O documento discute a introdução ao direito do trabalho no Brasil. Apresenta a origem e evolução histórica do direito do trabalho, desde a criação da Organização Internacional do Trabalho até o desenvolvimento de uma legislação brasileira de proteção social. Também discute conceitos-chave como a natureza jurídica do direito do trabalho e o princípio do não retrocesso social.
O documento discute a introdução ao direito do trabalho no Brasil. Apresenta a origem e evolução histórica do direito do trabalho, desde a criação da Organização Internacional do Trabalho até o desenvolvimento de uma legislação brasileira de proteção social. Também discute conceitos-chave como a natureza jurídica do direito do trabalho e o princípio do não retrocesso social.
O documento discute a introdução ao direito do trabalho no Brasil. Apresenta a origem e evolução histórica do direito do trabalho, desde a criação da Organização Internacional do Trabalho até o desenvolvimento de uma legislação brasileira de proteção social. Também discute conceitos-chave como a natureza jurídica do direito do trabalho e o princípio do não retrocesso social.
O documento discute a introdução ao direito do trabalho no Brasil. Apresenta a origem e evolução histórica do direito do trabalho, desde a criação da Organização Internacional do Trabalho até o desenvolvimento de uma legislação brasileira de proteção social. Também discute conceitos-chave como a natureza jurídica do direito do trabalho e o princípio do não retrocesso social.
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DIREITO DO TRABALHO
Aula: 1 Introdução ao Direito do Trabalho
Tema Introdução ao Direito do Trabalho Palavras-chave Evolução Histórica do Direito do Trabalho
- Origem e evolução do Direito do
trabalho. - A criação da Organização Internacional do Trabalho. - Desenvolvimento de uma legislação com enfoque de proteção social no contexto nacional e internacional. .
- Analise preliminar da Lei 13467/2017.
Conceito de Direito do Trabalho. .
O Direito do Trabalho é apresentado com uma dúvida
permanente, pois, como estudado em todas as faculdades de Direito, devemos analisar a natureza jurídica de cada espécie de lei. Logo, então, entramos na questão trabalhista, que se importuna com a questão de sua natureza jurídica, direito público ou privado?
Existem várias correntes jurídicas a respeito deste
tema, cada um com sua divergência, porém, a predominante é o que rege o direito do trabalho como vinculo jurídico entre empregado e empregador condicionando a uma obrigação de fazer ao empregado e submissão do mesmo.
Notoriamente temos o emprego da natureza jurídica
privado neste conceito. Mas quando empregamos o vínculo empregatício para um serviço público haverá a divergência da natureza jurídica porque transparecerá juridicamente como público e não como privado.
Como poderíamos resolver essa situação e
concretizar o conceito de que queremos chegar? Devemos em primeiro lugar buscar a importância de cada instituto que será abordado, e logo depois, analisar seu histórico, enquadrar a sua essência e formalizar os autores defensores.
Natureza jurídica.
Esse é o tema principal deste estudo, não temos como
avançar para outras formas de Direito do Trabalho sem tratar de sua natureza jurídica. Mas o que é uma natureza jurídica dentro do ramo do Direito? Para Maurício Godinho Delgado:
“A pesquisa acerca de natureza de um
determinado fenômeno supõe a sua precisa definição – como declaração de sua essência e composição – seguida de sua classificação, como fenômeno passível de enquadramento em um conjunto próximo de fenômenos correlatos. Definição (busca da essência) e classificação (busca do posicionamento comparativo) eis a equação compreensiva básica da idéia de natureza. Encontrar a natureza jurídica de um instituto do Direito (ou até de um ramo jurídico, como o Direito do Trabalho) consiste em se apreenderem os elementos fundamentais que integram sua composição específica; contrapondo- os, em seguida, ao conjunto mais próximo de figuras jurídicas (ou de segmentos jurídicos, no caso do ramo justrabalhista), de modo a classificar o instituto enfocado no universo de figuras existentes no Direito” Com esta direção de DELGADO podemos dizer que a Natureza Jurídica é a busca da essência de determinado instituto. É uma precisa definição do ordenamento que envolve a matéria jurídica, contendo seus elementos fundamentais que vão ajudar a definir o direito, que em nosso caso, o Direito do Trabalho.
Temos a palavra chave “essência” para descobrir o
que é natureza jurídica. Esta palavra vem do latim “Essentia” que significa dizer “a natureza intima das coisas; aquilo que faz que uma coisa seja o que é, ou que lhe dá aparência dominante; aquilo que constitui a natureza de um objeto. Orlando Gomes especifica que “todo instituto jurídico tem no sistema seu lugar próprio”. Encontrá-lo é determinar-lhe a natureza. A localização (sedes materiae) ajuda a compreensão e aplicação das regras agrupadas.” Complementando, para MARTINS, “analisar a natureza jurídica de um instituto é procurar enquadrá-lo na categoria a que pertence no ramo do Direito”. É como a fumaça que envolve a natureza do direito, e passou por deformações ao longo do tempo onde legisladores, doutrinadores, e aplicadores desses direitos desenvolvem certo conceito conforme a fumaça que está vendo nessa época.
Verificamos então que a natureza jurídica tenta buscar
a definição mais aproximadamente correta para os fatos que ocorrem no dia-a-dia. É a palavra chave de cada assunto engrenado no Direito Brasileiro, é a peça mestre de um sistema que o envolve. Por exemplo: natureza jurídica do “estabelecimento” dentro do direito empresarial é a universalidade de fatos, a luz do artigo 90 do CC/02; natureza jurídica do “lançamento tributário” no direto tributário que por sua vez existem duas teses, onde um diz ser esta natureza declaratória e outra tese diz ser a natureza constitutiva; natureza jurídica da “compra e venda” no direito civil é o contrato entre as partes.
Outros exemplos de natureza jurídica: do pagamento
de sub-rogação tem como natureza uma relação jurídica entre um terceiro e o devedor da obrigação; natureza jurídica da servidão de passagem é o direito real sobre coisa alheia e passagem forçada é uma obrigação real (propter rem); natureza jurídica do condomínio é a relação de vizinhança etc.
Embora para efeito de concurso se aceite a posição
da ampla maioria no sentido da natureza privada do Direito do Trabalho, é válido o apontamento das correntes que se formaram na discussão do tema. São elas:
1. Teoria de Direito Público que ponderam que nas
relações de trabalho, a livre manifestação da vontade das partes é substituída pela do Estado que intervém na relação jurídica entre empregador e empregado, por meio de leis imperativas e irrenunciáveis, como ensina seu precursor Arnaldo Sussekind.
2. Teoria do Direito Social segundo a qual o interesse
coletivo da sociedade prevalece sobre o privado, perfazendo-se o ordenamento trabalhista com a finalidade de se proteger o empregado socialmente mais fraco, predominando, portanto o interesse social.
