A Abordagem Didática Da Simulação Virtual No Ensino Da Química: Um Olhar para Os Novos Paradigmas Da Educação
A Abordagem Didática Da Simulação Virtual No Ensino Da Química: Um Olhar para Os Novos Paradigmas Da Educação
A Abordagem Didática Da Simulação Virtual No Ensino Da Química: Um Olhar para Os Novos Paradigmas Da Educação
1. Introdução
As pesquisas no ensino de Química, nas últimas décadas, têm mantido foco nos
paradigmas emergentes da educação pautados na descoberta de novas abordagens e
metodologias didáticas que dêem conta de minimizar ou superar as situações críticas de
aprendizagem deixadas pelo método tradicional de ensino, os quais reduzem os
conhecimentos químicos a teorias desarticuladas e sem quaisquer aproximações com o
mundo real dos alunos.
Descontentes com os resultados de aprendizagem das ciências é que
pesquisadores e educadores têm buscado nos aparatos educacionais uma forma de
melhorar a qualidade do ensino. Neste sentido, entendemos que a integração da
tecnologia contribui de maneira significativa para o alcance das metas educacionais
propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN+) (Brasil 2006).
Os softwares de simulação virtual, em particular o PhET, surgem como uma
estratégia diferenciada de ensino pelo fato de possuírem ferramentas de visualização
que facilitam a superação dessas dificuldades (Mendes et al. 2015) sendo, portanto,
produto das relações do homem com a sociedade em resposta aos novos paradigmas
educacionais que objetivam superar as lacunas de aprendizagem deixadas pelo método
tradicional de ensino. Dentre os pesquisadores que vem acompanhando tais mudanças
citamos (Abreu et al.2006, Carpenter 2016, Andrade et al. 2015).
Este artigo tem por objetivo aplicar a simulação virtual PhET e descrever as
interações dos estudantes com a ferramenta na aprendizagem do conteúdo Estado Físico
da Matéria.
O artigo está estruturado em 5 seções: Na seção 2, são descritos os trabalhos
correlatos. Na seção 3, apresentamos o desenvolvimento metodológico. Na seção 4,
descrevemos os resultados. E, por fim, a seção 5 apresenta as considerações finais e
trabalhos futuros.
2. Trabalhos Correlatos
Os primeiros softwares computacionais voltados para a Química foram direcionados
para a área específica de físico-química, posteriormente, para as áreas de química
orgânica e inorgânica. No entanto, somente no final dos anos 90 é que os softwares
foram adaptados para atender não somente a pesquisa como também o ensino, servindo
como instrumentos de metodologia (Ribeiro e Greca, 2003).
A utilização dos softwares de simulação pode ser concomitante com as aulas
expositivas ou em detrimento das práticas laboratoriais, seja pela falta de equipamentos
ou por não ter profissionais capacitados para atuarem no mesmo. As tecnologias não
substituem os modelos consagrados de ensino, ao contrário, apresentam-se como
ferramentas auxiliares em prol de aulas mais dinâmicas, complementando o que essas
metodologias não conseguem alcançar em termos de visualização em tempo real do
fenômeno abordado na sala de aula.
Muitos pesquisadores tem trabalhado a simulação virtual PhET objetivando
melhorar o aproveitamento dos conteúdos de Química e aumentar a participação dos
alunos nas aulas. Destacamos seu uso no balanceamento das equações químicas (PhET
Balancing-chemical-equations) (Mendes et al.2015), onde os resultados apontam para o
fato de que o simulador promove mudanças na concepção de ciências pelo aluno, pois a
estratégia favoreceu a construção de conceitos microscópicos; na construção de
moléculas (Moore 2014), facilitando a interpretação e formação das fórmulas químicas.
Bertolini et. al (2013) em suas considerações afirmam que a vantagem de usar as
ferramentas de simulação no âmbito escolar está na facilidade de acesso e a fácil
obtenção destes, pois, pode ser feita em qualquer hora e lugar, sem precisar de alguém
para auxiliar, descartando riscos, além de favorecer a aprendizagem.
