Qual É o País Mais Antigo Do Mundo

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 9

Qual é o país mais antigo do mundo?

Bruno Taurinho
·

O mundo muda muito, o que torna responder essa questão uma tarefa difícil

O mapa do mundo com suas fronteiras políticas, cuja última alteração


aconteceu em abril de 2016.

Para responder essa pergunta, primeiro é preciso entender o que é um país. E,

por definição, “país” é uma região geográfica que forma o território físico de um

Estado soberano.

Ou seja, é a união de soberania e território, sendo o primeiro mais importante, já

que é o que define se um país governa a si próprio sem interferência externa. A

parte territorial é um pouco volátil, já que territórios passam por pequenas

mudanças que muitas vezes não causam nenhum impacto na governabilidade.


Então, um país, pelo menos aqui, é aquele que se governa sem interferência

externa e que não passou por grandes mudanças territoriais desde então.

Dito isso, começamos a responder essa pergunta pelo nosso primeiro candidato,

o Irã. Com registros arqueológicos que datam do ano 3200 AEC, o Irã, ou a

Pérsia, pode ser considerado o primeiro país a se formar e a se governar como

hoje entendemos esses conceitos, mas a região é uma das que mais passou por

mudanças no mundo e o Irã só é o “mesmo” desde 1925, com o fim da Dinastia

Qajar e o início do reinado dos Pahlavi.

Depois temos o Egito, que foi unificado pela primeira vez em 3100 AEC, sob o

governo do faraó Menes (ou talvez Narmer, não se sabe ao certo). Mas, de lá para

cá, os egípcios foram conquistados pelos macedônios, romanos, árabes,

otomanos, napoleônicos e ingleses. O Egito de hoje só é o mesmo desde 1961,

com a dissolução da República Árabe Unida.

A Índia, cujo nome local, em sânscrito/hindi, é Bharat, é batizada assim por

causa do imperador Bharata, que unificou a região no ano de 2000 AEC. Mas

isso é lenda. Traçar uma definição política da Índia é muito difícil, mas o ano

mais aceito é o de 322 AEC, data do início do Império Máuria, quando

Chandragupta Maurya uniu a maior parte do subcontinente indiano.

Nessa mesma época, muitos respondem essa pergunta citando países como

Sudão, Grécia, as Coreias, Mongólia, Somália, Armênia. Todos esses países

foram formados, inicialmente, entre os anos de 1070 AEC e 190 AEC mas,

novamente, passaram por grandes mudanças territórias e trocas de soberania.


Outras respostas comuns são Etiópia, San Marino e Japão. Mas a Etiópia,

fundada como o Império de Axum no ano 50, foi ocupada pela última vez em

1941, durante a II Guerra Mundial, pela Itália e, após recuperar sua soberania,

ocupou a vizinha Eritreia até 1995. San Marino foi criado em 301, mas foi

ocupado pelos Estados Papais em 1739 e pelos Aliados, ao fim da II Guerra, em

1945. Curiosamente, San Marino possui a constituição mais antiga do mundo

ainda em uso, pois utiliza a mesma desde 1600.

Já o Japão tem uma das histórias mais longas e ricas do mundo, e essa

longevidade confunde muita gente. De acordo com as lendas locais, o país foi

fundado em 660 AEC. Mas em se tratando de história, os primeiros registros do

Japão como um país datam de 400 AEC, durante o período Kofun. Mesmo

assim, o país mudou muito e chegou a ser um grande império, que teve seu fim

na II Guerra. Com isso, o país foi ocupado pelos Aliados, mais especificamente os

EUA, e só retomou sua soberania com o Tratado de São Francisco, em 1952.

Muitos historiadores não entendem esse governo provisório americano como

uma ocupação e tratam o Japão de hoje como o mesmo desde 1868, quando a

Restauração Meiji acabou com o shogunato e a ilha ficou, pela primeira vez, toda
sob o mesmo governo.
O mapa mais antigo do Japão do qual se tem notícia, desenhado em 1602 pelo
jesuíta italiano Matteo Ricci

Depois do Japão, temos a formação da Bulgária, Sérvia, Marrocos, Camboja,

França, Myanmar, Rússia, Ucrânia, República Checa, Noruega, Croácia,

Hungria, Islândia, Polônia, Dinamarca e Montenegro. Essa grande lista de países

tem suas origens entre os anos de 681 e 1042, mas, mais uma vez, passaram por

grandes mudanças.

Nesse intervalo há o surgimento de um futuro candidato, o Reino de Wessex, no

século VII. Esse reinado é a semente da Inglaterra, unificada no início do século

X, com o rei Æthelstan. Mas a Inglaterra se tornou Grã-Bretanha em 1707 e

Reino Unido em 1801, além de ter passado por uma série de mudanças nesse

intervalo — como a independência da Irlanda, por exemplo, o que torna o Reino

Unido de hoje o mesmo apenas desde 1922.


