GRAVURAS
GRAVURAS
GRAVURAS
Nome do autor
Gravura
Gravura
Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Camila Cardoso Rotella
Danielly Nunes Andrade Noé
Grasiele Aparecida Lourenço
Isabel Cristina Chagas Barbin
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Luciara Bruno Garcia
Editorial
Camila Cardoso Rotella (Diretora)
Lidiane Cristina Vivaldini Olo (Gerente)
Elmir Carvalho da Silva (Coordenador)
Letícia Bento Pieroni (Coordenadora)
Renata Jéssica Galdino (Coordenadora)
ISBN 978-85-522-0619-4
CDD 760
Thamiris Mantovani CRB-8/9491
2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Convite ao estudo
Você é um estudante de Arte e está desenvolvendo um
projeto poético, uma trajetória de produção material e teórica.
Seu interesse principal é o desenho, pois foi o desenho que
o encaminhou até a faculdade. Desde criança, a ação de
desenhar é muito importante para você: desenhos a lápis,
tatuagens, grafites, projetos de arquitetura, cartazes, croquis,
tudo isso lhe atrai. Você percebe o potencial do desenho como
comunicação e como experiência de subjetividade, ou seja, o
desenho tem a capacidade de ser um lugar de exercício do
sujeito e também de comunicar as experiências dos indivíduos.
Figura 1.1 | Página do Diamond Sutra, impresso no 9º ano da Era Xiantong da dinastia
Tang, 868 – pertence ao acervo da British Library de Londres
Esse sutra, bastante popular até hoje, por ser curto e passível
de ser recitado em 40 minutos, ensina a considerar o desapego da
matéria. O diamante de seu título é metafórico, é a joia que corta
a ilusão do mundo e revela a verdadeira natureza da existência.
Ele foi encomendado por Wang Jie: em sua cultura, o ato de
mandar imprimir e distribuir um sutra era um ato piedoso. Segundo
as pesquisas da Biblioteca Britânica de Londres, o budismo criou
uma demanda pela imagem impressa que, por sua vez, ajudou a
difundir a crença budista. Como podemos ver na imagem (Figura
1.1), as linhas são finas e delicadas. O rolo tem 27,6 cm de altura
e quase 5 metros de comprimento, e foram impressos vários do
tipo, embora apenas esse tenha sobrevivido.
Fonte: A. <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Le_bois_Protat_-_block_and_print.jpg?uselang=fr>; B.
<https://en.wikipedia.org/wiki/Bois_Protat#/media/File:Le_bois_Protat_-_verso.png>. Acesso em: 26 set. 2017.
Reflita
Autoria. Autor. O que define a propriedade da invenção, da autoria, de
uma imagem ou texto? Originalidade é sinônimo de novidade?
Diálogo aberto
Montar um ateliê de gravura e desenvolver sua prática com esse
meio requer bastante pesquisa e reflexão. Não só as técnicas precisam
ser pesquisadas, como também a história da arte e a estética para que
se compreenda a relação entre a criação das formas e os significados.
Observamos, na história das técnicas de reprodução de imagem, que
foi preciso aliar conhecimentos técnicos de outras profissões tão
diferentes como a ourivesaria, a pintura e a engenharia. Foi preciso
adaptar ferramentas que já existiam, como o buril, e criar outras, como
os tampões de couro para a entintagem das matrizes. Foi necessário
inventar uma prensa pesada, mas que não estragasse o papel. E por
falar em papel, foi preciso inventar uma maneira para confeccioná-
lo com os recursos locais. Diferentemente dos modos orientais, os
europeus criaram moinhos para processar o papel e utilizaram não a
fibra em estado bruto, mas restos de tecidos para a composição da
massa do papel. Com as técnicas de reprodução de imagem, surgia a
indústria do papel.
A gravura, vale sempre lembrar, envolve dois momentos: a produção
da matriz e a impressão. Portanto, uma estampa é produto do encontro
entre uma superfície cortada e uma superfície amistosa. Quer dizer, o
suporte da estampa, da tinta doada pela matriz, precisa concordar em
receber essa doação. Os suportes mais amistosos para esse contato
são os papéis e os tecidos. Na sua pesquisa sobre os usos tradicionais
da gravura, certamente foram esses os suportes que prevaleceram.