Os ambientes gamificados o qual têm despertado o interesse de professores e
pesquisadores de Química. Com características de um jogo, ou seja, competir, desafiar,
ganhar pontos, entre outros, é um game versátil prendendo a atenção dos alunos na
busca por resolver determinadas atividades e assim ganhar recompensas, (da Rocha et.
al. 2013; Ramos & Pimentel 2015). De acordo com as pesquisas realizadas pelos
autores, as principais contribuições da gamificação estão no ranking disponível no final
do jogo, exigindo maior concentração dos participantes nas tarefas executadas e no
âmbito pedagógico contribuem para a aprendizagem dos conceitos.
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3 Desenvolvimento Metodológico
O presente estudo foi realizado numa escola da Rede Pública do Estado do Amazonas,
Zona Leste, numa turma de 1o ano do Ensino Médio com 23 alunos, Vespertino, idade
entre 14 a 25 anos. O conteúdo abordado foi os Estados Físicos da Matéria. A coleta
aconteceu nos meses de setembro e outubro de 2015, 3h/a semanais, totalizando treze
encontros. A pesquisa é qualitativa. Como técnica de coleta de dados, optou-se pela
observação assistemática e questionário aberto. Assumimos a pesquisa-ação como
norteadora das atividades. Os dados abstraídos da observação e questionários foram
tratados segundo o instrumento de Análise de Conteúdo (Bardin 2011). Adotamos a
metodologia dos momentos pedagógicos (Delizoicov et al. 2011) adaptada da
abordagem de Paulo Freire, o qual consiste em dividir a atividade educativa em três
momentos pedagógicos, a saber: a) Problematização inicial - Etapa que se apresentam
as situações reais que os alunos conhecem e vivenciam; b) Organização do
conhecimento - Compreende a sistematização dos conhecimentos descritos no tema e
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a) Problematização Inicial
Iniciamos a aula fazendo projeções de figuras com eventos do cotidiano, para que assim
fizéssemos o levantamento dos “termos” ou conceitos que os alunos tinham a cerca do
tema Estados Físicos da Matéria, relacionados ao tema de investigação. A
contextualização seguiu o proposto nas Orientações Curriculares Nacionais (OCN) de
forma que o conteúdo fosse desenvolvido não para tornar o conteúdo mais atraente ou
mais fácil de ser assimilado, mas, oferecendo meios para que o aluno, a partir das suas
vivencias, torne suas experiências como fonte inesgotável de conhecimento e
aprendizado (Brasil 2006).
Os alunos apresentaram dificuldades em lembrar os conceitos estudados no 2o
bimestre do ano letivo, além da falta de relação do conteúdo com o cotidiano. O
levantamento dos conhecimentos prévios foi classificado nas categorias: conceito,
mudança de fase e influência de fatores externos, conforme o Quadro 1.
Quadro 1. Classificação dos “termos” ou Conceitos Atribuídos pelos Alunos
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que eles passaram a ver as diversas situações que os cercam cientificamente, no entanto,
é preciso que os estudantes sejam inseridos nesse universo, (Carvalho 2013). Os alunos
formaram grupos e aos poucos foram se envolvendo e o diálogo sendo intensificado.
No Quadro 2 a seguir, estão listados na íntegra os problemas formulados pelos
alunos.
Quadro 2. Categorização das Perguntas Construídas Pelos
Alunos
CATEGORIAS PROBLEMAS ELABORADOS
O que é um fenômeno químico e físico? Quando
Fenômeno Físico e Químico podemos saber quando está acontecendo as mudanças e
quando é um fenômeno físico?
O que é fusão? Qual o nome se dá a mudança de um
Mudança de Estado Físico estado para o outro? E que existe alguma diferença qual
é essa diferença?
Qual é o ponto de ebulição do líquido para gasoso?
Quando uma panela está no fogo e a mesma esta
fervendo o que acontece? Qual é o nome que podemos
Temperatura
denominar essa fase? Quando botamos água para ferver
em uma panela, o que faz ela muda para o estado
gasoso?
Qual a ligação de estender roupa com estado físico e
matéria? O que faz ocorrer as mudanças climáticas? O
Mudanças do Clima
que o aquecimento global apresenta no estado físico da
matéria?
