Mo 5893 - Aldélio

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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

TC QEM ALDÉLIO BUENO CALDEIRA

SISTEMAS MECATRÔNICOS E A
GUERRA DO FUTURO

Rio de Janeiro

2018
TC QEM ALDÉLIO BUENO CALDEIRA

SISTEMAS MECATRÔNICOS E A GUERRA DO FUTURO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Escola de Comando
e Estado-Maior do Exército, como
requisito parcial para a obtenção do
título de Especialista em Ciências
Militares.

Orientador: Maj Cav LUIZ ADOLFO SODRÉ DE CASTRO JÚNIOR

Rio de Janeiro
2018
C146s Caldeira, Aldélio Bueno

Sistemas mecatrônicos e a guerra do futuro / Aldélio Bueno Caldeira一2018.


75 f. : il. ; 30 cm.

Orientação: Luiz Adolfo Sodré de Castro Júnior.


Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares)一Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2018.
Bibliografia: f. 69-75.

1. GUERRA DO FUTURO 2. MECATRÔNICA 3. SISTEMAS AUTÔNOMOS 4.


IDENTIFICAÇÃO DE TECNOLOGIAS 5. ENXAMES I. Título.

CDD 358.2
TC QEM ALDÉLIO BUENO CALDEIRA

SISTEMAS MECATRÔNICOS E A GUERRA DO FUTURO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Escola de Comando
e Estado-Maior do Exército, como
requisito parcial para a obtenção do
título de Especialista em Ciências
Militares.

Aprovado em 06 de novembro de 2017.

COMISSÃO AVALIADORA

_______________________________________________________
Maj Cav LUIZ ADOLFO SODRÉ DE CASTRO JÚNIOR – Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_______________________________________________________
Cel QEM ARMANDO MORADO FERREIRA – 1º Membro
Instituto Militar de Engenharia

_______________________________________________________
TC QEM OSVALDO DA CRUZ MORETT NETTO – 2º Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
AGRADECIMENTOS

Ao Maj Cav Luiz Adolfo Sodré de Castro Júnior por ter me orientado neste
trabalho.

Aos instrutores da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército que


contribuíram com o Curso de Direção para Engenheiros Militares.

Aos amigos do CCEM, CCEM-ONA e do CDEM pelas valorosas discussões e


camaradagem.

Aos meus pais por me apoiarem e me incentivarem em todos os momentos da


minha vida.

Ao Exército Brasileiro por ter guiado a minha carreira e o meu desenvolvimento


profissional.
RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo identificar quais tecnologias serão críticas
para o desenvolvimento e a utilização de sistemas mecatrônicos militares, no Exército
Brasileiro, em um cenário de guerra do futuro. Os cenários prospectivos para as
guerras do futuro descrevem um ambiente volátil, incerto, complexo e ambíguo,
intensamente influenciado pela ciência, pela tecnologia e pela inovação, com especial
destaque para os sistemas mecatrônicos autônomos. Portanto, considerando a
revolução tecnológica militar em curso, o processo de transformação do Exército
Brasileiro e a premente necessidade de racionalização de recursos na busca
incessante pelo aumento da efetividade militar, uma abordagem foi concebida,
visando a identificação das tecnologias críticas. Esta abordagem emprega conceitos
estabelecidos no planejamento baseado em capacidades, na gestão do ciclo de vida
de sistemas e de materiais de emprego militar, na análise funcional de sistemas e na
arquitetura funcional de sistemas. Ademais, as tecnologias críticas são apresentadas,
bem como os aspectos doutrinários relativos ao emprego de sistemas mecatrônicos
militares autônomos em operações militares, destacando-se o emprego de equipes
híbridas de combate e de enxames de sistemas autônomos. Por fim, o presente
trabalho indica a necessidade de desenvolvimento doutrinário, científico, tecnológico
e de recursos humanos nas áreas de inteligência artificial e de fontes compactas de
energia, voltados para sistemas mecatrônicos autônomos militares, considerando os
princípios de geração de capacidades preconizados pelo DOAMEPI (Doutrina,
Organização ou processos, Adestramento, Material, Educação, Pessoal e
Infraestrutura).

Palavras-chave: Guerra do Futuro, Mecatrônica, Sistemas Autônomos, Identificação


de Tecnologias, Enxames.
ABSTRACT

The present work aims to identify which technologies will be critical for the
development and use of military mechatronic systems in the Brazilian Army in a future
war scenario. Prospective scenarios for future wars describe a volatile, uncertain,
complex, and ambiguous environment, intensively influenced by science, technology,
and innovation, with emphasis on autonomous mechatronic systems. Therefore,
considering the ongoing military technological revolution, the process of transformation
of the Brazilian Army, and the pressing need for resources rationalization in the
continuous search to improve military effectiveness, an approach has been conceived
to identify critical technologies. This approach employs concepts stated in capacity-
based planning, life cycle management of military systems and materiels, functional
system analysis, and functional system architecture. In addition, critical technologies
are presented, as well as the doctrinal aspects related to the use of autonomous
military mechatronic systems in military operations, in particular the use of hybrid
combat teams and swarms of autonomous systems. Finally, the present work indicates
the need for doctrinal, scientific, technological and human resources development in
the areas of artificial intelligence and compact energy sources, devoted to autonomous
military mechatronic systems, considering the established principles of capacity
development by DOTMLPF (Doctrine, Organization, Training, Materiel, Leadership
and Education, Personnel, and Facilities).

Keywords: War of the Future, Mechatronics, Autonomous Systems, Identification of


Technologies, Swarms.
Lista de ilustrações

Figura 1 - Campo de batalha do futuro. .................................................................... 22


Figura 2 - Arquitetura do SMMA genérico com seus subsistemas ............................ 34
Figura 3 - Um modelo de inteligência artificial com o ciclo S-P-A em um sistema
autônomo genérico................................................................................................... 38
Figura 4 - Robô inseto. ............................................................................................. 44
Figura 5 - Micromotor Wankel. ................................................................................. 47
Figura 6 - Um sistema termofotovoltaico. ................................................................. 48
Figura 7 - Veículo aéreo não tripulado com propulsão elétrica suprida por células
solares – Pathfinder. ................................................................................................ 50
Figura 8 - Robô mula................................................................................................ 58
Figura 9 - Black Knight VTNT. .................................................................................. 59
Lista de tabelas

Tabela 1 – Relação entre as CMT e as CO...............................................................30


Tabela 2 – Relação entre as CO e as Funcionalidades.............................................31
Tabela 3 – Relação entre as Funcionalidades e os Subsistemas..............................32
Tabela 4 – Classificação de VANT.............................................................................45
Tabela 5 – Meso e micromotores de combustão interna...........................................47
Tabela 6 – Classificação e categorias dos SARP para a F Ter.................................55
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................9
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ...........................................................................11
1.2 OBJETIVO ......................................................................................................12
1.2.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................12
1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .....................................................................13
1.3 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA .....................................................................13
2. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................14
3. METODOLOGIA...................................................................................................24
3.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA .......................................................................24
3.2 CONCEPÇÃO METODOLÓGICA ...................................................................24
3.3 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ...........................................................................26
4. TECNOLOGIAS CRÍTICAS ..................................................................................27
4.1 IDENTIFICAÇÃO DAS TECNOLOGIAS CRÍTICAS ........................................27
4.2 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL ...........................................................................35
4.3 FONTES COMPACTAS DE ENERGIA ...........................................................44
5 OPERAÇÕES E DOUTRINA .................................................................................52
5.1 MOTIVAÇÕES ................................................................................................52
5.2 APLICAÇÕES E ASPECTOS DOUTRINÁRIOS .............................................53
5.3 ENXAMES E EQUIPES HÍBRIDAS DE COMBATE ........................................61
6 CONCLUSÕES .....................................................................................................65
REFERÊNCIAS ........................................................................................................69
9

1. INTRODUÇÃO

Sistemas mecatrônicos militares estão no cerne da revolução tecnológica militar


em curso, na qual sistemas de armas como mísseis, munições inteligentes, veículos
não tripulados e robôs têm modificado a Arte da Guerra em diferentes dimensões,
repercutindo na doutrina militar, nas operações militares e trazendo à tona questões
sociais, éticas e legais.
A terceira revolução tecnológica militar, marcada pelo uso de armas autônomas,
deverá se intensificar nos próximos anos, modificando significativamente os conflitos
armados. A atual revolução tecnológica militar foi precedida pela primeira, baseada
no domínio da pólvora, e pela segunda, alcançada com o advento das armas
nucleares (ETZIONI; ETZIONI, 2017).
Os sistemas mecatrônicos integram de forma sinérgica a engenharia mecânica,
a eletrônica, sistemas de controle e a computação (AWTAR et al., 2002). Portanto,
estes sistemas estão presentes nos campos de batalha desde o início do século XX,
destacando-se as bombas V1 e V2 usadas na 2ª Guerra Mundial. Desta forma, pode-
se constatar que os mísseis tiveram lugar de destaque na evolução dos sistemas
mecatrônicos militares, mesmo antes do nome mecatrônica ter sido cunhado, o que
ocorreu na década de 70, no Japão (ADAMOWSKI; FURUKAWA, 2001).
Na atualidade, o uso de veículos terrestres e aéreos não tripulados e de robôs
em operações militares já é uma realidade. Entretanto, questionamentos, junto à
Organização das Nações Unidas (ONU), quanto ao uso de tais sistemas de armas,
têm sido realizados por personalidades internacionais, como o cientista Stephen
Hawking e o empresário Elon Musk, que alertam para a
[...] “terceira revolução bélica” com a iminente chegada de robôs e equipes
não tripuladas que poderiam elevar as guerras a confrontos com
consequências imprevisíveis. Neste sentido, os signatários advertem que a
veloz evolução da inteligência artificial pode permitir que o desenvolvimento
destas armas autônomas chegue em poucos anos e não em décadas [...]
(ZURIARRAIN; POZZI, 2017).
É interessante ressaltar que estes questionamentos se voltam principalmente
para os Sistemas Mecatrônicos Militares Autônomos (SMMA) com inteligência artificial
(IA). Assim, o âmago da questão está na “ideia de que em um futuro não muito distante
se perca a compaixão e o julgamento humano na hora de executar um ataque”
10

(ZURIARRAIN; POZZI, 2017). Logo, muitos SMMA dentre os quais os mísseis e as


munições inteligentes, com sistemas de guiamento fire and forget, não estão no
escopo destas indagações, apesar destes sistemas poderem perseguir e engajar
alvos de forma autônoma. Contudo, a decisão de disparar estes artefatos sobre um
alvo ainda depende do fator humano.
Pode-se inferir que os SMMA com capacidade de autonomamente selecionar
alvos e atacar são de fato o principal objeto de questionamentos de alguns setores da
comunidade internacional. O banimento destes sistemas autônomos das operações
militares é advogado por 116 empresários da área de robótica e de inteligência
artificial, oriundos de 26 países, os quais se manifestaram em carta aberta à ONU
(ACKERMAN, 2017). Ademais, é relevante observar que a ONU mantém um grupo
de estudo denominado “Group of Governmental Experts on Lethal Autonomous
Weapons Systems”, no âmbito da CCW (Certain Conventional Weapons), o qual tem
contribuído para as negociações de acordos e resoluções sobre o tema (UNOG,
2017).
Além disso, existe, nos dias atuais, uma grande preocupação com o uso de
veículos não tripulados remotamente pilotados nas guerras do futuro. Considera-se a
possibilidade destes sistemas aumentarem a frequência dos conflitos armados, face
a eliminação da presença do combatente humano do campo de batalha.
A diferença entre os SMMA controlados remotamente e os que fazem uso da
inteligência artificial está no grau de autonomia empregado. O grau de autonomia está
associado diretamente à inserção do homem no sistema, podendo ser classificado
como: semiautônomo, supervisionado por humano e completamente autônomo
(CATON, 2015):
• os sistemas semiautônomos se caracterizam por engajar alvos somente
selecionados por um operador humano;
• os sistemas supervisionados por humano são capazes de selecionar alvos e
atacar autonomamente, porém um supervisor humano pode intervir e abortar a
missão; e
• os sistemas completamente autônomos são capazes de selecionar alvos e
atacar sem qualquer possibilidade de intervenção humana.
Os níveis de autonomia dos SMMA estão relacionados aos níveis de
desenvolvimento tecnológico e doutrinário. Ou seja, a diminuição da interação
11

humana na operação do sistema implica em maior desenvolvimento tecnológico, bem


como maiores inovações doutrinárias.
É digno de nota que também existem SMMA que não são concebidos para serem
letais, mas para missões logísticas, humanitárias, de vigilância, de inteligência e de
resgate de feridos, dentre outras.
Neste contexto, onde os SMMA são considerados os protagonistas da terceira
revolução tecnológica militar, faz-se oportuno para o Exército Brasileiro (EB)
identificar, com pragmatismo e objetividade, as necessidades tecnológicas e
doutrinárias que poderão ser priorizadas a fim de atender às demandas da Defesa
Nacional.
É relevante observar que o termo sistema mecatrônico militar autônomo (SMMA)
é utilizado no presente trabalho em lugar de sistema robótico militar (SRM), por
contemplar sistemas tripulados e não tripulados, enquanto o termo sistema robótico
militar, segundo o Instituto de Investigação para Antropotécnica de Werthovem
(OLIVEIRA, 1993), se restringe a sistemas não tripulados. Não obstante, alguns
autores não fazem distinção quanto a estes termos, podendo estes termos serem
empregados como sinônimos.
[...] o Instituto de Investigação para Antropotécnica de Werthovem
(Alemanha) definiu o robô militar como: “Um sistema técnico não-tripulado,
que em sua aplicação militar, especialmente no campo de batalha, pode
assumir de forma autônoma ou semiautônoma, missões do ser humano, com
a finalidade de substituir o soldado, retirando-o da zona de perigo”
(OLIVEIRA, 1993).

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

A Política Nacional de Defesa (PND) (2016c) estabelece que o Poder Nacional


se manifesta nas expressões: política, econômica, psicossocial, militar e científico-
tecnológica. Portanto, o desenvolvimento científico-tecnológico e militar é fundamental
para assegurar a soberania do Brasil. Ademais, a importância da tecnologia é
enfatizada em diversas partes da PND.
A PND destaca a importância de “priorizar os investimentos em Ciência,
Tecnologia e Inovação relativos a produtos de defesa de aplicação dual, visando à
autonomia tecnológica do País” (BRASIL, 2016c) e ainda estabelece como Objetivos
12

Nacionais de Defesa:
II. Assegurar a capacidade de Defesa, para o cumprimento das missões
constitucionais das Forças Armadas.
[...] Leva em conta a necessidade de contínuo aperfeiçoamento das técnicas
e da doutrina de emprego das Forças, de forma singular ou conjunta, com
foco na interoperabilidade; o adequado aparelhamento das Forças Armadas,
empregando-se tecnologias modernas [...]
VII. Promover a autonomia produtiva e tecnológica na área de defesa.
Significa manter e estimular a pesquisa e buscar o desenvolvimento de
tecnologias autóctones, sobretudo no que se refere a tecnologias críticas[...]
(BRASIL, 2016c).
Em consonância com a PND (BRASIL, 2016c) e com a Estratégia Nacional de
Defesa (END) (BRASIL, 2016b), o Plano Estratégico do Exército 2016-2019 (PEEx
2016-2019/ 3ª Edição-2017) (BRASIL, 2017a) estabelece áreas e linhas de pesquisa
aplicáveis aos projetos de desenvolvimento de PRODE de curto prazo (2016-2019),
nas quais figuram como prioridade 5 e 6, respectivamente, Sistemas autônomos
(Robótica) e Inteligência Artificial (BRASIL, 2017a).
Com base nos documentos de Estado supracitados, verifica-se a relevância da
área de ciência e tecnologia para a expressão militar do Poder Nacional e, em
particular, a presença de áreas e linhas de pesquisa fundamentais para o
desenvolvimento de SMMA no âmbito do EB.
Neste contexto, o problema de pesquisa consiste em identificar tecnologias
críticas e relevantes para o EB, que estarão presentes em Sistemas Mecatrônicos
Militares em um cenário de guerra do futuro. Ou ainda, formulando o problema
segundo uma interrogação:

- Quais tecnologias serão críticas para o desenvolvimento e a utilização de


Sistemas Mecatrônicos Militares Autônomos, no EB, em um cenário de guerra
do futuro?

