SEXO PLENO, SEXO VAZIO E SEXO DOENTIO.

Dr.Prsio Ribeiro Gomes de Deus Mdico especialista em Psiquiatria. Assessor Tcnico do DENARC da Secretaria de Segurana do Estado de So Paulo, Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestrando no Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio da U.P.M.

RESUMO O tema abordado enfocando sexo enquanto expresso do comportamento humano no mundo atual. tica colocada como instncia dinmica normadora do comportamento do homem que se aperfeioa ao longo da histria, e que teve como seus mantenedores o Estado, a Igreja e a Famlia. No mundo atual verificase o esvaziamento destas trs instituies; e como conseqncia presencia um caos social generalizado. Como resultante temos no comportamento sexual os seguintes resultados: sexo vazio, que reflete a perda de identidade pessoal e existencial; sexo doentio, transformado em mercadoria, espelha a violncia de uma sociedade carente de valores ticos posto que regida pela economia de mercado. O sexo pleno, erigido sob a tica crist, se apresenta como a opo que devolve ao homem o real sentido do prazer, do amor e da dignidade.

SUMARY To aproach to the theme considers sex as an expression of human behavior, wich perfects itself in the course of history, and whose keepers include the State, the Church, and the Famuly. At present there is an emptying of these three institutions. As a consequence we observe generalized social chaos. As a result, we observe, in sexual behavior: empty sex, reflecting the loss of personal and existencial identity; dysfunctional sex, turned into a merchandise, mirroring the violence of a society lacking ethical values, since it is governed by market sconomics. Plentiful sex, built under Christian ehtics, is the option that gives back to man the real sence of pleasure, love and dignity.

I DELIMITAO DO TEMA Sexo pode ser abordado atravs de vrios instrumentos tericos: Sexo enquanto impulso instintivo com finalidade de perpetuar a espcie: objeto da biologia Sexo enquanto manifestao desse instinto no ato sexual: objeto da medicina Sexo enquanto comportamento sexual nas relaes humanas: objeto das reas do saber que tratam das inter-relaes humanas como a antropologia, sociologia, filosofia, psicologia, histria, medicina Esta delimitao importante, pois no enfocaremos as colocaes do sexo como impulso instintivo. Os instintos so foras ou pulses biolgicas fortes e primitivas. Criam uma tenso orgnica intensa e necessitam alvio biolgico. Este alvio biologicamente ligado a sensaes de prazer. Cada instinto cumpre uma finalidade. 1. Os instintos mais primitivos denominados de instintos de preservao individual presidem as funes de desenvolvimento do organismo, sua diferenciao e especializao, as assimilaes e desassimilaes de nutrientes. 2. Os instintos voltados preservao da espcie: instinto sexual 3. Os instintos direcionados proteo da prole Nos animais irracionais a preservao individual, da espcie e da prole regida por padres instintivos. O ser humano, dotado de racionalidade, vai apresentar outras regncias nos movimentos de preservao individual, da espcie e da prole. Neste ponto se insere o domnio da tica. tica no grego, Ethos,significa costume; e em latim, Ethica, tambm significa costume.

Na construo da tica se colocam os compromissos de respeito ao planeta e ao cosmos (macro tica) e os compromissos de respeito a si prprio e ao prximo (micro tica). Nosso foco ser a micro tica ou a que se apresenta nas relaes interpessoais No raro o conceito de tica se confunde com o de moral. Em latim, moral vem de mores, moralis, morale- que tambm significa costume. Houssais 1 traz a seguinte definio de moral: conjunto de preceitos ou normas ou conjunto de valores relacionados a <determinado grupo social> Nos afiliamos a idia de tica ser uma reflexo crtica sobre os padres de conduta. A tica desta forma reflexionaria sobre a moral, rediscutindo validando ou condenando-a. Apreciamos a definio sinttica de tica formulada por Wittgenstein que a define como tica o que bem A tica, portanto, no definitiva j que as relaes humanas esto em constante mutao. Nas sociedades primitivas as prticas religiosas regulavam eticamente as relaes pessoais e fraternais, organizadas de formas simples. Para Weber a origem da tica remonta organizao social primitiva onde os homens estabeleciam relaes de trocas e prestavam servios uns aos outros. Com o aumento do grupo social surgiram novas necessidades como as de ajudar aos doentes, as vivas. Estas novas necessidades foram abrangidas pelas religies . A tica religiosa se confunde a esse tempo com a atitude de caritas , de amor ao sofredor, ao doente e ao prximo. A tica crist nesse ponto teve uma contribuio importantssima no

