Filosofia
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Iº Trabalho
Ano de frequência: 1º
Turma: N.
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Índice
Introdução ................................................................................................................................... 5
Objectivos ................................................................................................................................... 5
Conclusão ................................................................................................................................. 14
Objectivos
Gerais
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Analisar a concepção da pessoa humana sob as lentes da filosofia e da ética,
destacando sua importância e relevância para a compreensão do ser humano na
sociedade.
Específicos
Metodologia do Trabalho
Para a elaboração do presente trabalho recorreu-se ao método bibliográfico, pois fez-se o uso
de livros, módulos, manuais e artigos que constituiu na concretização do trabalho final.
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Pessoa e ser: distinções e complementariedade
Segundo Aquino, S. Th., I, (q.29, a.3) as noções de pessoa e ser estão, de fato, profundamente
interligadas. O ser pessoal é o mais alto modo de ser, a mais perfeita expressão do que
significa ser. Tomás de Aquino já afirmava em sua Suma Teológica: “Pessoa significa o que
há de mais perfeito em toda natureza, a saber, o que subsiste em uma natureza racional”.
Muitas vezes a pessoa é tratada como um modo especial de ser, contudo, pessoa não é algo
acrescentado ao ser, com uma delimitação especial, “é simplesmente o ser, em sua plenitude,
livre das constrições da matéria sub inteligente” (cf. Clarke, Person, Being and St. Thomas, p.
601).
Em seus artigos Person, Being and St. Thomas (Pessoa, Ser e São Tomás) e Person and
Being (Pessoa e Ser), Clarke deixa claro seu objetivo sobre os conceitos de pessoa e ser:
chegar ao chamado por ele, “resgate criativo” (cf. Clarke, Person, Being and St. Thomas, p.
601; Person and Being, p.1) acerca do pensamento de Tomás de Aquino, especialmente no
que tange a pessoa humana. Como um tomista fervoroso ele defende que Tomás de Aquino
teria uma noção explícita do que viria a ser o “ser” 27 (esse), o seu significado e, além disso,
o consideraria intrinsicamente auto-comunicativo e relacional através da ação (agere).
Tal preocupação em trazer tais explicações exigiu uma distinção entre pessoa e natureza, e
como resultado, a dimensão auto-comunicativa da pessoa e seu aspecto relacional foram
deixados de lado. E, embora os conceitos de pessoa e natureza estivessem prontos para serem
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reunidos, Tomás de Aquino não o fez. Porém, apesar de Tomás e os demais escolásticos não
terem desenvolvido esse aspecto relacional para a noção de pessoa humana, o desenvolveram
para a explicação teológica de Trindade. Assim, a tematização filosófica explícita da
dimensão relacional e interpessoal da pessoa humana teve de esperar até os existencialistas e
fenomenólogos do século XX para terem seu pleno desenvolvimento sistemático. Somos
confrontados, por um lado, com uma rica, mas velha tradição metafísica da pessoa que deixou
a dimensão relacional subdesenvolvida e, por outro lado, com uma tradição fenomenológica
mais recente que tem muito desenvolvido o aspecto relacional, mas perdeu seu fundamento
metafísico.
Clarke tem como objetivo fazer para a metafísica tomista aquilo que o próprio Tomás de
Aquino poderia ter feito, mas por diversas razões não o fez. O seu intuito é unir a noção
dinâmica de ser à noção de pessoa, já enraizada por Tomás de Aquino no ato de existência, ou
seja, “trazer para o caráter intrinsicamente claro da pessoa como o mais alto modo de ser.
Pessoa e ser são, em certo sentido, os paradigmas de cada um” (cf. Clarke, Person, Being and
St. Thomas, p. 603).
Para ele urge a “integração criativa” destas duas linhas importantes, mas incompletas de
pensamento em uma filosofia mais completa e bem delineada da pessoa. O que eu espero
fazer é dar início a esta integração enxertando a dimensão relacional, auto-comunicativa da
pessoa diretamente à metafísica tomista de ser como existencial, ato auto-comunicativo, 28
mostrando como esta dimensão já está, desde o princípio, implícita aí.