1.2 OBJETIVO

1.2.1 OBJETIVO GERAL


Apresentar um estudo sobre sistemas mecatrônicos autônomos e a guerra do
futuro, visando contribuir para a identificação de necessidades científicas e
13

tecnológicas para o EB e de suas repercussões nas missões e nas operações


militares.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Para tanto foram criados os seguintes objetivos específicos:
a. Identificar tecnologias críticas para o desenvolvimento de sistemas
mecatrônicos militares autônomos.
b. Identificar possíveis influências nas operações e na doutrina decorrentes do
emprego de sistemas mecatrônicos militares autônomos na guerra do futuro.

1.3 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

A presente pesquisa contribuirá para formulação de políticas, estratégias, planos


e ações voltados para a formação de Recursos Humanos (RH) e para a Pesquisa, o
Desenvolvimento e a Inovação (PD&I) ou aquisição de PRODE, contribuindo também
para estudos táticos, operacionais e doutrinários.
Outro aspecto importante deste trabalho será a difusão do potencial da ciência
e tecnologia, inseridas na terceira revolução tecnológica militar, para a transformação
da Força Terrestre (F Ter).
Ressalta-se ainda o alinhamento da pesquisa proposta com a Política Nacional
de Defesa, com a Estratégia Nacional de Defesa e com o Plano Estratégico do
Exército 2016-2019 (BRASIL, 2017a).
14

2. REFERENCIAL TEÓRICO

O presente capítulo apresenta os fundamentos para o desenvolvimento da


pesquisa em tela, visando estabelecer, com base em trabalhos prévios, a evolução do
tema no âmbito do Exército Brasileiro (EB) e cenários tecnológicos na guerra do
futuro. Desta forma, será evidenciada a importância dos SMMA para o futuro das
Forças Armadas (FA) e em especial para o EB.
Destaca-se que o EB está atento ao processo de evolução tecnológica em curso,
o que pode ser evidenciado pelo Plano Estratégico do Exército 2016-2019 (BRASIL,
2017). Este documento estabelece como visão de futuro: “Até 2022, o Processo de
Transformação do Exército chegará a uma NOVA DOUTRINA - com o emprego de
produtos de defesa tecnologicamente avançados” (BRASIL, 2017). Além disso, neste
documento, verifica-se a presença de SMMA como prioridade de desenvolvimento ou
mesmo de emprego imediato pela tropa, destacando-se as Atividades Impostas:
• 3.1.1.9 Prosseguir na distribuição de SARP (Sistemas de Aeronaves
Remotamente Pilotadas); e
• 9.3.1.4 Desenvolvimento de Sistemas de Veículos Terrestres
Remotamente Pilotados (SVTRP).
Assim, verifica-se que o EB adotou a nomenclatura SARP para se referir a
veículos aéreos não tripulados (VANT) remotamente pilotados e a nomenclatura
SVTRP para se referir a veículos terrestres não tripulados (VTNT) remotamente
pilotados. Logo, as nomenclaturas SARP e SVTRP se referem somente aos sistemas
semiautônomos. Por outro lado, VANT e VTNT são denominações mais amplas,
podendo se referir a veículos semiautônomos, supervisionados por humanos ou
completamente autônomos.
Aeronave Remotamente Pilotada (ARP) – É um veículo aéreo em que o piloto
não está a bordo (não tripulado), sendo controlada a distância a partir de uma
estação remota de pilotagem para a execução de determinada atividade ou
tarefa. Trata-se de uma classe de Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT).
[...] Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) – Designação genérica utilizada
para se referir a todo veículo aéreo projetado para operar sem tripulação a
bordo e que possua carga útil embarcada, disponha de propulsão própria e
execute voo autonomamente (sem a supervisão humana) para o
cumprimento de uma missão ou objetivo específico. Entre os meios aéreos
classificados como VANT estão os foguetes, os mísseis e as ARP (BRASIL,
15

2014a).
Desde a década de 90, verifica-se a preocupação com a inserção de SMMA no
EB, sendo, um exemplo, o trabalho de conclusão do Curso de Comando e Estado-
Maior da ECEME realizado pelo Maj Inf Luiz Celso de Oliveira intitulado “A robótica e
a Força Terrestre” (OLIVEIRA, 1993).
Oliveira (1993) lança luz sobre as potencialidades do uso de robôs pelo EB,
analisando as condições em que o soldado poderia ser substituído pelo robô. Assim,
realizou uma análise de aspectos comportamentais e psicológicos do soldado em
combate que resultam na perda de eficiência no campo de batalha: medo; aversão a
violência; e resistência em combate.
Nota-se que tais óbices não ocorrem com um robô soldado e, portanto, seria
interessante substituir soldados por robôs segundo estes aspectos.
Segundo Oliveira (1993), o sistema robótico incorpora elementos tecnológicos
das seguintes áreas:
• sensores;
• sistemas de posicionamento;
• dispositivos mecânicos;
• computação;
• comunicações; e
• inteligência artificial.
Estes elementos são organizados em quatro componentes:
• percepção,
• planejamento,
• mecanismos e
• controle.
Oliveira (1993) enfatiza a importância da Inteligência Artificial (IA) para a
evolução da robótica militar, afirmando que: “Um robô militar, completamente
autônomo, precisaria de um elevado nível de inteligência para atuar num ambiente
não controlado, como o campo de batalha” (OLIVEIRA, 1993).
O emprego de SMMA é ricamente exemplificado por Oliveira (1993), dentre os
quais é citado o sistema Goliah usado pela Alemanha durante a 2ª Guerra Mundial.
O Goliah era um veículo terrestre não tripulado (VTNT) sobre lagartas,
controlado remotamente, via fio, que transportava 60 kg de explosivo e era utilizado
16

para abertura de brechas em campos minados e para destruir posições fortificadas.


Um outro sistema VTNT é o MARDI (Mobile Advanced Robotic Defense
lnitiative), concebido em 1988 pela Grã-Bretanha e destinado a abertura de brechas
em campo de minas, remoção de cargas explosivas, dissimulação e vigilância no
campo de batalha (OLIVEIRA, 1993).
Oliveira (1993) devota atenção a como viabilizar a implantação de sistemas
robóticos na Força Terrestre e constata que “Em algumas atividades do campo da
Logística militar, estariam as portas de entrada da robótica na Força Terrestre”
(OLIVEIRA, 1993).
Outros militares brasileiros se dedicaram a analisar a evolução cientifica e
tecnológica e suas implicações sobre os conflitos armados no futuro. É interessante
observar que estes estudos sempre apontam, em seus cenários prospectivos, para a
relevância dos SMMA e para a IA na guerra do futuro.
Amarante (2003) estabelece seu cenário de guerra do futuro e sua análise de
evolução científica e tecnológica, partindo das funções básicas do combate:
• Sensoriamento (S);
• Processamento (P); e
• Atuação (A).
Observa-se que as funções básicas do combate são, em suma, os fundamentos
das atividades que um SMMA, completamente autônomo, deve executar e estão
relacionadas com os componentes mencionados por Oliveira (1993):
• percepção (sensoriamento),
• planejamento (processamento),
• controle (processamento) e
• mecanismos (atuação).
Segundo Amarante (2003), o Departamento de Defesa dos Estados Unidos
identificou 20 tecnologias críticas dentre as quais estão a Inteligência artificial e a
robótica. Estas duas tecnologias estão tão integradas do ponto de vista da robótica
militar, no que diz respeito a sistemas completamente autônomos, que são tratadas
como uma única tecnologia. Contudo, em rigor são tecnologias distintas.
Inteligência artificial e robótica. Para aplicação em sistemas complexos. 0
projeto de máquinas inteligentes e robôs requer a combinação de tecnologias
de sensoriamento, processamento e atuação com uma adequada interface
homem-máquina (AMARANTE, 2003).
17

Na análise da guerra do futuro, executada por Amarante (2003), podem ser


abordadas as repercussões tecnológicas e as repercussões no campo de batalha.
As repercussões tecnológicas são agrupadas em:
• digitalização – evolução do analógico para o digital;
• miniaturização;
• melhor qualidade da informação;
• mais rápido processamento da informação;
• aumento do alcance;
• acurácia (redução da dispersão);
• cabeças de guerra mais eficientes;
• combate a qualquer hora e em quaisquer condições meteorológicas;
• aumento da inteligência embarcada nos sistemas;
• robotização; e
• automação da batalha.
As repercussões no campo de batalha podem ser agrupadas em:
• ambiente operacional com elevado emprego de tecnologia;
• densidade de forças (redução de efetivos no campo de batalha e
aumento da profundidade dos combates);
• aumento da letalidade (aumento do poder de fogo e da precisão);
• aumento da mobilidade;
• quarta dimensão do combate (dimensão eletromagnética);
• desestruturação do campo de batalha (combate não linear sem
áreas seguras); e
• repercussões doutrinárias.
Ferreira (2004) se dedicou ao tema Sistemas de Combate do Futuro (SCF) que
é uma abordagem de sistemas complexos, conectados em rede, constituídos por
outros sistemas e por isso denominados “sistemas de sistemas” (FERREIRA, 2004).
Contudo, os SCF são, em geral, integrados por sistemas robóticos militares como
VANT ou VTNT.
Os Sistemas de Combate do Futuro são uma família de avançados sistemas
conectados em rede, formando um “sistema de sistemas”. Contam com
elementos terrestres e aéreos; voltados para combate, apoio ao combate e
apoio logístico, e incluem tanto sistemas tripulados quanto não tripulados
18

(FERREIRA, 2004).
Os SCF foram inicialmente concebidos pelo Exército Americano (EA) a fim de
atender as demandas decorrentes de análises militares de cenários de guerras do
futuro. Além disso, estas necessidades foram estudadas no contexto da Revolução
de Assuntos Militares (RAM).
Atualmente, os EUA lideram uma revolução tecnológica sem precedentes, ao
mesmo tempo em que procedem profundas transformações nas suas forças
armadas, com uma tendência influenciando a outra (FERREIRA, 2004).
A experiência militar americana nos conflitos armados no final do século XX, bem
como os do início do século XXI, permitiu a identificação de vulnerabilidades nas
ações militares americanas.
o inimigo procura a vitória por evitar a derrota, explorando a sensibilidade dos
EUA a baixas, a ineficácia da precisão do armamento sofisticado se não há
densidade nos alvos, e a vulnerabilidade dos norte-americanos durante a
concentração estratégica (FERREIRA, 2004).
Desta forma, o processo de transformação do EA modificou a doutrina, a
tecnologia e o treinamento militar a fim de atender os cenários de guerra regular e
irregular e aos conflitos em amplo espectro.
[...] verifica-se que, mesmo possuindo um poder militar hegemônico, os EUA
sentem a necessidade de transformação, em face de novas realidades
geopolíticas, que mudaram radicalmente o cenário de um confronto
convencional contra um inimigo simétrico, para uma variedade de conflitos
menores, contra inimigos assimétricos, e em ambientes cada vez mais hostis
e dinâmicos (FERREIRA, 2004).
O EA tem dedicado grande atenção aos conflitos de baixa intensidade, aos
conflitos urbanos e às operações contraterrorismo. Portanto, a tecnologia tem sido um
aliado valioso nas operações de inteligência militar, missões de vigilância, e em
operações ofensivas e defensivas, reduzindo o número de baixas na tropa, por
minimizar a exposição dos militares a situações de risco elevado, e aumentando a
precisão dos sistemas de armas, reduzindo os danos colaterais e aumentando o poder
de neutralização das forças inimigas.
Tal qual Amarante (2003), Ferreira (2004) também aborda as funções básicas
do combate: sensoriamento, processamento e atuação (S-P-A), as quais estabelecem
um ciclo conveniente para automatizar o combate.
O ciclo S-P-A além de ser adequado para um SMMA completamente autônomo,
também pode ser aplicado ao combate, podendo ser o sensoriamento visto como uma
19

atividade da inteligência militar, o processamento como análogo ao processo decisório


executado pelo Estado-Maior e a atuação seria o emprego das peças de manobra.
Identifica-se, desta forma, a aplicabilidade das funções básicas de combate S-
P-A, propostas por Amarante (2003), à própria atuação de uma brigada.
Ressalta-se ainda que as funções de combate podem ser identificadas em
todos os níveis, desde o nível político-estratégico até o nível do combatente
individual, e, mais do que isso, observa-se que os ciclos de combate nestes
diversos níveis se entrelaçam, seguindo a arquitetura hierárquica típica de
organizações militares (FERREIRA, 2004).
As repercussões dos avanços tecnológicos na guerra do futuro, segundo
Ferreira (2004), atingem três aspectos:
• aumento do poder de combate, que implicará nas brigadas atuarem
como Divisões de Exército, em decorrência do aumento da
capacidade de combate das brigadas;
• declínio da participação do homem no ciclo de combate, face ao uso
intensivo de tecnologias;
• dramática redução do tempo de resposta do ciclo de combate,
resultado da automação deste ciclo.
Segundo Ferreira (2004), o EA planeja que
[...] o SCF substituirá a maioria dos veículos de combate do EA, em todas as
categorias, incluindo carros de combate principais, transporte de tropa e
artilharia autopropulsada. Além disso, estes sistemas de sistemas introduzem
o emprego militar da robótica em larga escala, tanto para sensoriamento
quanto para atuação, posto que alguns veículos não tripulados serão
armados, otimizando assim o tempo de resposta, também denominado tempo
“sensor-to-shooter”.
Neste contexto, os sistemas robóticos móveis terão papel cada vez mais
relevante, tendo em vista a meta estratégica de possuir 1/3 dos aviões e
carros de combate não tripulados até 2030, sendo a primeira geração de SCF
prevista para meados de 2015 (FERREIRA, 2004).
Constata-se que os SCF, bem como os SMMA a eles integrados, devem operar
em rede, o que evidencia a necessidade de comunicação, cooperação e coordenação
entre estes sistemas e certamente destes sistemas com os militares presentes no
Teatro de Operações (TO).
Ferreira (2004) exemplifica a utilização de vários robôs, VTNT e VANT pelo EA
e seu uso nos SCF. Nestes exemplos, encontram-se VTNT armados com mísseis
20

