Diálogos em Educação Olhares Multidisciplinares Sobre A
Diálogos em Educação Olhares Multidisciplinares Sobre A
Diálogos em Educação Olhares Multidisciplinares Sobre A
aprendizagem, Volume 3.
Editora e-Publicar – Diálogos em educação: Olhares multidisciplinares sobre a 2
aprendizagem, Volume 3.
Editora Chefe
Patrícia Gonçalves de Freitas
Editor
2024 by Editora e-Publicar Roger Goulart Mello
Copyright © Editora e-Publicar Diagramação
Copyright do Texto © 2024 Os autores Patrícia Gonçalves de Freitas
Copyright da Edição © 2024 Editora e-Publicar Roger Goulart Mello
Direitos para esta edição cedidos à Editora e-Publicar Projeto gráfico e edição de arte
pelos autores Patrícia Gonçalves de Freitas
Revisão
Os Autores
Conselho Editorial
D536
Diálogos em educação: olhares multidisciplinares sobre a aprendizagem -
Volume 3 / Organizadores Adilson Tadeu Basquerote Silva, Glaucio Martins da
Silva Bandeira, Patrícia Gonçalves de Freitas. – Rio de Janeiro: e-Publicar, 2024.
CDD 370.1523
Editora e-Publicar
Rio de Janeiro, Brasil
[email protected]
www.editorapublicar.com.br
É com grande satisfação que a Editora e-Publicar apresenta a obra intitulada “Diálogos
em educação: Olhares multidisciplinares sobre a aprendizagem, Volume 3”. Neste livro
engajados pesquisadores contribuíram com suas pesquisas. Esta obra é composta por capítulos
que abordam múltiplos temas da área.
Editora e-Publicar
CAPÍTULO 2 .......................................................................................................................... 32
PROCESSO DE INCLUSÃO EDUCACIONAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
DIAGNOSTICADAS COM TDAH ........................................................................................ 32
Daizio Lopes Bezerra Neto
Nielly Stefany Peres de Castro
Israel Barbosa Neto
Ariel Moraes de Andrade
Álvaro Micael Duarte Fonseca
CAPÍTULO 3 .......................................................................................................................... 44
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM CIÊNCIAS NATURAIS: CONTRIBUIÇÕES E
EXPERIÊNCIAS PARA A FORMAÇÃO DO FUTURO PROFESSOR ............................... 44
Maria Bezerra de Sousa
José Deomar de Souza Barros
CAPÍTULO 4 .......................................................................................................................... 54
COLEÇÃO VIRTUAL DE CORTES HISTOLÓGICOS – DIFUNDINDO A MICROSCOPIA
VIRTUAL NO BRASIL .......................................................................................................... 54
DOI 10.47402/ed.ep.c2402344911 Bruna Romana de Souza
Mario João Junior
CAPÍTULO 5 .......................................................................................................................... 65
COMPARAÇAO DA MICROSCOPIA DIGITAL E CONVENCIONAL NO ENSINO DE
HISTOLOGIA PARA ALUNOS BRASILEIROS DE ODONTOLOGIA ............................. 65
DOI 10.47402/ed.ep.c2402355911 Bruna Romana de Souza
Marco Aurélio dos Santos-Silva
Andréa Monte Alto Costa
CAPÍTULO 6 .......................................................................................................................... 78
RÁDIO-ESCOLA NA EDUCAÇÃO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA
.................................................................................................................................................. 78
DOI 10.47402/ed.ep.c2402366911 Claudete Fogliato Ribeiro
Sheila de Oliveira Goulart
Miro Luiz dos Santos Bacin
Adriana Moreira da Rocha Veiga
Mario Reinaldo Vásquez Astudillo
CAPÍTULO 1
A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE DOS PARÂMETROS DOS ITENS DO ENEM
PARA A COMPREENSÃO DO DESEMPENHO DOS CANDIDATOS
RESUMO
A Teoria da Resposta ao Item (TRI) é o modelo estatístico utilizado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
para calcular a proficiência dos alunos (candidatos). Com o aumento do interesse dos educadores em compreender
os resultados desse exame e, portanto, do seu papel na formação dos alunos a serem avaliados por ele, torna-se
imprescindível a divulgação de estudos que apresentem, de forma acessível, a teoria que sustenta o cálculo do
desempenho nessa avaliação. Esta pesquisa tem por objetivo mostrar para o público não especializado em TRI
porque o mesmo número de acertos em um teste, e particularmente no Enem, não produz exatamente a mesma
proficiência. Para tal, foram investigados os itens que compuseram a avaliação de Matemática e suas tecnologias
do Enem 2021. Cada item da avaliação foi classificado em relação à competência de área e a habilidade avaliada.
Posteriormente, foram observados os parâmetros dos itens da avaliação, estimados via TRI, e disponibilizados
pelo Inep. Foram escolhidos dois itens referentes à mesma área de competência e à mesma habilidade avaliada
para discutir os seus parâmetros. Os parâmetros dos itens foram interpretados a fim de mostrar que os itens não
possuem o mesmo comportamento, ou seja, representam de forma diferente o que está sendo avaliado e informam
uma quantidade diferente sobre o conhecimento que o candidato domina. A TRI leva isso em consideração para
estimar a proficiência. O cálculo da proficiência do Enem também considera a coerência das respostas do aluno
(candidato). Portanto, se um determinado candidato acerta questões difíceis, espera-se que ele também acerte as
questões fáceis, e, se um candidato acerta muitas questões fáceis e apenas poucas muito difíceis, o modelo entende
que esse aluno não tinha o conhecimento necessário para acertar os itens difíceis. No contexto da TRI, itens que
separam melhor os indivíduos que possuem habilidades diferentes e a chance de um aluno responder
acertadamente um item sem ter conhecimento do assunto são características que podem ser mensuradas por meio
dos seus parâmetros. Nessa teoria tais informações são agregadas de modo que a probabilidade de acerto no item
depende da proficiência do aluno e desses parâmetros. Assim, a TRI é um conjunto de modelos matemáticos que
relacionam a proficiência do aluno com os parâmetros dos itens de modo que quanto maior a proficiência, maior
a probabilidade de acerto no item.
1 INTRODUÇÃO
O ENEM foi aplicado pela primeira vez 1998, com o objetivo de avaliar o desempenho
dos estudantes que concluíram o ensino médio. Em 2009, esse exame passou por uma grande
Com o objetivo de fornecer uma avaliação mais abrangente das habilidades dos
estudantes, o ENEM adota o modelo estatístico denominado TRI. Testes baseados na TRI são
amplamente utilizados em vários países, em exames padronizados, avaliações educacionais e
pesquisas de avaliação, pois proporcionam uma medida mais precisa das habilidades dos
participantes e permitem a criação de testes mais eficazes e justos.
Apesar de a TRI ser muito utilizada na área educacional, o uso desse modelo também
pode ser estendido às ciências sociais, humanas e médicas. Nessas áreas, é frequente a
necessidade de medir construtos que não são observáveis de forma direta. Para exemplificar,
considere um estudo em que se tem interesse em registrar o peso ou a altura de um indivíduo.
Essas variáveis, peso e altura, podem ser medidas diretamente. Porém, se o interesse for avaliar
o capital cultural da família, o nível socioeconômico de um indivíduo ou a proficiência de um
aluno em matemática, deve-se proceder de forma indireta para se obter uma estimativa para
esses construtos, devido à impossibilidade de observá-los diretamente. Isso é feito a partir da
Os itens que compõe as provas do ENEM são elaborados com base em uma matriz de
referência. O termo “matriz de referência” é utilizado especificamente no contexto das
avaliações em larga escala e indicam habilidades a serem avaliadas em cada etapa da
escolarização e, dessa forma orientam a elaboração de itens de testes e provas, bem como a
construção de escalas de proficiência que definem o que e o quanto o aluno realiza no contexto
da avaliação. Este artigo tem por objetivo mostrar para o público não especializado em TRI
porque o mesmo número de acertos em um teste, e particularmente no Enem, não produz
exatamente a mesma proficiência ou “nota”.
Não há dúvidas, do ponto de vista pedagógico, de que em um teste existem itens mais
difíceis do que outros, assim como há itens que separam melhor os indivíduos que possuem
habilidades diferentes, e que, além disso, um aluno pode responder acertadamente um item sem
ter conhecimento do assunto. No contexto da TRI, essas características são denominadas
parâmetros dos itens, e essa teoria agrega tais informações de modo que a probabilidade de
acerto no item dependa não apenas da proficiência do aluno, mas também de algum e/ou alguns
desses parâmetros. Assim, a TRI é um conjunto de modelos matemáticos que relacionam a
proficiência do aluno com os parâmetros dos itens de modo que quanto maior a proficiência,
maior a probabilidade de acerto no item (ANDRADE et al., 2000).
O cálculo da proficiência dos alunos no ENEM realizado pelo INEP utiliza o modelo
logístico unidimensional de três parâmetros:
1
Outra maneira de calibrar os itens é através do método de Máxima Verossimilhança Marginal, um artifício usado
quando as proficiências são desconhecidas, por meio de um procedimento que torna a função de verossimilhança
independente das proficiências.
Percebe-se que o modelo proposto se baseia no fato de que os indivíduos que possuem
os maiores valores de habilidade (proficiência) também possuem a maior probabilidade de
acertar o item, mas essa relação não é linear, pois a CCI tem forma de “S”, originada de uma
função logística.
A escala de medida da proficiência pode ser ajustada para fins pedagógicos e é arbitrária.
Nessa escala, o que importa são as relações de ordem existentes entre seus pontos e não
necessariamente a sua magnitude. Aqui, por exemplo, ela está variando de -3 até +3, que são
valores genéricos disponibilizados pelos softwares.
Probabilidade de resposta
1,00 1,00
0,80 0,80
correta
0,60 0,60
correta
0,40 0,40
0,20 0,20
0,00 0,00
-3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3
Proficiência Proficiência
Probabilidade de resposta
1,00
0,80 0,80
0,60 0,60
correta
correta
0,40 0,40
0,20
0,20
0,00
0,00 -3 -2 -1 0 1 2 3
-3 -2 -1 0 1 2 3
Proficiência Proficiência
Por outro lado, comparando-se os gráficos dos itens 2 e 4, que ilustram uma modificação
apenas no parâmetro a (discriminação), percebe-se uma modificação na forma da curva e uma
inclinação mais acentuada da curva do item 4 do que do item 2, no ponto b (igual a 1,3). Isso
significa que o item 4 discrimina melhor os alunos na faixa de proficiência próxima de “b”. Por
exemplo, ao considerar a diferença entre as probabilidades de resposta correta de dois alunos
com habilidades 2 e 1, respectivamente, tem-se que essa diferença é maior no item 4 (0,8549 –
0,5137 = 0,3412) do que no item 2 (0,7727 – 0,5588 = 0,2139). Valores baixos de a indicam
que o item possui pouco poder de discriminação, o que significa que alunos com habilidades
muito diferentes possuem probabilidades muito próximas de acertarem o item. No caso
extremo, em que a = 0, a curva gerada seria uma reta paralela ao eixo da proficiência, e a
consequência disso é que a probabilidade de acertar o item é a mesma para todos os alunos,
independente da sua habilidade.
Quanto maior o valor do parâmetro “b” mais a CCI demora a subir, isto é, somente os
alunos com maior proficiência têm maiores chances de acertar esse item, justificando porque
os itens 2 e 4 são mais difíceis do que os itens 1 e 3. Uma modificação no parâmetro c (acerto
Apesar de o Brasil, desde a década de 1990, realizar avaliações sistêmicas, sendo a mais
importante o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e, a partir de 1995, ter
incorporado uma nova metodologia na análise de dados 2 dessa avaliação, a utilização do
instrumental técnico e estatístico usado em tais avaliações ainda é muito pouco familiar aos
gestores e educadores. De modo especial, o entendimento do conceito da escala de proficiência
ainda não se deu de forma satisfatória e não é raro deparar com diretores e professores perplexos
diante dos resultados das avaliações, sem entenderem o significado pedagógico daqueles
números que delas originaram.
Após colocar os índices de dificuldade dos itens e as proficiências dos alunos em uma
mesma métrica, de modo a torná-los comparáveis, pode-se, então, construir escalas de
conhecimento interpretáveis, de modo a produzir significados práticos em termos pedagógicos.
As proficiências dos alunos que participam de uma avaliação em larga escala são organizadas
em uma escala denominada Escala de Proficiência 3. Portanto, a escala de proficiência é uma
maneira de estabelecer uma unidade de medida padrão do conhecimento.
2
A partir de 1995, os dados do SAEB passaram a ser analisados via TRI.
3
A Escala de Proficiência também é denominada de Escala de Habilidades, Escala de Desempenho ou Escala
de Conhecimento.
Gráfico 2: Probabilidade de um Aluno Acertar um Item em Função da sua Proficiência na Escala Original.
Gráfico 3: Probabilidade de um Aluno Acertar um Item em Função da sua Proficiência na Escala do ENEM.
Este artigo tem por objetivo mostrar para o público não especializado em TRI porque o
mesmo número de acertos em um teste, e particularmente no Enem, não produz exatamente a
mesma proficiência. Para tal, foram investigados os itens que compuseram a avaliação de
Matemática e suas tecnologias do Enem 2021. Para a área da Matemática e suas tecnologias, a
matriz de referência do Enem, descrita no Quadro 1, considera sete competências, entendidas
como conjuntos de conhecimentos mais amplos que o candidato precisa ter, e trinta habilidades,
que são as formas como o candidato deve manusear a competência em questão.
É importante destacar que os itens, mesmo que avaliem a mesma competência, têm um
padrão de comportamento diferente, exatamente porque possuem parâmetros diferentes. Para
exemplificar como os parâmetros dos itens influenciam na proficiência do aluno, é apresentada
análise de dois itens do ENEM 2021 (Questões 154 e 162), relacionados à competência 6
(Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas,
realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e interpretação) e à habilidade 24
(H24 - Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências.), segundo
a classificação do INEP (2022). A Tabela 2 apresenta as informações dos itens.
O número, com duas casas na parte decimal, mais próximo do número de médicos por
mil habitantes no ano de 2020 seria de:
A. 0,17
B. 0,49
C. 1,17
D. 2,06
E. 3,32
Item II: (Questão 162 Enem 2021- Prova azul, aplicação regular)
O quadro representa a relação entre o preço de um produto (R) e seu respectivo imposto
devido (J).
R ≤ 5000 Isento
Considerando o acerto ao acaso, pode-se verificar que o item 2 é mais fácil de ser
acertado ao acaso pois possui um valor do parâmetro “c” maior que o valor desse mesmo
parâmetro no caso do item 1. Nos dois casos as estimativas são c2 = 0,24023 e c1 = 0,19072.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No contexto da TRI, itens que separam melhor os indivíduos que possuem habilidades
diferentes e a chance de um aluno responder acertadamente um item sem ter conhecimento do
assunto são características que podem ser mensuradas por meio dos parâmetros. Nessa teoria
tais informações são agregadas de modo que a probabilidade de acerto no item depende da
proficiência do aluno e desses parâmetros. Assim, a TRI é um conjunto de modelos matemáticos
que relacionam a proficiência do aluno com os parâmetros dos itens de modo que quanto maior
a proficiência, maior a probabilidade de acerto no item.
REFERÊNCIAS
RESUMO
O artigo tem como objetivo compreender o que é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e
qual a sintomatologia desse transtorno. Além disso, apontar como é possível realizar intervenções pedagógicas,
visando a inclusão educacional e como o psicólogo escolar pode contribuir com desenvolvimento educacional e
social do estudante. O art.208 da Constituição Federal de 1988 traz que é dever do Estado na oferta e promoção
do Atendimento Educacional Especializado (AEE). Percebe-se que os atendimentos especializados e grande parte
do posicionamento das políticas públicas inclusivas são voltadas para alunos com necessidades físicas, entretanto,
é importante abranger as psicopatologias. O TDAH é definido pelo aparecimento da tríade sintomatológica de
déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade, caracterizados por sua frequência e intensidade, se distinguindo
de ações tipicamente vistos em sujeitos de mesma idade ou nível de desenvolvimento. Constata-se que o TDAH,
no âmbito educacional, é visto enquanto problema de aprendizagem, muitas vezes, desconsiderando o fato de que
esses sujeitos são capazes de aprender, contudo, tal fato não invalida sua capacidade de desempenho escolar. Dessa
forma, é importante ressaltar o aluno enquanto sujeito com potencialidades e que, com os estímulos corretos,
poderão aprender e se desenvolver, tornando-se cidadãos ativos e críticos. Percebe-se que a desinformação sobre
o transtorno, ainda hoje, é um dos maiores problemas na vida de uma pessoa com TDAH, frequentemente, não
diagnosticado. Com isso, entender o transtorno, sintomas e consequências se torna essencial para um tratamento
bem-sucedido.
1 INTRODUÇÃO
Na atual conjuntura social, o índice de pessoas com algum diagnóstico psiquiátrico vem
aumentando, inclusive, nas crianças. Psicopatologias ou condições que antes eram ignoradas,
hoje, ganham espaço nos ambientes de trabalho, acadêmicos e sociais. Dessa forma, é
necessário aproximar-se das diferenças e entender que cada um possui uma necessidade
específica, especialmente, no ambiente educacional, haja vista que é na escola que o sujeito
desenvolve grande parte dos seus conhecimentos, da sua construção psicossocial e do seu
repertório socioemocional e cognitivo. Logo, o processo de inclusão nas instituições
educacionais se torna essencial para o sujeito e sociedade, uma vez que, sabendo que todos
possuem direitos e vozes como cidadãos, o seu desenvolvimento cognitivo e biopsicossocial
poderá possibilitar sua participação nas diversas esferas sociais.
Percebe-se um novo olhar para as diferenças desde a criação de instituições para surdo
na época do império, o início do IBC – Instituto Benjamin Constant, o Instituto Surdo Mundo,
em 1857, atual INES – Instituto Nacional da Educação dos Surdos, e a fundação a primeira
APAE - Associação de Pais e Amigos Excepcionais, em 1954. Entretanto, essas distinções eram
excluídas nas escolas de ensino regular e tinham seu espaço próprio para crianças com
necessidades especiais, caracterizando uma segregação, considerando que a educação especial
se organizou tradicionalmente como Atendimento Educacional Especializado (AEE)
substitutivo ao ensino regular (AMARAL et al., 2014).
A Constituição Federal de 1988 traz no seu art.205 a educação sendo direito de todos,
dever do Estado e da Família e, no seu art.206, inciso I, estabelece a condições de igualdade de
acesso e permanência no processo escolar como fundamento para educação, já no seu art.208,
o dever do Estado na oferta e promoção do AEE, de preferência na rede regular de ensino.
Dessa maneira, a educação inclusiva vai ganhando espaço no processo de educação para todos
(BRASIL, 1988). Após isso, em 1994, a Declaração de Salamanca e a Declaração Mundial de
Educação para Todos (1990), passam a complementar/suplementar e influenciar a formulação
das políticas inclusivas (BRASIL, 2008).
A atual lei da LDB, Lei nº 9.394/96, priorizou uma visão educacional que garantem aos
alunos, currículos, métodos, recursos e organizações que atendam suas necessidades tanto em
relação a déficits quanto a superdotação, trazendo no art. 37, inciso I, “[...] oportunidades
educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições
de vida e de trabalho, mediante cursos e exames”. Apesar do TDAH não ser citado diretamente
na lei, este está incluído. Segundo Rohde (2002), a escola que melhor atende às necessidades
dos sujeitos com TDAH é aquela cuja preocupação maior está em desenvolver seu potencial,
respeitando as diferenças individuais, auxiliando na superação das dificuldades, pois estes
precisam de apoio e intervenção psicopedagógica mais intensos.
Acerca da realidade vivenciada no ambiente escolar, percebe-se que é nesse espaço que
maiores dificuldades são apresentadas pela criança, devido a sua política de organização,
trazendo normas comportamentais e execução de tarefas predeterminadas pela escola e seus
docentes (SILVA, 2014). Diante disso, é comum que os estudantes diagnosticados com o
TDAH sejam taxados como inquietos, desatentos, dentre outros, por não agirem de tal forma
esperada (MAIA; CONFORTIN, 2015), sustentando a cristalização perante a sociedade
enquanto “aluno problema”, objetificando a criança ao estatuto do que é visto pelo outro, por
meio de um processo de naturalização do sujeito (MACHADO; SOUZA, 2008), não
reconhecendo as dificuldades que são manifestadas, isto é, conservando o processo de exclusão
no âmbito educacional.
A desinformação, ainda hoje, é um dos maiores problemas na vida de uma pessoa com
o transtorno em questão, muitas vezes, não diagnosticado. Entendê-lo, perceber seus sintomas
e consequências se torna essencial para um tratamento bem-sucedido. Pesquisas mostram que
adultos que apresentam sintomas de TDAH, mas que nunca foram diagnosticados, podem
manifestar problemas emocionais, tais como depressão ou baixa autoestima, por não serem tão
funcionais ou não se sentirem tão capazes quanto gostariam ou o quanto são exigidos (RANGÉ,
2011).
Dessa forma, o trabalho tem como objetivo geral compreender o que é o Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade e qual a sintomatologia apresentada pelos alunos com o
diagnóstico de transtorno supracitado. Além disso, tem como objetivos específicos apontar
como é possível realizar intervenções pedagógicas, visando a inclusão educacional, e como o
psicólogo escolar pode contribuir com o desenvolvimento educacional e social do estudante.
2 METODOLOGIA
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Mari e Kieling (2013), continuam discutindo que para a caracterização dos sintomas,
pode-se dividir entre sintomas de desatenção e sintomas de hiperatividade/impulsividade. Os
sintomas de desatenção que são: dificuldade frequente em prestar atenção a detalhes, comete
erros por descuido, dificuldade em manter atenção nas tarefas ou em prestar atenção no que se
é dito, dificuldade em seguir instruções até o fim ou em terminar atividades, apresenta
desorganização pessoal ou em gerenciar tarefas, tendem a procrastinar tarefas que existam
atenção sustentada e concentrada, frequentemente perde materiais e objetos e é facilmente
distraído por estímulos externos, ou seja, é hipotenaz, e tem esquecimentos constantes de
atividades diárias.
3.2 O uso dos recursos e metodologias no processo de inclusão de alunos com TDAH na
educação
Tendo em vista que a escola traz um grupo diversificado de alunos, faz-se pertinente
planejar sobre como contemplar as diferenças e promover o ensino de forma satisfatória
(PEREIRA, 2015). À vista disso, considera-se que a formação docente continuada retrata uma
necessidade para se conseguir intervir com inovações na metodologia e com os recursos
Dessa forma, é importante trazer um olhar singular para esses alunos, tendo em vista
que estes possuem especificidades que precisam ser trabalhadas e estimuladas, regularmente,
até mais que o grupo homogêneo da escola. Portanto, comprova-se a necessidade de aplicar
intervenções, metodologias e estratégias para trabalhar com esse sujeito a fim de oferecer um
atendimento com equidade e com mais eficácia. Diante disso, caso o docente consiga promover
ao aluno um ambiente favorável, convidativo e enriquecedor do processo de aprendizagem, não
se encontrará desigualdades, mas uma transformação na prática pedagógica (SILVA;
FRANCISCO; DRUMOND, 2016).
Além disso, é essencial ressaltar que a escola vai além do ensino regular, isto é, a
instituição educacional possibilita o desenvolvimento neuro cognitivo, psicomotor,
socioemocional e, principalmente, contribui no processo de socialização entre o corpo escolar.
Esses estímulos promovem o exercício de suas funções cognitivas, como linguagem,
inteligência, memória, sensação e percepção. Essa estimulação deve ser feita para todo o
público estudantil, porém, os alunos com TDAH necessitam de um olhar mais específico para
essas questões. A visto disso, a escola que possui responsabilidade e interesse maior sobre esses
alunos, pode proporcionar um ambiente que irá evidenciar e potencializar essa estimulação
(BERTUOL, 2012) e, por consequência, o estímulo pode trazer consequências incalculáveis
para a vida do sujeito.
Sabendo que há diversos fatores que influenciam e estão fora da zona ensino-
aprendizagem, a atuação do psicólogo escolar é de grande valia no sentido de que tanto o aluno
precisa aprender a lidar com os desafios do transtorno, quanto as pessoas que estão no seu
convívio. Dessa forma, o manejo do TDAH pelo psicólogo escolar pode envolver
psicoeducação, os tratamentos dos problemas emocionais, treinamento de pais e,
fundamentalmente, orientação para professores (RANGÉ, 2011).
O autor citado ainda afirma que a orientação para professores pode servir como
norteadora das intervenções em sala de aula, expondo estratégias com o objetivo de que o aluno
consiga se desenvolver juntamente com os demais pares, socializando, dominando os conteúdos
e compreendendo o sistema educacional e as regras que a instituição dispõe. Além de que, a
variação de metodologias pode trazer benefícios para o desenvolvimento do aluno, garantindo
que a educação seja universal e de forma adequada para as especificidades do sujeito com
TDAH.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 176.
ROHDE, L. A. et al. Princípios e Práticas em TDAH. São Paulo: Artmed, 2002. p. 240.
RESUMO
O ensino de Ciências é complexo e envolve domínio de conhecimentos, ao professor é dada a missão de lidar
com diferentes situações relacionadas com conhecimentos próprios de sua formação. Diante disso, o estágio
supervisionado é visto como uma oportunidade dada aos discentes de graduação para adentrarem no ambiente
escolar e reconhecerem tal realidade. O presente capítulo tem por objetivo registrar as contribuições e os
desafios encontrados durante os estágios de observação e regência de classe no ensino de Ciências Naturais no
Ensino Fundamental II, em uma escola pública do Município de São João do Rio do Peixe – Paraíba. Diante
disto, o desenvolvimento de atividades pedagógicas contribuiu significativamente para futura atuação
profissional docente.
1 INTRODUÇÃO
Diante do que foi exposto fica claro que essa abordagem inicial é de fundamental
importância, uma vez que permite ao leitor o conhecimento sobre o que virá a ser explorado
posteriormente neste capítulo de relato. Desta forma, o principal objetivo neste momento é
registrar as contribuições vivenciadas e os desafios encontrados durante os estágios de
observação e regência de classe, demonstrando as experiências pessoais tidas durante o Estágio
Supervisionado no Ensino Fundamental II e os principais reforços para a formação, inteirando
o processo de ensino-aprendizagem como essencial durante esta fase do curso.
A escola supracitada está localizada no Município de São João do Rio do Peixe - PB, é
uma escola relativamente grande, murada, pintada e possui arborização em volta de toda a
construção, até o presente momento não havia metragem do terreno e arredores. Em relação aos
profissionais de educação que atendem a comunidade escolar organiza-se com 37 profissionais
sendo 19 professores que possuem os seguintes níveis de formação: Graduação, Magistério,
Mestrado e Doutorado. Ademais, há ainda na constituição do corpo de funcionários, sendo 01
diretor, 01 vice-diretor, 01 coordenadora pedagógica, 02 Coordenadoras de EJA, 05 professores
aguardando aposentadoria e 08 pessoas no apoio.
Quanto a infraestrutura, escola é composta por 06 (seis) salas de aula com boa
iluminação e ventilação, 01 sala pequena para diretoria, 01 cozinha, 03 banheiros, 01 biblioteca,
01 galpão, 02 depósitos, 01 quadra esportiva coberta, não havendo refeitório nem outras
dependências, porém com bastante espaço para ampliar, equivale ressaltar que todos os
ambientes apresentam bom estado de uso, a escola tem acesso aos recursos financeiros advindos
do Governo Federal que é gerenciado pela gestão, tudo é bem cuidado na medida que os
profissionais buscam sempre conscientizar os alunos do bom zelo pelo ambiente escolar.
Diante do atual cenário vivenciado nos últimos anos, a direção escolar entende que é
urgente redimensionar as atividades escolares, adequando-as à realidade atual, além da
necessidade de qualificar os profissionais que atuam na escola para o uso das novas tecnologias.
Tendo em vista que esta coleta de informações se deu em um período no qual os casos de
COVID - 19 ainda estavam altamente agravantes, a escola viu a necessidade de modificar a sua
imagem, práxis, a relação com o ensinar, o aprender e o saber.
A turma do 6° ano pode ser tratada como uma turma iniciante a qual adentrava naquele
momento uma nova realidade que é a do Ensino Fundamental II, a todo momento foi visualizada
a participação dos discentes em aula, diante das discussões em torno dos variados conteúdos e
propostas apresentadas pelo docente, ademais a todo momento foi visualizada calma, paciência
e compreensão do professor para com a turma, os alunos se mostraram curiosos e participativos.
O 7° ano é uma turma bem numerosa, por este motivo vez ou outra era possível a visualização
de algumas conversas paralelas, porém não eram intensas ao ponto de atrapalhar a aula, ademais
foi observada uma forma diferente do docente trabalhar nesta classe, a todo instante ele buscava
trazer algo diferente, curiosidades em torno do conteúdo, indagações, recursos didáticos para
implementar a aula, acredita-se que isso se deu principalmente para manter os alunos
conectados com o que se estava sendo exposto de conteúdos e para evitar que os mesmos não
se perdessem em conversas paralelas.
No 8° ano foi observada ainda timidez por parte dos discentes, principalmente por conta
da presença da estagiária, porém não foi algo que atrapalhou o desenvolvimento das aulas, pelo
contrário, todos estavam ativos na realização das atividades propostas pelo professor e em sua
maioria conseguiram realizá-las com sucesso, é uma turma quieta e bem atenciosa, foi
demonstrada uma boa relação com o professor. Na turma do 9° ano foi vista uma maior
descontração, todos aparentemente já se conheciam de anos anteriores, o que acabou gerando
maior segurança para expor ideias e opiniões. Mediante as explicações do docente as dúvidas
que surgiam logo eram solucionadas, tratou-se de uma turma participativa e boa de se trabalhar,
porém foi visualizado algumas dispersões de atenção por parte dos discentes e que logo eram
contornados pelo docente.
Portanto, diante do que foi observado, é notório que esse período propiciado pelas
observações das aulas permite aos licenciandos uma análise da prática pedagógica exercida pelo
supervisor em sala de aula, onde foi possível adentrar na realidade da futura profissão,
conhecendo os alunos, observando as dificuldades encontradas em cada turma, e cada aluno em
sua especificidade, a forma como o docente conduz cada peculiaridade e por fim. Frente ao
cenário presenciado, conclui-se que além da experiência adquirida, é possível através desta
prática fortalecer as habilidades educacionais e a criatividade de pôr em prática o exercício do
aprender e saber educar de forma prazerosa.
As experiências de regência de classe eram para ocorrerem apenas em uma única turma
da escola que corresponde ao 6° ano, porém em decorrência dos feriados nacionais e municipais
do mês de junho de 2022 passou-se a ser realizado também na turma do 8° ano. Desta forma,
aconteceram entre os dias 30 de maio a 14 de junho 7 aulas no 6° ano sendo que logo no dia
conseguinte a escola entrou em recesso junino, voltando apenas no dia 11 de julho, durante esse
retorno a estagiária ministrou então mais 8 aulas no 6° ano e 5 aulas no 8° ano, concluindo
assim 20 aulas.
Dessa forma, são evidentes as contribuições que o estágio pode trazer, tanto para o
licenciando quanto para os alunos da referida escola. Foi possível experienciar aulas
experimentais, criações de desenhos, resolução de exercícios, caça-palavras, cruzadas, leitura e
pesquisa de imagens, participação em dinâmica e debate, contribuindo assim para a
contextualização dos conteúdos abordados em sala de aula. Contribuindo também para a
participação dos alunos, desenvolvendo assim posturas investigativas e questionadoras, assim
como desenvolvimento da capacidade de análise por meio da verificação dos resultados e
argumentos teóricos.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este é um momento indispensável durante a formação do futuro professor, uma vez que
a ele é dada a oportunidade de fazer a relação da teoria adquirida anteriormente, com a prática
Desta forma, diante de uma visão formativa na experiência propiciada pelo estágio
supervisionado, foi possível observar o despertar de inúmeras contribuições, tais como:
autonomia para decidir a melhor forma para se trabalhar determinados conteúdos, perda de
timidez diante público, controle das emoções, despertar de reflexões sobre si, a educação atual
e as relações criadas entre alunos e professores, entre outras. Vivenciar a profissão de professor
antes mesmo de concluir a graduação se torna um ensaio para o futuro e permite ao estagiário
refletir de forma crítica a própria atuação para que num futuro próximo já tenha iniciado a
construção de sua identidade docente, sendo capaz de atuar no campo profissional de forma
responsável.
REFERÊNCIAS
KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. 4. ed. São Paulo: Editora USP. 2004.
CAPÍTULO 4
COLEÇÃO VIRTUAL DE CORTES HISTOLÓGICOS – DIFUNDINDO A
MICROSCOPIA VIRTUAL NO BRASIL 4
RESUMO
Nos últimos 30 anos, a microscopia virtual se tornou mundialmente o método predominante de ensino de histologia
e patologia, substituindo ou sendo associado ao método tradicional. Contudo, o desenvolvimento da microscopia
virtual, que compreende a aquisição de escâner de lâminas, a digitalização da coleção histológica e a criação de
plataformas on-line, é extremamente custosa. Isto torna a implementação deste método inviável para muitas
universidades brasileiras. A Coleção Virtual de Cortes Histológicos (COLVIHIST) é uma ferramenta que
soluciona esse problema. O COLVIHIST é um website gratuito que contém centenas de lâminas histológicas de
alta qualidade para o ensino de histologia. A plataforma é intuitiva e com excelente aceitação entre os usuários,
principalmente professores e estudantes de graduação. Entretanto, ela necessita de uma infraestrutura mínima para
o seu acesso pelo usuário (como internet com banda larga e um computador). Por não possuir uma versão mobile,
dificulta o seu uso em dispositivos móveis, como smartphones ou tablets.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Até hoje o microscópio de luz é o aparato científico mais conhecido e sua capacidade
de manuseio é considerada um importante objetivo de aprendizado para estudantes da área
biomédica (COLEMAN, 2009; SANTOS et al., 2021). No entanto, a grande revolução
tecnológica das últimas décadas permitiu que novas tecnologias fossem incluídas à educação
biomédica (COLEMAN, 2009; SANTOS et al., 2021; HANDE et al., 2017; WU; CHIANG,
2022). Há cerca de trinta anos, a microscopia virtual surgiu como uma importante ferramenta
para o ensino de histologia e patologia em países desenvolvidos (CHANG et al., 2021;
FOSTER, 2010). A microscopia virtual se promove no ensino de histologia e patologia com o
auxílio de softwares, banco de lâminas digitalizadas e computadores (FOSTER, 2010;
SAKTHI-VELAVAN; ZAHL, 2023). Estudos em diversos países mostraram que alunos
preferem estudar histologia com ferramentas eletrônicas ao invés de recursos tradicionais de
aprendizagem (SAKTHI-VELAVAN; ZAHL, 2023). No Brasil, a Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto e a Universidade Federal de Pernambuco mostraram que os estudantes tiveram
4
Este trabalho foi financiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro (FAPERJ) (processo E-26/010.002721/2014).
Figura 1: Página inicial do COLVIHIST onde observa-se o tutorial, os contatos, a avaliação e o conteúdo
disponível para histologia.
Apesar das diversas vantagens da microscopia virtual, esse método de ensino tem
algumas limitações ou desvantagens. Primeiramente, o custo para a sua implementação é
elevado, considerando que a universidade necessita adquirir um escâner de lâminas, servidores
e computadores, e construir um website e uma sala com vários computadores para as aulas
(LEE; GOLDMAN; HORTSCH, 2018). A microscopia virtual também depende de uma boa
largura de banda da rede para o seu uso (LEE; GOLDMAN; HORTSCH, 2018). A falta de
apoio de especialistas quando os alunos visualizam as lâminas digitais por conta própria e a
perda da percepção de profundidade que está presente com o uso da microscopia tradicional
são outras deficiências deste método de ensino (LEE; GOLDMAN; HORTSCH, 2018; YEN et
al., 2014). Por fim, o uso exclusivo da microscopia virtual pode ser uma desvantagem para os
3 DESCRIÇÃO
Em 2018, o COLVIHIST foi desenvolvido pelos autores para solucionar uma demanda
criada durante a implementação da microscopia virtual no ensino de histologia no DHE-UERJ.
Durante a implementação deste método de ensino os autores observaram que os estudantes
tinham grande dificuldade para realizar o download das lâminas histológicas e do software de
imagens em seus computadores pessoais. Os alunos comentaram, em sua avalição do método
de ensino, que as “imagens eram muito pesadas e ocupavam muito espaço em seu HD” e por
isso não conseguiam revisar o material de histologia em casa. Além disto, os autores também
observaram que a coleção histológica do DHE-UERJ continha lâminas com baixa qualidade de
preservação, o que dificultava o estudo dos espécimes pelos alunos. Muitos espécimes também
estavam ausentes na coleção do DHE, como por exemplo cortes de globo ocular, epitélio
olfatório, ouvido interno etc. Com o suporte financeiro da Fundação Carlos Chagas Filho de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ; processo E-26/010.002721/2014)
os autores adquiriram novos cortes histológicos para completar a coleção histológica virtual,
um servidor e computadores, e desenvolveram o website COLVIHIST, onde disponibilizaram
na Internet as lâminas digitalizadas.
Figura 2: Página com o conteúdo de um dos tópicos do COLVIHIST. Observa-se as lâminas disponíveis neste
tópico (seta).
Figura 4: Avaliação dos alunos sobre a microscopia virtual durante o período da pandemia de COVID-19.
Legenda: Dados (n=105) estão demonstrados em porcentagem de estudantes do curso de Enfermagem entre o
segundo período de 2020 e segundo período de 2021.
Fonte: Autoria própria (2023).
5 DISCUSSÃO
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CARUSO, M. C. Virtual Microscopy and Other Technologies for Teaching Histology During
Covid-19. Anat Sci Educ, v. 14, n. 1, p. 19-21, Jan. 2021. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33283455. Acessado em: Out. 2023.
CHANG, J. Y. et al. Comparison of virtual microscopy and real microscopy for learning oral
pathology laboratory course among dental students. J Dent Sci, v. 16, n. 3, p. 840-845, Jul.
2021. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34141097. Acessado em: Out.
2023.
DARICI, D. et al. Implementation of a fully digital histology course in the anatomical teaching
curriculum during COVID-19 pandemic. Ann Anat, v. 236, p. 151718, Jul. 2021. Disponível
em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33675948. Acessado em: Out. 2023.
FERREIRA, R. et al. The virtual microscope. Proc AMIA Annu Fall Symp, v. p. 449-453,
1997. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9357666/. Acessado em: Out. 2023.
FONSECA, F. P. et al. Transition from glass to digital slide microscopy in the teaching of oral
pathology in a Brazilian dental school. Med Oral Patol Oral Cir Bucal, v. 20, n. 1, p. e17-22,
Jan 1. 2015. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25129250. Acessado em:
Out. 2023.
FOSTER, K. Medical education in the digital age: Digital whole slide imaging as an e-learning
tool. J Pathol Inform, v. 1, Aug 10. 2010. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20922031. Acessado em: Out. 2023.
HEIDGER, P. M., JR. et al. Integrated approach to teaching and testing in histology with real
and virtual imaging. Anat Rec, v. 269, n. 2, p. 107-112, Apr 15. 2002. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12001217. Acessado em: Out. 2023.
KUMAR, R. K. et al. Virtual microscopy for learning and assessment in pathology. J Pathol,
v. 204, n. 5, p. 613-618, Dec. 2004. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15470688. Acessado em: Out. 2023.
WU, Y. H.; CHIANG, C. P. Comparison of virtual microscopy and real microscopy for learning
oral histology laboratory course among dental students. J Dent Sci, v. 17, n. 3, p. 1201-1205,
Jul. 2022. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35784135. Acessado em:
Out. 2023.
CAPÍTULO 5
COMPARAÇAO DA MICROSCOPIA DIGITAL E CONVENCIONAL NO ENSINO
DE HISTOLOGIA PARA ALUNOS BRASILEIROS DE ODONTOLOGIA 5
RESUMO
O objetivo deste estudo foi implementar a microscopia digital para os alunos da Faculdade de Odontologia inscritos
no curso de histologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Além de comparar os resultados nos exames
de microscopia convencional e digital. Foram realizadas as aulas práticas de microscopia digital e tradicional, e os
alunos foram convidados a responder um questionário. As notas nos testes práticos convencionais e digitais
também foram avaliadas. Os alunos avaliaram positivamente a microscopia digital de uma forma geral: o software
era amigável e a identificação das estruturas histológicas nas imagens digitais foi útil. Embora a maioria dos alunos
tenha concordado que aprenderam mais na microscopia digital, eles não manifestaram preferência por esse método
de ensino. Não houve diferença entre as notas nas provas práticas convencionais ou digitais. Em conclusão, a
implementação da microscopia digital no curso de histologia para os alunos da Faculdade de Odontologia foi bem-
sucedida. Além disso, as provas práticas digitais foram conduzidas com sucesso.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O ensino tradicional de histologia é amplamente adotado em universidades brasileiras,
envolvendo a projeção de lâminas histológicas por um professor e o uso de microscópios de luz
pelos alunos para a análise de espécimes (QING et al., 2022; ROSAS et al., 2012). Durante o
curso, os estudantes necessitam assimilar a teoria e sua aplicação prática adquirindo
conhecimentos que os permitam detectar mudanças histológicas ou indicadores diagnósticos
em um espécime (MERK; KNUECHEL; PEREZ-BOUZA, 2010). Para isto, os alunos precisam
permanecer longos períodos no laboratório de microscopia adquirindo a prática necessária para
manipular um microscópio de luz e o reconhecimento das estruturas histológicas. Entretanto,
este treinamento convencional tem diversas desvantagens, como: apenas microscópios de baixa
qualidade estão disponíveis o que dificulta o diagnóstico dos espécimes pelos estudantes; e para
uma aula prática de histologia de boa qualidade centenas de cortes histológicos precisam ser
confeccionados, que é uma atividade altamente custosa e leva a uma redução no número de
cortes histológicos disponibilizados aos alunos. Todas estas desvantagens frustram a maioria
5
Este trabalho foi financiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro (FAPERJ) (processo E-26/010.002721/2014). Marco Aurélio dos Santos-Silva recebeu bolsa da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Tradicionalmente, o ensino de histologia é realizado utilizando aulas expositivas
seguida da visualização de lâminas histológicas representativas em microscópios de luz pelos
alunos (HAMILTON; WANG; MCCULLOUGH, 2012). Essa metodologia convencional é
avaliada negativamente pelos alunos devido à baixa qualidade dos microscópios e das lâminas
para as aulas de microscopia (FERNANDES et al., 2018; MERK; KNUECHEL; PEREZ-
BOUZA, 2010; WU; CHIANG, 2022). Além disto, os estudantes raramente têm tempo extra
classe para visitar o laboratório de microscopia e estudar as lâminas. Esses fatores associados
ao alto custo de manutenção e estocagem das coleções histológicas, vem levando a substituição
da microscopia convencional pela microscopia digital ou virtual nas últimas décadas (BLAKE;
LAVOIE; MILLETTE, 2003; BRAUN; KEARNS, 2008; HELLE et al., 2011;
KRIPPENDORF; LOUGH, 2005; MERK; KNUECHEL; PEREZ-BOUZA, 2010; SAGOL et
al., 2015; WEAKER; HERBERT, 2009). A microscopia digital utiliza computadores para
analisar os cortes histológicos ao invés de microscópios de luz (WALLACE et al., 2018). Após
a preparação do corte histológico, a lâmina é digitalizada com o auxílio de um escâner e uma
imagem em alta resolução é obtida (AEFFNER et al., 2018). Esse arquivo é visualizado na tela
de um computador utilizando um software de imagens que permite a observação do corte em
diferentes ampliações (AEFFNER et al., 2018). Além disso, as estruturas histológicas podem
ser identificadas na imagem facilitando o seu reconhecimento pelos estudantes (AEFFNER et
al., 2018). Estudos prévios demonstram que os alunos aprovam o uso da microscopia digital no
ensino de histologia e que essa ferramenta aumenta a retenção do conhecimento (SANTOS et
al., 2021; LEE; GOLDMAN; HORTSCH, 2018; SAKTHI-VELAVAN; ZAHL, 2023). A
hipótese deste estudo é que a microscopia digital pode aumentar a retenção do conteúdo teórico
e prático pelos alunos inscritos nas disciplinas de histologia melhorando a sua performance na
identificação dos espécimes. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia da
microscopia digital no ensino de histologia para os alunos de graduação comparando com a
microscopia convencional. Além de desenvolver um novo método avaliativo para os exames
diagnósticos.
3.1 Participantes
As notas das provas tradicionais e on-line foram comparadas. Na prova tradicional, uma
avaliação contendo 5 ou 10 imagens histológicas eram projetadas e os estudantes tinham 1
minuto para identificar o tecido ou o órgão incluindo a justificativas para o diagnóstico. No
mesmo dia, os alunos eram transferidos para o laboratório de informática onde acessaram um
Ambiente Virtual de Aprendizado (AVA) através de suas contas pessoais. No AVA, eles
realizavam uma prova contendo 5 a 10 questões discursivas ou de múltipla-escolha (Figura 2)
com uma única tentativa e tempo máximo de 20 minutos. Foi utilizada a taxonomia de Bloom
(conhecimento, compreensão, aplicação e análise) para o preparo das provas tradicional e on-
line e elas tiveram o mesmo nível de dificuldade. A performance dos alunos nas avaliações foi
checada através das notas obtidas em cada prova. Para o cálculo da média final foi realizada
uma média aritmética das notas nas provas tradicional e on-line.
Figura 2: Imagem representativa de uma questão utilizada na prova on-line. (A) Observa-se uma questão de
múltipla escolha baseada em imagem. No canto superior observa-se o timer com o tempo total da avaliação. (B)
No final da avaliação, as questões eram automaticamente corrigidas e os estudantes já recebiam o feedback de
suas respostas.
4 RESULTADOS
Na avaliação da performance dos estudantes nas provas tradicional ou on-line não foi
observada uma diferença na média da nota dos alunos entre a prova tradicional (média ± desvio
padrão: 7,8 ± 2,0) e on-line (média ± desvio padrão: 7,6 ± 2,0) (Figura 3). A opinião dos
estudantes sobre as duas modalidades de provas também foi avaliada e 42% dos participantes
concordou, mas a mesma porcentagem discordou, que eles se sentiam mais confortáveis
fazendo a prova no computador (Tabela 2). Além disto, 58% dos estudantes preferiram realizar
a prova tradicional e 61% acreditaram que a qualidade do computador prejudicou o seu
desempenho nas avaliações. Alguns comentaram que “Os computadores não funcionavam
bem”, “O teclado do computador era horrível”, e “Os computadores eram horríveis, eles
travavam e paravam de funcionar durante o teste”.
Figura 2: Performance dos alunos nas avaliações tradicionais e on-line nos módulos histologia geral e especial.
Legenda: Dados (n= 106) estão demonstrados em gráfico box and whiskers utilizando mediana, mínimo e
máximo. O símbolo “+” representa a média aritmética. Teste t pareado de Wilcoxon. ns: sem diferença
significativa.
Fonte: Autoria própria (2016).
5 DISCUSSÃO
REFERÊNCIAS
AEFFNER, F. et al. Digital Microscopy, Image Analysis, and Virtual Slide Repository. ILAR
J, v. 59, n. 1, p. 66-79, Dec 1. 2018. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30535284. Acessado em: Out. 2023.
CHANG, J. Y. et al. Comparison of virtual microscopy and real microscopy for learning oral
pathology laboratory course among dental students. J Dent Sci, v. 16, n. 3, p. 840-845,
Jul. 2021. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34141097. Acessado
em: Out. 2023.
COLEMAN, R. Can histology and pathology be taught without microscopes? The advantages
and disadvantages of virtual histology. Acta Histochem, v. 111, n. 1, p. 1-4, 2009. Disponível
em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19004481. Acessado em: Out. 2023.
HEIDGER, P. M., JR. et al. Integrated approach to teaching and testing in histology with real
and virtual imaging. Anat Rec, v. 269, n. 2, p. 107-112, Apr 15. 2002. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12001217. Acessado em: Out. 2023.
KRIPPENDORF, B. B.; LOUGH, J. Complete and rapid switch from light microscopy
to virtual microscopy for teaching medical histology. Anat Rec B New Anat, v. 285, n. 1, p.
19-25, Jul. 2005. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16032757. Acessado
em: Out. 2023.
KUMAR, R. K. et al. Virtual microscopy for learning and assessment in pathology. J Pathol,
v. 204, n. 5, p. 613-618, Dec. 2004. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15470688. Acessado em: Out. 2023.
PRATT, R. L. Are we throwing histology out with the microscope? A look at histology from
the physician's perspective. Anat Sci Educ, v. 2, n. 5, p. 205-209, Oct. 2009. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19688840. Acessado em: Out. 2023.
WEAKER, F. J.; HERBERT, D. C. Transition of a dental histology course from light to virtual
microscopy. J Dent Educ, v. 73, n. 10, p. 1213-1221, Oct. 2009. Disponível
em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19805786. Acessado em: Out. 2023.
WU, Y. H.; CHIANG, C. P. Comparison of virtual microscopy and real microscopy for
learning oral histology laboratory course among dental students. J Dent Sci, v. 17, n. 3, p.
1201-1205, Jul. 2022. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35784135.
Acessado em: Out. 2023.
CAPÍTULO 6
RÁDIO-ESCOLA NA EDUCAÇÃO:
UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA
RESUMO
A rádio-escola surge como uma possibilidade pedagógica de construção do saber, criatividade, reflexão e
oralidade, promovendo os ouvintes a protagonistas do seu aprendizado. Nesse contexto, tem-se o objetivo
apresentar o teor das produções científicas sobre a rádio-escola na educação básica e superior brasileira no período
de 2007 a 2022. Como metodologia esta pesquisa conduziu uma revisão sistemática de literatura na Biblioteca
Digital de Teses e Dissertações (BDTD) com Como resultados, este estudo evidencia que a rádio-escola promove
a inter e a transdisciplinaridade, que converge para a autonomia, formação do pensamento crítico e emancipação
dos sujeitos, conexão com a educomunicação, liberdade de expressão, autonomia, mudança nas práticas
pedagógicas e uma educação libertadora. Além disso, os achados demonstram questões intrínsecas como: escuta
da fala juvenil, mediação comunicacional constitutiva, produção de gêneros orais e escritos, discurso midiático,
projetos de vida e as diversas formas de desenvolver a rádio em ambientes escolares, revelando as multifacetas e
perspectivas de discussão em torno da temática. A partir das evidências encontradas, é possível concluir que a
rádio-escola, apesar do passar do tempo, avanço das tecnológicas e supremacia de outras mídias, ainda se constitui
um instrumento pedagógico de grande potencial transformador e socializador desde sua gênese. Faz-se necessário
refletir sobre por qual razão fazê-la, como e para que, considerando seu propósito de possibilitar uma educação
cidadã, democrática, inclusiva e equitativa, focada na emancipação, edificação e ressignificação de saberes.
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, foram sendo desenvolvidas ferramentas tecnológicas para atender
as necessidades da sociedade, sendo o rádio um dos seus principais resultados. No Brasil, a
primeira experiência radiofônica ocorreu em 1922, todavia somente a partir de 1930, tornou-se
o principal meio de comunicação, chegando ao seu momento suntuoso na década de 40, quando
tinha papel de destaque nas residências e no cotidiano das pessoas. Conforme Lopez (2009),
neste último período, a produção mais importante era de radionovelas, programas de humor e
de auditório com a inserção gradual do jornalismo na programação.
2 MÍDIAS E EDUCAÇÃO
Conforme Carvalho (2019), o uso da tecnologia na educação vem sendo discutido desde
meados da década de 50, porém somente nos anos 70, começaram as primeiras experiências na
área, realizadas por diversas universidades e/ou faculdades em todo o Brasil. A partir de 1980,
surgiram algumas iniciativas sobre o uso da informática na educação, intensificando-se nos
anos 90 com a utilização frequente das tecnologias no ensino. Para Dorigoni (2008), as
reflexões em torno da temática mídia e educação vem sendo aprofundadas há várias décadas,
dado a constatação de sua influência na formação do sujeito e da necessidade de se investigar
o assunto diante do acelerado desenvolvimento das novas tecnologias de informação e
comunicação (TIC). Perante esse cenário, pode-se inferir que mídias sempre estiveram
presentes na educação, aperfeiçoando-se, paulatinamente, ao longo dos anos por meio do
desenvolvimento tecnológico.
Buckingham (2010) considera que a educação midiática não tem como finalidade
desenvolver habilidades tecnicistas, tampouco promover a autoexpressão, mas sim estimular
Balle (1995 apud GONNET, 2004, p. 16) menciona que as mídias podem ser
consideradas como um “equipamento técnico que permite aos homens comunicarem a
expressão de seu pensamento, quaisquer que sejam a forma e a finalidade”. Analógicas ou
digitais, o objetivo é levar a informação/conhecimento ao receptor.
As mídias em geral, sejam elas impressas, televisivas, de rádio ou as que utilizam redes
sociais, possuem forte influência sobre o comportamento das pessoas, porquanto atingem,
cotidianamente, as massas, podendo persuadir em diferentes escolhas (SILVA; LINHARES,
2016). É preciso considerar que a utilização do rádio, apesar do passar dos anos, sempre se
mostrou um eficiente meio de troca de conhecimentos, uma ferramenta de inclusão social que
não faz distinções entre classes, transmitindo sua mensagem a todos, independentemente do
nível cultural ou econômico do ouvinte, atingindo, com sua linguagem informal, especialmente
aqueles sem acesso à educação formal e os analfabetos (ROQUETTE-PINTO, 2008)
2.1 Rádio-Escola
Para Assumpção (2006), o uso da rádio colabora para que as pessoas evoluam,
contribuindo para que pensem de outras maneiras e assim consigam se libertar de preconceitos
ou estereótipos, além disso essa ferramenta desenvolve um assunto relevante como a oralidade.
Nesse contexto, a rádio dentro da escola surge como uma possibilidade pedagógica
significativa, porquanto utiliza meios tecnológicos para aprendizagens diversas.
Consoante Consani (2007), o rádio é uma tecnologia educativa por conta de três grupos
de características próprias: 1) intrínsecas: liberdade imaginativa; atinge grandes parcelas da
população; tem uma cobertura virtualmente global; simplicidade de produção; baixo custo e
agilidade; 2) extrínsecas: seletividade de informações; valorização da oralidade; adaptabilidade
Costa (2005) afirma que o rádio se torna uma ferramenta pedagógica muito eficaz
quando o professor sabe explorar sua utilização, levando em consideração a sua linguagem
verbal fácil e acessível, visto que essa mídia chega à casa das pessoas com um valor bem
acessível, o que contribui para que mais pessoas possam aproveitá-la a favor não somente do
seu caráter informativo, mas de aprendizagem. Este mesmo autor, ainda ratifica que esta mídia
é um veículo de massa, não somente pela sua abrangência territorial, mas pelas facilidades que
proporciona ao transmitir a informação, qualidade esta que não é possível encontrar na mídia
impressa, por exemplo, onde somente as pessoas alfabetizadas podem ter acesso.
Segundo Gonçalves (2004), o uso do rádio, no ambiente escolar, possibilita aos alunos
e professores a oportunidade de analisar suas práticas, prioriza a autoestima e a autovalorização
dos membros da comunidade, permitindo sua expressão, através da ampliação de voz, tornando-
os agentes e produtores culturais, a fim de reforçar um modelo democrático e participativo. O
diálogo, o comunicar, o expressar livre de ideias, as formas de participação, a inclusão dos
elementos e a valorização das identidades e culturas são componentes significativos e
expressivos da linguagem radiofônica.
3 METODOLOGIA
Para compor este artigo, foi realizada uma revisão sistemática de literatura (RSL), de
outubro a novembro de 2022, na BDTD, com o intuito de se verificar e analisar as produções
científicas a respeito da temática rádio escola na educação básica e superior. Conforme Galvão
e Ricarte (2019), a RSL é uma modalidade de pesquisa que busca responder a um problema
específico para entender e dar alguma logicidade a um corpus documental. Está focada no seu
caráter de reprodutibilidade por outros pesquisadores, apresentando de forma explícita, as
estratégias de busca empregadas, o processo de seleção dos trabalhos científicos, os critérios de
inclusão e de exclusão, bem como o processo de análise de cada publicação. Baek et al. (2018),
complementam que uma RSL permite observar possíveis falhas nos estudos realizados;
conhecer os recursos necessários para a construção de outras pesquisas com características
específicas; desenvolver estudos que cubram brechas na literatura, trazendo uma real
contribuição para um campo científico ao propor temas, problemas, hipóteses e metodologias
inovadoras.
A partir dessas estratégias de procura, foram selecionados 212 resultados. Por meio da
busca pelo filtro título, realizou-se a primeira triagem, selecionando os trabalhos que continham
as palavras-chave preestabelecidas. Desta apuração, foram escolhidas 44 pesquisas, sendo 28
elegíveis para esse estudo. Em seguida, procedeu-se a leitura flutuante dos resumos, os quais
foram norteadores para a exploração dos textos completos. Para a triagem final, foram
considerados 13 estudos.
A catalogação dos dados do conteúdo das teses e dissertações foi realizada com auxílio
do software de referências bibliográficas Mendeley, o qual ajudou também na exclusão dos
Foi utilizada a última versão do protocolo PRISMA (2020), (PAGE et al., 2021), nas
diferentes fases dos estudos para esta RSL. Seu principal objetivo é ajudar os autores a
melhorarem os relatos de revisões sistemáticas e meta-análises. Figura 1 demonstra, com maior
clareza, os resultados da seleção dos estudos.
* Não menciona
Fonte: Autoria própria (2023).
Pode-se perceber também que as produções científicas sobre a rádio escola estão mais
direcionadas a dissertações, nas quais predominam pesquisas sobre o nível básico de ensino.
Após sumariar os primeiros achados deste estudo, passa-se para o Quadro 2, o qual
demonstra uma visão geral das pesquisas selecionadas e seus principais resultados.
