Caracterizaçãofísicoquímica Barreto 2019
Caracterizaçãofísicoquímica Barreto 2019
Caracterizaçãofísicoquímica Barreto 2019
MACAÍBA/RN – BRASIL
Fevereiro/2019
ÍCARO MARCELL LOPES GOMES BARRETO
Comitê de orientação:
Prof.º Dr.º Adriano Henrique do N. Rangel
Prof.ª Dr.ª Stela Antas Urbano
MACAÍBA/RN – BRASIL
Fevereiro/2019
ii
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN
Biblioteca Setorial Prof. Rodolfo Helinski - Escola Agrícola de Jundiaí - EAJ
iii
ÍCARO MARCELL LOPES GOMES BARRETO
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Prof. Dr. Adriano Henrique do Nascimento Rangel (UFRN)
Orientador
_______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Chiara Albano de Araújo Oliveira
Membro externo (UFBA)
_______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Stela Antas Urbano
Membro interno (UFRN)
iv
DEDICATÓRIA
v
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por ser o meu guia, por me dar forças a enfrentar qualquer
batalha. Toda honra e toda glória a ti, Senhor.
Aos meus pais, Ildefonso e Lúcia, por sempre terem me dado criação, educação,
apoio, força, segurança e carinho em todos os momentos, seja longe ou perto.
Aos meus irmãos Caio (Raquel e Pedocra) e Yanna, por todo companheirismo e
amor nesses anos todos de convivência.
À Anna Luiza pelo apoio e presença dados nesses últimos meses de trabalho.
A todos os amigos que fiz nessa temporada de Mestrado, todos aqueles que
estiveram presentes em mais essa etapa da minha vida, agradeço de coração.
vi
SUMÁRIO
Resumo ........................................................................................................................... 08
Abstract ........................................................................................................................... 09
3. Objetivos..................................................................................................................... 33
4. Metodologia ................................................................................................................ 34
6. Conclusão ................................................................................................................... 44
vii
LISTA DE TABELAS
8
1 RESUMO
2
3 A equideocultura tem importância social e econômica para o Brasil, sendo
4 majoritariamente impulsionada pelo seguimento dos esportes equestres, que impõe
5 crescimento significativo do rebanho nacional. Apesar de já haver considerável exportação
6 de carne equina no Brasil, pouco se fala sobre a exploração do leite de éguas, um alimento
7 de elevado valor nutritivo que se destaca pela presença de compostos bioativos, pela
8 qualidade nutricional das frações lipídica e proteica e pela semelhança com o leite humano.
9 Objetivou-se caracterizar, em aspectos físicos e químicos, o colostro e o leite de éguas
10 puras e mestiças da raça Quarto de Milha. Foram selecionadas, em três diferentes haras, 34
11 éguas puras e 5 mestiças, as quais foram separadas em grupos de acordo com idade, ordem
12 de parto, estado fisiológico e grau de sangue Quarto de Milha. As amostras de colostro
13 foram coletadas nas seis primeiras horas após o parto e as amostras de leite a partir do 7º
14 dia pós-parto, com intervalos de 14 dias, até o final da lactação. As amostras foram
15 refrigeradas e encaminhadas ao Laboleite (UFRN), onde foram analisadas quanto à
16 composição química. O colostro foi avaliado por refratometria. Os dados foram tabulados e
17 submetidos à estatística descritiva e análise de variância pelo Teste F, sendo os grupos
18 foram comparados pelo teste Tukey, utilizando-se o nível de 5% de significância.
19 Verificou-se elevado teor de proteína e teor reduzido de lactose para o colostro de éguas
20 Quarto de Milha. O leite não tem a composição influenciada pelo grau de sangue ou pela
21 idade das matrizes. Contudo, variações no estágio de lactação e na ordem de parto alteram
22 a composição química do leite de fêmeas da raça Quarto de Milha.
23
24 Palavras-chave: compostos bioativos, equinos, imunoglobulinas, lactose, neonatologia
25
9
26 ABSTRACT
27 Equideoculture has shown social and economic importance for Brazil, being mainly driven
28 by the follow-up of equestrian sports, which imposes significant growth of the national
29 herd. Although there is already considerable export of equine meat in Brazil, little is said
30 about the exploitation of the milk of mares, a food of high nutritional value that stands out
31 for the presence of bioactive compounds, the nutritional quality of the lipid and protein
32 fractions and the similarity with human milk. The objective was to characterize, in physical
33 and chemical aspects, the colostrum and the milk of pure and crossbred Quarter Horse
34 mares. Pure (34) and crossbred (5) mares were selected in three different state farms,
35 which were separated into groups according to age, calving order, physiological state and
36 Quarter Horse blood grade. Colostrum samples were collected in the first six hours after
37 parturition and the milk samples from the 7th day postpartum, with intervals of 14 days,
38 until the end of lactation. The samples were refrigerated and sent to Laboleite (UFRN),
39 where they were analyzed for chemical composition. Colostrum was evaluated by
40 refractometry. The data were tabulated and subjected to descriptive statistics and analysis
41 of variance by the F-Test and the groups were compared using the Tukey test, using the
42 5% level of significance. There was a high protein content and reduced lactose content for
43 colostrum of Quarter Horse mares. Milk has no composition influenced by the degree of
44 blood or the age of the matrices. However, variations in the lactation stage and the calving
45 order alter the chemical composition of the Milk Quarter.
47
10
48 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
49 A relação entre homem e cavalo não é recente. Os primeiros contatos foram feitos
50 com a finalidade de se obter carne, pele e, talvez, leite. Posteriormente, o Equus cabalus
51 foi domesticado pelo homem e passou a contribuir com transporte e tração, tendo
54 inteiro, tendo ganhado força quando o cavalo passou a ser visto sob a óptica do lazer e,
55 principalmente, do esporte.
58 nacional. A exportação de carne equina para outros países é pouco divulgada no país,
59 apesar de ter considerável importância econômica, e muito pouco se fala sobre o leite de
61 mercado voltado aos esportes equestres, que é constituído por diversas modalidades, nas
63 mantida desde a década de 40, se destaca como esporte e responde por movimentação
66 interessante: o comércio de potros com aptidão atlética. Hoje, pode-se dizer que o principal
67 objetivo de muitos haras espalhados pela região Nordeste é produzir e desmamar potros
70 grande maioria dos criadores insere alimentos sólidos e suplementos precocemente na dieta
71 dos neonatos como estratégia para intensificar o ganho de peso, de modo que, a partir de
72 certo período, o leite da égua passa a ser um mero coadjuvante na nutrição do potro.
