A Herança Afriana e A Construção Do Estado Brasileiro

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 20

Article

ARTIGO
http://dx.doi.org/10.1590/0101-6628.246

A herança africana e a
construção do Estado brasileiro
African heritage and the construction of the
brazilian State

Paulo Roberto de Oliveiraa


https://orcid.org/0000-0001-9198-0718

Resumo: Este artigo tem como objetivo Abstract: This article aims to understand
compreender como, de maneira aparente- how, in an apparently paradoxical way in
mente paradoxal no Brasil, com uma so- Brazil, with a society erected in a close
ciedade erigida em estreita relação com o relationship with the African Continent, a
Continente Africano, se construiu um Es- State that since its first decades of existence
tado que desde suas primeiras décadas de has showed itself hostile to africans and
existência mostrou-se hostil aos africanos their descendants was built, promoting,
e a seus descendentes, promovendo, ao con- on the contrary, the continuation of an
trário, a continuidade de uma civilização european civilization in the tropics. 
europeia nos trópicos.
Keywords: Brazil. State Formation. 19th
Palavras-chave: Brasil. Formação do Estado. Century. Slavery. Racism.
Século XIX. Escravidão. Racismo.

a
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Minas Gerais, Brasil.
Recebido: 16/12/2020    Aprovado: 21/2/2021

204 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021
A herança africana e a construção do Estado brasileiro

Introdução

A
pesar do etnocentrismo evidente, as relações com a África mar-
caram e marcam o desenvolvimento da sociedade brasileira desde
os primeiros tempos coloniais. Milhões de africanos escravizados
chegaram até a colônia portuguesa e, a partir de 1822, ao Império brasi-
leiro. Tal presença, além de ser responsável pela construção da riqueza
da colônia e do Estado Independente, construiu uma sociedade em que
o fenótipo e a influência africana são marcantes. Contudo, desde os pri-
meiros momentos da formação do Estado brasileiro, a elite construtora
pautou-se pela construção de uma sociedade e de um Estado que se
viam como parte de uma civilização europeia, branca e cristã. Este artigo
tem como objetivo compreender esse processo que, apesar de paradoxal,
concretizou-se na formação do Estado brasileiro e se tornou a tônica de
nossas relações sociais até os dias de hoje.
Com esse intuito, o texto se divide em três partes, além desta in-
trodução. Na primeira parte trata da construção do Brasil no Atlântico
Sul, buscando compreender o estabelecimento das relações entre Brasil
e África e a herança africana. Na segunda, trata da formação do Estado
independente no Brasil e como os seus construtores, brancos, lidaram com
a herança africana que, ao mesmo tempo que continuava a construir a
riqueza nacional, era alijada da participação nesse processo. Por último,
como considerações finais, buscará fazer um balanço da discussão e
compreender a persistência da herança africana, apesar da visão europeia
que pautou os construtores de nosso Estado independente.

A formação do Brasil no Atlântico Sul

Foi a expansão comercial europeia que, a partir do século XVI,


uniu as duas extremidades do Atlântico Sul em uma mesma lógica e
cosmologia, pautada na compreensão de mundo desenvolvida em uma
pequena porção do mundo e que, em poucos séculos, dominaria a maior

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021 205
Oliveira, P.R.

parte do globo terrestre. Dentro dos marcos do Antigo Sistema Colonial,


após estabelecer relações com as duas costas, os europeus utilizaram o
trabalho do africano escravizado para a implementação de um apêndice
de sua economia no novo mundo (Novais, 2005; Prado Júnior, 1967).1 A
região que corresponde à porção oriental da América do Sul foi subme-
tida, transformada em colônia portuguesa, enlaçada pelo sentido da
colonização, o qual pressupunha a sua exploração como sua razão de
existir. A incorporação de braços africanos se enquadra nesse escopo,
justificada por Caio Prado Júnior (1967) pela impossibilidade de utilização
da mão de obra indígena. A análise de Fernando Novais (2005), mergu-
lhando nas questões postas por Caio Prado Júnior, buscou compreender
o contexto mundial de funcionamento do sistema para, a partir daí,
desvelar o funcionamento da colônia portuguesa nas Américas. Nessa
perspectiva, para Novais, a incorporação do negro na história brasileira
se daria como um negócio da metrópole: uma vez que esse comércio era
realizado por portugueses, os lucros aferidos por ele seriam direcionados
para a metrópole.
A preocupação de Novais está em entender o funcionamento do Siste-
ma Colonial que, para ele, caracterizava-se principalmente pelas relações
entre a metrópole e a colônia — entre Brasil e Portugal. A existência de
um grande contingente humano que foi forçado a se deslocar da África
para o Brasil já pressuporia uma influência que em muito ultrapassaria
os aspectos econômicos (Nascimento, 2019).
Alberto da Costa e Silva, ao tratar da África entre os séculos XVI
e XVII, destacou as palavras manilha e libambo, as quais figuram no
título de uma de suas obras. A manilha se referia a um bracelete, um
ornamento que se fechava em torno do pulso ou do tornozelo em forma
de “c”, também usado como moeda em algumas regiões. O libambo era
uma cadeia de ferro pela qual se jungia uma fila de escravos pelo pescoço.
Alberto da Costa e Silva não escolheu essas palavras ao acaso. Ricas em

Também houve a ampla utilização do trabalho indígena compulsório.