Javelin, VANT armados com mísseis Hell Fire, assim como VANT e VTNT de
vigilância, dentre outros.
A indústria de defesa trabalha com requisitos operacionais e técnicos rigorosos
e os SMMA se inserem neste contexto. Desta forma, deve-se atentar para os
requisitos operacionais apresentados por Ferreira (2004):
• interoperabilidade combinada, isto significa ser compatível com
sistemas de outras forças e/ou agências;
• comando de batalha em rede, possibilitar ação de comando e alerta
situacional para todos os elementos da rede, SMMA e soldados;
• letalidade em rede, capacidade de empregar força proporcional
variando de não letal a letal em rede;
• transportabilidade, ser transportável por meio aéreo, terrestre e
marítimo;
• apoiabilidade, reduzida cauda logística;
• treinamento, permitir fácil treinamento para uso individual e coletivo,
em ambiente de simulação real ou virtual;
• sobrevivência, se refere a proteção ao soldado.
Reis (2010) afirma que a RAM em curso elege como prioritárias a evolução da
tecnologia do armamento, da tecnologia da informação, da organização militar e da
doutrina militar. Além disso, enfatiza a dimensão e o emprego em quatro áreas da
guerra:
• guerra de informação,
• ataque em precisão,
• manobra dominante, e
• guerra espacial.
Uma vez mais, as funções básicas de combate propostas por Amarante (2003)
são relacionadas a três setores tecnológicos vislumbrados como estratégicos para
aumentar a capacidade militar (REIS, 2010):
• inteligência, vigilância e identificação;
• comando, controle, comunicação e processamento inteligente; e
• força em precisão.
Onde o primeiro setor corresponde à função sensoriamento, o segundo a função
processamento e o terceiro à função atuação.
21

Conforme descrito anteriormente, existe uma forte ligação entre os sistemas


completamente autônomos e a inteligência artificial. Nesta área do conhecimento,
alguns trabalhos têm sido conduzidos por militares do EB, podendo ser citado o de
Imai (2004). Este trabalho é voltado para o uso da inteligência artificial em sistemas
de apoio a decisão, com destaque aos sistemas Comando, Controle, Comunicações,
Computação e Inteligência (C4I), seguindo duas vertentes: a automatização do
processo de planejamento de operações militares e a fusão de dados e de
informações. É relevante destacar que Imai (2004) cita a robótica como área de
aplicação da inteligência artificial.
“A Inteligência Artificial (IA) é o requisito essencial para garantir o domínio da
informação no teatro de operações” (IMAI, 2004).
A IA está associada a função básica de combate processamento, segundo a
análise de Amarante (2003). E o grande diferencial que esta tecnologia proporciona é
a capacidade de acumular conhecimentos a partir de experiências, permitindo o
processamento destes conhecimentos, para posterior decisão e, execução da função
básica de combate, atuação.
Ao interligarmos SMMA e redes de computadores, os SMMA poderiam, graças
à IA, e ao compartilhamento de informações na rede, aprenderem diversas tarefas e
serem capazes de tomar diferentes decisões frente a diferentes problemas,
empregando o conhecimento armazenado na rede.
Em uma escala mais avançada de interação entre SMMA, estes podem atuar de
forma coordenada e/ou cooperativa dividindo tarefas em um campo de batalha. A
partir destes conceitos, uma tendência tem crescido no âmbito da robótica militar, o
uso de exames de sistemas autônomos, tendo várias demonstrações sido executadas
pelas forças armadas americanas e chinesas.
Do exposto, corrobora-se que um possível cenário para as guerras do futuro
estabelece a intensificação das guerras híbridas e assimétricas, com o emprego de
forças regulares e irregulares, com a participação de atores Estatais e não-Estatais,
com o uso intensivo da tecnologia como diferencial do combate, e evolução das
doutrinas militares (BRASIL, 2017b).
O Cenário de Defesa 2020-2039, apresentado em Brasil (2017b), aponta a
presença de sistemas autônomos e veículos não tripulados.
A aplicação da robótica em substituição às atividades humanas continuará
22

crescente. Haverá maior disponibilidade de veículos remotamente


controlados (aeroespaciais, aquáticos e terrestres) e de robôs, que serão
mais baratos e terão maiores aplicações. Eles gerarão vantagens
econômicas e militares pela substituição de mão de obra e diminuição de
riscos às forças de segurança e de defesa.
Analogamente às tecnologias espaciais, o desenvolvimento e independência
tecnológica dependerão do domínio da robótica. Os países que não o
possuírem, dependerão daqueles que o fazem [...]
O aumento da disponibilidade e a redução de custos permite maior acesso
aos artefatos remotamente controlados, para utilização em ambientes
terrestres, marítimos, aéreos e espaciais. Isso incrementará a sua utilização
para fins militares e policiais, visando o aumento da eficiência e à diminuição
de riscos[...] (BRASIL, 2017b).
O TRADOC (Training and Doctrine Command), centro do EA dedicado ao
treinamento e a doutrina, no documento Robotic and Autonomous Systems Strategy
(ESTADOS UNIDOS, 2017), visualiza o campo de batalha do futuro conforme Fig. 1.

Figura 1 - Campo de batalha do futuro.

Fonte: Estados Unidos (2017).

Na Fig. 1 é possível observar dois veículos terrestres não tripulados


transportando material em apoio aos soldados, um terceiro veículo terrestre em
missão de reconhecimento e vigilância e um veículo aéreo não tripulado também em
missão de reconhecimento e vigilância. Estes veículos identificam atiradores inimigos
no terreno e passam estas informações aos soldados que se comunicam em rede
23

entre si e com os SMMA.


Estados Unidos (2017) estabelece cinco capacidades que os sistemas
autônomos devem prover:
• aumentar a consciência situacional, aumentar a capacidade de
reconhecimento e vigilância sobre vastas áreas, alcançando lugares
onde veículos tripulados não chegam, aumentando a distância do
inimigo;
• reduzir o trabalho físico e mental dos soldados, resulta em aumento
da eficiência do soldado em combate, pois reduz o cansaço,
aumenta a mobilidade e a velocidade;
• sustentar a força com maior distribuição, rendimento e eficiência,
aumentar a capacidade logística, alcançando pontos críticos no
Teatro de Operações;
• facilitar o movimento e a manobra, aumentar a capacidade de
superar obstáculos, aumentando também o tempo e o espaço em
que o Exército pode atuar; e
• proteger a força, afastar os soldados de áreas de risco.
As Guerras do Golfo e a Guerra Contra o Terror empreendidas pelo Estados
Unidos mostraram novos desafios para as forças armadas: a intensificação dos
combates urbanos e em terrenos hostis. Sob estas condições, a tecnologia é um
importante aliado dos soldados no campo de batalha.
A utilização de SMMA modifica significativamente a arte da guerra, destacando-
se: a redução do número de combatentes nas áreas de guerra, o aumento da precisão
das operações militares e o aumento da flexibilidade das forças terrestres (CATON,
2015, ETZIONI & ETZIONI, 2017).
Contudo, avanços tecnológicos precisarão ocorrer a fim de aumentar o grau de
autonomia dos SMMA, principalmente nas áreas de inteligência artificial, na
coordenação e colaboração entre robôs e entre homens e robôs (ESTADOS UNIDOS,
2017, SCHARRE, 2014a, 2014b).
24

3. METODOLOGIA

Este capítulo tem por objetivo delinear o procedimento metodológico a ser


adotado a fim de apresentar uma solução para o problema de pesquisa proposto,
especificando as etapas empregadas para alcançar os objetivos (geral e específicos)
almejados.
Adicionalmente, este capítulo também define o tipo de pesquisa conduzida, os
meios utilizados, o alcance e as limitações.
Desta forma, pautando-se em uma sequência lógica, sintética e visando
proporcionar maior clareza, o presente capítulo está estruturado em
3.1) Delimitação da Pesquisa;
3.2) Concepção Metodológica; e
3.3) Limitações do Método.

3.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Esta pesquisa se restringirá aos Sistemas Mecatrônicos Militares Autônomos


(SMMA), relevantes para o EB, em um cenário de evolução tecnológica até 2038.
Entretanto, apesar de serem SMMA, não estão no escopo deste trabalho os mísseis
e foguetes guiados, as munições inteligentes e os sistemas exoesqueletos.
Considera-se relevantes para o EB os SMMA que estejam associados, em
alguma medida, aos documentos de Estado que norteiam as ações da Força
Terrestre: PND (BRASIL, 2016c), END (BRASIL, 2016b), Doutrina Militar Terrestre
(BRASIL, 2014b) e Plano Estratégico do Exército 2016-2019 (BRASIL, 2017a).
Este trabalho terá como foco principal a identificação das tecnologias críticas
para o desenvolvimento de SMMA e as potencialidades de uso destes sistemas na
Guerra do Futuro.

3.2 CONCEPÇÃO METODOLÓGICA

O método é o instrumento científico de condução da pesquisa que proporciona


uma maior imparcialidade ao pesquisador ao proceder uma pesquisa, principalmente,
no âmbito das ciências humanas, dentre as quais estão inseridas as ciências militares.
25

A pesquisa foi desenvolvida, fundamentalmente, como uma pesquisa


bibliográfica, empregando fontes primárias e secundárias. Foram usadas as bases
PERIÓDICOS CAPES, GOOGLE SCHOLAR, bem como páginas de periódicos
disponíveis na internet e a biblioteca da ECEME.
A seleção das fontes de pesquisa se voltou, principalmente, aos documentos de
Estado, aos trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses da ECEME, às
publicações de autores de instituições de importância reconhecida no meio
acadêmico, além de artigos publicados em periódicos de destaque em nível nacional
e internacional.
Adicionalmente, uma abordagem funcional, concebida com base em conceitos
encontrados no planejamento baseado em capacidades, na gestão do ciclo de vida
de sistemas e de materiais de emprego militar, na análise funcional de sistemas e na
arquitetura funcional de sistemas, foi conduzida, visando identificar as tecnologias
críticas de um SMMA genérico.
Logo, ao se combinar a revisão bibliográfica e a abordagem funcional, a
interseção destes procedimentos revela quais tecnologias críticas devem ser
priorizadas.
As etapas a serem seguidas foram:
- levantamento da bibliografia;
- seleção da bibliografia;
- leitura da bibliografia selecionada;
- análise dos dados; e
- aplicação da abordagem funcional.
“De acordo com a taxonomia de Vergara (2009), os critérios para a classificação
do tipo de pesquisa serão a finalidade da pesquisa e os meios utilizados para a
realização” (CERQUEIRA, 2014).
Desta forma, a pesquisa é classificada como qualitativa, fenomenológica,
aplicada, descritiva e exploratória.
Define-se esta pesquisa como qualitativa e fenomenológica, já que se almeja
identificar as tecnologias críticas em SMMA em um cenário de guerra do futuro,
observando a relevância para o Exército Brasileiro.
Quanto aos fins, a pesquisa se caracteriza como exploratória, descritiva e
aplicada.
26

A pesquisa é exploratória porque, estabelece um estudo prospectivo, o qual com


base em fontes primárias e secundárias intenciona estabelecer uma visão de futuro.
Tal visão, é fundamentada no presente estado das pesquisas científicas e
tecnológicas divulgadas, bem como em fontes doutrinárias de Forças Armadas (FA),
e em estudos prévios realizados por outros autores.
A pesquisa é descritiva porque procura tornar o objeto de estudo inteligível, isso
é, identificar as tecnologias críticas dos SMMA, descrevendo seus aspectos
conceituais e suas potencialidades.
Além disso, a pesquisa é aplicada, pois aborda questões práticas da atualidade,
fornecendo subsídios para estudos e ações futuras.

3.3 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

O método adotado apresenta limitações em relação ao escopo, ou em outras


palavras, o presente trabalho não tem o alcance ou mesmo a pretensão de analisar
todas as tecnologias pertinentes aos SMMA. Assim, buscou-se investigar os dados
que se apresentavam com maior aderência aos propósitos do EB e que seriam
promissores segundo as fontes consultadas, respeitando a delimitação da pesquisa.
A despeito destas limitações, entende-se que a metodologia empregada é
coerente e permite atingir o objetivo geral, bem como os objetivos específicos
estabelecidos.
27

4. TECNOLOGIAS CRÍTICAS

Este capítulo tem por objetivo apresentar um procedimento para a identificação


das tecnologias presentes em SMMA a partir do referencial teórico e de uma
abordagem funcional do sistema.

4.1 IDENTIFICAÇÃO DAS TECNOLOGIAS CRÍTICAS

Amarante (2003) apontou 20 tecnologias críticas e o Plano Estratégico do


Exército 2016-2019 (2017) estabeleceu 29 áreas e linhas de pesquisa aplicáveis aos
projetos de desenvolvimento de PRODE de curto prazo (2016-2019), e 25 linhas de
pesquisa aplicáveis a futuros projetos de desenvolvimento tecnológicos de médio
prazo (2020-2027). Esta gama de tecnologias é muito vasta, e, portanto, seria profícuo
priorizar, com pragmatismo e objetividade, um número mais restrito de tecnologias
relevantes para o desenvolvimento de SMMA.
Logo, a fim de identificar, dentro do universo supracitado, as tecnologias
basilares para o desenvolvimento de SMMA, no âmbito do EB, buscou-se empregar
uma nova abordagem funcional do sistema, a qual utiliza princípios de análise e
arquitetura funcionais (BLANCHARD; BLYLER, 2016; GIORIA, 2016).
Destaca-se que a abordagem proposta visa à identificação das tecnologias mais
relevantes para um SMMA, enquanto as propostas por Gioria (2016) e Blanchard e
Blyler (2016) visavam o desenvolvimento de produtos e sistemas.
A abordagem funcional, ora adotada, é baseada nas funções básicas de
combate propostas por Amarante (2003), na fase de Formulação Conceitual prevista
nas Instruções Gerais para a Gestão do Ciclo de Vida dos Sistemas e Materiais de
Emprego Militar (BRASIL, 2016a), nas capacidades descritas no Catálogo de
Capacidades do Exército 2015-2035 (BRASIL, 2015a) e em um cenário de guerra do
futuro estabelecido em Estados Unidos (2017).
Segundo Brasil (2016a), a primeira fase de gestão do ciclo de vida de um
Sistema ou Material de Emprego Militar é a formulação conceitual.
Art. 7º Fase de formulação conceitual - inicia-se pela elaboração da
Compreensão das Operações (COMOP), documento que traduz uma ou mais
Capacidades Operativas (CO) em informações necessárias para orientar a
concepção integrada de SMEM, tais como: a missão, o ambiente operacional,
28

os tipos de operações, as funcionalidades a serem executadas e as intenções


(desempenho esperado) (BRASIL, 2016a).
Sob a ótica do presente trabalho, a fase da formulação conceitual estabelece as
bases que permite identificar interações de um SMMA com o meio externo, ou ainda,
permite identificar as entradas e saídas do sistema.
Tendo como objetivo investigar um SMMA genérico num cenário de guerra do
futuro, as capacidades militares terrestres (CMT), as capacidades operativas (CO) e
as funcionalidades, para o procedimento em tela, podem ser estabelecidas analisando
a missão representada na Fig. 1, conforme realizado no referencial teórico.
A Fig. 1 ilustra um cenário de guerra do futuro em ambiente urbano, onde operam
equipes de combate formadas por soldados e veículos terrestres e aéreos não
tripulados, constituindo uma equipe híbrida de combate. Na missão ilustrada,
soldados e SMMA se comunicam, reconhecem o terreno e identificam ameaças.
Consequentemente, espera-se que esta equipe seja capaz de atuar, neutralizando ou
evitando as ameaças, minimizando os riscos para os soldados e para os SMMA, e
obtendo sucesso na missão. Ademais, esta missão deve ser supervisionada
remotamente por um centro de comando, exigindo também uma capacidade de
comunicação entre a equipe de combate e o comando de operações.
O cenário descrito é um ambiente não estruturado, isto é, o SMMA não sabe a
priori como é o terreno, onde existem obstáculos, onde estão as pessoas ou outros
SMMA. Em outras palavras, o ambiente não estruturado é mutável e a priori ao menos
parcialmente desconhecido para o SMMA. De outra forma, ambientes estruturados
são usualmente encontrados em instalações industriais, nestes ambientes, os robôs
recebem informações prévias, por exemplo sobre a presença de obstáculos. Ou seja,
os ambientes estruturados são previamente conhecidos pelo SMMA.
Consequentemente, em geral, a robótica industrial possui um nível de complexidade
muito menor que a robótica móvel.
Ao analisar o Catálogo de Capacidades do Exército, EB20-C-07.001 (BRASIL,
2015a), observa-se que algumas dessas capacidades devem estar presentes na
elaboração da COMOP de um SMMA genérico.
Capacidades Militares Terrestres:
• CMT 01. Pronta Resposta Estratégica;
• CMT 02. Superioridade no Enfrentamento;
29

