TCC - Anny Jessyca Garcia Silva - Arquitetura

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ANNY JESSYCA GARCIA SILVA

A ARQUITETURA A SERVIÇO DO TRATAMENTO DA CRIANÇA AUTISTA

Avaliação e recomendações para o Espaço TRATE Autismo Arapiraca

ARAPIRACA

2016
ANNY JESSYCA GARCIA SILVA

A ARQUITETURA A SERVIÇO DO TRATAMENTO DA CRIANÇA AUTISTA


Avaliação e recomendações para o Espaço TRATE Autismo Arapiraca

Trabalho de Conclusão de Curso submetido


ao corpo docente do Curso de Arquitetura e
Urbanismo bacharelado, da Universidade
Federal de Alagoas – UFAL, Campus
Arapiraca.

Orientadora: Simone C. Torres

ARAPIRACA

2016
ANNY JESSYCA GARCIA SILVA

A ARQUITETURA A SERVIÇO DO TRATAMENTO DA CRIANÇA AUTISTA


Avaliação e recomendações para o Espaço TRATE Autismo Arapiraca

Trabalho de Conclusão de Curso submetido


ao corpo docente do Curso de Arquitetura e
Urbanismo bacharelado, da Universidade
Federal de Alagoas.
“We are made of star stuff.”
Carl Sagan
AGRADECIMENTOS
A Deus, a minha família, aos meus amigos e professores.
Fui conduzida ao tema deste trabalho ainda no início do curso. Obrigada,
Juliana Freitas, por ter sugerido projetarmos uma clínica para autistas ainda em P2.
A partir desse momento algo me intrigou, resolvi fazer da minha admiração e
dúvidas a minha pesquisa. Posteriormente, participei do projeto SIA (Sistemas
Interativos para Autistas), onde criei o design do aplicativo TEO. Foi a partir desse
projeto que conheci a clínica TRATE e sua dedicada equipe. Participei de
congressos, conheci pais dessas crianças que me emocionaram, acompanhei blogs
de mães, que assim como a maioria, só quer o melhor para seus filhos, enfim,
presenciei histórias de superação e amor.
Conhecidos e amigos perguntavam o porquê dessa escolha e sinceramente,
eu ainda não sei responder. Porém, acredito que todos temos uma função, um
ensinamento a ser passado a diante e muitos para ser aprendidos. Acredito no
poder de uma boa ação e como isso proporciona que o Universo conspire a favor de
quem faz o bem. Acredito que “todos nós somos feitos de matéria estelar”,
essencialmente iguais, apenas buscando compreensão, aceitação e carinho.
Aos meus professores, especialmente minha orientadora Simone Torres,
obrigada por me incentivar, acreditar em meu trabalho e se mostrar sempre disposta
a ajudar.
Ao meu eterno quarteto de projeto, por estar sempre na torcida. Torço para o
melhor a cada um de vocês. Cris Quércia, obrigada por dedicar seu tempo a me
ajudar, mesmo eu atrapalhando seus prazos. Thiago Amorim, obrigada por sempre
me motivar, dizendo que tudo vai dar certo.
Aos meus primos, pelas brincadeiras, palavras de incentivos e pelo carinho.
Aos meus pais e irmãos, por compreenderem esse momento e sempre fazer
o melhor para me ajudar.
Obrigada, Emílio, por estar sempre comigo nessa empreitada.
Por fim, obrigada a todos que torceram por mim.
“Um rótulo classificatório não é capaz de captar a totalidade complexa de uma
pessoa, nem, muito menos, a dimensão humana irredutível desta. ”

Ministério da Saúde, 2013


RESUMO

Estimativas do Instituto de Psiquiatria da USP revelam que quase 2 milhões de


brasileiros são portadores de autismo. O autismo infantil representa um quadro de
desordens complexas do desenvolvimento do cérebro, caracterizado por
perturbação nas áreas de interação social e da comunicação, apresentando um
comportamento repetitivo. O autismo não tem cura, mas, com tratamento dedicado,
incentivo e afeto, a pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode alcançar
seu potencial máximo. Apesar do aumento na quantidade de espaços assistenciais
ao TEA, as legislações técnicas não possuem parâmetros destinados
exclusivamente ao espaço de tratamento da criança autista. Clínicas para autistas
ainda são projetadas como clínicas convencionais. A cidade de Arapiraca, desde
2011, conta com o Espaço TRATE Autismo, objeto de estudo do presente trabalho,
um centro especializado no tratamento e diagnóstico de crianças autistas. Seu
espaço é resultado de sucessivas reformas que o solucionaram de maneira
imediatista. O presente trabalho tem como objetivo avaliar a estrutura física do
Espaço TRATE a fim de fundamentar a elaboração de um projeto de reforma e
ampliação do mesmo, contribuindo para a disseminação de conhecimentos
necessários para adequação do projeto com as especificidades e demandas da
criança autista. Para isso, os procedimentos metodológicos, fundamentados em
pesquisa qualitativa, consistem em revisão da literatura, análise de pesquisa
tipológica que estimule a compreensão da problemática e estudo de caso do Espaço
TRATE. Assim o desafio é pensar em espaços adequados em função da criança
autista e seu tratamento, levando em consideração a opinião de profissionais, pais e
familiares.

Palavras-chave: Arquitetura – Autismo Infantil – Espaços Assistenciais – Estímulos


Sensoriais.
ABSTRACT

Estimations from Psychiatry Institute of the University of São Paulo show that almost
2 million Brazilians are autistic people. Infantile autism is about a framework of
complex disorders of brain development, characterized by disturbance in the areas of
social interaction and communication, leading to repetitive behavior. Autism has no
cure but, with dedicated treatment, incentives and affection, the person with Autism
Spectrum Disorder (ASD) can achieve their full potential. Despite the increase in the
amount of care spaces to ASD, the technical legislations do not have exclusive
guidelines for places to infantile autism treatment. Clinics for people with autism are
also designed as conventional clinics. The city of Arapiraca, since 2011, counts on
Espaço TRATE Autismo, the study object of this research; a place specialized in the
treatment and diagnosis of child with autism. Its space is the result of successive
reforms that have attended the immediatist way. This work aims to evaluate the
physical structure of Espaço TRATE to support the elaboration of its reform and
expansion design, contributing to the dissemination of knowledge necessary to adapt
the design to the specific characteristics and needs of the child with autism.
Therefore, the methodological procedures, based on qualitative research, consists of
bibliographic review, analysis of typological research that encourage the
understanding of the problem and case study of Espaço TRATE. Therefore, the
challenge is to think about appropriate spaces for the child with autism and their
treatment, considering opinions from professionals, parents and relatives.

Keywords: Architecture – Infantile Autism – Sensory Stimulus – Treatment


Institutions for Autism.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Espectro Autista ....................................................................................... 20


Figura 2 – Analogia de como o transtorno afeta a criança ........................................ 20
Figura 3 – Terapeuta comportamental e criança em tratamento. .............................. 25
Figura 4 – Exemplo de ficha PECS, uso do sanitário. ............................................... 26
Figura 5 – Sala estruturada para atendimento TEACCH. ......................................... 27
Figura 6 – Tapete sensorial. ...................................................................................... 28
Figura 7 – Divulgação aplicativo TEO. ...................................................................... 29
Figura 8 – Quarto otimizado para interação social, segundo método Son-Rise. ....... 30
Figura 9 – Sala estruturada para tratamento TEACCH. ............................................ 35
Figura 10 – Esquema da Metodologia ....................................................................... 37
Figura 11 – Centro de educação para autistas.......................................................... 41
Figura 12 – Salas flexíveis de ensino. ....................................................................... 42
Figura 13 – Iluminação natural e artificial. ................................................................. 43
Figura 14 – Volumetria Unidade Residencial. ........................................................... 44
Figura 15 – Pátio destacado...................................................................................... 45
Figura 16 – Setorização. ........................................................................................... 46
Figura 17 – Planta baixa............................................................................................ 47
Figura 18 – Centro Especializado em Reabilitação Física e Intelectual. ................... 50
Figura 19 – Localização do Espaço TRATE Autismo, ruas e pontos de referência. 51
Figura 20 – Localização do Espaço Trate Autismo na cidade e no bairro. ................ 51
Figura 21 - Edifício 1 e Edifício 2, Espaço TRATE. ................................................... 52
Figura 22 – Visão geral Espaço TRATE. ................................................................... 53
Figura 23 – Acesso ao TRATE. ................................................................................ 57
Figura 24 - Ordem construtiva de reforma e ampliação. ........................................... 65
Figura 25 - Proposta de melhoria ao Espaço. ........................................................... 68
Figura 26 - Cozinha otimizada para tratamento. ....................................................... 68
Figura 27 - Croqui da proposta de volumetria. .......................................................... 69
Figura 28 - Vista superior da clínica, a proposta foi criar uma unidade. .................... 69
Figura 29 - Logomarca Espaço TRATE. ................................................................... 70
Figura 30 - Uso da logomarca na fachada. ............................................................... 71
Figura 31 - Perspectiva do acesso da clínica. ........................................................... 71
Figura 32 - Visão geral do Espaço. ........................................................................... 72
Figura 33 - Perspectiva do playground. ..................................................................... 72
Figura 34 - Perspectiva da área de interação social. ................................................ 73
Figura 35 - Caminho previsível e intuitivo. ................................................................ 73
Figura 36 - Indicação de uso de ambientes. ............................................................. 74
Figura 37 - Quebra da neutralidade com cores vivas no painel entre os banheiros. . 74
Figura 38 - Personagem Chaves como indicador de banheiro masculino. ............... 75
Figura 39 - Perspectiva geral, uso de paleta de cores em tons pastel. ..................... 75
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13
1. AUTISMO INFANTIL ............................................................................................ 18
1.1. Transtorno do Espectro Autista - TEA ................................................................ 18
1.2. Diagnóstico e características .............................................................................. 21
1.3. Abordagens e formas de tratamento ................................................................... 23
1.4. Tratamento psicanalítico ..................................................................................... 24
1.4.1. ABA................................................................................................................. 24
1.4.2. Comunicação complementar e alternativa – CSA .......................................... 25
1.4.3. TEACCH ......................................................................................................... 26
1.4.4. Terapias de integração sensorial .................................................................... 27
1.4.5. Acompanhamento terapêutico ........................................................................ 28
1.4.6. Uso da tecnologia ........................................................................................... 28
1.4.7. Método Son-Rise ............................................................................................ 29
1.5. O espaço dos pais no tratamento da criança autista .......................................... 30
1.6. Autismo como tomada de decisão no projeto arquitetônico ................................ 31
1.6.1. Matriz de Desenho Sensorial .......................................................................... 32
1.6.2. Manual Prático de Arquitetura para Clínicas e Laboratórios ........................... 34
2. METODOLOGIA ................................................................................................... 37
3. PESQUISA TIPOLÓGICA .................................................................................... 40
3.1. National Centre for Autism Education – Londres ................................................ 40
3.2. ASD Unidade Residencial – Chicago .................................................................. 43
4. ESPAÇO TRATE AUTISMO................................................................................. 48
4.1. Localização ......................................................................................................... 49
4.2. Organização espacial ......................................................................................... 52
4.3. Impeditivos econômicos e de atendimento ......................................................... 53
4.4. Norteadores de decisão do Espaço TRATE Autismo ......................................... 54
4.4.1. Profissionais ................................................................................................... 54
4.4.2. Pais ................................................................................................................. 57
5. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA DE REFORMA E ADEQUAÇÃO DO
ESPAÇO TRATE ...................................................................................................... 64
5.1. Limitações do projeto .......................................................................................... 64
5.2. Programa de necessidades ................................................................................ 65
5.3. Tomadas de decisão focada no tratamento da criança autista ........................... 66
5.4. Partido arquitetônico ........................................................................................... 68
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 78
APÊNDICE A – PROJETO PRELIMINAR ................................................................ 80
13

INTRODUÇÃO

Em 2008 a ONU (Organização das Nações Unidas), criou o Dia Mundial da


Conscientização do Autismo (World Autism Awareness Day), com a finalidade de
sensibilizar, compreender e diagnosticar precocemente crianças com Transtorno do
Espectro Autista (TEA). E embora frequentemente somos abordados acerca dessa
questão, no Brasil ainda não contamos com estatísticas, apenas estimativas de
quantas pessoas são portadoras do autismo. Segundo o Instituto de Psiquiatria (IPq)
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, centro de referência no
tratamento de portadores de autismo, estima-se que existam cerca de 1,8 milhão de
casos, dado de 2012, com o agravante de que 90% dos casos não são
diagnosticados. O autismo não tem cura, mas com tratamento dedicado, incentivo e
afeto a pessoa com TEA pode alcançar seu potencial máximo. No Brasil,
recentemente, houve importantes avanços na legislação, como a sanção da Lei nº
12.764, de 27 de dezembro de 2012, a qual institui a Política Nacional de Proteção
dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e estabelece diretrizes
para sua consecução.
Desde 2001 a Lei 10.216, conhecida como Lei Paulo Delgado, estabelece
uma progressiva eliminação de hospitais psiquiátricos, pois estes espaços, muitos
com características asilares, são – em sua maioria – hostis e não estão preparados
para inserir os pacientes na sociedade. Estes hospitais devem ser substituídos pelos
CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). “Os CAPS são unidades especializadas em
saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental
grave e persistente” (RIO DE JANEIRO, 2016), porém muitos pais e profissionais
asseguram que os CAPSi (Centro de Atenção Psicossocial Infantil) ainda não têm
condições de atender as especificidades próprias do autismo. “O autismo não é
causado por fatores de ordem psicológica, é considerada uma deficiência e não uma
doença mental ” (DIAS, 2011). Assim, o tratamento do autismo infantil deveria
ocorrer em unidade especializada ou unidade mista de saúde. Muitos pais, com o
intuito de sanar as deficiências do CAPSi, em relação ao tratamento da criança
autista, pagam por outras formas de tratamentos para que seus filhos recebam uma
abordagem multidisciplinar, o que é inviável para pais em situação financeira inferior,
porque o tratamento é contínuo e relativamente alto.
14

