes, 1980
BRITO, Leila Maria Torraca. Reflexões em torno da Psicologia Jurídica. In: CRUZ; MACIEL;
RAMIREZ (org.): O trabalho do psicólogo no campo jurídico. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2005
GUIRADO, Marlene. Psicanálise e Direito. Não mais Psicanálise. Nem mais Direito. In:
Sugestões de leitura
Avaliação psicológica
TRINCA, Walter. (Org.) Diagnóstico psicológico: A prática clínica (Col. Temas Básicos de
Psicologia). São Paulo: EPU, 1984
BRANDÃO, Eduardo (org.): Atualidades em Psicologia Jurídica. Rio de Janeiro: Nau, 2016
BRITO, L. M. T (org.): Temas de Psicologia Jurídica. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999.
CRUZ; MACIEL; RAMIREZ (org.): O trabalho do psicólogo no campo jurídico. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2005
SHINE, Sidney. (Org.) Avaliação psicológica e lei. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005
Escrita e Laudo
ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras. Coesão e coerência. São Paulo: Parábola editorial,
2005.
MOURA, Chico e MOURA, Wilma. Tirando de letra: orientações simples e práticas para
escrever bem. São Paulo: Companhia das letras, 2017.
SHINE, Sidney. Avaliando a avaliação psicológica in PATTO, Maria Helena Souza (Org.)
Formação de Psicólogos e Relações de poder: sobre a miséria da psicologia. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2012
AMARO, S. Visita Domiciliar: Guia para uma abordagem complexa. Porto Alegre: AGE; 2003.
CRESS/ 7a. Região – Conselho Regional de Serviço Social – RJ. Termo de Orientação,
Realização de Visitas Domiciliares Quando Requisitadas a Assistentes Sociais.
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FÁVERO, MELÃO, Magda J.R. e JORGE, Maria Rachel T. (orgs.). O Serviço Social e a
Psicologia no judiciário: construindo saberes, conquistando direitos. São Paulo: Cortez,
2005.
_______ . Instruções sociais de processos, sentenças e decisões. In: Serviço Social: direitos
sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.
Bibliografia complementar
ALAPANIAN, Silvia – Serviço Social e Poder Judiciário: reflexões sobre o direito e o Poder
Judiciário; São Paulo: Veras Editora, 2008
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam.; 23º edição,
São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.(Coleção polêmicas do nosso tempo,4)
PIZZOL, Alcebir Dal. Estudo Social ou Perícia Social? – um estudo teórico-prático na Justiça
Catarinense – Florianópolis: Insular, 2005.
Sugestões de Leitura
BARROCO, Maria Lúcia S. Fundamentos éticos do Serviço Social. In Serviço Social - Direitos
e Competências Profissionais. CFESS, ABEPSS. Brasília: Cfess/Abepss, 2009
MIOTO, Regina Célia Tamaso. Estudos socioeconômicos. In: Conselho Federal de Serviço
Social (CFESS); Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço
Social(ABEPSS)(Orgs.). Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília:
CFESS/ABEPSS, 2009.p.481-496
CAPÍTULO 3:
INTERDISCIPLINARIDADE, REDES E PARCERIAS
3.1 Multidisciplinaridade
3.2 Transdisciplinaridade
3.3 Interdisciplinaridade
(educação, saúde, assistência social, habitação, justiça etc.) não consegue apresentar
possibilidades eficientes a situações complexas vivenciadas pelos sujeitos nesta sociedade.
Por outro lado, a comunicação entre os serviços possibilita o acesso aos
direitos sociais e autonomia dos cidadãos. A efetivação dos direitos sociais ocorre somente
a partir da articulação e mobilização da sociedade civil e do Poder Público.
Trabalhar de forma integrada exige que os profissionais tenham
conhecimento sobre a composição e funcionamento da Rede e estejam comprometidos com
a sua construção cotidiana, o que pressupõe estabelecer diálogos com diferentes e
ultrapassar a personificação dos serviços (acessá-lo porque se conhece o profissional que
está lá). Entretanto, não é suficiente apenas conhecer.
Trabalhar em Rede vai além de conhecer serviços e fazer encaminhamentos,
depende da efetiva construção de diálogo, vencer a personificação dos serviços. Tal construção exige
dos profissionais o exercício dos elementos facilitadores apresentados anteriormente.
Para trabalhar em Rede é necessário reconhecer a complexidade das situações
sociais, compreender o sistema no qual o sujeito está inserido, romper com a lógica da sociedade
que vê o problema no indivíduo e compreendê-lo enquanto ser social.
Para trabalhar com a população atendida, a partir da perspectiva de sujeito de
direito, é imprescindível oportunizar sua participação como parte fundamental no processo que diz
respeito à sua própria vida para que possa de fato ser sujeito. Quando a pessoa é convidada e
estimulada a participar das discussões acerca de sua vida e de sua família pode contribuir sobre os
melhores encaminhamentos. Mas para adotar esta postura o profissional precisa ter uma postura
ética na qual reconhece o outro como sujeito e não como objeto de intervenção.
O trabalho com o outro exige capacidade para ouvir e conferir a escuta de modo que
efetivamente permita que o outro fale de si, não pressupondo saber de antemão e, portanto, não
podendo prescindir de sua efetiva participação na reflexão e encaminhamento das situações.
As normas e legislação criadas para a área social nos últimos 25 anos é um reconhecimento
das ações já desenvolvidas por profissionais que lidam com a temática, sendo esta uma forma de
estabelecer novas possibilidades de atuação, de maneira organizada, em todo o território nacional,
favorecendo um olhar mais cuidadoso e possibilitando a efetiva participação dos diversos atores e
usuários para a resolução das questões que se apresentam, inclusive na indicação e monitoramento
de políticas públicas. Por exemplo, a Lei 12.010/09 que alterou o Estatuto da Criança e do
Adolescente, estabelece o trabalho em Rede focando a necessidade de parceria.
