Augusto Medeiros de Avila
Augusto Medeiros de Avila
Augusto Medeiros de Avila
GRANDE DO SUL
Ijuí (RS)
2019
AUGUSTO MEDEIROS DE ÁVILA
Ijuí (RS)
2019
Dedico este trabalho à minha família, pelo
incentivo, suporte, apoio e confiança em mim
depositados durante toda a minha jornada.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, aos meus pais, Maria Bernadett Soares Medeiros e Jocelino Rodrigues
de Ávila que, independentemente da situação, sempre me apoiaram e incentivaram ao longo de
toda a caminhada acadêmica.
Aos meus irmãos, que nunca deixaram de estar presentes, dando todo o suporte que precisei.
A minha namorada Caroline Hepp, companheira imbatível nesta jornada e grande alicerce,
bem como meus sogros, Jaqueline Hepp e Vilson Hepp, e meu cunhado, Renan Hepp.
Aos meus colegas de trabalho na Justiça Federal de Ijuí, pela paciência e compreensão
durante todo o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso.
A esta universidade, seu corpo docente, direção е administração que oportunizaram todo o
aprendizado adquirido, tanto para a vida acadêmica e profissional quanto pessoal.
"Não conheço nenhuma fórmula infalível para obter o
sucesso, mas conheço uma forma infalível de fracassar:
tentar agradar a todos".
John F. Kennedy.
RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise acerca das diversas interpretações e
sanções aplicadas ao psicopata, conforme a Constituição Federal pátria e a legislação
infraconstitucional, bem como verifica a definição de Psicopata sob a luz dos estudiosos da área
médica em questão. A justiça brasileira e sua dificuldade no enquadramento penal de modo efetivo,
nos casos concretos, e a sua agonia frente a ausência de uma definição específica e precisa para uma
punição exemplar e uniforme. Procura demonstrar as consequências jurídicas, sociais e ao próprio
Psicopata ao enquadrá-lo como indivíduo com enfermidades mentais e passivos de necessitar de
tratamento psicológico e ambulatorial em manicômios judiciais. Aborda o conceito de
inimputabilidade, semi-imputabilidade e imputabilidade. Traz a exposição de casos de grande
repercussão midiática e o modo como foram julgados, bem como a necessidade de uma lei específica
para tratamento e punibilidade aos agentes psicopatas.
The present course conclusion paper analyzes the various interpretations and sanctions applied to
the psychopath, according to the Federal Constitution homeland and jurists. The definition of
PSYCHOPTA, in the light of the greatest medical scholars in question. Brazilian justice and its
difficulty in effectively framing criminal cases in concrete cases, and its agony in the absence of a
specific and precise definition for exemplary and uniform punishment. Demonstrate the legal and
social consequences to the Psychopath by framing him as an individual with mental and passive
illnesses requiring psychological and outpatient treatment in judicial asylums. The concept of
inimputability, semi-imputability and imputability. Exposure of cases of great media repercussion
and the way they were judged, as well as the need for a specific law for treatment and punishment
of psychopathic agents in a correct and uniform manner.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9
CONCLUSÃO ............................................................................................................. 33
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 35
9
INTRODUÇÃO
Durante todo o transcorrer da história, a conduta de alguns dos indivíduos inseridos em uma
mesma sociedade é, de certa forma, incompreensível para os demais. Questões culturais,
intelectuais, medicinais e costumes dão embasamento e justificam certos comportamentos
questionáveis. Acontece que certos comportamentos de alguns indivíduos, chamam a atenção, seja
pela sua destreza, crueldade, motivação etc., gerando grande indignação e repercussão frente aos
demais membros.
Diante desse contexto, o presente trabalho realiza um estudo acerca do tratamento utilizado
pela legislação penal do Brasil no que concerne a identificação e punibilidade dos psicopatas, a fim
de verificar se o ordenamento jurídico pátrio assegura efetivamente a aplicação das leis penais de
forma efetiva e uniforme, em prol da proteção a sociedade e recuperação dos indivíduos infratores.
A partir desse estudo, se objetiva contribuir, senão para que a realização da justiça se torne
efetiva, ao menos para fomentar o debate e enriquecer a reflexão sobre a matéria. Também deixar
nítida a necessidade de uma norma específica para os crimes praticados por psicopatas e os riscos
ocasionados conforme tratamento sob a ótica da lei vigente utilizada.