11
73 Em vários países do mundo, o leite de éguas é visto como alimento de grande valor
74 nutritivo e tem sido utilizado na alimentação de neonatos e prematuros humanos, dada sua
75 semelhança com o leite desta espécie. Além disso, o leite de éguas é rico em compostos
79 Brasil.
81 equino no Brasil, um produto que pode contribuir positivamente com a promoção da saúde
83 Assim, esta pesquisa foi conduzida com intuito de otimizar a atividade da criação de
85 exigências nutricionais dos potros, e teve com o objetivo caracterizar o colostro e o leite de
87
12
88 2. REFERENCIAL TEÓRICO
93 funções de sela, carga, tração e, mais atualmente, recurso terapêutico (Almeida & Silva,
95 em 1549, com criação iniciada formalmente em conjunto com o gado bovino, o que foi,
96 segundo Lima et al. (2006), fundamental para o desenvolvimento da colônia. Hoje o país
97 possui o maior rebanho de equinos da América Latina, com efetivo estimado em 5,5
103 econômica para o Brasil (Said et al., 2016). Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária
105 atingiu a marca de R$ 16 bilhões, superando os números gerados por outros importantes
106 complexos agropecuários nacionais, tais como suinocultura, feijão, trigo e laranja, por
107 exemplo. Ainda, os três milhões de postos de empregos gerados pela atividade, dos quais
108 610 mil são diretos, enaltecem a responsabilidade social da equideocultura no país
112 cavalos e outras seis raças de pôneis (MAPA, 2009), cujos padrões genéticos e fenotípicos
13
113 são selecionados pelo ser humano com direcionamentos específicos para os interesses
114 hípicos de cada região e/ou população. Em se tratando especificamente da raça Quarto de
115 Milha, o plantel nacional registrado, somando animais puros e mestiços, já ultrapassa os
116 514 mil animais, segundo dados da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto
117 de Milha (ABQM, 2017). A marcante estrutura morfológica dos animais desta raça, aliada
119 nas mais variadas modalidades, parecem ser fatores que incentivam os antigos e atraem
124 equina do mundo, tendo como principais importadores a Bélgica, Holanda, Itália, Japão e
125 França (MAPA, 2016). Todavia, apesar de os números relacionados à carne serem
126 expressivos, é o segmento esportivo que movimenta as mais altas somas do mercado
127 equino, além de empregar e envolver grande número de pessoas e atletas. O esporte
128 equestre, que hoje abrange aproximadamente 27 modalidades, está difundido no Brasil
129 desde longos tempos, datando de 1641 o primeiro registro oficial de competições
131 Dentro desta tendência de lazer e esporte que, segundo Lima et al. (2006), passou a
132 envolver fortemente a equideocultura a partir da segunda metade do século XX, não se
133 pode negligenciar que as atividades e modalidades guardam sempre estreita relação com os
135 vocacionada para a atividade pecuária, o manejo do gado bovino não podia ser feito com
136 auxílio de cordas, em virtude das pequenas e adensadas árvores que compõem a Caatinga,
137 que interferem na ação de jogar o laço na rês, bem como recolhê-lo. Assim, montados a
14
138 cavalo, os funcionários responsáveis pelo manejo precisavam acompanhar o bovino em
139 fuga pelo pasto nativo, prender sua cauda e puxá-la para baixo a fim de derrubar o animal
140 para, então, contê-lo e manejá-lo de acordo com a necessidade (Santiago et al., 2014).
141 Criou-se assim, em 1940, como forma de extensão das atividades do manejo do gado pelo
144 mantenedora da cultura de uma grande região, é tida como força motriz da economia do
145 setor pecuário de alguns estados nordestinos, motivo pelo qual foi promulgada
147 esporte e libera sua prática em todo o território nacional. Hoje, a Associação Brasileira de
148 Vaquejada estima que aconteçam quatro mil provas de vaquejada por ano, volume
153 mudanças inerentes aos equinos que, inicialmente de raças nativas, foram substituídos por
154 linhagens cujas características fossem mais propícias à prática desportiva (Pimentel et al.,
156 combinada com a habilidade em lidar com o bovino, coincidiram com as características
157 fisiológicas e comportamentais do cavalo Quarto de Milha, que tem sido vastamente criado
159 estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão e Sergipe
160 totalizam aproximadamente oito mil criadores de cavalos da raça Quarto de Milha
15
162 médio ou grande porte, comumente objetivam produzir potros com destacados potenciais
164 Uma breve análise do mercado do cavalo Quarto de Milha permite inferir que a
165 produção de potros para fins comerciais é, sem dúvidas, um segmento de destacada
166 importância dentro do setor. Os dados publicados pela própria ABQM no ano de 2016
167 confirmaram que os 199 leilões realizados no ano, que movimentaram pouco mais de R$
168 232 milhões (ABQM, 2017), garantem um aspecto de relevada importância dentro de
170 aquecido mercado de potros, vieram as inovações referentes às técnicas de reprodução, que
171 têm possibilitado acelerar o aprimoramento da raça e de seus cruzamentos (Lira et al.,
172 2009) a fim de suprir a demanda de mercado existente. De fato, o mercado atual exige que,
173 independente da biotécnica reprodutiva utilizada, as éguas tornem-se prenhes, deem à luz e
175 Entretanto, para que a comercialização dos potros tenha rotatividade dentro do
176 haras e garanta margem de lucro adequada ao produtor, é preciso intensificar o manejo
177 nutricional da cria, sobretudo nos primeiros seis meses de vida, fase na qual ocorre
178 desenvolvimento acelerado do equino (Rezende et al., 2000). Segundo Lewis (1987), as
179 exigências nutricionais dos equinos superam os nutrientes providos pelo leite já aos dois ou
180 três meses de idade, fazendo-se necessário complementar a dieta do lactente com alimentos
181 sólidos até o sexto mês de vida – quando então será desmamado – a fim de que não haja
182 deficiência no crescimento do animal jovem. Muito embora passe a ser coadjuvante na
183 nutrição do potro do terceiro ao sexto mês de vida, o leite continua sendo produzido pela
184 égua, cuja lactação se estende, em média, até os 180 dias pós-parto (Santos et al., 2005).
