Vogue Brasil - Edição 533 - Março de 2023 ©
Vogue Brasil - Edição 533 - Março de 2023 ©
Vogue Brasil - Edição 533 - Março de 2023 ©
2023
R$35
CANDICE SWANEPOEL
COLEÇÕES
COLEÇÕES
artefacto.com.br @artefactooficialbrasil
EDITION 2023
ALCHEME
Por Patricia Anastassiadis
EDITORIAL À esquerda, look ROBER
DOGNANI no editorial Bossa
nossa. Abaixo, look MADGA
BUTRYM em Vale tudo
D
Durante a última cobertura da semana de moda você leria frases de efeito, como “o guia definitivo da próxima
de Nova York, no mês passado, Alice Coy, edi- temporada”. Mas o que é definitivo na moda? O que faz hoje
tora-assistente de moda, fez uma provocação uma coleção espetacular, memorável, histórica? O que é exata-
interessante no Instagram da Vogue Brasil. No mente o melhor na nossa indústria hoje?
entre e sai de bons desfiles, como o de Proenza Viralizar é fácil. Difícil é manter o reconhecimento e respeito
Schouler e Khaite, grifes que levaram às pas- por uma jornada constante, com conteúdo e ideias interessantes,
sarelas o luxo discreto (marca registrada de contemporâneas e que façam pensar, pulsar.
Phoebe Philo, que retorna à moda oficialmen- Divido aqui pontos de vista do nosso time com os quais
te em setembro com sua marca homônima), assino embaixo - literalmente:
Alice questionou: seria o fim das roupas criadas “Vestir-se em 2023 é sobre ser coerente consigo mesmo.”
apenas para engajar nas redes sociais? Maria Laura Neves, redatora-chefe.
Quando se debate sobre roupas criadas “Espetacular é a coleção que vai além de roupas incríveis, e
para viralizar, entende-se peças que morrerão se conecta com o público por meio dos valores.” Vívian Sotocór-
tão rapidamente quanto seus dedos dão no, diretora de moda.
scrolls nas redes sociais. Roupas descartáveis, “O melhor da moda é o resgate que algumas marcas têm
tendências ultrarrápidas. feito por roupas perenes e desejáveis. Menos truque, mais exce-
Não sou uma pessoa minimalista e não acre- lência.” Alice Coy, editora-assistente de moda.
dito que o minimal seja necessariamente sinô- “Falar apenas em design - ou se algo é apenas bonito ou feio
nimo de elegância. Dá, sim, para ser sofistica- - perdeu a relevância dentro da indústria. Uma coleção espeta-
da e exuberante, coberta de lantejoulas, cristais cular se faz com estudo, inserção da comunidade e apoio das
e afins, como Pierpaolo Piccioli faz com maes- marcas a pequenos artesãos, mesmo que as grandes maisons
FOTOS: Lufré e Pedro Napolinário
26 VOGUE BRASIL
cartier.com.br
REDAÇÃO MODA
Editora-Assistente de Moda Alice Coy Stylist Sênior Sam Tavares
Editora de Beleza e Wellness Bárbara Öberg Produtora Executiva Déia Lansky
Editora-Assistente de Beleza e Wellness Thaís Varela
Editor de Cultura e Lifestyle Nô Mello SUSTENTABILIDADE
Editora Digital Laís Franklin Editora Contribuinte Fernanda Simon
Editora-Assistente Digital Paula Mello
Produtores de Conteúdo Bruno Costa, Luxas Assunção, SUA IDADE
Sara Magalhães e Thiago Baltazar Editora Contribuinte Claudia Lima
Analista Admnistrativa Andrea Zilet
ARTE
Designers Heitor Ferreira, Karina Yamane e Sthefanie Louise
CORRESPONDENTES
Paris Isabel Junqueira e Vitória Moura Guimarães
Milão Mari Di Pilla
COLABORADORES
Alice de Sá Silva, Annik Azevedo, Augusto Rubim, Bruno Astuto, Carlos Bella, Carollina Lauriano, Costanza Pascolato, Daniel Ueda,
Detona, Evangelista, Fabiana Leite, Fernanda Melo, Fernanda Pompermayer, Finn Miller, Flávia Gay Agnès, Franklin Almeida, Gabriela
Fabosa, Galpão Oito, Helder Rodrigues, Henrique Martins, Hugo Machado, Jean Labanca, Jeff Ferrari, Jeniffer Eneas, João Arpi, João
Janot, João Miranda, Jonatan Nogueira, Lorena Moura, Lu Safro, Lufré, Madson Jr., Maika Mano, MAR+VIN, Marcos Nascimento,
Marcus Sabah, Mateus Oliveira, Mel Tostes, Michele Silva, Miguel Figueira de Mello, Mika Safro, Neel Ciconello Morikawa, Pedro Bucher,
Pedro Napolinário, Rafael Nascimento, Renata Brosina, Renato Gonçalves Toso, Roberta Freitas, Rodolfo Mello, Rodrigo Amaro, Sasá
Ferreira, Sofia Ferreira, Studio Bruno Rezende, Taina Talzi, Telha Criativa, Thiago Auge, Veridiana Cunha, Victor Hugo Yuuki, Xico Buny
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Frederic Zoghaib Kachar, Markus Grindel, Rafael Menin Soriano, Manuela U. C. de Mattos, Ricardo Rodrigues, Andre Luis E. Silva Silva
VOGUE BRASIL é uma publicação das Edições Globo Condé Nast S.A. Av. Nove de Julho, 5.229, tel. +55 (11) 2322-4600 CEP 01407-907 São Paulo, SP
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Serviço de Atendimento ao Cliente www.sacglobo.com.br
Impressão Coan Indústria Gráfica Ltda. - Avenida Tancredo Neves, 300, Revoredo – Tubarão / SC
BELEZA E WELLNESS
84 ENCONTRO DE GERAÇÕES
As beauty artists Lu e Mika Safro propõem
uma versão abrasileirada das tendências de
beleza dos anos 2000
94 ARCOS SUBVERSIVOS
Finas, descoloridas ou cobertas por
aplicações, as sobrancelhas assumem
papel central nas produções de beleza
104
96 CONEXÃO NATURAL
Os últimos lançamentos de fragrâncias
das grandes casas de moda trazem um
clima primaveril para o outono brasileiro
FEATURES E MODAS
104 VALE TUDO
INVOGUE As silhuetas das coleções de verão
internacionais abarcam diferentes
36 SIMPLES E FANTÁSTICO tipos de sensualidade
A moda se despe de excessos e aposta
em peças silenciosamente luxuosas 122 BOSSA NOSSA
Marcas apostam em materiais, tecidos
54 DIÁLOGO ABERTO e volumes que elevam a moda nacional
Estilistas de diferentes gerações em um papo à última potência
sincero sobre transformações na indústria
138 SOBERANIA NACIONAL
62 PEÇA RARA Reinaldo Lourenço volta às passarelas
Terceira edição do programa Masp Renner, após três anos e meio e apresenta pela
que promove o encontro de diferentes primeira vez uma coleção couture
nomes da moda e da arte para criarem
peças únicas para o acervo do museu 144 VIDA DE LUTA
A história e incansável batalha do povo
66 EM RESPEITO À TRADIÇÃO ianomâmi pelas lentes de Claudia Andujar,
Elie Saab lança um empreendimento na nova exposição A Luta Yanomami
imobiliário no Brasil e se consolida
como uma marca de lifestyle global 146 SONHODEUMANOITEDEVERÃO
Um giro pelos salões do Copacabana
72 PEÇA ÚNICA Palace com os cliques de quem brilhou
Candice Swanepoel (WAY)
fotografada por Lufré Paola Vilas lança uma linha de roupas no Baile da Vogue 2023
(Mlages) usa body e saia, toda pintada à mão por ela mesma
ambos VALENTINO (capa
1); saia PAULA RAIA e botas
SCHUTZ (capa 2). Edição de 74 DELICIOSAMENTE PRECIOSO 170 LAST LOOK
moda: Rita Lazzarotti. Beleza:
Henrique Martins (Capa Referências vintage ao universo e A bolsa vazada de malha de corrente,
Mgt). Produção executiva: à natureza estão presentes na terceira em formato de estrela, é um dos
Déia Lansky. Tratamento de
imagem: Telha Criativa coleção de alta-joalheria da Gucci destaques do verão 2023 da Chanel
COLABORADORES
Carollina Lauriano
A curadora, conhecida pelas noções de gênero
como ponto de partida para suas pesquisas,
assina a matéria Coleção preciosa sobre o
lançamento da nova linha de roupas de Paola
Vilas. “É um desafio para a marca, mas sem
perder de vista o seu DNA, que é essa
investigação sobre o feminino e o fazer
manual”, adianta. “São peças vintage
garimpadas e pintadas à mão pela designer,
verdadeiros objetos de vestir.”
Candice Swanepoel
“Foi incrível trabalhar com esta equipe para a Vogue. Fazia tempo que queria
fotografar com o Lufré. Nos divertimos muito para criar!”, diz a nossa cover-
girl deste mês. “Amo essas imagens, principalmente porque tivemos a
liberdade para desenvolver essa personagem juntos”, completa a top.
Considerada uma das mais importantes modelos da atualidade, Candice
nasceu em uma pequena vila na África do Sul. Hoje, está baseada em Miami e
tem uma relação especial com o Brasil. Desde os 17 anos, ela visita o país e há
18 é representada pela agência brasileira Way Model.
Fabiana Leite
Natural de Franca, a stylist
teve sua primeira participa-
ção na Vogue Brasil em
2015. Depois de algum
tempo, entrou para a reda- Daniel Ueda
ção e, atualmente, segue O editor de moda, que começou a estagiar na
como colaboradora. “Essa Vogue Brasil logo no início do seu curso de
ideia do despretensioso e produção de moda nos anos 1990 e desde então
descomplicado, buscando é presença frequente em nossas páginas, assina
bons cortes e boas modela- o ensaio Bossa nossa. “Fiquei muito feliz com o
gens, é a base de um bom resultado! A gente fez uma Vogue Coleções com
guarda-roupa”, comenta marcas nacionais e vários novos nomes. Além
Fabi, sobre seu styling para de ser clicado pelo Pedro Napolinário, com
as páginas que abrem o quem eu ainda não tinha trabalhado e tinha o
InVogue desta ediçao. desejo de criar algo legal juntos”, conta.
32 VOGUE BRASIL
COLABORADORES
Pedro Napolinário
“Foi muito bonito registrar as criações de amigos e criadores que estão
contribuindo para o visual da moda brasileira. A curadoria do Daniel [Ueda]
elencou mentes brilhantes de todos os tipos e deixou a matéria ainda mais
especial”, diz Pedro Napolinário sobre os cliques do ensaio Bossa nossa. Sua
relação com as câmeras começou aos 16 anos, fazendo registros da sua vida e
de amigos em um diário pessoal. Hoje, aos 25, ele é conhecido por uma
abordagem vivaz e sensível na construção de suas imagens.
Sofia Ferreira
Há quase três anos, Sofia Ferreira trocou São
Paulo por Londres, mas, mesmo após ter saído
da redação física da Vogue Brasil, segue com
suas colaborações no impresso e digital. Para
esta edição, a jornalista de beleza traz um olhar
sobre um novo movimento que vem ganhando
cada vez mais espaço no mercado de beauty. Na
matéria Bem na própria pele, ela entrega os
detalhes sobre a psicodermatologia, uma
vertente de estudo que destaca alterações
psicológicas causadas por doenças
dermatológicas. “A indústria de skincare procura
se adaptar cada vez mais à relação que existe
entre a saúde da nossa pele e a mental”, conta.
Maika Mano
Desde a infância, Maika Mano sentia um certo interesse pela moda. Anos mais
tarde, entrou para a faculdade, entregou seu trabalho de conclusão de curso e,
alguns meses após, já estava estreando nas páginas de Vogue como produtor. Hoje,
aos 32 anos, o stylist paulistano é conhecido por uma imagem marcante e com
forte informação de estilo. Para esta edição, ele participa do ensaio de beleza ao
lado de duas grandes amigas: as beauty artists Mika e Lu Safro. “Foi muito especial
contribuir nesta matéria ao lado delas. Fiquei muito feliz quando me chamaram
para fazer parte desta história”, comenta Maika sobre a experiencia.
34 VOGUE BRASIL
INVOGUE
SIMPLES E
FANTÁSTICO
FRENTE A UMA SOCIEDADE EXAUSTA, A MODA
SE DESPE DE EXCESSOS E APOSTA EM PEÇAS
"SILENCIOSAMENTE" LUXUOSAS – ITENS
PERENES QUE PREZAM PELO PRIMOR DA
CONSTRUÇÃO E DA MATÉRIA-PRIMA
POR VÍVIAN SOTOCÓRNO FOTOS MARCUS SABAH
STYLING FABIANA LEITE
36 VOGUE BRASIL
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A
Ao longo dos últimos anos, em um mundo to-
mado pelas redes sociais, desfiles de moda vêm
se transformando cada vez mais em um espetá-
culo para o Instagram, com cada marca em bus-
ca de seu momento viral. Que tal reunirmos 68
pares de irmãos gêmeos desfilando looks idên-
ticos em passarelas espelhadas? Ou receber os
convidados entre toneladas de lama em um ce-
nário pós-apocalíptico? Escalar a Cher para
encerrar o desfile? Ou a Paris Hilton! No fim, o
que acaba menos importando ali é a roupa.