Na tese de Oliveira (2021), a rádio escola está focada na formação do pensamento crítico
dos sujeitos e no exercício da liberdade de expressão. O estudo demonstrou que a rádio web
pode ser um canal de comunicação, potencializando seu modo de atuação para mais
participativo e coerente, o que se espera de uma educação contemporânea. Para a autora, quanto
Delanhese (2020), procura desenvolver uma proposta pedagógica que seja significativa,
utilizando os meios tecnológicos para possibilitar aprendizagens diversas, relacionando a rádio
escola e a educomunicação, de modo a propiciar possibilidades de emancipação dos sujeitos.
Foi possível concluir do estudo que a prática da rádio escola poderá trazer benefícios, ganhos
pedagógicos e sociais, uma vez que os estudantes poderão compreender e analisar a mídia com
um olhar mais singular.
Bueno (2013) aborda o contexto marcado pela cultura digital, refletindo sobre as
interfaces da comunicação, educação e cidadania. O autor ratifica o potencial educativo da
rádio, mesmo sendo utilizada de forma instrumental. No caso do projeto Roda Pião, esta
experiência conseguiu avançar para uma perspectiva construcionista, afastando-se do
instrucionismo que caracteriza boa parte das ações educacionais. Ademais, o projeto
possibilitou a interação entre os meios de comunicação e a escola, bem como um novo espaço
de construção do conhecimento e cidadania
Ongaro (2011) realiza um estudo de caso em que discorre sobre o projeto: uso do rádio
como ferramenta pedagógica e de ressocialização nas unidades de socio educação. Conclui a
autora que essa ferramenta possibilita uma educação como prática de liberdade, facilitadora dos
processos de ensino-aprendizagem e de uma linguagem mais acessível e socializadora,
principalmente em unidades de privação de liberdade para adolescentes infratores. Este achado
é ratificado pelo estudo de Scholz (2017), que referencia que a rádio vem dar voz aos
adolescentes em conflito com a lei, proporcionando protagonismos juvenis e reinserção dos que
vivem à margem da sociedade.
Por fim, a dissertação de Silva (2007), preocupa-se em contribuir com reflexões acerca
da utilização da rádio para a produção do conhecimento no ambiente escolar, bem como em
analisar as possibilidades do uso de recursos técnicos e midiáticos na construção do cotidiano.
Conclui o autor que a utilização da rádio na escola exerce um papel de suma importância na
formação de indivíduos mais críticos e cientes de seu papel na sociedade. A inserção da mídia,
não apenas como instrumento ou ferramenta, mas como um tema relevante no currículo, pode
trazer à tona aprendizagens mais significativas para os que vivem à margem do sistema
educativo, possibilitando aos alunos se tornarem sujeitos protagonistas de sua história, usando
sua liberdade de expressão como um comportamento capaz de levá-los ao encontro de todo um
universo epistemológico e científico, que não sujeite a vida a restrições, mas amplie e aumente
as possibilidades de viver.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar do passar dos anos, mesmo com o advento das tecnologias, percebe-se que a
utilização da rádio nunca se tornou obsoleta, pois sempre se mostrou um eficiente veículo
comunicacional de troca de conhecimentos, estimulo à democracia, cidadania e inclusão social.
Paula e Kenned (2013) corroboram essa asserção, ao mencionar que ela resiste ao tempo, que
se reinventa, tornando-se mais digital, todavia sem perder a sua essência comunicativa, de
transmissão de notícias, de informações e de emoções aos seus ouvintes.
Na educação, o rádio poderá contribuir para uma metamorfose das rotinas educacionais,
uma vez que possibilita a construção do saber, criatividade, oralidade, competências e
habilidades, leitura e reflexão, promovendo os ouvintes a protagonistas de seu aprendizado.
Não foi possível localizar nas análises, estudos que englobassem políticas públicas
incentivadoras para projetos de rádio escola. As iniciativas para o uso da mídia são esparsas e
emanam, principalmente, de professores, sendo apoiadas pela conveniência e oportunidade da
gestão.
Além destes achados, foram encontradas questões intrínsecas que dizem respeito à
escuta da fala juvenil, mediação comunicacional constitutiva, produção de gêneros orais e
escritos, discurso midiático, projetos de vida e as diversas formas de desenvolver a rádio em
ambientes escolares, revelando as multifacetas e perspectivas de discussão em torno da
temática.
Até a finalização desta pesquisa, em novembro de 2022, não foi possível identificar
outras produções científicas, além das já mencionadas, o que pode denotar que as pesquisas
sobre a rádio escola podem estar sendo substituídas, paulatinamente, por outros tipos de mídia.
A partir das evidências encontradas neste estudo, é possível concluir que a rádio escola, apesar
do passar do tempo, avanço das tecnológicas e supremacia de outras mídias, ainda se constitui
um instrumento pedagógico de grande potencial transformador e socializador desde sua gênese.
Faz-se necessário refletir sobre por que fazê-la, como e para que, considerando seu propósito
de promover uma educação mais cidadão e emancipadora.
REFERÊNCIAS
BAEK, S. et al. The most downloaded and most cited articles in radiology journals: a
comparative bibliometric analysis. European Radiology, v. 28, n. 11, p. 4832–4838, 2018.
Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s00330-018-5423-1. Acessado em:
Mar. 2023.
BALTAR, M. Rádio escolar: uma experiência de letramento midiático. 1ª ed. São Paulo:
Cortez, 2012.
CONSANI, M. Como usar o rádio na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2007.
DORIGONI, G.M.L; SILVA, J.C. Mídia e Educação: o uso das novas tecnologias no espaço
escolar. Gestão Escolar. 2008. Disponível em:
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_pde/artigo_gilza_maria_l
eite_dorigoni.pdf. Acessado em: Nov. 2022.
PAGE, M. et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting
systematic reviews. Thebmj, doi: 10.1136 v. 372, n. 71, mar. 2021.
Disponível em: https://www.bmj.com/content/372/bmj.n71. Acessado em: Nov. 2022.
SANTOS, D.J.L.; RADDATZ, V.L.S. Rádio na escola: a educação além da sala de aula.
UFSM: Educom Sul, 2012. Disponível em: http://coral.ufsm.br/educomsul/anais/usos/
SANTOS.pdf. Acessado em: Nov. 2022.
SOUZA, C. T. Uso da web rádio escolar como possibilidade para mudança da prática
pedagógica a partir do discurso do professor. 2017. p. 127. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba – P R.
CAPÍTULO 7
PERCEPÇÕES SOBRE A MATERIALIZAÇÃO DA LEI 11.645/2008:
ANALISANDO O LIVRO DIDÁTICO HISTÓRIA.DOC DO 6º ANO DO
ENSINO FUNDAMENTAL (PNLD 2024)
RESUMO
O objetivo do estudo foi analisar a materialização/presença da Lei nº 11.645/2008 no livro didático
HISTÓRIA.DOC – 6º ano, da editora Saraiva, presente no guia do PNLD 2024 para o Ensino Fundamental,
procurando verificar a organização dos conteúdos, as atividades propostas, o respeito à diversidade cultural e
regional, bem como, os aspectos metodológicos que proporcionam uma prática docente interativa e
conscientizadora entre professor e aluno sobre respectiva temática. Os resultados mostram um crescente zelo na
produção do livro e na sua organização, priorizando aspectos relevantes e atualização tanto do ponto de vista
epistemológico quanto das legislações atuais, destacando o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena.
1 INTRODUÇÃO
Destarte, para utilizar o livro de História como material didático em sala de aula é
necessário conhecer previamente a abordagem e o método utilizado para trabalhar determinados
conceitos, verificar quais objetos de conhecimento estão adequados para a realidade onde a
instituição escolar está inserida, por exemplo, uma das pesquisadoras que escreve é professora
de História em uma cidade da região Extremo Oeste (interior da Bahia), uma realidade
totalmente diferente dos grandes centros urbanos. Por este motivo, é preciso analisar as
características dos livros buscando conhecer sua estrutura, adaptações e possibilidades de
trabalho.
Ronaldo Vainfas- Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP);
Professor dos Programas de Pós-Graduação em História da Faculdade de Formação de
Professores (FFP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Autor de obras didáticas para o Ensino Fundamental
e para o Ensino Médio.
Jorge Luiz Ferreira- Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP)
Professor dos Programas de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense
(UFF-RJ) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-MG)
Autor de obras didáticas para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio.
Fonte Histórica é aquilo que foi produzido pelos seres humanos e que proporciona um
acesso significativo à compreensão do passado humano e de seus desdobramentos no presente.
As fontes históricas são as marcas da história. Dessa maneira, analisar o livro didático,
considerando a diversidade das práticas de leitura, não se restringe às práticas dos alunos, ela
agrega também as dos professores. “[...] o professor não segue a ortodoxia, mesmo porque não
tem como seguir. Faz coisas que nem o autor, nem o editor, nem os formuladores das atividades,
nem os avaliadores do PNLD imaginaram” (MUNAKATA, 2007, p. 144).
Ler/usar livro didático implica assim pelo menos dois leitores permanentes, aluno e
professor. É claro que outros livros também supõem uma diversidade muito grande
de leitores, mas o que faz essa dupla de leitores peculiar no livro didático é que ela é,
digamos, estrutural: se um aparecer sem o outro pode-se até mesmo dizer que o livro
didático deixa de sê-lo. Esses leitores, além disso, mantêm entre si certa relação de
poder: mesmo que o leitor final seja o aluno, não cabe a este escolher o livro
(MUNAKATA, 2002, p. 579).
Assim, O livro didático, compreendido a partir da História da leitura, considera que,
tanto professor quanto aluno são entendidos como leitores em constante tensão um com outro.
De modo que, optar pela História da leitura como referencial teórico metodológico, não pode
se concentrar apenas no livro didático no que se refere aos seus objetos de conhecimento,
pensado como documento histórico em razão da complexidade, permite ampliar o foco analítico
e isto se deve, principalmente, ao fato de que, neste campo historiográfico, há um crescimento
com relação ao interesse pela pesquisa, que favorece a cada dia novas possibilidades teórico-
metodológicas.
Com relação ao ensino de História e como este está organizado, bem como, a forma
como a experiência cotidiana se apresenta segundo a BNCC (2017), o documento afirma ser
um auxiliar do professor de modo que, possibilita colocar em prática durante suas aulas, uma
História plural, evitando falar apenas de grandes datas e nomes famosos tidos como heróis,
mas, atentos às diversidades regionais e sociais e contemplando a realizando dos diferentes
sujeitos envolvidos no processo ensino e aprendizagem.
O livro analisado deixa claro que, a BNCC (2017) define as aprendizagens fundamentais
para o desenvolvimento dos estudantes de cada ano escolar. Afirma ainda que ela é o documento
norteador para a elaboração de currículos escolares nas diferentes etapas da
Educação Básica, articulando e integrando as redes de ensino municipal, estadual e federal,
ressaltando a importância do documento em todas as esferas administrativas.
O livro analisado faz uma divisão didática como mostra a imagem a seguir para explicar
a História da África, dos africanos e dos afro-brasileiros, corroborando tanto com as discussões
legislativas atuais, quanto pelos pesquisadores/historiadores que se debruçam sobre a causa
desses povos.
Falar do livro didático de História como o principal recurso para o professor tem seus
pontos positivos e negativos. Positivos pelo fato de ser trazido para sala de aula material que
leva a um pensamento crítico, e negativos pelo fato de que ainda hoje muitos professores não
possuir esse recurso em quantidade suficiente para todos os alunos e ou para todas as séries.
No livro didático, os autores também reafirmam que a escola enquanto instituição social
deve se comprometer com as mudanças, rumo a um mundo mais justo onde os homens possam
viver sem preconceito e discriminação de credo, gênero, etnia, entre outros. Assim, questões de
relevância social podem e devem ser tratadas pela e na escola.
O livro didático analisado como um dos aprovados para compor o guia do PNLD 2024,
atende as exigências da BNCC (2017) com a presença da Lei 11.645/2008 e passa a tratar o
Ensino de História numa perspectiva diferenciada, sem negar os aspectos cruéis e
desumanizantes descolonizadores, ao tempo que ressalta aspectos importantes da história dos
negros e dos povos originários do Brasil. E, aborda além disso, a História da África, respeitando
a heterogeneidade cultural, econômica e política do continente.
Assim, percebe-se que, mesmo passando por uma avaliação criteriosa orientada por guia
(PNLD) para chegar nas escolas, o livro didático de História do 6º ano Anos Finais do Ensino
Fundamental, apresenta algumas lacunas. Porém, apresenta avanços no sentido de desenvolver,
no aluno, reflexões e o conhecimento de mundo para se chegar ao que se espera da resposta
para determinada atividade proposta a partir da motivação do professor.
REFERÊNCIAS
CHOPPIN, A. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Tradução de
Maria Adriana C. Cappello. Educação e pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 549-566, set./dez.
2004. https://www.scielo.br/j/ep/a/GNrkGpgQnmdcxwKQ4VDTgNQ/?format=pdf&lang=pt.
Acessado em: Nov. 2023.
VAINFAS, R. [et al.]. História.doc: 6º ano (Ensino fundamental). 3. ed. São Paulo: Saraiva
S.A, 2022.
CAPÍTULO 8
JOGOS DIDÁTICOS COMO FERRAMENTA PONTENCIALIZADORA NO ENSINO
DE CIÊNCIAS NATURAIS: ESTUDO DO CICLO DA ÁGUA
RESUMO
O processo de ensino-aprendizagem é mediado pelo professor que contribui para construção do conhecimento dos
estudantes e o uso de recursos didáticos é uma chave que pode facilitar este processo. Assim, o objetivo da presente
pesquisa foi verificar a eficácia dos jogos didáticos como ferramenta potencializadora no ensino de Ciência
Naturais como foco no estudo do ciclo da água. A abordagem da pesquisa foi do tipo quali-quantitativa, a mesma
foi efetivada através de um questionário prévio, da observação do desenvolvimento dos estudantes quanto à aula,
posteriormente ocorreu a aplicação do jogo e por fim foi aplicado um questionário avaliativo na turma do 8º ano
de uma escola pública situada no Município de São José de Piranhas-PB. Os resultados indicaram resultados
satisfatórios, tendo em vista que houve um aumento de 23,37% de acertos em relação ao questionário prévio e a
análise do processo qualitativo notou-se um bom engajamento, considera-se que a estratégia pedagógica cumpriu
com o proposto de auxiliar na compreensão do conteúdo e de incentivar os discentes no estudo do tema.
1 INTRODUÇÃO
O ato de ensinar, assim como o sujeito aprendiz deste ensino desenvolvem uma relação
observada como a jornada da construção do saber, na qual o aprendiz desencadeia capacidades
às aprendizagens (PAIVA et al., 2016). Este processo de construção do saber quando mediado
pelo professor, proporciona ao aprendiz, contato com diferentes temas e a assimilação
significativa de novos saberes a partir de seus conhecimentos prévios.
De acordo com Barros, Miranda e Costa (2019), é percebido que o ensino é pautado,
não raramente, por meio de aulas expositivas evidenciando a fixação de conteúdos e o professor
como figura central das aulas. Contudo, o saber não ocorre através da transmissão de conteúdo
sem que haja a sua prática e que os estudantes sejam percebidos como agentes principais de seu
próprio processo educativo.
Assim, a presente pesquisa teve por objetivo verificar a eficácia dos jogos didáticos
como ferramenta potencializadora no ensino de Ciência Naturais como foco no estudo do ciclo
da água.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O processo de análise dos dados ocorreu inicialmente por meio da análise quantitativa
do número de acertos do primeiro questionário aplicado, intitulado como questionário prévio.
Depois, através das observações qualitativas realizadas quanto à participação dos alunos
durante o tempo das aulas na exposição do tema e no engajamento durante o período destinado
para o desenvolvimento do jogo.
Logo, os dados obtidos indicam que a intervenção pedagógica foi exitosa, destacando-
se o papel do jogo didático no desenvolvimento da aula. Assim como Santo (2014) mostra em
seu trabalho com o uso de jogos didáticos, a motivação e a boa receptividade dos alunos com o
uso do recurso é marcante. No jogo, os alunos se expressam com mais empolgação sem medo
de errar.
Os jogos são capazes de criar conexões entre discentes, docentes e os conteúdos. O jogo
tem um papel essencial no processo de ensino-aprendizagem (RADE; BORGES, 2010) e
aprender brincando permite que o aluno seja ativo e comunicativo nesse processo. Pois,
desperta o interesse e potencializa o desenvolvimento de competências (MORATORI, 2003).
Nessa perspectiva, verifica-se de maneira afirmativa que o jogo foi capaz de auxiliar no
processo educativo assim como Santo (2014) demonstrou em sua pesquisa que a dinâmica dos
jogos didáticos aplicados promoveu a aprendizagem e a interação entre os alunos. Sendo um
recurso que possibilita uma melhor compreensão dos conteúdos.
REFERÊNCIAS
BACCI, D. L. C.; PATACA, E. M. Educação para água. Estudos avançados, São Paulo, v. 22,
n. 63, p. 211-226, 2008. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/10302/11957. Acessado em: Set. 2023.
RADE, A. V.; BORGES, R. M. R. Repercussões do uso de jogos como ferramenta didática nas
aulas de matemática financeira. V Mostra de Pesquisa da Pós-graduação, p. 562-565,
PUCRS, 2010. Disponível em:
https://ebooks.pucrs.br/edipucrs/acessolivre/anais/Vmostra/V_MOSTRA_PDF/Educacao_em
_Ciencias_e_Matematica/84253-ARLEI_VAZ_RADE.pdf. Acessado em: Jun. 2023.
CAPÍTULO 9
A INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA NO ENSINO
REGULAR EM TEMPOS DE PANDEMIA: ALGUMAS REFLEXÕES 6
RESUMO
Este trabalho apresenta algumas reflexões acerca da inclusão de alunoscom deficiência auditiva no ensino
regular em tempos de pandemia. Trata-se de uma abordagem qualitativa a partir da observação do trabalho de duas
professoras: a professora titular da sala de aula e a professora Intérprete de Libras no período de maio a dezembro
de 2020. Serviram como referencial teórico as ideias defendidas por Mantoan (2003), Carvalho (2007) e
Wanderley (2004) dentre outros. Desse modo, a relação entre a professora titular e a intérprete de libras é essencial
para o sucesso desse atendimento. Enfim, vários aspectos devem ser considerados no atendimento aos alunos
com deficiência: formação continuada dos atores envolvidos, garantia da aplicabilidade das leis e a relação família
e escola. Todas possuem a sua importância, afinal se completam. Dessa forma, espera-se, com este trabalho
apresentar esses resultados frutos de um trabalho sério e ético, mas também, contribuir, com aqueles que vivenciam
essa prática e querem melhorar o que fazem.
1 INTRODUÇÃO
A pesquisa aponta para alguns pontos que destacam que a ação docente da professora
6
Artigo publicado In: Anais do Congresso Amazônico de Educação a Distância. Anais[...] Porto Velho (RO)
Diretoria de Educação a Distância, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/
congressoamazonicoead/407648
A inclusão é um fato, e a formação continuada é uma grande aliada para que a educação
tenha um resultado esperado por todos, mesmo que os atendimentos sejam diferenciados os
educadores devem ser profissionais que atuam com a formação e com a intenção de praticar a
cidadania dando a todos a oportunidade de desenvolver-se para lutar por uma vida digna e
melhor.
Nessa linha de pensamento, a necessidade de uma sólida formação de base dos técnicos
de educação que intervêm junto das crianças surdas, e como é importante as professoras e
professores estarem abertos aos diferentes métodos de comunicação, pois só assim será possível
assegurar respostas de acordo com a especificidade de cada caso.
O educador inclusivo não pode esquecer que cada criança constitui um caso e que
deverá ser analisada isoladamente, com vista a um trabalho de reeducação que responda às reais
necessidades da criança surda.
2 METODOLOGIA
Nesta seção são apresentados os dados coletados através da pesquisa. Foi levado em
conta na pesquisa que apenas a técnica da observação seria suficiente para analisar essa prática
Desse modo, foi utilizado a pesquisa de campo com uso da técnica da observação a
partir dos documentos: planos de aulas semanais, portfólio semestral, acompanhamento da
interação no grupo de WhatsApp e nas chamadas de vídeos e as reflexões dos resultados
analisados à luz da teoria.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
É fundamental que as atividades propostas sejam adaptadas, sem, contudo, fugir do que
prevê a Base Nacional Comum Curricular, apresentadas de forma significativa,
preferencialmente práticas, que foquem nas habilidades falar, ouvir, ler e escrever, além das
operações fundamentais e nas competências socioemocionais, sendo essas últimas de suma
relevância nesse momento.
A troca de ideias entre as duas professoras é outro fator relevante a ser observado.
Pensando que a aluna é de ambas e que o processo de aprendizagem depende também da forma
como as atividades são propostas, esse feedback realizado pela professora titular e a intérprete
de Libras é fator essencial para o alcance do sucesso na aprendizagem.
O papel da família é essencial, afinal, é ela que decide o que seus filhos precisam
aprender, qual escola deve frequentar e o que precisam saber para sempre decidir pelo melhor
para o futuro dos filhos.
A família não é o único canal pelo qual se pode tratar a questão da socialização, mas
é, sem dúvida, um âmbito privilegiado, uma vez que este tende a ser o primeiro grupo
responsável pela tarefa socializadora. A família constitui uma das mediações entre o
homem e a sociedade. Sob este prisma, a família não só interioriza aspectos
ideológicos dominantes na sociedade, como projeta, ainda, em outros grupos os
modelos de relação criados e recriados dentro do próprio grupo (CARVALHO 2006,
p. 90).
Se a família é um âmbito privilegiado, mais uma justificativa para que a escola e a
família construam uma relação que objetive a oferta de uma educação de qualidade. A troca de
ideias entre educadores e parentes trará soluções mais propícia e rápida aos problemas
enfrentados pelas crianças, pois como afirma Icami Tiba (2002, p. 3) “quando a escola, o pai e
a mãe falam a mesma língua e têm valores semelhantes, a criança aprende sem conflitos e não
quer jogar a escola os pais e vice-versa”.
Seus filhos não precisam de gigantes, precisam de seres humanos. Não precisam de
executivos, médicos, empresários, administradores de empresa, mas de você, do jeito
que você é. Adquira o hábito de abrir o seu coração para os seus filhos e deixá-los
registrar uma imagem excelente de sua personalidade (CURY, 2003, p. 26).
Os profissionais da educação além de ensinar conteúdos também devem ensinar para a
vida, se envolver com a realidade de sua clientela, precisam ser educadores, atuando com amor
a profissão, mas não podem desenvolver sozinha a construção dos futuros cidadãos, afinal a
sociedade precisa se renovar e ambos precisam entender que fazem parte deste processo.
Assim diz Augusto Cury: “Prepare seus alunos para explorarem o desconhecido, para
não terem medo de falhar, mas medo de não tentar. Ensine-os a conquistar experiências”
(CURY, 2006, p. 80).
No ano de 1994 com a publicação de um documento que teve como foco a promoção
de uma educação igualitária para todos, com abordagem para a educação inclusiva.
Com esse novo olhar a escola passa então a ter o dever de atender “às necessidades
particulares dos surdos e dos surdos/cegos, é possível que a sua educação possa ser ministrada
de forma mais adequada em escolas especiais ou em unidades ou classes especiais nas escolas
regulares” (SALAMANCA, 1994, p. 18).
Mas o ponto crucial a ser lembrado é se de fato os alunos com deficiência são incluídos
no sistema de ensino, tendo seus direitos de aprendizagem garantidos. Não basta apenas dar o
acesso à escola com a matrícula do aluno, mas promover as necessidades básicas de
aprendizagem das pessoas portadoras de deficiências que requerem [...]. É preciso tomar
medidas que garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo
de deficiência, como parte integrante do sistema educativo’’ (UNESCO, 1998, p. 4).
Desse modo, a educação brasileira deve se preocupar não somente com a criação de leis,
que de fato são importantes e necessárias no processo de inclusão. Mas, também fazer cumprir
esses direitos no cotidiano da escola onde muitos alunos ainda mesmo com avanços no campo
da legislação ainda são excluídos dentro do espaço escolar.
Uma escola inclusiva não é apenas a que recebe o aluno com deficiência em suas
dependências, mas a que promove o prosseguimento da escolaridade até o nível que cada aluno
for capaz de atingir’’ (MANTOAN, 2003, p. 22).
Uma grande proporção das escolas brasileiras cria barreiras para os alunos com
deficiência sejam incluídos no processo de ensino-aprendizado do cotidiano da sala de aula.
Muitas dessas barreiras são temporárias, tais como as barreiras físicas, mas outras são mais
difíceis de remover que são caracterizadas como permanentes.
A barreira cultural acaba por promover um isolamento dos alunos com deficiência no
ambiente escolar, onde muitos alunos só recebem o direito à matrícula, mas o processo de
aprendizagem é negado a esses alunos.
Durante muito tempo não foi dado ao aluno com deficiência o direito ao conhecimento
científico por acreditar que eles deveriam ir para a sala de aula somente para obter o processo
de socialização.
O sistema educacional deve ter clara a diferença entre integrar e incluir o aluno com
deficiência na escola, quando o aluno é matriculado no sistema escolar e passa a frequentar as
aulas foi integrando na escola. Mas quando passa a fazer parte das atividades cotidianas do
processo de ensino, tendo seu direito à aprendizagem, estará sendo incluído de fato.
Nessa linha de pensamento Vigotski (1987), destaca que: “[...] a educação para estas
crianças deveria se basear na organização especial de suas funções e em suas características
mais positivas, ao invés de se basear em seus aspectos mais deficitários” (VIGOTSKI, 1987, p.
28).
As escolas brasileiras não foram pensadas para os alunos que não são considerados
‘‘normais’’, ainda são noticiados que ambientes escolares não conseguem incluir de fato os
alunos com deficiência em seus espaços. A escola precisa de mudanças nos aspectos didático-
pedagógico para que de fato os alunos sejam incluídos.
Alguns ambientes escolares têm uma característica cultural enraizada de crer que os
alunos com deficiência devem ter direito a entrar na escola, mas não são capazes de aprender
os conteúdos curriculares das aulas.
Toda criança tem direito a receber uma educação de qualidade e ter acesso aos
conhecimentos científicos independente de qualquer limitação que apresente. Nessa perspectiva
as atitudes das pessoas sem deficiência que devem mudar, são os espaços que devem se tornar
acessíveis, são as formas de comunicação e informação que devem ser plurais e diversificadas
para serem acessíveis a todos/as (FERREIRA, 2013, p. 83).
A concepção desta necessidade em todo sentido tem sido fundamental para as pessoas
que possuem deficiência auditiva, pois durante muitos anos estes foram tratados de forma
inadequada, ou seja, foram considerados até mesmo loucos por não conseguirem se comunicar
com os demais de forma verbal (COUTO, 1980). Deficiência auditiva, que também é conhecida
como hipoacúsia, é a incapacidade parcial ou total de audição. Pode ser de nascença ou causada
posteriormente por doenças.
No passado, costumava-se achar que a surdez era acompanhada por algum tipo de
déficit de inteligência. Entretanto, com a inclusão dos surdos no processo educativo,
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação familiar é a base de todo cidadão, a escola sozinha não faz milagres, até
porque ele permanece na escola apenas por quatro horas e as outras vinte horas do dia, são com
a família. Os pais precisam entender que o filho será amanhã, o que eles 'pais', fizerem hoje
por seus filhos. Muitas vezes a escola é responsabilizada, mas, não depende apenas dela a tarefa
de educar.
Para haver realmente parceria entre a família e a escola, é preciso que cada um saiba
exatamente quais as suas atribuições, ou seja, o que é responsabilidade da escola e o que é
responsabilidade da família. Nesta parceria é importantíssimo que a família "vista a camisa" da
escola escolhida para colocar seu filho e a partir daí caminhar junto sem ter atitudes adversárias,
como costuma ocorrer.
Outro aspecto a ser observado refere-se à relação que as duas professoras, titular e
intérprete precisam ter, os documentos entregues demostraram que havia uma relação muito
estreita entre ambas de forma que a ação de uma complementar a da outra e com isso o resultado
foi de muitas aprendizagens para a aluna surda atendida.
Outra reflexão é sobre as leis, são postas, contudo, a garantia da sua aplicabilidade cabe
às escolas e essas ações passam pela gestão, é muito importante que toda a equipe escolar esteja
alinhada em suas ações para que esse atendimento sempre ocorra de forma a oferecer realmente
uma educação inclusiva.
Por fim, com este trabalho sério e ético foi destacado que a relação entre a professora
titular e a intérprete de libras é essencial para o sucesso desse atendimento. Dessa forma, espera-
se, com este trabalho apresentar esses resultados, mas, também, contribuir, com aqueles que
vivenciam essa prática e querem melhorar o que fazem.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, C. A. Pais que educam – uma aventura inesquecível. São Paulo: Gente, 2005.
CARVALHO, R. E. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. 5. ed. Porto Alegre:
Mediação, 2007.
CURY, A. Pais brilhantes, professores fascinantes. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Sextante,
2003.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo: Moderna,
2003.
CAPÍTULO 10
PLURALISMO DIDÁTICO NAS AULAS DE CIÊNCIAS – AO ENCONTRO DE UM
AMBIENTE MOTIVACIONAL E FAVORÁVEL À APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA DOS ESTUDANTES
Fernanda Saccomori
Aruna Noal Correa
Maria Rosa Chitolina
RESUMO
Neste trabalho investigou-se a potencialidade de diferentes metodologias didáticas em aulas de ciências, tomando
como base a perspectiva da aprendizagem significativa. Partiu-se da emergente necessidade de superação do
modelo tradicional de aulas que deixam lacunas no atual processo de ensino-aprendizagem. Participaram deste
estudo, duas turmas do 7º ano de ensino fundamental de uma escola privada do município de Santa Maria – RS,
totalizando 44 alunos. Buscando avaliar qualitativamente o uso do pluralismo didático, foi utilizado três estratégias
diferenciadas em cada turma, comparando-as com aulas expositivas dialogadas. Para isso, questionários foram
aplicados aos discentes – antes e após 8 meses da intervenção, e uma avaliação realizada pelos alunos das
metodologias utilizadas no pluralismo didático. A análise das respostas coletadas nos questionários, indicam que
por meio de atividades diferenciadas, os estudantes conseguem assimilar melhor os conteúdos. Por meio de aulas
baseadas no pluralismo didático, é possível despertar maior interesse e motivação nos estudantes no ambiente
escolar e promover uma melhor aprendizagem dos conteúdos. Além disso, a aula expositiva dialogada também se
mostrou como uma estratégia importante, dependendo do grupo de alunos e do assunto abordado.
1 INTRODUÇÃO
Diante desses episódios, também é possível perceber que existe sobre a escola, um peso
muito grande, pois nessa relação da instituição de ensino com o meio social, a escola acabou
assumindo muitos compromissos e responsabilidades, de formar um cidadão e construir uma
sociedade melhor.
Apesar de todas as críticas que recaem sobre a escola e sobre a pedagogia tradicional,
esta foi a base da educação. Sem ela, a comunidade civil e escolar não teria se desenvolvido e
atingido outros patamares. Mas, se a sociedade evolui, as instituições também precisam evoluir
Essas e muitas outras críticas ao ensino tradicional referem-se à ação passiva do aluno
que constantemente é tratado como um simples ouvinte das informações que o docente
apresenta. Tais informações, frequentemente, não se relacionam aos conhecimentos prévios que
os estudantes construíram ao longo de sua vida (GUIMARÃES, 2009). Além disso, quando se
padroniza o comportamento dos alunos, esbarra-se numa perigosa simplificação, causando
assim desigualdades e ignorando a natureza particular de cada indivíduo, negligenciando
potenciais e habilidades criativas, o que provavelmente, acaba gerando desmotivação
(GUERRA, 2016).
Ainda nesta visão, o ensino de ciências, da mesma forma, tem sido marcado por uma
sistemática maquinal muito presente no cotidiano escolar, mostrando-se contrário a suas
grandes propostas: a inovação, a diversidade e o questionamento. Esses pressupostos, quando
não atendidos, fomentam a passividade do aluno, tornando-o um sujeito inerte no ambiente
escolar. (CAMPOS, 2013).
Portanto, concorda-se com Almeida e Guimarães (2017), que afirmam ser necessário
que no processo de ensino e aprendizagem, os conteúdos em sala de aula sejam abordados de
maneira diferente, escolhendo diferentes estratégias e recursos, que permitam maior
envolvimento dos alunos, maior motivação para os conteúdos estudados e consequentemente,
maiores oportunidades para a construção do conhecimento.
De acordo com Lustosa (2017), o termo pluralismo didático tem como base a concepção
de Paul Feyerabend (1977), que defende em seu livro “Contra o Método”, sobre a necessidade
de um pluralismo metodológico para o desenvolvimento do conhecimento científico. O filósofo
descreve que “[...] o único princípio que não inibe o progresso é o tudo vale”. De acordo com
o autor, todos os procedimentos têm sua importância na construção do conhecimento
(LUSTOSA, 2017).
Isso mostra-se importante, pois os alunos têm uma forma diferente de encarar a prática
educativa. Cada aluno vivencia a aula em função do seu humor, disponibilidade, interesse,
capacidade (assimilação, absorção, concentração), entre outros fatores. Assim, se o conteúdo
interessa ao aluno, este se esforça para que aquilo faça sentido e para que ele possa relacionar
essa aprendizagem com outros conteúdos. Do contrário, se não interessa para o estudante, a
atenção não é a mesma e a aprendizagem consequentemente é prejudicada. Isso pode gerar
aquela sensação de o professor falar repetidas vezes, mas não ensinar, e o aluno ouvir e não
aprender.
Todavia, essas duas formas de conhecer não são antagônicas. Em certas ocasiões é
necessário memorizar algumas informações que são armazenadas de maneira aleatória, sem se
relacionar com outras ideias existentes. Contudo, o processo de aprendizagem deve se estender
para além dessas ideias. Outras situações de ensino, assim como a interação com as demais
Acrescentado a isso, concorda-se com Laburú, Arruda e Nardi (2003), que argumentam
que todo processo de ensino-aprendizagem é muito difícil, variável no tempo e que envolve
múltiplos saberes, e, portanto, não é trivial. Ademais, é questionável uma ação educacional
baseada num único estilo didático, que só daria conta das necessidades de um tipo particular de
estudante(es), e não de outros.
Desta forma, neste trabalho, que faz parte de uma pesquisa desenvolvida em nível de
doutorado, optou-se pela pesquisa-ação como procedimento metodológico. Também, foi
adotado o pluralismo didático por conter estratégias diversificadas que relevam a
individualidade dos alunos, especialmente em suas diferenças e estilos quanto à forma de
aprender.
Esta pesquisa foi desenvolvida com alunos do 7º ano do ensino fundamental de uma
escola privada do município de Santa Maria (RS). As turmas participantes deste estudo foram
designadas turma 7A (23 alunos) e turma 7B (21 alunos) do turno da manhã da referida escola,
totalizando desta maneira, 44 alunos. A professora, responsável pelo componente curricular de
Ciências, e também pesquisadora e autora do presente artigo, propôs as diferentes atividades
analisadas neste trabalho.
Durante essas aulas, a coleta de dados foi realizada mediante: o registro no diário de
campo do professor de observações das aulas e das conversas informais com os alunos; registo
através de fotografias e filmagens durante as atividades; questionário aplicado aos discentes e
uma avaliação das metodologias utilizadas no pluralismo didático. O mesmo questionário foi
aplicado em dois momentos: antes das aulas, constituindo um pré-teste; e um pós-teste, após 8
meses da intervenção metodológica. Esse questionário, para avaliar o conhecimento dos
estudantes, consistia em perguntas abertas, sendo duas sobre o Sistema Cardiovascular e duas
A ideia era instigar os alunos quanto aos questionamentos trazidos nesses escritos,
como, por exemplo, se a porcentagem do cérebro ocupada no corpo humano e em outros
animais está relacionado com a inteligência, ou como o corpo humano reage diante de um
machucado. Para isso, os alunos realizaram a leitura e após houve um debate geral na sala de
aula sobre as informações trazidas no texto. Na sequência, os alunos foram orientados a se
dirigir à sala de informática, para tentar resolver as questões propostas. As dúvidas eram
sanadas durante a pesquisa.
Na semana seguinte, após essas aulas, os estudantes realizaram uma avaliação das aulas
em que se utilizara as atividades do Pluralismo didático. Essa avaliação constituía de 10
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Quanto aos conhecimentos prévios (pré-teste) e 8 meses após intervenção (pós-teste).
Para cada pergunta dos testes, gerou-se 2 tabelas (Turma 7A e Turma 7B), para melhor
visualizar os resultados.
Tabela 1A: Categorias de respostas da turma 7A e número de citações correspondentes a cada categoria.
Turma 7A
Pré-teste (21 Após 8 meses
Categoria de respostas
alunos) (23 alunos)
Controlar/Comandar o corpo 6 10
Realizar movimentos 6 8
Enviar informações 3 3
Relacionado aos Sentidos (dor/visão/sentimentos) 3 4
Ações voluntárias e involuntárias/reflexos 0 3
Avisar sobre percepções e tomar decisões 0 3
Controlar os batimentos cardíacos e bombeamento do sangue 0 3
Não souberam ou não responderam 5 0
Fonte: Dados da pesquisa (2023).
Tabela 1B: Categorias de respostas da turma 7B e número de citações correspondentes a cada categoria.
Turma 7B
Pré-teste (20 Após 8 meses
Categoria de respostas
alunos) (20 alunos)
Controlar/Comandar o corpo 4 8
Realizar movimentos 6 6
Enviar informações 6 4
Relacionado aos Sentidos (dor/visão/sentimentos) 0 7
Ações voluntárias e involuntárias/reflexos 0 1
Avisar sobre percepções e tomar decisões 0 0
Controlar os batimentos cardíacos e bombeamento do sangue 0 0
Não souberam ou não responderam 5 0
Fonte: Dados da pesquisa (2023).
Nesta primeira questão, é possível observar que mesmo após 8 meses, todos os alunos
apresentaram uma resposta, evidenciado na categoria “Não souberam ou não responderam”. No
pré-teste, 5 alunos da turma 7A e 5 alunos da turma 7B, não souberam descrever nenhuma
função ou importância do Sistema Nervoso. Já, após as aulas e mesmo do tempo decorrido do
pós-teste, não houve nenhuma resposta em branco ou que apontasse indecisão, mostrando que,
Todavia, aqueles alunos que trabalharam com metodologias diversificadas (turma 7A),
ou seja, o pluralismo didático, apresentaram respostas mais variadas e informações mais
elaboradas quando comparado com a turma que presenciou apenas aulas expositivas dialogadas
(turma 7B).
Questão 2: Como você imagina que o sistema nervoso se comunica com os outros
sistemas do corpo humano?
Tabela 2A: Categorias de respostas da turma 7A e número de citações correspondentes a cada categoria.
Turma 7A
Pré-teste (21 Após 8 meses
Categoria de respostas
alunos) (23 alunos)
Vasos sanguíneos 2 0
Medula 3 0
Nervos 4 9
Mensagens do cérebro 4 0
Neurônios 2 10
Sinais 0 0
Sinapses 0 9
Muito rapidamente 0 2
Não souberam ou não responderam 5 0
Fonte: Dados da pesquisa (2023).
Tabela 2B: Categorias de respostas da turma 7B e número de citações correspondentes a cada categoria.
Turma 7B
Pré-teste (20 Após 8 meses
Categoria de respostas
alunos) (20 alunos)
Vasos sanguíneos 1 0
Medula 2 7
Nervos 6 0
Mensagens do cérebro 1 0
Neurônios 2 8
Sinais 2 3
Sinapses 0 5
Muito rapidamente 0 0
Não souberam ou não responderam 5 0
Fonte: Dados da pesquisa (2023).
Mesmo sabendo que existem outras maneiras de comunicação do Sistema Nervoso com
os demais sistemas do corpo humano, observou-se que, após os 8 meses, os estudantes da turma
7A apresentaram respostas mais precisas e esperadas, ou seja, que o Sistema Nervoso utiliza
sinapses, através dos neurônios para comunicação entre as partes do organismo. Muitos,
também citaram que os nervos estão envolvidos no processo. Já, alguns estudantes da turma
7B, no pós-teste, responderam que a medula estaria envolvida nessa comunicação. Apesar dessa
resposta não estar errada, sabe-se que a medula tem funções mais específicas. Todavia, os
Tabela 3A: Categorias de respostas da turma 7A e número de citações correspondentes a cada categoria.
Turma 7A
Pré-teste (23 Após 8 meses
Categoria de respostas
alunos) (23 alunos)
Bombear o sangue 11 13
Distribuir o sangue 13 20
Batimentos do coração 0 3
Nos manter vivos 1 0
Transportar oxigênio/nutrientes 2 2
Não souberam ou não responderam 2 0
Fonte: Dados da pesquisa (2023).
Tabela 3B: Categorias de respostas da turma 7B e número de citações correspondentes a cada categoria.
Turma 7B
Pré-teste (20 Após 8 meses
Categoria de respostas
alunos) (20 alunos)
Bombear o sangue 10 13
Distribuir o sangue 10 15
Batimentos do coração 0 0
Nos manter vivos 5 4
Transportar oxigênio/nutrientes 1 7
Não souberam ou não responderam 2 0
Fonte: Dados da pesquisa (2023).
Quando se analisa esta questão, pode-se notar que, em ambas as turmas já existia um
conhecimento prévio do tema, porém bastante superficial. Após a intervenção didática, através
do pluralismo didático, a turma 7B expressou respostas com informações pertinentes. Após 8
meses, quase metade desses alunos lembravam que a função/importância do Sistema
Cardiovascular era transportar oxigênio/nutrientes para as células do corpo. Já a turma 7A, que
teve o conteúdo baseado em aula expositiva dialogada, não relacionou esta informação com a
pergunta em questão. Apenas dois alunos apresentaram essa resposta, o mesmo número do pré-
teste, indicando que provavelmente essa informação já estava assimilada em seu cognitivo.
Assim, as aulas expositivas dialogadas não foram tão decisivas na compreensão do tema quando
comparado com as aulas através do pluralismo didático.
Tabela 4B: Categorias de respostas da turma 7B e número de citações correspondentes a cada categoria.
Turma 7B
Pré-teste (20 Após 8 meses
Categoria de respostas
alunos) (20 alunos)
Desenharam um coração, mas não souberam identificar 18 6
Identificaram parcialmente as cavidades 0 6
Identificaram corretamente as cavidades 0 8
Não souberam ou não fizeram 2 0
Fonte: Dados da pesquisa (2023).
Novamente, nesta questão, a turma 7B, que participou das aulas através do pluralismo
didático, apresentou respostas mais satisfatórias no pós-teste quando comparado com a turma
7A. Isso fica claro quando se observa a categoria de respostas definida como “Identificaram
corretamente as cavidades”, em que 8 alunos da turma 7B encaixaram-se nesta categoria, contra
2 da turma 7A.
Além disso, as questões 1, 2, 7 e 9 por serem abertas, tiveram suas respostas agrupadas
em categorias. Assim, essas questões estão representadas no quadro 3. E as questões fechadas
são mostradas no quadro 4.
Contudo, quando se analisa a questão 1 (Quadro 3), percebe-se que muitos alunos não
lembravam do texto que fazia parte da primeira atividade com o Pluralismo Didático. Pode-se
inferir que, esta atividade (Leitura de texto – Problematização e Pesquisa na internet) é comum
Além disso, a forma com que estas metodologias foram apresentadas aos alunos, foi
compreendida por eles (questão 2 – Quadro 3), ficando claro que, quando são bem orientados,
o sucesso nas atividades é esperado.
Para Cunha e Almeida (2003) a relação que o professor estabelece com os seus alunos
é algo relevante, pois o professor não pode mais acreditar que o seu papel se resume a entrar na
sala de aula, ministrar o seu conteúdo e desconsiderar o contexto histórico-social dos alunos,
assim como as suas singularidades e afetividades. Considerar esses aspectos é preocupar-se em
estabelecer qualidade na relação professor-aluno (CUNHA; ALMEIDA, 2014; LABURÚ;
ARRUDA; NARDI, 2003).
Além disso, o pluralismo didático pode ser um caminho para proporcionar interesse nas
aulas, com maior motivação nos estudantes. Para Ausubel et al. (1980), o sujeito deve
manifestar uma disposição significativa para a aprendizagem, uma atitude ativa marcada pelos
fatores de atenção e motivação. Estes fatores é que levam o aluno ao esforço necessário para
que a aprendizagem significativa ocorra. Nessa situação, é primordial o papel do aluno,
enquanto o professor é o facilitador do processo.
Contudo, a diversificação das estratégias não é apenas para motivar, mas para estimular
várias habilidades necessárias à formação do cidadão, como, por exemplo, trabalhar em grupo,
saber argumentar, entre outras (CUNHA; ALMEIDA, 2014).
Guimarães (2009), salienta que quando se pretende inserir uma estratégia pedagógica
que fuja às práticas comuns, é necessário ficar atento ao desafio de aliar as metodologias
tradicionais às novas propostas de construir o conhecimento, caso contrário o trabalho pode
tender ao fracasso. Essa tendência só será percebida e combatida se o educador estiver aberto
às outras perspectivas de avaliar e não abandonar provas escritas, resolução de listas de
exercício, aulas expositivas, cobrar empenho dos educandos e promover reflexões sobre a
natureza do trabalho científico.
Isso pode ser verificado em um estudo conduzido por Guimarães (2009), utilizando o
pluralismo didático e aulas expositiva, onde constatou que, segundo os estudantes do ensino
médio, as aulas expositivas são fundamentais durante e após uma aula prática no laboratório de
química. Do contrário, sem esse tipo de aula (expositiva), “o conteúdo ficaria solto”, dando a
sensação aos aprendizes de que o conteúdo não tivesse sido trabalhado.
Todavia, Cunha e Almeida (2014) defendem que a aula expositiva dialogada não pode
ser predominante ou exclusiva, em detrimento de outras possibilidades de atividade didáticas.
O uso repetitivo de apenas um tipo de abordagem metodológica acaba gerando desinteresse dos
estudantes.
Ainda, os estudos de Carvalho e Silva (2018), sugeriram que o contexto plural de uma
sequência didática utilizada para trabalhar um conteúdo nas aulas de ciências do ensino
fundamental foi relevante e apropriado, permitindo aos autores o auxílio na contextualização
de conceitos científicos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com isso, conclui-se que o uso de diferentes atividades didáticas, incluindo a aula
expositiva dialogada, são estratégias que podem despertar o interesse dos alunos, atendendo a
individualidade de cada um e contribuindo para uma aprendizagem significativa.
Paralelo a isso, é preciso atentar-se aos vários fatores envolvidos que influenciam o
sucesso no processo de ensino-aprendizagem. Então, não se pode atribuir apenas à metodologia
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 11
ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA DO USO DO MÉTODO DA HISTÓRIA ORAL NA
BASE DE DADOS WEB OF SCIENCE 7
Gerson Flores-Gomes
Renata Faleiro Lopes
Lydio Roberto Silva
Liliane Martins Furtado Oliveira Lehtonen Souza
Luiz Eduardo Barros Machado
Samantha Stefani Lino Nobre de Oliveira
Valdomiro de Oliveira
Gislaine Cristina Vagetti
RESUMO
A história oral é uma valiosa ferramenta de pesquisa, resgatando narrativas veladas e promovendo uma visão
inclusiva da história. O objetivo deste estudo foi analisar o perfil da produção científica da história oral publicado
na base cientifica Web of Science. O método utilizado foi o da análise bibliométrica, com buscas na base de dados
Web of Science, com a string e descritores "história oral" OR "oral history". Foram encontrados 6.594 artigos
publicados de 1945 até 2023. Os EUA lideram como o maior produtor mundial de estudos sobre o tema, com a
língua inglesa predominante nas publicações. No Brasil, a Universidade de São Paulo é a principal instituição de
pesquisa, e o país é o 3º maior produtor de estudos sobre história oral, embora publique pouco em periódicos
nacionais. Autores como Dolores Delgado Bernal e Studs Terkel são os mais citados. Revistas e grupos de pesquisa
dedicados à história oral são ativos em nível nacional e internacional. Como conclusão, o método da história oral
segue os padrões exigidos pela ciência para condução de pesquisas, embora os desafios de interpretação e ética
devam ser constantemente avaliados pelos pesquisadores.
1 INTRODUÇÃO
A história oral é um método que também pode ser usada como ferramenta, que
possibilita a preservação e o estudo das experiências humanas por meio das vozes e memórias
das pessoas que as vivenciaram. Esse método de pesquisa e documentação tem se mostrado
essencial para capturar histórias, perspectivas e vivências que muitas vezes não são registradas
em documentos escritos tradicionais (PORTELLI, 2016). Neste texto, foi explorado o método
e as técnicas da história oral, destacando sua importância e os passos envolvidos em sua
execução.
7
O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - Brasil
Para Thompson (2002, p. 9), a história oral é “a interpretação da história e das mutáveis
sociedades e culturas através da escuta das pessoas e do registro de suas lembranças e
experiências”.
As fontes orais não estão disponíveis para pesquisa, não são encontradas, mas são
cocriadas pelo pesquisador e participante durante o processo. Neste caso, a entrevista pode ser
vista como uma experiência intencional e dinâmica, de estudo objetivo da subjetividade que
ocorre entre participante e pesquisador, sendo este um complexo caminho a ser percorrido.
Para Portelli (2016, p. 10), “o uso crítico das fontes orais requer abordagens e
procedimentos específicos, adequados à sua natureza e forma particulares”. Os procedimentos
necessários para o tratamento da informação, pelo ponto de vista da história oral, demanda de
ações específicas como a transcrição, ou registro literal do que é narrado; a transcriação, que
pode ocorrer na tradução de línguas ou na atualização de formas linguísticas entre as eras; a
O objetivo deste estudo foi analisar o perfil da produção científica da história oral
publicado na base cientifica Web of Science.
Nas próximas seis tabelas, uma visão abrangente da disseminação da produção científica
relacionada à temática da história oral é apresentada de forma detalhada. A Tabela 1 tem como
foco a organização da produção por país, considerando sua produtividade. Nesse panorama,
destaca-se inequivocamente os Estados Unidos (EUA), um líder incontestável em termos de
produção científica nesse campo. Sua presença robusta e abrangente evidencia o papel
preponderante que o país desempenha na pesquisa em história oral, refletindo não apenas a
quantidade, mas também a qualidade das contribuições.
No entanto, é relevante observar que a preeminência dos Estados Unidos não obscurece
a influência substancial de outros países nesse cenário acadêmico. Ao analisarmos a
proporcionalidade da produção em relação aos demais países, fica evidente que a representação
da produção científica sobre história oral é diversificada e multifacetada. Em terceiro lugar no
ranking de produtividade, encontramos o Brasil, uma nação que tem desempenhado um papel
ativo e relevante na expansão do conhecimento nesse campo.
Os grupos editoriais também têm origem nos países de língua inglesa, especialmente
nos EUA e Inglaterra, conforme demonstra a Tabela 2.
Tabela 2: Produtividade dos grupos editoriais - os 5 principais grupos editoriais, em ordem decrescente de
publicação.
Ordem Editoras País Publicações % Total
Nas publicações das afiliações de pesquisa (Tabela 3), o Brasil não aparece entre as
cinco mais produtivas, mas está em 11º lugar no ranking, com 55 publicações a partir da
Universidade de São Paulo, a única brasileira entre as 25 afiliações mais produtivas.
Outro fato importante é o de que o Brasil é o terceiro maior produtor de estudos sobre e
com o uso da metodologia da história oral, mas os periódicos brasileiros não figuraram entre os
5 (Tabela 4) e nem mesmo entre os 25 mais produtivos, o que infere que os pesquisadores
brasileiros têm preferido publicar em revistas internacionais.
2 Português 265 4%
3 Espanhol 126 2%
4 Russo 62 1%
5 Alemão 57 1%
Reino
The Peculiarities of Oral History Portelli, Alessandro 1981 188
Unido
A História Oral também tem sido reconhecida como uma ferramenta importante para a
salvaguarda do patrimônio cultural imaterial de diferentes comunidades, incluindo práticas,
tradições, músicas e histórias transmitidas oralmente.
Além destas temáticas, com o avanço das tecnologias, novas abordagens de pesquisa
em História Oral têm surgido, como a digitalização de arquivos, a disponibilização online de
entrevistas e o uso de ferramentas de análise de texto para estudar grandes conjuntos de dados
orais.
Ronald J. Grele: Grele foi um historiador e antropólogo americano, conhecido por sua
contribuição para a metodologia da história oral. Ele defendeu uma abordagem mais reflexiva
e crítica, destacando a importância da subjetividade e da relação entre entrevistador e
entrevistado. Seu trabalho influente inclui o livro ‘Envelopes of Sound: The Art of Oral History’
(GRELE, 1991).
Sherna Berger Gluck é uma historiadora e antropóloga americana que contribuiu para o
avanço da história oral feminista. Ela enfatiza a importância de capturar as vozes das mulheres
e explorar questões de gênero e poder. Seu livro ‘Women's Words: The Feminist Practice of
Oral History’ é uma obra relevante nesse contexto (GLUCK; PATAI, 2016).
Ecléa Bosi (1936-2017): Uma das pioneiras da História Oral no Brasil, Bosi foi uma
importante pesquisadora e autora de obras fundamentais sobre o assunto. Seu livro ‘Memória e
Sociedade: Lembranças de Velhos’ é um marco na área (BOSI, 1979).
Entre suas obras notáveis, encontramos 'História oral: desafios para o século XXI', uma
publicação de grande relevância que apresenta um panorama abrangente e perspicaz sobre a
história oral, elaborado por especialistas de diferentes países. Neste livro, os textos instigantes
O trabalho de Marieta de Moraes Ferreira tem sido uma referência essencial para a
compreensão do passado brasileiro, trazendo luz a aspectos importantes e por vezes
negligenciados da nossa história. Sua dedicação ao campo da História Oral tem contribuído
significativamente para a preservação da memória coletiva e para o fortalecimento das bases de
conhecimento histórico em nosso país.
José Carlos Sebe Bom Meihy: importante pesquisador e professor brasileiro que
trabalha extensivamente na área de História Oral. Contribuiu para a divulgação da metodologia
e técnicas de pesquisa em História Oral no Brasil. Uma de suas obras mais relevantes é ‘História
oral - Como fazer, como pensar’ (MEIHY; HOLANDA, 2015).
• Oral History Review - Publicada pela Oral History Association, dos Estados Unidos. Link:
https://oralhistory.org/publications/oral-history-review/
• The Oral History Journal - Revista da Oral History Society, no Reino Unido. Link:
https://www.ohs.org.uk/journal/
• Storia e problemi contemporanei - Revista italiana que também publica sobre História
Oral. Link: https://www.francoangeli.it/riviste/
• Memoria e Ricerca - Outra revista italiana com enfoque em Memória e Pesquisa. Link:
https://www.mulino.it/riviste/issn/1127-0195
• Grupo de Estudos em História Oral (GEHO) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS): Realiza pesquisas e atividades relacionadas à História Oral e suas metodologias.
• Oral History Association – OHA, Estados Unidos: Embora não seja exatamente um grupo
de pesquisa, a OHA é uma das principais organizações que promovem o estudo e a prática da
História Oral nos Estados Unidos. O site do grupo é https://oralhistory.org/.
• Oral History Society – OHS, Reino Unido: Organização que apoia e promove o uso da
História Oral no Reino Unido. O site é https://www.ohs.org.uk/.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste estudo foi analisar o perfil da produção científica da história oral
publicado na base cientifica Web of Science. Os resultados revelaram que desde 1945 foram
publicados 6594 estudos, com os EUA liderando como o maior produtor mundial de estudos
sobre a história oral, sendo a língua inglesa o principal idioma das publicações. Os principais
grupos editoriais sobre o tema estão localizados nos EUA e Inglaterra.
É importante mencionar que o estudo apresenta algumas limitações, pois a busca dos
artigos foi realizada na base Web of Science, escolhida por ser ampla e antiga, mas poderiam
ter sido consultadas outras bases relevantes para ampliar o mapeamento. Além disso, muitos
periódicos ainda não se encontram indexados. Mesmo assim, a pesquisa esclarece questões
importantes sobre a produção científica e o estado da arte no campo da história oral.
REFERÊNCIAS
ARIA, M.; CUCCURULLO, C. Package bibliometrix: Comprehensive Science Mapping
Analysis. Bibliometrix. [S.l.], p. 1-67. 2021. Disponível em: https://cran.r-
project.org/web/packages/bibliometrix/bibliometrix.pdf Acessado em: Set. 2022.
GLUCK, S. B.; PATAI, D. Women's Words: The Feminist Practice of Oral History. 1ª. ed.
London: Routledge, 2016. p. 246. ISBN 978-1138147614.
GRELE, R. J. Envelopes of Sound: The Art of Oral History. 2ª. ed. Chicago: Praeger, 1991. p.
312. ISBN 9780313390180.
MEIHY, J. C. S. B.; HOLANDA, F. História Oral: como fazer, como pensar. 2ª. ed. São Paulo:
Contexto, v. 4ª reimpressão, 2015. p. 176. ISBN 978-85-7244-376-0.
TERKEL, S. The Good War: An Oral History of World War II. [S.l.]: New Press, 2004. p.
589. ISBN 978-1565843431.
CAPÍTULO 12
VISÃO DISCENTE SOBRE A QUÍMICA E INFLUÊNCIAS DA BNCC NESSA
VISÃO 8
RESUMO
Uma característica central no processo de aprendizagem da Química é a visão que o aluno tem desta disciplina, já
que o mesmo pode considerá-la bastante difícil. Desta forma, caso a dificuldade se apresente de forma exagerada
pelo aluno, o mesmo pode criar barreiras que dificultarão ainda mais a compreensão dos conteúdos. Portanto, é
totalmente factível que seja investigada a visão que os alunos têm da Química, entendendo como essa visão vai se
modificando, ano a ano. Ao mesmo tempo, tem-se alguns documentos educacionais que trazem orientações
pedagógicas a fim de tornar esta disciplina mais didática e atrativa, facilitando os estudos da Química para os
estudantes. Dentre esses documentos, pode-se destacar a BNCC, que é um documento recente e que traz diretrizes
que possibilitam uma abordagem dos assuntos relacionados à Química de forma investigativa e contextualizada.