O estado de Alagoas conta com poucos centros especializados, porém


pontuais no tratamento da criança autista. Na cidade de Arapiraca, o Espaço TRATE
Autismo, centro de reabilitação e reintegração de crianças com autismo, que atende
exclusivamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde), possui atendimento
individualizado e terapias (uma das maiores queixas relatadas pelos pais que
usufruem do CAPSi: a dificuldade para conseguir um atendimento terapêutico). Em
Maceió, associações como AMA-AL (Associação de Amigos do Autismo – Alagoas)
e ASSISTA (Associação de Pais e Amigos dos Autistas de Alagoas) oferecem
tratamento especializado e gratuito. Estes centros possuem um grande número na
fila de espera, pois além de lidar com a demanda local recebem pacientes de
cidades próximas que não possuem centros especializados. Formadas por pais e
profissionais, ONGs (Organizações não governamentais) e associações, como
Aptaa (Associação de Pessoas com Transtorno Autístico de Alagoas), a ONG
Autismo e Realidade e a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais)
Maceió e Arapiraca lutam para que os direitos legais de pessoas com autismo se
transformem em realidade. Centros especializados para tratamento, uma espécie de
clínica-escola, com equipe multidisciplinar são altamente recomendados pelo
Ministério da Saúde, porém não representa a realidade da maioria das cidades
brasileiras.
“O autismo infantil corresponde a um quadro de extrema complexidade que
exige abordagens multidisciplinares sejam efetivadas visando-se não somente a
questão educacional e da socialização, mas também a questão médica”
(ASSUMPÇÃO et al., 2000, p.39).
Entre os tratamentos mais difundidos podemos citar: tratamento psicanalítico,
terapias de integração sensorial, ABA (Applied Behavior Analysis), TEACCH
(Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped
Children), comunicação complementar e alternativa, terapias comportamentais e uso
da tecnologia. Estas formas especiais de tratamento requerem um espaço adequado
para realização das mesmas, logo, clínicas convencionais não suprem estas
necessidades por não apresentarem a dinâmica e flexibilidade do tratamento. O
Ministério da Saúde fornece manuais com parâmetros arquitetônicos para
edificações que ofertam serviços de saúde, mas são com bases em estruturas
básicas, e nenhum destinado especificamente ao público autista.
15

“As generalizações feitas por parte das legislações técnicas nacionais, na


área da infraestrutura física, igualmente pecam por não considerarem as
especificidades regionais” (CARVALHOS, 2002, p.20).
Além das especificidades regionais (como exemplo, o tipo de tratamento
oferecido pela equipe clínica), as legislações técnicas não possuem parâmetros
destinado exclusivamente ao espaço de tratamento da criança autista. Há clínicas
voltadas para o tratamento de transtornos mentais infantis, mas as necessidades
não são as mesmas. Crianças com TEA são internadas em hospitais psiquiátricos a
taxas elevadas, mas algumas instituições se recusam ou são incapazes de servi-los
(SIEGEL et al., 2014).
Segundo Ronald de Góes (2010), projetar uma clínica para pacientes com
esse transtorno não é uma tarefa fácil, pois faltam parâmetros para dimensionar e
determinar as melhores condições destes espaços. Infelizmente, poucos estudos se
enveredam em busca dessas respostas. Já se sabe que as relações espaciais das
crianças com transtorno são diferenciadas e dependendo das especificidades dos
casos, as configurações e morfologias espaciais podem dificultar o tratamento. O
espaço das clínicas convencionais não se torna confortável e pode desestimular o
paciente. Também há clínicas que enfocam as atividades de intervenção, mas se
esquecem que a criança autista tem uma percepção espacial muito particular e cada
criança é única. ‘Uma pessoa com um transtorno mental é, antes de tudo, uma
“pessoa” e não um “transtorno” [...]. Um rótulo classificatório não é capaz de captar a
totalidade complexa de uma pessoa, nem, muito menos, a dimensão humana
irredutível desta (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013, p.41).
O desafio é pensar em parâmetros arquitetônicos que possibilite uma
arquitetura aliada ao tratamento da criança autista, proporcionando um ambiente
confortável e acolhedor. Além de desenvolver propostas conceituais que auxiliem,
principalmente, a humanizar esses ambientes destacando a importância do “lugar”
dos pais e familiares, abrir espaço para que a comunidade possa entender o assunto
e tentar ajudar da melhor maneira possível pessoas com TEA, é importante também
para diminuir a discriminação e rotulações. Vale ressaltar a importância da
implementação de práticas participativas nos processos projetuais, assim, pacientes,
profissionais e familiares poderão relatar os pontos positivos e negativos e salvar
aquilo que está dando certo.
16

O presente trabalho tem como objetivo geral avaliar a estrutura física do


Espaço TRATE a fim de fundamentar a elaboração de um projeto de reforma e
ampliação, onde os espaços sejam repensados e adequados em função do
tratamento da criança com autismo, levando em consideração a opinião de
profissionais, pais e familiares.
Os objetivos específicos desse trabalho são:
· Realizar leitura sobre autismo infantil, formas de tratamento e como o
espaço pode influenciar no desenvolvimento;
· Identificar as maiores queixas de profissionais, pais e familiares na
questão da qualidade espacial;
· Realizar estudo de caso no Espaço TRATE e analisar quanto o espaço
pode ser limitador ao desenvolvimento das crianças com o transtorno.
O primeiro capítulo abordará o termo autismo infantil desde sua primeira
aparição até a conceituação mais recente. Também será abordado características e
dificuldades de crianças autistas, formas de tratamento e o papel desempenhado
pelos pais nesse processo. Para finalizar o primeiro capítulo será analisado o
conhecimento disponível acerca a interseção entre arquitetura e autismo, menos
debatida e aprofundada no presente momento, para que sirva como norteador do
pensar arquitetônico na elaboração do projeto de reforma e ampliação do Espaço
TRATE. A proposta metodológica será abordada no segundo capítulo.
O terceiro capítulo, apresenta uma pesquisa tipológica, assim, aborda a
análise de clínicas-escola que foram arquitetonicamente planejadas exclusivamente
para o tratamento do autismo infantil.
O levantamento do problema do objeto de estudo será explicitado no quarto
capítulo. Nesse capítulo se pretende apresentar e analisar o Espaço TRATE
Autismo, quanto sua localização, funções dos ambientes, quantidade de crianças em
atendimento, impeditivos construtivos, além dos pedidos de alterações e melhorias
por parte de profissionais e pais.
No quinto capítulo, pretende-se expor os condicionantes que proporcionaram
o desenvolvimento do projeto de reforma e ampliação da clínica, demonstrando os
fatores que interferiram em maiores mudanças.
O capítulo 6 apresentará as considerações finais deste trabalho.
O presente trabalho é justificado devido à necessidade de contribuição de
material para consulta que se disponha a repensar o modo como esses espaços
17

assistenciais ao tratamento do autismo são construídos, pois a falta de critérios para


o projeto pode gerar deficiências em relação ao tratamento, inclusive, impactando
diretamente na capacidade cognitiva dos usuários.
18

1. AUTISMO INFANTIL

1.1. Transtorno do Espectro Autista - TEA

O termo autismo foi usado pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra Plouller
e difundido pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler para descrever casos clínicos de
“fechamento social”. A palavra autismo é de origem grega advinda da expressão
autós que significa “o si mesmo” ou “voltar-se para si mesmo” (LOTUFO, 2008).
Em 1943 o psiquiatra austríaco Leo Kanner descreveu na revista americana
Nervous Child um estudo intitulado Autistic Disturbances of Affective Contact
(Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo) no qual onze crianças apresentavam uma
tríade de características em comum: inabilidade para sociabilização, dificuldade em
comunicar-se – seja verbalmente ou não verbal – e um comportamento repetitivo
(KANNER, 1943). Já em seu primeiro estudo, Kanner trazia a possibilidade de que
crianças com autismo poderiam ter sido confundidas como débeis mentais ou
esquizofrênicas. Sobre o autismo ter sido, inicialmente, classificado como uma
psicose infantil:
O autismo, geralmente incluído no grupo das “psicoses infantis”, é naquele
momento tratado como um transtorno das fundações do psiquismo infantil, e
muitas vezes as características psicológicas dos pais ou a qualidade dos
cuidados maternos foram equivocadamente associadas à gênese do quadro
dos seus filhos, com lamentáveis consequências. (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2013, p.25)

No ano de 1944, o psiquiatra Hans Asperger, também austríaco, descreveu


características semelhantes ao estudo de Kanner. Em seu estudo, Asperger
observou uma incidência maior no sexo masculino, os quais ele chamava de
“pequenos professores”, por causa da capacidade de discorrer sobre certos temas.
As publicações de Kanner foram rapidamente debatidas e estudadas, enquanto que
as de Asperger levaram muitos anos até perceberem sua relevância, o fato dos
estudos de Kanner serem escritos em inglês facilitou sua difusão.
Posteriormente, a psiquiatra inglesa Lorna Wing (1981) defendeu que tanto a
Síndrome de Asperger quanto a descrita por Kanner apresentavam basicamente a
mesma tríade de sintomas, e que a primeira deveria ser incorporada à classificação
psiquiátrica dos anos 1990, fortalecendo a noção de continuum ou “espectro do
autismo” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). A “tríade de Wing” ou “tríade de
prejuízos” tornou-se importante ferramenta de diagnóstico clínico.
19

Durante muitos anos a teoria afetiva, iniciada por Kanner, com uma etiologia
inteiramente relacional, foi amplamente difundida na literatura psicanalítica. Com
pesquisadores como Michael Rutter, Simon Baron-Cohen e Uta Frith a teoria da
mente associada à pesquisa genética, com etiologia cognitiva, ganhou força a partir
dos anos 1970 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Esses dois tipos de abordagens
acerca da origem do quadro autístico geram, até hoje, discussões sobre qual seria a
intervenção correta para indivíduos com autismo. Terapia cognitivo comportamental
e psicanálise (cognitivistas x psicanalistas) dividem não só opiniões de profissionais,
mas também de pais e educadores, fato que gerou dois projetos de lei, reprovados,
para proibir a prática da psicanálise em crianças autistas, sob a alegação de que
não há comprovação científica que justifique a psicanálise em autistas (AGNÈS,
2014). Porém, é importante frisar que “a etiologia do autismo é desconhecida e o
que temos, ainda hoje, são hipóteses baseadas tanto em experiências, quanto
referências teóricas” (SILVA, 2013, p.19).
Com o passar do tempo e maior estudo da área surgiu o termo Transtornos
Globais ou Invasivos do Desenvolvimento (TGD) que incluía além do Autismo
Infantil, a Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett (que recentemente foi retirada
desse grupo por pertencer a outra natureza psicológica) e o Transtorno Global do
Desenvolvimento Sem Outra Especificação, segundo Lotufo (2008), é uma categoria
diagnóstica de exclusão, apresentando problemas dentro da tríade, porém não
preenchendo todos os critérios. Atualmente o termo Transtorno do Espectro Autista
(TEA), comumente utilizado, engloba os transtornos acima com exceção a Síndrome
de Rett (SCHWARTZMAN, 2010).
O conceito de transtorno do desenvolvimento foi introduzido, portanto, para
caracterizar os transtornos mentais da infância que apresentam tanto um
início muito precoce quanto uma tendência evolutiva crônica. Os
Transtornos do Espectro do Autismo se enquadram bem nessa categoria,
uma vez que são condições clínicas de início na primeira infância e com
curso crônico. Dessa forma, a síndrome autista manifestada pela criança
pequena costuma persistir no decorrer da vida, em que pesem as
possibilidades de melhora clínica e funcional ao longo do tempo.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE,2013, p.35)

Durante muito tempo se tenta classificar as crianças com autismo: autista


clássico, apresentando a chamada tríade de prejuízos; autistas severos, com
maiores prejuízos no desenvolvimento e na linguagem; passando por aquelas que
possuem um grau leve de autismo, muitas vezes imperceptível na primeira infância;
aquelas que são consideradas gênios, conhecidos como autistas de “alto
20

rendimento”, por apresentarem níveis de inteligência acima da média, mas com


atraso significativo da fala; e a Síndrome de Asperger, semelhante ao autismo
clássico, mas sem atraso significativo da fala (LOTUFO, 2008). Atualmente o termo
“tipos de autismo” vem sendo amplamente difundido, pois a forma como o autismo
se “instala” em cada criança é único (Figura 2).
Vale ressaltar que a tendência atual é a de que essa visão categorial,
que enxerga os diversos quadros de autismo como entidades
nosológicas mais ou menos independentes entre si, seja substituída
pela noção dimensional de espectro do autismo ‘grifo do autor’, que
entende as variações do Transtorno do Espectro do Autismo como
pontos distintos de um mesmo continuum psicopatológico – com a
exceção da Síndrome de Rett (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013,
p.59).

Figura 1 – Espectro Autista

Fonte: Disponível em: <http://mypuzzlingpiece.com/> modificado pela autora desta monografia, 2016.

Hoje, entende-se que entre um autismo e outro há inúmeras possibilidades,


complexidades e pluralidades muito maiores que a nomeação consegue enquadrar
(Figura 1). ‘Uma pessoa com um transtorno mental é, antes de tudo, uma “pessoa” e
não um “transtorno” [...]. Um rótulo classificatório não é capaz de captar a totalidade
complexa de uma pessoa, nem, muito menos, a dimensão humana irredutível desta
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013, p.41).

Figura 2 – Analogia de como o transtorno afeta a criança

Fonte: Pink Floyd site oficial, 2016 modificado pela autora.

O termo autismo sofreu relevantes alterações ao longo dos anos com o


avanço científico, para conceituação usual deste trabalho será usado o Manual
21

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual


of Mental Disorders – DSM-IV) e o CID-10 (Classificação dos Transtornos Mentais e
de Comportamento), referência adotada no Brasil, publicada pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), para fornecer informações a respeito de uma grande
quantidade de doenças e problemas relacionados à saúde (SILVA, 2013):
De acordo com esta classificação, o Autismo Infantil foi caracterizado por
um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes dos três anos,
apresentando perturbação do funcionamento nas áreas: interação social,
comunicação e comportamento repetitivo (TAMANAHA et al. 2008).