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finalidade de impedir crimes futuros de criminosos já identificados, bem como quanto a possível
reabilitação destes indivíduos perversos.
Tem de se destacar que, com essa evidente dificuldade histórica na definição e diagnóstico
do ser psicopata, as regras jurídicas do seu tempo eram completamente ineficazes no que se refere
a punição, tratamento e reinserção destes indivíduos na sociedade, pois, o mais comum além de
sentencia-los a morte, era diagnostica-los como doentes e tratar ambulatorialmente de modo
errôneo e sem resultado satisfatório.
Apenas nos últimos cem anos, as autoridades responsáveis notaram que o estudo de um
comportamento específico de um infrator não identificado é capaz de fornecer dados quanto as
suas características e personalidade e, assim, estreitar sua área de pesquisa; este método foi
batizado de perfil psicológico ou de “definição do perfil agressor”, ou ainda “análise
comportamental” (COIMBRA e GARDENAL, 2018).
Com isto, veio o surgimento da psiquiatria, e assim começou a ser classificado os níveis de
desvio comportamental destes indivíduos, auxiliando então a justiça na dosimetria e aplicabilidade
da pena dos mesmos de forma mais coerente conforme seu diagnostico mental, sendo o dever, até
os dias atuais da psiquiatria, estudar e estabelecer as causas de tais desvios.
Quando se fala sobre este tema no Brasil, a série de problemas referentes à falta de definição
geral, uniformização da sanção penal ao psicopata e seu entendimento no âmbito jurídico brasileiro,
surge devido que com o passar dos anos, a sociedade em sua evolução, encontra-se cada vez mais
complexa, se tratando da convivência dos indivíduos enquanto membros da mesma sociedade,
porém, sem o acompanhamento da progressão jurídica normativa de nossa legislação pátria.
Levando em consideração a esfera social violenta e de impunidade cada vez mais saliente, a busca
de uma melhor compreensão e caracterização dos psicopatas, pode trazer respostas e soluções para
prevenir e combater tais atos, se tornando peça chave dos operadores jurídicos do Direito. Crimes
desumanos, executados de forma cruel, fria e injustificável, por diversas vezes associados a sujeitos
que não apresentam nenhum remorso ou lamentação, vem ganhando, diariamente, grande destaque
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nas mídias, gerando incertezas quanto as variadas formas de sanções penais aplicadas a estes
infratores.
Hoje em dia, duas medidas de segurança podem ser aplicadas aos inimputáveis e semi-
imputáveis: a realização do tratamento ambulatorial e a internação compulsória.
Com efeito, essas duas espécies estão previstas no artigo 96, incisos I e II, do Código
Penal:
1.1 O conceito e definições de Psicopata e Psicopatia sob a ótica dos psiquiatras e psicólogos
destes indivíduos se dirigia em caminho oposto aos comportamentos em que a sociedade acreditava
ser o correto, conforme suas crenças e religião, norteadores de conduta em destaque na Idade Média
entre os séculos V e XV.
Estudos antropológicos revelam que a psicopatia em tal época, não estava ligada à
medicina, mas sim, a divindades, ao sobrenatural e até mesma à magia negra, conforme Dotti,
(2002, p.123) discorre:
Nas sociedades primitivas, o tabu era a proibição aos profanos de se relacionarem com
pessoas, objetos ou lugares determinados, ou deles se aproximarem, em virtude do
caráter sagrado dessas pessoas, objetos e lugares cuja violação acarretava ao culpado ou
a seu grupo o castigo da divindade.
Deste modo, acreditava-se que somente a religião poderia salvar e recuperar estes
indivíduos, contudo, com o passar dos anos, com o interesse da população e das comunidades
médicas no assunto, bem como o desenvolvimento tecnológico, é que então, a Psicopatia
desligou-se da religião e veio a ser estudada e definida pela comunidade médica.
Chamado por muitos como o “pai da psiquiatria”, Phillipe Pinel é considerado o precursor
nessa área, pois ele seria o médico pioneiro a identificar diversas perturbações mentais, e
também, fora ele quem expos descrições científicas de padrões comportamentais e afetivos que
se aproximam do que hoje se entende em linhas gerais como psicopatia, associando o conceito
de "mania sem delírio", que descrevia pacientes que, mesmo exibindo comportamentos violentos,
podiam assimilar o caráter irracional de suas ações, no entanto, ainda não podiam ser
considerados delirantes. Nos anos seguintes, as pesquisas e estudos do assunto se aprofundaram
e até a década de 1940 foi formado um vasto entendimento entre os estudiosos e especialistas em
relação à sua elucidação, mas o quadro estabelecido para o diagnóstico ainda necessitava de uma
especificidade sólida (ALMEIDA F. M., 2017).
