TCC Lorenna Conti Mariana Cerne 19 07 23
TCC Lorenna Conti Mariana Cerne 19 07 23
TCC Lorenna Conti Mariana Cerne 19 07 23
ESCOLA DE QUÍMICA
RIO DE JANEIRO
2023
Lorenna Conti Loffredo Luscura França da Silva
Mariana Brasil Oliveira Cerne
Rio de Janeiro
2023
Lorenna Conti Loffredo Luscura França da Silva
Mariana Brasil Oliveira Cerne
________________________________________________
Bettina Susanne Hoffmann, D.Sc., UFRJ.
________________________________________________
Débora Micheline Vaz de Miranda, M.Sc., BRASKEM
________________________________________________
Estevão Freire, D.Sc., UFRJ
Rio de Janeiro
2023
AGRADECIMENTOS
Durante não somente a construção do presente trabalho, como também durante a minha
formação acadêmica, diversas pessoas foram essenciais. Por isso, agradeço:
À minha família, meus pais, Renata e Carlos, e meu irmão, Leonardo, por terem construído uma
base familiar sólida, de amor e apoio durante a minha vida. Agradeço por sempre terem
acreditado em mim, me levantado quando duvidei da minha capacidade e me proporcionado
um lar de conforto e carinho.
Ao meu namorado, Vicente, por me ter dado amor, companheirismo e palavras motivacionais.
Agradeço a força, a compreensão e os conselhos ao longo da construção do TCC. Também sou
grata por ter segurado a minha mão em momentos de ansiedade e estresse.
Finalmente, agradeço aos meus colegas de faculdade, de trabalho e aos amigos de infância pelos
momentos de descontração, pelas risadas que me trouxeram leveza e por acreditarem em mim.
Primeiramente, gostaria de agradecer aos meus pais, Therezinha e Paulo Henrique, que são
essenciais na minha trajetória, me dando amor e suporte incondicionais em todos os momentos.
Obrigada por sempre terem lutado para me dar todas as oportunidades possíveis e por me
incentivarem a seguir meus sonhos. Sem vocês, nada disso teria sido possível. Agradeço ainda
à minha madrinha Vera, ao meu padrinho Edson e às minhas avós, Léa e Eugênia, figuras que
ajudaram a moldar quem sou, sempre com amor e carinho.
Aos meus amigos Casado, Carlos, Gustavo, Thales e Vitor, que estiveram comigo em todos os
momentos, desde antes da UFRJ. Obrigada por se fazerem presentes independente da distância.
Agradeço aos amigos que fiz ao longo da graduação, Bárbara, Bruno, Giovana e Hashi, pelos
bons momentos, e aos meus amigos do CPII, em especial Lucas e Marina, pela presença
constante em minha vida. Agradeço ainda aos amigos que a Centrale Marseille me
proporcionou, em especial Luana e Mariana, que se tornou minha dupla nesse TCC e que me
apoiou nessa reta final de graduação.
Agradeço ao meu namorado Miguel, pelo amor e apoio ao longo dos anos, nos bons e maus
momentos. Obrigada por me acolher, me ouvir e me encorajar a seguir em frente.
À professora Bettina Susanne Hoffmann, pela orientação deste trabalho. Obrigada pela
paciência, pelos conselhos e pela confiança em mim e na Mari.
Agradeço ainda a todas as pessoas que não citei o nome, professores, funcionários e colegas,
que contribuíram de alguma forma para que eu chegasse até aqui. E, por fim, agradeço a mim
por ter perseverado e por ter tido coragem de acreditar em mim e nos meus sonhos.
Lorenna Conti Loffredo Luscura França da Silva
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”
(Fernando Pessoa)
RESUMO
Conti Loffredo Luscura França da Silva , Lorenna; Brasil Oliveira Cerne, Mariana. Reciclagem
Avançada de PET: Uma Prospecção Tecnológica. Rio de Janeiro, 2023. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação em Engenharia Química) - Escola de Química, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2023.
O aumento crescente na utilização dos plásticos, cuja estimativa de produção é de 1,1 bilhões de
toneladas em 2050, tem se mostrado um desafio para a gestão de resíduos, trazendo impactos diretos
ao meio ambiente e à sociedade. Com apenas 9% dos plásticos residuais sendo destinados para a
reciclagem, torna-se evidente a necessidade do desenvolvimento de tecnologias de reciclagem para
alcançar uma economia circular. Dentre os plásticos mais utilizados, destaca-se o politereftalato de
etileno (PET), matéria-prima amplamente explorada na confecção de embalagens. Apesar da forte
atuação da reciclagem mecânica na valorização de resíduos de PET, esta demonstra limitações em
termos da qualidade do produto reciclado final, de modo que as tecnologias de reciclagem avançada
têm se mostrado uma boa alternativa, gerando uma resina de alta pureza e com propriedades
similares à virgem. Desta forma, o presente trabalho buscou desenvolver um estudo de prospecção
tecnológica em reciclagem avançada de PET, visando apresentar e discutir as principais tecnologias
que vêm sendo exploradas recentemente, entre os anos de 2017 e 2023. Para tal, realizou-se uma
busca por artigos na base ScienceDirect, a fim de identificar as principais tecnologias citadas nos
trabalhos mais relevantes, tendo sido identificadas oito tecnologias de maior destaque, podendo
estas serem classificadas em três grupos distintos: solvólise (glicólise, aminólise, amonólise,
hidrólise e metanólise), termoquímicas (pisólise e gaseificação) e enzimáticas. Após análise
qualitativa dos artigos selecionados para avaliação do panorama atual de cada tecnologia, temas
mais discutidos e os principais desafios, concluiu-se que as vias de glicólise, hidrólise e pirólise se
mostraram as mais maduras atualmente. Em um segundo momento, utilizando o EspaceNet,
realizou-se uma busca de patentes relacionadas às oito tecnologias identificadas anteriormente, na
qual a avaliação quantitativa demonstrou que grande parte das patentes ligadas a processos de
reciclagem avançada não citam explicitamente termos de reciclagem no documento. Além disso,
observou-se que os processos enzimáticos vêm sendo bastante explorados, apresentando número
de famílias e de publicações muito acima das demais tecnologias.
Conti Loffredo Luscura França da Silva , Lorenna; Brasil Oliveira Cerne, Mariana. Reciclagem
Avançada de PET: Uma Prospecção Tecnológica. Rio de Janeiro, 2023. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação em Engenharia Química) - Escola de Química, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2023.
