Um Retrato Infancia Adolescencia 2023

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INDÚSTRIA, VIDA
INOVAÇÃO E TERRESTRE
INFRAESTRUTURA

7 13 12
ENERGIA LIMPA AÇÃO CONTRA A CONSUMO E
E ACESSÍVEL MUDANÇA GLOBAL PRODUÇÃO
DO CLIMA RESPONSÁVEIS

UM RETRATO DA INFÂNCIA
E ADOLESCÊNCIA NO BRASIL
2023

9 15
INDÚSTRIA, VIDA
INOVAÇÃO E TERRESTRE
INFRAESTRUTURA

12 7 13
CONSUMO E ENERGIA LIMPA AÇÃO CONTRA A
PRODUÇÃO E ACESSÍVEL MUDANÇA GLOBAL
RESPONSÁVEIS DO CLIMA
CONSELHO DE FICHA TÉCNICA
ADMINISTRAÇÃO
Textos Revisão de Texto e Copy Desk
Presidente Caroline Rodrigues Miranda Eros Camel | © Camel Press
Synésio Batista da Costa Filipe de Souza Almeida Gomes
João Pedro Sholl Cintra Diagramação e Arte-Final
Vice-Presidente Tre Comunicação
Carlos Antonio Tilkian Sistematização dos Dados
João Pedro Sholl Cintra Impressão
Conselheiros Gráfica Elyon
Cleriane Lopes Denipoti Edição
Eduardo José Bernini João Pedro Sholl Cintra Tiragem
Elizabeth Maria Barbosa de Carvalhaes Thiago Sanches Battaglini 100 exemplares
Euclésio Bragança da Silva
Fernando Vieira de Figueiredo Colaboração
Fernando Vieira de Mello Juliana Mamona
Humberto Barbato Neto Maria Lucilene de Almeida Santos
José Eduardo Planas Pañella Nathalia Gomes Mateus
José Ricardo Roriz Coelho Victor Alcântara da Graça
Luiz Fernando Brino Guerra
Maria Rosemary França Vianna
Morvan Figueiredo de Paula e Silva
Rubens Naves
Vitor Gonçalo Seravalli

Conselho Fiscal
Almir Rosas Augusto Laranja
Bento José Gonçalves Alcoforado
Sérgio Hamilton Angelucci

Secretaria Executiva
Victor Alcântara da Graça 1ª Edição | São Paulo - SP, Setembro/2023
Carta do
presidente
O Programa Presidente Amigo da Criança tem como adolescentes. Fatores como a insegurança alimentar
finalidade garantir, na gestão presidencial, a prioridade e mortalidade materna apresentaram uma piora nos
às políticas públicas voltadas à promoção dos direitos números, enquanto que a notificação do abandono
das crianças e dos adolescentes residentes no Brasil, escolar começa a apresentar dados mais precisos e
por meio de um compromisso direto do presidente da também preocupantes.
República com a efetivação de políticas públicas que
garantam condições dignas de vida, conforme preconiza A Fundação Abrinq espera que a publicação dessa
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a segunda edição continue a contribuir para o diálogo
Constituição Federal. com o governo federal e para reflexão e ação no âmbito
da ampliação e qualificação das políticas públicas para
A partir da publicação lançada em 2022, na qual foi crianças e adolescentes em todo o país.
estabelecida a linha de base de monitoramento do
projeto, a Fundação Abrinq apresenta dados e análises
atualizados, produzidos a partir do monitoramento de
indicadores federais, a fim de apoiar a implementação
de políticas públicas em prol da melhoria das condições
de vida de crianças e adolescentes no país.

O presente estudo constitui também um esforço de


contemplar, também nas análises, os dados divulgados Synésio Batista da Costa
pelo IBGE a partir do Censo 2022, o que permite Presidente
uma compreensão mais precisa acerca dos desafios
colocados à sociedade brasileira para a o alcance das
metas estabelecidas pela Agenda 2030.

Por fim, a edição atual da publicação apresenta, de


forma ainda mais evidente, os efeitos da pandemia
sobre a população, em particular crianças e
Sumário
Introdução......................................................................................................................................................................................................................6

ODS 1 - Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares...............................................................................7

ODS 2 – Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição,


e promover a agricultura sustentável............................................................................................................................................................... 25

ODS 3 – Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.......................................... 31

ODS 4 – Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover


oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos............................................................................................................ 45

ODS 5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas................................................................ 74

ODS 6 – Assegurar a disponibilidade a gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos.............................. 84

ODS 8 – Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável,


emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos e todas................................................................................................. 90

ODS 10 – Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles........................................................................................................ 99

ODS 11 – Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros,


resilientes e sustentáveis.......................................................................................................................................................................................109

ODS 16 – Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável,


proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis
e inclusivas em todos os níveis.......................................................................................................................................................................... 118
Introdução
O Programa Presidente Amigo da Criança busca, Apesar do pouco espaço de tempo entre os
desde 2002, garantir prioridade às políticas públicas lançamentos das duas publicações, pouco mais de um
voltadas à promoção dos direitos das crianças e dos ano, uma mudança significativa ocorreu nesse período:
adolescentes residentes no Brasil, por meio de um a divulgação dos primeiros resultados do Censo
compromisso firmado entre o governo federal e a Demográfico de 2022. As mudanças apresentadas,
sociedade civil. principalmente aquelas que envolvem o ritmo de
crescimento da população brasileira, o menor em
Em sua sexta edição, o compromisso assumido 150 anos. Essas mudanças poderão ser observadas
pelo país frente à Agenda 2030 e aos Objetivos de ao longo da publicação e das metas analisadas, ainda
Desenvolvimento Sustentável (ODS) guiam todo o que parte delas não tenham tido seus resultados
processo de atuação e monitoramento do programa. divulgados até o momento.
Dessa maneira, a partir do estabelecimento da linha
de base do programa, em 2022, em parceria da Por fim, outro aspecto importante da presente
Fundação Abrinq com o Centro de Estudos em publicação, principalmente em relação à edição de 2022,
Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVCes). são as consequências da pandemia de Covid-19 e das
medidas de contenção de seus efeitos socioeconômicos.
A partir desse marco inicial, a Fundação Abrinq lança Na edição anterior, grande parte dos dados divulgados
a presente publicação, com o objetivo de atualizar abrangiam o período entre 2015 e 2019. Nesta
a progressão do país no cumprimento das metas e publicação, já podemos perceber como a pandemia
contribuir com a análise dos diferentes contextos e afetou o desempenho do país durante os seus piores
desafios enfrentados por crianças e adolescentes de momentos (entre 2020 e 2021) e também o início de
todo o país. seus efeitos de médio e longo prazos, a partir de 2022.

6
ODS 1 - Acabar com a pobreza
em todas as suas formas, em
todos os lugares

7
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Desde a criação da primeira das agendas de cooperação e estímulo ao desenvolvimento internacional e a


elaboração dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), a erradicação da pobreza, ou da fome e da
miséria como mencionava o ODM 1, figurava como consequência ou efeito das circunstâncias nacionais em
relação ao desenvolvimento econômico.

Entre as inovações promovidas pela Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) está a
centralidade que ocupa a procura pela erradicação da pobreza, a busca pela redução das desigualdades e a interconexão
das metas e dos objetivos da Agenda. Por essa razão, o primeiro ODS pretende acabar com a pobreza em todas as
suas formas, em todos os lugares, ampliando o escopo de exame das diferentes formas de privação, monetária e não
monetária, e as diversas formas de manifestação destas privações pelos diferentes grupos e marcadores sociais.

Meta 1.2
Até 2030, reduzir à metade a proporção de homens, mulheres e crianças, de todas as idades,
que vivem na pobreza monetária e não monetária, de acordo com as definições nacionais.

O acompanhamento dos indicadores da Considerando as limitações conceituais relacionadas


Meta Nacional 1.2, associada ao Objetivo de ao monitoramento desta meta, são tidos pela
Desenvolvimento Sustentável (ODS) 1 — direcionado Fundação Abrinq, enquanto pessoas em situação
ao combate da pobreza em todas as suas formas de pobreza, aqueles indivíduos com renda mensal
e em todos os lugares —, requer que sejam feitas per capita de até meio salário-mínimo, de acordo
algumas ressalvas a respeito das acepções da pobreza com os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra
monetária e não monetária. Enquanto que para a de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Este critério
primeira o país dispõe de diversas possibilidades corresponde à elegibilidade das pessoas e famílias
de aferição, a última ainda carece de critérios de ao Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal
identificação oficiais, mesmo que a pobreza seja e, simultaneamente, se aproxima do mínimo do
reconhecida — tanto pela literatura como por rendimento monetário diário de US$ 5,50 (PPC 2011)
este retrato — como um fenômeno de caráter per capita recomendado pelo Banco Mundial para a
multidimensional. identificação da população nessa situação em países

8
de renda média, como é o caso brasileiro. Em sua Gráfico 1. Proporção da população identificada à
Síntese de Indicadores Sociais, de 2020, o Instituto classe de rendimento domiciliar mensal per capita de
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reconheceu até meio salário-mínimo — Brasil, 2016 a 2022
esta proximidade dos indicadores: “Para o Brasil, o
valor de 50% da mediana nacional se aproxima do Brasil Meta Nacional dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
valor da linha de US$ 5,50 PPC, conferindo, portanto, 100%

indicadores similares de incidência de pobreza” (IBGE, 80%

2020, p. 64). 60%

40% 34,1%
Seguindo o mesmo raciocínio, por sua concretude e 29,4% 30,3% 29,1% 28,2% 29,1% 29,3%

20%
utilidade em relação aos padrões nacionais, a proporção
14,7% 14,7% 14,7% 14,7% 14,7% 14,7% 14,7%

de pessoas em situação de pobreza extrema também 0%


2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
é aqui considerada como aqueles informaram à Pnad
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional
Contínua residirem em domicílios com renda mensal por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
per capita de até um quarto do salário-mínimo,
equivalendo-se este critério à população apta ao A trajetória da privação de rendimentos mantém próxima
recebimento do Benefício Assistencial de Prestação relação com a dinâmica econômica do país. Em 2014,
Continuada (BPC). o Brasil experimentou a primeira retração do Produto
Interno Bruto (PIB) em pelos menos meia década e
nos dois anos seguintes, entre 2015 e 2016, quedas
constantes no consumo das famílias.

Tabela 1. População identificada à classe de rendimento domiciliar mensal per capita de até meio
salário-mínimo — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2022

Localidade 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 60.073.779 62.535.670 60.479.079 59.100.461 61.443.921 72.393.756 62.693.783
Região Norte 8.401.660 8.441.653 8.398.525 8.547.260 8.025.447 9.546.147 8.407.376
Região Nordeste 27.567.264 28.207.613 27.757.508 27.461.652 26.895.818 31.381.570 28.065.154
Região Sudeste 16.538.866 18.104.333 16.812.144 16.068.597 18.127.672 21.985.220 18.368.880
Região Sul 4.319.858 4.426.850 4.310.795 3.925.360 4.800.127 5.309.090 4.643.377
Região Centro-Oeste 3.246.129 3.355.222 3.200.109 3.097.590 3.594.857 4.171.728 3.208.996

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

9
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Neste último ano (2016), a divulgação da Pnad Contínua e afetou, principalmente, o setor de serviços, que
também já demonstrava as primeiras consequências encolheu sua participação na composição do PIB, de
do início de um contexto de altas taxas de desemprego 63,1%, em 2019, para responder por 58,9% em 2022.
que persiste até o ano corrente. Um dos reflexos
deste contexto pode ser verificado no aumento Neste ambiente econômico, o início da crise sanitária
de praticamente um ponto percentual (0,9 p.p.) na teria favorecido o aumento da população em situação
proporção de pessoas com renda de até meio salário- de pobreza (e pobreza extrema) e, com o objetivo de
mínimo em 2017, em detrimento da proporção de atenuar esse possível retrocesso, no decorrer de 2020
pessoas com renda superior a esse valor. foi implantado um novo programa de transferência de
renda, o Auxílio Emergencial1. Este programa tinha por
Nos dois anos seguintes, entre 2018 e 2019, o Brasil público-alvo as pessoas adultas desocupadas, ocupadas
teve uma lenta recuperação do PIB – ainda que com em atividades informais ou microempreendedores que
crescimento em níveis muito inferiores aos do período tivessem rendimento familiar per capita de até meio
2002-2014 –, do consumo das famílias e um baixo salário-mínimo e a finalidade de repassar cinco parcelas
superávit primário. A melhora destes indicadores do valor base de R$ 600,00, com o limite de duas
corresponde ao lento decréscimo da população em pessoas por família e podendo alcançar até R$1.200,00
situação de pobreza que atingiu seu nível mais baixo em domicílios monoparentais com provedoras
de toda a série histórica em 2019. Ainda assim, esta mulheres. No final das últimas parcelas, em setembro, a
redução dos níveis de pobreza permaneceu aliada medida foi prorrogada até dezembro daquele mesmo
à suspensão do crescimento real dos investimentos ano, concedendo metade do valor inicial nos repasses
públicos em serviços essenciais e à manutenção das seguintes. Torna-se compreensível, portanto, que, de
taxas de desocupação em níveis altos. um lado, o país tenha observado redução de 7,7%
na proporção de indivíduos em pobreza extrema no
Em 2020, o Brasil, que já acumulava elevada taxa de primeiro ano da pandemia de Covid-19, e, de outro, que
desocupação, aumento da informalidade nos postos o grupo de indivíduos com renda de até meio salário-
do mercado de trabalho e insuficientes crescimentos mínimo tenha aumentado em 3,2% naquele ano.
do PIB, conheceu a maior crise sanitária dos últimos
100 anos, a pandemia de Covid-19. Neste contexto de Com o recrudescimento da pandemia, a partir de
baixo desempenho econômico, a pandemia provocou as 2021, as medidas do Auxílio Emergencial revelaram-
maiores quedas dos indicadores econômicos da última se insustentáveis do ponto de vista do planejamento
década, tanto do PIB como do consumo das famílias, orçamentário operacional face à dimensão da crise

1
Estabelecido e regulamentado pela Lei nº 13.982/2020 e pelo Decreto nº 10.316, de 7 abril de 2020.

10
que o país atravessava. Assim, com o fim do benefício, histórica e 14,6 pontos no último ano, demonstrando
a proporção da população em situação de privação estagnação das proporções de pobreza no país
de rendimentos teve a maior elevação desde o início desde o início da Agenda 2030 e dos compromissos
da série histórica, com 16% entre aqueles com renda assumidos com os ODS e suas metas.
per capita de até meio salário-mínimo e 30% entre
aqueles com renda per capita de até um quarto do Gráfico 2. Proporção da população identificada à
salário-mínimo. classe de rendimento domiciliar mensal per capita de
até meio salário-mínimo — Brasil e Grandes Regiões,
Exposto o contexto e as especificidades do paralelismo 2022
dos resultados da pobreza e da pobreza extrema com
2022 Meta Nacional dos Objetivos
a dinâmica econômica do Brasil, os últimos resultados de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
100%
da série histórica da Pnad Contínua anual, de 2022,
80%
sugerem que tanto a retomada das ocupações no
mercado de trabalho (principalmente do setor de 60%
48,6%
44,7%
serviços) como a participação que a instituição do 40%
29,3%
24,2% 24,7%
Auxílio Brasil (tornado Bolsa Família em maio de 20% 14,7%
20,4%
15,2%
19,1%
9,6% 10,5%
7,4%
2023), em novembro daquele ano, desempenharam 0%
Brasil Região Região Região Região Região
papel decisivo no decréscimo de 14% da proporção Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

da população em situação de pobreza, e em especial,


Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional
daquela em situação de pobreza extrema, que por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

apresentou queda de 25,8% em relação à 2021. Em


termos absolutos, estas proporções representam uma
redução de 9,6 milhões de pessoas em situação de A distribuição dos percentuais de indivíduos em
pobreza e 7,8 milhões em pobreza extrema. situação de pobreza pelas Grandes Regiões do país
revela um quadro de desigualdades historicamente
Quando a meta de reduzir à metade a proporção construídas, antecedentes às sazonalidades
de homens, mulheres e crianças, de todas as idades, econômicas apontadas na análise da trajetória da
que vivem na pobreza monetária e não monetária, pobreza no Brasil. A compreensão desta construção
de acordo com as definições nacionais é tomada histórica da desigualdade regional pode ser atestada
por parâmetro, entretanto, a distância entre sua pela persistência dos padrões de distribuição deste
projeção e os resultados da proporção de indivíduos indicador (Fundação Abrinq, 2022, p. 15) e pelos
em situação de pobreza no país é de 15,2 pontos indicadores relativos à estrutura econômica e ao
percentuais na média dos sete anos de série mercado de trabalho.

11
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

As Regiões Norte e Nordeste, que apresentam o Brasil e, em especial, nas Regiões Norte e Nordeste,
concentrações da população em situação de pobreza aquelas em que são mais acentuadas as dimensões da
superiores à média nacional, de 44,7% e 48,6% vulnerabilidade social e econômica, historicamente.
respectivamente, também convivem com altas taxas de
desocupação e informalidade no mercado de trabalho
e têm, por consequência, os rendimentos médios Gráfico 3. Proporção da população identificada à classe
mais baixos do país. Em 2021, este rendimento era de rendimento domiciliar mensal per capita de até um
de R$ 871,00 na Região Norte e R$ 843,00 na Região quarto do salário-mínimo — Brasil, 2016 a 2022
Nordeste, enquanto a média destes rendimentos nas
outras regiões do país era de R$ 1.611,00.
Brasil Meta Nacional dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
50%
Já consideradas estas desigualdades regionais e os
40%
desafios de diferentes intensidades na redução das
30%
proporções de pessoas que sobrevivem com renda
20%
mensal per capita de até R$ 651,00, cumpre notar que 14,7%
11,3% 12,0% 11,8% 11,6% 10,7% 10,9%
a relação entre a proporção de pessoas em situação de 10%
5,7% 5,7% 5,7% 5,7% 5,7% 5,7% 5,7%

pobreza e as metas regionais correspondentes resulta no 0%


2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
dobro em quase todas as regiões do país. Assim, a meta
de redução dos níveis de pobreza à metade da proporção
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional
verificada em 2016 representa um desafio em todo por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Tabela 2. População identificada à classe de rendimento domiciliar mensal per capita de até um quarto do
salário-mínimo — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2022

Localidade 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 23.132.638 24.795.498 24.484.284 24.318.425 22.517.284 31.232.301 23.430.442
Região Norte 3.690.733 3.673.298 3.760.278 3.958.670 3.189.356 4.514.578 3.304.867
Região Nordeste 12.453.850 13.499.238 13.254.447 13.370.520 11.222.825 15.924.026 12.173.012
Região Sudeste 4.924.330 5.443.054 5.369.260 4.997.255 5.724.719 7.874.043 5.695.113
Região Sul 1.216.466 1.229.737 1.233.167 1.132.092 1.434.246 1.613.422 1.322.596
Região Centro-Oeste 847.260 950.172 867.133 859.885 946.138 1.306.231 934.854

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

12
Na média dos sete anos de série histórica da Pnad extrema retornou, no último ano disponível da série,
Contínua (2016 a 2022), 24,8 milhões de pessoas a valores semelhantes àqueles verificados no período
estiveram identificadas à forma extrema da privação ao ano de início da pandemia de Covid-19 (2020). A
de rendimentos no Brasil (residiam em domicílios com respeito desta combinação, o aumento da cobertura e
renda mensal per capita de até um quarto do salário- a elevação do valor do rendimento médio transferido,
mínimo), tendo a proporção média de pessoas nessa o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já
situação sido mais estável do que o grupo de pessoas havia alertado:
em situação de pobreza neste mesmo período, padrão
que pode ilustrar as dificuldades impostas ao combate Em outras palavras, o que impede o PBF de ter
da pobreza em sua forma extrema. um efeito redistributivo ainda maior é o fato de
suas transferências terem valores bem modestos.
Cabe notar, também, que além das mesmas tendências O programa é muito bem focalizado e já contribui
de variação que foram verificadas na análise da significativamente para a redução da pobreza e da
proporção da população em situação de pobreza, desigualdade, mas essa contribuição poderia ser
a pobreza extrema parece estar mais suscetível aos bem maior caso o orçamento destinado ao mesmo
impactos do panorama econômico e das ações fosse mais expressivo (IPEA, 2019, TPD 2.499, p. 25).
promovidas por programas sociais de governo.

Por este raciocínio, apesar da crise sanitária, a Gráfico 4. Proporção da população identificada à
instituição do Auxílio Emergencial (2020) contribuiu classe de rendimento domiciliar mensal per capita de
para uma redução de 0,9 ponto percentual (7,7%) na até um quarto do salário-mínimo — Brasil e Grandes
proporção de pessoas em situação de pobreza extrema Regiões, 2022
em um ano. O insuficiente planejamento orçamentário
2022 Meta Nacional dos Objetivos
do modelo do Auxílio e o agravamento da pandemia de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
50%
em 2021 provocaram um aumento na proporção da
40%
população em situação de pobreza extrema da ordem
4 pontos percentuais (37,4%), variação duas vezes 30%

21,1%
maior do que aquela verificada entre a população 20% 17,6%

com renda mensal de até meio salário-mínimo (em 10,9% 10,6% 11,2%
10%
5,7% 6,3% 5,6%
4,3%
situação de pobreza). No final de 2022, tanto pelo
2,9% 2,8%
2,1%
0%
Brasil Região Região Região Região Região
aumento da cobertura quanto do rendimento médio Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

das transferências do Programa Bolsa Família (PBF),


Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional
a proporção de indivíduos em situação de pobreza por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

13
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

De modo análogo à distribuição regional das as ações para a erradicação da pobreza extrema
proporções de pessoas em situação de pobreza, a devem considerar que os aspectos da concentração
população em situação de pobreza extrema reafirma das pessoas nessa situação em cada um dos limites
a construção histórica desta desigualdade, ainda geográficos e suas especificidades têm impactos
que menos intensa para os indivíduos nesta faixa de distintos na meta nacional.
rendimentos. A diferença entre a proporção média de
pessoas em situação de pobreza extrema nas Regiões
Norte e Nordeste é de 14 pontos percentuais em
relação à mesma média das regiões restantes; já entre Pobreza na infância
os indivíduos em situação de pobreza as diferenças
entre as médias das Regiões Norte e Nordeste e do
restante das regiões do país é de 28 pontos percentuais. Gráfico 5. Proporção da população menor
de 14 anos de idade identificada à classe de
Como demonstrado na trajetória nacional deste rendimento domiciliar mensal per capita de até
indicador ao longo da série histórica, e na edição meio salário-mínimo — Brasil, 2016 a 2022
anterior deste mesmo retrato (Fundação Abrinq,
2022, p. 16), a distribuição regional da concentração
Brasil Meta Nacional dos Objetivos
de indivíduos em privação extrema de rendimentos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
100%
permanece próxima àquela verificada em 2020. As
80%
Regiões Norte (10,6%) e Nordeste (11,2%) despontam
com proporções de sua população com rendimento 60%
47,8% 50,8%
46,8% 46,8% 45,4% 44,5% 45,6%
mensal per capita de até um quarto do salário-mínimo 40%
23,4% 23,4% 23,4% 23,4% 23,4% 23,4% 23,4%
superiores à média nacional. 20%

0%
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Mesmo que se considere o aspecto regional da
desigualdade da pobreza extrema, seu combate
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional
também resta como desafio a todas as regiões por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

do país. A redução da população nesta faixa de


rendimentos (necessária ao cumprimento da Meta
1.2) resulta em aproximadamente metade dos
percentuais verificados nas Regiões Sul, Centro-Oeste
e Sudeste, de acordo com os resultados da última
divulgação da Pnad Contínua, de 2022. Nesse sentido,

14
Tabela 3. População menor de 14 anos de idade identificada à classe de rendimento domiciliar mensal
per capita de até meio salário-mínimo — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2022

Localidade 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 19.600.862 20.001.122 19.496.097 18.790.798 19.603.818 22.326.889 20.016.038
Região Norte 3.033.634 2.923.118 2.879.687 2.872.079 2.710.504 3.133.273 2.848.172
Região Nordeste 8.614.070 8.679.670 8.432.991 8.143.351 8.189.120 9.297.288 8.463.953
Região Sudeste 5.323.306 5.765.002 5.526.636 5.286.997 5.834.965 6.696.481 5.965.301
Região Sul 1.479.410 1.488.610 1.522.170 1.405.008 1.611.906 1.747.082 1.574.146
Região Centro-Oeste 1.150.442 1.144.720 1.134.611 1.083.358 1.257.323 1.452.767 1.164.466

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Uma característica que merece menção na observação da Gráfico 6. Proporção da população menor de 14
proporção de pessoas com menos de 14 anos de idade anos de idade identificada à classe de rendimento
que residiam em domicílios com renda mensal de até meio domiciliar mensal per capita de até meio salário-
salário-mínimo é sua intensidade. Quando comparadas mínimo — Brasil e Grandes Regiões, 2022
estas proporções com aquelas da população total,
2022 Meta Nacional dos Objetivos
verifica-se que a privação de rendimentos entre crianças e de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
100%
adolescentes atingia mais de dois em cada cinco (45,6%)
80%
indivíduos brasileiros nesta faixa etária, em 2022. 67,2%
61,3%
60%
45,6%
Ressalvada a superior incidência do indicador de 40% 32,9% 34,4%
35,3%
31,5%
23,4% 26,0%
pobreza entre crianças e adolescentes, verifica-se que as 20% 16,7% 13,7%
17,3%

variações anuais do percentual de indivíduos de até 14 0%


Brasil Região Região Região Região Região
anos de idade nesta situação são semelhantes àquelas Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

observadas nas proporções da pobreza da população


Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional
em geral. A exceção, neste caso específico, é que, no por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

ano de 2022, a relação de crianças e adolescentes em


situação de pobreza encerrou a série em níveis menos
elevados do que aqueles verificados no período pré-
pandemia (2019), ao contrário do que ocorreu com os
índices de pobreza para a população em geral.

15
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

A elevada concentração da proporção de crianças e adolescentes em situação de pobreza e, o segundo,


adolescentes em situação de pobreza mencionada com a Região Sul e proporção de pouco mais de um
na análise do gráfico anterior pode ser atestada pela quarto (26%) de sua população nesta mesma classe de
distribuição deste indicador pelas Grandes Regiões do rendimento mensal per capita.
Brasil, bem como seu padrão desigual. Nas Regiões
Norte e Nordeste, a média dos percentuais dos Gráfico 7. Proporção da população menor de 14
indivíduos nesta faixa etária em situação de pobreza se anos de idade identificada à classe de rendimento
aproxima de dois terços (64,3%); em outras palavras, domiciliar mensal per capita de até um quarto de
aproximadamente dois em cada três residentes salário-mínimo — Brasil, 2016 a 2022
destas regiões, com menos de 14 anos de idade,
Brasil Meta Nacional dos Objetivos
sobrevivia com renda mensal per capita de até meio de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
50%
salário-mínimo (R$ 651,00 em valores do último ano
disponível). 40%

30%
24,1%
21,3% 22,2% 21,9%
Nas Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste a proporção 20%
20,3%
17,4%
18,8%

de um terço da população vivendo em situação de 10%


10,2% 10,2% 10,2% 10,2% 10,2% 10,2% 10,2%

pobreza divide este indicador em dois grupos. O 0%


2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
primeiro com as Regiões Sudeste e Centro-Oeste,
que tinham valores próximos a um terço (35,3% e
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional
31,5%, respectivamente) da população de crianças e por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Tabela 4. População menor de 14 anos de idade identificada à classe de rendimento domiciliar mensal per
capita de até um quarto de salário-mínimo — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2022

Localidade 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 8.484.586 8.912.587 9.258.711 9.081.903 7.651.898 10.580.892 8.250.935
Região Norte 1.509.647 1.453.448 1.567.305 1.623.488 1.182.752 1.643.065 1.253.077
Região Nordeste 4.464.893 4.734.585 4.736.314 4.674.418 3.763.897 5.277.849 4.228.552
Região Sudeste 1.733.859 1.920.624 2.099.119 1.975.340 1.894.894 2.618.991 1.950.867
Região Sul 454.883 445.624 519.344 451.275 466.872 557.206 454.613
Região Centro-Oeste 321.305 358.305 336.629 357.379 343.483 483.781 363.826

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

16
Na média dos sete anos de série histórica disponível, Gráfico 8. Proporção da população menor de
mais de uma em cada cinco (20,8%) crianças e 14 anos de idade identificada à classe de rendimento
adolescentes residiam em domicílios com renda domiciliar mensal per capita de até um quarto de
mensal per capita de até um quarto do salário- salário-mínimo — Brasil e Grandes Regiões, 2022
mínimo (R$ 325,00), ou sobreviviam com pouco
2022 Meta Nacional dos Objetivos
mais de R$ 11,00 ao dia, em valores de 2022. Assim de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
50%
como se verificou na análise da população total em
situação de pobreza extrema, as variações anuais 40%
33,6%

nas proporções de indivíduos desta faixa etária 30% 27,0%

neste grupo de rendimentos sugerem que, além da 20% 18,8%


16,4% 17,9%

11,5%
volatilidade dos rendimentos totais, essas crianças
10,2%
9,8%
10% 7,5%
5,5%
4,2% 4,8%

e esses adolescentes podem estar mais expostos às 0%


Brasil Região Região Região Região Região
ações políticas dos programas sociais de transferência Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

de renda e seus reveses.


Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Isso pode ser percebido pelas quedas abruptas


do indicador durante o ano de 2020 e nos últimos Como também se verificou para a distribuição dos
meses de 2022, ambos tendo sido influenciados por indicadores de pobreza entre crianças e adolescentes
programas sociais de transferência de renda como o de até 14 anos de idade, em 2022, a Região Nordeste
Auxílio Emergencial (tornado PBF), padrão semelhante (33,6%) é aquela que apresentava a maior concentração
ao verificado para a população em situação de desses indivíduos em pobreza extrema, mais de um
pobreza extrema. em cada três de seus residentes. Informando a mesma
desigualdade historicamente construída, a Região Norte
(27%) figura como a segunda proporção mais elevada
dos baixos rendimentos entre crianças e adolescentes
de até 14 anos, mais de uma em cada quatro crianças e
adolescentes encontravam-se nesta faixa de rendimento
mensal per capita.

17
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Meta 1.3
Assegurar para todos, em nível nacional, até 2030, o acesso ao sistema de
proteção social, garantindo a cobertura integral dos pobres e das pessoas
em situação de vulnerabilidade.

O Brasil promoveu consideráveis esforços na previdenciários ou do BPC, o que atesta o escopo


expansão de seu sistema de proteção social até do sistema de proteção aos idosos no Brasil.
a primeira década deste século, tanto em relação O que falta agora é incluir os que estão fora, o
ao seu sistema contributivo (previdenciário) como que não será necessariamente simples, afinal,
ao não contributivo (de programas assistenciais desde pelo menos meados da década de 2010,
federais, estaduais ou municipais). Neste período, esse indicador flutua no patamar atual (IPEA
as ações em políticas públicas de assistência social CADERNOS ODS 1, 2018, p. 14).
incidiram especificamente sobre a dimensão da Meta
1.3 relativa à garantia da cobertura integral dos E, pouco mais adiante, o instituto, a partir dos dados
pobres e das pessoas em situação de vulnerabilidade, da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2013, indica
como se verá na análise de alguns dos indicadores as estimativas de cobertura dos outros benefícios
selecionados para o monitoramento desta meta. previdenciários em relação à população que atenderia
seus critérios:
A partir de 2010, entretanto, o pilar contributivo da
assistência social, aquele de cobertura mais extensa, O indicador3 estimado mostra que quase 70% das
passa a demonstrar estagnação, estando ainda pessoas pobres com deficiência recebem um dos
distante da cobertura integral de toda a população dois benefícios, percentual já bastante elevado,
que atende aos critérios de acesso de seus benefícios, mas que ainda está a uma distância razoável da
como reconhece o Ipea: meta de universalização (IPEA CADERNOS ODS 1,
2018, p. 14).
O primeiro indicador (BR 1.3.1 ) é o mais próximo
2

da universalização: quase 90% dos indivíduos


com 65 anos ou mais já recebem benefícios

2
Indicador BR 1.3.1: População idosa com benefícios da Previdência Social ou Benefício Assistencial de Prestação Continuada (BPC).
3
Indicador BR 1.3.2: População pobre com deficiência com benefícios da Previdência Social ou Benefício Assistencial de Prestação Continuada (BPC).