1.2. Diagnóstico e características

Segundo o manual de Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com


Transtornos do Espectro do Autismo (2013), o autismo se instala até os 3 anos de
idade, mas os sinais de alerta estão presentes antes mesmo dos 24 meses.
Normalmente, os pais notam características ou ausências de algumas reações ainda
nos primeiros anos de vida da criança.
A peregrinação de alguns pais, em busca de um diagnóstico, pode levar
vários meses, porque alguns profissionais ainda não estão habituados a lidar com o
autismo, além das complexidades naturais a esses transtornos que torna o
diagnóstico difícil. E quanto mais cedo o TEA é detectado, melhor para a criança e
seus pais, pois “[...] as intervenções precoces em casos de TEA têm maior eficácia e
contemplam maior economia, devendo ser privilegiadas por profissionais”
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013, p.21).

Quadro 1 – Diálogo entre médico e mãe durante o diagnóstico.

Médico – Seu filho não fala.


Mãe – Como assim, doutor?! Ele fala, sim! O senhor, mesmo viu ele cantando a musiquinha!
Médico – Ele te chama? Chama “mamãe”? Ele te pede água?
Mãe – Não, doutor...ele não faz isso.
Médico – Ele dá tchau? Bate palminhas?
Mãe – Ele fazia isso, mas parou de fazer...
Médico – Ele aponta para as coisas demonstrando interesse?
Mãe – Não... (e não, não, vários “nãos”).

Fonte: Disponível em: http://lagartavirapupa.com.br/diagnostico-e-luto/

O diagnóstico é inteiramente clínico, baseado em entrevistas com os pais da


criança com suspeita de TEA (Quadro 1), observações da criança e instrumentos de
triagem. Os instrumentos de rastreamento/diagnóstico são compostos por
22

indicadores de desenvolvimento e questionários aplicados aos cuidadores do


bebê/criança.
Dentre os instrumentos de triagem e de avaliação do TEA, é preciso
reconhecer e diferenciar que alguns são para identificação, outros para
diagnóstico, para identificar alvos de intervenção e monitorar os sintomas ao
longo do tempo. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013, p.30)

O guia Linha de cuidado para a atenção às pessoas com Transtornos do


Espectro do Autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do SUS,
elaborado pelo Ministério da Saúde, frisa a importância de que o processo
diagnóstico seja realizado por equipe multidisciplinar com experiência clínica,
recomendando até mesmo que profissionais não se deixem levar pelas primeiras
impressões.
A ilusão de simplicidade e objetividade, favorecida pela mídia, tem levado
pacientes, familiares, leigos em geral e profissionais de outras áreas, como
os da educação, a usarem as classificações psiquiátricas como se estas
fossem meras listas de sintomas a serem marcados e pontuados para se
chegar a um “diagnóstico” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013, p.42).

Durante todo esse processo a família deve ser acolhida e escutada. É


necessário realizar uma escuta aprofundada da família, pois:
O processo de diagnóstico é o momento inicial da construção de um projeto
terapêutico que será alinhavado a partir das características específicas da
família e não apenas das dificuldades ou sinais psicopatológicos da pessoa
em questão. É necessário pensar em estratégias para incluir a família e a
comunidade no projeto terapêutico. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013, p.48)

Para servir como sinais de alerta e não para um “fechamento” do diagnóstico,


o Quadro 2, elaborado pelo MS, descreve características clínicas apresentadas por
crianças em risco para os TEA.
Com a finalidade de reduzir o número de “falsos-positivos” (crianças
erroneamente diagnosticadas com TEA), é recomendável que somente a partir dos 3
anos de idade o diagnóstico seja concluído, antes mesmo disso, a criança já pode
ser submetida àlgumas intervenções para melhoria de áreas prejudicadas.
Diferentes características presentes em crianças autistas de
hipossensibilidade ou hipersensibilidade, as fazem buscar ou evitar sensações.
Como exemplificado por Dunn (2002) apud Reis (2011), hiperresponsividade a
estímulos visuais pode ser observada em crianças que preferem estar no escuro e
que evitam ambientes com luzes intensas, enquanto a hipo responsividade pode ser
observada em crianças que fixam intensamente em pessoas e objetos. O quadro
autístico ainda pode estar relacionado a comorbidades. Segundo Losh et al. (2009)
23

apud Moreira (2012) isto inclui deficiências neurológicas, complicações


gastrointestinais e problemas motores.

Quadro 2 – Características Clínicas de Crianças com risco para TEA.


De 6 a 8 meses De 12 a 14 meses Por volta de 18 meses
Não apresenta iniciativa em
começar, provocar e sustentar
interações com os adultos Não responde claramente Não se interessa por jogos de
próximos (por exemplo: quando é chamado pelo nome faz de conta
ausência de relação olho a
olho)
Não se interessa pelo prazer Não demonstra atenção Ausência da fala ou fala sem
que pode provocar no outro compartilhada intenção comunicativa
Silenciamento de suas
Desinteresse por outras
manifestações vocais, Ausência do apontar
crianças – prefere ficar
ausência do balbucio protodeclarativo, na intenção
sozinho, e se fica sozinho não
principalmente em resposta ao de mostrar a alguém
incomoda ninguém
outro
Não há ainda as primeiras Caso tenha tido
Ausência de movimentos
palavras, ou os primeiros desenvolvimento da fala e
antecipatórios na relação ao
esboços são de palavras interação, pode começar a
outro
estranhas perder essas aquisições
Já podem ser observados
comportamentos repetitivos e
Não se vira na direção da fala
Não imita pequenos gestos ou interesses restritos e
humana a partir dos quatro
brincadeiras estranhos, por exemplo, por
primeiros meses de via
ventiladores, rodas de
carrinhos, porta de elevadores
Não se interessa em chamar
Não estranha quem não é da
atenção das pessoas
família mais próxima, como se Pode aumentar o isolamento
conhecidas e nem em lhes
não notasse diferença
provocar gracinhas
Fonte: Ministério da Saúde, 2013.

1.3. Abordagens e formas de tratamento

Não há um consenso sobre o melhor tipo de tratamento para crianças


autistas. É importante que o método adotado seja elaborado juntamente com a
família do pequeno paciente, porque é ela que dará continuidade as recomendações
recebidas no projeto terapêutico. É comum falar a respeito da criança com autismo,
mas é necessário esclarecer que o autismo não tem cura. O autismo é uma
síndrome presente em todas as fases de vida do indivíduo, sendo assim, o
tratamento deve ser contínuo, de modo que a pessoa com TEA possa se
desenvolver ao máximo, dentro de suas limitações.
Não existe uma única abordagem a ser privilegiada no atendimento de
pessoas com Transtornos do Espectro do Autismo. Recomenda-se que a
escolha entre as diversas abordagens existentes considere sua efetividade
e segurança, e seja tomada de acordo com a singularidade de cada caso
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
24

Lord e Rutter (1994) apud Amorim (2012) destacam quatro alvos básicos de
qualquer tratamento: estimular o desenvolvimento social e comunicativo; aprimorar o
aprendizado e a capacidade de solucionar problemas; diminuir comportamentos que
interferem com o aprendizado e com o acesso às oportunidades de experiências do
cotidiano; e ajudar as famílias a lidarem com o autismo.
A seguir, algumas abordagens serão descritas para apresentação das
possibilidades ao tipo de tratamento escolhido.

1.4. Tratamento psicanalítico

O tratamento ofertado para as pessoas com TEA visa minimizar suas


dificuldades e ampliar suas possibilidades de aprendizagem e independência.
O trabalho do psicanalista, observado por Amy (2001), é ajudar e apoiar na
estruturação e na organização do mundo interior da criança com autismo. “Trata-se
de dar um sentido a seus fantasmas, a suas angústias e aos mecanismos que opera
para combatê-los. É essa compreensão, convertida em palavras e afetos, que
permite desbloquear os funcionamentos mais patológicos [...] (AMY, 2001, p.37) ”.
Dessa forma, o trabalho psicanalítico consiste em:
Abordagem que considera a singularidade de cada caso, sempre em
uma perspectiva relacional com base na linguagem e que detecta as
aberturas que a pessoa com autismo apresenta em relação ao meio
para ajudá-la, a partir de seus interesses, a potencializar suas
condições de se relacionar com os outros (MS, 2013, p.84).

1.4.1. ABA

Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavioral Analysis - ABA) “[...]


é uma abordagem que envolve a avaliação, o planejamento e a orientação por parte
de um profissional analista do comportamento capacitado (MS, 2013, p.85) ”. Esta
abordagem oferece importantes ferramentas para aprendizagem especial.
As tentativas de ensino são repetidas muitas vezes, até que a criança atinja
o critério de aprendizagem estabelecido (geralmente envolve a
demonstração de uma habilidade específica por repetidas vezes, sem
erros). (CAMARGOS, 2005, p.2).

Segundo Camargos (2005) novas habilidades adquiridas são reforçadas


(Figura 3) e respostas problemáticas (como agressões, destruições do ambiente,
autolesão, respostas estereotipadas) não são reforçadas. Todos os dados sobre o
desenvolvimento comportamental da criança são meticulosamente registrados e
posteriormente transformados em gráficos para demonstram o progresso da mesma.
25

Ainda sobre Camargos (2005), a ABA tem como premissa que todo
comportamento possui uma função, ou seja, algo que cause tal comportamento, por
isso todo comportamento é passível de mudança. Dessa forma, ocorre “[...] redução
de comportamentos não adaptativos (estereotipias, agressividade etc.);
particularmente ao substituí-los por novos comportamentos socialmente mais
aceitáveis e que sirvam aos mesmos propósitos, mas de modo mais eficiente (MS,
2013, p.85-86)”.

Figura 3 – Terapeuta comportamental e criança em tratamento.

Fonte: Disponível em: <http://www.webdicine.com/>

1.4.2. Comunicação complementar e alternativa – CSA

Pessoas com TEA podem ter complexos problemas de comunicação, alguns


nunca desenvolvem a fala, dessa forma, é necessário criar meios para o portador da
síndrome se comunicar de forma funcional. Segundo o guia de cuidados para
pessoas com autismo do Ministério da Saúde (2013), a comunicação complementar
é qualquer dispositivo, método ou sistema com a finalidade de ajudar a fala. A
comunicação alternativa é necessária quando a criança não desenvolveu ou houve
perda da fala.
Como exemplos de CSA pode-se citar a língua de sinais e gestos e o uso de
símbolos e figuras para comunicação. Desenvolvido especificamente para pessoas
com o transtorno o PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras) é um
mecanismo de baixo custo, através de sites específicos profissionais, pais e
educadores podem baixar e imprimir fichas de diferentes temas do cotidiano (Figura
4).
26

Figura 4 – Exemplo de ficha PECS, uso do sanitário.

Fonte: Disponível em: <http://umamaeespecial.blogspot.com.br/2013/04/autistas-retirando-as-


fraldas.html>

1.4.3. TEACCH

O Tratamento e Educação para crianças com Transtornos do Espectro do


Autismo, conhecido pela sigla TEACCH, vem sendo amplamente difundido em
muitos países. O método TEACCH é abrangente e moldável à criança com autismo
e a própria equipe multidisciplinar.
O objetivo do TEACCH é apoiar a pessoa com Transtorno do
Espectro do Autismo em seu desenvolvimento para ajudá-la a
conseguir chegar à idade adulta com o máximo de autonomia
possível, ajudando na compreensão do mundo que a cerca, através
da aquisição de habilidades de comunicação que lhe permitam
relacionar-se com outras pessoas oferecendo-lhes, sempre que
possível, condições de escolher de acordo com suas próprias
necessidades (MS, 2013, p.89).

Este método considera a rotina, característica presente em muitas crianças


com TEA, uma forte habilidade que pode ser usada a favor da criança (Figura 5). O
método também aborda a criança de modo individual passando por diferentes níveis
de interação com outras crianças. “[...] a meta em longo prazo do Programa
TEACCH é que o aluno com autismo se adeque o melhor possível à nossa
sociedade quando adulto (KWEE, 2009, p.221)” Envolvimento dos pais, ensino
estruturado, manejo do comportamento, habilidades de comunicação, de lazer e
sociais são algumas das áreas de tratamento do programa TEACCH.
27

Figura 5 – Sala estruturada para atendimento TEACCH.

Fonte: Disponível em: <http://atividadeparaeducacaoespecial.com/inclusao-a-estruturacao-do-teacch-


para-o-atendimento-de-alunos-com-transtorno-do-espectro-autista/>

1.4.4. Terapias de integração sensorial

De acordo com Ayres (1989) apud Carvalho (2005), a integração sensorial é o


processo neurológico que organiza as sensações do corpo e do ambiente de forma
a ser possível o uso eficiente do corpo no ambiente. Segundo Carvalho (2005), é
necessária uma exploração ativa do meio ambiente para o desenvolvimento infantil,
pois o estado de alerta do sistema nervoso central é influenciado pelo sistema tátil.
Uma criança capaz de explorar bem informações de temperatura, texturas e
formatos (Figura 6), provavelmente terá uma boa adaptação ao meio. Dessa forma,
a terapia de integração sensorial “[...] permite relacionar desordens na percepção,
organização e interpretação da informação sensorial interoceptiva e exteroceptiva,
relacionando-as com as dificuldades de aprendizagem e desempenhos ocupacionais
ineficientes (MS, 2013, p.88) ”.
Na prática, o terapeuta ocupacional faz uso da Terapia de Integração
Sensorial buscando: a diminuição dos níveis de atividades elevados;
incremento do repertório de respostas adaptativas, dos jogos com
propósitos e no compromisso social; melhoria da capacidade de
sustentação da atenção e equilíbrio do nível de atividade, bem como
diminuição na emissão de comportamentos de autoagressão ou auto
estimulação, facilitação de comportamentos de imitação e
antecipação, bem como diminuição de problemas de coordenação e
planejamento motor (MS, 2013, p.89).
28

Figura 6 – Tapete sensorial.

Fonte: Disponível em: <http://www.espacoame.com.br/fotos-do-local/>

1.4.5. Acompanhamento terapêutico

O acompanhamento terapêutico se faz necessário para a construção de uma


inclusão da pessoa com autismo frente a ambientes/espaços públicos. Profissionais
específicos realizam o acompanhamento destas crianças em locais como escolas,
clubes, igrejas, rompendo os limites do espaço clínica/tratamento enriquecendo ao
tratamento e a informação da população de maneira geral.
Esse dispositivo pode ter a função de reintegração social e de
ampliação da autonomia, buscando possibilidades de articulação, de
circulação, de transformação de “lugares sociais” auxiliando na
redução do isolamento e evitando a ruptura de vínculos (MS, 2013,
p.92).