Contudo, como a sua prática se dá nos dias de hoje, é necessário
que você pesquise os materiais que estão disponíveis para você no
mercado. Examine como os papéis são feitos hoje e como é a
expectativa de vida deles. Sabemos de papéis feitos no século VII d.C.
que sobreviveram até hoje, mas tem muito livro velho com cerca de
40 anos ou menos se desfazendo. São várias as circunstâncias que
Fonte: <http://www.metmuseum.org/exhibitions/view?exhibitionId=%7b5A6028BC-BDDB-495F-88D8-4A3D2
275E5E5%7d&oid=704744>. Acesso em: 9 out. 2017.
Reflita
Figura 1.7 |Vista perspectiva de Veneza (Jacopo de’ Barbari, 1500) – xilogravura
sobre papel (135 x 282 cm), Museo Correr, Veneza
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jacopo_de%27_Barbari_-_Plan_of_Venice_-_WGA01270.
jpg>. Acesso em: 9 out. 2017.
Assimile
As estampas tinham a função de circular informação para
entretenimento ou estudo filosófico, científico ou religioso. Também
circulavam nas estampas histórias curiosas, como a do rinoceronte
que naufragou no Oceano Atlântico.
Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Rinoceronte_de_D%C3%BCrer#/media/File:D%C3%BCrer%27s_Rhinoceros,_1515.
jpg>. Acesso em: 29 set. 2017.
Pesquise mais
Para conhecer um pouco do processo de produção de papel na
tradicional japonesa, veja a reportagem a partir do 1’27”:
Pesquise mais
Para explicações sobre o processo de impressão de Gutenberg,
sugerimos que você assista ao vídeo:
Para refletir sobre o percurso que vai da cópia manual de livros até as
atuais impressoras 3D e as redes sociais, sugerimos um episódio do
programa Nerdologia.
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
Leia com atenção as alternativas, avalie e assinale qual delas melhor sintetiza
a história do papel.
Diálogo aberto
Assimile
É importante entender a relação entre o belo, o verdadeiro e o bom,
da qual decorre a resistência em se considerarem as técnicas de
reprodução como dignas de serem consideradas Belas Artes. A filósofa
e Prof.ª Taisa Palhares escreve:
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Albrecht_D%C3%BCrer_-_The_Glorification_of_the_Virgin_
(NGA_1943.3.3592).jpg>. Acesso em: 27 out. 2017.
Reflita
Exemplificando
Em parceria, Rafael e Marcantonio Raimondi criaram uma obra
gráfica bastante interessante, fazendo a obra de Rafael circular pelo
mundo, compondo definitivamente o repertório artístico Ocidental.
As estampas tornam as imagens presentes, o múltiplo perpetua a
existência do original.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Edouard_Manet_-_Luncheon_on_the_Grass_-_Google_
Art_Project.jpg>. Acesso em: 7 nov. 2017.
Avançando na prática
Descrição e análise
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
a) A gravura não pode ser considerada uma prática artística porque não
envolve elaboração mental.
b) A gravura não pode ser considerada uma possibilidade artística porque
é estanque, não se atualiza.
c) A obra resultante de um processo de trabalho na gravura ou em outro
meio é produto de uma rede de associações e saberes teóricos e práticos.
BUTI, Marco; LETYCIA, Anna (orgs). Gravura em metal. São Paulo: Edusp
2002.
DALEY, Jason. Five things to know about the diamond sutra, the world’s
oldest dated printed book. SMITHSONIAN.COM, 11 maio 2016. Disponível
em: <http://www.smithsonianmag.com/smart-news/Five-things-to-know-
about-diamond-sutra-worlds-oldest-dated-printed-book-180959052/>.
Acesso em: 20 set. 2017.
HIND, Arthur M. A history of engraving and etching: from the 15th Century
to the Year Nova Iorque: Dover Publications,1923.
HUSBAND, Tim. Expanding Concept: indelicate images in the playing cards
of Peter Flötner. Disponível em: <http://www.metmuseum.org/blogs/in-
season/2016/the-playing-cards-of-peter-flotner>. Acesso em: 20 set. 2017.
IVINS, William M. Jr. Prints and visual communication. Cambridge: The MIT
Press, 1969.
PATRY, William. Albrecht Dürer and Copyright. The Patry Copyright Blog. 26
set. 2005. Disponível em: <http://williampatry.blogspot.com.br/2005/09/
albrecht-drer-and-copyright.html>. Acesso em: 7 nov. 2017.