The growing increase in the use of plastics, whose estimated production is 1.1 billion tons in 2050,
has proven to be a challenge for waste management, bringing direct impacts to the environment
and society. With only 9% of waste plastics being recycled, it is clear that recycling technologies
need to be developed to achieve a circular economy. Among the most used plastics, polyethylene
terephthalate (PET) stands out, a raw material widely used in the manufacture of packaging. Despite
the strong performance of mechanical recycling in the valuation of PET waste, it demonstrates
limitations in terms of the quality of the final recycled product, so that advanced recycling
technologies have proven to be a good alternative, generating a high purity resin with properties
similar to virgin. In this way, the present work sought to develop a study of technological
prospection in advanced PET recycling, aiming to present and discuss the main technologies that
have been explored recently, between the years 2017 and 2023. To this end, a search for articles
was carried out in the ScienceDirect base, in order to identify the main technologies cited in the
most relevant articles. Eight technologies were identified as most prominent, which can be
classified into three distinct groups: solvolysis (glycolysis, aminolysis, ammonolysis, hydrolysis
and methanolysis), thermochemicals (pyrolysis and gasification) and enzymatic processes. After a
qualitative analysis of the articles selected to assess the current situation of each technology, the
most discussed topics and the main challenges, it was concluded that the glycolysis, hydrolysis and
pyrolysis pathways are currently the most mature. In a second moment, using EspaceNet, a search
for patents related to the eight previously identified technologies was carried out, in which the
quantitative evaluation showed that most of the patents related to advanced recycling processes do
not explicitly mention recycling terms in the document. In addition, it was observed that enzymatic
processes have been widely explored, with a number of families and publications far above other
technologies.
LISTA DE TABELAS
BFTA Bis(furan-2-ilmetil)tereftalamida
BHET Bis-hidroxietila
BHTA Bis-hidroxietil tereftalamida
CAGR Taxa de crescimento anual composta
COMEXSTAT Portal para acesso gratuito às estatísticas de comércio exterior do Brasil.
COV Compostos orgânicos voláteis
CPC Cooperative Patent Classification
DAA Dialil tereftalamida
DBU 1,8-diazabicyclo[5.4.0]undec-7-ene
DHTA Dihexil tereftalamida
DMT Tereftalato de dimetila
EG Etileno glicol
EPO European Patent Office
Food grade Grau alimentício
FORTEC Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia
Inventores Pesquisadores que desenvolvem patentes de invenção ou modelo de
utilidade.(83)
IPC International Patent Classification
LCC Cutinase de composto de folha
LI Líquido iônico
MDI Difenil metano diisocianato
MHET Methyl-2-hydroxyethylterephthalate
NCM Nomenclaturas Comerciais do Mercosul
NP Nanopartículas
Número de Medida do número de moléculas de substrato convertidas em produto
renovação por uma molécula de enzima por unidade de tempo, considerando que
a enzima está totalmente saturada com substrato. (82)
OECD Organisation for Economic Co-operation and Development
OMS Organização Mundial da Saúde
PCR Post-consumer recycled resin
PE Polietileno
PET Politereftalato de etileno
PLIs Polilíquidos iônico
PP Polipropileno
PROFNIT Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e
Transferência de Tecnologia para a Inovação
PSSA Poli(ácido 4-estirenossulfônico)
RAP Reclaimed asphalt pavement
r-PET Politereftalato de etileno reciclado
SBS Butadieno-estireno
SISCOMEX Sistema Integrado de Comércio Exterior
SRF Solid Refuse Fuel
Tg Temperatura de transição vítrea
Titulares Pessoa física ou jurídica, que tem legitimidade para proteger os direitos
de propriedade intelectual. (83)
TPA Ácido tereftálico
TPN Tereftalonitrila
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 16
1.1 Objetivos............................................................................................................................. 17
1.1.1. Objetivo Geral .......................................................................................................... 17
1.1.2. Objetivos Específicos ............................................................................................... 17
2 METODOLOGIA............................................................................................................. 17
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES.................................................................................... 31
1 Introdução
É de conhecimento comum que a aplicação de plásticos no dia a dia da população tem
se tornado cada vez mais expressiva. Possuindo aplicações industriais, em construção civil, em
embalagens e domésticas, a produção de plásticos mundial está estimada em 1,1 bilhões de
toneladas em 2050. (1) No entanto, a gestão destes resíduos continua sendo tema de diversas
pesquisas, visto que seus impactos negativos para o meio ambiente já foram identificados e são
dificilmente reversíveis. Dados da OECD (Organisation for Economic Co-operation and
Development) mostram que, mundialmente, 22% dos resíduos plásticos não são coletados ou
são mal geridos, 49% são despejados em aterros, 19% incinerados e apenas 9% são reciclados.
(2) Ou seja, a destinação do resíduo em menor porcentagem é a única que direciona para uma
economia mais circular.
1.1 Objetivos
2 Metodologia
2.1. O conceito da prospecção tecnológica
Segundo Antunes, Parreiras, Quintela e Ribeiro (11), diversas variáveis devem ser pré-
estabelecidas ao iniciar um estudo prospectivo. Considerando a finalidade e abrangência deste
trabalho, algumas variáveis de maior relevância foram selecionadas e são apresentadas na
Tabela 1 abaixo.
Reciclagem avançada do
Área de Conhecimento
politereftalato de etileno
Conhecimento intermediário de
Disponibilização do material na
Disseminação base de trabalhos finais de curso da
Escola de Química, UFRJ.
A escolha das bases de dados utilizadas deve ser feita de maneira cuidadosa e bem
elaborada, visto que seus resultados possuem um impacto significativo no desenvolvimento do
trabalho. Para isso, levou-se em consideração os seguintes critérios:
• Relevância dos resultados → para que a pesquisa seja feita segundo fontes
confiáveis, a base precisa retornar resultados já em ordem de relevância, isto é, uma
ordenação que leva em consideração os números e a frequência de citações do autor
e do material, o impacto da revista onde o material foi publicado, o quão próximo
seu conteúdo é da pesquisa que foi feita etc.
Dito isso, abaixo estão explicitadas e justificadas as bases de dados escolhidas para a
pesquisa em artigos e patentes, respectivamente.
