Mo 5893 - Aldélio
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SISTEMAS MECATRÔNICOS E A
GUERRA DO FUTURO
Rio de Janeiro
2018
TC QEM ALDÉLIO BUENO CALDEIRA
Rio de Janeiro
2018
C146s Caldeira, Aldélio Bueno
CDD 358.2
TC QEM ALDÉLIO BUENO CALDEIRA
COMISSÃO AVALIADORA
_______________________________________________________
Maj Cav LUIZ ADOLFO SODRÉ DE CASTRO JÚNIOR – Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_______________________________________________________
Cel QEM ARMANDO MORADO FERREIRA – 1º Membro
Instituto Militar de Engenharia
_______________________________________________________
TC QEM OSVALDO DA CRUZ MORETT NETTO – 2º Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
AGRADECIMENTOS
Ao Maj Cav Luiz Adolfo Sodré de Castro Júnior por ter me orientado neste
trabalho.
O presente trabalho tem por objetivo identificar quais tecnologias serão críticas
para o desenvolvimento e a utilização de sistemas mecatrônicos militares, no Exército
Brasileiro, em um cenário de guerra do futuro. Os cenários prospectivos para as
guerras do futuro descrevem um ambiente volátil, incerto, complexo e ambíguo,
intensamente influenciado pela ciência, pela tecnologia e pela inovação, com especial
destaque para os sistemas mecatrônicos autônomos. Portanto, considerando a
revolução tecnológica militar em curso, o processo de transformação do Exército
Brasileiro e a premente necessidade de racionalização de recursos na busca
incessante pelo aumento da efetividade militar, uma abordagem foi concebida,
visando a identificação das tecnologias críticas. Esta abordagem emprega conceitos
estabelecidos no planejamento baseado em capacidades, na gestão do ciclo de vida
de sistemas e de materiais de emprego militar, na análise funcional de sistemas e na
arquitetura funcional de sistemas. Ademais, as tecnologias críticas são apresentadas,
bem como os aspectos doutrinários relativos ao emprego de sistemas mecatrônicos
militares autônomos em operações militares, destacando-se o emprego de equipes
híbridas de combate e de enxames de sistemas autônomos. Por fim, o presente
trabalho indica a necessidade de desenvolvimento doutrinário, científico, tecnológico
e de recursos humanos nas áreas de inteligência artificial e de fontes compactas de
energia, voltados para sistemas mecatrônicos autônomos militares, considerando os
princípios de geração de capacidades preconizados pelo DOAMEPI (Doutrina,
Organização ou processos, Adestramento, Material, Educação, Pessoal e
Infraestrutura).
The present work aims to identify which technologies will be critical for the
development and use of military mechatronic systems in the Brazilian Army in a future
war scenario. Prospective scenarios for future wars describe a volatile, uncertain,
complex, and ambiguous environment, intensively influenced by science, technology,
and innovation, with emphasis on autonomous mechatronic systems. Therefore,
considering the ongoing military technological revolution, the process of transformation
of the Brazilian Army, and the pressing need for resources rationalization in the
continuous search to improve military effectiveness, an approach has been conceived
to identify critical technologies. This approach employs concepts stated in capacity-
based planning, life cycle management of military systems and materiels, functional
system analysis, and functional system architecture. In addition, critical technologies
are presented, as well as the doctrinal aspects related to the use of autonomous
military mechatronic systems in military operations, in particular the use of hybrid
combat teams and swarms of autonomous systems. Finally, the present work indicates
the need for doctrinal, scientific, technological and human resources development in
the areas of artificial intelligence and compact energy sources, devoted to autonomous
military mechatronic systems, considering the established principles of capacity
development by DOTMLPF (Doctrine, Organization, Training, Materiel, Leadership
and Education, Personnel, and Facilities).
1. INTRODUÇÃO
Nacionais de Defesa:
II. Assegurar a capacidade de Defesa, para o cumprimento das missões
constitucionais das Forças Armadas.