185 Infelizmente, o leite que excede à nutrição da cria não é ainda aproveitado para
186 outras demandas na América do Sul (Motta et al., 2011), fato que não ocorre em países
16
187 como Alemanha e França, por exemplo, onde o leite de éguas é francamente
188 comercializado para consumo humano (Reis et al., 2009). Especificamente no Brasil, a
189 exploração do leite de equinos é ainda incipiente, não havendo sequer estimativa de
190 produção nacional pelos órgãos responsáveis. Desta forma, é possível inferir que, embora
191 já pareça grandioso, o Complexo do Agronegócio do Cavalo no Brasil ainda tem setores
192 não explorados, o que pode ser visto como possibilidade real de expansão da
196 glândula mamária no periparto são evidentes, tendo em vista a lactogênese que se
197 aproxima. Segundo Baumrucker & Bruckmaier (2014), as alterações que ocorrem no
198 tecido mamário durante a gestação, lactação e involução podem ser denominadas da
200 (lactação propriamente dita); e involução (regressão para o estado não lactante). Segundo
201 Alves (2015), todas as fases são estreitamente reguladas pelo sistema endócrino e existe
202 nítida diferença na composição das secreções nos diferentes estágios. Como as variações
204 disponibilidade de nutrientes e das demais substâncias necessárias ao neonato (Pecka et al.,
205 2012) e, ainda, diante da necessidade crescente das indústrias em pesquisar e preparar
17
212 2010), os potros nascem agamaglobulinêmicos e, por isso, totalmente dependentes da
213 transferência passiva de imunidade (TPI), que se dá, via de regra, pela absorção intestinal
214 de imunoglobulinas após ingestão do colostro (Alves, 2015). Falhas na TPI têm sido
216 constituindo a maior causa de perdas de neonatos pelos criadores (Nath et al., 2010).
217 De acordo com Cunningham (2008), a colostrogênese tem início nas últimas
218 semanas de gestação, quando os plasmócitos migram para a glândula mamária através dos
220 definir o colostro como sendo a primeira secreção láctea por ocasião do parto, constituída
224 imunoglobulinas, tem alta viscosidade e coloração mais amarelada que o leite (Koterba et
225 al., 1990). Porém, esses critérios subjetivos podem induzir a erros durante a avaliação
226 qualitativa, sendo pertinente que seja determinada ou estimada a concentração de IgG
227 (Lang, 2006). Dentre as técnicas utilizadas para avaliação do colostro quanto à
229 sobretudo, pela facilidade de utilização em nível de campo (Cash, 1999). Segundo Fey &
230 Kolm (2011), citado por Alves (2015), um índice de refração de 23% corresponde, no
231 colostro equino, a um nível de imunoglobulina G maior que 60 g/L. Já Nath et al. (2010)
233 80 g/L de IgG. Os autores destacaram ainda que um índice abaixo de 20 % corresponde a
18
237 intacta (Swenson & Reece, 1996), tem grande importância na TPI. As imunoglobulinas são
238 absorvidas pelos enterócitos por pinocitose e depois se difundem para os vasos linfáticos, e
239 destes para a circulação sanguínea. Todavia, a permeabilidade intestinal a tais moléculas é
240 decrescente no pós-parto, de modo que a absorção dos anticorpos veiculados pelo colostro
241 apresenta uma taxa máxima entre 6 e 8 horas após o parto, com término ocorrido entre 18 e
242 24 horas de vida (Blackmer et al., 2002). Assim, o potro deve ingerir colostro nas duas
243 primeiras horas de vida para que, 6 horas após o nascimento, já sejam encontrados níveis
248 Segundo Alves (2015), imediatamente após o parto ocorre redução severa do
250 síntese elevada de lactose, que causa diluição dos constituintes do colostro. Assim,
251 diferente das vacas e outras espécies domésticas, o período de secreção de colostro em
252 éguas é reduzido, de modo que já se percebe composição próxima a do leite normal no
253 primeiro dia pós-parto (Salamón et al., 2009). Nas primeiras 24 horas de secreção mamária
255 do colostro como sendo bastante curto (Koterba et al., 1990). Quanto ao volume, o total
256 produzido a cada parição também é pequeno e, segundo Kohn et al. (1989), varia, em
257 média, entre 1,8 e 2,8 litros, que são secretados a uma taxa média de 300mL/hora.
259 (2008) evidenciaram que podem ser verificadas concentrações flutuantes de compostos
261 Segundo os autores, após este período as variações tendem a diminuir, caracterizando o
19
262 “leite maduro”, que contém os componentes essenciais para o crescimento e
264 Em relação à composição, a matéria seca do colostro – que pode variar de 14,6 a
265 29,3% – é consideravelmente superior àquela verificada para o “leite maduro”, sendo o
266 teor de proteína o maior responsável por isto. O colostro contém mais de 10% de proteína,
267 dos quais 80% são compostos de imunoglobulinas (Csapó et al., 1995). Enquanto no leite
268 as caseínas excedem 60% da fração proteica, no colostro estas geralmente não ultrapassam
269 os 20%. No colostro, as proteínas que merecem destaque são aquelas do soro, que
270 correspondem a 80% da proteína total da secreção láctea pós-parto, sendo que 40% das
271 proteínas são albuminas e globulinas (Pecka et al., 2012). Destaca-se que as β-
275 Segundo Pecka et al. (2012), o teor de gordura do colostro de éguas é cerca de 20%
276 maior que a gordura verificada no leite entre o 8º e 45º dias de lactação. Summer et al.
277 (2000) encontraram, para gordura do colostro e leite, respectivamente, 1,66 e 0,44%. Já a
278 lactose, principal carboidrato das secreções mamárias, compõe 3,4% do colostro, sendo
279 este valor quase duplicado (6,27%) 96h após o parto (Salimei et al., 2002). Quanto à
281 magnésio, que sofrem uma diminuição gradual durante os cinco primeiros meses de
283 É possível que a égua produza colostro de baixa qualidade, com baixo percentual de
284 proteínas e imunoglobulinas. Além de rara, esta situação ainda não tem as causas muito
285 bem esclarecidas, mas especula-se que o aumento da idade da égua e a ocorrência de
20
286 situações estressantes nas duas últimas semanas de gestação podem estar relacionadas à
290 nos potros (Pecka et al., 2012), o que reafirma a importância da secreção como promotor
291 do crescimento e da saúde das crias (Mariani et al., 2001). Neste sentido, julga-se
292 pertinente que sejam mantidas reservas de colostro como estratégias para prevenir as falhas
293 na TPI, bem como a higidez dos neonatos que não possam ingerir o colostro naturalmente.
294 Segundo Nath et al. (2010), quando congelado entre -15 e -20°C a atividade bacteriostática
296 preservado durante este período, desde que se proceda um único ciclo de congelamento-
297 descongelamento.