Seria a Turquia? Como Império Otomano, o país é independente desde 1243,

mas perdeu grande parte de seu território no fim da I Guerra Mundial, em 1918,

mas não sua capital, Ancara, é importante lembrar. Talvez a Rússia? A expulsão

de mongóis e tártaros em 1480 é uma data tradicional da formação do país, mas

não podemos nos esquecer da União Soviética, que só acabou em 1991. Que tal

a Suécia? Apesar de ter deixado a União Kalmar (formada por quase toda a

Escandinávia habitável) em 1523, se uniu novamente com a Noruega, entre 1814

e 1905.

Quando Suécia e Noruega se uniram novamente sob um mesmo monarca (1814-


1905), usaram uma bandeira baseada na do Reino Unido.

O Butão existe em quase contínua autonomia desde o século X e foi unificado

em 1634, após a Batalha dos Cinco Lamas, que expulsou os tibetanos. Mas

ficamos no “quase” porque o Reino Unido transformou o país em um

protetorado entre 1910 e 1947 — que é quase a mesma situação do Nepal, apesar

de sua situação de protetorado ter terminado em 1923. Já Portugal teve seu

reinado restaurando em 1640, mas o vasto reino continental passou por muitas

mudanças territoriais desde então, principalmente com a independência do

Brasil, em 1822.
Outro grande candidato é a China. Mas, apesar de sua história milenar, o país

como o que conhecemos hoje só pode, politicamente, ser tratado como o mesmo

partir de 1644, quando a dinastia Qing expulsou os Ming e expandiu

consideravelmente o território chinês. Mas é justamente essa expansão que nos

faz reconsiderar a idade da China, já que ela não durou, graças a eventos como

como a Revolução Xinhai, a Guerra Civil, a independência da Mongólia e a, ainda

não resolvida, situação de Taiwan.

A Dinastia Qing no auge de sua extensão, no final do século XVIII.

Omã, independente desde 1745 como o Sultanato de Mascate, ocupava um

território muito menor e, apenas em 1820, na união com o Sultanato de Omã —


que hoje dá nome ao país (ainda um sultanato!) — é que ele passou a ser o que é

hoje. Já a Espanha perdeu sua soberania pela última vez na ocupação de

Napoleão, mas isso acabou em 1813. Só que, como Portugal, teve seu reino

dividido e diminuído nos séculos seguintes, com as incontáveis independências

na América Latina, além do Marrocos e da Guiné Equatorial, já na segunda

metade do século XX. E como a situação é sempre instável na Catalunha e no

País Basco, a Espanha pode sempre diminuir.

E os Estados Unidos? Os americanos conquistaram sua independência em

1776, com a rendição dos britânicos em 1781 e o reconhecimento internacional

em 1783, com o Tratado de Paris. Só que, nessa época, não ocupada um terço de

seu território e, eventos como a Compra de Louisiana na mão dos franceses (por

U$ 15 milhões), a Anexação do Texas e a Cessão Mexicana fizeram toda a

diferença. As duas últimas aquisições, do Alasca e do Havaí, aconteceram em

1867 e 1898, respectivamente.

Então, chegamos enfim a nosso país mais antigo do mundo. E é a pequena e

neutra Suíça. A Velha Confederação Suíça foi fundada em 1300 e marca a

criação do país, mas o território passou por várias mudanças, além de ocupações

da França e da Áustria no século XIX. Apenas com a queda do Império

Napoleônico e o Congresso de Viena (que definiu sua famosa neutralidade) é que

a Suíça, em 1815, se tornou, exatamente, o que é até hoje.


A bandeira da Suíça, o país mais antigo do mundo por soberania e território
atual

A título de curiosidade, o segundo país mais antigo do mundo, seguindo essa

lógica, é o Uruguai. O antigo território da Cisplatina se tornou independente em

1828, quando Brasil e Argentina assinaram o Tratado de Montevidéu e

encerraram a Guerra da Cisplatina. Aí você se pergunta, e o Brasil? Além da

perda da Cisplatina naquele ano, há ainda a anexação oficial do Acre, que só

aconteceu em 1903, após a assinatura do Tratado de Petrópolis, negociado pelo

Barão do Rio Branco. Apesar do Acre possuir um território pequeno (164 mil

km²) em relação ao tamanho do Brasil (8,5 milhões de km²), é uma região

importante, que fortaleceu a economia brasileira com a extração da borracha.

Mesmo assim, é uma questão de interpretação, e o Brasil pode ser considerado o

segundo país mais antigo do mundo nesses moldes.

E o país mais novo? Aí é o Sudão do Sul, que se tornou independente do Sudão

em 9 de julho de 2011, após um referendo com 98.83% de apoio da população

local.
Esse texto foi originalmente publicado como uma resposta a mesma pergunta

no Quora, em junho de 2016.

Fonte:

https://medium.com/neworder/qual-%C3%A9-o-pa%C3%ADs-mais-antigo-do-
mundo-6d940af9ce3b

Você também pode gostar