Com mais de 19 milhões de artigos e capítulos, mais de 2.650 jornais com revisão
paritária e mais de 43 mil E-Books, o Science Direct é uma plataforma bastante difundida entre
pesquisadores ao redor do mundo. Esta base contém materiais voltados para a ciência e
tecnologia que incluem desde conceitos teóricos a aplicações práticas estando constantemente
atualizada. (12)
• Patentes → EspaceNet
EspaceNet é uma base de patentes do European Patent Office (EPO) com acesso
gratuito, sua usabilidade é facilitada para que seja usada tanto por iniciantes quanto por
especialistas da área. Essa plataforma conta com mais de 120 milhões de patentes de todo o
mundo considerando documentos que datam de 1782 e é atualizada diariamente. Também é
possível encontrar dados e gráficos sobre a evolução temporal de patentes depositadas por
assunto, principais países, classificações, titulares e inventores mais relevantes, etc. (13)
Para que a pesquisa fosse direcionada para o assunto desejado, palavras-chave foram
levantadas e combinadas com o auxílio de operadores booleanos (AND, OR, NOT). Além
disso, a pesquisa foi feita em inglês para um resultado mais abrangente e globalizado.
Como estratégia inicial, foi realizada uma pesquisa global no tema de reciclagem
química através da associação dos diversos nomes dados a tal área ao nome e sigla do polímero
alvo da pesquisa, demonstrado na tabela 2. A partir da avaliação dos principais artigos do tipo
review retornados com a pesquisa, identificou-se as tecnologias mais citadas: metanólise,
glicólise, hidrólise, amonólise e aminólise. Para complementar a busca, adicionou-se mais 3
21
Em relação à faixa temporal adotada neste estudo, optou-se por avaliar as publicações
compreendidas entre 2017 e 2023, uma vez que o objetivo seria mapear o cenário mais recente.
Normalmente é aplicada uma janela de 5 anos prévios à data da pesquisa. No entanto, para o
presente trabalho, foi levado em conta que as pesquisas foram feitas no início de 2023 e que os
anos de pandemia impactaram no número de publicações em 2020 e 2021. Por isso, o filtro
temporal se iniciou em 2017. Buscas atemporais foram realizadas apenas para avaliar a
evolução temporal do tema.
Para uma busca específica por tipo de tecnologia, a opção de "Busca Avançada" é
selecionada e o nome da tecnologia é adicionado como palavra-chave aos outros termos pelo
booleano AND. Nesse caso, o nome da tecnologia também é buscado no título, no resumo e
nas reivindicações.
Devido ao baixo número de resultados, uma segunda estratégia foi aplicada. Nela, os
termos ligados à Reciclagem Avançada foram retirados e apenas as tecnologias específicas e as
palavras-chave ligadas ao PET mantidas. A Tabela 3 agrupa todas as palavras-chave usadas e
suas combinações.
Palavras-Chave
Conjunto de Palavras-Chave Filtro
Estratégia adicionadas com AND em
em Title, abstract or claims Temporal
Title, abstract or claims
("Advanced Recycling" OR
"Chemical Recycling" OR Methanolysis
"Tertiary Recycling" OR Glycolysis
1 "Molecular Recycling") AND Hydrolysis
(PET OR "polyethylene Ammonolysis
2017-2023
terephthalate" OR "Poly ethylene Aminolysis
terephthalate") Pyrolysis
(PET OR "polyethylene Gasification
2 terephthalate" OR "Poly ethylene Enzyme OR Enzymatic
terephthalate")
Fonte: Elaboração própria.
3 Revisão bibliográfica
O PET ganhou destaque por sua vasta aplicabilidade devido às suas propriedades
químicas e físicas de interesse para a indústria. Dentre suas propriedades mais relevantes,
encontram-se: (16, 17, 18)
• Químicas
o Alta resistência a diversos solventes, assim como a bases e ácidos fracos.
Alguns exemplos de químicos aos quais o PET é resistente: metanol, hexano,
dióxido de enxofre etc.
o Permeabilidade a gases mais baixa do que a maioria dos outros plásticos.
o Resistente à biodegradação.
o Estável à coloração e processamento.
• Físicas
o Baixa absorção de água.
o Baixo peso.
o Alta rigidez e dureza.
o Boa transparência.
Garrafas;
Tipo de Produto Filmes e folhas;
Outros (fibras, termoformados etc.)
Alimentos e bebidas;
Automotiva;
Áreas de Aplicação Elétrica/eletrônica;
Cuidados com a saúde;
Bens de consumo.
Fonte: (19), modificada pelos autores.
24
Fonte: (20).
Fonte: (22).
O PET também pode ser gerado via transesterificação do tereftalato de dimetila (DMT)
com etilenoglicol formando o tereftalato de bis-hidroxietila (BHET). (3)
No material desenvolvido pela Mordor Intelligence (19) com período de estudo de 2017
a 2027, há a listagem de 5 principais líderes na fabricação da resina de PET. São eles:
Outro relatório, desta vez da Fortune Business Insights (25) com período de estudo de
2019-2030, adiciona ainda outros players de destaque:
No entanto, pelo que a própria empresa destaca (26), a Tailandesa Indorama Ventures é
a líder mundial na fabricação de politereftalato de etileno com mais de 20 plantas de produção
de PET em 5 continentes. Além disso, pela rápida análise das empresas mencionadas, entende-
se que há uma produção mais concentrada na Ásia e nos Estados Unidos.
250000
200000
Toneladas
150000
100000
50000
0
2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023
Importação Exportação
com moléculas de água e consequente degradação do polímero, reduzindo sua massa molecular
média. (3) Essas reações indesejadas fazem com que a resina final perca propriedades
mecânicas e reológicas, além de gerarem compostos orgânicos voláteis (COV), principalmente
acetaldeídos. (8) Há também outras desvantagens, como a dificuldade em colorir a resina
reciclada e o amarelamento/acinzentamento desta devido à oxidação (29), pontos que levam à
utilização do r-PET em produtos de menor qualidade e que por vezes tem os aterros como
destino final. (30)
4 Resultados e discussões
("Advanced Recycling" OR
"Chemical Recycling" OR "Tertiary NA 1888
Recycling" OR "Molecular
Recycling") AND (PET OR
"polyethylene terephthalate" OR 2017 - 2023 1298
"Poly ethylene terephthalate")
32
NA 108
Glycolysis
2017 - 2023 69
NA 26
Methanolysis
2017 - 2023 17
NA 94
Hydrolysis
2017 - 2023 58
NA 28
Aminolysis
2017 - 2023 19
NA 5
Ammonolysis
2017 - 2023 3
NA 268
Pyrolysis
2017 - 2023 211
NA 74
Gasification
2017 - 2023 61
NA 76
Enzymatic OR Enzyme
2017 - 2023 65
Dentro dos 1298 resultados retornados com a pesquisa global filtrada temporalmente,
há diversos tipos de publicações. Na Figura 7 encontra-se a distribuição destes resultados por
categoria de publicações.