298 Por fim, vale a pena destacar que, além dos aspectos concernentes à nutrição e
299 imunização do neonato, o colostro de éguas tem propriedades nutricionais únicas, tendo
300 sido utilizado como agente farmacológico natural para assistir diversas desordens do trato
302 exemplo foi destacado por Zava et al. (2009), concluindo que o colostro da égua pode se
307 secreção glandular de “leite maduro”, que é, sem dúvidas, o recurso nutricional mais
308 importante para os potros durante os primeiros meses de vida (Pikul & Wojtowski, 2008).
309 O período de lactação de uma égua varia de cinco a oito meses (Salimei & Fantuz, 2012),
310 com pico de lactação observado entre o 21º e 28º dias pós-parto e manutenção estável deste
21
311 nível de produção até, no máximo, o 56º dia de lactação (Pecka et al., 2012). Após o pico,
312 tanto o volume diário produzido quanto a concentração dos constituintes tendem a
314 Estima-se que a produção total de uma égua seja entre 2000 e 3000 kg de leite a
315 cada lactação (Csapó et al., 1995). Segundo Reis et al. (2007), éguas podem produzir, em
316 média, de 2,8 a 3,0% do peso corporal em leite por dia, sendo possível atingir a marca de
317 24 kg/dia (Spers et al., 2006). Salimei & Fantuz (2012) citaram valores médios entre 2,0 e
318 3,5 litros diários de leite para cada 100 kg de peso corporal e, desta forma, é coerente dizer
319 que raças mais pesadas produzem mais leite que as raças ligeiras (Santos & Zanine, 2006).
320 A Tabela 1 expõe a produção média diária observada em éguas de diferentes raças, em
322 Tabela 1. Produção máxima de leite (pico de lactação) observada em éguas de diferentes
323 raças
Produção de leite
Raça
Kg/dia % peso corporal
Quarto de Milha 11,8 2,3
Puro Sangue Inglês 14,9 2,8
Bretão Postier 17,7 3,0
Australian Stock Horse 18,0 3,7
Mestiças 8,0 2,4
Mangalarga Machador 9,95 2,3
324 Fonte: Adaptada de Santos & Zanine (2006)
325 A cisterna do úbere das éguas tem capacidade de armazenamento muito baixa
326 quando comparada a outros animais produtores de leite, o que faz com que a produção de
327 leite seja bastante fracionada e exija ordenhas/mamadas frequentes ao longo do dia. Em
328 média, a cada intervalo de 2 ou 3 horas acumulam-se no úbere dois litros de leite. O
330 vezes/dia nos primeiros dias de vida, 30 vezes/dia aos 30 dias de idade e, já próximo da
22
331 separação definitiva (4 meses), procuram a égua para mamar cerca de 25 vezes/dia. Outra
332 peculiaridade da espécie é que, ao contrário de vacas, em que a ejeção alveolar do leite é
333 induzida pela ocitocina liberada em resposta à estimulação tátil dos tetos, nas éguas o
334 estímulo para liberação de ocitocina e, consequentemente, ejeção do leite está atrelado à
335 expressão do comportamento materno (Doreau & Martuzzi, 2006; Caroprese et al., 2007;
337 Em média, o leite equino é composto por 6,5% de lactose, 1,8% de proteína, 1,0%
338 de gordura e 440 kcal/kg de energia (Santos et al., 2005), todavia, tal composição pode ser
339 influenciada por vários fatores, tais como idade, ordem de parto, peso corporal das éguas,
340 dieta, condições ambientais e estágio da lactação, sendo este último o mais importante
341 deles (Santos & Zanine, 2006; Salamon et al., 2009). A presença de patologias, dentre as
342 quais a mastite se destaca, também constitui outra relevante fonte de alteração da
343 composição do leite (Reis et al., 2007), mas este tema será discutido em outra
344 oportunidade.
345 Igualmente ao leite de qualquer outro mamífero, o leite da égua tem sua
348 Fiecko et al., 2009). De modo geral, a concentração dos diversos constituintes do leite
349 decresce desde o início do período de lactação, com exceção da lactose, que é crescente no
350 início e decrescente ao final da lactação (Santos et al., 2005). A energia bruta do leite sofre
351 redução considerável a partir dos 120 dias de lactação (Burns et al., 1992), corroborando
352 com a capacidade do potro em ingerir, digerir e absorver, já a esta idade, quantidade de
355 acordo com os estágios de lactação, Santos & Silvestre (2008) verificaram decréscimo para
23
356 os teores de proteína e gordura, e incremento para a concentração de lactose ao longo da
357 lactação. Os autores destacaram ainda que, enquanto a gordura decresceu bruscamente, a
359 180 dias, apresentaram picos, respectivamente, aos 10 dias (307 g de proteína/L) e 45 dias
360 (816 g lactose/L). Especificamente sobre a raça Quarto de Milha, Gibbs et al. (1982)
361 verificaram reduções de 2,7 para 1,8% e de 1,50 para 1,05% para os teores de proteína
362 bruta e gordura, respectivamente, ao longo de 150 dias de lactação. Em trabalho mais
363 recente sobre esta raça, Burns et al. (1992) relataram decréscimos para a produção diária e
364 teores de gordura, proteína e sólidos totais em uma lactação de 150 dias (Tabela 2).
365 Tabela 2. Produção e composição do leite em éguas até 150 dias de lactação
Produção Sólidos totais Proteína Gordura
Dias em leite
(Kg/dia) (%) (%) (%)
10 12,1 11,0 2,8 1,6
30 12,3 10,8 2,3 1,2
45 12,0 10,4 2,1 1,5
60 12,0 10,3 2,0 1,0
90 11,4 10,4 1,9 1,4
120 10,7 10,1 1,9 0,8
150 10,2 9,9 1,8 0,9
366 Fonte: Adaptada de Burns et al. (1992).
367 Em relação aos efeitos da dieta sobre a composição do leite, Santos & Zanine
368 (2006) afirmaram que os teores de gordura, proteína e minerais do leite podem ser
369 alterados em função das respectivas quantidades de nutrientes fornecidos pelas dietas,
370 havendo produção de leite mais rico em gordura e proteína quando ofertadas dietas com
371 altos níveis de energia e proteína. Doreau et al. (1992) afirmaram que leite de éguas
373 apresentou maior teor de gordura, proteína e ácido linolênico quando comparado ao leite
374 de éguas alimentadas com dieta rica em concentrado (50% de feno e 50% de concentrado).
24
375 Salimei et al. (1996) suplementaram éguas com óleo de fígado de bacalhau e verificaram
376 aumento no percentual de gordura do leite, fato que também foi observado por Spers et al.
377 (2006) quando suplementaram éguas em lactação com óleo de babaçu (0, 4, 8 e 16% em
379 Ainda sobre os efeitos da dieta sobre a composição do leite, cabe destacar que
380 resultados mais consistentes são verificados apenas para o teor de gordura.