18
A partir de 2015, tanto o cenário de defasagem combinaram a já deficitária cobertura dos benefícios
econômica como o conjunto de medidas adotadas previdenciários (contributivos) com a redução do
para a contenção do crescimento da dívida alcance dos benefícios concedidos através de políticas
pública — o congelamento das despesas públicas assistenciais (não contributivos), trajetória que será
discricionárias, entre as quais as despesas em examinada ao longo da análise dos indicadores
assistência social (Emenda Constitucional nº 95), selecionados para o monitoramento desta meta.

Gráfico 9. Média anual de pessoas inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) segundo critérios de identificação
de rendimentos (em milhões) — Brasil, 2015 a 2022

Média anual de pessoas Média anual de pessoas em situação de pobreza Média anual de pessoas em situação de
inscritas no CadÚnico e pobreza extrema inscritas no CadÚnico pobreza extrema inscritas no CadÚnico
100,0
87,9
90,0
80,9 80,0 78,2 78,3
80,0 76,0 75,6 75,9
70,0
60,0 55,6 57,1
52,4 51,4 53,3
50,1 48,2 49,8 47,9
50,0
40,6 38,6 38,8 38,5 38,7 39,5 41,2
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social - Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (Sagi).

A consolidação do CadÚnico, em 2001, se relaciona A relação obtida a partir dos registros das pessoas
com a criação do PBF (em outubro de 2003) e com a em situação de pobreza e pobreza extrema na série
necessidade de promover a unificação dos diversos histórica selecionada (2015 – 2022) reflete tanto os
registros administrativos e critérios de elegibilidade aspectos mencionados — a produção de informações
dos programas assistenciais que surgiram no Brasil e o estreitamento de laços entre o governo federal e
entre 1995 e 2003 — como o Bolsa Escola Nacional, os municípios — como a focalização dos programas
o Bolsa Alimentação, o Auxílio Gás e o Cartão de assistência, e em especial o PBF. A proporção
Alimentação (IPEA, 2019, TPD 2.499, p. 8). Nestes média nos sete anos da série histórica resulta em dois
22 anos de história, o CadÚnico se tornou, além da de cada três indivíduos (66%) inscritos no CadÚnico,
maior fonte de informações relativas à população de tendo sido identificados às faixas de rendimento de
baixa renda no Brasil, um eficiente instrumento de pobreza ou pobreza extrema.
relação dos municípios com o governo federal.

19
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Ao longo dos primeiros anos da série, o CadÚnico Por fim, nos três últimos anos da série (de 2020 a
apresentou queda de 5,2 milhões de pessoas em 2022), fica também demonstrada a eficiência do
seus registros, entre 2015 e 2019; aproximadamente cadastro como um instrumento de capilarização e
1,31 milhão de pessoas ao ano. Outra demonstração alcance da assistência e da proteção social no Brasil,
da potência de focalização do cadastro pode ser principalmente quando se considera a dinâmica
verificada, de um lado, pela estabilidade que o grupo dos programas sociais de assistência e da própria
de pessoas identificadas à situação de pobreza pandemia do Covid-19 no Brasil, como exposto na
extrema apresenta ao longo dos anos, e de outro, a seção inicial deste retrato.
expansão dos cadastros nos anos de 2021 e 2022.

Gráfico 10. Proporção da população brasileira estimada em relação à média anual de pessoas inscritas no
Cadastro Único (CadÚnico) — Brasil e Grandes Regiões 2015 a 2022

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 39,6% 52,6% 59,3% 28,4% 27,8% 36,7%

2016 38,8% 52,1% 58,4% 28,0% 26,7% 35,4%

2017 37,7% 51,5% 56,5% 27,4% 25,5% 33,2%

2018 36,5% 50,4% 55,7% 26,5% 23,7% 31,0%

2019 36,0% 50,4% 54,8% 26,4% 23,0% 29,8%

2020 35,9% 50,1% 54,3% 26,5% 23,0% 29,6%

2021 36,7% 50,2% 54,9% 27,6% 24,1% 30,7%

2022 42,3% 58,3% 62,1% 32,7% 27,5% 37,1%

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social - Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (Sagi). População de referência: Estimativas populacionais
produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e enviadas ao Tribunal de Contas da União (TCU), estratificadas por idade pela Fundação
Abrinq.

O cálculo da proporção de indivíduos residentes no e da proteção social sofreu entre os anos de


Brasil e que se encontram no CadÚnico é capaz de 2015 e 2020, tendo a proporção nacional saído
ilustrar, mesmo que de maneira menos específica, as de aproximadamente dois em cada cinco (39,6%)
reduções que a política de expansão da assistência indivíduos, em 2015, a pouco mais de um terço

20
(35,9%), em 2020, ainda mais se considerarmos o mais intensas na proporção de indivíduos cadastrados
período de crise econômica enfrentada pelo país. ocorreram nas Regiões Norte e Nordeste, que são
aquelas em que a pobreza e a pobreza extrema são
Os dois últimos anos da série (2021 e 2022), em especial proporcionalmente mais elevadas. Entre 2021 e 2022, a
o último ano, contrariam a tendência verificada na proporção de pessoas no CadÚnico se elevou em 8,2 e
proporção de cadastros desde 2015. Em todas as 7,1 pontos percentuais, respectivamente.
regiões do país, a extensão de cadastros aumentou
em ao menos 3,4 pontos percentuais, como na Região
Sul. Merece menção, mais uma vez, a capacidade
de focalização que este instrumento representa,
principalmente quando se observa que as elevações

Gráfico 11. Proporção de pessoas que informaram ter recebido


rendimentos de programas sociais — Brasil, 2016 a 2022

Benefício Assistencial de Prestação Programa Bolsa Família Rendimentos de outros Previdência Federal (INSS), estadual, municipal,
Continuada (BPC) (PBF) programas sociais do governo ou do governo federal, estadual, municipal
50%

40%

30%

20%
14,1% 14,1% 14,6% 14,7% 13,3%
12,4% 12,6%
10,0%
10%
4,8% 4,6% 4,7% 4,7% 5,8% 5,9%
2,5% 2,9%
1,2% 0,3% 1,2% 0,3% 1,3% 0,3% 1,4% 0,2% 1,1% 1,2% 1,4% 0,5%
0%
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

As pesquisas domiciliares por amostra, neste caso a ou rendimentos de origem previdenciária — como os
Pnad Contínua, são também outra fonte de recuperação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
das informações de indivíduos que recebem alguma
renda oriunda de programas sociais do governo — Antes, entretanto, são necessárias algumas ressalvas
como o BPC e o PBF, e os outros programas sociais — sobre a capacidade de as pesquisas domiciliares por

21
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

amostra captarem a real dimensão dos domicílios Cabe considerar, também, as especificidades de cada
que recebam rendimentos de algum programa um dos programas, principalmente seus critérios de
social ou benefícios previdenciários, como informa transferência.
o Ipea: [...] é possível notar o quanto as pesquisas
domiciliares – seja a antiga Pnad ou a nova Pnad No primeiro grupo reúnem-se o Benefício Assistencial
Contínua – subestimam o número de beneficiários de Prestação Continuada (BPC) e as transferências da
do PBF, gerando estimativas entre 30% e 35% Previdência Social (INSS), que concedem transferências
menores. [...] Curiosamente, nem o novo desenho de um salário-mínimo a seus beneficiários. A divergência
amostral nem a existência de perguntas específicas neste grupo encontra-se no critério de concessão do
sobre o PBF no questionário padrão da nova Pnad BPC, segundo o Ipea:
Contínua alteraram o grau de subestimação, que
continua em torno de 4 milhões de famílias. Evidentemente, cabe sempre ressaltar que os
objetivos e preceitos que regem as transferências
Esse padrão não é exclusivo do PBF. No Brasil, o BPC previdenciárias e assistenciais vinculadas ao salário-
também é subestimado nas PNADS, em grau até mínimo não são idênticos aos do PBF. Mais ainda,
maior que o PBF. Mais ainda, isso ocorre no mundo mesmo entre as transferências de um salário-mínimo
todo: por muitas razões, que vão desde o estigma há heterogeneidade, por exemplo, entre o BPC, que é
até a confusão entre os benefícios, transferências focalizado em idosos e pessoas com deficiência pobres,
assistenciais são quase sempre subnotificadas em e os benefícios previdenciários, que não são focalizados
pesquisas domiciliares (IPEA, 2019, TPD 2.499, p. 23). nesses públicos (IPEA, 2019, TPD 2.499, p. 23).

22
Pela especificidade de seu critério de concessão, O PBF adotou duas linhas de elegibilidade (de
não surpreende o fato de ter o BPC apresentado pobreza e pobreza extrema), que deram acesso a
estabilidade na proporção de beneficiários entre 2016 benefícios distintos. Apenas famílias em pobreza
e 2022. Essa estabilidade, entretanto, não informa se o extrema tinham acesso a um benefício básico, de
alcance da população que se adequa aos critérios de valor único, para todos. Famílias em situação de
concessão dos benefícios é integral ou se aproxima da pobreza e de pobreza extrema também poderiam
integralidade de cobertura. receber benefícios variáveis, caso tivessem
crianças de até 15 anos de idade (até o limite de
Entre os anos de 2016 e 2019, se verifica a mesma três, depois cinco, por família). Em 2007, surgiu o
estabilidade na proporção da população a Benefício Variável Vinculado ao Adolescente (BVJ),
receber benefícios previdenciários (contributivos), pago a famílias com jovens entre 16 e 17 anos (até
considerando que estas transferências também são o limite de dois por família). Entre 2012 e 2013, o
concedidas mediante critérios específicos. Nos últimos Benefício de Superação da Extrema Pobreza (BSP)
três anos da série histórica (de 2020 a 2022), esses foi criado: trata-se de uma transferência de valor
percentuais apresentam variações influenciadas pela variável e que eleva a renda dos beneficiários até
dinâmica explicitada na primeira seção deste retrato, certo ponto (isto é, um benefício do tipo top-up),
onde os rendimentos de ‘‘outros programas sociais’’, permitindo que superem a pobreza extrema (IPEA,
incluídos aqueles do Auxílio Emergencial, saltam dos 2019, TPD 2.499, p. 9).
0,2% da população, em 2019, aos 10%, em 2020. Isso
também teve efeito nos demais programas sociais Em seguida, o instituto informa as razões pelas quais
de transferência de renda focalizados (como o PBF) o PBF, considerado seu papel enquanto parte do
durante o período, no qual o Auxílio Emergencial instrumento de registro administrativo representado
acabou por substituir parte dos demais programas, pelo CadUnico, é o programa brasileiro com a maior
exceto os previdenciários (do pilar contributivo). capacidade de focalização dos indivíduos em situação
de baixos rendimentos (pobreza e pobreza extrema):
Mesmo que o percurso das proporções de indivíduos
que informaram ter recebido alguma renda do PBF O PBF, por sua vez, funciona a partir da combinação
obedeça ao mesmo padrão de estabilidade dos de quatro filtros. Primeiro, as famílias declaram sua
rendimentos previdenciários, entre os anos de 2016 e renda ao preencher ou atualizar suas informações
2019, e a mesma influência das transferências de outros cadastrais. Depois, as rendas autodeclaradas são
programas do governo de 2020 a 2021, este programa verificadas por batimentos com diversos outros
difere daqueles mencionados anteriormente em relação registros administrativos do governo federal: nos
a seus critérios de concessão, como explica o Ipea: últimos anos, o procedimento passou a ser feito antes

23
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

mesmo da concessão. Em seguida, a concessão do O último aspecto que merece menção, principalmente
benefício está subordinada a cotas municipais, isto é, em relação ao PBF, se encontra na elevação, de
estimativas do número de famílias pobres em cada aproximadamente o dobro, da proporção das pessoas
município. Uma vez que a cota de um município é que informaram receber rendimentos desse programa
atingida, as concessões tornam-se menos frequentes, entre 2021 e 2022, de 2,9% a 5,9%. Essa elevação
o que gera pressão sobre a gestão municipal para também se materializa nos dados de indivíduos
que melhore sua focalização (Barros et al., 2008). cadastrados no CadÚnico (gráfico 10, pág. 23) e foi
Finalmente, há publicidade do nome dos beneficiários acompanhada pelo aumento do rendimento médio
tanto nas unidades locais de atendimento da dos repasses pela primeira vez em dois anos, de
assistência social como pela internet, por meio do R$ 400,00, em 2021, a R$ 533,00, no último ano da
Portal da Transparência (IPEA, 2019, TPD 2.499, p. 9). série histórica.

24
ODS 2 – Acabar com a fome,
alcançar a segurança alimentar
e melhoria da nutrição, e
promover a agricultura
sustentável

25
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Para o monitoramento da Meta 2.2, a Fundação Abrinq


utiliza os indicadores gerados pelo Sistema de Vigilância
Meta 2.2
Alimentar e Nutricional (Sisvan): crianças com menos Até 2030, erradicar as formas
de 5 anos de idade em situação de desnutrição crônica de má-nutrição relacionadas à
(altura baixa ou muito baixa para a idade), desnutrição desnutrição, reduzir as formas
grave (peso baixo ou muito baixo para a idade) e de má-nutrição relacionadas ao
obesidade (calculado através do índice de Massa sobrepeso ou à obesidade, prevendo
Corpórea (IMC)). Esta ferramenta tem o objetivo principal o alcance até 2025 das metas
de realizar o acompanhamento da situação alimentar acordadas internacionalmente sobre
e nutricional, bem como produzir diagnósticos das desnutrição crônica e desnutrição
condições de agravos e fatores de risco da população aguda em crianças menores de 5
atendida nos serviços da Atenção Básica no Brasil anos de idade, e garantir a segurança
(Sisvan, 2017, p. 6). alimentar e nutricional de meninas
adolescentes, mulheres grávidas e
lactantes, pessoas idosas e povos e
comunidades tradicionais.

Gráfico 12. Proporção de crianças de até 5 anos em situação de desnutrição crônica (com altura baixa ou
muito baixa para a idade) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


30%

25%

20%

15%

10%

5%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus)/Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan).

26
Tabela 5. Crianças de até 5 anos em situação de desnutrição crônica (com altura baixa ou muito baixa para a
idade) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 575.548 616.987 619.555 659.784 659.829 490.272 526.701 741.085
Região Norte 107.537 112.915 120.465 126.895 129.293 86.224 89.870 123.840
Região Nordeste 237.378 251.264 253.983 280.868 284.860 186.112 212.300 281.825
Região Sudeste 150.378 162.910 157.328 162.053 158.871 143.381 137.024 198.739
Região Sul 52.495 58.550 54.881 54.031 49.937 48.000 58.450 84.673
Região Centro-Oeste 27.760 31.348 32.898 35.976 36.868 26.555 29.057 52.008

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus)/Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan).

O primeiro indicador de crianças de até 5 anos de brasileiras. Considerados apenas os resultados relativos
idade em situação de desnutrição crônica é aquele em (proporcionais), a Região Norte é aquela em que a
que os resultados brasileiros são mais preocupantes desnutrição crônica é a mais elevada do país, ainda que
e representam a forma de desnutrição de mais difícil tenha apresentado queda de aproximadamente 10,9%
recuperação entre aqueles que a sofreram. Na média entre 2020 e 2022, encerrando este último ano com 15,4%
dos oito anos de série histórica (2015 a 2022), 12,6% das crianças acompanhadas pela Atenção Básica em
das crianças desta faixa etária acompanhadas pelo situação de desnutrição crônica, mais de 123 mil indivíduos.
Sisvan foram identificadas a esta situação nutricional.
Em termos absolutos, esta proporção representa Mesmo que as concentrações dos resultados da
4,8 milhões de crianças na média do mesmo período. desnutrição crônica sejam diversas, mais elevadas na
Região Nordeste (com média 17,7% na série histórica) do
Ao longo da série, o país apresentou aumento constante que na Região Centro-Oeste (com média de 11,7% no
desta forma de desnutrição entre 2015 e 2019, este mesmo período), ambas apresentam crescimento constante
último sendo o ano em que a proporção de crianças nesta entre os anos de 2015 e 2019, quedas nestas proporções a
situação atingiu seu pico (13,4%). A partir de 2020, esta partir de 2020 e estabilidade nos dois últimos anos da série
proporção apresenta queda de 10,7% até o ano de 2021 e histórica (2021 e 2022). A literatura especializada indica que
aumento de pouco menos de 1% no ano seguinte (2022). essa queda nos indicadores no período mais recente pode
ter sido diretamente influenciada pelo agravamento da
Pela provável relação que este indicador mantém com a crise econômica e os efeitos da pandemia, “transferindo” o
situação dos rendimentos domiciliares, ficam expostas problema da desnutrição crônica para a obesidade.
de modo tão evidente as desigualdades regionais

27
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Nas regiões restantes, Sudeste e Sul, os resultados da nesta situação. Nos anos seguintes, o indicador estabilizou
desnutrição crônica são mais estáveis até 2019, com exceção as proporções em patamares superiores aos verificados
do aumento de 5,6% entre 2015 e 2016 na primeira destas antes da pandemia. Já a Região Sudeste encerrou o ano de
regiões. Na Região Sul, a desnutrição crônica entre crianças 2022 com aumento de 6,3% em relação aos resultados da
de até 5 anos de idade atingiu o pico no ano de 2020, desnutrição crônica em 2021, ainda que com proporções
tendo o indicador alcançado 10,4%, mais de 48 mil crianças inferiores àquelas que se verificavam antes de 2019.

Gráfico 13. Proporção de crianças de até 5 anos em situação de desnutrição grave (com peso baixo ou muito
baixo para a idade) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


10%

8%

6%

4%

2%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus)/Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan).

Tabela 6. Crianças de até 5 anos em situação de desnutrição grave (com peso baixo ou muito baixo para
a idade) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 183.517 203.879 212.314 208.194 204.146 162.786 193.227 257.290
Região Norte 34.948 36.477 41.113 39.250 39.104 26.318 29.404 37.969
Região Nordeste 74.434 78.972 77.175 84.592 87.443 61.602 78.947 102.473
Região Sudeste 50.325 60.411 65.238 59.242 52.051 50.471 54.959 73.716
Região Sul 15.384 17.886 18.418 14.686 13.914 15.535 19.411 25.567
Região Centro-Oeste 8.426 10.133 10.370 10.434 11.634 8.860 10.506 17.565

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus / Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan).

28
O indicador da desnutrição grave (crianças de até 5 anos grave da média nacional. Em outras palavras, mesmo
de idade com peso baixo ou muito baixo para a idade) as regiões que verificaram queda neste indicador,
traduz a situação de deficiência de calorias e nutrientes como Sudeste e Centro-Oeste, encerraram o ano
essenciais em sua forma extrema, e pode se associar de 2022 com proporções equivalentes de crianças
ao desenvolvimento de outras formas de desnutrição, nesta situação. Outro exemplo desta tendência de
como a crônica. Apesar da urgência, a desnutrição aproximação são as Regiões Norte e Nordeste; a
grave pode ser revertida se diagnosticada e tratada primeira delas, de um lado, apresentou queda nos
corretamente. Por estas razões, e também pela relação últimos três anos da série (2020 a 2022), e de outro,
que este indicador mantém com a renda da população, ainda manteve a maior concentração de crianças com
é que se observa, de um lado, a estabilidade das peso baixo ou muito baixo para a idade ao longo
proporções nacionais da desnutrição grave, e de outro, de todos estes anos; e a segunda tem observado
as acentuadas variações regionais. o aumento nestas proporções desde 2019. Ambas
terminaram o último ano com 4,7% das crianças
Nos oito anos de série histórica disponível, 4,2% das acompanhadas em situação de desnutrição grave (ou
crianças de até 5 anos de idade acompanhadas pelo em déficit ponderal).
Sisvan encontravam-se em situação de desnutrição
grave no Brasil. Em termos absolutos, esta proporção Por último, a Região Sul, que teve os mais baixos
média representa mais de 203 mil indivíduos em percentuais de desnutrição grave de todos os anos
privação alimentar e nutricional. selecionados, também observou crescimento no
indicador nos anos em que a pandemia figurou como
A trajetória do indicador pelas regiões do país emergência sanitária (2020 e 2021), e no último ano da
demonstra, principalmente a partir de 2019, uma série teve 2,9% das crianças com menos de 5 anos de
tendência preocupante de aproximação da desnutrição idade na forma mais grave de desnutrição.

Gráfico 14. Proporção de crianças de até 5 anos em situação de obesidade (relação entre Índice de Massa
Corpórea (IMC) e idade) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


10%

5%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus)/Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan).

29
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Tabela 7. Crianças de até 5 anos em situação de obesidade (relação entre Índice de Massa Corpórea (IMC) e
idade) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 349.079 391.414 340.428 349.180 343.530 279.138 343.290 400.865
Região Norte 39.645 46.778 39.504 40.752 41.597 34.043 38.634 48.432
Região Nordeste 156.267 180.259 161.179 169.470 169.448 115.408 152.953 176.125
Região Sudeste 98.978 103.839 86.936 86.634 84.998 85.435 91.970 100.834
Região Sul 37.166 41.143 35.866 34.919 30.884 30.284 43.340 51.339
Região Centro-Oeste 17.023 19.395 16.943 17.405 16.603 13.968 16.393 24.135

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus)/Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan).

O último dos indicadores dirigidos ao monitoramento observado crescimento dos percentuais da obesidade
da Meta 2.2 dos Objetivos de Desenvolvimento no período analisado (2020 e 2021), a exceção da
Sustentável (ODS) expõe uma relação entre desnutrição tendência da Região Norte é a estabilidade que
e qualidade nutricional. As proporções nacionais da apresentou das proporções da obesidade entre
obesidade na infância, e em todas as regiões do país, crianças com menos de 5 anos de idade.
revelam o aumento desta situação nutricional durante
os anos em que a pandemia de Covid-19 foi emergência
sanitária mundial, tendo também tanto o Brasil como as
Grandes Regiões queda nestas proporções em 2022.

Entre 2020 e 2021, algumas regiões do país, como


Nordeste e Sul, observaram o indicador da obesidade
de crianças acompanhadas pelo Sisvan aumentar no
último destes anos. Merece menção o fato de ter a
Região Nordeste as proporções mais concentradas
da obesidade entre menores de 5 anos de idade
em todos os anos da série. Em sentido contrário,
as Regiões Sudeste e Centro-Oeste, depois de um
crescimento menos intenso do que aquele verificado
nas regiões anteriores (Nordeste e Sul), este indicador
apresentou queda em 2021. Apesar de também ter

30
ODS 3 – Assegurar uma vida
saudável e promover o bem-estar
para todos, em todas as idades

31
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que


pretende assegurar uma vida saudável e promover
Meta 3.1
o bem-estar para todos, em todas as idades talvez Até 2030, reduzir a razão de mortalidade
tenha sido aquele em que os impactos da pandemia materna para no máximo 30 mortes por
de Covid-19 sejam mais nítidos. As influências destes 100 mil nascidos vivos.
impactos e as possibilidades de identificar seus alcances
serão mencionadas, meta a meta, ao longo das análises
desta seção. Desde o início da década de 1990, período de referência
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), o
Além dos impactos da Emergência de Saúde Pública Brasil reconhece a necessidade de priorizar as ações de
de Importância Internacional, cabe mencionar, prevenção e redução da mortalidade materna4. Dentre
como já é consenso na literatura especializada, a todos os objetivos com os quais o país se comprometeu
importância que o Sistema Único de Saúde (SUS) àquela época, a razão da mortalidade materna foi o
representou e representa nos progressos brasileiros único não atingido.
em saúde, qualidade e expectativa de vida nos
últimos 35 anos. De 2015 a 2019, período que cobre o início da Agenda
2030 e o ano imediatamente anterior à pandemia, a
razão da mortalidade materna brasileira teve média de
Gráfico 15. Razão da mortalidade materna (para 57,3 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos, revelando
cada 100 mil nascidos vivos) — Brasil, 2015 a 2021 uma tendência de estagnação no período. Este resultado
era cinco vezes mais elevado do que aquele indicado
Brasil Meta Nacional dos Objetivos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para
de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
considerar a mortalidade materna enquanto fenômeno
120 113,2
controlado (10 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos),
100

80
e pelos menos 20 pontos acima da Meta Nacional 3.2 (30
72,0

60
57,6 58,4 58,8 56,3 55,3 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos).
40 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0

20
4
Objetivo 5 — Melhorar a Saúde da Gestante: Este é o ODS que o Brasil tem
0 mais dificuldade de atingir. O país melhorou, mas ainda não alcançou a meta
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 de reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a razão da mortalidade materna.
Segundo estimativas da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério
da Saúde, a razão da mortalidade materna era de 141 para cada 100 mil
nascidos vivos, em 1990, e declinou para 68 para cada 100 mil nascidos vivos,
Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/ em 2010. Entre janeiro e setembro de 2011, a mortalidade materna diminui
Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE)/ 21%. Ocorreram 1.038 óbitos por complicações na gravidez e no parto, contra
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema Nacional de 1.317 no mesmo período de 2010. A meta é atingir 35 óbitos para cada 100 mil
Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc). nascidos vivos em 2015 (http://www.odmbrasil.gov.br/o-brasil-e-os-odm).

32
É neste contexto que o Brasil, em 20 de março de 2020, cardiovasculares, o que mais chamou a atenção nesse
reconhece o estado de calamidade pública, ocasionado estudo foram as graves falhas de assistência: 15%
pela pandemia de Covid-19. Dentre os primeiros países das mulheres não tinham recebido qualquer tipo de
a terem surtos da doença — China, Japão, Coreia do Sul assistência ventilatória, 28% não tiveram acesso a
e Singapura, e posteriormente França e Itália (SOUZA, leito de unidade de terapia intensiva (UTI) e 36% não
AMORIM, 2021), todos apresentam baixas taxas de foram intubadas nem receberam ventilação mecânica.
natalidade e razão da mortalidade materna inferiores aos
dez óbitos para cada 100 mil nascidos vivos, (sendo a Esse conjunto de dinâmicas sugere que a elevação
China a única exceção, com razão de aproximadamente da razão da mortalidade materna, já em 2020, foi um
18 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos). Esse cenário dos impactos verificáveis da pandemia no Brasil e já
dificultou a identificação de gestantes e mulheres em fase davam sinais evidentes dos riscos da doença entre
de puerpério aos grupos de risco elaborados no início da gestantes e puérperas.
pandemia no contexto desses países.
No ano seguinte, a emergência sanitária se agravou e
Aliados aos elementos que sobrecarregaram os sistemas 61,5% dos óbitos por Covid-19 contabilizados entre 2020
de saúde brasileiros durante a pandemia, ao quadro e 2021 ocorreram neste último ano. Acompanhando esta
já acentuado da mortalidade materna no Brasil e às tendência, a razão da mortalidade teve novo aumento
condições corporais especiais da mulher durante a de 57%, de 72 óbitos, em 2020, a 113,2 óbitos para cada
gestação e puerpério, as primeiras observações já 100 mil nascidos vivos, em 2021. O indicador neste ano,
eram feitas, em abril de 2020, a respeito dos riscos das quando comparado à média de 2015 a 2019 (57,3), resulta
gestantes em relação à Covid-19, como informam Souza em uma proporção dez vezes superior, corroborando para
e Amorim (2020, p. S258): a identificação da influência da pandemia neste indicador.

Em um estudo amplamente divulgado analisando


dados da planilha do Sistema de Informações
de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep
Gripe), disponível pelo Ministério da Saúde (MS),
encontrou-se que 978 gestantes e puérperas
foram diagnosticadas com Síndrome Respiratória
Aguda Grave (SRAG) por Covid-19 e dessas 124
foram a óbito (taxa de letalidade de 12,7%). Embora
tivesse sido encontrada associação de óbito com
comorbidades como obesidade, diabetes e doenças

33
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Gráfico 16. Razão da mortalidade materna (para cada 100 mil nascidos
vivos) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Meta Nacional dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

150 141,6 137,1

113,2
109,4 104,5 106,1

94,5
100

85,9
76,8

74,2
74,3
72,0

72,5

72,0

68,5
67,6
66,7

65,8

65,1
62,7

62,6

61,4
58,4

59,4
58,8

59,4
58,2
57,6

56,4
56,3
55,3

52,8
52,7
53,7

52,7

52,0
43,2
40,8
40,1
50

38,1
36,9
36,0
30,0 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0
0
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE)/Sistema de Informações
sobre Mortalidade (SIM) e Sistema Nacional de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

A desagregação regional da razão da mortalidade


Meta 3.2
materna, já exposto o histórico nacional no período
de referência da Agenda 2030 e da pandemia de Até 2030, enfrentar as mortes evitáveis
Covid-19, demonstra tanto o distanciamento de todas de recém-nascidos e crianças menores
as regiões do país do cumprimento da Meta 3.1 como de 5 anos de idade, objetivando
a aproximação dos resultados das regiões entre si. reduzir a mortalidade neonatal para no
As Regiões Sul e Centro-Oeste foram aquelas que máximo cinco por mil nascidos vivos
observaram as elevações mais acentuadas nos dois e a mortalidade de crianças menores
últimos anos da série histórica, de aproximadamente de 5 anos para no máximo oito por mil
145,5% e 84,8%, respectivamente. No extremo aposto, nascidos vivos.
a Região Nordeste foi aquela que demonstrou o menor
crescimento nestes anos, de 27,3%.

Tendo em vista a ausência de uma coordenação


nacional na resposta à pandemia, as diferentes medidas
adotadas pelos estados e municípios por todo país
podem ter impactado de formas distintas o indicador
desagregado por região, gerando resultados que fogem
ao padrão regional anterior.

34
Gráfico 17. Taxa de mortalidade infantil e neonatal (para cada mil nascidos vivos) — Brasil, 2015 a 2021

Taxa de mortalidade infantil Taxa de mortalidade neonatal Meta Nacional dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
15
12,4 12,7 12,4 12,2 12,4
11,5 11,9

10 8,8 8,8 8,8 8,5 8,6 8,3 8,4

5,0 5,0 5,0 5,0 5,0 5,0 5,0


5

0
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE)/Sistema de Informações
sobre Mortalidade (SIM) e Sistema Nacional de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

A trajetória brasileira na prevenção e redução dos número de nascidos das últimas três décadas, tanto
óbitos infantis é de êxito. Nos 25 anos de referência em 2020 como em 2021, como informa o Instituto
dos ODM, de 1990 a 2014, a taxa de mortalidade de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):
crianças de até 1 ano de idade foi reduzida em 72,6%,
de 47,1, neste primeiro ano, a 12,9 óbitos para cada mil O número de óbitos dos menores de 1 ano
nascidos vivos, no último. de idade declinou 13,9% entre 2019 e 2020,
representando uma diminuição de 4.190 óbitos
De 2015 em diante, essas taxas demonstram menores de 1 ano de idade, frente a uma redução
estagnação, com oscilações nos três últimos anos. Na de 1,6% no período de 2018 e 2019 (redução de 490
média deste período, a taxa de mortalidade infantil foi óbitos). Esse fato pode estar relacionado tanto com
de 12,2 óbitos para cada mil nascidos vivos, sendo que a diminuição dos níveis de mortalidade como com
mais de 70,5% destes óbitos ocorreu entre crianças o menor número de filhos nascidos no último ano
que não completam seu primeiro mês de vida (taxa de (Estatísticas do Registro Civil, 2020, p. 8).
mortalidade neonatal). Para atingir a Meta Nacional
3.2, seria necessária uma redução da taxa de 0,8 ponto
ao ano até 2030.