Estamos tão acostumados a tamanhos ex-
cessos que, nas mais recentes passarelas de moda após seis anos, e que tem participação minoritária do grupo LVMH. E,
prêt-à-porter e alta-costura, foi justamente após as polêmicas causadas pela grife no fim do ano passado, até Demna (ex-
quem se movimentou na direção contrária que Gvasalia) disse que irá deixar de lado o buzz na Balenciaga e focar em fazer
mais chamou a atenção. Assim como Gisele roupas bem-feitas, resgatando o que realmente foi importante para a marca na
Bündchen roubou os holofotes do Carnaval a época do fundador Cristóbal Balenciaga.
bordo do look mais simples que se possa ima- “É um movimento que faz cada vez mais sentido no mundo, porque ele é correto
ginar (calça justa branca e abadá recortado e consciente com os tempos atuais. A moda tem olhado muito para o que é necessá-
como um top, uma recriação da produção usa- rio de fato, como se comunicar com esse mundo pós-pandêmico, com uma guerra
da por ela duas décadas antes), são as roupas acontecendo e desafios cada vez maiores”, diz Natalie Klein, fundadora da NK
discretas a bola da vez na moda. Discretas e Store, multimarcas na qual o quiet luxury não é filosofia do momento, mas de vida.
muitíssimo bem-feitas. Alfaiataria ultrassofis- Natalie conta que, pós-pandemia, tem visto uma mudança na percepção do valor da
ticada, savoir-faire de primeira. Peças com có- roupa por parte das clientes. “Não do preço, do valor. Elas veem muito valor em ter
digos de perenidade, acabamento fenomenal, peças de 15 anos atrás, que seguem usando até hoje. Ao contrário daquela história
pensadas para durar. O tipo de roupa que não antiga de renovar o guarda-roupa a cada coleção, vêm em busca de itens que sejam
anuncia seu valor de maneira óbvia (com logo- complementares ao que já têm, de comprar apenas o que é necessário para atualizar
tipos e decorativismos). Que, ao invés de “gri- o armário que já possuem. Acho que essa é a filosofia do futuro, deixar excessos de
tarem” quando vestidas, sussurram um luxo lado e ir construindo sua identidade com o seu guarda-roupa.”
mais secreto e iniciado, que faz mais sentido “É uma questão também de fluxo e ciclo da moda. Criadores conectados com
para quem está usando do que para o resto do nossos tempos estão se afastando da exibição absurda da mídia digital, mostrando
mundo. Um luxo sem excessos e sem ostenta- uma discrição elaborada. Mas são clássicos renovados para os dias de hoje; uma
ção, baseado em construção e primor. roupa, por exemplo, que funciona em movimento”, pondera Costanza Pascolato, que
Na Bottega Veneta de Matthieu Blazy, rou- observa também como, nas primeiras filas, os próprios editores e profissionais da
pas que parecem “banais” à primeira vista moda estavam vestidos de maneira mais sóbria. “São peças obviamente sensacionais,
(como o jeans e a camisa xadrez usados por com muita história por trás.”
Kate Moss no desfile de verão 2023) são na Estrategicamente, apostar em criações atemporais também costuma ser a re-
verdade itens superelaborados de couro, os ceita certa para tempos de economia incerta. Assim como a crise financeira de 2008
quais só uma casa com tão rica tradição artesa- levou a um momento de sobriedade estética na moda (capitaneado por Phoebe
nal seria capaz de desenvolver. A escalação do Philo), tempos de imprevisibilidade tendem a produzir consumidores mais aten-
novo diretor criativo Sabato De Sarno para a ciosos e cuidadosos com suas compras, que preferem investir em itens com poten-
Gucci dá a entender que a marca seguirá um cial para durar, ao invés de algo que seria descartado após uma única estação.
caminho menos extravagante – especialistas A busca pela limpeza visual é também o reflexo de uma sociedade exausta de
apostam inclusive que o desejo da casa italiana tantos excessos. Saturada de conectividade, de trabalho, de looks pensados
é se voltar para uma moda mais atemporal, nos apenas para engajar no Instagram, de consumo. Exausta inclusive de informação,
moldes das rivais Louis Vuitton e Hermès, que em uma era da internet onde todos precisam falar o tempo sobre tudo, muitos
continuaram a crescer apesar da instabilidade apenas disseminando aquela mesmíssima informação por ser o assunto do mo-
econômica causada pela pandemia de corona- mento, sem conteúdo extra algum para acrescentar e agregar. Nunca estivemos
vírus em todo o mundo. Phoebe Philo, rainha tão conectados e, ao mesmo tempo, nos sentimos tão desconectados uns dos
do luxo simplificado que atende perfeitamente outros e do mundo. “Usar uma roupa uma única vez, para o Instagram, nunca se
à mulher contemporânea, lança finalmente em conectou com a minha filosofia ou da NK. A moda está convergindo para uma
setembro a grife que marcará seu retorno à
44 VOGUE BRASIL
consciência de como se portar em um mundo com o de hoje”, finaliza Natalie.
*
VOGUE BRASIL 45
46 VOGUE BRASIL
VOGUE BRASIL 47
5
Quase INVISÍVEL
Mais uma tendência na moda resgatada dos ANOS 2000:
sandálias de ACRÍLICO transparente. De plataformas
a escarpins, somem nos pés e trazem leveza ao look
INVOGUE MOOD
1
Boneca DE HOJE
Com TIRA que cruza o peito do pé, os sapatos MARY JANE
são HIT da temporada, em versões mais pesadas e de salto
grosso, que combinam robustez à delicadeza do modelo
5
1. MANOLITA + PAMELA BARJA (R$ 1.181)
2. BOTTEGA VENETA
3. AREZZO (R$ 400)
4. DOLCE & GABBANA no IGUATEMI 365 (R$ 6.800)
5. LUIZA BARCELOS (R$ 700)
Acima, Mary Jane PRADA
48 VOGUE BRASIL
VOGUE BRASIL 49
1. DIOR
2. VIVARA (R$ 240)
3. BEATRIZ WEREBE (R$ 9.980)
4. SAUER no SHOP2GETHER (R$ 5.180) 1
5. DOLCE & GABBANA
Abaixo, bracelete TIFFANY & CO
TOQUE pop
Técnica utilizada desde o Egito Antigo, a
ESMALTAÇÃO traz FRESCOR a joias
poderosas e hoje aparece inclusive na alta-joalheria
INVOGUE NEWS
Bebê a bordo
A Louis Vuitton lança este mês uma linha inteiramente
dedicada a bebês. Roupas, sapatos, acessórios e objetos
(como um ursinho de pelúcia coberto de jacquard) fazem
parte da novidade. Emblemas clássicos da maison, como o
monograma e as flores, foram repensados em versões
lúdicas para compor peças em uma cartela de cores suave e
com botões de madrepérola e bordados delicados. Além dos
bodies, macacões, pijamas e vestidos, há também pequenos
itens de prata. Shopping Cidade Jardim, piso térro, SP
50 VOGUE BRASIL
océu é
INVOGUE NEWS
VISÃO
DE LINCE
Com design marcante e linhas
supergráficas, os óculos Blaze da Saint
Laurent chegam ao Brasil este mês com
opções de armação em preto e marrom.
Com lentes em formato de gatinho,
o modelo tem hastes grossas com o logo
Cassandre em versão extragrande.
Shopping Iguatemi, piso superior, SP
À direita, óculos Blaze da SAINT LAURENT (R$ 5.100)
Retorno
esperado
Após um hiato de cinco
anos, a NK Store volta
a vender Alaïa. A grife,
que passa por um novo
e ótimo momento
desde fevereiro de
2021, quando Pieter
Mulier assumiu
a direção criativa,
desembarca este mês
nas três lojas da
REPORTAGEM: Alice Coy. FOTOS: Divulgação
multimarcas. Além
de roupas, chegam por
lá também as bolsas
Le Papa, com formato
mais clássico, e o hit
Le Coeur, com shape de
coração. Rua Haddock
Lobo, 1.592, SP
À esquerda, bolsas Le Coeur
da ALAÏA na NK STORE
52 VOGUE BRASIL
INVOGUE
DIÁLOGO ABERTO
ENTRE VETERANOS E A NOVA GERAÇÃO DA MODA NACIONAL, CONVIDOU QUATRO DUPLAS DE
ESTILISTAS PARA CONVERSAR SOBRE TRANSFORMAÇÕES NA INDÚSTRIA. AQUI, UM PAPO SINCERO
SOBRE DESAFIOS, REPRESENTATIVIDADE, O QUE AINDA LHES TIRA O SONO E O SIGNIFICADO DA MODA
POR VÍVIAN SOTOCÓRNO, ALICE COY E LUXAS ASSUNÇÃO FOTOS MATEUS RUBIM (RIO) E JOÃO JANOT (SP) STYLING SAM TAVARES
LENNY NIEMEYER E AIRON MARTIN Lenny: Você se apresenta no SPFW. Há algo que já levou como
aprendizado das passarelas?
Airon: Sabemos da complexidade do mercado de moda no Brasil, Airon: Comecei a ver a coleção de uma maneira completamente
marcas acabaram, estilistas sumiram. O que te trouxe até aqui? diferente. A criação começa interessante, o processo é rico, mas depois
Lenny: Acho que é escutar as pessoas mais jovens. Há uma linha ele vai ficando tenso. Eu estou criando um novo código de moda e,
muito tênue entre não perder o DNA da marca e, ao mesmo tempo, três dias antes do desfile, alguém lança algo parecido na NYFW, e
acompanhar as mudanças. A máxima de que “não se mexe em um tenho que repensar tudo. As negociações com os patrocinadores
time que está ganhando” é relativa, acho que esta geração nova também são tensas. Então, no desfile, é quando coloco tudo isso para
compreende muita gente boa que me ensina muito. Aprendo todos fora. Passada a apresentação, fico extremamente depressivo, porque
os dias. Enquanto estiver aqui, eu vou trabalhar. Mas vou trabalhar é uma euforia tão grande que é inexplicável, coisa de louco. Acho que
com esse critério, tentando ser generosa comigo e com a marca, eu sou um pouco louco porque eu gosto dessa sensação.
podendo ser generosa com as pessoas que trabalham comigo. Lenny: Já fiz 30 desfiles e ainda fico em pânico, sem dormir, em um
Airon: Fico feliz de ouvir isso de você, mas também queria te sofrimento extremo. Você tem ali seis, sete minutos para condensar
contar que a minha empresa só virou uma empresa de fato quan- e transmitir tudo que pensou, com a luz, a modelo, a música certas.
do eu trouxe pessoas com mais de 50 anos, gente sênior, com É uma gincana, tem que encher os olhos dos jornalistas. As pessoas
experiência e vivência de mercado. Foi a virada de chave. No fim estão ali sentadas para julgar a gente. Me sinto assim até hoje. Você
é o equilíbrio mesmo. Diversidade é uma diversidade de pessoas não sabe meu pânico. É complicado, mas vale a pena.
mais velhas, mais jovens, de negros, de gordos, porque só assim Airon: E é viciante, né? Porque é difícil, é doloroso, mas é gostoso.
a gente vai entender a complexidade que é o mercado. Dito isso, Lenny: Sempre acho que é meu último, que não vou aguentar mais.
vi e aplaudi seu último desfile em colaboração com o estilista
Leandro Benites. Qual a importância da conexão entre diferentes Lenny: Em suas criações, você exalta o uso de matérias-primas na-
gerações da moda? Considera nosso mercado unido? cionais. Como funciona esse processo de pesquisa?
Lenny: Essa união é importante, mas é difícil. No meu início de Airon: Tenho muitos parceiros de matéria-prima na indústria, com
carreira, pedi ajuda, mas pouca gente era generosa em dar. Não os quais desenvolvo tecidos. Então é sempre assim: “Airon, compra-
tinha muita competitividade porque achavam que fazer biquíni mos uma máquina nova, vamos testar um produto”. Ou seja, come-
era uma coisa bobinha. Mas você vai se impondo. A gente tem ço o desenvolvimento a partir das possibilidades que a própria indús-
que ir na marra, muita gente vai bater a porta na nossa cara. tria têxtil me dá. Continua (pág. 166)
Imagino que você esteja passando por isso também. Alguns
“velhos” da moda se sentem um pouco ameaçados por essa turma
mais jovem, o que é uma bobagem. Todo mundo tem o seu espa-
Lenny Niemeyer é sinônimo de beachwear sofisti-
ço. Todo mundo vai se sobressair ou vai manter o trabalho se fizer cado desde 1991, quando criou a marca que leva
um trabalho bem-feito. Então você tem que ajudar. seu nome. Atualmente, possui 20 lojas próprias,
Airon: Numa posição como a da Misci hoje, as pessoas acabam além de pontos de venda em mais de 300 multi-
nos ouvindo. Mas, no início, a gente teve muita resistência. Faço marcas pelo Brasil e pelo mundo. Um dos pilares
meu trabalho pensando em mim mesmo e no mercado. Quero da moda brasileira, fez desfiles memoráveis na
Lagoa Rodrigo de Freitas e no Caminho Niemeyer.
trazer algo para impactar todo mundo. Queria que todo mundo
acreditasse na indústria como acredito. Tento dialogar, mas as Airon Martin fundou a Misci em 2018. Desde
pessoas não têm a mesma visão. Nosso mercado sempre foi – como então, a marca se estabeleceu como uma das maio-
tudo no Brasil – feito sem estrutura. Falta uma agência ou organi- res revelações do cenário atual, com desfiles que
são destaque a cada temporada do SPFW. Defen-
zação educando e criando uma cultura de consumo de moda, para sor ferrenho da indústria nacional, Airon prioriza
gerar essa união – para a gente, junto, melhorar o mercado. Nossa matérias-primas brasileiras e usa a moda para fazer
democracia é jovem, a nossa moda é nova, tudo é novo no Brasil. comentários políticos e sociais.
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VOGUE BRASIL 55
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VOGUE BRASIL 57
RAFAEL SILVÉRIO E SIMONE NUNES Silvério: E essa galera nova, Simone, de quem você gosta?
Simone: De você...