381 Especificamente sobre o teor proteico do leite, Csapó et al. (2009) evidenciaram que
382 alguns autores não encontraram relação entre conteúdo de nitrogênio dietético e proteína
383 total do leite, enquanto outros reportaram decréscimo considerável no teor proteico do leite
384 quando a oferta de nitrogênio dietético foi reduzida. Doreau et al. (1990) afirmaram ainda
385 que, ao contrário do que acontece em bovinos leiteiros, o teor proteico do leite de égua
386 decresce quando o conteúdo energético da dieta aumenta. De fato, a respeito dos fatores
387 que influenciam o teor proteico do leite equino, sabe-se que o estágio de lactação tem
388 grande influência, havendo ainda muito pouca informação sobre quais e como outros
389 fatores alteram o teor proteico e o perfil aminoacídico do leite no pós-parto imediato e ao
392 composição do leite, verificaram que leite com maior teor de gordura pode ser obtido pela
394 acúmulo da cisterna do úbere, a maior parte do leite obtido na ordenha é leite alveolar e o
395 processo de ordenha manual não consegue extrair completamente o leite dos alvéolos e
396 ductos galactóforos, resultando em leite mais pobre em gordura. Salamon et al. (2009)
397 relataram ainda que, em consequência do acúmulo em nível de alvéolo, existe variação no
398 teor de gordura dos leites obtidos no início e no final da ordenha, podendo-se obter, no
399 final da ordenha, leite com teor de gordura 10 a 20 vezes superior àquele secretado no
25
400 início da ordenha. Tais resultados reafirmam os achados científicos de Cherepanova &
402 ordenhadeiras mecânicas e relataram valores de 0,15; 0,5 a 1,1; 1,1 a 1,4; e 3,5 a 7,2% para
403 a gordura dos leites cisternal, alveolar, leite forçado com ocitocina e leite residual,
404 respectivamente.
406 tem discutido na literatura. Gibbs et al. (1982) relataram maior produção de leite para
407 éguas Quarto de Milha multíparas quando comparadas às primíparas e Doreau et al. (1993)
409 multíparas de raças leves e pesadas. Já Pool-Anderson et al. (1994), em ensaio conduzido
410 com éguas Quarto de Milha com diferentes ordens de parto, verificaram que éguas
411 multíparas produziram maior quantidade de leite que éguas primíparas apenas durante os
412 primeiros 60 dias de lactação, havendo produção similar para ambos os grupos na fase
413 final da lactação, com média de 9,1 kg/dia. Os autores não verificaram diferenças entre os
414 grupos para os teores de proteína, gordura, lactose e sólidos totais e concluíram que éguas
415 da mesma raça e mesmo tamanho corporal, mas de diferentes ordens de parto, podem
417 Todavia, é importante destacar que a abordagem sobre os efeitos da ordem de parto
418 é contígua com os efeitos da idade, já que éguas com maiores ordens de parto têm,
419 inevitavelmente, mais idade que aquelas que pariram menos vezes. Portanto, para ambos
420 os aspectos faz-se necessário considerar que as variações fisiológicas que ocorrem na
421 glândula mamária com o avanço da idade da fêmea podem proporcionar desempenhos
422 máximos com a maturidade do animal (Ribeiro et al., 2008). Em vacas, por exemplo, a
423 literatura já aborda com certa consistência que a idade e a ordem de parto exercem efeito
26
424 quadrático na produção de leite e teores de alguns constituintes, conforme verificado por
426 Ainda, a raça e a genética, segundo Costa (2013), podem ter influência sobre a
427 composição do leite. Pieszka et al. (2011), estudando a composição do leite de éguas de
428 quatro diferentes raças na Polônia, concluíram que raças e fatores genéticos influenciam a
430 autores, menores teores de matéria seca, gordura e ácidos graxos estão relacionados à
433 Um número considerável de equinos tem sido criado em diversos países do mundo
434 com objetivo de produzir leite (Danków et al., 2006). O leite equino é bem consumido
435 pelos humanos na Europa Ocidental (Csapó et al., 1995) e constitui o mais importante
436 alimento básico para as populações da Ásia Central, sendo matéria prima para uma bebida
438 alcoólica, o “Koumiss” (Malacarne et al., 2002). Nos últimos anos, verificou-se interesse
439 crescente também na Bélgica, França, Alemanha e Itália, onde o leite equino vem sendo
441 al., 2002) além do uso mais frequente como suplemento dietético para cidadãos idosos,
442 convalescentes e, principalmente, crianças alérgicas ao leite bovino (Danków et al., 2006).
443 Segundo Potocnik et al. (2011), cerca de 30 milhões de pessoas consomem leite
444 equino no mundo. Muito embora seja um número elevado, apenas para que se possa ter
445 noção da dimensão do consumo mundial de leite, é válido mencionar que o leite bovino
446 figura como o mais consumido (85% do leite produzido e consumido no mundo), seguido
447 pelo leite bubalino (11%), caprino (2,3%), ovino (1,4%) e de camelo (0,2%). O leite
448 equino, embora venha despertando interesse em várias regiões do mundo e prospecte
27
449 crescimento no mercado, ainda contribui com menos de 0,1% da produção global de leite
451 O interesse pelo leite equino tem crescido em decorrência das suas propriedades
452 nutricionais e terapêuticas, que o tornam amplamente útil. Além de ser visto como
453 alimento humano de qualidade destacada, um grande número de cosméticos, muitos com
454 propriedades terapêuticas, são originados a partir do leite e colostro de éguas (Claeys et al.,
455 2014). Por outro lado, devido aos baixos teores de caseína e gordura, o leite equino não é
456 adequado para o fabrico de queijos e manteiga. Além disso, destaca-se que é pouco estável
457 acima dos 40ºC, sendo necessário que seja resfriado imediatamente após a ordenha e
458 consumido, no máximo, após nove horas de ordenhado, caso vá ser consumido na forma
460 O leite de éguas tem composição diferente das demais espécies domésticas, todavia,
461 guarda considerável semelhança com o leite humano (Morais et al., 1999) (Tabela 3).
466 (lactose e galactose), mas diferem quanto ao teor de gordura, que é notadamente maior no
467 leite humano (Malacarne et al., 2002). Logo, com base na composição bruta, o leite equino
28
468 aparece como alimento mais adequado para lactantes humanos, quando comparado ao leite
470 As peculiaridades do leite equino são ainda mais marcantes quando se consideram
471 componentes estruturais únicos, com especial atenção às frações proteicas e lipídicas
472 (Malacarne et al., 2002). O perfil proteico deste leite é desejado na alimentação humana
473 devido à relação proteínas do soro : caseína e à estrutura espongiforme das micelas, que o
474 tornam fisiologicamente mais digerível do que o leite bovino (Egito et al., 2001). Por este
475 motivo, o leite equino tem se destacado no tratamento de crianças que apresentam alergia à
477 população infantil menor de três anos de idade (Rangel et al., 2016).