Logo, para a pesquisa global prévia aos filtros por tecnologia, aplicou-se o filtro com o
intuito de obter apenas resultados de "Artigos de Pesquisa" e encontrou-se um resultado de 637
artigos publicados desde 2017. Após a inclusão de cada tecnologia como palavra-chave e a
aplicação do mesmo filtro de "Artigos de Pesquisa", foi possível a construção do gráfico
apresentado na Figura 8.
34
• Muitos artigos possuem um foco maior nos possíveis produtos gerados pela reciclagem
e não pela tecnologia aplicada em si (provável maioria dos artigos categorizados como
"outros", consideração subjetiva das autoras).
• Alguns artigos utilizam termos mais genéricos para fazer referência às tecnologias que
já haviam sido destacadas. Por exemplo, uso de "alcoólise" em vez de metanólise ou
"acidólise" em vez de hidrólise ácida.
• Também foram identificados artigos voltados para os impactos do uso de polímeros
reciclados na etapa de transformação, como a extrusão, além de estudos sobre as
propriedades da resina reciclada.
35
Fonte: (3).
Esse interesse crescente pode ser visto no resultado da busca por artigos relacionados
ao tema geral de reciclagem de PET, onde 69% dos resultados no ScienceDirect foram
publicados nos últimos 6 anos, indicando a atualidade da questão.
Por fim, dentre os assuntos relevantes presentes nos resultados da pesquisa genérica
sobre reciclagem avançada, o desenvolvimento de despolimerização enzimática foi
identificado, correspondendo então ao último grupo, o de tecnologias enzimáticas. Hidrolases
microbiológicas de poliésteres com a capacidade de degradar PET podem oferecer uma via
promissora econômica e ambientalmente para o gerenciamento de resíduos de PET. Estudos
desse tema são vistos como inovações e sua industrialização ainda é pouco explorada. (36)
Nos tópicos a seguir encontram-se os resultados mais detalhados de cada pesquisa por
tecnologia.
1) Tecnologias de solvólise
a) Metanólise
Esta rota química de despolimerização do PET ainda apresenta uma baixa taxa de
publicações quando comparada à glicólise, tendo sido observado que as pesquisas sobre
metanólise por vezes são focadas na despolimerização de outros polímeros de condensação,
como o policarbonato. (86) Apesar disso, são destacadas vantagens desta via frente a outras
tecnologias, principalmente em relação à pureza do produto final quando utilizadas fontes de
PET contendo contaminantes, como fibras naturais, aditivos e corantes. Isso se deve ao fato dos
produtos gerados, o EG e o DMT serem de fácil separação por cristalização, fusão-cristalização
ou, até mesmo, uma simples destilação, visto que os produtos possuem ponto de fusão de 288
°C e 198 °C, respectivamente, enquanto outros componentes possuem ponto de fusão de a partir
de 400 °C (4). Com isso, enquanto na glicólise há dificuldades na recuperação do produto puro,
na metanólise a geração de subprodutos coloridos contaminando o produto de interesse é
evitada, de modo que mesmo que a matéria-prima seja colorida não haverá impactos na
despolimerização e na purificação do DMT gerado. (37)
Tem-se que a metanólise pode ser catalítica ou supercrítica. Apesar de ambas as vias
apresentarem simples operação e fácil separação do produto, a via supercrítica requer condições
severas de temperatura e pressão, o que implica em um maior gasto energético, menor benefício
econômico e em riscos maiores ligados à segurança. (38) Tais fatores explicam o motivo pelo
qual a maioria dos artigos focam na via catalítica, uma vez que esta apresenta condições mais
brandas. Desta forma, o desenvolvimento de catalisadores é o tópico principal das pesquisas
recentes no tema.
(ZnO, Co3O4, etc) e os líquidos iônicos ([Bmim][Cl], [Bmim][AlCl4], etc.), com destaque aos
catalisadores à base de zinco, que se mostram os mais ativos. Há também catalisadores
homogêneos, como os acetatos metálicos (Zn, Mn, Co, etc.). (37, 39) No entanto, enquanto os
catalisadores heterogêneos apresentam baixa atividade e necessidade de altas temperaturas
reacionais, os homogêneos trazem dificuldades na sua recuperação, impactando a pureza e a
qualidade do produto gerado. (37, 38). Com isso, as pesquisas têm focado em desenvolver
catalisadores que sejam eficazes e de fácil recuperação e reuso, de modo a contornar a
dificuldade de purificação do monômero formado e a alta demanda energética do processo. (3)
Nesse âmbito, Jiang et al. (37) investigou o uso de polilíquidos iônico (PLIs), também
chamados de líquidos iônicos poliméricos, na metanólise do PET. Os PILs combinam as
propriedades catalíticas dos líquidos iônicos com as propriedades dos polímeros, trazendo
vantagens ligadas às propriedades mecânicas, estabilidade e processabilidade. Neste estudo, o
autor testou o líquido iônico 1-vinil-3-acetato de etilimidazólio ([VEIm]Ac), cuja cadeia
ramificada contém ligações insaturadas C=C, co-polimerizado com diferentes sais metálicos
(sais de Na+, Zn2+, Co2+), a fim de unir o poder catalítico do líquido iônico e dos metais. Em
condições brandas de temperatura (170 °C) por um período de 60 minutos, o estudo conseguiu
obter uma conversão de 100% do PET avaliado, com um rendimento de DMT de 89,1% ao
utilizar o catalisador PLI-Zn2+, de modo a reforçar como o Zn2+ de fato é um dos metais mais
ativos para despolimerização do PET. O catalisador apresentou fácil recuperação através de
filtração, podendo ser reutilizado por 6 ciclos.
