K. A. Linde - The Ascension 01. The Affiliate
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2 Cerúleo é uma cor azul como a do céu ou esverdeada como a do mar. Seu pigmento é muito caro
por causa da sua tonalidade, permanência e opacidade.
3 Cravo é a designação dada a qualquer dos membros de uma família europeia de instrumentos
musicais de tecla.
seu cabelo loiro amarrado em um coque apertado, a Rainha Kaliana estava à
sua esquerda, e a Consorte Daufina de cabelos escuros estava à sua direita.
Os batimentos cardíacos de Cyrene pulsavam através de seus dedos e
batiam contra o seu pescoço. Seu estômago parecia deixar o corpo dela,
enquanto fazia contato visual com o Rei. A intensidade de seu olhar fez as
bochechas dela ruborizarem. Ela esperava que o rouge escondesse seu
nervosismo.
Com o queixo erguido, Cyrene prosseguiu. Ela passou por seus pais
sentados na primeira fila ao lado de Aralyn, Elea e seu irmão mais velho
Reeve. Do outro lado do corredor, estava sentada a família Gramm. Cyrene se
perguntou se Rhea tinha sido apresentada primeiro. Cyrene não poderia
julgar pelas expressões dos Gramm.
Depois de andar os metros restantes até a frente do estrado, ela subiu as
escadas para ficar diante de seu Rei, e então, ela caiu para a reverência mais
baixa o possível.
Ela segurou sua posição pelo que parecia ser uma eternidade antes que
a voz do Rei Edric crescesse ao longo do salão de baile.
—Você pode se levantar.
Os joelhos dela tremeram quando se ergueu do chão.
O Rei Edric tinha mudado desde que ela o viu pela última vez na
Apresentação de Aralyn. Seu pai, o Rei Maltrier, tinha morrido de causas
desconhecidas quando Edric tinha apenas quinze anos de idade. Edric
assumiu responsabilidade do Reino, bem como o bem-estar de sua irmã mais
nova, Jesalyn — agora Rainha de Aurum — e seu irmão mais novo, Príncipe
Kael. Cinco anos mais tarde, Rei Edric agora tinha vinte anos e tinha
legitimamente subido em seu trono. Sua presença exalava uma confiança que
ninguém além de um rei poderia controlar.
Lentamente, o Rei Edric se levantou de seu trono para a sua altura total.
Em seus pensamentos, Cyrene não poderia nem mesmo capturar toda a
extensão de sua altura. Ele era incrivelmente alto com um maxilar forte
coberto por uma barba por fazer e penetrantes olhos azul-acinzentados que
inquiriu a multidão atrás dela.
—Bem-vinda. Estamos aqui hoje para a Apresentação de uma filha da
família Strohm, que nobremente serviu meu pai, o Rei Maltrier, filho de
Rei Herold, filho do Rei Viktor da linhagem real de Dremylon. A Criadora
descansa as suas almas.
A multidão murmurou suavemente suas próprias bênçãos para os
antigos reis.
—Veio hoje para ficar diante do trono e ao ser apresentada é um dos
nossos — ele disse. —Ela foi criada em nossa terra, educada na nossa terra e
será para sempre parte da nossa terra. Sua Apresentação hoje sinaliza a
aceitação das tradições e valores de Byern. Tal passo representa seu desejo de
ser parte da melhoria diária da nossa terra. A aceitação de sua Seleção requer
responsabilidade e aderência aos princípios fundamentais de Byern.
A cabeça de Cyrene nadou. Ela estava concordando em ser apresentada
e selecionada, não importando as consequências. Não importa se ela fosse
colocada na Terceira Classe. Isto iria decidir seu futuro, e seu coração apertava
dolorosamente enquanto as possibilidades inundaram seu consciente.
—Hoje, eu Apresento Cyrene Sera Strohm, filha de Hamidon e
Herlana, irmã de nosso próprio dedicado membro do Conselho, Reeve e a
nossa Afiliada de confiança, Aralyn. Vamos começar a Apresentação agora.
Rei Edric deu um passo em direção a ela, e seus olhos azuis
encontraram os dele. Um choque elétrico a atravessou com a proximidade
dele. Por um momento, enquanto seu olhar ficou fixo no olhar do Rei, tudo o
que via era o aqui e agora. Não havia nem tempo nem distância entre eles. Foi
apenas um puxão, como se eles estivessem amarrados juntos a partir deste
ponto.
Rei Edric voltou um passo e balançou a cabeça, a tirando do transe em
que tinha entrado. O que acabou acontecer?
O pomo de Adão dele sacudiu enquanto ele se recuperava. Então, ele
falou suavemente apenas para seus ouvidos —Cyrene.
Ela silenciosamente amaldiçoou e deixou o seu olhar cair para o piso
polido. O que estou fazendo? Ela nem sequer deveria olhar diretamente para ele
ainda.
—Você pode olhar para mim.
Surpresa, Cyrene fez como ordenado. Ela não entendia o que tinha
passado entre eles, mas olhar para ele fez algo dentro dela cair no lugar.
— Senhorita Strohm, estou aqui como seu Rei, disposto a selecionar
você para uma posição apropriada na comunidade de Byern. Está preparada
para cumprir seu dever?
Seus lábios se curvaram em um sorriso arrogante. —Sim, meu Rei.
O Rei Edric fez uma pausa, olhando sua boca. —Você sempre usa esse
sorriso?
Ela tentou apagar a expressão de seu rosto, mas ela não parecia ser
capaz disso. —Sim, meu Rei.
Os olhos azul-acinzentados dele se estreitaram, e o coração dela bateu.
Por que não consigo manter uma tampa na minha atitude hoje dentre todos os dias?
—Cada classe executa as tarefas fundamentais para a melhoria de
Byern. Você está ciente das três tarefas das Classes?— Ele voltou para o
diálogo da Apresentação.
—Os Guardiões, Auxiliares e Essenciais — ela disse, dando os nomes
formais para as três Classes —Executam tarefas vitais para melhorar Byern.
Guardiões mantêm o sistema funcional. Auxiliares oferecem proteção. Os
Essenciais atendem as necessidades diárias de muitos.
—E porque as Classes são necessárias?
Cyrene respondeu como se ela estivesse lendo direto de um roteiro,
mas com mais convicção do que jamais sentiu antes —Para manter a paz e
prosperidade. Depois que Viktor Dremylon libertou nosso povo do Senhor
Doma, fundou o sistema de Classe para utilizar os benefícios de todos os seus
cidadãos.
—Você tem alguma habilidade necessária para aceitação em uma
dessas três Classes?
Cyrene sabia que era suposto admitir que e as habilidades que ela tinha
aprendido seriam suficientes para qualquer Classe, que nenhum talento
dominava uma classe em relação a outra, no entanto, as palavras estavam
presas na sua língua como uma mentira. Ela tinha talentos que seriam mais
úteis para a Primeira Classe, e ela não poderia estar diante de seu próprio Rei
e lhe dizer que não tinha, não importando o quanto de treinamento tinha tido
para dizer o contrário. Olhando para o rosto dele, ela se sentiu compelida a lhe
oferecer a verdade, mesmo sabendo que não deveria.
—Sim, meu Rei.
Rei Edric inclinou a cabeça para o lado. O silêncio entre eles se esticou e
se sentiu pesado com a sua indiscrição. Ela mordeu o lábio, e o stress da tarde
a pressionou. Eu acabei de arruinar minha chance na Primeira Classe?
—Bem, quais são suas habilidades?— Rei Edric exigiu.
—Minha irmã diz que posso prever o tempo.
—Como pode a maioria das bruxas?
Cyrene olhou para ele sob seus cheios cílios pretos. —Eu não acredito
que eu goste de sua acusação— ela murmurou em um quase sussurro — Meu
Rei.
— Minhas desculpas.
O Rei de Byern tinha apenas se desculpado com ela.
Sua respiração era pesada enquanto ela se forçava a continuar.
— Claro, não é possível prever o tempo, mas acho que tenho mais
determinação e vontade do que você pode encontrar em uma centena de
pessoas. Vou lutar pelo meu reino até meu último suspiro.— Sua voz estava
rouca com a emoção.
— Uma súdita leal.
— A súdita mais leal de Byern.
— E como súdita mais leal de Byern, usaria essa determinação e
vontade conforme instruída?
— Sim, claro, Meu Rei.
— Você sempre usa esse tom de vermelho? Poucos usam uma cor tão
ousada na minha corte.
Grande parte de sua família tinha dito o mesmo. Cores suaves estavam
sempre na moda, mas Cyrene não era suave. Ela nunca tinha se importado
sobre como pareceria se ela usasse vermelho até o momento em que estava em
pé diante do Rei.
—Você gosta?— ela não pôde deixar de perguntar.
Depois de um momento, ele acenou com a cabeça. —Sim, minha
senhora. Parece que não é só sua roupa que é ousada.— Ele não parecia
descontente. —Uma vez que você for selecionada, será anunciado a seu
Receptor e colocada no comando dele ou dela para o treinamento adequado.
Aceita as circunstâncias da sua Seleção?
—No entanto estou apta e eu sou capaz — ela respirou. Ela nunca quis
dizer as palavras mais do que quando estava as falando ao Rei Edric. Ela
sentiu um puxão elétrico quando ela disse as palavras.
Ele rapidamente se afastou, e ela se perguntou se ele também sentiu.
—Você pode prosseguir, Senhorita Strohm.
Cyrene enfrentou sua audiência com 1 milhão de pensamentos
atravessando a sua mente. Como essa conversa correu tanto para fora de curso? E
por que eu daria tudo para falar com o Rei mais uma vez?
Ela empurrou seus pensamentos para longe do Rei Edric e continuou
com a cerimônia de Apresentação.
—Corte Real de Byern, fiz o Juramento de Aceitação, me amarrando à
minha Seleção, ao meu Receptor e à terra. Confio na decisão da Corte para
utilizar meus serviços com o melhor de suas habilidades para o povo de
Byern. Eu, Cyrene Sera Strohm, filha de Hamidon e Herlana, me apresento
por completo no dia do meu décimo sétimo aniversário para evitar a
imaturidade da minha juventude e assumir a responsabilidade da minha vida
adulta.
Cyrene mergulhou em outra reverência baixa.
—Senhorita Strohm, pode voltar a sua ante sala até você ser recebida
para a Seleção — Rei Edric anunciou.
—Obrigada — ela disse antes de caminhar de volta pelo caminho que
ela tinha vindo.
Sussurros suaves soaram ao redor dela, mas ela não podia ouvir nada o
que foi dito. A cabeça dela estava alvoroçada com a conversa com o Rei e a
atração que a fazia querer se virar e voltar.
Um membro da Guarda Real abriu a porta para a sua sala de espera.
Ela se mergulhou para dentro e exalou um grande suspiro de alívio. Ela tinha
sido apresentada com êxito para a Corte Real.
Tinha acabado, porém tinha apenas começado.
Cyrene tropeçou em direção a um divã coberto por uma montanha de
almofadas e caiu em cima da pilha. Seu corpo afundou no assento acolchoado
de pelúcia quando desmoronou de cansaço. Por tanto tempo, ela tinha
antecipado sua Apresentação. Ela mal podia acreditar que estava tudo
acabado. Seu destino estava fora de suas mãos agora.
Ela enterrou seu rosto nas almofadas. Seu corpo tremia do choque.
Acabei de falar com o Rei de Byern como se ele fosse um pretendente comum! Ela não
se importava com o quão bonito ele era. E ele era muito bonito. Não era
apropriado flertar com o Rei e certamente não era adequado repreendê-lo por
seu tom, ainda assim ela não tinha sido capaz de se conter.
Ela se sentiu atraída por ele de uma maneira inexplicável. E ela tinha
quase certeza que tinha afetado a ele também. Por que outra razão ele teria me
respondido daquela forma? Isso dificilmente se encaixa com sua visão do Rei de
Byern.
Assim como sua frustração sobre a cerimônia de Apresentação estava
prestes a se tornar insuportável, a porta distante foi aberta. Cyrene correu para
a porta, esperando ser conduzida para fora da sala por um oficial do castelo.
Em vez disso, entrou em uma figura alta.
—Reeve — ela disse horrorizada —O que está fazendo aqui? Aralyn
disse que eu não deveria ter nenhum visitante.
—Eu sei, Cyrene.— O irmão dela cruzou os braços sobre o peito.
—Então, o que você está fazendo aqui?— Seu estômago deu um nó.
—Vim a pedido do Rei Edric informá-la que ele precisa de um período
mais longo de deliberação antes da sua Seleção.
—O que?— ela quase gritou. —Por que ele precisaria de mais tempo?
—Seu tom, Cyrene.
—É só você. Não é como se ele pudesse me ouvir —ela resmungou.
—Se o Rei Edric quiser mais tempo, então ele está perfeitamente
autorizado a isso mesmo que não seja nem um pouco convencional.
—Pouco convencional? Já viu isso acontecer?
Reeve suspirou e deixou cair os braços para os lados. —Não, não vi.
Não sei o que o Rei poderia possivelmente estar considerando. Você sabe?
—Não. —Ela se moveu na pontados pés.
—Sobre o que você e o Rei Edric falaram quando você estava de pé
diante dele?— Ele estreitou os olhos dele como se já soubesse que ela tinha
feito algo errado.
—Nada. Passamos pelas perguntas e o Juramento de Aceitação. Isso é
tudo —ela mentiu, desafiadoramente cruzando os braços.
—Demorou mais tempo do que deveria.
—O que ainda está fazendo aqui, Reeve?— Ela se afastou dele e
caminhou até a mesa de mogno. — Já entregou a sua mensagem.
Reeve amaldiçoou sob sua respiração. —O que você fez, Cyrene? Você
não sabe o quanto isso é sério?— Ele caminhou em direção a ela. —Sua vida
está na balança.
Ela girou ao redor. —Não vou morrer por gracejar com o Rei.
Ele sibilou através de seus dentes. —Você gracejou com ele no meio de
sua Apresentação?
Ela revirou os olhos para o teto. —Sim. Ele saiu do roteiro, e eu segui
seus passos.
—Saiu do roteiro? Você acha que foi certo sair do roteiro para algo que
você têm se preparado por toda a vida? Um roteiro que cada pessoa da sua
idade recita?
A última coisa que Cyrene queria fazer era ceder a esta linha de
raciocínio. Caso contrário, ela poderia legitimamente ter um colapso nervoso
bem ali.
—Sim— ela finalmente o respondeu.
—E você acha que isso não tem nada a ver com sua deliberação
prolongada?
—Poderia.
Reeve passeou pela sala mais uma vez antes de voltar a olhar para ela.
—O que vocês discutiram?
Cyrene encolheu os ombros. —Eu disse a ele, que eu era uma súdita
leal de Byern, e ele comentou que gostou do meu vestido, mas que ninguém
usava vermelho em sua corte.
—Ele comentou sobre seu vestido?— Ele levantou suas sobrancelhas.
—Sim.
Ele esfregou o queixo. —E isso foi tudo?
Ela assentiu com a cabeça.
—Isso não parece muito prejudicial — admitiu.
—Você já terminou?
—Cyrene — ele disse calmamente —você sabe que eu só estou
preocupado com você.
—Bem, então não o faça. Você tem tanto controle sobre o que acontece
quanto eu.— Por mais que ela queria que seu irmão a confortasse, ela não
podia se permitir mostrar fraqueza. Ela ainda tinha que passar por sua Seleção
inteira.
—Conselheiro Strohm — um oficial real chamou na sala —você é
necessário em sua cadeira.
Reeve se moveu para dar um abraço em Cyrene, mas ela se afastou
dele. O rosto de Reeve endureceu antes dele sair da sala, deixando ela sozinha
mais uma vez. Seu se corpo se agitou. Ela odiava agir assim com Reeve, mas
ela não queria que ele soubesse o quão aterrorizada ela estava.
Depois de mais trinta minutos, a porta finalmente se abriu mais uma
vez.
—Senhorita Strohm, o Rei chegou a uma decisão. Ele está pronto para
você.
Cyrene saiu rapidamente da sala e atravessou o chão de mármore. O
Rei tinha a feito esperar quase três vezes mais que qualquer outro indivíduo
apresentado, e ela estava pronta para acabar com isso. Ela subiu os degraus da
frente para a plataforma e quase se esqueceu de fazer sua reverência. No
último segundo, ela educadamente se inclinou para baixo.
O Rei Edric fez um gesto para que ela se levantasse. —Cyrene Sera
Strohm, você foi apresentada perante a Corte Real de Byern e fez o Juramento
de Aceitação para cumprir seus deveres em sua terra. Sob deliberação com a
Rainha Kaliana e a Consorte Daufina, tomei uma decisão sobre a sua Seleção.
Cyrene engoliu, torcendo nervosamente as mãos à sua frente. Ela olhou
à esquerda nos olhos azuis pálidos da Rainha Kaliana, que não parecia muito
satisfeita, e então, bem nos olhos encapuzados da Consorte Daufina, que
estavam praticamente brilhando. Cyrene não entendeu nenhuma resposta.
—Foi decidido que você será selecionada para a Primeira Classe
Guardiã.
O coração de Cyrene saltou de alegria. Primeira Classe!
O Rei se levantou de seu trono e caminhou para Cyrene. —O seu
Receptor será a Rainha Kaliana.
A boca de Cyrene se abriu em choque total.
—E deste dia em diante, será conhecida como Afiliada da Rainha.
Os aplausos da corte eram ensurdecedores enquanto pessoas ficaram
de pé animados por sua mais nova Afiliada. A honra era tão rara e a posição
tão cobiçada que ninguém na corte tinha previsto isso. Em dois anos, apenas
três meninas — incluindo a irmã de Cyrene — tinham sido colocadas na
posição.
Como se a própria Criadora estivesse respondendo, relâmpagos
brilharam além das janelas. Uma rachadura do trovão irrompeu acima. A
tempestade que tinha ameaçado durante toda a manhã estava prestes a cair no
topo da cerimônia.
Enquanto os olhares se deslocavam para a janela, o céu começou um
aguaceiro torrencial, atingindo o castelo com força. Ela não se lembrava da
última vez que uma tempestade com tanta força tinha atingido Byern. Talvez
nunca tivesse.
Voltando para a realidade depois do que tinha acontecido, Cyrene
voltou seu olhar ao Rei em reverência. Seus batimentos cardíacos dispararam.
Ele fez um gesto para a Consorte Daufina andar para frente. Ele
estendeu a mão, e ela levemente colocou algo em sua palma. Ele voltou seu
foco para Cyrene. —Dê-me sua mão.
Cyrene obedeceu, segurando a mão para ele.
—Na palma da sua mão coloco símbolo da Rainha, um pino circular
das trepadeiras de Byern. Enquanto você tiver isso com você, você terá um
pedaço de sua terra, nossa terra, e será conhecida em todo o mundo como um
dos nossos.