No ano de 1991, baseado nos estudos elaborados por Hervey, o psicólogo canadense Robert
Hare criou uma espécie de questionário com o objetivo de identificar psicopatas, denominado
Escala Hare ou PCL-R Psycopathy Checklist Revised, que compreende em um diagnóstico
desenvolvido por um profissional psiquiatra com base em exames clínicos e do histórico do
paciente, atribuindo pontuação de 0 a 2 a uma sequência de características, como: dissimulação,
ego inflamado, mentira desenfreada, anseio por adrenalina, impulsividade, falta de culpa,
sentimentos superficiais, comportamento antissocial, ausência de empatia, má conduta na infância
e irresponsabilidade. A soma dos pontos determina o grau da psicopatia (COELHO, 2017).
Destarte, pode-se afirmar que as leis que vigoram no Brasil, remam de certa forma, contra
as definições e características dos Psicopatas conforme os especialistas médicos. O conceito de
Psicopatia entre os psiquiatras e especialistas não é unanime, porém, em sua grande maioria segue
a linha de que Psicopatia se trata de um transtorno de personalidade, entrelaçado a natureza do
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sujeito, sem relação com qualquer enfermidade mental, ou seja, sem sofrer de alucinações ou
problemas de identidade mental, como apresentado por portadores de esquizofrenia.
Os psicopatas não são pessoas desorientadas ou que perderam o contato com a realidade;
não apresentam ilusões, alucinações ou a angústia subjetiva intensa que caracterizam a
maioria dos transtornos mentais. Ao contrário dos psicóticos, os psicopatas são racionais,
conscientes do que estão fazendo e do motivo por que agem assim.
Em conformidade com a psiquiatra brasileira Hilda Morana (2003, p. 26), entende-se ainda
que:
Esta corrente majoritária no âmbito medicinal, defende que o sujeito psicopata não deve ser
tratado como um indivíduo enfermo, ou, agente infrator no qual teve seu cruel ato relacionado há
uma incapacidade mental decorrente de alguma enfermidade ou incapacidade ambulatorial. É
evidente que os mesmos possuem totais capacidades mentais, e em alguns casos, com estas
habilidades psicológicas mais desenvolvidas frente a pessoas que não são Psicopatas, logo, este
infrator utiliza, de forma racional, das suas habilidades para cometer atos e crimes com requintes
de crueldade e ausência de empatia, de forma completamente sã e conhecedor das consequências
e resultado das suas ações para atingir seus objetivos e/ou saciar seus desejos.
Este conceito acima, não se apresenta com igualdade nos órgãos jurisdicionais brasileiros,
nem mesmo na Constituição Federal. Os magistrados brasileiros, em alguns casos, dão
prosseguimento ao processo sob a ótica de que a psicopatia está entrelaçada à indivíduos com
enfermidades mentais, ou seja, sem condições de serem responsabilizados de forma integral pelo
resultado da ação de suas práticas ilícitas, tornando-os semi-imputáveis ou inimputáveis.
Michel Foucault (1993, p. 139) expõe que “[...] o direito procura distinguir da melhor maneira
possível a alienação fingida da autêntica, uma vez que não se condena à pena aquele que está
verdadeiramente atingido pela loucura [...]”, tal afirmação representa a maneira que o Brasil analisa e
decide por não penalizar o doente mental e assim, consequentemente em alguns casos, o psicopata em
nosso Território, já que o mesmo não apresentaria capacidade em compreender seu comportamento
criminoso, o que é de suma importância para a aplicabilidade da pena.
A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XLVII, alínea b, prevê que não haverá
qualquer pena com caráter perpétuo, e no Código Penal, mais precisamente no artigo 26, parágrafo
único, prevê a semi-imputabilidade pelo seguinte texto:
Art. 26 - Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento. (BRASIL, 1940).
Refere-se a lei em primeiro lugar à perturbação da saúde mental, expressão ampla que
abrange todas as doenças mentais e outros estados mórbidos. Os psicopatas, as
personalidades psicopáticas, os portadores de neuroses profundas, em geral têm
capacidade de entendimento e determinação, embora não plena.