REGO, Claudia de Moraes. Traço, letra, escrita – Freud, Derrida, Lacan. Rio
de Janeiro: 7 Letras, 2006.
Técnicas de gravura e
estampa
Convite ao estudo
Na unidade anterior, conhecemos os princípios e
conceitos da gravura, como marcar, cortar e registrar com
o fim de multiplicar informações. Entendemos as técnicas
de reprodução de imagem pelo seu potencial de multiplicar
informações, atendendo a diversas demandas e assumindo
diferentes funções. Fomos apresentados a um cenário
em que demanda e evolução tecnológica alimentaram-se
mutuamente.
Bons estudos!
Seção 2.1
Gravura de encavo (gravura em metal)
Diálogo aberto
Nossas situações-problema criam um cenário em que você está
desenvolvendo um trabalho pessoal e sua prática artística está baseada
nas técnicas de reprodução da imagem. Na Unidade 1, vimos, entre
outras coisas, como essas técnicas têm a capacidade de reproduzir
outras. Na Unidade 2, vamos tratar das técnicas de forma mais descritiva.
Nesta primeira seção, você vai conhecer mais sobre a gravura em metal.
Lembre-se de como artistas gravadores foram capazes de traduzir obras
realizadas em meios como o desenho, a pintura e a escultura para uma
sintaxe linear, fosse na xilogravura, fosse na gravura em metal. Como
seria, então, reproduzir uma imagem fotográfica por um meio analógico
e manual?
Você se propôs um desafio: copiar uma imagem fotográfica utilizando
a técnica da água-forte, uma técnica na qual você não precisa dominar
uma ferramenta como o buril, um processo que registra bem os gestos
envolvidos no desenho. Essa técnica apareceu no período Barroco, era
adequada para o espírito mais expressivo e dramático da época e foi
muito utilizada por Rembrandt Van Rijn. Muito provavelmente, você
conhece esse artista muito mais pelo seu trabalho como pintor, mas ele
foi um gravador muito prolífico e um desenhista incansável.
Figura 2.1 | Leão deitado (Rembrandt Van Rijn, 1650-59) – Desenho à pena e tinta
sobre papel (14,1 x 20,4 cm)
Essas impressões eram feitas com uma tinta a óleo densa passada
nas placas, de modo que entrassem nas talhas, depois o excesso
era retirado da superfície, e um papel era aplicado sobre a placa e
pressionado contra ela para capturar a tinta. Assim nascia a gravura em
metal ou calcografia.
Como em toda técnica de reprodução de imagem, temos uma
matriz que produz uma estampa. Nesse caso, a matriz é de metal, uma
Fonte: The MET. H. O. Havemeyer Collection, Bequest of Mrs. H. O. Havemeyer, 1929. Disponível em: <https://
www.metmuseum.org/art/collection/search/354633?sortBy=Relevance&ft=The+Three+Trees&offs
et=0&rpp=20&pos=2>. Acesso em: 21 nov. 2017.
Assimile
Fonte: The MET. Gift of Arthur Sachs, 1918. Disponível em: <https://www.metmuseum.org/art/collection/
search/360122>. Acesso em: 21 nov. 2017.
Fonte: The MET. The Elisha Whittelsey Collection, The Elisha Whittelsey Fund, 1957. Disponível em: <https://
www.metmuseum.org/art/collection/search/394213>. Acesso em: 21 nov. 2017.
Fonte: <https://es.wikipedia.org/wiki/El_sue%C3%B1o_de_la_raz%C3%B3n_produce_monstruos#/media/
File:Francisco_Jos%C3%A9_de_Goya_y_Lucientes_-_The_sleep_of_reason_produces_monsters_(No._43),_
from_Los_Caprichos_-_Google_Art_Project.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2017.
Reflita
Figura 2.12 | A ação não é a irmã do sonho (Andréa Tavares, 2013) – Água tinta
sobre folha de revista da década de 1940.
Pesquise mais
No site da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, é possível fazer o
download do manual de gravura de Abraham Bosse, em uma edição
portuguesa de 1801. Disponível em: <https://digital.bbm.usp.br/
handle/bbm/4355?locale=en>. Acesso em: 21 nov. 2017.
2.
Ao usar a palavra gravura não podemos desprezar as
nuanças que esta generalização oculta. Na verdade, existe
uma gravura genérica e muitas particulares. A primeira é uma
gravura inexistente, ou que pretenderia ser a soma de todas
as gravuras, englobando suas características mais amplas.