1

206 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021
A herança africana e a construção do Estado brasileiro

significado, elas se referem à África subsaariana que se foi submetida


à expansão europeia e transformada em provedora de mão de obra ao
novo mundo. Foi a expansão do mercantilismo europeu que as ligou ao
continente americano. Contudo, a manilha e o libambo são africanos;
fazem parte de uma sociedade que já se desenvolvia e reproduzia rela-
ções de troca com moeda, onde havia distinção e hierarquia social e que
mantinha relações escravistas (Costa e Silva, 2011).
A África encontrada pelos europeus — entre eles os portugueses
como pioneiros na expansão marítima — não foi continente inteira-
mente submetido pela força (Costa e Silva, 2011). Quando lá chegaram,
os habitantes do velho continente não renunciaram à coerção, mas es-
tabeleceram, além disso, relações com os grupos locais que passaram a
providenciar a mão de obra cada vez mais demandada à medida que o
empreendimento colonial avançava. A escravidão africana era distinta
da explorada por europeus e seus descendentes nas Américas. Na África,
a escravidão permitia ao escravo preencher diferentes lugares sociais,
alguns com prestígio, como a chefia de exércitos. Além disso, se na África
a escravidão não se ligava à cor da pele, no novo mundo escravo tornou-
-se sinônimo de negro e o negro sinônimo de escravizado (Costa e Silva,
2011, p. 849). Foi só após a chegada do colono europeu que o trabalho
cativo na África se tornou comercial.
A formação do Brasil também se deu em relação ao continente
africano, apesar de isso ser fato pouco enfatizado ao longo de nossa
história. O Brasil também se formou no Atlântico Sul. As interpretações
do Brasil, em grande medida, foram construídas a partir do exterior, em
uma ação marcada pela incompletude (Alencastro, 2010). Por isso, os
grandes modelos explicativos do Brasil colonial, como afirma Manolo
Florentino (2014) na obra Em costas negras, não dão conta das intensas
e complexas relações entre Brasil e África.
Essas relações entre Brasil e África ultrapassavam o entendimento
clássico sobre um comércio triangular. Constituíam uma lógica própria
que vergava a política portuguesa no Atlântico. As carreiras reforçavam

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021 207
Oliveira, P.R.

o poder de certas aristocracias locais africanas e ampliavam a oferta


de escravos nos portos. Além disso, estimulavam o intercâmbio com a
África, contribuindo para fixar capitais e equipamentos de navegação
nesse setor e para diminuir os custos de transportes no Atlântico Sul
(Alencastro, 2010). Grande parte desse negócio de importação de gente
se internalizou e passou a ser feito por brasileiros, concentrados prin-
cipalmente na cidade do Rio de Janeiro, a partir de onde os africanos
desterrados eram redistribuídos para outras áreas da colônia portuguesa
(Fragoso, 1998).
O comércio do Rio de Janeiro e, consequentemente, do Sudeste fa-
zia-se em grande parte com outras áreas do Império lusitano ao final
do século XVIII e início do XIX. No contexto da especialização colonial, o
Rio de Janeiro importava a maior parte do que consumia de outras áreas
do Império, e não de Portugal. Formou-se, assim, uma economia colonial
tardia com uma elite residente no Rio de Janeiro, a qual transformou seu
porto no porto da América Latina (Florentino, 2014).
A partir do século XIX, no contexto da Revolução Industrial inglesa
e da mudança do tempo da economia mundial, o escravismo do Brasil
independente passou a ser questionado pela Inglaterra. Após décadas de
conflitos políticos, em 1850 o Brasil aboliu o tráfico escravista e, durante
esse mesmo século, a posição dos países ibéricos no continente africano
passou a ser questionada e substituída pelas potências da era industrial.
Não seria esse, contudo, o fim do escravismo no Brasil, o qual duraria
até 1888, constituindo com “ou sem remorsos, [...] o processo mais longo
e mais importante de nossa história” (Costa e Silva, 1994).
Os africanos aqui chegados, frutos da diáspora, da dispersão africana
pelo mundo, contribuíram com seus braços, mentes e corações para a
construção deste novo Estado, marcado profundamente pela amefrica-
nidade, da qual tratou Lélia Gonzales (1988). Persistiram, como laços
insolúveis, as relações entre os dois lados do Atlântico (ver Gilroy, 2012).
Por aqui, por anos e anos, por décadas que se prolongavam para aqueles
que sustentavam a riqueza sem ter seu quinhão, que prosseguiam sob