Pela influência que exerce em relação ao cálculo


deste indicador, merece menção na análise da taxa
de mortalidade infantil, especialmente nos últimos
dois anos da série histórica, a acelerada redução
dos nascimentos nestes dois anos, gerando o menor

35
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Gráfico 18. Taxa de mortalidade infantil (para cada mil nascidos vivos) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Meta Nacional dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

18

16

14

12

10

6
5,0 5,0 5,0 5,0 5,0 5,0

0
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE)/Sistema de Informações
sobre Mortalidade (SIM) e Sistema Nacional de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

Em função do estímulo à redução das desigualdades, do cumprimento da Meta 3.2, ainda tem taxa de
a distribuição regional da taxa de mortalidade infantil mortalidade infantil de pouco menos que o dobro desta
ao longo da série histórica tem a capacidade de meta (de cinco óbitos de crianças com menos de 1 ano
dimensionar o desafio brasileiro na prevenção e redução de idade para cada mil nascidos vivos).
das mortes de crianças antes de seu primeiro ano de
Gráfico 19. Taxa de mortalidade na infância (para
vida. Nesse raciocínio, e considerando as influências da
cada mil nascidos vivos) — Brasil, 2015 a 2021
pandemia na queda dos nascimentos e o aumento da
Brasil Meta Nacional dos Objetivos
mortalidade no último ano da série, as Regiões Norte de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
16 14,9
e Nordeste são aquelas em que o desafio persiste de 14
14,3 14,4 14,2 14,4
13,2 13,8

modo mais acentuado do que no restante do país. 12


10
8,0 8,0 8,0 8,0 8,0 8,0 8,0
8

Na média da série histórica selecionada, as Regiões 6


4
Sudeste e Centro-Oeste tiveram taxas de mortalidade 2

infantil próximas, de 11,2 e 11,8, respectivamente. Ao 0


2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
longo dos anos, entretanto, a tendência de redução
Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/
deste indicador na Região Centro-Oeste é mais lenta. Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE)/
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema Nacional de
A Região Sul, sendo aquela que mais se aproxima Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

36
O mesmo histórico de êxito entre os anos de 1990 e 2014, Do mesmo modo, de 2015 a 2021, esse indicador
em que o Brasil se dedicou ao cumprimento das metas também apresenta estagnação, com taxa média de 14,2
dos ODMs, é verificado na redução da mortalidade de óbitos de crianças de até 5 anos de idade, excetuada
crianças com menos de 5 anos de idade. No primeiro ano a mesma oscilação nos dois últimos anos. Também
deste período, a taxa de mortalidade na infância era de 53,7 se aplica a este indicador a ressalva de interpretação
óbitos, enquanto que em 2014 essa taxa resultou em 14,9 relativa à queda dos nascimentos em 2020 e em 2021.
óbitos para cada mil nascidos vivos, uma redução de 72,2%.

Gráfico 20. Taxa de mortalidade na infância (para cada mil nascidos vivos) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Meta Nacional dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

20

18

16

14

12

10

8,0 8,0 10,2% 8,0 8,0 8,0 8,0


8

0
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Ministério da Saúde (MS /Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE)/Sistema de Informações
sobre Mortalidade (SIM) e Sistema Nacional de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

Do mesmo modo e com a mesma tendência de aumento As Regiões Sudeste e Sul, com as das taxas de mortalidade
no último ano da série, as taxas de mortalidade na na infância mais baixas do país, têm, respectivamente,
infância, quando observadas pelas Grandes Regiões do médias de 12,9 e 11,4 óbitos de crianças com menos de
Brasil, distribuem-se de modo semelhante às taxas de 5 anos de idade para cada mil nascidos vivos na série
mortalidade infantil, com algumas diferenças. Os óbitos histórica selecionada. Entre as duas, contudo, a Região Sul
de menores de 5 anos de idade da Região Centro-Oeste, é aquela que mais se aproxima do cumprimento da Meta
neste caso, se aproximam mais dos resultados verificados 3.2, ainda que todas elas estejam muito acima da meta de
nas Regiões Nordeste e Norte. cinco óbitos para cada mil nascidos vivos.

37
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Meta 3.4
Até 2030, reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via
prevenção e tratamento, promover a saúde mental e o bem-estar, a saúde do trabalhador e
da trabalhadora, e prevenir o suicídio, alterando significativamente a tendência de aumento.

Gráfico 21. Taxa de óbito de crianças e adolescentes de até 19 anos de idade por suicídio (para cada
100 mil habitantes) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021
3,5
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
2,9 2,9
3,0
2,7 2,7 2,7 2,7
2,6 2,6
2,5 2,4
2,5
2,3
2,1 2,2 2,2
2,0 2,1 2,0 2,0
2,0 1,9
1,8
1,7
1,6 1,6
1,5 1,5 1,5 1,5
1,5 1,4
1,3 1,3 1,3 1,3 1,3
1,2 1,2
1,1 1,1 1,1 1,1 1,1
0,9 1,0
1,0

0,5

0,0
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE)/Sistema de Informações
sobre Mortalidade (óbitos). População de referência: Estimativas populacionais enviadas para o Tribunal de Contas da União (TCU) pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), estratificadas por idade pela Fundação Abrinq.

Ao longo da série histórica, as taxas de suicídio de As regiões mais populosas do país, Sudeste e Nordeste,
crianças e adolescentes de até 19 anos de idade apresentam as menores taxas de suicídio do período.
demonstram tendência de constante aumento no Brasil, Apesar destes resultados, ambas as regiões obedecem
especialmente nos últimos três anos, entre 2019 e 2021. ao mesmo padrão nacional de incremento desta
A desigual distribuição regional destes óbitos demonstra mortalidade. Cabe destacar também que, apesar da
cenários preocupantes em três das cinco regiões do situação ter sido agravada pela pandemia da Covid-19,
país: Norte, Sul e Centro-Oeste, sendo que esta última a tendência de crescimento desse índice já era
apresenta a taxa média mais elevada do período. Juntas, identificada desde o ano de 2017.
estas regiões partilham de média de 2,3 suicídios de
crianças e adolescentes para cada 100 mil habitantes
nesta faixa etária.

38
Meta 3.7
Até 2030, assegurar o acesso universal aos serviços e insumos de saúde sexual e reprodutiva,
incluindo o planejamento reprodutivo, informação e educação, bem como a integração da
saúde reprodutiva em estratégias e programas nacionais.

Gráfico 22. Proporção de nascidos vivos de mães adolescentes — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021

30%

20%

10%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 18,2% 25,6% 21,3% 15,0% 15,4% 17,5%

2016 17,5% 24,8% 21,1% 14,3% 14,4% 16,9%

2017 16,5% 23,7% 20,0% 13,3% 13,1% 15,5%

2018 15,5% 22,9% 18,7% 12,4% 12,2% 14,6%

2019 14,7% 22,1% 17,8% 11,6% 11,4% 14,2%

2020 14,0% 21,4% 17,0% 11,0% 10,5% 13,5%

2021 13,6% 21,2% 16,5% 10,5% 10,1% 13,3%

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE)/Sistema
Nacional de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

39
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

A proporção de nascidos vivos de mães com menos de Neste indicador, como em outros, a distribuição
19 anos de idade é complementar ao monitoramento regional revela um quadro de desigualdade dos
da Meta 3.7, na medida em que informa, de um nascimentos precoces nas Regiões Norte e Nordeste,
lado, a possibilidade de que métodos contraceptivos especialmente na primeira destas, que também
estejam sendo mais utilizados e, de outro, um também demonstrou a redução mais lenta quando considerado
possível aumento do planejamento reprodutivo e da o período de 2015 em diante. Nas regiões restantes,
prevenção da gravidez precoce. Por este raciocínio, a redução dos nascimentos de mães adolescentes foi
nos 15 primeiros anos do século (de 2000 a 2014), mais veloz, de 30% na Região Sudeste, 34% na Região
crianças nascidas de mães com menos de 19 anos Sul e 24% na Região Centro-Oeste.
apresentaram queda de 19,2% — de 23,4% de nascidos
de mães adolescentes, em 2000, a 18,9%, em 2014. A Um último aspecto que merece menção são as ocorrências
partir de 2015, a redução destes nascimentos foi mais de nascimentos de mães com menos de 10 anos de idade.
acelerada (de aproximadamente 25,3%) e, em 2021, De 2015 a 2021, ocorreram dez casos de crianças que se
atingiu o valor mais baixo de toda a série histórica tornaram mães antes de atingirem a adolescência, nos
disponível, de 13,6%. anos de 2015 (um nascimento), 2016 (quatro nascimentos),
2019 (três nascimentos) e 2021 (dois nascimentos).

Meta 3.8
Assegurar, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), a cobertura universal de saúde,
o acesso a serviços essenciais de saúde de qualidade em todos os níveis de atenção e o
acesso a medicamentos e vacinas essenciais seguros, eficazes e de qualidade que estejam
incorporados ao rol de produtos oferecidos pelo SUS.

40
Gráfico 23. Cobertura de vacinas por imunobiológicos — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 95,1% 83,1% 95,4% 98,5% 94,2% 94,4%

2016 50,4% 48,2% 48,0% 49,0% 55,6% 60,9%

2017 72,9% 66,2% 70,1% 74,6% 77,4% 76,1%

2018 77,1% 69,1% 74,0% 79,1% 81,4% 81,9%

2019 73,4% 72,8% 69,2% 72,7% 81,9% 78,2%

2020 68,1% 61,5% 62,5% 68,9% 79,2% 73,3%

2021 61,5% 55,4% 58,2% 62,2% 69,8% 64,5%

2022 67,9% 63,0% 68,5% 65,8% 74,2% 71,9%

Fonte: Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) - Assistência
à Saúde - Imunizações – Cobertura.

O ano de 2016 representa um marco negativo da pelas imunizações. Nas Regiões Norte, Nordeste e
cobertura de imunizações no Brasil. Nos seis anos Sudeste estas médias resultam em proporções pouco
anteriores, de 2010 a 2015, a cobertura média de superiores a dois terços (67,5%) da população nesta
vacinas, que era de 81,9%, caiu a 67,3% na média dos última região, e um pouco inferiores à esta proporção
anos seguintes (de 2016 a 2022). nas duas primeiras (62,3% na Região Norte e 64,4% na
Região Nordeste).
A distribuição deste indicador pelas Grandes Regiões
do país também demonstra desigualdades, ainda
que menos acentuadas. As Regiões Centro-Oeste e
Sul são aquelas que tiveram as maiores médias da
cobertura vacinal a partir da queda de 2016, com mais
de três em cada quatro habitantes (75,8%) cobertos

41
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Gráfico 24. Cobertura de vacinas por imunobiológicos de menores


de 1 ano de idade — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 89,7% 79,8% 89,2% 92,4% 90,7% 90,3%

2016 80,1% 72,5% 76,2% 81,0% 84,1% 92,3%

2017 77,9% 72,6% 75,0% 79,2% 82,1% 81,2%

2018 81,3% 73,9% 78,8% 83,2% 83,9% 86,4%

2019 76,7% 77,2% 72,6% 75,5% 84,5% 82,0%

2020 71,1% 65,5% 65,6% 71,4% 82,1% 76,7%

2021 65,1% 58,8% 61,8% 65,7% 73,2% 68,2%

2022 71,4% 66,8% 72,1% 69,4% 77,1% 75,2%

Fonte: Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) - Assistência
à Saúde - Imunizações – Cobertura.

Para o grupo de imunizações fornecidas a crianças de até as maiores coberturas de vacinas a crianças de até 1 ano de
1 ano de idade, verifica-se a mesma tendência de queda idade nesse período, de 78,3% e 80,5%, respectivamente.
nas proporções de acesso em todas as regiões do Brasil. Nas Regiões Norte, Nordeste e Sudeste, estas respectivas
Enquanto a cobertura média de imunizações de crianças proporções médias resultam em 69,1%, 71% e 74,1%.
nesta faixa etária entre 2010 e 2015 resultava em 86,7%,
nos sete anos seguintes (de 2016 a 2022) essa proporção As acentuadas quedas observadas no índice, a partir
média teve queda de 12 pontos percentuais, com três em de 2016, indicam inúmeras razões, como a própria
cada quatro (74,7%) crianças imunizadas no período. erradicação de diversas doenças e a redução do
investimento em campanhas de vacinação nos anos
Pelas Grandes Regiões do país, a cobertura média de anteriores à queda da cobertura. O fato de ainda não
2016 a 2022 segue o mesmo padrão da imunização da termos retornado aos índices pré-2016 preocupa e
população total. As Regiões Centro-Oeste e Sul apresentam evidencia que o desafio permanece para a meta.

42
Meta 3.c
Aumentar substancialmente o financiamento da saúde e o recrutamento, desenvolvimento,
formação e retenção do pessoal de saúde, especialmente nos territórios mais vulneráveis.

Gráfico 25. Média anual de médicos para cada mil habitantes — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

0
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 1,7 0,9 1,1 2,2 1,9 1,7

2016 1,8 1,0 1,2 2,2 2,0 1,8

2017 1,8 1,0 1,2 2,3 2,0 1,8

2018 1,9 1,0 1,3 2,4 2,1 1,9

2019 2,0 1,0 1,3 2,5 2,2 2,0

2020 2,0 1,1 1,4 2,5 2,4 2,1

2021 2,1 1,1 1,4 2,6 2,5 2,2

2022 2,3 1,3 1,6 2,8 2,6 2,4

Fonte: Ministério da Saúde (MS) - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil (CNES). População de referência de 2015 a 2021: Estimativas
populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e enviadas ao Tribunal de Contas da União (TCU), estratificadas por idade pela
Fundação Abrinq. A partir de 2022: Censo Demográfico de 2022, estratificado por dade pela Fundação Abrinq.

43
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Tabela 8. Número médio anual de médicos — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 349.487 362.018 377.934 393.844 406.771 422.647 448.948 474.150
Região Norte 16.416 17.137 17.905 18.622 18.908 20.010 21.387 22.694
Região Nordeste 64.487 66.690 69.716 72.248 74.058 78.292 83.255 88.886
Região Sudeste 186.670 192.838 200.807 208.617 215.607 219.845 232.489 244.186
Região Sul 55.109 57.573 60.655 63.696 66.192 70.144 74.690 78.547
Região Centro-Oeste 26.807 27.779 28.852 30.662 32.007 34.356 37.127 39.837

Fonte: Ministério da Saúde (MS) - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil (CNES).

A quantidade média de médicos em cada uma das destas proporções entre o primeiro e o último anos
Grandes Regiões do país é calculada a partir da disponíveis, o aumento verificado resulta em 35,2%,
relação entre as informações do Cadastro Nacional de 1,7 a 2,3 médicos para cada mil habitantes.
dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil (CNES) e a
população estimada ou recenseada naquele ano. Em Mesmo que considerado este aumento expressivo,
razão da divulgação mensal destas informações, neste a distribuição regional deste indicador no último
indicador é considerada a média de médicos registrados ano da série histórica informa a desigualdade
ao longo dos 12 meses do ano. na presença destes profissionais pelo país.
Enquanto as Regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste
Esta média anual de médicos para cada mil habitantes partilhavam a proporção média de 2,6 médicos
tem demonstrado trajetória de aumento constante para cada mil habitantes naquele ano, esta
no Brasil, em especial nos últimos dois anos da série proporção nas Regiões Norte e Nordeste era de
histórica (2021 e 2022). Quando considerada a variação 1,3 e 1,6 médicos, respectivamente.

44
ODS 4 – Assegurar a educação
inclusiva e equitativa e
de qualidade, e promover
oportunidades de aprendizagem
ao longo da vida para todos

45
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

A educação é um direito social obrigatório a todas e Uma outra meta fundamental na qual o Brasil enfrenta
todos e cabe ao estado brasileiro garantir caminhos é o desafio da aprendizagem na idade adequada.
para que esse direto seja devidamente efetivado. Os Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
desafios são muitos, um dos mais urgentes é garantir o processo de alfabetização completo deve ocorrer
não somente acesso, mas a permanência na educação até o segundo ano do ensino fundamental, sendo a
básica de forma gratuita e de qualidade. É importante idade considerada adequada entre 7 e 8 anos, com
que sejam criadas estratégias baseadas em ações de o objetivo de garantir o direito de que toda criança
coordenação e cooperação entre os entes federados, aprenda a ler e escrever.
de forma que as competências sejam descentralizadas
e complementares entre as atribuições de cada ente A defasagem causada pela alfabetização em idades
federado no enfrentamento à desigualdade educacional distorcidas interfere diretamente no desenvolvimento
de acesso e permanência. cognitivo das crianças e na trajetória escolar de todos os
anos seguintes. As consequências negativas envolvem
Entre as etapas da educação básica, a ampliação da questões como o desinteresse ou desestímulo em
cobertura de atendimento em creches é um problema frequentar a escola, resultando no aumento das taxas
recorrente da realidade brasileira. De acordo com as de abandono, de evasão escolar e dos índices de
metas previstas no Plano Nacional de Educação (PNE), distorção idade-série. Além disso, a desigualdade social
o Brasil deverá ampliar o atendimento em, no mínimo, é reforçada desde muito cedo, fazendo com que muitas
50% das crianças de até 3 anos de idade até 2024, ano oportunidades sejam perdidas e acessos sejam negados
de vigência do PNE. Como veremos nas informações durante a vida adulta devido à falta da alfabetização
expostas neste capítulo, por mais que nos últimos dados ou atraso tardio do desenvolvimento das habilidades
publicados o crescimento do atendimento em creches básicas de leitura e escrita.
tenha crescido, o Brasil ainda está muito longe de
alcançar as metas até o final de 2024.

Meta 4.1
Até 2030, garantir que todas as meninas e meninos completem os ensinos fundamental e
médio, equitativos e de qualidade, na idade adequada, assegurando a oferta gratuita na
rede pública e que conduzam a resultados de aprendizagem satisfatórios e relevantes.

46
Gráfico 26. Taxas de abandono na Educação básica segundo etapas de ensino — Brasil, 2015 a 2022

8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
Taxa de abandono no Taxa de abandono nos anos Taxa de abandono nos anos Taxa de abandono no
Ensino Fundamental iniciais do Ensino Fundamental finais do Ensino Fundamental Ensino Médio

2015 1,9% 1,0% 3,2% 6,8%

2016 1,9% 0,9% 3,0% 6,6%

2017 1,6% 0,8% 2,8% 6,1%

2018 1,5% 0,7% 2,4% 6,1%

2019 1,2% 0,6% 1,9% 4,8%

2020 1,0% 0,9% 1,1% 2,3%

2021 1,2% 0,8% 1,8% 5,0%

2022 1,1% 0,5% 1,9% 5,7%

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

Deve ser feita, preliminarmente, uma ressalva registradas naquele ano, que destoaram, por sua
importante antes do exame das taxas de abandono na vez, de todos os anos da série histórica. A aprovação
educação básica. O Conselho Nacional de Educação escolar, quando elevada artificialmente, tem o
(CNE) divulgou uma série de pareceres ao longo de efeito de reduzir o tempo médio de conclusão dos
2020 — devido ao contexto de emergência sanitária alunos em determinada etapa de ensino ou mesmo
em razão da pandemia de Covid-19 — que sugeriram, distorcer as reprovações e desestimular, também
a estados e municípios, soluções a fim de minimizar a artificialmente, as taxas de abandono. A partir de
evasão e a repetência na educação básica . 5
2020, essas taxas atingiram níveis incompatíveis com
a trajetória brasileira para este indicador, em todas as
Com base nos dados desse período, é possível afirmar etapas da educação básica — no ensino fundamental,
que essas diretrizes influenciaram nas tomadas de elas saltaram de 86,1%, em 2019, a 95%, em 2020,
decisões de estados e municípios, principalmente enquanto que no ensino médio este mesmo indicador
quando observadas as elevadas taxas de aprovação saiu dos 92,8% aos 98,2%.

5
Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE)/CP nº 2, de 10 de dezembro de 2020: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-cne/cp-n-2-de-10-de-
dezembro-de-2020-293526006.

47
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Já o indicador de abandono, quando distribuído pelas de Covid-19 e da suspensão das atividades escolares
etapas da educação básica, demonstra um desafio presenciais foi o inédito aumento do abandono
brasileiro remanescente: a permanência e conclusão do nos anos iniciais do ensino fundamental em 2020,
ensino regular. Quando observadas as taxas apenas do impulsionado pela rede privada de ensino.
último ano (2022), uma realidade preocupante se revela:
entre os anos iniciais e finais do ensino fundamental, Nos anos seguintes, em 2021 e 2022, o abandono
elas quadruplicam, de 0,5% a 1,9%. Se aplicado o nos anos iniciais do ensino fundamental retorna
mesmo raciocínio entre os anos finais do ensino à tendência de queda, enquanto nos anos finais
fundamental e do ensino médio, o abandono triplica sua desta etapa e no ensino médio, ela é de crescimento
proporção, de 1,9% a 5,7%. constante. Em um ano, houve aumento de 5,5% e
14%, respectivamente. Esta tendência, dos anos finais
Alterada a perspectiva de análise e observadas as etapas do ensino fundamental e do ensino médio, além de
de ensino individualmente, o abandono teve redução inédita na série histórica selecionada, aponta um
em todas elas, principalmente entre os anos de 2015 retorno destes indicadores a patamares de 2019,
e 2019. Uma das influências perceptíveis da pandemia anteriores à pandemia de Covid-19.

Gráfico 27. Taxa de abandono nos anos iniciais do ensino fundamental — Brasil e Grandes Regiões, 2015 e 2022

3,0%

2,5%

2,0%

1,5%

1,0%

0,5%

0,0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 1,0% 2,3% 1,7% 0,4% 0,2% 0,5%

2016 0,9% 2,1% 1,7% 0,3% 0,2% 0,4%

2017 0,8% 1,9% 1,4% 0,3% 0,2% 0,4%

2018 0,7% 1,6% 1,1% 0,4% 0,2% 0,3%

2019 0,6% 1,4% 0,9% 0,2% 0,2% 0,3%

2020 0,9% 1,2% 1,8% 0,5% 0,1% 0,4%

2021 0,8% 1,7% 1,1% 0,5% 0,3% 0,3%

2022 0,5% 1,2% 0,8% 0,2% 0,2% 0,2%

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

48
Distribuída pelas Grandes Regiões do país, a taxa de Norte e Sul, em que houve queda respectiva de 14,3% e
abandono nos anos iniciais do ensino fundamental 50%. No ano seguinte, a tendência se inverte e aquelas
demonstra, além das nítidas disparidades regionais regiões que obtiveram decréscimo do abandono nos
na permanência escolar, a influência exercida pela anos iniciais do ensino fundamental (Norte e Sul)
pandemia de Covid-19 neste indicador. Entre 2015 e observaram aumentos neste indicador.
2019, as taxas de abandono tiveram queda de 66,7%
no país, tendo sido mais veloz nas Regiões Nordeste No último ano disponível da série (2022), o abandono
e Sudeste, com 88,9% e 100%, nesta ordem. A Região nos anos iniciais do ensino fundamental indica retorno
Centro-Oeste, neste mesmo período, teve a mesma aos padrões anteriores à pandemia de Covid-19, com
redução do abandono nos anos iniciais do ensino redução da taxa de abandono em todas as regiões do
fundamental que a média nacional (66,7%) e a Região Brasil, e de modo mais acentuado nas Regiões Sudeste
Sul teve estabilidade nestes anos. (60%), Sul (33,3%) e Centro-Oeste (33,3%). As Regiões
Norte e Nordeste, mesmo que ainda acumulem as taxas
A partir de 2020, o abandono nos anos iniciais do ensino de abandono mais altas do país, também obtiveram
fundamental inaugura a tendência de aumento em três reduções importantes neste último ano, com taxas
das cinco regiões do país, com exceção das Regiões inferiores às observadas em 2019.

Gráfico 28. Taxa de abandono nos anos finais do ensino fundamental — Brasil e Grandes Regiões, 2015 e 2022

6%

5%

4%

3%

2%

1%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 3,2% 5,7% 5,0% 1,8% 2,1% 2,2%

2016 3,0% 4,9% 4,8% 1,9% 1,6% 2,0%

2017 2,8% 4,6% 4,2% 1,7% 1,6% 1,6%

2018 2,4% 4,4% 3,7% 1,5% 1,4% 1,5%

2019 1,9% 3,7% 2,8% 1,0% 1,1% 1,4%

2020 1,1% 1,6% 1,6% 1,1% 0,7% 0,4%

2021 1,8% 3,5% 2,7% 1,0% 1,2% 0,6%

2022 1,9% 3,8% 2,8% 1,1% 1,1% 0,9%

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

49
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Como indicado anteriormente, o abandono nos anos De outro pronto de vista, as Regiões Norte e Sul
finais do ensino fundamental recebeu, de um lado, tiveram, em 2022, níveis mais elevados do abandono
o mesmo impacto que a elevação das aprovações nos anos finais do ensino fundamental do que aqueles
exerceu em outras etapas da educação básica durante verificados no período anterior à pandemia (2019).
a pandemia (excetuados os anos inicias do ensino Entre as regiões restantes, Nordeste e Sudeste, houve
fundamental), e de outro, um histórico já mais desafiante. estagnação quando considerados o abandono em
relação ao ano de 2019, enquanto a Região Centro-
Assim, as abruptas reduções das taxas de abandono Oeste (apesar das quedas de 2020 e 2021) encerrou o
em 2020, seguidas do retorno das tendências de último ano da série em tendência de aumento.
aumento nos anos seguintes, figuram como parte das
consequências da elevação das aprovações naquele ano.
Em 2022, apenas a Região Sul apresentou tendência de
redução nos resultados do abandono nos anos finais do
ensino fundamental.

Gráfico 29. Taxa de abandono no ensino médio — Brasil e Grandes Regiões, 2015 e 2022

15%

10%

5%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste
2015 6,8% 13,2% 8,0% 4,2% 7,4% 7,9%

2016 6,6% 10,8% 7,8% 4,9% 6,3% 6,8%

2017 6,1% 9,8% 7,0% 4,5% 6,9% 5,6%

2018 6,1% 10,6% 6,7% 4,6% 6,5% 5,2%

2019 4,8% 9,0% 5,2% 3,4% 4,3% 4,8%

2020 2,3% 1,1% 2,2% 2,2% 4,2% 1,1%

2021 5,0% 10,1% 6,3% 3,0% 5,7% 2,2%

2022 5,7% 8,8% 6,7% 4,4% 6,0% 4,5%

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

50
A dinâmica das taxas de abandono no ensino médio, nestes anos as Regiões Centro-Oeste (100%), Sudeste
especialmente nos últimos três anos da série histórica, (36,4%) e Sul (35,7%).
talvez demonstre com maior clareza a influência da
elevação das taxas de aprovação em 2020. Neste ano, Em função do verificável impacto que a elevação
as taxas de abandono de todas as regiões do país das taxas de aprovação exerceu nos indicadores de
atingiram seu patamar mais baixo de toda a série rendimento do ensino médio, as tendências das taxas
histórica disponível. de abandono nesta etapa demonstram resultados ainda
inconclusivos para o último ano. As Regiões Nordeste,
Em 2021, estas mesmas taxas de abandono, que na Sul, Sudeste e Centro-Oeste encerram a série histórica
média nacional resultavam em 2,3%, observaram com nítido aumento, em níveis mais elevados do que os
aumento da ordem de 117,4%. Superiores à esta verificados em 2019 nas três primeiras destas regiões. A
variação nacional, as Regiões Norte e Nordeste única exceção das tendências de aumento, em 2022, foi
tiveram variação de 818,2% e 186,4%, enquanto a Região Norte, com resultados pouco inferiores àqueles
estiveram abaixo do aumento da média do país verificados em 2019 para esta região.

Gráfico 30. Proporção de adolescentes de 16 anos de idade que concluíram


o ensino fundamental — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2022

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2016 74,0% 63,6% 64,4% 82,1% 78,5% 76,8%

2017 74,6% 67,3% 65,1% 83,6% 75,2% 77,3%

2018 74,7% 67,5% 67,4% 80,5% 78,3% 79,5%

2019 76,9% 69,5% 66,8% 86,0% 78,2% 81,3%

2020 78,6% 70,3% 69,8% 87,0% 78,0% 83,7%

2021 76,8% 68,0% 68,6% 84,7% 76,9% 80,7%

2022 78,8% 69,4% 73,8% 84,6% 79,4% 82,3%

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

51
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Tabela 9. Adolescentes de 16 anos de idade que concluíram o


ensino fundamental — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2022

Localidade 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 2.686.432 2.625.547 2.390.164 2.418.875 2.518.426 2.393.741 2.420.682
Região Norte 240.869 248.738 227.614 241.103 241.131 241.969 235.898
Região Nordeste 697.532 706.805 677.423 650.431 687.098 625.343 688.452
Região Sudeste 1.159.262 1.126.966 980.857 1.020.038 1.066.090 1.031.353 987.275
Região Sul 389.302 342.314 313.689 299.358 314.688 319.146 314.848
Região Centro-Oeste 199.467 200.724 190.581 207.945 209.419 175.930 194.209

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Mesmo que de modo lento, a conclusão do ensino conclusões do ensino fundamental na idade ideal
fundamental na idade ideal (até os 16 anos) tem de modo mais veloz as Regiões Norte, Nordeste
apresentado progresso ao longo dos sete anos e Centro-Oeste, com variações proporcionais
disponíveis, com um aumento de 6,5% nestas de 14,6%, 9,2% e 7,14% entre 2016 e 2022,
proporções quando considerados o primeiro e o último respectivamente. Mesmo que se considere que estas
anos (2016 e 2022). Neste último ano, pouco mais de duas primeiras regiões, seguidas da Região Sul,
quatro em cada cinco (78,8%) adolescentes concluíam tenham os resultados mais baixos neste indicador.
o ensino fundamental aos 16 anos de idade no Brasil. As Regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul são aquelas
a se situar acima da média nacional e tendo essas
Aplicado o mesmo raciocínio pelas regiões do país, duas últimas as menores variações proporcionais do
neste mesmo período, elevaram a proporção de período (de 3% e 1,2%, respectivamente).

52
Gráfico 31. Proporção de adolescentes de 19 anos de idade que concluíram
o ensino médio — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2022

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2016 57,4% 46,7% 49,1% 64,9% 57,7% 63,5%

2017 58,1% 45,7% 49,1% 66,3% 60,6% 59,7%

2018 62,1% 52,5% 52,1% 70,1% 63,5% 67,5%

2019 63,1% 51,3% 55,6% 70,8% 64,2% 64,8%

2020 66,5% 57,8% 57,3% 75,8% 64,6% 70,5%

2021 62,4% 50,9% 53,1% 71,3% 63,2% 65,1%

2022 65,4% 56,2% 59,2% 72,6% 65,7% 66,3%

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Tabela 10. Adolescentes de 19 anos de idade que concluíram o


ensino médio — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2022

Localidade 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 1.847.364 1.972.908 2.009.390 2.116.240 2.127.289 1.876.959 1.975.315
Região Norte 154.119 154.147 175.659 169.553 198.576 153.155 181.837
Região Nordeste 461.844 476.220 472.900 548.914 549.231 474.703 540.858
Região Sudeste 839.550 916.491 915.946 945.486 944.134 851.395 834.429
Região Sul 238.764 276.598 279.615 283.889 253.483 240.816 250.005
Região Centro-Oeste 153.087 149.452 165.270 168.398 181.865 156.890 168.186

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

De modo complementar ao que se observou quando desse ano, estavam as Regiões Sudeste, Centro-Oeste e
da análise das taxas de abandono, o ensino médio Sul e abaixo dela as Regiões Norte e Nordeste.
brasileiro ainda é a etapa da educação básica com
menores proporções de conclusão na idade ideal, tendo Alterada a perspectiva e observado o indicador ao
se aproximado dos dois terços (65,4%) de estudantes a longo da série histórica, verifica-se um aumento de
concluir esta etapa em 2022. Acima da média nacional 14% na proporção de indivíduos que concluem o

53
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

ensino médio antes dos 19 anos de idade, entre 2016 demonstra a menor variação no período, de 4,3%.
e 2022. As regiões do país com elevações mais velozes
neste período foram Norte e Nordeste, ambas com Após os indicadores apresentados, é possível observar
aproximadamente 20% de aumento dos adolescentes que as desigualdades regionais que afetam o país
que concluíam o ensino médio na idade ideal, com este também se refletem na educação básica, com as Regiões
aumento ficando mais evidente quando observados os Norte e Nordeste apresentando índices inferiores à
resultados do último ano nestas regiões. média nacional. Além da redução dessas disparidades
regionais, os desafios da presente meta concentram-se
No segundo grupo, de aumento menos veloz da tanto na permanência de crianças e adolescentes na
conclusão do ensino médio até os 19 anos de idade, escola como na conclusão da modalidade de ensino
estão as Regiões Sudeste e Sul, em que a proporção das em idade adequada, principalmente nos casos dos anos
conclusões se elevou em 11,9% e 13,9% entre 2016 e finais do ensino fundamental e do ensino médio.
2022. Por último, a Região Centro-Oeste é aquela que

Meta 4.2
Até 2030, assegurar a todas as meninas e aos meninos o desenvolvimento integral na
primeira infância o acesso a cuidados e à educação infantil de qualidade, de modo que
estejam preparados para o ensino fundamental.