[...] Leva em conta a necessidade de contínuo aperfeiçoamento das técnicas
e da doutrina de emprego das Forças, de forma singular ou conjunta, com
foco na interoperabilidade; o adequado aparelhamento das Forças Armadas,
empregando-se tecnologias modernas [...]
VII. Promover a autonomia produtiva e tecnológica na área de defesa.
Significa manter e estimular a pesquisa e buscar o desenvolvimento de
tecnologias autóctones, sobretudo no que se refere a tecnologias críticas[...]
(BRASIL, 2016c).
Em consonância com a PND (BRASIL, 2016c) e com a Estratégia Nacional de
Defesa (END) (BRASIL, 2016b), o Plano Estratégico do Exército 2016-2019 (PEEx
2016-2019/ 3ª Edição-2017) (BRASIL, 2017a) estabelece áreas e linhas de pesquisa
aplicáveis aos projetos de desenvolvimento de PRODE de curto prazo (2016-2019),
nas quais figuram como prioridade 5 e 6, respectivamente, Sistemas autônomos
(Robótica) e Inteligência Artificial (BRASIL, 2017a).
Com base nos documentos de Estado supracitados, verifica-se a relevância da
área de ciência e tecnologia para a expressão militar do Poder Nacional e, em
particular, a presença de áreas e linhas de pesquisa fundamentais para o
desenvolvimento de SMMA no âmbito do EB.
Neste contexto, o problema de pesquisa consiste em identificar tecnologias
críticas e relevantes para o EB, que estarão presentes em Sistemas Mecatrônicos
Militares em um cenário de guerra do futuro. Ou ainda, formulando o problema
segundo uma interrogação:
1.2 OBJETIVO
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2014a).
Desde a década de 90, verifica-se a preocupação com a inserção de SMMA no
EB, sendo, um exemplo, o trabalho de conclusão do Curso de Comando e Estado-
Maior da ECEME realizado pelo Maj Inf Luiz Celso de Oliveira intitulado “A robótica e
a Força Terrestre” (OLIVEIRA, 1993).
Oliveira (1993) lança luz sobre as potencialidades do uso de robôs pelo EB,
analisando as condições em que o soldado poderia ser substituído pelo robô. Assim,
realizou uma análise de aspectos comportamentais e psicológicos do soldado em
combate que resultam na perda de eficiência no campo de batalha: medo; aversão a
violência; e resistência em combate.
Nota-se que tais óbices não ocorrem com um robô soldado e, portanto, seria
interessante substituir soldados por robôs segundo estes aspectos.
Segundo Oliveira (1993), o sistema robótico incorpora elementos tecnológicos
das seguintes áreas:
• sensores;
• sistemas de posicionamento;
• dispositivos mecânicos;
• computação;
• comunicações; e
• inteligência artificial.
Estes elementos são organizados em quatro componentes:
• percepção,
• planejamento,
• mecanismos e
• controle.
Oliveira (1993) enfatiza a importância da Inteligência Artificial (IA) para a
evolução da robótica militar, afirmando que: “Um robô militar, completamente
autônomo, precisaria de um elevado nível de inteligência para atuar num ambiente
não controlado, como o campo de batalha” (OLIVEIRA, 1993).
O emprego de SMMA é ricamente exemplificado por Oliveira (1993), dentre os
quais é citado o sistema Goliah usado pela Alemanha durante a 2ª Guerra Mundial.
O Goliah era um veículo terrestre não tripulado (VTNT) sobre lagartas,
controlado remotamente, via fio, que transportava 60 kg de explosivo e era utilizado
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(FERREIRA, 2004).
Os SCF foram inicialmente concebidos pelo Exército Americano (EA) a fim de
atender as demandas decorrentes de análises militares de cenários de guerras do
futuro. Além disso, estas necessidades foram estudadas no contexto da Revolução
de Assuntos Militares (RAM).