Cyrene fechou os dedos ao redor do pequeno berloque circular que ela
tinha esperado por toda a sua vida. —Obrigado, Meu Rei.
Ela olhou para o símbolo de Afiliada, e seu coração vibrou. O pino era
uma incrível peça de artesanato. O pingente de filigrana4 era intricadamente
entrelaçado em um círculo de folhas de ouro, como se o artista tivesse
arrancado trepadeiras de verdade direto do jardim, com um fecho que ela
poderia anexar a qualquer uma de suas roupas.
Rei Edric se dirigiu à multidão que aguardava, que finalmente se
acalmou —Obrigado há todos por terem comparecido a Apresentação da
Afiliada Cyrene. Haverá um tradicional baile em sua homenagem esta noite
para receber sua mais nova Afiliada.
No final da cerimônia, a multidão aplaudiu mais uma vez, e então
cortesãos começaram a se dispersar.
—Afiliada Cyrene — disse Rei Edric, chamando sua atenção para longe
do tumulto, —Precisamos falar com você antes que você possa deixar o
castelo.
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4Filigrana é um trabalho ornamental feito de fios muito finos e pequeninas bolas de metal, soldadas
de forma a compor um desenho. O metal é geralmente ouro ou prata.
Cyrene olhou de relance para seus pais. Radiantes, eles se dirigiram à
linha dos nobres que os parabenizavam. Duas Afiliadas e um membro do
Conselho em uma família. Era quase como criar cavalos bem treinados.
—Sim, Meu Rei, é claro.— Ela seguiu atrás da procissão real e entrou
em uma pequena antecâmara distante da anterior.
Uma grande mesa ornamentada ocupava a maior parte do lado
distante da parede, e várias cadeiras de encosto alto foram colocadas em torno
dela.
—Sente-se.— Rei Edric fez um gesto para as cadeiras enquanto ele se
sentava atrás da mesa.
Cyrene afundou no assento mais próximo. A Rainha e a Consorte se
moveram com fluidez para assentos em ambos os lados da mesa, sem olhar
para a outra.
—Depois de hoje, seus pertences serão movidos para os aposentos da
Rainha — Rei Edric informou Cyrene. —Como seu Receptor, Rainha Kaliana
fará com que tudo seja arranjado para sua nova posição como Afiliada. Você
se apresentará para a Rainha amanhã de manhã para obter instruções sobre o
processo de seu regime. Claro, você é igualmente responsável para a Consorte
Daufina, que pode ter instruções adicionais. Você tem alguma pergunta?
A boca de Cyrene ficou seca. Ela tinha um milhão de perguntas, mas
uma era mais urgente do que outras. —O que aconteceu com Rhea?
—Você pode falar com sua família em relação a outras cerimônias de
Apresentação, mas agora não é hora. Tem mais alguma pergunta?
Ela queria saber mais sobre o que eles tinham discutido durante sua
Apresentação e o que havia feito eles chegarem à conclusão de fazê-la uma
Afiliada. Se eles tiveram levado tanto tempo para decidir porque eu saí do roteiro, por
que eles decidiram me tornar um Afiliada? Olhando entre a Rainha Kaliana e a
Consorte Daufina, ficou claro que elas discordavam uma das outras. A
Consorte deve ter falado em favor dela e a Rainha contra ela. A última coisa que
quero é fazer inimigos poderosos.
Nenhum destes pensamentos eram algo que ela podia vocalizar.
—Não, meu Rei — ela disse rapidamente.
—Muito bem. Sua família tem instruções sobre as festividades para a
noite —ele disse. Todos se levantaram. —Parabéns, Afiliada Cyrene.
—Obrigada, meu Rei.— Ela mergulhou uma reverência baixa e se
lançou para fora da sala.
O salão de baile estava agora praticamente vazio, exceto por sua família
e alguns retardatários. Ela desceu as escadas e se jogou em Reeve.
—Parabéns — todos aplaudiram.
Reeve a envolveu em um grande abraço, claramente tendo esquecido
sua discussão anterior. Ela passou de irmã para irmã antes de chegar em seus
pais.
—Estamos tão orgulhosos.— Herlana berrou com lágrimas em suas
bochechas.
—Oh, Mãe — disse Cyrene.
—E um baile inteiro em sua homenagem — sua mãe murmurou como
se isso não fosse o caso para cada membro do Conselho ou uma Afiliada. —
Nós teremos que encontrar algo adequado para você usar.
A família de Cyrene se apressou ao redor dela para fora do salão de
festas. Considerando o quão condenada ela se sentiu há pouco tempo, ela não
poderia estar mais feliz. O Rei a tornou uma Afiliada!
Eles se aproximaram das portas do castelo que os levaria para fora para
suas carruagens quando Cyrene parou abruptamente nos degraus
respingados de chuva. —Onde está Rhea?
Sua família olhou para o chão, para o teto, lá fora para a chuva, em
qualquer lugar, menos para o seu rosto.
As mãos de Cyrene começaram a tremer. —Mãe? Pai? Reeve, Aralyn,
Elea... Por favor.
Todos eles propositadamente desviaram o olhar.
—Ela... ela foi para a Primeira Classe, certo?— Sua voz tremeu.
Elea finalmente deu um passo à frente e pegou a mão de Cyrene na
dela.
As lágrimas que Cyrene tinha segurado o dia todo brotaram nos olhos
dela. —Não, não, não, não, não.
—Ela foi selecionada para a Segunda Classe,— sussurrou Elea.
—Seu novo Receptor está em Albion.
—Albion? — Cyrene cuspiu. — Pela Criadora, é a mais de quatrocentos
e oitenta e dois mil quilômetros daqui!
Ninguém falou. Todos já sabiam o que isso significava para Cyrene.
Ela tinha recebido tudo em um dia, mesmo assim, a pessoa mais
preciosa em sua vida tinha sido arrancada dela.
Tão logo Cyrene voltou para sua casa, sua mãe a levou para o andar de
cima para ajustar o seu novo vestido de baile. Ela não perguntou como a
costureira, Lady Cauthorn, uma das mais procuradas da cidade, tinha sido
adquirida para uma criação em casa no intervalo de uma tarde ou o preço que
custou aos seus pais.
Ela simplesmente ficou rígida enquanto a costureira a cutucava e
picava enquanto ela ouvia o murmúrio constante de sua família. Certamente
pensaram que suas palavras a estavam consolando contra a dor pela perda de
Rhea. Todos falaram sobre como ela tinha finalmente conseguido a posição
que sempre quis, o quão importante seria seu trabalho futuro na corte, e como
sua vida seria tão ocupada com todos seus novos deveres.
Então, ela não teria tempo para sentir falta de Rhea, embora nunca
dissessem isso.
Quando pensaram que ela não estava prestando atenção, seus pais
sussurraram sobre como ela iria superar isso e fazer novos amigos, como a dor
ia passar, que era por isso que todos faziam o Juramento de Aceitação, e como
a Seleção era o melhor processo, mesmo que não sentisse isso agora. Nenhuma
dessas palavras eram de muito conforto.
Incapaz de conseguir conforta-la, eles a deixaram sozinha com a
costureira.
Várias horas de intenso trabalho pela costureira e dois de seus
assistentes produziram um vestido adequado para a própria Rainha.
—Tudo pronto — disse Lady Cauthorn. —Olhe.
Cyrene pisou rigidamente na caixa na frente do espelho triplo, e sua
boca se abriu. A seda vermelha mais macia envolveu a sua pele clara da
maneira mais lisonjeira. Alças finas nos seus ombros levavam a um acentuado
decote em V entre seus seios. A parte de trás espelhava a frente, revelando os
contornos suaves de suas costas. O vestido se ajustou em sua cintura fina com
uma fita grossa amarrada na base da sua espinha. A partir daí, o material
sedoso caiu em cascata como uma cachoeira sobre seus quadris estreitos antes
de se acumular a seus pés no chão. Ela nunca tinha visto um design tão
ousado.
Ela sabia de uma coisa com certeza. Ela iria chamar atenção no baile
esta noite.
—Amei, Lady Cauthorn.— Cyrene se virou lentamente. —Eu gostaria
de lhe pagar por isso.
Lady Cauthorn abanou a cabeça. Sua boca estava em um sorriso
brilhante, e seus olhos brilhavam na sua criação. —Seus pais encomendaram o
vestido. Eles vão pagar.
Cyrene lutou com sua nova posição. —Como uma Afiliada, vou fazer
bastante para cobrir os custos.
—Seus pais vão pagar — ela insistiu.
—E se eu pagar você com o meu dote?
Lady Cauthorn levantou as sobrancelhas. —Por que insiste em pagar?
—Quero que isso pertença a mim e somente a mim.
A costureira parecia ver através dela. Ela inclinou a cabeça e continuou
a examiná-la. Seus olhos ficaram longe e brilhantes por um momento, e então
voltou à realidade. —Você está destinada a grandes coisas, criança.
—Obrigada — ela disse automaticamente. —Mas no caso do vestido...
—O vestido. — Lady Cauthorn se ocupou de limpar a bagunça que
tinha feito. —É um presente.
—O que? Não. Lady Cauthorn, eu tenho o dinheiro!
—Não se preocupe, garota.— Ela estalou os dedos para seus assistentes
atordoados, e eles começaram a se movimentar.
—Não posso aceitar isso — assegurou-lhe Cyrene. —É demais.
Lady Cauthorn olhou para ela mais uma vez e sorriu, mas não era um
sorriso gentil. Parecia quase calculado. —Um presente é uma coisa preciosa.
Talvez podemos negociar o preço do vestido por um favor.
—Um favor? É só isso?
—Sim. Só um favor vindo de você em um momento da minha escolha.
—Eu não entendo. Este vestido deve ter custado uma fortuna. Qual é o
favor?
—Seja um de custo alto ou baixo, não será um que você vai pagar
hoje.— Ela deu um sorriso cheio de dente para Cyrene. —O vestido por um
favor. Estamos de acordo?
Cyrene assentiu para ela em um acordo desnorteado. —Sim, eu
concordo.
—Perfeito.— Lady Cauthorn andou para a frente e anexou o pino de
Afiliado de Cyrene em seu peito. —Eu vou informar seus pais que o vestido
está pago.
—Quando você vai coletar seu favor?
—Provavelmente quando você desejar isso. Boa sorte na toca do leão.—
Lady Cauthorn curvou sua cabeça e em seguida saiu da sala.
Cyrene não sabia o que fazer com aquela troca. Tudo o que ela sabia era
que certamente estava em dívida com a Lady Cauthorn e não tinha certeza se
isso foi uma coisa boa.
Cyrene escondeu sua carta de Apresentação em uma prega do vestido.
Era a única coisa que estava trazendo com ela noite. Tocou a parede de seu
quarto uma última vez antes de deixar o seu conforto para trás. Ela já não era
mais uma menininha. No lugar dela era uma mulher que iria começar uma
vida nova como uma nobre do palácio.
Inclinando o queixo dela, ela desceu a escada para o vestíbulo vazio. Os
dedos dela arrastaram sobre o pino de trepadeira anexado no corpete do
vestido, e um tremor de excitação correu através dela. Ela não podia acreditar
que ela tinha sido nomeada uma Afiliada, especialmente considerando que
Rhea não recebeu a mesma honra.
Tentando pôr de lado os pensamentos deprimentes, Cyrene abriu a
porta da frente e olhou para a estrada de pedras arredondadas além de sua
casa. Um leve fluxo de chuva ainda estava caindo do céu. Ela respirava o ar
fresco e úmido. O cheiro reconfortante a lembrou tanto das estações chuvosas
de sua infância, assim como o tempo em que ela beijou um garoto no pátio do
estábulo para provar a Rhea que não tinha medo. Depois que ela foi pega,
Rhea apareceu em seu quarto e levou o seu jantar. Elas tinham rido sobre isso
até que ela teve que ir para casa.
Cyrene riu, mas havia um toque de tristeza e desespero no som de
soluço. Elas nunca poderiam ser aquelas crianças novamente.
Naquele momento, Rhea saiu das sombras. —O que é tão engraçado?
Cyrene parou com o aparecimento repentino de sua amiga. —Rhea!—
Ela correu do batente da porta para a varanda coberta.
Rhea se afastou dela. —Você vai arruinar seu vestido!— Ela se trocou
para um vestido mais simples, com suas pesadas botas de chuva e uma capa
para cobrir sua cabeça, mas ela ainda estava pingando com água da cabeça aos
pés.
—Por que você está toda molhada?— Cyrene exigiu. —Você com
certeza vai pegar um resfriado.
—Eu fugi—. Ela retirou seu casaco encharcado e o pendurou em um
prego. Seu longo cabelo vermelho pendia em suas costas. As extremidades
estavam úmidas, e as mechas ao redor de seu rosto formaram cachos.
—E o que? Você andou até aqui?
—Não é tão longe. Não podia arriscar ser pega, e não podia ir sem te
ver.
—Eu iria vê-la, mas não me deixaram fora de suas vistas.
—Eu sei.— As botas de Rhea esmagaram a lama quando ela se mexeu
nervosamente. —Mas nós prometemos compartilhar as cartas de
Apresentação umas com as outras, e eu pensei que você teria alguma ideia
sobre o que a minha significa.
Sorriso de Cyrene cresceu. Ela tinha pensado a mesma coisa sobre
Rhea.
O único problema era que Aralyn disse a Cyrene para não contar para
ninguém sobre a carta, salvo outras Afiliadas, membros do Conselho e realeza.
Cyrene mordeu o lábio em consternação. —Seu Orientador te disse
para não falar sobre isso?
Rhea aolhou com apreensão espelhada em seu rosto e então deu de
ombros. —Vamos começar a ouvir outras pessoas agora?
—Claro que não.— Cyrene tirou o papel de seu vestido e trocou com
Rhea.
Cyrene leu a carta de Apresentação de Rhea, e suas sobrancelhas se
juntaram. A carta de Rhea não fazia mais sentido do que sua própria carta
com a conversa de ajudar aqueles que não podem ser ajudados, se submeter a
uma causa perdida e manter a determinação na frente de seu maior medo.
O olhar em branco no rosto de Rhea foi o suficiente para convencer
Cyrene que nenhuma delas sabia o que fazer com essas cartas.
—Como solucionamos essa bobagem?— Rhea devolveu a Cyrene sua
carta, provavelmente tendo memorizado as linhas.
—Estudar, viajar...
—Não, Cyrene. Como podemos resolver isso uma sem a outra?— A
voz dela tremeu. Ela lançou os olhos através do gramado.
—Não sei, Rhea.— O coração de Cyrene martelou em seu peito. —O
que aconteceu? Quero dizer, na sua Apresentação?
As linhas suaves normais do rosto oval de Rhea endureceram. Ela
apertou as mãos em punhos em seus lados. —Nada fora do comum. Passamos
a cerimônia como planejado, como se tivéssemos ensaiado por horas a fio. Não
sei como eu poderia ter feito melhor. Como foi a sua?
Cyrene suspirou com a questão. —Eu saí do roteiro e... Flertei com o
rei.
—Você fez o quê?— Rhea perguntou incrédula.
—Eu sei. Pensei que iria para a Terceira Classe, Rhea. Não sei porque
ele me escolheu — ela disse, estendendo as mãos na sua frente.
—Bem, eu sei — disse Rhea. —Você é brilhante e bonita e uma amiga
leal. Você merece, Cyrene.
Ela ruborizou com o elogio. —O Rei te disse por que você estava se
tornando uma Segunda... Sendo colocada na Segunda Classe?
—Não — ela disse, sua voz cortada. —Eles certamente não fizeram.
Tentei perguntar a eles, mas continuaram com a conversa cerimonial sobre o
Juramento de Aceitação e o processo de Seleção. De qualquer forma, no final
da semana, eu estarei indo para Albion, trabalhando para meu novo Receptor
Mestre Caro Barca.
—Por que esse nome soa familiar?
—Ele é um inventor, supostamente um gênio.— Ela acenou com
desdém. —Ele estuda a estratégia e desenvolvimento militarista e está
trabalhando em alguns novos planos de armamento. Ele parece ser um
lunático delirante na escassa literatura que eu poderia adquirir sobre ele. No
entanto, não consegui encontrar muito, e o Rei Edric mal falou algo.— Seus
ombros caíram.
—Não lemos sobre o Mestre Barca?— Cyrene perguntou.
—Não me lembro o nome.
—Tem a certeza? Não foi ele que inventou Explosões?— Cyrene tinha
certeza de que era de onde se lembrava dele. Um dos seus tutores tinha ficado
fascinado que algo poderia produzir cores brilhantes no céu apenas
acendendo um pavio. O inventor nunca tinha revelado seu segredo.
Os olhos de Rhea iluminaram na luz fraca. —Cyrene, você está certa!
Como eu poderia ter esquecido? Não entendo de Explosões, mas estou certa
de que o Mestre Barca foi o inventor.— Ela levantou as mãos em desdém e
começou a resmungar para si mesma. Depois de um momento, ela se voltou
para Cyrene, parecendo horrorizada. —Pela Criadora, vou me meter com
magia!
Cyrene teve um surto de risadas com a declaração ultrajante de sua
amiga. —Agora você está falando sobre fábulas, Rhea Analyse! Certamente,
você ganhará muito conhecimento no seu trabalho com o Mestre Barca, mas
magia? Magia não existe! Tenho certeza de que Explosões tem uma explicação
perfeitamente lógica que você vai ter que me contar assim que eu tiver
permissão para viajar para Albion.
—Assim que tiver permissão?
—Eu não vou esperar um dia. Você é minha melhor amiga Rhea.
Depois de um momento, Rhea roçou o pino circular no vestido de
Cyrene. —Então, você é realmente uma Afiliada? Você tem a família mais
sortuda da cidade.
Cyrene recebeu a réplica como um tapa na cara. Ela queria ser uma
Afiliada mais do que qualquer outra coisa para que pudesse viajar e encontrar
aventura, mas ela sempre imaginou isso com sua melhor amiga ao seu lado.
—Você vai superar todos eles, Cyrene — disse Rhea. Não havia
maldade em sua voz.
Rhea sorriu fracamente e então começou a ditar um curso de ação em
relação a suas cartas de Apresentação. Cyrene ouviu o plano de Rhea,
desesperadamente querendo acreditar nele mesmo com suas incertezas.
—Me prometa que você vai encontrar tempo para fazer a pesquisa,—
Rhea disse como se lendo os pensamentos pessimistas de Cyrene.
—Eu prometo.
—Bom. Também prometo. Aconteça o que acontecer.
Alguém chamou o nome de Cyrene de dentro da casa.
O olhar de Rhea correu nervosamente para a porta da frente aberta, e
ela agarrou sua capa do gancho onde estava secando. —Eu tenho que ir.
—Eu te amo, Rhea.
—Eu também te amo.
—Vou ver você em breve — prometeu.
