H. A. Lorentz - A Teoria Da Relatividade de Einstein
H. A. Lorentz - A Teoria Da Relatividade de Einstein
H. A. Lorentz - A Teoria Da Relatividade de Einstein
LORENTZ
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ISBN
9788555851094
Capa
Espelho
Página de créditos
O autor
Apresentação
Introdução
A Teoria da Relatividade de Einstein
Deflexão da luz
Dificuldade exagerada
Notas de rodapé
(1916)
Apresentação
“Por favor, imagine que a terra desaparecesse, e no seu lugar houvesse uma caixa
grande como um quarto ou uma casa inteira suspensa, e dentro, um homem flutuando
no centro, não havendo nenhuma força que o puxasse. Imagine agora, esta caixa sendo
puxada subitamente para um lado por uma corda ou outro artifício, o que é chamado em
termos científicos de movimento acelerado em oposição a movimento uniforme. A
pessoa iria então naturalmente para o outro extremo da caixa. O resultado seria
consequentemente o mesmo que o da lei da gravitação de Newton, apesar de, de fato,
nenhuma gravitação estar agindo, isso prova que o movimento acelerado produzirá em
todos os casos os mesmos efeitos que a gravitação.
Eu venho aplicando essa nova ideia a todo o tipo de movimento acelerado e tenho assim
desenvolvido as fórmulas matemáticas que, estou convicto, dão resultados mais
precisos que os obtidos pela teoria de Newton. As fórmulas de Newton, entretanto, são
tão boas aproximações que é difícil encontrar, através de observações, qualquer
desacordo mais obvio com experimentos.”
“Até agora acreditava-se que o tempo e o espaço existiam por si mesmos até se não
houvesse mais nada – nem sol, nem terra, nem estrelas –, no entanto, agora sabemos
que o tempo e o espaço não são o recipiente do universo, mas nem mesmo existiriam se
não houvesse o conteúdo, isto é, o sol, a terra e os outros corpos celestes.”
Essa relatividade especial, que forma a primeira parte da minha teoria, aplica-se a todos
os sistemas em movimento uniforme; isto é, movendo-se em uma linha reta com
velocidade constante.
Gradualmente eu fui sendo levado à ideia, aparentemente bem paradoxal na ciência, de
que isso se aplica igualmente a todos os sistemas em movimento, mesmo em
movimento acelerado, e assim eu desenvolvi a concepção da relatividade geral que
forma a segunda parte da minha teoria.”
Como foi resumido pelo astrônomo americano, Professor Henry Norris
Russell, de Princeton, na Revista Scientific American de 29 de novembro, a
contribuição de Einstein equivale ao seguinte:
“O fato central que foi demonstrado – e que é de grande interesse e importância – é que
os fenômenos naturais envolvendo gravitação e inércia (tais como os movimentos dos
planetas) e os fenômenos naturais envolvendo eletricidade e magnetismo (incluindo o
movimento da luz) não são independentes um do outro, mas estão intimamente
relacionados, de modo que ambos os conjuntos de fenômenos devem ser considerados
como partes de um amplo sistema, englobando toda a Natureza. A relação entre os dois,
entretanto, é de tal feitio que somente é perceptível em pouquíssimos casos, e somente
em observações precisas.”
Mesmo antes da guerra, Einstein tinha uma fama imensa entre os físicos, e
entre todos que têm interesse em filosofia da ciência, por causa do seu princípio
da relatividade.
Maxwell havia mostrado que a luz é eletromagnética, e havia reduzido toda
a teoria do eletromagnetismo a um pequeno conjunto de equações, o que foi
fundamental para todo o desenvolvimento subsequente. Mas nessas equações
estava enredada a hipótese do éter1, e a noção de movimento relativo ao éter.
Como supunha-se que o éter estava em repouso, esse movimento era
indistinguível do movimento absoluto. O movimento da terra em relação ao éter
deve ser diferente em pontos diferentes de sua órbita, e fenômenos mensuráveis
deveriam surgir como resultado dessa diferença. Mas não surgiram, e todas as
tentativas de detectar efeitos do movimento da terra em relação ao éter falharam.
A teoria da relatividade teve sucesso em levar em consideração esse fato. Mas
foi necessário, a propósito, abandonar o tempo universal e substituí-lo por
tempos locais relacionados aos corpos em movimento e variando de acordo com
seu movimento. As equações nas quais a teoria da relatividade é baseada são
devidas a Lorentz, mas Einstein conectou-as com seu princípio geral, a saber,
que não deve haver nada, nos fenômenos observáveis, que possa ser atribuído ao
movimento absoluto do observador.