Já Tang et al. (38) desenvolveu um catalisador à base de uma zeólita (NaY), modulando
sua basicidade através da impregnação com diferentes teores de MgO. Nesse estudo o grupo
destacou as vantagens trazidas pela utilização da zeólita, uma vez que esta apresenta sítios
ácidos e básicos que podem facilitar a reação, além de possuir maior área superficial, maior
tamanho de poro e maior facilidade de recuperação quando comparadas com os óxidos
metálicos sozinhos. O resultado mais promissor foi com um teor de 21% de MgO em NaY,
mostrando como a atividade do catalisador é diretamente proporcional a sua basicidade,
resultando em uma conversão de 99% do PET e um rendimento de 91% de DMT, podendo o
catalisador ser reutilizado em até 6 ciclos.
b) Glicólise
Os estágios iniciais da glicólise ocorrem em meio heterogêneo, com o PET em sua forma
sólida. Sendo assim, a taxa de despolimerização depende diretamente da área superficial, do
inchaço e da solubilidade do PET, o que influencia na transferência de massa nas regiões de
interface sólido-líquido. (41)
A maior parte dos processos de glicólise sem catalisador ocorre de forma extremamente
lenta, inviabilizando sua aplicação. (16) O catalisador desempenha, portanto, um papel de
destaque nas pesquisas voltadas para glicólise de PET. Os objetivos principais para as pesquisas
42
desenvolvidas giram em torno de atingir uma eficiência satisfatória com condições mais
brandas de reação, como menor tempo reacional, menor temperatura e menor quantidade de
catalisador aplicado (risco de contaminação do produto final). Alguns grupos químicos têm
apresentado destaque em sua atividade catalítica, como sais metálicos, cloretos metálicos,
óxidos metálicos, solventes eutéticos profundos e líquidos iônicos. (41)
O uso de acetatos metálicos como catalisadores é objeto de estudo desde 1989. Hoje, o
acetato de zinco é o catalisador mais amplamente aplicado para glicólise de poliésteres e confere
a melhor atividade reacional se comparado outros acetatos metálicos, como manganês, chumbo
e cobalto. Para o catalisador em questão, a reação de despolimerização atinge equilíbrio após
2-3h a 196 °C e eficiência de 85,6% de BHET. Todavia, há desvantagens no uso atual de
catalisadores metálicos por agravarem a poluição ambiental e aumentarem a concentração de
impurezas no produto final. (40) Logo, existe uma crescente demanda por alternativas eficazes
e ecologicamente corretas, que sejam facilmente separáveis da mistura reacional. (44)
Chen et al. (40) salienta as limitações que as inovações em catalisadores trazem para o
processo, destacando a complexidade na preparação dos novos catalisadores prévia à reação de
glicólise. É o caso para o uso de líquidos iônicos, nanocompósitos, nanopartículas
superparamagnéticas e solventes eutéticos profundos.
Organocatalisadores têm sido objeto de estudo como uma alternativa sustentável aos
catalisadores metálicos. No entanto, ao serem usados como catalisador único, a eficiência em
BHET é abaixo do esperado. Chen et al. (40) então, propõe o uso do organocatalisador 1,8-
diazabicyclo[5.4.0]undec-7-ene (DBU) com acetato de zinco como co-catalisador. Após a
análise de diversos parâmetros reacionais, obteve-se como resultado ótimo a completa
despolimerização do PET a 180 °C e 77 min. A razão mássica de EG/PET foi de 3:1 e a razão
molar de acetato de zinco/organocatalisador de 1:2. Obteve-se 80% de recuperação do
monômero BHET com pureza de 94,85%. Catalisadores compostos de organocatalisador e
acetato metálico podem ser, portanto, uma opção para uma efetiva reação de glicólise sem a
necessidade de um preparo prévio complexo.
preparo sofisticado antes de ser aplicado. Zheng et al. (41) defende, no entanto, que líquidos
iônicos (IL) possuem vantagens relevantes como a baixa volatilidade, alta capacidade catalítica
e propriedades configuráveis. Usualmente, os IL aplicados são imidazólicos de base metálica,
mas estudos mostram que IL com base de colina podem gerar uma eficiência de BHET igual
ou melhor, podendo chegar a 85,2%, sendo ainda biodegradáveis.
Krisbiantoro et al. (43) também desenvolveram com sucesso as ferritas metálicas de Zn,
Cu, Co e Ni fazendo uso de uma técnica mecanoquímica sem solvente simples. A glicólise de
PET foi realizada a 190 °C por 6h e a atividade catalítica, no caso em conversão de PET,
mostrou ser correlacionada com a força de ácido de Lewis do íon metálico com a ordem de
ZnFe2O4 > CuFe2O4 > CoFe2O4 > NiFe2O4 (100%, 83%, 77%, 71%).
Zeólitas, solventes eutéticos profundos, MOFs são grupos de catalisadores ainda sendo
explorados e são assuntos potenciais para futuras publicações. (87)
c) Hidrólise
Atrás apenas da glicólise, a hidrólise foi a tecnologia de solvólise de PET que mais
apresentou publicações recentes. Uma das vantagens apresentadas por essa tecnologia é o
potencial de ser utilizada para tratar resíduos complexos de PET, apresentando alta tolerância a
aditivos e corantes em solução aquosa. (47) Dessa forma, a hidrólise é aplicável tanto para PET
incolor quanto para PET colorido, de modo a levar ambos a conversões similares. (48)
NaOH ou KOH, tendo este último sido utilizado no recente estudo desenvolvido por Wang et
al. (49).
Čolnik et al. (48) ressaltam que, comparando os 3 principais tipos de hidrólise, a neutra
acaba se destacando por evitar problemas causados pela alta corrosividade do meio e a formação
de quantidades significativas de sais inorgânicos difíceis de descartar, que são provenientes da
neutralização dos meios. O estudo indica então a utilização de água sub e supercrítica como
meio reacional, uma vez que fluidos sub e supercríticos, como água e álcool, tem se mostrado
excelentes meios de reação para a conversão rápida e seletiva de materiais residuais. Os autores
46
salientam que a hidrólise neutra nestas condições pode ser promissora, uma vez que se mostra
vantajosa em termos de desempenho e economia do processo, tem baixo impacto ambiental, é
potencialmente útil para tratar resíduos plástico mistos e contaminados com matéria orgânica,
não faz uso de catalisadores, além de ter uma fácil remoção da água dos produtos finais. No
artigo foi possível obter um rendimento de 85-90% em TPA com 98% de pureza a uma
temperatura relativamente baixa (300 °C) por um curto tempo (30 min), tanto para PET colorido
quanto para incolor. Para essa via de degradação do PET, o fator de intensidade energética se
mostra importante devido ao aquecimento de grandes quantidades de água. Através de uma
análise energética, foi destacado que o consumo pode ser otimizado com o aumento de escala,
de bancada para industrial, o que tornaria essa rota factível para aplicação na indústria.