O presente artigo visa apresentar tais possibilidades e como as mesmas interferem na visão da Química.
1 INTRODUÇÃO
8
Apoio Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Av. Alberto Lamego, 2000, Campos dos
Goytacazes, RJ) pela oportunidade de realização deste trabalho.
A BNCC tem sido pauta de debates intensos. De um lado, defensores da base que
reconhecem avanços na proposta; de outro, críticos do processo de elaboração,
implementação e do conteúdo da Base, conforme será apresentado em seção sobre a
BNCC. O fato é que, uma vez aprovada e homologada, os Estados e Municípios
passarão a ter que adequar à Base os currículos de todas as escolas até 2023 (SILVA;
BORGES, 2020, p. 101).
Ou seja, é um documento influente e importante, o que justifica a escolha do mesmo
para esta pesquisa.
A partir dessas indagações, pode-se estudar a visão dos alunos, ano a ano, e se questionar
se essas potencialidades da BNCC (análise investigativa ativa e contextualização) podem
interferir na visão que o discente tem da Química, sendo os resultados apresentados neste artigo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
3 METODOLOGIA
Conhecendo a Química
2- Você consegue perceber a aplicação da Química no mundo (da poluição das fábricas à energia limpa)?
4- A sua visão da Química melhorou, se manteve igual ou piorou com o tempo de estudo da disciplina?
( ) melhorou ( ) piorou ( ) se manteve igual ( ) não sei ( ) não estudei conceitos de Química
Experiência pessoal
( ) sim, em outra instituição ( ) não ( ) sim, na minha escola ( ) sim, na minha escola e em outra
instituição
6- Você acha que se tivesse um laboratório na sua escola, onde você faria experiências, seu interesse pela
Química aumentaria?
7- Para você, o uso de experimentos químicos ajudaria a tornar a sua visão da disciplina da Química melhor?
Contextualização
8- Se você conseguisse perceber a aplicação da Química (desde o automóvel até seu aparelho celular) e se você
conseguisse identificar a Química no mundo (nos poluentes, na agricultura, nos automóveis, na sua casa etc)
você acha que seu interesse pela Química aumentaria?
Já o tipo de estudo deste texto, de acordo com Gunther (2006, p. 201-210), há alguns
critérios para que uma pesquisa se enquadre no âmbito quantitativo ou qualitativo. Dentro do
que foi apresentado em seu artigo, pode-se afirmar que a pesquisa deste artigo se encaixa no
estudo qualitativo, portanto.
4 RESULTADOS
Conforme pode-se ver na Tabela 1, há percentuais altos com relação à resposta “sim”,
podendo, portanto, ter segurança de que o questionário pode ser aplicado às turmas.
Cabe uma ressalva à resposta do 9º ano do Ensino Fundamental: esses alunos apenas
tiveram contato com a disciplina de Ciências. Entretanto, há conteúdos de Química no Ensino
Fundamental 9 e o objetivo foi constatar se esses discentes reconheceram se já estudaram
conceitos de Química, o que a maioria apresentou uma afirmativa de “sim”.
9
Tanto a BNCC do Ensino Fundamental (BRASIL, BNCC, 2017) quanto os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) (BRASIL, PCN, 1998) apresentam conceitos de Química no Ensino Fundamental, o que justifica a
aplicação do questionário desde o 9º ano
Pode-se ver que a maioria dos alunos consegue perceber a Química no mundo, sendo
que esse percentual vai crescendo (com exceção do 1º ano do Ensino Fundamental) até atingir
100,0% no 3º ano.
Para Gilbert (2006), contextualizar tem sido uma alternativa que visa tornar o
currículo articulado às vivências dos estudantes, tratando os conhecimentos
científicos não como fatos isolados, mas como ferramentas cognitivas para pensar e
agir sobre o mundo natural e social. Mais especificamente, Gilbert explica que um
contexto deve fornecer um significado estrutural coerente para algo novo, definido
em uma perspectiva mais ampla. Quando isso ocorre no ensino de Química, são
favorecidas circunstâncias em que os estudantes atribuem significado à aprendizagem
deste campo disciplinar e podem reconhecer sua relevância em algum aspecto de suas
vidas. (OLIVEIRA et al., 2020, p. 2).
Ou seja, pelo menos com relação aos resultados obtidos para a pergunta 2, afirma-se
que os discentes estão conseguindo apreender significados ao que estudam, o que é uma
característica boa.
A pergunta 3 é uma das mais importantes, pois questiona a visão da Química que o aluno
tem. Os resultados obtidos estão na próxima tabela:
É verificável que 92% dos alunos do 9º não visitaram um laboratório. Isso é razoável,
já que esses alunos não tinham a “Química” em seus currículos.
Em todas as turmas podem-se ver altos percentuais nas respostas “sim”, o que indica
que os alunos não só almejam contato com a Química experimental como afirmam que esse
contato aumentaria o interesse deles pela Química.
Contudo, ainda há pouca utilização dessa estratégia segundo afirmação de Lisbôa (2015,
p. 202) “Apesar de todos os esforços, a experimentação nas aulas de ciências e de química ainda
é muito mais rara do que o desejável. Em visitas a escolas, contatos com professores e consultas
a alunos concluintes do ensino médio, é possível verificar tal fato. [...]”
Pode-se ver que os maiores percentuais para o 9º ano e para o 1º ano não são uma
resposta afirmativa. Isso pode indicar que esses alunos não tiveram grande contato com a
contextualização, já que tiveram pouco contato com a Química até aquele momento. Ou seja,
esses alunos ainda não conseguem visualizar a Química no mundo, pois conhecem poucos
fenômenos químicos aplicados. Isso contrasta com a pergunta 2, onde foram obtidos
percentuais altos sobre a contextualização. Portanto, pode-se inferir que os alunos ou não
conhecem a contextualização, respondendo a pergunta 2 de forma desatenta, ou que mesmo
com a contextualização a visão deles da Química não vai mudar.
No entanto, para os alunos do 2º ano e 3º ano do Ensino Médio, já tendo estudado mais
conteúdos de Química, estando mais preparados para visualizar a presença da Química na
natureza, acreditam que a contextualização pode aumentar o interesse pela Química, o que
corrobora essa potencialidade apresentada na BNCC, podendo, inclusive, alterar a visão que o
aluno tem da Química.
Alguns alunos marcaram mais de uma opção para uma mesma pergunta ou não
responderam alguma. Portanto, suas respostas àquela pergunta não foram contabilizadas nos
cálculos das porcentagens. Apresentam-se, neste tópico, esses detalhes:
• Ainda para o 2º ano, na pergunta 8, dois alunos não a responderam. O quantitativo foi de 9
alunos.
5 CONCLUSÃO
A partir dos resultados da pesquisa, pode-se concluir que a visão da Química obteve
uma melhora do 9º para o 1º ano; caiu ao ir para o 2º ano e subiu para o 3º ano. Especificamente,
para os alunos do 9º do Ensino Fundamental, que estão quase entrando no Ensino Médio,
somente 40% dos alunos tinham uma visão boa da Química, que pode indicar que os conceitos
de Química estudados na disciplina de Ciências não levaram a maioria da turma a ter uma boa
visão da Química. Para os alunos do 3º ano do Ensino Médio, foi uma surpresa encontrar 61,6%
dos alunos com uma visão boa da Química, o que é um resultado bem favorável.
Com relação à mudança na visão da matéria, foi possível constatar altos percentuais de
permanência da visão, o que infere que os métodos de ensino não estão contribuindo nem pra
melhorar nem pra piorar a visão da Química.
Para as perguntas 5 e 6, foi possível ver que os alunos querem mais contato com a
Química experimental e que acreditam que esse contato ajudaria a aumentar o interesse pela
disciplina em questão.
REFERÊNCIAS
BORGES, R.; COLOMBO, K.; Abordagem teórico-experimental entre Química e Matemática
utilizando práticas laboratoriais. Química Nova na Escola. São Paulo, v. 42, no 2, p. 112-120,
maio, 2020. http://dx.doi.org/10.21577/0104-8899.20160195. Disponível em:
CAPÍTULO 13
RELATO DE EXPERIÊNCIA:
DESVENDANDO OS MISTÉRIOS DOS ÁLCOOIS NAS TRANSFORMAÇÕES DAS
FUNÇÕES ORGÂNICAS OXIGENADAS
RESUMO
Este trabalho relata a experiência sobre transformações das funções orgânicas oxigenadas nos álcoois realizada
durante o estágio curricular supervisionado do curso de licenciatura em química. Foi realizada uma intervenção
pedagógica utilizando a abordagem dos Três Momentos Pedagógicos em uma escola pública em Itumbiara – GO,
envolvendo 15 alunos do terceiro ano do Ensino Médio. O conteúdo explorado foi a química orgânica,
especificamente sobre função orgânica oxigenada – álcool, buscando tornar os conceitos significativos em relação
aos conteúdos e à vida cotidiana dos estudantes. Como problematização, foi abordado o caso de contaminação na
cervejaria Backer. A prática por meio dessa abordagem pedagógica contribuiu significativamente para interação
entre professor, aluno e conteúdo, facilitando a assimilação dos conteúdos no estudo da química orgânica.
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Souza (2020), o grande desafio para os alunos do ensino médio na
matéria de química orgânica não é somente sobre o átomo de carbono, mas também sobre os
conceitos associados a ele, seu comportamento físico-químico, suas propriedades, suas formas
de obtenção, identificação, além das suas interações químicas. Para Solomons e Fryhle (2012),
grande parte da química orgânica é intuitiva e pode ser generalizada se os estudantes dominam
e aplicam os conceitos a partir da compreensão dos aspectos químicos das substâncias que estão
presentes no dia a dia. Dessa forma, é observado que a memorização não é necessária para a
compreensão de química orgânica.
No início de 2020, ao menos 29 pessoas foram contaminadas por uma substância tóxica
presente em dois lotes da cerveja artesanal Belo Horizontina, um dos rótulos da cervejaria
mineira Backer, 10 pessoas vieram a óbito. A substância dietilenoglicol (DEG), é utilizada na
indústria por ser um anticongelante, que ao se misturar com a água, impedi o seu congelamento,
o que possibilita sua utilização em equipamentos onde a temperatura pode chegar até -10ºC.
Esta solução não entra em contato direto com o alimento ou a bebida, ela passa em volta dos
tanques ou em serpentinas. No caso da Backer, houve um vazamento nessa tubulação e o
dietilenoglicol se misturou na cerveja causando as contaminações. O dietilenoglicol é um
líquido incolor de sabor adocicado, é formado por duas moléculas de etilenoglicol (SALES,
2021).
2 METODOLOGIA
Organização do conhecimento:
• Aula expositiva;
• Conteúdos: Funções orgânicas oxigenadas – Álcool, classificação,
nomenclatura, forças intermoleculares, pontos de fusão e ebulição,
2° Momento
estado de agregação, densidade, solubilidade, propriedades
organolépticas e reatividade;
• Aula prática: Síntese de etanol, solubilidade de diferentes álcoois e
determinação do teor de álcool na gasolina.
Aplicação do conhecimento:
3°
• Lista de exercícios com 6 questões resolvidas em grupo.
Momento
Fonte: Autoria própria (2023).
A aula foi iniciada após a chegada dos alunos ao laboratório de ciências da natureza,
onde foram recepcionados e apresentados os objetivos da aula sobre álcoois como parte exigida
da disciplina de estágio curricular obrigatório supervisionado II. Em seguida, iniciou-se a aula
com uma problematização inicial para introduzir o tema de álcoois, sendo apresentado
manchetes de jornais sobre o caso Backer das cervejas contaminadas com dietilenoglicol
(Figura 1).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após as perguntas iniciais, foi apresentado um resumo sobre o caso na cervejaria Backer
e uma breve explicação sobre o composto dietilenoglicol e no decorrer da aula ele foi
relacionado aos conteúdos desenvolvidos.
Cada tópico foi trabalhado seguindo a ordem cronológica apresentada pela autora
Fonseca (2010) em um de seus livros para o ensino médio.
Alguns alunos foram bem participativos e respondiam as perguntas que eram feitas a
respeito da nomenclatura dos álcoois seguindo os exemplos que estavam presentes nos slides,
como por exemplo a quantidade de carbonos, quantas ramificações, posição do grupo hidroxila.
Porém a maioria dos alunos manteve uma postura mais passiva, apenas observando as
explicações.
Um aluno fez a seguinte pergunta referente a nomenclatura não oficial:
“O porquê do ico?” (PARTICIPANTE 1, 2023, Informação escrita concedida em
18/05/2023).
Ao que foi respondido, o termo ico é como se fosse um apelido que identifica essas
substâncias, e que a nomenclatura não oficial segue o seguinte esquema: Álcool + nome do
substituinte ou seja nome do radical em que a hidroxila está ligada + o termo ico.
“Por que a estrutura do dietilenoglicol apresenta quatro carbonos, porém nas suas
extremidades há 2 grupos de hidroxilas. O tornando solúvel em água por prevalecer a parte
polar”. (PARTICIPANTE 2, 2023, informação escrita concedida em 19/05/2023).
A maior interação dos alunos foi durante a aplicação das práticas, principalmente no
primeiro dia. A entrega da lista de exercícios ocorreu no segundo dia, durante a resolução,
alguns alunos discutiam entre si para resolver as questões apresentadas, entretanto, não
formaram grandes grupos, se organizando da forma como achavam melhor e com os colegas
que tinham maior proximidade. Não foram verbalizadas dúvidas quanto as questões
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
MCMURRY, J; Química Orgânica – 7. ed. – São Paulo: Cengage Learning, 2011. p. 547. ISBN
978-85-221-1015-5
PARTICIPANTE 1. Pergunta sobre a nomenclatura não oficial dos álcoois. Arquivo pessoal.
Itumbiara-Go, 2023.
CAPÍTULO 14
CONTRIBUIÇÕES DE ESTRATÉGIAS LÚDICAS DIDÁTICAS NO PROCESSO DE
ALFABETIZAÇÃO INFANTIL
RESUMO
Este estudo destaca a importância fundamental do emprego de recursos lúdicos pedagógicos na educação infantil,
integrando jogos, brinquedos e brincadeiras ao ensino convencional nas instituições educacionais. Tais recursos
desempenham um papel crucial no processo de formação e desenvolvimento dos alunos, estimulando a curiosidade
e promovendo o desejo pelo aprendizado de maneira descontraída. O trabalho tem como objetivo apresentar
considerações a partir da revisão de literatura e análise documental, sobre a contribuição de recursos lúdicos
pedagógicos durante o processo de alfabetização. O estudo foi fundamentado por uma pesquisa de cunho
qualitativo, embasado por revisões teóricas de autores relevantes para o tema, além de refletir sobre o envolvimento
da comunidade escolar e a importância do trabalho em equipe no ambiente educativo. O estudo utiliza a prova do
Programa de Avaliação da Alfabetização e indicadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira, como instrumentos comparativos de análise, nas escolas municipais do município de Três
Corações - MG. A partir dos dados dos indicadores avaliativos, é possível demonstrar o nível de aprendizado
adquirido pelos alunos ao longo do período letivo, nos anos de 2018, 2019 e 2020. O estudo reforça que os
resultados positivos dos indicadores podem derivar das estratégias lúdicas desenvolvidas pelos docentes em sala
de aula. Portanto, a ludicidade é essencial para o desenvolvimento da alfabetização infantil.
1 INTRODUÇÃO
Por isso, essa discussão se torna relevante, ao demonstrar que os recursos lúdicos são
estratégias eficazes da criança aprender e brincar ao mesmo tempo, o que pode facilitar o seu
desenvolvimento intelectual. A seleção crítica e o planejamento de estratégias para utilizar em
sala de aula, pode evidenciar a personalização do ensino e aprendizagem. Isto é, podem
transformar o processo de aprendizado em uma atividade divertida e envolvente, identificar
dificuldades e facilidades individuais nas crianças, podendo diversificar os recursos, para que
alcance a todos os estudantes. Ao criar um ambiente estimulante, promove-se um espaço
propício para que os alunos se sintam inspirados a participar ativamente do processo
educacional. Nessa perspectiva, o professor tem um papel extremante significativo na formação
de indivíduos críticos e capazes de tomar decisões. As aulas que integram tais elementos
recreativos também conferem ao educador a oportunidade de conduzir uma avaliação
diagnóstica dos alunos, bem como de avaliar a sua própria conduta profissional.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme Vygotsky (1984, p. 117), é neste ponto que a criança "[...] sempre se
comporta além do comportamento habitual de sua idade, além do seu comportamento diário:
no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade [...]." O autor enfatiza que o
brinquedo desempenha um papel crucial no estímulo das necessidades e da consciência em
constante evolução. Ao explorar a esfera imaginativa e criar cenários mentais, o brinquedo
possibilita a expressão de intenções voluntárias, a elaboração de planos para situações da vida
real e a promoção de motivações internas. Dessa maneira, o brinquedo emerge como uma
ferramenta essencial no desenvolvimento pré-escolar, atingindo o ápice desse processo.
Almeida (1993) concebe o lúdico como uma parte essencial da dinâmica humana. Como
é sabido, a atividade de "brincar" remonta a tempos antigos, Borin (1996) aborda a integração
do lúdico à educação, tema de grande importância em sua perspectiva. A autora argumenta que,
ao aprender brincando, as crianças não apenas adquirem conhecimento, mas também
Vasconcelos (2008), recorda da sutil fronteira entre atividades lúdicas e não lúdicas.
Seguindo a perspectiva da autora, reconhece-se a relevância do papel do professor nesse
contexto. Ao observar quais recursos engajaram mais os alunos, o docente pode optar por repetir
seu uso, reduzindo a utilização daqueles que não despertaram tanto interesse nas crianças. Isso
destaca a responsabilidade do educador na escolha de métodos que estimulem efetivamente o
aprendizado através do lúdico. Rau (2011) destaca a ludicidade não apenas como uma prática,
mas como uma atitude pedagógica. Ele afirma que o educador que compreende e aplica essa
abordagem contribuirá significativamente para a construção do conhecimento dos alunos, um
aprendizado que os acompanhará ao longo de suas vidas.
Diante do exposto, os recursos lúdicos na educação infantil são muito válidos e eficazes
no desenvolvimento crítico da criança. A utilização dessa abordagem de ensino sempre que
possível oferece às crianças a oportunidade de aprender de maneira divertida. Muitas,
brincadeiras, como os jogos, são projetados para aprimorar a memorização, utilizando
abordagens visuais que tornam o aprendizado mais acessível. Pode-se ressaltar ainda, que as
crianças possuem estilos de aprendizado distintos. Cada criança tem seu próprio estilo de
aprendizado; algumas absorvem melhor as informações de maneira visual, enquanto outras
Esses números indicam um envolvimento significativo dos alunos nas provas de Língua
Portuguesa em ambas as instituições em 2020. Os dados apontam não apenas para a
participação expressiva, mas também para uma tendência positiva no desempenho. Essa prova
revela o engajamento e os resultados nas avaliações. Isso se torna pertinente para diagnosticar
a alfabetização dos alunos e verificar se as estratégias de ensino estão sendo eficazes para a
aprendizagem.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do estudo realizado, torna-se evidente que o uso de recursos lúdicos pedagógicos
desempenha um papel crucial no desenvolvimento infantil. Quando aplicados de maneira
adequada e contextualizada, esses recursos emergem como ferramentas significativas para
facilitar a aprendizagem. Além disso, destaca-se a necessidade do envolvimento de toda a
"comunidade didática" para garantir que o aluno se engaje ativamente em seu processo de
aprendizado e compreenda verdadeiramente o conteúdo abordado. Essa abordagem integrada,
que envolve professores, pais e demais membros da comunidade educacional, contribui para
um ambiente mais enriquecedor e propício ao desenvolvimento integral das crianças.
Apesar da familiaridade com o tema, espera-se que este trabalho amplie a visão de
docentes que talvez não adotem ou subutilizem recursos lúdicos pedagógicos. Por fim, a
pesquisa reforçou a ideia de que o uso adequado de recursos lúdicos na pedagogia vai além do
compartilhamento de conhecimento, promovendo interação, sociabilidade, respeito ao próximo
e contribuindo para o desenvolvimento integral das crianças. A parceria efetiva entre escola e
comunidade também é fundamental para proporcionar um ambiente de aprendizado mais
completo às crianças. Acredita-se que ensinar de maneira divertida e descontraída, utilizando
uma variedade de recursos lúdicos pedagógicos, torna a missão educacional mais leve e
prazerosa para todos os envolvidos.
REFERÊNCIAS
HUIZINGA, J. O jogo como elemento de cultura. Trad. João Paulo Monteiro. São Paulo:
Perspectiva, 2012.
OLIVEIRA, Z. M. R. de. (org.). Educação Infantil: muitos olhares. 9. Ed. São Paulo: Cortez,
2010.
CAPÍTULO 15
OS ITINERÁRIOS FORMATIVOS PROFISSIONALIZANTES COMO
QUALIFICAÇÃO PARA O MERCADO DE TRABALHO:
DESAFIOS E REFLEXÕES
RESUMO
Esse texto compreende uma experiência de trabalho desenvolvida na Escola Estadual Waldemir Barros da Silva,
localizada na periferia sul do município e Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, nos anos de
2022 e 2023. A referida instituição é uma escola integral de educação integral desde 2016, que atende o Ensino
Médio, sendo, portanto, uma escola piloto no que tange a implementação – e as constantes mudanças – do Novo
Ensino Médio (BRASIL, 2017). A pesquisa tem como objetivo demonstrar que os Itinerários Formativos
Profissionalizantes são instrumentos de qualificação para os estudantes adentrarem ao mercado de trabalho, sendo
uma via introdutória para o currículo do jovem. Nesse sentido, e pautando-se nas experiências da unidade escolar
oriundas do savoir-faire disposto, os resultados e discussões apresentam uma sinopse que parte para uma
conjuntura reflexiva que busca evidenciar os aspectos positivos e negativos das mudanças, tanto do Novo Ensino
Médio (BRASIL, 2017) quanto aos Itinerários Formativos Profissionalizantes que estão em voga no estado de
Mato Grosso do Sul. As considerações finais ressalvam a importância da aprendizagem (alfabetização digital)
tecnológica e computacional que o jovem desenvolve ao longo do ensino médio como pressuposto qualificativo
para a entrada no mercado de trabalho, podendo ou não, continuar seus estudos (nível superior) na área. Todavia,
o aprendido, contribui sobremaneira para a vida profissional e pessoal, por estar-se em um mundo informacional.
1 INTRODUÇÃO
A pesquisa teve como lócus a Escola Estadual Waldemir Barros da Silva, uma escola
integral de tempo integral desde 2016 (DEMO, 2007b; SANTOS, 2021b) e que vem sendo
(Estado de Mato Grosso do Sul) parte do projeto piloto em suas várias mudanças curriculares
ao longo dos últimos anos. Como período de análise, têm-se os anos de 2022 e 2023.
2 METODOLOGIA
10
Essa conjuntura compreende o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável - ODS 4 (Educação de Qualidade),
sub item 4.4 , que tem como meta: “Até 2030, aumentar substancialmente o número de jovens e adultos que
tenham habilidades relevantes, inclusive competências técnicas e profissionais, para emprego, trabalho decente e
empreendedorismo” (BRASIL, 2023b, n.p.).
11
Deste ponto em diante, IF será utilizado para expressar Itinerários Formativos (neste caso, Profissional).
Os IFs Profissionais compreendem uma matriz de 10 aulas semanais 12, cabendo a cada
unidade escolar a oferta de cursos devidamente autorizados pela Secretaria de Estado de
Educação – SED/MS, bem como a montagem dos horários de aula. São nessas aulas que
ocorrem as dinâmicas interativas que dão embasamento ao texto.
Em 2023, 4 turmas foram formadas tendo-se os mesmos cursos, com a inserção de mais
1 turma (Assistente de Aplicativos Computacionais e Sistemas para Internet), totalizando-se
assim 5 turmas de qualificações dos IFs.
É crucial informar que a escolha e o cursar dos IF profissionais não carecem de uma
sequência, tampouco de obrigatoriedade de escolha por parte do estudante. Assim, por exemplo,
um jovem que esteja no 1º ano do Ensino Médio de uma mesma escola pode cursar em 2023
um IF Profissional (Técnico para Internet) escolhendo uma qualificação, no ano seguinte mudar
sua opção de escolha para o Propedêutico (Linguagens, por exemplo) e em 2025, voltar a cursar
outra qualificação do mesmo curso ou de outro do IF Profissional.
Se optar por permanecer nesses IFs ao longo dos três anos do Ensino Médio, também
não há uma regra em qual qualificação iniciar, cabendo à orientação (Coordenador Técnico)
para que permaneça cursando as qualificações do mesmo IF a fim de obter uma sequência
cronológica e complementar de conhecimentos que o subsidiarão tecnologicamente, ademais
12
Disposta em três Unidades Curriculares – UCs: UC I com 4 aulas, UC II também com 4 aulas e a UC III
contemplando 2 aulas, totalizando 10 aulas semanais de Aprofundamento nessa área de conhecimento.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Analisando-se o Novo Ensino Médio (BRASIL, 2017), as mudanças acerca dos IFs
Profissionais impactaram negativamente no desenvolvimento verticalizado dessa modalidade
tecnológica, à medida que mesclar jovens iniciantes com outros veteranos (2º e
fundamentalmente 3º anos), acaba-se por nivelar por baixo, prejudicando avanços mais
contundentes daqueles que optaram por cursar esses IFs e tiveram uma sequência lógica de
conhecimentos.
13
É mister ressalvar que a escola oferta a Educação Profissional desde 2008, passando, dessa forma, por uma série
de modificações oriundas das normativas federais (Ministério da Educação – MEC) e estaduais.
Sabendo-se que a maioria dos jovens da escola é de baixa renda e muitos são analfabetos
digitais, possibilitar-lhes então fundamentos tecnológicos incide na quebra do paradigma de
que esses cursos (IFs Profissionais) são voltados para mão de obra básica, alijando-os da
possibilidade de adentrarem as Universidades Públicas. Trata-se de uma falácia, pois se bem
qualificado e empregado, ter-se-á mais possibilidades de adentrar a Educação Superior. Assim,
conforme Ana Inoue
É preciso que haja uma oferta ampla de ensino técnico e profissionalizante. Segundo
ela, atualmente, muitos jovens em idade produtiva buscam dinheiro em atividades
extremamente precárias que, sequer, chegam a ser catalogadas como trabalho nos
dados oficiais (BRASIL, 2023c, n.p.).
Nessa mesma linha de raciocínio tem-se o altíssimo índice de desemprego e as
dificuldades para inserir trabalhadores nada qualificados no mercado de trabalho: “Quanto mais
técnica, quanto mais escolaridade, mais demorado é o preenchimento. Já tivemos vagas que
chegaram a ficar meses abertas” (G1, 2022, n.p.), afirmou gerente de Qualificação Profissional
da Prefeitura de Araraquara, Flávia de Jesus Andrada.
Outro equívoco se refere aos trabalhadores (Professores) que atuam nesses cursos
(Graduação em Bacharelado na área de Tecnologia), que não têm Licenciatura. Há na mídia
popular e sindical que não deveriam atuar na educação, ocorre que, como então seriam os
docentes dessa modalidade? Ou, essa modalidade então não deve fazer parte da educação
14
Tratava-se do Ensino Médio Integrado, uma modalidade que não mesclava estudantes de turmas diferentes,
compreendendo os mesmos estudantes de uma classe.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diretrizes do Novo Ensino Médio compreendem uma vertente ampla que busca sanar
parte dos problemas da educação básica, fundamentalmente, propiciando uma formação
mínima para que o jovem, ao concluir essa etapa, possa adentrar ao mercado de trabalho – cada
vez mais informacional –, garantindo emprego e renda dignos para que possam ser a ponte para
o prosseguimento dos estudos, mormente o ensino superior.
REFERÊNCIAS
DEMO, P. Educar pela pesquisa. Campinas: Autores Associados, 2007. 8. ed. (Coleção
Educação Contemporânea).
G1. PATs anunciam empregos, mas empresas nunca te chamam? Veja por que vagas não
são preenchidas e dicas para ser contratado. 2022. Por Fabiana Assis. Disponível em:
https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2022/05/25/pats-anunciam-empregos-mas-
empresas-nunca-te-chamam-veja-porque-vagas-nao-sao-preenchidas-e-dicas-para-ser-
contratado.ghtml. Acessado em: Jul. 2023.
MINAS GERAIS. CONEXÃO PUC MINAS. Vamos falar sobre o impacto da tecnologia e
as tendências no mercado de trabalho? 2022. Disponível em:
https://conexao.pucminas.br/blog/carreira/impacto-da-tecnologia-e-as-tendencias-no-mercado-
de-trabalho/. Acessado em: Jul. 2023.
SANTOS, R. F. dos. Análise dos Componentes Curriculares da Base Diversificada nas Escolas
Integrais em Mato Grosso Do Sul: Avanços e Reflexões. In: GUILHERME, W. D.;
CAPÍTULO 16
REFLEXÃO SOBRE A UTILIZAÇÃO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA 15
RESUMO
A relação da música com o homem começou desde os primórdios, em sua rotina, através dos sons da natureza e
do corpo humano, estando presente em todos os momentos. Assim, a música é considerada um importante
instrumento para a sociedade, devido às funções que ela exerce, em destaque para a educação (desde o ensino
infantil ao superior), ajudando os estudantes a realizar suas tarefas escolares. Esta pesquisa teve como objetivo
compreender como a música e a sua letra podem ser utilizadas como ferramentas no processo de ensino-
aprendizagem dos estudantes da 1ª Série do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Informática, do Campus
Aracaju, na disciplina de Sociologia. A metodologia utilizada foi uma pesquisa qualitativa e para a coleta dos
dados utilizou-se questionários, entrevistas semiestruturadas e conversas com os professores. A partir dessa coleta,
foi elaborado um Produto Educacional que foi aplicado e avaliado, dando origem às seguintes categorias: Prática
de Ensino Baseada em Música; Temas Transversais; e Música e Educação Profissional e Tecnológica. Por meio
da análise dessas categorias, observou-se que a música e a sua letra, enquanto ferramenta de apoio ao estudante,
pode e deve ser utilizada como recurso pedagógico, porque ela motiva e estimula os alunos, ajudando-os a analisar
um texto, a fazer uma leitura mais aprofundada e ter uma visão mais crítica dos assuntos trabalhados em sala de
aula, sendo assim, um fator motivador de estudo. Observou-se também que, os tipos e estilos de músicas, que os
alunos gostam, servem como apoio para que temas e textos das disciplinas possam ser trabalhados com as músicas
de suas preferências. Outro resultado encontrado, por meio da análise dos dados, foi que a música proporciona um
trabalho pedagógico em relação a temas de diferentes áreas, ou seja, temas transversais ou práticas
interdisciplinares, permitindo possibilidades aos discentes de refletir em relação à sua atuação no mundo de
trabalho.
1 INTRODUÇÃO
A presença da música, e a sua relação com o homem, vem desde a antiguidade. Nghiem
(2019) considera que a música foi uma invenção divina e que, por meio dela, o homem tinha
seu caráter e os costumes formados, e que ela tinha a capacidade de restaurar o equilibro, a
coesão e a harmonia nos corpos e espíritos. Os seus elementos formais - melodia e ritmo -
(OLIVEIRA, 2012) são tão velhos quanto o homem. Isso porque o homem tem a música dentro
de si mesmo, por meio do movimento do coração e o ato de respirar, que são comparados ao
ritmo. Dessa forma, o som das batidas do coração, a respiração da mãe (WISNIK, 2017), as
vozes, as risadas, os choros são sons que o bebê ouve quando está na barriga da mãe, e, a
15
Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica do Instituto Federal de Sergipe (PROFEPT-
IFS).
Corroborando Nghiem (2019) fala que “o gosto se adquire pelo aprendizado, e que este
último se inicia desde a vida fetal”. Assim, uma criança já “nasce com uma preferência
musical”, mesmo que não entenda aquele “barulho”, advindo da família e do meio que essa
família está inserida, ou seja, o ambiente social. Entretanto, essa preferência poderá ser
modificada durante a vida do indivíduo, devido às influências internas e externas que ele
receberá em sua vida.
Mais uma vez, observa-se a força que a música tem, quando o assunto é aprendizagem,
destacando a importância de aprender a criar e a de escutar. Essa capacidade de aprendizagem
e de escuta, por sua vez, deve ser provocada pelo professor, por meio de atividades dentro e
fora da sala de aula. A música, com sua melodia, seu ritmo, sua letra (quando se tem), está
presente na vida do indivíduo tanto curricular, quanto extracurricular, na educação, na
pluralidade e na diversidade de contextos, práticas, significados e funções nas quais é
produzida, desde os primeiros anos que a pessoa entra na escola (TENNROLLER; CUNHA,
2012), e, mesmo depois que termina os seus estudos, ela se faz presente em sua vida, em outras
áreas.
Para viabilizar a pesquisa foi necessário fazer um recorte no campo de pesquisa e limitar
a mesma ao Instituto Federal de Sergipe que apresenta, em seus documentos oficiais a oferta
de uma Educação Profissional e Tecnológica cidadã, crítica e reflexiva. Devido ao grande
quantitativo de cursos ofertados, optou-se, de forma aleatória, ao curso Técnico Integrado de
Nível Médio em Informática do Campus Aracaju como o curso a ser pesquisado. Esse curso
possui como objetivo geral “Formar Técnico de Nível Médio em Informática capaz de
desenvolver sistemas computacionais empregando tecnologias atuais visando suprir o mercado
de trabalho”.
2 METODOLOGIA
Para este artigo foi utilizada a abordagem qualitativa. Essa escolha ocorreu porque esse
tipo de pesquisa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é,
um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito, que não pode ser
traduzido em números (SILVA; MENEZES, 2005, p. 20). Tal opção permitiu coletar e
interpretar os dados subjetivos advindos do conhecimento do objeto de estudo, como a rotina
dos estudantes, suas preferências musicais, a participação deles nas dinâmicas propostas, bem
como observações da participação deles em sala de aula, extraindo informações deles, que,
posteriormente, foram analisadas, chegando a uma conclusão sobre esse público, em relação à
aprendizagem dos mesmos por meio da música.
3 PRODUTO EDUCACIONAL
O Produto Educacional apresenta uma sequência que começa com uma apresentação
seguida de conteúdos da disciplina de Sociologia e letras de músicas relacionadas a esses
conteúdos e questões, que estimulem os estudantes a interagirem, a refletir e a debater o
conteúdo, tanto em sala de aula, quanto fora dela. Cada letra de música apresentada possui um
link que dá acesso a uma aba que permite ouvir a música e, no final, contém a indicação de
outras músicas, cujas letras possuem relação ao conteúdo trabalhado, na forma de atividade
complementar aos estudos.
Os 93% estudantes que aprovaram esse tipo de aula viram, na música, uma forma
diferente de se aprender mais na disciplina. O Discente D5 afirmou que “A música contribui
muito bem para a aprendizagem de algumas matérias” (DISCENTE D5, 2022, Informação
escrita concedida em 26/06/2022), e o Discente D14 afirmou que conseguiu compreender mais
os assuntos trabalhados na aula, “Pois vi que com a música meu foco e concentração aumenta”
(DISCENTE D14, 2022, Informação escrita concedida em 26/06/2022). Já 64% consideram
como algo que aumenta o foco na disciplina. Quando foi perguntado ao professor de Sociologia
se ele gostou do Produto Educacional, ele respondeu que sim, que “a utilização das músicas
deu uma boa dinâmica e compreensão para o conteúdo trabalhado”. Ele ainda ressaltou que
percebeu um maior engajamento dos discentes interessados, que foi 93% da turma, e afirmou
que pretende aplicar esse Produto Educacional em outras turmas.
Destaca-se que essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética na Pesquisa em maio
de 2022, através do parecer consubstanciado, sob número 5.359.477.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os dados coletados durante a pesquisa foram de grande importância porque eles nos
ajudaram a traçar um perfil inicial da turma; a saber o gosto musical dos alunos; e a entender
como a música poderia ser trabalhada em sala de aula pelo professor de Sociologia. Foram
levados em consideração, também, o embasamento teórico oriundo das leituras e das buscas
realizadas por textos que envolvessem os temas música e educação no decorrer da pesquisa, no
sentido de gerar conhecimentos. Dessa forma, com os dados coletados, foram criadas 03
categorias: Prática de Ensino Baseada em Música; Temas Transversais; Música e EPT.
O modelo da aula ministrada teve uma boa aceitação por parte dos alunos; isso porque
eles gostaram das aulas, pelo fato das mesmas apresentarem uma forma diferente de transmitir
Devido à mudança da forma da aula que os alunos tiveram, a participação deles, nas
aulas, foi muito expressiva, dando uma maior versatilidade à aula, proporcionando uma maior
troca de informações entre eles e o professor. Para outros alunos, esse tipo de aula ajudou na
concentração e na memorização dos assuntos: “foi bem legal, as músicas ajudam muito no
aprendizado se usar da maneira correta” (DISCENTE D11, 2022, Informação escrita concedida
em 26/06/2022); “ajuda na contextualização e na interdisciplinaridade das disciplinas”
(DISCENTE D7, 2022, Informação escrita concedida em 26/06/2022).
Observa-se que a música faz com que o estudante memorize os conteúdos que o
professor transmitiu ao reter os assuntos, ou parte deles, em sua memória. Os discentes têm
uma maior facilidade em assimilar esses conteúdos e a entendê-los melhor. Uma aula com a
utilização da música mostrou trazer benefícios para os estudantes no sentido de fazer com que
esses assuntos, temas, textos sejam assimilados melhor por eles e, corrobora com Souza et al.
(2020, p. 01), quando afirma que “a música ajuda na memória, fazendo com que os conteúdos
tratados através dela, fiquem fixados na mente dos alunos”.
Percebe-se isso, também, quando se canta uma parte de uma música, o que,
automaticamente, pode remeter a uma situação vivenciada, um tema, um texto visto por ele.
Isso faz com que seu consciente comece a relacionar o texto com a música e, assim, a fazer uma
interpretação do texto, elaborando respostas para ele, caracterizando como uma aprendizagem
significativa. Esse tipo de aprendizagem, Ausubel (1982, p. 153) traz que “ocorre quando a
nova informação se ancora em conceitos ou proposições relevantes, preexistentes na estrutura
cognitiva do aprendiz” e é o que acontece com as letras das músicas, quando os alunos possuem
um conceito formado sobre determinados assuntos que a canção aborda.
Nas aulas de Sociologia, essa prática foi observada quando os estudantes comentavam
com o professor sobre a letra da música que era apresentada, mostrando que a letra da música,
segundo Sekeff (2007), auxiliou no processo de memorização e entendimento do conteúdo que
Essa afirmação foi ratificada pelo discente ao afirmar que: “porque me identifico com
os assuntos trabalhados na música” (DISCENTE D18, 2022, Informação escrita concedida em
26/06/2022), bem como pode ser observado nas reações dos estudantes, durante as aulas em
que as atividades propostas foram trabalhadas. Em algumas atividades, ao lerem a letra da
música, alguns alunos se sentiram inseridos na situação que a letra descrevia, porque retrava a
realidade deles.
Araújo-Jorge et al. (2013, p. 03) falam que: “Apesar da música não ilustrar visualmente
o conteúdo que pode ser explorado, ela se constituiu como um veículo de expressão que é capaz
de aproximar mais o aluno do tema a ser estudado”. Ao entender a música como um “veículo
de expressão”, é possível concluir que os discentes, ao se identificar com os textos e os assuntos
abordados em sala de aula, expressam suas realidades, suas angústias, seus sonhos e lutas
travadas no dia a dia.
Outro dado importante observado é que, através dela o professor atende, de uma forma
indireta, a uma exigência da sociedade do conhecimento, que é a de inserir os estudantes nos
meios artísticos e musicais, para que eles venham a aprender sobre tais meios, e possam se
inserir nos mesmos (SEKEFF, 2007). Essa exigência, feita pela sociedade do conhecimento, é
também vista na Educação Profissional e Tecnológica, quando postula que os estudantes
Ao optar nessa pesquisa em trabalhar com questões sociais, devido à natureza dos
conteúdos da disciplina de Sociologia, que abriu possibilidades em abordar temas como
diversidade ideológica, intercalando entre os assuntos, e temas como homofobia, preconceito e
discriminação, sempre relacionando esses assuntos a letras de músicas, estimulando os
discentes a fazerem conexões entre conteúdo e música, à reflexão, à problematização e à
discussão de cada assunto apresentado.
Com esta estratégia, foi possível observar que aumentou a participação voluntária dos
estudantes durante as aulas, e eles conseguiram identificar elementos sociais que rodeiam o seu
meio, e situações semelhantes às que estão familiarizados. Como exemplo, cita-se a questão da
religião quando foram debatidos os símbolos que eles viram no videoclipe da música
“Ideologia” (CAZUZA, 1988). O discente (D8), ao ver uma imagem que mostrava a disparidade
entre os prédios de luxo e uma favela, falou que: “os burgueses moram nos prédios, e os pobres
na favela. Essa imagem parece que é onde moro, professor!” (DISCENTE D8, 2022,
Informação escrita concedida em 26/06/2022). A importância dessa relação é confirmada ao
analisar o resultado da pergunta, quanto à aprovação dos estudantes em relação a essa proposta
de ensino: 95% (18 discentes) aprovaram e 5% (01 discente) preferiu não comentar, conforme
expressou: “Prefiro não comentar” (DISCENTE D16, 2022, Informação escrita concedida em
26/06/2022). A resposta desse discente trouxe as seguintes indagações: Será que ele não gostou
das aulas utilizando a música como ferramenta de apoio ao ensino? Será que ele não participou
das aulas efetivamente como os demais colegas de classe? Ou será que ele respondeu apenas
por responder? Esses questionamentos foram feitos, para que, ao encontrar a resposta para a
declaração do aluno, seja possível elaborar ações para evitar que situações como essa não
venham a ocorrer em outras atividades semelhantes a essa.
Como exemplo pode-se citar a fala do discente (D9): “facilitou o entendimento sobre os
assuntos apresentados, uma forma mais simples de estudar” (DISCENTE D9, 2022, Informação
escrita concedida em 26/06/2022). Para ele, a música serviu como um auxílio para o
aprendizado, e o discente (D10) destaca que: “escutando a música, facilita na compreensão da
crítica e na elaboração das respostas” (DISCENTE D10, 2022, Informação escrita concedida
em 26/06/2022). Além da motivação, facilidade no aprendizado, aumento no foco, melhoria
nas interpretações e uma melhor dinâmica de estudo, o discente (D1) entendeu que as letras das
músicas também representam uma forma de crítica social.
Moreira (2017, p. 01) afirma que: “novas ideias e informações podem ser aprendidas e
retidas na medida em que conceitos relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros e
disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo e funcionem, dessa forma, como ponto de
ancoragem às novas ideias e conceitos”. Isso porque a música e a sua letra servem como âncora
A segunda categoria “Temas Transversais” pode ser entendida como os assuntos que
estão presentes em todas as áreas do ensino e na vida do estudante, exercendo uma influência
no processo de ensino-aprendizagem. Logo, pode-se dizer que a música, com sua letra, é um
instrumento que ajuda os alunos a compreenderem melhor esses temas nas disciplinas que eles
são apresentados. Temas como: Meio Ambiente, Pluralidade Cultural e Orientação Sexual são
temas transversais, que fazem parte do vocabulário dos estudantes, e estão presentes nas letras
das músicas, podendo ser estudados em várias disciplinas.
Sekeff (2007, p. 177) fala que a música tem uma “dimensão educacional de uma
linguagem que relacionada com experiências humanas, fomenta ações e relações do indivíduo
com a sociedade”. Essa integração entre a música e as disciplinas possui uma maior interação
entre os atores que visam uma preparação do educando para o mercado de trabalho- no âmbito
profissional, e também no social, e para que a busca dessa integração logre êxito, é preciso que
haja uma convergência entre ciência, trabalho e cultura.
Ao perguntar aos discentes se as canções musicais, com suas letras, poderiam ser
utilizadas em outras disciplinas, além da de Sociologia, 84% responderam que sim e 16%
responderam a utilização de músicas nas disciplinas não faz diferença para eles. É importante
destacar que 06 professores do curso já utilizaram a música, ou sua letra, como recurso
pedagógico em suas disciplinas. Correia e Spessatto (2019, p. 07) afirmam que as músicas e
suas letras podem facilitar a comunicação entre os envolvidos no processo de ensino
aprendizagem, favorecendo o trabalho interdisciplinar.
Essa arte, no caso desta pesquisa, é a música com sua letra, porque ela, como defende,
Sekeff (2007, p. 68): “propicia o desenvolvimento da sensibilidade, favorece a disciplina e
contribui para o desenvolvimento da consciência de cidadania do educando”, auxiliando os
professores, e suas matérias em sala de aula. Através das entrevistas realizadas foi possível
identificar que no curso Técnico Integrado em Informática a música, ou a letra, já foram
utilizadas para: explicar a gramática de um idioma, assim como trabalhar habilidades
linguísticas nos idiomas; ela ajudou na explicação da globalização; para mostrar a passagem de
uma estação para outra; para construir paródias sobre os assuntos trabalhados em sala de aula;
desenvolver projetos; abordar temas sociais e culturais.
Percebe-se que a música, presente no dia a dia do estudante, possui uma potencialidade
enorme quanto à sua influência em sua vida acadêmica e pode ser utilizada em todas as
disciplinas. Ela ensina, provoca, mostra novos rumos que se pode tomar, além de ser um fator
motivacional. No entanto, no curso Técnico Integrado em Informática ela vem sendo utilizada
pelos professores de forma isolada, e ainda não foi explorada como tema transversal, ou foi
desenvolvido trabalho interdisciplinar a partir dela como recurso pedagógico.
A terceira categoria “Música e EPT”, pode ser iniciada com a citação de Urbanetz e
Bastos (2021, p. 11) que entendem Educação Profissional e Tecnológica (EPT) como “uma fase
educacional a que os sujeitos devem ser preparados para atuarem em seu mundo de vivência
com conhecimento e capacidades teóricas, técnicas, culturais, históricas e políticas”. Sendo
assim, é necessário trabalhar na EPT uma perspectiva de um ensino que transcenda os
conhecimentos técnicos almejando uma formação do educando como um todo, trabalhando
conhecimentos técnicos, científicos, tecnológicos e culturais.
Ramos (2008) respalda essa afirmação, quando fala que o Ensino Médio Integrado está
inserido na integração das dimensões fundamentais da vida que estruturam a prática social, a
saber: a ciência, o trabalho e a cultura, no processo formativo do aluno. A autora ainda discorre
sobre a integração dessas dimensões, que quando se trata da formação do aluno, trazem diversos
desafios teóricos e práticos, tendo em vista que os valores que o aluno possui (éticos, estéticos
morais e políticos) se apresentam de formas dinâmicas, plurais e, por vezes, conflituosos e
contraditórios.
Deve-se levar em consideração também que, ao ministrar uma aula fazendo uso de
outros recursos como a música, o professor está seguindo a recomendação do PPC do Curso
Técnico Integrado em Informática (2014, p. 01) que afirma que: “A evolução tecnológica e as
transformações sociais e econômicas exigem que as Escolas reformulem o seu papel como
Centro de Formação Profissional de forma a atender às demandas do mundo do trabalho”.
Assim, os estudantes e professores devem acompanhar as mudanças da sociedade não só no
A música também, por meio da letra, leva o indivíduo a uma busca maior de
conhecimentos sobre determinado assunto que se estuda, em um universo além da educação,
com a finalidade de não deixar que o estudante fique apenas com um conhecimento técnico
restrito. Moura (2007, p. 14) afirma que:
Por meio da arte é possível sublinhar a música, o educando pode ultrapassar barreiras e
obstáculos que queiram limitar as suas possibilidades em relação a uma formação integral. Ao
ultrapassar essa diversidade, ele adquire a liberdade para interagir com seus semelhantes,
através das suas palavras, dos olhares sobre o mundo, das percepções como sujeito, que também
faz história, e que caminha pela compreensão de uma prática libertadora.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo teve como finalidade assimilar de que forma a música e sua letra
podem ser utilizadas como material de apoio para o aprendizado dos alunos da turma da 1ª Série
do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Informática, do Campus Aracaju/IFS. Para tal,
foi realizado um estudo com a turma, na disciplina de Sociologia, utilizando o Produto
Educacional, em forma de Guia didático, como recurso pedagógico, para auxiliá-los nos
assuntos trabalhados em sala de aula.
A pesquisa apontou vantagens para o Ensino Médio Integrado e para a EPT, porque
quebra o paradigma de que as aulas, para a EPT, devem ser aulas voltadas para a tecnologia, e
Outro ponto que a se considerar, quanto a vantagens desse tipo de aula, é que o
professor, ao discutir com os alunos as questões sociais, do cotidiano deles, direta ou
indiretamente, estará trabalhando temas transversais com os alunos. Temas que a escola deve
trabalhar com os alunos, para que eles não fiquem à margem dos acontecimentos da sociedade.
É comum ver um professor fazer uso desses temas em sala de aula, tendo como suporte a letra
de uma música. Várias disciplinas de todas as áreas, utilizam esse artifício. E usam para diversos
fins. Contudo, os professores que ensinam no curso Técnico Integrado em Informática as
utilizam de forma isolada, não desenvolvendo um trabalho interdisciplinar, que tenha a música
como recurso pedagógico, e que promova uma integração entre os saberes das disciplinas.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. tradução: Luís Antero Reto, Augusto Pinheiro. São Paulo:
Edições 70, 2016.
BODART, C. das N. Usos de canções no ensino de Sociologia. 1. ed. Maceió: Editora Café
com Sociologia, 2021. v. 1. 169.
CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed,
2000.
PROFESSOR P4. Entrevista Professores do Curso. Erasmo Ribeiro da Silva Júnior. Aracaju,
12/06/2022.
WISNIK. J. M. O som e o sentido: outra história das músicas. 3ª Ed. São Paulo. Companhia
das Letras. 2017.
CAPÍTULO 17
CURADORIA EDUCATIVA:
UM EXERCÍCIO COM PROFESSORAS E PROFESSORES DA EDUCAÇÃO
BÁSICA EM FORMAÇÃO CONTINUADA
Carla Carvalho
Roseli Kietzer Moreira
Eduardo Matheus Dahlke
RESUMO
Este artigo apresenta um relato de experiência numa formação continuada com professoras e professores da
educação básica de uma cidade de Santa Catarina, Sul do Brasil. A partir do projeto Educação Estética e Mediação
Cultural, vinculado ao Programa Institucional Arte na Escola - Polo FURB, realiza-se, em atividades de extensão
e pesquisa, momentos de formação continuada com professoras e professores que atuam em diversos níveis de
ensino da Educação Básica. O projeto tem como tema processos de mediação cultural e educação estética em
espaços formais e não formais de educação e se debruça em diversos espaços educativos como escolas, bibliotecas,
pinacotecas, museus, espaços expositivos de artes. Essas atividades se vinculam ao ensino, extensão e pesquisa,
considerando que se atuou com estudantes da graduação e pós-graduação em processos de constante formação e
preparação docente na universidade e a outros projetos na comunidade. Buscou-se compreender como se dão os
processos de mediação cultural que potencializam a educação estética. Neste artigo, o foco é um processo realizado
com professoras e professores em processo de formação continuada com o tema de Curadoria Educativa. Esses
estudos se dão de forma colaborativa no âmbito do Departamento de Artes e do Programa de Pós-graduação em
Educação – PPGE/FURB, vinculado à linha de pesquisa Linguagens, Arte e Educação e ao Grupo de Pesquisa
Arte e Estética na Educação. Nesse contexto, estudou-se e investigou-se na prática, processos formativos nos quais
buscou-se compreender conceitos e a relação das professoras e dos professores com a arte em procedimentos de
mediação cultural com vistas a educação estética.
1 INTRODUÇÃO
Neste artigo lançou-se o olhar para uma formação que tem como tema a Curadoria
Educativa e que ressalta a importância de discutir conteúdos artísticos de qualidade para serem
compartilhados com a comunidade escolar em que as professoras e professores participantes
desta formação lecionam, além de ressaltar a importância de conhecer novas obras de arte e
artistas, possibilitando uma visão mais complexa e sensível ao mundo em que se vive.
Na mediação, entre tantos, estamos atentos às falas, aos silêncios, às trocas de olhares,
ao que é desvelado e velado, aos conceitos e repertórios que ditam os gostos, os modos
de pensar, perceber e deixar-se ou não envolver pelo [com]tato, com a experiência de
conviver com arte (MARTINS, 2006, p. 3).
A partir desse intuito provocador a formação continuada foi concebida e articulada na
troca de conhecimentos na área curatorial e exercícios de curadoria a partir de imagens de obras
das mais diversas linguagens das artes visuais (escultura, pintura, desenho, fotografia etc.).
Compreende-se a curadoria na arte como um processo de acompanhamento, seleção e
provocação de um percurso de leitura de um conjunto de produção artística (ou outro) a ser
apresentado ao público. Ao se considerar a complexidade da profissão na atualidade e as
interfaces destas no sistema da arte, entende-se que o curador tem um papel relevante no
processo de mediação da arte ao público, seja nas atividades junto aos museus, pequenos
eventos ou outros contextos.
O propósito da formação consiste nas vivências das professoras e dos professores nas
escolas em que lecionam, para que se possa discutir elementos da curadoria educativa que
auxilie nas suas práticas pedagógicas, juntamente com as crianças e toda a comunidade escolar,
além de um exercício curatorial feito a partir de obras de artes. Essa formação aconteceu na
Universidade Regional de Blumenau, nas dependências de um ateliê do curso de graduação de
Artes Visuais, durante uma tarde numa oficina de quatro horas de duração.
A conversação foi longa, densa e tensa, pois a medida em que se coloca as visões de
mundo em frente ao coletivo, outras perspectivas e leituras se manifestam.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 18
UM DIÁLOGO COM ALAIN CHOPPIN:
EXPLORANDO AS FUNÇÕES DO LIVRO DIDÁTICO DO 6º ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL - A CONQUISTA MATEMÁTICA
RESUMO
O texto em questão examina o livro didático intitulado "A conquista matemática” do 6º ano do Ensino Fundamental
anos finais, de autoria de José Ruy Giovanni Júnior, publicado em 2022 pela Editora FTD. O estudo se baseia na
análise das funções desempenhadas pelo livro, conforme propostas por Choppin (2004): referencial, instrumental,
ideológica e cultural, e documental. O livro apresenta nove unidades que abordam tópicos matemáticos
fundamentais de forma apropriada para a faixa etária dos alunos, destacando as funções referencial e instrumental
ao transmitir conhecimento de acordo com o programa educacional e facilitar a aquisição de competências
matemáticas. Além disso, o material busca criar uma conexão significativa entre os alunos e a Matemática,
promovendo a curiosidade e a reflexão, evidenciando a função documental ao incentivar o desenvolvimento do
pensamento crítico e a autonomia na aprendizagem. O livro também aborda questões de diversidade e inclusão,
ressaltando a pertinência de uma educação que respeite a individualidade de cada estudante, o que se enquadra na
função ideológica e cultural. Em suma, a análise evidencia que o livro apresenta em determinados momentos todas
as funções definidas por Choppin (2004), sendo predominante a presença da função referencial, destaca a
complexidade e relevância dos livros didáticos no contexto educacional, enfatizando como eles podem influenciar
o processo de ensino e aprendizagem e a necessidade contínua de avaliar e aprimorar essas ferramentas
pedagógicas para atender às demandas em constante evolução da educação.
1 INTRODUÇÃO
A obra em questão é relevante não apenas devido à competência do autor, mas também
por ser parte de uma coleção publicada pela Editora FTD, que tem uma história que remonta à
"A conquista matemática” do 6º ano do Ensino Fundamental anos finais, é uma obra
composta por nove unidades e totaliza 402 páginas. A atual edição foi publicada no ano de
2022, na cidade de São Paulo, Brasil, com um foco específico no componente curricular de
Matemática. É importante salientar que essa coleção de livros didáticos foi selecionada para
integrar o Programa Nacional do Livro Didático - PNLD 2024, para o próximo quadriênio
2024-2027, o que ressalta sua notoriedade no contexto educacional brasileiro.
Além disso, o livro foi adotado por algumas escolas do Município de Barreiras-BA, e
tem desfrutado de aprovação e utilização por parte de professores da Educação Básica há um
período significativo. Isso evidencia a eficácia e a aceitação dessa coleção no âmbito
educacional local, o que justifica a necessidade de uma análise aprofundada para compreender
como essa ferramenta contribui para o Ensino e a Aprendizagem de Matemática no Brasil.
Diante desse cenário de crescente interesse na pesquisa sobre a história e análise dos
livros didáticos, bem como das particularidades e desafios que envolvem esse campo, a presente
análise se propõe a explorar em detalhes a referida obra. Ao longo deste estudo, explorou-se o
material a fim de verificar como se apresentam a função referencial, instrumental, a ideológica
e cultural e a documental, propostas por Choppin (2004), cientes das nuances e complexidades
inerentes a essa área de pesquisa.
Nas últimas três décadas, houve um notável crescimento no interesse e estudo da história
e criação dos livros didáticos, um campo de pesquisa que por algum tempo foi negligenciado,
como observado por Choppin (2004). Esta tendência se faz evidente com o crescente número
de pesquisadores dedicando atenção a esse tema.
As Unidades 5 e 6, "A forma fracionária dos números racionais" e "A forma decimal
dos números racionais", fornecem uma base sólida para a compreensão de números fracionários
e decimais. A sétima unidade, "Ângulos e polígonos", introduz conceitos de geometria angular
e formas poligonais. As últimas duas unidades, "Comprimento e área" e "Grandezas e medidas",
expandem a exploração da geometria para incluir medições e conceitos de grandezas,
concluindo assim uma jornada abrangente pela matemática.