1.4.6. Uso da tecnologia

Há um crescente interesse em se desenvolver softwares de uso específico


para crianças portadoras de TEA. Jogos e aplicativos disponíveis para
computadores, tablets e celulares, buscam trazer atividades que visam o
desenvolvimento cognitivo, interação, comunicação e até mesmo auxiliar em
atividades de vida diária. Como exemplos, dois softwares estão em desenvolvimento
na Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca, um aplicativo denominado
TEO (Tratar, Estimular e Orientar) que oferece um ambiente de jogos interativos
para dar suporte ao tratamento de crianças com autismo (Figura 7). O outro,
29

TRATAR, baseado em realidade aumentada, contém jogos que permitem que


profissionais tentem explorar a imaginação desses pequenos.
Porém, segundo Sussman (2004) apesar da criança aprender via
computador, não deve se permitir que o aparelho substitua a interação com
pessoas. Também é importante esclarecer que apesar de muito útil em
determinados casos, o uso da tecnologia não substitui o tratamento clínico.

Figura 7 – Divulgação aplicativo TEO.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

1.4.7. Método Son-Rise

Segundo o centro desenvolvedor, o Autism Treatment Center of America


(Massachusetts, Estados Unidos), o método Son-Rise vê o autismo como uma
perturbação relacional interativa. É possível encontrar diversos livros bibliográficos
de pais de autistas que destacam como o método salvou suas crianças. Este
método também critica a ênfase dada a repetição de atividades de outras
abordagens que focam, segundo os adeptos do Son-rise, em adaptar a criança ao
meio sem aceitá-la como ela é. O método parte do pressuposto que para crianças
com autismo o ambiente possui uma vasta quantidade de estímulos, dificultando a
interação social e o aprendizado. Dessa forma, o ambiente é formulado de acordo
com a necessidade das crianças (Figura 8), o espelho é um incentivador do contato
visual, recomenda-se o uso de cores neutras para paredes, pisos macios e uso de
poucos brinquedos.
“As sessões individuais (um-para-um) do programa são realizadas na
residência da criança ou adulto com autismo, em um quarto especialmente
preparado com poucas distrações visuais e auditivas, contendo brinquedos
e materiais motivadores para a criança ou adulto com autismo que sirvam
como instrumento de facilitação para a interação e subsequente
aprendizagem. Os pais aprendem a construir, no dia-a-dia, experiências
30

interativas estimulantes que convidem a criança a desenvolver-se


socialmente dentro de um currículo claramente definido” (TOLEZANI, 2010).

Figura 8 – Quarto otimizado para interação social, segundo método Son-Rise.

Fonte: Disponível em <http://run4autism.blogspot.com.br/>

1.5. O espaço dos pais no tratamento da criança autista

Quadro 3 – Mãe relatando o pós diagnóstico

“Quando você recebe uma notícia como esta - do autismo -, é como se aquele bebezinho que você
idealizou tivesse morrido. É um luto muito sofrido. A aceitação é muito, muito difícil.

Mas você tem, aí, um novo bebezinho, meio desconhecido pra você, é verdade. Mas que também vai
te dar muitas alegrias. E que não quer estudar na escola X ou fazer intercâmbio: tudo que ele quer é
ser feliz, ser amado, ser aceitado. ”

Fonte: BONOLI, 2012. Disponível em: <http://lagartavirapupa.com.br/diagnostico-e-luto/>

Kanner (1943) se referia as mães dessas crianças com o termo “refrigerator


mother” (mãe geladeira) atribuindo-lhes à causa desse transtorno, pois as
considerava afetivamente frias. Especialmente as mães carregaram por muito tempo
este fardo, apontadas como as causadoras do problema de seus filhos,
consideradas más mães, apresentando falha na função materna. Hoje, estudos
sugerem que outros fatores causem o transtorno, inclusive fatores genéticos, porém,
o autismo ainda desafia a ciência fornecendo poucas respostas em meio a muitas
dúvidas (Quadro 3).
Anos mais tarde, Leo Kanner contradiz suas antigas afirmações acerca a
causa do transtorno:
É reconhecido por todos os observadores, exceto por um reduzido número
daqueles impedidos por compromissos doutrinários, que o autismo não é
uma doença primariamente adquirida ou feita pelo homem. (...) fazer os pais
se sentirem culpados ou responsáveis pelo autismo de seu filho não é
apenas errado, mas adiciona de modo cruel um insulto a um dano (Kanner,
1968, apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
31

Apesar de redimir-se, Leo Kanner, será sempre lembrado pelo termo “mães
geladeiras” e pela herança negativa que isso representa. Quantos pais, ante ao
descontentamento acerca o desenvolvimento de seus filhos, já escutou a velha
afirmação “é falta de estímulo”? Porém, muitos estudiosos e profissionais ainda
veem na relação mãe e bebê como o fator desencadeador do autismo.
Como descrito por Amy (2001), ainda são extremamente marcantes os
sentimentos de culpabilidade, vergonha e angústia dos pais em relação a seus filhos
autistas, muitas vezes, induzidos por determinadas teorias.
O cuidado da pessoa com TEA exige da família extensos e permanentes
períodos de dedicação, provocando, em muitos casos, a diminuição das
atividades de trabalho, lazer e até de negligência aos cuidados da saúde de
membros da família. Isto significa que estamos diante da necessidade de
ofertar, também aos pais e cuidadores, espaços de escuta e acolhimento;
de orientação e até de cuidados terapêuticos específicos (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2013, p.33).

Com as abordagens de cunho cognitivista, a importância dos pais no


tratamento de crianças autistas é tida como fundamental para o progresso das
mesmas. “Outro importante motivo é o fato de que os pais conhecem bastante seus
filhos e estão motivados a melhorar o ambiente onde vivem e melhorar o
relacionamento familiar (DURANTE, 2007, p.63). ”
A psicoterapia, bem como outras formas de acompanhamento terapêutico
podem ser indicadas para auxiliar os pais na compreensão do que está
acontecendo e do que estão sentindo, inclusive acolhendo sentimentos
comuns, como negação, raiva, rejeição, culpa, frustração, ressentimento
etc. Quando os pais estão bem eles podem ajudar ainda mais seus
filhos ‘grifo do autor’. (DIREITOS AUTISMO, 2011, p.5)

Também se faz necessário que estes pais possam ter um espaço para troca
de experiências e apoio emocional mútuo. A primeira associação do gênero no
Brasil, a AMA (Associação Amigos do Autista), atua desde 1983 amparando pais e
crianças. Muitas pessoas se envolveram na causa e associações do gênero se
multiplicaram pelo país, estas, fundamentais para a luta contra o preconceito e
manifesto frente ao poder público para acesso ao tratamento de qualidade e
inclusão social.

1.6. Autismo como tomada de decisão no projeto arquitetônico

A seguir serão abordados os estudos de dois arquitetos que buscaram


estabelecer recomendações para ambientes assistenciais ao tratamento do autismo.
Ambos esclarecem que suas pesquisas representam um ponto de partida para mais
32

estudos, levando em conta que até a própria etiologia do autismo ainda não foi
descoberta.

1.6.1. Matriz de Desenho Sensorial

Considerada pioneira em projeto para autistas, Magda Mostafa recebeu seu


Ph.D. na Universidade do Cairo, onde em sua tese de doutorado estudou desenho
arquitetônico para crianças com necessidades especiais com foco no autismo
infantil. Seus estudos iniciaram em 2002, após procurar, sem sucesso, por
orientações e códigos de acessibilidade que a auxiliassem a projetar o primeiro
centro educacional autista do Egito. Assim, ela precisou estudar sobre o autismo e
elaborar seus próprios guias criados a partir do método Design Baseado em
Evidências (Evidence-Based Design, EBD, em inglês).
Em seu estudo sobre conceitos de desenho para ambientes assistenciais ao
autismo, Magda Mostafa realizou testes supervisionados com pacientes autistas do
Centro de Necessidades Especiais do Cairo, Egito. Mostafa reorganizou o layout de
uma das salas, promovendo estações de trabalho e zonas definidas. “A resistência a
mudanças é frequentemente vista como um problema no autismo (MOSTAFA, 2008,
p.193) ”, porém ao enfatizar a ordem, sequência e rotina a pesquisadora obteve
significativas reduções ao tempo de resposta nas atividades propostas às crianças.
Outra positiva influência no comportamento das crianças foi possível com a redução
de distrações visuais em ambientes de aprendizado, aumentando atenção e
diminuindo o tempo de resposta.
Magda Mostafa chegou à conclusão que padrões e cores podem ser usados
para comunicar aos pacientes o caráter de diferentes zonas e espaços, delimitando
visualmente e espacialmente as diferentes atividades. Com base em uma matriz ela
conseguiu organizar a dinâmica relação entre o ambiente arquitetônico e complexas
questões do autismo. As principais recomendações, geradas pela Matriz de
Desenho Sensorial, baseada nas necessidades de autistas hipersensíveis (alta
sensibilidade) e autistas hipossensíveis (baixa sensibilidade) podem ser observadas
no Quadro 4.
33

Quadro 4 – Diretrizes de desenho arquitetônico gerada pela Matriz de Desenho Sensorial.


# Diretrizes de Projeto Objetivo Sugerido e Usuário
1) para reduzir distração visual e acústica para pacientes hiper auditivo
e hiper visual.
1. Ambientes fechados 2) criar focos visuais em casos de interferências visuais.
3) para reduzir intromissão olfativa através de ventilação para hiper
olfativo.
1) para aumentar oportunidades de estímulos acústicos para hipo
auditivos.
2. Ambientes abertos
2) para providenciar estimulação visual para hipo visuais.
3) para reduzir o senso de confinamento de hipo táteis.
1) para reduzir ecos para hiper auditivos.
Tetos baixos e 2) para reduzir a distorção e ilusões visuais do espaço para hiper
3. proporções visuais.
moderadas 3) para promover o equilíbrio para hipo e interferência-proprioceptivo.
4) para criar um ambiente mais acusticamente controlável.
1) para aumentar ecos e estimulação auditiva para hipo auditivos.
Tetos altos e
2) para criar estimulação visual e ilusória para hipo visuais.
4. proporções
3) para estimular o senso proprioceptivo do espaço para hiper
exageradas
proprioceptivos auditivos.
1) para reduzir ecos para hiper auditivos.
2) criar um ambiente auditivo controlável para o auditivo de
interferência.
3) para criar um espaço controlável e gerenciável para hiper e visuais
de interferências.
Uso de escala
5. 4) para aumentar estimulação tátil da proximidade com o limite para
reduzida/humana
hipo tátil.
5) para aumentar a estimulação proprioceptiva da proximidade com os
limites para os hipo proprioceptivo.
6) para criar um ambiente controlável para o auditivo de interferência e
proprioceptivo.
1) para criar estimulação auditiva através de ecos para os hipo
auditivo.
2) para criar estimulação visual através de ampliação espacial para
6. Uso de escala ampla
hipo visuais.
3) para reparar superestimulação de limites espaciais para hiper táteis
e hiper proprioceptivos.
Orientação em 1) para criar foco e atração para hipo visuais.
direção a vistas 2) para introduzir equilíbrio e direção para hipo proprioceptivos.
7.
externas e elementos
de interesse
1) para aumentar o momento de atenção e reduzir a distração para
Uso do foco de
hiper auditivo e hiper visual.
8. atividade para
2) para criar um ponto de referência comportamental e geométrico
organizar o espaço
para hipo proprioceptivo e proprioceptivo de interferência.
1) cria previsibilidade para hiper visuais.
2) cria equilíbrio acústico para hiper auditivos.
Organização
9. 3) aumenta o senso de centro e equilíbrio para hipo proprioceptivo de
simétrica
interferência.
4) cria um ambiente controlável da interferência visual.
Organização 1) cria estímulos visuais e acústicos para hipo auditivos e hipo visuais.
10.
assimétrica 2) cria estimulação proprioceptivo para hipo proprioceptivos.
1) para criar oportunidades de estimulação visual e acompanhamento
Uso do ritmo visual
11. visual para hipo visuais.
ou espacial
2) para criar ambiente previsível e coerente para hipo.
Espaço visualmente 1) para criar um espaço visualmente neutro para hiper visuais.
harmonioso sem 2) para criar um espaço tátil neutro hiper táteis.
12.
contraste ou
discordância
34

# Diretrizes de Projeto Objetivo Sugerido e Usuário


Espaço visualmente 1) para criar estimulação visual para hipo e interferentes visuais.
13. desarmonioso usando 2) para criar estimulação proprioceptiva para hipo-proprioceptivo.
contrastes
Uso de espaços 1) para criar orientação e estabilidade para hiper proprioceptivo e
dinâmica e
14.
estaticamente
balanceados
Uso de espaços 1) para criar estimulação visual para hipo visual.
15.
desbalanceados
Uso de cores 1) para criar estimulação visual para hipo visual.
16.
resplandecentes
17. Uso de cores neutras 1) para criar serenidade para hiper visual.
18. Uso de cores quentes 1) para criar calor psicológico para hipo táteis.
Iluminação natural 1) minimiza brilho e vistas distrativas para hiper visual.
19.
indireta 2) diminui o zumbido de luzes artificiais para hiper auditivos.
Vista e iluminação 1) para criar estimulação visual para hipo visual.
20.
natural direta
1) cria um ambiente condutível para hiper auditivos.
21. Ruído e ecos
2) cria um fundo auditivo neutro para interferência auditiva.
1) acalma hipo táteis.
22. Uso de texturas lisas
2) cria estímulos de eco e reverberação para hipo auditivos.
Uso de texturas 1) estimula hipo táteis.
23.
ásperas
24. Ventilação cruzada 1) reduz cheiros e odores para hiper olfativos.
1) pode favorecer em conter aromas durante aromaterapia para hipo
25. Ventilação controlada
olfativos.
1) ajuda orientar e a ajustar hiper visuais.
Organização e 2) ajuda estimular a ação em hipo visuais.
26. compartimentação 3) ajuda organizar a interferência visual.
usando sinais visuais 4) cria limites necessários aos hipo táteis.
5) ajuda orientar hipo e proprioceptivo interferente.
Organização espacial 1) ajuda orientar e ajustar hiper visuais.
de acordo com 2) ajuda organizar a interferência visual.
27.
características 3) ajuda orientar o hipo e proprioceptivo interferente.
sensoriais
1) ajuda orientar e ajustar hiper visuais.
Uso de circulação de
2) ajuda organizar a interferência visual.
28. mão-única para
3) ajuda orientar o hipo e proprioceptivo interferente.
potencializar a rotina
4) ajuda
Fonte: MOSTAFA, 2008. Modificada e traduzida pela autora desta monografia, 2016.