• CMT 04. Comando e Controle;


• CMT 06. Interoperabilidade;
• CMT 07. Proteção; e
• CMT 08. Superioridade de Informações.
Capacidades Operativas:
• CO03. Prontidão;
• CO06. Ação Terrestre;
• CO15. Sistemas de Comunicações;
• CO16. Consciência Situacional;
• CO17. Gestão do Conhecimento e das Informações;
• CO25. Interoperabilidade Conjunta;
• CO26. Interoperabilidade Combinada;
• CO27. Interoperabilidade Interagência;
• CO28. Proteção ao Pessoal;
• CO29. Proteção física;
• CO30. Segurança das informações e Comunicações;
• CO34. Inteligência; e
• CO31. Guerra Eletrônica.
A Tabela 1 relaciona as Capacidades Militares Terrestres e as Capacidades
Operativas segundo Brasil (2015a). Uma Compreensão das Operações (COMOP),
frequentemente apresenta uma tabela semelhante à Tabela 1.
É importante registrar que em um projeto real de um SMMA, outras capacidades
poderão ser incluídas e algumas das capacidades ora propostas poderão ser
excluídas da COMOP. As capacidades supracitadas são apresentadas apenas com o
propósito de proceder o estudo corrente.
As funcionalidades, presentes em uma possível formulação conceitual, que
devem ser atendidas pelo o SMMA genérico, ora analisado, seriam:
• coordenação/cooperação com outros SMMA e soldados;
• comunicação com outros SMMA, soldados e centro de comando;
• monitoramento do ambiente operacional;
• identificação de ameaças;
• neutralização de ameaças;
30

• proteção dos soldados;


• proteção dos meios físicos;
• proteção das informações e das comunicações;
• navegação em ambientes não estruturados; e
• mobilidade.

Tabela 1 – Relação entre as CMT e as CO.


Capacidades Militares Terrestres (CMT) Capacidades Operativas (CO)
CMT 01. Pronta Resposta Estratégica CO03. Prontidão
CMT 02. Superioridade no Enfrentamento CO06. Ação Terrestre
CMT 04. Comando e Controle CO15. Sistemas de Comunicações
CO16. Consciência Situacional
CO17. Gestão do Conhecimento e das Informações
CMT 06. Interoperabilidade CO25. Interoperabilidade Conjunta
CO26. Interoperabilidade Combinada
CO27. Interoperabilidade Interagência
CMT 07. Proteção CO28. Proteção ao Pessoal
CO29. Proteção física
CO30. Segurança das informações e
Comunicações
CMT 08. Superioridade de Informações CO34. Inteligência
CO31. Guerra Eletrônica

Uma vez concebida as capacidades e as funcionalidades, faz-se necessário


descrever, simplificadamente, o SMMA. Nesta etapa, utiliza-se a concepção funcional
de um sistema, composto por subsistemas.
A Tabela 2 relaciona as Capacidades Operativas com as Funcionalidades.
Observa-se, nesta tabela, que a Prontidão, a Interoperabilidade Conjunta, a
Interoperabilidade Combinada e a Interoperabilidade Interagência não foram
relacionas as funcionalidades estabelecidas, pois estas capacidades não se traduzem
em funcionalidades, mas em características desejáveis no projeto do SMMA.
As funcionalidades e capacidades idealizadas podem ser providas pelos
subsistemas de:
• mobilidade;
• comunicações;
31

• monitoramento do ambiente operacional;


• navegação;
• armas;
• energia; e
• processamento/inteligência.

Tabela 2 – Relação entre as CO e as Funcionalidades.


Capacidades Operativas (CO) Funcionalidades
CO03. Prontidão
CO06. Ação Terrestre - neutralização de ameaças
- mobilidade
- comunicação com outros SMMA, soldados e
centro de comando
CO15. Sistemas de Comunicações - monitoramento do ambiente operacional
CO16. Consciência Situacional - identificação de ameaças
CO17. Gestão do Conhecimento e das - navegação em ambientes não estruturados
Informações - coordenação/cooperação com outros SMMA e
soldados
- comunicação com outros SMMA, soldados e
centro de comando
CO25. Interoperabilidade Conjunta
CO26. Interoperabilidade Combinada
CO27. Interoperabilidade Interagência
CO28. Proteção ao Pessoal - coordenação/cooperação com outros SMMA e
CO29. Proteção física soldados
CO30. Segurança das informações e - comunicação com outros SMMA, soldados e
Comunicações centro de comando
- proteção dos soldados
- proteção dos meios físicos
- proteção das informações e das comunicações
- mobilidade
CO34. Inteligência - comunicação com outros SMMA, soldados e
CO31. Guerra Eletrônica centro de comando
- proteção das informações e das comunicações

A Tabela 3 relaciona as Funcionalidades aos subsistemas do SMMA.


32

Tabela 3 – Relação entre as Funcionalidades e os Subsistemas.


Funcionalidades Subsistemas
coordenação/cooperação com outros SMMA e soldados energia
processamento/inteligência
comunicações
comunicação com outros SMMA, soldados e centro de energia
comando processamento/inteligência
comunicações
monitoramento do ambiente operacional energia
processamento/inteligência
monitoramento do ambiente operacional
identificação de ameaças energia
processamento/inteligência
monitoramento do ambiente operacional
neutralização de ameaças energia
processamento/inteligência
armas
monitoramento do ambiente operacional
mobilidade
proteção dos soldados energia
processamento/inteligência
armas
monitoramento do ambiente operacional
mobilidade
proteção dos meios físicos energia
processamento/inteligência
armas
monitoramento do ambiente operacional
mobilidade
proteção das informações e das comunicações energia
processamento/inteligência
comunicações
navegação em ambientes não estruturados energia
processamento/inteligência
navegação
monitoramento do ambiente operacional
mobilidade energia
processamento/inteligência
mobilidade
33

A funcionalidade coordenação/cooperação, dentre as demais, é a mais


complexa de ser traduzida em um subsistema. De modo a buscar uma solução para
este problema, vale retornar aos princípios da abordagem funcional e analisar o que
este subsistema deve fazer e quais a capacidades requeridas.
A coordenação e a cooperação são tarefas realizadas, tradicionalmente, por
seres humanos trabalhando em equipes e desempenhando funções. Contudo, estas
capacidades também são observáveis em sociedades de insetos e animais, em
abelhas construindo colmeias, em formigas construindo formigueiros e em alcateias
caçando e defendendo seus grupos. Estas atividades exigem uma capacidade de
organização social e funcional, aliada a capacidades de observação e de adaptação
ao ambiente operacional, o qual é mutável.
A organização social e funcional, em grande medida, está vinculada ao
estabelecimento de regras sociais e, em muitas vezes, de liderança por parte de
algum indivíduo.
A observação e a adaptabilidade ao ambiente operacional exigem uma
capacidade de reconhecimento de novas situações e de proposição de uma ação que
atenda à demanda apresentada.
Ao aliar o respeito a regras sociais, o reconhecimento de uma nova situação
(consciência situacional) e a proposição de uma ação adequada (tomada de decisão),
verifica-se que as capacidades: aprendizado, raciocínio e decisão, as quais são
pertinentes à capacidade inteligência, são o cerne do subsistema que traduz as
funcionalidades de coordenação/cooperação. Então, este subsistema poderia receber
o nome de subsistema de processamento/inteligência.
O subsistema de energia é responsável pelo suprimento de energia aos demais
subsistemas, influenciando, portanto, todos os subsistemas. Ainda acerca deste
subsistema, é digno de nota que face à tendência de redução de tamanho dos SMMA
e de constante necessidade de incremento da mobilidade destes sistemas, as fontes
compactas de energia são identificadas como tecnologias críticas (FERNADEZ-
PELLO, 2002, JU; MARUTA, 2011).
Todos os subsistemas do SMMA executam as funções S-P-A (Sensoriamento –
Processamento – Atuação), denominadas funções básicas de combate. Portanto, as
tecnologias envolvidas na tríade S-P-A são relevantes para o desenvolvimento do
SMMA genérico, abarcando:
34

• sensores (acústicos, eletromagnéticos, térmicos, elétricos, mecânicos,


químicos etc.);
• processadores (hardware e software);
• atuadores (acústicos, eletromagnéticos, térmicos, elétricos, mecânicos,
químicos etc.).
A Figura 2 ilustra a arquitetura funcional de um SMMA genérico, revelando as
interfaces de relacionamento entre os subsistemas.

Figura 2 – Arquitetura do SMMA genérico com seus subsistemas.

Ao analisar a Fig. 2, verifica-se que a função P, do ciclo S-P-A, pode ser realizada
por um subsistema centralizado de forma a atender as demandas de todos os
subsistemas. Tal centralização pode ser efetuada no subsistema de
processamento/inteligência. Por outro lado, não se vislumbra uma centralização das
funções S e A, do ciclo S-P-A, posto que o monitoramento do ambiente operacional
exige diferentes tipos de sensores: radares, câmeras para capitação de imagens,
microfones, etc., bem como a função atuação é diferente, por exemplo, nos
subsistemas de mobilidade e de armas.
Portanto, o subsistema de processamento/inteligência, no contexto dos SMMA,
é crítico, podendo influenciar, dependendo da arquitetura do sistema, todas as
capacidades e funcionalidades do SMMA.
Além disso, ao se buscar o aumento da autonomia, partindo dos sistemas
semiautônomos, passando pelos autônomos supervisionados e alcançando os
35

completamente autônomos, a complexidade do subsistema de


processamento/inteligência aumenta consideravelmente, indo de simples
processadores pré-programados até subsistemas com inteligência artificial, com
capacidade de aprendizado.
Logo, dado que o robô é um sistema mecatrônico autônomo, é natural esperar
que exista uma forte ligação entre a robótica e a inteligência artificial, ou ainda, no
contexto militar, entre os SMMA e a inteligência artificial.
As áreas de pesquisa conhecidas como Inteligência Artificial e Robótica
compreendem áreas estanques do conhecimento, considerando-se que
subsistem de maneira independente entre si, com métodos e objetivos
próprios a cada uma, ao longo de seu desenvolvimento. Assim, cada uma
destas áreas de pesquisa poderia se desenvolver por si só, sem que uma
sequer precisasse conhecer as teorias e métodos da outra. Entretanto, a
imaginação humana parece que sempre as compreendeu como áreas
complementares [...] (GUDWIN, 2005).
A ligação entre inteligência artificial e robótica é destacada em vários trabalhos
como os de Oliveira (1993), Ferreira (2004), Imai (2004) e Amarante (2003), bem
como pelo TRADOC (ESTADOS UNIDOS, 2017).
Muitos pesquisadores acreditam que a Inteligência Artificial é a tecnologia
chave para o software do futuro, justificando o gasto de bilhões de dólares
em projetos de pesquisas de instituições governamentais, militares,
industriais e universitárias de todo o mundo, sobre o tema Inteligência
Artificial e suas diversas aplicações.
Dentro das áreas de estudo citam-se: Processamento de Linguagem Natural,
Reconhecimento de Padrões, Robótica, Jogos Educacionais e Sistemas
Especialistas, áreas tão importantes nas pesquisas relacionadas à simulação
do raciocínio e comportamento humano (IMAI, 2004).
Em síntese, as tecnologias envolvidas em sensores, processadores e atuadores
foram identificadas como relevantes para o desenvolvimento de SMMA. Entretanto,
duas tecnologias foram identificadas como críticas e prioritárias, por influenciarem
todos os outros subsistemas do SMMA idealizado:
• a inteligência artificial, e
• as fontes compactas de energia.

4.2 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL


36

Esta seção tem por objetivo apresentar fundamentos e tendências científicas e


tecnológicas dos sistemas autônomos, em especial, os aspectos ligados à inteligência
artificial e à robótica militar. A abordagem desenvolvida se apoiará, sempre que
possível, em analogias entre os conceitos técnico-científicos e os conceitos da
doutrina militar em voga no Exército Brasileiro.
A inteligência artificial (IA) pode ser considerada a essência da diferença entre
um sistema autônomo e um sistema automatizado.
Um sistema automatizado é aquele em que um computador por razões de
uma estrutura baseada em regras claras [...] age deterministicamente, para
cada entrada, a saída do sistema será sempre a mesma (exceto se algo
falhar). Um sistema autônomo é aquele que raciocina probabilisticamente
dado um conjunto de entradas, o que significa que faz suposições sobre os
melhores cursos possíveis de ação, face aos dados dos sensores. Ao
contrário dos sistemas automatizados, quando uma mesma entrada é
fornecida, os sistemas autônomos não necessariamente produzirão toda vez
exatamente o mesmo comportamento; em vez disso, esses sistemas
produzirão uma gama de comportamentos.
A inteligência humana geralmente segue uma sequência conhecida como
ciclo de processamento de informações percepção-cognição-ação, em que
os indivíduos percebem algo no mundo ao seu redor, pensam sobre o que
fazer e, depois de ponderar as opções, tomam a decisão de agir. A IA está
programada para fazer algo semelhante, de forma que um computador
percebe o mundo ao seu redor e, em seguida, processa as informações
recebidas por meio de algoritmos de otimização e verificação, com uma
opção de ação feita de uma forma semelhante à dos seres humanos
(CUMMINGS, 2017, tradução do autor).
Com base na explanação de Cummings (2017), pode-se afirmar que a
inteligência artificial busca reproduzir a inteligência humana realizando um ciclo
percepção-cognição-ação, o qual guarda grande semelhança com o ciclo S-P-A,
presente nas funções básicas de combate de Amarante (2003). Além disso, verifica-
se, na explanação supracitada, uma ligação da inteligência artificial com algoritmos
de otimização e com o raciocínio probabilístico.
Não por acaso, algoritmos evolucionários de otimização têm sido empregados
na inteligência artificial, visando dotar o sistema da capacidade de aprendizado por
treinamento ou experiências.
O algoritmo de otimização, no contexto ilustrado na Fig. 2, se apoia em um
37

modelo matemático representativo de um “modelo de mundo”, o qual é essencial para


o estabelecimento do problema de otimização. A solução deste problema determina
uma ordem de atuação. O procedimento de solução do problema em tela é análogo à
tomada de decisão prevista no Manual de Campanha de Comando e Controle
(BRASIL, 2015b). Desta forma, e com base nesta analogia, o modelo de mundo
corresponderia a consciência situacional e o algoritmo de otimização corresponderia
ao processo de tomada de decisão.
CONSCIÊNCIA SITUACIONAL – Percepção precisa dos fatores e condições
que afetam a execução da tarefa durante um período determinado de tempo,
permitindo ou proporcionando ao seu decisor, estar ciente do que se passa
ao seu redor e assim ter condições de focar o pensamento à frente do
objetivo. É a perfeita sintonia entre a situação percebida e a situação real
(BRASIL, 2015b).
Ainda procedendo com a analogia em tela, verifica-se que o modelo de mundo
(consciência situacional) deve ser continuamente aperfeiçoado e atualizado.
Todo sistema autônomo que interage com um ambiente dinâmico deve
construir um modelo de mundo e este modelo deve ser continuamente
atualizado […]. Isto significa que o mundo deve ser percebido (ou sentido por
meio de câmeras, microfones e/ ou sensores táteis) e então reconstruído de
modo que o computador ‘cérebro’ tenha um efetivo e atualizado modelo de
mundo e com isto possa tomar decisões. A fidelidade do modelo de mundo e
a oportunidade de suas atualizações são chaves para um sistema autônomo
efetivo (CUMMINGS, 2017, tradução do autor).
Logo, o fluxo de informações para o subsistema de processamento/inteligência,
fornecido pelos sensores do sistema autônomo, deve ser capaz de aprimorar e
atualizar o modelo de mundo, viabilizando a tomada da decisão mais adequada ou
ótima. Após a tomada de decisão, a atuação, realizada pelo SMMA, influencia o
mundo real, o qual é, em síntese, o ambiente operacional.
Ambiente Operacional – Caracterizado por um conjunto de fatores que
interagem entre si, de forma específica em cada situação, a partir de três
dimensões: a física, a humana e a informacional. Tradicionalmente, o foco da
análise do ambiente operacional era concentrado na dimensão física,
considerando a preponderância dos fatores terreno e condições
meteorológicas sobre as operações. As variações no caráter e na natureza
dos conflitos, resultantes das mudanças tecnológicas e sociais, impõem uma
visão que também considere as influências das dimensões humana e
informacional sobre as operações militares e vice-versa (BRASIL, 2015b).
38

A figura 3 ilustra um modelo de inteligência artificial com o ciclo S-P-A em um


sistema autônomo genérico.