Na ortodoxia da dinâmica de Newton o princípio da relatividade tem uma
forma mais simples, que não requer a substituição do tempo local por um tempo
geral. Mas agora fica claro que a dinâmica de Newton é válida somente quando
nos restringimos a velocidades muito menores que a velocidade da luz. Todo o
sistema de Galileu-Newton, portanto, se reduz ao nível de uma primeira
aproximação, tornando-se progressivamente menos exato à medida que as
velocidades em consideração se aproximam da velocidade da luz.
A extensão de seu princípio por Einstein, de modo a levar em conta a
gravitação, foi feita durante a guerra, e por um período considerável nossos
astrônomos não conseguiram se familiarizar com ela, devido à dificuldade de se
obter material impresso alemão. Entretanto, cópias do seu trabalho por fim
alcançaram o mundo exterior, permitindo que se aprendesse mais sobre ele. A
gravidade, desde Newton, havia ficado isolada das outras forças da natureza;
diversas tentativas de alterar isso foram feitas, mas sem sucesso. A imensa
unificação levada a efeito pelo eletromagnetismo aparentemente havia deixado a
gravidade fora de seu escopo. Parecia que a natureza havia proposto aos físicos
um desafio que nenhum deles estava apto a fazer frente.
Nesse ponto Einstein interveio com uma hipótese que, independe de toda
verificação subsequente, merece ranquear como um dos grandes monumentos do
gênio humano. Após corrigir Newton, faltava corrigir Euclides, e foi em termos
de geometria não-euclidiana que ele apresentou sua nova teoria. Geometria não-
euclidiana é um estudo cujo objetivo original era lógico e filosófico; poucos
entre seus criadores sequer sonhavam que ela viria a ser aplicada na física.
Percebeu-se que alguns dos axiomas de Euclides não eram “verdades
necessárias”, mas somente leis empíricas; de modo a estabelecer essa visão,
geometrias internamente consistentes foram construídas sobre premissas outras
que as de Euclides. Nessas geometrias a soma dos ângulos de um triângulo não é
dois ângulos retos, e a diferença em relação a dois ângulos retos aumenta à
medida que o tamanho do triângulo aumenta. É frequentemente dito que em
geometrias não-euclidianas o espaço tem uma curvatura, mas essa maneira de
apresentar a matéria é equivocada, uma vez que parece implicar uma quarta
dimensão, o que não é uma implicação desses sistemas.
Einstein supôs que o espaço é euclidiano nas regiões distantes o suficiente
da matéria, mas a presença de matéria faz com que ele se torne levemente não-
euclidiano – quanto mais matéria há na vizinhança, mais o espaço se distancia de
Euclides. Com o auxílio dessa hipótese, e mais sua prévia teoria da relatividade,
ele deduziu a gravitação – muito proximamente, mas não exatamente, em acordo
com a lei de Newton do inverso do quadrado. As pequenas diferenças entre os
efeitos deduzidos por sua teoria e aqueles deduzidos pela teoria de Newton são
mensuráveis em alguns casos. Há, até o momento, três testes cruciais da precisão
da nova teoria em relação à antiga.
(1) O periélio de Mercúrio apresenta uma discrepância que há muito intriga
os astrônomos. Esta discrepância é plenamente explicada por Einstein. Quando
foi publicado sua teoria, essa era sua única verificação experimental.
(2) Os físicos modernos estavam dispostos a supor que a luz seria sujeita à
gravitação – isto é, que um raio de luz passando perto de uma grande massa
como o sol seria defletido de acordo com a teoria ortodoxa da gravitação. Mas a
teoria de Einstein requeria que a luz fosse defletida o dobro do previsto pela
teoria antiga. A questão só poderia ser testada durante um eclipse entre um
conjunto de estrelas brilhantes. Por sorte um eclipse peculiarmente favorável
ocorreu ano passado. Os resultados das observações foram agora publicados e
são tais que validam as previsões de Einstein. A validação não é, obviamente,
exata; em observações tão delicadas isso não deve ser esperado. Em alguns casos
o desvio é considerável. Mas levando-se em conta a média das melhores séries
de observações, a deflexão junto à borda do sol foi encontrada como sendo
1,98”, com um erro provável de seis por cento, enquanto a deflexão calculada
pela teoria de Einstein deveria ser 1,75”. Deve-se notar que a teoria de Einstein
prevê uma deflexão que é o dobro da prevista pela teoria ortodoxa, e que a
deflexão observada é levemente maior que a que Einstein previu. A discrepância
está dentro do que se poderia esperar tendo em vista a minuciosidade das
medições. É, portanto, geralmente reconhecido pelos astrônomos que o resultado
é um triunfo para Einstein.