Ao definir a pessoa humana, Clarke aplica ao conceito de pessoa a dinâmica própria da noção
de auto-comunicação do ser. Para Tomás de Aquino, a pessoa é “aquilo que há de mais
perfeito em toda a natureza” (AQUINO, S. Th., I, q.29, a.3), mas não é um modo especial de
ser, como se fosse algo adicionado de fora. A pessoa é a plenitude do ser em si, a existência
do próprio ser, aquilo que é plenamente por natureza, quando não restrita pelas limitações
próprias do modo ser. Ou seja, “quando se é permitido ser plenamente “si mesmo” como
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presença ativa, decorre então que a pessoa tranforma-se em auto-presença luminosa e auto-
controle, ou seja, a auto-consciência na ordem do conhecimento e da auto-determinação da
ordem da ação” (cf. CLARKE, Person and Being, p.25).
Para se compreender o que o termo pessoa significa precisamente para Tomás de Aquino, é
preciso antes perpassar a longa história que se desenvolveu acerca do termo. Como visto
anteriormente, o termo começa a aparecer, como uma distinção, a partir do direito romano.
Neste período, a distinção é social e jurídica, pois ser “pessoa” significa ser um ser humano
com plenos direitos legais como cidadão romano, como distinguido de escravos, que eram na
verdade seres humanos, mas não pessoas. Embora neste período se exigisse tal distinção, o
termo toma contornos mais evidentes a partir da pressão mais urgente vinda dos teólogos
cristãos para explicar mais precisamente as duas doutrinas cristãs centrais de Deus como
Trindade e da Encarnação. Assim, a distinção entre pessoa e natureza teve de assumir um
significado não mais somente social ou legal, mas a partir de então ontológico, ou seja, na
ordem do próprio ser.
Para Clarke, em termos de sua doutrina metafísica central, da distinção entre essência (ou
natureza) e o ato de existir, de Tomás de Aquino foi capaz de dar uma explicação mais
elegante e precisa da distinção entre pessoa e natureza do que as dos outros pensadores
escolásticos. Para ele, para ser uma pessoa, não basta que se possua um intelecto completo e
individual natural, o qual era um requisito essencial, de acordo com a clássica definição de
Boécio, que diz que a pessoa “é uma substância individual de natureza racional” (BOÉCIO,
apud CLARKE, Person and Being, p.27).
Para ser uma pessoa em seu próprio direito, tal natureza teria que possuir o seu próprio ato de
existência (esse). Assim, a natureza humana de Cristo, apesar de uma natureza humana
completa, assim como a nossa, não era uma pessoa humana, porque tal natureza foi
apropriada por uma pessoa divina (o Filho ou o Verbo de Deus), que por sua vez é
tecnicamente chamada de união hipostática (i.e., pessoal): União de Deus e do homem. “Desta
forma, para Tomás de Aquino, a pessoa poderia ser definida como ‘uma natureza intelectual
que possui seu próprio ato de existência, para que ela seja fonte responsável auto-consciente
de suas próprias ações’” (CLARKE, Person and Being, p.27). Assim, talvez esta seja uma das
melhores descrições de pessoa já dada, uma pessoa é dominus sui, ou seja, mestre de si
mesma, auto-possuidora (na ordem do conhecimento de sua própria consciência, na ordem da
vontade e da ação pela autodeterminação ou livre-arbítrio).
A definição citada acima, “uma natureza intelectual que possui seu próprio ato de existência”
é de fato, de longe, uma expressão acurada do pensamento de Tomás de Aquino. Mas ela
possui uma deficiência: não faz justiça à totalidade da riqueza da metafísica e originalidade de
sua doutrina da existência como ato central e núcleo de toda perfeição num ser real. “De
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acordo com a interpretação que hoje em dia é usualmente aceita acerca do ‘existencialismo
Tomista’ (desde Gilson, De Finance, etc), o ato da existência não é mera atualização de fora,
por assim dizer, das perfeições de algumas formas já presentes potencialmente na essência em
seu próprio direito, mas sim todo núcleo positivo e conteúdo de toda a perfeição que se
atualiza na essência” (CLARKE, Person and Being, p.28). Assim, a essência (em um ser finito
e criado) é somente uma limitação particular do modo de existência, que comprime a
plenitude abrangente da perfeição que é a própria existência em si mesma sob alguma
participação determinada e limitada. Desta forma, qualquer ser finito é realmente um ato de
existência limitado, existindo agora como um completo e distinto de todos os outros seres
reais. Uma vez essa completude seja constituída, pode-se falar então da essência existente ou
natureza como um sujeito existente ou um possuidor do seu próprio ato de existência, desde
que este não obscureça o fato de que toda perfeição positiva deste sujeito flui para ele a partir
do seu ato de existência.