Não tem um autor, ou tem todos, do mais genial ao mais
medíocre. Cada gravura particular tem um autor definido,
um artista que pode operar sozinho ou com a colaboração
de um grupo de técnicos, mas cuja presença impregna
a imagem: ela é afetada por um momento histórico,
tecnológico e cultural, e por uma personalidade definidos.
A gravura genérica é potencial, enquanto a particular é uma
realização viva, carregada de particularidades que criam um
significado. (BUTI, 2002, p. 23)
Diálogo aberto
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kirchner_-_M%C3%A4nnerkopf_-_Sebstbildnis_-_1926.
jpg?uselang=pt>. Acesso em: 1 dez. 2017.
Reflita
Na imagem de Kirchner reproduzida aqui (Figura 2.13), você consegue
perceber alguma das características do Expressionismo descritas no
texto da enciclopédia?
Assimile
A matriz é um condutor da imagem, um arquivo que contém
informações gravadas que serão materializadas na impressão pelo
contato entre matriz e papel, mediados pela tinta. A tinta torna visível,
no suporte papel, a imagem da matriz; a ausência de matéria na matriz
é a luz da imagem, essa ausência é tomada pelo papel, suporte ativo
das marcas impressas.
Observe esta figura. Você consegue ver o monte? Ele está lá atrás,
uma linha sutil contra o céu. O primeiro plano é dominado pela ação
do vento. Como representar o vento? Podemos representar o que ele
causa, aqui atrapalhando os trabalhadores, brincando com seus papéis.
Você deve estar se perguntando como as cores foram trabalhadas na
imagem. Bom, para cada cor há uma matriz, nesse caso, pelo menos
cinco matrizes. A vista do monte é interessante porque incorpora
fenômenos climáticos e sociais, o vento e os trabalhadores, retrata a
sua relação. O monte que reina na paisagem está para o tempo da
eternidade, permanece impassível, o movimento é dado pela sociedade
em relação ao tempo. A imagem também diverte, é engraçada: um
verdadeiro ukiyo-ê.
Figura 2.16 | Ejiri na província de Suruga (Sunshū Ejiri), imagem da série Trinta e seis
vistas do monte Fuji (Fugaku sanjūrokkei) (Katsushika Hokusai, c. 1830 – primeira
publicação; c. 1930 – esta edição) – Xilogravura colorida sobre papel (25.4 x 37.1
cm)
Fonte: <https://en.wikipedia.org/wiki/Thirty-six_Views_of_Mount_Fuji#/media/File:Ejiri_in_the_Suruga_province.
jpg>. Acesso em: 1 dez. 2017.
Exemplificando
As estampas tinham a função de circular informação para
entretenimento ou estudo filosófico, científico ou religioso. Podiam
ser compradas diretamente no ateliê dos artistas, em lojas similares a
livrarias, e com comerciantes ambulantes, no caso das mais populares
e baratas. Elas não foram emolduradas e colocadas na parede até o
século XVIII. Até então, eram objetos guardados em pastas, gavetas,
escrivaninhas e baús para serem consultados assim como os livros. Se
alguém estivesse estudando a vida de um santo ou um texto religioso,
as imagens poderiam ajudá-lo a ter uma impressão mais presente do
assunto. Assim, algumas estampas eram pregadas diretamente sobre
a parede com preguinhos, para manter o assunto estudado visível no
escritório ou na biblioteca, por exemplo.
Exemplificando
Christie’s. How did Hokusai create The Great Wave? (Como Hokusai
criou a grande onda?), 2017. Vídeo. Cor. 4’16”. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=kEubj3c2How>. Acesso em: 1 dez. 2017.
Pesquise mais
Para conhecer uma pesquisa contemporânea, veja o vídeo com o
depoimento do artista Fabrício Lopez. Ele utiliza matrizes de madeira
de grande formato, impressas em múltiplas cores sobrepostas e, por
vezes, mostra suas matrizes em instalações.
2.
Diálogo aberto
Bons estudos!
Assimile
Monotipia
Figura 2.19 | (a) Desenhar sobre o papel (b) A esquerda monotipia resultante do
desenho feito com o lápis sobre o papel em contato com o carbono.
A B
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Diversi%C3%B3n_de_Espa%C3%B1a.jpg?uselang=pt-br>.
Acesso em: 13 dez. 2017.