3. Teoria do Direito Privado que estabelece que a raiz do
Direito de Trabalho encontra-se no Direito Civil, nas locações de serviços. Entendem os defensores desta teoria, que embora existam normas cogentes sobre a matéria, estas não afastam a natureza privada da relação jurídica, haja vista que os contratantes (empregador e empregado) são livres para estipular as regras de seu pacto de emprego, restando claro que a maioria das normas da CLT são de natureza privada.
4. Teoria do Direito Misto que entende que na verdade o
Direito do Trabalho é um complexo de normas públicas e privadas.
Adequação da natureza do trabalho.
Relação do Direito do trabalho com outros ramos, acentuando a relação com o Direito das obrigações.
As relações são estabelecidas com o Direito
Constitucional sob a análise da constituição sob a matéria trabalhista, bem como a forma hierárquica estabelecida; o Direito Civil com sua parte de contratos e a menção do artigo 8 da CLT sobre o direito comum; o Direito Penal e seu código na parte de crimes contra a organização do trabalho; o Direito Administrativo com seu regime de contratação de servidores e seus decretos de natureza administrativa; o Direito Comercial dando origem nas leis trabalhistas; o Direito Internacional e suas convenções da OIT; o Direito da Seguridade Social com o objetivo de assegurar alguns direitos dos trabalhadores; o Direito Tributário e as contribuições de origem trabalhista; o Direito Econômico e sua política de obtenção de pleno emprego; e o Direito Processual do Trabalho que regulamento o Direito do Trabalho. Princípio do não retrocesso social. .
Após a promulgação da Constituição Federal de
1988, a concretização dos direitos sociais passou a ser debatida com mais força no mundo jurídico e político, com questões acerca da efetivação do texto constitucional na transformação da realidade brasileira.
Na década de 90 nossa Constituição começou a
sofrer ataques contra os direitos sociais, via emendas constitucionais e medidas provisórias. No intuito de avaliar a concretização dos direitos constitucionais e de defender as conquistas sociais surge o princípio do não retrocesso, que nas palavras de Canotilho [1]:
[…] quer dizer-se que os direitos sociais e econômicos
(ex.: direito dos trabalhadores, direito à assistência, direito à educação), uma vez obtido um determinado grau de realização, passam a constituir, simultaneamente, uma garantia institucional e um direito subjectivo. A “proibição de retrocesso social” nada pode fazer contra as recessões e crises econômicas (reversibilidade fática), mas o princípio em análise limita a reversibilidade dos direitos adquiridos (ex.: segurança social, subsídio de desemprego, prestações de saúde), em clara violação do princípio da proteção da confiança e da segurança dos cidadãos no âmbito económico, social e cultural, e do núcleo essencial da existência mínima inerente ao respeito pela dignidade da pessoa humana.
Apesar da falta de sistematização do assunto, tanto
na doutrina quanto na jurisprudência, considera-se como consenso conceitual que o princípio “é a vedação ao legislador de suprimir arbitrariamente a disciplina constitucional ou infraconstitucional de um direito fundamental social”. Em complemento, significa que o núcleo essencial dos direitos sociais já realizados e efetivados através de medidas legislativas deve considerar-se constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer medidas estatais que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou compensatórios, anulem, revoguem ou aniquilem pura e simplesmente esse núcleo essencial.
Vale registrar que o princípio em estudo foi
desenvolvido na Alemanha e em Portugal, partindo da constatação de que ao dever positivo do Estado existe uma imposição de abstenção. Significa dizer que quando há uma obrigação em concretizar um direito positivado nasce para o Estado um dever de não adotar medidas que destitua ou flexibilize de forma desarrazoada as conquistas alcançadas.
Neste sentido, o acórdão n. 39/84 da Corte Constitucional
Portuguesa:
[…] Que o Estado não se dê a devida realização
às tarefas constitucionais, concretas e determinadas, que lhe está cometida, isso só poderá ser objecto de censura constitucional, em sede de inconstitucionalidade por omissão. Mas, quando desfaz o que já havia sido realizado para cumprir a tarefa, e com isso atinge uma garantia de um direito fundamental, então a censura constitucional já se coloca no plano da própria inconstitucionalidade por acção.
Se a Constituição impõe ao Estado a realização
de uma determinada tarefa – a criação de uma certa instituição, uma determinada alteração na ordem jurídica –, então, quando ela seja levada a cabo, o resultado passa a ter a proteção directa da Constituição. O Estado não pode voltar atrás, não pode descumprir o que cumpriu, não pode tornar a colocar-se na situação de devedor. (…)
Quer isto dizer que, a partir do momento em que
o Estado cumpre (total ou parcialmente) as tarefas constitucionalmente impostas para realizar um direito social, o respeito constitucional deste deixa de consistir (ou deixa de consistir apenas) numa obrigação, positiva, para se transformar ou passar também a ser uma obrigação negativa. O Estado, que estava obrigado a actuar para dar satisfação ao direito social, passa a estar obrigado a abster-se de atentar contra a realização dada ao direito social.
Segundo o jurista Ingo Sarlet, o princípio
constitucional do não retrocesso, no âmbito do direito brasileiro, está implícito na Constituição Federal de 1988, e decorre do princípio do Estado democrático e social de direito, do princípio da dignidade da pessoa humana, do princípio da máxima eficácia e efetividade das normas definidoras de direitos fundamentais, da segurança jurídica, da proteção da confiança, entre outros. O Supremo Tribunal Federal ao tratar do princípio: […] A PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL COMO OBSTÁCULO CONSTITUCIONAL À FRUSTAÇÃO E AO INADIMPLEMENTO, PELO PODER PÚBLICO, DE DIREITOS PRESTACIONAIS. – O princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele vive. – A cláusula que veda o retrocesso em matéria de direitos a prestações positivas do Estado (como o direito à educação, o direito à saúde ou o direito à segurança pública, v.g.) traduz, no processo de efetivação desses direitos fundamentais individuais ou coletivos, obstáculos a que os níveis de concretização de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser ulteriormente reduzidos ou suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em consequência desse princípio, o Estado, após haver reconhecido os direitos prestacionais, assume o dever não só de terná-los efetivos, mas, também, se obriga, sob pena de transgressão ao texto constitucional, a preservá-los, abstendo-se de frustrar – mediante supressão total ou parcial – os direitos sociais já concretizados.- (ARE 639337 AgR, Relator (a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 23/08/2011, DJe-177 DIVULG 14-09-2011 PUBLIC 15-09- 2011 EMENT VOL-02587-01 PP-00125).