Figura 3 – Um modelo de inteligência artificial com o ciclo S-P-A em um sistema autônomo


genérico.

O grande diferencial de algumas técnicas de inteligência artificial é a capacidade


de aprendizado com base em experiências passadas. Estas experiências aprimoram
o modelo de mundo (consciência situacional), contribuindo para o estabelecimento de
decisões mais adequadas.
As Redes Neurais Artificiais e suas variantes são exemplos de técnicas com
capacidade de aprendizado empregadas em sistemas com inteligência artificial.
As redes neurais são sistemas de computação modelados segundo a rede
em forma de malha do cérebro de elementos de processamento
interconectados chamados neurônios. É claro que as redes neurais são de
arquitetura muita mais simples que o cérebro humano (calcula-se que tenha
mais de 100 bilhões de neurônios). Entretanto, como o cérebro, os
processadores interconectados em uma rede neural operam em paralelo e
interagem dinamicamente entre si. Isto possibilita que a rede "aprenda" a
partir dos dados que ele processa. Ou seja, ele aprende a reconhecer
padrões e relações nos dados que ele processa. Quanto mais exemplos de
dados ele recebe como entrada, melhor ele pode aprender a reproduzir os
resultados dos exemplos processados. Assim, a rede neural mudará as
potências das interconexões entre os elementos do processamento em
resposta a mudanças nos padrões dos dados que ele recebe e os resultados
39

que ocorrem (IMAI, 2004).


Partindo do princípio de que quanto maior o número de informações e de
experiências passadas, melhor será o modelo de mundo e, portanto, melhor será a
consciência situacional, espera-se que melhores decisões sejam elaboradas quando
as informações forem compartilhadas entre diferentes sistemas autônomos e
computacionais. Esta rede informacional contribui para o aprendizado dos sistemas
com inteligência artificial. Este princípio é encontrado no conceito de Guerra Centrada
em Redes (GCR).
A guerra centrada em rede (GCR) é uma forma de atuar na guerra com a
visão específica oriunda da era da informação. Caracteriza-se pelo
estabelecimento de um ambiente de compartilhamento da consciência
situacional, de modo a contribuir para a obtenção da superioridade de
informação e da iniciativa, mesmo que as peças de manobra estejam
dispersas geograficamente [...]
A GCR proporciona consciência situacional compartilhada em todos os níveis
de decisão, maior coordenação e sincronização das ações e melhor difusão
e entendimento das intenções do comandante, conforme exame das suas
características (BRASIL, 2015b).
É relevante destacar que o aprendizado individual é incrementado pelo
aprendizado coletivo, concretizado com o compartilhamento de informações. Ou seja,
as experiências individuais são compartilhadas com os sistemas integrantes da rede.
Logo, os sistemas autônomos, uma vez em rede, não aprenderão somente com suas
próprias experiências, mas também com a experiência de outros sistemas autônomos
e computacionais.
Ressalta-se que o conceito da Guerra Centrada em Rede está relacionado com
o conceito de “sistema de sistemas” presente nos Sistemas de Combate do Futuro
(SCF) (FERREIRA, 2004).
O estabelecimento de uma rede de sistemas dotados de inteligência artificial
propicia uma nova abordagem para o aprendizado e decisão, a qual é
consubstanciada na Inteligência Artificial Distribuída (IAD).
A fusão de conceitos de IA e de Processamento Distribuído, processamento
de informação utilizando-se de vários computadores simultaneamente,
originou um novo campo de estudo: a Inteligência Artificial Distribuída (IAD);
a qual vêm estudando a criação de modelos mais flexíveis para a resolução
de problemas através de um conjunto de agentes inteligentes que interagem
por cooperação, coexistência ou por competição [...].
40

Os mais recentes avanços no campo dos ambientes de aprendizagem


inteligente têm proposto o uso de arquiteturas baseadas em sociedade de
agentes. Os princípios dos sistemas multi-agentes têm mostrado um
potencial bastante adequado ao desenvolvimento de sistemas de ensino,
devido à natureza dos problemas de ensino-aprendizagem; estes são mais
facilmente resolvidos de forma cooperativa (IMAI, 2004).
O aprendizado profundo (deep learning) é uma classe de técnicas de
aprendizado de máquina (machine learning) que por sua vez é um campo de pesquisa
e desenvolvimento da inteligência artificial.
Alguns afirmam que o aprendizado de máquina e o aprendizado profundo se
aproximam da inteligência humana, mas no momento essas ferramentas
basicamente detectam padrões que são significativamente ajustados pelos
humanos e devem ser interpretados pelos humanos como úteis. Como
resultado, os avanços que eles representam são evolutivos e não
revolucionários. Uma limitação crítica da aprendizagem de máquina é que,
como uma abordagem baseada em dados, ela depende fundamentalmente
da qualidade dos dados subjacentes e, portanto, pode ser muito frágil.
Não há garantias de que um computador que utiliza algoritmos de
aprendizado de máquina possa detectar um padrão ou evento nunca antes
encontrado, ou até mesmo cenários ligeiramente diferentes (CUMMINGS,
2017, tradução do autor).
Destaca-se que o aprendizado profundo pode ser entendido com base nos
conceitos de Redes Neurais Artificiais, posto que usa seus fundamentos. Por outro
lado, o aprendizado de máquina é o campo da inteligência artificial que busca imitar
as formas de aprendizado humano.
Aprendizado de máquina (ML) lida com projetar e desenvolver algoritmos
para evoluir comportamentos baseados em dados empíricos. ML tem a
capacidade de adaptação às novas circunstâncias e de detectar e extrapolar
padrões (NEBOT et al., 2018, tradução do autor).
O aprendizado coletivo está alinhado com a era da informação, onde pessoas e
máquinas estão ligadas em um ambiente informacional extremamente dinâmico.
Desta forma, é natural que os sistemas autônomos também sejam beneficiados por
este cenário, explorando o conceito de sistemas multi-agente de aprendizado
cooperativo (PANAIT; LUKE, 2015).
O aprendizado multi-agente cooperativo difere do aprendizado de máquina
ordinário por permitir, potencialmente, melhores soluções para os problemas, bem
como acelera o processo de aprendizado. Por outro lado, os sistemas multi-agentes
41

apresentam novos desafios tecnológicos, por exemplo, nos procedimentos frente a


falhas por parte de um agente. Estas falhas podem acarretar erros de aprendizado ou
de comunicação, contaminando toda a rede informacional.
O conceito de aprendizado multi-agente cooperativo está associado ao conceito
de inteligência de enxame. O enxame é um caso particular de sistema multi-agente
caracterizado pelo grande número de indivíduos e pela homogeneidade entre eles.
Isto é, os indivíduos de um enxame são de uma mesma espécie (TAN; ZHENG, 2013).
Contudo, a necessidade de homogeneidade é questionável, face a introdução do
conceito de comunicação e de colaboração entre enxames (KARA et al., 2015).
Enxames de robôs podem consistir de agentes heterogêneos – um mix de
robôs de diferentes tipos ou robôs trabalhando juntos para realizar uma tarefa
[...].
Um enxame cooperativo de sistemas desabitados pode distribuir suas
funções através de um mix de plataformas, permitindo mais sistemas
numerosos de baixo custo (SCHARRE, 2014b, tradução do autor).
O conceito de enxame, inspirado nas sociedades de insetos e em sua
capacidade de realizar tarefas complexas, originou um novo ramo da inteligência
computacional, o qual passou a ser denominado: inteligência de enxame.
A inteligência de enxame [...] é uma subdisciplina da inteligência
computacional que visa resolver problemas ao modelar populações de
agentes que podem se auto organizar e interagir uns com os outros. Os
agentes podem trocar informações para compartilhar experiências. A
combinação de movimentos e interações destes agentes simples resultam no
desempenho da população (ERTENLICE; KALAYCI, 2018, tradução do
autor).
As regras evolucionárias presentes nos algoritmos de inteligência de enxame
são frequentemente inspiradas no comportamento social de seres humanos, insetos
ou animais, sendo, portanto, bioinspiradas e metaheurísticas.
Como uma área de pesquisa emergente, a inteligência de enxames atraiu a
atenção de muitos pesquisadores desde que o conceito foi proposto em 1980.
A inteligência de enxames se tornou uma fronteira interdisciplinar e foco de
muitas disciplinas, incluindo inteligência artificial, economia, sociologia,
biologia, etc. Tem sido observado há muito tempo que algumas espécies
sobrevivem na natureza se aproveitando do poder dos enxames, e não da
sabedoria dos indivíduos. Os indivíduos em tal enxame não são muito
inteligentes, mas completam as tarefas complexas através da cooperação e
divisão do trabalho e mostram elevada inteligência no enxame como um todo,
42

o qual é altamente auto organizado e auto adaptável (TAN; ZHENG, 2013,


tradução do autor).
O conceito de enxame extrapola a inteligência computacional, alcançando a
robótica, os algoritmos de otimização, podendo ainda ser utilizado na doutrina militar,
influenciando os princípios de guerra: massa e manobra (ARQUILLA; RONFELDT,
2000).
A guerra de enxames combina a natureza altamente descentralizada do
combate corpo a corpo com a mobilidade da manobra e um alto grau de
organização e coesão, permitindo que um grande número de elementos
individuais combata coletivamente. O enxame tem requisitos de organização
e comunicação muito maiores do que a guerra de manobra, pois o número
de manobras simultâneas e combates individuais é significativamente maior
(SCHARRE, 2014b, tradução do autor).
Pode-se afirmar que: “o enxame como conceito doutrinário tem a vantagem
sobre a manobra na medida em que distribui suas forças no campo de batalha,
enquanto aproveita para lutar como um todo coerente” (SCHARRE, 2014b, tradução
do autor).
O princípio da massa preconiza: “Emasse um poder de combate esmagador no
momento e local decisivos” (BRASIL, 2014b, tradução do autor).
Compreende a concentração de forças para obter a superioridade decisiva
sobre o inimigo, com qualidade e eficácia, no momento e local mais favorável
às ações que se têm em vista, com capacidade para sustentar esse esforço,
enquanto necessário. A aplicação desse princípio permite que forças,
numericamente inferiores, obtenham superioridade decisiva no momento e
local crítico (BRASIL, 2014b, tradução do autor).
O princípio da manobra estabelece: “Coloque o inimigo numa posição
desvantajosa, pela aplicação flexível do poder de combate” (BRASIL, 2014b, tradução
do autor).
Como um dos elementos do Poder de Combate terrestre, caracteriza-se pela
capacidade de movimentar ou dispor forças de forma a colocar o inimigo em
desvantagem relativa e, assim, atingir os resultados que, de outra forma,
seriam mais custosos em homens e material. Contribui para obter a
superioridade, aproveitar o êxito alcançado e preservar a liberdade de ação,
bem como para reduzir as próprias vulnerabilidades. A manobra procura
destruir a coesão inimiga, por meio de variadas ações localizadas e
inesperadas (BRASIL, 2014b, tradução do autor).
Algoritmos de otimização bioinspirados, os quais exploram o comportamento
43

estocástico das relações sociais tem sido fundamentais para o desenvolvimento da


inteligência de enxame, dentre os quais podem ser citados: o enxame de partículas
(particle swarm) e a colônia de formigas (ant colony).
A utilização do conceito de enxame na robótica tem despertado grande
interesse militar e civil. O potencial uso de enxames de sistemas autônomos
constituídos por indivíduos, relativamente, mais simples do ponto de vista tecnológico
na execução de tarefas complexas apresenta inúmeras possibilidades.
As aplicações potenciais de enxame robóticos incluem tarefas que exigem
miniaturização, como tarefas de sensoriamento distribuído em
micromáquinas ou no corpo humano. Por outro lado, os enxames robóticos
podem ser adequados às tarefas que exigem projetos baratos, tais como
tarefas de mineração ou agrícolas. Os enxames robóticos também podem ser
utilizados em tarefas que exigem grande espaço e tempo, e que são
perigosas para o ser humano ou para os próprios robôs, como os resgates
pós-desastres, busca de alvos, aplicações militares, etc. (TAN; ZHENG,
2013, tradução do autor).
A utilização de indivíduos, com capacidades limitadas, ao cooperarem geram
novas capacidades para o grupo. Em muitos casos, ao se substituir um sistema
autônomo complexo por um enxame de sistemas autônomos, constituído por
indivíduos mais simples, obtém-se maior robustez, flexibilidade e economicidade. Vale
observar que uma falha em um indivíduo complexo que executa uma tarefa sozinho,
provavelmente pode comprometer o sucesso da atividade. Por outro lado, uma falha
em um indivíduo de um enxame que realiza uma tarefa dificilmente comprometerá a
atividade, pois outros indivíduos do enxame suprirão a deficiência do indivíduo que
falhou.
Para completar uma tarefa sofisticada, um único robô deve ser projetado com
estrutura complicada e módulos de controle, resultando em alto custo de
projeto, construção e manutenção. Um único robô é vulnerável especialmente
quando uma pequena parte quebrada do robô pode afetar todo o sistema e é
difícil prever o que vai acontecer. A robótica de enxames pode alcançar a
mesma capacidade através da cooperação entre grupos e levar vantagem na
reutilização de agentes simples e de baixo custo de construção e
manutenção. A robótica de enxames também aproveita o alto paralelismo e
é especialmente adequada para tarefas de grande escala (TAN; ZHENG,
2013, tradução do autor).
44

4.3 FONTES COMPACTAS DE ENERGIA

Na era do conhecimento, o ser humano se mantém conectado a redes


informacionais 24 horas por dia, empregando smartphones, notebooks,
computadores, veículos, eletrodomésticos etc.
Os sistemas móveis e portáteis das redes informacionais necessitam de energia,
usualmente fornecida por baterias. Contudo, a crescente necessidade de acesso às
redes informacionais, aliada ao aumento dos requisitos de mobilidade e de
portabilidade destes sistemas tem apresentado um desafio energético e tecnológico.
Este desafio consiste em aumentar a capacidade de fornecimento de energia,
empregando fontes de energia cada vez mais compactas.
O desafio em tela é estratégico para a sociedade contemporânea, merecendo
atenção das Forças Armadas. A pesquisa e o desenvolvimento de fontes compactas
de energia, cada vez mais eficientes, é fundamental nos diferentes programas de
“soldados do futuro” conduzidos por diversos países, bem como em veículos aéreos,
terrestres e aquáticos não tripulados, mísseis, exoesqueletos e na robótica militar.
É inegável a tendência de se reduzir o tamanho de sistemas autônomos, o que
é evidenciado pelos microveículos aéreos não tripulados, os quais chegam a ser do
tamanho de insetos, conforme ilustrado na Fig. 4.