(3) No entusiasmo dessa verificação sensacional, tem havido uma tendência
de se ignorar um terceiro teste experimental a que a teoria de Einstein foi
submetida. Se sua teoria é correta em sua forma, em um campo gravitacional
deve haver um desvio para o vermelho nas linhas do espectro. Este efeito não foi
encontrado. Espectroscopistas mantêm que, tanto quanto pode ser observado
atualmente, não há como explicar esse fracasso se a teoria de Einstein for aceita
em sua presente forma. Eles admitem que algum efeito compensatório que
explique a discrepância pode ser descoberto, mas pensam que é mais provável
que a teoria precise de alguma modificação essencial. Por enquanto é necessária
uma certa suspensão do julgamento. A nova lei foi tão incrivelmente bem-
sucedida em dois dos três testes que deve haver alguma validade, mesmo que ela
não esteja exatamente correta ainda.
A teoria de Einstein tem o mais alto grau de mérito estético: todo amante da
beleza deve desejar que ela esteja correta. Ela nos dá uma vasta e unificada
mostra do funcionamento da natureza, com uma simplicidade técnica em suas
hipóteses críticas que faz com que a riqueza das deduções seja estonteante. É um
avanço que surgiu da pura teoria: o efeito todo do trabalho de Einstein é fazer a
física mais filosófica (em um sentido positivo), e restaurar um pouco daquela
unidade intelectual que tinham os grandes sistemas científicos do século
dezessete e dezoito, e que foi perdida pelo aumento da especialização e da massa
esmagadora de conhecimentos específicos. De alguns modos nossa época não é
uma boa época para se viver, mas para aqueles interessados em física há grandes
compensações.
A Teoria da Relatividade de Einstein
Todos sabem que uma pessoa pode estar sentada em algum veículo sem
notar seu movimento, desde que este movimento não mude sua direção ou
velocidade; em um vagão de um rápido trem expresso os objetos caem
exatamente da mesma forma que em um vagão parado. Somente se olharmos os
objetos de fora ou quando o ar pode entrar no vagão é que podemos perceber as
indicações do movimento. Podemos comparar a terra com um veículo em
movimento, o qual em seu curso em torno do sol tem uma velocidade notável,
cuja magnitude e direção podem ser considerados aproximadamente constantes
por um período considerável de tempo. No lugar do ar estaria, assim se pensava
anteriormente, o éter que preencheria os espaços do universo e seria o
transportador da luz e dos fenômenos eletromagnéticos; havia boas razões para
acreditar que o éter era totalmente permeável à terra que podia viajar através dele
sem colocá-lo em movimento. Então haveria aqui um caso comparável com um
vagão de trem aberto em todos os lados. Certamente deveria haver um poderoso
“vento de éter” soprando sobre a terra e sobre nossos instrumentos, e seria de se
esperar que algum sinal de sua presença seria notado através de um experimento
ou outro. Toda tentativa nessa linha, entretanto, permanecia infrutífera; todo
fenômeno examinado era evidentemente independente do movimento da terra.
Que é essa a forma com que eles realmente ocorrem foi mostrado por Einstein
em sua primeira teoria ou teoria “especial” da relatividade. Para ele o éter não
age e no esboço das leis naturais que ele fez não há menção dessa matéria
intermediária.
Se os espaços do universo são preenchidos com um éter, suponhamos com
uma substância na qual, com exceção de eventuais vibrações e outros pequenos
movimentos, nunca há aglomeração ou fluxo de uma parte ao longo de outra,
então podemos imaginar pontos fixos existindo nessa substância; por exemplo,
pontos em uma linha reta, localizados a cada um metro, pontos em um plano,
como os ângulos retos ou os quadrados de um tabuleiro de xadrez que se
estendesse ao infinito, e finalmente, pontos no espaço obtidos elevando-se
repetidamente o plano em um metro na direção perpendicular ao plano. Se,
consequentemente, um dos pontos for escolhido com um “ponto original” nós
podemos, partindo desse ponto, encontrar qualquer outro ponto através de três
passos nas direções perpendiculares nas quais os pontos estão arranjados. Os
números mostrando a quantos metros correspondem cada um dos passos podem
servir para indicar o lugar do ponto e distingui-lo de qualquer outro; esses
números são as chamadas coordenadas dos pontos, comparáveis, por exemplo,
com os números em um mapa dando as longitudes e latitudes. Imaginemos que
em cada ponto estejam marcados os três números que dão sua posição, então
temos algo comparável a uma régua com subdivisões numeradas; somente temos
que lidar, pode-se dizer, com réguas imaginárias nas três direções
perpendiculares. Nesses sistemas de coordenadas o número que especifica a
posição de um corpo ou de outro pode ser visto a todo momento.
