O Contrato Como Operação Economica - Enzo Roppo - Renata Guimarães
O Contrato Como Operação Economica - Enzo Roppo - Renata Guimarães
O Contrato Como Operação Economica - Enzo Roppo - Renata Guimarães
Resumo
O presente trabalho tem como tema central a articulação existente entre a realidade jurídica
representada pelo contrato e a operação econômica que ele legitima. O propósito aqui reside
em tornar mais consistente o estudo jurídico do contrato por meio do reconhecimento e da
compreensão do fato sócio-econômico que o constitui.
1. INTRODUÇÃO
1 Especialista em Direito de Empresa CAD/Gama Filho. Mestre em Direito Privado pela PUC/MG. Professor do
curso de Direito da FEAD e PUC/MG. Membro da Associação Mineira de Direito e Economia. Advogado.
2 Especialista em Processo Civil CAD/Gama Filho. Mestre em Direito Civil pela UFMG. Doutoranda em Direito
Privado pela PUC/MG. Professora do curso de Direito do Centro Universitário Newton Paiva. Membro da
Associação Mineira de Direito e Economia. Bolsista da CAPES.
3 Neste mesmo sentido Vicenzo Roppo: “L`área del contratto è, in parole più empiriche, l´area degli impegni
economici concordati e legalmente vincolanti (cioè coercibili coi mezzi della legge): àrea strategica in ogni
organizzazione sociale, e segnatamente neele società evolute”. (ROPPO, 2001, p. 3). Igualmente registrou
Fernando Araújo: “(...) na visão mais ampla que é consentida pelo prisma económico, o contrato é
essencialmente um facilitador da circulação de titularidades de valores e de modos de governo conjunto (ou
governação) de problemas atinentes ao conhecimento, ao poder e aos interesses”. (ARAÚJO, 2007, p. 18).
4 Por certo o Direito representa uma ciência autônoma, mas conta também com um contexto de
interdisciplinaridade que não pode ser negado. Economia e Direito articulados em nada se afastam dos seus
fundamentos nucleares, apenas possibilitam (aqui para o Direito) uma análise mais consistente das inúmeras
realidades às quais se deve oferecer tratamento ou regulação.
5 “A análise econômica do contrato pretende ser complementar da análise jurídica (...) fazendo recair uma
especial atenção nos efeitos geradores de riqueza que podem associar-se àquele acordo de coordenação de
condutas, efeitos que o transformam em veículo de consumação e permuta de utilidades”. (ARAÚJO, 2007, p.
14)
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O que se quer dar ênfase aqui é que a noção de contrato como realidade jurídica deve
sempre considerar a operação econômica6 que lhe subjaz, pois assim tornará consistente o
arcabouço legal do direito dos contratos. O contrato como operação econômica foi
investigado por Enzo Roppo em sua clássica obra O Contrato (2009), e também abordada na
obra de título idêntico, mas escrita sob o nome de Vicenzo Roppo, Il Contratto (2001).
O propósito é recuperar algumas das reflexões de natureza econômica feitas pelo autor
italiano articulando-as ou reinterpretando-as sob a ótica dos conceitos fundamentais da
Análise Econômica do Direito, tais como riqueza, eficiência, agente racional7, custos de
transação8, mercado, simetria e assimetria de informações, externalização sobre terceiros,
dentre outros.
Neste caminho sugere-se como recurso conceitual esclarecedor a concepção de
empresa firmada por Ronald Coase9 como um complexo ou “feixe” de contratos cujos custos
de transação são extremamente relevantes. A empresa representaria um contexto dinâmico de
atividades, relações e transações econômicas, traduzidas juridicamente pela figura do
contrato. A natureza contratual da empresa é trazida aqui, pois auxilia a reflexão sobre o
ajuste contratual de condutas. Ela ilustra um contexto de evidente e natural consideração dos
aspectos econômicos, presentes nas relações jurídicas ditas contratuais.