67
parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, entre outros, onde circula reciprocidade.
Desenvolvem relações caracterizadas pela lealdade.
3.4.2.1 Formais
3.4.2.2 Informais
1- Elencar os nomes das pessoas com quem a pessoa está em contato regularmente.
Neste procura-se compreender as situações de ajuda que acontecem de
forma sistemática e cotidiana, como, por exemplo, ajuda para levar as crianças à creche.
70
2- Solicitar que a pessoa faça uma descrição de seu cotidiano, o que gera a lista de
nomes que compõem sua rede.
A lista de pessoas nasce a partir da descrição do cotidiano, para responder às
necessidades de ajuda em emergências.
3- Gerar a lista a partir de uma questão precisa
A lista é gerada quando se tem um interesse específico. Por exemplo: Há uma
questão de saúde que necessita tratamento prolongado. Procede-se ao levantamento de
pessoas disponíveis para acompanhar o tratamento.
Portanto, antes de elaborar o elenco de nomes, é fundamental que se tenha
clareza das razões pelas quais há interesse nessa rede e qual o objetivo de utilizar essa forma
de intervenção.
Normalmente as pessoas com as quais há dificuldade de relacionamento não
aparecem imediatamente. É necessário que seja construído um vínculo de confiança com o
profissional para que elas sejam referidas. Há também situações em que esses vínculos
podem representar dor e sofrimento; é fundamental, portanto, uma grande atenção,
delicadeza e cuidado na abordagem.
A intervenção de rede tem como hipótese uma ação voltada às redes sociais
primárias como elemento do capital humano e sobre as redes secundárias como elemento
de capital social a ser mobilizada, promovendo e potencializando-as, a fim de reduzir e/ou
compensar o desequilíbrio entre desafios e recursos.
O operador explora três dimensões das redes primárias:
3.7 Referências
AUN, Juliana Gontijo; VASCONCELOS, Maria José Esteves; COELHO, Sonia Vieira.
Atendimento Sistêmico de Família e Redes Sociais, Belo Horizonte, Ophicina de Arte & Prosa,
2005.
BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis, Editora
Vozes, 13ª, 1997.
FÁVERO, Eunice Teresinha; MELÃO, Magda Jorge Ribeiro, JORGE, Maria Rachel Tolosa. O
Serviço Social e a Psicologia no Judiciário, São Paulo, Cortez Editora, 2005.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários a Educação do Futuro, Brasília, Cortez Editora, 8ª
edição, 2003.
SÁ, Jeanete L. Martins (org.). Serviço Social e Interdisciplinaridade, São Paulo, Cortez, 2ª
edição, 1995.
72
SILVA, Marcia; SIMONI, Maria Amália. Interdisciplinaridade, uma escolha para construção de
saberes - Redes e parcerias: interlocução necessária – Artigo 2011
CAPÍTULO 4:
ASPECTOS PSICOSSOCIAIS E LEGAIS IMPORTANTES PARA A
ATUAÇÃO NA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE
Contudo, para a efetivação do artigo 227 seria necessário aprovação de uma lei
complementar regulamentadora, o que se efetivou em 13 de julho de 1990, quando foi
sancionado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por meio da Lei 8.069.
O ECA, em seu artigo 1º, dispõe sobre a Proteção Integral à criança e ao adolescente,
levando-se em conta sua condição peculiar como pessoas em desenvolvimento (art. 6º) e a
absoluta prioridade na efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária (art. 4º).
Além disso, estabelece a responsabilidade conjunta da família, da sociedade e do
Estado na garantia dos direitos das crianças e adolescentes, e, por isso, estes devem atuar
de forma articulada e coordenada, a fim de garantir o desenvolvimento integral desses
sujeitos.
O Juízo da Infância e Juventude deverá ser notificado nas situações em que crianças
e/ou adolescentes tenham seus direitos ameaçados ou violados, de acordo com o art. 98 do
ECA. A intervenção judicial visa lhes assegurar direitos e medidas de proteção. As
competências do Juiz da Infância e Juventude ou o juiz que exerce essa função são definidas
nos arts. 147 / 148 / 149 desta lei.
O processo, neste Juízo, tem início com representação realizada pelo Ministério
Público, Defensoria Pública, Conselho Tutelar ou advogado interessado na resolução de um
problema.
74
Outro pilar jurídico importante para o trabalho nas Varas da Infância e Juventude é o
Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à
Convivência Familiar e Comunitária” (PNCFC). Trata-se de uma referência necessária à
atuação dos Assistentes Sociais e Psicólogos Judiciários no trabalho com as famílias.
O objetivo principal do PNCFC, em conjunto com o ordenamento jurídico da infância
e juventude, foi o de fazer valer o direito fundamental de crianças e adolescentes crescerem
e serem educados no seio de uma família e de uma comunidade, tendo como fundamento a
prevenção do rompimento dos vínculos familiares, a qualificação dos atendimentos dos
serviços de acolhimento e o investimento para o retorno ao convívio da família, seja ela a de
origem ou substituta (BRASIL, 2006).
Então, a legislação brasileira vigente reconhece e preconiza a família, enquanto
estrutura vital, lugar essencial à humanização e à socialização da criança e do adolescente,
espaço ideal e privilegiado para o desenvolvimento integral dos indivíduos. (PNCFC, 2006,
p.15).
Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família
e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária,
em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. (ECA, 2018, Artigo 19).
75
Neste sentido, o ECA coloca a família como a rede de socialização primária da criança
e do adolescente, devendo ser proporcionadas a ela condições de cuidar e educar seus filhos
em todos os aspectos da vida social (CARVALHO apud BAPTISTA, 2008). Portanto, a falta de
recursos materiais não apresenta motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder
familiar, cabendo às famílias sua inclusão em programas oficiais de auxílio com vistas à
garantia de seus direitos fundamentais.