Já a função documental, é mais recente. Nela, acredita-se que os livros didáticos podem
fornecer documentos textuais ou imagens que, quando observados ou comparados, ajudam os
alunos a desenvolverem o pensamento crítico. No entanto, essa função não é universal e só é
Assim, foi possível perceber como os livros didáticos podem desenvolver diversos
papeis dentro do contexto educacional, mesmo não sendo neutros em sua totalidade. Para
Choppin (2004, p. 553-554): “é preciso levar em conta a multiplicidade dos agentes envolvidos
em cada uma das etapas que marca a vida de um livro escolar, desde sua concepção pelo autor
até seu descarte pelo professor e, idealmente, sua conservação para as futuras gerações.” Foi a
partir desse arcabouço teórico-metodológico que o livro didático foi tomado como fonte para o
objeto de pesquisa, a fim de verificar quais funções predominam neste material e qual aquela
que é predominante.
O livro em questão que se encontra organizado em nove Unidades e cada uma delas em
capítulos que oferecem aos estudantes uma variedade de explorações e recursos, incluindo
textos, imagens e atividades. Dentro de cada capítulo, é possível também encontrar seções e
caixas de texto projetadas para facilitar a compreensão, aprofundamento, reflexão e conexão
com os respectivos objetos de conhecimento.
Também são abordados tópicos sobre os perfis de aprendizagem e modos de lidar com
as diferenças nas aulas de Matemática e os diversos tipos de avaliação e a valorização desse
recurso para o processo de ensino e aprendizagem, ambos pontos que ratificam o livro com a
função instrumental, auxiliando os professores no processo da melhor escolha e execução das
práticas pedagógicas que poderão contribuir para uma aprendizagem mais significativa por
parte do estudante.
Durante a análise do livro didático, notou-se que não foi possível identificar informações
no texto que indiquem claramente como eventos e mudanças políticas, sociais e culturais
influenciaram os objetos do conhecimento e a abordagem do livro. No entanto, é imprescindível
reconhecer que todos os escritos, incluindo materiais educacionais, são afetados por essas
influências políticas, sociais e culturais por parte do autor.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O livro também se esforça para criar uma conexão significativa entre os estuantes e a
Matemática, incentivando a curiosidade e a reflexão. Nesse sentido, evidencia-se a função
documental, pois propõe atividades que podem ajudar os alunos a desenvolverem o pensamento
crítico, promovendo a autonomia na aprendizagem.
REFERÊNCIAS
CHOPPIN, A.. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e
pesquisa, São Paulo, v. 30, p. 549-566, 2004. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/ep/article/view/27957/29729. Acessado em: Out. 2023.
CAPÍTULO 19
REVISITANDO A BASE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
REFLEXÕES E DESAFIOS
RESUMO
Este artigo destaca a importância dos saberes docentes na construção de práticas pedagógicas que atendem às
necessidades específicas das crianças na Educação Infantil. Isso inclui a compreensão das características do
desenvolvimento infantil, a promoção do brincar e da interação social, além da criação de um ambiente seguro e
estimulante para a aprendizagem. Esta investigação tem como base a pesquisa bibliográfica. Além disso, o estudo
também enfatiza a necessidade de uma constante reflexão e atualização por parte dos educadores, visto que a
educação está em constante evolução. Novas abordagens pedagógicas, teorias educacionais e descobertas sobre o
desenvolvimento infantil surgem ao longo do tempo, e os educadores precisam estar abertos para incorporar essas
informações em suas práticas. Sintetizando, o artigo buscou discutir a relação entre os saberes docentes e as
práticas pedagógicas na Educação Infantil, destacando como os conhecimentos dos educadores desempenham um
papel fundamental na promoção de experiências de aprendizagem significativas e no desenvolvimento integral das
crianças nessa fase crucial da educação.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo investigar sobre os saberes docentes e as práticas
pedagógicas na Educação Infantil. E tem como base a revisão bibliográfica realizada “[...] a
partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e
eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites” (FONSECA, 2002, p. 32).
Para isso, adota-se uma abordagem qualitativa de pesquisa, conforme definida por André
(2001), que a caracteriza como "naturalista", uma vez que não envolve manipulação de
variáveis nem experimentação controlada. Trata-se do estudo de características em seu contexto
natural. Essa abordagem enfatiza uma visão holística das características, considerando todos os
seus componentes e suas interações mútuas.
A Revolução Industrial do século XIX fez com que as mulheres brasileiras deixassem o
trabalho doméstico, incluindo os cuidados com os filhos, para ingressar no mercado de trabalho.
Isso gerou o problema de as crianças ficarem sozinhas em casa, causando desnutrição, acidentes
domésticos e altas taxas de mortalidade infantil. Isso despertou a compaixão e solidariedade de
grupos religiosos, empresários e educadores. Como resultado, as crianças foram vistas de
maneira diferente pela sociedade, e surgiram ações externas para cuidados filantrópicos e
assistenciais, fora do contexto familiar.
Com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), é
fundamental que as propostas pedagógicas para esse nível de ensino respeitem três princípios
essenciais que orientam o trabalho com crianças pequenas.
Essas diretrizes estabelecem as bases para uma educação infantil que atende às
necessidades e potencialidades das crianças pequenas, promovendo seu desenvolvimento
integral.
A temática que envolve a formação dos educadores tem se tornado um campo fecundo
de discussão, levando-nos a analisar e questionar as mudanças necessárias nessa área do
conhecimento. Nunes (2001) traçou um retrospecto no contexto brasileiro, destacando que na
década de 60 havia ênfase no conhecimento específico da disciplina; nos anos 70, os aspectos
didático-metodológicos eram o foco; os anos 80 marcaram a valorização da prática pedagógica,
e a década de 90 enalteceu os estudos sobre a socialização pré-profissional.
Prada, Vieira e Longarezi (2012) observam que na primeira década do segundo milênio,
o discurso se concentrava na formação do educador reflexivo, pesquisador e transformador da
realidade, enquanto, no início da segunda década, as pesquisas se voltavam para o contexto
formativo dos professores de Ensino Superior e Pós-Graduação.
Nesse contexto, as ideias de Contreras (2002, p. 106) sobre a prática docente destacam
que “nossa prática cotidiana normalmente se baseia em um conhecimento tácito e implícito
sobre o qual não exercemos um controle específico. Realizamos uma série de ações sem pensar
nelas antes de fazê-las.” No entanto, existe um incentivo no ambiente educacional/acadêmico
para que se desenvolva a capacidade de reflexão sobre as ações como educadores e sobre a
formação inicial e continuada, a fim de contribuir com os cursos de formação docente.
Kuhlmann Jr. (2010) destaca que no século XX, começou-se a considerar que todas as
crianças têm direito a um atendimento de cuidado educativo na Educação Infantil, não apenas
Gomes (2009) destaca que a formação de educadores não deve ser apenas teórica, mas
também prática, com ênfase na construção de relações com a escola e na capacidade de
questionar e refletir sobre a prática profissional.
A formação de educadores também pode ser entendida sob três aspectos: formação
inicial de educadores, formação continuada e formação em serviço. A formação inicial envolve
os processos institucionais que preparam os educadores para a profissão. A formação
Além disso, os saberes mobilizados pelos educadores em sala estão interligados aos
saberes das crianças, aos seus próprios saberes e ao conteúdo do currículo. Esses saberes
diversos são construídos no contexto social e na convivência coletiva. Portanto, é essencial
valorizar os saberes desenvolvidos durante o exercício docente como uma base teórica que pode
inspirar novas concepções (CHARLOT, 2000).
A teoria desempenha um papel crucial na formação profissional, uma vez que serve
como base para a prática pedagógica. Estabelecer uma relação eficaz entre teoria e prática exige
que os educadores reflitam sobre suas concepções, especialmente quando são expostos a novos
conhecimentos. O processo de ação-reflexão-ação é fundamental nesse sentido, com a reflexão
sendo sustentada pela teoria.
Por fim, os saberes experienciais são construídos ao longo das trajetórias pessoais e
profissionais dos educadores, validados por suas experiências práticas. Eles são legítimos
quando acompanhados por reflexões que justificam as decisões dos educadores. Os saberes
experienciais se desenvolvem no contexto da prática docente, relacionando-se a interações com
outros atores educacionais, obrigações e normas, e à própria instituição escolar.
Partindo do princípio de que a escola é uma instituição social que se fundamenta nas
interações entre educação, sociedade e cidadania, percebe-se a necessidade de que ela se
estabeleça de forma concreta, com metas e estratégias claras, bem como uma compreensão
sólida das bases de sua abordagem educacional. Nesse sentido, sua missão é intermediar as
necessidades da sociedade e das pessoas, promovendo também o crescimento pessoal daqueles
que evoluem junto com a sociedade.
Nesse contexto, a prática pedagógica é vista como uma atividade social com raízes
profundas na história e na cultura, indo além do ensino em sala de aula para abranger as
atividades educacionais relacionadas ao projeto global da instituição e suas interações com a
comunidade e a sociedade em geral. Esses princípios servem como um ponto de partida teórico
para reformular a prática educacional, buscando assim uma abordagem educacional mais
dinâmica.
A prática pedagógica dialógica, por sua vez, é caracterizada pela aprendizagem conjunta
de educadores e crianças. Nesse cenário, educadores e crianças reconhecem a importância da
parceria em uma relação horizontal, onde o educador mantém a responsabilidade de guiar o
processo de ensino-aprendizagem e as crianças são incentivadas a ultrapassar seus limites,
criando um espaço para reflexão e cultura em um ambiente democrático e ético.
Nos últimos anos, várias ênfases foram dadas aos requisitos para atuar na Educação
Infantil. No entanto, o entendimento fundamental é a compreensão do desenvolvimento infantil,
a habilidade de lidar com as crianças e situações diversas, respeitar e valorizar as crianças,
motivando-os em várias atividades pedagógicas e refletindo continuamente sobre a prática.
Nesse contexto, o educador deve ser um observador atento às expressões e falas das
crianças, tanto na sala de aula como fora dela. Isso permite compreender melhor as dinâmicas
educacionais e valorizar os saberes das crianças. A busca contínua pela qualidade na prática
pedagógica leva os educadores a se tornarem mais comprometidos com seu próprio
desenvolvimento profissional e a importância dos aspectos da infância em seus projetos
educacionais, equilibrando cuidados e educação.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Infantil não é mais vista como uma simples preparação para o ensino
fundamental, mas como uma fase crucial em si mesma, na qual as crianças constroem as bases
de seu pensamento, criatividade, habilidades sociais e emocionais. Esta revisão sublinha a
necessidade de uma abordagem holística que reconheça as múltiplas dimensões do
desenvolvimento infantil e promova uma educação que seja sensível, inclusiva e centrada na
criança.
REFERÊNCIAS
DIDONET, V. Não há educação sem cuidado. Pátio Educação Infantil, Porto Alegre, RS, ano
I, n 1, abr/jul.2001.
KUHLMANN Jr., M. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. 5.ed., Porto
Alegre: Mediação, 2010.
TARDIF, M., LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência
como profissão de interações humanas. Tradução de João Batista Kreuch, 7. ed. – Petrópolis,
RJ: Vozes, 2007.
CAPÍTULO 20
ESTRATÉGIA INTERDISCIPLINAR NO ENSINO DE BOTÂNICA – UTILIZAÇÃO
DA ARTE PARA SUPERAÇÃO DA IMPERCEPÇÃO BOTÂNICA 16
RESUMO
O ensino de botânica na atualidade enfrenta uma série de desafios, como conteúdos aprisionados em definições e
memorizações. Em 1999, os pesquisadores Wandersee e Schussler adotaram a terminologia “plant blindness”, para
indicar uma dificuldade de perceber as plantas no ambiente, bem como de considerar o estudo das plantas menos
atrativo dos que o dos animais. Na tradução desse termo para língua portuguesa inicialmente se cunhou o conceito
de “cegueira botânica”, no entanto, para evitar a utilização de termos capacitistas, Ursi e Salatino, sugerem a
substituição para “impercepção botânica” (2022). Muito tem se discutido sobre os fatores que contribuem para a
impercepção botânica, desde aspectos fisiológicos do aparelho visual humano até questões socioculturais. O fato
é que estratégias devem ser adotadas para contribuir com a diminuição dessa lacuna. Este artigo, pretende discutir
uma proposta interdisciplinar de sequência didática - com a utilização da arte para o ensino da botânica; por meio
da aproximação com o cinema, animes e histórias em quadrinhos, os estudantes foram incentivados a construírem
personagens inspirados nas adaptações existentes no mundo vegetal. A arte é uma forma lúdica de expressão, a
associação com a ciência permite explorar a diversidade de habilidades existentes em sala de aula, de modo que
os conceitos possam efetivamente fazer sentido para o educando.
1 INTRODUÇÃO
O ensino de botânica na educação básica enfrenta uma série de desafios, para Wandersee
e Schussler (1999), a falta de interesse do ser humano com relação às plantas, a dificuldade de
percepção dessa relação crucial para a sobrevivência humana, considerando o estudo botânico
menos atrativo quando comparado a outras áreas biológicas, como zoologia ou genética, por
exemplo, foi denominado de cegueira botânica. Pesquisadores como Ursi e Salatino (2022)
propõem a utilização de “impercepção botânica” para evitar a reprodução de termos capacitistas
no ensino, o qual será utilizado nesta proposta de estratégia didática.
A impercepção botânica tem como reforço um círculo vicioso sustentado por alunos
desinteressados pelo tema e professores sem a devida formação no ensino de Biologia Vegetal.
O tipo de metodologia empregada na Educação Básica tem sido ineficaz, reféns de termos
técnicos errôneos ou defasados, baseados apenas em conceitos teóricos, descontextualizados da
16
Programa fomentador: CAPES.
Alguns trabalhos nos últimos anos têm sido direcionados para este viés: Ursi e Barbosa
(2014) relatam uma proposta didática de ensino da fotossíntese com o auxílio de música;
Flannery (2019) utiliza desenhos para o ensino de botânica, verificando que esta tática foi uma
forma bem-sucedida de "levar os alunos a uma maneira diferenciada de observação e a uma
apreciação maior pela natureza que os cerca, não importa onde eles morem".
1. ensino de botânica;
2. ensino médio;
3. auxílio da arte;
4. metodologias ativas.
Quadro 1: Trabalhos compilados referente ao estudo da Botânica com utilização da arte no Ensino Médio.
Local onde foi Tipo de
Título/Autores Conteúdos Abordados Metodologias Utilizadas realizada a documento/
pesquisa/data Realização
Artigo/
Lotes Vagos: Ensaios O estudo da botânica a
Experiência estética Não menciona/ Universidade
sobre arte e Botânica/ partir de intervenções
com os vegetais. 2017 Federal
Borja e Amaral. urbanas
Fluminense
Ensino de Botânica:
conhecimento e Conteúdos Site: botânica online,
Estado de São
encantamento na diversificados: herbário virtual, projeto de
Paulo e região do Artigo/
educação científica/ aquecimento global, extensão com a
Jalapão, Tocantins/ USP
Ursi, Barbosa, Takeo, biodiversidade, comunidade: diálogo de
2018
Berchez. fotossíntese saberes.
A Ilustração Científica
como uma Ferramenta
Artigo/UFpel
Didática no Ensino de Anatomia e morfologia Ilustração científica e Pelotas, Rio Grande
Botânica./ vegetal observação de vegetais. do Sul/2015
Milach, Louzada,
Abrão, Dornelles
Sequência Didática
sobre a Botânica e
Análise de música
Livro Paradidático
Matança, atividade de
sobre Organografia
arborização de praças, ruas Fortaleza de Minas, Dissertação/UF
Vegetal para o Ensino Organologia vegetal
e jardins; salada de frutas; Minas Gerais /2020 MG – Profbio
Médio/
produção de livro
Fernanda Aparecida
paradidático
Soares Costa
Novas metodologias
para as aulas de
botânica no ensino
médio: Sequência
didática, jogo e Herbário virtual e jogo Belo Horizonte, Dissertação/UF
Taxonomia vegetal
herbário virtual/ didático Minas Gerais/2020 MG – Profbio
Luiza Cecília Marian
Barud Torres
Ilustrações científicas
em sala de aula:
analisando o exemplo Utilização das ilustrações Rio de Janeiro, Artigo/CEFET/
Organologia vegetal
didático de Lineu/ científicas de Lineu RJ/2015 RJ
Fiuza e Guerra.
Proposta de Sequência
Questionário, elaboração
Didática para
de sequência didática,
Ressignificar para a Florianópolis, Santa Dissertação/UF
Etnobotânica cartilha pedagógica.
prática Pedagógica do Catarina/2020 SC-Profbio
Utilização de ilustração
Ensino de Botânica no
científica.
Ensino Médio/ Oliveira
Álbum de Fotografia
Autoral em aulas de
Botânica como Agente Belo
da Motivação de Horizonte, Dissertação/
Diversidade vegetal e Álbum didático de
Estudantes do Ensino Minas Gerais/ UFMG
organologia vegetal fotografia de plantas
Médio de uma Escola 2019
Pública da Cidade de
Belo Horizonte/
Alice Trópia Resende.
Música Integrando
Conhecimentos
Botânicos e Elaboração de músicas
Manaus, AM/ Dissertação/
Ambientais/ Educação ambiental com objetivo de ensino de
2018 IFAM
Jânio Carlos Ramos botânica
Teixeira.
Uma das explicações pode ser o fato de que “imagens são signos produzidos para
comunicar algo a alguém”, e são expressões da percepção das pessoas de uma época sobre suas
experiências, formada a partir de aspectos intelectuais e sensoriais, que revelam informações
importantes sobre a sociedade da época em que são criadas (GOMBRICH, 2007 apud FIUZA;
GUERRA, 2015).
As artes visuais, portanto, são inerentes ao ser humano, desde o princípio, com as
pinturas rupestres, nas paredes das cavernas retratando rituais e o cotidiano do homem.
Costa (2020) afirma que o ensino de biologia na atualidade tem como foco principal os
exames vestibulares, o que faz com a disciplina perca suas características e fique refém de
regras e repetições.
Além disso, a botânica por vezes é considerada como uma das temáticas de maiores
dificuldades para os alunos:
Entre os conteúdos de Biologia, a Botânica é retratada como uma das mais “difíceis”,
desde a educação básica até o ensino superior, devido à complexidade de conceitos e
termos específicos, e à falta de contextualização em que é frequentemente ensinada
(KATON et al., 2013). Os autores alegaram que aulas teóricas em demasia desgastam
e podem levar à perda do entusiasmo dos estudantes. Krasilchik (2019) também
comentou que o excesso de vocabulário técnico induz o aluno apenas à memorização
o que resulta em desinteresse. A autora afirmou, ainda, que os termos específicos só
terão sentido se associados a exemplos compondo o que ela chama de “moldura de
associações” (COSTA, 2020, p. 20).
A observação e as atividades de saída de campo também foram estratégias mencionadas
para diminuir a cegueira botânica. Oliveira (2020) pontua que práticas que envolvem a
observação direta em espaços formais e não formais são laboratórios disponíveis para o
aprendizado de botânica.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Após análise do estado da arte sobre o tema – arte no ensino da botânica, a proposta de
sequência didática foi aplicada para a turma do 2J, do Colégio Estadual do Paraná (CEP),
localizado na cidade de Curitiba – PR, no ano de 2021. As reflexões e apontamentos obtidos
foram registrados na forma de relatos, vídeos, imagens e analisados utilizando uma abordagem
qualitativa, de modo a entender os aspectos subjetivos do grupo o qual a pesquisa foi realizada,
permitindo um olhar atento ao processo de ensino-aprendizagem.
“Professora, tem aquelas placas de captação de energia solar que são lâminas, como
a estrutura de uma folha”! – Aluno J
“Se você reparar, os espinhos servem de proteção, e a gente encontra nas plantas, no
porco espinho e uma agulha te fura!” – Aluno K
De acordo com Sawada et al. (2017), tanto a arte como a ciência apresentam o dever de
desvendar e interpretar a “essência das coisas”, de modo que a arte permite o processo de
sensibilização e expansão dos sentidos e olhares, contribuindo com o despertar de novas ideias.
Considerando-se a diversidade de aptidões existentes em uma sala de aula, ao ofertar uma
possibilidade de avaliação de forma lúdica permite-se que tanto a parte científica como artística
do aluno seja exercitada. Espera-se que o humor e o cotidiano dos estudantes sejam retratados
além do conteúdo teórico abordado em sala.
Apesar dos resultados satisfatórios nas discussões, os estudantes apresentaram uma certa
resistência inicial tanto para com a atividade de júri simulado como de criação de personagens
fictícios inspirados no Reino Vegetal em comparação com os exercícios teóricos solicitados.
Refletindo uma dificuldade grande nas execuções de atividades que fogem do padrão de ensino
tecnicista, com questões típicas de vestibular.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALOI, G. Sorely visible: plants, roots, and national identity. Plant, People, Planet, Chicago,
USA, n. 3, jan. 2019. Disponível em: https://nph.onlinelibrary.wiley.com
/doi/full/10.1002/ppp3.10054. Acessado em: Nov. 2023.
BALAS, B.; MOMSEN, J. Attention “Blinks” Differently for Plants and Animals. CBE-
Life Sciences Education, Bethesda, USA, n. 3, 2014. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4152205/. Acessado em: Nov. 2023.
BORJA, B. F.; AMARAL, M. B. “Lotes Vagos: ensaios sobre arte e botânica. 7º Seminário
Brasileiro de Estudos Culturais e Educação. Canoas, Rio Grande do Sul, jun. 2017.
MACEDO, M.; URSI, S. Botânica na escola: uma proposta para o ensino de histologia
vegetal. Revista da SBEnbio, Maringá, n. 9, 2016. Disponível em:
http://www.sbenbio.org.br/wordpress/wp-content/uploads/renbio-9/pdfs/1981.pdf. Acessado
em: Jun. 2020.
VIEIRA, R. D..; MELO, V. F.; BERNARDO, J. R. R. O júri simulado como recurso didático
para promover argumentações na formação de professores de física: o problema do
‘gato’. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, n. 16, sep-dez. 2014.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/epec/a/LKCYvxS7b3qpHWyMVFRXvmM
/abstract/?lang=pt. Acessado em: Out. 2023.
RESUMO
O presente artigo investiga abordagens metodológicas que favorecem a integração de saberes no âmbito
educacional. Estratégias interdisciplinares são exploradas, ressaltando a ampliação da compreensão do
conhecimento pela interseção entre diferentes disciplinas. A convergência intencional de campos de estudo
diversos é apresentada como uma fonte enriquecedora de sinergias, fortalecendo assim a base do saber. A ênfase
é dirigida também a metodologias que promovem a síntese educacional, evidenciando como a interação de
perspectivas diversas durante o processo de aprendizagem contribui para a formação do indivíduo. Destaca-se a
importância de abordagens educacionais que incorporam uma variedade de pontos de vista, propiciando o
desenvolvimento de uma compreensão holística e integrada do mundo. Além disso, são abordadas metodologias
que concebem a aprendizagem como uma tapeçaria de múltiplas influências. Tais estratégias reconhecem a
diversidade de fontes de aprendizado, entrelaçando experiências práticas, teorias acadêmicas e interações sociais
em uma narrativa única. A metáfora da tapeçaria é empregada para ressaltar a complexidade e a riqueza intrínsecas
ao processo de construção do conhecimento. Ao analisar essas diversas metodologias, o artigo busca fornecer
insights para práticas pedagógicas inovadoras, destacando a importância de abordagens integradas na formação de
aprendizes. Reconhece-se a necessidade de métodos que fomentem a interdisciplinaridade, a síntese educacional
e a compreensão da aprendizagem como uma experiência multifacetada, visando contribuir para o
desenvolvimento de práticas educacionais mais alinhadas com as complexidades de uma sociedade cada vez mais
interconectada.
1 INTRODUÇÃO
A confluência de disciplinas, conforme enfatizado por Ianni (2023), emerge como uma
força transformadora na construção do conhecimento. Este processo não apenas transcende as
limitações de abordagens uni disciplinares, mas também abre portas para novas formas de
pensar, descobrir e inovar. Ao investigar as sinergias decorrentes da interseção de diversas áreas
de estudo, está-se efetivamente abrindo trilhas que conduzem a uma compreensão mais
profunda e interconectada do vasto universo do conhecimento. Essa abordagem integrada,
como propõe Fazenda (2022), não apenas enriquece a formação acadêmica, mas também
prepara os indivíduos para enfrentar os desafios complexos de uma sociedade cada vez mais
interconectada. Nesse sentido, a convergência de disciplinas não se configura apenas como um
conceito acadêmico, mas como uma empolgante jornada em direção a uma compreensão mais
abrangente e integrada do mundo que nos envolve.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
IANNI, A.M. Z. A interdisciplinaridade como prática teórica. Saúde em Debate, v. 46, p. 29-
33, 2023. Disponível em: https://www.saudeemdebate.org.br/sed/article/view/7133. Acessado
em: Out. 2023.
RESUMO
Este artigo realiza uma pesquisa bibliográfica com uma abordagem metodológica baseada na análise integrada
de diversos campos do conhecimento. Explora as interconexões entre ciências e humanidades para compreender
a complexidade da aprendizagem, incorporando revisão bibliográfica extensiva, análise comparativa de teorias
educacionais e estudos de caso transdisciplinares. Identifica convergências e divergências no entendimento da
aprendizagem, enfatizando a importância de uma perspectiva multifacetada. Promove o diálogo transdisciplinar
através de entrevistas com especialistas de diversas áreas, permitindo uma análise aprofundada das contribuições
e desafios no campo educacional. Integra dados quantitativos e qualitativos para examinar a aplicação prática das
teorias discutidas, destacando experiências de aprendizagem interdisciplinares por meio de estudos de caso. A
metodologia adotada proporciona uma compreensão abrangente e holística da aprendizagem, ressaltando a
necessidade de uma abordagem interdisciplinar para capturar a complexidade subjacente. Os resultados
oferecem insights valiosos para educadores, pesquisadores e profissionais interessados em práticas educacionais
mais integradas e contextualmente relevantes.
1 INTRODUÇÃO
Essa abordagem multifacetada reconhece que a aprendizagem não pode ser confinada a
uma única disciplina. Enquanto as ciências oferecem uma compreensão estruturada e
quantificável, conforme mencionam, as humanidades adicionam camadas de significado,
contextualizando a aprendizagem dentro de experiências, valores e narrativas. A integração
dessas perspectivas é essencial para uma compreensão completa e holística do processo
educacional.
As ciências muitas vezes abordam a aprendizagem por meio de uma lente objetiva,
valendo-se de métodos rigorosos e análises empíricas, como apontam Saquelli e Borghi (2020).
No entanto, essa abordagem pode negligenciar a subjetividade inerente ao aprendizado humano.
É aqui que as humanidades desempenham um papel crucial, fornecendo uma compreensão mais
profunda das experiências, emoções e contextos que moldam o processo de aprendizagem.
Contudo, conforme observado por Saquelli e Borghi (2020), ao mesmo tempo que as
convergências enriquecem o campo educacional, as divergências também desempenham um
papel crucial. A pluralidade de perspectivas e abordagens provenientes de diferentes disciplinas
Além das disciplinas acadêmicas, Diógenes (2019) destaca que a aprendizagem além
das fronteiras também envolve a quebra de barreiras geográficas e culturais. A globalização e
a conectividade digital possibilitam uma troca global de ideias, perspectivas e experiências. Os
alunos, ao absorverem conhecimentos de diversas partes do mundo, colaboram em projetos
internacionais, promovendo uma compreensão mais ampla e respeitosa das diferenças culturais.
Nesse contexto, a aprendizagem além das fronteiras, segundo Saquelli e Borghi (2020),
não apenas prepara os alunos para os desafios do presente, mas os capacita a enfrentar o
desconhecido do futuro. À medida que se explora os horizontes expandidos da educação, abre-
se caminho para uma abordagem mais rica, significativa e relevante, onde a aprendizagem não
conhece limites e a jornada educacional é verdadeiramente transformadora.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em última análise, este artigo destaca a importância de uma educação que vai além das
limitações tradicionais, abraçando a complexidade e a diversidade inerentes à aprendizagem.
Ao concluir esta exploração, incentiva-se educadores, pesquisadores e formuladores de
políticas a prosseguirem na busca por práticas educacionais inovadoras, capazes de preparar as
gerações futuras para um mundo em constante evolução. A aprendizagem, quando abraçada de
maneira integral e interconectada, torna-se não apenas um meio para adquirir conhecimento,
mas uma jornada enriquecedora que transcende fronteiras e molda o futuro do aprendizado.
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar a produção científica brasileira em dança contemporânea, trazendo
ainda uma reflexão a respeito da dança, sua atuação na sociedade e sua compreensão associada ao processo
educacional escolar. A metodologia adotada pautou-se na coleta de artigos referente ao tema junto ao portal de
periódicos CAPES. Os resultados mostram por meio de uma análise bibliométrica que a quantidade de artigos que
tratam da temática dança contemporânea é ainda incipiente. Conclui-se que a dança contemporânea no contexto
educacional brasileiro ainda é pouco difundida, porém ela vem se desenvolvendo para se tornar um novo
paradigma de dança.
1 INTRODUÇÃO
Ao analisar a vida de qualquer civilização, desde as mais remotas até os dias atuais,
verifica-se entre as expressões culturais atividades como jogos, desportos e dança. A dança
sempre esteve presente na história do homem, em razão do constante desejo de comunicar-se.
Com o passar dos anos, o homem aumenta a sua capacidade de criar coisas diferentes (POLONI,
2005). Este é um processo natural de evolução, conforme se observam, por exemplo, com as
tecnologias como vestimentas, meio de transporte etc. A arte se transforma e a dança encontra
outras formas de se comunicar e de existir. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, Brasil (1998,
p. 26-27) relata que:
O ser humano, desde suas origens, produziu cultura. Sua história é uma história de
cultura, na medida em que tudo o que faz está inserido num contexto cultural,
produzindo e reproduzindo cultura. O conceito de cultura é aqui entendido,
simultaneamente, como produto da sociedade e como processo dinâmico que vai
constituindo e transformando a coletividade à qual os indivíduos pertencem,
antecedendo-os e transcendendo-os. [...] Entre essas possibilidades e necessidades
podem-se incluir motivos militares, relativos ao domínio e ao uso de espaço; motivos
econômicos, que dizem respeito às tecnologias de caça, pesca e agricultura; motivos
de saúde, pelas práticas compensatórias e profiláticas. Podem-se incluir, ainda,
motivos religiosos, no que se referem aos rituais e festas; motivos artísticos, ligados à
construção e à expressão de ideias e sentimentos; e por motivações lúdicas,
relacionadas ao lazer e ao divertimento (BRASIL, 1998, p. 26-27).
Algumas danças têm códigos bem definidos, que mostram como o bailarino pode se
movimentar que passos podem fazer e até como pode ocupar o espaço da cena. Como um
exemplo disso tem-se o bale clássico em que muitas vezes conta uma história por meio da dança
e da música, seguindo regras precisas (MEIRA et al., 2018).
Compreender as habilidades do corpo através da dança é pensar que o corpo fala sobre
si mesmo, que o corpo, por suas habilidades, constrói um fazer que especialize seu
potencial, é entender que o corpo que dança habita o mundo e o espaço, que ele mesmo
é capaz de construir o seu repertório para realizar habilidades específicas que o tornem
mais apto à ação (SILVA, 2010, p. 18).
Para Thon e Volpi (2013), a dança contemporânea vem experimentando a libertação do
corpo e da dança de um estilo idealizado. Estimula a conexão de um corpo, a criação, a tomada
de consciência, o imprevisível, o estar disponível e a organicidade dos movimentos. Tem a
constante elaboração de uma dança que possa ser vivenciada integralmente, com presença e
clareza.
Diante do exposto, definiu-se como objetivo de o presente trabalho realizar uma análise
quali-quantitativa sobre a produção científica brasileira em Dança Contemporânea. Assim,
dividiu-se o presente trabalho em quatro sessões. A primeira sessão é a introdução onde buscou
situar o leitor na temática da dança contemporânea e apresentar um breve referencial teórico do
assunto. Em seguida, são apresentados os procedimentos metodológicos, os resultados e
discussões e uma breve conclusão.
2 METODOLOGIA
Segundo Guedes e Borschiver (2005) o método bibliométrico pode ser entendido como
uma ferramenta estatística básica para a gestão da informação e do conhecimento. Os autores
apontam ainda que a bibliometria permite mapear e gerar diferentes indicadores, como por
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das revistas acima apresentadas somente a revista ‘’Movimento” possui Qualis A2,
avaliada com alto impacto e qualidade, na área de educação física, o que sugere ainda que tal
revista possui uma grande relevância no meio acadêmico entre os profissionais de educação
física. As demais revistas apresentaram Qualis menores na área de educação física devido
A Figura 1 apresenta uma coletânea de palavras que foram identificadas nos títulos dos
artigos estudados com um destaque para a palavra dança contemporânea como termo mais
citado na construção dos mesmos.
Figura 1: Nuvem de palavras dos títulos da produção científica brasileira em Dança Contemporânea (2005-
2015).
Uma análise sobre o conteúdo dos artigos estudados revelou que o estudo intitulado “De
que são feitos os dançarinos de “aquilo…” criação coreográfica e formação de intérpretes em
dança contemporânea” tratou de discutir a formação de intérprete em dança contemporânea,
tendo coletado informações por meio de entrevistas semiestruturas com dançarinos. Os
resultados apresentados sugerem a participação na criação de coreografias proporciona uma
experiência do corpo em movimento a qual desafio o padrão tradicional da dança, constituindo
ainda um importante elemento de ação pedagógica para a formação de dançarinos.
Quanto ao estudo de Fonseca e Costa (2010), verifica-se que este trabalho se destina a
identificar o corpo em movimento em risco-aventura na dança contemporânea de Deborah
Colker. O artigo pauta-se numa revisão de literatura, apresentando como conclusão que o corpo
em risco é uma das diferentes práticas sociais que envolvem o risco na sociedade
contemporânea.
Andreoli (2011) discute bastante a dança como algo mais direcionado as mulheres ou
homens homossexuais, percepção que atua como uma barreira ao ingresso dos homens em
quaisquer atividades rítmicas ou expressivas. Pela colocação do autor percebe-se que há uma
resistência do público masculino na prática da dança em si. Algo engessando na sociedade que
ainda reflete em algumas culturas. Já Galindo, Milioli e Méllo (2013) abordaram as relações
entre humanos e não/humanos no processo de criação do espetáculo de dança contemporânea
onde o artista cria grãos de soja.
O trabalho de Assis et al. (2015) analisou o espetáculo Caminho da Seda, da Raça Cia.
de Dança de São Paulo, visualizando representações de feminilidades e masculinidades por
meio de vídeo e fotos. Eles discutiram algumas representações que ressaltam os estereótipos de
papéis sexuais como algo que cria novas construções de corpo e movimento da dança
contemporânea.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta de desenvolver este trabalho científico tem como objetivo fazer uma reflexão
sobre a dança contemporânea na escola, mediante uma revisão da literatura. Os resultados dos
estudos anteriores possibilitam perceber que um dos desafios para os professores no contexto
educacional está em incluir a dança como uma atividade curricular e também capacitar o
professor para ensiná-la a todos os alunos, inclusive as crianças e os jovens com necessidades
educacionais especiais.
REFERÊNCIAS
GALINDO, D.; MILIOLI, D.; MÉLLO, R. P. Dançando com grãos de soja, espécies
companheiras na deriva pós-construcionista. Psicologia e sociedade, v. 25, p. 48-57, 2013.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-71822013000100007. Acessado em: Jul. 2016.
MEIRA, B. et al. Mosaico arte: 6º ano do ensino fundamental. 2. ed. São Paulo: Scipione,
2018.
TOMAZZONI, A. Essa tal dança Contemporânea. Revista Aplauso, n. 70, 2007. Disponível
em: http://www.balletcristianapacker.com.br/news-pt-br/artigos-de-danca/2012-02-26/essa-
tal-danca-contemporanea/. Acessado: Jun. 2016.
RESUMO
O artigo pretende abordar como a prática de leitura na Educação Infantil está sendo desenvolvida. A leitura oferece
um prazer especial para a compreensão do mundo, o que a torna um recurso fundamental para a educação. O ato
de ler e interpretar pode tornar-se mais agradável quando aliado a práticas adequadas que estimulam os alunos no
contato com o texto escrito. Portanto, a aquisição da leitura de gêneros textuais diversificados é imprescindível
para uma aprendizagem significativa. Desse modo, esse artigo tem por objetivo desenvolver práticas de leitura que
permita a formação do senso crítico, capacidade intelectual e o despertar para o hábito de leitura no educando,
mediante a interação com diversos gêneros textuais que circulam no meio social. Com isso, surge a necessidade
de desenvolver na escola um ensino produtivo desde os primeiros anos escolares. Assim, procura-se informar a
contribuição de uma metodologia lúdica, centrada nos gêneros textuais, para construção do conhecimento,
principalmente na formação leitora na educação infantil. Para melhor compreensão este artigo foi estruturado em
teorias inovadoras de estudiosos que tratam da temática leitura na Educação Infantil.
1 INTRODUÇÃO
Portanto, visando atender aos anseios que circulam na sociedade, surge a necessidade
de desenvolver na escola um ensino produtivo desde os primeiros anos escolares, inclusive na
Educação Infantil. Em vista disso, é preciso tornar prazeroso o espaço de sala de aula, já que é
ali que as crianças passarão muitas horas do seu dia, construindo conhecimentos, relações
sociais e se construindo enquanto ser social.
De acordo com essa narrativa Teberosky (2001, p. 04) afirma que “adversidade do tipo
de texto é um aspecto mais importante da prática pedagógica”.
Pela leitura, o ser humano não só absorve o conhecimento como pode transformá-lo em
um processo de aperfeiçoamento contínuo. A aprendizagem da leitura possibilita a
independência da criança e a assimilação dos valores da sociedade. Dessa forma, a leitura se
caracteriza como sendo uma atividade de discussão, questionamento, conscientização e
libertação.
Desse modo, a educação nos tempos atuais, requer que se situei, mas na perspectiva da
aprendizagem do que da perspectiva do ensino. É o aluno quem aprende. A ênfase é posta no
educando, como sujeito aprendente, situado no centro do processo de ensino-aprendizagem, o
que implica orientá-lo a “aprender a aprender” e a “aprender a pensar”.
Uma educação infantil de qualidade requer professores que tenham uma formação
inicial sólida e que possa dar continuidade a essa formação, principalmente que se trata do
processo da leitura na Educação Infantil.
A leitura é uma prática social que envolve atitudes, gestos e habilidades que são
mobilizados pelo leitor, tanto no ato de leitura propriamente dita, como no que a antecede e no
que decorre dela. Para contribuir com essa prática e com o desenvolvimento da capacidade dos
alunos de ler com compreensão é importante que o professor lhes proporcione diversos gêneros
textuais (histórias, poemas, canções, parlendas, listas, agendas, propagandas, cartazes, receitas
culinárias, músicas, etc.), lendo para eles em voz alta ou pedindo-lhes leitura autônoma. Além
disso, é desejável que o educador aborde as características gerais desses gêneros (do que eles
Desta forma, torna-se estimulante para a criança ter contato com diversas matérias que
favorecera seu processo criativo, tanto nas produções orais quanto escritas.
Sendo assim, a escola deve trabalhar com uma multiplicidade de textos dando ao aluno
a oportunidade de explorá-los, compreendê-los, envolvendo-se e estabelecendo uma relação
entre eles e sua vida. Desse modo, a aprendizagem da leitura deve se apresentar de forma
significativa não de forma mecânica e reprodutiva.
Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o gosto pela leitura passa ser introduzido na vida
das crianças desde sua primeira idade. Durante os primeiros anos (antes de ser alfabetizado) a
criança ainda não poderá ler, mas poderá ouvir histórias, ver seus colegas manuseando livros,
ela pode folhear livros e ver as gravuras e é através desse contato com mundo da leitura que o
gosto pela mesma pode ser estimulado desde a Educação Infantil.
Participação nas situações em que os adultos leem textos de diferentes gêneros, como
contos, poemas, notícias de jornal, informativos, parlendas, trava-línguas etc.
Participação em situações que as crianças leiam, ainda que não o façam de maneira
convencional. Reconhecimento do próprio nome dentro do conjunto de nomes do
grupo nas situações em que isso se fizer necessário. Observação e manuseio de
materiais impressos, com livros, revistas em quadrinhos etc. previamente
apresentados ao grupo. Valorização da leitura como fonte de prazer e entretenimento
(RCNEI, 1998, p. 140).
Diante dessa assertiva, observa-se que, esses materiais podem ajudar no processo de
letramento e favorece a inserção da criança na cultura escrita; é possível que o professor crie
seu próprio acervo literário com a ajuda das crianças. O importante é criar-se possibilidades
para que a criança se constitua como leitora e explore o mundo da escrita criando suas hipóteses
de leitura.
é imprescindível que as crianças tenham contato com o livro, e não apenas com textos
copiados. o objeto livro é em si mesmo atrativo, fascinante e provoca um
prazer especial, exercendo um efeito especial sobre curiosidade das crianças
(ANTUNES, 2007; 2008, p. 35).
No processo da leitura na Educação Infantil deve-se buscar iniciar as crianças com as
quais trabalha num processo de letramento da maneira como Soares (2003) enfatiza, mas para
isso é importante que haja material de leitura disponível e que a rotina das crianças aconteça
em diversos momentos da leitura.
Muitas vezes as crianças da cidade encontram alguém que lhes conta uma história, ou
um conto de um livro, imediatamente começa uma longa viagem: de afetos, de
surpresas, de imaginação. Cada frase dita é fantasiada e, quando menos se percebe, as
crianças estão imersas e impregnadas nesse mundo que no princípio, parecia apenas
ser feito de letras impressas em um papel para serem decifradas, mas ao ouvir as
histórias, as crianças influem que a escrita é muito mais do que isso, que letras, às
vezes servem apenas para ocultar ou esconder a surpresa que está por vir
(ABRMOWICZ; WAJSKOP, 1999, p. 63).
Cabe, portanto, a escola viabilizar o acesso do aluno no universo de textos que circulam
na sociedade, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Assim, o trabalho com a oralidade, a
leitura e a escrita ocorrem de forma integrada e complementar, potencializando os diferentes
aspectos que cada uma dessas linguagens solicita das crianças.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Então, as práticas de leitura serão valorizadas pela escola que assimilará as que ocorrem
no contexto social, colaborando assim para a formação de um leitor crítico e para a própria
transformação dessa escola que ensinará a pensar a mais genuína função de ler, capaz de
transformar e oferecer condições de cidadania.
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 25
SEQUÊNCIA DIDÁTICA COM ENFOQUE NA HISTÓRIA DA CIÊNCIA NO
ENSINO DE PILHAS
RESUMO
Sequência didática é um conjunto de atividades planejadas, de maneira sistemática, em torno de uma unidade
temática. O objetivo do presente artigo foi elaborar uma sequência didática com enfoque histórico para o ensino
de química, especificamente na descoberta de que a eletricidade poderia ser gerada quimicamente. A sequência
didática foi elaborada para ser aplicada na unidade temática de eletroquímica com o tema de pilhas na turma do 2°
Ano no Ensino Médio na disciplina de Química, compreendendo todas as habilidades para o conteúdo. A sequência
didática foi estruturada com os tópicos de Organização da turma, Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. E
foram adotadas diferentes metodologias ativas no processo de ensino-aprendizagem, tais como o uso de TICs
(Tecnologias da informação e comunicação), aula experimental, aula com aprendizagem significativa crítica e
como forma avaliativa optou-se pelo uso de elaboração de mapas conceituais, os quais os alunos poderão destacar
aspectos históricos, principais conceitos e como inter-relacionar os aspectos históricos com os teóricos-científicos.
1 INTRODUÇÃO
O termo Sequência Didática - SD surgiu em 1996, nas instruções oficiais para o ensino
de línguas na França, quando pesquisadores viram a necessidade de superação da
compartimentalização dos conhecimentos no campo do ensino de línguas (GONÇALVES;
FERRAZ, 2016). De acordo com Zaballa (1998) “a sequência didática é definida como um
conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos
objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores
como pelos alunos”.
A história das ciências não pode substituir o ensino comum das ciências, mas pode
complementá-lo de várias formas. A ciência não é uma coisa isolada de todas as outras, mas
sim faz parte de um desenvolvimento histórico, de uma cultura, de um mundo humano, sofrendo
influências e influenciando por sua vez muitos aspectos da sociedade (MARTINS, 2006).
Foucault (2005) afirma que cada período tem uma visão do mundo, ou estrutura
conceitual, distinta que determina a natureza do conhecimento nesse período. Ao caráter do
conhecimento numa dada época Foucault chama episteme, ou formação discursiva. A episteme,
ou maneira de pensar, não é determinada pelas pessoas, mas pelas estruturas discursivas
predominantes na época. Para Foucault, o discurso inclui textos escritos, mas também inclui a
linguagem oral e as formas não-verbais como a arquitetura, as práticas institucionais, e mesmo
cartazes, imagens e grafismos.
Baseado nesse contexto, o presente artigo teve como objetivo elaborar uma sequência
didática com enfoque histórico para o ensino de química, especificamente o tema de pilhas. E
utilizar de recursos que leve ao aluno a ter uma visão da época em que os experimentos que
foram realizados para a descoberta de que a eletricidade poderia ser gerada quimicamente.
2 METODOLOGIA
III. Identificar, em uma reação de oxirredução, os elementos que sofreram oxidação e redução,
e os agentes oxidantes e agentes redutores.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
III. A origem das pilhas (Cientista, contexto histórico e contribuição de Volta em relação à
teoria de Galvani a qual predominante a eletricidade era gerada apenas pelos seres vivos).
Conclusão: A aula será finalizada com atividades prevista para serem realizadas em
casa, com indicação do vídeo “A História da pilha” disponível em Barbosa (2017) e do texto
“História da pilha” disponível em Fogaça (2023) para complementar o conteúdo abordado em
sala de aula. E a partir da discussão do grupo e de suas contribuições, o professor estabelece as
conclusões.
Nesta primeira aula além dos recursos didáticos tradicionais foram utilizados recursos
audiovisuais mediante o uso das tecnologias da informação e da comunicação (TICs), foi
realizada uma curadoria e selecionado materiais complementares a aula presencial.
Por muito tempo acreditava-se que a aprendizagem era produzida apenas por repetição
e memorização de conteúdos, no entanto, com os elevados números de alunos tendo insucesso
de aprendizagem na atualidade, passou-se a buscar novas formas de ensino onde o aluno seja
mais que um mero ouvinte passando a ser o agente principal na construção do conhecimento.
Na busca de novas formas de ensinar e aprender encontrou-se um novo caminho para melhorar
o ensino, a tecnologia, que cada vez mais é evidenciada e ganha espaço na sociedade
(LOCATELLI, 2018).
Desenvolvimento: O professor ministra sua aula com o auxílio dos slides e em algum
momento da aula será demonstrada a animação representando uma simulação de um
experimento de pilhas, mostrando todo o equipamento e vidrarias necessárias para execução do
experimento e cotejando com imagens relacionadas ao que era utilizado para realizar os
experimentos na época em que foram feitos os experimentos para a descoberta das pilhas. Será
colocado nos slides imagens da coroa de copos, que foi um dos experimentos realizados por
Volta. O professor estabelece diferentes pontos de vista e promove discussão em grupo.
Conclusão: A aula será finalizada com um vídeo para ser visualizado em casa para
complementar o conteúdo abordado em sala de aula, o vídeo seria “A pilha de Volta” disponível
em Lucinda (2014). E a partir da discussão do grupo e de suas contribuições, o professor
estabelece as conclusões.
De acordo com Pereira (2019) o eixo está no trabalho com a compreensão leitora por
meio da linguagem verbal e não verbal, considerando a utilização de estratégias pelo aluno
leitor na sala de aula do Ensino Básico, as quais podem ser classificadas como cognitivas
(operações inconscientes realizadas pelo leitor, sem estar ciente disso, para atingir algum
objetivo de leitura) e metacognitivas (operações controladas conscientemente pelo leitor,
realizadas com algum objetivo).
E por se tratar que as pilhas são geradas quimicamente conforme foi provado por
Alessandro Volta, a segunda parte da aula será direcionada ao seu descarte, que tem que ser de
forma adequada para não prejudicar ao meio ambiente e a saúde de todos os seres vivos. O
professor por meio de slides finaliza o conteúdo de pilhas e aborda sobre o descarte de pilhas,
nos slides da aula serão colocadas imagens de descartes corretos e incorretos. E algumas
perguntas serão lançadas para a turma procurando debater as informações e correlacioná-las
com a vivência deles.
Perguntas como: Você já viu em local público algum lugar para descarte de pilhas? Em
alguma empresa privada você já viu um lugar para descarte de pilhas? Quando as pilhas param
de funcionar na sua casa, onde vocês descartam? Na sua concepção o que deveria ser feito para
uma melhoria do descarte das pilhas?
[...] 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita),
corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das li nguagens artística,
A forma de avaliação será a elaboração de um mapa conceitual final, esta atividade será
desenvolvida em grupos de até 4 alunos.
Com base nos conceitos abordados na unidade didática, elabore um mapa conceitual
pensando como se estabelecem os conceitos químicos que foram abordados nas aulas sobre o
Os mapas conceituais, criados por Novak com base na teoria de Ausubel, podem
constituir para os alunos uma estratégia pedagógica de grande relevância para a construção de
conceitos científicos, ajudando-os a integrar e relacionar informações e atribuir significado ao
que estão estudando. É fato que uma das grandes dificuldades encontradas no processo ensino-
aprendizagem, em todos os segmentos da escolaridade, refere-se à elaboração de conceitos
científicos pelos alunos. Mesmo utilizados com frequência, tais conceitos, em geral, não são
devidamente estruturados e internalizados. Embora muitas vezes ocorra uma correta
verbalização do conceito, muitos estudantes não encontram argumentos para explicitá-lo quanto
ao significado ou, então, não conseguem realizar sua inter-relação com outros conceitos, bem
como utilizá-lo em situações reais (CARABETTA JÚNIOR, 2013).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em relação à opção ao uso da aula experimental em sala de aula, destaca-se que esta
metodologia desperta nos alunos um maior interesse e curiosidade ao conteúdo, despertando no
aluno a habilidade de conseguir visualizar na prática todo o conhecimento teórico. E a
aprendizagem significativa crítica fortalece os meios para motivação e criação de competências
e habilidades requeridas para a formação de um estudante pleno, e também para a sua
convivência na sociedade e no mercado de trabalho.
Por fim, concluiu-se como forma avaliativa na última aula a elaboração de mapas
conceituais, os quais os alunos poderão destacar aspectos históricos, principais conceitos e
como eles conseguem inter-relacionar os aspectos históricos com os teóricos- científicos.
REFERÊNCIAS
ABREU, L. S.; COVA, V. F. O papel das sequências didáticas de ciências naturais nas
práticas de professoras de uma escola municipal. 3° Ed. Fortaleza: EdUECE, 2014.
AMORIM, T.; SILVA, J. P. P. Uso do Computador para o ensino de Física com base na
Aprendizagem Significativa. Visão Universitária, Cassilândia/MS, v. 2, n. 1, p. 35-49, 2016.
Disponível em http://www.visaouniversitaria.com.br/ojs/index.php/home/article/
view/88/67. Acessado em: Ju l. 2023.
COSTA, M. C.; SOUZA, M. A. S. O uso das tics no processo ensino e aprendizagem na escola
alternativa “lago dos cisnes”. Revista Valore, Volta Redonda/RJ, v. 2, n. 2, p. 220-234,
Ago./Dez. 2017. Disponível em https://doi.org/10.22408/reva22201770220-235. Acessado em:
Jul, 2023.
DAMASIO, F.; PEDUZZI, L. O. Q. Para que ensinar ciência no século XXI? – Reflexões a
partir da filosofia de Feyerabend e do ensino subversivo para uma aprendizagem significativa
crítica. Revista Ensaio, Belo Horizonte/MG, v. 20, p. 1-18, 2018. Disponível em
https://doi.org/10.1590/1983-21172018200114. Acessado em: Jul, 2023.
FOUCAULT, M.Foucalt Order of Things. London and New York: Taylor and Francis e-
Library, 2005.29° Ed.
JESUS, E.; COSTA, J. S.; MENEZES, J. D. S.; SOUSA, C. R. Aulas experimentais no ensino
de ciências: possibilidades e desafios no contexto escolar do 6° ano de uma escola municipal
em Entre Rios-BA. Ensino, Saúde e Ambiente, Niterói/RJ, v. 9, n. 2, p. 27-44, Set. 2016.
Disponível em https://www.researchgate.net/publication/328521514. Acessado em: Jul, 2023.
RIBEIRO, T. Integrar a história da ciência na sala de aula através de um caso: o papel de Lyell
no desenvolvimento dos trabalhos de Darwin. História da Ciência e Ensino: Construindo
Interfaces, São Paulo/SP, v. 20, p. 52-62, Dez. 2019. Disponível em
https://doi.org/10.23925/2178-2911.2019v20p52-62 . Acessado em: Jul 2023.
CAPÍTULO 26
IDENTIDADE E SABERES DOCENTES:
ENSAIO SOBRE UMA TEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
EM TRÊS PERSPECTIVAS
RESUMO
A pesquisa em Formação de Professores sempre deu ênfase às discussões sobre a identidade profissional e os
saberes necessários para ser professor. Frutos do movimento de profissionalização do ensino, trabalhos sobre essa
temática são desenvolvidos internacionalmente desde a década de 1980. Já no Brasil, essas discussões vêm a surgir
na década seguinte e são marcadas por uma variedade de concepções e categorizações que implicam em processos
distintos de constituição da identidade docente. O presente trabalho configura-se como um ensaio acerca das
temáticas sobre a constituição da identidade profissional a partir da mobilização de saberes, debruçando-se a partir
de três perspectivas teóricas distintas, mas de relevante difusão nas pesquisas brasileiras. Sob as óticas de Antônio
Nóvoa, Selma Garrido Pimenta e Maurice Tardif, é apresentado como a compreensão e mobilização de saberes
docentes se relaciona com a construção da identidade desses profissionais. Conclui-se que mesmo com variadas
abordagens, categorizações e tipologias, as pesquisas sobre os saberes e a identidade do professor apontam os
mesmos aspectos. Ainda indetifica-se a pouca valorização dos saberes advindos da experiência e a
supervalorização dos saberes advindos das ciências da educação.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Há muito se pesquisa e se discute acerca dos Saberes Docentes, sendo conceituado como
um saber profissional e como os conhecimentos desenvolvidos pelos professores,
conhecimentos esses que, consequentemente, influenciam na forma de educar. As pesquisas se
iniciaram na década de 1980, mas somente na década de 1990, as pesquisas acadêmicas se
voltaram para os professores, suas vivências e seus saberes. Um dos primeiros questionamentos
feitos foi: quais são, de fato, os saberes que mais são mobilizados no cotidiano dos professores?
Como efeito da investigação, outros questionamentos foram feitos em seguida: Quais são as
competências e habilidades que se destacam quando se fala de desenvolver e construir esses
saberes? Qual é o fator que mais impulsiona o desenvolver? É o cotidiano escolar? É suficiente
o conhecimento teórico adquirido nas instituições que formam professores? Ou ainda, são os
conhecimentos adquiridos somente a partir da prática e da experiência? São conhecimentos
fundamentados racionalmente ou baseados em convicções individuais?
Ainda assim, existem autores da área da educação que se dedicaram a abordar de forma
aprofundada esse tema, como por exemplo Maurice Tardif, que foi um educador e sociólogo
canadense que dirigiu o centro de pesquisa sobre a profissão docente na Universidade de
Montreal; como também o professor Antônio Nóvoa que participou de forma ativa na criação
da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, foi presidente do Conselho Científico da
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, dentre suas muitas
outras conquistas e feitos; e também Selma Pimenta, professora titular de Didática na Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado na área da educação.
O ato de produzir a escola, segundo Nóvoa (1992) depende dos professores, de sua
formação e de mudanças nas práticas pedagógicas dentro da sala de aula. Segue uma ideia de
que o professor não deve somente receber as informações e compartilhá-las, mas também ser
agente de maneira ativa nas decisões e mudanças do ambiente escolar. Também continuar sendo
agentes reflexivos, para que haja a continuidade de produção de saberes, mesmo que sobre o
ambiente educacional. Nóvoa (1992) ainda ressalta a importância do compartilhamento de
informações e experiências, promovidos por escolas e universidades, uma vez que o ambiente
educacional é um ambiente coletivo. A disseminação de informações e experiências facilita a
concretização de mecanismos de colaboração profissional
Tendo noção das dimensões que formam um professor e sua identidade para Nóvoa
(1992), há possibilidades de fazer relação com as categorizações dos saberes da docência feitas
por ele. O saber (conhecimento) não se limita ao conhecimento técnico e aos saberes teóricos,
além desses, envolve o conhecimento que ele ensinará a partir dos conhecimentos que ele reteve
baseado na sua forma de aprender. Trazendo à tona aspectos do produzir a vida do professor,
em que ele usa algo de seu pessoal e coloca na sua vida profissional. Produzir a profissão,
quando se trata de construção de conhecimento teórico envolvendo o saber pedagógico e
disciplinar. Produzir a escola, em termos de conhecimento curricular.
Já o saber-ser, para Nóvoa (1992) se trata das atitudes do professor, valores em que ele
acredita, e postura que ele toma diante de situações de conflito. Pode-se relacionar este saber
Pimenta (1999), ainda explicita três passos importantes para o processo de construção
da identidade dos professores em um curso de licenciatura. O primeiro passo se trata da
mobilização dos saberes da experiência, uma vez que um dos desafios da formação inicial de
professores é de fazer o aluno, futuro docente, deixar a concepção que ele tem do que é ser um
professor com base na sua experiência de aluno ao longo da vida, para que perceba a si mesmo
como professor. Esse processo se faz necessário para contribuir no desenvolvimento da
identidade do professor, pois o aluno chega no curso de formação inicial já com noção do que
é ser professor, a partir das experiências que teve com seus professores ao longo de sua vida.
Também sabem sobre o ser professor por meio da experiência socialmente acumulada,
as mudanças históricas da profissão, o exercício profissional em diferentes escolas, a
não valorização social e financeira dos professores, as dificuldades de estar diante de
turmas de crianças e jovens turbulentos, em escolas precárias; sabem um pouco sobre
as representações e os estereótipos que a sociedade tem dos professores, através dos
meios de comunicação (PIMENTA, 1999, p. 20).