O contrato como realidade jurídica que é, representa, em linhas gerais, um acordo ou
ajuste de condutas, legitimado pelas diretrizes que emanam do princípio da autonomia
negocial. Ser autônomo no âmbito do Direito Privado pressupõe a titularidade de um poder
jurídico de se auto-regular, denominado autonomia privada. Mas, nem todos os espaços do
Direito Privado permitem o pleno exercício desta autonomia, pois neles se impõe o
heterônomo comando legal, cuja natureza é essencialmente coerciva.
O contrato como fato jurídico revela natureza complexa que se inicia por legitimar um
fato social de conteúdo patrimonial (sendo um dos seus principais elementos a articulação
6 “De facto, falar em contrato significa sempre remeter – explícita ou implicitamente, directa ou mediatamente –
para a idéia de operação económica”. (ROPPO, 1998, p. 8).
7 “Uma persona razonable está socializada conforme a las normas y convenciones de uma comunidad. De tal
suerte que sus fines son congruentes com los valores compartidos, y su busqueda de ellos se corresponde com
las normas del grupo.” (COOTER y ULLEN, 2008).
8 Nas palavras de Fernando Araújo, Ronald Coase teria recuperado o conceito de custo de transação articulando:
“(...) a comparação de eficiências entre a solução de mercado e a solução de integração numa empresa como
formas de arregimentação e organização dos fatores produtivos – ou seja, a solução horizontal de compra no
mercado confrontada com a solução de coordenação vertical da produção através de factores subordinados a
uma organização hierárquica.” (ARAUJO, 2007, p. 198).
9 In my article on “The Nature of the Firm” I argued that, although production could be carried out in a
completely decentralized way by means of contracts between individuals, the fact that it costs means
something to enter into these transactions means that firms will emerge to organize what would otherwise be
market”. (COASE, 1988, p. 7).
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econômica), compondo, em seguida, uma realidade técnica (caminhando pelos planos da
validade e eficácia), cujas normas jurídicas que o regulam surgem das regras e princípios
legais. (ROPPO, 2009). E todas estas realidades ocorrem ao mesmo tempo, simultânea e
sequencialmente.
Subjacente a este conceito técnico de contrato mencionou-se a presença da operação
econômica em que se dá a articulação de interesses entre particulares. O que se troca por meio
da transação apresenta sempre uma natureza patrimonialmente apreciável. Porém, o processo
dessa operação econômica conta igualmente com preocupações ou expectativas de ordem
existencial. A formação do vinculo, seja ainda em nível anterior ao mundo jurídico, como fato
social, pressupõe uma rede de pretensões imaginadas pelos agentes para realizarem as trocas.
A Análise Econômica do Direito considera que os agentes que se articulam agem de
forma racional, delineando atuações consistentes como recurso para a maximização de seus
interesses. A reflexão que se propõe reside na noção de maximizar auto-interesse no universo
capitalista. Pretende-se esclarecer que a conduta que promove interesse próprio nem sempre
recusa, rejeita ou prejudica interesse comum, bem como a conduta que afirma considerar o
bem-estar social nem sempre auxilia no desenvolvimento de todos. E o contrato por
possibilitar uma evidente circulação de riquezas pode, deve e existe para articular o cenário
público e o privado.
A operação econômica recebida no plano da existência do mundo jurídico ilustraria,
assim, as escolhas racionais (COOTER y ULEN, 2000) ou a disposição negocial de cada
parte, as quais apresentam interesses contrapostos, mas ajustáveis. No processo de negociação
os participantes considerarão o que já se mencionou como custo de transação. Além das
expectativas existenciais propriamente ditas, o contrato pressupõe também uma contabilidade
de custos de maneira a gerar uma escolha consistentemente articulada.
Considera-se que o processo negocial dos contratos sempre deverá articular fatores de
heteronomia (condutas realizadas por dever/necessidade) e de autonomia (condutas movidas
por vontade). O contrato organiza tecnicamente, ou legitima a operação econômica que é
constituída por um sistema de trocas em que cada parte é influenciada por variáveis múltiplas
(aqui denominadas custos de transação) para que se produza a escolha possível,
pressupostamente consistente.