Rhea assentiu com a cabeça e então saiu da varanda da frente, virando
a esquina e fora da linha de visão de Cyrene. A chuva finalmente parou com a
partida de Rhea, mas Cyrene não se moveu. Mesmo quando ela estava de
férias com seus pais no campo, ela nunca ficou sem Rhea por mais de algumas
semanas. Na maioria das vezes, Rhea tinha ido com ela.
—Aí está você!— sua mãe arfou. —Eu não sabia por que esta porta
estava entreaberta.
—Minhas desculpas.— Cyrene correu para dentro.
—Nós vamos sair em breve. Você está pronta?
—Sim, mãe. Deixe-me dizer adeus a Elea.
—Estou tão orgulhosa de você — disse sua mãe, brilhando
positivamente com entusiasmo por sua filha. Ela plantou um beijo na
bochecha de Cyrene.
Cyrene sorriu fracamente pra ela, quando ela saiu para recuperar o
marido. Elea dobrava a esquina da cozinha, entrando no corredor.
—Me... Me desculpe.— Elea mordeu o lábio inferior. —Sobre Rhea.
Todos nós lamentamos por ela.
Cyrene soltou uma respiração pesada. Embora soubesse que não era
culpa deles e que sua família sentia muito pelo o que tinha acontecido, não
eram eles que estava perdendo sua melhor amiga no período de uma tarde...
Só uma filha e uma irmã.
—Eu sei.
—A mãe simplesmente quer o melhor para você.
—E eu não consegui?— Ela moveu o pino de ouro em seu peito.
Elea agarrou a mão da sua irmã. —Não negue que isso é o que você
queria. Sempre houve uma chance de que uma de vocês não iria para a
Primeira Classe, e era quase inevitável que as duas não se tornassem Afiliadas.
—Eu sei, e não posso mudar isso. Eu estou apenas...
—Com raiva e triste — Elea terminou por ela. Ela limpou uma lágrima
solitária do olho de Cyrene. —Você e Rhea são minhas melhores amigas
também e agora, vocês duas estão indo embora.
Cyrene lidou com os comentários de Elea. Ela não sabia como reagir. —
Eu não quis dizer para você... Não iria querer, não consigo fazer nada certo,
Elea.
—Você faria se pudesse.
Cyrene puxou Elea para um abraço.
—Cuida da mãe e do pai para mim?— Cyrene pediu.
—É claro. Embora eu gostaria de que poder ir ao baile — disse Elea. —
Mas acho que não quero nem ficar na mesma sala que você quando você está
usando isso. Ninguém mais olharia para mim.
Cyrene riu. —Você vai ser uma Afiliada no ano que vem, e eles vão dar
uma baile inteiro em sua honra! Tenho certeza que ninguém vai me olhar duas
vezes até então.
—Isso vai ser um dia —disse Elea incrédula. —De qualquer forma,
tenho algo para você.
—Você não precisa me dar nada.
Elea retirou um pequeno livro de sua bolsa e o entregou a Cyrene. —É
o seu aniversário. Eu comprei de um vendedor ambulante de Eleysian no
Mercado Laelish quando fui com a mãe e o pai para escolher seus sapatos.
A mão de Cyrene deslizou pela espinha de couro rachada onde
minúsculas letras pretas haviam sido artisticamente escritas numa língua que
ela não reconhecia. Ela juntou as sobrancelhas quando tentou decifrar as
palavras rabiscadas. —Isso está escrito em Vitali?— Seus olhos se abriram, ela
olhou para cima para sua irmã.
—Você acertou no primeiro palpite. Grande surpresa.— Ela saltou nas
pontas dos pés.
—Quem viaja com traduções de Vitali? Os livros Doma foram
queimados por heresia depois da Primeira Guerra de Dremylon.— Cyrene
virou o livro para a frente. A única coisa claramente legível era um símbolo
com uma linha reta paralela com a encadernação e duas linhas adicionais,
pintadas em um ângulo ascendente. Lembrava uma árvore com ramos
faltando no lado esquerdo.
—Eu não sei, mas o homem era tão estranho. Ele ficava dizendo essas
coisas estranhas, como este livro era para as Crianças da Aurora e o Herdeiro
da Luz. Você sequer ouviu falar de tais coisas?
Cyrene balançou a cabeça ao traçar o símbolo. Parecia familiar, mas ela
não tinha certeza de onde tinha visto. —É tão bonito. Eu não posso acreditar
que ele vendeu isso.
Elea suspirou desesperadamente. —Quem me dera tivesse mais do que
apenas a encadernação, mas todas as páginas estão em branco. Achei que valia
a pena pela ligação com Doma pelo menos. Eu sei como você ama história.
—Eu amo.— Cyrene abriu o livro na primeira página e juntou as
sobrancelhas. —Você disse que está em branco?
—Está. Vê?— Elea apontou o dedo para a página.
—Do que você está falando?— Cyrene virou para a próxima página e a
próxima. Tinta brilhante iridescente cobria cada uma delas.
Os olhos de Elea se estreitaram em confusão. —Eu pensei que você
ficaria contente mesmo que o livro estivesse vazio.
—Você não pode ver isso?— Ela espetou o dedo em uma das páginas.
—Cyrene, você está bem? Não tem nada aí.
Como Elea não podia ver as palavras?Eles estavam lá. Todos elas estavam
lá, mudando de dourado, amarelo, laranja, vermelho, roxo, azul, verde e volta
para o dourado. A caligrafia era soberbamente feroz com bordas afiadas e
grandes redemoinhos. Cyrene nunca tinha visto nada parecido, mas se sentia
como se devesse saber o que as palavras diziam.
—Cyrene?— Elea questionou, sua voz suave.
Seu pai enfiou a cabeça no corredor. —Querida, sua mãe está
esperando na carruagem.
—Já irei pai,— Cyrene disse, acenando para ele sair.
Ele assentiu com a cabeça e saiu do corredor.
Cyrene fechou o livro bruscamente, de repente se sentindo possessiva
em relação a coisa pequena. Ao mesmo tempo, ela estava assustada de seu
significado. Se Elea não podia ver a escrita, então algo deve estar errado.
Cyrene não tinha ideia do que fazer com ele. Como posso ver as palavras e Elea
não?
—Você é a melhor irmã. Você pode se certificar de que isso seja enviado
com o resto das minhas coisas?
—É claro que eu vou.— Elea hesitantemente pegou o livro de Cyrene e
o colocou debaixo do braço.
Cyrene se abaixou e beijou as bochechas de Elea. —Vou te ver assim
que puder.
—Boa sorte.
Cyrene saiu em um transe, seus pensamentos perdidos naquele livro
estranho e sua dor. O melhor que ela poderia esperar era que seus deveres
como uma Afiliada a deixariam com pouco tempo para pensar sobre o
novo desenvolvimento e iria mascarar a tristeza de deixar todo mundo que
amava para trás.
—Pela Criadora — sussurrou Cyrene.
Ela olhou através das enormes portas duplas que abriram para o salão
de baile onde ocorreria sua ascensão como uma Afiliada. O salão tinha tetos
curvos e janelas de vitrais em belos tons de azuis e verdes. Mármore preto,
importado da base das Montanhas Barren, pavilhando o vasto chão. Uma
lareira de dois metros de altura rugiu para a vida no extremo da sala. Vários
candelabros de ferro forjado preto pendiam do teto, iluminando a sala com
grandes velas de cera.
Um quarteto de cordas com seu ritmo rápido guiava casais através da
pista de dança aberta. Dezenas de Afiliadas e Conselheiros estavam presentes,
e pinos de ouro brilhavam nos vestidos de quase todas as mulheres que
passavam.
Um arrepio correu por dela. Ela empurrou o pensamento de qual
poderia ser a reação de Rhea. Isso não ajudaria Cyrene esta noite.
Ela respirou fundo e então entrou no salão. Ela tinha andado alguns
passos antes que alguém bêbado esbarrasse nela. Ela gemeu com o impacto e
tropeçou para a frente, procurando a pessoa mais próxima para evitar cair no
chão. Um rasgo fraco soou quando agarrou a manga de um homem na frente
dela.
Se virando, ele a pegou no meio do ar, a girou no lugar e a segurou em
seus braços. As bochechas de Cyrene estavam coradas de horror.
—Você está bem?— ele perguntou, lentamente a colocando de volta em
seus pés.
—Sim... Sim, estou bem.— Sua cabeça girou de um lado para o outro,
tentando procurar a pessoa que colidiu com ela. Que tipo de mula idiota passa
por alguém assim? Lá estava ele. Ela viu um homem desgrenhado, com cabelo
escuro tropeçando embriagado pela multidão.
—Afiliada?— O cavalheiro procurou por sua mão.
—Sim. Sinto muito.— Ela olhou para o homem pela primeira vez.
Seu mundo inclinou quando os olhos dela encontraram olhos azul-
acinzentadas brilhando com preocupação. Ele tinha o mesmo queixo forte, a
mesma estatura de ombros largos, os mesmos olhos. Ela teria reconhecido as
semelhanças entre o homem perante ela e o rei em qualquer dia.
—Uh... Quero dizer...
Um sorriso conhecedor cruzou o rosto dele. —Acredito que não fomos
formalmente apresentados.— Ele pegou a mão dela e a beijou suavemente. —
Eu sou o Príncipe Herdeiro Kael Dremylon.
Príncipe Herdeiro.
O título formal caiu como gelo ao longo de seus ossos.Como pude ser tão
estúpida quanto a rasgar a roupa do Príncipe?
Ela caiu em uma reverência rápida. —Sua Alteza, minhas desculpas
por rasgar a sua roupa. Eu sou Cyrene Strohm... Afiliada Cyrene Strohm.
—Ah, o mais novo membro da corte, eu vejo,— ele disse com um riso
na voz deleque ela não entendeu. —Você pode levantar, Afiliada Cyrene. O
baile é em sua homenagem esta noite, não é?
—Sim, isso é, uh... Sua Alteza.
Príncipe Kael levantou seu queixo. Ela podia sentir seu inebriante
cheiro almiscarado, e ela sentiu um pequeno choque de eletricidade passar
entre eles. Ela engoliu com força mas não desviou o olhar.
Assim tão perto, ela conseguia ver as diferenças entre ele e o Rei Edric.
O rei tinha a barba praticamente raspada, com maçãs do rosto altas e
esculpidas, cabelos curtos e traços fortes e duros. Príncipe Kael era mais
formoso do que bonito com uma suavidade que mostrava que ele era um
jovem de apenas dezoito anos. Mas foi o sorriso presunçoso na boca dele, a
posição arrogante de seus ombros e o olhar ousado, quase descarado em seus
olhos que verdadeiramente o diferenciava de seu irmão. Ele era muito mais
parecido com sua mãe, a Rainha Adelaida — a Criadora abençoe a sua alma.
Havia uma desonestidade implícita pela qual sentia-se atraída.
—Kael será suficiente se não se importa.
—Claro, Sua Majes... Kael.— Ela não podia acreditar que estava se
dirigindo a um membro da família real por seu nome. —Sinto muitíssimo
sobre sua roupa. Me permita substituí-la.
—Absurdo. Tudo o que vou exigir de você, Afiliada Cyrene, é a
primeira dança.— Ele formalmente se inclinou, lhe oferecendo a mão.
A cabeça de Cyrene nadou com o prazer. O Príncipe estava lhe pedindo
a primeira dança da noite. A honra era geralmente reservada para uma rainha
ou consorte. No mínimo a realeza concederia suas graças em homens e
mulheres do seu próprio círculo social. Mas ele tinha escolhido ela!
Ela colocou levemente a mão na dele, e ele a girou em direção da pista
de dança. A dança rápida terminou e fluiu para a melodia suave de Haenah
de'Lorlah, uma de suas favoritas. Os movimentos lentos e deliberados, a dança
íntima era para parecer como se o casal estivesse flutuando sem esforço acima
da superfície.
Príncipe Kael foi de longe o melhor dançarino com quem ela já dançou.
A conduzindo ao redor do salão com facilidade, ele fez com que os passos
parecessem como se eles realmente estivessem flutuando. Isso não deveria a
ter surpreendido, dado que ele era da realeza, mas nunca tinha experimentado
um parceiro tão incrível, ela mal podia manter o choque e a exultação longe do
seu rosto.
Ele a arrastou consigo, passando por um borrão de rostos que ela nem
reconheceu e nem se importou naquele momento. Pensamentos sobre o
exótico vestido drapeado em todo o seu corpo e o abraço firme do Príncipe
Herdeiro de Byern se perderam enquanto ela acompanhava os passos de
dança graciosos de Príncipe Kael.
Seus pés pararam na superfície de mármore preto no final da canção.
Com um floreio, Príncipe Kael curvou-se profundamente, e Cyrene afundou
em uma reverência graciosa.
À medida que as emoções da dança tinham tomado conta, a respiração
dela se tornou irregular. Enquanto os passos não tinham sido difíceis, ela
sentiu como se de alguma forma tivesse derramado mais de si mesma nos
movimentos. A sensação era cansativa, no entanto, emocionante. Ela estava
em chamas, e ela precisava de água para apenas começar a apagar as chamas.
Cyrene saiu de seu devaneio com o fraco som de aplausos. Ela arrancou
os olhos dos de Príncipe Kael e percebeu que os convidados estavam
abertamente encarando eles.
—Cyrene, você é uma dançarina exuberante. — Príncipe Kael a afastou
da multidão.
—Obrigada — ela respirou instavelmente. —Você é muito bom.— Ela
escondeu o verdadeiro peso de seu depoimento atrás de um olhar e um
sorriso tímido.
—Permita-me que eu pegue um bebida para você.
Ele pegou duas taças de vinho e ela graciosamente pegou a taça de sua
mão e tomou um gole. Ela não bebia com frequência, mas o vinho era de
extrema qualidade, e quase não pode resistir.
Cyrene notou quando a atenção do Príncipe Kael foi desviada.
Seguindo seu olhar, ela saltou ligeiramente em surpresa, quase derramando o
vinho para fora de sua taça.
Rei Edric.
Cyrene caiu em uma profunda reverência. —Sua Majestade.
—Afiliada Cyrene.— Rei Edric inclinou a cabeça quando ela se
levantou. —Kael — bruscamente reconheceu seu irmão, agarrando seu
antebraço. —Você parece ter capturado toda a atenção de Cyrene em seu
próprio baile.
Se Cyrene não tivesse visto o olhar de desprezo passar pelo rosto de
Príncipe Kael, ela nunca teria acreditado que estivesse lá quando ele se dirigiu
ao Rei Edric.
O comportamento do Príncipe Kael mudou perfeitamente para uma
fachada indiferente com um sorriso zombeteiro. —Como eu poderia não
roubar a atenção de uma mulher tão bonita?
—Eu certamente não posso culpar você.
Ela rapidamente tomou um gole de vinho para evitar os olhares
aquecidos dos homens olhando para baixo para ela. Seu coração ainda estava
batendo forte por causa da dança, e a atração magnética que ela sentiu vindo
dos dois a deixava ainda mais fora de equilíbrio. Como eu acabei entre os dois
homens mais poderosos do Reino?
—Você é muito boa dançarina, Cyrene — Rei Edric disse com um
brilho malicioso em seus olhos.
—Você me lisonjeia. Minhas habilidades de dança são perfeitamente
adequadas.
—Pelo contrário, você e meu irmão inflamaram o chão.— Seu olhar
mudou dela para Príncipe Kael, que escondia um brilho de aço atrás de seus
próprios olhos azul-acinzentados.
—Agradeço-lhe muito. No entanto, eu devo dar o crédito onde o
crédito é devido.— Ela levemente colocou a mão sobre manga da camisa do
Príncipe Kael e sorriu para os dois homens.
—Então, talvez você me permita mostrar os passos de um rei.— Rei
Edric estendeu a mão para ela.
Cyrene lentamente retirou a mão do Príncipe Kael a colocou na do Rei
Edric. Sua garganta apertou. Ela estava prestes a dançar com o Rei de Byern.
Ela não podia acreditar.
Afiliados associados com a rainha e consorte com frequência. Mas o rei?
O Rei Edric voltou sua atenção para seu irmão. —Kael, espero que você
dê a Rainha Kaliana a mesma honra que você concedeu a Afiliada Cyrene e
nos entretenha com a próxima dança.
Príncipe Kael assentiu, sua mandíbula travada. —Claro,— ele disse
com uma reverência dura. Ele caminhou pelo salão para onde estava a Rainha,
rodeada por um aglomerado de Afiliadas puxa-saco.
—Depois de você — disse o Rei Edric.
Duas colunas de bailarinos se formaram no centro da pista de dança,
homens de um lado e mulheres do outro. Rei Edric tomou a ponta de uma, e
Cyrene se encaixou em frente a ele. Rainha Kaliana se colocou em frente ao
Príncipe Kael na outra extremidade. Cyrene afastou o olhar longe dos outros
dançarinos e colocou os olhos sobre o homem — o Rei— que estava de pé
diante dela.
Rei Edric estalou os dedos para o quarteto de cordas, e eles
imediatamente se endireitaram, tirando seus arcos.
Os violinistas sedutoramente tocaram os acordes iniciais de Cat’s
Cradle, e os homens se curvaram quando as mulheres fizeram uma reverência
modesta. A dança era intricada com elaborados padrões de entrelaçamento,
abertura e fechamento de círculos e troca de parceiros em momentos
específicos.
O Rei parecia muito à vontade com os passos enquanto ele a conduzia
com perfeição através da primeira parte da dança.
—Está usando essa cor novamente — disse Rei Edric.
—Pensei que você gostasse bastante.
—Seus olhos falharam hoje à noite?— Ele a girou em torno de outro
casal.
—O que você poderia querer dizer?
—Eu já te disse uma vez antes que ninguém usa essa cor na minha
corte.— Ele olhou o corte do vestido de forma bastante deliberada.
—Acho que vou ter que devolver a encomenda que pedi hoje.
Ela sabia que tinha que agir rapidamente, já que o tempo na dança
onde ela iria ser levada de pessoa para pessoa estava se aproximando, e então
acabaria. —Informei minha costureira de sua afeição pela cor, e ela refez todo
o meu guarda-roupa nos tons brilhantes, Meu Rei.— Ou pelo menos, ela faria
isso quando fosse embora.
O Rei Edric olhou para baixo em seu rosto, sua expressão mais perto de
choque do que Cyrene já tinha visto nele. Ele se recuperou rapidamente,
claramente determinado a dizer diretamente sua opinião sobre seu vestuário,
mas naquele momento, ela foi empurrada para os braços de um membro do
Conselho. Como ela foi carregada de pessoa para pessoa ao longoda dança,
dificilmente lembrava seus nomes. Alguns dos homens foram simplesmente
adequados, e outros a giraram em círculos que fez seu pescoço doer enquanto
mais um ou dois estavam quase ao nível do Rei Edric e Príncipe Kael, embora
certamente ninguém iria sugerir isso.
Um momento depois, ela foi empurrada de volta para os braços do Rei,
e ela sorriu para ele.
—Você realmente usa esse sorriso o tempo todo, não é?