O segundo passo no processo de construção da identidade do professor é a discussão
sobre as questões dos conhecimentos nos quais o professor é especialista, e nessa discussão o
professor deve-se questionar quais os significados que esses conhecimentos específicos têm
para si mesmo, para a sociedade contemporânea, qual o papel desse conhecimento no mundo
do trabalho, dentre outras questões. Nesse segundo passo é necessário mobilizar outro saber da
Pimenta (1999) revela que o terceiro passo para a construção da identidade do professor
– o qual concretiza essa construção – durante a formação inicial, tem relação com o terceiro
saber da docência e é necessário buscar conhecer a realidade escolar, ler pesquisas
documentadas sobre o assunto, mas também desenvolver suas próprias pesquisas com intuito
de naturalizar o ato de pesquisar, analisar e refletir sobre a sua prática.
Quando se trata das categorizações acerca dos Saberes Docentes feitas por Maurice
Tardif, essas que mais se destacaram quando se trata de referencial. Tardif, como já se sabe, um
grande pesquisador da área da educação segmenta os saberes profissionais do professor em
quatro tipos de saberes em que um deles é subdividido em dois, eis então as categorizações
feitas por Maurice: saberes disciplinares, saberes curriculares, saberes experienciais e saberes
da formação profissional (subdividido em saberes das ciências da educação e saberes
pedagógicos), além de abordar esse tema relacionando com outros fatores, como tempo, espaço-
tempo, interações humanas ao longo da vida do professor e a sua identidade.
Os saberes disciplinares por sua vez, são saberes definidos pela instituição universitária,
são desenvolvidos e adquiridos por meio da formação inicial e continuada de professores nas
disciplinas ofertadas pela universidade. É um saber transmitido pelas disciplinas da
universidade, sem depender do curso ou da faculdade de educação, segundo Tardif (2014) estes
saberes representam os variados campos do conhecimento, todos os saberes obtidos pela
sociedade ao longo dos séculos, atualmente disseminados nas universidades. Se apresentam em
forma de conteúdo em cada disciplina.
Agora falando sobre um dos saberes que mais se destaca e que muito é discutido sobre
os saberes experienciais, considerado por Tardif um saber que não é só “adquirido”, mas
também um saber especificamente produzido e desenvolvido pelos próprios professores tendo
como base seu dia a dia de trabalho, e o contato do professor com o espaço educacional. Tardif
(2014) ainda ressalta, como os saberes experienciais se comunicam com os demais, por
exemplo com os saberes sociais transformados em saberes escolares por meio dos saberes
disciplinares e saberes curriculares. O que deixa notável a relevância dos saberes experiências
para a profissão docente, uma vez que é necessário ter a capacidade de articular todos os outros
saberes para a prática da profissão. Desse pensamento, Tardif (2014) traz à tona a discussão
sobre os professores terem a chance de se posicionar sobre as definições dos saberes que se
integram a sua prática. Ressaltando mais uma vez, a importância do professor ter a chance de
definir e até mesmo fazer parte do processo de produção dos saberes sociais, conteúdos estes
que são integrados aos cursos, e principalmente aos cursos de formação inicial docente. Por
isso, Tardif (2014) diz: “…os professores ocupam, no campo dos saberes, um espaço
estrategicamente tão importante quanto aquele ocupado pela comunidade científica, não
deveriam eles então gozar de um prestígio análogo? Ora, isso não acontece.”.
Ainda, a prática docente não serve somente como objeto de pesquisa, mas também como
uma atividade que permite mobilizar os saberes pedagógicos. Os saberes pedagógicos são
facilmente confundidos com os saberes das ciências da educação, uma vez que as ciências da
educação teorizam, e tentam aplicar os resultados usando como fundamento, os saberes
pedagógicos. Esses saberes são ideologias pedagógicas originadas da análise da prática
educacional, baseadas em reflexões de estudiosos da área com intuito de orientar os educadores
nas atividades educacionais. “Essas doutrinas (ou melhor, as dominantes) são incorporadas à
formação profissional dos professores, fornecendo, por um lado, um arcabouço ideológico à
profissão e, por outro, algumas formas de saber-fazer e algumas técnicas.” (TARDIF, 2014, p.
37).
Contudo, há outras implicações sobre as relações dos professores com seus saberes. É
notável a superficialidade dos saberes disciplinares, saberes curriculares e saberes da formação
profissional dos docentes, uma vez que nem tão nitidamente destinam aos professores o singelo
cargo de somente receptores e somente transmissores desses conhecimentos, limitando o corpo
docente a ser apenas objetos de pesquisas do saber, quando os professores “[…] poderiam impor
como instância de legitimação social de sua função e como espaço de verdade de sua prática.”
(TARDIF, 2014, p. 40).
Quando se trata da relação dos professores com os saberes experienciais, parece ser o
único conhecimento produzido, ou melhor, gerado diretamente dos próprios professores
durante o exercício de seu ofício. Saberes que os professores desenvolvem e integram a sua
experiência geral, como forma de habitus, que são comportamentos que podem vir a se tornar
uma maneira específica ou um costume de tal professor trabalhar. Seja no momento de se
posicionar dentro de sala de aula ou dos métodos que se mostraram mais adaptáveis para aquele
Quanto aos espaços e fontes de aquisição dos variados saberes que os professores
aplicam em sua prática e influenciam no desenvolvimento dos saberes profissionais colocados
em uma tabela por Tardif (2014, p. 63), é levado em consideração os saberes pessoais
adquiridos no contato familiar e no ambiente em que cresceu e contribui nos primeiros
momentos de socialização com os alunos. Os saberes obtidos da formação escolar básica, que
influenciam na formação inicial de professores e na socialização pré-profissional. Os saberes
obtidos durante a formação profissional de docentes, em cursos de formação de professores,
nos estágios e em especializações, se integram à prática por meio da socialização profissional
nas instituições e universidades. Os saberes obtidos a partir do contato com materiais didáticos
usados no ofício como ferramentas, livros, listas de exercícios, apostilas etc. que guiam o
docente nos momentos futuros utilizando esses mesmos materiais. Por fim, os saberes obtidos
a partir da sua própria experiência, no ambiente escolar que facilita a prática do trabalho docente
e permite a socialização profissional.
Ele é uma pessoa comprometida com e por sua própria história – pessoal, familiar,
escolar, social – que lhe proporciona um lastro de certezas a partir das quais ele
compreende e interpreta as novas situações que o afetam e constrói, por meio de suas
próprias ações, a continuação de sua história (TARDIF, 2014, p. 104).
Isso explica o porquê de o saber experiencial ser o mais citado pelos professores como
fonte referencial e base para os outros saberes. A vivência do trabalho docente, as atitudes
tomadas, os discursos e as relações criadas com os alunos e colegas de trabalho e a percepção
do professor a partir dos saberes que o desenvolveu durante toda a sua vida, projetam em sua
identidade marcas que o guiará e o servirá de alicerce em suas futuras aulas. Por tanto, pode-se
dizer que a identidade do professor, não se assemelha de forma alguma a memória de um
computador, ou a maneira que um computador trabalha, computando todas as características
que surgem ao longo do tempo; se aproximando mais de um livro que conta uma história ou até
mesmo um álbum de lembranças. Carregando todas as marcas e momentos que se fizeram
importante e contribuíram com a personalidade e a construção do ser que futuramente veio a se
identificar com a profissão docente. À medida que surgem as situações, esse funcionamento é
útil como filtros que permitem o docente analisar baseando-se em momentos semelhantes já
vividos. Também, vale ressaltar que para alguns profissionais do próprio corpo docente, a ideia
de experiência está diretamente relacionada ao tempo de carreira, atrelada ao domínio de seu
ofício. Aos poucos, o “eu pessoal” que carrega consigo, todos os saberes adquiridos nos
diferentes espaços e momentos de sua vida, se transforma no “eu profissional” que aprendeu a
lidar e usou esses saberes na prática de sua profissão.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
NÓVOA, A. (Org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Publicações, Dom Quixote, 1992.
CAPÍTULO 27
DESCOBRINDO UM VALOR DESCONHECIDO:
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
RESUMO
O presente trabalho trata de um relato de experiência de uma vivência na disciplina de Prática Profissional VII, a
qual teve como objetivo trabalhar a temática de tecnologias educacionais voltadas para o ensino de Matemática.
Diante da proposta, foi elaborado um vídeo educativo voltado para o saber regra de três. A vivência foi realizada
em uma turma do 9° ano do Ensino Fundamental em uma escola da rede pública de tempo integral, que fica
localizada na cidade de Petrolina. A escolha do tema foi realizada a partir da análise de um simulado de preparação
para o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), aplicado na turma referida. Durante a vivência, foram
desenvolvidas questões relacionadas ao tema proposto de modo a analisar os conhecimentos prévios e a
compreensão do objeto de conhecimento dos estudantes durante a aplicação do vídeo.
1 INTRODUÇÃO
Na análise dos dados, constatou-se que as únicas questões em que foram obtidas mais
de 65% de acertos por parte dos estudantes, foram as que contemplavam as operações com
números inteiros. Nas demais, houve uma variação de 37% a 60% de acertos, com exceção de
uma questão que contemplava porcentagem, na qual, apenas 25% dos estudantes obtiveram um
resultado esperado. Por isso, optou-se por desenvolver um vídeo educativo com o saber regra
de três, o qual será descrito na próxima seção.
O roteiro foi subdividido em seis momentos, sendo que, ao fim de cada um, era realizada
uma pausa para que os estudantes respondessem o questionário disponibilizado. O primeiro
momento foi introdutório a uma situação-problema, voltada para o contexto da sala de aula,
relacionada à regra de três simples. Em seguida, os estudantes foram questionados sobre seus
conhecimentos prévios em relação à definição de regra de três e, logo após isso, foi explanado
um pouco sobre quais situações se enquadram na regra de três diretamente proporcional. Por
conseguinte, foi feita a resolução do problema proposto inicialmente e, logo após, foi
exemplificada a regra de três inversamente proporcional.
Adiante os estudantes foram questionados sobre a diferença entre regra de três simples
e composta e, após a pausa para responder o questionamento, a definição foi explicada e uma
estratégia de resolução apresentada. Diante disso, propôs-se uma nova situação problema para
Por fim, apresentou-se uma situação relacionada à regra de três composta no contexto
de um veículo versus distância e velocidade e, após desenvolverem a situação proposta, sua
resolução foi apresentada. O vídeo foi encerrado com uma retomada sobre a importância da
regra de três e suas aplicações no cotidiano.
4 VIVÊNCIA NA ESCOLA
Figura 1: 1° momento por meio de regra de três Figura 2: 1° momento por meio de raciocínio lógico.
Quando questionados sobre o que era regra de três, apenas quatro estudantes
conseguiram explicar com palavras segundo a sua compreensão. Conforme pode ser observado
no registro na Figura 3, percebe-se que o estudante A1 entende que a regra de três pode ser
utilizada para descobrir um quarto valor desconhecido e/ou para calcular porcentagem. No
entanto, ainda nessa situação, onze estudantes responderam já ter estudado, mas não sabiam/se
lembravam do que se tratava. Segue um registro do estudante A2 na Figura 4.
Percebe-se que o estudante não consegue explicar com palavras sobre o que é uma regra
de três, mas compreende que é uma técnica utilizada para descobrir um quarto valor
desconhecido quando já se tem três valores conhecidos.
Ademais, nessa situação, dezessete estudantes afirmaram não saber do que se tratava, e
um, ainda, justifica que o motivo pode ser o acúmulo de conteúdos ministrados; posteriormente,
é difícil lembrar-se de todos. Segue o registro de dois estudantes nas Figura 8 e 9.
Figura 12: Respostas do estudante A10. Figura 10: Respostas do estudante A11.
O vídeo elaborado foi avaliado pelo professor regente da turma durante a aplicação
desse em classe, pelos discentes e docente da disciplina de prática profissional VII. Vale
ressaltar que o questionário de avaliação do professor foi referente à aplicação do vídeo de
forma geral, a qual analisava: a proposta do vídeo, o potencial de atender às necessidades dos
usuários, a qualidade técnica adequada, o potencial pedagógico e o tempo do vídeo. As
classificações diferenciavam entre: discordo totalmente, discordo, nem concordo e nem
discordo, concordo e concordo totalmente. Em todos os itens, o professor avaliou com
“concordo totalmente”.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 28
IMPACTOS DA PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO SOBRE PROFESSORES DE
PÓS-GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo estudar os impactos da precarização do trabalho nos docentes de Pós-
Graduação da Universidade Federal da Paraíba. Este trabalho fundamentou-se em temas como: precarização do
trabalho docente, produtivismo academico e sofrimento psíquico. Quanto ao caminho metodológico, foi
empregado o paradigma interpretativo, com a utilização de uma abordagem qualitativa, sendo escolhido, como
método, o estudo de caso. Tal pesquisa foi realizada com seis professores de Pós-Graduação da UFPB. Os
resultados da pesquisa indicam que os professores de pós-graduação estão sobrecarregados, pois têm de realizar
atividades bastante diversificadas. Para tanto, comprometem momentos de lazer, momentos com a família, horas
de descanso. Além disso, percebeu-se como a pressão por publicações tem gerado um clima competitivo nos
programas e uma repetição de publicações, por serem as exigências muito altas e terem os professores outras
atividades para desempenhar.
1 INTRODUÇÃO
Como os docentes têm-se portado frente à multiplicidade de atividades que precisam ser
desempenhadas e às novas cobranças institucionais e simbólicas? Como dividem seu tempo
entre trabalho e família? Foram questões dessa natureza quebalizaramo estudo aqui proposto,
de modo a auxiliar a compreensãodos aspectos que permeiam a precarização do trabalho
docente em um contexto de capitalismo flexível.
Alguns autores já consagrados nos estudos sobre trabalho como Castel (1998), Antunes
(1999; 2006), Alves (2009; 2011) já discutiram maciçamente as modificações sofridas no
mundo do trabalho com a introdução da ideologia neoliberal. Como já foi dito, outros autores
já se debruçaram sobre a temática da precarização do trabalho docente como Lemos (2010;
2011), Botomé (1996), França (2011) e argumentam que a precarização da atividade docente
reflete o aumento, a intensificação e a desvalorização do trabalho dos professores nas
Universidades.
A crise do pós 1970 e a introdução das políticas neoliberais tiveram um alcance muito
grande em todos os setores produtivos. No campo da ciência, também aconteceram
transformações significativas oriundas do intenso processo de privatização, desestatização e
precarização do trabalho. A educação vê-se compelida a adaptar-se às necessidades do mercado,
desenvolvendo a doutrina neoliberal que tem como proposta a ativação daprivatização da escola
pública como política do Estado.
3 O PRODUTIVISMO ACADÊMICO
O docente, além de tomar para si essa busca incessante pela qualificação na tentativa de
Léda (2006) ainda discute acerca do papel da educação, já que ela tem sido
historicamente utilizada como mecanismo ideológico para justificar diferenças individuais de
capacidade de trabalho, de renda e de mobilidade social que,na verdade, encontram sua razãode
ser nas desigualdades da estrutura social e das oportunidades de acesso. É extremamente usual,
hoje, palavras do campo empresarial fazerem parte dos planos e projetos pedagógicos, como:
produtividade, eficiência, gerência, clientes, gestão por metas etc. Todo esse vocabulário é
apresentado dentro de uma rede ideológica tecida para a reprodução do capitalismo flexível,
afetando a escola, a universidade, seus alunos e docentes.
Essa idéia trazida por Cunha (2009), de o docente ser e sentir-se produtivo, remete a
questão da captura da subjetividade autônoma do trabalhador que é abertamente reforçada pelo
capitalismo, tal como discutido por autores como Antunes e Alves (2004) acerca dessa temática,
fortalecida pela produção capitalista sob a imposição da mundialização do capital.
A autora vai além e contempla o papel dos docentes que trabalham com os cursos de
Pós-Graduação, discutindo que a perversidade que se estende sobre os docentes que atuam
nesse nível se revela nas cobranças para produção intelectual que se reverta em publicação de
livros, artigos, participação em eventos científicos etc. Contudo, é perceptível a
“obrigatoriedade” em se publicar em revistas, journals ou eventos que estejam “qualisados” ou
conceituados pelos órgãos de verificação. Ademais, se observa a inércia na mobilização coletiva
dos docentes e, em função da competitividade, ocorre um isolamento acadêmico-cientifico, isto
é, os professores se reúnem em grupos de estudos ou linhas de pesquisa para desenvolver
individualmente os seus trabalhos (FRANÇA, 2011).
Godói e Xavier (2012) argumentam que existe, hoje, uma nociva máquina produtivista
que evoluiu a ponto de gerar inúmeras anomalias. Os pesquisadores passaram a fazer parte
dessa engrenagem fechada cuja essência, o “produtivismo”, já foi assimilada por todos. Trata-
se, precisamente, de uma fábrica de fazer pontos – um imaginário no qual muitos acreditame
até admiram. Em última instância e, com todos os sintomas, o produtivismo transformou a
academia em uma perfeita “fábrica de loucos”, sem vítimas ou algozes (GODÓI; XAVIER,
2012).
É pertinente refletir sobre quem define os critérios e as regras para que um docente seja
realmente considerado produtivo. Os comitês de avaliação da CAPES são compostos por
professores que também precisamestarem dia com a produção científica. Dentro desse
raciocínio, os professores impõem regras para que eles mesmos cumpram. Na maioria das
vezes, alcançar esse patamar de produção é extenuante e profundamente cansativo, mas a lógica
da produtividade está tão firmemente introjetada e naturalizada nas mentes dos docentes que
pouco se registra em termos de contestação mais politicamente organizada. Adere-se ou não ao
sistema. Neste último caso, com perdas e constrangimentos não apenas psíquicos/simbólicos
(autoestima, não pertencer ao grupo produtivo), mas também materiais (não estar vinculado a
um programa de pós-graduação exclui os professores da oportunidade de acessarem os recursos
financeiros e entidades de fomento).
Essa situação vivida pelos professores remete à noção de sofrimento no trabalho trazida
por Cristophe Dejours. De acordo com o autor, alguns fatores corroboram para que o indivíduo
sofra com o trabalho, a saber:otrabalho excessivo, o sofrimento dos que temem não satisfazer
às exigências dos patrões,ou de não estar à altura das imposições da organização do trabalho,
como a imposição de horários, a exigência de formação, de informação, de experiência, de
aprendizagem (DEJOURS, 2001).
4 METODOLOGIA
A natureza do estudo é qualitativa e o recurso para a pesquisa foi o estudo de caso. Para
Yin (2009), o estudo de caso é utilizado em muitas situações que contribuem para o
conhecimento do indivíduo, do grupo, do social e da política e de fenômenos relacionados. O
estudo de caso é uma estratégia alternativa nos estudos e pesquisas em ciências sociais. Ele é
comumente utilizado nas pesquisas em psicologia, sociologia e ciências políticas (YIN, 2009).
5 RESULTADOS
Eu não sei responder... Ninguém me forçou aisso. Porque eu fui treinado paraisso
desde a graduação. Eu fiz a opção porque eu fui treinado pra isso desde o início.
Quando eu entrei na graduação, eu já fazia parte do grupo de pesquisa. Quando eu
terminei a graduação, automaticamente, eu fui fazer mestrado e doutorado, na
sequência... Porque eu gosto de fazer (PROFESSOR 3, informação verbal concedida
em 03/05/2012).
Falando objetivamente, não foi uma escolha, eu achava que era quase obrigatório
ingressar na pós-graduação. Agora se tu me perguntar porque permaneço, a resposta
não é simples. Há justificativas pequenas, mas todas elas vinculadas ao desejo de ser
pesquisador, porque a pós-graduação eu interpreto mais como pesquisa do que como
docência. É aquela história das paixões... A gente não explica... Não há uma
justificativa racional, apenas o desejo de ser pesquisador (PROFESSOR 2, informação
verbal concedida em 19/04/2012).
De acordo com Lemos (2007), o professor possui uma pluralidade de atividades a serem
desenvolvidas. Ele precisa ser um técnico especialista, pesquisador e cientista, bom orientador
para os seus alunos, escritor para redigir livros e artigos e um bom administrador. A partir dessa
noção, a pluralização das atividades e o aumento do tempo dedicado ao trabalho estão
associados à noção de precarização do trabalho no ensino superior. Essa precarização é sentida
na polivalência que leva à sobrecarga de trabalho, sendo essa uma das suas manifestações. É
possível correlacioná-la, portanto, à estratégia do Estado de reduzir custos, limitando as
contratações. Essa estratégia já foi discutida por Castel (1998), quando o autor afirmou que a
precarização exige que o trabalhador esteja imediatamente disponível para adaptar-se às
modificações da demanda. Também Antunes (2006) traz reflexões dessa natureza ao afirmar
que cada vez mais a tendência do mercado é reduzir o número de trabalhadores.
Caminho na praia três ou quatro vezes por semana. Isso é sagrado. Pode o mundo vir
abaixo,mas eu só chego na universidade, depois da minha ginástica. Se tiver alguém
morrendo, pode esperar eu fazer minha ginástica. Eu preciso disso. E faço sem culpa
mesma. Imagina se eu não fizer... Eu acho que eu já tinha morrido. É lá que eu
descarrego minhas endorfinas, adrenalinas, serotoninas. Eu fico mais estimulada para
trabalhar (PROFESSOR 1, informação verbal concedida em 03/04/2012).
Na questão que tratou sobre a pluralidade de atividades que o professor precisa
desempenhar, observou-se, através dos relatos que os professores, apesar de comentarem ser
cansativa a atividade de docência, destacamque a atividade que mais extenua é aadministrativa.
Alguns deles sugerem que a administração deveria ficar a cargo de um profissional que pudesse
exclusivamente administrar e que essa responsabilidade não deveriaser dos docentes que estão
vinculados à pesquisa.
Quando eu estava na administração, a pesquisa foi pro beleléu [...] quando eu fui
coordenador da pós, eu ficava o dia todo, praticamente, dentro da coordenação
resolvendo problemas que eu poderia dizer são de três em três horas. De três em três
horas tinha um problema para resolver: um aluno que precisava de um material, um
professor que não implantou as notas, viagem para comprar passagens... As três
atividades juntas são impraticáveis. Eu acho... Com eficiência...É impossível
(PROFESSOR 3, informação verbal concedida em 03/05/2012).
Agora o que eu sempre achei é que as atividades administrativas deveriam ser
comandadas por administradores. Professor de pós-graduação deve tá voltado para
pesquisa, para a orientação dos alunos, não para administração. Isso é o que mais toma
tempo e você sempre deixa a sua pesquisa de lado (PROFESSOR 4, informação verbal
concedida em 27/05/2012).
Os docentes, quando questionados acerca do tempo que se dedicam ao trabalho,
especialmente aos fins de semana, relataram que trabalham com muita freqüência. Lemos
Humm... Praticamente todos! Ai você pergunta assim: é só o que você faz? Pode
chegar na minha casa que o meu escritório está cheio. Porque eu trabalho em casa?
Porque eu fico mais tranqüila (PROFESSOR 1, informação verbal concedida em
03/04/2012).
Infelizmente, todo o final de semana. Agora, não significa o tempo todo. Mas vai ter
período no sábado ou no domingo que eu vou tocar no assunto de trabalho
(PROFESSOR 2, informação verbal concedida em 19/04/2012).
Compulsivamente! Fim de semana o pessoal perguntava: o que diabo é isso? Você
não tem um momento de trégua. Quando eu me aposentar e puder organizar meu
tempo de outra forma... É como médico... Você já viu médico parar de trabalhar?
Não,né? A gente tá sempre trabalhando ou se preparando para fazer algum trabalho,
ou para acompanhar algum trabalho. Infelizmente, os finais de semana têm que ficar
divididos assim (PROFESSOR 5, informação verbal concedida em 07/06/2012).
É possível afirmar que o produtivismo e o sobretrabalho dele decorrente invadem o
tempo de vida livre, o direito ao descanso remunerado, podendo gerar entre os docentes
dificuldades em conciliar o trabalho com a vida familiar.
Cunha (2009) traz a idéia de que o docente não precisa apenas ser produtivo, mas sentir-
se produtivo.
Eu me sinto muito mal por não produzir. Tanto que o que eu tô vivendo hoje é um
dilema. Eu não quero deixar de publicar, mas na administração fica muito difícil. Eu
fui a um Congresso e eu fiquei mal porque eu senti que estava ficando para trás. Me
senti como se não estivesse atualizada. Pelo menos duas vezes nesses dois anos eu me
senti mal e fiquei me questionando: é isso que eu quero? (PROFESSOR 6, informação
verbal concedida em 19/06/2012).
Botomé (1996) destaca quão completo o professor necessita ser, abarcando atividades
de pesquisa, ensino, extensão e atividades administrativas. Como consequência dessa
pluralidade de atribuições, observou-se que o docente compromete o seu tempo de lazer e de
descanso com atividades da academia. Assim, o tempo destinado à família ou até mesmo o
tempo destinado a si próprio também é afetado pelo volume de trabalho.
Meu filho mais velho se queixou muito. Os pequenos também, principalmente com as
viagens. No nosso caso, é o pai e a mãe. Eu faço terapia. Duas sessões por semana.
Eu me sinto muito cobrado. Dependendo da cobrança, você se sente mais ou menos
cobrado. Às vezes foi uma coisa que tinha prometido e não posso cumprir, porque eu
estou viajando ou porque eu estou cansado. Aí, é pior (PROFESSOR 3, informação
verbal concedida em 03/05/2012).
A minha família reclama sempre. A gente fica sempre com muita culpabilidade,
sobretudo quando a gente perde alguém da família. Que poderia ter ficado mais tempo
com ela e menos tempo dedicado ao trabalho (PROFESSOR 5, informação verbal
concedida em 07/06/2012).
É pertinente comentar sobre as falas dos professores quando afirmam que “eu faço
terapia”, “eu me sinto cobrado”, “minha família reclama sempre”, “sempre tem cobrança”.Elas
evidenciam o sofrimento psíquico vivido pelos professores para conciliar a vida em família com
a atividade docente, afora a angústia e a pressão psicológica para ser produtivo. É crescente o
recurso às terapias e, muitas vezes, aos meios medicamentosos como paliativos das pressões
contemporâneas do trabalho (DEJOURS, 2004). Retoma-se, assim, a temática do tempo já
discutida nesta análise. Gaulejac (2007) afirma que os horários de trabalho não estão mais sendo
suficientes para dar conta das exigências da instituição, gerando uma fronteira entre o trabalho
e tempo fora do trabalho cada vez mais porosa. Assim, canaliza-se o máximo de energia
libidinal em força produtiva.
Tem gente que acredita mais nisso (necessidade de publicação) do que eu. Eu não faço
esse jogo completo não. Eu faço só o que é necessário para continuar. O que eu gosto
mesmo é de orientação, de debate (PROFESSOR 3, informação verbal concedida em
03/05/2012).
A grande angústia hoje em dia é exatamente isso. Se você não tiver tantos artigos, não
sei onde para não sei qual revista, com todas as orientações... Isso tira todo o élan do
trabalho! Gente, é uma loucura fazer tudo isso... A não ser que você esteja fazendo de
conta que orienta, fazer de conta que você está escrevendo. Acho uma estupidez essa
linha do produtivismo. Claro que tem que ter uma seriedade na forma de você
conduzir suas atividades, mas não essa cobrança como se você estivesse numa linha
Pressionada? Por ninguém, por mim mesma. Eu tenho 12 trabalhos enviados para
revistas, ainda não saiu nenhum. Eu tenho um aceito, mas ainda não foi publicado.
Quer dizer: não é porque eu não trabalhei é porque há outros problemas
(PROFESSOR 1, informação verbal concedida em 03/04/2012).
Não me sinto pressionado. Esse ano eu ainda não escrevi nenhum artigo, mas aí já
estou me programando, mas eu já tenho 14 ou 15 artigos submetidos. A qualquer
momento um artigo é aceito ou você tem que revisar, mas eu sempre tenho uma
margem de artigos submetidos (PROFESSOR 4, informação verbal concedida em
27/05/2012).
Diante disso, houve o questionamento acerca da competitividade que existe nos
programas de pós graduação e, consequentemente, o enfraquecimento das relações entre os
pares. Essa competitividade é constatada por França (2011) que destaca que há competitividade
e ocorre um isolamento acadêmico, com professores reunidos em pequenos grupos,
desenvolvendo separadamente os seus trabalhos. A maioria dos professores afirmou que há
competição e que, muitas vezes, os professores querem se destacar sozinhos.
Tem gente que produz muito, mas também muita repetição. Você pode olhar pra quem
tem produção muito grande, repete muito. Porque é difícil. Se você pega uma área de
humanas que é preciso ler muito, como é que você escreve e produz artigo e capítulo
de livro? Eu nunca fiz isso, mas eu tenho percebido que certo é o número, mas eu
ainda não consegui fazer assim. Eu não consigo deixar publicar sem critério. Não dá
pra dizer que todos fazem isso, mas alguns pesquisadores do CNPq fazem isso. O que
eu acho que tem que acontecer é diminuir um pouco mais essa carga (PROFESSOR
6, informação verbal concedida em 19/06/2012).
Diante disso, o que se percebe é que os professores, cada vez mais, têm produzido sem
a preocupação de um comprometimento com a oferta de algum serviço para a sociedade.
Algumas publicações são meras reproduções com fins puramente quantitativos, daí
ascrescentes acusações de plágios.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LÉDA, D. B. Trabalho docente no ensino superior sob o contexto das relações sociais
capitalistas. In: SILVA JR, J. dos R.; OLIVEIRA, J. F. de; MANCEBO, D. (Org.). Reforma
Universitária: dimensões e perspectivas. 1 ed. Campinas: Alínea, 2006, v.,p. 73-87.
LEMOS, D.V.S. Alienação no trabalho docente: o professor no centro das contradições. 2007.
270 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Programa de Pós-graduação em Ciências
Sociais, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007.
MELUCCI, A. (Org.). Por uma sociologia reflexiva: pesquisa qualitativa e cultura. Petrópolis:
Vozes, 2005. p. 315-338.
NOGUEIRA, M.A. Um Estado para a Sociedade Civil: temas éticos e políticos da gestão
democrática. 3. Ed. São Paulo: Cortez, 2011.
SOUZA, C. A nova Gestão Pública. Salvador. Caderno Flem Gestão Pública. 2001.
YIN, R. Case Study Research: design and methods. 4 ed. Thousand Oaks, CA: Sage, 2009.
CAPÍTULO 29
PANORAMA DOS CONHECIMENTOS FONÉTICO-FONOLÓGICOS NOS CURSOS
DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA DO BRASIL
RESUMO
Os estudos sobre as relações entre fala e escrita têm mostrado a necessidade de uma formação docente que
contemple esse conhecimento, em especial sobre processos fonológicos durante a alfabetização. Assim, esta
pesquisa de natureza descritiva, de abordagem mista qualitativa-quantitativa, de tipo documental, objetiva verificar
como os conhecimentos fonético-fonológicos aparecem na formação inicial de professores pedagogos nos cursos
de licenciatura em Pedagogia do Brasil. Para isso, no ano de 2017, realizou-se, no site do e-MEC, um levantamento
dos cursos de licenciatura em Pedagogia que participaram do último Exame Nacional de Cursos, com conceitos
(CC) 3, 4 e 5. Analisa-se, então, como os conhecimentos de fonética e fonologia aparecem nos documentos oficiais
dos cursos de licenciatura em Pedagogia, a partir do levantamento, nos sites das Instituições de Ensino Superior
que oferecem os cursos referenciados, dos Projetos Pedagógicos dos Cursos, das matrizes curriculares, das ementas
e das referências.
1 INTRODUÇÃO
Com relação a isso, segundo Bisinotto e Silva (2013), há uma lacuna existente entre a
teoria e a prática nos cursos de licenciatura; os autores mostram que estudos fonético-
fonológicos podem contribuir intensamente na formação do professor alfabetizador para o
Dessa forma, o futuro professor alfabetizador poderá também ajudar os seus alunos a
desenvolver tal saber, adotando uma postura metodológica em sala de aula que os leve a estudar
os próprios erros nos textos por eles produzidos, sem precisar necessariamente utilizar as
terminologias adotadas na área dos estudos fonético-fonológicos.
2 METODOLOGIA
Enfatiza-se que o universo desta pesquisa está circunscrito aos 84 (oitenta e quatro)
cursos de Pedagogia ofertados pelas instituições públicas investigadas, nas modalidades a
distância e presencial, em Grau de Licenciatura, que apresentaram, em 2017, o índice CC 3, 4
e 5, em situação de atividade. O corpus de estudo foi constituído, inicialmente, a partir de dados
coletados, em meio digital, das ementas e das referências contidas nas Matrizes Curriculares
dos Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) das 84 (oitenta e quatro) licenciaturas em Pedagogia
que formaram o universo desta pesquisa.
Nessa direção, para a geração dos dados que foram analisados e constituíram o corpus,
percorreu-se as seguintes etapas apresentadas. Primeiramente, realizou-se, no Portal e-MEC, o
inventário das IES públicas que ofertam cursos de licenciatura em Pedagogia no Brasil, nas
modalidades a distância e presencial, com índice CC 3, 4 e 5, com situação em atividade, através
do cadastro e-MEC 17. Nesse particular, escolheu-se o seguinte percurso para delimitar a busca
nas opções dispostas no site: Consulta avançada, Curso de Graduação, Curso de Pedagogia. Na
Área de Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE: Educação;
Formação de professor e ciências da educação; Formação de professor da educação básica;
Formação de professor das séries iniciais do ensino fundamental.
De posse desse inventário – no qual constavam código e nome das IES, código e nome
dos cursos de Pedagogia, grau, modalidade, conceito, vagas autorizadas e situação dos cursos,
procurou-se no site de cada instituição o PPC do curso de licenciatura em Pedagogia. Nem
todos os cursos disponibilizavam o PPC, então outras formas de localizá-los foram buscadas,
por exemplo, fazendo contato com as Instituições. Mesmo assim, dos 84 cursos levantados no
17
A consulta no Cadastro e-MEC foi realizada no dia 28 de setembro de 2017.
Diante disso, pareceu mais viável ler cada ementa e cada referência, identificando em
cada uma delas os conteúdos e referências que têm relação com a fonética e a fonologia. 18
Concomitantemente, buscou-se responder à pergunta norteadora da análise: Quais cursos de
licenciatura em Pedagogia do Brasil com conceitos 3, 4 e 5, nas modalidades a distância e
presencial, em atividade, contemplam em suas Matrizes Curriculares os conhecimentos na área
de Fonética e Fonologia?
18
Nesse contexto, não foram analisadas as obras que tratam de método fônico, pois recorrem à relação
fonema-grafema, sem considerar a produção do som e sem que haja uma reflexão sobre essa relação. A
aprendizagem se dá pela repetição.
Com relação à classificação dos cursos que fazem alusão aos conhecimentos fonético-
fonológicos, dezesseis cursos presenciais enquadram-se nesse perfil, considerando que ora o
conteúdo da ementa da disciplina, ora alguma das obras adotadas contempla os conhecimentos
fonético-fonológicos, conforme mostrado no quadro 2.
Quadro 2: Cursos de Licenciatura em Pedagogia CC3 que fazem alusão aos conhecimentos fonético-
fonológicos.
IES CURSO DE LICENCIATURA EM
PEDAGOGIA
Universidade Federal do Amazonas/ UFAM (4) Licenciatura em Pedagogia (101614)/(101639) 19
Universidade Federal do Maranhão/ UFMA (548) Licenciatura em Pedagogia
(1155352)/(1155555)
Fundação Universidade Federal de Rondônia/ UNIR (699) Licenciatura em Pedagogia (16007)
Fundação Universidade Federal de Rondônia/ UNIR (699) Licenciatura em Pedagogia (44076)
Fundação Universidade Federal de Rondônia/ UNIR (699) Licenciatura em Pedagogia (62083)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – Licenciatura em Pedagogia (100589) (5001056)
IFPA (1813) (5001058) (5001065) (5001066) (5001090)
19
Os numerais da primeira coluna indicam o número da Instituição de Ensino Superior e os da segunda, o código
dos cursos no MEC.
Como se pode observar, a ementa da disciplina não traz um conteúdo específico da área
de fonética e fonologia. A primeira disciplina propõe-se a trabalhar a consciência linguística
(UNIR, 2012), mas é necessário reconhecer que essa proposição é muito ampla, podendo o
professor trabalhar com o graduando a fonologia, a morfologia, a semântica, o discurso, a
pragmática. A consciência linguística, segundo Duarte (2008), situa-se entre o conhecimento
intuitivo que o falante tem de sua língua e o conhecimento que ele constrói sobre a sua língua,
através de estudo reflexivo e sistemático desse uso intuitivo da língua, bem como das normas
que regem o uso da fala e da escrita.
A autora trata também das variações dialetais e traz, ainda, uma avaliação das falhas de
escrita e de leitura, que classifica em primeira, segunda e terceira ordem, que estão relacionadas
à aprendizagem das teorias apresentadas. Assim, esses conhecimentos fonético-fonológicos,
quando trabalhados com os graduandos, poderão subsidiar: i) a avaliação dos níveis de
aprendizagem dos alunos no método fônico; e ii) a produção de atividades que levem o aluno,
na zona de desenvolvimento proximal, a refletir sobre sua fala e escrita, passando da zona de
desenvolvimento real para a zona de desenvolvimento potencial, conforme a proposta de
Vygotsky (1991), adotado na referência dos dois cursos da UFAM citados anteriormente.
20
Programa Especial de Formação de Professores para a Educação Básica – uma parceria entre UFMA e as
prefeituras municipais para formar docentes em educação superior.
21
O termo lecto-escrita é utilizado por Ferreiro; Teberosky (1999) para se referir às habilidades de escrita no
contexto da oralidade.
22
Conforme Vygostky (1991).
Nesse sentido, o autor afirma que a fala, a escrita e a leitura estão atreladas à linguagem,
que “existe porque se uniu um pensamento a uma forma de expressão, um significado e um
significante, como dizem os linguistas. Essa unidade de dupla face é o signo linguístico.”
(CAGLIARI, p. 30). A relação entre essas duas faces indica o funcionamento e os usos da
língua. Ainda nesse primeiro capítulo são contemplados: i) o estudo da variação linguística,
quando o autor fala do certo, do errado e do diferente; e ii) a linguística no ensino do português,
mostrando as áreas de interesse do estudo da linguagem – fonética, fonologia, morfologia,
sintaxe, semântica, pragmática, análise do discurso, pragmática e sociolinguística.
No capítulo que versa sobre a fala, Cagliari (2007) afirma que a língua vive porque está
na fala das pessoas, no entanto sabe-se pouco sobre a fala, pois a escola valoriza a escrita e,
mais especificamente, a gramática normativa. Assim, o autor: i) trata dos símbolos fonéticos,
apresentando a tabela com símbolos fonéticos do português; ii) detalha os sons do aparelho
fonador, mostrando as classificações quanto aos modos e lugares de articulação; iii) fala das
vogais e consoantes; iv) além de abordar vários problemas relativos à fala, como sonoridade,
nasalização, rotacismo, palatalização, monotongação entre outros.
Percebe-se que esse livro traz muitos conhecimentos fonético-fonológicos e, se for bem
explorado na formação de professores, pode fornecer ao graduando um arsenal para o trabalho
Quadro 3: Cursos de Licenciatura em Pedagogia CC3 que não apresentam conhecimentos fonético-fonológicos.
IES CURSO DE LICENCIATURA EM
PEDAGOGIA
Universidade Federal da Paraíba/UFPB (579) Licenciatura em Pedagogia (109950)
Universidade Federal do Pará/UFPA (569) Licenciatura em Pedagogia (12061)
Universidade Federal Fluminense/UFF (572) Licenciatura em Pedagogia (123704)
Universidade Federal da Paraíba/UFPB (579) Licenciatura em Pedagogia (109626)
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
Inicia-se, agora, a análise das ementas e referências dos cursos CC4, utilizando os
mesmos critérios adotados anteriormente. Como resultado da análise dos Cursos de
Licenciatura em Pedagogia que apresentam conhecimentos fonético-fonológicos, tanto na
ementa quanto na referência, encontram-se 2 (dois) cursos presenciais, como é possível
verificar no quadro 4:
No volume II. Princípios de análise, dois capítulos escritos por Paulo Chagas de Souza
e Raquel Santana Santos tratam dessa ciência. O capítulo Fonética trata: i) da relação entre
fonética e fonologia; ii) dos aspectos segmentais e supra-segmentais, como o acento; iii) da
Com relação aos Cursos de Licenciatura em Pedagogia CC 4 que fazem alusão aos
conhecimentos fonético-fonológicos, 22 (vinte e dois) cursos se enquadram nesse perfil, sendo
2 (dois) cursos à distância e 20 (vinte) presenciais, como pode ser observado no quadro 5:
Quadro 5: Cursos de Licenciatura em Pedagogia CC4 que fazem alusão aos conhecimentos fonético-
fonológicos.
IES CURSO DE LICENCIATURA EM
PEDAGOGIA
Universidade Federal de Uberlândia (UFU) (17) Licenciatura em Pedagogia (120893)
Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IF Sul de Minas) (4358) Licenciatura em Pedagogia (1161601)
Universidade Federal do Piauí (UFPI) (5) Licenciatura em Pedagogia (73192)
Universidade Federal do Piauí (UFPI) (5) Licenciatura em Pedagogia (104156)
Universidade Federal do Piauí (UFPI) (5) Licenciatura em Pedagogia (116642)
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) (6) Licenciatura em Pedagogia (112606)
Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) (7) Licenciatura em Pedagogia (115076)
Universidade Federal de Alagoas (UFAL) (577) Licenciatura em Pedagogia (1151166)
Universidade Federal de Alagoas (UFAL) (577) Licenciatura em Pedagogia (1151779)
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) (582) Licenciatura em Pedagogia (117717)
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) (591) Licenciatura em Pedagogia (101280)
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) (595) Licenciatura em Pedagogia (96953)
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) (596) Licenciatura em Pedagogia (1178745)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RS (IFRS) (601) Licenciatura em Pedagogia (1118531)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) (694) Licenciatura em Pedagogia (121798)
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) (830) Licenciatura em Pedagogia (17199)
Quadro 6: Cursos de Licenciatura em Pedagogia CC4 que não apresentam os conhecimentos fonético-
fonológicos.
IES CURSO DE LICENCIATURA EM
PEDAGOGIA
Universidade federal de Ouro Preto (UFOP) (6) Licenciatura em Pedagogia (111504)
Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) (107) Licenciatura em Pedagogia (1179160)
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) (576) Licenciatura em Pedagogia (114089)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (581) Licenciatura em Pedagogia (101894)
Universidade Federa Rural de Pernambuco (UFRPE) (587) Licenciatura em Pedagogia (1152584)
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) (730) Licenciatura em Pedagogia (120769)
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) (1) Licenciatura em Pedagogia (23)
Universidade Federal de Sergipe (UFS) (3) Licenciatura em Pedagogia (95057)
Universidade Federal do Amazonas (UFAM) (4) Licenciatura em Pedagogia (112100)
Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) (7) Licenciatura em Pedagogia (115558)
Universidade Federal de Uberlândia (UFU) (17) Licenciatura em Pedagogia (103018)
Universidade Federal do Maranhão (UFMA) (548) Licenciatura em Pedagogia (11449)
Universidade Federal do Pará (UFPA) (569) Licenciatura em Pedagogia (12111)
Universidade Federal Fluminense (UFF) (572) Licenciatura em Pedagogia (12690)
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) (574) Licenciatura em Pedagogia (96483)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) (694) Licenciatura em Pedagogia (1270651)
Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR) (699) Licenciatura em Pedagogia (116782)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Licenciatura em Pedagogia (1125934)
Catarinense (IF Catarinense) (5036)
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro- Licenciatura em Pedagogia (1272863)
Brasileira (UNILAB) (15497)
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
Quadro 8: Cursos de Licenciatura em Pedagogia CC5 que não apresentam conhecimentos fonético-fonológicos.
IES CURSO DE LICENCIATURA EM
PEDAGOGIA
Universidade Federal do Paraná (UFPR) (571) Licenciatura em Pedagogia (41077)
Universidade Federal do Ceará (UFC) (583) Licenciatura em Pedagogia (1160850)
Universidade Federal de Lavras (UFLA) (592) Licenciatura em Pedagogia (1185341)
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) (573) Licenciatura em Pedagogia (1278626)
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Licenciatura em Pedagogia (97018)
(574)
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (585) Licenciatura em Pedagogia (14237)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (586) Licenciatura em Pedagogia (14349)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Licenciatura em Pedagogia (1167925)
Grande do Sul (IFRS) (601)
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
A síntese da análise realizada permite dizer que os dados demonstram que, no contexto
desses 79 (setenta e nove) cursos de licenciatura em Pedagogia CC3, CC4 e CC5 (100%) que
constam no site do e-MEC no ano de 2017, apenas 2 (dois) cursos de formação de professores,
ofertados na UFRPE (91969) e (91975), ou seja 2,53%, propiciam ao graduando, futuro
professor alfabetizador, os conhecimentos específicos necessários para a mediação do processo
de alfabetização.
Tabela 1: Obras da área da Fonética e Fonologia presentes nas referências das disciplinas dos Cursos de
Licenciatura em Pedagogia CC 3, 4 e 5.
OBRAS CURSOS CURSOS CURSOS TOTAL
CC3 CC4 CC5
CAGLIARI, L. C. Alfabetização e 8 18 3 29
Linguística.
CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. 2 - - 2
Iniciação à Fonética e Fonologia.
FARACO, Carlos Alberto. Escrita e 2 - - 2
alfabetização.
FIORIN. J. L. (org.). Introdução à - 2 - 2
Linguística.
LEMLE, Miriam. Guia teórico do 1 5 1 7
alfabetizador.
TOTAL 13 25 04 42
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
No quadro apresentado, pode-se visualizar que a obra Alfabetização e Linguística, de
Luiz Carlos Cagliari (2007), foi a que teve maior número de ocorrências; ela aparece nas
referências 29 (vinte e nove) vezes, sendo 8 (oito) vezes em cursos CC3, 18 (dezoito) vezes em
O ideal seria que outras obras da área da fonética e fonologia – a exemplo de Fonética
e Fonologia do Português (SILVA, 2005), que aparece uma única vez no corpus, e a obra
Introdução à linguística (FIORIN, 2010), que aparece 2 (duas) vezes, ambas em disciplinas de
um único curso CC4 – compusessem as referências de uma disciplina de conhecimentos
fonético-fonológicos, com uma ementa cujos conteúdos sejam compatíveis com essas
referências e com a formação do professor alfabetizador para o trabalho com os erros de escrita.
Nesse contexto, destacam-se os cursos CC4, que estão posicionados entre aqueles que
têm conceito mediano, ou seja, que não estão entre os cursos com menores conceitos ou entre
os com maiores conceitos, evidenciando que, embora haja uma dissonância entre o que é
proposto como conteúdo nas disciplinas e as obras de referência, esses cursos estão no processo
de reconhecimento da importância dos conhecimentos fonético-fonológicos e de adequação
destes aos cursos de formação de professores alfabetizadores.
Outras obras adotadas nas disciplinas desses cursos tratam de aspectos fonético-
fonológicos pontuais e, nesse sentido, não foram consideradas na classificação, pois não
apresentam de forma mais aprofundada a fonética articulatória, acústica e perceptual ou
auditiva e não realizam uma discussão sobre os processos fonológicos que se julgassem
importantes para a formação do professor alfabetizador e para o trabalho com os erros de escrita
das crianças na fase da alfabetização.
O livro Alfabetizando sem o Ba Be Bi Bo Bu, Luiz Carlos Cagliari (2010), tem 09 (nove)
ocorrências no corpus: 01 (uma) em um curso CC3, 05 (cinco) em cursos CC4 e 03 (três) em
cursos CC5. Nele, o autor mostra que o sistema de escrita do português é alfabético e, também,
ortográfico, pois neutraliza os diferentes dialetos no nível da palavra. Nesse sentido, o autor
afirma que os métodos de ensino tradicionais, tanto os que se baseiam no “ba be bi bo bu” como
os construtivistas, consideram a ortografia como objetivo final do processo de alfabetização,
quando deveriam considerá-la como parte do processo. Nestes, a aquisição da linguagem escrita
é considerada em níveis (pré-silábico, silábico e alfabético) que não correspondem ao sistema
de escrita.
Outra obra que não se considerou na análise foi O aprendizado da ortografia (MORAIS,
1999), que aparece 11 (onze) vezes no corpus: 03 (três) vezes nos cursos CC4 e 08 (oito) vezes
nos cursos CC5. A obra, com capítulos de vários autores da área de educação, trata do ensino
de ortografia e do erro, na perspectiva das dificuldades na aprendizagem das regras e dos
desafios impostos para essa aprendizagem. Aborda, ainda, a utilização de r e rr, da grafia de ou,
or e o em contexto silábico final tônico, da grafia de ditongo /iw/ em verbos e substantivos, do
uso de s e ss, refletindo sobre a escrita na ótica da ortografia, da semântica, da estrutura e da
história das palavras e não da fonética e fonologia.
A obra A língua de Eulália, de Marcos Bagno (2006) também não foi considerada nessa
análise, embora tenha ocorrido 08 (oito) vezes no corpus: 03 (três) vezes nos cursos CC3, 03
(três) vezes nos cursos CC4 e 02 (duas) vezes nos cursos CC5. O livro, como o próprio título
mostra, é uma novela sociolinguística e conta a história de três amigas (Vera, Silvia e Emília)
que foram passar as férias em Atibaia, na casa da tia de Vera – Irene.
Toda a história gira em torno da fala coloquial de Eulália, antiga empregada e, há muito,
grande amiga de Irene, doutora em linguística e professora aposentada, que abriu uma escola
Entre alguns quadros que mostram a evolução de palavras do latim para o português e
de palavras do francês para o português, a obra apresenta um quadro com as diferenças entre o
português não-padrão e o português padrão e uma figura do aparelho fonador, com os pontos
de articulação das vogais. No enredo, Irene fala que está escrevendo um livro e que, nele,
pretende mostrar que, seja do ponto de vista linguístico, pragmático ou psicológico, existe uma
explicação científica para tudo o que é considerado erro no português não-padrão (BAGNO,
2006).
O que é possível verificar é que, ao longo da novela, Tia Irene discute os fenômenos
apresentados do ponto da linguística histórica, mostrando a evolução do latim para o português
ou comparando o português e outras línguas, ou trazendo explicações sintáticas, semânticas ou
pragmáticas, são poucas as explicações de ordem fonético-fonológica e, as que aparecem são
sem muita profundidade. Também é importante destacar que, sendo uma novela
sociolinguística, a abordagem maior é sobre o mito da língua única, a variação linguística, o
preconceito linguístico, as variantes estigmatizadas, os fatores extralinguísticos, a mudança
linguística entre outras questões pertinentes à área.
A obra Influência da fala na alfabetização (MOLLICA, 2000), que aparece uma única
vez em um curso CC4, também não foi considerada na análise, por estar voltada para a área da
sociolinguística. Nela, a autora apresenta um estudo sobre erros de escrita de alunos do 6º ao 9º
Ano do Ensino Fundamental de uma escola pública como decorrência da influência da fala e
da pouca familiaridade com a ortografia. O estudo mostrou que os erros de escrita, no corpus
analisado, sofrem influência dos fatores extralinguísticos sexo, renda, escolaridade da mãe e
Neste trabalho, quanto aos critérios adotados para a análise dos conhecimentos fonético-
fonológicos presentes nos cursos de Pedagogia brasileiros, levantados a partir do site e-MEC,
em 2017, considerou-se que: apresentam os conhecimentos fonético-fonológicos os cursos nos
quais a ementa contém conteúdos de fonética e fonologia e as referências respaldam a
aprendizagem desses conteúdos; fazem alusão aos conhecimentos fonético-fonológicos os
cursos nos quais algum conhecimento de ordem fonético-fonológica aparece ou na ementa ou
na referência; e não apresentam conhecimentos fonético-fonológicos os cursos que não
contemplam esse conhecimento nem na ementa nem nas referências.
Assim, nos cursos CC3, dezesseis cursos fazem alusão aos conhecimentos fonético-
fonológicos, e quatro não apresentam esses conhecimentos. Nos cursos CC4, dois cursos de
licenciatura em Pedagogia, ofertados pela Universidade Federal Rural de Pernambuco -
UFRPE, localizados no Estado de Pernambuco, na região Nordeste, apresentam conhecimentos
fonético-fonológicos. Vinte e dois cursos fazem alusão a esses conhecimentos e dezenove não
apresentam tais conhecimentos. Nos cursos CC5, oito cursos fazem alusão e oito não
apresentam esses conhecimentos.
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolingüística. 16 ed. São Paulo: Contexto, 2006.
CAGLIARI, L. C. Alfabetizando sem o Ba, Be, Bi, Bo, Bu. 2 ed. São Paulo, Scipione. 2010.
CALLOU, D; LEITE, Y. Iniciação à fonética e à fonologia. 11.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2009.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Pearson Pratice
Hall, 2004.
FIORIN, J. L. (org.). Introdução à Linguística. II. Princípios de análise. São Paulo: Editora
Contexto, 2010.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. - São Paulo: Atlas, 2002.
LEMLE, M. Guia teórico do alfabetizador. 11. ed. São Paulo: Editora Ática, 1999.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 12. ed.
São Paulo: Cortez, 2008.
CAPÍTULO 30
TRAJETÓRIAS DO FEMININO:
PEDAGOGIAS PARTICIPATIVAS PARA A EDUCAÇÃO DA
PRIMEIRÍSSIMA INFÂNCIA
RESUMO
O presente trabalho apresenta caracterizações gerais aproximadas das teorias e práticas educativas resultantes de
estudos investigativos das icônicas autoras da Pedagogia Participativa na Primeiríssima Infância: Maria
Montessori (Itália- 1870–1952), Emmi Pikler (Hungria- 1902–1984) e Elinor Goldschmied (Inglaterra- 1910–
2009), delineando um quadro comparativo destacando diferenças de origem, concepção de infância, ambientes,
papel do adulto e dinâmicas e/ou materiais idealizados a interpretação de cada uma das distintas abordagens. A
escolha das três autoras para o estudo e análise acontece pelo inconfundível legado deixado pelas educadoras para
a qualificação e humanização dos atendimentos institucionalizados à primeiríssima infância, assim como, a
potencial identificação das acadêmicas com a postura de pesquisadoras dedicadas a causa da Educação Infantil e
da emancipação feminina no mercado de trabalho e na Ciência.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo versa, ainda que de forma panorâmica e despretensiosa, sobre três
consolidadas abordagens pedagógicas participativas elaboradas especificamente para
atenderem à educação e ao cuidado dos bebês e das crianças pequenas em instituições de
Educação Infantil e a necessidade cada vez mais urgente de se tornarem conhecidas as
diferenciações teóricas e prática existentes entre elas (ONGARI; FRESCO; COCEVER, 2020).
Não se trata de fazer julgamentos de valor elegendo a mais completa ou, então, de militar
em favor daquela que supostamente possa melhor responder às necessidades infantis em um
dado momento ou em outro mas, é sim, fazer um estudo comparativo que ajude a demarcar os
contrastes, por vezes sutis, entre as perspectivas, dissipando distorções (OLIVEIRA-
FORMOSINHO; ARAÚJO, 2013).
Por fim, acredita-se que a discussão e reflexão pertinentes acerca das autoras Maria
Montessori (1870-1952); Emmi Pikler (1902-1984) e Elinor Goldschmied (1910-2009) e de
suas pesquisas no âmbito da Educação Infantil torna-se um relevante veículo de promoção de
uma pauta identitária que eleva a valorização da autoestima positiva das acadêmicas que se
encontram em processo formativo, como mulheres emancipadas e como pesquisadoras da
educação.
Em 1909, a pediatra e pedagoga italiana Maria Montessori publica sua pesquisa em sua
obra fundadora, intitulada: “Pedagogia Científica”. Nesse mesmo ano, Emmi Pikler fazia 7 anos
de idade, enquanto Elinor Goldschmied só nasceria no ano seguinte. Então, pode-se considerar
as três autoras como contemporâneas na discussão a respeito das Pedagogias Participativas para
a primeiríssima infância?
Isso acontece porque durantes os anos que viveu na Índia, em sua experiência de
docência em cursos de formação de educadores, Montessori teve oportunidade de observar
cotidianamente bebês e crianças pequenas que acompanhavam as mães durante as aulas.
Diferente das educadoras mães do ocidente, as mães indianas levavam seus bebês consigo para
assistirem as palestras de Montessori, o que forneceu consistente conteúdo para os textos
apresentados e desenvolvidos por Montessori em “A Mente Absorvente” (KRAMER, 1988;
POLLARD, 1993; LILLARD; JESSEN, 2003).
A ideia de períodos sensíveis, ocorreu a Montessori depois que teve contato com a obra
do médico francês Jean Itard (1774-1838) que relatou suas contínuas intervenções na busca por
educar o “Selvagem de Aveyron”, um menino de uns onze ou doze anos achado nas cercanias
da cidade francesa de Aveyron em 1776, que fora, até aquela idade, criado sem contato humano
(MONTESSORI, n.d. B).
Em relação a educação infantil para bebês e crianças bem pequenas, Montessori vai
deixando algumas pistas de como o adulto preparado pode permitir o fluxo de acolhimento as
características e aos períodos sensíveis que se manifestam. Isso significa preparar-se e preparar
o ambiente de acolhimento, com atenção especial ao choro ou balbucios e o que ele pretende
comunicar ao adulto, por exemplo, ou ainda, levar em consideração o seu conforto físico e a
liberdade de movimentos em roupas folgadas e camas no chão que possibilitem sua autonomia
Nessa perspectiva, igualmente vão sendo apresentados uma sorte de materiais que
refletem as mais significativas aprendizagens sensoriais, motoras e cognitivas segundo a
inspiração montessoriana. Além de usar alguns materiais clássicos montessorianos em uma
escala pertinente ao uso das crianças bem pequenas - como foi o caso da torre rosa, encaixe
cilíndrico adaptado, quadros montessorianos e bandejas da vida prática - foram sendo
idealizados materiais pedagógicos específicos, tais como:
a) Móbiles e cartões com imagens de formas geométricas simples e nas cores preto e
branco, móbiles em sólidos geométricos como esfera e octaedro nas cores primárias e em escala
monocromática.
entre outros...