A disciplina jurídica dos contratos segue como orientação básica todas as normas
legais relativas ao negócio jurídico e neste contexto destaca-se, na essência, o poder negocial
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e a composição das categorias jurídicas. O contrato tem seu relevo como negócio jurídico que
é por meio do exercício da autonomia privada para possibilitar a composição do conteúdo que
se pretende na relação negocial.
Entretanto além do destaque dado à autonomia contratual e sua possibilidade de
exercício entre o campo da heteronomia, o contrato também apresenta uma estrutura jurídica
clássica que o define como negócio jurídico bilateral para permitir a criação, modificação,
extinção e manutenção de direitos e obrigações cuja natureza patrimonial é predominante.
Para que se discuta então o contrato como operação econômica é necessário o retorno
à definição de sua estrutura jurídica clássica, porém apresentando renovada percepção do
fenômeno da autonomia privada que deve ser compreendida entre a rede de heteronomia que
a compõe.
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escrita ou oral, por exemplo, em relação a determinado conteúdo jurídico, marcaria os
indícios iniciais da existência de um contrato.
Além disso, para que se possibilite a concretização do contrato em sua acepção
técnico-jurídica é necessária a identificação de um ajuste de condutas ou de um “acordo de
coordenação de condutas.” (ARAÚJO, 2007, p. 14). O ajuste de condutas costuma ser
denominado de acordo de vontades, mas se aqui a opção se dá pela ênfase na natureza
heterônoma da autonomia contratual, parece preferível evitar um idealismo da vontade.
Afirmar a coordenação de condutas sugere uma descrição arguta do fenômeno contratual, em
especial quando se investiga sua existência jurídica como forma de revestir uma operação
econômica.
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Deve ficar claro, de facto, que a disciplina legal dos contratos – longe de limitar-se a
codificar regras impostas pela natureza ou ditadas pela razão (como afirmavam os
seguidores do direito natural) – constitui, antes, uma intervenção positiva e
deliberada do legislador (das forças políticas que exprimem o poder legislativo),
destinada a satisfazer determinados interesses e a sacrificar outros, em conflito com
estes, tentando dar às operações econômicas concretamente realizadas um arranjo e
um processamento, conforme aos interesses que, de quando em quando, se querem
tutelar. (ROPPO, 2009, p. 22)
As normas jurídicas que regulam o contrato devem assim ser articuladas da maneira
mais sistemática possível, em termos de interpretação e aplicação. Significa dizer que
princípios como a função social do contrato e a boa-fé devem considerar os conceitos de
teoria geral do direito privado, bem como os direitos fundamentais previstos na Constituição
da República, além de valores como a livre iniciativa e a dignidade humana, articulados à
realidade da ordem econômica.
10 “Kant inicialmente acompanhou Crusius em sua concepção da estrutura do poder que nos permite ser
autogovernado. Construiu a vontade como a exigência racional de consistência na ação. (...) Como podemos
escolher, nunca temos de ceder a desejos que, embora certamente partam de nós mesmos, são causados em nós
por nossos encontros com o mundo exterior. Kant combinou uma vontade crusiana com o tipo de liberdade da
indiferença defendida por Malebranche, Locke e Clarke, para permitir não apenas a espontaneidade, mas
também a autonomia.” (SCHNEEWIND, 2001, p. 563).
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indiscutível ou incontestável, promovendo a exacerbação de princípios como a
obrigatoriedade e relatividade dos efeitos do contrato. A reconstrução científico-jurídico do
fenômeno da autonomia da vontade fez com que se afirmasse a existência de um poder
jurídico negocial limitado por determinadas externalidades e perfeitamente passível de revisão
de suas cláusulas em nome da justiça contratual. Sugeriu-se então a terminologia autonomia
privada para a designação dessa faculdade negocial limitada por princípios como a boa-fé em
sua acepção objetiva, a função social, assim como regras de revisão como a resolução por
onerosidade excessiva.
A autonomia privada vem então tentando percorrer um caminho de renovação em
relação à autonomia da vontade. Parece, entretanto, que alguns paradigmas relevantes ainda
permanecem poucos destacados, apesar de poderem soar óbvios. Em primeiro lugar, a
autonomia privada, sentida aqui no campo contratual, somente pode ser estudada e
compreendida se percebida como um fenômeno precipuamente discursivo e relacional em que
as categorias jurídicas vão sendo acertadas seja em que nível for. Diz-se isto, pois poderia
haver oposição à percepção relacional quando da coordenação de condutas por meio de
contratos chamados de adesão, cujo conteúdo é de pouca negociabilidade.