Clarke então afirma que talvez uma definição mais adequada para o conceito de pessoa em
Tomás de Aquino seja essa: “pessoa é um existente real (isto é, com seu próprio ato de
existência), diferente de todos os outros, possuindo natureza intelectual, de modo que ele pode
ser auto-consciente, fonte responsável de seus próprios atos” (CLARKE, Person and Being, p.
29).
A pessoa humana seria um existente real, distinta de todas as outras, possuindo apenas a
natureza humana intelectual. Isso é muito próximo, quase uma tradução de uma das definições
favoritas de pessoa de Tomás: subsistens distictum in natura rationali (a subsistente e distinta
em uma natureza racional). Aqui, ele ultrapassa claramente a fórmula clássica de Boécio,
“uma substância individual de natureza racional”, pois “‘subsistente’ para Tomás significa um
existente real, existente em si (na forma de substância) com seu próprio ato de existência”
(CLARKE, Person and Being, p.29).
Clarke afirma que a vantagem de trabalhar a partir desta segunda definição, onde a ênfase
esta no ato de existência como central ao invés da natureza é que se toda a perfeição do ser de
uma pessoa vem do ato existência, proporcionado é claro por sua natureza, então pode-se
transferir todos os atributos característicos da própria existência sobre a pessoa como tal, onde
são encontrados elevados graus de intensidade. Além disso, Clarke destaca que nenhuma das
duas definições de pessoa, dadas acima ocorre de forma completa em qualquer texto de
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Tomás de Aquino. Contudo, ele deliberadamente combina as duas perspectivas: metafísica e
antropológica.
A primeira parte de cada definição, por exemplo, “uma distinta existência possuindo uma
natureza intelectual”, expressa a fundação-estrutura metafísica da pessoa; a segunda parte, por
exemplo, “a auto-consciência, fonte responsável por suas próprias ações”, ou “auto-domínio”,
expressa a manifestação desta constituição ontológica em ordem da atividade, e é encontrada
principalmente nos vários tratados sobre a natureza humana e ética (CLARKE, Person and
Being, p.30). Ele faz tal sobreposição para evidenciar que, a maioria dos filósofos posteriores
a Tomás de Aquino estão mais preocupados com as manifestações fenomenológicas da
personalidade nos seres humanos, do que com as raízes metafísicas. Isso quer dizer que a
maioria dos filósofos modernos e contemporâneos que se aprofundam no estudo do conceito
de pessoa, leva como significado da mesma, um ser que é a “fonte responsável e auto-
consciente” de suas próprias ações.
Segundo Clarke, Tomás de Aquino leva em conta essa perspectiva, mas prefere penetrar mais
profundamente as raízes metafísicas deste autodomínio. Como síntese das duas perspectivas,
cita o conceito de pessoa, encontrado no artigo “Pessoa” de Max Müller e Alois Halder, que
por sua vez consta na enciclopédia teológica Sacramentum Mundi, editada por Karl Rahner e
seu time de colaboradores: Pessoa não significa “essência” ou “natureza”, mas a única
realidade real de um ser espiritual, um todo indivisível que existe independentemente e não
intercambiável com qualquer outro... a realidade de um ser que pertence a si mesmo e,
portanto, seu próprio fim em si mesmo. É a forma concreta tomada pela liberdade de um ser
espiritual, no qual se baseia a sua dignidade inviolável. (MÜLER e HALDER, apud
CLARKE, Person and Being, p. 31).
