Por Uma Pedagogia Queer
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Abstract: Queer Pedagogy was born from theoretical effort of researchers of Education to use
concepts produced by Queer Theory to think new non-normative teaching strategies. What
seems common to all researchers of queer pedagogy seems to be precisely that bet on the
possibility of building new pedagogies that enable less normalizing discourses about bodies,
genders, sexuality, identity, social relationships, processes of teaching and learning and
Volume, 2. Número , 2, 2013
thinking. For the importance of its contributions to the field of Education, Queer Pedagogy can
be an important interlocutor in a contemporary world in which our concepts about multiple
identities, about pedagogical subject, and about our new methods of teaching and learning seem
to be in crisis dragged by the multiplicity of new sexual, gender, ethnic, racial, and cultural
identities that inhabit the school space.
A Teoria Queer aparece no fim dos anos 1980 nos Estados Unidos. O termo
teoria queer foi empregado pela primeira vez em 1990, em uma conferência de Teresa
de Lauretis, uma pesquisadora italiana radicada nos Estados Unidos. Com inspiração
desta provocação, como também na teoria feminista, na psicanálise de Jacques Lacan, e
principalmente nas teorias francesas pós-estruturalistas, pesquisadores(as) que
estudavam os conceitos de sexualidade e gênero encontraram instrumentos para pensar
um novo campo de estudos que pudesse ser uma alternativa aos referenciais identitários
e assimilacionistas presentes na teoria feminista e dos estudos gays e lésbicos nas
universidades americanas.
Hence, queer theory has no truck with fixed sex/gender identities. It transcends labels of
male, female, homosexual, bisexual, heterosexual, transsexual, etc., opting instead to
consider gender identity and sexual orientation as culturally invented, fluid, eternally
unstable construct that derive what meaning they have from their context (THURER,
2005, p. 97).
A Teoria Queer desafia a Sociologia a não mais estudar apenas os que rompem as
normas (o que redundaria nos limitados estudos de minorias), nem apenas os processos
sociais que os criam como desviantes (o que a teoria da rotulação já fez com sucesso),
antes focar nos processos normalizadores marcados pela produção simultânea do
hegemônico e do subalterno” (MISKOLCI, 2009, p. 170-171).
Se o gênero é a construção social do sexo e se não existe nenhum acesso a esse ‘sexo’
exceto por meio de sua construção, então parece não apenas que o sexo é absorvido pelo
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gênero, mas que o ‘sexo’ torna-se algo como uma ficção, talvez uma fantasia,
retroativamente instalado em lugar pré-lingüistico ao qual não existe nenhum acesso
direto (BUTLER, 2000, p. 158).
Ainda para Butler, “a diferença sexual não é, nunca, simplesmente, uma função
de diferenças materiais que não seja, de alguma forma, simultaneamente marcadas e
formadas por práticas discursivas”(BUTLER, 2000, p. 153). Como argumenta Guacira
Louro, ao comentar sobre as contribuições teóricas de Judith Butler:
O queer se torna assim uma atitude epistemológica que não se restringe à identidade e
ao conhecimento sexuais, mas que se estende para o conhecimento e a identidade de
modo geral. Pensar queer significa questionar, problematizar, contestar, todas as formas
bem-comportadas de conhecimento e de identidade. A epistemologia queer é, nesse
sentido, perversa, subversiva, impertinente, irreverente, profana, desrespeituosa”
(SILVA, 2004, p. 107).
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Assim como Lauretis cunhou o termo teoria queer, o termo pedagogia queer
parece ter sido usado pela primeira vez pelas pesquisadoras canadenses Mary Bryson e
Suzanne de Castell em um artigo intitulado “Queer pedagogy: praxis makes im/perfect”,
publicado em 1993. Para as autoras: “Queer pedagogy could refer to the deliberate
production of queer relations and to the production of subjectivities as deviant
performance - that is to say, to a kind of postmodern carnivalesque pedagogy of the
underworld, as agitation” (BRYSON e CASTELL, 1993, p. 298-299). O termo
pedagogia queer apareceu novamente em 1995 em um artigo da pesquisadora canadense
Deborah Britzman intitulado “Is there a Queer Pedagogy? Or stop reading straight”.
Para Britzman, a presença da teoria queer na educação “requires something larger than
simply an acknowledgement of gay and lesbian subjects in educational studies. At the
very least, what is required is an ethical project that begins to engage difference as the
grounds of politicality and community” (BRITZMAN, 1995, p. 152). Em Queer Theory
in Education, publicação organizada pelo pesquisador americano William Pinar, em
1998, a pesquisadora Suzanne Luhmann utilizou também o termo pedagogia queer em
seu artigo “Queering/querying Pedagogy? Or, Pedagogy is a pretty queer thing”. Longe
da promessa de um novo método pedagógico, o que está em jogo na idéia de uma
pedagogia queer, segundo a autora, é:
...the deeply social or dialogic situation of subject formation, the processes of how we
make ourselves through and against others. As an inquiry into those processes, my
queer pedagogy is not very heroic. It does not position itself as a bulwark against
oppression, it does not claim the high grounds of subversion but hopefully it encourages
an ethical practice by studying the risks of normalization, the limits of its own practices,
and the im/possibilities of (subversive) teaching and learning (LUHMANN, 1998, p.
153-154).
Como afirma William Pinar: “Queer pedagogy displaces and decenters; queer
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curriculum is non canonical, for starters” (PINAR, 1998, p. 3). Assim para a
pesquisadora brasileira Guacira Louro (2004) há também na pedagogia queer uma
provocação e uma perturbação das formas convencionais de pensar e conhecer. Mas
diferente de uma pedagogia do oprimido, ela escapa mesmo dos enquadramentos do
dualismo presente nas teorias que trabalham com uma crítica da lógica da dominação.
Ao invés de uma resposta apaziguadora se propõe um trabalho incessante de eterna
busca:
Vistos sob essa perspectiva, uma pedagogia e um currículo queer “falam” a todos e não
se dirigem apenas àqueles ou àquelas que se reconhecem nessa posição-de-sujeito, isto
é, como sujeitos queer. Uma tal pedagogia sugere o questionamento, a desnaturalização
e a incerteza como estratégias férteis e criativas para pensar qualquer dimensão da
existência. A dúvida deixa de ser desconfortável e nociva para se tornar estimulante e
produtiva. As questões insolúveis não cessam as discussões, mas, em vez disso,
sugerem a busca de outras perspectivas, incitam a formulação de outras perguntas,
provocam o posicionamento a partir de outro lugar. Certamente, essas estratégias
também acabam por contribuir com a produção de determinado “tipo” de sujeito. Mas,
nesse caso, longe de pretender atingir, finalmente, um modelo ideal, esse sujeito – e essa
pedagogia – assumem seu caráter intencionalmente inconcluso e incompleto (LOURO,
2004, p. 52)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRYSON, Mary; CASTELL, Suzanne de. Queer Pedagogy: Praxis makes im/perfect.
Canadian Journal of Education, v.18, n. 3, p. 285-305, 1993.
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do ‘sexo’. In:
LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo
Horizonte: Autêntica, 2000. p. 151-172.
SPARGO, Tamsin. Foucault and Queer Theory. New York: Totem Books, 2000.
THURER, Shari L. The end of gender: a psychological autopsy. New York and
London: Routledge, 2005.
WARNER, Michael. Fear of a Queer Planet: queer politics and social theory.
Minneapolis: University of Minnesota Press, 1993.
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