Em segundo lugar, a autonomia inclui em sua existência e exercício a manifestação da
heteronomia. Seria como dizer que a autonomia possui uma natureza heterônoma que a
compõe. O universo da autonomia representaria o exercício livre de determinadas faculdades
entre uma rede de elementos heterônomos que articulam, moldam e compõem essa
autonomia. Não parece possível que a autonomia tenha qualquer relevância se pensada além
ou aquém do panorama da alteridade.
A autonomia sofre assim influências múltiplas na sua realização. Essas influências
passam por preocupações e valores de ordem existencial, transitam pelas condutas
juridicamente proibidas e obrigatórias que impõem determinados comportamentos, bem como
passam pelas influências da racionalidade econômica. Os comportamentos de racionalidade
econômica, é verdade, não deixam de sofrer resistência da racionalidade existencial, pois
estão essencialmente articulados.
É real que os modelos econômicos pressupõem uma racionalidade um pouco mais
objetiva do que aquela contida em tendências, inclinações e desejos de ordem meramente
emocional. Porém, também estes modelos não estão imunes às transformações e alterações
negociais que podem ocorrer, em completo desacordo com as previsões econômicas, dada a
relevância dos elementos de heteronomia que movimentam a autonomia. Para que se cogite
do contrato como operação econômica parece essencial compreender que o poder
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juridicamente reconhecido que o mobiliza tem em seu núcleo uma rede de singularidades
heterônomas que o articula.
3. A OPERAÇÃO ECONÔMICA
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como relevante instrumento promotor de fluxo de riquezas desempenhado assim papal central
na economia de mercado.
Igualmente, ou em acréscimo ao que foi dito sobre o mercado como fato social, pode-
se acrescentar a natureza institucional do fenômeno que considera os costumes e as estruturas
sociais regulados pelas leis. O mercado concentra o exercício das liberdades individuais
ilustradas aqui pela autonomia/heteronomia contratual em que a noção de riqueza é definida
pelos processos de interação (discursiva) entre os agentes. A relação entre mercado, direito e
economia é nítida e não pode ser negligenciada no estudo dos contratos.
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empregabilidade no contrato. Verifica-se o devido cumprimento das prestações em atenção
aos benefícios e custos de cada parte.
Por fim, na avaliação de custos de transação pode-se afirmar que são cogitadas as
consequências jurídico-econômicas diante do inadequado cumprimento das prestações
contratuais. A cobrança de indenização por prejuízos às partes é também antecipada no
processo discursivo de negociação contratual validando sua existência como operação
econômica que é. “Os custos de transação são o principal elemento motivador da Teoria Neo-
Institucionalista, de acordo com a qual o principal papel das instituições econômicas é reduzir
o valor desses custos” (PINHEIRO; SADDI, 2005, p. 62), e, por certo, o contrato é uma
destas formas de redução.
“Foi Ronald Coase quem primeiro chamou a atenção para a importância dos custos
envolvidos na iteração humana. Em especial, em artigo publicado em 1937, ele analisou como
tais custos influíam na divisão entre transações realizadas dentro da empresa.” (PINHEIRO;
SADDI, 2005, p. 62) A noção de empresa aqui empregada vai ao encontro da definição hoje
feita pelo Código Civil brasileiro que a recebe como atividade. Todavia, o conceito
estabelecido pelo código ainda não levava em conta a noção de mercado e de uma realidade
econômica inerente ao universo do Direito. Assim, empresa além de ser compreendida como
atividade exercida pela pessoa jurídica ou pela pessoa natural (empresário individual) deve ser
imaginada como uma grande rede de relações contratuais simultâneas.