Gráfico 32. Taxa líquida de matrícula em creches e pré-escolas — Brasil, 2015 a 2022
Taxa líquida de matrícula em creches Taxa líquida de matrícula em pré-escolas

100%

75,4% 76,1% 77,1% 76,5% 75,7%


80%
73,2% 74,9% 71,2%

60%

40%
29,8%
27,8% 28,6% 27,4% 25,3%
25,2% 26,5%
24,1%

20%

0%

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).
População de referência de 2015 a 2021: Estimativas populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e enviadas ao Tribunal de
Contas da União (TCU), estratificadas por idade pela Fundação Abrinq. A partir de 2022: Censo Demográfico de 2022, estratificado por idade pela Fundação Abrinq.

54
Para o monitoramento da Meta Nacional 4.2, que se dirige Feitas estas ressalvas e consideradas as razões históricas
ao acesso de qualidade à educação infantil, estão expostas para a disparidade do atendimento em creches e pré-
no gráfico 32 (pág. 57) as taxas líquidas de matrículas em escolas no Brasil, o acesso à esta última etapa tem tido
creches e pré-escolas. Essas taxas são calculadas a partir da crescimento muito mais lento do que aquele verificado
relação entre o número de matrículas de crianças de até 3 para as creches. De 2015 a 2022, o aumento das taxas de
e de 4 a 5 anos — que estão na idade ideal para frequentar matrícula em pré-escolas foi de 3,4%, enquanto nas creches
a creche e a pré-escola — e a população residente em esta variação foi de 23,6%.
cada uma dessas faixas etárias. São chamadas taxas
líquidas por considerarem apenas as matrículas de
crianças na idade ideal para frequentar estas etapas da
Educação Infantil.

Antes da análise das trajetórias destes indicadores,


contudo, são necessárias duas ressalvas. A primeira
delas refere-se à divulgação dos resultados preliminares
do Censo Demográfico de 2022, que revelou
superestimação da população brasileira até 2021,
influenciando os resultados do cálculo das taxas de
matrícula. A segunda ressalva, mesmo que não justifique
as razões da elevada defasagem da etapa de creches
no Brasil, ao menos ilustra as razões históricas para
a distância de suas taxas em relação às da etapa de
pré-escolas: a inclusão das creches entre as etapas
da educação infantil, que só ocorre em 1994 com a
promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB). Até a promulgação da normativa, o oferecimento
desta etapa de ensino vinculava-se ao conjunto de
serviços oferecidos pela Assistência Social.

55
100%

Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

80%

Gráfico 33. Taxa líquida de matrícula em creches — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022
60%

40%

20%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 24,1% 8,7% 16,8% 32,9% 31,9% 20,0%

2016 25,2% 9,0% 17,7% 34,6% 33,4% 20,9%

2017 26,5% 9,7% 19,4% 35,5% 34,4% 22,2%

2018 27,8% 10,5% 21,1% 36,7% 35,9% 23,2%

2019 28,6% 10,9% 21,7% 37,6% 37,8% 23,8%

2020 27,4% 10,8% 20,5% 36,1% 36,2% 22,4%

2021 25,3% 10,7% 20,2% 32,4% 32,7% 20,5%

2022 29,8% 13,5% 24,5% 37,5% 37,4% 24,7%

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).
População de referência de 2015 a 2021: Estimativas populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e enviadas ao
Tribunal de Contas da União (TCU), estratificadas por idade pela Fundação Abrinq. A partir de 2022: Censo Demográfico de 2022, estratificado por idade
pela Fundação Abrinq.

Em 2022, a taxa líquida de matrícula em creche incluía É importante também que se mencione as diferentes
menos de um em cada três (29,8%) indivíduos de até velocidades em que a taxa de matrícula em creche se
3 anos de idade no Brasil, 20 pontos percentuais de expandiu em cada uma das regiões brasileiras. Naquelas
distância da proporção estipulada pelo PNE. Para se em que as proporções são historicamente mais baixas,
cumprir, a meta exigirá um aumento de 10% ao ano como nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste,
até 2024, sete pontos percentuais a mais do que a sua velocidade de ampliação foi superior àquelas de
média de aumento entre 2015 e 2022. atendimento mais comum a crianças de até 3 anos de
idade. Entre o primeiro e o último anos deste período,
Este desafio, quando observado regionalmente, as respectivas variações das taxas nas Regiões Norte,
demonstra dificuldades ainda mais acentuadas de Nordeste e Centro-Oeste foram de 55,2%, 45,8% e 23,5%,
superação, principalmente nas Regiões Norte, Nordeste enquanto nas Regiões Sudeste e Sul elas resultam em 14%
e Centro-Oeste, que se situavam abaixo da média e 17,2%, respectivamente.
nacional no último ano deste indicador. De todo modo,
mesmo naquelas regiões que estavam acima da média
nacional no atendimento em creches este atendimento
não alcançava duas em cada cinco crianças.
56
Gráfico 34. Taxa líquida de matrícula em pré-escolas — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 73,2% 62,5% 69,3% 82,5% 67,9% 67,6%

2016 74,9% 62,8% 70,4% 84,2% 71,9% 70,6%

2017 75,4% 62,8% 69,7% 84,2% 76,6% 71,7%

2018 76,1% 63,1% 69,8% 84,5% 79,9% 73,0%

2019 77,1% 63,9% 70,7% 85,2% 82,2% 75,2%

2020 76,5% 63,1% 69,8% 84,0% 83,2% 75,6%

2021 76,5% 63,1% 69,8% 84,0% 83,2% 75,6%

2022 71,2% 58,7% 64,7% 77,6% 80,3% 68,7%

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).
População de referência de 2015 a 2021: Estimativas populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e enviadas ao
Tribunal de Contas da União (TCU), estratificadas por idade pela Fundação Abrinq. A partir de 2022: Censo Demográfico de 2022, estratificado por idade
pela Fundação Abrinq.

O histórico de acesso da população de crianças de 4 a 5 etapa da educação infantil terá de ser ampliado em
anos de idade à etapa da pré-escola é mais abrangente. 14,4% ao ano até 2024.
Na média do período disponível no gráfico 34 (acima),
quatro em cada cinco (75%) crianças residentes no Brasil As diferenças regionais no acesso à pré-escola são
frequentava a pré-escola na idade ideal. Esta proporção, semelhantes àquelas verificadas nas creches, estando as
quando considerada em relação à meta de universalizar mesmas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste com
o atendimento da pré-escola até 2024, também resta atendimento inferior à média nacional, e as Regiões
como desafio ao seu cumprimento. Para cumprir a Meta Sudeste e Sul com atendimento superior, de acordo
4.2 do ODS 4 e a primeira meta do PNE, o acesso à essa com os resultados de 2022.

57
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Meta 4.5
Até 2030, eliminar as desigualdades de gênero e raça na educação e garantir a equidade
de acesso, permanência e êxito em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino
para os grupos em situação de vulnerabilidade, sobretudo as pessoas com deficiência,
populações do campo, populações itinerantes, comunidades indígenas e tradicionais,
adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas e população em
situação de rua ou em privação de liberdade.

A utilização das pesquisas domiciliares, e em especial O objetivo de uso do número médio de anos de estudo
a Pnad Contínua, na análise da educação brasileira e das pessoas de 15 a 17 anos de idade é verificar as
de seus estudantes em relação ao acesso, permanência disparidades entre indivíduos de cor/raça branca
e aprendizagem apresenta diversas vantagens. Dentre e negra (aqui considerados enquanto os que se
elas estão as possibilidades de fazer comparações reconhecem como pretos ou pardos) e a aproximação
entre estes aspectos educacionais e marcadores da educação brasileira da intenção da Meta Nacional
sociais da diferença que demonstrem características 4.5 em eliminar as desigualdades de gênero e raça na
estruturais da realidade do país. Para as análises que educação e garantir a equidade de acesso.
se seguirão, além das Grandes Regiões do país são
observadas as distribuições destes indicadores pela Entre os indivíduos com idade para frequentar o ensino
cor/raça dos indivíduos que participaram da Pnad médio, dos 15 aos 17, a tendência do número médio de
Contínua nestes anos. anos de estudo é de aproximação na média nacional
ao longo a série histórica. No último ano, o número
Gráfico 35. Número médio de anos de estudo das médio de anos de estudo era de 9,4 para brancos e
pessoas de 15 a 17 anos de idade segundo cor/raça 9,1 para negros.
— Brasil, 2016 a 2022
Brasil
14
12
10 9,4 9,5 9,5 9,5 9,4 9,3 9,4 8,8 8,8 8,9 9,0 9,0 8,9 9,1
8
6
4
2
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Branca Preta ou parda

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional


por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

58
Gráfico 36. Número médio de anos de estudo das pessoas de 15 a 17 anos de idade
segundo cor/raça — Grandes Regiões, 2016 a 2022

14

12

10

0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Branca Preta ou parda


Região 9,0 9,0 9,1 9,2 9,2 9,1 8,9 8,5 8,6 8,6 8,7 8,7 8,6 8,7
Norte
Região 8,8 9,0 9,0 9,1 9,0 9,0 9,1 8,5 8,6 8,7 8,7 8,8 8,7 8,9
Nordeste
Região 9,6 9,7 9,7 9,7 9,6 9,5 9,5 9,2 9,2 9,2 9,4 9,3 9,1 9,3
Sudeste
Região Sul 9,4 9,4 9,4 9,5 9,3 9,3 9,3 8,8 8,9 8,9 8,8 8,9 9,0 9,1
Região 9,5 9,5 9,4 9,4 9,5 9,4 9,5 9,0 9,1 9,1 9,2 9,1 9,3 9,3
Centro-Oeste

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

A desagregação do número médio de anos de Gráfico 37. Número médio de anos de estudo das
estudo demonstra a permanência das desigualdades pessoas de 18 a 24 anos de idade segundo cor/raça
raciais, além das regionais. Em todos esses limites — Brasil, 2016 a 2022
geográficos, apesar da mesma tendência de
14
12,1 12,2 12,3 12,1 12,1 12,1
aproximação entre os indivíduos de cor/raça branca 12 12,0
10,6 10,8 10,9 11,1 11,2 11,2 11,2
10
e negra (pretos ou pardos), notam-se diferenças 8
6
entre os dois grupos, tendo os indivíduos negros 4
2
menor número médio de anos de estudo do que os 0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
indivíduos brancos em toda a série histórica, inclusive Branca Preta ou parda

no último ano.
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

59
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Para os indivíduos de 18 a 24 anos, com idade para negra (pretos ou pardos). Neste grupo etário, contudo,
a conclusão do ensino médio ou para frequentar o o último ano da série histórica revela disparidade que
ensino superior, a tendência da série histórica também se aproxima de um ano de estudo de diferença entre os
demonstra veloz aproximação entre o número médio dois grupos de cor/raça, a maior observada das faixas
de anos de estudo de indivíduos de cor/raça branca e etárias analisadas até aqui.

Gráfico 38. Número médio de anos de estudo das pessoas de 18 a 24 anos de idade
segundo cor/raça — Grandes Regiões, 2016 a 2022

14

12

10

0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Branca Preta ou parda

Região
Norte 11,2 11,5 11,6 11,8 11,6 11,5 11,7 10,3 10,5 10,6 10,8 11,1 10,9 11,0
Região
Nordeste 11,2 11,2 11,5 11,5 11,4 11,4 11,6 10,2 10,4 10,5 10,7 10,9 10,9 10,9
Região 12,4 12,4 12,5 12,6 12,3 12,4 12,3 11,0 11,2 11,3 11,5 11,5 11,5 11,6
Sudeste
Região Sul 11,8 11,9 12,1 12,2 12,1 12,1 11,9 10,5 10,6 10,7 10,9 11,0 11,1 11,1
Região 12,1 12,2 12,4 12,6 12,3 12,4 12,2 11,0 11,3 11,5 11,5 11,6 11,6 11,6
Centro-Oeste

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

A mesma disparidade regional e racial observada Nos resultados do último ano, o número médio de anos de
nos outros grupos etários repete-se e se amplia na estudo é mais próximo entre indivíduos de cor/raça branca
distribuição regional do indicador relativo ao número e negra na Região Centro-Oeste. Em seguida, as Regiões
médio de anos de estudo entre os indivíduos de 18 a 24 Norte e Nordeste são aquelas em que os anos de estudo
anos de idade, ainda que com a mesma tendência de entre os dois grupos de cor/raça se aproximam mais do
aproximação ao longo da série histórica. que a média nacional, com uma diferença de 0,7 ano em
ambas. Restam com as maiores diferenças, próximas a um
ano, no número médio de anos de estudo as Regiões Sul e
Sudeste (0,8).

60
Gráfico 39. Número médio de anos de estudo das Como já se observou na análise das diferenças entre o
pessoas de 25 anos ou mais de idade segundo cor/ número médio de anos de estudo entre os grupos de
raça — Brasil, 2016 a 2022 cor/raça branca e negra (pretos ou pardos), à medida
em que avançam os grupos etários as diferenças
12
10,0 10,1 10,3 10,4 10,7 10,8 dos anos de estudo aumentam cada vez mais. Para
10 9,2 9,2
os indivíduos nesta faixa etária, a diferença entre o
9,1
8,2 8,4 8,6
8,0
8
número médio de anos de estudo resulta em pouco
6

4
menos de dois anos (1,6) entre brancos e negros

2
(pretos ou pardos).
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Branca Preta ou parda

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional


por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua.

Gráfico 40. Número médio de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade
segundo cor/raça — Grandes Regiões, 2016 a 2022

12

10

0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Branca Preta ou parda
Região
Norte 9,3 9,6 9,8 10,1 10,3 10,3 10,2 8,0 8,3 8,5 8,6 9,1 9,3 9,2
Região
Nordeste 8,6 8,8 9,0 9,1 9,6 9,3 9,4 7,2 7,4 7,6 7,7 8,4 8,4 8,3
Região 10,5 10,7 10,8 10,9 11,2 11,3 11,4 8,6 8,9 9,1 9,2 9,6 9,7 9,8
Sudeste
Região Sul 9,6 9,7 9,8 10,1 10,4 10,6 10,5 7,8 8,0 8,2 8,4 8,9 9,1 9,0
Região 10,0 10,3 10,5 10,6 11,0 11,1 11,0 8,6 8,9 9,0 9,2 9,8 9,9 10,0
Centro-Oeste

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

61
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

A análise regional dos indivíduos de 25 anos ou mais de inferiores às da média nacional, de pouco mais de um
idade em relação ao número médio de anos de estudo, ano, são equivalentes nas Regiões Norte e Centro-Oeste
como se viu em outros grupos etários, apresenta a (1,1 ano em ambas) e a mais baixa na Região Norte, que
mesma tendência de aproximação ao longo da série se aproxima de um ano (0,9) a mais de estudo entre os
histórica entre aqueles de cor/raça branca e negra indivíduos de cor/raça branca.
(pretos ou pardos). Ainda que este seja o grupo etário a
manter a maior disparidade racial do número médio de Ao se comparar os diferentes grupos etários analisados
anos de estudo. (de 15 a 17, 18 a 24 e 25 anos ou mais), é possível
identificar uma tendência de melhora relativa do
Sua distribuição regional se aproxima daquela verificada indicador, ainda que em um ritmo lento e sem modificar
para os indivíduos de 18 a 24 anos de idade, sendo as estruturas de desigualdades regionais. Chama
maior do que a diferença da média nacional nas Regiões a atenção também o fato de que o último grupo
Sudeste e Sul, de quase dois anos a mais de estudo (1,6 apresentado (25 anos ou mais), mesmo sendo o mais
ano para a Região Sudeste e 1,5 ano para a Região Sul) velho, possui um número médio de anos de estudo
para os indivíduos de cor/raça branca. As diferenças inferior ao grupo intermediário (de 18 a 24 anos).

Meta 4.6
Até 2030, garantir que todos os jovens e adultos estejam alfabetizados, tendo adquirido os
conhecimentos básicos em leitura, escrita e matemática.

O grupo de indicadores a seguir refere-se ao Na análise desta meta, também é necessário que se
terceiro aspecto da trajetória da educação brasileira: reconheça, como um esforço de contextualização,
o desempenho dos estudantes no Sistema de o provável impacto que a suspensão das
Avaliação da educação básica (Saeb). Os resultados atividades escolares presenciais representou para a
desta avaliação, que é aplicada aos estudantes do aprendizagem dos estudantes durante a pandemia
quinto e nono anos do ensino fundamental e aos de Covid-19. Este impacto provável também segue
estudantes do terceiro ano do ensino médio, são exposto, mesmo que enquanto contexto, na análise
agrupados em categorias de aprendizagem em destes indicadores.
duas áreas do conhecimento específicas: Língua
Portuguesa e Matemática.

62
Gráfico 41. Níveis de proficiência em Matemática Além destas considerações, é importante notar que
dos estudantes do nono ano do ensino fundamental a elevação dos grupos de aprendizagem abaixo do
auferidos pelo Sistema de Avaliação da educação básico e básico — mesmo que seja inferior em relação
básica (Saeb) — Brasil, 2017 a 2021 ao ano de 2017 para o primeiro grupo e superior
para o segundo —, sendo mais um exemplo das
2017 2019 2021
possíveis consequências da pandemia, pode também
100%
80% representar uma tendência de depreciação constante
60%
45,2%
39,6%
44,4% na aprendizagem em Matemática, ainda que não seja
40% 33,3% 36,0% 35,6%
20% 17,0% 19,8% 17,1% possível concluir esta tendência.
4,5% 4,6% 2,9%
0%
Abaixo do básico Básico Adequado Avançado

Gráfico 42. Níveis de proficiência em Língua

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Portuguesa dos estudantes do nono ano do ensino
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas
Educacionais (Deed).
fundamental auferidos pelo Sistema de Avaliação da
educação básica (Saeb) — Brasil, 2017 a 2021
Entre os estudantes do nono ano do ensino
2017 2019 2021
fundamental, a proficiência em Matemática
100%
apresentou retrocesso em 2021. Os resultados
80%
abaixo do básico ou básico tiveram aumentos em
60%
sua participação nas categorias de aprendizagem da 42,2% 40,8% 45,5%
40% 36,1% 35,2% 35,6%
avaliação. Reunidos, estes dois grupos de proficiência
18,9% 21,3% 17,3%
20%
resultam em 80% dos estudantes avaliados. Estas 2,9% 2,7% 1,6%
0%
proporções, além de revelarem crescimento da Abaixo do básico Básico Adequado Avançado

baixa qualidade da aprendizagem em Matemática,


Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
informam que quatro em cada cinco estudantes Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

avaliados pelo Saeb não superavam os níveis básicos


de aprendizagem desta área do conhecimento. A mesma tendência de retrocesso nos níveis de
aprendizagem se verifica entre os alunos do nono ano
do ensino fundamental avaliados em Língua Portuguesa.
Os últimos resultados do Saeb, de 2021, demonstram
elevações nas proporções dos estudantes com
aprendizagem de nível abaixo do básico, de 40,8%, em
2019, a 45,5%, em 2021. O segundo grupo a apresentar
pequeno crescimento nas proporções são aqueles que

63
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

obtiveram aprendizagem de nível básico. Considerados Gráfico 43. Níveis de proficiência em


separadamente, os estudantes do primeiro grupo (abaixo Matemática do terceiro ano do ensino médio
do básico) são mais de dois em cada cinco (45,5%) dos auferidos pelo Sistema de Avaliação da
que frequentavam o nono ano do ensino fundamental, educação básica (Saeb) — Brasil, 2017 a 2021
enquanto os do segundo (básico) eram mais de um
em cada três estudantes (35,6%). Em conjunto, eles 2017 2019 2021

100%
representam, também, mais de quatro em cada cinco
(81,1%) estudantes do nono ano do ensino fundamental
80%
que não superaram a aprendizagem adequada da área
do conhecimento em questão.
60% 57,0%
54,2%

46,6%

Os resultados do Saeb em Matemática, para os alunos 40%


31,6% 30,2%
que frequentavam o terceiro ano do ensino médio, 26,0%

demonstram retrocesso ainda mais acentuado do que 20% 16,6%


12,5% 12,4%
aquele observado para os dos anos finais do ensino 4,5% 5,2% 3,3%

fundamental em relação ao ano de 2019. 0%


Abaixo do básico Básico Adequado Avançado

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas


Em 2021, a proporção de estudantes identificados pela Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

avaliação do Saeb em um nível de aprendizagem abaixo do


básico equivalia a mais da metade dos que frequentavam
o terceiro ano do ensino médio, grupo que obteve a maior
elevação na última divulgação. A aprendizagem de nível
básico, mesmo com o pequeno decréscimo de 2021 (que
na realidade se converteu em uma deterioração para o
nível abaixo), ainda concentrava pouco menos de um
terço (30,2%) dos estudantes do último ano do ensino
médio. Juntos, estes grupos representam 84,4% dos alunos
desta etapa da educação básica que não atingem o nível
adequado de aprendizagem em Matemática.

64
Gráfico 44. Níveis de proficiência em Língua
Portuguesa do terceiro ano do ensino médio
auferidos pelo Sistema de Avaliação da educação
básica (Saeb) — Brasil, 2017 a 2021

2017 2019 2021

100%

80%
Como nas etapas anteriores, a aprendizagem em
60% 55,5%
Língua Portuguesa dos alunos do terceiro ano do

44,2%
48,5% ensino médio apresentou crescimento na proporção de
40%
33,5% 33,4%
alunos com nível de aprendizagem abaixo do básico e
29,9%
estagnação das proporções daqueles em nível básico,
20,4%
20%
em 2021. Por último, quando considerada em conjunto
16,8%
13,1%

1,5% 1,9% 1,3% a proporção resultante dos grupos é de mais de quatro


0%
Abaixo do básico Básico Adequado Avançado
em cada cinco (81,9%) indivíduos nestes níveis de
aprendizagem, seguindo a tendência de piora revelada
Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed). pelos demais dados da meta.

Meta 4.a
Construir e melhorar instalações físicas para a educação, apropriadas para crianças e
sensíveis às deficiências e ao gênero, e que proporcionem ambientes de aprendizagem
seguros e não violentos, inclusivos e eficazes para todos.

A unidade de referência do monitoramento da Meta em acesso à internet, acesso à água, coleta de esgotos
Nacional 4.a são os estabelecimentos de ensino, ou as e quadras esportivas informadas ao Censo Escolar da
escolas. Nesta seção serão identificadas as defasagens educação básica.

65
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Gráfico 45. Proporção de estabelecimentos da educação básica


sem acesso à internet — Brasil e Grandes Regiões, 2015 e 2022

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Brasil

Região
Norte

Região
Nordeste

Região
Sudeste

Região
Sul

Região
Centro-Oeste

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

Tabela 11. Estabelecimentos sem acesso à internet — Brasil e Grandes Regiões, 2015 e 2022

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 64.054 58.442 59.483 49.618 44.441 36.565 30.740 22.500
Região Norte 14.964 14.372 14.171 13.694 12.647 11.614 11.132 9.724
Região Nordeste 35.886 32.736 30.213 27.376 21.624 19.833 15.574 9.799
Região Sudeste 8.923 8.062 12.055 5.885 8.707 3.970 3.156 2.323
Região Sul 3.081 2.279 2.037 1.832 1.014 815 630 452
Região Centro-Oeste 1.200 993 1.007 831 449 333 248 202

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

66
As escolas sem acesso à internet têm reduzido sua que não tinham este acesso entre 2015 e 2022. Ainda
proporção de modo veloz; entre 2015 e 2022, os assim, quando consideradas as quantidades absolutas
estabelecimentos sem esse serviço tiveram queda de de estabelecimentos nesta situação, as Regiões Nordeste
64%, de mais de 64 mil estabelecimentos no primeiro e Norte se aproximam, tendo a primeira delas 9,79 mil
ano da série, para 22,5 mil no último. estabelecimentos sem acesso à internet, e a segunda 9,72
mil estabelecimentos na mesma situação. Esta deficiência
Neste mesmo período, as quedas mais velozes ocorreram em infraestrutura, entretanto, é proporcionalmente mais
nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, de 86%, 85,7% acentuada na Região Norte, onde 44,1% das escolas não
e 75%, respectivamente. A Região Nordeste, sendo tinha acesso à internet em 2022. Esta região também foi
uma das mais deficitárias no oferecimento da internet aquela que apresentou a redução menos veloz da série
aos estudantes, reduziu em 69,2% os estabelecimentos histórica, de 29,7%.

Gráfico 46. Proporção de estabelecimentos da Educação básica sem qualquer forma de


acesso à distribuição de água — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


50%

40%

30%

20%
%

10%
9,2

%
%

5,9 %

8,3
%
7,9

%
7,6
7,4

7,1
5,8 %

4, %
%
%
6,5

5,9
5,9

9%
5%
%

%
3,3%
%
%
%
4,
3,8

3,6
3,3

3,0
3,2

%
2,8

%
%

%
2,1

2,0
1,9

1,8

%
%
%

%
%

%
%
%

0,3%
%

0,2 %
%
0,2%
0,2%
%

0,2%
%
%

%
0,1%
%
%

0,7
0,6
0,5

0,5
0,4

0,3
0,3
0,3

0,3

0,2

0,3
0,2
0,2

0,2
0,2

0,1
0,1

0,1

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

67
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Tabela 12. Estabelecimentos da Educação básica sem qualquer forma de acesso à distribuição de água —
Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 8.151 6.869 5.839 5.014 3.789 3.466 3.603 3.265
Região Norte 2.104 1.785 1.672 1.689 1.317 1.278 1.429 1.296
Região Nordeste 5.628 4.771 3.878 3.118 2.270 2.002 2.002 1.803
Região Sudeste 267 186 146 126 129 133 123 120
Região Sul 85 68 90 45 43 29 25 32
Região Centro-Oeste 67 59 53 36 30 24 24 14

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

Em 2022, 3,2 mil estabelecimentos de ensino aproximadamente dez vezes menor do que o número
informaram ao Censo Escolar da educação básica médio de escolas na mesma situação nas primeiras
carecerem de qualquer forma de acesso à distribuição regiões analisadas nesta seção. Apesar de estarmos
de água. A falta de acesso a este direito humano relativamente próximos do alcance da meta, os
é uma das inadequações em infraestrutura mais números absolutos revelam um desafio significativo
desiguais quando observadas em relação às Grandes pela frente, tendo em vista que são mais de três
Regiões do país. mil estabelecimentos e que a oferta do serviço
(e consequente garantia desse direito básico) é
As Regiões Norte e Nordeste, tendo 1,2 mil e 1,8 complexa, se consideramos a infraestrutura necessária
mil escolas com esta deficiência em infraestrutura, e os recursos (financeiros e naturais) disponíveis.
respondiam por 94,9% dessa privação no país, em
2022. Considerados os estabelecimentos em cada
uma dessas regiões, 3% dos que informaram não ter
qualquer forma de acesso à água encontravam-se na
Região Nordeste e praticamente o dobro na Região
Norte, com 5,9%.

Nas regiões restantes, as quantidades somadas


de todos os estabelecimentos sem qualquer
forma de acesso à água resultam em 166, relação

68
Gráfico 47. Proporção de estabelecimentos da Educação básica sem qualquer
forma de coleta de esgotos — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

25%
,2%

,2%
20 ,8%
22

,6%

22
21
21

,9%

%
,4
20

20%
,0%
19

,6%
17

15%

10%
%
6,6
%

%
5,9

5,9
4, %

4, %
%

4, %
5,5

5,2
5,2

5,2
8%

8%
4, %

4, %

5%

5%
4%
7

7
4,

2%
4,

1%
%
4,
3,9

%
2,1
%
1,7

%
%
%
0,7 %

%
1,3
1,2
1,2
0,5 %

%
1,0

1,1
%

%
%
%

0,2 %
0,8
0,5%
%
%

0,3%
0,2%
0,3%
%
%

%
0,4
0,5

0,5
0,4
0,4
0,4

0,3

0,3
0,2
0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

Tabela 13. Estabelecimentos da Educação básica sem qualquer forma de


coleta de esgotos — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 9.476 8.818 8.438 7.711 9.849 8.643 7.809 7.007
Região Norte 5.077 4.898 4.910 4.658 4.930 4.514 4.186 3.870
Região Nordeste 3.968 3.500 3.077 2.599 4.133 3.606 3.141 2.685
Região Sudeste 257 237 231 318 490 281 290 264
Região Sul 59 70 122 60 82 67 62 70
Região Centro-Oeste 115 113 98 76 214 175 130 118

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

69
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

A falta de acesso a qualquer forma de coleta As escolas com esta privação nas Regiões Norte
de esgotos é, como se verificou na defasagem e Nordeste reuniam 93,5% dos estabelecimentos
da distribuição do acesso à água, um indicador brasileiros nesta situação, em 2022. Observadas apenas
que também demonstra desigualdades regionais as proporções relativas a estas regiões, a Região Norte
evidentes. No último ano disponível do Censo Escolar concentrava 17,6% e a Região Nordeste 4,5% de escolas
da educação básica, sete mil escolas brasileiras sem acesso a qualquer forma de esgotamento sanitário.
informavam não dispor de qualquer forma de coleta A complexidade na oferta desse serviço, destacada no
de esgotos. indicador anterior, se repete no presente caso.

Gráfico 48. Proporção de estabelecimentos da Educação básica que não têm quadras esportivas (cobertas ou
descobertas) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Brasil

Região
Norte

Região
Nordeste

Região
Sudeste

Região
Sul

Região
Centro-
Oeste

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

70
Tabela 14. Estabelecimentos da educação básica que não têm quadras esportivas
(cobertas ou descobertas) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2022

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 122.299 121.017 118.751 118.119 115.592 113.773 111.836 111.497
Região Norte 18.295 17.946 17.874 17.598 17.388 17.314 17.215 17.172
Região Nordeste 55.456 54.297 52.260 50.198 48.129 46.822 45.890 45.157
Região Sudeste 30.907 30.800 30.740 31.332 31.375 31.315 30.808 31.068
Região Sul 12.566 12.950 12.892 13.901 13.697 13.427 13.086 13.320
Região Centro-Oeste 5.075 5.024 4.985 5.090 5.003 4.895 4.837 4.780

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

A falta de quadras esportivas, cobertas ou Na média do último ano disponível do Censo Escolar
descobertas, demonstra um panorama de deficiências da educação básica, nas Regiões Norte e Nordeste mais
mais acentuado no Brasil e é partilhada por todas de três em cada quatro (76,6%) escolas não dispunham
as regiões do país, ainda que restem diferenças do equipamento esportivo em questão, sendo também
nas concentrações desta defasagem pelas aquelas com os maiores níveis desta defasagem por
Grandes Regiões. toda a série histórica deste indicador (2015 a 2022).

Em primeiro lugar, ao contrário do que se verificou


para o acesso à água e esgotos em 2022, a ausência
de quadras esportivas reunia média proporcional que
se aproximava da metade dos estabelecimentos das
Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Separadamente,
concentram mais da metade de suas escolas sem este
equipamento as duas primeiras — Sudeste (51,6%) e Sul
(51,9%) — e a última — Centro-Oeste (46,2%) — com
proporção bem próxima da metade, em 2022.

71 71
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Meta 4.c
Até 2030, assegurar que todos os professores da educação básica tenham formação
específica na área de conhecimento em que atuam, promovendo a oferta de formação
continuada, em regime de colaboração entre União, estados e municípios, inclusive por
meio de cooperação internacional.