—Eu disse que sim na minha Apresentação. Você está insinuando que
eu mentiria à Vossa Majestade?
—Não mais do que sua insinuação de ter uma afinidade com o futuro
— ele combateu.
Cyrene quase riu. Claro que ela tinha brincado quando disse ao rei que
Elea pensava que Cyrene poderia prever o futuro.
À medida que a música mudou, eles voltaram para as duas linhas em
que os casais inicialmente tinham ficado. Ela se deixou cair em uma reverência
para o lado masculino, e o rei assentiu em reconhecimento. Os dançarinos
partiram e voltaram para o círculo de amigos que tinham deixado para trás.
O Rei Edric se aproximou dela mais uma vez com um sorriso para os
cortesãos que assistiam. —Uma bela dança, Afiliada Cyrene — Ele elogiou
abertamente.
—Você me fez uma grande honra.— Ela inclinou a cabeça em aceitação
de seu elogio.
—Desejo-lhe boa sorte no seu treinamento amanhã.
—Com sua benção, estou certa de que farei tudo que puder para Byern
— ela murmurou.
Ele olhou para ela pensativamente por um segundo antes de se virar e
caminhar para a sua Consorte. Cyrene não sabia como ela tinha atraído tanta
atenção ou o que aquilo significava.
Com os olhos em brasa da multidão em seu rosto, Cyrene prontamente
saiu da pista de dança. Recuperando um copo de vinho de um garçom que
passava, ela procurou a família que ela tinha esquecido depois do pedido do
Príncipe Kael para dançar. Ela podia achar a figura imponente de Reeve em
qualquer multidão, e ela perfeitamente manobrou ao redor do salão de baile
até ele.
—Cyrene — Reeve se vangloriou, lançando um braço ao redor dela.
Ele cambaleou para a frente contra ela, e ele cheirava a álcool. Ela
nunca tinha visto seu irmão assim antes.
—Olá, Reeve.
—Parabéns novamente, irmãzinha.
—Obrigada.
Ela olhou ao redor para o grupo de homens em pé diante dele. Todos
eles usavam o brasão Dremylon em seus peitos.
—Deixe-me amavelmente te apresentar aos meus bons homens do
Conselho, Brayan, Surien, Rhys e Clovis.— Ele apontou para cada homem,
enquanto chamava cada um pelo nome. —Cavalheiros, conheçam minha irmã
e agora Afiliada Cyrene.
O nível de intoxicação no grupo estava em um nível que ela nem
mesmo considerava digno de uma reverência.
—O prazer é nosso Afiliada.— Rhys ligeiramente mergulhou na
cintura.
—Obrigada — ela disse, tentando se lembrar de suas maneiras e não de
seus olhares exigentes.
—Algum de vocês ouviu falar de Zorian?— Clovis perguntou. —Ele
deveria ter voltado para a Apresentação da sua irmã.
—Não ouvi dele.— Brayan tomou um gole de sua caneca.
—Tenho certeza de que ele vai aparecer,— disse Reeve.
—Sim, ele me disse que viria de Carhara — Surien confirmou.
—Deve acabar com uma dessas mulheres Carharan. Ouvi dizer que
aqueles na capital trabalham com você. —Rhys começou.
Reeve bateu no peito de Rhys e jogou a cabeça em direção de Cyrene. O
peso dos olhares dos homens pousaram nela, e ela tentou não se sentir
vulnerável no meio deles. Algo em sua natureza a fez lembrar de uma matilha
de lobos perseguindo sua presa.
Cyrene procurou uma maneira de sair da conversa. Ela não conhecia
esse Zorian, e ela nem tinha qualquer interesse em ouvir sobre suas aventuras
com mulheres Carharan.
—Você viu Aralyn?— ela perguntou a Reeve.
—Aralyn?— Reeve perguntou em descrença
Os amigos de Reeve riram da sugestão.
—O que alguém iria querer com aquela puritana?— Clovis perguntou.
Rhys riu bêbado ao lado dele. —Poderia pensar em algumas coisas.
Reeve balançou a cabeça, mas estava rindo da indecência de seus
amigos. —Eu não sei, Cyrene. A rainha de gelo gruda em seu castelo de neve
diplomático em Kell. Ela provavelmente está com o nariz em um livro em
algum lugar.
Reeve podia também ter socado Cyrene no estômago. Como ele poderia
falar de tal maneira sobre sua irmã e deixar seus amigos rirem dela? Eles sempre
tiveram suas diferenças desde que Reeve era mais velho, mais barulhento e
mais extrovertido enquanto Aralyn era austera, estudiosa e bastante particular
sobre tudo à sua volta.
Aparentemente, Cyrene tinha algumas coisas para aprender sobre a
vida na corte. Se fosse do jeito dela, ela certamente iria desaprender essa lição
de Reeve.
—Bem, eu vou encontrá-la — ela disse. Ela serpentou para fora de seu
abraço e tropeçou para longe de seu círculo. Ela tentou bloquear suas
risadinhas quando saiu.
Eventualmente, ela localizou Aralyn sentada com uma outra mulher.
Elas foram apenas removidas da entrada para o grande salão.
—Aralyn, estava procurando por você.
—Olá, Cyrene — disse Aralyn com um pequeno sorriso. Seu cabelo
castanho claro ondulado estava sem vida nas extremidades, e ela tinha
círculos sob os olhos. Os ombros dela pareciam muito apertados com a tensão.
As viagens que a Rainha solicitava de Aralyn obviamente cobraram seu preço
nela.
—Você parece estar com um humor melhor do que quando eu te deixei.
Poderia ser porque o Príncipe Kael e o Rei Edric te chamaram para dançar?—
Aralyn sugestivamente arqueou uma sobrancelha.
—Isso poderia ter algo a ver com isso.
—Oh, me perdoe — Aralyn disse. —Esta é a Afiliada Leslin. Ela
trabalha para a divisão da biblioteca da Rainha.
—Prazer em conhecê-la — disse Cyrene.
Uma confusão na entrada interrompeu a conversa. Todos os olhos no
salão se viraram para as grandes portas duplas quando dois homens do
Conselho levantaram um homem do chão e o empurraram para a frente. O
homem atirou palavrões com tal indignação que Cyrene só entendeu metade
do que ele estava dizendo.
Quando eles se aproximaram de onde ela estava, ela reconheceu esse
homem. De todas as pessoas que conheceu esta noite, ela poderia se lembrar
perfeitamente desta pessoa, mesmo que ela não tivesse ideia de seu nome. Ele
era o homem que trombou quando ela entrou pela primeira vez no salão.
Eles violentamente jogaram o homem para fora das portas, e ele caiu
pesadamente em seu traseiro e rolou com rapidez antes de se deitar.
—Você vai ficar aí fora, Ahlvie — um dos homens gritou.
—Nós já tivemos o suficiente de você esta noite — um segundo falou.
Cyrene estremeceu, uma pontada de piedade a atingiu.
Várias mulheres engasgaram em ultraje com o tratamento, mas Ahlvie
se endireitou lentamente. Ele olhou para os dois membros do Conselho e
atirou mais alguns palavrões de sua escolha na direção deles.
—Te-tenho que sa-sair daqui.— Ele cambaleou para seus pés. —Muitas
malditas re-regras neste lu-lugar abandonado!— Ahlvie cambaleou para longe
do corredor, enquanto resmungava para si mesmo.
—Ele é insuportável.— Leslin estremeceu.
—Um pouco de problema com bebida?— Cyrene perguntou. Ela sabia
muito bem que ele tinha estado além de bêbado, quando ele trombou nela
mais cedo.
—Um pouco? Se esse... Esse homem entrar em minha biblioteca
novamente com uma gota de álcool em seu sistema, vou matá-lo eu mesma.
Não me importo se ele é um gênio. Seu comportamento é desnecessário.
—Decididamente desnecessário— concordou Príncipe Kael, entrando
conversa, sem aviso prévio.
Cyrene estava de costas, e ela pulou ao som de sua voz.
—Talvez eu tenha uma palavra com ele.
Aralyn e Leslin olharam para Príncipe Kael como se ele fosse um
grande Indres míticos com garras enormes e um corpo do dobro do tamanho
de um lobo.
Príncipe Kael agiu alheio de suas expressões de olhos esbugalhados. —
Eu esperava outra dança, Afiliada Cyrene. Me concede essa honra?
—Claro que ela vai — Aralyn disse sem pensar uma vez. —Estávamos
saindo. Não estávamos, Leslin?
—O que?— a mulher mais velha gritou. —Oh, sim. Sim, nós estávamos
apenas...— Ela limpou sua garganta —indo embora.
Cyrene não sabia se devia estar grata ou humilhada com sua partida
precipitada. Príncipe Kael ficou diante dela, com um olhar bem humorado no
rosto.
Ela ligou os braços com Príncipe Kael, e ele a acompanhou de volta
para a pista de dança.
Príncipe Kael se moveu com a batida da música e a puxou para o
passeio. Ele dançaria com ela uma vez ou então duas vezes seguidas, e então
ele iria entregá-la para outro cavalheiro. Quando completaram seu circuito, o
homem prontamente ia devolvê-la aos braços do Príncipe Kael. Em algumas
danças, eles falariam nada, satisfeitos em deixar a música levá-los. Em outras
danças, eles conversariam sobre uma variedade de assuntos que fez Cyrene
começar a se perguntar se seria testada mais tarde.
No final de outra dança, Cyrene sentou em uma cadeira próxima e se
abanou com a mão, tonta da energia da noite. A exaustão do dia foi se
instalando. Após horas e horas de dança, seus pobres pés estavam doloridos.
Era tão tarde agora que o salão tinha se esvaziado de todas as pessoas.
Chegando ao lado dela, sempre alegre, Príncipe Kael ofereceu sua mão
para ela mais uma vez. —Você parece drenada. Eu odiaria evitar que você
tenha seu sono de beleza. Permita-me levá-la de volta para o seu quarto.
Cyrene parou com seu auxílio. —Eu não tenho certeza de onde fica.
—Então você tem sorte que me tem aqui para guiá-la.
Príncipe Kael a dirigiu para fora das portas duplas. Cyrene nem ligava
como podia parecer para os convidados restantes. Ela só queria encontrar seus
novos aposentos e afundar em sua cama.
—Como você sabe onde fica o meu quarto?— Mesmo em seu estado,
ela achou isso estranho.
—Há um diretório — ele disse indiferente. —Vamos cruzar por ele
antes de alcançarmos as Videiras.
—Oh.—Por que ninguém me falou sobre o diretório?
Príncipe Kael parou em uma esquina onde um dos maiores livros que
Cyrene já tinha visto ficava em um palanque. Ele facilmente o abriu e
encontrou o nome dela dentro do conteúdo.
—Por aqui.— Ele a conduziu por um corredor,deu algumas voltas e
depois parou na frente de um arco com trepadeiras que espelhavam o
broche de Afiliada de Cyrene. Eles tinham encontrado os aposentos da
Rainha, as Videiras.
Ela ficou maravilhada com a entrada por um minuto e depois seguiu o
Príncipe Kael pelos corredores. Após mais algumas voltas, ele parou em frente
a uma porta onde seu nome foi escrito em uma escrita verde com floreios.
Afiliada Strohm
—Muito obrigada. Eu nunca teria encontrado sem você.
—É um prazer.— Ele segurou a porta aberta para ela entrar.
—Não consigo ver nada.
Príncipe Kael deixou a porta fechar atrás dele. Ele acendeu um fósforo e
acendeu um lampião que estava em uma mesa de madeira. O brilho fraco
lançou luz através do espaço, revelando uma linda sala de estar completa com
um sofá de seda brocada e poltronas de tons creme e rosa claro. Tapeçarias em
cores complementares revestiam as paredes, e um lindo tapete trançado
tomava uma grande parte do piso.
Príncipe Kael apoiou uma mão contra a mesa, olhando para ela.
—É lindo.— Seus aposentos eram incríveis.
Ela não podia esperar para ver como o quarto parecia!
Ela se virou para olhar para o Príncipe Kael, calor subindo para suas
bochechas. Aqueles intensos olhos azul-acinzentados olharam para ela como
se ele soubesse exatamente o que ela estava pensando.
Ele andou em sua direção. —Você está corando, Afiliada.
Cyrene engoliu mas não respondeu. A mesma corrente, uma conexão
inexplicável, chocou entre eles, tal como anteriormente.
Então, sem aviso, os lábios do Príncipe Kael estavam nos dela. Seus
braços fortes circularam sua cintura, e ele apertou seu peito contra o dela. Ela
podia sentir cada polegada sólida do abdômen dele quando seus dedos
cavaram o material de seda do vestido.
Ele a empurrou para trás contra a parede, pressionou seu corpo entre
ele e a superfície dura. O coração dela foi tomado pelo pânico quando ela
percebeu que não havia nenhuma fuga. Ela estava à sua mercê, e ele usou isso
para sua vantagem para colocar uma mão em seu cabelo.
Ele tentou faze-la aceitar quando sua outra mão se moveu mais e mais
para baixo da cintura dela, agarrando-a através do material fino. Neste
momento, o choque total do momento desapareceu e Cyrene arrancou sua
cabeça para longe de dele, ofegante de horror.
—O que está fazendo?— Ela empurrou bruscamente contra o peito
dele.
Ele só agarrou o cabelo dela com mais força e puxou seus lábios contra
os dele. Ela murmurou alguns insultos que ele engoliu através de seus beijos.
Ignorando seus protestos, ele beijou seu pescoço, em toda a sua orelha e ao
longo de sua clavícula exposta. Ela respirava rapidamente, tanto pela sensação
de sua boca na dela quanto pelo espanto de estar em tal posição.
Ele não tinha o direito de me beijar dessa forma sem minha permissão!
O joelho dele subiu entre as pernas dela e as separou. Cyrene redobrou
seus esforços, sem se importar de que seu cabelo estava sendo arrancado das
raízes.
—Kael!— ela gritou. —O que está fazendo? Tire suas mãos de mim!—
O grito lhe deu uma polegada de manobra, e ela tropeçou para os lados, longe
dele.
Respirando pesadamente, Kael estreitou os olhos.
Todo o seu corpo tremeu. Ela engoliu com força para tentar esconder o
terror da melhor maneira que pôde. —Como ousa me tocar!
—Como me atrevo... — ele rompeu com um grunhido. —Depois que eu
dancei com você a noite toda e te acompanhei para seu quarto, você me deixa
de lado?
Olhos de Cyrene eram nuvens de tempestade, sua mandíbula dura. —
Deixá-lo de lado? Você diz isso como se fosse um pretendente.— Ela não
podia acreditar que ele podia ser tão arrogante depois que tinha se forçado em
cima dela. —Certamente não sabe nada de ser um pretendente.
Os olhos de Kael perderam a cor azul pálida que acentuava suas
características e virou uma formidável chapa cinza. —Eu não sei nada de ser
um pretendente? Tenho percorrido as paredes desse castelo toda a minha
vida. Eu vi mais cortesãos ir e vir do que você poderia imaginar em sua vida.
—Então, você deve sair dessas paredes com mais frequência!— A fúria
do incidente ainda queimava através de suas veias. —Você parece ter perdido
a noção da realidade, se você acredita que me acompanhando de volta aos
meus aposentos seria suficiente.
Raiva reacendeu no rosto de Kael, mas Cyrene não se arrependia de
suas palavras. Ela podia estar cometendo um grave erro por estar irritando o
Príncipe, mas ela sabia muito bem que não ia ser tratada como uma prostituta.
Ela não se importava quem era o homem. Isto não era um comportamento
aceitável!
—Por toda a educação que dão para as mulheres, achei que teriam te
ensinado algo sobre a sociedade, fora das quatro paredes de seus pais — ele
zombou.
—E por toda a sua educação, você parece ter esquecido o
comportamento apropriado entre um homem e uma mulher.
Seu riso zombeteiro a enervou. —Você é uma mulher bonita, Cyrene —
ele disse, o tom sedutor de sua voz retornando. —Não serei o único homem
competindo por suas boas graças. Você vai aprender logo que eu te tratei com
muita honra por estar aqui esta noite.
Ele adiantou-se novamente e acariciou sua bochecha com a mão.
—Eu não fui clara?— Ela bateu a mão dele longe dela. —Eu te mostrei
um pedaço de interesse desde que deixou claro suas intenções? Acho que não.
—Dificilmente foram suas palavras que me atraíram. É o suave rubor
contra sua pele, de suas bochechas para os seus ouvidos e até seus seios —ele
murmurou suavemente a última palavra enquanto olhava para baixo para
suas curvas macias espreitando por cima do vestido. —O peso crescente de
sua respiração enquanto conversamos e posso?— Ele colocou os dedos no
pescoço dela, e ela se afastou de seu toque como se ele fosse uma víbora
pronta para atacar. —A rapidez do seu batimento cardíaco enquanto nós
estamos tão próximos.
—Saia, Príncipe Kael.— Ela acrescentou a formalidade para colocar
uma barreira entre eles.
Kael era bonito e a tentava, mas a maneira em que ele se aproximou
dela e o tom afiado de sua voz com sua recusa forçou a mão dela. Sua
presença no quarto dela foi nada menos do que humilhante para ela, sua
família e seu bom nome.
—Cyrene...
—Afiliada Cyrene,— ela o lembrou.
Ele rangeu os dentes com a correção.
—Não espere receber um convite novamente — ela disse. —Agora eu
sei o que implica um convite. Agradeço gentilmente por me instruir em minha
primeira lição na sociedade. — Seus olhos estreitos lhe disseram que se ele
fizesse mais um movimento, ela não seria tão atenciosa por sua posição como
ela tinha sido até agora.
—Espero que você seja tão amável com seus outros pretendentes,—
Príncipe Kael ronronou. —Que suas noites sejam tão quentes quanto aquela
antes de você.
Ele se curvou em excessivo floreio e com isso, trovejou fora da sala de
estar. A porta bateu atrás dele.
O coração de Cyrene bateu descontroladamente, mas não foi de medo.
Foi de pura raiva. Se ele não fosse o Príncipe legítimo de Byern, ela teria ido
direto para o membro mais próximo da Guarda Real e o teria preso por
indecência.
Ela entrou em colapso em seu sofá novo, ergueu o pé para abraçar os
joelhos no peito e deixou uma solitária lágrima cair em sua bochecha. Para o
que pareceu a centésima vez naquele dia, ela desejou que Rhea estivesse aqui
com ela.
Mãos caíram pesadas sobre os ombros de Cyrene, arrancando-a do
sono. Os olhos dela se abriram com o terror. Um forte grito escapou de seus
pulmões. Adrenalina correu através de seu corpo, e ela soltou outro grito de
devastar o ouvido.
Uma mão se manteve sobre sua boca, sufocando os gritos dela. Cyrene
lutou contra o agressor na sala escura. Outro par de mãos a puxou de sua
cama, mas Cyrene agarrou as mãos e chutou. O pé dela se conectou com algo
duro, e uma pessoa gritou. A mão cobrindo a boca dela vacilou e Cyrene
tomou a liberdade de morder com força.