Escreve Montessori (1965, p. 11): “Nós, os que trabalhamos unicamente para o triunfo
de uma causa, somos como membros de um só corpo, os que vierem depois, obterão êxito
porque outros, que os antecederam, trabalharam com fé e persistência.”
Esse importante trabalho foi publicado pela primeira vez na Hungria no ano de 1969,
sob o título de “Mover-se em Liberdade: desenvolvimento da motricidade global”, nesse
período, Pikler já ocupava o cargo de diretora do instituto Pikler já fazia um pouco mais de
vinte anos (20) (PIKLER, 2021).
A história pessoal de Pikler e especialmente as pessoas que fizeram parte de sua vida
tiveram uma importante influência em suas escolhas e nos desafios que enfrentou (ONGARI;
FRESCO; COCEVER, 2020).
A mãe de Pikler, por exemplo, foi uma professora de Jardim de Infância que faleceu
quando Pikler tinha doze (12) anos de idade. Esses dois fatos acabaram direcionando as suas
escolhas pela educação infantil das crianças órfãs.
Igualmente, seu pai era um reconhecido artesão, o que fez diferença quando Pikler
precisou, ela mesma, planejar e produzir mobílias apropriadas a autonomia e participação dos
bebês e das crianças pequenas nos cuidados como por exemplo, diferentes tipos de cama e mesa
e cadeira para alimentação (FALK, 2010; FALK, 2021; SOARES, 2020).
Suas influências teóricas ajudaram a dar contornos relevantes as suas teses. Pikler
(1902–1984) estudou sobre as síndromes adquiridas como a detectada pelo psicanalista infantil
- Renne Spitz (1887-1974) denominada de “Hospitalismo” – que se caracterizava por apresentar
um certo estado de apatia grave que acometia crianças separadas da mãe na mais tenra infância
e criadas em orfanatos (SPITZ, 2004).
Determinada a mostrar que essa condição de orfandade não pode ser determinante de
um futuro trágico para a vida adulta e que práticas humanizadoras de respeito do sujeito desde
a primeira infância podem reduzir a probabilidade dessas síndromes se manifestarem, a Dra
Pikler se propõe a resgatar gerações de crianças, antes fadadas a depressão e ao abandono
emocional e cognitivo, apenas por estarem institucionalizadas. Escrevem as pesquisadoras da
abordagem Appell e David (2021, p. 42):
[...] a Dra Pikler fez uma opção clara, fundamental: se a criança pequena não pode ser
criada por sua mãe, a relação materna não pode ser reproduzida, mas, é possível lhe
oferecer no quadro de uma instituição, uma experiência de natureza totalmente
diferente que favoreça o seu pleno desenvolvimento (APPELL; DAVID, 2021, p. 42).
Essa natureza totalmente diferente de relação adulto – criança capaz de reverter o
estigma da criança abandonada como uma desajustada socialmente em potencial foi também
inspirada pela experiência que Pikler teve como médica pediatra residente na clínica do Dr.
Clemens Von Pirquet. Dessa experiência fez uma parceria de trabalho com a enfermeira Mara
Reinitz que por acaso também era educadora do Jardim de Infância. A parceria foi interrompida
com a Segunda Guerra Mundial e retomada após seu término pois, Emmi Pikler aceita o convite
de dirigir o Instituto Lóczy na condição de poder levar consigo a educadora Marika para encarar
esse desafio (FALK, 2021; ONGARI; FRESCO; COCEVER, 2020).
Por isso, o entorno positivo de Emmi Pikler oferece uma referência estruturada que
pouco deve se modificar e onde cada modificação que seja eminentemente necessária é
planejada e preparada com antecedência para ser o menos desestabilizador possível para não
comprometer o equilíbrio da autorregulação conquistada pela criança. Esse cuidado na
edificação das relações criando o entorno estável e apropriado é chamado por Winnicott de
O entorno positivo idealizado por Emmi Pikler e sua equipe incluía piso de madeira para
oferecer firmeza e solidez para que o bebê o utilize como ponto de equilíbrio para se colocar
nas posturas e realizar os movimentos desejados favorecendo o equilíbrio e a segurança motora.
Pikler também previa o uso de cercados para limitar espaços e oferecer proteção física e
segurança psicológica para os bebês. Também é bem conhecido o trocador gradeado de madeira
idealizado por Pikler que oferece pontos de apoio para que o bebê possa se levantar
movimentando-se durante a trocas (OLIVEIRA-FORMOSINHO et al., 2011)
Em seguida do pano Pikler, a bola Pikler é apresentada. Trata-se de uma bola vazada
onde os espaços facilitam a sua manipulação por parte do bebê que ainda tem uma preensão
primitiva.
Desse modo, nessa mesma lógica de ser facilitador da manipulação, são oferecidos os
seguintes objetos (MAJEM; ODENA, 2010):
d) coleção de objetos que são iguais mas que podem ser colocados um dentro do outro e
um em cima do outro,
e) objetos com base estreita para serem equilibrados e oferecer oportunidade para
experimentar o equilíbrio da verticalidade;
g) pequenos brinquedos afetivos de pano com pequenos móveis e utensílios sempre perto
de estações de cuidado: como momentos de sono, alimentação e troca de fraldas.
Desde 2011, o Instituto Pikler deixou de ser uma instituição de acolhimento às crianças
órfãs e/ou abandonadas e passou a ser uma creche de atendimento às crianças de 1 a 3 anos em
turno parcial e integral. Como tal, o Instituto passou a adaptar suas práticas a nova situação
onde as famílias agora passam a fazer parte da equação. Atualmente, além de oferecer
atendimento às crianças pequenas, o Instituto Pikler se consolidou como lugar de formação de
profissionais para creches e instituições de acolhimento (FALK, 2021; SOARES, 2020).
Las Condiciones de vida de los niños em nuestro Instituto nos han permitido disponer
de uma importante serie de observaciones, su registro continuoy su estudio detenido
y sistemático. Los resultados obetenidos me autorizan a pensar que mis observaciones
y mis comprobaciones, que más adelante expondré, pueden proporcionar mediante
algunos de sus aspectos, elementos nuevos para um mejor conocimiento de la primera
infância (PIKLER, 2018, p. 21).
4 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO EDUCATIVO NAS CRECHES E O BRINCAR
HEURÍSTICO DE ELINOR GOLDSCHMIED
Goldschmied foi educadora e assistente social. Durante a década de trinta (30) formou-
se no tradicional Froebel College em Roehampton, que desde 1882 é uma conceituada
Por conta desse fundamento, Goldschmied dedicou longos anos a trabalhar diretamente
na otimização de políticas públicas e práticas edificantes e humanizadoras do ponto de vista
sócio emocional e cognitivo da população infantil de seu país e em outras nações como Itália e
Espanha (OLIVEIRA-FORMOSINHO; OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2018).
Uma coincidência curiosa, Goldschmied teve que mudar-se para a Itália em 1946 porque
seu marido foi transferido para Trieste. Nesse mesmo ano, Pikler que havia passado alguns anos
Não há registros de que tenham se encontraram nesse período, mas, no entanto, na Itália
Elinor Goldschmied começa a trabalhar e estudar bebês e crianças pequenas abandonadas em
orfanatos. A experiência lhe é tão comovente que dois anos depois, ela funda uma casa de
acolhimento às mães solteiras em Milão a fim de prevenir o abandono de bebês nas instituições
(FOCHI, 2021).
Foi durante seu tempo de estudo, trabalho e pesquisa na Itália que Goldschmied (1910-
2009) juntamente com colaboradoras desenvolveu a proposta de Bandeja de Exploração
Sensorial.
A partir daí treinou diversas equipes de profissionais para trabalhar nas creches italianas
procurando qualificar o atendimento. Publicou a primeira edição de seu manual para educação
infantil em creche, intitulado: Il Bambini nell´asilo nido - que significa - “A Criança na Creche”
(FOCHI, 2021).
Na segunda metade dos anos cinquenta do século XX, Elinor Goldschmied, já viúva,
retornou à sua terra natal e reconhecida por suas iniciativas na área da educação das crianças
pequenas de até três anos de idade passa a trabalhar como destacada autoridade em Educação
Infantil na cidade de Londres, assumindo de 1965 a 1972 a chefia do Escritório para Bem-Estar
e Educação da Criança da Inglaterra, período em que desenvolve a ideia de Jogo Heurístico.
Esses temas foram atualizados e publicados em 1994 no livro intitulado: “People Under
Three: Children in Daycare, do qual ela foi coautora de Sônia Jackson, influente pesquisadora
sobre educação da infância e políticas públicas de assistência às crianças. Essa obra foi
continuamente reeditada e sua publicação em português se deu em 2004, pela editora Artes
Médicas.
Certa do impacto das políticas públicas para a infância e das práticas de educação
infantil nas instituições de atendimento, no desenvolvimento das crianças e por consequência
para o progresso humano, social e econômico das nações, Elinor Goldschmied delineou uma
abordagem que parte dos princípios de liberdade com estrutura emocional para as crianças,
criando no ambiente, a estabilidade de uma atmosfera emocional acolhedora da cultura das
crianças e de suas famílias, apostando em um currículo onde o binômio de educar e cuidar esteja
holisticamente presente no cotidiano das crianças que frequentam a creche (GOLDSCHMIED;
JACKSON, 2006).
Grupo 1: a turma dos bebês e crianças que ainda não caminham com segurança até cerca
de dois (2) anos de idade;
Enquanto o cesto dos tesouros estava voltado aos bebês que já sentavam, mais ou menos
a partir dos seis (6) meses, as bandejas de experimentação eram projetadas para crianças
maiores de dois (2) anos que possuíam um nível seguro de deslocamento. Já o jogo heurístico
podia ser oferecido às crianças que engatinhavam, a partir dos 8 e 10 meses, substituindo
gradativamente as sessões com o cesto dos tesouros (GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006;
POST; HOHMANN, 2011).
O cesto dos tesouros era uma proposta que consistia em apresentar aos bebês um cesto
de vime ou de palha com cerca de 35 centímetros (cm) de diâmetro e 8 centímetros (cm) de
altura cujo conteúdo consistia em uma diversidade de objetos cotidianos atraentes e de múltiplas
origens como madeira, esponja, metal, tecido, elementos da natureza, entre outros. Esses
objetos resistentes permitiam uma ampla gama de ações como: sacudir, lançar, apertar, agarrar,
enfim descobrir (heurístico) suas mais diferentes propriedades, exercitando habilidades
manipulativas na busca de semelhanças e diferenças, fazendo escolhas, ou seja, tomando
decisões entre quais objetos investigar e que ações irá empreender para essa pesquisa (FOCHI,
2021; FOCHI, 2018; FOCHI 2015).
A: ilha dos materiais contáveis incluem materiais manipulativos que se pode contar as
unidades. A ilha de materiais não contáveis dispõem de bandejas com materiais do tipo
granulados, arenoso e outros que não podem ou que são difíceis de serem contados
individualmente como unidades.
Outros dois princípios são expostos na Abordagem de Elinor Goldschmied que não
encontramos em Montessori (1870-1952) e nem Emmi Pikler (1902-1984) são a participação
parental cotidiana na escola infantil e a relação positiva, respeitosa, recíproca e responsiva da
creche para com as famílias atendidas e suas culturas. A abordagem proposta por Elinor
Goldschmied e suas colaboras marca com destaca a responsabilidade da comunidade de
educadores no combate a toda e qualquer discriminação e possui uma política de cuidado de
prevenção de problemas de saúde ocupacional para com os profissionais da educação infantil.
Acreditamos não ser possível adotar uma posição neutra, porque em nosso ponto de
vista isso simplesmente perpetua a discriminação. Uma política antidiscriminatória
ativa deve envolver compensações pelas imagens que cercam constantemente as
crianças no mundo fora da creche. [...] Devemos reconhecer que o que propomos
representa, sim, uma afirmação de nossos próprios valores, que podem estar em
conflito com os valores de outras pessoas [...] (GOLDSCHMIED, 2006, p. 31).
Por vezes, as distorções geradas entre as abordagens costumam resultar em uma espécie
de caldo confuso de práticas e de máximas teóricas que contribui para que se crie uma
pedagogia alternativa indefinível, uma espécie de amalgama hora atribuída a uma autora, hora
à outra, sem identidade própria segura. E é, justamente por não possuir identidade totalmente
reconhecível sob bases sedimentadas, que essa amalgama pedagógica corre o risco de, mais
facilmente, sucumbir a força histórica do assistencialismo, da estimulação precoce e/ou da
educação pré-escolar convencional, perspectivas que ferem frontalmente a concepção fundante
das Pedagogias Participativas, ou seja, a ideia de criança competente, protagonista, curiosa e
sujeito de sua própria aprendizagem (OLIVEIRA-FORMOSINHO; OLIVEIRA-
FORMOSINHO, 2018).
Dentro dos limites óbvios desse texto, espera-se ter contribuído, ainda que de forma
breve e preliminar para reforçar a necessidade de se estudar com profundidade as Pedagogias
Participativas pertinentes ao primeiro ciclo da educação infantil, acreditando que, para tanto, a
análise comparativa pode tornar-se uma aliada porque reforça contornos. Inclui-se nessas
considerações “finais” um quadro comparativo alinhavado a partir dessas investigações
bibliográfica e/ou videográfica das autoras que aqui representam esses diálogos com o feminino
na pesquisa da primeiríssima infância, sua educação e cuidado.
REFERÊNCIAS
BOWLBY, J. Apego: a natureza do vínculo. V. 1, Trilogia Apego e Perda. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
DAVIES, S. e UZODIKE, J.. O Bebê Montessori: guia para criar bebês com amor, respeito e
compreensão. São Paulo: Nverso, 2023.
DAVIES, S. A Criança Montessori: guia para educar crianças curiosas e responsáveis. São
Paulo: Nversos editora, 2021.
FALK, J. (Org.). Abordagem Pikler: Educação Infantil. São Paulo: Omnisciência, 2010.
FALK, J. Educar os Três Primeiros Anos: a experiência de Pikler – Lóczy. São Paulo: São
Carlos, 2021.
FOCHI, P. Afinal, o que os Bebês Fazem no Berçário? Comunicação, autonomia e saber fazer
dos bebês em um contexto de vida coletivo. Porto Alegre, Penso, 2015.
KALLO, E.; BULLOG, G. As Origens do Brincar Livre. São Paulo: Omnisciência, 2021.
LILLARD, P. P. e JESSEN, L. L. Montessori From The Start: the child at home, from birsth
to age three. EUA: Schocken Bokks, 2003.
MAJEM, T.; ÓDENA, P. Descobrir Brincando. Tradução: SP: Autores associados, 2010.
ORGARI, B., FRESCO, G. H.E COCEVER, E. Ter Sguardi Sul Bambino: viaggio alla
scoperta de Maria Montessori, Emmi Pikler ed Elinor Goldschmied. Italia: Apponti Montessori
– II Leone Verde Editora, 2020.
CAPÍTULO 31
FORMAÇÃO DE PROFESSORES E A LITERATURA INFANTIL NEGRA PARA A
EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS 23
RESUMO
Este artigo crítico-reflexivo apresenta uma pesquisa-intervenção realizada na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Incompleto Alcides Maia, localizada no município de Rio Grande. O objetivo da pesquisa foi
promover a discussão sobre a importância da educação para as relações étnico-raciais ao incorporar a literatura
infantil negra nas práticas pedagógicas, estimulando a reflexão e fomentando o respeito à diversidade racial dentro
e fora da escola. A base teórica incluiu a Lei 10.639/03, políticas afirmativas, formação de professores e literatura
infantil negra. A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa e envolveu intervenções pedagógicas, incluindo
encontros presenciais e online, com a participação de todos os professores da escola. Entre os resultados
alcançados, destaca-se a possibilidade de concluir que ao educar o olhar para as diferentes pertenças étnicas dentro
de uma cultura e contexto histórico, é possível eliminar o racismo aos poucos, evoluindo da educação antirracista
para a educação de relação étnico-raciais.
1 INTRODUÇÃO
Freire (1987, p. 149) dialoga com “a perspectiva da “invasão cultural”, termo que utiliza
em “Pedagogia do oprimido”, e nomeia de invasão a ação antidialógica como proposta
de diminuir, ou mesmo apagar a identidade do outro”. Nessa perspectiva, os
opressores
confrontam os oprimidos fazendo-lhes acreditar que não têm originalidade ou criatividade, ou
estão prestes a perdê-las.
23
Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGEdu – Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA –
CAMPUS JAGUARÃO).
Na escola, a partir das formações, é comum surgirem práticas de ações afirmativas que
buscam construir e resgatar identidades, visando dar visibilidade aos indivíduos que têm sofrido
com o racismo enraizado nas instituições. De acordo com Cavalleiro (2020, p. 101), “cabe a
nós formuladores de opinião – professores, educadores e pesquisadores críticos – pensar e lutar
por práticas que objetivem a inclusão positiva de crianças e de jovens negros na estrutura
educacional.”
De acordo com a lei nº 10.639/03, que modifica a lei nº 9394/96 para tornar obrigatório
o ensino da temática "História e Cultura Afro-Brasileira e Africana", esta prática de resistência
que aborda questões emergentes na sociedade se torna desafiadora diante da negação das
essências e origens dos estudantes pela escola, que ainda segue um modelo colonial.
Esta pesquisa tem como contexto de intervenção, o município do Rio Grande, localizado
no litoral sul e conhecido como a mais antiga cidade do estado do Rio Grande do Sul. Cidade
2 A PESQUISA-INTERVENÇÃO
A pesquisa iniciou com dezesseis docentes, todas mulheres, em que oito preencheram a
disponibilidade de horários, e sete participaram das entrevistas. As entrevistadas, se
caracterizaram por idades entre quarenta e quarenta e cinco anos, formação acadêmica em
Pedagogia e especializações como Psicopedagogia Clínica e Institucional e Educação Infantil
e uma professora mestre em educação.
O quadro, a seguir, foi organizado com nomes fictícios para identificação das
entrevistadas e dados de identificação de cada participante.
Criou-se um grupo no WhatsApp com todos os professores da escola. Neste grupo foi
fixada uma introdução da (re)apresentação da proposta de formação, pois foram lotados na
escola dois professores novos neste intervalo de tempo entre as entrevistas e a formação. Dentre
os dezessete professores adicionados ao grupo, um professor retirou-se do grupo e seis
professoras participaram do “movimento” com interações e reflexões sobre o vídeo abordado.
Primeiramente, foi apresentada ao grupo uma leitura deleite, trecho de vídeo com a
contação de história “As tranças de Bintou” (Sylviane Anna Diouf). Este vídeo foi gravado pela
pesquisadora para a sua turma, no período da pandemia, momento em que as aulas necessitaram
ser online. O vídeo com imagens das páginas do livro e narração da pesquisadora, contou a
Como proposta de atividade foi postado o link do vídeo “Gritaram-me Negra” – poema
musicado de Victoria Santa Cruz, com o objetivo de suscitar nos professores diferentes
interpretações sobre identidade negra. Solicitou-se que apresentassem no grupo um registro
desta reflexão sobre o vídeo, podendo ser através de imagem ou uma breve escrita, a forma
como melhor pudessem expressar.
A ideia de constituir esse grupo, foi também para que se pudesse estreitar as distâncias,
pois mesmo tendo retornado ao trabalho presencial, muitas vezes se impõem como limite o
espaço da sala de aula. Compartilhar diferentes aprendizagens que se vai construindo, esta era
a ideia principal, tornar-se parte da rotina escolar estes positivos debates.
É importante mencionar que essa professora é aquela que direciona seu trabalho para a
ERER e é uma referência para a pesquisadora, mostrando que um diálogo formativo entre
professores impulsiona práticas antirracistas.
Com este vídeo, eu comecei a me dar conta de coisas que vi na infância assim, e que
até hoje a gente vê entre os colegas, entre os amigos né, e também nas turmas entre as
crianças. Por não ser negro, a gente não tem como sentir né, o que a criança negra
sente. Mas acredito que deve ser uma dor muito grande e me deixou triste
(ENTREVISTADA 1, 2022, informação verbal concedida em 05/11/2022).
Paralelo a estas reflexões no grupo, recebo no privado referente a esta mesma proposta,
de uma outra professora, imagens do casamento real, do Príncipe Harry e Meghan Markle e o
link do vídeo do coral que cantou nesta cerimônia. Esta colega não conseguiu participar da
entrevista diagnóstica, será identificada a partir de agora como Entrevistada 9. A surpresa foi
positiva com a manifestação, mesmo que tímida. Julgou-se necessário questioná-la quanto ao
que representava a imagem e o coral para ela, visto que esta foi a sua reflexão diante o vídeo
de introdução da proposta, ao que respondeu: “Meu ponto, tá minha querida, mas olha a
Após a leitura do trecho por uma das participantes, foi aberto para que se pudesse refletir
e dialogar. Uma das docentes presente trouxe em sua fala a relação que faz do diálogo com a
educação especial, entendido por ela como também um grupo que sofre discriminação e tem de
lutar por seus direitos: “eu sempre faço relação com a educação especial, porque é sempre tão
difícil saber como trabalhar com alunos, essas pessoas que tenham uma diferença, que seja de
uma deficiência, de raça, de gênero... que é tão difícil, né?!” (ENTREVISTADA 1, 2022,
informação verbal concedida em 19/11/2022).
Importa mencionar a professora finalizou o seu relato contando que o pai militar, tinha
atitudes racistas que lembrava até hoje. Durante a formação, não houve a intenção de impor
Outro posicionamento que instigou a discussão foi o de outra professora. Esta não
participou da construção do diagnóstico, na entrevista, mas em diálogos informais aleatórios,
de momentos como hora do recreio, gosta de colocar algum ponto de vista sobre o tema racismo.
Neste momento da formação, trouxe para discussão, em contraponto ao trecho do livro
trabalhado a situação dos descendentes pomeranos. Estes, segundo a colega docente, geração
de seus bisavós e avós, tinham instaurado o preconceito racial e disputa de terras. Outra
participante, que também não fez parte das entrevistas, interrompe de forma educada para
colocar a diferente condição em que os dois grupos (negros e pomeranos) vieram parar no
Brasil. A colega conclui, trazendo que de acordo com a coroa portuguesa, foi feito um
empréstimo de dinheiro e terras, em troca do cultivo desta terra e de frutos dali gerados.
O quarto movimento foi realizado ao final do ano letivo, em dezembro de 2022, e como
em muitas escolas a demanda de atividades é maior. No último encontro, para leitura deleite
apresentou-se a história Olelê: uma antiga cantiga da África, do escritor Fábio Simões e
ilustrações de Marília Pirillo. A história sintetiza uma antiga cantiga africana e seus
ensinamentos através dos mais velhos, pela oralidade, carregada de ensinamentos e
sentimentos. Neste encontro foi encaminhado pelo grupo da Formação (pelo WhatsApp) o link
de acesso ao vídeo que seria assistido na formação: “O perigo de uma história única” de
Chimamanda Adchie. Decidiu-se disponibilizar o vídeo legendado antes do encontro para que
cada um possa assisti-lo e compreendê-lo dentro do seu próprio tempo.
Dos títulos apresentados, chamou mais a atenção dois títulos, o clássico “Menina bonita
do laço de fita”, da autora Ana Maria Machado, pois um participante trouxe a problemática que
atualmente está sendo debatida em torno da história. Críticas e pesquisas em torno da história,
e é necessário que também se preste atenção ao que vem dizer estes pareceres e fazer dentro da
prática o direcionamento correto para a história. “É um clássico e por ser pioneiro a gente
precisa manter, porém direciono o trabalho” (ENTREVISTADA 6, 2022, informação verbal
concedida em 03/12/2022) Outro título que provocou alguns argumentos e questionamentos foi
3 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Para o estudo das interações realizadas nas intervenções, utilizou-se da análise textual
discursiva, descrita como “o processo da análise que possibilita avançar para um estágio de
construção dos argumentos que fundamentarão a dissertação” (MORAES, 2006, p. 50). Neste
estágio da escrita, descrever a experiência interventiva e relacionar os dados com os aportes
teóricos que permeiam a pesquisa, torna-se desafiador, ao mesmo tempo que satisfatório.
Frente a uma desenvolvida e qualificada educação, seja ela pública ou privada, está a
formação continuada de professores. Pois são estes docentes que promovem a educação e a
forma como estará estabelecida. Daí a grandeza de processos formativos, onde a academia
adentra os portões da escola, promovendo de fato uma mudança.
Hooks (2017, p. 86), quando aponta a questão da teorização, “entendo como sendo este
o sentido da formação continuada, que irá dialogar juntamente com a teoria, trazendo a mesma
legitimidade da práxis, “processo em que uma capacita a outra”. Suscitando nos docentes,
instigados nesta ação, o aprofundamento teórico que culmine com a prática.
Uma das colegas, professora da Educação infantil, a mesma que para o primeiro
movimento trouxe para contemplar a sua reflexão sobre o vídeo imagens do casamento do
príncipe Harry e Meghan Markle, isentou-se de todas as participações, limitando-se a fala baixa,
apenas com uma colega que estava ao seu lado. Não era confortável vê-la tão reclusa, mas
trouxe a memória das vezes em que ela própria, equivocadamente, realizou atividades com a
proposta da ERER em conceitos destorcidos, trazendo alunos vestidos de Lanceiros Negros, e
uma peruca “descabelada – falso black”, mostrando às crianças ser o mesmo penteado de uma
Segundo Moraes (2006, p. 51) “a análise textual discursiva é descrita como um processo
que se inicia com uma unitarização em que os textos são separados em unidades de significado.”
Para a construção desta análise, utilizou-se de duas categorias pontuais inseridas no contexto
de formação com os docentes. São elas: formação continuada de professores e a ERER;
consciência racial.
Essas convocações formativas acabam se distanciando cada vez mais das realidades
vivenciadas nas salas de aula, resultando em práticas estagnadas por falta de contato com
colegas e espaço para identificar seus pares, perdendo assim a essência de sua formação diante
das diversas demandas.
Durante as formações, uma palavra que surgiu com certa frequência foi: racialização. A
racialização é uma das maneiras como a branquitude violenta o resistir negro. O processo de
racialização dentro das escolas e outros espaços, nada mais é que uma roupagem do racismo
em que presenças negras são estereotipadas como subalternas, marginalizadas e presenças não
negras ganham títulos de superioridade vinculados à cor da pele.
O colega professor, ao questionar em uma das formações “eu não posso não ser
racista?”, propõe uma discussão que é oportuna e necessária de ser realizada. O contexto
Durante os ‘movimentos’ formativos percebeu-se nas colegas negras uma postura mais
confortável perante as construções, como se as falas se fortalecessem. E na verdade é isto
mesmo que acontece, junto a este fortalecimento de falas e vivências o movimento qualifica as
ações pedagógicas e estimula a consciência racial para além das salas de aula.
Entende-se a consciência racial necessária para negros e não negros, visto que para cada
um tem uma denotação diferente, pois estando cada um consciente de suas atribuições raciais
na sociedade, no viés político, histórico e cultural, a racialização perde a força, perde a
ambientação. Onde construo esta afirmação? Esta afirmação pode ser construída através do
diálogo e da troca de experiências entre negros e não negros, onde cada um pode compartilhar
suas vivências e percepções sobre as questões raciais. Além disso, a educação antirracista e a
busca por uma maior compreensão da história e cultura de diferentes grupos étnico-raciais
também contribuem para a construção dessa consciência racial necessária.
Por fim, hoje, a escola Alcides Maia trabalha com um projeto anual, onde três diferentes
níveis de turma (Educação Infantil, 4° e 5° ano) atuam com uma proposta afroindígena, e já
pensando em estender o trabalho para a comunidade escolar inteira.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O profissional da educação não é só profissional, ele reflete a sua essência, suas crenças,
e parte de tudo que acredita é trabalhado dentro das suas ações pedagógicas. Por consequência
é dever do professor manter-se ético, justo, político, despido de preconceitos e discriminações.
No entanto, também são seres humanos, passivos de erros e acertos, então como se pode ter a
certeza de estar agindo corretamente enquanto agentes da educação? O profissional da educação
pode buscar a certeza de estar agindo corretamente como agentes da educação através da
constante reflexão, formação contínua, diálogo com colegas e comunidade escolar, e estando
abertos ao aprendizado e à correção de possíveis erros. É um processo contínuo de
autoavaliação e aprimoramento para garantir uma prática pedagógica ética, justa e livre
de preconceitos.
Após a análise realizada no projeto inicial, ficou claro que a rede pública de ensino do
município do Rio Grande não estava oferecendo formações docentes específicas sobre políticas
REFERÊNCIAS
CAVALLEIRO, E.S. Do silêncio do lar ao silêncio escolar. 6ed. São Paulo: Contexto, 2020.
CHIMAMANDA A.N. O perigo de uma história única. Tradução Julia Romeu. — 1ª ed. —
São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
CHIMAMANDA A.N O perigo de uma história única. Youtube. 2009. Disponível em:
https://youtu.be/D9Ihs241zeg. Acessado em: Jan. 2022.
GOMES, N.L. Educação e relação raciais: refletindo sofre algumas estratégias de atuação.
In: MUNANGA, K. (Org.). Superando o racismo na escola. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2005, p. 143-154. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/secad/ arquivos/pdf/racismo_escola.pdf. Acessado em: Nov. 2023.
RIBEIRO, D. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo: 1ª Companhia das Letras, 2019.
SIMÕES, F. Olelê: uma antiga cantiga da África. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2015.
LISTA DE ENTREVISTADOS
RESUMO
Neste capítulo, será realizada uma revisão bibliográfica sobre a distribuição dos adjetivos nos sintagmas
nominais do PB. Serão analisados os importantes trabalhos de Borges Neto (1979) e de Boff (1991), observando
de maneira mais detalhada algumas questões colocadas por esses autores sobre as diferenças de significado
identificadas no comportamento dos adjetivos em posição pré e pós-nominal.
1 INTRODUÇÃO
24
O significado está ausente porque a escala pertinente não foi explicitada. Caso a escala seja expressa, teremos o
exemplo abaixo:
(i)Um executivo alto na hierarquia da empresa determinou que o remédio fosse retirado do mercado.
25
No entanto, isso é possível com outros adjetivos do PB, como “pequeno”:
(i) Um cachorro pequeno entrou por aquele buraco
(ii) Um pequeno cachorro entrou por aquele buraco
Nesses casos, há diferenças, pois, na posição pré-nominal, o adjetivo tem leitura não restritiva e adquire algum
valor conotativo. De todo modo, “pequeno” continua expressando basicamente a ideia de tamanho.
A partir de (5), é possível dizer que “Carlos é pianista” e é “cego”; portanto “cego” é
um adjetivo categoremático. No entanto, não é possível afirmar, a partir de (6), que Carlos seja
“pianista” e “famoso”. O sentido de “famoso” é determinado com base na relação estabelecida
por “pianista”. Portanto, “famoso” é um adjetivo sincategoremático. Segundo Borges Neto
(1979, p. 50), “os adjetivos categoremáticos predicam seus argumentos de modo absoluto,
enquanto os adjetivos sincategoremáticos predicam de modo relativo”.
Borges Neto apresenta alguns testes para verificar se os adjetivos são ou não
categoremáticos. Um desses testes é o da conjunção, que foi aplicado nas frases acima. Com
relação a (5), e possível dizer que, se “Carlos é um pianista cego”, então “Carlos é um pianista
e Carlos é cego”. Portanto, o adjetivo caracteriza “Carlos”, independentemente do nome
“pianista”. O segundo teste está relacionado à predicação de hiperônimo; logo é possível dizer,
ainda com relação ao exemplo em (1), que, “se Carlos é um pianista cego, então ele é um
arranjador cego”. O terceiro teste diz respeito à transferibilidade; logo, “se Carlos é um pianista
e é um arranjador e é cego, então ele é um pianista cego e um arranjador cego”. Borges Neto
toma por base a aplicação desses testes para determinar que “cego” é um adjetivo
categoremático.
Borges Neto alerta, entretanto, para o fato de que um adjetivo categoremático pode ser
usado de maneira sincategoremática. Por exemplo, o adjetivo “francês” é categoremático em
“Carlos é um soldado francês”, visto que, se for aplicado o teste da conjunção, aparecerá a
forma “Carlos é um soldado e Carlos é francês”. Caso seja aplicado o teste do hiperônimo,
aparecerá a forma “Se Carlos é um soldado francês, então ele é um militar francês”. Por fim,
aplicado o teste da transferibilidade, o resultado será “Se Carlos é um soldado e é um militar e
é francês, então ele é um soldado francês e um militar francês”.
A sentença acima pode ser interpretada como “Fritz é um soldado do exército francês
nascido na Alemanha”, mas não como “Fritz é um soldado do exército alemão nascido na
França”, então “francês” é interpretado de maneira sincategoremática e “alemão” de maneira
categoremática, pois “se Fritz é um soldado francês alemão”, não é possível concluir que ele é
“um soldado e é francês”, mas sim que “ele é um soldado e é alemão”. Borges Neto sugere que,
em uma sequência de dois adjetivos pospostos ao N, o primeiro deve ser interpretado como
sincategoremático; e o segundo, como categoremático. Nas palavras de Borges Neto (1979, p.
57), “O AS (adjetivo sincategoremático) deve ser o primeiro após o nome, vindo em seguida o
AC (adjetivo categoremático)”.
Portanto, é possível concluir que, para Borges Neto, há uma distinção entre adjetivos
categoremáticos e sincategoremáticos. Os adjetivos categoremáticos são aqueles que têm o
sentido estabelecido independentemente do nome ao qual se ligam, enquanto os
sincategoremáticos têm o sentido intimamente ligado ao nome. A ordenação em relação ao
núcleo do sintagma nominal pode interferir no comportamento do adjetivo, mas esse não é o
fator decisivo que permite distinguir os dois usos dos adjetivos.
Nos exemplos acima, a presença dos adjetivos não avaliativos em posição pré-nominal
em (16d), (17d) e (18d) torna os sintagmas agramaticais. Contudo, a aceitabilidade parece ser
maior com os adjetivos avaliativos nas posições mais externas, seja em posição pré-nominal
em (16c), (17c) e (18c) ou em posição pós-nominal em (16a), (17a) e (18a). Isso poderia ser
explicado através do movimento opcional apenas para adjetivos avaliativos, o que os colocaria
em posição pré-nominal.
O movimento dos adjetivos avaliativos poderia dar conta também do emprego de formas
antigas como “má-língua”, “fina flor”, “baixo clero”, em que as estruturas são gramaticais,
No entanto, há, em PB, adjetivos que aparecem antepostos ao N nos sintagmas nominais,
mas não são avaliativos: os adjetivos intensionais 27 — “último”, “pretenso” — e os adjetivos
quantificacionais — “diversos”, “vários”. Boff não estuda o comportamento desses adjetivos.
Além desse problema, a análise apresentada por Boff enfrenta outro relacionado ao teste
proposto para diferenciar adjetivos avaliativos dos não avaliativos. Segundo a linguista, apenas
os adjetivos avaliativos poderiam ocorrer com os verbos de julgamento — “considerar”,
“julgar”, “achar” — como predicados de uma small clause 28. Observemos os exemplos abaixo:
Boff (1991, p. 65) menciona ainda que, quando modificados pelo sufixo “-íssimo”,
muitos adjetivos podem ser empregados na posição pré-nominal, incluindo o adjetivo
“vermelho”.
26
Em PB, os modificadores tendem a aparecer pospostos ao nome, como em “casa grande”, "Conteúdo
fácil”, logo a posposição parece ser a posição canônica dos adjetivos nessa língua.
27
Perini (2006) também não incluiu os adjetivos intensionais em sua proposta de explicitação das
propriedades dos elementos caracterizados pela Tradição Gramatical como substantivos e adjetivos.
28
A small clause (SC) é uma predicação que se estabelece entre um sintagma que é sujeito e um outro que é
predicado, sem que o núcleo desse predicado seja um verbo. Na SC “João bonito” em “Eu acho João bonito”,
“o João” é o sujeito, e o AP “bonito” é uma predicação que se faz sobre “o João”.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Boff, por sua vez, fala em adjetivos avaliativos, que tendem a anteceder o nome, e não
avaliativos, que aparecem pospostos ao N. Entretanto, a proposta da linguista enfrenta
problemas com o teste utilizado para estabelecer as diferenças entre os adjetivos avaliativos e
os não avaliativos, bem como com a motivação para o movimento dos adjetivos avaliativos. Os
adjetivos não avaliativos (por exemplo, “vermelho”) também podem acompanhar os verbos de
julgamento. Além disso, um adjetivo adjungido à direita teria de fazer um movimento para se
adjungir à esquerda, sem que houvesse um núcleo funcional “avaliativo” que o hospedasse.
Outros estudos precisam ser feitos com o objetivo de testar um número maior de
adjetivos em português. Além disso, seria importante verificar se as propriedades identificadas
na distribuição dos adjetivos no sintagma nominal do PB são compartilhadas por outras línguas
naturais ou ainda se as investigações sobre a ordenação dos adjetivos em outras línguas podem
ampliar a compreensão sobre o PB.
BRITO, A. M.; LOPES, R.. The Structure of DPs. In: WETZELS, L.; COSTA, J.; MENUZZI,
S. (EDS). The handbook of Portuguese Linguistics, p. 254-274, 1. ed. John Wiley eSons,
Inc., 2016.
CINQUE, G. On the Evidence for Partial N-Movement in the Romance DP. In: CINQUE, G.;
KOSTER, J.; POLLOCK, J..; RIZZI, L. Paths Towards Universal Grammar. Washington
(D.C.): Georgetown University Press, 1994, p. 85-110.
CINQUE, G. The Syntax of Adjectives: a Comparative Study. Cambridge: MIT Press, 2010.
MIOTO, C.; SILVA, M. C. F.; LOPES, R. E. V. Novo Manual de Sintaxe. São Paulo:
Contexto, 2018.
WEBELHUTH, G. (ed.). Government and binding theory and the minimalista program.
Oxford eCambridge, MA: Basil Blackwell, 1995.
CAPÍTULO 33
RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO AMBIENTE ESCOLAR:
A CONSTRUÇÃO DO SABER ATRAVÉS DA RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO
RESUMO
O presente estudo tem por objetivo fazer uma abordagem teórica sobre as relações interpessoais no ambiente
escolar e os desafios enfrentados pela educação em uma escola da rede pública de ensino do município de Apuí
no Amazonas, assim como descrever as consequências enfrentadas por professores e alunos na atualidade em
decorrência da falta de afetividade, falta de diálogo e o crescente índice de violência nas escolas. A relação
professor e aluno tem se tornado cada vez mais distante, e esse afastamento tem causado um impacto negativo na
educação, mesmo não sendo as relações interpessoais no ambiente escolar um problema percebido pelo poder
público e sociedade. Durante as aulas em casa, em decorrência do isolamento social, dezenas de famílias tiveram
que permanecer em suas casas para evitar o contágio da covid19, e através das aulas online, professores e alunos
passaram a se comunicar somente por aplicativos de redes sociais. Esse distanciamento compulsório veio acarretar
um afastamento que ainda não foi totalmente superado, mesmo após dois anos do término da pandemia no estado
do Amazonas, local mais afetado pela contaminação. Durante as experiências docente, percebeu-se que os alunos
apresentavam muitas dificuldades de leitura, de resolver equações simples de matemática e até de se relacionar
com os professores e demais colegas de sala, então a partir dessa observação que o interesse pelo tema em questão
surgiu. A pesquisa é de caráter qualitativa sem excluir os dados quantitativos, as entrevistas foram realizadas com
alunos do 6º ao 9º ano, com idade entre 12 e 17 anos e professores do ensino fundamental II, nos anos de 2019 a
2021. Durante o estudo da arte, ainda em período pandêmico, percebeu-se que o foco de muitas pesquisas não
estava direcionado para essa temática naquele momento, mas notou-se que essa problemática tem estado em
evidência quando o índice de violência no âmbito escolar cresceu exponencialmente nos noticiários. Partindo desse
pressuposto, este estudo se faz de grande relevância por possibilitar que escola, família e sociedade possam juntas
refletir sobre a construção do saber através da boa relação entre professor e aluno, família e sociedade, visto que,
se não há relações interpessoais nos espaços escolares, não há construção do conhecimento.
1 INTRODUÇÃO
A interação social é fundamental para que haja um bom desenvolvimento das atividades
nos mais diferentes espaços onde o ser humano estás a ocupar. No ambiente escolar não é
diferente quando se evidencia uma boa relação entre professor e aluno em sala de aula, visto
que, o rendimento escolar torna-se mais produtivo e a frequência de relatos sobre abuso de
poder por parte dos professores sobre os alunos e desrespeito por parte dos alunos sobre os
professores tornam-se menores. Como bem exemplifica Paulo Freire (2005), o diálogo é uma
exigência existencial e, por isso, deve fazer parte das relações interpessoais que o indivíduo
constrói durante o percurso de sua vida. Não se pode negar que o diálogo e a boa relação
interpessoal podem contribuir com um ambiente escolar saudável.
Com o isolamento social, muitos alunos também adquiriram problemas de saúde como
depressão, síndromes de ansiedade, e por não receberem ajuda, não terem com quem
compartilhar seus medos, suas angústias, acabaram que protagonizando algumas situações de
violência. Não há como dissociar a prática do comportamento violento com a falta de diálogo
e de uma boa relação em sala de aula porque quando há essa afinidade entre professor e aluno
consegue-se perceber o quanto o espaço escolar se torna mais acolhedor.
Partindo desse pressuposto, este estudo buscou fazer uma reflexão dos desafios docentes
e da própria escola sobre a relação interpessoal entre professor e aluno na sala de aula e como
essa relação pode influenciar no comportamento tanto do professor quanto dos alunos. A
pesquisa foi realizada em uma escola pública localizada no município de Apuí no Amazonas e
contou com a participação de professores e alunos do ensino fundamental. A escolha pelo lócus
da pesquisa se deu pelos constantes relatos do corpo docente sobre as dificuldades de
relacionamento interpessoal com seus alunos.
Almeja-se que este estudo possa contribuir com futuros debates sobre o tema e que
escola, família e sociedade possam juntas refletir sobre o seu papel social na formação de seus
filhos, alunos e cidadãos.
No espaço escolar essa relação interpessoal é fundamental para que o processo de ensino
e aprendizagem aconteça de uma forma eficaz. O modelo escolar baseado na relação de poder
e autoritarismo entre profissionais da educação e alunos já não mais traz eficiência nem para o
trabalho docente e nem para o aprendizado dos alunos. O desânimo, falta de motivação tanto
dos professores quanto dos alunos tem prejudicado o bom andamento do processo de ensino e
aprendizagem nas escolas.
Vendo pela perspectiva do profissional, a falta de uma boa relação com seus colegas de
trabalho e principalmente com seus alunos pode impactar negativamente no trabalho docente.
Aos alunos é possível perceber baixa produtividade escolar, falta de motivação durante as aulas,
dificuldades de se relacionar tanto com professor quanto com os demais alunos, repetência e
até evasão escolar. Tem-se percebido que muitos estudos se aprofundam em analisar diferentes
motivos para tentar explicar o baixo rendimento escolar, mas poucos buscam compreender
sobre as questões relacional no ambiente escolar. Como se dá a relação professor /aluno?
De fato, explicar sobre a relação interpessoal nos espaços escolares não é fácil e a
literatura dentro da área da educação ainda é bem diminuta por ser a parte comportamental de
interesse do profissional da psicologia. Uma visão predominante nas pesquisas é a de que se
encontra muito material sobre relações pessoais/interpessoais nas áreas da administração, como
parte dos estudos de Recursos Humanos, na Psicologia comportamental e nos inúmeros livros
de autoajuda. Quando busca-se compreender a temática a partir de uma perspectiva pedagógica
é que se percebe a existência da pouca literatura sobre o assunto e é analisando esse contexto
real e falta de literaturas que se percebe o quanto a relação no ambiente escolar não é
devidamente valorizada como parte do processo de ensino e aprendizagem.
Essa concepção não está somente na cabeça dos alunos, muitos professores também não
estão mais vendo o espaço escolar como espaço de troca, seja de conhecimento, de reflexão, de
ajuda e de sonhos. É como se o dia a dia do profissional docente tivesse se tornado em uma
função técnica operativa, apenas um executor de tarefas e, no entanto, o professor tem uma
função fundamental no processo educacional pelo papel que ele desempenha e representa como
educador e mediador do conhecimento. Sim, o professor, ainda com a chegada da tecnologia
nos espaços escolares, continua sendo a principal chave para que a porta do conhecimento seja
aberta.
A boa relação entre professor e aluno deve fazer parte da política educacional porque
sem essa relação é perceptível as falhas que esse processo de aprendizagem sofrerá. A relação
entre os professores também deve ser saudável para que se construa uma educação melhor e
capaz de atender a realidade da população. Muitos projetos educacionais deixam de ser criados
nas escolas por diferenças e/ou incompatibilidades ideológicas, falta de comunicação e má
vontade de um profissional ou outro. O espaço escolar que deveria ser exclusivo para se pensar
na construção de ideias, de saberes diversos e de respeito, ultimamente tem se transformado em
palco de conflitos e práticas de atos violentos contra os professores e alunos.
Muitos jovens são vítimas ou agentes da violência, entretanto, mesmo os que não se
envolveram diretamente, relataram inúmeros casos dos quais tomaram conhecimento
ou presenciaram no espaço escolar. Essa proximidade contribui para banalizar o
comportamento violento [...]. a gratuidade da violência para eles é uma realidade, e o
medo é comum em suas falas (ABRAMOVAY; RUA, 2003, p. 63)
Se presencia uma hostilidade natural no convívio entre profissionais da educação e
alunos, enfraquecendo os laços entre professor / professor, professor / alunos e vice e versa.
Tem-se observado que o espaço escolar tem se tornado local onde muitos alunos buscam se
expressar através da violência por acreditarem que seus atos não irão lhes trazer consequências.
Muitos já convivem com os atos violentos dentro de suas casas e passam a reproduzi-los na
escola.
Outro fator que tem sido observado pelos professores em sala de aula e por demais
profissionais da educação é a transferência de responsabilidades dos pais para a escola. Essa
conduta errônea por parte de muitas famílias tem transformado o espaço escolar em única
instituição responsável pela formação não só educacional, mas como cidadã dos alunos. Filhos
sem limites em casa reproduzem a falta de respeito na escola com professores e com outros
alunos, assim como nos casos em que os pais são excessivamente autoritários e violentos
acabam influenciando a reprodução do comportamento violento de seus filhos no ambiente
escolar. A discussão empreendida por Barbieri, Santos e Avelino (2021), indica que estudantes
As escolas estão se tornando o espaço onde os filhos do ‘lar violento’ passam a praticar
a violência vivenciada em casa, colocando fim no ambiente saudável que a escola deveria
proporcionar tanto aos alunos quanto aos professores. A família é fundamental na orientação e
motivação dos filhos na escola, contudo, ela também se encontra fragmentada e fragilizada,
sem poder transferir valores como respeito às diferenças, empatia aos seus membros. Logo, o
que se vivencia no ambiente escolar são comportamentos, muitas vezes intolerantes sendo
reproduzidos pelos alunos junto aos seus colegas e professores.
Não há como negar que as mudanças no mundo contemporâneo têm afetado diretamente
as relações interpessoais nos mais diversos espaços. Na educação, os impactos da chegada da
tecnologia transformaram as relações entre professor e aluno e essas e tantas outras mudanças
têm se tornado tema de discussão por parte de muitos educadores. Com as transformações
advindas do mundo contemporâneo o professor precisou fazer mudanças em sua didática e
metodologia de ensino, assim como sua forma de abordagem aos alunos.
Conhecer essas tendências pedagógicas é como uma bússola que serve para conduzir o
trabalho docente em sala de aula, tornando a prática docente mais significativa para o professor.
A escola precisa ser reencantada, precisa encontrar motivos para que o aluno vá para
os bancos escolares com satisfação, alegria. Existem escolas esperançosas, com gente
animada, mas existe um mal-estar geral na maioria delas. Não acredito que isso seja
trágico. Essa insatisfação deve ser aproveitada para dar um salto. Se o mal-estar for
trabalhado, ele permite avanços. Se for aceito como fatalidade, ele torna a escola um
peso morto na história, que arrasta as pessoas e as impede de sonhar, pensar e criar
(GADOTTI, 2000 apud SANTOS, 2012, p. 1).
O espaço escolar precisa ter a sua essência resgatada, trazer de volta o sonho da
esperança de um futuro melhor através do aprendizado. Os professores precisam retomar a ideia
de conhecer qual a importância e o significado de sua existência dentro desse ambiente para
poder transformar um sonho por mudanças em realidade. É essencial que os professores tomem
conhecimento das tendências pedagógicas nem que seja para negá-las de forma consciente.
Essas e tantas outras questões são de fato reflexões a serem pensadas quando se propõe
a discutir sobre a educação pública no Brasil. Ou seja, não há igualdade de forma geográfica,
nem política, social e muito menos econômica para boa parte da população brasileira. A
qualidade do ensino não é igual e é por essas e tantas outras questões que se faz relevante o
conhecimento crítico do professor para que ele possa desenvolver não somente uma boa aula,
do ponto de vista didático, mas instigar senso crítico em seus alunos. Quando essa relação entre
professor e aluno passa a existir percebe-se o quanto melhora o funcionamento das relações
interpessoais no ambiente escolar, apesar de ser um desafio ao professor na atualidade manter
maior aproximação com seus alunos quando são os instrumentos tecnológicos os mais próximos
deles. Porém, ainda que os elementos constitutivos dessa relação sejam muitas vezes
contraditórios, é preciso que o professor em sala de aula estabeleça, ou pelo menos tente, uma
relação de confiança com seus alunos.
Como foi visto anteriormente, muitos alunos não possuem uma relação fraternal e de
confiança em casa com seus familiares por diversas questões e muitos passam a enxergar na
figura do professor como uma referência. A afetividade entre professor e aluno faz parte de um
vínculo que se estabelece durante a vida em sociedade. Pois, “o termo afetividade é um derivado
da palavra afeto que expressa uma relação de carinho ou cuidado que se tem com alguém”
(NUNES, 2017, p. 15).
A boa relação construída durante o ano letivo entre docente e discentes estabelece
também uma relação de segurança e isso vai impactar no comportamento dos alunos que de
alguma forma sentem-se acolhidos naquele ambiente. É sabido que o espaço escolar traz seus
desafios diários, isso faz parte dos desafios da própria educação brasileira que não inclui
somente o ato de ensinar, mas diversos outros fatores externos. A rotina e dinâmica de excesso
de trabalho burocrático hoje assumido pelos professores os deixam exaustos, a ausência de
profissionais em determinadas escolas, pouca valorização pelo trabalho docente por parte dos
alunos, das famílias que encontram-se cada vez mais ausente da vida escolar dos filhos, a
infraestrutura das escolas que nem sempre são acolhedoras, falta de recursos para que o
professor crie atividades de interação externa, são alguns dos obstáculos da educação na
contemporaneidade.
Pensar em educação vai além do espaço físico da escola, das atividades curriculares, da
metodologia de ensino, da aplicação das avaliações, e das reuniões. A educação para que entre
na vida do outro enquanto possibilidade de mudança precisa ser relacional, ou seja, uma troca
de experiência através das relações entre professor e aluno. Precisa-se quebrar as barreiras que
durante muito tempo foi sustentada para se obter respeito e disciplina nas escolas onde o
professor é visto apenas como uma autoridade dentro da sala de aula. Pois, em muitas escolas
de origem militar ou até mesmo algumas de origem religiosa tem apresentado dados de
violência entre alunos e de alunos contra professores.
Os desafios a serem enfrentados pela educação são diversos, a escola sozinha não
consegue administrar partes administrativas, pedagógicas e os demais problemas se não houver
também o empenho das famílias e sociedade. Vivencia-se uma realidade muito diferente, as
pessoas estão mais introspectivas, presas em um mundo cibernético, vivenciando uma falsa
realidade postada e compartilhada nas redes sociais, os alunos estão cada vez mais dependentes
dos objetos eletrônicos, não verbalizam sobre assuntos importantes do dia a dia como antes era
feito nas escolas. Seus núcleos de amizades são virtuais e as relações vivenciadas no mundo
real estão a sucumbir, infelizmente.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação brasileira nesses últimos 10 anos tem enfrentado desafios complexos e além
do contexto pedagógico, a exemplo das relações interpessoais no ambiente escolar. Até pouco
tempo atrás não se tinha acesso a estudos específicos sobre a relação professor e aluno porque
durante décadas a imagem do professor sempre foi desenhada como uma autoridade, cujas
práticas de ensino jamais poderiam ser questionadas. Durante muito tempo, as gerações
passadas vivenciaram uma educação regrada a castigos, uma relação limitada aos espaços
escolares, repleto de regras e sem nenhum afeto, apenas respeito. Não que seja ruim as regras
que mantém o aluno respeitando os limites entre ele e o professor porque o respeito a figura
docente se faz relevante para que o ambiente escolar funcione corretamente. Contudo, o que se
evidencia nas salas de aula são situações que amedrontam tanto os alunos quanto os professores.
REFERÊNCIAS
MAGELA, G. Temor de violência nas escolas atinge 90% dos brasileiros, aponta
DataSenado. Agência Senado, 2023. Disponível em
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/07/04/temor-de-violencia-nas-escolas-
atinge-90-dos-brasileiros-aponta-datasenado. Acessado em: Nov. 2023.
CAPÍTULO 34
RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA E QUÍMICA:
PRÁTICAS EXPERIMENTAIS PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
DOS FUTUROS EDUCADORES
RESUMO
Este artigo ressalta a importância da Residência Pedagógica na formação de educadores de Química no seu pleno
exercício em uma Escola Cidadã Integral Técnica Jornalista José Itamar da Rocha Cândido, com foco nas práticas
experimentais para alunos das duas séries do ensino médio técnico como ferramentas pedagógicas eficazes. A
pesquisa qualitativa realizada com participantes do Programa de Residência Pedagógica - PRP em Licenciatura
em Química revelou que os residentes experimentaram melhorias significativas em suas habilidades de
planejamento e execução de atividades experimentais, assim como na capacidade de incentivar a investigação e
a reflexão crítica dos alunos dentro do contexto teórico e prático. Além disso, os residentes observaram um
aumento no engajamento e na motivação dos estudantes durante as aulas de Química, destacando o impacto
positivo das práticas experimentais realizadas durante a Residência Pedagógica.
1 INTRODUÇÃO
Diante desse cenário, a integração da RP com a química surge como uma alternativa
promissora para suprir essas deficiências e aprimorar a formação dos educadores. Através da
As interações vivenciadas no âmbito escolar, podem ser de várias maneiras para atuação
docente, vale ressaltar que, as licenciaturas carregam problemas como: a falta de articulação
Conforme Barros (2008), o início da carreira é visto como uma fase excessivamente
importante, pois é nela em que se constituem as bases para a construção do trabalho. Neste
início, também ocorrem situações inusitadas na vida dos mesmos, caracterizando-se como um
momento único e de transição na vida. As pesquisas nas áreas educacionais, buscam integrar
uma visão entre teoria e a prática, as novas concepções conduz uma interação mútua.
Como mostra Nono e Mizukami (2006), o progresso da carreira docente é decisivo para
a elaboração de conhecimentos, podendo ocasionar rotinas e certezas consolidadas sobre o
ensino que formam a sua carreira. Segundo Feiman-Nemser (2001), apresentam, um período
de intenso aprendizado que impacta não apenas a continuidade em suas ocupações, mas também
outras áreas de suas vidas.
A discussão de muitos autores que defendem uma maior junção entre universidade e
escola, uma vez que ambas estão envolvidas por saberes igualmente importantes. Nóvoa (2009)
descreve que no exercício da profissão apenas se dá na prática cotidiana da escola. Não há como
obter certas habilidades conceituais já que, na atuação faz-se necessário tomar algumas medidas
cabíveis, como por exemplo, resolver problemas imprevisíveis, articular conhecimentos e
habilidades para atingir os objetivos.
O docente precisa ser capacitado para desenvolver conhecimentos a partir das relações
ciência, tecnologia e sociedade (CTS), ser capaz de analisar as proporções dos problemas
sociais e suas causas no ensino de ciências, não amedrontado com meros exemplos de forma
superficial que não incluam problemas. De acordo com Freire (2005), é necessário um diálogo
que promova a sensibilização de forma a levar os sujeitos a agirem sobre as questões discutidas.
O diálogo contextualizado junto aos alunos é necessário para oportunizar que participem
ativamente do processo de exploração de questões elucidadas nas relações CTS, desse modo, o
professor não fica somente na exemplificação e consegue: “Desenvolver atitudes com ações
humanizadas em frente às causas sociais, com pensamento críticos visando os conceitos
esclarecedores relativos à natureza da ciência; e encorajar os alunos a relacionarem com o
cotidiano” (SANTOS, 2007, p. 5).
2 METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa de cunho qualitativo. De acordo com Ferreira (2015), a pesquisa
qualitativa é de extrema importância para compreensão da realidade humana, das dificuldades
vivenciadas, das atitudes e dos comportamentos dos sujeitos envolvidos, constituindo-se um
suporte teórico essencial.
Para Mól (2017) a abordagem qualitativa, deve servir como fonte de apoio para a análise
de dados, assim como também os levantamentos na literatura.
Esse tipo de abordagem fornece uma base sólida para compreender e explorar as
dinâmicas presentes no processo de ensino e aprendizagem, permitindo uma análise
aprofundada das experiências e perspectivas dos envolvidos.
Como já exposto, esta pesquisa teve como principal objetivo investigar a importância
da Residência Pedagógica (RP) na formação de futuros educadores de química, enfatizando o
potencial das práticas experimentais como instrumentos pedagógicos eficazes.
O questionário contendo cinco perguntas abertas foi disponibilizado por meio do Google
Forms, um aplicativo de gerenciamento de pesquisas. O aplicativo é gratuito e tem o objetivo
de criar formulários online. Nele, é possível realizar pesquisas de múltipla escolha, elaborar
questões discursivas, entre outras opções. Além disso, essa ferramenta também é ideal para o
docente realizar feedback tanto dos conceitos ensinados quanto das concepções prévias dos
alunos.