Então, considera-se a família uma instituição social imprescindível, com funções
sociais insubstituíveis, a base da sociedade, como afirma a Constituição Federal.
Contudo, sua estrutura tem passado por diversas e significativas transformações e,
desta forma, faz-se necessário questionar os mitos da estrutura familiar tradicional e ideal e
caminhar para o reconhecimento da diversidade das organizações familiares no contexto
histórico, social e cultural.
Desta forma, torna-se necessário uma definição ampliada de família, que passa a ser
compreendida como um grupo de pessoas com laços de consanguinidade, de aliança, de
afinidade, de afetividade ou de solidariedade, cujos vínculos circunscrevem obrigações
recíprocas. (PNCFC, 2006, p.30)
Assim, em um âmbito simbólico e relacional muitas pessoas podem ser consideradas
como “família” e diferentes arranjos familiares devem ser respeitados e reconhecidos como
potencialmente capazes de realizar as funções de proteção e de socialização de suas crianças
e adolescentes (PNCFC).
Ou seja, não se trata mais de conceber um modelo ideal de família,
devendo-se ultrapassar a ênfase na estrutura familiar para enfatizar
a capacidade da família de, em uma diversidade de arranjos, exercer
a função de proteção e socialização de suas crianças e adolescentes.
– PNCFC sobre Constituição e ECA (PNFPC, p.22).
Neste sentido, o PNCFC coloca que a complexidade e riqueza dos vínculos familiares
e comunitários podem ser mobilizados nas diversas frentes de defesa dos direitos de crianças
e adolescentes.
Então, no cotidiano das famílias, os vínculos de caráter simbólico e afetivo, como as
relações de apadrinhamento, amizade, vizinhança e outras, por vezes, revelam-se fortes e
importantes para a sobrevivência cotidiana. São as “redes sociais de apoio”.
As “redes sociais de apoio” configuram-se, então, como uma frente
importante para o trabalho com inclusão social da família e com a
76
5
Direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais, coletivos e difusos.
77
Profissional ou
Cidadão
Denuncia
Conselho
Tutelar
Então, segundo o autor, as desigualdades sociais não são argumentos suficientes para
explicar as situações de risco e abandono em que vivem crianças e adolescentes, e que
resultam em marginalização, exclusão e perda dos direitos fundamentais. Estas situações
surgem principalmente dos fenômenos de vulnerabilidade social, ruptura e crise que passa
a sociedade, estando relacionadas ao enfraquecimento das redes sociais de apoio.
As crianças e adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade social
vivem as consequências das desigualdades sociais; da exclusão social e da pobreza; da
carência de vínculos afetivos na família e nos demais espaços de socialização; da passagem
abrupta da infância à vida adulta; do acesso deficitário à educação, trabalho, saúde, lazer,
alimentação e cultura; da falta de recursos materiais mínimos para sobrevivência; da falta
de perspectivas de entrada no mercado formal de trabalho; da entrada em trabalhos
desqualificados; da exploração do trabalho infantil; do índice elevado de evasão escolar e/ou
reprovação; da oferta de inserção ao consumo/ tráfico de drogas e ao uso de armas
(ABRAMOVAY et al 2002).
Assim, no Brasil, os índices de violação dos direitos das crianças e adolescentes
podem ser considerados elevados e, de acordo com Baars (2011), as principais formas de
transgressão dos direitos das crianças e adolescentes são o abandono, o trabalho precoce e
a exploração sexual.
80
4.3 Negligência
4.4 Violência
aqueles que os agridem, o que é ainda potencializado pela dependência física, emocional e
econômica que se tem com seus responsáveis.
(...) todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou
responsáveis contra crianças e ou adolescentes que – sendo
capaz de causar dano físico, sexual ou psicológico à vítima -
implica em um lado numa transgressão de poder/dever de
proteção do adulto e, de outro, numa coisificação da infância,
isto é, numa negação do direito que a criança ou adolescente
têm de ser tratado como sujeito e pessoa em condição
peculiar de desenvolvimento. (AZEVEDO E GUERRA, 1984).
Sobre a vitimização, de acordo com Azevedo & Guerra (2007), esta é uma forma de
aprisionar a vontade e o desejo da criança, de submetê-la ao poder do adulto a fim de coagi-
la a satisfazer seus interesses, expectativas ou as paixões. No processo de vitimização, a
vítima tem restringida não apenas sua atividade de ação e reação, como também sua palavra
é cassada, passando a viver sob o signo do medo: medo da coação, medo da revelação.
Diante do referencial teórico exposto, fica ainda mais evidente a necessidade de que
toda intervenção em situações de violência tenha sempre presente o interesse superior da
criança e adolescente.
Para a avaliação de uma situação de violência e, portanto, do risco, o assistente social
e o psicólogo judiciário devem sempre observar e levantar dados acerca da relação existente
entre as crianças e/ou adolescentes com seus pais ou responsáveis; aspectos destes
responsáveis; do entorno familiar; da violência propriamente dita; e da vulnerabilidade e
resposta da família à intervenção técnica realizada.
86
CHILDHOOD BRASIL, CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA-CNJ E FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA
A INFÂNCIA – UNICEF. Protocolo Brasileiro de Entrevista Forense com crianças e adolescentes
vítimas ou testemunhas de violência. Santos, B.R., Gonçalves, I.B. e Alves Júnior, R.T (orgs.) – São
Paulo e Brasília: Childhood – Instituto WCF-Brasil:CNJ:UNICEF, 2020.
original000346201912045de6f7e29dcd6.pdf (cnj.jus.br)
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. Protocolo CIJ nº 00066030/11. Atendimento não-
revitimizante de crianças e adolescentes vítimas de violência, especialmente sexual-construção
de plano interinstitucional em âmbito estadual e implementação em caráter piloto do projeto
em cinco varas no Estado – embasamento legal autorização pela Coordenadoria da Infância e da
Juventude. Publicado no DJE de 30 de maio de 2011.