desenvolvimento da humanidade, principalmente consideradas as sociedades ocidentais. A tica crist contribuiu para a formao de vrios cdigos de moral que interferiram positivamente no comportamento humano.

Houssais, Dicionrio ,1958, 2000

Influenciou e estimulou a promoo da vida, da dignidade, da liberdade, do respeito e do amor; denunciou e estimulou a diminuio e mesmo trmino de tudo que atente, negue ou ofenda a vida humana como a violncia, a criminalidade, a corrupo, toda a forma de irresponsabilidade para com a vida e toda a forma de desrespeito para com o outro. Para Deliberal 2 a tica da fraternidade que a tica crist, cujo objeto o homem; sempre entra em conflito com os interesses do mundo.

II. ESVAZIAMENTO DO ESTADO E DA IGREJA O homem no mundo atual regido pelas leis da sociedade de mercado, tem valor somente pelo que produz ou pelo que consome. Esvaziado de valores morais e ticos, o homem foi transformado num mero elo da engrenagem da cadeia de consumo. Esta viso se choca com a proposta da tica crist para o homem, regida pelo amor voluntrio, posto que extenso do amor do Criador. No pensamento de Durkheim so funes do Estado e da Igreja oferecer normas e padres aos comportamentos humanos, para que estes sejam ticos. Estado e Igreja se apresentando no necessariamente como instncias censoras, mas como instncias normadoras; pois se tal no ocorresse o comportamento humano seria desorganizado e catico. No temos espao para analisarmos as relaes histricas entre perodos de permissividade social e contrapondo-se a este, perodos de censura e rigidez social e comportamento sexual. Podemos, entretanto, perceber alteraes do comportamento humano relacionado : Estado e Igreja fortes Estado e Igreja em crise Estado e Igreja fracos

Nos perodos de crise ou de enfraquecimento do Estado e da Igreja, observamos que estas duas instncias no conseguem responder as questes dos homens de
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Deliberal,M. tica:reflexes contemporneas, 96, Curitiba: Arauco,2005

sua poca, e se tornam incapazes de cumprir a misso de rgos reguladores do comportamento humano. O ser humano fica sem reis e sem pastores! O momento contemporneo se apresenta como um grande caos. Crespi 3 reflexiona que na sociedade atual h uma situao de desorientao generalizada, um caos, provocado pela complexidade da diferenciao dos mbitos e significados e pelo pluralismo na produo de valores e de modelos culturais. As relaes de poder so ditadas pelos grandes grupos econmicos

internacionais; antes do Estado e da Igreja est a multinacional, cuja ordem produzir e consumir para lucrar. Sabemos dos estudos que apontam os efeitos negativos da mdia neste sentido. 4 Mais que nunca o homem atual necessita de religio. Assim se expressa Crespi 5 : o aumento da insegurana, engendrada pela queda de quase todas as certezas em que se baseavam as sociedades que nos precederam, pode provocar, de maneira reativa, o retorno s velhas formas de certeza fornecidas pelas crenas das religies universais cristianismo, islamismo, hindusmo, budismo... O homem atual um ser esvaziado de valor intrnseco:: vale pelo que produz ou pelo que consome; no pelo que , nem por seus valores e convices. Consequentemente os sentimentos de insegurana, medo, impotncia,