Além dos avanços descritos para as rotas principais de hidrólise, foi observada ainda
uma frente crescente relacionada ao uso de enzimas como catalisadores, caracterizando então
uma hidrólise enzimática. Essa temática será abordada em mais detalhes na Seção 3.2.1.2 deste
trabalho.
Para além das rotas de hidrólise, foi possível observar diversos estudos com enfoque
não somente em uma tecnologia mas em uma “despolimerização híbrida”, que consiste na
combinação de tecnologias como forma de alcançar uma despolimerização mais eficiente.
Azeem et al. (51) destaca que estas estão surgindo como rotas sustentáveis de alto potencial
com benefícios consideráveis em relação aos métodos convencionais de reciclagem. Em seu
trabalho, é utilizada a rota glicólise-hidrólise, mas outras combinações que vêm sendo aplicadas
são citadas, como glicólise-metanólise e metanólise-hidrólise. Com a rota híbrida estudada,
sendo esta assistida por irradiação por microondas, foi possível obter >98% de conversão de
PET virgem e pós consumo sob condições operacionais brandas em apenas 3,5 min. Vale
47
Além de buscar uma maior eficiência, a despolimerização híbrida apresenta ainda outros
objetivos, como o avaliado por Li et al. (47), que buscaram descolorir e degradar o PET
simultaneamente e, para tal, combinaram os efeitos da pirólise e da hidrólise. O trabalho
mostrou como essa rota permite remover tintas com diferentes estruturas (azo e antraquinona)
e despolimerizar o PET em um alto rendimento de TPA (88%), tendo este uma pureza similar
ao comercial. Dessa forma, o trabalho mostrou como a combinação de tecnologias é promissora
para o tratamento de resíduos complexos de PET a nível industrial.
Foi possível perceber que, apesar da hidrólise básica se destacar, têm sido relatados
avanços em todas as demais vias, sendo vista uma busca para tornar estas vias cada vez mais
viáveis industrialmente. Para tal, as condições operacionais, a intensidade energética e a
possibilidade de tratar resíduos plásticos complexos (mistos, coloridos, contaminados) têm sido
pontos relevantes nos trabalhos mais recentes.
d) Amonólise
Apesar de ser mencionada como uma das principais tecnologias de reciclagem química
do PET, a amonólise não foi foco de novas pesquisas nos últimos anos. Ao ser aplicada como
palavra-chave, tem-se apenas 3 resultados desde 2017 e apenas 1 deles envolve uma nova
pesquisa.
O estudo em questão, desenvolvido por Arpita et al. (54), envolve a busca por uma
solução para os níveis de arsênio acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) nas águas de algumas regiões da Índia. Uma bactéria chamada Bacillus cereus seria
responsável pela bioremediação de arsênio no meio tendo como adsorventes o produto da
amonólise de PET.
e) Aminólise
Bäckström et al. (31) buscaram encontrar uma maneira de acelerar a reação de aminólise
de PET sem a presença de catalisador. A alternativa encontrada foi o uso de microondas e a
reação foi performada com 4 aminas diferentes: alilamina, etanolamina, furfurilamina e
hexilamina. A Tabela 6 resume os resultados encontrados por amina após a reação ocorrida a
180-200 °C.
Tempo de Rendimento em
Amina Produto
Reação (minutos) produto filtrado
Bis-hidroxietil tereftalamida
Etanolamina 10 91%
(BHTA)
Bis(furan-2-ilmetil)tereftalamida
Furfurilamina 60 82%
(BFTA)
Os produtos passaram por uma simples filtração e, sem mais nenhuma etapa de
purificação, foram aplicados como agente plastificante para poliácido lático (BHTA, BFTA e
DHTA) ou como resina para a fabricação de filmes plásticos fotopolimerizáveis (DAA).
Leng et al. (59) também desenvolveu um estudo onde o produto da aminólise de PET com
trietileno tetramina é utilizado como aditivo para a mistura de betume virgem com betume
reciclado (reclaimed asphalt pavement - RAP). O uso do aditivo mencionado também amplifica
a resistência à fadiga e à deformação permanente da mistura asfáltica, além de resultar em uma
performance a baixas temperaturas próxima àquela de asfalto virgem.
2) Tecnologias termoquímicas
a) Pirólise
Uma das alternativas mais observadas tem sido a utilização de catalisadores, sendo realizada
então uma pirólise catalítica ao invés de térmica.
Além do uso de catalisadores, uma outra frente crescente para reduzir a demanda
energética do processo é a realização da pirólise assistida por microondas, substituindo assim o
aquecimento elétrico convencional. De acordo com Z. Zhao et al. (64), essa é atualmente uma
das alternativas mais eficazes para melhorar a transferência de calor e acelerar o processo de
pirólise devido ao aquecimento uniforme, rápido e seletivo, uma vez que a radiação de
microondas interage com materiais absorventes de modo a aquecer os reagentes alvo sem
interagir com a parede do reator. Um ponto interessante é que os materiais absorventes
utilizados por vezes agem também como catalisadores, como o caso do Fe 3O4, para catálise
ácida, e do CaO, para a básica. (64)
Apesar da intensidade energética ser no geral tratada como algo a ser reduzido, há
trabalhos que buscam não uma redução, mas sim uma compensação de tal energia. Isso pode
ser observado no estudo desenvolvido por Y. Liu et al. (66), no qual o foco era pirolisar o
resíduo de PET a fim de recuperar a energia na forma de combustível sólido com um alto poder
calorífico superior. Tal trabalho mostrou uma forma diferente de tratar a problemática da
energia, tendo conseguido alcançar uma recuperação da eficiência energética na faixa de
22,16% - 34,35%.