Estêncil
Serigrafia
Reflita
O artista e professor Marco Buti escreve:
Sua tarefa era criar um cartaz para uma peça de teatro de alguns
amigos, sendo preciso imprimir 100 peças gráficas, e seus amigos
não tinham muitos recursos. Uma opção simples e rápida é o
cartaz feito com serigrafia e impresso sobre papel. Você pode optar
tanto por fazer a tela de forma mais artesanal, protegendo as áreas
brancas com goma arábica, como pode escolher usar emulsões
fotossensíveis.
2.
3.
Técnica de impressão da gravura que reproduz desenhos de
cores planas através de uma armação de madeira e tela feita
de tecido de seda, náilon ou rede metálica, sobre uma base
que pode ser de papel, tecido, metal ou outros. O processo
se dá a partir da aplicação de tinta sobre partes permeáveis
e impermeáveis da tela, que a filtra formando o desenho a
ser impresso. O termo sinônimo silkscreen é normalmente
utilizado num contexto comercial. (SERIGRAFIA.
Enciclopédia Itaú Cultural. São Paulo: Itaú Cultural, 2017.
Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/
termo3839/serigrafia>. Acesso em: 14 nov. 2017. Verbete
da Enciclopédia)
COSTA, Orlando Francisco da. Imagem e letra. São Paulo: EDUSP, 1994.
HIND, Arthur M. A history of engraving & etching. From the 15th Century to
the Year 1914. Nova Iorque: Dover Publications, INC., 1963.
MUBARAC, Claudio. Notas sobre incisão (primeira revisão). ARS (São Paulo),
São Paulo, v. 4, n. 7, p. 90-95, jan. 2006. Disponível em: <https://www.
revistas.usp.br/ars/article/view/2965/3655>. Acesso em: 21 nov. 2017.
Convite ao estudo
Agora chegou a hora de organizar melhor uma prática. Você
se decidiu pela xilogravura e irá experimentá-la de forma mais
aprofundada. Também irá adquirir ferramentas, tintas e papéis
de acordo com suas intenções. Anteriormente você organizou
um pouco da sua produção e identificou aspectos conceituais
e formais do seu interesse. Seus materiais podem ser adquiridos
para irem ao encontro das suas necessidades poéticas.
Bons estudos!
Seção 3.1
Gravar e imprimir
Diálogo aberto
Então, você decidiu pesquisar as possibilidades da gravura em
alto relevo e as possibilidades que os materiais podem te dar. Você já
experimentou algumas técnicas de gravura, portanto já tem alguma
experiência. Agora está na hora de aprofundar mais o seu conhecimento
e testar as várias possibilidades de constituir uma matriz.
Matrizes de alto relevo podem ser construídas por subtração,
como na xilogravura, mas podem ser construídas por adição, como
na cologravura.
Lembre-se que na xilogravura retiramos da matriz as áreas
brancas, portanto desenhamos por subtração. Num desenho a
lápis sobre papel, por exemplo, adicionamos material ao suporte
e vemos a imagem surgir enquanto a construímos. Na xilo, vale
lembrar, retiramos material de uma matriz, nesse momento vemos
não a imagem que será produzida – a estampa –, mas estamos
vendo apenas a matriz e projetando um resultado. Essa é a
natureza da matriz, carregar informações para serem impressas
sobre um suporte.
Na cologravura materiais são colados sobre um suporte para
serem impressos por contato. Os suportes podem ser variados
(papelão, madeira, metal e plástico), assim como os materiais que
podem ser colados sobre eles. É importante ter em mente que para
que a impressão ocorra da melhor maneira possível, a fim de que o
rolo de tinta passe de forma homogênea sobre a matriz, os materiais
colados devem ter altura iguais ou muito semelhantes.
Agora, em sua pesquisa, você também está organizando um
espaço de trabalho, pesquisando materiais e ferramentas. Diante
disso, faça uma investigação ao seu redor e veja, antes de mais nada,
quais materiais estão a sua disposição. Você também pode contar
com aqueles que seriam descartados. Procure em caçambas na rua,
vá até a marcenaria ou a serralheria de seu bairro, recolha pequenas
sobras. Teste as madeiras para saber como elas respondem ao corte
Livio Abramo.