Tipos de violência
Gravidade e frequência dos maus-tratos / abuso sexual
AGRESSÃO Proximidade temporal das agressões
Presença e localização de lesões
História anterior de maus-tratos
6
Sites: www.cfp.org.br e www.crpsp.org.br.
90
provisórias e excepcionais, cabíveis como forma de transição para a reintegração familiar ou,
caso esta não seja possível, colocação em família substituta. Ressaltando-se que os
acolhimentos institucional e familiar não implicam em privação de liberdade. (§ 1º).
Muitas podem ser as causas que levam ao acolhimento de criança(s) e adolescente(s),
sendo que estas, geralmente, estão relacionadas aos temas abordados acima como a
violação de direitos, podendo envolver negligência, abandono e diversas formas de violência
por parte dos pais ou responsáveis, além de dificuldades socioeconômicas de manutenção
do filho, desemprego, falta de habitação e, por outro lado, negligência por parte do Estado
(BERBERIAN, 2015).
Reforçando que a falta de condições socioeconômicas não é motivo para destituição
ou a suspensão do poder familiar, devendo a família ser incluída em programas oficiais de
auxílio (ECA, art. 23). Não obstante pesquisas apontam que fatores socioeconômicos se
mostram presentes como um dos principais motivos para o acolhimento de crianças e
adolescentes (ZANCAN, WASSERMAN E LIMA, 2013).
Segundo o ECA, o encaminhamento da criança ou adolescente a serviços de
acolhimento só deverá se realizar quando esgotadas todas as possibilidades de permanência
com a família de origem, família extensa ou o responsável.
O afastamento da criança / adolescente do convívio familiar é de exclusiva
competência da autoridade judiciária, sem prejuízo de medidas emergenciais para proteção
de vítimas de violência ou abuso sexual (ECA, art 101, § 2).
Assim, se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o
afastamento do convívio familiar, comunicará, de forma imediata, ao Ministério Público,
prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas
para a orientação, o apoio e a promoção social da família. (Art. 136, VII, Parágrafo único.).
Após decisão de acolhimento de criança / adolescente, é de responsabilidade do Juízo
da infância e juventude seu encaminhamento para o serviço específico mediante expedição
de guia de acolhimento pelo sistema do CNJ. Além disso, devem ser enviados seus
documentos pessoais e cópia dos relatórios social e psicológico realizados pela equipe do
juízo, estes últimos devem ser dispostos em envelope lacrado e dirigido aos técnicos ou
responsáveis da instituição / programa de acolhimento. Sendo importante que o serviço de
92
acolhimento, sempre que possível, tenha conhecimento prévio de que receberá a criança /
adolescente.
Sobre o acolhimento institucional, seu objetivo é oferecer acolhimento provisório e
excepcional para crianças e adolescentes de ambos os sexos, inclusive crianças e
adolescentes com deficiência em situação de medida de proteção e de risco pessoal e social,
cujas famílias ou responsáveis encontrem-se temporariamente impossibilitados de cumprir
sua função de cuidado e proteção (AVOGLIA et al, 2012).
As unidades devem oferecer ambiente acolhedor, estar inseridas na comunidade e
ter aspecto semelhante ao de uma residência, sem distanciar-se excessivamente, do ponto
de vista geográfico e socioeconômico, do local de origem das crianças e adolescentes
acolhidos (BRASIL, 2009).
O atendimento prestado deve ser personalizado, em pequenos grupos, além de
favorecer o convívio familiar e comunitário, bem como a utilização dos equipamentos e
serviços disponíveis no território. Grupos de crianças e adolescentes com vínculos de
parentesco devem ser atendidos na mesma unidade de acolhimento institucional (BRASIL,
2009).
No ano de 2009, foram instituídas pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e
do Adolescente (CONANDA), as normativas para o sistema de instituições que acolhem
crianças e adolescentes no Brasil.
De acordo com suas orientações técnicas (2009), todas as medidas devem ser
realizadas para manter o convívio com a família e a comunidade, garantindo que o
afastamento da criança ou adolescente do contexto familiar seja uma medida excepcional e
provisória que deve ser aplicada apenas em situações de grave violação de direitos, que
esteja em risco à integridade física ou psíquica.
Quando a retirada da criança ou adolescente for necessária, esforços devem ser
realizados para garantir que o afastamento se dê pelo menor tempo possível, garantindo o
seu retorno à família de origem ou, excepcionalmente, para uma família substituta.
Neste sentido, conforme o ECA (art.º 19), o acolhimento deverá ser reavaliado a cada
três (03) meses, período no qual se aguarda os desdobramentos de possíveis
encaminhamentos na rede de atendimento no sentido de que a família se reestruture para
93
reassumir o filho ou identificar pessoa com a qual a criança ou adolescente tenha afinidade
e se mostre disponível para assumir sua guarda.
Será de responsabilidade do juízo da Infância e juventude acompanhar os cuidados
que a criança ou adolescente recebem na instituição. Assim, se fará necessário conhecer a
forma como está ocorrendo sua adaptação, inclusão em programas e serviços necessários
ao desenvolvimento físico e mental, bem como avaliar seus contatos com familiares.
As crianças e adolescentes acolhidos em instituições serão compreendidas em sua
totalidade e complexidade (suas relações, necessidades e prioridades), com a consideração
de que nesse processo deverá haver espaço para a garantia de direitos, o que só ocorre por
meio da efetivação de políticas públicas.