1.6.2. Manual Prático de Arquitetura para Clínicas e Laboratórios

Em seu Manual Prático de Arquitetura para Clínicas e Laboratórios, Ronald de


Góes (2010) relata que faltam parâmetros para dimensionar espaços destinados ao
tratamento do autismo, e determinar as melhores condições de abrigar os
portadores de TEA. Segundo Góes, mesmo universidades e profissionais norte-
americanos e ingleses não têm um padrão arquitetônico que oriente a construção
destas clínicas, tendo como referência clínicas psiquiátricas convencionais. Ronald
de Góes abriu um debate importante, após um seminário sobre autismo e estudos
de estruturas físicas de clínicas, elaborou uma proposta de programa arquitetônico,
35

mas ressalva que a proposta apresentada é um ponto de partida, pois necessita de


mais estudos. O trabalho de Góes representa um dos únicos manuais técnicos no
Brasil em que o profissional arquiteto pode consultar para o norteamento acerca a
concepção de espaços que oferecem serviços de apoio ao autista. Apesar de
grande avanço na área, o citado manual não oferece explicações acerca de tipos de
tratamento nem das particularidades dos mesmos, que resultam em diferentes
composições espaciais (Figura 9).

Figura 9 – Sala estruturada para tratamento TEACCH.

Fonte: Sara Lima, 2012.

Como recomendações gerais, Ronald de Góes pontua:


· Oferecer uma clara indicação do uso a que está destinada a edificação
e projetá-la de tal forma que seu entorno obedeça a certas
semelhanças aos ambientes normalmente vivenciados pelos pacientes.
· As distintas partes do edifício devem oferecer uma clara diferenciação
visual. Eliminar superfícies brilhantes que produzam reflexos em
paredes, portas, tetos e pisos e que estes se diferenciem claramente
mediante utilização de cores e texturas para eliminar ambiguidades e
confusão.
· Produzir lugares que favoreçam a interação social tendo em conta a
distribuição de espaço, mobiliário, equipamentos etc.
· Recomenda-se a utilização de cores distintas para diferentes
atividades e espaços, medida que favorece a orientação. Cores
quentes, como o roxo e o laranja se associam a atividades dinâmicas,
enquanto cores relaxantes, como o verde e o azul, são mais
36

apropriadas para ambientes destinados ao repouso e à reflexão. Evitar


o branco.
· Utilizar uma variedade de materiais que provoquem diferentes
experiências visuais e táteis.
· A iluminação deve ajudar a definir diferentes espaços.
· Deve-se habilitar lugares para que os pacientes possam ter contato
com seus familiares, assim como espaços amplos, onde seja possível
a realização de atividades coletivas.
· Fundamental a relação visual e corporal com a natureza.
· Deve-se programar passeios e a possibilidade dos pacientes
vivenciarem outros ambientes fora do local de atendimento durante a
fase de tratamento.
· É muito importante a escolha do mobiliário e dos equipamentos,
possibilitando uma boa relação ergonômica entre pacientes e objetos.
37

2. METODOLOGIA

O presente trabalho tem como objetivo avaliar o Espaço TRATE para


fundamentar a elaboração de um projeto de reforma e ampliação do espaço TRATE
Autismo Arapiraca, contribuindo para a disseminação de conhecimentos necessários
para adequação do mesmo quanto as suas especificidades e demandas.
Para se chegar ao objetivo, os seguintes procedimentos metodológicos foram
realizados (Figura 10), fundamentados em pesquisa qualitativa: (a) revisão
bibliográfica, (b) análise de exemplos que estimulem a compreensão da
problemática (pesquisa tipológica), (c) estudo de caso do Espaço TRATE através de
acompanhamento de rotina da clínica e reuniões com profissionais e pais e (d)
desenvolvimento da proposta de reforma e adequação do Espaço TRATE.

Figura 10 – Esquema da Metodologia

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

A – Revisão bibliográfica
Com a finalidade de obter conhecimento acerca o autismo infantil, suas
características, dificuldades e formas de tratamento, será realizado um levantamento
de referências teóricas publicadas em livros, artigos científicos, dissertações, teses e
sites especializados.
38

Quanto à interseção entre arquitetura e autismo, menos debatida e


aprofundada no presente momento, o problema será abordado com uma análise do
conhecimento disponível do assunto, onde buscará identificar como as principais
características do transtorno podem resultar em um equivalente arquitetônico.

B – Pesquisa tipológica
Uma das abordagens que estão modificando o modo como designers e
arquitetos projetam ambientes de assistência médica é o Design Baseado em
Evidências (evidence-based design, EBD, em ingês). Este método foi desenvolvido
no instituto americano Center For HealthCare Design (CHD), e tem como objetivo
criar um ambiente de qualidade que proporcione uma melhor experiência ao
paciente e seus acompanhantes. Inicialmente, o método era destinado ao designer
de interiores, mas logo notou-se que a arquitetura das edificações também se
relaciona com seus usuários. Dessa forma, algumas das práticas do EBD foram
usadas para se criar o método Projeto Baseado em Evidências (PBE).
Conforme Hamilton e Watkins (2009) apud Lima (et al, 2012) no PBE as
decisões são tomadas de forma cuidadosa, clara e criteriosa com base nas
melhores evidências correntes e disponíveis oriundas da pesquisa e da prática,
considerando também o conhecimento do cliente relacionado.
Segundo Lima (2012) três fontes são essenciais para criação com base no
método PBE: evidências práticas, evidências do cliente e evidências de pesquisa.
Além do mais a evidência pode ser conceituada como um guia para geração de
valor. Desta forma, os projetos selecionados para formar a pesquisa tipológica
apresentados nesta monografia servirão como fonte de ampliação do conhecimento
de promissoras clínicas para crianças com TEA.

C – Estudo de caso do Espaço TRATE


“Nenhum artigo científico irá te preparar para lidar com o autismo” foi assim
que umas das psicólogas iniciou sua fala durante as entrevistas ao se referir sobre o
início de sua carreira na clínica. Como permitido pelas psicólogas diretoras da
clínica, o acompanhamento da rotina da clínica TRATE ocorreu no decorrer do ano
de 2015, não de forma constante, mas dependendo da disponibilidade da equipe de
profissionais. O objetivo era compreender a dinâmica do Espaço TRATE, as funções
e necessidades dos profissionais, o espaço dos pequenos pacientes e o espaço
39

atribuído aos pais. Para ajudar na compreensão desse núcleo (profissionais,


pacientes e pais) houve o acompanhamento de entrevistas, palestras, blogs de pais
de crianças autistas e até mesmo um luau para psicólogos sobre autismo, tendo
como palestrante uma das idealizadoras da clínica. Durante esse período, também
foi realizado o levantamento arquitetônico e condicionantes do projeto, pois a clínica
não possuía planta baixa.
Como decidido pelas profissionais, as reuniões se tornaram mais viáveis do
que as entrevistas, devido ao seu caráter mais aberto e espontâneo. Sendo assim,
cada profissional pôde descrever sua função e observações sobre seu ambiente de
trabalho (vide quadro 5).
As questões colocadas pelos pais ocorreram, principalmente, por integrantes
da Associação de Pessoas com Transtorno Autístico de Alagoas/Arapiraca (APTAA).

D- Desenvolvimento da proposta de Reforma e Adequação do Espaço


TRATE
Por fim, com base nos dados coletados em todas etapas anteriores, a
proposta poderá ser concebida. As informações da proposta deverão ser
sintetizadas em um quadro de requisitos funcionais e tomadas de decisão para
melhor compreensão da pesquisa.
40

3. PESQUISA TIPOLÓGICA

A pesquisa tipológica se faz necessária pela existência de poucos modelos de


clínicas-escolas projetadas exclusivamente para o atendimento de crianças autistas.
No Brasil ainda é comum que clínicas para o tratamento do autismo sejam
projetadas como clínicas convencionais, também existem as do tipo “fazendinha” ou
“chácara” (não representa a realidade do Espaço TRATE), normalmente não
pertencentes à zona urbana, além de edifícios que possuíam outros usos e passam
a fornecer esse tipo de serviço. Os modelos a seguir foram escolhidos por se
destacarem internacionalmente e pela contratação de arquitetos que buscaram criar
uma ponte entre Arquitetura e Autismo.
As propostas climáticas não serão discutidas devido ao fato que o objetivo
dessas edificações é manter o calor da residência, contrário ao desejável
resfriamento da edificação no clima do Nordeste brasileiro.

3.1. National Centre for Autism Education – Londres

Insatisfeitos com o tratamento oferecido pelo Estado, pais de crianças


autistas, se uniram para dar o devido suporte a seus filhos, assim surgiu a
associação TreeHouse Trust, em 1997. Desenvolvido ao longo de muitos anos pelo
fundo de caridade da associação além do apoio de outras fundações, o Centro
Nacional para Educação Autista foi concluído em 2008, oferecendo tratamento,
treinamento e aconselhamento, além de oferecer formação profissional (PENOYRE;
PRASAD, 2016).
41

Figura 11 – Centro de educação para autistas.

Fonte: Penoyre & Prasad, 2008. Disponível em: < http://www.penoyreprasad.com/projects/the-pears-


national-centre-for-autism-education/>. Acesso em: 20 fev. 2016.

O escritório Penoyre & Prasad ficou encarregado do projeto da escola, que


atende atualmente cerca de 90 pessoas da infância a adolescência. O tratamento é
realizado segundo os princípios da Análise Comportamental Aplicada (ABA). Em
entrevista ao arquiteto Dominic Cullinan (2009), Penoyre & Prasad relataram que
seu trabalho no TreeHouse seria descobrir o equivalente arquitetônico da ABA,
dessa forma, uma pesquisa cuidadosa sobre essa proposta de ensino foi essencial.
O centro de ensino fica afastado da rua principal sobre uma extensa área
asfaltada. Suas áreas externas possuem uma variedade de espaços que podem ser
usados para recreação e aprendizagem (Figura 11). O edifício destoa do entorno
pelas cores e até mesmo pouca arborização, se considerado que está situado em
uma área preservada de Muswell Hill. Um dos pedidos foi que os arquitetos
selecionassem materiais naturais à região e tecnologias sustentáveis.
42

Figura 12 – Salas flexíveis de ensino.

Fonte: Penoyre & Prasad, 2008. Disponível em: < http://www.penoyreprasad.com/projects/the-pears-


national-centre-for-autism-education/>. Acesso em: 20 fev. 2016.

Os espaços de ensino são simples e flexíveis (Figura 12), o centro ainda


possui ambientes destinados ao treinamento de profissionais e reuniões, assim
como um razoável espaço administrativo, onde ativistas, investidores e terapeutas
especializados podem compartilhar conhecimentos. Cozinha, banheiro e lavanderia
foram projetados de modo que além de dar o suporte necessário ao edifício
possibilitasse o tratamento das crianças com base em suas atividades de vida diária.
A planta em forma H possibilita que as salas de aula sejam reunidas paralelamente
tendo o espaço compartilhado como um eixo de integração, pisos com texturas e
cores diferentes indicam essa transição. As salas infantis foram localizadas no térreo
enquanto que as mais avançadas se encontram no primeiro pavimento.
A iluminação é uniforme, equilibrando com a luz artificial, a luz do dia é
conduzida ao interior do edifício através de claraboias (Figura 13).
O ponto chave desse projeto realmente é seu interior, um delicado equilíbrio
entre estímulo sensorial e neutralidade quando necessário. O mobiliário modular
possibilita uma grande variedade de configuração, adaptando o tratamento ao
espaço e não o contrário.
A passagem da infância à adolescência é representada por uma analogia ao
número de pavimentos, as crianças se encontram no térreo e os adolescentes
adquirem a “responsabilidade” para subir as escadas e estudar no pavimento
superior, como descrito por Dominic Cullinan (2009) no Architecture Today.
43

Figura 13 – Iluminação natural e artificial.

Fonte: Penoyre & Prasad, 2008. Disponível em: < http://www.penoyreprasad.com/projects/the-pears-


national-centre-for-autism-education/>. Acesso em: 20 fev. 2016.

3.2. ASD Unidade Residencial – Chicago

A GA Architects é uma equipe formada por arquitetos e consultores com


escritório localizado em Londres. Possuem uma grande variedade de projetos no
âmbito público, privado e corporativo, porém o maior destaque ocorre na concepção
de ambientes para crianças e adultos com autismo, abrangendo desde instalações
educacionais a residenciais. Segundo a GA, que considera ser Autism-Friendly
Design, a intenção é criar um ambiente ordenado e cuidadoso com os pacientes,
onde crianças autistas se sintam seguras possibilitando que profissionais
desempenhem corretamente seus papéis. O escritório ainda presta serviços de
assessoria a arquitetos que necessitam projetar este tipo de ambiente.
A fundação americana Little City Foundation, fornecedora de habitação e
educação para crianças autistas, recomendou que o escritório de arquitetos
responsável pelo projeto de uma nova unidade habitacional buscasse colaboração
na GA Architects. Assim, o escritório formado pelos arquitetos Jack Kelley e Clark
Baurer, que dão nome ao McBride Kelley Baurer Architects, receberam orientações
da GA para concepção de uma espécie de residência-escola para oito crianças
visando providenciar melhores oportunidades para naturalização da independência.
A unidade residencial pertence a uma vila com mais cinco casas da Little City
Foundation possuindo aproximadamente 50 pacientes com autismo, de sete a 22
anos (Figura 14). Os profissionais dizem que esse método de intervenção
44

representa um avanço para intervenções terapêuticas, pois oferece um ambiente


rico em estímulos e pensado exclusivamente para esses pacientes.

Figura 14 – Volumetria Unidade Residencial.