Figura 4 – Robô inseto.

Fonte: Woods (2008).

Fontes compactas de energia altamente eficientes são estratégicas por


45

ampliarem o tempo de ação das forças em combate, sem a necessidade de


suprimento, e por reduzirem o peso do equipamento dos soldados ou mesmo dos
sistemas autônomos, permitindo o aumento da carga útil ou, simplesmente,
aumentando a mobilidade de seus usuários.
Atualmente, nas forças armadas do Reino Unido, os soldados carregam cerca
de 20% de seu peso em baterias e a energia que estas fontes de energia devem suprir
em uma operação de 3 dias é aproximadamente 2kWh, com uma potência de 30W
(FAULKNER, 2017).
A tabela 4 apresenta uma classificação quanto à massa e à potência de VANT.
A partir destes dados, é possível estimar o tamanho e a potência que um subsistema
de energia deve suprir a fim de atender a demanda destes VANT.

Tabela 4 – Classificação de VANT.


Massa útil (kg) Massa total (kg) Potência total (W)
MicroVANT <1 <9 <100
MiniVANT 1-3 9 - 20 100 - 10000
Regular VANT 3 - 150 20 - 400 10000 - 50000
Fonte: Faulkner (2017).

Pesquisas militares têm apontado para algumas fontes compactas de energia


como sendo alternativas promissoras às atuais baterias (GARDNER, 2007, GILMAN
et al., 2008), dentre as quais:
• micromotores de combustão interna,
• sistemas termofotovoltaicos,
• sistemas termoelétricos,
• células de combustível e
• células solares.
Estas fontes podem ser usadas de forma combinada com outros sistemas de
energia ou mesmo de forma complementar, como por exemplo a energia solar,
utilizando a conversão fotovoltaica para recarregar as baterias de sistemas
autônomos.
Destaca-se que apesar das fontes compactas de energia para uso dos soldados,
como parte integrante do equipamento individual, não serem o foco do presente
46

trabalho, estas fontes, face à sua elevada portabilidade e aos seus severos requisitos
de engenharia, são, muitas vezes, aplicáveis aos Sistemas Mecatrônicos Militares
Autônomos. Logo, concerne ao presente trabalho apresentar as referidas fontes como
possíveis alternativas para futuros projetos de PD&I no contexto dos SMMA.
Um requisito crucial na seleção e no desenvolvimento de novas tecnologias para
um subsistema de energia de um SMMA é a elevada energia dispendida por unidade
de massa, denominada energia específica. Consequentemente, os sistemas que
empregam processos de microcombustão têm crescido em importância, pois
hidrocarbonetos líquidos tem uma energia específica típica de 45 MJ/kg, enquanto as
melhores baterias da atualidade possuem uma energia específica típica de 1,2 MJ/kg
(FERNANDEZ-PELLO, 2002). Logo, meso e micromotores de combustão interna com
eficiência maiores que 3% são alternativas competitivas frente às típicas baterias
(FERNANDEZ-PELLO, 2002). Entretanto, sistemas com eficiência maiores que 40%
já foram construídos (JU; MARUTA, 2011).
A saber, os termos meso e micro no contexto de combustores, usualmente,
referem-se ao comprimento característico da câmara de combustão, respectivamente,
da ordem de 10 mm e de 1 mm (JU; MARUTA, 2011).
Meso e micromotores de combustão interna abrangem vários sistemas como
motores alternativos, ciclo Otto, Diesel e Stirling, motores rotativos (como os motores
Wankel), turbinas a gás e motores à jato.
Os meso e micromotores à jato são indicados em atuadores e para o controle de
atitude de microssatélites (JU; MARUTA, 2011). Contudo, estes sistemas podem ser,
em alguns casos, empregados na propulsão adicional de projéteis (OLIVEIRA et al.,
2017). As dimensões destes micropropulsores podem variar muito, face à tecnologia
de fabricação adotada: micromoldagem, usinagem de precisão e as tecnologias
usadas na fabricação de circuitos impressos (WALTHER; AHN, 2011). As câmaras de
combustão destes propulsores variam de 0,5 mm3 a 2000 mm3 (JU; MARUTA, 2011).
É digno de nota que o Instituto Militar de Engenharia tem realizado pesquisas
com mesopropulsores com diâmetro de câmara de combustão menor que 10 mm e
com a garganta da tubeira menor que 1 mm (OLIVEIRA et al., 2017).
Os micromotores alternativos, rotativos e as turbinas a gás podem ser utilizados
para a geração de energia elétrica. A tabela 5 informa valores típicos para o volume
da câmara de combustão e para a potência gerada por meso e micromotores de
47

combustão interna e a Fig. 5 ilustra um micromotor de combustão interna rotativo do


tipo Wankel.

Tabela 5 – Meso e micromotores de combustão interna.


Volume (mm3) Potência (W)
micromotor alternativo com pistão livre 1000 10
micromotor rotativo 1 - 1000 30
microturbina a gás 60 - 200 50
Fonte: Ju; Maruta (2011).

Figura 5 – Micromotor Wankel.

Fonte: Jiang et al. (2018).

Nas pequenas escalas, assim como nas grandes escalas, a turbina a gás se
destaca na relação potência por volume. Isto significa que, dentre os sistemas listados
na tabela 5, a microturbina a gás fornece mais potência com um tamanho menor,
estando alinhada com o requisito de ser uma fonte compacta de energia.
O sistema termofotovoltaico funciona de forma análoga às células solares de
conversão fotovoltaica. Estas convertem a radiação solar em energia elétrica,
enquanto o sistema termofotovoltaico converte a radiação térmica em energia elétrica.
Frequentemente, o sistema termofotovoltaico requer um microcombustor a fim de
fornecer radiação térmica a partir da queima de um combustível. Segundo Bitnar et
al. (2013), o recorde de eficiência de um sistema termofotovoltaico é de 4%,
fornecendo 50 W. Ademais, o interesse do Exército Americano por este sistema existe
48

desde a década de 60 (GILMAN et al., 2008), o que revela o longo tempo para o
desenvolvimento desta tecnologia, a qual, nos dias de hoje, ainda não está totalmente
estabelecida, pois poucos protótipos se tornaram produtos comerciais.
A Fig. 6 apresenta um sistema termofotovoltaico com um queimador central e
com painéis termofotovoltaicos ao redor do queimador.

Figura 6 – Um sistema termofotovoltaico.

Fonte: Bitnar et al. (2013).

Os sistemas de conversão termoelétrica de energia são apontados como uma


fonte compacta de energia de interesse militar (GILMAN et al., 2008). Estes sistemas
se baseiam no efeito Seebeck que consiste no fato de uma diferença de potencial
térmico aplicado nas extremidades de alguns materiais condutores (ou
semicondutores) resultar em uma diferença de potencial elétrico. Em outras palavras,
quando estes materiais têm cada uma de suas extremidades submetidas a diferentes
temperaturas, uma diferença de potencial elétrico surge, resultando em uma corrente
elétrica. Posto que estes sistemas necessitam de uma fonte fria e de uma fonte quente
para produzir energia elétrica, microcombustores são, por vezes, importantes
componentes nestes sistemas.
Em alguns casos, o sistema termoelétrico pode aproveitar a diferença de
temperatura entre o ambiente externo ao SMMA e a temperatura de um motor de
combustão interna (ou de seus gases de exaustão). Nesta condição a conversão
termoelétrica direta, explorando o efeito Seebeck, pode suprir parcialmente (ou
totalmente) as necessidades de energia elétrica do sistema autônomo, como em
49

VANT e VTNT. Esta estratégia também pode ser usada para carregar baterias.
Assim como as baterias convencionais, as células de combustível produzem
energia elétrica a partir de reações eletroquímicas. Nestes sistemas, o combustível
funciona como anodo e o oxigênio como catodo. Ou ainda, “uma célula de combustível
é um equipamento que produz eletricidade por meio da conversão de hidrogênio e
oxigênio em água” (FAULKNER, 2017, tradução do autor). Além disso,
hidrocarbonetos também podem ser usados como fornecedores de hidrogênio para a
reação eletroquímica na célula de combustível.
Segundo Faulkner (2017), um exemplo de veículo aéreo não tripulado militar que
usa células de combustível é o Global Observer, o qual tem uma autonomia de 168
horas e alcança velocidades de 42 km/h.
As células de combustível, os sistemas termofotovoltaicos e os termoelétricos
não possuem partes móveis e, em geral, são silenciosos, o que favorece sua utilização
militar.
As células solares realizam a conversão fotovoltaica, transformando a energia
proveniente da radiação solar em energia elétrica. Estas células apresentam grande
potencial como fonte de energia para VANT ou mesmo como fontes de energia para
a recarga de baterias.
O primeiro voo de um VANT com células solares como fonte de energia para a
propulsão data de 1974. Este VANT, denominado Sunrise I, possuía 9,76 m de
envergadura e 12,25 kg, tendo atingido 100 m de altura e voado por 20 minutos
(VIDALES, 2013).
Pequenos VANT, como o PUMA RQ-20B, com uma área de asa
aproximadamente igual a 7160 cm2, seriam indicados para utilizar células solares
como fontes de energia (VIDALES, 2013). O tamanho da área de asa é relevante, pois
sobre as asas são instaladas as células solares. Logo, quanto maior a área coberta
por células solares, maior será a energia elétrica suprida ao sistema.
O PUMA RQ-20B tem autonomia de aproximadamente 3 horas, com alcance de
15 km e massa igual a 6,4 kg. Com o uso de células solares sobre suas asas o PUMA
RQ-20B ampliaria indefinidamente sua autonomia (LIA, 2017). Isto seria possível se
as baterias tivessem uma autonomia maior que o período sem radiação solar e se
durante o período que o VANT recebe a radiação solar parte desta energia fosse
utilizada para recarregar as baterias.
50

O uso de células solares em VANT é uma realidade e tem sido largamente


pesquisado por empresas privadas e públicas, com destaque para a NASA cujo
veículo Pathfinder é ilustrado na Fig. 7. Portanto, o uso da conversão fotovoltaica deve
ser avaliado como alternativa energética nos projetos de novos SMMA.

Figura 7 – Veículo aéreo não tripulado com propulsão elétrica suprida por células solares –
Pathfinder.

Fonte: Vidales (2013).

A análise técnico-econômica conduzida por Faulkner (2017) se restringiu a


baterias, células de combustível e micromotores de combustão interna, e concluiu
que:
Os resultados mostraram que os micromotores de combustão interna foram
a opção preferida para atender a todas as aplicações das fontes portáteis de
energia; veículos aéreos não tripulados, serviços militares, eletrônicos
pessoais e geradores portáteis. Em particular, eles foram preferidos devido a
sua baixa massa e pequeno tamanho. Embora esta tecnologia não esteja
madura (FAULKNER, 2017, tradução do autor).
As fontes compactas de energia descritas mostram que diferentes tecnologias
estão sendo pesquisadas. As células solares e as células de combustível apresentam
como vantagem o fato de já existirem VANT operando com estes sistemas. Por outro
lado, as tecnologias baseadas em microcombustores como os micromotores de
combustão interna, sistemas termofotovoltaicos e termoelétricos merecem atenção e
podem se tornar viáveis a médio prazo.
A redução de tamanho de sistemas com tecnologias bem estabelecidas em
51

grandes escalas, como por exemplo motores alternativos e turbinas a gás, para meso
e microescalas trazem muitos desafios tecnológicos e novos fenômenos físicos
passam a serem relevantes. O sucesso destes novos sistemas depende de
investimentos na formação de recursos humanos, em PD&I em processos de
fabricação, materiais, e em pesquisa básica. Portanto, a redução do tamanho dos
sistemas supracitados não é um mero fator de escala.
52

5 OPERAÇÕES E DOUTRINA

Este capítulo tem por objetivo identificar possíveis influências nas operações e
na doutrina decorrentes do emprego de sistemas mecatrônicos militares autônomos
na guerra do futuro. Para tal, este capítulo é divido nas seguintes seções:
• identificar as motivações relacionadas a implantação dos SMMA nas FA.
• identificar aplicações e aspectos doutrinários relacionados ao emprego
dos SMMA nas operações militares; e
• identificar os aspectos relativos à doutrina e ao emprego de enxames e
de equipes híbridas de combate.

5.1 MOTIVAÇÕES

Os SMMA têm o potencial de modificar os futuros conflitos bélicos, influenciando


a estratégia, a doutrina e o pensamento militar. Motivações militares e econômicas
têm acelerado o processo de introdução dos sistemas autônomos nas Forças
Armadas.
Do ponto de vista militar, os sistemas autônomos possibilitam a realização de
missões com maior segurança, com menos danos colaterais, e com maior
profundidade. Posto que, os SMMA contribuem para o aumento da consciência
situacional, da precisão e para a diminuição do número de militares na zona de
combate, além de afastar os militares das atividades mais perigosas.
Um cenário futuro vislumbra que forças estratégicas serão deslocadas para fora
do teatro de operações e as forças táticas poderão perder o contato com o inimigo,
sendo esta tarefa delegada aos sistemas autônomos.
O aspecto econômico tem impulsionado a utilização dos SMMA. Os custos
militares com pessoal e com material tem crescido muito e impactam sobremaneira
nas contas públicas. Os custos com o treinamento militar, com militares baixados, na
reserva remunerada e reformados são fatores relevantes que tem motivado vários
exércitos no mundo a reduzir seus efetivos.
o Exército dos EUA está tentando reduzir o número de seu pessoal e adotar
mais robôs nos próximos anos [...]. O Exército deve encolher de 540.000 para
420.000 pessoas até 2019. Para manter a mesma efetividade enquanto reduz
a força de trabalho humana, o Exército aumentará o poder não tripulado, na
53

forma de robôs. O fato é que as pessoas e, antes de tudo, a vida delas são o
principal custo. Além disso, treinar, alimentar e suprir os soldados durante a
guerra é caro, e depois que os soldados deixam o serviço, há uma vida inteira
de cuidados médicos para cobrir (SAPATY, 2015, tradução do autor).
Adicionalmente, os custos com os materiais de emprego militar, principalmente
os com elevada tecnologia, têm crescido severamente. De acordo com Scharre
(2014b), o número de navios e de aviões de combate tripulados nas forças armadas
americanas, entre 2001 e 2008, reduziu, respectivamente, em 10% e em 20%. Por
outro lado, os custos por unidade de material cresceram. Como exemplo, os custos
com uma única aeronave tripulada de combate típica subiram da ordem de 120
milhões de dólares para aproximadamente 200 milhões de dólares entre 2000 e 2010
(SCHARRE, 2014b).
A redução do orçamento das Forças Armadas tem um impacto na doutrina
militar, a qual precisa se adaptar a esta nova realidade e simultaneamente aumentar
sua efetividade. A ciência e a tecnologia são aliadas neste processo de adequação.
“O vencedor da revolução robótica não será quem desenvolve esta tecnologia
primeiro ou mesmo quem tem a melhor tecnologia, mas quem descobre como melhor
usá-la” (SCHARRE, 2014, tradução do autor).