Gráfico 49. Adequação da formação docente segundo etapas de ensino da Educação básica –
Brasil, 2015 a 2022

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


100%

80%

60%

40%

20%

0%
Adequação da formação Adequação da formação Adequação da formação Adequação da formação Adequação da formação
docente na Educação Infantil docente no Ensino Fundamental docente nos anos iniciais docente nos anos finais do docente no Ensino Médio
do Ensino Fundamental Ensino Fundamental

2015 44,6% 53,5% 57,5% 48,9% 58,9%

2016 46,6% 55,3% 59,0% 50,9% 60,4%

2017 48,1% 55,7% 60,6% 49,9% 61,0%

2018 49,9% 58,0% 63,1% 51,7% 61,9%

2019 54,8% 60,2% 66,1% 53,2% 63,3%

2020 58,6% 63,8% 69,6% 56,7% 65,2%

2021 60,7% 65,5% 71,2% 58,5% 66,6%

2022 62,0% 67,6% 73,8% 59,9% 67,6%

Fonte: Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)/Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed).

72
O indicador selecionado para o monitoramento da Ainda nos resultados de 2022, a etapa que apresenta a
Meta Nacional 4.c não se refere aos aspectos de proporção mais concentrada da adequação da formação
aprendizagem, permanência ou acesso à educação docente são os anos inicias do ensino fundamental
básica. Este indicador se dirige ao monitoramento de (73,8%), enquanto o ensino médio e o conjunto do
metas relativas aos meios de determinado objetivo, Ensino do Fundamental (anos iniciais e finais) dividem o
como os indicadores da Meta 4.a. Neste caso, estão mesmo percentual, de 67,6%.
consideradas as proporções de docentes que tenham
formação (com ensino superior completo e licenciatura De outro ponto de vista, analisando a trajetória da série
ou bacharelado com complementação pedagógica) histórica das adequações, a educação infantil é a etapa em
adequada às séries em que exercem a profissão. que o aumento da adequação da formação docente foi
mais veloz, de 39% entre 2015 e 2022. Em seguida, estão
Considerando apenas o último ano, as etapas da os aumentos do conjunto do ensino fundamental, dos
educação básica que demonstram as mais baixas anos finais, e dos anos iniciais desta etapa, com elevações
adequações das formações docentes são os anos finais respectivas de 28,3%, 26,4% e 22,5%. O ensino médio foi
do ensino fundamental e a educação infantil (creches a etapa de aumento da adequação docente mais lento, de
e pré-escolas), com proporções de pouco menos de 14,8% nos sete anos da série histórica disponível.
três em cada cinco (59,9%) docentes com formação
adequada na primeira destas etapas, e pouco mais que
esta proporção na última (62%).

73
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

ODS 5 – Alcançar a igualdade


de gênero e empoderar todas
as mulheres e meninas

74
O Brasil é hoje um dos países com a maior desigualdade aos costumes da sociedade, as informações públicas
de renda do mundo, como será observado no décimo e os números absolutos a respeito da desigualdade
capítulo desta publicação. A desigualdade de renda de gênero são mais difíceis de identificar, mensurar,
contribui para diversas privações durante a vida notificar e consequentemente enfrentar.
de muitas crianças, entretanto, não é o único fator
capaz de estabelecer limitações. As experiências Entretanto, fontes públicas de informação como o
durante a Primeira Infância, quando atravessadas pela Sistema de Informação de Agravos de Notificação
desigualdade de gênero, podem chegar na reprodução (Sinan) e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
ou normalização de violências como as violências Contínua (Pnad Contínua) nos ajudam a demonstrar
doméstica, familiar e sexual. algumas dessas informações.

A questão do gênero na nossa sociedade é um No que diz respeito ao Sinan, ainda que essa fonte
marcador social de diferença na qual é capaz de esteja relacionada ao uso de um serviço de saúde por
reafirmar que os papéis de meninos e meninas devam parte de um cidadão, e, portanto, a qualidade dessas
ser hierarquizados, de modo a perpetuar os valores notificações esteja atrelada a qualificação dos agentes
discriminatórios de uma cultura sexista que entende que responsáveis pelos registros, o Sistema nos ajuda a
é destinado às meninas e mulheres a subordinação em identificar alguns padrões na ocorrência de diferentes
relação a qualquer figura masculina desde a infância. tipos de violência, além de possibilitar identificar o perfil
Por sua vez, por se tratar de uma violência intrínseca das vítimas dessas ocorrências.

Meta 5.2
Eliminar todas as formas de violência de gênero nas esferas pública e privada, destacando
a violência sexual, o tráfico de pessoas e os homicídios, nas suas intersecções com raça,
etnia, idade, deficiência, orientação sexual, identidade de gênero, territorialidade, cultura,
religião e nacionalidade, em especial para as mulheres do campo, da floresta, das águas e
das periferias urbanas.

75
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Gráfico 50. Proporção de notificações aos sistemas de saúde de casos de violência


sexual segundo grupo etário da vítima — Brasil e Grandes Regiões, 20226

Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste
100%
86,6%
80% 78,7%
73,3% 75,9%
67,3% 69,8%

60%

40% 32,7%
30,1%
26,3%
21,3% 24,1%
20% 13,4%

0% 0% 0% 0% 0% 0%
0%
Até 19 anos de idade 20 anos de idade ou mais Ignorado

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Tabela 15. Notificações aos sistemas de saúde de casos de violência sexual segundo
grupo etário da vítima — Brasil e Grandes Regiões, 2022

20 anos de idade
Localidade Até 19 anos de idade Idade ignorada Total
ou mais
Brasil 44.752 15.993 8 60.753
Região Norte 6.789 1.052 - 7.841
Região Nordeste 7.416 3.596 - 11.012
Região Sudeste 17.726 7.651 8 25.385
Região Sul 8.158 2.213 - 10.371
Região Centro-Oeste 4.663 1.481 - 6.144

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

6
Os dados de 2022 foram atualizados em 16 de fevereiro de 2023 e estão sujeitos à revisão.

76
Nesse sentido, o primeiro padrão que podemos Em números absolutos, são computadas 122 ocorrências
observar indica que as maiores vítimas de violência de violência sexual por dia no Brasil contra menores de
sexual no Brasil são indivíduos com menos de 19 anos 19 anos de idade. Quando comparado ao universo de
de idade. Todas as regiões do Brasil ultrapassam com indivíduos maiores de 20 anos, esse número é de 43
folga mais de 50% das ocorrências, sendo a Região ocorrências por dia.
Norte (86,6%) a com maior discrepância: são quatro
crianças em cada cinco vítimas que sofrem algum tipo
de violação sexual. As Regiões Sul (78,7%) e Centro-
Oeste (75,9%) vêm em seguida, também acima da
média nacional (73,7%).

Gráfico 51. Proporção de notificações aos sistemas de saúde de casos de violência sexual cometidos contra
menores de 19 anos de idade segundo sexo da vítima — Brasil e Grandes Regiões, 2022

Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste
100% 92,7% 91,5%
87,7% 85,5% 85,3% 87,1%
80%

60%

40%

20% 12,3% 14,5% 14,6%


12,8%
7,3% 8,5%

0%
Masculino Feminino

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

77
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Tabela 16. Notificações aos sistemas de saúde de casos de violência sexual cometidos contra menores de 19
anos de idade segundo sexo da vítima — Brasil e Grandes Regiões, 2022

Localidade Masculino Feminino Sexo ignorado Total


Brasil 5.487 39.245 20 44.752
Região Norte 496 6.293 - 6.789
Região Nordeste 632 6.782 2 7.416
Região Sudeste 2.566 15.148 12 17.726
Região Sul 1.195 6.959 4 8.158
Região Centro-Oeste 598 4.063 2 4.663

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Ao desagregar as ocorrências por sexo, observamos notificação desses casos, não anula a preponderância
o intenso contraste entre vítimas do sexo feminino do perfil feminino enquanto maiores vítimas da
em relação as vítimas do sexo masculino em todas violência sexual, reforçando mais um ponto agravante
as regiões do país. A proporção de ocorrências na que integra a desigualdade de gênero.
Região Norte (92,7%) é a que mais se aproxima da
totalidade de denúncias segundo o sexo feminino.
Entre as regiões restantes, mesmo aquela com a
menor proporção entre elas, a Região Sul (85,3%),
ainda é muito alta, estando apenas a 7,4 pontos
percentuais atrás da Região Norte.

Segundo os números absolutos, em uma comparação


por denúncias separadas por dia, no ano de 2022
foram 107 denúncias por dia com vítimas do sexo
feminino para cada 15 denúncias de violência sexual
com vítimas do sexo masculino no mesmo período.
Ainda que uma das razões pela baixa proporção
de denúncias masculinas possa estar vinculada às
possíveis faltas de estrutura dos sistemas de saúde de
operacionalizar esse tipo de denúncia ou pela baixa

78
Gráfico 52. Proporção de notificações aos sistemas de saúde de casos de violência sexual cometidos contra
meninas menores de 19 anos de idade segundo cor/raça da vítima — Brasil e Grandes Regiões, 2022

Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

100%

,6%
84

,8%
79

80%
,2%
69

%
,4
67
%
,4

60%
58

,9%
51
,9%

40%
38
%
,4
33

,8%
,8%

22
21

20%
%
,4
13
%
9,4

%
%

%
7,0
7,2

6,6
%
5,8

%
5,0
0%

%
4,

2,9
%
%

%
%

%
%

%
%
%

1,6
0,8

1,5
0,4

1,1
0,8

0,8

0,9

1,0
1,0
0,3

0%
Brancos Pretos ou pardos Amarela Indígena Cor/raça ignorada

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Ao restringir o universo da análise para todas as raça branca figura como maioria, aproximadamente
vítimas do sexo feminino segundo cor/raça, nota-se a 78% de indivíduos autodeclarados brancos. No
predominância das violações sobre as meninas pardas entanto, a concentração de casos de violência sexual
e pretas em quase todas as regiões, com exceção contra meninas negras nas Regiões Norte (84,6%),
da Região Sul, pela qual o índice de vítimas é maior Nordeste (79,8%) e Centro-Oeste (67,4%) possui uma
entre meninas brancas. Cabe ressaltar que essa é a representação excessiva quando comparado ao restante
única região do Brasil em que a população de cor/ da cor/raça das vítimas.

79
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Tabela 17. Notificações aos sistemas de saúde de casos de violência sexual cometidos contra meninas menores
de 19 anos de idade segundo cor/raça da vítima — Brasil e Grandes Regiões, 2022

Localidade Branca Preta Amarela Parda Indígena Cor/raça ignorada Total


Brasil 13.096 3.375 301 19.558 639 2.276 39.245
Região Norte 594 300 26 5.025 252 96 6.293
Região Nordeste 906 698 55 4.714 68 341 6.782
Região Sudeste 5.894 1.684 162 6.185 130 1.093 15.148
Região Sul 4.816 395 24 1.192 72 460 6.959
Região Centro-Oeste 886 298 34 2.442 117 286 4.063

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Gráfico 53. Proporção de casamentos registrados de crianças e adolescentes com


menos de 19 anos de idade do sexo feminino — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

100%

80%

60%

40%

20%
,9%

,2%

,5%
,2%

,1%
9%

3%
,9%

2%

0%
0%

%
1%
,2%

,2%
,0%
,1%

,1%

%
%
%

%
%
12

%
%

%
13

%
%

%
%

,4
12
%
11,

12
%
%

12
%

9,9

11,
%

9,6

9,4
9,6
11,

11,

11,
11,

%
10

9,2

9,2

8,3
9,7

8,9
8,9

8,9
%
%

7,7
9,1

10

8,1
10

10
8,6

10

10
10

8,3
8,0
8,2
7,0

7,6
7,0
6,5

5,5
6,7

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Estatísticas do Registro Civil.

A união estável formal ou informal afeta diretamente compararmos todas as regiões com a média nacional do
as meninas. O casamento infantil pode desencadear último ano da série (2021), somente a Região Sudeste
em problemas como evasão escolar, gravidez precoce (5,5%) não ultrapassa a média brasileira (7%). Por outro
e aumento da situação de pobreza, agravando a lado, a Região Norte (9,9%) alcança quase 10% dos
desigualdade de gênero. No Brasil, apesar da taxa ter casamentos infantis. Em seguida, as Regiões Nordeste
diminuído 3,4 pontos percentuais de 2015 a 2021, (8,3%) e Centro-Oeste (8,1%) também estão à frente da
ou seja, ao longo dos seis anos da série histórica, ao média nacional com proporções semelhantes.

80
Gráfico 54. Casamentos registrados de crianças e seus resultados é discrepante. Quando comparamos
adolescentes com menos de 19 anos de idade do o ano de 2021 entre as duas fontes, temos 220 mil
sexo feminino — Brasil, 2015 a 2021 casos a mais de casamentos infantis entre aquelas
que afirmaram serem companheiras. Ainda que
Brasil
o monitoramento dos dois casos seja de difícil
mensuração, a discrepância entre os números da Pnad
140.000

122.805
Contínua aponta que no Brasil a maior parte da união
120.000
109.594 e os casamentos infantis ocorrem de maneira informal,
100.000
98.092 um fenômeno praticamente invisível e naturalizado, e
89.945
80.829
que por essa razão exige ainda mais atenção por parte
80.000
do Poder Público.
65.089
61.731
60.000

40.000
Gráfico 55. Crianças e adolescentes do sexo
20.000
feminino com menos de 19 anos de idade que
0 informaram ser cônjuges ou companheiras no
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
domicílio — Brasil, 2016 a 2022

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Estatísticas do Brasil


Registro Civil.
600.000

534.832

500.000 484.629

419.956
Os números absolutos das Estatísticas do Registro 400.000
395.420

Civil representam o monitoramento de ocorrência


307.316
293.806
dos casamentos de meninas menores de 19 anos de
285.844
300.000

idade registrados em cartório, enquanto os números


200.000
absolutos da Pnad Contínua registram a resposta
afirmativa sobre serem cônjuges ou companheiras
100.000
de outro alguém no domicilio em que residem. Ao
analisarmos as duas fontes de informação, observamos 0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
que em ambos os casos há uma queda ao longo
da série histórica dos casos de casamento infantil, Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
entretanto, a relação entre as fontes de informação e

81
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Meta 5.4
Eliminar a desigualdade na divisão sexual do trabalho remunerado e não remunerado,
inclusive no trabalho doméstico e de cuidados, promovendo maior autonomia de todas
as mulheres, nas suas intersecções com raça, etnia, idade, deficiência, orientação sexual,
identidade de gênero, territorialidade, cultura, religião e nacionalidade, em especial para as
mulheres do campo, da floresta, das águas e das periferias urbanas, por meio de políticas
públicas e da promoção da responsabilidade compartilhada dentro das famílias.

Gráfico 56. Taxa de realização de afazeres domésticos no próprio domicílio ou em


domicílio de parente segundo sexo — Brasil, 2016 a 2020 e 2022

Homens Mulheres Taxa média

100%

85,6% 85,7% 85,4%


84,4%
81,3%
80%
72,8%

60%
89,8% 91,7% 92,2% 92,1% 82,1% 91,3%
71,9% 76,4% 78,2% 78,6% 64,1% 79,2%

40%

20%

0%
2016 2017 2018 2019 2020 2022

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

A investigação da Pnad Contínua em relação à da série histórica, as mulheres realizam mais de 80%
distribuição dos afazeres domésticos separados entre das tarefas domésticas. O de 2020, ano da pandemia
homens e mulheres dentro de suas próprias casas ou de Covid-19 na qual foi instalado o isolamento social,
casas de parentes indica a evidente desigualdade de foi quando a atuação dos homens mais se aproximou
gênero dentro das famílias brasileiras. Em todos os anos da média entre os dois sexos, e ainda assim a diferença

82
entre ambos continuou desproporcional. Quando as O trabalho doméstico oferece uma série de
medidas de isolamento se encerram, o padrão retorna riscos para as crianças e os adolescentes além de
em níveis muito semelhantes às proporções do ano impedir que se desenvolvam tanto físico como
de 2019. De 2020 para 2022, houve um salto de 12,6 psicologicamente. Suas atividades constituem-
pontos percentuais na atuação das meninas nos se em uma série de tarefas contínuas e cíclicas,
afazeres domésticos. o que faz com que as meninas estejam mais
propícias a desenvolver lesões por esforço
Por mais naturalizado que seja, deixar que meninas repetitivo, queimaduras, alergias e exposição a
e adolescentes do sexo feminino sejam as maiores produtos químicos entre muitos outros acidentes.
responsáveis pelos afazeres domésticos configura Do mesmo modo, aumenta o risco de abusos
trabalho não remunerado e uma possível entrada para o verbais, físicos ou sexuais por parte de homens
trabalho infantil doméstico. residentes nas casas para as quais as meninas
estão realizando tais afazeres.

83
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

ODS 6 – Assegurar a
disponibilidade e a gestão
sustentável da água e
saneamento para todas e todos

84
Para o monitoramento das metas nacionais do Objetivo de esta mesma média é superior ao dobro, de 13,2 óbitos.
Desenvolvimento Sustentável (ODS) 6, a Fundação Abrinq Considerado o início e o fim deste período de 22 anos,
utiliza os dados do Sistema Nacional de Informações sobre entretanto, a proporção dos óbitos associados ao
Saneamento (SNIS) e os relaciona com as estimativas saneamento e às fontes de água inadequados para toda
populacionais enviadas pelo Instituto Brasileiro de a população teve queda de 44,6%, enquanto a variação
Geografia e Estatística (IBGE) ao Tribunal de Contas da desta mesma taxa entre crianças e adolescentes resulta em
União (TCU). Assim, são calculados os indicadores relativos uma redução de 87,8%. Essa redução indica esforços que,
ao acesso da população residente no Brasil à rede geral de se não dirigidos à ampliação do acesso à distribuição de
distribuição de água e coleta de esgotos. água e à coleta de esgotos, ao menos se concentraram na
prevenção dos óbitos causados por estas privações.
A extensão da importância desse acesso, e das particulares
consequências que sua privação provoca entre crianças
de até 5 anos de idade, pode ser verificada a partir dos
Meta 6.1
óbitos atribuídos às fontes de água e ao saneamento
inadequados. Se calculada a taxa de mortalidade média Até 2030, alcançar o acesso universal e
nos 22 anos de série histórica, de 2000 a 2021, a taxa equitativo à água para consumo humano,
total resulta em 5,9 óbitos para cada 100 mil habitantes, segura e acessível para todas e todos.
enquanto que para crianças de até 5 anos de idade,

85
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Gráfico 57. Proporção da população não atendida pela rede geral de distribuição de água — Brasil e Grandes
Regiões, 2015 a 2021

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 16,7% 43,1% 26,6% 8,8% 10,6% 10,4%

2016 16,7% 44,6% 26,4% 8,8% 10,6% 10,3%

2017 16,5% 42,5% 26,7% 8,7% 10,3% 9,9%

2018 16,4% 42,9% 25,8% 9,0% 9,8% 11,0%

2019 16,3% 42,5% 26,1% 8,9% 9,5% 10,3%

2020 15,9% 41,1% 25,1% 8,7% 9,0% 9,1%

2021 15,8% 40,0% 25,3% 8,5% 8,7% 10,1%

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). População de referência: Estimativas populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e enviadas ao Tribunal de Contas da União (TCU), estratificadas por idade pela Fundação Abrinq.

Tabela 18. População não atendida pela rede geral de distribuição de água — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a
2021

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021


Brasil 34.143.258 34.415.599 34.326.352 34.151.465 32.865.260 33.605.628 33.704.187
Região Norte 7.530.706 7.902.984 7.624.679 7.809.278 7.699.842 7.670.700 7.568.457
Região Nordeste 15.073.262 15.008.732 15.315.488 14.638.605 14.649.139 14.377.985 14.578.430
Região Sudeste 7.579.904 7.564.869 7.608.100 7.867.762 7.299.085 7.708.460 7.591.908
Região Sul 3.104.245 3.132.392 3.059.359 2.918.871 2.642.881 2.726.366 2.629.824
Região Centro-Oeste 1.613.713 1.617.780 1.566.952 1.772.665 1.489.413 1.506.843 1.690.782

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).

86
Nos sete anos de anos da série histórica selecionada, O pouco mais de um terço (35,3%) restante de indivíduos
a proporção nacional de pessoas que não tinham sem acesso à água está localizado nas Regiões Sudeste,
acesso à rede geral de distribuição de água ilustra, Sul e Centro-Oeste, sendo esta última aquela em que esta
por sua estabilidade, mais que a negação de um proporção é mais alta, de 10,1% no último ano. Sudeste
serviço essencial à vida, a negação de um direito e Sul dividem proporções semelhantes desta privação, de
humano e à dignidade. Segundo os dados do SNIS, 8,5% para a primeira e 8,7% para a segunda.
a proporção média da população que não tinha
acesso à rede geral de distribuição de água resulta Duas últimas considerações merecem menção para este
em 16,3%, o que equivale a mais de 33 milhões indicador: em primeiro lugar, de 2015 a 2021, a velocidade
de pessoas privadas desse acesso. Em um esforço de redução da população sem acesso à água foi maior
de dimensionamento, cabe mencionar que essas naquelas regiões que necessitam de priorização nos
quantidades se aproximam de toda a população esforços de ampliação desta cobertura — Norte, com
residente na Região Sul, em 2022. A variação deste redução de 7,1%, Nordeste com redução de 5% e Centro-
indicador durante todo o período (de 2015 a 2021) Oeste, com redução de 18,4%. Em segundo, é necessário
apresenta uma queda de indivíduos nesta condição ponderar que a concentração populacional brasileira na
de apenas 5,4%, menos de 1% ao ano. Região Sudeste informa uma quantidade absoluta de
pessoas sem o acesso à distribuição de água superior à
Os indicadores selecionados para o acompanhamento quantidade de pessoas nesta situação na Região Norte,
das metas do ODS 6 também demonstram onde, proporcionalmente, esta privação é mais elevada.
desigualdades regionais evidentes. Assim como se
observou quando da análise das informações do Por fim, cabe destacar que o lento ritmo de avanço nessa
acesso ao saneamento básico nas escolas brasileiras meta é de extrema preocupação, tendo em vista as
(Meta Nacional 4.a), as Regiões Norte e Nordeste consequências danosas que a privação desse direito gera
concentravam proporções respectivas de 40% e 25,3% em crianças e adolescentes.
de indivíduos que não tinham acesso à distribuição
de água. Em termos absolutos, estas proporções Meta 6.2
representavam 22 milhões de pessoas nesta condição Até 2030, alcançar o acesso a saneamento
em 2021 (7,5 milhões residentes na Região Norte e 14,5 e higiene adequados e equitativos para
milhões na Região Nordeste), quantidade equivalente a todos, e acabar com a defecação a céu
pouco menos de dois terços (65,3%) das pessoas sem aberto, com especial atenção para as
acesso à água em todo o país. necessidades das mulheres e meninas e
daqueles em situação de vulnerabilidade.

87
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Gráfico 58. Proporção da população não atendida pela rede de coleta de esgotos — Brasil e Grandes Regiões,
2015 a 2021

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 44,8% 81,6% 63,8% 32,6% 57,0% 45,9%

2016 43,0% 79,8% 60,3% 32,1% 54,3% 42,9%

2017 42,0% 75,2% 62,0% 30,6% 53,1% 43,9%

2018 41,9% 74,1% 60,3% 31,3% 53,2% 42,6%

2019 40,6% 73,6% 62,8% 28,3% 51,0% 39,1%

2020 39,7% 77,2% 62,0% 26,5% 51,2% 38,1%

2021 39,8% 77,0% 60,7% 27,3% 51,3% 36,3%

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). População de referência: Estimativas populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e enviadas ao Tribunal de Contas da União (TCU), estratificadas por idade pela Fundação Abrinq.

Tabela 19. População não atendida pela rede de coleta de esgotos – Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021


Brasil 91.655.226 88.573.799 87.134.526 87.442.761 84.279.542 84.130.536 84.815.093
Região Norte 14.255.924 14.136.123 13.493.404 13.473.049 13.507.018 14.413.373 14.565.924
Região Nordeste 36.074.020 34.314.618 35.526.206 34.238.102 35.728.436 35.560.556 35.021.680
Região Sudeste 27.944.465 27.711.946 26.632.697 27.462.610 24.594.163 23.543.737 24.496.675
Região Sul 16.669.972 15.979.909 15.735.538 15.829.147 15.181.750 15.446.388 15.584.366
Região Centro-Oeste 7.089.529 6.724.828 6.974.286 6.850.978 6.247.604 6.291.440 6.063.092

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). População de referência: Estimativas populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e enviadas ao Tribunal de Contas da União (TCU), estratificadas por idade pela Fundação Abrinq.

88
Os dados do SNIS relativos à coleta do esgotamento resultados, em três das cinco regiões do país, — Sul
sanitário revelam privações ainda mais acentuadas do (51,3%), Nordeste (60,7%) e Norte (77%) — ao menos
que aqueles referentes ao acesso à rede de distribuição metade da população residente não dispunha deste
de água. Tendo em vista apenas o último ano da série, a serviço, proporção que atingia mais de três em cada
coleta de esgotos era disponível a pouco mais de três em quatro residentes na Região Norte e mais de três em
cada cinco (60,2%) pessoas no Brasil. Estas proporções cada cinco na Região Nordeste.
representavam quantidades que superavam as populações
residentes nas Regiões Norte (18,9 milhões) e Nordeste Mesmo nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde a
(57,6 milhões), e nos estados de Mato Grosso (MT) e Mato privação da coleta de esgotos é menos acentuada, mais
Grosso do Sul (MS) somados. Em 2021, 84,8 milhões de de um em cada quatro (27,3%) e pouco mais de uma em
pessoas viviam sem coleta de esgotos no Brasil. cada três pessoas (36,3%) estavam fora desta cobertura,
respectivamente. As quantidades absolutas dos
Ao contrário do que se verificou para o acesso à água, a resultados destas duas regiões, se somados, equivalem
distribuição regional da população privada da coleta de a 30,5 milhões de habitantes, praticamente o dobro dos
esgotos tem resultados muito mais próximos, tanto da indivíduos que não têm coleta de esgotos na Região
média nacional como das regiões entre si. Pelos últimos Norte (14,5 milhões).

89
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

ODS 8 – Promover o
crescimento econômico
sustentado, inclusivo e
sustentável, emprego pleno
e produtivo, e trabalho
decente para todos e todas

90
O período entre os anos de 2015 e 2019 foi marcado metas do ODS 8 relacionadas ao emprego e ao
por uma severa crise econômica, com baixas taxas de desenvolvimento econômico. Assim, para analisá-lo de
crescimento, estagnação e até mesmo recessão, cenário forma adequada, é preciso se atentar que momentos
esse que foi agravado pela pandemia da Covid-19. de crescimento antecedidos por períodos de crise antes
Todo esse contexto afetou profunda e negativamente promovem a recuperação de perdas e podem resultar
os indicadores, e consequentemente o alcance das em estagnação no longo prazo.

Meta 8.6
Alcançar uma redução de 3 pontos percentuais até 2020 e de 10 pontos percentuais
até 2030 na proporção de jovens que não estejam ocupados, nem estudando ou em
formação profissional.

Gráfico 59. Proporção da população de 15 a 24 anos de idade que não estava ocupada e não era estudante
nem estava em formação profissional — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2022

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2016 21,8% 23,5% 26,4% 20,2% 16,8% 19,5%

2017 23,3% 25,1% 28,4% 22,0% 16,8% 19,6%

2018 23,2% 25,1% 28,4% 21,7% 16,8% 19,4%

2019 22,3% 24,9% 27,5% 20,9% 15,2% 18,1%

2020 30,2% 33,3% 36,2% 29,5% 20,5% 23,3%

2021 26,6% 29,9% 32,5% 25,2% 18,1% 21,5%

2022 21,4% 23,0% 27,5% 19,3% 15,0% 17,4%


Meta Nacional
dos ODS para 2020 18,8% 20,5% 23,4% 17,2% 13,8% 16,5%
Meta Nacional 11,8% 13,5% 16,4% 10,2% 6,8% 9,5%
dos ODS para 2030

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

91
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Tabela 20. População de 15 a 24 anos de idade que não estava ocupada e não era estudante nem estava em
formação profissional — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2022

Localidade 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


Brasil 7.163.400 7.763.195 7.513.784 7.121.744 9.929.455 8.630.003 6.804.701
Região Norte 768.854 836.258 818.719 825.109 1.142.302 996.198 774.853
Região Nordeste 2.502.380 2.773.286 2.682.355 2.564.041 3.462.738 3.080.550 2.559.080
Região Sudeste 2.641.640 2.915.481 2.804.964 2.636.866 3.838.294 3.250.097 2.407.562
Região Sul 760.423 748.986 721.829 640.864 877.889 754.032 612.135
Região Centro-Oeste 490.103 489.184 485.916 454.864 608.232 549.126 451.071

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Antes da análise das informações relativas aos indivíduos A importância da Meta 8.6, exposto seu contexto já
de 15 a 24 anos de idade que não eram estudantes, não desafiador, se relaciona com o objetivo de promover
estavam ocupados nem em formação profissional, cabe o crescimento econômico (inclusivo e sustentável) e,
uma ressalva relativa aos parâmetros desta meta. Em por meio da educação e da qualificação profissional, o
primeiro lugar, como se verá na análise de outras metas emprego pleno e produtivo, e o trabalho decente para
deste mesmo ODS, o trabalho antes dos 16 anos só é todos e todas. Na média dos sete anos de série histórica,
permitido em condições especiais, ou na aprendizagem de 2016 a 2022, a proporção de adolescentes e jovens
profissional. De um lado, mesmo que consideradas que não estavam ocupados, nem eram estudantes e não
estas restrições legais, o mercado de trabalho brasileiro estavam em formação profissional, foi de 24,1%.
ainda convive com alto grau de informalidade e com a
requisição da mão de obra de indivíduos com menos de Nesse indicador também são visíveis os impactos da
17 anos. De outro, a etapa do ensino médio que deve ser pandemia na elevação da proporção de adolescentes e
frequentada por adolescentes de 15 a 17 anos de idade é jovens nesta circunstância. Em 2020, o indicador atingiu
aquela a apresentar as taxas de abandono mais elevadas seu nível mais elevado; aproximadamente um terço
de toda a educação básica, como se viu na análise da (30,2%) dos indivíduos nesta faixa etária não estudavam,
Meta 4.1 (pág. 49). nem estavam ocupados e não estavam em formação
profissional, tendo estas proporções tido tendência

92
de queda nos dois anos seguintes (2021 e 2022) e Considerados em conjunto, estes indicadores informam
retornado a níveis próximos daqueles verificados no um duplo obstáculo ao desenvolvimento econômico e ao
primeiro ano da série histórica (2016). emprego pleno e produtivo: de um lado as elevadas taxas
de abandono revelam possíveis impactos de indivíduos
No último ano da série histórica (2022), o comportamento com baixa qualificação profissional no mercado de
da distribuição regional do indicador pelas regiões do trabalho e, de outro, sua incorporação precoce pode tornar
país guarda correspondência com a preponderância mais escassas as possibilidades de empregos permitidos
das taxas de desocupação (desemprego) e com as taxas pela legislação.
de abandono no ensino médio nas Regiões Norte e
Nordeste. Ambas lideram estes indicadores e a proporção
de adolescentes e jovens que não estudavam, não
trabalhavam e não estavam em aprendizagem profissional.

Meta 8.7
Até 2025 erradicar o trabalho em condições análogas às de escravo, o tráfico de pessoas e
o trabalho infantil, principalmente nas suas piores formas.