imediatismo e falta de significado existencial esto sempre presentes neste homem. Sem encontrar sentido ou direo numa sociedade impessoal, volta-se procura da significao pessoal atravs da religio. O antigo lder da Rssia, Michail Gorbachov fez o seguinte pronunciamento: precisamos de uma nova sntese que incorpore valores cristos e
Crespi,F. A experincia Religiosa na ps-modernidade, Bauru: EDUSC,1999 Postman,N. O desaparecimento da infncia,Rio de Janeiro: Graphia,1999 Kehl,MR. Imaginrio e pensamento.In:Souza,M (org) Sujeito, o lado oculto do receptor ,So Paulo: Brasiliense/Eca/Usp,1995 5 Crespi,F. A experincia religiosa na ps-modernidade, 13, Bauru: EDUSC,1999
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budistas democrticos e que confirmem princpios morais Mspoli 6 faz uma considerao importante que sintetiza este captulo: a tica pressupe a responsabilidade, estando preocupada diretamente em todos os atos livres de cada indivduo. A liberdade moral significa a capacidade de autodeterminao no sentido de que somos livres para escolher o bem em lugar do mal, a luz em lugar das trevas, o certo em lugar do errado, a verdade em lugar da mentira, o altrusmo em lugar do egosmo, o amor em lugar do dio

III. ESVAZIAMENTO DA FAMLIA Talvez devesse ter invertido a ordem dos esvaziamentos, pois o esvaziamento familiar o que mais conseqncias traz no campo da moral e da tica. Vivemos um tempo de enfraquecimento da unidade familiar. O nico ponto de contacto em muitas famlias terem o mesmo DNA. Estranhos unidos por laos sanguneos compartilham quando muito o mesmo teto. A falta de tempo para a famlia provavelmente seja o grande fator desagregador e gerador de famlias disfuncionais O mundo atual equaciona o uso do tempo em funo da produo. A famlia sempre foi responsvel pela transmisso de valores culturais, na viso de Bourdieu 7 ,1998,1999. A famlia deveria transmitir alm das caractersticas genticas, cultura, valores morais, ticos e religiosos. Como clula da organizao social, a famlia extremamente dinmica; acompanha e sofre influncias das mudanas ocorridas na sociedade. O modelo familiar nos tempos atuais vive transformaes profundas, que tiveram incio com a maior insero da mulher no mercado de trabalho. Devemos considerar outros fatores como: pais ausentes, famlias disfuncionais, aumento do ndice de separao dos casais; geraram mudanas na formao das identidades das crianas e jovens atuais.

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Maspoli, AAG. tica: reflexes contemporneas,30,Curitiba: Arauco,2005 Bourdieu,P. Escritos de Educao. In Nogueira;Catani(Orgs) A misira do mundo, Petrpolis: Vozes,1999

Os jovens j no conseguem construir suas identidades a partir do convvio e introjeo dos egos parentais. Quem ocupa este espao, numa realidade de heterogeneidade familiar, pluralidade de recursos sociais e diversidade de comportamentos sociais? Antigamente as famlias faziam as refeies conjuntamente, onde alm do se alimento material; havia o alimento advindo das trocas de experincias, afetos, ensinamentos de pais para filhos e questionamentos de filhos para pais. Em momentos como este, eram construdas e sedimentadas no s as identidades individuais; como fortalecida a unidade familiar, primeira escola de moral, religio e tica. O esvaziamento familiar no ocorre somente pelos fatores colocados at o momento, existem inmeras variveis que concorrem para tal: Dificuldades pessoais Experincias traumticas anteriores Efeito catrtico Falta de comunicao