208 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021
A herança africana e a construção do Estado brasileiro

o julgo do cativeiro, deste lado do rio, continuava a se tecer no tear da


tragédia as estruturas excludentes que se desdobram até os nossos dias.2

A formação do Estado independente, a colonialidade e a


negação do outro

O processo de ruptura do Brasil com a sua condição colonial ocorreu


de forma específica dentro do contexto latino-americano. Após séculos
de colonização, já havia nas colônias portuguesas nas Américas grupos
sociais econômica e politicamente relevantes que se aproveitaram das
mudanças no contexto internacional para levar adiante o processo de
emancipação. É necessário dar destaque às mudanças políticas europeias,
as quais levaram ao avanço napoleônico sobre Portugal e ao deslocamento
do centro da monarquia portuguesa para o outro lado do Atlântico, com
a consequente abertura dos portos e a elevação do Brasil à condição
de Reino Unido a Portugal e Algarves. Tanto quanto isso é necessário
ressaltar o papel da Revolução Industrial inglesa, a qual constituiu um
novo momento para a economia mundial e ensejou o combate às práticas
mercantilistas que sustentavam o monopólio colonial, agora substituídas
pelo liberalismo econômico (Hobsbawm, 2010; Novais, 2005). Após a
derrota de Napoleão, o rei de Portugal, D. João VI, continuou no Brasil até
que, pressionado pela burguesia daquele país promotora da Revolução
Liberal do Porto em 1820, foi obrigado a retornar, deixando no comando
da ex-colônia seu filho, D. Pedro, o qual, se articulando a camadas da
elite brasileira, levou adiante o processo de independência, concretizado
simbolicamente em 7 de setembro de 1822.
A simples ruptura com Portugal não levou de forma automática à
formação de um Estado Nacional. Havia diferentes grupos que nos anos

Costa e Silva, na apresentação do livro Agudás, de Milton Gurán (2000), usa a expressão “te-
2

cer no tear da tragédia” para tratar da construção de um Atlântico de substrato negro pelas
relações entre Brasil e África.

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021 209
Oliveira, P.R.

seguintes a 1822 foram cooptados ou submetidos para que a lógica da


pátria — país-nação fosse superada. Dentro do panorama colonial, um
habitante de Pernambuco tinha como pátria a pernambucana, como
país o Brasil e como nação Portugal (Jancsó; Pimenta, 2000). Apesar
da construção e dos debates e embates intensos que se seguiram nas
próximas décadas, já no momento de concretização da ruptura colonial
a manutenção da escravidão serviu como fator agregador de diferentes
grupos regionais.
Foi, em grande medida, a elite escravocrata a que garantiu a indepen-
dência com um discurso que, ao mesmo tempo que defendia a liberdade,
agarrava-se às práticas escravocratas que alicerçavam a economia da
ex-colônia. Ao analisar a situação da economia brasileira no século XIX,
Celso Furtado (1963) destacou o atraso do Brasil no início do século XIX
por conta da influência do grupo. Florestan Fernandes (2011) apontou
a ação deste na construção da sociedade brasileira e sua obstrução da
constituição de uma ordem competitiva, que abriria espaço para a as-
censão de novos grupos sociais e econômicos.
A construção do Estado brasileiro se deu em conjunto com a expan-
são de uma civilização. Ao mesmo tempo que a elite agrária foi chamada
para o governo — sobretudo o grupo conhecido como Saquaremas, da
região de mesmo nome no Rio de Janeiro —, buscou-se colocar o Brasil
como constituinte do rol das nações civilizadas. Em outras palavras, o
Estado era construído pela elite agrária escravista cujos membros, ao
mesmo tempo que se mantinham como senhores de terras e homens,
defendiam a reprodução de uma civilização europeia nestas plagas, com
o transplante de um tipo de relações sociais e valores que não se origina-
ram no extra-Europa (Mattos, 2004). Como afirma Mattos (2004), nesse
processo deu-se a recunhagem da moeda colonial: na cara dessa moeda,
a metrópole foi substituída pelas nações vistas como civilizadas; na outra
face a coroa se impôs às regiões, em grande medida pela força, uma vez
que nos séculos de submissão a Portugal surgiram na colônia grupos
regionais que não se dobraram automaticamente à construção nacional

210 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021
A herança africana e a construção do Estado brasileiro

e resistiram a esse processo, como foi o caso dos pernambucanos (Melo,


2004). Houve, portanto, a criação de uma classe dirigente juntamente à
expansão de uma civilização. O processo se resumia em “Civilizar a fa-
mília patriarcal, construir a classe senhorial e conformar os brasileiros”
(Mattos, 2009, p. 36). Mais do que uma questão abstrata, o Estado no
Brasil conseguiu burocratizar a sociedade por meio de diferentes ações,
como a Guarda Nacional, a qual ficaria a cargo dessa classe dirigente
em construção (Uricoechea, 1978). A unidade de pensamento desta foi
forjada por um pequeno rol de centros de formação, vedados ao restante
da população (Carvalho, 1981). Brasileiros, a partir da construção do Es-
tado, seriam todos aqueles que tendo aderido à causa da independência
nas diferentes províncias do antigo Reino do Brasil também contribuíram
para a sua expansão “por todo o território que pertencia ao novo corpo
político”. Os escravizados, que em boa medida lutaram e se encontravam
no território, não eram considerados brasileiros (Mattos, 2009, p. 24-25).
Esta construção se torna mais clara se considerarmos alguns as-
pectos e desdobramentos da dominação colonial. Segundo Santiago
Castro-Gómez y Ramón Grosfoguel (2007, p. 13):