Em dezembro de 2020, o Instituto Brasileiro de Geografia e esses adolescentes se enquadravam em ao menos


e Estatística (IBGE) divulgou os primeiros resultados da uma das seguintes situações: ou cumpriam jornadas de
revisão dos critérios de identificação da população de trabalho incompatíveis com sua idade e com seus anos
5 a 17 anos de idade no trabalho infantil e do número de estudo; ou trabalhavam sem direito a férias, licença
de crianças e adolescentes nesta situação investigados médica e equiparação da remuneração pelo salário-
na primeira edição da Pesquisa Nacional por Amostra mínimo; ou não frequentavam a escola; ou realizavam
de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), de 2016. Estes as piores formas de trabalho antes dos 18 anos de idade
critérios, elaborados a partir da 20ª Conferência de (Lista TIP). A despeito de todas as limitações de pesquisas
Estatísticos do Trabalho da Organização Internacional do domiciliares em captar esta multiplicidade de situações,
Trabalho (OIT), ocorrida em 2018, permitiram a inédita as chances de que as crianças e os adolescentes no
pesquisa das crianças e dos adolescentes que exerciam trabalho infantil experimentem esse conjunto de
atividades econômicas ou para autoconsumo. Pelo privações e violações de direitos, simultaneamente ou de
pressuposto deste conjunto de critérios, essas crianças modo fragmentado, são elevadas.

93
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Gráfico 60. Proporção da população de 5 a 17 anos de idade em situação de trabalho infantil que realizou
atividades econômicas ou para autoconsumo — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2019

2016 2017 2018 2019


10%
%
8%
%
7,8

7,5

8%

3%
6,

6,

7%

7%
6%

6%
6%

5%
3%

5,

5,

1%
5,
5,

0%
0%

0%

0%
5,

9%

9%
%
5,

5,
%

%
8

5,
5,

5,

5,

4,

4,
6

6
4,
4,

4,
1%

%
%
8%

0
4%

4,
9

4,
3,

3,
2%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Tabela 21. População de 5 a 17 anos de idade em situação de trabalho infantil que realizou atividades
econômicas ou para autoconsumo — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2019

Localidade 2016 2017 2018 2019


Brasil 2.124.727 1.975.508 1.915.896 1.768.475
Região Norte 343.545 324.960 284.461 235.716
Região Nordeste 760.771 654.144 591.908 558.151
Região Sudeste 586.487 561.979 603.702 579.420
Região Sul 291.195 284.370 280.611 246.034
Região Centro-Oeste 142.729 150.053 155.213 149.152

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

A última investigação do trabalho infantil no Brasil, adolescentes de 5 a 17 anos de idade que realizavam
que cobre o período de 2016 a 2019, demonstra atividades econômicas ou para autoconsumo no último
desigualdades regionais quando observados os dados ano da série histórica (2019). A primeira e a última
proporcionais. As Regiões Norte (5,6%), Sul (5%) destas regiões—Norte e Nordeste —, nos quatro
e Nordeste (4,8%) são aquelas que concentravam anos disponíveis, apresentaram queda constante das
as proporções mais acentuadas de crianças e crianças e dos adolescentes nesta situação, enquanto a

94
Região Sul manteve estabilidade destas proporções e Por outra perspectiva, a Região Sudeste (4%), sendo
redução apenas no último ano. a única com proporções abaixo da média nacional
de crianças em situação de trabalho infantil em 2019,
Nas regiões restantes, Sudeste e Centro-Oeste, a tendência sendo também a mais populosa do Brasil, tem números
deste indicador foi de aumento nas proporções do trabalho absolutos de crianças nesta situação que superam
infantil entre crianças e adolescentes, especialmente nesta as quantidades absolutas das Regiões Norte e Sul
última região que encerrou a série histórica com um combinadas, regiões em que o trabalho infantil era,
aumento de 6,5% em relação aos resultados de 2016. proporcionalmente, mais comum naquele ano.

Gráfico 61. Proporção da população de 5 a 17 anos de idade em situação de trabalho infantil que realizou
atividades econômicas ou para autoconsumo segundo grupo etário — Brasil, 2016 a 2019

2016 2017 2018 2019


20%
16,3% 15,7%
15,6% 15,4%
15%

10%
8,3% 7,8%
7,4% 7,1%

5%
2,8% 2,8% 2,7% 2,4%
0,7% 0,8% 0,7% 0,6%
0%
De 5 a 9 anos de idade De 10 a 13 anos de idade De 14 a 15 anos de idade De 16 a 17 anos de idade

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Tabela 22. População de 5 a 17 anos de idade em situação de trabalho infantil que realizou atividades
econômicas ou para autoconsumo segundo grupo etário — Brasil, 2016 a 2019

Grupo etário 2016 2017 2018 2019


De 5 a 9 anos 103.272 112.216 94.833 91.322
De 10 a 13 anos 344.314 335.675 320.647 285.385
De 14 a 15 anos 549.408 466.974 484.367 442.166
De 16 a 17 anos 1.127.733 1.060.643 1.016.049 949.602

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

95
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

A análise da presença do trabalho infantil pelos grupos três vezes maior neste último grupo, de 0,7% a 2,4%,
etários de crianças e adolescentes demonstra uma respectivamente. Quando estes indivíduos atingem
realidade cruel: à medida em que ficam mais velhas, a faixa de 14 a 15 anos, as proporções duplicam
as proporções de crianças e adolescentes no trabalho novamente, atingindo 5,1% da população residente
infantil aumentam consideravelmente, expandindo nesta faixa etária. O último grupo etário, dos 16 aos
as probabilidades de ingresso no trabalho precoce e 17 anos de idade, concentra mais de um em cada sete
irregular. Apenas em 2019, a relação das proporções (14,8%) adolescentes em situação de trabalho infantil,
de indivíduos de 5 a 9 anos de idade e daqueles de três vezes mais do que aquela verificada no grupo de
10 a 13 anos em situação de trabalho infantil era indivíduos da faixa etária anterior.

Gráfico 62. População de 5 a 17 anos de idade ocupada em atividades previstas na Lista TIP das piores formas
de trabalho infantil (em milhares) — Brasil e Grandes Regiões, 2016 a 2019

1.000,0

900,0

800,0

700,0

600,0

500,0

400,0

300,0

200,0

100,0

0
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2016 933,4 176,5 332,8 205,8 146,5 71,7

2017 781,2 140,7 247,7 202,0 128,6 62,2

2018 765,5 128,0 224,4 233,6 121,5 57,9

2019 706,3 113,7 209,2 225,5 99,6 58,4

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

96
A revisão dos critérios de identificação do trabalho Nas regiões mais populosas do país, a quantidade de
infantil, além de incluir novas formas de investigação indivíduos exercendo as piores formas do trabalho
desta violação (como o trabalho exercido na produção infantil correspondia à distribuição da população nestes
e/ou construção para o consumo do próprio domicílio anos. Este é o caso das Regiões Sudeste e Nordeste,
e os afazeres domésticos ou cuidado de pessoas), sendo as duas mais populosas do país e também
proporcionou que as atividades da Lista TIP das aquelas que apresentavam as maiores quantidades
piores formas do trabalho infantil tivessem uma de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos de idade
correspondência com as ocupações da Classificação nas piores formas do trabalho infantil em toda a série
Brasileira de Ocupações (CBO) e pudessem ser histórica. De outro lado, entre as Regiões Norte e Sul,
selecionadas de modo concreto e transparente. ocorre alteração na ordem das quantidades, tendo a
primeira destas menos habitantes da faixa etária em
Feitas estas considerações, é possível notar que na questão e mais crianças e adolescentes exercendo as
média dos quatro anos da série histórica disponível piores formas do trabalho infantil de 2016 a 2019. Por
796,6 mil indivíduos que estavam em situação de último, a Região Centro-Oeste, sendo aquela com a
trabalho infantil encontravam-se nas piores formas menor população de crianças e adolescentes de 5 a
desta violação, proporção de aproximadamente dois em 17 anos de idade, é também a que apresenta a menor
cada cinco (40,9%) adolescentes e crianças em situação quantidade desses indivíduos nas piores formas do
de trabalho infantil. trabalho infantil.

Gráfico 63. Distribuição da população de 5 a 17 anos de idade ocupada em atividades previstas na Lista TIP
das piores formas de trabalho infantil segundo grupo etário — Brasil, 2016 a 2019

2016 2017 2018 2019


100%

80%

60% 58,4% 60,1% 59,5% 59,2%

40%
27,2% 25,2% 27,3% 26,1%
20% 11,9% 12,5% 11,0% 11,5%
2,5% 2,3% 2,3% 3,1%
0%
De 5 a 9 anos de idade De 10 a 13 anos de idade De 14 a 15 anos de idade De 16 a 17 anos de idade

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

97
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Tabela 23. População de 5 a 17 anos de idade ocupada em atividades previstas na Lista TIP das piores formas
de trabalho infantil segundo grupo etário — Brasil, 2016 a 2019

Grupo etário 2016 2017 2018 2019


De 5 a 9 anos 23.436 17.976 17.348 22.037
De 10 a 13 anos 111.213 97.540 83.900 81.484
De 14 a 15 anos 253.762 196.558 209.093 184.343
De 16 a 17 anos 544.956 469.088 455.130 418.462
Total 933.367 781.162 765.471 706.326

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

A distribuição das proporções de crianças e aqueles de 14 a 5 anos de idade e se aproximavam de


adolescentes nas piores formas do trabalho infantil três em cada cinco indivíduos (59,2%) nesta situação
pelos grupos etários obedece ao mesmo padrão tendo entre 16 e 17 anos.
identificado no trabalho infantil como um todo. À
medida em que ficam mais velhas, as atividades da Dois contextos principais impediram a publicação
Lista TIP passam a ficar mais comuns entre aqueles de novas investigações do trabalho infantil no Brasil
indivíduos em situação de trabalho infantil. pela Pnad Contínua. Em primeiro lugar, a pandemia
de Covid-19 exigiu que essa pesquisa domiciliar fosse
Quando atingiam a faixa etária dos 10 aos 13 anos, realizada por telefone durante os anos de 2020 e 2021,
as proporções de crianças e adolescentes exercendo prejudicando o aproveitamento da amostra mestra. Em
os trabalhos identificados na Lista TIP mais que segundo, os sucessivos adiamentos do início da operação
triplicam sua participação, de 3,1% entre os de 5 a 9 censitária, planejada para ano de 2020, influenciaram a
anos de idade, a 11,5% entre aqueles de 10 a 13 anos captação desta realidade pelos métodos estatísticos e o
no último ano da série. Nas faixas etárias seguintes, teste dos critérios elaborados para a identificação deste
as proporções mais que dobram novamente entre fenômeno na série que se iniciou em 2016.

98
ODS 10 – Reduzir a desigualdade
dentro dos países e entre eles

99
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

O Brasil sempre apresentou índices de desigualdade que Dessa forma, a tendência a ser observada a partir de
figuravam entre os piores do mundo, com uma altíssima 2022 será fundamental para identificarmos o quão
concentração de renda e riqueza nas mãos do 1% mais distante ainda estaremos do alcance das metas que
rico da população. Dentro dessa estrutura marcada pela compõem o ODS 10 e os desafios estruturais a serem
desigualdade, se por um lado a pandemia agravou a enfrentados nos próximos anos, em particular para
situação em razão da deterioração econômica, por outro crianças e adolescentes, que geralmente são ainda mais
o auxílio emergencial contribuiu, provisoriamente, para a atingidos pelos danos causados por uma desigualdade
elevação da renda da população mais pobre e vulnerável. tão devastadora.

Meta 10.1
Até 2030, progressivamente alcançar e sustentar o crescimento da renda dos 40% da
população mais pobre a uma taxa maior que a renda média dos 10% mais ricos.

Gráfico 64. Distribuição proporcional do rendimento domiciliar habitual segundo


grupo de rendimento — Brasil, 2016 a 2022

Rendimento domiciliar do 1% mais rico da Rendimento domiciliar dos 10% mais Rendimento domiciliar dos 40% mais
renda declarada (inclusive os rendimentos ricos da renda declarada (inclusive os pobres da renda declarada (inclusive
de tíquetes e vales) rendimentos de tíquetes e vales) os rendimentos de tíquetes e vales)
100%

80%
68,0% 69,2% 69,2% 69,9% 69,7% 69,9% 69,5%

60%

40% 31,8% 30,3% 31,6% 29,9%


27,1% 27,1% 27,6%

20%
3,2% 2,8% 2,7% 2,9% 3,4% 3,6% 2,8%
0%

2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

100
Tabela 24. Rendimento nominal domiciliar habitual segundo grupo de rendimento — Brasil, 2016 a 2022

Rendimento
domiciliar (inclusive os
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
rendimentos de tíquetes
e vales)
Rendimento domiciliar
nominal do 1% mais R$ 16.400.402,00 R$ 19.539.538,00 R$ 21.873.813,00 R$ 26.114.819,00 R$ 20.500.459,00 R$ 18.608.787,00 R$ 24.619.408,00

rico
Rendimento domiciliar
nominal dos 10% mais R$ 41.107.620,00 R$ 49.915.092,00 R$ 54.744.305,00 R$ 57.315.163,00 R$ 47.169.369,00 R$ 41.146.143,00 R$ 57.254.026,00

ricos
Rendimento domiciliar
nominal dos 40% mais R$ 1.913.812,00 R$ 1.985.449,0 R$ 2.171.910,0 R$ 2.377.358,0 R$ 2.283.919,0 R$ 2.102.402,0 R$ 2.318.852,0

pobres
Total R$ 60.422.931,00 R$ 72.105.092,00 R$ 79.116.461,00 R$ 82.002.168,00 R$ 67.686.185,00 R$ 58.847.470,00 R$ 82.422.320,00

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

O monitoramento da Meta 10.1 é feito pela nominal informada à Pnad Contínua, enquanto os
distribuição da variável que considera a maior 10% mais ricos informavam deter 69,3% desta mesma
quantidade de fontes do rendimento domiciliar renda, relação 23 vezes maior para este último grupo.
identificados na Pesquisa Nacional por Amostra de O grupo de indivíduos que pertencia ao 1% mais
Domicílios Contínua (Pnad Contínua), incluídas a renda rico (que também fazem parte do grupo anterior)
de transferências de programas sociais, de tíquetes detinha pouco mais da metade da proporção dos
e vales, e aquelas provenientes do trabalho dos rendimentos declarados dos 10% mais ricos. Dito de
residentes desses domicílios. outro modo, o grupo do 1% mais rico detinha 29,4%
das rendas informadas à fonte utilizada para o cálculo
A distribuição da renda declarada entre os estratos deste indicador (Pnad Contínua).
mais ricos (1% e os 10% mais ricos) e mais pobres
(os 40% mais pobres) informa um quadro de extrema Alterando a perspectiva de análise e observada
desigualdade ao longo dos sete anos disponíveis. Na a trajetória do indicador ao longo do período, a
média deste período (2016 a 2022), a participação desigualdade de rendimentos da população se
dos 40% mais pobres não alcançou 3% da renda expandiu entre os anos de 2016 e 2019, tendo

101
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

este indicador atingido o máximo da diferença de e 2022), a variação proporcional dos rendimentos
rendimentos entre os 40% mais pobres e os 10% nominais em reais dos 10% mais ricos foi de 39,2%
mais ricos neste último ano (2019). A partir de 2019, nestes anos, enquanto entre os 40% mais pobres esta
as diferenças da distribuição voltam a reduzir e a mesma variação foi de 21,2%, distanciando o país do
aproximar as proporções dos grupos em questão, cumprimento da Meta 10.1 e contrariando seu objetivo
especialmente entre os anos de 2020 e 2021, e tendo de alcançar e sustentar o crescimento da renda dos 40%
apresentado estabilidade no ano de 2022. Entre o da população mais pobre a uma taxa maior que a renda
primeiro e o último anos dessa série histórica (2016 média dos 10% mais ricos.

Meta 10.2
Até 2030, empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, de forma
a reduzir as desigualdades, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia,
nacionalidade, religião, condição econômica ou outra.

Reconhecido o caráter extremamente desigual da distribuição de renda no Brasil, a análise da direção da Meta
Nacional 10.2 permite que sejam verificadas as características estruturais desta desigualdade no país. Para tanto,
são associadas as variáveis de escolarização, cor/raça e grupos etários entre os grupos de indivíduos com renda
domiciliar igual ou superior à média nacional e aqueles com renda domiciliar inferior à metade dessa média.

102
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
100%
Gráfico 65. Distribuição da população com renda domiciliar inferior à metade da média nacional e igual ou
100%

superior
80%
à média nacional segundo nível de instrução mais elevado — Brasil, 2016 a 2022
80%
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

100%
60%
60%

80%
40%
40%

60%
20%
20%

40%
0%
0%
Sem instrução Fundamental Médio Superior Sem instrução Fundamental Médio Superior
eSem instrução
menos de um Fundamental
completo ou Médio ou
completo Superiorou
completo eSem instrução
menos de um Fundamental
completo ou Médio ou
completo Superiorou
completo
eano
menos de um
de estudo completo ou
incompleto completo ou
incompleto completo
incompletoou eano
menos de um
de estudo completo ou
incompleto completo ou
incompleto completo
incompletoou
20%
ano de estudo incompleto incompleto incompleto ano de estudo incompleto incompleto incompleto

População com renda domiciliar inferior à metade da média nacional População com renda domiciliar igual ou superiro à média nacional
População com renda domiciliar inferior à metade da média nacional População com renda domiciliar igual ou superiro à média nacional
0%
Fonte: Instituto Brasileiro de Fundamental
Sem instrução Geografia e Estatística Médio
(IBGE) - Pesquisa Nacional
Superior por Amostra
Semdeinstrução
Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
Fundamental Médio Superior
e menos de um completo ou completo ou completo ou e menos de um completo ou completo ou completo ou
Tabelaano
25.
de Nível
de
estudo instrução
incompleto maisincompleto
elevado entre a populaçãoanocom
incompleto renda domiciliar
de estudo incompleto inferior à metade
incompleto da
incompleto

média nacional e superior ou igual à média nacional — Brasil, 2016 a 2022


População com renda domiciliar inferior à metade da média nacional População com renda domiciliar igual ou superiro à média nacional

População com renda domiciliar inferior à metade da média nacional


Instrução mais elevada
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Sem instrução e menos de um
9.491.752 9.536.848 9.042.275 8.890.794 7.189.509 6.971.215 8.025.799
ano de estudo
Fundamental completo ou
43.969.007 46.695.218 44.783.890 44.768.977 39.098.076 45.367.425 38.545.319
incompleto
Médio completo ou incompleto 18.356.097 21.117.987 20.664.219 21.755.026 22.398.981 23.370.331 23.220.317
Superior completo ou incompleto 2.597.855 3.322.857 3.525.610 3.607.545 4.628.974 4.583.530 4.272.320
Total 74.414.711 80.672.909 78.015.993 79.022.342 79.552.506 73.321.286 74.063.755
População com renda domiciliar igual ou maior à média nacional
Instrução mais elevada
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Sem instrução e menos de um
2.175.291 2.168.326 1.960.365 2.036.542 2.140.820 2.355.502 2.475.120
ano de estudo
Fundamental completo ou
16.593.122 16.626.102 15.288.562 15.608.258 14.872.782 14.678.418 15.538.960
incompleto
Médio completo ou incompleto 18.470.225 18.805.710 17.778.667 18.550.369 18.179.165 18.230.426 19.813.661
Superior completo ou incompleto 20.529.048 20.985.498 21.908.350 22.812.362 22.952.086 24.110.046 24.802.955
Total 57.767.686 58.585.636 56.935.944 59.007.531 61.771.522 62.914.005 66.236.059

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
103
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

A escolarização, sendo um dos aspectos examinados ensinos fundamental e médio completos ou incompletos,
em associação aos rendimentos domiciliares, reflete o ainda que menos veloz para este grupo de indivíduos.
desequilíbrio observado na primeira meta (10.1) desta
seção. Em primeiro lugar, chama a atenção que no Os resultados de toda a série histórica, e
último ano da série histórica a quantidade absoluta especificamente os de 2022, revelam a acentuada
de indivíduos com renda inferior à metade da média desigualdade do acesso ao ensino superior quando
nacional seja superior em 7,8 milhões àqueles com associados às classes de rendimento domiciliar.
renda igual ou superior à média nacional. Enquanto esta etapa ocupa mais de um terço (37,4%)
da escolaridade daqueles com rendimento igual ou
Quando considerado apenas o grupo de pessoas superior à média nacional, ela só era acessada por 5,8%
com renda domiciliar inferior à metade da média dos indivíduos com renda domiciliar inferior à metade
nacional verifica-se que os níveis de escolarização têm da média nacional no último ano (2022).
aumentado pelas etapas da educação básica, tendo
o ensino médio e o ensino superior aumentado sua
participação entre aqueles nesta faixa de rendimentos,
ao passo que as proporções daqueles sem instrução
ou com apenas o ensino fundamental tem observado
queda neste mesmo período.

Mesmo com este lento progresso em direção à


escolarização em domicílios de mais baixos rendimentos,
as disparidades restam acentuadas e ainda precisam
ser destacadas. Em 2022, mais da metade (52%) dos
indivíduos nesta faixa de rendimento domiciliar tinha
completado ou não o ensino fundamental, e pouco
menos de um terço (31,4%) o ensino médio. Juntas, estas
proporções resultam em mais de 83,4% das pessoas com
renda domiciliar de até metade da renda média nacional.

Entre a população com rendimento domiciliar igual ou


superior à média nacional, podem ser verificadas as
mesmas tendências de aumento contínuo da escolarização
de nível superior e de redução na proporção daqueles com

104
Gráfico 66. Distribuição da população com renda domiciliar inferior à metade da média nacional e igual ou
superior
100% à média nacional segundo cor/raça — Brasil, 2016 a 2022

80%

60%

40%

20%

0%
Branca Negra (preta Amarela Indígena Branca Negra (preta Amarela Indígena
ou parda) ou parda)

População com renda domiciliar inferior à metade da média nacional População com renda domiciliar igual ou superior à média nacional

2016 31,5% 67,9% 0,3% 0,3% 61,6% 36,9% 1,3% 0,2%

2017 31,9% 67,4% 0,4% 0,4% 61,0% 37,6% 1,1% 0,2%

2018 31,3% 67,7% 0,4% 0,5% 59,7% 38,9% 1,1% 0,2%

2019 30,5% 68,6% 0,4% 0,5% 59,7% 38,9% 1,1% 0,2%

2020 31,2% 67,9% 0,4% 0,4% 59,4% 39,3% 1,1% 0,2%

2021 31,0% 68,3% 0,3% 0,4% 59,5% 39,2% 1,0% 0,2%

2022 31,6% 67,6% 1,0% 0,5% 59,1% 39,7% 1,0% 0,2%

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Tabela 26. População com renda domiciliar inferior à metade da média nacional e igual ou superior à média
nacional segundo cor/raça — Brasil, 2016 a 2022

População com renda domiciliar inferior à metade da média nacional


Cor/raça
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Branca 25.391.073 27.816.905 26.434.991 26.065.533 24.857.339 24.833.602 25.433.438
Preta 7.553.077 8.802.201 8.985.351 9.315.427 8.117.276 8.283.255 9.169.419
Amarela 233.634 317.678 379.639 352.097 283.791 278.347 315.005
Parda 47.204.900 50.005.123 48.163.009 49.300.828 45.919.117 46.489.173 45.252.933
Indígena 226.513 318.209 399.077 388.751 345.100 320.331 375.753
Ignorada 3.239 4.131 12.306 5.504 29.883 13.068 2.681
Total 80.612.435 87.264.246 84.374.374 85.428.141 79.552.506 80.217.777 80.549.228

105
Amarela 233.634 317.678 379.639 352.097 283.791 278.347 315.005
Parda 47.204.900 50.005.123 48.163.009 49.300.828 45.919.117 46.489.173 45.252.933
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil
Indígena 226.513 318.209 399.077 388.751 345.100 320.331 375.753
Ignorado 3.239 4.131 12.306 5.504 29.883 13.068 2.681
Total 80.612.435 87.264.246 84.374.374 85.428.141 79.552.506 80.217.777 80.549.228
População com renda domiciliar igual ou superior à média nacional
Cor/raça
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Branca 37.420.190 37.622.585 35.799.849 37.090.815 36.691.444 37.455.673 39.120.763
Preta 3.611.021 3.731.679 4.091.709 4.234.563 3.983.317 4.369.965 4.814.340
Amarela 772.841 687.554 652.127 709.884 693.901 639.137 667.758
Parda 18.784.955 19.479.103 19.236.722 19.914.364 20.288.235 20.276.712 21.466.365
Indígena 115.552 124.282 146.171 151.295 104.962 152.876 157.480
Ignorada 8.536 6.847 10.926 15.581 9.664 19.642 9.353
Total 60.713.094 61.652.050 59.937.504 62.116.501 61.771.522 62.914.005 66.236.059

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Dentre os marcadores selecionados para demonstrar Entre aqueles que residiam em domicílios com renda
as características estruturais da desigualdade na igual ou superior à média nacional, as concentrações
distribuição de renda no Brasil, o aspecto racial talvez de cor/raça da população se invertem e os indivíduos
seja aquele a revelar essa desigualdade de modo de cor/raça branca ocupavam a proporção de três
mais evidente, principalmente quando se observa em cada cinco (60%) pessoas, enquanto aqueles de
a estabilidade que as proporções de cor/raça das cor/raça negra (pretos ou pardos) têm representação
pessoas em cada classe de rendimentos se mantêm proporcional de pouco menos de dois em cada cinco
ao longo da série histórica. (38,6%) indivíduos nesta classe de rendimentos.
Contrariando a tendência de estabilidade verificada
A distribuição dos indivíduos negros (pretos ou pardos) entre os indivíduos que residiam em domicílios nas
na média dos sete anos disponíveis entre aqueles classes de rendimentos mais baixos, a trajetória do
com renda domiciliar inferior à metade da média indicador no grupo demonstra aproximação entre as
nacional resultava em mais de dois terços (67,9%) de proporções de brancos e negros. Entre o primeiro e o
todo o universo daqueles localizados nesta classe de último anos da série histórica (2016 e 2022) a proporção
rendimentos, enquanto aqueles de cor/raça branca de brancos na classe de rendimento domiciliar igual ou
ocupavam pouco menos de um terço (31,3%) dessa superior à renda média nacional teve queda de 4,2%,
distribuição na mesma média dos sete anos disponíveis. enquanto a variação entre os indivíduos negros (pretos
ou pardos) teve aumento de 7,6%.

106
Gráfico 67. Distribuição da população com renda domiciliar inferior à metade da média nacional e igual ou
superior à média nacional segundo grupo etário — Brasil, 2016 a 2022

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Menos de De 15 a Entre 25 e Entre 40 e Mais de Menos de De 15 a Entre 25 e Entre 40 e Mais de
14 anos 24 anos 39 anos 59 anos 60 anos 14 anos 24 anos 39 anos 59 anos 60 anos
de idade de idade de idade de idade de idade de idade de idade de idade de idade de idade

População com renda domiciliar inferior à metade da média nacional População com renda domiciliar igual ou superior à média nacional

2016 24,8% 16,4% 21,6% 22,8% 14,4% 15,9% 15,3% 23,6% 30,1% 15,1%

2017 24,2% 16,4% 21,6% 23,3% 14,5% 15,8% 15,2% 23,9% 30,0% 15,2%

2018 24,3% 15,0% 21,6% 23,7% 15,4% 15,8% 14,4% 23,5% 30,2% 16,1%

2019 23,5% 15,8% 21,4% 23,6% 15,7% 16,0% 14,3% 23,6% 30,2% 15,8%

2020 24,0% 16,2% 22,3% 22,5% 14,9% 17,0% 14,3% 25,8% 29,0% 13,9%

2021 25,4% 16,4% 23,1% 23,5% 11,3% 16,6% 14,2% 25,6% 28,7% 14,9%

2022 23,9% 15,2% 21,9% 23,3% 15,8% 16,6% 13,9% 25,5% 29,1% 15,0%

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

107
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Tabela 27. População com renda domiciliar inferior à metade da média nacional e superior ou igual à média
nacional segundo grupo etário — Brasil, 2016 a 2022

População com renda domiciliar inferior à metade da média nacional


Grupo etário
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Menos de 14 anos 19.969.422 21.140.440 20.187.085 20.115.786 19.125.379 20.450.906 19.235.306
De 15 a 24 anos 13.240.089 14.352.177 12.433.671 13.462.668 12.917.645 13.174.396 12.203.308
Entre 25 e 39 anos 17.384.863 18.816.184 17.961.588 18.260.120 17.720.987 18.593.321 17.626.261
Entre 40 e 59 anos 18.376.811 20.296.984 19.702.292 20.201.770 17.913.555 18.911.177 18.787.035
Mais de 60 anos 11.641.249 12.658.461 12.779.928 13.387.797 11.874.940 9.087.977 12.697.318
Total 80.612.435 87.264.246 84.374.374 85.428.141 79.552.506 80.217.777 80.549.228
População com renda domiciliar igual ou maior à média nacional
Grupo etário
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Menos de 14 anos 9.470.619 9.602.740 9.320.789 9.811.722 10.508.138 10.448.098 10.967.300
De 15 a 24 anos 9.136.323 9.198.092 8.509.680 8.772.072 8.812.130 8.947.515 9.202.669
Entre 25 e 39 anos 14.081.175 14.484.270 13.868.769 14.401.967 15.947.367 16.076.673 16.864.038
Entre 40 e 59 anos 17.982.761 18.191.690 17.816.382 18.482.301 17.916.342 18.048.714 19.268.292
Mais de 60 anos 9.026.048 9.194.516 9.533.380 9.686.396 8.587.544 9.393.006 9.933.760
Total 59.696.925 60.671.307 59.049.000 61.154.458 61.771.522 62.914.005 66.236.059

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

A última característica estrutural selecionada para inferior à metade da média nacional). A situação
demonstrar a desigualdade da distribuição de renda revela a sobreposição das vulnerabilidades, que no
no Brasil é a etária. Guardando correspondência caso particular da renda acaba sendo acentuada pela
com as informações analisadas na Meta 1.2, crianças idade, principalmente se consideramos o fato de que
e adolescentes de até 14 anos de idade figuram crianças e adolescentes dependem da geração de
como maioria entre os que têm renda inferior à renda de seus responsáveis.
metade da média nacional em todos os anos da
série histórica, seguidos dos indivíduos de 40 a No grupo de pessoas com rendimento igual ou superior
59 anos. Considerados em conjunto na média dos à metade da média nacional, as representações etárias
sete anos disponíveis, estes dois grupos etários se mais concentradas são daqueles indivíduos entre os 40
aproximam da metade (47,5%) daqueles que estão e 59 anos de idade, seguidos daqueles de 25 a 39 anos.
na faixa de rendimentos mais baixos (com renda

108
ODS 11 – Tornar as cidades e
os assentamentos humanos
inclusivos, seguros, resilientes
e sustentáveis

109
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Os indicadores selecionados para monitorar a Meta


Nacional 11.1 pretendem, de um lado, informar a
condição dos domicílios brasileiros em relação a
aspectos de saneamento básico e infraestrutura —
como a durabilidade dos materiais predominantes
na construção das paredes externas dos domicílios, a
ausência de banheiros exclusivos nestas moradias e
a relação entre número de habitantes e dormitórios
— e, de outro, dimensionar a presença de crianças
e adolescentes de até 14 anos de idade nestas
condições de habitação, especialmente aqueles em
residências de baixos rendimentos (com renda mensal
per capita de até meio salário-mínimo).

Antes, entretanto, é necessário ter em conta uma


ressalva concernente à fonte de informações utilizada
no monitoramento da meta deste ODS — a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad
Contínua). Entre os anos em que o Brasil esteve sob
a emergência sanitária da pandemia de Covid-19 Meta 11.1
(2020 e 2021), as entrevistas da Pnad Contínua foram Até 2030, garantir o acesso de todos
realizadas por telefone, reduzindo o aproveitamento à moradia digna, adequada e a preço
da amostra da pesquisa e inviabilizando a produção acessível; aos serviços básicos e
de informações de temas específicos, como a situação urbanizar os assentamentos precários
dos domicílios brasileiros. Assim, a série histórica dos de acordo com as metas assumidas
indicadores selecionados cobrem os anos de 2016 a no Plano Nacional de Habitação, com
2019 e incluem apenas o ano de 2022, influenciando especial atenção para grupos em
as análises de trajetória de algumas destas situação de vulnerabilidade.
informações e limitando o alcance das interpretações.