Nas dificuldades pessoais intervm fatores constitutivos da personalidade, alteraes de humor, distrbios psquicos entre outros. As experincias traumticas anteriores ou atuais podem prejudicar a comunicao principalmente afetiva nas relaes familiares; e se forem inconscientes, a pessoa sequer tem noo da dificuldade. O efeito catrtico provavelmente seja um dos fatores que mais contribui para a disfuncionabilidade familiar. O indivduo sobrecarregado e s vezes massacrado por situaes adversas fora do lar como desrespeito, violncia, assdios morais: e tem que agentar calado; quando chega em casa, ao primeiro sinal de problema a pessoa reage desproporcionalmente, transferindo para aquela situao todas as emoes negativas que ficaram reprimidas. A falta de comunicao pode ser considerada como uma conseqncia da falta de tempo; mas existem outros fatores que contribuem para a dificuldade de comunicao : diferena de geraes no superadas pelo dilogo, mudanas de valores que impedem a compreenso no dilogo, pais autoritrios, pais omissos.

O distanciamento familiar lento e no raro imperceptvel aos membros da famlia. A disfuncionabilidade se manifesta em crises quando o surgimento de um problema denuncia a falta de competncia par enfrent-lo. Frente impotncia para enfrentar os problemas, a famlia recorre ou delega a resoluo a instituies igualmente esvaziadas: Igreja, Estado ou Escola. Na viso de Durkheim 8 , a escola tinha como misso a responsabilidade de um saber que era til para a manuteno de uma ordem social. Atualmente, na viso de Bordieu o sistema escolar caracteriza-se por contradies. No mais se apresenta dentro da viso durkheineana como instncia organizadora de experincias sociais; antes revelam contradies entre os conflitos de interesses intra e exta escolares. No consegue mais responder s funes de educar no sentido da transmisso de valores, e de socializar no sentido de promover a adaptao realidade social. Atualmente a escola continua sendo uma instituio da produo de conhecimento e do saber; mas perdeu seu papel organizador, pois no mais cumpre ao projeto integrador de Durkheim no sentido de ser referncia de identidade 9 : mais informadora que formadora

IV. SEXO PLENO, SEXO VAZIO E SEXO DOENTIO Como nosso objeto o sexo enquanto manifestao no comportamento humano, precisamos abordar estes temas anteriores para contextualizarmos o momento em que esse comportamento ocorre. As noes de famlia foram sendo formadas ao redor dos sculos e o sistema de relacionamento que imperou nas relaes homem-mulher, foi o sistema de poligamia ou da poliandria.

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Durkheim,E. La eduaction moral, Buenos Aires: Ed.Losada,1947 Dubet,F.Sociologia da experincia, Lisboa: Instituto Piaget,1996

Estimamos que o homem tenha aproximadamente 3 milhes de anos, e a organizao do sistema moral atual que preside o mundo ocidental oriundo da moral judaico-crist e relativamente recente. Os povos foram adotando normas de comportamento e conduta com uma maior organizao social; e estas normas igualmente se estenderam prtica sexual. Quanto mais complexas vo se tornando as organizaes sociais,mais complexas igualmente se tornaram as relaes de sexo e sexualidade. Podemos ter uma plida idia da organizao do povos primitivos quando estudamos grupos sociais especficos que ficara margem do mundo contemporneo. Se estivssemos abordando o tema em Samoa 10 , tal no se faria necessrio, pois l no existe qualquer represso sexualidade e prtica do sexo desde a infncia at a idade adulta.. As normas de moral consideram o sexo com respeito, o mesmo dado alimentao, famlia, trabalho. Em algumas tribos da Nova Guin 11 , os papis masculinos e femininos no so totalmente definidos, de tal sorte que os pais masculinos tambm adotam atitudes maternas. A sexualidade nestes povos tem a caracterstica de ser pouco violenta. Percebemos que as normas de conduta sexual vigentes na civilizao ocidental sob a influncia da religio judaico-crist foi se aperfeioando medida que a essncia religiosa se modificou. O ensinamento dominante na mensagem de Cristo a prtica do amor; e este amor permear todas as relaes humanas, incluindo sexo e sexualidade. Jesus Cristo conhecia a importncia do homem se manter permanentemente ao lado de uma companheira (esposa) , pois isto contribua para a proteo e equilbrio da prole; e deixa algumas orientaes neste sentido. Introduz conceitos importantes poca como o do marido amar a esposa; e a submisso feminina (que era incondicional), torna-se condicionada ao exerccio e prtica do amor.