Atualmente, os EUA lideram uma revolução tecnológica sem precedentes, ao
mesmo tempo em que procedem profundas transformações nas suas forças
armadas, com uma tendência influenciando a outra (FERREIRA, 2004).
A experiência militar americana nos conflitos armados no final do século XX, bem
como os do início do século XXI, permitiu a identificação de vulnerabilidades nas
ações militares americanas.
o inimigo procura a vitória por evitar a derrota, explorando a sensibilidade dos
EUA a baixas, a ineficácia da precisão do armamento sofisticado se não há
densidade nos alvos, e a vulnerabilidade dos norte-americanos durante a
concentração estratégica (FERREIRA, 2004).
Desta forma, o processo de transformação do EA modificou a doutrina, a
tecnologia e o treinamento militar a fim de atender os cenários de guerra regular e
irregular e aos conflitos em amplo espectro.
[...] verifica-se que, mesmo possuindo um poder militar hegemônico, os EUA
sentem a necessidade de transformação, em face de novas realidades
geopolíticas, que mudaram radicalmente o cenário de um confronto
convencional contra um inimigo simétrico, para uma variedade de conflitos
menores, contra inimigos assimétricos, e em ambientes cada vez mais hostis
e dinâmicos (FERREIRA, 2004).
O EA tem dedicado grande atenção aos conflitos de baixa intensidade, aos
conflitos urbanos e às operações contraterrorismo. Portanto, a tecnologia tem sido um
aliado valioso nas operações de inteligência militar, missões de vigilância, e em
operações ofensivas e defensivas, reduzindo o número de baixas na tropa, por
minimizar a exposição dos militares a situações de risco elevado, e aumentando a
precisão dos sistemas de armas, reduzindo os danos colaterais e aumentando o poder
de neutralização das forças inimigas.
Tal qual Amarante (2003), Ferreira (2004) também aborda as funções básicas
do combate: sensoriamento, processamento e atuação (S-P-A), as quais estabelecem
um ciclo conveniente para automatizar o combate.
O ciclo S-P-A além de ser adequado para um SMMA completamente autônomo,
também pode ser aplicado ao combate, podendo ser o sensoriamento visto como uma
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Javelin, VANT armados com mísseis Hell Fire, assim como VANT e VTNT de
vigilância, dentre outros.
A indústria de defesa trabalha com requisitos operacionais e técnicos rigorosos
e os SMMA se inserem neste contexto. Desta forma, deve-se atentar para os
requisitos operacionais apresentados por Ferreira (2004):
• interoperabilidade combinada, isto significa ser compatível com
sistemas de outras forças e/ou agências;
• comando de batalha em rede, possibilitar ação de comando e alerta
situacional para todos os elementos da rede, SMMA e soldados;
• letalidade em rede, capacidade de empregar força proporcional
variando de não letal a letal em rede;
• transportabilidade, ser transportável por meio aéreo, terrestre e
marítimo;
• apoiabilidade, reduzida cauda logística;
• treinamento, permitir fácil treinamento para uso individual e coletivo,
em ambiente de simulação real ou virtual;
• sobrevivência, se refere a proteção ao soldado.
Reis (2010) afirma que a RAM em curso elege como prioritárias a evolução da
tecnologia do armamento, da tecnologia da informação, da organização militar e da
doutrina militar. Além disso, enfatiza a dimensão e o emprego em quatro áreas da
guerra:
• guerra de informação,
• ataque em precisão,
• manobra dominante, e
• guerra espacial.
Uma vez mais, as funções básicas de combate propostas por Amarante (2003)
são relacionadas a três setores tecnológicos vislumbrados como estratégicos para
aumentar a capacidade militar (REIS, 2010):
• inteligência, vigilância e identificação;
• comando, controle, comunicação e processamento inteligente; e
• força em precisão.
Onde o primeiro setor corresponde à função sensoriamento, o segundo a função
processamento e o terceiro à função atuação.