El concepto “decolonialidad” [...] resulta útil para trascender la suposición


de ciertos discursos académicos y políticos, según la cual, con el fin de
las administraciones coloniales y la formación de los Estados-nación en
la periferia, vivimos ahora en un mundo descolonizado y poscolonial.3

Setembro de 1822 não constitui uma ruptura para a maior parce-


la dos habitantes desta terra. Ao contrário, as linhas gerais do mundo
econômico e social continuaram a se desdobrar e reproduzir-se, em uma
sociedade periférica de um sistema que lhes foi imposto. A chegada

O conceito de “decolonialidade” [...] é útil para transcender o pressuposto de certos discursos


3

acadêmicos e políticos, segundo os quais, com o fim das administrações coloniais e a formação
dos Estados-nação na periferia, passamos a viver em um mundo descolonizado e pós-colonial
(tradução do autor).

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021 211
Oliveira, P.R.

europeia às Américas constituiu o desdobramento do mundo europeu


para esta região, não só com o desembarque de indivíduos, mas também
com o advento de um homem que reproduziu sua sociedade e impôs a
sua cosmologia: o homem branco, racista, machista e patriarcal. Não
foi, portanto, apenas o desdobramento de um sistema estritamente eco-
nômico, mas igualmente de um modo de reprodução da vida pautado
por construção social e epistemológica específica (Quijano; Wallerstein,
1992). O racismo resultante foi o alicerce da construção das economias
coloniais, seja nas colônias portuguesas com a exploração, sobretudo, do
africano escravizado, seja nas colônias espanholas ou de outros Estados
europeus com a inferiorização do indígena e a exploração de seu trabalho.
Foi este tipo social que aqui se reproduziu e construiu as nossas ins-
tituições que, já é possível notar, possuem a gênese racista e patriarcal.
Foram necessárias muita violência física e simbólica, muita imaginação
e capacidade de falseamento do processo social, para que esses grupos
fossem capazes de construir um país periférico e com a maior popula-
ção africana fora da África como o europeu. Foram necessários Caxias
e Jorge Velho4 para que essa construção fosse possível e incorporada de
uma forma heroica.
A chegada dos europeus ao solo americano foi fato fundador do
Sistema Colonial Moderno; foi aqui que os europeus desenvolveram
o padrão de dominação a ser estendido para todo o globo nos séculos
posteriores. Uma economia-mundo capitalista não existiria sem as Amé-
ricas (Quijano; Wallerstein, 1992, p. 583). Deste encontro emergiram a
etnicidade e o racismo que pautaram as relações no sistema dentro das
nações e entre elas.

Luís Alves de Lima e Silva, que foi contemplado com o título de Duque de Caxias pelo Império
4

brasileiro, foi um dos grandes responsáveis pela concretização territorial do Estado no Brasil,
agindo contra diferentes focos de levantes regionais e contra ameaças externas, como no caso
da Guerra do Paraguai. Domingos Jorge Velho, antes dele, foi responsável pelo ataque ao Qui-
lombo de Palmares, o qual desafiou a política metropolitana portuguesa e, por consequência,
o desdobramento e a concretização da sociedade ocidental de origem europeia onde mais tarde
seria o Brasil.

212 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021
A herança africana e a construção do Estado brasileiro

Um exemplo de como o racismo ultrapassou as instituições e se


tornou estrutural5 está em uma lei de 1831. Dentro do sistema mundial
capitalista, o surgimento de novos Estados nacionais dependia do reco-
nhecimento das nações centrais do sistema mundial. A Revolução Indus-
trial inglesa levantou uma barreira às práticas mercantilistas e forçou a
adoção do liberalismo; a abertura de mercados servia amplamente aos
países que aumentaram a sua produção com a mecanização. Por esse
principal motivo, houve uma grande pressão por parte da Inglaterra
para que o Brasil deixasse de utilizar a força de trabalho escravizada.
Nesse contexto, ao ter sua independência reconhecida pela maior potên-
cia mundial, o governo brasileiro comprometeu-se com o fim do tráfico
escravista. Obviamente, tal atitude iria de encontro ao interesse dos
grandes proprietários de terras brasileiros.
Buscando atenuar esse conflito, o governo brasileiro, em 1831,
sancionou a lei que tornava ilegal o tráfico escravista e declarava livre
qualquer escravizado que a partir daquela data desembarcasse em solo
nacional. Foi uma lei “para inglês ver”. A partir do momento em que o
Estado brasileiro não se movimentou para que essa lei fosse cumprida,
a partir da falta de fiscalização, ela se tornou letra-morta.
Tal debate em torno do tráfico escravista persistiu pelas décadas
seguintes, até que, em 1850, ainda por conta da pressão internacional, o
tráfico foi extinto por meio da Lei Eusébio de Queirós. Contudo, o escra-
vismo persistiu até 1888. O passo dado com a abolição do tráfico em 1850
foi acompanhado por outro que buscava defender as estruturas de poder
concretizadas: foi a Lei de Terras que, ao tornar a terra mercadoria, na
verdade fez dela cativa daqueles que podiam adquiri-la (Martins, 1979).
Desde então a terra, transformada em mercadoria, seria adquirida por

Para Silvio Almeida (2019, p. 50), o racismo é estrutural quando “é uma decorrência da pró-
5

pria estrutura social, ou seja, do modo ‘normal’ com que se constituem as relações políticas,
econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia social nem um desarranjo
institucional”.