Este é o modo com o qual astrônomos e seus matemáticos assistentes têm
sempre usado para lidar com o movimento dos corpos celestes. Em um
determinado momento a posição de cada corpo é fixada por suas três
coordenadas. Se estas são dadas, então sabe-se também as distâncias, bem como
os ângulos formados pelas linhas que conectam os corpos, e o movimento de um
planeta é conhecido assim que se saiba como suas coordenadas estão mudando
de um instante para outro. Portanto, a imagem do fenômeno permanece como se
desenhada sobre a tela do éter estacionário.
A alteração de Einstein
Uma vez que Einstein excluiu a presença do éter, não se tem essa tela, e
com isso, à primeira vista, perde-se também a possibilidade de se determinar as
posições dos corpos celestes e de se descrever matematicamente seu movimento
– isto é, através de comparações entre as coordenadas que definem as posições a
cada momento. O modo como Einstein superou essa dificuldade pode ser
elucidado por uma simples ilustração.
Na superfície da terra a atração gravitacional faz com que todos os corpos
caiam em linha reta, e, quando omitimos a resistência do ar, com movimento
igualmente acelerado; a velocidade aumenta a mesma quantidade em intervalos
iguais de tempo com uma taxa que faz com que a velocidade alcançada no fim
de um segundo seja 981 centímetros por segundo. O número 981 define a
“aceleração no campo gravitacional”, e esse campo é totalmente caracterizado
por esse único número; com seu auxílio podemos calcular o movimento de um
objeto lançado em uma direção arbitrária. Para medir a aceleração deixamos um
corpo sólido cair verticalmente ao longo de uma régua vertical presa firmemente
ao solo; na escala medimos a cada momento a altura, a única coordenada
importante nesse movimento retilíneo. Agora nos perguntamos, o que veríamos
se a régua não estivesse fixa no solo, se ela, suponhamos, estivesse se movendo
para baixo ou cima junto com sua base e conosco? Se a velocidade nesse caso
fosse constante, então, de acordo com a teoria especial da relatividade, não
haveria alteração alguma no movimento; encontraríamos uma aceleração de 981
para o corpo em queda. Seria diferente se a régua se movesse com velocidade
variável. Se ela se mover para baixo com uma aceleração constante de 981
(centímetros por segundo), então um objeto poderia ficar permanentemente na
mesma posição da escala, ou poderia mover-se para baixo ou para cima ao longo
da escala com velocidade constante. O movimento relativo do corpo em relação
à régua seria não acelerado, e se tivéssemos que julgar somente pelo que
observássemos no local que estaria também se movendo para baixo, então
teríamos a impressão que não haveria ação da gravidade. Se a régua estivesse se
movimentando para baixo com uma aceleração igual à metade ou um terço do
que estava antes, então o movimento relativo do corpo seria acelerado, mas
encontraríamos um aumento de velocidade que seria a metade ou um terço de
981 (centímetros por segundo). Se, por fim, fizéssemos com que a régua se
movesse para cima com um movimento uniformemente acelerado, então
encontraríamos uma aceleração maior que 981 (centímetros por segundo) para o
corpo.
Portanto, vemos que é possível, também quando a régua não está presa à
Terra, descontando seu deslocamento, descrever o movimento do corpo com
relação à régua sempre da mesma forma – isto é, como um movimento
uniformemente acelerado, atribuindo num caso ou noutro um valor fixo para a
aceleração gravitacional3, em um caso particular o valor seria zero.
Obviamente, no caso aqui em consideração, o uso de uma régua imóvel
sobre a Terra seria digno de toda recomendação. Mas nos espaços do sistema
solar, agora que abandonamos o éter, não temos tal suporte. Não é mais possível
escolher um sistema de coordenadas, como o que acabamos de mencionar – em
uma matéria intermediária universal – e se tivéssemos que chegar de uma forma
ou de outra a um sistema de linhas cruzando entre si nas três direções, então
poderíamos da mesma forma chegar em um sistema similar que estivesse se
movendo em relação ao primeiro. Deveríamos também ser capazes de remodelar
o sistema de coordenadas de todas as formas, por exemplo, através de dilatação
ou compressão. É claro que em todos esses casos em que os corpos não
participam do movimento ou da remodelagem do sistema outras coordenadas
serão repetidamente lidas.