479 aproximadamente 40% das proteínas totais, o que corresponde a mais do que o dobro do
480 valor observado no leite bovino (Malacarne et al., 2002). Tais proteínas, além de
481 proporcionarem maior oferta de aminoácidos essenciais, são compostas por elevados
482 percentuais de lisozima (11,6%) e lactoferrina (14,6%), proteínas bioativas que exibem
484 (Markiewicz-Keszycka et al., 2013). De acordo com Danków et al. (2006), o leite de éguas
485 apresenta conteúdo de lisozima duas vezes maior que o leite humano, o que explica os
486 efeitos benéficos sobre aftas, doenças das vias aéreas superiores, bem como na cicatrização
487 de feridas e cicatrizes pós-operatórias. Segundo Pikul et al. (2008), devido a estas
488 características, o colostro e o leite de éguas têm sido usados cada vez mais como agentes
491 psoríase.
29
492 Outras frações proteicas benéficas à saúde humana são as imunoglobulinas e os
493 fatores de crescimento. O leite equino tem elevado conteúdo de imunoglobulinas quando
494 comparado ao leite de humanos e ruminantes, estando a IgG presente em maior quantidade
495 no colostro e a IgA muito presente no leite maduro. Quanto aos fatores de crescimento, a
496 IGF-1, que tem sido positivamente correlacionada à redução no risco dos cânceres de
497 mama, próstata e cólon, se destaca no leite equino. Contudo, é merecido pontuar que
498 pesquisas ainda não são conclusivas em relação ao efeito benéfico das fontes exógenas de
500 O teor de gordura do leite equino é notadamente menor que aqueles verificados
501 para os leites humano e de ruminantes, o que é refletido pelo seu valor calórico. Contudo,
502 tal gordura consiste em 80-85% de triglicerídeos, 9,5% de ácidos graxos livres e 5-10% de
503 fosfolipídios, enquanto o leite humano e bovino possuem 97-98% da gordura composta por
505 aproximadamente 2-3 µm, apresentando diâmetro médio ainda menor que aqueles do leite
506 humano (4 µm), o que implica na eficiência do metabolismo lipídico, que tende a ser maior
507 quanto menor for o glóbulo de gordura (Malacarne et al., 2002; Clayes et al., 2014).
509 qualidade da gordura ingerida estão fortemente relacionadas à saúde humana (Rioux &
510 Legrand, 2007), sendo responsáveis, muitas vezes, pela rotulagem de alimentos como
511 “prejudiciais à saúde humana” (Wood et al., 2008). Assim, o leite equino tem sido
512 considerado como adequado ao consumo humano não só pelo baixo teor de lipídios, mas
513 também pela qualidade nutricional da fração lipídica, composta por pequenas quantidades
515 (Salamon et al., 2009). Estes últimos são percussores dos ácidos eicosapentaenóico (EPA)
30
517 cardiovasculares e da hipertensão por inibirem a síntese de triglicerídeos em nível hepático
519 Nos equinos, assim como em outros mamíferos, a gordura do leite tem duas
521 sintetizados no úbere. Os ácidos graxos circulantes têm origem dietética e, dessa forma, a
523 absorção pode explicar esta particularidade do leite equino em ser rico em ácidos graxos
524 insaturados, já que forragens e milho, vastamente consumidos pelos equinos, são ricos em
525 ácidos graxos insaturados (Csapó et al., 1995). Em relação aos ácidos graxos sintetizados
527 como nos ruminantes, entretanto, enquanto a síntese de novo em ruminantes responde por
528 ácidos graxos com cadeia de 4 a 14 carbonos – e cerca de metade dos ácidos de 16
529 carbonos – em equinos a síntese de novo resulta em boa parte dos ácidos graxos com 18
531 Todavia, apesar de a discussão sobre os lipídios ter enfoque sempre positivo, é
532 importante ter ciência das amplas variações dos teores de gordura do leite equino, que
534 estágio de lactação (Doreau & Boulot, 1989). Especificamente sobre o estágio de lactação,
535 fator de maior influência na composição do leite de éguas, sabe-se que tem influência
536 sobre o teor lipídico, mas o perfil pode, ou não, ser influenciado pelas fases de lactação
537 (Caspó et al., 1995). Quanto à raça, Pietrzack-Fiecko et al. (2009) verificaram diferenças
538 no perfil lipídico do leite de éguas de duas diferentes raças, destacando que o leite de éguas
540 enquanto o leite das éguas “Konik Polski” tinham predominância de ácidos graxos
541 saturados. Os autores não descartaram a possibilidade de haver efeito de fatores não
31
542 controlados, como a nutrição, por exemplo. A Tabela 4 apresenta o perfil lipídico do
543 colostro e do leite equino em diferentes dias pós-parto e compara-os com o perfil lipídico
547 Sobre a modulação do perfil lipídico do leite de éguas com vistas à produção de um
548 alimento saudável, Orlandi et al. (2003) afirmaram que dieta e perfil lipídico do leite estão
549 parcialmente conectados. Desta forma, a maioria das pesquisas tem sido conduzida para
550 avaliar efeito de diferentes tipos de alimentos e fontes lipídicas na composição da gordura
552 biohidrogenação dos ácidos graxos insaturados antes da absorção intestinal. De fato, tem
553 sido relatado que suplementações dietéticas com vegetais ou óleos marinhos modificam o
554 perfil lipídico do leite de éguas (Salimei & Fantuz 2012). Hoffman et al. (1998), por
555 exemplo, verificaram que o óleo de milho e diferentes fontes de fibra (polpa de beterraba,
32
556 casca de soja e palha de aveia) foram eficientes em melhorar o perfil lipídico do leite de
557 éguas.