Exemplificando
Levando em consideração o que já foi dito até aqui, por onde
começar a trabalhar? Qual seria o princípio? Considere por um lado
o seu trabalho, aquilo que gosta de desenhar ou fotografar. Por outro
lado, considere a linguagem da xilogravura. Selecione uma imagem
que tenha potencial para ser feita em xilo. Análise a sua situação
de trabalho, o local que pode utilizar para produzir, as ferramentas
disponíveis e sua verba também.
Pesquise mais
Cabe pesquisar mais processos de cologravura que no texto podem
ficar muito abstratos. Portanto, indicamos dois vídeos bastantes
didáticos, ative as legendas e selecione a opção com legenda
automática em português para não perder nada.
Reflita
Temos sempre que atentar para os usos das técnicas. Explorar um
processo no campo da arte é muito diferente de utilizá-lo no contexto
da moda, por exemplo. Ambos são legítimos e ambos têm as suas
particularidades. No contexto de nosso estudo, partimos da prática
artística contemporânea. Então, podemos retornar ao texto do
professor Marco Buti:
Leia o texto com atenção, ele concorda com o que foi trabalhado na
seção, sobre o processo autoral de produção de imagens.
Assista aos vídeos e perceba como o artista inventa a sua técnica, com
a ajuda de outros, para conquistar a escala necessária que provoca a
criação de significado.
Figura 3.4 | Utagawa Hiroshige. Homem a cavalo cruzando uma ponte, da série 69
estações de Kisokaido (1834-1842). Esta é a Estação 27 em Nagakubo, representando
a Ponte Wada em todo o rio Yoda, c. 1835 – 1837.
Pesquise mais
O artista Djalma Toledo produz estampas idênticas com o processo
da xilogravura colorida, utilizando múltiplas estampas. Seu processo
pode ser visto aqui:
Assimile
Edição: uma determinada quantidade de estampas feitas de uma
mesma matriz, impressas sobre um mesmo papel, com uma mesma
tinta. Sendo todas as cópias numeradas.
P.A. – prova de artista. Não está incluída na edição. São aquelas que o
artista considera boas. Trabalhos autônomos.
B.P.I – boa para imprimir. É a prova que serve como modelo para as
impressões da edição.
Reflita
O artista Fabrício Lopez (1977) tem uma prática que relaciona a
gravura e a pintura. Ele utiliza matrizes de grande formato e justapõe
impressões para criar as imagens. Seu assunto são as memórias de
um local que surgem e se fabricam com as impressões dos arquivos
matrizes. Será interessante você entender sua obra e seu processo
pelo que ele tem a dizer. Além disso, você também poderá ver como
ele organiza seu espaço de trabalho.
Figura 3.7 | Giovanni Battista Piranesi. Torre, do álbum Carceri d´Invenzione, 1749.
Água-forte sobre papel. 63 x 49.5 cm
Figura 3.9 | Paul Gauguin. Capa do álbum Noa, Noa, 1893/94. 15 xilogravuras sobre
papel. 35.5 x 20.5 cm
Figura 3.10 | Paul Gauguin. Imagem do álbum Noa, Noa,1893/94. Xilogravura sobre
papel. 35.5 x 20.5 cm
Exemplificando
Em 2008, o Instituto Tomie Ohtake recebeu a mostra Robert
Rauschenberg, um recorte das obras gráficas. No link a seguir você
terá acesso a um vídeo da instituição que apresenta imagens e
entrevistas com especialistas sobre as obras do americano. Disponível
em: <https://goo.gl/DTRDW6>. Acesso em: 22 dez. 2017.
Pesquise mais
O assunto principal das obras de Regina Silveira é a representação. Quais
as formas de representar o mundo? Como aprendemos essas formas?
O texto aponta que a Arte Correio serviu como dinâmica para burlar a
censura e fazer circular propostas artísticas sem que as pessoas precisassem
cruzar fronteiras. No depoimento do artista percebemos como, mesmo
assim, os artistas se arriscaram para trocar informações e propostas.
Para o artista, o livro deve ser considerado uma plataforma, uma forma
com possibilidades únicas para ele e uma sequência espaço temporal.
Carrión desenvolve o argumento de que, no livro de artista, o produtor
precisa pensar nessa forma de leitura e no tempo que o sujeito gasta para
conhecer o livro.
Enunciado:
Assim, assinale a alternativa correta:
a) O livro é um lugar que contém palavras e somente palavras.
b) O livro é uma plataforma neutra, sem especificidades intrínsecas.
c) O livro é uma sequência de momentos organizados pelo seu produtor
como um caminho a ser percorrido, uma sequência espaço temporal.
d) Na nova arte o escritor continua a fazer textos e o artista imagens.
e) O livro não é uma realidade autônoma.