De igual modo o caput do art. 7º da Constituição
Federal estabelece em seus incisos os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, “além de outros que visem à melhoria de sua condição social”. Não se pode permitir que emendas constitucionais ou normas infraconstitucionais tenham o condão de suprimir, diminuir ou neutralizar os direitos trabalhistas já garantidos ou que privem o trabalhador de obter melhores condições sociais. Atualmente, no que se refere à terceirização no Brasil, aplica-se no âmbito jurídico-trabalhista a Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho
Função social do contrato.
O Direito do Trabalho tem suas origens fundadas na
Revolução Industrial: o movimento burguês que transformou a ideia de produção, com base na máquina a vapor substituindo as manufaturas então existentes no século XVIII. Conforme já mencionado no item anterior, a Consolidação das Leis Trabalhistas em seu artigo 442 estabelece que o contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego.
Segundo Martins (2011, p. 90), "contrato de trabalho
é o negócio jurídico entre uma pessoa física (empregado) e uma pessoa física ou jurídica (empregador) sobre condições de trabalho, ou seja, representa um acordo de vontades, caracterizando a autonomia privada das partes".
Segundo a doutrina, existem "duas teorias sobre a
natureza jurídica do contrato de trabalho: a do contratualismo e a do anticontratualismo" (NASCIMENTO, 2009, p. 149).
Do ponto de vista dos contratualistas, a relação de
emprego equivale a um contrato pois simboliza a vontade do empregado e do empregador, sendo esta vontade a causa insubstituível e única que pode constituir o vínculo jurídico.
Tendo em vista o flagrante desequilíbrio entre as
partes na relação contratual firmada, pode-se classificar o pacto de trabalho como um contrato de adesão, pois embora exista uma manifestação de vontade por parte do empregado, necessária e inerente ao ato, essa se dá de forma mitigada vez que não lhe é facultado discutir as cláusulas e condições da relação firmada.
Os anticontratualistas negam expressamente a
natureza contratual do vínculo entre o empregado e o empregador, com base em diversas teorias, dentre as quais se destacam:
* Teoria da Relação de Trabalho: entende que a
empresa é uma comunidade na qual o trabalhador incorpora-se para cumprir os fins objetivados pela produção nacional, sem margem para autonomia de vontade; e
* Teoria do Institucionalismo: sustenta que a empresa
é uma instituição na qual há uma situação estatutária e não contratual, sendo o empregador detentor do poder disciplinar.
Nosso ordenamento jurídico adotou uma posição
intermediária, definindo a relação existente entre empregado e empregador como um contrato, mas defendendo que esse contrato corresponde a uma relação de emprego.
Assim, o vínculo formado entre empregador e
empregado é de natureza contratual, ainda que o ato que lhe deu origem tenha sido unilateralmente ajustado (NASCIMENTO, 2009, p. 150).
O objeto direto do contrato de trabalho é a prestação
de serviços subordinado e não eventual do empregado ao empregador, mediante remuneração, razão pela qual, devem estar presentes os requisitos da personalidade (o empregado deve ser pessoa física, certa e determinada), da continuidade, subordinação, onerosidade e alteridade.
Os Princípios da Dignidade da Pessoa Humana,
da Proteção e da Continuidade no Direito do Trabalho Segundo Guerra (2002, p. 96) os princípios transmitem a ideia de condão do núcleo do próprio ordenamento jurídico. Como vigas mestras de um dado sistema, funcionam como bússolas para as normas jurídicas, de modo que se estas apresentarem preceitos que se desviam do rumo indicado, imediatamente esses seus preceitos tornar-se-ão inválidos. Assim, consiste em disposições fundamentais que se irradiam sobre as normas jurídicas (independentemente de sua espécie), compondo-lhes o espírito e servindo de critério para uma exata compreensão. A irradiação do seu núcleo ocorre por força da abstração e alcança todas as demais normas jurídicas, moldando-as conforme as suas diretrizes de comando.
Princípio é por definição, mandamento nuclear de um
sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.
Para Afonso da Silva (2000, p 146), a dignidade da
pessoa humana encontra-se no epicentro da ordem jurídica brasileira tendo em vista que concebe a valorização da pessoa humana como sendo razão fundamental para a estrutura de organização do Estado e para o Direito. O legislador constituinte elevou à categoria de princípio fundamental da República, à dignidade da pessoa humana (um dos pilares estruturais fundamentais da organização do Estado brasileiro), previsto no art. 1º, inciso III da Constituição de 1988. O princípio da dignidade da pessoa humana impõe um dever de abstenção e de condutas positivas tendentes a efetivar e proteger a pessoa humana. É imposição que recai sobre o Estado de o respeitar, o proteger e o promover as condições que viabilizem a vida com dignidade.
O Direito do Trabalho, que tem por objeto a regulação
do trabalho humano, tem suas bases na proteção e na promoção da dignidade da pessoa humana, aqui especificamente nominada empregado ou trabalhador, ligando-se precipuamente ao Direito Constitucional, que tem o mesmo objetivo.
Segundo Rodriguez (2000, p.83) o princípio da
proteção se refere ao critério fundamental que orienta o Direito do Trabalho pois este, ao invés de inspirar-se num propósito de igualdade, responde ao objetivo de esclarecer um aparato preferencial a uma das partes: o trabalhador. Enquanto no direito comum uma constante preocupação parece assegurar a igualdade jurídica entre os contratantes, no Direito do Trabalho, a preocupação central parece ser a de proteger uma das partes com o objetivo de, mediante essa proteção, alcançar-se uma igualdade substancial e verdadeira entre as partes". No tocante ao princípio da continuidade da relação de emprego preceitua que é por meio da permanência do vínculo empregatício que a ordem trabalhista pode cumprir seu objetivo de assegurar melhores condições de trabalho ao empregado.
Tal princípio sugere como regra geral que o contrato
trabalhista é por tempo indeterminado - exceto os casos especificamente firmados com prazo determinado, como por exemplo o contrato de experiência - e ainda favorece o empregado na distribuição do ônus da prova, conforme Súmula 212 do TST, cuja redação é a que se segue:"Despedimento. Ônus da prova (Res.121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003). O ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado".
De forma ampla e geral, todos os princípios acima
mencionados visam à proteção e preservação do emprego e impedem a dispensa arbitrária.
Aspectos gerais do contrato individual do trabalho
Diversos são os conceitos de contrato individual do trabalho.
Amauri Mascaro do Nascimento afirma que" a
definição de contrato individual de trabalho depende da posição do intérprete em virtude da celeuma da natureza do vínculo que se estabelece ".
Sussekind esclarece que "o contrato individual de
trabalho no Brasil, tendo em conta o disposto nos artigos 2 º e 3º da CLT pode ser definido como negócio jurídico em virtude do qual um trabalhador obriga-se a prestar pessoalmente serviços não-eventuais a uma pessoa física ou jurídica, subordinando-se ao seu poder de comando e dele recebendo os salários ajustados".