Novo sistema de coordenadas
O caminho que Einstein teve que seguir é agora evidente. Ele deve – isso
quase não precisa ser dito – quando calcular casos particulares fazer uso de um
sistema de coordenadas escolhido, mas ele não tem como limitar previamente a
escolha e, de um modo geral, ele teria total liberdade de ação a esse respeito.
Portanto, ele teve como objetivo ajustar a teoria de tal modo que, não
importando a escolha que tenha sido feita, o fenômeno da gravidade, no que
concerne a seus efeitos e ao estímulo à atração entre os corpos, sempre pudesse
ser descrita da mesma forma – isto é, através de comparações de mesma forma
geral, dando repetidamente os mesmos valores aos números que caracterizam a
aceleração gravitacional. (Com o objetivo de simplificar, eu aqui desconsidero o
fato de que Einstein queria também que o modo como o tempo é medido e
representado por números não tivesse influência nas comparações.)
Se esse objetivo poderia ser alcançado era uma questão de investigação
matemática. O objetivo foi realmente alcançado, de maneira notável, e, podemos
dizer, para surpresa inclusive de Einstein, entretanto, custou a simplicidade na
forma matemática; para descrever o campo gravitacional em um ou outro ponto
do espaço foi necessário nada menos que dez números ao invés de apenas um
como no exemplo mencionado acima.
Com relação a isso é importante notar que quando excluímos certas
possibilidades que dariam origem a uma complexidade ainda maior, a forma de
comparação usada por Einstein para apresentar sua teoria é a única possível; o
princípio de liberdade de escolha do sistema de coordenadas era o único pelo
qual ele poderia se permitir guiar. Embora não houvesse nenhum esforço
particular para estabelecer uma conexão com a teoria de Newton, felizmente,
ficou evidente no final da investigação que a conexão existia. Se nos
aproveitarmos da circunstância simplificadora de que as velocidades dos corpos
celestes são pequenas em comparação com a velocidade da luz, então podemos
deduzir a teoria de Newton a partir da nova teoria, a Teoria “Universal” da
Relatividade, como é chamada por Einstein. Portanto, todas as conclusões
baseadas na teoria newtoniana permanecem válidas, como naturalmente é
requerido. Mas devemos ir mais longe. A teoria newtoniana não pode mais ser
considerada absolutamente correta em todos os casos; há pequenos desvios em
relação a ela, os quais, embora como regra imperceptíveis, uma vez ou outra
entram no campo do que é observável.
Havia uma dificuldade no movimento do planeta mercúrio que não podia
ser resolvida. Mesmo depois que todos os distúrbios provocados pela atração dos
outros planetas eram levados em consideração permanecia ainda um fenômeno
inexplicado – uma inclinação extremamente lenta da elipse descrita por mercúrio
em sua órbita; Leverrier4 havia observado que a inclinação era de quarenta e três
segundos5 por século. Einstein encontrou, de acordo com suas fórmulas, que a
inclinação deveria ser realmente desse valor. Assim, com um único golpe, ele
solucionou um dos grandes enigmas da astronomia.
Ainda mais notável, porque teve por base um fenômeno que antes não se
podia imaginar, foi a confirmação da previsão de Einstein da influência da
gravidade sobre a trajetória dos raios de luz. Que essa influência deve existir
pode ser visto por um simples exemplo; devemos somente nos imaginarmos a
fazer nossas observações. Foi mencionado que se estivermos em um
compartimento que cai com a aceleração de 981 (centímetros por segundo) os
fenômenos ocorreriam com se não houvesse gravidade. Poderíamos então ver
um objeto A flutuando parado no espaço. Um projétil B poderia mover-se em
linha reta com velocidade constante sem a menor variação.
Um raio de luz pode fazer o mesmo; todos admitirão que em ambos os
casos, senão gravidade, a luz se propagará em linha reta. Se limitarmos a luz a
um pulso da menor duração, C, ou se fixarmos nossa atenção sobre uma única
onda de luz, C, enquanto que por outro lado damos ao projétil B uma velocidade
igual à da luz, então podemos concluir que B e C em seu movimento contínuo
sempre estarão próximos um do outro. Agora, se observarmos isso, não do
compartimento acelerado, mas sobre a superfície da Terra, então observaremos a
natural queda do objeto A, o que nos mostra que devemos considerar a
aceleração gravitacional. O projétil B se moverá em uma trajetória curva,
desviando mais e mais da linha reta, e a luz fará o mesmo, porque o fato de
observarmos os movimentos de outro ponto de vista não deve alterar a
proximidade de B e C.
Deflexão da luz
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