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3. METODOLOGIA
4. TECNOLOGIAS CRÍTICAS
Ao analisar a Fig. 2, verifica-se que a função P, do ciclo S-P-A, pode ser realizada
por um subsistema centralizado de forma a atender as demandas de todos os
subsistemas. Tal centralização pode ser efetuada no subsistema de
processamento/inteligência. Por outro lado, não se vislumbra uma centralização das
funções S e A, do ciclo S-P-A, posto que o monitoramento do ambiente operacional
exige diferentes tipos de sensores: radares, câmeras para capitação de imagens,
microfones, etc., bem como a função atuação é diferente, por exemplo, nos
subsistemas de mobilidade e de armas.
Portanto, o subsistema de processamento/inteligência, no contexto dos SMMA,
é crítico, podendo influenciar, dependendo da arquitetura do sistema, todas as
capacidades e funcionalidades do SMMA.
Além disso, ao se buscar o aumento da autonomia, partindo dos sistemas
semiautônomos, passando pelos autônomos supervisionados e alcançando os
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trabalho, estas fontes, face à sua elevada portabilidade e aos seus severos requisitos
de engenharia, são, muitas vezes, aplicáveis aos Sistemas Mecatrônicos Militares
Autônomos. Logo, concerne ao presente trabalho apresentar as referidas fontes como
possíveis alternativas para futuros projetos de PD&I no contexto dos SMMA.
Um requisito crucial na seleção e no desenvolvimento de novas tecnologias para
um subsistema de energia de um SMMA é a elevada energia dispendida por unidade
de massa, denominada energia específica. Consequentemente, os sistemas que
empregam processos de microcombustão têm crescido em importância, pois
hidrocarbonetos líquidos tem uma energia específica típica de 45 MJ/kg, enquanto as
melhores baterias da atualidade possuem uma energia específica típica de 1,2 MJ/kg
(FERNANDEZ-PELLO, 2002). Logo, meso e micromotores de combustão interna com
eficiência maiores que 3% são alternativas competitivas frente às típicas baterias
(FERNANDEZ-PELLO, 2002). Entretanto, sistemas com eficiência maiores que 40%
já foram construídos (JU; MARUTA, 2011).
A saber, os termos meso e micro no contexto de combustores, usualmente,
referem-se ao comprimento característico da câmara de combustão, respectivamente,
da ordem de 10 mm e de 1 mm (JU; MARUTA, 2011).
Meso e micromotores de combustão interna abrangem vários sistemas como
motores alternativos, ciclo Otto, Diesel e Stirling, motores rotativos (como os motores
Wankel), turbinas a gás e motores à jato.
Os meso e micromotores à jato são indicados em atuadores e para o controle de
atitude de microssatélites (JU; MARUTA, 2011). Contudo, estes sistemas podem ser,
em alguns casos, empregados na propulsão adicional de projéteis (OLIVEIRA et al.,
2017). As dimensões destes micropropulsores podem variar muito, face à tecnologia
de fabricação adotada: micromoldagem, usinagem de precisão e as tecnologias
usadas na fabricação de circuitos impressos (WALTHER; AHN, 2011). As câmaras de
combustão destes propulsores variam de 0,5 mm3 a 2000 mm3 (JU; MARUTA, 2011).
É digno de nota que o Instituto Militar de Engenharia tem realizado pesquisas
com mesopropulsores com diâmetro de câmara de combustão menor que 10 mm e
com a garganta da tubeira menor que 1 mm (OLIVEIRA et al., 2017).
Os micromotores alternativos, rotativos e as turbinas a gás podem ser utilizados
para a geração de energia elétrica. A tabela 5 informa valores típicos para o volume
da câmara de combustão e para a potência gerada por meso e micromotores de
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Nas pequenas escalas, assim como nas grandes escalas, a turbina a gás se
destaca na relação potência por volume. Isto significa que, dentre os sistemas listados
na tabela 5, a microturbina a gás fornece mais potência com um tamanho menor,
estando alinhada com o requisito de ser uma fonte compacta de energia.