Seu captor gritou e retirou a mão da sua boca. Cyrene pulou da cama e
fugiu para a porta. Antes ela pudesse sair de seus aposentos, mãos a
prenderam em ambos os lados. Outro grito foi cortado no meio quando uma
mão lhe uma bofetada no rosto forte o suficiente para virar a cabeça.
Cyrene ofegou em estado de choque quando sua visão ficou turva. Ela
nunca, nunca fora atingida antes, e ela estava feliz por isso, porque todo o lado
de seu rosto doeu como nada que ela tenha experimentado antes.
—Se mova — alguém disse rispidamente, a empurrando através da
porta.
Cyrene foi empurrada para fora do quarto. Seus pés estavam descalços,
e ela estava vestindo apenas sua fina camisola branca. As mãos em punhos no
material. Ela odiava que qualquer um pudesse vê-la tão exposta.
Ela foi empurrada para a frente para o corredor das Videiras, e ela
recebeu sua primeira visão dos captores. Eles usavam grandes máscaras na
forma de animais grotescos e criaturas mitológicas. Era como se ela estivesse
em uma recriação perturbadora de um baile de máscaras. Ela tinha ido em um
desde que era uma menina, mas mesmo assim, as pessoas usaram máscaras
maravilhosamente construídas para moldar seus rostos com brilho, penas e
desenhos pintados. As máscaras dos captores não eram nada do tipo.
O rosto de uma gigante hiena-malhada apareceu ao lado dela. O
usuário a empurrou pelo corredor, e ela colidiu em outra pessoa, que se virou
e pegou as mãos dela. Olhando para ela era um falso Indres de outro mundo
rosnando como um lobo com grandes caninos salientes ao longo da sua boca.
—Veja para onde você está indo!— gritou o Indres.
—O que está fazendo comigo?— Cyrene exigiu, histeria dominando.
—Você vai falar quando falarem contigo — rosnou outra voz. Pertencia
a uma figura mascarada de Leif, quase da mesma altura que Cyrene. Madeixas
loiro-arruivadas caíram de um dos lados da máscara que era uma pele lisa
toda brilhante com orelhas pontudas. O Leif era uma criatura enganosamente
linda propensa a roubar crianças no meio da noite.
—Não! Você vai me responder imediatamente! Eu sou uma Afiliada da
Rainha,—ela disse, brandindo o título como uma arma. —Você vai parar com
isso imediatamente.
Riso preencheu o corredor.
—Fique quieta, garotinha.
Algo afiado a espetou nas costas. Os pés dela pararam quando a faca
perfurou sua pele. Ela sugou uma respiração dura com a dor disparando
através de seu corpo.
—Mantenha seus pés se movendo, ou vou usar isso na sua garganta.—
A hiena falou no ouvido dela.
Aterrorizada, Cyrene apertou a boca fechada e seguiu a estranha trupe
mascarada. As tochas ao longo do corredor tinham sido apagadas, e Cyrene
não conseguiu identificar a rota que eles pegaram através das Videiras.
De repente, a Leif fez uma parada abrupta, e Cyrene mal conseguiu não
trombar com a pessoa. A Leif se pressionou contra uma porta quase invisível
no corredor escuro, e esta se abriu. Cyrene mordeu o lábio, tentando controlar
o medo ameaçando irromper dela.
Seus captores a empurraram pela entrada escura. Cyrene, impotente,
tropeçou para a frente e caiu alguns degraus. No último segundo, ela se
agarrou em um corrimão e salvou seu corpo de se esmagar sobre os degraus
de pedra dura.
O grupo se amontoou e desceu o lance íngreme de escadas úmidas.
Eles pareciam descer cada vez mais para baixo do castelo, sem parar em uma
espiral, e ela ficou tonta com a descida.
Um brilho assustador apareceu ao redor da próxima curva. As pernas
de Cyrene tremeu com o esforço, e ela estava grata de finalmente deixar as
escadas para trás, mesmo que isso significasse que eles que estavam muito
mais próximos de onde quer que seus sequestradores a estavam levando.
Uma vez que eles chegaram ao último degrau, alguém a cutucou para
continuar andando. Através de seu terror, ela colocou um pé na frente do
outro. Eles viajaram através de um labirinto de corredores antes de entrarem
em uma sala.
Após um exame mais aprofundado, Cyrene percebeu que era na
verdade uma monstruosa caverna com estalactites de vermelho-rubi
perigosamente pingando do teto e estalagmites cristalizados precipitadamente
disparando do chão. Da sua localização em uma plataforma elevada de pedra,
um lago preto e plano esticou-se diante dela do outro lado da caverna.
Quando os olhos de Cyrene se ajustaram à escuridão, ela notou vários barcos
frandes ancorados a uma distância, e alguns pequenos esquifes5 foram
amarradas perto dela. O lago deve esvaziar fora do castelo no Rio Keylani, que
corria ao longo do perímetro da cidade.
Ela se afastou do lago para o assunto em questão e se preparou para o
que quer que estava por vir.
Duas filas de rostos ferozmente mascarados sentados em cadeiras
pretas de encosto alto estavam diante dela. Eles estavam absolutamente
imóveis, olhando para ela e silenciosamente esperando.
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5Esquife é uma embarcação a vela ou remo muito utilizada antigamente nas Grandes Navegações.
Caracateriza-se como um pequeno barco auxiliar que levava os navegantes até a praia.
Mas para quê?
De repente, água gelada caiu na cabeça dela. A água encharcou o
cabelo dela, acertando o seu rosto e encharcando sua camisola fina. Quando a
água gelada atingiu sua pele, Cyrene gritou em choque. Ela passou as mãos
sobre os olhos para dissipar a água. Quase ao mesmo tempo, outro ataque caiu
em cima dela, a encharcando até o osso. Ela só teve tempo o suficiente para
fechar seus olhos e boca, antes de mais água cair.
—O que em nome da Criadora está acontecendo?— ela gritou através
de seus dentes que estavam batendo.
Alguém a espetou nas costelas com a lâmina de uma faca, e Cyrene se
encolheu com o toque.
—Você vai falar quando eu mandar,— disse a pessoa, repetindo o
mantra de Leif.
—Como se atreve!— Ela segurou os braços ao redor de seu corpo para
tentar manter uma aparência de modéstia.
Uma quarta torrente de água derramou em cima da cabeça dela, e ela
se dobrou em um esforço para se proteger da água gelada. Seu corpo inteiro
tremia, e seus dedos das mãos e dos pés enrolaram em si mesmos. Sua
camisola branca não fez nada para cobrir seu corpo, mas o frio era tão
abrangente que ela quase não se importava.
Cyrene esperou que mais água caísse, e quando não veio
imediatamente, ela tirou um momento para escovar o cabelo de volta. Ela
ficou tão soberanamente quanto poderia. Encarando seus captores, ela
desafiadoramente inclinou seu queixo para cima. Ela não sabia quem eram
estas pessoas, ou o que estava acontecendo, mas ela não seria quebrada.
—Faça o que quiser.
—Garotinha, você vai aprender suas boas maneiras—, disse uma
pessoa por trás dela.
Uma mão enluvada subiu no ar, afastando a próxima onda de água.
—Isso é o bastante.— O homem estava usando uma representação
aterrorizante de um Dragão, os temíveis guerreiros da Era do Doma. —Você
se acha digna de usar o pino de trepadeira de uma Afiliada?
Lá.Ela tinha permissão para falar.
—Claro!
—Então você deve provar,— disse um indivíduo agachado, curto com
uma máscara de anão bastante apropriada.
—Não tenho que provar meu valor a ninguém. Eu sou uma Afiliada.
Eu fui selecionada em concordata para a Rainha Kaliana. Não haverá volta.
—Há se você estiver morta,— um indivíduo mascarado de pavão disse.
Cyrene empalideceu. Eles estavam aqui para matá-la? Eles a arrastaram
para este lugar para enviar seus restos pelo Rio Keylani abaixo?
—Basta — o Dragão disse.
Cyrene estremeceu. Ela sempre temeu os contos e fábulas que incluía a
criatura cuspidora de fogo que poderia arrasar uma cidade com um abanar de
sua cauda.
Após uma breve pausa, um indivíduo terrivelmente magro vestindo
uma máscara assustadora de Braj falou.
Braj eram ainda mais horripilantes para ela do que dragões. Eles eram
assassinos cruéis, que eram quase invisíveis nas sombras. Foi dito que se uma
pessoa visse o verdadeiro rosto de um Braj, esta seria a última coisa que eles
veriam. Os monstros iam extrair os rostos de suas vítimas e as usariam como
um prêmio.
—Sabia que Afiliados e Conselheiros eram guerreiros?— perguntou a
voz aguda.
—Guerreiros?— ela perguntou. Ela não tinha ouvido falar de tal coisa
antes.
—Oh sim.
—Isso não está certo. Depois que Viktor Dremylon destruiu a Doma,
ele criou Afiliados e Conselheiros para a restauração de Byern. Ele queria que
o país florescesse, e usou o sistema de Classe com seus novos Afiliados e
Conselheiros ao seu comando para trazer a paz que os cidadãos ansiavam
desesperadamente — Cyrene disse a eles.
—Mas o que exatamente eles estavam restaurando?— um homem com
uma máscara de leão feroz perguntou.
—Eles estavam restaurando as terras para a prosperidade de Byern,—
ela disse timidamente. —Eles restauravam educação e conhecimento para as
pessoas. Eles estavam restaurando a ordem no mundo que governavam agora.
O que mais eles estariam restaurando? A Doma tinha governado por
muito tempo. Não tinha visto a situação das pessoas comuns. Viktor
Dremylon salvou Byern.
—E de que forma você melhor restaura a ordem?— perguntou a
mulher mascarada de Braj.
Cyrene olhou fixamente para a frente. Ela levou um segundo para
juntar o que a Braj quis dizer. Depois que Viktor expulsou a Doma para fora
de Byern, ele teve de restaurar a ordem e implementar seu sistema de Classe.
Ela nunca tinha pensado em questionar como ele tinha feito isso. E agora que
ela o fez, se deu conta.
Ah Criadora! Ela tinha sido encurralada em um canto.
A melhor maneira de restaurar a ordem após a rebelião foi certamente
através da... Força.
—Ele usou seus guerreiros para restaurar a ordem, — disse ela,
compreendendo pela primeira vez. —A primeira geração de Conselheiros e
Afiliados eram pessoas que ele podia confiar por completo. Eles eram...
Guerreiros de Viktor Dremylon.
O Dragão riu. —Sim, é verdade, e agora, você sabe disso. A resposta
que nós precisamos saber é se você é uma guerreira.
—Você quer saber se eu sou uma guerreira.
—Sim, e você deve provar para nós agora — o anão guinchou, —já que
não acreditamos que você pertença a nós.
—Como posso...
—Você vai provar isso!— gritou o Dragão. —Você provará que você é
digna de tal título.
—Iremos sair em um instante e trancar a porta atrás de nós,— o pavão
interrompeu. —Você deve encontrar uma maneira de sair desta caverna e
retornar a seus aposentos. Se você o fizer, não comente isso com ninguém. Se
você conseguir, então você pode se considerar uma guerreira, uma Afiliada de
verdade.
—Esteja avisada. Não é a única coisa no quarto.— A Braj deu uma
risadinha.
Cyrene os encarou em choque total. Ela deveria escapar desta caverna,
usando apenas a sua camisola, na calada da noite com outra coisa aqui. Eles
estão completamente loucos?
—E se eu escolher por não fazer?
—Então, você vai morrer,— disse o pavão com sede de sangue na sua
voz.
Lentamente, as duas fileiras de pessoas se levantaram e cruzaram a sala
até a porta. Um bloqueio se fechou no lugar, e o súbito e consumidor
sentimento de estar sozinha se torceu sobre o coração dela. Pânico tomou sua
consciência, e ela se obrigou a inspirar pelo nariz e expirar pela boca. Ela
precisava manter o seu juízo e pensar.
Uma tocha brilhava em um buraco metálico ao lado da porta, e ela a
empurrou de onde pendia. A chama passou ao longo do lago enquanto ela
procurava algo, algo que pudesse ajudá-la. Ela andou metade do
comprimento do piso da caverna e não encontrou nada além de água através
de toda a sala. Empurrando a tocha na frente dela, ela olhou para as
profundezas reveladas por sua luz. As chamas não mostraram mais do que
alguns metros adicionais na frente dela. Ela rangia os dentes em frustração.
Como em nome da Criadora eu saio daqui?
Ainda tremendo em sua camisola encharcada, ela voltou para o centro
da sala. O que eu vi quando entrei antes deles me humilharem, me lançarem na
escuridão e me deixarem para morrer? Estalactites vermelhos, o lago, o rio, os barcos.
Os barcos!
Cyrene correu de volta na direção da entrada e olhou através do lago
plano. Ela sem dúvida seria incapaz de dirigir os enormes barcos sozinha, e
ela não achava que tinha as habilidades para fazer isso. Os esquifes estavam
mais perto e eram menores. Se ela pudesse encontrar um remo entre eles,
então poderia remar para sair desse úmido buraco do inferno,
independentemente de qual a corrente do rio possa ser fora da caverna.
Infelizmente, os esquifes foram amarrados um pouco mais longe do
que ela tinha pensado originalmente. Não é longe demais para nadar de qualquer
forma, mas posso mesmo entrar na água? O que é a coisa que a Braj tinha me avisado
sobre?
Além das profundezas do Rio Keylani, Cyrene nunca tinha visto tanta
água. Com o Deserto Fallen rastejando mais e mais perto do outro lado do rio,
a escassa água sobreviveu uma temporada de verão. Ela sabia o que poderia
estar nas profundezas, pois tinha estudado a vida aquática, mas a verdadeira
questão era se algo poderia sobreviver em um lago tão infinitamente escuro
sob as Montanhas Taken.
Correndo a tocha ao longo da borda onde a montanha encontrava o
lago, Cyrene procurou por pontos de apoio ou um parapeito que poderia
ajudá-la a atravessar. Um cume do lado oposto levou a uma doca, mas ela não
sabia o quão profunda a água era, e ela certamente não conseguiria saltar tão
longe.
Ela amaldiçoou sob sua respiração, esmagou a tocha de volta em seu
suporte e andou em círculos. Ela não queria acreditar que as figuras
mascaradas a teriam colocado aqui em uma situação impossível. Tinha que
haver uma saída, e ela iria encontrá-la.
Se apenas o estúpido lago simplesmente diminuísse!
Uma faísca acendeu em seu peito com o pensamento. Ela sentiu um
puxão de volta para a linha d’água. Olhando para a borda do outro lado,
metros de onde ela estava, ela se resignou para o fato de que não havia
nenhuma outra maneira de sair da caverna do que chegar nesses barcos.
Cyrene pegou a tocha mais uma vez e retornou à borda. Ela engoliu em
seco antes de colocar o dedo do pé na água. Surpreendentemente, estava
morna, quase a temperatura da água do banho. Ela afundou o pé mais fundo
nas profundezas, orando silenciosamente para que ela pudesse atingir o
fundo, ou pelo menos algo que iria ajudá-la a ir para o outro lado.
Quando ela estava com os joelhos na água, seu pé esbarrou
bruscamente contra uma pedra denteada. Ela gritou. Rodando para trás, ela
puxou a perna para fora da água. O corte em sua planta do pé era superficial,
mas estava sangrando mais do que ela teria gostado.
Rangendo os dentes, ela enfiou o pé de volta na água e encontrou a
pedra novamente. Ela testou seu peso sobre ela, e não se moveu. Ela suspirou
alegremente e colocou outra perna na água. Ela cuidadosamente chutou a
perna na sua frente, e para seu alívio, ela encontrou outra pedra. Ignorando a
dor no pé, ela quase riu quando ela localizou outra e mais outra.
Uma onda pulsou na água.
Cyrene congelou rigidamente. Lá estava — outra ondulação. O coração
dela martelou contra o peito.
O que está ali?
Ela estava tão perto da borda como quando tinha começado. Ela tinha
que correr o risco. Uma ondulação mais perto do que o último a encorajou, e
ela correu através de outro grupo de pedras tão rápido quanto seus pés iriam
levá-la através da água preta. Ela nem ousou olhar o lago enquanto ela
procurava desesperadamente uma base segura.
A borda estava à frente, e tudo que podia ouvir atrás dela eram
mandíbulas estalando. Sua respiração saiu irregular quando os sons se
aproximavam cada vez mais rápido, ganhando terreno. Sem um segundo
pensamento, Cyrene mergulhou para a borda. Quase não conseguindo, ela
caiu com força no seu lado direito, derrapando contra a pedra áspera. Quando
rolou para longe do lago, ela perdeu sua tocha no processo.
O seu rosto se afastou de sua posição a tempo de ver um cardume de
peixes selvagens com escamas vermelhas e dentes afiados saltando
ansiosamente para fora da água em sua direção. Ela gritou e se afastou ainda
mais da borda. Vários bateram contra a borda, ferozmente estalando suas
mandíbulas antes de voltarem para as profundezas.
Erguendo-se com dificuldade em suas as pernas bambas, Cyrene forçou
a imagem de morrer por peixes carnívoros para fora do cérebro.
Ela tinha rasgado sua camisola em vários lugares, e hematomas
maciços floresceram no seu quadril, joelho e ombro. Além de arranhões na sua
perna e ombro, um rastro de sangue desceu pela sua perna direita do joelho
dela. Ela arrancou um pedaço de sua camisola, amarrou em torno da lesão da
melhor maneira que pôde. Ela iria lidar com isso quando saísse daqui.
Se esforçando para não colocar pressão em seu lado direito, Cyrene
oscilou sobre a borda da parede e pegou outra tocha, estava escura e
quase não brilhava. Soprar sobre ela trouxe a chama de volta a vida. Ela
tentou abrir a única porta visível, mas estava trancada, então ela voltou para
as docas.
Ela puxou um remo para fora do menor barco, o único que ela seria
capaz de remar sozinha e a desamarrou da extremidade do cais. Depois de se
sentar, ela empurrou e se permitiu flutuar para águas abertas.
Timidamente, ela mergulhou o remo na água e esperou os monstrinhos
voltarem.
Nada se moveu no lago cavernoso.
Suspirando de alívio, Cyrene meticulosamente remou em direção da
grande saída em arco. Ela não perdeu seu tempo com as outras portas,
supondo que elas também iriam estar trancadas.
Depois do que pareceu ser uma eternidade, Cyrene se aproximou da
enorme porta esculpida, moldada com pedras cinzas e pretas que era
semelhante ao interior do castelo. Ela remou sob o arco, e o barco colidiu com
algo, emitindo um alto som de gongo. Ela estatelou para trás sobre as tábuas
do barco. Seu pequeno barco balançava com a força do impacto, e ela esperou
até que parasse.