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021 213
Oliveira, P.R.

aqueles que possuíssem meios para tanto, ou seja, principalmente pelos


que já a possuíam.
Ao tratar do lugar reservado ao negro na sociedade brasileira e ao
seu extermínio físico e epistemológico, Abdias do Nascimento (2019)
tratou desse processo em tom de denúncia, como genocídio. No século
XIX, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) foi uma das
instituições que serviram a esse genocídio. O IHGB foi criado em 1838,
sob a proteção do imperador D. Pedro II. Segundo Guimarães (1988), no
IHGB, Nação, Estado e Coroa apareciam como uma unidade no interior da
discussão historiográfica ligada à questão nacional e pretendia construí-
-la alicerçada na exaltação do Brasil como parte da civilização ocidental
cristã, buscando, ao mesmo tempo, sua especificidade neste concerto de
nações. Era uma produção amplamente feita e voltada para os grupos
dominantes, herdeira da tradição iluminista. A compreensão que ganha-
va vulto nas páginas da Revista do IHGB era da história como exemplo;
nesse intuito se dedicou à criação de biografias de grandes personagens
da construção nacional — nenhum deles negro. O negro era tratado como
impedimento ao processo civilizador e o indígena constava de maneira
idealizada, imbuído dos valores da elite brasileira. Destacavam-se entre
os temas principais da revista a problemática indígena, as viagens pelo
interior e os debates da história regional.6
Em meados do século XIX, com o Estado consolidado, a colonialidade
em seus diferentes aspectos se mostrava presente, com uma compreensão
de sociedade e de humanidade que excluía os não europeus ou aqueles

Ainda sobre o papel do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro como guardião da história
6

oficial, ver Schwarcz (1993). É interessante destacar que mesmo na literatura o indígena foi
incorporado como gênesis do Brasil, mesmo na pena dos autores escravocratas, como é o caso
de José de Alencar no livro Iracema. Sobre as relações entre literatura e Nação, é interessante
a crítica de Kwame Appiah no livro Na casa de meu pai (2010). A existência de uma relação
entre literatura e nação, além de esclarecer sobre os elementos considerados na construção
desta entidade, por si só desvela a reprodução de um processo que se pretende universal, ou
seja, significa a reprodução de uma cosmologia e de uma entre várias possibilidades de orga-
nização social. Sobre e a desnaturalização do Estado, ver Clastres (2013). Sobre esse mesmo
processo no continente africano, ver Belucci (2010).

214 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021
A herança africana e a construção do Estado brasileiro

que não possuíam a cor, as crenças ou a cultura europeia. Em 1o de


janeiro de 1852, entrou em vigor o Decreto Imperial de 18 de junho do
ano anterior que instituía o registro obrigatório de nascimentos e óbitos.
Outro decreto, datado do mesmo dia, previa um recenseamento geral do
Império que teria início em julho do mesmo ano. Como destacou Sidney
Chalhoub (2012), ao invés do início dos registros o que se assistiu foi a
um levante da população contra essas iniciativas. A causa do motim
residia no receio de que aquelas iniciativas se destinassem à escraviza-
ção “da gente de cor” (Chalhoub, 2012, p. 18). As autoridades do Império
conseguiram desvelar esse movimento, contudo, fica evidente o peso da
escravidão — e do racismo, acrescento — que, segundo Chalhoub (2012,
p. 28), tornava precária a experiência da liberdade.
Foram os pretos e os pardos pobres que se revoltaram compreenden-
do que o Estado Imperial, pouco após o fim do tráfico com a Lei Eusébio
de Queirós, pretendia escravizá-los, transformá-los em não pessoas ou,
nos parece, concretizar a sua posição como não pessoas, não humanos
e não cidadãos. A cor era determinante. No Ocidente, principalmente no
caso brasileiro, escravo era igual a negro e a recíproca, na compreen-
são de mundo colonizado, era verdadeira (Costa e Silva, 2002). Mesmo
nos engenhos, houve casos em que a divisão do trabalho respeitava a
gradação das cores que separava a população negra segundo o olhar do
branco, senhor de terras. As tarefas mais complexas e que sustentavam
uma posição mais elevada entre os escravizados eram reservadas aos
de pele mais clara (Schwartz, 1988).
O negro no Brasil, mesmo consideradas a diversidade cronológica e
geográfica e a amplitude de reações possíveis, quando buscava inserir-se
na sociedade brasileira só vislumbrava a possibilidade de sucesso caso
se tornasse social e culturalmente branco, abandonando sua herança
africana. Só assim seria aceito socialmente e amenizaria o medo e o
racismo com que era encarado pelos brancos, mesmo pobres (Mattoso,
2016, p. 242). Abdias do Nascimento destacou essa situação em diferentes
momentos de sua obra. No documento 5 do livro O quilombismo, tratou
de personalidades brasileiras que, ao serem incorporadas socialmente ou

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021 215
Oliveira, P.R.

a buscar ascensão, tornaram-se socialmente brancas (Nascimento, 2019).