558
33
559 3. OBJETIVOS
567
34
568 4. METODOLOGIA
570 O presente ensaio foi submetido à avaliação junto à Comissão de Ética no Uso de
571 Animais da UFRN (protocolo 062/2017) tendo aprovação registrada em parecer de número
574 dos animais usados para experimentação animal e outros fins científicos, estando de acordo
575 com os preceitos da Lei n.º 11.794, de 8 de outubro de 2008, do Decreto n.º 6.899, de 15 de
578 O experimento foi realizado em três diferentes haras do Rio Grande do Norte, entre
580 até 100 km de distância da capital, Natal, e são especializados na criação e seleção de
583 selecionadas 34 éguas puras e 5 éguas mestiças para participação no experimento. Uma vez
584 selecionadas, as éguas foram separadas em grupos de acordo com: (I) grau de sangue
585 Quarto de Milha; (II) idade; (III) ordem de parto; e (IV) estágio de lactação. Por serem
586 propriedades particulares, as práticas experimentais foram sempre executadas de modo que
589 As amostras de colostro foram coletadas após o parto, não ultrapassando seis horas
590 após o evento, sendo obtidas por ordenha manual após higienização do úbere. Em virtude
35
592 foram coletadas apenas 80 ml da secreção láctea, sendo o material armazenado em frascos
593 plásticos previamente esterilizados. Para as amostras de colostro foram realizadas análises
594 de composição (gordura, proteína, caseína, lactose, sólidos totais e extrato seco
596 As amostras de leite foram coletadas a partir do 7º dia pós-parto, com intervalos de
597 14 dias, e assim seguiram até o final da lactação, que foi determinado pelo responsável
598 técnico do haras. No dia determinado para realização de coleta, o potro permaneceu
599 separado da égua ao longo das duas últimas horas que antecediam o procedimento, a fim
600 de que se garantisse a existência de volume de leite suficiente para amostragem acumulado
601 no úbere. Os úberes das éguas foram previamente higienizados com álcool 70% e uma
602 compressa, as mãos do ordenhador foram lavadas com água limpa e sabão neutro, secas
603 com papel toalha e também higienizadas com álcool 70%. No momento da coleta, os três
604 primeiros jatos de leite foram desprezados e, em seguida, o úbere foi totalmente
606 autoclave.
608 isotérmica contendo gelo artificial, a fim de manter as amostras em temperatura entre 4 e 8
609 ºC. As amostras de colostro e leite foram imediatamente encaminhadas para o Laboratório
610 de Qualidade do Leite da UFRN (LABOLEITE), onde foram realizadas as análises físicas
613 DairySpec FT Bentley. A análise qualitativa do colostro foi realizada com auxílio de
614 refratômetro óptico portátil para açúcar (Kasvi®, modelo K52-032, com faixa de medição
615 de 0 a 32% Brix e divisão mínima de 0,2%), após calibração do mesmo com água
616 destilada, conforme recomendado pelo fabricante. Com amostra em temperatura ambiente
36
617 e homogeneizada, uma gota do colostro foi colocada sobre o prisma do refratômetro e, em
618 seguida, realizada a leitura através da lente monocular. O resultado em % Brix foi obtido
619 pela separação entre a área clara e área escura formada no visor do equipamento após
623 descritiva e análise de variância pelo Teste F. Os grupos, divididos em função da idade,
624 ordem de parto, estágio de lactação e grau de sangue, foram comparados pelo teste Tukey,
626 foram realizadas com auxílio do pacote estatístico SAS (Statistical Analysis System),
629 Onde:
632 grupo j efeito do j-ésimo grupo (grau de sangue, idade, ordem de parto e estágio
635
37
636 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
638 riqueza nutricional, sendo pertinente destacar o elevado percentual de proteína encontrado
639 para o colostro de éguas Quarto de Milha (18,06%), superior à média de 15% relatada por
640 Csapó et al. (2009) para éguas Hungarian Draught, Haflinger, Bretão e Boulonnaise, e aos
641 16% encontrados por Pecka et al. (2012) quando avaliaram o colostro de éguas da raça
642 Árabe. O teor de lactose do colostro avaliado nesta pesquisa também diferiu daqueles
643 apresentados por outros autores, como por exemplo os 3,4% citados por Salimei et al.
644 (2002); os 2,95% encontrados por Pikul & Wójtowski (2008); e o 2,46% apresentados por
648 Tais resultados sugerem que o colostro de éguas da raça Quarto de Milha talvez
649 seja mais proteico e menos denso em energia quando comparado a outras raças, todavia, é
650 preciso considerar a grande variação na composição que o colostro apresenta no pós-parto.
651 Em estudo que avaliou a composição do colostro equino obtido desde o pós-parto imediato
652 até 96h após o evento fisiológico, Salimei e Fantuz (2002) encontraram diferença
654 confirmando a mudança rápida que sofre a composição química da secreção láctea da égua
38
655 no pós-parto. Como as coletas de colostro da presente pesquisa não foram feitas em
656 horários exatamente iguais, em virtude dos manejos diferenciados dos haras visitados, esta
657 variação no horário das coletas poderia também explicar as oscilações percebidas na
659 Os valores de °Brix obtidos foram altos, acompanhando o elevado teor de proteína
662 de 20 a 30% de índice de refração estabelecido por Nath et al. (2010), o que permite que
663 sejam classificados como bons, um aspecto de relevada importância para a transferência
666 entre as concentrações de proteína e lactose, quando as duas secreções lácteas – colostro e
667 leite – são comparadas. Entretanto, como a lactose não tem concentrações tão elevadas no
668 leite como a proteína tem no colostro, os teores de sólidos totais e de extrato seco
670 colostro.
674 Burns et al. (1992) relataram uma variação de 1,8 a 2,9% para a proteína total do leite,
39
675 valores próximos aos encontrados nesta pesquisa. Para a lactose, componente que
677 valores verificados se mantiveram na média relatada pela literatura – 6,1 a 7,3% – para
678 as mais diversas raças estudadas, conforme relatado por Santos et al. (2005), Reis et al.
680 preponderância da lactose como fonte de carboidrato do leite de éguas (Pecka et a.,
681 2012).
682 No que diz respeito ao teor de gordura, o valor encontrado neste estudo é inferior
683 ao intervalo de 1,0 – 1,5% relatado por Gibbs et al. (1982) para éguas da raça Quarto de
684 Milha e também inferior ao valor médio de 1,25% relatado por Salamon et al. (2009),
685 mas são superiores aos 0,62% relatador por Reis et al. (2007) para leite de éguas
686 Mangalarga. De fato, o leite equino apresenta, notadamente, baixos teores de gordura
687 quando comparado ao leite de outras espécies (Malacarne et al., 2002), contudo, a
691 A pequena cisterna do úbere da égua requer ordenhas e/ou mamadas frequentes ao
692 longo do dia, mais especificamente, a cada 2 ou 3h (Doreau and Martin-Rosset, 2002) e,
693 além desta particularidade, ressalta-se o acúmulo de leite no alvéolo mamário, que requer
694 razoável liberação de ocitocina para ejeção (Bruckmaier, 2005). Tais particularidades
697 diretamente com o teor de gordura do leite (Salimei e Fantuz, 2012), já que a fração
698 residual do leite é rica em gordura. Portanto, é possível que o baixo teor de gordura do leite
699 verificado nesta pesquisa não se explique única e exclusivamente por variações genéticas,
40
700 mas também por não haver, durante a coleta de amostras, liberação de ocitocina suficiente
701 para remover a fração de leite residual, resultando em amostras com baixo teor de gordura.