Sobre o acolhimento familiar, este é uma política pública prevista no ECA e na Política
Nacional de Assistência Social e como tal deve ser implantada e acompanhada pelos
municípios, através do Órgão Gestor da Política de Assistência Social.
Consiste na inserção da criança / adolescente em uma família, mediante guarda, que
prestará os cuidados necessários enquanto a criança não puder ser reinserida em sua família,
rede social de apoio ou em família substituta.
Seu princípio básico refere-se à guarda da criança / adolescente, garantindo a
convivência com uma família, até que sua situação seja definida, ou seja, que ocorra retorno
à família de origem, inserção na família extensa ou outros sujeitos de sua rede social de
apoio, e, como última alternativa, inserção em família substituta.
As Famílias Acolhedoras são previamente cadastradas, selecionadas, capacitadas e
acompanhadas por uma equipe que organize este tipo de acolhimento. (art. 34 par. 3).
A inserção em Família Acolhedora também vai ao encontro à garantia de direitos de
crianças / adolescentes para as quais não foi possível nenhuma das outras alternativas de
inserção colocadas acima.
Há um número expressivo de crianças / adolescentes que vivenciam tal situação. No
entanto, de acordo com a Constituição Brasileira, em seu artigo 227: “é dever da família, da
sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito (…) à convivência familiar”.
94
O PIA, então, pode ser considerado como uma ferramenta para auxiliar no processo
de construção de um projeto de vida com e para as crianças / adolescentes que estão nos
acolhimentos enquanto se decidem questões pertinentes a sua vida. Considerando-se
importante que possam apropriar-se de sua história, com protagonismo nas ações.
A homologação do PIA ocorrerá na Audiência Concentrada, que é realizada pelo Juízo
da Infância e Juventude e deve contar com a presença de:
• Criança ou adolescente e seu advogado;
• Pais ou membros da família extensa e seus;
• Representante do Ministério Público;
• Dirigente do serviço de acolhimento;
• Representante da Secretaria Municipal de Assistência Social;
• Representantes de outras Secretarias Municipais envolvidas no plano, tais
como saúde, habitação, trabalho, dentre outras;
• Profissional da equipe técnica do judiciário que tenha acompanhado o caso;
• Outros profissionais que a situação demande.
Nesses casos, serão necessárias ações articuladas entre os atores da rede de atenção
no sentido de acompanhar o adolescente em seu desenvolvimento global, preparando-o
para a própria autonomia, o que pressupõe:
• Construção, ampliação e fortalecimento de laços comunitários;
• Construção, estímulo e orientação à autonomia;
• Orientação na formulação de seus projetos de vida;
• Inserção em cursos profissionalizantes;
• Inserção no mercado de trabalho;
• Planejamento de sua vida financeira;
• Obtenção de documentação;
• Inclusão em Programa de Apadrinhamento.
adolescente que necessita de proteção, por estar afastada da família de origem a fim de
propiciar convivência familiar e comunitária por tempo e situação definidos, com vistas à
futura reintegração familiar.
Os profissionais que realizarão o cadastro dos requerentes devem com eles discutir
minuciosamente os objetivos do programa, para que não se confunda com projetos de
família acolhedora ou adoção, os quais se distinguem expressivamente em seus objetivos.
Também a criança ou adolescente precisa ser muito bem preparada e acompanhada,
pois por mais que se verbalize que a permanência não implicará em adoção, nem sempre ela
compreende tal provisoriedade e poderá criar expectativas irreais sobre o que está sendo
proposto no Programa.
Cabe destacar que para tanto, se fará necessário que os objetivos também estejam
claramente definidos para os profissionais que atuam no programa, para que não ocorra a
expectativa de transformação do padrinho em um pai adotivo. Evita-se, assim, que, mesmo
não verbalizada, essa concepção venha a ser assimilada pelas crianças e adolescentes.
Alguns critérios também precisam ser estabelecidos para a indicação das crianças e
dos adolescentes. Entende-se que esta deva ser uma tarefa realizada conjuntamente pela
Vara da Infância e da Juventude e serviços de acolhimento, em uma proposta de trabalho
em rede com discussão sistemática dos casos.
As crianças e adolescentes estão em contato diário com os profissionais que atuam
nos serviços e estes poderão oferecer subsídios importantes para a avaliação do impacto da
inserção no programa, adequação da família, além de aspectos que possam merecer ajustes
ou mudanças em seu próprio bojo.
que irão assumir ou reassumir a sua guarda. Cabe ao juiz acolher ou não a sugestão técnica
apresentada.
Nos casos em que os genitores não possuam condições para terem os filhos sob sua
responsabilidade, à criança/adolescente poderá ser assumida por um familiar (avó, tia,
irmão, conhecido) ou ainda ser colocado em adoção (Vide Itens: guarda, tutela e o Cap. de
adoção).
Assim, o desligamento institucional ocorrerá nas seguintes hipóteses:
Sugestão de leitura:
GOES, Alberta Emília Dolores de, E agora José e Maria? O Encontro com a Maioridade após uma
Vida em Acolhimento Institucional. Aproximações Brasil e Portugal/ Tese apresentada ao
Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. PUC-SP, 2019. Disponível em:
https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/22375/2/Alberta%20Em%C3%ADlia%20Dolores%20de
%20Goes.pdf
A inserção em família substituta por meio das medidas legais de guarda, tutela ou
adoção é de exclusividade do Judiciário .