Convite ao estudo
Projeto poético é uma expressão que contempla o
desenvolvimento da obra de um artista. Para desenvolver uma
obra, entendida aqui não como um objeto único, mas como
um conjunto, o sujeito desenha um caminho. Não quer dizer
que o produtor planeje cada etapa com precisão, não estamos
falando aqui de projeto técnico, como o projeto de uma casa.
Bons estudos!
Seção 4.1
Desenvolvimento de projeto artístico
Diálogo aberto
Você soube de um edital para participar de uma feira de
publicações. Podem participar coletivos e artistas individuais. O edital
pede um portfólio contendo fotos de cinco trabalhos anteriores,
em papel, para serem apresentados e comercializados na feira e
uma proposta para um trabalho que possa ser vestido. A ideia deste
edital é que além das publicações em papel, as pessoas possam
vestir arte. O edital determina que podem ser utilizadas camisetas,
e que o tema é memória. Para participar do edital você deve ter
cinco publicações, assim, reúna amigos e forme um coletivo. Com
os trabalhos em mãos é preciso registrá-los, fazer a ficha técnica e
montar um portfólio. Como fazer isso?
Uma ideia é que cada pessoa faça o que sabe fazer melhor,
seja fotografar, diagramar ou escrever. É necessário que o grupo
apresente seus interesses, suas propostas de trabalhos, de
assunto e de pesquisa técnica-formal. Também é necessário que
cada trabalho seja apresentado de forma breve, por não mais que
um parágrafo.
A proposta inclui a criação de um trabalho que possa ser
vestido. Sobre isto, como pensar uma imagem ou texto que não
seja um lugar comum, uma figura de efeito? Como pensar um
objeto de vestir como objeto artístico? É necessário fazer uma
pesquisa. É necessário listar todas as demandas e partir para a
busca de referências, se cercar das informações, discutir o assunto
e mãos à obra.
Exemplificando
O artista sul africano William Kentridge tem sua prática muito baseada
no desenho. Ele entende que o desenho pode acontecer em diversos
meios. Produz gravuras, animações, vídeos, esculturas, instalações,
performances e cenários. O Instituto Moreira Salles trouxe para
a sua sede no Rio de Janeiro, em 2012, a exposição Fortuna, uma
espécie de retrospectiva de sua obra. Nesta ocasião ele fez uma
palestra falando sobre seu trabalho e a forma como a exposição foi
montada. Para saber mais sobre o processo poético de Kentridge,
assista ao vídeo de sua palestra disponível em: <https://tvuol.uol.com.
br/video/palestra-de-william-kentridge-sobre-a-exposicao-fortuna-
0402CC18336AE4914326>. Acesso em 25/01/2018.
Reflita
Figura 4.1 | Hercules Segers. Vale montanhoso com campos cercados. Água forte e
ponta seca sobre papel azul claro, com adição de aquarela rosa e azul. 22,5 X 48 cm.
Assimile
O filósofo americano Arthur Danto pensava as ações de Warhol, com
suas provocações, como uma forma de filosofia, ou que a filosofia
deveria ser tão instigante e inquieta como a obra do artista, em seu
ensaio O filósofo como Andy Warhol, ele escreve:
Fonte: Risco: Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo (Online), São Carlos, n. 4, p. 125, july 2006.
ISSN 1984-4506. p. 125. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/risco/article/view/44678/48300>. Acesso:
25/01/2018.
Pesquise mais
Em entrevista no vídeo, Antoni Muntadas fala de seus trabalhos
como continuidades, e das características de suas imagens em
relação ao universo que elas habitam. O artista está descrevendo
seu processo poético.
Vimos que Bourriaud também diz que o artista mostra algo, assim é mais
correto dizer que:
a) O artista é aquele que constrói imagens sem palavras.
b) Invenção descarta o processo.
c) O ato da invenção é desprovido de valor no ato em si.
d) Para construir uma obra, o artista inventa formas de agir ou mostrar.
e) Toda imagem tem valor artístico.