Para Martins Filho “o contrato de trabalho é aquele
pelo qual uma ou mais pessoas naturais obrigam-se, em troca de uma remuneração, a trabalhar para outra em regime de subordinação a esta ".
Em que pese o contrato individual de trabalho ser
definido pelo artigo 442 da Consolidação das Leis do Trabalho como sendo um acordo tácito ou expresso correspondente à relação de emprego, Martins Filho (2010, p. 78) defende que o termo correto a ser empregado é contrato de emprego, pois "o contrato de trabalho é gênero e compreende qualquer trabalho como o do autônomo, do eventual, etc. Contrato de emprego diz respeito a relação entre empregado e empregador e não a outro tipo de trabalhador. Daí porque se falar em contrato de emprego, que fornece a noção exata do tipo de contrato que estaria sendo estudado, porque o contrato de trabalho seria gênero e o contrato de emprego, espécie".
Com relação à natureza jurídica desse instituto
existem diversas posições.
Martins, assinala que" o contrato de trabalho tem
natureza contratual ", e ainda, de acordo com o defendido pelo referido autor," o pacto laboral é um contrato típico, nominado, com regras próprias, distinto do contrato de locação de serviços do Direito Civil, de onde se desenvolveu e especializou ".
Nesse sentido, há que se ponderar, ainda, os
ensinamentos de Sussekind (2002 apud Nascimento, 2008, p. 561) quanto à intervenção do Estado nas relações individuais de trabalho, ao afirmar que" a intervenção Estatal por meio de normas imperativas que impõe aos contratantes a observância de determinadas condições de proteção ao trabalho, não desloca a relação jurídica para o âmbito do direito público ".
Importante, ainda, o estudo da conceituação dos
sujeitos do contrato individual de trabalho, pois os elementos fático-jurídicos necessários para a relação de emprego são retirados dos próprios conceitos dos sujeitos que constituem essa relação (empregado e empregador).
Os conceitos de empregado e empregador estão
sistematizados nos artigos 2º e 3º da CLT.
O artigo 3º da CLT conceitua o empregado como toda
pessoa física que prestar serviço de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
Já o empregador é definido no artigo 2º da
mesma CLT como "a empresa, individual ou coletiva que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços" e em seu parágrafo primeiro, equipara ao empregador para efeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituição sem fins lucrativos, que admitem trabalhadores como empregados.
Assim, são seis os elementos fático-jurídicos que
constituem a relação de emprego: o trabalho deve ser executado por pessoa física, com pessoalidade (intuitu personae), com onerosidade, de forma não-eventual, em situação de subordinação jurídica e com alteridade.
Resta claro, portanto, que para a caracterização da
relação empregatícia a prestação do serviços deve ser realizada por pessoa física (pessoa natural), vez que não se admite a possibilidade do empregado ser pessoa jurídica.
Também é fundamental que a relação de emprego
seja realizada de maneira pessoal, ou seja, que a prestação do trabalho, prestada pela pessoa natural, tenha efetivo caráter de infungibilidade no que tange ao trabalhador.
Portanto, o empregado não poderá fazer-se substituir
por outro trabalhador na vigência do contrato de trabalho, salvo, excepcionalmente, se tiver a anuência de seu empregador. A pessoalidade, contudo é elemento que incide somente sobre a figura do empregado, pois, conforme parte expressiva da Doutrina, no tocante ao empregador não vigora a pessoalidade já que no Direito do Trabalho vigora a diretriz da despersonalização da figura do empregador".
Pode, portanto, ocorrer a constante alteração
subjetiva do contrato de trabalho, desde que ocorram no polo empresarial, mantendo-se em vigor as regras contratuais anteriores com relação ao mesmo empregado, conforme estabelecido nos artigos 10 e 448 da CLT.
A prestação de serviço deve ser, ainda, não-eventual,
ou seja, o trabalho deve ser prestado de forma contínua. Ressalvando que para que haja relação empregatícia é necessário que o trabalho prestado tenha caráter de permanência (ainda que por um curto período determinado), não se qualificando como trabalho esporádico.
É fundamental, também, que a prestação de trabalho
não seja firmada a título gratuito, já que o empregado tem o dever de prestar o serviço e o empregador, em contrapartida, tem a obrigação da contraprestação financeira - pagamento do salário - pelos serviços prestados. É imprescindível, portanto, que haja reciprocidade de obrigações entre as partes e, ausente a onerosidade, descaracterizada está a relação empregatícia.
Oportuno mencionar a ressalva de que a
exclusividade não é elemento fático-jurídico caracterizador da relação empregatícia, não havendo impedimento para que o mesmo trabalhador mantenha vínculo de emprego com mais de um empregador.
A alteridade é um dos efeitos jurídicos dos quais
decorre a relação de emprego que determina a assunção dos riscos pelo empregador. Dessa forma, o risco da atividade econômica pertence tão somente ao empregador, razão pela qual, o empregado lhe presta serviços por conta alheia.
Menciona-se, por fim, o elemento fático-jurídico, que
tem maior destaque e importância para caracterização empregatícia, qual seja, a subordinação.
Assim. é a subordinação entre todos os demais
elementos elencados, que ganha maior proeminência na conformação do tipo legal da relação empregatícia. A subordinação aqui mencionada não é somente a técnica ou econômica abrangendo também a jurídica, restando claro que tal subordinação traduz-se na autonomia de vontade do empregado, para o fim de transferir ao empregador o poder de direção sobre a atividade que desempenha.
Elencados, portanto, todos os elementos
caracterizadores para a existência do contrato individual de trabalho, passemos à análise específica do poder diretivo do empregador.
O Poder Diretivo do empregador
Conforme mencionado, um dos requisitos para a
existência e reconhecimento do contrato de trabalho é a subordinação que consiste no ato pelo qual, ao ser contratado pelo empregador, o obreiro transfere àquele o poder de direção de seu trabalho, passando a ser, então, subordinado.
Tem-se, portanto, a seguinte situação: de um lado, o
poder de direção reconhecido pela ordem jurídica ao empregador e exercido como contrapartida aos riscos da atividade econômica inerentes à atividade empresarial; e de outro lado, o estado de subordinação do empregado, que se submete às regras de caráter hierárquico emanadas de seu empregador.
Conceito
O poder diretivo consiste na faculdade que o
empregador detém de determinar as normas de caráter predominantemente técnico, às quais o trabalhador está submetido no cumprimento da obrigação.
Ou seja, é o poder diretivo é o conjunto de
prerrogativas asseguradas pela ordem jurídica e tendencialmente concentradas na figura do empregador, para o contexto no conjunto da relação de emprego. Pode ser conceituado, ainda, como o conjunto de prerrogativas com respeito à direção, regulamentação, fiscalização e disciplinamento da economia interna e correspondente à prestação de serviços.