Rafael: Você já passou por várias partes da indústria, tem uma Silvério: Como você conhece meu trabalho?
carreira vitoriosa, conhece todas as pontas do mercado. Como Simone: Acompanho os desfiles, tenho essa coisa com desfile...
enxerga esses movimentos novos e o que te motiva? Silvério: Ainda?
Simone: Justamente porque passei por tudo isso, agora me sinto Simone: Ainda. Na bio da Silvério no Instagram, você a define
mais madura, com experiência para aguentar os ups and downs. como “marca brasileira disposta a discutir o ‘belo’ através da per-
Saber que isso acontece mesmo, que é normal. Fiz Fenit, Casa de cepção romântica”. Eu me identifico muito com essa busca pelo
Criadores, Amni Hotspot, SPFW, Fashion Rio, desfiles para belo, para mim ela fica quase no limite do feio. Na minha opinião,
outras marcas, trabalhei na indústria têxtil, fiquei na Santa Cons- o que aconteceu com o sapato hit da Room (a sandália Pillow) é
tância dois anos, consultoria para o Brás, Bom Retiro, então foram que ele é feio, só que, quando todo mundo se acostuma com aqui-
todas as áreas mesmo, fiquei dois anos indo para a China desenvol- lo, ele vira belo. A gente quase que manipula o belo, e isso que me
ver produto, depois fiz jornalismo de moda em Londres... Consigo atrai. É o belo do grego, que te encanta pela experiência de beleza.
ter uma visão mais afastada de tudo. E acho superestranho quando Silvério: Me parece que, em algum momento, você vai voltar
dizem que o criativo não tem noção do business. É o contrário. a fazer roupas.
Sobrevive quem tem supernoção do business. Senão a gente estaria Simone: Tenho muita vontade de fazer roupa de novo, principal-
fazendo arte. E você, o que viu de mudança desde que começou? mente quando fotografo os sapatos e não tenho a roupa.
Silvério: Há nove anos, todas as questões nas quais a Silvério está
pautada ainda não tinham voz. Muita gente fala: “Caraca, sempre Silvério:Como você se comunicou com essa nova geração quan-
soube do seu potencial, você se transformou muito”. Na verdade, do voltou ao mercado com a Room?
esperei o mundo mudar para entender que eu era relevante para Simone: Foi tudo orgânico. Não lancei a Room com o objetivo de
esse universo. Mas sempre fico ressabiado de pensar se a moda não vender ou de ter uma marca... Eu estava sentindo falta da passare-
está sendo volátil. A gente passou por um processo de letramento la, uma linguagem que usava para me comunicar. Como parei de
e consciência racial, mas minha grande inquietação é que a gente desfilar há mais de uma década, não tinha como colocar tudo
se aprofunde nessas pautas. Como estamos desenvolvendo esses aquilo para fora. Já que não era para vender mesmo, fiz um produ-
talentos? O Brasil precisa entender o que é essa criatividade negra, to do jeito que eu queria... As pessoas começaram a usar, os segui-
ela ainda fica muito estereotipada. Luto para que a gente tenha li- dores a aumentar. Não entendia por que tinha crescido o número
berdade de fazer o que a gente quiser, ser minimalista, por exemplo, de seguidores naquele dia, daí alguém me falava: “Ah, foi porque
e outras coisas que não necessariamente estão dentro desse arqué- a Silvia Braz usou”. Fui ver quem era a Silvia Braz. E as pessoas no
tipo do que as pessoas entendem como moda preta. começo não sabiam que a Room era brasileira, depois não sabiam
que era eu quem estava por trás da marca.
Simone: Sabe no que eu estava pensando hoje de manhã? Em Silvério: Você se escondeu.
2002, eu estava indo para uma foto da Vogue, era uma matéria Simone: Eu me escondi, mas não foi de propósito. Teve gente que
de InVogue com nomes para se ficar de olho. Vinte anos depois. falou que eu, Simone, copiei a Room. Aí minha assessora falou:
estou aqui de novo. Deixei de ser jovem estilista, agora sou ve- “Querida, Simone é a Room”.
terana. Isso quer dizer que agora já existe uma outra geração...
O que que você vê de diferente da minha geração para a que está Simone: O processo criativo é muito solitário, para você é soli-
no mercado da moda hoje? tário também? Continua (pág. 166)
Silvério: Naquela época, a moda tinha mais dinheiro e era
muito focada em desfile. Hoje, os desfile apresentam produtos
que de fato serão vendidos.
Simone: Mais real, né?
Silvério: A gente não pode se dar ao luxo de fazer um desfile
puramente conceitual. Empreendedores negros e indígenas são
empreendedores por natureza. Também somos sustentáveis por
natureza, porque, cara, você sabe quanto custa o metro de seda Simone Nunes teve uma marca que levou o seu
e aproveitamos cada pedaço dela. Não é simplesmente por nome de 2001 até 2010. Ao mesmo tempo que
desfilava sua grife no SPFW, assinou mais de 30
impacto ambiental, é o nosso dinheiro investido ali, estamos desfiles para labels como Iódice e Totem. Depois
vendendo uma coleção para poder comprar a matéria-prima da de alguns anos dando consultoria criativa e de
outra. Eu fiz faculdade de moda, fui bolsista na Santa Marcelina, business, em 2016 fundou a Room, grife de sapa-
e saí da faculdade sem entender nada de negócios. Não sabia tos que se tornou conhecida pela sandália Pillow
assinar um contrato. Fui fazer uma pós de negócios internacionais e está à venda em 16 países.
e comércio exterior e agora estou em uma outra pós, estudando Rafael Silvério lançou a Silvério em 2014. Ele é
marketing e gestão de valor. A gente precisa estar preparado cofundador da startup de inovação social inter-
para as oportunidades. racial Vamo (Vetor Afro-Indígena na Moda) e
Simone: A indústria da moda tem que ser mais valorizada como um dos idealizadores do Projeto Sankofa, que
integrou diversas marcas racializadas ao line-up
profissão, em todas as suas pontas. Uma vez, fiz um desfile inteiri- do SPFW. Desde 2021, participa da semana de
nho bordado; no seguinte, voltei para passar a produção pra bor- moda paulistana com sua marca, que desenvolve
dadeira e ela tinha virado lavadeira. Bordar dava pouco dinheiro. alfaiataria contemporânea.
INVOGUE
LUIZ CLAUDIO SILVA E NAYA VIOLETA Luiz: Eu também acho. Tenho vários amigos que não fazem parte
do meio da moda, e eles acham incrível. Eu acho normal, estou
Luiz:Como surgiu a Naya Violeta? Isso é algo que as pessoas sempre entregando o meu trabalho e estou conseguindo agradar pessoas
nos questionam, como a ideia surge, como essa vontade se torna real. que são personalidades incríveis. Mas tem uma emoção. A gente
Empreender neste país, desse jeito. nem sonhava com nada, eu não conseguia enxergar possibilidades
Naya: Ela nasceu da ausência de representatividade no mercado. num passado nem tão passado assim. E aquelas pessoas já existiam
Queria mostrar a moda afrobrasileira que eu via nas ruas, mas não na minha vida, a gente já ouvia Alcione, ouvia Bethânia. O dia que
via sendo representada. Hoje, consigo entender que a marca surgiu me ligaram para marcar um encontro com a Fafá de Belém, por
num anseio ancestral de pensar como narrativas pretas eram exemplo. Ela iria voltar com um projeto e me chamaram para fazer
importantes de serem naturalizadas através do vestir. Você foi um o figurino do show dela, e era tão engraçado estar com ela, sentado
dos primeiros estilistas racializados a adentrar o SPFW, a maior na mesa, discutindo sobre as possibilidades da roupa. Eu pensava:
semana de moda da América Latina. Como você olha para esse “Gente, eu tenho um LP dessa mulher”. Existe um pensamento
caminho que percorreu e ainda percorre? Porque você fica colonizador de que legal é vestir uma Gisele, ver esse corpo padrão
contemporâneo a cada edição. branco. E quando você tem um corpo grande... A Fafá falava assim
Luiz: Olha, meu primeiro desfile no SPFW foi em 2015. Eu estava para mim: “É muito pano, tá?”. E eu falava: “Eu sei que é muito
apavoradocom oconvite,achava quedava conta,mas estava apavorado pano, é bom que tenha, é muita história para gente contar nesse
porque a gente está acostumado a ser muito mais cobrado por causa corpo!”. E isso leva uma mensagem para as outras pessoas, de que
dos nossos corpos. Nem sei se posso dizer isso, mas nós conhecemos eu não faço moda só para menininha, para pessoas que fazem parte
vários trabalhos que são celebrados e que não têm profundidade desse imaginário “caixinha de beleza”. As pessoas ficam discutindo
nenhuma. Na música, no teatro, em filmes, livros, em vários setores, até hoje a coisa mais ridícula do mundo, o que é bonito, o que é feio,
e na moda não seria diferente. Então eu tinha dúvidas se eu dava conta se a Bethânia é bonita, se ela é feia,“ah, mas ela é feia, mas a voz é
dessa responsabilidade. Também existe a dificuldade de caminhar bonita”. Sabe essas coisas que são rasas? E aí a sua moda chega lá e
por espaços em que você não se enxerga. Você não tem os espelhos veste a pessoa de forma divina e encontra com o trabalho dela, eu
para olhar e dizer: “Ah, estou seguro aqui, sou recebido como alguém acho emocionante, é a parte muito legal do meu trabalho.
que faz parte”. Tive muito medo de apresentar minhas ideias, de Naya: Pertencimento, né? Acho que essas pessoas seriam seu
chegar com elas. Fico lembrando de quando fui tomando coragem e sinônimo de pertencimento.
força para falar dessas minhas questões, porque não tem como você Luiz: Já ouvi de tanto cliente, de tanta gente famosa, que é uma
falar de criação e você não fazer parte disso. A sua história, do seu batalha para conseguir o figurino, encontrar marcas para vesti-las.
tato, seu cheiro, seu corpo, suas escolhas fazem parte. E eu vejo que, Agora melhorou porque todo mundo quer fazer a linha do
a medida que o tempo passa, mais tudo vai ficando parecido comigo. engajamento, mas, quando eu comecei na moda, algumas marcas
Não que antes não fosse, mas tive um pouco mais de cuidado no início. se negavam a vestir certas personalidades, achavam que iam se
Se nem eu mesmo aprendi a olhar no espelho e me sentir seguro, queimar, um absurdo. Eu lembro do segundo catálogo que fiz, que
como que vou expor isso para o mundo? O último desfile é lindo, o era com uma menina negra. Fazia coisas paralelas para sustentar a
penúltimo também, porque foi depois da pandemia, então tinha toda Apartamento e, quando fui levar o catálogo para uma pessoa com
uma força emocional de estar vivo e de reencontrar as pessoas. quem trabalhava, essa patroa disse que eu não podia nem mostrar
o catálogo, que ninguém ia comprar aquela roupa. Eu não consegui
Luiz: E como foi a sua chegada ao SPFW? Você sentia que entender, até ela me explicar que não enxergava que uma pessoa
você fazia parte? preta podia vestir uma roupa com a qualidade que eu fazia.
Naya: Ter entrado no momento do Sankofa permitiu me ver na Naya: Dá uns rompantes, né? Continua (pág. 166)
maquiadora, em um casting preto, no fotógrafo. Eu tinha uma
pluralidade de corpos e de pessoas pretas ao redor, pessoas não
binárias, trans. Isso trouxe conforto. Mas foi assustador também.
Eu imaginava passar por outra semana de moda antes. Pelo número
de pessoas pretas que participaram da história do SPFW, nunca foi
um sonho, não achava que fosse acontecer na minha trajetória.
Quando cheguei, foi muito importante saber que eu podia
perguntar, que tinha semelhantes para olhar. E que não seria fácil,
Luiz Claudio Silva criou a Apartamento 03 em
seria assustador, mas a emoção de olhar para uma roupa e olhar 2006 e logo virou referência graças a um olhar
para pessoas que representam o que a gente acredita na passarela é sensível e muito elaborado. Em 2014, sua grife
ludibriante. Como um desfile constrói o pertencimento, como passou a integrar o grupo Nohda, de Patricia
várias pessoas se sentem emocionadas e reverberaram aquele Bonaldi, e estreou no SPFW. Luiz foi um dos
trabalho todo que existiu ali. Ainda bem que você estava lá. primeiros estilistas negros a fazer parte do
calendário da semana de moda paulistana.
Luiz: Estava e estamos!
Naya:Esteve, está e continuará. Naya Violeta comanda de Goiânia a marca que
Luiz: Continuaremos. leva o seu nome, fundada em 2007. Em 2021,
estreou no SPFW através do Projeto Sankofa,
tendo como padrinho Luiz Claudio. Desde então,
Naya: Você já vestiu todo mundo que você queria vestir? Quando usa seus desfiles na semana de moda como uma
eu olho para o seu trabalho, você já vestiu Maria Bethânia, Alcione, plataforma para incluir e agregar pessoas que
Djavan. Eu acho emocionante. antes não se viam refletidas nesse espaço.
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60 VOGUE BRASIL
Isabela Capeto, da marca homônima
André Namitala, da Handred, e
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Déia Lansky. EQUIPE RJ (Lenny e Airon, Luiz Cláudio e Naya, Isabela e André). ASSISTENTE DE FOTO: Felipe Viveiros. BELEZA: Mel Tostes.
ASSISTENTE DE BELEZA: Danielle Ribeiro. EQUIPE SP (Rafael e Simone). BELEZA: João Miranda. ASSISTENTE DE BELEZA: Alberto Medeiros. TRATAMENTO
DE FOTO; Val Loveras AGRADECIMENTOS: Fairmont Rio de Janeiro Copacabana, Le Dépanneur e Senac Lapa Faustolo
VOGUE BRASIL 61
ANDRÉ NAMITALA E ISABELA CAPETO André: Prefiro que uma peça chegue atrasada, mas que me sinta
100% seguro com relação a ela em vez de continuar algo que não vou
André: Isa, queria saber como o manual te move nas suas criações. amar quando chegar à loja.