Em que pese ser esse o entendimento majoritário, existem casos mais consentâneos com a
realidade dessas pessoas, conforme entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo (apud
MIRABETE, 2008, p. 748):
Trindade, Beheregaray e Cuneo (2009, p. 23), destacam que a psicopatia não é fundamento
suficientemente capaz para aplicabilidade da medida de segurança, pois conforme tais autores, no
psicopata:
Sua capacidade cognitiva encontra-se preservada, o que os torna “sadios” perante o direito
penal, razão pela qual a eles não deve ser aplicada medida de segurança, mas pena. Doença
mental não é sinônimo de inimputabilidade, salvo quando houver prejuízos de ordem
cognitiva e/ou volitiva.
Casoy (2004, p.21) é outra autora que vem a defender o princípio em que os psicopatas
devem ser imputáveis, pois:
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O fato de controlar seu comportamento para que isso não aconteça (ser preso) mostra que
o criminoso sabe que seu comportamento não é aceito pela sociedade, e que seu verniz
social é deliberado e planejado com premeditação. É por esse motivo que a maioria deles
é considerada sã e capaz de discernir entre o certo e o errado.
Levando em conta que os psicopatas conhecem a natureza de seus atos, bem como as
normas jurisprudenciais que embasarão o julgamento deles mesmos, fica evidente que tais sujeitos
usarão da interpretação que lhes convém para ter sua pena conforme seu desejo. Seu poder de
persuasão, dissimulação e inteligência, os munem para conquistar ou saciar seus desejos obscuros,
sendo de pura inocência acreditar que eles não usariam suas habilidades para desafiar a plena justiça
e o devido cumprimento de pena que merece.
A partir de uma análise constitucional pátria, faz-se necessário realizar uma explanação
sobre o que significa indivíduos imputáveis, semi-imputáveis e inimputáveis, fazendo a ligação ao
foco do tema deste trabalho, “Psicopatia” e como estes modos distintos de aplicabilidade da pena
causam certo desconforto aos membros da sociedade, bem como uma incerteza sobre o que de fato
é um indivíduo psicopata, se enfermo mental, ou apenas um indivíduo conhecedor dos seus atos e
consequências.
Consigna-nos Capez (2009, 311 p.) que “a imputabilidade apresenta, assim, um aspecto
intelectivo, consistente na capacidade de entendimento, e outro volitivo, que é a faculdade de
controlar e comandar a própria vontade”.
O sistema biopsicológico é adotado pelo Direito Penal Brasileiro mesmo antes da reforma
da Parte Geral do Código Penal materializada por intermédio da Lei nº 7.209, de 11 de julho de
1984.
Nosso ordenamento jurídico deixa claro a adoção de tal sistema, mais precisamente no
artigo 26, parágrafo único, do Código Penal:
Art. 26 - Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento. (BRASIL, 1940).
Refere-se a lei em primeiro lugar à perturbação da saúde mental, expressão ampla que
abrange todas as doenças mentais e outros estados mórbidos. Os psicopatas, as
personalidades psicopáticas, os portadores de neuroses profundas, em geral têm
capacidade de entendimento e determinação, embora não plena.
Quando tais transgressores são tratados de forma imputável, são classificados como
individuos capazes de se atribuir a responsabilidade pela prática de uma conduta ilícita e agentes
com idade maior de 18 anos, ou seja, apresentam a idade minima necessaria para sua formação
moral completa e sua conduta e resultado não possuem quaisquer relação com alguma doença
mental que este indivíduo possa vir a alegar em juízo afim de atenuar sua pena, estabelecendo nexo
causal entre o agente e a conduta ilícita praticada, devendo estar presentes os elementos cognitivos
e volitivo. A pena restritiva de liberdade, sem atenuações sob argumentos embasados em doenças
mentais, se torna a mais utilizada nestes casos, tanto devido a dosimetria relativamente alta da pena,
quanto pela ideia de retirar do seio da sociedade o indivíduo psicopata.
conduta. Na falta destes elementos, ou de apenas um destes, estaremos diante dos indivíduos
inimputáveis, os semi-imputáveis ou com imputabilidade reduzida.