O sistema termofotovoltaico funciona de forma análoga às células solares de
conversão fotovoltaica. Estas convertem a radiação solar em energia elétrica,
enquanto o sistema termofotovoltaico converte a radiação térmica em energia elétrica.
Frequentemente, o sistema termofotovoltaico requer um microcombustor a fim de
fornecer radiação térmica a partir da queima de um combustível. Segundo Bitnar et
al. (2013), o recorde de eficiência de um sistema termofotovoltaico é de 4%,
fornecendo 50 W. Ademais, o interesse do Exército Americano por este sistema existe
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desde a década de 60 (GILMAN et al., 2008), o que revela o longo tempo para o
desenvolvimento desta tecnologia, a qual, nos dias de hoje, ainda não está totalmente
estabelecida, pois poucos protótipos se tornaram produtos comerciais.
A Fig. 6 apresenta um sistema termofotovoltaico com um queimador central e
com painéis termofotovoltaicos ao redor do queimador.
VANT e VTNT. Esta estratégia também pode ser usada para carregar baterias.
Assim como as baterias convencionais, as células de combustível produzem
energia elétrica a partir de reações eletroquímicas. Nestes sistemas, o combustível
funciona como anodo e o oxigênio como catodo. Ou ainda, “uma célula de combustível
é um equipamento que produz eletricidade por meio da conversão de hidrogênio e
oxigênio em água” (FAULKNER, 2017, tradução do autor). Além disso,
hidrocarbonetos também podem ser usados como fornecedores de hidrogênio para a
reação eletroquímica na célula de combustível.
Segundo Faulkner (2017), um exemplo de veículo aéreo não tripulado militar que
usa células de combustível é o Global Observer, o qual tem uma autonomia de 168
horas e alcança velocidades de 42 km/h.
As células de combustível, os sistemas termofotovoltaicos e os termoelétricos
não possuem partes móveis e, em geral, são silenciosos, o que favorece sua utilização
militar.
As células solares realizam a conversão fotovoltaica, transformando a energia
proveniente da radiação solar em energia elétrica. Estas células apresentam grande
potencial como fonte de energia para VANT ou mesmo como fontes de energia para
a recarga de baterias.
O primeiro voo de um VANT com células solares como fonte de energia para a
propulsão data de 1974. Este VANT, denominado Sunrise I, possuía 9,76 m de
envergadura e 12,25 kg, tendo atingido 100 m de altura e voado por 20 minutos
(VIDALES, 2013).
Pequenos VANT, como o PUMA RQ-20B, com uma área de asa
aproximadamente igual a 7160 cm2, seriam indicados para utilizar células solares
como fontes de energia (VIDALES, 2013). O tamanho da área de asa é relevante, pois
sobre as asas são instaladas as células solares. Logo, quanto maior a área coberta
por células solares, maior será a energia elétrica suprida ao sistema.
O PUMA RQ-20B tem autonomia de aproximadamente 3 horas, com alcance de
15 km e massa igual a 6,4 kg. Com o uso de células solares sobre suas asas o PUMA
RQ-20B ampliaria indefinidamente sua autonomia (LIA, 2017). Isto seria possível se
as baterias tivessem uma autonomia maior que o período sem radiação solar e se
durante o período que o VANT recebe a radiação solar parte desta energia fosse
utilizada para recarregar as baterias.
50
Figura 7 – Veículo aéreo não tripulado com propulsão elétrica suprida por células solares –
Pathfinder.
grandes escalas, como por exemplo motores alternativos e turbinas a gás, para meso
e microescalas trazem muitos desafios tecnológicos e novos fenômenos físicos
passam a serem relevantes. O sucesso destes novos sistemas depende de
investimentos na formação de recursos humanos, em PD&I em processos de
fabricação, materiais, e em pesquisa básica. Portanto, a redução do tamanho dos
sistemas supracitados não é um mero fator de escala.