Quando você se deu conta de que a sua história seria melhor contada Isabela: Até porque aí não vai vender. Se você não fez com amor,
através de bordados, patchworks e recortes? não vai vender.
Isabela: Nunca pensei que meu trabalho seria em cima disso, foi André: Mas é muito legal também quando você vê aquilo ali exata-
acontecendo. Comecei assim mais para consertar os erros, a bainha, mente como queria. Aquele sentimento de “caraca, não acredito que
a costura que não chegava direita. Via como um quadro que não essa peça saiu daqui, desse ateliê”. Isso me dá um prazer absurdo,
estava acabado e ia bordando, aplicando, sempre para melhorar. Virou principalmente quando você sabe que é uma venda para uma pessoa
quase que um vício, uma obsessão. Sou intensa, gosto do excesso. que entende daquilo ali. Não só o valor financeiro, mas o valor do
Sou supergulosa, minha casa é cheia de coisa. Isso transparece no ofício. Sabe, eu tenho gostado de fazer também roupas sob medida,
trabalho. Lido bem com o erro. Já passei por tantos momentos difíceis que você vai criando com a pessoa. E, quando você começa a explicar
que meu analista mesmo fala que, quando algo não dá certo, consigo os processos, a pessoa fica: “Meu Deus, jura que é assim que é feito?”.
levar com muita calma. Minha primeira filha, que morreu com um Porque tem uma coisa muito louca da roupa a granel. Muitas vezes
mês. Depois que vivi isso, dei um outro valor às coisas, sabe? Então, as pessoas não entendem por que as coisas custam quanto custam.
quando algo acontece, como ter vendido e recomprado minha marca, Quanto você acha que a costureira ganhou para fazer isso, que o
consigo manter a calma. Até fico histérica com outras coisas, mas tecido custou, a lavanderia, o bordado, o botão de madrepérola, o
quando a situação está difícil, sou ótima. Já quando as coisas estão botão forrado? Nosso trabalho, às vezes, é muito diminuído, o das
boas, eu fico com medinho de que aconteça algo. E você, André, costureiras... Moda entrou num lugar muito da porradaria, “tudo que
o que te tira o sono hoje? polui é a moda, todo mundo que é escroto trabalha com moda”.
André:Dinheiro, com certeza. É uma roda que parece estar sempre Porra, e quanta gente legal tem para fazer isso acontecer, sabe?
maior do que um mês atrás. Qualquer melhoria que você queira fazer, Isabela: É lindo como você fala do seu ateliê e dos 55 funcionários
desde aumento de salário, comprar uma máquina nova, comprar um de carteira assinada. Conta mais como é esse dia a dia que você
tecido novo, tem que botar mais dinheiro. E o financeiro é uma mesmo chama de luxo.
questão que foge totalmente do meu controle, óbvio que tem plane- André:Chamo de luxo porque estou conseguindo fazer a roupa que
jamento, mas nosso mercado é muito dinâmico. Se acabou a luz da quero fazer, na condição de trabalho que eu quero. É muito apertado
costureira, se alagou uma região, se tem tiroteio no Rio de Janeiro e financeiramente em vários momentos, mas todo mundo está rece-
a loja não vende… A produção depende de todo mundo, você não bendo direitinho, treinado, legalizado. Já vi muita gente crescer,
tem muito controle, é trabalhar com uma certa ansiedade. Parece que entrar como auxiliar de costura e chegar a chefe de modelagem.
você nunca olha e diz: “Ai, meu Deus, estou bem pra caramba”. Gente que entrou como faz-tudo e virou gerente de operações.
Isabela:Eu fico vendo amigos meus que trabalham em outras áreas, A Handred não cresceu comigo sozinho, mas com o esforço de todo
eles têm que matar um leão por mês, o nosso é um leão diário. mundo. E luxo é também nunca ter tido que fazer camisa polo para
me sustentar. Continuo fazendo a minha camisa de linho, de seda,
Isabela: Recentemente, você completou dez anos de marca. O que a calça na qual eu acredito, a camisa na qual eu acredito.
pretende com a Handred para os próximos anos? Isabela: Quando eu vendi a minha marca, fiquei muito engessada,
André: O meu crescimento é muito baseado na capacidade produ- amarrada. Eles queriam algo no qual eu não acreditava. Depois que
tiva. Quero poder continuar fazendo o que estou fazendo, com um a recomprei, fiquei mais livre. Foi muito duro comprar a marca de
pouco mais de estrutura. É quase que impossível na minha cabeça volta, foi uma luta. Eu acho que a Isabela Capeto chegou em um
que minha roupa seja feita externamente. Num futuro, talvez eu estágio e um tamanho que posso fazer a coleção na qual acredito.
tenha uma fábrica minha, não me vejo terceirizando. E o meu clien- Amo o meu trabalho. As mesmas pessoas trabalham comigo há 16,
te é a minha crítica, ele que me dá o dinheiro, me dá a opinião, e que 17 anos. Continua (pág. 167)
critica. Eu faço a roupa para o cliente.
André: Isa, sabemos que o artesanal é uma arte infinita, mas pode
ser uma via perigosa, uma vez que temos que respeitar o tempo das *As entrevistas foram condensadas e editadas
mãos e do ofício. É um tempo quase que inverso ao frenesi em que
vivemos, da internet, dos modismos e, principalmente, dos prazos.
André Namitala lançou a Handred em 2012 e nun-
Como manter prazos e ser fiel ao artesanal em sua máxima potência? ca se desviou de seu propósito de oferecer uma moda
Isabela: Estou sempre correndo contra o tempo. Me encanta o feita com fibras naturais e modelagens amplas que
trabalho artesanal ter seu próprio tempo, uma peça nunca ser igual vestem qualquer gênero. Ex-integrante do projeto
à outra, acho incrível. Só que dá trabalho. Muitas vezes tenho vários de Novos Talentos do Veste Rio, idealizado pelas
processos em uma única peça, e estou sempre atrasada. Eu realmen- revistas Vogue Brasil e Ela, faz parte do line-up do
SPFW desde 2018 e possui três lojas próprias.
te estou sempre atrasada. Lido com uma coisa que é totalmente
manual. Por isso, lido também com a tia que morreu, a fulana que Isabela Capeto debutou a marca que leva seu nome
não sei o quê. A peça sempre chega depois. E aquelas peças superes- em 2003. Conquistou clientes nacionais e interna-
peciais acabam chegando por último, depois do prazo ideal de venda. cionais e fez seu nome graças às peças que celebram
o artesanal, com bordados e muita cor. Em 2008,
Mas e aí? Eu vou liquidar a jaqueta que acabou de ser feita? Como vendeu 50% da marca para o grupo InBrands, em
minhas peças são muito atemporais, jogo para a coleção seguinte. uma época que fusões e aquisições marcaram a moda
nacional. A parcela foi recomprada por ela em 2011.
INVOGUE
PEÇA RARA
EM SUA TERCEIRA EDIÇÃO, O PROGRAMA MASP RENNER PROMOVE CONEXÕES ENTRE MODA E ARTE REUNINDO
NOMES DE DIFERENTES GERAÇÕES E PLATAFORMAS PARA CRIAR ROUPAS ÚNICAS PARA O ACERVO DO MUSEU
POR NÔ MELLO
62 VOGUE BRASIL
VOGUE BRASIL 63
M
Moda e arte caminham há muito tempo juntas,
e inúmeros são os exemplos que comprovam
essa secular ligação. Dos figurinos de Pablo
Picasso para o Ballet Russes em 1917 à recente
colaboração de Yayoi Kusama para a Louis
Vuitton, diversas são as expressões dessa cone-
xão. No Brasil, o Masp tem forte participação
nesta conversa, especialmente a partir de 1960,
quando, em parceria com a Rhodia, na época
o maior nome da indústria têxtil nacional, co-
meçou a convidar artistas para criar roupas –
Alfredo Volpi, Francisco Brennand, Manabu
Mabe e Willys de Castro foram alguns dos
nomes que participaram, assim como estilistas
como Dener Pamplona, José Ronaldo e Ugo
Castellana. Herdeiro dessa tradição fashion do
museu, o Masp Renner, projeto colaborativo
entre estilistas e artistas visuais que segue em
desenvolvimento desde 2018, este ano estreia
sua terceira temporada.
Nesta edição do programa, o museu reuniu
artistas e estilistas que abordam, em suas cria-
ções, questões de identidade e sustentabilidade,
assim como suas relações com a tradição e a
contemporaneidade. O resultado foi um con-
junto de 22 looks, todos inéditos e criados es-
pecialmente para o projeto, realizados entre
2021 e 2022. As peças ganharão uma mostra
no Masp, prevista para ser inaugurada no mês
de setembro deste ano. “Não tem como não
pensar, atualmente, sobre as questões raciais,
de gênero e classe, assim como refletir sobre
história e sustentabilidade”, defende Leandro
Muniz, assistente curatorial do museu. “Ao
elaborarmos um projeto em que a roupa extra-
pola o sentido básico de cobrir um corpo e
adentra um espaço museológico, criamos a
possibilidade de estabelecer outras relações
para a linguagem de moda”, completa a cura-
dora-adjunta de moda Hanayrá Negreiros.
As nove duplas de artistas e estilistas reú-
nem nomes de diferentes gerações e platafor-
mas de atuação. São elas: Aline Bispo e Flavia
Aranha; Criola e Luiz Claudio Silva; Edgard
de Souza e Jum Nakao; Larissa de Souza e
Diego Gama; Lidia Lisbôa e Fernanda Yama-
moto; No Martins e Angela Brito; Panmela
Castro e Walério Araújo e Randolpho Lamo-
nier e Vicenta Perrotta.
A carioca Panmela Castro, nome incensado
da arte contemporânea atual, se juntou ao de-
cano Walério Araújo e criou Vestido Siamês,
produzido para ser usado por duas pessoas ao Acima, Cio da Terra 2, de Aline Bispo e Flavia Aranha. Na página anterior,
mesmo tempo, levantando assim discussões Moletom Cajueiro, de Larissa de Souza e Diego Gama
INVOGUE
sobre performance de gênero e as relações de
irmandade e afeto. “Foi a minha primeira vez
trabalhando com uma artista”, comenta Araú-
jo à Vogue. “Adorei trabalhar com a Panmela.
Ela é superdespretensiosa, moderna e tem um
trabalho que eu amo direcionado às mulheres
trans – o qual é o meu universo desde que che-
guei em São Paulo, há 30 anos”, emenda o es-
tilista, que apostou numa modelagem experi-
mental e tecidos brilhantes, duas de suas mar-
cas registradas na moda.
Conhecida por seu trabalho em upcycling,
criando roupas e acessórios a partir de materiais
de descarte da indústria têxtil, roupas encon-
tradas em pontos de doação ou lixos, a paulis-
tana Vicenta Perrotta, coordenadora da ocupa-
ção artística transvestigênere Ateliê Transmo-
ras, se aliou ao mineiro Randolpho Lamonier,
para criar três looks. Um deles é Casa Transco-
munal, uma saia-barraca de poliéster sobre a
qual foram aplicadas camisetas de movimentos
sociais pelas causas LGBTQIA+, por moradia,
igualdade racial, de gênero e reforma agrária,
algumas das questões que permeiam a produ-
ção da dupla. “Ser a primeira travesti colocan-
do o seu trabalho ali no acervo de moda do
Masp é muito importante. Casa Transcomunal
apresenta toda uma pesquisa minha quando eu
primeiro pedi para as pessoas de movimentos
sociais me mandarem peças de roupas, um tra-
balho que foi feito coletivamente por vários
movimentos sociais brasileiros”, explica Vicen-
ta. “Fui construída junto a eles: movimentos de
capoeira, de moradia, de alimentação, de saúde,
trans, movimento do HIV... É um trabalho que
para mim precisava estar no museu, para ficar
preservado de fato”, complementa.
Rodolpho, que há alguns anos dá protago-
nismo à matéria têxtil no seu processo criativo
em suas Profecias, obras que trazem frases e
imagens utópicas costuradas e bordadas em
estandartes, no entanto, conta que esta foi sua
primeira experiência trabalhando em um pro-
jeto de moda. “O gesto da construção desta
peça, bem como todos os elementos que a com-
põem, representa o desejo de uma busca cons-
ciente de se organizar, conspirar e construir
juntes tecnologias humanas possíveis onde o
respeito a toda forma de vida, à livre autoex-
pressão e à coexistência harmoniosa se sobre-
FOTOS Cassia Tabatini / Divulgação
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VOGUE BRASIL 65
INVOGUE
EM RESPEITO À TRADIÇÃO
UM DOS BASTIÕES DA ALTA-COSTURA, ELIE SAAB VESTE MULHERES DE TODO
O MUNDO COM SUA MODA DELICADA. COM SEU PRÊT-À-PORTER À VENDA NO
BRASIL, O ESTILISTA LIBANÊS LANÇA AGORA UM EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO
NO PAÍS E SE CONSOLIDA COMO UMA MARCA DE GLOBAL
E
tida em tapetes vermelhos de Hollywood, ca-
samentos estrelados e ocasiões reais, e é na alta-
costura que ele mais se realiza. “Na couture não
existe um limite de horas de trabalho, nem
restrições de materiais ou de tecidos”, diz.