703 na composição entre o leite de éguas puras ou meio sangue Quarto de Milha,(Tabela 7).
704 Pieska et al. (2011) compararam a composição do leite de quatro diferentes raças equinas e
705 concluíram que o fator genético interfere nos teores de proteína, lactose e gordura do leite,
706 fato não observado nesta pesquisa. Contudo, é importante ressaltar que neste ensaio foram
707 comparados leites de animais cuja variação na composição racial era de apenas 50%, o que
708 pode não ter sido suficiente para causar diferenças significativas nos processos fisiológicos
710 Tabela 7. Efeito do grau de sangue Quarto de Milha sobre a composição do leite de éguas
Grau de sangue
Variável (%)
QM – P.O. ½ QM
714 neonato. A evolução deste raciocínio leva à inferência de que o processo de crescimento,
715 bem como as mudanças na composição corporal da cria, são acompanhadas de variações
717 composição do leite materno ao longo da lactação. A valer, o estágio de lactação é o fator
41
719 Tabela 8. Efeito do estágio de lactação sobre a composição do leite de éguas puras da
720 raça Quarto de Milha
Dias em lactação
Variável (%)
7 - 60 61 - 120 121 - 180
724 proteína total e caseína, com efeito de tais variações sobre os teores de extrato seco
726 lactação em éguas caminha para a produção de um leite rico em lactose, mas pobre em
727 gordura, proteína e sólidos totais. Nesta pesquisa, os teores de gordura ao final da lactação
728 foram superiores àqueles encontrados no início, contudo, foram inferiores aos 0,9%
729 relatados por Burns et al. (1992) para o leite de éguas Quarto de Milha aos 150 dias de
730 lactação, o que reafirma a dificuldade de esvaziamento total do úbere durante a coleta e a
731 permanência de leite alveolar nas éguas avaliadas neste ensaio. Em relação aos teores de
732 proteína e suas frações, houve redução gradativa ao longo da lactação exatamente da forma
733 relatada por Salimei e Fantuz (2012): decréscimo de 20 a 25% da proteína total entre os
734 28º e 150º dias de lactação, acompanhado de decréscimo de 20 a 30% da caseína dentro do
42
738 desenvolvimento e o rápido crescimento dos equinos nesta fase de vida (NRC, 1989).
740 raça Quarto de Milha, o que certamente exige incremento na ingestão de proteína para que
742 Nos efeitos da ordem de parto sobre a composição do leite (Tabela 9), verificou-se
743 diferença (p<0,05) para os teores de lactose do leite de éguas com diferentes ordens de
744 parto, sendo notório o decréscimo deste componente de acordo com a maturação do tecido
745 glandular mamário. Comportamento semelhante foi verificado para o extrato seco
748 Tabela 9. Efeito da ordem de parto sobre a composição do leite de éguas puras da raça
749 Quarto de Milha
Variável Ordem de parto
(%)
1 2 3 4 5 6
Gord 0,75 ± 0,52 0,73 ± 0,40 0,61 ± 0,42 0,84 ± 0,52 0,76 ± 0,39 0,76 ± 0,46
Prot 1,62 ± 0,14 1,62 ± 0,18 1,74 ± 0,33 1,61 ± 0,22 1,67 ± 0,23 1,74 ± 0,30
Cas 1,23 ± 0,12 1,22 ± 0,15 1,31 ± 0,24 1,21 ± 0,18 1,26 ± 0,19 1,30 ± 0,24
Lact 6,82 ± 0,24a 6,70 ± 0,30ab 6,67 ± 0,29 abc 6,48 ± 0,27c 6,52 ± 0,26bc 6,59 ± 0,29bc
ST 9,98 ± 0,89 10,09 ± 0,42 9,86 ± 0,68 10,06 ± 0,62 10,01 ± 0,43 10,02 ± 0,45
ESD 9,38 ± 0,16a 9,36 ± 0,20ab 9,34 ± 0,30ab 9,19 ± 0,05ab 9,26 ± 0,22ab 9,27 ± 0,29b
a, b, c
750 Letras diferentes na mesma linha indicam diferença estatística pelo teste de Tukey (p<0,05).
751 Gord = gordura; Prot = proteína total; Cas = caseína; Lact = lactose; ST = sólidos totais; ESD = extrato seco
752 desengordurado.
753 Avaliando a produção e composição do leite de éguas primíparas e multíparas da raça
754 Quarto de Milha, Pool-Anderson et al. (2014) verificaram maior produção em éguas
755 multíparas, mas não relataram variação na composição da secreção láctea, diferente do que
756 ocorreu neste ensaio. O fato de o teor de lactose estar ligado à função osmótica e à
757 produção de leite da glândula mamária (Galvão Júnior et al., 2010) gerava expectativa
43
758 contrária ao resultado observado, uma vez que éguas jovens têm produção inferior, o que
759 levaria a menores teores de lactose no leite de éguas de baixas ordens de parto.
760 Apesar de éguas de ordem de parto baixa serem, geralmente, animais mais jovens,
761 não houve efeito (p>0,05) da idade sobre a composição do leite (Tabela 10).
762 Tabela 10. Efeito da idade sobre a composição do leite de éguas puras da raça Quarto
763 de Milha
Idade (anos)
Variável (%)
3–5 6 - 10 11 - 19
764
765 A produção de leite em mamíferos aumenta com a idade, até que a maturidade
766 fisiológica seja atingida (Teodoro et al., 2000), quando passa a existir uma tendência de
767 redução funcional da glândula mamária, causada pelo envelhecimento do tecido glandular
768 (Freitas et al., 2001). Somando a tais premissas o efeito de diluição, em que a maior
769 produção tende a diluir os componentes do extrato seco (Galvão Júnior et al., 2010),
770 esperava-se variação na composição do leite de éguas de diferentes idades, sobretudo entre
772 6. CONCLUSÃO
773 Éguas da raça Quarto de Milha produzem colostro com maior teor de proteína e
774 menor teor de lactose, quando comparado a outras raças. O leite não tem a composição
775 influenciada pelo grau de sangue ou pela idade das matrizes. Contudo, o estágio de
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776 lactação e a ordem de parto alteram a composição química do leite de fêmeas da raça
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