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O fenômeno negocial do contrato representa uma maneira jurídica e economicamente
válida e legítima de se articular interesses e necessidades, permitindo seja feita uma
contabilidade sobre custos e benefícios. O exercício da atividade denominada empresa se
torna então menos oneroso se desempenhado por meio de contratos adequadamente
contabilizados e antecipados.
A teoria de Ronaldo Coase aqui mencionada afirma que a empresa não seria nada mais
que um panorama de contratos articulados sempre em atenção a se reduzir os custos de
transação. Cada vínculo jurídico desenvolvido pela atividade empresária se justificaria na
forma de um contrato redutor de custos. Assim, supondo uma atividade empresária de locação
de veículos, cada contrato de aluguel com o consumidor seria antecipado como um pequeno
universo de uma realidade econômica. Além disso, os custos de transação também seriam
considerados no momento de se decidir pela contratação de uma oficina mecânica de
manutenção permanente dos veículos, do pagamento apenas por conserto ou na contratação,
com vínculo trabalhista e representado outro contrato de mecânicos profissionais. Aqui são
sugeridos aspectos mínimos como exemplo do “feixe” de contratos por meio do qual se
desenvolve a atividade empresária já que esta também considera e deve considerar o fato
institucional do mercado.
Na definição do conceito jurídico de empresa encontram-se elementos como a
organização e os fatores de produção, que articulados pressupõem uma redução de
contabilidade. O contrato permite que a troca de utilidades feita por meio da atividade
empresária articule de forma eficiente os custos de transação. A adequada articulação dos
fatores de produção na atividade dita empresária se dá pela eleição de condutas contratuais
eficientes. “Se o contrato adquire relevância cada vez maior com o progressivo afirmar-se do
primado da iniciativa da empresa relativamente ao exercício do direito de propriedade, é
também porque este constitui instrumento indispensável ao desenvolvimento profícuo e eficaz
de toda atividade econômica organizada.” (ROPPO, 2009, p. 67).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O contrato como operação econômica amplia seu universo jurídico de aplicação, pois
transcende a relação tradicional com a propriedade para encontrar-se também no universo
negocial da atividade empresária. A transferência de riquezas feita entre os agentes que
participam do contrato apresenta elementos ou natureza efetiva de um “jogo” econômico. Seja
como troca nas relações contratuais onerosas como a compra e venda, a locação e a prestação
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de serviços, seja em relações contratuais em que não existe a troca, pois são gratuitas, opera-
se a circulação de riquezas.
A concepção de riqueza na relação jurídica do contrato deve ser entendida em sentido
amplo, pois a contabilização dos custos de transação percorre tanto elementos de natureza
essencialmente patrimonial como aqueles de natureza extrapatrimonial. Por mais que se diga
que determinadas decisões de natureza existencial sejam realizadas em nome do altruísmo, o
exercício da autonomia negocial se dá, também, em cogitação ao que se perde e o que se
ganha.
A racionalidade econômica é operada em situações em que tradicionalmente se
verifica a noção da riqueza, mas também se desenvolve em contexto que a avaliação
econômica direta, imediata ou precisa não pode ser feita. Porém, isso não retira a natureza
econômica das condutas coordenadas entre os sujeitos de direito, já que toda uma
racionalidade de pensamentos de perdas e ganhos é mobilizada em qualquer relação
contratual.
A eficiência do contrato é então medida conforme a melhor ou pior adequação das
condutas contratuais. A “funcionabilidade” (ROPPO, 2009, p. 221) seria verificada se todas
aquelas fases previstas nos custos de transação se desenvolvesse mais ou menos próximas das
antecipações das partes. Aquilo que é imprevisível e arriscado é nuclear na operação
econômica e no conceito jurídico de contrato que a reveste, embora o cálculo de custos de
benefícios seja efeito exatamente para minimizar o imponderável. Uma reconstrução crítica
do contrato como fenômeno jurídico deve ser feita em atualização concomitante com a noção
heterônoma da autonomia contratual, bem como pela percepção da natureza substancialmente
econômica da operação.
Abstract
The present paper is focused on the relationship between the legal reality represented by the
contract and the economic operation which it legitimizes. The purpose here is to make more
consistent the study of the contract through the recognition and understanding of the socio-
economic fact which gives it form.
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