Essa foi uma das formas como ocorreu no momento de concretização do
Estado brasileiro o genocídio do negro brasileiro, por uma ação social,
simbólica, física e jurídica que se tornou estrutural em nossa sociedade.
O grande mérito de Abdias do Nascimento, além de sua militância
artística e política, foi conseguir conceber, ainda em meados do século
passado, quando a discussão acadêmica sobre o Brasil na diáspora afri-
cana engatinhava, a questão do negro brasileiro vinculada à questão do
negro no Ocidente.7 Em grande medida a situação do negro no Brasil,
mesmo considerada a sua especificidade, não difere da do negro no
Ocidente, em um contexto construído ao longo de séculos e que deixou
estruturas que se reproduzem no mundo contemporâneo. É a isso que
Grada Kilomba (2019) se refere ao tratar do racismo reiterado e sobre o
silenciamento pelo qual a população negra foi submetida no Ocidente.
Tal silenciamento e violência epistemológica denunciada por Grada Kilom-
ba talvez expliquem a ausência de Abdias do Nascimento de grande parte
da reconhecida bibliografia acadêmica sobre o negro no Brasil. Podem-se
apontar imprecisões e não objetividade em parte de seus argumentos.
Mas não há uma única análise que passe ilesa, sem crítica, mesmo pelo
crivo da academia ocidental e sob o peso esmagador da colonialidade do
saber (Castro-Gómez, 2005).8
Por último, é necessário destacar que a raça como elemento “científi-
co” e o racismo que deriva dessa leitura de mundo não existiam antes da
segunda metade do século XIX, sobretudo no Brasil, onde essas discussões
passaram a ser incorporadas e traduzidas para a nossa realidade com

Sobre essa compreensão, é interessante registrar a crítica de Appiah (2010, p. 96) segundo a
7

qual a ideia de África, por si só, quando racializada e levada para além dos aspectos geográficos,
apresenta-se como fruto do racialismo europeu.
A colonialidade do saber diz respeito à maneira como, no Ocidente, foi imposta uma concepção
8

de conhecimento que se torna padrão e se sobrepõe a outras maneiras que passam a ser desle-
gitimadas. Certamente, para utilizar uma terminologia de Pierre Bourdieu, o campo acadêmico
foi construído com esses pilares e reproduz, em grande medida, a legitimação de um saber
europeu e a deslegitimação de outras formas de falar sobre o mundo ou concebê-lo.

216 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021
A herança africana e a construção do Estado brasileiro

maior recorrência nas últimas décadas do período imperial (Schwarcz,


1993); apesar disso, como desvela a literatura decolonial, o racismo, mes-
mo antes de sua sistematização científica, esteve na gênese da cosmo-
visão formadora das sociedades ocidentais europeizadas. Como afirmou
Fernand Braudel (1972), passado e presente iluminam-se mutuamente.
Dessa forma, partimos de questões que são nossas quando nos dirigimos
ao passado. Enquanto este artigo é escrito, há uma onda de manifestações
nos EUA contra o racismo estrutural naquele país. Essas manifestações se
tornaram globais e jogaram luzes sobre o racismo estrutural no Brasil e
no Ocidente. Se antes do final do século XIX não existia a compreensão
de raça do racismo científico, desde o início da era moderna, há a subju-
gação do outro que se baseia na cor da pele e na ideia de superioridade
branca europeia. Não é, por isso tudo, exagero afirmar que as ideias do
século XIX deram uma nova roupagem e atualizaram o argumento que
sustentava as relações sociais no Ocidente com relação aos não brancos.

Considerações finais: a formação do Estado,


a colonialidade e resistência

Antônio Bispo dos Santos (2019), quilombola autodidata, empreen-


deu uma boa análise sobre o Brasil e, de certa forma, sobre aspectos
ligados à formação do nosso Estado. Em sua obra, os colonizadores são
os invasores, aqueles que perpetuam a violência e a exploração. O qui-
lombo é a resistência contracolonizadora. Para ele, o Estado corporifica
uma estrutura que perpassa as diferentes temporalidades, que sustenta
e dissemina uma cosmovisão europeia que procura se impor às demais
interpretações de mundo. Apesar disso há a resistência e, em alguns mo-
mentos, o quilombo assalta o Estado (Santos, 2019).9 No Brasil, o Estado,

É importante destacar que mesmo a centralização política, mesmo aquela que não cria um
9

Estado como o inventado pelos europeus, não pode ser naturalizada. Para isso, é relevante a
obra de Pierre Clastres A sociedade contra o Estado (2013).