5.2 APLICAÇÕES E ASPECTOS DOUTRINÁRIOS

A introdução de novas tecnologias no EB tem por objetivo o provimento ou


ampliação de capacidades necessárias para
o cumprimento de sua destinação constitucional por meio da manutenção da
Força Terrestre em adequado estado de prontidão, estruturada e preparada
para o cumprimento de missões operacionais terrestres, conjuntas e
interagências. Tal estado de prontidão decorre do contínuo processo de
transformação, na busca de novas capacidades, sob a orientação das
características doutrinárias de flexibilidade, adaptabilidade, modularidade,
elasticidade e sustentabilidade (BRASIL, 2016b).
As características doutrinárias de flexibilidade, adaptabilidade, modularidade,
elasticidade e sustentabilidade podem ser incrementadas ou alcançadas por meio da
adoção de SMMA. Estes sistemas possibilitam uma significativa ampliação das
capacidades operativas, aumentando a consciência situacional, a projeção de poder,
a segurança e a profundidade das operações.
54

Entende-se por capacidade operativa:


[...] a aptidão requerida a uma força ou organização militar, para que possam
obter um efeito estratégico, operacional ou tático. É obtida a partir de um
conjunto de sete fatores determinantes, inter-relacionados e indissociáveis:
Doutrina, Organização (e/ou processos), Adestramento, Material, Educação,
Pessoal e Infraestrutura - que formam o acrônimo DOAMEPI (BRASIL,
2015a).
Neste sentido, a introdução de SMMA no EB não é uma tarefa simples e deve
vir acompanhada de ações que concretizem o acrônimo DOAMEPI e observando
aspectos logísticos, principalmente, manutenção e suprimento.
A forma como essas plataformas e sistemas serão integrados às futuras
estruturas da força [...] é uma questão complexa, exigindo análise e
planejamento consideráveis, assim como associa questões éticas e jurídicas
acerca do seu emprego (MARTINIC, 2014b, tradução do autor).
A implantação gradativa dos sistemas autônomos nas Forças Armadas de
diversos países tem se iniciado pelas operações de Inteligência, Reconhecimento e
Vigilância (IRV), pelas atividades de neutralização de explosivos, bem como por
atividades logísticas de suprimento. O que corrobora o processo em curso no EB,
atualmente voltado para SARP e SVTRP.
A dotação de SMMA também se dá a partir de sistemas menos complexos para
os mais complexos, começando pelos sistemas semiautônomos até os
completamente autônomos. Esta gradação favorece a adaptação cultural das
instituições aos novos meios, as novas formas de trabalho e aos novos processos. Os
SMMA mudam a cultura organizacional, por vezes resultando em quebras de
paradigmas. Muitos destes paradigmas transcendem a organização militar, estando
presentes em considerações civis, éticas e jurídicas. Estes fatores, e não o
desenvolvimento tecnológico, têm atrasado a utilização de sistemas completamente
autônomos nos conflitos militares.
Já é possível construir sistemas que podem identificar, direcionar e engajar
forças inimigas, embora as atuais diretrizes do DoD (Departamento de
Defesa dos EUA) determinem que um ser humano esteja no circuito para
decisões ofensivas de força letal (WORK; BRIMLEY, 2014, tradução do
autor).
A tabela 6 apresenta diferentes categorias de SARP e os, respectivos, níveis do
elemento de emprego, variando do nível subunidade até o nível do Ministério da
Defesa. O nível de elemento de emprego é um aspecto doutrinário importante, pois
55

está associado ao tipo de emprego se tático, operacional ou estratégico.

Tabela 6 – Classificação e categorias dos SARP para a F Ter.

Fonte: Brasil (2014).

A doutrina militar do EB contempla a utilização de SARP (BRASIL, 2014a),


estabelecendo as missões típicas dos SARP nas operações:
• inteligência;
• reconhecimento;
• vigilância;
• aquisição de alvos;
• comando e controle;
• guerra eletrônica;
• identificação, localização, designação de alvos;
• logística; e
• outras missões (detecção QBRN, detecção de artefatos explosivos
improvisados etc.).
O Plano Estratégico do Exército 2016-2019 (BRASIL, 2017) determina a
manutenção do processo de desenvolvimento de SVTRP. Esta classe de VTNT
56

também necessitará de fundamentação doutrinária, a qual pode ser, em certa medida,


similar a desenvolvida para o SARP, podendo o SVTRP ser utilizado nos mesmos
tipos de missões descritas por Brasil (2014) para o SARP. Vislumbra-se, porém, uma
maior adequação dos VTNT, no momento, às missões táticas.
Sem dúvida, as vantagens mais valiosas dos VTNT são sua capacidade de
executar tarefas IRV, para ajudar e complementar a mobilidade dos soldados
no campo de batalha e, quando armado, para projetar poder de fogo
enquanto protege o operador da ação direta do inimigo. Esses recursos os
tornaram particularmente atraente para as forças armadas e para forças
policiais em todo o mundo, incluindo a guerra não convencional e operações
antiterroristas (MARTINIC, 2014b, tradução do autor).
O sucesso dos VTNT no Exército Americano é constatado pelo grande número
destes veículos utilizados no Iraque e no Afeganistão.
Nos últimos anos, por exemplo, o Exército dos EUA e o corpo de fuzileiros
navais dos EUA, supostamente, utilizaram pelo menos 6000 VTNT no Iraque
e no Afeganistão, principalmente em inteligência, reconhecimento e vigilância
(IRV), bem como para a detecção de dispositivos explosivos (MARTINIC,
2014b, tradução do autor).
O uso de VTNT pelo Exército atende ao objetivo de afastar o homem das
atividades de maior risco, repetitivas e enfadonhas, ampliando a capacidade de
trabalho e reduzindo o efetivo necessário para o cumprimento das missões.
Os VTNT são versáteis, ágeis e relativamente resistentes. Além disso, com a
capacidade de executar tarefas repetitivas com velocidade e precisão - e
sendo desprovido de emoção humana - os VTNT são tenazes, incansáveis e
destemidos. Isso os torna extremamente úteis para um grupo de tarefas mais
mundanas, tediosas e perigosas no moderno campo de batalha,
especialmente aquelas que de outro modo exporiam combatentes ou
operadores humanos a risco de lesão ou morte maior do que o normal
(MARTINIC, 2014b, tradução do autor).
As operações logísticas serão revolucionadas na guerra do futuro, com destaque
para o intenso uso de sistemas autônomos. O uso de VANT para o suprimento aéreo,
com raio de ação de uma milha, com ênfase para pequenas cargas em áreas
conflagradas, como forma de suprir tropas isoladas e dispersas em áreas de risco tem
sido objeto de pesquisa (IVANOVA et al., 2016) e devem ser concretizados em curto
prazo. Esta aplicação tem sido alvo do interesse de grandes empresas de logística
voltadas para atividades civis (IVANOVA et al., 2016).
Para logística, sistemas não tripulados podem facilitar as tarefas de
57

transporte e reabastecimento, bem como apoiar rotinas de manutenção,


como inspeções (CATON, 2015, tradução do autor).
Não obstante, cargas maiores e raios de ação maiores também podem ser
atendidos por meio de VANT logísticos. Contudo, estes VANT são mais caros e
carecem de sistemas de contramedidas mais sofisticados (IVANOVA et al., 2016).
Uma alternativa no sentido de redução de custos é a utilização de kits que
transformem aeronaves tripuladas em não tripuladas. Tais kits já foram testados no
Afeganistão, em 2011, no helicóptero K-Max (IVANOVA et al., 2016).
Uma outra aplicação de VANT na logística é o lançamento preciso de cargas
guiadas com paraquedas (IVANOVA et al., 2016). Esta tecnologia está bem
estabelecida. Entretanto, aprimoramentos contínuos têm ampliado a gama de
missões atendidas, visando maiores cargas, maiores altitudes de lançamento e maior
precisão. Os sistemas também têm evoluído de semiautônomos para os
completamente autônomos e o guiamento tem incorporado diferentes tecnologias
como GPS e reconhecimento de imagem. Ademais, o uso destes sistemas em
situações de catástrofes naturais, e no suprimento de áreas isoladas, de plataformas
de petróleo, e de navios, aumenta o mercado para futuros produtos.
Com relação aos VTNT em operações logísticas, uma potencial aplicação seria
o emprego de comboios autônomos. A questão do suprimento por comboios abre
espaço para diferentes soluções. O comboio poderia ser completamente autônomo
ou parcialmente autônomo. O veículo líder poderia ser tripulado ou não tripulado,
enquanto os demais seriam veículos autônomos seguidores. O uso de veículos
seguidores simplifica o sistema, reduzindo os custos. Os veículos autônomos
seguidores são mais simples, pois prescindem de sistemas complexos de navegação
em ambientes não estruturados, posto que a navegação é feita pelo veículo líder, este
sim precisa ser tripulado ou mesmo completamente autônomo, com elevada
capacidade de navegação.
Entretanto, em regiões com maior risco de explosivos improvisados ou de minas,
o veículo líder poderia ser completamente autônomo ou semiautônomo, sendo os
outros integrantes do comboio tripulados, esta proposta visa aumentar a segurança
do comboio, posto que o veículo líder seria destruído ao acionar o explosivo, porém a
tropa estaria protegida.
Assim, como nos VANT, a utilização de kits de conversão de veículos tripulados
para autônomos é uma alternativa relevante para a redução de custos.
58

Robôs ou VTNT também estão em desenvolvimento para atender as


necessidades de transporte de material de pequenas frações. Frequentemente, estes
veículos recebem o nome de mulas (SAPATY, 2015, tradução do autor). A Fig. 8
ilustra uma Robô mula produzido pela Boston Dynamics.

Figura 8 – Robô mula.

Fonte: Sapaty (2017).

A evacuação de feridos é outra atividade importante de operações logísticas que


poderá ser realizada por robôs. A atividade de resgate e extração de feridos é
classificada como de elevado risco.
O resgate de soldados gravemente feridos, sob fogo, é em si uma das
principais causas de morte de militar por lesão traumática. Algumas fontes
estimam que até 86% das mortes no campo de batalha ocorrem após os
primeiros 30 minutos após a lesão. [...] veículos não tripulados estão sendo
desenvolvidos para a extração de vítimas do campo de batalha [...], a fim de
reduzir esta incidência (MARTINIC, 2014, tradução do autor).
Robôs humanoides, como o Atlas da Boston Dynamics, têm evoluído muito e
serão capazes de em curto espaço de tempo de realizar atividades de apoio logístico
em áreas de risco. A extração de feridos é uma das possibilidades de emprego.
Contudo, o acelerado processo de desenvolvimento tecnológico viabilizará, a longo
prazo, que muitas das atividades, hoje atribuídas aos soldados no campo de batalha,
sejam realizadas por robôs. Atualmente, o robô SGR-1 da Samsung é um robô
sentinela armado com uma metralhadora 5,5 mm e com um lançador de granadas 40
mm (PRIGG, 2014).
59

Além das atividades logísticas, as missões de ataque serão realizadas por


SMMA na guerra do futuro. VANT, VTNT e robôs estão sendo desenvolvidos e
utilizados como armas estratégicas e táticas.
Capacidades de aplicação da força já foram provadas em combate por VANT
conduzindo operações ofensivas contra alvos de alto valor. VTNT são
também projetados para ter aplicações letais, como reconhecimento armado,
bem como operações não letais, como o controle de multidões (CATON,
2015, tradução do autor).
As operações empreendidas pelos Estados Unidos com o VANT MQ-9 Reaper
na Guerra Contra o Terrorismos é o exemplo de maior sucesso de uso de SMMA de
ataque. Dentre os VTNT, um exemplo é mostrado na Fig. 9, o Black Knight da BAE
Systems armado com um canhão 25 mm.

Figura 9 – Black Knight VTNT.

Fonte: Black Knight (2018).

A Fig. 9 fornece um indicativo do que poderá acontecer no futuro próximo. Uma


possibilidade é a constituição de esquadrões autônomos ou híbridos (com veículos
não tripulados e tripulados), o que resultará em uma revolução na doutrina militar a
fim de definir a forma de atuação destas subunidades.
Os SMMA não se restringirão a simplesmente substituir os humanos, mas
executarão as missões de outra forma, porém esta nova forma deverá ser concebida
pela doutrina.
O Roteiro Integrado postula que esta ordem pode levar a sistemas que atuam
além da mera substituição de sistemas tripulados, permitindo assim
60

formações e táticas mais ágeis e manobráveis. Também sugere que sistemas


não tripulados poderiam ser usados como ativos descartáveis de baixo custo,
um conceito que inverte o foco atual em aquisição de sistemas complexos e
caros que muitas vezes requer planejamento de risco adverso. Mas como se
determina os melhores tipos de sistemas não tripulados para adquirir? E qual
é a melhor maneira de misturar esses sistemas com combatentes humanos
em uma força coesa (CATON, 2015, tradução do autor)?
O conceito de SMMA descartável de baixo custo viabiliza muitas aplicações
militares tanto de apoio logístico como de ataque.
Considerando tamanhos menores e quantidades maiores, sistemas não
tripulados podem ser construídos para serem perdidos em combate, tornando
a sobrevivência uma característica não de indivíduo, mas de um enxame de
sistemas autônomos (WORK; BRIMLEY, 2014, tradução do autor).
Em grande medida, o SMMA descartável de baixo custo se aproxima do conceito
de míssil ou mesmo de munição inteligente.
O uso de pequenos VANT de baixo custo tem grande aplicabilidade para
pequenas unidades de combate. Estes sistemas podem realizar missões de vigilância,
reconhecimento e de apoio de fogo, aumentando a autonomia destas pequenas
frações.
Um notável uso particular para pequenos veículos aéreos não tripulados é a
capacidade de colocar suporte aéreo diretamente nas mãos das tropas em
terra. [...] Um pequeno veículo aéreo de precisão, o Switchblade é uma "arma
de combate de fogo final" que fornece apoio de fogo aproximado, colocado
diretamente nas mãos de tropas terrestres e torna o apoio de fogo
instantaneamente disponível (SCHARRE, 2014b, tradução do autor).
Entretanto, todo o desenvolvimento tecnológico associado aos SMMA somente
será efetivo na Guerra do Futuro se acompanhado do desenvolvimento doutrinário.
“Enquanto a tecnologia oferece equipamentos mais novos, seu sucesso no campo de
batalha só pode ser alcançado através de inovações doutrinárias eficazes” (BHALLA,
2015, tradução do autor).
A adoção de SMMA pode implicar em um aumento significativo de informações
do ambiente operacional, contribuindo para o processo decisório, porém demandando
mais trabalho da equipe de analistas de informação.
Depois que os dados são recebidos, eles precisam ser usados pelos analistas
para tirar conclusões para os tomadores de decisão. Como exemplo
ilustrativo, o aumento nos dados coletados pelo VANT Predator para o
Departamento de Defesa dos EUA (DoD) resultou em um aumento de 30%
61

no número de analistas necessários para classificá-los (IVANOVA et al.,


2016, tradução do autor).
Assim, é essencial que a IA também evolua no sentido aumentar a capacidade
de análise autônoma de dados de forma a favorecer o processo decisório.
A grande quantidade de dados agora disponíveis está muito além capacidade
de qualquer humano processar, correlacionar e agir sobre isso. A análise de
grandes conjuntos de dados – agora conhecida como big data - se tornará
fundamental na competição econômica, científica e militar (WORK;
BRIMLEY, 2014, tradução do autor).