Podemos conceituar também como o poder de
direção como a faculdade atribuída ao empregador para o fim de determinar o modo como a atividade do empregado, em decorrência do contrato de trabalho, podendo ser exercido como poder de organização, poder de controle e poder disciplinar.
O empregado é um trabalhador subordinado, está
sujeito ao poder de direção do empregador, que é a forma como o mesmo define como serão desenvolvidas as atividades do empregado em decorrência do trabalho.
Destaca-se que compreende o poder de direção não
só o de organizar, como também de controlar e disciplinar o trabalho, de acordo com os fins do empreendimento.
Cabe argumentar, ainda, que de acordo com o poder
de direção, existe a possibilidade do empregador regular o trabalho do empregado com a elaboração do regulamento da empresa.
De uma forma mais clara e específica, com o
exercício do poder diretivo o empregador dá uma destinação concreta - com relação à matéria, lugar e tempo - à energia de trabalho, seja físico ou intelectual, que o trabalhador está contratualmente obrigado a colocar e conservar a disposição da empresa de que ele depende.
O poder diretivo do empregador representa um dos
mais relevantes efeitos do contrato de trabalho. Esse poder se manifesta de diversas formas (organização, controle, e disciplinar) e concentra um conjunto de direitos e prerrogativas em favor do empregador, atribuindo-lhe o poder de comando sobre a direção do trabalho do empregado, com vistas a adequá-lo à produção e à consequente efetivação dos objetivos visados pelo empreendimento.
Entretanto, esta prerrogativa não é absoluta e deve
ser exercida dentro dos limites legais, de acordo com os princípios basilares que protegem e regulam os contratos em geral, e mais especificamente, ainda, os direitos constitucionais fundamentais do trabalhador.
Características
O pode diretivo se manifesta de três formas distintas,
quais sejam: o poder de organização, o poder de controle e o poder disciplinar. O poder de organização consiste na faculdade atribuída ao empregador de harmonizar fatores de produção - trabalho e capital - para determinar as condições da utilização concreta da prestação de serviço do empregado a que está obrigado pelo contrato de trabalho, visando atender os fins da empresa.
Destaca-se que o empresário é um organizador.
Assim, o poder de direção, manifestando-se primeiramente como direito de organizar, obviamente também de ordenar, é inerente ao empregador.
Considerando-se que uma empresa desorganizada
tem baixa produtividade, logo, deixa de cumprir sua função social, é intrínseca ao empregador a faculdade de organizar. Se a empresa produz bens e conduz a prestação de serviços, o empresário é o responsável por aparelhar estes fatores, definindo o modo como o empreendimento será estruturado jurídica e economicamente, organizando de fato a produtividade.
O poder de controle, por sua vez, evita diversas
práticas que podem inclusive inviabilizar a atividade da empresa. Pelo exercício desse poder, o empregador está autorizado a fiscalizar a atividade do empregado, desde que de forma moderada, com a devida observância ao princípio da razoabilidade e, sempre com a preservação dos direitos fundamentais do trabalhador.
Ainda sobre o poder de controle é importante
destacar que deve estar relacionado a atividade do empregado, não adentrando sua intimidade.
Exemplo bastante comum para ilustrar a situação é o
monitoramento do email corporativo do empregado ou da utilização do telefone fornecido pelo empresa, configurando, ambas as ações - desde que realizadas dentro dos limites da razoabilidade - o exercício legal do poder diretivo.
São exemplos, também, da manifestação do poder de
controle: medidas relacionadas ao controle de portaria, tais como revistas, o circuito interno de monitoramento, o controle de horário e frequência, a prestação de contas e outras medidas nesse sentido.
Pelo exercício dessa faculdade o empregador
fiscaliza e controla os passos do empregado durante a jornada, com o intuito de constatar se as atividades estão sendo executadas conforme pactuado no contrato de trabalho e, ainda, se estão de acordo com os fins pretendidos pela empresa.
Cabe frisar, também, que o poder de controle
consiste no conjunto de prerrogativas dirigidas a propiciar o acompanhamento contínuo da prestação do trabalho e da própria vigilância efetivada ao longo do espaço empresarial interno.
Assim o poder de controle significa o direito do
empregador fiscalizar as atividades profissionais dos seus empregados e sua justificativa reside no fato de que, uma vez sem controle o empregador não pode ter ciência de que, em contrapartida do salário pago, está recebendo os serviços dos empregados na forma ajustada no contrato de trabalho.
O exercício de referido poder evita que o empregador
seja surpreendido com condutas ilícitas de seu empregado, das quais inclusive pode ser responsabilizado.
Entretanto, conforme mencionado, o empregador ao
exercer esse poder, deve agir com certa cautela para não invadir a privacidade ou intimidade do empregado sob o pretexto de controlar suas atividades laborais, pois o seu exercício está sujeito a uma série de limitações de acordo com os preceitos constitucionais.
Por fim, o poder disciplinar consiste na capacidade
atribuída ao empregador de aplicar sanções ao empregado que viola os deveres do contrato de trabalho, da norma coletiva ou da lei.
O poder disciplinar decorre naturalmente dos dois
poderes anteriormente abordados, pois de nada valeria ser detentor do poder de organizar e de controlar a prestação de serviços do empregado se não dispusesse de meios para tipificar as atividades irregulares, praticadas em desacordo com os deveres contratuais e aplicar sanções disciplinares ao empregado faltoso.
Importa destacar que o artigo 482 da CLT chancela
essa possibilidade, de modo que, o poder disciplinar, exercido da forma apropriada e dentro dos limites, é essencial ao exercício do poder diretivo, pois uma das características do empregado é a subordinação, devendo este cumprir as ordens e respeitar as regras necessárias ao adequado desempenho do trabalho. Cabe ainda chamar atenção para o fatio de que no direito brasileiro as penalidades que podem ser aplicadas ao empregado são a suspensão disciplinar e a advertência. Como é prevista a suspensão, admite-se a punição do empregado com advertência, embora não prevista pela CLT. Quem tem o poder maior por certo terá, também, nele compreendido um poder menor, que é o de advertir, que acarreta consequências morais, mas não implicações econômicas como a suspensão, cujo resultado, além da proibição do trabalho durante o seu cumprimento, será a perda dos salários dos dias respectivos, mais do repouso semanal.
O poder disciplinar atua de forma preventiva e
repressiva na manutenção da ordem da empresa e do bom ambiente de trabalho: de forma preventiva, por meio de medidas profiláticas, defendendo a ordem antes que ocorra a lesão e; de forma repressiva, após a ocorrência da lesão, com a aplicação das sanções disciplinares, com vistas à restituição da ordem interna e para servir de exemplo ao empregado para que não repita a prática faltosa. Embora seja indispensável à atuação empresarial, o exercício do poder disciplinar não é absoluto ou incondicionado, vez que o empregador deve exercê-lo com respeito aos direitos fundamentais do empregado, pois não pode invadir a sua intimidade ou privacidade sob o pretexto de punir ou aplicar-lhe sanções disciplinares.
