Aula Mito - Material PDF
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Nisso uma onça passou perto do paredão. Viu a sombra do menino e
tentou agarrá-lo quando ele moveu um braço. Aí o menino cuspiu para
baixo. A onça levantou a cabeça e vendo-o, perguntou: ‘O que você está
fazendo aí em cima?' Ao que o menino respondeu: 'Meu cunhado me
mandou pegar os filhotes das araras, e como eu não tive coragem de
pegá-los, ele ficou zangado e derrubou a escada por onde eu tinha su-
bido' .
A onça então mandou que ele atirasse os filhotes. Quando o menino fi-
nalmente obedeceu, a onça apanhou e devorou todos eles. 'Agora salta
você também' , ordenou a onça. O menino não quis fazer o que ela
mandava com medo de ser devorado pela onça também. 'Não, eu não
comerei você. Salta logo que eu vou aparar a sua queda', sossegou-o a
onça.
Finalmente, o menino decidiu saltar. Atirou-se lá do alto e a onça con-
seguiu apanhá-lo no ar entre as patas dianteiras. Levou-o para junto de
um ribeirão, fez com que ele bebesse água, lavou-o e o levou para casa.
Na casa da onça havia um grande moquém com muita carne. Debaixo
dele, um enorme tronco de jatobá em brasa. A onça deu ao menino um
bom pedaço do moqueado. Deixou-o em companhia de sua mulher e
foi para o mato caçar. Como a onça-fêmea não suportava o menor ruí-
do, se enfureceu muito quando o menino estalou entre os dentes um
pedaço do moqueado bem tostadinho. "Meu neto!" ela gritou, amea-
çando com as unhas e rosnando para ele.
O menino, muito assustado, fez queixa à onça quando esta voltou. A
onça lhe fez um arco e flechas. Explicou que se a onça-fêmea outra vez
se enfurecesse com ele era para o menino atirar na palma da mão dela.
Depois era para fugir pelo caminho que ela ensinou que ia de volta à
aldeia.
Quando a onça partiu outra vez pra caçar o menino teve fome de novo.
Tirou um pedaço do moqueado e comeu. Imediatamente a onça-fêmea
se irritou com o ruído de mastigar e furiosa mostrou as unhas. Na ter-
ceira vez que ela repetiu este gesto o menino flechou-lhe a mão e fugiu.
A onça-fêmea não pode persegui-lo porque estava grávida.
Seguindo o caminho que a onça ensinara, o menino foi parar na aldeia.
Ali contou ao seu pai tudo o que havia acontecido. Contou que na casa
da onça havia fogo e como era gostoso o moqueado.
O pai foi ao pátio, reuniu os chefes e o conselho, e relatou tudo. Eles
resolveram logo que iam buscar o fogo para a aldeia.
Colocaram vários homens espalhados em todo o caminho da aldeia até
a casa da onça, o melhor corredor de todos ia entrar na casa com o
sapo. A onça não estava em casa e o homem agarrou rápido o tronco de
jatobá aceso e correu com ele.
A onça-fêmea pediu que lhe deixasse ao menos um tição. Mas nada fi-
cou, pois o sapo cuspiu em tudo, apagando todas as brasas que ainda
se achavam pelo chão em volta.
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O homem com o tronco de jatobá aceso correu muito até chegar ao
primeiro estafeta que lhe tomou a carga dos ombros. Este correu muito
até o segundo e assim sucessivamente até que todos chegaram com o
fogo de volta à aldeia.” 18-21
ROCHA, Everardo – O que é mito [1985]. São Paulo, Brasiliense, 1999,
pp.18-21
Mito e rito
Funções do Mito
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Mitos e arquétipos literários
Mitos e super-heróis