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Deus, P. Sexualidade e Vida conjugal, 1, conferncia proferida na I.P.V.M, 1985 Deus,P . Sexualidade e Vida conjugal, 1, conferncia proferida na I.P.V.M, 1985

Deixa igualmente orientaes quanto s relaes pais e filhos; novamente dentro da tica amor e respeito.

SEXO PLENO J podemos abordar neste ponto, o que chamamos de sexo pleno. O sexo pleno aquele que ocorre como decorrncia do exerccio do amor e do respeito. O sexo, como impulso instintivo, est compreendido dentro das funes afetivas inconscientes; enquanto comportamento se utiliza das funes afetivas

conscientes manifestadas atravs dos afetos superiores. Apego, necessidade de aceitao que tambm pode ser entendida como necessidade de aprovao, necessidade de conquista ou de domnio, e amor so alguns dos afetos superiores a que nos referimos. Amor filia, amor eros, amor gape so base da estabilidade das relaes interpessoais . Uma atividade sexual realizada dentro desta tica produz no somente o alvio biolgico decorrente da descarga instintiva prpria a nossa natureza animal; mas nos brinda com uma sensao de prazer subjetivo muito mais profundo, que ocorre nas relaes intermediadas por estes sentimentos. Esta sensao de prazer subjetivo profundo contm a admirao, a segurana, o companheirismo, a confidncia, a confiana, a fidelidade, o eterno desejo em chama que no se apaga posto que subjetiva, a entrega segura, o aconchego que lembrado ontem, vivido hoje e sonhado amanh. O sexo pleno extrapola a penetrao biolgica, pois se completa com a interpenetrao de almas. Sexo pleno produz a experincia de plenitude de sentimentos de entrega, troca ,doao, amor, respeito e prazer nas esferas objetivo-biolgicas e subjetivopsquicas. Como decorrncia, estvel, evolui e se aperfeioa em consonncia com o aperfeioamento e amadurecimento das relaes conjugais.

A sntese do sexo pleno que s pode ocorrer dentro do contexto do amor, pode ser encontrada na fala de Paulo aos Corntios, 13: 4 : o amor paciente, benigno; o amor no arde em cimes, no se ufana, no se ensoberbece, no se conduz inconvenientemente, no procura seus interesses, no se exaspera, so se ressente do mal; no se alegra com a injustia, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre tudo cr, tudo suporta.

SEXO VAZIO O sexo desvinculado destas caractersticas, torna-se sexo meramente biolgico, prprio aos animais irracionais ou aos que se comportam como eles. Est prxima a citao de amor feita pelo apstolo Paulo, a anttese desta citao leva ao sexo vazio. Fazendo uma parfrase negativa chegaramos a algumas caractersticas do sexo vazio : impaciente, arde em cimes, se ufana, se ensoberbece, se conduz inconvenientemente, egosta e procura unicamente seus interesses ou sua prpria satisfao, se exaspera, no perdoa, injusto, vive de mentiras; no suporta nada, ctico, e no solidrio com o sofrimento Temos uma crise de vnculos no mundo atual. No mundo dos produtos descartveis, onde tudo vivido de forma apressada, o estabelecimento de vnculos afetivos nas relaes interpessoais superficial, efmero, inconstante e descartvel. Vive-se o momento, pois no h condies de estabelecer a dimenso de ser no mundo, na viso de Heidegger; mas somente estar no mundo. J houve inclusive a incorporao pela linguagem deste comportamento, no qual as pessoas ficam ou esto, mas no conseguem aprofundar para a dimenso de serem. O sexo praticado dentro deste contexto cumpre, quando o faz, a funo de descarga ou alvio da tenso instintiva biolgica; e como referimos acima, em quase nada difere do sexo praticado pelos animais inferiores.