Fonte: Própria do Autor
Nas quatro categorias de análise geradas observou-se que os alunos ainda não
assimilaram conceitos básicos referentes ao conteúdo, além de apresentar dificuldades
em relacionar o assunto com as observações feitas no cotidiano, como sua ocorrência e
aplicação. A abordagem aplicada provocou uma mudança de atitude nos alunos, onde a
forma como se comportavam no final de cada aula era totalmente diferente das que
tinham inicialmente.
A análise dos resultados acima é o que chamamos de verdadeira motivação pela
ciência, ou seja, a descoberta pelo interesse, pela aproximação com o mundo, das
indagações sobre a estrutura e a natureza, o interesse em fazer perguntas e procurar as
próprias respostas, importante no processo de construção e apropriação do
conhecimento científico, no qual dependerá de como ele está aprendendo, ou seja, do
tipo de atividade de ensino e aprendizagem que o aluno está envolvido, (Pozo & Crespo
2009).
b) Organização do Conhecimento (Atividade com o Simulador PhET)
Nesta etapa trabalhamos a interdisciplinaridade para tentarmos reduzir as
lacunas conceituais de aprendizagem do conteúdo de estudo, levantado na
problematização feita pelos alunos. Portanto, convidamos o professor da disciplina de
Física do horário matutino para que, com seus conhecimentos e método de ensino
pudesse contribuir para a aprendizagem do conteúdo estados físicos da matéria. A
interdisciplinaridade oportunizou os alunos a compreenderem a dependência entre os
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conhecimentos das ciências química e física como ponto de partida para aprendizagem
significativa dos conceitos estudados na sala de aula.
A educação interdisciplinar é um diálogo que acontece entre os diferentes
saberes disciplinares mediando a (re) construção do conhecimento com a cultura
científica de cada ciência, formas de abordagens e ações. Assim, a enculturação
contextualizada na Química associada à interdisciplinaridade sólida suscita
conhecimentos adquiridos do ser humano na sua totalidade, a fim de ampliá-los em um
novo contexto, marcado pelos paradigmas socioambiental (Brasil 2006).
Posteriormente, seguimos para o Laboratório de Informática, onde continuamos
o conteúdo usando o simulador PhET. Devido às características didáticas do simulador
de visualizar e interagir com as partículas microscópicas por meio dos modelos
representativos, a abordagem usando esta ferramenta contribuiu significativamente para
a aprendizagem do conteúdo constatado a partir do desenvolvimento cognitivo dos
alunos observados na maneira como passaram a perceber, compreender e relacionar os
conceitos a partir das interações realizadas pelo simulador.
Embora não tivessem tido contato com um software de simulação e o desuso do
computador na escola, os alunos demonstraram na prática ter domínio e habilidade da
ferramenta computacional, interagindo facilmente com o simulador, como mostrado na
figura 1. Seguindo o tutorial respondiam as questões de investigação propostas.
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melhor, podemos compreender com uma facilidade imensa e imediata (A3)”; “Eu
avalio como uma boa forma de compreender e entender mais sobre a matéria (A6)”.
Referências
Andrade, B. A. et al. (2015) Big Bang: Uma Ferramenta para Auxiliar no Ensino-
Aprendizagem da Classificação Periódica dos Elementos Químicos. Anais do XXI
Congresso da SBC. Workshop de Informática na Escola. Campo Grande, MS,
Brasil. 2006.
Abreu, Marlon F., et al. (2006) Utilizando Objetos de Aprendizagem no processo de
ensino e aprendizagem de química no ensino médio: o caso dos óxidos e da
poluição atmosférica. Anais do XXVI Congresso da SBC. WIE l XII Workshop
de Informática na Escola. Campo Grande, MS, Brasil.
Bardin, L. (2011) Análise de conteúdo. 3. reimp. Lisboa: Edições, v. 70.
Bertolini, C. T., Braga, J. C., Pimentel, E., & Ramos, S. (2013). Laboratório Virtual
interativo para reprodução de experimentos de química através de dispositivos
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