O minimalismo não tem vez no seu universo,
Elie Saab tinha apenas 9 anos de idade, mas já sabia a sua voca- e muito menos nos armários das clientes. Um
ção. O estilista vivia em uma Beirute afetada pela guerra civil vestido de noiva pode levar até oito meses para
libanesa, mal tinha acesso à moda, mas previa seu destino e ficar pronto, mesmo que o seu ateliê preze por
passava horas fazendo roupas para os familiares com os materiais uma certa dose de praticidade e, em geral, faz
que encontrava pela casa. “Eu tinha uma visão, desde que nasci”, apenas duas sessões de prova com a cliente. Em
conta o designer em entrevista por videochamada, da capital do comparação, há maisons que fazem seis ou
Líbano. Também fazia parte do plano ajudar os pais, que viviam mais. Não é do seu feitio acompanhar tendên-
em uma situação precária. Em 1982, aos 18 anos, fundou a cias ou tentar surfar no hype – o sr. Saab pre-
marca homônima e, em 1997, foi convidado pela Camera Na- fere a atemporalidade. “Fico muito feliz quan-
zionale dela Moda Italiana a mostrar as suas coleções em Roma. do vejo uma jovem com um vestido que era de
Três anos mais tarde, outro convite importante: o da Chambre
Syndicale de la Haute Couture de Paris. Saab fez história ao ser
o primeiro estilista árabe a ser admitido na prestigiosa organi-
zação. Hoje o seu negócio inclui ready-to-wear, noivas, acessó- À direita e na página
rios, óculos, fragrâncias e os dois últimos lançamentos da mar- seguinte, looks do desfile de
ca: uma linha infantil e outra de homewear. Mas é a paixão do alta-costura verão 2023
clicados no backstage da
sr. Saab pela arquitetura e por interiores que o traz para o Brasil apresentação, que aconteceu
este mês. Em sua segunda visita ao país, o diretor criativo vem em janeiro em Paris
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INVOGUE
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VOGUE BRASIL 69
NOVOS HORIZONTES
Com design de interiores assinado por Elie Saab e peças ex-
clusivas da linha de homewear do libanês, o Saffire Residences
by Elie Saab ocupa uma área de aproximadamente 7.500 m² e
fica às margens do Parque Ibirapuera. Com 52 unidades divi-
didas em apartamentos de 360 m² ou 493 m², incluindo quatro
coberturas exclusivas de 650 m² e 862 m², tem entrega previs-
ta para 2026. Primeiro empreendimento imobiliário assinado
pelo estilista na América do Sul, o projeto dedica atenção es-
Na página ao lado, pecial aos ambientes externos, com muita vegetação e terraços
no centro, o estilista Elie Saab com vistas panorâmicas para o parque. lavvi.com.br
INVOGUE
TCHAU,
SNEAKERS
DEPOIS DE ANOS DE DOMÍNIO DOS TÊNIS, OS
SAPATOS FORMAIS VOLTAM COM TUDO ÀS
RUAS E ÀS PASSARELAS - E SE TORNAM HIT
INCLUSIVE ENTRE UMA TURMA MAIS JOVEM
O
O uso dos calçados formais, das mules aos saltos, vem também
associada à estética preppy (de onde deriva-se o preppy chic, o dark
academia, o old money e tantos outros nomes para o formal dressing).
O preppy, termo que se origina das escolas preparatórias britânicas,
propõe um estilo que é, ao mesmo tempo, formal e superjovial, e
O termo streetwear foi cunhado ainda em 1990, mas foi na segun- talvez seja esse exatamente o pulo do gato. Isto porque os calçados
da década dos anos 2000 que o estilo realmente dominou a moda, formais têm ganhado mais adeptos entre as novas gerações de
promovendo uma mudança drástica na maneira como muitas formadores de opiniões e fashionistas de plantão.
pessoas se vestem. Peça-chave dessa revolução foi a dominação dos É o que conta Caio Nakane, nome por trás da Cocker Shoes,
sneakers e tênis esportivos sobre o mercado de sapatos. Esse verti- label paulistana de sapatos formais queridinha da cena de moda,
ginoso crescimento fez com que até as marcas mais tradicionais cujo público, em sua maioria, são jovens entre 20 a 35 anos que
desfilassem suas próprias versões do calçado – e até de dad shoes e buscam a marca como uma opção para fugir do comum. “Ao con-
ugly sneakers. Mas como tudo que sobe uma hora há de descer, essa trário das marcas mais tradicionais de sapato, nós viemos com uma
curva de tendências atingiu seu ápice em 2021, e o ano passado já comunicação descolada, pensada para a nova geração. Acredito que,
foi marcado por uma desaceleração do consumo dos tênis. no Brasil, existia uma visão do sapato como algo muito quadrado
70 VOGUE BRASIL
a quebrar isso e usá-lo de uma maneira menos formal".
*
VOGUE BRASIL 71
PEÇA
CONHECIDA PELAS JOIAS ESCULTURAIS, PAOLA VILAS EXPANDE
ÚNICA
SEU CONCEITO DE OBJETOS VESTÍVEIS E LANÇA UMA COLEÇÃO
DE ROUPAS TODA PINTADA À MÃO POR ELA MESMA
POR CAROLLINA LAURIANO FOTOS FERNANDA POMPERMAYER STYLING SAM TAVARES
D
Desde 2016, quando fundou a marca que leva seu
nome, Paola Vilas vem apresentando uma pers-
pectiva estética provocativa, por meio das men-
sagens não convencionais que transmite em cada
uma de suas criações. Na sua pesquisa artística, a
designer carioca busca no inconsciente formas de
abordar questões sensíveis, especialmente sobre
o papel da mulher na sociedade contemporânea
e procura desconstruir e ressignificar o que en-
tendemos por energia feminina e, ao questionar
a maneira como as mulheres podem criar, cada Como dentro do processo de trabalho de Paola faz sentido que suas peças
vez mais, espaços de liberdade para si. transitem por espaços diversos num contexto diário, um próximo passo especula-
A partir dessa indagação, Paola passou a criar do era o de que suas criações pudessem também adentrar o campo da moda, uma
espaços e possibilidades de reinterpretar o papel vez que esse universo faz parte da sua comunicação visual. E não demorou para
social atribuído às mulheres de forma cada vez que isso acontecesse. Paola expande agora seu conceito de objetos vestíveis de uma
mais plural. Conhecida pelas joias que celebram forma mais ampla, e lança sua primeira coleção de roupas.
as formas femininas em uma perspectiva oníri- A estreia é formada por cerca de dez peças de alfaiataria ressignificadas, especial-
ca, ela viu suas investigações artísticas se expan- mente blazers – itens vintage que a designer passou meses e meses garimpando e
direm, nos últimos anos, para outras áreas como que agora ganharam pinturas de temáticas que se assemelham às joias. Entendendo
o design de objeto, mobiliário e a arquitetura. e destrinchando as aproximações entre arte e moda, a coleção foi toda pintada à mão
por Paola. A designer sempre fez questão de estar presente em todos os processos
manuais de sua marca, como é o caso do desenvolvimento do projeto arquitetônico ASSISTENTE DE FOTO: Cris Cintra. BELEZA: Evangellista
da sua loja no Rio (no Complexo Guilhermina, no Leblon), cujas paredes foram
esculpidas à mão por ela mesma, ao lado de uma equipe de artesãos.
Mais do que se inspirar em arte para desenvolver suas peças, Paola faz de suas
criações verdadeiros objetos de arte. Para sua linha de roupas, isso não seria diferen-
te. Pensando no tempo como esse espaço dilatado que requer presença, ela passou a
tratar o tecido como telas em branco, uma vez que a designer fez uma pesquisa mi-
nuciosa de materiais para entender como a tinta se comportaria nesse suporte. Para
Paola, este projeto tem sido muito íntimo, uma vez que, embora ele seja uma conti-
nuidade de toda sua criação artística, vem carregado de novos aprendizados, como
lidar com o improviso e com o erro, e também abrir mão do controle, aproximando-a
muito mais do campo da arte, o qual esses conceitos estão sempre implicados em
cada nova obra criada pelos artistas.
Para o lançamento da coleção, que acontece este mês (acompanhe pelo perfil
@paolavilas), a designer está preparando uma exposição com as peças, antes de
abrir para vendas. A fila de espera já está formada – e pode chegar a meses, assim
72 VOGUE BRASIL
como acontece com grandes artistas nas principais galerias pelo mundo.
*
VOGUE BRASIL 73
DELICIOSAMENTE
PRECIOSO LAÇOS, CORAÇÕES, REFERÊNCIAS VINTAGE, AO
UNIVERSO E À NATUREZA ESTÃO ENTRE OS CÓDIGOS
DA GUCCI PRESENTES NA TERCEIRA COLEÇÃO DE
ALTA-JOALHERIA DA MARCA, BATIZADA HORTUS
DELICIARUM (JARDIM DAS DELÍCIAS, EM LATIM)
FOTOS THOMAS TEBET EDIÇÃO VÍVIAN SOTOCÓRNO
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VOGUE BRASIL 75
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VOGUE BRASIL 77
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Déia Lansky. PRODUÇÃO LOCAL: Flávia Gay Agnès. SET DESIGN: Finn Miller. TRATAMENTO DE IMAGEM: Rodolfo Mello
VOGUE BRASIL 79
FETICHISMO
HAIDER
ACKERMANN
Q
Que ultimamente a moda anda mais sexy e sexual não é
nenhuma novidade. Lingeries aparentes, silhuetas esguias e
recortes que ampliam decotes e aberturas sobre o corpo se
tornaram corriqueiros. A pandemia teve grande contribuição
nesta movimentação, embaçando fronteiras entre roupas
usadas na intimidade e as que são vestidas nas ruas – sem falar
no “transbordamento” da necessidade de fazer-se ultracativante
para ser, com sucesso, “mídia-sociável”. Com o lockdown e a
interação digital, estrelas do showbiz logo apareceram
fartamente estimulando a criação de visuais cada vez mais
afoitos. E, desde que Kim Kardashian surgiu coberta de preto
da cabeça aos pés no macacão da Balenciaga no Baile do Met
em Nova York, em setembro de 2021, o fetichismo tem
invadido guarda-roupas cada vez mais cotidianos.
Fetiche, o nome, tem origem na palavra “feitiço”, que os
portugueses inventaram em 1482 a partir do latim facticius,
que quer dizer artificial, não natural, e sempre esteve associa-
da à luxúria, à libertinagem. Agora, alguns dos mais notáveis
criadores da moda de luxo e até da alta-costura escolheram
explorar esta face mais obscura do estilo. O fetichismo é uma
voga que aparece de tempos em tempos e se reconecta, cons-
ciente ou inconscientemente, com os fantasmas de cada um, MUGLER
revisitando estéticas antes consideradas tabu. E, por incrível
que pareça, é impossível falar em moda sem citar o fetichismo
porque existem, sim, conexões entre estes dois universos.
Ambos fazem apelo ao que há de mais secreto e primário, que
é desejo de sedução, refinamento e relevância.
A moda e o fetichismo também podem ser sinal de perten-
cimento a um determinado grupo, de integração numa socie-
dade, ou um meio de expressão de rebeldia ou desafio aos valo-
80 VOGUE BRASIL
VOGUE BRASIL 81
Estilo
GLORIOSO
Compadre e melhor amigo de Glória
Maria, nosso colunista relembra sua paixão
pela moda e as histórias que a eternizaram
como ícone fashion e cultural
G
um rímel e um batonzinho. Por isso, mergulhou profundamente no mundo
dos pilates e dos cremes, que garantiriam a cútis invejada por todo o mundo.
Havia também as famosas pílulas, entre 60 e 80 por dia, aconselhadas por
aldeões, curandeiros e ripongas dos rincões dos mais de 130 países que visi-
tou. Nós, amigos, sabíamos que, para onde quer que viajássemos, teríamos
que dar aquela paradinha estratégica numa farmácia natureba para buscar as
Glória Maria sempre me disse que detestou encomendas de Glória. A que mais me levava à loucura: o tal do ninho de
quando foi obrigada a colocar o rosto na TV. Até passarinho, com o qual ela fazia um chá gelatinoso.
então, só sua mão aparecia, segurando o micro- A lenda em torno de sua idade foi um meme que ela alimentou antes mesmo
fone, o que lhe permitia “estar como estivesse, que inventassem os memes. Sua obsessão era com o bem-estar, não com a velhi-
livre para chegar ao trabalho na bicicleta, des- ce. Não queria ser jovem, mas jovial. Em que consistem os anos, afinal, para
preocupada com make e figurino”. Não queria quem é telúrica, eterna... fantástica? Um detalhe absolutamente irrelevante.
aparecer, não queria saber de fama, temia que Nossa amiga Sonia Tomé (que a vestiu para o especial de Roberto Carlos em
sua liberdade fosse afetada. Mas quis o destino Jerusalém, um dos looks que ela mais amou na vida, afinal, o Rei era sua paixão)
que seu almoço fosse interrompido, num até me chamou a atenção para as homenagens póstumas nas redes sociais: “É impres-
então monótono plantão de sábado, para cobrir sionante a quantidade de pessoas que tinham foto com a Glória, como ela era ge-
a tragédia da queda do viaduto Paulo de Frontin, nerosa”. Ela era mesmo assim: aberta, acessível e disponível. Disponível sobretudo
no Rio, que matou 26 pessoas em 1971. para ouvir e acolher, qualidade hoje rara, num mundo que só faz gritar.
A reportagem acabou sendo um marco histó- Glória nos deixou a lição desse amor desmedido por todas as gentes, e esse
rico na televisão brasileira: uma jornalista negra, desassossego permanente diante da dor do outro. Certa vez, perguntaram-lhe
de cabelo black power batido, adentrando os lares numa entrevista a que ela atribui seu sucesso junto ao público: “É que eles
de um país que historicamente precarizou – e sabem que eu sou uma pessoa comum”, respondeu. Isso vindo da pessoa
precariza – os corpos negros femininos. talvez mais incomum que nós conhecemos.