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021 217
Oliveira, P.R.

formado principalmente sob a gerência e a ação da elite agrária, contou


com os braços escravizados para a geração da riqueza que garantiam
a criação e sustentavam as suas estruturas, ao mesmo tempo que, de
maneira deliberada, criou aparatos que excluíam os negros dos lugares
sociais que não o de escravizado, por meio da constituição de instituições
que propagavam a colonialidade — em outras palavras, que buscavam
legitimar a exclusão e o extermínio epistemológico e físico da população
negra; este último, limitado pela necessidade de utilização de seus braços.
Achille Mbembe descreveu a plantation como um Estado de exceção. O
escravizado era concebido como coisa possuída por outra pessoa, “sua
existência é a sombra perfeita de uma existência personificada” (Mbem-
be, 2020, p. 27). A condição de escravo, em suas palavras, resultava em
uma tripla perda: perda de um lar, do direito sobre seu corpo e perda do
estatuto político. Foi esse possuidor, o homem da boa sociedade, que se
colocou como construtor do Estado. A classe dirigente do Estado Brasileiro
repousa sobre essa gênese. Destarte, como também colocou Mbembe, o
escravo desenvolveu pontos de vista diferentes sobre o tempo, o trabalho
e si mesmo (Mbembe, 2020, p. 30). Houve resistência.
Mesmo antes da formação do Estado brasileiro, o quilombo se
levantou; diferentes formas de resistência e de reafirmação tiveram
lugar, como em Palmares. A formação de quilombos e a constituição
destes como espaços de resistência e de reafirmação da existência per-
sistiram, criminalizados, ao longo do século XIX (Moura, 2019). Houve a
resistência ao genocídio denunciado por Abdias do Nascimento. Houve
Malês, Carrancas.10 Ao mesmo tempo, houve quem recorresse à Lei
buscando a concretização de um direito negado (Ferreira, 2011). Houve
a reprodução das nações africanas em território brasileiro (Costa e Silva,
1994), a formação de famílias que, se atendiam ao clamor dos senhores por
pacificação, traziam ao cativo de volta parte de sua humanidade (Motta,

10
Tanto a Revolta dos Malês quanto a de Carrancas, apesar de ocorridas em regiões diferentes,
foram importantes demonstrações de resistência dos escravizados frente aos processos colo-
nizadores.

218 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021
A herança africana e a construção do Estado brasileiro

1999). Nos centros urbanos, houve aqueles que se levantaram contra os


seus senhores calcados em uma concepção de direito que não emanava
do Estado, mas de sua compreensão de que não poderiam ser vendidos
para as fazendas de café, onde a lida era ainda mais extenuante, ou não
se curvavam aos castigos considerados injustos por eles (Chalhoub, 1990).
Na segunda metade do século XIX, a obra saquarema estava con-
cluída. Não foi o suficiente para que as contestações cessassem. Naquele
momento, o movimento abolicionista questionou a principal base dos
construtores do Estado Nacional: a escravatura. Na discussão acadêmica
há quem defenda que foi a mudança no sistema capitalista que levou ao
final da escravatura no Brasil (Marquese, 2016). Contudo, há que se ques-
tionar o timing dessas interpretações. O que garante que as mudanças
no sistema capitalista, mesmo que determinantes, teriam alcançado o
Brasil em 1888? Parece-nos que, apesar da mudança do cenário inter-
nacional, a articulação e a luta abolicionista foram determinantes para
os resultados alcançados quando foram alcançados.
Como consequência do movimento abolicionista houve, entre outras,
a Lei do Ventre Livre de 1871. Apesar dessa Lei, no que diz respeito ao
fato de a libertação dos filhos de cativos trazer uma série de entraves,
dentro dela há o dispositivo que de maneira determinante contribuiu para
o desfecho alcançado; a partir dela, o cativo teria o direito de comprar a
própria liberdade, caso apresentasse ao seu senhor a quantia de dinheiro
correspondente ao seu valor de mercado. A partir de então, e isso é de
grande relevância, o Estado não mais garantia a posição dos senhores,
os quais naquele momento poderiam ver-se obrigados a libertar os seus
cativos mesmo contra a sua vontade (Chalhoub, 1990). Aquela década,
com outros acontecimentos como o desfecho da Guerra do Paraguai e
o Manifesto Republicano, marcou o fim da hegemonia saquarema11 e a
desagregação que levaria ao fim do período imperial.

Os Saquaremas foram o grupo conservador, liderados por grandes cafeicultores do Rio de


11

Janeiro, que sustentou e liderou o pacto político de formação do Estado brasileiro até a década
de 1870. Ver Mattos (2004).

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021 219
Oliveira, P.R.

O 13 de maio de 1888, como a culminação de um movimento social


que articulou diferentes grupos em torno da causa da abolição (Alonso,
2015) — entre eles os homens livres que também não encontravam pa-
pel na estrutura imperial, a chamada arraia miúda (Machado, 2010) —,
significou importante etapa na luta da população negra brasileira. Não
foi, apesar disso, o fim; não se alcançou a superação do racismo ou a
democratização ampla das estruturas de Estado. O golpe republicano
significaria uma rearticulação das elites que mais uma vez buscariam
a integração a uma ordem internacional como nação civilizada e branca,
apostando na miscigenação via trabalhador europeu que, em sua visão,
em poucas décadas acabaria com a herança africana.

Referências
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul,
séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

ALONSO, Angela. Flores, votos e balas: o movimento abolicionista brasileiro (1866-88).


São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

APPIAH, Kwame. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Tradução: Vera
Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2010. BELLUCCI, Beluce. O Estado na África. Revista
Tempo do Mundo, v. 2, n. 3, p. 90-43, 2010.