110
Gráfico 68. Distribuição da população segundo materiais de construção das paredes externas7 dos domicílios e
grupo etário — Brasil, 2016 a 2019 e 2022

Brasil
100%

80%

60%

40%
30,8% 30,9% 31,5% 30,5% 28,0%

20%
1,2% 1,3% 1,1% 1,1% 0,9%
0%
2016 2017 2018 2019 2022 2016 2017 2018 2019 2022
Proporção da população que reside em domicílios com paredes Proporção da população que reside em domicílios com paredes externas
externas construídas predominantemente de materiais não duráveis construídas predominantemente de materiais não duráveis com menos
de 14 anos de idade

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Tabela 28. População segundo materiais de construção das paredes externas dos domicílios e
grupo etário — Brasil, 2016 a 2019 e 2022

Grupo etário 2016 2017 2018 2019 2022


População que reside em domicílios com paredes externas
2.469.908 2.651.217 2.307.311 2.230.039 1.896.005
construídas predominantemente de materiais não duráveis
População que reside em domicílios com paredes externas
construídas predominantemente de materiais não duráveis 760.881 819.994 727.819 680.562 530.693
com menos de 14 anos de idade

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Expostas as razões do hiato na investigação das de pessoas que residem nestas habitações, tendo o
condições de habitação no Brasil, a série histórica último ano (2022) revelado a maior queda de todo o
relativa à durabilidade dos materiais das paredes período, de aproximadamente 25%.
dos domicílios demonstra estagnação da proporção

7
Consideram-se paredes construídas com materiais não duráveis aquelas feitas predominantemente de taipa sem revestimento, madeira reaproveitada ou outro material.

111
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Deste universo de 1,8 milhão de pessoas que proporções na série histórica da Pnad Contínua,
residiam em domicílios com paredes construídas crianças e adolescentes têm participação
predominantemente de materiais não duráveis, concentrada entre os indivíduos expostos às
em 2022, mais de uma em cada quatro (28%) tinha precariedades das condições de habitação e podem
menos de 14 anos de idade, 530 mil indivíduos. sofrer as consequências dessas debilidades de
Assim, e mesmo que se considere a queda nas modo mais severo.

Gráfico 69. Proporção de crianças e adolescentes de até 14 anos de idade que residem em domicílios com
paredes construídas predominantemente com materiais não duráveis segundo grupo de rendimento — Brasil,
2017 a 2019 e 2022
2017 2018 2019 2022
10%

8%

6%

4% 3,5%
3,2% 3,1%

2,2% 2,0%
2% 1,7% 1,6%
1,2%

0%
Menores de 14 anos de idade com renda mensal Menores de 14 anos de idade
domiciliar per capita de até ½ salário-mínimo

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Tabela 29. Crianças e adolescentes de até 14 anos de idade que residem em domicílios com paredes construídas
predominantemente com materiais não duráveis segundo grupo de rendimento — Brasil, 2017 a 2019 e 2022

Grupo de rendimento 2017 2018 2019 2022


Menores de 14 anos de idade com renda mensal domiciliar per
694.391 623.306 579.648 415.741
capita de até ½ salário-mínimo
Menores de 14 anos de idade 819.993 727.820 680.562 530.696

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

112
Quando relacionadas as proporções de indivíduos com em situação de pobreza tinha o dobro das proporções
menos de 14 anos de idade que residem em domicílios daqueles que residiam nestas condições, mas não eram
com paredes construídas com materiais não duráveis e identificados à pobreza monetária.
aqueles em situação de baixos rendimentos, a associação
entre a renda e as condições de habitação fica nítida. Em Ao longo da série histórica, considerado o hiato
2022, dos 530 mil indivíduos com esta inadequação da das informações da Pnad Contínua, este indicador
infraestrutura dos domicílios, 415 mil eram crianças que demonstrou queda de 37,4% para os menores de 14
estavam identificadas à situação de pobreza (com renda anos de idade em situação de pobreza e de 38,1% das
mensal de até meio salário-mínimo). Da perspectiva crianças e dos adolescentes nesta faixa etária residindo
proporcional, as crianças que residiam em domicílios com em domicílios com paredes construídas com materiais
paredes feitas de materiais não duráveis e que estavam não duráveis entre o primeiro e o último anos da série.

Gráfico 70. Proporção de crianças e adolescentes de até 14 anos de idade residindo em domicílios em
condição de adensamento excessivo segundo classe de rendimento — Brasil, 2017 a 2019 e 2022

2017 2018 2019 2022

30%

19,3% 19,8%
19,0%
20% 18,1%

12,1% 11,7% 11,9% 11,0%


10%

0%
Menores de 14 anos de idade com renda mensal Menores de 14 anos de idade
domiciliar per capita de até ½ salário-mínimo

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

113
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Tabela 30. Crianças e adolescentes de até 14 anos de idade residindo em domicílios em condição de
adensamento excessivo segundo classe de rendimento — Brasil, 2017 a 2019 e 2022

Classe de rendimento 2017 2018 2019 2022


Menores de 14 anos de idade com renda mensal domiciliar per
3.859.123 3.672.833 3.707.965 3.456.189
capita de até ½ salário-mínimo
Menores de 14 anos de idade 5.060.937 4.862.501 4.910.598 4.814.197

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Obedecendo à metodologia do Instituto Brasileiro de cada dez (11%) residentes do país com menos de 14
Geografia e Estatística (IBGE), o adensamento excessivo anos de idade, em 2022. Outra tendência verificada
em um domicílio é considerado a partir da relação neste grupo é a estabilidade das proporções de 2017
entre o número de habitantes da unidade domiciliar em diante, tendo apresentado variação proporcional de
e o número de cômodos que são usados como 9% entre 2017 e 2022.
dormitórios. As residências com mais de três pessoas
por quarto (dormitório) são consideradas inadequadas Quando observado o grupo de adolescentes nessa faixa
em termos de adensamento. etária em situação de baixos rendimentos (com renda
mensal de até meio salário-mínimo), a proporção de
Ao contrário do que se observou entre os domicílios residentes em domicílios com adensamento excessivo,
de paredes construídas com materiais não duráveis, o além de proporções estáveis, alcançava praticamente um
adensamento excessivo era comum a mais de um em em cada cinco indivíduos brasileiros em 2022 (18,1%).

114
Gráfico 71. Distribuição da população que reside em domicílios sem um banheiro exclusivo segundo grupo
etário — Brasil, 2016 a 2019 e 2022

Brasil
50%

40%

31,9% 31,1% 30,9%


30,8% 29,5%
30%

20%

10%

2,6% 2,8% 2,6% 2,1%


1,7%
0%
2016 2017 2018 2019 2022 2016 2017 2018 2019 2022

Proporção da população que reside em domicílios sem Proporção da população que reside em domicílios sem um banheiro para
um banheiro para uso exclusivo dos moradores uso exclusivo dos moradores com menos de 14 anos de idade

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Tabela 31. População que reside em domicílios sem um banheiro exclusivo segundo grupo etário — Brasil e
Grandes Regiões, 2016 a 2019 e 2022

Grupo etário 2016 2017 2018 2019 2022


Proporção da população que reside em domicílios sem um
3.401.746 5.400.529 5.750.816 5.419.163 4.411.503
banheiro para uso exclusivo dos moradores
Proporção da população que reside em domicílios sem um
banheiro para uso exclusivo dos moradores com menos de 1.046.504 1.723.845 1.788.900 1.673.062 1.299.647
14 anos de idade

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

115
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Antes da análise dos indicadores apresentados a respeito Nos quatro anos disponíveis, de 2017 a 2019, e 2022, 5,2
do banheiro exclusivo, é necessário que se faça uma milhões de residentes no Brasil informavam morar em
ressalva sobre os resultados da primeira divulgação da domicílios sem um banheiro exclusivo, equivalendo a 2,5%
Pnad Contínua, de 2016. Nessa edição da Pnad Contínua, da população na média do mesmo período. A variação
apenas uma variável identificava a quantidade de banheiros deste indicador entre o primeiro e o último anos da série,
no domicílio. De 2017 em diante, a pesquisa passa a mesmo que não seja possível verificar sua dinâmica em
produzir resultados sobre a quantidade de banheiros de 2020 ou em 2021, foi de aproximadamente 19,2%.
uso exclusivo da habitação, sobre banheiros que são de
uso comum a mais de uma residência ou aqueles que Em 2022, dos mais de 4,4 milhões de pessoas que
se utilizam de buracos no chão ou sanitários localizados viviam sem um banheiro exclusivo em suas casas, mais
na propriedade. Assim se explicam as alterações nas de um em cada quatro (29,5%) tinha menos de 14 anos
proporções dos domicílios em relação à presença de de idade, aproximadamente 1,3 milhão de crianças
banheiros nos dois primeiros anos da série histórica (2016 e adolescentes. Entre 2017 e 2022, as proporções de
e 2017). Estão consideradas nesta inadequação apenas crianças e adolescentes vivendo em domicílios sem
aquelas residências que informaram não ter a presença de banheiro exclusivo foi mais estável, apesar da mesma
um banheiro exclusivo aos moradores do domicílio. tendência de queda de 7,5%.

Gráfico 72. Proporção de crianças e adolescentes de até 14 anos de idade residindo em domicílios sem um
banheiro exclusivo do domicílio segundo classe de rendimento — Brasil 2017 a 2019 e 2022

2017 2018 2019 2022


10%

8,7%
8,2% 8,4%
8%

6,2%
6%

4,3%
4,1% 4,0%
4%
3,0%

2%

0%
Menores de 14 anos de idade com renda mensal Menores de 14 anos de idade
domiciliar per capita de até ½ salário-mínimo

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

116
Tabela 32. Crianças e adolescentes de até 14 anos de idade residindo em domicílios sem um banheiro exclusivo
do domicílio segundo classe de rendimento — Brasil, 2017 a 2019 e 2022

Classe de rendimento 2017 2018 2019 2022


Menores de 14 anos de idade com renda mensal domiciliar per
1.630.970 1.679.985 1.570.629 1.185.484
capita de até ½ salário-mínimo
Menores de 14 anos de idade 1.723.848 1.788.901 1.673.063 1.299.647

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

A associação entre o rendimento domiciliar e a salário-mínimo têm o dobro dos percentuais do grupo
ausência de banheiros exclusivos para os menores de indivíduos com esta faixa etária, em todos os anos da
de 14 anos de idade é a mais nítida entre todas série histórica.
as inadequações analisadas até aqui. Dentre o 1,3
milhão de crianças e adolescentes que residiam Dessa forma, a retomada de programas de moradia,
nestas condições, 1,18 milhão tinham renda domiciliar preferencialmente focados em famílias com crianças,
mensal per capita de até meio salário-mínimo, é essencial para o alcance das metas associadas às
aproximadamente 91,2% do universo. condições de suas habitações. Além das moradias
com crianças, a focalização desses programas nas
Quando analisadas as proporções com referência de famílias com baixos rendimentos domiciliares terá mais
toda a população com menos de 14 anos de idade, chances de beneficiar a população que mais necessita
como segue exposto no gráfico 72 (pág. 119), crianças e dessa política pública e que estão mais expostos às
adolescentes com renda mensal per capita de até meio inadequações de moradia, como se viu.

117
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

ODS 16 – Promover sociedades


pacíficas e inclusivas para o
desenvolvimento sustentável,
proporcionar o acesso à justiça
para todos e construir instituições
eficazes, responsáveis e inclusivas
em todos os níveis

118
Os indicadores do ODS 16 revelam que o Brasil tem responsáveis pela queda desses indicadores. A
inúmeros desafios para a promoção de uma sociedade dinâmica dos conflitos faccionais, vinculadas às
pacífica e inclusiva. Apesar dos avanços na primeira pacificações entre facções nacionais e regionais, e
meta — que estipula a redução de todas as formas de entre gangues e polícias, é a razão fundamental dessas
violência —, o país registrou, em 2021, 47.503 homicídios, quedas (FELTRAN et al., 2022a). Como os homicídios e
o que representa 20,4% desses casos no mundo (FÓRUM outras formas de violência são fenômenos complexos e
BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA (FBSP), 2022a). multicausais, seu estudo deve se fundamentar “em um
Apesar disso, desde 2018 o país vem apresentando protocolo teórico que os conceba como ações sociais”
reduções do número de homicídios entre crianças e (FELTRAN et al., 2022a, p. 318), fazendo com que seu
adolescentes. Em 2021, foi registrada a menor quantidade enfrentamento extrapole as medidas repressivas —
de homicídios de menores de 19 anos de idade (6.526); habituais na política brasileira — para que se possa
contudo, é necessário observar esse panorama positivo reformular o desenho das políticas de segurança
com cautela, pois há poucas evidências de que essas pública do país.
quedas foram resultado da promoção de políticas
públicas, mesmo que tenham sido implantadas inúmeras Além dos homicídios (Meta 16.1), o ODS 16 busca
inciativas por diversos governos estaduais desde o início acabar também com todos os tipos de violência
dos anos 2000, além da promulgação do Estatuto do contra crianças e adolescentes (16.2). Ao contrário
Desarmamento de 2003. dos homicídios, todos os indicadores da Meta 16.2
(negligência e abandono, violência física e violência
A literatura especializada aponta que as políticas psicológica) apresentaram aumentos expressivos em
de segurança pública não são as principais variáveis relação ao ano de 2021.

Meta 16.1
Reduzir significativamente todas as formas de violência e as taxas de mortalidade relacionadas,
em todos os lugares, inclusive com a redução de um terço das taxas de feminicídio e de
homicídios de crianças, adolescentes, jovens, negros, indígenas, mulheres e população LGBT.

119
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Gráfico 73. Taxas de homicídio de crianças e adolescentes com menos de 19 anos


de idade (para cada 100 mil habitantes) — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

30,00

25,00

20,00

15,00

10,00

5,00

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) - Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM) (óbitos). População de referência: Estimativas populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e enviadas ao Tribunal de Contas da União (TCU), estratificadas por idade pela Fundação Abrinq.

Tabela 33. Número de óbitos por homicídio de crianças e adolescentes com menos
de 19 anos de idade — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021


Brasil 10.956 11.644 12.101 10.067 7.187 7.380 6.526
Região Norte 1.159 1.374 1.423 1.402 1.134 924 870
Região Nordeste 4.691 4.937 5.621 4.511 3.137 3.675 3.182
Região Sudeste 3.060 3.160 3.100 2.556 1.673 1.672 1.478
Região Sul 1.080 1.188 1.087 864 649 553 529
Região Centro-Oeste 966 985 870 734 594 556 467

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) - Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM).

120
Gráfico 74. Taxas de homicídio de crianças e de 47,4% em relação a 2017 e 12,2% em relação a 2021.
adolescentes com menos de 19 anos de idade — A única exceção foi o ano de 2020, quando a taxa de
Brasil e Grandes Regiões, 2021 (para cada 100 mil homicídios sofreu uma tênue elevação de 1,8% entre 2019
habitantes) e 2020; isso deveu-se ao aumento dessa taxa na Região
Nordeste, única região que registrou um aumento desse
2021 Meta Nacional dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) índice; no período em questão, a elevação foi de 16,4%.
16 15,2 Uma tentativa de elucidação dessa questão será elaborada
14
no decorrer deste texto.
12 11,1

10 9,3
8,3
As quedas, tanto no número como na taxa de homicídios
8 7,6

6,2
observada entre 2018 e 2021, contudo, devem ser
6 5,5 5,7
observadas com cautela em função, principalmente, de
5,4 5,3

4 4,0 4,0
dois fatores: o primeiro é o que alguns autores denominam
2
de “deterioração na qualidade dos registros oficiais” (FBSP,
0
Brasil Região Região Região Região Região 2021, p. 11); isto é, em virtude da divergência dos números
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
registrados pelo MS e dos valores do Anuário Brasileiro
de Segurança Pública 2021 (FBSP, 2021) — que tem como
Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/
Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) — procedência os boletins de ocorrência produzidos pelas
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) (óbitos). População de
referência: Estimativas populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de Secretarias de Segurança Pública (SSP) dos estados da
Geografia e Estatística (IBGE) e enviadas ao Tribunal de Contas da União (TCU),
estratificadas por idade pela Fundação Abrinq. Federação — a proporção de Mortes Violentas por Causas
Indeterminadas (MVCI) pode conter assassinatos não
Segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade, contabilizados. Além disso, em 2019, houve 47.742 mortes
do Ministério da Saúde (SIM/MS), em 2021 houve 6.526 violentas intencionais8 (FBSP, 2022a), valor 5% superior
homicídios de crianças e adolescentes com menos de 19 ao registrado pelo sistema do MS no mesmo período. Os
anos de idade no Brasil, o que corresponde a uma taxa dados do SIM/MS podem estar, portanto, subnotificados,
de 9,3 mortes para cada 100 mil habitantes — conforme mas isso não encerra a questão.
apontado no gráfico 73 (pág. 123). Situando esse valor em
um quadro de queda na quantidade de homicídios desse A partir de 2014, a taxa de MVCI9 apresentou sucessivos
grupo desde 2018, o número é inferior ao encontrado em aumentos, sendo que no último semestre de 2018
todos os anos desde aquele período — uma diminuição superou a taxa de homicídios do país; em 2019, o valor

8
Dados disponíveis no portal Atlas da Violência em https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/filtros-series.
9
Mortes violentas em que o Estado foi incapaz de identificar a motivação que gerou o óbito do cidadão (Cerqueira, Daniel. Atlas da Violência 2021/Daniel Cerqueira et
al., — São Paulo: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA (FBSP), 2021).

121
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

foi de 16.648, o que retrata um aumento de 69,9%. O segundo fator explicativo dessas quedas, tanto
Portanto, “tomando o percentual de MVCI em relação no número como na taxa de homicídios, é oriundo
ao total de mortes violentas, esse índice passou de das características da dinâmica dos homicídios
6,2% para 11,7%, entre 2017 e 2019, um aumento de no Brasil, a qual revela que esses crimes não são
88,8%. Destaca-se que o aumento da taxa de MVCI é eventos difusamente espalhados pelo país. Além
coincidente com o período em que a taxa de homicídios disso, indica também que o perfil dessas vítimas
no país diminuiu” (CERQUEIRA, 2021, p. 11). é composto, sobretudo, por “operadores baixos
dos mercados ilegais de drogas, armas, veículos
Com o intuito de dimensionar a quantidade de roubados e contrabando” (ZALUAR 1984; MACHADO
homicídios que podem ter sido ocultados pela DA SILVA, 1993; MISSE, 2006; HIRATA, 2018; RATTON
deterioração na qualidade dos registros oficiais, o Atlas e DAUDELIN, 2018; FELTRAN, 2022b apud FELTRAN,
da Violência do FBSP (2021) realizou um exercício 2022a) sendo, também, majoritariamente, homens,
tomando como premissa o trabalho de apud FBSP jovens, negros (pretos e pardos) (FELTRAN et. al,
(2022a). Estimou-se que cerca de 74% da proporção 2022a). Integrar esse perfil, segundo Cordeiro (2022,
de MVCI condiz, na realidade, com “homicídios não no prelo apud FELTRAN, 2022a), acresce em 19 vezes a
classificados como tais” (id., ibid.); isto é, “caso a probabilidade de ser vítima de homicídio no Brasil.
proporção de MVCI em relação ao total de mortes
violentas fosse a mesma observada em 2017 (6,6%), As variações mais acentuadas no número de assassinatos
haveria cerca de 5.338 homicídios a mais registrados do perfil homens, jovens e negros são as que influenciam
em 2019” (id., ibid.). Contudo, essa situação de elevadas as taxas agregadas (FELTRAN, 2022a); estudos técnicos
taxas de MVCI afeta, sobretudo, os Estados de São apontam que o fato de alguém se integrar nas dinâmicas
Paulo, Ceará, Bahia e, de forma alarmante, o Rio de faccionais no Brasil é mais determinante nas chances de
Janeiro; neste estado, segundo o Atlas da Violência, do ser assassinado do que gênero, idade ou cor/raça (SILVA,
FBSP (2021), a taxa de homicídios diminuiu 45,3% em 2019; FELTRAN, 2020; apud FELTRAN, (2022a)10; isto é,
2019, ao passo que a taxa de MVCI aumentou 237% no mesmo que jovens negros sejam mais vitimados, integrar
mesmo ano, sendo que nesse período 34,2% das mortes uma facção é o principal fato de risco. Quanto à questão
violentas foram classificadas como MVCI. da escolaridade, por fim, trabalhos já demonstraram
que há uma correlação direta entre jovens inseridos no

10
SILVA, Luiz Eduardo Lopes. Desentoca o arsenal!: A estrutura de sentimento na guerra de facções, analisada a partir do proibidão. Leitura: Teoria e Prática, vol. 37, pp.
93-110, 2019.
FELTRAN, Gabriel de Santis. The Entangled City: Crime as Urban Fabric in São Paulo. Manchester: Manchester University Press, 2020.
MALDONADO, Janaína. Jogando meu corpo no mundo: Relações entre marcadores sociais da diferença e conflito urbano. Dissertação (Mestrado em Sociologia) –
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2020.

122
universo do crime e alta defasagem escolar (BITTAR, 2012 O conflito entre facções criminosas brasileiras14,
apud FELTRAN, 2022a)11. iniciando-se em 2016 e agravando-se em 201715,
colaborou para que a tendência de queda no
Em praticamente todos os períodos e locais em número de homicídios em alguns estados fosse
que foram registradas fortes elevações nas taxas de interrompida (id., ibid.) — conforme visto no gráfico
homicídio havia a operação de mercados ilegais, com 73 (pág. 123), as Regiões Norte e Nordeste foram
elevada lucratividade, se inserindo e sendo disputados as principais responsáveis pelo aumento das taxas
por grupos armados (MANSO e GODOY, 2014; RATTON de homicídio no país, as quais demonstraram
e DAUDELIN, 2018; MANSO e DIAS, 2018; FELTRAN, queda nas demais regiões; desde então as taxas
2018, 2019; KAHN, 2021; RODRIGUES, 2019a, 2020ª voltaram a cair. Feltran (2022a) alega, por fim, que
apud FELTRAN et al., 2022a)12. a hegemonia do Primeiro Comando da Capital
(PCC), sobretudo após o ano de 2006, instituiu
Há outras hipóteses apontadas pela literatura que uma “pax faccional” no comércio de drogas, armas,
buscam explicar e/ou complementar as razões para as veículos etc., reduzindo, por consequência, as taxas
quedas nos homicídios, como mudanças nas políticas de homicídio de maneira contínua nos estados
de segurança pública ou no perfil demográfico em que os comércios ilegais são controlados pela
brasileiro. Entretanto, os estudos sobre as dinâmicas facção, enquanto que nas regiões onde as facções
faccionais seguem sendo aqueles que melhor elucidam disputam esse controle, os homicídios apresentam
as quedas verificadas a partir de 201813. tendência de crescimento.

11
BITTAR, Mariana. Trajetórias educacionais dos jovens residentes num distrito com elevada vulnerabilidade juvenil. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2012.
12
MANSO, Bruno Paes; GODOY, Marcelo. “20 anos de PCC: o efeito colateral da política de segurança”. Interesse Nacional, vol. 1, pp. 5-15, 2014.
RATTON, José Luiz; DAUDELIN, Jean. “Construction and Deconstruction of a Homicide Reduction Policy: The Case of Pact for Life in Pernambuco, Brazil”. International
Journal of Criminology and Sociology, vol. 7, pp. 173-183, 2018.
MANSO, Bruno Paes; DIAS, Camila Nunes. A guerra: Ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil. São Paulo: Todavia, 2018.
FELTRAN, Gabriel de Santis. Irmãos: Uma história do PCC. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
FELTRAN, Gabriel de Santis. “Economias (i)lícitas no Brasil: Uma perspectiva etnográfica”. Journal of Illicit Economies and Development, vol. 1, p. 36, 2019.
KAHN, Tulio. “What Does the Evidence Tell Us about Drug-Related Violence in Brazil”. UN Commission on Narcotic Drugs, vol. 13, 2021.
RODRIGUES, Fernando de Jesus. “Mercados ilícitos, ambivalências e agressividade: Condições estatais e mercantis de um circuito de bailes de reggae em ‘periferias’ de
Maceió, AL”. Contemporânea, vol. 9, nº 1, pp. 199-227, 2019.
RODRIGUES, Fernando de Jesus. “‘Corro com o PCC’, ‘Corro com o CV’, ‘Sou do crime’: facções, sistema socioeducativo e os governos do ilícito em Alagoas”. RBCS, vol.
35, nº 103, pp. 1-21, 2020a.
13
“O Infocrim (2000), em São Paulo; o Fica Vivo (2003) e o Igesp - Integração e Gestão de Segurança Pública (2008), em Minas Gerais; o Pacto pela Vida (2007), em
Pernambuco; as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) (2008), no Rio de Janeiro; o Paraíba Unidos pela Paz (2011), na Paraíba; o Estado Presente (2011), no Espírito
Santo; além de ações e planos de segurança pública municipais em cidades do Sul, de São Paulo e em alguns outros estados” (Cerqueira et. al, 2021, p. 13).
14
“Ao longo da década houve um armistício entre as grandes facções de narcotráfico, em 2018 e 2019, após a guerra que eclodiu em meados de 2016 e seguiu até o
final de 2017, conforme analisado nos “Atlas da Violência 2019” (CERQUEIRA et al., 2019) e “Atlas da Violência 2020” (CERQUEIRA et al., 2020). Esse armistício, cujas
consequências foram mais substantivas nas Regiões Norte e Nordeste — Estados que estão na rota do tráfico internacional de drogas, que passa pelo Alto do Juruá,
Solimões e termina em algumas capitais nordestinas —, junto com os fatores supramencionados, contribuiu para a reversão da trajetória de crescimento dos homicídios
agregados no Brasil a partir de 2018” (FBSP, 2021, p. 13).
15
Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_massacres_e_rebeli%C3%B5es_prisionais_no_Brasil — São Paulo: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA
(FBSP), 2021).

123
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

O gráfico 74 (pág. 124) mostra que as taxas de homicídio conjuntura da rota do tráfico internacional de drogas —
de crianças e adolescentes com menos de 19 anos de rota essa que se inicia na região amazônica e termina
idade são mais críticas nas Regiões Nordeste e Norte, nas capitais nordestinas, onde a droga é exportada
as quais enfrentam as maiores taxas de homicídio de para países europeus, da África e do Oriente Médio16.
crianças e adolescentes com menos de 19 anos de idade Segundo esses autores, há uma probabilidade de que
para cada 100 mil habitantes — sendo, por consequência, o crescimento do número de homicídios nas Regiões
as que se encontram mais distantes da meta nacional Norte e Nordeste esteja associado a eclosão da guerra
deste ODS, seguidas pela Região Centro-Oeste. Dentre do narcotráfico no Brasil, ocorrida entre 2016 e 2017,
as dez cidades brasileiras que registraram as maiores abrangendo “as duas maiores facções criminais — o PCC
taxas, metade se encontram na Região Nordeste. A alta e o Comando Vermelho (CV) — e suas facções aliadas na
taxa de homicídios dessa região pode ser explicada pela região (FBSP, 2022b, p. 13).

Gráfico 75. Taxas de homicídio de crianças e adolescentes com menos de 19 anos


de idade segundo cor/raça (para cada 100 mil habitantes) — Brasil, 2015 a 2021
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Meta Nacional dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS)
30

25,9
24,1

22,2
21,6
20,8
20 19,3 19,2 19,1
18,4
16,8
15,3

12,2
11,8
11,4

10
7,0 7,3 6,9
5,5 4,0
5,4 3,0 2,8 5,4 5,4

0
Taxa de homicídios de crianças Taxa de homicídios de crianças Taxa de homicídios de crianças
e adolescentes brancos e adolescentes negros e adolescentes indígenas

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) — Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM) (óbitos). População de referência: Estimativas populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e enviadas ao Tribunal de Contas da União (TCU), estratificadas por idade pela Fundação Abrinq.

16
Disponível em https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2022/09/informe-armas-fogo-homicidios-no-brasil.pdf. Acesso em 10 de julho de 2023.

124
Além da visão regionalizada, cabe ressaltar que a de 2021 mostram que a situação se agravou: 82,2%
redução da taxa de homicídio não é equilibrada entre os dos jovens de 0 a 19 anos de idade assassinados
grupos sociais, conforme o critério cor/raça, entre 2015 no país eram negros18, o que corresponde a 5.320
e 2021. Ao passo que a taxa de homicídio para crianças jovens vitimados pela violência no país. Dentre os
e adolescentes brancos caiu continuamente ao longo jovens vitimados, 75,8% são negros entre 15 e 19
dos últimos cinco anos, o mesmo não aconteceu com anos. Nesse mesmo período, segundo o sexo, dentre
crianças e adolescentes negros (pretos e pardos), que a faixa etária de jovens com maior vitimização (de 15
apresentaram oscilações que na prática revelaram um a 19 anos), 93,1% dos adolescentes eram homens;
aumento da disparidade já constatada anteriormente. desses, 82,4% eram negros; das vítimas dessa faixa
etária, 77,2% compõem o grupo de homens, jovens
Nesta série histórica entre 2015 e 2021, fica nítida e negros; além disso, 94,3% dos óbitos de crianças e
a disparidade da questão racial como uma questão adolescentes dessa faixa etária foram cometidos por
estrutural da sociedade brasileira: apesar de jovens armas de fogo.
negros comporem 54,5% de crianças e adolescentes
no país17, esses corresponderam a 81,5% das vítimas Com relação, por fim, à meta nacional dos ODS, o
de homicídios desse grupo em 2021; enquanto que o país teve êxito, em 2019 e 2020, apenas no grupo de
grupo composto pelas cores/raças branca e amarela crianças e adolescentes da cor/raça branca, estando
— cerca de 45% da composição dos jovens brasileiros ainda, para os demais grupos, muito distante do
— foram 16,4% das vítimas dessa violência. Os dados escopo traçado em 2015.

Meta 16.2
Proteger todas as crianças e todos os adolescentes do abuso, exploração, tráfico, tortura e
todas as outras formas de violência.

A Meta 16.2 delimita acabar com todos os tipos de (como o Estado, a família e a sociedade). Além disso, a
violência contra crianças e adolescentes. Em razão nacionalização das metas globais delimitou os principais
da complexidade do tema, essa meta está sob tipos de violência notificadas no Brasil relacionados
responsabilidade de diversas instituições sociais a essa meta: I) negligência e abandono; II) violência

17
Estimativas populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e enviadas ao Tribunal de Contas da União (TCU).
18
Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) - Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM).

125
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

física; III) violência psicológica; IV) violência sexual; V) Em 2022, o país registrou aumento do número de casos
tráfico de pessoas; VI) violência letal; VII) afastamento em todos os indicadores observados para a meta, o que
do convívio familiar; VIII) privação de liberdade sem o configura um panorama preocupante e que deve receber
devido processo legal ou por tipos de delitos que não mais atenção: 41.603 notificações de casos de negligência
justifiquem a medida socioeducativa em meio fechado; e abandono cometidos contra menores de 19 anos de
IX) trabalho infantil; e X) sub-registro de nascimento. idade — aumento de, aproximadamente, 16% em relação
ao ano anterior; 62.344 casos de violência física cometidos
Na inexistência de novos indicadores adaptados a contra menores de 19 anos, resultando em uma taxa de
essa meta, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 92,7 casos para cada 100 mil pessoas de 0 a 19 anos e um
(Ipea) propôs o emprego do Sistema de Informação aumento de 26,6% no número de casos em relação ao ano
de Agravos de Notificação (Sinan/MS), que seleciona anterior; e, por fim, 28.252 casos registrados de violência
“todas as notificações feitas por profissionais de saúde psicológica cometidos contra menores de 19 anos de
nos casos determinados” (IPEA 2019) pela Portaria de idade — maior número já registrado na série histórica
Consolidação nº 4, de 28 de setembro de 2017, anexo V, desde 2011 —, o que corresponde a uma taxa de cerca de
capítulo I (Brasil, 2017). 42 casos para cada 100 mil indivíduos — um aumento de
22,9% no número de casos em relação ao ano anterior.