Foi para o local do jeito que estava: com uma Está aqui mais um exemplo da sua sabedoria: dar glória à Maria de seu nome,
blusa off-white de mangas de “asinha” e um teci- mas sobretudo a todas as Marias que povoam o Brasil. Reagir, como qualquer
do amarrado na calça jeans, figurino no mínimo um de nós reagiria, diante do mundo inacreditável que ela revelava. Transmitir
inusitado para a sisudez dos repórteres da época. a dor de cobrir uma guerra. O medo de saltar do maior bungee-jump do planeta.
FOTOS: MAR+VIN/Arquivo Vogue e Divulgação
Sua firmeza na transmissão e na apuração abriu A alegria infantil de levitar na gravidade zero. A emoção de estar diante de um
uma janela irreversível: a história de amor e cre- ídolo internacional. A insubmissão à truculência racista.
dibilidade entre Glória e o público brasileiro. Voltando à moda: como boa leonina, seu tino fashion começava pela juba.
Mas já que estar na TV seria o seu destino, Pelas jubas, aliás. Foram tantos os penteados – black power Angela Davis, bati-
como se maquiar sem encontrar no mercado dinho, permanente, Chanel assimétrico, patricinha com reflexos –, que ela se
um único produto voltado para peles negras? tornou uma vitrine de infinitas possibilidades para as espectadoras que sofriam
Foi então que Glória teve a ideia de recorrer a com o padrão liso-escandinavo então vigente. Glória era o antipadrão e odiava
Eric Rzepecki, maquiador polonês e refugia- ser cobrada pela turba canceladora das redes sociais, afinal, sua História a pre-
do de guerra que trabalhou no cinema com cedia. Sem recorrer a uma única hashtag, ela fez de sua vida sua própria hashtag.
Vivien Leigh e se tornaria chefe do departa- Não era de grifes nem tendências; detestava usar o que todo o mundo usava.
mento de maquiagem da Globo. Ele criou Divertia-se com a moda, mas sofria nas cabines com os mínimos defeitos – herança
para ela uma mistura de bases e moodboards de de seu pai alfaiate, que a vestiu até a adolescência só com roupas sob medida, mesmo
beleza, que ela seguiu à risca por décadas. na dureza. “Quanto mais simples, mais impecável” era seu lema.
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FAMÍLIA
NADA CONVENCIONAIS, MIKA E LU SAFRO
ABRIRAM ESPAÇO NO MERCADO DE BELEZA E
FIZERAM COM QUE O SEU SOBRENOME VIRASSE UM
DOS MAIS REQUISITADOS DA INDÚSTRIA DA MODA
P
Pouco se ouve a voz de Mika Safro quando ela Para dar uma vida com mais oportunidades para os filhos,
está com seus pincéis na mão. Séria, compene- mudou algumas vezes até que decidiu se estabelecer na capital
trada, serena, a baiana, apesar da pouca idade de São Paulo, onde arrumou um emprego em um salão de
– ela completou 25 anos em janeiro –, é hoje beleza na Galeria do Rock, e também passou a atender clien-
um dos nomes mais relevantes de uma nova leva tes em casa. Lu queria que Mika estudasse medicina. “Perce-
de talentos nacionais de beleza. Longe de ma- bi que a história de medicina não era o meu sonho, mas da
quiagens e penteados convencionais, suas cria- minha mãe. Ela não conseguia ver o quanto eu a admirava
ções se destacaram rapidamente pelo viés ar- profissionalmente”, diz a primogênita, com os olhos marejados.
tístico cheio de referências da cultura popular Sem ter intimidade com o mercado paulistano, sem produtos
brasileira e de outros países. O que lhe rendeu de beleza, dinheiro, curso ou contatos, Mika precisou de mui-
espaço nas publicações britânicas i-D e Dazed ta garra, resiliência e força de vontade para seguir o sonho de
ainda no começo de sua carreira, além de reco- ser uma beauty artist. Montou seu primeiro kit de trabalho com
nhecimento de estilistas nacionais. doações de amigos e agarrou as oportunidades que surgiam,
Natural de Itagibá, município da Bahia com de um desfile no Sesc a projetos autorais.
15.577 habitantes, a cerca de 400 quilômetros de Entre um bico e outro, Mika criou uma rede de contatos com
Salvador, Mika vem de uma linhagem de cabe- profissionais em início de carreira na moda, que foi essencial
leireiras e trancistas. “Uma lembrança marcante para alavancá-la no mercado. “O que sempre me surpreende na
minha desse universo é aos 12 anos, quando aju- Mika é que ela vem de um lugar muito duro e, mesmo assim,
dava a enxaguar os cabelos das clientes do salão todas as criações emanam leveza. São lúdicas e fazem sonhar”,
da minha mãe, que era um puxadinho improvi- explica Angela Brito, estilista cabo-verdiana que trabalha com
sado da nossa casa”, recorda a beauty artist. Quan- Mika desde 2018, quando apostou na beauty artist para assinar
do Mika nasceu, sua mãe, Lu Safro, tinha apenas a beleza da apresentação da sua coleção Vento Leste na Casa de
16 anos. Por isso, Mika virou seu braço direito em Criadores. O encontro com Angela Brito, a quem chama de
casa, ajudando a cuidar dos três irmãos, e também mentora e amiga, foi um divisor de águas para Mika, que teve
no trabalho. “Por muito tempo, a profissão tran- a oportunidade de assinar seu primeiro desfile, coordenando 15
cista foi marginalizada e não tinha muita clien- maquiadoras para produzir 20 modelos. “Eu era tão sem noção
tela, por isso, tive que me virar, cuidei de ido-
sos, fui enfermeira, mas sempre acabo voltando
para trança e para os cabelos”, conta Lu, que
aprendeu as primeiras técnicas profissionais
observando também a sua mãe passar a “cha-
Da esquerda para direita, Mika Safro veste
pinha baiana”, utensílio de ferro esquentado no top LZRO ALEXANDRE, e Lu Safro usa
fogo para alisar cabelos, na clientela. vestido STUDIO ELLIAS KALEB
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BELEZA
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VOGUE BRASIL 93
- Lu Safro
BELEZA
ARCOS
lebridades mais assíduas nas experimentações com as sobrancelhas –, intensificando
um movimento de transformar os arcos acima dos olhos no canvas da vez para a
beleza. “Quando vi Kendall Jenner no Baile do Met do ano passado com as sobran-
celhas apagadas, em um visual meio gótico que fugia do óbvio, quis tentar”, diz
SUBVERSIVOS
Elisa Zarzur, que impactou seus mais de 200 mil seguidores com o estilo.
Para a beauty artist Jake Falchi, os designs extravagantes são um reflexo do dese-
jo de expressão na máxima potência que paira na sociedade após os anos de vontades
reprimidas que há pouco deixamos para trás. “A beleza sempre funcionou como um
reflexo social, e agora não é diferente. As tendências são como pêndulos, viemos de
um momento de sobrancelhas naturais e caminhamos atualmente para um cenário
FINAS, DESCOLORIDAS, COBERTAS POR mais glamoroso. A internet e as gerações mais novas, que já cresceram em um mun-
APLICAÇÕES OU PINTADAS EM TONS do mais desconstruído, sem dúvida, foram um motor para isso acontecer, pois aju-
daram a questionar padrões e difundir a ideia de que a beleza é múltipla, de que não
VIBRANTES, AS SOBRANCELHAS ASSUMEM existe apenas um tipo de belo. Ver tudo isso refletido nas sobrancelhas é, no fim das
PAPEL CENTRAL NAS PRODUÇÕES DE BELEZA contas, estampar esse novo momento no nosso rosto”, afirma.
Durante a semana de alta-costura de verão 2023, o desfile de Jean Paul Gaultier
foi além dos finos desenhos e trouxe ainda traços coloridos em tons vibrantes acima
POR THAÍS VARELA dos olhos. Logo em seguida, Prabal Gurung, na semana de moda de Nova York,
propôs largas faixas de cor pintadas sobre os pelos. A boa notícia, revela Anastasia
Soare, expert em sobrancelhas e criadora da marca best-seller da categoria Anastasia
S
Beverly Hills, é que novos produtos e técnicas permitem criar variações de looks sem
se submeter a uma transformação radical. “Não é preciso afinar o desenho com a
pinça, por exemplo. Podemos usar a maquiagem para cobrir e, por cima dela, estili-
zar um arco fino, colorido, com aplicações.”
Com um corretivo próximo ao seu tom de pele e escova de sobrancelha, o
beauty artist Helder Rodrigues ensina como apagar as sobrancelhas sem com-
FOTO: Getty Images, Launchmetrics Spotlight, Acielle/Style Du Monde, Gabriela Schmidt, Reprodução Instagram e Divulgação
Se, há alguns anos, a ideia de uma sobrancelha prometer os fios: “Retire a oleosidade da área e, em seguida, com pouca quanti-
fina ou descolorida causaria arrepios e olho torto, dade de produto, penteie na direção contrária ao crescimento dos fios. Para fi-
hoje, basta navegar nas redes sociais ou ver fotos nalizar, arrume-os no lado certo e confira se todas as hastes foram pintadas.
das últimas temporadas de moda para ter certeza Evite o acúmulo de maquiagem para não ficar com uma aparência grossa”. Se a
de que elas vivem um novo momento na beleza. ideia for descolorir os pelos permanentemente, é possível usar um tonalizante
As sobrancelhas assumem agora um papel central para retornar à cor original quando desejado. Continua (pág. 168)
nas produções com cores e designs subversivos,
tendência que deixa para trás a hegemonia dos
pelos naturais que dominaram os anos 2010.
O revival retrô das décadas de 1990 e 2000
vivido pelo universo de moda e beleza trouxe de 1
volta uma série de tendências consideradas po-
lêmicas. E, se mordi a língua ao dizer que nun-
ca mais usaria uma calça de cintura baixa, uma
coisa eu tinha certeza: jamais cogitaria mexer
2
nas minhas sobrancelhas naturais, independen-
te de qualquer estilo Y2K que voltasse à moda
ou da minha vontade de reproduzir o look de
3
Uma Thurman em Pulp Fiction. Como você 7
deve imaginar, não foi bem isso que aconteceu.
Em 2022, um filtro que simulava a sobrance- 1. Lápis delineador Colour Excess
lha fina viralizou no TikTok e aproximou do 4 na cor Commitment Issues, MAC
estilo não só uma geração inteira que nunca pro- (R$ 179). 2. Delineador líquido
Glitter na cor Galáctica, CONTÉM
vou esse visual na pele, mas também as pessoas 1G (R$ 55). 3. Lápis multifuncional
que, assim como eu, viveram e prometeram que Norvina na cor Pastel Coral,
nunca se renderiam a ele. A inf luenciadora ANASTASIA BEVERLY HILLS
(R$ 149). 4. Máscara para
Victoria Yamagata, com 27 anos, credita a plata- 5 sobrancelha Realce, VIC BEAUTÉ
forma como fonte de inspiração para descolorir (R$ 119). 5. Caneta para
sobrancelhas Brow Microfilling Pen
os fios. “Comecei a consumir muitos conteúdos na cor Blonde, BENEFIT (R$ 179).
por lá e enxergar novas possibilidades de beleza”, 6. Lápis delineador na cor Gummy,
diz ela. Ao mesmo tempo, incontáveis tutoriais 6 LARISSA MANOELA BY
OCÉANE (R$ 24). 7. Cera fixadora
espalhados pela internet se inspiravam em musas Brow Freeze, ANASTASIA
como Bella Hadid e Julia Fox – algumas das ce- BEVERLY HILLS (R$ 179)
94 VOGUE BRASIL
VOGUE BRASIL 95
BELEZA
CONEXÃO natural
Os últimos lançamentos de fragrâncias
1. Her Eau de Toilette, BURBERRY (R$ 669). 2. Earth Eau
das grandes casas de moda trazem um clima
de Parfum, LOEWE (R$ 1.479). 3. Paris-Paris Les Eaux de
Chanel Eau de Toilette, CHANEL (R$ 1.105). 4. L'Interdit
PRIMAVERIL para o outono
Eau de Toilette, GIVENCHY (R$ 539). 5. Light Blue Italian BRASILEIRO, que começa no dia 20 deste
Love Eau de Toilette, DOLCE & GABBANA (R$ 745).
6. Les Infusion d'Iris Eau de Parfum, PRADA (R$ 1.099) mês. Aqui, seis opções que levam em suas
fórmulas da madressilva à rosa damascena
96 VOGUE BRASIL
Apresentam o curso
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BELEZA
BEM NA
relaxamento e até mesmo felicidade sendo des-
pertadas pelos produtos. Batizados de neurocos-
méticos, os itens que trazem essa perspectiva
integral sobre o bem-estar levam uma gama de
PRÓPRIA PELE
ingredientes que estimulam respostas no sistema
nervoso quando aplicados topicamente. “Ainda
são necessários mais avanços científicos para po-
dermos, com certeza, indicar esses ativos como
promessa de uma melhoria na qualidade de vida.
Mas alguns estudos menores apresentam resul-
tados positivos na relação entre uso de cosméticos
com propriedades neuromoduladoras e a melho-
COM A SAÚDE MENTAL EM FOCO, A CONEXÃO MENTE-PELE ra do quadro de tensão, por exemplo. Então, em
GANHA PROTAGONISMO NA INDÚSTRIA DA BELEZA, QUE termos de organismo, podemos dizer que esses
componentes agem de forma complementar, so-
TRABALHA PARA TRADUZIR ESSA LIGAÇÃO ESTUDADA PELA mando à rotina de relaxamento e autocuidado”,
PSICODERMATOLOGIA EM UMA VISÃO MULTIDIMENSIONAL explica o médico dermatologista Victor Bechara.