5. Considerações finais
6. Referências
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• http://www.cecria.org.br/
• http://www.cfess.org.br
• http://www.cfp.org.br
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• https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/download/O_ECA_e_o_acolhimento_fam
iliar.pdf
• https://www.ipea.gov.br/portal/
117
CAPÍTULO 5:
ADOÇÃO
A adoção é uma medida de proteção que será considerada quando ficar comprovada
a impossibilidade para a permanência das crianças e adolescentes na família natural ou
extensa e estiver demonstrado que atenderá aos seus legítimos interesses. Além do aspecto
jurídico ela possui diversas dimensões e etapas para as quais a atuação da equipe
interprofissional da Vara da Infância e da Juventude trará importantes contribuições.
Abordaremos, portanto, a atuação da equipe técnica em três partes:
1. Atendimento às famílias de origem, crianças, adolescentes e pretendentes em vista dos
aspectos subjetivos, intersubjetivos e sociais que emergem nos diferentes momentos do
processo de adoção.
2. Os cadastros de adoção, seus fluxos e interface com o atendimento da equipe técnica
interdisciplinar.
3. Outras modalidades de adoção: Intuito Personae, entre familiares e unilateral.
Criança (s)/
Adolescente (s)
5.1
Modalidades
de Adoção Família de
Origem
ADOÇÃO
Cadastros Pretendentes
PARTE 1:
A entrega voluntária em adoção ocorre após o parto e há casos nos quais a mulher
não manifestou esse desejo durante a gestação para a equipe de saúde ou da assistência
social, da forma como vimos no tópico anterior.
Na vara a mãe será ouvida pelo juiz da Infância e da Juventude com a maior brevidade,
quando ele se certificará quanto ao atendimento de seus direitos.
Cabe observar, ainda, a necessidade de cuidados redobrados em casos de gestantes e mães
adolescentes ou com transtornos mentais.
Alguns aspectos que poderão ser considerados na avaliação psicológica e estudo social:
• O esclarecimento quanto ao direito de a criança permanecer com a família natural ou
extensa;
• O conhecimento e compartilhamento da decisão de entrega em adoção com o genitor
e ambas as famílias;
• A análise das motivações quanto a consultar ou não consultar o genitor e familiares,
quando isso ocorrer.
120
Sugestão de leitura:
A temática da entrega voluntária geralmente suscita discussões apaixonadas e
baseadas ora nos direitos da genitora, ora nos direitos da criança, do genitor, e/ou das
respectivas famílias.
Como alternativa para solucionar tais impasses é possível afirmar que os assistentes
sociais e psicólogos necessitarão estar conscientes dos próprios posicionamentos e valores
pessoais com vistas a evitar que eles prejudiquem a percepção e avaliação da singularidade
de cada caso concreto.
O artigo “A adoção e a continuidade do ser” que foi escrito pela psicóloga judiciária
Cristina Rodrigues Rosa Bento Augusto, ilustra com a apresentação de um caso a importância
dessa escuta e está entre as referências bibliográficas deste capítulo.
Caso a mulher não encontre o devido atendimento nos serviços para os quais foi
encaminhada, ela poderá levar tal situação ao conhecimento da VIJ, onde poderão ser
tomadas medidas jurisdicionais com vistas à tutela de direito coletivo e individual para que
eles sejam assegurados. Cabe observar também que a assistência de um defensor ou de um
advogado será garantida gratuitamente.
Quando esta medida protetiva for inevitável, a atuação conjunta da Vara da Infância
e da Juventude e da rede de atendimento deverá ser no sentido de que a situação familiar
da criança seja definida com a maior celeridade possível, evitando-se acolhimentos
prolongados. Esse cuidado visará evitar fraturas significativas na sua capacidade de construir
e preservar vínculos primordiais para o próprio desenvolvimento afetivo, cognitivo,
emocional e social.
Sugestões de leitura:
A necessidade de conhecer a própria história e dar sentido à existência vai além da
informação objetiva de fatos ocorridos. Os adultos envolvidos no acompanhamento da
criança e do adolescente poderão proporcionar contextos propícios para que eles a elaborem.
Um trabalho emblemático nesse sentido é desenvolvido pelo Instituto Fazendo Minha
História que disponibiliza vários materiais a respeito no endereço
www.fazendohistoria.org.br.
Você também poderá acessar no site o artigo “O direito de construir a própria história:
contribuições psicanalíticas na clínica e no abrigo”, que relata um caso concreto capaz de
iluminar também outras práticas.
Para refletir:
Um aspecto presente no cotidiano do acompanhamento das crianças e adolescentes
acolhidos é que muitas vezes, o adulto, ao entrar em contato com as histórias e com a dor
psíquica vivenciada pelas crianças, adolescentes, e os comportamentos dela resultantes,
poderá encontrar dificuldade para implicar-se no caso, em vista das adversidades e lutos que
ele próprio experimentou em sua vida. Sendo assim, os dispositivos grupais para discussão
de casos, com reuniões de equipe e na própria rede, além de possibilitarem a troca de
informações entre os profissionais envolvidos, também promovem o fortalecimento de todos
que entram em contato com estas angústias.
125
Essa autora comenta ainda, o equívoco no qual os profissionais que atuam na área da
Infância e da Juventude podem incorrer quando equiparam tempo jurídico, tempo
cronológico e tempo psíquico no trabalho de preparação para a adoção, razão pela qual
consideramos indispensável observar se o tempo psíquico da criança a predispõe a dar início
à formação de novos vínculos em um lar adotivo.