Fonte: GA Architects, 2015. Disponível em: < http://www.ga-architects.com/>. Acesso em: 27 fev.
2016.

Infelizmente, ambos escritórios não explicaram, em meios de livre acesso,


quais características do transtorno levaram a tomada de decisões. Porém, através
das ilustrações do projeto é possível levantar algumas informações.
45

Figura 15 – Pátio destacado.

Fonte: GA Architects, 2015. Disponível em: < http://www.ga-architects.com/>. Acesso em: 27 fev.
2016.

Pode-se notar que o pátio recebeu cuidado especial (Figura 15). Entre
árvores e arbustos há bancos dispostos em um caminho circular, dentro do círculo
há pedras, areia e diferentes tipos de vegetação. Ao longo da edificação houve o
plantio de árvores, formando uma espécie de cerca viva, uma clara limitação do que
pertence à casa ao que é externo. Plantas sensoriais (cujo aroma pode ser de fácil
percepção, florações de cores vivas, folhas de toque aveludado ou de diversas
texturas, podem ser algumas das características dessas plantas) foram colocadas
em um ponto estratégico próximo ao banco, porém não em todos, já que há crianças
com o olfato muito sensível. Nota-se também a distinção de duas áreas recreativas:
um playground para brincadeiras em grupo e uma área isolada para estar só,
respeitando a individualidade da criança, não forçando o convívio social quando este
ainda não está preparado.
46

Figura 16 – Setorização.

Fonte: GA Architects, 2015. Disponível em: < http://www.ga-architects.com/>. Acesso em: 27 fev.
2016.

Próximo à entrada principal fica o closet para guardar casacos e guarda-


chuva, à frente, um ambiente social destinado a interação de pacientes e familiares.
Destacam-se dois tipos de ambientes sociais, a já citada sala “aberta” e uma sala
“fechada” para interação somente do núcleo familiar. A unidade residencial está
setorizada entre área social, tratamento, transição (ambientes de serviço) e quartos,
estes em grupos de 4 localizados nas extremidades da edificação, com um fluxo
bastante claro (Figura 16).
As janelas altas providenciam ventilação e luz natural, item desejado em
ambientes de ensino e tratamento.
47

Figura 17 – Planta baixa.

Fonte: GA Architects, 2015. Disponível em: < http://www.ga-architects.com/>. Acesso em: 27 fev.
2016.

A residência que fornece abrigo e tratamento a crianças autistas tem os


seguintes ambientes (ver Figura 17): 1. Vestiário – 2. Closet – 3. Circulação – 4.
Sala de jantar – 5. Cozinha – 6. Despensa – 7. Administração – 8. Escritório – 9.
Banheiro – 10. Sala para armazenamento de equipamentos – 11. Lavanderia – 12.
Quarto – 13. Banheiro – 14. Sala de terapia – 15. Sala multissensorial – 16. Sala
família – 17. Sala de estar e 18. Sala flexível a diversas atividades. A edificação
ainda possui saídas de emergência em ambas extremidades.
48

4. ESPAÇO TRATE AUTISMO

“Sonho que se sonha junto é realidade”

Arapiraca, desde 2011, conta com o Espaço TRATE Autismo, um centro


especializado no tratamento e diagnóstico de crianças autistas. Idealizado pelas
psicólogas Ana Paula Rios, Luana de Freitas Pereira e a terapeuta ocupacional
Sílvia Sobral, o primeiro espaço público do gênero para autistas do Brasil foi
construído com a ajuda da Prefeitura juntamente com empresários locais. O Espaço
TRATE Autismo é formado por uma dedicada equipe de psicólogas, neuropsicóloga,
nutricionista, terapeuta ocupacional, fonoaudióloga, um psiquiatra infantil,
recepcionistas e servidores gerais, garantindo ao centro uma abordagem
multidisciplinar ao tratamento da criança autista.
De segunda a quinta feira, das oito horas às cinco horas da tarde, o espaço
realiza por mês o atendimento de 100 crianças, possuindo uma fila de espera de
aproximadamente 80 crianças. Quando a criança apresenta melhora significativa,
facilitando um pouco o convívio com familiares e sociedade, ela recebe alta e assim
uma nova vaga surge. Em entrevista, profissionais do TRATE relataram que essa
alta é feita, às vezes, antes do desejado pelo fato de ser encontrado na fila de
espera pacientes com grau mais severo do transtorno. É comum dizer que a todo
momento a criança com autismo está em tratamento, seja em casa com os pais, no
convívio com irmãos, assistindo um filme no cinema, na rotina da escola (quando a
criança tem possibilidade de frequentá-la), sendo o TRATE uma extensão de
tratamento, onde o profissional vai identificar as dificuldades do paciente, tratar
essas dificuldades proporcionando o desenvolvimento da criança e instruindo os
pais a agir e estimular da melhor forma possível.
O atendimento do TRATE ocorre gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde
(SUS), dessa forma, pais e pacientes arapiraquenses se encontram em uma
situação bem mais favorável que o restante do país, onde o tratamento gratuito
ainda é realizado exclusivamente pelo CAPSi (Centro de Atenção Psicossocial
Infantil). “Os CAPS são unidades especializadas em saúde mental para tratamento e
reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente” (RIO DE
JANEIRO, 2016), porém muitos pais e profissionais asseguram que os CAPSi
(Centro de Atenção Psicossocial Infantil) ainda não têm condições de atender as
49

especificidades próprias do autismo. “O autismo não é causado por fatores de ordem


psicológica, é considerada uma deficiência e não uma doença mental ” (DIAS,
2011). Assim, o tratamento do autismo infantil deveria ocorrer em alguma unidade
especializada ou unidade mista de saúde. Muitos pais, com o intuito de sanar as
deficiências do CAPSi, em relação ao tratamento da criança autista, pagam por
outras formas de tratamentos para que seus filhos recebam uma abordagem
multidisciplinar, o que é inviável para pais em situação financeira inferior, porque o
tratamento é contínuo e relativamente alto. Em entrevista, as diretoras afirmaram
que o Espaço aborda várias técnicas de tratamento, porém não restringem o serviço
a nenhuma específica utilizando, principalmente, o lúdico como base (o brincar).
Com o TRATE os pais desses pequenos pacientes também ganharam um
ponto de apoio, semanalmente são realizadas reuniões para relatos e troca de
experiências, também surgiu uma associação de pais que se dispõe, em parceria
com o Espaço, a pensar em formas de arrecadar dinheiro para manutenção, reforma
e compra de equipamentos.
O Espaço TRATE Autismo representa um ganho muito importante para a
cidade de Arapiraca, pois além das crianças receberem o tratamento adequado
gratuitamente, os pais ganharam um lugar para dividir suas alegrias e incertezas.

4.1. Localização

Antes de apresentar a localização do espaço, se faz necessário inserir o


contexto espacial que se encontra o TRATE. O Espaço TRATE Autismo (número 3,
Figura 18) pertence ao Centro Especializado em Reabilitação Física e Intelectual
(delimitado na cor laranja), formado por edifícios voltados para a saúde pública,
dessa forma, o TRATE se encontra quase escondido em meio ao Centro de
Medicina Física e Reabilitação de Arapiraca –CEMFRA – número 1, a Unidade
Básica de Saúde Dr. José Fernandes – número 4 - e o Centro de Referência em
Saúde do Trabalhador – CEREST – número 5. O estacionamento (número 2) atende
todos esses edifícios.
50

Figura 18 – Centro Especializado em Reabilitação Física e Intelectual.

Fonte: Google Maps, 2015 modificado pela autora desta monografia,2016.

O entorno do Centro Especializado em Reabilitação Física e Intelectual é


composto por terrenos vazios pertencentes ao poder público e privado, residências
unifamiliares, pela Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal – APCEF,
uma pequena igreja e um mercadinho.
O centro que promove a reabilitação e reintegração de pequenos pacientes,
está localizado na cidade de Arapiraca, na rua Abraão de Oliveira, bairro Cavaco
(delimitado na cor lilás, Figura 20), porém o acesso ao edifício ocorre pela rua José
Luís de Almeida, uma rua sem grande fluxo de carros, o que é um ponto bastante
favorável.
A localização do Espaço TRATE Autismo é relativamente de fácil acesso,
como está situado próximo à rua Expedicionário Brasileiros (representada na cor
amarelo, Figura 19), o centro se beneficia das linhas de ônibus ofertadas, sendo que
a linha Jardim das Paineiras/Perucaba passa pela rua José Luís de Almeida
(representada na cor azul, Figura 19), permitindo o acesso direto ao centro de
tratamento.
51

Figura 19 – Localização do Espaço TRATE Autismo, ruas e pontos de referência.

Fonte: Google Maps,2016 modificado pela autora.

Figura 20 – Localização do Espaço Trate Autismo na cidade e no bairro.

Fonte: Mapa de Arapiraca cedido pela Prefeitura, 2013 modificado pela autora desta monografia.
52

4.2. Organização espacial

Dois prédios distintos compõe o centro de tratamento TRATE, para melhor


compreensão adotou-se a nomeação de edifício 1 e edifício 2 (Figura 21). O edifício
1 funcionava como anexo ao CEMFRA, mas se encontrava em desuso quando foi
doado pela Prefeitura de Arapiraca às idealizadoras do projeto, que depois de
reformado deu início ao primeiro espaço público para autistas do Brasil. O edifício 2
foi inaugurado no dia 20 de dezembro de 2012, um ano após a inauguração do
primeiro, e este foi construído para atender as necessidades que aumentaram com
ampliação no número de pacientes.

Figura 21 - Edifício 1 e Edifício 2, Espaço TRATE.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

Ambos edifícios possuem recepção e salas de tratamento, porém no edifício 1


além do tratamento ocorre o diagnóstico e atendimento social. Separando estes dois
edifícios há um pequeno playground, uma das únicas áreas permeáveis do edifício
(Figura 22).
53

Figura 22 – Visão geral Espaço TRATE.

Fonte: Autora desta monografia, 2015.

O acesso aos edifícios é um ponto bastante crítico, pois como o Espaço


TRATE é resultado de uma reforma e posteriormente de uma ampliação, ele não foi
planejado suficientemente. Suas reformas são frutos de necessidades imediatas.
Escondido entre o CEMFRA e a unidade de saúde, o acesso ao TRATE se dá
através do estacionamento do Centro de Reabilitação Física e Intelectual, em
horários de picos, o estacionamento fica completamente cheio, mal notando-se a
entrada do espaço.
Outro fato que chama bastante atenção é a aridez do espaço, com
pouquíssima vegetação e a ausência de árvores que proporcionem sombras.
Quanto a permeabilidade do espaço é quase nula, em períodos chuvosos, o lixo é
trazido junto com a água.

4.3. Impeditivos econômicos e de atendimento

Como o TRATE está inserido em um espaço com público e demandas


diferentes, o convívio se torna um pouco difícil. Por exemplo, jovens atendidos pelo
CEMFRA já invadiram o edifício e destruíram um pequeno jardim. Em uma conversa
com as profissionais idealizadoras e atualmente diretoras do Espaço TRATE, ficou
54

claro que, apesar da necessidade de mudança para um espaço maior e de melhor


qualidade ambiental, a possibilidade da construção de um novo espaço é nula. Uma
reforma e ampliação que potencialize o número de atendimentos e ofereça um
ambiente estimulador e reconfortador é o ideal para a atual realidade econômica, por
isso esta é a proposta do presente trabalho.
Na reforma do antigo edifício 1 e construção do edifício 2 a captação de
recursos financeiros foi feita, principalmente, pelas idealizadoras do TRATE Autismo.
Elas conseguiram firmar sólidas parcerias com empresários locais que as ajudaram
com dinheiro, equipamentos eletrônicos, material de construção ou até mesmo
indicando outras pessoas que poderiam somar a esta causa. Para a próxima
reforma e ampliação elas contam com um novo item agregador ao time: os pais, que
se mostram engajados em cuidar do espaço onde seus filhos encontraram uma
chance de desenvolvimento.
Outro fator importante a ser esclarecido é que o atendimento não pode parar
totalmente durante a reforma, assim como o custo deve ser minimizado, estes itens
serão melhor esclarecidos posteriormente.
O quadro de ambientes sintetiza informações (Quadro 5) dos ambientes que
compõem o TRATE e como estes ambientes são utilizados, além de observações
específicas feitas pela equipe profissional do Espaço.

4.4. Norteadores de decisão do Espaço TRATE Autismo

No decorrer do ano de 2015 ocorreram visitas ao Espaço TRATE Autismo


com o intuito de acompanhar a rotina de profissionais e pacientes, assim como
relatar, com base nas reuniões, as principais demandas acerca do ambiente
destinado ao tratamento de crianças autistas. Para melhor compreensão e análise
de opiniões e divergências as demandas serão demonstradas do ponto de vista de
profissionais e pais.