Assim, é certo que apesar do poder disciplinar ser
pacificamente reconhecido em favor do empregador, para ser aplicado em face do empregado em caso de inadimplemento da obrigação contratual, indubitavelmente não pode ser exercido de forma absoluta, ficando sujeito as limitações que visam proteger os direitos do empregado.
Oportuno mencionar, ainda que, caso o empregado
sinta-se prejudicado ou injustiçado pela punição recebida, lhe é assegurado o direito de ação, com o objetivo de anular tal medida que lhe foi aplicada, vez que as penalidades disciplinares estão sujeitas ao controle da Justiça do Trabalho.
Limites para o exercício do Poder Diretivo do
empregador Pelo exercício do poder diretivo o empregador organiza a empresa, controla a prestação de serviços por parte de seu empregado, visando atingir de forma plena as finalidades do empreendimento.
Entretanto, em que pese o poder diretivo do
empregador ser reconhecido legalmente, é certo que não é absoluto e nem permite que o empregador possa comandar a empresa de forma unilateral, renegando a autonomia da vontade dos seus empregados.
Não existem motivos e justificativas de ordem ética,
moral ou legal capazes de permitir o acolhimento da ideia de que o empregado que figura como parte em um contrato de trabalho, esteja impedido de gozar de seus direitos fundamentais.
O empregado, ainda que esteja sujeito ao poder
diretivo - atributo invariável da empresa - e mesmo estando obrigado ao dever de obediência e às ordens que decorrem do contrato de trabalho, deve ser tratado pelo empregador com respeito, educação e consideração.
Logo, embora o poder diretivo seja inerente à
atividade empresarial, não é absoluto.
Ao contrário, o exercício do poder diretivo por parte
do empregador tem limites de ordem pública, quais sejam, os direitos e garantias fundamentais do trabalhador, de modo que, os atos praticados pelo empregador no sentido de fiscalizar a atividade de seu empregado, não podem exceder os limites do razoável.
Mas, qual a dose certa de razoabilidade nos atos de
censura e/ou punição praticados pelo empregador? Quais são os princípios e conceitos que devem ser observados no exercício do referido poder diretivo? Quais são, enfim, os limites impostos ao poder diretivo?
É sabido que, no que diz respeito aos direitos
fundamentais a dignidade da pessoa humana - consagrada na Constituição Federal de 1988 - é o grande balizador do ordenamento jurídico pátrio.
A Carta Magna aborda logo no início das suas
disposições textuais, a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental, mas o certo é que, em verdade, não se trata somente de um simples princípio, mas sim de um valor supremo, vez que representa o alicerce de toda a Constituição, que preconiza a prevalência dos direitos humanos e, serve de fonte dos direitos e garantias fundamentais. Especificamente na esfera das relações trabalhistas, os direitos fundamentais possuem maior vulnerabilidade, por se tratarem de relações marcadas pelo desequilíbrio entre as partes, o que exige uma postura mais fiscalizadora por parte do Estado.
Assim, a eficácia dos direitos fundamentais nas
relações de trabalho deve estar diretamente relacionada com a proteção da liberdade e da dignidade do trabalhador, existindo, portanto, a obrigação de respeito a tais direitos.
O poder diretivo, portanto, sofre várias restrições e
limites fixados pelos direitos fundamentais assegurados a todas as pessoas e que envolvem sua intimidade e vida privada, sendo que essas limitações podem ter as seguintes origens: matéria, tempo, lugar, lei, normas coletivas, regulamento interno e o próprio contrato de trabalho.
Em resumo, tem-se que o exercício do poder diretivo,
que é o meio pelo qual o empregador exerce o domínio sobre o seu empreendimento, não significa que ele seja detentor do poder absoluto com relação à prestação de serviços do empregado, eis que o trabalhador não está obrigado a se sujeitar a toda e qualquer ordem dada por seu empregador.
Função social do contrato como fator limitador do
Poder Diretivo do empregador - Julgados recentes
Em nosso ordenamento jurídico, função social
equivale a uma cláusula geral que admite interpretação ampla e deve sempre estar focada nos princípios constitucionais, especialmente com a devida observância do valor fundamental da dignidade humana, no qual repousam todas as normas jurídicas.
Conforme já mencionado oportunamente, contrato é o
acordo de vontades que tem por finalidade criar, modificar ou extinguir direitos.
Especificamente no âmbito do direito do trabalho, o
artigo 421 do Código Civil deve constituir-se num instrumento para garantia da efetividade dos direitos, reinterpretando relações jurídicas que eliminam, reduzem ou mitigam o sistema jurídico de proteção ao trabalhador. Na jurisprudência atual percebe-se um considerável aumento das decisões fundamentadas no princípio da função social do contrato, principalmente quando o caso posto em discussão diz respeito àqueles empregados que após estarem por longo período gozando de benefício previdenciário - auxílio doença - recebem alta e retornam à atividade laboral, mas são dispensados pelo empregador imediatamente ou pouco tempo depois, pois embora a Previdência Social os considere aptos para as suas atividades, a verdade é que nem sempre isso acontece.
Há também os casos em que a dispensa ocorre em
razão de que, tendo em vista o longo período de afastamento do trabalhador, em benefício não acidentário, o empregador viu-se obrigado a contratar outra pessoa para o mesmo posto e função, sendo preferível ao empregador manter esse trabalhador" substituto "que está desempenhando suas funções por longo período de forma satisfatória do que reabilitar o empregado egresso.
Embora essa dispensa seja legal, vez que o
empregado, nessa condição não está protegido pelo manto da estabilidade - o que ocorre quando do gozo do auxílio doença acidentário - os Tribunais vêm consolidando o entendimento de que referido ato é discriminatório e abusivo, posto que em afronta aos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e, devendo-se atentar à função social do contrato de trabalho. Em decorrência desse entendimento, os Tribunais têm obrigado as empresas a reintegrar o empregado, com o intuito de proporcionar-lhe o convívio social e sua reposição no mercado de trabalho.
Ademais, a Súmula 443 do TST consagrou o
entendimento de que "se presume discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato, o empregado tem direito à reintegração no emprego".
O Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região,
assim decidiu em um caso onde se discutia a dispensa da empregada após comunicar ao seu empregador que era portadora do vírus HIV:
DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. COMPENSAÇÃO POR
DANO MORAL. A Lei nº 9.029/95 proíbe expressamente qualquer prática discriminatória no âmbito das relações de trabalho para efeito de acesso ou manutenção do vínculo, sendo que o rompimento do contrato de emprego, nessas condições, confere ao trabalhador o direito à compensação pelo dano moral decorrente. Inteligência dos arts. 7º, inc. I, da CRFB, e 1º e 4º da Lei nº 9.029/95. (TRT 12 - RO 0002434-97.2012.5.12.0028, Relator: JORGE LUIZ VOLPATO. Data de Julgamento: 08/03/2013, 1ª TURMA, Data de Publicação: 18/03/2013)
Conforme se verifica em referida decisão, foi aplicada
a Súmula 443 do TST para invalidar a despedida da empregada acometida pelo vírus HIV, por entender que o ato praticado pelo empregador foi discriminatório. Do corpo de referido acórdão, colhe-se:
Repisa a autora os argumentos expendidos na inicial
de que sofreu discriminação no ambiente de trabalho ao comunicar ser portadora do vírus do HIV, sendo que por tal motivo entende que a rescisão do contrato foi arbitrária, motivo pelo qual pleiteia a declaração da nulidade da dispensa e, por consequência a sua reintegração ao emprego.
Já no Acórdão nº 20091016213 do TRT da 2ª Região,
antes mesmo edição da súmula 443, cuja ementa é a que segue, o empregador promoveu a dispensa de empregada que tinha câncer (neoplasia), o que foi considerado arbitrário, e determinou a imediata reintegração da trabalhadora, com base nos princípios constitucionais que balizam todo o nosso ordenamento jurídico: Poder Potestativo do Empregador. Limitação nas Garantias de Emprego e no respeito aos princípios que informam todo nosso ordenamento jurídico - artigos 1º, inciso III, 5º, inciso XXII, e 170, inciso III, da Carta Magna, e artigo 421, do Código Civil -. Dispensa de trabalhadora portadora de neoplasia após 30 (trinta) anos de dedicação à empresa. Negação do direito à vida e à saúde. Inexistência de norma legal prevendo a estabilidade do trabalhador portador de câncer. Observância aos princípios da dignidade da pessoa humana do trabalhador e da função social do contrato de trabalho. Ordem de reintegração que ora se mantém. 1. O poder de resilição do pacto laboral encontra limitações nas garantias de emprego, assim como no respeito aos princípios que informam todo o ordenamento jurídico, em especial o princípio da dignidade da pessoa humana, insculpido no artigo 1º, inciso III, da Carta Magna. Com a adoção do aludido princípio, a Constituição Federal de 1988 implantou no sistema jurídico brasileiro uma nova concepção acerca das relações contratuais, pela qual as partes devem pautar suas condutas dentro da legalidade, da confiança mútua e da boa fé. Tais premissas refletem o princípio da função social do contrato (artigos 421, Código Civil, e 8º, da CLT), o qual traduz genuína expressividade do princípio da função social da propriedade privada, consagrado nos artigos 5º, inciso XXIII, e 170, inciso III, da Constituição Federal, ou seja, o contorno é constitucional e se sobreleva à imediatidade da rescisão contratual decorrentes dos interesses meramente empresariais. 2. A dispensa de trabalhadora portadora de neoplasia após trinta anos de dedicação à empresa a toda evidência importa verdadeira negação do direito à vida e à saúde, porquanto, dentre outros dissabores, conduz à depressão, ao distanciamento do convívio social e, consoante demonstram as regras de experiência, em sua maioria, ao desemprego. 3. A despeito da inexistência de norma legal prevendo a estabilidade do portador de câncer, até porque em determinadas fases da doença o paciente pode desenvolver normalmente suas atividades laborativas, imperiosa a solução da controvérsia sob o prisma dos princípios da dignidade da pessoa humana do trabalhador e da função social do contrato. Ordem de reintegração ao emprego que ora se mantém.(TRT-2 - RO: no Proc. 00947-2008-381-02-00-4, Relator: JANE GRANZOTO TORRES DA SILVA, Data de Julgamento: 12/11/2009, 9ª TURMA, Data de Publicação: 27/11/2009)
Oportuno, ainda, o julgado abaixo colacionado, onde
verifica-se que a empregada foi dispensada ao retornar ao trabalho, após apresentar vários atestados médicos para tratamento quimioterápico:
DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. EMPREGADA
PORTADORA DE CÂNCER DE MAMA. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO. O princípio da dignidade da pessoa humana é o oxigênio de nosso ordenamento jurídico. Restando comprovado, no presente processo, que a Reclamante foi dispensada logo depois de voltar de licença médica relativa a tratamento quimioterápico, decorrente de câncer de mama, depois de apresentar vários atestados médicos, tem-se que houve a discriminação prevista na Lei n. 9.029/1995, a qual restou demonstrada pelos elementos constantes da prova oral colhida. Com efeito, o homem deve ser a medida de todas as coisas e a empresa deve agir dentro desse paradigma, em observância aos princípios da boa-fé objetiva e probidade, previstos no artigo 422 do Código Civil Brasileiro, assegurando-se assim o cumprimento da função social do contrato, conforme preceito do artigo 421 desse mesmo diploma legal.(TRT-18 Proc. 00349-2011-005-18-00-6, Relator: ALDON DO VALE ALVES TAGLIALEGNA, Data de Publicação: DEJT Nº 910/2012, de 01.02.2012, pág.47.) Também, neste caso prevaleceram o princípio constitucional da dignidade humana e aplicou-se a função social do contrato para ver restabelecido o vínculo empregatício, por entender que "o d. Juízo a quo considerando o que foi destacado n r. Sentença, quanto à função social da empresa e do contrato de trabalho, já que nela se destacam os princípios da probidade e boa-fé inscritos no art. 422 do Código Civil, que possuem função integrativa e são plenamente aplicáveis às relações de trabalho (não somente de emprego), rendendo ensejo à conclusão de que comete abuso de direito quem contraria a boa-fé". Em julgado proferido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, foi decidido pela reintegração do empregado ao trabalho, após receber alta médica do INSS embora o empregador entendesse que o mesmo não se encontrava em condições de retornar as suas atividades:
ALTA MÉDICA DO INSS. RETORNO AO TRABALHO.