1- HISTÓRICO DA CRIANÇA/ADOLESCENTE
• Elaboração pela criança/adolescente da sua história de vida familiar e pessoal (luto pelas
separações vividas, compreensão dos motivos que levaram à Destituição do Poder
Familiar, modo como representam os pais biológicos etc.);
• Modo como a criança/adolescente se manifesta ante a possibilidade de ser adotado
(compreensão, sentimentos, expectativas etc.);
• Disponibilidade para estabelecer novos vínculos e relações com adultos, no contexto de
uma família diferente da família de origem, bem como de receber cuidados
individualizados;
• Disponibilidade para estabelecer novos vínculos no contexto de uma família diferente da
família de origem, também no aspecto geográfico, linguístico e cultural;
• Modo como as questões relativas ao histórico e à adoção se dá individualmente e na
relação entre os irmãos;
• Dinâmica do relacionamento entre os irmãos;
• Modo como as pessoas significativas do seu atual entorno se manifesta ante a perspectiva
da adoção;
• Histórico de fracasso na colocação em família(s) substituta(s) anterior (es) (apoio,
atendimento recebido, elaboração da experiência)
• E no caso da adoção internacional, também:
128
Quando localizados a pessoa ou casal habilitado mais bem indicado para o perfil da
criança e do adolescente, será necessário um trabalho preparatório com foco na colocação
familiar específica que irá transcorrer. Nesse momento será preciso escutar todos os
envolvidos – crianças/adolescentes e pretendentes indicados.
129
Esse primeiro contato com o assistente social e com o psicólogo da VIJ dará aos
adultos a oportunidade de refletir e confirmar o desejo de dar os próximos passos com vistas
à adoção. E favorecerá que a equipe multiprofissional realize uma breve reavaliação da
adequação da indicação para o caso concreto.
• Expectativas extremadas
• Motivações predominantemente altruístas
• Dificuldades em aceitar e assimilar as origens da criança manifestas em um
sentimento de estranhamento que persiste
• A infertilidade não enlutada ou insuficientemente elaborada quanto ao filho
sonhado
• Desejos e fantasias acerca do significado do que sejam laços afetivos,
construção de vínculos, filiação, paternidade etc. (Elementos que estão
profundamente relacionados com a história de vida de cada um).
5.2 PARTE II
• Médicos;
• Pais que adotaram;
• Especialistas de universidades;
• Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);
• Entidades socioassistenciais.
• Grupos de Apoio à Adoção
Na prática:
• No ano de 2020, em vista das dificuldades trazidas pela pandemia para a realização dos
encontros preparatórios obrigatórios para a adoção, foi disponibilizado na plataforma
Moodle da Corregedoria Geral da Justiça um curso online cuja proposta pedagógica prevê
duas etapas: a primeira é realizada de modo autoinstrucional por cada pretendente e a
segunda se dá em grupo orientado pelos profissionais da Vara da Infância e da Juventude. A
utilização do Curso é opcional e não impede que cada Vara o complemente ou realize curso
próprio.
• Para conhecer a proposta pedagógica você poderá acessar o curso tutorial para os
profissionais das varas no link:
• http://www.tjsp.jus.br/moodle/livre/course/view.php?id=1761
Para refletir:
A avaliação para a habilitação no cadastro de pretendentes pode ser vista como uma
oportunidade de desenvolvimento para os pretendentes. Sendo importante, portanto,
construir um contexto no qual eles possam entrar em contato com os sentidos que investem
na adoção, e percebam-se autorizados a imaginar, pensar e falar sobre as próprias
expectativas e dúvidas.
O profissional poderá informar, esclarecer, pontuar, conscientizar, desmistificar
preconceitos e estereótipos, motivar a revisão das motivações, e desvelar potenciais, de
modo a investir na capacidade de amadurecimento dos indivíduos a partir da experiência e
da reflexão.
Além disso, o compromisso ético em prol do crescimento pessoal e social das pessoas
atendidas, por sua vez, implica na finalização dos estudos por meio de entrevista devolutiva
na qual sejam feitos os assinalamentos e encaminhamentos necessários.
Por essa razão, o momento no qual os resultados do estudo social e da avaliação
psicológica são esclarecidos aos interessados difere em essência da informação sobre a
decisão do juiz, quando serão esclarecidos também de que a decisão judicial poderá tanto
concordar quanto discordar do parecer da equipe técnica.
• História do casal;
• O contexto em que surge a ideia da adoção;
• Motivações conscientes e inconscientes;
• Questões ligadas à infertilidade ou esterilidade;
• Como cada cônjuge lida com a decisão de adotar;
• Como os familiares de ambos encaram a proposta da adoção;
• Características da criança/adolescente pretendido;
• Fantasias e idealizações sobre o filho a ser adotado;
• Opiniões e fantasias sobre os genitores biológicos;
• Posturas e concepções sobre a revelação da adoção.
As visitas domiciliares são reconhecidas como um instrumental muito importante
para o estudo social com vistas à habilitação para a adoção, junto com as entrevistas e outras
metodologias de estudo consideradas caso a caso.
Na área da psicologia, há referência da utilização de testes psicológicos cuja escolha
baseia-se nas impressões diagnósticas trazidas durante as entrevistas e na adequação às
condições objetivas para sua aplicação.
Paiva (2004 e 2005) e Peiter (2011) observam que além das entrevistas e testes
projetivos, também pode haver a utilização de outros procedimentos e recursos facilitadores
do contato entre os interessados em adotar e os profissionais:
• Procedimentos de Desenhos-Estória (TRINCA, 1997);
• Procedimento de Desenho de Família com Estórias (TRINCA, 1997);
• Genograma Familiar;
• Linha do tempo;
• Carta ao filho;
• Trabalho com fotos de família.
Ao término, os assistentes sociais e psicólogos apresentarão relatório fundamentado
quanto às condições psicológicas e sociais dos pretendentes para a adoção. Nos casos em
que for avaliado que não reúnem condições para a medida, os pretendentes tidos como
inidôneos deverão ser informados pelo juízo à CEJAI (NCG, Art.842, §4º).