DO QUE CONHECEMOS POR “Os ingredientes neurocosméticos mais po-
pulares hoje são aqueles associados à ativação de
receptores de β-endorfina na pele. Estes promo-
vem a sensação de bem-estar, relaxamento, hi-
POR SOFIA FERREIRA dratação e pele mais calma quando aplicados”, diz
Giulio Peron, CEO da Feito Brasil, marca brasi-
leira de skincare. Apesar da empresa investir na
tecnologia desde 2010, foi apenas em 2021 e 2022
que começaram a notar um crescimento maior do
mercado nesse segmento, como um reflexo ime-
diato do aquecimento da indústria wellness du-
V
rante a pandemia. “Mesmo não sendo considera-
do um fármaco, os neurocosméticos são capazes
de induzir a produção de substâncias que estimu-
lam os neurotransmissores naturais”, explica Ma-
riana Tami, coordenadora de projetos de pesqui-
sa e inovação da marca.
Você já deve ter ouvido – ou até mesmo usado – a expressão “sentiu na pele” Alinhado a esse movimento, saem de cena a
para se referir a emoções como medo, ansiedade ou estresse. Mais que perceber hipervalorização das dez camadas de skincare e
fatores do ambiente externo, como frio e calor, a pele está diretamente ligada rotinas de cuidados impossíveis. Pouco a pouco,
a nossa mente e sentimentos, e essa conexão, que une físico e psicológico, é tão a conversa se volta para a essência do autocuidado,
profunda que remete ao período gestacional. O corpo humano é desenvolvido priorizando o momento de olhar para si como
a partir de três folhetos embrionários: endoderma, que concebe o sistema uma prática que flerta com o ritualismo e se
respiratório e órgãos do sistema digestório; mesoderma, responsável pelos inspira na atenção plena. Lançada em setembro
ossos, músculos, derme e o sistema circulatório e reprodutor; e ectoderma, este de 2021, a Marina Shore, da empresária Marina
último dá origem à pele e ao sistema nervoso. “Esse vínculo, que ocorre desde Montagner, é pioneira em aliar o conceito de
a nossa formação, cria uma ligação íntima e direta entre ambos – não à toa, beleza e saúde mental na estratégia de marketing.
algumas pessoas ficam com as bochechas vermelhas ao sentirem vergonha ou Os produtos, pensados como um ritual básico e
FOTO: Rafael Pavarotti/Acervo Vogue e Divulgação
transpiram mais quando estão nervosas”, fala a psicóloga porto-alegrense enxuto de cuidados, são à base de ingredientes
Jéssica Schmitt, especialista no assunto. Apesar de conhecida, a conexão men- adaptógenos. “Esses ativos, como extrato de
te-pele ganhou mais atenção nos últimos anos, afinal, nós nunca estivemos tão jambu e óleo de lavanda, por exemplo, são
estressados e ansiosos. Desde 2017, o Brasil possui o maior índice de pessoas plantas não tóxicas que ajudam o corpo a lidar
com transtorno de ansiedade em todo o planeta. São 18,6 milhões de brasilei- com fatores estressores, sejam eles físicos,
ros (o equivalente a 9,3% da população) que sofrem com algum tipo de enfer- químicos ou biológicos. Então, agem não só
midade relacionada à ansiedade, segundo a Organização Mundial de Saúde. no tratamento da pele, mas também ajudam a
Esse cenário trouxe a saúde mental para o foco e contribuiu para o desenvolvi- reduzir o estresse”, defende Marina. Somando
mento de um olhar multidisciplinar para a questão, que passou a englobar inclusive a esse comprom isso, a ma rca ta mbém
a indústria da beleza. Combinando áreas como psicologia, psiquiatria e dermatologia, desenvolveu um “clube de bem-estar” para
um braço de estudo batizado de psicodermatologia promete pautar o setor em 2023. m e m b r o s , q u e i n c e nt i v a p r á t i c a s d e
Inovações em fórmulas cosméticas propõem explorar a conexão íntima entre pele e mindfulness, como au las de med itação
mente, proporcionando um ganho além do skincare tradicional, com sensações como
98 VOGUE BRASIL
antiestresse e ioga facial.
*
VOGUE BRASIL 99
3 4
1
5
2 BANCADA DO
BOM HUMOR
Com ingredientes como CB2 e extra-
to de cherimoya, conheça neurocos-
méticos que oferecem um cuidado de
beleza integral, estimulando sensações
prazerosas enquanto garantem um
skincare potente. O seu ritual de auto-
cuidado nunca esteve tão completo.
H
á quase 20 anos como uma cia: “Fiquei tão impressionada com os
das celebridades mais icôni- resultados que tive com Sculptra®, que
cas do Carnaval, Sabrina passei a questionar mais meu médico
Sato é tão sinônimo da nossa sobre outras soluções estéticas para
típica folia que novamente entrou no melhorar ainda mais a saúde da minha
Sambódromo do Anhembi, em São Pau- pele. Foi aí que, por indicação médica,
lo, e no Sambódromo da Marquês de passei por alguns procedimentos com
Sapucaí, no Rio de Janeiro, como rainha Restylane® no rosto para volumizar
de bateria das escolas de samba Ga- meus lábios, amenizar linhas finas e al-
viões da Fiel e Vila Isabel. Mas, mesmo gumas ruguinhas.” A tecnologia, segun-
acostumada ao ritmo dos desfiles e com do o dermatologista, foi usada para me-
uma intensa rotina de exercícios, Sabri- lhorar a hidratação dos lábios e levantar
na recorre ainda a tratamentos especiais pontos estratégicos da face. “Cuido da
de beleza para manter seu brilho, de- Sabrina há muito tempo e considero
sempenho, corpo e rosto nada menos fundamental conversar com o paciente
do que radiantes. sobre os seus desejos, além de ter os
Após o fim da gestação de sua filha, produtos mais seguros para adaptar o
ela procurou o dermatologista Alberto tratamento de acordo com cada história
Cordeiro (CRM-SP 125757), de São Pau- de pele”, ressalta o médico.
lo, e começou a investir em cuidados O olhar atento de Sabrina ao corpo
com a pele, pois queria recuperar a fir- e ao rosto, que revela uma atenção es-
meza da pele do abdômen e bumbum. pecial com sua aparência, se estende à
“Eu me considero uma mulher livre e au- escolha dos looks que usa no dia a dia
toconfiante na maior parte do tempo – especialmente em época de Carna-
(risos) e não tenho problemas em falar val. Referência também entre os
sobre os cuidados que tenho para man- fashionistas, ela conta com a ajuda do
ter a qualidade da minha pele. Não é stylist Pedro Sales para montar suas
segredo para ninguém que eu invisto produções, sempre alinhadas ao em-
em procedimentos estéticos com Sculp- poderamento e à autoconfiança que
tra® [bioestimulador de colágeno] e transmite. “Meu trabalho com a Sá flui
Restylane® [preenchedor de ácido de forma muito natural. No Carnaval, a
hialurônico], ambos da Galderma”, con- ideia é sempre levar diversão e fanta-
ta a apresentadora. Sabrina comenta sia para a rua, em um reflexo de sua
ainda que faltava pouco tempo para o personalidade ousada e bem-humora-
Carnaval daquele ano (2019) quando da. No caso dela, é muita responsabili-
chegou ao consultório pedindo uma dade e meu desafio é enaltecê-la ain-
ajuda para amenizar a flacidez que a in- da mais”, afirma Sales.
comodava. “Desde então, já usei Sculp- Alguns desses looks são o pink e o
tra® no rosto e em outras áreas do cor- azul estampados aqui, que ela usou em
po. Brinco que tomo banho de Sculp- ensaios técnicos da Gaviões da Fiel e da
FOTOS: DIVULGAÇÃO
galdermaaesthetics.com.br
PONTO
DE VISTA
POR VÍVIAN SOTOCÓRNO
102 VOGUE BRASIL
VOGUE BRASIL 103
N S S A
Casaco (R$ 26.300) e saia de
organza de seda, ambos LINO
VILLAVENTURA, cabeça
(R$ 980) BARBARAH e
luvas SUZANA MARIA
Blazer (R$ 14.560) e saia em látex
(R$ 9.800), ambos NORMANDO,
brincos e anéis, tudo YAR ATELIER,
e sapatos BOTTI para A.NIEMEYER.
Na página ao lado, da esquerda para a
direita, vestido ATELIÊ MÃO DE
MÃE, chapéu (R$ 1.780) NERIAGE,
brincos BRENNHEISEN e pulseiras
(R$ 280 e R$ 250) CARLOS PENNA;
vestido (R$ 7.992), top (R$ 2.196)
e bolsas (R$ 2.998), tudo FLAVIA
ARANHA, e brincos (R$ 285)
CARLOS PENNA; blusa (R$ 469)
e saia (R$ 1.069), ambas MAURÍCIO
DUARTE, chapéu (R$ 1.780)
NERIAGE, brincos (R$ 250)
CARLOS PENNA para REPTILIA
e braceletes (R$ 240, R$ 220 e R$ 195),
tudo CARLOS PENNA
Maxibomber moletom e calça de
veludo, tudo APARTAMENTO 03,
bolsa NERIAGE usada como
chapéu e sapatos (R$ 465) OKOKO
& ABEL. Na página ao lado, vestido
de crepe (R$ 2.390) e calça de couro
sustentável (R$ 5.980), ambos
HERCHCOVITCH;
ALEXANDRE, brincos (R$ 320)
PAULA RONDON, luvas
WEIDER SILVEIRO e botas
FERNANDO PIRES
Vestido PROJETO PONTO
FIRME. Na página ao lado,
vestido, gola removível e mochilas,
tudo A.NIEMEYER, e bolsa
NERIAGE usada como chapéu
Look ROBER DOGNANI. Na página ao lado, da esquerda
para a direita, de cima para baixo, vestido (R$ 6.500)
RENATA BUZZO, brincos (R$ 1.550) PAOLA VILAS,
colar (R$ 1.498) LOOL, luvas VIEW 01 e botas (R$ 1.690)
LE BORÔ; vestido PAULA RAIA, brincos (R$ 368)
LOOL, luvas e sapatos, ambos WEIDER SILVEIRO; top
(R$ 2.500) e saia (R$ 4.800), ambos RENATA BUZZO,
brincos YAR ATELIER, luvas DENDEZEIRO e botas
(R$ 1.198) LE BORÔ; vestido PAULA RAIA, luvas
WEIDER SILVEIRO e botas OKOKO & ABEL
Vestido (R$ 2.800) FAUVE
BRAND, véu e brincos
(R$ 320), ambos PAULA
RONDON. Na página ao
lado, vestido (R$ 1.380) e
brincos (R$ 520), ambos
PAULA RONDON
Look NAYA VIOLETA,
brincos (R$ 979) BRENNHEISEN e
botas FERNANDO PIRES. Na
página ao lado, chemise de seda
(R$ 4.980), parka plissada (R$ 2.480) e
calça plissada (R$ 2.680), tudo
NERIAGE, chapéu de franjas (R$ 880)
NERIAGE + AKRA
Vestido sobre saia, corset e cinto, tudo
DENDEZEIRO, e luvas (R$ 398) À
LA GARÇONNE. Na página ao lado,
top e saia, ambos ANGELA BRITO,
brincos (R$ 298) LOOL, luvas (R$ 398)
À LA GARÇONNE e botas
(R$ 1.328) ROCIO CANVAS
O
O Brasil e o mundo viram surgir no começo Em 1971, um trabalho para a extinta revista
do ano estarrecedoras imagens da situação de Realidade sobre a Amazônia a levou até o povo
crise sanitária, doença e desnutrição causadas ianomâmi pela primeira vez. A viagem foi um
pelo avanço do garimpo ilegal nas terras ia- divisor de águas na sua vida e, daí para frente,
nomâmis e pela completa desassistência do as tradições e o modo de vida daquele povo se
governo anterior. Para Claudia Andujar, que, tornaram o epicentro de sua fotografia. “Levei
há muitas décadas, luta pelos direitos dos ia- um tempo para entender quem eles são, mas
nomâmis, o cenário assustador é um alerta conquistei a confiança deles. Acho que eles per-
para todo o planeta. “O mundo precisa enten- ceberam que minha maneira de trabalhar os
der a importância do povo ianomâmi. Eles deixaria mais visíveis ao mundo.”
têm que ser respeitados, como uma cultura Depois de aceita – para tanto, Claudia pas-
dentro de outras culturas”, defende a fotógra- sou um ano inteiro com as comunidades locais
fa, cujo trabalho ganha maior visibilidade sem fazer um clique sequer –, conseguiu fazer
internacional este mês graças a A Luta Yano- algumas das fotos mais íntimas dos ianomâmi
mami, em Nova York, no recém-inaugurado vistas até hoje, registrando seu cotidiano e, por
The Shed. “Espero que a exposição traga um meio de seu estilo fotográfico, capturando com
FOTO: Lewis Mirrett, cortesia da Fondation Cartier pour l'art contemporain / Divulgação
resultado positivo, que sensibilize as pessoas.” suas lentes o que era invisível, como as visões
Organizada pela Fundação Cartier em parce- descritas por xamãs e seus ensinamentos. Tam-
ria com o Instituto Moreira Salles (onde teve bém clicou momentos de muita tristeza e des-
início, em 2018) e com as ONGs Hutukara truição, como a epidemia de sarampo trazida
Associação Yanomami e Instituto Socioam- pela implantação da Rodovia Transamazônica
biental, a mostra reúne, ao todo, 200 imagens (BR-230), entre 1969 e 1974, que acarretou a
realizadas por Claudia, mais 80 obras feitas morte de milhares de indígenas, e as subse-
por artistas indígenas. quentes invasões do garimpo na região.
Atualmente, Claudia, aos 92 anos, vive em A atuação de Claudia transbordou os limites da
São Paulo, em um apartamento na região da fotografia, e a luta pela preservação deste povo
Bela Vista, onde recebeu esta Vogue. Nascida na indígena é até hoje a sua grande causa de vida.