BRAUDEL, Fernand. História e ciências sociais. Tradução: Carlos Braga e Inácio Canelas.
Lisboa: Presença, 1972.

CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Brasília:
Editora UnB, 1981.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago. Ciências sociais, violência epistêmica e o problema da


‘invenção do outro’. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo
e ciências sociais, perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2005.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón. Prólogo. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago;


GROSFOGUEL, Ramón.  El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica
más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central,
Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana,
Instituto Pensar, 2007.

220 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021
A herança africana e a construção do Estado brasileiro

CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão
na corte. São Paulo: Companhia das letras, 1990.

CHALHOUB, Sidney. A força da escravidão: ilegalidade e costume no Brasil oitocentista.


São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. São


Paulo: Cosac & Naify, 2013.

COSTA E SILVA, Alberto da. Brasil e África no século XIX. Estudos Avançados, São Paulo,
v. 8, n. 21, 1994.

COSTA E SILVA, Alberto da. A manilha e o libambo: a África e a escravidão, de 1500 a


1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

COSTA E SILVA, Alberto da. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. São


Paulo: Globo, 2012.

FERNANDES, Florestan.  A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação


sociológica. São Paulo: Globo, 2011.

FERREIRA, Ligia Maria. Com a palavra Luiz Gama. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado
de São Paulo, 2011.

FLORENTINO, Manolo. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a


África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX). São Paulo: Fundação Editora Unesp, 2014.

FRAGOSO, João Luís Ribeiro. Homens de grossa aventura: acumulação e hierarquia na


praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime
da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2011.

FREYRE, Gilberto. Sobrados e mocambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento


do urbano. São Paulo: Global, 2016.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Brasília: Editora UnB, 1963.

GILROY, Paul. O Atlântico negro. Tradução: Cid Knipel Moreira. São Paulo: Editora 34, 2012.

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural da amefricanidade. Tempo Brasileiro, Rio


de Janeiro, n. 92/93, p. 69-82, jan./jun. 1988.

GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacional. Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, n. 1, p. 5-27, 1988.

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021 221
Oliveira, P.R.

GURÁN, Milton. Agudás: os “brasileiros” do Benim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

HOBSBAWM, Eric John. A era das revoluções: 1789-1848. Tradução: Maria Tereza Lopes
Teixeira e Marcos Penchel. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

JANCSÓ, István; PIMENTA, João Paulo G. Peças de um mosaico (ou apontamentos para o
estudo da emergência da identidade brasileira). In: MOTTA, Carlos Guilherme. A viagem
incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro:


Cabogó, 2019.

MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. O plano e o pânico: os movimentos sociais na


década da abolição. São Paulo: Edusp, 2010.

MARQUESE, Rafael; SALES, Ricardo (org.). Escravidão e capitalismo histórico no século


XIX: Cuba, Brasil e Estados Unidos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.

MARTINS, José de Souza. O cativeiro da terra. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.

MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo Saquarema: a formação do Estado imperial. São
Paulo: Hucitec, 2004.

MATTOS, Ilmar Rohloff de. O gigante e o espelho. In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo
(org.). O Brasil Imperial (1831-1870). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. v. 2.

MATTOSO, Kátia M. Queirós. Ser escravo no Brasil: séculos XVI-XIX. Tradução: Sonia
Furhmann. Petrópolis: Vozes, 2016.

MBEMBE, Achile. Necropolítica. Biopoder, soberania, estado de exceção, política de morte.


São Paulo: N-1 Edições, 2020.

MELO, Evaldo Cabral de. Uma outra independência: o federalismo pernambucano de 1817
a 1824. São Paulo: Editora 34, 2004.

MOTTA, José Flávio. Corpos escravos, vontades livres: posse de cativos e família escrava
em Bananal (1801-1829). São Paulo: AnnaBlume, 1999.

MOURA, Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Perspectiva, 2019.

NASCIMENTO, Abdias do. O quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista.


São Paulo: Perspectiva; Rio de Janeiro: IPEAFRO, 2019.

NOVAIS, Fernando Antonio. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-
1808). São Paulo: Hucitec, 2005.

PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1967.

QUIJANO, Aníbal; WALLERSTEIN, Immanuel. La americanidad como concepto, o América


en el moderno sistema mundial. RICS 134, dic. 1992.

222 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021
A herança africana e a construção do Estado brasileiro

SANTOS, Antonio Bispo dos. Colonização, quilombos: modos e significados. Brasília:


Associação de Ciências e Saberes para o Etnodesenvolvimento AYO, 2019.

SCHWARCZ, Lilia Mortiz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial
no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial —


1550-1835. Tradução: Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

URICOECHEA, Fernando. O minotauro imperial: a burocratização do Estado patrimonial


brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro: Difel, 1978.

Sobre o autor
Paulo Roberto de Oliveira – Doutor em História Econômica; docente do
Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Ouro Preto
(UFOP) e do Programa de Pós-graduação em História da mesma universidade. Tutor
do PET — Economia/Conexão de Saberes.
E-mail: [email protected]

Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos de licença Creative Commons.

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 141, p. 204-223, maio/ago. 2021 223

Você também pode gostar