Nos casos de individuos imputaveis, não são abrangidos pelo polêmico art. 26, parágrafo
único, do nosso Código Penal, pois afastas a possibilidades de interpretação e uso do mesmo nas
ações do indivíduo capaz de discernir a responsabilidade de sua conduta e suas consequências. Pois
bem, esta visão se aproxima do conceito adotado e defendido por grande parte dos psiquiatras e
especialistas criminais no assunto da psicopatia, como destacado anteriormente, entretanto, não é
a intepretação mais adotada por nossos magistrados e possui sérias consequencias.
É que um doente mental jamais poderá agir com dolo ou culpa, porque, sem a capacidade
psíquica para a compreensão do ilícito, não há nenhuma relação psíquica relevante para o
Direito Penal, entre o agente e o fato. Sem a imputabilidade, não se perfaz a relação
subjetiva entre a conduta e o resultado. Não se pode falar em dolo ou culpa de um doente
mental. O dolo e a culpa como formas de exteriorização da culpabilidade em direção à
causação do resultado, pressupõem a imputabilidade do agente.
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos (grifo meu), sujeitos
às medidas previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos dessa Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à
data do fato.
A doença mental deve apresentar patologia psíquica ou tóxica, de qualquer ordem, que
seja capaz de suprimir a vontade e o entendimento do indivíduo acerca do acontecimento e de
seu conteúdo ilícito. Capez (2009) cita as seguintes patologias mentais: “epilepsia,
condutopática, psicose, neurose, esquizofrenia, paranoias, psicopatia, epilepsias em geral etc.”.
Como patologias de origem tóxica, cita-se o alcoolismo e a dependência química, que podem
carrear em inimputabilidade. Estão inseridos neste contexto, os menores de 18 anos pela
presunção de seu desenvolvimento mental incompleto.
Hoje em dia, duas medidas de segurança podem ser aplicadas aos inimputáveis e semi-
imputáveis: a realização do tratamento ambulatorial e a internação compulsória.
Com efeito, essas duas espécies estão previstas no artigo 96, incisos I e II, do Código Penal:
Art. 96. As medidas de segurança são
I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro
estabelecimento adequado;
II - Sujeição a tratamento ambulatorial. (BRASIL, 1940).
Após a realização do cumprimento da sanção imposta pelo juiz, ele retorna à sociedade,
deixando de estar sob a custódia do Estado. Entretanto, as penas supramencionadas não
demonstram, em sua maioria, eficiência na correção do apenado psicopata, pois grande parte
retorna a cometer novos crimes, porém de forma ainda mais cuidadosa, evitando assim uma nova
prisão. Ana Beatriz Barbosa (2008) dispõe que:
Estudos revelam que a taxa de reincidência criminal (capacidade de realizar novos crimes)
dos psicopatas é cerca de duas vezes maior que a dos demais criminosos. E quando se trata
de crimes associados à violência, a reincidência cresce para três vezes mais.
Sobre tal questão, Antônio Carlos da Ponte (2002, p. 41) destoa que:
Cabe frisar que não há uma categoria de semiloucos ou semi-responsáveis, há sim, entre
a zona de sanidade psíquica ou normal e a loucura, estados psíquicos que representam uma
variação mórbida, fazendo com que seus portadores sejam responsáveis, embora com
menor culpabilidade, justamente por apresentarem uma capacidade reduzida de
discernimento ético – social ou auto inibição ao impulso criminoso.
No que se refere ao tratamento ambulatorial, segundo art. 96, inciso II, o qual ficará
disponibilizado aos indivíduos inimputáveis quando o ato ilícito cometido representar menor índice
gravidade, e aos semi-imputáveis (conforme posto no art. 99, Lei de Execuções Penais). Este
instituto se realiza a partir de comparecimento do transgressor ao hospital já determinado ou em
outro local que detenha das mesmas características, para que a pessoa possa realizar tratamento
psiquiátrico adequado. Vale ressaltar que possuí também um grande ponto negativo, pois na norma
jurídica brasileira, não há limite de prazo para submeter o indivíduo a tais internações ou
tratamentos, podendo ultrapassar a pena máxima mencionada em nossa constituição, que seria de
30 anos.
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Frente ao que foi disposto neste capítulo, tem-se a necessidade de analisar quais são as sanções
e de que forma foram tratados, julgados e classificados os psicopatas em casos concretos
conhecidos e de maior repercussão.