H inclusive alguns animais inferiores, que apresentam comportamentos mais evoludos do que os praticados por muitos humanos: como fidelidade, solidariedade, respeito e cuidado com o parceiro. O prazer advindo da troca dos afetos superiores e profundos como apego, amor, respeito, no preenchido nesta forma de sexo; portanto um sexo vazio do ponto de vista das relaes humanas. Peter Jones 12 , no livro O Deus do sexo refere que os jovens atuais fazem sexo como animais: os jovens fazem contacto genital sem sequer se conhecerem. J no existe nenhuma estrutura social que impea que a sexualidade no seja nada alm de um apetite a ser satisfeito O sexo vazio, ao contrrio do sexo pleno leva os indivduos insegurana, solido, a sentimentos de frustrao, falta de saciedade, ao isolamento, desconfiana, agressividade, infidelidade. O sentimento de vazio vivenciado mas nem sempre compreendido. Para o preenchimento deste vazio, os indivduos se lanam a uma busca contnua e frustrante de novos parceiros e de novas experincias; sem compreenderem que o vazio no est no outro, mas em si prprios. O vazio preenchido com desiluses, doenas sexualmente transmissveis, crises de depresso e angstia, gestaes no planejadas e no desejadas, abortos, entre outras conseqncias negativas. Num estudo conduzido na Universidade de Minessota por Ann M Meir 13 , o sexo estava associado a auto-estima baixa e depresso em jovens femininas que iniciaram as relaes sexuais (idade mdia de incio 15-17 anos) sem relacionamento afetivo ou romntico.

SEXO DOENTIO O tema ser abordado seguindo a linha adotada at o momento.

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Jones,P. O Deus do sexo,19,So Paulo: cultura Crist,2007 www.nytimes.com. Niclolas Bakalar, Findings add Nuance to discussion of early sex

Desta forma sexo doentio deve ser compreendido dentro da dimenso comportamental, e no da patologia mdica.

a. A violncia A incidncia de abuso sexual infantil, segundo o National Committe for the Prevention of Child Abuse 14 , est ao redor de 150.000 a 200.000 de casos relatados por ano, e este nmero est subestimado pela no comunicao de mais casos devido a constrangimento e vergonha. Segundo dados da Organizao Mundial da Sade,
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34% das mulheres j

sofreram agresso sexual por parte de seus parceiros; ainda segundo dados da mesma O.M.S 29% das mulheres na cidade de So Paulo relataram violncia fsico-sexual por seus parceiros. Na zona da Mata em Pernambuco esta porcentagem sobe para 37%. O estudo da O.M.S aponta como conseqncias mais comuns o aumento do uso de lcool e aumento de casos de tentativa de suicdios. Num estudo retrospectivo, Drezett e colaboradores do Centro de Referencia da Sade da Mulher estudaram 617 casos de violncia/ abuso sexual e encontraram o seguinte: 90,8% de estupro em adolescentes 46,5% de atentado ao pudor em crianas 63,4% de violncia presumida em crianas 63% graves ameaas aos adolescentes

Das crianas abusadas sexualmente, 84,5% o foram por agressores conhecidos geralmente pertencentes ao crculo familiar. Das adolescentes que sofreram estupro, 72,3% o estuprador era desconhecido. Os resultados destas violncias e abusos sexuais so fsicos e psquicos.
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Fsicas: traumas fsicos, Doenas sexualmente transmissveis, gravidez, abortos Psquicas: medo, ansiedade, depresso, tentativas de suicdio

www.dumn.edu/cw/resources.htm. National Committee for the Prevention of Child Abuse www.who.int. O.M.S

Comportamentais: homossexualismo.