Após feita uma triagem das respostas dos residentes, que estão representados de forma
anônima, seus argumentos foram comparados ao contexto da Análise de Conteúdo, baseados
nas afirmações de Bardin (2016). Após isso, foi realizada a etapa de contextualização e
discussão sobre as respostas presentes nos questionários vendo à literatura pertinente para
embasar toda a discussão dos resultados.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diante do questionário aplicado, foi filtrado algumas respostas dos residentes, tal como
segue:
Entrevistado 1:
Entrevistado 2:
As principais dificuldades enfrentadas muitas das vezes é a falta de estrutura e apoio
da escola, em não ter materiais e reagentes necessários para determinadas práticas.
submetendo muitas das vezes os próprios residentes, adquiri ou até mesmo comprar
os materiais e reagentes para realização de algumas práticas (ENTREVISTADO 2,
2023, questionário respondido em junho de 2023).
Entrevistado 3:
O desinteresse da grande parte dos alunos das turmas, após a pandemia, a maioria ficou
acostumada a não se importar com os estudos, pois o sistema os ajuda (ENTREVISTADO 3,
2023, questionário respondido em junho de 2023).
Entrevistado 4:
“Os programas tanto PIBID como a RP, sofreram com esse modelo remoto, pois o
contato com a sala de aula era um meio que não poderíamos ter” (ENTREVISTADO 4, 2023,
questionário respondido em junho de 2023).
O termo “estratégias de ensino” pode ser entendido como a junção de meios utilizados
pelos docentes no desenvolvimento do processo de ensino vinculado às atividades e
aos resultados esperados por elas (ANASTASIOU; ALVES, 2004 apud SCHMITT;
BUGALHO; KRUGER, 2021, p. 4).
Além disso, destaca-se a falta de estrutura e apoio por parte das escolas, resultando na
escassez de materiais e reagentes necessários para a realização das práticas experimentais.
Nesse sentido, os residentes muitas vezes se viam obrigados a buscar soluções alternativas,
Entrevistado 10:
A residência pedagógica proporciona a integração entre teoria e prática no ensino de
química por meio da vivência direta do futuro professor em sala de aula. Durante o
programa, os residentes têm a oportunidade de aplicar os conhecimentos teóricos
adquiridos na formação acadêmica, colocando-os em prática com os estudantes
(ENTREVISTADO 10, 2023, questionário respondido em junho de 2023).
Entrevistado 12:
De uma forma bastante importante, pois com o programa pôde-se ter esse contato com
a prática de dar aula (ENTREVISTADO 12, 2023, questionário respondido em junho de 2023).
Entrevistado 13:
A parte prática na exatas é muito importante, para que os alunos possam compreender
melhor a teoria, já que para muitos deles é difícil (RESIDENTE 13, 2023, questionário
respondido em junho de 2023).
Para Sousa et al. (2004, p. 7), as questões da educação e teoria das representações sociais
têm sido expressivas na literatura científica, “uma vez que a análise do campo representacional,
pelo qual se compreende a dinâmica e o conteúdo de se pensar a escola e a educação, sugere
uma rica possibilidade de exploração da dimensão simbólica e de aspectos da cultura escolar”.
Entrevistado 9:
O uso de metodologias ativas e uso de novos meios de ensino como Youtube, Meet entre
outros (ENTREVISTADO 9, 2023, questionário respondido em junho de 2023).
Entrevistado 10:
Entrevistado 11:
Na residência pedagógica, existem diversas estratégias que podem ser utilizadas para
incentivar o interesse dos estudantes pela química por meio das práticas
experimentais, tais como: contextualização, experimentação ativa, exploração e
descoberta, relação teoria-experimento, variedade de experimentos, valorização dos
resultados e discussão (ENTREVISTADO 11, 2023, questionário respondido em
junho de 2023).
Entrevistado 5:
Entrevistado 15:
Realizar práticas experimentais durante a residência pedagógica proporciona uma
série de benefícios em comparação com apenas aulas teóricas. Essas práticas
permitem aos estudantes vivenciarem a ciência de forma concreta, promovendo uma
compreensão mais profunda dos conceitos químicos (ENTREVISTADO 15, 2023,
questionário respondido em junho de 2023).
A vivência prática também facilita a compreensão dos conceitos químicos de forma
mais profunda. Ao verem os fenômenos ocorrendo na prática, os alunos podem se relacionar
com as propriedades dos materiais, as reações químicas e os resultados observados. Essa
O ensino de ciências, em sua base, demanda uma interconexão contínua entre teoria e
prática. Nesse contexto, torna-se evidente a relevância dessas articulações, uma vez que a
disciplina de química é intrinsecamente considerada uma ciência experimental, embasada em
comprovação científica, e está intimamente ligada a pressupostos teóricos e à execução de
experimentos. Essa abordagem não apenas oferece um método didático robusto para o ensino
e aprendizagem das ciências (BUENO; KOVALICZN, 2010; BONDIA, 2012), mas também
reforça a compreensão prática e a aplicação dos conceitos teóricos e práticos, enriquecendo a
experiência educacional.
Entrevistado 1:
Perspectivas positivas em relação ao uso de práticas experimentais no ensino de
química". Durante a residência pedagógica, pude vivenciar os benefícios dessas
práticas, como o engajamento dos alunos, a compreensão mais profunda dos conceitos
e o estímulo ao pensamento científico (ENTREVISTADO 1, 2023, questionário
respondido em junho de 2023).
Entrevistado 2:
Irão formar novos profissionais com personalidades diferentes dos professores que são
mais propícios a usar o método da teoria sem prática, fazendo melhorias para os futuros alunos
(ENTREVISTADO 2, 2023, questionário respondido em junho de 2023).
Melhorou a relação professor e alunos e o interesse dos alunos nas aulas e melhorou a
curiosidade científica (ENTREVISTADO 3, 2023, questionário respondido em junho de 2023).
Entrevistado 4:
Muito boas, pois após a experiência vivida na residência o aluno pode levar uma
bagagem para sua vida docente (ENTREVISTADO 4, 2023, questionário respondido em junho
de 2023).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo:
Autores Associados: Cortez, 1989..
SOUSA, CP de; BÔAS, Lucia Santiso Villas-PUCSP. Estudo psicossocial da escola. Grupo
de pesquisa em Representações Sociais da Pós-graduação em Educação: Psicologia da
Educação. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação–ANPED.
Recuperado de http://www. anped. org. br/biblioteca/item/estudo-psicossocial-da-escola, 2004.
Acessado em: Nov. 2023.
ZEICHNER, K.M. Uma Análise Crítica sobre a “Reflexão” como Conceito Estruturante
na Formação Docente. Educação e Sociedade. Campinas: CEDES, v. 29, 2008, p. 535-554.
Disponível em: DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-73302008000200012. Acessado em: Ago.
2023.
CAPÍTULO 35
A (INTER)TRANSDISCIPLINARIDADE COMO ABORDAGENS CENTRAIS NAS
AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
RESUMO
Este estudo investigou as bases conceituais de duas abordagens disciplinares, a interdisciplinaridade e a
transdisciplinaridade. A literatura ao longo dos anos tem evidenciado a importância dessas duas perspectivas no
meio pedagógico-educacional, apontando-as como possibilidade para o defrontamento da descontextualização dos
conhecimentos estudados e trabalhados nos espaços escolares. Diante disso, tendo observado a fragmentação do
ensino de língua materna, o estudo objetivou compreender a partir da literatura as bases conceituais da
interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade e sua importância para o ensino de Língua Portuguesa. O
procedimento adotado foi a pesquisa bibliográfica, na qual seguiu-se uma abordagem metodológica qualitativa.
Constatou-se que o ensino de Língua Portuguesa historicamente foi fragmentado a partir da divisão em literatura,
gramática e produção textual. Entretanto, há uma interligação entre esses saberes e um atravessando natural que
necessita ser mais bem explorado nos estudos de linguagens. Destarte, todavia, concluí-se que a transversalidade
das práticas de língua e linguagens, assim como a produção de discursos e textos devem estar imbricadas. Apesar
das dificuldades e limitações para isso, tais como as ligadas à formação inicial e continuada, à infraestrutura, aos
próprios currículos, à postura dos educadores, e tantas outras, essas abordagens apresentam-se como sendo as mais
produtivas e adequadas quando se busca a construção de um conhecimento real, aplicável e contextual; se aspira
edificar a tríade entre o aluno, a língua e o ensino; e, se ambiciona a leitura e o letramento crítico para as práticas
discursivas de língua.
1 INTRODUÇÃO
Nesse sentido, a pesquisa possui relevância acadêmica, à medida que contribui para os
estudos das correntes teóricas inter e transdisciplinar, e social, visto que fortalece a
compreensão de práticas pedagógicas transversais ao componente curricular para que
desenvolvam o estudante na sua integralidade, desde suas competências linguística, até
cognitiva, afetiva e emocional, e não apenas do ponto de vista da escrita e da leitura.
Diante disso, a pesquisa teve como objetivo compreender a partir da literatura as bases
conceituais da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade e sua importância para o ensino
de Língua Portuguesa. A partir disso, delimitou-se dois objetivos específicos, a saber: (i)
identificar como as abordagens disciplinares (inter e trans) vem sendo documentadas na
literatura, especialmente no que se refere aos seus posicionamentos frente a fragmentação e
descontextualização dos conhecimentos no ensino; e, (ii) investigar a (inter/trans)
disciplinaridade relacionada ao ensino de língua materna, no que tange à transversalidade das
práticas de língua e linguagem e à produção de discursos e textos.
Para tanto, o estudo se aporta nas contribuições teóricas de Morin (2003), Sommerman
(2006), Severino (1998), Nicolescu (1999), D’Ambrosio (1997), Vieira et al. (2010), dentre
outros estudiosos, assim como, em diversos documentos, currículos da educação brasileira e na
Carta da Transdisciplinaridade.
Para que se pudesse desenvolver este estudo, optou-se por uma abordagem de pesquisa
qualitativa, cujo procedimento metodológico será a pesquisa bibliográfica. Lima e Mioto (2007)
baseados na concepção de Minayo (1994) afirmam que, ao considerar a pesquisa qualitativa, é
Assim sendo, este estudo encontra-se dividido em quatro seções. Esta primeira,
Introdução, que contextualiza o tema, define os objetivos, apresenta o quadro teórico e delimita
a metodologia de pesquisa; a segunda, Trilhando pelas abordagens (inter/trans)disciplinares,
faz uma abordagem mais conceitual dessas perspectivas, apresentando noções mais
preliminares; a terceira, (Inter/trans)disciplinaridade e língua portuguesa: ensino
contextualizado, crítico e reflexivo, que promove uma análise de ambas as abordagens voltadas
para o ensino de língua portuguesa; e, a quarta seção, Considerações finais, na qual retoma-se
aos objetivos propostos e se apresenta as principais conclusões.
A disciplina, como visto na Figura 01, refere-se à uma categoria organizadora dentro do
conhecimento científico, que institui a divisão e a especialização do trabalho. Apesar de estar
inserida em um amplo conjunto, uma disciplina possui predisposição natural à autonomia pela
delimitação das fronteiras, da linguagem em que ela se estabelece, das técnicas que é levada a
elaborar e pelas teorias que lhe são próprias (MORIN, 2003).
Todavia, Morin (2003, p. 106) alerta que, “a instituição disciplinar acarreta, ao mesmo
tempo, um perigo de hiperespecialização do pesquisador e um risco de ‘coisificação’ do objeto
estudado, do qual se corre o risco de esquecer que é destacado ou construído”. Sob essa ótica,
Por outro lado, diferente do saber disciplinar, que se baseia na lógica formal, a
interdisciplinaridade comporta a contradição, reconhecendo a importância de outra perspectiva
de compreensão da realidade como sendo um meio complementar para dar conta de fenômenos
mais complexos, a qual a essência por si só requer a interação entre as disciplinas (OLIVEIRA,
2014). Esta abordagem encontra-se demostrada na Figura 02, sob a ótica de Jantsch (1972).
No que concerne à transdisciplinaridade, foi mencionada pela primeira vez por Jean
Piaget no I Seminário Internacional sobre a Pluridisciplinaridade e a Interdisciplinaridade em
1970, na França, que a definiu como sendo a fase das relações interdisciplinares, dessa forma,
A transdisciplinaridade não constitui uma nova filosofia. Nem uma metafísica. Nem
uma ciência das ciências e muito menos, como alguns dizem, uma nova postura
religiosa. Nem é, como insistem em mostrá-la, um modismo. O essencial na
A abordagem transdisciplinar ainda é muito difícil de ser realizada nas escolas, uma
vez que demanda planejamentos coletivos, tempo suficiente para execução e dentre
outros fatores (RABELO, 2015). Entretanto, acredita-se que é possível pensar a
realização de estudos transdisciplinares para o ensino de Língua Portuguesa a partir
dos Temas Contemporâneos Transversais (TCT), os quais são: ética, saúde, meio
ambiente, pluralidade cultural e orientação sexual (BRASIL, 2019).
Não obstante, alguns estudiosos são bastantes ousados ao propor a
transdisciplinaridade para o ambiente educacional:
Estamos, portanto, propondo abandonar uma abordagem pedagógica tradicional, que
enfatiza a transmissão, a linguagem, a cópia da cópia, onde conteúdos e informações
são passados diretamente do professor para o aluno, mediante um processo
reprodutivo, para criar uma nova situação educacional que enfatiza a construção
realizada pelo indivíduo, através de uma pedagogia ativa, criativa, dinâmica,
encorajadora, apoiada na descoberta, na investigação e no diálogo (MORAES, 1996,
p. 67).
A percepção defendida por Moraes (1996) é, na verdade, bastante necessária para
adoção de novas abordagens, como a inter e transdisciplinaridade. É salutar que a
própria Linguística Aplicada (LA) – Linguística Aplicada é um campo de estudo da
ciência de cunho transdisciplinar, interdisciplinar e intercultural que identifica,
investiga e busca soluções para problemas relacionados a linguagem na realidade –
enfatiza a interrelação dos conhecimentos por meio das abordagens inter e
transdisciplinar, uma vez que ela própria articula muitos domínios do saber e dialoga
com diversos campos do conhecimento que estudam a linguagem. Celani (1998, p.
131) advoga que “não há dúvida quanto ao caráter multi/pluri/interdisciplinar da
Linguística Aplicada [...] Esse diálogo já faz parte da prática dos linguistas aplicados”.
A despeito disso, antes de explorar as abordagens interdisciplinar e transdisciplinar no
ensino de língua materna, é importante compreender o que dizem os documentos e autores sobre
o trabalho de língua e linguagem. Os PCN’s de Língua Portuguesa consideram o ensino-
aprendizagem de língua materna na escola como um processo resultante da articulação de três
variáveis: o aluno, a língua e o ensino.
O primeiro elemento dessa tríade, o aluno, é o sujeito da ação de aprender, aquele que
age sobre o objeto de conhecimento. O segundo elemento, o objeto de conhecimento,
é a Língua Portuguesa, tal como se fala e se escreve fora da escola, a língua que se
fala em instâncias públicas e a que existe nos textos escritos que circulam socialmente.
E o terceiro elemento da tríade, o ensino, é, neste enfoque teórico, concebido como a
prática educacional que organiza a mediação entre sujeito e objeto do conhecimento.
Para que essa mediação aconteça, o professor deverá planejar, implementar e dirigir
as atividades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço de
ação e reflexão do aluno (BRASIL, 1997, p. 25).
Dessa maneira, ao tomar a língua materna como objeto de ensino, a noção de como os
alunos aprendem e de como desenvolvem sua competência discursiva não pode ser perdida.
Dessa forma, o processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa deve se dar em um
espaço no qual as práticas de uso da linguagem sejam compreendidas em sua dimensão
histórica, de modo que haja uma necessidade de análise e sistematização teórica dos
conhecimentos linguísticos decorrentes dessas mesmas práticas (BRASIL, 1998).
Os PCN’s já defendiam desde o ano de 2000 que o ensino de Língua Portuguesa devia,
“antever a disciplina, no eixo interdisciplinar”, já que o “estudo da língua materna na escola
aponta para uma reflexão sobre o uso da língua na vida e na sociedade” (BRASIL, 2000, p. 16).
Vieira et al. (2010) ressaltam que uma abordagem transversal em Língua Portuguesa
contribui para a formação de sujeitos pensantes, críticos e reflexivos, tendo em vista que os
temas dialogados nas diversas disciplinas tratam de questões sociais (filosofia e sociologia) e,
dessa forma, estão mais aproximados das variadas realidades dos estudantes, de maneira que se
favoreça o desenvolvimento, ganhando sua atenção e conduzindo-os a reflexões sobre os
objetos de conhecimento que serão estudados.
No entanto, conforme Vieira et al. (2010), é preciso que os professores se preparem para
suas práticas pedagógicas no ensino de língua materna para poder trabalhar transversalmente
em sala de aula. Nessa lógica, os autores supracitados advertem que, não se pode formar
cidadãos pensantes ao se ministrar aulas de língua portuguesa que usam o texto apenas como
“pretexto” somente para o ensino de gramática ou de leitura e interpretações superficiais. É
preciso entender que “é necessário primeiro munir o professor de conhecimento técnico e
didático, de consciência crítica e cidadã” (VIEIRA et al., 2010, p. 27).
Partindo da interação entre o contexto social em que o aluno está inserido e propostas
integradoras da educação em Língua Portuguesa, inicia-se a delimitação de um dos objetivos
principais do ensino de língua: “a transformação do perfil socioeconômico e cultural da
população que frequenta as escolas públicas brasileiras, seja para ensinar, seja para aprender”
(BAGNO, 2007, p. 30). Entretanto, para que essa transformação seja possível, a
interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade devem ser entendidas, em relação ao ensino da
língua portuguesa, como real interação entre os conteúdos disciplinares e seu atravessamento,
uma vez que essa interação é a base para o entendimento da língua como “uma atividade social,
um trabalho coletivo” (BAGNO, 2007. p. 36).
Enquanto professores, deve-se levar em consideração nos planejamentos das aulas que
se vive em tempos de grandes transformações nos paradigmas sociais e que o perfil dos alunos
mudou. O aluno é a cada dia mais dinâmico, criativo, impaciente, consegue fazer diversas coisas
ao mesmo tempo, não quer ser coadjuvante, mas sim protagonista. Assim, existe uma
necessidade imperativa de recriar as aulas, especialmente as de língua portuguesa, cuja
disciplina tem como um dos objetivos desenvolver no aluno a habilidade de se posicionar
criticamente diante das mais variadas situações de linguagem (RABELO, 2015).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. 1. ed.
São Paulo: Parábola, 2007.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
CAPÍTULO 36
ENSINO DE REDAÇÃO DO ENEM COM UMA ABORDAGEM
TRANSDISCIPLINAR: COLOCANDO TRANSVERSALIDADE NAS LINHAS
RESUMO
Os estudantes ainda apresentam muitas dificuldades para desenvolver as competências e habilidades linguísticas
necessárias à prova dissertativa do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em virtude de diversos fatores,
sobretudo, das limitações de um ensino de produção textual descontextualizado e fragmentado, que contempla de
forma particular a estrutura e a gramaticalidade do gênero. Neste bojo, o ensino-aprendizagem eficaz de produção
textual para redação do ENEM precisa ter como enfoque uma abordagem que vise a transdisciplinaridade na
construção de saberes, realçando o trabalho de língua com os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs). Diante
disso, o estudo buscou responder como a abordagem transdisciplinar, cujo enfoque do conhecimento é pluralista
e transversal, pode ser empregada nas aulas de Língua Portuguesa com foco no processo de ensino-aprendizagem
de redação do ENEM. Objetivou-se, portanto, investigar o emprego pedagógico da abordagem transdisciplinar nas
aulas em aulas de Língua Portuguesa de redação do ENEM. Isto posto, a pesquisa bibliográfica com abordagem
qualitativa foi a metodologia empregada. O marco teórico repousa em autores como, Geraldi (2008), Marcuschi
(2006), Ingedore, Koch (2015), Oliveira e Cabral (2017), Sommerman (2006), Severino (1998), Zabala (2002),
Fazenda (1998), Nicolescu (1999) e D’Ambrósio (2001). Quanto aos resultados, a pesquisa encontrou limitações
como a dificuldade de identificar estudos que investigassem metodologias transdisciplinares para o ensino-
aprendizagem de redação do ENEM. Todavia, os achados deste estudo apontam que tanto as metodologias-ativas
de aprendizagem quanto a Proposta de Produção Textual e Revisão Interacional, com utilização da Planilha de
Revisão Interaciona, por entender o processo dialógico da escrita, podem ser trabalhadas transdisciplinarmente,
haja vista que se baseia nos pressupostos teóricos da Análise Dialógica do Discurso e da Linguística Aplicada.
Destarte, as conclusões do estudo apontam que o uso dessas metodologias com abordagem transdisciplinar são
instrumentos pedagógicos eficazes para professores, estimulando a prática da (re)escrita da redação do ENEM.
1 INTRODUÇÃO
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) vem se tornando a principal via de acesso
à universidade, com isso, cada vez mais, estudantes e professores têm entrado em uma corrida
para ter um bom desempenho. A redação do ENEM possui um grande peso na nota final e tem
mostrado que os estudantes ainda apresentam grandes dificuldades para discutir questões
sociais, políticas, econômicas, culturais, éticas, morais, além das limitações da competências e
habilidades linguísticas dentro do texto. Isso sem mencionar a carência de práticas pedagógicas
Vieira et al. (2010, p. 27) afirmam que “não poderemos formar cidadãos pensantes,
críticos e reflexivos, se ministrarmos aulas de língua materna, que usam o texto apenas como
pretexto para ensino de gramática ou de leitura e interpretações superficiais”. Nesse sentido,
reconhece-se que não basta ensinar a gramática (norma-culta) e a estrutura do gênero textual, é
preciso trabalhar transversalmente a redação do ENEM nas aulas de Língua Portuguesa (LP).
Diante disso, “é necessário primeiro munir o professor de conhecimento técnico e didático, de
consciência crítica e cidadã” (VIEIRA et al., 2010, p. 27). Considerando o exposto, é que se
investiga a abordagem transdisciplinar como caminho para o ensino de redação do ENEM em
aulas de LP.
Mediante isso, este estudo contribui para as práticas didáticas de sala de aula no ensino-
aprendizagem de redação do ENEM, impactando tanto na qualidade da aula como na melhoria
dos resultados do estudante dentro do espaço escolar e, do modo especial, no desempenho do
estudante no referido exame, propiciando maiores chances de acesso ao ensino superior.
Para tratar dos gêneros discursivos e da redação do ENEM, aporta-se nos pressupostos
bakhtinianos, assim como nos estudos de Geraldi (2008), Marcuschi (2006), Koch (2015) e
Oliveira e Cabral (2017). No que tange à transdisciplinaridade e TCTs, baseia-se nos
trabalhados de Sommerman (2006), Severino (1998), Zabala (2002), Fazenda (1998),
Nicolescu (1999) e D’Ambrósio (2001).
Nesta pesquisa aceitou-se livros, teses, dissertações, artigos e trabalhos científicos que
dialoguem sobre o ensino transdisciplinar e sua relação com a produção textual nas aulas de
LP. A coleta se deu coletados no Periódicos Capes, na Biblioteca Virtual Scientific Eletronic
Libray Online (SCIELO) e no Google Acadêmico.
Fazenda (1998, p. 46) adverte que essa abordagem não é contraria à disciplinaridade,
diferente disso, ela precisa das disciplinas para interligá-las: “Uma tal constatação mostra logo
a existência de uma ligação efetiva entre a interdisciplinaridade e a didática, que aqui traz
fundamentalmente sua razão de ser na descrição do conhecimento que instaura para ensinar”.
Assim sendo, ser transdisciplinar é antes de tudo ser pesquisador. Logo, para construir
atitudes transdisciplinares é preciso levar em consideração alguns aspectos, como substituir
explicações simplistas para situações complexas e deixar de alimentar preconceitos. Cultivar
em si mesmo tais atitudes indica a recusa em receber informações como se fossem
conhecimentos, mas questionar e buscar ativamente suas próprias compreensões com
argumentos e elaborando o próprio saber (ROCHA FILHO; BASSO; BORGES, 2007).
O estudo da produção textual pode ser tratado em sala de aula previamente como uma
opção política. De acordo com Geraldi (2006, p. 40), antes de qualquer consideração específica
sobre a atividade de sala de aula, “é preciso que se tenha presente que toda e qualquer
metodologia de ensino articula uma ação política – que envolve uma teoria de compreensão e
interpretação da realidade – com mecanismos utilizados em sala de aula”.
No que diz respeito aos gêneros, Marcuschi (2008) afirma que seus estudos não são
novos se considerar que sua observação sistemática se iniciou em Platão, a tradição poética, e
com Aristóteles, a tradição retórica. Nessa lógica, o autor supracitado defende que:
[...] os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que
apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições
funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de
forças históricas, sociais, institucionais e técnicas (MARCUSCHI, 2008, p. 155).
No que concerne à redação do Enem, pode-se inseri-la como um gênero da ordem
argumentativa, que se organiza em defesa de uma tese. Para demonstrar proficiência escrita
neste gênero, o participante precisa ter determinadas competências linguísticas como estrutura
genérica, domínio da norma culta, repertório sociocultural e linguístico, organização das ideias,
construção de argumentos e elaboração de uma proposta de intervenção. Assim, espera-se que
o estudante, enquanto produtor da redação do Enem, ative seus conhecimentos de mundo e
linguísticos e faça escolhas informacionais, linguísticas, estratégicas e argumentativas relativas
ao contexto da redação, comprovando competência na produção textual argumentativa
(OLIVEIRA; CABRAL, 2017).
Os TCTs estão dispostos em seis macro áreas temáticas – Meio Ambiente, Economia,
Saúde, Cidadania e Civismo, Multiculturalismo e Ciência e Tecnologia – que podem ser
trabalhadas de modo intradisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar, transversalmente às
áreas de conhecimento (BRASIL, 2017).
À vista disso, as atividades desenvolvidas em sala de aula com foco na produção textual,
sobretudo, quando para gêneros tão específicos como a redação do ENEM, devem buscar
desenvolver habilidades de reconhecimento e funcionalidade dos gêneros em uma constante
interação com outros saberes que ultrapasse as questões de língua, tratando de questões sociais,
políticas, economias etc (SILVA; ROSA, 2013). Logo, é preciso ampliar a criticidade e
reflexividade do estudante para que ele resgate conhecimentos da sociologia, história,
geografia, matemática, ciências da natureza e tantas outras
É salutar ressaltar que o uso dessas metodologias não substitui a produção individual de
cada estudante. No entanto, trabalhar coletivamente favorece o emprego de uma abordagem
transdisciplinar, tendo em vista que tem um ponto bastante positivo, as habilidades individuais
dos estudantes com determinados conhecimentos.
Isto é, imaginando que um professor de LP irá trabalhar redação do ENEM com seus
estudantes, com tema “meio ambiente e saúde” e escolheu preparar o roteiro da redação de
forma coletiva usando a lousa. Todos os estudantes poderiam contribuir, apontando teses,
argumentos e dando ideias de repertório sociocultural. De acordo com as afinidades de cada
estudante com determinados componentes curriculares ou áreas de conhecimentos,
provavelmente, haveria uma transversalidade do tema por diversos saberes de diversas áreas.
Diversos estudiosos como Morin (1999), defendem que o modelo de educação mais
adequado para o mundo virtual é o transdisciplinar, por ser composto de um conjunto de áreas,
com objetivos múltiplos. Vasconcelos e Martins (2017, p. 152) concordam afirmando que
“abandona-se, desse modo, um processo de construção de conhecimento de forma
compartimentada, segmentada, e surge a partir desse momento, naturalmente, um mecanismo
totalmente interligado”.
Sob essa ótica, segundo palavras de Vasconcelos e Martins (2017, p. 144): “a leitura
favorece a autonomia do indivíduo para que ele viva em sociedade, atuando criticamente junto
à realidade que o cerca. Restringindo tal realidade ao plano educacional, junto da leitura vem a
importante prática da produção textual”.
Dessa maneira, traz-se algumas metodologias ativas (Quadro 01) que podem ser
empregadas permitindo que estudantes e professores assumam uma postura transdisciplinar e
realizem um trabalho de leitura e escrita a partir da transversalidade dos TCTs. Enfatiza-se que
essas metodologias ativas aprendizagem são essenciais na transdisciplinaridade pedagógica.
Isso porque, segundo a teoria da Pirâmide da Aprendizagem de William Glasser (1986), os
estudantes aprendem muito mais discutindo com outras pessoas (70%), praticando (80%) e
ensinando (95%), do que só lendo (10%), escrevendo (20%), observando e escutando (50%)
(GLASSER, 1986).
Figura 1: Elementos que encaminham uma proposta de produção de texto para a interação.
Portanto, o professor deve estimular seus alunos a assumir uma postura transdisciplinar,
sendo ele o primeiro a fazer isso. Assim, durante todas as fases da Produção Textual e Revisão
Interacional o professor precisa apontar caminhos atravessados pelo qual o conhecimento deve
percorrer, principalmente, nas fases de orientação, discussão e planejamento coletivo, em que
é possível trazer aspectos de repertório sociocultural, no qual se necessita compilar diversos
conhecimentos: políticos, jurídicos (legislações), geográficos, históricos, artísticos (cinema,
literatura, séries, músicas etc), econômicos, éticos e dentre outros.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, é possível inferir que essa proposta é um instrumento pedagógico rico para
professores ensinar os estudantes a praticarem a (re)escrita da redação do ENEM em linhas
transversais, ultrapassando os limites da gramaticalidade do texto e atravessando os
conhecimentos de outras áreas necessários (e que o estudante já possui, muitas vezes) à sua
constituição.
REFERÊNCIAS
GERALDI, J. W. Portos de passagem: texto e linguagem. 4. Ed. São Paulo: Martins Fontes,
1997.
KOCH, I. V. G. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. 2. Ed. São Paulo:
Contexto, 2015.
CAPÍTULO 37
SALA DE AULA INVERTIDA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS:
CONTRIBUIÇÕES E PERCALÇOS
RESUMO
A sala de aula invertida é uma metodologia ativa que pretende tornar o estudante ativo e participativo, ao ir além
da memorização de conteúdo e buscar significação no processo de ensino-aprendizagem. Desse modo, o presente
estudo objetiva identificar os percalços e as contribuições de tal metodologia para os professores de Ciências de
Cristino Castro, Piauí (PI). Parte-se de uma abordagem de estudo em educação e, para alcançar os objetivos
propostos e o problema formulado,optou-se por pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa qualitativa. Como
método de investigação e coleta de dados, foi aplicado um questionário composto por cinco questões abertas para
11 docentes que ensinam ciências nos anos finais do Ensino Fundamental nas escolas públicas do município
supramencionado. A análise de dados foi realizada a partir de três categorias: concepção da metodologia de sala
de aula invertida para o ensino de Ciências; recursos tecnológicos utilizados pelos professores na sala de aula
invertida; e percalços encontrados pelos docentes na implantação da sala de aula invertida. Com base nos
resultados obtidos, foi possível perceber que os educadores anseiam por inovações; porém, as Tecnologias Digitais
de Informação e Comunicação (TDICs), a carga horária excessiva e a falta de engajamento dos alunos ainda são
empecilhos para a implantação desse tipo de metodologia em sala de aula. Por fim, salienta-se que, como vários
discentes sofrem pelo desprovimento de recursos tecnológicos, torna-se necessário envolvê-los e incluí-los na era
digital.
1 INTRODUÇÃO
Ademais, esse tipo de metodologia motiva o aluno a indagar e ter liberdade para debater
sobre assuntos diversos, em que busca novas informações para levar à sala de aula. Sendo assim,
passa a ser mais ativo nesse contexto, e o professor se torna mediador e fica mais presente na
vivência do estudante, o que, de certa forma, rompe com os paradigmas autoritários para
orientar e mediar o processo.
Quando o aluno chega à sala de aula, apresenta um conjunto de saberes advindos das
próprias experiências e em anos anteriores. Esse conhecimento prévio pode oferecer maior
autonomia no ambiente escolar, ao torná-lo mais participativo e com senso crítico. Diante disso,
o objetivo proposto foi identificar os percalços e as contribuições da sala de aula invertida
adotada por professores de Ciências no município de Cristino Castro, no estado do Piauí (PI).
Pode-se compreender que a envoltura do sujeito e o meio social são fatos determinantes.
Segundo Chizzotti (2008), a investigação é realizada por meio de acontecimentos locais que
apresentam os objetos da pesquisa, com o propósito de extrair desse convívio os significados
perceptíveis e latentes visíveis apenas por meio uma atenção mais significativa por parte do
pesquisador. Esse método de estudo visa à compreensão do pesquisador ao revelar, pela
vivência na área de estudo, os resultados obtidos conforme pontos de vista dos sujeitos
participantes do trabalho científico.
Alguns alunos se sobressaem nesse tipo de ensino, pois, nas palavras de Bergmann e
Sams (2019), quando se ensina no método tradicional, a atenção era voltada aos estudantes mais
inteligentes, aos que levantavam a mão e/ou faziam questionamentos. Nessa concepção, uma
parcela dos educandos com problemas de aprendizagem fica comprometida – o aluno pode até
ser aprovado, mas a probabilidade de fracassar nas séries posteriores é maior, devido a lacunas
em determinadas matérias.
Evidentemente:
Não é necessidade aprofundar está análise para sugerir que houve um crescente
distanciamento entre o aluno e o professor levando à necessidade de repensar o
processo de ensino-aprendizagem. E alguns educadores na segunda metade do século
XX mostraram que não basta o mestre falar para que o estudante aprenda. Há a
necessidade de que cada indivíduo construa o próprio saber, transformando o
professor em um elo entre o conhecimento e o aluno, valorizando assim formas de
ensinar (CORTELAZZO et al., 2018, p. 31).
A avaliação por meio do método tradicional demanda apenas o uso de respostas curtas,
O que constatamos, cada vez mais, é que a aprendizagem por meio da transmissão é
importante, mas a aprendizagem por questionamento e experimentação é mais relevante para
uma compreensão mais ampla e profunda (MORAN; BACICH, 2018, p. 2).
A partir da (re)leitura dos dados coletados por meio dos questionários, foi possível
levantar as categorias apresentadas nos próximos subtópicos.
3.1 Primeira categoria: concepção da metodologia de sala de aula invertida para o ensino
de Ciências
Essa categoria visou analisar a metodologia de sala de aula invertida como opção de
elemento formativo em sala de aula. Nota-se que tal método é compreendido pela maioria dos
professores, os quais reiteraram a aprendizagem eficaz do discente com o estudo dos materiais
propostos que, quando retorna à aula, teria um conhecimento prévio sobre o assunto a ser
abordado, o que ocasiona a participação da classe.
Não se trata apenas de alunos na sala de aula, pois todos possuem realidades
socioeconômicas e históricas que influenciam na atuação escolar e refletem o próprio
desempenho. Dessa forma, a sala de aula invertida seria um grande desafio nas escolas públicas
por parte dos alunos, em razão da carência de aparelhos tecnológicos, o que contempla um dos
fatores essenciais na aplicação de tal método.
3.2 Segunda categoria: recursos tecnológicos utilizados pelos professores na sala de aula
invertida
A inserção das TDICs nas salas de aula traz preocupações novas e diversos empecilhos.
Mesmo assim, estão cada vez mais práticas e fáceis de manusear, ao possibilitarem a
colaboração entre indivíduos próximos e distantes, aumentar a percepção do espaço escolar e
unir discentes e docentes de países, línguas e costumes distintos (MORAN; BACICH, 2018).
Nota-se que apenas um dos sujeitos não tinha habilidades tecnológicas para o manuseio
das TDICs. Nesse sentido, Santos et al. (2008) argumentam que diversas tecnologias
educacionais ainda não são vivenciadas na prática por todos os atores sociais. É provável que o
computador não faça parte do cotidiano desse profissional, mas, ao mesmo tempo, se insere na
realidade da instituição onde realiza suas funções laborais (SCHUHMACHER; ALVES
FILHO; SCHUHMACHER, 2017).
Dessa forma, os docentes que não buscam atualizações podem comprometer os alunos
em relação à aprendizagem vinculada ao meio tecnológico. Tais profissionais recebem os
estudantes na sala se se deparam com uma realidade que totalmente diferente daquela do aluno,
pois, no passado do professor, não existia o computador, por exemplo.
Neste tópico visou analisar as dificuldades encontradas pelos professores com a sala de
aula invertida, cuja metodologia possui várias vantagens e, concomitantemente, obstáculos para
a plena efetivação no contexto escolar. Nesse contexto, Padilha (2020) profere que uma das
dificuldades seria a falta de acesso à internet, sobretudo de qualidade, pois os alunos necessitam
Outro ponto relatado pelos participantes se refere ao engajamento dos alunos em sala de
aula, bem como às limitações na relação entre professor e estudantes. Aqui, é possível
comprometer a aprendizagem devido à inexistência dessa relação; afinal, o docente não pode
ser a autoridade intelectual e moral, com foco na memorização de conteúdo e conceitos pelos
alunos que, nesse caso, são vistos como agentes passivos. O educador precisa mediar o
conhecimento e apresentar uma relação satisfatória com os educandos, em que consegue
perceber aqueles que possuem dificuldades e os ajudar a superar os desafios da vida escolar.
Muitas vezes, as barreiras que dificultam as mudanças de parte dos docentes estão no
comodismo, com repetições de métodos ultrapassados que contrariam um paradigma crítico,
cuja finalidade é apresentar ações e métodos reflexivos para compreender a realidade do
indivíduo. Segundo Mattar (2017), é preciso modificar a metodologia tradicional e a
transformar na sala de aula invertida, apesar da insegurança para modificar essa realidade.
Por fim, a indisponibilidade do tempo dos professores para o preparo das aulas deve ser
repensada para surtir efeito em sala de aula, assim como a distração dos alunos e a falta de
internet de qualidade e de dispositivos eletrônicos. Notoriamente, os professores visam inovar;
porém, as TDICs, a carga horária excessiva e a falta de engajamento dos educandos ainda são
empecilhos para a implantação desse tipo de metodologia.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar do preparo dos docentes para o uso dos meios tecnológicos, os alunos também
precisam estar capacitados. Ainda existem percalços para a implantação dessa metodologia,
pois nem todas as escolas contemplam estudantes com condições financeiras para arcar com
recursos mínimos como acesso à internet de qualidade e aparelhos eletrônicos para auxiliar
durante a aprendizagem. Convém salientar o excesso de trabalho assumido pelos educadores, o
que incide sobremaneira nessa conjuntura.
Destarte, é preciso romper as barreiras sobre a sala de aula invertida, ao buscar suporte
da gestão do estabelecimento de ensino, que pode facilitar o uso de tal metodologia. São
evidentes os contributos de tal método para aulas dinâmicas, as quais tornam os alunos mais
participativos, críticos e pesquisadores, como os principais protagonistas da própria
aprendizagem. Muitos discentes sofrem pela falta de recursos tecnológicos; logo, é preciso
envolvê-los e incluí-los na era digital.
REFERÊNCIAS
BERGMANN, J.; SAMS, A. Sala de aula invertida: uma metodologia ativa de aprendizagem.
Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2019.
CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
CORTELAZZO, A.L.; FIALA, D.A.S.; PIVA J.D. PANISSON, L.; RODRIGUES, M.R.J.B.
Metodologias ativas e personalizadas da aprendizagem: para refinar seu cardápio
metodológico. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018.
COSTA, N.M.L.; BOLDRIN, K.S. O método de aula invertida: uma revisão de literatura
sobre pesquisas brasileiras em formação docente e ensino de Ciências. Revista de Ensino,
Educação e Ciências Humanas, São Paulo, v. 21, n. 4, p. 402-408, 2020. Disponível em:
https://revistaensinoeeducacao.pgsskroton.com.br/article/view/8543. Acessado em: Out. 2023.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 59. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
MORAN, J.; BACICH.L. (Orgs). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma
abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.
PADILHA, P.A. Sala de aula invertida: uma proposta de metodologia ativa para o ensino
da disciplina de Física no Ensino Médio. 2020. p. 62. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2020. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/204227. Acessado em: Out. 2023.
SÁ, M.G.; MOURA, G.L. A crítica discente e a reflexão docente. Cadernos EBAPE.BR, Rio
de Janeiro, v. 6, n. 4, p. 1-10, dez. 2008. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/cebape/a/sXF4FtZ9rD3gLx7WKctQdCh/?lang=pt&format=pdf.
Acessado em: Nov. 2023.
SANTOS, F.M. SILVA, J.A. L; PEREIRA, T.M.S.; MACEDO, R.G.de; MACEDO, R.N.
Análise do uso dos recursos tecnológicos como metodologia no ensino-aprendizagem.
Revista Espacios, [s.l.], v. 39, n. 23, p. 5, 2018. Disponível em:
https://www.revistaespacios.com/a18v39n23/a18v39n23p05.pdf. Acessado em: Out. 2023.
SCHMITZ, E.X.S.; REIS, S.C. Sala de aula invertida: investigação sobre o grau de
familiaridade conceitual teórico-prático dos docentes da universidade. Educação Temática
Digital, Campinas, v. 20, n. 1, p. 153-175, jan./mar. 2018. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/8648110. Acessado em: Nov.
2023.
SILVA, A. da; GARCIA, A.F.G.; RIBEIRO, S.F.da C.; JESÚS, S.F.de. Metodologias ativas:
um desafio para o trabalho da orientação. In: SILVA, Andreza Regina Lopes da; BIEGING,
Patrícia; BUSARELLO, Raul Inácio (Orgs.). Metodologia ativa na educação. São Paulo:
Pimenta Cultural, 2017.
SOUZA, S.E. O uso de recursos didáticos no ensino escolar. Arquivos do Mudi, Maringá, p.
110-114, 2007. Disponível em: http://www.dma.ufv.br/downloads/MAT%20103/2015-
I/slides/Rec%20Didaticos%20-%20MAT%20103%20-%202015-II.pdf. Acessado em: Nov.
2020.
CAPÍTULO 38
A SUPERVISÃO E COORDENAÇÃO ESCOLAR COMO AGENTES
EDIFICADORES DA EDUCAÇÃO
RESUMO
Este artigo de revisão de literatura tem como objetivo explorar o impacto dessas funções na melhoria da qualidade
educacional, considerando uma ampla gama de perspectivas teóricas e práticas. A supervisão escolar,
frequentemente, é vista como uma abordagem estratégica para aprimorar o desempenho docente, promover a
eficácia das práticas pedagógicas e criar ambientes de aprendizagem inclusivos. A coordenação pedagógica, por
sua vez, desempenha um papel crucial na articulação das políticas educacionais, na formação continuada de
professores e na promoção de uma cultura escolar de excelência. Juntas, essas funções desempenham um papel
sinérgico na construção de uma educação de qualidade. Ao longo deste artigo, examinou-se as teorias e abordagens
que sustentam o papel da supervisão e coordenação escolar, explorando como essas práticas evoluíram ao longo
do tempo. Além disso, irá ser analisado estudos empíricos que demonstram os impactos positivos dessas funções
na aprendizagem dos alunos, no desenvolvimento profissional dos educadores e no fortalecimento da comunidade
escolar. Questões cruciais, como a liderança pedagógica, a gestão de conflitos, a promoção da inclusão e
diversidade, e a avaliação institucional, serão abordadas para destacar os desafios e oportunidades que os
supervisores e coordenadores escolares enfrentam em sua busca pela excelência educacional. Ao final, este artigo
enfatiza a importância de investir na capacitação e apoio contínuo dos profissionais de supervisão e coordenação
escolar, reconhecendo seu papel vital na construção de um sistema educacional que promove a equidade e a
excelência, moldando o futuro da sociedade por meio da educação de qualidade.
1 INTRODUÇÃO
No entanto, a supervisão escolar evoluiu ao longo do tempo para se tornar mais do que
apenas uma função de fiscalização. Durante o início do século XX, influenciada por teóricos
como John Dewey, a supervisão começou a adotar uma abordagem mais pedagógica
(MESQUITA, 2016). Dewey enfatizava a importância de um ensino prático e centrado no
aluno, e isso teve um impacto significativo na supervisão escolar.
Uma das maneiras mais evidentes pelas quais a supervisão e a coordenação escolar
afetam a qualidade educacional é através da melhoria do desempenho docente. Supervisores
escolares desempenham um papel crucial ao observar as práticas de ensino, fornecer feedback
construtivo e oferecer suporte aos professores. Ao fazer isso, eles ajudam os educadores a
aprimorarem suas habilidades de ensino e a se adaptarem às necessidades dos alunos em
constante mudança.
Os coordenadores pedagógicos lidam no seu cotidiano, não com uma escola, mas com
um grupo delas no mesmo espaço diversos graus e modalidades das redes públicas
estadual e municipal, e particular de ensino, confessional ou não. Desempenham
várias funções no seu cotidiano escolar, tais como: tarefas burocráticas, atendimento
a alunos e pais, planejamento e acompanhamento de curso, solução de emergências e
imprevistos, treinamento de professores, entre outras (GODOY, 2021, p. 65).
Através da observação de aulas e avaliações regulares, os supervisores identificam
pontos fortes e áreas de desenvolvimento para cada professor. Esse feedback individualizado é
valioso para aprimorar as técnicas de ensino e garantir que os alunos recebam uma educação de
alta qualidade. A coordenação pedagógica também desempenha um papel importante na
promoção da qualidade educacional, especialmente quando se trata de desenvolver práticas
pedagógicas inovadoras. Coordenadores pedagógicos colaboram com os professores na
elaboração de currículos, materiais didáticos e métodos de ensino que estejam alinhados com
as melhores práticas educacionais e as necessidades específicas dos alunos.
Atualmente, o termo formação vem sendo muito discutido no meio educacional. Pode-
se começar essa reflexão pela etimologia da palavra Forma/ação. No dicionário
Online de Português, a palavra Forma está relacionada ao método e Ação significa o
agir; portanto, ação de formar, dar forma a algo, de criar dando forma. No entanto, é
importante destacar que esse conceito não pode ser definido restritamente ao seu
aspecto etimológico, este significado ultrapassa a este aspecto e tem uma abrangência
enorme no campo das pesquisas. Portanto, a Formação em sentido pleno, deve ser
compreendida numa dimensão contextualizada e complexa, que considera as
perspectivas sociais, políticas e culturais (SILVA, 2021, p. 7).
Supervisores e coordenadores desempenham um papel fundamental ao garantir que as
escolas sejam inclusivas e atendam às necessidades de todos os alunos, independentemente de
suas diferenças. Eles trabalham com os professores para identificar estratégias de ensino que
promovam a igualdade de oportunidades e a participação de todos os estudantes,
independentemente de suas habilidades, origens ou condições.
4 MATERIAL E MÉTODOS
Exclusão de estudos que não atendam aos critérios estabelecidos, como estudos não
relacionados, duplicados ou não disponíveis em texto completo.
Leitura crítica dos estudos selecionados para extrair informações relevantes sobre
teorias, abordagens, impacto na qualidade educacional, desafios e oportunidades relacionados
à supervisão e coordenação escolar.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 39
O QUE PENSAM LICENCIANDOS DE PEDAGOGIA SOBRE A QUALIDADE DA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES
RESUMO
A conceituação de qualidade é polissêmica e o debate sobre ela é polêmico quando versa sobre o ensino de
Matemática e a Formação Inicial de Professores em cursos de Pedagogia. A complexidade em conceituar qualidade
nesse contexto é explicitada pela análise crítica das Diretrizes Propostas, das Concepções de Currículo construídas
e reconstruídas em prol de uma autonomia intelectual, bem como pela consideração dos elementos acerca da
constituição do pensamento do sujeito social com foco em sua autonomia cidadã. Este capítulo refere-se a um
recorte de uma pesquisa de doutorado que teve como objetivo geral analisar as perspectivas de qualidade que
permeiam o ensino de Matemática em cursos de Pedagogia segundo licenciados. O estudo principal foi
desenvolvido em três instituições de Ensino Superior do estado de Pernambuco, sendo duas públicas e uma
privada. Neste capítulo, será tratado sobre as análises de questionário aberto aplicado a 115 licenciandos de
Pedagogia das instituições envolvidas. No tratamento dos dados, foi utilizado o software Iramuteq, através da
análise de Classificação Hierárquica Descendente (CHD), e interpretação qualitativa das classes organizadas, a
partir desse modelo.
1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo será abordado alguns dos resultados de uma tese de doutorado defendida
em 2019, no Programa de Educação Matemática e Tecnológica da UFPE, Edumatec, cujo
estudo principal foi desenvolvido em três instituições de Ensino Superior do estado de
Pernambuco, sendo duas públicas e uma privada. Foi adotada para a pesquisa da tese uma
abordagem metodológica mista e exploratória e para as discussões levantadas aqui foram
consideradas as análises de duas questões do questionário aberto aplicado com 115 licenciandos
de cursos de Pedagogia. As questões versam sobre: o que seria importante para a qualidade no
ensino de Matemática no processo de formação de professores do curso de Pedagogia? Os
licenciandos se sentem preparados para ensinar Matemática?
Como exemplo dessas avaliações internas, vale destacar que o Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica (Saeb) em sua aplicação 2021, durante a pandemia de Covid-
19. Conforme relatório de apresentação dos resultados, 92% das escolas da Educação Básica
do Brasil adotaram estratégias de mediação remota; 8,9% das escolas de educação básica do
Brasil ajustaram a data de término do ano letivo; 72, 3% recorreram à reorganização curricular
com priorização das habilidades e dos conteúdos; e 17,2% indicaram adoção de estratégia de
continuum curricular (complementação curricular em 2022). Nos resultados, o gráfico que
apresenta o comparativo entre a Evolução das Proficiências Médias no Saeb em Matemática no
2º ano do Ensino Fundamental foi de 750,0 (2019) e 741,60 em (2021), no 5º ano do Ensino
Fundamental 228,0 (2019) e em 217,0 (2021), no 9º ano do Ensino Fundamental 263,0 (2019);
e 256,0 (2021); e no Ensino Médio 277,0 (2019) e 270,0 (2021). Ao apontar esses dados, a
pretensão é explicitar que a busca pela qualidade no país está pautada exclusivamente nas
avaliações externas.
Para argumentar que para ter qualidade é necessário pensamento crítico e autonomia
pode-se evocar dois autores, Michael Apple e Paulo Freire. Apple et al. (2011) defende que a
Pedagogia Crítica e os estudos educacionais críticos buscam compreender as relações de poder
e desigualdades sociais, culturais ou econômicas, que se manifestam na educação formal e
informal e que uma compreensão mais robusta desta Pedagogia Crítica implica numa atitude
que “se volta à transformação social e à ruptura com as ilusões confortadoras que têm como
pressuposto que os modos em que nossas sociedades e seus aparatos educacionais estão
atualmente organizados, podem levar à justiça social” (APPLE et al., 2011, p. 14). Significa
dizer que a Educação é conectada à sociedade e isso inclui um processo de reposicionamento,
que se constitui em não olhar com olhos da ideologia da opressão (APPLE et al.,2011).
Apple et al. (2011) explicam que uma análise crítica da educação envolve oito tarefas:
(1) Testemunhar a negatividade, ou seja, iluminar os modos pelos quais a política e as práticas
educacionais estão conectadas às ações de exploração e dominação; (2) Examinar criticamente
as realidades atuais com um modelo conceitual e político que enfatize os espaços nos quais
ações contra hegemônicas possam se realizar ou em que se realizem; (3) Redefinir o que seria
pesquisa e se transformar, a partir dessas pesquisas, em “secretários” de grupos que precisam
ser escutados; (4) Envolver-se em diálogos mutuamente pedagógicos que permitem que
decisões sejam tomadas em torno dos interesses dos oprimidos; (5) Manter viva as tradições do
trabalho radical, para dar continuidade à legitimidade das memórias coletivas; (6) Desenvolver
Apple (2017) analisa as relações entre os governos de direita e esquerda, e afirma que
um de seus maiores interesses em estudar a direita é, justamente, buscar compreender como ela,
“brilhantemente”, torna seu discurso popular, por meio de uma mídia que trabalha a favor de
ganhar a audiência da sociedade civil. Nesta obra, ele aponta que a direita cria um modelo
educacional pautado na lógica de mercado, na qual os parâmetros avaliativos tais como:
eficiência, excelência e qualidade. Esses parâmetros estão, no mínimo, muito longe da realidade
das escolas, ao se propor discutir sobre a relação educação e sociedade, defende que nas escolas
agravam-se diferenças de desempenho, que existe um engessamento com ataques a conteúdos
multiculturais e políticas de desrespeito aos professores. Apple (2017, p. 53) referenda a obra
de Freire e afirma que: um dos elementos principais que deu a Paulo Freire tal legitimidade foi
que ele não se concentrou a escrever sobre um tipo particular de práxis educacional/política,
mas se envolveu num trabalho duro e disciplinado (e por vezes perigoso) de juntar teoria à
prática (APPLE, 2017, p. 53).
Este autor propõe uma discussão aprofundada sobre esse processo de “co-flexão” como
sendo um processo de reflexão coletivo e ao que ele chama de processo de meta-pensamento,
por meio do qual pessoas juntas pensam sobre o modo de agir das outras conscientemente. Isto
torna o papel do professor formador e do professor que será formado em educadores
comprometidos com o refletir sobre a necessidade de repensar a relação do aluno com a
disciplina, considerando-se pensar os aspectos afetivos do ensino, mas, ainda mais, pensar os
Se as crianças forem ensinadas bem Matemática, esta lhes ensinará muito de liberdade,
habilidade e, sem dúvida nenhuma, muito das disciplinas de expressão, sentimento de tolerância
de que a democracia precisa para ser bem-sucedida” (SKOVSMOSE, 2007, p. 69). Assim, não
é uma questão de mudança de currículo ou metodologia, mas uma forma crítica de enxergar o
que está posto. Assim, Skovsmose (2007) afirma que Matemática pode significar esperança,
pois, conhecimento pode significar ação. Esse autor menciona Freire e sua proposta de
letramento como indicativo de habilidades que extrapolam o ler e o escrever, ou seja, significa
um alargamento da noção de letramento para incluir a competência crítica do cidadão.
Skovsmose (2007, p. 242) aborda que “nas mãos de Freire, letramento torna-se a capacidade
para modular, para ver uma situação como aberta a mudança” e, assim, ele discorre que
considera a própria Matemática como a capacidade da modulação, pois ela deve conter
elementos reflexivos. Esse autor faz também refletir que a “Educação Matemática Crítica
expressa uma esperança de prover uma competência “matemática”, que tem qualidades
semelhantes ao letramento” (SKOVSMOSE, 2007, p. 242).
Em relação aos saberes docentes, Tardif (2014) explica que a questão do saber dos
professores não pode ser separada das outras dimensões do ensino e, no âmbito dos ofícios e
profissões, falar de saberes é relacioná-los aos condicionantes e com o contexto do trabalho: o
saber é sempre o saber de alguém que trabalha no intuito de realizar um objetivo qualquer. Esse
autor afirma que o saber dos professores é o saber dele e que está relacionado com a identidade
deles, com a experiência de vida e com a história profissional, com as suas relações com os
alunos em sala de aula e com outros atores escolares. Tardif (2014) argumenta que a questão
dos saberes dos professores e sua relação com o tempo não é tarefa fácil, por ser necessário
compreender que imbuída na noção do saber estão as competências, habilidades e atitudes,
assim é o saber fazer e o saber ser.
Ibernón (2009) destaca que as políticas educativas da formação deveriam propiciar uma
nova estrutura organizativa. Se no século passado a organização de referência foram os centros
Sabe-se que o pedagogo que irá atuar na Educação Básica ensinando Matemática, além
das questões relativas às competências matemáticas que irão desenvolver em futuros alunos,
ainda terão que lidar com as questões do contexto político, social e econômico em que estão
inseridos e, por tal articulação torna-se interessante compreender o que eles pensam a respeito
da qualidade da formação de professores e como sentem sua formação para ensinar matemática.
4 METODOLOGIA
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 O que seria importante para a qualidade no ensino de Matemática durante o processo
de formação do curso de Pedagogia
Para esta pergunta chegou-se a uma primeira classificação: A relação entre teoria e
prática para qualidade do ensino de Matemática durante a formação no curso de Pedagogia
29
O Iramuteq, é um software gratuito (CAMARGO; JUSTO, 2013) que viabiliza diferentes tipos de análise de
dados textuais, como a lexicografia básica, que abrange sobretudo a lematização (processo que reduz as
palavras com base na raiz) e o cálculo de frequência de palavras até à análises multivariadas, como
classificação hierárquica descendente de segmentos de texto, análise de correspondências e análises de
similitude.
Eu prefiro que ensinasse mais na prática como ensinar matemática aos alunos do infantil
e do fundamental I (PARTICIPANTE 01, 2018, Informação escrita concedida em 04/04/2018).
É preciso aulas práticas não apenas teoria. Acredito que os futuros pedagogos precisam
de aulas práticas que ensinem os alunos como ensinar matemática (PARTICIPANTE 05, 2018,
Informação escrita concedida em 04/04/2018).
Professores que se preocupem com a real necessidade do aluno que não apenas a teoria
sim relação com a prática (PARTICIPANTE 105, 2019, Informação escrita concedida em
22/04/2019).
No curso de pedagogia nós temos muito contato com a teoria e pouco contato com a
prática acho que um pouco mais de prática seria interessante (PARTICIPANTE 111, 2019,
Informação escrita concedida em 22/04/2019).
O trabalho docente é a articulação dos saberes plurais que envolvem a docência, muitos
desses saberes envolvidos no processo formativo não são percebidos pelos licenciandos e
passam despercebidos que a prática do professor formador, quando envolve o diálogo e a
criticidade, é um momento para aprender a viver as ocasiões que a docência coloca como
desafio a cada dia. Ou seja, se o licenciando observar a prática do professor formador, ele poderá
perceber que não existe uma receita pronta, não existe um roteiro estabelecido. Quando o
Os licenciandos parecem se preocupar e demonstram interesse pelo saber fazer que está
sendo construído ao longo do curso, ao preverem a brevidade em que estarão em contato com
a sala de aula nas escolas. Foram identificados licenciandos que pareciam compreender a prática
como necessária à formação “ir a campo”, ou seja, um contato mais próximo com o contexto
escolar durante as disciplinas de metodologia:
Relacionar as teorias e práticas, ir a campo para que assim o discente possa observar
e analisar o processo de ensino de matemática (PARTICIPANTE 106, 2019,
Informação escrita concedida em 22/04/2019).