Cyrene se endireitou e deixou seus dedos rossarem na superfície
metálica lisa. Não é de se admirar que o interior da caverna fosse negro como
a noite. Ela era fechada do mundo exterior. Seu olhar vasculhou o arco e
encontrou uma grande e gasta corrente de ferro. Ela agarrou a corrente e deu
um puxão hesitante. Um rangido levantou os pelos na parte de trás de seu
pescoço, e a água ondulou em torno da porta onde se moveu ligeiramente
para longe da parede.
A corrente de metal pesado retesou seus ombros quando ela a puxou,
mão sobre mão. Vozes soaram sobre o barulho da porta de metal gritando
contra o arco de pedra, e Cyrene descansou suas mãos rachadas enquanto
esticava o pescoço e ouvia. Ela pensava que mais ninguém pudesse acessar a
caverna.
As vozes apareceram novamente, mas Cyrene não conseguia decifrar o
que estavam dizendo. Ela não podia ver ninguém, no entanto, as vozes
estavam ficando mais nítidas. Então, seu olhar pousou sobre algo na água. Seu
estômago afundou em seu corpo, e ela segurou a náusea que a ameaçou.
Uma cobra Skrivner.
Mesmo que ela não conseguisse ver o contorno inteiro do corpo da
cobra, ela tinha certeza disso, e ela não ia esperar que chegasse mais perto.
Uma Skrivner era a cobra d'água mais mortal. Suas presas de quase oito
centímetros de extensão causavam alucinações enquanto a serpente se
banqueteava com o sangue da vítima. Além disso podia imitar sons humanos,
e se ela estivesse certa, era de onde as vozes estavam vindo.
Ignorando as dores agudas em suas mãos e o sangue que deixou para
trás na corrente, Cyrene a arrancou com todas as forças que tinha em seus
músculos doloridos. A porta de metal parecia se mover ainda mais lentamente
que antes, como se seus esforços se tornassem mais inúteis. Ela murmurou
cada maldição que o seu pai alguma vez usou quando ela levantou a corrente,
colocando seus ombros, costas e pernas no movimento de puxar a corrente
insuportável.
Ela olhou por cima do ombro só uma vez. A Skrivner se aproximou
rapidamente, seus olhos carmesim brilhantes com sede de sangue.
Finalmente, a porta se abriu o suficiente para ela ser capaz de manobrar
o barco. Ela rapidamente amarrou a corrente, se abaixou, pegou o remo e
remou como se o prêmio de se tornar consorte a esperava do outro lado.
Esta noite não era a sua noite para morrer. Ela tinha muita coisa a
realizar. Ela ainda tinha que ver o mundo!
Com um empurrão final, ela deslizou para a frente através do arco, e
uma corrente de alta velocidade encontrou o barco dela. Ela girou em seu
lugar para ver a Skrivner a atacar, mas estava fora de alcance, então deslizou
para dentro do lago negro.
—Pela Criadora!
Lágrimas escorreram pelo seu rosto enquanto o sangue ferveu sob a
superfície da sua pele. Ela nunca se sentiu tão feliz por estar viva.
Na primeira curva, ela remou para fora da corrente. O rio fluiu mais
suave por este caminho. Sua cabeça inchou com curiosidade quando por
várias outras curvas. Para onde todos eles levavam?
Sua mente focou nas partes em que ela sabia das passagens
subterrâneas dentro do castelo. Portas escondidas acabavam nos quartos
acima e alguns até mesmo levaram ao próprio terreno. Encontrar uma que
podia estar aberta era a sua única chance.
Ela atravessou os caminhos, passando por portas com fechaduras de
ferro gigantes do lado de fora. Alguém esteve aqui há muito tempo para evitar
que intrusos se infiltrassemno castelo. Cyrene entrou em pânico só de pensar.
Se todos eles estão trancados, então como posso descobrir uma saída?
Uma faísca acendeu em seu peito, e fora dele, um pensamento piscou à
superfície. Acredite naqueles cuja honra brilhar.
Onde eu li isso?Cyrene não fazia ideia, mas de alguma forma, pareceu
certo. Simplesmente sentiu certo.
O coração dela bateu em suas têmporas, seus dedos sujos de sangue e
seus pés lascados enquanto ela procurou as inscrições nas portas em sua
frente. Ela não queria pensar em quantas portas estavam dentro destas
paredes, ou sobre a possibilidade de que nenhuma delas iriam tirá-la daqui ou
o que aconteceria se ela encontrasse outra Skrivner, peixes selvagens ou a boca
do Keylani.
Então, como se ela tivesse conjurado do nada, uma porta sem um
cadeado apareceu com palavras brilhando na superfície. Ela só podia
distinguir as palavras brilhar e a honra. Ela não tinha outra opção. Tinha que
ser esta.
Gemendo em um alívio cansado, ela remou em direção a borda. Ela mal
conseguiu quando seus braços latejantes trabalharam contra a corrente.
Depois de amarrar o barco em um pino preso no chão, Cyrene saiu do barco,
alcançando em sua frente a porta e recitou as palavras que ela sentiu que era a
sua salvação — Acredito naqueles cuja honra brilha.
A porta se abriu facilmente com o toque de seus dedos, e ela entrou em
um quarto pequeno e empoeirado, vazio de todos os pertences. Esta entrada
certamente não tinha sido usada há anos.
Suas pernas pareciam chumbo quando ela seguia uma subida plana e
sinuosa, pelo o que parecia uma eternidade. Finalmente ela chegou a uma
porta grande de celeiro que bloqueava a passagem a sua frente. Ela a abriu
com o ombro. Feno explodiu ao seu redor, grudando na sua pele que estava
escorregadia com água, sangue e suor. Cyrene tossiu com o ataque repentino e
protegeu os olhos com o braço contra a claridade. Luz foi filtrada atravésdas
tábuas do estábulo, mas felizmente, Cyrene não viu mais ninguém.
Após atravessar a porta do celeiro, ela a fechou e cobriu a área com
feno novamente. Já que a porta claramente tinha deixada de ser usada, a
última coisa que ela queria era pessoas notando isso.
Quando ela começou cautelosamente a se afastar da porta, ela bateu em
algo resistente e trombou para a frente. Ofegando, ela caiu com força em um
corpo sólido. Seus olhos esbugalharam, e ela lutou para ficar longe do homem
debaixo dela. Quando ele não se mexeu, ela o cutucou levemente com seu pé
ileso. Depois de tudo o que tinha acontecido com ela essa noite, orou à
Criadora para que ele não estivesse morto.
Um ruído de gargarejo veio do homem, e ela soltou uma respiração.
Enquanto ele se sentava e a olhava através de olhos vermelhos e turvos,
ela se levantou. Ele não parecia muito mais velho que ela, mas ele já tinha o
corpo de um caçador robusto. Ele tinha cabelo castanho escuro
desordenadamente despenteado entrelaçado com feno. Sangue e sujeira
endureceram em um lado do rosto em que ele tinha estado deitado. Suas
roupas não estavam em melhor estado. Uma manga pendia quase
completamente arrancada, e ele tinha um corte no estômago da sua camisa.
Parecia que tinha sido cortado com uma faca, mas ela não viu nenhum sangue.
Suas calças estavam desgastadas nas extremidades, e de alguma forma tinha
conseguido perder só uma bota.
—O que você quer?— ele resmungou, fechando os olhos e apertando a
mão em sua cabeça.
—Que você tire seu fedor podre de perto de mim — ela disse com
nenhuma tolerância para ninguém após os acontecimentos desta noite.
Cyrene ficou surpresa ao encontrar sua voz inalterada. Depois de
correr, remar, puxar e escalar para longe da sua própria morte, ela achou que
teria mudado de alguma forma, no entanto, ela ainda parecia forte, talvez
ainda mais forte.
Ele deu uma gargalhada e em seguida, cobriu a boca enquanto se
inclinava para longe dela. Ele segurou sua lateral e tossiu em sua mão. Depois
de um minuto, ele voltou a olhar Cyrene e parecia mesmo olhar para ela. Seus
olhos esbugalharam e ele assobiou baixinho. —O que em nome da Criadora
aconteceu com você?
Cyrene corou ao pensar em si mesma. Ela nem queria saber como
parecia em sua camisola branca rasgada. Nesse momento seu corpo estava
relativamente dormente, mas ela sabia a extensão dos seus ferimentos — abriu
o pé, machucou tudo, braços e ombros doloridos e com cãimbras, dedos e
mãos ensanguentados, pernas rígidas, mas era melhor do que ser morta.
—O que aconteceu com você?— ela rebateu.
Ele parecia quase tão mal quando ela.
Um sorriso triste cruzou suas feições bronzeadas. Seus olhos travessos
eram de um profundo castanho escuro com anéis de ouro em torno das
pupilas.
—Muita diversão — ele disse com um encolher de ombros.
—Entendo. Me lembre de nunca me divertir com você.
Ele riu de novo, mais forte do que antes. Desta vez, ele se virou e
vomitou o conteúdo do seu estômago. O estômago de Cyrene embrulhou com
o som e cheiro e ela mesma quase vomitou.
—Desculpe — Ele gemeu. Ele limpou a boca com a manga.
—Eu tenho que voltar ao meu quarto.
—Espere, você nunca disse o que aconteceu com você.
—Muita diversão — ela disse amargamente.
Ela girou em seu calcanhar para andar para longe dele.
—Você é Cyrene, certo?
Ela parou em seu caminho. —Sim, eu sou.— Ela ficou surpresa que ele
sabia quem ela era.
Ele levantou e se inclinou contra uma viga de madeira que tinha sido
enfiada no chão. —Eu sou Ahlvie. Ahlvie Gunn, ao seu serviço.
—Ah, o bêbado — ela murmurou, lembrando como ele tinha trombado
com ela seu baile de Apresentação.
Pela Criadora, isso foi apenas ontem?
—Se a carapuça serviu.
Ela assentiu para ele e cambaleou para a frente para sair.
—Posso ser de ajuda? Eu sou muito bom em atravessar o castelo sem
ser visto. E se eu fosse você, não iria querer ser visto assim.
Cyrene olhou para sua camisola rasgada que estava enrugada e
salpicada com o seu sangue. Ele tinha razão, claro. Ela não podia ser vista
assim.
E se o rei me visse? Ou pior ainda, a Rainha? Cyrene não podia suportar
isso.
—Por favor.
Ahlvie sorriu torto pra ela. —Por aqui.
Ela o seguiu através de uma passagem traseira que cortava todo o
castelo. Tão logo Ahlvie a levou para as Videiras, sem serem vistos, ela lhe
agradeceu, e então ela correu para seu quarto e bateu a porta com força.
Cyrene jogou sua camisola arruinada em um amontoado no chão e se
enterrou nua sob o edredon de ganso. Um farfalhar de alguém passando por
sua porta a fez levantar para investigar para se certificar de que ela trancou a
porta. Ela não queria ser incomodada novamente.
Quando chegou na porta da câmara, um pedaço de papel carimbado
com o selo real deslizou por baixo. Ela cerrou os dentes enquanto o pegou do
chão e o abriu.
BEM-VINDA AO POSTO, GUERREIRA.
Ela não sabia quem a submeteu a esta tortura e deixou este bilhete, mas
ela o odiou. Ela sempre iria odiá-los. Ela os odiaria com cada fibra do seu ser
por fazê-la sofrer através daquilo, por fazê-la arriscar a sua vida por alguma
causa doente. Ela não era uma guerreira, nem jamais se consideraria uma.
Mas se eles queriam acreditar que tinham ganhado a batalha, ela iria
mostrar a eles que poderia ganhar a guerra.
Ahlvie assistiu Cyrene desaparecer pelo corredor para seus aposentos
antes de se aconchegar de volta no corredor secreto. Ele não sabia o que o
tinha possuído para ajudá-la. Ele não era particularmente susceptível a
donzelas em perigo ou algo assim, mas algo nos olhos dela tinha falado de
determinação. Ele realmente acreditava que ela iria passear ao redor do castelo
parecendo um rato afogado caindo aos pedaços.
Ela o lembrou um pouco de si mesmo, quando ele tinha acabado de
chegar neste castelo abandonado pela Criadora. Ele esperava que ela pudesse
manter a natureza rebelde, mas ele duvidava. Este lugar poderia sugar a vida
de uma pessoa.
Afastando a garota nova para fora de sua mente, ele contemplou ao
voltar aos seus aposentos para se trocar antes de desaparecer nos terrenos do
castelo mais uma vez. Ele arracou a manga de sua camisa. Se ele tivesse
conseguido manter ambas as botas ontem à noite, então não teria que retornar
para os alojamentos do Conselho. Entretanto ele seria rápido.
Ele navegou pelos corredores vazios da manhã com facilidade e em
seguida caiu em seu quarto quase não utilizado. Ele abriu seu guarda-roupa e
viu que alguém tinha lavado a sua roupa. Esperançosamente, a pessoa não
tinha tirado todas as manchas de sangue de suas roupas de casa. Todos os
outros artigos de vestuário tinham o logotipo do Conselho anexado a eles.
Como alguém esperava que eu me deslocasse facilmente na cidade com um
Dremylon D estampado em toda a minha roupa? Nenhuma pessoa no mercado
Low iria falar com um Conselheiro. Metade das pessoas em Laelish também
não.
Depois de puxar botas novas e uma camiseta azul escura um pouco
menos destruída, ele deixou o quarto com pressa. Ele derrapou ao virar a
esquina e desacelerou os pés quando viu que o corredor estava ocupado.
—Criadora — ele resmungou.
—Ahlvie — Reeve chamou no corredor.
Reeve era o mais legal do Conselho em torno da idade de Ahlvie, mas
ele andava com os idiotas cabeçudos — Rhys, Clovis e Surien. Ahlvie pouco se
importava com outras pessoas na corte em geral, mas esses caras eram os
piores.
—Você viu Zorian esta manhã?— Reeve perguntou quando se
aproximou.
—Ele está de volta de Carhara? Tahne é uma cidade do tipo difícil,—
disse Ahlvie sobre a capital de Carhara.
—Voltou ontem à noite.
Ele contornou Reeve. —Talvez ele ainda esteja tão intoxicado quanto
eu.
Reeve estreitou os olhos. —Você não parece muito mal.
—Você quer dizer que me viu pior.
—Isso não foi o que quis dizer — Reeve disse, exasperado. —Se você
ver Zorian, o mande até mim? Temos um jogo de dados pendente.
—Dados?— Os olhos do Ahlvie se iluminaram. —Deixe-me saber
quando você joga.
—Eu faria se eu quisesse perder.
Ahlvie sorriu para ele. —Eu vou dizer a Zorian sobre o jogo de dados
se eu vê-lo, e vamos encontrar um tempo para jogar.
Reeve balançou a cabeça, mas Ahlvie sabia que Reeve jogaria com ele
mais tarde. Os dedos de Ahlvie coçavam para seus próprios dados para jogar.
Ele os sentiu em seus bolsos e ignorou a tendência.
Ele rodou para a entrada dos fundos para os alojamentos do Conselho,
que os caras chamavam de Chamas. Guardas estavam parados na saída. A
maioria deles o conhecia de vista. Assim, ele podia se esgueirar por eles
durante a noite. Tendo em conta a segurança do castelo, poderia ser feito um
pouco fácil demais, mas era conveniente para ele.
Ahlvie deixou o terreno em um caminho que terminou em uma descida
íngreme desagradável para a capital. Ele não sabia como tinha voltado por
aqui na noite passada enquanto estava completamente apagado. Quando ele
derrapou ladeira abaixo, viu um grande corpo que desmaiou no meio do
caminho.
Ahlvie riu alto e correu para o homem. Aparentemente, ele não tinha
sido a única pessoa a entrar e sair do castelo enquanto embriagado.
—Ei!— Gritou Ahlvie. —Teve um pouco demais de bebida, meu
amigo?
Rolando o homem sobre suas costas, Ahlvie olhou claramente para o
homem e então tropeçou para trás alguns passos horrorizado. Ele caiu sobre
as pedras e vomitou tudo o que restava em seu estômago.
A maior parte do rosto do homem estava... Faltando.
Cyrene acordou na manhã seguinte, dolorida por toda parte. Ela tinha
tratado suas feridas ontem à noite, e ficou surpresa ao ver que seus ferimentos
estavam se curando muito rápido. Ela ainda estava rígida e dolorida, mas
depois de alguns passos, ela conseguiu andar sem vacilar.
Duas servas em vestidos brancos de manga longa chegaram para ajudá-
la a se vestir em um vestido azul com mangas de renda creme. Elas colocaram
um prato de pão torrado, frutas e um ovo cozido na mesa junto com um bule
de chá fresco. Ela graciosamente as agradeceu antes de partirem.
Depois de tomar o último gole de seu chá, Cyrene colocou a xícara de
porcelana sobre o pires correspondente e se levantou do sofá na sua sala de
estar. Ela levou seus dedos danificados para sua trança e tentou soltar
algumas das mechas. Ela acordou com uma dor de cabeça naquela manhã com
a memória ainda fresca do que tinha acontecido na noite anterior. Ela
estremeceu com o pensamento de Kael e a cerimônia do guerreiro e esperava
que ninguém descobrisse sobre qualquer incidente.
Tentando afastar isso da sua mente, se concentrou na sua reunião com
Rainha Kaliana que se aproximava rapidamente. Cyrene receberia seus
deveres oficiais como uma Afiliada hoje.
Cyrene não tinha certeza de onde deveria encontrar a Rainha. Apesar
de seus medos, abriu a porta de seus aposentos e olhou para fora no corredor
vazio.
Seu coração afundou. Não havia ninguém para lhe orientar, mas pelo
menos não havia figuras mascaradas. Ela desejava que tivesse perguntado às
servas. A próxima melhor coisa seria caçar o diretório de ontem à noite.
Como ela estava prestes a começar a vagar pelos corredores, a porta ao
lado de seu quarto se abriu e uma garota pequena não mais velha que Cyrene
com o cabelo loiro e liso saiu em um vestido amarelo pálido, seu nariz
enterrado em um livro.
—Hum... Desculpe-me,— disse Cyrene.
A garota parou abruptamente e olhou por cima de seu livro em
confusão. —Sim?
—Desculpe incomodá-la, hum... Afiliada. Eu deveria ter um encontro
com a Rainha Kaliana. Você acha que poderia me orientar para o quarto dela?
—Oh. Sim, claro, eu posso,—ela disse com um sorriso brilhante. Ela
fechou o livro e o segurou contra o peito. —Se você quiser me seguir, posso
levá-la eu mesma.
—Isso seria muito útil. Obrigada.
Cyrene andou ao lado da garota. Ela tinha olhos que eram um pouco
grandes demais para seu rosto e um pouco de sardas na ponte de seu nariz.
Ao mesmo tempo, sua aparência estava longe de ser distinta e Cyrene tinha
certeza de que seus olhos teriam deslizado facilmente sobre a garota em uma
multidão.