4.4.1. Profissionais

Uma equipe multidisciplinar realiza o atendimento no Espaço TRATE. Faz


parte dessa equipe psicólogas, nutricionista, terapeuta ocupacional, fonoaudióloga,
psiquiatras, além de estagiários destas áreas. Algumas salas têm particularidades
especiais, como as descritas no Quadro 5, onde enquanto umas necessitam da
neutralidade, outras necessitam de diversos estímulos sensoriais. Foi explicado
55

pelas psicólogas que uma sala é classificada como neutra quando apresenta poucos
estímulos de cores, formas, textura e ruídos. Uma sala de estímulo é o oposto, neste
tipo cores, formas e diversidade de texturas devem ser exploradas para possibilitar
diferentes estímulos sensoriais ao paciente. Normalmente, a sala neutra é utilizada
para a aprendizagem e a de estímulo para desenvolver a percepção individual e
espacial do paciente.
Como o número de crianças na fila de espera da clínica encontra-se elevado,
os profissionais solicitaram para o projeto de reforma e ampliação 2 novas salas:
sala de integração sensorial e uma sala de realidade aumentada. A sala de
integração sensorial pode seguir o padrão da primeira construída, já que não houve
queixas quanto ao tamanho e função. A sala de realidade aumentada, que será
novidade na clínica e no Estado, consiste em um ambiente para interação virtual
fazendo o uso de aparelhos de imagem e som, onde as atividades ocorrerão
individuais ou em grupos de no máximo 3 crianças.
A sala de terapia ocupacional é considerada pequena pela terapeuta
ocupacional, pois contém dois equipamentos relativamente grandes, uma cama
elástica e uma cama tatame, que tem seu uso dificultado pela reduzida circulação no
ambiente, assim o aumento desse ambiente é fundamental. As demais salas da
clínica não possuem grandes problemas funcionais, segundo profissionais, porém
serão abordadas recomendações no capítulo de propostas que vise melhorar o
desempenho de pacientes.
As recepções apresentam um problema de função e custo, como os edifícios
são segregados, sem um elo que os torne uma unidade, duas recepções foram
criadas, porém a recepção, de fato, só ocorre no edifício 2. No edifício mais antigo a
recepção se tornou uma espécie de área de transição entre o meio externo e o
atendimento clínico, um ambiente de passagem sem grandes funções. Foi proposto
a transformação de uma das recepções em uma área mais aberta com uso a ser
definido. Psicólogas também relataram que a grande maioria dos pacientes prefere
esperar por sua vez no pequeno playground que a clínica possui, pois, a recepção é
muito fechada e causa sensação de enclausuramento, além de ser pouco atrativa às
crianças.
A ideia do ambiente cozinha em uma clínica para crianças autistas é mais
ampla que aquela de uso convencional, além de servir de apoio à equipe de
funcionários, nela pode ser realizada oficinas onde profissionais, como nutricionistas
56

e terapeutas ocupacionais, podem utilizá-la para atividades pedagógicas tendo como


objetivo melhorar o repertório alimentar do paciente, além de incentivar sua
autonomia em atividades do cotidiano. Esta era a ideia inicial de profissionais do
TRATE, porém, a falta de segurança em relação ao acesso a equipamentos
perigosos e fluxo interno dificultado, torna as oficinas difíceis de serem executadas,
demandando maior esforço por parte do profissional. Dessa forma, será necessário
alterar o layout da cozinha, aumentar sua área e promover uma segregação entre
equipamentos perigosos e os de livre acesso das crianças. Próximo à cozinha foi
sugerido a implantação de uma horta, sonho presente desde a inauguração do
espaço, uma horta além de produzir alimentos fortalece o senso de comunidade.
Outro problema pontuado pelas profissionais é que a clínica não possui área de
serviço, não há tanque externo, assim lavar pano de chão ou encher balde de água
só na cozinha ou banheiro da clínica.
Frequentemente a equipe de profissionais da clínica precisa se reunir para
estabelecer tipos de abordagem, elaborar atividades, repassar o progresso da
criança em cada área, dividir experiências, entre outras atividades, descansar. O
ambiente que atualmente dispõem é pequeno e não permite a devida acomodação
de materiais e profissionais, dessa forma um local mais apropriado, de preferência
isolado da área de tratamento, é unanimidade entre profissionais. As crianças
diariamente sujam os banheiros e como a equipe não possuía banheiro exclusivo,
um dos banheiros foi trancado por chave para que apenas as profissionais o
acessem.
Quanto ao conforto ambiental, consideraram o conforto térmico como “bom”,
porém é importante frisar que todos ambientes, com exceção de banheiros e
almoxarifado, possuem equipamento de ar condicionado, sinal que o resfriamento
natural do edifício é ineficiente. Diversos estudos comprovam que a iluminação
natural do edifício é mais desejável, por questões de aprendizagem e conforto
visual, que a artificial, porém no Espaço TRATE as luzes são ligadas às 8 horas da
manhã e só desligadas no final do expediente, contribuindo junto à refrigeração
artificial para um aumento de consumo energético e custo com a manutenção de
equipamentos. A clínica não dispõe de drenagem pluvial, em períodos chuvosos,
ocorre o arrastamento de lixo para o playground e entrada do edifício 2. Nestes
períodos o acesso ao edifício 1 é dificultado pela inexistência de caminho com
proteção contra chuva, ponto muito requisitado por profissionais. A ausência de
57

vegetação também foi citada. Prever o desenho universal no projeto foi pautado
como essencial, já que a clínica recebe cadeirantes e pacientes com mobilidade
reduzida.

4.4.2. Pais

Uma vez por semana, mães e pais de crianças assistidas pela clínica se
reúnem na sala de psicologia. Estas reuniões têm como objetivo guiar e auxiliar os
pais a dar continuidade ao projeto terapêutico em casa, além de proporcionar troca
de experiências e soma de forças para planejar formas de arrecadação de dinheiro
para manutenção e melhoramento da clínica.
A sala não possui cadeiras, na entrada há a retirada de calçados (para manter
a sala limpa) e então os pais sentam no chão. Os pais pontuaram que necessitam
de um local para realização das reuniões, já que o atendimento da sala é
interrompido para realização das mesmas, um auditório seria ideal, porém a clínica
não dispõe de verba e espaço que possibilite grandes alterações e melhorias.
Outro fator pontuado é que como um dos banheiros do edifício 2 é exclusivo
da equipe profissional, o outro banheiro não é suficiente em dias de reuniões. A falta
de proteção em dias de chuva e ausência de vegetação que proporcione
sombreamento também foi pontuado.
Quando indagados sobre o acesso à clínica, inserida no Centro Especializado
em Reabilitação Física e Intelectual, relataram que o apego à rotina faz com que as
crianças realizem todos os dias o mesmo trajeto (caminho delimitado na cor
amarelo, Figura 23), desse modo caminhos bem definidos são favoráveis.

Figura 23 – Acesso ao TRATE.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.


Quadro 5 – Ambientes do Espaço TRATE.
Usuários e
Denominação Imagem Dimensões Equipamentos Atividade Observações
Atendimentos
Algumas
janelas se
encontram com
vidros
Mesa para Recepção de quebrados
recepcionista e pais, crianças e a Pais, pacientes e devido a
Recepção 01 3,0 × 3,5m
um sofá com 3 comunidade em visitantes. ataques de
lugares. geral. agressividade
de crianças
com grau mais
severo de
autismo.

Mesa, cadeiras,
Sala neutra.
Sala de armário e Desenvolvimento Fonoaudióloga
2,45 × 3,9m Atendimento
Fonoaudiologia materiais da linguagem. ou Psicóloga
Individual.
educativos.

58
Quadro 5 – Ambientes do Espaço TRATE.
Usuários e
Denominação Imagem Dimensões Equipamentos Atividade Observações
Atendimentos

Fisioterapeuta e
Sala de Tablado (tatame Reabilitação A sala precisa
Terapeuta
Fisioterapia e de pé) fisioterapêutica e ser maior para
2,40 × 5,8m ocupacional.
Terapia Trampolim Terapia acomodar
(Atendimento
Ocupacional (Pula-pula) Ocupacional equipamentos
individual)

A sala e
iluminação
devem ser
Sala de Mesa, cadeira e Atendimento
2,02 × 3,5m Avaliação neutras, sua
Neuropsicologia armário individual
temperatura
deve ser
agradável.

Médico e
Mesa, cadeiras,
assistente social.
computador, Atendimento
Sala de Atendimento Atende à
2,40× 3,22m armário médico e serviço
Avaliação individual demanda.
(arquivos), sofá social.
juntamente com
2 lugares.
os pais.

59
Quadro 5 – Ambientes do Espaço TRATE.
Usuários e
Denominação Imagem Dimensões Equipamentos Atividade Observações
Atendimentos
As mesas
A cozinha
Armário, mesa precisam ter as
funciona como
com 4 cadeiras, quinas
copa para Todos
fogão, pia, arredondas,
Cozinha com funcionários, funcionários.
geladeira, uma criança
pequeno 2,45 × 4,9m como também AVD- grupos de
bebedouro, pode
depósito são realizadas no máximo 4
micro-ondas e facilmente se
Atividades de crianças.
utensílios de machucar no
vida diária –
cozinha. estado atual da
AVD.
cozinha.

(O banheiro
possui tamanho
Os banheiros
que permite o
não podem
Banheiro Bacia sanitária e giro da cadeira Pacientes e
1,7 × 2,0m possuir
Unissex pia. de rodas além de acompanhantes.
espelhos nem
acompanhante,
objetos soltos.
porém está sem
barras de apoio.)

Bebedouro,
Recepção de Algumas
balcão,
pais, crianças e a Pais, pacientes e crianças ficam
Recepção 02 3,23× 6,48m televisão, 7
comunidade em visitantes. impacientes no
cadeiras de
geral. local.
espera.

60
Quadro 5 – Ambientes do Espaço TRATE.
Usuários e
Denominação Imagem Dimensões Equipamentos Atividade Observações
Atendimentos

Reabilitação
Psicóloga, Uma vez por
cognitiva, treino
atendimentos semana é
Sala de de
3,17× 5,20m Sala neutra. individuais e realizada a
Psicologia 01 comportamento,
grupos de até 5 reunião de pais
atividades
crianças. nesta sala.
lúdicas.

Sala neutra.
Algumas
Reabilitação crianças se
Psicóloga,
Pia para limpeza cognitiva, treino distraem com
atendimentos
Sala de após uso de tinta de fechaduras de
3,17× 5,20m individuais e
Psicologia 02 ou argila. comportamento, janelas e
grupos de até 5
atividades portas,
crianças.
lúdicas. dificultando o
trabalho das
profissionais.

61
Quadro 5 – Ambientes do Espaço TRATE.
Usuários e
Denominação Imagem Dimensões Equipamentos Atividade Observações
Atendimentos

Terapeuta A sala deve ter


Equipamentos
Sala de Reabilitação e ocupacional, estímulos. Uma
de integração
Integração 6,55× 6,48m reintegração atendimentos parede
sensorial e
Sensorial sensorial. individuais e até imantada seria
brinquedos.
2 crianças. interessante.

Desconfortável
e pequena.
Sala de Planejamento de Apenas Possui um
planejamento de 2,08× 2,36m Mesa e cadeiras atividades e profissionais do pequeno
atividades descanso. TRATE. depósito que
funciona como
almoxarifado.

62
Quadro 5 – Ambientes do Espaço TRATE.
Usuários e
Denominação Imagem Dimensões Equipamentos Atividade Observações
Atendimentos
Como o
Espaço não
possui um
depósito geral
outros objetos,
Acesso apenas
Armários e Depósito de além de
Almoxarifado 2,24× 2,36m profissionais do
brinquedos brinquedos. brinquedos,
TRATE.
são guardados
no local,
dificultando o
acesso aos
mesmos.

(Os banheiros Atualmente o


possuem banheiro
tamanho que masculino Os banheiros
Banheiros permite o giro da funciona como não podem
1,77× 2,30m Bacia sanitária e
(1) masculino e cadeira de rodas banheiro dos possuir
1,62× 1,78m pia.
(2) feminino. além de funcionários e o espelhos nem
acompanhante, feminino é usado objetos soltos.
porém está sem por pacientes e
barras de apoio.) acompanhantes

Fonte: Autora desta monografia , 2016.

63
64

5. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA DE REFORMA E ADEQUAÇÃO DO

ESPAÇO TRATE

Com a análise da organização espacial do Espaço TRATE pode-se perceber


problemas funcionais, de insolação, ventilação ineficiente, corredores
superdimensionados e outros estreitos e escuros, uma recepção sem o devido uso,
banheiros ergonomicamente mal projetados, além de janelas e portas mal locadas
resultando em perda de área útil de alguns ambientes. O uso excessivo de vidro em
esquadrias, além de promover ganho térmico, não é recomendável para este tipo de
ambiente. Como relatado por uma das profissionais do Espaço, frequentemente
ocorre incidentes onde a criança acaba se machucando nessas janelas. Outro ponto
bastante problemático é a segregação dos dois edifícios, a percepção que se tem,
quando no pátio do Espaço, é que um edifício reflete o outro (no sentido de espelho)
dificultando a situação espacial do usuário. Em períodos de chuva, transitar com
crianças entre um edifício e outro se torna tarefa quase impossível.
A proposta de melhoria ao TRATE apresentada no estudo preliminar
(Apêndice A) desse trabalho busca atender as principais necessidades colocadas
por profissionais e pais. Com base na fundamentação teórica deste trabalho foi
possível levantar algumas recomendações e norteadores para a tomada de decisão,
mas, infelizmente, nem todos puderam ser aplicados devido às limitações do projeto.

5.1. Limitações do projeto

A maior motivação do projeto foi o fato da reforma e ampliação do TRATE


ser pontuado como algo possível pelas diretoras da clínica, porém, isso também se
tornou uma limitação já que a adequação do Espaço deveria pouco alterar os
edifícios existentes. Dessa forma, algumas limitações foram estabelecidas para
redução de custos. Foi resolvido não alterar telhados, nem demolir paredes externas
e não remover áreas que possuem instalações de água e esgoto.
A área de serviço foi colocada no lugar do depósito, pois este já possuía
pontos de água e esgotamento. O banheiro unissex do antigo edifício 1 foi
eliminado, porque além de acesso dificultado, sua localização orientada a leste,
direção predominante do vento na cidade de Arapiraca, levava o mau cheiro do
banheiro para o interior da edificação. Dois banheiros tiveram de ser postos próximo
à recepção para melhor atendimento, já que um banheiro é de uso exclusivo da
65

equipe e os outros foram eliminados. Quanto à cozinha, procurou-se não a transferir


de lugar, apenas amplia-la e organizar seus equipamentos de modo que aulas de
atividade de vida diária pudessem ser ministradas em segurança às crianças.
Quanto a estrutura dos edifícios, esta é bastante flexível. O edifício 1, como
relatado pelas diretoras da clínica, possuía (antes da primeira reforma do Espaço)
todas as paredes internas em drywall (placas de gesso) que posteriormente foram
substituídas, menos 3 paredes, por paredes de alvenaria por melhor reduzir o ruído
das salas. O edifício 2 tem como estrutura um galpão pré-fabricado de concreto, há
duas vigas metálicas colocadas transversalmente que são usadas para sustentação
de variados brinquedos de balanço na sala de integração sensorial.
Uma ordem construtiva (Figura 24) também foi proposta, com a finalidade de
não parar totalmente o atendimento oferecido pela clínica, permitindo que haja um
maior tempo para captação de recursos para reforma e ampliação, além de tempo
necessário para as crianças se acostumarem com a novidade.