Gráfico 76. Notificações aos sistemas de saúde de casos de negligência e abandono cometidos contra menores
de 19 anos de idade segundo grupo etário da vítima — Brasil e Grandes Regiões, 202219

Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste
100%

82,3% 84,6%
80,2%
80% 77,9% 77,6%

69,5%

60%

40%
30,5%

21,7% 21,5% 19,8%


20% 17,7% 15,4%

0,3% 0,0% 0,0% 0,9% 0,0% 0,0%


0%
Menores de 19 anos de idade 19 anos de idade ou mais Idade ignorada

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

19
Os dados de 2022 foram atualizados em 16 de fevereiro de 2023 e estão sujeitos à revisão.

126
Tabela 34. Notificações aos sistemas de saúde de casos de negligência e abandono cometidos contra menores
de 19 anos de idade segundo grupo etário da vítimas— Brasil e Grandes Regiões, 2022

Localidade Menores de 19 anos de idade 19 anos de idade ou mais Idade ignorada Total
Brasil 41.603 11.607 167 53.377
Região Norte 1.970 425 - 2.395
Região Nordeste 9.116 4.008 - 13.124
Região Sudeste 14.223 3.931 167 18.321
Região Sul 12.073 2.203 - 14.276
Região Centro-Oeste 4.221 1.040 - 5.261

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

A forma mais recorrente de violência por omissão é o de problemas de convivência familiar e comunitária
não atendimento das necessidades básicas da criança dirigidos aos conselhos tutelares (28.465 casos)
Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP); Sociedade descreviam situações de negligência dos pais (id., ibid.).
Brasileira de Pediatria (SBP), 2018).
Trata-se, portanto, da “submissão a atos ou atitudes Além disso, a omissão do cuidar é difícil de ser notificada
de omissão de forma crônica, intencional ou não, por diversas razões, como problemas de definição,
com prejuízos à higiene, nutrição, saúde, educação, desconhecimento da legislação por parte de profissionais
estímulo ao desenvolvimento, proteção e afetividade de saúde, dificuldade em identificar os sintomas ou a
da criança” (SPSP; SBP, 2018, p. 81), tendo suas falta de um padrão para distinguir a irresponsabilidade
consequências presentes ao longo de toda a vida dos responsáveis e a falta de habilidade deles para prover
do jovem. Segundo esses autores, a negligência é o condições mínimas de bem-estar (CALZA; DELL`AGLIO;
motivador de aproximadamente metade das denúncias SARRIERA apud SPSP; SBP, 2018).
sobre violações de direitos fundamentais de crianças
e adolescentes no país, de acordo com o Sistema Em 2022, foram registradas 41.603 notificações de
de Informação para Infância e Adolescência (Sipia), casos de negligência e abandono cometidos contra
que obtém todas as notificações sobre violência dos menores de 19 anos de idade — um aumento de,
conselhos tutelares (SPSP; SBP, 2018). Os dados de aproximadamente, 16% em relação ao ano anterior. Na
2013 demonstram que quase metade (46,4%) dos casos série histórica de 2010 a 2019, o país registrou um total

127
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

de 338.487 casos entre menores de 19 anos — média de No que se refere à faixa etária, foram notificados 23.865
23.156 casos por ano; em 2020 houve uma redução de casos contra crianças com até 4 anos de idade, o que
19,4% em relação ao ano anterior (29.470 casos); mas os corresponde a mais da metade (57,4%) dos casos entre
anos de 2021 e 2022 mostraram que essa redução foi os menores de 19 anos de idade; quanto ao sexo dos
apenas pontual e o país voltou a apresentar aumentos indivíduos, a proporção de notificações entre meninos
nos casos; em 2021, houve um aumento de 21,7% e, em e meninas é correspondente à população dos mesmos
2022, novamente um acréscimo, desta vez de 16%. nesse período; quanto à cor da pele, as conclusões são
análogas: jovens negros (pretos e pardos) compõem
Com relação ao período de 2020, é relevante fazer 54,5% das crianças e dos adolescentes no país e o
algumas ponderações importantes: sob o contexto percentual de notificações desse tipo para esse grupo é
de restrição de circulação de pessoas em virtude de 57,4%, o que, também, é relativamente proporcional
da pandemia de Covid-19 — com inúmeros órgãos à população.
públicos funcionando em horários de atendimento
reduzidos — muitas pessoas esquivaram-se de sair de
casa em busca de atendimento nas unidades de saúde.
Pode-se afirmar, portanto, que é provável que haja uma
subnotificação de atendimentos e boletins de ocorrência
relacionados aos mais diversos tipos de violência no
país naquele ano.

128
Gráfico 77. Notificações aos sistemas de saúde de casos de violência física segundo
grupo etário da vítima — Brasil e Grandes Regiões, 2022

Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

100%

80% 78,2%
75,7% 74,5%
72,2% 73,0%
68,9%

60%

40%

31,1%
27,8% 27,0%
25,5%
24,2%
21,8%
20%

0%
Menores de 19 anos de idade 19 anos de idade ou mais

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Tabela 35. Notificações aos sistemas de saúde de casos de violência física cometidos
contra menores de 19 anos de idade — Brasil e Grandes Regiões, 2022

Localidade menores de 19 anos de idade 19 anos de idade ou mais Total


Brasil 62.344 194.908 257.305
Região Norte 5.140 11.381 16.521
Região Nordeste 12.050 35.128 47.179
Região Sudeste 30.967 111.002 142.021
Região Sul 9.062 23.541 32.603
Região Centro-Oeste 5.125 13.856 18.981

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

129
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

No que tange à violência física (autoprovocada, Percebe-se que esse tipo de violência ocorre mais
intrafamiliar ou extrafamiliar), essa permanece sendo frequentemente entre jovens de 15 a 19 anos de idade
a segunda forma com maiores registros de violência (32.313 registros), mais que o dobro comparado com as
contra crianças e adolescentes no Brasil (IPEA, 2019d). ocorrências entre crianças de 10 a 14 anos (16.153); ou
seja, 77,7% dos casos de violência física são cometidos
A violência física é definida como: contra jovens entre 10 e 19 anos; já entre as crianças
de até 9 anos de idade, houve 13.878 casos — 39,4%
uso da força física de forma intencional, não entre as de 5 a 9 anos. Do total de jovens agredidos,
acidental, praticada por pais, responsáveis, familiares 64,5% são do sexo feminino; um fato importante de
ou pessoas próximas da criança ou do adolescente, salientar, ainda, é que entre as crianças de 0 a 9 anos,
que pode ferir, lesar, provocar dor e sofrimento ou há uma divisão equilibrada dos casos entre meninos e
destruir a pessoa, deixando ou não marcas evidentes meninas, contudo, as garotas de 10 a 19 anos de idade
no corpo, e podendo provocar inclusive a morte representam a maior parte dos casos nessa faixa etária
(LIMA, 2006, p. 298 apud SPSP; SBP, 2018). (48.450 notificações, equivalente a 67,9% dos casos);
assim, mais da metade dos casos de violência física
Isto é, trata-se, sobretudo, de um fenômeno intrafamiliar. registrados no país vitimaram jovens entre 10 a 19 anos
Apesar de ser um fenômeno de difícil notificação, do sexo feminino. Já quanto à questão racial, por fim,
estima-se que esse tipo de violência seja responsável pretos e pardos somam 34.691 ocorrências e brancos e
por cerca de 25% de todos os tipos de violência contra a amarelos 21.539.
criança e o adolescente (SPSP; SBP, 2018).

Ainda assim, “as informações oriundas do Sinan


permitem mostrar a dimensão, os contornos e as
configurações de vários tipos de violências praticadas
contra crianças e adolescentes no país” (IPEA, 2018, p. 22).

Em 2022, foram registrados 62.344 casos de violência


física cometidos contra menores de 19 anos de idade,
o equivalente à alarmante taxa de 92,7 casos para cada
100 mil pessoas de 0 a 19 anos, que representam 24,2%
dos casos de violência física no país. Houve, portanto,
um aumento de 26,6% no número de casos em relação
ao ano anterior.

130
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste
Gráfico 78. Notificações aos sistemas de saúde de casos de violência psicológica/moral cometidos contra
100%
menores de 19 anos de idade segundo grupo etário da vítima — Brasil e Grandes Regiões, 2022
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

100%
80% 76,8%
74,4%
72,2%
68,4%
65,9%
64,2%

80% 76,8%
60%
74,4%
72,2%
68,4%
65,9%
64,2%

60%
40%
35,8%
34,1%
31,6%
27,8%
25,6%
23,2%

40%
20% 35,8%
34,1%
31,6%
27,8%
25,6%
23,2%

20%
0%
Menores de 19 anos de idade 19 anos de idade ou mais

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Tabela
0% 36. NotificaçõesMenores
aos sistemas de saúde de casos de violência psicológica/moral
de 19 anos de idade
cometidos contra
19 anos de idade ou mais
menores de 19 anos de idade segundo grupo etário das vítima — Brasil e Grandes Regiões, 2022

Localidade menores de 19 anos de idade 19 anos de idade ou mais Idade ignorada Total
Brasil 28.252 73.482 8 101.742
Região Norte 3.386 6.075 - 9.461
Região Nordeste 4.509 14.894 1 19.404
Região Sudeste 13.087 37.997 7 51.091
Região Sul 5.165 9.965 - 15.130
Região Centro-Oeste 2.105 4.551 - 6.656

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

A violência psicológica contra crianças e adolescentes às necessidades psíquicas dos adultos” (BRASIL, 2002,
é definida, segundo o MS, como “toda forma de p. 13). Além disso, sua ocorrência se dá, sobretudo,
rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, a partir de “relações interpessoais, de modo direto
cobranças exageradas, punições humilhantes e ou indireto, no ambiente familiar/doméstico ou fora
utilização da criança ou do adolescente para atender dele (na escola, na instituição ou em outros espaços

131
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

frequentados por essa faixa etária)” (BAISCH, 2015; idade — maior número já registrado na série histórica
MELLO, 2008 apud SPSP; SBP, 2018) , sendo a forma 20
desde 2011 —, o que corresponde a uma taxa de cerca de
de violência preponderante no mundo contra crianças 42 casos para cada 100 mil indivíduos — casos esses que
(HIBBARD et al., 2012). caracterizam 28,1% das ocorrências de abuso psicológico
no país. Na série histórica de 2011 a 2019, o país teve uma
As consequências desse abuso sobre as crianças são média de 18.641 casos por ano, com aumentos sucessivos
devastadoras, podendo acarretar prejuízos para o até 2019; 2020 foi o único período que apresentou queda
desenvolvimento psicoafetivo, dificuldades de formar nas ocorrências (17.769 casos, redução de 25% em relação
relações interpessoais profundas, visão pessimista ao ano anterior); contudo, já em 2021, os números de
de mundo, comportamentos antissociais, ansiedade notificações voltaram a subir e, em 2022, o aumento foi de
excessiva e até ocasionar tentativas de suicídio ou 22,8% no que diz respeito ao ano anterior — essa elevação
mesmo suicídio consumado (GOSSET et al., 1996; ocorreu, aproximadamente, de forma equivalente entre as
MELLO, 2008 apud SPSP; SBP, 2018)21. regiões do país.

Apesar de o abuso psicológico ter sido definido no É possível observar que esse tipo de violência ocorre mais
Brasil em legislação específica (Leis nº 13.010/2014 e comumente entre jovens de 15 a 19 anos de idade (10.347
13.431/2017), englobando toda e qualquer atitude de registros), número maior que o total de casos registrados
discriminação, depreciação ou desrespeito para com entre os menores de 9 anos (8.510); isto é, 36,6% dos casos
crianças e adolescentes ou em relação à criança ou ao de violência psicológica são registrados contra jovens entre
adolescente, o Código Penal Brasileiro atesta somente 15 a 19 anos, sendo que o percentual desse grupo entre a
as lesões corporais como danos à saúde das crianças população de 0 a 19 anos de idade, segundo estimativas,
e dos adolescentes (CUNHA, 2020), dificultando, por é de 27,2%. Nesse indicador, há um enorme desequilíbrio
consequência, que medidas judiciais sejam empreendidas na proporção dos casos quanto ao sexo dos indivíduos:
para a proteção dessas vítimas. A subnotificação é ainda 74% das notificações são de indivíduos do sexo feminino
agravada pela dificuldade de ser diagnosticada pelos (20.909 casos); a Região Norte é aquela que apresenta a
agentes de saúde, impactando os registros do Sinan. maior desproporção por gênero, sendo 83,4% crianças e
adolescentes do sexo feminino; pode-se dizer, também,
Em 2022, foram registrados 28.252 casos de violência que há uma certa equidade na distribuição dos casos entre
psicológica cometidos contra menores de 19 anos de as faixas etárias e entre o critério de cor/raça.

20
BAISCH, VM. Alienação parental, sugestões falsas e falsas memórias. Canal Ciências Criminais [Internet]. 2015 abr. 30. Disponível em http://bit.ly/2EVPdTW.
MELLO, ACC. Kit respeitar: enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes: queremos respeito: guia para crianças, adolescentes e quem lida com eles
[Internet]. São Paulo: Fundação Orsa; 2008. Disponível em: https://goo.gl/rCkjZx.
21
GOSSET, D.; HÉDOUIN, V.; REVUELTA, E.; DESURMONT, M. Les sévices psychologiques. In: GOSSET, D.; HÉDOUIN, V.; REVUELTA, E.; DESURMONT, M. La
maltraitance à enfants. Paris: Masson; 1996. pp. 61-78.

132
Meta 16.4
Até 2030, reduzir significativamente os fluxos financeiros e de armas ilegais, reforçar
a recuperação e devolução de recursos roubados, e combater todas as formas de
crime organizado.

Quanto à Meta 16.4, os indicadores utilizados são a número de homicídios, por armas de fogo, de crianças e
proporção de homicídios de crianças e adolescentes adolescentes foi de 4.925 — refletindo uma taxa de 7,3
com menos de 19 anos de idade por armas de fogo e a mortes para cada 100 mil indivíduos — uma queda de
proporção de óbitos acidentais de crianças e adolescentes 11,6% em relação ao ano anterior. Importante pontuar,
com menos de 19 anos por armas de fogo. A literatura, a por fim, que o comportamento, tanto do número de
respeito do primeiro indicador para essa meta, converge homicídios como da taxa referente a esse fenômeno
para o ponto de que as armas de fogo são o principal é semelhante aos dados sobre os casos genéricos de
instrumento na ocorrência de homicídios, correspondendo homicídios, o que revela, desta maneira, uma característica
a 75% dessas ocorrências em 2021. Nesse mesmo ano, o da violência no país.

Gráfico 79. Proporção de homicídios de crianças e adolescentes com menos de 19


anos de idade por armas de fogo — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
100%

80%

60%

40%

20%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 78,9% 69,3% 84,7% 73,4% 80,1% 78,7%

2016 78,7% 70,3% 83,9% 73,3% 80,9% 79,1%

2017 78,7% 70,4% 84,3% 72,7% 78,6% 76,9%

2018 78,0% 71,8% 83,6% 71,9% 78,7% 76,0%

2019 75,5% 66,2% 82,7% 71,6% 68,9% 73,2%

2020 75,5% 69,7% 81,4% 68,2% 73,8% 70,0%

2021 75,5% 71,1% 81,4% 69,9% 72,2% 64,5%

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) — Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM) (óbitos). 133
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Tabela 37. Número de homicídios de crianças e adolescentes com menos de 19 anos


de idade por armas de fogo — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021

Localidade 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021


Brasil 8.647 9.164 9.519 7.851 5.425 5.572 4.925
Região Norte 803 966 1.002 1.007 751 644 619
Região Nordeste 3.974 4.141 4.741 3.769 2.594 2.991 2.590
Região Sudeste 2.245 2.317 2.253 1.837 1.198 1.140 1.033
Região Sul 865 961 854 680 447 408 382
Região Centro-Oeste 760 779 669 558 435 389 301

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) — Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM) (óbitos).

A literatura a respeito do tema desse indicador converge menos ainda, o direito de posse, sobretudo em virtude
para o ponto de que a quantidade de armas de fogo do resultado do referendo de comercialização, no
em circulação em dada sociedade é a principal variável qual os cidadãos decidiram, em 2005, que o comércio
na explicação do fenômeno da criminalidade violenta, de armas de fogo não deveria ser proibido, o que
incluindo a ocorrência de homicídios (FBSP, 2021; FBSP, contribuiu para a baixa eficácia da medida (id., ibid.).
2022a). Nesse ponto, Cerqueira (2014a) afirma que
a cada aumento de 1% na quantidade de armas de Como visto na seção sobre homicídios, tanto esses
fogo em circulação há uma elevação de 2% na taxa de quanto aqueles cometidos por armas de fogo
homicídios. Apesar das elevadas taxas de homicídios por registraram redução do número de ocorrências
armas de fogo, o Brasil possui uma legislação restritiva 22
a partir de 2018, aumentando em 2020, e caindo
quanto à venda e posse de armas de fogo para civis. novamente em 2021. Como visto no início do texto,
No entanto, a legislação não tem sido o suficiente para uma parte significante da literatura afirma que essa
a redução nos índices de mortes por armas de fogo, redução da letalidade intencional está relacionada,
visto que a tendência durante o período de vigência da sobretudo, a fatores como a dinâmica dos conflitos
legislação é de crescimento do fenômeno (com exceção entre as grandes facções criminosas, alterações
do ano de 2004 e o período iniciado em 2018) (BACULI das características demográficas da população, e
et al., 2021). Além disso, o Estatuto do Desarmamento mudanças nas políticas de segurança pública baseada
não foi capaz de acabar com o comércio de armas e, em evidência em alguns estados (FELTRAN et. al.,

22
Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.826.htm. Acesso em 10 julho 2023.

134
2022a; FBSP, 2021; FBSP, 2022a). Apesar desses 75,4% dos homicídios cometidos contra crianças e
fatores, os dados sobre a quantidade de jovens adolescentes foram com armas de fogo.
vitimados pela violência no país são alarmantes,
particularmente nos casos por armas de fogo. A partir de 2019, a legislação brasileira, no que tange
ao controle de armas e munições, sofreu grandes
Como visto no gráfico 79 (pág. 136), o número de alterações. Houve um significativo afrouxamento
homicídios de crianças e adolescentes com menos de da legislação sobre o tema, por meio da publicação
19 anos de idade por armas de fogo no Brasil, registrado de inúmeros atos normativos que modificaram
em 2022, foi de 4.925 — refletindo uma taxa de profundamente o Estatuto do Desarmamento e
7,3 mortes a cada 100 mil indivíduos — uma queda de 23
concederam ao cidadão acesso a armas de fogo de
11,6% em relação ao ano anterior. Isso representa uma elevado poder ofensivo. A partir dessas mudanças, foi
redução de quase 50% em relação a 2017 — período observado um aumento de cerca de 200% do número
em que houve a maior quantidade dessas ocorrências de armas registradas no Sistema de Gerenciamento
em toda a série histórica. As maiores quedas entre 2020 Militar de Armas (SIGMA), entre 2019 e 2021 (FBSP,
e 2021 foram registradas, respectivamente, nas Regiões 2022), das quais muitas “foram intermediadas para o
Sul (22,6%) e Nordeste (13,4%); contudo, apesar da crime organizado” (id., p. 14). Apesar da manutenção
população de crianças e adolescentes com menos de da tendência de queda no número de homicídios por
19 anos na Região Nordeste corresponder a 26,9%, essa armas de fogo, há estimativas que atestam que “se não
região apresentou mais da metade desses casos em 2022. houvesse o aumento de armas de fogo em circulação a
Nota-se, ainda, que apesar de a Região Sudeste ter cerca partir de 2019, teria havido 6.379 homicídios a menos
de 42% dessa população, ela registrou aproximadamente no Brasil” (FBSP, 2022b, p. 25) nesse período.
20% dos casos de homicídios por armas de fogo. Além
disso, assim como no caso de homicídios, os jovens entre
15 a 19 anos são os mais vitimados por esse tipo de
violência (4.646), correspondendo a 94,3% dos casos. Há
ainda um enorme desequilíbrio dos casos quanto ao sexo
do indivíduo: 93,3% das notificações são de indivíduos
do sexo masculino (4.536); quando se analisa a questão
da cor/raça, o perfil homens negros (pretos e pardos)
corresponde a 79,3% dos casos registrados; nesse ano,

23
Estimativas populacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e enviadas ao Tribunal de Contas da União (TCU).

135
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Gráfico 80. Proporção de óbitos acidentais de crianças e adolescentes com menos


de 19 anos de idade por armas de fogo — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

50%

45%

40%

35%

30%

25%

20%

15%

10%

5%

0%
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro-Oeste

2015 17,2% 17,1% 16,4% 20,0% 25,0% 4,3%

2016 18,8% 17,9% 17,5% 18,3% 22,6% 24,0%

2017 27,3% 34,8% 22,9% 25,0% 41,7% 6,7%

2018 21,7% 30,0% 17,0% 22,1% 36,4% 13,0%

2019 15,6% 21,2% 17,1% 15,3% 0,0% 10,3%

2020 19,6% 30,8% 14,4% 22,4% 13,3% 20,0%

2021 12,7% 17,3% 11,4% 7,6% 20,0% 17,6%

Fonte: Ministério da Saúde (MS)/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) — Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM) (óbitos).

136
Tabela 38. Óbitos acidentais de crianças e adolescentes com menos de 19 anos de
idade por armas de fogo — Brasil e Grandes Regiões, 2015 a 2021

Óbitos acidentais de crianças e adolescentes com


Óbitos acidentais por armas de fogo
menos de 19 anos de idade por armas de fogo
Localidade

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Brasil 54 57 88 52 50 52 29 314 303 322 240 320 265 229

Região Norte 13 12 24 15 11 12 9 76 67 69 50 52 39 52
Região
19 21 27 15 26 15 9 116 120 118 88 152 104 79
Nordeste
Região
15 11 21 15 9 15 5 75 60 84 68 59 67 66
Sudeste
Região Sul 6 7 15 4 0 2 3 24 31 36 11 18 15 15
Região
1 6 1 3 4 8 3 23 25 15 23 39 40 17
Centro-Oeste
Fonte: Ministério da Saúde (MS /Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) — Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM) (óbitos).

Por fim, vale mencionar que 31% dos casos de dos jovens vitimados tinham entre 15 e 19 anos
óbitos acidentais de crianças e adolescentes por de idade, enquanto que os menores de 15 anos
armas de fogo ocorreram no interior de domicílios, corresponderam a 37,9% dos casos; quanto ao sexo
mesma proporção para os óbitos registrados em dos indivíduos, cerca de 76% das vítimas eram do
vias públicas. Já no que se refere à faixa etária, 62% sexo masculino.

137
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

Notas metodológicas

Desde a ratificação da Agenda 2030 pelos Para refletir as atuais possibilidades a Fundação Abrinq
193 Estados-membros da Organização das apresenta os resultados de séries históricas de alguns
Nações Unidas (ONU), no final de 2015, e pelo indicadores capazes de traduzir, de maneira objetiva
acompanhamento dos trabalhos do Grupo e passível de recuperação, a persecução de 30 metas
Interinstitucional e de Peritos sobre Indicadores nacionais entre os dez ODS acompanhados. A seleção
dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das metas que constam deste relatório buscou priorizar,
(Iaeg-SDGs, sigla em inglês), a Fundação Abrinq de um lado, a possibilidade de verificar de maneira
busca aproximar o monitoramento estatístico da concreta seu cumprimento e, de outro, aquelas que
realidade da infância e adolescência brasileiras, ao tivessem indicadores sugeridos e produção regular
padrão estabelecido pelas metas dos Objetivos de de dados e informações estatísticas. Também foi
Desenvolvimento Sustentável (ODS). considerado um princípio metodológico, a utilização de
indicadores que pudessem, dentro das possibilidades
Três anos depois do esforço preliminar na seleção correntes, ser reproduzidos pelo cidadão comum.
dos ODS relacionados de modo mais direito com
a infância e adolescência, em 2018, o Instituto de Os desdobramentos e reflexos da pandemia de Covid-19
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou o no Brasil, dos quais o adiamento da operação censitária
resultado do trabalho de adaptação das metas foi um dos diversos exemplos, exigiu que as fontes de
internacionais dos ODS ao contexto nacional em informação utilizadas fossem restritas àquelas derivadas
uma série de 17 publicações intituladas Cadernos das pesquisas domiciliares por amostra e de registros
ODS (2019). administrativos. Com a divulgação dos resultados
preliminares do Censo Demográfico, em julho de 2023,
A partir da exposição das razões que fundamentam a Fundação Abrinq adotou a estratificação da população
a adaptação das metas internacionais ao contexto por grupos etários tendo as taxas de crescimento entre
brasileiro, as possibilidades de monitoramento censos demográficos como referência.
do desempenho nacional no cumprimento destas
metas, tanto nacionais como internacionais, Dos dez ODS mencionados neste relatório, três deles —
especialmente nos temas da infância e ODS 11, ODS 8 e ODS 10 — têm as metas mensuradas
adolescência, tornaram-se ainda mais concretas. exclusivamente pelas pesquisas domiciliares por amostra,
especificamente pela Pesquisa Nacional por Amostra de

138
Domicílios Contínua (Pnad Contínua). A multiplicidade de 5.324 do ODS 5 foram comparados os resultados dos
temas investigados por esta pesquisa permitiu que fossem casamentos extraídos das Estatísticas do Registro Civil
cercados os aspectos elencados nas metas, como as com as informações de meninas com menos de 19 anos
condições dos domicílios (materiais que predominam nas de idade que informaram ter a condição de cônjuges
paredes externas dos domicílios, a existência de banheiros ou companheiras nos domicílios. Por último, a Pnad
exclusivos e o acesso à água canalizada), as características Contínua foi utilizada nas Metas 4.1 e 4.5 do ODS 4, por
do emprego e do mercado de trabalho (incluídos os também investigar as condições de escolarização dos
aspectos do trabalho de crianças com menos de 13 anos habitantes do domicílio. Para a identificação do alcance
de idade, do trabalho informal e daquele relacionado às da Meta 3.725, foram combinadas as informações de
piores formas do trabalho infantil (Lista TIP)) e composição nascimentos de mães com menos de 19 anos, extraídos
da renda das pessoas e dos domicílios. do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

Em outros três ODS — ODS 1, ODS 5, ODS 4 — Os registros administrativos empregados para o
combinou-se a utilização das pesquisas domiciliares monitoramento das metas restantes do ODS 4 foram
por amostra e registros administrativos para o exame extraídos dos resultados do Censo Escolar da educação
de suas metas. Para a identificação da população em básica produzidos anualmente pelo Instituto Nacional
situação de baixos e muito baixos rendimentos (pobreza de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
e pobreza extrema), utilizou-se as frações de meio e um (Inep), de onde são calculadas as taxas de rendimento
quarto do salário-mínimo vigente no ano em questão, (abandono, aprovação e reprovação) que também
sem a correção do índice de inflação ano a ano. figuram como indicadores neste relatório. Os dados
Também foi desconsiderada a utilização da Paridade de notificações aos sistemas de saúde de violências e
do Poder de Compra (PPC) pela proximidade que os violações de direitos, que compõem o monitoramento
resultados deste índice apresentam do valor nominal das Metas 5.326 e 16.227, são reunidos e compilados
das frações do salário-mínimo, tanto nas condições pelo Sistema de Informação sobre Agravos de
de pobreza como da pobreza extrema. Para a Meta Notificação (Sinan). Para a Meta 1.328, as informações

24
Meta 5.3 — Eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos e uniões precoces, forçados e de crianças e jovens, nas suas intersecções com raça, etnia,
idade, deficiência, orientação sexual, identidade de gênero, territorialidade, cultura, religião e nacionalidade, em especial para as mulheres do campo, da floresta,
das águas e das periferias urbanas.
25
Meta 3.7 — Até 2030, assegurar o acesso universal aos serviços e insumos de saúde sexual e reprodutiva, incluindo o planejamento reprodutivo, informação e
educação, bem como a integração da saúde reprodutiva em estratégias e programas nacionais.
26
Meta 5.2 — Eliminar todas as formas de violência de gênero nas esferas pública e privada, destacando a violência sexual, o tráfico de pessoas e os homicídios,
nas suas intersecções com raça, etnia, idade, deficiência, orientação sexual, identidade de gênero, territorialidade, cultura, religião e nacionalidade, em especial
para as mulheres do campo, da floresta, das águas e das periferias urbanas.
27
Meta 16.2 — Proteger todas as crianças e todos os adolescentes do abuso, exploração, tráfico, tortura e todas as outras formas de violência.
28
Meta 1.3 - Assegurar para todos, em nível nacional, até 2030, o acesso ao sistema de proteção social, garantindo a cobertura integral dos pobres e das pessoas
em situação de vulnerabilidade.

139
Um Retrato da Infância e Adolescência no Brasil

da população incluída no Cadastro Único (CadÚnico) A opção pela utilização de uma fonte de registros
foram obtidas na Secretaria de Avaliação e Gestão da administrativos, como o Sistema de Informações
Informação (Sagi). sobre Saneamento (SNIS) para o monitoramento
da condição brasileira nas duas metas do ODS 631,
Nos ODS onde os registros administrativos são se relaciona com a periodicidade anual de
exclusividade das fontes do monitoramento das divulgação dos dados de saneamento informados
metas, ou que respondem pela maior parte destas, os pelas prestadoras estaduais, além da facilidade de
sistemas do Departamento de Informática do Sistema recuperação destas informações. Ainda que o grupo
Único de Saúde (Datasus) informam o desempenho de dados relacionados às condições de saneamento
brasileiro em relação às taxas de mortalidades dos domicílios também conste da Pnad Contínua,
infantil, na infância, materna e das mortes por causa a proximidade dos resultados informa que, mesmo
externas (homicídios e suicídios ), pelo Sistema de
29
com objetivos diferentes, os resultados de ambos os
Informações sobre Mortalidade (SIM) e pelo Sinasc. inquéritos tendem a demonstrar a mesma realidade.
As restrições do uso dos dados preliminares de 2020,
neste caso, podem ser ponderadas pela exposição da
perspectiva na série histórica que se inicia em 2015
neste relatório.

Mesmo que careça de aprimoramentos em sua


cobertura e capacidade de recuperação, o Sistema
de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) é uma
fonte capaz de informar a realidade nutricional das
crianças acompanhadas em limites geográficos
restritos, como os municípios. Por esta razão, e por
conter os critérios de identificação da condição
nutricional dos indivíduos acompanhados já em seu
sistema de exportação de relatórios, ele é utilizado na
mensuração da Meta 2.230.

29
As informações dos óbitos por causas externas são compiladas pelos códigos do Capítulo XX da décima Classificação Internacional de Doenças (CID-10).
30
Meta 2.2 — Até 2030, erradicar as formas de má-nutrição relacionadas à desnutrição, reduzir as formas de má-nutrição relacionadas ao sobrepeso ou à
obesidade, prevendo o alcance até 2025 das metas acordadas internacionalmente sobre desnutrição crônica e desnutrição aguda em crianças menores de 5
anos de idade, e garantir a segurança alimentar e nutricional de meninas adolescentes, mulheres grávidas e lactantes, pessoas idosas e povos e comunidades
tradicionais.
31
Meta 6.1 — Até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo à água para consumo humano, segura e acessível para todos. Meta 6.2 — Até 2030, alcançar o
acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos, e acabar com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das
mulheres e meninas, e daqueles em situação de vulnerabilidade.

140
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142
Declaração Universal
dos Direitos da
Criança*

Aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 20 de novembro de 1959.

Todas as crianças têm direito:

1 – A igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade;

2 – A especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social;

3 – A um nome e a uma nacionalidade;

4 – A alimentação, moradia e assistência médica adequada para a criança e a mãe;

5 – A educação e a cuidados especiais para a criança física ou mentalmente deficiente;

6 – A amor e a compreensão por parte dos pais e da sociedade;

7 – A educação gratuita e a lazer infantil;

8 – A ser socorrida em primeiro lugar, em caso de catástrofes;

9 – A ser protegida contra o abandono e a exploração no trabalho;

10 – A crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos.

Em 12 de outubro de 1990, entrou em vigor o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), marco histórico na
garantia dos direitos da criança e do adolescente no Brasil.

*Elaborado por Raquel Altman.

143
Realização:

www.fadc.org.br /fundabrinq

55 11 3848-8799 /fundacaobrinq

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