A didática, os recursos pedagógicos e a prática, ou seja, o contato com a sala de aula
para colocar em prática toda a teoria passada fazendo assim uma autoavaliação uma
autorreflexão produzindo assim mais conhecimento no processo ensino e
aprendizagem (PARTICIPANTE 61, 2019, Informação escrita concedida em
22/04/2019).
Na análise acima importante destacar que, devido ao professor formador já ter
construído o “saber experiencial”, ele traz o discurso da relação entre teoria e prática tão
imbricado que alguns licenciandos demoram a perceber que esta está presente. O licenciando
ainda não compreendeu que a teoria que permeia a sala de aula é o sustentáculo da prática e
que, não necessariamente, tudo o que se discute da teoria na sala de aula será ensinado aos
alunos dos anos iniciais. Conforme o excerto:
O curso de pedagogia é oferecido mais a parte teórica do que a prática, pois é a prática
que iremos trabalhar em sala de aula não vamos ensinar teoria em séries iniciais
(PARTICIPANTE 98, 2019, Informação escrita concedida em 22/04/2019).
Os “saberes do saber ensinar” não podem ser reduzidos a um “sistema cognitivo” e,
portanto, será desenvolvido por esse sujeito, que não é apenas um “sujeito-epistêmico” que se
coloca no mundo em uma relação estrita de conhecimento, do qual somente processa
informações, mas é um sujeito existencial, ou seja “um ser no mundo” (TARDIF, 2014).
Sim, pois é muito comum, principalmente em cursos de humanas, que seus discentes
sejam avessos a matemática ou mesmo que a deteste: A qualidade do ensino de
matemática auxiliaria na aprendizagem e em uma visão mais positiva desta para que
posteriormente o ensino aprendizagem de matemática seja mais prazeroso
(PARTICIPANTE 73, 2019, Informação escrita concedida em 22/04/2019).
É necessário que além das disciplinas de metodologia da matemática a universidade
poderia oportunizar disciplinas específicas de matemática básica para que de fato
aprendêssemos os conteúdos básicos (PARTICIPANTE 38, 2018, Informação escrita
concedida em 20/04/2018).
Alguns licenciandos mencionaram que precisam ser despertados para um pensamento
reflexivo e crítico sobre essa área do conhecimento:
Para que aconteça esse fato necessita primeiro fazer com que os docentes passem por
um processo crítico e reflexivo sobre o que é o ensino da Matemática, depois que as
pessoas estarem mais abertas sobre a temática o mesmo irá perceber que a disciplina
não é tão difícil, é a falta de laboratório e recurso de Matemática (PARTICIPANTE
99, 2019, Informação escrita concedida em 22/04/2019).
Outro aspecto destacado pelos participantes em relação à concepção de qualidade da
categoria é o currículo como emerge nos recortes abaixo:
Desmistificar a matemática como uma disciplina que não nos permite estudá-la
criticamente fundamental porque nos formamos para ensinar matemática diferente de
como nos foi passado (PARTICIPANTE 59, 2019, Informação escrita concedida em
22/04/2019).
5.2 Quais os conteúdos matemáticos que você se sentiria mais confiante em ensinar e que
você avaliaria que seria com boa qualidade? Por quê?
Nesta questão motivadora do questionário foi levantado sobre o que mencionam como
conhecimentos que sentem segurança para ensinar Matemática. A partir das respostas e
concepções dos licenciandos foram organizadas em 04 categorias a seguir apresentadas.
Ao analisar esta classe, foi verificado que as palavras mais recorrentes foram número,
operações e equação. Em uma segunda etapa das análises, foi realizada uma leitura mais
detalhada dos contextos nos quais essas estavam inseridas nas respostas dos participantes:
O número no bloco da base nacional curricular comum, porque tudo o que fazemos
há relação com o número e as equações matemáticas estão presentes nessa relação
cotidiana seja na idade de cada um na compra de alguma coisa ou mesmo na
quantidade de pessoas na sua família (PARTICIPANTE 68, 2019, Informação escrita
concedida em 22/04/2019).
Conceito de número números decimais e operações pois acredito que sejam conteúdos
importantes para a aprendizagem dos alunos (PARTICIPANTE 62, 2019, Informação
escrita concedida em 22/04/2019).
Os eixos de números e álgebra pois além da minha afinidade com a matemática tenho
facilidade com o aprendizado e execução desses conhecimentos além de estar
trabalhando com estes nas intervenções do programa residência pedagógica do qual
faço parte (PARTICIPANTE 73, 2019, Informação escrita concedida em 22/04/2019).
Os licenciandos utilizaram argumentos diversos para justificar as escolhas por esses
conteúdos: um dos eixos mais trabalhados nessa área do conhecimento e o primeiro a ser tratado
nos ambientes escolares; a Base Nacional Comum Curricular e a importância do número para
a relação cotidiana; a nomenclatura mudou de eixo para a unidade temática, mas a primeira
unidade temática a ser tratada é a de números.
As palavras que apareceram com mais significância foram muito, bom e qualidade,
seguida de palavras formação e acreditar.
Matemática básica 4 operações básicas mais usadas sentiria confiança nessas questões
de qualidade eu acredito que seria repassar aqueles ensinamentos de forma mais
dinâmica fazendo os alunos interagirem participarem de forma a não forçar pois cada
criança tem a sua velocidade de aprendizagem (PARTICIPANTE 45, 2019,
Informação escrita concedida em 22/04/2019).
Penso que a partir de uma perspectiva de uma matemática crítica eu posso ministrar
aulas de qualquer conteúdo. Algumas podem sair não tão boas ou de qualidade, já
outros, sim, mas sempre ou pode refletir sobre os erros e acertos a refazer
(PARTICIPANTE 22, 2018, Informação escrita concedida em 20/04/2018).
Os licenciandos disseram que ensinariam com qualidade, pois, adquiram competências
que os deixariam confiantes, como, por exemplo, respeitar o tempo de aprendizagem, como
menciona o Participante 45 (2019, Informação escrita concedida em 22/04/2019) e o
Participante 22 (2018, Informação escrita concedida em 20/04/2018) que menciona a
Matemática Crítica como uma coadjuvante na construção do saber docente
Foram identificadas palavras que apareciam com extrema significância não e ensinar,
Matemática e confiante, palavras sem conteúdo matemáticos.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso que os cursos de formação inicial definam de maneira responsável quais e que
tipo de profissional querem formar. Não é possível promover uma Matemática Crítica sem
preparar os licenciandos para lidarem com os conteúdos matemáticos e sem desenvolverem as
competências necessárias para o ensino dessa área do conhecimento.
REFERÊNCIAS
APPLE, W. M.; AU, W.; GANDIM, L. A. Educação crítica: análise internacional. Porto
Alegre: Artmed, 2011.
BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação (PNE)
e dá outras providências. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 2014. Disponível em:
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17º ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987.
TARDIF, M.; LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência
como profissão de interações humanas. Trad. João Batista Kreuche. 9º ed. Petrópolis, Rio de
Janeiro: Vozes, 2014.
CAPÍTULO 40
POSSIBILIDADES PARA A ADOÇÃO DO TANGRAM NO ENSINO DE
MATEMÁTICA COM UM OLHAR PARA AS HABILIDADES ESTABELECIDAS
NO REFERENCIAL CURRICULAR DO ESTADO PARANAENSE
RESUMO
O presente artigo busca apresentar um estudo desenvolvido por professores em formação, sobre algumas
potencialidades do Tangram para ser adotado no ensino e aprendizagem de Matemática na Educação Básica, e
também, evidenciar habilidades do Currículo da Rede Estadual Paranaense (CREP) que podem ser contemplados
com atividades que partem da adoção do material. Diante desse objetivo foi realizada uma investigação qualitativa
para explicitar o potencial do Tangram. Os resultados apontaram que o Tangram se constitui em um material
manipulável de fácil confecção em sala de aula, por meio do qual se torna possível trabalhar com conteúdo de
área, perímetro, frações e porcentagem, além de explorar noções espaciais e o raciocínio lógico.
1 INTRODUÇÃO
Dentre os diferentes materiais didáticos manipuláveis que podem ser adotados pelo
professor de matemática, com vista em melhorar o ensino e a aprendizagem da disciplina, o
presente trabalho busca explorar potencialidades do Tangram. Conforme Rocha e Silva (2021,
O Tangram foi escolhido pela sua versatilidade e por se constituir um material de fácil
confecção junto aos estudantes em sala de aula. O qual, oportuniza a elaboração e dedução de
conceitos matemáticos desde a confecção das peças. Ele é composto por sete figuras
geométricas, são elas: cinco triângulos isósceles, dois grandes congruentes (TG), um médio
(TM) e dois pequenos congruentes (TP); um paralelogramo (P); e, um quadrado (Q). A Figura
1 representa as peças do Tangram.
2 METODOLOGIA
Durante a investigação o primeiro passo foi explorar como trabalhar com área e
perímetro a partir da confecção das peças do Tangram, em seguida busca-se alguns trabalhos
que o adotaram com vistas no estudo de frações e porcentagem, por fim, busca-se quais as
habilidades do CREP que podem ser contempladas a partir das atividades com o material.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Compreensão dos conceitos de área e perímetro antes da confecção das peças do
tangram
A sugestão para uma boa compreensão de quantos metros quadrados a sala de aula
possui, pode ser realizar a medida de forma comparativa com um quadrado de um metro por
um metro, o qual pode ser confeccionado em papel, e tomado como unidade de medida. Assim,
o professor pode levar os estudantes a compreenderem quantos metros quadrados cabem na sala
de aula, aproximadamente. A partir disso, expande-se o conceito para a delimitação mais
formal de área que se constitui como toda a região ocupada por uma figura no plano.
Para o confecção das peças do tangram em uma cartolina ou papel cartão, solicita-se aos
estudantes que desenhem um quadrado que possua, como lado, 20 centímetros e sob esse
quadrado que desenhem quadradinhos pequenos para serem tomados como unidade de área
(u.a) com 2 centímetros de lado, tomados como unidade de comprimento (u.c). Nesse momento,
cabe ao professor discutir com os estudantes as características de um quadrado, e qual a
diferença entre um quadrado, um retângulo, um losango e um paralelogramo.
Em seguida, convém chamar a atenção para as relações entre as medidas dos lados e a
área e o perímetro do quadrado que dará origem a todas as peças do Tangram (Figura 3). Os
estudantes podem verificar que o perímetro é a soma de todas as medidas dos lados (10 + 10 +
10 + 10 = 40 u.c) e que a área se dá pelo espaço total ocupado no plano (10 × 10 = 100 u.a)
Figura 7: Área e Perímetro para o triângulo médio (TM) e para os triângulos pequenos (TP).
Como sugestão de atividades para sala de aula, adotando o Tangram para trabalhar as
frações, destaca-se o trabalho de Silva (2007). Nesse direcionamento é possível estabelecer
relações com algumas habilidades apresentadas no CREP (Quadro 3), estado em que os autores
atuam como professores.
Quadro 3: Habilidades relacionadas a frações apresentadas no Currículo da Rede Estadual Paranaense - CREP
que podem ser contemplados com atividades a partir do Tangram.
Código do Referencial Curricular Significado do Código
do Paraná
Explicita-se que essas habilidades foram algumas exploradas pelos autores no momento
que desenvolviam o estudo, outras habilidades também podem ser incorporadas, em novas
situações. Evidencia-se ainda, que em sala de aula é importante trabalhar o raciocínio lógico e
espacial, isso pode se dar de uma forma lúdica, solicitando que os estudantes formem
representações de figuras com as peças do Tangram. Na página “Jogo Tangram” (VALIAS,
2020) são apresentadas algumas possibilidades de figuras para serem formadas com essas
peças.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante disso, o presente trabalho alcança seu objetivo que era de apontar possibilidades
para a adoção do Tangram em sala de aula com vistas a explorar conteúdos matemáticos e
relacioná-los com as habilidades do CREP. Aqui foi sintetizado algumas possibilidades para
trabalhar área, perímetro, frações e porcentagem. Destaca-se que outros encaminhamentos
REFERÊNCIAS
SILVA, M.T. da. Tangram e Geoplano: Uma abordagem didática. 2007. 55f.
Monografia. (Licenciatura Matemática) - Departamento de Matemática, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis – SC, 2007.
Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/97086/
Mariana.pdf?sequence=1&isAll owed=y. Acessado em: Jul. 2023.
CAPÍTULO 41
O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE ADOLESCENTES NO RETORNO ÀS
AULAS PRESENCIAIS: UMA DISCUSSÃO DOCENTE
RESUMO
A pandemia do novo coronavírus exigiu mudanças no contexto educacional, especialmente pela suspensão das
aulas presenciais, modificando as formas de trabalho docente, a prática pedagógica e as modalidades de avaliação,
fazendo com que o cenário da sala de aula tivesse que se organizar em torno de plataformas virtuais. Com o avanço
da vacinação, o período de estudo remoto e, posteriormente híbrido, deu espaço à volta do encontro presencial,
restabelecendo o funcionamento da sala de aula, mas não da mesma maneira, especialmente no que diz respeito à
aprendizagem discente que foi afetada por esta dinâmica de mudanças. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi
discutir o processo de aprendizagem do/da adolescente no retorno às aulas presenciais, a partir de discussões e
trocas de experiências entre docentes do ensino médio, de instituições públicas e privadas do Estado de
Pernambuco, por meio da entrevista de grupo focal. Foram cinco entrevistas ao todo, com número variado de
participantes, realizadas no formato online, através da plataforma Meet, mediante assinatura prévia do termo de
Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE e transcritas literalmente, tendo os seus dados apreciados a partir da
análise de conteúdo de Minayo. O conteúdo produzido, ressaltou questões como: a necessidade da promoção de
encontros discursivos entre professores de ensino médio, com o objetivo de considerar, ouvir e compreender as
singularidades de cada contexto pedagógico, do funcionamento de cada turma e de cada professor/a em relação às
demandas que precisa dar conta; a consideração do papel assumido pela tecnologia nos ensinos remoto e híbrido
que evidenciou a falta de preparação docente para manejá-la e a defasagem da aprendizagem decorrente da
impossibilidade de acesso a ela pelos/as estudantes; e a percepção desses/as professores/as sobre o atraso dos/as
estudantes na construção de conhecimento. Este último dado gerou, entre os/as docentes, repercussões afetivas,
como sentimento de desgaste, impossibilidade e sobrecarga de trabalho, como se sobre eles/as tivesse que recair a
responsabilidade de reorganizar o tempo entre o que foi perdido e o que precisava ter sido construído e aprendido
pelos discentes.
1 INTRODUÇÃO
Levar os/as docentes a ponderar sobre tal temática foi convidá-los/las a pensar sobre os
desafios impostos ao processo de aprendizagem do/a adolescente no retorno às aulas
presenciais. Ouvir os/as professores/as sobre estas e outras questões, permitiu que reflexões
fossem construídas, não apenas sobre o lugar dos/as mesmos/as no processo de aprendizagem
dos/as estudantes, mas também sobre a maneira que avaliaram esta aprendizagem e os
sentimentos que experimentaram nessa trajetória. Além disso, contribuiu para a possibilidade
de que suas experiências possam afetar outros/as professores/as, com novas formas de ver e
lidar com as implicações que podem advir dessa nova realidade, marcada por uma
aprendizagem construída na transição entre os modelos virtual e presencial.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
No ano de 2020, o mundo foi atingido pela pandemia do novo coronavírus, afetando a
vida de milhões de pessoas ao redor do mundo e tirando a vida de outras milhões de pessoas
(SAVIANI; GALVÃO, 2021). Isso exigiu do mundo uma série de mudanças e abalou a vida
das pessoas em diversos aspectos. Todas essas mudanças também afetaram a vida escolar e as
atividades presenciais tiveram que ser suspensas, modificando a vida de milhões de estudantes
no mundo e dando espaço a novas formas de trabalho docente, onde a prática pedagógica teve
que ser adaptada a essa nova realidade, em virtude da necessidade de isolamento social como
forma de prevenção à Covid 19, desenvolvida a partir do Coronavírus (PACHIEGA; MILANI,
2020).
Segundo Santos (2020), este tipo de ensino poderia ser compreendido como uma
solução imediata gerada a partir da necessidade de dar seguimento à proposta escolar que
direciona a grade curricular do ensino presencial para o formato virtual, porém, conforme
destacam Saviani e Galvão (2021, p. 38),
Em geral, entende-se por adolescência a etapa que se estende, aproximadamente dos 12-
13 anos até o final da segunda década de vida. Um período de transição, no qual não se é mais
criança, mas ainda não se tem o status de adulto, uma passagem da infância à fase adulta,
marcado por um tempo de desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social. Em
Do ponto de vista social, espera-se que o adolescente se relacione com seus pares e com
todos os que fazem parte do cenário escolar, pois isso pode influenciar o modo como ele
delineia seus processos de aprendizagem, uma vez que a esfera afetiva é significativa para essa
construção.
3 METODOLOGIA
A integração grupal entre os diferentes docentes permitiu que eles/as apresentassem suas
visões acerca da aprendizagem construída por seus/suas estudantes, bem como trocassem
experiências, sentimentos e construções reflexivas sobre o assunto, através da proposta da roda
de diálogo, que se constituiu como um espaço de permutas sem a formalidade de um momento
de entrevista e, sim, como um bate-papo, um momento dialógico, descontraído em que as
informações pudessem ser compartilhadas.
A composição dos grupos não se deu de maneira uniforme, com a mesma quantidade de
participantes, por questões distintas, como: a confirmação prévia de participação e o não
aparecimento no horário combinado na sala virtual, bem como a ocorrência de algum
imprevisto para o docente que acabou não participando do encontro sem posterior justificativa
para tal. O importante foi acolher o número de docentes que escolheu discutir o assunto
proposto conosco. Assim, a composição dos grupos se configurou da seguinte forma: o grupo
um contou com a participação de 04 professores, o grupo dois com 03, o grupo três com 04, o
grupo quatro com 02 e o grupo cinco com 03, sendo todos os grupos mistos, ou seja, contando
com a presença de professores e professoras.
Cada grupo teve a duração média de quarenta minutos, sendo uma roda de diálogo
independente da outra. Entretanto, para que as mesmas pudessem ser iniciadas utilizou-se uma
A transcrição do material decorrente dos encontros foi feita de maneira literal e depois
tudo foi lido e relido incansavelmente, a partir de uma atenção flutuante. Em seguida, realizou-
se uma apreciação mais minuciosa dos dados, a partir da análise de conteúdo (MINAYO, 2007)
que orienta sobre a realização da leitura das entrevistas, depois a categorização – que se
organiza a partir dos temas que se sobressaem no material coletado e que são apontados pelos
participantes – a descrição do conteúdo e pela inferência e interpretação do mesmo, sem que
estas representassem mera expressão de opiniões. A partir da leitura, três categorias se
apresentaram como representativas nas falas dos/as docentes participantes, foram elas: A
compreensão docente sobre o processo de aprendizagem dos/as seus/suas estudantes na volta
às aulas presenciais; O impacto das tecnologias no processo de aprendizagem, e Sentimentos
vividos pelos docentes na volta ao modelo presencial de ensino.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Então, assim, a semana de prova sempre é uma semana estressante para eles. E agora
ficou muito mais, porque ficou, assim, né? Como é que eu vou fazer aquela prova,
aquela prova que em casa eu fazia com consulta? E aí eles vêm e você consegue
perceber nos meninos, né? um conflito mesmo com relação a como foi a construção
do conhecimento deles, né?, do antes e depois (ENTREVISTADO 4, informação
verbal concedida em 02/05/2022).
O conflito sobre a consolidação de construção de conhecimento do próprio estudante, é
plausível se houver a consideração de que a falta da convivência escolar afetou
significativamente as relações sociais, a saúde mental e as rotinas de estudos e aprendizagem
dos/as discentes, fazendo com que estes apresentassem, entre outros aspectos, redução da
capacidade de enfrentamento de adversidades (VAZQUEZ et al., 2022). Esta por sua vez pode
ser ilustrada a partir de outra declaração, do mesmo professor entrevistado, que fala sobre as
dificuldades de organização dos/as estudantes na volta ao modelo presencial, ressaltando, mais
uma vez, a importância da interação, da presencialidade no processo de ensino-aprendizagem:
Além da aula remota a gente tinha um grupo de zap de cada turma da gente. Quando
eu voltei agora para a aula presencial direto, uma das coisas que continuou vingando
foi o grupo de zap e eu sempre tenho recebido mensagem dos alunos interessados para
aprender algum conteúdo[...] Também se pode aproveitar alguma coisa do remoto,
né? Não é só o presencial que vai dar o resultado (ENTREVISTADO 8, informação
verbal concedida em 16/05/2022).
É fato que o recurso tecnológico pode e deve ser utilizado em favor da construção de
aprendizagem, pois contém diversas ferramentas que podem auxiliar o processo de construção
O professor já tem muita coisa para fazer. Ainda assim ele tem que aprender a usar
tudo se ele quiser fazer uma aula boa. “Professor, olhe, é sua responsabilidade, você
tem que se reinventar, aprenda isso aqui, tem tanta ferramenta.”. A gente ia para uma
formação e lá apresentavam três ferramentas: “Tá aí agora, você professor, se vire,
em casa, para você tirar um tempinho para aprender a mexer nessas ferramentas para
poder atingir o seu aluno”. Veja é mais uma atribuição ao professor [...]
(ENTREVISTADO 7, informação verbal concedida em 09/05/2022).
Segundo Moreira, Henriques e Barros (2020), o sistema de virtualização da educação
“obrigou” o/a docente a assumir novos papeis e lugares a que não estavam habituados/as, tudo
ao mesmo tempo e online, exigindo do/a profissional disponibilidade de tempo, dedicação ao
novo aprendizado, manejo de diferenciadas técnicas e investimento emocional, pois segundo
Goulão (2012, p. 674), o/a professor/a “deve acompanhar, motivar, dialogar, ser líder e
mediador, fomentando e mediando uma interação humana positiva”. Entretanto, este lugar traz
distintas exigências de uma práxis profissional para a qual o/a professor/a não foi preparado/a.
A aprendizagem dos/as estudantes também deve ser um aspecto considerado, uma vez
que os/as docentes apontaram a dificuldade de interação e de realização de avaliação de
conhecimentos dos/as discentes, já que os/as mesmos/as mantinham as suas câmeras fechadas
na maior parte do tempo, preocupando-se prioritariamente, com a presença na aula que estava
sendo ministrada, como relatou o professor entrevistado 9 (2022) do grupo 05:
Eu estava dando aula online aí apareceram 3 alunos, assim câmera fechada, mas estava
aparecendo como se eles estivessem presentes. É como se eles tivessem perdido a
ideia da importância que a aula tinha para eles, porque tudo desmotivou de vez. Então,
muitos alunos entravam na aula online só para marcar presença, mas não para
acompanhar a aula (ENTREVISTADO 9, informação verbal concedida em
23/05/2022).
Segundo Vieira e Ricci (2020), mesmo que se utilize a tecnologia na educação, a
interação é protagonista na construção e consolidação do conhecimento, exigindo presença
ativa do/a professor/a e interação permanente deste/a com os/as estudantes, uma vez que a
escola deve ser espaço de vivências e interações, de relacionamentos com o outro, de forma
física e humana, sendo a tecnologia um recurso de apoio e suporte ao processo de ensino
aprendizagem. O formato de aula descrito pelo professor entrevistado, não apresentava o
Eu sou muito sensível em relação aos alunos [...] quando eu sei que tem alguma coisa
acontecendo com eles, eu me envolvo de uma maneira incrível. Aí como é que eu
aguento? Simples, eu sou medicada! Meu medicamento já mudou em dois anos, umas
quatro vezes pra conseguir aguentar [...] agora com a pandemia, eu tenho que tomar
medicamento para dormir também porque senão eu passo a noite inteira acordada,
então assim, me afeta e eu imagino como afeta aos alunos também
(ENTREVISTADA 1, informação verbal concedida em 11/04/2022).
É um nó que dá porque eu tenho alunos que perderam pai, mãe, irmão[...] E são alunos
que me ligam até hoje de madrugada, final de semana[...] E você fica: "Meu Deus!
Que papel é esse o meu, né?, e dos meus colegas, meus amigos, né?", porque cada
chão de sala de aula é uma guerra[...] é uma guerra que a gente tem contra a ignorância,
contra a falta de tudo[...] que eles têm falta de tudo! Falta de afeto, falta de sonhos.
Eles[...] sabe? [...] (ENTREVISTADA 6, informação verbal concedida em
02/05/2022).
A saúde mental é um tema muito caro à educação, especialmente se pondera que o ser
humano deve ser compreendido em sua integralidade, considerando que questões cognitivas e
de aprendizagem não se desenvolvem dissociadas da perspectiva emocional e afetiva do sujeito
(CARDELLA, 2014).
Nesta categoria, também é possível enfrentar dificuldades que são vencidas neste
processo, como fala o professor entrevistado 5 (2022) do grupo 02:
O sentimento que eu sinto é de orgulho, sabe? De ter feito parte de um processo tão
difícil, surreal [...] E aí fazendo esta autoavaliação do quão foi positivo e às vezes eu
me pergunto: como é que eu gostaria de ser lembrado pelos meus alunos diante das
dificuldades que a gente teve, né? Se os meninos aprenderam algo e esse algo foi por
conta que eu ajudei, eu já vou me sentir bastante feliz [...] se eu conseguir contribuir
para eles nessa positividade eu já vou ficar muito feliz mais à frente
(ENTREVISTADO 5, informação verbal concedida em 02/05/2022).
Assim como pode-se experimentar oscilação de sentimentos, mas a preponderância
positiva se destaca, como foi dito pelo professor entrevistado 10 (2022) do grupo 05:
Tem momentos que eu tô com a energia lá em cima e tem momentos que eu tô com a
energia lá embaixo, esgotado, cansado, não tenho nem vontade de levantar da cama,
enfim[...] Mas também me sinto desafiado. Desafiado a me reinventar, a buscar forças,
a reinventar minhas aulas e penso no que eu posso fazer para mudar um pouco a
realidade daqueles alunos que estão lá desmotivados. E quando eu consigo, um
pouquinho, mudar essa realidade, motivá-los, isso me motiva também
(ENTREVISTADO 10, informação verbal concedida em 23/05/2022).
Estes dois últimos blocos de falas chamam a atenção para uma postura de resiliência
dos/as docentes. Este conceito fala da capacidade do ser humano responder positivamente às
demandas da vida cotidiana, apesar das dificuldades que encontra em seu desenvolvimento
(SILVA et al., 2003.)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A volta ao modelo presencial ainda traz marcas e desdobramentos do que foi vivenciado,
afetiva e cognitivamente, no contexto de virtualidade, tanto por professores/as quanto por
estudantes. Nesse cenário ratifica-se a importância e necessidade de ampliar a discussão sobre
processos de aprendizagem contemplando questões como a saúde mental e o impacto da
tecnologia no contexto educacional. Neste trabalho, estes dois pontos destacaram-se, dentre
outros, também importantes, indicando a necessidade de constante formação e
acompanhamento docente e acolhimento às questões afetivas dos/as estudantes.
REFERÊNCIAS
GOULÃO, M. F. The use of Forums and collaborative learning: a study case. Procedia-Social
and Behavioral Sciences. Lisboa, n. 46, 2012. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877042812013092. Acessado em: Set.,
2023.
MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: vozes, 2007.
SANTOS, E. EAD, palavra proibida. Educação online, pouca gente sabe o que é. Ensino
remoto, o que temos para hoje. Mas qual é mesmo a diferença? ReDoC – Revista docência e
cibercultura, Rio de Janeiro, #livesdejunho, 2020. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/re-doc/announcement/view/1119. Acessado em: Out, 2023.
VAZQUEZ, D. A. et al. Vida sem escola e saúde mental dos estudantes de escolas públicas na
pandemia de Covid-19. Saúde e Debate, São Paulo, v. 46, n. 133, abr/jun. 2022. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/XTMw5xNXxS4zK9BK3pbBxxg/#. Acessado em: Ago.
2023.
ENTREVISTA CONCEDIDA
CAPÍTULO 42
EJA QUALIFICA: UM CAMINHO POSSÍVEL
RESUMO
Este artigo relata uma experiência exitosa do Projeto EJA Qualifica, em São Tomé/RN, o qual visou à qualificação
social e profissional de estudantes jovens e adultos, por meio de uma nova proposição curricular. À guisa de
resultados, a ação alcançou significativa redução da evasão e também preparando tais estudantes para o mundo do
trabalho. Além dos documentos oficiais que versam sobre a referida modalidade de ensino, o pensamento de
Carrano (2007) e o de Freire (2011), entre outros, serviram de base para o aporte teórico.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo traz um relato de experiência sobre uma ação pioneira, desenvolvida no
estado do Rio Grande do Norte, o Projeto EJA QUALIFICA: Qualificação social e profissional,
na modalidade da Educação de Jovens e Adultos, uma proposta andragógica de
redimensionamento da referida modalidade de ensino, de forma integrada, com vistas à
qualificação social e profissional. Vem sendo desenvolvido na Escola Municipal Monsenhor
Manoel Pereira da Costa, na cidade de São Tomé/RN, desde 2021, de forma colaborativa entre
a equipe técnica pedagógica da Secretaria de Educação e o corpo de professores que atua na
EJA.
Em um primeiro momento, foi elaborada uma minuta que permite diálogo com os
professores que atuam na EJA, com o objetivo de colher contribuições para o contorno final do
documento, seguida da etapa de formação dos professores para que estes se apropriassem dos
princípios mobilizadores das ações; compreendessem o desenho curricular de integração entre
formação geral e profissional; pensassem sobre os procedimentos metodológicos pela
ressignificação e reorganização da EJA na escola participante da experiência piloto.
As ações educacionais junto a adultos não são novas no Brasil. Estas perpassaram vários
cenários desde o período colonial até os dias atuais em uma série de avanços e retrocessos em
sua história.
Dando um salto no tempo, especificamente nos anos de 1959 a 1964, período de luz
para a Educação de Jovens e Adultos (HADDAD, 2000), houve significativas ações
educacionais para esse público, que por meio dos ideais de Educação Popular – difundidos
especialmente por Paulo Freire – Angicos – às 40 horas, deram início a campanhas e programas
no campo da educação de adultos, entre esses o Programa De pé no chão também se aprende
a ler, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação de Natal. Porém, com o advento do
Golpe Militar, houve uma ruptura nesses programas. Os movimentos de educação popular
foram reprimidos, seus líderes perseguidos e seus ideais censurados (HADDAD, 2000).
Assim sendo, da década de 1990 até início dos anos 2000, o Governo Federal conferiu
lugar marginal à educação básica de jovens e adultos, o que consequentemente sustentou as
elevadas taxas de analfabetismo e postergou a resolução da questão para os anos vindouros.
Com as mudanças de governo (2003), houve também uma mudança de discurso no qual
a alfabetização de jovens e adultos passou a ocupar o rol das prioridades governamentais
(PIERRO, 2005). Neste aspecto, reabre-se espaço para a Sociedade Civil discutir o tema da
alfabetização de adultos, bem como criam-se os Fóruns que discutem dentre outras prioridades,
a formação inicial e continuada do corpo docente da EJA.
A partir da instituição da Lei 10. 172/2001 que aprovou o Plano Nacional de Educação
para o decênio 2001-2010, houve o reconhecimento da
[...] extensão do analfabetismo absoluto e funcional e sua desigual distribuição entre
as zonas rural e urbana, as regiões brasileiras, os grupos de idade, sexo e etnia. O
Plano admitia ser insuficiente apostar na dinâmica demográfica e atuar apenas junto
às novas gerações, propondo que ações de escolarização atingissem também os
adultos e idosos (PIERRO, 2010, p, 944).
Outra vez o problema secular do país é mencionado nas políticas educacionais. Todavia,
muito do que foi colocado como meta no respectivo PNE não pôde ser concretizado, como a
erradicação do analfabetismo em uma década. O Plano demostrava-se passível de
Com efeito, o Plano Nacional de Educação 2001-2010, embora não tenha obtido o êxito
esperado, delineou significativa mudança referente à EJA, situando-a na política educacional,
atribuindo a este campo maior relevância, tanto nos discursos quantos nas ações do governo.
Foi neste sentido que a Conferência Nacional de Educação (CONAE 2010) debateu a
educação de jovens e adultos, apontando os principais desafios a serem superados pelas novas
políticas públicas e planos de educação (PIERRO, 2010).
Nesse contexto surge o novo Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei 13. 005,
de 25 de junho de 2014, trazendo 20 metas; 254 estratégias de cumprimento e 10 diretrizes para
a educação do decênio 2014-2024.
Dentre as metas do novo PNE, três destinam-se à Educação de Jovens e Adultos: Meta
8, equalização dos anos de estudo da população entre 15 e 29 anos; Meta 9, universalização da
alfabetização e redução do analfabetismo funcional e Meta 10, articulação da EJA com a
educação profissional.
Desse modo, ao se trabalhar com e para os jovens e adultos faz-se necessário entendê-
los como sujeitos sócio-históricos que possuem histórias de vida atravessadas pelos eventos
sociais e culturais constituintes de suas identidades e experiências. Esses sujeitos, por sua vez,
precisam ter como referência de aprendizagem essas trajetórias que poderão ser compreendidas
e ampliadas no contexto do ensino institucionalizado.
Nesse contexto, entre as políticas públicas e documentos referentes à EJA, lança-se com
fundamental importância o atual Plano Nacional de Educação (2014-2024) que, pelo seu caráter
substancialmente democrático, apresenta metas para a EJA que foram discutidas e analisadas
pelos órgãos do Estado, bem como pela Sociedade Civil Organizada.
Esse documento mostra-se promissor para o cenário educacional nacional, uma vez que
respalda a sociedade em seus direitos de reivindicar uma educação de qualidade, já que foi
erigido a partir da Lei No 13.005 de 25 de junho de 2014 e contou com a participação da
sociedade civil em sua elaboração.
As metas do Plano referentes à EJA são três: meta 8 - equalização dos anos de estudo
da população entre 15 e 29 anos; meta 9 - universalização da alfabetização e redução do
analfabetismo funcional; e meta 10 - articulação da EJA com a educação profissional (BRASIL;
PNE, 2014-2024)
Todavia, as que ganham destaque neste artigo, por se tratar de um desafio urgente da
EJA, são as metas 8 e 10. Certamente, um problema secular não será suscetível de reparação
em apenas uma década. Sua evidenciação no Plano legal apresenta-se como prerrogativa para
se alargar os passos rumo à sua resolução.
A não identificação com o Currículo, muitas vezes inflexível, ministrado aos jovens e
adultos – assemelhado ao de outras modalidades de educação – torna-se um agravante, dentre
outros, da não permanência do público da EJA nos espaços escolares.
Esse fator incide sobre a formação de professores da EJA, uma vez que essa modalidade
requer um tratamento diferenciado, por ter especificidades relacionadas às características
sociais, psicológicas, culturais e de identidades particulares de seus sujeitos, não perdendo de
vista outras prioridades cujas metas de realização cumprem ao Estado, tais como as de
investimento em educação.
Mesmo com os avanços no que diz respeito ao direito à educação, previsto no art.205
da Constituição Federal, a modalidade EJA, na sociedade atual, ainda encontra grandes
desafios, uma vez que parte desse público ainda está fora das salas de aulas, pois a evasão e a
repetência, formas de exclusão estudantil, ainda são bastante expressivas no contexto escolar,
seja nas escolas públicas municipais ou estaduais. Mensurando em números, cerca de dois
milhões de jovens estão fora das escolas no Brasil, segundos os dados estatísticos do Fundo das
Nações Unidas para a Infância – UNICEF. Esses dados aumentaram com a pandemia. No caso
da escola em questão, resta dizer que estava para fechar o turno noturno, devido à redução
considerável de matrículas na EJA. Para se ter ideia, apenas 15 alunos matricularam-se em
2021. No retorno à presencialidade, encontrou-se, assim, uma instituição com estudantes
bastante desmotivados para regressarem à sala de aula.
O Projeto EJA QUALIFICA cumpriu com a sua finalidade ao oferecer ao estudante que
está no mercado de trabalho, ou em busca uma oportunidade de articulação dos conhecimentos
escolares com qualificação social e profissional numa perspectiva humanizadora com vista ao
pleno exercício da cidadania. Para tanto, iniciou como projeto-piloto, em 2021, sistematizando
a proposta andragógica para a EJA em quatro linhas de ação: (I) elevação da escolaridade; (II)
cursos de qualificação social e profissional (eixos educativos); (III) prática educativa; (IV)
bolsa-auxílio (lei municipal).
Para compreender melhor a condição da realidade desses Estudantes que chegam à EJA,
e afirmar que, nas salas de aula, há bastante vivências diferenciadas, esse estudante enfrenta
suas próprias particularidades, seu mundo, suas questões, seu trabalho, e seus porquês – fato
que ocorre igualmente como outras salas de aula do ensino regular, as quais são desafiadas
pelas vicissitudes da condição humana em sociedade. Então, partindo do princípio que, para
realizar qualquer trabalho educativo se faz necessário, primeiro compreender os estudantes
como: “sujeitos concretos, em contextos concretos, com histórias concretas, com configurações
concretas.” (ARROYO, 2007, p. 7) e “Pensar os sujeitos além das condições escolares,
ampliando o olhar para sua condição social e cultural (ANDRADE, 2004, p. 3), lançou-se um
olhar diferenciado sobre os estudantes de EJA da referida escola. O questionário aplicado
revelou algumas características particulares destes estudantes, levando-se a refletir também
sobre os porquês da evasão, do abandono e da permanência escolar.
Sendo assim, um dos primeiros aspectos observados foi o índice de violência. Com a
chegada do projeto, os estudantes passaram a participar das aulas de forma colaborativa,
entendendo qual a função social da escola e, consequentemente, o objetivo de estar e
permanecer no espaço escolar, de forma que não mais se fez necessária a presença da Polícia
Militar na escola.
Uma das grandes relevâncias desse projeto foi reduzir a evasão e o abandono –
considerando que esse é um fator que colabora para que essa modalidade de ensino seja vista
negativamente pela própria sociedade. No projeto, mesmo apresentando ausência em alguns
momentos, os estudantes voltavam à escola. Para o projeto, as pequenas ausências foram
consideradas como período de intermitência, ou seja, com possibilidade de retorno. Com uma
ação de movimento e respeito ao estudante, teve-se retornos significativos e resultados exitosos
no curso.
Como o Projeto já está no seu terceiro ano de existência, os estudantes que prosseguiram
nos estudos estão concluindo o Ensino Médio na escola estadual local, alguns com perspectiva
para a universidade.
CARA, D. A Educação de jovens e Adultos (EJA) é tratada de maneira míope e desumana. In:
Entrevista à Uol educação, 2014. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/colunas/daniel-
cara/2014/08/26/o-maior-desafio-do-pne-e-a-educacao-de-jovens-e-adultos.htm. Acessado
em: Set. de 2023.
D´MASCHIO, A. L.; LOPES, M. Porvir: inovações em educação, 16. Jun. 2023. Entrevista
com Cláudia Borges, diretora de Políticas de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos do
MEC. A educação deste país tem uma dívida com o público da EJA. Disponível em:
https://porvir.org/a-educacao-deste-pais-tem-uma-divida-com-o-publico-da-eja/ Acessado em:
Set. 2023.
RESUMO
O presente artigo pretende abordar a criação da Performance O ZanniPerformer no Lixão. O trabalho foi
desenvolvido na Central de Tratamento de Resíduos,no Bairro Caturrita, no município de Santa Maria/RS. A fim
de inteirar-me de suas questões ambientais, no segundo semestre de 2016 foi realizada uma Observação
Participante e a aplicação de uma oficina teatral com os Jogos Teatrais com as trabalhadoras da Associação das
Recicladoras do Pôr do Sol (ARPS), no Bairro Alto da Boa Vista, no município de Santa Maria/RS. Com essa
proposta as vinte mulheres componentes da Associação tiveram a oportunidade de terem um primeiro contato
coma prática teatral, e eu com artista/pesquisador tive a oportunidade de estar em contato com a rotina destas
pessoas para realizar a Performance conjuntamente com os trabalhadores da Central. Quem embasou esta trajetória
teórico-prática foram os textos da pedagoga norte-americana Viola Spolin. Outro autor que também trouxe
subsídios teóricos para a realização da poética nos aspectos das questões ambientais foi Félix Guattari. O planeta
terra, atualmente, está agonizando com a grande quantidade de lixo produzida sem uma destinação adequada.
Portanto, faz-se necessário lançar um olhar atento para esta questão com o intuito de evitar o colapso total
da natureza. Estapesquisa pretendeu contribuir com a criação desta Performance Arte, manifestaçãoartística que
tem recorrentemente um caráter denunciador das mazelas sociais.
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, o mundo passa por uma explosão demográfica nunca antes vista na história
da humanidade. Especificamente, no Brasil, nos últimos vinte anos isto tornou- se facilmente
perceptível. Segundo os dados coletados no Censo de 2010 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2010, p. 5), “o país passou a ocupar aquinta posição como
maior nação do mundo com cerca de 190.755.799 habitantes”. Este crescimento populacional
verificado, principalmente apósa virada do milênio, aliado ao grande avanço dos processos de
industrialização, aurbanização desenfreada formou grandes bolsões de miséria na periferia de
médias e grandes cidades. Também o imenso desenvolvimento tecnológico tem produzido um
intenso consumo de várias fontes não-renováveis da natureza, levando quase ao total
esgotamento e colocando em risco o equilíbrio de diversos ecossistemas. Segundo Theis (1996,
p. 54): “o processo de degradação ambiental foi amplamente acelerado com a Revolução
Industrial e com a corrida pelo desenvolvimento econômico”. Isto vem ao encontro do
pensamento de Guattari, pois
O que está em questão é a maneira de viver daqui em diante sobre esse planeta, no
contexto da aceleração das mutações técnicos-cientificas e do considerável
crescimento demográfico. Em função do contínuo desenvolvimento do trabalho
maquínico redobrado pela revolução informática, as forças produtivas vão tornar
disponível uma quantidade cada vez maior do tempo de atividade humana potencial.
Mas com que finalidade?A do desemprego, da marginalidade opressiva, da solidão,
da ociosidade, da angústia, da neurose, ou da cultura, da criação, da pesquisa, da
reinvenção do meio-ambiente, do enriquecimento dos modos de vida e de
sensibilidade? NoTerceiro Mundo, como no mundo desenvolvido, são blocos inteiros
da subjetividade coletiva que se afundam ou se encarquilham em arcaísmos, como é
o caso, por exemplo, da assustadora exacerbação dos fenômenos de integrismo
religioso (GUATTARI, 1990, p. 8).
Os dados publicados no ano de 2013 pela Organização para a Cooperação e
Uma das soluções vislumbradas para tentar amenizar o grande crescimento do impacto
ambiental no planeta é a de coletar, relacionar e dar um destino condizente a milhares de
toneladas de resíduos de materiais que diariamente são produzidos. Estevem sendo um dos
papéis que a Associação dos Recicladores do Pôr do Sol de Santa Maria desempenha, mas que
sofre com o apoio quase inexistentes dos órgãos estatais verificados em conversas informais
que foram mantidas com as recicladoras.
Outros dados alarmantes que foram levados em conta é que a coleta de lixo, no ano de
2010, teve um crescimento em 7,7 % quando 54,1 milhões de toneladas foram recolhidas a
mais. No entanto, cerca de 23 milhões de toneladas de lixo ainda não possuem um tratamento
adequado em aterros sanitários tendo por destino os antigos lixões. Este número é gigantesco e
Com o objetivo de adentrar no universo onde foi realizada a pesquisa de campo, foi
proposta uma oficina com as recicladoras da Associação das Recicladores do Pôr do Sol. A
seguir, será elencado a definição de alguns termos que facilitaram o entendimento e,
consequentemente, a ambientação da proposta. As primeiras interrogações que surgem quando
se fala sobre a coleta de material reciclável é distinguir o que é “lixo” e o que é “resíduo”. Essa
distinção nem sempre é clara para a maioria da população. Essa confusão entre os termos
ocasiona entraves para a destinação adequada/consciente dos resíduos que são produzidos nas
cidades. ConformeLogarezzi, isto
[...] acarreta uma má destinação do material final, pois a maior parte do material que
é descartado poderia ter um melhor destino, ocasionando um aumento de renda para
as famílias que estão envolvidas com a coleta, ao mesmo tempo em que o meio
ambiente sofreria uma menor quantidade de danos (LOGAREZZI, 2004, p. 27).
Diversas campanhas publicitárias têm enfatizado a diferenciação entre “lixo” e
“resíduos sólidos” proporcionando um destino adequado aos milhares de dejetos produzidos
diariamente. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2010, p. 31) tem a seguinte
definição sobre lixo que são “restos das atividades humanas, considerados pelos geradores
como inúteis, indesejáveis ou descartáveis podendo se apresentar no estado sólido e líquido,
desde que não seja passível de tratamento”.
Portanto, é considerado lixo tudo aquilo que não apresenta nenhuma serventia para
quem o descarta podendo, para o outro, transformar-se em matéria-prima de um novo produto,
ou seja, tornar-se resíduo sólido aproveitável. Vive-se tempos em que se busca conscientizar a
população para diminuir o consumo desenfreado, reaproveitando e reciclando materiais, no
intuito de possibilitar que muitas famílias consigam depender desses resíduos sólidos para a sua
sobrevivência. A implementação desses processos possibilitaria a economia de energia e
recursos naturais, além de aumentar a vida útil dos aterros sanitários.
A partir disso, o lixo e os resíduos são sobras de uma atividade qualquer. Para
caracteriza-los como um ou outro depende da valoração social, econômica e ambiental que lhe
é atribuída no exato momento em que ele é coletado. Segundo Logarezzi
[...] ao descartar resíduos sem preservar seus valores potenciais, isto se transformara
em ‘lixo’, adquirindo aspectos de inutilidade, sujidade, imundície, estorvo e riscos.
Outra forma de classificar o ‘lixo’ é quanto a sua utilidade após ele ter cumprido a sua
função primeira. O lixo pode ainda ser classificado de acordo com suas características
físicas, químicas e biológicas.O lixo também pode ser classificado como reutilizável,
O trabalho de observação foi registrado para ser utilizado nos laboratórios de criação.
Esta proposta se configurou, por um lado, como uma contrapartida a comunidade investigada,
pois as mulheres tiveram oportunidade de expor seus problemas com liberdade de expressão
durante a oficina. Por outro lado, oportunizou ao proponente conhecer a comunidade,
estabelecendo um contato próximo com as pessoas, adquirindo subsídios para a criação da
Performance O Zanni Performer no Lixão.
Além da oficina, também foi visitado o local diversas vezes e conversei com outros
trabalhadores de lá. A Associação das Recicladores do Pôr do Sol (ARPS) é formada por vinte
mulheres. Este projeto foi fundado pela Sociedade Vicente Palloti, no ano de 2010, que
forneceu o terreno com as instalações no assentamento Alto da Boa Vista. A Associação conta
com uma equipe diretiva, sendo supervisionada por um Chefe de Transportes. Os participantes
buscam independência administrativa e a autogestão pelos membros é sua principal
reivindicação. Esta proposta vai possibilitar com que eles passem do status de associação para
o de cooperativa, fato que não ocorre no momento em virtude de questões políticas e
burocráticas, entre as quais a regularização do terreno.
Em conversas informais com as recicladoras, elas nos informaram que a grande maioria
delas não possui o ensino fundamental. A mais jovem tem vinte e dois anos e a mais velha
setenta anos. Elas relataram que um dos principais motivos que as leva a trabalhar nesse ramo
de atividade é a falta de escolaridade. Para elas, este trabalho é consequência da falta de
qualificação para outros setores do mercado de trabalho, além do fato de residirem perto da
Associação. As recicladoras têm a sua jornada de trabalho de segunda a sexta-feira, das nove
A visualidade foi composta principalmente pelo figurino com camisa, calça e coturnos
na cor preta. Também ajudavam a compor o visual do performer, as luvas e os protetores do
antebraço na cor branca e uma máscara de gás lacrimogênio cedida pelo Batalhão de Operações
Especiais (BOE) da Brigada Militar de Santa Maria. A predominância da cor preta e neutra nas
minhas vestimentas, em grande parte escuras, pareciam revelar que o artista e aqueles
profissionais foram sendo tragados inconscientemente para um estado de marginalidade e
invisibilidade que era muito comum nos zannis da época medieval. O escuro também
protagonizava um contraste com a cor branca no antebraço e nas luvas evocando uma limpeza
que, naquele momento, era inexistente.
Outro fato que é importante ressaltar é que, até a efetivação da Performance presencial,
foi desprendido um grande esforço no sentido de negociar a entrada no local.Foram quase
quarenta dias com telefonemas para o supervisor e inúmeras visitas aolocal até que ocorresse
a ação performática. A empresa que administra a Central de Tratamento de Resíduos de Santa
Maria é a “Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos” (CRVR), também possuindo
unidades nas cidades de Giruá, Minas do Leão e São Leopoldo. Na negociação para adentrar
no local, ocorreram diversas perguntas se as gravações dos vídeos iriam passar na TV ou se
seriam disponibilizados na internet, se as fotografias seriam publicadas em jornais e revistas,
quantas pessoas estariam envolvidas na ação, entre outras. Nos registros fotográficos abaixo,
aparece o proponente em Performance (Figura 1), de costas
É estranho pensar que, o ser humano, de modo geral, parece ter consciência dos
problemas ambientais do planeta, em especial aqueles causados pela produção excessiva de
lixo, mas continua produzindo. Sendo assim, o corpo performático tornou-se mais um
trabalhador e foi literalmente jogado para dentro do lixo, não existindo emissor e nem receptor,
um corpo indivisível, simplesmente um corpo compondo a obra artística.
Outro fato que influenciou na realização da obra foi a presença do chorume que exalava
um cheiro de enxofre muito forte. A máscara que foi usada não possuía filtro.
Tive vômitos, náuseas, ardência nos olhos e uma forte dor de cabeça. Esses sintomas
proporcionaram sensações alucinantes fazendo com que eu caísse dois tombos em cima dos
Nesse trabalho performático, não foi contada alguma história ou executada alguma ação
previamente ensaiada, existia apenas a presença na ação de separar resíduos, com os elementos
constitutivos de sua visualidade. Estes elementos visuais construíram a obra que se impuseram
no corpo performático com toda a sua força vital de estar ali, com aquelas pessoas no meio
daquele lixo enorme, com aquele cheiro tão forte. O setor onde foi permitida a realização da
Performance é conhecido como “Reciclagem”. Este setor tem doze funcionários, entre homens
e mulheres, com uma jornada de trabalho, de segunda a sexta-feira, das nove às dezessete horas
e aos sábados das nove às treze horas. Estes funcionários foram o público da obra.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
[...] depende de diversos fatores que extrapolam a habilidade técnica. Sua qualidade
depende da predisposição do performer naquele instante, do jogo que se estabelece
com os parceiros, no momento, do ânimo do público, de seu repertório de
conhecimentos, da capacidade de utilizá-los. O performer precisa de conhecimento do
ofício, bagagem de vida e sensibilidade para utilizá-lo. Para tal, torna-se
imprescindível atingir um estado de concentração[...] (BIANCALANA, 2013, p. 159).
Também a Observação Participante das recicladoras componentes da Associação das
Recicladoras do Pôr do Sol trouxe vivências para potencializar a poética. Naquele momento o
proponente obteve uma corporeidade para o Zanni Performer, sendo descortinadas novas
A oficina, por sua vez, trouxe subsídios para embasar a Performance presencialO Zanni
Performer no Lixão. Foram os Jogos Teatrais promulgados pela americana Viola Spolin e
aplicados na oficina com as recicladoras que serviram de base para realização desta oficina com
as vinte mulheres componentes da Associação das Recicladores do Pôr do Sol (ARPS). Os
Jogos Teatrais, pela ludicidade que eles geravam, permitiu que o performer fosse inserido num
meio fechado. Eles deram abertura para aproximação com esta mulheres, e percebe-las, neste
contexto.
REFERÊNCIAS
RESUMO
Nesse artigo serão investigadas as possibilidades para o desenvolvimento do Teatro Documentário no ambiente
escolar com os seus entrelaçamentos e as suas respectivas intervenções artísticas. A pesquisa com documentos e
dados da vida das pessoas inseridas na sociedade em geral traz em si uma grande potência artística, gerando
abertura para a construção de um processo cênico aberto a experimentações com mídias, projeções de imagens,
áudios, entrevistas gravadas, notícias de jornais e vídeos entre outras. Como fonte de pesquisa serão utilizados
referenciais bibliográficos, vídeos e entrevistas entre outras.
1 INTRODUÇÃO
O Teatro Documentário é uma linguagem teatral que traz como principais características
o uso de documentos, fatos e memórias como fontes inicias para a construção de um espetáculo
teatral. Esta linguagem teatral tem o seu surgimento na Alemanha em 1925, através do
encenador Erwin Piscator, sendo ele um dos primeiros a recorrer a material documental para a
elaboração de uma encenação teatral.
A partir dos textos de Soler (2013), Piscator foi o primeiro a recorrer a palavra
documentário em escritos sobre as artes teatrais e então abrir caminho para uma conceituação.
Nas experimentações do encenador alemão, a imagem audiovisual foi entendida como uma
espécie de documento articulado à cena com intuito de comprovar a veracidade histórica dos
fatos narrados ou dramatizados pelos atores.
Ao fazer o uso de documentos não serve apenas para documentar, mas também para
fazer parte de um processo artístico e criativo com comprometimento com a realidade em que
a sociedade está inserida.
A principal motivação para investigar esse tema teve o seu surgimento nos primeiros
passos no Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
no ano de 2016.
A partir de uma aula teórica no início do Curso sem a pretensão de realizar uma obra
artística ou pedagógica, a turma foi dividida em grupos de cinco alunos, no qual foi
desenvolvido a prática de documentar através da coleta de material através de registros feitos
no celular.
Soler ao palestrar sobre a obra de Piscator, assevera que ele realizou um documentário
pós-guerra, com a intenção de demonstrar como era brutal a guerra e suas consequências. O
dramaturgo não tinha a pretensão de contar uma história, mas trazer fatos da guerra.
Sendo assim, Piscator fez uso de projeções com recortes de um filme gravado
originalmente na guerra. O efeito que essas cenas acarretaram na plateia tiveram grandiosíssimo
impacto. O filme projetado serviu como documento e consequentemente com grande potência
para o espectador, pois
O teatro no ambiente escolar reveste-se de uma atividade com grande relevância para o
desenvolvimento integral dos discentes, oportunizando que as suas habilidades e
potencialidades obtenham um elevado grau de aprendizagem, pois
Entre as artes, o teatro é por excelência, a que exige a presença da pessoa de forma
completa: o corpo, a fala, o raciocínio e a emoção. O teatro tem como fundamento a
experiência de vida: ideias, conhecimentos e sentimentos (os aspectos cognitivos e
subjetivos). Sua ação consiste na ordenação desses conteúdos individuais e grupais e
seu ensino ou exercício se faz através da encenação, da contemplação e da
vivência dos jogos teatrais (NEVES, 2010, p.14).
Neves (2010) concerne que as artes, entendidas como processo de representação
simbólica para a comunicação dos sentimentos humanos, configuram um gigantesco valor e
trazem um enorme significado de grande importância na formação dos discentes.
O teatro ao ser inserido na escola tem muitos objetivos a serem alcançados, entre eles o
trabalho em grupo, a socialização, as relações interpessoais, a comunicação, a criatividade,
assim como a expressão corporal e vocal entre tantas outras. Portanto, possui um papel de
grande pertinência na formação de grandes habilidades tanto físicas quanto cognitivas desses
discentes, pois
Uma das formas mais produtivas de apreensão dos códigos e dos procedimentos, que
estão envolvidos na linguagem teatral, é experimentá-los na prática. Não há manuais
escritos que ensinem a ser espectador e muito menos a fazer teatro. Vivenciando com
Para pensarmos em como construir práticas pedagógicas com o teatro nos dias de hoje,
devemos tentar compreenderas diversas formas de se fazer e perceber o teatro e a
teatralidade no mundo contemporâneo. Não podemos nos ater aos textos dramáticos
ou às referências apresentadas na televisão (ainda que esses não devam ser ignorados).
Convivemos diariamente, crianças, jovens, adultos, com uma diversidade imensa de
manifestações culturais e atividades dotadas de performatividade e teatralidade, de
espetacularidade (FERREIRA, 2012, p. 17).
No ambiente escolar existem muitas maneiras e metodologias para o desenvolvimento
de atividades com teatro na escola, seja através de jogos teatrais, improvisações, textos
dramáticos, performance ou a partir de temas que surgem no coletivo, entre outras formas.
O Teatro Documentário traz em seu âmago a realidade que pode ser transformada em
atividade teatral, e assim aproximar o discente da arte e também das diversas questões sociais
que estão inseridos, entre as quais por exemplo a violência, o preconceito e o bullyng, pois
Na pedagogia do teatro, não podemos deixar de lado que as crianças, hoje, assistem a
filmes, desenhos animados, séries televisivas e telenovelas, a programas de auditório
e de humor, vão à igreja, frequentam shoppings, acessam sites, blogs e redes sociais
na internet, baixam músicas e vídeos, compram CDs piratas, exercitam jogos
A pesquisadora Fabi (2016) reflete que a realidade pessoal de cada um pode ser
transformada em dramaturgia, levando tanto os espectadores e os discentes/autores a
perceberem a realidade em que os mesmos estão inseridos. A partir disso, eles podem reelabora
essa mesma realidade, transformando e sendo transformado por essa mesma realidade.
REFERÊNCIAS
FERREIRA, T. e Falkembach, M. F. Teatro e Dança nos Anos Iniciais, 2012. Ed. Mediação.
Porto Alegre.