2. Forma
Unidade estrutural que imita um mundo. A prática artística consiste em criar
uma forma capaz de “durar”, fazendo com que entidades heterogêneas se
Gesto
Movimento do corpo que revela um estado psicológico ou pretende
exprimir uma ideia. A gestualidade é o conjunto das operações necessárias
executadas para produzir obras de arte, desde sua fabricação à produção
de signos periféricos (ações, acontecimentos, anedotas). (BORRIAUD,
2009, p.149)
Assimile
William Ivins, que foi curador do departamento de estampas do
Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque de 1916 até 1946, ressalta
em seu livro Prints and Visual Communication (1953) que foi mais
significativa para a sociedade europeia a possibilidade de reproduzir
imagens do que a reprodução do texto por meio dos tipos móveis:
Pesquise mais
Para conhecer mais sobre Joseph Beuys e sua relação com o grupo
Fluxus acesse o site, leia o texto e veja os vídeos disponíveis em:
<http://josephbeuys.hotglue.me/>. Acesso em 15/02/2018.
Reflita
Quais são as características da xilogravura? E da serigrafia? Como
diferenciar suas materialidades? A xilo tem uma matéria que remete
talvez à sua própria organicidade. A matriz de madeira empresta sua
textura, acolhe o gesto da ferramenta de uma maneira diferente de
outros meios. A serigrafia, invenção mais recente, tem materialidade
diferente com suas áreas chapadas de cor, acolhe o gesto e a imagem
fotográfica. É mais industrial por natureza.
Fonte: REALIDADES, Culpas?. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú
Cultural, 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7. Disponível em: <http://enciclopedia.
itaucultural.org.br/obra33320/realidades-culpas>. Acesso em: 15 de fev. 2018.
Exemplificando
Projeto e projétil. Lançar para o futuro, construir no presente uma
situação para um porvir. A artista Mônica Nador funda em 2004 o
projeto Jardim Miriam Arte Clube.
Assimile
Cláudio Mubarac (1959) é um artista e professor paulista. Sua pesquisa
poética se articula principalmente nas linguagens gráficas e mais
especificamente na gravura em metal. Sua experiência pedagógica
também se desenvolve em ateliês de gravura, conhece na prática várias
possibilidades e formatos para um espaço de ensino e aprendizagem.
Em seu texto “Notas sobre incisão” ele articula a sua própria busca a
um campo mais amplo, que é o da tradição técnica, ele escreve:
Fonte: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Verbete da
Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra65478/
homenagem-a-fontana-i>. Acesso em: 15 de fev. 2018.
Figura 4.5 | Evandro Carlos Jardim. A Vista Mais Distante da Árvore, s.d. Gravura em
metal (água-forte e água-tinta).
Fonte: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Verbete da
Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra65693/a-
vista-mais-distante-da-arvore-sd>. Acesso em: 15 de fev. 2018.
Fonte: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Verbete da
Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra65694/
sem-titulo>. Acesso em: 15 de fev. 2018.
Exemplificando
O trabalho de Richard Serra “S/título (14 partes – desenho com rolo) de
1977 pode nos fazer entender melhor esta relação variação/variante ou
seriação/repetição. Serra faz uma edição de 14 estampas da mesma
matriz, que aqui é o próprio rolo de borracha. Veja a obra disponível
em: <http://www.blouinartinfo.com/photo-galleries/draw-it-black-qa-
richard-serra-his-daring-new-retrospective-met?image=1>. Acesso em
15 fev. 2018.
(...) e depois que eu os fiz, acho que alguém viu cinco deles
e quis comprá-los, e comprou, e os colocou em leilão.
Então eles foram comprados pelo (colecionador alemão)
Wynn Kramarsky (...) e daí ele os doou para o MOMA. Eu
não os via desde que os fiz. (...) eu lembrava de tê-los feito,
mas não lembro de ter me preocupado com sua aparência.
Estou muito feliz com a aparência deles. (SERRA, 1977. s/p)
(tradução nossa)
Pesquise mais
O trabalho da artista paulista Leya Mira Brander (1974) lida com a
multiplicação e associação de imagens diversas, criando páginas e
objetos com a impressão das mais de 1000 chapas que gravou. Para
entender seu processo de trabalho comece consultando a página do
Museu de Arte Moderna de São Paulo, o museu possui várias obras
da artista em seu acervo. Nas imagens do site é possível observar que
a artista associa várias imagens criando como que tabelas periódicas
com figuras narrativas. São obras do início dos anos 2000. Visite o site
do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Disponível em: <http://mam.
org.br/artista/brander-leya-mira/>, acesso em 15 fev. 2018.
Nome do autor