De modo geral, foi possível observar que a pirólise, seja térmica ou catalítica, se mostra
uma tecnologia de bastante interesse por sua simplicidade operacional, versatilidade em relação
aos produtos gerados e robustez no processamento de resíduos complexos, estando os
54
b) Gaseificação
Por conta dessa composição final, observou-se que diversos trabalhos buscam então a
obtenção de gás de síntese (H2 e CO), uma vez que esta é uma matéria-prima essencial para a
produção de fertilizantes, combustíveis e solventes, tendo alto valor agregado. (69) Diversos
métodos podem converter resíduo plástico em gás de síntese e, dentre os que correspondem à
gaseificação, tem-se principalmente a gaseificação a ar, a vapor ou ainda a co-gaseificação com
biomassa, (69) de modo que todas essas vias puderam ser observadas nos trabalhos mais
relevantes avaliados.
da gaseificação, o alcatrão, sinalizado por outros autores como um dos grandes obstáculos da
gaseificação. (71)
Com isso, a utilização de correntes mistas se mostra atrativa, seja como explorado por
S. W. Han et al. (73) ao estudar a gaseificação de SRF (Solid Refuse Fuel), uma mistura
contendo PET e diversos outros plásticos e tipos de resíduos (pneus, têxteis, resinas sintéticas),
ou seja, como uma co-gaseificação com biomassa, uma vertente que tem ganhado destaque. Na
co-gaseificação, tem-se um efeito sinérgico que favorece a produção de gás de síntese (35),
tornando o processo de gaseificação mais flexível (33). Isto pode ser visto no estudo de Abedin
et al. (74), no qual foi realizada uma co-gaseificação de resíduos plásticos (PET, PP e PS) com
palha de milho assistida por microondas, a fim de aumentar a produção de H 2. Além da sinergia
das matérias primas, o trabalho demonstrou como o uso do microondas trouxe maior
rendimento em H2 e menor geração de alcatrão quando comparado com o aquecimento
convencional.
Para além dos tipos de gaseificação tradicionais já citados, dentre os artigos mais
relevantes observou-se ainda a exploração do uso de condições supercríticas, sendo classificada
56
como uma gaseificação hidrotérmica. (33) Nesse âmbito tem-se o trabalho desenvolvido por
Guan et al. (71), onde avaliou-se a degradação de microplásticos de PET em um ambiente de
H2O/CO2 supercríticos. Devido às condições supercríticas, os autores destacaram o alto
consumo energético, mostrando uma necessidade de otimização do processo.
Em uma análise global, a gaseificação tem se mostrado uma boa alternativa para o
tratamento de resíduos mistos e contaminados, sendo eficiente na geração de gás de síntese. No
entanto, ainda apresenta como grande desafio a geração de alcatrão, uma vez que esse sub-
produto pode entupir tubulações ou contaminar equipamentos de processo (73), sendo um
obstáculo citado na maioria dos trabalhos avaliados.
3) Tecnologias Enzimáticas
Dentro da ideia de compreender cada vez melhor o mecanismo de reação das enzimas,
Zheng et al. (76) fez uso de métodos de mecanismo quântico/molecular e de simuladores de
dinâmica molecular. Os intermediários tetraédricos de seis hidrolases de PET representativas
apresentam quiralidade do tipo S. Logo, o uso de engenharia enzimática para aumentar a S-
seletividade pode ampliar a eficiência da despolimerização e ser uma via potencial para
viabilizar a industrialização.
No estudo desenvolvido por Graham et al. (77), avaliou-se variantes da enzima cutinase
de composto de folha (LCC), de modo que uma variante apresentou maior termoestabilidade,
reagindo com um teor maior de PET. Quando em baixas concentrações de sólidos, o estudo
observou o estímulo da hidrólise do PET. No entanto, quando em altos teores de plástico, os
resultados não se mostraram promissores, não sendo interessantes para uma aplicação industrial
no momento.
Os principais resultados das buscas por patentes foram separados em dois grupos:
resultados por família de patentes e por número total de publicações.
Segundo o EspaceNet, a família de patentes pode ser entendida como um grupo que
compreende todos os documentos possuindo exatamente a mesma prioridade ou combinação
de prioridades. (81). Ou seja, cada família representa uma invenção. Já o número total de
publicações realiza a contagem de patentes depositadas, podendo uma invenção ser depositada
em diferentes localidades e, portanto, sendo contabilizada mais de uma vez.
Palavras-Chave Resultado
Famílias de Patentes 10
Glycolysis
Número total de publicações 15
Famílias de Patentes 14
Hydrolysis
Número total de publicações 36
Famílias de Patentes 3
Aminolysis
Número total de publicações 5
Famílias de Patentes 3
Ammonolysis
Número total de publicações 5
Famílias de Patentes 23
Pyrolysis
Número total de publicações 63
Famílias de Patentes 15
Gasification
Número total de publicações 42
Famílias de Patentes NA
Enzymatic OR Enzyme
Número total de publicações NA
Fonte: Elaboração própria.
Fonte: Espacenet.
O gráfico aponta um pico de depósitos nos anos de 2021 e 2022. Há uma queda em 2023
pela pesquisa ter sido feita no início do ano, mas já foram identificadas 32 patentes depositadas
apenas este ano. Essa observação comprova a contemporaneidade do tema.
Após a obtenção dos resultados sem restrição de tempo, aplicou-se o filtro temporal de
2017-2023, faixa previamente definida para estudo. A fim de identificar a quantidade de
invenções distintas que versam atualmente sobre cada tecnologia, a busca teve enfoque apenas
no número de famílias diferentes. Foram obtidos 63 resultados para esse intervalo de tempo, o
que corresponde a 62% dos resultados globais. Sua distribuição por tecnologia está descrita na
Figura 19:
62
Fonte: Espacenet.
Fonte: Espacenet.
Quanto aos titulares por país, foi feito um cálculo de porcentagem sobre o total de
patentes no período estudado, descrito no gráfico da Figura 23:
65
.
Figura 23 - Percentual de titulares de patentes por país entre 2017 e 2023.
Nota-se que os Estados Unidos despontam como o país que mais deposita patentes
relacionadas a tecnologias de reciclagem avançada de PET. Uma outra comprovação da
liderança dos Estados Unidos no assunto é a Eastman Chem CO, empresa norte-americana de
especialidades químicas, ser titular de 40% das famílias de patentes publicadas.
Além disso, é importante destacar que o Brasil estar na frente da China em número de
patentes publicadas foge consideravelmente do esperado. Quando se trata de pesquisas
envolvendo novas tecnologias, a China costuma ser um dos atores principais na inovação. Esse
fato pode ser um indicativo de que a metodologia de busca poderia requerer ajustes, o que nos
estimula a seguir com a estratégia descrita no item b, abaixo.