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3.1 Análise das sanções aplicadas em alguns crimes de grande repercussão praticados por
psicopatas no país
No Brasil, a despeito do que já ocorre em outros países, não se utiliza o PCL-R para
identificação dos portadores desse transtorno. A psiquiatra Ana Beatriz Silva assevera sobre a
temática:
Com isso em mente, analisam-se casos notórios relacionados a psicopatas que aconteceram
no país, contudo, suas sanções em maioria, causam revolta na população, pois estes indivíduos
cruéis, ardilosos e extremamente inteligentes, tiveram suas penas reduzidas devido a lei vigente
que trata destes agentes no país.
Francisco das Chagas Rodrigues de Brito trabalhava como mecânico no Estado do Pará e
era o caçula dos cinco filhos, proveniente de uma família pobre do sertão maranhense. Sua infância
foi marcada por agressões físicas e nenhum traço de carinho. Segundo ele, aos sete anos de idade,
foi vítima de abuso sexual, realizado por um dos empregados de sua avó. Talvez em razão destes
fatos, tenha se tornado um adulto com problemas para se relacionar com a sociedade.
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Segundo Souza (2010, p. 122), Francisco Brito é considerado o maior serial killer brasileiro,
tendo matado 42 (quarenta e dois) meninos nos Estados do Pará e do Maranhão. Seus crimes
começaram em 1989, quando atacou três meninos. Todos eles sobreviveram, mas tiveram seus
órgãos genitais parcialmente arrancados. O primeiro homicídio ocorreu em 1991, tendo atuado até
meados de 2003. Jamais despertou as suspeitas de amigos, parentes ou vizinhos. Parecia ser um
bom homem.
A defesa de Francisco ingressou com inúmeros recursos durante o trâmite das ações,
atacando as decisões de pronúncia dos processos relativos ao caso. Em todas as impugnações,
requeria-se o reconhecimento da inimputabilidade e consequente aplicação de medida de
segurança, visando eximir o agente de parte da responsabilidade penal. Para tanto, argumentava-se
que o acusado “ouvia vozes”, chegando a afirmar que veria uma entidade vestida de branco e
flutuando acima do chão, indicando qual seria a próxima vítima (BAHÉ, 2014).
o filho do meio de uma família de classe média, composta por três filhos. Seus amigos e
companheiros sempre falaram muito bem de Francisco, sendo pessoa de confiança de seus
empregadores. Dentre os diagnosticados psicopatas brasileiros, foi o que melhor desenvolveu a
técnica de dissimulação.
Ao analisar o inteiro teor do julgamento, nota-se que o Tribunal de Justiça não vinculou o
laudo médico a decisão dos juízes togados e não togados:
[...] Ficou claro que Francisco sofre de transtorno de personalidade antissocial, o qual,
porém, não constitui doença mental nem chega a abalar a saúde mental. O Doutor Paulo
Argarate Vasques, um dos médicos encarregados da perícia psiquiátrica, afirmou, na
sessão de julgamento, que o réu tinha preservado a capacidade de entender o caráter
criminoso do sucesso; quanto à capacidade de autodeterminação, asseverou a dificuldade
de detectar seu eventual comprometimento, razão pela qual anuiu na possibilidade de se
considerar a plena imputabilidade de Francisco. Mister reconhecer, portanto, que o
conselho de sentença optou por uma das vertentes da prova trazida aos autos. Não se há
de dizer seja o veredicto, porque afastou a semi-imputabilidade, manifestamente contrário
à constelação probatória. (Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação nº 385.367.3/4-00.
Relator Des. Geraldo Xavier. Julgado em junho de 2003).
Pode-se observar que no Brasil, conforme disposto no início deste trabalho, há definições
distintas entre os especialistas médicos e juristas no que se refere psicopatia e sua capacidade de
discernimento dos seus atos, onde no caso em tela, a visão jurídica se sobrepôs a visão dos
especialistas, ignorando o laudo médico realizado para diagnóstico do réu e o julgando como agente
capaz e com capacidade de entender o ato ilícito praticado.
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Diferente do Brasil, casos no exterior demonstram que há leis específicas e individuais dos
psicopatas para os demais criminosos. Há um extremo cuidado para separar os agentes com
características da psicopatia para os que não tem, assim, os distanciando no tempo em que cumprem
suas penas. Nesse sentido, países como EUA, Austrália, Holanda, Noruega, China utilizam o
instrumento denominado “Psychopathy checklist” ou PCL-R, citado no início deste trabalho.