5.3 ENXAMES E EQUIPES HÍBRIDAS DE COMBATE

Estudos prospectivos indicam que na Guerra do Futuro formações de batalha


combinarão soldados e sistemas autônomos, dando origem a equipes híbridas de
combate. Estas unidades de combate são identificadas na doutrina americana como
manned-unmanned systems team (MUM-T).
“O sucesso das forças MUM-T não depende somente da interação entre
humanos e máquinas, mas também da interoperabilidade entre máquinas” (CATON,
2015, tradução do autor).
A Diretiva DoD 3000.09 determina o desenvolvimento de doutrinas e táticas,
técnicas e procedimentos (TTPs) para aplicações de sistemas autônomos,
bem como suas revisões periódicas para garantir que estejam apropriadas
para mudanças a fim de atender as reais condições operacionais. Ele enfatiza
que a doutrina e as táticas devem “demonstrar a capacidade de permitir que
comandantes e operadores exerçam níveis apropriados de julgamento
humano no uso da força”, e cumpram todas as regras legais e de segurança
(CATON, 2015, tradução do autor).
Estas equipes abrem espaço para diversas questões doutrinarias, desde o nível
da unidade que receberá este tipo de formação, até questões de hierarquia no campo
de batalha e do nível decisório atribuído ao sistema autônomo.
Qual é a entidade operacional primária para uma dada missão? Os seres
humanos são o elemento de força suportado ou eles estão apoiando o
sistema não tripulado? Esses papéis mudam em diferentes fases da missão?
Quão autônoma é permitida a operação de um sistema autônomo quando
gerenciando não só a sua capacidade inerente, mas também a intenção do
comandante, leis de guerra e regras de engajamento (CATON, 2015,
tradução do autor)?
62

A concretização destas equipes de combate demandará grandes avanços


tecnológicos na interface homem-máquina, observando a interação com elementos
externos a equipe: inimigos, amigos e civis, operações conjuntas e de alianças.
Em termos de interface homem-máquina (HMI), um desafio significativo é
alcançar a previsibilidade mútua (quem está fazendo o que e quando), a
capacidade de especificar objetos e adaptar-se a eventos inesperados e ter
um nível comum (linguagem e protocolos para garantir o compartilhamento
de mesmos objetivos e informações) (IVANOVA et al., 2016, tradução do
autor).
Além das equipes híbridas de combate, os cenários elaborados para a Guerra
do Futuro também preveem a presença de enxames de SMMA, os quais são
considerados tecnologias disruptivas.
enxames de sistemas robóticos têm o potencial para uma mudança ainda
mais dramática e disruptiva nas operações militares. Enxames de sistemas
robóticos podem trazer maior massa, coordenação, inteligência e velocidade
para o campo de batalha, aumentando a capacidade dos combatentes de
ganhar uma vantagem decisiva sobre seus adversários (SCHARRE, 2014b,
tradução do autor).
A coordenação de enxames de sistemas autônomos é um desafio a ser
enfrentado. Duas abordagens têm merecido atenção da comunidade científica: a
cooperação e a colaboração.
A cooperação pode emular o comportamento de enxames observado na
natureza entre um grande número de animais que executam tarefas simples
baseadas no instinto, como formigas procurando alimento. As habilidades
cognitivas e de comunicação para cooperação são básicas e podem ser
reduzidas a um pequeno número de comandos estímulo-resposta. A
colaboração é uma forma mais intencional de trabalho em equipe, que requer
sensoriamento e comunicação mais sofisticados, bem como a compreensão
cognitiva de outros membros do enxame. O uso de enxames de sistemas
autônomos pode fornecer capacidades de massa e manobra bastante
aprimoradas, além de permitir o uso de sistemas com menor custo e em
número suficientemente grande para proporcionar atrito e possivelmente
sobrepujar quaisquer defesas tradicionais. Entretanto, para ser bem-
sucedido, é provável que tais formações se comuniquem e reajam em
velocidades e complexidades além da compreensão humana; isso introduz
uma limitação que a doutrina deve abordar (CATON, 2015, tradução do
autor).
Enxames inteligentes podem sobrecarregar as defesas adversárias, interferir
63

de forma autônoma, enganar e empregar armas disruptivas não letais, como


micro-ondas de alta potência, enquanto transmitem a posição de alvos
inimigos a controladores humanos que podem autorizar engajamentos letais.
[...] a vanguarda da frente de batalha em todos os domínios seria não-
tripulada, conectada em rede, inteligente e autônoma (WORK; BRIMLEY,
2014, tradução do autor).
A ampliação das capacidades militares por meio do emprego de enxames de
sistemas autônomos é promissora. Ao aliar baixo custo, massa e manobra, os
enxames de sistemas autônomos podem alterar a balança do poder militar.
Enxames de sistemas não tripulados têm múltiplas aplicações defensivas e
ofensivas com potencial para causar mudanças disruptivas nas operações
militares. Enxames de VANT baratos, por meio esforços cooperativos
coordenados, poderiam fazer o trabalho de uma única aeronave multimissão
de alto custo. Eles poderiam ampliar tanto a área de vigilância como o
espectro, recorrendo a capacidades de comunicação e fusão de dados.
Enxames de sistemas robóticos podem trazer maior massa, coordenação,
inteligência, velocidade, resiliência e capacidade de resposta ao campo de
batalha, aumentando a habilidade dos combatentes de ganhar uma
vantagem decisiva sobre seus adversários (BHALLA, 2015, tradução do
autor).
A guerra de enxames pode ser entendida como uma evolução na forma de
combater, requerendo um elevado grau de autonomia e coordenação.
O enxame tem requisitos de organização e comunicação muito maiores do
que a guerra de manobra. O número de manobras simultâneas e de combate
a elementos individuais é significativamente maior (SCHARRE, 2014b,
tradução do autor).
As trocas de informações entre os elementos do enxame podem ser usadas para
aumentar a precisão da navegação e na identificação de ameaças.
O enxame tem a capacidade de se reconfigurar e reagir a uma ameaça, mesmo
perdendo alguns de seus indivíduos, redistribuindo as atribuições e os níveis de
comando e coordenação.
Os exames de VANT tem, dentre as múltiplas possibilidades de uso, o emprego
como minas áreas, impedindo o tráfego aéreo em uma determina região, podendo
também ser utilizado em sistemas de defesa contra mísseis, com a vantagem de ter
uma melhor relação custo benefício que um sistema de mísseis antimísseis. Além
disso, um ataque de enxames de VANT de baixo custo podem saturar as defesas
inimigas, obrigando o inimigo a consumir seus meios de defesa como mísseis e
64

munições. Estes enxames podem realizar ataques de guerra eletrônica, neutralizando


as defesas inimigas.
Veículos terrestres não tripulados podem ser a vanguarda de um avanço,
permitindo os robôs realizarem o “Contato” em um “movimento para o
contato”. Veículos robôs poderiam ser usados para expulsar o inimigo,
flanqueá-lo ou cercá-lo ou lançar manobras de finta. Veículos não tripulados
poderiam ser lançados por linhas inimigas em missões suicidas (SCHARRE,
2014b, tradução do autor).
Por outro lado, a necessidade de comunicação entre os indivíduos do enxame
deste com os outros elementos da rede, inclusive o centro de comando, pode se tornar
alvo de ações inimigas.
Um ator que domina o cyber conflito pode se infiltrar no comando e controle
redes, gerando desinformação e confusão, e potencialmente até mesmo
desligar ou usurpar o controle sobre plataformas físicas (WORK; BRIMLEY,
2014, tradução do autor).
A ação de hackers é uma vulnerabilidade que deve ser levada em conta no
desenvolvimento da doutrina e da tecnologia do sistema autônomo. No entanto,
“vulnerabilidades cibernéticas não são exclusivas de sistemas não tripulados”
(SCHARRE, 2014b, tradução do autor).
Outras contramedidas têm sido desenvolvidas como armas de micro-ondas que
destroem sistemas eletrônicos.
Armas de micro-ondas de alta potência que destroem a eletrônica também
têm um tremendo potencial. Essas armas poderiam desarmar armas inimigas
e sistemas eletrônicos por meios não-letais e poderiam potencialmente ser
empregadas com um maior grau de autonomia em sistemas não-tripulados
(CATON, 2015, tradução do autor).
65

6 CONCLUSÕES

Este trabalho identificou um possível cenário para as Guerras do Futuro, o qual


estabelece a intensificação das guerras híbridas, assimétricas e não lineares, o
emprego de forças regulares e irregulares, a participação de atores Estatais e não-
Estatais, o uso intensivo da tecnologia como diferencial do combate, e o uso de
doutrinas militares inovadoras.
As referências bibliográficas consultadas apresentaram mais de 20 tecnologias
relevantes na Guerra do Futuro e que merecem atenção das FA. Não obstante, face
a uma premente necessidade de concentração de recursos financeiros, humanos e
materiais, o presente estudo propôs uma abordagem funcional, visando identificar
dentre estas tecnologias apontadas nas referências, quais seriam críticas, no sentido
de essenciais ao funcionamento dos SMMA.
A metodologia proposta identificou a inteligência artificial e as fontes compactas
de energia como as tecnologias mais críticas. Estas tecnologias além de influenciarem
todos os subsistemas do SMMA, também são de grande interesse de empresas civis,
o que viabiliza, teoricamente, seu desenvolvimento dual. Pode-se também afirmar que
estas tecnologias são de interesse dos sistemas utilizados na guerra cibernética e na
guerra eletrônica.
No âmbito da inteligência artificial, os campos de aprendizado de máquina e de
aprendizado multi-agente foram identificados como decisivos para o desenvolvimento
da IA, principalmente, segundo o conceito de Guerra Centrada em Redes, do uso de
enxames robóticos, e das equipes híbridas de combate.
As fontes compactas de energia são um gargalo tecnológico, em especial,
quando se leva em consideração a tendência contínua de redução de tamanho dos
sistemas mecatrônicos, objetivando maior mobilidade, e o aumento da demanda
energética pelos subsistemas de computação, comunicações e propulsão.
As atuais baterias são pesadas e volumosas, comprometendo a mobilidade dos
soldados e dos veículos de pequeno porte. Como alternativa às baterias,
micromotores de combustão interna e microturbinas a gás foram identificados como
tecnologias que deverão estar em uso a médio prazo, enquanto as células solares
fotovoltaicas já são uma tecnologia viável para algumas aplicações de SMMA, como
por exemplo alguns tipos de VANT. Adicionalmente, espera-se que com a evolução
66

tecnológica e com o aumento da demanda por fontes renováveis de energia, as


células solares fotovoltaicas serão ainda mais empregadas em sistemas
mecatrônicos.
Os sistemas mecatrônicos, em especial os sistemas autônomos, terão um papel
relevante na Guerra do Futuro. Na atualidade, estes sistemas já estão sendo
intensamente utilizados em combate pelas FA de diversos países. Portanto, estes
sistemas são importantes ferramentas de exercício do poder militar.
Os SMMA modificarão a face da Guerra, influindo em diferentes dimensões do
conflito, inclusive na dimensão econômica. Ademais, a doutrina militar sofrerá grande
impacto. As FA terão seus efetivos reduzidos e deslocados das zonas de combate
para regiões mais seguras, permitindo que forças estratégicas se posicionem fora do
teatro de operações. Os SMMA aprofundarão os conflitos e ampliarão a zona de
combate.
A redução dos orçamentos militares e o elevado custo do combatente e dos
sistemas tradicionais de combate mais modernos, como: aviões de combate, carros
de combate, navios e submarinos, têm catalisado o processo de desenvolvimento dos
SMMA, os quais são, em geral, menos custosos. Neste sentido, observa-se ainda o
elevado custo do soldado em combate, em treinamento e na reserva (ou reformado),
além dos custos de saúde da família militar, os quais geram compromissos de longa
duração para as nações. Neste sentido, os SMMA, serão um instrumento de
manutenção do poder militar frente a redução dos efetivos militares.
Os SMMA aumentarão a capacidade de sensoriamento e de processamento de
informações e trabalharão em rede, integrados a sistemas computacionais, a veículos
e a soldados. Por conseguinte, a velocidade de resposta a ameaças e a deflagração
de ataques serão mais rápidas. A inteligência artificial será o diferencial neste
processo, ampliando a consciência situacional e acelerando o processo decisório.
Equipes híbridas de combate, constituídas por soldados e SMMA, serão capazes
de atuar com elevada autonomia, velocidade e precisão. Entretanto, a doutrina militar
terá um papel fundamental na formulação do conceito operacional e tático da atuação
destas equipes híbridas.
Enxames de SMMA proporcionarão grande capacidade de massa, manobra e
velocidade às operações ofensivas e defensivas. Uma possibilidade de utilização
deste enxames é como minas aéreas ou na defesa antimísseis. Além disso, enxames
67

de SMMA de baixo custo poderão ser mais efetivos que um único SMMA de custo
elevado.
Grande desenvolvimento tecnológico será demandado para viabilizar a correta
comunicação entre soldados e SMMA. A interface homem-máquina ainda carece de
grandes avanços.
A doutrina será a chave para a efetiva utilização dos SMMA na Guerra do Futuro,
sendo tão importante quanto o próprio desenvolvimento tecnológico.
Os SMMA serão incialmente empregados nas seguintes missões:
• inteligência;
• reconhecimento;
• vigilância;
• aquisição de alvos;
• comando e controle;
• guerra eletrônica;
• identificação, localização, designação de alvos;
• logística; e
• outras missões (detecção QBRN, detecção de artefatos explosivos
improvisados etc.).
Porém, a medida que a cultura das FA e da comunidade mundial for mudando, haverá
uma tendência em aumentar a letalidade dos SMMA. Posto que, na atualidade,
questões éticas e legais quanto ao uso de sistemas autônomos letais permanecem
sem resposta.
As atividades logísticas terão um grande impulso com o uso dos SMMA,
sobretudo pelo grande interesse de empresas civis no desenvolvimento destas
tecnologias autônomas. Comboios com suprimentos militares poderão ser
completamente autônomos. Contudo, o grau de autonomia aumentará ao longo do
tempo. Inicialmente, veículos autônomos seguidores comporão comboios que serão
liderados por um veículo tripulado ou remotamente pilotado. Veículos remotamente
pilotados de baixo custo poderão seguir a frente de comboios em área com elevado
risco de minas e explosivos improvisados de modo a proteger as vidas humanas e os
recursos materiais presentes no comboio.
Kits para conversão de veículos tripulados em autônomos serão desenvolvidos
como alternativa de baixo custo e visarão o aproveitamento do material e da cadeia
68

logística de manutenção e suprimento existentes.


Veículos aéreos não tripulados também serão empregados com fins logísticos,
principalmente, no reabastecimento de unidades dispersas no terreno ou em regiões
de grande perigo.
Os sistemas de lançamento de cargas guiadas com paraquedas aumentarão sua
precisão e serão cada vez mais empregados, inclusive no suprimento de regiões
isoladas, de navios e de plataformas de petróleo.
Os primeiros socorros e o resgate de feridos serão feitos com o auxílio de SMMA,
o que reduzirá as baixas nas regiões conflagradas.
O presente trabalho indica a necessidade de desenvolvimento doutrinário,
científico, tecnológico e de recursos humanos nas áreas de inteligência artificial e de
fontes compactas de energia, voltados para sistemas mecatrônicos autônomos
militares, considerando os princípios de geração de capacidades preconizados pelo
DOAMEPI (Doutrina, Organização ou processos, Adestramento, Material, Educação,
Pessoal e Infraestrutura).
Por fim, visando manter o poder militar, as nações terão que participar da
revolução tecnológica militar em curso, a qual está fortemente baseada na robótica
militar, na inteligência artificial e na guerra cibernética.
69

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