Suíça, em 1931, cresceu na região da Transilvâ- Durante a ditadura, participou ativamente, ao lado
nia, na Romênia, onde vivia a família do seu do missionário Carlo Zaquine (que, juntamente
pai, de origem judaica. Em 1944, com a eclosão com o líder indígena Davi Kopenawa, é seu gran-
da Segunda Guerra Mundial e a perseguição de parceiro nessa luta desde então), da Comissão
aos judeus durante o período, fugiu com a mãe pela Criação do Parque Yanomami, fundada em
para Nova York, onde trabalhou como intérpre- 1978, que resultou na demarcação da Terra Indí-
te da ONU e começou a pintar. Depois de 1955, gena Yanomami, em 1992, centro da crise huma-
Da esquerda para a direita, os
se estabeleceu em São Paulo e foi a partir de nitária que vemos atualmente tomar os noticiários
artistas ianomâmi que participam então que começou a se desenvolver como fotó- de todo o país. “A demarcação foi essencial para o
da exposição: Ehuana Yaira, Dario grafa, registrando – sem falar uma palavra de governo entender que tem um território ali que já
Kopenawa, Davi Kopenawa,
Joseca Mokahesi e Morzaniel português sequer na época – grupos margina- está ocupado, onde vivem essas pessoas. A sobre-
Iramari, com Claudia Andujar lizados para revistas brasileiras e internacionais. vivência delas depende disso.”
*
MISS V
FOTOS: Alê Virgílio, Amanda Melo, André Ligeiro, Fabio Cordeiro, João Sal, Julia Assis, Kenji Nakamura, Lali Moss,
Leca Novo, Lu Prezia, Luis Felipe, Renato Wrobel, Ricardo Baiano, Roberto Filho, Sthefany Barros e Thiago Bruno
COM LUDMILLA COMO ATRAÇÃO PRINCIPAL, O BAILE DA VOGUE
TROUXE ESTE ANO PARA OS SALÕES DO COPACABANA PALACE UMA
VIAGEM ONÍRICA E FANTÁSTICA, REUNINDO UM TIME POTENTE DE
CELEBRIDADES, AMIGOS DA MODA E FOLIÕES FASHIONISTAS NO
GALA MAIS ESPERADO DO ANO. CONFIRA TUDO O QUE ROLOU – E
QUEM BRILHOU – NESTE SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO
PAT R O C Í N I O :
APOIO:
Bianca Dellafancy
TAPETE
AMIR SLAMA
AZUL
O tradicional red carpet de uma
festa de gala ganhou um novo
tom no Baile da Vogue 2023: azul.
Essa foi a cor escolhida pelo
Banco Master para colorir o
tapete que recepcionou os
convidados — o nosso blue
carpet. Após cruzar a passarela, já
nos salões da festa, foi a vez de
personagens brilhantes darem as
boas vindas, sempre em
ROBSON NUNES
interações divertidas.
AMANDA WELLSH
FLÁVIA ALESSANDRA
Xamã e Majur
De cima para baixo, da esquerda para a direita: Bárbara Öberg, Déia Lansky,
Nô Mello, Maria Laura Neves, Vívian Sotocórno, Luxas Assunção, Sam
Tavares, Bruno Costa, Thiago Baltazar, Laís Franklin, Paula Merlo, Heitor
Ferreira. No chão: Karina Yamane e Júlia Filgueiras José Loreto
Dudu Bertholini
PROMOVOGUE
MISS V
LETÍCIA CORTES
TODOS OS
SENTIDOS
Uma das surpresas da festa foi a
experiência multissensorial que a
Mastercard proporcionou em seu
espaço. Em uma união entre
tecnologia e arte, projeções
convidavam à contemplação e a
refletir sobre os momentos que não
têm preço. Entre os convidados da
marca, estava a estilista Letícia
FERNANDO HERBERT BAZINHO FERRAZ E MARCELA ALVIM
Cortes, em sua estreia no baile.
LEANDRO SIMÕES, BYANCA FREITAS, ADÍLSON GALLETI E GUAÍBA SOUZA JULIANA SOUZA
MANOELA MAURO E SARAH BUCHWITZ
THALI E GABI ZUKERAM KADU DANTAS JOJO TODYNHO
UM
ESCÂNDALO!
A noite do Baile da Vogue 2023
esquentou com Scandal,
fragrância de Jean Paul
Gaultier que é pura
sensualidade. As versões
feminina (com notas de
gardênia, mel e patchouli) e
masculina (com sálvia,
caramelo e vetiver) foram
representadas por nomes
como Jojo Todynho e Kadu
ARIELLA MOURA ÍSA VIT
Dantas em nosso gala.
Mariana Ximenes e
Luana Génot
CINNARA LEAL
GIOVANNA NADER
CAMILA QUEIROZ
BRILHO
ÚNICO
Toda mulher tem um brilho só seu, e
foi isso o que Eudora celebrou no
Baile da Vogue 2023. Entre suas
ações, a marca criou um espaço
superiluminado para clicar quem
por lá passasse — e todos puderam
levar o retrato. A iniciativa fez parte
da campanha Meu Brilho Único de
Carnaval, que evidencia o brilho das
ERIKA JANUZA GIOVANNA LANCELLOTTI
mulheres nessa época festiva.
OIAPMAS ACINÔM
FASHION
& TECH
Com décor holográfico,
o QG de iPlace reuniu itens
do portfólio de acessórios
Originais iPlace. O ator Henri
Castelli foi o anfitrião da
marca na festa e apresentou
essas criações, que vão das
indispensáveis capas para
iPhone a chaveiros para
AirTag. Ao todo, são sete
linhas de produtos: Pampas
(com couro nobre), Floripa,
Rio, Beagá, Noronha,
Fortaleza e Sampa (ideal
para o dia a dia).
Karinah
Luiza Brasil
Karinah
PROMOVOGUE
MISS V
TAMI BITTENCOURT, MARI MARIA, IARA GUIMARÃES, FERNANDA CAMPOS, HANNER BONI, JULIA SAMPAIO,
ANDRÉ CINTRA (PRESIDENTE DA AMEND COSMÉTICOS), ANA LUIZA SIMÕES, MARILIA BENETTON,
VALESCA POPOZUDA ANA CAROLINA JORGE, GABRIELA VERSIANI, MARÍLIA CELINI E JÉSSICA TURINI
LORE IMPROTA
ANTES E
DURANTE
O Baile da Vogue 2023 teve início bem
antes do dia D. Houve, por exemplo,
credenciamento na sede do C6 Bank,
em São Paulo, assim como sessões de
skincare com a linha antissinais Bright
Boost, de Neutrogena, usada por
Thaynara OG, Lore Souza e Yasmin
Stevam. No dia, os squads de
Intimissimi e Calzedonia mostraram
que lingerie e legwear têm passe livre
em looks de gala, e 3 Corações
recarregou a energia dos convidados LAURA FERNANDEZ, FERNANDA LIZ, MARIANA
JADE MAGALHÃES XIMENES, RHAY POLSTER E LAIS OLIVEIRA
com seu menu de cafés especiais.
Alcione
Carol Trentini e
Thales Bretas Anna Carolina Bassi
horizontais, dividir o processo criativo para que a pessoa que está Seriam a Viola Davis e a Michelle Obama, elas representam um
pregando o botão entenda onde aquela coleção vai chegar. Dá muito poder pessoal e coletivo, a responsabilidade com as outras que virão.
mais trabalho chegar em um pertencimento coletivo. Não é só No Brasil, quando vesti a Sonia Guajajara, a Dona Jacira e a Carmen
chegar naquela semana de moda, mas é também sobre quem Lucia, fiquei muito agradecida.
construiu aquela roupa pisar naquele espaço.Porque é o único jeito
daquele espaço reverberar na transformação de todos. Acho que Luiz: Eu fico muito impressionado com as suas falas, Naya, a
nem acredito em transformação, porque acho "transformação" consciência que você tem. Eu gostaria que mais pessoas tivessem
muito colonizador. Acredito mais na experiência, experiência é essa consciência social, racial, do que elas são e representam no
muito melhor que transformar. mundo. O quanto isso faz diferença nesse universo, e nesse mundo
da moda também, sabe? Tanta moda sendo feita por nada, e a
Naya: O Luiz que entrou no SPFW tinha consciência, acreditava gente tem um país tão rico. Eu não tive isso quando era jovem,
que dava para chegar tão longe? esse acesso à informação... e a noção mesmo, tudo foi muito
Luiz: É engraçado ouvir isso de você, porque a gente passou o fim orgânico. Eu não tenho vergonha de nada, acho que fiz tudo muito
de semana do Baile da Vogue tão próximos, no mesmo quarto bonitinho e fui melhorando com o tempo. Mas também fui
inclusive, né? E é muito engraçado quando as pessoas da moda têm aprendendo com pessoas novas que já chegaram assim...não sei
esse tipo de visão, porque eu realmente acho que eu sou um operário se a palavra pode ser essa, poderosas mesmo, sabe? Com respeito
do mundo da moda, sabe? Não acho que eu cheguei em algum lugar, pelo que faz, com respeito pelo outro.
eu acho que eu consegui construir um trabalho com uns degraus Naya: Eu atormento muita gente! Olha...
que são sólidos. Eu não me acho "o" estilista, até acho mais Luiz: Mas isso é perceptível no seu trabalho. Imagina se há dez,
confortável inclusive não pensar nisso... A vaidade consome muito, 20 anos, a gente tivesse esses criadores chegando, o quanto a
ela acaba criando algumas pessoas muito cruéis na moda, e a moda gente já teria evoluído na moda.
às vezes é muito cruel. Mas sei que foram caminhos importantes Naya: Quando eu escolhi você como padrinho no Sankofa, eu fui
para várias pessoas. Sempre lembro de uma menina que entrou no sagaz, porque tive um padrinho incrível. O projeto teve início, meio
meu Instagram há muitos anos, numa época que eu não postava e fim, mas a gente segue percorrendo um caminho próprio. Segue
muitas fotos minhas. A gente sabe também historicamente porque rindo, vivendo. Quando eu olho para nós no Baile da Vogue,
a gente tem essa questão com foto, né? E aí eu sempre postava foto celebrando e nos divertindo, também é o resultado desse trabalho
de trabalho, foto de trabalho, foto de trabalho... Em algum que a gente antigamente pôde celebrar muito menos. Eu encontro
momento, eu publiquei uma foto minha, e a menina, que tinha uns com você e falo: "Que incrível, você vestiu a Maria Bethânia!".
8 ou 10 anos, me mandou uma mensagem, falando que ficou chocada Porque você fica meio assim "ai, tá tudo bem". Eu falo: "Luiz, não
quando viu meu rosto, porque ela entendeu que a vontade dela de está só incrível, está é perto de Deus. Sim, Maria Bethânia, Alcione
um dia participar desse universo poderia ser viável. Você se apresentar e Fafá de Belém é quem estão do lado de Deus, e quem vestiu elas
como a pessoa que está por trás daquele trabalho é importante como foi você!". E você fica rindo. Quando eu olho para o seu trabalho,
um recado para vários meninos e meninas. Quando eu era criança, eu vejo grandeza e acho importante afirmar. Porque, quando é
não havia pessoas pretas para dizer que era possível estudar moda. afirmado, a gente pensa: "Será que também podemos ser grandes
Hoje eu acho que é importante eu colocar minha cara assim em assim?". Você consegue dividir com os que estão vindo, para que a
algum lugar. Ainda não é confortável, mas é importante. gente também consiga jogar esse bastão para frente. Cada vez com
Naya: Representatividade. mais força e com mais conhecimento e, Deus queira, com mais
Luiz: Representatividade é uma prioridade na sua moda, né? apoios e investidores.
Naya:Quando fomos para o SPFW, entendemos que não podíamos Luiz: Exatamente, é o que a gente mais fala.
usar um corpo 36, que ele não representava a mulher que a gente veste
e acredita. Olhar para um casting diverso, olhar para quem são as
pessoas que eu visto, como eu consigo representá-las na passarela, (Continuação da página 61)
como eu consigo estabelecer o pertencimento e pluralidade dentro Isabela: Apesar de sermos dois cariocas
do que é Brasil, dentro do que eu acredito quanto sociedade. Tenho apaixonados por uma moda autenticamen-
um casting racializado desde que entrei no SPFW porque foi te brasileira, Isabela Capeto e Handred são
importantíssimo estabelecer socialmente essa representatividade. duas identidades bastante diferentes. Como
você descreve a estética da Handred?
Luiz: E você, tem alguém que você gostaria de vestir? André: É uma roupa muito pouco com-
Naya: Na vida? plicada, e isso veio um pouco sem querer.
Luiz: Porque a gente tem isso, né? Eu tive e é ótimo, eu ainda Sabia que queria trabalhar com tecidos
tenho algumas... naturais, não queria usar sintéticos por
Naya: Quem você tem vontade? causa do calor. Ao criar uma roupa com materiais naturais, ela
Luiz: Ai, eu queria vestir... pensa você vestir uma Beyoncé? E levar necessariamente não poderia ser grudada no corpo. Então era uma
o seu trabalho que é nacional e cheio de símbolos para ser mostrado roupa mais confortável, mais ampla. Não é uma montação, tem esse
para o mundo? É claro que a gente veste várias pessoas que são clima meio de férias mesmo você não estando de férias. Eu tive
poderosas, mas algumas são mágicas, né? Tem o sonho impossível alguma resistência no meu primeiro ano de loja em São Paulo, e
que eu sempre lembro, que é Nina Simone, imagina? depois vivemos uma certa evolução. Acho que a estética da Handred
Naya: Pensando no mundo, as mulheres que eu gostaria de vestir passa uma cultura, sabe? Cultura de conforto, uma roupa que
têm muita ligação com o empreendedorismo e a ancestralidade. qualquer pessoa pode usar. É uma tela em branco à personalidade
da pessoa, ao mesmo tempo é uma roupa que é facilmente identi-
ficada como Handred.
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