Figura 24 - Ordem construtiva de reforma e ampliação.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

5.2. Programa de necessidades

O programa de necessidades (Quadro 6) foi elaborado, principalmente, pelos


profissionais do TRATE. Com a adequação da clínica pelo programa de
necessidades, espera-se aumentar o número no atendimento e oferecer um local
mais acolhedor aos pais, já que são vistos como agentes direto do progresso no
tratamento de seus filhos.
66

Quadro 6 - Programa de necessidades.


Programa de Necessidades
Ambientes existentes Ambientes a serem inseridos
Sala de apoio a profissionais e almoxarifado;
Banheiro feminino; Mais uma sala de integração sensorial;
Banheiro masculino; Sala de realidade aumentada;
Recepção 01; Área de serviço;
Sala de integração sensorial; Depósito para brinquedos;
Sala de psicologia 01; Área de estímulo sensorial;
Recepção 02; Horta.
Sala de psicologia 02;
Sala de avaliação;
Sala de fonoaudiologia; Melhoria de ambientes
Sala de terapia ocupacional;
Sala de Neuropsicologia; Aumentar sala de apoio a profissionais;
Cozinha; Aumentar sala de terapia ocupacional;
Depósito; Aumentar cozinha.
Banheiro unissex;
Playground.
Fonte: Autora desta monografia, 2016.

5.3. Tomadas de decisão focada no tratamento da criança autista

Para melhor visualização das propostas de melhoria ao Espaço TRATE


Autismo foi elaborado um quadro síntese (Quadro 7) dividido entre diretrizes de
arquitetura, conforto e de assistência ao tratamento. Apesar das duas primeiras
diretrizes também proporcionarem uma melhoria direta ao tratamento, a divisão é
necessária para abordagem mais direta às tomadas de decisão.

Quadro 7 - Tomadas de decisão no ato projetivo.


Diretrizes Requisitos Tomadas de Decisão
Uso da NBR 9050: Acessibilidade a
Tornar a edificação acessível a pessoas
edificações, mobiliário, espaços e
de mobilidade reduzida.
equipamentos urbanos.
Caminhos delimitados, uso de
Acesso claro e previsível. vegetação como balizador do
caminho.
Tratamento em caminho linear, uso de
sinais para indicar ordem das
Previsibilidade da sequência de
atividades, ambientes abertos e uso
atividades.
de elementos vazados que contribuam
para a permeabilidade visual.
Arquitetura Melhorar identificação da clínica TRATE
Colocar placa com identificação da
dentro do Centro de Reabilitação Física
clínica na fachada principal.
e Intelectual.
Área restrita ao uso de profissionais. Aumento da sala de apoio.
Guardar material lúdico. Criação de depósito.
Aumento da cozinha e polarização
Uso da cozinha para atividades de vida
entre atendimento e equipamentos
diária.
que oferecem riscos às crianças.
Criação do playground e uso de
Aumentar permeabilidade pluvial da
pavimentação ecológica do tipo piso
edificação.
intertravado.
67

Diretrizes Requisitos Tomadas de Decisão


Paredes com elementos vazados,
Promover iluminação natural e redução
como os círculos da recepção e área
de luz artificial.
de estímulo sensorial, uso de cobogós.
Abertura de janelas orientadas ao
vento predominante, proteção de
Redução do uso de equipamento de ar janelas, eliminação do uso de vidros
Conforto condicionado. em esquadrias, ventilação do corredor
com criação de entrada e saída de ar
constante.
Plantio de árvores, pergolado com
Reduzir radiação de salas oeste.
trepadeira.
Reduzir aridez. Uso de vegetação.
Criação da horta, playground e mesas
Promover áreas de tratamento externo.
de xadrez.
União dos edifícios 1 e 2 através de
um bloco que funciona como elo,
Melhorar percepção espacial da criança. diferenciação dos planos piso, parede
e teto ao se usar outras cores além do
branco, evitando materiais reflexivos.
Playground e banco ao redor da
Incentivar a interação social.
árvore.
Uso de imagens para indicar
Sinalizar de ambientes.
atividades e usos de ambientes.
Usar cores claras e neutras, evitar o
Assistência ao Descanso/ repouso da visão.
branco por ser mais reflexivo.
tratamento
Uso da rotina para facilitar cumprimento
Caminhos e tratamento linear.
de atividades.
Diminuir distração de ambientes Uso de cores neutras, uso de janelas
destinados a aprendizagem. lisas, evitar texturas.
Criação de área sensorial com
Promover estímulos sensoriais.
diversas texturas, cores e formas.
Uso da sala de Realidade Aumentada
(em horários sem atendimento), pois
Criar ambiente para reunião de pais.
há equipamentos de suporte, como
televisão e projetor.
Evitar acidentes com esquadrias de Substituição por janelas e portas de
vidro. madeira.
Fonte: Autora desta monografia, 2016.

As tomadas de decisão na adequação do ambiente, destinado ao tratamento


da criança autista, são introduzidas no ato projetivo para atender profissionais, pais
e pacientes.
68

Figura 25 - Proposta de melhoria ao Espaço.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

Assim, as funções espaciais são (ver Figura 25): 1. Direcionamento a


atividades – 2. Área de apoio a profissionais (com acesso restrito) – 3. Salas de
integração sensorial (situadas no mesmo bloco para setorização do atendimento) –
4. Recepção (mais ampla, iluminada e com visibilidade ao playground) e linearidade
do tratamento – 5. Salas de psicologia – 6. Banheiros centralizados – 7. Sala de
avaliação – 8. Sala de fonoaudiologia – 9. Sala de realidade aumentada
(disponibilizada também aos pais) – 10. Sala de terapia ocupacional – 11. Sala de
Neuropsicologia – 12. Cozinha (adequada para ocorrer abordagens que estimulem a
autonomia das crianças, Figura 26) – 13. Depósito e 14. Área de serviço.

Figura 26 - Cozinha otimizada para tratamento.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

5.4. Partido arquitetônico

A concepção projetual baseia-se na criação de um ambiente que facilite a


compreensão espacial de crianças autistas, fazendo uso de características presente
na maioria dessas crianças, como: aprendizagem facilitada por meio de imagens,
69

memorização de rotinas e interesses pessoais. Assim, buscou-se a concepção de


um ambiente organizado, com caminhos bem definidos que direcione o usuário a
suas atividades (Figura 27). A rotina é obtida através de um claro fluxo nas
atividades de tratamento. O tratamento foi proposto como algo linear, com a
finalidade de ajudar a criança a “prever” o seu próximo passo, além de auxiliar
profissionais a conduzirem de modo que esta possa perceber para onde está indo.

Figura 27 - Croqui da proposta de volumetria.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

Para criar uma unidade da edificação foi proposto uma bateria de ambientes
(recepção, salas de psicologia e banheiros), criando um elo que ligue os dois
edifícios (ver Figura 28). O corredor coberto, ligando os dois edifícios, também
promove proteção em dias de chuva.

Figura 28 - Vista superior da clínica, a proposta foi criar uma unidade.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.


70

Como as profissionais enxergam no lúdico uma oportunidade de incentivo ao


tratamento da criança autista, para a volumetria do Espaço foi pensando em
elementos que remetam a dinâmica do brincar com o uso de círculos, que também
permitem uma visão do exterior da edificação.
As cores em tons pastel possibilitam uma maior neutralidade da edificação,
mas também caracterizam o Espaço em meio a um ambiente tão sério e adulto que
representa o Centro de Reabilitação Física e Intelectual, onde o TRATE está
inserido.

Figura 29 - Logomarca Espaço TRATE.

Fonte: Disponível em: <http://trateautismo.blogspot.com.br/>. Acesso em: 05 fev. 2016.

A logomarca (Figura 29), usada em camisetas e material para divulgação da


clínica, foi usada como marco na fachada principal. O Espaço já representa um
consolidado time, mas isto tinha que ser reforçado devido ao entorno da clínica
(Figura 30).
71

Figura 30 - Uso da logomarca na fachada.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

As figuras 31 e 32 mostram a composição espacial da proposta ao Espaço


TRATE Autismo. Na Figura 31 também pode ser evidenciado o uso do caminho de
intertravado e da vegetação como direcionador ao acesso à clínica. O jogo de cores
foi usado para diferenciar planos de piso, parede e teto.

Figura 31 - Perspectiva do acesso da clínica.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.


72

Figura 32 - Visão geral do Espaço.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

Figura 33 - Perspectiva do playground.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

O playground (Figura 33 e Figura 34) possibilita áreas de interação social e


áreas de repouso (banco ao redor da árvore). O ambiente foi pensado para respeitar
as características desses pacientes, ajudando-os a descobrirem seu espaço frente
ao outro.
73

Figura 34 - Perspectiva da área de interação social.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

Figura 35 - Caminho previsível e intuitivo.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

Uma das principais características de crianças com autismo é o apego à


rotina. A proposta foi usar essa informação a favor da criança e de profissionais. A
condução das atividades é realizada pela linearidade da disposição das salas e
também de um elemento (faixa amarela, Figura 35) que conduz o olhar da criança,
convergindo no final do corredor da clínica.
74

Figura 36 - Indicação de uso de ambientes.

Fonte: Disponível em: https://www.adesivoweb.com.br/decorar-portas-adesivo-menino-e-menina.html


Acesso em: 06 mar. 2016.

Como visto no primeiro capítulo deste trabalho, crianças autistas aprendem


melhor com o uso de figuras, assim, para melhor compreensão da sequência de
atividades que a mesma desenvolverá dentro da clínica, foi proposto o uso de
sinalização visual para indicar usos e atividades (Figura 36).
Nas perspectivas das figuras 37 e 38, pode ser vista a área dos banheiros.
Conforme solicitado, os banheiros não possuem espelhos ou materiais que possam
causar acidentes nas crianças.

Figura 37 - Quebra da neutralidade com cores vivas no painel entre os banheiros.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.


75

Figura 38 - Personagem Chaves como indicador de banheiro masculino.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.

Figura 39 - Perspectiva geral, uso de paleta de cores em tons pastel.

Fonte: Autora desta monografia, 2016.


76

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há uma perceptível relação entre a pessoa autista e o ambiente que a


envolve. O ambiente proporciona imagens, sons, cheiros e diversas sensações que,
para uma pessoa que está internamente tentando equilibrar suas próprias
sensações, se torna difícil absorver e deixar fluir essa quantidade de informação.
Assim, para contribuir com o aprendizado e compreensão espacial destes usuários é
necessário haver um equilíbrio entre estímulos e momentos de neutralidade
sensorial.
A maior dificuldade do presente trabalho foi encontrar material que realizasse
essa ponte entre arquitetura e autismo, assim como material gráfico e explicativo de
clínicas projetadas especificamente para estes usuários. Também é desafiador o ato
projetivo devido a elevada pluralidade de características dentro do espectro, onde
paradigmas conflitantes podem coexistir. Aqui uma simples fórmula não irá trazer
significativos resultados, talvez o caminho mais correto a se seguir seria projetar
com base nas habilidades e capacidades dessas crianças e não apenas em suas
limitações.
As divergências de pedidos de melhorias entre profissionais e pais é
compreensível, enquanto os primeiros querem aumentar o número de atendimentos
os pais, apesar de também o desejarem, precisam de melhores acomodações para
reuniões, e isto não será prioridade enquanto, infelizmente, outras crianças se
encontram na fila de espera e os pais destas ainda veem o tratamento de seus filhos
em stand by. Por enquanto deverá ser elaborado um calendário para usos e horários
da sala de realidade aumentada. Esta sala possuirá equipamentos como televisor e
projetor, ou seja, irá proporcionar uma significativa melhoria do local de reunião dos
pais.
O orçamento reduzido também foi bastante limitador do projeto do Espaço
TRATE, porém, o projeto feito com base nessa realidade aumentará as chances de
realização do mesmo. Devido a existência de dois edifícios mal resolvidos e
orçamento limitado, a proposta apresentada ainda não é a ideal, mas já possibilita
melhorias ao tratamento.
É necessário expor que o objetivo de ampliar a compreensão sobre a
temática foi alcançado, principalmente, contribuindo para a realidade local, mas
ainda precisamos de mais. E assim como a constante investigação do autismo
77

proporcionou significativos ganhos ao tratamento da criança autista, que os estudos


aqui apresentados possam ecoar para realização de uma Arquitetura com foco no
usuário. Por fim, é necessário reforçar a importância da interdisciplinaridade entre
arquitetura e neurociência, norteando próximos estudos.
O projeto do Espaço, em estudo preliminar, pode posteriormente chegar a
nível executivo. O elo afetivo com o Espaço TRATE e a dedicada equipe de
profissionais já está firmado, resultando em uma pesquisa que foi realmente
inspiradora.
78

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data.

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VÁZQUEZ, Francisco Segado e TORRES, Alejandra Segado. Autism and Architecture.


80

APÊNDICE A – PROJETO PRELIMINAR


 



 
RU
AP 
LÁC




IDO 
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

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4 PLANTA DE COBERTA E LOCAÇÃO - PROPOSTA

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PLANTA DE SITUAÇÃO
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PL. BAIXA - PROPOSTA
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7 CORTE BB'

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6 CORTE AA'

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9 FACHADA POSTERIOR

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LEGENDA
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 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
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CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
8 FACHADA FRONTAL A ARQUITETURA A SERVIÇO DO TRATAMENTO DA CRIANÇA AUTISTA
Avaliação e recomendações para o Espaço TRATE Autismo Arapiraca

ANNY JESSYCA GARCIA SILVA


BANCA EXAMINADORA:
ORIENTADORA: Profª. Ma. Simone Carnaúba Torres - Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca
EXAMINADORA INTERNA: Profª. Dra. Elisabeth de A. C. Duarte Gonçalves - Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca
EXAMINADORA EXTERNA: Janete Barros dos Santos Gomes - Arquiteta e Urbanista

3 PLANTA BAIXA DE REFORMA LEGENDA:


CONSTRUIR
DEMOLIR
PERMANECER
DOCUMENTO:

Estudo preliminar do Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas - UFAL, Campus Arapiraca,
como requisito para obtenção do Grau de Bacharel.

FOLHA:

ESTUDO PRELIMINAR DE REFORMA E AMPLIAÇÃO DO ESPAÇO TRATE AUTISMO 01


ESCALA:
ARAPIRACA, MARÇO DE 2016 INDICADA

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