RECUSA DO EMPREGADOR. ILEGALIDADE. REINTEGRAÇÃO MANTIDA. Resta incontroverso que, após a alta médica previdenciária, a reclamada impediu o reclamante de retornar ao trabalho, ao argumento de que ele ainda se encontra incapacitado para o trabalho. Ocorre que as avaliações médicas feitas por médico da reclamada não podem prevalecer em face das inúmeras perícias da Autarquia Previdenciária, as quais atestam a capacidade laboral do autor. Deve o empregador, nestes casos, possibilitar o retorno do empregado ao trabalho, tendo em vista os princípios da dignidade do trabalhador, boa-fé objetiva e função social do contrato. Agindo de outra forma, assumiu os riscos decorrentes do seu modo de proceder. Por tais razões, de rigor a reintegração do trabalhador e o pagamento dos salários do período compreendido entre a alta previdenciária até efetiva reintegração do reclamante. Considerando que restou provado nos autos que a alta previdenciária ocorreu em 11/04/2012, dá-se parcial provimento ao recurso da reclamada apenas para que o pagamento dos salários se dê a partir desta data, mantendo-se incólume a sentença nos demais aspectos.(TRT-2 - RO no Proc. 00006909520125020432 A28, Relator: MARIA ISABEL CUEVA MORAES, Data de Julgamento: 24/09/2013, 4ª TURMA, Data de Publicação: 04/10/2013)
Para o julgador do referido processo ,"não pode o
obreiro ficar à mercê da boa vontade da empresa, sem receber remuneração. Na dúvida, a reclamada poderia tê- lo inserido em posto de trabalho compatível com suas limitações físicas, ao invés de impedi-lo de retornar ao labor. Em suma: considerando a alta previdenciária concedida ao reclamante, deveria a reclamada ter possibilitado seu retorno ao trabalho, haja vista os princípios da dignidade do trabalhador, boa-fé objetiva e função social do contrato. Agindo de outra forma, assumiu os riscos decorrentes do seu modo de proceder".
Portanto, os princípios constitucionais da função
social do contrato e da dignidade da pessoa humano constituem o fundamento das decisões proferidas nessas demandas.
Entretanto, inevitável se fazer a seguinte pergunta:
não estaria o Estado, novamente, impondo à iniciativa privada (empresário/empregador) a obrigação de reinserir o empregado acometido por alguma doença ou recuperado de alguma enfermidade no meio social, mesmo que essa pessoa não esteja de fato em condições de exercer alguma atividade laboral?
Com essa atitude, o Estado não estaria transferido ao
empregador a responsabilidade que aquele (Estado) tem com sob o cidadão, no sentido de propiciar-lhe as condições necessárias para retorno a atividade laboral somente quando, realmente, tivesse condições físicas e psicológicas? Ao proferir esses julgados com base na função social do contrato e princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da boa-fé, da proteção e da continuidade no Direito do Trabalho, por certo está sendo renegada a própria função social da empresa, que tem por objetivo, dentre outros, alcançar os fins do empreendimento e dar lucros para poder gerar ou manter os empregos.
Considerações Finais
O contrato de trabalho por sua natureza, dado o evidente
desequilíbrio existente entre as partes, goza de características um pouco mais amplas no que diz respeito à interpretação e aplicação dos princípios constitucionais que protegem as relações contratuais.
Portanto nesta modalidade de contrato existe, de um lado
o empregado, que deve ter respeitados os seus direitos mais basilares, e do outro o empregador, detentor do poder diretivo, sendo que cada uma dessas partes tem os seus deveres e obrigações, mas a finalidade é única, pois ambos visam o bom desenvolvimento da atividade empresarial. É certo que a prosperidade do negócio garante o sucesso do empresário e garante o emprego do trabalhador.
Deve, portanto, o empregado desenvolver suas atividades
atento às normas legais, convencionais e da empresa de forma a preservar seu emprego, o qual está sob constante fiscalização por parte do empregador que é o detentor do poder diretivo e no exercício deste, pode pôr fim à relação contratual, sem que o empregado tenha lhe dado motivo, mas tão somente pela justificativa de viabilizar o negócio, como por exemplo, para a redução de despesas, readequação de funções, dentre outros.
Entretanto, nesses casos o empregador está obrigado a
observar os preceitos constitucionais e, incluir no cálculo das verbas rescisórias todos os direitos e indenizações garantidas por lei ao empregado demitido.
Precisa observar, ainda, se o empregado não está
protegido pelo manto da estabilidade ou, se a dispensa, ainda que legal, não será considerada discriminatória, como ocorre por exemplo com os empregados que não têm estabilidade mas que, por questões sociais e morais não podem ser simplesmente dispensados. É o caso, como visto, do empregado que após longo período gozando do benefício de auxílio doença, recebem alta médica, sendo considerado apto para o desempenho de suas funções, de acordo com o entendimento da Previdência Social. Entretanto, ao se apresentar ao seu empregador para o retorno de suas atividades muitas vezes são surpreendidos com a rescisão do contrato de trabalho, pois já foi substituído por outro empregado que ocupa o seu posto, ou simplesmente porque o empregador não tem mais interesse em manter-lhe em seu quadro de empregados.
Assim, referido empregado vê-se sujeito à vontade de seu
empregador e é submetido a dispensa, o que vem sendo reconhecido pelos Tribunais como sendo medida discriminatória, ensejando o direito à respectiva indenização ou restabelecimento do vínculo empregatício.
Fontes do Direito do Trabalho.
Sendo assim, fonte é a origem, o surgimento, de
onde nasceu algo. A maioria das normas trabalhistas surgiu com a evolução societária, no sentido de proteger os obreiros perante seus patrões.
Não somente dentro do Direito do Trabalho, mas
também, em outros ramos jurídicos, os doutrinadores (advogados trabalhistas) classificam as fontes em Materiais e Formais.
Fontes materias; movimentos sociais e o
papel das greves .
Seriam aquelas geradas por um conjunto de fenômenos
sociais (revoluções, greves, manifestações, etc.) que dariam ensejo à formação da matéria do direito. Leva-se em consideração o conteúdo da norma. Fontes formais; Constituição, CLT, legislações esparsas, convenções internacionais, contratos de trabalho, acordos e convenções coletivas e sentença normativa.
São os meios (formas) onde se estabelece uma norma
jurídica, nessa vertente, seria quando o direito toma forma. (CLT, Leis, Sentenças Normativas, Convenções Coletivas,etc.).
Dessa última classificação, alguns doutrinadores
subdividem as Fontes Formais em Autônomas e Heterônomas.
Fontes Formais Autônomas seriam aquelas criadas pelo
próprio destinatário, tais como o Acordo Coletivo, Convenção Coletiva, etc. Fontes Formais Heterônomas são as criadas pelo Estado. (Lei, Decreto Lei, etc.) Dentro dessas, surge um questionamento: A Sentença Normativa, conforme já exposto em outro post, seria fonte Formal Heterônoma ou Autônoma?
Pensando de forma ampla, poderíamos classificá-la
como sendo Fonte Formal Autônoma, pois a Sentença Normativa é aquela decorrente do Dissídio Coletivo e este sempre será gerado por impasses criados nas Negociações Coletivas. Diante disso, referida sentença teria sua origem daqueles debates (seus destinatários).
Mas a doutrina a classifica como sendo Fonte Formal
Heterônoma. É que o Poder Estatal foi acionado (Ação de Dissídio Coletivo) e por isso irá produzir uma norma com o pronunciamento final dado pelo magistrado.