—Eu sou a Afiliada Cyrene, a propósito.
—Eu sei. Eu estava na sua Apresentação ontem.— A garota definiu um
ritmo apressado enquanto caminhavam pelo corredor.
—Eu sou Afiliada Maelia Dallmer.
—Um prazer te conhecer — Cyrene disse.
—Que tipo de direção você espera para seus deveres de Afiliada?—
Maelia agarrou o livro mais apertado.
—Eu estou certa do que está disponível — ela começou com cuidado,
—mas eu prefiro ser colocada em algum lugar onde possa ser capaz de viajar.
Minha irmã é a Embaixadora em Kell para a Rainha e tem sorte de poder
viajar pelo mundo. Você conhece Aralyn?
Ela sorriu humildemente e abanou a cabeça. —Receio que não. Estou
aqui a menos de seis meses.
—Oh. Então, você não é muito mais velha que eu —Cyrene murmurou
em alívio.
Ela sabia que iriam ter garotas da idade dela, mas não tinha pensado
que seria sortuda de encontrar alguém em seu primeiro dia. O suave
comportamento da garota lembrou Cyrene de Rhea. Talvez uma vez que
Maelia saísse de sua concha, ela também se tornaria alguém que Cyrene podia
ser amiga.
—Você é da capital? Peço desculpas por não lembrar de vê-la em
qualquer lugar.
—Não, esta cidade é ainda estranha para mim. Fui criada em Levin.
Minha família é Segunda.— Ela usou a gíria sem um traço de emoção sobre ter
sido tirada da sua família na cidade montanhosa no norte de Byern para entrar
na Primeira Classe.
As relações de Cyrene com a Segunda e Terceira Classes foram tudo,
mas limitado ao Mercado Laelish. Ela tinha estado assustada o suficiente sobre
se mover para o castelo sem ser transplantada para uma cidade
completamente diferente. Além de tudo isso, Maelia teve que aprender a se
ajustar não somente ao estilo de vida de Afiliada, mas também da Primeira
Classe.
—Bem, talvez eu possa mostrar te mostrar os arredores, se
conseguirmos encontrar tempo — Cyrene ofereceu.
—Eu gostaria disso.— Um sorriso genuíno cruzou o rosto de Maelia.
Ela as levou para mais um corredor com mais decoração do que o
anterior. Pinturas a óleo penduradas na parede. A primeiro mostrou uma bela
paisagem com colinas e belos carvalhos. Outra revelou o que parecia ser o
sopé das próprias Montanhas Taken e o Rio Keylani atravessando o
desfiladeiro da montanha. A próxima exibiu uma cena oceânica com ondas,
areia branca e palmeiras balançando na brisa.
Enquanto olhava para a cena da praia, ela quase podia ouvir as ondas
batendo na margem, sentir a suave brisa do mar e cheirar o ar salgado cheio
de maresia, mesmo que ela nunca tenha visto o Oceano Lakonia. Ela
levemente balançou a cabeça, tentando se livrar das emoções estranhas
rolando através de seu corpo. Ela deve ter lido sobre as pinturas em um livro
antes deste momento.
Com dificuldade, Cyrene afastou seu olhar dos desenhos incrivelmente
detalhados afixados nas paredes, e ela continuou a conversa com Maelia.
—Vamos marcar um encontro depois que eu receber ordens da Rainha.
Maelia se inquietou com seu livro enquanto aproximavamda enorme
porta de madeira no final do corredor. —Espero que ela te deixe sair
facilmente. Eu adoraria ver a cidade.
—Ela é particularmente severa?
Severa não é a palavra adequada.— A voz de Maelia caiu para um
sussurro. —A Rainha é sedenta por poder em um dia bom, e hoje pode ser
ainda pior. Talvez eu não devesse dizer isso.— Seus olhos cor de avelã
olharam ansiosamente para a porta fechada como se alguém fosse ouví-la a
criticar a Rainha.
—Por que ela é mais hoje?— Cyrene imitou o tom suave de Maelia.
—Eu ouvi — murmurou Maelia, aproximando-se de Cyrene —que a
Rainha está grávida, e ela anunciou tais circunstâncias para Sua Majestade.
—Por que, isso é uma notícia maravilhosa!— Cyrene explodiu. O olhar
hesitante de Maelia para as portas fez Cyrene abaixar a voz. —Não é uma
notícia maravilhosa?
—É difícil dizer. A última terminou em um aborto.
A boca de Cyrene se abriu em estado de choque. —Ela perdeu o bebê?
Maelia assentiu solenemente. —Então, você pode ver por que hoje pode
ser pior. O bebê é uma boa notícia, mas só se ela conseguir manter. Acho que
ela teme que não possa.
—Que terrível. Muito obrigada por me dizer. Eu odiaria ter ido lá sem
saber.
—Boa sorte. Tenho certeza que meus avisos foram injustificados.—
Maelia colocou a mão no ombro de Cyrene. —Você se sairá bem. Rei Edric e o
Príncipe Kael parecem gostar de você afinal de contas.
Cyrene corou. Eles tinham sido tão óbvios? —Tenho certeza de que ambos
estavam realizando suas funções ao me receberem como a mais nova Afiliada.
O sorriso tímido nos lábios de Maelia disse a Cyrene que não tinha sido
o caso. —Com certeza.
—Eu vou encontrar você depois. Você estará em seus aposentos?— ela
perguntou para desviar o assunto.
—Provavelmente. Foi muito bom conhecer você, Cyrene. Mal posso
esperar para a nossa aventura.
—Eu também. Foi um prazer conhecê-la também, Maelia.
A menina correu pelo corredor e virou a esquina.
Cyrene não sabia o que era, mas já gostava de Maelia. Sem Rhea,
Cyrene tinha tido medo de que demoraria um tempo até ela fazer amigos. Ela
tinha ouvido histórias de todas as Afiliadas serem próximas, outras com
tantos contos quanto delas odiarem umas as outras e batalharem por posições
favorecidas.
Cyrene abriu a pesada porta de madeira e entrou nos aposentos da
Rainha. Por toda inatividade nos corredores, as pessoas estavam
movimentadas na câmara da Rainha. Afiliadas e criados iguais se moviam lá
dentro, alguns falando entre si rapidamente, outros com seus narizes
enterrados nos livros e mais alguns escrevendo furiosamente em folhas soltas
de pergaminho. A sala a lembrava de uma colmeia com uma grande sala
central redonda e outras salas se ramificando em várias direções. Um mural de
vitral acima representava uma terra lendária com indivíduos anormalmente
lindos com asas brotando de suas costas.
Uma mulher atlética com um rosto coberto de sardas graciosamente
fluiu em direção de Cyrene. —Olá, Afiliada Cyrene— ela disse com um sorriso
brilhante. Seu vestido verde pálido, trouxe a qualidade gritante do seu ardente
e desgastado cabelo vermelho, que pendia solto à sua cintura. —É um prazer
finalmente conhecer você. Eu sou a Afiliada Catalin, Diretora de Assuntos
Internos de Sua Majestade, Rainha Kaliana.
Cyrene mergulhou em uma pequena reverência à mulher. —Bom dia
para você, Afiliada Catalin.
Ela ouviu sua mãe se queixar frequentemente sobre a mulher que tinha
sido a DIA6 da Rainha Adelaida para o Rei Maltrier. DIAs esperavam quase
tanto respeito quanto a rainha e a consorte, mas frequentemente abusavam da
autoridade que lhes foram atribuídas.
—Rainha Kaliana se encontra com sua Alteza Real, Príncipe Kael, neste
momento.
Cyrene tentou manter a tensão de sua boca com a menção do nome
dele.
—Então vou começar com seu treinamento até que ela esteja pronta
para sua tarefa. Siga-me, por favor.— Ela vivamente atravessou o piso de
mármore.
Depois de atravessar o vestíbulo ocupado, Cyrene entrou em uma
imaculada e pequena sala quadrada na extremidade da câmara. Livros
alinhados nas prateleiras embutidas em uma parede, em ordem de altura
decrescente. Fardos de papel foram empilhados cuidadosamente em pilha
arrumadas, e penas verde-esmeralda estavam perfeitamente alinhadas. Uma
mesa de madeira prática estava encostada contra a parede mais afastada e
duas cadeiras de madeira correspondentes estavam na frente.
Catalin se sentou atrás da mesa e suavemente cruzou as mãos sobre a
mesa. —Por favor, sente-se — ela ofereceu graciosamente.
—Muito obrigada.
—Nós vamos direto ao assunto, sim? Tenho certeza de que você está
ciente de muito do que estou prestes a te dizer, com o impecável antecedente
da Primeira Classe da sua família, mas procedimentos devem ser seguidos.
—É claro.
—Vou começar do início. — Ela limpou sua voz. —Parabéns por ser
selecionada na Primeira Classe e ter o luxo de ser nomeada por Sua Alteza
Real, Rainha Kaliana, como Afiliada da Rainha.
Com um franzir de sua boca, Catalin disse —Como você sabe, Viktor
Dremylon definiu um novo governo com três Classes para permitir para as
pessoas a chance de ter uma vida melhor. Com o novo sistema, Viktor
_______________________________________
6DIA se refere ao cargo que a Afiliada Catalin ocupa que no original é Director of Internal Affairs,
por isso essa sigla.
Dremylon criou os programas do Conselho e das Afiliadas para juntar os
melhores e mais brilhantes. Você foi admitida para este papel de prestígio.
Catalin continuou —Esperamos que você comece seu regime
educacional no seu primeiro dia. Você responde a Rainha Kaliana e oferece
assistência para quaisquer solicitações que ela possa ter. Sua aceitação sem
hesitação é necessária. Sua Majestade tem sempre uma imagem maior na
mente do que você possa ter. Você tem alguma pergunta?
Cyrene hesitou. —Sim, Afiliada Catalin. E a Consorte Daufina? Eu
percebo que você não a mencionou.
Ela não podia pensar que foi um acidente que Catalin tenha deixado
fora informações sobre a Consorte. Cyrene sabia de suas lições que era
esperado para as Afiliadas terem a mesma deferência para a consorte quanto
para a rainha. Em quase todos os direitos, exceto por sangue, a consorte era
realeza.
O desprezo de Catalin confirmou as opiniões de Cyrene. —Você não é
vinculada a Consorte. Você fará bem em se lembrar de que você trabalha para
a Rainha, antes de mais nada. Mediante solicitação, a Consorte pode trabalhar
com você se você ainda não estiver ocupada com as ordens da Rainha.
Simplesmente não funcionava dessa forma. Cyrene sabia disso, e essa
mulher sabia.
De qualquer forma, Cyrene sorriu docemente como se ela não soubesse
que Catalin mentiu descaradamente sobre a mecânica do negócio.
—Como eu estava dizendo, você tem obrigações como Afiliada, além
da sua educação. O Rei tem planos para viajar em procissão para Albion, e
você provavelmente será convidada a acompanhar a corte na expedição.
Deveres adicionais talvez possam surgir durante todo o seu tempo como uma
Afiliada, e como sempre, espera-se que você aceite essas responsabilidades
com graça e boa vontade. Há mais alguma pergunta?
Cyrene abriu a boca para dizer a Catalin que compreendia as suas
responsabilidades quando uma figura entrou na sala.
—Afiliada Catalin!
—Jardana!— Catalin ficou de pé rapidamente e olhou para a garota.
Cyrene esticou o pescoço ao redor para dar uma olhada. A garota era
terrivelmente magra com cabelo loiro-mel puxado para longe de seu rosto,
semelhante à moda da Rainha.
—Houve um ataque!— Jardana gritou dramaticamente.
—Um ataque?
—Rei Edric me enviou diretamente para o Príncipe Kael.
—Calma, criança. O que aconteceu?
Jardana se arrepiou com o uso da palavra criança. —Conselheiro Zorian
foi encontrado morto esta manhã. Seu rosto...— Ela engoliu seco. —Seu rosto
foi roubado.
Cyrene empalideceu. A morte de um membro do Conselho tinha ocorrido no
castelo? Isso era inédito.E por que esse nome soa familiar?
—Não Zorian — Catalin disse, apertando a mesa. —Ele acabou de
voltar de Carhara.
Pela Criadora!
Esse era o homem que Reeve queria apresentá-la ontem na sua
Apresentação. Seus amigos tinham brincado sobre Zorian se envolver com
mulheres de Carharan, mas ele tinha sido... Morto.
—Siga-me. Devo dizer à Rainha imediatamente —disse Catalin.
O grupo saiu do escritório de Catalin e voltou para a sala comum
redonda que ainda estava repleta de Afiliadas. Elas pararam em frente a um
par de portas duplas trabalhadaa com as intrincadas trepadeiras da Rainha.
Catalin entrou sem esperar por permissão. Cyrene e Jardana entraram logo
atrás dela.
Ainda em decoro para o DIA ao abordar a Rainha, Catalin caiu em uma
profunda reverência. Os olhos azuis de Cyrene varreram a sala, quando ela
também fez uma reverência na frente da Rainha Kaliana, ao lado de Jardana.
Quando Cyrene encontrou o olhar presunçoso do Príncipe Kael de sua posição
sentado perante a Rainha, ela olhou de volta com frieza.
—O que em nome da Criadora pensa que está fazendo, me
interrompendo dessa forma, Catalin?— exigiu a Rainha.
—Minhas desculpas, Sua Majestade — Catalin disse, apressando-se a
ficar de pé.
—Bem, explique-se!
—Sua Majestade, Afiliada Jardana chegou com a notícia mais
preocupante esta manhã,— Catalin começou.
—Podemos falar sobre isso depois do meu novo comprimisso com a
Afiliada, Catalin?— Rainha Kaliana falou. Ela se recostou novamente em sua
cadeira incrustada com ouro e apertou seus longos e estreitos dedos em seu
colo. Ela estava envolta na melhor seda dourada, seu vestido de mangas
compridas ajustado firmemente em seu peito e amarrado em volta do pescoço
estava uma fita com um laço levemente cintilante dourada.
—Mas vem diretamente do Rei Edric — Jardana cortou.
Rainha Kaliana colocou seus olhos azuis frios e calculistas em Jardana,
que manteve suas costas bem retas. O cabelo loiro da Rainha foi puxado
fortemente para fora de seu rosto, que apenas lhe deu uma aparência mais
severa. Aquela não era uma mulher que se deve subestimar.
—Por favor se lembre de com quem você está falando, Afiliada.
Jardana acenou com a cabeça. —Sua Majestade.
—Agora, seja rápido com este assunto, Catalin. Tenho negócios a tratar,
e estou sem humor esta manhã.
—Conselheiro Zorian foi encontrado morto esta manhã, Vossa
Majestade.
A Rainha Kaliana respirou bruscamente. Cyrene viu os lábios do
Príncipe Kael finos, e então rapidamente desviou sua atenção.
—A Afiliada Jardana foi enviada pelo Rei Edric para seu irmão,
Príncipe Kael — acrescentou Catalin.
—Ela foi enviada aqui para o Príncipe?— a Rainha perguntou, suas
palavras tão afiadas quando uma navalha.
—Sim, Sua Majestade — Jardana sussurrou.
—Muito bem. Ele vai deixar a meu critério. Enquanto isso, Catalin, vá
depressa até o meu Edric e o deixe saber que estarei lá para lidar com isso
assim que eu terminar com minha nova Afiliada.
—Sim, Sua Majestade.— Catalin fez uma reverência e então correu da
sala.
—Quanto a você, Jardana — a Rainha começou —Espere lá fora pelo
Príncipe Kael.
—Não há nenhuma necessidade para Jardana esperar enquanto fala
com a nova Afiliada. Eu posso achar a saída —disse o Príncipe Kael.
A mandíbula de Jardana se fechou com a expulsão. —Claro, Vossas
Majestades.
Ela saiu da sala como uma nuvem de tempestade, e a porta fechou atrás
dela. Cyrene tinha ficado parada, os observando durante todo o encontro. Ela
ficou surpresa ao descobrir que nem o Príncipe Kael ou a Rainha Kaliana
pareciam estar com pressa para saber mais sobre o homem morto. Na
verdade, parecia que a Rainha Kaliana parecia estar impedindo
propositadamente o Príncipe de partir.
—Afiliada Cyrene — disse a Rainha Kaliana.
—Bom dia, Sua Majestade,— ela murmurou com um sorriso
desconfortável.
—De fato.— A Rainha Kaliana contemplativamente dirigiu sua atenção
para o Príncipe Kael.
—Você dormiu bem, espero — disse o Príncipe Kael. Um sorriso
dissimulado tocou seus lábios.
—Muito bem na verdade. Agradável e quente.— Ela apertou suas mãos
feridas em seus lados. —Obrigada por perguntar.
O sorriso do príncipe Kael aumentou.
A Rainha Kaliana suspeitosamente os olhou. —Príncipe Kael estava me
contando o quão gentil ele foi ao te acompanhar de volta para seus aposentos,
ontem à noite. Não tenho certeza de como você perdeu a informação para
chegar lá por conta própria, mas você está aqui agora, então deve ter recebido
as instruções que enviei para os seus aposentos esta manhã.
Cyrene manteve a calma no exterior, mas o tempo todo, ela estava
fervendo por dentro. A mulher não tinha enviado as tais instruções ontem à
noite, e ela não tinha feito isso esta manhã também. Ela se perguntava se a
Rainha Kaliana foi a razão para a vil cerimônia do guerreiro em primeiro
lugar.
Mas Cyrene precisava jogar junto. Certamente havia uma razão para
tudo isso.
—Sim, elas foram muito úteis, minha Rainha.
Cyrene teria que encontrar direções corretas por conta própria. Ela não
seria pega de surpresa novamente.
—Estamos muito contentes que você chegou a tempo — disse o
Príncipe Kael.
—Kael — retrucou a Rainha. —Acredito que você tenha outros
assuntos a tratar. Não recebemos notícias de que um Conselheiro foi morto?
Príncipe Kael lentamente arrastou seu olhar para longe de Cyrene. —
Claro, Sua Majestade Real. Estava esperando por sua licença.
—Você a tem. Diga ao meu marido que estarei lá para ajudar no que
puder.
—Como quiser. Espero que você me conceda o prazer de sua agradável
companhia outra vez.
O olhar da Rainha nunca vacilou, mesmo que seu tom a zombasse
abertamente na frente de uma nova Afiliada, uma das suas. Cyrene podia
dizer que ela o teria espacado vivo se ele não fosse alguém da realeza.
—Obrigada, Kael. Você pode ir.
Príncipe Kael suavemente se levantou da cadeira, esticando seu corpo
magro e musculoso. Ele deu à Rainha uma profunda reverência, e então ele fez
uma só um pouco menos real para Cyrene, mas com um sorriso ainda maior.
Cortesão de fato! Ela desejou que ele tivesse se curvado tão baixo, mesmo
que o gesto a honrasse.
A Rainha certamente veria isso como desprezo contra ela vindo do
Príncipe Kael.