144
Dica de leitura:
O tema da revelação é algo a ser trabalhado também durante os procedimentos
com vistas à habilitação dos pretendentes. É tema muitas vezes acompanhado de
angústias pelos adotantes, pois a narrativa contempla não apenas o encontro e o ganho
vivido na adoção, como também perdas e lutos. Se desejar você poderá ler mais a respeito
no artigo “O tema das origens pessoais e da revelação na adoção de crianças e
adolescentes”, escrito pela psicanalista Maria Luisa A. M. Guirardi, e que consta de nossa
bibliografia.
No quadro a seguir são elencados alguns aspectos que podem ser considerados
relevantes:
2) MOTIVAÇÃO:
• Esterilidade/infertilidade (elaboração);
• Filhos biológicos e/ou adotivos falecidos (elaboração do luto);
• Resolução de conflitos conjugais;
• Amparo na velhice;
• Motivação religiosa;
• Filantropia, motivos altruístas;
• Vivência de experiência de adoção pelos próprios adotantes, parentes ou amigos;
• Qualidade da reflexão e amadurecimento do projeto adotivo;
• Verificação quanto a se o projeto adotivo é compartilhado pelos dois membros do casal;
• Motivação para uma nova adoção.
adotivo dos participantes. Irão, portanto para além do caráter informativo com a abertura
para transformar percepções e conceitos.
Várias experiências têm demonstrado que a utilização de técnicas facilitadoras das
trocas interpessoais e metodologias participativas favorecem a construção de um contexto
apropriado para a reflexão sobre questões como abandono, revelação, fantasias sobre as
famílias de origem, caminhos e descaminhos da construção e da reconstrução de vínculos
afetivos, lutos e perdas, limites e possibilidades na criação de filhos. (Silva, A.S e Barrocas,
E.N., 2014). Há também grupos de apoio que iniciaram com incentivo da vara e após algum
tempo se tornaram autônomos, e grupos reflexivos com pretendentes habilitados durante o
período de espera.
5.2.7 Inserção das crianças e adolescentes com situação legal definida no Sistema
Nacional de Adoção (SNA)
Quando a criança ou adolescente estiver com a situação legal definida para a adoção,
e com trânsito em julgado da sentença de Destituição do Poder Familiar, e o juiz determinar
a busca de família substituta, será necessário avaliar a preparação para essa medida e a
efetiva disponibilidade da criança e do adolescente, do ponto de vista psicológico e social,
para a colocação em família substituta.
Abaixo apresentamos um diagrama com o fluxo baseado no que vimos até agora:
•Avaliação psicológica e social sobre a preparação para a medida e início as buscas no SNA
•Sugestão de pretendente indicado-se no sistema e, com autorização do juiz, inicia-se, em
parceria com o serviço de acolhimento , a preparação gradativa das crianças e adolescentes
para a colocação na família indicada
Equipe •Acompanhamento em parceria com o serviço de acolhimento da aproximação entre os
Técnica pretendentes, e as crianças/adolescentes.
•Relatório dos resultados do acompanhamento da aproximação dirigido ao juiz com
sugestão fundamentada dos próximos passos para o acompanhamento do Estágio de
Convivência
148
Atenção!
Será fundamental acompanhar a disponibilidade das crianças e adolescentes para a
construção de novos vínculos familiares, durante todo o tempo em que ocorrerem as buscas
no SNA, em parceria com o serviço de acolhimento.
150
5.2.9 As buscas de famílias para grupos de irmãos e casos de mais difícil colocação
em família substituta
Busca Ativa
O Conselho Nacional de Justiça instituiu e normatizou através da Portaria nº 114, de 05 de
abril de 2022 a ferramenta de Busca Ativa com a finalidade de promover o encontro entre
pretendentes habilitados e crianças e adolescentes aptos à adoção que tiverem esgotadas
todas as possibilidades de buscas nacionais e internacionais compatíveis com seu perfil no
Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA).
Os procedimentos para utilização da ferramenta são detalhadamente descritos no Manual
do SNA que pode ser acessado através do link
https://www.cnj.jus.br/sna/imgs/Manual%20SNA.pdf , e com base nos estudos realizados
pela equipe técnica, o juízo decidirá sobre aquele que melhor atender ao interesse da
criança, independentemente da ordem que aparecer na listagem.
Além disso, o Tribunal de Justiça implantou o Programa Adote um Boa Noite como uma
forma de sensibilizar os pretendentes à adoção para esta questão e apresentar crianças e
adolescentes, previamente avaliados pela Vara da Infância e da Juventude que os
acompanha. Informações são acessadas no link:
https://tjsp.sharepoint.com/sites/Intranet/Paginas/Adote-um-Boa-Noite.aspx
Além disso, a realidade das adoções no estado de São Paulo tem evidenciado que a
adoção internacional ainda tem sido uma alternativa satisfatória para situações nas quais
não foi possível encontrar pretendentes habilitados disponíveis e preparados para adotar
irmãos, com a preservação dos vínculos entre si.
Quando, ocorrida a DPF, e se não houver sucesso nas pesquisas em todos os cadastros
de adoção, provavelmente terá se configurado um acolhimento de longa duração, sem
perspectiva de retorno para a família de origem, apesar de todos os esforços.
O trabalho acima pode ser realizado ainda que continuem as buscas nos cadastros de
pretendentes. Então, a decisão de dar ou não dar continuidade às buscas após um longo
período de tentativas terá que ser tomada com esse conjunto interdisciplinar /
interinstitucional e levando em consideração o protagonismo do adolescente na decisão.
Chegamos agora à terceira e última parte do nosso capítulo que tratará das outras
modalidades de adoção.
Nessa modalidade de adoção, assim como na adoção por parentes, com frequência
ocorrerá de nos depararmos com famílias que se encontram em dificuldades e conflitos que
precisam ser trabalhados.
Portanto, será recomendável que a equipe multiprofissional realize orientações,
esclarecimentos, encaminhamentos e alguma forma de acompanhamento em vista das
singularidades do caso concreto.
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