Segundo Robert Hare, países que o instituíram apresentam redução da reincidência criminal
considerável (HARE, 1998). É composto de um teste com 20 itens a fim de verificar a psicopatia
por meio da estrutura da personalidade. Nessa linha:
Interessante observar de que forma países como Inglaterra e Estados Unidos lidam com a
psicopatia desde seus primeiros traços. Nesses países, segundo estudos realizados pelo FBI, boa
parte dos psicopatas começam sua carreira matando animais e, por este dado, matadores de animais
são tratados e julgados de forma diferenciada nesses países. Percebe-se, portanto, que esses
territórios já perceberam a importância de tomar uma medida preventiva acerca da psicopatia,
detendo estes indivíduos desde as primeiras linhas de psicopatia (OLIVEIRA, 2015).
Seguindo por esta linha de raciocínio, cita-se países como Alemanha, Estados Unidos,
Suécia, Dinamarca entre outros que realizam a aplicação de hormônios femininos a estes
indivíduos, reduzindo o nível de testosterona e, consequentemente, a libido sexual. Assim
configura-se a Castração Química, sendo uma modalidade de pena aos crimes sexuais cometidos
em série nestes países (OLAVO, 2012).
Outro mecanismo utilizado pelos Estados Unidos, em vários de seus estados, bem como
pelo Canadá, é a criação de leis especificas para psicopatas. Isso demonstra que esses países já
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entenderam que os crimes podem ser cometidos por pessoas com personalidades e condutas
díspares e que, por este motivo, merecem uma visão individualizada a fim de evitar a reincidência:
Logo assim, é lamentável ver que um projeto de lei que foi proposto no Brasil, com a
intenção de proporcionar melhora no tratamento e pena dos agentes psicopatas, foi rejeitado,
mesmo sendo possível observar a eficácia da implementação do PCL-R em outros países. A correta
e eficaz sanção penal aplicada a estes agentes, acarretaria somente melhoras a sociedade e até
mesmo ao individuo psicopata, todavia, quando se trata desta questão, conforme destaca-se no
decorrer deste trabalho, o especialista médico pouca força tem frente ao legislativo e judiciário.
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CONCLUSÃO
As relações humanas, pela própria natureza do homem como indivíduo que necessita do
convívio em grupo e nesse grupo desenvolve interações, também evidência que temos
pensamentos, desejos, instintos e comportamentos diferentes. As diferenças dão margens e
alimentam debates e reflexões acerca do que seria correto e o que não seria.
O Estado presta a jurisdição a fim de punir os psicopatas do qual a sociedade não aceita
tamanha crueldade em seus atos. Todavia, a jurisprudência tem se apresentada confusa e vem
demonstrando sua incapacidade de se solidificar como ideal de sanção punitiva, preventiva e
restaurativa face ao psicopata. Essa incapacidade de uma prestação jurisdicional plena tem como
causas principais o aumento de reincidência delituosa destes agentes, a deficiente reinserção a
sociedade, a interação entre psicopatas e não psicopatas, aumentando a propagação deste mal e
seus ideais, a possibilidade de sanção infrutífera etc.
Essa divergência entre as classes médicas e jurídicas, gera um debate ardiloso durante o
curso do processo, pois a culpabilidade do agente e sua responsabilização entram em conflito com
a eficaz aplicabilidade da pena.
satisfatórios. Destaca-se positivamente o PCR-L, modelo padrão utilizado nestes estados soberanos
que demonstram uma grande diminuição nos crimes bárbaros de grande repercussão midiático.
O ponto negativo fica por ter sido, tal modelo, recusado em proposta de lei no Brasil, e a
pergunta que paira é: por quê? Infelizmente, uma ferramenta que propagaria uma possível taxa de
resolução positiva, nos casos de psicopatia, teve suas portas fechadas neste país. Isso atrasa a
criação a adaptação de normas beneficentes a população face aos crimes bárbaros praticados pelos
psicopatas.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Rio de Janeiro, 1940. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 15 mai.
2019.
COIMBRA, Mário; GARDENAL, Izabela Barros. Evolução histórica do psicopata na
sociedade. 2018. Disponível em: <https://izabelabgardenal.jusbrasil.com.br/artigos/604499552/
evolucao-historica-do-psicopata-na-sociedade>. Acesso em: 15 jun. 2019.
CASOY, Ilana. Serial Killer louco ou cruel?. 2. ed. Editora WVC, 2004.
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, 13ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2009.
COELHO, Gabriel Alves. A figura do psicopata no direito penal brasileiro. In: Âmbito Jurídico,
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