comportamento

sexual

inadequado,

retraimento,

Segundo dados do Instituto Guttmacher 16 so realizados oficialmente 1.370.000 abortos por ano nos Estados Unidos da Amrica. Naturalmente os clandestinos no foram contabilizados. Segundo dados do IBGE um milho de adolescentes com a idade compreendida entre 15 a 20 anos se tornam mes no Brasil. Numa comunicao feita por Isac Jorge 17 a porcentagem de mortes devidas a abortos em adolescentes no Brasil, subiu de 8% para 20% no perodo compreendido entre 1981 a 1989 Esses dados estarrecedores mostram palidamente o grau de patologia social que envolve o comportamento sexual nos tempos atuais. b. O comrcio No ano de 2002 a indstria de filmes pornogrficos on-line nos Estados Unidos da Amrica 18 lucrou 1 bilho de dlares; no ano de 2005 houve um salto para 13 bilhes de dlares de lucro. Mas no s a indstria de filmes pornogrficos que lucra com o produto sexo. Na sociedade atual, regida pela economia de mercado, desde que um produto venda bem, utilizado pela mdia de forma a alavancar cada vez mais o consumo. O sexo se tornou um dos produtos mais explorados pela mdia. Os meios de comunicao em geral usam e abusam da imagem do sexo agregada a outros produtos. Os grandes grupos econmicos vo impondo novos produtos veiculados atravs da modificao de hbitos e comportamentos. 19 Basta abrimos uma revista ou ligarmos o aparelho de T.V e veremos diversos e variados produtos veiculados atravs da imagem sexual. Filmes, programas, novelas, revistas, peridicos tratam do sexo dentro de uma nova perspectiva: no existe mais a interferncia da moral e da tica baseada em
www.guttmacher.org. Guttmacher Institute www.acontecenotcias.com.br. A polmica do aborto e violncia sexual 18 Jones,P. O Deus do sexo,19, So Paulo: Cultura Crist,2007 19 Bucci,E.como a violncia na TV alimenta a violncia real da polcia. In.: a TV aos 50 anos: criticando a televiso brasileira no seu cinqentenrio. So Paulo: Fundao PerseuAbramo,2000
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princpios que nortearam nosso mundo ocidental at a poucos anos, a moral e tica crist. A prostituio infantil no Brasil alarmante!. Segundo dados da UNICEF 20 h 500 mil crianas sendo exploradas sexualmente em nosso pas. Levantamento feito pela Polcia rodoviria Federal 21 mostra que existem 1819 pontos de risco para explorao sexual de crianas e adolescentes nas rodovias federais Somente no ano de 2006, o Disk-Denncia da Secretaria Especial de Direitos Humanos recebeu 17.000 denncias de abuso sexual infantil. Pesquisas 22 nas reas metropolitanas de Salvador e Recife, encontraram respectivamente 46% e 43% de prostituio infantil. Uma verdadeira tragdia social com conseqncias do aumento de doenas fsicas e psquicas similares s encontradas na violncia e abuso sexual: Aumento do nmero de abortos , e em muitos casos de mortes Fadiga Doenas sexualmente transmissveis Ansiedade, medos, fobias e depresses Confuso de identidades Aumento de furtos e uso e abuso de drogas

Segundo o Ministrio da Sade 23 , a explorao sexual comercial se utiliza de todas as formas de abuso, visando unicamente o lucro. um comrcio de prticas sexuais que expe e oferece crianas e adolescentes a adultos ou adolescentes mais velhos. Os exploradores que participam desta comercializao da pornografia e do turismo sexual so criminosos, e os usurios destes servios tambm

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www.unicef.org.br. Jornal O Estado de So Paulo, quinta feira,16/08/2007, CIDADES/METRPOLE C3 22 www.desempregozero.com.br. A economia poltica da prostituio infantil 23 www.sade.gov.br