Palavras-Chave Gerais
Famílias de Patentes 42
Methanolysis
Número total de
103
publicações
Famílias de Patentes 32
Aminolysis
Número total de
50
publicações
Famílias de Patentes 19
Ammonolysis
Número total de
34
publicações
Número total de
365
publicações
Comparando com a estratégia de busca anterior, foi retornada uma quantidade maior de
patentes para todas as tecnologias, indicando que, de fato, além de grande parte das patentes
não colocarem a reciclagem como um enfoque, as mesmas utilizam outros termos genéricos
para referenciar esse processo como, por exemplo, “despolimerização”, “valorização”,
“degradação” e “decomposição”. Além disso, observou-se uma mudança brusca de cenário para
as tecnologias enzimáticas. Enquanto no tópico anterior não foram encontradas patentes
referentes à tais tecnologias, na nova busca estas englobaram a grande maioria dos resultados,
correspondendo a 59,1% dos resultados globais em termos de famílias de patentes. Esse fato
indica que processos enzimáticos vêm sendo bastante explorados para degradação do PET,
demonstrando como há campo para inovação na esfera da biocatálise.
Para avaliar a evolução temporal, comparou-se os resultados com e sem restrição de faixa
temporal, estando descritos no gráfico da figura 25.
famílias. Isso pode ser um indicativo de que as invenções relacionadas a reciclagem enzimática,
pirólise, gaseificação e metanólise são mais atuais se comparadas à outras tecnologias.
A fim de entender quais as temáticas principais abordadas pelas patentes para cada
tecnologia, buscou-se as principais classificações das patentes em IPC e CPC, entre 2017 e
2023, estando estas descritas a seguir, bem como suas descrições obtidas na aba "Classification
search" também no Espacenet.
• Glycolysis
o IPC: C08J11 → Recovery or working-up of waste materials (recovery of
plastics; polymerisation processes involving purification or recycling of waste
polymers or their depolymerisation products).
o CPC: Y02W30 → Technologies for solid waste management.
• Methanolysis
o IPC: C08J11 → Recovery or working-up of waste materials (recovery of
plastics; polymerisation processes involving purification or recycling of waste
polymers or their depolymerisation products).
o CPC: Y02W30 → Technologies for solid waste management.
• Hydrolysis
o IPC: C08L67 → Compositions of polyesters obtained by reactions forming a
carboxylic ester link in the main chain; Compositions of derivatives of such
polymers.
o CPC: C08K5 → Use of organic ingredients.
• Aminolysis
o IPC: C08J11 → Recovery or working-up of waste materials (recovery of
plastics; polymerisation processes involving purification or recycling of waste
polymers or their depolymerisation products).
o CPC: Y02W30 → Technologies for solid waste management.
• Ammonolysis
o IPC: C08G63 → Macromolecular compounds obtained by reactions forming a
carboxylic ester link in the main chain of the macromolecule
das invenções estão relacionados a esse propósito. Além disso, com relação aos processos
enzimáticos, uma forma de justificar o aumento do número de resultados de patentes quando
comparado com a estratégia de busca anterior é a variedade de possibilidades em termos de
mutação genética de enzimas, sendo esta temática indicada pelos principais IPC/CPC
retornados.
• Glycolysis
o IFP Energies nouvelles (França) → 7/67
o Resinate Materials Group Inc. (EUA) → 4/67
o Garbo Srl (Itália) e Octal Saoc Fzc (Omã) → cada uma 3/67
• Methanolysis
o Eastman Chemical Company (EUA) → 9/21
o Institute of Process Engineering of Chinese Academy of Sciences (China) →
4/21
o Octal Saoc Fzc (Omã) → 3/21
• Hydrolysis
o Dainippon Printing Co., Ltd. (Japão) → 23/962
o Jiangnan University (China) → 20/962
o Toray Industries (Japão) → 15/962
• Aminolysis
o IBM - International Business Machines Corporation (EUA) → 3/13
o IBM China Investment Co (China) → Ltd 3/13
o IBM UK (United Kingdom) → 3/13
• Ammonolysis
o IBM - International Business Machines Corporation (EUA) → 3/6
o IBM China Investment Co (China) → 3/6
o IBM UK (United Kingdom)→ 3/6
72
• Pyrolysis
o Eastman Chemical Company (EUA) → 27/293
o Chevron U.S.A., Inc. (EUA) → 8/293
o SABIC Global Technologies B.V. (Arábia Saudita) → 5/293
• Gasification
o Eastman Chemical Company (EUA) → 21/78
o Hunan Dingzhong Environmental Protection Technology Co. Ltd. (China) →
4/78
o Hunan University of Humanities, Science and Technology (China) → 3/78
• Enzymatic
o Jiangnan University (China) → 198/2835
o Nanjing Tech University (China) → 38/2835
o Tianjin University (China) → 33/2835
Com a análise feita acima, percebe-se que, assim como para a pesquisa global feita
incluindo os termos de reciclagem, a Eastman Chemical Company também aparece como
principal titular para patentes relacionadas a metanólise, pirólise e gaseificação. A empresa
IBM, mesmo que de diferentes localizações, se mostra majoritária nas invenções de aminólise
e amonólise. Por fim, é interessante destacar a presença significativa de universidades e
institutos de pesquisa entre os titulares de patentes relacionadas à reciclagem enzimática. Isso
pode ser um indicativo de que, apesar de muito estudo já ter sido feito para esse fim, as empresas
capazes de aplicar o processo industrialmente ainda não são titulares das invenções, como para
outras tecnologias.
Tecnologia Pontos-Chave
Produtos Tereftalato de dimetila e etilenoglicol
Possibilita tratamento de resíduos de PET contaminados
Metanólise
Vantagens por corantes e aditivos e oferece produto final de alta
pureza pela facilidade de separação por cristalização.
73
Sendo assim, linhas de estudo foram entendidas e descritas, assim como o os resultados
numéricos das pesquisas foram analisados. Isso fez com que fosse possível identificar as
singularidades de cada tecnologia, incluindo vantagens e desvantagens, tendo sido destacadas
na Tabela 9.
Foi possível então observar que, atualmente, glicólise, hidrólise e pirólise são as
tecnologias mais exploradas no âmbito da reciclagem do PET, sendo alvo dos estudos mais
recentes. No entanto, ainda que para as tecnologias enzimáticas não tenha sido identificada uma
relevância em termos de aplicação industrial, estas se mostram um campo bem amplo para
inovação, sendo um expoente em patentes relacionadas ao PET.
Em termos de contemporaneidade, com base nos resultados da busca por artigos, cerca
de 80% das publicações de pirólise, gaseificação e reciclagem enzimática datam de 2017 a
2023. Enquanto para as tecnologias de solvólise, no mesmo período de tempo, tem-se cerca de
60% das publicações.
76
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