52
5 OPERAÇÕES E DOUTRINA
Este capítulo tem por objetivo identificar possíveis influências nas operações e
na doutrina decorrentes do emprego de sistemas mecatrônicos militares autônomos
na guerra do futuro. Para tal, este capítulo é divido nas seguintes seções:
• identificar as motivações relacionadas a implantação dos SMMA nas FA.
• identificar aplicações e aspectos doutrinários relacionados ao emprego
dos SMMA nas operações militares; e
• identificar os aspectos relativos à doutrina e ao emprego de enxames e
de equipes híbridas de combate.
5.1 MOTIVAÇÕES
forma de robôs. O fato é que as pessoas e, antes de tudo, a vida delas são o
principal custo. Além disso, treinar, alimentar e suprir os soldados durante a
guerra é caro, e depois que os soldados deixam o serviço, há uma vida inteira
de cuidados médicos para cobrir (SAPATY, 2015, tradução do autor).
Adicionalmente, os custos com os materiais de emprego militar, principalmente
os com elevada tecnologia, têm crescido severamente. De acordo com Scharre
(2014b), o número de navios e de aviões de combate tripulados nas forças armadas
americanas, entre 2001 e 2008, reduziu, respectivamente, em 10% e em 20%. Por
outro lado, os custos por unidade de material cresceram. Como exemplo, os custos
com uma única aeronave tripulada de combate típica subiram da ordem de 120
milhões de dólares para aproximadamente 200 milhões de dólares entre 2000 e 2010
(SCHARRE, 2014b).
A redução do orçamento das Forças Armadas tem um impacto na doutrina
militar, a qual precisa se adaptar a esta nova realidade e simultaneamente aumentar
sua efetividade. A ciência e a tecnologia são aliadas neste processo de adequação.
“O vencedor da revolução robótica não será quem desenvolve esta tecnologia
primeiro ou mesmo quem tem a melhor tecnologia, mas quem descobre como melhor
usá-la” (SCHARRE, 2014, tradução do autor).
6 CONCLUSÕES
de SMMA de baixo custo poderão ser mais efetivos que um único SMMA de custo
elevado.
Grande desenvolvimento tecnológico será demandado para viabilizar a correta
comunicação entre soldados e SMMA. A interface homem-máquina ainda carece de
grandes avanços.
A doutrina será a chave para a efetiva utilização dos SMMA na Guerra do Futuro,
sendo tão importante quanto o próprio desenvolvimento tecnológico.
Os SMMA serão incialmente empregados nas seguintes missões:
• inteligência;
• reconhecimento;
• vigilância;
• aquisição de alvos;
• comando e controle;
• guerra eletrônica;
• identificação, localização, designação de alvos;
• logística; e
• outras missões (detecção QBRN, detecção de artefatos explosivos
improvisados etc.).
Porém, a medida que a cultura das FA e da comunidade mundial for mudando, haverá
uma tendência em aumentar a letalidade dos SMMA. Posto que, na atualidade,
questões éticas e legais quanto ao uso de sistemas autônomos letais permanecem
sem resposta.
As atividades logísticas terão um grande impulso com o uso dos SMMA,
sobretudo pelo grande interesse de empresas civis no desenvolvimento destas
tecnologias autônomas. Comboios com suprimentos militares poderão ser
completamente autônomos. Contudo, o grau de autonomia aumentará ao longo do
tempo. Inicialmente, veículos autônomos seguidores comporão comboios que serão
liderados por um veículo tripulado ou remotamente pilotado. Veículos remotamente
pilotados de baixo custo poderão seguir a frente de comboios em área com elevado
risco de minas e explosivos improvisados de modo a proteger as vidas humanas e os
recursos materiais presentes no comboio.
Kits para conversão de veículos tripulados em autônomos serão desenvolvidos
como alternativa de baixo custo e visarão o aproveitamento do material e da cadeia
68
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