Quanto à estrutura da natureza humana, pode-se dizer que a pessoa humana é um ser pessoal
que possui uma natureza intelectual integrada a uma unidade natural com um corpo material.
Aristóteles definiu esta unidade chamada “homem” como “um animal racional”. Tomás de
Aquino concorda com tal definição e a usa diversas vezes, contudo, para ele, uma descrição
mais aprofundada e precisa em termos da sua própria visão total de homem seria de “espírito
incorporado” (cf. CLARKE, Person and Being, p.32). Assim, desenvolvem-se duas
perspectivas contraditórias: o homem ser “animal racional” significa que possui o mais alto
lugar em relação aos demais animais, e a partir deste mundo material toma sua experiência
como quadro de referência e se “move para cima”. Por outro lado, dizer que o homem é
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“espírito incorporado” significa que o lugar do homem, numa visão total da hierarquia do ser,
olhando para baixo a partir de Deus, estaria no lugar mais baixo dos espíritos. Assim, Tomás
conclui que o destino do homem é fazer então o caminho de volta a Deus, por uma viagem
através do mundo material, vindo a conhecer e trabalhar com este mundo através da mediação
de seu corpo multi-detectado.
Segundo Tomás de Aquino este processo filosófico real de descoberta da natureza do ser
humano segue o caminho aristotélico de movimento das atividades características manifestas
da criatura que reconhecemos como humana. E, para tal análise do ser humano como pessoa,
Tomás de Aquino toma os seguintes pontos:
1) Uma natureza humana individual é uma unidade natural de corpo e alma intelectual, cada
um complementar ao outro (...). A alma humana e corpo formam, assim, uma única natureza
existente unificada. Mas porque a alma possui o seu próprio ato espiritual da existência de
direito próprio como espírito, ele pode manter essa existência, mesmo quando separado de seu
parceiro corpo no momento da morte, embora ele sempre mantenha a sua orientação
intrínseca para este corpo e vai se juntar a ele pela última vez na ressurreição final do corpo.
2) A vontade humana, como faculdade de ação que flui de sua natureza intelectual da alma,
também é uma faculdade espiritual como o intelecto. E precisamente porque, como espírito, é
necessariamente orientada para nada menos do que o Infinito Bem como único adequado
cumprimento. Nenhum bem finito pode comandar sua adesão por necessidade, e é livre de
escolher o seu próprio caminho em direção ao infinito entre todos os bens finitos, até mesmo
de escolher de forma consciente outros bens aparentes bons ao invés do autêntico Bem através
da autoinduzida ou culposa "ignorância".
4) O ser humano, por causa de sua dupla natureza de espírito incorporado, espírito apegado à
matéria, torna-se de fato um "microcosmo", como os antigos colocavam-no: isto é, uma
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síntese de todo o universo. Por seu corpo, ele afunda suas raízes profundamente ao cosmo
material, o que proporciona a entrada inicial de seu pensamento e de ação nesta vida para sua
jornada em direção à auto-realização. Mas pela alma espiritual, ele se eleva acima da
dispersão do espaço e do tempo para viver no horizonte espiritual de significados e valores
supra-primeiros, e volta suas atenções para o Infinito e Eterno.
5) Esta jornada humana deve ser social, em comunidade com os outros seres humanos. Os
seres humanos são intrinsecamente de natureza social, não só por causa da dependência mútua
e de complementaridade, mas também porque é natural para nós " ter prazer na convivência
com outros seres humanos", como Tomás de Aquino diz. Agora reunidos todos os elementos
citados acima da análise da natureza humana, com seus componentes tomistas e
contemporâneos clássicos, pode-se ampliar a descrição anterior da natureza humana da
seguinte forma: um ser humano é por natureza um espírito encarnado finito, em busca de
Infinito, na solidariedade social para com seus companheiros seres humanos, em uma viagem
histórica através deste cosmos material até seu objetivo final transmundano (CLARKE,
Person and Being, p. 41).
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Conclusão
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Referências Bibliográficas
Aquino, T (2009). Suma Teológica. Volume 1 – Parte I – Questões 1-43. 3ed. Edições
Clarke, W. Person and Being (2004). The Aquinas Lecture. 5ed. Marquette University
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