A explorao sexual comercial de crianas e adolescentes banalizada pela cultura que oferece a impresso de que no podemos fazer nada para evitar esse mal. No incio desta comunicao, mencionamos que podamos ter uma idia da organizao social dos povos primitivos quanto ao comportamento sexual, observando grupos sociais que ficaram margem da evoluo da civilizao ocidental. Nas ilhas Marquesas 24 , h um grupo primitivo em que o matrimnio polindrico, as mes no cuidam dos filhos e as figuras paternas so omissas. No h a menor represso sexual, e os adultos so extremamente libidinosos,

principalmente as mulheres. Como conseqncia, foi observado que as crianas so inseguras, confusas e com problemas de desenvolvimento psicolgico. Parece-nos que a sociedade atual involuiu para os padres de comportamento sexual dos povos primitivos. Figuras paternas e maternas omissas, promiscuidade, erotismo excessivo so caractersticas do mundo atual!! A conseqncia desta regresso est manifestada nos dados apresentados em relao ao abuso sexual infantil/adolescente e decorrentes tambm da prostituio infantil. Convivemos com este paradoxo: Setores sociais desenvolvidos regidos por normas de comportamento ticos extremamente complexos; e algumas reas sociais apresentando

comportamentos em que h um retorno a padres de comportamento da prhistria. Os povos primitivos desconheciam os ensinamentos cristos que nortearam a construo da tica ocidental. Muitos atualmente ainda desconhecem igualmente estes ensinamentos, mais que nunca necessrios para nortearem o caos que se apresenta num mundo de Estado falido, Igrejas impotentes e Famlias disfuncionais.
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Blackledge,C. a histria da V, abrindo a caixa de pandora, So Paulo: Editora DeGustar, 2004

O sexo compreendido dentro da tica crist colocado como conseqncia do amor. Este amor pleno vem do prprio Deus; se divide quando ofertado gratuitamente aos homens, e se reunifica quando os dois, homem e mulher, se tornam uma s carne: da o retorno plenitude do amor divino consubstanciado no ato da criao que se repete no sexo vivido e realizado como um ato de amor.

BIBLIOGRAFIA 1.Houssais. Dicionrio eletrnico da Lngua Portuguesa 2.Deliberal,M.tica: reflexes contemporneas,96,Curitiba:Arauco,2005 3.Crespi,F.A experincia religiosa na ps-modernidade,Bauru:EDUSC,1999 4.Postman,N.O desaparecimento da infncia:Graphia,1999 Kehl,MR.Imaginrio e pensamento.In:Souza(org),So Paulo:Brasiliense/ECA/ESP,1995 5.Crespi,F.A experincia religiosa na ps-modernidade,Bauru:EDUSC,1999 6.Maspoli,AAG.tica:reflexes contemporneas,30,Bauru:EDUSC,1999 7.BourdieuP.Escritos de educao.In Nogueira;CAtani(org),Petrpolis:Vozes,1999 8.Durkheim,E.La education moral,Buenos Aires:Losada,1947 9.Dubet,F.Sociologia da experincia,Lisboa:Instituto Piaget,1996 10.Deus,P.Sexualidade e vida conjugal,Conferncia proferida na I.P.V.M,1985 11.Deus,P.Sexualidade e vida conjugal,Conferncia proferida na I.P.V.M,1985 12.Jones,P.O Deus do sexo,19,So Paulo: Cultura Crist,2007 13.www.nytimes.com.Nicholas Bakelar,Findings add nuance to discussion of early sex 14.www.dumn.edu/cw/resources/htm.National Committee for the prevention of child abuse 15.www.who.int. O.M.S 16.www.guttmacher.org. Guttmacher Institute 17.www.acontecenotcias.com.br. a polmica do aborto e a violncia sexual 18.Jones,P.O Deus do sexo,10, So Paulo: Cultura Crist,2007 19.Bucci,E. Como a violnica da TV alimenta a violncia real na polcia, So Paulo: Fundao PerseuAbramo,2000 20.www.unicef.org.br 21.jornal O Estado de So Paulo, quinta feira, 16/08/2007,Cidades/Metrpole C3 22.www.desempregozero.com.br. A economia poltica da prostituio infantil 23.www.sade.gov.br 24.Blackledge,C. A histria de V, abrindo a caixa de pandora, So Paulo: Editora DeGustar,2004