Quando ele caminhou em direção a saída, ele parou na frente de
Cyrene e a olhou diretamente nos olhos. —Eu teria cuidado em deixar os
terrenos, Afiliada. Não sabemos o que está lá fora. Você deve se manter
segura.
As sobrancelhas de Cyrene levantaram. O Príncipe está preocupado
comigo? Ela teve dificuldade em conciliar isso com o homem que estava no
quarto dela ontem à noite.
Ele sorriu mais uma vez, e os olhos dela o seguiram quando ele
irrompeu para fora da sala, deixando a porta bater atrás dele. Cyrene não
sabia o que fazer com ele. Ele era um pouco enigmático.
—Que animal — Rainha Kaliana murmurou. — Sempre resmungando
e batendo portas. Você nunca adivinharia que era parente do meu Edric.
Cyrene não sabia o que dizer, então se concentrou na sala. Era quase
duas vezes maior que o vestíbulo do lado de fora da câmara e da mesma
forma redonda com duas portas escondidas em ambos os lados da sala.
Diversas tapeçarias com uma centena de anos estavam penduradas sem um
dia de desbotamento ou desgaste. Um mostrou dança, outro revelou um
círculo de cogumelos coloridos e alguns pareciam representar o habitat de
uma floresta encantada acesa com atividade. Grandes esferas de vidro
colorido pendiam do teto e lançavam um arco-íris através da sala que era bem
iluminada por um teto solar. O efeito era deslumbrante.
—Bem, vamos fazer isso rápido. Como você pode ver, meu dia está
cheio de assuntos importantes.— A Rainha Kaliana tirou reflexivamente um
pedaço de cabelo do rosto. —Sente-se, Cyrene. Precisamos tomar uma decisão.
Cyrene graciosamente sentou na cadeira que o Príncipe Kael
desocupou.
—Estive revendo seu arquivo para tomar uma decisão sobre seu regime
educacional. Parece que se destacou em quase todas as suas matérias, e
recebeu notas positivas de seu tutor. Mas onde colocá-la?— Ela bateu na mesa
com suas mãos, espalhando seus dedos, e então se levantou antes de se
posicionar na frente de sua mesa.
Depois de alguns minutos de silêncio, a Rainha disse —Como você
sabe, o regime educacional de uma Afiliada é o aspecto mais importante de
sua vida na Primeira Classe. Você se tornará uma especialista no que for
decidido, e você fará uma grande contribuição para Byern. Como sua
Receptora, é meu trabalho encontrar um posicionamento adequado para sua
carreira... Em algum lugar onde você florescerá. — Ela deu um sorriso irônico.
—Para sua sorte, meu marido falou comigo sobre você esta manhã.
—Ele fez?— Cyrene falou. Sua boca se abriu, e seus olhos azuis
alargaram. Por que o Rei falaria em meu benefício?
—De fato ele fez — disse a Rainha Kaliana. —Você age surpresa.
—Peço desculpas, Rainha Kaliana mas não é um ato. Não faço ideia por
que o Rei Edric teria falado de mim ou sobre mim.
—Embora eu tenha certeza de que isso é verdade — a Rainha disse
como se não acreditasse nisso —ele ainda me falou sua opinião a respeito de
seus deveres de Afiliada. Ele mencionou que você tem uma grande afinidade
com o tempo, até mesmo sugerindo coisas heréticas como a previsão.
O rosto de Cyrene embranqueceu. Oh não!
—Não nega isso?
—Não, Sua Majestade — Cyrene começou com cuidado. —Eu
mencionei isso para o Rei, mas foi em tom de brincadeira.
—Isso seria uma qualidade útil.
Só se eu quiser ser queimada por bruxaria ou expulsa por loucura...
A Rainha se dirigiu para um lindo gabinete em pé. A metade superior
foi forrada com prateleiras e coberta por vidro para proteger os inestimáveis
artefatos que estavam dentro. A metade inferior estava coberta com portas de
madeira maciça e salientes maçanetas redondas em cada uma.
A Rainha Kaliana abriu uma porta para revelar uma pilha de papéis
com mais trinta centímetros. Ela tirou os papéis soltos para fora do gabinete e
os carregou pela sala. Ela estremeceu sob o peso dos documentos.
Cyrene saltou para seus pés. —Você precisa de ajuda, Minha Rainha?
—Sente-se — ela ladrou.
Cyrene quase caiu para trás na cadeira. A Rainha largou os papéis em
um espaço vazio em sua mesa com um suspiro de alívio. Os papéis eram
negros em algumas as bordas, e outras peças pareciam pedaços.
A Rainha Kaliana olhou nos olhos azuis de Cyrene, pesquisando.
Pelo quê, Cyrene não fazia ideia. Ela desejou que Rhea estivesse aqui
por força ou para ajudá-la a determinar o que estava prestes a acontecer.
—Tomei os desejos do meu marido em consideração — ela começou.
Cyrene sentiu vontade de se afundar no assento.
—Além disso, depois de olhar para as diferentes posições que
recentemente abriram, vim a uma decisão.
O peso do Juramento de Aceitação que Cyrene tinha feito somente
ontem de manhã já estava pesando em seus ombros.
—Uma das mais confiáveis e mais antigas Afiliadas entre nós, Afiliada
Lorne infelizmente faleceu. Ela trabalhava em seu campo por mais de setenta
anos. Infelizmente, a casa de Lorne foi queimada inteira antes que se pudesse
recuperar o trabalho de sua vida em sua residência. Esta pilha aqui... —
Rainha Kaliana colocou a mão sobre a enorme pilha de papéis.— é uma das
quatro que fomos capazes de recuperar antes que o fogo consumisse tudo.
Você irá ler tudo que a Afilida Lorne deixou para trás e escreverá um relatório
detalhado sobre as descobertas dela... Se for o caso.
—Qual foi o seu trabalho em vida?— Cyrene perguntou com cautela.
A Rainha Kaliana sorriu. —Agricultura estrangeira.
O coração de Cyrene afundou. Se ela estava presa na agricultura por
toda a sua vida, então ela nunca poderia ir embora. Ela nunca veria o mundo.
Todos os seus sonhos de viajar foram quebrados diante de seus olhos. Isto não
podia estar acontecendo. Ela deveria ser uma Embaixadora.
—Minha Rainha, tem certeza que a agricultura é o melhor uso de
minhas habilidades?— Cyrene perguntou, tentando soar confiante. —Você
não acha que eu seria melhor servida em algum outro campo?
A Rainha bateu a mão na pilha, amassando o papel que estava no topo.
O rosto dela se tornou uma carranca severa, sua boca amontoando e os olhos
fervendo. —Você ousa contradizer o que eu decidi?
—Não. Claro não, Sua Majestade.
—Eu pensei que não.— Ela soltou o papel de sua mão. —Suas
habilidades serão melhor utilizadas no campo que eu escolhi para você, e você
não receberá um treinamento complementar até completar a tarefa que
estabeleci para você. Você entende?
—Sim, Minha Rainha,— Cyrene disse, encontrando o olhar da Rainha.
—Compreendo perfeitamente.
Ela entendeu que a rainha por alguma razão se sentiu ameaçada por
ela. Ela entendeu que a Rainha não gostava que seu marido falasse em favor
de alguém, e ela claramente pensou que isto era algum tipo de punição por ele
fazê-lo. Ela entendeu perfeitamente que isto era um meio para tirá-la do
caminho.
Mas Cyrene não seria colocada de lado tão facilmente.
Ela deveria ver o mundo, e iria encontrar uma maneira de fazer isso, de
uma maneira ou de outra.
As mãos de Cyrene estavam sangrando de novo quando ela conseguiu
voltar para seus aposentos.
A Rainha a tinha feito cambalear para lá sob o peso da enorme pilha de
papéis. Ela tinha quase caído de cabeça em dez pessoas diferentes somento
dentro da sala da rainha, para não mencionar, o número de pessoas que
finalmente tinham acordado e estavam passeando pelo castelo.
Nos próximos dias, o castelo estava ocupado com a morte do
Conselheiro Zorian e os preparativos para o seu funeral, que todos do castelo
foram obrigados a comparecer. Cyrene passou o tempo anterior a isso para
tentar recolher qualquer coisa de valor dos destroços do trabalho de vida da
Afiliada Lorne e aprender o seu caminho ao redor do Castelo Nit Decus. Em
algum momento, ela voltou para o seu quarto para encontrar três pilhas de
papelada restantes lá que servos trouxeram, e ela se desesperou sobre nunca
conseguir terminar.
Um dia, em seu caminho de volta para seu quarto, Cyrene encontrou
Maelia esperando por ela no corredor. Cyrene tinha estado tão ocupada com
seus estudos que ela tinha esquecido da sua promessa para a garota, a única
amiga que ela tinha feito no castelo.
—Cyrene,— Maelia disse em saudação. —Eu tenho procurado você.
—Olá, Maelia. Não te vejo em dias.
Maelia assentiu —Eu estive... Presa. Vou lhe contar tudo sobre isso.
Cyrene andou ao lado de Maelia o restante do caminho para seus
aposentos. Cyrene abriu a porta e descobriu que suas coisas finalmente havia
chegado de casa. Livros alinhados na estante uma vez vazia, jóias penduradas
uma caixa aberta e uma infinidade de roupas explodindo de seu guarda-
roupa.
—Vejo que você recebeu todas as suas ordens.— Maelia olhou as
centenas de pedaços de papel devidamente arrumados sobre a mesa da sala
de estar. —O que foi decidido?
—Divisão de agricultura estrangeira.— A última coisa que Cyrene
queria discutir era sua pesquisa maçante. Ela andou até a estante e passou
pelos títulos.
—Oh.
—É tão ruim quanto parece.— O dedo dela pousou no livro que estava
procurando, e ela o tirou da prateleira. Ela olhou para o símbolo engraçado
que era uma árvore com ramos faltando de um lado.
—Vai ficar melhor. A primeira semana é a mais difícil.
Cyrene abriu o volume misterioso e viu que Elea tinha acrescentado
uma nota no interior.
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Interessante. Bem, pelo menos ela tinha algum tipo de ponto de
partida.
—Então, o que te levou embora?— Cyrene fechou o livro e o substituiu
na prateleira. O livro com suas palavras estranhas a deixou nervosa de novo.
Ela tinha um estranho desejo de escondê-lo sob o chão quando Maelia saísse.
Ela se virou de volta para Maelia e a encontrou mastigando o lábio
inferior, os olhos lacrimejantes.
—Você está bem?
—Sim. Desculpa. Sinto-me tão dividida... — ela olhou para a porta
fechada— entre a Rainha e a Consorte. Não devia dizer nada, mas não sabia
com quem falar.
—O que aconteceu?—
—Não é óbvio? A Rainha é minha Receptora. Eu deveria querer fazer o
que ela ordena, mas a Consorte me procurou para trabalhar com ervas
medicinais. Eu me encontro... Inclinada para a Consorte e as tarefas solicitas
para mim. Você já se sentiu de tal maneira?— Os olhos cor de avelã de Maelia
alargaram.
—Sim, eu sei perfeitamente o que você está descrevendo. Sente-se, e eu
vou servir um pouco de chá.
Uma pontada de ciúmes acertou Cyrene com o pensamento de Maelia
trabalhando para a Consorte, mas rapidamente passou. Ela deve merecer se
estava recebendo o privilégio.
Poucos minutos depois, uma serva correu para o quarto com uma
bandeja de prata, um bule de chá ainda fulmegantes e um par de xícaras com
pires combinando. Cyrene agradeceu a mulher e serviu a sua amiga um pouco
de chá da chaleira.
Maelia agradeceu a ela, e depois de deixar a bebida esfriar, bebeu
calorosamente da xícara. Uma vez que ela parecia confortável outra vez,
começou a falar —Fui criada em um lar militarista. Ambos os meus pais
estavam na Guarda Real. Um Receptor é seu comandante. Você segue as
ordens perfeitamente e sem questionar. Uma ordem não é diferente da outra.
Cyrene não podia imaginar tal vida — nunca questionar, nunca sentir a
liberdade da sua vida desde que esta é constantemente moldada para você.
—Este mundo aqui é muito diferente. A Corte não é o que eu esperava.
A Rainha espera que eu trabalhe como assistente do Tesouro, como se eu
tivesse mais do que algumas moedas de cobre em meu nome na minha vida.
—Talvez seja por isso que ela confiou em você com isso,— Cyrene
ofereceu.
Maelia suavemente abanou a cabeça, os tufos de cabelo loiro quase
branco roçando contra seu rosto jovem e arredondado. —Não pretendo
entender a mente da Rainha Kaliana. E se esse fosse o rumo correto, então por
que me encontro apreciando meu treinamento medicinal sob a orientação da
Consorte Daufina mais do que jamais apreciei no tesouro?
—Bem, eu quis viajar pelo mundo por toda a minha vida, e agora, estou
presa com isso.— Cyrene espalhou suas mãos para Maelia ver as pilhas e
pilhas de papéis, que tinha que atravessar. —Não tenho certeza de que nós
somos atribuídos a um programa que nos convém completamente.
Acho que estamos destinados a nos adaptar, assim como você está se
adaptando. Não há nada de errado com isso.
Maelia parecia pesar as palavras de Cyrene enquanto bebia mais do
chá. Ela mastigou um pouco seu lábio inferior de um jeito que fez Cyrene
pensar em Elea.
—Você não tem que aceitar isso de repente — disse Cyrene. Ela sabia
que levaria muito tempo para aceitar ser rebaixada para a divisão agrícola. Na
verdade, ela não tinha certeza de que estaria bem com isso. —Que tal nós
agendarmos um horário para ir ver a cidade para tirar sua mente disso?
Maelia assentiu com a cabeça. —Eu gostaria disso.
***
***
***
Cyrene ficou parada, a cabeça cheia de relutância, seu corpo doendo de
desgosto. Terceira Classe. Ela seria transferida para a Terceira Classe. Ela nunca
tinha sonhado que isso fosse possível.
Ela limpou as lágrimas que se juntavam em seus olhos. Lágrimas não
fariam a ela nenhum bem. Ela tinha levado ao limite e destruiu a coisa que
mais queria.
Ela não era mais uma Afiliada.
Com um começo, ela percebeu que não estava no castelo, mas em um
quarto principal que se assemelhava com o da casa em que tinha crescido.
Tinha as mesmas paredes robustas de pedra e espaço aberto. Mas não poderia
ser a casa dos pais dela.
—Querida!— alguém chamou de fora do quarto.
O coração de Cyrene vibrou com a voz. Mas quem é? Ninguém me chama
de querida.
Ainda assim parecia que o estômago dela tinha borboletas dentro. Ela
não conseguiu evitar de morder o lábio, e um sorriso explodiu em seu rosto.
Ele está em casa. Era como se o conhecesse todo esse tempo.
Ao som de sua voz, ela correu para fora do quarto e olhou ao redor da
casa que chamou de lar por muitos anos. Ela agarrou o corrimão e desceu
rapidamente o lance de escadas para o vestíbulo.
Um homem estava na entrada. Ele era deslumbrante com cabelo louro
escuro e olhos escuros, e seu sorriso ateava fogo dentro dela. Ele era forte,
robusto e confiável. Ele era a sua cura, seu alívio, seu verdadeiro consolo.
Nada mais importOU quando olhou para o rosto dele.
Cyrene correu para ele.
Ele a pegou no meio do caminho e a balançou em um círculo.
—Oh, senti sua falta — Ele respirou no pescoço dela.
Ele cheirava a madeira, a tinta e o sabonete de cravo que seus servos
usavam na lavagem.
—Eu também senti sua falta — ela murmurou.
Ele a pôs de volta em seu pés e a beijou na boca.
Ela nunca conseguia se lembrar de um tempo sem ele. Ela nunca
conseguiu se lembrar de um momento em sua vida quando não era ele que
queria acima de tudo. Esta era a sua vida, uma vida perfeita.
—Minha querida — ele a beijou suavemente mais uma vez — isto
chegou para você.
Cyrene juntou as sobrancelhas. Ela pegou o envelope da mão dele e
olhou para o selo real. Um convite do Rei! Certamente, isto seria para o
casamento real. Ela tinha ouvido rumores sobre o noivado do Príncipe Kael
com uma Afiliada, mas não sabia quando seria oficial.
—Vou estar no estúdio,— ele disse, esfregando os nós dos dedos contra
seu queixo. —Não demore muito.
Cyrene olhou para ele, em transe, a carta já esquecida em sua mão. Ela
o assistiu andar pelo corredor e para o estúdio deles. Eles pegariam a próxima
hora para ler juntos antes de se sentarem para o jantar e receberem os
hóspedes. Ela sorriu sonhadoramente e abriu o envelope.
Uma carta creme caiu na mão dela, e ela a leu, suas sobrancelhas se
levantando.
Afiliada Cyrene,
Se você se encontrar acompanhada quando estiver lendo esta
carta, por favor se retire imediatamente antes de continuar.
Sua vida na primeira classe está em risco. As vidas dos
conselheiros e afiliadas em todo o reino estáo em risco. Precisamos de cada
pessoa para retornar ao seu lugar de direito — ao lado do Rei. Seu país
precisa de você, e aqueles que são leais ao trono devem voltar à corte
imediatamente.
Não diga a ninguém suas intenções de partir. Seu livre arbítrio é
necessário.
Destrua esta carta depois de ler.
Rei Edric,
Sua majestade real
Um soluço escapou de sua garganta, e ela reprimiu o grito que com
certeza traria seu amor de volta para o vestíbulo. Ela engoliu a dor crescente
em seu peito.
Eu não posso deixá-lo! E quanto ao jeito que ele olha para mim quando chega
em casa e o seu cheiro forte depois do trabalho?
Não, a corte não poderia pedir isso de mim. Eles não deveriam pedir isso!
Ela deu-lhes seu tempo e dedicação. Agora, se estabeleceu e estava feliz
só de estar com ele. Ela não merecia este pedido.
Ela leu a demanda real mais uma vez, correndo o dedo através da
assinatura chanfrada do Rei. Ele pressionou com firmeza com a pressa.
Cyrene caminhou para o estúdio e espiou pela porta aberta. Seu
maravilhoso homem estava sentado em uma cadeira, absorto em um livro
antigo. Estudando profundamente enquanto lia, sua testa enrugada entre seus
olhos.
Um sorriso tocou o rosto dela. Pelo menos ela sempre teria isso, uma
última imagem dele, o homem pelo qual estava loucamente apaixonada.
Ela retirou-se do estúdio, abriu a porta da frente e começou a rasgar o
papel em um milhão de pedacinhos.
Ela faria o que era certo. Ela tinha que ajudar a salvar o Reino. Se o Rei
precisava dela, então ela obedeceria. Ela sempre obedeceria.
Ela limpou a lágrima do olho e correu para fora da casa.
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Continua...
ENTÃO POISONCATS, GOSTARAM DO LIVRO?
BOA SORTE!