Mulheres Na Antiguidade Tardia.
Mulheres Na Antiguidade Tardia.
Mulheres Na Antiguidade Tardia.
º 4, 2013
Introdução
A segunda metade do século III é, tradicionalmente, considerada
como um momento de agudas transformações do Império Romano, pro-
duzindo-se com rapidez alterações de natureza econômica, religiosa e
política, o que proporcionou o surgimento de conflitos sociais que termi-
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Graduando do curso de História da Universidade Federal do Espírito Santo.
Membro do Laboratório de Estudos sobre o Império Romano (LEIR) e do grupo
de pesquisa em História de Roma da UFES. Atua na linha de pesquisa: “História
social do Baixo Império Romano”, e no projeto “Cidade, corpo e poder no Impé-
rio Romano”, sob orientação do prof. Dr. Gilvan Ventura da Silva. Atualmente,
desenvolve o subprojeto intitulado: “Pobreza, caridade e liderança feminina na
Antiguidade Tardia: o diaconato de Olímpia em Constantinopla”. Contato: jo-
[email protected].
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bem resistir, existir, construir seus poderes” (Perrot, 1993: 166). De acor-
do com a autora, não podemos generalizar o status feminino, devemos
compreendê-lo em suas variadas facetas e identidades. No entanto, com-
preender a identidade feminina como uma multiplicidade dinâmica de
papéis sociais exige da análise historiográfica a visibilidade dos diversos
contextos que possibilitaram a construção do lugar feminino ao longo do
tempo (Caixeta, 2004).
Podemos perceber, ao analisarmos a História Social das Mulheres e
a produção teórica sobre os estudos de gênero, que não existe um tipo
único, mas representações variadas das mulheres em cada espaço-tempo.
Muitas vezes essas distintas representações se articulam, assinalando uma
identidade feminina contraditória, complexa e dinâmica, como a mulher
no lar, no trabalho, nos contextos de sociabilidade, no exercício de sua
sexualidade e de atividades religiosas (Condilo, 2009). Não nos prenden-
do aos diversos conceitos de identidade existentes, partimos do pressupos-
to de que a identidade feminina pode ser aquilo o que se diz e aquilo que
se reconhece como características pertencentes às mulheres de determina-
do período.
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A este modo rolo de papiro se dava o nome de volumem.
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Sobre a cidade de Constantinopla, seu contexto, bem como a sua reforma e a da
Igreja, mediante as críticas de João Crisóstomo, consultar os trabalhos de Gilvan
Ventura da Silva: Um bispo para além da crise: João Crisóstomo e a reforma da
Igreja de Constantinopla (2010) e O sentido político da prédica cristão no Impé-
rio Romano: João Crisóstomo e a reforma da Cidade Antiga (2010a).
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A Lei Ópia, adotada durante a II Guerra Púnica (218 - 201 a.C.), impunha uma
série de restrições às mulheres romanas, dentre as quais se encontram: o limite à
posse de quantidade de ouro pela e a proibição do luxo no vestir (Bustamante,
2007: 3).
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A Lei Vocônia proibia a instituição de uma mulher como herdeira, embora fosse
filha única, casada ou não. Proibia também legar as mulheres mais da metade do
patrimônio.
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O culto de Ísis pregava a igualdade dos sexos e a liberação para o amor. O que
justifica as relações amorosas entre mulheres e poetas, como Cíntia e Propercio e
Délia e Tibullo, que tinham se tornado adeptas ao culto (Achard, 1995: 62).
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Considerações finais
Nossa tentativa, no momento, foi a de visualizar as mulheres roma-
nas como sujeito social, bem como sua atuação com percursos próprios,
agindo ou reagindo conforme os fatos históricos vão se construindo. No
entanto, como ressaltamos, a despeito das inúmeras pesquisas, disserta-
ções e teses, ainda sofremos com a escassez de fontes que nos dêem aces-
so ao pensamento das mulheres e não ao pensamento dos homens sobre
elas. Sabemos da dificuldade em tratar de temas referentes ao feminino na
Antiguidade. Muitas lacunas ainda necessitam ser preenchidas, pois é
mediante discursos masculinos que o feminino é constantemente represen-
tado: nos mitos, na poesia, na história, nos romances, nos tratados médi-
cos e filosóficos, na legislação, na iconografia, entre outros suportes (Si-
queira, 2001: 2). Nessa imensidão documental destacam-se as imagens.
Contudo elas não nos proporcionam uma visão direta das mulheres, mas
sim a representação masculina sobre elas (Duby; Perrot, 1990: 8).
Desse modo, muitos historiadores, como Siqueira (2001: 2-3) e Fu-
nari (1995: 179-200) declaram que, para a construção de uma História das
Mulheres na Antiguidade, é fundamental uma análise holística, interdisci-
plinar, que abarque os estudos sobre Literatura, Língua, Antropologia,
Arqueologia, História da Arte, entre outras especialidades.
Analisando a relação das mulheres e a expansão do cristianismo,
percebemos que o Império Romano passou por graduais transformações,
incluindo as de caráter religioso. Nesse contexto, muitos romanos, busca-
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Referências
Obras de apoio
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